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7/25/2019 Artigo sobre eutansia.
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A EUTANSIA, A ORTOTANSIA E O DIREITO MORRER COM DIGNIDADE
Francisco Antonio da Silva Cavalcanti1
Resumo
O presente Artigo pretende situar os fenmenos jurdicos Eutansia e Ortotansiaperante o Direito Constitucional diante da perspectiva do Princpio da Dignidade dapessoa humana, trazendo os conceitos, distin!es e pontos de conflito so"re amat#ria$ %m es"oo de anlise constitucional so"re a legalidade da prtica daEutansia e da Ortotansia, estudar so"re o direito & morrer com dignidade comodireito 'ltimo$ O estudo so" a evolu(o da #tica m#dica acerca da ortotansia com aconstata(o de )ue a ortotansia assegura a autonomia de vontade e a dignidadedo paciente terminal$ Assim, os preceitos fundamentais so"re a pessoa humana naConstitui(o *rasileira, n(o poderiam dei+ar de assegurar a ocorrncia de umamorte digna ao paciente )ue, em estado terminal, prefere a cessa(o do seusofrimento atrav#s de uma "oa morte ao ter )ue suportar uma e+istncia desofrimento, n(o ca"endo a decis(o a )uem possa estar movido t(o apenas porsentimentos egosticos, como parentes )ue n(o se )uerem ver sofrer pela partida domori"undo$
Palavras-chave: Eutansia Ortotansia$ -orte digna$ Dignidade da pessoahumana$
! INTRODU"#O
Com o rpido avano da -edicina e da *iotecnologia, com os m#todos e
meios de tratamentos multiplicados, fica cada vez mais latente o aumento da
esperana na cura de doenas tidas como graves e como incurveis$ De outro lado,
a e+istncia de centenas ou milhares de pessoas )ue se encontram em estado
terminal e at# mesmo j em morte cere"ral ou enceflica )ue j n(o tem esperana
e n(o suportam a rotina de dores e sofrimentos, pessoas, )ue pelo seu estado
agravado, )ue n(o esperam mais ser curadas, )ue en+ergam na morte uma
li"erta(o de sua condi(o, )ue desejam a cessa(o do seu sofrimento de uma
forma, com certeza, mais digna$
O avano tecnol.gico n(o est apto a descrever ou a compreender o
significado de morte digna e "oa morte, a )uest(o #tica envolve sa"er o )ue # "om
e correto a se fazer e n(o a conseguir o"jetivos a todo custo$ Assim o estado de
dignidade do ser humano n(o se resume apenas em conservar a vida a )ual)uer
1Aluno do Curso de Ps-Graduao em Direito e Processo Penal pela ESA/OAB aculdade !oa"uim #a$uco
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mulheres irresponsveis possam engravidar sem responsa"ilidade e depois
egoisticamente elimin;los da e+istncia como li+o indesejvel$
A nossa Carta -agna 2*rasil, 866:, nos informa )ue a dignidade da pessoa
humana # um dos fundamentos da nossa rep'"lica, assim o direito a uma mortedigna est compreendido medida )ue esta poupa o sofrimento, a agonia e a
degrada(o do ser humano, assim como todos os direitos fundamentais, o direito a
vida n(o # um direito a"soluto, inclusive encontrando no direito ptrio a possi"ilidade
sua cessa(o mesmo contra a vontade do seu possuidor 2pena de morte de casos
de guerra declarada, Art$ GH da CIJ*:$
$ CONCEITOS DE EUTANSIA, ORTOTANSIA, E OUTROS PROCEDIMENTOS
A eutansia, a ortotansia, assim como a distansia, a mistansia e suicdio
assistido s(o procedimentos )ue se referem ao processo de morrer, e s(o termos
)ue conceitualmente, trazem aos leigos muita confus(o$
O significado da palavra de origem grega eutansia, # K"oa morteK, ou Kmorte
piedosaK$ Joi Jrancis *acon )ue por volta de 8B47 a utilizou como sinnimo de Lum
tratamento ade)uado &s doenas incurveisM$
Assim0O termo eutansia foi criado no s#culo N@@, pelo fil.sofo inglsJrancis *acon$ Deriva do grego eu 2"oa:, thanatos 2morte:, podendoser traduzido como L"oa morteM, Lmorte apropriadaM, morte piedosa,morte "en#fica, fcil, crime caritativo, ou simplesmente direito dematar 2, 455G, p$ 76:$
-odernamente entende;se como eutansia a a(o de )uem deli"eradamente,
movido por fortes emo!es ou raz!es morais, antecipa a morte de outrem, vitima de
uma doena incurvel em estado avanado e est padecendo de dores e enorme
sofrimento$
O termo ortotansia tem por significado morte correta, orto0 certo, thanatos0
morte$ A ortotansia importa no n(o prolongamento artificial da vida do paciente
terminal, ou seja, o n(o prolongamento do processo de morte, al#m do )ue seria o
processo natural, acompanhado pelo m#dico 2*OIQE, 4558, p$ 46R:$
Assim a ortotansia tem por o"jeto e diretiva a morte no tempo certo ou
natural, sem prolongar as dores e os sofrimentos, evitando, ent(o, a distansia$
A distansia, segundo -aria elena Diniz0
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Pela distansia, tam"#m designada o"stina(o teraputica 2STacharnement thrapeutique: ou futilidade m#dica 2medical futility:,tudo deve ser feito mesmo )ue cause sofrimento atroz ao paciente$@sso por)ue a distansia # morte lenta e com muito sofrimento$ 3rata;se do prolongamento e+agerado da morte de um paciente terminal
ou tratamento in'til$ /(o visa prolongar a vida, mas sim o processode morte >$$$? 2D@/@, 455B, p$ 7:$
U a morte ou suicdio assistido# a facilita(o ao suicdio do doente, onde a
pessoa )ue au+ilia, seja parente pr.+imo ou n(o, p!e ao alcance do enfermo
terminal o meio pelo )ual este consegue por fim a pr.pria vida$ Esta conduta # tpica
e en)uadrada no art$ 844, caput do CP*$
% A &OA MORTE E DIGNIDADE DA PESSOA 'UMANA
Conceitualmente na Eutansia teramos o indivduo praticando o homicdio
privilegiado por relevante valor moral 2art$ 848, V 8H, CP*:, por antecipa(o do
momento natural do falecimento, vez )ue toma uma atitude ativa em rela(o ao
paciente em estado terminal, sendo assim, n(o uma morte natural, mas provocada,
al#m de n(o haver a anuncia do paciente ou do representante legal, o )ue fere a
dignidade do paciente por tirar;lhe o direito de escolher seu destino pr.+imo$
/a ortotansia, n(o h a antecipa(o do momento morte, apenas se permitea ocorrncia dela, h a espera da mesma com o possvel tratamento
sintomatol.gico, a fim de evitar;se o sofrimento$ interrup(o do tratamento
recuperativo, desde )ue ap.s a manifesta(o do paciente ou do seu representante
legal$ /(o constitui conduta tpica e n(o dei+a a nosso ver um procedimento de
concess(o de "oa morte$
/o rumo inverso da ortotansia a distansia fere a dignidade humana do
paciente, en)uanto )ue a ortotansia, visa & morte digna e sem sofrimentos$
-uito mais inaceitvel na viola(o dos direitos humanos e+iste a mistansia,
)ue # tam"#m conhecida como eutansia social, ou morte miservel, antes da hora0
>$$$? Dentro da categoria de mistansia pode;se focalizar trssitua!es, primeiro, a grande massa de doentes e deficientes )ue,por motivos polticos, sociais e econmicos n(o chegam a serpacientes, pois n(o conseguem ingressar efetivamente no sistemade atendimento m#dico= egundo, os doentes )ue conseguem serpacientes, para, em seguida, se tornar vtimas de erro m#dico e,
terceiro, os pacientes )ue aca"am sendo vtimas de m;prtica pormotivos econmicos, cientficos ou sociopolticos >$$$? 2-AI3@/,86,p$8R4:$
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dignidade humana, precisamos garantir )ue ao t#rmino da vida, deva igualmente ser
o"servada, so" pena de viola(o desta garantia$
A morte # um fato natural e inevitvel e )ue faz parte da trajet.ria de )ual
)ual)uer ser humano, por isso, deve tam"#m o processo de morte ser aceito eacompanhado procurando;se garantir o m+imo de conforto e amparo ao doente
terminal, nesse prisma Ionald DYorZin,
>$$$? A morte domina por)ue n(o # apenas o comeo do nada, mas ofim de tudo, e o modo como pensamos e falamos so"re a morte [ anfase )ue colocamos no Lmorrer com dignidadeM [ mostra como #importante )ue a vida termine apropriadamente, )ue a morte seja umrefle+o do modo como desejamos ter vivido 2D\OI]@/, 4557,p$465:$
Assim o respeito & dignidade da pessoa humana, estatuda no artigo 8H, inciso
@@@, da Constitui(o da Iep'"lica de 866, informa )ue o *rasil lhe preza, e )ue
sendo um Estado democrtico de direito, lhe garantir seu e+erccio, desde )ue n(o
afete o direito de terceiros$
/esse sentido, Io+ana *orges00
A concep(o de dignidade humana )ue n.s temos liga;se &possi"ilidade de a pessoa conduzir sua vida e realizar sua
personalidade conforme sua pr.pria conscincia, desde )ue n(osejam afetados direitos de terceiros$ Esse poder de autonomiatam"#m alcana os momentos finais da vida da pessoa 2*OIQE,4558:$
A tentativa de sucidio # fato n(o punido em"ora a instiga(o e o au+lio o
sejam$ Por ."vio, n(o se )uer dei+ar pior )uem n(o encontra mais motivos para
viver e tenta findar a sua e+istncia, e outra )ue ningu#m tenta tirar a pr.pria vida
"uscando simplesmente prejudicar interesse ou direito alheio$
A autoles(o # outra conduta )ue tam"#m n(o # punida no Direito "rasileiro,s. )uando se tenta prejudicar o interesse e direitos de terceiro # )ue o Estado se
levanta para reprovar e punir$
/este panorama a validade do ato de vontade do paciente terminal ou de seu
representante 2)uando este n(o tivesse como se manifestar: )ue desejasse a
Eutansia a"reviando a morte do paciente em agonia fsica, deveria ser respeitada,
)uando a ortotansia, viesse a representar no caso concreto uma distansia$
Assim, a diagnose m#dica, desde )ue realizada por uma junta especializada,so"re a dura(o do processo de morte agonizante, deve ter papel de suma
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import1ncia para a tomada de decis(o, pois da constata(o de0 8: inutilidade do
tratamento clnico, irreversi"ilidade da doena e impossi"ilidade da cura= 4: da
indetermina(o m#dica da dura(o do processo= e 7: da constata(o da
impossi"ilidade de minimiza(o do sofrimento= o pr.prio paciente ou seurepresentante legal # por assim dizer )uem tem legitimidade para decidir so"re a
L"oa;morteM$ Em"ora a Eutansia seja proi"ida no ordenamento jurdico "rasileiro,
em nosso parecer n(o h nenhuma )uest(o viola(o de direitos humanos, antes
seria no sentido de n(o permitir um longo sofrimento desnecessrio, desumano e
cruel em )ue se fundamentaria o procedimento$
/os momentos terminais do homem este ainda deve ser dono de seu destino,
at# mesmo do processo morte, ora, se ele pode determinar o )ue ser depois de
sua partida, como desejar o ser feito de seu corpo ap.s a morte 2sepultamento,
crema(o:, )uanto mais a escolha de como morrer sem sofrimento$ Assim deve ser
assegurada a autonomia ao paciente terminal )ue acredita ser a antecipa(o de sua
morte um t#rmino de vida digno, ou seja, um direito & morrer dignamente$
A verdade # )ue o direito a vida e os direitos e garantias fundamentais est(o
de tal modo ligados, )ue )uando se viola um destes o outro tam"#m est sendo
violado, sendo considerados desumanos e degradantes os tratamentos in'teis,
assim pensa.iao 0ieira Bomtempo%0
A partir do momento em )ue ocorre a viola(o dos direitos egarantias fundamentais, h a viola(o do direito & vida$ Portanto,uma vez violada a dignidade do paciente, a sua autonomia, )uandosu"metido a tratamentos considerados in'teis, )ue se tornamdesumanos e degradantes a ele j n(o se pode dizer )ue e+iste orespeito & vida, pois a vida deve ter )ualidade, e )ualidade de vidainfere em "em estar fsico, psicol.gico, social e econmico
A insistncia em se manter um paciente terminal vivo o maior tempo possveln(o encontra guarida no sistema constitucional de garantias e assim leciona a
sapiente -aria de Jtima Jreire de 0
A o"stina(o em prolongar o mais possvel o funcionamento doorganismo de pacientes terminais, n(o deve mais encontrar guaridano Estado de Direito, simplesmente, por)ue o preo dessao"stina(o # uma gama indizvel de sofrimentos gratuitos, seja parao enfermo, seja para os familiares deste$ O ser humano tem outrasdimens!es )ue n(o somente a "iol.gica, de forma )ue aceitar o
% Autor do artigo0 A ORTOTANSIA E O DIREITO DE MORRER COM DIGNIDADE: UMA AN(ISECONSTITUCIONA(, )*s+ovel em: .h//+:00111*+e23com2r0)oc)o1045ce+)67 Cosul/a em : !8 3a$9!8
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crit#rio da )ualidade de vida significa estar a servio n(o s. da vida,mas tam"#m da pessoa$ O prolongamento da vida somente pode serjustificado se oferecer &s pessoas algum "enefcio, ainda assim, seesse "enefcio n(o ferir a dignidade do viver e do morrer 2, 455G,p$74:$
Assim o ser humano deve ter garantida sua dignidade n(o apenas no durante
o viver, mas tam"#m no momento de morrer$
CONSIDERA";ES
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Para )ue esta vontade ocorra # necessria a garantia da li"erdade$A vontade normalizada pelo Direito, para ter validade, deve o seuemissor possuir capacidade$ Para ser capaz o indivduo deve sermaior de 86 anos e capaz para os atos da vida civil, ou seja, n(o seen)uadrar nos casos dos artigos 7H e 9H do C.digo Civil de 4554, )ue
s(o os casos de incapacidade$2*O-3E-PO$ p$ 88:e o doente terminal n(o tem o direito de decidir so"re o fim de seu
sofrimento, est ent(o numa pris(o, sem direito de decidir e sem escolha, isso # o
)ue nos ensina Conche 287, p$R:, e DYorZin 24557, p$75R:citados por *omtempo0
egundo o fil.sofo -arcel Conche 287, p$R:, sem a li"erdade dedei+ar esta vida, viveramos sem a li"erdade de viver por)ue, n(otendo a li"erdade de morrer, n(o estaramos na vida por escolha,mas encarcerados nela como uma pris(o$
/este entendimento, Ionald DYorZin 24557, p$75R: afirma )ue levaralgu#m a morrer de uma maneira )ue outros aprovam, mas )ue paraele representa uma terrvel contradi(o de sua pr.pria vida, # umadevastadora e odiosa forma de tirania$A li"erdade do paciente deve levar em considera(o o consentimentoesclarecido, para a recusa ou n(o do tratamento, com o intuito deverificar )ual a melhor decis(o a ser tomada por ele= # um dever dom#dico e um direito do paciente$ 2*O-3E-PO$ p$ 84:
O direito a vida digina # posto como direito erga omnes, mas, o direito a morte
digna tam"#m o # nesse sentido -aria de Jtima Jreire de 0
>$$$? # )ue a vida deve prevalecer como direito fundamental oponvelerga omnes )uando for possvel viver "em$ /o momento )ue asa'de do corpo n(o mais conseguir assegurar o "em;estar da vida)ue se encontra nele, h de ser considerados outros direitos, so"pena de infringncia ao princpio da igualdade$ < )ue a vida passara ser dever para uns e direito para outros >$$$? 2, 455G, p$G5:$
Assim, no arca"ouo jurdico "rasileiro # certo )ue nenhum direito
fundamental # a"soluto e )ue o direito a morte digna # um direito fundamental, tanto
)uanto o direito a vida, portanto, )uando numa situa(o de doena terminal opaciente tem o direito de )uerer e solicitar uma morte digna, pois se a condi(o de
sa'de n(o coaduna com "em estar, mas, com o sofrimento, o direito a vida ou
situa(o jurdica de ser vivente h de ser relativizado$
RE/*ca: al?us
)esa6*os$ 4$ ed$ (o Paulo0 Edi!es So^ola, 4554$ p$467;46B$
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