as amidulas voadoras

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    Entre Marx a Bakunin.

    Caminhos e descaminhos da AIT, a Associao Internacional dos Trabalhadores.

    Carlo Romani

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    A organizao internacional dos trabalhadores.

    Na dcada de 1850, na esteira da difuso do Manifesto do Partido Comunista (Marx, 1848), o

    nome original desse texto, muito se debateu sobre a necessidade da criao de um partido

    de trabalhadores, e de trabalhadores comunistas. A idia de partido, como observou Eric

    Hobsbawm (2008:293-308) em seu texto de Introduo ao Manifesto Comunista, no a de

    um partido poltico cujo objetivo seria aquele de participar da disputa eleitoral da democracia

    burguesa. O partido deve ser entendido como sendo a faco, a ala, a parte da sociedade,

    que, em tese, pela sua condio de classe trabalhadora, portanto antagonista do capital,

    abraaria o ideal comunista. O manifesto tornou-se um ato de propaganda dos comunistasque tambm ajudaria na criao da AIT, a Associao Internacional de Trabalhadores no ano

    de 1864. Para Marx e seus seguidores comunistas (os marxistas), segundo sua lgica, a

    associao viria a ser confundida com o prprio Partido Comunista, um partido internacional

    de trabalhadores, pois como dizia o seu lema a classe operria internacional. Contudo, a

    prtica poltica complexa, envolvendo muitas disputas, geralmente herdeiras de um

    processo histrico j em curso. No caso da AIT, os delegados de trabalhadores que dela

    participaram em diferentes momentos, divergiram em um sem nmero de pontos

    programticos. Antes de serem diferenas ideolgicas, constituam-se na expresso das

    diferenas existentes entre indivduos provenientes de diferentes culturas ou de distintas

    comunidades tnico-lingusticas e de diferentes naes, inclusive, de fora da Europa.

    1Professor Adjunto de Histria do Mundo Contemporneo da Escola de Histria da Universidade Federal do Estado do Rio

    de Janeiro, UNIRIO. Integrante do NIS, Ncleo de Investigao Social ([email protected]), da UFF - Rio das Ostras. E-

    mail para contato com o autor: [email protected]

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    A deciso para a criao de uma Associao Internacional de Trabalhadores ocorreu em 28

    de setembro de 1864 no encontro realizado em Londres no Saint Martins Hall. Nessa

    assemblia, com a presena de delegaes operrias de vrios lugares da Europa, foi eleito

    um comit que incumbiu Karl Marx (o nico que se exprimia em alemo, ingls e francs) deredigir a mensagem inaugural da AIT em ingls (em tese pela Inglaterra ser o pas onde a

    classe operria era maior e mais bem organizada), o Adress and provisonal rules of the

    International Working Mens Association, cujos estatutos, onde se explicitavam os objetivos

    da organizao, seriam aprovados no I Congresso, realizado dois anos depois em Genebra:

    Considerando:Que a emancipao dos trabalhadores deve ser obra dos prpriostrabalhadores; que os esforos dos trabalhadores para conquistar sua

    emancipao no devem tender a constituir novos privilgios, mas aestabelecer para todos, direitos e deveres iguais, e a aniquilar a dominaode toda classe;Que a sujeio econmica dos trabalhadores aos detentores dos meios deproduo, quer dizer, das fontes da vida, a primeira causa de suaservido poltica; moral, material;Que a emancipao econmica dos trabalhadores consequentemente ogrande objetivo ao qual todo movimento poltico deve estar subordinadocomo meio;Que todos os esforos feitos at aqui fracassaram por falta desolidariedade entre os operrios das diversas profisses de cada pas, e deuma unio fraternal entre os trabalhadores dos diversos pases;Que a emancipao do trabalho, no sendo um problema nem local nemnacional, mas social, abrange todos os pases nos quais a vida modernaexiste, e necessita, para a sua soluo, seus concursos terico e prtico;Que o movimento que reaparece entre os operrios dos pases maisindustrializados da Europa, fazendo nascer novas esperanas, faz umasolene advertncia para no recair nos velhos erros, e leva-os a combinarimediatamente seus esforos ainda isolados. (traduo do texto ingls deMarx para o francs na verso feita por Charles Longuet para o Congressode 1866 em Genebra, inJames Guillaume, 2009:62-4)

    Seguindo uma trajetria iniciada trs dcadas atrs pelos sindicalistas ingleses, o objetivo do

    encontro era o de organizar uma associao para articular internacionalmente o maiornmero possvel de agrupamentos e organizaes operrias voltadas para um fim comum,

    por isso no texto de abertura ns lemos a expresso todo movimento poltico. Em Londres,

    reunidos sob diferentes bandeiras, os delegados dos agrupamentos multicolores, nome

    dado a eles em face da sua heterogeneidade, expressavam ainda essa pluralidade de modos

    de organizao da classe operria em sociedades de resistncia, de propaganda, de socorro

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    mtuo, sindicatos, unies de ofcio, associaes de cultura, o que j denotava a dificuldade

    que haveria para combinar imediatamente seus esforos isolados. (Enckell, 2003).

    O papel de Marx.

    Vamos retroceder um pouco no tempo para entender a forma de redao desse texto deinaugurao. Em agosto de 1849, pouco aps a onda de insurreies que abalou o solo da

    Europa continental, Marx estabeleceu-se em Londres. Reconhecia na Inglaterra a existncia

    de uma classe operria organizada num estgio mais avanado que as demais e, portanto,

    em sua opinio, mais propcia a aceitar as idias de organizao comunista de classe. Nessa

    mesma poca, Marx j conseguira influenciar a criao da Liga dos Comunistas, uma

    associao de revolucionrios (em sua maioria de origem alem) sucessora da antiga Liga

    dos Justos. Com a divulgao em 1848 do Manifesto Comunista (que era praticamente o

    programa dessa Liga), Marx e seu mecenas, Friederich Engels, assumiram uma posio

    intelectual de destaque, trazendo a teoria marxista para dentro de uma organizao de

    trabalhadores. A idia fixa de Marx era a de organizar um partido operrio como instrumento

    para a centralizao da luta revolucionria. Marx entendia que as insurreies ocorridas at

    ento no haviam alcanado o almejado fim socialista por carecerem de uma teoria, de

    organizao e de um comando centralizado. Contudo, a tentativa de Marx e de Engels no

    foi bem recebida pelos associados da Liga. Muitos deles, sobreviventes das barricadas de

    1848 e herdeiros das formas de ao direta dos trabalhadores, da tradio dos ludditasingleses e das jacqueries francesas, eram resistentes burocratizao das organizaes,

    fato tido como uma trama de carter reacionrio. Sem um acordo entre seus dirigentes e

    pressionada pela represso estatal desencadeada em toda Europa, a Liga dos Comunistas

    desapareceu pouco tempo depois.

    Com o refluxo do movimento, durante a dcada de 1850, Marx dedicou-se ao estudo

    aprofundado da economia poltica (sinnimo de capitalismo), resultando na publicao de O

    Capital. Na dcada seguinte os adeptos de Marx j tinham uma teoria consistente para

    defender uma nova economia poltica, socialista, baseada em pressupostos cientficos, e

    uma prtica poltica cujo agente revolucionrio deveria ser o trabalhador no estgio mais

    avanado da economia: o operrio da indstria. Assim, em 1864, quando da criao de uma

    organizao internacional de trabalhadores na Inglaterra, apareceu uma oportunidade

    histrica para a propaganda marxista. J considerado uma autoridade econmica ao lado

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    dos trabalhadores, Marx ocupar uma posio de liderana no visvel na conduo da AIT,

    deixada a cargo de um Comit Central, sediado em Londres, e encarregado de organizar o

    Primeiro Congresso. Por uma questo geogrfica e lingustica, esse Comit foi ocupado

    majoritariamente por sindicalistas ingleses e refugiados comunistas alemes, ficando

    praticamente sem representao os trabalhadores franceses, latinos e eslavos. Se a antigaLiga Comunista no havia logrado ser o embrio de um partido comunista mundial, na

    estratgia marxista, a AIT, controlado pelas delegaes operrias dos pases mais

    industrializados, poderia cumprir essa misso. Na teoria marxista, uma sociedade complexa

    moderna no poderia mais ser administrada de forma dispersa, pois, sem uma direo

    unificada, no momento da ecloso da luta revolucionria se perderia a possibilidade da

    conduo dela at a vitria, da a importncia de haver um ncleo decisrio e de control-lo.

    Diferentes tendncias operrias.

    O primeiro Congresso da AIT, realizado em setembro de 1866 em Genebra, referendou os

    estatutos inaugurais. Nesse congresso j ficavam bem evidentes as dificuldades para se

    alcanar um consenso, no em relao ao objetivo de uma revoluo social como forma de

    emancipao dos trabalhadores, mas em como conduzi-la. Algumas mudanas efetivadas,

    como a criao de um Conselho Geral no lugar do Comit Central, com liberdade para

    encaminhar propostas no foram bem recebidas pelos delegados das seces francesas,

    pois representariam um passo na direo de um modelo de centralizao decisria. Essaassemblia geral da AIT reuniu delegados de diferentes tendncias polticas.

    a) mutualistas proudhonianos. Os trabalhadores franceses, na maior parte seguidores das

    idias de Proudhon e de seu modelo de anarquismo mutualista, defendiam uma proposta

    de organizao econmica baseada numa federao de pequenos produtores em

    cooperativas. Essa tendncia comearia a perder significativamente espao a partir de 1868,

    no Congresso de Bruxelas.

    b) social-democratas e reformistas. Os antigos trabalhadores alemes herdeiros da Liga

    dos comunistas defendiam a manuteno da propriedade individual e a utilizao da poltica

    parlamentar como meio para organizar a luta dos trabalhadores. Por outro lado, os

    trabalhadores ingleses, que haviam sido anteriormente a linha de frente da luta sindicalista

    adotavam posies cada vez mais reformistas.

    c) comunistas e coletivistas. Reunia inicialmente os marxistas e tambm os blanquistas

    (comunistas franceses seguidores de Auguste Blanqui) que defendiam a supresso da

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    propriedade privada e a revoluo social armada. Ambos diferiam na estratgia: enquanto os

    marxistas queriam o Partido Comunista como o instrumento para a conduo da mudana,

    os blanquistas, herdeiros da tradio de luta nas barricadas de rua, praticavam a ao direta

    e no parlamentar. Ambos os grupos, aproximavam-se na crena de que o poder

    conquistado aps a revoluo deveria ser mantido por uma ditadura dirigida pelos prpriostrabalhadores.

    A Internacional, nome pelo qual a AIT passou a ser conhecida, para decepo de Marx,

    conseguiu obter somente uma pequena penetrao junto aos delegados dos trabalhadores

    ingleses cujo sindicalismo, mais pragmtico, desenvolvido a partir do movimento cartista na

    dcada de 1830, preferia a luta pela reforma e ampliao dos direitos sociais que

    paulatinamente iam sendo incorporados legislao trabalhista inglesa. Nesse quadro, aps

    o Congresso, dominado pelos delegados franceses, a AIT caminhava para ser o palco de

    organizao da luta sindical dos trabalhadores somente na Europa continental. Nesse palco

    de luta dos trabalhadores europeus, os ingleses assumiam efetivamente sua posio de

    ilha. A entrada do anarquista Mikhail Bakunin como delegado no Congresso de Basilia, em

    1869, balanou a posio consolidada dos membros mais antigos. Sua defesa do coletivismo

    lhe permitiu dividir espao com os comunistas marxistas e blanquistas e trouxe para seu lado

    a maioria dos delegados dos pases latinos e eslavos. Comeava a surgir uma outra fora

    aglutinadora de interesses dentro da Internacional.

    O coletivismo de Bakunin.

    Liberdade sem socialismo privilgio, injustia.

    Socialismo sem liberdade escravido, brutalidade. Com

    essa frase, dita pouco antes de sua morte em 1876 e

    que se tornaria realidade em menos de cinco dcadaso

    revolucionrio russo entraria para a histria. Filho de um

    nobre decadente, com seu tamanho descomunal, Bakunin

    era uma figura lendria desde sua presena atrs das

    barricadas na cidade alem de Dresden, em 1849.

    Perseguido primeiro na Prssia, depois na Rssia,

    deportado para a Sibria, conseguiu escapar ao confinamento praticamente dando um giro

    ao redor do mundo. Fugiu para o Japo de onde atravessou o oceano Pacfico em direo

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    aos EUA, cruzou o continente americano e depois o Atlntico at chegar a Londres. Dono de

    uma retrica muita envolvente tratou logo de aglutinar socialistas revolucionrios na

    Alemanha, nos pases eslavos e na Itlia, onde liderou a Fraternidade Internacional, uma

    organizao revolucionria secreta. Sua passagem por Npoles influenciar decisivamente a

    formao do jovem Errico Malatesta, que no futuro se tornar o maior nome do anarquismoitaliano (Masini, 1972: 27). Em 1864, ainda na Itlia, fixou residncia em Florena, pois

    entendia que nesse pas ainda no havia uma camada operria privilegiada por altos

    salrios e impregnada das idias, das aspiraes e da vaidade burguesa como j comeava

    a ocorrer nos pases da Europa do norte (Bakunin, 2003:29).

    Sua chegada na AIT no ano de 1868 e os contatos mais estreitos estabelecidos com os

    trabalhadores franco-suos da Federao do Jura (regio de fronteira entre a Frana, a

    Sua e a Alemanha) permitiram que suas idias ocupassem o vazio deixado pelo declnio

    poltico de Proudhon. A estratgia de Bakunin para a revoluo social diferia da posio de

    Marx e dos comunistas em uma srie de pontos:

    a) o partido operrio condutor da luta no somente desnecessrio como serviria de freio a

    uma revoluo social;

    b) a AIT deveria servir somente como um instrumento de propaganda para a difuso das

    idias socialistas pela Europa;

    c) as aes diretas praticadas de modo violento por organizaes secretas e a sabotagem(industrial e agrria) deveriam ser o principal instrumento revolucionrio.

    Alm disso, na medida em que o sindicalismo trazia ganhos para o operariado, ele

    aburguesava-se, a exemplo do que ocorria na Inglaterra. Para Bakunin, o movimento

    revolucionrio deveria ser sustentado pelo campons sem terra e pelos despossudos de

    toda espcie:

    ... esse proletariado esfarrapado, dos quais os Srs. Marx e Engels, em

    seguida, toda a Escola da social-democracia alem, falam com o maisprofundo desprezo, e bem injustamente, pois nele, e apenas nele, e nona camada aburguesada da massa operria, que reside, na totalidade, oesprito e a fora da futura revoluo social. (Bakunin, 2003: 30)

    Anunciavam-se, assim, duas fortes e diferentes tendncias dentro da AIT que praticamente a

    dividiriam em duas. Uma ala comunista querendo organizar o operrio de fbrica em torno de

    um partido comunista revolucionrio em direo a um modelo planificado de socialismo.

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    Outra ala, anarquista, apostando nos sindicatos como instrumento de luta e nos

    trabalhadores desorganizados como condutores de um processo de luta para a derrubada do

    Estado e da propriedade privada. Os comunistas marxistas sero chamados de autoritrios,

    centralizadores, deterministas. Os anarquistas sero chamados de loucos, primitivos, pr-

    polticos.

    A ciso da AIT

    A AIT se fragmentar em Haia no ano de 1872, com a expulso de Bakunin pelo Conselho

    Geral e em seguida a retirada das federaes amigas ao anarquista russo para o

    reagrupamento em torno de uma Internacional anarquista, que se iniciara no Congresso de

    Saini-Imier, ao final do mesmo ano. O trecho a seguir da carta escrita por Friedrich Engels

    em janeiro de 1872, pouco antes da expulso de Bakunin da AlT, esclarecedor sobre as

    diferenas irreconciliveis entre ambos:

    Enquanto a grande massa dos trabalhadores social-democratascompartilha o nosso ponto de vista de que o poder do Estado no maisque uma organizao adotada pelas classes dominantesos proprietriosde terra e capitalistas para proteger seus privilgios sociais, Bakuninafirma que o Estado o criador do capital, que o capitalista possui seucapital unicamente por obra e graa do Estado.E posto que o Estado ,portanto, o mal principal, tem de acabar antes de tudo com ele, e ento ocapital ruir por si s. Ns, em troca, sustentamos o contrrio: acabadocom o capital que a concentrao de todos os meios de produo nas

    mos de uns poucos, e o Estado se derrubar por si s. (Carta de F.Engels a Teodoro Cuno, de Londres, em 24 de janeiro de 1872. Publicadona revista Die Gesellschaft, no. 11, Berlin, 1925. In Marx et alli, 1976: 51).

    Engels e Marx acreditavam que o socialismo marxista era cientfico, pois baseado num

    mtodo histrico de observao da mudana dos modos de produo e da diviso da

    sociedade em classes. Na economia capitalista, a burguesia a classe dominante, pois a

    dona dos meios de produo (a infra-estrutura) atravs de seu Capital. A forma do Estado

    burgus seria somente o reflexo das idias polticas dessa burguesia. Portanto quando a

    classe dominada, os trabalhadores, fizesse a revoluo social, coletivizando os meios de

    produo acabariam as classes sociais e o Estado no teria mais funo, desapareceria. J

    Bakunin entendia o Estado como sendo o produtor inicial da riqueza apropriada tanto por

    aristocratas proprietrios de terras (a nobreza amiga da realeza) como por negociantes e

    industriais capitalistas (com os privilgios e as concesses republicanas). Bakunin entendia

    que, com a tomada do Estado e de suas instituies coercitivas (a polcia e o Exrcito),

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    portanto, com o fim de todo e qualquer poder soberano, as riquezas deixariam de estar

    concentradas nas mos de poucos e a populao coletivizaria os bens.

    Cindida a AIT, uma parte dos delegados seguiu fiel a Marx, transferindo o Conselho Geral

    para Nova Iorque, mas no duraria muito tempo; aps uma tentativa de retomada, em 1873,Marx diria fomos vencidos em relao ao seu grupo do que restara da Internacional.

    Atravs dos esforos de James Guillaume, Benot Malan e Eugne Varlin para a aglutinao

    das diversas seces europeias remanescentes da AIT em torno da Federao dos

    trabalhadores do Jura, embrio do futuro sindicalismo revolucionrio francs, a continuidade

    da Primeira Internacional, na perspectiva federalista dos bakuninistas, sobreviveria ainda por

    alguns anos, at 1878. O movimento internacional dos trabalhadores sofreria ao longo de

    toda essa dcada a perseguio implacvel dos governos europeus como retaliao ao

    levante revolucionrio da Comuna de Paris em 1871.

    Aps o fim da AIT, a classe operria somente voltar a se organizar novamente como um

    movimento sindical amplo e forte no decorrer da dcada de 1890. O bakuninismo sobreviver

    na forma de um movimento anarquista e sindicalista que, unindo foras, se constituir na

    tendncia do sindicalismo revolucionrio. Esses novos sindicatos organizados em torno de

    federaes nacionais ou regionais adotaro o mesmo modelo apartidrio e internacionalista

    da Primeira Internacional (Colombo, 2003). O sindicalismo revolucionrio cujo smbolo erao gato negro numa referncia ao direta e sabotagem

    nas fbricas organizou-se inicialmente na Frana, em

    setembro de 1895, com a fundao da Confdration

    Gnrale du Travail, a CGT. Depois, na Argentina em

    1902, com a FORA, Federacin Obrera de la Republica

    Argentina. Nos EUA no ano de 1905, onde o IWW,

    Industrial Workers of World ser muito atuante, com o lema

    one big union. Em seguida na Espanha, em Portugal

    (Samis, 2009) e at em outros lugares distantes da Europa

    como o Japo (1912), e inclusive no Brasil com os

    operrios paulistas reunidos desde 1905 na FOSP, a

    Federao Operria de So Paulo. Em todo o mundo, esse sindicalismo se constituiu na

    linha de frente da luta dos trabalhadores, defendendo a bandeira da greve geral como

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    instrumento de luta revolucionrio. O texto fundamental do sindicalismo revolucionrio a

    breve carta de Amiens lanada em 1906, no 9. Congresso da CGT, e reproduzida no

    boletim a seguir:http://www.ainfos.ca/06/apr/ainfos00385.html

    Aquele outro conjunto de trabalhadores que permaneceu fiel idia marxista de fazer dopartido operrio a vanguarda do movimento, dar a luz, na mesma dcada de 1890, a uma

    Segunda Internacional Socialista, essa a dos partidos polticos: o Socialista e o Social-

    democrata. Nesse segmento operrio, as organizaes trabalhistas funcionaro como um

    brao sindical do partido poltico. Ser o caso, por exemplo, do sindicalismo alemo ligado ao

    Partido Social Democrata e da CGiL a maior central sindical italiana ligada ao Partido

    Socialista. Alm desses, o sindicalismo de resultados ter muita fora, menos preocupado

    com discusses ideolgicas e mais empenhado no aumento das conquistas sociais dos

    trabalhadores. a tendncia geral do sindicalismo ingls e das maiores unions norte-

    americanas. No podemos nos esquecer tambm, como nos alertou Edward Thompson

    (2006), ao definir a classe operria, que ela no uma entidade abstrata existente a priori,

    ela somente existe na medida em que pessoas percebem que tem interesses sociais,

    culturais, econmicos em comum, e que esses interesses movem a luta contra interesses

    antagonistas. Neste caso o dos operrios contra os donos de indstria, o que muitas vezes a

    fez identificar-se com as diferentes propostas socialistas. Mas isso no uma relao

    obrigatria e direta. Devemos lembrar que grande parte dos operrios em todo o mundoseguiu fiel aos seus princpios religiosos, constituindo, por exemplo, dentro do catolicismo,

    unies catlicas de operrios, bastante ativas em pases como a Itlia, a Espanha e o Brasil.

    Parntese final: houve lugar para as mulheres?

    Talvez, vocs j tenham reparado no nome em ingls da AIT, Working Mens, no qual a

    excluso da mulher trabalhadora fica bem evidente. A relao do sindicalismo com o trabalho

    feminino sempre foi muito difcil. Apesar dos esforos de Marx em seu texto no Manifesto

    Comunista em diferenciar a mulher burguesa da futura mulher comunista, o burgus v na

    prpria esposa um simples instrumento de produo e se trata precisamente de abolir a

    posio das mulheres como simples instrumento de produo (Marx, 1988:83-4), e de

    Bakunin declarar-se pela unio livre entre homens e mulheres, a presena de uma mulher

    trabalhadora politicamente ativa era algo muito raro nas organizaes trabalhistas. Nesse

    aspecto moral, os trabalhadores aproximavam-se bastante do modelo burgus. Dentro da

    http://www.ainfos.ca/06/apr/ainfos00385.htmlhttp://www.ainfos.ca/06/apr/ainfos00385.htmlhttp://www.ainfos.ca/06/apr/ainfos00385.htmlhttp://www.ainfos.ca/06/apr/ainfos00385.html
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