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 As experiências de produção agroecológica em Assentamentos de Reforma Agrária no Estado do Pará, uma identidade da agricultura camponesa impulsionada pelos Movimentos Sociais. José Gomes de Melo Júnior 1  Resumo O camponês emerge como um sujeito social com seus modos próprios de viver e características históricas tradicionais, o que perpassa pela cultura, hábitos e, também, pela sua forte relação com a natureza, expressa na produção agrícola, que ressalta os laços de produção social familiar, fugindo a lógica mercantil de contrato salarial. Estas premissas são ponto de partida para se analisar os processos político-educativos que emergem no bojo de seus movimentos sociais, e que privilegiam a organização dos camponeses, sua autonomia e o enfrentamento direto ao capitalismo no campo, trazendo pautas de resistência e meios para preservarem a sua tradicional produção para o autoconsumo, o abastecimento dos mercados locais e a base da segurança de seus alimentos, visando sempre a soberania alimentar. Com a conquista dos primeiros assentamentos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra   MST colocou como desafio estabelecer novas relações de produção, passando a discutir temas relacionados à agroecologia e a cooperação agrícola como formas de resistência e construção de uma nova realidade na agricultura. Nestes termos, o artigo analisa algumas experiências de produção agroecológica desenvolvidas em assentamentos de reforma agrária no Estado do Pará. Para tanto, toma-se Caporal e Costabeber (2000) ao destacar que a agroecologia constitui um campo de conhecimento e de investigação que provê ferramentas importantes para a promoção do desenvolvimento rural sustentável. A análise dos assentamentos indica que as estratégias privilegiam a abordagem ecossocial, ao considerar estratégias sócio-ambientais, em contraposição a abordagem ecotecnocrática, de 1 Estudante do curso de Engenharia Florestal    UFRA e Militante da Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF).

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As experiências de produção agroecológica em Assentamentos de Reforma

Agrária no Estado do Pará, uma identidade da agricultura camponesa

impulsionada pelos Movimentos Sociais.

José Gomes de Melo Júnior1 

Resumo

O camponês emerge como um sujeito social com seus modos próprios de viver e

características históricas tradicionais, o que perpassa pela cultura, hábitos e,

também, pela sua forte relação com a natureza, expressa na produção agrícola,

que ressalta os laços de produção social familiar, fugindo a lógica mercantil de

contrato salarial. Estas premissas são ponto de partida para se analisar osprocessos político-educativos que emergem no bojo de seus movimentos sociais,

e que privilegiam a organização dos camponeses, sua autonomia e o

enfrentamento direto ao capitalismo no campo, trazendo pautas de resistência e

meios para preservarem a sua tradicional produção para o autoconsumo, o

abastecimento dos mercados locais e a base da segurança de seus alimentos,

visando sempre a soberania alimentar. Com a conquista dos primeiros

assentamentos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra –

MST colocoucomo desafio estabelecer novas relações de produção, passando a discutir temas

relacionados à agroecologia e a cooperação agrícola como formas de resistência

e construção de uma nova realidade na agricultura. Nestes termos, o artigo

analisa algumas experiências de produção agroecológica desenvolvidas em

assentamentos de reforma agrária no Estado do Pará. Para tanto, toma-se

Caporal e Costabeber (2000) ao destacar que a agroecologia constitui um campo

de conhecimento e de investigação que provê ferramentas importantes para a

promoção do desenvolvimento rural sustentável. A análise dos assentamentos

indica que as estratégias privilegiam a abordagem ecossocial, ao considerar

estratégias sócio-ambientais, em contraposição a abordagem ecotecnocrática, de

1 Estudante do curso de Engenharia Florestal – UFRA e Militante da Associação Brasileira dos Estudantes de

Engenharia Florestal (ABEEF).

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viés tecnicista, calcada no otimismo tecnológico. Os processos político-educativos

delineiam um projeto que contempla o próprio campesinato e seus anseios, sendo

que uma das bandeiras de luta constantemente levantadas pelos camponeses é a

da reforma agrária, objetivando com isso acabar com a desigualdade social nas

áreas rurais, garantir a soberania alimentar, a permanência e a educação no

campo, renda e trabalho com uma participação igualitária das mulheres, assim

como preservar a diversidade vegetal, animal e cultural no meio rural. Com isso,

espera-se contribuir com uma base material e técnico-científico para se repensar

as nossas relações com a natureza e com os demais seres humanos, elevando a

produtividade física dos solos e do trabalho, estimulando assim a diversificação

produtiva, modificando nossos hábitos e atitudes frente à natureza, e alterando

nossos costumes de consumo e de alimentação, resgatando o tradicional ecultural modo de se produzir e as relações existentes na produção camponesa.

Palavras-chave: agroecologia, campesinato, reforma agrária.

Introdução

A agroecologia deriva primordialmente de duas ciências - a ecologia e a

agronomia –

que se distanciavam no objeto de suas ocupações, a ecologiaestudando os sistemas naturais e a agronomia aplicando os métodos de base

científica à agricultura. Até que com o despertar do campo da ecologia de cultivos,

no final da década de 20, estas duas ciências cruzam-se em um sentido de

incorporar princípios ecológicos à agricultura. Sendo assim o próprio termo

agroecologia, surge apenas nos anos 30, para denominar uma ecologia aplicada à

agricultura.

Mas foi a partir da década de 70 que a agroecologia evidenciou-se como campo

de produção científica, enquanto ciência multidisciplinar, preocupada com a

aplicação direta de seus princípios na agricultura, na organização social e no

estabelecimento de novas formas de relação entre sociedade e natureza. Uma

resposta frente ao modelo de agricultura que implementava políticas e ações,

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visando a maximização da produção e do lucro, efetivando práticas de cultivo

intensivo do solo, através de monoculturas, forte mecanização, uso de adubos de

síntese química, agrotóxicos e de crédito rural direcionado e assistência técnica

convencional e reprodutora destas práticas.

Isso atribuiu a agroecologia, a necessidade de ter uma característica mais

holística da realidade rural, uma vez que esta emerge como contraposição ao

modelo tradicional de agricultura, e que na sua origem estava mais centrada no

manejo ecológico de insetos-pragas e da vegetação espontânea, passando então

a trabalhar de forma mais abrangente, numa perspectiva de sistemas agrários e

de agroecossistemas, levantando agora questões como os problemas ambientais

e sociais do campo, visando com isso o desenvolvimento sustentável deste.

Nessa lógica os camponeses que incorporam as diversas práticas de agricultura

ecologicamente sustentável, às bases dos princípios agroecológicos, integram os

saberes ancestrais e tradicionais com os conhecimentos locais e atuais,

enriquecendo as experiências cada vez mais crescentes em agroecologia,

diferenciando-se em muito aos hábitos da agricultura convencional, o que reafirma

a identidade da produção dos campesinos ao longo da história da agricultura. Issoé cada vez mais estimulado também pelos movimentos sociais do campo, que

organizam os trabalhadores rurais, em torno de pautas historicamente necessárias

para a melhoria das condições deste sujeito social essencial ao campo, como a

reforma agrária, o acesso a terra com melhoria das condições nas áreas rurais,

incentivos e assistência aos camponeses, pontos importantes para o

desenvolvimento e consolidação das práticas agroecológicas no meio rural.

Para tal trabalho, toma-se como estudo as experiências em agroecologia em

Assentamentos de Reforma Agrária no Estado do Pará, em especial no

Assentamento Mártires de Abril (com o acompanhamento in loco), situado na Ilha

de Mosqueiro, Município de Belém.

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Metodologia

O Assentamento Mártires de Abril localiza-se na Ilha de Mosqueiro, distante 77 km

de Belém e é um Distrito Administrativo pertencente à capital paraense. Tal

assentamento foi criado no ano de 2001, dois anos após a ocupação da então

Fazenda Taba, onde foram assentadas 91 famílias distribuídas em uma área de

408 ha, onde a maioria das moradias localiza-se em uma agrovila com dimensões

de 20m x 30m para cada casa e seus lotes de produção familiar tem cerca de 3,6

ha, onde existe também algumas residências (MST/Pará, 2004).

O Distrito Administrativo de Mosqueiro é constituído por várias ilhas banhadas

pela Baía do Marajó, localizada à costa oriental do Rio Pará, braço Sul do Rio

Amazonas, e embora fazendo parte da capital, apresenta características ruraiscom atividades econômicas voltadas para a agricultura, criação de pequenos

animais, extrativismo e pesca artesanal (ABE, 2004).

Estas características são base para o entendimento da realidade local e da área

do assentamento, que encontra-se em uma região de vegetação secundária, ou

capoeirão (como é comumente chamada pelos assentados), definida como área

de preservação e por uma área de pedreira antes explorada. Pontos de partidapara levantar as experiências das produções vistas na área (nos lotes e em

quintais agroflorestais), calcadas nos princípios agroecológicos.

No Assentamento Mártires de Abril, foram feitas visitas lançando-se mão de

registros dos dados referentes a um questionário a cerca da área em si, das

espécies ali presentes, da produção e das técnicas utilizadas no manejo da área,

assim como também o registro das experiências de produção agroecológica

encontradas.

No que diz respeito a mais exemplos em curso que discutem e produzem aos

moldes de princípios agroecológicos, isto impulsionados por movimentos sociais

do campo, podemos aqui enfatizar, experiências no município de Canaã dos

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Carajás, no Sudeste do Pará, a partir de um Grupo de Agroecologia que o MST

criou, que estuda e começa a praticar um agricultura camponesa referendada nos

princípios agroecológicos. Assim como a Brigada em Agroecologia desenvolvida

pelo MST do Pará, que busca entender mais a agroecologia e praticá-la de modo

mais efetivo nas áreas dos assentamentos de reforma agrária do Movimento. 

.

Resultados

Tendo estudado os casos da Brigada em Agroecologia e do Grupo de

Agroecologia e observado diretamente e acompanhado as certas iniciativas de

práticas agroecológicas, no Assentamento Mártires de Abril, os quintais

agroflorestais constituem-se como os principais sistemas de produção tradicional

que conseguem amplamente incorporar princípios da agroecologia, até por nãocompreenderem áreas superiores a 600 m², caracterizando-se pela produção

através de árvores frutíferas, de hortaliças, de plantas medicinais, e de pequenos

animais, uma vez que as espécies frutíferas são as mais cultivadas e detêm a

preferência dos agricultores, pois estas fazem parte da dieta alimentar dos

mesmos. Um exemplo típico é o caso da espécie Euterpe oleraceae , cujo vinho é

muito apreciada pelos amazônidas (ROSA, 2007).

Foram identificadas mais de 115 espécies, onde as principais espécies (Tabela 1)

são arbóreas madeireiras e frutíferas, plantas medicinais e ornamentais, hortaliças

e para produção de mudas, cultivadas nos quintais agroflorestais e nos lotes do

assentamento, que consiste nas áreas cujo qual se produz através de princípios

agroecológicos, pouco mais de 6,5%. Onde deste número de espécies, abaixo

descrito, 55,17% são usadas na alimentação dos produtores, 21,84% são usadas

na medicina caseira e 11,49% das espécies é utilizada como lenha e com

finalidade de recomposição florestal permanente da área.

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Tabela 1: Principais espécies encontradas nos quintais agroflorestais e lotes de

produção no Assentamento Mártires de Abril.

Nome Popular Nome Cintífico Família Uso

Abacateiro Persea americana  Lauraceae Alimentação

Abacaxi Ananas comosus   Bromeliaceae AlimentaçãoAbricó Mamea americana   Clusiaceae Alimentação

Açaizeiro Euterpe oleracea   Arecaceae Alimentação

Acerola Malpighia glabra  Malpighiaceae Alimentação

Algodão Gossypium hirsutum  Malvaceae Higiene/Medicinal

Ameixeira Eugenia cuminii  Myrtaceae Alimentação

Amor-crescido Portulaca pilosa  Portulacaceae Medicinal

Amoreira Morus Alba  Moraceae Alimentação

Anador Artemísia verlotorum   Asteraceae Medicinal

Andiroba Carapa guianensis  Meliaceae Madeira

Aroeira Astronium Fraxinifolium  Anacardiaceae Medicinal

Babosa Aloe babadensis  Liliaceae Medicinal

Bacaba Oenocarpus bacaba  Arecaceae Alimentação

Bacabi Oenocarpus minor  Arecaceae Alimentação

Bacuri Platonia insignis   Clusiaceae Alimentação

Banana Musa sp. Musaceae Alimentação

Batata-doce Ipomoea batatas  Convolvulaceae Alimentação

Boldo Vernonia condensatas  Asteraceae MedicinalCaatinga-de-mulata Tanacetum vulgare  Asteraceae Medicinal

Café Coffea sp  Rubiaceae Alimentação

Cacau Theobroma cacau Sterculiaceae Alimentação

Cacaui Theobroma speciosum  Sterculiaceae Madeira

Caju Anacardium ocidentale  Anacardiaceae Alimentação

Capim-santo Cymbopogon citratus   Poaceae Medicinal

Canela Cinnamomum zeylanincum  Lauraceae Medicinal

Carambola Averrhoa carambola  Oxalidaceae Alimentação

Cariru Talinum triangulare   Portulacaceae Alimentação

Castanha-do-pará Bertholettia excelsa  Lecythidaceae Alimentação

Cedro Cedrela odorata  Meliaceae Madeira

Cidreira Kyllinga odorata  Ciperaceae Medicinal

Coco Cocos nucifera  Arecaceae Alimentação

Crotalária Crotalaria juncea  Leguminosae Adubação Verde

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Cuieira Crescentia cujete  Bignoneaceae Ornamentação

Cupuaçu Theobroma grandiflorium   Sterculiaceae Alimentação

Cupuí Theobroma subincanum  Sterculiaceae Madeira

Elixir paregórico Piper callosum  Piperaceae Medicinal

Embauba Cecropia spp   Moraceae Forrageira/MedicinalFreijó Cordia goeldiana  Boraginaceae Madeira

Feijão-de-porco Canavalia ensiformis  Leguminosae Adubação Verde

Feijão guandu Cajanus cajan  Leguminosae Adubação Verde

Genipapo Genipa americana   Rubiaceae Alimentação

Gergelim Sesamum indicum  Pedaliaceae Alimentação

Gliricídia Gliricidia sepiuem  Leguminosae Adubação Verde

Goiaba Psidium guajava  Myrtaceae Alimentação

Graviola Anona muricata  Anonaceae Alimentação

Ingazeiro Ingá edulis   Leguminosae Alimentação

Ipê Tabebuia serratifolia   Bignoniaceae Madeira

Jambeiro Eugenia malaccensis  Myrtaceae Alimentação

Laranjeira Citrus sp. Rutaceae Alimentação

Limoeiro Citrus limonum   Rutaceae Alimentação

Macela Chamaemelum nobile  Asteraceae Medicinal

Malvarisco Pothomorphe umbeliata  Piperaceae Medicinal

Mamão Carica papaya  Caricaceae Alimentação

Mangueira Mangifera indica  Anacardiaceae Alimentação

Mandioca Manihot esculenta  Euphorbiaceae Alimentação

Mangostão Garcinia mangostona  Clusiaceae Alimentação

Maracujá Passiflora edulis  Passifloraceae Alimentação

Marupá-branco Simaruba amara  Simarubaceae MadeiraMastruz Chenopodium ambrosioides  Chenopodiaceae Medicinal

Maxixe Cucumis anguria  Cucurbitaceae Alimentação

Melão Cucumis melo   Cucurbitaceae Alimentação

Melancia Citrullus vulgaris  Cucurbitaceae Alimentação

Mogno Swietenia macrphylla  Meliaceae MadeiraMucuna-preta Mucuna aterrima  Fabaceae Adubação Verde

Murucizeiro Byrsonima crassifolia  Malpighiaceae Alimentação

Morototó Didymopanax morototoni  Araliaceae Madeira

Nim Azadirachta indica  Meliaceae Repelente Natural

Patchoulim Pogostemon patchouli  Laliadaceae Aromático

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Pariri Arrabidaea chica  Bignoniaceae Medicinal

Pau-brasil Caesalpinia echinata Leguminosae Ornamental

Pião-roxo Jatropha gossypiifolia  Euphorbiaceae Medicinal

Pitanga Eugenia uniflora  Myrtaceae Alimentação

Pimenta-de-cheiro Capsicum chinense  Solanaceae AlimentaçãoPriprioca Cyperus sp. Cyperaceae Aromático

Pupunha Guilielma gasipaes  Arecaceae Alimentação

Rambutão Nephelium lappaceum   Sapindaceae Alimentação

Sabugueiro Sambucus nigra  Lonicerae Medicinal

Sapotilha Manilkara zapota  Sapotaceae Alimentação

Siriguela Spondias purpurea  Anacardiaceae Alimentação

Tangerina Citrus reticulata   Rutaceae Alimentação

Tapereba Spondias mombim  Anarcadiaceae Alimentação

Teca Tectona grandis  Verbenaceae Madeira

Tamarindo Tamarindus indica  Leguminosae Alimentação

Uxi Endopleura uchi  Humiriaceae Alimentação

Urucum Bixa orellana  Bixaceae Alimentação

Vinagreiro Hibiscus sabdarifera  Malvaceae Medicinal

Figura 2: Palmeiras (açaí e côco) entre cupuaçuzeiros no lote de produção.

Foto: José Gomes e Melo Júnior, 2010. 

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Destacaram-se ainda algumas características muito própria do campesinato como

a não utilização de insumos agrícolas, a grande diversificação de espécies

cultivadas e a troca de sementes entre os assentados, assim como o uso de

técnicas de manejo das áreas inerentes a uma produção de forma

sustentavelmente ecológica: uso de repelentes naturais para controle de insetos

nocivos aos vegetais, preparados a partir de produtos naturais como com a folha

do nim (Azadirachta indica), da pimenteira (Capsicum Frutescens) e do limoeiro

(Citrus limonum), além da utilização também do suco da mandioca, o tucupi, da

“borra” do café e da água com sal e da citronela, de modo que não seja jogado

diretamente no solo e nem em elevadas proporções.

Figura 2: Diversidade de espécies em quintal agroflorestal.

Foto: Verissimo Cesar Souza da Silva, 2010. 

Uma das experiências mais bem consolidadas no âmbito de produção

agroecológica em assentamento de reforma agrária no estado do Pará encontra-

se no Assentamento Mártires de Abril, o Lote Agroecológico de Produção

Orgânica  – LAPO. Tendo acumulado seis anos de produção, as bases que

sustentam o lote de 4 ha de área, são os princípios de cobertura permanente do

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solo, conservando as folhagens que caem das diversas árvores que diversificam a

produção, aliada a prática de adubação verde e de defesa natural contra insetos

nocivos. Tudo isso em meio à criação de aves e também de peixes.

Figura 3: Tanque de peixe dentro de agrofloresta em sistema agroecológico.

Foto: José Gomes de Melo Júnior, 2010.  

Conclusões

A agroecologia é aquela agricultura que não enfoca apenas a produção, mas os

aspectos ambientais e sociais em toda sua profundidade e extensão, em termos

da sustentabilidade ecológica dos sistemas de produção (ALTIERI, 1986). É nesse

sentido que cada vez mais os movimentos sociais do campo impulsionam a

bandeira de luta agroecologia, na perspectiva de construção de uma alternativa de

projeto para a agricultura frente a essa que se mostra insustentável diante dasquestões social e ambiental, visando apenas à produção em larga escala.

O incentivo a experiências em agroecologia em assentamentos de reforma agrária

são frutos do horizonte em resgatar a identidade camponesa, para que essa se

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mantenha utilizando os recursos disponíveis de forma a ter uma boa relação com

a natureza, ter sua independência de insumos, conservando suas características

próprias de utilização do conhecimento e da cultura da população local.

Para isso é importante pontuar o salto de qualidade na segurança alimentar e

nutricional que a opção pela agroecologia traz, aliada a resistência no campo pela

riqueza de produção, incorporação de princípios ecológicos e emancipação social.

Assim como fundamental expandir tais práticas e experiências em agroecologia,

como as levantadas aqui, para que se alcance a transição agroecológica e a

mudança do atual modelo de agricultura.

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