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397 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 59(4): 397-402, out. dez. 2006 Abstract This paper reports the results of an analysis of 20 Plans for Rehabilitation of Degraded Areas (PRADs) prepared for mines located in the Iron Quadrangle (MG) in accordance with the Decree nº 97.632, dated April 10th of 1989. Usually PRAD has been understood as a mine closure plan. Therefore, the objective of this study was to check PRADs contents and compliance with the Norm NBR 13030 - “Elaboration and Presentation of rehabilitation project for impacted areas by mining”, as well as, to compare its contents with a mine closure plan, in order to establish similarities and differences between them. This work presents the results of this comparative analysis; highlights the environmental, socio-economic and cultural risks of taking a PRAD as a mine closure plan; shows the necessity of differing PRAD from a mine closure plan and stresses the requirements’ overlap for mine companies. Keywords: Mine rehabilitation, closure plan. Mineração Plano de recuperação de áreas degradadas versus plano de fechamento de mina: um estudo comparativo Hernani Mota de Lima Professor Adjunto do Departamento de Engenharia de Minas (DEMIN) da Escola de Minas/UFOP E-mail: [email protected] José Cruz do Carmo Flores Professor Assistente do Departamento de Engenharia de Minas (DEMIN) da Escola de Minas/UFOP E-mail: [email protected] Flávio Luiz Costa Mestre em Engenharia Mineral - CPGEM, Depart. de Eng. de Minas (DEMIN)/Escola de Minas/UFOP E-mail: [email protected] Resumo O presente artigo relata os resultados de uma análi- se de 20 Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs) elaborados para minas localizadas no Quadrilá- tero Ferrífero (MG), de acordo com o Decreto nº 97.632, de 10 de abril de 1989. Usualmente, PRAD tem sido com- preendido como plano de fechamento de mina. Portanto o objetivo desse estudo foi verificar o conteúdo e o cum- primento desses PRADs à Norma NBR 13030 - “Elabora- ção e apresentação de projeto de reabilitação de áreas degradadas pela mineração”, bem como comparar tais conteúdos com o conteúdo típico de um Plano de Fecha- mento de Mina, estabelecendo similaridades e diferenças entre os instrumentos objetos do estudo. Esse trabalho sintetiza os resultados dessa análise comparativa e evi- dencia os riscos (ambientais, sócio-econômicos e cultu- rais) de se considerar um PRAD como um Plano de Fe- chamento de Mina; ressalta a necessidade de discernir PRAD de Plano de fechamento e chama a atenção para a sobreposição de requerimentos às empresas de minera- ção. Palavras-chave: Recuperação de áreas degradadas, fechamento de mina, PRAD.

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Comparação entre plano de recuperação de áreas degradadas e plano ambiental de fechamento de minas

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397REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 59(4): 397-402, out. dez. 2006

Hernani Mota de Lima et al.

AbstractThis paper reports the results of an analysis of 20

Plans for Rehabilitation of Degraded Areas (PRADs)prepared for mines located in the Iron Quadrangle (MG)in accordance with the Decree nº 97.632, dated April10th of 1989. Usually PRAD has been understood as amine closure plan. Therefore, the objective of this studywas to check PRADs contents and compliance with theNorm NBR 13030 - “Elaboration and Presentation ofrehabilitation project for impacted areas by mining”,as well as, to compare its contents with a mine closureplan, in order to establish similarities and differencesbetween them. This work presents the results of thiscomparative analysis; highlights the environmental,socio-economic and cultural risks of taking a PRAD asa mine closure plan; shows the necessity of differingPRAD from a mine closure plan and stresses therequirements’ overlap for mine companies.

Keywords: Mine rehabilitation, closure plan.

Mineração

Plano de recuperação de áreas degradadasversus plano de fechamento de mina: um

estudo comparativo

Hernani Mota de LimaProfessor Adjunto do Departamento de Engenharia de Minas (DEMIN) da Escola de Minas/UFOP

E-mail: [email protected]

José Cruz do Carmo FloresProfessor Assistente do Departamento de Engenharia de Minas (DEMIN) da Escola de Minas/UFOP

E-mail: [email protected]

Flávio Luiz CostaMestre em Engenharia Mineral - CPGEM, Depart. de Eng. de Minas (DEMIN)/Escola de Minas/UFOP

E-mail: [email protected]

ResumoO presente artigo relata os resultados de uma análi-

se de 20 Planos de Recuperação de Áreas Degradadas(PRADs) elaborados para minas localizadas no Quadrilá-tero Ferrífero (MG), de acordo com o Decreto nº 97.632,de 10 de abril de 1989. Usualmente, PRAD tem sido com-preendido como plano de fechamento de mina. Portantoo objetivo desse estudo foi verificar o conteúdo e o cum-primento desses PRADs à Norma NBR 13030 - “Elabora-ção e apresentação de projeto de reabilitação de áreasdegradadas pela mineração”, bem como comparar taisconteúdos com o conteúdo típico de um Plano de Fecha-mento de Mina, estabelecendo similaridades e diferençasentre os instrumentos objetos do estudo. Esse trabalhosintetiza os resultados dessa análise comparativa e evi-dencia os riscos (ambientais, sócio-econômicos e cultu-rais) de se considerar um PRAD como um Plano de Fe-chamento de Mina; ressalta a necessidade de discernirPRAD de Plano de fechamento e chama a atenção para asobreposição de requerimentos às empresas de minera-ção.

Palavras-chave: Recuperação de áreas degradadas,fechamento de mina, PRAD.

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Plano de recuperação de áreas degradadas versus plano de fechamento de mina: um estudo comparativo

1. IntroduçãoA obrigação fundamental imposta

aos titulares de concessões de lavra noBrasil, com relação ao fechamento dasminas, é que eles promovam a reabilita-ção das áreas impactadas pelas ativida-des da mineração, de acordo com um Pla-no de Recuperação de Áreas Degrada-das (PRAD), previamente elaborado eaprovado pelo órgão governamentalcompetente.

A exigência da apresentação obri-gatória do PRAD fundamenta-se no prin-cípio de que as áreas ambientalmenteperturbadas pelas atividades de minera-ção devem ser devolvidas à comunida-de ou ao proprietário superficiário nascondições desejáveis e apropriadas aoretorno do uso original do solo ou na-quelas necessárias para a implantaçãode outro uso futuro, desde que escolhi-do por consenso entre as partes envol-vidas e afetadas pela mineração.

O preceito legal estabelece que oPRAD deve considerar a solução técni-ca adequada, visualizada pela empresade mineração, para reabilitar o solo, even-tualmente degradado pela atividade demineração, para uso futuro (IBRAM,1992; DNPM, 2000). O plano aprovadopode ser revisto ou alterado, com a con-cordância do órgão ambiental competen-te para sua aprovação, para incorporarinovações tecnológicas ou outras açõesalternativas que se mostrem mais ade-quadas ao processo de reabilitação, àmedida que se desenvolvem as ativida-des de lavra e beneficiamento.

Com o objetivo de avaliar a quali-dade e a adequação dos Planos de Re-cuperação de Áreas Degradas para opropósito do fechamento das minas,quando do término ou paralisação dasoperações, foram analisados 20 (vinte)PRADs de minas, cujo ciclo produtivoencontra-se próximo do fim, submetidospelos titulares / operadores das minas àaprovação da Fundação Estadual doMeio Ambiente do Estado de Minas Ge-rais - FEAM.

Na primeira etapa do estudo, osPRADs foram comparados entre si, como objetivo de aferir a consistência dos

conteúdos e sua adequação à normaNBR 13030. Na segunda, o objeto dacomparação foi o conteúdo dos Planosde Recuperação de Áreas Degradadascom o conteúdo típico de um Plano deFechamento de Mina, com o objetivo dese estabelecerem similaridades e diferen-ças entre os dois planos.

Apresenta-se, aqui, a síntese dosprincipais resultados que o estudo com-parativo permitiu extrair, após a análise eavaliação dos elementos selecionadospara esse fim.

2. Análise daqualidade dos PRADs

Muitas das minas consideradas degrande porte localizadas no Estado deMinas Gerais, atualmente próximas daexaustão das reservas e conseqüentefechamento definitivo, já estavam emoperação quando passou a vigorar oDecreto nº 97.632, de 10 de abril de 1989,que criou a obrigatoriedade da apresen-tação do Plano de Recuperação de Áre-as Degradadas pelos empreendimentosque se destinam à exploração de recur-sos minerais, quando da apresentaçãodo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) edo Relatório de Impacto Ambiental(RIMA) ao órgão ambiental competente(Decreto nº 97.632/89, Art. 1º).

Apesar dos bons resultados ambi-entais que se constatam em algumas mi-nas objeto deste estudo, no geral, a qua-lidade de seus PRADs é questionável, emuitas falhas foram detectadas na ela-boração desses planos. As principaisincluem:

a) A ausência de conhecimento préviodas características dos ecossiste-mas, bem como das práticas e pro-cessos de reabilitação de áreas mi-neradas disponíveis. Quando de suapromulgação, o Decreto estabeleceuum prazo de 180 dias para que asempresas, em operação, apresentas-sem os respectivos PRADs. Essecurto prazo impossibilitou um levan-tamento adequado da base de dadosambientais suficiente para a corretae eficaz elaboração desses planos.

b) O Decreto Federal de 1989 não cui-dou de detalhar as medidas mitiga-doras, especificando apenas que “Arecuperação deverá ter por objeti-vo o retorno do sítio degradado auma forma de utilização, de acordocom um plano preestabelecido parao uso do solo, visando a obtençãode uma estabilidade do meio ambi-ente” (Decreto nº 97.632/89, Art. 3º).Na verdade, nem para os novosPRADs há ainda clara responsabilida-de institucional, no que diz respeito,por exemplo, à exigência de apresenta-ção de garantias de disponibilidadedos recursos financeiros necessáriosà implantação de todas as ações con-tratadas, através dos PRADs.

c) Limitação da abordagem multidisci-plinar por parte das empresas de con-sultoria responsáveis pela elabora-ção dos PRADs.

d) Em alguns casos, as empresas con-tratadas para elaboração do PRADtenderam a minimizar o custo do di-agnóstico do impacto ambiental doprojeto, através da limitação do seuescopo.

e) Não houve, em 1989, audiência pú-blica para discussão dos PRADs apre-sentados.

f) Os PRADs apresentados ao órgãoambiental não passaram por nenhumprocesso de análise e julgamentoquanto à sua qualidade técnica e ca-pacidade de solução dos problemasdetectados.

3. Eficácia dosPRADs elaborados

Muitas das grandes minas encon-tram-se próximas do estágio de fecha-mento definitivo, como conseqüência daexaustão das reservas, e espera-se queos seus Planos de Recuperação de Áre-as Degradadas possam ser usados comodiretrizes para as partes - empresas demineração e órgãos governamentais -estabelecerem um programa consensualpara o fechamento das minas. Entretan-to esta ainda não tem sido a prática ado-

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tada pelas partes. Entre as razões queexplicam essa lacuna comportamental, aprincipal delas é que, como conseqüên-cia da carência de recursos humanos efinanceiros que aflige as agências ambi-entais, encarregadas da análise e apro-vação dos PRADs, estes, quando sub-metidos à apreciação, não são analisa-dos e permanecem arquivados nasagências, pendentes de decisão final.Conforme citado por Brandi (1994),osPRADs guardam uma estreita relação deconteúdos com os EIA-RIMAS e pou-cos são utilizados pelas empresas comoorientação aos trabalhos de campo.

Os Planos de Recuperação de Áre-as Degradadas e de Fechamento de Minanão devem ser elaborados em determi-nado momento e, no momento seguinte,quedarem esquecidos, depositadosnuma prateleira. O planejamento da re-cuperação das áreas degradadas, com-preendido como um dos elementos queintegram o plano de fechamento demina,é um processo contínuo e dinâmi-co, que pode atravessar décadas, duran-te as quais muitas variáveis certamentesofrerão mudanças, incluindo os contex-tos político e social, os institutos legaise a natureza dos controles específicosdas indústrias.

4. Estudo comparativodos PRADs

O estudo comparativo dos Planosde Recuperação de Áreas Degradadasselecionados permitiu verificar que o pro-cesso de cópia e colagem foi adotadopor muitas empresas de consultoria oupor consultores independentes para aelaboração desses documentos. O em-prego desse processo fica evidentequando se comparam os PRADs elabo-rados para minas, minérios e regiões“consideradas” semelhantes. Verificou-se, em tais casos, que tópicos como des-crição e avaliação dos impactos e des-crição das medidas mitigadoras são mui-to semelhantes. Essa prática não é apro-priada, pois cada mina é única na suaessência e está inserida em ecossistemaespecífico, bem como a geologia, mine-

ralogia e outras características do miné-rio diferem em muito.

Facilmente se constata, na análisedos PRADs, que muitos deles apresen-tam uma abordagem superficial e incom-pleta das variáveis avaliadas e que nãoforam estruturados sobre as caracterís-ticas reais e específicas do sítio a que sereferem. Em outras palavras, foram pre-parados para cumprir a exigência da lei.Adicionalmente, muitos dos PRADsapresentados pelas empresas não con-templavam a proposição de um Sistemade Gerenciamento Ambiental para o sítioconsiderado.

5. Plano de recuperaçãode áreas degradadasversus plano defechamento de mina

Um plano de fechamento de minadeve atender às exigências legais, le-vando em consideração, ao mesmo tem-po, as características ambiental, econô-mica e social específicas de uma mina ede seu entorno, das operações e de todaa infra-estrutura de apoio que integra oprojeto de mineração. Portanto o con-teúdo dos planos de fechamento sofrevariações, para contemplar característi-cas locais específicas de cada projeto.Entretanto é possível estabelecer umconteúdo básico que fundamente a es-trutura de todos os planos de fecha-mento.

Nessa etapa do estudo, comparou-se o conteúdo típico, básico, de um pla-no de fechamento de mina (coluna 1) comos conteúdos dos PRADs (coluna 2),com o objetivo de se estabelecerem assimilaridades ( √√√√√ ) e as diferenças ou au-sências ( X ) existentes entre os conteú-dos desses dois instrumentos. Os resul-tados desse estudo comparativo sãoapresentados na Tabela 1.

A comparação dos conteúdos dosPRADs por atividades de mineração se-lecionados com o conteúdo de um PlanoBásico de Fechamento de Mina condu-ziu às seguintes constatações:

I) Objetivos

Os objetivos dos PRADs são bas-tante semelhantes, em termos gerais,àqueles propostos nos planos de fecha-mento de minas. Ambos os instrumen-tos colocam como, objetivo amplo, a ga-rantia da segurança e da saúde pública,através da reabilitação das áreas pertur-badas pela mineração, de modo a retor-ná-las às condições desejáveis e neces-sárias à implantação de um uso pós-mi-neração previamente eleito e social-mente aceitável. Entretanto os meios pro-postos, para se alcançarem os objetivosdivergem muito entre os instrumentosanalisados.

II) Agentes envolvidos

Há consenso que, em princípio, oenvolvimento público nos processos detomada de decisão, implantação de açõese gerenciamento do processo de recu-peração de áreas impactadas pela mine-ração é importante fator para firmar nacomunidade o sincero envolvimento daempresa com as questões que lhe afe-tam e com a proteção ambiental, assimcomo para demonstrar sua habilidadepara conduzir seus negócios de maneiraambientalmente responsável e melhorarcontinuamente a qualidade das decisõestomadas, com respeito ao gerenciamen-to ambiental (EPA, 1995; Hannan, 1998;Albeerts & Grasmick, 2000).

É fundamental, para o sucesso doprocesso de fechamento de uma mina,que se identifiquem todos agentes en-volvidos - principalmente aqueles con-siderados elementos-chave para o pro-cesso - e todas as partes interessadas; eque a empresa mantenha sempre aber-tos os canais de diálogo e um relaciona-mento cordial e franco com todos os ato-res. Embora alguns PRADs analisadosfaçam referências à comunidade direta-mente envolvida com a operação da mina,na maioria deles o processo de identifi-cação dos agentes envolvidos, das par-tes interessadas e de consulta à comuni-dade, não foi reportado como ações in-tegrantes do planejamento para o fecha-mento.

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Plano de recuperação de áreas degradadas versus plano de fechamento de mina: um estudo comparativo

Tabela 1 - Comparação do conteúdo básico de um plano de fechamento de mina com os conteúdos dos PRADs analisados.

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III) Avaliação de riscos

A abordagem dos riscos potenci-ais no fechamento e pós-fechamento damina, através de um processo de identi-ficação das fontes potenciais, avaliaçãodos riscos e planejamento das açõesmitigadoras adequadas, pode reduzir oscustos e as incertezas desses processos.

As modernas tendências identifica-das no planejamento do fechamento deminas passam pela revisão técnica e aná-lises de riscos e de custo / benefício,tanto no âmbito técnico, quanto em ter-mos sociais e ambientais. A aplicação daanálise de riscos, no planejamento dofechamento das minas, fundamenta-sena quantificação de fatores subjetivos ena análise das incertezas, relacionadastanto ao desempenho quanto ao custodas ações planejadas e implantadas (Mor-rey & van Zil, 1994; Morrey, van Zil etal., 1995; Morrey, 1999).

Nenhum dos PRADs analisadosapresenta abordagem do processo derecuperação das áreas degradadas soba ótica da análise de riscos.

IV) Custos de fechamento

O objetivo da provisão de recursosfinanceiros e apresentação de garantiaspara o propósito específico do fechamen-to de uma mina é assegurar aos agentese partes envolvidas que os custos deimplantação e gerenciamento do planode fechamento estão adequadamentecontemplados no planejamento financei-ro da empresa de mineração e não serãotransferidos aos órgãos governamentaisou à comunidade, por ocasião da exaus-tão das reservas minerais da mina, ou emcaso de ocorrer interrupção abrupta daprodução, como conseqüência, porexemplo, da falência da empresa de mi-neração.

Muitos dos PRADs analisados nãoincluíam a estimativa dos custos de rea-bilitação com cronograma físico e finan-ceiro e tampouco demonstravam a cons-tituição de fundo ou qualquer outra for-ma de provisão financeira. Portanto hásempre o risco de que a responsabilida-

de pela limpeza e reabilitação do sítio re-caia sobre o governo ou a comunidade,no futuro, após o encerramento da faseprodutiva do empreendimento.

V) Ações planejadas para ofechamento

A maioria dos PRADs analisadosconcebe a reabilitação da mina apenascomo um processo de revegetação. Empoucos, entretanto, estão incluídos tó-picos como responsabilidades sociais,reabilitação progressiva, descomissio-namento, avaliação geotécnica e re-constituição da superfície topográfica,nos seus planos de ações. Em adição, amaioria dos PRADs não apresenta umplano de monitoramento e manutençãodas áreas recuperadas, após o fecha-mento da mina. Item também citado porBrandi (1994) como um dos pontos fra-cos dos PRADs.

VI) Critério de fechamento eabandono da área

Devido à ausência da adoção decritérios para a avaliação do sucesso (ouinsucesso) do processo de fechamentode mina no Brasil, a maioria dos PRADsnão especifica ou menciona os indica-dores que serão adotados para demons-trar a conclusão, com sucesso, do pro-cesso de reabilitação das áreas ambien-talmente alteradas durante a operação damina. A ausência desses critérios e deuma metodologia para especificá-los éobservada, tanto na esfera governamen-tal, quanto no âmbito das empresas demineração.

O objetivo final de um plano de fe-chamento de mina é alcançar um pontoonde a companhia demonstre ter con-cluído, com comprovado sucesso, todasas metas (legais, sociais, ambientais etécnicas) acordadas com as autoridadescompetentes e comunidades envolvidas,de acordo com um conjunto de critériospreviamente enumerados e adotadospara essa avaliação.

A expectativa é que os órgãos go-vernamentais aceitem o desempenho das

empresas como satisfatório, liberando-as das responsabilidades por elas assu-midas. Conseqüentemente, é de se su-por que a responsabilidade pela neutra-lização de qualquer dano ambiental po-tencial que venha a eclodir na área, nofuturo, e os custos da implantação dasmedidas mitigadoras necessárias, recai-rão nas contas do Estado ou sobre oproprietário superficiário subseqüente.Em adição, as companhias de mineraçãoacreditam que, amparados por leis ambi-entais e civis tolerantes, se eximirão deresponsabilidades por danos futuros,mas cujas origens encontram-se nasações ou omissões por elas praticadasno passado (Williams, 1993).

Como o Brasil não adota nenhumadiretriz para o estabelecer critérios deavaliação dos trabalhos implantados esubseqüente liberação das áreas mine-radas pelas empresas de mineração e re-cebimento dessas áreas recuperadaspelas comunidades ou pelos proprietári-os do solo, não há menção, nos PRADsanalisados, aos procedimentos que se-rão adotados no momento de se concre-tizar a transferência de responsabilida-des.

6. ConclusãoNos países com larga tradição em

mineração, um Estudo de ViabilidadeTécnica e Econômica completo, neces-sariamente deve contemplar o Plano deLavra, o EIA/RIMA, assim como um Pla-no de Fechamento de Mina, que inclui-rá, entre outros elementos, o Plano deDescomissionamento e o PRAD. A apre-sentação desses planos é pré-requisitoimposto ao proponente, como condiçãopara a obtenção da concessão de lavra.A obrigatoriedade da apresentação doplano de fechamento constitui, de fato,um dos instrumentos mais comuns deque dispõem os governos para garantiro fechamento completo e seguro dasminas.

No Brasil, o PRAD é parte do EIA e,por isso, alguns o entendem como umPlano Conceitual de Fechamento deMina. Entretanto ressalta-se o quão dis-

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Plano de recuperação de áreas degradadas versus plano de fechamento de mina: um estudo comparativo

tantes estão os PRADs do conteúdobásico que um Plano de Fechamento deMina deve apresentar. Esse estudo nãovisa a tecer críticas sobre os PRADs, em-bora tenha constatado várias falhas ne-les. O objetivo principal foi mostrar queplanos de fechamento e PRADs são ins-trumentos distintos e complementares.PRAD é, e assim deve ser considera-do, um componente do Plano de Fe-chamento.

Esse estudo busca chamar atençãopara aquilo que, no entender dos auto-res, constitui uma sobrecarga burocráti-ca: exigir a inclusão de PRADs nos EIAs.Os autores defendem, sim, a exigênciado plano de fechamento a ser apresenta-do na fase de licenciamento do empre-endimento. O EIA forma a base de dadospara a elaboração de um plano conceitu-al de fechamento de mina, o qual deveráser atualizado, periodicamente, de modoa atender às mudanças (sejam elas tec-nológicas, de tipo de minério ou de cará-ter legal) que a mina irá passar ao longode sua vida útil.

O presente estudo não teve a in-tenção de fazer uma análise quantitativados PRADs. Daí usarem-se, no texto, ex-pressões qualitativas como, por exem-plo, “na maioria”. O motivo para tal foi,apenas, mostrar as diferenças conceitu-

ais e práticas do PRAD para com um pla-no de fechamento, bem como as lacu-nas, deficiências e falhas que se podecometer ao adotar o PRAD como um pla-no de fechamento de mina.

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Artigo recebido em 09/03/2006 eaprovado em 20/09/2006.

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