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Artigo sobre a formação de leitores literários
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS (MESTRADO)
1Marcos Douglas PEREIRA [1]
Dra. Alice Áurea Penteado MARTHA [2]
MARCOS DOUGLAS PEREIRA
FORMAÇÃO DE LEITORES – A LEITURA DE BRASIGUAIOS NA REGIÃO
DA TRÍPLICE FRONTEIRA
Artigo apresentado como requisito de conclusão da
disciplina Teorias da leitura do texto literário, ministrada
pela Professora Dra. Alice Áurea Penteado Martha.
MARINGÁ 2011
1 [1] Mestrando em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
[2] Professora Doutora do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá (UEM) – Orientador.
A LEITURA LITERÁRIA DOS ALUNOS “BRASIGUAIOS” EM DUAS
ESCOLAS DE FOZ DO IGUAÇU
A questão da identidade dos alunos chamados “brasiguaios” tem sofrido estereotipação e mesmo estigmatização, resultantes da instalação de preconceito no meio social em que se inserem. Especialmente no caso de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, que concentra grande parte desses alunos, verifica-se a dificuldade desses alunos em tornarem-se leitores literários fluentes, apesar de seu evidente interesse pela leitura. Este artigo apresenta resultados de questionário aplicado a pais, alunos e professores da rede pública sobre os hábitos de leitura desses alunos, com o propósito de verificar, em tais questionários, através de pressupostos da Sociologia da leitura, as possíveis causas das dificuldades de inserção desses alunos na leitura de textos literários. Uma das questões prementes para este trabalho é a discussão sobre as causas que afastam os leitores estudados da leitura. Como a pesquisa é desenvolvida no ambiente escolar, faz-se necessária uma reflexão sobre a oposição entre leitura de lazer e leitura de trabalho, ou, a oposição entre leituras obrigatórias e leituras escolhidas. A condição de leitura dos chamados “brasiguaios” será analisada também a partir de conceitos sobre o leitor, de Wolffgang Iser e Hans Robert Jauss, considerando-se, sobretudo a leitura como atividade prazerosa para tais alunos. Concluindo, analisa-se como se dá o processo da recepção dos textos literários por esses alunos, com o intuito de verificar se está presente e como se manifesta, ainda que superficialmente, a discriminação de leitores em língua Portuguesa, a partir da análise de suas respostas nos questionários, além dos relatos de seus pais e professores a respeito da maneira como estes introduzem e incentivam a leitura literária desses discentes considerados excluídos parcialmente da sociedade.
Palavras-Chave: LEITURA. LEITORES BRASIGUAIOS. RECEPÇÃO LITERÁRIA.
O aspecto geográfico da tríplice fronteira: os “brasiguaios”
Ao tentar definir o termo “brasiguaio” que interessa a este artigo
Sprandel (2006), explica que os brasiguaios são um grupo social formado por centenas
de milhares de camponeses brasileiros (as estimativas mais razoáveis variam de
trezentas a quinhentas mil pessoas), que se transferiram para a fronteira leste do
Paraguai na década de 1970, expulsos pela monocultura da soja e pela construção de
Itaipu.
De acordo com Santos e Cavalcanti (2008), num estudo sobre lingüística
intitulado: Identidades híbridas, língua(gens) provisórias-alunos "brasiguaios" a
discussão proposta é sobre a condição do aluno brasiguaio. As identidades hibridas são
características da atualidade que se expressam na velocidade das mudanças, existe uma
diluição das fronteiras, tornando o mundo cada vez mais conectado e integrado.
Entretanto, esses mesmos meios que integram, o fazem de forma parcial, contribuindo
assim para a separação, a marginalização e a exclusão. Isso vem causando impactos sem
precedentes sobre a humanidade, que não encontra correspondência com a força
unificadora, nem ancoragem em mitos como um povo, uma etnia, uma nação, uma
língua, uma cultura.
Como afirma Hall (2003, p. 62) "as nações modernas são culturais". É
nesse amplo cenário que se insere a questão da identidade do aluno “brasiguaio”. Essa
visão reducionista da identidade "brasiguaia" como um grupo uno e homogêneo tem
favorecido a construção de um estereótipo negativo, com implicações principalmente
para alunos "brasiguaios", no cenário escolar sociolingüisticamente complexo de
fronteira.
A primeira língua falada por esses alunos brasiguaios geralmente é de
pouco prestígio e pode ser variada de acordo com a descendência de seus progenitores.
Geralmente tais famílias praticam o uso da língua Guarani, falada em todas as regiões
do Paraguai, que tem raiz diversa das línguas neo-latinas e, por influência de seu uso,
especialmente no contexto familiar, faz com que os alunos abandonem as práticas em
língua portuguesa até por estarem por fazerem parte como educandos de um sistema de
ensino que privilegia como língua oficial de trabalho a Língua espanhola, que aprendem
obrigatoriamente nas escolas daquele país.
Quando retornam ao Brasil tais alunos aparentemente não apresentam
dificuldades e não lhes é dada a devida atenção e o adequado acompanhamento, uma
vez que os professores geralmente acreditam que por se tratar da língua espanhola, uma
língua “irmã” da Língua Portuguesa, em sua variante padrão, tais professores não
percebem as diferenças que atrapalham o aprendizado dos alunos brasiguaios.
Segundo o relato dos professores através de questionários aplicados a
eles nos Colégios Jorge Schimmelpfeng e Tancredo de Almeida Neves é possível
perceber, em um primeiro momento, que os docentes percebem as diferenças na escrita
da variante padrão devido à influência do Espanhol em tal variante da Língua
Portuguesa, e então surge o rótulo de aluno “brasiguaio” que gera a expectativa de que
tal aluno seja “fraco” e que não acompanhará o conteúdo com a mesma intensidade e
desempenho do aluno considerado “normal”. Nesse momento o professor pode começar
a desenvolver nesse aluno a baixa-estima quando este último percebe que seu professor
age com ele de maneira diferente e até o exclui de determinadas atividades.
Durante a pesquisa realizada através dos questionários com os
professores foi constatado que a maior preocupação dos docentes era com relação à
linguagem híbrida, o que se deve a uma política lingüística voltada para o
monolinguismo onde os desvios da norma gramatical são vistos como erros. Os “erros”
são mais um fator de baixa-estima para os alunos brasiguaios que não percebem como
erros suas formas de comunicação.
Apesar da importância da Língua espanhola para o Mercosul, inclusive
com as políticas nacionais, como a Lei número 11.161, de 05 de Agosto de 2005, que
incluíram a Língua espanhola como obrigatória em todas as escolas do país, as escolas
parecem não encontrar-se preparadas para enfrentar essa empreitada que poderia, com
um trabalho mais apurado, incluí-los, dando-lhes a devida valorização social e ainda
favorecer o aprendizado dos outros alunos com a experiência dos brasiguaios com a
Língua espanhola e ainda propiciar a esses alunos “diferenciados” a inserção no uso da
Língua Portuguesa como língua padrão e em sua formação como proficientes leitores e
escritores.
Não existe no caso dos brasiguaios uma política que contemple tais
alunos levando-os a poder usufruir do mesmo nível de leituras e proficiência na Língua
Portuguesa, dando a eles uma ferramenta para atuarem e se inter-relacionarem com os
alunos brasileiros nativos. Por essa razão específica faz-se necessária a pesquisa e a
apresentação de possíveis soluções e/ou políticas que abranjam a esses alunos.
Sociologia da leitura
O leitor deve ser entendido como sujeito ativo no processo de leitura,
como se sabe a partir dos pressupostos da Sociologia da Leitura. Sobre tais pressupostos
Aguiar (1996) comenta que
a sociologia da leitura é o segmento da sociologia da literatura que tem como objetivo estudar o público como elemento atuante do processo literário, considerando que suas mudanças em relação às obras alteram o curso da produção das mesmas. Nesse sentido, pesquisam-se as preferências do público, levando em conta os diversos segmentos sociais que interferem na formação do gosto e servem de mediadores de leitura, bem como as condições específicas dos consumidores segundo seu lugar social, cultural, etário, sexual, profissional, etc. (1996: p. 23)
A partir desse pressuposto pode-se entender que a Sociologia da Leitura leva em conta
não o valor literário de uma obra, mas seu contexto de circulação e consumo.
Complementando a corrente de Estudos da estética da recepção a
Sociologia da leitura é justificada por ser mais quantitativa do que qualitativa.
Justamente o fator quantitativo interessará na análise das leituras dos brasiguaios, alunos
com nível de leitura em Língua Espanhola, porém coam números inferiores no que se
refere à sua inserção como leitores literários ao se (re) inserirem no ensino público
brasileiro.
Pode-se justificar a Sociologia da leitura a partir de Hansen (2005)
as classes sociológicas são necessárias para determinar materialmente os atos empíricos de leitura. Mas seu uso, ..., é mais uma avaliação do conhecimento que agentes empíricos têm da presença do texto em suas vidas, como diz Chartier, do que a própria forma literária da leitura. (2005: p.22)
Tal visão propicia pensar que, no caso dos sujeitos da pesquisa em
questão, qual é a freqüência de seus atos de leitura empiricamente falando? Como o
texto literário em sala de aula e fora dela tem influenciado em sua formação como leitor
proficiente? Tais questionamentos serão base para as análises dos dados que serão
explanados neste artigo, no que diz respeito exclusivamente à leitura dos alunos
brasiguaios.
A consciência do possível é um dos conceitos importantes para o estudo
da Sociologia da Literatura que deu origem à Sociologia da Leitura e, portanto, interessa
a ela também. Sobre tal quesito Lukács (apud Mury, 1974) pensa a consciência do
possível, já levantada por seu discípulo Lucien Goldmann:
a consciência que os homens teriam em uma situação vital determinada, se tivessem sido capazes de compreender perfeitamente esta situação e os interesses que dela se derivavam. Descobrimos, assim, os pensamentos, etc., que se correspondem com sua situação objetiva7 (Lukács apud Mury, 1974, p. 206).
Para o entendimento de tal consciência coletiva é necessário, segundo
aponta Mury, que se analise o entorno social, ideias e valores do grupo no qual os
sujeitos estão inseridos. No caso dos brasiguaios seu conceito familiar e econômico
torna-se preponderante, assim como sua condição muitas vezes nômade em regiões de
tão grande riqueza lingüística. Tal riqueza deveria ser ponto de apoio e valorização, mas
acaba tornando-se ponto de discriminação e exclusão social desses futuros leitores.
Mury aponta dois métodos para avaliar tal consciência coletiva: o
questionário e a entrevista. Tais métodos foram aplicados da seguinte forma:
questionário aos pais (12 questionários) e professores (7 questionários) e entrevista aos
alunos (15 entrevistas). A partir do recorte das respostas estabeleceu-se uma ideia das
dificuldades de leitura dos brasiguaios que será exposta a seguir.
Leitura de Lazer e Leitura de Trabalho
Os alunos brasiguaios demonstraram, através da análise dos
questionários, diferenciar as leituras realizadas em suas casas, no seio familiar, das
leituras realizadas na escola, por ordem ou sugestão dos professores e em contato com
os colegas de classe, no que se refere à frequência das leituras e o desejo por realizá-
las. Tal dado chamou atenção pelo fato de que o gênero literário tratava-se do mesmo
em casa e na escola: o gênero fábula. Nas respostas de 12 alunos (do total de 15
questionários aplicados) havia a frequência da leitura semanal de fábulas em Língua
Espanhola, no seio familiar, enquanto apenas dois dos quinze entrevistados disseram
apreciar e conseguir realizar as leituras de fábulas quando solicitadas pela professora, no
ambiente escolar, e declarando entendê-las e apreciá-las em Língua Portuguesa.
O teórico francês Roland Barthes (1974) em sua obra O prazer do texto
definiu os termos “texto de prazer” e “texto de fruição”. No caso do primeiro citado
Barthes define como texto de prazer aquele no qual o leitor pode “pular” as páginas do
texto sem prejuízo do entendimento; aquele no qual o leitor “relaxa” com a leitura.
Enquanto no segundo caso, a leitura de fruição que aqui relaciona-se com a de
“trabalho” exige o debruçar-se sobre o texto de forma concentrada e competente, numa
atitude cansativa. O texto de prazer para os alunos brasiguaios se configurou como
sendo aquele lido em Língua espanhola em seu desenvolvimento, ao passo que a leitura
de fruição tem sido a leitura em língua portuguesa, ainda que as duas sejam do mesmo
gênero, como no caso da preferência de grande parte desses alunos: a fábula. A
perspectiva de leitura das escolas pesquisadas não contempla tais dificuldades e não
busca a inserção de tais alunos como leitores literários em Língua Portuguesa como
pode-se verificar ao se analisar tais perspectivas.
Perspectivas de leitura dos colégios pesquisados
A perspectiva de leitura das escolas pesquisadas, os colégios estaduais
Tancredo de Almeida Neves e Jorge Schimmelpfeng no município de Foz do Iguaçu
seguem o que sugerem as chamadas DCE´s da disciplina de Língua Portuguesa e que
tratam a tratam a leitura "como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas
sociais históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado
momento" (DCE Língua Portuguesa,2008:18). Dessa forma, o professor favoreceria o
contato do aluno com a leitura de modo a levá-lo a refletir sobre tais aspectos pensando
o momento histórico em que os textos foram produzidos, quais seus objetivos e meios
de circulação, interagindo como co-produtor do texto. Apesar disso, não há um projeto
definido nas escolas que trate da leitura como tal agente que promova a igualdade social
entre os alunos, especialmente no que tange ao caso dos brasiguaios que possuem
dificuldades peculiares no quesito leitura.
Ao verificar o que diz a DCE de Língua Portuguesa (DCE Língua
Portuguesa, 2008), observa-se que o leitor (aluno) possui papel ativo no processo da
leitura, e para se efetivar como co-produtor, procura pistas formais, formula e reformula
hipóteses, aceita e rejeita conclusões, usa estratégias baseadas no seu conhecimento
linguístico, nas suas experiências e na sua vivência sócio-cultural. Nesse prisma pode-se
verificar principalmente nos questionários aplicados aos professores, que nenhuma
atividade diferenciada – que leve em conta as especificidades do aluno brasiguaio – ou
nenhum aspecto relevante que privilegie os conhecimentos diferenciados dos
brasiguaios são levados em conta pelos professores que com eles atuam. Tal panorama
entra em conflito com o que prezam as DCE´s e a falta de um projeto que insira tais
alunos de forma eficiente e produtiva faz com que, nos primeiros contatos desses alunos
multilíngues com sua nova realidade, não desenvolvam-se como leitores literários em
Língua Portuguesa no mesmo ritmo que seus colegas brasileiros natos e estabelecidos
como leitores literários desde seus lares passando pelas séries iniciais do Ensino
fundamental.
Tal falta de projetos de leitura a serem desenvolvidos dentro e fora das
salas de aulas vem de encontro com o que já foi observado por Rojo:
Se perguntarmos a nossos a lunos o que é ler na escola , e les possivelmente responderão que é ler em voz al ta , sozinho ou em jogral (para aval iação de f luência entendida como compreensão) e , em seguida, responder um quest ionário onde se deve local izar e copiar informações do texto (para aval iação de compreensão) . Ou seja , somente poucas e as mais básicas das capacidades le i toras tem sido ensinadas, aval iadas e cobradas pela escola . Todas as outras são quase ignoradas. (2009: p . 79)
Tal dificuldade, como a observada acima, não é
característica única das escolas descritas neste artigo, como se pode
observar em Rojo, mas uma realidade que demonstra a ineficiência no
que tange à inserção da leitura literária em sala de aula e ao letramento
literário. Sendo assim no dia-a-dia das escolas brasileiras no trato com
os alunos com suas dificuldades peculiares, assim também o é no caso
dos alunos brasiguaios que acabam por ter uma dificuldade ainda maior
por estar inseridos em uma sociedade que fecha os olhos para suas
dificuldades ao não promover o processo de igualdade que eles tanto
necessitam em seu desenvolvimento leitor, sem considerar ainda sua
alfabetização que pode ter sido prejudicada pela falta de projetos de
inserção desses alunos.
O repertório de leitura dos alunos “brasiguaios”.
O aspecto da leitura dos brasiguaios passa ainda pelo seu
repertório de leituras que é com certeza reflexo de sua alfabetização e de
suas letras iniciais. Pode-se observar em Soares:
À medida que o analfabet ismo vai sendo superado, que um número cada vez maior de pessoas aprende a ler e a escrever , e à medida que, concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais centrada na escr i ta (cada vez mais grafocêntr ica) , um novo fenômeno se evidencia: não basta aprender a ler e a escrever . As pessoas se a l fabet izam, aprendem a ler e a escrever , mas não necessar iamente incorporam a prát ica de le i tura e da escr i ta , não necessar iamente adquirem competência para usar a le i tura e a escr i ta , para envolver-se com as prát icas sociais da escr i ta . . . (SOARES, 1998: 45-46)
Tais práticas de leitura e escrita, especialmente a leitura são
iniciadas em Língua espanhola, como se pode observar nos questionários
aplicados (13 respostas). As leituras são geralmente as mesmas dos
alunos brasileiros: fábulas, contos, quadrinhos, anedotas, destacando-se a
leitura de fábulas – especialmente as moralizantes introduzidas através
de pais e professores - entre outros, porém, em sua volta e/ou vinda ao
Brasil e ao ensino brasileiro tais alunos acabam por abandonar leituras
semelhantes ao não compreender o que leem e por serem muitas vezes
ridicularizados pelos colegas ao não compreenderem os “falsos amigos”
da Língua Espanhola para a Língua Portuguesa (que são as palavras de
igual grafia, mas com significados distintos). Tal preconceito lingüístico
acaba por definhar a habilidade de leitura de alunos que podem e devem
ser bons leitores, mas que não o fazem por não ter a garantia de uma
transição adequada à Língua Portuguesa, que se faça privilegiando seus
conhecimentos em língua estrangeira e adaptando de forma a tornar esse
processo mais sutil e tranquilo. Mais uma vez aqui fica clara a falta de
um projeto de leitura que abranja o fator social e torne a leitura o que ela
realmente é: um momento prazeroso como podemos perceber nas palavras
de Cândido:
A arte, e, portanto a literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de uma estilização formal da linguagem , que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à sua configuração, e implicando em uma atitude de gratuidade.. (1972: p.53).
A leitura inclusiva e a formação do leitor.
Os alunos brasiguaios gostam de ler, mas o fazem de maneira
precária como se pode perceber nos questionários que relataram a
preferência desses alunos por assistir televisão ou brincar – quando
estudantes no Brasil – mas que preferiam à televisão os livros – quando
estudantes no Paraguai. Tal discrepância evidente no simples relato de
leituras dos alunos brasiguaios aponta a falta de um projeto adequado de
leitura literária nas escolas voltado para a leitura desses alunos na língua
portuguesa com diversas estratégias que passam pelo combate ao
“Bullyng” e pela qualificação dos profissionais da educação que
conduzem o trabalho com os alunos e também da qualificação dos
profissionais que atendem e orientam aos pais desses alunos . Projeto
esse que insira tais alunos socialmente perante seus colegas auxiliando-
os naquilo que eles têm de maior dificuldade e aproveitando as lições que
esses alunos de vivências tão diferenciadas possuem e que poderiam ser
compartilhadas com o restante de seus colegas tornando o ensino
realmente um fator de inclusão social e não um elemento a mais de
segregação de sujeitos por suas etnias e fronteiras geográficas.
Quanto aos pais, verifica-se nos questionários que o
incentivo à leitura – mesmo em casos de baixa escolaridade – é constante
(10 respostas), mas como a cultura familiar é fortemente voltada à
atividade de expectação televisiva fica prejudicada, como elemento de
incentivo, a atividade literária familiar demonstrando a necessidade de
um projeto maior que envolva os pais nessa empreitada pela leitura.
No que se refere ainda aos professores ficou evidente a
desmotivação pessoal na realização de tais projetos (desmotivação
apontada em 9 questionários) pelo fato de os educadores sentirem-se
sozinhos nessa empreitada difícil e penosa, mas que pode ter frutos
empolgantes e realizadores. Tais educadores declaram ter uma jornada
longa e desgastante que faz com que falte tempo para participar das
leituras já conhecidas pelos brasiguaios e de tempo para buscar leituras
que “falem para eles” (nas palavras de dez educadores) e que pudessem
auxiliar na inserção e motivação de tais alunos às leituras literárias em
língua Portuguesa.
Não se deve esquecer que o cidadão pleno se faz através da
leitura e tal atividade não deve ser encarada pelas instituições da
sociedade como uma atividade a mais para completar um currículo, mas
sim como, talvez, a atividade mais importante na formação de um
cidadão pleno como se pode frisar através das palavras de Lajolo:
“O cidadão, para exercer plenamente sua cidadania , precisa apossar-se da l inguagem l i terár ia , a l fabet izar-se nela , tornar-se seu usuário competente , mesmo que nunca vá escrever um l ivro: mas porque precisa ler muitos .” (1994: p . 106)
O aluno brasiguaio também necessita ser observado com os
mesmos olhos inclusores para exercer plenamente sua cidadania,
apossando-se da linguagem literária e perfazendo esse caminho
maravilhoso da leitura literária não como um sujeito “atrasado” no
processo de formação como leitor, mas como um sujeito que vem para
acrescentar com suas vivências e se desenvolver plenamente e o fará
lendo muitos livros.
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