ARTIGO - SÍNTESE PROJETO CÂMPUS GLÓRIA

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O PROJETO CAMPUS GLRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA IntroduoA Universidade Federal de Uberlndia uma instituio de ensino superior pblico, criada em 1969 (federalizada em 1978) com sede na cidade de Uberlndia/MG e distribudo em trs campi (Santa Mnica, Umuarama e Educao Fsica) e mais trs campus avanados nas cidades de: Ituiutaba/MG, Monte Carmelo/MG e Patos de Minas/MG. Em junho de 2010, com a definio pela Administrao Superior da UFU, foi iniciado o processo de elaborao do plano diretor fsico e territorial e do projeto urbanstico de um novo campus universitrio na cidade de Uberlndia/MG, denominado de Projeto institucional Cmpus Glria. A proposta de implantao de um novo cmpus universitrio na rea denominada de Glria no recente, tampouco inovadora. Na dcada de 1970, a Prefeitura de Uberlndia doou a fazenda do Glria, justamente para que a ento UnU (Universidade de Uberlndia) pudesse implantar um cmpus nico, tendo sido objeto inclusive de aprovao do Conselho Universitrio e de pedido de recurso financeiro junto ao MEC. Contudo, a no liberao desses recursos financeiros impediu a implantao de um cmpus universitrio, mas permitiu a utilizao da rea como uma fazenda experimental e uma reserva ambiental, onde tem sido realizadas importantes prticas de ensino, pesquisa e extenso. Recentemente com a adeso da UFU ao programa de expanso das universidades federais, com a aprovao do Plano Institucional de Desenvolvimento e Expanso e diante da saturao dos atuais cmpus universitrios, a universidade aprovou a criao do Cmpus Glria na rea da atual fazenda do Glria e a Prefeitura Universitria formatou o projeto institucional para sua implementao. A Universidade Federal de Uberlndia constituiu equipe prpria para elaborao dos projetos arquitetnicos, urbansticos e paisagstico, assim como o desenvolvimento do Plano Diretor Fsico-Territorial para a implantao do Campus Glria, formada por tcnicos-administrativos da prpria universidade, com apoio de professores, estagirios, tcnicos contratados e consultoria externa. A rea referida atualmente como Fazenda do Glria constituda de glebas contguas, sendo duas de propriedade da Universidade Federal de Uberlndia e uma pertencente Fundao de Assistncia, Estudo e Pesquisa de Uberlndia FAEPU, conforme mapa a seguir:

Figura 01. Mapa de diviso das glebas da Fazenda do Glria. Fonte: PRIETO, 2005 (ATUALIZADO, 2010)

A rea definida para implantao do Cmpus Glria formada pelas denominadas no mapa de rea 1(A) e rea 2, totalizando uma rea de 2.937.044,00 m (dois milhes novecentos e trinta e sete mil e quarenta e quatro metros quadrados) e est localizada na parte sudeste do municpio de Uberlndia s margens da BR-050, no Km 78, entre as coordenadas 185730S e 48120W. A altitude na rea varia entre 840 metros (na parte baixa, prxima ao curso dgua do crrego do Glria) a 939 metros (no plano prximo BR-365). Os ventos predominantes na regio so Nordeste, durante quase todo o ano e Sudoeste em perodos de inverno. A rea do cmpus composta pela Fazenda do Glria e pelo clube ASUFUb (Associao dos Servidores da Universidade Federal de Uberlndia). A fazenda utilizada para pesquisas agrcolas e ambientais e para produo de gneros alimentcios destinados para o comrcio ou para o abastecimento da prpria universidade. O parque esportivo, com aproximadamente 46 (quarenta e seis) hectares, constitudo por 2 piscinas, 5 quadras poliesportivas, 3 campos de

futebol, uma pista de atletismo, alm de vestirios e outras edificaes de uso social. A rea do Glria tem na diversidade da natureza seu maior atrativo. uma fazenda experimental e comercial, mas ao mesmo tempo, uma reserva de vegetao e animais silvestres, com crregos, represa e paisagens naturais. A vegetao e hidrografia encontram-se espcimes de fauna e flora bem representativos do Cerrado, localizados nas reas de preservao permanente do crrego do Glria e da reserva legal da fazenda.

Figura 2. Flora dentro da rea de Preservao Permanente. Fonte: Equipe, 2010.

Figura 3. rea de Preservao Permanente vista da represa. Fonte: Equipe, 2010.

DesenvolvimentoA Universidade Federal de Uberlndia pretende, com o Cmpus Glria,

dar incio a uma universidade sustentvel, em um processo que se inicia desde sua implantao, estabelecendo diretrizes que iro repercutir em aes planejadas a favor da sustentabilidade. O projeto visa debater as propostas e aes desenvolvidas por diversas universidades voltadas sustentabilidade ambiental, problematizando alguns desafios postos, tanto no Brasil quanto em outros pases. Devido relevncia do tema e diante do quadro atual de expanso de vagas e universidades e do agravamento das condies ambientais, ao mesmo tempo que toda a sociedade mobiliza-se por um desenvolvimento justo e ambientalmente sustentvel, cabe refletir profundamente sobre a Universidade Sustentvel. Diante dessa situao, esse projeto pretende investigar a discusso em torno das prticas sustentveis e sua relao com a sociedade, enquanto atividade questionadora dos valores que mudam com o passar do tempo e sua possvel contribuio para um desenvolvimento sustentvel. A inteno de propor alternativas em resposta aos problemas existentes e assim, garantir a qualidade da prpria existncia humana por mais utpico que isso possa parecer. Assim, entende-se que um cmpus universitrio, sendo um significativo equipamento inserido na cidade, deve ser considerado como um espao de produo de informaes e conhecimentos, e como tal deve ter a obrigao de qualificar a cidade onde est inserido, sendo o ponto de partida sua relao fsica para com ela, como um espao de extenso da cidade por meio da melhoria na qualidade ambiental, social, cultural e tecnolgica na estruturao do espao urbano. Esse equipamento urbano deve ser considerado um modelo de empreendimento ecologicamente correto, economicamente vivel, socialmente justo e culturalmente aceito, e portanto sustentvel. Atualmente, apesar do conceito de sustentabilidade urbana parecer um conceito utpico e pouco operacional, muito mais ideolgico do que terico, pode ser sim um conceito til para o planejamento urbano. Como bem coloca Campbell (2003), esse conceito nos permite no apenas calcular se estamos atingindo a sustentabilidade, mas tambm determinar o quo longe estamos dela. Assim, o planejamento urbano surge como uma ferramenta para a implementao de programas, projetos e diretrizes capazes de promover o reequilbrio ecolgico e a adoo de prticas sustentveis, induzindo o conceito de sustentabilidade como um hbito da sociedade. No entanto importante que o planejamento seja entendido como um processo, o que lhe garante continuidade, o que lhe confere o necessrio dinamismo, baseado na multidisciplinaridade, levando devida integrao das reas envolvidas. Assim, a concepo de um cmpus universitrio deve ter como fundamento a necessidade de promover o uso de suas instalaes como um laboratrio experimental e modelo de desenvolvimento sustentvel para as comunidades internas e externas, servindo assim de referncia para os processos de conhecimento, comportamentos e prticas sustentveis. Para que este processo de estudo possa ser feito, falta ainda o mais importante, educar as populaes para terem conscincia sobre a

necessidade de atingir a sustentabilidade, e fazer compreender as suas diversas dimenses. O cmpus sustentvel se justifica por dois motivos principais: a real reduo dos impactos ambientais causados por sua construo e uso e pela importncia do edifcio sustentvel em si, como agente catalisador no processo de educao para um modo de vida mais sustentvel, tica, social e ambientalmente mais responsvel. Pelo modo como a sociedade utiliza o espao, a comunidade universitria passa a conhecer novas tecnologias, materiais e prticas, tornando-se replicadora da sustentabilidade. A gesto sustentvel exige o envolvimento de toda a comunidade universitria e externa, por isso deve ser construda e executada com a participao de todos, estruturando-se, sobretudo, no planejamento das aes e na sensibilizao e mobilizao da comunidade. Essa participao e envolvimento geradora de um processo, individual e coletivo de conscientizao ambiental, tido como fundamental para a execuo de programas e aes sustentveis nos campus. Esse processo de conhecimento da fazenda do Glria fundamental no s para o planejamento e a vivncia do novo cmpus, mas tambm para que a universidade, em todas as suas instncias, unidades e pela comunidade, comprometa-se com o cumprimento da funo social da propriedade urbana e rural, uma vez que existem grandes reas do Glria sem qualquer uso nem ocupao, o que atenta contra os objetivos defendidos por essa instituio de ensino. Por isso, deve-se considerar que o processo de discusso pblica, referenciado como Leitura Comunitria do Plano Diretor do Cmpus Glria, cumpre o papel de etapa preparatria ao planejamento fsicoterritorial do cmpus em que a comunidade universitria e a cidade de Uberlndia conhecem o espao e o reconhecem como bem pblico a servio da sociedade. Como diretriz para o incio dos trabalhos, ficou acertado entre a Prefeitura Universitria e a Administrao Superior, que o projeto de ocupao do cmpus deveria, obrigatoriamente ser discutido com toda a comunidade universitria por meio de: produo de website na internet do projeto para disseminao das informaes a toda a comunidade www.campusgloria.ufu.br; elaborao e divulgao do documento Texto base do Projeto Cmpus Glria, que foi encaminhado a unidades acadmicas e entidades representativas e disponibilizado pela internet a qualquer interessado; divulgao da proposta de implantao do cmpus junto comunidade por meio das mdias da universidade (rdio, TV, jornal), alm de participao em reunies; realizao de eventos como Workshops e Seminrios, para discusso pblica da concepo urbanstica e das diretrizes do Plano Diretor, com a comunidade universitria, externa, tendo professores de outras universidades como convidados.

Figura 4. Prof. Dr. Flvio Villaa discutindo sobre o programa do Cmpus Glria. Fotos: Milton Santos DIRCO/UFU.

Figura 5. Prof. Ms. Geovany J. A. da Silva (UNEMAT), Prof Dr Maria de Lourdes P. Fonseca (UFABC) e Prof. Dr. Francisco Spadoni (USP). Fotos: Milton Santos DIRCO/UFU.

O ProjetoA metodologia de desenvolvimento do projeto urbanstico, bem como do plano diretor do Cmpus Glria, seguem os princpios apontados nas teorias da infraestrutura verde (HERZOG, ROSA (s/data)), ou infraestrutura ecolgica, e do Plano de Ao Climtica (Climate

Action Plan CAP) da Universidade Cornell, Nova York, EUA1, analisando a paisagem de acordo com as atividades humanas, dividindo esse processo em sistemas naturais e antrpicos, por meio de intervenes de baixo impacto na paisagem e alto desempenho, com emprego de espaos multifuncionais e flexveis, que possam exercer diferentes funes ao longo do tempo adaptvel s necessidades futuras. Para tanto, o projeto de implantao do Cmpus Glria e do Plano Diretor do Cmpus Glria, agrupam as diretrizes e propostas em sistemas naturais (geolgico, hidrolgico e biolgico) e antrpicos (social, circulatrio e metablico) (HERZOG, ROSA (s/data)), expandindo-os, por entender a necessidade de abordagem dessas teorias dentro de um contexto mais amplo, aplicado ao Cmpus Glria, que ocorre dentro de um ambiente acadmico-cientfico. Com isso, a abordagem terica analisa os sistemas de a) gesto ambiental, b) capacidade hidrolgica, c) recursos renovveis, d) fluxos de circulao, g) paisagem urbana, h) funo social e i) ocupao e tcnicas construtivas.

Descrio do Projeto UrbansticoUm projeto como o proposto para a implantao do Cmpus Glria da Universidade Federal de Uberlndia deve responder a questes conceituais e fsicas. Como locus do conhecimento, um cmpus universitrio deve servir como um espao de qualificao para as cidades, necessrio sua vitalidade intelectual e fomentador de estruturas especializadas. A UFU, em especial, representa um ponto de ancoragem para a cidade de Uberlndia, espcie de centro nervoso, que se torna tambm uma referncia espacial. Um cmpus urbano como so os da UFU, um pedao de cidade, que, em situaes distintas mimetizam seu funcionamento, hierarquizando espaos, organizando fluxos, construindo linguagens. Em geral, os cmpus urbanos possuem a categoria especial de pertencerem malha urbana e o que os diferenciam da cidade convencional, do lado de fora, , justamente, estarem contidos intra-muros, muitas vezes criando uma barreira no apenas territorial. Um cmpus representa uma estrutura poltica em si, onde seus diversos atores vivem papis especficos e distintos do que nos praticam outros setores da cidade. O Cmpus Glria altera de modo fundamental essa geografia dos espaos da UFU na cidade. A comear pela sua dimenso. Com rea total equivalente a cerca 5% da rea urbana de Uberlndia, esse territrio a ser desenhado ao lado da cidade, amplia a extenso desta, pois, pela prpria dinmica do desenvolvimento urbano, em pouco tempo deixar esse ao lado para pertencer a sua estrutura, j que cada vez mais as centralidades esto expandidas. 1 Disponvel no http://www.sustainablecampus.cornell.edu/climate/index.cfm.acesso: 12/01/2011, s 11:37.

site: Ultimo

Com tal peculiaridade, podemos inferir que a postura adotada para o projeto do Cmpus Glria buscou enfatizar a hiptese, rara em nossa experincia urbanstica, de que se poderia ampliar a cidade atravs de um novo modelo de ocupao, modelo esse que, mais do que ser uma experincia exgena como o foram as cidades-jardim, prope-se como uma viso amadurecida e consciente da necessidade de permanncia, atravs de solues que se comprometem com a histria futura social e construda. O projeto apresentado para o Cmpus Glria teve como objetivo principal, estabelecer a relao de flexibilidade entre o planejamento e o projeto, ou seja, a possibilidade da elaborao de desenhos variados, em uma relao aberta, no qual possivel a adaptao e remodelao, desprovidas de qualquer sentido hierrquico com o plano. Neste momento apresentando uma proposta de ocupao que visam os seguintes principios orientadores: a integrao entre as unidades acadmicas, as instalaes de ensino, os laboratrios de pesquisa e as reas verdes e de convivncia; a consolidao de um cmpus que tenha vocao para atender as necessidades de cursos e unidades acadmicas com grandes demandas de espao fsico e infraestrutura de ensino, pesquisa e extenso, como os das reas de Cincias Exatas e Tecnologias, Engenharias, Cincias Agrrias e Ambientais e Esporte; a acessibilidade entre os diversos espaos, privilegiando o fluxo de pedestres, bicicletas e meios de transporte coletivo; a oferta de condies ideais para desenvolvimento de atividades acadmicas que visem a melhoria da qualidade de vida da comunidade, com equipamentos e atividades para o pblico externo; a harmonizao das edificaes com meio ambiente natural, bem como a implantao, em etapas, de construes sustentveis e de infraestrutura verde, para que sejam mais eficientes, durveis, saudveis, confortveis, flexveis, seguros, econmicos e prticos; adequao dos projetos, levando em considerao o atendimento s expectativas da comunidade, ao conhecimento sistematizado e aos custos possveis. A idia foi fortalecer a criao de um espao dinmico, onde o desenho no visto apenas como uma entidade esttica e intuitiva, mas sim como instrumento prtico do planejamento urbano, e que, portanto tem a funo no s de desenho, mas de gesto do espao de forma sustentvel, sendo varivel ao tempo, ao espao, as necessidades, aos programas e as demandas e deve atuar como um mecanismo de interao e inovao durante o todo o processo de implantao. Foram considerados quatro princpios estratgicos que nortearam as definies para a elaborao do desenho urbano, e foram baseados nos conceitos de conexo e integrao entre os sistemas naturais e

antrpicos, sendo caracterizados como conexes: extra-cmpus, intracmpus, fluxos e ambiental. - CONEXO EXTRA-CMPUS: O projeto atende a uma preocupao das cidades e se prope a ter um significado estratgico, que ao ser articulado a outros projetos pontuais inseridos na cidade, deve provocar efeitos benficos sobre o seu entorno imediato e transcender os limites da rea de interveno. Esse equipamento urbano deve atuar como um agente transformador na regio, na tentativa de criar incentivos e atrativos no s para a comunidade universitria, mas tambm para populao local ao redor e de toda a cidade. A idia que o projeto promova a articulao entre os espaos coletivos do cmpus com a cidade em uma relao contnua e hbrida, com o auxlio mtuo entre as atividades socialmente necessrias, como a gerao do lazer, da recreao, da educao e conhecimento, dos esportes, da cultura, entre outros. Para isso, o maior desafio o rompimento dos limites em suas bordas, tanto no que diz respeito aos aspectos scio-econmicos, quanto fsicoespaciais. Em relao aos aspectos scio-econmicos, deve-se a aproximao e interao entre a universidade e a cidade, onde reconhecida a necessidade de estreitar as relaes com a comunidade externa, por meio da utilizao dos equipamentos de uso coletivos, como a biblioteca, museus, centro culturais e comunitrios, parques e praas, pista de caminhada, quadras esportivas, estaes de ginstica, espaos de lazer, recreao e contemplao, reas de shows, centro de educao ambiental, servios e comrcios internos, entre outros. Como tambm, a permisso da livre circulao, por meio da proposta inicial de um cmpus aberto, com a previso do fechamento de reas e blocos especficos e controle externo de todo o cmpus. Essa idia, parte do principio da eliminao das parcelas muradas, que afastam e inibem a populao, principalmente a freqentar e utilizar o cmpus. Outra preocupao, que esse equipamento devido as suas grandes dimenses poderia ser um enclave urbano que impediria a mobilidade urbana e incentivaria a segregao social. J em relao aos aspectos fisicos-espaciais, nota-se a necessidade do rompimento da barreira formada pelo entroncamento de duas rodovias, a BR-050 e BR-365, e para isso a necessidade de criao de novas estruturas virias para promover a continuidade com o tecido urbano existente, a insero do cmpus no permetro urbano e a interligao aos equipamentos significativos existentes. A proposta indica, em curto prazo, a criao de passarelas e viaduto sobre a rodovia, interligando as reas de parques pblicos da cidade com o cmpus, dos equipamentos do cmpus aos equipamentos da cidade e dos equipamentos dos bairros ao redor ao cmpus em um movimento recproco. Alm disso, proposta a transformao do trecho da rodovia limtrofe ao campus em trecho urbano, com a reduo da velocidade e controle por meio de travessias elevadas e sinalizaes adequadas e posteriormente, com a construo do anel virio, a transformao imediata em via urbana.

Figura 6 Conexo extra-cmpus. Definio de estratgias de interligao entre o cmpus e a cidade. Fonte: Equipe, 2011.

- CONEXO INTRA-CMPUS A proposta trabalha a escala intra-urbana como elemento de apreenso do espao urbano, assim, possvel responder s expectativas sociais por orientao e identificao dos lugares, ou seja, de informar s pessoas onde elas esto, e como podem deslocar-se de um lugar para o outro, por meio da composio funcional das morfologias pr-existentes, projetos existentes e novos equipamentos, com a regulamentao da ocupao do territrio por meio de instrumentos e controle como: gabaritos, taxas de uso do solo, recuos, entre outros. No entanto, coube ao desenho a organizao de uma poltica dessa ocupao, a definio dos espaos cheios e vazios, das construes e massas de vegetao de volumes equivalentes, e a interpretao do que se deve entender por essas regulamentaes. As posies das edificaes no espao, abrangncia do verde, os circuitos hidrolgicos e o plano fundem-se ao desenho, sedimentando uma viso controlada da ocupao futura, por meio da introduo da novidade, da inovao e do desenho contemporneo. Para as estruturas pr-existentes, como a rea da antiga ASUFUB e a sede da fazenda, foram garantidas a identidade e a memria, por meio da adaptao e redistribuies, mudando ou no sua localizao atual, de acordo com as necessidades e demandas exigidas.

Assim, a antiga ASUFUB foi reformulada a fim de atender ao programa destinado as atividades dos cursos especificos de Educao Fisica e Fisioterapia, como tambm na transformao de um centro de excelncia esportiva, com equipamentos capazes de atender toda a comunidade universitria, assim como a populao externa por meio de projetos de pesquisa e extenso. J na sede da fazenda, por no ter sido identificado nenhuma construo com valor histrico, j que as construes no possuem nenhuma arquitetura diferenciada ou simblica, alm de que, a maioria das construes est em estado precario, foi proposta, aps a transferncia da fazenda, a preservao do grande ptio como valor simblico de origem e existncia das atividades da fazenda. A idia que esse ptio seja transformado em uma grande praa composta por elementos como esculturas, ferramentas, equipamentos, entre outros, alm de um espao para museu, onde ser destinada a documentao por meio de imagens, memrias, objetos, entre outros, a histria e os acontecimentos no local. Os projetos existentes e destinados ao Cmpus Glria foram estruturados de forma a garantir a sua adequada insero na topografia, orientao solar, ventos e no tecido urbano proposto, e foram considerados como equipamentos importantes na estruturao e definio dos espaos livres, formando pequenas praas e espaos de convivncia e conectando aos grandes eixos de circulao. Tambm receberam uma grande marquise de conexo entre eles, para garantir a circulao dos seus usurios, at o crescimento ao porte adequado da vegetao. A marquise ainda tem a funo simblica de ser o grande marco de incio da construo do cmpus, marcando o espao onde sero construdos os primeiros edifcios. Os novos equipamentos e edifcios participam no desenho como elementos estruturadores da identidade e atuam na orientao da rea considerada, formando conjuntos morfolgicos com suficiente coerncia e clareza, de modo a serem diferenciados uns dos outros, sendo facilmente identificado como setores de interesses distintos, como ensino, pesquisa, ambiental, esportivo, entre outros. Alm disso, alguns edifcios devem ser considerados como referncias morfolgicas dentro do cmpus, por meio do contraste em relao ao entorno e constituem uma srie, mantendo a mesma linguagem arquitetnica e identificando seu principal uso, o coletivo, como a Biblioteca, o Restaurante Universitrio, o Edifcio Administrativo e de Servios e o Centro de Convivncia. Esses equipamentos esto conectados por uma grande praa, formando um ncleo polarizador, no geomtrico, mas efetivo, que se d no cruzamento de dois eixos de circulao importantes que cruzam o territrio em sentidos opostos. Esse espao, denominado como Setor Central, considerado como o corao do cmpus, onde surge algo como um trio publico de grande escala. Foram criados pontos estratgicos para o fortalecimento dos encontros e concentrao de pessoas por meio de uma rede de espaos livres como: praas, espaos de convivncia, quiosques e marquise que se conectam pelos eixos de circulao de forma a facilitar o acesso aos

edifcios de forma confortvel e promovem a conexo interna entre os equipamentos.

Figura 7 Conexo intra-cmpus. Definio de referencias morfolgicas e pontos estratgicos para o fortalecimento dos encontros e concentrao de pessoas. Fonte: Equipe, 2011.

- CONEXO DE FLUXOS Os eixos de fluxos so os elementos estruturadores do desenho urbano, compreendendo a anlise do movimento das pessoas e a organizao espacial das atividades e promovendo a articulao dos espaos onde se do. Estes so principalmente caracterizados pelas reas de circulao, seja de veculos, pedestres e ciclistas. Esses eixos so trajetos experimentados que no necessariamente coincidem com o sistema virio, admitindo qualquer tipo de canal de circulao pelos espaos abertos, sejam pelas vias, passeios, pilotis dos edifcios, reas de estacionamento, entre outros. So os elementos bsicos na formao das representaes mentais, porque so por meio dos trajetos que se percebem as informaes morfolgicas para sua consequente memorizao e identificao do espao. Para a elaborao dos eixos foi utilizada a teoria de Sintaxe Espacial2 como leitura tcnica, no intuito de garantir a integrao e interao 2Criada por Bill Hillier e seus colaboradores da Universidade de Londres, no comeo da dcada de oitenta, a Teoria da Sintaxe Espacial busca descrever a configurao do traado e as relaes entre espao pblico e privado atravs de medidas quantitativas, as quais permitem entender aspectos importantes do sistema urbano, tais como a acessibilidade e a distribuio de usos do solo.

entre os espaos livres, por meio do movimento natural das pessoas, j que a configurao do traado, por si s, j gera um padro de movimentao, e esse padro o principal definidor de outros elementos do sistema urbano, como as formas de uso e ocupao do solo. Essa teoria capaz de identificar os espaos com alta integrao, que passam a atrair ainda mais pessoas, aumentando exponencialmente a quantidade original trazida pela configurao.

Figura 8 Simulao dos eixos axiais previstas no cmpus Glria, gerados no software Xspace e baseado na Teoria da Sintaxe Espacial. O grau de integrao mostrando das linhas com cores mais quentes (vermelho, laranja e amarelo) para as mais frias (verde e azul). Nota-se que na linha mais quente e, portanto a mais integrada do sistema, proposto o eixo principal de pedestres, os demais eixos compem o sistema. Fonte: Equipe, 2011.

Assim, foram elaborados eixos visuais, funcionais, geogrficos e de infra-estrutura que organizam o espao e a implantao dos edifcios, e promovem em graus diferenciados a integrao e conectividade dos usurios e equipamentos em todo o sistema, pois possuem a funo principal de interligar os fluxos de circulao aos equipamentos, edifcios e aos espaos dos encontros sociais. Para isso, foram criadas algumas categorias de fluxos de acordo com a sua funo principal, sendo denominadas de vias de trfego; passeios; ciclovias; eixo principal de pedestres e eixos secundrios de pedestres. As vias de trfego so destinadas para uso de veculos em geral, carros de diversos portes, nibus e caminhes de carga-descarga, entre outros e foram estruturadas como: via perimetral (para circundar todo o campus e garantir o acesso e circulao de veculos de grande porte); vias secundrias (restrito ao uso de veculos leves, comHILLIER, Bill; HANSON, Julienne. The social logic of space. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.HILLIER, Bill; PENN, A.; HANSON; GRAJEWSKI, T.; XU, J. Natural movement: or, configuration and attraction in urban pedestrian movement. Environment and Planning B, v. 20, p. 29-66, 1993.HILLIER, Bill. Space is the machine. Cambridge: Cambridge University Press, 1996.

estacionamento nas laterais, alm de permitir o acesso aos bolses de estacionamento prximos aos blocos); via de transposio (permite a travessia no sentido leste-oeste no cmpus); via de servios (so especificas para circulao de veculos autorizados) e as vias de segurana (para o monitoramento e controle da segurana do cmpus). Os passeios so localizados s margens das vias de trfego e permite a circulao confortvel dos usurios, sendo destacado o passeio que funciona tambm como pista de caminhada em toda a margem externa via perimetral, ao lado do cinturo verde, na rea limtrofe do cmpus. O trajeto ser composto por placas explicativas e estaes de ginstica e, a idia principal, que esse equipamento seja um grande atrativo a populao em geral, alm de que, possa ser utilizada tambm para competies esportivas. As ciclovias foram localizadas tambm ao lado da pista caminhada, na via de transposio e no eixo principal dos pedestres, e prope-se a criao de bicicletrios e vestirios de apoio em torno deste percurso. Tambm proposto o incentivo ao emprstimo de bicicletas, fazendo com o usurio do cmpus tenha uma alternativa agradvel para deslocamento entre as suas atividades. Os eixos de pedestres foram separados em duas categorias: a principal e as secundrias. A principal caracterizada como um grande eixo de largura compatvel ao seu comprimento, que conecta o cmpus no sentido norte-sul, interligando com a portaria de entrada (norte) at a rea esportiva (sul). Neste eixo proposto um grande boulevard de uso pblico, onde sero concentradas as atividades de convivncia e as entradas dos principais edifcios multiusos, promovendo o encontro e a diversidade dos usurios. Alm disso, previsto a instalao de quiosques, que possibilitem a presena de servios bsicos, como lanchonetes, livrarias, farmcias, cafs, bancos, correios, entre outros. E a presena futura de um veculo leve sobre trilhos, que seria o responsvel pelo transporte rpido e eficiente em todo o cmpus. Os eixos secundrios de pedestres so considerados como eixos de circulao que cortam o cmpus, de diversas formas e posies, no intuito de favorecer o acesso direto a todos os extremos do espao. E acompanhando o seu desenho, so localizados os edifcios, que permitem ora o acesso ao edifcio, ora a passagem por pilotis, aberturas e rasgos em sua forma fsica, e assim fortalecendo um grande sistema de circulao conectado as massas edificadas.

Figura 9 Conexo de fluxos. Definio dos principais eixos de circulao interna. Fonte: Equipe, 2011.

- CONEXO AMBIENTAL A compreenso de que os elementos naturais ou antrpicos se relacionam entre si de tal forma que a alterao de um elemento ou de uma relao altera todos os demais elementos e todas as demais relaes, o principio da abordagem proposta pelo projeto. Entende-se que o processo de urbanizao altera completamente a relao entre meio fsico e o meio bitico, e conduz ao processo contnuo de modificaes na qualidade do ambiente e da paisagem. Sendo assim, a paisagem adquire um importante papel nas relaes e transformaes entre o sistema da natureza e os processos de desenho urbano. Portanto, o projeto tem como principal objetivo garantir a qualidade da paisagem por meio da proteo dos ambientes naturais existentes no local e promover os links ecolgicos que possibilitam a reconexo das reas verdes existentes no entorno imediato. Alm disso, a preocupao foi de estabelecer a ordenao e controle do uso e ocupao do solo, respeitando a diversidade espacial da paisagem urbana formada pelo patrimnio natural. Assim foram estabelecidos princpios conceituais para o projeto: de ordem abstrata, tratou de estabelecer uma poltica sustentvel para a ocupao, considerando alm do envolvimento harmnico com os recursos naturais, todas as aes estruturadoras do espao e dos processos de construo que estivessem de acordo com uma nova mentalidade durvel e menos predatria. Sobre esse aspecto, a contribuio possvel que um projeto desta magnitude pode almejar na atual escala de conhecimento do problema

o de se ter a compreenso dos recursos tcnicos disponveis e estabelecer polticas que garantam sua aplicao. Concretamente, foram adotados alguns princpios que vieram a se constituir em indutores do desenho, cujos principais foram: - Manuteno e ampliao das reas de conservao e preservao ambiental, fortalecendo as funes ecolgicas da rea, alm de permitir a conexo com o Parque Santa Luzia e o futuro prolongamento do Parque do Rio Uberabinha. - Criao de eixos verdes, que surgem percorrendo as reas de preservao, o cinturo verde contornando todo o limite, adentrando ao cmpus como grandes faixas de vegetao densa e que atravessam a rodovia pelas passarelas, formando um novo parque urbano ou conectando aos parques existentes. Assim, filtrando o espao interno e potencializando as sensaes de conforto, tanto fisiolgico quanto mental. - Definio de um sistema captao e deteno/conteno de guas pluviais naturais que participa do desenho da paisagem restaurada, e que promove por meio da insero do elemento da gua, como potente catalisador para a insero de valores ambientais, paisagsticos, culturais e sociais. - Proposta de construes eficientes e de baixo impacto produtivo e de uso e de uma infraestrutura verde, onde possvel correlacionar s expectativas de conforto fsico (trmico, acstico, luminoso e qualidade do ar) s caractersticas climticas do meio em que se encontram os indivduos.

Figura 10 Conexo ambiental. Definio de estratgias para promover o reequilbrio ecolgico, a aproximao do homem com a natureza e o fortalecimento de valores ambientais nos usurios dos cmpus. Fonte: Equipe, 2011.

Consideraes FinaisA metodologia proposta para a implantao do Cmpus Glria est alicerada na construo de um grande pacto, interno (que envolve a

comunidade universitria) e externo (a comunidade uberlandense) pelo desenvolvimento e expanso da Universidade Federal de Uberlndia. A participao e o envolvimento originados desta iniciativa geram um processo, individual e coletivo, de conscientizao sobre o bem pblico, tido como fundamental para a execuo de programas e aes voltados sustentabilidade ambiental, eficincia construtiva e ao menor consumo de materiais e recursos, busca pela qualidade dos servios e racionalizao do uso dos espaos. A participao da comunidade permite no apenas a institucionalizao e garante maior legitimidade das decises tomadas, mas aproxima o cmpus dos seus usurios ao envolver os atores no processo de discusso, traduzindo no projeto os principais anseios da comunidade universitria e da cidade de Uberlndia.