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O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra – Um Século Depois”, Academia Militar, 2015, pp. 47-76.
Pedro Marquês de SousaTenente-CoronelAcademia Militar
1. Introdução
A grande guerra (1914-1918) foi o primeiro conflito em que se observou de
forma decisiva o potencial de fogo de novos sistemas de armas como a metralhadora, a
artilharia, os morteiros, as granadas de mão e de espingarda, o lança chamas, o torpedo
bengalório, o carro de assalto (tank) e uma grande diversidade de munições de artilharia
(gás, fumos, iluminantes, de alto explosivo e shrapnel). Foi neste conflito que se assistiu
ao desenvolvimento da modalidade de “tiro indirecto.”1 cujos efeitos causaram grande
parte das baixas, dando origem a novos equipamentos de proteção, como o capacete e
a mascara anti-gás.
O apoio de fogos afirma-se como uma nova função de combate, com os
morteiros, a artilharia ligeira e os sistemas pesados operando numa gama de alcances
que deram origem à nova dimensão do “combate em profundidade” em que os meios
de artilharia causaram a maior parte das baixas, na ordem dos 58% dos mortos em
1 No tiro indirecto o efeito do tiro no objectivo (alvo) não é observado da posição de onde é disparado (na posição onde está posicionado o sistema de armas lançador). Na modalidade de tiro directo o objectivo é visto da posição onde estão as bocas de fogo podendo ser regulado e observado na posição da bateria.
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combate. Herdeiro do positivismo da escola militar prussiana do final do século XIX, o
exército alemão foi pioneiro na criação de um sistema de apoio de fogos que se afirmou
logo no início da guerra com os morteiros, a artilharia pesada e os métodos de cálculo
do tiro científicos, componentes que os seus adversários não dispunham de modo
tão desenvolvido. Além da diversidade e quantidade dos meios, o exército germânico
revelou uma estrutura orgânica inovadora, dotando os diversos escalões tácticos com
meios de apoio de fogos próprios, desde os baixos escalões de infantaria, com morteiros
ligeiros, ao escalão Corpo de Exército com artilharia pesada.
No decorrer da guerra os aliados vão também desenvolver um sistema de apoio
de fogos, com morteiros e artilharia, criando a estrutura que permanece válida na
atualidade, constituída pelos três sub-sistemas:
Aquisição de objectivos (os olhos e os ouvidos do sistema); o sub-sistema
“Comando, Controlo e Coordenação” (o cérebro dos sistema) e o sub-sistema “Armas e
Munições” (os músculos executores).
2. O novo conceito dos fogos indirectos
A origem do tiro indirecto de artilharia é controversa, havendo autores que
referem o seu aparecimento na 2ª Guerra Anglo Boer (1899-1902)2 e outros que
consideram ter sido usado pela primeira vez na guerra Russo-Japonesa (1904-1905),
mas sabemos que esta modalidade só foi amplamente usada na 1ª guerra mundial3.
O “tiro indirecto” usado pela artilharia de campanha pressupunha que o tiro era feito
sobre objectivos não observáveis da posição de onde era realizado o tiro, alterando
profundamente as técnicas de observação e de regulação do tiro, que deixou de
ser observado e regulado da posição da bateria, exigindo a presença de elementos
destacados na frente para observarem a zona de objectivos situada a grande distância
da bateria que executa o tiro.
Relativamente aos equipamentos de artilharia, a grande novidade foi a
generalização dos sistemas com ligação elástica (sistema amortecedor do recuo do
tubo e de recuperação da massa recuante) permitindo aumentar muito a cadência
de disparo mantendo a precisão do tiro. O primeiro equipamento dotado de ligação
elástica e de um aparelho de pontaria adaptado ao tiro indirecto, foi a peça francesa
75mm S.Canet (1897)4 que assumiu por isso a nomenclatura de TR (tiro rápido)
qualidade usada inicialmente para o tiro directo. Este conceito de utilização da artilharia
com sistemas mecânicos avançados mas vocacionada para o tiro directo, traduzia os
princípios da doutrina táctica francesa antes da guerra, que considerava o emprego da
2 Frank W.Sweet, The Evolution of Indirect Fire, Backintyme,2000.p.28.3 Os estudos e a doutrina da técnica do tiro indirecto começaram a ser desenvolvidos pelos aliados, depois dos alemães já terem desenvolvido doutrina sobre esta modalidade de tiro na sua artilharia e para os seus morteiros, sistema em que foram pioneiros. Só em 1906 o exército Britânico começa a estudar esta modalidade e o exército dos EUA em 1907 (Field Artillery Drill Regulation).4 Frank W.Sweet, The Evolution of Indirect Fire, Backintyme, 2000.p.20.
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artilharia, apenas como um complemento da infantaria. A doutrina francesa considerava
que a infantaria continuava a ter a missão principal e a artilharia tinha apenas a missão
de apoiar a sua manobra, fundamento que fazia a grande distinção relativamente
à escola militar alemã, que no inicio da guerra já valorizava os fogos de artilharia em
profundidade sobre a artilharia inimiga e sobre os postos de comando, comunicações e
órgãos logísticos do inimigo.
No inicio da guerra o exército alemão tinha uma grande superioridade em
artilharia pesada, tendo quase sete vezes mais bocas de fogo de artilharia pesada do que
os exércitos aliados. O Relatório Britânico sobre as Lições aprendidas durante a Grande
Guerra5 destaca o grande poder de fogo e os efeitos morais e materiais do obus alemão
150 mm logo no inicio da guerra em 1914, na batalha das fronteiras na frente ocidental,
mostrando como este sistema motivou posteriormente o desenvolvimento dos sistemas
de artilharia média e pesada que tiveram grande protagonismo no conflito.
No inicio da guerra em 1914 a artilharia francesa dispunha de cerca de 3800
peças de artilharia ligeira (75mm) e apenas 384 bocas de fogo de artilharia pesada. O
exército alemão dispunha de cerca de 2000 bocas de fogo de artilharia pesada e um
sistema vocacionado para bater objectivos em profundidade, apoiado por métodos
de cálculo do tiro mais avançados, de base cientifica, com o apoio da topografia e
da meteorologia, criando a estrutura do sistema de artilharia de campanha tal como
conhecemos na atualidade, constituído pelos três subsistemas, interligados entre
si, basicamente por meios TPF, (ainda que já tenha sido usado o sistema TSF entre
aeronaves e balões para postos terrestres):
5 Report of the Commitee on The Lessons of the Great War, War Office,1932.pp.13-14
Obus alemão 150 mm em 1914 (5.9 in Howitzer)
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
50 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
• Aquisição de objectivos (observadores, aeronaves e balões)
• Comando e Controlo (postos de comando da artilharia e de morteiros)
• Armas e Munições (sistemas de armas de artilharia ligeira, pesada e morteiros)
Na sua classificação das guerras em quatro gerações, William Lind6 caracteriza a 1ª Grande Guerra como a guerra de 2ª geração através da expressão “A Artilharia conquista e a Infantaria ocupa” para destacar o “Poder de Fogo” como a principal característica desta guerra que se distingue da geração anterior (massa humana) e da 3ª geração (manobra). Logo no inicio da campanha militar em Agosto de 1914 na ofensiva sobre a Bélgica, os alemãs demostraram o poder da sua artilharia pesada nas operações de cerco a Liége e a Namur, usando a poderosa “Big Bertha” (420 mm) e o morteiro pesado austríaco “Emma” (305 mm) produzido pela Skoda, usando já espoletas de percussão de atraso nas granadas explosivas, destinadas a detonarem após a penetração nas fortificações.
O pensamento militar em França apesar da experiencia da Guerra Franco- -Prussiana, acreditava que a guerra no futuro seria fundamentalmente protagonizada pela infantaria, sendo a artilharia apenas um complemento da manobra, vocacionada para o apoio directo à infantaria. Este conceito dos franceses antes da guerra, é confirmado pelo facto da França em 1914 dispor de reduzidos meios de artilharia pesada relativamente às suas peças ligeiras (75mm), realidade reveladora de um conceito de apoio de fogos ultrapassado, dedicado apenas ao apoio próximo à infantaria. Os ingleses na sua experiencia na guerra Boer também consideravam a artilharia para aumentar o poder de fogo da infantaria não desenvolvendo a prática do tiro indirecto7. No entanto alguns autores como Thomas Pakenham, referem que na 2ª Guerra Anglo Boer (1899- -1902) as forças inglesas foram pioneiras na utilização do tiro indirecto e das barragens de fogo de artilharia, nomeadamente na batalha de Tugela Heights..8
No inicio da Guerra o exército alemão já usava o apoio de fogos em proveito da mobilidade sendo a artilharia essencial na ofensiva usando obuses para neutralizar a artilharia francesa (75mm) e a artilharia pesada para destruir as fortificações francesas e belgas segundo um conceito de atacar o inimigo com fogos de massa, planeados e controlados de forma centralizada em elevados escalões (Divisão e Corpo de Exército) o que os aliados só fizeram mais tarde. Este novo conceito de apoio de fogos implicava uma centralização do comando e controlo, o que levou à organização de escalões de comando para a artilharia, como o Comando da artilharia Divisionária, de Corpo de Exército e superior, para dirigirem também a exigente logística da artilharia, principalmente o reabastecimento de munições.
6 William S. Lind, “The Changing Face of War: Into the Fourth Generation,” Marine Corps Gazette, October 1989.7 Apesar de reconhecerem a vantagem do tiro indirecto e de observarem a suas vantagens na guerra russo-japonesa (1904-1905), a escola inglesa considerava que esta modalidade implicava um elevado consumo de munições perante os efeitos obtidos.8 Thomas Pakenham, The Boer War, Abacus, 2004, designa esta Guerra como a primeira guerra moderna “the first modern war”, destacando estas inovações da artilharia.
51
3. O conceito de apoio de fogos e as Doutrinas de Guerra
O general alemão Bernhardi publicou em 1911 um trabalho sobre a guerra da sua
época, na qual previa que a próxima guerra seria muito diferente das anteriores. A obra
revelava que a única forma de guerra que teria sucesso era a ofensiva e que o caminho
de ferro, o automóvel, o telégrafo e outras invenções, facilitariam o transporte rápido de
tropas, dando vantagem à iniciativa. Bernhardi previa que tacticamente o ataque seria
muito mais difícil do que no passado, mas acreditava numa guerra de movimento e de
manobra. Os princípios da escola alemã, patentes nos seus Regulamento de Táctica de
1908 e no Regulamento de Infantaria de 1906, valorizava o espirito ofensivo, a iniciativa, a
surpresa e a velocidade de execução das operações, dando grande importância ao poder
de fogo, ”atacar é colocar o fogo na frente”: “L´offensive consiste à transporter le feu vers
l`ennemi […] l`assault à la baionnette confirer la victoire.”.9
As guerras anteriores na Àfrica do Sul, na Manchuria e nos Balcans, tinham
mostrado já a importância das fortificações de campanha e da artilharia pesada, mas em
França, ao contrario da Alemanha, as elites militares não valorizaram estas novas condições
e pelo contrario, algumas figuras relevantes do exercito francês contrariavam estas teses,
como acontecia com o General Langlois, que era abertamente contra a artilharia pesada
de campanha. ”Des canons lourds, dans une artillerir de champagne dont la mobilité doit
être une des qualités maitresses, sont un encombrement inutile, et le transport de leurs
pesants projectiles, surtout sur routes, est une grosse complication. Quìls restent dans les
équipages de siége. Il ne doit y avoir, dans les battteries de champagne, qu`une sorte de
canon…Notre 75 est apte à toutes les tâches en rase champagne”.10
No exército francês prevalecia a ideia de que a missão da artilharia era apoiar a
infantaria, quer na defensiva quer na ofensiva. A artilharia tinha por missão essencial,
apoiar o movimento da infantaria na frente, em particular antes do assalto, para bater os
objectivos de ataque11: “L`artillerie ne prépare plus les attaques, elle les appuie”12.“Pendant
l`ataque l`artillerie couvre de projectiles les objectifs contre lesqueles marche
l`Infanterie.”13 A visão do General francês Pierre Palat em 1917, reconhecia que a herança
de Carl Clausewitz estava bem presente na estratégia militar alemã: “Enfin, ils [Allemands]
avaient sur nous l` avantage d`une organisation, créé uniquement au point de vue de la
guerre et avec un rare espirit de suit. Chez nous, dans l` èlaboration des lois militaires, on
fait solvente intervenir des considérations politiques ou simplement électorales”.14
O exército alemão foi pioneiro no emprego de morteiros, de artilharia pesada
e de granadas de gás (na 2ª batalha de Ypres em 1915) mas o segundo ano da guerra
9 LTCol Lucas, L´évolution des Idées Tactiques en France et en Alemagne, pendat la Guerre de 1914-1918, Paris,1925.p.26.10 Palat, Piérre Lehautcourt, La Grande Guerre sur le Front Occidental: Les Éléments du conflit, Libraire Chapelot,1917,Paris.pp. 273-274.11 LTCol Lucas, L`Évolution des idées Tactiques en France et en Alemagne pendant la guerre de 1914-1918,Berger Levrault, Paris,1925.p.8.12 Idem.p.10.13 Idem.p.11.14 Géneral Pierre Palat, La Grande Guerre sur le front Occidental, Libraire Chapelot,1917.
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
52 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
(1915/1916) foi para os aliados também um período de grandes desenvolvimentos ao nível
dos equipamentos e da táctica, que se traduziu depois num equilíbrio entre os sistemas
de artilharia dos alemães e dos aliados, através do desenvolvimento de diversos modelos
de morteiros, alterações na orgânica das unidades de artilharia (destacando-se o aumento
de 4 para 6 bocas de fogo em cada bateria) e de novas modalidades de tiro de artilharia,
como a contrabateria, barragens e os fogos de preparação. Este equilíbrio verificou-se
nas batalhas de Verdun e do Somme em 1916, nos duelos entre artilharias adversárias,
onde se observaram as grandes preparações de artilharia, como foi a preparação alemã
durante 10 horas (feita por 800 bocas de fogo) em 21 de Fevereiro de 1916 (Verdun) na
qual participaram 1400 bocas de fogo do exército alemão, que apesar da superioridade
em artilharia e na quantidade de unidades de infantaria, não conseguiu evitar o impasse
táctico, após 10 meses de combates (Fevereiro a Dezembro 1916) registando-se 700 mil
mortos (377 mil entre os franceses e 337 mil entre os alemães).
O poder de fogo da Defesa era superior à mobilidade do Ataque e por isso
tornou-se impossível a manobra e surgem as grande frentes de batalha estáticas, tal
como teorizou o General Andre Beaufre.15 A batalha de Verdun foi a maior concentração
de meios de artilharia desde o inicio da guerra e na fase final desta batalha, a artilharia
francesa também fez uma preparação de 6 dias, envolvendo 530.000 granadas de 75mm,
100.000 granadas 150 mm, na qual participou a célebre peça francesa St-Chamond sobre
caminho de ferro. Na batalha do Somme, assistimos a uma ofensiva aliada numa frente
de 19 km procurando romper as linhas alemãs bem entricheiradas, operação em que a
artilharia britânica realizou as célebres “barragens rolantes” e onde sofreu pesadas perdas
sem atingir o objectivo previsto. Durante 20 dias de combate a infantaria aliada avançou
apenas 8 km e logo no primeiro dia da operação sofreu 57.000 baixas das quais 19.000
mortos, incluídos na estatística desta batalha que durou 5 meses e registou cerca de 1,2
milhões de baixas (mortos e feridos).
A batalha do Somme em 1916 representou no entanto um momento de viragem
e alterações tácticas e técnicas para a artilharia dos aliados. Depois de 1916, ao nível
táctico, verificou-se o incremento e o desenvolvimento dos fogos em profundidade,
como os fogos de Contrabateria, tirando partido dos meios de artilharia média e
pesada de maior alcance. Foram adoptados critérios mais selectivos para bater os
objectivos, numa tendência para valorizar a precisão em detrimento da massa de fogos,
reduzindo a duração da preparação e os critérios de efeitos, valorizando mais o efeito
de “neutralização” relativamente à “destruição”, procurando um melhor equilíbrio
entre o efeito surpresa e potência de fogo, enquanto ao nível técnico se desenvolveu
a meteorologia, a topografia e os sistemas de comunicação, tão importantes para
coordenar a ação da manobra com o apoio de fogos. Estas alterações tácticas e técnicas,
proporcionaram vantagens ao nível da economia de munições, aumentando o efeito
surpresa, reduzindo a fadiga das unidades de artilharia e o esforço da logística de
artilharia (pré posicionamento de munições e o seu reabastecimento). Comparando a
15 Beaufre, André, Introduction a la Stratégie, Librairie Armand Colin, Paris, 1963.
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duração das preparações de artilharia nas batalhas de 1916 com as batalhas de 1918
verifica-se uma significativa redução da sua duração.
Numa fase inicial da guerra, que podemos considerar nos dois primeiros anos
1915-1916, a artilharia inglesa e francesa, davam prioridade ao ataque a posições
avançadas do inimigo, ao longo de frentes muito extensas, acreditando ser suficiente para
apoiar a manobra da sua infantaria. Assim numa fase inicial da guerra a táctica de artilharia
baseava-se num conceito de apoio de fogos sobre objectivos dispersos ao longo de frentes
extensas, procurando bater posições prioritariamente na linha da frente do inimigo. Este
conceito de apoio de fogos mostrou-se insuficiente para assegurar o sucesso da manobra
da infantaria, pois o emprego dos fogos era muito disperso, sobre áreas muito extensas,
sem concentrar fogos sobre determinadas posições do inimigo, que sendo batidas com
reduzido volume de fogos, podiam recuperar a sua ação, impedindo a manobra da nossa
infantaria, através das suas metralhadoras das trincheiras e da ação da sua artilharia
sobre a nossa infantaria. Na Batalha do Somme (1916) este conceito que o General Henry
Rawlinson defendia vigorosamente ao afirmar “nothing could exist at the conclusion of the
bombardment in the area covered by it” revelou afinal muitas limitações, exigindo uma
mudança de princípios doutrinários.
Numa fase posterior após as experiências vividas em 1916, surge um novo
conceito que abandona o principio de bater áreas, dando importância ao ataque da
artilharia inimiga e as suas comunicações, sendo assim um conceito mais selectivo sobre
objectivos localizados mais em profundidade. Este conceito exigia naturalmente sistemas
de armas de maior alcance, tendo motivado o desenvolvimento de sistemas de artilharia
mais pesados. Este conceito previa a possibilidade de destruir a artilharia do inimigo ou
apenas a sua neutralização (exemplo com gás venenoso) tendo em conta que o que era
necessário, era impedir que a artilharia inimiga pudesse operar.
Desenvolve-se também a técnica das Barragens Rolantes (Creeping Barrages) que
foram realizadas durante a batalha do Somme em 1916, tendo em vista apoiar o avanço da
infantaria numa velocidade padrão de 100 jardas por cada 3 a 4 minutos, dimensão que
podemos visualizar correspondendo ao cumprimento de um campo de futebol, percorrido
em 4 minutos16 (aproximadamente 25/30 metros por minuto).
A barragem rolante tinha um efeito eficaz se o assalto da infantaria acompanhasse
a progressão da barragem, a uma distancia entre os 50 e os 100 metros, mas tinha o
sério inconveniente de, se esta distância fosse alargada com o atraso da infantaria e o
adiantamento do fogo rolante, o inimigo tinha oportunidade de se reorganizar nos seus
abrigos defensivos, reagindo sobre a nossa infantaria que assim ficava exposta ao fogo das
metralhadoras pesadas e também aos fogos indirectos do inimigo. Este tipo de fogo de
artilharia tinha também o elevado risco de atingir as próprias forças amigas sendo que o
exercito françês estima ter tido em algumas operações, cerca de 10% de baixas provocadas
pela sua própria artilharia.
16 A linha de fogo da artilharia ia avançando em lanços de aproximadamente 100 metros.
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
54 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
A experiência do 1º dia da batalha do Somme em 1916 (para os britânicos) e
a ofensiva de Chemin des Dames para os franceses em 1917, foi um exemplo de fogo
rolante mal coordenado entre a infantaria e a artilharia pelo facto da progressão da
barragem rolante se ter adiantado em relação à infantaria, tendo esta ficado sem apoio
perante as posições inimigas reorganizadas para a defesa do sector. A ausência de meios
de comunicação adequados, não permitia a realização dos necessários ajustamentos aos
ritmos de progressão da manobra e do apoio de fogos, sendo que artilharia seguia o plano
estabelecido, fazendo avançar a linha de fogo em lanços de 100 metros, sem considerar
em tempo oportuno o eventual atraso da infantaria.
A coordenação entre a infantaria e a artilharia era um dos grandes desafios,
sendo um dos aspectos destacados no já citado trabalho publicado em 1920, onde eram
considerados os seguintes 6 princípios decorrentes da experiencia da grande guerra:
• Ligação entre as armas17
• Superioridade dos meios
• Liberdade de acção
• Economia de Forças
• Busca da Surpresa
• Preponderância das forças Morais
Uma parte deste trabalho18 aborda o desafio da Artilharia relativamente à
necessidade de garantir o poder de fogo sem abdicar do efeito Surpresa tão necessário.
O posicionamento das unidades de artilharia e de elevadas quantidades de munições,
eram operações complexas que demoraram muito tempo, como aconteceu por exemplo
em Verdum e no Somme em 1916. A reflexão sobre o equilíbrio entre a necessidade de
apoio de fogos intenso e a Surpresa é realizada pelo autor em torno dos seguintes três
factores:
• Posicionamento e deslocamento dos meios de Artilharia (unidades e
munições)
• Duração da Preparação
Na Batalha de Artois na primavera de 1915 o posicionamento da artilharia
(329 bocas de fogo de artilharia pesada para reforçar a artilharia do X Exército) foi
uma operação que demorou 3 semanas. No XI Exercito em Agosto 1917 (Verdum) o
deslocamento das unidades de Artilharia de reforço e de munições também foi muito
lento. O desafio de ter massa de fogos de artilharia e também garantir a surpresa exigiu
a colocação dos meios com mais rapidez e houve uma melhoria destes valores médios
para 3 a 4 dias antes das operações, ao mesmo tempo que se reduzia a duração dos fogos
de Preparação, exigindo menos tempo para o posicionamento dos meios de artilharia.
17 LTCol H. Corda, La Bataille et son évolution pendant la guerre 1914-1918, Ecole Militaire de L`Artillerie,1920 p.618 Idem.pp 64-73.
55
A diminuição da Preparação teve como grandes vantagens, a economia de
munições, a Surpresa e a redução da fadiga das unidades de artilharia. Os Carros
de Combate e as granadas tóxicas contribuíram também para reduzir o emprego da
artilharia na preparação, verificando-se que no ultimo ano de guerra (1918) já não se
realizavam preparações de artilharia tão longas como anteriormente. A Preparação
dos Alemães no ataque em 21 de Março de 1918 foi de 5 horas (incluindo granadas
toxicas), no ataque de 27 de Maio de 1918 foi de 2 horas e 45 minutos (incluindo
granadas toxicas). O ataque francês de 18 de Julho de 1918 não teve Preparação de
artilharia, tendo tido a participação de carros de combate, também o ataque inglês
de 8 de Agosto de 1918 não teve práticamente uma Preparação de artilharia, tendo
carros de combate e o ataque francês na mesma operação (8 Agosto 1918) teve uma
Preparação de apenas 45 minutos, contando com carros de combate de seguida.
Gradualmente a artilharia percebe que deve bater os objectivos de modo mais
selectivo, previligiando a precisão em vez da massa, dando prioridade na ofensiva às
missões de Neutralização de posições e não de Destruição19.
Entre a experiência na Batalha do Somme (1916) e a Batalha de Cambrai
(Novembro de 1917) verificou-se uma grande evolução na artilharia. Em Cambrai as
forças inglesas puseram em pratica os ensinamentos decorrente da sua experiencia
de 1916, primeiro usando a aeronáutica para reconhecimentos e também praticando
as técnicas desenvolvidas de Contra-bateria (localização de objetivos pelo som e
pela luz) que permitiram realizar fogos de surpresa sobre as posições da artilharia
alemã com base em fogos previamente planeados sobre posições conhecidas, sem
revelar as suas posições. Com o avanço dos carros de combate e da infantaria em boa
cooperação começou a artilharia com fogos de contrabateria e de barragem, fazendo
o apoio de fogos de cortinas de fumos para impedir a observação da artilharia alemã.
Esta operação foi um grande desafio para a Artilharia britânica tendo que operar em
estreita colaboração com a infantaria e carros de combate. A batalha de Cambrai
(1917) foi um dos primeiros exemplos da guerra moderna, segundo o conceito “all
arms battle” com uma actuação combinada entre a Infantaria, a Artilharia, Carros de
Combate e até mesmo a aeronáutica britânica.
Podemos dizer que após 1916 temos as novas técnicas de apoio de fogos de
Contra-bateria e as Barragens, acompanhadas de modificações orgânicas (as baterias
de artilharia ligeira com 6 bocas de fogo) e em 1918 temos já o embrião do conceito
de “all arms battle” como se observou em Cambrai 1917. Outra novidade foi a
adaptação dos sistemas de artilharia ligeira de campanha a plataformas adaptadas
ao tiro antiaéreo, perante a nova e crescente ameaça dos bombardeamentos alemães
dos balões Zeppelins e de aeronaves e também a utilização de peças de artilharia de
campanha na defesa anticarro.
19 Na fase final da Guerra 1914-1918 este conceito prevalecia até que na 2ª Guerra Mundial se voltou a valorizar o conceito de fogos de massa para destruir o inimigo até ao seu colapso.
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
56 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
Através do plano de organização da artilharia dos EUA do Coronel C. Butler
(julho de 1917) que serviu no essencial ao planeamento de forças do Gen. J. Perching20,
podemos verificar a lógica de uma atribuição de meios por escalões e respectivas
missões. As peças de artilharia ligeira deveriam realizar missões de apoio imediato aos
batalhões de infantaria e barragens rolantes para impedir os contra-ataques inimigos;
os obuses ligeiros deveriam fazer tiro de Fumos e de Gás, Contrabateria e outra missões
de apoio imediato. As Peças pesadas tinham por missão fazer fogos de Contrabateria,
sobre Postos de Comunicações e bases de Balões. Os Obuses pesados fariam missões
para abrir brechas em obstáculos (arame farpado etc) e posições de Metralhadoras.
4. Organização do Sistema de Apoio de Fogos
Até ao inico da Grande Guerra os meios de artilharia eram definidos em termos
da quantidade de homens das unidades de infantaria a apoiar, sendo seguida a lógica de
3 a 4 bocas de fogo por cada 1000 homens. Este rácio foi alterado no decorrer da guerra
tendo em muitos casos, aumentado para o dobro a quantidade de bocas de fogo por
cada 1000 homens21. Em 1914 o exército alemão tinha uma relação de 6,4 bocas de fogo
para 1000 homens, a Inglaterra 6,8 / 1000 e a França 4,6 / 1000, mas depois de 1916
estes exércitos já tinham 8 a 12 bocas de fogo por cada 1000 homens, nos sectores mais
activos e mesmo nos sectores de menor atividade operacional tinham todos mais do que
6 bocas de fogo por cada 1000 infantes. O CEP entre janeiro e março de 1918, enquanto
esteve com a 1ª e a 2ª Divisão em sector, mantinha um rácio aproximado de 5,5 bocas
de fogo de artilharia para cada 1000 homens.22
No decorrer da guerra, principalmente depois de 1916, aumentou a densidade de
artilharia no Teatro de Operações da frente ocidental, ao mesmo tempo que os exércitos
organizavam os seus meios de artilharia em novos escalões tácticos, centralizando o
comando e controlo, criando sistemas de armas mais pesados para guarnecer a Artilharia
de Corpo de Exército e os Corpos de Artilharia Pesada em via férrea, sob comando do
escalão mais elevado (Exército).
A Artilharia Alemã
A artilharia de campanha alemã estava organizada em Regimentos, cada um
destes com dois (2) Grupos de três (3) baterias a 6 bocas de fogo cada uma23. Quer as
baterias de peças 77 mm quer as baterias de obuses 105 mm eram constituídas por 6
bocas de fogo dando assim à artilharia de campanha alemã uma superioridade de poder
20 A organização da Artilharia implementada pelo Gen. Johnn Pershing preferiu os obuses franceses de calibre 155 mm em detrimento dos 3,8´´ ou 4,7´´ e decidiu utilizar o calibre 8´´ no escalão da Artilharia de Corpo de Exército.21 Este racional está relacionado com o potencial de uma Bateria de Artilharia como o escalão adequado para apoiar um Batalhão de Infantaria, que nesta época dispunha de um efectivo aproximadamente de mil homens combatentes. A quantidade de bocas de fogo de uma bateria de artilharia ligeira, aumentou de 4 para 6 no decorrer da guerra. 22 Considerando o efetivo de 6 Brigadas de Infantaria ( a 4 Batalhões cada Brigada) e os 6 Grupos de Artilharia (GBA) com 22 bocas de fogo cada um.
23 No início da guerra o exército alemão dispunha de cerca de uma centena de Regimentos de Artilharia sendo que a sua artilharia de campanha ligeira, dispunha de aproximadamente 630 baterias.
57
de fogo relativamente à francesa e inglesa que inicialmente tinham as suas baterias
organizadas a 4 bocas de fogo. O Corpo de Exército Alemão (duas Divisões) dispunha
de 144 bocas de fogo ligeiras, sendo que em cada Divisão de Infantaria, a sua Artilharia
Divisionária dispunha de 54 peças (9 baterias a 6 peças) e de 18 Obuses de 105 mm
(3 baterias a 6 bocas de fogo) num total de 24 baterias. Enquanto um Corpo de Exército
francês tinha apenas 120 peças de 75mm (30 baterias a 4 peças) sem dispor de obuses.
Estas 120 peças eram distribuídas pelas duas Divisões e pela artilharia de Corpo o que
eram manifestamente inferior ao modelo orgânico alemão.
Ao nível dos materiais de artilharia dos alemães a realidade era a seguinte:
Artilharia ligeira alemã era constituída por 37% de obuses e 63% de peças. Dos 37%
de obuses, 38% destes eram obuses ligeiros (FH 98/09), 42% eram obuses ligeiros (FK
Krupp) e 20% eram obuses ligeiros (CFH 16). Do conjunto de 63% peças: 30% eram a
peça FK 16 e 70% eram peça FK 96. Em relação à artilharia pesada alemã, cerca de 25%
eram peças e os restantes 75% eram Obuses e Morteiros.
Os meios de Artilharia do Exército Alemão
Artilharia de campanha alemã, tinha peças e obuses de três calibres: 7,7 cm,
10,5 cm e 15 cm: – A Peça ligeira 7,7 cm existia em dois modelos, um modelo mais
antigo de 1896, o 7,7 cm FK96 (7,7 cm FeldKanone 96) e o FK 16 (7,7 cm FeldKanone 16).
O modelo da peça de 1896 foi logo ultrapassado pelo francês 75mm (de 1897) por causa
da ligação elásctica o que levou os alemães a actualizarem este seu modelo em 1904
também com um sistema de ligação elástica e outro reparo, mas com o desenvolvimento
da guerra das trincheiras este sistema revelou reduzido alcance (apenas 6.000 jardas
e no máximo 9.000 jardas). Assim a casa Krupp desenvolveu outro modelo de 7,7 cm,
mantendo o calibre por razões logísticas, criando a peça FK 16 com maior alcance24 de
9 km (11.700 jardas) e um melhor sistema de ligação elásctica, podendo usar munições
de toda a tipologia (HE, Shrapnel, Iluminantes, fumos e gás). A Krupp criou também
um outro modelo de artilharia ligeira em 1916 que era o obus ligeiro 10,5 cm FH 16
(10,5 leiche Feldhaubitze) com alcance na ordem das 10.100 jardas. Como artilharia
média tinha dois modelos de calibre 15 cm: a Peça 15 cm K16 e o Obus 15 cm Schwere
FeldHaubitze.
Foi também a Krupp que criou em 1916/1917 a Peça 15 cm K16 que tinha como
sistema equivalente o obus 6 polegadas inglês (obus 15 cm) e ao francês a peça 15,5 cm
GPF. Esta peça alemã tinha um alcance com granada explosiva de 24.000 jardas com uma
cadencia de tiro de três tiros por minuto. O obus 15 cm SFH 13 entrou em serviço em
1914, criado também pela casa Krupp em 1913 e tinha duas versões de tubo mais longo
(L17) e outro mais curto (L14). Tinha um alcance de 9.400 jardas.
24 O tubo original da peça alemã 77 mm FK 96 tinha o cumprimento de 2136 mm e foi aumentado em 1916 para 2743 mm (versão 77 mm FK16) permitindo aumentar a velocidade inicial de 460m/s para 600 m/s e aumentar o alcance de 5.500 m para 10.500 m.
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
58 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
Além destes modelos o exército alemão usou ainda diversos modelos de artilharia
pesada de calibres 21 cm (peça em caminho de ferro e obus rebocado Morser 16), de 24
cm (peça em caminho de ferro) e o modelo rebocado de 42 cm (Big Bertha): As peças
pesadas de 21 cm e de 24 cm sobre caminho de ferro, sendo célebre a peça 24 cm (de
1918) por ter bombardeado Paris, melhorando o sistema rebocado de 1914 de 42 cm (Big
Bertha) também conhecido pelos seus bombardeamentos em profundidade. Também de
calibre 21 cm o exército alemão usou o obus pesado criado em 1916, o obus Morser 16
(21cm Mrs 16). Desta tipologia existiu também nas forças do Império Austro Húngaro o
Morteiro pesado da empresa Skoda, de calibre 305 mm cuja origem é de 1906, e que
entrou ao serviço em 1911 conhecido como Schlanke Emma (Skinny Emma) e que logo em
Agosto de 1914 teve protagonismo no ataque às fortificações de Liége na Bélgica durante 4
dias de intensos bombardeamentos sobre as importantes fortalezas belgas.
Organização da Artilharia Alemã
Através da alteração da orgânica das Divisões de Infantaria Alemã entre 1914
e 1918 podemos verificar o seguinte: Cada Divisão tinha 4 Grupos de Artilharia, na
orgânica de 1914, a Divisão tinha uma Brigada de Artª com 2 Regimentos de Artª e
cada Regimento tinha 2 Grupos cada um com 3 baterias (seis baterias cada Regimento
sendo 12 baterias no total). No modelo de 1917 existia um Regimento com 4 Grupos
cada um deles com 3 baterias. Nesta orgânica a Divisão tinha uma Companhia de
Morteiros (da Divisão) e um Pelotão de Morteiros em cada Batalhão de infantaria.
Os alemães deram ao Regimento de Infantaria mais poder de apoio de fogos
com os morteiros orgânicos e granadas na infantaria, para que este escalão tenha
apoio de fogos imediato, antes da resposta da artilharia. Na campanha de Verdun
em 1916, os alemães introduziram novas tacticas, as longas e extensas barragens de
artilharia são substituídas por curtas mas intensas barragens mistas com gás, seguidas
dos ataques da infantaria. A artilharia passa a bater a artilharia inimiga assim como
também objetivos na retaguarda e nos flancos do sector a atacar para evitar manobras
do inimigo e reforços. A Infantaria já não avança em vagas de assalto numerosas mas
sim com pequenos grupos que penetram no sector do adversário em profundidade,
precisando de apoio de fogos imediato com lança-chamas, granadas, metralhadoras
e morteiros ligeiros de rodas, para ocupar e defender pontos fortes. Na primavera de
1918 o exercito alemão apresentou uma nova orgânica e novas tacticas, mas faltou
capacidade de apoio de reabastecimentos e recompletamentos de pessoal, tendo os
aliados recuperado através da sua ofensiva do Verão de 1918 usando algumas tacticas
que os alemães usaram antes.
Os Morteiros alemães Os alemães desenvolveram os morteiros antes dos aliados, designando este
sistema de armas como “minenwerfer” (lançador de minas), pois tendo em conta a
59
experiência observada na guerra russo-japonesa, consideraram útil desenvolver um
sistema de armas para abrir brechas em estruturas defensivas (bunkers e arame farpado)
junto das forças de manobra, onde o emprego da artilharia não era adequado, missão
que inicialmente foi considerada no âmbito da missão da Engenharia. Logo em 1907
começaram os estudos e em 1908/09 a empresa Rheinmetall desenvolveu um modelo
de calibre 25 cm, que entrou ao serviço em 1910 e depois adoptaram um sistema
organizado em três tipos de morteiros, ligeiros, médios e pesados:
• O morteiro ligeiro 7,6 cm tinha uma alcance entre 300 m até 1300 m e tinha uma
guarnição de 5 a 6 homens. A sua cadência de tiro era de 6 tiros por minuto,
tinha ligação elástica, o tubo estriado e um reparo com rodas. Produzido pela
Rheinmetall, este sistema era comparado com o equivalente sistema de artilha-
ria alemão 7.7 cm FK 96 e apresentava a vantagem relativamente à artilharia, de
ter maior mobilidade, pois enquanto a peça de artilharia precisava de 6 cavalos
este era rebocado apenas por um cavalo.
• Morteiro Médio de 17 cm. Tinha um alcance entre os 300 m e os 1600 metros,
uma cadencia de tiro de 2 tiros/minuto e tinha também como o morteiro ligeiro,
um sistema de ligação elástica, estrias e um reparo com rodas. Produzido pela
Rheinmetall entrou em serviço em 1913.
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
60 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
• Morteiro Pesado 25 cm. Tinha um alcance entre 540 m e os 970 metros, dispunha
de ligação elástica, podendo também ser rebocado num reparo com duas rodas.
Logo no inicio da guerra os alemães experimentaram com sucesso o sistema
pesado de 25 cm na frente francesa (especialmente no ataque às fortificações
belgas de Liege e Namur e sobre a fortaleza francesa em Maubeuge), pelo que
resolveram produzir em larga escala este novo tipo de armas de apoio de fogos.
O exército alemão usou ainda outro modelo de morteiro super pesado, de calibre
38 cm (sehr schwerer minenwerfer ). Criaram escalões tácticos com este sistema
de armas, (batalhões de morteiros em apoio de altos escalões. Tendo também
batalhões de morteiros ao nível das Divisões e companhias de morteiros.
61
A Artilharia do Exército Françês
A artilharia francesa no início da guerra estava organizada de acordo com
a regulamentação de 1909 modificada em Abril de 191425 sendo constituída por
Regimentos de Artilharia de campanha cada um com 3 ou 4 Grupos de 3 Baterias
(peças 75mm), sendo cada bateria constituída por 4 peças. Cada Divisão dispunha de
uma Artilharia Divisionária cada uma com 9 baterias, organizadas em três Grupos). Um
Regimento de Artilharia (do dispositivo territorial) mobilizava uma Brigada de Artilharia
que constituia a artilharia divisionária, em regra com 3 Grupos (cada um com 3 baterias)
num total de 9 batarias de peças 75mm (36 peças).
Cada Regimento de Infantaria, (de acordo com a organização definida em 1912)26
era constituido por 3 Batalhões sendo cada Batalhão constituido por 4 companhias e
por duas ou três seções de metralhadoras. Além das unidades de artilharia divisionária,
o exército françês dispunha de 20 Artilharias de Corpo de Exército (cada uma com 4
Grupos num total de 12 baterias) e 10 Grupos a cavalo (cada um com 3 baterias). A
peça 75 mm era a espinha dorsal da artilharia francesa que era superior ao sistema
equivalente alemão, a peça 77 mm mas por outro lado, a artilharia pesada alemã era
superior em mobilidade e em quantidade.
25 Leis de 24 de Julho de 1909 e de 15 de Abril de 1914. Piérre L. Palat, La Grande Guerre sur le Front Occidental: Les Éléments du conflit, Libraire Chapelot,1917,Paris.p.210.26 A Lei de 23 de Dezembro de 1912, estabelecia a organização de 173 Regimentos de Infantaria, dos quais 164 eram constituídos por 3 Batalhões a 4 Companhias, 8 Regimentos de Guarnição (a 4 Batalhões) um Regimento destacado na Córsega, 31 Batalhões de Caçadores a pé, 13 Batalhões de Caçadores Alpinos, 4 Regimentos “Zouaves”, 12 Regimentos Indígenas, 5 Batalhões de Infª Ligeira em África e Companhias Independentes no Saara.
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
62 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
A Artilharia do Exército Britânico
A artilharia britânica estava organizada em três tipos de unidades:
• Artilharia a Cavalo (Royal Horse Artillery): As unidades de artilharia ligeira desti-
nadas ao apoio de unidades de cavalaria, foram durante a guerra essencialmente
empregues para reforçar as unidades de artilharia de campanha.
• Artilharia de Campanha (Royal Field Artillery): Esta era a componente com mais
unidades e pessoal constituindo as unidades de apoio directo às unidades de
infantaria, sendo organizada em Brigadas de Artilharia (enquandrando Baterias)
• Artilharia de Guarnição (Royal Garrison Artillery): Estas unidades que antes da
guerra guarneciam a defesa costeira, foram depois mobilizadas para guarnecer
as unidades de artilharia pesada (peças e obuses) de artilharia de campanha.
Uma Brigada de Artilharia era o escalão táctico de base da artilharia de
campanha durante a guerra, sendo constituído por um Comando de Brigada e por
um número variável de Baterias de peças ou de obuses27. Antes da guerra o Corpo de
Artilharia de campanha do exército britânico estava organizado em baterias, não tendo
outros escalões, nem Regimento nem Grupo. A artilharia de campanha dispunha de 147
baterias, das quais 18 eram de obuses e 25 a cavalo (7,62 cm). Além disto dispunha
de 6 baterias pesadas, 8 baterias de artilharia de montanha (tropas indígenas) e 99
companhias de artilharia de guarnição.
Uma Brigada de Artilharia de Campanha era comandada por um Tenente-Coronel
e tinha uma estrutura adequada para enquadrar 3 baterias (normal) ou 4 baterias e uma
Coluna de Munições28. Cada Bateria tinha cerca de 198 militares sendo comandada por
um Major ou por um Capitão, tendo um Capitão como segundo comandante. No inicio
da Guerra cada Divisão de Infantaria tinha três (3) Brigadas de Artilharia (de Baterias
de peças) e uma Brigada de Baterias de Obuses, mas em Maio de 1916 esta orgânica
foi reformulada sendo extintas as Brigadas de Baterias de Obuses, que se juntaram às
Brigadas de Artilharia de peças, ao mesmo tempo que as Colunas de munições também
deixavam de existir ao nível das Brigadas passando para o nível Divisionário. O exército
britânico utilizava a peça de artilharia ligeira de 84 mm (QF 18) de 1904 que era o
equivalente à peça francesa 75 mm, com uma guarnição também de 6 homens e que
tinha um alcance máximo de 6 Km. Usava ainda como artilharia ligeira o Obus 11,4 cm
(4,5 polegadas) criado em 1908 com 7,6 km de alcance e uma guarnição de 6 militares.
Nas unidades de artilharia pesada usava os calibres 6 polegadas, 8 polegadas e 9,2
polegadas. Usou ainda na tipologia de artilharia pesada a Peça Pesada modelo BL 60 Pounder
Heavy Field Gun (calibre 127 mm) com um alcance de 9 Km que foi produzida em 1905.
27 Uma Brigada de Peças QF 18 (84mm) tinha 795 homens e uma Brigada de Obuses 4,5 polegadas (11,4cm ) tinha 755 praças e 22 oficiais.28 A coluna de munições de uma Brigada de Artilharia tinha 158 homens e era comandada por um capitão e a sua missão era fazer o reabastecimento de munições nas posições das baterias. Estas colunas de munições de Brigada, foram extintas com a reorganização de 1916, ficando a existir colunas de munições Divisionárias.
63
Em 1917 o modelo orgânico de uma Divisão de Infantaria britânica29 tinha
3 Brigadas de Infantaria e cada uma destas era constituída por 4 batalhões, tendo
uma Companhia de Metralhadoras Pesadas e uma Bateria de Morteiros. A Artilharia
Divisionária era constituída por três Brigadas de Artilharia, uma Coluna de Munições
Divisionária, três Baterias de Morteiros Médios e uma Bateria de Morteiros Pesados, que
era a orgânica adoptada em 1917 pela artilharia e morteiros do Corpo Expedicionário
Português. Antes deste modelo orgânico, cada Divisão de Infantaria britânica tinha 3
grupos de peças (a 3 baterias), um grupo de obuses (a 2 baterias) e uma bateria de
artilharia pesada, num total de 12 baterias. Foi este modelo de organização que
influenciou também a organização da artilharia portuguesa da Divisão Auxiliar criada
em 191430 que teve a seguinte orgânica:
• Quatro (4) Grupos (a 3 baterias) de peças 7,5 cm. (não dispunha de obuses,
como mais tarde veio a receber do exército britânico, pelo que os 4 Grupos
seriam inicialmente constituídos pelas peças 75mm que Portugal tinha adquirido
à França dez anos antes).
• Uma (1) Bateria de obuses 15 cm.
Em 1914/1915, os Britânicos apresentam também “morteiros de trincheira”
inventados por Frederick Wilfred Stokes, criando um morteiro muito ligeiro e portátil
(3 inch Stokes Drain-pipe) que foi experimentado com sucesso em campanha em 1915
e que foi depois produzido e introduzido ao serviço na primavera de 1916. Usava
principalmente granadas explosivas (HE) e de Fumos e a sua prestação inspirou novos
modelos como foram os modelos Newton médios e pesados que serviram até ao final da
guerra, assim classificados em 1916 no exército britânico:
• Morteiros Ligeiros : o modelo 3-inch Stokes “Light”.
• Morteiros Médios: o modelo 2-inch Medium, que depois em 1917 foi substituído
pelo modelo 6-inch Newton Mortar (15,2 cm).
• Morteiros Pesados: modelo 9.45-inch Heavy “Flying Pig”.
Organização das unidades portuguesas
Quando em fevereiro de 1918 o CEP alterou a sua organização passando de uma
Divisão a Corpo de Exército (com duas Divisões), a nossa artilharia também adoptou o
modelo orgânico inglês criando-se os Grupos mistos, combinando no mesmo Grupo três
baterias de peças 7,5 cm e uma bateria de obuses 11,4 cm. Os Grupos de Baterias de
Obuses 11,4 cm foram dissolvidos, atribuindo-se uma bateria de Obuses 11,4 a cada um
dos Grupos de Baterias 7,5 cm, ficando assim a existirem seis (6) Grupos de Baterias de
29 Tendo como exemplo a organização da 42ª Divisão Britânica em 1918. A Divisão de Infantaria britânica tinha ainda uma Companhia de Metralhadoras Pesadas, um Batalhão (ou Companhia) de Pioneiros, tinha unidades de Engenharia (4 companhias de Engª e uma Companhia de Comunicações), unidades de Saúde e de apoio de serviços. 30 O Decreto de 1 Dezembro 1914 (Ordem do Exército nº 29 – 1ª Série 7-12- 1914), definia esta organização da artilharia para a Divisão Portuguesa (4 Grupos de Baterias 75mm e uma Bateria 15 cm).
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
64 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
Artilharia (GBA), constituídos por 3 baterias 7,5cm e uma bateria 11,4 cm cada um. Esta
organização da Artilharia foi definida em 12 de Fevereiro de 1917 com base na proposta
para o CEP deixar de ser uma Divisão Reforçada e ser constituído um Corpo de Exército
(CE) com duas (2) Divisões.
A artilharia de campanha do CEP ficava assim constituída por equipamentos de
origem francesa e inglesa, combinando as peças 7,5 cm (francesas) com os obuses 11,4
cm (4,5´´) ingleses. A artilharia ligeira britânica usava como sistema mais ligeiro, o mode-
lo QF 18 pounder gun que era o material de artilharia ligeira padrão das forças do impé-
rio britânico na Grande Guerra 1914-1918. Este calibre inglês (84 mm) era ligeiramente
superior aos equivalentes sistemas de artilharia ligeira francês (75 mm) e ao alemão que
usava o calibre (77 mm).
Organização de um Grupo de Baterias de Artilharia
Peça de 7,5 cm/36 Tiro Rápido m/91731
31 O CEP (Corpo de Expedicionário Português) recebeu 72 peças deste modelo françês, com o qual equipou as 18 baterias que equiparam os seis (6) Grupos de Baterias de Artilharia (GBA) do CEP em França. Alcance máximo com granada explosiva 8.550 metros e com granada Shrapnel 6.800m.
65
Obus de 11,4 cm TR m/91732
Os Grupos de Artilharia (GBA) estavam subordinados ao Comando da Artilharia
da Divisão onde estavam integrados, mas actuavam de forma descentralizada, dando
apoio a cada uma das Brigadas de Infantaria dentro do sector em que estavam
posicionados. Os pedidos de tiro dos Batalhões de Infantaria especialmente as missões
de “represálias” e as missões de “SOS” , eram realizadas pelas baterias, a pedido dos
elementos da frente de modo descentralizado, para a resposta ser rápida como se
exigia neste tipo de missões. Tal como as unidades de Artilharia, também as unidades
de Morteiros Médios e Pesados estavam subordinados ao Comando da Artilharia da
Divisão, não tendo relação de comando com o escalão Brigada como acontecia com
as baterias de morteiros ligeiros (integradas organicamente nas Brigadas). As baterias
de Morteiros Médios e Pesados (morteiros de trincheira) estavam subordinadas ao
Comando da Artilharia, através do Oficial Divisionário de Morteiros de Trincheira
(ODMT) oficial que atuava junto do comando da Divisão. Ao nível de apoio de fogos as
Brigadas contavam com o apoio imediato de uma Bateria de Morteiros Ligeiros, situação
que mostrou aliás que estas unidades de morteiros ligeiros actuando de forma muito
descentralizada, tinham um reduzido rendimento pelo facto do seu emprego não ser
bem coordenada com os restantes meio de apoio de fogos (Morteiros de Trincheira e
Artilharia de Campanha).
32 Designado no exército português como obus 11,4 cm, este modelo fornecido pelos Britânicos era na designação inglesa o modelo 114/16 MK.II (QF 4,5 Howitzer). O CEP dispunha de 24 obuses destes para equipar 6 baterias (a 4 bocas de fogo cada bateria).Cadencia de tiro máxima de 8 tpm, alcance 7.600 metros.
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
66 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
Os Morteiros no CEP
A referida classificação dos morteiros britânicos foi adoptada em 1917 pelas forças
portuguesas, depois de abandonarem um modelo orgânico inicialmente estabelecido
com morteiros ligeiros de 51 cm e médios de 7,5cm, ficaram depois com 6 Baterias de
Morteiros Ligeiros (Stokes) para o apoio directo a cada Brigada, enquanto as 6 Baterias
de Morteiros Médios Newton (15,2 cm) e as duas baterias de Morteiros Pesados Newton
ficam sob o comando da Artilharia Divisionária. Os Morteiros podiam lançar granadas
de gases e faziam sobretudo missões de flagelação, com posições localizadas entre as
Linha A e Linha B. As suas missões de tiro eram facilmente referenciadas pelo inimigo
pelo que as guarnições tinham que retirar para abrigos adjacentes às posições das bocas
de fogo, logo após as missões, sendo que as suas posições muito próximas da Infantaria
originavam muitos bombardeamentos sobre as tropas de infantaria, que por causa
disso, não gostavam de ter morteiros nas proximidades.
Cada Brigada de Infantaria portuguesa contava com uma Bateria de Morteiros
Ligeiros “Stockes”, com 8 bocas de fogo. Este morteiro ligeiro tinha alcances na ordem
dos 600 a 700 metros, com uma cadência máxima de tiro de 20 a 25 tiros por minuto
sendo a cadência normal de 6 a 8 tiros por minuto.
67
- Baterias de Morteiros de Trincheira (Baterias de Morteiros Médios 152mm e
Baterias de Morteiros Pesados 240 mm). Os morteiros médios dispunham de um alcance
máximo na ordem dos 1.200 a 1.700 metros, e uma cadência de tiro normal de 8 tiros por
minuto.
Cada uma das 6 baterias de Morteiros Médios “Newton” tinha 4 morteiros.33
Os Morteiros Pesados tinham alcances entre os 600m e os 2.100 metros, uma
cadência de tiro normal de 1 tiro por minuto. Numa operação ofensiva os morteiros
realizavam em cooperação com a artilharia dos designados “fogos preliminares” que
designamos de “fogos de preparação” para destruir as linhas avançadas do inimigo e
as defesas acessórias do inimigo, fazendo barragens de fumos e ainda podiam lançar
granadas de gases asfixiantes e lacrimogéneos. No âmbito de uma operação defensiva,
os morteiros faziam fogos de barragem sobre as trincheiras de comunicação para deter
os contra-ataques inimigos e o avanço de reforços para as primeiras linhas inimigas. No
caso do inimigo entrar nas nossas linhas, os morteiros deveriam fazer fogo intenso sobre
essas mesmas posições.
Cada uma das Baterias de Morteiros Pesados dispunha de 4 morteiros.34
33 Quadro nº 12 1/35/494/2.34 Arquivo Histórico Militar 1/35/494/2.
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
68 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
Morteiro Pesado inglês modelo Newton 240 mm
A Artilharia Pesada do CEP
Além dos Grupos de Baterias de Artilharia (GBA) orgânicos das Artilharias Divisio-nárias, foram mobilizados militares para guarnecer unidades de artilharia pesada, quando foi decidido elevar o CEP ao escalão Corpo de Exército, o que justificava a organização de uma artilharia de Corpo de Exército. Em Maio de 1917 foram enviados para Inglaterra diversos oficiais para receberem formação de artilharia pesada35. As tropas destinadas a guarnecer o CAP seguiram para França e depois para Inglaterra em Agosto de 1917 onde receberam instrução nas escolas de Roffey Camp e em Hazeley Down Camp e treinaram tiro de artilharia pesada na escola de Lydd, essencialmente com os obuses de seis polega-das (6´´) . Em janeiro de 1918 estas tropas começaram a deslocar-se para França ficando este Corpo de Artilharia Pesada, adido ao Comando da Artilharia Pesada do X Corpo Inglês, para efeitos de instrução. Os militares mobilizados para constituir o CAP pertenciam às unidades do Campo Entrincheirado de Lisboa (Artilharia de Costa, Unidades de Artilharia de Guarnição e da Bateria de Artilharia de Posição). O Corpo de Artilharia Pesada do CEP foi organizado em 2 Grupos cada um com 5 baterias de obuses: uma bateria de obuses 9,2´´ (1ª bateria), duas baterias de obuses de 8´´ (2ª e 3ª baterias) e duas baterias de obu-
ses de 6´´ ( 4ª e 5ª baterias).
35 Os oficiais do Estado Maior do CAP, das repartições de Contrabateria e das baterias de obuses estiveram na escola de Roffey Camp junto de Horsham e os oficiais destinados às baterias de peças estiveram na escola de Avington Park na região de Winchester. Traduziram diversos regulamentos ingleses, receberam instrução de tiro de artilharia e realizaram visitas de estudo a fábricas e escola de camuflagem.
69
Obus 15cm/13 Tiro rápido m/918 (Vickers-Amstrong)36
Cada Grupo era constituído por cerca de 724 militares (44 oficiais e 680 sargentos
e praças) mas este efectivo do CAP superior a 1500 militares37 esteve envolvido fundamen-
talmente em instrução e depois em trabalhos de transporte de munições, construção de
fortificações de campanha e colocação de linhas telefónicas). Apenas o pessoal da 4ª e 5ª
baterias do 1º Grupo participou em missões próprias da artilharia, integrando as guarni-
ções da 99ª bateria e da 166ª bateria inglesas. Foi na 99ª bateria inglesa, onde os militares
portugueses estiveram mais tempo operando o obus de 6 polegadas que foi depois da
guerra adoptado pelo exército português com a nomenclatura 15cm T.R. m/1918.
Antes da batalha de La Lys (9 Abril 1918), apenas uma pequena parte do pessoal
integrou baterias inglesas, como foi o exemplo referido dos artilheiros portugueses
que estavam em serviço na 99ª Bateria da 49ª Brigada de Artilharia Pesada Inglesa,
que participou na Batalha de La Lys em 9 de Abril de 1918. Depois de Abril de 1918 os
artilheiros das baterias do CAP foram servir em baterias inglesas e as suas 10 baterias
passaram a ser independentes, colaborando com unidades inglesas até ao final da guerra
conforme a seguir se indica:
36 O obus 15 cm/13 m/918 da Vickers-Armstrong era designado em inglês por obus de calibre 6 polegadas (6 Howitzer MK.1). O Corpo de Artilharia Pesada (CAP) do CEP recebeu 8 obuses destes durante a Guerra que vieram depois para Portugal. Cadência de tiro máxima de 2 tom (tiro obus minuto) durante dois minutos e cadencia normal 1 tom. Alcance máximo: 10.420 metros.37 Além deste efectivo foram ainda mobilizados 694 homens para o designado serviço de transportes mecânicos, pessoal destinado a trabalhar com as viaturas auto ligeiras e pesadas e tractores das bocas de fogo. Este efectivo também foi para Inglaterra receber instrução no Aring Service Corp Mechanical (Transport Tractor Depot) em Avonmouth. Estes militares acabaram por regressar a França e servir nos serviços automóveis (STA Secção Técnica Automóvel) pelo facto do CAP nunca ter recebido material.
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
70 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
1º Grupo 2º Grupo
1ª Bateria Na 113ª bateria (Obuses 6´´) 1ª Bateria —
2ª Bateria
Na 184ª Btrª (Obuses 9,2´´)
Na 239ª Btrª (Obuses 8´´)
Na 163ª Btrª (Obuses 6 ´´)
Na 179ª Btrª
2ª BateriaNa 180ª Btrª
Na 236ª Btrª
3ª BateriaApós trabalhos de fortificação na retaguarda até junho, depois deu pessoal para uma bateria 8´´.
3ª Bateria —
4ª BateriaApós trabalhos de fortificação na retaguarda até junho, depois deu pessoal para baterias Canadianas.
4ª Bateria
Após trabalhos de fortifica-ção na retaguarda deu pes-soal para 264ª bateria e 259ª bateria.
5ª BateriaNa 14ª Btrª
Na 174ª Btrª5ª Bateria
Numa Bateria de 9,2´´ noutra de 8`` e noutra de 6´´.
Em 1 de Outubro foram distribuídos à 1ª Bateria do 2º Grupo, quatro (4) obuses
pesados de 6´´ (15 cm), que foram as únicas bocas de fogo que foram distribuídas ao CAP,
permitindo organizar uma bateria com 4 obuses, 4 viaturas tractoras (FWD), 25 camiões,
1 1utomóvel e 2 bicicletas.
O CAPI (Corpo de Artilharia Pesada Independente )
Além da Artilharia do CEP referida anteriormente, (seis Grupos Divisionários e o
CAP), o exército português ainda mobilizou pessoal para guarnecer um Corpo de Artilharia
Pesada Independente (CAPI) a pedido da França, para ser utilizado sob o comando francês
com material francês de Artilharia Pesada. No final do ano de 1916 (26 Dezembro 1916) o
governo francês solicitou a Portugal o envio de pessoal de artilharia para guarnecer 15 a 20
baterias de artilharia pesada (a França dava prioridade ao reforço da sua artilharia pesada
de diversas tipologias desde os caminhos de ferro às peças de posição em fortificações
terrestres e de defesa de costa). Através da convenção militar assinada em 17 de Maio de
1917 pelos ministros da guerra de França e de Portugal, foi criado o Corpo de Artilharia
Pesada Independente (CAPI) cuja designação francesa era CALP (Corps d´Artillerie Lourde
Portugais).38
38 Fundo GR 17 N 432 do Arquivo Histórico Françês (Service Historique de la Defense) de Vincennes em Paris.
71
Os militares portugueses do CAPI foram mobilizados pelas unidades do Campo
Entrincheirado de Lisboa e seguiram para França em Outubro de 1917. O CAPI foi
organizado formalmente em 4 de Novembro de 1917 com 3 Grupos e uma Bateria de
Depósito, num total de 1632 homens (63 oficiais, 125 sargentos e 1444 praças) que iriam
guarnecer baterias de peças de calibres 32 cm, de 24 cm e de 19 cm, antigo material de
artilharia de costa francês que foi instalado em vagões de caminhos de ferro. A orgânica
de cada Grupo do CAPI previa: Uma Bateria (com 4 peças de 32 cm) e duas Baterias (2ª
Baterias e 3ª Baterias) cada uma com 4 peças de 19 cm ou de 24 cm. Nenhum dos três
Grupos recebeu o efetivo necessário em pessoal e material, pelo que quando iniciaram o
período de instrução em 10 de Novembro de 1917, apenas foi possível ministrar instrução
da peça 32 cm. Em janeiro de 1918 chegou um contingente de militares vindos de Portugal
num navio francês destinados ao CAPI (13 oficias de artilharia, 10 médicos e 593 praças)
pelo que os dois Grupos começaram a receber instrução, mas logo em Março de 1918 o
2º Grupo recebeu a ordem para ser retirado do CAPI e ser integrado no CEP para o seu
pessoal reforçar as nossas unidades de artilharia pesada.
Apenas o 1º Grupo do CAPI permaneceu na sua missão original sob o comando
da artilharia pesada francesa, tendo realizado duas missões de tiro em Maio de 1918.
A 1ª bateria do 1º Grupo terminou a primeira parte da instrução em 11 de Março de
1918 e deslocou-se para a posição de Vailly-sur-Aisne para receber instrução na frente,
acompanhada pelos oficiais das 2ª e 3ª baterias e do Comando do 1º Grupo.
Em 16 de Maio de 1918 a 1ª bateria fez fogo na posição nº 756 no ramal de
caminho de ferro de Soupir a Dames. Fez 60 tiros a uma distancia de 6500 m da 1º
linha alemã, batendo posições de artilharia alemã situadas no bosque de S. Aizelles,
objetcivos revelados por fotografia aérea e regulados por avião francês que elogiou a
bateria portuguesa. Em 18 de Maio de 1918 a 2ª bateria e a 3ª baterias fizeram fogo das
posições nº 162 e 168 na rede de Hurlus contra posições (trabalhos alemães) trincheiras
e observatórios a acerca de 9800 m com observação terrestre. A 2ª bateria fez 58 tiros
(entre as 13h30 e as 17h00) e a 3ª fez 124 tiros (entre as 13h00 e as 16h00). Durante a sua
missão o CAPI sofreu 5 mortos por doença e 5 feridos (2 em combate e 3 por acidente). Foi
extinto em Novembro de 1918, após 18 meses de serviço em França.
As Munições
Quando consideramos que o ano de 1916 foi um ano de viragem no emprego
dos sistemas de apoio de fogos, a nossa ideia é baseada num conjunto de inovações,
extensivas também ao nível das munições, como por exemplo a utilização massiva de
munições de alto explosivo (HE), o aparecimento do modelo de espoleta nº 106 da granada
explosiva e também as granadas de fumos e químicas que só foram amplamente usadas
pela artilharia dos aliados após 1917. Esta realidade é confirmada através da tipologia de
munições usadas nas “creeping barrages” que até 1917 eram normalmente feitas apenas
com munições Shrapnel e depois passaram a ser feitas com 50% Shrapnel e 50% HE (em
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
72 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
1917) e no final de 1917 com uma mistura de 1/3 de granadas Shrapnel, 1/3 de HE e 1/3
de Fumos. Foi durante a guerra que se estabeleceu a tipologia de munições de artilharia
que perdurou sem grandes alterações durante todo o século XX. Os progressos técnicos
permitiram uma sofisticação dos sistemas mecânicos (espoletas de tempos das granadas
iluminantes etc) e ao nivel das munições de alto explosivo (HE) destacam-se as espoletas
de percussão de atraso (para detonarem após penetração em abrigos).
As granadas Shrapnel
No inicio da Guerra eram as granadas mais usadas representando quase a
totalidade dos fogos da artilharia ligeira como arma anti-pessoal e foi este tipo de efeitos
que motivou a adopção dos capacetes.39 A granada shrapnel usava uma espoleta mecânica
de tempos previamente graduada conforme a distancia (duração do trajecto) para fazer
iniciar a carga expulsora quando a granada ia no ar, expulsando as balas sobre um objectivo
de cima para baixo num cone de aproximadamente 100 metros de altura40. Era também
usada para abrir obstáculos (arame farpado) mas a sua utilização comportava alguns
riscos de ricochetes e dispersão sobre as nossas tropas, como aconteceu no primeiro dia
da ofensiva britância do Somme (1 Julho 1916) que embora tenha tido algum efeito na
abertura de brechas nas concentrações de arame dos alemães, também causou baixas
na infantaria britânica. As munições Shrapnel, foram muito usadas durante a guerra
representando para os aliados cerca de 30 a 40 % do consumo de munições de artilharia,
sendo que os restantes 70% a 60 % eram granadas HE (explosivas), fumos e quimicas,
como testemunham as estatísticas41. A munição Shrapnel perdeu alguma importância
como granada anti pessoal com o aparecimento das munições explosivas (alto explosivo)
mas continuou a ser muito usada para abrir obstáculos (cortar arama farpado) e nas
barragens rolantes (creeping barrages)42
Granadas Explosivas (High Explosive) HE
Com espoletas de percussão (impacto) tinham diversas finalidades como por
exemplo para destruir fortificações e para bater edifícios para evitar serem usados
como pontos fortes pelo inimigo, zonas de reunião de tropas e de animais etc; Eram
usadas principalmente pela artilharia pesada e morteiros pesados sobre abrigos, mas
também sobre tropas a descoberto causando baixas através dos estilhaços com um
efeito psicológico devastador pelo efeito que causavam no corpo humano e nos animais.
Depois da primeira batalha do Ypres (Outubro 1915), foram produzidas novas versões
de granadas HE com mais poder explosivo e com uma espoleta que podia ser graduada
para funcionar como espoleta de percussão ou com “delay” (atraso) vocacionada para a
39 O modelo de capacete britânico adoptado em 1916 “British Brodie steel helmet”, foi desenvolvido para fazer face a esta ameaça.40 Cada granada shrapnel lançada pela peça britânica (18 pdr) continha 375 balas e a do sistema 13pdr tinha 236.41 Paddy Griffith, Battle Tactics of the Western Front, The British Army`s Art of Attack, 1916-18 , Paperback,1996.p.139.42 Alguns autores, como Ian V.Hogg, Allied Artillery of World War One,Crowood Press (UK),1998, referem que a técnica de tiro da barragem rolante, foi usada pela primeira vez na Grande Guerra, na batalha de Neuve-Chapelle em 1915.
73
granada se enterrar e depois explodir, causando mais efeitos sobre fortificações. Algumas
destas espoletas foram até montadas na retaguarda do projectil para garantir melhor
este efeito de espoleta de atraso, desenvolvimentos introduzidos após 1916. A artilharia
britânica passou a usar a espoleta de percussão instantânea em 1917 (106 percussion
fuse model) o que veio revolucionar a eficácia da artilharia para abrir obstáculos. Alguns
autores consideram mesmo que no final do ano de 1917 os dois sistemas vocacionados
para abertura de brechas eram os carros de combate e a espoleta nº 106 das munições
explosivas britânicas, sendo estas mais vulgarmente usadas para o efeito do que os
carros de combate.43 Foram também desenvolvidas novas munições como as granadas
Iluminantes, as Incendiárias e as de Gás.
Considerações Finais
Em jeito de conclusão começamos por destacar algumas das considerações
apresentadas no Relatório Britânico sobre as Lições aprendidas durante a Grande Guerra44
que relativamente à artilharia, aborda principalmente os seguintes aspectos: a necessidade
de melhorar a capacidade de resposta da artilharia reduzindo o tempo de planeamento do
apoio de fogos, a importância da artilharia ter observadores avançados nas unidades da
frente, a preferência da munição HE (alto explosivo) relativamente à Shrapnel, a vantagem
de utilizar os obuses na artilharia ligeira (complementando a ação das peças) e de dispor
de artilharia média e pesada.
Umas das conclusões a destacar é que na ofensiva, a artilharia foi uma componente
dominante, mas o tempo despendido para o planeamento dos seus fogos (atribuição de
objectivos às baterias de artilharia, o cálculo dos elementos de tiro e do volume de fogos
a aplicar em cada objectivo) tornou algumas vezes ineficaz o emprego da artilharia, após
a manobra ou retirada do inimigo. Os métodos topográficos (identificação e referenciação
dos objectivos através da cartografia etc;) eram considerados fundamentais quando
existem condições e tempo disponível para a sua utilização, sendo referido no entanto
que este não deve ser o único método a usar pela artilharia, destacando a necessidade
de observar (in loco) os fogos de apoio directo à infantaria, dispondo de observadores
avançados na linha da frente em permanência. Uma dificuldade verificada nos ataques era
a execução dos fogos de “barragens rolantes” e de fogos sobre séries de objectivos45 em
coordenação com o avanço da manobra.
Relativamente às munições o relatório sobre a experiência britânica revela que
as munições explosivas (HE) e de Fumos, ganharam vantagem sobre a munição Shrapnel
referindo que este modelo deveria ser abandonado, facilitando o sistema de produção
de munições o seu reabastecimento e utilização em campanha. A experiência vivida pela
artilharia aliada durante a guerra, mostrou que em certas missões especificas a utilização
43 Paddy Griffith, Battle Tactics of the Western Front, The British Army`s Art of Attack, 1916-18 , Paperback,1996.p.140.44 Report of the Commitee on The Lessons of the Great War, War Office,1932.pp.13-1445 Série de Objectivos é um método de ataque usado pela artilharia para bater um conjunto de objectivos segundo uma determinada sequência, conforme o plano realizado em coordenação com as unidade de manobra.
O conceito de Apoio de Fogos: Artilharia e Morteiros na Grande Guerra (1914-1918)
74 Actas do Colóquio Internacional “A Grande Guerra: Um Século Depois”
de granadas Shrapnel foi eficaz mas em geral foi menos eficaz que a granada HE, que
mostrou mais vantagens (menos risco e mais baixas), especialmente nas barragens e
pelo seu efeito moral no adversário. Sobre a experiência nas operações na península
de Gallipoli, (campanha de Dardanelos) o relatório compara a acção da artilharia ligeira
francesa 75 mm utilizando HE com a ação da artilharia ligeira britânica usando apenas
Shrapnel destacando a superioridade da artilharia francesa46.
A reflexão sobre as vantagens relativas entre as peças e os obuses, mostra
que na fase final da guerra se registou uma tendência para aumentar a quantidade de
obuses em detrimento da quantidade de peças ligeiras, acompanhando a tendência
do abandono da munição Shrapnel (vocacionada para as peças ligeiras) enquanto se
valorizava a munição HE e a utilização dos obuses. O relatório refere que a peça ligeira
britânica era vocacionada sobretudo para missões de barragens (com munição sharpnel)
o que não sendo compatível com o carácter da nova guerra de manobra, os obuses
tinham vantagem sobre as peças, devendo ser aumentada a sua presença na artilharia de
campanha. A experiencia revelou também que os obuses foram mais eficazes para bater
objectivos abrigados, no entanto foi reconhecida a vantagem das peças relativamente
aos obuses para bater viaturas blindadas (tanks).
Numa observação comparativa entre os sistemas de apoio de fogos em confronto,
podemos dizer que no inicio do conflito a artilharia ligeira dos aliados era inferior à alemã.
Apesar da peça francesa 75 mm ser mais sofisticada tecnicamente que a peça 77 mm
alemã, a artilharia de campanha alemã tinha mais poder de fogo, pois cada Bateria de
peças 77 mm tinha 6 bocas de fogo, enquanto as baterias francesas 75 mm tinham apenas
4 peças47 e os alemãs dispunham de obuses ligeiros de campanha (modelo de calibre
105mm) também com baterias a 6 bocas de fogo, enquanto que os franceses dispunham
apenas da peça 75 mm como artilharia ligeira. Em relação à artilharia pesada os alemãs
apresentavam um sistema de artilharia pesada logo no inico da guerra que os franceses
e ingleses não tinham. As unidades de artilharia de campanha do exército francês e do
britânico só mais tarde adoptaram a orgânica de 6 bocas de fogo em cada bateria, e apenas
nas baterias de peças ligeiras, pois ao nível das baterias de obuses, estas permaneceram
sempre a 4 bocas de fogo.
Um Corpo de Exército Alemão (constituído por 2 Divisões) dispunha de 144 bocas
de fogo ligeiras. Cada Divisão alemã dispunha de 54 peças (9 baterias a 6 peças) e de 18
Obuses de 105mm (3 baterias a 6 bocas de fogo) num total de 24 baterias. Enquanto um
Corpo de Exército francês tinha apenas 120 peças de 75 mm (30 baterias a 4 peças) sem
dispor de obuses. Estas 120 peças eram distribuídas pelas duas Divisões e pela artilharia
de Corpo o que era manifestamente inferior ao modelo orgânico alemão.
A artilharia ligeira francesa não dispunha inicialmente de obuses sendo por isso
inferior para bater objectivos protegidos em abrigos. Relativamente às peças ligeiras,
46 Appendix III – Report of the Commitee on The Lessons of the Great War, War Office,1932.p.69.47 A maior parte das baterias de artilharia de campanha alemã, (peças 77 mm e obuses 105 mm) eram constituídas por 6 peças excepto as baterias 77 mm a cavalo, que tal como as francesas eram constituídas por 4 peças.
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embora a peça francesa 75 mm fosse superior à peça alemã de 77 mm, a peça francesa
era mais pesada (2.125 Kg) do que a alemã (1.140 Kg) que tinha por isso menos serventes
(a peça alemã tinha uma guarnição de 5 homens) do que a francesa. A artilharia alemã
tinha a vantagem de ter calibres 105 mm (peças) e obus 150mm (modelo recente de 1902)
com uma cadencia de 3 tom com 7400 m de alcance e uma granada de 40 Kg (com 8Kg
de explosivo).
Um Corpo de Exército alemão tinha um Grupo de Obuses 15 cm (com 4 Baterias
cada uma a 4 bocas de fogo) e alguns Corpos tinham ainda Morteiros (duas baterias a
4 bocas e fogo). Inicialmente o escalão CE do exército francês não dispunha de obuses
nem de artilharia pesada48, revelando inferioridade em relação ao alemão relativamente à
capacidade do alcance do seu combate em profundidade: “ O alcance superior da artilharia
alemã 105 mm e 150 mm (7000 e 7500 m ) em relação ao alcance da peça 75 mm francesa
(4000 m) era uma superioridade incontestável”.49
Fontes e Bibliografia
Fontes de Arquivo:
Service Historique de la Defense (Vincennes) Paris.
Fundo GR 17 N 432 Service Historique de la Defense
Fundos do Arquivo Histórico Militar (Lisboa)
Caixa nº 1381, 35ª Secção/1ª Divisão
Documento AHM 1/35/494/2
Documento AHM 1/35/603/3 Relatórios da artilharia
Documento AHM 1/35/316/4 QG da 1ª Div Comando da Artª Esboços
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48 Os franceses tinham apenas o 155 mm ao nível da artilharia pesada do exercito mas não ao nível Corpo Exercito. 49 Lucas, L`Evolution des Idées Tactiques pendat la Guerre 1914-1918, Paris,1925.p.35.
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