8/8/2019 Artigo de Christine Greiner danaxtecnologia

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Artigo de Christine Greiner: AS ALIANAS ENTREDANA E TECNOLOGIAPor: Christine Greiner

As alianas entre dana e tecnologia

A relao entre dana e tecnologia no to recente como parece. Acoregrafa Loie Fller estudou ptica para testar transformaes dasimagens do corpo j no final do sculo 18. Mas depois de 1960 que osexperimentos proliferam e se complexificam. Isso porque, ao contrrio doque se pensa, a aliana entre dana e tecnologia vai muito alm da meradocumentao da dana (mquinas que registram espetculos) ou dasubstituio de elementos cnicos (vdeo ou projeo digital no fundo dopalco como cenrio). Algumas experincias realizadas em diferentes

pases mostram que se trata de um processo evolutivo do corpo, acopladoa aparatos mdiaticos que transformam a si mesmos e a suas relaescom os diversos ambientes.

Um dos pioneiros foi o coregrafo Merce Cunningham, que iniciou suapesquisa com videodana e, mais tarde, passou a usar softwares paracriao coreogrfica. A tecnologia, no seu caso, nunca foi um meio neutrode passagem de informao, mas sim, uma parceria de criao, umapossibilidade de organizao do pensamento-movimento. Mais do queuma extenso do homem, como props McLuhan, a tecnologia tem setornado hoje cada vez mais parte do projeto humano existindo no apenasfora do corpo (o liquidificador como extenso da mo, o computador comoprolongamento do crebro). Na Inglaterra, por exemplo, criou-se uma redede cientistas da computao e artistas interessados em desenvolvermdias interativas com usurios criadores (PLAN, Pervasive and LocativeArts Network). Grupos de performance como o Blast Theory, Igloo e ActiveIngredient passaram a usar games e celulares, criando avatares queredesenham movimentos/mundos computadorizados.

O roteiro virou programao de cdigos e redes neurais que operamalgoritmos metafricos para definir comportamentos. Na maioria destes

experimentos, a chave est na investigao de novos gestos e por isso adana continua tendo um papel primordial. Em Nova York, a companhiaTroika Ranch apresentou 16 (R) evolutions para desestabilizarmovimentos a partir de ambientes programados combinando cmeras, osoftware Isadora e luz infra-vermelha com motion-capture desenvolvidopelo laboratrio Genoa. O objetivo foi transformar aes em imagensmiditicas. Esses novos ambientes imersivos foram ainda mais

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radicalizados por experimentos como Fractal Flesh e Exoskeleton doartista Stelarc que desenvolveu uma tela de toque em interface com umSistema de Estimulao Muscular capaz de coreografar um corpo a partirde uma srie de impulsos nervosos, ativados pelos espectadores. CorinneJola, do Instituto de Neurocincia Cognitiva de Londres, e Fred Mast, de

Zurique, sugeriram uma cincia experimental de dana para investigar oself neural e a mente encarnada, partindo da pesquisa do neurocientistaAntnio Damsio.

Desde 2004, o projeto BrainDance e o Choreography and Cognition com oapoio do departamento de Neurocincia de Cambridge, dirigido porWayne McGregor, assim como o evento Dance and the Brain, realizadoem Frankfurt por William Forsythe e Ivar Hagendoorn, tm relacionadodana e cincia para descobrir novos acionamentos corporais. E para umaespcie de medio sensria da ao e qualidade do gesto, Armando

Menicacci do Mediadanse Lab em Paris, tem testado pr-movimentos namusculatura abdominal quase imperceptveis a olho nu, discutindo como opr-movimento fundamental para a formao de criadorescontemporneos e em que medida a tecnologia pode interferir noprocesso de criao. Enquanto isso, em Grenoble, o Festival dosImaginrios aborda inmeros trabalhos que discutem a relao entre omovimento imaginado e experincia motora.

Como d para perceber, difcil apontar qualquer tipo de limite para estesartistas/cientistas. No Brasil, algumas destas experincias comearam a

despontar em torno de 1970 com a pioneira Analvia Cordeiro e seintensificaram nos ltimos dez anos, com as pesquisas de Rachel Zuanon(computador vestivel co-evolutivo), Lali Krotozinsky (dance juke box), IvaniSantana (poticas da dana na cultura digital), Alejandro Ahmed (ProjetoSKN) , entre outros. Curiosamente, ao observar estas e outrasexperincias, conclui-se que sendo o corpo um sistema onde se aliamnatureza e cultura, para que acontea o trnsito entre dana e tecnologia,nem preciso usar rob, vdeo ou computador. A tecnologia cognitiva doorganismo garante, de sada, pontes que, independentemente do nossoconsentimento, continuam a inventar novas realidades, fictcias ou

verdadeiras.

Christine Greiner, professora do Departamento de Linguagens do Corpoda PUC-SP.