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Artigo escrito pelas bolsistas do PIBID
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O LÚDICO PEDE PASSAGEM E CHEGA À ESCOLA:
UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Luana Kalline Moura Pereira – Campus VI – UEPB Maria Roselí da Silva Pereira – Campus VI – UEPB
Marcelo Medeiros da Silva – Campus VI – UEPB
RESUMO
Este artigo é decorrente das nossas ações como bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), que estão sendo realizadas em uma das escolas da rede pública de ensino do município paraibano de Monteiro. Como na turma em que trabalhamos existiam, segundo a professora supervisora, alguns alunos que, apesar de estarem alfabetizados, ainda não eram letrados, optamos por dar um atendimento especial a esses alunos com vistas a melhorar o nível de letramento deles. Desse modo, reunimo-nos, semanalmente, com tais alunos da sala de aula com o intuito de proporcionar-lhes situações de aprendizagem de leitura e de escrita a partir de atividades dinâmicas, interativas e, sobretudo, lúdicas.No presente trabalho, deter-nos-emos em apresentar e refletir sobre tais atividades. Como aporte teórico para a intervenção bem como para as reflexões apresentada aqui, guiamo-nos pelas orientações propostas por Oliveira (2012), Haydt (2006) e Cosson (2006) a fim de pensarmos em abordagens diferenciadas acerca da leitura do texto literário, as quais propiciassem aos alunos momentos lúdicos de aprendizagem diferentemente de outras práticas de leitura com as quais eles, costumeiramente, mantinham contato. Por fim, reiteramos que o PIBID tem colaborado de forma significativa para nossa formação docente, uma vez que tem nos propiciado o contato com a realidade em que, futuramente, iremos atuar, levando-nos a refletir acerca das práticas de ensino desenvolvidas na educação básica e nos desafiando a promover situações que possam contribuir para a melhoria do ensino, uma vez que somos impelidos a planejar e executar práticas pedagógicas a partir de metodologias que contribuam para o processo de aprendizagem dos alunos da rede pública de ensino básico, sobretudo aqueles com baixos níveis de letramento.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Língua Portuguesa. Leitura Literária. Atividades Lúdicas. PIBID.
INTRODUÇÃO
O presente texto deter-se-á em apresentar, e refletir sobre, algumas de nossas
ações como bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(PIBID). As intervenções por nós realizadas objetivaram o desenvolvimento das
habilidades leitora e escritora de alunos do segundo ciclo do ensino fundamental em
uma escola pública do município de Monteiro. Como na turma em que trabalhamos
existiam, segundo a professora supervisora, alguns alunos que, apesar de estarem
alfabetizados, ainda não eram letrados, optamos por dar-lhes um atendimento especial
com vistas a melhorar o nível de letramento deles. Desse modo, reunimo-nos,
semanalmente, com o intuito de proporcionar-lhes situações de aprendizagem de leitura
e de escrita a partir de atividades dinâmicas, interativas e, sobretudo, lúdicas. A escolha
por atividades lúdicas deu-se em virtude das seguintes razões.
Primeiro, considerando-se que os alunos apresentavam baixos níveis de
letramento, o lúdico, dado a sua natureza motivacional, contribuiria, a nosso ver, para o
desenvolvimento de práticas prazerosas de leitura e de escrita para as quais os alunos
poderiam se sentir motivados a participar. Segundo, como a maioria dos alunos, de
acordo com a professora da turma e conforme eles mesmos, era avessa à leitura, a
inserção, nas aulas de Língua Portuguesa, de recursos lúdicos, talvez, os motivasse e os
levasse a desenvolver o gosto pela leitura e, em especial, pela leitura literária. Uma
terceira razão foi o fato de que defendemos uma maior interação não só entre os alunos,
mas também entre aluno e professor, o que poderia ajudá-los no processo de
aprendizagem a partir de um ensino ofertado de modo dinâmico, participativo e,
sobretudo, socializante. Por fim, acreditamos que, diante de atividades lúdicas, os
alunos iriam sentir-se à vontade ao desenvolverem práticas sociais de letramento que
interligassem as habilidades motoras, sociais, cognitivas e afetivas e que fosse de
encontro à realidade descrita abaixo:
No contexto da educação brasileira, o ensino de leitura e escrita dentro do espaço escolar vem se configurando, tradicionalmente, como o contato dos sujeitos aprendizes com um grande número de tarefas e atividades escolares para as quais não conseguem atribuir outro sentido que não seja o de obrigação para com a escola. A distribuição dos letramentos nesse tipo de ensino, no entanto, vem tornando improdutivas as atividades de leitura e escrita na escola do Brasil, pois elas comumente não consideram os usos reais da língua. Esse, portanto, vem sendo um problema crônico na educação linguística brasileira, o que suscita entre os pesquisadores um vigoroso debate sobre o fornecimento dos novos letramentos pela escola (ARAÚJO; DIEB, 2013, p. 245).
O desenvolvimento das atividadespropostas por nós teve como escopo a leitura
do texto literário, uma vez que pretendíamos desenvolver, sobretudo, não só o gosto
pela literatura, mas, também, contribuir para uma melhor consolidação das práticas de
letramento literário no âmbito escolar:
O letramento literário, conforme o concebemos, possui uma configuração especial. Pela própria condição de existência de escrita literária [...] o processo de letramento que se faz via textos literários compreende não apenas uma dimensão diferenciada do uso social da escrita, mas também, sobretudo, uma forma de assegurar seu efetivo domínio. Daí sua importância na escola, ou melhor, sua importância em qualquer processo de letramento,
seja aquele oferecido pela escola, seja aquele que se encontra difuso na sociedade (COSSON, 2006, p. 12).
Ao longo das ações em sala de aula, realizamos a leitura de algumas obras
literárias, as quais apresentavam temas, personagens e/ou espaços narrativos muito
próximos do universo cultural dos alunos, já que eles não só vivem em um município
que é um celeiro de artistas, mas moram na zona rural onde as manifestações da cultura
popular têm uma maior circularidade. Acreditamos que o contato com essas obras nas
aulas de língua materna poderia despertar o interesse dos alunos. Além das obras
literárias, as nossas atividades de leitura primaram por trazer para os alunos um
conjunto de textos de tradição oral– provérbios, advinhas, parlendas. A inserção desses
textos objetivava levar nossos alunos a apreciarem as produções culturais de expressão
popular, bem como a valorizar as formas “poéticas” de nossa tradição oral, visto que, no
ambiente escolar, existe uma maior valorização de gêneros pertencentes ao domínio da
escrita em detrimento dos gêneros ligados ao domínio da oralidade.
No desenvolvimento de nossas atividades ao longo de nossas intervenções como
bolsistas do PIBID, guiamo-nos por uma perspectiva em que compete aos alunos o
papel de seres ativos, uma vez que o desenrolar das atividades propostas dependia,
sobretudo, da participação e interação entre eles. Desse modo, procuramos valorizar a
criatividade dos alunos, uma vez que os colocamos diante de propostas de leitura e de
escrita que, sem deixarem de ser alegres, divertidas, foram, sobretudo, desafiadoras.
De leitura literária e recursos lúdicos: considerações para a sala de aula
A formação de leitores de literatura depende de uma gama de fatores. Um deles
é que os próprios professores sejam leitores e, sobretudo, apaixonados por literatura. A
vivência com os textos literários não pode ser mero diletantismo, mas prática efetiva:
É preciso que o professor goste de Literatura [...], que ele se encante com o que lê, pois somente assim poderá transmitir a história com entusiasmo e vibração. Se o professor for um apaixonado pela Literatura [...], provavelmente, os alunos se apaixonarão também. (OLIVEIRA, 2012, p.17)
Consideramos, pois, que a formação de leitores é um processo cujo início se dá
já na infância. Por isso, devemos expor os alunos às mais diversas práticas e materiais
de leitura desde as séries iniciais. Para tanto, os professores devem ser, sobretudo,
apaixonados pela leitura, pois quem se encanta diante dos textos lidos, se sensibiliza
diante do aspecto lúdico da arte, poderá, mais facilmente, despertar em outros sujeitos o
amor pela leitura. Se o professor é um leitor, a partir de sua experiência, poderá vir a ser
um bom contador de histórias, saberá dar pistas aos alunos que os encaminhem para a
construção do sentido do texto, motivando-os a buscarem outras leituras, a expressarem
suas experiências de estranhamento ou de conformação ante os textos lidos. Para que,
desde as séries iniciais, o processo de formação de leitores possa obter êxito, é
necessário que sejam realizadas práticas calcada em uma metodologia adequada ao
trabalho com o texto literário (cf. COSSON, 2006) a fim de que seja despertado o
interesse do leitor pela literatura:
A literatura [...] é um dos suportes básicos para o desenvolvimento do processo criativo, pois ela oferece ao leitor uma bagagem de conhecimentos e informações capazes de provocar uma ação criadora. No contato com as historias lidas ou ouvidas, a criança vai adquirindo novas experiências. Daí a importância de ler e contar histórias para crianças desde seus primeiros anos de vida e estimular a leitura para que, além de ler e desfrutar do prazer de ler, elas adquiram os recursos importantes para o desenvolvimento de sua fantasia e criatividade. (OLIVEIRA, 2012, p. 14)
O trabalho com leitura literária deve afigurar-se para os alunos como um convite
ao conhecimento, à criatividade e à vivência de novas experiências. Sendo a obra
literária fruto de um trabalho estético com a linguagem, a sua leitura leva o leitor a
trilhar caminhos, às vezes, desconhecidos do imaginário individual e coletivo, bem
como o conduz a colocar-se diante de uma miríade de emoções que atuarão na sua
formação humana. Afinal, “é na relação lúdica e prazerosa [do sujeito] com a obra
literária que se forma o leitor; é na exploração simbólica da fantasia e da imaginação
que se desabrocha o ato criador e se intensifica a comunicação entre texto e leitor.”
(OLIVEIRA, 2012, p. 14).
Nesse sentido, acreditamos que o professor enquanto um mediador entre a obra
literária e o leitor deve guiar a atividade de leitura reservando um espaço para que o
aluno atribua sentido ao texto através das suas próprias experiências e dos seus próprios
conhecimentos. Quanto a isto, Oliveira (2012, p. 41) defende que “quando a criança (o
aluno) se identifica com alguma parte da narrativa, ela deve ter espaço para falar de sua
experiência relacionada com a história. [...] Quando há essa identificação, a criança
houve com mais interesse e atenção.” Portanto, é imprescindível que o professor
promova, durante as aulas de leitura, um espaço para que os alunos possam
compartilhar suas experiências e expor seus comentários, o que auxiliará a promover a
interação texto/leitor.
Porém, frisemos que, antes de iniciarmos a leitura de um texto, é necessário
planejarmos atividades de pré-leitura que possam incentivar os alunos para o processo
seguinte. Ou seja, como orienta Cosson (2006), a realização de atividades prévias de
motivação pode despertar a atenção dos alunos para o que vai ser realizado
posteriormente, visto que a motivação possibilita que os conteúdos sejam introduzidos
de maneira prazerosa e interativa em sala de aula. A título de exemplificação, podemos
“criar à hora da novidade: embrulhar um objeto que tenha a ver com a história. Deixar
que as crianças toquem, apalpem e cheirem. A partir daí o professor começa a contar a
história” (OLIVEIRA, 2012, p. 13). Enfim, muitos recursos lúdicos podem ser
utilizados para incentivar a leitura literária. Para isso, é preciso que o docente procure se
valer da criatividade e do empenho em preparar ações que possam fisgar a atenção e
curiosidade dos alunos.
Acreditamos que o uso de atividades lúdicas contribui de forma efetiva para a
interação não só entre professor e alunos, mas entres os próprios alunos para os quais a
sala de aula pode ser vista como um espaço de diversão e aprendizagem, como se todos
fizessem parte de um grande jogo. Este, conforme Haydt (2006, p. 176), “tem um forte
valor formativo porque supõe relação social, interação”. Quando impelidos a jogar, os
alunos internalizam regras, aprendem a respeitar os demais participantes e a lidar com
derrotas e/ou vitórias. Portanto, recorrer a atividades cuja natureza seja lúdica é se valer
de um recurso que traz para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos prazer,
aprendizado e, sobretudo, esforço espontâneo, conforme descreveremos na secção a
seguir.
Leitura literária, saber e prazer: a presença de atividades lúdicas no ensino de língua materna
Considerando que a sala de aula pode se tornar um espaço propício à prática de
atividades que se afigurem prazerosas para os alunos e por meio das quais possa haver o
amálgama entre saber e sabor, realizamos um trabalho que visou, a partir da leitura de
textos literários, estimular a criatividade e trazer a ludicidade para a sala de aula. Nesse
sentido, o nosso propósito, aqui, não é expor, simplesmente, as nossas ações na escola e
os resultados alcançados, mas apresentar um conjunto de recursos lúdicos de que nos
valemos em nossas intervenções e que poderão servir como parâmetro para a realização
de novas ações por outros docentes, em especial aqueles em cujas salas de aula existem
alunos com baixos índices de letramento escolar. Devido ao pouco espaço de que
dispomos, não apresentaremos todas as ações por nós desenvolvidas, mas somente
aquelas que, dentro do que havíamos planejado em nossas sequências didáticas, tinham
como natureza servir de motivação para a realização de ações posteriores.
Como dissemos na introdução, os alunos que participaram dessas ações
pedagógicas ainda não dominavam práticas letradas valorizadas pela escola. Por isso, a
fim de contribuir para aumentar o nível de letramento deles, é que centramos nossa
atenção em atividades lúdicas. Além disso, como se tratavam de alunos que estavam
situados à margem na sala de aula, devido às dificuldades em atender aos protocolos
escolares, acreditamos que a utilização de tais recursos poderia envolvê-los de forma
ativa, uma vez que “ao recorrer ao uso de jogos, o professor [...] permite aos alunos
participar ativamente do processo de ensino-aprendizagem, assimilando experiências e
informações” (HAYDT, 2006, p. 175). Desse modo, intuíamos que, se algo precisava
ser feito para modificar a realidade daqueles alunos em sala de aula, o caminho que
deveríamos seguir era o da ludicidade.
Uma das obras que foram trabalhadas foi Severino faz chover, de Ana Maria
Machado, cujo enredo gira em torno de um menino que mora em uma região onde quase
não chovia. Por isso, todos sofriam com a seca. Vendo a população triste, Severino
investiga, a partir de perguntas e de tentativas várias, como é que chove. A “odisseia” de
Severino em busca de fazer chover é marcada pela tentativa de conversar com as nuvens
para que elas mandassem chuva à região. Mesmo não tendo sido ouvido, o menino não
desistiu e, após várias tentativas, junto com seus amigos, ele consegue fazer chover
apesar da descrença dos adultos para os quais os atos de Severino não passavam de
coisas de criança com imaginação muito fértil.
Antes do trabalho efetivo de leitura e interpretação dessa obra, realizamos uma
dinâmica que conteve elementos ligados ao contexto em que os alunos estavam
inseridos bem como ao enredo da narrativa. Denominamos essa atividade prévia de
"Será Que Eu Conheço?", a qual foi realizada da seguinte maneira: com todos os
alunos sentados em círculo, apenas um deles, com a venda nos olhos, ocupava a cadeira
do meio. O professor, nós no caso, puxávamos um objeto de uma sacola e entregávamo-
lo ao aluno que estava com os olhos vendados e que, se valendo do tato, tentava
adivinhar que objeto lhe fora repassado. A dinâmica prosseguiu até que houvesse a
participação de todos.
Figura 1:“dinâmica será que eu conheço?”
Ainda nesse momento, depois que todos os objetos foram adivinhados,
conduzimos os alunos a criarem oralmente uma história da qual fizessem parte os
objetos utilizados na dinâmica. No nosso caso, levamos para sala de aula os seguintes
objetos: bolas de gude, peteca, baleadeira, pião, barco de papel, carrinho, esculturas de
madeira de animais como cavalo, cabra, peixe, tatu, pássaros, homem, mulher, carro de
boi, pilão. Com esta atividade, objetivamos que os alunos desenvolvessem a capacidade
criativa e construíssem suas próprias histórias a partir desses objetos, as quais foram
socializadas com os demais colegas.
As atividades motivacionais auxiliam o docente a fisgar a atenção dos alunos
para o que vai ser objeto de ensino. No entanto, não adianta apenas preparar atividades
motivacionais antes da leitura de um texto, é preciso também saber incentivar os alunos
após a leitura, inclusive, se for o caso, deixá-los “ler o texto, sem exigir-lhes uma
cobrança. Quando a criança lê uma história pelo prazer de ler, saboreando seu conteúdo,
ela terá maior capacidade de assimilação” (OLIVEIRA, 2012, p. 15). A cobrança que
visa cumprir com certos protocolos ou que subestima a capacidade interpretativa dos
alunos fazendo-lhes perguntas previsíveis não se ajusta a uma perspectiva crítica de
formação de leitores. Pelo contrário, esse tipo de cobrança torna-os indiferentes ao ato
de ler porque lhes passa a ideia de que ler é algo maçante, mecânico e destituído de
prazer. Para evitar esses equívocos, cabe ao professor planejar de quais maneiras será
cobrado algo acerca do que aos alunos é dado para lerem.
Ainda acerca do livro de Ana Maria Machado, após cuja leitura os alunos leram
outra obra chamada de Lila e o segredo da chuva, de David Conaway e Jude Daly. O
enredo dessa obra gira em torno de uma menina que mora em um país onde há longos
períodos de estiagem, o Quênia. Deste modo, assim como em "Severino faz chover", a
narrativa volta-se para o tema da ''seca'' e a busca por chuva. Ambas têm como
personagens principais crianças que, ao verem o sofrimento da população local,
resolvem buscar alternativas para fazer chover, apesar da descrença dos adultos.
O recurso que utilizamos, para avaliar como os alunos leram, interpretaram e
compreenderam essas narrativas, foi a realização de alguns jogos que, sem deixarem de
trazer descontração para a sala de aula, objetivavam corrigir algumas dificuldades de
leitura e de escrita que notamos os alunos possuírem quando estávamos trabalhando os
livros citados.
O primeiro jogo realizado foi à palavra cruzada. Esta atividade, aos moldes das
palavras cruzadas tradicionais, apresentava uma palavra principal – o nome da autora do
livro – e um conjunto de espaços vazios que seriam preenchidos a partir das respostas às
perguntas sobre o livro lido. Em uma caixa, foram colocadas diversas perguntas sobre o
texto. Em outra, letras do alfabeto porque os alunos precisavam não só saber a resposta,
mas também saber a forma como ela era, ortograficamente, escrita. A cada rodada, um
aluno retirava uma pergunta e, se fosse o caso, com o auxilio do professor, lia para a
turma. Mesmo sabendo, oralmente, a resposta, esta era organizada a partir das letras que
compunham o vocábulo que servia de resposta correta. Os colegas poderiam ajudar se
assim desejassem. A dinâmica findava apenas quando todas as respostas tinham sido
encontradas e devidamente preenchidas nos espaços vazios da cruzadinha.
Figura 2: Alunos preenchendo a palavra-cruzada
Com esta dinâmica, além de avaliar nossos alunos de uma forma divertida,
conseguimos estimular o exercício da leitura e da escrita, uma vez que foi necessário
reorganizarem as letras de forma correta e no lugar certo. Além disso, essa atividade
propiciou aos alunos um bom exercício de observação, reflexão e concentração. A partir
dessa avaliação, percebemos o quanto eles estavam interados na história lida durante as
aulas anteriores.
A segunda atividade realizada foi o caça-palavras, jogo clássico que consiste em
encontrar palavras perdidas. No nosso caso, as palavras não estavam “perdidas” tão
pouco eram aleatórias. Todas se relacionavam a elementos do enredo de Lila e o
segredo da chuva e advinham de perguntas feitas aos alunos sobre a narrativa estudada.
A cada resposta encontrada, aproveitávamos o momento para conduzirmos discussões
sobre aspectos da história que não tinham sido contemplados nas perguntas feitas para a
dinâmica do caça-palavra.
Figura 3: Caça palavras
Com esta dinâmica, além de avaliar o desempenho dos alunos quanto à
compreensão da história, conseguimos provocar a curiosidade, aprimorar a competência
da leitura e escrita, desenvolver a concentração e a observação, uma vez que foi
necessário encontrar, em meio a um emaranhado de letras, as respostas correspondentes
às perguntas feitas sobre a narrativa lida.
Além das obras literárias, as nossas atividades de leitura primaram por trazer
para os alunos um conjunto de textos da tradição oral, tais como: provérbios, parlendas.
Pensando em como avaliar o conhecimento prévio dos alunos acerca do acervo de
textos de tradição oral herdados de nossos antepassados, confeccionamos e levamos à
sala de aula alguns jogos, entre eles um dominó e um quebra-cabeça. O dominó poético
funcionou da seguinte forma: primeiramente entregamos a cada aluno alguns versos de
parlendas. Em seguida, informamos que aquele que estivesse com o primeiro verso, de
uma das parlendas, deveria colocá-lo no centro da mesa. Depois, os demais alunos, um
por um, deveriam encaixar os outros versos nos lugares corretos até que o texto
estivesse devidamente completo.
Figura 4: Alunos participando do jogo "dominó poético"
Desse modo, a aplicação do dominó poético permitiu que os alunos
relembrassem das poesias de tradição oral que se fizeram presentes em suas brincadeiras
durante a infância, o que contribuiu para que eles ativassem alguns de seus
conhecimentos prévios. Em seguida, iniciamos o quebra-cabeça proverbial, o qual
também exigiu dos alunos uma retomada aos textos escutados e/ou lidos em sala de aula
ou no cotidiano deles, uma vez que envolveu a leitura de um conjunto de provérbios. O
desenvolvimento do “quebra-cabeça proverbial” seguiu os subsequentes passos:
primeiramente dividimos a turma em duplas e entregaremos a cada uma delas uma
sacola. Em cada sacola, continha cinco provérbios. No entanto, constavam apenas
palavras isoladas, as quais os alunos deviam juntar para montar os provérbios. Por fim,
a dupla que conseguiu montar o quebra-cabeça em menor tempo venceu o jogo.
Figura 5: Alunos participando do "quebra-cabeça proverbial"
Sem deixar de avaliar o conhecimento prévio dos alunos, a aplicação de tais
atividades visou também sensibilizá-los e motivá-los para a leitura de textos de tradição
oral, pois, como afirmamos ao longo deste trabalho, é necessário planejarmos atividades
lúdicas que possam motivar os alunos para todas as etapas de qualquer intervenção
pedagógica.
Mas as atividades de caráter lúdico também podem motivá-los para o processo
de escrita? Deparamo-nos com esse questionamento ao lançarmos aos alunos a proposta
de produção de uma advinha, pela qual eles demonstraram a maior indiferença.
Pensando em como motivá-los é que, antes de continuarmos tal produção,
confeccionamos e levamos à sala de aula uma palavra-cruzada em cujo centro constava a
expressão: Quero ver quem advinha. Nos demais espaços, havia apenas quadrinhos em
branco, os quais foram preenchidos à medida que a brincadeira prosseguia. Tal jogo
ocorreu do seguinte modo: inicialmente, os alunos foram convidados a retirarem de
dentro de uma sacola as perguntas, ou seja, as advinhas que deviam responder. Em
seguida, leram tais perguntas oralmente para, então, apresentar a resposta. Quando a
resposta não estava correta, os demais alunos ficavam livres para ajudar o colega. Caso
a resposta estivesse correta, o aluno procurava as letras que correspondiam à palavra e
que estavam dentro de uma cesta. Entretanto, cada advinha estava acompanhada de um
número. Desse modo, a resposta deveria ser escrita nos quadrinhos correspondentes ao
referido número:
Figura 6: Alunos participando da dinâmica "quero ver quem advinha"
A aplicação dessa atividade foi satisfatória, pois todos os alunos demonstraram
grande interesse em participar dela. Além disso, conseguimos atingir o nosso objetivo
que era motivá-los a continuar com o processo de produção das advinhas, o que, após
essa atividade motivacional, foi realizado com grande entusiasmo pelos nossos alunos.
Para nós, está claro que “o professor deve usar sua inventividade para criar seus
próprios jogos, de acordo com os objetivos de ensino-aprendizagem que tenha em vista
e de forma a adequá-los ao conteúdo a ser estudado.” (HAYDT, 2006, p. 177).
Pensando nisso, é que desenvolvemos o jogo batalha naval alfabética. Partindo do jogo
tradicional que consiste em estratégias para afundar embarcações, fizemos uma
adaptação e a nossa batalha naval consistiu em "afundar" as letras perdidas do alfabeto.
Sendo assim, o jogo teve como objetivo principal ensinar aos nossos alunos o alfabeto
de forma diferenciada dos moldes tradicionais, pois muitos deles, apesar da série em
que estavam matriculados, não dominavam o código alfabético.
A princípio sondamos o nível de compreensão dos alunos acerca do alfabeto,
conduzindo-os a pronunciarem as letras alfabéticas. Nesse momento, percebemos que
todos já o dominavam, pois conseguiram pronunciá-lo corretamente do início ao fim.
Entretanto, ao serem indagados sobre a assimilação das letras de forma isolada e fora de
ordem, poucos conseguiram identificá-las. Propomos, então, a realização da batalha
naval alfabética que aconteceu da seguinte maneira: em uma folha que foi entregue
para cada aluno, existiam espaços referentes às letras do alfabeto. Cada aluno escolhia
um envelope que continham as letras do alfabeto emaranhadas e com ausência de três
letras diferentes em cada envelope. Com isso, os alunos precisaram reorganizá-las,
descobrir quais letras estavam faltando e apontar seus devidos locais.
Figura 7: Alunos participando da atividade batalha naval alfabética
Essa atividade contribuiu para que os alunos se desprendessem das práticas
baseadas em repetição, pois estas os auxiliam apenas a memorizar o alfabeto sem que
lhes seja necessário, mais do que assimilar, saber aplicar, em situações reais de uso, o
conteúdo estudado. Portanto, através dessa dinâmica, levamos os alunos a saírem do
estado de conforto, desafiando-os a identificar e assimilar as letras isoladamente e em
fora de ordem, o que contribuiu para a expansão do universo de compreensão deles.
Ainda trabalhando as dificuldades de leitura e escrita dos alunos,
confeccionamos também um dado das adivinhas a fim de trabalhar algumas sílabas
complexas. No primeiro momento, buscamos gerar questionamentos acerca do gênero
“adivinha” mediante perguntas do tipo: "Você sabe o que são adivinhas?; para você o
que é adivinhar?; alguma vez já brincou com seus pais ou colegas? Após a discussão,
propomos a dinâmica do dado das adivinhas que apresentava cinco desafios: passou a
vez, indique um colega para responder, coringa, responda a uma adivinha e responda
duas adivinhas. Com isso, um aluno por vez foi convidado a jogar o dado. O desafio que
caísse ele teria de obedecer.
Figura 8: Dinâmica do dado das advinhas
Ao serem respondidas as adivinhas, os alunos preencheriam uma atividade que
lhes foi entregue, a qual continha imagens referentes às respostas das adivinhas, no
entanto eles teriam de escrever a resposta na imagem certa.
Figura 9: Atividade relacionada ao dado das advinhas
Ao término, quando todas as adivinhas foram respondidas, questionamos se
haveria algo em comum entre as respostas. Alguns alunos conseguiram identificar que
em todas havia as silabas complexas qu- e encontro consonantal com a letra r. Por fim,
lemos as respostas com os alunos atentando para a pronúncia de tais sílabas. A atenção
especial a tais sílabas mostrou-se necessária, visto que as leituras realizadas em aulas
anteriores nos permitiram identificar que alguns alunos não conseguiam ler palavras em
que tais sílabas estavam presentes. Portanto, com esta dinâmica, objetivamos melhorar o
nível de letramento dos alunos.
As ações realizadas em nossas intervenções das quais as que apresentamos neste
trabalho constituem uma amostra muito pequena permitem-nos reiterar que o uso de
recursos lúdicos, quando bem preparados e com objetivos previamente definidos, em
muito contribui para a aprendizagem dos alunos. As atividades motivacionais de caráter
lúdico podem estimular os alunos não só realizarem as atividades propostas no
momento da realização da dinâmica, como também desejarem cumprir com as
atividades que, posteriormente, virão. Com isso, muito mais do que prazer, o lúdico
envolve, sobretudo, saber e sabor em aprender.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes de tudo, essa experiência se mostrou bastante desafiadora, para nós, uma
vez que nos deparamos com uma situação em que, além de desenvolver o gosto dos
alunos pela leitura literária, devíamos, sobretudo, alfabetizá-los. A partir disso, surgiram
algumas questões como: de que forma podíamos incentivar o ato de leitura de textos
literários em uma turma de alunos, em sua maioria, avessos à leitura e à escrita? Como
alfabetizar alunos que, por suas idades, já deviam saber ler e escrever? E, o mais
desafiador, como alfabetizá-los em tão pouco tempo? Era uma experiência que tinha
tudo para dar errado, mas, com o passar do tempo, mostrou resultados significativos.
Claro que nos frustramos várias vezes por não vermos resultados imediatos, no entanto,
isso era quase impossível, uma vez que estávamos tentando fazer durante o curto
período de nossas intervenções o que não a escola não havia conseguido realizar durante
a passagem desses alunos pelo primeiro ciclo do ensino fundamental.
Dentre os resultados que conseguimos alcançar por meio das atividades lúdicas
descritas no presente trabalho, está o fato de que ressignificamos a prática de leitura e de
escrita fugindo de metodologias mecânicas que não consideram a criatividade, a
imaginação e a expressão das emoções dos alunos. Além disso, ajudamos a ampliar as
expectativas de leitura desses alunos e a desenvolver, um pouco, suas habilidades
interpretativas, o que possibilitou uma melhora no desenvolvimento das práticas
letradas nas turmas em que atuamos. E, o mais importante, mostramos que é possível
englobar saber e sabor nas atividades realizadas em sala de aula.
Outro aspecto que devemos apontar aqui foi a importância que passamos a dar à
elaboração de nossos próprio material pedagógico, visto que, no lugar de atividades
prontas para só as executarmos, precisamos criar materiais para um público específico:
alunos da rede pública de ensino básico que apresentavam baixos níveis de letramento
escolar e que, por isso, corriam o risco de evadirem-se da escola por não atenderem Às
expectativas da instituição escolar. Isso nos deu uma autonomia na preparação das aulas
e nos mostrou que a elaboração de seu próprio material didático deve ser prática efetiva
entre os profissionais da educação.
Por fim, reafirmamos que a nossa atuação no PIBID tem colaborado para a
formação de um profissional capaz de avaliar o que realmente é relevante para a sua
futura atuação docente, de sugerir e de criar alternativas para lidar com as dificuldades
encontradas no ambiente escolar e, por fim, mas não menos importante, de unir teoria e
prática, ao refletir acerca da realidade vivenciada a partir das intervenções em sala de
aula. Com o presente trabalho, ensejamos, pois, contribuir para a ressignificação das
práticas de leitura e de escrita no ambiente escolar de forma que as atividades voltadas
para o desenvolvimento de tais habilidades por parte dos alunos sejam realizadas de
forma aprazível.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Júlio; DIEB, Messias. A web no letramento de crianças em língua materna. In: SHEPHERD, Tania G.; SALIÉS, Tânia G. (orgs.). Linguística na Internet. São Paulo: Contexto, 2013.CONAWAY, David. Lila e o segredo da chuva. 1ª edição, Editora Biruta. 2010.COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006. HAYDT, Regina Célia Cazaux. Procedimentos de ensino-aprendizagem socializantes. In: Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2006. MACHADO, Ana Maria. Severino faz chover. 2ª edição, Editora salamandra. 2007.OLIVEIRA, Maria Alexandre de. Dinâmicas em Literatura Infantil. São Paulo: Paulinas, 2012.