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1 Relato da experiência vivenciada em Belo Horizonte com as Oficinas de Qualificação da Atenção Primária em Saúde Janete Maria Ferreira 1 Adriana Lúcia Meireles 2 Rosa Marluce Góis de Andrade 3 Max André dos Santos 4 Serafim Barbosa Santos Filho 5 Maria Luiza Fernandes Tostes 6 Fabiano Geraldo Pimenta Júnior 7 Suzana Maria Moreira Rates 8 Marcelo Gouvêa Teixeira 9 Resumo: O objetivo deste artigo é relatar a experiência das oficinas de qualificação da Atenção Primária à Saúde em Belo Horizonte. A metodologia é oriunda do Plano Diretor da Atenção Primária à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde/MG e as atividades pedagógicas são baseadas na metodologia da problematização. Participam das oficinas os 10.000 trabalhadores da Atenção Primária de diferentes níveis de escolaridade, desde médicos aos porteiros e auxiliares de limpeza, lotados em 147 centros de saúde do município. As oficinas são desenvolvidas em 10 módulos temáticos, operacionalizados por meio de uma sequência de encontros, em nível municipal, distrital e local. As oficinas apontam um novo arranjo institucional em BH, onde a Atenção Primária à Saúde ocupa o lugar central. Toda a instituição está se transformando, redirecionando seu olhar para o nível local, onde um novo processo de trabalho se inaugura. Descritores: OFICINAS APS, Atenção Primária à Saúde, centro de saúde, qualificação 1 Médica. Mestre em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro. Assessora Técnica do Gabinete da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e Coordenadora Geral das Oficinas de Qualificação à Atenção Primária à Saúde. 2 Nutricionista. Mestre e doutoranda em Saúde Pública/Epidemiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tutora das Oficinas de Qualificação da Atenção Primária à Saúde. 3 Assistente Social. Tutora das Oficinas de Qualificação da Atenção Primária à Saúde. Assistente Social. 4 Médico Sanitarista da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. 5 Médico. Mestre em Saúde Pública/Epidemiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Consultor técnico vinculado ao Ministério da Saúde. 6 Médica. Gerente de Assistência/GEAS da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. Médica. 7 Agrônomo. Mestre em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Secretário Municipal Adjunto de Saúde de Belo Horizonte. 8 Médica. Secretária Municipal Adjunta de Saúde de Belo Horizonte. Médica pela Universidade Federal de Minas Gerais. 9 Administrador. Mestre em Administração. Secretário Municipal de Saúde de Belo Horizonte.

Artigo Oficinas APS PensarBH

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    Relato da experincia vivenciada em Belo Horizonte com as Oficinas de Qualificao da

    Ateno Primria em Sade

    Janete Maria Ferreira1 Adriana Lcia Meireles2

    Rosa Marluce Gis de Andrade3 Max Andr dos Santos4

    Serafim Barbosa Santos Filho5 Maria Luiza Fernandes Tostes6

    Fabiano Geraldo Pimenta Jnior 7 Suzana Maria Moreira Rates 8

    Marcelo Gouva Teixeira 9

    Resumo:

    O objetivo deste artigo relatar a experincia das oficinas de qualificao da Ateno Primria

    Sade em Belo Horizonte. A metodologia oriunda do Plano Diretor da Ateno Primria Sade

    da Secretaria Estadual de Sade/MG e as atividades pedaggicas so baseadas na metodologia da

    problematizao. Participam das oficinas os 10.000 trabalhadores da Ateno Primria de diferentes

    nveis de escolaridade, desde mdicos aos porteiros e auxiliares de limpeza, lotados em 147 centros

    de sade do municpio. As oficinas so desenvolvidas em 10 mdulos temticos, operacionalizados

    por meio de uma sequncia de encontros, em nvel municipal, distrital e local. As oficinas apontam

    um novo arranjo institucional em BH, onde a Ateno Primria Sade ocupa o lugar central. Toda

    a instituio est se transformando, redirecionando seu olhar para o nvel local, onde um novo

    processo de trabalho se inaugura.

    Descritores: OFICINAS APS, Ateno Primria Sade, centro de sade, qualificao

    1 Mdica. Mestre em Administrao Pblica pela Fundao Joo Pinheiro. Assessora Tcnica do Gabinete da Secretaria Municipal de Sade de Belo Horizonte e Coordenadora Geral das Oficinas de Qualificao Ateno Primria Sade. 2 Nutricionista. Mestre e doutoranda em Sade Pblica/Epidemiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tutora das Oficinas de Qualificao da Ateno Primria Sade. 3 Assistente Social. Tutora das Oficinas de Qualificao da Ateno Primria Sade. Assistente Social. 4 Mdico Sanitarista da Secretaria Municipal de Sade de Belo Horizonte. 5 Mdico. Mestre em Sade Pblica/Epidemiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Consultor tcnico vinculado ao Ministrio da Sade. 6 Mdica. Gerente de Assistncia/GEAS da Secretaria Municipal de Sade de Belo Horizonte. Mdica. 7 Agrnomo. Mestre em Sade Pblica pela Fundao Oswaldo Cruz. Secretrio Municipal Adjunto de Sade de Belo Horizonte. 8 Mdica. Secretria Municipal Adjunta de Sade de Belo Horizonte. Mdica pela Universidade Federal de Minas Gerais. 9 Administrador. Mestre em Administrao. Secretrio Municipal de Sade de Belo Horizonte.

  • 2

    Abstract:

    The paper aim is to report the experience of workshops regarding the qualification of Primary

    Health Care in Belo Horizonte. The methodology comes from the Master Plan for Primary Health

    Care of State Health Department MG and the educational activities are based on problem

    methodology. Approximately 10,000 workers of different education levels that work in 147 health

    centers participate of workshops (from doctors to the doorman). The workshops are developed in 10

    thematic modules, operationalized through a series of meetings at the municipal, district and local

    levels. The workshops suggest a new institutional arrangement in Belo Horizonte City, where the

    Primary Health Care occupies the central place. All institution is changing, redirecting his gaze to

    the local level, where a new worker process was inaugurated.

    Keywords: Workshop, Primary Health Care, Health Center, qualification

    Introduo

    O Sistema nico de Sade (SUS) tem uma trajetria exitosa em Belo Horizonte (BH). De

    acordo com suas diretrizes, muitos avanos foram obtidos, tais como a integrao das unidades em

    uma rede de servios de sade e o fortalecimento progressivo da Ateno Primria Sade (APS).

    Pode-se dizer que o Plano Macro Estratgico da Secretaria Municipal de Sade (SMSA) de

    Belo Horizonte, 2009-2012: SUS-BH Cidade Saudvel um dos responsveis pelo xito do SUS na

    cidade. Ele aponta a APS como uma das grandes diretrizes dessa gesto e como o eixo estruturador

    de toda a rede de ateno sade no municpio de Belo Horizonte.

    Entendendo que, para haver a consolidao dos princpios e diretrizes do SUS na prtica,

    necessrio haver a qualificao das equipes de sade, no ano de 2009, oficinas oriundas do Plano

    Diretor da Ateno Primria Sade (PDAPS) da Secretaria Estadual de Sade (ESP, 2008;

    MENDES, 2009), passaram a ser realizadas em Belo Horizonte.

    As oficinas esto sendo adaptadas realidade municipal e so denominadas Oficinas de

    Qualificao da Ateno Primria Sade em Belo Horizonte (OFICINAS APS).

    Nas duas primeiras oficinas, realizadas em 2009, foram abordados os temas: anlise da

    ateno primria e redes de ateno sade. No ano de 2010 foram realizadas quatro oficinas cujos

    temas foram: a territorializao e uso de dados e informaes para o diagnstico local, distrital e

    municipal; a organizao do trabalho para atendimento demanda espontnea; a organizao da

    ateno programada; e a agenda das equipes de sade e os contratos internos de gesto.

    Para o ano de 2011, esto programadas oficinas sobre abordagem familiar; promoo sade;

    apoio farmacutico e laboratorial; e de vigilncia em sade.

  • 3

    A realizao das oficinas em Belo Horizonte tem se configurado como um espao de

    aprendizagem e reflexo, capaz de gerar mudanas de comportamento por parte dos profissionais da

    sade. Deste modo, compreende-se que relatar essa experincia se faz necessrio, a fim de que

    outros tambm possam realizar essa estratgia em sua prtica

    Objetivos

    Relatar a experincia das Oficinas de Qualificao da Ateno Primria Sade em Belo

    Horizonte.

    Desenvolvimento

    Trata-se de um relato de experincia das Oficinas de Qualificao da Ateno Primria

    Sade em Belo Horizonte. Para tanto, ser descrito como a organizao da APS na cidade, a

    estrutura organizacional construda para reunir os profissionais necessrios e os primeiros

    resultados j identificados nesse processo.

    A Organizao da Ateno Primria no Municpio de Belo Horizonte

    A gesto municipal de Belo Horizonte optou, nas ltimas dcadas, pelo fortalecimento da

    APS, por entender que esse era o ponto do sistema capaz de propiciar populao a ateno

    necessria para a soluo da maioria dos seus problemas de sade. A APS o local privilegiado

    para a criao do vnculo com os usurios do SUS-BH e a longitudinalidade do cuidado prestado.

    As primeiras Equipes de Sade da Famlia (ESF) foram implantadas nos Centros de Sade

    dos nove Distritos Sanitrios de Belo Horizonte, no ano de 2002, ficando responsveis pela

    assistncia sade das populaes de maior risco de adoecer e morrer. Para essas populaes, a

    estratgia de sade da famlia acabou gerando uma mudana processual por dentro da rede de

    servios, excluindo, sempre que possvel, redes paralelas ou concorrentes (TURCI, 2007).

    Equipes de Sade Bucal, tambm foram inseridas na rede e hoje elas e as ESF atuam no

    espao dos Centros de Sade de Belo Horizonte em conjunto com os demais profissionais que

    compem a APS (clnicos, pediatras, assistentes sociais, equipes de sade mental, dentre outras).

    Em um movimento crescente, temos hoje na cidade, aproximadamente 10.000 trabalhadores,

    distribudos nos 147 Centros de Sade e 536 ESF.

    Esse processo trouxe muitos avanos para o SUS-BH, tais como: o incremento de recursos

    humanos; a mudana da forma de abordagem da populao; a diversificao da oferta de aes de

  • 4

    promoo sade e a ampliao do acesso aos servios. Desta forma, a APS se configurou como a

    porta de entrada, no a nica, mas a principal do sistema municipal de sade de Belo Horizonte.

    Por outro lado, importante relatar que a implantao da ESF em BH desnudou questes

    amplas e delicadas como a violncia em todos os seus matizes, a pobreza extrema e outras

    dificuldades da vida familiar. Em muitos casos, o sistema de sade vem assumindo

    responsabilidades que extrapolam seu campo de atuao, exigindo cada vez mais a articulao com

    o conjunto das polticas sociais e urbanas.

    Alm desse, existem hoje muitos outros desafios. A APS como porta de entrada levou as

    equipes, em muitos momentos, a priorizar o atendimento da demanda espontnea em detrimento do

    acompanhamento e seguimento dos usurios e famlias.

    A organizao das Oficinas de Qualificao da APS em Belo Horizonte

    Ao iniciar as OFICINAS APS, as equipes viviam os dilemas da gesto da ateno programada

    e o atendimento da demanda espontnea, da vigilncia em sade e da promoo sade, alm da

    integrao destes com os demais pontos da rede de ateno sade no municpio.

    Alm disso, especialmente aps a implantao de mais de 500 ESF, percebia-se que o maior

    desafio era disseminar e coletivizar as diretrizes institucionais do processo de trabalho local. Havia

    um problema central que residia na deficincia de padronizao de processos. Assim a criatividade

    extraordinria das equipes aproximava-se do voluntarismo e eram gerados processos muitas vezes

    dispares e isolados.

    Belos esforos j haviam sido conduzidos nesse sentido, como a realizao do Curso de

    Especializao em Sade da Famlia em parceria com a UFMG, em 2003, com a titulao de mais

    de 1.000 mdicos e enfermeiros; e a criao do Centro de Educao em Sade (CES) possibilitando

    diversas capacitaes. Alm disso, nos ltimos anos, uma ampla discusso com os gestores e

    trabalhadores do SUS-BH culminou com duas publicaes importantes: o Livro de Resumos do 2

    Seminrio da Ateno Bsica do SUS-BH realizado em 2007 (SMSA-BH, 2007) e o livro Avanos

    e Desafios na Organizao da Ateno Bsica Sade em Belo Horizonte (TURCI, 2008).

    Entretanto, essas iniciativas ainda no eram suficientes para recomendar e estruturar a

    organizao do processo de trabalho local, que deveria ser um processo homogneo o suficiente

    para atender a regras e normas gerais para toda a cidade e, ao mesmo tempo, especfico o bastante

    para lidar com perfis epidemiolgicos to diversos.

    Para suprir essas, dentre outras, demandas, so criadas as OFICINAS APS que buscam

    associar a qualificao profissional dos profissionais da APS implementao de diretrizes

    institucionais para o processo de trabalho da Ateno Primria em Belo Horizonte.

  • 5

    Em Belo Horizonte, o principal desafio para operacionalizao das OFICINAS APS o

    pblico-alvo: os 10.000 trabalhadores da ateno primria do SUS/BH, de diferentes nveis de

    escolaridade, como mdicos, dentistas, enfermeiros, tcnicos e auxiliares de enfermagem, porteiros

    e auxiliares de limpeza, lotados nos 147 Centros de Sade.

    Essa dimenso e diversidade obrigou o Grupo de Conduo Municipal das OFICINAS APS a

    customizar as oficinas originais do PDAPS, tanto a adaptao da carga horria, quanto a elaborao

    dos textos e referencial terico. Utilizou-se para construir as atividades pedaggicas das oficinas a

    metodologia da problematizao.

    O objetivo principal das OFICINAS APS tem sido a consolidao da ateno primria como

    eixo estruturador da ateno sade no municpio de Belo Horizonte por meio do fortalecimento do

    processo de implantao da Estratgia de Sade da Famlia; da capacitao dos trabalhadores

    envolvidos na APS; e da qualificao dos processos de trabalho locais.

    Os objetivos especficos dessas atividades so a implementao de diretrizes institucionais

    que conduzam a uma ateno primria qualificada e resolutiva; o alinhamento dos processos de

    trabalho que permitam o equilbrio entre promoo, preveno e ateno, e entre o agudo e o

    crnico no cotidiano das agendas; a implantao de instrumentos de gesto clnica, de diagnstico

    local, de programao local e municipal, de protocolo de classificao de risco e de contratos

    internos de gesto.

    Os Grupos de Conduo das OFICINAS APS

    Para que as oficinas sejam realizadas, conta-se com uma estrutura composta por um grupo de

    conduo municipal, nove grupos de conduo distrital e por um grupo de facilitadores, constitudo

    por dois ou mais representantes por centro de sade.

    O grupo de conduo municipal se organiza sob orientao do gabinete da Secretaria

    Municipal de Sade (SMSA), e conta com a participao das principais gerncias da instituio.

    Participam na conduo municipal tcnicos do nvel central que apoiam o processo em cada Distrito

    Sanitrio, denominados Apoiadores Institucionais e os Gerentes de Projeto/Tutores vinculados a

    cada Distrito. Ao todo, o grupo conta com aproximadamente 40 integrantes.

    Esse grupo tem como tarefa a coordenao e conduo geral das OFICINAS-APS, incluindo a

    customizao da metodologia e material didtico desenvolvida pelo PDAPS para a realidade da

    APS em Belo Horizonte.

    Para conduo das Oficinas em cada um dos Distritos Sanitrios, conta-se com um ou dois

    Gerentes de Projetos, conhecido como Tutores com dedicao de 20 horas semanais para os

    processos envolvidos nas oficinas e os trabalhos do perodo de disperso. Esto envolvidos com as

  • 6

    oficinas, 14 tutores distritais e dois tutores centrais, que so orientados pelo Grupo de Conduo

    Municipal.

    Tem-se em cada Distrito Sanitrio um Grupo de Conduo Distrital que acompanha a

    implantao das OFICINAS APS nos centros de sade sob sua responsabilidade. Para isso, a

    coordenao do distrito constituiu um grupo de tcnicos e/ou gerentes, alm do Apoiador

    Institucional e Tutor, para acompanhamento de todo o processo, com a participao, em mdia, de 8

    a 10 tcnicos. O grupo de conduo distrital capacita um grupo maior de tcnicos apoiadores para

    o processo no nvel local.

    O grupo de facilitadores, composto, no mnimo, por dois representantes por centro de sade,

    sendo um deles o gerente e um outro trabalhador da unidade, identificado pelo Grupo de Conduo

    Distrital e com perfil para a conduo de oficinas.

    Os facilitadores dos 147 centros de sade do municpio organizam (sob a gesto do grupo de

    conduo distrital e participao do tcnico apoiador) o plano de desenvolvimento local de cada

    mdulo, guiando-se pelo seguinte esquema: diviso do conjunto de trabalhadores em grupos de

    cerca de 25 a 30 pessoas e a montagem de um nmero de oficinas que sejam necessrias para cobrir

    todos os trabalhadores. A diviso desses grupos deve considerar a adequao de horrios tanto para

    os funcionrios quanto para no deixar descoberto o atendimento populao.

    Como j apontado anteriormente, o pblico-alvo das oficinas locais so todos os profissionais

    lotados nos Centros de Sade. Ou seja, profissionais das equipes de sade da famlia, dos Ncleos

    de Apoio Sade da Famlia (NASF) e outros profissionais de apoio ateno primria, mdicos,

    enfermeiros, dentistas, tcnicos de enfermagem, tcnico de sade bucal, auxiliar de sade bucal,

    agente comunitrio de sade, administrativos, profissionais de apoio, zoonoses e de outras reas.

    A FIG. 1, apresentada a seguir, sintetiza a estrutura de conduo das Oficinas em Belo

    Horizonte.

    Figura 1. Estrutura da conduo das Oficinas em Belo Horizonte

  • 7

    As Oficinas Municipais, Distritais e Locais

    Em Belo Horizonte as oficinas foram estruturadas para contemplar trs dimenses: Oficinas

    Municipais, Oficinas Distritais e Oficinas Locais.

    O desenho de todo o processo de qualificao envolve 10 grandes mdulos temticos. Para

    cada mdulo h uma Oficina Municipal com carga horria de 16 horas, para formao dos

    facilitadores/condutores e planificao da realizao desses mdulos temticos em uma srie de

    oficinas que sero realizadas nos centros de sade (Oficina Local).

    Os mdulos foram programados para acontecer em uma agenda seriada, realizados com

    intervalos regulares, de 60 a 90 dias entre eles.

    As Oficinas Municipais tem como pblico-alvo aproximadamente 600 participantes, entre

    eles: os grupos de conduo municipal e distritais; os gerentes e os tcnicos com atuao direta ou

    indireta na APS (coordenadores da assistncia, tcnicos do planejamento, vigilncia sade e

    informao, educao permanente e outras reas afins); os facilitadores de cada centro de sade.

    Os 600 participantes so divididos em duas turmas de 300 integrantes, compondo turmas

    denominadas como A e B. Nas oficinas municipais, so abordados os principais eixos de discusso

    de cada mdulo, o contedo conceitual e a sequncia pedaggica recomendada para as Oficinas

    Locais. As discusses acontecem ora em uma grande plenria ou painel, ora em 12 grupos de 20 a

    30 pessoas. Esses grupos so identificados por cores e os trabalhos so conduzidos pelos

    Oficineiros.

    Atualmente, existem cerca de 24 Oficineiros (2 por grupo), que so integrantes do grupo de

    conduo municipal. Esse grupo tem como caracterstica principal a capacidade, interesse e a

    experincia de conduo de processos pedaggicos. Os Oficineiros participam de um perodo de

    preparao, de no mnimo 24 horas para cada mdulo, onde feita a validao do material

    preparado pelo grupo de conduo municipal e os ensaios de cada atividade a ser realizada. Nos

    ensaios, os Oficineiros vivenciam as atividades, experimentando os tempos, as discusses mais

    polmicas e identificando a melhor forma de transmisso do contedo.

    Na sequncia das Oficinas Municipais acontecem as Oficinas Distritais. Em cada um dos

    nove Distritos Sanitrios acontecem encontros de durao mdia de oito horas, onde o tutor e grupo

    de conduo distrital partilham os contedos e as discusses ocorridas na Oficina Municipal com os

    tcnicos distritais.

    O formato das Oficinas Distritais bastante varivel e tem como objetivos principais: a

    capacitao dos tcnicos apoiadores de cada centro de sade, para acompanhamento das Oficinas

  • 8

    Locais; a validao do plano de disperso apontado na Oficina Municipal e; o cronograma e

    organizao das Oficinas Locais.

    As Oficinas Locais acontecem no perodo compreendido entre uma Oficina Municipal e outra,

    como recomenda o PDAP. Cada oficina local desenvolvida em cerca de 8 horas presenciais

    (concentrao), complementadas com horas destinadas a atividades de campo (disperso). Para cada

    mdulo, so realizadas aproximadamente 500 oficinas locais, sendo em mdia trs por centro de

    sade. Na FIG. 2 apresentada a sequncia das OFICINAS APS de acordo com a estrutura de

    conduo.

    Figura 2. Sequncia das Oficinas de Qualificao da Ateno Primria Sade em Belo Horizonte

    Nas Oficinas Locais, o trabalho dos facilitadores provocar a aprendizagem, se aproximando

    mais funo de um mediador dos processos. Como um processo educativo, so considerados nas

    oficinas os saberes prvios provenientes da formao acadmica de cada um, os saberes construdos

    na atividade profissional, os saberes construdos coletivamente pelas equipes locais e sua histria.

    Assim, os facilitadores devem estar preparados para acolher esses saberes, estimular o grupo a ser

    propositivo e gerar momentos de sistematizao, para que todo o esforo no se perca.

    As turmas das Oficinas Locais tm perodos alternados, de modo que nenhuma unidade seja

    fechada durante o perodo de realizao das oficinas. Elas ocorrem preferencialmente, nos dias de

    tera, quarta ou quinta feira, fora do espao fsico do Centro de Sade (em equipamentos sociais

    prximos ou em salas de reunio especficas). A infra-estrutura e logstica para a realizao dos

    encontros compartilhada pelo nvel local, distrital e central, sendo, s vezes, mais precria que o

    desejado.

    importante destacar que, a estratgia de realizao das OFICINAS APS foi apresentada,

    discutida e aprovada pelo Conselho Municipal de Sade, sendo esclarecido o seu papel fundamental

    para populao residente nas reas de abrangncia dos Centros de Sade quanto nova forma de

    organizao da assistncia.

  • 9

    As Primeiras avaliaes e os primeiros resultados das Oficinas APS

    Perseguindo o objetivo das OFICINAS APS, o grupo de conduo municipal buscou, desde o

    incio, a estruturao de um processo avaliativo para as mesmas, pois entende que to importante

    quanto realizar as oficinas acompanhar os investimentos envolvidos na organizao/planejamento

    da qualificao, dadas as grandes dimenses de esforos e de nmeros envolvidos.

    Deste modo, considera-se ser de alta relevncia a articulao de um processo avaliativo com

    uma metodologia que se pressupe adequada para potencializar os investimentos e monitoramento

    dos resultados.

    Esse processo avaliativo foi construdo por um subgrupo de tcnicos e gerentes do grupo de

    conduo municipal com a finalidade de avaliar os contedos e acompanhar se os objetivos

    propostos esto sendo alcanados. Cabe ressaltar que esse processo tem ocorrido de forma

    inseparvel de uma avaliao das estratgias de interao com as equipes e trabalhadores no

    processo de formao-aprendizagem. A metodologia de acompanhamento avaliativo, cujas

    diretrizes encontram-se demarcadas nos referenciais da avaliao formativa e humanizada

    (SANTOS FILHO, 2009), foram expressas em um documento que sintetiza a articulao de

    abordagens avaliativas para as oficinas APS (SANTOS FILHO, 2010).

    A partir desse documento, foram tomados como referncia os princpios da avaliao

    participativa-formativa e foram propostos quatro focos de anlise: o planejamento geral e a

    conduo do processo como um todo; as oficinas como estratgia de aproximao das equipes para

    pautar/atualizar conceitos operacionais e normalizar instrumentos, fluxos e protocolos; os produtos

    especficos previstos a partir das oficinas; e as repercusses nas prticas profissionais e nas

    respostas aos usurios.

    Para acompanhamento e avaliao do planejamento geral e a conduo do processo como um

    todo, primeiro foco da anlise, ocorrem reunies quinzenais do grupo de conduo municipal onde

    so feitos levantamentos dos aspectos envolvidos no andamento das oficinas (fatores favorveis,

    dificuldades e desafios), a socializao das etapas implementadas e os ajustes necessrios nas

    agendas institucionais.

    Esse acompanhamento tem como fonte principal as avaliaes que so feitas ao final das

    Oficinas Municipais e Locais, consolidadas de um instrumento de avaliao elaborado para esse

    fim, que inicialmente possui quatro categorias (timo, bom, regular e deficiente). O formulrio

    preenchido por um grupo de trs a quatro participantes e posteriormente processado pelos tutores

    dos distritos e nvel central.

    A seguir so apresentados os resultados das avaliaes das duas primeiras oficinas

    municipais:

  • 10

    - Quanto a programao das oficinas, adequao do contedo e carga horria, 88,4% a

    96,6% dos participantes avaliaram como timo/bom;

    - Em relao a metodologia, abordagem do contedo, recursos didticos e trabalhos em

    grupo, o percentual timo/bom variou entre 94,5% e 95,6%,

    - A atuao dos Oficineiros/facilitadores, avaliada pela didtica, pontualidade,

    administrao e domnio do tempo, foi considerada tima/boa por 90% a 96,2% dos

    participantes.

    - Em relao auto-avaliao do participante (pontualidade, conhecimento adquirido,

    interesse pelo curso e atendimento s expectativas), as categorias timo/bom variaram

    entre 92,2% e 95,5%.

    Diante de respostas to positivas, o grupo de conduo entendeu que a opo metodolgica

    estava acertada e prosseguiu monitorando o segundo e terceiro focos de anlise propostos: as

    oficinas so entendidas como estratgia concreta de aproximao das equipes para compreender as

    diretrizes institucionais, normalizando instrumentos, fluxos e protocolos? Como esto sendo

    construdos os produtos acordados em cada Oficina?

    Buscando essa anlise, em maio de 2010, foi realizada uma srie de reunies distritais. Essas

    reunies contaram com a participao dos grupos de conduo distritais, dos gerentes e facilitadores

    dos centros de sade e utilizaram uma metodologia prxima uma avaliao qualitativa. A

    principal pergunta apresentada aos grupos era: As oficinas foram vistas inicialmente como uma

    coisa externa ao cotidiano das equipes, em um formato diferente da metodologia usual. Aps

    percorrido mais de um tero do caminho, as Oficinas fazem sentido para os profissionais das

    equipes? O que precisa ainda ser construdo?

    O resultado dessas reunies permitiu a construo de um rico material de anlise para a

    SMSA, que foi estruturado em seis aspectos ou eixos: o momento vivido pela instituio no

    primeiro semestre de 2010; a incorporao dos contedos e produtos das oficinas no cotidiano das

    equipes; a logstica necessria para a as Oficinas Locais; as estratgias para continuidade do

    processo; os recursos humanos necessrios e envolvidos e; a participao da comunidade e controle

    social. As concluses principais dessa anlise apontam que:

    - As oficinas fazem sentido para o SUS-BH, tem sido muito bem recebidas e os profissionais

    esto cientes que se trata de um movimento interessante e srio;

    - Para que a estratgia das Oficinas seja exitosa, em tudo que envolve, torna-se necessria a

    adeso unssona do nvel gerencial da SMSA (Colegiado Gestor);

    - Para que a estratgia das Oficinas seja efetiva, precisa-se de planos de trabalho para os

    principais problemas apontados e para os produtos acordados em cada uma delas.

  • 11

    Outro aspecto que precisa ser ressaltado a necessidade que o processo, inaugurado pelos

    encontros locais, seja institucionalizado com todos os atores da SMSA. As OFICINAS APS no

    podem ser entendidas como uma tarefa a mais para as equipes, j to sobrecarregadas. Os relatos do

    momento vivido pela instituio no primeiro semestre de 2010 foi uma sobrecarga absoluta, pelo

    aumento expressivo dos casos de dengue e a vacinao contra a Influenza H1N1. Essa sobrecarga,

    no entanto, no impediu o avano do processo de qualificao, mas trouxe para as equipes o desafio

    de conviver com um cotidiano muito extenuante.

    Consideraes finais

    A proposta das OFICINAS APS que esse caminho de qualificao se constitua como uma

    nova organizao dos processos de trabalho de toda a instituio, justamente para diminuir a dureza

    do cotidiano dos trabalhadores.

    Para isso, uma srie de encontros gerenciais esto sendo conduzidos, com a participao do

    Colegiado Gestor e gerentes da SMSA, visando a construo de uma abordagem estratgica e de

    planos de trabalho necessrios para: a incorporao dos produtos das oficinas no cotidiano das

    equipes; a efetivao do apoio metodolgico - apoiadores aos distritos e aos centros de sade; o

    apoio logstico, to necessrio e solicitado, para as Oficinas Locais (lanche, recursos multimdia,

    transporte, dentre outros); e a abordagem da participao da comunidade e controle social.

    As OFICINAS APS apontam um novo arranjo institucional para a SMSA, onde a APS ocupa,

    de fato, o lugar central. Toda a instituio est se transformando, redirecionando seu olhar para o

    nvel local, onde um novo processo de trabalho se inaugura.

    Referncias:

    ESCOLA DE SADE PBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Implantao do Plano

    Diretor da Ateno Primria Sade: Redes de Ateno Sade. Belo Horizonte, 2008: ESP-MG.

    117 p.

    MENDES, Eugnio Vilaa. As redes de ateno sade. Belo Horizonte, 2009: ESP-MG. 848 p.

    SANTOS FILHO, Serafim B. Avaliao e Humanizao em Sade: aproximaes metodolgicas.

    Porto Alegre, 2009: Editora Uniju. 271p.

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    SECRETARIA MUNICIPAL DE SADE DE BELO HORIZONTE. 2 Seminrio da Ateno

    Bsica do SUS-BH, Avanos, Perspectivas e desafios do novo modelo em Belo Horizonte. Belo

    Horizonte, 2007: Secretaria Municipal de Sade. 246 p.

    ______. SUS-BH: Cidade Saudvel Plano Macro-estratgico Secretaria Municipal de Sade Belo

    Horizonte 2009-2012. Belo Horizonte, 2009: Mimeo. 33p.

    TURCI, Maria Aparecida. (Org). Avanos e desafios na organizao da Ateno Bsica Sade

    em Belo Horizonte. Belo Horizonte, 2008: HMP Comunicao. 340 p.