Artigo Resultados Do Transplante Hepático Em Hepatocarcinoma

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    216 Arq Gastroenterol V. 38 - no. 4 - out./dez. 2001

    ARQGA / 990

    ARTIG

    O

    ORIGINAL

    /ORIGINALA

    RTICLE

    RESULTADOS DO TRANSPLANTE

    HEPTICO EM PORTADORES DEHEPATOCARCINOMA

    Mnica Beatriz PAROLIN1, Jlio Czar Uili COELHO2, Jorge E. FoutoMATIAS3,

    Vanessa PUCCINELLI4, Rossano JARABIZA5e Srgio O. IOSHII6

    RESUMO Racional O hepatocarcinoma uma das doenas malignas mais comuns em todo o mundo. O transplanteheptico boa opo teraputica para os pacientes com hepatocarcinoma em fase inicial, alcanando ndices de sobrevida

    semelhantes aos encontrados nos pacientes cirrticos transplantados sem malignidade heptica. Objetivo - Avaliar a

    evoluo de pacientes cirrticos com hepatocarcinoma submetidos a transplante heptico no Servio de Transplante

    Heptico do Hospital de Clnicas da Universidade Federal do Paran, Curitiba, PR. Mtodos - Estudo retrospectivo dos

    pacientes cirrticos com hepatocarcinoma submetidos a transplante ortotpico de fgado no perodo de setembro de 1991

    a setembro de 2000. O diagnstico do tumor foi estabelecido durante os exames pr-transplante em cinco doentes e foi

    achado incidental no fgado nativo em trs. Nos pacientes com diagnstico pr-operatrio de hepatocarcinoma adotou-se

    como critrio de elegibilidade para o transplante, a presena de tumor nico de dimetro 5 cm ou at trs leses com

    dimetro 3 cm cada, ausncia de invaso tumoral da veia porta ou de metstases extra-heptica. Foram avaliados como

    parmetros principais a sobrevida do paciente e a ocorrncia de recidiva tumoral aps o transplante. Resultados - A

    principal causa de doena heptica pr-transplante foi a hepatite por vrus C (50%). No exame do fgado explantado, a

    maioria dos pacientes (6/8, 75%) tinha leso nica; um paciente tinha dois ndulos e em outro detectou-se hepatocarcinoma

    multifocal incidentalmente no fgado nativo. O tamanho do tumor variou de 0,2 a 5,0 cm. Nenhum dos casos apresentou

    invaso vascular ou linfonodal. Todos os pacientes permaneceram vivos e livres de recurrncia tumoral durante o tempo

    do estudo, sendo a mediana de seguimento de 18,5 meses (variando de 5-29 meses). Concluso - O transplante heptico

    boa opo teraputica nos pacientes cirrticos com hepatocarcinoma em fase inicial. Com seleo adequada, o transplante

    heptico oferece excelentes ndices de sobrevida livre de recurrncia tumoral.

    DESCRITORES Transplante de fgado. Hepatocarcinoma. Doena heptica crnica.

    Servio de Transplante Heptico e Servio de Anatomia Patolgica do Hospital de Clnicas da Universidade Federal do Paran (HC-UFPR), Curitiba, PR.1 Mdica hepatologista do Servio de Transplante Heptico do HC-UFPR.2 Chefe do Servio de Transplante Heptico do HC-UFPR.3 Mdico cirurgio do Servio de Transplante Heptico HC-UFPR.4 Mdica residente do Servio de Cirurgia do Aparelho Digestivo HC-UFPR.5 Estudante do 6 ano do Curso de Graduao em Medicina da UFPR.6 Professor Adjunto do Servio de Anatomia Patolgica do HC-UFPR.Endereo para correspondncia: Dra. Mnica Beatriz Parolin - Rua Lamenha Lins 2280 - 80220-080 - Curitiba, PR. e-mail: [email protected]

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    INTRODUO

    O hepatocarcinoma (HCC) uma das doenas malignas mais

    comuns em todo o mundo, com incidncia estimada de aproxima-damente um milho de novos casos ao ano. A grande maioria dos HCC

    se instala em portadores de cirrose heptica, os quais apresentam

    risco da ordem de 20% de desenvolver o tumor em 5 anos(3).

    A resseco cirrgica a terapia de eleio nas neoplasias primrias

    do fgado e a nica a oferecer a possibilidade de cura. Infelizmente,

    menos de 30% dos pacientes com HCC so candidatos ao tratamento

    cirrgico no momento do diagnstico, devido ao tamanho do tumor, a

    pobre reserva funcional secundria hepatopat ia crnica ou

    disseminao extra-heptica. A resseco cirrgica do HCC usualmente

    se restringe aos pacientes com leses solitrias, com funo heptica

    extremamente bem preservada e sem evidncia de hipertenso portal.

    Nessas condies favorveis, a sobrevida em 5 anos aps a resseco,

    pode chegar a 50%(5, 11). Lamentavelmente, a recurrncia tumoral aps

    a resseco cirrgica invariavelmente elevada, podendo exceder 50%

    em 5 anos(3, 12). A recidiva usualmente afeta o parnquima heptico

    remanescente e pode resultar da disseminao a partir do tumor primrio

    ou ser um carcinoma metacrnico em fgado cirrtico predisposto.

    Ao contrrio da resseco cirrgica que trata apenas o tumor, o

    transplante heptico (TH) oferece abordagem mais adequada do ponto

    de vista oncolgico pois, alm de remover o tumor, substitui o parn-

    quima heptico comprometido por fgado normal, restabelecendo sua

    funo, diminuindo as recidivas em casos selecionados e retirando

    todo o tecido cirrtico que pr-maligno. Os primeiros resultados doTH em casos de HCC foram desapontadores, com ndices de recurrncia

    de 48% a 75% em 3 anos e sobrevida de 25% a 31% em 3 anos, pois

    incluam, principalmente, pacientes com doena avanada(8, 13, 14). A

    observao de que pacientes cirrticos com tumores pequenos no

    detectados nos exames pr-transplante (tumores incidentais),

    apresentavam ndices de sobrevida livre de recurrncia do tumor

    indistinguveis dos cirrticos sem malignidade, reascendeu o entusiasmo

    sobre o potencial curativo do TH em relao ao HCC(12, 17). Estudos

    subseqentes demonstraram que o estdio do HCC fator crucial

    para a obteno de bons resultados aps o transplante e que quando

    o TH realizado em pacientes com tumores solitrios com dimetro5 cm ou at 3 leses de dimetro 3 cm cada e sem evidncia de

    invaso vascular ou disseminao extra-heptica, a recurrncia

    desprezvel e os ndices de sobrevida (75% em 4 anos) so muito

    semelhantes aos encontrados nos pacientes sem HCC(2, 10, 11, 12, 15).

    O objetivo do presente estudo foi avaliar a evoluo dos pacientes

    cirrticos com HCC submetidos a transplante heptico no Servio de

    Transplante Heptico do Hospital de Clnicas da Universidade Federal

    do Paran, Curitiba, PR (STH-HC-UFPR), particularmente no que

    tange s taxas de sobrevida e recurrncia do tumor no seguimento

    ps-transplante.

    PACIENTES E MTODOS

    Cento e oitenta e trs transplantes de fgado (172 transplantes

    primrios e 11 retransplantes) foram realizados no STH-HC-UFPRno perodo compreendido entre setembro de 1991 a setembro de

    2000. Oito pacientes tinham o diagnstico patolgico de HCC no

    fgado nativo removido durante o transplante. O diagnstico pr-

    transplante do HCC foi estabelecido pela presena de massa intra-

    heptica consistente com HCC, identificada atravs de exames de

    imagem (tomografia computadorizada ou ressonncia magntica) e

    nvel de alfa-fetoprotena superior a 40 ng/mL, por leso hipervas-

    cularizada arteriografia heptica com aspecto caracterstico de HCC,

    ou por estudo histolgico em biopsia dirigida do tumor. Em todos os

    casos em que o HCC foi detectado na fase pr-transplante, o diag-

    nstico foi confirmado pelo exame histolgico do explante heptico.

    Tumor incidental foi definido como HCC identificado apenas na

    avaliao patolgica do fgado nativo com exames da fase pr-

    transplante, mostrando nvel srico normal de alfa-fetoprotena

    (< 20 ng/mL) e ausncia de leso tumoral nos estudos radiolgicos.

    No STH-HC-UFPR, para rastreamento do HCC nos candidatos a

    TH, so realizadas dosagem do nvel srico de alfa-fetoprotena e

    ultra-sonografia heptica a cada 6 meses.

    Nos pacientes com diagnstico pr-transplante de HCC, o estdio

    pr-operatrio incluiu a realizao de tomografia computadorizada de

    trax, abdome e crnio, cintilografia ssea e eco Doppler de veia

    porta. Como critrio de elegibilidade para o TH, considerou-se a

    presena de tumor nico de dimetro 5 cm ou at trs leses comdimetro 3 cm cada, ausncia de invaso tumoral da veia porta ou de

    metstase extra-heptica.

    O protocolo adotado pelo STH-HC-UFPR para deteco da

    recurrncia do tumor aps o TH consta da realizao, a cada 4 meses

    no primeiro ano, a cada 6 meses no segundo ano e, ento anualmente,

    de alfa-fetoprotena, tomografia computadorizada de trax, abdome e

    crnio, e cintilografia ssea

    Os pronturios mdicos foram revisados para coleta dos seguintes

    dados: idade na poca do transplante, sexo, etiologia da doena heptica,

    grau de disfuno heptica na fase pr-transplante de acordo com

    classificao de Child-Pugh, poca de diagnstico do tumor (pr-transplante ou tumor incidental), administrao de tratamento adjuvante

    na fase pr-transplante (p. ex. quimioembolizao), esquema de

    imunossupresso adotado, evidncia de recidiva do tumor e sobrevida

    aps o TH. Foram tambm analisadas as caractersticas histopatolgicas

    dos tumores identificados nos explantes, tais como nmero, localizao,

    tamanho (na presena mais de uma leso considerou-se o dimetro da

    maior leso), presena de invaso vascular macro ou microscpica e

    presena de infiltrao neoplsica em linfonodos.

    Os resultados foram expressos como mediana e variao ou percen-

    tagens.

    Parolin MB, Coelho JCU, Matias JEF, Puccinelli V, Jarabiza R, Ioshii SO. Resultados do transplante heptico em portadores de hepatocarcinoma

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    RESULTADOS

    Entre os 172 pacientes submetidos a TH primrio foram identi-

    ficados 8 pacientes com diagnstico patolgico de HCC no fgadoexplantado. A amostra estudada compreendeu sete homens (87,5%) e

    uma mulher (12,5%) com mediana de idade de 51 anos, variando de 5

    a 60 anos. As principais caractersticas clnicas dos pacientes

    portadores de HCC submetidos a TH esto expostas na Tabela 1. A

    infeco pelo vrus da hepatite C foi a principal causa de doena

    heptica crnica no grupo, estando presente em 50% dos pacientes

    (n = 4). Trs dos oito pacientes apresentavam boa reserva funcional

    heptica (Child A), sendo o tumor a principal indicao para o TH

    (casos 4, 7 e 8, Tabela 1).

    Em cinco dos oito casos (62,5%) o tumor foi diagnosticado na

    avaliao pr-transplante. Nos pacientes com HCC detectado no

    rastreamento pr-transplante, o tamanho da leso variou de 1,0 a

    5,0 cm. Quatro dos cinco pacientes com diagnstico tumoral pr-

    transplante realizaram quimioembolizao arterial do HCC enquanto

    aguardavam o transplante, com intervalo entre 4 a 18 meses antes do

    procedimento cirrgico.

    Em trs dos oito pacientes com HCC (37,5%) o TH foi indicado

    pela doena heptica avanada, sendo o tumor detectado apenas no

    exame do explante heptico. Dois dos trs apresentavam leses nicas

    com tamanho de 0,5 cm (caso 5) e 4,0 cm (caso 2), respectivamente.

    Em uma paciente com cirrose biliar primria, identificou-se HCC

    multifocal no exame do explante (caso 1, maior ndulo com 0,4 cm de

    dimetro). Na reviso do pronturio mdico dos trs pacientes comtumor incidental, os exames de ultra-sonografia heptica e alfa-

    fetoprotena realizados aproximadamente 6 meses antes da cirurgia,

    no apresentavam alteraes que sugerissem neoplasia maligna

    heptica.

    A anlise patolgica dos explantes revelou, na maioria dos casos,

    leso tumoral nica (6/8, 75% ), com tamanho variando de 0,2 a 5,0

    cm, conforme exposto na Tabela 1. Em seis dos oito casos, classificou-

    se o HCC como bem diferenciado e em dois como moderadamentediferenciado. No foram observados linfonodos com metstases ou

    invaso vascular micro e macroscpica em nenhum dos oito casos.

    O esquema de imunossupresso primria adotado foi ciclosporina

    em microemulso e prednisona em cinco pacientes e FK-506 e

    prednisona em trs. A mediana de seguimento ps-transplante no

    grupo estudado foi 18,5 meses, variando de 5 a 29 meses. At o

    presente nenhum caso de recidiva foi evidenciado, os pacientes

    apresentam boa funo do enxerto e a taxa de sobrevida de 100%.

    DISCUSSO

    Os resultados do presente estudo confirmam que pacientes

    cirrticos com HCC em fase inicial podem se beneficiar do TH se

    adequadamente selecionados. Na amostra estudada, composta de cinco

    pacientes com tumores diagnosticados na fase pr-TH e trs com

    tumores incidentais, todos sem evidncia de invaso vascular ou

    disseminao extra-heptica, a sobrevida livre de recurrncia tumoral

    foi de 100%, sendo a mediana de seguimento de 18,5 meses. No

    presente estudo utilizaram-se como critrios para eligibilidade ao TH

    em pacientes cirrticos com HCC, a presena de ndulo solitrio de

    at 5 cm ou at trs ndulos de dimetro igual ou inferior a 3 cm cada,

    baseados na experincia positiva de outros pesquisadores(11). Diversos

    autores demonstraram que o TH em pacientes cirrticos com tumorespequenos, sem evidncia de invaso vascular ou disseminao extra-

    heptica, associa-se a ndices de sobrevida livre de recidiva em 4 anos

    de at 75% e com recurrncia tumoral aceitvel, variando de 3% a 8%

    em 3 anos(2, 10, 11, 12, 15). Acredita-se que a seleo rigorosa dos candidatos

    Parolin MB, Coelho JCU, Matias JEF, Puccinelli V, Jarabiza R, Ioshii SO. Resultados do transplante heptico em portadores de hepatocarcinoma

    TABELA 1 Caractersticas clnicas e tumorais em oito pacientes cirrticos portadores de hepatocarcinoma submetidos a transplante heptico

    Caractersticas do HCC (explante) Sobrevida

    Caso Sexo Idade Doena Child Diagnstico QE n tamanho invaso ps-TH (meses)

    n heptica pr-TH HCC pr-TH leses (cm) vascular sem recidiva

    1 F 60 CBP C - - multifocal 0,4* - 29

    2 M 14 VHB C - - 01 4,0 - 26

    3 M 47 VHC C + + 01 4,5 - 24

    4 M 60 VHC A + + 02 2,5 - 20

    5 M 55 Criptognica B - - 01 0,5 - 17

    6 M 57 VHC+lcool B + + 01 5,0 - 17

    7 M 46 VHC A + + 01 2,0 - 11

    8 M 5 Criptognica A + - 01 1,5 - 5

    Abreviaturas: HCC = hepatocarcinoma; TH = transplante heptico; QE - quimioembolizao; CBP = cirrose biliar primria; VHB = vrus da hepatite B; VHC = vrus da hepatite C.

    * dimetro do maior ndulo tumoral

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    Parolin MB, Coelho JCU, Matias JEF, Puccinelli V, Jarabiza R, Ioshii SO. Resultados do transplante heptico em portadores de hepatocarcinoma

    a TH e portadores de HCC seja responsvel pela excelente sobrevida

    livre de recidiva observada no presente estudo, apesar desta pequena

    casustica e do seguimento ps-transplante dessa coorte de pacientes

    ser limitado, de aproximadamente 2 anos. Embora a recurrncia doHCC ocorra na grande maioria das vezes nos primeiros 2 anos aps o

    TH, tal complicao j foi documentada aps intervalos maiores(9).

    Outro fato que contribuiu para os bons resultados obtidos foi a incluso

    de trs pacientes com carcinoma incidental, grupo que sabidamente

    apresenta bom prognstico(1, 17).

    O TH o nico tratamento que assegura a completa remoo de

    todos os focos hepticos de tumor, bem como o tecido sob risco de

    recurrncia tumoral, resultando em ndices de sobrevida livre de tumor

    significativamente superiores aos obtidos pela resseco tumoral e

    indistingveis dos resultados do TH em cirrticos sem malignidade

    heptica(3, 12, 15, 17)

    . Entretanto, para que tais resultados sejamalcanados, fundamental a seleo adequada de pacientes com HCC

    em fase inicial, de maneira a reduzir a recidiva a nveis aceitveis,

    evitando-se o desperdcio de rgos por transplantes fadados ao

    insucesso. Analisando-se retrospectivamente as primeiras publicaes

    sobre pacientes com HCC submetidos a transplante heptico,

    constata-se que muitos dos pacientes eram portadores de doena

    tumoral avanada, j com invaso vascular macroscpica ou

    disseminao extra-heptica, o que justifica os maus resultados at

    ento obtidos com o TH(8, 12, 13, 14, 15).

    A escassez de rgos um srio problema a ser enfrentado quando

    se indica o TH em portadores de HCC. A disparidade entre o nmero

    crescente de pacientes em fila para TH e a escassez de doaestendem a elevar progressivamente o tempo de espera, j superior a

    1 ano em muitos centros. Como o tempo necessrio para o HCC

    dobrar de tamanho estaria em torno de 4 a 6 meses, enquanto esperam

    em lista, os pacientes correm o risco de haver progresso do tumor

    para um estdio no qual o TH seja invivel (invaso vascular ou

    disseminao extra-heptica). Para superar esses obstculos, dife-

    rentes estratgias tm sido utilizadas tais como o emprego de fgados

    retirados de portadores de doenas metablicas, tais como a poli-

    neuropatia amiloidtica familial (transplante domin), fgados

    marginais e, mais recentemente, a possibilidade de realizao de

    transplante inter vivo, utilizando-se o lobo direito do doador(17)

    .Como essas alternativas so acessveis a poucos candidatos a TH,

    muitos programas de transplante preconizam tratamento antineo-

    plsico adjuvante durante o perodo pr-TH atravs da quimioem-

    bolizao arterial do HCC (3, 7, 17). Na presente srie, quatro pacientes

    com diagnstico tumoral pr-transplante realizaram quimioem-

    bolizao arterial do HCC em intervalo varivel antes da cirurgia do

    transplante (4 a 18 meses). A quimioembolizao estratgia atraente

    devido ao seu efeito antitumoral (isquemia e ao local do quimio-terpico), possibilidade de ser realizada periodicamente com boa

    tolerncia e apresentar mnima toxicidade sistmica(5). O objetivo

    dessa tcnica induzir a necrose tumoral, reduzindo ou retardando

    o crescimento da leso e sua disseminao durante o perodo de

    espera em lista.

    Recentemente HARNOIS et al.(7)publicaram a experincia da

    Clinica Mayo na realizao peridica de quimioembolizao arterial

    do HCC em pacientes cirrticos aguardando o TH. Vinte e quatro

    pacientes cirrticos com menos de trs leses tumorais com dimetro

    inferior a 5 cm cada e sem evidncia de invaso vascular ou de

    metstases extra-hepticas completaram o protocolo de quimioem-bolizaes a cada 2 meses com mitomicina, doxorrubicina e cisplatina.

    O tempo mdio em lista de espera foi de 167 dias. O procedimento foi

    bem tolerado e nenhum dos pacientes desenvolveu recurrncia do

    tumor aps o TH (seguimento mdio de 29, 2 meses, variando de 9 a

    55 meses). A sobrevida livre de recurrncia do tumor em 1 e 2 anos foi

    de 91% e 84%, respectivamente. Baseados no protocolo empregado

    na Clnica Mayo e em outros centros, os autores do presente estudo

    excluram a azatioprina do esquema imunossupressor com o objetivo

    de reduzir o risco de recidiva viral e tumoral, mediante emprego de

    imunossupresso menos intensa(4, 16).

    O transplante heptico hoje a modalidade teraputica de eleio

    no STH-HC-UFPR para pacientes cirrticos com HCC inicial, restritoao fgado e sem evidncia de invaso vascular ou disseminao extra-

    heptica. Devido a atual tendncia de aumento do tempo de espera em

    lista para TH, hoje oscilando entre 10 a 12 meses, tem-se adotado a

    prtica de realizar, a cada 2 meses, arte riografia heptica com

    quimioembolizao do HCC, enquanto o paciente aguarda a cirurgia

    do transplante, baseado nos bons resultados obtidos com essa prtica

    no Programa de Transplante Heptico da Clnica Mayo(7). De acordo

    com a experincia de HARNOIS et al.(7), tem-se restringido a realizao

    de quimioembolizao em pacientes com reserva heptica funcional

    razovel (Child A e B), pelo risco elevado de grave descompensao

    de doena heptica em pacientes Child C.Concluindo, os resultados do presente estudo indicam que o TH

    constitui boa opo teraputica potencialmente curativa em pacientes

    cirrticos com HCC em fase precoce, associando-se a excelentes ndices

    de sobrevida livre de recurrncia tumoral.

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    Parolin MB, Coelho JCU, Matias JEF, Puccinelli V, Jarabiza R, Ioshii SO. Results of orthotopic liver transplantation for hepatocellular

    carcinoma. Arq Gastroenterol 2001;38(4):216-220.

    ABSTRACT Background Hepatocellular carcinoma is one of the most common malignancies worldwide. Liver transplantation has

    emerged as a good option for early-stage hepatocellular carcinoma yielding survival rates as good as for recipients without this type of

    tumor. Objective - To assess the outcome of cirrhotic patients with hepatocellular carcinoma undergoing liver transplantation at the Liver

    Transplantation Service of the "Hospital de Clnicas", Federal University of Paran, Curitiba, PR, Brazil. Methods - Retrospective study

    of cirrhotic patients with hepatocellular carcinoma undergoing orthotopic liver transplantation at the mentioned Institution between

    September 1991 and September 2000. The diagnosis of hepatocellular carcinoma was established during the pretransplant workup in five

    patients and the tumor was an incidental finding in the native liver in three. The indication for liver transplantation was restricted to solitary

    tumor equal to or less than 5 cm or up to 3 nodules, with each nodule measuring less than 3 cm, and no evidence of vascular invasion or

    extrahepatic spread. Patient survival and evidence of tumoral recurrence posttransplant were evaluated. Results - The most common cause

    for pretransplantation liver disease was hepatitis C virus (50%). On examination of the explanted liver, the majority of patients (6/8, 75%)

    had a single lesion; one patient had two nodules and one had a multifocal hepatocellular carcinoma found incidentally in the native liver.

    Tumor size ranged from 0,2 to 5,0 cm. All cases had neither vascular invasion nor linfonodal envolvement. All patients remained alive andfree of tumor recurrence at the time of the study with a mean follow-up of 18,5 months (range, 5-29 months). Conclusion - Liver

    transplantation is a good therapeutic option for early stage hepatocellular carcinoma arising in cirrhotic patients. With proper selection,

    liver transplantation can offer excelent survival rates free of tumor recurrence.

    HEADINGS Liver transplantation. Hepatocellular carcinoma. Liver diseases.

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