419
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA As antas e o Megalitismo da região de Lisboa Volume 1 Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História 2009

As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA

As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa

Volume 1

Rui Jorge Narciso Boaventura

Doutoramento em Preacute-Histoacuteria

2009

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA

As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa

Volume 1

Rui Jorge Narciso Boaventura

Doutoramento em Preacute-Histoacuteria

Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonccedilalves

2009

Resumo

As antas satildeo uma das facetas visiacuteveis do fenoacutemeno do Megalitismo da regiatildeo

de Lisboa verificando-se este tambeacutem em grutas naturais e artificiais e tholoi

Assim este trabalho procurou integrar e compreender aquele tipo de sepulcro

especiacutefico no acircmbito do fenoacutemeno funeraacuterio regional

Quando avaliadas localmente mas tambeacutem com outras regiotildees vizinhas as

antas de Lisboa surgem em nuacutemero bastante reduzido Contudo mais do que um

fraco impacto do Megalitismo desta regiatildeo pelo contraacuterio a sua construccedilatildeo parece

reforccedilar a importacircncia do fenoacutemeno para aquelas comunidades

Os dados compilados permitiram situar cronologicamente as primeiras

utilizaccedilotildees das antas de Lisboa essencialmente entre os meados e a segunda metade

do 4ordm mileacutenio ane em momento aparentemente mais recente do que as primeiras

evidecircncias do fenoacutemeno do Megalitismo registadas em grutas naturais da regiatildeo

Posteriormente na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane estes sepulcros continuam a

ser usados sem interregnos evidentes mas com alteraccedilotildees no espoacutelio de

acompanhamento Numa primeira fase provavelmente ateacute finais do 4 ordm mileacutenio os

materiais depositados apresentavam um caraacutecter utilitaacuterio e tecnoacutemico no periacuteodo

sequente evidenciou-se o conjunto de artefactos ideoteacutecnicos

Alargando a abordagem cronoloacutegica a outras regiotildees peninsulares os

resultados escrutinados parecem indicar periacuteodo similar para as primeiras utilizaccedilotildees

daqueles edifiacutecios funeraacuterios com a sua generalizaccedilatildeo durante a segunda metade do

4ordm mileacutenio ane

Face agrave possibilidade de anaacutelise dos restos osteoloacutegicos depositados nos

sepulcros estremenhos e em concreto das antas da regiatildeo de Lisboa foi possiacutevel

verificar a ausecircncia de qualquer aparente exclusatildeo de indiviacuteduos por sexo ou idade

Inclusive a anaacutelise de paleodietas de alguns indiviacuteduos adultos evidenciou haacutebitos

alimentares semelhantes entre sexos Assim eacute provaacutevel que estas comunidades

valorizassem as suas linhagens tendo as antas servido para o depoacutesito final dos seus

elementos

i

ii

Abstract

Antas are one of the visible facets of the Megalithism phenomenon in the

region of Lisbon as well as natural caves rock-cut tombs and vaulted chamber tombs

(tholoi) This work seeks to integrate and understand this type of specific sepulchre

within the context of the funerary phenomenon in this area

When evaluated locally but also with other neighbouring regions the antas of

Lisbon are represented by a drastically reduced number However more than just

suggesting a poor representation of the impact of Megalithism in this region on the

contrary its construction appears to reinforce the importance of this phenomenon for

those communities

The data compiled here allows for a chronological reading of the first periods

of usage for the antas of Lisbon dating to the middle and second half of the 4th

millennium BCE a moment apparently more recent than the evidence of the

Megalithic phenomenon as registered in the natural caves in the region Later on

during the first half of the 3rd millennium BCE these tombs continued in usage

without evident interruption but with alterations in burial assemblages In the initial

stage probably until the end of the 4th millennium the materials deposited are

characterized as utilitarian and technomic in nature while in the subsequent period

there is evidence of ideotechnic assemblages

Widening the chronological reading to other areas of the peninsula scrutinized

results appear to indicate a similar periods of first utilization in these types of

funerary structures becoming widespread during the 2nd half of the 4th millennium

BCE

Given the possibility of analyzing the osteological remains deposited in tombs

from the Estremadura specifically in the antas from the region of Lisbon it was

possible to verify that no individuals were excluded due to sex or age Moreover the

paleodietary analysis of some adult individuals demonstrated similar nutrition

standards between both sexes Therefore it is probable that these communities

valued its lineages with the antas and other types of tombs serving as the final resting

grounds for all of its members

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 1 de 415

As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa

Iacutendice

Agradecimentos 0 O quando o como e o porquecirc 1 Megalitismo delimitaccedilatildeo de um conceito abrangente e de longa duraccedilatildeo

11 Uma discriminaccedilatildeo positiva as antas da regiatildeo de Lisboa 2 Enquadramento geograacutefico

21 Fisiografia da Baixa Estremadura 22 Rio Tejo um palco fundamental da histoacuteria da regiatildeo

3 A investigaccedilatildeo preacute-histoacuterica na regiatildeo de Lisboa 4 Sepulcros para repouso dos mortos e dos vivos

41 As antas da regiatildeo de Lisboa 411 O cluster de Belas

4111 Pedra dos Mouros 4112 A ldquoanta de Belasrdquo 4113 Monte Abraatildeo 4114 Estria 4115 Um espaccedilo necropolizado na primeira metade 3ordm mileacutenio

412 Os monumentos megaliacuteticos das imediaccedilotildees do cluster de Belas 4121 Carrascal 4122 Pego Longo megaliacutetico mas natildeo sepulcral

413 O cluster de Trigache 4131 Trigache 1 4132 Trigache 2 4133 Trigache 3 4134 Trigache 4 4135 Os ldquooacuterfatildeosrdquo de Trigache 4136 O espaccedilo necropolizado de Trigache

414 As antas entre os clusters de Belas e Trigache 4141 Conchadas 4142 Pedras Grandes e siacutetio das Batalhas

41421 Pedras Grandes 41422 Siacutetio das Batalhas

415 As antas ldquoisoladasrdquo de Loures 4151 Alto da Toupeira 1 e 2 4152 Casaiacutenhos 4153 Carcavelos

416 Os sepulcros de Verdelha do Ruivo 4161 Casal do Penedo 4162 Monte Serves

417 Arruda 418 Pedras da Granja 419 Dados avulsos de possiacuteveis antas

42 A implantaccedilatildeo e construccedilatildeo das antas de Lisboa 421 Tipologia das antas 422 A orientaccedilatildeo prescrita

43 As outras soluccedilotildees sepulcrais 44 Poucas antas muitos sepulcros

5 O(s) espoacutelio(s) funeraacuterio(s) 51 Pedra lascada 52 Pedra polida 53 Pedra afeiccediloada

p 4

7

12 15 18 20 23 26 35 37 37 38 45 48 61 67 68 68 73 78 81 83 88 93 96 97 99 99

107 109 125 126 126 131 139 158 158 164 166 174 183 187 195 198 207 214 220 221 245 256

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 2 de 415

54 Ceracircmicas 55 Utensiacutelios em osso 56 As faunas das antas 57 Elementos de adorno 58 Artefactos e objectos votivos

6 Sepultantes e sepultados uma avaliaccedilatildeo possiacutevel 61 As dificuldades das amostras antropoloacutegicas disponiacuteveis 62 Inumaccedilotildees primaacuterias eou secundaacuterias 63 Os efectivos inumados 64 O sexo a idade e a estatura dos sepultados 65 Patologias e lesotildees traumaacuteticas 66 Um introacuteito dieteacutetico o potencial das anaacutelises isotoacutepicas

7 Os lugares dos vivos uma correlaccedilatildeo difiacutecil 8 Os tempos do Megalitismo da Baixa Estremadura

81 A cronologia absoluta das antas de Lisboa 82 Diacronia e sincronia dos outros espaccedilos sepulcrais 83 As sincronias com os vivos uma avaliaccedilatildeo assimeacutetrica 84 O carvatildeo e o osso desfasamento cronoloacutegico inter-regional ou uma questatildeo de

mateacuteria e contexto 9 O epiacutelogo de uma tradiccedilatildeo maacutegico-religiosa o fenoacutemeno campaniforme 10 As antas da regiatildeo de Lisboa e o Megalitismo peninsular Referecircncias bibliograacuteficas Referecircncias cartograacuteficas Recursos arquiviacutesticos consultados Lista de figuras e quadros

258 263 264 266 269 282 282 285 293 299 304 314 324 328 334 338 350 352

364 366

372 412 412 412

Iacutendice de anexos (volume 2) Anexo 1 Cartografia Anexo 2 Figuras Anexo 3 Dataccedilotildees pelo radiocarbono de contextos funeraacuterios do Megalitismo peninsular Anexo 4 Figuras gerais Anexo 5 Quadros gerais Anexo 6 Relatoacuterios de Antropologia fiacutesica Anexo 7 Relatoacuterio de faunas Anexo 8 Apontamentos de J L Vasconcelos acerca da anta da Arruda

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 3 de 415

Agradecimentos

O meu profundo e sincero agradecimento a diversas entidades individuais e

colectivas eacute incontornaacutevel pois o seu apoio a diferentes niacuteveis tornou possiacutevel a

concretizaccedilatildeo desta tese

Ao professor Victor S Gonccedilalves pelo desafio e a confianccedila manifestada desde

o iniacutecio deste trabalho bem como a cedecircncia de verbas para a realizaccedilatildeo de algumas

dataccedilotildees pelo radiocarbono

Aos professores Joatildeo C Senna-Martinez Joatildeo L Cardoso e Christopher

Tillquist pelas boas referecircncias acerca do meu projecto permitindo a obtenccedilatildeo da

bolsa de doutoramento da Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e Tecnologia

(SFRHBD178822004) Aquele apoio foi fundamental para o desenvolvimento de

algumas linhas de pesquisa bem como novas oportunidades de conhecimento

Aos presidentes da Cacircmara Municipal de Odivelas Manuel Varges e Susana

Amador bem como ao vereador Carlos Lourenccedilo pela concessatildeo da licenccedila

necessaacuteria ao desenvolvimento da investigaccedilatildeo Este agradecimento expande-se aos

directores do departamento Sociocultural e chefes de Divisatildeo bem como colegas da

labuta patrimonial e cultural do municiacutepio Aliaacutes a escavaccedilatildeo e o restauro da anta de

Pedras Grandes deveu-se agrave autorizaccedilatildeo e vontade do executivo municipal

Ao juacuteri do Plano Nacional de Trabalhos Arqueoloacutegicos do lamentavelmente

extinto Instituto Portuguecircs de Arqueologia pela aprovaccedilatildeo de um projecto que

contribuiu em parte para a realizaccedilatildeo de um programa de dataccedilotildees pelo radiocarbono

de vaacuterias antas de Lisboa

Entre os colegas e funcionaacuterios do ex-IPA e CIPA encontrei sempre o maior

apoio possiacutevel especialmente de Cidaacutelia Duarte Marta Moreno J P Ruas David

Gonccedilalves Marina Arauacutejo Paulo Oliveira Fernando Real Filipa Neto Simon

Davis Dina Pinheiro Fernando Fernanda e demais amigos do conhecimento

arqueoloacutegico

A Julie Peteet directora do Department of Anthropology da University of

Louisville (KY USA) que ao longo dos anos apoiou o trabalhos arqueoloacutegicos

desenvolvidos com estudantes daquela universidade e providenciou o meu acesso ao

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 4 de 415

fabuloso mundo das bibliotecas digitais hoje recurso incontornaacutevel e desejaacutevel para

todos

Outra bolsa fundamental veio do Archaeology of Portugal Award por

intermeacutedio do Archaeological Institute of America que conduziu ao projecto maior

de anaacutelises de paleodietas e mais algumas dataccedilotildees Os ensinamentos de Mary

Powell Katina Lillios e John Hale acerca de como fazer boas candidaturas natildeo foram

esquecidos e foram inestimaacuteveis na obtenccedilatildeo daquele preacutemio

A Antoacutenio Monge Soares pelo seu profissionalismo e os ensinamentos acerca

do radiocarbono dataccedilotildees e calibraccedilotildees na perspectiva do utilizador e ao Zeacute

Martins pelas noccedilotildees baacutesicas de OxCal

Ao Dr Miguel Ramalho e a Joseacute Anacleto pela recepccedilatildeo sempre positiva das

pesquisas desenvolvidas no Museu Geoloacutegico lugar por vezes inoacutespito de Inverno e

abrasador de Veratildeo

Ao director Luiacutes Raposo e conservadora Ana Isabel Santos do Museu

Nacional de Arqueologia mas tambeacutem a tantos dos seus funcionaacuterios que de vaacuterias

formas ajudaram no desenvolvimento dos meus trabalhos nomeadamente Carmo

Vale Mathias Tissot Liacutevia Coito Adiacutelia Antunes Luiacutesa Guerreiro e Carla Martinho

A Florbela Estecircvatildeo e ao executivo da Cacircmara Municipal de Loures pelo

acolhimento ao estudo da anta de Carcavelos ainda hoje desenvolvido em parceria

A Teresa Simotildees e Catarina Coelho do Museu Municipal de S M Odrinhas

bem como ao seu director pelo acesso agrave colecccedilatildeo de Pedras da Granja e todas as

facilidades prestadas

A Carlos Pereira Fernanda Sousa e Henrique Matias pela excelecircncia dos

desenhos de materiais arqueoloacutegicos

A Maria Hillier pela colaboraccedilatildeo de vaacuterios anos que permitiu a concretizaccedilatildeo

preliminar dos estudos dos restos osteoloacutegicos da maioria das antas de Lisboa bem

como o desenvolvimento em colaboraccedilatildeo com Mike Richards (Max Planck

Institute) de um projecto de anaacutelises isotoacutepicas para verificar paleodietas

Aos estudantes dos programas de Portanta que ao longo dos anos permitiram a

prossecuccedilatildeo dos trabalhos de escavaccedilatildeo das antas de Pedras Grandes e Carcavelos

em Lisboa mas tambeacutem de outras em Monforte do Alentejo bem como do novo

conhecimento antropoloacutegico dos fundos museoloacutegicos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 5 de 415

A Cacircndido Marciano da Silva pelas visitas orientadas aos sepulcros de Lisboa

A Ana Maria Silva e M Teresa Ferreira pelos conselhos e liccedilotildees

antropoloacutegicos dados a um arqueoacutelogo mero utilizador da antropologia mas sempre

disposto a novos desafios interdisciplinares

Ao Rui Mataloto pelas longuiacutessimas horas de discussatildeo extensas visitas de

terreno e partilha de ideias nem sempre concordantes mas sempre sob a mesma

paixatildeo pelo Alentejo e pelo conhecimento arqueoloacutegico e histoacuterico das sociedades

que fizeram o que somos hoje Um perdatildeo agrave Maria Joatildeo pelo tempo tomado

Aos meus pais Antoacutenio e Faacutetima por tudo o que puderam e fizeram para

ajudar tanto a mim como aos seus netos

Agrave minha abelha Maia obreira infatigaacutevel na busca de soluccedilotildees para que fosse

possiacutevel alcanccedilar os objectivos estabelecidos contrastando a minha fatalidade

portuguesa com a Can do attitude que em tempos remotos levaram outros

portugueses a lugares novos e fabulosos Por outro lado pelas infindaacuteveis horas na

produccedilatildeo da base cartograacutefica da regiatildeo

Aos meus filhos mais do que agradecer a sua paciecircncia com um pai ausente

ainda que presente fisicamente votos de felizes jornadas para as quais este trabalho

possa contribuir com uma pequena janela de conhecimento e identidade deste

territoacuterio agrave beira mar plantado

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 6 de 415

0 O quando o como e o porquecirc

ldquoSe as pessoas satildeo o que satildeo e sobretudo aquilo

que as circunstacircncias as deixam ser as realizaccedilotildees cientiacuteficas satildeo-no em muito maior graurdquo

(Raposo 1999 p 11)

Quando apoacutes a conclusatildeo da licenciatura em 1993 ponderava acerca da minha

vida profissional e cientiacutefica jaacute o bichinho do Megalitismo que me atingira durante

a minha formaccedilatildeo e nas campanhas de escavaccedilotildees no Alto Alentejo se tinha

entranhado Assim apesar das minhas raiacutezes alfacinhas ainda que com algumas

costelas alto alentejanas aconteceu naturalmente a definiccedilatildeo de uma aacuterea de estudo

na regiatildeo de Monforte e a tentativa de abordagem sistemaacutetica natildeo soacute dos sepulcros

megaliacuteticos usualmente conhecidos por antas ou doacutelmenes mas tambeacutem das

ocupaccedilotildees dos seus construtores e utilizadores atribuiacuteveis aos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane

(ou aC para outros autores) Daiacute resultou a minha tese de mestrado acerca do

povoado do Pombal e necroacutepoles putativamente correlacionadas (Boaventura 2001)

Tendo esse trabalho suscitado mais interrogaccedilotildees do que respostas considerei

imperativo a continuaccedilatildeo desse projecto regional pelo que delineei um programa de

trabalhos com o intuito de aprofundar a compreensatildeo do fenoacutemeno do Megalitismo

daquela regiatildeo atraveacutes de vaacuterias intervenccedilotildees no cluster de Rabuje (Boaventura

1999-00 2000 e 2006) mas tambeacutem num acircmbito mais alargado inclusive

procurando perceber melhor as relaccedilotildees com as regiotildees vizinhas nomeadamente a

Estremadura portuguesa e a Extremadura espanhola

Quis o Fado se acreditasse nele que na sequecircncia de diversos episoacutedios da

minha vida profissional retornasse a Lisboa em 2002 deparando-me com algumas

dificuldades para alcanccedilar no curto e meacutedio prazo a intenccedilatildeo delineada atraacutes

Contudo esse projecto mantinha uma questatildeo de fundo de acircmbito peninsular um

melhor conhecimento histoacuterico e social das sociedades construtoras dos sepulcros

megaliacuteticos e das suas praacuteticas funeraacuterias

Quando o professor Victor dos Santos Gonccedilalves lanccedilou o desafio para

reavaliar as construccedilotildees ortostaacuteticas funeraacuterias da regiatildeo de Lisboa confesso que

sentindo-me entatildeo um ldquoarqueoacutelogo de sequeirordquo natildeo me considerei apto a tal

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 7 de 415

empreendimento No meu curto percurso de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo tinha aprendido

o quatildeo importante eacute conhecermos razoavelmente bem a regiatildeo que estudamos

correndo seacuterios riscos de leituras enviesadas se tal natildeo fosse alcanccedilado No caso

proposto tal desiderato implicava conhecer e entender uma fisiografia distinta

agravado pelo alucinante ritmo de mudanccedila da paisagem resultante do crescimento

tentacular de Lisboa (Gonccedilalves 1995 p 27) Todavia e em oposiccedilatildeo agrave regiatildeo

alentejana que estudava a Estremadura tinha sido alvo de inuacutemeros estudos e

publicaccedilotildees por vezes desequilibrados quanto ao seu acircmbito e profundidade mas

que possibilitavam uma sistematizaccedilatildeo bastante enriquecida ainda que mais

complexa

No acircmbito do desafio lanccedilado procedi ao reinventaacuterio e anaacutelise dos espoacutelios

recolhidos natildeo soacute de objectos utensiacutelios e artefactos mas tambeacutem diligenciei os

estudos dos restos osteoloacutegicos humanos e fauniacutesticos graccedilas agrave colaboraccedilatildeo com

outros investigadores referidos ao longo deste trabalho Por outro lado procurando

novos dados realizei as intervenccedilotildees possiacuteveis em duas antas uma delas tambeacutem em

colaboraccedilatildeo

O estudo dos restos humanos permitiu a concretizaccedilatildeo de um programa-ensaio

de dataccedilotildees pelo radiocarbono de utilizaccedilotildees daqueles sepulcros apenas limitado

pela disponibilidade financeira bem como um projecto em colaboraccedilatildeo de anaacutelise

das paleodietas e possiacuteveis indiacutecios de mobilidade dos indiviacuteduos sepultados

Como se poderaacute verificar ao longo deste trabalho a maior parte dos espoacutelios

estudados era jaacute conhecida desde o seacuteculo XIX resultado das primeiras exploraccedilotildees

em sepulcros da regiatildeo de Lisboa (Ribeiro 1880) Outros conjuntos foram exumados

deacutecadas mais tarde (Vaultier e Zbyszewski 1951 Leisner Zbyszewski e Ferreira

1969) Em ambos os casos porque a maioria desse espoacutelio foi recolhido por

funcionaacuterios dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal actualmente Laboratoacuterio Nacional

de Energia e Geologia (LNEG ex-INETI) eacute no Museu Geoloacutegico que este se

encontra depositado

V S Gonccedilalves (1995 p 275) referiu-se ao Museu Geoloacutegico como ldquouma

verdadeira laquoMinaraquordquo ainda que fosse ldquoum excelente lugar para aplicar a laquoteoria do

caosraquordquo De facto para boa parte das colecccedilotildees ali estudadas foi necessaacuterio uma

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 8 de 415

revalidaccedilatildeo da proveniecircncia das peccedilas e objectos arqueoloacutegicos felizmente com um

elevado grau de sucesso

Se as colecccedilotildees recolhidas no seacuteculo XIX apresentavam normalmente num

grupo significativo de peccedilas inclusive osteoloacutegicas uma etiqueta com a respectiva

proveniecircncia aquelas recuperadas nas deacutecadas de 50 a 70 raramente eram

etiquetadas ou marcadas individualmente sendo apenas acompanhadas por diversas

etiquetas de cartatildeo indicando a sua proveniecircncia E isso seria suficiente se o

sistema aberto de armazenagem em vitrinas e tabuleiros natildeo tivesse

permitidooriginado a mistura de colecccedilotildees dada a facilidade com que se podia

aceder e mexer nas peccedilas Ainda mais grave foi a soluccedilatildeo encontrada nos anos 90

durante a reorganizaccedilatildeo de colecccedilotildees (Brandatildeo 1999) em que se optou por juntar as

colecccedilotildees por topoacutenimo de proveniecircncia no que se refere agraves antas por exemplo

todos os materiais dos quatro sepulcros de Trigache foram associados sob um soacute

coacutedigo (MG179) surgindo as etiquetas antigas com informaccedilatildeo pertinente

agrupadas jaacute sem os objectos correspondentes (por vezes porque jaacute se tinham

extraviado anteriormente e se considerou impossiacutevel recuperar a proveniecircncia

original) situaccedilatildeo semelhante ocorreu com a anta de Casal do Penedo a cavidade de

Verdelha dos Ruivos e o silo localizado na pedreira daquele local que foram tambeacutem

dispostos sob o mesmo coacutedigo (MG177) e a primeira das designaccedilotildees

Felizmente a publicaccedilatildeo relativamente exaustiva dos espoacutelios primeiro por C

Ribeiro (1880) e depois por V Leisner (1965) e em colaboraccedilatildeo com O V Ferreira

(1959 e 1961 Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) permitiu re-identificar a

maioria dos artefactos e objectos Aliaacutes no caso dos trabalhos do casal Leisner tal

verificaccedilatildeo foi ainda reforccedilada pelos desenhos e fotos de materiais constantes no seu

arquivo (alguns natildeo publicados) maioritariamente efectuados durante os anos 40 e

que permitiram por vezes uma melhor identificaccedilatildeo Outra alternativa sobretudo no

caso dos espoacutelios osteoloacutegicos baseou-se na distinccedilatildeo da coloraccedilatildeo dos sedimentos

associados com resultados satisfatoacuterios Estas estrateacutegias poderatildeo ser verificadas no

inventaacuterio de materiais assim como nos capiacutetulos seguintes

Apenas no caso de trecircs antas as suas colecccedilotildees encontravam-se noutros locais

Assim parte do espoacutelio da anta de Pedras da Granja estaacute depositada no Museu

Municipal de Satildeo Miguel de Odrinhas (Sintra) graccedilas a acccedilatildeo diligente do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 9 de 415

arqueoacutelogo J L Cardoso desconhecendo-se o paradeiro do restante ainda que

possamos ter uma ideia deste atraveacutes do inventaacuterio publicado (Zbyszweski et al

1977) ndash durante o Veratildeo de 2008 foi possiacutevel verificar a existecircncia de trecircs

ldquoinumaccedilotildeesrdquo (pacotes de ossos humanos) desta anta em depoacutesito no Museu

Geoloacutegico sob uma denominaccedilatildeo equivocada A anta da Arruda tem o seu espoacutelio

guardado no Museu Nacional de Arqueologia bem como o conjunto da anta de Belas

(de que apenas se pode especular uma proveniecircncia especiacutefica) tendo ambos os

conjuntos sofrido alguns percalccedilos Finalmente no Museu Municipal da Quinta do

Conventinho (Loures) encontra-se depositado o espoacutelio da anta de Carcavelos

recolhido ao longo de vaacuterias campanhas por G Marques a que se juntou aquele

exumado nos uacuteltimos anos por mim e colaboradores Dessas primeiras campanhas

verificou-se alguma perda de informaccedilatildeo mas o saldo tambeacutem foi positivo

Com excepccedilatildeo das intervenccedilotildees mais recentes nomeadamente Pedras Grandes

e Carcavelos ou ainda que com outro registo Pedras da Granja e Casaiacutenhos nas

restantes antas a localizaccedilatildeo dos espoacutelios eacute bastante incerta apesar de algumas

noacutetulas dos seus escavadores terem permitido uma abordagem microespacial mesmo

que limitada

Portanto o trabalho agora em apreciaccedilatildeo procurou reavaliar e enquadrar

cronoloacutegica social e culturalmente as antas de Lisboa no Megalitismo regional e

supra-regional procurando verificar as suas caracteriacutesticas especiacuteficas bem como

aquelas comuns a outros grupos

Finalizando este introacuteito resta apenas clarificar a terminologia usada para as

Eras e respectivas cronologias Assim inveacutes da habitual designaccedilatildeo de Era ldquoantes de

Cristordquo (aC) e ldquodepois de Cristordquo (dC) optou-se pela denominaccedilatildeo de

respectivamente ldquoantes da nossa Erardquo (ane) e ldquoEra comumrdquoou ldquoEra correnterdquo

(ec) Esta escolha visa uma perspectiva secular adequada agraves minhas crenccedilas

pessoais de cidadatildeo laico e republicano situaccedilatildeo que outros autores ainda que por

motivos natildeo expliacutecitos parecem subscrever (Oosterbeek 1994 Castro Martinez

Lull e Ricoacute 1996 Moraacuten e Parreira 2004 Gonccedilalves 2005b e 2008a 2008b

Gonccedilalves e Sousa 2006) Mas no outro lado do espectro de crenccedilas grassa hoje

entre as vaacuterias organizaccedilotildees religiosas (cristatildes e de outros credos) um espiacuterito

ecumeacutenico que tambeacutem procura uma terminologia menos preconceituosa

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 10 de 415

(Cunningham e Starr 1998 Riggs 2003) Em consonacircncia com esta opccedilatildeo ainda

que seguindo o espiacuterito de rigor da proposta de nomenclatura apresentada no acircmbito

do Workshop sobre dataccedilatildeo pelo radiocarbono e aprovada no 1ordm Congresso de

Arqueologia Peninsular (Cabral 1995) que por sua vez transmitia as recomendaccedilotildees

discutidas na 12ordf Conferecircncia Internacional sobre Radiocarbono em Trondheim

1985 (Stuiver e Kra 1986) em vez de Before Christ (BC) e Anno Domini (AD) as

datas calibradas seratildeo apresentadas pela versatildeo actualmente disponibilizada do

programa de calibraccedilatildeo OxCal 405 (Bronk Ramsey 2001 e 2008) respectivamente

Before Common Era (BCE) e Common Era ou Current Era (CE) Tambeacutem conviraacute

realccedilar que ao longo deste trabalho exceptuando os casos devidamente assinalados

todas as datas e seus intervalos de tempo estaratildeo calibradas ldquocal BCECErdquo com uma

probabilidade de 2 sigmas (954) resultante do programa de calibraccedilatildeo jaacute

mencionado OxCal 405 (Bronk Ramsey 2001 e 2008) que utiliza as curvas de

calibraccedilatildeo IntCal04 (Reimer et al 2004) e Marine04 (Hughen et al 2004) Em

anexo constam as tabelas com as datas BP conhecidas dos sepulcros por regiatildeo

devidamente calibradas a 1 e 2 sigmas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 11 de 415

1 Megalitismo delimitaccedilatildeo de um conceito abrangente e de longa

duraccedilatildeo

A expressatildeo Megalitismo tem vindo a ser utilizada com muacuteltiplos significados

pelo que importa aqui clarificar a sua abrangecircncia no acircmbito do presente trabalho

Literalmente e em sentido estrito corresponde a um tipo de construccedilatildeo em que

se utilizam componentes peacutetreos de grande dimensatildeo megaliacuteticos (Joussaume 1985

Sherratt 1995 Gonccedilalves 1999a p 137) podendo corresponder a elementos

aparentemente natildeo funeraacuterios os menires isolados ou agrupados ou a edifiacutecios

funeraacuterios normalmente designados em Portugal e na restante Peniacutensula Ibeacuterica por

anta ou doacutelmen objecto deste estudo A investigaccedilatildeo recente tem vindo a demonstrar

que aqueles dois elementos seratildeo diacronicamente distintos ainda que o primeiro

possa ter sido reutilizado por geraccedilotildees sequentes ou integrado nas proacuteprias

construccedilotildees do segundo (Calado 2004 p 201-202)

O Megalitismo eacute tambeacutem entendido ldquocomo um complexo conjunto de

prescriccedilotildees maacutegico-religiosas relacionadas com a morte e natildeo apenas

redutoramente como um tipo de arquitectura funeraacuteriardquo que ocorre no Ocidente

peninsular durante os 4ordm e 3ordm mileacutenios ane (Gonccedilalves 1995 p 27) mas tambeacutem

verificaacutevel na ldquoEuropa das antigas sociedades camponesasrdquo (Gonccedilalves 1999a p

137 Sherratt 1995) Contudo esta quase expressatildeo-idiomaacutetica eacute sobretudo utilizada

e compreensiacutevel no acircmbito cientiacutefico franco-ibeacuterico ainda que actualmente com

especificidades regionais reconhecidas

No mundo acadeacutemico anglo-saxatildeo tal expressatildeo eacute pouco utilizada definindo-se

aquelas praacuteticas como ldquomortuary practicesrdquo associadas a ldquochamberedrdquo ou ldquocollective

tombsrdquo megaliacuteticas e de outros tipos (Renfrew 1990 Scarre 1996 Masset 1997

Bradley 1998) A Sherratt (1995) foi um dos poucos autores britacircnicos a discutir a

ideia de um ldquoNeolithic megalithism in Europerdquo Antes disso C Renfrew (1967)

recordava a expressatildeo alematilde algo pejorativa ldquoMegalithismusrdquo para criticar visotildees

abrangentes mas limitadas apenas a algumas das caracteriacutesticas mais megaliacuteticas do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 12 de 415

fenoacutemeno esquecendo a importacircncia das leituras dos contextos locais Contudo

reconhecia que a expressatildeo espanhola ldquoMegalithismordquo (idecircntica agrave expressatildeo

portuguesa Megalitismo) natildeo tinha o mesmo cariz negativo

A obra colectiva dirigida por J Guilaine (1999) ldquoMegalithismesrdquo na senda de

R Joussaume (1985) recorda-nos a faceta megaliacutetica com especificidades regionais

e cronoloacutegicas na Europa (sobretudo Franccedila e Peniacutensula Ibeacuterica) e na Etioacutepia numa

diacronia bem mais recente Aliaacutes como foi referido atraacutes A Sherratt uma

excepccedilatildeo britacircnica tambeacutem abordou o fenoacutemeno como laquohighly visible symbolism of

the living community through the medium of monumental constructions for the

deadrdquo realccedilando que ldquoTruly ldquomegalithicrdquo monuments formed part of a spectrum of

such constructions which otherwise used earth timber and smaller stonesraquo

(Sherratt 1995 p 247) No mesmo sentido tambeacutem A Gallay (2006) parece discutir

ldquoLes Socieacuteteacutes Meacutegalithiquesrdquo procurando pela via antropoloacutegica enquadrar este

fenoacutemeno como um reflexo soacutecio-cultural

Em Portugal alguns autores tecircm procurado uma expressatildeo mais adequada para

este complexo fenoacutemeno Assim V Gonccedilalves (2003e p 263-265) admite o uso de

laquoMegalitismoraquo como laquosinoacutenimo pobreraquo e complemento de outra expressatildeo ldquoas

praacuteticas funeraacuterias do 4ordm e do 3ordm mileacuteniordquo a que acrescentou posteriormente ldquoantigas

sociedades camponesasrdquo (Gonccedilalves 2005b) ou talvez mais adequado ldquosociedades

agro-pastorisrdquo

Portanto para o acircmbito deste trabalho o conceito de Megalitismo eacute entendido

no sentido amplo e supra-estrutural relacionado com as praacuteticas funeraacuterias daquelas

comunidades agro-pastoris genericamente limitadas aos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane

Assim na regiatildeo da Estremadura esses ritos funeraacuterios satildeo visiacuteveis em diferentes

espaccedilos nomeadamente em cavidades naturais e artificiais antas e tholoi Aliaacutes V

S Gonccedilalves (1978a e 1978b) havia jaacute discutido o conceito de ldquoMegalitismo de

grutasrdquo como forma de enquadrar as deposiccedilotildees funeraacuterias ali realizadas em tudo

idecircnticas agravequelas encontradas em antas Esta diversidade de soluccedilotildees estruturais

tambeacutem parece ocorrer noutras regiotildees da peniacutensula e fora dela (Leisner e Leisner

1943 e 1959 Leisner 1965 Briard 1995 Bradley 1998 Masset 1997 Scarre

1996 Mohen e Scarre 2003 Cerrillo e Gonzalez 2007 Dowd 2008) com

significado sincroacutenico e diacroacutenico podendo relevar-se para aleacutem do substrato

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 13 de 415

cultural um certo grau de determinismo geograacutefico nas oportunidades e escolhas que

as populaccedilotildees de cada aacuterea puderam concretizar nos seus contentores sepulcrais

No que concerne o maior ou menor investimento num sepulcro a utilizaccedilatildeo de

uma cavidade natural (nem sempre proacutexima ou facilmente acessiacutevel) ou a abertura de

uma fossa individual implicaria um esforccedilo menor no curto prazo ainda que

multiplicado pelos oacutebitos ocorridos ao longo do tempo (Masset 1997) Pelo

contraacuterio a construccedilatildeo de um grande jazigo obrigaria a um investimento comunitaacuterio

maior mas aquele espaccedilo poderia servir vaacuterias geraccedilotildees de inumados (Masset

1997)

Uma das caracteriacutesticas comuns do Megalitismo no espaccedilo geograacutefico europeu

ocidental independentemente das suas variaccedilotildees regionais parece ser a praacutetica

funeraacuteria colectiva Nesse sentido relembro a jaacute referida expressatildeo ldquocollective

tombsrdquo para laacute do Canal da Mancha reflectindo essa realidade Mas ldquolessentiel en

effet nest pas que le coutume de linhumation collective ait eacuteteacute transmise ou quelle

ait eacuteteacute inventeacutee cest le fait quelle a eacuteteacute reccedilue (Masset 1997 p 15) e dessa forma

apresentam-se como um bloco cultural genericamente homogeacuteneo

Para alguns autores contudo a praacutetica funeraacuteria colectiva encontra-se atestada

jaacute no 5ordm mileacutenio ane nomeadamente na fachada atlacircntica francesa (Masset 1997

Chambon 2003) ou no Sudeste espanhol em Cerro Virtud (Montero e Ruiacutez 1996

Montero et al 1999) em momentos anteriores agraves construccedilotildees megaliacuteticas pelo que

ambos os fenoacutemenos colectivizaccedilatildeo na morte e megalitismo natildeo deveratildeo ser

confundidos como um soacute Por outro lado situaccedilotildees haacute em que grandes sepulcros

monumentalizados teratildeo sido utilizados aparentemente para deposiccedilatildeo de um

indiviacuteduo ou de um pequeno grupo deles e por outro lado conjuntos numerosos de

indiviacuteduos foram sepultados em jazigos discretos escavados no substrato ou

utilizando grutas naturais (Masset 1997 Chambon 2003) No caso das antas de

Lisboa e regiotildees vizinhas o cruzamento de factores cronoloacutegicos e geograacuteficos eacute

deveras importante para um melhor entendimento dessas realidades mas seraacute

efectuado noutro capiacutetulo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 14 de 415

11 Uma discriminaccedilatildeo positiva as antas da regiatildeo de Lisboa

ldquoLes monuments meacutegalithiques classiques ne sont

en effet qursquoune partie drsquoun tout tregraves particulier les espaces de la mort des anciennes socieacuteteacutes paysannes Il faut choisir ce qursquoon doit viser seulement les monuments drsquoun type particulier ou lrsquoensemble articuleacute des rites des mythes et des pratiques magico-religieuses qui les ont fait naicirctre Mon choix a toujours eacuteteacute la deuxiegraveme possibiliteacute mais jrsquoaccepte la dualiteacute des critegraveres si on arrive agrave la justifierrdquo (Gonccedilalves 2006 p 498-499)

Como jaacute foi referido atraacutes na regiatildeo de Lisboa eacute possiacutevel verificar uma

diversidade de soluccedilotildees estruturais para a uacuteltima residecircncia dos defuntos Desses

vaacuterios jazigos existem numerosas notiacutecias inclusive realizadas de forma mais ou

menos sistemaacutetica (Ribeiro 1880 Ferreira 1959 Leisner 1965) Nas uacuteltimas

deacutecadas os conjuntos recolhidos sobretudo em grutas naturais e artificiais (Cardoso

1990 e 1995a e 1995b Cardoso et al 1992 e 2003 Gonccedilalves 2003e 2005a e

2005b) e em tholoi (Gonccedilalves J L 1979a e 1979b Cardoso et al 1996

Gonccedilalves 2003e) tecircm vindo a ser revistas e estudadas dentro de paracircmetros e

questionaacuterios actuais Contudo as antas de Lisboa quedavam-se por tratar apesar de

algumas terem sido escavadas haacute mais de cem anos ndash nomeadamente Monte Abraatildeo

Estria Pedra dos Mouros e Carrascal (Ribeiro 1880) ndash e serem constantemente

referidas sobretudo pelos paralelos apontados para alguns artefactos nelas

recolhidos Tornava-se entatildeo importante rever e avaliar estas antas discriminando-

as pelas suas caracteriacutesticas especiacuteficas a sua feiccedilatildeo ortostaacutetica e megaliacutetica

Primeiramente considerou-se importante estabelecer os criteacuterios estritos para

anta ou doacutelmen

A utilizaccedilatildeo do termo anta seraacute preferencial mas significaraacute exactamente o

mesmo que doacutelmen quando usado Na sua origem latina a palavra anta surge

associada agraves ldquopilastras ou colunas na frontaria de um edifiacutecio [normalmente

templos] encravadas em parte na parede e colocadas aos lados das portasrdquo e

posteriormente referindo-se a ldquoespeacutecie de marco de terra que se erguia diante de

castelos ou povoaccedilotildeesrdquo (Houaiss Villar e Franco 2005 p 657) O perfil que muitos

destes sepulcros megaliacuteticos apresentavam (e apresentam) ainda cobertos marcando

a paisagem ou depois de despidos do seu manto tumular assemelhando-se o seu

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 15 de 415

esqueleto peacutetreo a um portal poderaacute explicar a difusatildeo e adopccedilatildeo daquele termo

Outros termos de cariz popular que denotam o reconhecimento destas estruturas na

paisagem satildeo referenciados por Vasconcelos (1897) inclusive com um certo tom

regional como por exemplo ldquoarcardquo e ldquoaltarrdquo mais a norte anta no centro-sul ou

ldquomamoardquo por todo o paiacutes

Segundo o mesmo dicionaacuterio referido atraacutes (Houaiss Villar e Franco 2005 p

3081) doacutelmen (dolmin ou dolmen) resultou de ldquouma transcriccedilatildeo inexacta feita pelo

arqueoacutelogo francecircs Latour drsquoAuvergne do coacuternico tolmenrdquo admitindo-se que seraacute

menos provaacutevel ldquoa hipoacutetese de uma formaccedilatildeo directa com base no bretatildeo tol taol

lsquomesarsquo + mean men lsquopedrarsquo rdquo Contudo o termo divulgou-se e eacute comum a admissatildeo

da origem bretatilde com aquele significado Por sua vez essa designaccedilatildeo teraacute sido

adoptada em Portugal pelo meio acadeacutemico pelo menos desde o seacuteculo XVIII

(Vasconcelos 1897) provavelmente no intuito de normalizaccedilatildeo e adequaccedilatildeo ao

implantado e mais desenvolvido discurso cientiacutefico europeu setentrional

Actualmente com o avanccedilo da investigaccedilatildeo e a consciecircncia da complexidade do

fenoacutemeno funeraacuterio nas vaacuterias regiotildees a designaccedilatildeo ldquodolmenrdquo eacute usada de formas

diacutespares tendo caiacutedo em desuso nas ilhas britacircnicas normalmente limitada a ldquoPortal

Dolmenrdquo (Whitehouse 1983 Barclay 1997) ou ganhou novos significados ndash por

exemplo em Franccedila abrangendo as estruturas funeraacuterias verdadeiramente

megaliacuteticas aquelas parcial ou totalmente de pedra seca com cuacutepula ou inclusive

aquelas construiacutedas com madeira (Masset 1997 Joussaume 2004)

Se os elementos ortostaacuteticos e megaliacuteticos satildeo parte essencial da definiccedilatildeo de

anta estes tambeacutem se poderiam aplicar a alguns tholoi da Estremadura bastando

recordar os elementos peacutetreos dos sepulcros do Monge (Ribeiro 1880) ou da Tituaria

(Cardoso et al 1996) as dimensotildees de alguns dos blocos utilizados na construccedilatildeo

das suas cuacutepulas satildeo semelhantes ou mesmo superiores agravequelas de antas

nomeadamente de Monte Serves (North Boaventura e Cardoso 2005) Mas a teacutecnica

construtiva difere sobretudo no tipo de planta e cobertura final pelo que natildeo seratildeo

incluiacutedos no grupo agora em discussatildeo

Aplica-se entatildeo o termo anta de uma forma geneacuterica ao monumento funeraacuterio

constituiacutedo por grandes pedras (esteios ou ortoacutestatos) definindo uma cacircmara que

pode apresentar-se aproximadamente poligonal mais ou menos alongada coberta

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 16 de 415

por uma grande laje monoliacutetica (chapeacuteu) ainda que naquelas mais alongadas se

tenha talvez recorrido a mais de uma laje Podia ainda prolongar-se por um

corredor tambeacutem ortostaacutetico com extensotildees variaacuteveis e coberto por lajes menores

(linteacuteis) Noutros casos a cacircmara surge sem qualquer corredor ou mesmo fechada

apresentando dimensotildees ortostaacuteticas mais reduzidas sendo apontadas como os

exemplares pioneiros desta nova forma arquitectoacutenica de enterramento e

frequentemente designadas ldquosepulturas protomegaliacuteticasrdquo (Silva e Soares 2000) Os

esqueletos peacutetreos das antas seriam em princiacutepio recobertos por terra e pedras

formando o tumulus ou mamoa emergindo na paisagem mais ou menos destacado

como uma espeacutecie de colina semi-esfeacuterica

Ao utilizar os criteacuterios mencionados o universo de sepulcros do tipo anta

corresponde genericamente aos ldquomegalithgraumlberrdquo de V Leisner (1965) ou aos

ldquomonumentos megaliacuteticosrdquo enunciados por O V Ferreira (1959) para a regiatildeo de

Lisboa ainda que em obra colectiva posterior da qual participa este uacuteltimo se

admita que os sepulcros megaliacuteticos com cacircmaras alongadas natildeo poderiam ser

ldquoconsideacutereacutees comme veacuteritables ldquodolmensrdquo dans le sens commun du termerdquo pois

apresentariam caracteriacutesticas dos monumentos do Sudeste espanhol (Zbyszweski et

al 1977) Contudo julgo que aquelas especificidades tipoloacutegicas nem sempre

confirmadas no presente estudo e que seratildeo tratadas noutro capiacutetulo natildeo satildeo

suficientes para relegar esses sepulcros como ldquonatildeo-antasrdquo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 17 de 415

2 Enquadramento geograacutefico

As caracteriacutesticas geomorfoloacutegicas estabelecidas por H Lautensach do

Portugal Litoral Meacutedio e do Portugal Meridional (Alentejo) contrapotildeem-se ao Alto

Portugal (Ribeiro Lautensach e Daveau 1991) Assim a Cordilheira Central

delimita duas aacutereas o Norte e o Sul de Portugal nesta uacuteltima integrando-se o

Portugal Litoral Meacutedio e o Alentejo ldquoa mais vasta e monoacutetona unidade natural do

nosso territoacuteriordquo (Ribeiro 1998 p 151)

Ao Portugal Litoral Meacutedio segundo Barros Gomes secundado por Lautensach

(Ribeiro Lautensach e Daveau 1991) correspondem duas regiotildees distintas a Beira

Litoral correspondendo ao Baixo Mondego a norte e sul do rio homoacutenimo e

estendendo-se ateacute agrave Nazareacute a segunda o Centro Litoral Esta uacuteltima refere-se

essencialmente agrave Estremadura mas na qual eacute possiacutevel verificar duas realidades

fiacutesicas contrastantes uma correspondendo ao Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho com

altimetrias entre os 400-600 metros orientando-se de NNE para SSW terminando na

Serra de Montejunto a outra realidade mais baixa estendendo-se pela orla costeira

para sul ateacute agrave Arraacutebida (o outro maciccedilo calcaacuterio) eacute essencialmente uma superfiacutecie de

erosatildeo com raros cabeccedilos e alinhamentos de relevos recortada pela acccedilatildeo

hidrograacutefica fluvial e mariacutetima apresentando por vezes vales encaixados (Ribeiro

Lautensach e Daveau 1991)

Contudo estes contrastes natildeo satildeo suficientes para uma clivagem profunda com

o Portugal Meridional Assim O Ribeiro (1998 p 152) relembra-nos que a orla

mariacutetima entre o Tejo ateacute quase ao Douro era designada ainda no seacuteculo XVI por

Estremadura ldquoera o sentimento de tudo o que aproxima as regiotildees separadas pelo

baixo vale do Mondegordquo (Ribeiro 1998 p 152) Aliaacutes seria aiacute que ldquoo carvalho

alvarinho cede o lugar ao carvalho portuguecircs forma de transiccedilatildeo para as espeacutecies

de folha perenerdquo (Ribeiro 1998 p 152) Mas para O Ribeiro a Estremadura tem de

facto algo original ldquonos maciccedilos calcaacuterios onde se encontram belos exemplos de

todas as formas caacutersicasrdquo os Maciccedilos Estremenho e da Arraacutebida (Ribeiro 1998 p

153)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 18 de 415

Fig 1 Fisiografia da Estremadura e delimitaccedilatildeo da aacuterea em estudo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 19 de 415

21 Fisiografia da Baixa Estremadura

A regiatildeo de Lisboa definida no acircmbito deste trabalho (Fig 1 1a e 23)

corresponde grosso modo agrave designada Baixa Estremadura contexto geograacutefico jaacute

utilizado por outros investigadores (por ex Sousa 1998 Cardoso 2004) Abrange as

peniacutensulas de Lisboa e Setuacutebal limitando-se a norte pelas faldas da Serra de

Montejunto e a sul pela foz do rio Sado e a Serra da Arraacutebida A nascente o imenso

estuaacuterio do Tejo e a sua bacia terciaacuteria marca-lhe a fronteira tal como a costa

atlacircntica o faz a poente No caso presente o limite setentrional quedou-se pelas bacias

das ribeiras do Lizandro Trancatildeo e da Pipa estas duas uacuteltimas associadas ao acircmago

do manto basaacuteltico do Complexo vulcacircnico de Lisboa que parece corresponder aos

limites daquela denominada por J L Gonccedilalves (1979c) como Baixa peniacutensula de

Lisboa

No acircmbito da Geologia de Cascais M Ramalho (2005) estipulou quatro

conjuntos de formaccedilotildees geoloacutegicas cuja caracterizaccedilatildeo poderaacute facilmente estender-

se agrave restante peniacutensula de Lisboa bem como agrave de Setuacutebal onde deveremos

acrescentar o maciccedilo da Arraacutebida (Fig 22)

a O conjunto dos calcaacuterios margas e arenitos do Juraacutessico Superior-Cretaacutecico

onde os niacuteveis com uma composiccedilatildeo carbonatada predominante especialmente do

Cretaacutecico inferior estiveram na origem de fenoacutemenos de carsificaccedilatildeo de diversos

tipos ndash lapiaacutes dolinas e cavernas muitas delas com presenccedila arqueoloacutegica As

bancadas do Cretaacutecico superior com calcaacuterios de rudistas e foraminiacuteferos serviram

ateacute hoje para extracccedilatildeo de rochas para a construccedilatildeo civil Alguns daqueles leitos

geoloacutegicos apresentam intercalaccedilotildees de siacutelex que foram abundantemente

aproveitadas na preacute-histoacuteria (Ramalho 2005 Ramalho et al 1993)

b O Maciccedilo eruptivo de Sintra sendo o relevo mais importante da regiatildeo

apresenta um nuacutecleo sieniacutetico com aneacuteis graniacuteticos e grabro-dioriacuteticos surgindo

associados a numerosos filotildees e a uma cintura de calcaacuterios metamorfizados Esta

intrusatildeo teraacute ocorrido entre 75 e 95 milhotildees de anos jaacute no final do Cretaacutecico sendo

exposto pela erosatildeo haacute cerca de 40 milhotildees de anos no Terciaacuterio inferior (Ramalho

2005 Ramalho et al 1993)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 20 de 415

c O Complexo vulcacircnico de Lisboa resultou de actividade vulcacircnica haacute cerca

de 70 milhotildees de anos no Cretaacutecico final Corresponde essencialmente a rochas

laacutevicas resultantes de escoadas basaacutelticas e depoacutesitos vulcano-sedimentares ndash tufos

brechas e piroclastos A decomposiccedilatildeo daquelas rochas deu origem a solos

considerados hoje dos mais feacuterteis do paiacutes (Zbyszewski 1964 Oliveira et al 2000

Ramalho 2005)

Durante os episoacutedios de instalaccedilatildeo do Maciccedilo de Sintra e a actividade

vulcacircnica natildeo se registou actividade sedimentar significativa ateacute agrave formaccedilatildeo das

rochas terciaacuterias Alguns desses depoacutesitos geoloacutegicos resultaram da erosatildeo de relevos

preacute-existentes tendo resultado em conglomerados e calcaacuterios argilosos e areniacuteticos

(Martins 2004 Ferreira 2005b) e foram aproveitados na preacute-histoacuteria para a

escavaccedilatildeo de cavidades sepulcrais (Ramalho 2005) Estas manchas geoloacutegicas

situam-se maioritariamente na orla fluvial e costeira da peniacutensula de Lisboa a norte-

nordeste da serra de Sintra e nas aacutereas nascente e norte do maciccedilo da Arraacutebida da

peniacutensula de Setuacutebal

d Finalmente os depoacutesitos quaternaacuterios correspondendo essencialmente a

fenoacutemenos marinhos e fluviais formaram vaacuterias cascalheiras de calhaus e areias por

vezes com os primeiros indiacutecios de actividade humana (Ramalho 2005 Zbyszweski

1964) Boa parte dos depoacutesitos mais recentes ocuparam o espaccedilo outrora preenchido

por aacuteguas estuarinas a que me referirei abaixo

De uma forma genialmente sucinta O Ribeiro (1998 p 154) ilustra as

consequecircncias da diversidade geomorfoloacutegica da regiatildeo referida ldquo(hellip) Nos

arredores de Lisboa por exemplo os barros basaacutelticos datildeo campos limpos e abertos

destinados agrave cultura do cereal os calcaacuterios secundaacuterios charnecas abandonadas ao

mato e pasto os calcaacuterios terciaacuterios cobrem-se de olivedo as baixas argilosas de

hortas regadas o pinhal reveste as colinas de arenito improdutivo No horizonte da

cidade duas montanhas que se vecircem uma agrave outra encerram a escala destas

combinaccedilotildees Sintra envolta em neacutevoas e afofada de arvoredos frondosos rica de

aacuteguas e de sombras musgosas eacute uma recorrecircncia do Norte a Arraacutebida nos campos

de calcaacuterio no soberbo matagal mediterracircneo na serenidade das aacuteguas onde a

serra se despenha quase a pique um fragmento de riviera isolado agrave beira do

Atlacircnticordquo (Ribeiro 1998 p 154)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 21 de 415

De facto ldquoa morfologia da regiatildeo de Lisboa depende fundamentalmente de

uma grande variedade litoloacutegica (os diferentes tipos de rochas em contacto oferecem

diferentes tipos de resistecircncia agrave erosatildeo) e da tectoacutenica local (dobras e falhas) que

modelam colinas interfluacutevios de uma rica rede hidrograacutefica Os mantos basaacutelticos

alternantes com leitos de tufos e brechas vulcacircnicas cobrem grande parte da regiatildeo

da capital dando origem normalmente a solos muito feacuterteisrdquo (Silva 1983) E essa

situaccedilatildeo parece jaacute registar-se durante os 4 e 3ordm mileacutenios ane resultando em ldquosolos

feacuterteis boa insolaccedilatildeo relevos suaves abundacircncia de aacutegua e uma rede hidrograacutefica

regular amenidade climaacutetica e ainda a proximidade dos estuaacuterios do Tejo e do

Sado domiacutenios abundantes de recursos facilmente exploraacuteveis ao longo do anordquo

(Cardoso 2004 p 21)

Por outro lado a extracccedilatildeo de rochas (calcaacuterios maacutermore basalto etc) por

exemplo para o aqueduto das Aacuteguas Livres ou a reconstruccedilatildeo de Lisboa poacutes-

terramoto 1755 originou e ainda origina crateras imensas na paisagem o que afecta

a leitura do relevo em determinadas aacutereas da regiatildeo Inclusive erradicando sepulcros

como os de Trigache ou mais tarde os de Casal do Penedo

Quanto aos solos da regiatildeo de Lisboa se eacute possiacutevel presumir a sua riqueza

referida atraacutes a sujeiccedilatildeo multissecular a uma pressatildeo antroacutepica massiva suscita seacuterias

cautelas para anaacutelises de pormenor Aliaacutes a pequena escala da cartografia disponiacutevel

(1 1 000 000) torna ainda mais vatildeo tal desiderato

Os dados paleo-ecoloacutegicos actualmente disponiacuteveis para a Baixa Estremadura

durante os 4ordm e 3ordm mileacutenios ane satildeo limitados mas eacute possiacutevel extrapolar as suas

caracteriacutesticas gerais a partir de algumas curvas poliacutenicas realizadas na peniacutensula de

Setuacutebal e no Alentejo litoral (Queiroz 1999 Queiroz e Mateus 2004)

Assim aquele periacuteodo enquadra-se de forma geneacuterica no Holoceacutenico meacutedio

fase B e C num clima subhuacutemido transitando para um mais seco de caraacutecter

mesomediterracircnico com formaccedilotildees lenhosas de pinhal bravo (Pinus pinaster)

dominante nos interfluacutevios mas gradualmente substituiacutedo por urzal alto (urze das

vassouras ndash Erica scoparia) nas zonas de solos podzoacutelicos As matas marescentes

(Quercus faginea - carvalho cerquinho ou portuguecircs) nas meia-encostas dos vales

vatildeo sendo substituiacutedas por carrascal escleroacutefilo (Quercus coccifera- carrasqueiro) O

zambujal (Olea europaea sylvestris) surge nas encostas secas e mais expostas com

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 22 de 415

sub-bosque de Erica arboacuterea (urze branca) sobretudo nos litossolos da Arraacutebida e

as baixas fluviais satildeo dominadas por amiais (Alnus glutinosa e Frangula) e

salgueiros (Salix sp) (Queiroz 1999 p 228)

Outros estudos arqueobotacircnicos (carpoloacutegicos e antracoloacutegicos) produzidos

pontualmente para ocupaccedilotildees preacute-histoacutericas da Estremadura ainda que de

cronologias diacutespares (Queiroz e Leeuwaarden 2001 e 2004 Hopf 1981) datildeo

seguranccedila agrave extrapolaccedilatildeo proposta atraacutes Assim no povoado de Satildeo Pedro de

Caneferrim no contexto montanhoso de Sintra parece registar-se durante o Neoliacutetico

antigo uma mata marescente de Quercus faginea de caraacutecter mediterracircnico mas com

zonaccedilatildeo de espeacutecies associadas a aacutereas mais aacuteridas ou mais huacutemidas nomeadamente

mata deciacutedua ribeirinha (Fraxinus angustifolia Populus Salix e Ulmus) charnecas e

matos rasteiros podendo estas uacuteltimas corresponder a impacto humano relacionado

com pastagens (Queiroz e Leeuwaarden 2001) Mais para norte no povoado de Satildeo

Mamede (Bombarral) em contextos dos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane foram recolhidos

elementos vegetais que parecem apontar para matagais escleroacutefilos de caraacutecter

mediterracircnico semelhantes aos actuais onde se encontram o medronheiro (Arbutus

unedo) o carrasco e a urze branca parecendo a presenccedila de giesta (Cytius striatus)

sugerir a existecircncia de charnecas em aacutereas com maior impacto humano (Queiroz e

Leeuwaarden 2004) Semelhante quadro tambeacutem surge em redor do povoado do

Zambujal Torres Vedras (Hopf 1981) referindo-se a presenccedila de pinheiro (Pinus

sp) floresta de carvalhos (Quercus ilex - azinheira ndash e Quercus suber ndash sobreiro) nas

encostas e junto das margens fluviais o freixo (Fraxinus excelsior) o choupo

(Populus sp) e o amieiro (Alnus sp)

De facto P Queiroz (1999) realccedila para o periacuteodo dos 4ordm-3ordm mileacutenios no litoral

norte alentejano um impacto humano acentuado que teraacute resultado na reduccedilatildeo do

coberto florestal dos interfluacutevios e abertura dos ribeirinhos ainda que mantendo-se

os bosques de encosta bem como registando-se a expansatildeo de matagais

22 Rio Tejo um palco fundamental para a histoacuteria da regiatildeo

O Tejo eacute um dos maiores rios da Peniacutensula Ibeacuterica quer em extensatildeo quer em

caudal Nasce na Cordilheira Ibeacuterica orientando o seu curso de este para oeste

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 23 de 415

apenas virando para sudoeste perto de Constacircncia onde absorve o rio Zecirczere

(Ribeiro Lautensach e Daveau 1988) Daiacute em diante alarga-se pela bacia sedimentar

terciaacuteria para apenas estreitar na sua foz apertada pelas peniacutensulas de Lisboa e

Setuacutebal as duas metades da Baixa Estremadura (Fig 1 e 1a)

A foz do Tejo rompe a continuidade da costa atlacircntica de forma peculiar

resultando num dos raros portos de abrigo para a navegaccedilatildeo bem como graccedilas ao

seu prolongado estuaacuterio numa via de penetraccedilatildeo navegaacutevel da maior importacircncia

para os territoacuterios interiores (Daveau 1980 1994 e 1995) A outra descontinuidade

imediatamente a sul do estuaacuterio do Sado apesar de larga fica limitada a este pois o

caudal desse rio natildeo atinge a pujanccedila ou a extensatildeo do primeiro

Portanto para aleacutem de ser ldquoo palco da histoacuteria de Lisboardquo (Daveau 1994) o

Tejo surge-nos tambeacutem como o palco da histoacuteria das populaccedilotildees da Baixa

Estremadura e dos territoacuterios vizinhos por ele banhados do Centro-Sul de Portugal

O emaranhado de relevos acidentados existentes a norte de Lisboa (Complexo

vulcacircnico de Lisboa e faldas da Serra de Montejunto) dificulta a circulaccedilatildeo sul-

norte pelo que o Tejo e os seus tributaacuterios foram ateacute o aparecimento da ligaccedilatildeo

ferroviaacuteria o meio por onde circulavam para territoacuterios interiores maioritariamente

pessoas e bens (Daveau 1994) Recorde-se o caso particular do rio Trancatildeo que ateacute

o seacuteculo XIX era a via preferencial para transporte de bens de e para as feacuterteis

terras da regiatildeo de Loures (Daveau 1994 Fragoso 2001 Oliveira et al 2000) Ou

a importacircncia que a montante do rio Santareacutem e sobretudo Tomar assumiram para

a passagem dos Maciccedilos centrais (Daveau 1994) mas tambeacutem na faacutecil ligaccedilatildeo ao

Alto e Meacutedio Alentejo E se esta importacircncia histoacuterico-geograacutefica estaacute

abundantemente documentada tambeacutem uma situaccedilatildeo ainda mais optimizada teraacute

existido durante os 4ordm e 3ordm mileacutenios ane

Segundo S Daveau (1980 e 1994) na sequecircncia da transgressatildeo flandriana o

vale do Tejo profundamente escavado durante o periacuteodo glaciar do Wuumlrm viu-se

preenchido pelas aacuteguas de um mar cujo niacutevel subiu rapidamente (Fig 1 e 24) Assim

nos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane o estuaacuterio do Tejo apresentar-se-ia com aacuteguas salobras

sentindo provavelmente o efeito das mareacutes ateacute agrave aacuterea de Constacircncia cerca de 100

quiloacutemetros para montante da foz do rio Apesar de impactos e dimensotildees variaacuteveis

essa transgressatildeo aquaacutetica tambeacutem se fez sentir noutras bacias estuarinas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 24 de 415

nomeadamente no Sado e Mondego (Daveau 1980 Senna-Martinez 1990) bem

como naquelas que desaguavam directamente na orla costeira estremenha (Fig 1 e

24) Foi aliaacutes com esta verificaccedilatildeo que se compreendeu melhor o enquadramento de

vaacuterios povoados deste periacuteodo nomeadamente Vila Nova de Satildeo Pedro e Zambujal

(Daveau 1980 Daveau e Gonccedilalves 1983-84 Hoffman 1990 Hoffman e Schulz

1994)

Eacute portanto no acircmbito da fisiografia e hidrografia expostas atraacutes que as

populaccedilotildees preacute-histoacutericas dos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane deveratildeo ser enquadradas

verificando a forma como aproveitavam no seu quotidiano os recursos disponiacuteveis

bem como isso poderaacute ter influenciado as suas praacuteticas funeraacuterias

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 25 de 415

3 A investigaccedilatildeo preacute-histoacuterica na regiatildeo de Lisboa

ldquoNum tempo [seacuteculo XIX] em que se discutia como organizar oficialmente os estudos da arqueologia em Portugal e como dar-lhe expressatildeo museoloacutegica (hellip) quem melhor se sucede (hellip) parecem ser homens que ao talento e saber acrescem fortuna pessoal e capacidade de aglutinar elites economicamente desafogadas e mentalmente empenhadas no progresso moral da naccedilatildeordquo (Ferreira 1994 p 76)

ldquo(hellip) uma realidade que (essa sim) se pode

considerar uma constante na actividade arqueoloacutegica portuguesa o choque de personalidadesrdquo (Fabiatildeo 1999 p 109)

ldquoOs arqueoacutelogos em Portugal sempre tiveram

dificuldades em trabalhar desafogadamente e em fazer-se ouvir mesmo aqueles que supostamente mais proacuteximo se encontravam do poder poliacuteticordquo (Cardoso 2002 p 40-41)

A reflexatildeo e o debate acerca da histoacuteria da investigaccedilatildeo arqueoloacutegica e

especificamente da Preacute-histoacuteria em Portugal receberam nas uacuteltimas deacutecadas um

grande incremento Vaacuterios autores tecircm com sucesso analisado o desempenho de

indiviacuteduos e instituiccedilotildees nesse labor (Gonccedilalves 1980a e 1980b Santos 1980

Fabiatildeo 1989 e 1999 Diniz e Gonccedilalves 1993-94 Lillios 1996 e 2008 Cardoso

2002 2008a 2008b e 2008c Martins 2003 2005 e 2007 Carneiro 2005 Rocha

2005 Coito Cardoso e Martins 2008 Boaventura 2008 Boaventura e Langley no

prelo) Eacute pois no acircmbito do presente trabalho importante delinear e enquadrar os

processos poliacuteticos e socio-econoacutemicos que desde o seacuteculo XIX moldaram e

condicionaram as perguntas e as respostas que diversos investigadores efectuaram

acerca do periacuteodo hoje associado ao Megalitismo e como se proporaacute centrado nos 4ordm

e 3ordm mileacutenios ane Enquadrado por esse esboccedilo tambeacutem se analisaraacute com maior

detalhe nos capiacutetulos especiacuteficos dos respectivos sepulcros os investigadores e os

trabalhos desenvolvidos por eles

Apesar de se poder encontrar em seacuteculos anteriores o interesse pelos vestiacutegios

preacute-histoacutericos nomeadamente as construccedilotildees megaliacuteticas parece unacircnime para

vaacuterios autores que a segunda metade do seacuteculo XIX e sobretudo o terceiro quartel

daquele marcaram o nascimento de uma arqueologia preacute-histoacuterica em Portugal

(Fabiatildeo 1989 e 1999 Diniz e Gonccedilalves 1993-94 Cardoso 2002 Martins 2003 e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 26 de 415

2007 Rocha 2005) culminando essa intensa actividade na realizaccedilatildeo em Portugal

com o patrociacutenio reacutegio do laquoIX Congresso Internacional de Antropologia e

Arqueologia Preacute-Histoacutericasraquo (Santos 1980 Gonccedilalves 1980b Diniz e Gonccedilalves

1993-94) Este encontro consagrou o prestiacutegio cientiacutefico de alguns investigadores

portugueses dentro e fora do paiacutes para o qual Eacutemile Cartailhac (1880 e 1886) teraacute

sido um dos seus maiores arautos sobretudo porque as suas publicaccedilotildees em francecircs

distribuiacutedas a partir de Franccedila permitiram uma maior exposiccedilatildeo da arqueologia preacute-

histoacuterica portuguesa perante a comunidade cientiacutefica europeia e norte-americana

Num contexto europeu de crescimento industrial em que a procura de

potenciais recursos naturais se tornava urgente depois de um pouco produtivo grupo

de trabalho chefiado por Charles Bonnet eacute criada a laquoComissatildeo Geoloacutegica do Reinoraquo

- 1857-1868 - encabeccedilada por Carlos Ribeiro e Francisco Pereira da Costa (Santos

1980 Cardoso 2002 Leitatildeo 2004 Carneiro 2005) Num afatilde sem precedente o

primeiro militar de formaccedilatildeo e com maior capacidade para o trabalho de campo

promoveu o registo da geologia (mas tambeacutem de outros recursos naturais) do

territoacuterio portuguecircs graccedilas ao seu esforccedilo e do grupo de colectores que instruiu

Simultaneamente deu atenccedilatildeo a diversos vestiacutegios humanos atribuiacuteveis a diversos

periacuteodos da Preacute-histoacuteria em alguns casos escavando-os noutros inventariando-os

para posteriores trabalhos Esta faceta arqueoloacutegica do trabalho da Comissatildeo foi

reproduzida pelo seu assistente e sucessor Joaquim Nery Delgado tambeacutem militar

de carreira ainda que lhe dedicasse menor atenccedilatildeo apoacutes a morte do seu mentor

Destoava destes dois investigadores F P Costa pouco propenso ao trabalho de

campanha preferindo a actividade de gabinete para a anaacutelise de foacutesseis e produccedilatildeo

dos seus escritos (Leitatildeo 2004 Carneiro 2005) Estes caracteres pessoais distintos

acabaram por originar posiccedilotildees profissionais antagoacutenicas levando agrave extinccedilatildeo breve

mas dolosa da Comissatildeo Geoloacutegica em 1868 tendo parte da colecccedilatildeo dos

espeacutecimes recolhidos (geoloacutegicos e arqueoloacutegicos) sido transferida para a Escola

Politeacutecnica onde leccionava F P Costa apoacutes a sua intervenccedilatildeo junto do poder

instalado (Leitatildeo 2004) No ano seguinte na sequecircncia de mudanccedila governamental

a extinta Comissatildeo eacute recriada (ainda que soacute em 1870 iniciasse funccedilotildees) agora

somente sob a direcccedilatildeo de Carlos Ribeiro com a assistecircncia de J N Delgado mas

denominada laquoSecccedilatildeo dos Trabalhos Geoloacutegicosraquo (Leitatildeo 2004 Carneiro 2005)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 27 de 415

Talvez para colmatar as perdas registadas em 1868 mas tambeacutem porque se

tornara oportuno no acircmbito da preparaccedilatildeo do planeado Congresso Internacional de

1880 registou-se uma intensa actividade de escavaccedilatildeo que perdurou ateacute ao referido

encontro e agrave doenccedila e morte de Carlos Ribeiro em 1882 Posterior e gradualmente a

actividade arqueoloacutegica decresce embrenhando-se o novo director J N Delgado

em questotildees mais geoloacutegicas (Carneiro 2005) De facto aleacutem dos terraccedilos terciaacuterios

(Ribeiro 1871 e 1873) da gruta da Cesareda (Delgado 1867) e de parte dos

concheiros de Muge (Costa 18651) genericamente enquadraacuteveis no Paleoliacutetico e

Mesoliacutetico a maioria das escavaccedilotildees foi efectuada no acircmbito desta nova

ldquoComissatildeordquo Assim registaram-se novas intervenccedilotildees nos concheiros de Muge bem

como em siacutetios de habitat e de necroacutepole anteriormente inventariados sobretudo em

antas e grutas naturais e artificiais (Ribeiro 1878 1880 e 1884 Delgado 1880

1884 1891a e 1891b) Por exemplo na regiatildeo Lisboa foram identificadas as antas

de Monte Abraatildeo Estria Pedra dos Mouros Carrascal Pedras Grandes Alto da

Toupeira 1 Batalhas Casal do Penedo e Carcavelos que com excepccedilatildeo das uacuteltimas

trecircs foram entatildeo escavadas pelo menos entre 1875 e 1878 Aleacutem destas realizaram-

se intervenccedilotildees no tholos do Monge nas grutas artificiais do Casal do Pardo

(Leisner Zbyszweski e Ferreira 1961 Soares 2003) e Folha das Barradas

(sobretudo a recolha de informaccedilatildeo e artefactos) bem como nas grutas naturais da

Cova da RaposaCova Grande e Cova do Biguino do Moinho da Moura (associada

ao povoado de Leceia) da Ponte da Laje de Porto Covo e de Poccedilo Velho No seu

conjunto quase todos os siacutetios tiveram notiacutecia publicada ou pelo menos os seus

materiais foram depositados no Museu Geoloacutegico no essencial devidamente

etiquetados com a sua proveniecircncia (por vezes cobrindo excessivamente as peccedilas)

Este cuidado museoloacutegico foi deveras importante pois por natildeo ter sido continuado

em deacutecadas posteriores satildeo estas peccedilas e as suas proveniecircncias mais fiaacuteveis do que

outras que deram entrada no poacutes Grande Guerra

No que concerne a qualidade da actividade arqueoloacutegica os trabalhos de C

Ribeiro e depois de J N Delgado apresentavam-se cientificamente rigorosos e

nalguns aspectos precursores tendo em conta a eacutepoca e a precocidade destes A

aplicaccedilatildeo do meacutetodo estratigraacutefico na escavaccedilatildeo de algumas das grutas-necroacutepole eacute 1 Escavados por C Ribeiro e abusivamente apresentados e publicados por F P Costa (1865 Leitatildeo 2004)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 28 de 415

evidente na gruta da Furninha (Delgado 1884) bem como se verifica uma

sistematizaccedilatildeo e comparaccedilatildeo tipoloacutegica dos materiais arqueoloacutegicos recolhidos (por

exemplo Ribeiro 1878 e 1880) Inclusive C Ribeiro (1880) procurou perscrutar nos

restos antropoloacutegicos de alguns sepulcros em particular de Monte Abraatildeo e Folha

das Barradas informaccedilatildeo hoje comummente expectaacutevel como o nuacutemero miacutenimo de

indiviacuteduos a idade e o sexo ndash algo entretanto relegado para um plano secundaacuterio em

favor de avaliaccedilotildees raacutecicas dos indviacuteduos exumados em Portugal seguindo a

tendecircncia europeia perdurando ateacute a deacutecada de 80 do seacuteculo XX (Cunha 2000)

Ainda associados aos trabalhos dos serviccedilos geoloacutegicos haacute que registar algumas

abordagens multidisciplinares sobre materiais depositados no Museu nomeadamente

por Francisco Oliveira e Paula (1884 1886 e 1889) acerca das ossadas humanas

mesoliacuteticas e neoliacuteticas exumadas e por Alfredo Bensauacutede (1884 e 1889) sobre a

natureza mineraloacutegica de artefactos liacuteticos ou a constituiccedilatildeo dos artefactos em cobre

Alguns autores oitocentistas menos interessados na investigaccedilatildeo de campo

produziram ainda algum trabalho sobre a Preacute-Histoacuteria nomeadamente Augusto

Simotildees (1878) Outros prosseguiram no campo outras abordagens mais

independentes como Sebastiatildeo Estaacutecio da Veiga (Veiga 1879 e 1886-91

Gonccedilalves 1980a Cardoso e Gradim 2004) ou integrados na laquoReal Associaccedilatildeo dos

Architectos Civis e Archeoacutelogos Portuguesesraquo como Joaquim Possidoacutenio da Silva

(Martins 2003 e 2005) Aliaacutes este uacuteltimo procedeu a vaacuterias escavaccedilotildees em sepulcros

megaliacuteticos nomeadamente nas regiotildees de Eacutevora e Elvas ou no pretenso doacutelmen de

Adrenunes Sintra na deacutecada de 1850 onde natildeo verificou qualquer evidecircncia

sepulcral (cit in Martins 2003 p 237) Contudo manifestava em vaacuterios escritos um

maior interesse pelo registo e salvaguarda daqueles monumentos e menos pelo seu

teor cientiacutefico (Martins 2003 p 240-241)

Apesar de variados trabalhos realizados em antas de vaacuterios pontos do paiacutes

nomeadamente por C Ribeiro J P Silva S E Veiga eacute curioso verificar que apenas

uma comunicaccedilatildeo portuguesa acerca deste assunto foi proferida por Joseacute Caldas

(1884) no Congresso de 1880 tratando de antas da regiatildeo do Minho (Santos 1980)

Ainda que a qualidade dos trabalhos produzidos seja variada durante o periacuteodo

tratado acima eacute possiacutevel verificar que os investigadores portugueses de oitocentos

procuravam perceber as origens da Terra e da Humanidade num contexto

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 29 de 415

eminentemente positivista e universalista agrave imagem dos seus congeacuteneres do mundo

ocidental e que os investigadores dos serviccedilos geoloacutegicos foram um claro exemplo

Contudo outros indiviacuteduos inclinavam-se decididamente para anaacutelises mais locais e

regionais mais preocupados com aspectos paleoetnoloacutegicos como era o caso de

Martins Sarmento um dos participantes do Congresso de 1880 (Fabiatildeo 1999)

Infelizmente aquele breve desabrochar da disciplina arqueoloacutegica em Portugal

natildeo frutificou No caso dos serviccedilos geoloacutegicos assistiu-se a um decreacutescimo de

interesse e de publicaccedilotildees acerca da preacute-histoacuteria nomeadamente com siacutetios

escavados que se quedaram por publicar ateacute meados do seacuteculo XX para o qual natildeo

seraacute estranho a ausecircncia de disciacutepulos interessados naquelas temaacuteticas ou com as

condiccedilotildees estruturais para as desenvolver O trabalho de Estaacutecio da Veiga acabou

absorvido pelo Museu Etnoloacutegico (hoje MNA) sem concretizaccedilatildeo do seu programa

arqueoloacutegico

Ainda assim nos anos poacutes-Congresso registou-se a influecircncia daqueles

investigadores sobre individualidades que se tornariam fulcrais nas deacutecadas

seguintes A Santos Rocha criava a Sociedade Arqueoloacutegica da Figueira surgia a

Sociedade Carlos Ribeiro no Porto e Joseacute Leite de Vasconcelos inclinava-se para a

busca da geacutenese portuguesa Esta nova geraccedilatildeo acarinhava entatildeo um novo paradigma

de investigaccedilatildeo definido como Paleoetnoloacutegico (Fabiatildeo 1999) De facto a Preacute-

histoacuteria parece interessar a estes investigadores apenas como meio para buscar as

origens da nacionalidade atraveacutes da triacuteade povoliacutenguanaccedilatildeo para a qual os estudos

antropoloacutegicos numa perspectiva raacutecica (Carrisso 1909 Athayde 1931 e 1933

Bubner 1979 e 1986 Silva 2002 Cunha 2000 e 2008) e arqueoloacutegicos acresciam

com os seus dados essenciais Os vestiacutegios materiais comprovariam a sucessatildeo das

idades civilizacionais colocando os primeiros ocupantes do territoacuterio portuguecircs em

igualdade com outros povos da Europa e da restante Peniacutensula Ibeacuterica

A actividade de J L Vasconcelos no que respeita a regiatildeo de Lisboa eacute

reduzida pois este procurava compreender o todo nacional viajando e colectando por

todo o territoacuterio portuguecircs Mesmo assim a escavaccedilatildeo da anta da Arruda em 1898

revela que este investigador aplicava uma metodologia razoaacutevel e de alguma forma

standard para a eacutepoca Ao analisar os apontamentos desta escavaccedilatildeo e daquela

efectuada na anta da Comenda da Igreja 1 (Montemor-o-Novo) no mesmo ano

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 30 de 415

(Coito Cardoso e Martins 2008 p 145) eacute interessante verificar as semelhanccedilas no

registo de escavaccedilatildeo bem como as anotaccedilotildees acerca do que seria expectaacutevel

encontrar e que natildeo o foi Mas os resultados resumiam-se e eram utilizados para

reforccedilar o objectivo primordial obter ldquoelementos para determinar relaccedilotildees sociaes

ou ethnicas entre a tribu que ali estanciou e outras da Estremadura mas de pontos

afastados drsquoaquelle localrdquo (O Seacuteculo 6111898)

Entre os vaacuterios protagonistas interessados pela nacionalidade eacute sem duacutevida J

L Vasconcelos quem por meacuterito proacuteprio pela sua longevidade e pelo

enquadramento institucional que o Museu Etnoloacutegico lhe dava quem marca as

primeiras deacutecadas do seacuteculo XX apresentando-se com um projecto ndash o museu da

naccedilatildeo (Fabiatildeo 1999 Coito Cardoso e Martins 2008)

Manuel Heleno um dos disciacutepulos de J L Vasconcelos inicialmente

procurou no Megalitismo as eventuais origens da nacionalidade (Heleno 1956

Fabiatildeo 1999 Cardoso 2002 Rocha 2005) Para tal centrou a sua investigaccedilatildeo nos

sepulcros do Alto e Meacutedio Alentejo (Heleno 1956 Rocha 2005) Contudo ldquopara

tirar a contraprova das [suas] conclusotildees e ver o problema na sua totalidaderdquo

(Heleno 1956 p 229) aquele estendeu as suas pesquisas a vaacuterias grutas artificiais da

Estremadura nomeadamente em Casal do Tojal de Vila Chatilde e Bauacutetas Amadora

(Heleno 1933 e 1942b) na Ermegeira Torres Vedras (Heleno 1942a) Ribeira de

Crastos Caldas da Rainha (Jordatildeo e Mendes ) Tambeacutem desenvolveu trabalhos em

algumas grutas naturais ldquoagrave procura duma estratigrafiardquo (Heleno 1956 p 230)

incidindo ainda alguns esforccedilos em siacutetios de habitat sobretudo na aacuterea de Rio Maior

O contributo de M Heleno para a investigaccedilatildeo do Megalitismo poderaacute resumir-

se em dois tempos um resumido por Fernando de Almeida (197_) ao afirmar que

ldquobastariam estes trabalhos para ser classificada de notaacutevel a acccedilatildeo do Prof Heleno

(hellip) se os materiais recolhidos (hellip) tivessem sido estudados e publicadosrdquo outro

tempo presente que vecirc os espoacutelios recolhidos e os apontamentos proacutedigos de M

Heleno finalmente a serem estudados e publicados de forma compreensiacutevel

(Cardoso 2002 Rocha 2005)

Entretanto aleacutem fronteiras Hugo Obermaier (1919 1920 1924 1925 e 1932)

na sequecircncia dos seus proacuteprios estudos acerca do Megalitismo numa perspectiva

pan-ibeacuterica contribuiu de forma directa para o interesse do casal Leisner (Georg e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 31 de 415

Vera) por aquele fenoacutemeno (Almeida 1972 Dehn 1990 Boaventura e Langley no

prelo) Assim suscitou-se dessa forma o imenso trabalho de inventariaccedilatildeo

sistemaacutetica do fenoacutemeno megaliacutetico peninsular materializado nos volumes dos

Megalithgraumlber o primeiro verdadeiro cataacutelogo de estruturas e espoacutelios associadas

ao Megalitismo sobretudo antas (Leisner e Leisner 1943 1951 e 1959 Leisner

1965 Leisner e Kalb 1998) hoje obra incontornaacutevel e fundamental para a

compreensatildeo da cultura material de extensas regiotildees peninsulares nomeadamente da

Estremadura

O prestiacutegio internacional granjeado pelo trabalho do casal alematildeo facilitou

tambeacutem a divulgaccedilatildeo dos resultados peninsulares e das suas interpretaccedilotildees junto de

alguns dos preacute-historiadores mais creditados da Europa nomeadamente V Gordon

Childe Glyn Daniel e Stuart Pigott (Boaventura e Langley no prelo) algo que

autores portugueses nem sempre conseguiam Exemplo disso seraacute a defesa de uma

origem ocidental e peninsular do fenoacutemeno megaliacutetico de alguma forma defendido

por J L Vasconcelos A S Rocha e Estaacutecio da Veiga (Cardoso 2002) explicaccedilatildeo

tambeacutem adiantada P Bosh Gimpera (1966) ainda que focada no noroeste peninsular

Contudo estas hipoacuteteses apenas obtecircm maior eco com a publicaccedilatildeo dos trabalhos de

Reguengos de Monsaraz desenvolvidos pelo casal Leisner (1951 e 1959) como

parece transparecer no artigo de S Piggot (1953 cit in Cardoso 2002) ou em cartas

de V Gordon Childe para o casal Leisner (Boaventura e Langey no prelo)

Simultaneamente a actividade arqueoloacutegica dos Serviccedilos Geoloacutegicos de

Portugal sofre um novo incremento apoacutes o ingresso de G Zbyszweski nos finais

dos anos 30 (Cardoso 1999-00a) Por sua iniciativa e da equipa que conseguiu

reunir nomeadamente em estreita e frutuosa colaboraccedilatildeo com O V Ferreira bem

como com um vasto leque de colaboradores (Cardoso 1999-00a 2008c e 2008d) as

actividades de prospecccedilatildeo geoloacutegica levaram agrave identificaccedilatildeo e escavaccedilatildeo de vaacuterias

centenas de siacutetios muitos deles de outra forma desaparecidos sem qualquer notiacutecia

Eacute nesse contexto quando se intensifica a mecanizaccedilatildeo da agricultura e a pressatildeo e

expansatildeo urbanas que muitos siacutetios da regiatildeo de Lisboa satildeo salvaguardados pela

escavaccedilatildeo e registo ndash mesmo que deficitaacuterio segundo padrotildees do que se podia fazer

na eacutepoca e mais ainda dos actuais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 32 de 415

A colaboraccedilatildeo entre O V Ferreira e o casal Leisner mas sobretudo com Vera

Leisner apoacutes o falecimento de Georg Leisner em 1958 (Boaventura e Langley no

prelo) contribuiacuteram para o conhecimento de alguns dos sepulcros mais emblemaacuteticos

da Estremadura nomeadamente Casaiacutenhos e Praia das Maccedilatildes (Leisner e Ferreira

1959 1961 e 1963 Leisner Zbyszweski e Ferreira 1961 e 1969 Cardoso 2002 e

2008d)

Se bem que o impacto das dataccedilotildees pelo radiocarbono abalava o meio

arqueoloacutegico europeu desde a deacutecada de 50 e sobretudo 60 em Portugal apesar de

cedo se terem realizado algumas mediccedilotildees as implicaccedilotildees reais desses resultados

apenas se tornaram evidentes durante essa uacuteltima deacutecada O V Ferreira um dos

primeiros investigadores em Portugal a promover a realizaccedilatildeo de dataccedilotildees absolutas

(Soares 2008) e que cedo se apercebeu da antiguidade dos sepulcros megaliacuteticos

aleacutem do enquadramento histoacuterico-culturalista manteve paradoxalmente uma

perspectiva histoacuterico-culturalista e indigenistadifusionista para o fenoacutemeno do

megalitismo ateacute a deacutecada de 70 buscando modelos e paralelos no sul peninsular

bem como no Egipto e outras regiotildees mediterracircnicas (veja-se por exemplo a obra de

siacutentese acerca da Preacute-Histoacuteria de Portugal - Ferreira e Leitatildeo sd)

Durante a deacutecada de 70 satildeo ainda escavados por O V Ferreira e

colaboradores (Zbyszweski et al 1977 Leitatildeo et al 1984 e 1987 Cardoso et al

1996 North Boaventura e Cardoso 2005 Cardoso 2008c) um conjunto de

sepulcros megaliacuteticos alguns directamente implicados no presente trabalho como

Pedras da Granja e Verdelha dos Ruivos

As mudanccedilas poliacuteticas de 1974 tornaram possiacutevel uma variedade abordagens

que se comeccedilavam a esboccedilar anteriormente (Gonccedilalves 1971 Arnaud e Gamito

1972 Silva e Soares 1981) Assim a deacutecada de 80 regista para aleacutem da manutenccedilatildeo

de abordagens histoacuterico-culturalistas uma adesatildeo e divulgaccedilatildeo de novas correntes de

pensamento aplicadas ao estudo do Megalitismo normalmente refutando ideias

difusionistas adoptando concepccedilotildees histoacuterico-materialistas indigenistas e

processualistas (Silva e Soares 1974-77 Silva et al 1986 Gonccedilalves 1978b

Arnaud 1978 Parreira 1990 Jorge 1990a e 1990b)

Simultaneamente eacute tambeacutem neste periacuteodo que a importacircncia da antropologia

fiacutesica para as interpretaccedilotildees arqueoloacutegicas retoma as abordagens perdidas no seacuteculo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 33 de 415

XIX e menorizadas durante o seacuteculo XX (Cunha 2000 Lubell 1988 Lubell e

Jackes 1985 Jackes e Lubell 1992) E uma vez mais surgem O V Ferreira e seus

colaboradores nomeadamente Manuel Leitatildeo como percursores dessas novidades

procurando cruzar os conhecimentos antropoloacutegicos e arqueoloacutegicos ao incentivar o

estudo da colecccedilatildeo osteoloacutegica humana de Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987) pelo

jovem mestrando Scott Rolston entre 1979 e 1980 entatildeo aluno de Angel Lawerence

(Ubleaker 1990) e um dos pioneiros junto com Douglas Ubelaker (1974) das

novas metodologias de anaacutelise antropoloacutegica do Smithsonian Institute

Finalmente nas uacuteltimas deacutecadas correntes variadas de pensamento poacutes-

processualistas originaram abordagens inovadoras valorizando por vezes aspectos

menos considerados da investigaccedilatildeo preacute-histoacuterica nomeadamente o estudos de

Geacutenero

Por outro lado tambeacutem nestes uacuteltimos anos a informaccedilatildeo disponiacutevel aumentou

exponencialmente por vezes facilitando a revisatildeo integraccedilatildeo e compreensatildeo de

dados antigos estes por vezes jaacute sem informaccedilatildeo completa dos seus contextos

originais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 34 de 415

4 Sepulcros para repouso dos mortos e dos vivos

Fig 2 Sepulcros da Estremadura e indicaccedilatildeo de siacutetios habitacionais sobretudo da regiatildeo de

Lisboa

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 35 de 415

Legenda da figura 2 Sepulcros da Estremadura e indicaccedilatildeo de siacutetios habitacionais sobretudo da regiatildeo de Lisboa

1- Grutas de Pedreira do Sobral e Vale

do Freixo 2 2- Grutas do Morgado dos Morcegos

da Nossa Senhora das Lapas dos Ossos do Cadaval e Penha da Moura

3- Grutas da Buraca das Andorinhas e do Caldeiratildeo

4- Zurrague 1 5- Buraco Roto 2 6- Cova das Lapas 7- Pragais 8- Lapa do Mouraccedilatildeo 9- Buraca da Moura da Rexaldia 10- Gruta do Cadoiccedilo 11- Grutas do Cabeccedilo da Ministra Alta

Pena Velha Mosqueiros Alta Ervideira Calatras Alta Calatras Meacutedia e Casa da Geacutenia

12- Ventas do Diabo 13- Lapa da Modeira 14- Algar do Picoto 15- Nascente do Almonda e Lapa da

Bugalheira 16- Ribeira Branca 17- Lapas 18- Gruta do Rio Seco 19- Gruta do Vale do Touro 20- Algar do Joatildeo Ramos 21- Gruta do Carvalhal de Turquel 22- Casa da Moira do Cabeccedilo de

Turquel 23- Fontes Belas 24- Gruta dos Ursos 25- Gruta das Alcobertas 26- Anta das Alcobertas 27- Raposa 28- Lugar do Canto 29- Carrascos 30- Algar dos Casais da Mureta 31- Lapa da Galinha 32- Gruta dos Casais do Arrife 33- Algar do Barratildeo 34- Marmota 35- Lapa do Saldanha 36- Ribeira de Crastos 37- Outeiro da Assenta 38- Furadouro (Amoreira de Oacutebidos) 39- Malgasta 40- Casa da Moura 41- Cesareda 42- Lapa Furada 43- Outeiro de Satildeo Mamede 44- Serra da Roupa

45- Columbeira 46- Gruta das Pulgas e Lapa do Suatildeo 47- Anta da Columbeira 48- Grutas da Senhora da Luz 1 e 2 49- Abrigo Grande das Bocas 50- Buraca da Moura 51- Furninha 52- Paimogo 1 e 2 53- Feteira 54- Vila Nova de Satildeo Pedro 55- Rochaforte 2 56- Furadouro de Rochaforte 57- Charco (Foacuternea) 58- Praganccedila 59- Salveacute Rainha 60- Algar do Bom Santo 61- Furadouro 62- Fontaiacutenhas 63- Lapa da Rainha 1 e 2 64- Ermegeira 65- Quinta das Lapas 1 e 2 66- Siacutetio dos Malhatildees 67- Ota 68- Quinta do Vale das Lajes 69- Paiol 70- Bolores 71- Abrigo da Carrasca 72- Portucheira 1 e 2 73- Foacuternea 74- Penedo 75- Charrino 76- Cova da Moura 77- Zambujal 78- Serra da Vila e Barro 79- Serra das Mutelas 80- Cabeccedilo da Arruda 1 e 3 81- Cabeccedilo da Arruda 2 82- Pedra do Ouro 83- Refugidos 84- Castelo 85- Arruda 86- Pedra Furada 87- Juromelo 88- Tituaria 89- Lameiro das Antas 90- Moinho das Antas 91- Fojo dos Morcegos 92- Antas (Sintra) 93- Samarra e Pedranta 94- Faiatildeo 95- Penedo do Lexim 96- Negrais (Fonte Figueira

Barruncheiro e Pedraceiras) 97- Carcavelos 98- Crasto de Ponte Lousa e Grutas do

Tufo e das Salamandras 99- Gruta das Salemas e povoado do

Alto da Toupeira 100- Alto da Toupeira 1 e 2 101- Casaiacutenhos 102- Lapa da Figueira 103- Monte Serves

104- Casal do Penedo e Verdelha dos Ruivos

105- Moita Ladra 106- Praia das Maccedilatildes 107- Vaacuterzea 108- Pedras da Granja 109- Lameiras 110- Folha das Barradas 111- Cortegaccedila 112- Vale de Lobos 113- Cova da Raposa 114- Olelas 115- Correio-Moacuter 116- Serra da Amoreira e Antas

(Loures) 117- Trigache 1 a 4 118- Pedras Grandes e Batalhas 119- Conchadas 120- Pedreira do Campo 121- Tojal de Vila Chatilde 1 a 4 e

Espargueira 122- Povoado e sepulcro de Bauacutetas 123- Pedra dos Mouros Estria e Monte

Abraatildeo 124- Carrascal 125- Agualva 126- Satildeo Martinho 1 e 2 127- Castanhais 128- Bela Vista 129- Monge 130- Porto Covo 131- Penha Verde 132- Leceia e Moinho da Moura 133- Monte do Castelo 134- Grutas e povoado de Carnaxide 135- Alto do Dafundo 136- Ponte da Laje 137- Antas (Oeiras) 138- Alapraia 1 a 4 139- Satildeo Pedro do Estoril 1 e 2 140- Parede 141- Murtal 142- Estoril 143- Grutas de Poccedilo Velho 144- Satildeo Paulo 1 e 2 145- Casal do Pardo 1 a 4 146- Chibanes 147- Rotura e Lapa da Rotura 148- Pena 149- Capuchos 150- Sampaio 151- Castelo de Sesimbra 152- Forte do Cavalo A e B 153- Lapa do Fumo e Pinheirinhos 1 e

2 154- Lapas do Bugio e da Furada 155- Lapa da Janela 1 Lapa 4 de Maio

e Lapa da Janela 3 156- Azoacuteia 157- Montes Claros 158- Ponta da Passadeira

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 36 de 415

41 As antas da regiatildeo de Lisboa

O nuacutemero hoje conhecido de antas na regiatildeo de Lisboa eacute limitado De facto o

seu cocircmputo ronda as duas dezenas Como jaacute foi referido atraacutes tal situaccedilatildeo poderaacute

compreender-se num territoacuterio sujeito agrave pressatildeo antroacutepica que desde a preacute-histoacuteria se

documenta mas sobretudo durante os uacuteltimos seacuteculos em que a atracccedilatildeo da capital

do reino hoje repuacuteblica conduziu a uma raacutepida ocupaccedilatildeo e alteraccedilatildeo da paisagem

No entanto julgo que esta fraca representatividade tambeacutem poderaacute ser explicada pelo

contexto sociocultural que adiante tratarei

Apesar de se poder lamentar que muitos destes siacutetios tenham sido escavados

prematuramente quando as teacutecnicas de escavaccedilatildeo ainda natildeo estavam tatildeo

desenvolvidas haacute que simultaneamente felicitar as suas intervenccedilotildees pois em

muitos casos estes sepulcros teriam desaparecido sem qualquer notiacutecia Por outro

lado a sua identificaccedilatildeo granjeou-lhes algum destaque o suficiente para alguns

serem classificados como monumentos de importacircncia cultural e daiacute protegidos o

que aconteceu de facto apesar de vicissitudes vaacuterias e peculiares sofridas

411 O cluster de Belas

O cluster de Belas eacute formado pelas antas de Pedra dos Mouros Monte Abraatildeo

e Estria cada uma classificada como Monumento Nacional pelo Decreto de

1661910 publicado no Diaacuterio do Governo nordm 136 de 23 de Junho de 1910 Eacute um

dos poucos agrupamentos deste tipo de sepulcro conhecido na regiatildeo de Lisboa (Fig

25) tendo sobrevivido ateacute agora ao tempo e aos homens mas sobretudo agrave deficiente

gestatildeo territorial e patrimonial das uacuteltimas deacutecadas o que outro autor melhor retratou

(Serratildeo 1998)

No momento em escrevo estas linhas novas investidas assombram

definitivamente este conjunto e eacute com tristeza que verifico uma certa actualidade

num texto com quase vinte anos produzido na sequecircncia de uma acccedilatildeo de

salvaguarda dos trecircs sepulcros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 37 de 415

ldquoEm 1973 um projecto de urbanizaccedilatildeo para o local felizmente natildeo

concretizado propunha mesmo que as antas servissem de centro a largos relvados

destinados ao embelezamento das construccedilotildees envolventes

Se a descontextualizaccedilatildeordquo paisagiacutestica dos monumentos natildeo se consumou

integralmente realizaram-se contudo alteraccedilotildees nefastas na sua envolvente Foram

construiacutedos edifiacutecios nas imediaccedilotildees de Pedra dos Mouros desfigurando-lhe o

enquadramento e provocando a acumulaccedilatildeo de detritos na sua aacuterea Uma pedreira

hoje inactiva parou a poucos metros da Anta de Monte Abraatildeo A Estria a uacutenica

que pela sua implantaccedilatildeo topograacutefica numa dobra do terreno (hellip) eacute regularmente

aradardquo (Marques Lourenccedilo e Ferreira 1991)

As antas de Belas foram identificadas durante os primeiros levantamentos

geoloacutegicos dos arredores de Lisboa no seacuteculo XIX conduzidos por C Ribeiro e

posteriormente exploradas e publicadas por aquele (Ribeiro 1880)

Localizam-se numa plataforma de calcaacuterios cretaacutecicos cuja altitude ronda os

200-210 metros apresentando-se aquelas bancadas ligeiramente inclinadas para

sudeste cobertas do lado sul pelo manto basaacuteltico e recortadas no extremo norte por

filotildees traquiacuteticos (Ribeiro 1880 5-6 Ramalho et al 1993 SGP 1991) Aliaacutes

segundo C Ribeiro aquelas intrusotildees contribuiacuteram para a alteraccedilatildeo localizada dos

calcaacuterios o que foi aproveitado para a implantaccedilatildeo das antas de Pedra dos Mouros e

Estria (Ribeiro 1880)

Em redor deste conjunto surgiram lendas que poucos se lembraratildeo

actualmente perdurando apenas no texto impresso A implantaccedilatildeo da capela do

Senhor da Serra ali proacutexima poderaacute ainda reflectir uma intenccedilatildeo de cristianizaccedilatildeo

(Casa Vargas e Oliveira 1998) da plataforma necropolizada

4111 Pedra dos Mouros

A anta de Pedra dos Mouros (CNS-11301) teraacute sido detectada por C Ribeiro

em 1856 provavelmente durante os trabalhos de reconhecimento geoloacutegico e

hidroloacutegico nos arredores de Lisboa (Leitatildeo 2004 Carneiro 2005) mas este soacute teraacute

tido oportunidade de proceder agrave sua exploraccedilatildeo em 1876 para a qual obteve a

autorizaccedilatildeo e o apoio do proprietaacuterio o Marquecircs de Belas (Ribeiro 1880)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 38 de 415

Entretanto no acircmbito das suas descriccedilotildees dedicadas a Lisboa e seus arrabaldes

publicadas no Archivo Pittoresco I V Barbosa (1862 e 1863) descrevia a Quinta do

referido Marquecircs referindo a estrutura posteriormente conhecida como Pedra dos

Mouros ldquoNo cimo dos montes que orlam a parte plana da quinta pelo lado oeste

avultam dois enormes penedos tatildeo singulares pelo feitio como pela disposiccedilatildeo Satildeo

duas grossas lages ponteagudas collocadas a prumo uma ao peacute da outra de modo

que fazem um acircngulo unido na base ateacute um terccedilo da altura Drsquoahi para cima

separam-se os rochedos por causa da sua foacuterma pyramidal Tem a base apenas

assente no terreno tanto aacute superficie que parecem alli dispostas por matildeos humanas

Natildeo se vecirc mais penedo algum nrsquoaquellas visinhanccedilas Seraacute isto uma curiosidade

natural ou alguma construccedilatildeo anterior aacute monarchia que ficasse incompleta ou de

que restem unicamente aquelles vestigios A tradiccedilatildeo popular pretende jaacute se sabe

que seja obra dos mouros e diz que lhes servia de atalaiardquo (Barbosa 1863 p 185)

Associada a esta descriccedilatildeo mas na paacutegina 192 da publicaccedilatildeo surge uma gravura

titulada ldquoPenedos na quinta de Bellasrdquo realccedilando a sua grande dimensatildeo face ao

indiviacuteduo posando junto dela (Fig 31 2) Contudo este autor nunca considerou esta

estrutura como anta deixando esse tiacutetulo para Adrenunes a uacutenica que conhecia na

Estremadura (Barbosa 1868) posiccedilatildeo seguida aparentemente por F Pereira da

Costa (1868)

A anta de Pedra dos Mouros situa-se ainda hoje dentro da quinta jaacute referida

hoje conhecida por Senhor da Serra numa cota de 200m um pouco acima e a cerca

de 400 metros a poente da capela do Senhor Jesus da Serra existindo contacto visual

com a anta de Monte Abraatildeo a cerca de 800 m para sul mas natildeo com a anta da

Estria apenas a 400 m para su-sudoeste (Fig 25) Na vasta plataforma cretaacutecica

assenta em particular nas bancadas do Albiano-Cenomaniano Meacutedio e Inferior com

calcaacuterios e margas do ldquoBelasianordquo (Ramalho et al 1993 SGP 1991)

Agrave data da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica o local era ainda visitado no acircmbito da

romaria das populaccedilotildees locais tradiccedilatildeo descrita por I V Barbosa que considerava

aquela ldquouma das festividades dos arrabaldes de Lisboa que maior concurso atrahem

da capital e suas visinhanccedilasrdquo (Barbosa 1862 p 291) Esta popularidade surge

referida por V Correia (1917) e eacute recordada por outros autores (Casa Vargas e

Oliveira 1998) A romaria relacionada com o Senhor Jesus da Serra realizava-se no

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 39 de 415

uacuteltimo Domingo de Agosto com ldquofeira e festa de arrayalrdquo (Barbosa 1862 p 291)

tendo terminado em 1942 quando o proprietaacuterio proibiu o acesso puacuteblico agrave capela

(Casa Vargas e Oliveira 1998 Ferreira 1963)

Acerca da anta V Correia (1917 p 185) afirmava ldquoConhece-a bem o

povinho lisboeta que vae laacute anualmente deixar-se escorregar pela sua pedra

inclinadardquo O V Ferreira (1963) especificava ainda aquela tradiccedilatildeo ldquoas moccedilas

casadas de fresco subiam ateacute ao topo da pedra tiravam as cuecas quando as

tinham sentavam-se e escorregavam ateacute agrave base na crenccedila que apoacutes este acto

podiam conceber A superfiacutecie da pedra estaacute toda gasta e polida de geraccedilotildees

sucessivas de posterioresrdquo Se dessa praacutetica natildeo haacute imagem ficou pelo menos um

registo fotograacutefico no espoacutelio da actual Quinta do Senhor da Serra de romeiros do

sexo masculino galgando e posando sobre a laje talvez em 1910 (Casa Vargas e

Oliveira 1998)

Pelo referido acima o sepulcro eacute tambeacutem conhecido por anta do Senhor da

Serra (Olho Vivo 1998 p 15) podendo a designaccedilatildeo anta da Idanha (IPPC 1986)

relacionar-se com a povoaccedilatildeo homoacutenima situada a cerca de 500 metros a oeste do

sepulcro

Entretanto V Correia (1917) dava conta da existecircncia de gravuras na face

externa do esteio maior 137 m acima do solo Estas representariam uma possiacutevel

cruz e uma figura antropomorfa que aquele autor acreditava serem preacute-histoacutericas a

primeira representando uma figura feminina e a segunda uma masculina (Fig 321)

Um dos motivos para essa antiguidade residiria na paacutetina dos sulcos da gravaccedilatildeo

questionando-se o autor se aquelas teriam sido efectuadas antes do esteio ter sido

coberto pela mamoa ou se esta nunca teria existido Durante a minha visita em 2004

verifiquei que aquelas imagens se encontram muito sumidas e sobrepostas com

outros grafitos e pinturas mais recentes Contudo creio que tais produccedilotildees poderatildeo

ter resultado da associaccedilatildeo da anta ao local de romaria Gravaccedilotildees semelhantes

parecem ter sido avistadas tambeacutem num afloramento junto a uma nascente da

Falagueira Amadora (Oliveira 1980)

C Ribeiro (1880) descrevia Pedra dos Mouros como ldquoum monumento

incompletordquo apenas com trecircs ortoacutestatos remanescentes in situ (Fig 31-32) O esteio

A encontrava-se inclinado para norte apresentando 5 metros de comprimento acima

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 40 de 415

do solo por 37 m de largura e 027 m de espessura meacutedia Este apoiava-se

parcialmente no esteio B agrave data ainda inteiro com 45 m de comprimento por 2 m

de largura e 025 m de espessura meacutedia Por sua vez o bloco B estaria encostado ao

esteio C com cerca de 4 metros de largura mas aflorando apenas a 1 metro acima do

solo pois encontrava-se partido natildeo se avistando qualquer fragmento em redor

Durante a escavaccedilatildeo encontrou ainda quatro lajes menores que considerou poderem

corresponder a fragmentos de outras maiores ou eventualmente ldquoda mesa ou chapeacuteo

que coroava o monumento se eacute que o teverdquo (Ribeiro 1880 p 6) Na sua planta

representa dois desses blocos do lado nascente

Os trecircs esteios mas provavelmente os restantes blocos tambeacutem eram de

ldquocalcareo argilloso cinzento mui durordquo em tudo semelhantes ao substrato imediato

(Ribeiro 1880 p 6) caracterizaccedilatildeo ainda hoje possiacutevel de verificar

No espoacutelio do casal Leisner natildeo foi possiacutevel localizar uma planta de pormenor

que tivesse registado as pequenas lajes mas na planta publicada (Leisner 1965 taf

53 1) pelo menos duas delas estatildeo indicadas em tudo semelhantes agraves apontadas por

C Ribeiro No conjunto de imagens desta anta eacute possiacutevel verificar que essas lajetas

do lado nascente se encontravam quase na vertical provavelmente funcionando

como cunhas do interstiacutecio Outro aspecto interessante eacute que estas fotos teratildeo sido

obtidas durante a visita agrave anta de Monte Abraatildeo em 13 de Abril de 1933 (data do

desenho entatildeo realizado) quando o esteio B de Pedra dos Mouros ainda se mantinha

inteiro (Fig 32 ALeisner Leis31 Leisner 1965 taf 143 3) O referido esteio teraacute

quebrado entre aquela data e 5 de Dezembro de 1943 quando outro apontamento do

casal alematildeo registou aquela nova situaccedilatildeo (ALeisner Leis64)

Em 2004 foi possiacutevel verificar que os elementos descritos ainda ali se

encontravam nomeadamente a laje B quebrada em trecircs (a base ainda in situ um

segmento maior e uma lacircmina menor que jaacute se notava a destacar nos fotos antigas

antes da sua queda) e as duas lajetas do lado nascente agora na horizontal (tombadas

pela cedecircncia do esteio A)

Era ainda observaacutevel a acccedilatildeo de salvaguarda desenvolvida pelo IPPC em 1986

pela mancha de brita ali depositada (Marques e Ferreira 1987 Marques Lourenccedilo e

Ferreira 1991) No entanto por causa da vegetaccedilatildeo rasteira natildeo foi possiacutevel

verificar a carapaccedila peacutetrea apontada em redor do esteio maior (Marques e Ferreira

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 41 de 415

1987) Mas a inclinaccedilatildeo do esteio A eacute bastante evidente e preocupante pois este natildeo

resistiraacute muitos mais anos agrave gravidade e ao aumento da trepidaccedilatildeo causada pelo

traacutefego rodoviaacuterio na envolvente daquela aacuterea E isso para aleacutem da destruiccedilatildeo seraacute

gravoso para futuros trabalhos que intentem esclarecer neste sepulcro algumas

questotildees pendentes

C Ribeiro pensava que a cabeceira do sepulcro seria do lado sul constituiacuteda

pelos esteios A e B (Ribeiro 1880 p 6) Se tal interpretaccedilatildeo se pode atribuir aos

poucos dados entatildeo disponiacuteveis e sistematizados resultam mais surpreendentes as

leituras realizadas posteriormente

Assim V Leisner (1965 p 70 e taf 53 1) considera o esteio A (na sua planta

o esteio C) a laje de cobertura apresentando a planta do monumento desorientada

De facto a orientaccedilatildeo do esteio C (em Leisner esteio A) alinha-se entre norte-sul

pelo que a seta do norte e a orientaccedilatildeo a noroeste teratildeo resultado de algum lapso

Entretanto O V Ferreira (1959 p 216) apontava a possibilidade do corredor

se localizar a nordeste ainda que realccedilando a necessidade de uma nova escavaccedilatildeo

para o esclarecer De facto este chegou a ter com V Leisner (1961) uma acccedilatildeo de

escavaccedilatildeo planeada para aquela zona contudo aparentemente natildeo concretizada por

doenccedila da arqueoacuteloga durante o periacuteodo implicado

Face agravequelas propostas ainda que me encontre numa posiccedilatildeo privilegiada pela

acumulaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo de dados acerca deste tipo de sepulcro megaliacutetico julgo

que o esteio C corresponderaacute agrave cabeceira do sepulcro Esta hipoacutetese baseia-se no

imbricamento do esteio B e A em sequecircncia recorrente noutros sepulcros mas

tambeacutem pela largueza do esteio C Assim eacute provaacutevel que esta anta apresentasse uma

grande cacircmara poligonal com cerca de 4 metros de largura por 4 metros de

comprimento aberta a nascente (Fig 31) sem que seja possiacutevel garantir a presenccedila

de um corredor por ora A provaacutevel orientaccedilatildeo do seu acesso a nascente torna mais

inteligiacutevel a estrutura restando todavia a necessidade de verificar esta proposta com

a escavaccedilatildeo dos quadrantes nordeste-sudeste daquele sepulcro aacutereas que a

intervenccedilatildeo original natildeo abrangeu a crer na notiacutecia de C Ribeiro (1880 p 4-6)

Algo que eacute digno de nota mas sem possibilidade maior desenvolvimento de

momento relaciona-se com o facto do esteio de cabeceira (C) e o segundo esteio

lateral (A) apresentarem as superfiacutecies interiores com icnofoacutesseis provavelmente de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 42 de 415

thalassinoacuteides Apenas o esteio B natildeo apresenta essa caracteriacutestica Esta aparente

organizaccedilatildeo surge de forma mais evidente nas outras duas antas deste cluster como

se verificaraacute noutros capiacutetulos

Segundo o geoacutelogo oitocentista a exploraccedilatildeo da anta realizou-se no espaccedilo

compreendido entre os trecircs esteios detectados com um formato trapezoidal ateacute uma

profundidade 080 m Nessa aacuterea foi possiacutevel observar que a base dos esteios

assentava no filatildeo-camada de ldquoporphyro trachyticordquo que havia reduzido a dureza

dos estratos calcaacuterios (Ribeiro 1880 p 6)

Poreacutem notava-se que o conteuacutedo do sepulcro fora jaacute revolvido sendo os

achados ldquopouco fructuososrdquo Essa impressatildeo confirmou-se com a presenccedila no fundo

da escavaccedilatildeo de uma moeda portuguesa de cinco reis de cobre datada de 1741

(paradeiro desconhecido) mas sobretudo pelas informaccedilotildees de habitantes locais

que referiram a exploraccedilatildeo daquele doacutelmen cerca de doze anos antes (1864)

recolhendo-se ali bastantes objectos Infelizmente C Ribeiro natildeo conseguiu obter

dos seus informadores maior detalhe descritivo da acccedilatildeo Assim concluiacutea que

aqueles visitantes buscavam tesouros tendo atingido todos os cantos da aacuterea

escavada Curiosamente aleacutem desse episoacutedio ocorrer por volta da data da publicaccedilatildeo

de I V Barbosa (1862 e 1863) podendo aquela notiacutecia ter suscitado alguma

cavaccedilatildeo no proacuteprio escrito referia-se que ldquohaacute bastantes annos achou-se casualmente

nrsquoesta quinta fazendo-se escavaccedilotildees uma curiosa antigualha (hellip) Era a sepultura

de Viriato capitatildeo da Lusitania segundo inscripccedilatildeo gravada em uma urna que ali

se encontrourdquo (Barbosa 1862 p 291)

Todavia contrariamente agrave opiniatildeo de C Ribeiro (1880) e de autores

posteriores (Ferreira 1959) os elementos recolhidos apesar de escassos satildeo

significativos e permitem uma compreensatildeo global do sepulcro

Os liacuteticos lascados em siacutelex (Fig 33) apresentam uma grande lacircmina

plenamente retocada (MG1722) diversas lamelas e lascas Destas uacuteltimas algumas

foram retocadas para raspadores (MG1726 e 8) e furadores (MG1724 e 21) Haacute

ainda em quartzo branco uma peccedila do uacuteltimo tipo (MG17210)

O uacutenico utensiacutelio de pedra polida resume-se a um machado com secccedilatildeo

poligonal (MG1721) mas obtido sobre rocha calcaacuteria mateacuteria pouco adequada para

um uso efectivo (Fig 33) Assim enquadrar-se-ia melhor no grupo de artefactos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 43 de 415

votivos em calcaacuterio que nesta anta contava ainda com um fragmento de uma luacutenula

com perfuraccedilotildees e incisotildees (MG17213) e um vaso globular com um sulco abaixo do

bordo hoje de difiacutecil observaccedilatildeo (MG17217)

No grupo de pedra afeiccediloada podem ser incluiacutedas trecircs peccedilas descritas por C

Ribeiro 1880 p 8 e est II 11 12 e 13) mas natildeo localizadas no Museu Geoloacutegico ndash

de facto tambeacutem o casal Leisner natildeo as regista (ALeisner Leis64) Segundo o seu

achador eram ldquoduas espheras de calcareo uma com seis outra com quatro e meio

centiacutemetros de diacircmetro tendo a maior drsquoellas uma pequena cavidade (hellip) aberta

intencionalmente (hellip) mas natildeo penetrou aleacutem de alguns millimetrosrdquo e ldquoum martello

formado de rocha feldspathica de cocircr trigueira avermelhada (hellip) deixando ver na

sua superfiacutecie claros vestiacutegios de trabalho de trituraccedilatildeo em que foi principalmente

empregadordquo (Ribeiro 1880 p 8) Portanto duas esferas talvez pedras para funda

segundo o autor e um percutor

Entre os fragmentos ceracircmicos encontrados todos ldquosem vestiacutegios de ornatosrdquo o

geoacutelogo apenas destacava o vaso globular quase inteiro (MG17218) tambeacutem o

uacutenico actualmente na colecccedilatildeo de Pedra dos Mouros (Fig 33)

O material osteoloacutegico segundo o escavador resumiu-se a ldquoalguns fragmentos

de tibias de costellas peccedilas de craneos etc todos muito deterioradosrdquo (Ribeiro

1880 p 8) destacando alguns fragmentos de mandiacutebula sobretudo de adultos

baseando-se para tal no desgaste dos dentes nomeadamente dos caninos e molares

que apresentavam a ldquocorocirca gasta horisontalmenterdquo (Ribeiro 1880 p 8) Esta fraca

preservaccedilatildeo ter-se-aacute devido agraves mexidas anteriores mas o proacuteprio substrato rochoso

filoniano com uma componente mais aacutecida tambeacutem poderaacute ter agravado a sua

conservaccedilatildeo o que foi possiacutevel verificar durante o seu estudo Aleacutem dos restos

humanos tambeacutem foram recolhidos alguns elementos fauniacutesticos provavelmente de

ldquoruminantesrdquo (Ribeiro 1880 p 8)

Aleacutem dos materiais referidos V Leisner apresentava ainda um seixo ovalado e

achatado provavelmente de rocha basaacuteltica com um lascamento acidental

(MG17219 Leisner 1965 taf 53 2) A marcaccedilatildeo jaacute em 1944 referia-se a ldquoPedra

dos Mouros nordm 25rdquo (ALeisner Leis64) mas esta peccedila natildeo corresponde a nenhuma

das referidas por C Ribeiro (1880) ainda que se possa admitir a sua pertenccedila ao

sepulcro Outro objecto apresentado interpretado como cabo de instrumento com

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 44 de 415

uma coloraccedilatildeo inusitada bastante esbranquiccedilada (MG17211 Leisner 1965 taf 53

3) corresponde a uma diaacutefise de feacutemur humano ainda que os restantes elementos

oacutesseos natildeo apresentem aquela qualidade de preservaccedilatildeo

Actualmente consta ainda da colecccedilatildeo deste siacutetio um pendente em pedra verde

(MG17216) natildeo referido por C Ribeiro (1880) ou V Leisner (1965) pelo que eacute

considerado sob reserva

Nos anos 60 Luiacutes Almeida um entusiasta local pelas coisas do patrimoacutenio da

entatildeo freguesia da Amadora recolheu na aacuterea da cacircmara alguns fragmentos de

ceracircmica dentes e um pente em osso (Oliveira 1980) Tendo a oportunidade de

observar apenas a referida peccedila de osso ainda no Gabinete de Arqueologia da

Cacircmara Municipal da Amadora esta natildeo me pareceu atribuiacutevel a eacutepocas preacute-

histoacutericas podendo ter resultado da visita de algum romeiro romeira que visitou o

siacutetio e a perdeu

Perante o exposto e mesmo com um conjunto limitado por espoliaccedilotildees

anteriores julgo que eacute possiacutevel vislumbrar uma utilizaccedilatildeo inicial desta anta nos

uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane provavelmente intensificada na primeira metade

deste uacuteltimo o que parece denotado pela presenccedila de vaacuterios elementos votivos em

calcaacuterio A dataccedilatildeo absoluta Beta-228582 obtida sobre uma mandiacutebula humana de

adulto jovem entre 2910-2630 cal BCE parece confirmar esta impressatildeo (Anexo 3

Quadro 22)

Eacute de realccedilar a aparente ausecircncia de geomeacutetricos e de utensiacutelios em pedra polida

e no espectro cronoloacutegico oposto tambeacutem de ceracircmicas campaniformes

A actividade de romaria atraacutes mencionada talvez se relacione com a segunda

data obtida (Beta-228581) sobre uma falange de Bos (MG17240) recolhida com

outras faunas por C Ribeiro (1880) situada entre cal CE 1480-1960 (com 854 de

probabilidade restringe-se a cal CE 1480-1680)

4112 A ldquoanta de Belasrdquo

No Museu Nacional de Arqueologia existe um conjunto de materiais com a

designaccedilatildeo de ldquoAnta de Belasrdquo que na opiniatildeo de V Leisner (1965 p 77) poderia

corresponder a espoacutelio exumado na anta de Pedra dos Mouros (Fig 33) eacute constituiacutedo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 45 de 415

por duas lacircminas em siacutelex MNA5095) uma delas ainda inteira e bem retocada

(MNA5094) uma grande ponta com retoque bifacial tambeacutem em siacutelex (MNA5096)

trecircs artefactos votivos concretamente dois cilindros de calcaacuterio (MNA5089 e

5100B) e um iacutedolo-placa em xisto (MNA5092) um aparente machado em basalto

(MNA5088) cuja mateacuteria-prima natildeo teria utilidade efectiva duas contas discoacuteides

em pedra verde (MNA5097-5098) um vaso ciliacutendrico decorado em osso

(MNA5093) e um fragmento de outro liso em ceracircmica (MNA9846785) e ainda

outros troccedilos amorfos da mesma mateacuteria Poreacutem a taccedila apresentada como ldquoAnta de

Belasrdquo (MNA5106 Leisner 1965 p 11) pertence segundo a ficha de inventaacuterio e

as dimensotildees ali referidas a espoacutelio recolhido em Santareacutem (Vale de Figueira

Alpompeacute) Tambeacutem a taccedila MNA9846781 e o fragmento de iacutedolo ciliacutendrico

MNA5100C pertencem agrave anta da Arruda (Capiacutetulo 417)

Finalmente A Simotildees (1878) refere e apresenta alguns artefactos da ldquoAnta de

Bellasrdquo correspondendo a algumas das peccedilas listadas acima nomeadamente uma

das contas de colar a de ldquocalcareordquo (MNA5097 Simotildees 1878 p 55-56 fig 36) o

iacutedolo-placa (MNA5092 Simotildees 1878 p 52) e o vaso ciliacutendrico decorado em osso

(MNA5093 Simotildees 1878 p 51 e fig 30) No entanto menciona outras peccedilas de

que se desconhece o seu paradeiro hoje nomeadamente duas contas de colar em

xisto (Simotildees 1878 p 55-56 e fig 37) e pelo menos uma ponta de seta com base

cocircncava (Simotildees 1878 p 41 e fig 13)

A hipoacutetese dos artefactos da ldquoAnta de Belasrdquo provirem da anta de Pedra dos

Mouros eacute plausiacutevel se forem ponderadas algumas informaccedilotildees

V Leisner (1965 p 77) refere papeacuteis de J L Vasconcelos atribuindo aqueles

materiais a ldquoexploraccedilatildeo e roacutetulos de Pereira da Costardquo De facto nas fichas de

inventaacuterio do MNA poacutes-J L Vasconcelos (nordms 5008 a 5100C e alguns coacutedigos de

1984) bem como naquelas produzidas anteriormente por este arqueoacutelogo (receacutem-

descobertas nos fundos do Museu com os nuacutemeros de inventaacuterio natildeo sequenciais

entre 3865 e 3904) constam materiais atribuiacutedos agrave ldquoAnta de Belasrdquo (note-se no

singular) com roacutetulos de Pereira da Costa provenientes da Escola Politeacutecnica

(Lisboa) e que A Simotildees (1878) tambeacutem atribui ao Museu daquela instituiccedilatildeo Ora

sabe-se que parte dos materiais recolhidos pela primeira Comissatildeo Geoloacutegica

inclusive colecccedilotildees preacute-histoacutericas entre as quais poderiam encontrar-se algumas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 46 de 415

peccedilas desta anta foi sequestrada em 1868 por aquele paleontoacutelogo no Museu da

Escola Politeacutecnica na sequecircncia de disputa acesa com C Ribeiro e Nery Delgado

(Leitatildeo 2004 Carneiro 2005) Por outro lado depois daquela data teraacute ainda

adquirido outras peccedilas conforme atribuiccedilatildeo legal (Leitatildeo 2004)

Algo que importa recordar eacute que as marcaccedilotildees antigas nas peccedilas e as proacuteprias

fichas natildeo correspondem a uma numeraccedilatildeo sequencial talvez correspondendo a

aquisiccedilatildeo de peccedilas em momentos diferentes o que poderia tambeacutem explicar porque

A Simotildees (1878) natildeo menciona outras peccedilas de Belas especificamente os artefactos

em calcaacuterio

Aleacutem dos objectos jaacute mencionados J L Vasconcelos (1895 p 21) daacute conta de

outros dois na ldquoCollecccedilatildeo Ethnographica do Sr M Azuagardquo ldquo(hellip) provenientes dos

megalithos de Bellasrdquo (neste caso no plural) um fragmento de lacircmina e um pedaccedilo

de beacutetilo afuselado com incisotildees representados na publicaccedilatildeo em moldura da eacutepoca

Considerando que a anta de Pedra dos Mouros tambeacutem conhecida por Senhor

da Serra se situava dentro da quinta do Marquecircs de Belas junto agrave aldeia homoacutenima

eacute plausiacutevel que aquela tambeacutem fosse reconhecida como ldquoAnta de Belasrdquo sobretudo

por visitantes exteriores agrave povoaccedilatildeo O tiacutetulo atribuiacutedo a esta anta ldquoPenedos na

quinta de Bellasrdquo (Barbosa 1863 p 192) tambeacutem poderaacute reforccedilar essa impressatildeo

Por outro lado as exploraccedilotildees anteriores naquela anta referidas por C Ribeiro

teratildeo sido acccedilotildees de curiosos e caccediladores de tesouros cujas peccedilas acabavam

vendidas a interessados o que poderia ter acontecido com aquelas da colecccedilatildeo de F

Pereira da Costa investigador interessado nos objectos mas avesso ao trabalho de

campo (Leitatildeo 2004) Aliaacutes pelo menos ateacute agrave preparaccedilatildeo da sua obra acerca das

antas de Portugal (Costa 1868) este parecia desconhecer em concreto os sepulcros

da Estremadura listando apenas o siacutetio de Adrenunes como possiacutevel anta na serra de

Sintra a partir da informaccedilatildeo de I V Barbosa lamentando natildeo ter encontrado a

bibliografia referida por este bem como a sua posiccedilatildeo natildeo lhe permitira ainda visitar

aquele e outros monumentos de que tinha notiacutecia mas que daria conta quando o

fizesse (Costa 1868 p 94-95) Isto depois da intervenccedilatildeo infrutiacutefera de J P Silva

naquele siacutetio (cit in Martins 2003 p 237) Claro estaacute muito uacutetil seria se fosse

encontrada documentaccedilatildeo esclarecendo cabalmente a intervenccedilatildeo do paleontoacutelogo na

recepccedilatildeo dos materiais da ldquoAnta de Belasrdquo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 47 de 415

Finalmente poderia colocar-se a hipoacutetese de as peccedilas resultarem das vaacuterias

antas de Belas nomeadamente Estria e Monte Abraatildeo esta uacuteltima tambeacutem situada

dentro da referida quinta do Marquecircs de Belas No entanto o reduzido grau de

revolvimento do espoacutelio recolhido na uacuteltima causa a impressatildeo de que tal natildeo teraacute

ali ocorrido com intensidade Por outro lado a anta da Estria apesar de segundo C

Ribeiro 1880 p 64) apresentar-se espoliada situava-se fora da quinta na

ldquopropriedade do Sr Abreu da Casa da Estriardquo (segundo etiqueta colada em osso

humano ndash MG71940) sendo reconhecida por tal topoacutenimo

E no entanto independentemente da comprovaccedilatildeo de uma origem especiacutefica

abordada atraacutes a atribuiccedilatildeo crono-cultural de tais objectos (beacutetilos em calcaacuterio

iacutedolo-placa vaso ciliacutendrico em osso etc) seria perfeitamente plausiacutevel com os jaacute

mencionados acima encontrados na anta de Pedra dos Mouros mas tambeacutem com

aqueles das restantes antas de Belas como se veraacute seguidamente

4113 Monte Abraatildeo

A anta de Monte Abraatildeo (CNS-655) da Pedra do Monte Abraatildeo (Ribeiro

1880) ou do Alto de Monte Abraatildeo (Simotildees 1878 etiqueta da peccedila MG178242)

teraacute sido provavelmente detectada por C Ribeiro (1880) tal como a antecedente em

meados do seacuteculo XIX mas a sua escavaccedilatildeo soacute teraacute ocorrido anos depois pelo

menos em diversos momentos a crer nas etiquetas coladas em alguns materiais em

Fevereiro de 1875 (121875 ndash MG178242 821875 - MG1782 e 56) Maio e

Junho de 1877 (2051877 ndash MG178240 e 243 3161877 ndash 178215) e Setembro de

1878 (791878 - MG178186 e 187) este uacuteltimo ano talvez dedicado agrave crivagem de

terras da escavaccedilatildeo pois os dentes soltos satildeo as peccedilas que apresentam esta data com

a menccedilatildeo a ldquoterra joeiradardquo (MG178186 187 194 etc)

A designaccedilatildeo da anta parece denunciar uma tentativa de explicaccedilatildeo daquela

estrutura ou do conjunto de trecircs estruturas pelas populaccedilotildees locais sobretudo por se

localizar no cimo da plataforma e simultaneamente no sopeacute da chamineacute basaacuteltica

hoje denominada com o mesmo topoacutenimo (Fig 34)

Situado na cota 213 m o doacutelmen de Monte Abraatildeo apresenta a implantaccedilatildeo

mais elevada no conjunto dos trecircs sepulcros Dali avista e eacute avistado pela anta de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 48 de 415

Pedra dos Mouros a cerca de 800 m para norte mas com a anta de Estria apesar

desta distar apenas 300m para nor-noroeste natildeo tem dela qualquer contacto visual

Segundo C Ribeiro (1880 p 9) Monte Abraatildeo era o mais bem conservado de

todos ldquoos megalithos (hellip) nas visinhanccedilas de Bellasrdquo com uma orientaccedilatildeo oeste-

este apresentando um estilo diferente de Pedra dos Mouros que apontava de acordo

com o geoacutelogo para norte (Fig 34) O sepulcro foi implantado na bancada de

calcaacuterios duros do Cenomaniano superior (Ribeiro 1880 p 5-6 Ramalho et al

1993 SGP 1991) encontrando-se parcialmente coberta por uma capa de argila

ldquovermelho-sanguiacuteneardquo nalguns pontos atingindo a espessura de 060 m resultante da

degradaccedilatildeo do manto basaacuteltico situado a poucos metros para sul Para a sua

implantaccedilatildeo o recinto foi escavado bem como os alveacuteolos dos ortoacutestatos admitindo

o autor o uso do fogo para a quebra e desagregaccedilatildeo de algumas partes do substrato

No entanto as lajes utilizadas na construccedilatildeo do edifiacutecio foram sacadas a algumas

centenas de metros para norte na bancada subjacente que permitiu a obtenccedilatildeo de

blocos regulares ainda que bastante rugosos

O sepulcro apresentava uma cacircmara constituiacuteda pelo menos por 6 ortoacutestatos

(A-F) cujo maior deles era o esteio de cabeceira sobre o qual assentava ainda

parcialmente a laje de cobertura (Fig 34 e 36) O esteio principal surgia ainda

reforccedilado pela face interna por uma laje em cutelo e um anel peacutetreo pelo exterior

que se estenderia aos restantes ortoacutestatos C Ribeiro apontava ainda trecircs esteios (H I

e J) alinhados no lado sul do corredor aparentemente ainda in situ (Ribeiro 1880 p

9-11 Leisner 1965 taf 54) descrevendo no lado norte aleacutem de uma pequena laje

em cutelo K (G em Ribeiro 1880) um alinhamento de pedras orientado a este por

vezes na vertical por uma extensatildeo de 3 a 4 metros provavelmente calccedilos dos

esteios entretanto desaparecidos A restante extensatildeo do corredor foi presumida pelos

achados e por uma concentraccedilatildeo de seixos fluviais em quartzito basalto e calcaacuterio

sob a qual ainda se encontraram restos oacutesseos No entanto estes seixos tambeacutem

parecem ter surgido por toda a aacuterea da anta sobretudo na camada superficial talvez

um vestiacutegio do manto tumular Aliaacutes tal realidade jaacute natildeo deveria evidenciar-se pois

natildeo foi digna de nota por C Ribeiro

A planta realizada pelo casal Leisner durante a sua visita em 13 de Abril de

1933 refinada em 1944 e publicada posteriormente (Fig 36 ALeisner Leis64

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 49 de 415

Leisner 1965 taf 54) registava apenas os elementos da cacircmara e possivelmente o

bloco H do corredor ainda que na planta de 1933 surgissem desenhadas trecircs pedras

alinhadas no lado norte do corredor pressupondo-se que os restantes teriam

desaparecido ou encontravam-se cobertos No conjunto de fotos obtidas pelos

arqueoacutelogos (provavelmente de 1933) mostra-se a aacuterea em redor da anta com seara

plantada ateacute junto dos esteios da cacircmara passando a oeste proacuteximo do esteio de

cabeceira um caminho orientado norte-sul (Fig 35 ALeisner CF16996-16998)

Contudo ao observar todas as imagens disponiacuteveis mas sobretudo duas (ALeisner

CF4512 e CF16996) verifica-se que o esteio I ainda subsistia natildeo se

compreendendo porque tal natildeo foi registado No caso do esteio D este encontrava-

se tal como ainda hoje quase na horizontal talvez pressionado para fora pelo

resvalar do chapeacuteu em dado momento apoacutes a escavaccedilatildeo de C Ribeiro

Actualmente verifica-se a sobrevivecircncia dos mesmos elementos peacutetreos mais

deteriorados e partidos jaacute natildeo se avistando o bloco H (o esteio B estaacute quebrado e

caiacutedo para dentro da cacircmara e o chapeacuteu (G) apresenta uma fractura longitudinal que

em breve claudicaraacute) No entanto ainda eacute possiacutevel observar a depressatildeo do corredor

e a cacircmara parcialmente preenchidas com gravilha ali colocada durante os trabalhos

de salvaguarda realizados em 1986 (Marques e Ferreira 1987 Marques Lourenccedilo e

Ferreira 1991) Aliaacutes o pilar ali entatildeo construiacutedo sob a laje de cobertura tem

atrasado a sua previsiacutevel quebra total

Cruzando a informaccedilatildeo disponibilizada por C Ribeiro com a do casal Leisner

eacute possiacutevel ter uma ideia das dimensotildees gerais do edifiacutecio a cacircmara teria cerca de

280 por 4 metros (36 m para C Ribeiro) o corredor prolongar-se-ia por 8 metros

com uma largura meacutedia de 2 m segundo Ribeiro (1880) ainda que os elementos

peacutetreos tivessem sido detectados apenas nos primeiros 4 metros o chapeacuteu

apresentava cerca de 44 m por 32 m O esteio de cabeceira teria cerca de 3 metros

de altura a partir do solo antes da escavaccedilatildeo (4 metros no total) por 210 m de

largura surgindo os restantes por se encontrarem partidos com alturas mais

reduzidas mas com larguras aproximadas B e F ndash 1 m C ndash 130 m E ndash 14 m D ndash

15 m A excepccedilatildeo eacute o esteio D que aparenta estar inteiro mas tombado com um

comprimento rondando os 350 m muito aproximado do esteio de cabeceira (Fig

34)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 50 de 415

Como jaacute ocorrera com a leitura de Pedra dos Mouros C Ribeiro natildeo teraacute

compreendido totalmente a estrutura de Monte Abraatildeo Assim interpretava a laje G

natildeo como a tampa da anta mas como apenas um dos esteios propositadamente

inclinado e sustido pelo esteio D considerando que aquele sepulcro natildeo fora

desenhado para receber uma laje de cobertura distinguindo-se por isso dos outros

sepulcros da regiatildeo (Ribeiro 1880 p 12) Dado o percurso cientiacutefico de excelecircncia

deste geoacutelogo tais considerandos dever-se-iam sobretudo agrave precocidade das suas

investigaccedilotildees naquele tipo de realidade sepulcral

Face ao exposto eacute possiacutevel verificar que esta anta apresentava uma cacircmara

poligonal de que restavamrestam apenas 6 esteios mas teria provavelmente um

seacutetimo do lado norte (Fig 34) Para nascente da cacircmara prolongava-se um corredor

ortostaacutetico pelo menos com 4 metros de comprimento seguido por uma parte

vestibular que se iniciava num aacutetrio com a concentraccedilatildeo de seixos Contudo a

largura de 2 metros daquela passagem deve ser encarada com reserva pois foi

calculada pela mancha de achados e natildeo entre esteios eou eventuais alveacuteolos destes

ndash parece mais provaacutevel a distacircncia entre o esteio H-I e a pequena laje K balizando

um corredor com cerca de 120 m de largura (o que soacute uma re-escavaccedilatildeo poderia

talvez esclarecer) A evidecircncia de um provaacutevel tumulus natildeo foi comprovada pois

natildeo se realizou qualquer sondagem com esse fim sendo apenas possiacutevel assegurar a

existecircncia de um anel peacutetreo no exterior e encostado aos esteios

No acircmbito da cacircmara apesar de incompleta foi possiacutevel verificar que o esteio

de cabeceira (A) com superfiacutecies rugosas e alveolares foi ladeado por duas lajes (B e

F) em que as suas faces com icnofoacutesseis provavelmente de thalassinoides foram

viradas para dentro Por sua vez nos esteios seguintes (C e E) as faces com estes

foacutesseis ficaram viradas para fora (Fig 35) Do provaacutevel par de esteios seguintes

apenas eacute possiacutevel verificar que as faces do esteio D do lado sul natildeo apresentam este

tipo de foacutessil ainda que a observaccedilatildeo da superfiacutecie exterior seja condicionada

porque a laje se encontra caiacuteda sobre o solo ndash de qualquer forma esta laje assemelha-

se aos esteios de cabeceira e de cobertura Finalmente desconhece-se o paradeiro do

provaacutevel esteio do lado norte Apesar desta lacuna julgo que o efeito destes foacutesseis

entrelaccedilados poderaacute ter provocado alguma reacccedilatildeo esteacutetica ou mesmo maacutegico-

religiosa tendo os construtores da anta optado por uma disposiccedilatildeo simeacutetrica das

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 51 de 415

faces dos ortoacutestatos Soluccedilatildeo semelhante parece ter ocorrido tambeacutem na anta da

Estria que analisarei adiante

Apesar de reconhecer que o sepulcro pudesse ter sido devassado e remexido

anteriormente C Ribeiro tambeacutem anotava que ldquoos exploradores deixaram ali os

objectos de arte que encontraram por natildeo lhes comprehenderem o valor ou por natildeo

terem encontrado entre elles coisa alguma que lhes dispertasse a cubiccedilardquo (Ribeiro

1880 p 13) de alguma forma contradizendo os motivos para o reduzido espoacutelio da

anta de Pedra dos Mouros

A escavaccedilatildeo foi iniciada pela aacuterea da cacircmara avanccedilando depois pela galeria

ldquoE agrave medida que a terra ia sendo arregaccedilada tomava-se nota da posiccedilatildeo em que

iam sendo encontrados os objectos mais importantes e depois era catada com

cuidado Em seguida estas mesmas terras depois de bem seccas foram joeiradas

conseguindo-se assim um grande augmento na colheita dos objectos havidos nrsquoeste

dolmenrdquo (Ribeiro 1880 p 13) Contudo tal tarefa de crivagem de terras soacute teraacute sido

realizada ou pelo menos concluiacuteda quase trecircs anos apoacutes o iniacutecio da intervenccedilatildeo

como se mencionou supra

Infelizmente do cuidado no registo da proveniecircncia dos achados apenas eacute

possiacutevel obter algumas informaccedilotildees na publicaccedilatildeo pois desconhece-se o paradeiro

do caderno de campo o qual poderia conter mais detalhes Mas da listagem do

espoacutelio recolhido que foi reavaliado no Museu Geoloacutegico eacute possiacutevel notar a sua

abundacircncia

Uma primeira verificaccedilatildeo de C Ribeiro (1880 p 12) foi a localizaccedilatildeo da

maioria das ossadas do lado sul o que parece somente coincidir com o lado do

sepulcro melhor preservado A excepccedilatildeo ocorreu apenas junto ao esteio K elemento

que reforccedila a hipoacutetese de um maior estreitamento do corredor (Fig 34 e 36)

Os achados localizaacuteveis de forma aproximada estatildeo concentrados nas mesmas

aacutereas que as ossadas humanas Analisando a sua dispersatildeo e tipo natildeo se nota

nenhuma disposiccedilatildeo inusitada o que tambeacutem soacute seria pertinente com a localizaccedilatildeo

integral dos objectos Eacute no entanto possiacutevel verificar que o iacutedolo-placa (MG17820)

foi recolhido proacuteximo do esteio D na entrada da cacircmara Uma concentraccedilatildeo de

vaacuterios artefactos junto agrave pedra K foi realccedilada por C Ribeiro apontando ali para

aleacutem de ossadas humanas dois iacutedolos afuselados (um deles o MG17810) um punhal

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 52 de 415

(MG1786) lacircminas (MG17863 e 64) o iacutedolo almeriense (MG17824) e vaacuterias

pontas de seta

O espoacutelio recolhido por C Ribeiro destaca-se dos conjuntos recolhidos noutras

antas da regiatildeo de Lisboa pela abundacircncia de alguns elementos sobretudo liacuteticos

(fig 36-43)

Entre os produtos alongados haacute cerca de 14 peccedilas que poderatildeo ser incluiacutedas no

grupo das lamelas oito das quais com retoques Com excepccedilatildeo de trecircs lamelas em

quartzo hialino (MG178156 160 e 161) natildeo retocadas as restantes satildeo de siacutelex

Ainda que sem uma relaccedilatildeo directa evidenciada por remontagem registam-se trecircs

pequenos nuacutecleos de lamelas (MG17884 86 e 87) no mesmo tipo de quartzo

Outras 35 peccedilas enquadram-se no grupo de lacircminas retocadas algumas delas de

tamanho consideraacutevel e extensivamente trabalhadas Algo que importa ressalvar eacute a

quase inexistecircncia de lacircminas de pequena dimensatildeo neste conjunto

A classe dos geomeacutetricos limita-se a um provaacutevel pequeno trapeacutezio em siacutelex

curiosamente desenhado pelo casal Leisner mas posteriormente natildeo incluiacutedo e

apenas referido (Fig 4013 MG1784856 ALeisner Leis64 Leisner 1965 p 75)

Apesar de subrepresentado nas ilustraccedilotildees de V Leisner (1965) ainda que as

refira regista-se um conjunto de lascas retocadas algumas agrupadas no acircmbito dos

raspadores Estes satildeo de siacutelex excepto um obtido de um prisma de quartzo

(MG17846189) Para aleacutem de um dos nuacutecleos de lamelas trabalhado

posteriormente para obtenccedilatildeo de uma extremidade apontada (MG17886) a presenccedila

de furadores e peccedilas afins natildeo foi detectada

As pontas de seta todas em siacutelex satildeo o artefacto mais representado

totalizando cerca de 77 peccedilas nuacutemero semelhante ao apresentado por S Forenbaher

(1999) e aproximado agraves ldquonatildeo menos de 80 pontas de setta de diferentes typosrdquo

enunciadas por C Ribeiro (1880 p 32) Genericamente 66 peccedilas apresentam bases

convexas e apenas 11 a base recta ou cocircncava resultados aproximados aos referidos

por V Leisner (1965) e S Forenbaher (1999) Aleacutem dos artefactos claramente

classificados como pontas de projeacutectil existem ainda algumas peccedilas que se poderatildeo

enquadrar como esboccedilos (nomeadamente MG178155 88 MA57 MA165 MA168

e MA174)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 53 de 415

O retoque bifacial aplicado na produccedilatildeo das pontas de seta foi tambeacutem a

teacutecnica utilizada nas grandes pontas bifaciais designadamente os provaacuteveis punhal

(MG1786) e a alabarda (MG1785) ambos em siacutelex recolhidos na anta A uacuteltima

peccedila apresentava ainda um polimento posterior aos levantamentos

O tipo ldquolacircmina ovoacuteiderdquo tambeacutem obtido pelo retoque bifacial natildeo foi registado

nesta anta apesar de algumas lacircminas apresentarem pontualmente um trabalho

similar

No Museu Geoloacutegico aleacutem dos objectos exumados por C Ribeiro encontra-se

ainda um conjunto de lascas retocadas (MG178184) cuja etiqueta indica ldquojunto ao

dolmen do Monte Abraatildeo (Belas) Col M Alves Costardquo A abreviatura Col poderaacute

relacionar-se com ldquocolecccedilatildeordquo ou com maior probabilidade referindo-se ao colector

que recolheu os materiais Infelizmente natildeo foi possiacutevel obter mais informaccedilotildees

acerca deste conjunto nem do nome associado excepto que existe outro grupo de

peccedilas proveniente da anta da Estria com a mesma denominaccedilatildeo Apesar de natildeo ter

localizado o nome em questatildeo no inventaacuterio que foi possiacutevel localizar dos

funcionaacuterios das pioneiras comissotildees geoloacutegicas surge referido o nome dos

colectores Joatildeo Alves e Joaquim Alves (Carneiro 2005 p 149 163 e 183)

Sabendo-se que por vezes estes funcionaacuterios eram admitidos graccedilas agrave ldquocunhardquo e aos

laccedilos familiares de pessoas jaacute ao serviccedilo (Carneiro 2005 p 183) eacute possiacutevel que M

Alves Costa fosse um desses colectores que recolheu materiais nas antas

mencionadas

O grupo de instrumentos de pedra polida eacute deveras limitado quando

comparado com conjuntos de outras antas mas sobretudo face agrave abundacircncia de pedra

lascada situaccedilatildeo anotada por C Ribeiro (1880 p 19) Outro aspecto que tambeacutem

parece acentuar essa limitaccedilatildeo eacute o nuacutemero de instrumentos que possivelmente teratildeo

sido funcionais Assim regista-se apenas um machado de secccedilatildeo circular em

anfibolito (MG1781 Leisner 1965 taf 54 4) um machado ou enxoacute em xisto

argiloso (MG1783 Leisner 1965 taf 54 6) um pequeno machado de duplo gume

() em fibrolite (MG1784 Leisner 1965 taf 54 18) e uma peccedila com algumas das

caracteriacutesticas de machado mas com o gume boleado (MG1782 Leisner 1965 taf

54 5) talvez por ter servido como alisador de curtumes

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 54 de 415

V Leisner classifica ainda dois blocos basaacutelticos proveninetes do aacutetrio como

possiacuteveis ldquoinstrumentos polidosrdquo (MG17894 e 93 Leisner 1965 taf 54 11 e 3)

sobretudo o segundo pela vaga silhueta e um certo polimento no que seria o gume A

primeira peccedila contrariamente agrave ilustraccedilatildeo natildeo apresenta sinais de afeiccediloamento ou

polimento (Fig 42 1 e 7)

Menos controversa eacute a identificaccedilatildeo da peccedila em calcaacuterio conquiacutefero

representando uma aparente lacircmina de machado ou enxoacute (MG1787 Leisner 1965

taf 55 21) De facto jaacute C Ribeiro reconhecia essa tipologia no artefacto mas

tambeacutem que a mateacuteria-prima era inadequada para uma funccedilatildeo real pelo que admitia

que aquele ldquotivesse sido preparado para servir de insiacutegnia ou de distinctivordquo

(Ribeiro 1880 p 41)

Haacute ainda uma outra peccedila polida em calcaacuterio (MG1788 Leisner 1965 taf 54

1) desenhada por C Ribeiro (1880 fig 44) mas que provavelmente por lapso natildeo

a descreveu ainda que surja no acircmbito das ldquoclavas ou massas de guerrardquo (Ribeiro

1880 p 38-41) Pela sua morfologia com uma secccedilatildeo poligonal bem marcada e a

sugestatildeo de um gume esta peccedila parece tambeacutem evocar uma grande lacircmina de

machado ou enxoacute

Dentro do grupo de artefactos polidos mas de claro cariz ideoteacutecnico surgem

pelo menos 8 peccedilas de calcaacuterio e uma em calcite (MG17817) normalmente descritas

como iacutedolos Os seus formatos permitem classificaacute-las em dois grupos geneacutericos os

iacutedolos ciliacutendricos (MG178151718 e 19) sem qualquer tipo de gravaccedilatildeo e os

afuselados com secccedilatildeo plano-convexa (MG178101116 50 e 72) alguns destes

uacuteltimos apresentando sulcos circundantes nas aacutereas extremas (MG17811 16 e 72)

Apesar da mateacuteria-prima geneacuterica ser o calcaacuterio entre os artefactos afuselados um

deles eacute tatildeo silicioso que poderia ser classificado como siacutelex (MG17850) enquanto o

outro parece corresponder a um calcaacuterio cristalino (MG17810)

Poderia tambeacutem remeter-se pela tipologia aproximada ao grupo dos iacutedolos a

peccedila MG1789 em basalto entatildeo incluiacuteda por C Ribeiro (1880) juntamente com as

peccedilas anteriores no grupo das ldquoclavas e massasrdquo e cuja classificaccedilatildeo foi mantida por

V Leisner (1965 p 74 e taf 54 2) Contudo o seu formato em ldquogotardquo ainda com

evidecircncia da picotagem em quase toda a superfiacutecie apresenta uma das superfiacutecies

com polimento parecendo ter resultado da acccedilatildeo de moagem Outras duas peccedilas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 55 de 415

apresentadas por V Leisner (1965 taf 54 14 e 16 MG17839 e 48) ainda que

fragmentadas e de menores dimensotildees tambeacutem mostram sinais de abrasatildeo e

aparentam ter tido um formato oblongo Perante estas caracteriacutesticas julgo que estas

trecircs peccedilas poderiam enquadrar-se num conjunto de pequenos alisadores ou paletas

portaacuteteis lembrando outra peccedila recolhida na anta de Casal do Penedo (Leisner 1965

taf 14 2) Ali tambeacutem se encontrou de facto uma peccedila mais claramente

classificaacutevel como paleta (Leisner 1965 taf 14 4) Aliaacutes em Monte Abraatildeo foi

ainda recolhida uma outra placa em arenito (MG17876) que poderaacute ter cumprido

essa mesma funccedilatildeo Outros dois elementos de moacute ambos em granito um dormente

(MG178183) e outro movente (MG17879) encontram-se no espoacutelio desta anta

Finalmente no conjunto de artefactos em calcaacuterio recolheu-se ainda uma

pequena taccedila com fundo espesso (MG17826 Leisner 1965 taf 58 14) talvez para

utilizaccedilatildeo como almofariz

No acircmbito dos artefactos classificaacuteveis como iacutedolos regista-se ainda uma placa

completa do tipo claacutessico (MG17820 Leisner 1965 taf 56 101) em xisto bem

como o fragmento de outra reutilizado como eventual pingente (MG17821 Leisner

1965 taf 56 100) parecendo imitar um utensiacutelio de corte Em osso encontrou-se

um pequeno ldquoiacutedolo-almerienserdquo (Fig 392 MG178241 Leisner 1965 taf 56 92)

As peccedilas referidas neste paraacutegrafo denunciam claramente contactos quiccedilaacute atraveacutes da

circulaccedilatildeo de indiviacuteduos locais com outras aacutereas regionais Outro objecto liacutetico com

um formato pentagonal (MG17874 Ribeiro 1880 p 51 Leisner 1965 taf 54 17)

teraacute suscitado uma possiacutevel relaccedilatildeo como amuleto com representaccedilatildeo

antropomoacuterfica

O mediacuteocre grau de conservaccedilatildeo do espoacutelio oacutesseo nomeadamente humano

poderaacute explicar o reduzido nuacutemero de artefactos em osso Assim para aleacutem do iacutedolo

jaacute referido apenas se registam alguns utensiacutelios e peccedilas de adorno Entre os

utensiacutelios haacute dois fragmentos de osso apontados (MG178240 Leisner 1965 taf 56

98) o maior deles de um possiacutevel furador (MG178MA207 Leisner 1965 taf 56

88) um cabo de artefacto (MG17840 Leisner 1965 taf 56 89) e uma caixa

ciliacutendrica com incisotildees (MG17846 Leisner 1965 taf 56 91) Como peccedilas de

adorno pessoal aponta-se um possiacutevel bracelete (MG17842 e 44 Leisner 1965 taf

56 90) um fragmento de cabeccedila de alfinete de cabelo possivelmente associado com

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 56 de 415

uma parte posticcedila gravada com linhas horizontais (MG178237-238 Leisner 1965

taf 56 93) outra cabeccedila maciccedila em marfim () em forma de botatildeo com faixa

decorada em losangos (MG17847 Leisner 1965 taf 56 94) e duas grandes contas

uma ovoacuteide e outra cilindroacuteide (MG17841 e 43 Leisner 1965 taf 56 96 e 97)

Aleacutem destas peccedilas regista-se ainda um botatildeo coacutenico com perfuraccedilatildeo em ldquoVrdquo

(MG17845 Leisner 1965 taf 56 95) aleacutem de outros possiacuteveis fragmentos

referidos por C Ribeiro (1880 p 46)

No acircmbito dos elementos de adorno pessoal registam-se pelo menos 175 contas

de colar de vaacuterias tipologias e mateacuterias-primas Aqui incluem-se 4 pequenos

pendentes que poderiam ter feito parte de um qualquer colar Tambeacutem conviraacute

realccedilar que os trecircs ldquocolaresrdquo hoje depositados no Museu Geoloacutegico satildeo resultado de

criteacuterios subjectivos ou pelo menos desconhecidos actualmente Assim ainda que se

possa admitir o agrupamento de algumas das peccedilas a forma como esta se fazia ou

dispunha eacute meramente especulativa

De qualquer forma entre as vaacuterias tipologias presentes as 129 contas

discoidais em xisto (excepto duas em calcaacuterio) assumem-se como as mais

frequentes Em conjuntos numericamente mais reduzidos surgem as contas

globulares ou esferoidais (23) tubulares (6) bitroncocoacutenicas (4) ovoacuteide ou em

forma de azeitona (5+) e troncocoacutenica (1) que com algumas excepccedilotildees

nomeadamente as grandes contas de osso e azeviche satildeo essencialmente efectuadas

sobre pedras verdes Como curiosidade uma conta ciliacutendrica em xisto apresenta

vaacuterios cortes paralelos - marcas-guia para uma eventual produccedilatildeo de contas

discoidais

Os recipientes ceracircmicos completos ou quase satildeo tambeacutem um conjunto

reduzido e heterogeacuteneo (Fig 38) Assim no conjunto apresentado por V Leisner

(1965 taf 56 106-110 e 113) contam-se apenas 5 taccedilas lisas duas delas de pequenas

dimensotildees (MG17830 32 Leisner 1965 taf 56 107 e 108) e uma com caneluras

(MG17834 Leisner 1965 taf 56 110) Haacute ainda dois vasos carenados (Leisner

1965 taf 56 112 e 114 MG17833) um deles com uma carena bem marcada

(MG17856) ainda que estes possam corresponder a formas de periacuteodo mais recente

Entre as cerca de 4 dezenas de fragmentos ceracircmicos para aleacutem do fragmento

de possiacutevel taccedila com decoraccedilatildeo campaniforme geomeacutetrica impressa (Simotildees 1878

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 57 de 415

p 56-57 e fig 38 Leisner 1965 taf 56 111) apenas se registou outro com duas

linhas incisas paralelas (MG178255) Aleacutem destes haacute a assinalar um conjunto de

fragmentos de bordos todos sem decoraccedilatildeo correspondendo a 6 possiacuteveis taccedilas 3 a

vasos e um a prato bem como um troccedilo de uma carena e outro com perfuraccedilotildees

Haacute ainda no Museu um conjunto de elementos peacutetreos recolhidos numa

possiacutevel aacuterea de aacutetrio ainda misturados com ossos humanos (Ribeiro 1880 p 61)

muitos com a referecircncia ldquona galeriardquo Resultado de agentes naturais nomeadamente

ribeirinhos estes objectos correspondiam a seixos de quartzito calcaacuterio e basalto

inexistentes in loco que soacute poderiam ali ter chegado segundo C Ribeiro (1880 p

61) por matildeo humana dos cursos fluvialis do fundo do vale A maioria deles

apresenta formatos betiloacuteides (Fig 42 1 5-7) pelo que eacute possiacutevel admitir algum tipo

de arranjo particular junto agrave entrada do acesso Inclusive V Leisner (1965 taf 54 3

e 11) considerou pelo menos dois deles como provaacuteveis instrumentos polidos o que

como se expocircs atraacutes teria apenas um fim simboacutelico dada a sua ineficiecircncia como

ferramenta se foi essa intenccedilatildeo

Entre as peccedilas provavelmente recolhidas no possiacutevel aacutetrio registam-se

tambeacutem seis fragmentos de possiacuteveis foacutesseis de rudistas um deles ainda com etiqueta

anotando ldquoentrada para a galeriardquo (MG178MA221) Trecircs objectos foram

representados por V Leisner (1965 taf 54 12 (natildeo localizado) 13 e 15 MG17837

e 38) mas C Ribeiro jaacute apresentara outro (MG178MA13) confundindo-o como

parte de um dos iacutedolos afuselados (1880 p 38 e fig 41) que o casal Leisner natildeo teraacute

localizado (ALeisner Leis64) talvez porque buscasse um fragmento de iacutedolo

O tipo de aglomeraccedilatildeo de objectos betiloacuteides referido poderia ser interpretado

como um simples arranjo de pavimento do aacutetrio do corredor Contudo a

possibilidade de corresponder a um altar de alguma forma semelhante a outros casos

reconhecidos na regiatildeo de Lisboa (em Correio-Moacuter) no Sudeste espanhol

(nomeadamente em alguns sepulcros de Los Millares Almeria) e na Galiza (Cardoso

et al 1995) natildeo deveraacute ser descartada por ora Isto porque se nos dois primeiros

casos os elementos envolvidos correspondem de facto a peccedilas claramente

trabalhadas na Galiza apesar da evidente concentraccedilatildeo alguns desses objectos natildeo

se apresentam tatildeo claramente produzidos situaccedilatildeo que tambeacutem parece ocorrer em

Monte Abraatildeo Aliaacutes a interpretaccedilatildeo adiantada por C Ribeiro (1880 p 61)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 58 de 415

aproximava-se deste sentido ldquoParece-nos pois podermos inferir drsquoeste facto que o

emprego dos referidos seixos estranhos aacute localidade natildeo era para cobrir os restos

mortaes dos indiviacuteduos ali inhumados (hellip) mas significaria acaso o cumprimento de

um preceito religioso ou seria a expressatildeo de uma homenagem de sentimento de

respeito e de saudade prestada pelos parentes e amigos dos finados ali depositados

lanccedilando cada qual na jazida uma pedra trazida de longe de forma arredondada

que symbolisasse uma ideia um pensamento o da eternidade por exemplo se eacute que

na eacutepoca dos dolmens jaacute havia uma tal ou qual noccedilatildeo a este respeitordquo

Finalmente apesar da dificuldade de preservaccedilatildeo de muitas das ossadas

humanas detectadas visto ldquoque natildeo era possivel tocar numa apophyse e em muitos

ossos esponjosos que natildeo se desfizessem logo em poacute ou em miuacutedos fragmentosrdquo

(Ribeiro 1880 p 60) o geoacutelogo anotou uma seacuterie de consideraccedilotildees para o conjunto

osteoloacutegico humano recuperado

Ainda que natildeo seja hoje possiacutevel perceber que ossos foram recuperados onde

C Ribeiro indicou as concentraccedilotildees osteoloacutegicas principais em planta inclusive

classificando-os de esqueletos (cinco ou seis) e peccedilas oacutesseas soltas Ao longo da sua

descriccedilatildeo nomeava os tipos de ossos identificados sobretudo os cracircnios bem como

as associaccedilotildees com objectos e artefactos Por exemplo julgo ter sido possiacutevel

identificar a ldquoporccedilatildeo de abobada craneana com parte do seu frontal e dois

parietaesrdquo (Ribeiro 1880 p 60) referida pelo geoacutelogo mas sem que tenha sido

possiacutevel perceber a sua origem dentro do sepulcro ndash aliaacutes eacute um caso curioso de

tentativa de restauro pois os vaacuterios fragmentos foram marcados com incisotildees de

forma a saber-se que parte colava com qual mas quando se procedeu ao seu estudo

recente jaacute se encontravam descolados e dispersos na colecccedilatildeo

Face ao estado revolto de muitas das ossadas humanas C Ribeiro colocou a

hipoacutetese de ldquoque os individuos a que diziam respeito tivessem sido sepultados

nrsquooutros logares drsquoonde depois de consumidas as partes molles tivessem os seus

restos sido removidos para o logar do doacutelmenrdquo (Ribeiro 1880 p 58) admitindo

portanto deposiccedilotildees secundaacuterias na sequecircncia de trasladaccedilatildeo Contudo argumentava

contra aquela hipoacutetese por causa do elevado investimento na construccedilatildeo do sepulcro

bem como pelas abundantes oferendas que se encontraram acompanhando os restos

mortais Assim apontou uma explicaccedilatildeo hoje considerada tafonoacutemica para a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 59 de 415

dispersatildeo das ossadas ldquoOra eacute claro que em qualquer drsquoestas posiccedilotildees [cadaacutever de

coacutecoras ou sentado com a cabeccedila apoiada nos joelhos] e depois do

desappparecimento das partes molles do cadaver deviam as peccedilas osseas do

esqueleto separar-se e grande parte drsquoellas misturarem-se mais ou menos

confusamente se este modo de sepultar foi executado em Monteabratildeordquo (Ribeiro

1880 p 58) A partir dessa questatildeo adiantava ainda a possibilidade da preacute-existecircncia

de enterramentos antes da erecccedilatildeo da anta argumentando para isso com o

imbricamento das lajes B e E esta uacuteltima atravessando ldquoa terra vermelha contendo

ossos humanos dispersos e quebradosrdquo e com os restos oacutesseos recolhidos entre os

esteios (Ribeiro 1880 p 59) Ressalvando o pioneirismo destes trabalhos julgo que

a anaacutelise actual das evidecircncias natildeo admite esta uacuteltima possibilidade

Outro aspecto pioneiro no texto de C Ribeiro tambeacutem tentado na gruta

artificial de Folha das Barradas ainda que de forma menos sistemaacutetica foi a tentativa

de estimar o nuacutemero de indiviacuteduos com base em elementos do esqueleto humano

considerados menos nobres ndash no presente caso dentes mais precisamente os

caninos De facto este tipo de exerciacutecio apenas voltaraacute a ser realizado desta forma

nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX quando se impotildeem em Portugal novos

procedimentos para a avaliaccedilatildeo de restos antropoloacutegicos Assim a partir dos 252

laneares ou caninos de indiviacuteduos adultos o autor estima cerca de 6364 pessoas

como nuacutemero aproximado a cujo cocircmputo junta a existecircncia de

maxilaresmandiacutebulas de idosos jaacute com os molares gastos e os alveacuteolos dos caninos

ldquoobliteradosrdquo e de natildeo-adultos ainda em desenvolvimento ndash conclui entatildeo que ldquonatildeo

seraacute exagerado dizer que o numero dos indiviacuteduos a quem pertenciam aquelles

dentes natildeo era inferior a oitentardquo (Ribeiro 1880 p 59) Face agravequela conclusatildeo

rematava declarando ldquoeacute faacutecil comprehender que a inhumaccedilatildeo de um tatildeo crescido

numero de individuos natildeo poderia ter-se realizado senatildeo de um modo sucessivo

com intervallos de tempo mais ou menos longos o que importaria frequentes

remeximentos nas terras para dar logar a novas inhumaccedilotildees e nos quaes teriam

sido revolvidos quebrados e misturados a maioria das peccedilas osseas dos esqueletos

que ali jaziamrdquo (Ribeiro 1880 p 59)

Perante as evidecircncias conhecidas desta anta julgo que eacute possiacutevel vislumbrar

uma utilizaccedilatildeo inicial provaacutevel dos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 60 de 415

provavelmente intensificada na transiccedilatildeo para o mileacutenio seguinte e na sua primeira

metade o que parece denotado pela presenccedila de vaacuterios elementos votivos em

calcaacuterio iacutedolos-placa a taccedila canelada e os liacuteticos com retoque bifacial (alabarda

punhal e pontas de seta) As duas dataccedilotildees absolutas Beta-228580 e Beta-228579

obtidas sobre dois fragmentos de feacutemures de diferentes indiviacuteduos entre 2900-2630

cal BCE e 2840-2460 cal BCE (a segunda com 903 de probabilidade restringe-se

a 2680-2460 cal BCE) parecem confirmar esta impressatildeo A ceracircmica

campaniforme bem como alguns elementos de adorno nomeadamente os bototildees em

osso e vaacuterias contas parecem assinalar ainda uma utilizaccedilatildeo da segunda metade do 3ordm

mileacutenio ane Finalmente ceracircmicas carenadas poderatildeo denunciar reutilizaccedilotildees

posteriores talvez de iniacutecios do 2ordm mileacutenio ane

4114 Estria

A anta da Estria (CNS-3001) da Cova da Estria (Ribeiro 1871-75 Simotildees

1878) ou Istria (Ferreira 1959 p 215) eacute a terceira do cluster de Belas e teraacute sido

detectada por C Ribeiro juntamente com as anteriores Segundo um pequeno

apontamento no uacutenico caderno de campo deste geoacutelogo que tive oportunidade de

localizar no Arquivo Histoacuterico Geoloacutegico e Mineiro do Laboratoacuterio Nacional de

Energia e Geologia (LNEG Ex-Instituto Geoloacutegico e Mineiro) este sepulcro foi

intervencionado entre Janeiro e Fevereiro de 1875 (Ribeiro 1871-75) Em 26 de

Janeiro o geoacutelogo refere este ldquoDolmen no casal do Estrias 200 m a O do muro da

Quinta do Marquez de Bellas e situado nrsquouma depressatildeo do solo ou a descer [para]

uma baixa ou depressatildeo que esta a S da Idanhardquo referindo-se ainda ao local por

ldquoCova da Estriardquo (Ribeiro 1871-75) Aquela data eacute proacutexima de outra constante em

etiqueta colada em osso longo indicando ldquo82[18]75 Da propriedade do Sr Abreu

cova da Estriardquo (MG71940)

Em finais do seacuteculo XX esta anta foi alvo de alguns trabalhos de salvaguarda

Em 1986 empreendidos pelo entatildeo Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio Cultural

(IPPC) permitindo verificar uma profunda violaccedilatildeo na aacuterea da cacircmara junto ao

esteio de cabeceira mas tambeacutem a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo estrutural do monumento

desde os trabalhos de C Ribeiro (Fig 44 e 45 2 Marques e Ferreira 1987

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 61 de 415

Marques Lourenccedilo e Ferreira 1991) Posteriormente em 1995 no acircmbito da

construccedilatildeo da auto-estrada da Cintura Regional Externa de Lisboa e de uma estaccedilatildeo

de serviccedilo automoacutevel que na fase de projecto previa a destruiccedilatildeo da anta realizou-se

a re-escavaccedilatildeo e restauro do sepulcro agora pelo Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio

Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico (IPPAR) sob a direcccedilatildeo de Ana Carvalho Dias

Infelizmente ateacute hoje natildeo existe qualquer relatoacuterio e os contactos que desenvolvi

desde 2004 junto da arqueoacuteloga natildeo foram suficientes para esclarecer os dados

obtidos e os criteacuterios que resultaram no actual monumento in perpetuam rei

memoriam Portanto avalia-se este sepulcro apenas com as informaccedilotildees publicadas e

as observaccedilotildees possiacuteveis no terreno

C Ribeiro anotava a implantaccedilatildeo inusitada daquele sepulcro ldquocomo que

occulto nrsquouma prega ou dobra de terreno deixando apenas ver aacute flocircr do solo no acto

da descoberta os topes de algumas das suas pedrasrdquo (Ribeiro 1880 p 62) Aliaacutes a

proacutepria denominaccedilatildeo ldquoestriardquo reflecte essa ideia de prega ou sulco no terreno Tal

localizaccedilatildeo surgira segundo o geoacutelogo da intenccedilatildeo de aproveitar uma estreita faixa

de calcaacuterio alterado em resultado da acccedilatildeo do filatildeo ldquoporphiroiderdquo que se registava

tambeacutem junto a Pedra dos Mouros Assim a construccedilatildeo ajeitou e enterrou-se dentro

daquela faixa orientada es-nordesteoes-sudoeste com cerca de 2 a 5 metros de

largura Talvez por isso desta anta natildeo fosse possiacutevel observar os outros dois

sepulcros do cluster apesar das distacircncias de 400 m para Pedra dos Mouros a

nordeste ou de 300 m para Monte Abraatildeo a sudeste

De acordo com C Ribeiro a anta apresentava um recinto com cacircmara e

galeria semelhante a Monte Abraatildeo ainda que mais cravado e encostado ao

substrato rochoso Na cacircmara indicava ldquonove lages erguidas ao altordquo que apenas

deixavam uma gola para aceder ao corredor (Fig 44) Apesar de remeter essa leitura

para a planta aiacute apenas eacute possiacutevel verificar a existecircncia de sete esteios e dois

pequenos blocos (o que perfaria nove) mas referia mais adiante que completavam ldquoo

recinto ou cacircmara outras lages de menor porte cravadas no solordquo (Ribeiro 1880 p

63) Analisando o alccedilado em perspectiva (Ribeiro 1880 fig 65) notam-se os

referidos sete esteios juntamente com outros blocos do provaacutevel estreitamento da

cacircmara para o corredor Esta passagem era ldquodelimitada por dois renques de pequenas

lages de calcareo cravadas de cutello no terreno e parallelos entre sirdquo por cerca de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 62 de 415

dez metros mas natildeo apresentou essa parte da estrutura em planta curiosamente

ocorrendo o mesmo no esquiccedilo do seu apontamento (Ribeiro 1871-1875 1880 p

63-64) A natildeo representaccedilatildeo da aacuterea do corredor poderaacute dever-se ao aspecto caoacutetico

dos blocos mas tambeacutem porque os trabalhos naquele troccedilo poderatildeo ter sido

realizados por algum colector e natildeo devidamente registados condicionando entatildeo a

apresentaccedilatildeo possiacutevel de C Ribeiro Finalmente apesar do autor ter detectado alguns

grandes fragmentos de blocos natildeo encontrou nenhum que lhe parecesse de facto

parte da cobertura do sepulcro

Todos os blocos da anta eram segundo o geoacutelogo de calcaacuterio duro cinzento

extraiacutedos nas bancadas locais Eram denominados pelos caboqueiros como ldquobancos

reaesrdquo e permitiam obter lajes de grandes dimensotildees ldquocapazes de resistir a grandes

cargas e aacute acccedilatildeo destruidora do tempo como as empregadas em pontotildees e em

outras de caracter rustico que exigem seguranccedila duraccedilatildeo e economiardquo (Ribeiro

1880 p 63) Portanto do mesmo tipo das lajes utilizadas nas antas de Pedra dos

Mouros e Monte Abraatildeo

No acircmbito da cacircmara foi possiacutevel verificar o tiacutepico imbricamento da maioria

dos esteios a partir da cabeceira (A) Este esteio com superfiacutecies rugosas e

alveolares ainda que erodidas foi ladeado por duas lajes (B e E) em que as suas

faces com icnofoacutesseis provavelmente de thalassinoides foram dispostas para dentro

do recinto (Fig 45 3 e 5) Por sua vez os esteios seguintes (C-D e F) tambeacutem

tiveram a mesma disposiccedilatildeo emparelhada para o interior Isto porque os esteios C e

D aparentam ter sido outrora um soacute bloco entretanto quebrado tendo sido disposto

de forma peculiar para melhor aguentar as terras da vertente apoiando-se nos

extremos exteriores de B e H Finalmente os esteios G e H apresentavam-se

relativamente lisos sem os mencionados foacutesseis Agrave semelhanccedila da situaccedilatildeo em Monte

Abraatildeo tambeacutem aqui julgo que o efeito destes foacutesseis entrelaccedilados poderaacute ter

provocado alguma reacccedilatildeo esteacutetica ou mesmo maacutegico-religiosa optando os

construtores da anta por uma disposiccedilatildeo simeacutetrica das faces dos ortoacutestatos

Como eacute possiacutevel verificar tanto em C Ribeiro (1880 p 63) ou V Leisner

(1965 taf 57) o esteio H natildeo teraacute sido avistado ou pelo menos registado o que

poderaacute explicar-se pelo seu reduzido peacute porque partido face aos restantes blocos agrave

data da escavaccedilatildeo que natildeo teraacute atingido o substrato rochoso em toda a aacuterea do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 63 de 415

recinto Por outro lado pelas imagens obtidas pelo casal Leisner na visita de 1944

(ALeisner Leis64) este sepulcro encontrava-se novamente bastante entulhado pelo

que eacute tambeacutem compreensiacutevel a leitura entatildeo obtida que se limitou ao levantamento

do alccedilado visiacutevel a nor-nordeste Assim a primeira imagem que foi possiacutevel

consultar do esteio H resultou dos trabalhos de limpeza e salvaguarda em 1986 (Fig

44 2 e 4)

A cacircmara da anta com o esteio de cabeceira (A) com cerca de 275 m de altura

(acima da solo) e 19 m de largura na base teria cerca de 4 metros de comprido por

cerca de 380 metros de largura maacutexima prolongando-se o corredor segundo C

Ribeiro (1880 p 62) por ldquouns 10 metrosrdquo extensatildeo hoje recriada sem que se saiba

de facto se foram detectados alveacuteolos ou outros vestiacutegios passiacuteveis de garantir tal

passagem e alcance (Fig 44 4 e 6)

Apesar da duacutevida latente quanto agrave caracterizaccedilatildeo da passagem eacute possiacutevel

verificar que este sepulcro apresentava uma cacircmara poligonal com sete esteios jaacute

adiantada por V Leisner (1965) pelo que a sua classificaccedilatildeo como ldquogaleria cobertardquo

adiantada por O V Ferreira (1959) natildeo parece aceitaacutevel

Algo notado pelo escavador da anta e atribuiacutedo agraves circunstacircncias da sua

implantaccedilatildeo foi a orientaccedilatildeo do monumento para poente De facto as leituras

realizadas nos uacuteltimos anos apontam um rumo aproximado de 213ordm ou 212ordm (Hoskin

2001 Cacircndido Marciano da Silva ip) Acrescentaria que em tal escolha para aleacutem

do condicionamento referido tambeacutem a inclinaccedilatildeo do terreno obrigava agravequela

orientaccedilatildeo caso contraacuterio o recinto sepulcral estaria sujeito agrave raacutepida entrada de

sedimentos e sequente colmatagem Simultaneamente ao optar por aquela

implantaccedilatildeo o edifiacutecio encontrava-se quase a meia altura enterrado na encosta natildeo

se conhecendo dados acerca de uma eventual mamoa percebendo-se pontualmente

na actual estrutura visiacutevel alguns blocos do que seria um anel peacutetreo de contraforte

exterior

Segundo C Ribeiro o sepulcro jaacute teria sido profanado ldquoIsto eacute jaacute tinham sido

remexidas as terras que estavam dentro drsquoelle e despojadas de quasi todos os

objectos drsquoarchaeologia e restos humanos que com ellas se achavamrdquo (1880 p 64)

Essa situaccedilatildeo explicaria entatildeo o reduzido espoacutelio recolhido

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 64 de 415

Actualmente o espoacutelio referente agrave anta da Estria (Fig 46-49) em depoacutesito no

Museu Geoloacutegico encontra-se marcado com os coacutedigos de estaccedilatildeo 171 e 719 este

uacuteltimo correspondendo agrave listagem existente No entanto muitas das peccedilas

apresentam o coacutedigo 171 marcado sobrepondo-se ao anterior

Uma questatildeo que merece reparo tem a ver com algumas peccedilas apontadas por

A Simotildees (1878) como da Estria mas que C Ribeiro (1880) atribui a Pedra dos

Mouros Satildeo os casos da lacircmina em siacutelex (MG1722 Simotildees 1878 fig 16-17

Ribeiro 1880 p 7 e est I 2) e o fragmento de luacutenula em calcaacuterio (MG17213

Simotildees 1878 fig 34 Ribeiro 1880 p 7 est I 9) Sendo este uacuteltimo o seu

escavador presume-se a sua correcccedilatildeo em detrimento do primeiro

Os elementos liacuteticos lascados resumem-se a duas lamelas natildeo retocadas em

quartzo hialino (MG17122 e 33) e pelo menos sete lacircminas em siacutelex todas retocadas

ndash quatro quase completas (MG1715-7 e 15) e trecircs fragmentos de outras (MG1718-

10) Curiosamente estas uacuteltimas fazem parte de um conjunto de peccedilas lascadas com

algumas lascas apontadas como ldquoEstria (Belas) Col M Alves Costardquo (MG1718-10

17 e 29 7191) em contexto semelhante a outro conjunto associado a Monte Abraatildeo

Das doze pontas de seta inventariadas por V Leisner (1965) nuacutemero repetido

por S Forenbaher (1999 p 135) apenas localizei onze delas Contudo tal falta natildeo

parece dificultar a sua anaacutelise geral Assim com a excepccedilatildeo de uma peccedila quebrada

na base (MG17131) as restantes apresentam bases cocircncavas Destas uma apresenta

os bordos serrilhados faltando-lhe um fragmento anteriormente existente

(MG17136 Leisner 1965 taf 57 13 Forenbaher 1999 p 135 e EST8) e duas

enquadram-se segundo S Forenbaher (1999 p 135 e EST9 e 11) no grupo das

pontas mitriformes (MG17130 e 34)

No acircmbito das grandes pontas com retoque bifacial haacute ainda um possiacutevel

punhal (com o coacutedigo errado de Pedra dos Mouros MG1723) e um fragmento distal

de possiacutevel ldquoalabardardquo (MG17111)

Os objectos em pedra polida apenas se enquadram no grupo de artefactos

votivos de calcaacuterio nomeadamente um iacutedolo betiloacuteide (MG17113) um fragmento

de luacutenula (MG17114) em que eacute visiacutevel hoje algumas incisotildees uma placa encurvada

(MG1712) uma enxoacute encabada (MG1713) e uma possiacutevel ldquoalabardardquo (MG1711)

esta uacuteltima aparentemente em rocha xisto-anfiboacutelica

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 65 de 415

Eacute curioso notar que os uacutenicos instrumentos polidos surgem entatildeo de forma

aparentemente simboacutelica Aliaacutes no caso da enxoacute encabada esta peccedila parece ser

composta por duas lacircminas num soacute objecto uma lacircmina de enxoacute atada e uma lacircmina

de machado no que seria simultaneamente o cabo do instrumento

Aleacutem das peccedilas polidas referidas regista-se ainda um baacuteculo em xisto

(MG1714) gravado em ambas as faces a que se juntaria um fragmento de placa de

xisto apresentado por A Simotildees (1878 fig 32) de que se ignora actualmente o

paradeiro Aliaacutes jaacute em 1944 o casal Leisner natildeo o teraacute localizado (ALeisner Leis64)

Os artefactos em osso estatildeo representados apenas por um cabo de instrumento

(MG17116) e um outro osso longo apontado (MG17118)

A ceracircmica recolhida apresenta trecircs pequenos vasos quase completos Uma

taccedila simples (MG17121) que teraacute perdido recentemente um fragmento com bordo

(natildeo localizado) um vaso com bordo espessado externamente com alguns aparentes

sulcos (MG17119) e um vaso carenado decorado com linhas brunidas diagonais e

paralelas assentando noutra horizontal sobre a carena provavelmente rodeando todo

o recipiente (Fig 49 4 MG17120) Esta decoraccedilatildeo natildeo teraacute sido detectada por V

Leisner (1965 taf 57 21) porque agrave data do seu estudo (17111944 ndash ALeisner

Leis64) a peccedila ainda se encontrava com camada terrosa ocultando-a

Os restos osteoloacutegicos humanos agrave semelhanccedila do espoacutelio restante foram

recolhidos no conteuacutedo revolto do sepulcro em elevado estado de fragmentaccedilatildeo e

sem qualquer indicaccedilatildeo de localizaccedilatildeo Segundo C Ribeiro (1880 p 67) eram

essencialmente ldquofragmentos de ossos longos do craneo e dos maxillaresrdquo

registando-se inteiros apenas um uacutemero de indiviacuteduo adulto e diversas falanges e

diria ainda muitos dentes soltos Durante o estudo laboratorial dos ossos humanos

foi possiacutevel localizar um uacutemero quebrado (MG-71939) ainda que colando

completando-se posteriormente utilizado para dataccedilatildeo No caso desta anta o

geoacutelogo natildeo propocircs uma estimativa do nuacutemero de indiviacuteduos

Perante a evidecircncia recolhida nesta anta julgo que eacute possiacutevel vislumbrar uma

utilizaccedilatildeo inicial com alguma probabilidade na transiccedilatildeo do 4ordm para o 3ordm mileacutenio ou

mesmo soacute na sua primeira metade durante a qual se intensificou o seu uso denotado

pela presenccedila dos artefactos em calcaacuterio o baacuteculo mas tambeacutem as pontas de seta

com base cocircncava As duas dataccedilotildees absolutas Beta-208950 e Beta-228578 (Anexo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 66 de 415

3 Quadro 22) obtidas respectivamente sobre um uacutemero e uma mandiacutebula ambos

ossos de indiviacuteduos humanos adultos possivelmente distintos entre 2900-2620 cal

BCE e 2880-2500 cal BCE (a segunda com 943 de probabilidade restringe-se a

2880-2570 cal BCE) parecem indiciar um momento de construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo mais

tardio que as antas vizinhas o que tambeacutem poderia explicar a desorientaccedilatildeo do

sepulcro face aos cacircnones seguidos para a implantaccedilatildeo e construccedilatildeo das antas de

Lisboa e detectados noutras regiotildees limiacutetrofes (Hoskin 2001 Gonccedilalves 1999)

A aparente ausecircncia de ceracircmica campaniforme poderia significar o desuso

deste sepulcro talvez em meados do 3ordm mileacutenio ane apenas reutilizado jaacute em iniacutecios

do 2ordm mileacutenio ane Contudo agrave semelhanccedila dos comentaacuterios efectuados infra para a

anta de Casaiacutenhos subsiste a possibilidade de deposiccedilotildees dataacuteveis destes momentos

posteriores sem os correspondentes elementos nomeadamente campaniformes pelo

que este terminus deveraacute ser encarado com reserva ateacute novos dados Exemplos dessa

situaccedilatildeo satildeo as deposiccedilotildees possivelmente secundaacuterias com ldquovasos inteiros de loiccedilardquo

na cavidade de Leceia-Locus 2 com a dataccedilatildeo ICEN-737 de 2580-2150 cal BCE

(Ribeiro 1878 Cardoso Cunha e Dalberto 1991) mas sem espoacutelio caracterizador

ou da Samarra (Franccedila e Ferreira 1958 Leisner 1965 Silva Ferreira e Codinha

2006) cuja dataccedilatildeo Sac-1827 2470-2060 cal BCE parece mais recente que o

conjunto coeso ali recolhido Ou no sentido inverso a gruta-necroacutepole de Verdelha

dos Ruivos (Leitatildeo et al 1984 Cardoso e Soares 1990-92) que apresenta espoacutelio

campaniforme mas com dataccedilotildees semelhantes agraves anteriores (Capiacutetulo 8 e Anexo 3

Quadro 22)

4115 Um espaccedilo necropolizado na primeira metade do 3ordm

mileacutenio

Perante os dados disponiacuteveis eacute admissiacutevel falar de um espaccedilo necropolizado

ocupado pelo cluster de Belas Ali os diversos sepulcros teratildeo sido aparentemente

utilizados simultaneamente pelo menos num intervalo de 300 anos Contudo

algumas caracteriacutesticas particulares dos seus espoacutelios e as proacuteprias dataccedilotildees

absolutas obtidas para algumas utilizaccedilotildees permitem propor uma provaacutevel

anterioridade para as antas de Pedra dos Mouros e de Monte Abraatildeo face a Estria

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 67 de 415

Infelizmente seratildeo necessaacuterios ainda mais dados acerca de cada anta e um programa

sistemaacutetico de dataccedilotildees que delimite com maior probabilidade a construccedilatildeo e

utilizaccedilatildeootildees de cada sepulcro

412 Os monumentos megaliacuteticos das imediaccedilotildees do cluster de Belas

Nas imediaccedilotildees do cluster de Belas registam-se os dois monumentos

megaliacuteticos do Carrascal e Pego Longo que poderiam associar-se a este

O primeiro situa-se em vertente de vale entre os 150-160 metros de cota a

cerca de dois quiloacutemetros para oeste-noroeste da plataforma onde aquele cluster se

implantou sendo provavelmente no 4ordm-3ordm mileacutenios ane provavelmente visiacutevel de

Pedra dos Mouros e Monte Abraatildeo e vice-versa (fig 25)

Do segundo pretenso monumento funeraacuterio apesar de facilmente ver e ver-se

Monte Abraatildeo e Pedra dos Mouros por se situar a um quiloacutemetro de distacircncia em

linha recta em altitude semelhante agravequelas antas rondando os 200 metros ficaria

bem mais apartado por causa do vale profundo da ribeira do Jamor neste troccedilo

entatildeo conhecido por ribeira do Castanheiro (Ribeiro 1880 p 70) que separa as duas

plataformas

4121 Carrascal

O sepulcro do Carrascal (CNS-4295) tambeacutem conhecido por anta ou doacutelmen

de Agualva (Ribeiro 1880) estaacute classificado como Monumento Nacional (sob o

nome Agualva) por Decreto de 16 de Junho de 1910 (Diaacuterio do Governo nordm 163 de

23 de Junho de 1910) Para aleacutem do topoacutenimo local Carrascal eacute ainda conhecido por

ldquoFonte das Eirasrdquo constando num painel ali colocado recentemente partido e atirado

para dentro da cacircmara no acircmbito do vandalismo a que tem sido sujeito

A designaccedilatildeo Carrascal utilizada por O V Ferreira (1959) e V Leisner

(1965) surgia associada ao material em depoacutesito no Museu Geoloacutegico pelo menos

em 1944 (ALeisner Leis64) mas provavelmente desde a sua recolha Esta

denominaccedilatildeo permitiu tambeacutem agravequeles autores distinguir este siacutetio de Agualva do

tholos encontrado tambeacutem naquela localidade em 1951 (Ferreira 1953)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 68 de 415

O siacutetio foi identificado durante os levantamentos geoloacutegicos conduzidos por C

Ribeiro constando entre os sepulcros que o geoacutelogo daacute a conhecer na sua segunda

notiacutecia de estudos preacute-histoacutericos (Ribeiro 1880 p 67-69)

No uacutenico caderno de campo de C Ribeiro (1871-75) jaacute referido que consegui

localizar no arquivo do LNEG ainda que outros possam existir2 constam alguns

apontamentos acerca da escavaccedilatildeo desta anta bem como a sua planta com mediccedilotildees

ligeiramente diferentes das publicadas (Ribeiro 1880) Aleacutem de situar a intervenccedilatildeo

que teraacute ocorrido pelo menos em 28 de Fevereiro de 1875 a restante informaccedilatildeo

coincide com aquela disponibilizada na publicaccedilatildeo posterior

Segundo C Ribeiro (1880 p 68) os construtores daquela anta buscaram ldquoum

solo brando atacaacutevel aos utensiacutelios de pedra para ali abrir natildeo soacute a praccedila mas os

caboucos para o accomodamento e construcccedilatildeordquo deste monumento (Fig 50 3) De

facto apesar de se localizar em mancha de calcaacuterios e margas do Albiano-

Cenomaniano meacutedio e inferior (SGP 1991 Ramalho et al 1993) o sepulcro teraacute

sido implantado em pequena colina numa zona alterada proacutexima de filotildees de

ldquorocha feldsphatica eruptivardquo provavelmente correspondendo a filotildees traquiacuteticos

natildeo cartografados naquela aacuterea mas sim na de implantaccedilatildeo das jaacute referidas antas de

Pedra dos Mouros e Estria (Ribeiro 1880) Assim de acordo com o geoacutelogo para

aleacutem da localizaccedilatildeo aquela escolha subordinou tambeacutem a sua orientaccedilatildeo que

apontava para um eixo de talvez por lapso este-nordesteoeste-sudoeste (no seu

apontamento regista-se a orientaccedilatildeo oeste-noroeste pressupondo-se o este-sudeste)

Finalmente indicava que a extracccedilatildeo dos esteios teria sido efectuada nas bancadas

calcaacuterias imediatas

Quando o casal Leisner visitou a anta em 5 de Janeiro de 1944 (ALeisner

Leis64) a maioria dos seus esteios apresentava-se relativamente preservada e in situ

(Fig 51 1) Estes formavam uma cacircmara poligonal de 7 esteios continuada por

corredor baixo e curto do qual faltavam jaacute as duas lajes do lado norte entatildeo

desenhadas por C Ribeiro (1880) mas mantendo-se a do lado sul As fotos entatildeo

tiradas junto com a documentaccedilatildeo permitem observar os diversos afloramentos

disponiacuteveis em redor Outras imagens obtidas pelo casal numa segunda visita em

momento impreciso mas talvez da deacutecada de 50 mostram a erecccedilatildeo de um poste de 2 A inventariaccedilatildeo e catalogaccedilatildeo do imenso espoacutelio dos antigos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal satildeo processos abertos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 69 de 415

electricidade () por detraacutes do esteio de cabeceira (ALeisner Leis64) actualmente

inexistente (Fig 51 2 e 3)

As mediccedilotildees do sepulcro respeitantes agraves larguras de esteios e dimensotildees dos

espaccedilos da cacircmara e corredor publicadas por C Ribeiro (1880 p 67) divergem

daquelas anotadas (Ribeiro 1871-75) mas tal poderaacute dever-se a uma segunda visita

em que o registo tenha sido efectuado com outros criteacuterios Um desses criteacuterios teraacute

considerado os esteios B e C e I e J como as mesmas pedras ainda que fracturadas

No caso das anotaccedilotildees do casal alematildeo para aleacutem de separar os blocos B e C

aquelas medidas abrangeram tambeacutem a altura espessura e inclinaccedilatildeo dos esteios

bem como procuraram ilustrar as altimetrias registadas daquele edifiacutecio As medidas

abaixo referidas baseiam-se nos apontamentos de 1944 (ALeisner Leis64) cruzadas

com as publicadas ndash apenas na largura do esteio de cabeceira parece surgir um

divergecircncia significativa talvez resultando de algum lapso

Quadro 1 Dimensotildees dos esteios da anta do Carrascal

Esteio C Ribeiro 1871-75

C Ribeiro 1880 Leisner 1965 L x A x E

A 25 28 235280 x 18 x 02 B (B+C) 18 19 18 x 18 x 026 C - 11 13 x 13 x 036 D 17 17 x 19 x 034 E 13 15 13 x 13 x 026 F 145 15 143 x 22 x 32 G 12 14 09 x 13 x 024 H 25 21 24 x 105 x - I (I+J) 23 08 - J - 14 -

Diacircmetro cacircmara 344 380 370 35 Comprimento corredor [25 23] [25 22] [24]

Largura corredor 1 142 152216 - Mediccedilotildees em metros

Perante os diversos registos verifica-se uma consonacircncia geneacuterica das

dimensotildees condizente com o cariz megaliacutetico da estrutura

No alccedilado produzido pelo casal Leisner (1965 taf 57 2) este assumiu a

existecircncia de uma colina tumular significativa sem contudo ter sido realizada

qualquer intervenccedilatildeo no sentido de a identificar (Fig 52 1) Aliaacutes a observaccedilatildeo

actual do terreno contradiz tal leitura dada a existecircncia de aparentes topos de

afloramento a cotas aproximadas aos dos esteios

O sepulcro apresenta-se bastante enterrado emergindo os topos dos seus

esteios pelo lado exterior apenas cerca de meio metro de altura acima do solo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 70 de 415

envolvente O seu interior escavado por C Ribeiro encontra-se hoje ldquovaziordquo (se natildeo

se considerar o lixo para ali atirado) contribuindo para a inclinaccedilatildeo cada vez mais

acentuada dos ortoacutestatos

Em 1994 foram iniciados trabalhos de avaliaccedilatildeo para uma sequente

valorizaccedilatildeo Nessa campanha realizou-se uma sondagem para verificar a existecircncia

de manto tumular distinguiacutevel da colina natural mas os trabalhos foram suspensos

sem conclusotildees definitivas aguardando-se para breve o seu reiniacutecio (informaccedilatildeo

pessoal de T Simotildees arqueoacuteloga da Cacircmara Municipal de Sintra)

Os resultados da intervenccedilatildeo de C Ribeiro segundo este foram parcos pois a

anta teria jaacute sido explorada anteriormente tendo os seus visitantes despojado ldquoa

cacircmara e galeria dos objectos drsquoarte que ali deveria haver de modo que soacute [achou]

alguns raros fragmentos de siacutelex e de vasos de barro dentes e fragmentos de

pequenos ossos humanosrdquo (Ribeiro 1880 p 69) Apoacutes aquela acccedilatildeo os anteriores

visitantes teriam reposto a terra quase ateacute quase ao topo do sepulcro Durante a sua

escavaccedilatildeo C Ribeiro registou ainda trecircs grandes blocos que poderiam na sua

opiniatildeo ser fragmentos da antiga laje de cobertura

A presunccedilatildeo de uma escavaccedilatildeo anterior ainda que plausiacutevel natildeo explica

totalmente o limitado espoacutelio (Fig 52) Sobretudo quando o recinto se encontrava

preenchido com terras quase cobrindo-o (eacute improvaacutevel que algueacutem no passado se

desse a tal trabalho de reposiccedilatildeo de terras) Assim tambeacutem se deve considerar que

aquele sepulcro teria apenas um espoacutelio arcaico e normalmente menos abundante e

variado contra outros mais recentes que C Ribeiro (1880) exumou por exemplo

nas antas de Belas

Quanto ao espoacutelio especiacutefico C Ribeiro natildeo deu qualquer pista natildeo se

conhecendo a sua proveniecircncia dentro do sepulcro existindo apenas um artefacto

um braccedilal de arqueiro que parece ter sido recolhido ldquona galeriardquo segundo a

marcaccedilatildeo da peccedila (MG29528) Contudo antes de avanccedilar para o significado deste

achado e dos restantes eacute importante explanar a condiccedilatildeo do espoacutelio ali recolhido

Contrariamente a outras colecccedilotildees mais ldquoimportantesrdquo do Museu Geoloacutegico as

peccedilas do Carrascal natildeo apresentavam etiquetas coladas com identificaccedilatildeo como era

frequente fazer-se no seacuteculo XIX inclusive em alguns restos osteoloacutegicos mais

interessantes Possivelmente porque aqueles restos eram apenas ldquopequenos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 71 de 415

fragmentosrdquo natildeo receberam a sempre uacutetil etiquetagem Apresentavam apenas uma

marcaccedilatildeo ldquoArdquo como vim a verificar na sequecircncia da avaliaccedilatildeo do espoacutelio

Dos materiais referidos por C Ribeiro hoje apenas se localizaram os liacuteticos e

os osteoloacutegicos Os cacos ceracircmicos natildeo foram detectados Mas tal situaccedilatildeo parece

que jaacute acontecia em 1 de Maio de 1944 quando o casal Leisner procedeu ao desenho

dos materiais (ALeisner Leis64) pois natildeo consta qualquer referecircncia a esse material

No entanto desde entatildeo os materiais liacuteticos acabaram misturados com outros

nomeadamente sob a designaccedilatildeo de ldquoDoacutelmen das Pedras Grandesrdquo (MG637)

Recorrendo agrave publicaccedilatildeo de V Leisner (1965) verifiquei que aquelas peccedilas com a

marcaccedilatildeo ldquoArdquo correspondiam a algumas das atribuiacutedas ao Carrascal Por outro lado

o braccedilal de arqueiro migrou para a colecccedilatildeo do tholos de Agualva inclusive

constando como tal na vitrina expositiva talvez pela matildeo de algueacutem influenciado

pela a ideia preconcebida de ceracircmica campaniforme + braccedilal de arqueiro Poreacutem

como natildeo havia nenhuma referecircncia de C Ribeiro agravequele artefacto a descoberta do

referido tholos se tinha dado em 1951 e a publicaccedilatildeo de V Leisner datava de 1965

tornava-se difiacutecil garantir com rigor a sua proveniecircncia ou que tivesse ocorrido

alguma reposiccedilatildeo erroacutenea Felizmente este dilema foi solucionado quando tive

acesso aos referidos apontamentos do casal alematildeo pois outras das peccedilas marcadas

com ldquoArdquo e o braccedilal surgiam desenhados em pranchas com a data de 1944 (ALeisner

Leis64)

O espoacutelio osteoloacutegico humano encontrava-se com registo proacuteprio atribuiacutedo ao

ldquoDoacutelmen do Carrascalrdquo (MG538) Apenas um fragmento de calote craniana

encontrava-se misturada com materiais do tholos de Agualva ainda que sob um

coacutedigo da ldquoEncosta do Pendatildeordquo (MG1853) Contudo o facto de ter a marcaccedilatildeo

ldquoAgualva-15rdquo e uma coloraccedilatildeo semelhante aos outros restos oacutesseos do Carrascal foi

possiacutevel separaacute-la das trecircs veacutertebras que apresentavam um sedimento avermelhado

semelhante ao do restante espoacutelio do tholos A indicaccedilatildeo de pertenccedila a Encosta do

Pendatildeo teraacute sido apenas mais um acidente de percurso

Portanto apoacutes esta criacutetica das fontes julgo possiacutevel avanccedilar com seguranccedila na

anaacutelise dos parcos materiais recolhidos na anta do Carrascal

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 72 de 415

Estes resumem-se a algumas pequenas lacircminas pouco retocadas normalmente

de forma descontiacutenua dois geomeacutetricos trapeacutezios e um fragmento de lacircmina espessa

bem retocada

Seria ainda importante perceber que fragmentos ceracircmicos foram recolhidos

por C Ribeiro mas talvez o braccedilal de arqueiro possa denunciar a presenccedila de alguma

ceracircmica campaniforme que infelizmente se perdeu

Assim perante as caracteriacutesticas dos materiais agrave semelhanccedila de outras antas

estudadas diria que a anta do Carrascal foi utilizada entre meados e os dois uacuteltimos

quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane As duas dataccedilotildees absolutas (Anexo 3 Quadro 2) obtidas

sobre dois feacutemures um esquerdo (MG5380406) e outro direito (MG538047-8)

ainda que pelas suas caracteriacutesticas de indiviacuteduos diferentes permitiram assegurar

essa antiguidade inclusive localizando-a essencialmente no terceiro quartel do 4ordm

mileacutenio ane Os intervalos obtidos foram respectivamente os seguintes (Beta-

225167) 3620-3350 cal BCE (com 942 de probabilidade restringe-se a 3530-3350

cal BCE) e a outra (Beta-228577) 3650-3350 cal BCE

Finalmente em momento posterior da 2ordf metade do 3ordm mileacutenio ou jaacute no 2ordm

mileacutenio eacute realizado pelo menos um depoacutesito eventualmente funeraacuterio no corredor

Portanto a anta do Carrascal parece ter sido implantada em momento anterior agrave

erecccedilatildeo da necroacutepole de Belas pelo que qualquer relaccedilatildeo espacial de causa e efeito

apenas pode ser procurada a partir deste sepulcro e natildeo o contraacuterio

4122 Pego Longo megaliacutetico mas natildeo sepulcral

O edifiacutecio megaliacutetico de Pego Longo (CNS-3518) encontra-se classificado

como Imoacutevel de Interesse Puacuteblico pelo Decreto nordm 2990 publicado no Diaacuterio da

Repuacuteblica 163 de 17 de Julho de 1990 Aleacutem desta designaccedilatildeo eacute tambeacutem conhecido

como Galeria coberta de Carenque (Ferreira 1959 Leisner 1965) ou da Serra das

Camelas (Ferreira e Leitatildeo sd p 189) ou Cameacutelias (IPPAR 1986 p 35) Segundo

E C Serratildeo a denominaccedilatildeo D Maria foi atribuiacuteda por O V Ferreira (Ferreira

1959) depois de este ter identificado aquele nome entre algumas inscriccedilotildees gravadas

num dos blocos da estrutura (Serratildeo Mesquita e Mesquita 1984) Nos seus

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 73 de 415

apontamentos o casal Leisner regista ainda as designaccedilotildees Ribeiro do Castanheiro e

Alto das Camelas (ALeisner Leis47) para esta estrutura

O siacutetio foi identificado e estudado por C Ribeiro no seacuteculo XIX tendo sido

alvo de notiacutecia nos Estudos Preacute-histoacutericos (Fig 53 1 e 2) sem designaccedilatildeo

especiacutefica apenas situado face a Monte Abraatildeo num relevo que separava as ribeiras

do Castanheiro e Carenque (Ribeiro 1880) Posteriormente O V Ferreira (1959)

refere ter feito nova pesquisa no ano anterior (1958) em colaboraccedilatildeo com V

Leisner o que esta aponta ter acontecido em 1960 (Leisner 1965 p 82) sobretudo

para melhor perceberem a sua estrutura Em 1983 a pedido da Cacircmara Municipal de

Sintra E C Serratildeo procede a nova exploraccedilatildeo com resultados tambeacutem pouco

clarificadores (Serratildeo Mesquita e Mesquita 1984) Finalmente em 1991 um

cidadatildeo preocupado com a seguranccedila de crianccedilas que ali baloiccedilavam numa das lajes

de cobertura desloca os linteacuteis destruindo com uma buldozer os muretes de pedra

seca que os suportavam (Sebastiatildeo 1991) encontrando-se estes tombados desde

entatildeo cada vez mais rodeados por entulhos

O cariz megaliacutetico desta estrutura resulta da utilizaccedilatildeo de quatro lajes de

cobertura de dimensotildees consideraacuteveis mas assentes numa estrutura mural em pedra

seca e nivelada quase integral do lado oeste e sul e parcial do lado este visto que aiacute

os seus construtores aproveitaram o proacuteprio afloramento alinhado e alteado Assim a

diaacuteclase alargada ali existente foi aproveitada como o espaccedilo interior rodeada com

a referida estrutura abrindo a norte Este edifiacutecio apresentava entatildeo segundo C

Ribeiro (1880 p 70) 4 m de comprimento por cerca de 175 m de largura e 19 m de

altura meacutedia V Leisner (1965 p 82) apresenta a planta e alccedilado do edifiacutecio

reflectindo mais fielmente a sua estrutura com novas mediccedilotildees 510 m de

comprimento por 240 m de largura maacutexima e 150 m miacutenima natildeo ultrapassando o

15 m de altura (Fig 53 3 e 4)

Em 1983 durante os trabalhos de E C Serratildeo uma das lajes de cobertura

desaparecera jaacute encontrando-se outra inclinada para dentro da cacircmara (Serratildeo

Mesquita e Mesquita 1984)

Os paralelos directos para este tipo de construccedilatildeo na regiatildeo de Lisboa

enquadraacuteveis em eacutepoca preacute-histoacuterica satildeo desconhecidos No entanto C Ribeiro

considerava que este edifiacutecio teria caracteriacutesticas ldquoalgum tanto anaacutelogasrdquo a outras

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 74 de 415

descritas por si concretamente a ldquopequena casa de mui grosseira construcccedilatildeo

servindo-lhe de tecto duas grandes lagesrdquo junto ao Moinho da Moura em Leceia

(Ribeiro 1880 p 70 Ribeiro 1878 p 9-11) e a outra a cerca de 500 metros a

noroeste do Casal de Colaride com dois monoacutelitos de calcaacuterio na sua cobertura

ainda que neste caso se salientasse ldquouma tal ou qual regularidade nos paramentos

das paredes que denunciam um certo adiantamento na arte de traccedilar e de construir

semelhantes edificaccedilotildeesrdquo (Ribeiro 1880 p 71-72) Na aacuterea onde se localizava esta

uacuteltima estrutura registaram-se posteriormente vaacuterios vestiacutegios de eacutepocas diversas

parcialmente afectados pela extracccedilatildeo de pedra (Coelho 2002) Em ambas as

construccedilotildees quadrangulares as exploraccedilotildees de C Ribeiro nada identificaram

Quase um seacuteculo depois O V Ferreira (1975) aborda o assunto a pretexto de

um apontamento de Francisco C Ribeiro (ver capiacutetulo 413) Este identificara nos

anos 20 outra construccedilatildeo quadrangular com cobertura ortostaacutetica junto agraves pedreiras

de Trigache conhecida por laquoCasinhotaraquo sem ter recolhido nela qualquer material

Com esta estrutura satildeo ainda consideradas outras duas uma possiacutevel a este de

Monte Serves (semi-destruiacuteda) e outra na Figueira da Foz com uma descriccedilatildeo menos

clara onde surgiram materiais preacute-histoacutericos Na opiniatildeo deste arqueoacutelogo as

estruturas apresentavam teacutecnicas construtivas semelhantes agraves dos tholoi e agraves

ldquomegaliacuteticasrdquo Apesar de admitir usos mais recentes (atestados pela presenccedila de

telhas) numa perspectiva difusionista actualmente desacreditada considerava que

estas poderiam corresponder a santuaacuterios ldquomegaronrdquo de povos provenientes do

mediterracircneo oriental (Ferreira 1975 p 54-55)

Entretanto no caso especiacutefico de Pego Longo O V Ferreira (1959) via

semelhanccedilas nesta estrutura e na de Trigache 3 com aquelas de Otranto no sul da

Peniacutensula Itaacutelica (Ferreira 1959 p 217 e 223) De facto as semelhanccedilas formais

imediatas satildeo surpreendentes mas aleacutem de se contrapor a distacircncia fiacutesica que separa

as duas regiotildees tambeacutem naquelas estruturas natildeo se reconheceu espoacutelio

caracterizaacutevel mantendo-se enigmaacuteticas com especulativas relaccedilotildees com as

construccedilotildees maltesas (Whitehouse 1967)

Quando se avalia a implantaccedilatildeo conhecida das estruturas enumeradas estas

surgem sempre nas proximidades de exploraccedilotildees de pedra activas ou desactivadas o

que levanta a hipoacutetese de poderem ter servido como abrigo inclusive durante os tiros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 75 de 415

detonados Isto porque esse tipo de estrutura megaliacutetica ainda hoje pode ser

observada por vezes nas pedreiras em laboraccedilatildeo tanto na regiatildeo de Lisboa como

noutras aacutereas do paiacutes nomeadamente Alto Alentejo

No que concerne o uso do elemento natural e o tipo de estrutura de Pego

Longo julgo que Bela Vista (CNS-19452 Mello et al 1961 Leisner 1965) poderia

ser talvez a realidade mais aproximada pois tambeacutem aquela aproveitou a

circunstacircncia de uma anomalia natural neste caso a cavidade sob o caos de blocos

graniacuteticos para ali instalar um pseudo-tholos adossado Contudo o traccedilo

arquitectoacutenico e o espoacutelio ali recolhido permitiram caracterizar a estrutura como

funeraacuteria num acircmbito cronoloacutegico provavelmente da 2ordf metade do 3ordm mileacutenio ane

o que natildeo eacute possiacutevel por desconhecimento de qualquer material no edifiacutecio em

anaacutelise

As diversas exploraccedilotildees efectuadas na estrutura dentro e fora natildeo

conseguiram ateacute hoje detectar elementos passiacuteveis de classificaccedilatildeo C Ribeiro

referia que naquela ldquoespeacutecie de monumento meio gruta artificial meio dolmen

nenhuns restos de animaes nem vestiacutegios de objectos drsquoarte encontraacutemos apenas no

solo adjacente topaacutemos com algumas lascas de siacutelexrdquo (1880 p 71) o que na regiatildeo eacute

frequente Tais resultados infrutiacuteferos tambeacutem se registaram nas estruturas de Leceia

e Colaride (Ribeiro 1878 p 9-11 Ribeiro 1880 p 70-72)

Na acccedilatildeo mencionada por O V Ferreira (1959) tambeacutem natildeo se referem

achados o que V Leisner (1965 p 82) realccedila anotando a inexistecircncia de material

recolhido

Por fim E C Serratildeo descreve o interior daquele edifiacutecio cheio de lixo na base

do qual recolheu alguns fragmentos ceracircmicos de difiacutecil classificaccedilatildeo e um

fragmento de ardoacutesia com 1cm2 - o que surpreende e levanta duacutevidas quanto agrave sua

proveniecircncia pois a forma meticulosa de escavar que C Ribeiro e seus

colaboradores praticavam teria detectado tais materiais com certeza se ali

estivessem originalmente

A fraqueza dos dados dispostos bem como a inusitada estrutura satildeo entatildeo

dificuldades evidentes para a sua classificaccedilatildeo Aliaacutes E C Serratildeo teraacute sentido isso

verificando-se essa preocupaccedilatildeo na sua argumentaccedilatildeo ldquoNa realidade este megaacutelito

de Belas foge aos tipos dos megaacutelitos claacutessicos incluindo mesmo os de classe das

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 76 de 415

ldquogalerias cobertasrdquo iquestE porque havemos de o introduzir rigidamente num grupo

como se investigaacutessemos em Zoologia por exemplo ciecircncia em cujo seio aparecem

aliaacutes com alguma frequecircncia exemplares de geacuteneros e famiacutelias novas Por muito

que os arqueoacutelogos pretendam sistematizar tecircm de estar preparados para casos de

excepccedilatildeo em todos os campos da construccedilatildeo de monumentos e fabrico de artefactos

antigos pois os autores foram homens e caracteriza os homens o poder da

criatividade onde estaacute o germe do progressordquo (Serratildeo Mesquita e Mesquita 1984 p

3) Ainda para justificar a ausecircncia de espoacutelio enumera vaacuterias hipoacuteteses estrutura

construiacuteda sem que tenha sido posteriormente utilizada trasladaccedilatildeo dos espoacutelios ali

depositados e finalmente ldquomuitas e sucessivas ldquoviolaccedilotildeesrdquo por populaccedilotildees de

vaacuterias eacutepocas seguintes e durante quase 6 mileacuteniosrdquo Contudo observa que rdquoas

violaccedilotildees de que quase todos os megaacutelitos foram alvo rariacutessimamente provocaram o

desaparecimento de simples resiacuteduos de artefactos de quaisquer mateacuterias primas e

ateacute de esquiacuterolas de ossos humanos ou natildeo principalmente dentes pois aos

violadores (que natildeo eram arqueoacutelogos) natildeo interessava esvaziar mas sim procurar

mateacuterias primas de que careciam ou objectos com utilidade desprezando inuacutemeras

peccedilas inteiras ou fragmentadasrdquo (Serratildeo Mesquita e Mesquita 1984 p 4) Fazendo

minhas as suas palavras apontaria este uacuteltimo motivo para tambeacutem descartar a

possibilidade do espoacutelio sob a designaccedilatildeo de ldquoAnta de Belasrdquo poder provir dali

Perante o exposto eacute entatildeo difiacutecil adscrever para este edifiacutecio uma funccedilatildeo

funeraacuteria para a qual a presenccedila de restos humanos seria condiccedilatildeo primaacuteria mais

ainda numa regiatildeo em que a sua preservaccedilatildeo eacute recorrente

Por outro lado para aleacutem do aspecto megaliacutetico da estrutura a atribuiccedilatildeo

funeraacuteria parece tambeacutem ter resultado da proximidade dos diversos sepulcros preacute-

histoacutericos de Belas e Carenque sobretudo do primeiro grupo construindo-se

historiograficamente uma realidade natildeo comprovaacutevel mas aceite de boa feacute por vaacuterios

autores inclusivamente no iniacutecio do meu proacuteprio trabalho (Boaventura no prelo b)

Sintomaacutetico dessa falta de comprovaccedilatildeo talvez seja o facto das trecircs antas de Belas e

a de Carrascal terem sido logo em 1910 classificadas como Monumentos Nacionais

mas o Pego Longo se quedasse arredado de tal distinccedilatildeo

Se a funccedilatildeo funeraacuteria resulta questionaacutevel a sua atribuiccedilatildeo cronoloacutegica eacute

entatildeo uma tarefa vatilde Contudo se de facto aquela construccedilatildeo cumprisse a funccedilatildeo de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 77 de 415

abrigo esta pertenceria a momentos mais recentes quiccedilaacute apoacutes a introduccedilatildeo da

poacutelvora na extracccedilatildeo de pedra

Assim a natildeo ser que sejam recolhidos novos elementos ou detectadas

estruturas semelhantes apoacutes a anaacutelise supra considerei que este edifiacutecio deveria ser

excluiacutedo do presente estudo

413 O cluster de Trigache

Os sepulcros de Trigache e Conchadas foram apresentados agrave comunidade

arqueoloacutegica por intermeacutedio de V Leisner e O V Ferreira (1959 e 1961) a partir

dos espoacutelios exumados e dos apontamentos produzidos por Francisco Carlos Ribeiro

(Ferreira 1961 Leisner e Ferreira 1961) O V Ferreira (1959) refere-se a trecircs deles

de forma sucinta no seu inventaacuterio de monumentos megaliacuteticos de Lisboa publicado

no mesmo volume do trabalho conjunto com V Leisner (Leisner e Ferreira 1959)

Contudo aquelas referecircncias teratildeo resultado provavelmente de uma primeira notiacutecia

ainda sem os dados sistematicamente estudados pois notam-se algumas

incongruecircncias que teratildeo sido rectificadas posteriormente mas sem o devido alerta

F C Ribeiro empregado bancaacuterio residente em Odivelas durante os anos 20

do seacuteculo XX procedeu a escavaccedilotildees de vaacuterios sepulcros nos arredores daquela

povoaccedilatildeo entre 1920 e 1925 durante a sua convalescenccedila de doenccedila prolongada

(Ferreira 1961) As suas actividades arqueoloacutegicas teratildeo chamado a atenccedilatildeo puacuteblica

pois foram noticiadas no Diaacuterio de Notiacutecias (1331925) e inclusive a de J L

Vasconcelos com quem se teraacute correspondido ndash no epistolaacuterio deste arqueoacutelogo

apenas localizei uma carta de F C Ribeiro desculpando-se pela demora em

responder aos assuntos de Arqueologia mas sem os desenvolver (AJLVasconcelos)

Tambeacutem enquanto soacutecio da Sociedade de Geografia teraacute proferido uma conferecircncia

acerca dos resultados de seus trabalhos (Ferreira 1961) Aquela actividade teraacute

abarcado outros tipos de vestiacutegios e cronologias nomeadamente a escavaccedilatildeo de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 78 de 415

algumas sepulturas aparentemente visigoacuteticas na aacuterea de A-da-Beja (Ferreira 1963)

ou recolhas de material paleoliacutetico do Casal do Monte (ALeisner Leis61)

Apesar de natildeo ter concretizado a publicaccedilatildeo daquelas pesquisas megaliacuteticas os

seus materiais e apontamentos permaneceram guardados pelo que apoacutes a sua morte

em 1951 o seu sobrinho A R Ferreira (1961) diligenciou o seu estudo atraveacutes de O

V Ferreira e V Leisner sendo provaacutevel que G Leisner tambeacutem tenha colaborado ndash

no entanto a idade avanccedilada e os problemas de sauacutede que conduziriam ao seu

falecimento em Setembro de 1958 teratildeo limitado essa colaboraccedilatildeo Portanto eacute

graccedilas a todos estes intervenientes que hoje se tem conhecimento destes sepulcros

pois a voragem da exploraccedilatildeo de pedra em Trigache e em A-da-Beja erradicaram

completamente qualquer vestiacutegio

Aleacutem das publicaccedilotildees daqueles autores utilizei ainda a documentaccedilatildeo referente

a estes sepulcros produzida pelo casal Leisner aparentemente no primeiro semestre

de 1958 (ALeisner Leis61 e Leis64) nomeadamente os desenhos de materiais (com

coacutedigos entretanto desaparecidos) e as transcriccedilotildees dactilografadas efectuadas dos

papeacuteis de F C Ribeiro ainda que notando-se a falta de algumas paacuteginas Estas

transcriccedilotildees natildeo indicam por vezes as mediccedilotildees das lajes deixando espaccedilos em

branco mas noutros papeacuteis surgem anotaccedilotildees delas pelo que se pode assumir que

algumas existiam originalmente Por outro lado o desenho das plantas daqueles

sepulcros ter-se-aacute baseado essencialmente nas descriccedilotildees manuscritas de F C

Ribeiro mas eacute possiacutevel que tais esquiccedilos existissem pois satildeo referidos para Trigache

4 e Conchadas A consulta directa da documentaccedilatildeo de F C Ribeiro natildeo foi possiacutevel

por natildeo ter conseguido localizaacute-la quer no Museu Geoloacutegico ou na biblioteca do

Laboratoacuterio Nacional de Energia e Geologia (ex-INETI) Assim foi a partir do

cruzamento e anaacutelise dos documentos sobreviventes que foi possiacutevel compreender

melhor as conclusotildees publicadas e propor novas leituras para alguns dos sepulcros

Em geral os apontamentos de F C Ribeiro satildeo pormenorizados tendo existido

a preocupaccedilatildeo de atribuir coacutedigos a parte das peccedilas relacionando-as com as posiccedilotildees

de recolha por vezes com as profundidades registadas a partir da superfiacutecie

Depreende-se dos textos que as terras da escavaccedilatildeo deveriam ter sido sempre

crivadas normalmente no final da acccedilatildeo mas tal soacute ficou expliacutecito no caso da

exploraccedilatildeo de Trigache 4 quando se afirma que ldquoterminada a exploraccedilatildeo e passadas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 79 de 415

pelo crivo as terras deste monumento passamos agrave examinaccedilatildeo dos seguintes

objectosrdquo (cit in ALeisner Leis61)

Entretanto uma das questotildees que teraacute passado desapercebida aos editores do

espoacutelio de F C Ribeiro refere-se agrave anta de Pedras Grandes Quando compilava a

bibliografia para as antas de Lisboa e reli este trabalho algo que me suscitou

interrogaccedilatildeo foi o facto das exploraccedilotildees se terem realizado em Trigache e em

Conchadas quedando-se intocada e natildeo referida a anta de Pedras Grandes (ou do

Fojo) situada a escasso quiloacutemetro de Trigache e com certeza conhecida pelo

bancaacuterio pois refere-se ao trabalho de Carlos Ribeiro (ALeisner Leis61) Uma das

hipoacuteteses que coloquei inicialmente para tal omissatildeo teria sido a dificuldade de

qualquer exploraccedilatildeo ali se concretizar com parcos meios pois a queda do seu esteio

de cabeceira selando o acesso a quase toda a cacircmara limitaria o sucesso da tarefa

tal como jaacute acontecera a C Ribeiro (1880 p 69) Mas isso natildeo teria impedido

alguma pesquisa pontual

Quando procedi a nova anaacutelise das publicaccedilotildees referentes aos monumentos de

Trigache verifiquei que uma das imagens fotograacuteficas atribuiacuteda agrave anta de Trigache 1

(Leisner e Ferreira 1961 est XII-2) correspondia de facto agrave anta de Pedras

Grandes vista de Este-Nordeste com a Serra de Sintra no horizonte algo impossiacutevel

de se observar na aacuterea do agrupamento de Trigache (Fig 69 1 e 2) Como F C

Ribeiro surge fotografado em todas as antas exploradas por ele eacute provaacutevel que

tambeacutem nesta tenha sido realizada alguma pesquisa mas se recolheu algum material

tal natildeo foi detectado por V Leisner e O V Ferreira (1961)

Com a excepccedilatildeo do caso referido atraacutes as informaccedilotildees de F C Ribeiro

permitiram a reconstituiccedilatildeo geneacuterica das suas intervenccedilotildees bem como dos materiais

recolhidos pelo menos para a maioria deles Isto porque algumas peccedilas jaacute tinham

perdido a sua proveniecircncia por monumento como aconteceu com parte do espoacutelio

ceracircmico dos sepulcros de Trigache entretanto designados ldquoNecroacutepole de Trigacherdquo

(Leisner e Ferreira 1961 p 312) e posteriormente com outro espoacutelio nomeadamente

de Conchadas

Apoacutes a entrada do espoacutelio de Trigache e Conchadas no Museu Geoloacutegico este

sofreu outros infortuacutenios culminando nos anos 90 com a unificaccedilatildeo dos sepulcros

de Trigache sob um mesmo coacutedigo (MG179) sem que as peccedilas tivessem sido

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 80 de 415

sistematicamente inventariadas com adscriccedilatildeo de monumento o que deveria ter sido

possiacutevel Contudo informaccedilatildeo pessoal de J Brandatildeo em 2005 entatildeo o responsaacutevel

interino pelo Museu (Brandatildeo 1999) referiu que muitos dos materiais agrave data da

inventariaccedilatildeo jaacute se encontravam misturados nos tabuleiros com etiquetas perdidas ou

fora de siacutetio

Felizmente boa parte do espoacutelio tinha jaacute sido publicado com listagem

desenhos e fotografias (Leisner e Ferreira 1959 Leisner e Ferreira 1961 Leisner

1965) a que se juntou a documentaccedilatildeo referida atraacutes tornando foi possiacutevel a

recuperaraccedilatildeo da maioria das proveniecircncias dos materiais quando ingressaram no

Museu Aqueles em que tal objectivo natildeo foi alcanccedilado engrossaram o grupo

designado ldquoNecroacutepole de Trigacherdquo

Neste capiacutetulo discutirei apenas os sepulcros de Trigache abordando-se o de

Conchadas noutro capiacutetulo

Segundo V Leisner e O V Ferreira (1961) os monumentos megaliacuteticos de

Trigache situavam-se na encosta oriental do planalto denominado ldquoCampo de

Trigacherdquo no fundo da qual corre a Ribeira de Odivelas (Fig 26) O substrato desta

aacuterea apresenta calcaacuterios cretaacutecicos do Cenomaniano superior (SGP 1981)

anteriormente classificado como Turoniano (Leisner e Ferreira 1961 Zbyszewski

1964) Teraacute sido esta a mateacuteria-prima utilizada na construccedilatildeo dos sepulcros 1 a 3 e

possivelmente do 4 Isto porque de acordo com a sua localizaccedilatildeo este uacuteltimo

situar-se-ia em calcaacuterios cretaacutecicos mas do Cenomaniano meacutedio com ldquocalcaacuterios e

margas (ldquoBelasianordquo)rdquo (Leisner e Ferreira 1961 fig 1 Zbyszweski 1964) Apesar

disso poderaacute admitir-se que os blocos utilizados foram extraiacutedos localmente se natildeo

mesmo nas imediaccedilotildees da erecccedilatildeo das construccedilotildees Outro aspecto que importa reter eacute

a abundante presenccedila de siacutelex nas bancadas rochosas desta zona (Zbyszweski 1964)

inclusive ainda hoje recordada pelo topoacutenimo ldquoPedernaisrdquo (IGE 1993)

4131 Trigache 1

A anta de Trigache 1 (CNS-4733) situava-se ldquonuma pequena encosta de

declive natildeo excedenterdquo (F C Ribeiro cit in ALeisner Leis61) o que a fotografia

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 81 de 415

apresentada parece ilustrar como um pequeno patamar (Leisner e Ferreira 1961 est

XII 1)

Apesar da referida imagem ser bastante clara acerca do caraacutecter megaliacutetico do

sepulcro (Leisner e Ferreira 1961 est XII 1) a descriccedilatildeo e a planta apresentadas

revelam-se menos esclarecedoras No entanto nos apontamentos de V Leisner o

esboccedilo de uma das plantas eacute mais legiacutevel e compatiacutevel com aquela imagem

(ALeisner Leis64) O motivo para tal contradiccedilatildeo deveraacute residir no facto dos

arqueoacutelogos terem optado na planta final por seguir literalmente a descriccedilatildeo de F C

Ribeiro Contudo neste caso diria que uma imagem vale por mil palavras

preferindo dar primazia agrave foto pois nem sempre aquele teraacute compreendido

totalmente as realidades que escavava e descrevia (Fig 54 1 e 2)

A anta mantinha quatro esteios da cacircmara aproximadamente in situ ainda que

inclinados sobretudo o esteio B e D As dimensotildees apontadas pelos autores referem

uma altura maacutexima para o esteio A de 220 m de altura por 062 m de espessura Os

restantes tinham alturas de B - 162 m por 034 m de espessura C - 103 m por 015

m e D ndash 2 m por 020 m Estas verticais corresponderatildeo aos valores medidos dos seus

topos inclinados ao chatildeo e natildeo na sua posiccedilatildeo original Jaacute a posiccedilatildeo do bloco E

parece ser menos paciacutefica pois F C Ribeiro coloca-o dentro da cacircmara em cutelo

Mas observando a foto aquela laje de facto em cutelo surge no limite daquele

espaccedilo podendo inclusive corresponder a outro esteio deslocado As suas dimensotildees

anotadas por V Leisner eram de 2 m comprimento tombado por 096 m de largura e

030 m de espessura Quanto ao corredor natildeo havia registo acerca deste ainda que

pudesse subsistir na sua mamoa aparentemente perceptiacutevel na foto (Leisner e

Ferreira 1961 est XII 1) e assinalada por F C Ribeiro (ALeisner Leis64)

contrariamente ao que eacute referido no texto publicado (Leisner e Ferreira 1961 p

302)

Apesar de se referir que a orientaccedilatildeo do sepulcro era incerta surge na planta

uma seta indicando o Norte provavelmente porque se utilizou algum apontamento

ou o relevo circundante como ponto de referecircncia De facto se considerarmos que

aquele monumento se localizava na encosta oriental do ldquoCampo de Trigacherdquo este

estaria num patamar em niacutevel inferior ao seu horizonte pelo que o esteio C apontaria

a Noroeste daiacute deduzindo-se genericamente o Norte

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 82 de 415

Face ao exposto ainda que com alguma reserva eacute plausiacutevel admitir que esta

anta apresentaria uma cacircmara poligonal de dimensotildees meacutedias provavelmente

orientada para nascente

A escavaccedilatildeo do sepulcro segundo F C Ribeiro (cit in ALeisner Leis64)

revelou uma cacircmara entulhada com terra e pedras registando-se sob estas uma

camada de 15-20 cm de espessura onde se recolheram ossos humanos e dentes O

piso seria de terra batida com muitas lascas de siacutelex Os objectos encontrados foram

pouco numerosos resumindo-se a uma lacircmina de siacutelex natildeo retocada de secccedilatildeo

triangular (em mm comp 428 larg 197 esp 46) dois fragmentos de outras duas

lacircminas e dois machados de secccedilatildeo circular De todo o espoacutelio mencionado apenas

foi possiacutevel localizar os instrumentos de pedra polida Mas eacute provaacutevel que tal

situaccedilatildeo jaacute ocorresse agrave data do estudo anterior ainda que nem sempre seja claro

aquilo que de facto resultou da listagem dos achados referida por F C Ribeiro ou

dos objectos que foram realmente identificados pelos editores do trabalho Refira-se

que um dos conjuntos de restos humanos actualmente sob a designaccedilatildeo de

Necroacutepole de Trigache poderia corresponder a este siacutetio

Pelo espoacutelio recolhido eacute difiacutecil apontar com seguranccedila um periacuteodo de

utilizaccedilatildeo mas a ausecircncia de menccedilatildeo a fragmentos ceracircmicos a presenccedila de

machados polidos de secccedilatildeo circular ou ovalada e eventualmente as lacircminas

poderatildeo apontar uma utilizaccedilatildeo geral na 2ordf metade do 4ordm mileacutenio ane

4132 Trigache 2

O sepulcro de Trigache 2 (CNS-3857) situar-se-ia a cerca de 160 metros a

leste-sudeste do nordm 1 ldquomuito proximo do caminho que vem do casal de Trigaches ndash

pedreiras se bifurca para descer em dois ramos ateacute o riordquo (F C Ribeiro cit in

ALeisner Leis61)

Segundo F C Ribeiro a mamoa ainda subsistia parcialmente (Fig 54 3-4)

Apesar de natildeo abarcar a totalidade do relevo do sepulcro a fotografia desta estrutura

evidencia ainda um corredor com as faces externas dos esteios envolvidas por terras

com um certo porte (Leisner e Ferreira 1961 est XIII 3)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 83 de 415

Pela mesma imagem percebe-se ainda a dimensatildeo megaliacutetica desta estrutura

(Fig 54 4) mas jaacute natildeo eacute clara a grande cacircmara circular com aproximadamente 550

metros de diacircmetro definida por V Leisner e O V Ferreira (1961) De facto F C

Ribeiro apenas descreve dois esteios da cacircmara b e a admitindo a possibilidade

deste uacuteltimo ser jaacute parte do corredor Entre b e a num fosso de violaccedilatildeo anterior

localizou outro bloco que considerou um fragmento de esteio Quanto agraves dimensotildees

do esteio b inclinado ligeiramente para o interior da cacircmara teraacute havido troca de

valores na publicaccedilatildeo pois 190 m era a largura maacutexima e 145 m a sua altura

(ALeisner Leis61) Assim face aos parcos dados para esta parte do sepulcro

limitaria a interpretaccedilatildeo agrave possibilidade de uma anta com cacircmara de caraacutecter

poligonal

No que concerne o corredor o tamanho da laje a com cerca de 120 m de

altura por 110 m de largura com uma altimetria aproximada do esteio b distingue-

se claramente dos restantes elementos do corredor que natildeo ultrapassariam o meio

metro mas sem que aparentassem estar quebrados O comprimento daquela parte

baixa com cerca de 210 m e uma largura 090 m no tramo inicial para se alargar a

meio ateacute 130 m coloca a possibilidade da existecircncia de um tramo vestibular

intratumular natildeo coberto dando acesso a um curto corredor com uma altura

aproximada agrave da cacircmara A largura agrave entrada da cacircmara 125 m deve ser

considerada com reserva pois natildeo se reconheceu o esteio ou o seu alveacuteolo no lado

sul De qualquer forma os autores estimaram a orientaccedilatildeo da passagem apontando a

sudeste

A maioria do espoacutelio recolhido nesta anta encontrava-se no troccedilo do vestiacutebulo e

corredor tendo o seu escavador considerado que estaria relativamente preservado

(Fig 57-59) No entanto os ossos recolhidos bastante fragmentados e revoltos bem

como os artefactos nomeadamente dois vasos juntos virados para baixo mas ldquofeitos

em pedaccedilosrdquo (F C Ribeiro cit in ALeisner Leis61) parecem demonstrar que aquele

contexto se encontrava remexido Na cacircmara apenas haacute notiacutecia de dois instrumentos

polidos e algumas pontas de seta na aacuterea de entrada

O inventaacuterio entatildeo apresentado revela um conjunto abundante de materiais do

qual foi possiacutevel re-identificar a maioria

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 84 de 415

Os restos osteoloacutegicos que foi possiacutevel adscrever a esta anta seratildeo discutidos

noutro local (capiacutetulo 6 e Anexo 6) mas registaram-se ossos e dentes

No conjunto da pedra lascada os produtos alongados apresentam um nuacutemero

de peccedilas superior (22 fragmentos) agravequele apontado na publicaccedilatildeo limitado a 15

peccedilas das quais satildeo destacadas trecircs (MG17934 38 e 118J Leisner 1965 taf 16

16 17 e 19) Um quarto fragmento de lacircmina (MG17949B) surge desenhado na

documentaccedilatildeo do arquivo Leisner (ALeisner Leis61) mas natildeo chegou a ser incluiacutedo

na prancha de materiais publicados

Um pequeno nuacutecleo exausto de lamelas (MG17942) eacute referido e apresentado

mas o seu desenho (Leisner 1965 taf 16 21) eacute de leitura difiacutecil pelo que se

apresenta nova ilustraccedilatildeo (Fig 58)

Aleacutem do raspador sobre lasca (MG179120B Leisner 1965 taf 16 43)

registam-se outros utensiacutelios expeditos nomeadamente alguns furadores sobre lasca

(MG17939 e 40)

Ainda no universo dos instrumentos lascados haacute que realccedilar um nuacutemero de sete

geomeacutetricos 6 dos quais trapezoidais (Fig 58 1-7) Trecircs haviam sido desenhados

para a publicaccedilatildeo (Leisner e Ferreira 1961 p 306 Leisner 1965 taf 16) Naquele

cocircmputo inclui-se o fragmento distal de geomeacutetrico (MG17950A) considerado

pelos autores triangular o que me parece arriscado de afirmar Curiosamente F C

Ribeiro referia 6 peccedilas entre as categorias de pontas de seta do 7ordm tipo ldquopontas

trapezoidais feitas geralmente de fragmentos de facasrdquo (ALeisner Leis61) todas

com um escrito a laacutepis ldquo7ordm tipordquo (MG17949A 50A 50B 50C 50D e 50 E)

As pontas de seta (Fig 58 12-23) apresentam-se essencialmente com bases

convexas (27) cujo formato triangular eacute o mais frequente outra tem base recta e

duas cocircncavas No entanto conviraacute alertar para o facto de estas totalizarem cerca de

45 segundo F C Ribeiro mas incluindo os geomeacutetricos (cit in ALeisner Leis61) e

posteriormente 39 sem os geomeacutetricos (Leisner e Ferreira 1961 p 306)

Haacute ainda duas peccedilas (MG17946A e 46C) incluiacutedas no grupo referido das

pontas de seta que necessitam de ser clarificadas Estas surgem atribuiacutedas a Trigache

2 e 3 na publicaccedilatildeo de V Leisner (1965 taf 16 25 e taf 17 29-30) e nos seus

apontamentos (ALeisner Leis 61) No trabalho colectivo com O V Ferreira (1961)

apenas eacute possiacutevel perceber parte desta questatildeo pois os materiais natildeo foram ilustrados

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 85 de 415

e as descriccedilotildees satildeo sumaacuterias Se aquela dupla atribuiccedilatildeo de origem pode ser

explicada como um lapso a dupla classificaccedilatildeo como ponta de seta e ldquomicroacutelito (hellip)

com o retoque abrangendo parte da superfiacutecierdquo (Leisner e Ferreira 1961 p 308) eacute

curiosa De facto na documentaccedilatildeo de V Leisner as duas peccedilas surgem desenhadas

nas minutas de Trigache 2 (uma delas datada de 22 de Maio de 1958) como pontas

de seta e noutra de Trigache 3 (natildeo datada) como ldquomicroacutelitos de transiccedilatildeordquo

(ALeisner Leis61)

Ambas as peccedilas apresentam um formato proacuteximo do trapezoidal mas porque

foram obtidas a partir de lascas sofreram um retoque invasor o suficiente para lhes

dar o acabamento final na minha opiniatildeo de pontas de projeacutectil

Quanto ao discernimento da proveniecircncia das peccedilas julgo que se registou

alguma confusatildeo entre sepulcros nos trabalhos publicados (Leisner e Ferreira 1961)

sobretudo visiacutevel na apresentaccedilatildeo graacutefica (Leisner 1965 taf 16 25 e taf 17 29-30)

devendo aquelas corresponder a Trigache 2 tal como foram inicialmente

inventariadas e desenhadas (ALeisner Leis61) Com certeza a consulta integral aos

apontamentos de F C Ribeiro talvez pudesse encerrar a questatildeo mas tal natildeo parece

possiacutevel

Finalmente um troccedilo de bordo em siacutelex com retoque bifacial parece incluir-se

no grupo das grandes pontas bifaciais

Face agrave pedra lascada os instrumentos de pedra polida encontraram-se em

menor quantidade resumindo-se a dois achados na cacircmara uma enxoacute quebrada em

xisto anfiboacutelico (MG17956) no entulho junto ao topo do esteio b e um machado em

anfibolito (MG17958) Outra enxoacute quase intacta tambeacutem de xisto anfiboacutelico

(MG17957) foi encontrada na entrada defronte do esteio a A publicaccedilatildeo apresenta

ainda um fragmento de uma pequena enxoacute em ldquofibrolite brancardquo (Leisner e Ferreira

1961 e Leisner 1965 taf 16 4)

A pedra afeiccediloada eacute apenas listada por um seixos de quartzito um com sinais

de uso e outro com levantamento de lascas

No acircmbito dos artefactos votivos em pedra regista-se a recolha de um

fragmento de iacutedolo-placa antropomorfo (Fig 59 1 MG17962) e outros dois

fragmentos Um deles (MG17963A) colando com o iacutedolo referido e outro

correspondendo a uma segunda peccedila (MG17963B) Aleacutem destes apresenta-se um

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 86 de 415

fragmento de uma luacutenula decorada e perfurada e um pequeno betilo troncocoacutenico

aparentemente afeiccediloado ambos em calcaacuterio

Os adornos em pedra resumiam-se a contas de colar ainda que de pedra verde

(segundo F C Ribeiro ldquoribeiriterdquo mas depois designadas na publicaccedilatildeo ldquocalaiacuteterdquo) e

xisto Contudo das 20 contas em pedra verde apenas relocalizei 12 Isto poderaacute

dever-se a extravio ou simplesmente a uma classificaccedilatildeo geneacuterica pois em vez das

19 contas de xisto contabilizei 25 o que perfaz um total de 37 peccedilas a que se

poderia juntar as duas contas em osso

As outras peccedilas de adorno satildeo fragmentos de hastes e cabeccedilas posticcedilas de

alfinetes de cabelo em osso totalizando um nuacutemero miacutenimo de 4 peccedilas Uma destas

ainda se encontrou com parte da cabeccedila e a haste inclusa Estas posticcedilas apresentam-

se decoradas com incisotildees horizontais Outro fragmento de haste que seria a parte

proximal de um alfinete com cabeccedila simples foi decorado tambeacutem com algumas

incisotildees mas obliacutequas

Aleacutem das peccedilas de osso referidas indicou-se um fragmento de ldquoalfinete

espatuliformerdquo (Leisner e Ferreira 1961 p 306) Contudo a anaacutelise da peccedila

(MG17968) permitiu verificar que seria possivelmente um pequeno pente ou garfo

de cabelo com caracteriacutesticas formais semelhantes a outro recolhido no sepulcro da

Samarra (Franccedila e Ferreira 1958 Leisner 1965 taf 36 50) Inclusive no desenho

apresentado teraacute escapado o pormenor de um pequeno orifiacutecio no interior da peccedila

bem como algumas incisotildees numa das suas faces (Fig 59 2 e 4)

V Leisner apresenta ainda outro fragmento oacutesseo afeiccediloado (1965 taf 16 13)

mas a peccedila natildeo permite uma interpretaccedilatildeo clara

Finalmente no que concerne a ceracircmica apesar de F C Ribeiro localizar a

proveniecircncia de dois vasos juntos no corredor natildeo foi possiacutevel correspondecirc-los com

as peccedilas sobreviventes de Trigache 2 ou aquelas genericamente atribuiacuteveis agrave

Necroacutepole Assim o conjunto ceracircmico limita-se a um grande pedaccedilo de uma taccedila

com decoraccedilatildeo canelada e fragmentos de pelo menos dois vasos campaniformes

um com decoraccedilatildeo pontilhada no estilo internacional preenchida com pasta branca

outro com decoraccedilatildeo incisa (Leisner 1965 taf 16 51) natildeo localizado na colecccedilatildeo

Aleacutem destes haacute ainda mais dois fragmentos com faixas impressas provavelmente de

cruzetas normalmente registadas no fundo de taccedilas ou vasos campaniformes Aleacutem

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 87 de 415

destes elementos haacute ainda vaacuterias dezenas de fragmentos ceracircmicos alguns com

decoraccedilotildees incisas campaniformes mas sem a possibilidade reconstruccedilatildeo de formas

Anote-se ainda a referecircncia de F C Ribeiro a ldquoescoacuterias de cobrerdquo mas jaacute natildeo

encontradas pelos editores do trabalho quedando-se pela duacutevida (Leisner e Ferreira

1961 p 324-325)

Perante os dados descritos atraacutes eacute possiacutevel propor alguns momentos de

utilizaccedilatildeo para a anta de Trigache 2

Assim os geomeacutetricos algumas pequenas lacircminas e eventualmente o nuacutecleo de

lamelas poderiam marcar um momento inicial de utilizaccedilatildeo entre os dois uacuteltimos

quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane O seu uso teraacute continuado durante a passagem do 4ordm

para o 3ordm mileacutenio de que satildeo testemunho as pontas de seta os instrumentos polidos

de secccedilatildeo poligonal os alfinetes de cabelo e os iacutedolos-placa Contudo o iacutedolo-placa

antropomorfo poderaacute ter convivido com a taccedila canelada e os elementos de calcaacuterio

durante a primeira metade do 3ordm mileacutenio ane

Foi tentada uma primeira dataccedilatildeo radiocarboacutenica sobre amostra de osso

occipital mas o colageacutenio revelou-se insuficiente Uma segunda tentativa (Beta-

239755 Anexo 3 Quadro 2) sobre outro fragmento de calote craniana proporcionou

um intervalo de 3090-2890 cal BCE (com 898 de probabilidade restringe-se a

3030-2890 cal BCE) Esta data reforccedila a proposta de uma utilizaccedilatildeo na passagem de

mileacutenio

Finalmente os recipientes campaniformes e as eventuais ldquoescoacuterias de cobrerdquo

parecem denunciar re-usos desde meados do 3ordm mileacutenio ane

4133 Trigache 3

O sepulcro de Trigache 3 (CNS-3789) localizava-se para nordeste da anta de

Trigache 2 a escassos 15 metros (Leisner e Ferreira 1959) Corresponde agrave ldquogaleria

coberta de Trigacherdquo inicialmente referida por O V Ferreira (1959 p 219) sem

espoacutelio identificado

Observando a fotografia disponiacutevel (Leisner e Ferreira 1961 XIII-3) eacute

possiacutevel admitir que este sepulcro se implantava no mesmo patamar de Trigache 2

se natildeo mesmo no limite do seu tumulus considerando a distacircncia entre os dois (Fig

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 88 de 415

55 1-2) Nessa imagem eacute niacutetida a paacutetina da parte exposta do esteio de cabeceira (a)

face agrave alvura da parte inferior e dos outros provaacuteveis ortoacutestatos encontrados

enterrados ainda que por vezes deslocados das suas posiccedilotildees originais Apesar de

natildeo haver menccedilatildeo agrave altura daquele ou qualquer outro esteio eacute possiacutevel admitir que

este sepulcro de cariz megaliacutetico seria relativamente baixo ndash apreciando a proporccedilatildeo

de F C Ribeiro posando defronte do esteio de cabeceira bem como o facto dos

poucos achados com a profundidade anotada nunca terem ultrapassado os 075-084

metros de profundidade abaixo da superfiacutecie (segundo F C Ribeiro cit in ALeisner

Leis61) eacute provaacutevel que rondasse 1 a 15 metros de altura dando a impressatildeo de

descer da entrada para o interior da cacircmara se considerar as cotas de achados na

entrada (variando entre 013 m e 057 m)

Como o esteio de cabeceira se encontrava inclinado para noroeste F C

Ribeiro presumiu que o espaccedilo sepulcral se localizasse daquele lado procedendo ali

a uma primeira sondagem tendo recolhido alguns ossos humanos e objectos

arqueoloacutegicos Contudo ao realizar outra sondagem apercebeu-se que o recinto se

estendia para o lado oposto tendo entatildeo alargado a escavaccedilatildeo naquela aacuterea

A reconstituiccedilatildeo realizada por V Leisner e O V Ferreira (1961 p 307-308)

baseada na documentaccedilatildeo de F C Ribeiro apresenta entatildeo uma cacircmara ldquopoligonal

alongadardquo com cerca de 275 metros de comprimento e 175 metros de largura em

toda a sua extensatildeo apenas estreitando na aacuterea do presumiacutevel corredor de forma

trapezoidal Com este troccedilo o espaccedilo sepulcral teria pelo menos 450 metros de

comprimento No entanto aquela particcedilatildeo do espaccedilo natildeo parece ser tatildeo clara pelo

que faraacute mais sentido falar de um sepulcro com uma planta de tendecircncia trapezoidal

em que a entrada da cacircmara natildeo se demarcava nitidamente de um corredor

O ortoacutestato de cabeceira (a) teria dois pilares a ladeaacute-lo (b e l) mantendo-se

ainda mais ou menos in situ os esteios c h k e j No espaccedilo entre os blocos c e h

surgiu um ldquomuro de pedra seca composto por duas ou trecircs fiadasrdquo sobre as quais foi

encontrado um conjunto variado de objectos A cota do topo daquelas pedras (f e g)

era relativamente superficial de acordo com algumas das profundidades registadas

para as lacircminas ali recolhidas nomeadamente a 024 m (MG 179121A e 124B) e

010 m (MG179124A 124B e 124C) o que poderaacute denunciar visitas e remeximento

anteriores e que as lajes tombadas i e m-n (segundo o escavador pertenciam ao

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 89 de 415

mesmo bloco) dentro do recinto tambeacutem poderatildeo ser uma consequecircncia Natildeo teraacute

sido avistado qualquer elemento passiacutevel da cobertura

Segundo F C Ribeiro o piso da cacircmara encontrava-se pavimentado com lajes

de calcaacuterio assente sobre camada calcada de terra e lascas de siacutelex Na aacuterea do

ldquocorredorrdquo esse lajeamento dava lugar somente ao piso terroso A presenccedila de lascas

de siacutelex misturadas no sedimento eacute recorrente neste e nos restantes sepulcros

sobretudo num substrato onde estes noacutedulos satildeo bastante frequentes No entanto

pode tambeacutem resultar de resiacuteduos de zonas de extracccedilatildeo e talhe anteriores daquela

mateacuteria-prima Apesar de natildeo ser claro presume-se que os materiais arqueoloacutegicos

foram recolhidos sobre o pavimento referido

Aleacutem do espoacutelio jaacute mencionado sobre as pedras f e g foram encontradas mais

algumas lacircminas o iacutedolo antropomorfo em greacutes (MG17992) um alfinete de cabelo

com cabeccedila posticcedila (MG17995-94) o pendente em calcite duas contas discoidais

em xisto e uma outra de pedra verde

No lado externo do esteio a foram recolhidos alguns ossos humanos e um

fragmento de placa em xisto mas ldquosem ornamentaccedilatildeordquo segundo o escavador

devendo corresponder a MG1791292 Aleacutem destes referem-se duas pontas de seta e

uma lacircmina Estes achados fora da cacircmara reforccedilam a impressatildeo referida

anteriormente de acentuada remobilizaccedilatildeo de materiais

Na cacircmara algum espoacutelio teraacute sobrevivido a mexidas antigas nomeadamente

uma lacircmina retocada mas partida (MG179124E) cujas partes foram colhidas a cotas

de 074 m e 084 m (a mais profunda registada) e uma lacircmina ovoacuteide junto com

fragmentos de cracircnio no espaccedilo entre o esteio c e m-n

Na aacuterea de entrada no curto ldquocorredorrdquo eacute possiacutevel distinguir dois conjuntos de

achados Um primeiro grupo de materiais relativamente dispersos sob e em redor da

laje i constituiacutedo por lacircminas (ex MG179124D) pontas de seta e um machado

(MG179191) O segundo conjunto corresponderaacute a um provaacutevel depoacutesito de

instrumentos de pedra polida (MG179113A 189 190 e 194) encontrado numa cota

inferior agrave base do esteio h rondando os 060 m e 075 m de profundidade Este tipo

de concentraccedilatildeo ainda que aparentemente pouco frequente nos sepulcros de Lisboa

(antas e outros tipos) eacute recorrente em sepulcros de outras regiotildees por exemplo no

Alentejo nomeadamente em escavaccedilotildees recentes nas antas de Santa Margarida 2

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 90 de 415

(Gonccedilalves 2001) ou de Rabuje 3 (Monforte) intervencionada por mim Nestas

conjuntos de utensiacutelios em pedra polida surgiram respectivamente no lado esquerdo

da entrada da cacircmara e num nicho escavado sob um dos esteios do corredor O

recente e clariacutessimo exemplo das grutas artificiais de Sobreira de Cima (Valera

Soares e Coelho 2008) parece reforccedilar esta tendecircncia tambeacutem verificada em antas

de Reguengos de Monsaraz e do Alentejo em geral (Leisner e Leisner 1951 e 1959

Gonaccedillves 2001)

A listagem do espoacutelio recolhido revela-se abundante sobretudo de materiais

em pedra lascada (Fig 60-62) Haacute no entanto que ressalvar que alguns destes

objectos poderatildeo corresponder natildeo a deposiccedilotildees funeraacuterias mas resultaram da

colheita entre as inuacutemeras lascas do piso do sepulcro (MG179146161) Esta

situaccedilatildeo em escavaccedilatildeo recente ocorreu na anta de Pedras Grandes num contexto

geoloacutegico semelhante e a cerca de 1 quiloacutemetro de Trigache 3

Apesar de mencionar-se a sua recolha natildeo foi possiacutevel identificar os restos

humanos deste sepulcro podendo corresponder a algum dos conjuntos sem

proveniecircncia da Necroacutepole de Trigache

Entre as lascas retocadas eacute possiacutevel destacar raspadores carenados e do tipo

leque bem como furadores sobre lasca e lasca laminar alguns deles apresentados

posteriormente por V Leisner (1965 taf 17)

Um pequeno nuacutecleo de siacutelex exausto (MG179123) encontrava-se entre as

lacircminas

Num total de 40 lacircminas e fragmentos destas apenas 5 natildeo apresentavam

retoque apresentando-se em geral largas e espessas Entre estas destaca-se um

conjunto de lacircminas compridas com retoque extensivo em um ou nos dois bordos

Registe-se ainda uma lacircmina ovoacuteide (MG17998)

As pontas de seta enumeradas foram todas identificadas mantendo-se a

proporccedilatildeo de 8 peccedilas com base convexa e 5 com base cocircncava

Os dois ldquomicroacutelitos de transiccedilatildeordquo listados natildeo foram considerados pois como

explanei acima pertenceratildeo a Trigache 2

O depoacutesito de instrumentos de pedra polida jaacute referido junto ao esteio h era

constituiacutedo por duas enxoacutes uma de xisto anfiboacutelico (MG179189) e outra de

anfibolito (MG179190) um machado em anfibolito (MG179113A) e um fragmento

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 91 de 415

de talatildeo de outra possiacutevel enxoacute em xisto anfiboacutelico (MG179194) Haacute ainda outro

machado em anfibolito (MG179191) sob o esteio i Entretanto outro fragmento

distal atribuiacutedo a Trigache 3 sem localizaccedilatildeo concreta (MG179113B) corresponde a

peccedila desenhada por V Leisner do espoacutelio de Conchadas (ALeisner Leis64) Em

geral as secccedilotildees destas peccedilas apresentam-se poligonais ou poligonais achatadas

Um fragmento de luacutenula em calcaacuterio (MG179114) e um iacutedolo-placa

antropomorfo em greacutes (MG17992) foram os uacutenicos artefactos votivos registados

Entre as contas de colar apenas foi possiacutevel localizar a veacutertebra de peixe (Fig

63 1) segundo os autores da Superclasse Teleostomi (Leisner e Ferreira 1961 p

322) com perfuraccedilatildeo (MG17993) o pingente ou conta em seixo de calcite

(MG17991) e o esboccedilo de conta em osso ainda natildeo totalmente perfurada

(MG17970B) As 11 contas de xisto discoidais e aquela em forma de azeitona em

pedra verde natildeo foram encontradas apesar do desenho de trecircs delas ser apresentado

(Leisner 1965 taf 18 1) F C Ribeiro refere ainda a possibilidade de ter

encontrado contas em azeviche mas estas desintegraram-se quando imersas em aacutegua

(ALeisner Leis61) Esta possibilidade eacute criacutevel pois conhecem-se outros achados

semelhantes noutros sepulcros nomeadamente em Monte Abraatildeo (Ribeiro 1880)

No acircmbito das peccedilas de osso para aleacutem das contas jaacute referidas foram

recolhidos fragmentos de alfinetes de cabelo com cabeccedila posticcedila podendo

corresponder a duas peccedilas Um das cabeccedilas era lisa (MG17996B) e a outra tinha

incisotildees horizontais encaixando ainda num pedaccedilo de haste (MG17994-95)

A presenccedila ceracircmica neste sepulcro resume-se a dois fragmentos ceracircmicos

provavelmente de um cincho ou queijeira (MG179115A e B) e alguns recipientes

campaniformes A sua reconstituiccedilatildeo permitiu verificar a existecircncia de dois vasos de

forma campanulada e uma taccedila com bordo espessado todos apresentando decoraccedilatildeo

impressa no estilo Palmela (Leisner e Ferreira 1961 Leisner 1965 p 18)

Segundo F C Ribeiro teraacute sido recolhida na cacircmara uma peccedila metaacutelica em

cobre a uma profundidade de 037 m Segundo este seria a ponta de um estilete ou

uma agulha apresentando-se as suas medidas 25 mm de comprido por 5 mm de

largura maacutexima e 4 mm de espessura Infelizmente jaacute natildeo foi encontrada pelos

editores do trabalho ainda que colocassem como hipoacutetese ser um fragmento de

punccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 92 de 415

Ateacute o momento natildeo foi possiacutevel obter qualquer dataccedilatildeo absoluta para este

sepulcro No entanto as caracteriacutesticas dos materiais exumados permitem apontar

alguns momentos de uso para este Assim julgo que este sepulcro teraacute sido

inicialmente utilizado na transiccedilatildeo do 4ordm para o 3ordm mileacutenio ane com maior

incidecircncia na primeira metade do uacuteltimo mas tambeacutem pontualmente na sua segunda

metade

Algo que importa realccedilar eacute a proximidade com Trigache 2 possivelmente

construiacuteda em momento anterior mas que depois teraacute sido utilizada em simultacircneo

com Trigache 3 o que pelo menos os fragmentos de luacutenulas distintas e algumas

pontas de seta parecem indiciar

4134 Trigache 4

O sepulcro de Trigache 4 (CNS-20099) localizava-se a cerca de 400 metros

para noroeste da anta de Trigache 1 numa chatilde conhecida localmente por

ldquoCasinholardquo De acordo com F C Ribeiro um dos proprietaacuterios Luiacutes Pedroso

lembrava-se ldquomuito bem desta anta quando ainda conservava chapeacuteu e outros

esteios que lhe davam a aparecircncia duma pequena casardquo (cit in ALeisner Leis 61)

A fotografia deste monumento que permite avistar atraacutes os relevos encaixantes

do vale da ribeira de Caneccedilas parece evidenciar as suas caracteriacutesticas megaliacuteticas

pelo menos dos dois esteios remanescentes na cacircmara e das lajes do corredor (Fig

55 3-4) Estes esteios apesar de apresentarem os seus topos fracturados datildeo uma

ideia da sua dimensatildeo antiga sobretudo quando consideramos a sua proporccedilatildeo face a

F C Ribeiro posando dentro da cacircmara atraacutes de um deles (Leisner e Ferreira 1961

est XIV 5) Aquele par de esteios (a e b) encontrava-se ainda in situ ligeiramente

inclinados para dentro do espaccedilo sepulcral distantes entre si cerca de 060 m

marcando e estrangulando a passagem do corredor para a cacircmara sem que tivesse

sido detectado restos da laje de cobertura Numa planta esquemaacutetica aparentemente

da autoria de F C Ribeiro (ALeisner Leis61) para aleacutem daqueles monoacutelitos surge

indicado um terceiro esteio na cacircmara do lado sul

A implantaccedilatildeo do recinto cacircmara e corredor implicou a escavaccedilatildeo parcial do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 93 de 415

substrato rochoso do Cenomaniano meacutedio3 ainda que o uacuteltimo sector se quedasse

numa cota um pouco superior o que parece evidente na foto referida atraacutes A

superfiacutecie do substrato em redor da cacircmara escavada atingia cotas variaacuteveis de 015

m e 094 m acima do seu pavimento Assim a partir daqueles limites afeiccediloados F

C Ribeiro supocircs que a cacircmara teria uma planta ldquocircular ou sensivelmente

poligonalrdquo (cit in ALeisner Leis61) alcanccedilando um diacircmetro de cerca de 5 metros

(Leisner e Ferreira 1961 p 310)

Quase no centro da cacircmara foi detectada uma cavidade de formato triangular

ainda com vaacuterias pedras inclusas forrando as faces internas daquela realidade uma

laje cujo topo estava 010 m acima do pavimento outra cujo topo aflorava 045 m

sem que a base assentasse no fundo e ainda um pequeno muro de pedra seca de 4

fiadas Na boca daquela estrutura foi ainda recolhida uma pedra de calcaacuterio com

sinais uso interpretada como alisador pelo seu escavador mas tal superfiacutecie

entretanto observada natildeo corresponde a tal surgindo apenas alguns sinais de

percussatildeo num dos veacutertices Pelas caracteriacutesticas referidas esta estrutura

corresponderaacute a um buraco de poste com calccedilos Contudo a diferenccedila de altimetria

entre os topos e o pavimento da cacircmara levam-me a questionar a sua

contemporaneidade natildeo crendo que reflectisse a existecircncia de um eventual suporte

de uma cuacutepula proposto pelos editores (Leisner e Ferreira 1961 p 310) Tal

clarificaccedilatildeo definitiva eacute hoje impossiacutevel mas alguns argumentos seratildeo discutidos

infra refutando esta possibilidade

Salientava-se ainda uma particularidade geoloacutegica dentro cacircmara que

produzira um veio rochoso dividindo a cacircmara em duas partes desiguais para a qual

F C Ribeiro apontava como paralelos os casos de Palmela e de Folha das Barradas

neste uacuteltimo caso as lajes fincadas procurariam obter o mesmo efeito (cit in

ALeisner Leis61)

Segundo V Leisner e O V Ferreira (1961) o corredor tinha 250 m de

comprimento por cerca 120 m de largura ainda que F C Ribeiro apontasse 220 m

de comprido e uma largura no final do corredor junto aos esteios a e b de 1 metro o

que surge indicado na planta esquemaacutetica jaacute referida acima Tambeacutem natildeo se percebe

a origem dos blocos servindo de umbrais de entrada incluiacutedos na planta publicada

3 Contrariamente ao afirmado por V Leisner e O V Ferreira (1961 p 311)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 94 de 415

pois o escavador apenas esboccedila e refere ldquodois renques paralelos de lajes colocadas

ao alto em disposiccedilatildeo imbricada e assentes no pavimento de rochardquo (cit in ALeisner

Leis61) A orientaccedilatildeo do corredor apontaria a sudeste

O que parece paciacutefico eacute a condiccedilatildeo extremamente perturbada do espoacutelio na

aacuterea da cacircmara e em menor grau no corredor

Na cacircmara o seu conteuacutedo tinha sido quase totalmente remexido e provaacutevel e

parcialmente retirado detectando-se apenas junto do esteio b uma concentraccedilatildeo de

objectos aparentemente natildeo tocada com duas lacircminas (MG17913 e 89) junto a

fragmentos de cracircnio a uma profundidade de 024 m ndash dois cracircnios atribuiacutedos ao 1ordm

niacutevel (MG17924 e 25) poderatildeo corresponder a esta zona coincidindo com a

anotaccedilatildeo de F C Ribeiro (ALeisner Leis61) Ainda na cripta recolheram-se avulsos

fragmentos de lacircminas um apito de aspecto recente (MG17990 numa profundidade

de 057 m abaixo do solo) e um ldquopunhalrdquo (MG17903) ambos sobre osso

Segundo F C Ribeiro a preservaccedilatildeo do conteuacutedo da aacuterea do corredor era

semelhante agrave de outros doacutelmenes portanto mais recheada que a cacircmara

evidenciando uma maior concentraccedilatildeo de restos osteoloacutegicos No entanto como a

maioria do espoacutelio foi apanhada durante o processo de crivagem o escavador natildeo

especificou a sua proveniecircncia referindo que viria tanto da cacircmara como da galeria

Inclusive a falange de equiacutedeo (MG17902) aparentemente com restos de pigmento

vermelho (Leisner e Ferreira 1961 p 312) eacute anotada junto com ossos mas sem

adscriccedilatildeo a uma aacuterea concreta Actualmente aquela tonalidade desapareceu talvez

porque a peccedila pareccedila ter sido limpa num passado recente Contudo por causa dessa

limpeza eacute possiacutevel verificar que a falange natildeo teve qualquer trabalho de

afeiccediloamento ou polimento nas suas superfiacutecies como ocorreu noutros casos

nomeadamente em Leceia (Cardoso 1995a) ou na Lapa da Bugalheira (Paccedilo

Vaultier e Zbyszweski 1942 Paccedilo Zbyszweski e Ferreira 1971) o que natildeo invalida

o seu provaacutevel caraacutecter ideoteacutecnico

Entre o espoacutelio apresentado por V Leisner e O V Ferreira (1961 Leisner

1965) satildeo ainda referidos fragmentos de hastes de alfinetes de cabelo e de tubos

ambos em osso que ainda se encontram entre o espoacutelio Contudo o mesmo jaacute natildeo

ocorre com as contas de colar apresentadas por V Leisner (1965 taf 18-23) mas

natildeo referidas na primeira publicaccedilatildeo (Leisner e Ferreira 1961 p 311-312) Aqui teraacute

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 95 de 415

ocorrido algum lapso pois jaacute na prancha de desenhos das peccedilas de Trigache 4 as

contas que ali constam estatildeo destacadas e tituladas como Trigache 3 (ALeisner

Leis61)

Para aleacutem das peccedilas em osso polido o restante material resume-se a liacuteticos

lascados notando-se a ausecircncia completa de instrumentos de pedra polida

recipientes ceracircmicos ou artefactos claramente votivos normalmente presentes em

contextos atribuiacuteveis a partir de momentos de transiccedilatildeo do 4ordm para o 3ordm mileacutenio ane

Assim avaliando o espoacutelio recolhido (Fig 63 2 e 64) destacam-se os

geomeacutetricos e algumas lacircminas remetendo-se para um momento inicial de uso pelo

menos entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane Essa impressatildeo parece

confirmar-se pela dataccedilatildeo absoluta Beta-228583 (Anexo 3 Quadro 2) situada entre

3340-2930 cal BCE (com 895 de probabilidade restringe-se a 3340-3000 cal

BCE) realizada sobre um dos cracircnios humanos (MG1792401) provavelmente

recolhido na cacircmara junto ao esteio b Este intervalo de tempo poderia marcar a

substituiccedilatildeo gradual de um primeiro pacote de objectos votivos por artefactos de

osso polido e as lacircminas retocadas (MG17911 e MG17989) a uacuteltima das quais

encontrada inteira no local de proveniecircncia do cracircnio e posteriormente com a ponta

de seta de base cocircncava elemento provaacutevel do 3ordm mileacutenio ane da regiatildeo

Perante tal proposta cronoloacutegica reflectida pelo espoacutelio arcaico a

possibilidade de Trigache 4 ter sido uma estrutura com falsa cuacutepula tipo tholos

(Leisner e Ferreira 1961 p 310) eacute difiacutecil de aceitar o que natildeo nega a possibilidade

de este sepulcro poder ter tido uma cobertura pereciacutevel em determinado momento da

sua histoacuteria antiga eou recente Mas face agrave descriccedilatildeo do antigo proprietaacuterio e ao

cariz megaliacutetico dos elementos entatildeo sobreviventes creio que estariacuteamos perante

uma anta que natildeo teria 5 metros de diacircmetro no seu topo pois a habitual inclinaccedilatildeo

dos esteios reduziria a aacuterea necessitada de cobertura agrave semelhanccedila do que ocorria na

anta de Pedra Grandes soacute para dar um exemplo a cerca de um quiloacutemetro de

distacircncia e recentemente escavada

4135 Os ldquooacuterfatildeosrdquo de Trigache

Resta ainda fazer referecircncia aos materiais hoje apenas classificados por

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 96 de 415

Necroacutepole de Trigache Inicialmente resumiam-se a um conjunto ceracircmico

heterogeacuteneo constituiacutedo por um bordo denteado taccedilas hemisfeacutericas uma grande taccedila

com decoraccedilatildeo canelada e alguns recipientes com decoraccedilatildeo campaniforme dois

deles campanulados (Fig 56 2) As decoraccedilotildees deste uacuteltimo grupo apresentam-se

impressas no estilo internacional e Palmela mas tambeacutem se registam alguns

fragmentos incisos (Leisner e Ferreira 1959 e 1961 Leisner 1965) Apesar de

desconhecerem a proveniecircncia por sepulcro daqueles recipientes os editores do

trabalho garantiam a sua pertenccedila agrave dita Necroacutepole talvez graccedilas a documentaccedilatildeo a

que natildeo tive acesso Por outro lado no arquivo Leisner os apontamentos transcritos

de F C Ribeiro satildeo bastante parcos em referecircncias a ceracircmicas apenas apontadas

em Trigache 2 ndash apesar da listagem mais ou menos cuidada da maioria dos objectos

natildeo encontrei enumeraccedilotildees similares para as ceracircmicas que teratildeo existido tal como

acontece com as ceracircmicas de Conchadas (ALeisner Leis64) Assim pelo que eacute

possiacutevel compilar parece que apenas em Trigache 2 e 3 foram recolhidas ceracircmicas

sobretudo campaniformes semelhantes agraves oacuterfatildes pelo que eacute plausiacutevel a sua adscriccedilatildeo

a estes dois sepulcros

No que se refere a posteriores perdas as lascas de siacutelex e os restos humanos

satildeo dois conjuntos para os quais eacute hoje difiacutecil estabelecer a origem

Se a perda da proveniecircncia concreta de dezenas de lascas eacute lamentaacutevel a

referecircncia a sedimentos misturados com lascas de siacutelex em todos os monumentos

ainda que mais claramente para Trigache 2 e 3 parece realccedilar a riqueza da aacuterea em

siacutelex e a sua provaacutevel extracccedilatildeo

O prejuiacutezo maior resulta dos restos humanos ldquooacuterfatildeosrdquo Havendo uma referecircncia

mais cuidada em relaccedilatildeo a estes durante a escavaccedilatildeo o seu estudo e dataccedilatildeo absoluta

teriam permitido uma melhor integraccedilatildeo cronoloacutegica dos sepulcros Contudo porque

no momento em que escrevo estas linhas ainda natildeo se concluiu o estudo da

totalidade do material osteoloacutegico de Trigache (sobretudo o classificado como

Necroacutepole) que inclui a intenccedilatildeo de cruzamento e verificaccedilatildeo de colagens entre

conjuntos de ossos fica incerta aquela possibilidade

4136 O espaccedilo necropolizado de Trigache

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 97 de 415

Perante a descriccedilatildeo e anaacutelise de cada um dos sepulcros eacute possiacutevel verificar que

estes haviam sido estruturalmente danificados e mexidos com evidentes subtracccedilotildees

de espoacutelio Ainda assim eacute possiacutevel adscrever de forma geneacuterica possiacuteveis momentos

de utilizaccedilatildeo situados essencialmente entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm e meados

do 3ordm mileacutenio ane com alguns usos em dois deles (Trigache 2 e 3) na 2ordf metade

deste uacuteltimo

A tipologia de trecircs destes sepulcros Trigache 1 2 e 4 eacute passiacutevel de ser

integrada no grupo de cacircmaras poligonais pelo menos em dois casos com corredor

A excepccedilatildeo eacute o sepulcro de Trigache 3 com uma planta alongada quase trapezoidal

curiosamente aquele com uma cronologia de utilizaccedilatildeo aparentemente mais recente

Conjugando as propostas cronomeacutetricas agrave sua agregaccedilatildeo espacial (Fig 26) eacute

possiacutevel vislumbrar na vertente do Campo de Trigache um espaccedilo necropolizado

cujo significado maacutegico-religioso se teraacute mantido por vaacuterios seacuteculos inclusive para

aleacutem do seu intuito original No entanto essa aacuterea parece ter sido simultaneamente

ou pelo menos em momentos imediatamente anteriores local de extracccedilatildeo de siacutelex

(Andrade e Cardoso 2004) Portanto que relaccedilatildeo entre essas duas realidades Hoje

apenas se pode registaacute-la e presumi-la como uma provaacutevel mais-valia daquelas

populaccedilotildees

Mas se o espaccedilo para os defuntos eacute conhecido os locais de habitaccedilatildeo em redor

ainda natildeo foram esclarecidos Se a imensa pedreira poderaacute ter erradicado alguns

deles haacute pelo menos o registo de uma possiacutevel presenccedila atribuiacutevel a finais do 4ordm

mileacutenio no topo da Serra da Amoreira (Marques 1987 Andrade e Cardoso 2004)

situado a nordeste e sobranceiro ao vale destes mortos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 98 de 415

414 As antas entre os clusters de Belas e Trigache

Entre os clusters de Belas e Trigache localizavam-se as antas de Conchadas

Pedras Grandes e Batalhas As duas uacuteltimas encontravam-se aparentemente

agrupadas e natildeo longe de Trigache mas a anta de Conchadas parecia surgir mais

isolada

4141 Conchadas

O siacutetio de Conchadas (CNS-2095) foi escavado no acircmbito dos jaacute referidos

trabalhos empreendidos por Francisco C Ribeiro durante a deacutecada de 20

aparentemente na sequecircncia das exploraccedilotildees de Trigache Alguns dos iacutedolos-placa

ali recolhidos apresentam etiquetas indicando os meses de Agosto e Setembro de

1922 (ldquo68922rdquo- MG30214 rdquo108922rdquo- MG30203 17 ldquo168922rdquo- MG30202

04 12 13 16 18 ldquo69922rdquo- MG30232) reflectindo uma intervenccedilatildeo pontual

sujeita agrave disponibilidade e sauacutede do escavador

A transcriccedilatildeo dos apontamentos de F C Ribeiro constante no arquivo Leisner

apresenta-se quase como um manuscrito para publicaccedilatildeo onde se faz referecircncia a um

esboccedilo de planta e fotografias da escavaccedilatildeo que natildeo constam no arquivo Leisner

O sepulcro situava-se a cerca de 750 metros a oeste-noroeste da aldeia de A-

da-Beja numa vertente virada a sul (Fig 26) Seguindo essa informaccedilatildeo e aquela

resultante de testemunhos orais compilados por J Miranda e colaboradores (1999 p

8) verifica-se que aquele siacutetio se implantava numa aacuterea de calcaacuterios do Cretaacutecico

concretamente do Hauteriviano superiorBarremiano inferior com calcaacuterios recifais e

calcaacuterios com Chofattellas e Dasicladaacuteceas onde por vezes se detectam depoacutesitos de

argilas coloridas (SGP 1991 Ramalho et al 1993)

Observando a imagem publicada (Leisner e Ferreira 1961 est XIV 6) eacute

possiacutevel constatar uma paisagem extremamente alterada pela extracccedilatildeo de pedra

naquele local Inclusive junto agrave cacircmara do lado norte tinha sido aberto um fosso

com aquele fim (ALeisner Leis64)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 99 de 415

O espaccedilo da cacircmara tinha sido escavado no substrato cerca de 020 m a 025 m

sendo esse desniacutevel anotado face agrave superfiacutecie das bancadas em redor A partir deste

negativo entretanto preenchido F C Ribeiro apontava um espaccedilo de cariz poligonal

com cerca de 290 m de diacircmetro Ali apenas restava um esteio (A) in situ cravado

na rocha cerca de 015 m com cerca de 130 m de largura por 020 m de espessura e

mais 095 m em altura a partir do pavimento isto porque tinha sido quebrado

anteriormente Este encontrava-se relativamente inclinado (cerca de 45ordm para oeste)

pelo que a sua posiccedilatildeo original natildeo estaria tatildeo descentrada face ao corredor como

pretendo demonstrar (Fig 68 1-2)

O corredor encontrava-se melhor preservado o que eacute possiacutevel confirmar pela

imagem jaacute referida Este apresentava ainda in situ vaacuterios blocos mas natildeo tinha sido

escavado no substrato como a cacircmara surgindo a uma cota superior com todos os

esteios assentes sobre uma camada de argila avermelhada (provavelmente parte do

proacuteprio substrato) excepto o esteio C cravado directamente na rocha A orientaccedilatildeo

apresentada com certeza baseada em documentaccedilatildeo do escavador aponta a

passagem do sepulcro numa direcccedilatildeo sul-sudeste

Marcando a entrada da cacircmara encontravam-se dois blocos alongados de

secccedilatildeo rectangular servindo de umbrais (B e G) respectivamente com 040 m e 038

m de altura 022 m e 050 m de largura e 014 m e 010 m de espessura Entre estes

jazia alinhada e sobre o pavimento ainda que ligeiramente inclinada para a cacircmara

um bloco de secccedilatildeo triangular com cerca de 092-081 m de comprimento por 025 m

de largura na base (H) provavelmente servindo de soleira Esta estrutura de portal

parece evidente na imagem e teria a sua funccedilatildeo ainda mais acentuada pelo desniacutevel

que ocorria entre o corredor e o espaccedilo central que rondaria cerca de 030-035 m

Estruturando o restante acesso implantavam-se do lado nascente dois esteios (C

e D) em posiccedilatildeo vertical e a poente outros dois (F e E) ligeiramente inclinados para

fora O maior deles era o C com 050 m de altura acima do piso 130 m de largura e

020 m de espessura o esteio D mantinha a mesma altura e espessura mas apenas

053 m de largura A outra fiada com um hiato entre o umbral G e a laje F

apresentava esta uacuteltima com 050 m de altura por 085 m de comprido e a laje E com

030 m de altura por 077 m de comprimento mas ambas com uma espessura

semelhante de 007 m de espessura A distacircncia meacutedia entre as duas fiadas era de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 100 de 415

125 m estendendo-se a passagem por cerca de 2 m No entanto esta aacuterea de

passagem prolongava-se ainda de forma desigual mas na mesma direcccedilatildeo cerca de

140 m aleacutem do esteio D e 080 m aleacutem do esteio E de acordo com F C Ribeiro que

ali ainda recolheu materiais arqueoloacutegicos (ALeisner Leis 64)

Face agraves dimensotildees dos elementos do corredor e sobretudo agrave fragilidade dos

esteios do lado oeste F C Ribeiro duvidava que este alguma vez tivesse cobertura

Argumentava ainda com a evidecircncia de um depoacutesito funeraacuterio sobre uma laje

horizontal 020 m abaixo do topo do esteio C (e natildeo E como referido por V Leisner

e O V Ferreira 1961 p 314) o que natildeo teria sido possiacutevel se existisse um

cobertura Independentemente daquela realidade perante a descriccedilatildeo global eacute

provaacutevel que esta passagem tivesse mais um caraacutecter vestibular do que

correspondesse a um verdadeiro corredor o que poderia explicar o portal na entrada

da cacircmara

Assim face agraves caracteriacutesticas expostas eacute possiacutevel admitir que este sepulcro

fosse do tipo anta ainda que muito destruiacuteda A classificaccedilatildeo como tholos (Leisner e

Ferreira 1959 Ferreira 1966 Miranda et al 1999) colide com as caracteriacutesticas

megaliacuteticas do uacutenico ortoacutestato sobrevivente da cacircmara a ausecircncia de elementos

associaacuteveis a uma cuacutepula bem como com alguns dos artefactos presentes

nomeadamente os geomeacutetricos lembrando o caso de Trigache 4

A descriccedilatildeo e localizaccedilatildeo dos achados providenciadas nos apontamentos de F

C Ribeiro apresentavam-se mais pormenorizadas do que aquelas dos sepulcros de

Trigache Talvez por isso as plantas reconstituiacutedas nas publicaccedilotildees apontem mais

objectos (Leisner e Ferreira 1961 fig 2) nomeadamente com a identificaccedilatildeo

especiacutefica de alguns objectos (Leisner 1965 taf 26) Contudo nem sempre essa

relaccedilatildeo pocircde ser esclarecida pelo que indicaram apenas o tipo de peccedila Noutros

casos talvez por lapso alguns artefactos surgem equivocados como eacute o caso dos

fragmentos de um iacutedolo-placa (MG30225A-D Leisner 1965 taf 26 e 27 61)

indicados no corredor mas afinal recolhidos na cacircmara (ALeisner Leis64) ou de

lacircminas e machados com os mesmos equiacutevocos Poreacutem mesmo com estas situaccedilotildees

rectificadas eacute importante realccedilar que a discriminaccedilatildeo do escavador eacute susceptiacutevel de

precauccedilatildeo pois as suas noacutetulas nem sempre se apresentavam coerentes por exemplo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 101 de 415

boa parte das localizaccedilotildees satildeo dadas a partir de outros objectos mas como por vezes

esses natildeo surgem situados tudo o resto se torna irrelevante

Apesar das insuficiecircncias do registo espacial dos achados eacute pelo menos

possiacutevel verificar que a cacircmara jaacute tinha sido grandemente saqueada provindo a

maioria do espoacutelio da aacuterea vestibular (Fig 65-67) Neste uacuteltimo sector os achados

foram recolhidos normalmente em cotas rodando os 040 m abaixo da superfiacutecie

(segundo F C Ribeiro estaria ao niacutevel do topo do esteio C ndash ALeisner Leis64)

ainda que tambeacutem surgissem menos a 020 m Segundo o escavador aquele sector

encontrava-se relativamente preservado o que parece confirmar-se pelo grau de

integridade do material recolhido Pelo contraacuterio na cacircmara os poucos materiais

encontrados estavam mais quebrados (por exemplo os iacutedolos-placa) excepto aqueles

junto agrave entrada (algumas lacircminas) ou em cotas profundas em redor dos 060 m

como duas das placas (MG30215 e 19)

Na aacuterea vestibular eacute pertinente mencionar a grande taccedila com caneluras abaixo

do bordo encontrada segundo os autores junto e entre as lajes E e F (Leisner e

Ferreira Leisner 1965) ainda que nas transcriccedilotildees dos apontamentos de F C

Ribeiro apenas se encontra a referecircncia a ldquogaleriardquo (ALeisner Leis64) Para aleacutem de

um conjunto de trecircs lacircminas retocadas (MG30257 62C e 62D) junto ao esteio G e agrave

soleira da entrada da cacircmara as outras concentraccedilotildees satildeo difiacuteceis de estabelecer

podendo salientar-se o agrupamento de materiais defronte do esteio C ou os dois

iacutedolos-placa sobrepostos (MG30212 e outra placa jaacute natildeo encontrada pelos

arqueoacutelogos que F C Ribeiro designou ldquo26(8ordf)rdquo) proacuteximos da enxoacute inteira

MG30226 Mas o que parece significativo eacute a acumulaccedilatildeo de materiais nesta

passagem

Ainda no vestiacutebulo conviraacute descrever melhor o uacutenico depoacutesito osteoloacutegico

mencionado Como jaacute foi referido acima aquela realidade explicaria para o

escavador a ausecircncia de cobertura da passagem Esta consistia numa laje pentagonal

com 010 m de espessura alcanccedilando as dimensotildees miacutenima e maacutexima de 046 m e

088 m respectivamente A cerca de 020 m abaixo do topo do esteio C assentava

horizontal e paralelamente agravequele esteio e a 037 m de distacircncia do B Sobre esta

ldquorepousava um esqueleto colocado paralelamente ao eixo da galeria e com os peacutes

voltados para o portal reducido agrave coluna vertebral costelas claviacuteculas ossos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 102 de 415

iliacuteacos ossos longos alguns dos quais se prolongavam para fora da pedra

mostrando entre si e no seu conjunto a posiccedilatildeo normal de um cadaver

cuidadosamente inumado de costas A este despojo humano estava associada uma

facardquo (F C Ribeiro cit in ALeisner Leis64) Pelo relato julgo que aquela realidade

corresponderia a algum tipo de ossaacuterio ainda que hoje jaacute natildeo seja possiacutevel analisar

aquele conjunto pois no espoacutelio de Conchadas com excepccedilatildeo de dois dentes

humanos natildeo se conhece mais material osteoloacutegico humano ndash talvez misturado nos

conjuntos de Necroacutepole de Trigache Quem sabe

O material lascado foi recolhido na cacircmara e vestiacutebulo tendo listado 21 peccedilas

alongadas (na publicaccedilatildeo referiam pelo menos 20) quase totalmente em siacutelex

Caracteriza-se por um conjunto de fragmentos de pequenas lacircminas e duas lamelas

(uma em quartzo hialino) pouco ou nada retocados Outro conjunto de grandes

lacircminas apresenta 3 peccedilas natildeo retocadas e 6 retocadas algumas extensivamente

De produtos alongados teratildeo sido obtidos os 4 geomeacutetricos trapezoidais ali

encontrados (Fig 68 3) bem como as 11 pontas de seta maioritariamente com bases

convexas e apenas duas com base cocircncava

Para aleacutem de uma pequena lasca sem retoque haacute outras duas que foram

trabalhadas para pequenos raspadores

Finalmente haacute uma referecircncia a um punhal em siacutelex mas tal jaacute natildeo foi

encontrado (Leisner e Ferreira 1961 p 315)

Os instrumentos de pedra polida resumem-se a dois machados de anfibolito

com secccedilotildees poligonais (MG30234 e 179113B) e duas enxoacutes em xisto anfiboacutelico

(MG30226 e 36) com secccedilotildees arredondadas tal como eacute referido pelos autores Surge

ainda um machado em rocha basaacuteltica com secccedilatildeo ovalada bem polido com uma

marcaccedilatildeo ilegiacutevel (mas com coacutedigo MG30233) mas do mesmo cariz de outras

observadas em peccedilas tratadas por F C Ribeiro No entanto ainda que V Leisner

tenha desenhado a peccedila no conjunto de Conchadas anotou que aquela natildeo era

referida nos apontamentos para Trigache ou Conchadas interrogando-se acerca da

sua proveniecircncia (ALeisner Leis64) Mas o mesmo se poderia dizer do fragmento

de enxoacute (MG30236) que tambeacutem natildeo eacute listado nas transcriccedilotildees disponiacuteveis de F C

Ribeiro mas aceite como Conchadas Finalmente registo ainda a rectificaccedilatildeo jaacute

adiantada noutro capiacutetulo acerca do machado MG179113B pertencente a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 103 de 415

Conchadas mas que tinha migrado para a colecccedilatildeo de Trigache (mantive o coacutedigo da

estaccedilatildeo Trigache para natildeo causar maior confusatildeo pois seraacute o Museu atribuir-lhe

nova referecircncia)

Dentro da categoria de pedra afeiccediloada poderaacute incluir-se o seixo quartziacutetico

oblongo com sinais de percussatildeo numa das extremidades (MG30245)

No acircmbito dos artefactos votivos esta anta apresenta um dos maiores

conjuntos de iacutedolos-placa da regiatildeo de Lisboa com pelo menos catorze peccedilas

nuacutemero aproximado agravequele da cacircmara ocidental do tholos da Praia das Maccedilatildes

(Leisner 1965) ainda que a pouco mais de um quiloacutemetro no conjunto de grutas

artificiais do Tojal de Vila Chatilde (Carenque) sobretudo em Carenque 1 e 2 tambeacutem se

registam alguns exemplares mas em nuacutemero mais reduzido (Gonccedilalves Andrade e

Pereira 2004)

As informaccedilotildees disponiacuteveis apontam para a recolha de 4 placas na cacircmara

Conforme a condiccedilatildeo da cacircmara jaacute referida acima compreende-se porque algumas

das peccedilas recolhidas se encontrassem quebradas

Uma das placas (MG30235) encontra-se extremamente fragmentada para o

que teraacute contribuiacutedo bastante o facto de ser em micaxisto luzente Natildeo apresenta

gravaccedilatildeo visiacutevel notando-se apenas o seu contorno rectangular com cantos

arredondados e parte de uma perfuraccedilatildeo num topo

Outra provaacutevel placa presume-se pelos seus 4 fragmentos (MG30225A-D) em

xisto ardosiano com caracteriacutesticas semelhantes dois deles colando e depreendendo-

se que os restantes poderiam pertencer agrave mesma peccedila um fragmento do topo

(MG30225B) ainda com gravaccedilatildeo numa das faces e uma perfuraccedilatildeo e que cola com

um fragmento meacutedio do corpo verificando-se gravaccedilatildeo em ambas as faces

(MG30225A) um fragmento da base com gravaccedilatildeo numa das faces (MG30225C)

e um pequeno fragmento sem faces polidas preservadas (MG30225D)

As outras duas placas recolhidas na cacircmara apresentam-se quase intactas

(MG30215 e 19) ainda que se desconhecendo quando foram recolhidas surgindo

ambas com a menccedilatildeo ldquoencontrada no mesmo diardquo

Na aacuterea vestibular foram encontrados outros dez iacutedolos-placa com algumas

fracturas e lascagens mas essencialmente preservados Destes apenas uma placa natildeo

foi encontrada por V Leisner e O V Ferreira (1961) ainda que tal facto natildeo seja

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 104 de 415

esclarecido na publicaccedilatildeo Mas na documentaccedilatildeo de V Leisner apesar de surgirem

os desenhos natildeo publicados de duas das placas listadas aquela tambeacutem natildeo surge

desenhada Assim segundo o inventaacuterio de F C Ribeiro sabe-se que essa placa teria

o coacutedigo ldquo26(8ordf)rdquo ndash seria de xisto cinzento micaacuteceo com uma altura de 15 cm

largura meacutedia de 76 cm e espessura maacutexima de 07 cm O seu contorno seria

subtrapezoidal com acircngulos arredondados A face gravada estaria dividida em 5

secccedilotildees (4 bandas e o topo) com ornamentaccedilatildeo triangular e teria 2 orifiacutecios

(ALeisner Leis64)

Das restantes peccedilas apenas a placa ldquoCTTrdquo (MG30213) merece para jaacute um

breve destaque pois apresenta aleacutem da sua gravaccedilatildeo principal um esboccedilo das linhas-

guia gravadas na outra face

Finalmente haacute ainda um outro iacutedolo-placa (MG30232) que teraacute sido recolhido

a 9 de Setembro mas que natildeo consta da listagem de F C Ribeiro No entanto V

Leisner apresenta-o ainda que natildeo se saiba a sua proveniecircncia concreta no sepulcro

Esta placa apresenta-se muito sumida com linhas-guia verticais e faixas

ziguezagueantes O mais evidente eacute o par de orifiacutecios no topo

Genericamente o conjunto de placas depositadas na anta das Conchadas

apresenta topos simeacutetricos e corpos com bandas relativamente coerentes e

preenchidas com triacircngulos

Aleacutem destes iacutedolos-placa denunciando influecircncias inter-regionais registaram-

se trecircs beacutetilos cilindroacuteides sem qualquer gravaccedilatildeo mais frequentes nesta regiatildeo em

dado periacuteodo Infelizmente estes foram encontrados em camadas superficiais ou

revolvidas O fragmento de pequeno iacutedolo ciliacutendrico MG30210 surgiu nos entulhos

da cacircmara bem como outro pedaccedilo maior de um outro Este uacuteltimo colou com

fragmento recolhido na passagem (MG30201) Por fim recolheu-se ainda uma peccedila

completa (MG30211) mas quase na superfiacutecie da aacuterea de acesso ao sepulcro

Uma pequena peccedila betiloacuteide sobre osso (MG30241) tambeacutem se enquadraraacute

no grupo dos iacutedolos ciliacutendricos mas porque se encontra fracturada num dos topos

natildeo se sabe se teria um estrangulamento tornando-a num iacutedolo-gola

Tambeacutem realizadas sobre osso foram recolhidos trecircs figurinhas de lagomorfos

(MG30253 e 54) uma delas completa na cacircmara (MG30222) Este artefacto

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 105 de 415

votivo tem sido identificado em outros sepulcros da regiatildeo de Lisboa e fora dela

(Leisner e Leisner 1959 Leisner 1965 Ferreira 1970)

Os elementos de adorno nesta anta satildeo variados Um alfinete de cabelo com

cabeccedila posticcedila sem evidente decoraccedilatildeo Outras duas cabeccedilas tambeacutem se apresentam

quase lisas notando-se apenas algumas incisotildees pouco consistentes registando-se

ainda alguns pedaccedilos de hastes Com um fragmento de haste (MG30228E) tentei

obter uma dataccedilatildeo radiocarboacutenica mas o colageacutenio revelou-se insuficiente para tal

desiderato

Entre os elementos de colar contam-se alguns pingentes sobre pedra

(MG30244) osso (MG30239) e presa de Sus sp (MG3024301) Para ser usada

como conta uma veacutertebra de peixe segundo os autores da Superclasse Teleostomi

(Leisner e Ferreira 1961 p 322) foi afeiccediloada e polida (MG30240) Mas no

essencial satildeo as pequenas contas discoidais (MG30256) que representam esta classe

de artefactos nomeadamente 46 de xisto duas sobre concha e trecircs em osso

Associados possivelmente ao vestuaacuterio de defuntos encontraram-se cerca de

sete bototildees em osso com perfuraccedilotildees em V (Fig 68 6-8) um de formato coacutenico

(MG30248) trecircs com apecircndices do tipo cabeccedila de tartaruga (MG3024647 e 49) e

trecircs com apecircndices troncocoacutenicos (MG30250-52)

Haacute ainda um elemento oacutesseo polido tipo espaacutetula (MG30229) que natildeo eacute

referido na listagem publicada (Leisner e Ferreira 1961 Leisner 1965) nem surge

desenhado na documentaccedilatildeo de V Leisner (ALeisner Leis64) pelo que coloco

reservas na sua pertenccedila originalmente a este conjunto

Quanto aos recipientes ceracircmicos apesar de existir parte da sua listagem natildeo

surge indicada a proveniecircncia concreta dos fragmentos excepto no caso da taccedila

canelada jaacute referida Aleacutem desta regista-se apenas uma taccedila lisa quase completa de

difiacutecil enquadramento cronoloacutegico

A restante ceracircmica representa vaacuterios exemplares campaniformes Dois vasos

campanulados com decoraccedilatildeo pontilhada no estilo internacional (MG30277A-B)

Algumas taccedilas com decoraccedilatildeo pontilhada mais elaborada recordando o estilo

Palmela No que concerne a decoraccedilatildeo incisa surgem alguns fragmentos em bandas

mas destacam-se sobretudo duas peccedilas uma taccedila com decoraccedilatildeo na face interna com

espinhados (MG30270) e fragmentos de uma taccedila com peacute decorado com reticulado

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 106 de 415

inciso (MG30282) cujo desenho eacute apresentado invertido (Leisner e Ferreira 1961

fig 5 Leisner 1965 taf 28 81) Esta peccedila corresponderaacute ao raro tipo de vaso tipo

fruteira (Fig 67) encontrado em Satildeo Pedro do Estoril 1 e Porto Covo (Gonccedilalves

2005b)

Um fragmento mesial de um elemento de tear do tipo crescente com secccedilatildeo

arredondada encontrava-se num conjunto de peccedilas amorfas de ceracircmica V Leisner

natildeo se lhe refere pelo que registo-o com reserva tendo em conta as vicissitudes das

colecccedilotildees do Museu Geoloacutegico bem como a raridade destas peccedilas na Estremadura

(Diniz 1994 Boaventura 2001)

Para um enquadramento cronoloacutegico teria sido uacutetil obter uma dataccedilatildeo absoluta

sobre algum dos elementos osteoloacutegicos ali detectados mas infelizmente natildeo foram

localizados Por isso tentou-se a dataccedilatildeo pelo radiocarbono de um fragmento de

haste de um alfinete de cabelo mas este natildeo apresentava colageacutenio suficiente Assim

face agraves caracteriacutesticas do sepulcro e dos materiais ali recolhidos nomeadamente

geomeacutetricos e pequenas lacircminas julgo que eacute admissiacutevel apontar uma cronologia de

utilizaccedilatildeo inicial pelo menos entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane Esse

uso teraacute sido intensificado na passagem para o 3ordm do mileacutenio ane e nos seus

primeiros dois quarteis a que corresponderaacute a maioria dos artefactos votivos (iacutedolos-

placa e beacutetilos de calcaacuterio) bem como as lacircminas retocadas pontas de seta e a taccedila

canelada Posteriormente a presenccedila da ceracircmica campaniforme bem como objectos

de adorno que costumam acompanhaacute-la documentam usos em meados e segunda

metade daquele mileacutenio

4142 Pedras Grandes e siacutetio das Batalhas

A primeira notiacutecia conhecida acerca das antas de Pedras Grandes (CNS-6484) e

Batalhas (CNS-649) deve-se a Carlos Ribeiro (1880 p 69) no acircmbito dos seus

levantamentos geoloacutegicos na deacutecada anterior descrevendo-as ldquoMais longe 6 a 7 km

ao NE de Bellas e proximo da pittoresca aldeia de Caneccedilas encontram-se os restos

de outros dois dolmens um drsquoelles situado a 1000 metros drsquoeste povo no siacutetio

denominado o Fojo meio demolido conserva ainda duas grandes lages medindo 4 Na base de dados arqueoloacutegicos do Endoveacutelico surge ainda o siacutetio de ldquoFojordquo com o CNS 3005 ainda que corresponda ao mesmo siacutetio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 107 de 415

uma drsquoellas dois metros acima da flor do terreno vendo-se uma terceira que lhe

pertencia tombada para dentro da camara e quebrada talvez em consequencia da

excavaccedilatildeo que ali fizeram deixando esta pedra ao desamparo ou sem encontro O

outro dolmen a 500 mais para o SE no sitio das Batalhas estaacute representado por

uma uacutenica lage grande ainda inteira e por fragmentos de outras grandes lages

tombadas sobre o terreno e que parece terem pertencido ao mesmo megalithordquo

Ambas as antas foram classificadas como Monumento Nacional pelo Decreto

nordm 33587 publicado no Diaacuterio do Governo (1ordf Seacuterie) de 27 de Marccedilo de 1944

situadas no entatildeo concelho de Loures e descritas como ldquodois doacutelmenes existentes em

Caneccedilas um deles a sul 77ordm este do moinho do Baeta e a norte 49ordm este do marco

geodeacutesico do Bispo no calcaacutereo do Turoniano no siacutetio actualmente denominado

Siacutetio das Pedras Grandes e o outro a norte 34ordm este do marco geodeacutesico do Bispo e a

norte 76ordm este do moinho do Baeta no calcaacutereo do Cenomaniano o qual eacute conhecido

por laquodoacutelmen no siacutetio das Batalhasraquordquo Sem que tenha sido possiacutevel perceber porquecirc a

anta de Pedras Grandes surgiu novamente classificada como Monumento Nacional

exactamente com a mesma descriccedilatildeo cinco anos mais tarde pelo Decreto nordm 37450

publicado no Diaacuterio de Governo (1ordf Seacuterie) de 16 de Junho de 1949 Ainda que em

listagens distintas com siacutetios de todo o territoacuterio portuguecircs a sua inclusatildeo na segunda

deveraacute ter sido apenas um lapso pois nada acrescentou agrave classificaccedilatildeo primeiramente

publicada

A descriccedilatildeo relativamente abreviada de C Ribeiro (1880) acerca da anta do

siacutetio do ldquoFojordquo poderaacute explicar alguma confusatildeo que se gerou posteriormente em

redor deste sepulcro e daquele denominado Batalhas cuja referecircncia foi ainda mais

curta Por isso eacute importante sistematizar as informaccedilotildees disponiacuteveis procurando

dessa forma elucidar e clarificar algumas discrepacircncias nelas contidas e ainda hoje

repetidas

Tambeacutem como se poderaacute verificar estas duas antas encontravam-se

relativamente proacuteximas do cluster de Trigache quase integraacuteveis como o seu limite

ocidental (Fig 26) De facto este par de antas que distava entre si cerca de 500

metros situava-se aproximadamente a igual distacircncia de alguns dos sepulcros

daquele cluster

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 108 de 415

41421 Pedras Grandes

A localizaccedilatildeo de C Ribeiro (1880 p 69) do siacutetio do Fojo a cerca de mil

metros do centro de Caneccedilas bem como a sua descriccedilatildeo coincidem grosso modo

com a anta actualmente designada por Pedras Grandes Nesse sentido tambeacutem joga a

favor o proacuteprio significado de fojo (ldquocova para depoacutesito de aacuteguas junto a minardquo)

podendo observar-se na Carta Militar de Portugal folha 417 (SCE 1965) a indicaccedilatildeo

de um desaterro circular (numa aacuterea com vaacuterias frentes de pedreira) imediatamente a

norte-nordeste da actual anta Ainda hoje o topoacutenimo ldquopedreirardquo surge na rua situada

nessa direcccedilatildeo Toda a aacuterea a sudeste conhecida como Campos de Trigache foi ao

longo de seacuteculos sujeita a exploraccedilatildeo de pedreiras de que a cartografia antiga regista

algumas das crateras produzidas O topoacutenimo ldquoHorta do Fojo de Dentrordquo que

entretanto desapareceu da memoacuteria colectiva local surge indicado para um espaccedilo de

horta na Carta Topograacutefica de Portugal folha 34-B4-1 (IGC 1951) a 100-200

metros para sul-sudoeste da anta Por outro lado alguns dos materiais da ldquocatardquo

realizada pelo geoacutelogo apresentavam etiqueta com a mesma informaccedilatildeo 2221875

300m S70ordmE do Mordm do Baeta[ou Baeto] Caneccedilas (MG63801-05) o que coincide

com a anta em discussatildeo

J L Vasconcelos visitou o sepulcro em 1913 registando numa ficha acerca

dele ldquoDolmen 600m ao NE do sinal trigonomeacutetrico do Bispo (2 km NE de A da

Beja) 1913 2 pedras levantadas as outras tombadas seria bom photographalo

antes de desaparecer Os campos ao peacute tem muitas lascas de siacutelex Lumiar ndash

Odivelas ndash Casal Ramadardquo (AJLVasconcelos [Pedras Grandes]) Felizmente o

prognoacutestico natildeo se concretizou mas natildeo foi possiacutevel verificar se a imagem foi

obtida

Uma deacutecada mais tarde F C Ribeiro tambeacutem visitou Pedras Grandes no

acircmbito das suas pesquisas arqueoloacutegicas na regiatildeo entre Odivelas e A-da-Beja

nomeadamente nas antas de Trigache e Conchadas (ver os capiacutetulos respectivos)

Contudo esta visita e eventuais anotaccedilotildees natildeo foram detectadas durante o estudo e

publicaccedilatildeo dos seus apontamentos por V Leisner e O V Ferreira (1959 e 1961) De

facto a uacutenica pista para a visita e possiacutevel intervenccedilatildeo eacute uma fotografia em que este

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 109 de 415

explorador posa junto agrave anta de Pedras Grandes (Fig 69 1) ainda que tenha sido

atribuiacuteda pelos editores a Trigache 1 (Leisner e Ferreira 1961 est XII 2) Aleacutem de

se identificar claramente na imagem um dos esteios daquela anta (Fig 69 2) a vista

obtida de este-nordeste regista a Serra de Sintra no horizonte algo impossiacutevel de se

observar na aacuterea do agrupamento de Trigache Em todas as antas intervencionadas

por F C Ribeiro pelo que se pode depreender das fotos apresentadas (Leisner e

Ferreira 1961 est XII-XIV) este teria por haacutebito posar junto delas No entanto face

agrave dificuldade que a ruiacutena da anta colocava agrave sua exploraccedilatildeo situaccedilatildeo jaacute lamentada

por C Ribeiro (1880 p 69) eacute provaacutevel que qualquer exploraccedilatildeo de F C Ribeiro

tenha sido bastante limitada e reduzida

Apesar da anta ter sido classificada em 1944 com a designaccedilatildeo actual uma

deacutecada mais tarde O V Ferreira (1959 p 218) ainda se refere ao ldquoMonumento do

Fojordquo situado a 600 metros Norte 25 graus Este do marco geodeacutesico Bispo e

explorado por C Ribeiro Surpreendentemente associa a denominaccedilatildeo ldquoPedras

Grandesrdquo ao ldquoMonumento das Batalhasrdquo Aliaacutes este autor juntamente com V

Leisner (1961 fig 1) indicava num mapa de localizaccedilatildeo das antas de Trigache e de

Conchadas outros dois siacutembolos de anta ndash um deles a nordeste do geodeacutesico do

Bispo parece corresponder agrave actual localizaccedilatildeo da anta de Pedras Grandes (para O

V Ferreira ldquoMonumento do Fojordquo) mas o outro a noroeste do mesmo marco

geodeacutesico poderaacute ter resultado de alguma confusatildeo entre o topoacutenimo do Moinho do

Baeta (ali localizado) e os materiais depositados por C Ribeiro no Museu Geoloacutegico

referidos atraacutes com referecircncia ao mesmo termo Outra hipoacutetese carecendo de

comprovaccedilatildeo poderaacute relacionar-se com a possibilidade de O V Ferreira ter

localizado alguma minuta de um mapa antigo com indicaccedilatildeo de monumentos

megaliacuteticos Mas pelo referido neste capiacutetulo isso contradiria a informaccedilatildeo

publicada por C Ribeiro (1880)

Outra designaccedilatildeo da anta surge por intermeacutedio de V Leisner (1965) que situa o

ldquoDolmen 1 de Caneccedilasrdquo isto eacute Pedras Grandes a 1 km a este-sudeste de Caneccedilas no

siacutetio do Fojo 300 m sul 70ordm este do ldquoMonte da Baetardquo (sic) e 600 m norte 25ordm este

do marco geodeacutesico Bispo correspondendo perfeitamente com a localizaccedilatildeo

actualmente conhecida Eacute tambeacutem esta autora que apresenta pela primeira vez uma

planta da anta produzida por si e G Leisner em 1 de Dezembro de 1943 ndash aiacute

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 110 de 415

verifica-se a ausecircncia do esteio U8 ainda escondido sob pedras e vegetaccedilatildeo (situaccedilatildeo

verificaacutevel nas fotos obtidas ndash ALeisner Leis31) a indicaccedilatildeo da provaacutevel entrada

mas sem qualquer monoacutelito e o desenho dos materiais recolhidos por C Ribeiro

depositados no Museu Geoloacutegico (ALeisner Leis64 Leisner 1965 taf 53 3)

No referido museu localizei ainda um noacutedulo de siacutelex (MG63701) etiquetado

ldquoDolmen de Caneccedilasrdquo associado a uma fotografia datada de 26 de Marccedilo de 1941 e

legendada ldquoDoacutelmen das Pedras Grandes [espaccedilo] Caneccedilasrdquo (Fig 69 6)

correspondendo a uma das vistas da anta publicada por O V Ferreira (1959 fig 11-

12) com a legenda ldquoSepultura das Pedras Grandes ou das Batalhas Outro aspecto

da mesmardquo A data anotada na foto da anta anterior agraves obtidas pelo casal alematildeo

(Fig 69 3-4) poderaacute explicar o interesse suscitado e a sua posterior classificaccedilatildeo

como Monumento Nacional No entanto a confusatildeo de designaccedilotildees natildeo eacute totalmente

compreensiacutevel pois a noacutetula de C Ribeiro (1880) apesar de breve eacute francamente

clarificadora Aliaacutes a folha da Carta Geoloacutegica com base nos levantamentos antigos

dos Serviccedilos Geoloacutegicos assinala as duas antas perfeitamente de acordo com essas

indicaccedilotildees (SGP 1981)

De meados do seacuteculo XX ateacute os anos 80 a anta viu-se progressivamente sitiada

por bairros de geacutenese ilegal tendo inclusive sido incluiacuteda num loteamento que a

erradicaria de vez natildeo fosse acccedilatildeo que a Comissatildeo de Moradores do Casal Novo

promoveu para o impedir (informaccedilatildeo pessoal de Joseacute Candeias antigo presidente da

Comissatildeo) Pouco tempo depois em 1992 a anta sofreu a fractura de um dos esteios

por meio de uma retro-escavadora que tentava alinhar os dentes do seu balde (69 5)

Entretanto perante a pressatildeo urbana que este Monumento Nacional sofria

foram delineados projectos de valorizaccedilatildeo pela Cacircmara Municipal de Loures

(Oliveira 1994) mas tais desiacutegnios natildeo se concretizaram

Intervenccedilotildees arqueoloacutegicas no seacuteculo XXI

Em 2001 sob um novo enquadramento administrativo foi realizada uma

campanha de trabalhos arqueoloacutegicos pela empresa Era Arqueologia Lda

contratada para o efeito pela Cacircmara Municipal de Odivelas Aquela acccedilatildeo visava

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 111 de 415

sobretudo verificar o potencial patrimonial e o grau de preservaccedilatildeo do sepulcro mas

os trabalhos incidiram sobretudo na sua aacuterea exterior (Fig 71 Era - Arqueologia

2001) Os resultados da avaliaccedilatildeo efectuada facilitaram a concretizaccedilatildeo em 2004 de

uma campanha de escavaccedilatildeo mais abrangente inclusive no interior da anta

A intervenccedilatildeo arqueoloacutegica em 2004 na anta de Pedras Grandes decorreu

essencialmente entre os dias 5 de Julho e 6 de Agosto com uma primeira limpeza da

vegetaccedilatildeo no dia 1 de Julho e o aterro das aacutereas sondadas no dia 16 de Agosto (Fig

69 5) Perante os resultados de 2001 a escavaccedilatildeo em aacuterea de todo o monumento foi

entendida como uma acccedilatildeo localizada Isto eacute natildeo se considerou necessaacuterio escavar a

totalidade do contraforte e aacutereas imediatamente circundantes do sepulcro pois o

troccedilo jaacute intervencionado permitira uma leitura suficiente dessa estrutura ndash tambeacutem

porque se pretendeu deixar um testemunho para a posteridade Assim a escavaccedilatildeo

iniciou-se pelos troccedilos exteriores que estavam associados a contextos de queda ou

inclinaccedilatildeo acentuada dos esteios nomeadamente os ortoacutestatos U3 U4 e U5 e outros

fragmentos peacutetreos dentro da cacircmara (U6 U7 U8 U17 U18 e U215) Apoacutes essa

fase foi possiacutevel extrair os blocos referidos e proceder tambeacutem agrave escavaccedilatildeo do

interior da cacircmara ateacute entatildeo impedida (Fig 72 2-6)

Um melhor entendimento da entrada era importante para a leitura integral do

monumento pelo que a sua escavaccedilatildeo foi efectuada

A equipa de escavaccedilatildeo foi constituiacuteda por mim enquanto arqueoacutelogo

municipal e responsaacutevel cientiacutefico pela arqueoacuteloga Maia M Langley e o

bioarqueoacutelogo Aacutelvaro Figueiredo Sob esta coordenaccedilatildeo os 14 estudantes

universitaacuterios de antropologia e arqueologia participaram nas diversas actividades

implicadas na intervenccedilatildeo

Consoante os contextos a escavaccedilatildeo processou-se com uso de picareta

picadeira ou colherim As terras extraiacutedas foram crivadas a seco (rede de 3 mm)

consoante a pertinecircncia do contexto ndash no caso da cacircmara as terras foram sempre

crivadas

O espoacutelio exumado foi tratado e depositado agrave guarda da Cacircmara Municipal de

Odivelas sob gestatildeo da Divisatildeo de Cultura e Patrimoacutenio Cultural

5 A U21 eacute apontada em todas as plantas do relatoacuterio de 2001 como U10 mas isso eacute com certeza uma gralha

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 112 de 415

Procurando o maacuteximo de compatibilidade com a intervenccedilatildeo anterior optou-se

por manter e aplicar a descriccedilatildeo das unidades estratigraacuteficas estabelecidas

adicionando as novas ndash para as quais se optou por uma maior segmentaccedilatildeo das

unidades pelas aacutereas onde eram detectadas

Tambeacutem se procurou implantar uma quadriacutecula de 10x10 m em consonacircncia

com a anterior com quadrados de 1x1 m ainda que se tenha registado um desvio

adicional de cerca de 20 cm de sul para norte e de 5 cm de oeste para este No

sentido de efectuar um registo tridimensional dos achados mais pertinentes atribuiu-

se ao eixo Y (sul-norte) uma coordenada alfabeacutetica (excluindo as letras O e Q) e ao

eixo X (oeste-este) uma coordenada numeacuterica (excluindo o algarismo 0) As diversas

sondagens efectuadas na envolvente basearam-se na mesma quadriacutecula ndash ainda que

para sul se tenha dobrado a coordenada alfabeacutetica e para oeste a coordenada

numeacuterica passou a negativa A cota de referecircncia utilizada 27324 m a partir dos

dados fornecidos pelo topoacutegrafo municipal foi implantada no afloramento calcaacuterio a

cerca de 10 metros a norte da anta

Agrave data das intervenccedilotildees de 2001 e 2004 a anta correspondia de forma geral agrave

descriccedilatildeo apresentada por C Ribeiro (1880) dois dos esteios ainda completos mas

tombados para dentro da cacircmara e outros jazendo no seu interior (U3 U4 U5 e U8)

assim como outros blocos peacutetreos (U6 U7 U17 U18 e U21) parecendo natildeo ter sido

mexida desde entatildeo As imagens conhecidas desta anta das deacutecadas de 20 e 40

tambeacutem demonstram a condiccedilatildeo relativamente inalterada do sepulcro A excepccedilatildeo

devia-se ao esteio (U4) quebrado em 1992 sob o qual foi colocado um bloco peacutetreo

para evitar a sua queda Perante tal situaccedilatildeo a pequena cata de C Ribeiro (1880) teraacute

sido realizada nos interstiacutecios dos esteios tombados dentro da cacircmara ainda que

tivesse recolhido um conjunto significativo de materiais osteoloacutegicos e liacuteticos

Em 2001 a intervenccedilatildeo arqueoloacutegica incidiu sobre as aacutereas de entrada e do

quadrante sul no qual se realizou uma vala de sondagem para detecccedilatildeo de possiacuteveis

vestiacutegios de mamoa Na primeira aacuterea verificou-se a presenccedila de dois pequenos

esteios mas natildeo foi possiacutevel verificar se estes prenunciariam uma passagem mais

extensa Por outro lado natildeo se registaram vestiacutegios da mamoa mas somente um anel

peacutetreo de contraforte encostado aos esteios U8 e U9 (Era ndash Arqueologia 2001)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 113 de 415

A continuaccedilatildeo dos trabalhos em 2004 incidiu a escavaccedilatildeo na aacuterea de acesso agrave

cacircmara e nos quadrantes exteriores em redor dos blocos peacutetreos U3 U4 U5 U6 e

U7 que apresentaram o mesmo tipo de realidades jaacute detectadas na intervenccedilatildeo de

2001 sob a U1 surgiu a U10 que se sobrepunha agrave U13 correspondendo

essencialmente a depoacutesitos alterados e superficiais Estas unidades cobriam por sua

vez o contraforte enrocamento criado junto aos esteios (U57 U34 U27 e U41) A

excepccedilatildeo registou-se na aacuterea oeste onde a U10 se sobrepunha directamente sobre o

afloramento e terras argilosas acastanhadas (U39) e o contraforte era residual

As ausecircncias referidas na aacuterea poente parecem ter resultado de dois factores

- A U13 (terras castanho-amareladas) resultava do substrato de argilas

amarelas mas naquele sector dava lugar ao afloramento de calcaacuterio camada que se

lhe se sobrepunha preenchido por argilas acastanhadas Posteriormente verificou-se

que esta realidade tambeacutem se prolongava dentro da cacircmara e sob a aacuterea de

contraforte U14

- A quase inexistecircncia de contraforte no lado oeste deveraacute ter resultado da

extracccedilatildeo do esteio que ali existiu Esta abertura teraacute permitido o acesso ao interior

da cacircmara (antes da queda do esteio dos esteios no seu interior) bem como facilitou

o desmonte localizado do contraforte Os blocos U6 U7 e U21 (ainda que possiacuteveis

fragmentos de esteios) jaziam soltos sobre as U10 e U19 O ldquoalveacuteolordquo do esteio

desaparecido (U40) foi aberto no substrato calcaacuterio ou pelo menos na argila

acastanhada o que condicionou a sua profundidade e delimitaccedilatildeo situaccedilatildeo

semelhante detectada para a implantaccedilatildeo do esteio U8

Onde era mais visiacutevel o contraforte (U57 U34 U27 e U41) apresentava as

mesmas caracteriacutesticas da U14 (descrito por Era ndash Arqueologia 2001 fig 13) tendo

sido utilizadas pedras de calcaacuterio e basalto na sua construccedilatildeo entre as quais se

detectaram alguns elementos talhados em siacutelex

A inclinaccedilatildeo acentuada dos esteios U3 e U4 teraacute sido em parte a consequecircncia

da queda do esteio de cabeceira (U5) ao qual a U4 se encostava Esse episoacutedio teraacute

originado os contextos U25 e U26 que satildeo o resultado do preenchimento

primeiramente imediato e depois gradual dos vazios criados por elementos das

unidades U1 U10 U13 U27 e U34

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 114 de 415

Situaccedilatildeo semelhante de arrastamento parcial do contraforte parece ter

ocorrido com a queda do esteio U5 Este esteio ao tombar para o interior da cacircmara

teraacute arrastado o topo do seu contraforte (U57) mas tambeacutem ao expor a estrutura

contribuiu para a sua degradaccedilatildeo natural e gradual dando origem agrave U23 que cobriu

a face exterior da sua base

O tombo da U5 arrastou ainda os blocos U17 e U18 Estes teratildeo funcionado

como lajes de tapamento do interstiacutecio sul do esteio de cabeceira o que potildee de lado a

hipoacutetese aventada em 2001 de um qualquer tipo de divisatildeo dentro da cacircmara Aliaacutes

essa funccedilatildeo de tapamento repete-se nos interstiacutecios entre os esteios U5U4 U4U3

U3U2 e U9U8 nos quais foi possiacutevel verificar a existecircncia de blocos

tendencialmente maiores que os restantes mas de dimensotildees semelhantes aos blocos

U17 e U18

Apoacutes o esclarecimento suficiente da aacuterea exterior aos esteios da cacircmara

avanccedilou-se com a extracccedilatildeo daqueles monoacutelitos que impediam a escavaccedilatildeo dentro da

cacircmara nomeadamente os blocos U4 U5 U6 U7 U8 e U21 No caso do esteio U8

apenas foi retirado o fragmento caiacutedo no interior da cacircmara permanecendo in situ a

sua base ainda que ligeiramente inclinada Este esteio apresentava ainda na sua aacuterea

de fractura 3 entalhes realizados para o quebrar parecendo notar-se uma possiacutevel

ldquocovinhardquo um pouco abaixo daquela linha

A extracccedilatildeo de alguns dos monoacutelitos com uma grua moacutevel permitiu registar

algumas das suas dimensotildees (Quadro 2) permitindo apreciar o esforccedilo envolvido no

seu transporte

Quadro 2 Dimensotildees dos esteios da anta de Pedras Grandes

Esteio bloco Peso (em toneladas) Comprimento (m) Largura (m)

U3 68 4 180 160

U4 25 230+ 130 = 360 130 110

U5 + U5 47+22 = 69 250 + 140 = 390 190 2

U8 (frag) 12 - 2

U21 04 - -

Os blocos U6 e U7 foram retirados manualmente numa fase anterior da

escavaccedilatildeo pelo que natildeo foram pesados De qualquer forma pelas suas dimensotildees

teratildeo pesos semelhantes ou menores ao bloco U21

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 115 de 415

Apreciando as caracteriacutesticas dos blocos utilizados na construccedilatildeo verifica-se

que estes afloram ainda a cerca de 20 metros a norte da anta pelo que a seu

transporte apesar de esforccedilado natildeo teraacute sido longo (Fig 72 1)

O grau de preservaccedilatildeo do interior da cacircmara revelou-se aqueacutem das

expectativas

Sob o esteio de cabeceira (U5) que cobria a maioria da cacircmara registou-se

bastante lixo recente ali acumulado 1 teacutenis Adidas plaacutesticos embalagem de iogurte

latas de conserva vidros de garrafas mas tambeacutem alguns elementos em siacutelex

Uma concentraccedilatildeo especial de terra solta e escura (U45) tambeacutem com lixo

recente inclusive um boneco do pato Donald tornou-se evidente na aacuterea

correspondendo ao pequeno espaccedilo entre a U8 e parcialmente sob as U5 U17 U18

e U21 Esta realidade parece apontar para uma intervenccedilatildeo numa das poucas aacutereas

acessiacuteveis talvez por C Ribeiro Contudo um morador do Casal Novo recordava-se

de por volta de 1977-78 dois indiviacuteduos terem passado um dia inteiro a cavar dentro

da anta por entre as pedras Ora sendo o lixo de caraacutecter muito recente e na aacuterea

junto agrave anta se registar uma festa anual do tipo feira eacute provaacutevel que este segundo

episoacutedio esteja mais proacuteximo da causa Reforccedilando esta explicaccedilatildeo para o lixo

recente sob pedras caiacutedas antes de 1880 pode presumir-se uma cavaccedilatildeo em galeria e

a acccedilatildeo de roedores e reacutepteis no local Estes animais ao produzirem os seus redutos

sob as pedras criaram espaccedilos vazios que foram posteriormente preenchidos por lixo

O estudo das faunas recolhidas (ver anexo) parece reforccedilar esta ideia

A remoccedilatildeo dos restos da U19 e das terras soltas dentro da cacircmara (originadas

pela extracccedilatildeo dos monoacutelitos) permitiu evidenciar algumas realidades de interesse

notando-se uma concentraccedilatildeo de vestiacutegios arqueoloacutegicos numa aacuterea central de

formato aproximadamente circular (U49 e U51) e segmentos de um anel peacutetreo pelo

lado interior dos esteios (U53 U54 U61) excepto na aacuterea relacionada com o esteio

U5 e junto aos esteios U2 e U9 (estes dois uacuteltimos esteios natildeo foram extraiacutedos nem

os seus alveacuteolos escavados)

Ainda que inicialmente se tenha considerado a U58 como uma realidade

arqueoloacutegica pois apresentava bolsas de terra acastanhada com materiais verificou-

se posteriormente que a sua consistecircncia argilosa de cor amarelada correspondia jaacute

ao substrato geoloacutegico ndash mas somente apoacutes a remoccedilatildeo da U49 e da raspagem

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 116 de 415

aprofundada das aacutereas limiacutetrofes se tornou evidente essa situaccedilatildeo na qual

revolvimentos antigos haviam misturado o sedimento geoloacutegico com terras e

materiais arqueoloacutegicos Assim a mancha de terras sob a U49 foi classificada como

uma nova unidade a U58A Estas duas unidades juntamente com as U19 U61 e

U59 continham a maioria do material arqueoloacutegico associaacutevel ao sepulcro

nomeadamente alguns elementos de siacutelex trabalhados e ossos humanos Por outro

lado a U58A preenchia a referida aacuterea central da cacircmara a uma cota inferior face

aos topos da U58 que eram simultaneamente os bordos internos dos alveacuteolos dos

esteios da cacircmara Essa depressatildeo poderaacute ter sido escavada e utilizada daquela forma

intencionalmente ainda que posteriormente tenha sofrido perturbaccedilotildees de tal forma

que no fundo desta se recolheram fragmentos de ceracircmica vidrada verde (p ex

PG(04)J7-28 e PG(04)I7-28) junto com artefactos em siacutelex (PG(04)I7-26 e

PG(04)J7-32) e restos humanos

No lado sul da cacircmara as unidades U61 e U59 ainda continham restos do

espoacutelio sepulcral mas muito fragmentaacuterio

A U61 apresentava-se remexida com materiais arqueoloacutegicos grandes lascas

da fractura do esteio U8 e ainda alguns blocos calcaacuterios e basaacutelticos do que teraacute sido

o enrocamento interno do alveacuteolo desse esteio Aliaacutes como jaacute foi referido acima este

esteio tinha sido quebrado intencionalmente jaacute muito proacuteximo da sua base Por outro

lado porque assentava na aacuterea de substrato calcaacuterio natildeo tinha um alveacuteolo muito

aprofundado ndash a cota do afloramento rondava os 27170-90 m acima do topo do

preenchimento da U58A mas muito abaixo do fundo da U59 Quase sob a base do

esteio U8 numa falha mesial recolheu-se um percutor esferoidal em seixo de

quartzito

A U59 assentava no substrato geoloacutegico argiloso (U58) a uma cota aproximada

de 27220-30 m o que coincidia com a cota do lado norte do mesmo substrato junto

ao bordo dos alveacuteolos e com a entrada da cacircmara Eacute provaacutevel que esta cota tenha sido

o niacutevel aproximado da cacircmara com uma depressatildeo central que teraacute atingido a

profundidade mais baixa de 27108 m (cota de recolha de uma ceracircmica vidrada

PG(04)I7-28)

Como jaacute foi referido atraacutes o esteio de cabeceira (U5) selou a maioria da aacuterea

da cacircmara quando caiu No entanto quebrou o seu topo porque embateu no esteio U9

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 117 de 415

e no substrato argiloso na entrada da cacircmara ambos em cotas superiores ao bordo

interno detectado do seu alveacuteolo Isto parece significar que quando U5 tombou a

cacircmara jaacute se apresentava parcialmente deprimida no lado oeste-sudoeste Apesar da

localizaccedilatildeo do alveacuteolo da U5 ainda no substrato argiloso o que permitiu uma maior

profundidade (c 27160 m) o seu bordo encontrava-se extremamente rebaixado ndash

cerca de 27180 m em vez de 27220-30 m como nos bordos dos outros alveacuteolos (Fig

73 1) Outra caracteriacutestica associada ao esteio U5 eacute a sua base assimeacutetrica - apesar

de apresentar cerca de 2 metros de largura meacutedia a sua base tinha um recorte com

cerca de 1 m por 050 m de altura Perante a situaccedilatildeo descrita a que se deve juntar a

ausecircncia de apoio do lado sul (o esteio desaparecido que se fincava na U40) e a

pressatildeo dos esteios do lado norte (U4 e U3) percebe-se o conjunto de eventos que

teratildeo contribuiacutedo para a sua queda

Resta ainda descrever em pormenor o anel de enrocamento associado aos

alveacuteolos dos esteios U4 e U3 respectivamente U42 e U56 Situando-se os alveacuteolos

no substrato argiloso estes apresentavam profundidades de cerca de 27170-80 m

bem como o rebordo interno preservado (cerca de 27220-30 m) Em ambos os

alveacuteolos na face interna registou-se a concentraccedilatildeo de blocos calcaacuterios e basaacutelticos

de dimensotildees similares (20-30 cm) No entanto apresentavam-se numa formaccedilatildeo

espalmada o que deve relacionar-se com a inclinaccedilatildeo acentuada dos esteios e a

maleabilidade natural da argila (inclusive originando no alveacuteolo U56 uma seacuterie de

ldquoespelhos de falhardquo)

A identificaccedilatildeo dos dois ortoacutestatos marcando a entrada para o sepulcro (U11 e

U12) emparelhados e orientados a sudeste colocava a hipoacutetese de um possiacutevel

corredor que poderia prolongar-se com ou sem estrutura peacutetrea agrave semelhanccedila de

outros sepulcros da regiatildeo nomeadamente Monte Abraatildeo (Ribeiro 1880) e

Casaiacutenhos (Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) Contudo isso natildeo se registou

pelo que parece mais adequado designar esta componente da arquitectura do sepulcro

como um portal os dois esteios funcionariam como postes ou marcadores da entrada

impedindo o colapso do contraforte (o que poderia bloquear o acesso agrave cacircmara) e ou

poderiam sustentar uma laje em cutelo que fecharia o espaccedilo superior entre os dois

primeiros esteios da cacircmara criando uma passagem com cerca de 40-50 cm de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 118 de 415

altura O uso de lajes em cutelo sobre a entrada da cacircmara de antas eacute conhecido no

Alto Alentejo e Beira Interior (Leisner e Leisner 1959 Parreira 1996)

A intervenccedilatildeo na aacuterea do portal jaacute parcialmente escavada em 2001 confirmou

a interrupccedilatildeo do contraforte tendo apenas evidenciado os calccedilos dos dois esteios e os

seus alveacuteolos Estes uacuteltimos mais do que fossas individualizadas foram abertos

simultaneamente com os alveacuteolos para os ortoacutestatos da cacircmara devendo os pequenos

esteios do portal ter sido cravados no final da sequecircncia Aliaacutes ao serem implantados

perpendicularmente junto aos dois primeiros esteios da cacircmara tambeacutem

funcionariam como parte integrante do contraforte

Os ortoacutestatos do portal apresentavam uma inclinaccedilatildeo quase simeacutetrica para sul

o que natildeo seria a sua posiccedilatildeo original Essa tendecircncia teraacute sido sustida pelos calccedilos

no lado sul de U11 e pelo contraforte U14 a sul da U12 parecendo resultar da

inclinaccedilatildeo da pendente orientada nordeste-sudoeste o que originou o deslizamento

de terras ao longo dos anos pressionando os esteios

No eixo da possiacutevel passagem apenas surgiu uma mancha de restos de talhe

(U31) maioritariamente de siacutelex com alguns artefactos assentando sobre o substrato

argilosocalcaacuterio As suas caracteriacutesticas conjugam-se com outras aacutereas escavadas

nomeadamente com a U63 da sondagem R12-S12 apontando para realidades

anteriores agrave construccedilatildeo da anta em que depressotildees do terreno originaram a

acumulaccedilatildeo dos restos liacuteticos Portanto mesmo a possibilidade de um aacutetrio

pavimentado natildeo se verificou

O relatoacuterio dos trabalhos de 2001 colocava a hipoacutetese passiacutevel de confirmaccedilatildeo

da U13 corresponder a vestiacutegios da mamoa (Era ndash Arqueologia 2001) No entanto a

intervenccedilatildeo de 2004 nas aacutereas oeste norte e sudeste do exterior da cacircmara permitiu

verificar que a referida U13 seraacute com maior probabilidade o resultado da extracccedilatildeo

do substrato argiloso amarelado durante a abertura dos alveacuteolos cujo sedimento foi

posteriormente reutilizado na consolidaccedilatildeo do contraforte Entretanto anos de erosatildeo

teratildeo arrastado esse depoacutesito pela superfiacutecie inclinada

A maior altimetria do contraforte no lado nordeste confirma a leitura de 2001

acerca da U14 ser uma parte pior conservada daquela estrutura Contudo esta

estrutura peacutetrea natildeo parece ter sido muito mais elevada se considerarmos o topo do

ortoacutestatos do portal e uma das suas provaacuteveis funccedilotildees Isto poderaacute apontar para a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 119 de 415

existecircncia de uma estrutura tumular apenas parcial que eventualmente teraacute possuiacutedo

no momento de construccedilatildeo uma rampa para a colocaccedilatildeo da tampa (hoje

desaparecida) ou se o tumulus cobriu totalmente o sepulcro este natildeo resistiu aos

elementos naturais

Perante o exposto eacute possiacutevel descrever Pedras Grandes como um sepulcro com

uma provaacutevel cacircmara poligonal de 7 esteios com cerca de 350 metros de largura por

320 metros de comprimento alcanccedilando os 3 metros de altura sobre a qual

assentaria uma grande laje de cobertura (chapeacuteu) Acedia-se ao interior atraveacutes de um

portal com a largura e comprimento de 1 por 1 metro constituiacutedo por um par de

pequenos esteios com cerca de 050 metros (Fig 73 2) A implantaccedilatildeo dos esteios da

cacircmara e portal implicou que os alveacuteolos fossem abertos quase ininterruptamente em

fosso ainda que de acordo com a dimensatildeo e formato dos ortoacutestatos (o caso de U5 eacute

significativo) Dentro deles foram implantados os esteios primeiramente o esteio de

cabeceira ao qual se foram encostando lateralmente os ortoacutestatos seguintes Todos

eles imediatamente consolidados por um enrocamento interno e externo Os

interstiacutecios dos esteios foram entatildeo tapados com pedras de dimensatildeo superior agravequelas

dos enrocamentos algumas delas mais parecendo pequenos esteios (por exemplo as

U17 e U18) No lado norte da U5 a U57 preencheria um grande vazio o que teraacute

implicado um pequeno muro de pedra seca que se ligava ao calccedilo interno (U53) do

esteio U4 Por fim do lado exterior o enrocamento foi aumentado formando-se um

contraforte coberto com as terras locais para melhor suster as pressotildees dos ortoacutestatos

Portanto a possibilidade de um tumulus que cobrisse o esqueleto peacutetreo deste

sepulcro natildeo foi cabalmente confirmada

Tambeacutem parece ter havido a intenccedilatildeo de localizar o sepulcro no substrato

geoloacutegico argiloso mais faacutecil de trabalhar ndash no entanto apenas trecircs quartos da aacuterea

acertaram nessa intenccedilatildeo talvez porque agrave superfiacutecie tal natildeo era evidente De facto a

implantaccedilatildeo da anta parece coincidir com uma aacuterea de transiccedilatildeo de calcaacuterios

cretaacutecicos do Cenomaniano Meacutedio e Superior anteriormente incluindo a

classificaccedilatildeo do Turoniano (SGP 1981 Zbyszweski 1964 Leisner e Ferreira 1961)

Imediatamente a norte a cerca de 20 metros afloram ainda calcaacuterios brancos onde eacute

possiacutevel observar a possibilidade de extracccedilatildeo de blocos em tudo semelhantes agraves

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 120 de 415

lajes utilizadas na anta Esta situaccedilatildeo teraacute permitido encurtar o esforccedilo envolvido na

construccedilatildeo da anta

No interior da cacircmara os restos humanos encontravam-se sobretudo junto aos

esteios nomeadamente junto a U8 e U9 mas a depressatildeo central poderia tambeacutem ser

uma estruturaccedilatildeo particular que permitiria o aterro dos cadaacuteveres ndash no entanto tal

contexto poderaacute ter resultado somente de remeximento e cavaccedilatildeo recente (mas

anterior agrave queda de U5) que provocou a migraccedilatildeo de ceracircmica vidrada para o seu

interior

Na maioria dos depoacutesitos detectados bem como nas estruturas de enrocamento

dentro e fora dos espaccedilos do sepulcro foram recolhidos inuacutemeros elementos

talhados maioritariamente de siacutelex As maiores concentraccedilotildees registam-se nas U1

U10 e nas unidades equivalentes das diversas sondagens realizadas na envolvente da

anta Saliente-se que dentro dos recheios dos alveacuteolos escavados e no contraforte

estes elementos estavam presentes mas natildeo eram tatildeo abundantes como noutras

unidades estratigraacuteficas

A presenccedila dos elementos talhados fora jaacute detectada em 2001 mas com certeza

foi notada por C Ribeiro Inclusive J L Vasconcelos no seu apontamento de 1913

tambeacutem referia a existecircncia de muitas lascas de siacutelex em redor da anta Como se

poderaacute verificar adiante esta situaccedilatildeo relacionar-se-ia com um provaacutevel uso anterior

agrave construccedilatildeo da anta mas que poderaacute ter prosseguido durante a sua utilizaccedilatildeo

O desmoronamento da anta parece ter ocorrido algures no iniacutecio do seacutec XIX

(ver espoacutelio) provavelmente despoletado por remeximento do seu conteuacutedo e pela

retirada do esteio cravado na U40 A fractura de U8 cujo fragmento caiu para dentro

da cacircmara e os outros fragmentos presentes (U6 U7 e U21) parecem indicar a

extracccedilatildeo de pedra Mas antes que o fragmento de U8 pudesse ser retirado o esteio

U5 caiu acabando por selar a cacircmara e inclinando consigo os esteios U4 e U3

A envolvente da anta

Havendo a necessidade de compreender melhor o abundante nuacutemero de

elementos de siacutelex talhado que se detectava agrave superfiacutecie do solo na envolvente da

anta de Pedras Grandes foram realizadas sete sondagens nas aacutereas que aparentavam

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 121 de 415

ainda natildeo ter sido muito remexidas para sul as sondagens ZT12 ZI12 e YY12 para

oeste as sondagens Dlt8 e Mlt8 para norte a sondagem R12-S12 e para este a

sondagem D19

ZT12 o afloramento calcaacuterio surgiu a poucos centiacutemetros da superfiacutecie Nos

interstiacutecios do calcaacuterio sobretudo nas cotas mais proacuteximas da superfiacutecie surgiram

elementos em siacutelex alguns destes artefactos (U28)

ZI12 o afloramento calcaacuterio surgiu a poucos centiacutemetros da superfiacutecie Num

grande interstiacutecio registou-se uma bolsa de elementos de siacutelex talhados com

inuacutemeros artefactos (U30) sobretudo nas cotas mais proacuteximas da superfiacutecie Refira-

se que nesta sondagem se registaram dezenas de peccedilas talhadas passiacuteveis de se

considerarem artefactos

YY12 o afloramento calcaacuterio surgiu mais aprofundado com um aspecto

erodido dando a impressatildeo de ter estado exposto anteriormente Sobre o afloramento

verificou-se a existecircncia de depoacutesitos recentes resultado de aterro Ainda assim nos

interstiacutecios do calcaacuterio sobretudo nas cotas acima do topo do afloramento surgiram

elementos em siacutelex alguns destes artefactos

Dlt8 o afloramento calcaacuterio surgiu a muito poucos centiacutemetros da superfiacutecie

Nos interstiacutecios do calcaacuterio sobretudo nas cotas mais proacuteximas da superfiacutecie

surgiram elementos em siacutelex alguns destes talhados

Mlt8 o afloramento calcaacuterio surgiu a muito poucos centiacutemetros da superfiacutecie

No interstiacutecio do calcaacuterio sobretudo nas cotas mais proacuteximas da superfiacutecie surgiram

elementos em siacutelex alguns destes talhados

R12-S12 Inicialmente apenas S12 esta sondagem foi ampliada com R12 para

melhor compreender uma bolsa com elementos em siacutelex alguns talhados que surgia

sobre um substrato argiloso amarelado em tudo semelhante agravequele detectado em

parte da aacuterea onde a anta foi construiacuteda Nesta sondagem o afloramento calcaacuterio natildeo

foi registado

D19 o afloramento calcaacuterio surgiu a poucos centiacutemetros da superfiacutecie Nos

interstiacutecios do calcaacuterio sobretudo nas cotas mais proacuteximas da superfiacutecie surgiram

elementos em siacutelex alguns destes talhados

Nas sondagens realizadas natildeo se detectou qualquer tipo de estrutura associada

aos elementos de siacutelex Por outro lado a potecircncia estratigraacutefica destes elementos em

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 122 de 415

siacutelex eacute bastante superficial exceptuando algumas acumulaccedilotildees nos interstiacutecios ou

eventualmente pequenas bolsas de materiais (U30 e U63) em depressotildees do terreno

As caracteriacutesticas dos achados permitem apontar para uma ldquooficina de talherdquo do siacutelex

local e em menor quantidade do quartzo este uacuteltimo provavelmente proveniente dos

depoacutesitos de argilas terciaacuterias

Perante a ausecircncia de uma estratigrafia vertical a possibilidade de qualquer

organizaccedilatildeo horizontal eacute tambeacutem difiacutecil de recuperar aleacutem da aacuterea enquanto

ldquooficina de talherdquo poder ser um vasto palimpsesto a fraca potecircncia estratigraacutefica foi

sujeita agrave actividade agriacutecola ao longo dos anos o que remexeu continuamente

aquelas realidades mesmo que os materiais natildeo tenham sido arrastados por grandes

distacircncias provavelmente por poucos metros

O espoacutelio

A leitura resultante da intervenccedilatildeo de 2001 manteve-se actual com os trabalhos

de 2004 De facto o espoacutelio arqueoloacutegico recolhido foi na sua grande maioria

resultante da actividade de talhe do siacutelex Inclusive dentro do sepulcro foram

recolhidos dezenas de elementos em siacutelex tambeacutem passiacuteveis dessa atribuiccedilatildeo

A distinccedilatildeo entre o espoacutelio resultante da oficina de talhe e aquele que

acompanhou as deposiccedilotildees funeraacuterias revelou-se complexa No exterior da anta

associado agrave actividade da referida oficina foram recolhidos utensiacutelios ndash lamelas e

lacircminas com retoque furadores raspadeiras e restos de talhe em siacutelex o que tambeacutem

ocorreu dentro do sepulcro Noutros sepulcros da regiatildeo a presenccedila deste tipo de

artefactos e seus restos eacute comum mas natildeo em tatildeo elevada quantidade o que ocorre

na cacircmara de Pedras Grandes Uma das explicaccedilotildees para isto jaacute adiantada acima foi

a utilizaccedilatildeo preacutevia da aacuterea como oficina de talhe mas tambeacutem caso se aceite a

hipoacutetese da depressatildeo central na cacircmara poderia ter resultado do transporte de terras

do exterior da cacircmara para a cobertura dos enterramentos

Assim a identificaccedilatildeo do espoacutelio funeraacuterio baseou-se na associaccedilatildeo de peccedilas

trabalhadas e ossos humanos em unidades da cacircmara visivelmente remanescentes da

actividade mortuaacuteria (mesmo que perturbadas) nomeadamente U19 U49 U52

U58A U59 e U61 Com este criteacuterio adscreveram-se alguns objectos potencialmente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 123 de 415

como parte do espoacutelio funeraacuterio fragmentos de pequenas lacircminas com e sem

retoque um geomeacutetrico trapeacutezio e uma lasca eventualmente trabalhada para atingir a

mesma tipologia alguns raspadores um furador e um percutor sobre seixo

quartziacutetico e uma moacute dormente quase completa em granito (Fig 70)

Junto com os materiais referidos recolheram-se alguns fragmentos de ceracircmica

de torno essencialmente com vidrado verde provaacutevel testemunho de periacuteodos bem

mais recentes

Aleacutem das peccedilas recolhidas nas intervenccedilotildees recentes haacute que considerar a cata

de espoacutelio realizada por C Ribeiro que corresponderaacute a algumas peccedilas onde eacute

possiacutevel observar etiquetas indicando o ano de 1875 Segundo a descriccedilatildeo do

geoacutelogo este recolheu ldquofragmentos de ossos longos e dentes humanos tanto de

individuos novos como de adultos um machado de calcareo argilloso um rim de

silex cinzento com um dos bordos afeiccediloados para servir de raspador e algumas

lascas de siacutelex as maiores drsquoellas do typo das facasrdquo (Ribeiro 1880 p 69) Este

breve relatoacuterio refere um nuacutemero de elementos reduzido quando se considera o

espoacutelio presente no Museu Geoloacutegico com as mencionadas etiquetas do 1875 O

referido ldquomachadordquo corresponde a um bloco calcaacuterio ligeiramente afeiccediloado no que

seria o gume (MG6383) lembrando de alguma forma um sacho e a lasca maior de

siacutelex seraacute a lacircmina retocada quase completa (MG6385) Aleacutem das peccedilas

mencionadas haacute que acrescentar um machado em anfibolito de secccedilatildeo poligonal

(MG6381) e um fragmento de provaacutevel enxoacute em xisto anfiboacutelico (MG6382)

Considerando o espoacutelio em presenccedila verifica-se uma evidente ausecircncia de

ceracircmica preacute-histoacuterica bem como artefactos de produccedilatildeo claramente ideoteacutecnica A

possibilidade de uma qualquer intervenccedilatildeo anterior agrave queda do esteio de cabeceira e

da visita de C Ribeiro poderia explicar o desaparecimento do material ceracircmico

Contudo tal hipoacutetese parece-me remota pois algum fragmento ceracircmico teria

escapado ao antiquaacuterio putativo que buscaria peccedilas mais completas ndash a presenccedila de

fragmentos de ceracircmica vidrada misturados com elementos liacuteticos preacute-histoacutericos

parece de facto denunciar algum tipo de remeximento No entanto recorde-se que

todos os depoacutesitos do interior do sepulcro foram sistematicamente crivados bem

como aqueles da maioria das aacutereas exteriores Assim seraacute de admitir uma situaccedilatildeo

semelhante agravequela provavelmente detectada nas antas do Carrascal e Trigache 4 ou

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 124 de 415

em contextos de cavidade natural normalmente com diversas deposiccedilotildees sem ou

quase sem ceracircmica presente como por exemplo em Salemas (Castro e Ferreira

1972) no Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987) e no Bom Santo (Duarte 1998)

Assim as presenccedilas e ausecircncias referidas parecem acentuar o caraacutecter

provavelmente arcaico desta anta algures entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio

ane o que eacute reforccedilado pelas duas dataccedilotildees de radiocarbono obtidas (Anexo 3

Quadro 2) Estas foram realizadas a partir de diaacutefises de feacutemur direitos de indiviacuteduos

humanos distintos uma proveniente da escavaccedilatildeo de 2004 a outra da cata de C

Ribeiro ainda com uma etiqueta identificativa de 1875 situando os intervalos de

tempo respectivamente entre 3520-3100 cal BCE e 3370-3090 cal BCE (Beta-

205946 e Beta-234136)

41422 Siacutetio das Batalhas

Como eacute possiacutevel verificar pelo apontamento de C Ribeiro (1880 p 69) a

informaccedilatildeo acerca deste provaacutevel sepulcro no ldquoSiacutetio das Batalhasrdquo eacute extremamente

limitada A sua classificaccedilatildeo agrave falta de outros dados eacute comummente aceite pelo

rigor e prestiacutegio que os trabalhos dirigidos por C Ribeiro inspiram A referecircncia a

uma grande laje ainda inteira com outros fragmentos de outras jaacute tombadas em seu

redor adequar-se-ia a muitas antas ainda hoje existentes e reconhecidas no actual

territoacuterio portuguecircs Infelizmente o seu estado de ruiacutena teraacute acelerado o seu

desaparecimento a que natildeo teraacute sido alheia uma provaacutevel exploraccedilatildeo de pedreira

isto se natildeo for esquecido que aquele sepulcro localizar-se-ia na vizinhanccedila da

mancha das pedreiras de Trigache

Eacute portanto plausiacutevel que esta estrutura jaacute tivesse sido erradicada agrave data da

visita de JL Vasconcelos que conhecendo as noacutetulas de C Ribeiro teria com

certeza registado algum apontamento acerca desse outro doacutelmen menos composto

Perante tatildeo parcos dados e possiacutevel erradicaccedilatildeo eacute com surpresa que se verifica

a sua classificaccedilatildeo como Monumento Nacional em 1944 devendo-se talvez agrave boa

vontade de emparelhamento dos dois sepulcros descritos por C Ribeiro No entanto

desconhecem-se quaisquer registos de F C Ribeiro ou de 1941 agrave semelhanccedila do

conhecido para a anta de Pedras Grandes E em finais de 1943 o casal Leisner

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 125 de 415

(ALeisner Leis 64) jaacute natildeo o conseguiu localizar admitindo-o destruiacutedo (Leisner

1965 p 26)

Assim uma seacuterie de equiacutevocos contribuiu para o avolumar da confusatildeo entre

as antas de Batalhas e Pedras Grandes O V Ferreira (1959) aglutina ambas as

designaccedilotildees no mesmo monumento parecendo descartar as localizaccedilotildees apontadas

por C Ribeiro Por outro lado a proacutepria classificaccedilatildeo oficial talvez por lapso aponta

o Siacutetio das Batalhas noutro local espaccedilo esse ainda hoje sob a respectiva servidatildeo

administrativa De facto para aleacutem do desconhecimento pormenorizado do sepulcro

tambeacutem a sua localizaccedilatildeo foi alvo de vaacuterias propostas Aleacutem da original de C

Ribeiro registam-se ainda aquela da classificaccedilatildeo oficial a de O V Ferreira (1959)

deste autor e V Leisner (1961) e de V Leisner (1965) Resumindo excepto perante

nova documentaccedilatildeo provando o contraacuterio assumirei a localizaccedilatildeo original como a

correcta (Fig 26)

Aleacutem da discussatildeo da sua localizaccedilatildeo e denominaccedilatildeo pouco mais se pode

adiantar para a anta de Batalhas ainda que como jaacute foi referido acima a sua

existecircncia eacute perfeitamente plausiacutevel perante os dados circunstanciais

415 As antas ldquoisoladasrdquo de Loures

Localizadas nos terrenos relativamente acidentados e recortados do Complexo

Vulcacircnico de Lisboa encontram-se as antas de Alto da Toupeira 1 e 2 Casaiacutenhos e

Carcavelos Analisadas no acircmbito do tipo de sepulcro e implantaccedilatildeo as duas uacuteltimas

surgem isoladas sem uma relaccedilatildeo de proximidade que as permita integrar em

conjuntos funeraacuterios (Fig 27)

4152 Alto da Toupeira 1 e 2

Primeiramente julgo necessaacuterio esclarecer alguma confusatildeo que se tem vindo

a registar quanto agrave presenccedila de sepulcros megaliacuteticos na plataforma imediatamente a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 126 de 415

nordeste do relevo conhecido por Alto da Toupeira Sobretudo no que se refere as

suas designaccedilotildees ldquoAnta do Alto da Toupeirardquo ldquoAnta da Toupeirardquo ou ldquoDoacutelmen de

Salemasrdquo

A anta do Alto da Toupeira (CNS-30076) corresponde ao sepulcro ainda hoje

existente constituiacutedo por cinco esteios visiacuteveis formando uma grande cacircmara

aparentemente poligonal ainda que natildeo se conheccedila vestiacutegios de corredor (Fig 74 1)

Este siacutetio surge tambeacutem designado por ldquoAlto do Toupeirordquo (ALeisner Leis 61)

ldquoDoacutelmen de Salemasrdquo (IPPC 1986 p 47 CNS-2754) a que recentemente se juntou

ldquoToupeirardquo (Oliveira et al 2000 p 44)

A outra realidade possivelmente megaliacutetica foi identificada e descrita por O

V Ferreira (1963) ldquoQuando exploraacutevamos a gruta das Salemas em Ponte de Lousa

encontraacutemos nos terrenos da parte superior da cornija de calcaacuterios do Turoniano

que servem de cobertura agrave gruta alguns objectos que pertencem agrave cultura do vaso

campaniforme e que pensamos terem feito parte dum monumento destruiacutedo Ainda se

nota na pequena chatilde uma elevaccedilatildeo que poderia muito bem ter pertencido ao

laquotumulusraquo assim como fragmentos de grandes lajes de calcaacuterio semelhantes agraves que

constituem os esteios do monumento megaliacutetico do Alto da Toupeira que dista cerca

de 250 m para sulrdquo Em seguida lista alguns materiais (iacutedolo ciliacutendrico em calcaacuterio

machado de xisto anfiboacutelico escopro de cobre ponta de seta com aletas e espigatildeo

em cobre e pendente de calaiacutete) a que seratildeo posteriormente acrescentados agora no

designado siacutetio da ldquoToupeirardquo (Ferreira 1966 p 52-53) mais um largo bordo de

taccedila tipo Palmela com decoraccedilatildeo incisa e uma pequena placa calcaacuteria amorfa com

perfuraccedilatildeo e gravaccedilatildeo quadriculada Apesar das reservas que eacute aconselhaacutevel ter para

esta realidade eacute plausiacutevel a existecircncia de um segundo sepulcro megaliacutetico nesta aacuterea

Contudo na visita agrave aacuterea referida no topo da cornija da gruta das Salemas ainda que

tenha sido possiacutevel verificar a chatilde com um suave montiacuteculo onde se avistavam

objectos arqueoloacutegicos atribuiacuteveis a vaacuterios periacuteodos natildeo se encontraram as lajes

calcaacuterias mencionadas Tambeacutem a corresponder agrave realidade apontada esta dista

apenas 100 metros da anta do Alto da Toupeira e natildeo os 250 metros referidos Outra

questatildeo talvez um equiacutevoco tem a ver com o grande machado em xisto anfiboacutelico

(MG4596) pois apesar de atribuiacutedo por V Ferreira (1963 e 1966 p 52-53 Leisner 6 Na Base de Dados Endoveacutelico (IGESPAR) surge ainda o CNS-2754 atribuiacutedo a ldquoSalemas (Anta de )rdquo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 127 de 415

1965 taf 19 3) ao possiacutevel sepulcro este surge tambeacutem indicado por aquele autor e

L Castro (1967 est II 22) como proveniente do povoado das Salemas

Apoacutes as notiacutecias referidas acima V Leisner (1965 p 27 e taf 19 1 e 3)

apresenta a planta de Alto da Toupeira bem como o espoacutelio encontrado proacuteximo

daquele sepulcro ldquo3Streufunde bei Alto da Toupeirardquo recolhido por O V Ferreira

Apesar daquela distinccedilatildeo leitura menos atenta fundiu aquelas duas realidades sob

uma mesma designaccedilatildeo (Oliveira et al 2000) o que importa destrinccedilar

Assim torna-se de facto importante clarificar definitivamente aquelas duas

realidades pelo que passarei a designaacute-las respectivamente pela ordem de

descoberta Alto da Toupeira 1 (ainda existente) e Alto da Toupeira 2 Os povoados

do Alto da Toupeira (Oliveira et al 2000 nordm 25) referido na Carta Arqueoloacutegica de

Loures corresponderaacute ao povoados das Salemas (Oliveira et al 2000 nordm 27) pois eacute

ainda possiacutevel observar vestiacutegios de ocupaccedilotildees de diversa cronologia na plataforma

sobrevivente inclusive na jaacute referida aacuterea de Alto da Toupeira 2

A anta do Alto da Toupeira 1 (CNS-3007) teve a sua planta desenhada

primeiramente durante a visita do casal Leisner no dia 17 de Janeiro de 1944 (Fig

74 2) durante uma jornada que implicava o reconhecimento desta segundo

informaccedilotildees natildeo especificadas de Mesquita Figueiredo e Carlos Ribeiro (ALeisner

Leis61) As imagens fotograacuteficas entatildeo obtidas mostram que o sepulcro natildeo sofreu

grandes alteraccedilotildees ateacute hoje Mas tambeacutem eacute possiacutevel vislumbrar parcialmente a norte

daquele sepulcro o lapiaacutes anos mais tarde destruiacutedo pela lavra da pedreira e em cuja

aacuterea foram recolhidos vestiacutegios de eacutepocas diversas nomeadamente de enterramentos

dataacuteveis do Neoliacutetico antigo nas diaacuteclases daquele substrato (Castro e Ferreira

1959 Ferembach 1964-65 Ferreira e Castro 1967 Zbyszweski et al 1980-81

Cardoso 1993 p 88-89 Cardoso e Carreira 1996)

Posteriormente agrave visita do casal alematildeo no I Congresso Nacional de

Arqueologia em 1958 O V Ferreira (1959) inclui a anta no seu inventaacuterio dos

monumentos megaliacuteticos de Lisboa Refere entatildeo que este sepulcro teria sido jaacute

sondado por um meacutedico da regiatildeo que retirou algumas peccedilas bem como por Carlos

Ribeiro informaccedilatildeo obtida provavelmente a partir de algum apontamento dos

Serviccedilos Geoloacutegicos Apesar disto anunciava a sua intervenccedilatildeo naquele sepulcro

para breve o que se veio a verificar

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 128 de 415

Na sequecircncia do avanccedilo da lavra da pedreira mencionada atraacutes em 1959 foi

identificada a gruta das Salemas (CNS- 1707) com vestiacutegios de utilizaccedilatildeo do

Paleoliacutetico e do Neoliacutetico (Zbyszewski et al 1962 Roche et al 1962 Roche e

Ferreira 1970 Castro e Ferreira 1972) A exploraccedilatildeo inicial realizou-se em

Setembro e Novembro daquele ano (sobretudo os depoacutesitos neoliacuteticos de superfiacutecie)

mas foi no seguinte entre Outubro e Dezembro que a exploraccedilatildeo daquele espaccedilo foi

intensificada e concluiacuteda Como jaacute foi mencionado acima eacute durante os trabalhos na

gruta das Salemas que se identifica o siacutetio do Alto da Toupeira 2

Entretanto aproveitando as sinergias envolvidas na intervenccedilatildeo da gruta V

Leisner em colaboraccedilatildeo com O V Ferreira procede agrave escavaccedilatildeo da cacircmara da anta

de Alto da Toupeira 1 durante os dias 12 e 18 de Novembro de 1959 (Fig 74 3-4)

ainda que soacute os primeiros trecircs tenham sido dedicados verdadeiramente agrave escavaccedilatildeo

(ALeisner Leis61) Poreacutem os resultados ficaram aqueacutem das expectativas criadas

pela dimensatildeo de tal monumento registando-se apenas trecircs estratos esteacutereis uma

camada de terras escuras com pedaccedilos de basalto sobre outra acinzentada com restos

de calcaacuterio que assentava em substrato argiloso avermelhado (Leisner 1965 p 27

ALeisner Leis61)

A planta realizada em 1944 eacute rectificada e produz-se um alccedilado da cacircmara

(Leisner 1965 taf 19 1) Assim V Leisner classifica este sepulcro como uma

cacircmara poligonal aparentemente sem corredor observaacutevel com cerca de 5 m por 55

m de aacuterea e uma altura maacutexima registada de 2 metros no esteio B (Leisner 1965 p

27 ALeisner Leis61) Os cinco esteios (A-E) identificados satildeo todos de calcaacuterio

Cretaacutecico presente no substrato imediato do Cenomaniano superior (SGP 1981)

mas anteriormente atribuiacutedo ao Turoniano (Ferreira 1959 Zbyszweski 1964)

Curiosamente perante os fracos resultados no interior da cacircmara o interesse em

perscrutar a potencial aacuterea do corredor limitou-se a um pequeno alargamento da aacuterea

escavada naquela direcccedilatildeo procurando detectar o seguimento da estrutura Como tal

natildeo teraacute ocorrido no imediato assumiu-se a sua inexistecircncia Apesar disso eacute detectado

um bloco peacutetreo do lado sul delimitando o que seria a entrada Tambeacutem no caso da

envolvente exterior eacute apresentado um alccedilado evidenciando o desniacutevel da cacircmara

sem que se tivesse procedido a uma vala de sondagem

Os materiais recolhidos no Alto da Toupeira 2 (Fig 75 1) foram depositados

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 129 de 415

no Museu Geoloacutegico sob a designaccedilatildeo ldquoMonumento entre Alto da Toupeira e

Salemasrdquo (MG459) Contudo os dois artefactos metaacutelicos o cinzel e a ponta com

aletas e espigatildeo apesar de inventariados correctamente encontravam-se expostos

sob a designaccedilatildeo de ldquomonumento perto do tholos das Salemasrdquo

Portanto apesar da riqueza em vestiacutegios arqueoloacutegicos nesta plataforma a

leitura dos seus sepulcros megaliacuteticos queda-se por vaacuterias interrogaccedilotildees e inferecircncias

indirectas sobretudo a partir dos dados obtidos dentro da gruta das Salemas e na

possiacutevel anta de Alto da Toupeira 2 Para esta uacuteltima a ter sido de facto um sepulcro

megaliacutetico os objectos recolhidos nomeadamente o iacutedolo calcaacuterio e o machado de

xisto anfiboacutelico com gume intacto parecem apontar para uma utilizaccedilatildeo no 3ordm

mileacutenio ane enquanto a ceracircmica campaniforme e os objectos metaacutelicos indiciam

momentos posteriores provavelmente no uacuteltimo quartel daquele eou jaacute no 2ordm

mileacutenio ane

Mas a gruta das Salemas permite outras ilaccedilotildees Aiacute a presenccedila de um espoacutelio

de cariz antigo (Ferreira 1965 Ferreira e Castro 1972) parece apontar para aquele

espaccedilo ter sido utilizado como necroacutepole pelo menos entre o segundo e o terceiro

quartel do 4ordm mileacutenio ane no qual se enquadra a dataccedilatildeo Beta-233282 de 3660-

3380 cal BCE (com 938 de probabilidade restringe-se a 3660-3510 cal BCE)

obtida sobre uacutemero humano feminino (MG270538 Anexo 3 Quadro 2) Este

balizamento cronoloacutegico poderia entatildeo significar uma mudanccedila na estrateacutegia de

sepultamento dos indiviacuteduos da comunidade o que teria implicado a construccedilatildeo de

estruturas megaliacuteticas Assim se Alto da Toupeira 1 e 2 foram construiacutedas em

momentos finais ou posteriores agrave utilizaccedilatildeo da gruta admite-se a hipoacutetese de um

uso na segunda metade do 4ordm mileacutenio ou jaacute na sua transiccedilatildeo Mas como mera

hipoacutetese de trabalho pois necessita de fundamentos materiais ainda natildeo adquiridos

se for possiacutevel obtecirc-los No momento em que escrevo estas linhas paira a ameaccedila de

instalaccedilatildeo de um aerogerador para produccedilatildeo de electricidade na plataforma em

causa

Mas pelo menos eacute possiacutevel falar de um conjunto de antas integradas num

espaccedilo aparentemente necropolizado ao longo do tempo ndash natildeo soacute pelos sepulcros

referidos mas tambeacutem com inumaccedilotildees no lapiaacutes local datadas (ICEN-351) entre

5300-4610 cal BCE (Cardoso Carreira e Ferreira 1996 p 10) evidenciando

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 130 de 415

praacuteticas anteriores com caracteriacutesticas distintas

4152 Casaiacutenhos

A anta de Casaiacutenhos (CNS-650) foi identificada na sequecircncia de notiacutecia

providenciada por morador na aldeia homoacutenima que trabalhava na escavaccedilatildeo da

gruta das Salemas durante a campanha de 1960 (Leisner Zbyszweski e Ferreira

1969 Roche e Ferreira 1970) Actualmente estaacute classificada como Monumento

Nacional pelo Dec Nordm 12977

Situa-se numa plataforma sobranceira agrave Ribeira de Casaiacutenhos proacutexima a antiga

pedreira (Fig 27 e 87) cujo substrato apresenta calcaacuterios do Cretaacutecico

(Cenomaniano superior) Aliaacutes todos os esteios encontrados eram daquele material

provavelmente extraiacutedos localmente

A intervenccedilatildeo arqueoloacutegica realizou-se em 1961 (Leisner Zbyszweski e

Ferreira 1969 p 68) entre os dias 16 e 20 de Fevereiro (ALeisner Leis61) Nela

participaram V Leisner G Zbyszewski O V Ferreira e J C Franccedila

A aacuterea da cacircmara encontrava-se preenchida por terra ateacute cerca de 1 metro de

altura parcialmente removida do lado sul por gente local que na ausecircncia de esteio

ali tinha procedido a pesquisas depois de terem avistado restos oacutesseos Contudo

como nada encontraram de significativo abandonaram a acccedilatildeo

O corredor soacute foi descoberto com o avanccedilo da escavaccedilatildeo naquela direcccedilatildeo

verificando-se que o terreno naquele local descia para sudeste

Segundo os escavadores as irregularidades do substrato calcaacuterio natildeo foram

niveladas atingindo profundidades de 080 m e 020 m na cacircmara e corredor tendo

sido aproveitadas para deposiccedilatildeo das inumaccedilotildees Contudo natildeo eacute apresentada

qualquer evidecircncia de inumaccedilotildees dentro daquelas depressotildees excepto se for

considerado o ldquonichordquo ainda que com reserva onde no seu interior se registaram

alguns fragmentos de ossos humanos sem que hoje seja possiacutevel perceber quais Nas

restantes situaccedilotildees porque natildeo haacute qualquer registo espacial da dispersatildeo dos restos

humanos que parecem ocorrer em todas as aacutereas intervencionadas haacute que assumir a

probabilidade da concentraccedilatildeo natural de objectos naquelas clivagens

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 131 de 415

Eacute apontado para o sepulcro um comprimento de 970 metros ainda que se deva

reparti-lo por trecircs aacutereas distintas um possiacutevel vestiacutebulo um corredor curto e a

cacircmara (Fig 81)

O vestiacutebulo considerado parte do corredor teria cerca de 4 metros por 1 a 15

metro de largura e teraacute sido ligeiramente escavado no substrato rochoso ainda que

essa delimitaccedilatildeo tenha sido baseada sobretudo na malha de achados Aliaacutes nas

imagens obtidas entatildeo e em visitas ao local eacute difiacutecil perceber este espaccedilo sem uma

planta de distribuiccedilatildeo dos objectos e menos ainda observar a passagem afeiccediloada no

substrato

O corredor tambeacutem com um suposto afeiccediloamento superficial do substrato

mas ainda com um esteio (D) do lado norte e possiacutevel ombreira (E) tinha cerca de 2

m de comprimento por 115 m de largura Apresentava do seu lado sul uma

depressatildeo obliacutequa com cerca de 210 m de comprido por 1 m de largura e uma

profundidade de 080 m denominada ldquocacircmara lateralrdquo ou ldquonichordquo Este espaccedilo

encontrava-se preenchido por terra e pedras recolhendo-se apenas alguns restos

osteoloacutegicos humanos na sua base Se a esta realidade juntar a existecircncia de outra

depressatildeo com caracteriacutesticas semelhantes na aacuterea a poente da cacircmara em B2-C2

(Estecircvatildeo 2000 e 2001) entatildeo talvez o significado atribuiacutedo ao ldquonichordquo deva ser

reavaliado Assim tais realidades poderatildeo ser o resultado do preenchimento daquelas

depressotildees com depoacutesitos remobilizados por anteriores violaccedilotildees do sepulcro A

origem natural das depressotildees eacute uma possibilidade mas tambeacutem natildeo deveraacute ser

descartada a actividade mineira recente que na deacutecada de sessenta ainda se realizava

a escassas dezenas de metros a poente do monumento (Leisner Zbyszweski e

Ferreira 1969 Estecircvatildeo 2000-2001)

Finalmente a cacircmara mantinha ainda trecircs esteios (A B e C) delimitando um

espaccedilo poligonal irregular com cerca de 3 metros de comprimento por 5 metros de

largura notando-se a falta de mais 2 ou 3 monoacutelitos O esteio de cabeceira (A)

atingia ainda cerca de 25 m de altura Segundo os autores a sua planta pentagonal

que eacute rara no Alentejo seria comparaacutevel a outras antas da Estremadura dando como

exemplos Monte Abraatildeo Estria e Pedra dos Mouros (Leisner Zbyszewski e Ferreira

1969) o que natildeo parece adequado face agraves descriccedilotildees desses sepulcros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 132 de 415

Nas observaccedilotildees acerca do corredor aponta-se a existecircncia entre as terras de

fragmentos de lajes que poderiam ter servido de cobertura bem como outras mais

pequenas mas as imagens disponiacuteveis apenas mostram um fragmento no extremo do

corredor

A escavaccedilatildeo do monumento desenvolveu-se primeiramente na cacircmara com

fracos resultados tendo sido recolhidos apenas um geomeacutetrico trapeacutezio duas pontas

de seta de base convexa triangular e restos osteoloacutegicos fragmentados Soacute com a

extensatildeo da intervenccedilatildeo para o que seria o corredor se registou uma profusatildeo de

materiais arqueoloacutegicos No entanto os autores admitiam que parte dos materiais

recolhidos no corredor sobretudo o troccedilo ocidental poderiam ter sido resultado de

remeximento e remobilizaccedilatildeo de objectos da cacircmara dando como exemplo o pente

votivo e o objecto de calcaacuterio toneliforme (Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 p

95)

Curiosamente a concentraccedilatildeo de objectos junto da placa de xisto completa e o

iacutedolo semiciliacutendrico afuselado aleacutem de se encontrar na extremidade do que seria o

verdadeiro corredor ortostaacutetico encontrava-se exactamente numa depressatildeo deste

que atingia os 80 cm de profundidade podendo aquela realidade empilhada resultar

de acccedilatildeo tafonoacutemica

O troccedilo vestibular seria entatildeo segundo as evidecircncias aquela aacuterea menos

afectada justificando-se essa possibilidade porque muitos dos recipientes ceracircmicos

se encontravam completos ou fracturados em posiccedilotildees consideradas originais

(Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 p 95) Aiacute registavam-se ainda restos

humanos e na extremidade nascente foi recolhido um conjunto de pontas de seta

Apesar da planta com alguns dos artefactos recolhidos haacute que registar a

ausecircncia da localizaccedilatildeo dos nuacutecleos de lamelas produtos alongados (lacircminas e

lamelas com a excepccedilatildeo de uma) trapeacutezios e pontas de seta (de que se assinala

apenas o conjunto oriental) possivelmente porque estes artefactos teratildeo sido

recolhidos durante a crivagem das terras ou natildeo foram considerados pertinentes

No que se refere a dispersatildeo de instrumentos polidos dos doze identificados no

Museu onze surgem referidos nas publicaccedilotildees provavelmente porque o outro um

pequeno fragmento de uma enxoacute em xisto anfiboacutelico () encontrava-se misturado

com ceracircmicas onde o localizei ainda coberto de sedimento Daqueles apenas oito

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 133 de 415

surgem na referida planta Desses oito dois satildeo machados de anfibolito (Leisner

1965 Taf 20 4-5) um ldquociseaurdquo tambeacutem em anfibolito (Leisner 1965 Taf 20 22)

e os restantes satildeo enxoacutes trecircs de xisto anfiboacutelico () e duas em anfibolito

Curiosamente verifiquei que o referido ldquociseaurdquo (MG-CSH99) e o fragmento de

enxoacute (MG-CSH98 Leisner 1965 taf 21 9) ambos em anfibolito pertenceram a

uma grande enxoacute entretanto quebrada mesialmente A fractura do fragmento

proximal foi suavizada e o seu topo da enxoacute inicial foi afiado para produccedilatildeo de um

novo instrumento que pelas suas caracteriacutesticas se assemelha a um machado

Infelizmente soacute eacute possiacutevel ter uma ideia geral onde se localizavam as duas metades

da peccedila entre as aacutereas vestibular e do corredor Mas parece evidente o gesto de

reaproveitamento de uma enxoacute depositada para ser transformada em outro utensiacutelio

(Fig 86 1) Curiosamente a outra grande enxoacute em anfibolito tambeacutem tinha o seu

topo quebrado com a fractura apresentando sinais de polimento

Os restos osteoloacutegicos encontram-se tambeacutem ausentes na planta o que

resultaraacute sobretudo do grau de fragmentaccedilatildeo daquele material visto que ateacute aos anos

80 para aleacutem das deficiecircncias de registo da escavaccedilatildeo apenas eram dignos de nota

os elementos oacutesseos ldquonobresrdquo (cracircnio e ossos longos inteiros ou quase) ou outras

peccedilas completas Apesar disso a maioria daqueles fragmentos foi recolhida e

depositada no Museu Geoloacutegico

Eacute de facto no Museu Geoloacutegico que se encontra depositado o espoacutelio

exumado em 1961 bem como o iacutedolo-pinha recolhido recentemente

No essencial foi possiacutevel re-identificar quase todo o espoacutelio exumado (Fig 76-

78) apenas ressalvando-se algumas situaccedilotildees

Aleacutem dos catorze produtos alongados apresentados nas publicaccedilotildees 13 lacircminas

e uma lamela (Fig 77 82 e 83) encontra-se ainda na colecccedilatildeo de Casaiacutenhos com a

mesma marcaccedilatildeo outro tanto de fragmentos de lacircminas e diversos restos de talhe

nomeadamente lascas lamelares (ou pequenos fragmentos de lamelas) mas sem uma

ideia da sua localizaccedilatildeo original Duas lamelas em siacutelex satildeo tambeacutem apresentadas em

foto (Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 est XIII 151 e 166) e uma delas

desenhada (Leisner 1965 taf 22 60 Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 est P

69) assemelhando-se esta a um pequeno crescente Infelizmente ambas natildeo foram

relocalizadas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 134 de 415

Os quatro nuacutecleos de lamelas apresentados na publicaccedilatildeo trecircs de quartzo

hialino e outro de quartzo ldquoleitosordquo (Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 est P 70-

72 e 80) satildeo apenas uma parte do conjunto De facto aleacutem destes verifiquei a

existecircncia de mais cinco com levantamentos lamelares e em alguns tambeacutem de

lascas sendo dois de siacutelex (MG-CSH71) um deles ainda com coacutertex (MG-CSH113)

Um dos nuacutecleos de quartzo hialino (MG-CSH59) tinha sido obtido a partir de um

cristal prismaacutetico

Agraves cinco grandes pontas bifaciais (Fig 77 84 e 83) bem realccediladas neste

trabalho pode juntar-se mais um fragmento de bordo de outra (MG-CSH174_330B)

ou improvaacutevel parte daquela quebrada

Entre os elementos natildeo referidos haacute que destacar um fragmento de moacute

movente em greacutes ainda que outras peccedilas de cariz semelhante tenham sido anotadas

nomeadamente placas de arenito argiloso talvez amoladeiras ou paletas (Leisner

1965 taf 21 10-11) e um bloco de poacuterfiro () relativamente polido por uso (Leisner

1965 taf 21 16)

No que se refere agraves ceracircmicas (fig 78-80) apesar de ter localizado a maioria

dos fragmentos decorados no que se refere agrave ceracircmica lisa essa re-identificaccedilatildeo

revelou-se mais complicada devido agrave sua degradaccedilatildeo e dificuldade de adscrevecirc-las

aos desenhos realizados pelo que optei por seguir as pranchas e listagens publicadas

Aliaacutes parte dos fragmentos encontrava-se em parte incerta agrave data do estudo

reaparecendo recentemente pelo que talvez seja possiacutevel efectuar uma tentativa de

revisatildeo proximamente

Os recipientes decorados correspondem a trecircs taccedilas com caneluras (Leisner

1965 taf 23 93 95 e 96) No entanto em vez das comuns linhas com punccedilatildeo

rombo originando suaves caneluras estas apresentam incisotildees bem distintas e

profundas No caso da taccedila com caneluras ziguezagueantes Leisner 1965 taf 23 95

MG-CSH243) o estilo decorativo aproxima-se de outros mais elaborados

normalmente associados com ceracircmicas de estilo campaniforme ndash a taccedila de Casal do

Pardo infelizmente sem proveniecircncia concreta apresenta padratildeo similar (Leisner

1965 taf 114 66) Aliaacutes o pequeno fragmento com decoraccedilatildeo reticulada (Leisner

1965 taf 23 94) que natildeo pude analisar pessoalmente poderia corresponder a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 135 de 415

fragmento campaniforme No entanto tambeacutem poderaacute associar-se somente ao estilo

ldquofolha de acaacuteciardquo em parte contemporacircneo do primeiro

No que respeita as ceracircmicas lisas estas enquadram-se nos vasos hemisfeacutericos

taccedilas e pratos alguns com espessamento do bordo (Leisner 1965 taf 24-25)

Finalmente regista-se uma pequena lacircmina metaacutelica possivelmente de cobre

que natildeo eacute referida nas publicaccedilotildees acerca do sepulcro nem nos apontamentos de V

Leisner (Leisner 1965 Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 ALeisner Leis61)

Esta eacute referida na listagem do Museu produzida nos anos 90 encontrando-se num

pequeno tubo de ensaio (MG-CSH332) mas teraacute surgido misturada com os ossos

humanos Eacute portanto com reserva que aqui a menciono ainda que possa ter passado

desapercebida na colecccedilatildeo oacutessea

Na uacuteltima deacutecada (entre 1997 e 2000) trabalhos de valorizaccedilatildeo na anta

verificaram infelizmente a perda dos esteios A e C (Deus 1998 Estecircvatildeo 2000 e

2001) Aliaacutes o desaparecimento dos esteios jaacute tinha sido verificado desde os anos 80

(informaccedilatildeo pessoal de F Estecircvatildeo) No acircmbito daqueles trabalhos foi implantado um

quadriculado dividido de 2 em 2 metros procedendo agrave re-escavaccedilatildeo de aacutereas

intervencionadas anteriormente (no corredor e cacircmara) bem como na periferia na

possiacutevel aacuterea do tumulus Verificou-se que a crivagem antiga das terras entretanto

repostas teraacute sido relativamente cuidada pois foram recolhidos poucos materiais

sobretudo pequenos fragmentos oacutesseos contas de colar sobre concha e lascas siacutelex

alguns recolhidos nas fendas do substrato (Estecircvatildeo 2000 e 2001) Nas sondagens da

possiacutevel aacuterea tumular foram tambeacutem detectados materiais que poderatildeo ter sido

resultado das violaccedilotildees antigas ou das terras da escavaccedilatildeo passada (Estecircvatildeo 2000 e

2001 Estecircvatildeo e Deus 2000) Numa dessas aacutereas em C2 verificou-se a existecircncia de

uma depressatildeo relativamente profunda com caracteriacutesticas semelhantes ao ldquonichordquo

com vaacuterios fragmentos oacutesseos um deles um fragmento do trocanter de um feacutemur

esquerdo de adulto (classificaccedilatildeo de Nathalie Antunes-Ferreira Quadrado C2 Cam

05 Saco geral 20799) que se utilizou para a obtenccedilatildeo da dataccedilatildeo referida abaixo

Apoacutes a suspensatildeo daqueles trabalhos deu-se ainda a extraordinaacuteria descoberta

de um iacutedolo-pinha (Fig 85 Cardoso Gonzalez e Cardoso 2001-02) Segundo a

localizaccedilatildeo dada pelo seu achador encontrava-se no limite nascente do quadrado C5

uma das poucas aacutereas que as arqueoacutelogas natildeo tiveram oportunidade de abordar

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 136 de 415

(Deus 1998 Estecircvatildeo 2000 e 2001 Estecircvatildeo e Deus 2000) Este achado fortuito em

plena aacuterea de entrada da cacircmara que fora escavada ateacute agrave rocha em 1961 poderia

denunciar uma escavaccedilatildeo pouco cuidada cujas terras repostas continham ainda

materiais importantes Isto porque ao analisar as imagens da escavaccedilatildeo (Leisner

1965 taf 142 Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 est XI ALeisner Leis61) o

local aproximado onde se recolheu a peccedila parece ter sido de facto escavado ateacute o

substrato rochoso Contudo nessa anaacutelise eacute tambeacutem possiacutevel observar que o esteio

C inclinado tal como os autores tinham descrito nunca foi reerguido notando-se

uma mancha de terras escuras em redor deste pela face interna e externa

provavelmente deixada para sustentaccedilatildeo daquele (Fig 87 2 88 e 87a) Isto poderia

significar entatildeo que em momento incerto quando o esteio C foi arrancado teria

originado alguma remobilizaccedilatildeo de terras onde se encontraria incluso o dito

artefacto entretanto recoberto e soacute exposto apoacutes um periacuteodo de chuvas intenso

como a imagem apresentada parece indiciar (Cardoso Gonzalez e Cardoso 2001-02

fig 1) Mas este achado apenas reafirma a descriccedilatildeo dos primeiros escavadores de

uma cacircmara vazia com evidentes sinais de remobilizaccedilatildeo de materiais a que este

escapou entatildeo Por outro lado hoje eacute ainda possiacutevel observar no canto sudeste da

quadriacutecula C5 aquilo que parecem ser os calccedilos da face interna do esteio C e cuja

escavaccedilatildeo a arqueoacuteloga F Estecircvatildeo pretende realizar no futuro

Portanto numa anaacutelise microespacial dos achados eacute sobretudo de salientar o

conjunto ceracircmico in situ da aacuterea vestibular nomeadamente os grandes pratos e as

taccedilas com decoraccedilatildeo canelada entre os quais foi recolhido o lagomorfo e o iacutedolo-

plano antropomorfo ambos em osso e a aparente concentraccedilatildeo de pontas de seta

Infelizmente para esta uacuteltima natildeo eacute possiacutevel verificar que espeacutecimes foram

encontrados pois teria sido interessante localizar na anta as trecircs pontas de base

cocircncava Mas apesar disto levanta a possibilidade de uma deposiccedilatildeo de cariz ritual

junto ao sepulcro Tambeacutem a situaccedilatildeo dos recipientes ceracircmicos recorda outras

situaccedilotildees semelhantes nomeadamente documentadas em Vale de Rodrigo 2

(Larsson 2000) atribuiacuteveis a rituais funeraacuterios poacutes-inumaccedilatildeo Talvez esta situaccedilatildeo

natildeo detectada ateacute hoje noutros contextos sepulcrais possa explicar a presenccedila de

algumas formas consideradas estranhas pelos autores para os conjuntos da ldquoculture

dolmeniqueldquo da Estremadura (Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 p 93-94)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 137 de 415

Para os outros dois conjuntos possiacuteveis os iacutedolos-placa e iacutedolos ciliacutendricos

bem como as grandes pontas bifaciais jaacute foi salientada a possibilidade de

remobilizaccedilatildeo e alteraccedilotildees tafonoacutemicas pelo que deveratildeo ser abordados com

cuidados especiais Assim a coincidecircncia de dois iacutedolos de origens regionalmente

distintas e as pontas bifaciais presentes em ambas as regiotildees poderia reforccedilar a

impressatildeo de outros casos para uma coexistecircncia cronoloacutegica daqueles objectos

ideoteacutecnicos no acircmbito de rituais maacutegico-religiosos No entanto o conteuacutedo da

cacircmara ocidental do tholos da Praia das Maccedilatildes rico em placas de xisto e pontas de

seta contrapondo-se a um conteuacutedo de artefactos votivos em calcaacuterio na cacircmara

central e raros projeacutecteis siliciosos parece realccedilar a ideia de um desfasamento

cronoloacutegico ou ritual ou ambos entre aquelas realidades

Assim pelo espoacutelio recolhido nomeadamente geomeacutetricos fragmentos de

lamelas e lacircminas natildeo retocadas e pouco espessas os nuacutecleos de lamelas e alguns

instrumentos polidos parece ser possiacutevel admitir um iniacutecio de utilizaccedilatildeo da anta de

Casaiacutenhos algures entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane Esse uso parece

intensificar-se na passagem daquele mileacutenio devendo corresponder ao grosso do

espoacutelio atribuiacutevel essencialmente a esse periacuteodo de transiccedilatildeo e da primeira metade

do 3ordm mileacutenio ane coincidindo com a dataccedilatildeo Beta-225168 obtida sobre um

fragmento de feacutemur humano entre 2880-2610 cal BCE (Anexo 3 Quadro 2) Este

fragmento apesar de recolhido fora da cacircmara eacute com certeza testemunho de uma

das inumaccedilotildees deste sepulcro

Uma ausecircncia brevemente anotada pelos primeiros escavadores (Leisner

Zbyszewski e Ferreira 1969 p 93) refere-se agrave ceracircmica e outros elementos

normalmente associados ao fenoacutemeno campaniforme nomeadamente bototildees braccedilais

de arqueiro e elementos metaacutelicos Por outro lado entre as ceracircmicas lisas tambeacutem

natildeo se registam formas campanuladas No entanto haacute que recordar a existecircncia de

fragmentos ceracircmicos com decoraccedilotildees passiacuteveis de enquadrar-se como derivados

campaniformes Mas a confirmar-se esta ausecircncia teria como primeira assumpccedilatildeo

cronoloacutegico-cultural o abandono deste sepulcro desde meados do 3ordm mileacutenio ane

ainda que subsista a possibilidade de deposiccedilotildees dataacuteveis destes momentos

posteriores sem os correspondentes testemunhos materiais nomeadamente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 138 de 415

campaniformes pelo que a hipoacutetese enunciada para a anta de Estria tambeacutem se

deveraacute considerar aqui

Finalmente a peccedila metaacutelica referida acima eacute tambeacutem algo que poderia

denunciar algum tipo de reutilizaccedilatildeo posterior mas eacute difiacutecil asseguraacute-lo pelos

motivos anotados acima

4153 Carcavelos

A anta de Carcavelos (CNS-3502) a escassas centenas de metros a sudeste da

aldeia homoacutenima freguesia de Lousa Loures (Fig 27) era jaacute assinalada pela

tradiccedilatildeo oral De facto o microtopoacutenimo ldquoAntasrdquo corresponde agrave parcela

imediatamente a norte da aacuterea de implantaccedilatildeo do sepulcro o que o arquitecto

Gustavo Marques em 1986 jaacute tinha registado (AGMarques) Por outro lado as

gentes locais designavam o siacutetio como ldquoCemiteacuterio dos Mourosrdquo (AGMarques) ou

ldquoCasa dos Mourosrdquo (Estecircvatildeo e Marques 1997)

Entretanto em 1944 o casal de arqueoacutelogos alematildees G Leisner e V Leisner

ao empreender o inventaacuterio sistemaacutetico dos sepulcros de Lisboa visitou esta anta

(Fig 88a 1) seguindo as informaccedilotildees de Mesquita Figueiredo e Carlos Ribeiro

(ALeisner Leis61) Acerca dela produziram documentaccedilatildeo graacutefica posteriormente

publicada (ALeisner Leis61 Leisner 1965 p 27 e taf 19) mas sem realizar

qualquer escavaccedilatildeo arqueoloacutegica A anaacutelise das fotos e da planta datada de 17 de

Janeiro de 1944 (ALeisner Leis61) permitiu verificar que o estado da estrutura natildeo

sofreu alteraccedilatildeo significativa ateacute os anos 80

No acircmbito do Congresso Nacional de Arqueologia em 1958 ao listar os

monumentos megaliacuteticos da regiatildeo de Lisboa O V Ferreira (1959 p 219) apontava

uma futura intervenccedilatildeo arqueoloacutegica na anta de Carcavelos que natildeo teraacute

concretizado

Jaacute em meados dos anos 80 mais precisamente em 1986 G Marques no

acircmbito do programa de ldquoocupaccedilatildeo de tempos livresrdquo (OTL) para jovens do concelho

de Loures iniciou um periacuteodo de pesquisas pontuais na sequecircncia de notiacutecias de

cavaccedilotildees clandestinas procedendo a trabalhos durante alguns dias desse Veratildeo (13

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 139 de 415

14 e 21 de Agosto e 17 de Setembro) para verificar o seu impacto na jazida (Fig 88a

2)

Todavia as visitas de curiosos agrave anta continuaram ocorrendo algumas mexidas

no conteuacutedo do sepulcro Em 1987 Luiacutes Henriques entrega materiais que tinha

recolhido na anta na sequecircncia de violaccedilotildees anteriores (AGMarques) Poreacutem

segundo Florbela Estecircvatildeo (informaccedilatildeo pessoal) algumas das incursotildees dos curiosos

poderatildeo ter resultado na extracccedilatildeo de objectos que natildeo eacute hoje possiacutevel conferir

Para aleacutem do interesse arqueoloacutegico a situaccedilatildeo de saque na anta levou G

Marques a intensificar os seus trabalhos pelo que depois de 1986 seguiu um

programa de escavaccedilotildees entre 1991 e 1994 natildeo tendo continuado no ano seguinte

por motivos de sauacutede Aliaacutes durante esses anos registaram-se novas mexidas Os

trabalhos de escavaccedilatildeo desenrolavam-se normalmente durante os meses de Veratildeo de

forma mais ou menos contiacutenua Isto porque natildeo ocorriam sempre em dias e semanas

consecutivas mas estavam condicionados pela disponibilidade logiacutestica e temporal

do responsaacutevel G Marques e dos seus serviccedilos no Municiacutepio de Loures Apesar

destas campanhas de escavaccedilatildeo terem contribuiacutedo para a salvaguarda de informaccedilatildeo

apenas a de 1994 foi oficializada junto da tutela do patrimoacutenio existindo um

relatoacuterio produzido por F Estecircvatildeo (1997)

Ainda que F Estecircvatildeo tivesse colaborado nos trabalhos arqueoloacutegicos entre

1991 e 1994 e a maioria do espoacutelio arqueoloacutegico estivesse depositada no Museu

Municipal todas as imagens apontamentos e registos de campo ficaram em poder de

G Marques enquanto responsaacutevel Entretanto quando este faleceu no ano de 1996

esses elementos bem como alguns dos materiais arqueoloacutegicos quedavam-se em sua

casa Por isso F Estecircvatildeo promoveu o contacto entre a famiacutelia do arqueoacutelogo e o

Museu Nacional de Arqueologia no intuito de salvaguardar a documentaccedilatildeo e o

espoacutelio Estes foram integrados no referido museu nomeadamente a documentaccedilatildeo

no designado ldquoArquivo Gustavo Marquesrdquo (AGMarques) Infelizmente essa

iniciativa natildeo conseguiu evitar o desaparecimento de alguma informaccedilatildeo e materiais

(por exemplo o caderno diaacuterio da campanha de 1994 uma pinha votiva em calcaacuterio

ou um botatildeo em osso)

Entretanto em Fevereiro de 1995 apoacutes visita de teacutecnicos do entatildeo Instituto

Portuguecircs do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico (IPPAR) por solicitaccedilatildeo da

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 140 de 415

Cacircmara Municipal de Loures a aacuterea da cacircmara foi coberta com tela de

sombreamento e gravilha como medida de salvaguarda

Posteriormente no acircmbito de um plano municipal de valorizaccedilatildeo das antas do

municiacutepio de Loures a arqueoacuteloga F Estecircvatildeo realizou em 1998 uma campanha de

escavaccedilatildeo no sepulcro de Carcavelos (Estecircvatildeo 1999) ainda que por motivos

institucionais natildeo a tenha prosseguido

Quando iniciei a pesquisa para a minha tese de doutoramento colocou-se a

necessidade e a possibilidade de efectuar algumas intervenccedilotildees em antas da regiatildeo de

Lisboa procurando dessa forma obter novos dados que permitissem um melhor

enquadramento daqueles adquiridos anteriormente Assim propus a F Estecircvatildeo e agrave

Cacircmara Municipal de Loures a continuaccedilatildeo em colaboraccedilatildeo do projecto de estudo

da anta de Carcavelos por ela iniciado Esse desiderato foi desenvolvido entre 2005

e 2007 com duas campanhas mensais de escavaccedilatildeo (2005 e 2006) e trabalhos de

laboratoacuterio (2005 a 2007) nomeadamente para o abundante espoacutelio antropoloacutegico

(ainda e apenas com resultados preliminares pois o estudo de uma pequena parte

ainda natildeo foi concluiacutedo)

Como jaacute foi mencionado atraacutes a documentaccedilatildeo que constitui o arquivo G

Marques tinha sofrido alguma desorganizaccedilatildeo antes de ter entrado no Museu

Nacional de Arqueologia pelo que inicialmente foi necessaacuterio proceder agrave sua

revisatildeo e inventariaccedilatildeo detalhada com especial atenccedilatildeo aos papeacuteis referentes agrave

arqueologia de Loures e mais concretamente da anta de Carcavelos Assim

localizou-se o essencial dos apontamentos de 1986 1991 1992 e 1993 mas os

referentes ao ano de 1994 a campanha de maior duraccedilatildeo natildeo foram encontrados ndash

sendo essa lacuna apenas parcialmente preenchida pelo relatoacuterio de F Estecircvatildeo

(1997) referente aos trabalhos daquele ano Tambeacutem a cobertura fotograacutefica dos

vaacuterios anos de trabalhos registava lacunas bem como natildeo se encontrou quase

nenhum filme negativo que permitisse a recuperaccedilatildeo das imagens

As intervenccedilotildees arqueoloacutegicas na anta de Carcavelos ocorreram pontualmente

em Agosto e Setembro de 1986 em 1991 entre 4 e 25 de Setembro em 1992 e 1993

entre Agosto e Setembro e em 1994 entre 14 de Julho e 20 de Agosto e de 4 a 10 de

Setembro (Estecircvatildeo 1997) Em 1998 enquadrado pelo novo projecto municipal

(Estecircvatildeo 1999 Estecircvatildeo e Deus 2000) os trabalhos realizaram-se de forma

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 141 de 415

intermitente entre Agosto e Novembro daquele ano Finalmente em Julho-Agosto de

2005 e Maio-Julho de 2006 realizou-se a escavaccedilatildeo da maioria dos contextos

remanescentes da anta com uma equipa mais alargada para aleacutem dos arqueoacutelogos

responsaacuteveis (F Estecircvatildeo e o autor destas linhas) contou-se com a colaboraccedilatildeo das

antropoacutelogas Nathalie Antunes-Ferreira e Maria Hillier posteriormente assistidas em

laboratoacuterio pelo antropoacutelogo David Boutilier

A estrateacutegia e a metodologia de escavaccedilatildeo aplicada em 1986 revelaram-se

pouco rigorosas incidindo em duas manchas as ldquozonasrdquo I (a cargo de G Marques) e

a II (subdividida pelas porccedilotildees da ldquoCristina Teresa e Joatildeordquo) A acccedilatildeo limitou-se agrave

decapagem das camadas superficiais revelando diversos materiais

Em 1991 G Marques instalou um eixo transversal (aproximadamente este-

oeste) na cacircmara a partir do qual estabeleceu novas zonas agora a I (semelhante a

1986) II e III (incidindo e dividindo a zona II de 1986) Contudo esta divisatildeo natildeo

foi suficientemente rigorosa pelo que em 1992 a intervenccedilatildeo centrou-se numa vala

com cerca de 80 cm de largura a sul e ao longo do referido eixo considerando-se o

primeiro metro a partir do ponto Zero a zona I e a II para o segundo metro (Fig

89) Pelo menos ateacute o aparecimento de uma pedra em cutelo aproximadamente a 1

metro na diagonal que se tornou ad hoc a separaccedilatildeo das referidas zonas Neste ano

a estrateacutegia centrou-se na obtenccedilatildeo de uma leitura estratigraacutefica para os depoacutesitos da

cacircmara estrateacutegia que se prolongou em 1993 agora mantendo as duas zonas I e II

inalteradas avanccedilando-se mais 1 metro (zona III) Finalmente em 1994 apesar da

falta dos apontamentos de campo foi possiacutevel verificar atraveacutes do relatoacuterio de F

Estecircvatildeo (1997) que se procedeu agrave escavaccedilatildeo da restante aacuterea da vala inicial A partir

do eixo setentrional desta segmentado por metro desde o ponto Zero procedeu-se agrave

abertura de valas designadas alfabeticamente vala A B C e D

Eacute de referir que por vezes com a instalaccedilatildeo do eixo este-oeste foram

efectuadas mediccedilotildees para a coordenaccedilatildeo dos achados sobretudo nos anos de 1992 a

1994 No entanto essas mediccedilotildees natildeo foram consistentes sobretudo para o Z

(altimetria) umas vezes medido a partir da superfiacutecie inicial outras de ldquopavimentosrdquo

detectados outras ainda a partir do topo de esteios De qualquer forma permitiram a

localizaccedilatildeo aproximada dos objectos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 142 de 415

A estrateacutegia e metodologia da intervenccedilatildeo de 1998 (Fig 93 3) procuraram

conciliar as acccedilotildees anteriores pelo que se seguiu a orientaccedilatildeo dos eixos

estabelecidos agora numa malha de quadriacuteculas com 1 metro de lado Assim

segundo o relatoacuterio da campanha de 1998 (Estecircvatildeo 1999) o eixo norte-sul

designado X correspondia agrave coluna alfabeacutetica e o eixo este-oeste designado Y agrave

numeacuterica Anote-se que neste uacuteltimo eixo os valores cresceriam a partir do ponto

Zero a este No entanto essa sequecircncia eacute contrariada na publicaccedilatildeo (Estecircvatildeo e Deus

2000) crescendo o eixo numeacuterico de oeste para este Ali constam tambeacutem trecircs

pontos fixos cotados um deles utilizado para registar a altimetria dos achados e

situado no veacutertice da quadriacutecula de F4 com 24824 metros

Perante os trabalhos anteriores quando se avanccedilou para a campanha de 2005

procuraacutemos dentro do possiacutevel manter o quadriculado anteriormente estabelecido

Finalmente conviraacute realccedilar as condicionantes actuais do tratamento da

informaccedilatildeo para a anta de Carcavelos Os resultados apresentados deveratildeo ser

entendidos apenas como preliminares pois a intervenccedilatildeo natildeo foi concluiacuteda em aacutereas

pontuais nomeadamente no corredor ndash isso implicaria a desarticulaccedilatildeo do jaacute bastante

fracturado e inclinado esteio U3 o que se realizaraacute apenas quando for possiacutevel a sua

colagem e reimplantaccedilatildeo Tambeacutem optou-se por natildeo descalccedilar interna e

externamente os esteios ainda erguidos ainda que fosse possiacutevel perscrutar restos

oacutesseos entre as pedras pois isso poderia levar agrave sua ruiacutena ndash no caso dos esteios U8

(cabeceira) e U9 a escavaccedilatildeo dos calccedilos e dos alveacuteolos seria de grande importacircncia

mas soacute possiacutevel quando se proceder agrave sua extracccedilatildeo com garantias de colagem e

reimplantaccedilatildeo Por fim o estudo dos materiais exumados prossegue no acircmbito da

colaboraccedilatildeo referida acima procurando conciliar-se os dados provenientes das

primeiras intervenccedilotildees com aqueles adquiridos nos uacuteltimos anos ndash o acesso agrave

documentaccedilatildeo do arquivo de G Marques apenas ocorreu em 2006 Assim procurar-

se-aacute nos capiacutetulos seguintes essencialmente discutir as leituras obtidas nas

campanhas de 2005-2007 cruzadas com alguns apontamentos anteriores e o

enquadramento possiacutevel dos materiais considerados mais pertinentes no acircmbito da

anaacutelise geral das antas e do Megalitismo regional

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 143 de 415

Situaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo da anta em 2005-2006

A anta de Carcavelos situa-se num patamar ligeiramente inclinado para Sul

sobranceiro ao vale da ribeira do Tufo Assenta num substrato de margas conquiacuteferas

surgindo na pendente sul a pouco mais de 20 metros dos afloramentos de calcaacuterios

do Cretaacutecico tambeacutem com foacutesseis conquiacuteferos do Cenomaniano meacutedio ndash

ldquoBelasiano-Albianordquo (SGP 1981 Zbyszweski 1964) No relevo sobranceiro situado

a norte-noroeste encontram-se manchas de basaltos e arenitos com raras

intercalaccedilotildees calcaacuterias e a poucas dezenas de metros para este da anta nota-se um

filatildeo basaacuteltico (SGP 1981 Zbyszweski 1964)

Em 2005 a anta mantinha a aacuterea da cacircmara coberta com gravilha e tela (ali

colocados em 1995) bem como a parte correspondente agraves quadriacuteculas escavadas em

1998 cobertas com a terra crivada da intervenccedilatildeo O desniacutevel entre as aacutereas jaacute

intervencionadas e os depoacutesitos remanescentes era bem visiacutevel tornando-se uma das

maiores dificuldades para a leitura dos diversos contextos presentes e ou jaacute

exumados Por outro lado os sinais de remeximento tambeacutem eram evidentes pelas

tocas e buracos escavados por roedores notando-se fragmentos de ossos humanos

um pouco por toda a aacuterea interior e exterior da anta nesta uacuteltima sobretudo nos

pontos de despejo das terras das intervenccedilotildees anteriores

O esqueleto ortostaacutetico do sepulcro conservava ainda os esteios a este norte e

oeste (U5 U6 U7 U8 e U9) bem como um grande esteio de corredor (U3)

apontando a sudeste ao qual se apoiava um pequena laje (U4) na transiccedilatildeo para o

corredor (Fig 88a 3-4) No lado sudoeste e sul do monumento avistavam-se caiacutedos

vaacuterios fragmentos de lajes que teratildeo sido partes dos esteios (por exemplo U13 cola

com U8) No entanto esta disposiccedilatildeo geral do sepulcro jaacute era conhecida desde o

registo do casal Leisner (ALeisner Leis61) pelo que as perturbaccedilotildees teratildeo ocorrido

antes de 1944

Confinando a sul com o sepulcro corria um muro de pedra seca de divisatildeo de

propriedade em grande parte coberto por vegetaccedilatildeo inclusive um zambujeiro o que

impedia uma leitura segura do edifiacutecio naquela aacuterea

Dada a natureza dos blocos utilizados na construccedilatildeo da anta um calcaacuterio

conquiacutefero e margoso obtido nas imediaccedilotildees do local de implantaccedilatildeo desta os

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 144 de 415

fenoacutemenos de erosatildeo eram bastantes evidentes notando-se fissuras longitudinais em

muitos deles explicando tambeacutem muitas das fracturas nomeadamente nos esteios de

cabeceira e do corredor

Estrateacutegia de intervenccedilatildeo

Procurando conciliar os trabalhos anteriores optou-se por implantar um

quadriculado alfanumeacuterico segmentado em quadriacuteculas (Q) de 1x1 m com os eixos

orientados norte-sul e oeste-este de acordo com o alinhamento cartograacutefico

estabelecido anteriormente por G Marques e F Estecircvatildeo Contudo alterou-se a

designaccedilatildeo do eixo alfabeacutetico (norte-sul) para Y e o numeacuterico (oeste-este) para X

mas ambos crescendo segundo o estabelecido na publicaccedilatildeo jaacute referida (Estecircvatildeo e

Deus 2000 Anexo 1) Um dos pontos cotados e cimentados da campanha de 1998

localizado num dos veacutertices de Q F4 (24824 m) foi utilizado durante os primeiros

dias para registo da altimetria mas como a progressatildeo da escavaccedilatildeo o erradicaria

inevitavelmente decidiu estabelecer-se um novo ponto cotado no afloramento

localizado a cerca de 50 metros da anta para este junto a um arroio Este ponto

media 24768 metros de altitude

Ainda no acircmbito do registo de escavaccedilatildeo procurou-se identificar e registar as

unidades estratigraacuteficas para uma melhor compreensatildeo do monumento No entanto

este uacuteltimo desiderato revelou-se complexo para parte dos contextos visto que como

posteriormente se poderaacute verificar a actividade humana clandestina mas tambeacutem

das intervenccedilotildees anteriores bem como a acccedilatildeo dos animais que por ali passaram

(registaram-se inuacutemeras tocas de coelhos e afins) contribuiacuteram para a

desorganizaccedilatildeo de alguns dos depoacutesitos

O inventaacuterio das realidades arqueoloacutegicas foi efectuado por Unidades

Estratigraacuteficas (U) adaptando a metodologia proposta por P Barker (1993) e E

Harris (1997) conjuntamente com a anotaccedilatildeo tridimensional para todos os achados

pertinentes sempre que possiacutevel Os elementos ortostaacuteticos foram tambeacutem

considerados individualmente como unidades pelo que natildeo se seguiu a numeraccedilatildeo

apresentada anteriormente por F Estecircvatildeo (1999)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 145 de 415

Tomando como mais importante a preservaccedilatildeo das ossadas humanas para

posterior estudo do que a sua exposiccedilatildeo durante vaacuterios dias e sequente deterioraccedilatildeo

para obtenccedilatildeo de uma foto ou desenho de conjunto bem como a possibilidade de

visitas inopinadas e sequente roubo ndash tal como tinha acontecido pouco tempo antes

na escavaccedilatildeo de um silo preacute-histoacuterico em Murtal (Loures) e veio a acontecer na anta

em 2006 ndash optaacutemos por um meacutetodo expedito de escavaccedilatildeo dos restos osteoloacutegicos

que foram sendo fotografados e coordenados antes de cada grupo de peccedilas ser

extraiacutedo preferencialmente no final do dia de trabalho Na fotografia registava-se

posteriormente o nuacutemero de inventaacuterio de cada peccedila para identificaccedilatildeo Entre as

ossadas recolheram-se outros objectos arqueoloacutegicos nomeadamente vaacuterios iacutedolos

calcaacuterios alguns liacuteticos lascados e artefactos de osso e fragmentos de recipientes

ceracircmicos todos eles devidamente coordenados

Devido agrave morosidade da escavaccedilatildeo dos restos oacutesseos a intervenccedilatildeo dentro da

cacircmara avanccedilou com um ritmo mais lento que noutras aacutereas

A intervenccedilatildeo centrou-se primeiramente nas aacutereas da cacircmara e corredor bem

como no esclarecimento da aacuterea exterior do sepulcro procurando perceber a

existecircncia ou natildeo de tumulus e contraforte Para tal procedeu-se inicialmente agrave

decapagem superficial prevendo-se a realizaccedilatildeo de duas valas que cortassem

transversalmente o tumulus uma para norte e outra para este mas apenas realizadas

parcialmente pois o estrato rochoso alterado surgiu em cotas bastante superficiais

A escavaccedilatildeo foi desenvolvida de acordo com as realidades detectadas e perante

as novas questotildees que se colocaram mas tambeacutem considerando as limitaccedilotildees do

calendaacuterio da intervenccedilatildeo

O registo graacutefico efectuou-se com imagens digitais e em diapositivo (este

uacuteltimo suporte soacute em 2005) bem como com desenhos de estruturas e planos agrave escala

120 devidamente cotados

Todas as terras extraiacutedas foram crivadas com uma rede de 3 mm

Descriccedilatildeo dos trabalhos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 146 de 415

Antes do iniacutecio da remoccedilatildeo do solo foram efectuados o corte e a raspagem

com serra e enxada dos arbustos e demais vegetaccedilatildeo nas aacutereas das quadriacuteculas

prioritaacuterias com vista agrave delineaccedilatildeo de eventuais realidades especiacuteficas

Apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo foi possiacutevel verificar que o esteio de corredor

(U3) era maior do que ateacute agora tinha sido registado mas apenas aflorava no terreno

pois estava quebrado

O muro de pedra solta para divisatildeo de propriedade imediatamente a sul da

anta interrompia-se onde jazia uma grande laje De facto nas imagens obtidas pelo

casal Leisner (ALeisner Leis18 CF4828-CF4832 Leisner 1965) tal estrutura ainda

natildeo existia pelo que tal realidade surgiu nos uacuteltimos sessenta anos Aliaacutes a

desmontagem do troccedilo de murete veio a revelar a inexistecircncia de fundaccedilatildeo tendo as

pedras sido assentes parcialmente naquilo que foi interpretado como o remanescente

do contraforte do corredor no lado Sul

No lado exterior do corredor a este procedeu-se ao registo de um aglomerado

de pedras muito soltas talvez resultado de anteriores trabalhos agriacutecolas e

arqueoloacutegicos ou de desmoronamento do muro localizado a sul Esta situaccedilatildeo

tambeacutem ocorria no lado oeste e sudoeste Aliaacutes algumas imagens produzidas pelo

teacutecnico do IPPAR em 1994 permitiram esclarecer alguns dos contextos inicialmente

considerados remexidos ou mesmo de violaccedilatildeo Assim estes foram o resultado dos

depoacutesitos retirados nas escavaccedilotildees de G Marques e colocados junto agrave anta Neles foi

ainda possiacutevel recolher alguns materiais arqueoloacutegicos normalmente de diminuto

tamanho nomeadamente esquiacuterolas de ossos contas bototildees e fragmentos ceracircmicos

No interior da anta (Fig 90) procedeu-se agrave retirada da gravilha e tela colocadas

anteriormente distinguindo-se da aacuterea intervencionada em 1998 por ali ter sido

utilizada a terra crivada da escavaccedilatildeo de cor castanha Dentro da cacircmara depois da

limpeza surgiu de imediato uma camada argilosa amarela acastanhada (U20) onde se

avistavam ainda alguns ossos Junto aos esteios dessa aacuterea na face interna

verificaram-se as pedras de calccedilo causando a impressatildeo de que em alguns pontos jaacute

se teria atingido a base do recinto o que se veio a confirmar no quadrante nordeste-

este da cacircmara ainda que com negativos de algumas tocas de animais

Foi tambeacutem possiacutevel detectar a vala realizada por G Marques entre o esteio U4

e U9 onde ainda se avistava um prego com fio azul correspondendo sensivelmente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 147 de 415

ao quadriculado reimplantando (E5-E8) Sobretudo do lado este (E7-E8) essa vala

tambeacutem parecia jaacute ter atingido a base do sepulcro Paralelamente foi tambeacutem

possiacutevel perceber os dois quadrados intervencionados em 1998 (F6-F7) com

diferentes altimetrias bem como as faixas de 20 cm dos Q E6 e E7

A aacuterea oeste-norte junto ao esteio de cabeceira apresentava ainda cotas

superiores agraves das aacutereas anteriormente escavadas notando-se na sua superfiacutecie restos

de ossadas humanas pelo que se presumiu a possibilidade de estratos ainda

preservados A escavaccedilatildeo foi iniciada em Q C6 e parte de C7 verificando-se a

existecircncia naquele local de um aglomerado de peccedilas osteoloacutegicas nomeadamente

ossos longos e cracircnios misturados e imbricados aleatoriamente Por vezes surgiram

algumas pedras umas talvez caiacutedas das estruturas de calccedilo dos esteios outras

possivelmente natildeo

O avanccedilo dos trabalhos em redor das quadriacuteculas D5-D6 permitiu a definiccedilatildeo

de algumas aglomeraccedilotildees osteoloacutegicas junto e ao longo da estrutura de calccedilo (U17)

do esteio de cabeceira (U8) inseridas entre os sedimentos dessa aacuterea que se

desenvolviam pela cacircmara ndash aiacute o depoacutesito de terras amareladas (U54) apresentava

bolsas de terras acastanhadas denotando sinais de remexido pontual Nesta unidade

ainda se encontraram concentraccedilotildees oacutesseas mas tambeacutem aleacutem de peccedilas preacute-

histoacutericas alguns fragmentos de telha e ceracircmica vidrada sobretudo no quadrante

sul Por sua vez este contexto cobria uma depressatildeo com um formato ovalado

irregular mais ou menos central no espaccedilo da cacircmara preenchida com terras

semelhantes agraves superiores ainda que mais acastanhadas (U57) Presumindo-se que a

realidade negativa pudesse corresponder a um eventual buraco de poste central

procurou identificar-se eventuais pedras de calccedilo prestando-se bastante atenccedilatildeo agrave sua

escavaccedilatildeo No entanto tal estruturaccedilatildeo natildeo foi verificada revelando-se apenas um

contexto com materiais arqueoloacutegicos (pequenos fragmentos ceracircmicos alguns deles

campaniformes com decoraccedilatildeo internacional ossos humanos partidos um iacutedolo

quebrado e algumas contas discoacuteides) essencialmente fracturados de dimensotildees

reduzidas e revoltos Pelas suas caracteriacutesticas esta depressatildeo poderaacute ter resultado da

escavaccedilatildeo de uma toca de animal tendo arrastado para o seu interior os elementos de

menor dimensatildeo presentes na anta situaccedilatildeo detectada noutros pontos da cacircmara em

cavidades similares de menor dimensatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 148 de 415

Na aacuterea sul aquela onde os contextos apresentavam sinais de maior

revolvimento foi possiacutevel relocalizar sob a U54 uma depressatildeo alongada que

deveraacute corresponder ao alveacuteolo de implantaccedilatildeo quiccedilaacute da laje U12 tombada a sul

(pelo menos as suas dimensotildees parecem corresponder) Tambeacutem na transiccedilatildeo da

cacircmara para o corredor foi possiacutevel verificar uma pequena depressatildeo numa posiccedilatildeo

potencialmente simeacutetrica ao lado este que poderia corresponder a outro alveacuteolo de

um pequeno esteio ou de um pequeno pilar nomeadamente do bloco prismaacutetico de

basalto (U36) tombado mesmo junto a este

A zona do corredor revelou alguns materiais arqueoloacutegicos numa camada do

substrato conquiacutefero bastante alterado (U25 e U35) Contudo a continuaccedilatildeo da sua

escavaccedilatildeo ficou condicionada pela inclinaccedilatildeo acentuada do esteio U3 No entanto

foi possiacutevel verificar pela altimetria registada que a base desta passagem estaria

ligeiramente mais elevada do que a da cacircmara originalmente

A dita inclinaccedilatildeo da laje U3 contribuiu tambeacutem para a posiccedilatildeo quase horizontal

do pequeno esteio U4 Este teria sido colocado encostado ao primeiro talvez como

remate para alguma imperfeiccedilatildeo do esteio e arrastado com ele quando se inclinou

Aleacutem de inclinado o esteio de corredor apresentava-se bastante fracturado faltando

partes hoje natildeo localizadas nas duas extremidades A existirem a dimensatildeo de U3

seria bem maior daquela actualmente aparente

Sob o esteio U4 verificou-se um conjunto de taccedilas ceracircmicas empilhadas na

aacuterea de transiccedilatildeo para a cacircmara lembrando uma realidade similar em Casaiacutenhos

(Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) Curiosamente nesta aacuterea registou-se ainda

uma laje em cutelo que parecia prolongar o corredor ou pelo menos produzir um

nicho junto ao esteio U5 onde de facto se recolheram em vaacuterios niacuteveis um conjunto

assinalaacutevel de objectos e ossadas Ainda que a anaacutelise natildeo esteja concluiacuteda este

arranjo microespacial parece ter ocorrido em momento posterior ao original pois

segundo G Marques (AGMarques 1992) existiam fragmentos de vaso e algumas

ossadas humanas sob a base da referida laje Tambeacutem haacute que referir a presenccedila nos

niacuteveis superficiais de ceracircmica campaniforme o que poderia apontar para um tipo de

estruturaccedilatildeo semelhante agravequele verificado em Pedra Branca (Ferreira et al 1975)

Ainda nesta aacuterea de transiccedilatildeo para a cacircmara registaram-se nas escavaccedilotildees antigas em

niacuteveis associaacuteveis agrave camada amarelada da base um iacutedolo-pinha e outro ciliacutendrico

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 149 de 415

junto a fragmentos ceracircmicos com caneluras correspondendo a uma pequena taccedila e

um copo (Fig 89 1 e 3 96 1 AGMarques 1992)

A recolha de fragmentos de telha lusitana bem como de recipientes vidrados e

em faianccedila em cotas superficiais da cacircmara (as recolhas destes materiais em 1993 e

1994 tambeacutem provieram desses niacuteveis) mas tambeacutem na U54 parece apontar para o

uso deste espaccedilo como abrigo para pessoas e ou gado em eacutepoca mais recente

Inclusive essa utilizaccedilatildeo poderia estar associada ao actualmente arruinado Casal do

Rocha situado a cerca de 100 metros a sudeste onde se avistam fragmentos de telha

semelhantes

Apoacutes a decapagem exterior da aacuterea circundante da cacircmara nas aacutereas norte e

este tornaram-se evidentes junto aos esteios troccedilos do anel de contraforte (Fig 88a

5-6) parecendo ter sido colocado em alveacuteolo aberto no substrato margoso Natildeo se

confirmou evidecircncia de tumulus verificando-se apenas depoacutesitos alterados do

substrato margoso local Conviraacute referir que a lavra do terreno envolvente da anta

tinha sido realizada ateacute junto dos esteios pelo menos do lado oeste norte e este

devendo ter contribuiacutedo para aquela alteraccedilatildeo

Nos lados sudoeste e sul foi necessaacuterio remover as lajes tombadas permitindo

a continuaccedilatildeo dos trabalhos para melhor compreender a aacuterea que se afigurava mais

perturbada

A decapagem das aacutereas oeste e sudoeste permitiu verificar uma realidade mais

alterada pois apesar de se registarem pedras passiacuteveis de associaccedilatildeo ao anel de

contraforte outras surgiram soltas em bolsas de terras amareladas argilosas ou

castanhas e com materiais arqueoloacutegicos misturados ndash alguns correspondendo aos

montiacuteculos de terras resultantes das intervenccedilotildees anteriores a 1998 Contudo outras

bolsas teratildeo surgido ainda antes das intervenccedilotildees pois cobriam parcialmente as

fracturas do esteio U9 ainda in situ Aliaacutes verificou-se que este esteio colaraacute com os

fragmentos de laje designados U10 e U11 Por outro lado alguns dos aglomerados de

pedras ainda que soltas quedavam-se em posiccedilotildees proacuteximas do que seria o

contraforte original Inclusive na face exterior de U9 (Fig 92 1) foi possiacutevel

observar o alveacuteolo de implantaccedilatildeo (U60) ainda com algumas pedras a preenchecirc-lo

(U61)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 150 de 415

Como jaacute foi referido acima a anta foi implantada num substrato de margas

conquiacuteferas com uma inclinaccedilatildeo das camadas naturais para sul (Fig 92) No entanto

durante a escavaccedilatildeo esse substrato revelou duas camadas distintas que se

sobrepunham uma inferior margosa de coloraccedilatildeo amarelada e outra superior

tambeacutem margosa mas constituiacuteda por conchas fossilizadas de espeacutecies bivalves

antigas Esta uacuteltima camada eacute observaacutevel no terccedilo sul da aacuterea da cacircmara e na quase

totalidade do corredor De facto a escavaccedilatildeo exploratoacuteria destes depoacutesitos revelou-se

esteacuteril apenas encontrando-se espoacutelio em aacutereas muito alteradas e em contacto com

contextos arqueoloacutegicos

A observaccedilatildeo do substrato margoso e das cotas em que se regista permitiu

adiantar uma possiacutevel estrateacutegia de construccedilatildeo e erecccedilatildeo da estrutura sepulcral

Assim o espaccedilo interno teraacute sido desaterrado em anfiteatro produzindo-se um certo

desniacutevel entre as superfiacutecies originais do lado norte e sul Posteriormente abriram-se

os alveacuteolos para os esteios O referido desniacutevel poderaacute tambeacutem ter contribuiacutedo para

um desmonte mais facilitado da estrutura ortostaacutetica do lado sul aacuterea onde ocorre a

mancha de depoacutesito conquiacutefero

Perante os trabalhos realizados eacute possiacutevel admitir que esta anta apresentaria

provavelmente o tiacutepico padratildeo de 7 esteios de uma cacircmara poligonal de que apenas

restavam cinco e o alveacuteolo (U59) do sexto mas havia ainda um espaccedilo que

corresponderia ao seacutetimo A altura dos esteios rondaria aproximadamente aquela

registada nos ortoacutestatos U6 U7 e U8 com cerca de 190 m face agrave base da cacircmara

com cerca de 35 m de largura por 3 m de comprimento (Fig 93 1-2) Agrave sala

funeraacuteria acedia-se por um corredor com cerca de 25 m de comprimento de que

apenas nos chegaram os restos de 2 esteios do lado norte Entre os vaacuterios blocos

observados junto da anta nenhum pareceu corresponder a parte de uma eventual

tampa da cacircmara ou tambeacutem atribuiacutevel a um lintel do corredor

Espoacutelio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 151 de 415

O espoacutelio recolhido (Fig 94-105) proveacutem essencialmente do interior da

cacircmara mas tambeacutem de alguns contextos remexidos daquela e depositados no seu

exterior essencialmente a oeste-sudoeste e sul

Dentro da cacircmara o espoacutelio das unidades U34 U17 U18 e U56 mais

encostadas aos esteios remanescentes (U6 U7 U8 e U9) apresentava-se melhor

preservado sendo aiacute que se identificaram tambeacutem as maiores concentraccedilotildees de

ossos nomeadamente o ossaacuterio da U34 De certa forma agrave camada amarela nas suas

diversas tonalidades (U34 U20 U23 U54 mas tambeacutem os contextos similares

descritos por G Marques) corresponde o grosso das deposiccedilotildees funeraacuterias sobre as

quais se realizaram mais tarde aquelas com ceracircmica campaniforme ndash de facto ainda

que se tenham recolhido fragmentos normalmente pequenos de ceracircmicas

campaniformes no acircmago daquela camada a maioria dos grandes fragmentos foi

recolhida nas camadas superficiais acastanhadas ou na transiccedilatildeo para o estrato

inferior Uma explicaccedilatildeo para a sua presenccedila mais aprofundada poderaacute relacionar-se

com a acccedilatildeo escavadora dos animais jaacute referida atraacutes causando a migraccedilatildeo de

pequenos elementos ndash por exemplo em U34 o ossaacuterio considerado relativamente

preservado em Q C6 natildeo se recolheu qualquer fragmento de ceracircmica

campaniforme Outro detalhe importante eacute a maioria desses pequenos fragmentos em

cotas mais baixas corresponderem agrave teacutecnica impressa essencialmente no estilo

internacional Mas esta impressatildeo necessita de uma afericcedilatildeo mais cuidada para a

qual as largas centenas de restos fauniacutesticos recolhidas ainda em fase de estudo

tambeacutem poderatildeo contribuir

O espoacutelio antropoloacutegico revelou-se abundante isto se considerarmos que

apenas se escavou mais ou menos integralmente a base do quadrante noroeste No

entanto uma primeira anaacutelise da informaccedilatildeo das intervenccedilotildees anteriores permitiu

verificar que outras concentraccedilotildees oacutesseas do mesmo cariz se registaram nos

quadrantes nordeste este e sudoeste da cacircmara nesta uacuteltima aacuterea correspondendo

sobretudo agraves quadriacuteculas E5 e E6 A projecccedilatildeo possiacutevel dessa distribuiccedilatildeo decorre

ainda mas eacute possiacutevel verificar um padratildeo semelhante para os artefactos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 152 de 415

Aleacutem dos restos fauniacutesticos tambeacutem se recolheu cerca de duas dezenas de

gracircnulos de carvotildees sobretudo inseridos nas unidades amareladas Infelizmente

nada se pode adiantar pois ainda se aguarda o seu estudo

O conjunto de artefactos recolhidos na anta revelou-se surpreendentemente

limitado quando comparado com os restos osteoloacutegicos humanos e fauniacutesticos mas

tambeacutem com certas categorias de espoacutelio identificadas noutros sepulcros

aparentemente contemporacircneos designadamente nas antas de Monte Abraatildeo e

Casaiacutenhos

O conjunto da pedra lascada para aleacutem de algumas lascas em siacutelex e poucas

em quartzo apresenta um grupo diverso de artefactos mas em nuacutemero reduzido de

unidades exceptuando talvez as lacircminas ovoacuteides (Fig 94-95)

Os 9 fragmentos de lacircminas todos de siacutelex mas alguns de pequena dimensatildeo

parecem corresponder sobretudo a peccedilas espessas e relativamente largas ndash o maior

exemplar deveria corresponder agrave lacircmina HC1131 com um retoque invasor bem

marcado No entanto algumas delas curiosamente as menos espessas apresentam um

retoque mais localizado e marginal Um uacutenico exemplar proximal natildeo apresentava

retoque (HC321)

Natildeo foram recuperadas lamelas mas junto de um dos geomeacutetricos foi

recolhido um nuacutecleo em quartzo leitoso (HC1123) para a extracccedilatildeo desses pequenos

produtos alongados

Registaram-se 2 geomeacutetricos trapezoidais sobre lacircmina (HC1121 e 1122)

curiosamente ambos na base da cacircmara ainda que em pontos distintos (Fig 94)

As pontas de seta todas em siacutelex limitam-se a 5 exemplares trecircs deles com

bases convexas duas triangulares (HC1126 e 1127) e uma ligeiramente pedunculada

(HC1128) Outra apresenta uma base cocircncava (HC138) Haacute ainda um fragmento

mesial em siacutelex (HC131) que corresponderaacute a uma ponta de seta mas eacute de difiacutecil

classificaccedilatildeo

O grupo de 5 lacircminas ovoacuteides eacute relativamente numeroso (Fig 95) quando

comparado com outros conjuntos funeraacuterios ortostaacuteticos Seguindo a proposta de S

Forenbaher (1999 p 84) ainda que simplificada duas peccedilas (HC320 e 802) satildeo do

tipo ovalado e outras duas (HC313 e 801) subrectangulares Uma quinta peccedila

(HC129) apresenta um formato ovalado mas com uma espeacutecie de alongamento para

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 153 de 415

eventualmente facilitar o seu encabamento Lembra de alguma forma a peccedila votiva

em calcaacuterio das grutas do Poccedilo Velho (Gonccedilalves 2005 fig 1234) Haacute ainda dois

fragmentos com retoque bifacial (HC3144 e HC311) que poderatildeo corresponder a

outras duas peccedilas ovoacuteides hoje perdidas No entanto estes mesmos fragmentos

poderiam corresponder a grandes pontas bifaciais do tipo lanccedila punhal ou alabarda

de outro modo ausentes nesta anta

Finalmente entre as lascas e restos de talhe identificam-se algumas peccedilas

retocadas nomeadamente dois possiacuteveis furadores um em siacutelex (HC1133) e outro

em quartzo (HC811) e um raspador em siacutelex (HC174)

Durante os trabalhos de 2005-2006 a observaccedilatildeo de largas centenas de pedras

pequenas e grandes natildeo conduziu agrave identificaccedilatildeo de qualquer elemento liacutetico

afeiccediloado nomeadamente percutores e elementos de moagem Assim apenas se

conhece um percutor esferoidal em calcaacuterio cristalino recolhido em 1993 e um seixo

com sinais de percussatildeo (HC0673) da campanha de 1998 e um fragmento de

movente em arenito tambeacutem recolhido em campanhas anteriores

O grupo dos utensiacutelios de pedra polida tambeacutem se apresenta limitado mas

neste caso tal situaccedilatildeo eacute recorrente noutros conjuntos sepulcrais da regiatildeo Foram

recolhidas apenas duas enxoacutes uma de anfibolito (HC310) e outra de xisto (HC799)

mas ambas com gumes intactos ndash a primeira apresenta uma secccedilatildeo poligonal

achatada e a segunda peccedila uma secccedilatildeo ovalada achatada O outro instrumento

originalmente um provaacutevel machado de anfibolito (HC445) encontrava-se quebrado

longitudinalmente e utilizado como percutor em ambos os topos (Fig 96)

Aleacutem dos utensiacutelios polidos referidos recolheu-se uma pequena vareta (Fig

104 10) talvez um pequeno punccedilatildeo ou furador realizado sobre uma rocha xistosa de

dureza assinalaacutevel onde eacute possiacutevel observar numa das faces o serrilhado da sua

extracccedilatildeo Finalmente recolheu-se um provaacutevel fragmento mesial de braccedilal de

arqueiro (HC449) ainda que sem os orifiacutecios que garantam com maior fiabilidade

esta interpretaccedilatildeo (104 6)

Foram recolhidos pelo menos 16 artefactos votivos em calcaacuterio (Fig 97-98)

Destes 12 enquadram-se no grupo dos iacutedolos cilindroacuteides ainda que um deles se

aproxime do formato afuselado (HC383) Aleacutem dessa particularidade apenas um

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 154 de 415

pequeno cilindro com um perfil romboacuteide apresentava uma gravaccedilatildeo com pares de

ldquoolhosrdquo e ldquotatuagensrdquo (HCF8-34)

Um dos dois iacutedolos com formato afuselado apresenta gravaccedilatildeo com as linhas

horizontais no topo e base (HC385) comuns neste tipo de peccedila mas tambeacutem um par

de possiacuteveis orifiacutecios oculares Dois outros orifiacutecios no topo do betilo colocam a

possibilidade de terem sido realizados para colocaccedilatildeo de um qualquer penacho de

material pereciacutevel isto se for aceite o posicionamento proposto por J Cardoso

(1995) para a deposiccedilatildeo deste tipo de peccedila O outro iacutedolo natildeo apresenta qualquer tipo

de gravaccedilatildeo

Aleacutem do artefactos idoliformes enumerados recolheu-se em 1992 um iacutedolo-

pinha (Fig 89 3 98 4 AGMarques) infelizmente hoje natildeo localizado com um

padratildeo de decoraccedilatildeo muito semelhante ao encontrado na anta de Casaiacutenhos

(Cardoso Gonzalez e Cardoso 2001-02) distinguindo-se apenas pela ausecircncia do

serpentiforme Curiosamente ambas as peccedilas foram recolhidas na aacuterea de entrada

das respectivas cacircmaras funeraacuterias

No acircmbito dos recipientes em calcaacuterio recolheram-se alguns fragmentos pelo

menos de um pequeno vaso com sulco no bordo (HC454) e talvez do mesmo

artefacto mas sem colagem evidente um pedaccedilo do fundo

Finalmente poderaacute incluir-se neste conjunto votivo um pequeno iacutedolo de gola

em osso e sem qualquer decoraccedilatildeo (Fig 104 11 HC314)

Deve anotar-se a aparente ausecircncia de iacutedolos-placas em xisto ou arenito nesta

anta quando eacute recorrente a sua presenccedila ainda que minoritaacuteria noutros sepulcros

coevos Apenas um diminuto fragmento de xisto negro (HC664) foi recolhido em

contexto perturbado No entanto este poderaacute corresponder somente agrave mateacuteria-prima

utilizada nas contas de colar em xisto estas bastante abundantes na anta

Os aparentes utensiacutelios em osso resumiram-se a um cabo (HC1236) e um

furador em osso (HCC5-10)

Entre os elementos de adorno regista-se um alfinete quase completo com

cabeccedila simples (HC806) e mais alguns fragmentos de hastes Recolheram-se ainda

vaacuterios bototildees do tipo tartaruga (HC803 e HC1237 muito semelhantes e HC805)

Outros dois tambeacutem de tipologia similar apresentam as aletas trapezoidais

decoradas com pequenas incisotildees (HC306 e HC430) Outro com um formato coacutenico

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 155 de 415

perdeu-se em 1991 Todos apresentam a tiacutepica perfuraccedilatildeo em ldquoVrdquo mas num caso

(HC805) a perfuraccedilatildeo teraacute sido tentada pelo menos duas vezes pois observam-se 3

perfuraccedilotildees (Fig 104 3) Com excepccedilatildeo dos bototildees encontrados fora da cacircmara ou

em contexto mais revolto os restantes foram recolhidos nas aacutereas com maior

concentraccedilatildeo de ceracircmica campaniforme

Finalmente as contas de colar inclusive algumas encontradas ainda alinhadas

destacam-se pelo seu nuacutemero abundante ndash cerca de duas centenas ndash ainda que um

putativo colar pudesse englobar boa parte delas numa soacute peccedila Estas obtidas a partir

de conchas e rocha xistosa negra apresentam uma morfologia discoidal Outro

conjunto de contas com formatos discoacuteide globular e tubular foi realizado sobre

pedra verde

Natildeo haacute registo de qualquer peccedila em metal recolhida nesta anta excepto um

elemento de sacho em ferro de cronologia recente

Os fragmentos ceracircmicos revelaram-se abundantes perfazendo vaacuterias dezenas

de recipientes podendo repartir-se por trecircs grupos com caracteriacutesticas especiacuteficas

(Fig 99-103)

Registam-se ceracircmicas com decoraccedilatildeo campaniforme impressa nomeadamente

do estilo internacional e do estilo ldquoPalmelardquo e incisa com vasos acampanados e

taccedilas com bordo espessado Apesar de ainda natildeo estar concluiacuteda a anaacutelise

microespacial estes elementos juntamente com os bototildees parecem surgir sobretudo

nos estratos superficiais tendo sido recolhidos apenas pequenos fragmentos na base

da cacircmara

Outro conjunto eacute o dos recipientes com incisotildeescaneluras junto ao bordo

sobretudo representado por taccedilas de vaacuterias dimensotildees mas tambeacutem por um talvez

dois pequenos copos

Um grupo de recipientes de diversas tipologias com uma definiccedilatildeo

cronoloacutegica preacute-histoacuterica menos concreta eacute composto por taccedilas e vasos de vaacuterias

dimensotildees mas essencialmente sem qualquer tipo de decoraccedilatildeo muito semelhantes

ao conjunto recolhido em Casaiacutenhos Aliaacutes a situaccedilatildeo de empilhamento de

recipientes detectada nesta anta foi tambeacutem detectada em Carcavelos sob o esteio

U4

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 156 de 415

Aleacutem dos materiais atribuiacuteveis agrave utilizaccedilatildeo genericamente ldquooriginalrdquo da anta

recolheram-se ainda fragmentos de ldquotelha lusitanardquo e de ceracircmicas vidradas e

faianccedila

Segundo G Marques (AGMarques) o espoacutelio recolhido por ele na anta

corresponderia a pelo menos trecircs momentos cronoloacutegicos um inicial o ldquoNeoliacutetico

IIrdquo um meacutedio o ldquoNeoliacutetico IIIrdquo e o ldquoCalcoliacuteticoCampaniformerdquo Os vasos

ceracircmicos simples sem decoraccedilatildeo mas tambeacutem alguns com caneluras um

geomeacutetrico um nuacutecleo de lamelas poderiam relacionar-se com o primeiro momento

seguido de um segundo ligado aos artefactos votivos em calcaacuterio Finalmente a

ceracircmica campaniforme marcaria as uacuteltimas deposiccedilotildees Apesar da perspectiva

datada e de alguma forma linear o arquitecto tinha consciecircncia do revolvimento dos

estratos nalgumas aacutereas escavadas mas porque seguia o paradigma da Lapa do Fumo

(Serratildeo e Marques 1971) procurava adaptar a realidade da anta agravequela leitura

Natildeo obstante apesar das limitaccedilotildees mencionadas atraacutes eacute possiacutevel definir entre

o espoacutelio recolhido alguns momentos de utilizaccedilatildeo e inclusivamente realccedilar a

tendecircncia para as ceracircmicas campaniformes nos estratos superficiais Os artefactos

de calcaacuterio a ceracircmica com caneluras e as lacircminas ovoacuteides encontram-se sobretudo

na camada amarelada Ainda na base dessa camada surgiram os elementos

aparentemente mais arcaicos nomeadamente os geomeacutetricos o nuacutecleo de lamelas

algumas lacircminas e uma das enxoacutes

A avaliaccedilatildeo do espoacutelio descrito permite entatildeo apontar para uma provaacutevel

utilizaccedilatildeo inicial desta anta nos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane A intensificaccedilatildeo

do uso daquele espaccedilo teraacute ocorrido possivelmente entre 3000 e 2600 ane o que

parece reforccedilado natildeo soacute pelo espoacutelio mas tambeacutem pelas duas dataccedilotildees de

radiocarbono obtidas ateacute o momento sobre ossos humanos uma sobre um feacutemur de

adulto (Beta-208518) apontando o intervalo de 3020-2700 cal BCE e outra (Beta-

225170) sobre uma mandiacutebula de adulto entre 2880-2580 cal BCE

A presenccedila de ceracircmica de estilo campaniforme nos estratos superficiais da

anta parece denunciar o prolongamento da sua utilizaccedilatildeo durante os meados e a

segunda metade do 3ordm mileacutenio ane

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 157 de 415

416 Os sepulcros de Verdelha do Ruivo

O vale de Verdelha do Ruivo7 por onde corre a Ribeira da Carvalha regista no

seu acircmbito vaacuterios siacutetios com ocupaccedilotildees atribuiacuteveis aos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane (Fig

28 North Boaventura e Cardoso 2005) nomeadamente as antas de Casal do Penedo

(CNS- 656 Vaultier amp Zbyszweski 1951) e Monte Serves (CNS- 4792 North

1973) Aleacutem daqueles testemunhos haacute que registar a presenccedila da gruta-necroacutepole de

Verdelha dos Ruivos (CNS ndash 12825 Leitatildeo et al 1984) localizada a poente e nas

proximidades da ocupaccedilatildeo habitacional que ali teraacute ocorrido e que o silo do Casal do

Penedo eacute um dos uacuteltimos vestiacutegios (Zbyszweski et al 1976) Para melhor

clarificaccedilatildeo daquelas duas realidades R Parreira (1985) designou-as

respectivamente de Pedreira do Casal do Penedo 2 e 1 Curiosamente de iniacutecio O

V Ferreira (1975 nota 4) descrevia a primeira como gruta artificial impressatildeo

mantida posteriormente mas matizada por R Parreira (1985) como gruta afeiccediloada

4161 Casal do Penedo

A anta do Casal do Penedo teraacute sido identificada ainda por C Ribeiro no

seacuteculo XIX pois segundo M Vaultier e G Zbyszewski (1951 p 17) jaacute surgia

indicada nas minutas dos levantamentos geoloacutegicos por ele produzidas Contudo

apesar de aqueles autores em 1941 terem visitado o sepulcro juntamente com R

Matos e A M Nogueira soacute em 1946 procederam agrave sua escavaccedilatildeo por receio da sua

destruiccedilatildeo depois de P C Deus ter verificado que habitantes locais tinham cavado

na anta em busca de tesouros (Vaultier e Zbyszweski 1951) Assim os trabalhos de

escavaccedilatildeo realizaram-se em Fevereiro durante 5 dias com pessoal dos Serviccedilos

Geoloacutegicos orientado pelos referidos autores

Entretanto o casal Leisner tambeacutem teraacute visitado o sepulcro no dia 31 de

Janeiro de 1944 seguindo o apontamento de C Ribeiro que o denominava ldquoDolmen

de Vialongardquo (ALeisner Leis48) tendo registado os elementos visiacuteveis (Fig 106)

7 Na Carta Militar de Portugal ( ) surge designado por Verdelha do Ruivo apesar de outros documentos referirem ldquoVerdelha dos Ruivosrdquo nomeadamente por O V Ferreira e colaboradores (1984)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 158 de 415

muito semelhantes agrave planta realizada posteriormente com mais elementos pelos seus

escavadores As duas fotos entatildeo obtidas mostram que jaacute naquele ano a anta se

encontrava ameaccedilada pois as lavras realizavam-se ao longo da base de todo o lado

sul da cacircmara Ainda nessas imagens eacute evidente o desniacutevel acentuado onde a anta foi

implantada o que os Leisner esboccedilaram em esquema Curiosamente essa

perspectiva inclinada foi tambeacutem registada mais tarde pelos escavadores pois de

facto eacute uma caracteriacutestica peculiar da implantaccedilatildeo deste sepulcro

Segundo M Vaultier e G Zbyszewski (1951) a anta situava-se a cerca de 300

m a noroeste do Casal homoacutenimo na encosta sul de um cabeccedilo no qual se

detectaram vestiacutegios de ocupaccedilatildeo humana correspondendo agrave aacuterea mais tarde

destruiacuteda pela abertura de uma pedreira clandestina que expocircs o silo referido acima

Esta localizaccedilatildeo coloca a anta na altitude aproximada da curva de niacutevel dos 170

metros

O substrato rochoso de calcaacuterios do Cretaacutecico com calcaacuterios do Cenomaniano

Superior no topo apresentava na aacuterea de implantaccedilatildeo do sepulcro uma inclinaccedilatildeo

bastante acentuada para Sul Segundo os escavadores foi naquelas bancadas que se

extraiacuteram as lajes necessaacuterias para a construccedilatildeo da estrutura Os esteios mais

setentrionais (3 e 4) tinham sido levantados sobre o afloramento inclinado tendo

recebido uma sapata de pedras chatas e terra calcada para estabilizaccedilatildeo Por outro

lado o esteio de cabeceira e o de entrada encontravam-se cravados em aacutereas de

fissuras de rocha alterada Todos os esteios detectados in situ apresentavam-se bem

calccedilados pelo lado interno tendo do lado exterior um anel de pedras que os envolvia

e provavelmente cobria As lajes 2 e 5 estavam deslocadas devendo corresponder

aos espaccedilos vazios detectados ainda com calccedilos respectivamente entre os esteios 1

- 3 e 4 - 6 Assim o sepulcro tinha ainda um esteio de cabeceira (1) ladeado por

outro menor (2) continuado por outras quatro lajes em cutelo (3 4 5 e 6)

funcionado o bloco 7 como elemento de encerramento da entrada (Fig 106 2 e 4)

Apesar de ser uma cacircmara com uma dimensatildeo aproximada em planta de 65

metros de comprimento por 35 metros de largura maacutexima a altura registada para os

esteios de cabeceira (esteio 1) e laterais do lado direito (esteios 3 e 6) que natildeo

aparentavam estar quebrados nos seus topos rondava e natildeo ultrapassava o metro e

meio Como a base dos alveacuteolos da fiada de esteios do lado esquerdo jaacute desaparecida

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 159 de 415

agrave data da intervenccedilatildeo seria com certeza mais baixa por causa da inclinaccedilatildeo acima

referida isso teria implicado lajes mais altas para manter uma cobertura mais ou

menos nivelada se tal desiacutegnio foi considerado importante Aliaacutes ao observar-se as

imagens da intervenccedilatildeo (Vaultier amp Zbyszewski 1951 est II-III) nota-se uma

acentuada assimetria entre o esteio de cabeceira e os laterais sendo visiacutevel que a aacuterea

central da cacircmara tinha sido escavada no subsolo (a referida ldquofosse centralrdquo escavada

entre as duas camadas peacutetreas mais duras) o que aumentava em cerca de meio metro

a altura do espaccedilo sepulcral Assim eacute possiacutevel admitir que este sepulcro teria uma

cacircmara com um tecto relativamente constante entre a cabeceira e a sua entrada ainda

que no seu interior se descesse da entrada para a cacircmara

Extrapolando o nuacutemero e a posiccedilatildeo dos esteios ainda detectados do lado norte

para o sul esta anta apresentaria uma planta trapezoidal constituiacuteda por cerca de 11

esteios sem a diferenciaccedilatildeo clara de um corredor de acesso (Fig 106 1) Nessa aacuterea

de transiccedilatildeo foi detectado um ldquoprismardquo basaacuteltico de secccedilatildeo triangular com cerca de

70 cm de altura cujo espaccedilo entre este e o esteio 6 tinha sido preenchido por um

ldquomureterdquo de pedras chatas para o qual as imagens natildeo satildeo totalmente esclarecedoras

Segundo os escavadores aquilo parecia demarcar da cacircmara principal um pequeno

vestiacutebulo onde se recolheu uma enxoacute (inicialmente designada machado) uma maccedila

(possiacutevel iacutedolo) e um buacutezio (encostado ao esteio 7)

Apoacutes a retirada do coberto vegetal a escavaccedilatildeo iniciou-se com duas sondagens

no vestiacutebulo e na aacuterea A ao longo do esteio 2 No primeiro local recolheu-se a

referida maccedila e uma enxoacute Junto ao esteio 2 algumas ossadas e fragmento ceracircmico

Seguidamente avanccedilou-se na aacuterea D (entre os elementos 5 8 9 e 6) para

depois se estender para uma vala entre 5 e 1 a uma profundidade de 20-30 cm No

ponto A foram recolhidos 4 cracircnios uns ao lado dos outros separados e cobertos por

pedras Sob eles encontrou-se uma taccedila um cilindro e uma concha de Pecten

maximus e no dia seguinte uma paleta em greacutes

No segundo dia a vala de sondagem entre os pontos A e B foi aprofundada

mais 30 cm tendo sido abertas outras duas valas paralelas ( 8 ) agrave primeira

Entretanto sondou-se o ponto C (entre as lajes 1 2 e 3) verificando-se que tinha

sido mexido recolhendo-se apenas ceracircmica decorada contas de colar e ldquocendresrdquo 8 A descriccedilatildeo natildeo eacute clara acerca da sua posiccedilatildeo mas pelas informaccedilotildees posteriores no texto faz algum sentido uma estrateacutegia daquele tipo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 160 de 415

(presumo que se refere a restos mortais isto eacute ossos e poacute de ossos e natildeo cinzas

como a traduccedilatildeo tambeacutem admite)

Nas valas realizadas recolheram-se fragmentos de siacutelex uma ponta de seta e

um trapeacutezio

No terceiro dia a escavaccedilatildeo avanccedilou na parte central H (A ou B) delimitada

pelas valas abertas na veacutespera recolhendo-se contas siacutelex dois fragmentos de

lacircminas e um pedaccedilo de moacute dormente em greacutes

No dia seguinte toda a cacircmara eacute aprofundada em extensatildeo recolhendo-se uma

lacircmina de siacutelex outra enxoacute (sob a laje 5) e 28 contas na maioria de xisto e uma de

ldquocalaiacuteterdquo

O uacuteltimo dia concluiu-se com a retirada de terras atingindo o substrato

calcaacuterio recolhendo-se ainda alguns fragmentos de siacutelex apoacutes remoccedilatildeo da laje 5

Realizou-se ainda uma vala de sondagem na aacuterea provaacutevel de implantaccedilatildeo dos

esteios do lado Sul mas nada foi detectado Por fim procurou-se estabilizar os

esteios da anta reforccedilando-os com anteparas de pedra

Segundo os escavadores todas as terras da escavaccedilatildeo foram crivadas agrave medida

que eram retiradas tendo-se recolhido ainda dessa actividade algum espoacutelio liacutetico

ceracircmico e osteoloacutegico

Assim aleacutem do espoacutelio mencionado atraacutes a listagem final refere a presenccedila

vaacuterias lascas em siacutelex e quartzo e um nuacutemero mais elevado de contas num total de

51 ndash 45 em xisto 3 em ldquocalaiacuteterdquo 2 troccedilos perfurados em calcaacuterio e uma conta

troncocoacutenica em ceracircmica (parecendo imitar aquelas de anfibolito) Para aleacutem da

taccedila encontrada em A indica-se a presenccedila de ceracircmica campaniforme que deveraacute

corresponder pelo menos a alguma da ldquoceramique orneacuteerdquo recolhida no ponto C

junto com contas

O material malacoloacutegico (Fig 107-108) resume-se agrave concha de Pecten

maximus ao buacutezio e a inuacutemeras conchas de Tapes decussatus ainda que para estas

uacuteltimas se admitisse poder resultar da remobilizaccedilatildeo atraveacutes da encosta de detritos

provenientes do povoado localizado no topo do relevo onde tambeacutem se avistavam

Aponta-se ainda um pequeno dente de espariacutedeo (pargo) e alguns elementos

de cabra ou ovelha natildeo foram relocalizados durante a revisatildeo do espoacutelio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 161 de 415

Finalmente a partir dos restos osteoloacutegicos humanos recolhidos bastante

fragmentados os autores apontaram um nuacutemero miacutenimo de 9 indiviacuteduos alguns

deles correspondendo a crianccedilas Aquele valor baseou-se nos ossos dos peacutes e matildeos

(vaacuterias centenas) mas salientava-se ainda a existecircncia de 10 fragmentos de

extremidade distal de uacutemeros e 417 dentes humanos alguns deles de leite Por

vicissitudes museoloacutegicas ou outras desconhecidas este registo jaacute natildeo correspondia

ao verificado durante o estudo antropoloacutegico

No Museu Geoloacutegico foi possiacutevel identificar a maioria dos objectos e

artefactos listados (Fig 107) A excepccedilatildeo regista-se com o percutor de quartzito

ainda por localizar bem como para a colecccedilatildeo osteoloacutegica que se encontrava

integrada sob a mesma designaccedilatildeo ldquoCasal do Penedordquo com os restos da gruta-

necroacutepole de Verdelha dos Ruivos (Pedreira de Casal do Penedo 2) e do silo

(Pedreira de Casal do Penedo 1)

Felizmente porque os materiais se mantinham mais ou menos agrupados por

caixas ou sacos ainda por limpar a separaccedilatildeo dos dois conjuntos osteoloacutegicos foi

alcanccedilada com seguranccedila servindo os sedimentos ainda agarrados aos ossos e

algumas marcaccedilotildees nos ossos como elemento de confirmaccedilatildeo O espoacutelio do Casal do

Penedo apresentava um sedimento avermelhado na maioria das situaccedilotildees

concrecionado resultando em ossos com aquela tonalidade como por exemplo a

calote craniana 1776123 peccedila apresentada pelos autores como uma das mais

completas (Vaultier amp Zbyszweski 1951 est IX 28) ndash este sedimento resultando

da erosatildeo natural eacute ainda hoje visiacutevel na aacuterea onde se situaria a anta Os restos

oacutesseos da gruta-necroacutepole de Verdelha dos Ruivos surgiam com um sedimento

branco tipo cal apresentando-se com uma tonalidade amarelada paacutelida e nalguns

com marcaccedilotildees de ldquosepulturardquo (H-2 H-16 etc) Tal sedimento eacute ainda hoje

observaacutevel no remanescente do referido sepulcro Contudo apesar do sucesso desta

anaacutelise soacute foi possiacutevel localizar cerca de metade do nuacutemero de dentes entatildeo

recolhidos na anta

O espoacutelio recolhido e caracterizaacutevel da anta parece evidenciar uma utilizaccedilatildeo

funeraacuteria inicial algures entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane de que os

geomeacutetricos poderatildeo ser testemunho Mas parece ser na primeira metade do 3ordm

mileacutenio que o uso deste sepulcro teraacute sido intensificado o que parece reforccedilado por

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 162 de 415

algum espoacutelio (lacircmina ovoacuteide iacutedolo calcaacuterio e pontas de seta) e duas dataccedilotildees

idecircnticas (Anexo 3 Quadro 2) sobre 2 feacutemures direitos de indiviacuteduos distintos

situando pelo menos duas das deposiccedilotildees (Beta-229585 e Beta-234134) entre 3020-

2760 cal BCE (com 898 de probabilidade restringe-se a 3020-2860 cal BCE)

Finalmente a presenccedila de ceracircmica campaniforme impressa em bandas e no

estilo Palmela (cariz internacional e regional) num aparente contexto intrusivo (no

ponto C) parece determinar um momento final de uso da anta nos meados e segundo

quartel 3ordm mileacutenio ane Claro estaacute para este balizamento haacute que recordar as

deposiccedilotildees realizadas no cimo do cabeccedilo na gruta-necroacutepole a pouco mais de uma

centena de metros da anta datando-se entre o segundo quartelmeados e a segunda

metade do mileacutenio (Cardoso e Soares 1990-92 Anexo 3 Quadro 2) Naquela

necroacutepole os seus escavadores realccedilavam que ldquoJust as important as the actual finds

made at Verdelha dos Ruivos is the material which did not appear here no bone

borers microliths or flint arrowheads of any kind no large flint blades or daggers

no axes adzes (hoes) gouges or chisels no schist plaques pendants large

greenstone beads or discoidal schist beads and no decorated Neolithic pottery or

clay spoons (hellip)rdquo (Leitatildeo et al 1984 p 224)

R Harrison (1977 p 142) enumera no seu inventaacuterio de siacutetios com espoacutelio

campaniforme para aleacutem da anta de Casal do Penedo (SN 61) um segundo ldquosmall

megalithic graverdquo (SN 60) natildeo publicado e depositado no Museu Geoloacutegico em

Lisboa Este siacutetio eacute posteriormente referido por R Parreira (1985 p 111) no seu

inventaacuterio do patrimoacutenio de Vila Franca de Xira em observaccedilotildees referentes agrave anta

Contudo durante a anaacutelise do inventaacuterio do Museu Geoloacutegico natildeo se detectou

qualquer conjunto diferenciado o que poderia ter sido resultado da homogeneizaccedilatildeo

das colecccedilotildees por topoacutenimo jaacute mencionada Mas ao comparar-se as descriccedilotildees das

ceracircmicas campaniformes para os dois siacutetios de R Harrison (SN60 e SN61) eacute

possiacutevel verificar que estas no seu todo correspondem agravequelas recolhidas na anta de

Casal do Penedo e publicados por M Vaultier e G Zbyszweski (1951) e

seguidamente desenhadas por V Leisner (1965 taf 14) Assim julgo que poderaacute

ficar resolvida a duacutevida suscitada por R Harrison

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 163 de 415

4162 Monte Serves

Monte Serves eacute o outro sepulcro ortostaacutetico do tipo anta que se regista na aacuterea

de Verdelha do Ruivo Apesar de ser brevemente referido em vaacuterias trabalhos

(Ferreira 1975 Zbyszweski et al 1977 p 224 Parreira 1985) inclusive

anunciando-se a sua publicaccedilatildeo (Zbyszewski et al 1981 p 114) soacute recentemente

esta se concretizou com base no relatoacuterio produzido C North (1973 North

Boaventura e Cardoso 2006)

O sepulcro foi detectado durante os levantamentos geoloacutegicos da regiatildeo de

Vila Franca de Xira por O V Ferreira No seguimento dessa descoberta C T North

requereu a autorizaccedilatildeo para proceder agrave sua escavaccedilatildeo em Marccedilo de 1972 decorrendo

os trabalhos durante os dias 30 de Setembro e 1 de Outubro do mesmo ano com a

colaboraccedilatildeo de G Zbyszweski O V Ferreira M Leitatildeo H R Sousa J Norton e J

Paulino (North 1973)

O sepulcro situa-se num ponto de cumeada com a cota de 311 metros de

altitude a cerca de 1300 metros para norte da anta de Casal do Penedo Apesar de se

assemelhar a outros montiacuteculos em redor o facto de apresentar no cimo alguns topos

de lajes em cutelo orientadas perpendicularmente agraves camadas naturais facilitou a

sua detecccedilatildeo (Fig 110 2)

A escavaccedilatildeo da estrutura realizou-se por camadas artificiais em meacutedia de 15

cm ateacute uma profundidade de 50 centiacutemetros onde segundo o relatoacuterio (North 1973)

surgiu uma camada de pequenas lajes que cobriam todo o tuacutemulo e interpretadas

como restos de falsa cuacutepula Contudo esta hipoacutetese eacute difiacutecil de sustentar pois apoacutes a

consulta das imagens disponiacuteveis as referidas lajetas natildeo se apresentavam em

quantidade suficiente para fazer parte de tal construccedilatildeo Poderatildeo sim eventualmente

ser apenas pedras caiacutedas para dentro do espaccedilo interno depois de ter perdido a sua

cobertura ou como algum tipo de selagem dos depoacutesitos funeraacuterios que se estenderia

desde a entrada A cobertura jaacute desaparecida e em consonacircncia com estruturas

semelhantes teria sido ortostaacutetica

Soacute a cerca de 90 cm de profundidade se detectaram alguns vestiacutegios de

deposiccedilatildeo funeraacuteria nomeadamente alguns fragmentos de ossos em mau estado de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 164 de 415

conservaccedilatildeo proacuteximo do esteio 5 nomeadamente de raacutedio e uacutemero (Fig 110 3) Na

aacuterea da entrada registou-se ainda fragmentos de cracircnio e alguns dentes e 10 cm

abaixo mais outros segmentos de braccedilo Proacuteximo do esteio de cabeceira verificou-se

ainda um pedaccedilo de tiacutebia Estes vestiacutegios foram interpretados como um uacutenico

possiacutevel enterramento

Aleacutem dos restos osteoloacutegicos encontrou-se apenas ldquodois fragmentos

inclassificaacuteveis de siacutelex alguns restos de corantes e um fragmento de carvatildeordquo

(North 1973) Infelizmente natildeo foi possiacutevel relocalizar no Museu Geoloacutegico

nenhum dos elementos referidos no relatoacuterio registando-se no seu inventaacuterio com o

topoacutenimo ldquoMonte Servesrdquo apenas a referecircncia a peccedila liacutetica recolhida na encosta

atribuiacuteda ao Paleoliacutetico e tambeacutem essa agora extraviada

A planta do sepulcro (Fig 109) apresentava um formato trapezoidal alongado

constituiacuteda por 9 esteios imbricados e ligeiramente inclinados para sul e estreitando

para a entrada onde a evidecircncia de corredor estaacute ausente (Fig 110 4) Os esteios de

calcaacuterio do Cenomaniano disponiacutevel no substrato imediato rondam e natildeo

ultrapassam um metro de altura apesar de diminuiacuterem ligeiramente de tamanho na

direcccedilatildeo da entrada A cacircmara teria cerca de dois metros de comprimento por cerca

de um metro e vinte de largura maacutexima Os ortoacutestatos encontravam-se calccedilados pela

face interna com pequenas pedras devendo o seu exterior natildeo sondado ser

constituiacutedo por um anel peacutetreo que os consolidaria e circundaria Esta assumpccedilatildeo

baseia-se na secccedilatildeo da entrada onde era visiacutevel uma camada de pedras atraacutes do bloco

7 (Fig 110 4 que corresponderaacute agravequele anel e que ali tinha pressionado o seu

desvio e inclinaccedilatildeo Actualmente jaacute natildeo eacute possiacutevel observar este bloco in situ

Na parte traseira da cabeceira foi afixada com cimento uma laje de maacutermore

com a identificaccedilatildeo do sepulcro bem como implantado um curto periacutemetro com

correntes o que teraacute contribuiacutedo para a sua salvaguarda

A anta de Monte Serves eacute a vaacuterios niacuteveis um tipo de sepulcro ortostaacutetico

singular na regiatildeo de Lisboa primeiro pelas suas dimensotildees reduzidas quando

comparado com os restantes monumentos verdadeiramente megaliacuteticos Por outro

lado apresenta aquilo que parece ser um tumulus relativamente bem preservado

quando nos restantes essa estrutura quase natildeo eacute visiacutevel por ter desaparecido ou

nunca ter existido Finalmente o seu escasso e incaracteriacutestico espoacutelio e possiacutevel

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 165 de 415

inumaccedilatildeo que poderia ser atribuiacuteda hipoteticamente a um momento antigo do 4ordm

mileacutenio ane quiccedilaacute dos seus meados

Resulta ainda digno de nota que ambos os sepulcros Casal do Penedo e Monte

Serves apesar das distintas dimensotildees apresentem plantas similares (Fig 110 5

126) de formato trapezoidal sem aparente corredor ainda que pouco mais se possa

adiantar acerca por ora pois natildeo eacute possiacutevel apurar uma cronologia ldquofinardquo para o

segundo monumento

417 Arruda

A intervenccedilatildeo da anta da Arruda (CNS ndash 2237) eacute mais um caso de precocidade

das intervenccedilotildees arqueoloacutegicas na regiatildeo de Lisboa

Em 1897 P Belchior da Cruz daacute conta em O Arqueoacutelogo Portuguecircs de uma

notiacutecia do jornal O Seacuteculo do dia 25 de Fevereiro daquele ano que apelava agrave

intervenccedilatildeo das autoridades acerca do aparecimento de vaacuterios vestiacutegios

possivelmente romanos num siacutetio denominado ldquoAntasrdquo proacuteximo de Arruda do

Vinhos referindo-se ainda que ldquopelos matos tem apparecido varias especies de

dolmensrdquo (Cruz 1897) Esta informaccedilatildeo teraacute chamado a atenccedilatildeo de J L

Vasconcelos que em Abril procedeu a uma ldquoexcursatildeo aacute Arrudardquo para avaliaccedilatildeo das

ldquoantasrdquo (Vasconcelos 1915 p 318) suscitando o seu interesse em escavar a anta ali

identificada

A visita e o interesse de J L Vasconcelos confirmam-se tambeacutem pela

correspondecircncia do meacutedico de Arruda dos Vinhos Tito de Bourbon e Noronha

notaacutevel local que atentamente registava e comunicava ao seu amigo arqueoacutelogo as

antiguidades da regiatildeo Assim em carta de 13 de Abril de 1897 informa J L

Vasconcelos da recolha de ldquoum machado de pedra muito perfeito encontrado no

logar das antasrdquo manifestando a sua inteira disponibilidade para o receber sempre

que lhe aprouvesse (Noronha 1897a) Tal oportunidade parece ter surgido em 13 de

Junho daquele ano mas a acccedilatildeo teve que ser adiada pois nesse dia de Domingo

comemorava-se o Santo Antoacutenio e ldquonatildeo se podem arranjar os homens precisos o

nosso povinho pella-se por uma festinhardquo (Noronha 1897b)

Soacute no ano seguinte se concretizou a intervenccedilatildeo pretendida cerca de dezasseis

meses depois da primeira tentativa durante o fim-de-semana de 28 e 29 de Outubro

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 166 de 415

(Vasconcelos 1898) Alguns dias antes a 25 de Outubro T B Noronha informa J

L Vasconcelos dos preparativos ldquoHaacute caacute os crivos escusas de trazer caacute fallo a

alguns homens com as precisas alfaias A occasiatildeo agora eacute boa estaacute bom tempo e

pouco quenterdquo (Noronha 1898a) No entanto os trabalhos natildeo foram completados

naqueles dois dias apesar da notiacutecia de O Seacuteculo do dia 6 de Novembro falar dos

trabalhos como concluiacutedos Havia que repor as terras para salvaguarda do sepulcro

mas de tal natildeo se encontrou notiacutecia confirmando a acccedilatildeo mas tatildeo soacute a referecircncia agrave

sua intenccedilatildeo cerca de um mecircs mais tarde (27 de Novembro) por causa das chuvas

ldquoO Joseacute Romatildeo estaacute aacute espera de occasiatildeo para laacute ir e eu um drsquoestes dias passando

pelo Casal pedi aos homens que se removessem alguma terra para dentro da anta

como tencionam o fizessem com a maacutexima cautella e procurassem bem a ver se

encontravam qualquer objecto mesmo pequenordquo (Noronha 1898b)

Estranhamente o relatoacuterio referente agravequela intervenccedilatildeo nunca chegou a ser

publicado por J L Vasconcelos apesar da notiacutecia de O Seacuteculo (6Nov1898) o

anunciar e aquele arqueoacutelogo ter produzido um manuscrito preliminar para esse fim

Soacute anos mais tarde faz breve menccedilatildeo agrave intervenccedilatildeo da anta na Histoacuteria do Museu

Etnoloacutegico (1915 p 175 318 320) Os motivos para tal poderatildeo dever-se aos fracos

resultados da exploraccedilatildeo na opiniatildeo do seu escavador apesar de publicamente

destacar as ldquoduas esplecircndidas lanccedilas de siacutelex inteiras as quaes (hellip) soacute por si

compensam do rude trabalho que teverdquo (O Seacuteculo 1898) Contudo a falta de tempo

causada pelas diversas viagens que empreendeu durante os anos seguintes

nomeadamente pela Europa em 1899 e 1901 durante as quais concluiu o seu

doutoramento em Franccedila poderaacute tambeacutem ter sido um factor importante

Entretanto na deacutecada passada o referido manuscrito foi parcialmente

publicado por J L Gonccedilalves (1995) com partes significativas do texto bem como

os esboccedilos da planta e da secccedilatildeo da anta constantes no caderno de campo daquela

intervenccedilatildeo Contudo porque algumas passagens natildeo estatildeo completas apresenta-se

em Anexo 8 a transcriccedilatildeo integral da informaccedilatildeo do caderno de campo e do

manuscrito bem como os desenhos realizados

Jaacute anteriormente no acircmbito dos trabalhos do casal Leisner a anta da Arruda

teve parte do espoacutelio estudado e a sua planta apresentada (Fig 113 1 Leisner 1965

p 17-18 e taf 13) Contudo a planta difere no seu formato daquela registada

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 167 de 415

originalmente no caderno de campo de J L Vasconcelos (1898) Apesar de

apresentarem quase o mesmo nuacutemero de esteios (doze contra treze de J L

Vasconcelos) as plantas mostram uma cacircmara poligonal alongada (ainda que uma

delas com o canto Oeste mais anguloso aproximando-se da versatildeo alematilde) enquanto

aquela de V Leisner (1965 taf 13) surge com um formato trapezoidal assimeacutetrico a

partir da qual teraacute sido levantado um alccedilado da anta visto de oeste-sudoeste (Fig

111-112)

Curiosamente J L Vasconcelos (1898) refere no seu manuscrito que a planta

que iria apresentar se baseava em desenho de T Noronha o que natildeo foi possiacutevel

perceber totalmente pois as duas plantas do caderno de campo bem como outros

apontamentos soltos eram claramente produccedilatildeo do arqueoacutelogo (Fig 111) No

entanto quando os materiais da anta da Arruda me foram entregues para estudo

constava dentro de uma das caixas de papelatildeo restos de cartolina muito desagregada

e em pedaccedilos de dois desenhos tintados algo sumidos mais parecendo um pequeno

quebra-cabeccedilas notando-se ainda os furos de alfinetes nos cantos dando ideia de

terem estado afixados (numa vitrina) Os dois desenhos correspondem a uma planta

(com os esteios nomeados por letras escritas a laacutepis iguais agrave sequecircncia do esboccedilo de

J L Vasconcelos) e um alccedilado ambos na escala 1100 e titulados anta da Arruda

sem assinatura visiacutevel (fig 111 4-5) Estes deveratildeo corresponder agravequeles que V

Leisner (1965 p 17) menciona como fonte dos seus situando e datando-os nos

apontamentos produzidos por si e seu marido (ALeisner Leis97) em ldquoBeleacutem

181944rdquo Comparando os dois conjuntos graacuteficos eacute possiacutevel verificar algumas

diferenccedilas de pormenor bem como a falta de alguns elementos peacutetreos nos desenhos

alematildees ndash devendo-se isso ao referido sumiccedilo de alguns traccedilos mas tambeacutem porque

natildeo tiveram provavelmente acesso ao caderno de campo de J L Vasconcelos o que

teria facilitado uma melhor compreensatildeo das imagens Finalmente eacute provaacutevel que os

desenhos associados ao espoacutelio da anta correspondam aos referidos por J L

Vasconcelos baseados em esboccedilos de T Noronha

O facto do casal Leisner ter utilizado o desenho disponiacutevel no Museu e natildeo

realizar o registo in loco como fez para quase todas as antas de Lisboa entre 1943-

1944 deve-se com certeza a esta se encontrar jaacute destruiacuteda naquele periacuteodo o que eacute

referido (Leisner 1965 p 17) natildeo tendo subsistido ateacute os anos 70 como J L

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 168 de 415

Gonccedilalves (1995) indicava Tambeacutem porque se esta ainda existisse agravequela data com

certeza que Hipoacutelito Cabaccedilo conhecedor da regiatildeo e com quem o casal se

correspondia desde 1943 os levaria facilmente ao sepulcro natildeo se limitando a

transmitir-lhes uma localizaccedilatildeo sumaacuteria

Segundo as informaccedilotildees de J L Vasconcelos a anta da Arruda ficava dentro

do Casal das Antas de Baixo (Fig 111 e 29) Para Nordeste deste siacutetio existia ainda o

Casal das Antas de Cima a menos de um quiloacutemetro sem que o arqueoacutelogo ali

tivesse reconhecido mais algum sepulcro O substrato rochoso daquela aacuterea

corresponde agraves Margas da Abadia do periacuteodo Juraacutessico (SGP 1962 Zbyszweski e

Assunccedilatildeo 1965) Em trabalhos recentes alguns autores (Simotildees 1994 cit in Branco

2007) anotam a existecircncia de pelo menos duas antas (uma delas a de Arruda)

entretanto destruiacutedas Aquela indicaccedilatildeo no plural ainda que plausiacutevel precisaria de

comprovaccedilatildeo o que seraacute difiacutecil de obter

Em redor e dentro da anta o terreno servia de horta encontrando-se por isso

muito remexido e estrumado quedando-se os esteios do lado norte a menos de dois

metros dos edifiacutecios do casal Esta parecia assentar num ldquoaltinhordquo que J L

Vasconcelos via como possiacutevel vestiacutegio da mamoa entretanto muito danificada pelas

culturas (Vasconcelos 1898)

A anta era constituiacuteda por onze esteios in situ e dois possiacuteveis tombados natildeo

se verificando qualquer laje de cobertura Todos os ortoacutestatos eram segundo J L

Vasconcelos (1898) de ldquogreacutes micaacuteceo calcareifero ou de cimento calcaacutereo do

Juraacutessico Superiorrdquo tendo sido enumerados alfabeticamente (essencialmente no

sentido contraacuterio ao dos ponteiros do reloacutegio) e medidos sabendo-se que o mais alto

a pedra J media ainda 321 metros Apreciando as mediccedilotildees tomadas e a

reconstituiccedilatildeo do alccedilado realizado e posteriormente apresentado por V Leisner

(1965 taf 13) verifica-se alguma discrepacircncia na altura das pedras G C e D

(resultado da situaccedilatildeo atraacutes mencionada) mas sem que altere significativamente a

leitura geral

As dimensotildees do sepulcro permitem perceber porque o seu interior era

utilizado como horta Apresentava um comprimento de 771 metros entre o esteio de

cabeceira e o limite dos esteios da entrada (pontos c-d-e) e uma largura maacutexima de

45 metros (pontos f-g) estreitando gradualmente para a entrada primeiro com 231

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 169 de 415

metros (pontos a-b) e finalmente com uns estimados 127 metros (pontos h-i)

Considerando a altura meacutedia provaacutevel dos esteios da cacircmara nos 321 metros este

sepulcro teria um tamanho consideraacutevel da cabeceira ao esteio de entrada (pedra F)

que ainda se apresentava com 182 m de altura Contudo apesar de J L Vasconcelos

ter mandado escavar uma vala com cerca de 3x2 metros a este dos esteios de entrada

detectados atingindo o solatildeo apoacutes 20 cm natildeo foram detectados indiacutecios do corredor

admitindo este no entanto que aqueles caiacutedos (pedras K e M) e a pedra F seriam a

ldquogaleriardquo De facto como jaacute foi referido acima esta anta apresentava uma cacircmara

com um plano trapezoidal assimeacutetrico no qual o corredor surgia pouco ou nada

diferenciado o que eacute possiacutevel verificar noutros sepulcros da regiatildeo

Os apontamentos da intervenccedilatildeo na anta da Arruda de J L Vasconcelos

revelam agrave data o conhecimento que este tinha daquelas estruturas sepulcrais

escavadas em momentos anteriores ainda que nas Beiras e Alentejo com

especificidades locais (Vasconcelos 1897 e 1915) Primeiramente a planta

produzida de iniacutecio de formato poligonal com um esteio de cabeceira ladeado por

outros esteios parece denotar alguma ideia preconcebida para aquele tipo de

sepulcro que eacute depois alterada para se conformar com a realidade final da escavaccedilatildeo

Por outro lado regista natildeo soacute as caracteriacutesticas presentes mas tambeacutem as ausentes

ldquoo solo ou chatildeo da anta natildeo estava coberto de lajes de como noutras acontecerdquo bem

como ldquonatildeo apresentam covinhas artificiais nem qualquer insculptura ou pinturardquo

(Vasconcelos 1898) Sendo a primeira anta em que intervinha na Baixa

Estremadura eacute de registar aquela anotaccedilatildeo de ausecircncias como prenuacutencio de algumas

das caracteriacutesticas das antas de Lisboa

A exploraccedilatildeo teraacute contado para aleacutem de J L Vasconcelos com dois e cinco

homens no primeiro e segundo dias respectivamente Um desses homens seria Joseacute

Romatildeo acima referido como o indiviacuteduo que iria proceder agrave reposiccedilatildeo das terras

bem como T Noronha que produziu um desenho da planta do sepulcro

Ainda que tenha verificado a referecircncia a crivos durante a preparaccedilatildeo da

escavaccedilatildeo julgo que a crivagem das terras natildeo teraacute sido sistemaacutetica pois os cuidados

realccedilados mais tarde para a reposiccedilatildeo daquelas levantam a duacutevida de terem sido de

facto peneiradas A crivagem das terras era normalmente realizada indirectamente

depois de amontoadas por montiacuteculos ou natildeo procedia-se agrave sua peneiraccedilatildeo no final

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 170 de 415

da intervenccedilatildeo praacutetica pressentida nas escavaccedilotildees de C Ribeiro (1880) mas que se

registava na escavaccedilatildeo da anta das Cabeccedilas Alentejo nos anos 40 (Leisner e

Leisner 1944 ALeisner Leis45) ou ainda em Carcavelos nos anos 80 (Capiacutetulo

4153) No presente caso julgo que os fracos resultados bem como as chuvas nas

semanas seguintes que transformaram ldquoaquelle montezinho de terra archaeologica

em um charco de lama moderniacutessimardquo (Noronha 1898b) teratildeo impedido a

conclusatildeo da tarefa de crivagem Isso tambeacutem explicaria a ausecircncia de espoacutelio de

reduzidas dimensotildees nomeadamente pequenos liacuteticos e dentes humanos

A estratigrafia verificada por J L Vasconcelos resumia-se a trecircs camadas a

superficial com ldquorelvardquo a de ldquoentulhordquo com cerca de 051 metros (uma primeira

anotaccedilatildeo regista 042 metros mas resultaraacute do somatoacuterio com o topo de 09 m) onde

surgiu algum espoacutelio e o solatildeo ou solo natural cuja superfiacutecie correspondia ao piso

do sepulcro encontrando-se sobre ele a maior parte dos objectos funeraacuterios e nele

foram escavados os alveacuteolos de implantaccedilatildeo dos esteios

O registo dos achados foi realizado por J L Vasconcelos sobre a primeira

planta produzida ainda com um formato poligonal pelo que se apresenta aquela

planta e a posterior (presumivelmente mais fidedigna) para comparaccedilatildeo e

esclarecimento das proveniecircncias dos objectos

Tendo em conta a eacutepoca a localizaccedilatildeo dos achados foi relativamente rigorosa

apesar do seu escavador concluir que tudo estaria remexido Graccedilas agravequele cuidado

foi possiacutevel verificar que alguns dos materiais poderatildeo ter sido recolhidos mais ou

menos no tiacutepico contexto de sepulcro muitas vezes remexido natildeo soacute em periacuteodos

recentes mas jaacute em eacutepoca coeva das deposiccedilotildees funeraacuterias Tal seraacute o caso do torratildeo

com ossos recolhido junto agrave cabeceira (MNA 5569) ou de outros objectos recolhidos

sobre o piso do sepulcro Assim analisando a dispersatildeo dos objectos nota-se uma

concentraccedilatildeo na entrada e outras mais reduzidas junto agrave base de alguns esteios

Apesar de escasso o espoacutelio revela-se significativo permitindo deduzir uma

ocupaccedilatildeo relativamente coesa e natildeo demasiado extensa no tempo

O apontamento de campo lista os achados com a correspondente legenda de

localizaccedilatildeo pela ordem de recolha (Fig 112 1) No entanto depois de concluir que

tudo estava remexido o esboccedilo para publicaccedilatildeo apresenta apenas uma listagem

sistemaacutetica e organizada por tipos de materiais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 171 de 415

Se no caso de alguns objectos eacute ainda possiacutevel identificar a sua localizaccedilatildeo

noutros tal desiderato eacute hoje impossiacutevel Eacute esse o caso da maioria dos restos oacutesseos

humanos e fauniacutesticos e dos fragmentos ceracircmicos Por outro lado desde que os

materiais deram entrada no Museu Etnoloacutegico (actualmente Museu Nacional de

Arqueologia) algumas das peccedilas ter-se-atildeo extraviado por exemplo natildeo foi ainda

possiacutevel localizar uma ldquogoivardquo (que pelas dimensotildees atribuiacutedas ndash 14 cm de

comprimento por 65 cm de diacircmetro ndash poderia ser uma enxoacute) trecircs ldquoinstrumentos em

dioriterdquo gastos (que segundo J L Vasconcelos a serem de facto semelhantes ao

machado sobrevivente seratildeo de anfibolito) diversas lascas de siacutelex e quartzito bem

como uma de ldquomachado polidordquo uma placa de ldquocalcareo argilosordquo que ldquoserviu de

moacute ou amoladeirardquo e um fragmento de iacutedolo-placa em xisto da qual o casal Leisner

apenas pode aproveitar o desenho em tamanho real produzido por J L Vasconcelos

ndash aliaacutes deveria existir um desenho da peccedila no tabuleiro pois tudo indica que os

Leisner natildeo consultaram o caderno de campo do escavador onde este tinha de facto

um esboccedilo da placa

Entretanto com o estudo desenvolvido no MNA foi possiacutevel verificar que duas

peccedilas atribuiacutedas agrave anta de Belas satildeo com certeza da anta da Arruda 1 um

fragmento de topo ou base de um iacutedolo ciliacutendrico (MNAndash 5100C) com dimensotildees e

patina idecircnticas aos fragmentos atribuiacutedos agrave Arruda e cuja ficha do nuacutemero de

inventaacuterio referia ter surgido ldquosem indicaccedilatildeo de procedecircnciardquo junto com peccedilas de

Belas Por outro lado J L Vasconcelos apontava 4 fragmentos de rodelas de

calcaacuterio existindo actualmente apenas trecircs 2 um fragmento de taccedila (MNA-

9846781) com marcas de fabrico de roda com a superfiacutecie interna negra lustrosa

correspondendo a peccedila descrita pelo arqueoacutelogo Para ambos os achados eacute ainda de

referir que nas receacutem reencontradas fichas antigas de inventaacuterio do actual MNA para

peccedilas provenientes da colecccedilatildeo organizada por Pereira da Costa na Escola

Politeacutecnica referentes agrave anta de Belas aqueles natildeo satildeo mencionados

Finalmente um fragmento de moacute dormente em conglomerado (MNA- 5566)

atribuiacutedo agrave anta da Arruda natildeo surge mencionado no inventaacuterio de J L

Vasconcelos Ainda por cima surge com uma etiqueta colada (inexistente para o

restante espoacutelio da Arruda) mas infelizmente com o escrito muito desgastado

apenas sendo possiacutevel ler qualquer coisa como ldquo[pedra de moacute] ([ilegiacutevel] Sul)rdquo o

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 172 de 415

que faz lembrar as menccedilotildees nas fichas antigas mencionadas atraacutes indicando na

mesma caligrafia ldquotalvez do Sulrdquo ou ldquoProvavelmente do Sulrdquo

Resumindo entre presentes e ausentes os materiais recolhidos na anta da

Arruda foram os seguintes (Fig 113-114)

Pedra lascada ndash duas grandes pontas bifaciais de siacutelex talvez lacircminas de lanccedila

ou punhal (Leisner 1965 taf 13 5 e 6) ainda que S Forenbaher (1999 p 153 Anta

da Arruda nordm 3) apontasse uma terceira peccedila remetendo a informaccedilatildeo para E Jalhay

(1947 p 42) o que natildeo se verifica sendo talvez resultado de algum lapso duas

lacircminas pouco ou nada retocadas em siacutelex um nuacutecleo de lamelas de quartzo hialino

originalmente um cristal prismaacutetico e algumas lascas de siacutelex e quartzito estas jaacute

natildeo localizadas

Pedra polida ndash Um machado poligonal trecircs possiacuteveis ldquomachados gastosrdquo uma

ldquogoivardquo e algumas lascas de instrumento polido

Pedra afeiccediloada ndash um fragmento de moacute dormente em greacutes negro um percutor

sobre noacutedulo de siacutelex e uma placa ldquoamoladeirardquo em ldquocalcaacuterio argilosordquo

Outros liacuteticos ndash uma conta esferoidal em pedra verde (designada por J L

Vasconcelos ldquoribeiriterdquo) 4 fragmentos de iacutedolo ciliacutendrico em calcaacuterio podendo

corresponder a um nuacutemero miacutenimo de uma ou duas peccedilas e um fragmento de iacutedolo-

placa em xisto que o arqueoacutelogo destaca pelo peculiar desenho mas com paradeiro

desconhecido

Ceracircmica ndash para aleacutem da taccedila de roda mencionada atraacutes regista-se apenas dois

fragmentos de vasos com decoraccedilatildeo impressa com roleta lembrando as decoraccedilotildees

campaniformes Os restantes fragmentos com coacutedigo atribuiacutedos agrave anta da Arruda natildeo

permitem reconstituiccedilatildeo mas as suas pastas assmelham-se agraves preacute-histoacutericas

Finalmente os restos osteoloacutegicos humanos e fauniacutesticos resumem-se a uma

pequena quantidade de fragmentos estudados respectivamente pela antropoacuteloga

Cidaacutelia Duarte e pela arqueozooacuteloga Marta Moreno cujos resultados seratildeo discutidos

noutros capiacutetulos

No manuscrito de J L Vasconcelos (1898) nota-se ainda que este pretendia

desenvolver alguns aspectos essenciais como o tipo de enterramento a proveniecircncia

de mateacuterias-primas de outras regiotildees e a comparaccedilatildeo com outras antas e os seus

espoacutelios Talvez por isso a notiacutecia de ldquoO Seacuteculordquo (6111898) faccedila referecircncia agrave

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 173 de 415

colheita de ldquoelementos para determinar relaccedilotildees sociaes ou ethnicas entre a tribu

que ali estanciou e outras da Estremadura mas de pontos afastados drsquoaquelle

localrdquo

Face aos resultados expostos eacute possiacutevel admitir que a anta teraacute sido de facto

mexida e alguns dos seus elementos eventualmente retirados Contudo entre o

espoacutelio que nos chegou haacute peccedilas passiacuteveis de uma atribuiccedilatildeo cronoloacutegica geneacuterica

Assim a presenccedila de pedra polida (com uma goiva) lacircminas pouco ou nada

retocadas e um nuacutecleo de lamelas poderia estar relacionada com um primeiro

momento algures nos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm e iniacutecios do 3ordm mileacutenios ane e ao qual

corresponderia a dataccedilatildeo Beta-229584 de 3330-2910 cal BCE (Anexo 3 Quadro 2)

sobre um raacutedio direito humano retirado do torratildeo de terra depositado junto ao esteio

de cabeceira (com 811 de probabilidade restringe-se a 3120-2910 BCE) Neste

acircmbito tambeacutem seria plausiacutevel o iacutedolo-placa de xisto e as grandes pontas bifaciais

Todavia estas uacuteltimas e os iacutedolos calcaacuterios poderiam situar-se jaacute em plena primeira

metade do 3ordm mileacutenio ane Finalmente os fragmentos de ceracircmica decorada a

pontilhado remetem para a presenccedila campaniforme e os meados e seacuteculos seguintes

daquele mileacutenio

418 Pedras da Granja

A anta de Pedras da Granja (CNS-91) tambeacutem conhecida por Pedras Altas

(Zbyszweski et al 1977) Pedra Erguida Pedras Brancas ou de Meirames (Serratildeo

1982-83) e Vaacuterzea (Cunha e Silva 2000) teve a sua primeira notiacutecia em 1958 por

intermeacutedio de O V Ferreira (1959) no Congresso de Nacional de Arqueologia

listando-a entre os monumentos megaliacuteticos de Lisboa Entretanto E Serratildeo (1982-

83) apoacutes a notiacutecia da escavaccedilatildeo do sepulcro reclama a primazia da identificaccedilatildeo e

registo desta anta no final da Primavera de 1950 juntamente com E Prescott Vicente

e A Ricardo Belo de que produziram alguns apontamentos Contudo importa

clarificar que a designaccedilatildeo de Pedras Brancas teraacute resultado de alguma confusatildeo do

autor pois atribuiacutea-a ao artigo de G Zbyszweski e colaboradores (1977) o que natildeo

acontece talvez por confusatildeo com a anta de Pedra Branca (Melides) entatildeo publicada

pelos mesmos autores (Ferreira et al 1975)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 174 de 415

A intervenccedilatildeo arqueoloacutegica deste siacutetio foi ensaiada por E Serratildeo e

colaboradores em 1950 tendo apenas desenvolvido ldquoum singelo projecto de

escavaccedilatildeo do dolmenrdquo que se iniciou ldquopela abertura de duas pequenas trincheiras

perpendiculares agraves faces internas dos esteiosrdquo (Serratildeo 1982-83 p 23 e fig 7)

podendo a depressatildeo com paredes rectas assinalada na secccedilatildeo ldquoCCrdquo produzida pelos

escavadores posteriores (Zbyszweski et al 1977 fig 3) corresponder-lhe Mas

dessa primeira acccedilatildeo superficial apenas se recolheram ldquoalguns pequenos e

inexpressivos fragmentos de quartzo hialinordquo (Serratildeo 1982-83 p 23) Referia-se

ainda a possiacutevel relaccedilatildeo entre aglomerados de pedras num arco de ciacuterculo a cerca de

25 m dos ortoacutestatos do sepulcro como eventuais resquiacutecios de mamoa (Serratildeo 1982-

83 p 23 e fig 8) algo que os investigadores posteriores natildeo valorizaram natildeo se

percebendo se devido agrave inexistecircncia de tal realidade por natildeo a terem detectado ou

porque teria desaparecido entretanto Nas vaacuterias visitas realizadas ao local natildeo me foi

possiacutevel verificar tal estrutura que em parte poderaacute dever-se ao coberto vegetal

actual ou agrave degradaccedilatildeo da envolvente

A escavaccedilatildeo arqueoloacutegica sistemaacutetica da anta apenas se concretizou em 1973

com os elementos da equipa dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal e seus

colaboradores (Zbyszweski et al 1977) que desenvolveram os trabalhos durante

vaacuterios meses totalizando cerca de 25 dias de trabalho de campo natildeo consecutivos

No iniacutecio da deacutecada de 90 o monumento foi alvo de destruiccedilatildeo na sequecircncia

de um loteamento da aacuterea (informaccedilatildeo pessoal de Teresa Simotildees) sendo hoje visiacutevel

entre o mato que o cobre um monte de escombros encostado ao esteio do lado sul

(A) aparentemente ainda in situ mas quebrado A necessaacuteria e importante re-

escavaccedilatildeo do sepulcro para avaliaccedilatildeo concreta dos danos causados natildeo foi ainda

realizada

O sepulcro foi implantado numa aacuterea aberta e suave sem relevos abruptos em

calcaacuterios do Cretaacutecico ndash Cenomaniano meacutedio e inferior com calcaacuterios e margas

(Belasiano) (Zbyszweski et al 1977 SGP 1991 Ramalho et al 1993)

aproveitando as diaacuteclases incipientes resultantes do processo caacutersico como alveacuteolos

dos esteios De acordo com os autores os ortoacutestatos eram de calcaacuterio local e de greacutes

calcaacuterio Presume-se entatildeo que este uacuteltimo tipo de rocha teraacute sido obtido a maior

distacircncia pois segundo a Carta Geoloacutegica de Portugal na escala 1 50000 (SGP

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 175 de 415

1991) apenas a cerca de 1 km para este-nordeste da anta em Alpolentim existe uma

mancha de greacutes calcaacuterio podendo ser o este o seu local de proveniecircncia

Agrave data da sua identificaccedilatildeo o sepulcro tinha apenas visiacutevel um par de duas

grandes lajes (A e E) ligeiramente inclinadas integradas num muro de pedra seca

que corria e separava o caminho rural de uma propriedade (Fig 118 2-3) No seio da

intervenccedilatildeo veio a verificar-se a existecircncia de mais alguns elementos peacutetreos ainda

in situ demarcando o recinto da cacircmara soterrados sob o caminho Natildeo consta no

trabalho publicado qualquer menccedilatildeo a um possiacutevel tumulus (Zbyszweski et al

1977)

Os escavadores desenvolveram a intervenccedilatildeo com uma primeira vala de

sondagem (ldquotrancheacutee de reconnaissancerdquo) com cerca de 3 metros por 090 m de

largura implantada paralelamente ao esteio a sudeste (A) e a cerca de 025 m deste

(Fig 115) A partir dos bordos dessa sondagem estabeleceram um quadriculado

segundo a planta apresentada (Zbyszweski et al 1977 fig 1) segmentado agora de

meio em meio metro aproximadamente com um sistema de referecircncia alfanumeacuterico

SE-NW numeacuterico NE-SW alfabeacutetico Por sua vez cada quadriacutecula foi dividida em

quadrantes numerados de 1 a 4 a partir do canto inferior direito Segundo estas

informaccedilotildees presume-se que a vala de sondagem compreendeu inicialmente a aacuterea

correspondente agraves quadriacuteculas C3-C4 D3-D4 E3-E4 F3-F4 G3-G4 e H3-H4 (Fig

115)

A escavaccedilatildeo iniciou-se com a decapagem de terra arenosa superficial onde se

recolheu por exemplo um fragmento de iacutedolo-placa em G42 mas a cerca de 013

m aquela camada mudava de cor para castanho-amarelada e apresentava uma

textura mais argilosa Segundos os escavadores aquele estrato revelou-se esteacuteril ateacute agrave

profundidade de 033-035 m a partir da qual se encontrava o espoacutelio arqueoloacutegico

por sua vez assente no substrato rochoso sobretudo nas diaacuteclases do afloramento

calcaacuterio que atingia cerca de 110 m

De acordo com o relato diaacuterio dos trabalhos desenvolvidos a intervenccedilatildeo foi

realizada por quadriacuteculas descendo-se ateacute ao substrato rochoso nalguns pontos pela

diaacuteclase adentro alargando-se dessa forma agrave restante aacuterea do sepulcro A imagem

apresentada da aacuterea escavada ilustra a escavaccedilatildeo faseada de acordo com as referidas

quadriacuteculas (Zbyszweski et al 1977 fig 15)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 176 de 415

O sepulcro apresentava ainda in situ os dois esteios quase completos (A e E)

ambos com cerca de 26 metros de altura (Fig 116 e 116a) bem como outros trecircs

fracturados quase pela base (B C e D) No local onde se implantaria o esteio de

cabeceira natildeo se localizou qualquer elemento peacutetreo digno dessa classificaccedilatildeo mas

apenas vaacuterias lascas de calcaacuterio (Fig 115 e 117) Aleacutem disso teraacute sido possiacutevel

definir um provaacutevel alveacuteolo com base em algumas provaacuteveis pedras de calccedilo e uma

aparente aacuterea de assentamento do esteio no substrato rochoso (Zbyszweski et al

1977 p 211 e fig 1) Diria ainda que seguindo o mesmo criteacuterio eacute possiacutevel admitir

a presenccedila de outro esteio do lado oeste da cabeceira local com uma concentraccedilatildeo

alongada e inusitada de achados num espaccedilo sem muitas pedras assemelhando-se ao

preenchimento do espaccedilo resultante do arranque de uma laje

Apesar de se ter escavado parcialmente a aacuterea a sudeste dos esteios A e E a

interpretaccedilatildeo proposta de um corredor com muretes em pedra seca natildeo se afigura

convincente sobretudo porque tais ldquovestiacutegiosrdquo se encontravam quase na superfiacutecie

Mas tambeacutem porque coincidem com o muro de propriedade Por outro lado os

achados recolhidos sobretudo na diaacuteclase rareavam para aleacutem da aacuterea de entrada da

cacircmara o que a existir uma passagem ocorreriam mais aleacutem como se verificou

noutros sepulcros megaliacuteticos analisados neste trabalho Assim concluo que natildeo foi

possiacutevel identificar indiacutecios concretos do corredor porque este natildeo existia ou porque

foi erradicado no troccedilo imediato que foi escavado Talvez com a reavaliaccedilatildeo do

monumento essa questatildeo pudesse ser verificada

Tambeacutem talvez por influecircncia do referido muro de propriedade foram

registadas vaacuterias lajetas horizontais na camada superficial que foram interpretadas

como restos de uma falsa cuacutepula o que pelos dados disponiacuteveis julgo ser pouco

verosiacutemil

A planta trapezoidal proposta pelos autores parece basear-se numa leitura

limitada aos esteios sobreviventes e ao seu imbricamento Contudo face aos dados

disponiacuteveis e agrave leitura proposta acima julgo que eacute possiacutevel inferir um sepulcro com

uma cacircmara poligonal de sete esteios com cerca de 440 m de largura por 4 m de

comprimento sem corredor aparente desconhecendo-se o tipo de cobertura utilizada

ainda que se presuma uma grande laje (Fig 115)

O registo efectuado para os materiais recolhidos permite verificar

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 177 de 415

genericamente o seu posicionamento (Fig 117) mas com algumas limitaccedilotildees a

localizaccedilatildeo espacial dos achados foi apresentada em trecircs planos estabelecidos a

posteriori sabendo-se a altimetria apenas para algumas peccedilas sobretudo dos restos

humanos Por outro lado as altimetrias anotadas foram essencialmente efectuadas na

primeira quinzena de trabalhos notando-se um registo mais vago na segunda fase

Finalmente porque hoje soacute se conhece o paradeiro de parte dos materiais recolhidos

e nem sempre a descriccedilatildeo foi suficientemente pormenorizada eacute complexo elaborar

demasiado acerca de algumas dessas peccedilas Por isso apenas considerei pertinente

identificar espacialmente entre aquelas que o permitiam as peccedilas com maior

significado cronoloacutegico procurando perceber de alguma forma um possiacutevel

faseamento de utilizaccedilatildeo (Fig 117)

O espoacutelio desta anta teraacute sofrido ainda ao longo do tempo e antes da

intervenccedilatildeo arqueoloacutegica remobilizaccedilatildeo mais ou menos severa em parte devido ao

arranque dos esteios ausentes Por exemplo os fragmentos dos vasos campaniformes

MASMO-PGNC9923 (Zbyszweski et al 1977 invent nordm 92 193 e 444 e fig 9 4)

e MASMO-PGNC9927 (Zbyszweski et al 1977 invent nordm 56 58 122 e 224 e fig

9 3) encontravam-se dispersos pela cacircmara sobretudo na aacuterea mais perturbada a

oeste-noroeste (Fig 117) Aproximadamente na mesma aacuterea recolheram-se vaacuterios

fragmentos de recipientes ceracircmicos das Idades do Bronze e do Ferro

nomeadamente deste uacuteltimo periacuteodo um vaso negro com brunido bem marcado

tambeacutem este quebrado e disperso (MASMO-PGNC9920 (Zbyszweski et al 1977

invent nordm 93 218B 434 e 459 e fig 10 23) Nas diaacuteclases sobretudo aquelas menos

afectadas na parte este-sudeste da cacircmara surgiram alguns dos elementos mais

antigos e mais intactos particularmente taccedilas quase completas (PGNC9903 e

PGNC9904 Zbyszweski et al 1977 fig 9 7 e 10 31) ou os instrumentos em

pedra polida e um iacutedolo calcaacuterio Contudo porque natildeo eacute possiacutevel adscrever todos os

artefactos a uma posiccedilatildeo efectiva esta assumpccedilatildeo deveraacute ser contida Inclusive

porque o grau de influecircncia dos processos tafonoacutemicos na sua formaccedilatildeo eacute

desconhecido

A localizaccedilatildeo de ldquorestes humainsrdquo ldquoos humains concentraisrdquo e ldquoinhumationsrdquo

designadas de H1 a H48 significando provavelmente o H a espeacutecie Homo Sapiens

Sapiens teve algum destaque no relatoacuterio produzido Nas primeiras semanas havia

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 178 de 415

maior detalhe na sua descriccedilatildeo chegando a identificar-se o tipo de osso recolhido

Posteriormente as concentraccedilotildees de ossadas passaram a ser designadas por

ldquoinumaccedilotildeesrdquo Contudo as provaacuteveis 48 deposiccedilotildees (Fig 117) deveratildeo ser

consideradas apenas meras concentraccedilotildees de restos humanos por vezes espartilhadas

de forma artificial em parte por causa da metodologia de escavaccedilatildeo ndash no entanto

graccedilas a um pouco mais de detalhe na informaccedilatildeo eacute possiacutevel admitir que H10 e H11

juntos pudessem corresponder a uma inumaccedilatildeo com provaacutevel conexatildeo anatoacutemica

mas infelizmente o registo dessas ossadas foi insuficiente e hoje desconhece-se o seu

paradeiro concreto

O estudo antropoloacutegico produzido por E Cunha e A M Silva (2000) acerca de

um conjunto osteoloacutegico atribuiacutedo agrave anta da Vaacuterzea isto eacute Pedras da Granja

(algumas ainda marcadas com a denominaccedilatildeo de ldquoinumaccedilatildeordquo por exemplo H45 e

com um novo coacutedigo V1 V2 etc) reforccedila a ideia do nuacutemero excessivo de indiviacuteduos

presumidos mesmo que o espoacutelio estudado aparente estar truncado ndash resume-se

sobretudo a fragmentos de maxilares mandiacutebulas e dentes infelizmente com a

maioria das designaccedilotildees originais sumidas e substituiacutedas pela marcaccedilatildeo ldquoVrdquo natildeo

tendo sido possiacutevel por exemplo identificar as ossadas de H10 ou H11 com ossos

longos associados Assim com uma amostra significativa de peccedilas da face registou-

se a presenccedila de indiviacuteduos de vaacuterias idades mas o seu nuacutemero miacutenimo natildeo

ultrapassou as dezasseis unidades (Cunha e Silva 2000)

Jaacute depois deste capiacutetulo se encontrar mais ou menos definido localizei nos

fundos do Museu Geoloacutegico no Veratildeo de 2008 ainda que sob denominaccedilatildeo

equivocada (S Caetano MG-390) um conjunto de quatro ldquodeposiccedilotildeesrdquo da ldquoVaacuterzeardquo

H9 H19 H26 e H47 ainda com os ossos agrupados em sacos separados tal como

presumo exumados originalmente Seraacute pois uma oportunidade no futuro para

verificar a possibilidade de corresponderem a enterramentos especiacuteficos

Perante os dados da escavaccedilatildeo os autores (Zbyszweski et al 1977 p 224)

apontavam a existecircncia de trecircs niacuteveis arqueoloacutegicos ilustrando essa sequecircncia com a

distribuiccedilatildeo de achados (Zbyszweski et al 1977 fig 3 6 7 e 8)

1Um superior com campaniforme

2Um meacutedio que continha ainda campaniforme mas confundia-se

com o niacutevel inferior devido agrave utilizaccedilatildeo das bancadas e das diaacuteclases

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 179 de 415

3Um niacutevel de base mais antigo com o depoacutesito de corpos mais ou

menos in situ

Contudo assinalam a possibilidade de alguns enterramentos intrusivos

nomeadamente H24 (Zbyszweski et al 1977 p 206) mas tambeacutem duas bolsas

onde indicavam as ldquoinumaccedilotildeesrdquo H18 H25 e H31 (Zbyszweski et al 1977 fig 3)

curiosamente natildeo coincidindo genericamente com as aacutereas de proveniecircncia das

peccedilas ceracircmicas de periacuteodos mais recentes

Dessa forma eacute difiacutecil aceitar o faseamento proposto aliaacutes contraditado pelo

proacuteprio espoacutelio preacute-histoacuterico quando analisado em detalhe onde foi possiacutevel

Actualmente apenas se conhece o paradeiro de uma parte do rico espoacutelio

exumado e listado desta anta Assim para aleacutem da receacutem-descoberta mencionada

atraacutes esse conjunto conhecido encontra-se depositado no Museu Arqueoloacutegico

Municipal de Satildeo Miguel de Odrinhas (MASMO) parte integrada em 1986 entregue

directamente por um dos escavadores M Leitatildeo e outra do mesmo autor em 1999

por intermeacutedio de J L Cardoso (informaccedilatildeo pessoal de T Simotildees)

No acircmbito dos objectos lascados registam-se dez nuacutecleos prismaacuteticos de

lamelas 8 em quartzo hialino em dois deles notando-se ainda parte das faces do

cristal original (MASMO-PGNC9935 e 36) Os restantes dois nuacutecleos foram

obtidos de cristais de quartzo leitoso notando-se ainda algumas das superfiacutecies

originais (MASMO-PGNC9938 e 39)

Apesar de se encontrarem em parte incerta eacute possiacutevel saber pela listagem de

materiais que teratildeo sido recolhidas cerca de 61 lacircminas todas em siacutelex ou rochas

afiliadas A partir das dimensotildees e caracteriacutesticas gerais fornecidas no inventaacuterio

apresentado verifica-se que apenas 9 se enquadrariam no grupo de pequenas lacircminas

e lamelas cinco das quais retocadas Assim as restantes corresponderiam a lacircminas

espessas e retocadas algumas ainda com dimensatildeo consideraacutevel (Zbyszweski et al

1977 est III)

Os geomeacutetricos resumem-se a trecircs provaacuteveis peccedilas em siacutelex Um deles

claramente trapezoidal (MASMO-PGNC8632) outro um fragmento de um

possiacutevel crescente (MASMO-PGNC8631) que tambeacutem poderia ser uma ponta de

seta e finalmente uma lasca com um formato triangular assimeacutetrico (MASMO-

PGNC8633) assemelhando-se a um geomeacutetrico aparentemente retocado na ponta

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 180 de 415

(Fig 119 7-9)

As 28 pontas de seta satildeo em siacutelex (Fig 119 10-18 120) com a excepccedilatildeo de

uma em xisto silicioso acinzentado (MASMO-PGNC8630) A maioria das pontas

apresenta a base convexa sobretudo triangular e apenas 6 tecircm uma base cocircncava

incluindo a ponta em xisto Neste uacuteltimo agrupamento uma destas apresenta a sua

extremidade distal com as caracteriacutesticas de uma ponta de seta do tipo mitriforme

(Fig 120 11 MASMO-PGNC864)

Foi ainda recolhido uma grande ponta bifacial de siacutelex talvez um punhal ou

ponta de lanccedila (Zbyszweski et al 1977 est III 53) de que se desconhece o

paradeiro

Do conjunto de dezenas de raspadores lascas algumas retocadas e restos de

talhe apenas se encontram actualmente 4 lascas duas das quais de grande tamanho

Aleacutem dessa regista-se uma outra lasca com alguns retoques recolhida na sequecircncia

da destruiccedilatildeo da anta

Face ao registo de outros sepulcros os instrumentos de pedra polida nesta anta

satildeo relativamente abundantes (Fig 121 1-7) totalizando 4 machados em anfibolito

com secccedilotildees poligonais 2 enxoacutes em xisto anfiboacutelico com secccedilotildees arredondadas

achatadas e uma goiva em anfibolito com secccedilatildeo poligonal Aleacutem destas peccedilas

listam-se ainda mais dois fragmentos de enxoacutes (Zbyszweski et al 1977 invent nordm

187 e 371) actualmente perdidos

Os artefactos votivos recolhidos nesta anta limitaram-se a um iacutedolo plano-

convexo afuselado em calcaacuterio sem gravaccedilatildeo evidente (Fig 121 8 MASMO-

PGNC8659) e a um iacutedolo-placa completo (Fig 121a MASMO- PGNC8650) e

fragmentos de outros infelizmente extraviados Se o uacuteltimo tipo de artefacto surge

normalmente em nuacutemeros reduzidos a raridade do primeiro resulta surpreendente

sobretudo quando em sepulcros coevos estes elementos surgem em maior nuacutemero

Os elementos em osso (Fig 122 7-11) resumem-se a 2 furadores (MASMO-

PGNC8654 e 55) trecircs fragmentos de haste de alfinete de cabelo e alguns

fragmentos de ossos com sinais de polimento sem possibilidade de identificaccedilatildeo do

artefacto Aleacutem destes haacute um pedaccedilo de uma peccedila que poderaacute corresponder a um

possiacutevel pente votivo (MASMO-PGNC8658) e um botatildeo ldquoen os ou en ivoire (hellip)

en forme de carapace de tortuerdquo e perfuraccedilatildeo em ldquoVrdquo (Zbyszweski et al 1977

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 181 de 415

invent nordm 11 e est II 19) de que actualmente se desconhece o paradeiro

Aleacutem dos possiacuteveis elementos de adorno em osso recolheram-se ainda cerca

de 133 contas discoidais em xisto uma em concha e outra em osso (Zbyszweski et

al 1977) Contudo apenas as outras contas em pedra verde (fig 122 1-6) se

encontram depositadas no Museu correspondendo agravequelas listadas pelos

escavadores excepto uma discoidal Estas apresentam formatos ciliacutendricos alguns

ligeiramente ovalados Haacute ainda uma conta bitroncocoacutenica (MASMO- PGNC8649)

em rocha negra classificada pelos autores como provaacutevel azeviche

Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a elementos metaacutelicos recolhidos nesta anta

Os recipientes ceracircmicos recolhidos eram abundantes e apresentavam

aparentemente fragmentos facilmente reconstituiacutedos (Fig 123-124) para aleacutem dos

cerca de 158 fragmentos mencionados sem aparente leitura Infelizmente apenas um

pequena parte consta hoje do acervo conhecido pelo que se torna impossiacutevel

verificar a validade das classificaccedilotildees efectuadas pelos autores da escavaccedilatildeo

nomeadamente o conjunto de ceracircmicas atribuiacutedas agrave Idade do Bronze (Zbyszweski et

al 1977 fig 9 18-19 e fig 10 20-24 43-45 e 47) ainda que a legenda da figura 10

remeta os nuacutemeros 25 a 47 para o ldquodolmeacutenico-almerienrdquo Importaria ainda perceber a

que correspondem os pequenos recipientes natildeo listados mas apresentados

(Zbyszweski et al 1977 fig 9 15-17) que por se enquadrarem no fundo comum

ceracircmico de longa duraccedilatildeo poderiam corresponder ou natildeo a momento antigo da

utilizaccedilatildeo da anta No entanto pela sua tipologia natildeo destoariam de outros

recipientes referidos e integraacuteveis nos momentos de utilizaccedilatildeo original da anta Resta

ainda anotar a presenccedila de uma ceracircmica romana infelizmente natildeo ilustrada

(Zbyszweski et al 1977 invent nordm 368)

Como jaacute foi referido atraacutes algumas das peccedilas ceracircmicas encontravam-se quase

completas sobretudo aquelas recolhidas em niacuteveis inferiores das diaacuteclases Estas

correspondem sobretudo a pequenas taccedilas de bordo simples e alguns vasos esfeacutericos

perfeitamente enquadraacuteveis no periacuteodo de utilizaccedilatildeo original do sepulcro

No acircmbito das ceracircmicas campaniformes registam-se fragmentos de pelo

menos dois vasos com decoraccedilatildeo de estilo internacional outro vaso com decoraccedilatildeo

reticulada em banda realizada por impressatildeo e uma taccedila com faixa de triacircngulos

invertidos tambeacutem preenchidos por impressatildeo Aleacutem destas peccedilas verifica-se a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 182 de 415

ausecircncia de estilos campaniformes incisos e mistos

Perante os dados disponiacuteveis nesta anta julgo que eacute possiacutevel vislumbrar uma

utilizaccedilatildeo inicial algures entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane

justificada pelos geomeacutetricos pequenas lacircminas e nuacutecleos de lamelas A presenccedila

significativa de instrumentos de pedra polida e recipientes ceracircmicos parece

denunciar uma clara intensificaccedilatildeo do uso deste sepulcro na passagem do mileacutenio

marcada provavelmente jaacute no 3ordm mileacutenio ane pela deposiccedilatildeo de iacutedolos-placa

Algumas das lacircminas espessas largas e retocadas e as pontas de seta sobretudo as

de base convexa poderiam relacionar-se ainda com esse periacuteodo mas tambeacutem satildeo

integraacuteveis jaacute no 3ordm mileacutenio Aliaacutes as pontas com base cocircncava poderatildeo corresponder

tambeacutem a esse momento sendo menos frequentes nos seacuteculos anteriores

A presenccedila de um iacutedolo em calcaacuterio ainda que solitaacuterio enquadraacutevel na

primeira metade do 3ordm mileacutenio ane ou sobretudo no seu segundo quartel poderia

ser interpretada como uma diminuiccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sepulcro Contudo esse uso

comprova-se pela dataccedilatildeo radiocarboacutenica Beta-225171 de 2860-2470 cal BCE (com

862 de probabilidade o intervalo restringe-se a 2700-2470 cal BCE Anexo 3

Quadro 2) Esta data foi obtida sobre uma mandiacutebula de indiviacuteduo humano adulto

(MASMO-PG-V2 correspondendo a um dos elementos da ldquoinumaccedilatildeordquo H-45) no

designado ldquoniveau moyenrdquo

A presenccedila de ceracircmicas campaniformes de estilo internacional e impresso

parece assinalar um momento de meados terceiro quartel do 3ordm mileacutenio ane mas

que natildeo se teraacute estendido ateacute o final deste Isto se for considerado significativo numa

perspectiva crono-cultural a ausecircncia do estilo inciso

Posteriormente o sepulcro parece ter sido utilizado provavelmente para

deposiccedilotildees funeraacuterias durante as Idades do Bronze e do Ferro Finalmente a

presenccedila de ceracircmica romana poderaacute relacionar-se com alguma visita pontual ao

sepulcro

419 Dados avulsos de possiacuteveis antas

Aleacutem das antas listadas nos uacuteltimos capiacutetulos alguns elementos parecem

indiciar que a presenccedila destas na regiatildeo teraacute sido provavelmente mais numerosa e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 183 de 415

geograficamente mais abrangente

No Museu Geoloacutegico encontra-se um pequeno machado de anfibolito com

secccedilatildeo poligonal (Fig 125 1-3 MG6501) A etiqueta colada neste atribui a sua

proveniecircncia a ldquoDolmen na Qta do Marquecircs de Vianna S Pedro (Sintra) Off Sr

Bensauacutederdquo O seu doador poderaacute corresponder a Alfredo Bensauacutede um engenheiro

de minas dos Serviccedilos Geoloacutegicos entre 1869-1886 associado a estudos

mineraloacutegicos (Carneiro 2005 p 158 e 164 Bensauacutede 1884 e 1889) Mas

infelizmente natildeo foi possiacutevel identificar hoje os limites da dita quinta e o eventual

doacutelmen podendo apenas admitir-se que tal estrutura estivesse situada na aacuterea de Satildeo

Pedro em Sintra

No mesmo museu encontrei um conjunto de materiais associados a uma ficha

de siacutetio datada de 22 de Janeiro de 1927 (Fig 125 4 MG624)

ldquoColares Quinta da Piedade (proximo aacute Eugaria) Segundo informaccedilatildeo

de Armando Ferreira confirmada pelos cacos juntos existe no pinhal da Quinta da

Piedade proximo aacute ldquoPreza do Duquerdquo um outeiro em cujo cume encontrou umas

pedras grandes formando circulo cobertas por uma outra muito maior (chapeu) (um

doacutelmen em parte semelhante ao do Monge) Procedendo a tres sondagens recolheu

ele os cacos e os ossos juntos (a quinta da Piedade pertence aacute Casa Cadaval)

Informaccedilatildeo prestada em Odivelas (hellip)rdquo

De facto o conjunto depositado consiste em algumas faunas e fragmentos

ceracircmicos Alguns desses fragmentos ceracircmicos correspondem a cronologias

recentes mas cerca de uma dezena satildeo pedaccedilos de recipientes campaniformes com

teacutecnica incisa e impressa do estilo Palmela (MG684) A leitura da ficha leva a crer

que este registo teraacute sido efectuado por Francisco C Ribeiro (ver capiacutetulo 413)

podendo corresponder talvez ao siacutetio de Bela Vista estudado anos mais tarde

(Mello et al 1961) tanto pela localizaccedilatildeo como pela semelhanccedila dos materiais

recolhidos No entanto a publicaccedilatildeo natildeo faz qualquer referecircncia a esta ficha ou aos

seus materiais ainda que se encontrassem depositados no Museu Geoloacutegico

podendo isso dever-se agrave data posterior de entrada da colecccedilatildeo algures na deacutecada de

60 Mas se estes dois siacutetios satildeo um soacute este sepulcro natildeo corresponde a um

ldquodoacutelmenrdquo e sim a um pseudo-tholos

Outra informaccedilatildeo avulsa surge no acircmbito de apontamentos compilados por P

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 184 de 415

Azevedo (1905) Este autor para aleacutem de referecircncias aos siacutetios preacute-histoacutericos de

Belas Leceia e Campolide bem como de siacutetios do Vale de Alcacircntara destaca um

documento do seacuteculo XVII acerca do termo de Lisboa onde satildeo apontadas duas

provaacuteveis antas ao longo da linha de fronteira com Torres Vedras

[Uma] () direito as pedras das Antas que estatildeo na terra lavradia de

Domingos Ribeiro lavrador defronte do lugar do Jormello honde estatildeo cinco pedras

grandes em Redondo que fazem hum morouccedilo de pedras honde na pedra maior se

fez huma naveta que he a divisa da cidade em uma ilharga delapera ficar por marco

() [e a outra] ateacute chegar ao casal do Malforno o qual casal fica no termo de Torres

Vedras e o caminho que vai ao longo das casas do dito casal fica dividindo o termo

desta cidade com o termo de Torres Vedras e deste caminho vai partindo direito as

outras pedras das antas que estatildeo mais acima do dito casal contra o levante honde

estatildeo sete pedras grandes de Redondo e hua deitada no chatildeo antre elas e outras

piquenas as quais ficam por marco e destas pedras das Antas que ficam por marco

vai partindo direito contra o levante ateacute chegar honde se chama o Barro onde no

comaro da terra do Casal da Atalaia esta um marco () (cit in Azevedo 1905 p

163-164)

No acircmbito da realizaccedilatildeo da Carta Arqueoloacutegica de Mafra A C Sousa

(informaccedilatildeo pessoal) natildeo conseguiu relocalizar aquelas possiacuteveis antas

A toponiacutemia regional tambeacutem acrescenta potencialmente o nuacutemero de

possiacuteveis antas ou sepulcros afins (Fig 2) Contudo porque eacute hoje extremamente

difiacutecil analisar in loco a informaccedilatildeo recolhida haacute que consideraacute-las sob reserva

mesmo que noutras situaccedilotildees melhor preservadas seja em Lisboa ou noutras

regiotildees como o Alentejo tais topoacutenimos corresponderem frequentemente agraves

expectativas ndash aliaacutes na descriccedilatildeo de algumas das antas de Lisboa isso foi possiacutevel

verificar Mas o contraacuterio tambeacutem eacute vaacutelido e para tal bastaraacute lembrar a possiacutevel anta

do Zambujal Loures indicada pelo colector oitocentista dos Serviccedilos Geoloacutegicos

Antoacutenio Mendes (cit in Santos 1968) Posteriormente M C Santos e O V Ferreira

teratildeo procurado relocalizar a referida anta mas na aacuterea indicada apenas avistaram

grandes blocos basaacutelticos apresentando disjunccedilotildees prismaacuteticas pelo que admitiram a

possibilidade daquele colector tecirc-las confundido por restos de um edifiacutecio megaliacutetico

(Santos 1968 p 170)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 185 de 415

Recentemente J L Cardoso e A M Soares (informaccedilatildeo pessoal) deram conta

de uma possiacutevel anta no Faiatildeo ainda que soacute com a sua escavaccedilatildeo tal poderaacute ser

confirmado

A cartografia da informaccedilatildeo toponiacutemica recolhida juntamente com aquela

confirmada de facto pela existecircncia dos sepulcros revela uma dispersatildeo de

possiacuteveis sepulcros megaliacuteticos um pouco mais abrangente (Fig 2) todavia sem

desfazer por completo a jaacute referida delimitaccedilatildeo geograacutefica das antas que se analisaraacute

adiante bem como o seu cocircmputo situado entre duas e trecircs dezenas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 186 de 415

42 A implantaccedilatildeo e a construccedilatildeo das antas de Lisboa

A distribuiccedilatildeo das antas de Lisboa reconhecidas parece realccedilar para aleacutem do jaacute

mencionado reduzido nuacutemero uma relativa concentraccedilatildeo geograacutefica por

coincidecircncia correspondendo agrave aacuterea sul-sudoeste do Complexo vulcacircnico de Lisboa

(Fig 1 2 e 22) Tambeacutem por mero exerciacutecio teoacuterico se ignorar os restantes tipos de

sepulcros notam-se trecircs clusters destas estruturas funeraacuterias em Belas Campos de

Trigache e Verdelha do Ruivo surgindo as restantes relativamente isoladas (Fig 25-

30) Que poderaacute isso reflectir Julgo que em parte o impacto antroacutepico jaacute referido da

regiatildeo No entanto mesmo admitindo o desaparecimento de vaacuterias antas se forem

considerados os indiacutecios toponiacutemicos referidos atraacutes este cocircmputo natildeo ultrapassaria

as cerca de trecircs dezenas de antas na regiatildeo da Baixa Estremadura assunto a que

voltarei mais adiante

Analisando a questatildeo da implantaccedilatildeo das antas do territoacuterio de Reguengos de

Monsaraz Alentejo V S Gonccedilalves (1992 p 149) enumerava trecircs criteacuterios que

poderiam ter condicionado a sua localizaccedilatildeo preferencial em funccedilatildeo de uma

visibilidade positiva em funccedilatildeo de uma visibilidade negativa ou sem qualquer

condicionante especiacutefica No entanto acrescentava ainda uma quarta possibilidade

em que ldquoos criteacuterios de implantaccedilatildeo dos monumentos [teriam variado] conforme o

Tempo e o Espaccedilo neste uacuteltimo caso dependendo de caracteriacutesticas especiacuteficas dos

territoacuterios utilizados pelos grupos que a [implementaram] rdquo (Gonccedilalves 1992 p

150) nomeadamente o coberto vegetal da eacutepoca e diria a oro-hidrografia

A implantaccedilatildeo maioritaacuteria das antas de Lisboa conhecidas parece ter ocorrido

em rechatildes mais ou menos extensas eou elevadas Um dos melhores exemplos seraacute

com certeza o conjunto de Belas concretamente as antas de Monte Abraatildeo e Pedra

dos Mouros destacando-se na rechatilde relativamente extensa ainda que limitada a sul

pelo relevo hoje denominado Monte Abraatildeo Mas as antas de Pedras da Granja

Conchadas Pedras Grandes Alto da Toupeira 1 e 2 e Monte Serves tambeacutem se

ergueram em posiccedilotildees similares com maior ou menor domiacutenio paisagiacutestico ndash

Casaiacutenhos foi implantada numa pequena chatilde destacada no meio do vale e sobranceira

agrave ribeira homoacutenima As restantes antas foram construiacutedas em encostas mais ou

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 187 de 415

menos acentuadas sobretudo na parte cimeira ou aproveitando patamares existentes

como em Carcavelos e Trigache 1 e 4 A anta de Casal do Penedo foi erguida numa

encosta com uma inclinaccedilatildeo elevada provavelmente para tirar proveito dos

afloramentos do local em contraste com as pendentes mais suaves das localizaccedilotildees

das antas de Trigache 2 e 3 Quase no fundo do vale proacutexima do ribeiro que por ali

corre regista-se a anta do Carrascal talvez aquela com as caracteriacutesticas de

implantaccedilatildeo mais inusitadas principalmente quando apresenta tambeacutem um elevado

aprofundamento da sua cacircmara no substrato local

Quadro 3 Implantaccedilatildeo das antas da regiatildeo de Lisboa

Anta Topografia

Monte Abraatildeo Rechatilde Pedras Grandes Rechatilde Pedra dos Mouros Rechatilde Monte Serves Rechatilde Alto da Toupeira 1 e 2 Rechatilde Arruda Rechatilde Conchadas Rechatilde Pedras da Granja Rechatilde Batalhas Rechatilde Casaiacutenhos Chatilde no vale Casal do Penedo Encosta iacutengreme Carcavelos Patamar em encosta Trigache 1 Patamar em encosta Trigache 4 Patamar em encosta Estria Encosta Trigache 2 Encosta Trigache 3 Encosta Carrascal Encosta

Portanto exceptuando o caso de Carrascal poderaacute verificar-se que os sepulcros

foram instalados essencialmente em aacutereas de interfluacutevios ou proacuteximos destes Tais

escolhas poderatildeo ter-se baseado num aproveitamento circunstancial nomeadamente

a reduccedilatildeo detectada do coberto florestal durante os 4ordm-3ordm mileacutenios ane que afectou

sobretudo aquelas aacutereas topograacuteficas provocando a existecircncia de clareiras (Queiroz

1999) Em parte esta situaccedilatildeo ter-se-aacute devido ao abate de aacutervores destas cotas mais

acessiacuteveis e permitindo um melhor manuseamento dos lenhos Por outro lado dada a

inclinaccedilatildeo acentuada para sul de muitas bancadas calcaacuterias da regiatildeo a tarefa de

extracccedilatildeo de lajes estaria facilitada nos topos ou no alto das encostas como parece

ocorrer nos locais das antas Por outro lado muitos dos vales da regiatildeo apresentavam

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 188 de 415

as suas encostas bastante iacutengremes ou mesmo escarpadas dificultando a construccedilatildeo

nessas aacutereas

A perspectiva pragmaacutetica que sugiro acima mais do um determinismo

geograacutefico deveraacute ser entendida como tomadas de decisatildeo daquelas populaccedilotildees face

ao meio onde viviam e circulavam Sendo aquelas aacutereas de interfluacutevios por onde

provavelmente circulariam com maior frequecircncia julgo que teria feito sentido para

aqueles grupos a instalaccedilatildeo dos sepulcros em alguns desses pontos acessiacuteveis

sobretudo facilitado pelas circunstacircncias referidas Contudo coloca-se a questatildeo

acerca do tipo de visibilidade que estes sepulcros teriam

A pequena anta de Monte Serves foi situada num ponto quase cumeada com

grande domiacutenio de paisagem avistando para sul uma larga extensatildeo do estuaacuterio do

Tejo e os vales em redor E no entanto esta natildeo se destaca sendo apenas

reconhecida a meia distacircncia por quem soubesse onde se situava proacutexima do relevo

homoacutenimo Como se desconhece uma cronologia fina para este sepulcro eacute tambeacutem

difiacutecil perceber o papel deste face aos povoados da Pedreira do Casal do Penedo 1 ou

de Moita Ladra (North Boaventura e Cardoso 2005)

Outros exemplos de relevos importantes proacuteximos das antas podem ser

apontados para o Alto da Toupeira Carcavelos Trigache ou Belas De facto apesar

destes sepulcros apresentarem alguma visibilidade local a partir dos vales e cumes

circundantes as suas localizaccedilotildees natildeo permitiam com algumas excepccedilotildees avistar ou

serem avistados para aleacutem destes horizontes limitados Por isso a sua situaccedilatildeo ainda

que em aacutereas deprimidas quando avaliadas no relevo atribulado da regiatildeo de Lisboa

mas junto de pontos naturais destacados poderia ter suprido este constrangimento

caso fosse essa um das intenccedilotildees ndash marcar o territoacuterio (Gonccedilalves e Sousa 2000) De

certo modo esta verificaccedilatildeo tem sido proposta noutras aacutereas regionais

nomeadamente no Noroeste peninsular onde sepulcros tendem a localizar-se

proacuteximo de grandes afloramentos (Criado Boado Faacutebregas Valcarce e Vaquero

Lastres 1994) No entanto tais referecircncias geograacuteficas seriam melhor identificadas

por aqueles que conhecessem de facto aqueles locais e a existecircncia de tais

necroacutepoles e natildeo tanto por forasteiros de passagem

Quando se cruzam as implantaccedilotildees e as cronologias conhecidas os resultados

satildeo limitados Os casos diacronicamente opostos Carrascal e Estria parecem seguir

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 189 de 415

implantaccedilotildees semelhantes Isto poderia significar um momento inicial onde a relativa

proeminecircncia local ainda natildeo seria importante algo que tambeacutem ocorreria no final da

tradiccedilatildeo construtiva megaliacutetica Mas tal leitura aconselha reserva

As soluccedilotildees construtivas das antas de Lisboa ainda que genericamente

semelhantes agraves de outras regiotildees como o Alentejo apresentavam algumas

caracteriacutesticas especiacuteficas algumas delas talvez realccedilando a importacircncia menor dada

a um destaque supralocal das estruturas

O espaccedilo interior da cacircmara destas antas surgia frequentemente numa cota

inferior agrave superfiacutecie original e exterior Este afundamento parcial do espaccedilo interno

tornava-se possiacutevel pois aparentemente eram escolhidas zonas alteradas do

substrato rochoso o que facilitava a tarefa de abertura dos alveacuteolos dos esteios e

eventual escavaccedilatildeo daquele espaccedilo Contudo nem sempre tal tarefa teraacute acertado

totalmente com a referida mancha como foi possiacutevel verificar nas antas de Pedras

Grandes e Pedras da Granja Noutros casos o aprofundamento realizado foi bastante

elevado como parece evidente na anta do Carrascal mas tambeacutem em Monte Abraatildeo

e Estria Aliaacutes neste uacuteltimo sepulcro acredito que a desorientaccedilatildeo do sepulcro se

deveu agrave prioridade dada a um substrato rochoso adequado agrave escavaccedilatildeo do recinto No

caso de Carcavelos notou-se que a cacircmara foi semi-escavada vencendo a ligeira

pendente norte-sul De tal forma que a sua degradaccedilatildeo e maior exposiccedilatildeo erosiva

verificada eacute do lado sul A anta de Casaiacutenhos seraacute talvez o exemplo oposto visto que

o substrato rochoso onde se instalou natildeo teraacute permitido um aprofundamento da

cacircmara ainda que nas depressotildees deste tenham surgido materiais arqueoloacutegicos Esta

dificuldade parece evidente hoje quando se observa a carcaccedila remanescente do

sepulcro com os esteios quase sem alveacuteolo de sustentaccedilatildeo

O motivo real para o aprofundamento das cacircmaras eacute difiacutecil de discernir mas

talvez se devesse agrave necessidade de consolidar a estrutura do sepulcro No entanto

pelo menos em alguns casos parece existir alguma aproximaccedilatildeo com a estrateacutegia de

escavaccedilatildeo das grutas artificiais ou posteriormente dos tholoi Por outro lado esta

soluccedilatildeo reduziria o investimento necessaacuterio no tumulus envolvente caso este tenha

sido produzido para a maioria das antas de Lisboa

Os trabalhos de escavaccedilatildeo antigos nas antas centraram-se sobretudo no interior

destas sabendo-se pouco acerca das aacutereas exteriores A referecircncia a mamoas ou agrave sua

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 190 de 415

existecircncia eacute rara J L Vasconcelos (1898) apontava um ldquoaltinhordquo em redor da anta

da Arruda admitindo que pudesse corresponder aos restos do tumulus jaacute muito

destruiacutedo pela lavoura No entanto nenhum trabalho foi realizado para o verificar F

C Ribeiro (cit in ALeisner Leis61) tambeacutem se referia agrave existecircncia de mamoa na anta

de Trigache 2 sem que tenha testado essa leitura hoje impossiacutevel de ser realizada

No sepulcro de Pedras da Granja E C Serratildeo (1982-83) apontava uma possiacutevel

estrutura tumular delimitada mas tal realidade tem de ser encarada com reserva

Aleacutem destes casos apenas Monte Serves parece manter de facto uma mamoa

identificaacutevel (North Boaventura e Cardoso 2005) ainda que parte do relevo possa

corresponder ao substrato rochoso local Aqui tambeacutem natildeo foi realizada qualquer

vala de sondagem no exterior do sepulcro para a sua avaliaccedilatildeo mas que seria de todo

o interesse realizar no futuro

O inventaacuterio de V Leisner (1965) registava a impressatildeo que ainda hoje se

manteacutem para alguns dos sepulcros sobreviventes possiacuteveis vestiacutegios de tumulus ou

pouco evidentes mas que nunca foram avaliados Ateacute agraves recentes escavaccedilotildees das

antas de Pedras Grandes e Carcavelos apenas se tinha ensaiado a realizaccedilatildeo de

sondagens na anta do Carrascal visando avaliar a presenccedila de tumulus mas com

resultados incompletos e inconclusivos (informaccedilatildeo pessoal de T Simotildees) Pelo

menos nas duas antas intervencionadas natildeo foi possiacutevel identificar a mamoa se de

facto existiu Os esteios destes edifiacutecios foram calccedilados por dentro e por fora para

melhor sustentaccedilatildeo acrescentando-se ainda um anel peacutetreo externo de contraforte

que abraccedilava todos os esteios por sua vez coberto por terra No entanto a sua

extensatildeo natildeo ultrapassava os 2 metros a partir da face externa dos esteios levando a

crer que em altura aquele anel natildeo cobriria a totalidade do esqueleto peacutetreo do

sepulcro A ser assim entatildeo coloca-se a questatildeo de como se fechava a cacircmara com

uma grande laje ou com outro tipo de cobertura Apesar do conhecimento limitado

desta caracteriacutestica entre as antas de Lisboa creio que seria com uma grande laje a

exemplo do que subsiste em Monte Abraatildeo e contudo nesta anta os vestiacutegios de

mamoa satildeo residuais necessitados de avaliaccedilatildeo Portanto se admitir que as antas de

Lisboa natildeo tiveram mamoas integrais eacute provaacutevel que pelo menos tenham sido

criadas rampas para permitir a colocaccedilatildeo dos respectivos chapeacuteus Entretanto a

erosatildeo multi-milenar natural e humana dificultou a verificaccedilatildeo dos vestiacutegios dessas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 191 de 415

rampas Mas o mesmo argumento pode ser referido para as eventuais mamoas

Outro criteacuterio aparentemente importante para a implantaccedilatildeo das antas teraacute sido

a proximidade da mateacuteria-prima necessaacuteria para a sua construccedilatildeo Como natildeo foi

possiacutevel promover a colaboraccedilatildeo de um geoacutelogo para um projecto global que

desenvolvesse um estudo aprofundado e sistemaacutetico de proveniecircncia dos elementos

ortostaacuteticos optei por utilizar a informaccedilatildeo disponibilizada pelos escavadores das

antas na sua maioria geoacutelogos de profissatildeo cruzando-a com os meus conhecimentos

elementares de geologia Apenas no caso de Pedras Grandes contei com a

colaboraccedilatildeo da geoacuteloga Lara Saacute (Cacircmara Municipal de Odivelas) para uma breve

avaliaccedilatildeo daqueles elementos e dos afloramentos vizinhos

As rochas calcaacuterias consoante o faacutecies disponiacutevel na respectiva aacuterea foram a

mateacuteria-prima essencial utilizada na construccedilatildeo das antas de Lisboa sobretudo na

forma de grandes lajes mas tambeacutem como blocos menores ainda que entre estes

surjam com frequecircncia basaltos e rochas afins A qualidade das rochas calcaacuterias natildeo

teraacute sido condicionante maior nas soluccedilotildees arquitectoacutenicas mas sim na sua

preservaccedilatildeo ateacute os dias de hoje (excluindo aqui a acccedilatildeo humana) A

monumentalidade das antas de Pedra dos Mouros Monte Abraatildeo Pedras Grandes

Carcavelos etc eacute disso claro exemplo

Quando avaliada a proximidade de afloramentos com o potencial para

extracccedilatildeo de lajes em quase todos os casos isso teraacute ocorrido maioritariamente nas

imediaccedilotildees a poucas dezenas de metros ou mesmo no proacuteprio local de erecccedilatildeo Esta

uacuteltima situaccedilatildeo parece ter ocorrido nas antas de Casal do Penedo Monte Serves e

Estria As maiores distacircncias registadas para a proveniecircncia de algumas lajes

verificaram-se nas antas de Monte Abraatildeo a algumas centenas de metros e de

Pedras da Granja a cerca de 1 km Este limitado raio de acccedilatildeo deveraacute relacionar-se

com a proacutepria oro-hidrografia da regiatildeo relativamente acidentada apresentando

vales profundos e ainda relativamente arborizados que dificultariam a deslocaccedilatildeo de

pesados monoacutelitos por longos percursos sujeitos a declives acentuados As

proveniecircncias mais distantes referidas correspondem a antas de aacutereas sem obstaacuteculos

naturais significativos entre os locais de extracccedilatildeo e de erecccedilatildeo

Os estudos realizados no Alto Alentejo (Dehn Kalb e Vortisch 1991 Kalb

1996 Kalb e Houmlck 1996 Boaventura 1999-2000 e 2000) acerca da origem

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 192 de 415

geoloacutegica dos ortoacutestatos das antas apesar de registarem essencialmente origens

locais ou das suas imediaccedilotildees apresentaram casos de distacircncias superiores entre 8 e

12 km agravequelas registadas para Lisboa No entanto a oro-hidrografia da planura

alentejana com regiotildees abertas e sem obstaacuteculos naturais influentes teraacute facilitado o

transporte destes blocos

A proximidade da mateacuteria-prima para a construccedilatildeo dos sepulcros ortostaacuteticos

parece tambeacutem ocorrer noutras regiotildees europeias quase sempre com excepcionais

transportes de longa distacircncia ainda que por vezes atribuiacutedos ao transporte natural

por arrasto dos glaciares durante periacuteodos de influecircncia polar (Burl 1991 Thorpe e

Williams-Thorpe 1991 Patton 1992 Scarre 2004)

O esteio de cabeceira de Pedras Grandes suscita algum interesse ainda que natildeo

possa provavelmente ser considerado pela sua esteacutetica Ali houve a escolha com

certeza consciente de uma grande laje desequilibrada isto eacute a sua base apenas

apresentava metade da largura total do bloco Esta situaccedilatildeo foi reparada pelos seus

construtores ao abrirem um meio alveacuteolo adequado reforccedilado por um soco de

pedras Tal reforccedilo natildeo foi suficiente todavia pois a sua limitada implantaccedilatildeo teraacute

sido um dos motivos para a sua queda posterior No entanto como tambeacutem o esteio

lateral a norte apresentava uma base assimeacutetrica que comprometia a sua sustentaccedilatildeo

julgo que aquelas utilizaccedilotildees se sujeitaram ao aproveitamento dos blocos mais

adequados entre aqueles disponiacuteveis na vizinhanccedila De facto a observaccedilatildeo possiacutevel

das bancadas calcaacuterias que ainda persistem (do lado sul jaacute desapareceram mas

seriam semelhantes) com inclinaccedilatildeo para sul localizadas a cerca de 20 metros a

norte da anta permitiu verificar que os tipos de lajes utilizadas provieram daquelas

com grande probabilidade sobretudo do faacutecies superior enquanto outros esteios de

uma rocha de matriz mais argilosa teriam sido sacados no faacutecies imediatamente

inferior A disponibilidade de lajes nestes afloramentos eacute ainda tal que natildeo seria

difiacutecil construir hoje uma nova anta (Fig 72 1) Situaccedilotildees similares podem referir-se

para as restantes antas observadas sobretudo quando se observam as imagens mais

antigas Em todas elas existiam por vezes ainda hoje afloramentos passiacuteveis de

exploraccedilatildeo liacutetica Poderia falar-se entatildeo de uma utilizaccedilatildeo oportunista da mateacuteria-

prima Julgo que sim mas simultaneamente podendo ser apontados alguns indiacutecios

de selectividade

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 193 de 415

Como algumas antas jaacute desapareceram natildeo foi possiacutevel uma anaacutelise cuidada

dos seus esteios Contudo naquelas que pude observar verifiquei alguns aspectos

interessantes que colocam a possibilidade de uma valorizaccedilatildeo esteacutetica da qualidade

da rocha utilizada

Primeiramente os blocos utilizados natildeo apresentam qualquer tipo de trabalho

evidente Esta atitude face a rochas que seriam mais facilmente trabalhadas do que

os granitos da regiatildeo vizinha alentejana mas natildeo o foram recorda a proposta de C

Scarre (2004) de uma intencionalidade na escolha e sobretudo numa valorizaccedilatildeo de

pedras naturalmente em bruto

As antas de Belas apresentam vaacuterios dos seus esteios com faces repletas de

icnofoacutesseis provavelmente de thalassinoides com certeza obtidos nas bancadas

calcaacuterias locais ainda que natildeo tenha sido possiacutevel localizar exactamente qual o

faacutecies Apesar do padratildeo registado em cada uma das antas natildeo ser totalmente similar

e infelizmente estas natildeo se encontrarem completas julgo eacute mesmo assim

interessante realccedilar a forma como os esteios foram dispostos Pelo que eacute hoje

possiacutevel avaliar o esteio da cabeceira de Pedra dos Mouros apresentava esta

caracteriacutestica mas o lateral sul jaacute natildeo No entanto o esteio sequente a sul surge com

o mesmo padratildeo Estria eacute o caso aparentemente mais completo aqui o esteio de

cabeceira eacute acompanhado pelos dois seguintes pares de esteios todos eles com as

faces internas repletas de icnofoacutesseis Soacute o uacuteltimo par de esteios apresenta ortoacutestatos

lisos com uma componente mais argilosa Finalmente a cacircmara de Monte Abraatildeo

surge com uma disposiccedilatildeo peculiar o esteio de cabeceira eacute bastante rugoso

semelhante agrave laje de cobertura mas estaacute ladeado por dois ortoacutestatos com os paineacuteis

de foacutesseis virados para dentro seguindo-se-lhes outros dois mas agora com aquelas

faces para o exterior O par sequente restringe-se ao esteio sul sem foacutesseis Esta

alternacircncia poderia justificar-se se as faces externas dos esteios fossem tambeacutem

visiacuteveis o que sustentaria a hipoacutetese da existecircncia limitada de uma mamoa talvez

funcionando no essencial como um anel de contraforte

Aleacutem destes casos o esteio de cabeceira da anta de Carcavelos um calcaacuterio

conquiacutefero bastante rico em restos de conchas fossilizadas tambeacutem parece apresentar

esta qualidade esteacutetica mas como natildeo se verificou um padratildeo com os restantes

esteios a sua interpretaccedilatildeo eacute reservada

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 194 de 415

Caso similar da regiatildeo vizinha alentejana onde a intencionalidade esteacutetica

parece manifestar-se eacute aquele da anta de Rabuje 4 (Boaventura 1999-00 e 2000 em

estudo) onde a sua construccedilatildeo produziu uma cacircmara com um esteio de cabeceira em

xisto biotiacutetico ladeado por dois pares de ortoacutestatos de granito rosa prolongando-se o

seu corredor com mais lajes de xisto

A tradiccedilatildeo de produccedilatildeo de covinhas em sepulcros megaliacuteticos e afloramentos

proacuteximos destas necroacutepoles eacute relativamente frequente no Alentejo (Leisner e Leisner

1951 e 1959 Gonccedilalves 1993 Calado 1995 2004 e 2005 Rocha 2004) Apesar

dos motivos para a sua realizaccedilatildeo suscitar debate podendo de facto existirem vaacuterias

explicaccedilotildees (Gonccedilalves 1993) estas natildeo se registaram ateacute o momento nas antas da

Estremadura A excepccedilatildeo de um pequeno conjunto de 6 covinhas foi registada num

ortoacutestato de arenito do corredor do tholos da Tituaria (Cardoso et al 1996) No

entanto por ser inusitado e corresponder a um tipo de sepulcro cronologicamente

mais avanccedilado limito-me a registaacute-lo

Face ao exposto julgo que as antas de Lisboa foram construiacutedas em locais

circunspectos sobretudo condicionadas pela fisiografia e pela proximidade e faacutecil

acesso da mateacuteria-prima Se aquelas comunidades quisessem de facto tornar

proeminentes os seus sepulcros bastaria terem-nos erigido nos relevos destacados

que se registavam nas proximidades Contudo a monumentalidade destas estruturas

garantia por si um destaque local e talvez esse fosse suficiente para as comunidades

construtoras e aquelas suas vizinhas

421 Tipologia das antas de Lisboa

O nuacutemero reduzido e a qualidade da informaccedilatildeo acerca das antas da regiatildeo de

Lisboa limitam as ilaccedilotildees a retirar acerca da tipologia destas Entre aquelas que

permitiram uma leitura mais ou menos segura parecem notar-se essencialmente dois

grupos (Fig 126)

1 Antas com cacircmara poligonal de sete esteios com corredores baixos face agrave

altura daquela apresentando extensotildees curtas ou meacutedias natildeo se registando passagens

longas ou muito longas ndash a classificaccedilatildeo do tipo de corredor quanto agrave sua extensatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 195 de 415

segue a proposta de V S Gonccedilalves (1989b e 1993)

2 Antas com cacircmara trapezoidal alongada ou sub-rectangular sem corredor

demarcado

As antas com cacircmaras poligonais satildeo as melhores representadas com 13

exemplares (ainda que 7 delas apresentem as suas plantas incompletas) Entre os 8

sepulcros onde foi identificado o corredor Monte Abraatildeo destaca-se pela extensatildeo

apontada de 4 metros natildeo ultrapassando os restantes acessos os 2 m250 m de

comprimento Em contraste a passagem de Pedras Grandes eacute tatildeo curta que a

designaccedilatildeo mais apropriada seria a de portal Naquelas antas em que se desconhece a

existecircncia de corredores tal poderaacute dever-se a falta de escavaccedilatildeo das provaacuteveis

aacutereas que parecem ter sido muito perifericamente abordadas

Quadro 4 Tipologia e dimensotildees das antas da regiatildeo de Lisboa

Tipo Siacutetio Cacircmara

(LxCxA) metros

Corredor (LxCxA) metros

Carrascal 350 x 350 x ~280 ~15x250x~1 Pedra dos Mouros ~4 x ~4 x ~5

Poligonal Monte Abraatildeo 280 x 360 x ~350 ~120x~4x Estria 380 x 4 x ~275 Pedras Grandes 350 x 320 x ~3 1x1x~050 Alto da Toupeira 1 5 x 55 x ~2 Trigache 2 550 x x ~1x210x050 Trigache 4 5 x x 1x220x Conchadas 290 x x 125x2x050 Carcavelos 350 x 3 x ~190 x250x Casaiacutenhos 350 x 5 x ~250 115x2x Pedras da Granja 440 x 4 x 26 Trigache 1 Batalhas Alto da Toupeira 2 Arruda 445127 x 771 x 321 na

Trapezoacuteide Casal do Penedo 35 x 65 x 150 na Monte Serves 120 x 2 x ~1 na Trigache 3 175 x 450 x 1 na

Se forem consideradas as extensotildees vestibulares natildeo ortostaacuteticas das antas de

Monte Abraatildeo e Casaiacutenhos estas apresentariam corredores longos atingindo cerca

de 6 metros algo que em menor extensatildeo tambeacutem parece ter ocorrido em

Conchadas

A cacircmara poligonal de Estria apresentava-se aparentemente um pouco mais

alongada mas infelizmente pelo que jaacute foi referido noutro local natildeo eacute possiacutevel

aceitar pacificamente a passagem recriada durante os trabalhos de valorizaccedilatildeo da

anta

No reduzido grupo de cacircmaras trapezoidais encontram-se alguns sepulcros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 196 de 415

com entradas sem evidecircncia de corredor bem marcado (Monte Serves Casal do

Penedo Arruda e Trigache 3) Contudo se para o primeiro sepulcro eacute ainda hoje

possiacutevel confirmar a leitura nos restantes a classificaccedilatildeo baseia-se nos dados

disponiacuteveis dos seus escavadores

Se as cacircmaras poligonais encontram paralelos com regiotildees vizinhas proacuteximas

nomeadamente Alentejo Alta Estremadura e Beiras alguns autores viram nos

sepulcros com plantas trapezoidais (entre as quais algumas por mim consideradas

agora fora desse grupo) claras influecircncias da cultura almeriense do Sul-Sudeste

ibeacuterico (Ferreira 1959 Leisner e Ferreira 1959) No entanto tais caracteriacutesticas

arquitectoacutenicas satildeo tambeacutem passiacuteveis de encontrar-se no mundo funeraacuterio beiratildeo

(Leisner e Kalb 1998) Curiosamente os artefactos apontados como claras

influecircncias de Almeria por exemplo o ldquoiacutedolo chatordquo natildeo surgiram nas antas com o

tipo de planta trapezoidal mas sim em cacircmaras poligonais nomeadamente Monte

Abraatildeo e Casaiacutenhos

Quando se contrasta o tipo de antas de Lisboa com as propostas de evoluccedilatildeo

tipoloacutegica para estas no Centro-Sul de Portugal (Leisner e Leisner 1951 e 1959

Leisner 1965 e 1983 Moita 1956 e 1966 Kalb 1981 1988 e 1989 Soares e Silva

1983 e 2000 Oliveira 1997b Rocha 2005) parece verificar-se a ausecircncia na regiatildeo

de Lisboa dos tipos considerados mais antigos nomeadamente sepulturas

protomegaliacuteticas e sepulcros de cacircmaras simples de meacutedia dimensatildeo ndash os exemplares

correspondentes a esses primeiros sepulcros seriam eventualmente Trigache 1 e

Monte Serves ndash contudo a planta incompleta e o parco espoacutelio do primeiro que

tambeacutem estaacute quase ausente (algumas lascas de siacutelex) no segundo natildeo permitem o

esclarecimento dessas duacutevidas Um pouco mais para norte da regiatildeo de Lisboa

Cabeccedilo da Arruda 3 supostamente uma pequena sepultura onde se avistou um

esqueleto com um machado poderia corresponder agravequele tipo de sepulcro sobretudo

porque a revisatildeo da colecccedilatildeo osteoloacutegica (se natildeo tiver sido contaminada) aponta

pelo menos um nuacutemero de 3 indiviacuteduos (Silva 2002)

A disponibilidade de cavidades naturais da regiatildeo estremenha poderia explicar

a inexistecircncia dos primeiros tipos de sepulcros ortostaacuteticos Assim dada a tradiccedilatildeo

funeraacuteria aparentemente troglodita dos grupos humanos estremenhos (Oosterbeek

1997a e 1997b) a adopccedilatildeo dos novos contentores funeraacuterios ortostaacuteticos teria

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 197 de 415

ocorrido numa fase posterior No entanto como se poderaacute verificar adiante a

cronologia absoluta disponiacutevel para a Estremadura e Alentejo ainda que limitada

natildeo indica qualquer tipo de precedecircncia entre as antas das duas regiotildees apesar da

diferenccedila arquitectural ndash em Lisboa antas com cacircmara poligonal e corredor curto

(Carrascal e Pedras Grandes) apresentam dataccedilotildees semelhantes a antas alentejanas

com pequenas cacircmaras (Cabeceira 4 Sobreira 1 e Rabuje 5) num caso

correspondendo a uma sepultura protomegaliacutetica (Cabeccedilo da Areia)

O significado cronoloacutegico entre os dois formatos de antas conhecidas para

Lisboa eacute inconclusivo mesmo depois de se cruzar a informaccedilatildeo disponiacutevel Apesar

dos dados muito limitados eacute possiacutevel admitir a existecircncia de algum polimorfismo

entre sepulcros aparentemente contemporacircneos na medida em que os intervalos de

tempo permitem percebecirc-lo Por exemplo as antas de Casal do Penedo e Arruda

com cacircmaras trapezoidais e aquelas de Monte Abraatildeo e Carcavelos com cacircmaras

poligonais apresentam espoacutelios e dataccedilotildees muito similares o mesmo parece ocorrer

com as antas de Estria e Trigache 3 provavelmente sepulcros erigidos tardiamente

mas que apresentam plantas distintas

Portanto face agraves limitaccedilotildees da anaacutelise tipoloacutegica das antas seraacute com a anaacutelise

dos espoacutelios e suas cronologias relativas e absolutas que se poderaacute eventualmente

obter uma leitura crono-cultural menos difusa para as antas de Lisboa

422 A orientaccedilatildeo prescrita

Os trabalhos sistemaacuteticos desenvolvidos acerca da orientaccedilatildeo geograacutefica das

entradas dos sepulcros enquadrados no Megalitismo do Centro-Sul de Portugal

nomeadamente das antas vieram demonstrar uma tendecircncia geral e constante virada

para nascente sobretudo este-sudeste com algumas excepccedilotildees que apenas parecem

confirmar essa verificaccedilatildeo (Gonccedilalves 1993 e 2003e Hoskin e Calado 1998

Hoskin 2001 Oliveira Rocha e Silva 2007)

No caso da regiatildeo de Lisboa Michael Hoskin (2001) havia registado a

orientaccedilatildeo de algumas das antas e outros sepulcros bem como se conheciam as

mediccedilotildees actualizadas para as necroacutepoles de grutas artificiais de Alapraia

(Gonccedilalves 2003e) e Casal do Pardo (Soares 2003) Contudo quedavam-se por

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 198 de 415

conhecer de forma sistemaacutetica as orientaccedilotildees de vaacuterias antas Isso foi realizado para

os sepulcros sobreviventes e passiacuteveis de mediccedilatildeo dentro das circunstacircncias

possiacuteveis em colaboraccedilatildeo com Cacircndido Marciano da Silva durante o ano de 2004

optando-se por rever as orientaccedilotildees daqueles abordados por M Hoskin (2001) Os

valores apresentados devem ser encarados como preliminares pois pretende realizar-

se uma segunda ronda de mediccedilotildees

Os resultados obtidos para as antas confluem com aqueles apresentados

anteriormente mantendo-se a mesma tendecircncia de orientaccedilatildeo a nascente com as

provaacuteveis variaccedilotildees Algumas resultaram talvez do momento sazonal em que teraacute

sido definido o alinhamento do sepulcro a construir Outras diferenccedilas entre as

leituras registadas deveram-se com probabilidade ao grau de subjectividade

implicado no estabelecimento do alinhamento medido bem como em alguns casos

pela degradaccedilatildeo ou melhoria das condiccedilotildees de visibilidade do local no momento da

visita

Finalmente em algumas antas apenas se pode utilizar os valores registados por

outros investigadores desconhecendo-se se a declinaccedilatildeo magneacutetica foi corrigida

nomeadamente pelo casal Leisner (Leisner 1965) ou somente pela representaccedilatildeo

graacutefica disponiacutevel como aquelas de Trigache e Conchadas obtidas a partir dos

apontamentos de F C Ribeiro (Leisner e Ferreira 1959 e 1961) No caso de

Trigache 1 a leitura proposta natildeo foi utilizada por ser ainda menos fiaacutevel dado o

estado de destruiccedilatildeo do sepulcro No entanto apesar das limitaccedilotildees referidas

considerei como relativamente verosiacutemeis as leituras conhecidas destes sepulcros

desaparecidos sobretudo porque se aproximam dos valores obtidos recentemente

com objectivos especiacuteficos e maior rigor

Apesar de todas as condicionantes enumeradas o caso da anta da Estria

destaca-se pela diferenccedila Como refiro noutros pontos deste trabalho alguns motivos

teratildeo contribuiacutedo para este desalinhamento A implantaccedilatildeo num ponto faacutecil de

escavar e que facilitava a instalaccedilatildeo do sepulcro em detrimento da orientaccedilatildeo

prescrita teraacute sido com certeza um desses motivos mas o facto de tal ter sido

admitido consubstancia uma razatildeo superestrutural o decliacutenio da importacircncia de

prescriccedilatildeo da orientaccedilatildeo da anta a nascente ndash ainda que se mantivessem outros

preceitos Esta impressatildeo parece reforccedilada pela cronologia relativa e absoluta

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 199 de 415

conhecidas para a anta da Estria De facto desta natildeo se conhece espoacutelio

especialmente caracteriacutestico do 4ordm mileacutenio ane como por exemplo geomeacutetricos e

utensiacutelios de pedra polida surgindo apenas espoacutelio melhor integraacutevel no 3ordm mileacutenio

ane ou na transiccedilatildeo para este como um baacuteculo de xisto artefactos de calcaacuterio e

pontas de seta de base cocircncava As duas dataccedilotildees pelo radiocarbono situam-se com

uma probabilidade superior a 90 entre 2900 e 2570 ane (Anexo 3 Quadro 2)

mas requerem-se mais dataccedilotildees para um melhor balizamento cronoloacutegico absoluto

Quadro 5 Orientaccedilatildeo dos acessos das antas tholoi e grutas artificiais da regiatildeo de Lisboa

Siacutetio

Anta

Azimute (Hoskin 2001)

Azimute ( m ) (Mediccedilatildeo preliminar de

C M Silva 2004) Observaccedilatildeo

Monte Abraatildeo 98ordm 99ordm (101ordm) Carrascal 110ordm 94ordm (96ordm) Carcavelos 111ordm 120ordm (122ordm) Mediccedilatildeo apoacutes escavaccedilatildeo Estria 213ordm 212ordm (217ordm) Pedras Grandes - 128ordm (130ordm) Mediccedilatildeo apoacutes restauro Monte Serves - 112ordm (114ordm) Pedra dos Mouros - nm E-SE Casaiacutenhos - 112ordm (114ordm) Alto da Toupeira 1 - 126ordm (128ordm) Casal do Penedo - 90ordm Leisner 1965 Arruda - 112ordm Planta de Vasconcelos 1898 Trigache 2 - 115ordm Leisner 1965 Trigache 3 - 135ordm Leisner 1965 Trigache 4 - 135ordm Leisner 1965 Conchadas - 115ordm Leisner 1965 Pedras da Granja - 110ordm Planta de Zbyszweski et al 1977 Trigache 1 - 80ordm Leisner 1965 Batalhas - - Sem informaccedilatildeo

Tholos Tituaria 105ordm 105ordm (107ordm) Satildeo Martinho 1 118ordm 123ordm (125ordm) Monge 152ordm 210ordm (212ordm) Praia das Maccedilatildes - 48ordm (50ordm) 70ordm segundo V Leisner (1965)

Bela Vista 80ordm nm Pseudo-tholos Orientaccedilatildeo inicialmente publicada (Mello et al 1961) eacute divergente

Barro (Alta Estremadura) 160ordm nm

Paimogo 1 (Alta Estremadura) - 115ordm Planta de Spindler e Gallay

1972 Gruta artificial

Vila Chatilde 1 38ordm nm Vila Chatilde 2 153ordm nm Vila Chatilde 3 174ordm nm Alapraia 1 109ordm nm Alapraia 2 166ordm nm Alapraia 3 118ordm nm Alapraia 4 109ordm nm

Mediccedilotildees de V S Gonccedilalves (2003e) em grados convertidas para graus ndash correcccedilatildeo da declinaccedilatildeo desconhecida

Casal do Pardo 1 102ordm nm Casal do Pardo 2 29ordm nm Casal do Pardo 3 201ordm nm

Mediccedilotildees de J Soares (2003) Correcccedilatildeo da declinaccedilatildeo desconhecida

Folha das Barradas - 270ordm Planta de C Ribeiro (1880) m ndash azimute magneacutetico (obtido com buacutessola e corrigido agrave esquerda azimute verdadeiro usando uma declinaccedilatildeo de 2ordmW nm ndash natildeo medido

A anta da Estria poderia entatildeo marcar um momento em que os preceitos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 200 de 415

maacutegico-religiosos estabelecidos do Megalitismo se haviam modificado De facto

esta estrutura poderia representar um dos uacuteltimos edifiacutecios daquele tipo construiacutedos

na regiatildeo de Lisboa algures na transiccedilatildeo dos mileacutenios

Portanto a excepccedilatildeo descrita parece confirmar para as restantes antas a regra

do alinhamento para nascente este-sudeste situaccedilatildeo recorrentemente verificada nos

trabalhos jaacute referidos (Gonccedilalves 1993 e 2003e Hoskin e Calado 1998 Hoskin

2001 Oliveira Rocha e Silva 2007) Se a este preceito juntar-se o padratildeo mais ou

menos definido das antas com cacircmaras poligonais com sete esteios com e sem

corredor mais ou menos curto cujas cronologias absolutas conhecidas afiguram

situaacute-las essencialmente entre os meados e o final do 4ordm mileacutenio ane algo tambeacutem

verificado genericamente no resto do Centro-Sul de Portugal entatildeo isso poderaacute

realccedilar um periacuteodo de apogeu deste cacircnone relativamente mais curto que o

fenoacutemeno do Megalitismo abrangido por este trabalho Aliaacutes alguns dos sepulcros

teoricamente mais antigos possivelmente atribuiacuteveis agrave primeira metade e meados do

4ordm mileacutenio ane parecem apresentar as orientaccedilotildees mais discrepantes como se

verificou na regiatildeo de Montemor-o-Novo onde entre as sepulturas protomegaliacuteticas

cerca de 15 destas (10 sepulturas) alinhavam para poente (Oliveira Rocha e Silva

2007) Isto poderia indiciar uma fase de formaccedilatildeo do cacircnone entretanto generalizado

na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane mas seria importante ampliar esta leitura

para outras regiotildees nomeadamente alentejanas de forma a confirmar tal hipoacutetese

Segundo M Hoskin (2001) a orientaccedilatildeo dos sepulcros do sudoeste peninsular

teria um motivo astronoacutemico podendo relacionar-se entre outros com os solstiacutecios

de Veratildeo e Inverno os equinoacutecios ou os ciclos lunares Contudo este autor

acreditava que o solstiacutecio de Inverno teria sido o principal denominador comum

dada a concentraccedilatildeo dos alinhamentos obtidos naquele intervalo este-sudeste Face a

esta hipoacutetese o autor ilustrava a questatildeo ldquoas the solstice approached the sunrsquos rising

point had for almost six months been moving south along the horizon and of late the

days had been getting alarmingly short and gloomy Unless the sun called a halt and

reversed the movement of sunrise darkness and cold would take over and human

life would cease Happily at the solstice and no doubt in response to ritual appeals

the sun did stop its alarming southwards progress and began its return with the

promise of a new yearrdquo (Hoskin 2001 p 17)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 201 de 415

Assim aleacutem do alinhamento preponderante do solstiacutecio de Inverno entre as

antas seria possiacutevel admitir que aquelas orientaccedilotildees distintas e minoritaacuterias mas

balizadas pelos dois solstiacutecios poderiam corresponder a momentos peculiares do

ano Entatildeo o eixo destes sepulcros teria sido estabelecido e eventualmente iniciada a

sua construccedilatildeo fora da eacutepoca preferencial

Utilizando as mesmas mediccedilotildees obtidas para os sepulcros da regiatildeo alentejana

Cacircndido Marciano da Silva (2004) propocircs uma nova interpretaccedilatildeo relacionando a

mesma concentraccedilatildeo de orientaccedilotildees com a ldquoLua de Primaverardquo Tal como o Sol

tambeacutem o planeta sateacutelite apresentava um ciclo semelhante ainda que em oposiccedilatildeo agrave

estrela Entre os vaacuterios ciclos lunares o momento em que a Lua e o Sol trocavam de

posiccedilatildeo ao nascer (cross-over) na Primavera perto do equinoacutecio de Veratildeo (ainda

que ocorra outro cruzamento no Outono) teria grande impacto sobre as populaccedilotildees

preacute-histoacutericas sobretudo porque anunciaria o fim da invernia sazonal (Silva 2004)

Esta leitura foi inicialmente proposta para os recintos megaliacuteticos alentejanos (Silva

2000 Silva e Calado 2005) mas entretanto aplicada ao fenoacutemeno funeraacuterio Assim

a construccedilatildeo das antas sob determinada orientaccedilatildeo correspondia agrave manutenccedilatildeo de

uma tradiccedilatildeo anterior (Silva e Calado 2003 e 2005 Oliveira Rocha e Silva 2007

Oliveira e Silva 2006)

Recentemente numa latitude mais setentrional foi avaliada a questatildeo da

orientaccedilatildeo em sepulcros megaliacuteticos da Dinamarca construiacutedos e utilizados durante

sensivelmente o mesmo periacuteodo comparando as possibilidades solar e lunar

levando os autores a inclinar-se para uma preponderacircncia do planeta sateacutelite

(Clausen Einicke e Kjaegaard 2008)

Alguns elementos da tradiccedilatildeo popular e da histoacuteria antiga foram valorizados

para reforccedilar a importacircncia da Lua entre as comunidades humanas do actual territoacuterio

portuguecircs nomeadamente o culto lunar da Serra de Sintra em eacutepoca romana e a

celebraccedilatildeo pascal associada ao ciclo da ldquoLua de Primaverardquo (Oliveira e Silva 2006)

Aquela orientaccedilatildeo eacute tambeacutem validada por exemplos proacuteximos do Megalitismo natildeo

mortuaacuterio e do funeraacuterio nomeadamente representaccedilotildees lunares em alguns menires

constituintes de recintos megaliacuteticos e na regiatildeo de Lisboa com a presenccedila entre o

espoacutelio sepulcral de artefactos de calcaacuterio na forma de crescentes ou com estes

gravados (informaccedilatildeo pessoal de M Calado Oliveira e Silva 2006) Contudo se

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 202 de 415

aceitar que aqueles crescentes foram gravados nos menires no periacuteodo de utilizaccedilatildeo

dos recintos megaliacuteticos ambos os exemplos localizam-se cronologicamente a

montante e jusante respectivamente do periacuteodo em que a maioria das antas foi

erecta inclusive ocorrendo em regiotildees geograficamente distintas Natildeo obstante esta

desvalorizaccedilatildeo de prova natildeo me parece que reprove a existecircncia de algum tipo de

importacircncia para o ciclo lunar assunto que importa continuar a aprofundar

Alguns aspectos da proposta de K Lillios (2004a 2006 e 2008) para os iacutedolos-

placa biomorfos encontrados entre o espoacutelio funeraacuterio das antas poderiam tambeacutem

coadunar-se com a faceta lunar e nocturna das antas Segundo a autora aquele tipo

de placa apresentaria caracteriacutesticas que recordariam a coruja das torres (Tyto Alba)

espeacutecie noctiacutevaga associada a crenccedilas de morte e regeneraccedilatildeofertilidade (Lillios

2004) e que seria avistada com maior facilidade durante as noites com a claridade

lunar no seu auge Contudo esta hipoacutetese poderia relacionar-se tambeacutem o Sol e o

ciclo diaacuterio de luz e trevas

Ainda no campo dos siacutembolos e dos artefactos a presenccedila de siacutembolos solares

em alguns menires bem como em vasos ceracircmicos e em iacutedolos-placa cilindroacuteides e

em falange poderiam advogar pela importacircncia da estrela solar Contudo o

argumento cronoloacutegico da anterioridade e posterioridade daquelas evidecircncias face ao

momento de apogeu da orientaccedilatildeo apontado para a hipoacutetese lunar parece tambeacutem

registar-se nestes casos colocando interrogaccedilotildees semelhantes

Aparte a interessante discussatildeo e possiacuteveis interpretaccedilotildees para a orientaccedilatildeo das

antas torna-se importante tambeacutem avaliar esta caracteriacutestica nos outros tipos de

sepulcros sujeitos ao mesmo leque de condicionalismos referidos acima para as suas

leituras

Os poucos tholoi da Estremadura (onde a regiatildeo de Lisboa se inclui) que

permitiram o registo da sua orientaccedilatildeo parecem apresentar um padratildeo menos

coerente Os tholoi do Barro e do Monge alinharam-se mais para sul

(respectivamente 152ordm e 160ordm) se bem que este uacuteltimo segundo a leitura de C M

Silva (210ordm) poderaacute apontar para sudoeste assemelhando-se a Estria No entanto em

ambos os tholoi natildeo satildeo visiacuteveis constrangimentos que impedissem a sua orientaccedilatildeo

para este-sudeste O tholos de Praia das Maccedilatildes com cerca de 48ordm de orientaccedilatildeo teraacute

sido condicionado pela colina onde foi instalado bem como o pseudo-tholos da

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 203 de 415

Belavista (80ordm)9 visto que foi adossado a um espaccedilo preacute-existente sob um caos de

blocos graniacuteticos ainda que recebendo um paramento em pedra seca semelhante

agravequele utilizado noutros sepulcros do tipo tholoi

A menor coerecircncia de orientaccedilatildeo dos tholoi estremenhos parece verificar-se

tambeacutem em Reguengos de Monsaraz Aiacute vaacuterios casos de tholoi inclusos nos tumuli

de antas apresentam os seus corredores convergindo nas respectivas galerias preacute-

existentes quer do lado norte ou sul sem um padratildeo claro (Leisner e Leisner 1951

Gonccedilalves 1993) indiciando uma preocupaccedilatildeo reduzida com o seu alinhamento de

acordo com os cacircnones precedentes Contudo nestes casos poder-se-ia argumentar

que em uacuteltima instacircncia o acesso aos tholoi utilizava a orientaccedilatildeo anteriormente

instaurada para nascente por vezes prolongada como parece registar-se na

reformulaccedilatildeo do corredor de Olival da Pega 2 (Gonccedilalves 1993 e 2003e) Ainda na

mesma regiatildeo o conjunto de sepulcros do povoado com fossos dos Perdigotildees de que

se conhece melhor os dois pseudo-tholoi ndash sepulcro 1 e 2 ndash agrupados numa bolsa

delimitada por fossos localizada no ponto sudeste do siacutetio ainda que possam existir

outros nas imediaccedilotildees mas fora desta aparentam orientaccedilotildees distintas No entanto

para aleacutem da localizaccedilatildeo no limite sudeste do povoado em ambos os casos as

orientaccedilotildees caiem dentro do quadrante nascente respectivamente 90ordm no sepulcro 1

e 130ordm no sepulcro 2 (Valera 2007) o que parece indicativo da manutenccedilatildeo de

cacircnones anteriores

Considerando a cronologia geneacuterica dos tholoi na primeira metade do 3ordm

mileacutenio ane e sobretudo daqueles de Lisboa que natildeo evidenciam

constrangimentos na sua implantaccedilatildeo julgo que poderia adiantar-se uma explicaccedilatildeo

similar agravequela da anta de Estria Ainda que o cacircnone fosse conhecido e de certa

forma respeitado jaacute natildeo teria a importacircncia evidenciada nos seacuteculos precedentes

As orientaccedilotildees das grutas artificiais apresentam ainda maiores disparidades que

os tholoi Para isso natildeo seraacute estranho o facto de estes sepulcros terem sido escavados

no substrato rochoso encontrando-se sujeitos agrave disponibilidade de espaccedilo e da

capacidade de escavaccedilatildeo com as teacutecnicas e instrumentos disponiacuteveis Contudo

9 A informaccedilatildeo e a planta apresentada inicialmente por Mello e colaboradores (1961) apontava o corredor para oeste V Leisner (1965) repete a mesma planta mas indica uma orientaccedilatildeo de ldquoE5ordmSrdquo proacutexima daquela registada por M Hoskin (2001) Ainda que natildeo tenha sido possiacutevel registaacute-la com exactidatildeo a nossa visita ao local permitiu verificar que o corredor apontava para a metade oriental

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 204 de 415

mesmo entre estes sepulcros eacute possiacutevel verificar uma tendecircncia geral para nascente

ainda que com espectro alargado em Casal do Pardo entre 29ordm e 201ordm e no Casal do

Tojal de Vila Chatilde entre 38ordm e 174ordm ressaltando Folha das Barradas como um caso

extremo pela orientaccedilatildeo oposta de 270ordm Contudo neste uacuteltimo siacutetio apenas se

conhece um uacutenico sepulcro registado por C Ribeiro (1880) ainda no seacuteculo XIX na

sequecircncia de trabalhos rurais que provocaram a sua identificaccedilatildeo e posteriormente

destruiccedilatildeo A avaliaccedilatildeo topograacutefica possiacutevel do local um relevo pouco acentuado e

o seu substrato geoloacutegico margas do TerciaacuterioComplexo de Benfica (SGP 1991)

indiciam a possibilidade da existecircncia de outros sepulcros similares

Apesar da cronologia absoluta das grutas artificiais da Estremadura natildeo se

encontrar bem definida a presenccedila de artefactos de cariz arcaico parece situaacute-las

pelo menos na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane prolongando-se o seu uso pelo

mileacutenio seguinte De facto as dataccedilotildees pelo radiocarbono conhecidas ainda que

sejam claras na atribuiccedilatildeo das utilizaccedilotildees mais recentes deixam algumas duacutevidas

quanto agravequelas mais recuadas por motivos de fiabilidade das amostras utilizadas (ver

capiacutetulo 8 e Anexo 3 Quadro 2) Mas a confirmar-se a antiguidade destes sepulcros

durante o referido apogeu do cacircnone astronoacutemico e perante a presenccedila de espoacutelios

funeraacuterios semelhantes agravequeles recolhidos em antas algumas possibilidades satildeo

passiacuteveis de reflexatildeo

1 Estes foram severamente condicionados pelo substrato rochoso tout court

2 Agraves grutas artificiais mais antigas dos respectivos clusters corresponderiam as

orientaccedilotildees tradicionais reflectindo aquelas menos canoacutenicas momentos

cronoloacutegicos onde tal preceito se subjugou a outras circunstacircncias nomeadamente

geoloacutegicas

3 A escolha por este tipo de sepulcro subterracircneo estaria associado a grupos

especiacuteficos que adoptaram soluccedilotildees arquitectoacutenicas distintas por motivos soacutecio-

culturais relegando para segundo plano a importacircncia da orientaccedilatildeo ndash neste caso

colocar-se-ia a questatildeo de poderem ser gente forasteira que ali se instalou ou

indiacutegenas que natildeo adoptaram em plenitude os novos cacircnones funeraacuterios ortostaacuteticos

sendo influenciados por outras formas de enterramento subterracircneo possivelmente

mais proacuteximas daquelas praticadas anteriormente em grutas naturais Eis uma

questatildeo que necessitaraacute de maior aprofundamento eventualmente pelos dados

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 205 de 415

antropoloacutegicos ou esclarecida com um projecto de anaacutelises isotoacutepicas versando natildeo

soacute as paleodietas mas tambeacutem a mobilidade dos indiviacuteduos sepultados destes grupos

Criadas por processos naturais as cavidades naturais apresentam os seus

acessos com alinhamentos pouco padronizaacuteveis Assim algumas das grutas de

Lisboa apresentam-se abertas genericamente para norte (Salemas Salamandras

Cova da Raposa e Fojo dos Morcegos) sul (Tufo Cova do Biguino e Poccedilo Velho)

este e oeste (Carnaxide) e oeste (Ponte da Laje e Castanhais) Por outro lado nas

cavidades de acesso vertical esta questatildeo torna-se ainda mais complexa de definir

eventualmente associada agrave pendente onde se localize

Face ao exposto a prescriccedilatildeo ritual de uma passagem virada para nascente

sobretudo no quadrante este-sudeste parece uma realidade verificaacutevel

maioritariamente para os sepulcros do tipo anta (Fig 126) afigurando-se como

provaacutevel praacutetica canoacutenica essencialmente durante a segunda metade do 4ordm mileacutenio

ane registando-se o decliacutenio gradual da sua importacircncia na primeira metade do

mileacutenio seguinte

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 206 de 415

43 As outras soluccedilotildees sepulcrais

Ainda que este trabalho incida sobre a questatildeo das antas da regiatildeo de Lisboa

como jaacute foi salientado noutros pontos inclusive no capiacutetulo anterior seria uma

abordagem empobrecida se natildeo fossem discutidas ainda que sumariamente os

restantes tipos de sepulcros e as suas implantaccedilotildees Um motivo crucial para tal eacute com

certeza a relativa contemporaneidade das praacuteticas funeraacuterias independentemente do

contentor utilizado verificada atraveacutes dos espoacutelios recolhidos (capiacutetulo 5) e das

dataccedilotildees absolutas obtidas (capiacutetulo 8)

Cavidades naturais

Graccedilas agrave fisiografia da Estremadura e no particular da Baixa Estremadura

regiatildeo onde se encontram as antas de Lisboa a presenccedila de cavidades naturais e a

sua utilizaccedilatildeo satildeo frequentes em alguns casos quase exclusiva como parece ocorrer

na extremidade sul da peniacutensula de Setuacutebal Semelhante quase exclusividade

evidencia-se tambeacutem ao longo do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho na Alta

Estremadura

De acordo com a proposta classificativa de G Zbyszweski (1963) a maioria

das grutas da regiatildeo de Lisboa parece integrar-se no tipo em corredor surgindo nas

escarpas das bancadas alteradas ou nas encostas mais ou menos iacutengremes

proporcionando acessos com diferentes graus de dificuldade A este grupo

pertenceriam as grutas de Salemas (Castro e Ferreira 1972) Salamandras (Harpsoumle e

Ramos 1987) Tufo (Oliveira Silva e Deus 1997) Ponte da Laje (Zbyszweski

Viana e Ferreira 1957) Carnaxide (Cardoso 1995a) Poccedilo Velho (Gonccedilalves 2005)

Porto Covo (Gonccedilalves 2008) e Cova da Raposa (Nogueira 1931) Na referida aacuterea

de Setuacutebal o acesso por poccedilo vertical como na Lapa Furada (Cardoso e Cunha

1995 Cardoso 1997) parece coexistir com outros casos mais acessiacuteveis como a Lapa

do Fumo (Serratildeo e Marques 1971) Nos relevos calcaacuterios setentrionais do Maciccedilo

Estremenho o nuacutemero de grutas com utilizaccedilatildeo funeraacuteria eacute bastante elevado

registando-se grutas extensas como Algar do Bom Santo (Duarte 1998) ou pequenas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 207 de 415

diaacuteclases como Rio Seco (Tereso et al 2006)

O destaque na paisagem da maioria destas grutas-necroacutepole seria bastante

reduzido e mais ainda para os casos de cavidades com acesso vertical No entanto

haveria algumas grutas sobretudo aquelas em corredor que poderiam ter sido mais

facilmente avistadas localmente nomeadamente as grutas de Pedra Furada (Parreira

1985) ou do Tufo (Pereira 1986) denunciadas pelas suas cavidades na face do

escarpado O afeiccediloamento da entrada da gruta de Ponte de Laje delineando um

formato circular da sua entrada (Zbyszweski Viana e Ferreira 1957 Vaultier Roche

e Ferreira 1959 Zbyszweski 1963) realccedilaria aquela cavidade Outra situaccedilatildeo que

poderia ter ocorrido com maior frequecircncia mas que o registo arqueoloacutegico natildeo

permite hoje verificar seria a sinalizaccedilatildeo da entrada da cavidade como parece ter

ocorrido na gruta eventualmente afeiccediloada de Verdelha dos Ruivos (Pedreira do

Casal do Penedo 2) com acesso vertical e assinalada segundo os seus escavadores

por um pequeno monoacutelito fincado junto agrave sua entrada (Leitatildeo et al 1984)

Finalmente a associaccedilatildeo circunstancial de certas cavidades a relevos destacados na

paisagem poderia tambeacutem ter funcionado como marcador destas um pouco agrave

semelhanccedila ainda que numa escala diferente do jaacute referido para as antas de Lisboa

As grutas de Salemas e Salamandras poderiam incluir-se nesta situaccedilatildeo

Como se discutiraacute adiante em muitas destas grutas surgem as primeiras

evidecircncias datadas pelo radiocarbono de praacuteticas enquadradas no fenoacutemeno do

Megalitismo da regiatildeo podendo isso justificar talvez o facto de ateacute o momento se

desconhecerem sepulcros ortostaacuteticos do tipo sepultura protomegaliacutetica e antas de

cacircmara simples na Baixa Estremadura Mas como aquelas cavidades continuaram a

ser utilizadas denunciando essas tradiccedilotildees anteriores isso poderia tambeacutem explicar o

nuacutemero limitado de antas

Grutas artificiais

A questatildeo da tradiccedilatildeo funeraacuteria regional em gruta poderaacute tambeacutem em certa

medida ajudar a perceber o sucesso relativo das grutas artificiais na regiatildeo de

Lisboa e de alguma forma noutras aacutereas da Estremadura nomeadamente na regiatildeo

de Torres Vedras com Cabeccedilo da Arruda 1 (Trindade e Ferreira 1956) Ermegeira

(Heleno 1942 Leisner 1965) e Quinta das Lapas 1 e 2 (Gonccedilalves J 1992) em

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 208 de 415

Caldas da Rainha com a Ribeira de Crastos 1 e 2 (Jordatildeo e Mendes 2000) e

possivelmente em Torres Novas com Ribeira Branca (Leisner 1965) Mas eacute em

redor da desembocadura do Tejo que se regista um nuacutemero superior deste tipo de

sepulcros subterracircneos organizados em clusters designadamente Casal do Pardo

(Leisner 1965 Soares 2003) Satildeo Paulo (Barros e Santo 1997 Silva 2002) Tojal

de Vila Chatilde (Heleno 1933 Leisner 1965) Satildeo Pedro do Estoril e Alapraia (Leisner

1965 Gonccedilalves 2003e) com indicaccedilatildeo de duas outras grutas artificiais no Murtal

(Cardoso G 1991) Outras provaacuteveis grutas artificiais ainda que aparentemente

isoladas satildeo a cacircmara ocidental de Praia das Maccedilatildes (Leisner 1965 Leisner

Zbyszweski e Ferreira 1969) Folha das Barradas (Ribeiro 1880 Leisner 1965) e

Monte do Castelo (Oliveira e Brandatildeo 1969) na peniacutensula de Lisboa e Capuchos na

Arraacutebida (Ferreira 1966)

E Rivero Galaacuten (1986 e 1988) ensaiou para a ldquomitad meridional de la

Peniacutensula Ibeacutericardquo uma classificaccedilatildeo das grutas artificiais estabelecendo o tipo I e II

para sepulcros totalmente escavados no substrato rochoso respectivamente com e

sem acessos definidos e o tipo III para estruturas subterracircneas semi-artificiais pois

utilizariam em parte da sua construccedilatildeo blocos peacutetreos

Na regiatildeo de Lisboa as grutas melhor conhecidas parecem enquadrar-se

genericamente no tipo II subgrupo 1BC com corredor entretanto distinguidas por

V S Gonccedilalves com algumas caracteriacutesticas particulares ldquoum corte longitudinal

fornece uma caracteriacutestica imagem de igloo esquimoacute visto do interior Mas os

corredores satildeo sinuosos e compreendem por vezes uma antecacircmara No topo da

cacircmara de algumas grutas artificiais uma abertura coberta por uma laje permitia a

introduccedilatildeo de mais corpos quando o acesso pelo corredor jaacute natildeo era possiacutevel satildeo

as grutas artificiais tipo coelheirardquo (Gonccedilalves 2003 p 119) Portanto a provaacutevel

existecircncia de laje de fechamento da claraboacuteia apontada bem como em alguns destes

corredores natildeo haver evidecircncia de que fossem integralmente escavados na rocha

pelo contraacuterio apresentando por vezes depressotildees que poderiam ter servido para o

assentamento de linteacuteis casos de Casal do Pardo 2 Alapraia 1 ou Tojal de Vila Chatilde

1 2 e 3 talvez obriguem agrave sua inclusatildeo no tipo III Contudo julgo que para aleacutem da

tipologia mais ou menos rigorosa que as evidecircncias sobreviventes permitem realizar

seraacute de reter a implantaccedilatildeo negativa destes sepulcros que originava uma presenccedila na

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 209 de 415

paisagem bastante discreta tendo implicado sobretudo uma escavaccedilatildeo de um espaccedilo

sepulcral uma gruta artificial e natildeo a erecccedilatildeo de um edifiacutecio como ocorria com as

antas ainda que mesmo essas se poderatildeo considerar de alguma forma espaccedilos

cavernosos artificiais (Oosterbeek 1997a)

O cluster de grutas artificiais da Sobreira de Cima recentemente descoberto e

escavado no Alentejo (Valera Soares e Coelho 2008) apresentava sepulcros com

acesso por poccedilo (Tipo II1A) No entanto um deles tinha um acesso rampado

(possiacutevel Tipo II1B) surgindo com vaacuterias estruturas de calccedilo levando a crer que

aquele sepulcro pelo menos teria algum tipo de estela assinalando a sua entrada

(informaccedilatildeo pessoal de A Valera) Esta possibilidade de sinalizaccedilatildeo jaacute mencionada

para a gruta natural provavelmente afeiccediloada de Verdelha dos Ruivos poderia ter

ocorrido tambeacutem nas grutas artificiais de Lisboa evidecircncia hoje perdida

Tholoi

Os tholoi da regiatildeo de Lisboa e mesmo incluiacutendo os restantes da Estremadura

satildeo em nuacutemero o tipo de sepulcro menos abundante No entanto como se veraacute

adiante (Capiacutetulo 63) os totais de deposiccedilotildees funeraacuterias por sepulcro apresentam-se

superiores aos restantes tipos

V S Gonccedilalves anota que a definiccedilatildeo de tholos ldquorefere-se em Portugal a

monumentos efectivamente muito diferentes entre si tanto em termos morfoloacutegicos

como muito possivelmente cronoloacutegicos Basicamente todos tecircm uma cobertura em

falsa cuacutepula de onde por vezes serem referidos como laquomonumentos de falsa

cuacutepularaquo Os corredores destes monumentos geralmente longos ou muito longos

apresentam tambeacutem variantes construtivas podendo consistir em finos ortoacutestatos ou

em estruturas laquotipo muroraquordquo (Gonccedilalves 2003e p 335-336)

A pretexto da escavaccedilatildeo de dois sepulcros com semelhanccedilas a tholoi do

povoado de Perdigotildees (Valera et al 2000) eacute proposto o abandono da designaccedilatildeo

laquotholosraquo ldquosob pena de perpetuaccedilatildeo de determinados equiacutevocos generalizadoresrdquo

(Valera et al 2000 p 92) Isto porque a referida expressatildeo implicaria ldquofalar de uma

teacutecnica particular de construccedilatildeo arquitectoacutenica para coberturas (ou paredes e

coberturas) de compartimentosrdquo (Valera et al 2000 p 92) Assim argumentava-se

que dos cerca de 60 sepulcros designados como tholoi no actual territoacuterio portuguecircs

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 210 de 415

apenas trecircs exibiriam dados indiscutiacuteveis para a sua adscriccedilatildeo como tal Alcalar 7

(Moraacuten e Parreira 2004 e 2007) Monge (Ribeiro 1880) e Vale Rodrigo 1 (Leisner

1940 Leisner e Leisner 1959)

De facto na maioria dos sepulcros designados como tholoi natildeo se conhece

evidecircncia arqueoloacutegica suficiente que comprove sempre a existecircncia de coberturas

peacutetreas em cuacutepula No entanto os indiacutecios presentes nomeadamente a estrutura

delimitadora da cacircmara quase sempre circular seguida de corredor com extensotildees

variadas em muro com fiadas de pedra ou forrada por lajes mais ou menos finas

poderatildeo ser suficientes para pelo menos admitir um propoacutesito comum de construccedilatildeo

distinto das construccedilotildees ortostaacuteticas ou subterracircneas conhecidas anteriormente

Tambeacutem a possibilidade de utilizaccedilatildeo de materiais lenhosos nas estruturas de

paramento e cobertura entretanto desaparecidas deve ser equacionada pois tal

situaccedilatildeo tem vindo a ser verificada noutras regiotildees europeias onde o fenoacutemeno do

Megalitismo (ainda que com especificidades regionais) tambeacutem se registou (Masset

1997 Chambon 2003 Joussaume 1985 e 2004) Por outro lado o diacircmetro

alargado de alguns sepulcros deste grupo implicaria um ou mais postes centrais de

madeira ou pedra como parece ser sido detectado na Praia das Maccedilatildes (Leisner 1965

Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) mas tais situaccedilotildees satildeo admissiacuteveis para outros

como Tituaria ou Barro (Leisner 1965) na Estremadura ou do Escoural (Santos

1967 Santos e Ferreira 1969) e Perdigotildees no Alentejo

Assim na falta de uma designaccedilatildeo ou expressatildeo novas que melhor enquadrem

estas estruturas funeraacuterias julgo que o termo tholos (tholoi plural) mesmo que

sujeito pelos mais distraiacutedos a alguns equiacutevocos eacute ainda uacutetil e passiacutevel de ser

aplicado a um conjunto de construccedilotildees funeraacuterias que mesmo sem uma evidecircncia

completa e irrefutaacutevel de cuacutepulas peacutetreas se aproximam estruturalmente daquelas

caracteriacutesticas ainda que com variaccedilotildees regionais inclusive nos seus mobiliaacuterios

funeraacuterios Outro argumento para a utilizaccedilatildeo do termo eacute a aparente cronologia

similar entre os sepulcros referidos que surge centrada na primeira metade do 3ordm

mileacutenio ane (ver capiacutetulo 8) de certa forma compatiacutevel com o momento em que a

mesma teacutecnica se encontra aplicada na construccedilatildeo de povoados amuralhados Aliaacutes

aqueles que aconselhavam o abandono da designaccedilatildeo admitiam poreacutem que ldquoestas

formulaccedilotildees arquitectoacutenicas parecem estar associadas a populaccedilotildees enquadradas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 211 de 415

em sistemas religiosos similares manifestando atitudes perante a morte aparentadas

entre si e globalmente reflectindo aspectos essenciais dos sistemas do megalitismo

funeraacuteriordquo (Valera et al 2000 p 93)

Os tholoi da Estremadura apresentam caracteriacutesticas arquitectoacutenicas similares

entre si cacircmaras tendencialmente circulares de diacircmetro consideraacutevel com

paramentos em muro de pedra estendendo-se pelo corredor Todavia o tholos de

Agualva (Ferreira 1953 Leisner 1965) parece ter aplicado ldquogrossos blocosrdquo na

vertical dos troccedilos do corredor e cacircmara a partir do qual neste uacuteltimo espaccedilo

arrancaria a cuacutepula tambeacutem na Tituaria o corredor foi construiacutedo por um misto de

blocos verticais e horizontais (Cardoso et al 1996)

Com a excepccedilatildeo do tholos do Monge onde eacute possiacutevel observar ainda a

construccedilatildeo por fiadas gradualmente salientes nos restantes essas evidecircncias satildeo

menos clarificadoras Contudo para aleacutem do ldquoar de famiacuteliardquo os espoacutelios funeraacuterios

relativamente similares bem como as dataccedilotildees pelo radiocarbono permitem

vislumbrar a sua contemporaneidade

Como foi referido em anteriormente (capiacutetulos 4134 e 4141) alguns

sepulcros outrora classificados como tholoi nomeadamente Trigache 4 e

Conchadas enquadram-se pelas suas caracteriacutesticas no grupo das antas Por outro

lado perante os elementos conhecidos do sepulcro de tipo indefinido de Samarra

(Franccedila e Ferreira 1958) julgo que este poderaacute ter correspondido a um tholos pela

sua implantaccedilatildeo provaacutevel e os inuacutemeros blocos provavelmente restos da construccedilatildeo

misturados com um tipo de espoacutelio frequente neste tipo de sepulcro e de forma

secundaacuteria pela ausecircncia de uma dataccedilatildeo absoluta pelo radiocarbono que recue

aquelas deposiccedilotildees (Silva Ferreira e Codinha 2006 Anexo 3 Quadro 2)

Agrave semelhanccedila das antas de Lisboa tambeacutem os tholoi parecem ter sido

escavados parcialmente no substrato local sendo talvez o caso de Praia das Maccedilatildes

aquele mais evidente Tambeacutem na Tituaria e no Monge tal situaccedilatildeo eacute observaacutevel O

caso jaacute mencionado de Bela Vista apesar de peculiar enquadra-se numa estrateacutegia

de construccedilatildeo semelhante

No Alentejo os tholoi apresentam similar caracteriacutestica semi-subterracircnea

encastrados dentro de tumulus de antas anteriores ou no solo virgem ainda que na

sua maioria os paramentos sejam essencialmente com lajes na vertical mais ou

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 212 de 415

menos finas (Leisner e Leisner 1951 Gonccedilalves 2003d) Haacute contudo excepccedilotildees

como o tholos OP2d (Gonccedilalves 1999a) mas sobretudo no Baixo Alentejo onde

alguns paramentos satildeo em murete (Leisner e Leisner 1959 Leisner 1965)

Recordando a maior concentraccedilatildeo conhecida de tholoi em Los Millares muitos

destes sepulcros tambeacutem aparentam ter sido abertos parcialmente no solo (Leisner e

Leisner 1943 Almagro e Arribas 1963) registando-se ali ambos os tipos de

paramentos

A maioria das implantaccedilotildees dos tholoi conhecidos da Estremadura contrasta

com aquela dos restantes tipos de sepulcros De facto apenas Satildeo Martinho 1 e 2

foram instalados no fundo do vale na base de vertente virada para este-sudeste ndash

aliaacutes o par de tholoi tatildeo proacuteximo eacute tambeacutem por si inusitado Este tipo de sepulcro

tem sido encontrado frequentemente isolado podendo isso dever-se a uma realidade

proacutepria ou a lacuna de investigaccedilatildeo pois Paimogo 1 teria proacuteximo outro sepulcro

provavelmente similar e noutros casos aleacutem Tejo foram detectadas concentraccedilotildees

destes sepulcros na anta de Olival da Pega 2 e possivelmente Olival da Pega 1

(Gonccedilalves 1993 e 2006) em Alcalar (Parreira e Serpa 1995 Moraacuten e Parreira

2004) La Pijotilla (Hurtado 1986 1988 e 1991 Hurtado Mondejar e Pecero 2000)

San Blas (Hurtado 2004) Valencina da La Concepcioacuten (Vargas 2004a e 2004b) e

no jaacute referido Los Millares (Leisner e Leisner 1943 Almagro e Arribas 1963)

Aparte Satildeo Martinho 1 e 2 os restantes tholoi encontram-se em pontos

relativamente cimeiros de vertente (Praia da Maccedilatildes Vaacuterzea Agualva Tituaria e

Paimogo 1) ou nos seus cumes (Monge Bela Vista e Pedreira do Campo) Isto

poderia significar entatildeo uma maior preocupaccedilatildeo com a marcaccedilatildeo da paisagem

situando aqueles sepulcros em pontos altos facilmente avistados e de alguma forma

avistando sobretudo porque provavelmente em redor o coberto florestal seria

reduzido Contudo queda-se por perceber a forma como a cuacutepula ou tecto seria

revestida exteriormente ndash se com uma massa tumular terrosa ou com um paramento

orgacircnico ndash o que contribuiria para uma maior ou menor visibilidade da estrutura na

paisagem

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 213 de 415

44 Poucas antas muitos sepulcros

A fraca representatividade adiantada supra das antas da regiatildeo de Lisboa (cerca

de duas dezenas) no acircmbito do Megalitismo parece um facto ainda mais ampliado se

abranger a restante Estremadura ou se for comparada com os efectivos da regiatildeo

vizinha alentejana (Leisner e Leisner 1959 Leisner 1965 Kalb 1981 1988 e 1989

Rocha 2005)

Na Baixa Estremadura a peniacutensula de Setuacutebal natildeo tem ateacute hoje qualquer anta

identificada apesar de alguns apontamentos antigos registarem a existecircncia de

topoacutenimos que o prenunciariam (Serratildeo 1973 Soares 2003)

Na aacuterea central e setentrional estremenha o inventaacuterio das antas natildeo

ultrapassaraacute a dezena infelizmente muito mal conhecidas dispersas e na maioria jaacute

desaparecidas Isso eacute sugerido por provaacuteveis antas em Alenquer ndash Paiol (Leisner

1965) Cabanas da Torre siacutetio dos Malhatildees (Vasconcelos 1917) e Quinta do Vale

das Lajes (Lucas 1994) em Torres Vedras ndash Serra da Vila que poderaacute corresponder

a um tholos hipoacutetese para a qual me inclino (Leisner 1965) em Alcanena ndash Fonte

Moreira (Leisner 1965) Bombarral ndash Columbeira (CNS- 17654) Alcobaccedila ndash Fontes

Belas (CNS- 5725) Oureacutem ndash Zurrague 1 (CNS- 25072) Tambeacutem da espantosa anta

de Alcobertas (Rio Maior) com uma dimensatildeo consideraacutevel e incorporada na igreja

local como capela lateral (Paccedilo et al 1959 Pereira et al 2008) natildeo se conhece

ainda informaccedilatildeo esclarecedora

O incremento da investigaccedilatildeo da regiatildeo do Alto Ribatejo aacuterea do limite

noroeste das faldas do Maciccedilo Estremenho (Oosterbeek 1994 e 1997b Cruz 1997)

tambeacutem designada por sub-regiatildeo natural nabantina (SEA 1974) poderaacute no entanto

exemplificar que soacute com estudos regionais sistemaacuteticos e focados na respectiva

temaacutetica neste caso das antas seratildeo possiacuteveis dados para uma avaliaccedilatildeo mais

rigorosa da sua presenccedilaausecircncia algo que foi subalternizado face ao estudo das

cavidades naturais dos relevos caacutersicos estremenhos As investigaccedilotildees mencionadas

e a sistematizaccedilatildeo das antas daquela regiatildeo assinalaram concentraccedilotildees destas

algumas entretanto escavadas nomeadamente Val da Laje 1 (Oosterbeek Cruz e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 214 de 415

Feacutelix 1992) e Rego da Murta 1 e 2 (Figueiredo 2006 e 2007) Os resultados obtidos

ateacute o momento indicam uma aparente clivagem espacial ainda que relativamente

contemporacircnea entre a utilizaccedilatildeo de cavidades naturais na mancha caacutersica sem a

presenccedila de antas face agrave construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo destes sepulcros ortostaacuteticos nas

aacutereas limiacutetrofes do maciccedilo antigo com um substrato rochoso de xistos onde natildeo

ocorrem grutas (Oosterbeek 1997b Cruz 1997 Figueiredo 2006 e 2007)

Assim os condicionalismos da investigaccedilatildeo e o impacto antroacutepico poderatildeo ser

apontados como uma explicaccedilatildeo para parte das ausecircncias de antas sobretudo na

Baixa Estremadura Mas mesmo relativizando a questatildeo o cocircmputo geral das antas

manteacutem-se reduzido

Como jaacute referi noutros pontos julgo que a disponibilidade de cavidades

naturais e substratos rochosos que permitiam uma escavaccedilatildeo facilitada de jazigos

teratildeo pesado nas escolhas dos tipos de contentores funeraacuterios utilizados

influenciando essas praacuteticas a um niacutevel super-estrutural Essa escolha que me parece

evidente para a Estremadura tambeacutem teraacute ocorrido noutras regiotildees onde tais

estruturas naturais se encontravam disponiacuteveis ndash a gruta alentejana do Escoural

(Arauacutejo Santos e Cauwe 1993 Arauacutejo e Lejeune 1995) aquelas do Algarve (Straus

et al 1988) ou da parte cacerentildea da Extremadura espanhola (Cerrillo e Gonzaacutelez

2007) seratildeo disso indicadores

Observando a cartografia da regiatildeo (Fig 1 25-30) nota-se uma distribuiccedilatildeo

das antas na aacuterea do Complexo vulcacircnico de Lisboa sobretudo na sua franja sul-

sudoeste termoarredores da actual cidade de Lisboa em alguns casos agrupadas

Outras antas surgem isoladas por vezes proacuteximas de outros tipos de sepulcros

A aacuterea da cidade de Lisboa realccedila o desconhecimento que infelizmente temos

desta Os vestiacutegios de ocupaccedilotildees preacute-histoacutericas no Vale de Alcacircntara e Monsanto

(Jalhay Paccedilo e Ribeiro 1944 Paccedilo e Baacutertholo 1954 Leisner 1965 Ribeiro 1966

Cardoso e Carreira 1995) bem como recentes dados para ocupaccedilotildees na transiccedilatildeo do

5ordm para o 4ordm mileacutenio ane no centro lisboeta (Muralha e Costa 2006 Valera Coelho

e Ferreira 2008) permitem supor a existecircncia de uma densidade humana superior agrave

dos seus restos conhecidos inclusive funeraacuterios pelo menos durante aquele uacuteltimo

mileacutenio O iacutedolo-placa encontrado na Quinta da Farinheira Chelas (Zbyszewski

1950) relembra essa probabilidade

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 215 de 415

Os agrupamentos de antas cuja anaacutelise foi jaacute desenvolvida nos respectivos

capiacutetulos resumem-se na regiatildeo de Lisboa a quatro casos ainda que soacute dois deles de

forma incontroversa Os clusters de Belas e de Trigache aparentam ter sido criados

pelo menos na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane ainda que perdurando a sua

importacircncia funeraacuteria ao longo do 3ordm mileacutenio ane Essas situaccedilotildees sugerem a

necropolizaccedilatildeo daqueles espaccedilos no sentido proposto por V O Jorge (1986) Os

outros dois conjuntos de Alto da Toupeira e Verdelha do Ruivo poderatildeo tambeacutem

enquadrar-se como espaccedilos necropolizados ainda que nestes casos associados a

grutas naturais com periacuteodos de ocupaccedilatildeo distintos No primeiro caso com uma

utilizaccedilatildeo anterior ao provaacutevel momento de construccedilatildeo das antas de Alto da Toupeira

1 e 2 e no segundo com uma cavidade eventualmente afeiccediloada () utilizada em

periacuteodo posterior agrave da construccedilatildeo das antas de Casal do Penedo e Monte Serves

As restantes antas da regiatildeo de Lisboa surgem relativamente isoladas sem que

o desconhecimento de outros sepulcros similares nas suas proximidades seja prova

de que natildeo tivessem existido Aliaacutes os testemunhos toponiacutemicos referem-se a

ldquoantasrdquo (no plural) para algumas das aacutereas onde aqueles sepulcros se localizam ndash por

exemplo em Carcavelos e Arruda

Se a proximidade entre antas e grutas naturais ocorreu essa relaccedilatildeo espacial

com as grutas artificiais e os tholoi natildeo foi registada ateacute o momento De facto como

foi referido no capiacutetulo anterior as grutas artificiais surgem em clusters monotiacutepicos

apenas com a excepccedilatildeo conhecida de Praia das Maccedilatildes onde um tholos foi

implantado junto a uma provaacutevel gruta artificial Outro caso de proximidade entre

diferentes tipos de sepulcros mas jaacute a norte da Baixa Estremadura parece registar-se

no Cabeccedilo da Arruda (Trindade e Ferreira 1956 Leisner 1965) ainda que a sua

caracterizaccedilatildeo suscite discussatildeo quanto agrave sua real classificaccedilatildeo A construccedilatildeo de

tholoi no acircmago de tumulus das antas do territoacuterio alentejano de Reguengos de

Monsaraz (Leisner e Leisner 1951 Gonccedilalves 1993) manteacutem-se desconhecida na

regiatildeo de Lisboa e restantes aacutereas estremenhas

Retornando agrave cartografia da regiatildeo de Lisboa (Mapa 1) de imediato notamos

uma aparente exclusividade de grutas naturais e artificiais nas margens da foz do

Tejo sobretudo prolongando-se ateacute a aacuterea de Estoril-Cascais No caso das grutas

artificiais registam-se clusters em Alapraia com 4 sepulcros (CNS-638 Leisner

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 216 de 415

1965 p 91-100) S Pedro do Estoril com 2 (CNS-3031 Leisner et al 1964) e

Murtal com 2 (CNS- 11288 Cardoso G 1991 nordm 164)

Apesar do tholos do Monge (CNS- 3385 Leisner 1965 p 82-85) se encontrar

relativamente isolado na face sul da Serra de Sintra na vertente norte desta parece

notar-se outra concentraccedilatildeo principalmente sobranceira agrave ribeira de Colares Esta

apresenta uma outra diversidade com as cavidades naturais de Castanhais (CNS-

6247 Leisner 1965 p 89) e Estefacircnea (CNS- 19444 AML 2002) os tholoi de Satildeo

Martinho 1 e 2 (CNS- 657 Leisner 1965 p 38-41) o pseudo-tholos da Bela Vista

(CNS- 19452 Leisner 1965 p 85-88) e quiccedilaacute o doacutelmen em S Pedro (capiacutetulo

419) Para norte desta aacuterea detectamos vaacuterios tipos de sepulcros aparentemente

mais dispersos como os tholoi da Praia das Maccedilatildes (CNS- 146 Leisner 1965

Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) e da Vaacuterzea (informaccedilatildeo pessoal de M C

Coelho e T Simotildees Gonccedilalves 2005) a anta de Pedras da Granja (CNS- 91

Zbyszweski et al 1977) a gruta artificial de Folha das Barradas (CNS- 977 Ribeiro

1880 Leisner 1965 p 41-43) e as grutas das Covas da Raposa e do Biguino no

Vale da Calada (Nogueira 1931 Leisner 1965 p 89)

O possiacutevel tholos da Samarra (CNS-3773 Leisner 1965 p 68-70) e a gruta do

Fojo dos Morcegos (CNS- 174 Marques 1971 AML 2002) parecem apontar para

outra eventual concentraccedilatildeo de sepulcros de que os topoacutenimos proacuteximos de Pedranta

(Franccedila e Ferreira 1958) e ldquoantasrdquo poderatildeo ser testemunho

Um outro agrupamento parece vislumbrar-se desta vez com as grutas naturais

de Salemas (CNS- 1707 Castro e Ferreira 1972) Tufo (CNS-10303) e

SalamandrasPenedos ndash Ponte de Lousa (CNS-10305 Harpsoumle e Ramos 1987) e as

antas de Carcavelos (CNS- 3502 Estecircvatildeo e Deus 2000) Alto da Toupeira 1 e 2

(CNS- 3007 Leisner 1965 p 27) e Casaiacutenhos (CNS- 650 Leisner Zbyszweski e

Ferreira 1969)

Para nascente do uacuteltimo grupo registamos o conjunto de Verdelha do Ruivo

com as antas de Monte Serves (CNS- 4792 North Boaventura e Cardoso 2005) e

Casal do Penedo (CNS- 656 Vaultier e Zbyszweski 1951) e a gruta de Verdelha

dos Ruivos (CNS- 12825 Leitatildeo et al 1984)

Finalmente notamos as duas concentraccedilotildees proacuteximas de Trigache e Belas

(Ribeiro 1880 Leisner 1965 Leisner e Ferreira 1959) A primeira congrega

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 217 de 415

apenas as antas de Pedras Grandes (CNS- 648 Ribeiro 1880) Batalhas (CNS- 649

Ribeiro 1880) e Trigache 1 a 4 (CNS- 4733 3857 3789 e 20099) A segunda

concentraccedilatildeo aleacutem do cluster de antas de Monte Abraatildeo (CNS- 655 Ribeiro 1880)

Pedra dos Mouros (CNS- 11301 Ribeiro 1880) e Estria (CNS- 3001 Ribeiro 1880)

tem proacuteximo as antas de Carrascal (CNS- 4295 Ribeiro 1880) e Conchadas (CNS-

2095 Leisner e Ferreira 1959) Registam-se ainda as grutas naturais com possiacutevel

utilizaccedilatildeo funeraacuteria de Colaride (CNS- 3528 Coelho 2002) e Carrascal (AML

2002) esta uacuteltima mais distante e as grutas artificiais do Tojal de Vila Chatilde 1 a 3 e de

Bauacutetas (CNS- 3077 e 1979 Leisner 1965 p 80-82) e os tholoi de Agualva (CNS-

654 Ferreira 1953) e Pedreira do Campo (CNS- 6116 Miranda et al 1999 p 10-

11)

Por fim na peniacutensula de Setuacutebal sobretudo nas faldas este e oeste da Serra da

Arraacutebida conhecem-se apenas grutas naturais e artificiais (Leisner 1965 p 119-138

Serratildeo 1973) com apontamentos natildeo confirmados de antas e uma surpreendente

ausecircncia de tholoi E no entanto a teacutecnica construtiva deste uacuteltimo tipo de sepulcro

era conhecida como o povoado amuralhado de Chibanes (Silva e Soares 1997

Soares 2003) parece demonstrar natildeo sendo surpreendente que algum tholos seja

identificado num futuro proacuteximo

A comparaccedilatildeo entre o efectivo de antas da regiatildeo de Lisboa com outros de

regiotildees alentejanas nomeadamente Reguengos de Monsaraz Elvas ou Montemor-o-

Novo (Leisner e Leisner 1951 e 1959 Rocha 2005) realccedila o seu cocircmputo limitado

Contudo pelo menos num primeiro niacutevel plasmado da realidade se todos os tipos de

sepulcros lisboetas forem considerados face a cada uma das regiotildees alentejanas esses

nuacutemeros aproximam-se realccedilando uma aparente persistecircncia de modelos ortostaacuteticos

no Alentejo provavelmente resultado da tradiccedilatildeo funeraacuteria adaptada agrave

disponibilidade dos elementos naturais

Face agrave questatildeo que encabeccedilava este capiacutetulo laquoPoucas antas muitos

sepulcrosraquo julgo que a resposta eacute evidente Satildeo poucas de facto Mas isso reflectiraacute

um impacto reduzido do fenoacutemeno do Megalitismo na Estremadura Pelo contraacuterio

a variedade de soluccedilotildees estruturais para deposiccedilatildeo dos mortos destas comunidades

indicia uma adaptaccedilatildeo aos territoacuterios ocupados e das suas tradiccedilotildees mas adoptando

ao longo do tempo no essencial as praacuteticas funeraacuterias e os preceitos maacutegico-

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 218 de 415

religiosos entatildeo estabelecidos e generalizados consubstanciados num conjunto de

espoacutelio mobiliaacuterio ainda que por vezes de cariz regional No entanto o ritmo de

adopccedilatildeo e adaptaccedilatildeo de novos cacircnones natildeo teraacute sido constante nem territorialmente

uniforme podendo quiccedilaacute falar-se de assimetrias regionais entre comunidades

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 219 de 415

5 O(s) espoacutelio(s) funeraacuterio(s)

O espoacutelio das antas de Lisboa natildeo se apresenta homogeacuteneo entre estas

Primeiramente os condicionalismos tafonoacutemicos e posteriormente das proacuteprias

escavaccedilotildees satildeo motivos jaacute discutidos atraacutes Por outro lado a utilizaccedilatildeo funeraacuteria

destas estruturas resultou numa sequecircncia variada de depoacutesitos com significados

funeraacuterio e cronoloacutegico distintos Inclusive em muitos destes sepulcros a maioria do

material foi recolhido nos seus corredores visto que as cacircmaras se encontravam

semi-destruiacutedas ou parcialmente espoliadas o que teraacute ocorrido nas antas de

Trigache Conchadas e Casaiacutenhos Essa situaccedilatildeo obsta agrave seguranccedila de certas ilaccedilotildees

micro-espaciais como por exemplo as concentraccedilotildees de recipientes ceracircmicos

defronte da entrada dos sepulcros ou o depoacutesito de utensiacutelios de pedra polida

normalmente no corredor ou na transiccedilatildeo para a cacircmara

Em algumas antas nomeadamente Pedras da Granja Monte Abraatildeo Trigache

3 Trigache 2 e Casaiacutenhos o espoacutelio recolhido foi relativamente abundante

denunciando uma utilizaccedilatildeo intensa e prolongada daqueles sepulcros Noutras o

espoacutelio revelou-se escasso (Quadro 37) Para aleacutem das vicissitudes referidas nos

respectivos capiacutetulos monograacuteficos isso poderaacute relacionar-se em algumas situaccedilotildees

com curtos periacuteodos de utilizaccedilatildeo caso do Carrascal onde parece registar-se

quantidades aproximadas de espoacutelio funeraacuterio e indiviacuteduos depositados Contudo

noutros casos como Carcavelos o elevado nuacutemero de indiviacuteduos depositados faria

esperar um conjunto artefactual mais elevado e variado do que aquele recolhido

podendo isso reflectir um espoacutelio pereciacutevel ou praacuteticas funeraacuterias distintas

Face agraves limitaccedilotildees expressas acima a anaacutelise do espoacutelio incidiu essencialmente

numa verificaccedilatildeo de presenccedilas e ausecircncias procurando dessa forma estabelecer

padrotildees entre os espoacutelios funeraacuterios e as suas eventuais cronologias relativas de

utilizaccedilatildeo combinadas com as dataccedilotildees absolutas pelo radiocarbono

Outros estudos poderiam ter sido realizados para o espoacutelio aqui em discussatildeo

Contudo as limitaccedilotildees de tempo e sobretudo financeiras constringiram a sua

realizaccedilatildeo Assim a classificaccedilatildeo das mateacuterias-primas dos materiais liacuteticos de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 220 de 415

extrema importacircncia e interesse limitou-se agraves informaccedilotildees disponibilizadas pelos

seus escavadores cruzadas com os meus conhecimentos baacutesicos de geologia A

anaacutelise de pastas de recipientes ceracircmicos identificados natildeo foi realizada sobretudo

porque esta correspondia sobretudo a ceracircmica de estilo campaniforme cuja

presenccedila nas antas aparenta ser tardia No caso dos artefactos de osso contei com a

colaboraccedilatildeo da arqueozooacuteloga Marta Moreno (ex-CIPAIPA hoje IGESPAR) para

a identificaccedilatildeo das espeacutecies utilizadas na sua manufactura Tambeacutem no caso

particular de Carcavelos graccedilas agrave colaboraccedilatildeo de Marina Arauacutejo Igreja (ex-

CIPAIPA hoje IGESPAR) procedeu-se agrave anaacutelise traceoloacutegica de algumas lacircminas

ovoacuteides

As mediccedilotildees discutidas foram realizadas em miliacutemetros arredondadas agrave

unidade No caso do peso os valores satildeo apresentados em gramas arredondados agrave

unidade

51 Pedra lascada

A abundacircncia de siacutelex na regiatildeo de Lisboa explicaraacute em parte porque os

objectos lascados desta mateacuteria-prima sobretudo artefactos utilitaacuterios sejam os mais

numerosos dentro da maioria das antas (Quadro 37 e 38) O quartzo essencialmente

hialino na forma de cristais daquela mateacuteria eacute o segundo grupo peacutetreo lascado Aleacutem

destes materiais registou-se a presenccedila ocasional de quartzito como raspador

A classificaccedilatildeo global dos objectos lascados teve em conta as propostas

apresentadas por vaacuterios autores (Leroi-Gourhan 1984a e 1984b Senna-Martinez

1989 Inizan et al 1999 Vierra 1922 Carvalho 1996 e 1998b Foranbaher 1999)

por vezes acrescentadas de contributos especiacuteficos devidamente assinalados

No caso dos materiais das antas de Trigache 2 3 e 4 pelos motivos explicados

noutro capiacutetulo regista-se um conjunto significativo de peccedilas que apenas se pode

adscrever especulativamente a sua proveniecircncia especiacutefica Assim decidi inclui-las

nas listagens de materiais mas natildeo foram tratadas na presente anaacutelise

Nuacutecleos

Os nuacutecleos conhecidos resultaram essencialmente da extracccedilatildeo de lamelas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 221 de 415

totalizando 23 peccedilas sobretudo de formatos prismaacutetico e piramidal e apenas trecircs de

lascas Foram obtidos frequentemente em quartzo hialino nalguns casos notando-se

ainda superfiacutecies do cristal original O caraacutecter especial desta mateacuteria-prima parece

reflectido pelo nuacutemero de 16 entre os 23 nuacutecleos de lamelas conhecidos ndash entre as

diversas presenccedilas aquelas das antas de Pedras da Granja e Casaiacutenhos sobressaem

apresentando uma dezena de peccedilas cada

Quadro 6 Mateacuteria-prima dos nuacutecleos recolhidos nas antas de Lisboa

Nuacutecleo Siacutelex Quartzo hialino

Quartzo Total

Lamelas 4 16 3 23 Lascas 1 2 - 3

A presenccedila de nuacutecleos em contextos funeraacuterios considerados antigos eacute pouco

frequente De facto quando se analisa o tipo de espoacutelio dos sepulcros considerados

arcaicos (Leisner e Leisner 1951 e 1959 Leisner 1965 Rocha 2005 Leitatildeo et al

1987) aquelas peccedilas estatildeo ausentes ou constam excepcionalmente em alguns

conjuntos Pelo contraacuterio os nuacutecleos surgem com frequecircncia em sepulcros com

espoacutelios mais abundantes e diversificados parecendo associar-se a um periacuteodo

genericamente o uacuteltimo terccedilo do 4ordm mileacutenio ane quando se verifica aparentemente

uma alteraccedilatildeo dos componentes mobiliaacuterios funeraacuterios perdurando ainda em alguns

sepulcros utilizados na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane

Produtos alongados

Os produtos alongados lamelas e lacircminas sem e com retoque surgem em

nuacutemero relativamente elevado em alguns sepulcros Satildeo esmagadoramente de siacutelex

ainda que o quartzo tenha sido utilizado por vezes na obtenccedilatildeo de lamelas ndash num

total de 267 peccedilas sete satildeo de quartzo hialino e uma de quartzo branco Poreacutem este

nuacutemero reduzido de lamelas fica aqueacutem da extracccedilatildeo destas pressentida pelo nuacutemero

de nuacutecleos conhecidos essencialmente daquela mateacuteria-prima Poreacutem aquela

produccedilatildeo poderaacute ter sido efectuada noutro local ou as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo e

escavaccedilatildeo dos sepulcros natildeo permitiram a sua recolha

No caso dos produtos alongados da anta de Pedras da Granja utilizaram-se as

medidas apresentadas no cataacutelogo publicado (Zbyszweski et al 1977) pois

desconhece-se actualmente o seu paradeiro

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 222 de 415

A proposta de classificaccedilatildeo de lamelas e lacircminas do Groupe drsquoEtude de

LrsquoEpipaleacuteolithique-Meacutesolithique (GEEM 1969) foi seguida inicialmente Estas

seriam o produto de debitagem com um comprimento igual ou ultrapassando o dobro

da largura das peccedilas No caso das lacircminas deveriam apresentar pelo menos um

comprimento de 50 mm ou superior e uma largura de 12 mm ou mais e as lamelas

teriam um comprimento igual ou superior a 50 mm mas uma largura inferior a 12

mm Poreacutem a anaacutelise realizada veio demonstrar discrepacircncias dos valores obtidos

com aqueles paracircmetros

Assim a distinccedilatildeo entre lamela e lacircmina utilizada por A Valera (1997)

adequou-se melhor ao universo estudado lacircmina seraacute o produto alongado com um

comprimento superior a 2 vezes a largura devendo esta uacuteltima ser igual ou superior a

14 mm enquanto a lamela teraacute um comprimento igual ou inferior a 2 vezes a largura

que deveraacute ser igual ou inferior a 13 mm

A elevada fragmentaccedilatildeo das peccedilas alongadas natildeo permitiu uma avaliaccedilatildeo

alargada da relaccedilatildeo da largura e comprimento reduzindo-se a 18 das peccedilas (49 em

267) Mesmo assim os limites utilizados parecem evidenciar um conjunto

relativamente claro de lamelas face ao das lacircminas (Fig 3 e 131)

Fig 3 Largura e comprimento dos produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa

0

5

10

15

20

25

30

35

0 25 50 75 100 125 150 175 200

Comprimento (mm)

Larg

ura

(mm

)

Lamelas (13x)Lacircminas (36x)

Devido agrave referida fragmentaccedilatildeo das peccedilas a largura e a espessura revelaram-se

os criteacuterios mais pertinentes para a anaacutelise efectuada verificando-se concentraccedilotildees

relativamente significantes para lamelas e lacircminas (Fig 4 127-130) Nos casos

menos definidos deu-se a primazia ao criteacuterio largura mesmo quando a espessura se

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 223 de 415

assemelhava agrave das lacircminas Semelhante opccedilatildeo foi tambeacutem seguida para a

classificaccedilatildeo das peccedilas completas

Fig 4 Espessura e largura dos produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa

02468

10121416

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36

Largura (mm)

Espe

ssur

a (m

m)

Lamelas (88x)Lacircminas (179x)

Quando se avaliam os criteacuterios largura e espessura dos produtos alongados por

anta (Fig 127-130) naqueles sepulcros com uma cronologia mais recuada (por

exemplo Carrascal e Pedras Grandes ndash ver capiacutetulo 8) parece notar-se uma

tendecircncia para a existecircncia de peccedilas mais delgadas sobretudo inclusas no grupo de

lamelas mas tambeacutem de lacircminas com largura ateacute cerca de 16 mm e espessura

raramente ultrapassando os 5 mm Entretanto nas antas em que a cronologia de

utilizaccedilatildeo conhecida se prolonga pelo 3ordm mileacutenio ane aleacutem das peccedilas com

espessamentos delgados registam-se tambeacutem lacircminas mais largas e espessas o que

poderaacute indiciar um eventual significado crono-tipoloacutegico Aliaacutes situaccedilatildeo

aproximadamente similar era jaacute apontada pelo casal Leisner (1951) acerca do

espoacutelio lascado alongado das antas de Reguengos de Monsaraz Tambeacutem ainda que

numa escala temporal mais ampla essa tendecircncia para o aumento das dimensotildees dos

produtos alongados foi realccedilada por A F Carvalho (1998b) desde contextos

mesoliacuteticos neoliacuteticos (antigos meacutedios e finais) e calcoliacuteticos do Centro e Sul do

actual territoacuterio portuguecircs associada nos periacuteodos finais ao aparecimento de peccedilas

com retoque bifacial como as pontas de seta lacircminas ovoacuteides e laquoalabardasraquo

Portanto ainda que natildeo seja possiacutevel uma destrinccedila segura dos materiais alongados

depositados nas antas este significado cronoloacutegico poderaacute revelar-se vaacutelido ndash aliaacutes

os recentes estudos realizados para as grutas-necroacutepole com cronologias recuadas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 224 de 415

de Lugar do Canto (Cardoso e Carvalho 2008) e Algar do Bom Santo (Carvalho no

prelo) parecem verificar essencialmente a presenccedila de produtos alongados de cariz

delgado

Por outro lado a anaacutelise realizada bem como os estudos referidos suscitam a

possibilidade de uma classificaccedilatildeo dos produtos alongados mais detalhada

designadamente de lamelas lacircminas estreitas e delgadas e lacircminas largas e espessas

(ou robustas) com base numa aparente diferenciaccedilatildeo da largura e espessura de peccedilas

ndash sobretudo se forem considerados como limites para a largura de produtos

alongados os balizamentos de le 9 mm 10-15 mm e ge16 mm Concomitantemente os

dois primeiros conjuntos apresentam essencialmente espessuras iguais ou abaixo de 3

e 5 mm respectivamente e o terceiro acima daquela uacuteltima baliza Poreacutem o

limitado universo em anaacutelise e os limitados dados de outras colecccedilotildees de sepulcros

da regiatildeo natildeo permitiram uma abordagem aprofundada o que seria interessante

testar no futuro com um nuacutemero mais alargado de materiais inclusive com peccedilas de

aacutereas habitacionais De alguma forma M Uerpmann (1995) ao efectuar o estudo dos

materiais do povoado do Zambujal parece registar com base na largura das peccedilas

alongadas intervalos aproximados dos valores agora propostos mas sem precisar a

sua correlaccedilatildeo cronoloacutegica naquele caso quase todo o 3ordm mileacutenio ane Ainda em

contexto habitacional o pequeno conjunto de dois sectores QQ e R de Leceia

(Cardoso Soares e Silva 1996) apesar dos dados limitados parece coincidir com as

impressotildees referidas para alargamento e robustecimento das peccedilas alongadas

Face agrave classificaccedilatildeo bipartida utilizada o nuacutemero de lamelas eacute sempre inferior

ao das lacircminas Entre os conjuntos mais numerosos de lacircminas aquelas com retoque

apresentam-no abrupto e semi-abrupto essencialmente marginal com raros casos

invasores ndash deste uacuteltimo tipo de extensatildeo do retoque registam-se alguns casos

sobretudo nas antas de Monte Abraatildeo e Trigache 3 ainda que percentualmente pouco

significativos normalmente realizados sobre lacircminas largas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 225 de 415

Quadro 7 Extensatildeo do retoque em produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa

Anta

Retoque marginal

Retoque invasor

Mte Abraatildeo 35 (85) 6 (15) Trigache 3 21 (72) 8 (28) P Mouros 3 (67) 1 (33) Conchadas 9 (82) 2 (18) Trigache 2 21 (95) 1 (5) Trigache 4 9 (90) 1 (10) Carcavelos 6 (75) 2 (25)

A localizaccedilatildeo do retoque eacute variaacutevel mas nas peccedilas inteiras costuma abarcar

ambos os bordos de forma contiacutenua inclusive as extremidades As peccedilas apresentam

essencialmente secccedilotildees trapezoidais sendo frequente a presenccedila de restos do coacutertex

original

Fig 5 Produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa por categoria (N=267)

33

5

8

1

30

9

2

6

23

9

6

13

3

1

17

1

4

1

4

1

1

1

6

2

2

11

3

7

4

5

13

1

4

1

5

1

2

4

6

5

2

1

1

1

1

0 5 10 15 20 25 30 35

P Granja

Carrascal

Estria

P Mouros

Mte Abraatildeo

Conchadas

P Grandes

Trigache 4

Trigache 3

Trigache 2

Carcavelos

Casaiacutenhos

C Penedo

Arruda

anta

s

nordm de peccedilas

LamelaLamela retocadaLacircminaLacircmina retocada

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 226 de 415

Geomeacutetricos

Os geomeacutetricos conhecidos nas antas de Lisboa provecircm de apenas dez destes

sepulcros normalmente em reduzido nuacutemero perfazendo um total de 39 peccedilas todas

em siacutelex As antas de Casaiacutenhos e Trigache 2 apresentam os maiores conjuntos

totalizando quase metade dessas peccedilas Estes reduzidos cocircmputos parecem verificar-

se noutros contextos sepulcrais da regiatildeo contrastando com casos excepcionais

designadamente da gruta artificial de Casal do Pardo 3 com cerca de meia centena

de geomeacutetricos (Leisner 1965 Soares 2003) Supra-regionalmente semelhante

representatividade limitada de geomeacutetricos usualmente de siacutelex parece verificar-se

nos sepulcros alentejanos (Leisner 1959 Rocha 2005) com poucas excepccedilotildees

como a anta do Paccedilo A com cerca de meia centena destes artefactos (Rocha 2005)

Poreacutem em algumas antas da Beira Interior surgem casos mais contrastantes

nomeadamente de Carapito 1 Lameira de Cima 1 e Areita com vaacuterias dezenas de

geomeacutetricos (Leisner e Kalb 1998 Gomes 1996 Gomes et al 1998) ou Arquinha

da Moura com largas centenas (Cunha 1993 Cruz et al 2003) Estas concentraccedilotildees

elevadas de geomeacutetricos em sepulcros de regiotildees importadoras do siacutelex (a mateacuteria-

prima da maioria daqueles artefactos) como a Beira Interior e o Alentejo ocorrem

tambeacutem em periacuteodo posterior com os produtos de retoque bifacial designadamente

as pontas de seta e as ldquoalabardasrdquo Tais aglomeraccedilotildees daquelas peccedilas bifaciais foram

salientadas por S Forenbaher (1999) como provaacutevel reflexo da importacircncia e

eventualmente do prestiacutegio social que a sua posse implicaria

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 227 de 415

Fig 6 Efectivos de geomeacutetricos por anta da regiatildeo de Lisboa (N=39)

Carrascal (2x)

Trigache 2 (7x)

Carcavelos (2x)Trigache 4 (5x)

Pedras Grandes (1x)

Casaiacutenhos (11x)

Casal do Penedo (3x)

Pedras da Granja (3x)

Monte Abraatildeo (1x)

Conchadas (4x)

Ao reduzido nuacutemero de elementos acresce a quase exclusividade do

geomeacutetrico monotiacutepico de formato trapezoacuteide maioritariamente assimeacutetrico ndash entre

as 39 peccedilas apenas se regista uma peccedila simeacutetrica em Pedras Grandes e 4

indeterminaacuteveis de outras antas No caso de dois espeacutecimes um de Pedras da Granja

e outro natildeo confirmado de Casaiacutenhos (natildeo localizado) aquelas peccedilas poderiam

corresponder a crescentes ainda que sob reserva

Assim aparente ausecircncia de geomeacutetricos crescentes e triangulares nas antas da

regiatildeo de Lisboa que parece tambeacutem ocorrer genericamente nas grutas artificiais

contrasta com a sua presenccedila geralmente minoritaacuteria em grutas naturais

nomeadamente de Salemas (Castro e Ferreira 1972) Poccedilo Velho (Gonccedilalves

2005b) e Correio-Moacuter (Cardoso et al 2003) ndash exemplos que poderiam alargar-se

pela Estremadura nas grutas de Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987 Cardoso e

Carvalho 2008) Carrascos (Gonccedilalves e Pereira 1974-77) Lapa da Galinha (Saacute

1959) Senhora da Luz 2 (Cardoso Ferreira e Carreira 1996) e Casa da Moura

(Carreira e Cardoso 2001-02) Isso poderia entatildeo reflectir um momento anterior do

megalitismo em que ainda se produziam e depositavam aqueles tipos de geomeacutetricos

entretanto caiacutedos em desuso na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane ndash a cronologia

conhecida para o Algar do Bom Santo situada essencialmente naquele periacuteodo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 228 de 415

(Duarte 1998b Anexo 3 Quadro 2) poderia explicar a aparente exclusividade de

geomeacutetricos trapeacutezios (Carvalho no prelo) Nesse sentido as dataccedilotildees absolutas

conhecidas para contextos do Megalitismo na Estremadura (Capiacutetulo 8) apontando

para um uso inicial mais arcaico de cavidades naturais parecem ressalvar essa

situaccedilatildeo quando se comeccedilaram a construir antas na regiatildeo jaacute aquelas armaduras natildeo

eram utilizadas

Os geomeacutetricos foram obtidos sobre lamelas e lacircminas de acordo com os

paracircmetros utilizados essencialmente com secccedilotildees trapezoidais No entanto as suas

dimensotildees seriam enquadraacuteveis no grupo proposto supra de lacircminas delgadas De

facto entre os vaacuterios conjuntos apenas duas peccedilas de Trigache 2 e Casaiacutenhos

ultrapassam a largura de 16 mm concentrando-se a maioria dos restantes abaixo de

14 mm e com 4 mm de espessura ou menos (Fig 7) Esta situaccedilatildeo parece condizer

com aquela jaacute mencionada dos produtos alongados remetendo os geomeacutetricos para

momentos anteriores ao aumento de dimensatildeo daqueles suportes

Fig 7 Largura e espessura dos geomeacutetricos das antas da regiatildeo de Lisboa (N=39)

0

1

2

3

4

5

8 10 12 14 16 18Largura (mm)

Esp

essu

ra (m

m)

Carcavelos (2x) Carrascal (2x) Casaiacutenhos (11x) Casal do Penedo (3x)Conchadas (4x) Monte Abraatildeo (1x) Pedras da Granja (3x) Pedras Grandes (1x)Trigache 2 (6x) Trigache 4 (5x)

Apenas foi possiacutevel registar o comprimento de 25 geomeacutetricos cujo valor

maacuteximo natildeo ultrapassa os 30 mm Esse valor eacute inferior a vaacuterias peccedilas do tipo

trapeacutezio de antas da Beira Interior que por vezes rondam os 40 mm No entanto

quando se comparam as dimensotildees largura e espessura entre os conjuntos de Lisboa

com os congeacuteneres beirotildees eou alentejanos essas diferenccedilas esbatem-se

ressalvando uma relativa padronizaccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 229 de 415

Fig 8 Largura e espessura dos geomeacutetricos das antas de Lisboa Beira Interior e Alentejo

(N= 53)

0

1

2

3

4

5

6

6 8 10 12 14 16 18 20Largura (mm)

Esp

essu

ra (m

m)

AntasLx (39x) LCima1 (35x) LCima2 (11x) Areita1 (34x) GEscoural (10x) Rabuje 5 (8x)

As truncaturas menores e maiores dos geomeacutetricos trapeacutezios de Lisboa

apresentam-se maioritariamente cocircncavas e sinuosas essencialmente com retoques

directos marginais e abruptos Um entalhe na base menor de 4 geomeacutetricos foi

registado nas antas do Carrascal Casaiacutenhos Casal do Penedo e Conchadas

A maior dimensatildeo dos geomeacutetricos cronologicamente mais recentes tem sido

apontada (Carvalho 1998a e 1998b Marchand 2005 Cardoso e Carvalho 2008) e

tal parece verificar-se tambeacutem nas antas de Lisboa e de outras regiotildees ndash veja-se a

comparaccedilatildeo entre geomeacutetricos trapeacutezios de Valada do Mato Alentejo (Diniz 2007)

um siacutetio de habitaccedilatildeo na transiccedilatildeo do 6ordm para o 5ordm mileacutenio ane e aqueles de

sepulcros adscritos ao fenoacutemeno do Megalitismo (Quadro 40) No entanto essa

maior dimensatildeo aparenta ser uma consequecircncia do processo de crescimento dos

suportes alongados obtidos mais do que um reflexo de um arcaiacutesmo funeraacuterio isto eacute

peccedilas que seriam produzidas propositadamente como espoacutelio funeraacuterio mas jaacute natildeo

utilizadas nas actividades diaacuterias daqueles grupos Ainda que natildeo seja possiacutevel

descartar absolutamente essa possibilidade julgo que eacute de reavaliaacute-la face agrave anaacutelise

das dataccedilotildees disponiacuteveis (Capiacutetulo 82) nos sepulcros onde se registaram apenas

geomeacutetricos algumas dataccedilotildees prolongam-se genericamente ateacute ao uacuteltimo quartel do

4ordm mileacutenio ane periacuteodo de transiccedilatildeo onde parecem desenvolver e generalizar-se os

primeiros produtos com retoque bifacial nomeadamente as pontas de seta que iriam

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 230 de 415

entatildeo substituir os artefactos anteriores com funccedilotildees similares de acordo com alguns

estudos recentes (Carvalho 1998a e 1998b Gibaja e Palomo 2004 Domingo

2005a) e acumulando-se junto com o mobiliaacuterio anteriormente depositado Por outro

lado esta transiccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo teraacute sido simultacircnea e imediatamente abrangente

pelo que eacute plausiacutevel a existecircncia de assimetrias entre comunidades e regiotildees

Apesar da assumpccedilatildeo funcional mencionada o objectivo dos geomeacutetricos natildeo

eacute ainda consensual podendo adscrever-se a diversos usos designadamente como

parte de instrumentos de corte ou de arremesso (Domingo 2005b) No entanto os

estudos de traceologia desenvolvidos inclusive com base experimental parecem

inclinar-se de facto para a sua utilizaccedilatildeo como pontas de projeacutectil (Gibaja e Palomo

2004 Domingo 2005 Gibaja 2007 Dias 2008) Portanto isto poderia explicar

parcialmente a substituiccedilatildeo no espoacutelio funeraacuterio de geomeacutetricos por peccedilas de

retoque bifacial ndash pontas de seta ndash que se teriam generalizado nos finais do 4ordm

mileacutenio ane Os geomeacutetricos da regiatildeo de Lisboa reflectiriam essa funcionalidade

ainda que necessitem de uma cabal comprovaccedilatildeo pela traceologia caso tenham

subsistido vestiacutegios de tal uso

Pontas de seta

As pontas de seta satildeo o segundo grupo mais numeroso no universo de

artefactos lascados (N=209) depois dos produtos alongados Esmagadoramente satildeo

de siacutelex e rochas afins registando-se apenas uma peccedila da anta de Pedras da Granja

efectuada em xisto silicioso com base cocircncava Esta relaccedilatildeo maioritaacuteria da mateacuteria-

prima eacute frequente em contexto funeraacuterio da regiatildeo de Lisboa bem como em siacutetios

habitacionais (Leisner 1965 Sousa 1998 e 2000 Forenbaher 1999 Soares 2003)

A presenccedila de pontas de seta eacute conhecida para dez antas aspecto cujo

significado cronoloacutegico seraacute discutido noutro capiacutetulo Aqui importa realccedilar que os

cocircmputos por anta natildeo satildeo similares entre si (Quadro 38) podendo isso representar

uma proporcionalidade face ao nuacutemero de inumados Tal hipoacutetese poderia ser

relativamente compatiacutevel com o efectivo humano das antas de Monte Abraatildeo Estria

Pedras da Granja e Casaiacutenhos (Capiacutetulo 6) Contudo noutros casos tal aproximaccedilatildeo

eacute difiacutecil de sustentar como nas antas de Casal do Penedo e de Carcavelos onde o

nuacutemero deveras reduzido de pontas de seta contrasta com os nuacutemeros miacutenimos de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 231 de 415

indiviacuteduos proporcionalmente elevados Noutros casos designadamente das antas de

Trigache Conchadas e Arruda as circunstacircncias das suas escavaccedilotildees poderatildeo ter

afectado essa anaacutelise Aleacutem das condicionantes referidas haacute que considerar que nem

todas as antas foram sistematicamente (re)utilizadas reflectindo-se esse ritmo

funeraacuterio no espoacutelio votivo recolhido inclusive porque penso que a deposiccedilatildeo de

pontas de seta teraacute sido uma praacutetica generalizada mas limitada no tempo algures

entre o uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane e a primeira metade essencialmente o

primeiro quartel do 3ordm mileacutenio ane como proporei adiante

Quando se compara os efectivos globais por anta ou mesmo de outros

sepulcros estremenhos com aqueles de outras regiotildees nomeadamente Alentejo e

Beira Interior sucede situaccedilatildeo semelhante agravequela referida para os geomeacutetricos ndash de

facto em contexto funeraacuterio apenas Casa da Moura parece ultrapassar a centena de

exemplares de siacutelex (Forenbaher 1999) No entanto ainda que pontualmente

surgem conjuntos de pontas de seta de siacutelex bem acima da centena de peccedilas no

Alentejo na anta da Comenda da Igreja 1 (Leisner 1965 Forenbaher 1999) e

Zambujeiro 1 (informaccedilatildeo pessoal de L Rocha) e na Beira Interior nas antas de

Moinhos de Vento 1 Sobreda e Orca do Tanque (Senna-Martinez 1989 Leisner e

Kalb 1998 Forenbaher 1999) Estas situaccedilotildees para aleacutem de comprovarem claros

intercacircmbios entre comunidades da Estremadura e de outras regiotildees reforccedilam a ideia

de uma apreciaccedilatildeo particular pelo artefacto de siacutelex em zonas distantes da sua origem

(Senna-Martinez 1989 Gonccedilalves 1992 1999a e 2003e Forenbaher 1999)

A anaacutelise das pontas de seta seguiu as propostas de classificaccedilatildeo de S

Forenbaher (1999) com algumas adaptaccedilotildees Aliaacutes as pontas das antas de

Casaiacutenhos Estria e Monte Abraatildeo tinham jaacute sido estudadas no acircmbito daquele

trabalho Contudo porque o inventaacuterio realizado natildeo registou a codificaccedilatildeo de cada

peccedila dificultando a sua revisatildeo optei por efectuar novamente essa classificaccedilatildeo

agora com a devida identificaccedilatildeo unitaacuteria passiacutevel entatildeo de futuras revisotildees

Genericamente as classificaccedilotildees das peccedilas corresponderam agravequelas da anterior

inventariaccedilatildeo com a excepccedilatildeo de alguns casos pouco significativos que se deveram

julgo sobretudo ao grau de subjectividade implicado nestas anaacutelises ndash encontram-se

devidamente assinalados na respectiva listagem de material (Quadro 47)

As pontas de seta do tipo 1 com bases convexas (incluindo as romboacuteides e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 232 de 415

pedunculadas) surgem com maior frequecircncia no espoacutelio das antas de Lisboa No

universo de 203 pontas recolhidas e tipologicamente classificaacuteveis 156 (77)

pertencem ao tipo 1 seguidas das pontas do tipo 2 com bases cocircncavas e rectas com

apenas 41 peccedilas (20) Aleacutem destes tipos registam-se ainda o tipo 6 foliaacuteceas (4

exemplares 2) e o tipo 3 mitriformes (2 exemplares 1) que podem contabilizar-

se junto respectivamente com os primeiros grupos mencionados As pontas de seta

do tipo 4 e 5 normalmente designadas por tipos Torre-Eifel e alcalarense natildeo se

registaram nos espoacutelios funeraacuterios analisados

Alargando a anaacutelise a outros tipos de sepulcro e agrave restante Estremadura

verifica-se que o tipo 1 surge maioritariamente nos sepulcros (Forenbaher 1999

Figueiredo 2006) sobretudo naqueles com uma cronologia de construccedilatildeo ainda do

4ordm mileacutenio ane No entanto ao comparar-se essa amostragem com contextos

habitacionais as pontas de tipo 1 surgem em reduzido nuacutemero motivo que seraacute

discutido infra

As pontas de tipo 3 mitriformes surgem em alguns sepulcros estremenhos

mas sobretudo em cavidades naturais normalmente na parte setentrional como a

Lapa da Bugalheira Senhora da Luz 2 Buraca da Moura Casa da Moura Cova da

Moura (Leisner 1965 Gonccedilalves J 1990-92a Forenbaher 1999) e pelo menos na

gruta artificial da Ermegeira (Leisner 1965) em todos os casos com efectivos

reduzidos face ao tipo 1 Em menor nuacutemero registam-se ainda as pontas de tipo 6

foliaacuteceas que para aleacutem dos peccedilas mencionadas surgem nas grutas de Cova da

Moura (Forenbaher 1999) e da Casa da Moura (Carreira e Cardoso 2001-02) No

entanto em contextos habitacionais nomeadamente no Outeiro de Satildeo Mamede

Zambujal Penedo Pico Agudo Praganccedila e Leceia (Uerpmann M 1995

Forenbaher 1999 Cardoso 1994 Cardoso e Carreira 2003) as peccedilas mitriformes

assumem presenccedilas mais consideraacuteveis situaccedilatildeo que natildeo se detecta para o tipo das

foliaacuteceas limitadas a alguns casos da Columbeira e Zambujal (Forenbaher 1999)

No caso do Outeiro de Satildeo Mamede a elevada presenccedila de pontas do tipo mitriforme

foi interpretada como resultado de uma concentraccedilatildeoesconderijo em contexto

semelhante agravequele apontado para um conjunto de pontas de seta no fortiacuten 7 de Los

Millares (cit in Forenbaher 1999 e Cardoso e Carreira 2003)

Quanto ao tipo 4 aleacutem de natildeo se verificar nas antas da regiatildeo de Lisboa surge

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 233 de 415

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 234 de 415

raramente noutros tipos de sepulcro nomeadamente nas grutas do Casal do Pardo

(Leisner 1965 taf 101 e 119 Soares 2003) ndash isto porque apenas uma peccedila estaacute

apontada para o sepulcro 3 desconhecendo-se a proveniecircncia especiacutefica das restantes

ndash nas grutas naturais da Casa da Moura (Forenbaher 1999 Carreira e Cardoso 2001-

02) e Furadouro da Rocha Forte (Gonccedilalves J 1990-92a) e no tholos do Barro

(Leisner 1965) O tipo 5 parece ausente dos contextos funeraacuterios estremenhos No

entanto em contextos habitacionais aleacutem do tipo 4 ocorrer mas de forma

minoritaacuteria designadamente no Zambujal Penedo Pico Agudo Praganccedila Outeiro

de Satildeo Mamede e Leceia (Uerpmann M 1995 Forenbaher 1999 Cardoso e

Carreira 2003) alguns exemplares do tipo 5 estatildeo anotados no Zambujal e em

Leceia (Forenbaher 1999)

Quadro 8 Tipologia das pontas de seta das antas da regiatildeo de Lisboa

Apesar da dificuldade em discernir o tipo de suporte utilizado na manufactura

das pontas de seta (Carvalho 1998b) procurei identificaacute-lo (Quadro 39) Os

produtos alongados provavelmente laminares parecem ser usuais (56) ainda que

por vezes tenham sido aproveitadas lascas (7) Haacute no entanto uma percentagem

consideraacutevel (37) de peccedilas indecifraacuteveis De facto o retoque bifacial que estas

peccedilas sofreram normalmente com uma extensatildeo invasora eou cobridora originou o

(Bases convexas romboacuteides e pedunculadas) (Bases rectas e cocircncavas)

Tipologia das pontas

de seta

Tipo 1 T6 Tipo 2 T

3

Anta

10

C 1

10

D 0

10

D 1

10

E 0

10

E 1

10

F 0

20

C 0

20

C 1

20

D 0

20

D 1

20

E 0

20

E 1

20

F 0

30

E 0

10

C 0

Subt

otal

10

B 0

20

A 0

20

B 0

21

B 1

11

B 0

Subt

otal

Sem

cla

ssifi

caccedilatilde

o

Tot

al

Casaiacutenhos 3 2 3 1 4 2 5 3 2 25 2 1 3 28 C do Penedo 1 1 1 1 2 Mte Abraatildeo 4 1 2 3 1 7 5 10 2 13 5 10 1 64 5 7 12 1 77

Trigache 2 2 5 3 3 1 1 1 4 1 3 2 2 28 1 1 1 3 2 33 Trigache 4 1 1 1 Conchadas 2 2 1 1 1 1 1 9 1 1 2 11

P da Granja 3 4 3 3 2 3 1 1 1 1 22 2 1 3 6 28 Carcavelos 2 1 3 2 5 Trigache 3 2 2 1 2 1 8 2 3 5 13

Estria 5 3 2 10 1 11 Total 13 13 16 10 7 3 11 9 19 8 25 5 17 1 4 160 18 2 20 1 2 43 6 209

Segundo a tipologia de S Foranbaher (1999)

desaparecimento de marcas pertinentes para a anaacutelise do suporte utilizado inclusive

reduzindo o seu tamanho (Carvalho 1998b) Contudo as dimensotildees meacutedias

registadas para estas pontas sobretudo a largura e a espessura levam a crer que pelo

menos no que toca agravequelas produzidas sobre suportes alongados estas

corresponderiam essencialmente a lacircminas Enquadradas pela proposta de

classificaccedilatildeo tripartida dos produtos alongados aquelas peccedilas seriam classificadas

maioritariamente como lacircminas delgadas e apenas algumas robustas (Quadro 9)

Quadro 9 Dimensotildees meacutedias das pontas de seta das antas da regiatildeo de Lisboa

Dimensotildees Anta

C L E

Casaiacutenhos 29 20 13 28 4 28 C do Penedo 22 1 16 1 4 2 Mte Abraatildeo 25 39 13 72 4 77

Trigache 2 22 17 13 30 3 33 Trigache 4 - - 16 1 3 1 Conchadas 31 5 14 9 3 11

P da Granja 26 19 13 25 3 28 Carcavelos 33 3 9 3 3 4 Trigache 3 34 7 14 9 4 13

Estria 34 2 12 10 4 10 Total 113 188 207

Em mm C- comprimento L- largura E- espessura - nuacutemero de peccedilas utilizadas nos caacutelculos

O enquadramento crono-tipoloacutegico das pontas de seta conhecidas na

Estremadura recebeu importantes contributos nos uacuteltimos anos sendo hoje algum

consenso possiacutevel pelo menos em torno de certos tipos outros dada a sua longa

diacronia de uso tornam difiacutecil um posicionamento cronoloacutegico especiacutefico Natildeo

obstante eacute hoje exequiacutevel com um pouco mais de rigor situar pelo menos o

aparecimento dos materiais com retoque bifacial concretamente das pontas de seta

O casal Leisner (1943 1951 e 1959) e posteriormente V Leisner (1965 e

1983) apontava como os primeiros tipos de pontas de seta aquelas de base convexa

romboacuteide e pedunculada servindo-se do exemplo da Praia das Maccedilatildes (Leisner

1965) mas tambeacutem dos dados coligidos nos seus trabalhos pela Peniacutensula Ibeacuterica O

retoque daquelas pontas natildeo cobriria totalmente as peccedilas notando-se ainda o seu

suporte laminar original algo que se modificaria nas pontas com bases cocircncavas e

retoque mais abrangente Portanto destacava-se uma certa anterioridade relativa das

pontas de base convexas generalizadas peninsularmente com um posterior

surgimento e expansatildeo de bases cocircncavas a partir da parte meridional peninsular De

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 235 de 415

facto observando a dispersatildeo dos tipos de pontas de seta no Centro e Sul do actual

territoacuterio portuguecircs de forma plasmada nota-se uma preponderacircncia dos tipos 2 e 5

na regiatildeo meridional quase em exclusividade dando lugar nas regiotildees da

Estremadura Alto Alentejo e Beiras a pontas do tipo 1 3 4 e 6 mas onde o tipo 2

ainda marca um presenccedila relativamente abundante (Forenbaher 1999 Gonccedilalves

2003e) Mais para norte a imagem modifica-se agora com tipos quase

exclusivamente de bases convexas (Jorge 1978 Forenbaher 1999) Resta entatildeo

procurar o significado cronoloacutegico para aquela imagem da Estremadura

Ainda que de uma regiatildeo distinta na bacia meacutedia do rio Ebro alguns dos

indiviacuteduos depositados nos sepulcros de S J A Portam Latinam (Vegas 2007) e

Longar (Armendaacuteriz e Irigaray 1993-94 e 1995) apresentavam pontas de seta

enquadraacuteveis no tipo 6 foliaacuteceo cravadas nos seus ossos tendo algumas delas sido a

provaacutevel causa das suas mortes As dataccedilotildees pelo radiocarbono sobre ossos humanos

situaram genericamente algumas daquelas inumaccedilotildees entre os uacuteltimos quatro seacuteculos

do 4ordm mileacutenio ane e o primeiro seacuteculo do seguinte Esse intervalo de tempo eacute

aproximado agraves dataccedilotildees obtidas sobre ossos de fauna ndash hastes de alfinetes de cabelo

ndash e ainda que com menor concordacircncia de carvotildees da cacircmara ocidental do sepulcro

da Praia das Maccedilatildes (Quadro 22) Ora neste espaccedilo apenas foram recolhidas pontas

de seta convexas com bases romboacuteides e pedunculadas (Leisner 1965)

Se a cronologia referida para aquelas presenccedilas de pontas de seta for

considerada juntamente com a utilizaccedilatildeo de geomeacutetricos ainda na segunda metade do

4ordm mileacutenio ane julgo ser plausiacutevel admitir que algures nos uacuteltimos seacuteculos desse

mileacutenio e na transiccedilatildeo para o seguinte se registou a generalizaccedilatildeo do novos modelos

de projeacutectil (Ver capiacutetulo 8) No entanto tal como jaacute salientei atraacutes esta transiccedilatildeo

poderaacute ter decorrido regionalmente de forma assimeacutetrica

A relaccedilatildeo simultaneamente cronoloacutegica e regional das leituras para as pontas

de seta da Estremadura permitiu entatildeo um faseamento relativo Assim S Forenbaher

(1999) sistematizando esse conhecimento admitia como provaacutevel uma anterioridade

cronoloacutegica para as pontas de tipo 1 atribuiacutedas ao ldquoNeoliacutetico finalrdquo mais numerosas

e frequentes em sepulcros (natildeo categorizados) do que em povoados nos quais as

pontas de tipo 2 surgiam em nuacutemeros mais elevados Contudo esta contradiccedilatildeo seria

explicada pelo facto de muitos dos povoados onde tais cocircmputos ocorriam

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 236 de 415

apresentarem fundaccedilotildees ldquocalcoliacuteticasrdquo portanto em momentos posteriores agraves

deposiccedilotildees funeraacuterias com pontas de tipo 1 Poreacutem mesmo nos poucos povoados

escavados extensivamente com ocupaccedilotildees do ldquoNeoliacutetico finalrdquo como Leceia

(Cardoso 1989) a presenccedila de pontas de tipo 1 pareceu ser reduzida (Forenbaher

1999) Aliaacutes nessa mesma fase do povoado registaram-se tambeacutem as primeiras

pontas com bases cocircncavas o que o torna sui generis no panorama estremenho Isto

porque noutros casos conhecidos aquele tipo de projeacutectil foi recolhido em contextos

essencialmente do ldquoCalcoliacutetico inicial eou plenordquo portanto na primeira metade e

meados do 3ordm mileacutenio ane As pontas do tipo 3 (mitriformes) e 4 (Torre-Effeil)

pelos dados conhecidos tambeacutem parecem restringir-se cronologicamente ao mesmo

periacuteodo do 3ordm mileacutenio ane

Por outro lado regionalmente no Alto Alentejo e na Beira Interior apesar de

se verificar uma aparente primazia temporal das pontas de tipo 1 com bases

convexas os percursos tipoloacutegicos posteriores tomaram rumos distintos (Forenbaher

1999) No Alto e Meacutedio Alentejo as pontas de tipo 1 aparentemente mais frequentes

em contextos funeraacuterios e sempre em nuacutemeros reduzidos deram rapidamente lugar

agraves de tipo 2 com bases rectas e cocircncavas frequentes tipo 5 alcalarenses e

excepcionalmente pontas de tipo 3 em alguns grandes sepulcros como a anta da

Comenda da Igreja 1 (Leisner 1959) e a anta do Zambujeiro 1 (informaccedilatildeo pessoal

de L Rocha) Portanto as influecircncias meridionais estariam registadas de forma clara

no 3ordm mileacutenio ane nesta regiatildeo (Gonccedilalves 1989 e 2003e) bem como em contacto

com a Estremadura Na Beira Interior o percurso assemelhou-se ao estremenho

registando-se no 3ordm mileacutenio ane a presenccedila de pontas de tipo 1 e 2 este segundo

minoritariamente em contexto funeraacuterio mas abundante em contexto habitacional

(Leisner e Kalb 1998 Senna-Martinez 1989 Valera 1997) Ainda que

pontualmente o tipo 3 e 5 surge evidenciado na anta de Orca do Tanque (Leisner e

Kalb 1998 Senna-Martinez 1889 Forenbaher 1999) bem como possivelmente o

tipo 4

Assim com os elementos expostos acima ao avaliar os tipos de pontas

presentes e os seus efectivos nas antas da regiatildeo de Lisboa eacute possiacutevel propor que

com algumas excepccedilotildees a maioria das deposiccedilotildees destes projeacutecteis poderaacute ter

ocorrido essencialmente durante os uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane e nos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 237 de 415

primeiros do 3ordm justificando-se desta forma o caraacutecter minoritaacuterio das pontas de tipo

2 introduzidas em momento posterior Aliaacutes a presenccedila de pontas de tipo 2 e 3 em

exclusivo na anta de Estria e relativamente abundantes em Trigache 3 dois

sepulcros que indiciam ter sido erigidos tardiamente parece reforccedilar essa impressatildeo

Isso tambeacutem ressalta nos espoacutelios dos sepulcros de construccedilatildeo atribuiacutevel

essencialmente ao 3ordm mileacutenio ane como os tholoi onde apesar de um decreacutescimo

de pontas de seta no espoacutelio funeraacuterio as de tipo 2 surgem com frequecircncia junto

com artefactos votivos de calcaacuterio caixas ciliacutendricas de osso e peccedilas de retoque

bifacial como as lacircminas ovoacuteides e algumas grandes pontas foliaacuteceas

Lacircminas ovoacuteides

As peccedilas aqui denominadas lacircminas ovoacuteides surgem na literatura arqueoloacutegica

tambeacutem com outras designaccedilotildees referenciadas sucintamente por S Forenbaher

(1999) como ldquofoicinhasrdquo ldquofacas ovoacuteidesrdquo e ldquolacircminas de foicerdquo tendo este autor

proposto um novo termo que considerou menos comprometedor ndash ldquoovoid bifacesrdquo ndash

bifaces ovoacuteides Para o justificar argumenta que as funcionalidades destas peccedilas

natildeo foiforam ainda claramente estabelecidas nem como instrumento ou parte dele

para corte ou raspagem pelo que se deveria optar por um termo mais isento

Contudo dada a conotaccedilatildeo com a preacute-histoacuteria antiga do termo biface optei por

manter a utilizaccedilatildeo da designaccedilatildeo lacircmina ovoacuteide

Nas antas da regiatildeo de Lisboa as lacircminas ovoacuteides satildeo raras Aliaacutes o estudo

desenvolvido por S Forenbaher acerca destas peccedilas realccedila de forma bastante

marcante alguns aspectos relacionados com estas peccedilas satildeo esmagadoramente de

siacutelex (refere apenas duas de mateacuteria-prima distinta num universo de 377 peccedilas)

surgem sobretudo em contextos habitacionais sendo pouco frequentes em sepulcros

e circunscrevem-se essencialmente agrave plataforma calcaacuteria da Estremadura

De facto fora da Estremadura apenas se conhecem alguns casos alentejanos

provaacuteveis na anta da Comenda da Igreja 1 (Leisner e Leisner 1959) uma possiacutevel

lacircmina ovoacuteide (Forenbaher 1999) onde ocorre tambeacutem a presenccedila de pontas de seta

de tipo 3 mitriforme L Rocha (informaccedilatildeo pessoal) teraacute identificado mais algumas

dessas peccedilas de siacutelex na anta de Zambujeiro 1 Eacutevora e recentemente R Mataloto

(informaccedilatildeo pessoal) exumou dos estratos ldquocalcoliacuteticosrdquo do povoado amuralhado de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 238 de 415

S Pedro Redondo um conjunto de peccedilas em xisto silicioso que na minha opiniatildeo

se assemelham bastante com as lacircminas ovoacuteides estremenhas excepto na mateacuteria-

prima que condicionou o retoque rasante e invasor

Retornando entatildeo agraves antas de Lisboa as lacircminas ovoacuteides conhecidas

restringem-se a trecircs sepulcros Uma peccedila quebrada de Casal do Penedo outra inteira

de Trigache 3 e cinco de Carcavelos quatro delas completas De acordo com a

tipologia proposta por S Forenbaher (1999) estas peccedilas apresentam formatos

ovoacuteides excepto no caso de Carcavelos onde duas delas seratildeo subrectangulares e

uma terceira apesar de ovoacuteide apresenta uma extensatildeo que poderia servir para

encabamento que tambeacutem poderia registar-se na peccedila de Casal do Penedo

infelizmente quebrada impossibilitando uma leitura mais precisa

Procurando elucidar a eventual funccedilatildeo destes artefactos propus a Marina

Arauacutejo Igreja um pequeno estudo de traceologia do conjunto de cinco peccedilas ovoacuteides

e uma lacircmina retocada (HC800) todas de Carcavelos A observaccedilatildeo das suas

superfiacutecies permitiu registar as seguintes informaccedilotildees a lacircmina apresentava

superfiacutecies alteradas natildeo se tendo verificado qualquer traccedilo de uso das cinco peccedilas

ovoacuteides duas apresentavam as superfiacutecies alteradas (HC129 e HC313) natildeo se tendo

registado qualquer traccedilo de uso o mesmo ocorrendo noutra peccedila com bom estado das

superfiacutecies (HC802) Apenas nas restantes duas com superfiacutecies bem preservadas se

verificaram alguns traccedilos longitudinais de uso passiacuteveis de ser atribuiacutedos ao trabalho

de mateacuteria vegetal (HC801) e vegetal macia (HC320) Para aleacutem da utilizaccedilatildeo

associada a elementos vegetais a ausecircncia de vestiacutegios nestas peccedilas poderaacute dever-se

tambeacutem ao seu caraacutecter funeraacuterio elaboradas propositadamente com esse objectivo

Aliaacutes outra perspectiva suscitada por este pequeno estudo eacute com certeza a

necessidade de mais anaacutelises acerca deste tipo de artefacto ainda que o mesmo se

poderaacute dizer para todo um leque de outros utensiacutelios podendo clarificar com maior

rigor a evidecircncia ou ausecircncia de traccedilos de uso nas peccedilas depositadas

Entretanto jaacute anteriormente em 1966 E Serratildeo e E Vicente (1980) tinham

efectuado uma avaliaccedilatildeo de um conjunto de 10 lacircminas ovoacuteides de contextos

habitacionais (9 de Olelas e uma de Negrais) Dessa anaacutelise concluiacuteram os autores

que aquelas peccedilas teriam sido utilizadas provavelmente como ldquolacircminas cortantesrdquo de

uso domeacutestico ldquopara cortar carnes umas para aguccedilar outras e em casos mais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 239 de 415

raros para rasparrdquo (Serratildeo e Vicente 1980 p 43) Como se pode concluir natildeo

existe entatildeo consenso quanto ao uso especiacutefico destes artefactos que talvez nunca o

tenham tido mas o seu cariz domeacutestico parece ser o aspecto menos controverso e

talvez o mais relevante Portanto esse cariz explicaria a importacircncia reduzida como

objecto funeraacuterio mas simultaneamente a importacircncia do indiviacuteduo que foi inumado

junto com aquele utensiacutelio

Noutro local (Boaventura no prelo a) realcei a possibilidade de correlaccedilatildeo

deste tipo de instrumento a elementos do sexo eou geacutenero feminino potencialmente

os principais responsaacuteveis pelas lides domeacutesticas mas tambeacutem por outros factores

como a tecnologia ceracircmica e tecircxtil Aliaacutes a sua dispersatildeo limitada essencialmente

na regiatildeo estremenha com uma tipologia muito aproximada poderia relacionar-se

com uma praacutetica patrilocal de troca de mulheres a um niacutevel local e regional Os casos

referidos no Alentejo por ora excepcionais reflectiriam outro niacutevel de trocas e

eventualmente possiacuteveis alianccedilas entre comunidades mas os dados satildeo deveras

limitados para que se possa afirmaacute-lo com seguranccedila

Apesar da jaacute referida presenccedila limitada das lacircminas ovoacuteides noutros sepulcros

estremenhos estas peccedilas surgem ocasionalmente em grutas naturais como Correio-

Moacuter (Cardoso et al 2003) e Poccedilo Velho (Gonccedilalves 2005b) ou na aacuterea norte em

Casa da Moura (Carreira e Cardoso 2001-02) Tambeacutem se registam em grutas

artificiais nomeadamente Alapraia 2 (1 peccedila) e Casal do Pardo (1 peccedila) ainda que

sem sepulcro especificado (Leisner 1965) Contudo eacute nos tholoi que estas peccedilas

surgem com maior frequecircncia normalmente de forma singular designadamente em

Praia das Maccedilatildes Satildeo Martinho 12 (1 peccedila) Monge (1 peccedila) e Agualva (esta uacuteltima

com quatro exemplares10 Samarra que poderaacute ter sido um tholos tambeacutem apresenta

uma peccedila similar Para norte o possiacutevel tholos de Serra da Vila (2 peccedilas) e os tholoi

de Barro (1 peccedila) Cabeccedilo da Arruda 2 (1 peccedila) e Paimogo 1 registam tambeacutem a

presenccedila de lacircminas ovoacuteides ainda que no uacuteltimo sepulcro se conheccedilam 6

espeacutecimes De facto G Gallay e colaboradores (1973) ao discutir esta presenccedila

realccedilavam frequecircncia deste artefacto em sepulcros do tipo tholoi

Cronologicamente a partir dos dados de povoados escavados designadamente

Leceia (Cardoso 1994) e Zambujal (Uerpmann M 1995) as lacircminas ovoacuteides tecircm 10 Incluo aqui o artefacto que S Forenbaher (1999) considerou uma mini-ponta bifacial Apoacutes observaccedilatildeo daquela julgo enquadrar-se melhor como lacircmina ovoacuteide

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 240 de 415

sido atribuiacutedas ao ldquoCalcoliacutetico inicial e plenordquo (Cardoso 1994 Forenbaher 1999)

que se poderaacute situar lato senso entre 2900-2400 ane Este enquadramento parece

coincidir com o tipo de sepulcro com presenccedilas mais frequentes os tholoi No

entanto se estes artefactos perduraram em contexto habitacional a sua valorizaccedilatildeo

funeraacuteria natildeo teraacute ultrapassado provavelmente os meados daquele mileacutenio periacuteodo

em que aparentemente um novo pacote funeraacuterio (campaniforme) comeccedilou a ser

introduzido na regiatildeo de Lisboa de forma mais ou menos sistemaacutetica

Grandes pontas com retoque bifacial

As grandes pontas com retoque bifacial satildeo com certeza outro dos artefactos

presentes nas antas de Lisboa que natildeo atingem efectivos elevados agrave semelhanccedila das

lacircminas ovoacuteides No entanto contrariamente agravequelas estas surgem sobretudo em

contexto funeraacuterio sendo muito raras em locais habitacionais (Forenbaher 1999)

Com a excepccedilatildeo de um fragmento de possiacutevel grande ponta bifacial de Casaiacutenhos e

outro de Trigache 2 (Leisner 1965 taf 16 18) as restantes peccedilas conhecidas das

antas de Lisboa foram tratadas no trabalho de S Forenbaher ainda que sem a

respectiva codificaccedilatildeo o que foi efectuado agora

O formato destas grandes peccedilas bifaciais assemelha-se ao das pontas de seta

mas com as referidas dimensotildees superiores As suas bases satildeo sobretudo rectas ou

ligeiramente convexas por vezes insinuando um peduacutenculo apresentando

maioritariamente um retoque tendencialmente cobridor surgindo 2 peccedilas em cada 3

com polimento parcial (Forenbaher 1999) ndash segundo E Jalhay o casal Leisner

apontava uma predominacircncia dos espeacutecimes estremenhos com as faces polidas face

agravequeles de outras regiotildees normalmente apenas com o retoque bifacial (Leisner e

Leisner 1943 cit in Jalhay 1947) No entanto uma breve consulta do cataacutelogo agora

disponiacutevel (Forenbaher 1999) que multiplicou a informaccedilatildeo disponiacutevel em meados

do seacuteculo 20 tal verificaccedilatildeo natildeo parece ocorrer registando-se peccedilas polidas ou

apenas lascadas em todas as regiotildees

Se em vez da denominaccedilatildeo geral referida estas peccedilas forem categorizadas

como lacircminas de alabardas punhais eou lanccedilas a sua presenccedila eacute ainda mais

reduzida por sepulcro De facto S Forenbaher (1999) na sequecircncia da sua anaacutelise de

205 grandes pontas bifaciais de que apenas 63 foram medidas pessoalmente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 241 de 415

servindo-se o autor dos dados disponibilizados em publicaccedilatildeo para as restantes

salientava que natildeo tinha sido possiacutevel obter conjuntos mais ou menos destacados

que permitissem uma classificaccedilatildeo determinada de grupos de peccedilas como alabarda e

punhal ou lanccedila As dimensotildees das peccedilas variam geralmente entre 80 e 180 mm de

comprimento por 30 e 90 mm de largura e tecircm uma meacutedia de espessura de 16 mm

com valores miacutenimos rondando os 5 mm O peso destas peccedilas varia entre 10 e 100

gramas Natildeo obstante haacute casos extraordinaacuterios em que tais peccedilas atingem dimensotildees

superiores como o artefacto de Cabecinha Figueira da Foz com cerca de 340 mm de

comprimento e 520 gramas ou de Casal de Barba Pouca com 232 mm de

comprimento e 400 gramas entre outros Aliaacutes alguns desses casos surgem tal

como se realccedilou para os geomeacutetricos e pontas de seta em sepulcros dolmeacutenicos fora

da regiatildeo estremenha na Beira Interior em Moinhos de Vento 1 no Alto Alentejo

em Satildeo Gens 1 ndash Nisa e Boudanha ndash Monforte evidenciando uma vez mais a

especial importacircncia do siacutelex e em particular daqueles artefactos

Apesar das dificuldades referidas acima S Forenbaher (1999 p 91) distinguiu

entre as peccedilas dois grupos com base no tipo de suporte e tipo de retoque Assim

separou as ldquolacircminas apontadasrdquo (Gonccedilalves 2003 p 267) apesar do seu aspecto

aproximado das grandes pontas bifaciais destacam-se pelo seu formato bastante

alongado e por vezes encurvado devido ao suporte laminar O tipo de retoque eacute

bifacial e tendencialmente invasor notando-se normalmente em partes da peccedila

sobretudo na base o negativo original da lacircmina A sua largura raramente ultrapassa

os 25 mm apresentando frequentemente uma secccedilatildeo plano-convexa O outro grupo

engloba as verdadeiras pontas bifaciais obtidas essencialmente sobre blocos de siacutelex

com desbaste e posterior retoque bifacial cobridor Para este uacuteltimo estabeleceu ainda

uma tipologia fundada essencialmente no formato das bases destas peccedilas wide

(largas) intermediate (intermeacutedias) e elongated (alongadas)

A anta de Casaiacutenhos destaca-se entre as suas congeacuteneres pelo nuacutemero (seis)

proporcionalmente elevado de pontas bifaciais Regista-se ali a uacutenica peccedila de tipo

largo com o formato 10 sendo as restantes enquadradas no tipo intermeacutedio com o

formato 1 Nesse grupo podem juntar-se ainda as peccedilas de Monte Abraatildeo e Estria

Aleacutem destas haacute ainda trecircs peccedilas alongadas uma com o formato 4 de Monte Abraatildeo

e duas com o formato 11 da Arruda e da ldquoanta de Belasrdquo (quiccedilaacute Pedra dos Mouros)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 242 de 415

Na anta da Arruda regista-se outra peccedila alongada de formato 1 que pelas suas

caracteriacutesticas tambeacutem poderia ser incluiacuteda no conjunto das ldquolacircminas apontadasrdquo

Haacute ainda outra peccedila da anta da Estria (MG17101) de caraacutecter aparentemente

votivo e natildeo-funcional feita sobre rocha xisto-anfiboacutelica que parece representar uma

ponta bifacial Esta enquadra-se no tipo intermeacutedio com o formato 1

A cronologia destas grandes pontas bifaciais ainda natildeo estaacute totalmente

definida e esse desiderato passaraacute com certeza pela escavaccedilatildeo de contextos melhor

conservados o que eacute um objectivo bastante ambicioso quando se lida com sepulcros

colectivos sujeitos a constantes perturbaccedilotildees mais ou menos contemporacircneas na

sequecircncia de novas deposiccedilotildees No entanto a atribuiccedilatildeo geneacuterica ao ldquoNeoliacutetico finalrdquo

e ldquoCalcoliacuteticordquo tecircm sido a mais frequente (Forenbaher 1999) Perante as

consideraccedilotildees jaacute desenvolvidas para outros tipos de artefactos lascados julgo que eacute

de ponderar acerca de alguns aspectos pertinentes

O retoque bifacial parece generalizar-se nos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio

ane na transiccedilatildeo para o 3ordm momento em que tambeacutem parece possiacutevel verificar a

substituiccedilatildeo dos geomeacutetricos pelas pontas de seta bem como um eventual

robustecimento dos produtos alongados Por outro lado no segundo quartel do 3ordm

mileacutenio ane a presenccedila em contexto funeraacuterio de elementos lascados regista um

decreacutescimo entre os espoacutelios funeraacuterios conhecidos sobretudo naqueles que com

alguma seguranccedila satildeo passiacuteveis de se circunscrever pelo menos genericamente agrave

primeira metade daquele mileacutenio como os tholoi Inclusive a presenccedila de grandes

pontas bifaciais nos tholoi eacute limitada quando comparada com outros sepulcros

nomeadamente grutas naturais e antas Eacute de reter a imagem que o exerciacutecio de S

Forenbaher (1999 p 94) transmite de uma presenccedila elevada daqueles artefactos

nestes uacuteltimos tipos de jazigos face a grutas artificiais e tholoi - mesmo que

relativizada pelo facto de naquele exerciacutecio constarem sepulcros de regiotildees onde

estes uacuteltimos dois uacuteltimos tipos sepulcrais natildeo constarem ou serem raros no estudo

como a Beira Interior e o Alto e Meacutedio Alentejo Finalmente parece existir uma

coincidecircncia ainda que possa ser apenas circunstancial entre a presenccedila de pontas

de seta com bases convexas e as grandes pontas que seria interessante analisar com

maior pormenor Aliaacutes os formatos daquelas grandes peccedilas assemelham-se aos

pequenos elementos de projeacutectil

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 243 de 415

Portanto pelo exposto penso que as grandes pontas bifaciais teriam a sua

introduccedilatildeo e generalizaccedilatildeo nos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane quiccedilaacute e

sobretudo na transiccedilatildeo para o 3ordm mileacutenio ane mantendo-se a praacutetica da sua

deposiccedilatildeo por mais alguns seacuteculos ainda que gradualmente perdendo importacircncia

durante o segundo quartel desse mileacutenio Estas peccedilas ter-se-iam divulgado entatildeo pela

mesma rede de vias e contactos que jaacute anteriormente permitira a obtenccedilatildeo de

suportes laminares a partir dos quais se produziram geomeacutetricos primeiro e pontas

de seta depois reflectindo a importacircncia funcional mas tambeacutem simboacutelica e social

que o siacutelex e mateacuterias-primas afins em bruto ou jaacute trabalhadas tiveram para as

comunidades das regiotildees sequiosas destes produtos

Raspadores furadores e outras peccedilas lascadas

Registam-se em vaacuterias antas um conjunto de peccedilas lascadas que podem ser de

forma geral categorizadas como raspadores furadores e outras peccedilas lascadas natildeo

especificadas com retoque mais ou menos abrangente No entanto se em alguns

casos o trabalho da peccedila a torna crediacutevel como artefacto funeraacuterio em vaacuterias

situaccedilotildees essa adscriccedilatildeo eacute mais problemaacutetica como se poderaacute confirmar nos

respectivos capiacutetulos monograacuteficos Em aacutereas ricas em siacutelex com evidecircncias do talhe

desta rocha junto dos sepulcros levantam-se reservas Aliaacutes em vaacuterios casos a

presenccedila de restos de talhe e lascas sem retoque por vezes corticais colocam

algumas questotildees que natildeo se anulam mutuamente ter-se-aacute registado o talhe do siacutelex

junto e dentro de algumas antas entre as praacuteticas funeraacuterias houve casos em que os

cadaacuteveres foram cobertos por terras trazidas de contextos habitacionais a construccedilatildeo

da colina tumular a ter existido importou terras do local de habitaccedilatildeo ou de lugares

proacuteximos onde se praticava o talhe do siacutelex ou o sepulcro foi implantado em local

com ocupaccedilatildeo habitacional preacute-existente mas neste caso outros indiacutecios seriam

detectados o que natildeo parece ocorrer Por outro lado a forma como as respectivas

escavaccedilotildees foram realizadas poderaacute ter influenciado a presenccedilaausecircncia de

elementos casos das antas de Arruda e Alto da Toupeira 1 e 2

Face a estas questotildees limitei a abordagem destes elementos agrave sua

representatividade por anta que se revelou mais elevada especialmente naquelas

antas onde existem maiores indiacutecios de possiacuteveis aacutereas de talhe junto delas (Quadro

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 244 de 415

38)

A mateacuteria-prima da maioria das peccedilas lascadas eacute o siacutelex surgindo

pontualmente algumas peccedilas de quartzo quartzo hialino e ainda mais raramente de

quartzito nomeadamente um raspador sobre lasca em Pedras Grandes De forma

geral as peccedilas enumeradas parecem resultar sobretudo de uma forma expedita de

utensiacutelios a que a presenccedila frequente e proacutexima de mateacuteria-prima natildeo seraacute estranha

52 Pedra polida

Apesar de outros artefactos de pedra polida poderem ser incluiacutedos neste grupo

abordar-se-aacute aqui apenas aqueles que corresponderiam a utensiacutelios nomeadamente

para corte e percussatildeo remetendo a abordagem das restantes peccedilas nomeadamente

de adorno e de caraacutecter votivo para outros capiacutetulos Aleacutem daquelas categorias

porque surge isolada regista-se um fragmento de uma peccedila polida apontada na

extremidade enquadraacutevel como punccedilatildeofurador

O conjunto de instrumentos de pedra polida conhecido para as antas de Lisboa

resume-se a cerca de 53 peccedilas11 distribuiacutedas de forma assimeacutetrica nestes sepulcros

sem que se registe algum com efectivos extraordinariamente distintos De facto com

a excepccedilatildeo de Casaiacutenhos com dez peccedilas os restantes sepulcros com presenccedilas

significativas rondam ou aproximam-se da meia duacutezia de artefactos polidos Ainda

naquela anta refira-se que o machado CSH99 resultou do reaproveitamento de parte

da enxoacute CSH98 tendo sido contabilizados como duas peccedilas cujos motivos se

explanaram noutro local (Capiacutetulo 4152) Outro caso tambeacutem considerado foi o

machado apontado para Conchadas (Capiacutetulo 4141) apesar das duacutevidas acerca da

sua proveniecircncia

A anaacutelise destes artefactos baseou-se nos criteacuterios utilizados no estudo do

povoado alentejano do Pombal (Boaventura 2001 p 27-29) por sua vez inspirado

em estudos anteriores (Gonccedilalves 1989 Senna-Martinez 1989 Faacutebregas Valcarce

1991 Valera 1997) Entretanto alguns acrescentos foram efectuados a esses

criteacuterios nomeadamente acerca das aacutereas do artefacto a que peccedilas fragmentadas

11 Incluiacutedas as 4 peccedilas mencionadas por J L Vasconcelos para a Arruda

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 245 de 415

corresponderiam (proximal mesial e distal ndash pmd) e no tipo de secccedilatildeo transversal

que aleacutem de arredondada (a) e poligonal (p) considerou-se ainda a arredondada

achatada (aa) e poligonal achatada (pa) Para a distinccedilatildeo tipoloacutegica dos utensiacutelios

nomeadamente de machado e enxoacute privilegiei os criteacuterios de simetria do gume e da

secccedilatildeo longitudinal das peccedilas

Na Baixa Estremadura o estudo dos utensiacutelios polidos do povoado de Leceia

(Cardoso e Carvalhosa 1995 Cardoso 1999-00a) originou tambeacutem o

estabelecimento de criteacuterios de anaacutelise aproximados dos outros estudos jaacute referidos

Assim mesmo quando cruzado com aquele agora utilizado a possibilidade de

comparaccedilatildeo eacute viaacutevel apesar de algumas diferenccedilas facilmente assinaladas

Os tipos de utensiacutelios polidos mais frequentes nas antas satildeo os machados e as

enxoacutes com uma pequena superioridade numeacuterica global dos primeiros ndash no entanto

as enxoacutes estatildeo em maioria em alguns desses sepulcros nomeadamente de

Casaiacutenhos Carcavelos e Trigache 2

Uma breve anaacutelise acerca de outros contextos funeraacuterios da regiatildeo estremenha

(Leisner 1965 Leitatildeo et al 1987 Gonccedilalves J 1990-92a e 1992 Cardoso 1996a

Cardoso e Cunha 1995 Cardoso Ferreira e Carreira 1996 Cardoso et al 1992

1996 e 2003 Lillios 1997 e 2000 Carreira e Cardoso 2001-02 Gonccedilalves 2003e e

2005b Cardoso e Carvalho 2008) demonstra a ocorrecircncia de ambas as situaccedilotildees

ainda que com valores aproximados No entanto verifica-se uma vantagem numeacuterica

dos machados no contexto habitacional de Leceia (Cardoso 1999-00) Extra-

regionalmente essa tendecircncia habitacional tambeacutem parece verificar-se (Pereira

1999 Boaventura 2001) inclusive na regiatildeo de Beira Interior ndash ainda que aqui

devido aos criteacuterios distintos de classificaccedilatildeo tal preponderacircncia ocorre apenas

quando se conjugam machados e cunhas (Senna-Martinez 1989 Valera 1997)

Outra interpretaccedilatildeo para muitas das peccedilas designadas como enxoacutes eacute a sua

funccedilatildeo como sacho ou sachola (Leisner e Leisner 1951 Cardoso 1999-00)

Contudo como tal hipoacutetese necessita de ser testada e demonstrada de forma

sistemaacutetica neste trabalho mantive a designaccedilatildeo de enxoacute

Aleacutem dos utensiacutelios referidos regista-se apenas uma goiva de Pedras da

Granja cuja singularidade eacute frequente entre os contextos regionais (Leisner 1965

Cardoso 1999-00 Gonccedilalves 2003e e 2005b)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 246 de 415

Outra peccedila peculiar eacute um possiacutevel polidor de Monte Abraatildeo ndash peccedila

enquadraacutevel como machado natildeo fosse o seu gume boleado e polido por uma

utilizaccedilatildeo natildeo totalmente esclarecida De facto a presenccedila deste desgaste no gume

ainda que em utensiacutelios polidos do tipo machado e enxoacute foi verificado em Leceia

tendo sido classificado como ldquomartelo transversalrdquo colocando-se como uma hipoacutetese

de utilizaccedilatildeo para trabalhos de precisatildeo e possiacutevel martelagem do cobre (Cardoso

1989 p 104 1994 fig 106 e 1999-00a Cardoso Soares e Silva 1996) Outra peccedila

semelhante registou-se na gruta do Correio-Moacuter (Cardoso et al 2003) Poreacutem soacute a

anaacutelise traceoloacutegica generalizada deste tipo de peccedila poderaacute eventualmente elucidar a

sua funccedilatildeo Face ao aspecto polido da superfiacutecie com estrias obliacutequaslongitudinais

ao longo da extremidade do ldquogumerdquo julgo que tambeacutem poderia ter sido utilizado

para brunir ou alisar ideia jaacute avanccedilada por C Ribeiro (1880 p 16) quiccedilaacute de

curtumes () mais do que algum tipo de percussatildeo Entretanto V S Gonccedilalves

(2005b p 106 Leisner 1965 taf 83 2 5-6) atribui a algumas peccedilas com

caracteriacutesticas similares da gruta artificial de Satildeo Pedro do Estoril 1 um valor

essencialmente simboacutelico comparando-as pela ausecircncia de gume com uma enxoacute

alentejana de Santa Margarida 3 (Gonccedilalves 2003f) Recorda-se ainda a presenccedila

deste tipo de artefacto no povoado do Pombal Monforte (Boaventura 2001) e em

Torre de Palma (ineacutedito) ambas as peccedilas (uma ldquoenxoacuterdquo e um ldquomachadordquo

respectivamente) provenientes de aacutereas onde a ocupaccedilatildeo preacute-histoacuterica foi intensa

(Boaventura 2001)

A ausecircncia no espoacutelio funeraacuterio de peccedilas enquadraacuteveis como martelos parece

relevar a sua importacircncia essencialmente em contexto habitacional

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 247 de 415

Fig 9 Utensiacutelios de pedra polida por anta da regiatildeo de Lisboa (N= 53)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Alto da Toupeira 2

Arruda

Carcavelos

Casaiacutenhos

Casal do Penedo

Conchadas

Monte Abraatildeo

Pedra dos Mouros

Pedras da Granja

Pedras Grandes

Trigache 1

Trigache 2

Trigache 3

S Pedro

10

Machado Enxoacute Goiva Outro Indeterminado

O peso das peccedilas analisadas (Fig 133) parece reflectir valores diferentes

daqueles conhecidos para outras regiotildees jaacute mencionadas (Senna-Martinez 1989

Valera 1997 Pereira 1999 Boaventura 2001) Assim a meacutedia de peso dos

machados em redor de 250 gramas resulta ligeiramente inferior ao das enxoacutes com

259 gramas Mesmo se forem excluiacutedas da anaacutelise os quatro machados mais leves a

meacutedia dessas peccedilas queda-se nos 266 gramas Aleacutem do provaacutevel machadinho de

fibrolite de Monte Abraatildeo com apenas 24 gramas os dois machados mais leves

situam-se entre 73 e 124 gramas e os dois mais pesados entre 345 e 459 gramas No

caso das enxoacutes a mais leve pesa 165 gramas e a mais pesada 379 gramas Contudo

estes resultados deveratildeo ser relativizados ateacute que exista um conjunto de dados mais

alargado para a Estremadura nomeadamente daquelas peccedilas jaacute estudadas de Leceia

(Cardoso 1999-00) Por exemplo na gruta de Porto Covo (Gonccedilalves 2008a) os

machados assumem uma meacutedia de peso superior agrave das enxoacutes

Ao analisar a larguras e comprimento (Fig 132) e os iacutendices de alongamento

(IA) e espessura (IE) dos utensiacutelios polidos eacute possiacutevel distinguir relativamente bem

os dois conjuntos mais frequentes de machados e enxoacutes Aiacute destaca-se o evidente

espessamento dos machados face agraves enxoacutes (e a goiva) mas a distinccedilatildeo do

alongamento entre estes eacute menos visiacutevel ainda que haja uma aglomeraccedilatildeo do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 248 de 415

primeiro tipo aqueacutem do segundo Aleacutem disso registam-se tambeacutem alguns casos

excepcionais

a A lacircmina de calcaacuterio conquiacutefero de Monte Abraatildeo (178007)

classificada como machado situa-se entre aquelas de enxoacutes (IE- 6 IA-

26) De facto a suas dimensotildees e formato podem enquadrar-se entre

elas se natildeo forem considerados os criteacuterios empiacutericos da simetria do

gume e das faces da peccedila

b Outro machado de Monte Abraatildeo (178003) classificado sob criteacuterios

idecircnticos agrave peccedila anterior situa-se tambeacutem entre as enxoacutes (IE- 12 IA-

46) A sua mateacuteria-prima xisto argiloso eacute frequente nas enxoacutes pelo

que isso poderia contribuir para uma eventual reclassificaccedilatildeo

c Sob criteacuterios similares aos anteriores tambeacutem um machado de

Casaiacutenhos (CSH099) enquadra-se entre as enxoacutes (IE- 14 IA- 47) Isso

poderaacute dever-se ao facto de este ter sido manufacturado a partir da

parte proximal-mesial de uma grande enxoacute apresentando um gume

simeacutetrico (anteriormente o talatildeo) para o qual convergem os bordos da

peccedila

d Finalmente a enxoacute de Pedras Grandes (MG63802) resultou de um

bloco calcaacuterio achatado cuja aacuterea de um gume foi polida sem

qualquer outro trabalho (IE- 26 IA-74)

Fig 10 Iacutendices de espessura e alongamento dos utensiacutelios de pedra polida das antas da regiatildeo

de Lisboa (N=40)

0

10

20

30

40

50

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Iacutendice de Alongamento

Iacutendi

ce d

e Es

pess

ura

Machado

Enxoacute

Goiva

Polidor

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 249 de 415

Quando se compara as meacutedias do IE e do IA de machados e enxoacutes das antas de

Lisboa com outras regiotildees nomeadamente Beira Interior (Senna-Martinez 1989) e

Alentejo (Boaventura 2001) verifica-se uma aproximaccedilatildeo agravequeles valores ainda

que ficando aqueacutem destes Assim nos machados sem os trecircs casos problemaacuteticos

referidos o IE eacute de 33 e o IA de 42 e nas enxoacutes mesmo sem o caso excepcional

manteacutem-se um IE de 12 e um IA de 39

Em concreto no caso das enxoacutes recolhidas nas antas de Lisboa as espessuras

apresentam-se mais reduzidas que as suas congeacuteneres extra-regionais o que poderaacute

dever-se ao tipo de mateacuteria-prima utilizado (Carreira e Cardoso 2001-02) nem

sempre rochas anfiboacutelicas

A maioria dos artefactos polidos apresenta secccedilotildees poligonais ou poligonais

achatadas correspondendo genericamente agraves configuraccedilotildees respectivamente de

machados e enxoacutes A uacutenica goiva conhecida tambeacutem apresenta uma secccedilatildeo

poligonal Os raros casos de secccedilotildees arredondadas de machados registam-se nas

antas de Trigache 1 (2x) Conchadas (1x) e Monte Abraatildeo (1x) Aleacutem destas peccedilas

apenas um possiacutevel machadinho de fibrolite de Monte Abraatildeo apresenta uma secccedilatildeo

semelhante Entre as enxoacutes haacute alguns casos em que as suas secccedilotildees se aproximam do

arredondado mas francamente achatado por vezes quase lenticular

As peccedilas apresentam essencialmente uma extensatildeo do polimento integral em

ambas as faces e bordos inclusive naquelas com secccedilatildeo arredondada Nos poucos

casos em que tal natildeo acontece as secccedilotildees apresentam-se poligonais nomeadamente

em materiais de Casaiacutenhos Arruda Pedras da Granja e Pedras Grandes

Quadro 10 Secccedilatildeo dos utensiacutelios polidos das antas da regiatildeo de Lisboa

Secccedilatildeo

Tipo

poligonal poligonal

achatada

arredondada arredondada

achatada

Total

machado 19 1 3 23 enxoacute 12 8 20

outro 3 1 1 5 Total 22 15 4 8 49

Algumas caracteriacutesticas dos artefactos polidos nomeadamente o seu tipo de

secccedilatildeo transversal e a extensatildeo do polimento sobretudos dos machados tecircm sido

utilizados para estabelecer a maior ou menor antiguidade destes (Leisner e Leisner

1951 e 1959 Leisner 1965 e 1983 Senna-Martinez 1989 Gonccedilalves 1992 Calado

1995 Cardoso 1999-00c Carreira e Cardoso 2001-02) Assim os utensiacutelios mais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 250 de 415

arcaicos apresentariam secccedilotildees arredondadas com o polimento circunscrito agrave aacuterea

distal e o restante corpo picotado numa segunda etapa as peccedilas surgem com secccedilotildees

poligonais quadrangulares ou rectangulares e as suas faces e bordos mais ou menos

extensivamente polidas considerando-se aquelas com maior superfiacutecie polida e

maior achatamento as mais recentes

As caracteriacutesticas enunciadas aplicadas ao conjunto abordado colocam-no

num periacuteodo aparentemente avanccedilado da utilizaccedilatildeo destas peccedilas como espoacutelio

funeraacuterio o que seraacute discutido adiante Todavia em contexto habitacional

designadamente de Leceia (Cardoso 1999-00c) peccedilas com caracteriacutesticas similares

agraves das antas foram situadas no ldquoNeoliacutetico finalCalcoliacuteticordquo

A atribuiccedilatildeo cronoloacutegica dos referidos atributos deve contudo ser utilizada

com ponderaccedilatildeo Talvez um bom exemplo desta reserva seja a colecccedilatildeo de utensiacutelios

polidos do Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987 Cardoso e Carvalho 2008) Aiacute apesar

de um conjunto arcaico cuja a dataccedilatildeo conhecida remete pelo menos para a

transiccedilatildeo primeiro quartel do 4ordm mileacutenio ane a maioria daqueles artefactos do tipo

machado apresentam secccedilotildees poligonais registando-se apenas um caso de secccedilatildeo

arredondada Em geral esses machados apresentam apenas as aacutereas distais polidas

Por outro lado as enxoacutes apresentam essencialmente secccedilotildees poligonais achatadas e

algumas arredondadas achatadas mas ambas com um polimento integral ou proacuteximo

disso (Cardoso e Carvalho 2008) Na regiatildeo vizinha do Alto e Meacutedio Alentejo os

utensiacutelios polidos sobretudo machados com secccedilotildees arredondadas normalmente

com polimento limitado agrave parte distal e a restante superfiacutecie picotada tecircm sido

utilizados como evidecircncia arcaica nomeadamente a colecccedilatildeo de peccedilas da anta do

Poccedilo da Gateira 1 (Leisner 1951 e 1959 Gonccedilalves 1992 Soares e Silva 2000) No

entanto como se discutiraacute adiante (capiacutetulo 8) dificilmente esta anta teraacute sido

utilizada antes da segunda metade do 4ordm mileacutenio ane Outros casos alentejanos

surgem tambeacutem com elementos polidos de caracteriacutesticas eliacutepticas antigas (Leisner

1951 e 1959 Rocha 2005) contrastando assim com as peccedilas do sepulcro de Lugar do

Canto Estas diferenccedilas poderiam entatildeo reflectir caracteriacutesticas regionais eou

cronoloacutegicas ainda natildeo suficientemente esclarecidas

O propoacutesito funeraacuterio dos instrumentos polidos parece evidenciado pelo estado

de conservaccedilatildeo dos respectivos gumes e talotildees De facto no essencial estes gumes

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 251 de 415

apresentam-se intactos ou com ligeiros sinais de uso bem como os talotildees intactos ou

ligeiramente lascados No entanto em muitos casos aquelas cicatrizes poderatildeo dever-

se a causas poacutes-deposicionais Por outro lado alguns sinais de uso mais intenso do

gume registam-se em duas enxoacutes de Casaiacutenhos numa possiacutevel machadinha de

fibrolite de Monte Abraatildeo e em trecircs machados de Conchadas Monte Abraatildeo e

Pedras da Granja respectivamente Genericamente esta situaccedilatildeo de menor utilizaccedilatildeo

dos artefactos de cariz funeraacuterio contrapotildee-se a contextos habitacionais como aquele

registado em Leceia (Cardoso 1999-00c) ou nos povoados beiratildeo de Castro de

Santiago (Valera 1997) e alentejano do Pombal (Boaventura 2001)

A questatildeo da mateacuteria-prima destas peccedilas seria um dos aspectos mais

interessantes desta abordagem pois algumas das rochas utilizadas reflectem

necessariamente a sua importaccedilatildeo o que explicaria simultaneamente a presenccedila de

siacutelex em regiotildees sem esse recurso geoloacutegico Contudo como referi de iniacutecio a

classificaccedilatildeo liacutetica das rochas foi limitada pelas circunstacircncias Portanto as ilaccedilotildees

apresentadas deveratildeo ser entendidas como relativas dependentes de um estudo

sistemaacutetico posterior agrave imagem daqueles jaacute efectuados e mencionados abaixo

Globalmente a maioria dos utensiacutelios depositados eacute de rochas anfiboacutelicas

sobretudo no grupo dos machados Apesar de algumas enxoacutes bem como a goiva e o

polidor terem sido efectuadas tambeacutem sobre anfibolitos e talvez algum xisto

anfiboacutelico a sua maioria resultou do trabalho do xisto argiloso Duas peccedilas

possivelmente dois pequenos machados de Monte Abraatildeo (MG178004) e Trigache

2 (MG179055) foram realizados sobre fibrolite O basalto e o calcaacuterio serviram

tambeacutem para a manufactura de alguns artefactos cuja eficiecircncia e funcionalidade

seriam com certeza limitadas presumindo-se sobretudo o seu caraacutecter simboacutelico o

primeiro para a produccedilatildeo de um machado de secccedilatildeo arredondada de Conchadas

(MG30202) o segundo para a produccedilatildeo da lacircmina de enxoacutemachado de Monte

Abraatildeo (178007) do machado de Pedra dos Mouros (MG17201) e da enxoacute de

Pedras Grandes (MG63802)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 252 de 415

Quadro 11 Mateacuteria-prima dos utensiacutelios polidos das antas da regiatildeo de Lisboa

Rocha Tipo utensiacutelio

anfibolito xisto

argiloso e (anfiboacutelico)

fibrolite calcaacuterio basalto

machado 20 1 (1) 1 2 1 enxoacute 4 11 (4) 1

outro 2 1 1 Total 26 18 2 3 1

Os poucos mas importantes estudos petrograacuteficos e litoloacutegicos realizados no

acircmbito dos estudos acerca de siacutetios estremenhos sobretudo povoados

nomeadamente Leceia (Cardoso e Carvalhosa 1995 Cardoso 1999-00c Lillios

1997 e 2000) Zambujal e Praganccedila (Lillios 1997 e 2000) ou de contextos

funeraacuterios designadamente das grutas da Lapa do Bugio (Cardoso 1996a) Cova da

Moura e Algar do Bom Santo (Lillios 1997 e 2000) demonstraram a natureza local

e regional de variadas rochas utilizadas nomeadamente de xistos argilosos calcaacuterios

e basaltos (Cardoso e Carvalhosa 1995) bem como a origem extra-regional de

outros elementos peacutetreos como o anfibolito o vulcanito baacutesico e a fibrolite Aliaacutes

nos estudos de C Ribeiro (1878 e 1880) ou apontamentos de J L Vasconcelos

(1898) a proveniecircncia exoacutegena de algumas rochas era jaacute enunciada

No caso da gruta da Lapa do Bugio o estudo realizado sobre os artefactos

polidos (Cardoso et al 1992 Cardoso 1996a) ainda que natildeo descurando o Alto

Alentejo realccedilava a possiacutevel origem das rochas duras na regiatildeo do Baixo Alentejo

designadamente nas aacutereas de Alcaacutecer do SalTorratildeo e em fenoacutemenos filonianos

associados agrave intrusatildeo do maciccedilo de Sines

Por outro lado no estudo dedicado aos utensiacutelios polidos de Leceia (Cardoso e

Carvalhosa 1995 Cardoso 1999-00c) apontava-se como provaacuteveis locais de origem

dos anfiboloxistos aacutereas da orla ocidental do maciccedilo paleozoacuteico nomeadamente de

Abrantes (com maior probabilidade) Ponte de Socircr Montargil Avis e Montemor-o-

Novo Apesar de resultados mais geneacutericos o estudo de proveniecircncia de K Lillios

(1997 e 2000) remetia genericamente para o Alto Alentejo nomeadamente as aacutereas

de Arronches e Montemor-o-Novo os possiacuteveis focos das rochas anfiboacutelicas

utilizadas nos povoados estremenhos estudados Ainda que natildeo sendo uma proposta

inviaacutevel ateacute porque pontualmente coincide com o outro estudo referido julgo que a

facilidade de acesso aos locais da referida orla mais proacuteximos do estuaacuterio e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 253 de 415

consequentemente da Estremadura tornam essa origem mais plausiacutevel Sobretudo se

algumas questotildees forem equacionadas primeiramente a grande via de penetraccedilatildeo

providenciada pelo estuaacuterio do Tejo possibilitaria o transporte em piroga ou jangada

Isso evitaria o transporte terrestre aliviando com certeza o transporte daquelas

rochas mais ainda se aproveitassem o ritmo das mareacutes daquele imenso estuaacuterio

Outro aspecto eacute a dispersatildeo tipoloacutegica de materiais lascados de siacutelex estremenhos

nomeadamente as pontas de seta grandes pontas bifaciais e ateacute lacircminas ovoacuteides no

Alto e Meacutedio Alentejo ndash de facto as trocas teriam um cariz simbioacutetico originando a

dispersatildeo de modelos regionais em ambas as direcccedilotildees e no caso concreto pelo

menos mais intensamente naquelas aacutereas de abastecimento mais proacuteximo

A fibrolite rocha pontualmente utilizada na produccedilatildeo de pequenos artefactos

polidos provavelmente pelo seu valor esteacutetico eou simboacutelico natildeo parece ocorrer no

actual territoacuterio portuguecircs (Carreira e Cardoso 2001-02) Assim ao inventariar este

tipo de peccedilas O V Ferreira (1953) apontava para uma provaacutevel proveniecircncia da

Meseta Norte espanhola na regiatildeo de Somosierra

Se a rocha anfiboliacutetica parece assumir na Estremadura um caraacutecter relevante

entre os vivos quer pela sua resistecircncia e eficiecircncia quer pelo provaacutevel prestiacutegio

social o seu depoacutesito funeraacuterio nomeadamente nas antas prolongaria essa

importacircncia Mas tal como parece ocorrer com os artefactos lascados em regiotildees

deficitaacuterias em siacutelex tambeacutem para a manufactura de utensiacutelios polidos se utilizaram

rochas localmente acessiacuteveis

O depoacutesito de utensiacutelios polidos obtidos a partir de rochas locais e regionais

parece indiciar a sua importacircncia no ritual funeraacuterio enquanto siacutembolo

provavelmente associados ao processo de desflorestaccedilatildeo e preparaccedilatildeo dos campos

para a agricultura (Gonccedilalves 2003e Cardoso 1999-00c) Poreacutem a valorizaccedilatildeo que

simultaneamente as rochas duras por serem mais resistentes teriam econoacutemica e

socialmente para aquelas comunidades natildeo pode ser esquecida pois isso levaria a

que natildeo se descartassem com ligeireza daqueles materiais nobres Poderaacute ter sido o

caso das populaccedilotildees que utilizaram a gruta da Cova da Moura como sepulcro a norte

da regiatildeo de Lisboa onde num conjunto de 65 utensiacutelios polidos se verificou apenas

uma peccedila de anfibolito face a rochas de origem local e regional (Lillios 1997 e

2000) Poreacutem este caso eacute por ora singular entre as realidades melhor conhecidas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 254 de 415

Nas antas de Lisboa a totalidade das rochas locais aproxima-se do cocircmputo dos

anfibolitos Todavia essa relaccedilatildeo torna-se menos evidente se for analisada caso a

caso por tipo de rocha e de utensiacutelio pois em algumas antas os efectivos polidos satildeo

diminutos

Os estudos onde se conhece com maior pormenor as peccedilas polidas em

contextos funeraacuterios estremenhos incidiram essencialmente sobre as grutas de

Salemas (Castro e Ferreira 1972) Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987 Cardoso e

Carvalho 2008) Casa da Moura (Carreira e Cardoso 2001-02) Algar do Bom Santo

(Duarte 1998 Lillios 2000) Porto Covo (Gonccedilalves 2008a) e Lapa do Bugio

(Cardoso et al 1992) Aiacute a presenccedila de rochas anfiboacutelicas sobretudo trabalhadas

para machados assume particular relevacircncia No entanto a mateacuteria-prima das enxoacutes

eacute com frequecircncia de origem local casos de Lugar do Canto Casa da Moura Algar

do Bom Santo e Porto Covo De facto o anfibolito parece ter sido mais

frequentemente utilizado para a feitura de machados enquanto para as enxoacutes foram

utilizados rochas nomeadamente xistos siliciososargilosos de aquisiccedilatildeo

provavelmente local e regional consoante a localizaccedilatildeo do respectivo sepulcro Essa

relaccedilatildeo geo-tipoloacutegica parece registar-se tambeacutem em contexto habitacional

nomeadamente em Leceia (Cardoso 1999-00c)

Quando se lista a presenccedila ausecircncia de utensiacutelios polidos entre os vaacuterios

sepulcros estremenhos parece repetir-se uma tendecircncia geneacuterica similar agravequela

apontada para os artefactos lascados Assim se os instrumentos polidos ocorrem

frequentemente em grutas naturais e artificiais bem como em antas nos tholoi estes

apenas se registam ocasionalmente De facto com a excepccedilatildeo de Cabeccedilo da Arruda

2 com um conjunto alargado de artefactos estes estatildeo ausentes nos tholoi do Monge

e Tituaria surgindo apenas de forma limitada noutros sepulcros congeacuteneres Por

outro lado esses artefactos satildeo sobretudo machados o que resulta interessante pois a

ausecircncia de lacircminas de enxoacute parece colmatada por vaacuterias peccedilas de caraacutecter votivo

(Lillios 2000 Gonccedilalves 2003e) representando a lacircmina encabada situaccedilatildeo

atestada em Satildeo Martinho 1-2 Tituaria e Paimogo 1 Tambeacutem em algumas situaccedilotildees

onde a utilizaccedilatildeo funeraacuteria parece ter sido mais intensa na primeira metade do 3ordm

mileacutenio ane como na anta da Estria e Carcavelos a deposiccedilatildeo de utensiacutelios polidos

estaacute ausente ou eacute bastante limitada

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 255 de 415

Face ao exposto eacute provaacutevel que a praacutetica de deposiccedilatildeo de utensiacutelios polidos

nomeadamente machados enxoacutes e goivas componente inicial de uma primeira fase

de praacuteticas mortuaacuterias teraacute tido o seu auge na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane

decaindo a sua importacircncia funeraacuteria na transiccedilatildeo para o mileacutenio seguinte De facto

essa hipoacutetese concordaria com os dois grandes fluxos de mateacuterias-primas (siacutelex e

anfibolitos) de e para a Estremadura com certeza acompanhados por outros

elementos como os ornamentos marinhos o sal as placas de xisto as pedras verdes

a fibrolite e numa fase mais tardia o mineacuterio de cobre No entanto quando esses

fluxos inter-regionais se consolidaram e tornaram constantes tornando a mateacuteria-

prima relativamente mais acessiacutevel e comum em contexto habitacional o seu valor

simboacutelico alterou-se

53 Pedra afeiccediloada

O conjunto de objectos e utensiacutelios integrados neste grupo eacute bastante reduzido

Um dos motivos poderaacute relacionar-se com a forma como os trabalhos antigos foram

realizados limitando as suas recolhas a peccedilas facilmente identificadas No entanto a

escassa presenccedila desses elementos inclusive provenientes de duas intervenccedilotildees

recentes nas antas de Pedras Grandes e Carcavelos leva-me a crer que isso poderaacute

de facto corresponder a uma realidade

Os instrumentos inseridos no grupo da pedra afeiccediloada inserem-se em dois

grandes grupos por um lado os percutores usados numa acccedilatildeo de percussatildeo e por

outro as moacutes usadas numa acccedilatildeo abrasiva de moagem ou de esmagamento

Associadas a este uacuteltimo grupo pode ainda juntar-se algumas peccedilas passiacuteveis da

atribuiccedilatildeo de paleta e amoladeira

A classificaccedilatildeo litoloacutegica destas peccedilas deveraacute ser entendida como aproximada

pelos motivos jaacute indicados atraacutes

Em geral os percutores conhecidos resultaram do uso expedito de seixos de

quartzito As excepccedilotildees registam-se na anta de Casaiacutenhos com um bloco de siacutelex

(MG174339B) e de Carcavelos com um calcaacuterio cristalino ambos de formato

esferoidal usados como percutores de forma continuada

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 256 de 415

Os elementos de moagem encontram-se presentes sobretudo as partes

dormentes Um dos moventes de Monte Abraatildeo (178078) apresentava ainda sinais

de percussatildeo nas suas extremidades A mateacuteria-prima destas peccedilas eacute variada basalto

na anta de Arruda arenito nas antas de Casal do Penedo e Carcavelos e

possivelmente granito nas antas de Pedras Grandes e Monte Abraatildeo

Duas peccedilas aparentemente de basalto de Casal do Penedo e Monte Abraatildeo

apresentam caracteriacutesticas peculiares Apesar de se aproximarem da configuraccedilatildeo de

iacutedolos afuselados ambas apresentam uma das faces desgastadas por abrasatildeo como

se de pequenas moacutes alongadas se tratassem lembrando de alguma forma as

amoladeiras

As possiacuteveis paletas satildeo outro grupo de peccedilas utilizadas para abrasatildeo Satildeo

pequenas placas pouco espessas de arenito de gratildeo fino com suaves concavidades

resultantes da acccedilatildeo abrasiva A esta funccedilatildeo poderia associar-se uma esfera achatada

de arenito totalmente polido de Casaiacutenhos que poderia funcionado com o elemento

movente de um conjunto que visava eventualmente o esmagamento e preparaccedilatildeo de

poacute de ocre

Finalmente em Casaiacutenhos surgiu um pequeno bloco calcaacuterio com orifiacutecio

resultante de fricccedilatildeo continuada talvez com a funccedilatildeo de afiador

Quadro 12 Pedra afeiccediloada das antas da regiatildeo de Lisboa

utensiacutelio Anta

percutor

moacute dormente e

movente

paleta

outro

Arruda 1d 1 Casal do Penedo 1 1

Casaiacutenhos 3 1m 1 2 Carcavelos 2 1d

Pedras Grandes 1 1d Monte Abraatildeo 2 1d+1m 1

Conchadas 1 Total 9 6 4 3

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 257 de 415

54 Ceracircmicas

Recipientes ceracircmicos

Os recipientes ceracircmicos das antas de Lisboa colocam algumas questotildees

difiacuteceis de solucionar

Primeiramente apenas quatro antas apresentam conjuntos ceracircmicos

relativamente abundantes casos de Carcavelos (em estudo) Monte Abraatildeo (Ribeiro

1880 Leisner 1965) Casaiacutenhos (Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969 Leisner

1965) e Pedras da Granja (Zbyszweski et al 1977) Se do primeiro apenas eacute possiacutevel

uma abordagem preliminar que se espera concluir posteriormente dos restantes a

anaacutelise efectuada baseou-se sobretudo nos dados publicados Isto porque natildeo tive

acesso de imediato agrave maior parte da colecccedilatildeo ceracircmica de Casaiacutenhos entretanto

localizada mas jaacute sem tempo para uma revisatildeo aprofundada e no caso de Pedras da

Granja desconhece-se o paradeiro da maioria da colecccedilatildeo ceracircmica Assim optei por

uma abordagem breve destes artefactos realccedilando sobretudo as caracteriacutesticas mais

pertinentes para o seu enquadramento cronoloacutegico Assim as designaccedilotildees utilizadas

para os tipos de recipientes basearam-se em diversos trabalhos (Silva e Soares 1976-

77 Silva Soares e Cardoso 1995 Gonccedilalves 1989 Boaventura 2001)

Aleacutem das praacuteticas funeraacuterias de cariz colectivo dos sepulcros estudados que

contribuiacuteram para a quebra e mistura dos seus espoacutelios a forma insuficiente

(segundo os paracircmetros actuais) como estes foram em geral exumados registados e

catalogados agravaram ainda mais a tarefa de anaacutelise tornando-se delicada a

destrinccedila crono-tipoloacutegica para peccedilas menos passiacuteveis de uma adscriccedilatildeo especiacutefica

Referindo-se ao espoacutelio ceracircmico das grutas natural e grutas artificiais da aacuterea

de Cascais V S Gonccedilalves (2005b) dizia ldquonatildeo eacute faacutecil estabelecer um conjunto

laquomais antigoraquo Poderiacuteamos separar as ceracircmicas em laquocampaniformesraquo e laquonatildeo

campaniformesraquo estas uacuteltimas as mais antigas Mas dentro do primeiro conjunto

natildeo eacute por vezes possiacutevel falar com seguranccedila do que pertence aos construtores das

grutas artificiais e o que dentro delas continuou a ser depositado (hellip)rdquo (Gonccedilalves

2005b p 120) Reforccedilaria dizendo que a sobrevivecircncia de certos modelos de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 258 de 415

recipientes ao longo de uma larga diacronia eacute entatildeo uma condicionante relevante

para a seriaccedilatildeo destes artefactos

Uma das soluccedilotildees poderia passar pelo desenvolvimento de estudos de pastas

ceracircmicas agrave semelhanccedila do que foi realizado para o contexto do siacutetio dos Perdigotildees e

seus sepulcros (Dias et al 2007) permitindo perscrutar proveniecircncias das argilas

mas tambeacutem a verificaccedilatildeo de agrupamentos dentro de tipologias menos

caracterizaacuteveis No entanto essa valorizaccedilatildeo deveria incluir tambeacutem o teste de

materiais de siacutetios habitacionais putativamente correlacionaacuteveis cronologicamente

A separaccedilatildeo entre ceracircmicas laquocampaniformesraquo e laquonatildeo campaniformesraquo das

antas de Lisboa sendo faacutecil demonstra de imediato o quatildeo limitado e complexo se

torna o universo de anaacutelise (Quadro 43) De facto para aleacutem de ceracircmicas

campaniformes de vaacuterios estilos a maioria dos recipientes taccedilas e vasos

hemisfeacutericas com superfiacutecies lisas correspondem a formas de longa diacronia

muitas vezes junto com aquelas podendo presumir-se depoacutesitos conjuntos ndash alguns

casos melhor conhecidos demonstram essa situaccedilatildeo nomeadamente nas antas de

Pedra Branca (Ferreira et al 1975) e Casas do Canal 1 (Leisner e Leisner 1955) no

Alentejo ou com menor pormenor na gruta de Verdelha dos Ruivos (Leitatildeo et al

1984) e no pseudo-tholos Bela Vista (Mello et al 1961 Leisner 1965) Mas mesmo

que tal combinaccedilatildeo natildeo tenha ocorrido torna-se difiacutecil a sua separaccedilatildeo na sequecircncia

de depoacutesitos funeraacuterios Existem todavia alguns tipos de recipientes cujas formas e

caracteriacutesticas particulares podem servir para uma tentativa de destrinccedila entre

momentos de deposiccedilotildees

Alguns vasos esfeacutericos nomeadamente de Carcavelos Casaiacutenhos Pedras da

Granja Pedra dos Mouros e Monte Abraatildeo assemelham-se a recipientes de cariz

antigo normalmente designados por ldquoceracircmica dolmeacutenicardquo como aqueles recolhidos

em sepulcros com utilizaccedilotildees limitadas no tempo como nas grutas de Salemas

(Castro e Ferreira 1972) e Escoural (Arauacutejo e Lejeune 1995) ou com a miacutetica anta

alentejana de Poccedilo da Gateira 1 (Leisner e Leisner 1951 Gonccedilalves 1992 e 1999a)

Em muitas taccedilas e vasos recolhidos o espessamento do bordo ou a sua leve

extroversatildeo parecem assinalar momentos do ldquoNeoliacutetico finalrdquo e periacuteodo posterior

ldquoCalcoliacuteticordquo (Silva e Soares 1976-77 Silva Soares e Cardoso 1995 Calado

1995) tornando-se essa tendecircncia pertinente para a anaacutelise das ceracircmicas lisas Neste

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 259 de 415

caso a sua presenccedila nas antas de Casaiacutenhos Pedras da Granja e Carcavelos

indiciariam deposiccedilotildees recentes

O uacutenico fragmento de bordo denteado (MG179165B) normalmente atribuiacutedo

ao ldquoNeoliacutetico finalrdquo mas tambeacutem ao ldquoCalcoliacutetico inicial (Cardoso 1994 e 2007

Gonccedilalves 2003e) proveio de uma das antas de Trigache No entanto o

desconhecimento da sua proveniecircncia especiacutefica limita qualquer ilaccedilatildeo mais

adequada

Tambeacutem os vasos carenados satildeo espeacutecimes raros nas antas De facto com

excepccedilatildeo de um conjunto de peccedilas carenadas de cariz cronoloacutegico mais recente

apenas em Casaiacutenhos parece registar-se um recipiente carenado atribuiacutevel ao

ldquoNeoliacutetico finalrdquo (Cardoso 1994 e 2007 Gonccedilalves 2003e) Aliaacutes eacute tambeacutem nesta

anta que se registam vaacuterios pratos um deles inclusive com bordo almendrado

(Leisner 1965 taf 25 120) usualmente atribuiacutedo ao ldquoCalcoliacuteticordquo (Silva e Soares

1976-77 Gonccedilalves 1989 e 2003e Silva Soares e Cardoso 1995 Cardoso 1994 e

2007)

Em Monte Abraatildeo regista-se um grande mamilo infelizmente sem outra parte

do recipiente No entanto o seu caraacutecter genericamente preacute-histoacuterico eacute

inquestionaacutevel

As taccedilas vasos e copos com caneluras satildeo talvez os melhores foacutesseis-

directores dentro do conjunto de ceracircmica laquonatildeo-campaniformeraquo atribuiacutedos

genericamente ao ldquoCalcoliacutetico inicial e plenordquo (Kunst 1987 e 1995 Cardoso 1994 e

2007 Silva Soares e Cardoso 1995 Sousa 1998 Gonccedilalves 2003e) Este tipo de

decoraccedilatildeo em recipientes normalmente taccedilas e raramente copos surge com relativa

frequecircncia mas numericamente reduzida nos sepulcros estremenhos (Leisner 1965

Gonccedilalves 2003e Cardoso et al 1992 e 1996) sobretudo em tholoi mas sempre de

forma pontual (Leisner 1965 Gallay et al 1973 Cardoso et al 1996) No caso das

antas registam-se taccedilas com caneluras nomeadamente em Casaiacutenhos Monte

Abraatildeo Trigache 2 Conchadas e Carcavelos - neste uacuteltimo ainda com um talvez

dois copos canelados

Quanto aos estilos de ceracircmica campaniforme remeto para uma breve anaacutelise

no capiacutetulo 8 Isso porque sendo um fenoacutemeno tardio aparentemente anunciando

novos paradigmas funeraacuterios parece registar-se em todos os tipos de sepulcros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 260 de 415

prolongando-se aparentemente ateacute o final do 3ordm mileacutenio ane ndash portanto implicaria

um tipo de abordagem que extravasaria o acircmbito deste estudo dedicado agraves antas

Como se discutiraacute noutro capiacutetulo com os dados disponiacuteveis julgo hoje difiacutecil

recuar a cronologia das deposiccedilotildees de Poccedilo da Gateira 1 para traacutes de meados do 4ordm

mileacutenio ane Aliaacutes as dataccedilotildees pelo radiocarbono de contextos funeraacuterios mais ou

menos seguros como as grutas do Escoural Algar do Barratildeo e Algar do Bom Santo

(Quadro 22-24) onde a presenccedila de ceracircmica eacute rariacutessima ainda que semelhante aos

vasos esfeacutericos de Poccedilo da Gateira 1 estendem-se com margens de probabilidade

elevada ateacute os uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane e mesmo ao primeiro seacuteculo do

seguinte No entanto as dataccedilotildees disponiacuteveis para a camada 4 do ldquoNeoliacutetico finalrdquo

do povoado de Leceia apontam um intervalo de 3510-2900 ane (Soares e Cardoso

1995) sobrepondo-se estatisticamente agravequelas das praacuteticas funeraacuterias referidas que

primam pela raridade da ceracircmica Uma explicaccedilatildeo para esta disparidade passaria

por um forte arcaiacutesmo das praacuteticas funeraacuterias Todavia os dados cronoloacutegicos

compilados recentemente para outros povoados estremenhos (Gonccedilalves e Sousa

2007) e alentejanos (Mataloto e Muumlller no prelo) parecem concentrar os estratos do

ldquoNeoliacutetico finalrdquo sobretudo no uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane por vezes ateacute

apenas no uacuteltimo seacuteculo em transiccedilatildeo para o seguinte

Perante o exposto e as referidas limitaccedilotildees a maioria dos recipientes

ceracircmicos das antas de Lisboa corresponderaacute a deposiccedilotildees funeraacuterias tardias face agraves

provaacuteveis cronologias iniciais de utilizaccedilatildeo Assim eacute admissiacutevel que a praacutetica de

deposiccedilotildees ceracircmicas nestes contextos funeraacuterios tenha ocorrido de forma pontual

durante a segunda metade do 4ordm mileacutenio ane sobretudo nos uacuteltimos seacuteculos deste

registando-se um incremento na passagem para o mileacutenio seguinte e na sua primeira

metade Aliaacutes em algumas situaccedilotildees como Conchadas mas sobretudo Casaiacutenhos a

concentraccedilatildeo de recipientes ceracircmicos defronte da entrada do sepulcro leva a crer em

eventuais deposiccedilotildees votivas posteriores

Apesar de corresponderem a grutas artificiais e a regiotildees distintas os sepulcros

de Sobreira de Cima 1 e 4 Baixo Alentejo (Valera Soares e Coelho 2008) e de

Monte Canelas 1 Algarve (Parreira e Serpa 1995 Moraacuten e Parreira 2004 e 2007)

devem ser aqui recordados sobretudo pela fiabilidade dos seus contextos na

necroacutepole alentejana algumas deposiccedilotildees foram situadas graccedilas a dataccedilotildees pelo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 261 de 415

radiocarbono no uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane natildeo se registando ali contentores

ceracircmicos no caso algarvio o niacutevel inferior de deposiccedilotildees tambeacutem situado no

uacuteltimo quartel daquele mileacutenio natildeo continha ceracircmicas apenas surgindo alguns

fragmentos no niacutevel superior com decoraccedilatildeo simboacutelica caracteriacutestica normalmente

datada da primeira metade do 3ordm mileacutenio ane De alguma forma ainda que com as

limitaccedilotildees contextuais conhecidas a cacircmara ocidental do sepulcro da Praia das

Maccedilatildes parece coincidir no nuacutemero reduzido de ceracircmicas neste caso de dois

recipientes e nas dataccedilotildees de haste de alfinete remetendo para os uacuteltimos seacuteculos do

4ordm e a transiccedilatildeo para o 3ordm mileacutenios ane (Quadro 22)

Por outro lado poderia apontar-se alguma coincidecircncia entre a presenccedila

relativamente abundante de espoacutelios lascados sobretudo pontas de seta e lacircminas

utensiacutelios de pedra polida e ceracircmicas que no essencial parecem concentrar-se

nesses uacuteltimos seacuteculos do 4ordm e primeiros do 3ordm mileacutenios ane Entre as antas a

excepccedilatildeo regista-se em Carcavelos onde o seu espoacutelio na sua maioria se assemelha

mais agravequele recolhido em alguns tholoi portanto com cronologia do 3ordm mileacutenio

ane

Outros artefactos ceracircmicos

Aleacutem dos recipientes ceracircmicos referidos regista-se ainda alguns fragmentos

de artefactos ceracircmicos peculiares em contexto funeraacuterio

Um deles eacute o pequeno fragmento mesial de um possiacutevel elemento de tear do

tipo crescente (MG30280A) Pelo que jaacute referi acima registo-o com reserva

Outra peccedila eacute um pequeno cilindro ceracircmico (MG178262) recolhido em Monte

Abraatildeo

Haacute ainda dois fragmentos ceracircmicos de possiacutevel cincho ou queijeira da anta

de Trigache 3 jaacute anteriormente mencionados (Leisner e Ferreira 1961 Leisner

1965) que satildeo raros em ambiente funeraacuterio De facto entre as publicaccedilotildees

consultadas natildeo me foi possiacutevel verificar a presenccedila de peccedilas similares na

Estremadura

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 262 de 415

55 Utensiacutelios de osso

Apesar do conjunto de artefactos de osso ser relativamente abundante no

espoacutelio de algumas antas quando delimitado apenas aos utensiacutelios daquela mateacuteria

este revela-se deveras escasso Isto porque os restantes elementos correspondem a

peccedilas de adorno traje e de caraacutecter ideoteacutecnico nomeadamente pequenos iacutedolos e

amuletos zoomorfos

A caracterizaccedilatildeo dos utensiacutelios de osso seguiu genericamente as propostas de J

L Pascual Benito (1998) J L Cardoso (2003) e C Salvado (2004)

Assim os utensiacutelios resumem-se a cerca de 14 peccedilas destacando-se o conjunto

de furadores e cabos Regista-se ainda uma agulha uma espaacutetula (sob a reserva jaacute

referida noutro capiacutetulo) e possivelmente dois recipientes ciliacutendricos ou caixas

ciliacutendricas (Salvado 2004) um de Monte Abraatildeo e outro sob a designaccedilatildeo de ldquoAnta

de Belasrdquo

Quadro 13 Utensiacutelios de osso das antas da regiatildeo de Lisboa

utensiacutelio anta

furador cabo agulha espaacutetula caixas

ldquoAnta de Belasrdquo 1 Carcavelos 1 1 Casaiacutenhos 1

Conchadas 1 Estria

Monte Abraatildeo 2 2 1 Pedras da Granja 2

Trigache 4 1 1 Total 7 4 1 1 1

Com a excepccedilatildeo das referidas caixas ciliacutendricas enquadraacuteveis na primeira

metade do 3ordm mileacutenio ane (Gonccedilalves 2003e 2005b e 2008b Salvado 2004) as

restantes peccedilas satildeo de mais difiacutecil adscriccedilatildeo cronoloacutegica Isso parece patente no caso

do povoado de Leceia registando-se tipos de utensiacutelios similares ao longo da

ocupaccedilatildeo do siacutetio (Cardoso 2003)

As caixas ciliacutendricas surgem com frequecircncia e sobretudo associadas agrave

panoacuteplia de artefactos votivos de calcaacuterio Por outro lado entre os tipos de sepulcros

os tholoi surgem como aqueles onde tais peccedilas se registam em maiores nuacutemeros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 263 de 415

Aliaacutes este tipo de artefacto ocorre tambeacutem no Alentejo e Extremadura espanhola

em sepulcros do tipo tholos nomeadamente Perdigotildees (Valera et al 2000) e La

Pijotilla (Hurtado Mondejar e Pecero 2000)

56 As faunas das antas

Ao analisar os artefactos de osso procurei com a colaboraccedilatildeo de M Moreno

identificar as espeacutecies de cujos ossos foram utilizados na sua feitura Infelizmente

em boa parte deles natildeo foi possiacutevel uma identificaccedilatildeo positiva por vezes limitada a

mamiacutefero de grandes dimensotildees ou pequenas dimensotildees por exemplo No entanto

nas situaccedilotildees de identificaccedilatildeo viaacutevel verificou-se uma tendecircncia para a utilizaccedilatildeo

frequente de ossos de animais presumivelmente domesticados (ovinos e caprinos)

face a espeacutecies selvagens Esta impressatildeo parece corresponder agraves anaacutelises efectuadas

para o conjunto de utensiacutelios do povoado de Leceia maioritariamente realizados

sobre ossos de espeacutecies domesticadas como ovinos e caprinos (Cardoso 2003)

Outro aspecto que considerei pertinente avaliar era a possibilidade de

oferendas de alimentos nomeadamente faunas mamaloacutegicas e malacoloacutegicas Assim

entre os espeacutecimes recolhidos a eventual existecircncia de ossos e conchas natildeo

trabalhados ou apenas com marcas de corte nos primeiros poderia ser um indicador

vaacutelido para tal avaliaccedilatildeo Aliaacutes a deposiccedilatildeo de vaacuterios recipientes ceracircmicos defronte

da entrada da anta de Casaiacutenhos permitiam admitir actos de caraacutecter ritual dedicados

aos inumados onde eventualmente alguns alimentos poderiam ter sido depositados

hipoacutetese sugerida para situaccedilatildeo similar na anta de Vale Rodrigo 3 (Larsson 2000)

A Figueiredo (2006) ao analisar o espoacutelio recolhido dentro da anta de Rego da

Murta 1 referia uma presenccedila abundante de faunas indicando-as como provaacuteveis

oferendas rituais No entanto natildeo realizou qualquer dataccedilatildeo sobre ossos dessas

faunas pelo que a sua relaccedilatildeo circunstancial natildeo pode ser esquecida sobretudo

quando aquelas estruturas megaliacuteticas se tornam um excelente abrigo para pessoas e

animais e um local de depoacutesito de lixo orgacircnico de campesinos ao longo do tempo

Assim motivos mais terrenos poderatildeo explicar aquelas presenccedilas aliaacutes recorrentes

nos sepulcros de Lisboa escavados com maior detalhe caso da gruta de Salemas e

das antas de Monte Abraatildeo Pedra dos Mouros e Carcavelos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 264 de 415

Existindo um conjunto de ossos de grandes mamiacuteferos na anta de Pedra dos

Mouros optei por submeter a dataccedilatildeo pelo radiocarbono uma falange de Bos

(MG17240) situando a sua morte entre cal CE 1480-1960 (com 854 de

probabilidade restringe-se a cal CE 1480-1680) Teria sido interessante proceder agrave

dataccedilatildeo de outros elementos de faunas de outras antas nomeadamente de Carcavelos

mas financeiramente natildeo foi comportaacutevel De qualquer forma a dataccedilatildeo de Pedra

dos Mouros tornou-se uacutetil ao realccedilar o cuidado e as reservas a ter com elementos de

fauna em contexto funeraacuterio

Por outro lado satildeo conhecidos alguns casos de espeacutecies animais depositadas

junto de inumados mas frequentemente a sua condiccedilatildeo de alimento natildeo parece

plausiacutevel pois representam espeacutecies aparentemente de acompanhamento como

caniacutedeos Parece ser esse o caso da anta de Santa Margarida 3 (Gonccedilalves 2003f) da

gruta artificial de Paraje de Monte Bajo 2 (Lazarich 2006 e 2008 Lazarich et al no

prelo) ou da cavidade de S J A Portam Latinam (Vegas et al 1999 Vegas 2007)

No entanto quando se efectuou a anaacutelise dos carniacutevoros recolhidos no povoado de

Leceia (Pires Cardoso e Petrucci-Fonseca 2001-02) natildeo foi possiacutevel descartar a

possibilidade de esta espeacutecie ter servido ocasionalmente de alimento

A fauna malacoloacutegica era outro conjunto que eventualmente poderia ter sido

depositado como oferenda de alimento No entanto a forma como muitas das

escavaccedilotildees foram realizadas natildeo permite garantir que todo o material pertinente

tenha sido recolhido bem pelo contraacuterio Por outro lado a falta de registos claros

acerca dos contextos estratigraacuteficos da sua proveniecircncia colocam reservas acerca da

sua contemporaneidade com os depoacutesitos funeraacuterios agrave semelhanccedila do jaacute sugerido

para as faunas mamaloacutegicas

Assim como mero exerciacutecio comparativo procurei verificar a presenccedila de

elementos conquiacuteferos transformados ou natildeo recolhidos nas antas e noutros tipos de

sepulcro com base na informaccedilatildeo publicada (Quadro 45)

As pulseiras sobre concha de Glycimeris e as contas de Dentallium surgem

com alguma frequecircncia em contextos funeraacuterios de gruta natural tendencialmente

antigos com cronologias da primeira metade do 4ordm mileacutenio ane Aliaacutes este tipo de

espeacutecies nomeadamente a primeira estaacute documentada em contextos bem mais

antigos transformada em pingente e pulseiras das grutas do Caldeiratildeo (Zilhatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 265 de 415

1992) e Nossa Senhora das Lapas (Oosterbeek 1993) ou a sul em Castelo Belinho

(Gomes 2008)

As conchas de Cardium sp e Mytilus sp registam-se tambeacutem com frequecircncia

mas raramente trabalhadas a exemplo de outras espeacutecies pontualmente indicadas na

bibliografia Eacute tambeacutem em contexto funeraacuterio de gruta que estes achados parecem

ocorrer maioritariamente

Finalmente as conchas de Pecten maximus ocorrem em grutas-necroacutepole e

antas cujas cronologias disponiacuteveis as situam entre meados do 4ordm e 3ordm mileacutenio ane

Dado a sua origem batimeacutetrica infralitoral eacute provaacutevel que estas conchas tivessem

sido intencionalmente depositadas pelo seu valor esteacutetico e simboacutelico recolhidas

post mortem Aliaacutes esta hipoacutetese tem sido referida para vaacuterios casos onde esta e outra

espeacutecies de valor nutricional nulo ou reduzido (Silva e Cabrita 1966 Silva et al

1986 Guerreiro e Cardoso 2001-02 Gonccedilalves 2008a) Esta importacircncia simboacutelica

eacute ainda mais realccedilada em contextos do interior alentejano onde se registam conchas

marinhas tanto em sepulcros como espaccedilos habitacionais (Leisner e Leisner 1959

Silva e Cabrita 1966 Coelho 2008)

57 Elementos de adorno

Em quase todas as antas se registaram elementos de adorno e traje pessoais Se

as peccedilas de traje satildeo essencialmente artefactos de osso as de adorno apresentam por

vezes objectos que foram adaptados como pingentes ou contas nomeadamente

pequenos seixos ou pedras brutas conchas mas tambeacutem fragmentos ceracircmicos e

outros artefactos atraveacutes da sua simples perfuraccedilatildeo com pouco ou sem qualquer

outro trabalho (Quadro 41)

A classificaccedilatildeo dos elementos de adorno e traje seguiu no essencial as

propostas de J L Pascual Benito (1998)

A miriacuteade de elementos de adorno recolhidos surge hoje reunida em

ldquocolaresrdquo produzidos pelos seus escavadores idealizando a sua forma de

apresentaccedilatildeo Apesar de em algumas situaccedilotildees ser possiacutevel admitir a existecircncia de

colares com largas dezenas de contas soacute em poucas situaccedilotildees estas peccedilas de adorno

foram recolhidas in situ ainda alinhadas No caso das antas com a excepccedilatildeo de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 266 de 415

algumas contas de Carcavelos ainda recolhidas em pequenas sequecircncias as restantes

leituras parecem resultar de uma reconstituiccedilatildeo posterior

As contas discoacuteides satildeo as mais frequentes e numerosas obtidas

essencialmente a partir de rocha xistosa negra calcaacuterio concha e osso Nas peccedilas de

origem conquiacutefera pode observar-se ainda as nervuras da superfiacutecie externa No caso

do osso apenas se registam duas completas de Trigache 2 e um ensaio de conta de

osso de Trigache 3

As contas globulares ovoacuteides e tubulares foram obtidas na sua maioria de

pedras verdes Um tipo raro eacute a conta bitroncocoacutenica uma delas em rocha negra ou

azeviche () em Pedras da Granja e outra de dimensotildees consideraacuteveis de ceracircmica

em Casal do Penedo

Algumas das contas de maiores dimensotildees referidas atraacutes poderiam ter sido

utilizadas como pingentes ndash casos provaacutevel das grandes contas de Monte Abraatildeo O

mesmo se poderia afirmar para os tipos peculiares nomeadamente as duas veacutertebras

de peixe (Trigache 3 e Conchadas) e as duas pedras perfuradas do Casal do Penedo

Contudo tendo em conta a questatildeo da centralidade do orifiacutecio foram consideradas

no grupo das contas

Os pingentes foram obtidos sobretudo com base em xisto negro e pedra verde

apresentando formatos variados Aliaacutes em Monte Abraatildeo parte de um iacutedolo-placa

de xisto foi transformado num pingente ao ser transformado como uma possiacutevel

lacircmina de um machado ou enxoacute com uma perfuraccedilatildeo para suspensatildeo

Ainda que se conheccedilam noutros sepulcros da regiatildeo natildeo se registaram conchas

como provaacuteveis pingentes registando-se apenas um fragmento de um canino inferior

de Sus sp com perfuraccedilatildeo em Conchadas

Entre os elementos de traje os alfinetes de cabelo com e sem cabeccedila posticcedila

esta uacuteltima podendo apresentar ou natildeo decoraccedilatildeo incisa satildeo os mais frequentes

infelizmente na sua maioria resumindo-se a fragmentos de hastes e partes das

caacutepsulas da cabeccedila Todavia haacute ainda alguns exemplares com a referida caacutepsula

posticcedila e topo da haste recordando que alguns dos alfinetes com cabeccedila simples

poderatildeo corresponder de facto a peccedilas mais elaboradas No entanto no caso de um

fragmento de cabeccedila simples de um alfinete de Trigache 2 esta apresenta ainda

vaacuterias incisotildees obliacutequas com provaacutevel finalidade decorativa Em Monte Abraatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 267 de 415

regista-se ainda um possiacutevel fragmento de cabeccedila maciccedila de alfinete talvez de

marfim decorado com um reticulado

Aleacutem dos dois possiacuteveis pentes votivos aqui assinalados apenas existe a

probabilidade de um pequeno garfo de cabelo de Trigache 2

Finalmente os bototildees surgem raramente De facto das quatro antas

assinaladas apenas Conchadas e Carcavelos apresentam um conjunto significativo

de peccedilas Nas antas de Monte Abraatildeo e Pedras da Granja esses elementos resumem-

se a uma peccedila cada

Alguns dos elementos de adorno e traje referidos permitem um enquadramento

cronoloacutegico mais preciso do que outros Assim pelas suas caracteriacutesticas alguns

comentaacuterios poderatildeo ser adiantados

Primeiramente nos sepulcros mais antigos os adornos apresentam

caracteriacutesticas distintas registando-se elementos conquiacuteferos nomeadamente

pulseiras de Glycimeris contas de Dentallium e outras espeacutecies por vezes pouco

modificadas Estes tipos natildeo se registam nas antas de Lisboa Aparentemente aquele

gosto mais naturalista parece alterar-se por meados do 4ordm mileacutenio ane As contas

discoacuteides em xisto parecem surgir ainda com o espoacutelio de cariz antigo como os

geomeacutetricos mas sem ceracircmica (Leisner 1983 Soares e Silva 1976-77) Nos finais

do mileacutenio aleacutem da presenccedila frequente de contas discoacuteides regista-se a presenccedila de

alfinetes de cabelo com e sem cabeccedila posticcedila - em contextos de gruta artificial como

Monte Canelas 1 (Moraacuten e Parreira 2004 e 2007) e da cacircmara ocidental de Praia das

Maccedilatildes essas presenccedilas estatildeo atestadas inclusive pela dataccedilatildeo indirecta e directa

respectivamente (Moraacuten e Parreira 2004 Cardoso e Soares 1995b)

As pedras verdes parecem ter assumido uma importacircncia grande como mateacuteria-

prima na manufactura de adornos durante a primeira metade do 3ordm mileacutenio ane

(Jimeacutenez 1995 Gonccedilalves 2003e e 2005b) Esta possibilidade coincide com outros

artefactos de cronologia similar presentes nas mesmas antas onde aquelas contas e

pingentes se registam

Os bototildees identificados remetem para presenccedilas ainda mais recentes

provavelmente da segunda metade do 3ordm mileacutenio ane associados aos elementos do

pacote campaniforme (Roche e Ferreira 1961 Harrison 1977 Gonaccedillves 2003e e

2005b)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 268 de 415

Portanto pelo exposto eacute possiacutevel apontar agrave semelhanccedila de outros tipos

artefactuais um incremento de deposiccedilotildees de elementos de adorno e de traje nos

uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane e durante a primeira metade do seguinte Por fim

os bototildees parecem corresponder ao periacuteodo final das (re)utilizaccedilotildees funeraacuterias mais

ou menos constantes das antas

58 Artefactos e objectos votivos

Os artefactos votivos das antas de Lisboa correspondem a um conjunto

tipoloacutegico diversificado onde se incluem os iacutedolos-placa baacuteculos os artefactos

votivos de calcaacuterio e de osso com formatos betiloacuteides e outras representaccedilotildees

(Quadro 42) Aleacutem destes eacute possiacutevel ainda incluir um conjunto de objectos liacuteticos da

anta de Monte Abraatildeo tambeacutem de formato betiloacuteide mas sem um aparente trabalho

intencional que pela sua localizaccedilatildeo poderiam corresponder a uma concentraccedilatildeo do

tipo nicho

Os elementos analisados nos capiacutetulos anteriores correspondem com algumas

excepccedilotildees nomeadamente os adornos essencialmente a peccedilas utilitaacuterias presentes

nas actividades quotidianas daquelas comunidades Essas peccedilas essencialmente

tecnoacutemicas teriam com certeza um valor soacutecio-cultural em vida que era prolongado

na morte pelo seu depoacutesito intencional muitas vezes sem ou com pouco uso

colocando-se a hipoacutetese de serem propositadamente produzidas para tal destino pelo

menos algumas Os elementos de adorno que acompanhavam o defunto

corresponderiam a peccedilas de uso pessoal Por outro lado a padronizaccedilatildeo verificada no

tipo de espoacutelio depositado parece reflectir um simultaneamente um gosto esteacutetico

similar e um conjunto de crenccedilas maacutegico religiosas dos vivos acerca daqueles que

faleceram

No caso das peccedilas analisadas neste capiacutetulo o seu caraacutecter ideoteacutecnico eacute

evidente De facto estes elementos parecem representar entidades e crenccedilas hoje

difiacuteceis de apreender encontrando-se depositados na sua esmagadora maioria em

contextos funeraacuterios acompanhando os indiviacuteduos inumados A presenccedila destes

artefactos em contextos habitacionais regista-se (Cardoso 1989 1994 e 1999-00b) e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 269 de 415

eacute expectaacutevel no sentido em que satildeo os vivos os sepultantes que produzem e

depositam este mobiliaacuterio funeraacuterio de acompanhamento e caraacutecter votivo

Iacutedolos-placa e baacuteculos

Os iacutedolos-placa encontram-se presentes em vaacuterias antas de Lisboa (Quadro 42)

ainda que frequentemente em nuacutemero reduzido inclusive singular (ver capiacutetulos

monograacuteficos) A excepccedilatildeo eacute a anta de Conchadas com cerca de 14 peccedilas tornando-

se um dos conjuntos mais numerosos entre os sepulcros da Estremadura Esta

situaccedilatildeo tambeacutem ocorre noutros tipos de sepulcros assinalando-se aiacute presenccedilas

relativamente abundantes como Praia das Maccedilatildes (Leisner 1965) Tojal de Vila Chatilde

1 (Gonccedilalves Andrade e Pereira 2004) ou Lapa do Bugio (Cardoso et al 1992)

Outro aspecto pertinente na regiatildeo de Lisboa eacute a mateacuteria-prima de suporte

para a produccedilatildeo destes iacutedolos-placa essencialmente o xisto ardosiano e variantes

litoloacutegicas de caraacutecter exoacutegeno

Haacute tambeacutem registadas na Estremadura um conjunto de placas de greacutesarenito

com caracteriacutesticas similares a algumas efectuadas em xisto cuja concentraccedilatildeo

corresponde agrave aacuterea da bacia meacutedia do rio Tejo (Alto Alentejo Extremadura

espanhola Beira Baixa Ribatejo e Alta Estremadura) Nas antas de Lisboa apenas se

conhecem os casos de Trigache 3 de uma placa de arenito provavelmente

antropomorfa e de Conchadas uma placa lisa com formato rectangular e cantos

arredondados semelhante agraves congeacuteneres de xisto

Considerando as recentes abordagens referidas abaixo natildeo realizei um estudo

aturado dos iacutedolos-placa limitando-me agraves descriccedilotildees referidas nos capiacutetulos

monograacuteficos

As placas gravadas tecircm sido motivo para trabalhos mais ou menos profundos

acerca delas Vaacuterios autores trataram-nas sob vaacuterios pontos de vista (Veiga 1887

Vasconcelos 1897 Rocha 1908 Correia 1915 e 1917 Leisner e Leisner 1951 e

1959 Leisner 1965 Lisboa 1985 Rodrigues 1986 Bueno Ramirez 1992) mas no

devir cientiacutefico constante de tese e antiacutetese os estudos desenvolvidos nos uacuteltimos

anos acerca dos iacutedolos-placa independentemente dos modelos explicativos

contrastantes renovaram e sistematizaram um conjunto de ideias antigas

actualizadas hoje por metodologias e posiccedilotildees teoacutericas aparentemente distintas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 270 de 415

Retomando abordagens anteriores (Gonccedilalves 1989a 1993 e 1995) o projecto

ldquoPlaca Nostrardquo optou pela revisatildeo e renovaccedilatildeo do registo graacutefico e sistemaacutetico das

placas ainda que limitada a uma abordagem essencialmente monograacutefica de

conjuntos e sepulcros mais emblemaacuteticos normalmente com numerosos exemplares

(Gonccedilalves 1999a 2003c 2003d 2003e 2004a 2004b 2006a 2006b e 2008b

Gonccedilalves Andrade e Pereira 2004)

Os iacutedolos-placa representam para V S Gonccedilalves (1989a 1992 1993 2003d

2003e 2008b) que os prefere designar por placas de xisto siacutembolos de uma

entidade uma Deusa-Matildee ldquoprotectora da Vida e da Morterdquo (Gonccedilalves 1992 p

228) Um primeiro grande grupo de placas apresenta formatos rectangulares e

trapezoidais normalmente bipartidos em duas aacutereas a laquocabeccedilaraquo e o laquocorporaquo

profusamente gravadas com motivos geomeacutetricos Outras placas evidenciando um

caraacutecter mais antropomorfo ou teomorfo surgem com a zona da laquocabeccedilaraquo destacada

pelo recorte da proacutepria placa destacando os ldquoombrosrdquo ou com gravaccedilotildees insinuando

o contorno antropomoacuterfico os olhos braccedilos tranccedilas ou o triacircngulo puacutebico Aquela

distinccedilatildeo morfoloacutegica parece assumir um significado cronoloacutegico que em alguns

casos se torna mais evidente ao assemelhar-se pelo contorno ou incorporando a

figura do iacutedolo almeriense Resumindo para este autor ldquouma placa laquoclaacutessicaraquo uma

laquoplaca loucaraquo uma laquoplaca CTTraquo uma laquoplaca hiacutebridaraquo representam basicamente o

mesmo E as laquoplacas com Olhos de Solraquo algo natildeo muito distanterdquo (Gonccedilalves

2008b p 46)

Outra abordagem no acircmbito do projecto ESPRIT (Lillios 2002 2003 2004a

2004b 2006 e 2008) optou por inventariar todas as placas gravadas entretanto

publicadas disponibilizando-as numa base de dados da Internet aberta a novos

registos (Lillios 2004b) Simultaneamente procedeu agrave revisatildeo directa de muitos

daqueles espeacutecimes inclusive identificando outros natildeo publicados Todavia esta

estrateacutegia de anaacutelise descurou a qualidade graacutefica em prol do maior nuacutemero de

espeacutecimes descritos limitando-se ao registo das suas gravaccedilotildees por fotografia e

digitalizaccedilatildeo nem sempre suficientes para delinear as imagemens presentes

A valorizaccedilatildeo maacutegico-religiosa e simboacutelica dos iacutedolos-placa satildeo negadas e

substituiacutedas para K Lillios (2002 e 2008) por um caraacutecter heraacuteldico e genealoacutegico

retomando propostas anteriores que abordavam estes aspectos (Lisboa 1985 Bueno

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 271 de 415

Ramirez 1992) Assim utiliza como um dos argumentos o nuacutemero reduzido de

peccedilas que apresentam de facto claros elementos de uma qualquer entidade

sobrenatural Esta autora estabeleceu criteacuterios descritivos semelhantes para as placas

mais comuns que apresentam um laquotoporaquo e uma laquobaseraquo (a laquocabeccedilaraquo e o laquocorporaquo)

utilizando o padratildeo decorativo em particular o nuacutemero de registos da base (number

of registers of the base) para acentuar um provaacutevel objectivo genealoacutegico ndash o tipo

decorativo e o nuacutemero de registos em sequecircncia apontariam a linhagem do indiviacuteduo

depositado e a sua pertenccedila a determinado grupo ou clatilde A concentraccedilatildeo e dispersatildeo

geograacutefica de certos tipos de padrotildees geomeacutetricos poderia corresponder a momentos

de implantaccedilatildeo da praacutetica e posterior divulgaccedilatildeo na sequecircncia da deslocaccedilatildeo de

indiviacuteduos para essas novas regiotildees Por outro lado para K Lillios (2006 e 2008) as

placas de caraacutecter antropomoacuterfico denominadas pela autora como biomoacuterficas mais

do que entidades humanizadas representariam animais Apoacutes anaacutelise de um conjunto

de placas biomoacuterficas propocircs a coruja das torres (Tyto alba) como o provaacutevel animal

representado associado agrave noite e agrave morte e vida das sociedades campesinas

A dicotomia entre as duas abordagens referidas destaca-se entatildeo pela muacutetua

negaccedilatildeo das respectivas propostas No entanto analisadas genericamente as duas

interpretaccedilotildees eacute possiacutevel conciliar em parte o aparentemente inconciliaacutevel

Primeiramente confesso-me um adepto racional das interpretaccedilotildees dos iacutedolos-

placa como representantes de atributos e simbologias de uma entidade protectora da

Vida e da Morte uma Deusa-Matildee No entanto a padronizaccedilatildeo presente num

conjunto significativo de placas com padrotildees decorativos especiacuteficos em que eacute

possiacutevel verificar a sequecircncia de registos como no caso de Conchadas parece difiacutecil

de refutar Com certeza faltaratildeo contextos e dataccedilotildees que situem com maior precisatildeo

estes tipos de placas mas assumindo-as como anteriores agravequelas de cariz teomoacuterfico

talvez seja interessante admitir como modelo exploratoacuterio que no iniacutecio do uso

destes artefactos funeraacuterios a importacircncia eacutetnica e eventualmente genealoacutegica fosse

um aspecto considerado por sepultantes e para os sepultados procurando acima

destes clatildes a protecccedilatildeo de uma Deusa-Matildee

Por outro lado a hipoacutetese de sincretismo para as placas mais claramente

antropomorfas natildeo seria de todo ineacutedita Assim as qualidades e caracteriacutesticas de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 272 de 415

animais que de alguma forma emanassem as divindades seriam integradas na

representaccedilatildeo da entidade superior nomeadamente a coruja das torres

Um aspecto em que parece existir algum consenso entre as duas perspectivas

referidas eacute o caraacutecter individual destes artefactos concebidos para depoacutesito funeraacuterio

junto com um inumado (Gonccedilalves 1992 2003e e 2003f Lillios 2008) Nos poucos

casos referidos como tal apenas se conhece bem documentada a associaccedilatildeo da anta

de Santa Margarida 3 do indiviacuteduo J8-588 e o iacutedolo-placa J8-667 (Gonccedilalves

2003f) e a possiacutevel relaccedilatildeo entre os restos esqueleacuteticos humanos e uma estrutura de

combustatildeo com placas associadas da anta de Bola da Cera (Oliveira 1997) O outro

caso referido por V S Gonccedilalves (1987 1989a e 2003f) de um indiviacuteduo da Cova

das Lapas aguarda a sua publicaccedilatildeo pelo que natildeo eacute possiacutevel avaliar a interpretaccedilatildeo

proposta

Aquela adscriccedilatildeo indiviacuteduoiacutedolo-placa conduziu agrave hipoacutetese de caacutelculo do

nuacutemero aproximado de deposiccedilotildees por sepulcro (Gonccedilalves 2003f) No entanto

julgo que essa estimativa poderaacute servir como tal apenas para um determinado

periacuteodo de utilizaccedilatildeo funeraacuteria dos sepulcros Isto porque antes e depois daquela

praacutetica outras inumaccedilotildees poderatildeo ter sido realizadas associadas ou natildeo a objectos e

artefactos visiacuteveis no registo arqueoloacutegico Outra questatildeo que perturba aquela

hipoacutetese eacute o facto de alguns casos estes artefactos surgirem concentrados na aacuterea de

acesso agrave cacircmara ou jaacute no seu corredor como no caso de algumas antas de Lisboa

nomeadamente Conchadas Casaiacutenhos Pedras da Granja e Monte Abraatildeo podendo

corresponder ou natildeo a inumaccedilotildees localizadas naqueles sectores do sepulcro

Outro elemento recolhido foi um baacuteculo de xisto limitado a um exemplar da

anta da Estria Este tipo de artefacto tem sido interpretado como siacutembolo de poder

(Ferreira 1985 Leisner 1951 e 1959 Leisner 1965 Gonccedilalves 1992 1999a e

2003e) Sendo mais frequente no Alto e Meacutedio Alentejo tambeacutem se conhecem

alguns exemplares na Estremadura (Leisner e Leisner 1959 Leisner 1965

Gonccedilalves 1999a e 2003e Carreira e Cardoso 2001-02 Cardoso et al 2003)

Ambos os tipos de artefactos votivos mencionados atraacutes agrave semelhanccedila de

outros jaacute tratados reflectem evidentes contactos inter-regionais No entanto o

caraacutecter ideoteacutecnico destes artefactos e a sua presenccedila relativamente abundante entre

os sepulcros estremenhos suscita algumas questotildees

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 273 de 415

a Esses artefactos satildeo o testemunho da presenccedila de indiviacuteduos

imigrantes e das suas respectivas crenccedilas

b Representaratildeo a integraccedilatildeo local de crenccedilas exoacutegenas materializadas

naqueles artefactos importados

c Seratildeo peccedilas adquiridas pelo seu caraacutecter exoacutegeno e eventual estatuto

social proporcionado na sequecircncia de trocas de produtos mais

importantes para o quotidiano natildeo correspondendo agrave integraccedilatildeo das

crenccedilas das comunidades de origem

Penso que todas estas possibilidades poderatildeo ter ocorrido e entrecruzar-se

sendo difiacutecil valorizar uma face agraves restantes No entanto eacute provaacutevel que as crenccedilas

magico-religiosas de ambas as comunidades tivessem pontos em comum

aproximando-as e facilitando algum grau de ecletismo ou fossem de facto

semelhantes apenas divergentes na sua materializaccedilatildeo

Por outro lado uma questatildeo ainda natildeo cabalmente respondida eacute a de que

grupos ou indiviacuteduos se movimentariam entre estas regiotildees independentemente de

ali estagiarem (Boaventura no prelo a) Se as diferenccedilas antropoloacutegicas natildeo

permitiram ainda pistas uma eventual resposta proviraacute talvez da anaacutelise de alguns

isoacutetopos de indiviacuteduos inumados nestes sepulcros proporcionando uma avaliaccedilatildeo da

sua mobilidade (Capiacutetulo 6)

Resta entatildeo procurar situar cronologicamente estes artefactos Assim se de

facto os iacutedolos-placa evoluiacuteram de motivos geomeacutetricos para atributos mais

antropomoacuterficos julgo que essas fases teriam ocorrido algures nos uacuteltimos seacuteculos

do 4ordm mileacutenio e primeiros do seguinte No entanto deixarei para o capiacutetulo 8 um

exerciacutecio mais aturado acerca desta questatildeo

Artefactos votivos de calcaacuterio

Correspondendo a regiatildeo de Lisboa a parte da Estremadura aacuterea onde os

artefactos votivos de calcaacuterio surgem com muita frequecircncia e variedade (Leisner

1965 Gonccedilalves 2003e 2005b e 2008b) natildeo resulta surpreendente que estes

tambeacutem ocorram nas antas (Quadro 37 e 42) ainda que como se veraacute denunciando

utilizaccedilotildees posteriores

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 274 de 415

Os iacutedolos ciliacutendricos aqui designados genericamente ainda que as suas

paredes se apresentem por vezes rectas hiperboloacuteides ou romboacuteides e outras com um

formato troncocoacutenico satildeo os mais frequentes nas antas mas tambeacutem noutros tipos

de sepulcros estremenhos

As dimensotildees daqueles aqui analisados variam bastante entre os cerca de 210

mm de altura por 10 mm de diacircmetro do maior em Carcavelos e os 35 mm por 23

mm do pequeno iacutedolo troncocoacutenico de Trigache 2 Apresentam as suas superfiacutecies

quase sempre lisas excepto um uacutenico caso reconhecido com gravaccedilatildeo de ldquoolhosrdquo e

ldquotatuagens faciaisrdquo num pequeno iacutedolo ciliacutendrico romboacuteide de Carcavelos

A presenccedila de iacutedolos ciliacutendricos com ldquoolhosrdquo e ldquotatuagens faciaisrdquo entre

aqueles com gravaccedilotildees parece ocorrer sobretudo em peccedilas tendencialmente

romboacuteides encontrando-se usualmente em minoria Alguns casos excepcionais

assinalam o triacircngulo puacutebico como a peccedila proveniente de contexto habitacional de

Leceia (Cardoso 1989 fig 110) ou utilizam representaccedilotildees de crescentes para os

ldquoolhosrdquo e ldquobocardquo como no iacutedolo de Casal do Pardo 4 (Leisner 1965 taf 108 36)

Os iacutedolos afuselados ou fusiformes tambeacutem de se encontram com alguma

frequecircncia nas antas de Carcavelos e Monte Abraatildeo e de forma pontual em Pedras

da Granja e Casaiacutenhos Alguns apresentam linhas gravadas nas aacutereas das suas

extremidades sobretudo na face convexa mas outros satildeo lisos O exemplar de

Casaiacutenhos eacute a excepccedilatildeo por se apresentar gravado em toda a extensatildeo da sua

superfiacutecie convexa agrave semelhanccedila daqueles de Correio-Moacuter (Cardoso et al 1995 e

2003) Folha das Barradas e Casal do Pardo 1 (Leisner 1965) ainda que com

desenhos peculiares Neste grupo inclui-se ainda a peccedila de Estria ndash esta apresenta

uma secccedilatildeo longitudinal aproximada aos iacutedolos fusiformes bem como as

caracteriacutesticas linhas circulares na base mas no topo parece reproduzir linhas de

ldquotatuagemrdquo

A anaacutelise destas peccedilas suscitou sobretudo depois de conhecer a proposta de

reconstituiccedilatildeo do provaacutevel altar da gruta do Correio-Moacuter (Cardoso et al 1995 e

2003) alguma reflexatildeo acerca da forma como seriam depositadas Assim tendo em

conta o formato afuselado de difiacutecil sustentaccedilatildeo vertical a sua estrutura plano-

convexa transversal e longitudinal e naquelas que a tecircm a decoraccedilatildeo incidir

sobretudo na superfiacutecie convexa julgo que estas peccedilas talvez fossem posicionadas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 275 de 415

deitadas No caso de referido altar isso em nada alteraria a sua uniformidade mas

ajudaria a explicar o motivo de decoraccedilotildees natildeo abrangentes e a superfiacutecie plana

contrariamente a outros tipos de artefactos de calcaacuterio como as pinhas e enxoacutes A

possiacutevel interpretaccedilatildeo para os sulcos paralelos nas extremidades da peccedila de

Casaiacutenhos mas tambeacutem de outras servindo para a fixaccedilatildeo do artefacto a uma

estrutura pereciacutevel hoje desaparecida (Gonccedilalves 2003e p 170) poderia tambeacutem

explicar a face aplanada e quase sem decoraccedilatildeo daqueles iacutedolos permitindo que

aqueles se recostassem a uma superfiacutecie tambeacutem ela plana

Outra peccedila com algumas das caracteriacutesticas dos iacutedolos fusiformes seria aquela

recolhida em Monte Abraatildeo (MG-1788 Leisner 1965 taf 54 1) podendo

simultaneamente representar uma grande lacircmina de machado ou enxoacute Aliaacutes no

conjunto de ldquoAnta de Belasrdquo tambeacutem parece registar-se uma peccedila em basalto que

simularia uma lacircmina de machado

As luacutenulas registam-se em quatro antas curiosamente proacuteximas Trigache 2 e

3 Pedra dos Mouros e Estria

Na sequecircncia da recolha de duas luacutenulas na gruta artificial de Alapraia 2

procurou sistematizar-se este tipo de representaccedilotildees em forma de crescente (Jalhay e

Paccedilo 1946) na qual se incluiacutea o fusiforme de Folha das Barradas (Leisner 1965 taf

34 1) e o iacutedolo ciliacutendrico de Casal do Pardo 4 (Leisner 1965 taf 108 36) ambos

com crescentes nas suas decoraccedilotildees Desse inventaacuterio realccedilava-se uma concentraccedilatildeo

em redor da Serra de Sintra entretanto aumentada por novos achados como Praia

das Maccedilatildes (Leisner 1965 Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) O sepulcro mais

distante com este tipo de peccedila eacute ateacute o momento o tholos de Cabeccedilo da Arruda 2

(Leisner 1965) em Torres Vedras ou Pai Mogo 1 (Gallay et al 1973) se as

eventuais insiacutegnias em forma de crescente forem consideradas

Quando a presenccedila destas peccedilas eacute analisada por tipo de sepulcro para aleacutem das

antas referidas estas estatildeo quase ausentes de contextos em gruta natural com a

excepccedilatildeo de Poccedilo Velho (Leisner 1965 Gonccedilalves 2005b) mas presentes em

tholoi como Cabeccedilo da Arruda 2 Praia das Maccedilatildes e Pai Mogo 1 e em grutas

artificiais como Alapraia 2 Tojal de Vila Chatilde e Bauacutetas

As peccedilas do tipo ldquopinhardquo foram encontradas inteiras apenas nas antas de

Casaiacutenhos (Cardoso Gonzalez e Cardoso 2001-01) e Carcavelos (AGMarques

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 276 de 415

ineacutedito) Um terceiro exemplar sem haste atribuiacutedo agrave ldquoAnta de Belasrdquo permite

apenas admitir que talvez tenha provindo de Pedra dos Mouros mas sem poder

negar-se as outras duas antas candidatas para o seu depoacutesito

O exemplar de Casaiacutenhos eacute extraordinaacuterio sobretudo pelo grau de preservaccedilatildeo

da gravaccedilatildeo mas tambeacutem pela representaccedilatildeo provaacutevel de serpentes (Cardoso

Gonzalez e Cardoso 2001-02) Natildeo muito distante de Casaiacutenhos o artefacto de

Carcavelos eacute semelhante mas agora sem as referidas serpentes representadas

A decoraccedilatildeo reticulada eacute a mais recorrente dos exemplares decorados

conhecidos nos sepulcros estremenhos ainda que se registem algumas peccedilas lisas

Com a excepccedilatildeo das peccedilas de Cabeccedilo da Arruda 2 todas as restantes foram

elaboradas em calcaacuterio Outro facto interessante a realccedilar eacute a localizaccedilatildeo dos achados

nas referidas antas ambos nas respectivas aacutereas limiares das cacircmaras

E C Serratildeo (1991) a pretexto de duas peccedilas de cariz similar discutia a

possibilidade de estas ldquopinhasrdquo poderem por vezes representar outros elementos

nomeadamente alcachofras

Vaacuterios autores (Leisner 1965 Gonccedilalves 2003e 2005b e 2008b Cardoso et

al 1996 e 2003 Cardoso Gonzalez e Cardoso 2001-02) tecircm realccedilado o cariz

exclusivamente regional destas peccedilas ateacute o momento apenas registadas na

Estremadura essencialmente na parte central e meridional Uma vez mais a sua

presenccedila em tholoi eacute frequente ndash Barro Serra das Mutelas Cabeccedilo da Arruda 2 Satildeo

Martinho 1-2 (Leisner 1965 Spindler e Gallay 1972 Gallay et al 1973) ainda que

tambeacutem surjam nos restantes tipos de sepulcros nomeadamente nas grutas de Cova

da Moura (Spindler 1981) e Lapa do Bugio (Serratildeo 1991 Cardoso et al 1992) e

nas grutas artificiais de Alapraia 4 (Leisner 1965) e de Tojal de Vila Chatilde e Bauacutetas

(Heleno 1933 Leisner 1965 Gonccedilalves Andrade e Pereira 2004)

Apenas uma enxoacute votiva foi recolhida nas antas de Lisboa designadamente em

Estria Tendo em consideraccedilatildeo outros elementos conhecidos nesta anta

nomeadamente outros artefactos votivos de calcaacuterio e o baacuteculo de xisto poderia

supor-se algum tipo de relaccedilatildeo No entanto esta presenccedila simultacircnea de enxoacutes

encabadas e baacuteculos natildeo eacute conhecida para outros sepulcros De facto as enxoacutes

encabadas surgem com maior frequecircncia associadas a outros artefactos de calcaacuterio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 277 de 415

em grutas naturais e artificiais e tholoi sobretudo nos dois uacuteltimos tipos de sepulcro

(Leisner 1965 Gallay et al 1973 Cardoso et al 1996 Gonccedilalves 2003e e 2005b)

Os recipientes de calcaacuterio e almofarizes sobretudo do primeiro tipo registam-

se em algumas antas De facto correspondem a pequenos vasos globulares de

calcaacuterio em Carcavelos e Pedra dos Mouros e um almofariz em Monte Abraatildeo

Ainda que denunciando um caraacutecter utilitaacuterio mas simultaneamente votivo

(Gonccedilalves 2003e e 2008b) decidi incluir estes artefactos neste capiacutetulo Aliaacutes eacute

normalmente com os restantes tipos de artefactos calcaacuterios que estas peccedilas costumam

surgir

Aleacutem dos artefactos votivos referidos surge ainda na anta da Estria uma placa

encurvada lisa com vaacuterios paralelos em diversos sepulcros estremenhos (Leisner

1965 Gallay et al 1973 Cardoso et al 1996 e 2003)

Uma grande conta toneliforme de calcaacuterio foi recuperada na anta de Casaiacutenhos

sem que se conheccedilam paralelos imediatos Talvez o artefacto mais aproximado pela

sua tipologia seja a conta em marfim de Casal do Pardo 3 (Leisner 1965 taf 102

140 Soares 2003 p 57) Aliaacutes ambas poderiam enquadrar-se como pingentes

Finalmente porque jaacute referida noutro capiacutetulo e porque trabalhada a partir de

uma mateacuteria-prima natildeo calcaacuteria haacute que referir a alabarda da anta da Estria esta sem

paralelo conhecido pelo menos na forma votiva

Na globalidade o conjunto de artefactos votivos de calcaacuterio parece enquadrar-

se na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane talvez com maior vigor na passagem para

seu segundo quartel No entanto agrave semelhanccedila dos iacutedolos-placa abordarei esta

questatildeo no capiacutetulo 8 acerca da cronologia absoluta

Betilos naturais ou afeiccediloados

Na anta de Monte Abraatildeo na aacuterea correspondente a um provaacutevel aacutetrio

verificou C Ribeiro (1880) a existecircncia de uma concentraccedilatildeo de pedras

arredondadas especialmente seixos tendencialmente de formato betiloacuteide Se em

alguns destes parece existir algum tipo de afeiccediloamento ou sinais de uso a maioria

apresentava-se sem qualquer trabalho visiacutevel A sua contextualizaccedilatildeo eacute discutida no

capiacutetulo monograacutefico mas importava aqui recordar a eventual possibilidade de uma

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 278 de 415

realidade de caraacutecter votivo com beacutetilos naturais o que poderia significar um

momento posterior agraves utilizaccedilotildees iniciais daquela anta

Artefactos votivos de osso

Aleacutem dos elementos oacutesseos jaacute referidos noutros capiacutetulos nomeadamente

utensiacutelios e adornos haacute ainda um conjunto limitado de pequenos artefactos com um

caraacutecter marcadamente ideoteacutecnico

Dois iacutedolos gola foram recolhidos nas antas de Carcavelos e Conchadas Este

tipo de artefacto surge com frequecircncia associado agrave panoacuteplia de artefactos de calcaacuterio

(Leisner 1965 Gonccedilalves 2003e) podendo contudo ter funcionado como pingente

enquanto amuleto ou representaccedilatildeo de alguma entidade

Ainda que com um significado crono-cultural importante e imediato os iacutedolos

almerienses recolhidos nas antas de Casaiacutenhos e Monte Abraatildeo destacam-se tambeacutem

pela sua raridade Aleacutem destes exemplares apenas satildeo conhecidos talvez dois no

provaacutevel tholos da Samarra e outros na gruta da Lapa do Bugio (Monteiro

Zbyszweski e Ferreira 1971 Cardoso et al 1992 Gonccedilalves 2003e) Aliaacutes neste

uacuteltimo sepulcro para aleacutem das pequenas figurinhas estas representaccedilotildees surgem

integradas em alguns iacutedolos-placa (Monteiro Zbyszweski e Ferreira 1967

Gonccedilalves 2003e e 2006b) Recentemente parece ter sido identificado por Carla

Martinho outro iacutedolo de osso na colecccedilatildeo das grutas artificiais do Tojal de Vila Chatilde

(Gonccedilalves Andrade e Pereira 2004 p 124) mas num formato distinto do tiacutepico

almeriense (informaccedilatildeo pessoal de V S Gonccedilalves)

A imediata relaccedilatildeo dos exemplares estremenhos com outros do Alentejo de

Olival da Pega 1 (Leisner e Leisner 1951 e 1959) da Extremadura espanhola na

gruta de Tiacuteo Republicano Caacuteceres (Cerrillo e Gonzalez 2007) e sobretudo com

vaacuterios sepulcros do sul peninsular entre Huelva e Almeria (Leisner e Leisner 1943 e

1959 Leisner 1965 Garcia e Spahni 1959) suscitam a reflexatildeo acerca de eventuais

contactos transregionais No entanto a cronologia provaacutevel da sua presenccedila no

Centro-Oeste e Sudoeste peninsular deveraacute situar-se na primeira metade do 3ordm

mileacutenio ane talvez no seu primeiro quartel

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 279 de 415

Outro exemplo de contactos entre regiotildees vizinhas e outras mais distantes

parece revelar-se pela presenccedila de pequenas figurinhas zoomorfas frequentemente

atribuiacutedas a lagomorfos (Leisner e Leisner 1951 e 1959 Leisner 1965 Gonccedilalves

1992 e 2003d Cardoso et al 1992) De facto nas antas de Lisboa estas verificam-se

em Casaiacutenhos e Conchadas Talvez devido agrave sua condiccedilatildeo fragmentada apenas num

exemplar de Conchadas eacute possiacutevel perceber os orifiacutecios de sustentaccedilatildeo

O V Ferreira (1970) num breve inventaacuterio deste tipo de peccedilas realccedilava a sua

concentraccedilatildeo em sepulcros da Estremadura limitando ao actual territoacuterio portuguecircs

aquele tipo de artefacto No entanto eram jaacute conhecidos algumas peccedilas deste tipo da

regiatildeo de Huelva (Leisner e Leisner 1951 e 1959) De qualquer forma aquela

concentraccedilatildeo de figurinhas na Estremadura tem de ser relativizada face ao limitado

grau de preservaccedilatildeo de material orgacircnico na regiatildeo alentejana eacute plausiacutevel que

aqueles elementos tivessem sido mais frequentes mas chegando ateacute noacutes apenas as

mateacuterias liacuteticas e soacute muito raramente aquelas de osso como recentemente se

registaram na aacuterea da necroacutepole de Perdigotildees (Valera et al 2000) Todavia aquele

inventaacuterio realccedila tambeacutem os tipos de sepulcros onde com mais frequecircncia estas peccedilas

surgem sobretudo em grutas naturais e artificiais (bem como nas antas referidas) da

Estremadura e em antas no Alentejo Por isso os exemplares agora recolhidos em

Perdigotildees onde se identificaram vaacuterios sepulcros do tipo tholos tornam interessante

a sua avaliaccedilatildeo no futuro

Eacute provaacutevel que a cronologia destas figuras zoomorfas corresponda aos uacuteltimos

seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane na transiccedilatildeo para o seguinte mantendo a sua relevacircncia

ateacute aos iniacutecios do segundo quartel o que explicaria a sua presenccedila ainda nos

sepulcros de Perdigotildees Por outro lado esta diacronia eacute compatiacutevel com o periacuteodo

onde parece evidenciar-se uma intensificaccedilatildeo de contactos inter-regionais

Na anta de Trigache 4 recolheu-se uma falange de equiacutedeo agrave data do estudo

original ainda com tonalidade avermelhada (Leisner e Ferreira 1959 e 1961) hoje

desaparecida Tambeacutem natildeo se detectou trabalho intencional nesta peccedila

contrariamente ao apontamento de J L Cardoso (1995) citando V Leisner (1965

taf 18 2 28) No entanto essa ausecircncia natildeo retira propriedades agravequela peccedila

sobretudo pelo conhecimento que se tecircm hoje deste tipo de objectosartefactos em

contexto funeraacuterio com um caraacutecter eminentemente votivosimboacutelico encontrando-

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 280 de 415

se diversas peccedilas na Estremadura profusamente trabalhadas algumas com atributos

tambeacutem identificaacuteveis nos iacutedolos-placa e iacutedolos ciliacutendricos como os olhos e o

triacircngulo puacutebico (Cardoso 1995) Agrave semelhanccedila de outros artefactos referidos atraacutes

estes iacutedolos falange distribuem-se pela Estremadura Alentejo Extremadura

espanhola e Andaluzia alguns com um caraacutecter teomorfo evidente nomeadamente

um dos iacutedolos da Lapa da Bugalheira (Paccedilo Vaultier e Zbyszweski 1941 Paccedilo

Zbyszweski e Ferreira 1971) e outro de La Pijotilla (Hurtado Mondejar e Pecero

2000) A cronologia destas peccedilas parece situar-se na primeira metade do 3ordm mileacutenio

ane

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 281 de 415

6 Sepultantes e sepultados uma avaliaccedilatildeo preliminar

No acircmbito deste trabalho e como jaacute foi salientado atraacutes a possibilidade de

conhecer os personagens do Megalitismo nomeadamente dos utilizadores das antas

estremenhas tornou-se uma vantagem acrescida Graccedilas ao estudo dos restos

osteoloacutegicos humanos obteve-se uma informaccedilatildeo privilegiada dos indiviacuteduos

sepultados que simultaneamente tambeacutem poderatildeo ter sido em dado momento os

sepultantes de outros membros dos seus grupos Assim a determinaccedilatildeo eou

conhecimento das suas classes etaacuterias sexos lesotildees e patologias bem como um

vislumbre dos seus haacutebitos alimentares tornou-se bastante pertinente permitindo

avaliar algumas das assumpccedilotildees para o periacuteodo em causa

Como se veraacute pelos dados actualmente disponiacuteveis a identificaccedilatildeo de quais

teratildeo sido os primeiros sepultados foi quase impossiacutevel admitindo-se todavia a

probabilidade de se limitar no iniacutecio a um nuacutemero reduzido de indiviacuteduos quiccedilaacute

apenas singular o que parece tambeacutem ser indiciado pelos espoacutelios e dados

cronoloacutegicos conhecidos por sepulcro

Por outro lado a comparaccedilatildeo do perfil bioloacutegico dos indiviacuteduos depositados

nas antas e noutros tipos de sepulcros da regiatildeo revelava-se pertinente

61 As dificuldades das amostras antropoloacutegicas disponiacuteveis

A elevada quantidade de restos osteoloacutegicos humanos recolhida em sepulcros

da Estremadura nomeadamente nas antas de Lisboa ilude acerca da qualidade da

informaccedilatildeo registada e disponiacutevel agrave data da sua exumaccedilatildeo De facto a precocidade

de muitas das escavaccedilotildees realizadas em ambientes sepulcrais obstou ao registo

apropriado (para o questionaacuterio actual) da forma como os espoacutelios jaziam e se

relacionavam Nos casos das antas de Lisboa essa situaccedilatildeo ficou explanada nos

capiacutetulos monograacuteficos sendo recorrentemente anotada a condiccedilatildeo dos contextos

remexidos e sem aparente nexo salientando-se pontualmente sobretudo artefactos e

alguns elementos oacutesseos mais relevantes como cracircnios e ossos longos mais

completos Infelizmente se para os artefactos dada a sua representaccedilatildeo nas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 282 de 415

publicaccedilotildees foi possiacutevel reposicionaacute-los no caso dos restos oacutesseos muito raramente

tal desiderato foi alcanccedilado com sucesso Sabemos que certos tipos de ossos foram

recolhidos e inclusive aproximadamente onde mas natildeo eacute hoje possiacutevel saber com

parcas excepccedilotildees quais eram exactamente entre a miriacuteade dos restos sobreviventes

agraves vicissitudes dos processos posteriores agrave sua exumaccedilatildeo Noutras situaccedilotildees as

classificaccedilotildees de ldquoenterramentordquo ou ldquoinumaccedilatildeordquo atribuiacutedas pelos escavadores foram

aplicadas a concentraccedilotildees de ossos sem posteriores estudos que conferissem a

justeza daquelas ndash satildeo exemplo disso os trabalhos desenvolvidos pela equipa dos

Serviccedilos Geoloacutegicos em vaacuterias necroacutepoles preacute-histoacutericas nomeadamente na anta de

Pedras da Granja (Zbyszewski et al 1977) ou em outro tipo de sepulcro na gruta do

Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987) onde apesar das admissiacuteveis e provaacuteveis

inumaccedilotildees o estudo laboratorial sequente natildeo foi efectuado em consonacircncia para o

comprovar

A criacutetica efectuada agraves limitaccedilotildees do registo arqueoloacutegico anterior natildeo pode

todavia esquecer a acccedilatildeo humana contemporacircnea dos sepultados e nos seacuteculos

sequentes que incidiu sobre aqueles depoacutesitos bem como a acccedilatildeo natural por

intermeacutedio de animais escavadores e roedores ou simplesmente pela acccedilatildeo de

plantas e aacuteguas pluviais Assim julgo que a escavaccedilatildeo parcial que pude realizar na

anta de Carcavelos poderaacute contribuir para relembrar essa situaccedilatildeo apesar da

escavaccedilatildeo minuciosa e de um registo rigoroso aplicado agrave definiccedilatildeo dos contextos e agrave

recuperaccedilatildeo dessas concentraccedilotildees de ossos natildeo foi possiacutevel identificar ateacute o

momento conexotildees anatoacutemicas entre estes elementos Confirmou-se isso sim essas

aglomeraccedilotildees de ossos aparentemente originadas pela reduccedilatildeo rearranjo ou simples

afastamento dos esqueletos para os cantos do espaccedilo sepulcral Contudo essas

acumulaccedilotildees de ossos foram afectadas por inuacutemeros animais causando bioturbaccedilotildees

de vaacuterias magnitudes ndash outros aspectos dessas acccedilotildees satildeo visiacuteveis nos proacuteprios ossos

que foram mordidos e roiacutedos por animais e descolorados e alterados quimicamente

por precipitaccedilotildees e raiacutezes entre outros fenoacutemenos tafonoacutemicos (Hillier 2008a)

Perante o breve retrato qualitativo das ossadas humanas recuperadas nas antas

de Lisboa que se aplicaraacute certamente agrave maioria das outras colecccedilotildees reconhece-se

infelizmente que nenhum esqueleto depositado parcial ou completo foi

identificadorecuperado nos estudos recentemente empreendidos Se tal identificaccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 283 de 415

de esqueletos mais ou menos completos ocorreu agrave data da sua escavaccedilatildeo a forma

como os restos oacutesseos foram recuperados catalogados e acondicionados natildeo

permitiu no presente a sua verificaccedilatildeo e o estudo de conjunto individualizado No

essencial as colecccedilotildees estudadas correspondem a ossos sem qualquer tipo de conexatildeo

anatoacutemica reconhecidacomprovada Contudo graccedilas aos meacutetodos desenvolvidos no

acircmbito da Antropologia Fiacutesica nomeadamente da Paleoantropologia e da

Bioarqueologia (Ubelaker 1989 Herrmann et al 1990 Silva 2002 e outras

metodologias descritas nos relatoacuterios anexos e nas publicaccedilotildees citadas) bem como

pela avaliaccedilatildeo criacutetica desses meacutetodos (Wood et al 1992 Wood 1998 Wright e

Yoder 2003 Duarte 2003) esta dificuldade foi relativamente amenizada sendo hoje

possiacutevel obter informaccedilatildeo baacutesica e fundamental para a compreensatildeo dos indiviacuteduos

sepultados o estabelecimento do nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos o reconhecimento

do seu sexo e a estimativa da sua idade agrave morte e a identificaccedilatildeo de lesotildees e

patologias que deixaram sinais nos restos oacutesseos Contudo para que os dados

pudessem ser minimamente comparaacuteveis houve que utilizar criteacuterios e paracircmetros

semelhantes ndash por isso para as colecccedilotildees estudadas foram adoptados

consensualmente criteacuterios jaacute estabelecidos nomeadamente para o maior conjunto de

seacuteries deste periacuteodo estudado no Centro-Sul de Portugal no acircmbito do trabalho de A

M Silva (2002 e 2003b) mas tambeacutem com e de outros autores (Cunha e Silva

2000 Cunha Silva e Miranda 2003 Silva e Cunha 2001 Silva Ferreira e Codinha

2006 Silva e Ferreira 2007)

Todavia as dificuldades expostas natildeo obstaram totalmente ao potencial

informativo dos espoacutelios osteoloacutegicos das antas bem como de outros sepulcros

Neste capiacutetulo procurarei explorar esse potencial com base nos trabalhos

preliminares desenvolvidos em colaboraccedilatildeo com antropoacutelogas fiacutesicas

nomeadamente com M Hillier D Boutillier C Duarte M T Ferreira A M Silva

e N Antunes-Ferreira para as colecccedilotildees osteoloacutegicas das antas de Lisboa passiacuteveis

de maior desenvolvimento posterior No caso da anta de Pedras da Granja esse

estudo tinha jaacute sido realizado ainda que como desconfiavam as autoras apenas

sobre parte da colecccedilatildeo (Cunha e Silva 2000) confirmando-se isso recentemente

quando relocalizei mais alguns elementos osteoloacutegicos desta anta (ver capiacutetulo

418)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 284 de 415

Graccedilas aos estudos antropoloacutegicos realizados tornou-se tambeacutem possiacutevel a

obtenccedilatildeo de informaccedilatildeo quiacutemica dos ossos nomeadamente dos isoacutetopos do Carbono

(δ13C) Azoto (δ15N) e Estrocircncio (87Sr86Sr) graccedilas a estudo desenvolvido em

colaboraccedilatildeo brevemente discutido adiante

62 Inumaccedilotildees primaacuterias eou secundaacuterias

A verificaccedilatildeo de deposiccedilotildees primaacuterias eou secundaacuterias nos sepulcros

colectivos eacute importante para a compreensatildeo das praacuteticas funeraacuterias das sociedades

antigas nomeadamente para aquelas relacionadas com o Megalitismo dadas as

implicaccedilotildees soacutecio-culturais mas tambeacutem econoacutemicas que a soluccedilatildeo adoptada

acarretaria (Binford 1981 Carr 1995 Parker-Pearson 2002)

Primeiramente conviraacute definir o que entendo por deposiccedilatildeo funeraacuteria primaacuteria

e secundaacuteria seguindo para tal C Duarte (2003)

ldquoDefine-se como deposiccedilatildeo primaacuteria a que se refere ao local em que os restos

humanos foram depositados logo apoacutes a morte do indiviacuteduo (quer seja inumaccedilatildeo

cremaccedilatildeo deposiccedilatildeo de superfiacutecie ou outra) Assim as transformaccedilotildees sofridas

pelos restos humanos sob anaacutelise seratildeo necessariamente resultantes das

transformaccedilotildees poacutes-deposicionais e natildeo de uma acccedilatildeo do proacuteprio ritual funeraacuteriordquo

(Duarte 2003)

ldquoDefine-se como deposiccedilatildeo secundaacuteria aquela em que os restos humanos satildeo

colocados em locais distintos daqueles onde foram depositados apoacutes a morte Isto eacute

a deposiccedilatildeo secundaacuteria resulta de um tratamento mais complexo do cadaacutever em

fases distintas e sucessivas Essas fases podem ser muacuteltiplasrdquo (Duarte 2003)

Portanto estas definiccedilotildees estritas correspondem agravequilo que a escavaccedilatildeo

arqueoloacutegica permitiu verificar ldquodeacuteconnexion plus ou moins complegravete

deacutesorganisation du squelette absence des os des articulations labiles repreacutesentation

des os proportionnelle agrave leur taille etcrdquo (Chambon 2003) Contudo para a

avaliaccedilatildeo do tipo de deposiccedilotildees realizadas nos sepulcros em estudo julgo que

aquelas definiccedilotildees necessitam de ser encaradas de forma relativa e complementar

(Masset 1987 Roksandic 2002)

Os sepulcros teriam espaccedilo para mais de uma deposiccedilatildeo primaacuteria admitindo-se

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 285 de 415

como provaacutevel que estes receberiam mais de um indiviacuteduo Se apoacutes uma primeira

fase em que possivelmente estes sepulcros colectivos foram utilizados por um

nuacutemero limitado de indiviacuteduos preenchendo-os a sucessiva utilizaccedilatildeo implicaria

entatildeo a reduccedilatildeo e o rearranjo das ossadas ali depositadas anteriormente ou

inclusivamente o seu despejo total ou parcial tal como foi proposto por P Chambon

(2003) para necroacutepoles francesas mas ateacute agora sem nenhum caso verificado

arqueoloacutegica e antropologicamente no territoacuterio portuguecircs ndash seraacute uma questatildeo para

anaacutelise detalhada de sepulcros escavados mais recentemente com metodologias mais

rigorosas Provavelmente aqueles rearranjos foram ocorrendo desde o iniacutecio agrave

medida que a decomposiccedilatildeo dos cadaacuteveres o permitia inadvertidamente ou

intencionalmente empurrando os corpos para os recantos do espaccedilo sepulcral para

dar lugar a outros Outras vezes o gesto intencional eacute evidente quando se detectam

conjuntos de ossos de alguma forma ldquoembaladosrdquo em conjunto normalmente ossos

longos e cracircnios designados por ossaacuterios (Duarte 2003) e colocados nos cantos ou

em nichos do jazigo Portanto muitos dos contextos que foram entretanto escavados

e classificados como deposiccedilotildees secundaacuterias sofreram alguns daqueles

manuseamentos de restos mortais primeiramente depositados para aleacutem das vaacuterias

circunstacircncias tafonoacutemicas que tambeacutem os afectaram E no entanto inicialmente

teriam sido com grande probabilidade deposiccedilotildees primaacuterias ndash as grutas artificiais de

Monte Canelas (Silva 1996a e 1999b) e Sobreira de Cima (Valera Soares e Coelho

2008) satildeo recentes e excelentes exemplos deste devir de praacuteticas mortuaacuterias que soacute o

seu estudo completo e aprofundado permitiraacute entender com melhor e maior detalhe

Outro tipo de deposiccedilatildeo secundaacuteria implica ainda uma maior complexificaccedilatildeo

de praacuteticas funeraacuterias pois os ossos seriam descarnados natural ou propositadamente

em locais externos ao sepulcro servindo este como um verdadeiro receptaacuteculo de

pacotes de ossos ndash um ossaacuterio colectivo tal como parece ser proposto para o sepulcro

1 de Perdigotildees (Duarte 1998a Valera et al 2000 Valera 2007) ainda que natildeo

totalmente demonstrado ndash ateacute o momento natildeo se conhece informaccedilatildeo acerca das

condiccedilotildees dos ossos nem eventuais marcas de desmembramentos e descarnaccedilotildees

causadas por instrumentos humanos ou pela acccedilatildeo de animais necroacutefagos que seriam

de alguma forma expectaacuteveis Contudo a detecccedilatildeo na aacuterea do povoado de algumas

deposiccedilotildees primaacuterias com partes dos esqueletos desaparecidas (Valera 2008

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 286 de 415

Godinho 2008) levou um dos seus investigadores a colocar a hipoacutetese ser um dos

possiacuteveis locais de decomposiccedilatildeo e descarnaccedilatildeo para posterior trasladaccedilatildeo para o

sepulcro 1 (Valera 2008) Resta contudo a demonstraccedilatildeo da sua

contemporaneidade

O caso de Perdigotildees natildeo eacute inusitado pois parece tambeacutem repetir-se noutros

povoados delimitados por fossos do Alentejo como Horta do Albardatildeo 3 (Santos

2006) e da regiatildeo extrementildea espanhola nomeadamente em La Pijotilla (Hurtado

1986 e 1991 Hurtado Mondejar e Pecero 2000) e na Torre de San Francisco Zafra

(Murillo 2007) onde fossas com inumaccedilotildees foram detectadas Infelizmente em

alguns casos a ausecircncia de espoacutelio directamente associado e a inexistecircncia por ora

de dataccedilotildees absolutas suscita um manto de interrogaccedilotildees e duacutevidas crono-culturais

para estas praacuteticas funeraacuterias A existecircncia de outros casos em contextos similares na

Meseta (Bellido 1996 Garrido 1999 e 2006) e Andaluzia (Hurtado 1991 Hurtado

Mondejar e Pecero 2000 Marquez 2004 Vargas 2004a e 2004b) com alguns dos

andaluzes datados nomeadamente em Amarguillo II com um indiviacuteduo feminino

numa fossa aberta em povoado anterior apontando uma cronologia da primeira

metade do 3ordm mileacutenio ane (Quadro 27 Cabrero Garciacutea et al 1997) ou de Los

Villares del Alganes fossa 2 onde ossos de fauna junto do enterramento indicaram o

uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane (Quadro 28 Marquez e Fernandez 2002

Marquez 2004) poderatildeo contribuir para o esclarecimento da cronologia deste tipo

de fenoacutemeno mortuaacuterio No entanto para o Alentejo e Extremadura natildeo deveraacute ser

descartada a hipoacutetese de estes contextos corresponderem a momentos mais recentes

como os casos de Guadajira (Hurtado e Garcia Sanjuan 1994) e de Valencia del

Ventoso (Prada e Cerrillo 2004) parecem sugerir

Ateacute o momento natildeo foram verificadas na Estremadura portuguesa fossas com

utilizaccedilatildeo mortuaacuteria ainda que se conheccedilam na regiatildeo casos deste tipo de estruturas

negativas do periacuteodo preacute-histoacuterico em estudo (informaccedilotildees pessoais de A C Sousa e

A C Oliveira) natildeo devendo tal verificaccedilatildeo ser sobrevalorizada quiccedilaacute devendo-se

eventualmente a lacuna da investigaccedilatildeo

Podendo associar-se ou natildeo ao precedente caso dos Perdigotildees foi tambeacutem

proposta ldquouma praacutetica sistemaacutetica de trasladaccedilatildeo de restos mortais e artefactos de

monumentos mais antigos para os novos monumentos que iam sendo construiacutedosrdquo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 287 de 415

(Rocha 2005 p 269) Isso explicaria os contextos pobres em espoacutelio osteoloacutegico e

artefactual de muitos dos sepulcros de cacircmara simples ou de menores dimensotildees

teoricamente mais antigos bem como a presenccedila de espoacutelios arcaicos em antas de

maior dimensatildeo normalmente jaacute com cacircmara e corredor (Rocha 2005) Ainda no

acircmbito desta proposta os sepulcros menores acabariam por ser reutilizados

apresentando espoacutelios aparentemente mais recentes face agrave cronologia real destes

Apesar de ser um modelo interessante e teoricamente plausiacutevel julgo que a base

arqueoloacutegica utilizada para esta proposta natildeo teraacute sido a mais adequada os sepulcros

do Alentejo sujeitos a elevado grau de acidez dos solos de origem graniacutetica e

xistosa natildeo permitiram a preservaccedilatildeo da maioria do material oacutesseo o que impede de

imediato a verificaccedilatildeo documental do modelo inclusive obviando a realizaccedilatildeo de

dataccedilotildees pelo radiocarbono sobre ossos humanos o que permitiria constatar de uma

forma mais sistemaacutetica o grau de antiguidade das ossadas face aos espoacutelios presentes

por sepulcro

A regiatildeo de Lisboa onde o grau de preservaccedilatildeo dos ossos humanos eacute bastante

razoaacutevel parece contradizer a referida trasladaccedilatildeo sistemaacutetica Ainda que

condicionadas pelas questotildees tafonoacutemicas e outras referidas no capiacutetulo anterior a

maioria das antas mas tambeacutem outros tipos de sepulcros apresentaram

frequentemente um conjunto de espoacutelio osteoloacutegico e artefactual relativamente

proporcionado Aliaacutes nos casos de espoacutelios mais reduzidos isso parece relacionar-se

com a sua cronologia antiga como parece ser o caso das antas do Carrascal e Pedras

Grandes (Quadro 22 e capiacutetulo 8) Contudo o modelo de trasladaccedilatildeo manteacutem a sua

plausibilidade e interesse teoacuterico podendo ajudar no esclarecimento de casos

pontuais como por exemplo de Satildeo Pedro do Estoril 2 onde as recentes dataccedilotildees

(Gonccedilalves 2005b) parecem indiciar a presenccedila de algumas ossadas humanas bem

mais antigas do que o espoacutelio artefactual ali recolhido ndash apesar de outras questotildees se

colocarem o despejo ou a trasladaccedilatildeo poderiam ser uma explicaccedilatildeo (Capiacutetulo 82)

A presenccedila de ossos humanos em contexto de povoados dos 4ordm e 3ordm mileacutenios

ane nomeadamente Leceia Penedo do Lexim e Zambujal (Cardoso Cunha e

Aguiar 1991 Miranda 2006 informaccedilatildeo pessoal de M Kunst) poderia tambeacutem ser

utilizada como argumento acerca do manuseamento de deposiccedilotildees funeraacuterias em que

determinados elementos seriam extraiacutedos dos sepulcros ou para eles levados

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 288 de 415

Contudo julgo que esta questatildeo mereceraacute muita atenccedilatildeo e cautela

Em Leceia os restos humanos avulsos (osteoloacutegicos e dentaacuterios) foram

recolhidos na Estrutura II num contexto de ldquolixeira estruturadardquo correspondendo a

cerca de 3-4 indiviacuteduos adultos encontrando-se no mesmo preenchimento ceracircmicas

decoradas ldquoem folha de acaacuteciardquo (Cardoso Cunha e Aguiar 1991) portanto situando-

se provavelmente entre o segundo e terceiro quartel do 3ordm mileacutenio ane ainda que

fosse importante a sua dataccedilatildeo absoluta pois aquele depoacutesito poderaacute ter sido criado

jaacute numa fase de decadecircncia do amuralhado Sob o povoado de Leceia numa

cavidade designada por Locus 2 (ou Moinho da Moura) tambeacutem se recolheram

restos humanos (ossos e dentes) junto com alguns artefactos de osso e pedra polida e

algumas faunas (Ribeiro 1878 Cardoso Cunha e Aguiar 1991) com uma a dataccedilatildeo

pelo radiocarbono de 2580-2150 cal BCE (ICEN-737) que situa o depoacutesito entre os

meados e a segunda metade do 3ordm mileacutenio ane

No povoado do Penedo do Lexim os restos humanos (sobretudo dentes e

alguns ossos) surgiram nos pontos designados Locus 3 e 3b e Locus 6 associados a

abrigos sob rocha dentro da aacuterea intra-amuralhado correspondendo a indiviacuteduos

natildeo-adultos e adulto (Miranda 2006 informaccedilatildeo pessoal de A C Sousa)

Assumindo que a dataccedilatildeo Beta-186855 obtida pelo radiocarbono (Miranda 2006

Gonccedilalves e Sousa 2006 informaccedilatildeo pessoal de A C Sousa) com o intervalo 2470-

2200 cal BCE situa aquele conjunto de restos humanos referidos entatildeo eacute provaacutevel

que estes tivessem sido ali depositados num momento de abandono ou pelo menos

de decadecircncia do povoado amuralhado

Por fim o exemplo registado no povoado amuralhado do Zambujal ainda natildeo

totalmente estudado parece tambeacutem surgir num momento de desactivaccedilatildeo pelo

menos de uma das portas do bastiatildeo L onde cerca de 83 fragmentos de ossos

humanos se encontravam associados a cacos campaniformes (Sangmeister e

Schubart 1981 p 116 e informaccedilatildeo pessoal de M Kunst)

Assim a presenccedila de restos humanos em contexto habitacional apesar de

necessitar de estudo mais aprofundado poderia relacionar-se com momentos em que

as praacuteticas do Megalitismo jaacute se encontravam em decliacutenio Aquelas situaccedilotildees

parecem entatildeo o resultado de deposiccedilotildees oportunistas em aacutereas desafectadas do

espaccedilo habitacional ainda que relevando uma eventual importacircncia atribuiacuteda agravequelas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 289 de 415

ruiacutenas eventualmente dos seus antepassados Esta possibilidade tambeacutem foi proposta

para deposiccedilotildees funeraacuterias de transiccedilatildeo do 3ordm para o 2ordm mileacutenios ane encontradas

na aacuterea alentejana do Guadiana nomeadamente em contextos habitacionais

entretanto abandonados de Moinho de Valadares e Mercador (Valera 2000a 2000b

2001 e 2006) ou Monte Novo dos Albardeiros (Gonccedilalves 1988-89 e 2005d) Outro

caso conhecido mais setentrional eacute a utilizaccedilatildeo de uma estrutura ovalada (Jorge et

al 1998-99 Jorge 2003) provavelmente um torreatildeo da segunda linha amuralhada

do povoado de Castelo Velho de Freixo de Numatildeo onde foram depositados os restos

de vaacuterios indiviacuteduos entre os quais foi possiacutevel verificar uma provaacutevel deposiccedilatildeo

primaacuteria do sexo feminino associados a elementos de tear fragmentos ceracircmicos e

faunas (Antunes e Cunha 1998 Jorge et al 1998-99) A dataccedilatildeo pelo radiocarbono

GrN-23512 infelizmente sobre carvotildees recolhidos na aacuterea sul daquela estrutura e

natildeo sobre os ossos humanos aponta o intervalo bastante amplo de 2880-2200 cal

BCE (Jorge et al 1998-99) desconhecendo-se o motivo da natildeo mediccedilatildeo dos ossos

humanos Contudo noutro trabalho sem que se compreenda o criteacuterio S Jorge

(2003) colocou aquela realidade na segunda metade do 3ordm mileacutenio ane portanto

encurtando o intervalo da dataccedilatildeo obtida Independentemente das duacutevidas levantadas

julgo que de facto o depoacutesito funeraacuterio corresponderia agrave semelhanccedila dos outros

casos supra a um momento de decliacutenio deste povoado amuralhado na segunda

metade do 3ordm mileacutenio ane

A precocidade temporal e a forma como a maioria das colecccedilotildees osteoloacutegicas

humanas foram recolhidas e registadas bem como os vaacuterios processos tafonoacutemicos

associados tornaram muito difiacutecil de facto verificar a presenccedila de conexotildees

anatoacutemicas totais ou parciais ainda que em alguns casos apontadas como existentes

pelos seus escavadores Eacute portanto um acto de crenccedila nos relatos e capacidades

teacutecnicas destes escavadores a existecircncia de possiacuteveis restos completos ou parciais de

esqueletos humanos ainda que admissiacuteveis Mas alguns casos excepcionais satildeo ainda

hoje possiacuteveis de aceitar pacificamente nomeadamente nas grutas do Escoural

(Arauacutejo Santos e Cawe 1993 Arauacutejo e Lejeune 1996) e do Lugar do Canto (Leitatildeo

et al 1987) ou na gruta artificial de Satildeo Pedro do Estoril 1 (Leisner Paccedilo e Ribeiro

1964 Gonccedilalves 2008a p 168-171)

Tambeacutem os recentes trabalhos de escavaccedilatildeo de sepulcros colectivos do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 290 de 415

Centro-Sul de Portugal alguns deles fora da Estremadura permitiram contudo a

verificaccedilatildeo de deposiccedilotildees esqueleacuteticas mais ou menos completas algumas jaacute

indicadas acima Estas registaram-se em diferentes tipos de sepulcros

nomeadamente no Algar do Bom Santo (Duarte 1998) na anta de Santa Margarida

3 (Gonccedilalves 2003) nas grutas artificiais de Monte Canelas (Silva 1996a e 1996b) e

Sobreira de Cima (Valera Soares e Coelho 2008) ou jaacute na Extremadura espanhola

no tholos de La Pijotilla 3 (Hurtado Mondejar e Pecero 2000)

Perante o conjunto de evidecircncias directas que frequentemente natildeo eacute possiacutevel

reconhecer durante a escavaccedilatildeo das deposiccedilotildees colectivas tecircm sido avanccediladas

metodologias que com base na representatividade por categorias dos elementos

oacutesseos recolhidos permitem inferir sobre o tipo de inumaccedilatildeo (Ubelaker 1974 Silva

2002) Dessa forma tambeacutem se tem procedido agrave avaliaccedilatildeo de quais os tipos de peccedilas

oacutesseas que melhor se preservaram registando-se uma maior resistecircncia dos ossos

densos e pesados (Waldron 1987 cit in Silva 2002) Contudo por vezes esses ossos

estatildeo de tal forma fragmentados que impossibilitam sequer a sua identificaccedilatildeo

conveniente o que resulta na sua subrepresentaccedilatildeo e indefiniccedilatildeo da interpretaccedilatildeo do

tipo de depoacutesito funeraacuterio (Silva 2002) Assim para obviar a esse constrangimento

alguns autores propuseram utilizar o peso dos ossos uma vez que nesta metodologia

natildeo eacute necessaacuterio a identificaccedilatildeo completa dos restos oacutesseos humanos (Crubeacutezy et al

1998 Crubeacutezy 2007 Silva Crubeacutezy e Cunha 2008)

O estudo efectuado por A M Silva (2002 e 2003b) aplicou as duas

metodologias referidas em algumas colecccedilotildees osteoloacutegicas provenientes de diversos

tipos de sepulcros nomeadamente as cavidades naturais de Serra da Roupa e Cova

da Moura os tholoi de Paimogo 1 e Cabeccedila da Arruda 2 as grutas artificiais de Satildeo

Paulo 2 e Cabeccedilo da Arruda 1 (esta apenas para o peso) e o doacutelmen de Ansiatildeo

O padratildeo de representatividade das diferentes peccedilas oacutesseas compatiacuteveis com

deposiccedilotildees primaacuterias apenas se verificou nos sepulcros de Satildeo Paulo 2 e Paimogo 1

apresentando as restantes colecccedilotildees fracas presenccedilas de determinadas elementos o

que poderaacute explicar-se pelos historiais respectivos das suas intervenccedilotildees e

armazenamento (Silva 2002)

A anaacutelise do peso proporcional por categoria de osso das colecccedilotildees permitiu

aferir com maior rigor a sua representatividade Os ossos do toacuterax continuaram a ser

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 291 de 415

em todas as seacuteries osteoloacutegicas aqueles pior representados o que segundo A M

Silva (2002) seria expectaacutevel dada a maior percentagem de osso trabecular Entre as

diversas seacuteries aquelas de Satildeo Paulo 2 e Paimogo 1 continuaram a apresentar os

melhores resultados ainda que tenha sido possiacutevel tambeacutem perceber melhor as

deposiccedilotildees de Ansiatildeo e da Serra da Roupa As colecccedilotildees de Cabeccedilo da Arruda 1 e 2

e de Cova da Moura foram aquelas que mantiveram as duacutevidas da sua caracterizaccedilatildeo

dados os valores discrepantes face aqueles esperados (Silva 2002)

Assim de forma sucinta o tipo de anaacutelise produzido permitiu demonstrar que

pelo menos nas seacuteries melhor recuperadas as deposiccedilotildees funeraacuterias teriam um

caraacutecter primaacuterio posteriormente sujeitas a todos um conjunto de processos poacutes-

deposicionais (Silva 2002 e 2003b)

O estudo preliminar das colecccedilotildees das antas de Lisboa natildeo incluiu o tipo de

anaacutelise aprofundada referida atraacutes (Duarte 2004 Hillier 2008a 2008b 2008c

2008d 2008e 2008f 2008g 2008h Cunha e Silva 2000) Contudo dados os

constrangimentos jaacute mencionados para o tipo de recolhas e posterior tratamento

museoloacutegico das ossadas destes sepulcros eacute provaacutevel que alguns deles tambeacutem natildeo

permitissem afericcedilotildees tatildeo conclusivas casos das antas de Trigache 2 (Hillier 2008h)

e Trigache 4 (Informaccedilatildeo pessoal de M T Ferreira) Pedras Grandes (Hillier 2008f)

Arruda (Duarte 2004) Pedras da Granja (Cunha e Silva 2000) e Pedra dos Mouros

(Hillier 2008g) e talvez com um relativo sucesso em Carrascal (Hillier 2008b)

correspondendo agravequeles que apesar de tudo apresentavam peccedilas oacutesseas nas suas

colecccedilotildees museoloacutegicas Por outro lado entre aquelas antas com perfis osteoloacutegicos

mais completos ndash Carcavelos (Hillier 2008a) Casal do Penedo (Hillier 2008a)

Monte Abraatildeo (Hillier 2008a) e Estria (Hillier 2008a) ndash a primeira e a maior de

todas natildeo tem ainda o estudo de todas as peccedilas osteoloacutegicas concluiacutedo Eacute portanto

com algumas reservas que admito a possibilidade das deposiccedilotildees funeraacuterias das

antas de Lisboa terem sido tambeacutem primaacuterias aparentemente indiciada pela presenccedila

de alguns elementos oacutesseos nomeadamente do toacuterax e das extremidades laacutebeis

O que transparece dos sepulcros mais recentemente escavados eacute de importacircncia

capital para a afericcedilatildeo das praacuteticas funeraacuterias a recolha mais rigorosa seguida do

trabalho laboratorial sistemaacutetico dos restos humanos no contexto de sepulcros

colectivos tem vindo a reforccedilar o argumento para uma praacutetica maioritaacuteria de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 292 de 415

deposiccedilotildees funeraacuterias primaacuterias mesmo que posteriormente transformadas em

deposiccedilotildees secundaacuterias por reduccedilatildeo ou rearranjo do esqueleto para dar espaccedilo a

novas deposiccedilotildees primaacuterias Todavia esta praacutetica mortuaacuteria que seria a regra natildeo

descarta a possibilidade de pontualmente outras situaccedilotildees tivessem ocorrido de

facto os depoacutesitos secundaacuterios resultantes da trasladaccedilatildeo do espoacutelio de sepulcros

mais antigos do processo de descarnaccedilatildeo ou do falecimento de indiviacuteduos em aacutereas

geograficamente distantes posteriormente trazidos em partes significantes para o seu

local de origem Comprovaacute-lo eacute no entanto tarefa difiacutecil

63 Os efectivos inumados

A anaacutelise dos efectivos inumados por anta ou por outro tipo de sepulcro ficou

sujeita agraves limitaccedilotildees das colecccedilotildees respectivas resultantes de factores como aqueles

referidos supra mas tambeacutem porque em alguns casos se apresentam os valores

indicados pelos estudos antigos desenvolvidos por metodologias hoje

desactualizadas nomeadamente para as grutas das Salamandras (Harpsoumle e Ramos

1987) Lapa do Bugio (Isidoro 1964) Lapa do Fumo (Serratildeo e Marques 1971) e do

Escoural (Isidoro 1981) e gruta artificial de Casal do Pardo 3 (Bubner 1979) Aleacutem

dessas assimetrias entre sepulcros tambeacutem se verificaram diferenccedilas nos cocircmputos

obtidos dentro de cada um deles consoante os elementos utilizados para as

estimativas dos nuacutemeros miacutenimos de indiviacuteduos ndash NMI (Quadro 46) Uma vez mais

o grau diferenciado de preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo neste caso dos elementos dentaacuterios

e oacutesseos poderaacute indicar-se como condicionante importante Natildeo obstante se em

alguns casos os nuacutemeros de deposiccedilotildees propostas natildeo estaratildeo longe duma possiacutevel

realidade outros valores parecem ficar aqueacutem do que se presumiria Avaliando

sumariamente o nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos de todos os sepulcros considerados

neste capiacutetulo contabilizaram-se 3277 efectivos que foram depositados durante pelo

menos cerca de 1500 anos ndash em alguns casos como a gruta de Casa da Moura as

dataccedilotildees absolutas recuam o espectro temporal para outras realidades culturais

tornando mais complexa a sua destrinccedila (Quadro 22 e 46) Por outro lado o total de

deposiccedilotildees funeraacuterias de indiviacuteduos aumentaria se fossem estipuladas meacutedias pelos

sepulcros onde infelizmente natildeo se preservaram os restos mortais como ocorre entre

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 293 de 415

os milhares de jazigos registados do Alentejo De qualquer forma como se discutiraacute

noutro capiacutetulo eacute possiacutevel admitir uma concentraccedilatildeo de deposiccedilotildees entre os meados

do 4ordm e os do 3ordm mileacutenios ane

A tomada de consciecircncia da relatividade do cocircmputo obtido por sepulcro deve

considerar ainda que aquele resultado eacute entatildeo uma estimativa plasmada da

realidade isto eacute a acumulaccedilatildeo de deposiccedilotildees durante um tempo mais ou menos

longo (Masset 1997) Uma forma de contornar este obstaacuteculo para aleacutem de ter isso

presente seria avaliar estratigraacutefica e cronologicamente as evidecircncias arqueoloacutegicas

identificadas e complementarmente ou na falta delas realizando seacuteries de dataccedilotildees

absolutas em indiviacuteduos potencialmente natildeo repetidos Claro estaacute para conjuntos de

largas dezenas de indiviacuteduos esse desiderato torna-se utoacutepico ou extremamente

oneroso financeiramente Por outro lado o intervalo de tempo obtido por cada

dataccedilatildeo ronda usualmente os seacuteculos pelo que uma leitura estratigraacutefica

pormenorizada dos depoacutesitos onde possiacutevel poderia contribuir para o seu

estreitamento estatiacutestico

Entre as antas de Lisboa a de Carcavelos apresentou o nuacutemero miacutenimo de

indiviacuteduos mais elevado (NMI-81 baseado na peccedila oacutessea da piracircmide petrosial

direita) No entanto devo recordar que neste cocircmputo geral ainda natildeo foram

incluiacutedos os restos oacutesseos dos natildeo-adultos (Hillier 2008a) que totalizaratildeo

provavelmente mais algumas dezenas de pessoas A avaliaccedilatildeo separada dos dentes

desta colecccedilatildeo indicou um NMI-74 com 36 adultos e 40 natildeo-adultos (Boutilier

2007a) um valor aqueacutem daquele obtido pelas peccedilas oacutesseas pelo que importaraacute

aprofundar esta questatildeo no futuro

Aleacutem de Carcavelos apenas Monte Abraatildeo com um NMI-65 (baseado em

dentes) parece aproximar-se daqueles valores (Hillier 2008a Boutilier 2007a) ndash por

curiosidade recorde-se a proposta de C Ribeiro (1880) para um nuacutemero natildeo inferior

a cerca de 80 indiviacuteduos neste sepulcro

Entre os efectivos mais reduzidos das antas Estria (NMI-43 baseado em

dentes) surge com menos de metade do total de Carcavelos mas com um valor

superior agraves restantes Essencialmente estas apresentaram nuacutemeros miacutenimos de

indiviacuteduos entre uma e as duas dezenas Mas recordo que em alguns casos estes

totais poderatildeo basear-se em colecccedilotildees truncadas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 294 de 415

Quatro casos exteriores agrave regiatildeo de Lisboa as antas de Ansiatildeo Rego da Murta

1 e 2 (Alta Estremadura) e Santa Margarida 3 (Alentejo Meacutedio) apresentam efectivos

aproximados agrave anta da Estria

Fig 11 NMI por anta (Centro-Sul de Portugal)

6

81

10

14

23

43

65

3

16

7

22

8

37

50

47

37

29

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Arruda

Carcavelos

Carrascal

Casaiacutenhos

Casal do Penedo

Estria

Monte Abraatildeo

Pedra dos Mouros

Pedras da Granja

Pedras Grandes

Trigache 2

Trigache 4

Ansiatildeo

Rego da Murta 1

Rego da Murta 2

Santa Margarida 3

meacutedia

Quando se compara a informaccedilatildeo das antas com aquela disponiacutevel para os

outros tipos de sepulcros (Quadro 46) registam-se algumas diferenccedilas numeacutericas

As grutas naturais apresentam maioritariamente NMI mais elevados que as

antas Por sua vez aqueles valores satildeo ultrapassados pelos registos das grutas

artificiais e estas pelos efectivos dos tholoi Ressalve-se que no do Casal do Tojal

de Vila Chatilde o NMI baseado em dentes refere-se ao conjunto das trecircs grutas

artificiais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 295 de 415

Fig 12 NMI por gruta-necroacutepole (Centro-Sul de Portugal)

10

115

6

10

70

13

130

90

17

120

30

340

43

40

20

6

48

24

26

31

141

34

29

51

60

0 50 100 150 200 250 300 350 400

Salamandras

Poccedilo Velho

Porto Covo

V dos Ruivos

Lapa do Bugio

Lapa do Fumo

Lapa da Furada

Cova da Moura

Fontaiacutenhas

A Bom Santo

Feteira

Casa da Moura

Furninha

Serra da Roupa

Algar do Barratildeo

Covatildeo do Poccedilo

Lugar do Canto

Cadaval

Ossos

Alqueves

Covatildeo dAlmeida

G Escoural

Lagar

Cerca do Zambujal

meacutedia

Fig 13 NMI por gruta artificial (Centro-Sul de Portugal)

167

33

53

254

46

19

171

106

0 50 100 150 200 250 300

T Vila Chatilde 1 a 3

Folha dasBarradas

SPedro Estoril 2

Satildeo Paulo 2

Casal do Pardo 3

Cab da Arruda 1

Monte Canelas 1

meacutedia

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 296 de 415

Fig 14 NMI por tholos (Centro-Sul de Portugal)

11

44

413

74

79

124

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Agualva

Praia das Maccedilatildes

Paimogo 1

Cab da Arruda 2

Samarra

meacutedia

Estimando-se a meacutedia de NMI para cada tipo de sepulcro as antas surgem

como o tipo de necroacutepole com o efectivo de deposiccedilotildees mais reduzido e os tholoi

com o mais elevado ndash ainda que o tholos de Paimogo 1 contribua com dois terccedilos das

deposiccedilotildees conhecidas neste tipo de sepulcro na Estremadura De qualquer forma a

impressatildeo de os tholoi terem recebido um maior nuacutemero de deposiccedilotildees parece

tambeacutem verificar-se na regiatildeo vizinha alentejana ainda que natildeo existam dados

definitivos acerca destes a abundacircncia de restos osteoloacutegicos recolhidos indicia-o

no tholos de Olival da Pega 2b do qual o estudo de uma pequena parcela da colecccedilatildeo

apontou um total provisoacuterio de 16 indiviacuteduos (Silva F 2005) ou no sepulcro 1 de

Perdigotildees com um NMI provisoacuterio 101 indiviacuteduos com base no molar inferior

esquerdo (Valera 2007 Lago et al 1998a e 1998b Valera et al 2000) Os tholoi da

Extremadura espanhola nomeadamente de La Pijotilla 3 com cerca de 300

indiviacuteduos com base no registo de cracircnios durante a sua exumaccedilatildeo (Hurtado

Mondejar e Pecero 2002) e Huerta Montero com dezenas de indiviacuteduos (Blasco e

Ortiz 1991) satildeo tambeacutem exemplos destes nuacutemeros elevados de deposiccedilotildees

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 297 de 415

Fig 15 Meacutedia do NMI por tipo de sepulcro (Centro-Sul de Portugal)

29

63

106

124

0 20 40 60 80 100 120 140

Antas

Grutas

G artificiais

Tholoi

Vaacuterias explicaccedilotildees poderatildeo ser apontadas para estas diferenccedilas de efectivos

entre tipos de sepulcros

1 Deve-se simplesmente ao erro estatiacutestico e fraca representatividade dos

dados podendo as meacutedias obtidas mascarar assimetrias regionais correspondendo a

comunidades de dimensotildees variadas

2 Relaciona-se com os espaccedilos exiacuteguos das antas face aos outros sepulcros

ainda que isso deva ser relativizado ndash algumas grutas naturais e artificiais apresentam

espaccedilos e acessibilidades bastante semelhantes agraves antas ou ateacute por vezes mais

limitadas

3 A cronologia de utilizaccedilatildeo dos sepulcros corresponde a momentos de

praacuteticas funeraacuterias com regras comunitaacuterias distintas Assim as antas enquanto o

tipo de sepulcro artificial provavelmente mais antigo (ver capiacutetulo 8) juntamente

com as grutas naturais seguidas pelas grutas artificiais teriam recebido apenas um

parte dos membros desses grupos No entanto tais preceitos alteraram-se e seacuteculos

mais tarde o nuacutemero de indiviacuteduos com direito de deposiccedilatildeo naqueles espaccedilos

sepulcrais aumentou Simultaneamente algumas das antas e das grutas naturais e

artificiais ainda se utilizavam agrave data dessa ldquodemocratizaccedilatildeordquo do acesso aos espaccedilos

funeraacuterios construiacutedos

4 O nuacutemero conhecido de grutas artificiais e tholoi eacute bem mais reduzido que

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 298 de 415

os outros tipos de sepulcros ainda que essa impressatildeo se possa dever ao caraacutecter

subterracircneo ou semi-subterracircneo das estruturas tornando-os de difiacutecil detecccedilatildeo Mas

a aceitar-se essa baixa representaccedilatildeo como uma realidade de facto isso poderia ter

contribuiacutedo para a acumulaccedilatildeo em maior nuacutemero de indiviacuteduos depositados

provocando uma distorccedilatildeo estatiacutestica da leitura

5 Tambeacutem de um ponto de vista geograacutefico notam-se discrepacircncias na

Estremadura - com maior incidecircncia na sua aacuterea setentrional as grutas eram jaacute

utilizadas antes do 4ordm mileacutenio ane e mantiveram-se em muitos casos em uso

durante todo o fenoacutemeno do Megalitismo inclusive durante todo o mileacutenio seguinte

O mesmo se poderaacute admitir para a peniacutensula de Setuacutebal onde ateacute hoje ainda natildeo foi

possiacutevel localizar antas e tholoi

Ao cruzar os valores referidos dos efectivos inumados com as presenccedilas de

objectos e artefactos recolhidos nos sepulcros parece registar-se alguma

coincidecircncia indiciando o processo cumulativo a que os sepulcros estiveram mais ou

menos sujeitos De um momento em que apenas alguns indiviacuteduos foram tumulados

as suas sequentes utilizaccedilatildeootildees aumentariam o nuacutemero de deposiccedilotildees De certa

forma esse processo tambeacutem se verifica de um ponto de visto cronoloacutegico quando se

cruzam as dataccedilotildees absolutas com os restantes dados (capiacutetulo 8)

De um ponto de vista social poderia presumir-se que inicialmente apenas

alguns indiviacuteduos poucos teriam direito ao uso destes sepulcros mas que por

direitos familiares ou de clatilde aqueles espaccedilos passaram a ser utilizados por um maior

leque de membros das comunidades Mas quem teriam sido estes primeiros

indiviacuteduos Adultos Natildeo-adultos Homens Mulheres Categorias sociais que nos

escapam

64 O sexo a idade e a estatura dos sepultados

O trabalho de A M Silva (2002 e 2003b) para diversos contextos sepulcrais

dos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane na regiatildeo Centro-Sul de Portugal bem como outros

trabalhos (Silva 1993 1996a 1996b 1999a e 1999b Gama 2003 Cunha e Padez

1987 Cunha e Silva 2000 Cunha Silva e Miranda 2003 Silva e Ferreira 2006 e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 299 de 415

2007 Silva Ferreira e Codinha 2006 Tomeacute 2006) demonstraram a presenccedila

recorrente de ambos os sexos e das diversas faixas etaacuterias em todos os tipos de

sepulcros Tais presenccedilas tambeacutem se verificaram nas antas de Lisboa (Quadro 14 e

46) incluindo indiviacuteduos nascituros e receacutem-nascidos como por exemplo na anta de

Casal do Penedo (Hillier 2008c) mas que usualmente satildeo raros

Algo tambeacutem realccedilado no trabalho de A M Silva (2002) foi uma aparente e

recorrente maioria de indiviacuteduos do sexo feminino em vaacuterios sepulcros deste

periacuteodo nomeadamente nas grutas artificiais de Satildeo Pedro do Estoril 2 Baixa

Estremadura (Silva 1993 e 1999b) e Monte Canelas 1 Algarve (Silva 1996a e

1996b) ou no tholos de Paimogo 1 Alta Estremadura (Silva 2002) Aliaacutes ainda que

relativa a um caso especiacutefico esta situaccedilatildeo tambeacutem foi apontada na anaacutelise dos

restos humanos da gruta do Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987)

Apesar de ser possiacutevel registar ambos os sexos nas antas de Lisboa a sua

avaliaccedilatildeo quantitativa foi dificultada pelo grau de fragmentaccedilatildeo das colecccedilotildees

osteoloacutegicas limitando-se a maioria das classificaccedilotildees ao grau de possibilidade bem

como a percentagens muito reduzidas quando comparadas com os respectivos NMI

obtidos somente sobre elementos oacutesseos (Quadro 14) Inclusive naquela mais

completa da anta de Carcavelos (com um NMI-81) apenas foi possiacutevel estimar a

presenccedila miacutenima de 9 indiviacuteduos do sexo feminino contra 8 do masculino (um

nuacutemero maacuteximo de elementos diagnosticaacuteveis sobe os valores para 40 contra 29

nomeadamente) Na anta de Casal do Penedo (NMI-23) registou-se uma presenccedila de

3 elementos femininos contra 2 masculinos (avaliando os nuacutemeros maacuteximos estes

sobem para 19 contra 12 respectivamente) Perante os dados destas e das restantes

antas a leitura queda-se por esclarecer cabalmente De facto em algumas antas o

sexo masculino surge identificado solitariamente com diversos elementos adultos de

sexo indeterminado Aleacutem desta dificuldade entre indiviacuteduos adultos conviraacute

recordar que a diagnose sexual de peccedilas osteoloacutegicas de natildeo-adultos natildeo foi

realizada Isto porque os meacutetodos hoje disponiacuteveis para tal tecircm revelado pouca

fiabilidade sobretudo devido ao dimorfismo sexual dos ossos que ainda natildeo

atingiram a sua maturidade (Silva 2002 White e Folkens 2005)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 300 de 415

Quadro 14 Diagnose sexual dos indiviacuteduos das antas da regiatildeo de Lisboa

Anta NMI Feminino Masculino Observaccedilotildees

Arruda 6 1 1 Duarte 2004

Carcavelos 81 9 8 Hillier 2008a

Carrascal 6 1 1 Hillier 2008b

Casal do Penedo 23 3 2 Hillier 2008c

Estria 19 3 3 Hillier 2008d

Monte Abraatildeo 21 2 Hillier 2008e

Pedra dos Mouros 3 Hillier 2008g

Pedras Grandes 7 1 Hillier 2008f

Pedras da Granja (16) Cunha Silva e Ferreira 2000

Trigache 2 6 2 Hillier 2008h

Trigache 4 8 2 3 Inf pessoal de M T Ferreira

A presenccedila maioritaacuteria do sexo feminino em sepulcros colectivos deste periacuteodo

(4ordm-3ordm mileacutenios ane) parece tambeacutem registar-se nos conjuntos franceses

Chasseacutennes (Bresson e Crubeacutezy 1994 cit in Silva 2002) Uma primeira explicaccedilatildeo

para esses resultados poderia relacionar-se basicamente com a metodologia e os

paracircmetros utilizados tal como A M Silva (2002) pondera Contudo assumindo-se

por ora que a parte analiacutetica estaraacute correcta satildeo enumeradas algumas hipoacuteteses

demograacuteficas e soacutecio-culturais para explicar os resultados (Silva 2002)

nomeadamente

1 De facto haveria mais mulheres que homens nestas comunidades

2 Poderiam ocorrer praacuteticas funeraacuterias distintas para os indiviacuteduos do sexo

masculino sendo estes depositados em locais especiacuteficos de acordo com determinado

status por exemplo

Recentemente propus como temaacutetica de reflexatildeo a questatildeo do sexogeacutenero e a

sua mobilidade (Boaventura no prelo b) Argumentei entatildeo com base na dispersatildeo

regional e inter-regional de determinados artefactos tradicional e putativamente

associaacuteveis ao geacutenero mulher ou homem conforme as actividades desempenhadas

quem realizaria com maior frequecircncia as viagens de meacutediolongo curso Pela

dispersatildeo regional da tipologia de artefactos associados agraves tarefas domeacutesticas

(produccedilatildeo ceracircmica tecelagem tratamento de peles horticultura etc) bem como

dos cuidados com crianccedilas de tenra idade considerei que as mulheres raramente se

deslocariam por grandes distacircncias excepto em ocasiotildees nupciais dentro da sua

regiatildeo ou pontualmente acompanhando expediccedilotildees Pelo contraacuterio a dispersatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 301 de 415

inter-regional de certas tipologias associadas a actividades de caccedila pastoreio

intercacircmbio de produtos e eventualmente de raids e conflitos beacutelicos parecem

encontrar-se associadas a homens

Assim partindo dos pressupostos enunciados julgo que a ausecircncia nos

povoados de grupos de homens dedicados a estas expediccedilotildees poderia explicar de

alguma forma um desequiliacutebrio nos efectivos inumados pois alguns destes

padeceriam nessas missotildees podendo acabar por ser depositados noutros locais Ao

contraacuterio como natildeo se deslocavam para muito longe dos seus locais de habitaccedilatildeo as

mulheres falecidas facilmente seriam depositadas nos sepulcros colectivos das suas

comunidades Outro aspecto importante eacute a funccedilatildeo reprodutiva do sexo feminino

pois poderia obstar a deslocaccedilotildees fisicamente longas e dilatadas no tempo Aliaacutes a

gravidez o parto e a convalescenccedila poacutes-parto poderiam tambeacutem ser responsaacuteveis por

taxas elevadas de oacutebitos o que explicaria parcialmente as deposiccedilotildees femininas

maioritaacuterias ndash essa situaccedilatildeo parece verificar-se em sociedades preacute-industriais (Penn e

Smith 2007)

A hipoacutetese referida acima para espaccedilos funeraacuterios preferencialmente

masculinos parece necessitar de comprovaccedilatildeo pois ateacute hoje ainda natildeo se encontrou

um depoacutesito claramente maioritaacuterio com homens quer junto dos outros sepulcros ou

no caso de morte durante expediccedilotildees em aacutereas aparentemente distantes das suas

afinidades culturais identificadas por elementos materiais estranhos agrave regiatildeo Caso

existissem suspeitas dessa situaccedilatildeo a anaacutelise isotoacutepica tambeacutem poderia

eventualmente contribuir para o seu esclarecimento

Apesar de ser possiacutevel admitir a presenccedila de todas as faixas etaacuterias para os

inumados das antas de Lisboa a condiccedilatildeo fragmentada e por vezes provavelmente

truncada das colecccedilotildees osteoloacutegicas condicionou todavia a estimativa especiacutefica das

idades dos indiviacuteduos identificados sobretudo para os adultos normalmente

adscritos somente a essa classificaccedilatildeo geneacuterica

Entre os indiviacuteduos natildeo-adultos graccedilas aos diversos estaacutedios de

desenvolvimento dos restos oacutesseos e dentaacuterios foi possiacutevel registar identificar todas

as faixas etaacuterias Os indiviacuteduos nasciturosreceacutem-nascidos no Casal do Penedo bem

como crianccedilas de vaacuterias idades e adolescentes presentes em todas as antas (que

forneceram informaccedilatildeo para esta anaacutelise) permitiram confirmar as leituras obtidas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 302 de 415

noutros sepulcros (Silva 2002 e 2003b) Inclusive tambeacutem nestas antas os receacutem-

nascidos surgiram subrepresentados face aos valores esperados pelos modelos

demograacuteficos existentes (Silva 2002)

Portanto face aos dados expostos e constantes nos estudos especializados

julgo que eacute possiacutevel verificar que durante o fenoacutemeno do Megalitismo se registaram

deposiccedilotildees representativas de todos os elementos de uma comunidade humana isto

eacute de ambos os sexos e de vaacuterias idades Mas confirmar se corresponderiam agrave

totalidade dos membros destes grupos eacute uma questatildeo difiacutecil de responder por ora

com um grau de certeza elevado

Como se referiu no iniacutecio deste capiacutetulo os resultados apresentados satildeo

essencialmente preliminares passiacuteveis de um maior aprofundamento Onde tais

estudos jaacute avanccedilaram para a anaacutelise natildeo meacutetrica de caracteres discretos e de

patologias congeacutenitas (Silva 2002) parece possiacutevel verificar indiacutecios de

caracteriacutesticas fiacutesicas transmitidas entre os indiviacuteduos depositados em sepulcros

especiacuteficos indiciando relaccedilotildees de parentesco ou mesmo casos de endogamia como

em Paimogo 1 onde a morfologia atiacutepica da regiatildeo proximal de vaacuterios feacutemures

permitiu avanccedilar com esta possibilidade (Silva 2002) No caso das antas de Lisboa

tais indiacutecios foram assinalados nas antas de Carcavelos Casal do Penedo Monte

Abraatildeo e Estria (Hillier 2008a 2008c 2008d e 2008e) mas sem uma contabilidade

e verificaccedilatildeo face a outras seacuteries da regiatildeo

Finalmente a avaliaccedilatildeo da estatura dos indiviacuteduos adultos devido ao estado

fragmentaacuterio das colecccedilotildees apenas foi possiacutevel de aferir para Monte Abraatildeo

Carcavelos Casal do Penedo e Estria (Hillier 2008a 2008c 2008d e 2008e) Entre

os valores obtidos parece possiacutevel situar a estatura entre o 150m e 170m sem

valores claros que separem o sexo feminino e masculino talvez em parte devido agrave

fraca representatividade da diagnose sexual Quando confrontadas com as dimensotildees

dos sepulcros ortostaacuteticos as estaturas verificadas relevam a escala sobre-humana

destes edifiacutecios bem como o esforccedilo fiacutesico pessoal e soacutecio-econoacutemico da

comunidade necessaacuterio para os criar

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 303 de 415

65 Patologias e lesotildees traumaacuteticas

A presenccedila de patologias nos indiviacuteduos depositados nas antas de Lisboa

aparenta similitudes com o padratildeo registado noutros tipos de sepulcros (Silva 2002)

ainda que natildeo tenha sido possiacutevel aprofundar tanto este aspecto sobretudo para as

peccedilas dentaacuterias Portanto a caraacutecter preliminar da maioria destes estudos apenas

autoriza ilaccedilotildees geneacutericas inclusive incompletas para alguns aspectos

Tambeacutem importa realccedilar o paradoxo osteoloacutegico (Wood et al 1992 Jackes

1993) subjacente agraves ilaccedilotildees retiradas das colecccedilotildees abordadas os indiviacuteduos que

apresentavam lesotildees e patologias infecciosas graves bem como sinais de stress

poderatildeo ter sido de facto aqueles com os melhores sistemas imunitaacuterios capazes de

fazerem frente a episoacutedios mais ou menos extensos de crises nutricionais e infecccedilotildees

morrendo posteriormente por outras causas visiacuteveis ou natildeo nos ossos Pelo contraacuterio

aqueles indiviacuteduos sem evidecircncias de lesotildees ou patologias nos seus elementos

esqueleacuteticos teriam tido uma maior susceptibilidade ao stress tornando-os demasiado

fracos para as combater o que conduziria a uma morte relativamente raacutepida sem

tempo para impactos visiacuteveis nos seus ossos

O potencial de informaccedilatildeo das peccedilas odontoloacutegicas natildeo foi explorado na sua

totalidade por motivos de disponibilidade temporal e financeira encontrando-se

planeada para o futuro a continuaccedilatildeo desses estudos na perspectiva da sauacutede dentaacuteria

e higiene oral Para aleacutem dos cocircmputos de NMI e idades das colecccedilotildees dentaacuterias

apenas foram anotadas pontualmente outras caracteriacutesticas a presenccedila de hipoplasias

do esmalte dentaacuterio taacutertaro caacuteries e lesotildees periapicais (abcessos) ocorre em quase

todas as colecccedilotildees com variadas incidecircncias (inf pessoal de D Boutilier) tambeacutem

foram detectados dentes com alteraccedilotildees intencionais ou resultantes de tarefas

repetidas nomeadamente na anta de Casaiacutenhos (inf pessoal de D Boutilier)

As hipoplasias do esmalte dentaacuterio que permitem obter indiacutecios acerca do

stress nutricional eou infeccioso durante a infacircncia ateacute os doze anos (Silva 2002)

natildeo foram ainda avaliadas sistematicamente para a maioria das antas de Lisboa

Apesar disso anotaram-se algumas situaccedilotildees interessantes a precisar de maior

atenccedilatildeo por exemplo os indiviacuteduos jovens da anta de Monte Abraatildeo apresentavam

um nuacutemero de ocorrecircncias de hipoplasias mais elevado do que aqueles depositados

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 304 de 415

em Carcavelos e nas outras antas (inf pessoal de D Boutilier) ndash para tal alguns

motivos poderiam ser adiantados nomeadamente o periacuteodo de desmame (entre os 2 e

os 5 anos) ou isso dever-se a condiccedilotildees soacutecio-econoacutemicas e de subsistecircncia mais

severas no primeiro grupo As leituras obtidas para outras colecccedilotildees odontoloacutegicas

(Silva 2002) parecem tambeacutem ter verificado percentagens baixas de hipoplasias nos

dentes tanto para deciduais como definitivos ou seja que durante a gravidez

(periacuteodo de formaccedilatildeo dos dentes deciduais) e na primeira deacutecada de vida as

afectaccedilotildees nutricionais e infecciosas natildeo teriam um impacto significativo no

crescimento destas comunidades (Silva 2002 e 2003b)

Entre as patologias mais recorrentemente verificadas nos ossos dos indiviacuteduos

sepultados nas antas surge a hiperostose poroacutetica (onde se inclui a Cribra Orbitalia

como uma destas afecccedilotildees) indiciando possiacuteveis crises de anemia nos indiviacuteduos

normalmente proacuteximas do momento da morte pois natildeo tiveram tempo de sanar

Aliaacutes os estudos acerca desta afectaccedilatildeo parecem vecirc-la mais como um ldquoindicador de

esgotamento fisioloacutegico e de carecircncia metaboacutelica do que uma resposta adaptativa

com o fim de prevenir ou diminuir a actividade infecciosardquo (Hill 2001 cit in Silva

2002) Por outro lado nomeadamente para os casos de Carcavelos Casal do Penedo

e Monte Abraatildeo M Hillier para aleacutem de outras possiacuteveis origens realccedila esta

afecccedilatildeo como frequente em comunidades com uma economia agriacutecola (Larsen 1995

e Stuart-Macadam 1992 cit in Hillier 2008a 2008c 2008e)

A periostite e outras doenccedilas infecciosas oacutesseas normalmente associadas as

ossos dos membros inferiores (ex tiacutebia e peroacutenio) encontram-se registadas nas

colecccedilotildees de Carcavelos Casal do Penedo e Monte Abraatildeo Apesar do

enquadramento geograacutefico e climaacutetico poder influir nestas afectaccedilotildees tem sido

proposto que estas resultariam de periacuteodos de adaptaccedilatildeo neste caso a uma

subsistecircncia baseada parcialmente ou totalmente na agricultura (Silva 2002)

Todavia o facto de este tipo de infecccedilatildeo se tornar croacutenica parece evidenciar que o

indiviacuteduo que a suportava era suficientemente saudaacutevel para lhe resistir e natildeo

padecer desta (Silva 2002)

As artroses e maleitas degenerativas afins presentes ainda que em

percentagens baixas satildeo passiacuteveis de associaccedilatildeo a stress mecacircnico a actividade

fiacutesica intensa e agrave idade relativamente avanccedilada As aacutereas articulares onde estas se

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 305 de 415

registam com maior frequecircncia satildeo nomeadamente nos ombros coluna vertebral

matildeos anca joelhos e peacutes Todas essas situaccedilotildees foram assinaladas para indiviacuteduos

depositados nas antas sem que por si soacute seja possiacutevel valorizar se relacionadas com

actividades laborais que requeressem grande esforccedilo fiacutesico e repeticcedilatildeo mecacircnica ou

simplesmente devido agrave idade do indiviacuteduo ndash mas poderatildeo ser apenas um resultado

cumulativo

A entesopatia eacute outro tipo de patologia degenerativa associada a actividade

fiacutesica repetitiva eou excessiva mas em aacutereas natildeo articulares normalmente em zonas

de inserccedilatildeo muscular sujeitas a esforccedilo causando micro-rupturas de fibras

tendinosas seguido de um processo de reparaccedilatildeo (Silva 2002) De alguma forma a

associaccedilatildeo de artroses e entesopatias num mesmo indiviacuteduo poderaacute indicar o tipo de

ocupaccedilatildeo a que este se dedicaria com maior intensidade

Entre as colecccedilotildees analisadas a presenccedila de casos de artroses entesopatias e

periostites em indiviacuteduos de Monte Abraatildeo associada a uma visiacutevel robustez geral

dos ossos longos (dos braccedilos e pernas) permitem avanccedilar com a possibilidade de uma

comunidade relativamente activa e robusta ocupada em tarefas fisicamente exigentes

Nos restantes conjuntos das antas tambeacutem se registam evidecircncias destas marcas

ocupacionais mas em menor grau ainda que em algumas delas talvez devido agrave fraca

representatividade das suas colecccedilotildees

Julgo que tambeacutem seraacute pertinente para o referido no paraacutegrafo anterior realccedilar

os dados obtidos para os iacutendices de achatamento do feacutemur e da tiacutebia (nas antas de

Monte Abraatildeo Carcavelos Casal do Penedo e Estria) em consonacircncia com aqueles

obtidos para outros sepulcros (Jackes Lubell e Meiklejohn 1997 Silva 2002 e

2003b) Apesar do presumido sedentarismo das comunidades dos finais do 4ordm e 3ordm

mileacutenios ane os valores medidos para os feacutemures e tiacutebias ainda apresentam

indiviacuteduos com um achatamento significativo desses ossos levando a crer que estas

comunidades mantinham todavia um grau de mobilidade consideraacutevel podendo

eventualmente relacionar-se com actividades de pastoriacutecia (Silva 2003b) Outra

possibilidade poderia dever-se a longas distacircncias percorridas no acircmbito de

intercacircmbios e outras actividades supra-regionais Contudo se nem todos os

indiviacuteduos se deslocariam isso implicaria diferenccedilas nos iacutendices registados o que

necessita de ser melhor aferido O mesmo se poderaacute dizer tambeacutem infelizmente para

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 306 de 415

eventuais diferenccedilas entre os sexos o que a ser possiacutevel permitiria um vislumbre

sobre as actividades preferenciais desempenhadas por ambos

Actividades fisicamente exigentes intensas e por vezes obrigando a grandes ou

consecutivas deslocaccedilotildees dariam azo a acidentes e possiacuteveis traumas visiacuteveis nos

ossos dos indiviacuteduos sepultados Contudo essas evidecircncias foram raramente

registadas nas colecccedilotildees das antas de Lisboa Assim apenas se registou uma

depressatildeo em processo de remodelaccedilatildeo no cracircnio de um indiviacuteduo de Monte Abraatildeo

resultado de lesatildeo traumaacutetica ou de infecccedilatildeo (Hillier 2008e) e uma fractura ante

mortem remodelada num peroacutenio de Carcavelos (Hillier 2008a) Aleacutem destes

poderiam integrar-se os casos de marcas de corte que seratildeo discutidos adiante No

entanto algumas das patologias descritas anteriormente para indiviacuteduos depositados

nas antas poderiam resultar de reacccedilotildees a episoacutedios traumaacuteticos entretanto

remodelados Esta quase ausecircncia de evidecircncias de trauma parece coincidir com as

baixas frequecircncias de casos conhecidos noutros sepulcros da Baixa Estremadura

(Silva 2002 Antunes-Ferreira 2005)

Em contraste algumas das colecccedilotildees de sepulcros localizados no Maciccedilo

Calcaacuterio Estremenho nomeadamente da cavidade de Serra da Roupa e da anta de

Ansiatildeo registaram vaacuterias lesotildees cranianas sem que tivesse sido possiacutevel estabelecer

se por causas de violecircncia interpessoal ou acidentais sobretudo porque se encontram

numa regiatildeo montanhosa (Silva 2002) Natildeo obstante na anta de Ansiatildeo existe ainda

uma calote craniana com uma eventual perfuraccedilatildeo causada por um projeacutectil (Silva

2002 e 2003a)

Natildeo longe do Maciccedilo tambeacutem se registaram em Paimogo 1 vaacuterios casos de

trauma ainda que no esqueleto poacutes-craniano (Silva 2002)

Aleacutem dos casos listados (Silva 2002) conhecem-se ainda outros similares na

mesma regiatildeo nomeadamente da gruta dos Ossos com vaacuterios traumas cranianos

alguns remodelados (Tomeacute 2006) e outros do Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987)

A M Silva listou ainda os casos de trepanaccedilotildees cranianas conhecidas (Silva

2002 e 2003c) Apesar de se registarem dois casos na regiatildeo de Lisboa ambos em

grutas artificiais a maioria destes concentra-se na mesma regiatildeo montanhosa do

Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho (Alta Estremadura)

Os motivos para a realizaccedilatildeo das trepanaccedilotildees satildeo alvo de discussatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 307 de 415

propondo-se que este procedimento ciruacutergico estaria relacionado com praacuteticas

maacutegico-religiosas com um eventual aliacutevio da pressatildeo craniana devido a pancadas

traumaacuteticas ou para a remoccedilatildeo de lascamentos cranianos (Christensen 2004) Outros

dados interessantes entre os indiviacuteduos com trepanaccedilotildees satildeo a frequecircncia muito

elevada de homens sujeitos a esta intervenccedilatildeo tanto na regiatildeo portuguesa como

noutras europeias mas tambeacutem que a maioria destas cirurgias seria realizada

maioritariamente nos parietais cranianos sobretudo no lado direito (Silva 2002 e

2003c Christensen 2004) Pelo menos nos casos portugueses a taxa de

sobrevivecircncia era elevada (Silva 2003c)

Quando se avalia a questatildeo de evidecircncias traumaacuteticas face a possiacuteveis surtos ou

periacuteodos de violecircncia interpessoal na Estremadura portuguesa durante os 4ordm e 3ordm

mileacutenios ane os dados directos inequiacutevocos de casos verificados em ossos

humanos satildeo escassos Contudo os povoados amuralhados erigidos na primeira

metade do 3ordm mileacutenio ane parecem indiciar algum tipo de necessidade premente

que delimitasse e protegesse aqueles grupos e os seus bens travando eventuais raids

ou pelo menos dificultando e dissuadindo esses assaltos (Kunst 2000) Talvez essa

dissuasatildeo praacutetica aparentemente recorrente em vaacuterias sociedades histoacuterica e

geograficamente (Cioffi-Revilla 1999) fosse factor suficiente para evitar o

confronto fiacutesico limitando o nuacutemero de baixas humanas Por outro lado a anaacutelise e

avaliaccedilatildeo da evidecircncia disponiacutevel deve ter em conta que nem sempre as agressotildees

fiacutesicas entre indiviacuteduos mesmo quando causaram a morte deixaram marcas distintas

nos ossos (Milner 1999 Walker 2001 Christensen 2004 Jackes 2004 Knuumlsel

2006 Parker Pearson 2005)

Um uacuteltimo caso detectado na anta de Carcavelos merece ser aqui abordado

sobretudo porque a sua leitura permite vaacuterias interpretaccedilotildees

Entre o espoacutelio recolhido durante os trabalhos de G Marques verificou-se a

existecircncia de uma calote craniana e um possivelmente dois uacutemeros com marcas de

corte sujeitos a estudo detalhado (Hillier 2008a Hillier Boaventura Antunes-

Ferreira e Estecircvatildeo no prelo)

As marcas de corte em ossos humanos satildeo uma questatildeo bastante estudada tanto

entre investigadores da Europa como da Ameacuterica do Norte encontrando-se

relativamente estabelecidos os criteacuterios para a sua identificaccedilatildeo bem como as suas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 308 de 415

causas (Binford 1981 Villa et al 1986 Villa 1992 White 1992 Olsen e Shipman

1994 Haverkort e Lubell 1999 Etxeberria 2000 Botella et al 2000 Botella

Aleman e Jimenez 2000)

Alguns casos de marcas de corte encontradas em necroacutepoles do periacuteodo

Neoliacutetico de Franccedila e Espanha grosso modo foram interpretados como evidecircncias

de canibalismo (Villa et al 1986 Villa 1992 Botella e Aleman 1998 Botella et al

2000 Botella Aleman e Jimenez 2000) ou de descarnaccedilatildeo e desarticulaccedilatildeo para

posterior deposiccedilatildeo (Jimenez Ortega e Garcia 1986 Botella Aleman e Jimenez

2000) Em Portugal a maioria das marcas de corte em elementos osteoloacutegicos

recolhidos nos sepulcros dos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane surge associada agrave realizaccedilatildeo de

trepanaccedilotildees (Silva 2003c) Outros casos menos frequentes foram identificados em

grutas-necroacutepole nomeadamente em vaacuterios ossos da gruta do Lugar do Canto com

uma possiacutevel trepanaccedilatildeo entre eles (Leitatildeo et al 1987) numa tiacutebia de Correio-Moacuter

(Antunes e Cunha 2007) e pelo menos num cracircnio do Algar de Bom Santo

(McGarvey 2002) Tambeacutem se verificaram cortes em fragmentos cranianos e outros

ossos da gruta de Salemas (estudo em colaboraccedilatildeo com M T Ferreira e A M

Silva) Aleacutem de Carcavelos apenas se indicaram possiacuteveis marcas de corte na anta

de Rego da Murta 1 (Silva e Ferreira 2006)

Diversas categorias de actividades humanas foram atribuiacutedas para explicar o

aparecimento de marcas de corte nos restos osteoloacutegicos (Haverkort e Lubell 1999)

Apesar de outras serem possiacuteveis estas categorias incluem acccedilotildees de violecircncia

obtenccedilatildeo de trofeacuteus trepanaccedilotildees canibalismo e a praacutetica de deposiccedilotildees secundaacuterias

podendo as incisotildees ser atribuiacutedas a um comportamento melhor definido quando

avaliadas em contextos com outras evidecircncias arqueoloacutegicas e osteoloacutegicas

1 Violecircncia ndash evidecircncia de um padratildeo de traumas no esqueleto e uma

cultura material associada a actividade beacutelica (Larsen 1997

Walker 2001) A escalpelizaccedilatildeo e o esfolamento podem associar-

se a esta categoria (Milner Anderson e Smith 1991 Milner 1999

e 2004 Botella Aleman e Jimenez 2000)

2 Obtenccedilatildeo de trofeacuteus ndash Um padratildeo de ossos ausentes em diversas

colecccedilotildees ou em subgrupos dessas colecccedilotildees (Smith 1997

Andrushko et al 2005) Desarticulaccedilatildeo inclusive

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 309 de 415

desmembramento e decapitaccedilatildeo bem como escalpelizaccedilatildeo e

esfolamento podem incluir-se nesta categoria (Milner Anderson e

Smith 1991 Olsen e Shipman 1994 Milner 1999 e 2004 Botella

Aleman e Jimenez 2000)

3 Trepanaccedilatildeo ndash Jaacute mencionada acima apresenta por vezes incisotildees

realizadas para raspagem ou extracccedilatildeo de segmento de osso

craniano (Ortner 2003 Silva 2003c Roberts e Manchester 2005)

4 Canibalismo ndash Os ossos humanos e de faunas surgem dispostos

num padratildeo similar e em conjunto Os ossos apresentam sinais de

cozedura fracturas especiacuteficas e por vezes esmagados (Turner

1983 Villa et al 1986 Turner e Turner 1992 Villa 1992 White

1992 Botella et al 2000 Botella Aleman e Jimenez 2000)

5 Deposiccedilotildees secundaacuterias ndash As incisotildees resultam do processo de

desarticulaccedilatildeo descarnaccedilatildeo e raspagemlimpeza dos ossos (Russell

1987 Olsen e Shipman 1994) para posterior gestatildeo dos ossos

soltos (Villa 1992) visando a reduccedilatildeorearranjo dentro do mesmo

espaccedilo sepulcral para adicionar novas deposiccedilotildees primaacuterias ou

secundaacuterias a separaccedilatildeo espacial ou temporal de ossos e esqueletos

dentro do mesmo espaccedilo funeraacuterio ou entre siacutetios distintos com a

presenccedila de ldquopacotesrdquo de ossos de um soacute ou diversos indiviacuteduos

Os espeacutecimes osteoloacutegicos de Carcavelos encontravam-se na mescla de ossos

humanos ali depositados sem nenhuma localizaccedilatildeo aparentemente especiacutefica Como

referido noutro local a cronologia absoluta conhecida para este sepulcro aponta a

primeira metade do 3ordm mileacutenio ane mas as peccedilas agora em discussatildeo natildeo possuem

dataccedilatildeo directa ateacute o momento Isto eacute importante referir pois a presenccedila de alguns

tipos de artefactos permite admitir um uso da anta ainda no 4ordm mileacutenio ane bem

como na segunda metade do 3ordm mileacutenio ane

As imagens para anaacutelise macro e microscoacutepica foram obtidas respectivamente

por uma Nikon D2X com uma lente MicroNikkor 60mm (com a colaboraccedilatildeo de Joseacute

P Ruas do IGESPAR) e um microscoacutepio Leica DM1000 Light Microscope

A calote craniana (HC49A001) natildeo estava completa conhecendo-se hoje parte

dos parietais direito e esquerdo e parte do occipital As 27 marcas de corte

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 310 de 415

detectadas concentram-se em dois grupos um primeiro grupo fica junto da sutura

sagital no obelion e o segundo situa-se na parte posterior da linha do temporal no

parietal direito Em ambos os grupos de linhas de cortes estas surgem mais ou

menos paralelas

O fragmento distal de uacutemero esquerdo (HC37A014) com idade e sexo natildeo

identificadas apresenta as marcas de corte na crista supracondilar e no rebordo

interno Estas surgem em pequenos grupos paralelos devendo ter sido efectuadas de

baixo para cima notam-se ainda pequenos cortes na aacuterea mesial da fossa

oleocraneana

Finalmente o segundo fragmento distal de uacutemero direito (HCD685A001) de

adulto com um grau de preservaccedilatildeo menor parece apresentar o mesmo tipo de

padratildeo de marcas de corte do outro uacutemero Contudo perante a condiccedilatildeo da peccedila por

efeitos tafonoacutemicos a interpretaccedilatildeo destas marcas limita-se agrave sua possibilidade

Em ambas as peccedilas melhor preservadas os cortes apresentavam uma secccedilatildeo

em V sem distinccedilatildeo de cor entre a aacuterea cortada e a inalterada correspondendo agraves

caracteriacutesticas descritivas propostas por P Shipman e J Rose (1983) Surgindo num

padratildeo regular e intencional as incisotildees ocorrem em aacutereas de inserccedilatildeo muscular e no

caso do cracircnio satildeo contiacutenuas mesmo entre fracturas post mortem e descontiacutenuas

onde ondulaccedilotildees naturais do osso ocorrem ndash portanto provavelmente realizadas num

momento perimortem As marcas aqui descritas assemelham-se a outras identificadas

em restos arqueoloacutegicos humanos e de faunas associadas a actividades de remoccedilatildeo

de tecidos moles e desarticulaccedilatildeo do corpo nomeadamente para deposiccedilatildeo funeraacuteria

ou alimentaccedilatildeo no caso das faunas (Villa et al 1986 Villa 1992 Olsen e Shipman

1994 Botella Aleman e Jimenez 2000 Andrushko et al 2005)

No Sul da Peniacutensula Ibeacuterica conhecem-se alguns casos muito semelhantes aos

uacutemeros aqui apresentados nomeadamente em Las Majoacutelicas e Cueva de

Malalmuerzo atribuiacutedas ao Neoliacutetico final mas sem que se conheccedilam dataccedilotildees pelo

radiocarbono (Jimenez Ortega e Garcia 1986 Botella et al 2000 Botella Aleman

e Jimenez 2000) Contudo estas peccedilas apontadas como exemplos de desarticulaccedilatildeo

surgem associadas a outras interpretadas como acccedilotildees de esfolamento e canibalismo

Aliaacutes num conjunto de 14 grutas com vestiacutegios osteoloacutegicos atribuiacutedos ao Neoliacutetico

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 311 de 415

ldquoavanzadordquo e talvez ao Calcoliacutetico os autores consideram-nos em geral associados a

praacuteticas de canibalismo (Botella et al 2000)

Os casos da anta de Carcavelos descritos poderiam enquadrar-se na praacutetica

funeraacuteria de deposiccedilatildeo secundaacuteria ainda que com possiacuteveis variantes

1 Na anta de Carcavelos efectuavam-se deposiccedilotildees primaacuterias

posteriormente reduzidas e reorganizadas em ldquopacotesrdquo de ossos

quando novos cadaacuteveres eram introduzidos As marcas de cortes

corresponderiam a um momento preacutevio de reorganizaccedilatildeo surgindo

a necessidade de desarticular e descarnar partes de alguns dos

indiviacuteduos anteriormente depositados e ainda natildeo completamente

decompostas Esta praacutetica parece reforccedilada pelas concentraccedilotildees de

ossos junto aos esteios da anta de alguma forma empurrados do

centro da cacircmara para a sua periferia A aparente maioria de

sepulcros com deposiccedilotildees primaacuterias jaacute discutida atraacutes (capiacutetulo

72) parece coadunar-se com esta hipoacutetese

2 Todas as deposiccedilotildees eram secundaacuterias tendo os cadaacuteveres sido

decompostos em local proacuteximo do sepulcro ou a maior distacircncia

As marcas de corte resultariam do processo de preparaccedilatildeo dos

indiviacuteduos para a realizaccedilatildeo da deposiccedilatildeo secundaacuteria A anta de

Carcavelos serviria assim como um ossaacuterio colectivo Esta

hipoacutetese pelos motivos referidos atraacutes (capiacutetulo 72) natildeo parece

concordar com os dados disponiacuteveis Inclusive a existir seria

expectaacutevel uma percentagem mais elevada de peccedilas oacutesseas com

marcas de corte natildeo soacute como as referidas mas tambeacutem noutras

superfiacutecies dos ossos (Olsen e Shipman 1994)

3 A descarnaccedilatildeo e a desarticulaccedilatildeo foram necessaacuterias para facilitar o

transporte dos indiviacuteduos do seu local de falecimento para o local

de deposiccedilatildeo funeraacuteria Isto demonstraria a importacircncia da anta de

Carcavelos para aqueles indiviacuteduos que morreram bem como dos

vivos que os transportaram talvez por representar o local de

repouso de determinado clatilde Apesar de admissiacutevel o reduzido

nuacutemero de peccedilas oacutesseas (duas talvez trecircs) limita esta possibilidade

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 312 de 415

pois pelo que tambeacutem eacute apontado no ponto anterior deveriam

registar-se mais elementos desses indiviacuteduos com incisotildees (veja-se

o exemplo apresentado por S Olsen e P Shipman 1994)

As incisotildees do cracircnio poderiam resultar de uma tentativa de trepanaccedilatildeo ainda

que esta natildeo seja detectaacutevel nas partes recuperadas nem fosse frequente a sua

realizaccedilatildeo na aacuterea sagital (Silva 2003c)

A praacutetica do canibalismo atribuiacutevel a estas incisotildees natildeo foi considerada pois

natildeo se verificavam as caracteriacutesticas contextuais designadas para tal

A hipoacutetese de obtenccedilatildeo de trofeacuteus poderia coadunar-se com a remoccedilatildeo de

partes corporais (Andrushko et al 2005 Milner Anderson e Smith 1991) num

caso do antebraccedilo o que implicaria o corte de tendotildees e muacutesculos no local onde se

detectam as incisotildees dos uacutemeros e noutro caso do escalpe Estas remoccedilotildees poderiam

tambeacutem relacionar-se com crenccedilas rituais ou propoacutesitos maacutegico-religiosos hoje

difiacuteceis de perceber

Face ao exposto a preparaccedilatildeo dos restos mortais na sequecircncia de

manuseamento todavia pouco frequente parece a causa mais plausiacutevel para as peccedilas

oacutesseas discutidas tendo em conta que natildeo foram identificadas ateacute o momento outras

evidecircncias de violecircncia tais como sinais de lesotildees traumaacuteticas e projeacutecteis cravados

No entanto a obtenccedilatildeo de trofeacuteus indiciadora de surtos de violecircncia interpessoal

natildeo deveraacute ser totalmente descartada

Ainda que de uma regiatildeo e periacuteodos distintos o exemplo das Northern Great

Plains da Ameacuterica do Norte (Olsen e Shipman 1994) realccedila existecircncia de dois

padrotildees de marcas de corte para as colecccedilotildees estudadas relacionados com momentos

crono-culturais sequentes no periacuteodo designado Middle Woodland-Extended

Coalescent registam-se sobretudo evidecircncias de marcas de corte associadas agrave praacutetica

de deposiccedilotildees secundaacuterias na fase seguinte Postcontact e Disorganized Coalescent

quando se regista o movimento de populaccedilotildees para aacutereas ocupadas por outros grupos

o que teraacute provocado situaccedilotildees de conflito originando as marcas de corte

relacionadas sobretudo com agressotildees interpessoais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 313 de 415

Quadro 15 Caracteriacutesticas das ossadas humanas das Nothern Great Plains da Ameacuterica do

Norte Adaptado de S Olsen e P Shipman (1994) Deposiccedilotildees secundaacuterias

Conflito

Esqueletos incompletos Normalmente esqueletos completos Elevada frequecircncia de marcas de corte

Poucas marcas de corte normalmente menos de 20

Marcas de descarnaccedilatildeo do cracircnio Marcas de escalpelizaccedilatildeo Marcas nas mandiacutebulas satildeo frequentes

Marcas nas mandiacutebulas estatildeo usualmente ausentes

Marcas no esqueleto poacutes-craniano satildeo frequentes

Marcas no esqueleto poacutes-craniano satildeo pouco frequentes

Orientaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das marcas no esqueleto poacutes-craniano apresentam um padratildeo

Orientaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de marcas no esqueleto poacutes-craniano variaacuteveis

Tipos de marcas marcas resultantes de raspagem e alargamento do foramen magnum

Tipo de marcas incisotildees marcas de corte por percussatildeo feridas de machados pancadas restos de siacutelex cravados feridas de apunhalamentos ou de projeacutecteis

Assumindo portanto que as populaccedilotildees dos 4ordm-3ordm mileacutenios ane da

Estremadura praticariam frequentemente deposiccedilotildees primaacuterias sendo o tipo

secundaacuterio raro ou um resultado da decomposiccedilatildeo e posterior gestatildeo dos espaccedilos

sepulcrais por reduccedilatildeo dos esqueletos o exemplo referido serve apenas para ilustrar a

possibilidade de casos pontuais de violecircncia interpessoal que deixariam

eventualmente apenas algumas marcas especiacuteficas nos ossos

Apesar de natildeo existir uma dataccedilatildeo para cada uma das peccedilas oacutesseas discutidas

se admitir-se que estas foram depositadas durante a primeira metade do 3ordm mileacutenio

ane entatildeo talvez possam relacionar-se com algum episoacutedio de violecircncia

interpessoal durante aquele periacuteodo onde a erecccedilatildeo de estruturas amuralhadas parece

revelar a existecircncia de tensotildees entre comunidades Mas tais agressotildees poderiam

tambeacutem ocorrer antes ou depois desta fase Contudo como jaacute foi referido acima os

dados disponiacuteveis para a existecircncia de violecircncia satildeo escassos sobretudo porque

muitas das patologias poderatildeo ser atribuiacutedas a meros acidentes quotidianos

66 Um introacuteito dieteacutetico o potencial das anaacutelises isotoacutepicas

Perante a informaccedilatildeo osteoloacutegica humana disponiacutevel considerou-se pertinente e

oportuno desenvolver um programa de anaacutelises isotoacutepicas em colaboraccedilatildeo com M

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 314 de 415

Hillier e M Richards para verificaccedilatildeo do tipo de dieta preferencial entre os

indiviacuteduos adultos sepultados em algumas das antas de Lisboa bem como eventuais

diferenccedilas dieteacuteticas entre os sexos (Hillier Boaventura Richards 2008) Para tal

foram identificadas seacuteries oacutesseas natildeo repetidas de indiviacuteduos adultos com a provaacutevel

diagnose sexual proposta infelizmente com pouco sucesso (por exemplo feacutemures ou

uacutemeros com lateralidade estabelecida) de vaacuterias antas (Carcavelos Monte Abraatildeo

Carrascal Casal do Penedo e Trigache 2) Desses elementos oacutesseos foi extraiacutedo o

colageacutenio a partir do qual se determinaram os raacutecios de dois dos isoacutetopos do carbono

(13C e 12C) e dos isoacutetopos do azoto (15N e 14N) obtendo-se os valores de δ13C e de

δ15N passiacuteveis de indicarem o tipo de dieta praticada pelo menos nos uacuteltimos 5 a 10

anos de vida (Richards e Hedges 1999) De uma forma bastante sumaacuteria um valor

tiacutepico de δ13C de colageacutenio de osso humano com uma dieta 100 terrestre

apresentaraacute valores proacuteximos de -20permil e para uma dieta 100 marinha rondaraacute -

12plusmn1permil (Richards e Hedges 1999) O δ15N apresentaraacute valores para uma dieta

terrestre entre 4 e 10permil e marinha entre 10 e 22permil conforme o niacutevel troacutefico

consumido (Richards e Hedges 1999)

Fig 16 Valores de δ13C e δ15N e quatro extremos (teoacutericos) possiacuteveis de uma dieta humana segundo M Richards e R Hedges (1999)

A anaacutelise de um subconjunto de mandiacutebulas humanas de adultos com o

segundo e terceiro molares presentes ndash dentes cujo esmalte se forma apoacutes o

nascimento e o desmame ateacute cerca dos 12 anos (Bentley 2006) e sempre que

possiacutevel com diagnose sexual anotada provenientes de algumas das antas

(Carcavelos Estria Carrascal Pedra dos Mouros e Monte Abraatildeo) foi tambeacutem

processada para avaliaccedilatildeo de paleodietas (Hillier Boaventura Richards 2008)

Contudo neste caso aleacutem da determinaccedilatildeo do δ13C e δ15N pretendia verificar-se a

mobilidade dos indiviacuteduos comparando o registo isotoacutepico do local de residecircncia agrave

data da sua morte (assumindo que tenha sido depositado em sepulcro proacuteximo da sua

aacuterea de residecircncia) com aquele durante a sua infacircncia Para tal fim optou-se por

proceder agrave mediccedilatildeo dos valores dos isoacutetopos do estrocircncio (87Sr86Sr) nos dentes

designados visto que a acccedilatildeo diageneacutetica eacute menor no esmalte do que nos ossos e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 315 de 415

estes formarem-se sem uma eventual influecircncia directa da alimentaccedilatildeo da matildee

(Bentley 2006) ndash a realizaccedilatildeo desta mediccedilatildeo conta para aleacutem dos intervenientes

mencionados atraacutes com a colaboraccedilatildeo de Vaughan Grimes (Max Planck Institute for

Evolutionary Anthropology Leipzig Repuacuteblica Federal da Alemanha) De forma

simplificada a eventual diferenccedila dos resultados comparados entre o registo do

esmalte no dente e aquele registado localmente atraveacutes dos dentes de faunas locais

contemporacircneas poderaacute indiciar a mobilidade do indiviacuteduo em questatildeo (Bentley

2006)

Os resultados obtidos ateacute o momento neste projecto encontram-se em fase de

avaliaccedilatildeo e validaccedilatildeo planeando-se a sua apresentaccedilatildeo exaustiva noutro local Mas eacute

possiacutevel pelo menos preliminarmente avanccedilar com os valores jaacute validados dos

isoacutetopos de δ13C e δ15N ainda que passiacuteveis de algumas correcccedilotildees posteriores ndash o

processamento das amostras realizado por M Hillier e M Richards seguiu os

paracircmetros propostos por M Richards e R Hedges (1999) com ultrafiltragem

(Brown et al 1988) sendo avaliadas pela qualidade e teor de colageacutenio e proporccedilatildeo

de CN (DeNiro 1985 Muumlldner e Richards 2007) O mesmo avanccedilo natildeo eacute ainda

possiacutevel para os resultados do 87Sr86Sr pois encontram-se em fase de processamento

estatiacutestico

Fig 17 Paleodietas de 47 indiviacuteduos sepultados em antas da regiatildeo de Lisboa

(Hillier Boaventura e Richards em estudo)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 316 de 415

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

-22 -21 -20 -19 -18 -17

δ 13C

δ15

NCarrascal (4x)Pedras Grandes (3x)Mte Abraatildeo (8x)Estria (1x)Carcavelos (31x)

Os valores obtidos de δ13C e δ15N para os indiviacuteduos sepultados nas antas de

Lisboa parecem apontar para uma dieta essencialmente terrestre Apesar destes

resultados serem expectaacuteveis para comunidades ldquoneoliacuteticasrdquo com base nos dados

conhecidos (Lubell e Jackes 1988 e 1994 Straus et al 1992 Schulting e Richards

2002 Richards Price e Koch 2003 Richards Schulting e Hedges 2003 Umbelino

2006) satildeo simultaneamente surpreendentes pois as populaccedilotildees da Baixa

Estremadura viviam proacuteximo ou a escassos quiloacutemetros do oceano do alargado mar

interior tagano ou ainda de outros estuaacuterios e lagunas de menores dimensotildees ao

longo da sua costa atlacircntica Nesses bioacutetopos importantes recursos alimentares

poderiam ser obtidos e de facto a presenccedila de elementos conquiacuteferos e osteoloacutegicos

de espeacutecies mariacutetimas eou estuarinas entre os espoacutelios funeraacuterios mas sobretudo

habitacionais parecem comprovaacute-lo Vaacuterias evidecircncias arqueoloacutegicas tornam

crediacutevel e admissiacutevel que a componente pisciacutecola eou malacoloacutegica fizesse parte da

dieta destas populaccedilotildees como parece patente pela existecircncia de ldquoconcheirosrdquo datados

deste periacuteodo como Ponta da Passadeira no estuaacuterio do Tejo (Soares 2000 e 2001) e

dos siacutetios da Comporta na margem sul do estuaacuterio do Sado (Silva et al 1986) ou no

povoado de Leceia pelos restos fauniacutesticos malacoloacutegicos ali recolhidos mas

tambeacutem por artefactos (pesos de rede e anzoacuteis) provavelmente associados a pesca

costeira (Antunes e Cardoso 1995 Cardoso 1989 1994 e 1996c Guerreiro e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 317 de 415

Cardoso 2001-02) A sul no siacutetio da Rotura a presenccedila de anzoacuteis (Gonccedilalves 1971

Cardoso 2000 Soares 2003) tambeacutem indicia essa actividade marinha Mais para

norte o povoado do Zambujal tambeacutem verifica a presenccedila de produtos marinhos

(Driesch e Boessneck 1976 e 1981) Contudo uma explicaccedilatildeo para aqueles valores

de δ13C e δ15N apontando para uma dieta essencialmente terrestre poderia centrar-se

nos tipos de espeacutecies marinhas capturadas que natildeo contribuiriam o suficiente para a

dieta dos indiviacuteduos testados deixando uma marca irrelevante no registo isotoacutepico

do colageacutenio dos ossos destes (Richards e Schulting 2006 Lee-Thorp 2008) Nesse

sentido M Richards e R Schulting (2006) no acircmbito do debate acerca desta questatildeo

no Noroeste europeu relembravam o peso relativo de moluscos citando G Bailey

(1978) ldquoThe ease with which molluscs can be over-rated as a source of food will be

swiflty appreciated from the fact that approximately 700 oysters [ostras] would be

needed to supply enough kilocalories for one person for one day if no other food

were eaten or 1400 cockles [berbigotildees] or 400 limpets [lapas] to name the species

most often found in European middens I have estimated that approximately 52267

oysters would be required to supply the calorific equivalent of a single red deer

carcase 156800 cockles or 31360 limpets figures which may help to place in

proper nutritional perspective the vast numbers of shells recorded archaeologicallyrdquo

(Bailey 1978 p 39 cit in Richards e Schulting 2006)

Por outro lado R Hedges (2004) reconhecia debatendo a mesma questatildeo para

o Noroeste da Europa que ldquothe absence of a marine signal in bone collagen carbon

isotopes may not be such incontrovertible evidence for absence of a partially marine

diet That is we cannot on current understanding rule out that the level of marine

resource consumption which is indistinguishable from terrestrial values from a bulk

collagen measurement may under some conceivable circumstance be as high as 30

per cent This possibility brings some interesting archaeological science into play

and the issue requires more research before it can be resolvedrdquo (Hedges 2004 p

37) Portanto o exposto aconselha alguma relativizaccedilatildeo do peso de recursos

marinhos nas dietas das populaccedilotildees de Lisboa estudadas mas sem que seja possiacutevel

por ora discernir quanto

No caso concreto de elementos marinhos em ambiente funeraacuterio se por

exemplo a presenccedila de conchas de Pecten maximus de origem batimeacutetrica

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 318 de 415

infralitoral poderia ser atribuiacuteda a recolhas post mortem na praia pela sua aparecircncia

outras espeacutecies resultariam de reais oferendas de alimento ou de aproveitamento dos

restos alimentares para a feitura de utensiacutelios adornos e outros objectos valorizados

funcional esteacutetica eou ritualmente tal como parece ocorrer tambeacutem com vaacuterias

faunas terrestres (Capiacutetulo 57) Essa valorizaccedilatildeo ritual eacute a explicaccedilatildeo de V S

Gonccedilalves (2005b e 2008a) para a presenccedila de conchas de espeacutecies marinhas nas

grutas de Poccedilo Velho e Porto Covo

As duacutevidas levantadas acerca do real contributo marinho na dieta das

populaccedilotildees dos 4ordm-3ordm mileacutenios ane sobretudo para o periacuteodo dos indiviacuteduos

estudados natildeo podem contudo fazer esquecer a abundacircncia de evidecircncias

arqueoloacutegicas conhecidas nomeadamente artefactuais fauniacutesticas e botacircnicas em

parte condizentes com a consolidaccedilatildeo das novas formas de produccedilatildeo neoliacuteticas

normalmente reconhecidas como a ldquorevoluccedilatildeo dos produtos secundaacuteriosrdquo Uma vez

mais o povoado de Leceia serve para comprovar essa realidade presente no elevado

nuacutemero de espeacutecies domesticadas com especial atenccedilatildeo ao gado bovino e ovino-

caprino mesmo que continuassem a ser caccediladas espeacutecies selvagens (Cardoso e

Detry 1995) mas tambeacutem pela actividade agriacutecola associada agrave produccedilatildeo de cereais e

plantas hortiacutecolas (Cardoso 1989 1994 1999-00b e 2004) Para norte outros

povoados como Vale de Lobos (Valente 2006) Olelas (Gonccedilalves J 1990-92b) e

Penedo do Lexim (Sousa 1998 2000 e 2003) tambeacutem apresentaram realidades

materiais semelhantes ainda que o seu conhecimento esteja condicionado pela

dimensatildeo das amostras Todavia em Penedo do Lexim conhece-se melhor a presenccedila

significativa de espeacutecies domeacutesticas (Davis e Moreno no prelo) e os artefactos

associados a actividades de produccedilatildeo e processamento de alimentos de origem

terrestre (Sousa 1998 e 2000)

Apesar das limitaccedilotildees da diagnose sexual dos elementos oacutesseos humanos

testados para os isoacutetopos de δ13C e δ15N a ausecircncia de diferenccedilas acentuadas nos

valores recolhidos parece realccedilar a praacutetica de dietas semelhantes entre os indiviacuteduos

de ambos os sexos No que respeita aos indiviacuteduos natildeo-adultos como este projecto

natildeo procedeu agrave sua amostragem mantecircm-se possiacuteveis interrogaccedilotildees ainda que sejam

provaacuteveis haacutebitos alimentares semelhantes aos adultos Contudo a eventual ausecircncia

de diferenciaccedilatildeo dieteacutetica entre sexos necessita de maior aprofundamento que

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 319 de 415

passaraacute pela anaacutelise de um maior nuacutemero de espeacutecimes identificados com maior

sucesso e fiabilidade

Os resultados agora apresentados para indiviacuteduos sepultados nas antas parecem

ser confirmados por outros obtidos em diferentes tipos de sepulcros da regiatildeo de

Lisboa ainda em processo de estudo no acircmbito do mesmo projecto e naquele dos

colaboradores Mas tambeacutem pelos estudos jaacute mencionados acima poreacutem com

amostragens mais reduzidas no acircmbito da comparaccedilatildeo entre as dietas de

comunidades mesoliacuteticas e neoliacuteticas (grosso modo) do Centro e Sul de Portugal

(Lubell e Jackes 1988 Lubell et al 1994 Straus et al 1992 Umbelino 2006

Roksandic 2006)

Fig 18 Paleodietas do MesoliacuteticoNeoliacutetico do Centro-Sul de Portugal

(Straus et al 1992 Lubell e Jackes 1994 Umbelino 2006 Roksandic 2006)

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

-22 -21 -20 -19 -18 -17 -16 -15 -14

δ13C

δ15N

Mesoliacutetico Muge

Mesoliacutetico Sado

Neoliacutetico antigo

Neoliacutetico meacutediotardio

De facto durante a implementaccedilatildeo das novidades neoliacuteticas a componente

terrestre da dieta aparenta verificar-se no Centro e Sul de Portugal No entanto a

excepccedilatildeo registada na gruta do Lagar (Melides costa alentejana) com uma dieta

marinha verificada num fragmento de costela humana (TO-2091 Lubell e Jackes

1988 Lubell et al 1994) a que se juntaram mais dois resultados com valores

aproximados da gruta vizinha de Cerca do Zambujal obtidos sobre uacutemeros humanos

com a mesma lateralidade e natildeo repetidos (Hillier Boaventura Jackes e Richards

2008) suscitam um breve comentaacuterio Encontrando-se as duas grutas proacuteximas entre

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 320 de 415

si com rituais funeraacuterios aparentemente similares e durante o periacuteodo neoliacutetico agrave

beira de um estuaacuterio com recursos marinhos seria importante perceber a que

cronologias corresponderatildeo os uacuteltimos indiviacuteduos testados Isto porque de acordo

com a dataccedilatildeo pelo radiocarbono aquele indiviacuteduo do Lagar morreu algures na

primeira metade do 4ordm mileacutenio ane mas a uacutenica dataccedilatildeo para a Cerca do Zambujal

situa-se no uacuteltimo quartel deste mileacutenio obtida sobre a costela de um indiviacuteduo com

uma dieta essencialmente terrestre (TO-2090 Lubell e Jackes 1988 Lubell et al

1994) Por outro lado esses indiviacuteduos peculiares visto que os restantes apresentam

essencialmente dietas terrestres (Hillier Boaventura Jackes e Richards 2008)

poderatildeo indiciar a existecircncia de membros daqueles grupos ainda adaptados e

especializados a um nicho ecoloacutegico com recursos marinhos disponiacuteveis no seu

territoacuterio ao longo de uma larga diacronia

Uma avaliaccedilatildeo diacroacutenica similar agrave referida atraacutes tambeacutem faria sentido para as

anaacutelises realizadas sobre as deposiccedilotildees em anta entre o 4ordm e o 3ordm mileacutenio ane mas

o nuacutemero de elementos oacutesseos alvo simultacircneo de dataccedilatildeo e mediccedilatildeo dos isoacutetopos

para inferecircncia de paleodietas eacute reduzido ndash aleacutem disso os valores obtidos dos

isoacutetopos satildeo relativamente proacuteximos tornando-se difiacutecil uma destrinccedila facilitada das

suas dietas Natildeo obstante os valores dos isoacutetopos de δ13C e δ15N obtidos para

recentes dataccedilotildees pelo radiocarbono sobre ossos de indiviacuteduos da gruta de Porto

Covo Baixa Estremadura (Gonccedilalves 2008) poderatildeo indiciar essa tendecircncia

terriacutecola das paleodietas entre os dois mileacutenios (Ver Quadro)

Quadro 16 Valores de δ13C e δ15N obtidos para dataccedilotildees 14C sobre ossos humanos da gruta de

Porto Covo Adaptado de V S Gonccedilalves (2008a)

Amostras testadas

Cod Lab Data BP 14C

δ13C (permil)

14C δ15N (permil)

Diaacutefise de feacutemur humano direito IGM-GPC-A3 Beta-245134 4870plusmn40 -1890 93

Diaacutefise de feacutemur humano direito feminino IGM-GPC-A5 Beta-245136 4790plusmn40 -1890 102

Diaacutefise de feacutemur humano direito IGM-GPC-A6 Beta-244819 4660plusmn40 -1800 91

Uacutemero humano esquerdo feminino IGM-GPC-A1 Beta-245133 4650plusmn40 -1880 88

Uacutemero humano esquerdo feminino IGM-GPC-A2 Beta-244818 4580plusmn40 -1950 78

Diaacutefise de tiacutebia humana de adulto IGM-GPC-A4 Beta-245135 4100plusmn40 -2000 83

Para realccedilar que nem todas as populaccedilotildees neoliacuteticas europeias estudadas

apresentavam sempre valores de dietas terrestres ressalvando as diferenccedilas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 321 de 415

geograacuteficas recordo os casos escandinavos (Lideacuten 1995 Lideacuten et al 2004

Eriksson 2004) Aqui grupos do 3ordm mileacutenio ane aproximadamente

contemporacircneos construtores de sepulcros colectivos de caraacutecter megaliacutetico como

Resmo (Oumlland) e Roumlssberga (Falbygden Vaumlstergoumltland) e outros onde se praticaram

enterramentos em fossa como em Vaumlsterbjers (Gotland) apresentaram valores de

δ13C e δ15N denunciando diferentes estrateacutegias alimentares No caso das populaccedilotildees

costeiras do sepulcro colectivo de Resmo (Lideacuten 1995 Lideacuten et al 2004 Eriksson

et al 2008) e da necroacutepole de enterramentos em fossa de Vaumlsterbjers (Eriksson

2004) estas tiravam partido de recursos marinhos Contudo no interior o grupo

depositado no sepulcro colectivo de Roumlssberga (Lideacuten 1995 Lideacuten et al 2004)

explorava essencialmente os alimentos terrestres disponiacuteveis

Os dados conhecidos para as populaccedilotildees do territoacuterio portuguecircs ainda natildeo satildeo

suficientes para delimitar situaccedilotildees em territoacuterios especiacuteficos mas a existecircncia de

grupos adaptados aos seus nichos ecoloacutegicos com registos peculiares de dietas

como parece ocorrer na Escandinaacutevia (Lideacuten et al 2004 Milner et al 2006

Eriksson et al 2008) eacute uma hipoacutetese passiacutevel de teste

Recentemente perante a falta de mais estudos acerca de paleodietas do

Mesoliacutetico e do Neoliacutetico A Carvalho (2007b) efectuou um exerciacutecio teoacuterico

listando em conjunto valores δ13C obtidos especificamente para afericcedilatildeo de

paleodietas (normalmente junto com os valores de δ15N) e outros registados para

efeito de correcccedilatildeo das dataccedilotildees pelo radiocarbono Intentava realccedilar as diferenccedilas

entre os dois periacuteodos o primeiro com uma componente alimentar marinha

importante e o segundo com uma componente alimentar terrestre denunciando o

momento de incremento agro-pastoril Contudo a comparaccedilatildeo de valores de δ13C

obtidos para distintos fins ndash δ13C para a correcccedilatildeo de dataccedilotildees 14C versus δ13C para

a verificaccedilatildeo de paleodietas ndash eacute desaconselhada (Barret e Richards 2004) inclusive

alertada por laboratoacuterio que realiza dataccedilotildees pelo radiocarbono (Rafter 2009)

mesmo que a tendecircncia geneacuterica daqueles valores pareccedila plausiacutevel sendo por vezes

trazida ao debate (Barret e Richards 2004 Eriksson et al 2008) Por exemplo essa

coincidecircncia tambeacutem parece verificar-se entre os valores obtidos para as antas de

Lisboa com δ13C medidos em diferentes laboratoacuterios para respectivamente a

correcccedilatildeo das mediccedilotildees de 14C (Beta Analytic Miami Estados Unidos da Ameacuterica)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 322 de 415

e para a avaliaccedilatildeo de paleodietas (Instituto Max Planck Leipzig Repuacuteblica Federal

da Alemanha)

Quadro 17 Valores de δ13C δ15N obtidos para datas de 14C e paleodietas de antas de Lisboa Amostras ainda em avaliaccedilatildeo por causa da qualidade do colageacutenio (M Hillier R Boaventura e M Richards em estudo)

Antas de Lisboa (Coacutedigo amostra)

14C Cod Lab

14C Data BP

14C δ13C (permil)

Dieta Cod Lab

Dieta δ13C (permil)

Dieta δ15N (permil)

Carrascal 538047-8 Beta-228577 4770plusmn40 -193 SEVA-6531 -1903 939

Pedras Grandes PG(04)H6-28 Beta-205946 4590plusmn40 -208 SEVA-6038 -1986 837

Pedras Grandes 6380502 Beta-234136 4530plusmn40 -192 SEVA-6042 -1957 858

Casal do Penedo 1776282 Beta-229585 4280plusmn40 -200 SEVA-6034 -2002 817

Casal do Penedo 1776283 Beta-234134 4280plusmn40 -199 SEVA-6030 -1989 719

Pedra dos Mouros 1724101 Beta-228582 4210plusmn50 -197 SEVA-6533 -2005 774

Carcavelos HC(06)D6-51 Beta-225170 4130plusmn40 -205 SEVA-4367 -1992 814

Estria 7194104 Beta-228578 4110plusmn40 -200 Amostra sem colageacutenio suficiente

Monte Abraatildeo 17821226 Beta-228579 4040plusmn40 -207 SEVA-6513 -1996 825

Aleacutem das anaacutelises dos isoacutetopos referidos tecircm sido desenvolvidos estudos sobre

outros elementos nomeadamente o enxofre (δ34S) e o oxigeacutenio (δ18O) podendo em

combinaccedilatildeo ajudar na resoluccedilatildeo de algumas das questotildees actualmente sem resposta

(Hedges 2004 Richards et al 2004 Lee-Thorp 2008) pelo que outros contributos

seratildeo expectaacuteveis nos proacuteximos anos

7 Os lugares dos vivos uma correlaccedilatildeo difiacutecil

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 323 de 415

O povoamento da regiatildeo de Lisboa tal como para muitos dos sepulcros foi

precocemente abordado ainda que em muitos casos apenas com pequenas

intervenccedilotildees pontuais ou de salvamento e caracterizaccedilotildees baseadas em recolhas de

superfiacutecie (Ribeiro 1878 e 1880 Franccedila e Ferreira 1951 e 1958 Serratildeo e Vicente

1958 Zbyszweski e Ferreira 1958 Andrade e Gomes 1959 Castro e Ferreira 1959

Ferreira e Castro 1967 Gonccedilalves 1971 Cardoso 1996b) Contudo soacute no uacuteltimo

terccedilo do seacuteculo XX a sua sistematizaccedilatildeo permitiu uma visatildeo mais abrangente (Roche

e Ferreira 1975 Gonccedilalves e Serratildeo 1978 Gonccedilalves J 1979c Cardoso 1989

1994 1999-00b e 2004 Santos 1989 1994 e 1995 Simotildees 1993 Sousa 1998 e

2004a) De facto poucos satildeo os povoados suficiente ou extensivamente escavados

Leceia (Cardoso 1997) Penedo do Lexim (Sousa 1998 2000 2003 e 2004b) e

Chibanes (Silva e Soares 1997 Soares 2003) seratildeo talvez os melhores exemplos em

extensatildeo e com metodologia adequada Um pouco mais para norte o povoado do

Zambujal eacute tambeacutem outro exemplo positivo (Sangmeister e Schubart 1981 Kunst

1987) inclusive pelo incentivo ao reconhecimento da regiatildeo envolvente (Spindler

1969 e 1981 Spindler e Trindade 1970 Spindler e Gallay 1973 Lucas 1994 e

2002) Noutros casos as aacutereas intervencionadas continuam a ser limitadas

(Gonccedilalves J 1990-92b Santos 1994 Estecircvatildeo 2000a) Jaacute no novo mileacutenio novos

povoados foram escavados ou encontram-se em estudo nomeadamente Moita Ladra

(Cardoso e Caninas no prelo) ou o Castro de Sesimbra (informaccedilatildeo pessoal de J L

Cardoso)

Ainda a norte da regiatildeo de Lisboa eacute intrigante como um dos primeiros

povoados escavados mais extensiva e sistematicamente em Portugal Vila Nova de

Satildeo Pedro (Paccedilo e Jalhay 1945) continua a surgir isolado sem que se saiba muito

acerca do seu territoacuterio envolvente nomeadamente eventuais aacutereas de necroacutepole

Quando se procura estabelecer uma correlaccedilatildeo sincroacutenica entre necroacutepole e

povoado uma primeira questatildeo impotildee-se Existe de facto uma separaccedilatildeo entre

espaccedilos de vivos os sepultantes e de mortos os sepultados durante os 4ordm e 3ordm

mileacutenios ane

Os dados disponiacuteveis levam a crer nesta assumpccedilatildeo Como se discutiu atraacutes

(Capiacutetulo 62) tendo em conta as aacutereas habitacionais escavadas ateacute o momento os

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 324 de 415

poucos restos humanos recolhidos parecem relacionar-se com periacuteodos tardios e de

abandono de partes daqueles espaccedilos surgindo as deposiccedilotildees de restos mortais em

espaccedilos com especificidades funeraacuterias fossem eles grutas antas grutas artificiais

ou tholoi Contudo esses dados natildeo satildeo abundantes para todo o periacuteodo abordado

revelando-se relativamente abundantes sobretudo para os uacuteltimos seacuteculos do 4ordm

mileacutenio ane e para o seguinte (Capiacutetulo 82)

Parecendo entatildeo afirmativa a questatildeo da separaccedilatildeo entre os espaccedilos talvez a

mais simples a clara identificaccedilatildeo de lugares habitacionais e funeraacuterios

putativamente relacionados no espaccedilo e tempo torna-se melindrosa (Gonccedilalves

1992 Gonccedilalves e Sousa 1997 e 2000 Boaventura 2001) Assim a correlaccedilatildeo entre

ambos os espaccedilos eacute conscientemente um exerciacutecio arriscado devendo procurar-se

alguns criteacuterios de anaacutelise que julgo possam assegurar a plausibilidade da

interpretaccedilatildeo Mas deve ser tentado

A proximidade entre espaccedilos eacute com certeza um criteacuterio ainda que possa ou natildeo

existir uma inter-visibilidade real Infelizmente em muitas situaccedilotildees os sepulcros

surgem hoje isolados ou vice-versa podendo isso reflectir uma destruiccedilatildeo brutal da

paisagem ou lacunas de investigaccedilatildeo O referido caso de V N S Pedro eacute um

exemplo de desconhecimento da sua envolvente Leceia eacute outro caso onde apesar

dos esforccedilos empreendidos no seu estudo e envolvente natildeo se conseguiu identificar

eventuais necroacutepoles associadas com a excepccedilatildeo de Monte do Castelo

possivelmente utilizado apenas em momento anterior ou inicial da ocupaccedilatildeo e a

cavidade do Locus 2 (Moinho da Moura) sob o povoado mas usada provavelmente

durante o decliacutenio daquele

A comparaccedilatildeo da cronologia absoluta e relativa da cultura material

nomeadamente de tipologias similares eacute com certeza outro exerciacutecio pertinente

Contudo nem sempre o mobiliaacuterio dos vivos eacute aquele que se deposita junto dos

mortos Por isso o estudo das mateacuterias-primas e suas proveniecircncias poderiam

tambeacutem ajudar nessa correlaccedilatildeo

Fora da Estremadura um interessante estudo foi realizado para as pastas

ceracircmicas dos espaccedilos habitacional e funeraacuterio de Perdigotildees cuja cronologia natildeo foi

ainda cabalmente estabelecida mas que se situaraacute entre finais do 4ordm mileacutenio ane e

meados e segunda metade do seguinte (Lago et al 1998a e 1998b Valera et al

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 325 de 415

2000) Aiacute foi possiacutevel verificar similitudes entre os barros utilizados na feitura de

recipientes funeraacuterios e domeacutesticos (Dias et al 2007) Contudo registou-se uma

diversidade maior entre os recipientes funeraacuterios facto interpretado como resultado

do provaacutevel uso daqueles sepulcros por populaccedilotildees da envolvente do siacutetio dos

Perdigotildees (Dias et al 2007)

Estudos deste tipo natildeo foram realizados para as eventuais relaccedilotildees adiantadas

para algumas das antas estudadas De facto os criteacuterios utilizados nesta breve

correlaccedilatildeo hipoteacutetica foram a proximidade e eventual sincronia relativa e absoluta

entre aqueles espaccedilos

A proximidade entre os povoados de EspargueiraSerra das Eacuteguas (Heleno

1932 Leitatildeo North e Ferreira 1973 informaccedilatildeo pessoal de Gisela Encarnaccedilatildeo) e de

Bauacutetas (Arnaud e Gamito 1972) ao conjunto de Belas seria uma possibilidade A

cronologia absoluta conhecida para aquelas antas e a relativa para a Espargueira e

Bauacutetas permitem pelo menos verificar a sua sincronia ndash aliaacutes a presenccedila de

fragmentos de iacutedolos-placa na aacuterea da ocupaccedilatildeo da EspargueiraSerra das Eacuteguas

reforccedila essa relaccedilatildeo (informaccedilatildeo pessoal de Gisela Encarnaccedilatildeo) Contudo estas

ocupaccedilotildees podem tambeacutem relacionar-se com o conjunto de grutas artificiais de Tojal

de Vila Chatilde e Bauacutetas Aleacutem disso o conhecimento das aacutereas envolventes a sul oeste

e norte do conjunto de Belas eacute limitado se exceptuarmos alguns indiacutecios

identificados na aacuterea de Colaride (Ribeiro 1880 Coelho 2002)

A relaccedilatildeo de proximidade entre o povoado de Crasto de Lousa (Estecircvatildeo 2000)

e as grutas de Salamandras (visiacutevel defronte deste) e Tufo ou eventualmente as antas

de Carcavelos e Alto da Toupeira 1-2 parece tambeacutem provaacutevel ainda que junto

destas duas uacuteltimas antas os vestiacutegios conhecidos sugerem tambeacutem a existecircncia de

espaccedilo habitacional (Castro e Ferreira 1959 Ferreira e Castro 1967) Todavia o

registo de materiais dispersos na rechatilde de Fontelas e Penedo dos Mouros (Estecircvatildeo

2000) poderia relacionar-se com os siacutetios do Tufo e Carcavelos porque mais

proacuteximos

Finalmente no conjunto de Verdelha do Ruivo a aparente existecircncia de uma

ocupaccedilatildeo habitacional Pedreira do Casal do Penedo 1 sobranceira agrave anta do Casal

do Penedo e do povoado amuralhado de Moita Ladra de cronologia mais recente

(Cardoso e Caninas no prelo) parecem demonstrar algum tipo de relaccedilatildeo fiacutesica

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 326 de 415

sincroacutenica mas em dois momentos sequentes tanto com a anta como com a gruta de

Verdelha dos Ruivos (Pedreira do Casal do Penedo 2)

O conjunto de Trigache poderia relacionar-se com a ocupaccedilatildeo da Serra da

Amoreira mas os dados conhecidos natildeo satildeo totalmente esclarecedores

Para as restantes antas de Lisboa a existecircncia de ambas as realidades em

proximidade eacute mais difiacutecil de definir Isto porque nas suas imediaccedilotildees se

desconhecem siacutetios habitacionais hipoteticamente relacionaacuteveis ainda que outros

mais afastados e aparentemente sincroacutenicos pudessem putativamente associar-se-

lhes Exemplos dessa ausecircncia aparente satildeo as antas de Casaiacutenhos Pedras da Granja

e Arruda

Natildeo obstante apesar das limitaccedilotildees expostas se a correlaccedilatildeo entre sepulcros e

habitaccedilotildees dataacuteveis dos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio e de quase todo o 3ordm mileacutenio

ane tem sido detectada de forma mais ou menos frequente essa evidecircncia eacute bem

mais reduzida ou clara para momentos do iniacutecio e meados do 4ordm mileacutenio ane

periacuteodos em que se verificam as primeiras praacuteticas funeraacuterias atribuiacuteveis ao

fenoacutemeno do Megalitismo De facto a detecccedilatildeo de ocupaccedilotildees habitacionais destes

periacuteodos tem-se revelado difiacutecil registando-se casos pontuais eou vestigiais

(Muralha e Costa 2006 Valera Coelho e Ferreira 2008) indiciando a existecircncia de

um povoamento pouco estruturado (Carreira e Cardoso 1992 Cardoso e Carreira

1995 Carvalho 1998a e 2007a)

8 Os tempos do Megalitismo da Baixa Estremadura

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 327 de 415

ldquoHenrik Tauber summed up the conflicts between

archaeologists and radiocarbon dates with an appropriate

if not chauvinistic analogue about women Life is difficult

with them but impossible without them (Kra 1988)

Ateacute agrave aplicaccedilatildeo dos meacutetodos de dataccedilatildeo absoluta no campo da Arqueologia as

seriaccedilotildees tipoloacutegicas de artefactos e arquitecturas dos sepulcros foram o meio pelo

qual se estabeleceu uma sequecircncia cronoloacutegica aproximada para o Megalitismo Os

trabalhos de G e V Leisner (1943 1951 1959) e que esta uacuteltima prosseguiu apoacutes a

morte do primeiro (Leisner 1965 Leisner e Kalb 1998) permitiram-lhes propor

uma possiacutevel evoluccedilatildeo de sepulcros ortostaacuteticos de pequenas dimensotildees

construindo-se posteriormente antas com cacircmara e corredor algumas de dimensotildees

consideraacuteveis ndash tal proposta natildeo era novidade mas surgia sustentada no formidaacutevel

corpus de informaccedilatildeo dos Megalithgraumlber e demais publicaccedilotildees de alcance

internacional Tambeacutem foi possiacutevel perceber em Reguengos de Monsaraz (Leisner e

Leisner 1951) a anterioridade das antas face aos tholoi (casos das antas de Farisoa e

Comenda com os respectivos tholoi integrados nos seus tumuli) ou na Estremadura

com o caso do sepulcro da Praia das Maccedilatildes (Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969)

em que uma provaacutevel gruta artificial (cacircmara ocidental) teraacute antecedido o tholos ali

construiacutedo

No que concerne o espoacutelio moacutevel associado aos sepulcros o claacutessico trabalho

de V Leisner (1983 publicado em alematildeo em 1966) que sistematizava a informaccedilatildeo

ateacute entatildeo produzida apontava uma seriaccedilatildeo baseada nos espoacutelios recolhidos

cruzando-os com as respectivas tipologias arquitectoacutenicas dos sepulcros Ainda hoje

essa proposta manteacutem-se actual ainda que com alguns ajustes que a investigaccedilatildeo

subsequente permitiu (Soares e Silva 2000 Cardoso 2002 Gonccedilalves 2003e

Rocha 2005) e que o presente trabalho tambeacutem seguiu De forma sucinta um

primeiro conjunto (proto-fase do megalitismo) considerado arcaico com

geomeacutetricos pequenas lacircminas alguns machados e enxoacutes mas sem ceracircmica

normalmente encontrado em sepulcros de pequenas dimensotildees Um segundo grupo

apresentava-se semelhante ao anterior mas agora com maior nuacutemero de utensiacutelios de

pedra polida (incluindo tambeacutem goivas) e vasos ceracircmicos lisos em sepulcros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 328 de 415

maiores Finalmente num terceiro agrupamento registam-se para aleacutem de ceracircmicas

as pontas de seta normalmente com bases convexas (romboacuteides triangulares ou

pedunculadas) os iacutedolos-placa alfinetes de cabelo de osso com cabeccedila posticcedila

artefactos votivos de calcaacuterio o iacutedolo almeriense etc ainda que V Leisner verifique

tambeacutem o aparecimento de pontas de seta de base cocircncava admitindo a sua origem

no sul peninsular Apesar de natildeo totalmente expliacutecito no seu texto haacute ainda um

quarto grupo com a presenccedila dos elementos do fenoacutemeno campaniforme Portanto

com a acumulaccedilatildeo deste conhecimento tipoloacutegico de cariz histoacuterico-culturalista foi

possiacutevel perceber e periodizar o fenoacutemeno do Megalitismo ainda que de forma

geneacuterica e pouco precisa subjugado agraves teorias difusionistas do ex orient lux

A aplicaccedilatildeo do radiocarbono na mediccedilatildeo absoluta do tempo no acircmbito do

estudo do Megalitismo ibeacuterico e do actual territoacuterio portuguecircs registou-se nos finais

da deacutecada de 50 acompanhando a verdadeira revoluccedilatildeo europeia que questionava as

teorias difusionistas e orientalistas (Renfrew 1967 Renfrew 1990) Esta introduccedilatildeo

precoce do meacutetodo e a aplicaccedilatildeo a contextos do Megalitismo deveraacute ser entendida no

contexto de colaboraccedilotildees de arqueoacutelogos portugueses com estrangeiros estes uacuteltimos

normalmente apoiados pelas suas instituiccedilotildees que detinham a capacidade para a

realizaccedilatildeo destas anaacutelises

A primeira dataccedilatildeo pelo 14C realizada para contextos arqueoloacutegicos

portugueses foi sobre material do concheiro mesoliacutetico de Muge no acircmbito dos

trabalhos em colaboraccedilatildeo de O V Ferreira e J Roche (Roche 1957 Soares 2008)

Mas O V Ferreira eacute tambeacutem co-responsaacutevel pelas primeiras dataccedilotildees realizadas para

contextos do Megalitismo nomeadamente da anta de Antelas e do povoado de

Penha Verde (Rubin e Alexander 1960 cit in Soares 2008) do tholos de A-dos-

Tassos (Roche e Delibrias 1964) e da gruta das Salemas (Delibrias Guillier e

Labeyrie 1965) Neste uacuteltimo caso a colaboraccedilatildeo com J Roche devia-se agrave esperanccedila

de datar o niacutevel do Paleoliacutetico superior mas a dataccedilatildeo (Sa-198 6320plusmn350BP)

remeteu para o periacuteodo neoliacutetico (Delibrias Guillier e Labeyrie 1965 Cabral e

Soares 1984) Aliaacutes a publicaccedilatildeo deste resultado por J Roche agrave revelia dos

escavadores que lhe cederam a amostra L A Castro J C Franccedila e O V Ferreira

originou um reparo crispado em artigo posterior (Castro e Ferreira 1972)

Os trabalhos desenvolvidos por V Leisner e apoiados pelo Instituto

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 329 de 415

Arqueoloacutegico Alematildeo tambeacutem contribuiacuteram jaacute na deacutecada de 60 para outro

conjunto de dataccedilotildees pioneiras do Megalitismo portuguecircs Estas foram obtidas para

utilizaccedilotildees funeraacuterias das antas beiratildes de Castenairas Carapito e Orca de Seixas

(Leisner e Ribeiro 1966 e 1968 Soares e Cabral 1984) e para a Estremadura

concretamente na necroacutepole da Praia das Maccedilatildes (Leisner e Ferreira 1963 Kalb

1981 Soares e Cabral 1984) todas elas tambeacutem datando carvotildees mas apresentando

desvios-padratildeo bem mais reduzidos que as anteriores Desde entatildeo o conjunto de

dataccedilotildees cresceu em quantidade e qualidade sobretudo desde finais dos anos 80

permitindo estabelecer com maior precisatildeo (dentro daquilo que as curvas de

calibraccedilatildeo do 14C o permitem) periacuteodos especiacuteficos para diversas praacuteticas funeraacuterias

De facto numa recente avaliaccedilatildeo geral dos uacuteltimos avanccedilos do radiocarbono na

Repuacuteblica portuguesa (Soares 2007) destaca-se com justeza a importacircncia da

instalaccedilatildeo do laboratoacuterio de dataccedilatildeo pelo radiocarbono em 1986 bem como o

evidente empenhamento dos seus responsaacuteveis pela sensibilizaccedilatildeo da comunidade

arqueoloacutegica para as virtudes e os problemas do meacutetodo assim como a

sistematizaccedilatildeo com algum sucesso da nomenclatura apropriada para a apresentaccedilatildeo

dos resultados (Cabral 1993 Soares e Cabral 1993) Portanto eacute tambeacutem natural que

tenham surgido vaacuterios trabalhos de recensatildeo criacutetica das dataccedilotildees pelo radiocarbono

disponiacuteveis (Soares e Cabral 1984 Cardoso e Soares 1990-92 Soares e Cabral

1993 Cruz 1995 Soares 1999 Cruz 2001 Cruz et al 2003 Gonccedilalves e Sousa

2006) avaliando a mateacuteria orgacircnica que foi utilizada para a dataccedilatildeo o seu contexto e

a interpretaccedilatildeo daiacute decorrente

Entretanto no iniacutecio da deacutecada de 70 perante a falta de mateacuteria orgacircnica em

muitos dos casos emblemaacuteticos do Megalitismo portuguecircs procurou obter-se

resultados cronoloacutegicos atraveacutes da dataccedilatildeo pela Termoluminescecircncia (TL) aplicada a

ceracircmica recolhida dentro de diversos sepulcros da Estremadura e Alentejo (Whittle

e Arnaud 1975) As datas entatildeo obtidas tiveram um impacto relevante na

comunidade cientiacutefica nacional e internacional (Renfrew 1976) de tal forma que ateacute

muito recentemente e apesar dos largos desvios-padratildeo (apresentados apenas com

68 de probabilidade isto eacute aproximadamente a 1 sigma) algumas delas

nomeadamente as datas das miacuteticas antas de Poccedilo da Gateira 1 e Gorginos 2 com um

pacote artefactual supostamente arcaico e de transiccedilatildeo mantinham-semantecircm-se ()

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 330 de 415

como exemplos da antiguidade de uma fase meacutedia do Megalitismo alentejano

portanto recuando ainda mais as origens do fenoacutemeno (Joussaume 1985 Castro

Martinez Lull e Ricoacute 1996 Gonccedilalves 1999a Cardoso 2002 Oosterbeek 2003a e

2003b Figueiredo 2006) Contudo pelo que se expocircs supra e pelo que se discutiraacute

infra julgo que ficaraacute patente a dificuldade em aceitar hoje aqueles intervalos

reconhecendo-lhes apenas um valor essencialmente historiograacutefico Isto apesar do

rigor cientiacutefico do meacutetodo de dataccedilatildeo pela TL reconhecido por A M Soares (1999)

na sua revisatildeo de datas disponiacuteveis para os megaacutelitos portugueses Mas como o

proacuteprio tambeacutem admitia ldquoas datas obtidas pela Termoluminescecircncia vecircm eivadas de

um desvio padratildeo grande (hellip) o que torna este meacutetodo pouco recomendaacutevel se se

quiser obter uma cronologia relativamente finardquo (Soares 1999 p 691) Mas

concluiacutea dizendo que ldquoeacute uma ferramenta valiosa para o estabelecimento de

cronologias absolutas e deveraacute ser feito um esforccedilo para a sua aplicaccedilatildeo a contextos

que se revelem natildeo susceptiacuteveis de datar pelo radiocarbonordquo (Soares 1999 p 691)

Quadro 18 Dataccedilotildees por Termoluminiscecircncia de espoacutelio ceracircmico funeraacuterio de sepulcros do

Centro-Sul de Portugal Adaptado de E Whittle e J Arnaud (1975)

Siacutetio

Amostra ceracircmica

Datas individuais

BC

Referecircncia Data meacutedia BC (prob 68)

Anta de Poccedilo da Gateira 1 b1 4640plusmn430 (OxTL169a) b2 4305plusmn400 4510plusmn360 b3 4615plusmn450 [4870-4150] Anta de Gorginos 2 c1 3860plusmn360 (OxTL169b) c2 4805plusmn400 4440plusmn360 c3 4595plusmn420 [4800-4080] Anta Grande da Comenda da Igreja f1 3380plusmn340 (OxTL169f) f2 3340plusmn350 3235plusmn310 f3 3255plusmn330 [3545-2925] f5 3015plusmn340 Anta de Farisoa 1 i1 2745plusmn380 (OxTL169i) i2 2185plusmn260 2405plusmn260 [2665-2145]

Tholos de Farisoa 1 j1 2740plusmn300 (OxTL169j) j2 2900plusmn320 2675plusmn270 j3 2335plusmn310 [2945-2405] Gruta artificial de Carenque 2 h1 4095plusmn390 (OxTL169h) [Vila Chatilde 2] h2 3545plusmn370 3930plusmn340 h3 4130plusmn420 [4270-3590]

Infelizmente em muitos casos do Megalitismo portuguecircs e ibeacuterico continua a

registar-se uma grande dificuldade em encontrar em muitos sepulcros mateacuteria

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 331 de 415

orgacircnica passiacutevel de dataccedilatildeo Por isso algumas tentativas de dataccedilatildeo por TL e OSL

(Optically Stimulated Luminescence ndash Luminescecircncia Opticamente Estimulada) tecircm

sido experimentadas Satildeo exemplos as datas por TL de Val da Laje 1 com os seus

intervalos de quase mil anos a 2 sigmas (Oosterbeek 2004) e mais recentemente em

Sobreira de Cima 1 e 2 Contudo o meacutetodo carece ainda de mais avaliaccedilatildeo criacutetica

sobretudo quanto agrave proveniecircncia e significado dos elementos que satildeo datados e da

utilidade dos largos desvios-padratildeo obtidos ndash exemplo ilustrativo destas situaccedilotildees

verifica-se na comparaccedilatildeo das mediccedilotildees de 14C e OSL realizadas para a gruta

artificial de Sobreira de Cima 1 (Valera Soares e Coelho 2008 Dias et al 2008) aiacute

os intervalos a 2 sigmas (954 de probabilidade) das dataccedilotildees pelo radiocarbono

satildeo menores que a amplitude das mediccedilotildees OSL em anos de calendaacuterio a 1 sigma

(682 de probabilidade) ndash aleacutem disto as dataccedilotildees OSL dali obtidas resultaram

bastante diacutespares

Portanto depois deste breve introacuteito e do que foi abordado noutros capiacutetulos eacute

possiacutevel verificar que a regiatildeo da Estremadura e no caso especiacutefico a Baixa

Estremadura teve sempre um papel fundamental na caracterizaccedilatildeo e definiccedilatildeo das

cronologias relativas e absolutas do Megalitismo e dos grupos humanos associados a

este fenoacutemeno

As uacuteltimas duas deacutecadas tecircm sido extremamente feacuterteis na obtenccedilatildeo de

dataccedilotildees pelo radiocarbono para os sepulcros da regiatildeo estremenha No acircmbito de

revisotildees de conjuntos exumados em trabalhos antigos e graccedilas ao grau de

preservaccedilatildeo do material orgacircnico vaacuterias dataccedilotildees foram obtidas essencialmente

sobre ossos humanos (Cardoso e Soares 1990-92 Cardoso e Soares 1995a e 1995b

Cardoso et al 1996 Gonccedilalves 2005b) o que permitiu verificar pelo menos o

tempo de algumas utilizaccedilotildees funeraacuterias mas ateacute agora sem dados para as antas

A possibilidade de recolha de mateacuteria orgacircnica para as antas de Lisboa eacute

portanto um aspecto positivo Contudo dada a precocidade da maioria das

escavaccedilotildees em que o objectivo essencial era a recolha de elementos para a

construccedilatildeo de um quadro tipoloacutegico natildeo se teraacute dado grande atenccedilatildeo a aacutereas

exteriores e agraves suas fases construtivas Dessa forma natildeo se recolheram elementos

orgacircnicos desses contextos nomeadamente carbonosos como parece usual noutras

regiotildees deficitaacuterias em material oacutesseo No entanto tenho que realccedilar que nas duas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 332 de 415

intervenccedilotildees que realizei respectivamente nas antas de Pedras Grandes e Carcavelos

natildeo se encontrou material orgacircnico passiacutevel de dataccedilatildeo dentro de alveacuteolos ou

estruturas de calccedilo dos esteios ou das massas tumulares infelizmente quase

inexistentes Apenas na anta de Carcavelos entre os restos oacutesteoloacutegicos do interior

da cacircmara foram recolhidos alguns gracircnulos de carvotildees mas ateacute o momento natildeo foi

possiacutevel concretizar o seu estudo Assim esta anotaccedilatildeo serve para realccedilar o facto de

que as dataccedilotildees obtidas para as antas de Lisboa mas de alguma forma para a maioria

dos sepulcros da Estremadura correspondem aos restos mortais de indiviacuteduos

portanto presumivelmente referentes a depoacutesitos funeraacuterios primaacuterios eou

secundaacuterios ainda que seja provaacutevel uma maioria do primeiro tipo pelos motivos

expostos no capiacutetulo 6

Para um melhor enquadramento das dataccedilotildees referentes a contextos funeraacuterios

da Estremadura empreendi uma recolha sistemaacutetica da informaccedilatildeo acessiacutevel para a

maioria das regiotildees da Peniacutensula Ibeacuterica exceptuando a parte oriental (Valecircncia

Catalunha e aacuterea pirenaica) reunindo quase meio milhar de datas mas eacute natural que

quando se lerem estas linhas esse nuacutemero tenha aumentado Assim nos proacuteximos

capiacutetulos passarei a discutir os valores compilados agrupados por regiotildees

tradicionalmente definidas na investigaccedilatildeo do periacuteodo em questatildeo Estremadura

Alentejo Algarve Sudoeste espanhol (Huelva Sevilha e Caacutediz) Antequera

Almeria Extremadura espanhola Meseta Sul e Meseta Norte Beira Interior e

Noroeste (Norte de Portugal e Galiza) As datas compiladas incluiacutedas e excluiacutedas

nesta abordagem constam do quadro em anexo

81 A cronologia absoluta das antas de Lisboa

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 333 de 415

ldquoFor a method or approach to be able to

revolutionize a subject is normally considered a good

thing but radiocarbon seems to have managed rather too

many revolutions for the good of either archaeology or the

application of science to the artsrdquo (Bronk Ramsey 2008

p 249)

Como foi possiacutevel alcanccedilar um conhecimento mais detalhado e sistemaacutetico dos

conjuntos osteoloacutegicos humanos dos vaacuterios sepulcros estudados antes de ter optado

pela estrateacutegia de dataccedilotildees descrita abaixo considerei a hipoacutetese de realizar uma

seacuterie monograacutefica de dataccedilotildees para uma das antas em detrimento de um panorama

geral das antas de Lisboa Dada a natureza das colecccedilotildees estudadas com

concentraccedilotildees de espoacutelio aparentemente misturado agravada pela reduzida

informaccedilatildeo estratigraacutefica registada durante os trabalhos originais de escavaccedilatildeo esse

exerciacutecio poderia (e poderaacute) ajudar na avaliaccedilatildeo dos periacuteodos de utilizaccedilatildeo funeraacuteria

quiccedilaacute natildeo tatildeo dilatados como se pensaraacute Aliaacutes eacute um exerciacutecio que jaacute foi efectuado

noutros casos regionais do Megalitismo europeu ainda que com melhores

contextualizaccedilotildees nomeadamente em Inglaterra (Smith e Brickley 2006 Whittle e

Bayliss 2007) na Franccedila (Mohen e Scarre 2002 Chambon 2003) na Escandinaacutevia

(Persson e Sjoumlgren 1995) e de alguma forma tentado em grutas naturais e artificiais

de Cascais Portugal (Gonccedilalves 2005b e 2008) Contudo face agrave existecircncia de

espoacutelios caracterizadores nas antas exerciacutecio que foi ensaiado supra e que permitia

atribuiccedilotildees cronoloacutegicas relativas para provaacuteveis usos funeraacuterios optei por uma

abordagem mais abrangente que tambeacutem natildeo tinha ainda sido realizada procurando

dessa forma verificar a coincidecircncia daquelas leituras com as dataccedilotildees absolutas

obtidas

O nuacutemero de dataccedilotildees realizadas para as antas de Lisboa foi apenas

condicionado pelas verbas disponiacuteveis angariadas ao longo do percurso de estudo

Assim num cocircmputo geral avanccedilou-se para a tentativa de dataccedilatildeo de um conjunto de

20 amostras seleccionadas (Anexo 3 Quadro 22) Destas amostras apenas duas

apresentaram niacuteveis de colageacutenio insuficientes um fragmento de haste de alfinete de

cabelo da anta de Conchadas (MG30228E) a uacutenica peccedila oacutessea natildeo humana e um

fragmento de occipital humano da anta de Trigache 2 (MG179) Nos casos das antas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 334 de 415

de Monte Abraatildeo Estria Carrascal Pedras Grandes Carcavelos e Casal do Penedo

foram efectuadas duas dataccedilotildees para cada uma delas preferencialmente sobre

espeacutecimes oacutesseos de indiviacuteduos humanos distintos ndash contudo devido ao estudo de

paleodietas por anaacutelises isotoacutepicas referido supra e que foi desenvolvido em duas

fases o criteacuterio definido natildeo foi sistematicamente aplicado concretamente nos casos

de Carcavelos e Estria Na anta de Pedra dos Mouros dada a existecircncia de faunas

aparentemente recolhidas junto com os ossos humanos procedeu-se agrave dataccedilatildeo de um

desses elementos (Bos sp- MG17240) com a intenccedilatildeo de verificar a sua

contemporaneidade o que natildeo se verificou ndash aliaacutes a aparente melhor preservaccedilatildeo da

fauna colocava essa possibilidade Por outro lado julgo que este caso demonstrou a

dificuldade e o cuidado a ter na correlaccedilatildeo entre as deposiccedilotildees funeraacuterias e as

oferendas de faunas o que por vezes eacute esquecido ndash por exemplo nas antas de Rego

da Murta 1 e 2 onde essa relaccedilatildeo eacute proposta mas apesar de uma excelente bateria de

datas sobre ossos humanos nenhuma fauna foi datada ateacute agora (Figueiredo 2006)

Em paralelo com a seacuterie de amostras das antas foram realizadas mais trecircs

dataccedilotildees sobre indiviacuteduos de sepulcros com tipologias distintas mas pertinentes para

o enquadramento cronoloacutegico dos sepulcros em estudo Isso foi possiacutevel porque os

seus conjuntos antropoloacutegicos tambeacutem foram estudados em colaboraccedilatildeo num

projecto de investigaccedilatildeo complementar Garantiu-se entatildeo uma dataccedilatildeo para a gruta

de Salemas outra da gruta artificial de Folha das Barradas e ainda uma do tholos de

Agualva (com um primeiro espeacutecime sem colageacutenio suficiente) Estas datas seratildeo

discutidas infra

A anaacutelise de conjunto das dataccedilotildees para as antas de Lisboa coloca as suas

utilizaccedilotildees mais antigas entre o segundo e terceiro quartel (meados) do 4ordm mileacutenio

ane concomitantes com sepulcros de cacircmara poligonal e corredor curto mas com

espoacutelios reduzidos de cariz arcaico sem a presenccedila comprovada de ceracircmica e

reduzidos nuacutemeros miacutenimos de indiviacuteduos ali depositados Satildeo os casos de Carrascal

Pedras Grandes e Trigache 4 Paralelamente esta imagem parece espelhar-se em

casos similares de antas do Alentejo (Quadro 24) Como jaacute foi referido atraacutes da

uacutenica anta de pequenas dimensotildees de Lisboa Monte Serves natildeo foi possiacutevel obter

material para dataccedilatildeo ainda que se pudesse presumir um momento antigo face ao

muito reduzido espoacutelio entatildeo identificado (North Boaventura e Cardoso 2005)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 335 de 415

Se considerar a presenccedila de algum espoacutelio como indicador crono-cultural (por

exemplo os geomeacutetricos as lacircminas delgadas pouco retocadas e utensiacutelios de pedra

polida) e que estas dataccedilotildees registam algumas das primeiras deposiccedilotildees em anta da

regiatildeo de Lisboa entatildeo eacute possiacutevel que a maioria das antas tenha sido erguida entre os

meados e a segunda metade do 4ordm mileacutenio ane Naquelas que apresentaram dataccedilotildees

mais recentes essencialmente da primeira metade do 3ordm mileacutenio ane (a maioria)

isso resultaria do processo acumulativo de deposiccedilotildees funeraacuterias que originou uma

maior quantidade de ossadas humanas limitando a probabilidade estatiacutestica de

acertar com os elementos mais antigos o que soacute um leque maior de dataccedilotildees poderaacute

eventualmente verificar Reforccedilando esta ideia haacute que realccedilar uma correspondecircncia

entre os sepulcros com datas mais antigas e o nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos

sepultados

Por outro lado apenas as antas da Estria e Trigache 3 parecem natildeo apresentar o

espoacutelio de cariz arcaico ainda que soacute tenha sido possiacutevel obter duas dataccedilotildees para a

primeira colocando-a na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane Ressaltam tambeacutem

destes sepulcros alguns aspectos particulares Trigache 3 parece ter sido implantada

na aacuterea tumular de Trigache 2 mas em posiccedilatildeo perifeacuterica e no caso de Estria a sua

implantaccedilatildeo indicia um sacrifiacutecio aparente da prescriccedilatildeo de orientar a passagem para

nascente em favor de um substrato rochoso mais favoraacutevel agrave sua construccedilatildeo Seratildeo

estes casos reflexos de construccedilotildees tardias quando a forccedila do rito construtivo se

perdia Diria que eacute plausiacutevel

A aglomeraccedilatildeo das datas conhecidas de antas na primeira metade do 3ordm mileacutenio

ane limitando-se a maioria das balizas superiores dos intervalos de tempo aos

meados deste eacute digna de nota sobretudo quando se regista a presenccedila de espoacutelio

campaniforme nestas Uma vez mais a probabilidade de acertar com os indiviacuteduos

mais recentes poderaacute explicaacute-lo Contudo isso poderaacute relacionar-se com outras duas

questotildees por um lado a presenccedila campaniforme nas antas natildeo eacute tatildeo abundante como

noutros tipos de sepulcros o que prenuncia um nuacutemero reduzido de indiviacuteduos ali

depositados e por outro esse material apresenta-se essencialmente com as

caracteriacutesticas daquelas consideradas mais antigas (campaniforme internacional e

impresso) Poderiam entatildeo alguns dos resultados denunciar a presenccedila de deposiccedilotildees

campaniformes em meados do 3ordm mileacutenio ane Julgo que a resposta se inclinaraacute

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 336 de 415

para a positiva todavia ainda necessitando de mais dataccedilotildees especialmente bem

contextualizadas Por isso a proposta cronoloacutegica de J L Cardoso e A M Soares

(1990-92) para a vigecircncia do fenoacutemeno campaniforme da regiatildeo estremenha ndash 2800-

2300 ane ndash manteacutem a sua pertinecircncia para futuras anaacutelises ainda que talvez recue

demasiadamente o seu iniacutecio Aliaacutes alguns dos casos utilizados para a leitura

proposta (curiosamente aqueles com balizas mais recuadas) foram recentemente

reavaliados criticamente por um dos seus proponentes ainda que noutro trabalho

colectivo porque colocavam alguns problemas de contextualizaccedilatildeo (Soares Soares e

Silva 2008) Mesmo assim isso natildeo implicou um reconhecimento de uma baliza

cronoloacutegica inferior mais avanccedilada parecendo manter-se a opiniatildeo anterior (Cardoso

e Soares 1990-92 Soares Soares e Silva 2008) Outro elemento proveniente do

Algarve que parece reforccedilar o uso de ceracircmica campaniforme pelo menos nos

meados do referido mileacutenio eacute a presenccedila de fragmentos de ceracircmica campaniforme

internacional na base da mamoa do tholos de Alcalar 7 (Moraacuten e Parreira 2004)

Apesar de natildeo existir uma cronologia absoluta para tal contexto foi obtida uma

dataccedilatildeo pelo radiocarbono sobre carvatildeo de aroeira em lareira intermediando uma

realidade de remodelaccedilatildeo na aacuterea defronte da fachada tumular - o intervalo obtido

situa-se entre 2470-2200 cal BCE (Quadro 26) Portanto no momento de construccedilatildeo

deste sepulcro que teraacute sido anterior agrave referida remodelaccedilatildeo (mas natildeo se sabe quatildeo

anterior) a ceracircmica campaniforme jaacute existia acabando integrada na base tumular

Mesmo no caso extremo de tais momentos de construccedilatildeo e remodelaccedilatildeo terem sido

muito raacutepidos haacute que admitir os meados do mileacutenio para tal presenccedila

Face ao exposto e perante os dados disponiacuteveis julgo que a cronologia das

antas de Lisboa parece indiciar um dealbar da sua construccedilatildeo em redor dos meados

do 4ordm mileacutenio ane registando um pico de erecccedilotildees durante a segunda metade deste

Contudo ainda que soacute um pequeno nuacutemero de novos sepulcros possa ter surgido no

primeiro quartel do 3ordm mileacutenio ane parece interessante verificar um incremento de

deposiccedilotildees funeraacuterias durante a primeira metade deste periacuteodo aparentando uma

reduccedilatildeo draacutestica nos seus meados

82 Diacronia e sincronia dos outros espaccedilos sepulcrais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 337 de 415

Quando se compara os dados cronoloacutegicos disponiacuteveis para as antas da

Estremadura (onde a regiatildeo de Lisboa se inclui) e os outros tipos de sepulcros ndash

grutas naturais grutas artificiais e tholoi ndash alguns aspectos satildeo dignos de realce

reforccedilando de alguma forma propostas anteriores para a antiguidade das deposiccedilotildees

em gruta e antas face a grutas artificiais e tholoi (Gonccedilalves 2003e)

Primeiramente foi em cavidades naturais que se registaram as praacuteticas

funeraacuterias mais antigas Eacute uma afirmaccedilatildeo quase desnecessaacuteria se recordar que grande

parte dos primeiros vestiacutegios mortuaacuterios da Humanidade foi encontrada em

ambientes de gruta de diversas regiotildees do planeta (Ferreira 1982 Oosterbeek

1997a Parker Pearson 2002 Olaria i Puyoles 2002-03) Tambeacutem no actual

territoacuterio portuguecircs eacute nas cavidades naturais que se conhecem as presenccedilas

funeraacuterias neoliacuteticas mais antigas Assim optei por compilar as dataccedilotildees sobre ossos

humanos recolhidos em grutas atribuiacutedas a deposiccedilotildees funeraacuterias e associadas agraves

primeiras evidecircncias do Neoliacutetico antigo nas grutas do Caldeiratildeo (Lubell e Jackes

1988 Zilhatildeo 1992 e 1993 Lubell et al 1994) Nossa Senhora das Lapas

(Oosterbeek 1993b e 1997b) Algar do Picoto (Zilhatildeo e Carvalho 1996 Carvalho

2007b) Casa da Moura (Lubell e Jackes 1988 Straus et al 1988 Lubell et al

1994) e Correio-Moacuter (Carvalho 2007b) Destas cavidades as duas primeiras

providenciaram as melhores evidecircncias contextualizadas para o tipo de deposiccedilatildeo

funeraacuteria ndash concretamente em N Sra das Lapas uma das inumaccedilotildees foi rodeada por

blocos peacutetreos com escasso espoacutelio talvez melhor esclarecido no Caldeiratildeo com

alguma ceracircmica decorada e elementos de adornos sobre concha O nuacutemero reduzido

de inumaccedilotildees que a crer nas dataccedilotildees foi alargado no tempo natildeo favorece a ideia de

uma necroacutepole com praacutetica funeraacuteria colectiva mas antes um espaccedilo reutilizado

pontualmente inclusive ocasionalmente ocupado como habitaccedilatildeo

No siacutetio da Pedreira das Salemas a dataccedilatildeo ICEN-351 com um intervalo de

5300-4610 cal BCE sobre osso de um enterramento na diaacuteclase do lapiaacutes num local

onde se pensa tambeacutem ter existido um espaccedilo habitacional parece denunciar a

promiscuidade entre o espaccedilo funeraacuterio e o de habitaccedilatildeo Fora da Estremadura dois

exemplos podem reforccedilar essa impressatildeo Cerro Virtud (Almeria) onde ocorrem

vestiacutegios habitacionais e funeraacuterios na mesma aacuterea de ocupaccedilatildeo datados da primeira

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 338 de 415

metade do 5ordm mileacutenio ane (Montero Ruiacutez e Ruiacutez Taboada 1996 Montero Ruiacutez

Rihuete Herrada e Ruiacutez Taboada 1999 Ruiacutez Taboada 1999) e a anta de Azutaacuten

(Toledo Meseta Sul) onde se recolheu na base da sua cacircmara um osso humano

datado da primeira metade do 5ordm mileacutenio ane coetacircneo da ocupaccedilatildeo habitacional

do Neoliacutetico antigo sobre a qual se implantou (Bueno Ramirez Balbiacuten Behrmann e

Barroso Bermejo 2006) podendo admitir-se uma ldquotrasladaccedilatildeordquo de restos humanos

recolhidos durante a posterior construccedilatildeo do sepulcro Outro exemplo recente do

Algarve eacute Castelo Belinho com diversos enterramentos em fossa e associados a

possiacuteveis contextos habitacionais (Gomes 2008) datados de meados do 5ordm mileacutenio

ane

Pelas caracteriacutesticas explicitadas acima as praacuteticas funeraacuterias situadas entre os

finais do 6ordm mileacutenio ane e pelo menos os primeiros dois terccedilos do seguinte (mas

provavelmente todo o 5ordm mileacutenio) natildeo parecem enquadrar-se nos criteacuterios definidos

para o Megalitismo no acircmbito deste trabalho Apesar disso alguns dos elementos aiacute

identificados como os elementos de adornos sobre concha perduraram e foram

integrados na primeira fase daquele fenoacutemeno o que os dados cronoloacutegicos

permitem perceber Afinal algumas dataccedilotildees disponiacuteveis parecem demonstrar que na

segunda metade do 5ordm mileacutenio ane as cavidades continuaram a ser utilizadas como

necroacutepole nomeadamente a jaacute referida gruta de N Sra das Lapas (Oosterbeek

1993b e 1997b Cruz 1997) mas tambeacutem a Lapa dos Namorados (Zilhatildeo e

Carvalho 1996 Carvalho 2007b) Contudo os dados contextuais limitados natildeo

permitem leituras esclarecidas

Uma das datas mais antigas passiacutevel de enquadrar uma deposiccedilatildeo integraacutevel

no Megalitismo proveacutem do enterramento da camada D sala 1 da gruta do Cadaval

(Oosterbeek 1994 Cruz 1997) Este apresentava um pequeno conjunto de espoacutelio

(geomeacutetrico pequenas lacircminas machado enxoacute adornos sobre concha e ceracircmica

associado a uma inumaccedilatildeo coberta com uma grande laje) que se tornaraacute numa

primeira fase do 4ordm mileacutenio ane um conjunto habitual de acompanhamento

funeraacuterio A data ICEN-464 sobre um dos ossos humanos desta inumaccedilatildeo que

forneceu o intervalo de tempo de 4150-3790 cal BCE (restringindo-se a 4060-3790

cal BCE com 948 de probabilidade) parece prenunciar o momento em que os

enterramentos e o ritual funeraacuterio se elaboraram com maior dedicaccedilatildeo e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 339 de 415

investimento Contudo o registo do δ13C (-1919permil) aconselha algum cuidado para a

hipoacutetese de alguma percentagem de dieta marinha eou estuarina com sequente efeito

de reservatoacuterio e maior envelhecimento Outro aspecto que deveraacute reter-se eacute a

aparente utilizaccedilatildeo colectiva daquele espaccedilo que poderaacute depreender-se pelo nuacutemero

miacutenimo de 24 indiviacuteduos (Lopes 2005-06) ainda que as dataccedilotildees disponiacuteveis

questionem a leitura estratigraacutefica proposta ndash ossos da camada C apresentaram uma

idade semelhante agrave data da sepultura da camada D da sala 1 bem como agrave sepultura

da camada D da sala 2 (Quadro 23 Oosterbeek 1994 Cruz 1997)

Um exemplo em que a necessidade da correcccedilatildeo da data poderaacute originar uma

idade mais recente encontrou-se no siacutetio da Costa do Pereiro onde em aacuterea

habitacional junto a abrigo rochoso foi inumado em covacho um infante com cerca

de 5 meses de idade (Carvalho 2007a) contexto peculiar face ao que se conhece

para o periacuteodo Para o osso datado (Wk-13682) registou-se um intervalo de tempo

entre 4040-3790 cal BCE com um δ13C de -1750permil (Carvalho 2007a e 2007b) o

que poderaacute indicar uma antiguidade maior por efeito de reservatoacuterio Infelizmente

como se desconhece o valor de δ15N eacute problemaacutetico efectuar com seguranccedila a sua

correcccedilatildeo o que aquele autor pretende rectificar

Outro caso mas para o qual foi possiacutevel a correcccedilatildeo da data obtida ainda que a

sul da Estremadura no Alentejo litoral vem da gruta do Lagar Melides (Nogueira

1927) Existindo para a data TO-2091 os valores do δ13C (-1490permil) e do δ15N (1310

permil ) providenciados por D Lubell e colaboradores (1994) procedeu-se agrave sua

correcccedilatildeo (agradeccedilo a informaccedilatildeo pessoal de A M Soares para os valores de ΔR e

da percentagem de organismos marinhos na dieta) originando um rejuvenescimento

de cerca de trecircs seacuteculos passando de um intervalo de 4340-3990 cal BCE para 4000-

3650 cal BCE Acontece que para muitas das dataccedilotildees disponiacuteveis nem sempre eacute

providenciado o valor realmente medido do δ13C e menos ainda o do δ15N

Mas agrave parte das importantes questotildees da avaliaccedilatildeo rigorosa e do crivo criacutetico

que todas as datas devem ser alvo parece admissiacutevel localizar na passagem do 5ordm

para o 4ordm mileacutenios ane com um maior ecircnfase no primeiro quartel deste uacuteltimo as

primeiras dataccedilotildees associaacuteveis a deposiccedilotildees passiacuteveis de se integrarem no fenoacutemeno

do Megalitismo ainda que por ora todas elas em contexto de gruta

A data Sac-1715 conhecida para a gruta de Lugar do Canto (Cardoso 2002

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 340 de 415

Carvalho 2007b Cardoso e Carvalho 2008) com um intervalo entre 4230-3700 cal

BCE (restringindo-se a 4070-3700 cal BCE com 931 de probabilidade) parece

marcar essas novas praacuteticas funeraacuterias No entanto esta data foi obtida natildeo de um

osso mas de um conjunto de ossos humanos natildeo especificados (informaccedilatildeo pessoal

de J L Cardoso Cardoso e Carvalho 2008) pelo que se tornam importantes novas

dataccedilotildees que esclareccedilam os tempos desta necroacutepole Todavia neste caso o δ13C (-

2032permil) parece indiciar uma dieta terrestre De qualquer forma a existecircncia de

outras dataccedilotildees semelhantes das grutas jaacute mencionadas do Caldeiratildeo Casa da

Moura e Cadaval mas tambeacutem do Algar do Bom Santo (Duarte 1998) e da Lapa da

Bugalheira todavia esta uacuteltima de um contexto pouco esclarecido (Zilhatildeo et al

1996 Carvalho 2007b) parecem reforccedilar esse iniacutecio Fora da Estremadura eacute ainda

possiacutevel verificar dataccedilotildees semelhantes na gruta do Lagar (referida supra) e na gruta

de Canaleja 1 Caacuteceres (Cerrillo Cuenca e Gonzaacutelez Cordero 2007) cujo intervalo

de 3990-3770 cal BCE se baseia numa data (Beta-202343) com um δ13C de -1880permil

(informaccedilatildeo pessoal de E Cerrillo Cuenca) o que poderia implicar algum cuidado na

sua valorizaccedilatildeo ndash contudo neste caso a ausecircncia de potenciais recursos marinhos ou

estuarinos proacuteximos tornam menos premente a cautela ainda que soacute cabalmente

esclarecida com a mediccedilatildeo dos valores de δ13C e δ15N para verificaccedilatildeo da paleodieta

Se o iniacutecio das praacuteticas enquadraacuteveis no Megalitismo aparenta situar-se no

primeiro quartel do 4ordm mileacutenio ane o nuacutemero de dataccedilotildees disponiacutevel parece

denunciar uma intensificaccedilatildeo de deposiccedilotildees funeraacuterias em grutas algumas ad novo a

partir de meados do mileacutenio E daiacute ateacute meados do 3ordm mileacutenio ane a utilizaccedilatildeo de

cavidades naturais manteve-se paralelamente agraves antas e demais sepulcros Mas

continuaratildeo a ser procuradas frequentemente com menor intensidade durante a

segunda metade do mileacutenio quando isso natildeo parece ocorrer nas antas de Lisboa

Portanto face aos dados disponiacuteveis para os espaccedilos de necroacutepole em

cavidades naturais da Estremadura eacute possiacutevel verificar nestas uma relativa

anterioridade face agraves antas o que poderaacute ser explicado pela tradiccedilatildeo milenar do seu

uso Assim mesmo que as novas praacuteticas funeraacuterias e seus mobiliaacuterios tivessem sido

apropriadas rapidamente a preacute-existecircncia das cavidades e a tradiccedilatildeo do seu uso

tornava-as os candidatos naturais inicialmente mais favorecidos quiccedilaacute os arqueacutetipos

dos novos tipos de contentores sepulcrais (Oosterbeek 1997a) Semelhante

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 341 de 415

interpretaccedilatildeo eacute apontada em recente sistematizaccedilatildeo das grutas irlandesas e britacircnicas

(Dowd 2008)

Outro tipo de espaccedilo sepulcral da Estremadura as grutas artificiais apresenta

algumas dificuldades para a interpretaccedilatildeo das dataccedilotildees disponiacuteveis Os valores mais

recuados situam-se em meados do 4ordm mileacutenio ane o que de alguma forma seria

expectaacutevel para algumas delas face ao tipo de espoacutelio presente similar agravequele

recolhido em antas e grutas naturais com cronologias idecircnticas Contudo estas datas

satildeo tambeacutem aquelas que apresentam os maiores problemas de contextualizaccedilatildeo e

legibilidade

A data de Satildeo Pedro do Estoril 1 Beta-188390 sobre um osso humano

(Gonccedilalves 2005b) apresenta um intervalo de 3640-3370 cal BCE e um δ13C de -

1900permil o que poderaacute indiciar algum tipo de dieta marinha e por conseguinte a

necessidade de correcccedilatildeo Mais ainda porque o espoacutelio recolhido nesta gruta artificial

(Leisner Paccedilo e Ribeiro 1964 Leisner 1965) coaduna-se melhor com as outras duas

dataccedilotildees atribuiacutedas jaacute agrave segunda metade do 3ordm mileacutenio ane (Gonccedilalves 2005b ver

Quadro 22) No entanto caso seja possiacutevel esclarecer a questatildeo isotoacutepica e esta

validar o resultado bem como natildeo tenha havido mistura de materiais durante o

depoacutesito museoloacutegico entatildeo haacute que admitir alguns cenaacuterios alternativos ainda que

ambos de difiacutecil comprovaccedilatildeo a) S Pedro do Estoril 1 seria um sepulcro que foi

esvaziado para receber novos enterramentos tendo o elemento datado sobrevivido ao

despejo b) algumas ossadas humanas de sepulcros mais antigos foram trasladadas

para aquele

A provaacutevel gruta artificial de Monte do Castelo (Oliveira e Brandatildeo 1969

Cardoso Cunha e Aguiar 1991 Cardoso e Soares 1995) possui a dataccedilatildeo ICEN-

738 sobre um dos ossos humanos de 3630-3130 cal BCE (restringindo-se a 3530-

3330 cal BCE com 909 de probabilidade) Contudo o espoacutelio que foi possiacutevel

recolher eacute incaracteriacutestico bem como pouco se pode conhecer da planta do sepulcro

Outro sepulcro onde se poderia esperar encontrar dataccedilotildees em meados do 4ordm

mileacutenio ane seria a provaacutevel gruta artificial de Cabeccedilo da Arruda 1 (Ferreira e

Trindade 1954 e 1956 Leisner 1965) Contudo como se avaliaraacute adiante acerca do

possiacutevel tholos homoacutenimo a explicaccedilatildeo poderaacute residir numa mistura de restos

osteoloacutegicos durante a estadia museoloacutegica em Torres Vedras

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 342 de 415

Assim se as restantes dataccedilotildees disponiacuteveis para as grutas artificiais forem

consideradas julgo que pelo menos desde o uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane estes

sepulcros estariam a ser utilizados na Estremadura seguindo grosso modo um padratildeo

de incremento de deposiccedilotildees semelhante aos outros tipos de sepulcros referidos

anteriormente isto eacute na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane perdurando em menor

escala pela sua segunda metade

Por outro lado as dataccedilotildees conhecidas para os dois conjuntos de grutas

artificiais descobertas nos uacuteltimos anos Monte Canelas Algarve (Parreira e Serpa

1995 Silva 1996a 1996b Moraacuten e Parreira 2004 e 2007) e Sobreira de Cima

Alentejo (Valera Soares e Coelho 2008) levam a admitir que estes sepulcros

estariam em utilizaccedilatildeo jaacute no terceiro quartel do 4ordm mileacutenio ane ou mesmo desde os

seus meados no caso da segunda necroacutepole Isso coincidiria entatildeo com as datas mais

antigas da Estremadura Contudo reafirmo a cautela com que aquelas datas

estremenhas deveratildeo ser enquadradas pelo menos ateacute que novos dados sejam obtidos

naqueles e noutros sepulcros congeacuteneres Tambeacutem haacute que realccedilar os valores

conhecidos de δ13C para trecircs das datas de Sobreira de Cima (informaccedilatildeo pessoal de

A M Soares) ndash estes apresentaram respectivamente -1868permil (Sac-2260) -1877permil

(Sac-2261) e -1926permil (Sac-2256) sem que se conheccedilam os valores de δ15N A

verificar-se alguma influecircncia marinha ou estuarina na dieta entatildeo haveria lugar a

um rejuvenescimento das datas Mas agrave semelhanccedila de Canaleja 1 os sepulcros de

Sobreira de Cima tambeacutem se encontram distantes (ainda que menos) daqueles tipos

de bioacutetopos pelo que esta questatildeo poderaacute dever-se somente a motivos teacutecnicos e

laboratoriais ainda que as paleodietas destes indiviacuteduos devessem ser avaliadas no

futuro

Os tholoi satildeo o quarto tipo de sepulcro inventariado na Estremadura e ao seu

reduzido nuacutemero corresponde tambeacutem um conjunto de dataccedilotildees limitadas ainda que

muito importantes

Assim agrave parte das dataccedilotildees de Cabeccedilo de Arruda 2 (CA2) e se excluir os

resultados da cacircmara ocidental da Praia das Maccedilatildes por poderem corresponder ao

momento anterior agrave construccedilatildeo do tholos os dados disponiacuteveis resumem o

aparecimento deste tipo de sepulcro agrave primeira metade do 3ordm mileacutenio ane onde se

verificou o pico de utilizaccedilatildeo mas perdurando pela segunda metade deste com um

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 343 de 415

nuacutemero aparentemente mais reduzido de deposiccedilotildees Reforccedilando esta verificaccedilatildeo

quando se valoriza a teacutecnica de construccedilatildeo em pedra seca com falsa cuacutepula destes

sepulcros e se compara com aquela utilizada nos povoados amuralhados verifica-se

uma similitude construtiva bem como uma contemporaneidade cronoloacutegica

A desconsideraccedilatildeo pelas dataccedilotildees de CA2 deve-se essencialmente agrave real

suspeita de mistura de restos oacutesseos de Cabeccedilo da Arruda 1 (CA1) durante o periacuteodo

que mediou a sua exumaccedilatildeo depoacutesito no Museu e o estudo antropoloacutegico recente

(Silva 2002) De facto apesar de serem mencionados feacutemures para CA1 a

antropoacuteloga A M Silva que estudou os restos humanos deste sepulcro e de CA2

apenas verificou a presenccedila de mandiacutebulas no primeiro registando-se feacutemures

somente no segundo Esta situaccedilatildeo tambeacutem poderaacute ter ocorrido segundo A Carneiro

(1997) entre alguns dos artefactos destes sepulcros ainda que essa mistura seja mais

facilmente rastreada Finalmente existindo hoje um conhecimento razoaacutevel do tipo

de espoacutelios associados a certos sepulcros e periacuteodos o espoacutelio atribuiacutedo a CA2

coaduna-se com momentos do 3ordm mileacutenio ane e eacute frequente nos tholoi da

Estremadura

Face ao exposto quando se compara a diacronia dos vaacuterios tipos de sepulcros

da regiatildeo de Lisboa em particular e da Estremadura em geral eacute possiacutevel verificar

uma certa antecedecircncia das cavidades naturais provavelmente no primeiro quartel do

4ordm mileacutenio ane de certa forma loacutegica dada a anterior utilizaccedilatildeo destas como

habitaccedilatildeo e jazigo As antas estudadas parecem erguer-se poucos seacuteculos apoacutes

aqueles primeiros usos funeraacuterios em cavernas com uma suspeita mas plausiacutevel

contemporaneidade das grutas artificiais Finalmente jaacute no 3ordm mileacutenio ane surgem

os tholoi Contudo apesar destas aparentes diferenciaccedilotildees cronoloacutegicas dos seus

primeiros momentos de utilizaccedilatildeo tambeacutem me parece importante realccedilar a sua

utilizaccedilatildeo coetacircnea De facto como se apontou ao longo deste capiacutetulo parece

registar-se uma tendecircncia geral de incremento de inumaccedilotildees entre a segunda metade

do 4ordm mileacutenio ane (sobretudo no uacuteltimo quartel) e a primeira metade do 3ordm mileacutenio

ane culminando em praacuteticas funeraacuterias similares ao longo do tempo

independentemente do contentor sepulcral utilizado

Partindo do cruzamento das cronologias absolutas disponiacuteveis e da presenccedila e

ausecircncia de artefactos ldquofoacutesseis-directoresrdquo nos sepulcros procurei realizar um

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 344 de 415

exerciacutecio que sequenciasse genericamente algumas das fases associadas ao

Megalitismo uma fase anterior agrave introduccedilatildeo dos iacutedolos-placa outra para o seu uso e

uma uacuteltima para o periacuteodo em que estas jaacute natildeo eram produzidas ndash simultaneamente

procurei tambeacutem situar a utilizaccedilatildeo dos artefactos votivos de calcaacuterio

aparentemente produzidos num momento ligeiramente posterior agraves placas Estas

sequecircncias poderiam tambeacutem elucidar o momento de transiccedilatildeo de uma primeira fase

das praacuteticas funeraacuterias com mobiliaacuterio essencialmente utilitaacuterio ainda que valorado

simbolicamente para um mobiliaacuterio de cariz essencialmente votivo

Ao intentar este exerciacutecio estava ciente de que poderia estar a ignorar

potenciais assimetrias regionais condicionadas pelo meio fiacutesico e social Por isso

este foi aplicado agraves regiotildees da Estremadura e do Alentejo dada a sua vizinhanccedila e

evidentes contactos inter-regionais ainda que separadamente perante algumas

particularidades dos seus espoacutelios como por exemplo a aparente quase ausecircncia de

artefactos votivos de calcaacuterio na uacuteltima Para o desiderato utilizei o programa de

calibraccedilatildeo OxCal 405 (Bronk Ramsey 2001 e 2008a) estabelecendo um modelo de

sequecircncia faseada (Quadro 19 e 20) Acerca desta abordagem C Bronk Ramsey

(2008b) referia

ldquoThe other class of radiocarbon study in which Bayesian methods have found

their place is those studies in which radiocarbon dates from archaeological phases

are analysed together in order to better understand the chronology of regions or

cultures (hellip) The groupings on which they are based are not from actual

stratigraphic information from a specific site they are based on an interpretation or

a range of possible interpretations of the regional chronology and frequently make

assumptions about synchronous changes that take place across a region It is

frequently assumed for example that particular types of ceramic or bronze artefact

come into use and go out of use at particular times Such changes are of course not

really events but gradual processes If the changes take place within a few years this

may not matter within the resolution of the chronology but if they take a generation

or so this may be significant These assumptions are usually and certainly should be

made explicit in the analysis and consequently the results of the analysis are

contingent on these interpretations being correct Others might interpret the same

information in significantly different waysrdquo (Bronk Ramsey 2008 p 265)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 345 de 415

Como existem poucas datas conhecidas associadas a contextos claros com a

presenccedila de iacutedolos-placa e porque em muitos sepulcros os processos acumulativos

de deposiccedilotildees funeraacuterias ao longo do tempo natildeo permitem uma destrinccedila facilitada

estabeleci alguns criteacuterios que procuraram ultrapassar esses obstaacuteculos

1 Para o conjunto ldquopreacute-iacutedolos-placardquo considerei apenas as dataccedilotildees

provenientes de sepulcros onde se registava essencialmente o conjunto mais arcaico

com geomeacutetricos lacircminas instrumentos de pedra polida e ceracircmicas lisas sem a

presenccedila de pontas de seta iacutedolos-placa e seus variantes alabardas lacircminas ovoacuteides

e lacircminas espessas retocadas A dataccedilatildeo de Trigache 4 foi aqui considerada apesar

de se ter recolhido na anta uma ponta de seta de base cocircncava visto ter assumido que

aquela tipologia corresponderaacute jaacute a uma provaacutevel cronologia do 3ordm mileacutenio ane

Natildeo incluiacute neste grupo algumas das datas mais antigas sobretudo de grutas

face agraves duacutevidas que algumas suscitam ndash tivesse-o feito e a baliza inferior teria

recuado um pouco mais como se veraacute Por outro lado algumas datas natildeo foram

consideradas porque o proacuteprio modelo lhes atribuiacutea uma concordacircncia reduzida

(poor agreement) abaixo dos 60

2 No conjunto ldquoiacutedolos-placardquo considerei as dataccedilotildees provenientes de sepulcros

onde se encontraram iacutedolos-placa pontas de seta ceracircmica com caneluras alabardas

lacircminas ovoacuteides e grandes lacircminas retocadas normalmente associadas a dataccedilotildees

cujo o intervalo compreendia essencialmente o 3ordm mileacutenio ane ndash o melhor exemplo

satildeo as dataccedilotildees da anta de Santa Margarida 3 Alentejo uma dela possivelmente

associada a um enterramento com iacutedolo-placa (Gonccedilalves 2003f)

Excepcionalmente considerei as dataccedilotildees provenientes dos povoados de Peacute da Erra e

Sala 1 onde contextos associados a iacutedolos-placa foram datados (Gonccedilalves 2006c)

As datas conhecidas de Cova das Lapas e Marmota-S2 atribuiacutedas a associaccedilotildees com

iacutedolos-placa (Gonccedilalves 1989a e 2006c) natildeo foram consideradas pois a antiguidade

dos seus intervalos calibrados aparenta coadunar-se com artefactos mais arcaicos o

que de facto se indicia ndash em ambas as grutas foram recolhidos geomeacutetricos

(Gonccedilalves 1987 Gonccedilalves e Pereira 1974-77 e informaccedilatildeo pessoal de V S

Gonccedilalves) Estas duacutevidas parecem ter sido tambeacutem reconhecidas por V S

Gonccedilalves (2003f) que em trabalhos mais recentes as considera com alguma reserva

Tambeacutem o proacuteprio modelo considerou estas duas datas com uma concordacircncia

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 346 de 415

reduzida (poor agreement) abaixo dos 60

3 Com o terceiro conjunto ldquopoacutes-iacutedolos-placardquo apenas aplicado na

Estremadura considerei aqueles sepulcros que natildeo evidenciavam a presenccedila de

iacutedolos-placa mas somente artefactos votivos de calcaacuterio denunciando uma possiacutevel

diacronia entre os dois pacotes simboacutelicos Neste grupo considerei a data de Folha

das Barradas pois apesar de possuir um fragmento de placa esta teraacute sido o

resultado de um reaproveitamento

4 No caso do Alentejo utilizei as dataccedilotildees de Vale Rodrigo 2 e 3 para balizar

de alguma forma um momento inicial e final da sequecircncia As datas sobre carvatildeo Ua-

10830 e KIA-31381 (3940-3520 cal BCE e 3940-3700 cal BCE) parecem estabelecer

momentos de terminii post quem portanto anteriores agrave construccedilatildeo dos respectivos

sepulcros A outra data tambeacutem sobre carvatildeo (Ua-10831 2580-2140 cal BCE) situa

um momento em que a passagem de Vale Rodrigo 2 teraacute sido bloqueada (Larsson

2000)

A sequecircncia aplicada ao conjunto de sepulcros da Estremadura apesar de

utilizar grupos de artefactos parece reforccedilar as leituras pontuais realizadas acima por

tipo de sepulcro Assim apesar de natildeo terem sido consideradas as dataccedilotildees mais

antigas para as praacuteticas funeraacuterias enquadraacuteveis no Megalitismo pelos vaacuterios

motivos explanados atraacutes eacute possiacutevel verificar a sua generalizaccedilatildeo pelo menos desde

o segundo quartel do 4ordm mileacutenio ane ou mais apropriadamente os meados do

mileacutenio Esta fase teria perdurado ateacute o ultimo quartel deste mileacutenio quando parece

afirmar-se um conjunto de novos artefactos funeraacuterios nomeadamente os iacutedolos-

placa e as pontas de seta Apesar de alguma sobreposiccedilatildeo eacute possiacutevel verificar essa

transiccedilatildeo para um pacote artefactual mais ideoteacutecnico Com menor definiccedilatildeo

estabeleceu-se um eventual faseamento entre as deposiccedilotildees com iacutedolos-placa e

aquelas com artefactos votivos de calcaacuterio Contudo o modelo de faseamento

proposto ao agrupar essas datas sobretudo no segundo quartel do 3ordm mileacutenio ane

parece coincidir de alguma forma com as datas disponiacuteveis para os tholoi Torna-se

tambeacutem interessante verificar que a proposta para o final desta fase se adequa

genericamente com os intervalos conhecidos para a introduccedilatildeo dos artefactos

campaniformes no periacuteodo sequente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 347 de 415

Quadro 19 Sequecircncia faseada dos sepulcros da Estremadura Siacutetio (Ref Lab)

Modelled cal BCE

1 σ (682)

Modelled cal BCE

2 σ (954)

Agreement

(gt60)

Convergence

(gt95) Sequecircncia

Fase 1 ndash preacute-iacutedolos-placa Boundary start 1 3710-3570 3760-3550 978

A Bom Santo (OxA-5513) 3670-3380 3700-3370 991 996 A Bom Santo (Beta-120048) 3640-3510 3650-3370 1005 997 A Bom Santo (OxA-5511) 3620-3370 3640-3360 1006 997 A Bom Santo (OxA-5512) 3520-3350 3640-3140 1069 997 A Bom Santo (Beta-120047) 3340-3240 3360-3080 84 996 Algar do Barratildeo (ICEN-740) 3350-3230 3370-3100 1051 994 Feteira C3 (TO-353) 3500-3190 3520-3130 1007 997 G Salemas (Beta-233282) 3640-3520 3660-3380 1027 997 Carrascal (Beta-225167) 3510-3360 3530-3350 1008 997 Carrascal (Beta-228577) 3640-3520 3650-3380 993 996 Pedras Grandes (Beta-205946) 3500-3330 3520-3130 1106 997 Pedras Grandes (Beta-234136) 3370-3200 3370-3130 957 996 Trigache 4 (Beta-228583) 3340-3240 3360-3090 1026 997 Porto Covo (Beta-244819) 3520-3360 3630-3360 1009 997 Porto Covo (Beta-245136) 3640-3520 3650-3380 1017 998 Porto Covo (Beta-245134) 3670-3530 3700-3520 762 99

Boundary End 1 3290-3140 3320-3030 987 Fase 2 ndash uso de iacutedolos-placa

Boundary Start 2 3030-2920 3130-2900 995 Feteira C1 (TO-352) 2880-2800 2890-2720 977 999 Casaiacutenhos (Beta-225168) 2880-2790 2890-2730 1014 999 Monte Abraatildeo (Beta-228580) 2890-2780 2900-2730 1046 998 Estria (Beta-208950) 2890-2780 2910-2730 1052 998 Estria (Beta-228578) 2870-2810 2880-2720 947 999 Praia das Maccedilatildes W (OxA-5509) 2980-2890 3060-2870 1016 998 Praia das Maccedilatildes W (OxA-5510) 2980-2900 3050-2880 1099 998 Praia das Maccedilatildes W (H-20491467) 2930-2780 3010-2750 1258 999

Boundary End 2 2830-2710 2860-2670 997 Fase 3 ndash poacutes uso de iacutedolos-placa

Boundary Start 3 2770-2670 2830-2630 996 Carcavelos (Beta-225170) 2740-2630 2780-2590 111 998 Folha das Barradas (Beta-234135) 2730-2630 2790-2610 87 998 Agualva (Beta-239754) 2750-2630 2770-2590 1071 998 Paimogo 1 (Sac-1556) 2730-2630 2790-2600 853 998 Paimogo 1 (UBAR-539) 2740-2630 2780-2590 1158 998 Paimogo 1 (Sac-1782) 2750-2630 2780-2580 110 998 Verdelha dos Ruivos (GrN-10972) 2750-2630 2780-2580 110 998

Boundary End 3 2730-2600 2760-2540 99

Amodel= 1067 Aoverall= 1074

O modelo aplicado para as dataccedilotildees consideradas dos sepulcros do Alentejo

resulta semelhante ao estremenho Mas como referi atraacutes foram incluiacutedas as datas

de Vale Rodrigo 2 e 3 de momentos anteriores e outro final das antas procurando

balizar as duas fases preacute-utilizaccedilatildeo de iacutedolos-placa e o seu posterior uso

generalizado O facto destes momentos inicial e final se limitarem a trecircs datas

explicaraacute os respectivos largos espectros obtidos clamando por mais datas

Quadro 20 Sequecircncia faseada dos sepulcros do Alentejo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 348 de 415

Siacutetio (Ref Lab)

Modelled cal BCE

1 σ (682)

Modelled cal BCE

2 σ (954)

Agreement

(gt60)

Convergence

(gt95) Sequecircncia

Fase 1 ndash Terminus post quem Boundary start 1 3840-3710 4060-3690 983

Vale Rodrigo 2 (Ua-10830) 3780-3680 3900-3630 1026 998 Vale Rodrigo 3 (KIA-31381) 3790-3710 3910-3670 108 998

Boundary End 1 3760-3630 3800-3530 997 Fase 2 ndash preacute-iacutedolos-placa Boundary Start 2 3660-3510 3680-3400 991

G Escoural (ICEN-861) 3520-3360 3630-3130 1046 996 G Escoural (Lv-1923) 3510-3190 3530-3120 1048 996 G Escoural (Lv-1922) 3360-3180 3380-3050 1067 996 G Escoural (Lv-1924) 3350-3160 3370-3040 106 996 G Escoural (Lv-1925) 3340-3160 3360-3030 832 995 C Zambujal (TO-2090) 3350-3160 3360-3040 871 995 Cabeceira 4 (Beta-196094) 3570-3380 3640-3370 76 991 Cabeccedilo da Areia (Beta-196091) 3500-3360 3520-3350 1005 994 Sobreira 1 (Beta-233283) 3570-3380 3620-3370 767 992 Rabuje 5 (Beta-191133) 3500-3360 3620-3330 1032 996 Santa Margarida 2 (Beta-153911) 3340-3080 3360-3020 739 994 Sobreira de Cima 3 (Beta-231071) 3500-3360 3620-3350 1055 996 Sobreira de Cima 1 (Sac-2260) 3370-3180 3380-3090 101 995 Sobreira de Cima 1 (Sac-2261) 3360-3180 3490-3040 1076 996 Sobreira de Cima 4 (Sac-2256) 3360-3180 3370-3110 983 997

Boundary End 2 3220-3010 3290-2940 993 Fase 3 ndash uso de iacutedolos-placa

Boundary Start 3 2950-2890 3020-2880 992 Estanque (Wk-17091) 2890-2790 2900-2700 1036 999 Bola da Cera (ICEN-66) 2930-2890 2980-2870 865 997 Santa Margarida 3 (Beta-176897) 2920-2880 2960-2860 1274 999 Santa Margarida 3 (Beta-166422) 2910-2880 2930-2770 1212 999 Santa Margarida 3 (Beta-166416) 2910-2880 2930-2770 1212 998 Santa Margarida 3 (Beta-176896) 2890-2790 2900-2710 1022 998 Santa Margarida 3 (Beta-166423) 2880-2810 2890-2680 834 997 Olival da Pega 2b (ICEN-955) 2930-2840 2970-2710 1361 998 Olival da Pega 2b (ICEN-956) 2910-2800 2920-2710 1077 998 Olival da Pega 2b (ICEN-957) 2890-2810 2900-2700 975 997 Cabeccedilo Peacute da Erra (ICEN-587) 2910-2790 2920-2700 1177 999 Sala nordm 1 (ICEN-448) 2910-2810 2930-2700 1062 998

Boundary End 3 2870-2740 2880-2630 985 Fase 4 ndash poacutes-iacutedolos-placa Boundary Start 4 2680-2400 2840-2290 995

Vale Rodrigo 2 (Ua-10831) 2570-2130 2630-2200 976 996 Boundary End 4 2540-2200 2650-1820 979

Amodel= 1078 Aoverall= 1042

Quanto agraves duas fases que se queria avaliar essencialmente o modelo aponta

uma ligeira posteridade para as deposiccedilotildees funeraacuterias alentejanas face agraves

estremenhas Caso a data da gruta do Lagar tivesse sido incluiacuteda esta baliza recuaria

com certeza Natildeo obstante poderaacute propor-se tambeacutem os meados do 4ordm mileacutenio ane

para um momento de generalizaccedilatildeo do Megalitismo do Alentejo que parece alterar a

seu mobiliaacuterio funeraacuterio nos finais deste mileacutenio para dar lugar a deposiccedilotildees com

pontas de seta e iacutedolos-placa Ainda que sendo exemplos geograficamente distintos

do extremo nordeste da Meseta espanhola julgo que os casos dos sepulcros de

Longar (Armendaacuteriz e Irigaray 1993-94) e San Juan Portam Latinam (Vegas 2007)

parecem reforccedilar a introduccedilatildeo das pontas de seta nos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 349 de 415

ane princiacutepio do seguinte (Quadro 35) registando-se ferimentos eventualmente

mortais com aqueles artefactos cravados em ossos de diversos indiviacuteduos Em

ambos os casos os geomeacutetricos encontram-se ausentes (Armendaacuteriz e Irigaray 1993-

94 Vegas 2007)

Eacute de realccedilar a semelhanccedila com a Estremadura para o final da fase com iacutedolos-

placa o que soacute seraacute possiacutevel compreender melhor quando se obtiverem dataccedilotildees para

sepulcros com espoacutelio presumivelmente mais tardio como por exemplo de

Perdigotildees com reduzido nuacutemero de iacutedolos-placa (alguns aparentemente

reaproveitados) e artefactos votivos de calcaacuterio (Lago et al 1998) que

putativamente se poderia situar genericamente no segundo quartel do 3ordm mileacutenio

ane agrave semelhanccedila do que parece ocorrer na Estremadura

Portanto com o exerciacutecio apresentado acima procurei estabelecer

cronologicamente um provaacutevel faseamento para aspectos artefactuais do

Megalitismo funeraacuterio das regiotildees da Estremadura e Alentejo que me parece

plausiacutevel face aos dados que se conhecem actualmente Haja mais e melhores

dataccedilotildees e julgo que melhores e mais afinados modelos seratildeo possiacuteveis ndash por

exemplo distinguindo dentro do primeiro faseamento (mais arcaico) os momentos

relacionados com espoacutelios aceracircmicos daqueles associados a conjuntos como Poccedilo

da Gateira 1 jaacute com ceracircmicas Aliaacutes na sequecircncia das duacutevidas colocadas supra os

dados disponiacuteveis natildeo permitem hoje situar as praacuteticas realizadas nesse sepulcro se

natildeo na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane quiccedilaacute no uacuteltimo quartel deste

83 As sincronias com os vivos uma avaliaccedilatildeo assimeacutetrica

Este trabalho natildeo teve por objectivo primordial um desenvolvimento

aprofundado acerca do povoamento daqueles que utilizavam os sepulcros ou seja

dos espaccedilos habitacionais daqueles que foram sepultantes e por sua vez sepultados

Ateacute porque como se viu noutro capiacutetulo os dados disponiacuteveis natildeo permitiram uma

correlaccedilatildeo facilitada Contudo quando sistematizei os dados cronoloacutegicos absolutos

algo que ressaltou foi a fraca representatividade de espaccedilos habitacionais datados do

4ordm mileacutenio ane sobretudo da sua primeira metade e meados quando

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 350 de 415

simultaneamente se conhecem vaacuterios espaccedilos funeraacuterios enquadraacuteveis no

Megalitismo deste periacuteodo Uma breve revisatildeo criacutetica das datas disponiacuteveis natildeo

permitiu uma avaliaccedilatildeo tatildeo rigorosa como aquela que realizei para os contextos

funeraacuterios mas ainda assim alguns comentaacuterios pareceram-me pertinentes

Recentemente a pretexto de um conjunto de dataccedilotildees do povoado da Rotura

foram genericamente alinhadas as principais datas conhecidas para a Estremadura

(Gonccedilalves e Sousa 2006) Porque a temaacutetica incidia num povoado do 3ordm mileacutenio

ane a atenccedilatildeo dada a ocupaccedilotildees do 4ordm mileacutenio ane relacionou-se essencialmente

com essa problemaacutetica Contudo com a excepccedilatildeo de algumas datas de Olelas

(Gonccedilalves J 1990-92b e 1993) infelizmente natildeo totalmente esclarecidas mesmo

que se quisesse recuar a questatildeo cronologicamente os dados seriam escassos e

nalgumas aacutereas inexistentes

Na Alta Estremadura mais precisamente no Arrife do Maciccedilo Calcaacuterio

Estremenho os siacutetios vizinhos do Abrigo da Pena drsquoAacutegua e Costa do Pereiro

(Carvalho 1998 2007a e 2007b) seratildeo dos poucos casos em que existem dados

cronomeacutetricos para a primeira metade do 4ordm mileacutenio ane atribuiacuteda pelo autor a um

ldquoNeoliacutetico meacutediordquo periacuteodo cronoloacutegico durante o qual como se propotildee acima

corresponderaacute talvez ao dealbar das praacuteticas funeraacuterias enquadraacuteveis no Megalitismo

Contudo do primeiro siacutetio o intervalo calibrado 4530-3380 cal BCE da data ICEN-

1147 sobre carvotildees eacute demasiado extenso para uma avaliaccedilatildeo fina No segundo siacutetio

foram obtidas duas datas para momentos distintos ndash a inumaccedilatildeo jaacute referida de um

infante datada na primeira metade do 4ordm mileacutenio ane e uma lareira cujos carvotildees

datados (Sac-1744 4410plusmn60 BP 3340-2900 cal BCE) situaram-na no uacuteltimo quartel

do mesmo mileacutenio em consonacircncia com outras datas conhecidas para ocupaccedilotildees

habitacionais da regiatildeo

Algo jaacute referido para os sepulcros foi a verificaccedilatildeo de um aparente incremento

das deposiccedilotildees funeraacuterias essencialmente na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane e

sobretudo no seu uacuteltimo quartel atingindo um pico na primeira metade do 3ordm

mileacutenio ane Ora tal situaccedilatildeo parece coincidir com os dados conhecidos para as

ocupaccedilotildees habitacionais concentrando-se o maior nuacutemero de registos

aproximadamente nos mesmos intervalos de tempo Inclusive as datas que

assinalam o surgimento de povoados amuralhados parecem coincidir genericamente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 351 de 415

com aquelas conhecidas para os tholoi

Se observar os dados cronomeacutetricos de contextos habitacionais no Alentejo

(Mataloto e Muumlller no prelo) a situaccedilatildeo descrita para a Estremadura parece repetir-

se Tambeacutem aqui as datas concentram-se na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane

(sobretudo no uacuteltimo quartel) e na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane inclusive

com um padratildeo cronoloacutegico semelhante entre povoados amuralhados e tholoi

Que dizer deste padratildeo Julgo que as ocupaccedilotildees muito discretas dos primeiros

praticantes do Megalitismo dificultam sobremaneira por agora a obtenccedilatildeo de dados

que permitam uma melhor compreensatildeo dessas comunidades ndash alguns dos momentos

dos siacutetios de Xarez 12 (Gonccedilalves 2003b) e Quinta da Fidalga (Soares e Silva 1992)

poderiam ser associados a esse periacuteodo menos conhecido mas faltam as dataccedilotildees

comprovativas Contudo numa fase posterior da segunda metade do 4ordm mileacutenio

ane parece demonstrada a generalizaccedilatildeo de certo tipo de praacuteticas funeraacuterias

ritualizadas ou pelo menos estabelecidas pela tradiccedilatildeo correlacionando-se com o

registo de povoados com fossos e ou sem estruturas delimitadoras prolongando-se

pelo 3ordm mileacutenio ane periacuteodo em que surgem os povoados amuralhados com

teacutecnicas construtivas similares aos tholoi

84 O carvatildeo e o osso desfasamento cronoloacutegico inter-regional ou uma

questatildeo de mateacuteria e contexto

Quando se comparam as cronologias conhecidas para as antas de Lisboa mas

tambeacutem de outros tipos de sepulcros da Estremadura com aquelas de outras regiotildees

nomeadamente Alentejo e Beira Interior poderia pensar-se num desfasamento

cronoloacutegico Como penso ter demonstrado com o exerciacutecio para a Estremadura e

Alentejo julgo que tal desfasamento natildeo parece ocorrer entre aquelas duas regiotildees

Para essa leitura optei pelos criteacuterios mencionados atraacutes mas tambeacutem por natildeo

considerar os dados cronoloacutegicos de difiacutecil enquadramento face aos dados

actualmente disponiacuteveis como as datas TL de Poccedilo da Gateira 1 e Gorginos 2 mas

tambeacutem de um conjunto de datas obtidas de contextos que suscitam duacutevidas quanto agrave

sua valorizaccedilatildeo ou com desvios-padratildeo demasiado elevados (ver Anexo 3 com as

datas natildeo consideradas)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 352 de 415

Restava entatildeo avaliar e discutir os dados cronomeacutetricos que se conhecem para

as regiotildees normalmente utilizadas para o estabelecimento de paralelos com a

Estremadura portuguesa comeccedilando pelas mateacuterias datadas e aos seus contextos

O nuacutemero de dataccedilotildees pelo radiocarbono realizadas para a Estremadura

ultrapassa a centena abrangendo os vaacuterios tipos de sepulcro A maior concentraccedilatildeo

de datas obtidas regista-se nas grutas o que de alguma forma parece reflectir a

presenccedila proporcional neste territoacuterio de cada tipo de sepulcro onde aquelas

assumem a maioria mas tambeacutem por permitirem uma melhor preservaccedilatildeo da mateacuteria

orgacircnica

Apesar de ser uma das maiores concentraccedilotildees de antas do Ocidente peninsular

o Alentejo apresenta um cocircmputo de datas bem mais reduzido ainda que se

conhecendo dados para diversos tipos de sepulcros

A Beira Interior apresenta um nuacutemero razoaacutevel de dataccedilotildees essencialmente

provenientes de antas Este cocircmputo eacute apenas duplicado pela regiatildeo Noroeste da

Peniacutensula Ibeacuterica onde se conhecem quase centena e meia de datas

A Meseta Norte tem cerca de meia centena de dataccedilotildees e na Meseta Sul o seu

nuacutemero eacute menos de metade daquele A esta uacuteltima regiatildeo pode acrescentar-se o

pequeno grupo de uma dezena de datas da Extremadura espanhola

Apesar do Sul peninsular ser frequentemente utilizado como paralelo para as

regiotildees do Centro e Sul de Portugal regista-se uma escassez de dataccedilotildees Isso eacute

surpreendente pois em muitos casos relata-se a existecircncia de ossadas humanas nos

sepulcros ndash por exemplo em Alberite (Ramos e Giles 1996) ou em Valencina de La

Concepcioacuten (Vargas 2004a e 2004b) Assim se para o Algarve haacute cerca de uma

dezena de datas do Sudoeste espanhol (Huelva Sevilha e Caacutediz) junto com

Antequera o seu nuacutemero limita-se a cerca de duas dezenas ndash conviraacute no entanto

realccedilar que este panorama parece que seraacute em breve alterado por novos trabalhos

hoje em desenvolvimento Finalmente uma das regiotildees miacuteticas da Arqueologia preacute-

histoacuterica peninsular Almeria (sobretudo o conjunto de Los Millares) continua a

apresentar apenas as datas sobre carvatildeo conhecidas na deacutecada de 70 (Almagro

Gorbea 1970 Alonso et al 1978)

Fig 19 Dataccedilotildees por 14C e tipos de sepulcro das partes central e ocidental da Peniacutensula Ibeacuterica

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 353 de 415

72

7

1

1

3

3

3

13

76

136

22

4

29

36

19

5

3

7

5

3

10

3

21

1

10

12

0 20 40 60 80 100 120 140

Extremadura

Algarve

Sudoeste Espanha

Almeria

Beira interior

Noroeste

Meseta N

Meseta S

160

Estremadura

Alentejo

Grutas Antas Grutas artificiais Tholoi Tumbas-Calero Outros Sepulcros

O desequiliacutebrio de dados cronomeacutetricos entre as vaacuterias regiotildees eacute um factor a ter

em consideraccedilatildeo quando estas satildeo comparadas Mais ainda quando muitas das

dataccedilotildees disponiacuteveis satildeo de primeira geraccedilatildeo apresentando desvios-padratildeo elevados

impossibilitando intervalos de tempo ldquocurtosrdquo (no sentido em que o radiocarbono o

permite) aconselhando a sua exclusatildeo ou quando muito um enquadramento muito

geneacuterico

Mas se a quantidade eacute importante tambeacutem a qualidade das amostras e os seus

contextos tem que ser considerada Assim se as amostras das dataccedilotildees referidas

forem caracterizadas verifica-se a existecircncia de algumas particularidades regionais

condicionadas pelo meio fiacutesico nomeadamente quanto agrave preservaccedilatildeo de mateacuteria

orgacircnica o que poderaacute limitar tambeacutem a sua valoraccedilatildeo

Os depoacutesitos calcaacuterios e afins da Estremadura permitiram uma boa preservaccedilatildeo

dos restos osteoloacutegicos pelo que a sua utilizaccedilatildeo na obtenccedilatildeo de datas pelo

radiocarbono tem sido usual e maioritaacuteria Por outro lado a precocidade das

intervenccedilotildees na maioria dos sepulcros natildeo suscitou a recolha de carvotildees que

devidamente contextualizados poderiam contribuir para um melhor entendimento dos

seus processos de construccedilatildeo pelo que apenas os restos oacutesseos puderam ser datados

ndash eacute o caso das antas de Lisboa e de parte de outros sepulcros da regiatildeo No entanto

um importante facto a reter com o uso destes elementos eacute que se procede agrave dataccedilatildeo

de um depoacutesito funeraacuterio de facto seja ele de cariz primaacuterio ou secundaacuterio

O Alentejo com o seu substrato geoloacutegico essencialmente graniacutetico e xistoso

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 354 de 415

natildeo permitiu uma preservaccedilatildeo razoaacutevel de mateacuteria orgacircnica sendo poucos os casos

onde foram recolhidos restos osteoloacutegicos ou se o foram natildeo continham colageacutenio

suficiente para mediccedilatildeo ndash o recentemente escavado cluster de sepulturas

ldquomegaliacuteticasrdquo de Atafonas (Albergaria 2007) eacute disso exemplo pois apesar de terem

sido recolhidos restos de ossadas humanas natildeo foi possiacutevel obter colageacutenio

adequado para dataccedilatildeo Claro estaacute as intervenccedilotildees antigas em antas com honrosas

excepccedilotildees tambeacutem natildeo cuidaram em recolher os resquiacutecios de ossos pois como se

referiu noutro capiacutetulo soacute ossos completos mereciam a atenccedilatildeo dos escavadores ndash o

caso dos inuacutemeros sepulcros de Reguengos de Monsaraz com restos osteoloacutegicos

escavados pelo casal Leisner (1951) eacute disso exemplo angustiante No caso de M

Heleno as suas escavaccedilotildees ldquoagrave distacircnciardquo no Alentejo permitiram ainda assim a

recolha de algumas ossadas com recentes benefiacutecios para o panorama cronoloacutegico

alentejano (Rocha 2005) Quanto a carvotildees tambeacutem estes natildeo foram guardados Por

outro lado alguns daqueles recolhidos nas uacuteltimas deacutecadas revelaram resultados tatildeo

diacutespares que se clama por maior rigor na sua contextualizaccedilatildeo ainda que alguns

bons exemplos tenham permitido demonstrar que vale a pena a sua recolha os

gracircnulos de carvotildees sob as estruturas de condenaccedilatildeo das antas de Vale Rodrigo 2

(Larsson 2000) de Santa Margarida 2 (Gonccedilalves 2001) e Rabuje 5 (em estudo)

Mas globalmente apesar destas limitaccedilotildees existe um conjunto de dataccedilotildees sobre

ambas as mateacuterias orgacircnicas que permitiram um enquadramento razoaacutevel para o

Megalitismo alentejano

Na Beira interior e Noroeste peninsular com substratos semelhantes aos do

Alentejo mas ainda mais inoacutespitos a maioria das dataccedilotildees foi obtida sobre carvotildees

normalmente recolhidos em quatro situaccedilotildees geneacutericas sistematizadas por vaacuterios

autores (Cruz 1995 Cruz 2001 Cruz et al 2003)

1 Sob as massas tumulares dos monumentos ndash portanto fornecendo

dataccedilotildees de um terminus post quem tornando-se mais problemaacutetico

perceber exactamente a duraccedilatildeo do interregno antes da construccedilatildeo

posterior (Soares 1999)

2 Inclusos nas terras das mamoas sem uma origem clara o que

parece evidente pela disparidade de resultados numa mesma

mamoa

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 355 de 415

3 Provenientes de estruturas de combustatildeo localizadas dentro do

tumulus ou do espaccedilo sepulcral indicando uma utilizaccedilatildeo concreta

possivelmente associada a actividade funeraacuteria

4 Encontrados dispersos ou relativamente concentrados no interior do

espaccedilo sepulcral indicando algum tipo de utilizaccedilatildeo

Contudo por vezes as dataccedilotildees dos carvotildees de um mesmo contexto revelam

disparidades que suscitam a duacutevida por exemplo as dataccedilotildees do aacutetrio da Orca de

Merouccedilos (Cruz et al 2003) mas tambeacutem de Dombate (Alonso e Bello 1995

Alonso 1999) onde vaacuterias amostras de interface entre o paleosolo e a massa tumular

apontam diversos momentos cronoloacutegicos (Quadro 31)

Aleacutem da questatildeo da proveniecircncia das amostras haacute ainda a questatildeo para os

carvotildees do ldquoold-wood effectrdquo pois pode originar dataccedilotildees mais antigas

independentemente da fiabilidade do contexto Infelizmente a identificaccedilatildeo da

espeacutecie vegetal que resultou no carvatildeootildees datados nem sempre foi realizada ou

possiacutevel desconhecendo-se se a planta seria de vida curta ou longa No caso de

aacutervores centenaacuterias acresce ainda a dificuldade de perceber a posiccedilatildeo dos gracircnulos

de carvotildees datados dentro da sequecircncia dos aneacuteis de crescimento destas obstando ao

conhecimento pelo menos do momento do seu abate natural ou intencional

Tambeacutem resulta difiacutecil perceber quanto tempo distou entre esse momento e as suas

utilizaccedilatildeootildees Assim R B Warner (1990) resumia a questatildeo ldquoUnless the sample

description or context makes a short-life status certain the archaeologist must

assume there to be a high chance of a substancial old-wood effect being presentrdquo

(Warner 1990 p 162) No entanto a consciencializaccedilatildeo destas questotildees tem

permitido uma mais apropriada valorizaccedilatildeo das dataccedilotildees obtidas sobretudo nos

uacuteltimos anos graccedilas a meacutetodos de escavaccedilatildeo mais eficientes a uma mais cuidada

identificaccedilatildeo das espeacutecies vegetais carbonizadas e ao tratamento estatiacutestico adequado

no processo da proacutepria calibraccedilatildeo da data obtida (Bayliss e Tyers 2004)

A oportunidade de recolha de material osteoloacutegico em antas da Beira Interior eacute

tambeacutem um dado importante existindo hoje quatro monumentos com dataccedilotildees sobre

ossos humanos isto eacute para deposiccedilotildees funeraacuterias concretas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 356 de 415

Fig 20 Tipo de amostra de contextos funeraacuterios por regiotildees e datada por 14C das partes central e ocidental da Peniacutensula Ibeacuterica

5

19

5

2

11

3

68

130

29

4

5

4

8

27

16

6

2

0 20 40 60 80 100 120 140

Extremadura

Algarve

Sudoeste Espanha

Almeria

Beira interior

Noroeste

Meseta N

Meseta S

125

32

Estremadura

Alentejo

Carvatildeo Osso Indeterminado

Nas restantes regiotildees pode verificar-se que os carvotildees tambeacutem tecircm sido

utilizados mas nos uacuteltimos anos uma maior atenccedilatildeo tem sido dada agrave utilizaccedilatildeo do

osso humano sobretudo em contextos funeraacuterios das Mesetas Aliaacutes eacute essa mais

frequente utilizaccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo para um facto crucial a maior antiguidade

de muitas das datas sobre carvatildeo face agravequelas de ossos humanos

Alguns casos em particular suscitavam uma atenccedilatildeo especial e neste caso

passarei a algumas questotildees relacionadas com a Beira Interior regiatildeo proacutexima da

Estremadura e Alentejo mas que aparentava uma maior antiguidade do seu

Megalitismo

Tendo em conta os valores obtidos para muitos contextos com terminus post

quem sob estruturas funeraacuterias beiratildes e outros atribuiacutedos agraves suas primeiras

utilizaccedilotildees realizei um exerciacutecio semelhante agravequele efectuado entre as regiotildees da

Estremadura e do Alentejo Assim neste caso estabeleci um modelo de sequecircncia

faseada com dataccedilotildees referentes a momentos ldquopreacute-sepulcrosrdquo e a ldquoprimeiras

utilizaccedilotildees dos sepulcrosrdquo

Algumas dataccedilotildees por se revelarem demasiado antigas ou demasiado

recentes foram excluiacutedas pelo programa apontando-as com um ldquopoor agreementrdquo

(abaixo de 60) Entre essas datas encontrava-se uma sobre ossos humanos da anta

de Areita 1 aquela com maior antiguidade tendo a outra sido incluiacuteda (Quadro 30)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 357 de 415

Outra data natildeo considerada foi a OxA-4084 da anta de Lameira de Cima 1 3950-

3650 cal BCE estatisticamente semelhante a outras da vizinha Lameira de Cima 2 ndash

contudo num caso o autor considera-a um valor de terminus post quem noutro de

utilizaccedilatildeo primaacuteria apesar da cultura material mais arcaica em presenccedila ser similar

em ambos os sepulcros (Gomes 1996)

O modelo obtido ajustando as datas ao faseamento estipulado (Quadro 21)

propocircs genericamente os primeiros seacuteculos (aproximadamente o primeiro quartel) do

4ordm mileacutenio ane para um momento anterior agrave construccedilatildeo das antas beiratildes

estipulando o periacuteodo para as primeiras utilizaccedilotildees funeraacuterias nos meados da

primeira metadesegundo quartel do 4ordm mileacutenio ane Portanto a realizaccedilatildeo de

deposiccedilotildees funeraacuterias realizando-se na primeira metade do 4ordm mileacutenio ane agrave

semelhanccedila dos dados da Estremadura e Alentejo ainda que com uma ligeira

antecedecircncia se considerar apenas os sepulcros do tipo anta destas regiotildees Tambeacutem

como parte destes sepulcros eram jaacute grandes monumentos de cacircmara e corredor

poderia admitir-se que talvez o processo se tivesse iniciado com alguma

anterioridade ndash mas as dataccedilotildees obtidas foram essencialmente sobre carvotildees umas

vezes identificados outras natildeo de contextos mais ou menos esclarecidos pelo que

deveraacute existir algum cuidado na sua valorizaccedilatildeo e nas ilaccedilotildees daiacute retiradas

Quadro 21 Sequecircncia faseada dos sepulcros da Beira Interior

Siacutetio (Ref Lab)

Modelled cal BCE

1 σ (682)

Modelled cal BCE

2 σ (954)

Agreement

(gt60)

Convergence

(gt95)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 358 de 415

Sequecircncia Fase 1 ndash Terminus post quem

Boundary start 1 4200-4050 4290-4000 966 Antelas (OxA-5496) 4120-3990 4200-3970 905 993 Antelas (OxA-5497) 4110-3980 4190-3960 956 994 Antelas (OxA-5498) 3970-3850 3990-3790 108 996 Senhora do Monte 3 (GrN-20791) 3990-3830 4040-3800 1038 997 Senhora do Monte 3 (ICEN-1200) 3980-3840 4040-3800 1056 997 Senhora do Monte 3 (ICEN-1201) 3950-3870 3960-3780 697 996 Carapito 1 (OxA-3733) 4040-3840 4050-3800 106 996 Carapito 1 (TO-3336) 3980-3830 4040-3800 101 996 Orquinha dos Juncais (GrA-17163) 3950-3860 3970-3790 1025 997 Lameira de Cima 2 (OxA-5102) 4130-4000 4210-3980 787 995

Boundary End 1 3860-3770 3920-3760 996 Fase 2 - Utilizaccedilatildeo

Boundary Start 2 3800-3750 3820-3730 996 Areita 1 (GrA-18497) 3700-3630 3770-3610 1106 998 Picoto do Vasco (CSIC-1199) 3760-3700 3800-3690 1127 998 Picoto do Vasco (OxA-6910) 3750-3650 3780-3640 1171 998 Carapito 1 (GrN-5510) 3700-3630 3710-3620 1167 998 Orca de Seixas (GrN-26225) 3760-3700 3790-3660 1053 998 Orca de Seixas (CSIC-1665) 3760-3650 3780-3650 1044 998 Orca de Seixas (CSIC-1664) 3750-3650 3770-3640 1036 999 Orca de Seixas (GrN-5734) 3710-3640 3760-3630 1038 999 Moinhos de Vento 1 (ICEN-196) 3640-3610 3650-3590 92 997 Sangrino (CSIC-1325) 3760-3670 3780-3650 1039 997 Lameira de Cima 2 (CSIC-1114) 3770-3710 3800-3700 1092 998 Lameira de Cima 2 (GrN-21353) 3770-3700 3790-3660 115 998 Lameira de Cima 2 (CSIC-1113) 3770-3700 3780-3660 1038 998 Orca de Merouccedilos (GrA-14767) 3770-3700 3790-3660 1153 998 Orca de Merouccedilos (GrA-14768) 3770-3700 3790-3660 1148 998 Orca de Merouccedilos (GrA-14765) 3770-3690 3780-3650 1101 998 Orca de Merouccedilos (GrA-14770) 3710-3650 3760-3640 104 998

Boundary End 2 3640-3600 3650-3570 993

Amodel= 1207 Aoverall= 1179

Retornando agraves dataccedilotildees obtidas para a anta de Areita 1 (Gomes 1998) estas

destacam-se como um conjunto interessante para a discussatildeo de datas obtidas sobre

carvatildeo e ossos humanos (Quadro 30) As quatro dataccedilotildees sobre troncos carbonizados

de Pinus pinaster e Pinus pinea-pinaster encontrados no interior da cacircmara

apontam o espectro do 5ordm mileacutenio ane (Gomes 1998 Cruz et al 2003) Sobre a

camada de restos carbonizados foram recolhidos os ossos humanos com os quais se

obtiveram duas dataccedilotildees (GrA-18518 e GrA-18497) com os intervalos de 4230-3790

cal BCE (restringindo-se a 4080-3790 cal BCE com 878 de probabilidade) e 3770-

3380 cal BCE (restringindo-se a 3770-3510 cal BCE com 933 de probabilidade)

A comparaccedilatildeo dos dois conjuntos demonstra uma clara discrepacircncia entre os valores

dos carvotildees e dos ossos humanos talvez explicada em parte pelo ldquoold-wood effectrdquo

Contudo segundo os autores pelo menos um dos troccedilos de tronco carbonizado natildeo

seria de ldquouma aacutervore de vida longa pelo simples facto de se reportar a um Pinus

pinaster com c de 19 cm de diacircmetro e com escassos anos de vidardquo (Gomes et al

1998) atribuindo os restos a uma possiacutevel estrutura preacute-existente com funccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 359 de 415

desconhecida ou de escoramento durante a construccedilatildeo da carcaccedila peacutetrea e entretanto

queimada antes das utilizaccedilotildees funeraacuterias ndash nesta uacuteltima situaccedilatildeo as dataccedilotildees obtidas

natildeo parecem coadunar-se totalmente com a interpretaccedilatildeo proposta

No que concerne as amostras de ossos humanos de Areita 1 estas foram

datadas aparentemente pelo agrupamento respectivamente de vaacuterios fragmentos de

cracircnio e outros natildeo especificados (Cruz et al 2003) apesar da listagem de peccedilas

oacutesseas recolhidas permitir uma melhor identificaccedilatildeo (Gomes et al 1998 p 80-81)

Outro aspecto a realccedilar para as datas obtidas sobre ossos humanos nesta mas

tambeacutem nas restantes antas beiratildes eacute o desconhecimento dos valores medidos de

δ13C No entanto dada a distacircncia para bioacutetopos marinhos eacute provaacutevel que os

indiviacuteduos sepultados tivessem uma alimentaccedilatildeo essencialmente terrestre portanto

sem influecircncia isotoacutepica nos resultados obtidos ndash mas por confirmar Aliaacutes alguns

dos laboratoacuterios utilizados para estas datas por natildeo terem espectroacutemetro de massa

estimam (ou estimavam) os valores de δ13C (informaccedilatildeo pessoal de AM Soares)

Com resultados bastante plausiacuteveis no caso da Orca da Penela 1 (Cruz et al

2003) os ossos humanos datados ainda que sem apresentaccedilatildeo dos valores de δ13C

situaram as utilizaccedilotildees da anta claramente na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane

mas teria sido um exerciacutecio comparativo uacutetil a dataccedilatildeo dos carvotildees devidamente

identificados que se encontravam associados

Face agrave situaccedilatildeo exposta semelhante a outras referidas para a Estremadura e o

Alentejo a valoraccedilatildeo das datas da Beira Interior aconselha cautela sobretudo para

aquela data mais antiga de Areita 1 ndash na eventualidade das questotildees referidas atraacutes

serem esclarecidas e descartadas poderia ter ocorrido um caso similar ao dos

sepulcros de Azutaacuten e Los Castillejos (Meseta Sul) tratados infra

Exemplos de outra regiatildeo de antas da Meseta Norte (Quadro 33) em que

carvotildees e ossos humanos foram datados nomeadamente de Arnillas (Delibes Alonso

e Rojo 1987 Delibes e Rojo 1997) Collado Palomero 1-2 e Pentildea Guerra 2 (Lopez

de Calle e Ilarraza 1997) permitiram tambeacutem realccedilar o caraacutecter mais recente das

cronologias das deposiccedilotildees funeraacuterias normalmente associadas a geomeacutetricos e

outros elementos considerados arcaicos Nestes casos as inumaccedilotildees situavam-se no

4ordm mileacutenio ane maioritariamente entre os meados e a segunda metade deste Aleacutem

destas agrave semelhanccedila de outras regiotildees registaram-se tambeacutem utilizaccedilotildees ao longo do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 360 de 415

3ordm mileacutenio ane por exemplo na anta de El Collado del Mallo (Lopez de Calle e

Ilarraza 1997) Infelizmente para todas estas dataccedilotildees sobre osso humano

desconhecem-se os valores de δ13C

No Sudoeste espanhol (Quadro 27) a anta de Alberite do tipo galeria (Ramos

e Giles 1996) apresenta trecircs dataccedilotildees sobre carvatildeo As amostras foram recolhidas

em ldquofuegosrdquo duas delas (Muestra 1 - 3970-3660 cal BCE - e Muestra 5 ndash 4330-3990

cal BCE) no interior e na base do sepulcro aparentemente associadas a uma camada

de ocre e a terceira (Muestra 3 ndash 4260-3640 cal BCE) no exterior no ldquonivel de

construccioacuten del dolmenrdquo Apesar de terem sido recolhidos restos de ossos humanos

na mesma aacuterea interior do sepulcro estes natildeo foram submetidos para dataccedilatildeo natildeo se

percebendo se devido ao estado aparentemente mineralizado de alguns dos ossos ou

por uma opccedilatildeo metodoloacutegica ndash mas a dataccedilatildeo bem sucedida destes elementos poderia

clarificar melhor a cronologia Isto porque tendo em conta possibilidade de uma

ocupaccedilatildeo habitacional atribuiacutevel ao Neoliacutetico antigomeacutedio os carvotildees recuperados

poderatildeo datar aquela realidade e natildeo a utilizaccedilatildeo do espaccedilo sepulcral

Eventualmente a Muestra 1 na camada de ocre unidade 75 poderia corresponder a

uma utilizaccedilatildeo funeraacuteria compatiacutevel com outros casos jaacute referidos mas no caso da

Muestra 5 integrada na unidade 88 (Ramos e Giles 1997 p 73 e 359) esta

encontrava-se sob a dita camada de ocre Portanto para aleacutem da antiguidade que

eventualmente um ldquoold-wood effectrdquo poderaacute exercer pelo menos as duas amostras

mais antigas parecem corresponder a momentos de terminii post quem agrave construccedilatildeo

da anta de Alberite

Uma dataccedilatildeo sobre osso humano pode por vezes natildeo corresponder

directamente a momentos de utilizaccedilatildeo funeraacuteria especiacutefica dos sepulcros Os casos

da anta de Azutaacuten e de Los Castillejos na Meseta Sul (Quadro 34) satildeo exemplos

provaacuteveis dessas situaccedilotildees admitidas pelos proacuteprios escavadores (Bueno Balbiacuten e

Barroso 2005) Em ambos os casos nos locais de erecccedilatildeo dos sepulcros registaram-

se ocupaccedilotildees anteriores integraacuteveis no Neoliacutetico antigo podendo admitir-se a

possibilidade de ldquotrasladaccedilotildeesrdquo intencionais ou natildeo de ossadas de indiviacuteduos

inumados que entretanto foram encontradas durante as respectivas construccedilotildees

O texto siacutentese de P Aacuterias e M Fano (2003) procurando situar

cronologicamente o fenoacutemeno do Megalitismo da parte espanhola da Peniacutensula

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 361 de 415

Ibeacuterica sobretudo aquele associado aos megaacutelitos com os dados entatildeo disponiacuteveis

propunha com variaccedilotildees regionais dependentes dos trabalhos realizados pelos

diversos investigadores nestas um momento inicial rondando o uacuteltimo quartel do 5ordm

mileacutenio ane Para tal proposta os autores utilizaram muitas das datas que agora

sugiro deverem ser valoradas com ponderaccedilatildeo

Face ao exposto julgo que eacute possiacutevel admitir uma relativa contemporaneidade

do fenoacutemeno do Megalitismo entre as vaacuterias regiotildees do Ocidente peninsular mas

tambeacutem da extensa Meseta e da Andaluzia Os desequiliacutebrios parecem registar-se

sobretudo na forma como os dados cronomeacutetricos foram e puderam ser obtidos e

depois valorizados

De forma geral a julgar pelos dados agora abordados as praacuteticas funeraacuterias do

Megalitismo parecem desenvolver-se durante a primeira metade do 4ordm mileacutenio ane

com maior incidecircncia apoacutes os seus meados E daiacute assiste-se a uma expansatildeo destas

praacuteticas quer pela erecccedilatildeo de verdadeiros sepulcros megaliacuteticos quer pelo uso de

outros contentores sepulcrais onde eacute possiacutevel verificar apesar de peculiaridades

regionais ritos com um ldquoar de famiacuteliardquo

Quando se olha para a costa norte euro-atlacircntica estas impressotildees cronoloacutegicas

parecem registar-se tambeacutem nas ilhas britacircnicas (Schulting 2000 Smith e Brickley

2006 Whittle et al 2007 Whittle e Bayliss 2007) e na Escandinaacutevia (Persson e

Sjoumlgren 1995 Eriksson et al 2008) onde o fenoacutemeno de construccedilotildees megaliacuteticas

funeraacuterias aparenta emergir de forma consistente e explosiva nos meados do 4ordm

mileacutenio ane Como a excepccedilatildeo parece destacar-se a Bretanha francesa em que

algumas dataccedilotildees sobre ossos humanos de Bougon nomeadamente do Tumulus F0 e

E1 parecem recuar as praacuteticas funeraacuterias para os iniacutecios do 5ordm mileacutenio ane (Mohen

e Scarre 2002 Chambom 2003) Contudo ao analisar-se essas datas alguns dos

seus desvios-padratildeo satildeo elevados e desconhecem-se os seus valores de δ13C Ainda

que a proximidade de recursos marinhos cerca de 50 km naquele periacuteodo seja

relativa interessava mesmo assim verificar qual a real influecircncia destes na dieta

daquelas populaccedilotildees Mas haacute que ressalvar que a maioria das dataccedilotildees sobre ossos

humanos do complexo funeraacuterio de Bougon parece concentrar-se de facto no

uacuteltimo quartel do 5ordm mileacutenio ane mantendo-se um registo funeraacuterio pelo menos ao

longo de todo o mileacutenio seguinte

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 362 de 415

9 O epiacutelogo de uma tradiccedilatildeo maacutegico-religiosa o fenoacutemeno

campaniforme

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 363 de 415

A presenccedila de ceracircmica campaniforme e outros artefactos associados eacute

frequente dentro dos sepulcros que tecircm sido discutidos neste trabalho

nomeadamente antas grutas artificiais tholoi e cavidades naturais (Leisner 1965

Ferreira 1966 Harrison 1977) mas natildeo eacute integral

Em capiacutetulos anteriores referi-me por vezes a aspectos relacionados com a

questatildeo do fenoacutemeno campaniforme mas salientando que esse tema extravasava

bastante a abordagem proposta dedicada ao sepulcro do tipo anta No entanto para

realccedilar o objectivo deste capiacutetulo conviraacute sistematizar a presenccedila deste fenoacutemeno

com base nos itens mais tiacutepicos do campaniforme (Salanova 2005 Kunst 2005)

ceracircmicas com a teacutecnica impressa nomeadamente no estilo Internacional e outras

ornamentaccedilotildees e com a teacutecnica incisa ou mista bototildees braccedilais de arqueiro e

artefactos metaacutelicos (nomeadamente a ponta de Palmela e ornamentos de ouro)

Na regiatildeo de Lisboa (Quadro 44) das dezoito antas que se conhecem mais ou

menos bem com todas a limitaccedilotildees jaacute referidas apenas em sete antas foram

recolhidos fragmentos de ceracircmica decorada do estilo Internacional e variantes

impressas Mas destas apenas trecircs (quatro se Alto da Toupeira 2 for incluiacuteda) tinham

cacos com decoraccedilatildeo incisa

Para aleacutem de Carcavelos apenas em Conchadas se conhecem bototildees do tipo

tartaruga com perfuraccedilatildeo em ldquoVrdquo Monte Abraatildeo e Pedras da Granja apresentam

bototildees respectivamente coacutenicos e alongados com perfuraccedilatildeo em ldquoVrdquo

Braccedilais de arqueiro apenas foram recolhidos na anta do Carrascal e em

Carcavelos desconhecendo-se artefactos metaacutelicos em qualquer das antas

atribuiacuteveis ao periacuteodo agora em questatildeo

Assim as restantes antas parecem ter sido esquecidas no periacuteodo em que o

espoacutelio campaniforme comeccedilou a ser introduzido nas praacuteticas funeraacuterias o que

poderia ter ocorrido em redor dos meados do 3ordm mileacutenio ane como referi atraacutes

Uma explicaccedilatildeo frequente para esta presenccedila ocasional eacute a hipoacutetese do ldquoninho

do cucordquo (Gonccedilalves 2003e p 148) interpretada como uma intrusatildeo em sepulcros

preacute-existentes e abandonados por grupos incapazes ou desinteressados em

construiacuterem as suas proacuteprias estruturas funeraacuterias Desta forma nem todas as antas

teriam sido reutilizadas Mas o abandono de certos sepulcros em momentos antigos e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 364 de 415

a cessaccedilatildeo de linhagens ou dissociaccedilatildeo com os antepassados tambeacutem poderia

explicaacute-lo

As explicaccedilotildees listadas atraacutes poderiam aplicar-se agraves antas de Casaiacutenhos Estria

e Pedra dos Mouros Nestas apesar de uma utilizaccedilatildeo funeraacuteria comprovada durante

toda a primeira metade do 3ordm mileacutenio ane esta natildeo parece ter continuado durante a

segunda metade daquele Contudo talvez outro motivo possa ser proposto apesar do

espoacutelio campaniforme se encontrar em uso durante a maioria da segunda metade do

3ordm mileacutenio ane (Cardoso e Soares 1990-92 Soares Soares e Silva 2007) nem

todos os grupos da Baixa Estremadura seguiriam tais praacuteticas funeraacuterias Esta

hipoacutetese foi proposta para o Alentejo (Mataloto 2006) com base em diversos

exemplos nomeadamente nos resultados radiocarboacutenicos obtidos nos enterramentos

exumados na anta de Santa Margarida 3 (Gonccedilalves 2003f) e possivelmente de

Cebolinhos 2 (Gonccedilalves 2003a) Nas antas da Baixa Estremadura ainda natildeo foi

possiacutevel obter dataccedilotildees que comprovem esta hipoacutetese Mas noutros tipos de

sepulturas da regiatildeo nomeadamente a cavidade de Leceia-Locus 2 (o mesmo que

Moinho da Moura - Ribeiro 1878 Cardoso Cunha e Aguiar 1991) e o possiacutevel

tholos da Samarra (Franccedila e Ferreira 1958 Silva Ferreira e Codinha 2006) as

dataccedilotildees pelo radiocarbono apontaram esse periacuteodo da segunda metade do 3ordm mileacutenio

ane sem que se conheccedilam claramente materiais campaniformes

Apesar de serem necessaacuterios mais dados que passaraacute tambeacutem pela continuaccedilatildeo

da revisatildeo dos materiais recolhidos em trabalhos anteriores julgo que a presenccedila de

materiais campaniformes sobretudo aqueles de provaacutevel cariz mais antigo com

decoraccedilatildeo internacional permitem vislumbrar provaacuteveis continuidades de utilizaccedilatildeo

das antas bem como noutros tipos de sepulcro Apesar do pacote funeraacuterio que

acompanha os indiviacuteduos inumados parecer denunciar uma alteraccedilatildeo de siacutembolos e

significados eventualmente reflectindo a forma como a morte era entatildeo encarada

com um caraacutecter mais individualizado a raridade e ateacute ausecircncia deste material nas

antas poderaacute assinalar o epiacutelogo daqueles sepulcros daiacute em diante utilizados como o

ldquoninhos do cucordquo

10 As antas da regiatildeo de Lisboa e o Megalitismo peninsular

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 365 de 415

ldquoPara mim mesmo que um fenoacutemeno tenha eventualmente uma uacutenica explicaccedilatildeo imediata e laquoverdadeiraraquo o facto de geralmente a desconhecermos origina diversas e legiacutetimas vidas paralelas Tantas quantas correspondem aos olhares fundamentados que sobre ele podemos focarrdquo (Gonccedilalves 2008b p 100)

ldquoA situaccedilatildeo que a investigaccedilatildeo da calcolitizaccedilatildeo

peninsular vive de momento eacute a de um desconforto relativamente a terminologias que se vatildeo mostrando insuficientes e por vezes desadequadas (hellip) Um desconforto acompanhado pela dificuldade em propor novas designaccedilotildees que mais natildeo espelha do que uma situaccedilatildeo de ldquointervalordquo de antiacutetese face a um conjunto de realidades emergentes ainda mal compreendidas e estudadas (hellip)rdquo (Valera 2007)

A procura de um enquadramento crono-cultural das antas de Lisboa mais do

que um produto acabado resultou num extenso rol de questotildees a que apenas para

algumas foi possiacutevel responder com alguma plausibilidade mas natildeo certezas

absolutas

O nuacutemero de antas mesmo que putativamente considerado parece reduzido

quando comparado com os restantes contentores funeraacuterios daquela regiatildeo e de

outras vizinhas Entre as antas melhor conhecidas aparentam estar ausentes os tipos

normalmente atribuiacutedos a momentos iniciais do fenoacutemeno do Megalitismo (Leisner

1983 Moita 1956 e 1966 Gonccedilalves 1992 e 2003e Soares e Silva 2000 Rocha

2005) Em geral a tipologia claacutessica de cacircmara e corredor curto e meacutedio eacute a mais

frequente

Face aos dados disponiacuteveis os traccedilos do Megalitismo estremenho registam

uma maior antiguidade em cavidades naturais notando-se a utilizaccedilatildeo das antas por

volta de meados do 4ordm mileacutenio ane Uma primeira observaccedilatildeo daquele facto seria a

natureza tardia das construccedilotildees ortostaacuteticas na Estremadura e em particular da regiatildeo

de Lisboa Isso explicaria tambeacutem a exclusividade de geomeacutetricos trapeacutezios das

antas quando em grutas ainda se registam mesmo que minoritariamente triacircngulos

e crescentes provaacutevel reflexo dessas tradiccedilotildees mais antigas Contudo os dados

cronoloacutegicos absolutos disponiacuteveis para a regiatildeo vizinha do Alto e Meacutedio Alentejo

ou mesmo da Beira Interior assemelham-se genericamente agravequelas ainda que no

caso alentejano provenham de pequenos sepulcros distintos dos estremenhos Natildeo

obstante a presenccedila sempre minoritaacuteria de geomeacutetricos triacircngulos e crescentes em

algumas daquelas antas fora da Estremadura quando aquelas tipologias estatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 366 de 415

aparentemente ausentes nos sepulcros de Lisboa poderaacute indiciar uma certa

anterioridade todavia natildeo cabalmente demonstrada pelo radiocarbono

A reduzida amostra de casos conhecidos tambeacutem poderia explicar a situaccedilatildeo

verificada atraacutes mas eacute interessante anotar a presenccedila de espoacutelios funeraacuterios

aproximadamente semelhantes entre sepulcros de distintas regiotildees ndash excepto no que

concerne os geomeacutetricos destacados Portanto resta prosseguir esta linha de

abordagem e a obtenccedilatildeo de mais dataccedilotildees fiaacuteveis para deposiccedilotildees funeraacuterias

Aliaacutes a questatildeo da fiabilidade das dataccedilotildees pelo radiocarbono manteacutem-se

como fundamental para a compreensatildeo do fenoacutemeno do Megalitismo quer das

origens quer do seu apogeu e decliacutenio tanto da regiatildeo de Lisboa como peninsular

Mais do que uma questatildeo de teacutecnica laboratorial que estaacute constantemente sujeita a

controlo de qualidade a compreensatildeo dos seus contextos os criteacuterios e a forma como

as dataccedilotildees obtidas satildeo valorizadas e interpretadas parecem continuar a mascarar

situaccedilotildees inusitadas e a dificultar a sua comparaccedilatildeo jaacute de si complexa mas

simultaneamente simples no que concerne os valores estatiacutesticos Neste trabalho

procurei enumerar algumas dessas situaccedilotildees demonstrando a necessidade de

rectificaccedilatildeo realccedilando as reservas que muitas das dataccedilotildees sobre ossos mas

sobretudo carvotildees podem por vezes suscitar Por outro lado a nova abordagem

estatiacutestica bayesiana integrada no programa OxCal 405 permitiu elaborar com os

dados disponiacuteveis e vislumbrar pelo menos dois grandes periacuteodos deste fenoacutemeno

Outra verificaccedilatildeo das antas estremenhas e que se regista tambeacutem nas suas

congeacuteneres das regiotildees circundantes satildeo os momentos de aparente generalizaccedilatildeo e

apogeu de construccedilatildeo e respectivas primeiras utilizaccedilotildees situados globalmente na

segunda metade do 4ordm mileacutenio ane Contudo aqueles momentos natildeo parecem

corresponder ao periacuteodo em que se concentra o maior nuacutemero de deposiccedilotildees

funeraacuterias Isto eacute apesar das dificuldades em distinguir dentro do contentor

funeraacuterio a sequecircncia de inumaccedilotildees naquelas em que se conhecem os seus efectivos

humanos o espoacutelio e alguns dados cronoloacutegicos foi possiacutevel vislumbrar um nuacutemero

de indiviacuteduos mais reduzido em momentos antigos e mais abundante em periacuteodo

posterior da primeira metade do 3ordm mileacutenio ane O efeito de acumulaccedilatildeo

contribuiu com certeza para esse resultado mas o aumento de inumados noutros

tipos de sepulcros nomeadamente tardios como os tholoi parece reforccedilar a ideia

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 367 de 415

desse incremento de deposiccedilotildees na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane situaccedilatildeo

ilustrada pelo cruzamento dos dados disponiacuteveis para as antas de Lisboa (Fig )

Fig 21 Dataccedilotildees 14C e presenccedila por tipo de espoacutelio das antas da regiatildeo de Lisboa

Legenda G- geomeacutetrico L- lacircmina Lr- lacircmina retocada Ll- lamela N- nuacutecleo M- machado

E- enxoacute Gv- goiva C- contas Fu- furador de osso Al- alfinetes de osso Lg- lagomorfos Cl- ceracircmica lisa Cc- ceracircmica canelada Px- ponta de seta convexa Pc- ponta de seta cocircncava Ip- iacutedolo-placa Lo- lacircmina ovoacuteide Ab- grandes pontas bifaciais Vo- caixas ciliacutendricas Av- artefactos votivos de calcaacuterio Ic- iacutedolos cilindriacutecos NMI- nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos + presenccedila possiacutevel presenccedila presenccedila natildeo esclarecida

Assim poderia ser plausiacutevel admitir que as antas mais antigas teriam sido

construiacutedas para um nuacutemero reduzido de indiviacuteduos da sociedade alterando-se

posteriormente esse preceito funeraacuterio No entanto a anaacutelise antropoloacutegica dos restos

humanos depositados nos sepulcros estremenhos regista a presenccedila de todo o

espectro de indiviacuteduos de uma comunidade independentemente de sexo e idade

Aceitar que alguns indiviacuteduos de condiccedilatildeo especial teriam sido ali depositados

colide entatildeo com aquela evidecircncia diversa mas sobretudo com a ausecircncia de dados

que nos permitam afirmaacute-lo com seguranccedila ndash natildeo existe ainda uma bateria de dados e

dataccedilotildees que tenha situado temporalmente por sexos e idades uma porccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 368 de 415

significativa de indiviacuteduos num determinado sepulcro permitindo compreender

quem e quando foi ali depositado Pelo menos o estudo de paleodietas verificou uma

alimentaccedilatildeo similar entre todos os indiviacuteduos adultos amostrados que poderatildeo

abranger a linha temporal de utilizaccedilatildeo funeraacuteria mas eacute provaacutevel que os natildeo-adultos

apresentem tambeacutem resultados similares

A hipoacutetese de linhagens associadas a sepulcros especiacuteficos eacute entatildeo uma

explicaccedilatildeo mais plausiacutevel para as deposiccedilotildees detectadas aliaacutes hipoacutetese proposta por

Alain Gallay (2006) para as comunidades megaliacuteticas do territoacuterio atlacircntico francecircs

cujos sepulcros se apresentavam com acessos bem definidos permitindo uma faacutecil

entrada para novas deposiccedilotildees A comunidade que ia depositando os seus mortos em

sepulcros especiacuteficos entretanto inaugurados com um primeiro sepultado procuraria

dessa forma consolidar a linhagem do seu grupo familiar alargado Dizia este autor

que ldquole caractegravere collectif drsquoune tombe se reacutefegravere (hellip) agrave la preacutesence drsquoune structure

geacuteneacuteologique particuliegravere diffeacuterente qui favorise le regroupment drsquoindividus de

geacuteneacuterations successives au sein drsquoun mecircme ensemble funeacuteraire Cette structure

geacuteneacuteologique est probablement celle qursquoimpose une conception lignagegravere de la

socieacuteteacute Le terme seacutepulture collective ne caracteacuterise que lrsquoutilisation du monument et

non sa architecturerdquo (Gallay 2006 p 94) Isso poderia explicar em parte a

diversidade de contentores estremenhos como o resultado de uma escolha

comunitaacuteria em determinado momento prolongando-se no tempo o seu uso

posterior

Entatildeo quem e que tipo de sociedades teratildeo construiacutedo as antas e continuado a

utilizaacute-las

Diria que com alguma probabilidade correspondem aos mesmos grupos

humanos apenas distanciados pelo tempo e alteraccedilotildees soacutecio-culturais entretanto

ocorridas eventualmente com algumas trocas pontuais inter-regionais de indiviacuteduos

presumidas por determinada cultura material exoacutegena

As comunidades que iniciaram as construccedilotildees ortostaacuteticas apresentariam uma

organizaccedilatildeo diferente daquela que continuou a usaacute-las nos finais do 4ordm e primeira

metade do 3ordm mileacutenios ane

Os locais de habitaccedilatildeo das comunidades da primeira metade e terceiro quartel

do 4ordm mileacutenio ane periacuteodo para o qual utilizarei a designaccedilatildeo de Neoliacutetico meacutedio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 369 de 415

continuam difiacuteceis de localizar com algumas poucas excepccedilotildees As suas praacuteticas

funeraacuterias incluem sobretudo para aleacutem dos contentores sepulcrais espoacutelios

aparentemente do seu quotidiano os utensiacutelios de pedra polida e lascada alguns

ornamentos individuais e recipientes ceracircmicos

Um segundo periacuteodo que designarei como Neoliacutetico tardio parece

corresponder ao que V S Gonccedilalves associava com a Revoluccedilatildeo dos Produtos

Secundaacuterios ldquoa constataccedilatildeo de um conjunto de peculiaridades no Neoliacutetico antigo

portuguecircs parecia tornar evidente que a primeira Revoluccedilatildeo Neoliacutetica natildeo se tinha

efectivamente verificado em Portugal senatildeo num momento tardio Tatildeo tardio que

poderia certamente coincidir com as grandes transformaccedilotildees provocadas pela

Revoluccedilatildeo dos Produtos Secundaacuteriosrdquo (Gonccedilalves 2003e p 157) Isto eacute abarcando

aqueles periacuteodos comummente discutidos do Neoliacutetico final e Calcoliacutetico inicial e

pleno

De facto no uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane e primeira metade do seguinte

a evidecircncia habitacional torna-se visiacutevel e marcante sobretudo com os povoados

amuralhados identificados nomeadamente na Estremadura mas tambeacutem noutras

regiotildees onde surgem em simultacircneo povoados de fossos Simultaneamente o

fenoacutemeno do Megalitismo parece atingir o seu auge primeiramente com um

aumento significativo de espoacutelio ainda de cariz utilitaacuterio na torna do mileacutenio para de

seguida apresentar frequentemente um cariz ideoteacutecnico e simboacutelico Aliaacutes as

caracteriacutesticas de algum desse novo espoacutelio parece denunciar pelo menos contactos

intensos com regiotildees vizinhas mas tambeacutem transregionais e meridionais (Gonccedilalves

2003e e 2008b)

Se o espoacutelio denunciador daqueles contactos durante este periacuteodo corresponde

a chegada de grupos exoacutegenos os dados antropoloacutegicos natildeo o permitem afirmar por

ora ndash pelo contraacuterio os traccedilos epigeneacuteticos dos indiviacuteduos sepultados parecem

indiciar semelhanccedilas regionais entre inumados em grutas antas grutas artificiais e

tholoi natildeo sendo poreacutem possiacutevel negaacute-lo ndash aliaacutes penso que eacute perfeitamente plausiacutevel

a chegada de pequenos grupos humanos aloacutectones Com certeza esta avaliaccedilatildeo sai

prejudicada pelo material antropoloacutegico disponiacutevel de regiotildees vizinhas jaacute referidas

mas tambeacutem pela ausecircncia de estudos deste tipo transregionais nomeadamente com

o Sul peninsular Numa tentativa de verificar essa eventual mobilidade aguarda-se a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 370 de 415

chegada dos resultados dos isoacutetopos de estrocircncio para indiviacuteduos adultos das antas de

Lisboa mas importa alargar essas anaacutelises aos sepultados nos restantes tipos de

sepulcros Poreacutem este tipo de mobilidade deveraacute ter-se jaacute verificado durante o 4ordm

mileacutenio ane Isso parece patente quando se comparam alguns dos elementos

presentes em contextos funeraacuterios estremenhos e daqueles localizados no Alto e

Meacutedio Alentejo e Beira Interior

De alguma forma e face aos dados disponiacuteveis os dois periacuteodos do

Megalitismo estremenho parecem corresponder a contactos com uma tendecircncia

pendular Durante o Neoliacutetico meacutedio a realidade estremenha apresenta

caracteriacutesticas muito similares com as regiotildees alentejana e beiratilde o que parece

coincidir com as cronologias discutidas supra mas isso poderaacute dever-se apenas a

lacunas da investigaccedilatildeo meridional Entretanto no Neoliacutetico tardio sobretudo na

primeira metade do 3ordm mileacutenio ane as influecircncias do Sul peninsular parecem

insinuar-se de uma forma clara na Estremadura e Alentejo parecendo que o mundo

beiratildeo apesar da evidecircncia de contactos natildeo integrou da mesma forma que os

grupos do Centro-Sul as novidades meridionais nomeadamente no que agraves praacuteticas

funeraacuterias diz respeito

Eacute portanto neste enquadramento que a integraccedilatildeo das antas de Lisboa se torna

um pouco mais clara enquanto produto de comunidades autoacutectones em contacto com

outros grupos regionais de onde natildeo se pode excluir eventuais contributos

populacionais exoacutegenos

As antas da regiatildeo de Lisboa materializaram assim num periacuteodo

aparentemente mais reduzido do que se pensava os vaacuterios aspectos do fenoacutemeno do

Megalitismo o seu caraacutecter colectivo os preceitos maacutegico-religiosos e a

monumentalizaccedilatildeo e necropolizaccedilatildeo dos espaccedilos da morte para os vivos

Referecircncias Bibliograacuteficas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 371 de 415

AGUAYO DE HOYOS P GARCIacuteA SANJUAacuteN L (2006) - The megalithic phenomenon in Andalusia an overview In JOUSSAUME R LAPORTE L SCARRE C (coords) - Origin and Development of the Megalithic Phenomenon of Western Europe Proceedings of the International Symposium (Bougon France October 26th-30th 2002) Niort Conseil Geacuteneacuteral de Deux Segravevres p 452-472

ALBERGARIA J (2007) ndash O siacutetio neoliacutetico das Atafonas (Torre de Coelheiros Eacutevora) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 10 1 p 5-35

ALMAGRO BASCH M ARRIBAS PALAU A (1963) - El Poblado y la Necroacutepolis Megaliacuteticos de Los Millares (Santa Fe de Monduacutejar Almeriacutea) Madrid CSIC (Bibliotheca Praehistorica Hispana 3)

ALMAGRO GORBEA M (1970) ndash La fechas del C14 para la prehistoria y la arqueologia peninsular Trabajos de Prehistoria Madrid CSIC 27 p 9-42

ALMAGRO GORBEA M (1973) ndash Los idolos del Bronce I Hispano Madrid CSIC (Bibliotheca Praehistorica Hispana)

ALMEIDA F (197_) ndash Necrologia de Manuel Heleno [Dactilografado] Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

ALMEIDA F (1972) ndash Vera Leisner O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf Seacuterie 6 p 341-343 ALONSO F CABRERA VALDEacuteS V CHAPA BRUNET T FERNAacuteNDEZ MIRANDA M

(1978) ndash Iacutendice de fechas arqueoloacutegicas de C-14 en Espantildea y Portugal In ALMAGRO M FERNAacuteNDEZ MIRANDA M (coords) ndash C14 y Prehistoria de la Peniacutensula Ibeacuterica Madrid Fundacioacuten Juan March p 155-183 (Serie Universitaria 77)

ALONSO MATTHIacuteAS F BELLO DIEGUEZ J M (1995) - Aportaciones del monumento de Dombate al megalitismo noroccidental dataciones de Carbono 14 y su contexto arqueoloacutegico Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 35 3 p 154-168

ALONSO MATTHIacuteAS F BELLO DIEGUEZ J M (1997) ndash Cronologia y periodizacioacuten del fenoacutemeno megaliacutetico en Galicia a la luz de las dataciones por Carbono14 In RODRIGUEZ CASAL A (coord) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 507-520

ALVES R V FERREIRA J M (1959) - Algumas grutas portuguesas de interesse arqueoloacutegico In Actas e Memoacuterias do I Congresso Nacional de Arqueologia Lisboa vol 1 p 129-136

AMBRUESTER T (2007) ndash Technology neglected A painted ceramic fragment from the dated Middle Neolithic site of Vale Rodrigo 3 Vipasca Aljustrel 2ordf seacuterie 2 p 83-94

AML ndash AacuteREA METROPOLITANA DE LISBOA (2002) ndash Patrimoacutenio metropolitano Inventaacuterio geo-referenciado do patrimoacutenio da Aacuterea Metropolitana de Lisboa CD-Rom

ANDRADE G M GOMES J F (1959) ndash Estudo da estaccedilccedilatildeo preacute-histoacuterica de Carnaxide In Actas e Memoacuterias do I Congresso Nacional de Arqueologia (Lisboa 1958) Lisboa vol 1 p 137-146

ANDRADE M CARDOSO M [2002] ndash O povoado preacute-histoacuterico do Castelo da Amoreira (Ramada Odivelas) Relatoacuterio de Prospecccedilotildees Policopiado

ANDRADE M CARDOSO M (2004) ndash O siacutetio preacute-histoacuterico da Pedreira do Aires (Ramada Odivelas) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 7 1 p 137-163

ANDRUSHKO V A LATHAM K A S GRADY D L PASTRON A G WALKER P L (2005) - Bioarchaeological evidence for trophy-taking in prehistoric central California American Journal of Physical Anthropology 127 4 p 375-384

ANTUNES M T CARDOSO J L (1995) ndash Ictiofauna do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 187-192

ANTUNES M T CUNHA A S (1998) ndash Restos humanos do Calcoliacutetico-Idade do Bronze de Castelo Velho Freixo de Numatildeo (Vordf Nordf de Foz Cocirca Portugal) ndash nota preliminar Cocircavisatildeo Cultura e Ciecircncia 0 p 35-42

ANTUNES-FERREIRA N (no prelo) ndash Antropobiologia dos indiviacuteduos exumados no doacutelmen de Casaiacutenhos Rede de Museus do Municiacutepio de Loures

ANTUNES-FERREIRA N (2005) ndash Paleobiologia de grupos populacionais do Neoliacutetico final Calcoliacutetico do Poccedilo Velho (Cascais) Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 40)

APOLLINARIO M (1896) ndash Necroacutepole neolithica do valle de S Martinho O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 1ordf seacuterie 2 p 210-221

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 372 de 415

ARAUacuteJO A C SANTOS A S CAUWE N (1993) ndash Gruta do Escoural ndash A necroacutepole neoliacutetica In 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Actas II Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia 33 3-4 p 51-90

ARAUacuteJO A C LEJEUNE M (1995) ndash Gruta do Escoural Necroacutepole Neoliacutetica e Arte Rupestre Paleoliacutetica Lisboa Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico (Trabalhos de Arqueologia 8)

ARIAS P FANO M (2003) ndash The Chronology of the earliest phases of megalithic monuments in Spain In BURENHULT G WESTERGAARD S (coords) ndash Stones and Bones formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC archaeological conference in honour of the late Professor J OrsquoKelly 2002 Sligo Ireland Oxford Archaeopress p 80-83 (BAR International Series 1201)

ARMENDAacuteRIZ MARTIJA J IRIGARAY SOTO S (1993-1994) - Resumen de las excavaciones arqueoloacutegicas en el hipogeo de Longar (Viana Navarra) 1991-1993 Trabajos de Arqueologia Navarra Pamplona 11 p 270-275

ARMENDAacuteRIZ MARTIJA J IRIGARAY SOTO S (1995) ndash Violecircncia y muerte en la Prehistoria El Hipogeo de Longar Revista de Arqueologia 168 p 16-29

ARNAUD J M (1978) - O Megalitismo em Portugal Problemas e Perspectivas In Actas III Jornadas Arqueoloacutegicas 1977 Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses vol 1 p 97-112 il

ARNAUD J M (1987) - O Processo de Neolitizaccedilatildeo e o Fenoacutemeno Megaliacutetico In Arqueologia no Vale do Tejo Lisboa Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio Cultural p 22-23 il

ARNAUD J M (2000) ndash Os concheiros mesoliacuteticos do vale do Sado e a exploraccedilatildeo dos recursos estuarinos (nos tempos preacute-histoacutericos e na actualidade) In Actas do Encontro sobre Arqueologia da Arraacutebida Convento da Arraacutebida 6 e 7 de Novembro de 1998 Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 45-70 (Trabalhos de Arqueologia 14)

ARNAUD J M GAMITO T J (1972) ndash O povoado fortificado neo- e eneoliacutetico da Serra das Bauacutetas (Carenque Belas) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 3ordf seacuterie 6 p 119-161

ARNAUD J M GONCcedilALVES J L M (1990) - A fortificaccedilatildeo preacute-histoacuterica de Vila Nova de S Pedro Azambuja balanccedilo de meio seacuteculo de investigaccedilatildeo 1ordf parte Revista de Arqueologia Lisboa 1 p 25-48

ASQUERINO FERNAacuteNDEZ-RIDRUEJO M D (1999) ndash Sepulturas de la prehistoria reciente en Priego de Coacuterdoba Anales de prehistoria y arqueologia Murcia 15 p 29-40

ATHAYDE A (1931) ndash Sobre umas ossadas prehistoacutericas da Gruta do Carvalhal In 15eme Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacute-Historique Coimbra e Porto 1930 ndash Compte Rendu Paris p 203-206

ATHAYDE A (1933) ndash Ossadas preacute-histoacutericas da gruta dos Refugidos In Homenagem a Martins Sarmento Miscelacircnea de estudos em honra do investigador vimarenense no centenaacuterio do seu nascimento (1833-1933) Guimaratildees Sociedade Martins Sarmento p 31-36

AYALA JUAN M M ALESSAN A SAFONT S JIMENEZ LORENTE S MALGOSA A (1999) - Los enterramientos infantiles en la Prehistoria reciente del Levante y Sureste Peninsular Anales de preshitoria y arqueologia Murcia 15 p 15-28

AZEVEDO P A (1905) - Notiacutecias de antas junto a Lisboa no Seacutec XVII O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 1ordf seacuterie 10 p 161-165

BARBOSA I V (1862) ndash Quinta dos senhores de Bellas Archivo Pittoresco Lisboa Typographia de Castro Irmatildeo 5 p 289-291

BARBOSA I V (1863) ndash Fragmentos de um roteiro de Lisboa (Ineacutedito) Arrabaldes de Lisboa Archivo Pittoresco Lisboa Typographia de Castro Irmatildeo 6 p 185-186 Com gravura intitulada Penedos na quinta de Bellas p 192

BARBOSA I V (1868) ndash Os monumentos prehistoricos Dolmin ou anta de Adrenunes na serra de Cintra Archivo Pittoresco Lisboa Typographia de Castro Irmatildeo 11 p 377-379

BARCLAY A (1997) ndash The Portal Dolmens of the North East Cotswolds Symbolism Architecture and the Transformation of the Earliest Neolithic In RODRIGUEZ CASAL A (coord) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 151-159

BARKER P (1993) ndash Techniques of Archaeological Excavation London Routledge 3ordf ediccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 373 de 415

BARRET J RICHARDS M (2004) ndash Identity Gender Religion and Economy New isotope and radiocarbon evidence for marine resource intensification in Early Historic Orkney Scotland UK European Journal of Archaeology 7 (3) p 249-271

BARROS L SANTO P E (1997) ndash Gruta artificial de Satildeo Paulo Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 11-12 p 217-220

BAYLISS A TYERS I (2004) ndash Interpreting radiocarbon dates using evidence from tree rings Radiocarbon Arizona EUA 46 2 p 957-964

BELLIDO BLANCO A (1996) ndash Los campos de hoyos Inicios de la economia agricola en la Meseta Norte Valladolid Universidad (Studia Archaeologica 85)

BENSAUacuteDE A (1884) ndash Note sur la nature mineacuteralogique de quelques instruments de pierre trouveacutes en Portugal In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArcheacuteologie Preacutehistorique 9ordm Lisboa 1880 ndash Compte rendu Lisboa p 682-697

BENSAUacuteDE A (1889) ndash Notice sur quelques objects preacutehistoriques du Portugal fabriqueacutes en cuivre Comunicaccedilotildees da Comissatildeo dos Trabalhos Geoloacutegicos Lisboa 2 p 119-124

BENTLEY R (2006) ndash Strontium Isotopes from Earth to the Archaeological Skeleton A Review Journal of Archaeological Method and Theory 13 3 p 135-187

BICHO N (2006) ndash Manual de Arqueologia preacute-histoacuterica Lisboa Ediccedilotildees 70 Lda BINFORD L (1971) - Mortuary Practices Their Study and Their Potential American Antiquity

Michigan 36 3 (Memoirs of the Society for American Archaeology 25) BLAS CORTINA M A (2006) - La arquitectura como fin de un processo Una revisioacuten de la

naturaleza de los tuacutemulos prehistoacutericos sin caacutemaras convencionales en Asturias Zephyrus Salamanca 59 p 233-255

BLASCO F ORTIZ M (1991) ndash Trabajos arqueoloacutegicos en Huerta Montero (Almendralejo Badajoz) Extremadura Arqueoloacutegica Badajoz 2 p 129-138 Actas de las I Jornadas de Prehistoria y Arqueologiacutea en Extremadura (1986-1990)

BOAVENTURA R (no prelo-a) ndash Bodies in motion implications of gender in long distance exchange between the Lisbon and Alentejo regions of Portugal in the Late Neolithic In LILLIOS K (coord) ndash Comparative Archaeologies The American Southwest (AD 900-1600) and the Iberian Peninsula (3000-1500 BC) Obermann Center for Advanced Studies Summer 2006 Research Seminar Iowa City The University of Iowa

BOAVENTURA R (no prelo-b) - O Megalistimo da regiatildeo de Lisboa as antas In 3ordm Coloacutequio Internacional Transformaccedilatildeo amp Mudanccedila Cascais Centro Cultural 6-9 Outubro 2005

BOAVENTURA R (1999-2000) - A proveniecircncia geoloacutegica das antas de Rabuje (Monforte Alentejo) Ibn Maruan Marvatildeo Colibri 9-10 p 303-310

BOAVENTURA R (2000) ndash A geologia das antas de Rabuje (Monforte Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 3 2 p 15-23

BOAVENTURA R (2001) - O siacutetio calcoliacutetico do Pombal (Monforte) uma recuperaccedilatildeo possiacutevel de velhos e novos dados Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia

BOAVENTURA R (2006) ndash Os IV e III mileacutenios ane na regiatildeo de Monforte para aleacutem dos mapas com pontos os casos do cluster de Rabuje e do povoado com fossos de Moreiros 2 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 9 2 p 61-73

BOAVENTURA R (2008) ndash Antoacutenio Sardinha arqueoacutelogo O recrutamento do poeta de Monforte pelo ldquoPae Rochardquo A Cidade Portalegre Ediccedilotildees Colibri 15 p 111-140

BOAVENTURA R ESTEVAtildeO F (no prelo) - A presenccedila de campaniforme na anta de Carcavelos (Loures) Um introacuteito In Vasos campaniformes Siacutembolos de uma comunidade cultural europeia haacute 5000 anos Encontro Internacional de Arqueologia 1 a 5 Maio Torres Vedras

BOAVENTURA R LANGLEY M (no prelo) - Georg Leisner (1870-1957) Determinaccedilatildeo na busca do Megalitismo Ibeacuterico O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa

BOSCH-GIMPERA P (1966) - Cultura megaliacutetica portuguesa y Culturas espantildeolas Revista de Guimaratildees Guimaratildees 76 3-4 p 250-306

BOTELLA M ALEMAacuteN I JIMEacuteNEZ BROBEIL S (2000) ndash Los huesos humanos Manipulacioacuten y alteraciones Barcelona Edicions Bellaterra

BOTELLA M JIMEacuteNEZ BROBEIL S ALEMAacuteN SOUICH P GARCIacuteA SAacuteNCHEZ C (2000) ndash Evidencias de canibalismo en el neoliacutetico espantildeol In Tendencias actuales de Investigacioacuten en la Antropologia Fiacutesica Espantildeola Leoacuten Universidad de Leoacuten p 43-56

BOUTILIER D (2007a) ndash Preliminary report on the human dental remains of seven Neolithic funerary monuments [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 374 de 415

BOUTILIER D (2007b) ndash Preliminary report on the dental remains of Casaiacutenhos [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

BOUTILIER D (2007c) ndash Preliminary report on the dental remains from Agualva [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007]

BRADLEY R (1993) ndash Altering the Earth Edingburgh Society of Antiquaries of Scotland BRADLEY R (1998) ndash The Significance of Monuments On the Shaping of Human Experience in

Neolitihic and Bronze Age Europe London Routledge BRANCO M G (2007) ndash A Pedra de Ouro (Alenquer) Uma leitura actual da Colecccedilatildeo Hipoacutelito

Cabaccedilo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia ) BRANDAtildeO J (1999) ndash As colecccedilotildees arqueoloacutegicas do Instituto Geoloacutegico e Mineiro O Arqueoacutelogo

Portuguecircs Lisboa 4ordf seacuterie 17 p 111-122 BRESSON F CRUBEacuteZY E (1994) - Apport des Chasseacuteens de Saint-Paul-Trois-Chateaux (Drocircme)

et Monteacutelimar (site du Gournier Drocircme) au problegraveme de la gracilisation Reacutesultats preacuteliminaires In Actes des Premiegraveres Rencontres Meacuteridionales de Preacutehistoire Reacutecente p 159 ndash 166

BRIARD J (1995) ndash Les Meacutegalithes de lrsquoEurope atlantique Architecture et art funeraire (5000-2000 avant J-C) Paris Errance

BRONK RAMSEY C (2001) - Development of the Radiocarbon calibration program OxCal Radiocarbon 43 p 355-363 Proceedings of 17th International 14C Conference OxCal 405 Last Updated 2852008 httpc14archoxacukoxcal html

BRONK RAMSEY C (2008a) - Deposition models for chronological records Quaternary Science reviews 27 p 42-60 OxCal 405 Last Updated 2852008 httpc14archoxacuk oxcalhtml

BRONK RAMSEY C (2008b) ndash Radiocarbon dating Revolution in understanding Archaeometry 50 2 p 249-275

BROWN T A NELSON D E VOGEL J S SOUTHON J R (1988) - Improved collagen extraction by modified Longin method Radiocarbon 30 2 p 171ndash177

BUBNER T (1979) - Restos humanos dos hipogeus do Casal do Pardo (Palmela) Ethnos Lisboa 8 p 87-105

BUBNER T (1986) - Restos humanos de Carenque O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 4 p 91-148

BUENO RAMIREZ P (1992) ndash Les plaques decoreacutees alenteacutejaines Approche de leur eacutetude et analyse LrsquoAnthropologie 96 2-3 p 573-604

BUENO RAMIREZ P BARROSO BERMEJO R BALBIacuteN BEHRMANN R (2004a) ndash Construcciones megaliacuteticas avanzadas de la Cuenca interior del Tajo El nuacutecleo cacerentildeo SPAL Revista de Prehistoria y Arqueologia Sevilha Universidad 13 p 83-112

BUENO RAMIREZ P BARROSO BERMEJO R BALBIacuteN BEHRMANN R (2004b) ndash Prehistoria reciente en la Cuenca interior del Tajo Los yacimientos neoliticos y calcoliacuteticos de Huecas (Toledo) In Investigaciones arqueoloacutegicas en Castilla-La Mancha 1996-2002 Toledo p 13-23

BUENO RAMIREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R BARROSO BERMEJO R (2005) - El dolmen de Azutaacuten (Toledo) Aacutereas de habitacioacuten y aacutereas funerarias en la cuenca interior del Tajo Universidad de Alcalaacute de Henares Diputacioacuten de Toledo (Monografias 02)

BUENO RAMIREZ P BARROSO BERMEJO R BALBIacuteN BEHRMANN R (2007-2008) ndash Campaniforme en las construcciones hipogeas del Megalitismo reciente al interior de la Peniacutensula Ibeacuterica Veleia Vitoria Universidad del Pais Vasco 24-25 p 771-790

BURL A (1991) - Megalithic Myth or Man the Mover Antiquity Cambridge 65 247 p 297-298 CABRAL J P (1995) ndash Secccedilatildeo VII ndash Workshop sobre dataccedilatildeo pelo radiocarbono Proposta 1

Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 35 2 p 511-512 CABRAL J P (1996) ndash Caracterizaccedilatildeo de materiais arqueoloacutegicos 1 Alimentos e reconstituiccedilatildeo de

dietas Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 5 p 122-130 CABRERO GARCIacuteA R RUIZ MORENO M BLAS CUADRADO L SABATEacute DIAZ I (1997)

ndash El poblado metaluacutergico de Amarguillo II en Los Morales (Sevilla) y su entorno inmediato en La Campintildea Uacuteltimas analiacuteticas realizadas Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea 1993 Sevilla Junta de Andaluciacutea 2 p 131-141

CABRERO GARCIacuteA R PAJUELO PANDO A GOacuteMEZ MURGA E LOacutePEZ ALDANA P (2003) ndash Objectos diversos procedentes del poblado Calcoliacutetico de Amarguillo II (Los Molares Sevilla) Spal Sevilla 12 p 145-178

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 375 de 415

CALADO M (1995) ndash A regiatildeo de Serra drsquoOssa Introduccedilatildeo ao estudo do povoamento Neoliacutetico e Calcoliacutetico Lisboa vol 1 Provas de Aptidatildeo Pedagoacutegica e Capacidade Cientiacutefica (Policopiado)

CALADO M (2001) ndash Da Serra drsquoOssa ao Guadiana Um estudo de preacute-histoacuteria regional Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 19)

CALADO M (2004) ndash Menires do Alentejo Central Geacutenese e evoluccedilatildeo da paisagem megaliacutetica regional Tese de dissertaccedilatildeo de Doutoramento Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Policopiado

CALADO M (2005) ndash Standing Stones and Natural Outcrops Crookscape Siacutetio da internet consultado em 1812009 httpwwwcrookscapeorgtextjan2005text html

CALDAS J (1884) ndash Archeacuteologie preacutehistorique dans la province de Minho In 9eme Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique Lisboa 1880 ndash Compte Rendu Lisbonne p 333-351

CARDOSO G (1991) ndash Carta arqueoloacutegica do concelho de Cascais Cascais Cacircmara Municipal CARDOSO G ENCARNACcedilAtildeO J (1990) - Uma sondagem de emergecircncia no Casal do Geraldo

Estoril - Cascais Arquivo de Cascais Cascais Cacircmara Municipal 9 p 45-62 CARDOSO J L (1989) ndash Leceia Resultados das escavaccedilotildees realizadas 1983-1989 Oeiras Cacircmara

Municipal CARDOSO J L (1990) - A Lapa do Bugio Sesimbra Cultural Sesimbra Cacircmara Municipal de

Sesimbra 0 p 15-34 CARDOSO J L (1993a) ndash Contribuiccedilatildeo para o conhecimento dos grandes mamiacuteferos do

Plistoceacutenico superior de Portugal Oeiras Cacircmara Municipal CARDOSO J L(1993b) ndash A primeira campanha de escavaccedilotildees realizadas na Lapa da Furada

(Sesimbra) Sesimbra Cultural Sesimbra Cacircmara Municipal de Sesimbra 3 p 15-17 CARDOSO J L (1994) ndash Leceia 1983-1993 Escavaccedilotildees do povoado fortificado preacute-histoacuterico

Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal nuacutemero especial CARDOSO J L (1995a) ndash Materiais arqueoloacutegicos ineacuteditos das grutas de Carnaxide (Oeiras)

Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 67-86 CARDOSO J L (1995b) ndash Novas escavaccedilotildees na gruta da Ponte de Lage (Oeiras) Revisatildeo dos

materiais paleoliacuteticos Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 49-66

CARDOSO J L (1995c) ndash Os iacutedolos falange do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudo comparado Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 213-232

CARDOSO J L (1996a) ndash A Geoarqueologia ndash fundamentos e meacutetodos Sua aplicaccedilatildeo em Portugal Almadan Almada 2ordf seacuterie 5 p 70-77

CARDOSO J L (1996b) ndash Materiais arqueoloacutegicos ineacuteditos do povoado preacute-histoacuterico de Carnaxide (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 27-45

CARDOSO J L (1996c) ndash Pesos de pesca do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudo comparado Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 107-119

CARDOSO J L (1997) ndash A cronologia absoluta do depoacutesito arqueoloacutegico da Lapa da Furada ndash Azoia Sesimbra Seu significado e incidecircncias rituais e culturais Sesimbra cultural Sesimbra Cacircmara Municipal 6 p 10-15

CARDOSO J L (1999-2000a) ndash Georges Zbyszweski (1909-1999) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 8 p 9-20

CARDOSO J L (1999-2000b) ndash O Calcoliacutetico da Baixa Estremadura Contributos para um ensaio a propoacutesito de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 8 p 325-353

CARDOSO J L (1999-2000c) ndash Os artefactos de pedra polida do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 8 p 241-323

CARDOSO J L (2000) ndash Na Arraacutebida do Neoliacutetico Antigo ao Bronze Final In Actas do Encontro sobre Arqueologia da Arraacutebida Convento da Arraacutebida 6 e 7 de Novembro de 1998 Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 45-70 (Trabalhos de Arqueologia 14)

CARDOSO J L (2002) ndash Preacute-Histoacuteria de Portugal [sl] Verbo CARDOSO J L (2003) ndash A utensilagem oacutessea de uso comum do povoado preacute-histoacuterico de Leceia

(Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 11 p 25-84 CARDOSO J L (2004) ndash A Baixa Estremadura dos finais do IV mileacutenio AC ateacute agrave chegada dos

romanos um ensaio de Histoacuteria regional Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 12

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 376 de 415

CARDOSO J L (2006) ndash As ceracircmicas decoradas preacute-campaniformes do povoado preacute-histoacuterico de Leceia suas caracteriacutesiticas e distribuiccedilatildeo estratigraacutefica Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 14 9-276

CARDOSO J L (2008a) ndash Correspondecircncia seleccionada enviada a O da Veiga Ferreira Cinquenta anos de actividade arqueoloacutegica (1946-1995) In CARDOSO J L (coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 383-408

CARDOSO J L (2008b) ndash Joaquim Filipe Nery Delgado arqueoacutelogo In Nery Delgado (1835-1908) Geoacutelogo do Reino Lisboa Museu Geoloacutegico p 65-81

CARDOSO J L (2008c) ndash O da Veiga Ferreira (1917-1997) sua vida e obra cientiacutefica In CARDOSO J L (coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 13-123

CARDOSO J L (coord) (2008d) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16

CARDOSO J L CANINAS J C (no prelo) ndash O povoado calcoliacutetico fortificado de Moita da Ladra (Vila Franca de Xira) In 3ordm Coloacutequio Internacional Transformaccedilatildeo e Mudanccedila Cascais 6 a 9 de Outubro de 2005

CARDOSO J L CARVALHO A F (2008) ndash A gruta do Lugar do Canto (Alcanede) e a sua importacircncia no faseamento do Neoliacutetico no territoacuterio portuguecircs Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras CM 16 p 269-300 CARDOSO J L (Coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor

CARDOSO J L CARVALHOSA A B (1995) - Estudos petrograacuteficos de artefactos de pedra polida do povoado Preacute-Histoacuterico de Leceia (Oeiras) Anaacutelises de proveniecircncias Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 123-151

CARDOSO J L CARREIRA J R (1995) ndash O povoado de Montes Claros (Lisboa) Resultados das escavaccedilotildees d 1988 Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 277-298

CARDOSO J L CARREIRA J R (2003) ndash O povoado calcoliacutetico do Outeiro de Satildeo Mamede (Bombarral) estudo do espoacutelio das escavaccedilotildees de Bernardo de Saacute (19031905) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 11 p 97-228

CARDOSO J L CARREIRA J R FERREIRA O V (1996) ndash Novos elementos para o estudo do Neoliacutetico antigo da regiatildeo de Lisboa Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 9-26

CARDOSO J L CUNHA A S (1995) - A Lapa da Furada Resultados das escavaccedilotildees arqueoloacutegicas realizadas em Setembro de 1992 e 1993 Sesimbra Cacircmara Municipal de Sesimbra

CARDOSO J L CUNHA A S AGUIAR D (1991) ndash O Homem preacute-histoacuterico no concelho de Oeiras Estudos de Antropologia Fiacutesica Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 2

CARDOSO J L DETRY C (2001-2002) ndash Estudo arqueozooloacutegico dos restos de ungulados do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 10 p 131-182

CARDOSO J L FERREIRA O V (1990) - Trecircs suportes de lareira da Penha Verde Sintra Revista de Arqueologia Lisboa 1 p 5-12

CARDOSO J L FERREIRA O V CARREIRA J R (1996) ndash O espoacutelio arqueoloacutegico das grutas naturais da Senhora da Luz (Rio Maior) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 195-256

CARDOSO J L FERREIRA O V ZBYSZEWSKI G LEITAtildeO M NORTH CT BERGER F (2003) ndash A gruta do Correio-Moacuter (Loures) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 11 p 229-321

CARDOSO J GONZALEZ A CARDOSO G (2001-2002) ndash Um notaacutevel iacutedolo de calcaacuterio do doacutelmen de Casainhos (Loures) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 10 p 375-386

CARDOSO J L GRADIM A (2004) ndash Estaacutecio da Veiga e o reconhecimento do Algarve o concelho de Alcoutim O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 22 p 67-112

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 377 de 415

CARDOSO J L LEITAtildeO M FERREIRA O V (1987) - Nota acerca de uma conta-amuleto encontrada na Tholos da Tituaria Mafra O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 5 p 89-99

CARDOSO J L LEITAtildeO M FERREIRA O NORTH C NORTON J MEDEIROS J SOUSA P (1996) ndash O monumento preacute-histoacuterico de Tituaria Moinhos da Casela (Mafra) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 135-193

CARDOSO J L LEITAtildeO M NORTON J FERREIRA O NORTH C (1995) ndash O santuaacuterio calcoliacutetico da gruta do Correio-Moacuter (Loures) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 97-121

CARDOSO J L MONTEIRO R FERREIRA O V COELHO A V GUERRA F GIL F B PAIS J (1992) - A Lapa do Bugio Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 9-10 p 89-225

CARDOSO J L SOARES A M (1990-1992) - Cronologia Absoluta para o Campaniforme da Estremadura e do Sudoeste de Portugal O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 4ordf Seacuterie 8-10 p 203-228

CARDOSO J L SOARES A M (1995) - Sobre a cronologia absoluta das grutas artificiais da Estremadura portuguesa Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 4 p 10-13

CARDOSO J L SOARES J SILVA C T (1996) ndash A ocupaccedilatildeo neoliacutetica de Leceia (Oeiras) Materiais recolhidos em 1987 e 1988 Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 47-89

CARNEIRO A (1997) ndash Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras) Fragmentos de um contexto Trabalho apresentado para seminaacuterio de Arqueologia Departamernto de Histoacuteria Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Policopiado

CARNEIRO A (2001) - The Travels of Nery Delgado (1835-1908) in the context of the Portuguese Geological Survey Comunicaccedilotildees do Instituto Geoloacutegico e Mineiro Lisboa 99 p 277-292

CARNEIRO A (2005) - Outside Government Science Not a Single Tiny Bone to Cheer Us Up The Geological Survey of Portugal (1857-1908) The Involvement of Common Men and the Reaction of Civil Society to Geological Research Annals of Science 62 p 141-204

CARR C (1995) - Mortuary practices Their social philosophical-religious circumstancial and physical determinants Journal of Archaeological Method and Theory 2 2 p 105-200

CARREIRA J R CARDOSO J L (1992) ndash Testemunhos da ocupaccedilatildeo neoliacutetica da serra de Monsanto Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 1 p 15-18

CARREIRA J R CARDOSO J L (2001-2002) ndash A gruta da Casa da Moura (Cesareda Oacutebidos) e sua ocupaccedilatildeo poacutes-paleoliacutetica Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 10 p 249-361

CARRISSO L W (1909) ndash Estudo anthropologico sobre alguns restos humanos da Caverna dos Alqueves Boletim da Sociedade Archaeologica Santos Rocha Figueira da Foz SASR 1 10 p 267-276

CARTAILHAC E (1880) ndash Congregraves International drsquoAnthropologie et drsquoArcheacuteologie Preacutehistorique raport sur la session de Lisbonne Paris Eugegravene Boban

CARTAILHAC E (1886) ndash Les acircges preacutehistoriques de lrsquoEspagne et du Portugal Paris Ch Reinwald

CARVALHO A F (1996) ndash O Neoliacutetico antigo do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho Tecnologia e tipologia da induacutestria da pedra lascada Tese de Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Lisboa Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Policopiado

CARVALHO A F (1998a) ndash O Abrigo da Pena drsquoAacutegua (Rexaldia Torres Novas) resultados dos trabalhos de 1992-1997 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 1 2 p 39-72

CARVALHO A F (1998b imp) ndash O talhe da pedra e a transiccedilatildeo Neoliacutetico ndash Calcoliacutetico no Centro e Sul de Portugal tecnologia e aspectos da organizaccedilatildeo da produccedilatildeo Trabalhos de Arqueologia da EAM Lisboa Colibri 3-4 (1995-1996) p 41-60

CARVALHO A F (2003) - O Neoliacutetico antigo no Arrife da Serra dAire Um case-study da neolitizaccedilatildeo da Meacutedia e Alta Estremadura Portuguesa In GONCcedilALVES V S (ed) - Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 23-44 (Trabalhos de Arqueologia 25)

CARVALHO A F (2007a) ndashA neolitizaccedilatildeo do Portugal meridional Os exemplos do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho e do Algarve Ocidental Tese de Doutoramento Faro Universidade do Algarve Ficheiro PDF

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 378 de 415

CARVALHO A F (2007b) - Novos dados sobre dois temas da Preacute-Histoacuteria do Sul de Portugal o Mirense e o processo de neolitizaccedilatildeo Promontoria Faro 5 p 45-110

CARVALHO A F (no prelo) ndash O final do Neoliacutetico e as origens da produccedilatildeo laminar calcoliacutetica na Estremadura Portuguesa os dados da gruta-necroacutepole do Algar do Bom Santo (Alenquer Lisboa) In GIBAJA J F TERRADAS X (coords) ndash Workshop ldquoLa Peniacutensula Ibeacuterica al final de la Prehistoria las grandes laacuteminas de siacutelexrdquo Barcelona Museu drsquoArqueologia de Catalunya

CASA J VARGAS J M OLIVEIRA R (1998) ndash As antas de Belas na tradiccedilatildeo e no imaginaacuterio popular In OLHO VIVO ndash Antas de Belas Um patrimoacutenio a preservar Queluz Olho Vivo p 27-29

CASTRO L A FERREIRA O V (1959) ndash Vaso de tipo neoliacutetico do Alto da Toupeira ndash Lousa In Actas e Memoacuterias do I Congresso Nacional de Arqueologia (Lisboa 1958) Lisboa vol 1 p 109-110

CASTRO L A FERREIRA O V (1972) - O niacutevel neoliacutetico da gruta das Salemas (Ponte de Lousa) Arqueologia e Histoacuteria Lisboa 4 9ordf seacuterie p 399-409 il

CASTRO MARTIacuteNEZ P LULL V MICOacute R (1996) ndash Cronologia de la Prehistoria Reciente de la Peniacutensula Ibeacuterica y Baleares (c 2800-900 cal ANE) Oxford Tempus Reparatum (BAR International Series 652)

CAUWE N (1997) ndash Les morts en mouvement essai sur lrsquoorigine des rites funeacuteraires meacutegalithiques In RODRIGUEZ CASAL A (ed) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 719-737

CERRILLO CUENCA E GONZAacuteLEZ CORDERO A (2007) ndash Cuevas para la eternidad sepulcros prehistoricos de la provincia de Caacuteceres Badajoz Instituto de Arqueologia de Meacuterida (Estudios Histoacutericos de la Lusitacircnia 3)

CHACON R DYE D (coords) (2007) ndash The Trophy and Displaying of Human Body Parts as Trophies by Amerindians New York Springer

CHAPMAN R (1999) ndash What do we want to know about Iberian megaliths In Studien zur Megalithik Forschungsstand und ethnoarchaumlologische Perspektiven Mannheim BeierampBeran p 123-134

CHAMBON P (2003) ndash Les morts dans les Seacutepultures collectives neacuteolithiques en France Du cadaver aux restes ultimes Paris CNRS Editions

CHASE D (1996) ndash Burial and Tombs In FAGAN B (coord) - The Oxford Companion to Archaeology Oxford Oxford University Press p 109-110

CIOFFI-REVILLA C (1999) ndash Origins and Age of Deterrence Comparative Research on Old World and New World Systems Cross-Cultural Research 33 3 p 239-264

CLAUSEN C EINICKE O KJAEGAARD P (2008) ndash The Orientation of Danish Passage Graves Acta Archaeologica Denmark 79 p 216-229

COITO L C CARDOSO J L MARTINS A C (2008) ndash Joseacute Leite de Vasconcelos fotobiografia Lisboa Verbo RAPOSO L (dir)

COELHO M (2008) ndash A fauna malacoloacutegica proveniente do sector I do recinto calcoliacutetico dos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patimoacutenio Lisboa NIA 3 p 35-40

COELHO M C (2002) ndash Estudo preliminar da pedreira romana e outros vestiacutegios identificados no siacutetio arqueoloacutegico de Colaride Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 5 2 p 277-323

CORREIA V (1915) ndash Idolos preistoricos tatuados de Portugal A Aacuteguia 2ordf seacuterie 7 p 244-252 CORREIA V (1917a) - Arte preacute-histoacuterica os iacutedolos-placas Terra Portuguesa 12 p 29-35 CORREIA V (1917b) ndash Notas Gravuras do laquodolmenraquo da Pedra dos Mouros (Belas) Terra

Portuguesa Lisboa 12 p 185-186 CORTES V FERREIRA O V FURTADO A MAURIacuteCIO A S MONTEIRO J A (1978

imp) ndash A Lapa do Suatildeo (Bombarral) Relatoacuterio da campanha de escavaccedilotildees de 1970 Boletim Cultural Lisboa Assembleia Distrital de Lisboa 83 p 219-237

CORTEZ F R (1942) ndash Materiais arqueoloacutegicos do concelho de Sintra na Casa-Museu laquoTeixeira Lopesraquo Viriatis Boletim do Museu de Gratildeo Vasco 1 2 p 92-98

COSTA F A P (1865) ndash Da existecircncia do homem em eacutepocas remotas no valle do Tejo notiacutecia sobre os esqueletos humanos descobertos no Cabeccedilo da Arruda Lisboa Imprensa Nacional

COSTA F A P (1868) ndash Notions sur lrsquoeacutetat prehistorique de la Terre et de lrsquoHomme suivies de la description de quelques dolmens ou antas du Portugal Lisbonne Imprimerie de lrsquoAcademie

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 379 de 415

CHRISTENSEN J (2004) ndash Warfare in the European Neolithic Acta Archaeologica Denmark 75 p 129-156

CRIADO BOADO F FAacuteBREGAS VALCARCE R VAQUERO LASTRES J (1994) ndash Regional Patterning among the Megaliths of Galicia (NW Spain) Oxford Journal of Archaeology Oxford 13 1 p 33-47

CRUBEacuteZY E (2007) - Lrsquoeacutetude des seacutepultures ou du monde des morts au monde des vivants Anthropologie archeacuteologie funeacuteraire et anthropologie de terrain In FERDIEgraveRE A (dir) - Archeacuteologie funeacuteraire Paris Editions Errance 2ordf ediccedilatildeo p 8-54 (Archeacuteologiques) 1ordf ediccedilatildeo de 2000

CRUBEacuteZY E LUDES B POUJOL J COQUEUGNOT H GRUAT P JUSOT V LEFILATTRE V ROUGE D CATHALA J (1998) - Pratiques et Espaces funeacuteraires Les grands Causses au Neacuteolithique Ouvrage 1 du PCR Pratiques et Espaces funeacuteraires Les grands Causses du Neacuteolithique au Moye-Age

CRUZ A R (1997) ndash Vale do Nabatildeo do neoliacutetico agrave Idade do bronze Arkeos Tomar CHEIPHAR 3

CRUZ D J (1990) - A Mamoa 2 de Chatilde de Carvalhal Serra da Aboboreira Baiatildeo Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia 1990 - Sep dos Trabalhos de Antropologia e Etnologia 31 1-4

CRUZ D J (1995) ndash Cronologia dos monumentos com tumulus do Noroeste Peninsular e Beira Alta Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu 3 p 81-119

CRUZ D J (1998) -Expressotildees funeraacuterias e cultuais no Norte da Beira Alta (V-II mileacutenios a C) Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu 6 p 149-166 Actas do Coloacutequio laquoA Preacute-Histoacuteria na Beira Interiorraquo (Tondela Nov 1997)

CRUZ D J (2001) ndash O Alto Paiva Megalitismo Diversidade Tumular e Praacuteticas Rituais Durante a Preacute-Histoacuteria recente Dissertaccedilatildeo de doutoramento apresentado agrave Faculdade de Letras da Universiadade de Coimbra 2 Vol

CRUZ D J CUNHA A M L GOMES L F C (1988-89) - A Orca de Corgas da Matanccedila Fornos de Algodres Portugaacutelia Porto Nova seacuterie 9-10 p 31-47

CRUZ D J CUNHA A M L GOMES L F C (1990) - A casa da Orca de Corgas da Matanccedila Fornos de Algodres Guarda Fornos de Algodres Cacircmara Municipal Sep de Portugaacutelia (1988-89) 9-10

CRUZ D J VILACcedilA R (1990) - A anta da Cunha Baixa (Mangualde) escavaccedilatildeo restauro e conservaccedilatildeo de um monumento megaliacutetico Viseu [sn] 1990 - Sep de Actas do 1ordm Coloacutequio Arqueoloacutegico de Viseu

CRUZ D J VILACcedilA R (1994) ndash O doacutelmen 1 do Carapito (Aguiar da Beira Guarda) Novas dataccedilotildees de carbono 14 In Actas do Seminaacuterio ldquoO Megalitismo no Centro de Portugalrdquo (Mangualde Nov 1992) Viseu p 63-68

CRUZ D J LOacutePEZ SAEZ J S CANHA A L MENDES S L VALINHO A VIEIRA M A (2003) ndash Projecto ldquoO Alto Paiva Sociedade e estrateacutegias de povoamento desde a Preacute-histoacuteria Recente agrave Alta Idade Meacutediardquo Relatoacuterio final (1998-2002) Coimbra Policopiado Acessiacutevel no arquivo do IGESPAR Proc 981(762) vol 2

CRUZ P B (1897) ndash Notiacutecias vaacuterias 3 Antiguidades de Arruda dos Vinhos O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3 p 143-144

CUNHA A L (1995) ndash Anta da Arquinha da Moura (Tondela) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto SPAE 35 3 p 133-140 il JORGE V J (Coord) - Actas do 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular (Porto 12-18 de Outubro de 1993) vol 8

CUNHA E (1996) ndash Viajar no tempo atraveacutes dos ossos a investigaccedilatildeo paleobioloacutegica Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 5 p 131-141

CUNHA E (2000) ndash Antropologia Fiacutesica e Paleoantropologia em Portugal Um balanccedilo Arqueologia e Histoacuteria Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses 54 p 261-272

CUNHA E (2008) ndash Antropologia Bioloacutegica em Portugal Uma retrospectiva soa uacuteltimos 25 anos Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 15 p 113-115

CUNHA E PADEZ C (1987) - Material osteoloacutegico da gruta dos Alqueves In VILACcedilA R RIBEIRO J P - Escavaccedilotildees arqueoloacutegicas na gruta dos Alqueves (S Martinho do Bispo Coimbra) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 27 1-4 p 45-49

CUNHA E SILVA A M (2000) ndash Relatoacuterio antropoloacutegico do material osteoloacutegico exumado da anta da Vaacuterzea (Sintra) Coimbra Laboratoacuterio de Paleodemografia e Paleopatologia do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 380 de 415

Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra Policopiado Acessiacutevel no Museu Municipal de Satildeo Miguel de Odrinhas

CUNHA E SILVA AM MIRANDA M (2003) ndash Caracterizaccedilatildeo e estudo dos materiais antropoloacutegicos provenientes da Anta 3 da Herdade de Santa Margarida In GONCcedilALVES V S ndash STAM-3 a Anta 3 da Herdade de Santa Margarida (Reguengos de Monsaraz) Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 384-420 (Trabalhos de Arqueologia 32)

CUNNINGHAM P A STARR A F (1998) - Sharing Shalom A Process for Local Interfaith Dialogue Between Christians and Jews Paulist Press ISBN 0-8091-3835-2

DAVEAU S (1980) - Espaccedilo e Tempo Evoluccedilatildeo do ambiente geograacutefico de Portugal ao longo dos tempos preacute-histoacutericos Clio-Revista do Centro de Histoacuteria da Universidade de Lisboa 2 p 13-37

DAVEAU S (1994) - A Foz do Tejo Palco da Histoacuteria de Lisboa In Lisboa Subterracircnea Lisboa Museu Nacional de Arqueologia p

DAVEAU S (1995) - Portugal geograacutefico Lisboa Ediccedilotildees Joatildeo Saacute da Costa 2ordf ediccedilatildeo DAVEAU S (2004) ndash A Estremadura In FEIO M DAVEAU S - Relevo de Portugal Grandes

unidades regionais Coimbra Associaccedilatildeo Portuguesa de Geomorfoacutelogos p -48 DAVEAU S GONCcedilALVES V S (1985) - A evoluccedilatildeo holoceacutenica do Vale do Sorraia e as

particularidades da sua antropizaccedilatildeo (Neoliacutetico e Calcoliacutetico) In Actas 1ordf reuniatildeo do Quaternaacuterio Ibeacuterico Lisboa INIC vol 2 p 187-197

DAVIS S MORENO GARCIacuteA M (no prelo) - Of metapodials measurements and music ndash eight years of miscellaneous zooarchaeological discoveries at the IPA Lisbon O Arqueoacutelogo Portuguecircs 25

DEHN W (1990) ndash Em Homenagem agrave Dra H C Vera Leisner In Probleme der Megalithgraumlberforschung Vortraumlge zum 100 Geburtstag von Vera Leisner Berlin Walter de Gruyter

DEHN W KALB P VORTISCH W (1991) - Geologisch-Petrographische Untersuchungen an Megalithgraumlbern Portugals Madrider Mitteilungen 32 p 1-28

DELGADO J F N (1867) ndash Da existecircncia do Homem no nosso solo em tempos mui remotos provada pelos estudos das cavernas Notiacutecia acerca das grutas de Cesareda Lisboa 133 p il

DELGADO J F N (1880) ndash Les grottes de Peniche et Casa da Moura Portugal Station et seacutepulture neacuteolithique Materiaux pour lrsquoHistoire Primitive et Naturel de lrsquoHomme Paris 2ordf seacuterie 11

DELGADO J F N (1884) ndash La grotte de Furninha a Peniche In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique 9ordm Lisboa 1880 ndash Compte Rendu Lisbonne p 207-278 il

DELGADO J F N (1891a) ndash Grottes de Santo Adriatildeo dans le Nord du Portugal In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique 10ordm Paris 1889 Paris p 553-568

DELGADO J F N (1891b) ndash Notice sur les grottes de Carvalhal drsquoAljubarrota (Portugal) In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique 10ordm Paris 1889 Paris p 565-568 Re-publicado em 1901 - Comunicaccedilotildees da Direcccedilatildeo dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa p 161-164

DELIBES DE CASTRO G ROJO GUERRA M REPRESA BERMEJO J I (1993) ndash Doacutelmenes de La Lora Burgos Castill y Leon Junta (Guia Arqueoloacutegica)

DELIBES DE CASTRO G ALONSO DIEZ M ROJO GUERRA M (1987) - Los sepulcros colectivos del Duero Medio y las Loras y su conexioacuten com el foco dolmeacutenico riojano In El Megalitismo en la Peninsula Ibeacuterica Madrid p 181-197

DELIBES DE CASTRO G ROJO GUERRA M (1997) ndash C14 y secuencia megaliacutetica en La Lora burgalesa Acotaciones a la problemaacutetica de las dataciones absolutas referentes a yacimientos dolmeacutenicos In RODRIGUEZ CASAL A (ed) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 391-414

DELIBRIAS G GUILLIER M LABEYRIE J (1965) ndash Saclay Natural Radiocarbon Measurements II Radiocarbon 7 p 236-244

DeNIRO M (1985) ndash Postmortem preservation and alteration of in vivo bone collagen isotope ratios in relation to palaeodietary reconstruction Nature 317 (October) p 806-809

DEUS M M (1998) - Relatoacuterio da campanha de escavaccedilotildees na anta de Casaiacutenhos 1997 Loures Relatoacuterio policopiado Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Processo S-650

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 381 de 415

DEVIGNES M (1997) ndash Quelques reflexions sur lrsquoancienneteacute du Meacutegalithisme du Sud-Ouest de la France In RODRIGUEZ CASAL A (ed) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 299-308

DIAS M I (2008) ndash Estudo composicional da material envolvente aos geomeacutetricos da necroacutepole neoliacutetica da Sobreira de Cima (Vidigueira) Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 1 p 13-14

DIAS M I PRUDEcircNCIO M I SANJURJO SANCHEZ J CARDOSO G O FRANCO D (2008) ndash Dataccedilatildeo por luminiscecircncia de sedimentos de sepulcros artificiais da necroacutepole preacute-histoacuterica da Sobreira de Cima (Vidigueira) Resultados preliminares Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 2 p 31-40

DIAS M I VALERA A C LAGO M PRUDEcircNCIO M I (2008) - Proveniecircncia e tecnologia de produccedilatildeo de ceracircmicas nos Perdigotildees Vipasca Aljustrel 2ordf seacuterie 2 p 117-121 Actas do III Encontro de Arqueologia do SW (Aljustrel 2006)

DINIZ M (1994) - Pesos de tear e tecelagem no Calcoliacutetico em Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 34 3-4 p 133-147 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular (Porto 1993 Out 12-18) Actas Vol 4

DINIZ M (2007) ndash O siacutetio da Valada do Mato (Eacutevora) aspectos da neolitizaccedilatildeo no InteriorSul de Portugal Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 48)

DINIZ M GONCcedilALVES V S (1993-94) ndash A actividade arqueoloacutegica em Portugal na 2ordf metade do seacuteculo XIX O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 11-12 p 176-187

DOMINGO MARTIacuteNEZ R (2005a) ndash Anaacutelisis functional de los microlitos geomeacutetricos del Abrigo de Aizpea (Arive Navarra) Veleia 22 p 27-49

DOMINGO MARTIacuteNEZ R (2005b) ndash La funcionalidad de los microlitos geomeacutetricos Bases experimentales para su estudo Zaragoza Universidad de Zaragoza (Monografiacuteas Arqueoloacutegicas 41)

DOWD M (2008) ndash The use of caves for funerary and ritual practices in Neolithic Ireland Antiquity 82 316 p 305-317

DRIESCH A BOESSNECK J (1976) ndash Castro do Zambujal Die Fauna Munchen Universitaumlt (Studien uber fruhe Tiernochenfunde von der Iberischen Halbinsel 5)

DRIESCH A BOESSNECK J (1981) ndash Die fauna von Zambujal In SANGMEISTER E SCHUBART H ndash Zambujal die grabungen 1964 bis 1973 Mainz am Rhein Verlag Philipp von Zabern vol 1 p 303-314 (Madrider Beitraumlge 51)

DUARTE C (1993) ndash Analysis of dental wear and pathological conditions in human teeth from the Neolithic site of Grutas Artificiais do Tojal de Vila Chatilde (Estremadura Portugal) Thesis submitted to the Faculty of Graduate Studies and Research in partial fulfilment of the degree of Master of Arts Edmonton University of Alberta Policopiado

DUARTE C (1998a) ndash Gestatildeo do espaccedilo funeraacuterio no Monumento Funeraacuterio 1 dos Perdigotildees dados da anaacutelise osteoloacutegica In LAGO M DUARTE C VALERA A ALBERGARIA J ALMEIDA F CARVALHO AF (1998a) - Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) Dados Preliminares dos Trabalhos Realizados em 1997 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 1 1 p 75-79

DUARTE C (1998b) ndash Necroacutepole neoliacutetica do Algar do Bom Santo Contexto cronoloacutegico e espaccedilo funeraacuterio Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 1 2 p 107-118

DUARTE C (2003) ndash Bioantropologia In MATEUS J E MORENO-GARCIA M - Paleoecologia humana e arqueociecircncias Um programa multidisciplinar para a Arqueologia sob a tutela da Cultura Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 263-296 (Trabalhos de Arqueologia 29)

DUARTE C (2004) ndash Anta da Arruda (Arruda dos Vinhos Portugal) Analysis of human remains stored at the Museu Nacional de Arqueologia Lisbon Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia Policopiado (Anexo 6)

DUARTE C EVANGELISTA L LAGO M VALENTE M J VALERA A C (2006) - Animal remains in Chalcolithic funerary context in Portugal the case of Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz Alentejo) In Actas do IV congresso de Arqueologia Peninsular Faro Universidade do Algarve vol 3 p 47-55

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 382 de 415

ERA-ARQUEOLOGIA LDA [2001] ndash Valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio arqueoloacutegico do municiacutepio de Odivelas Anta das Pedras Grandes ndash Caneccedilas Relatoacuterio dos trabalhos arqueoloacutegicos Policopiado

ERIKSSON G (2004) ndash Part-time farmers or hard-core sealers Vaumlsterbjers studied by means of stable isotope analysis Journal of Anthropological Archaeology 23 p 135-162

ERIKSSON G LINDERHOLM A FORNANDER E KANSTRUP M SCHOULTZ P OLOFSSON H LIDEacuteN K (2008) ndash Same island diferent diet Cultural evolution of food practice on Oumlland Sweden from the Mesolithic to the Roman Period Journal of Anthropological Archaeology 27 p 520-543

ESTEcircVAtildeO F (1997) ndash Relatoacuterio preliminar da anta de Carcavelos Lisboa Relatoacuterio policopiado Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Processo S-3502

ESTEcircVAtildeO F [1999] ndash Relatoacuterio da 2ordf campanha de escavaccedilatildeo na Anta de Carcavelos (Lousa) Lisboa Relatoacuterio policopiado Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Processo S-3502

ESTEcircVAtildeO F (2000a) ndash O Crasto de Ponte de Lousa (Loures) ndash notiacutecia preliminar O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 18 p 61-70

ESTEcircVAtildeO F (2000b) - Projecto de estudo e valorizaccedilatildeo do Megalitismo do concelho de Loures Relatoacuterio 1999 Loures Cacircmara Municipal Relatoacuterio policopiado Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Processo S-650

ESTEcircVAtildeO F (2001) - Projecto de estudo e valorizaccedilatildeo do Megalitismo do concelho de Loures Relatoacuterio 2000 Loures Cacircmara Municipal Relatoacuterio policopiado Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Processo S-650

ESTEcircVAtildeO F DEUS M (2000) ndash A Preacute-Histoacuteria recente em Loures Dois projectos de investigaccedilatildeo em curso In Neolitizaccedilatildeo e Megalitismo da Peniacutensula Ibeacuterica Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Porto ADECAP vol 3 p 473-483

ETXEBERRIA F (2000) - The accidental the intentional and the ritual in human burials In 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Porto ADECAP vol 9 p 291-308

ETXEBERRIA F VEGAS ARAMBURU J I (1988) ndash iquestAgressividad social o guerra durante el Neo-eneoliacutetico en la cuenca media del Valle del Ebro a propoacutesito de San Juan Ante Portam Latinam (Rioja alavesa) Munibe San Sebastian 6 p 105-112

ETXEBERRIA F VEGAS ARAMBURU J I (1992) ndash Heridas por flecha durante la Prehistoria en la Peniacutensula Ibeacuterica Munibe San Sebastian 8 p 129-136

FABIAtildeO C (1989) ndash Para a Histoacuteria da Arqueologia em Portugal Peneacutelope Fazer e Desfazer Histoacuteria Lisboa 2 p 10-26

FABIAtildeO C (1999) - Um Seacuteculo de Arqueologia em Portugal - 1 Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 8 p 104-126

FABIAtildeO C (2008) ndash Evocaccedilatildeo de O da Veiga Ferreira In CARDOSO J L (Coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 147-154

FAacuteBREGAS VALCARCE R (1991) ndash Megalitismo del Noroeste de la Peniacutensula Ibeacuterica Tipologiacutea y secuencia de los materiales liacuteticos Madrid UNED

FEREMBACH D (1964-1965) - Les ossements humains de Salemas (Portugal) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 48 p 165-184

FERNAacuteNDEZ RUIZ J MAacuteRQUEZ ROMERO J E FERRER PALMA J E BALDOMERO NAVARRO A (1997) ndash Los enterramientos colectivos de El Tardoacuten (Antequera Maacutelaga) In BALBIacuteN BERHMAN R BUENO RAMIREZ P (coord) ndash II Congreso de Arqueologia Peninsular Zamora vol 2 p 371-380

FERNAacuteNDEZ RUIZ J MAacuteRQUEZ ROMERO J E (2001) ndash El sepulcro megaliacutetico del Tesolrillo de la Llanaacute de Cerro Ardite Alozaina (Maacutelaga) Spal Sevilla 10 p 193-206

FERNAacuteNDEZ RUIZ J MAacuteRQUEZ ROMERO J E (2003) ndash El traacutensito del cal IV-III milenio aC en la Cuenca media de Rio Grande (Maacutelaga) Plioceacutenica II Congreso de Paleotologiacutea Villa de Estepona Paleontropologiacutea y Prehistoria p 144-151

FERREIRA A B (2005a) ndash Estrutura geoloacutegica do territoacuterio In C MEDEIROS (coord) - Geografia de Portugal Rio de Mouro Ciacuterculo de Leitores vol 1 p 56-74

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 383 de 415

FERREIRA A B (2005b) ndash Geomorfologia das Bacias sedimentares In C MEDEIROS (Coord) - Geografia de Portugal Rio de Mouro Ciacuterculo de Leitores vol 1 p 103-120

FERREIRA A M (1994) - Santos Rocha o Museu Municipal e a Sociedade Arqueoloacutegica da Figueira da Foz (1894-1910) In Museu Municipal Dr Santos Rocha Centenaacuterio (1894-1994) Figueira da Foz Cacircmara Municipal p 73-94

FERREIRA A R (1961) ndash Monumentos megaliacuteticos de Trigache e de A-da-Beja I Notas biograacuteficas de Carlos Ribeiro Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 40 p 297-300

FERREIRA O V (1953a) - A colecccedilatildeo de instrumentos de fibrolite do Museu dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Anais da Academia de Ciecircncias do Porto Porto 37 p 37-44

FERREIRA O V (1953b) - O monumento prehistorico de Agualva (Cacem) Zephyrus Salamanca 4 p 145-166 il

FERREIRA O V (1954) ndash Os artefactos preacute-histoacutericos de calaiacutete e sua distribuiccedilatildeo em Portugal Arqueologia e Histoacuteria Lisboa 5 p 85-93

FERREIRA O V (1957) ndash Tipos de punhal liacutetico da colecccedilatildeo dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Revista de Guimaratildees Guimaratildees 67 p 185-191 Separata

FERREIRA O V (1959) ndash Inventaacuterio dos monumentos megaliacuteticos dos arredores de Lisboa In Actas e Memoacuterias do 1ordm Congresso Nacional de Arqueologia Lisboa 15 a 20 Dezembro de 1958 Lisboa vol 1 p 215-233

FERREIRA O V (1963) ndash Notiacutecia de algumas estaccedilotildees preacute-histoacutericas e objectos isolados ineacuteditos ou pouco conhecidos Boletim da Junta Distrital de Lisboa 2ordf seacuterie p 59-60 Separata

FERREIRA O V (1965) ndash Os pendentes de osso laquocaneladosraquo do niacutevel I da Gruta das Salemas (Ponte de Lousa) Revista de Guimaratildees Guimaratildees Sociedade Martins Sarmento 75 1-4 p 73-81

FERREIRA O V (1966) ndash La Culture du Vase Campaniforme au Portugal Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal (Memoacuterias SGP nova seacuterie 12)

FERREIRA O V (1970) ndash Alguns objectos ineacuteditos bastante raros da colecccedilatildeo do professor Manuel Heleno O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 3ordf seacuterie 4 p 165-173

FERREIRA O V (1973-1974) ndash Notiacutecia de algumas estaccedilotildees preacute e proto-histoacutericas e objectos isolados ineacuteditos ou pouco conhecidos 2ordf parte Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa Lisboa 2ordf seacuterie 79-80 p 131

FERREIRA O V (1975) ndash Acerca dos monumentos de planta quadrada ou rectangular encontrados em Portugal Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa Lisboa 3ordf seacuterie 81 p 49-55

FERREIRA O V (1982) - Cavernas com interesse cultural encontradas em Portugal Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 68 2 p 285-298

FERREIRA O V (1985) ndash Acerca dos enigmaacuteticos laquobaacuteculosraquo da cultura megaliacutetica do Alto Alentejo Arqueologia Porto 12 p 86-93

FERREIRA O V CASTRO L A (1967) ndash O povoado neo-eneoliacutetico das Salemas (Ponte de Lousa) Revista de Guimaratildees Guimaratildees 77 1-2 p 39-45

FERREIRA O V LEITAtildeO M (s d) ndash Portugal preacute-histoacuterico seu enquadramento no mediterracircneo Mem Martins Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 2ordf ediccedilatildeo

FERREIRA O V TRINDADE L (1954) ndash Objectos da necroacutepole do Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras) Zephyrus Salamanca 5 p 29-35

FERREIRA O V TRINDADE L (1956) ndash A necroacutepole do Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras) Anais da Faculdade de Ciecircncias da Faculdade do Porto Porto 38 3 p 193-212

FERREIRA O V ZBYSZEWSKI G LEITAtildeO M NORTH C T SOUSA H R (1975) - Le monument meacutegalithique de Pedra Branca aupregraves de Montum (Melides) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 59 p 107-192

FERRER PALMA J MARQUEacuteS MERELO I (1993) ndash Informe de las actuaciones realizadas en la necroacutepolis megaliacutetica de Antequera (Maacutelaga) durante 1991 Anuaacuterio Arqueoloacutegico de Andaluciacutea 1991 Sevilla Junta de Andaluciacutea 3 p 358-360

FIGUEIREDO A (2006) - Complexo megaliacutetico de Rego da Murta (Rego da Murta Alvaiaacutezere) no contexto da Preacute-histoacuteria Recente do Alto Ribatejo (V-II mileacutenio aC) ndash Problemaacuteticas e Interrogaccedilotildees Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Faculdade de Letras da Universidade do Porto Ficheiro PDF

FIGUEIREDO A (2007) ndash Entre as grutas e os monumentos megaliacuteticos problemaacuteticas e interrogaccedilotildees na Preacute-histoacuteria recente do Alto Ribatejo Al-Madan online Adenda electroacutenica Almada 2ordf seacuterie 15 p 1-15 httpwwwalmadanpublpt

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 384 de 415

FORENBAHER S (1999) ndash Production and Exchange of Bifacial Flaked Stone Artifacts during the Portuguese Chalcolithic Oxford Archaeopress (BAR International Series 756)

FRAGOSO V (2001) ndash A Vaacuterzea de Loures In MUSEU MUNICIPAL DE LOURES - Redescobrir a Vaacuterzea de Loures Ambiente Geologia e Preacute-histoacuteria antiga na Vaacuterzea Loures

FRANCcedilA J C FERREIRA O V (1951) - A estaccedilatildeo prehistoacuterica do Alto do Montijo (Sintra) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 13 1-2 p 34-44 il

FRANCcedilA J C FERREIRA O V (1958) - Estaccedilatildeo preacute-histoacuterica da Samarra (Sintra) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 39 p 61-86 il

GALLAY A (2006) ndash Les Socieacuteteacutes Meacutegalithiques Pouvoir des hommes meacutemoir decircs morts Lausanne Presses polytechniques et universitaires romandes (Le Savoir suisse 37)

GALLAY G SPINDLER K TRINDADE L FERREIRA O V (1973) ndash O monumento preacute-histoacuterico de Pai Mogo (Lourinhatilde) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses 170 il

GAMA R P (2003) ndash Ressuscitar Eira Pedrinha Neoliacutetica Calcoliacutetica Uma nova abordagem antropoloacutegica Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Evoluccedilatildeo Humana Universidade de Coimbra

GARCIacuteA SANJUAacuteN L HURTADO PEacuteREZ V (2002) - La arquitectura de las construcciones funerarias de tipo tholos en el Suroeste de Espantildea In SERRELLI D VACCA D (coords) - Aspetti del Megalitismo Prehistoacuterico Incontro di Studio Sardegna-Spagna (Museo del Territorio Lunamatrona Cagliari Italia 21-23 de Septiembre de 2001) Cagliari Grafica del Parteolla p 36-47

GARCIA SANCHEZ M SPAHNI C (1959) ndash Sepulcros megaliacuteticos de la region de Gorafe (Granada) Archivo de Prehistoria Levantina Valencia 8 p 43-113

GARRIDO-PENA R (1999) ndash El Campaniforme en la Meseta Anaacutelisis de su contexto social econoacutemico y ritual Tesis Doctoral Madrid Universidad Complutense de Madrid Policopiado

GARRIDO-PENA R (2006) ndash Transegalitarian societies an ethnoarchaeological model for the analysis of Copper Age Bell Beaker using groups in Central Iberia In DAacuteZ-DEL-RIacuteO P GARCIacuteA SANJUAacuteN L (coords) ndash Social Inequality in Iberian Late Prehistory Oxford Archaeopress p 81-96 (BAR International Seacuteries 1525)

G E E M ndash Groupe dEacutetude de lEacutepipaleacuteolithique-Meacutesolithique (1969) - Epipaleacuteolithic-Meacutesolithic Las microlithes geacuteometriques Bulletin de la Socieacuteteacute Preacutehistorique Franccedilaise Eacutetudes et Travaux 66 p 355-366

GIBAJA BAO J (2007) ndash Estudios de traceologiacutea y funcionalidad Praxis Archaeologica [Porto] Associaccedilatildeo Profissional de Arqueoacutelogos 2 p 49-74

GIBAJA BAO J PALOMO A (2004) ndash Geomeacutetricos usados como proyectiles Implicaciones econoacutemicas sociales e ideoloacutegicas en sociedades neoliacuteticas del VI-III mileacutenio cal BC en el Noreste de la Peniacutensula Ibeacuterica Trabajos de Prehistoria Madrid CSIC 61 1 p 81-98

GODINHO R (2008) ndash Deposiccedilotildees funeraacuterias em fossa nos Perdigotildees Dados antropoloacutegicos do Sector I Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 3 p 29-34

GOMES L F (1996) ndash A necroacutepole megaliacutetica da ldquoLameira de Cimardquo (Penedo Viseu) Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu Centro de Estudos Preacute-Histoacutericos da Beira Alta 4

GOMES L F CARVALHO P S PERPEacuteTUO J M MARRAFA C (1998) ndash O Doacutelmen de Areita (S Joatildeo da Pesqueira Viseu) In Actas do Coloacutequio ldquoA Preacute-Histoacuteria na Beira Interiorrdquo (Tondela Nov 1997) Viseu p 33-93

GOMES M V (2008) ndash Castelo Belinho (Algarve Portugal) and the first Southwest Iberian villages In DINIZ M (coord) ndash Early Neolithic in Iberian Peniacutensula Regional and Transregional components Oxford Archaeopress p 71-78 (BAR International series 1857)

GOMES M V CARDOSO J L CUNHA A S (1994) ndash A sepultura de Castro Marim Comunicaccedilotildees do Instituto Geoloacutegico e Mineiro Lisboa 80 p 99-105

GONCcedilALVES J L M (1979a) ndash O monumento preacute-histoacuterico da Praia das Maccedilatildes Arquitectura e ceracircmica preacute-campaniforme Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa Lisboa 3ordf Seacuterie 85 p 125-135

GONCcedilALVES J L M (1979b) ndash O monumento preacute-histoacuterico da Praia das Maccedilatildes (Sintra) Notiacutecia preliminar Sintria Sintra Cacircmara Municipal 1-2 p 29-58

GONCcedilALVES J L M (1979c) - Os povoados Neo e Calcoliacuteticos da Peniacutensula de Lisboa Boletim Cultural Lisboa Assembleia Distrital de Lisboa 3ordf seacuterie 85 p 137-162

GONCcedilALVES J L M (1990-1992a) - As Grutas da Serra de Montejunto (Cadaval) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 4ordf seacuterie 8-10 p 41-201

GONCcedilALVES J L M (1990-1992b) ndash Olelas e Praganccedila duas fortificaccedilotildees calcoliacuteticas da Estremadura O Arqueacuteologo Portuguecircs Lisboa 4ordf seacuterie 8-10 p 31-40

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 385 de 415

GONCcedilALVES J L M (1991) ndash O povoado do Alto do Dafundo (Linda-a-Velha Oeiras) corte A e dataccedilatildeo para o Calcoliacutetico inicial estremenho Arqueologia Porto 26 p 24-26

GONCcedilALVES J L M (1992) ndash Grutas artificiais da Quinta das Lapas (Monte Redondo Torres Vedras) Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal 9-10 p 247-276

GONCcedilALVES J L M (1993) ndash Iacutedolos de cornos de Olelas (Sintra) e da Serra das Eacuteguas (Amadora) Al-madan Almada 2ordf seacuterie 2 p 38-40

GONCcedilALVES J L M (1995) ndash Arruda dos Vinhos Notas Arqueoloacutegicas Revista de Arqueologia da Assembleia Distrital de Lisboa Lisboa 2 Separata

GONCcedilALVES J L M SERRAtildeO E C (1978) - O povoado do Calcoliacutetico inicial do Alto do Dafundo Linda-a-Velha In Actas das III Jornadas da Associaccedilatildeo de Arqueoacutelogos Portugueses Lisboa p 75-96

GONCcedilALVES V S (1971) ndash O castro da Rotura e o vaso campaniforme Setuacutebal Junta Distrital de Setuacutebal

GONCcedilALVES V S (1978a) ndash Neolitizaccedilatildeo e megalitismo da regiatildeo de Alcobaccedila Lisboa Secretaria de Estado da Cultura

GONCcedilALVES V S (1978b) ndash Para um programa de estudo do Neoliacutetico em Portugal Zephyrus Salamanca 28-29 p 147-162

GONCcedilALVES V S (1980a) ndash Estaacutecio da Veiga um programa para a instituiccedilatildeo dos estudos arqueoloacutegicos em Portugal 1880-1891 Lisboa Histoacuteria e Criacutetica

GONCcedilALVES V S (1980b) ndash O IX Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Preacute-Histoacutericas Lisboa 1880 Uma leitura seguida da ldquocroacutenicardquo de Bordalo Pinheiro Lisboa Centro de Histoacuteria da Universidade de Lisboa

GONCcedilALVES V S (1987) ndash Cova das Lapas (Montes) ou gruta da Ribeiro do Pereiro Informaccedilatildeo Arqueoloacutegica 1986 Lisboa IPPC 8 p 40-41

GONCcedilALVES V S (1988-1989) - A ocupaccedilatildeo preacute-histoacuterica do Monte Novo dos Albardeiros Reguengos de Monsaraz Portugaacutelia Porto nova seacuterie 9-10 p 49-61

GONCcedilALVES V S (1989a) ndash Manifestaccedilatildeo do sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente Peninsular 1 Deusa(s)-Matildee placas de xisto e cronologias uma nota preambular Almansor 7 p 289-302

GONCcedilALVES V S (1989b) - Megalitismo e metalurgia no Alto Algarve Oriental uma aproximaccedilatildeo integrada Lisboa INICUNIARQ 2 vol

GONCcedilALVES V S (1990) ndash Siacutetios horizontes e artefactos o caso da Parede - Cascais Lisboa Arquivo de Cascais Cascais Cacircmara Municipal 9 p 13-43

GONCcedilALVES V S (1992) ndash Revendo as antas de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARQ 264 p

GONCcedilALVES V S (1993) ndash Manifestaccedilotildees do Sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente Peninsular 3 A Deusa dos olhos de sol Um primeiro olhar Revista da Faculdade de Letras de Lisboa Lisboa 5ordf seacuterie 15 p 41-47

GONCcedilALVES V S (1994a) ndash A primeira metade do 3ordm mileacutenio no CentroSul de Portugal Algumas breves reflexotildees enquanto outras natildeo satildeo possiacuteveis In JORGE V (coord) ndash Actas do 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular (Porto 12-18 de Outubro de 1993) Porto SPAE vol 4 p 117-131

GONCcedilALVES V S (1994b) ndash Os artefactos votivos de calcaacuterio oferendas votivas do 3ordm mileacutenio In Lisboa Subterracircnea Lisboa Ed Lisboa 94 p 115-135

GONCcedilALVES V S (1995) ndash Siacutetios ldquoHorizontesrdquo e Artefactos Leituras Criacuteticas de Realidades Perdidas Cascais 1ordf ediccedilatildeo 304 p

GONCcedilALVES V S (1997) - Manifestaccedilotildees do Sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente Peninsular 2 A Propoacutesito dos Artefactos Votivos de Calcaacuterio das Necroacutepoles de Alcalar e Monte Velho Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal 11-12 p 199-216 I Encontro de Arqueologia da Costa Sudoeste

GONCcedilALVES V S (1999a) ndash Reguengos de Monsaraz Territoacuterios megaliacuteticos Lisboa Cacircmara Municipal de Reguengos de Monsaraz 151 p

GONCcedilALVES V S (1999b) ndash Time landscape and burials 1 Megalithic rites of ancient peasant societies in central and southern Portugal Journal of Iberian Archaeology Porto ADECAP p 83-91

GONCcedilALVES V S (2001) ndash A anta 2 da Herdade de Santa Margarida (Reguengos de Monsaraz) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 4 2 p 115-206

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 386 de 415

GONCcedilALVES V S (2003a) ndash A anta 2 da Herdade dos Cebolinhos (Reguengos de Monsaraz Eacutevora) Sinopse das intervenccedilotildees de 1996-97 e duas dataccedilotildees de radiocarbono para a uacuteltima utilizaccedilatildeo da cacircmara ortostaacutetica Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 6 2 p 143-166

GONCcedilALVES V S (2003b) ndash Comer em Reguengos no Neoliacutetico As estruturas de combustatildeo da Aacuterea 3 de Xarez 12 In GONCcedilALVES V S (coord) - Muita Gente Poucas Antas Origens Espaccedilos e Contextos do Megalitismo Actas do 2ordm Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 81-99 (Trabalhos de Arqueologia 25)

GONCcedilALVES V S (2003c) - Manifestaccedilotildees do sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente Peninsular 4 laquoA siacutendrome das placas loucasraquo Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 6 1 p 131-157

GONCcedilALVES V S (coord) (2003d) ndash Muita Gente Poucas Antas Origens Espaccedilos e Contextos do Megalitismo Actas do 2ordm Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 534 p (Trabalhos de Arqueologia 25)

GONCcedilALVES V S (2003e) ndash Siacutetios ldquoHorizontesrdquo e Artefactos Leituras Criacuteticas de Realidades Perdidas Cascais 2ordf ediccedilatildeo revista e aumentada 380 p

GONCcedilALVES V S (2003f) ndash STAM-3 a anta 3 da herdade de Santa Margarida (Reguengos de Monsaraz) Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 32)

GONCcedilALVES V S (2004a) ndash As deusas da noite o projecto laquoPlaca Nostraraquo e as placas de xisto gravadas da regiatildeo de Eacutevora Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa IPA 7 2 p 49-72

GONCcedilALVES V S (2004b) ndash As placas de xisto gravadas dos sepulcros colectivos de Aljezur (3ordm mileacutenio ane) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 22 p 163-318

GONCcedilALVES V S (2004c) - Manifestaccedilotildees do sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente peninsular 5 O expliacutecito e o impliacutecito Breve dissertaccedilatildeo invocando os limites fluidos do figurativo a propoacutesito do significado das placas de xisto gravadas do terceiro mileacutenio ane Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 7 1 p 165-183

GONCcedilALVES V S (Coord) (2005a) ndash Cascais haacute 5000 anos Cascais Cacircmara Municipal 221 p GONCcedilALVES V S (2005b) ndash Cascais haacute 5000 mil anos Tempos siacutembolos e espaccedilos da Morte das

antigas Sociedades Camponesas In GONCcedilALVES V S (coord) - Cascais haacute 5000 anos Cascais Cacircmara Municipal p 63-195

GONCcedilALVES V S (2005c) ndash Espaccedilos construiacutedos siacutembolos e ritos da morte das antigas sociedades camponesas no Extremo Sul de Portugal algumas reflexotildees sob a forma de qmf Mainakeacute Maacutelaga 36 p 89-113

GONCcedilALVES V S (2005d) ndash Manifestaccedilotildees do Sagrado no Ocidente Peninsular 6 As representaccedilotildees da Deusa no edifiacutecio funeraacuterio tipo tholos do Monte Novo dos Albardeiros Reguengos de Monsaraz Eacutevora O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 23 p 195-229

GONCcedilALVES V S (2005e) ndash As placas de xisto gravadas dos sepulcros colectivos de Aljezur Aljezur Cacircmara Municipal

GONCcedilALVES V S (2006a) ndash Manifestaccedilotildees do Sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente peninsular 7 As placas hiacutebridas Definiccedilatildeo do conceito alguns poucos exemplos e de novo os possiacuteveis significados das placas Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa IPA 9 2 p 27-59

GONCcedilALVES V S (2006b) ndash Manifestaccedilotildees do Sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente peninsular 8 Sete placas de xisto gravadas O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 24 p 167-231

GONCcedilALVES V S (2006c) ndash Quelques questions autour du temps de lrsquoespace et des symboles meacutegalithiques du centre et sud du Portugal In Origine et deacutevelopment du meacutegalithisme de lrsquoouest de lrsquoEurope (Bougon 26-30 octobre 2002) Bougon vol 1 p 485-510

GONCcedilALVES V S (2007) - Breves reflexotildees sobre os caminhos das antigas sociedades camponesas no Centro e Sul de Portugal Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municpal 15 p 79-94 CARDOSO J L (coord) - Actas do Coloacutequio A Arqueologia Portuguesa e o Espaccedilo Europeu Balanccedilos e Perspectivas Sociedade de Geografia de Lisboa (Lisboa 30 de Outubro de 2007)

GONCcedilALVES V S (2008a) ndash A utilizaccedilatildeo preacute-histoacuterica da gruta de Porto Covo (Cascais) Uma revisatildeo e algumas novidades Cascais Cacircmara Municipal (CTA Cascais Tempos Antigos)

GONCcedilALVES V S (2008b) ndash Na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane dois subsistemas maacutegico-religiosos no Centro e Sul de Portugal In HERNAacuteNDEZ PEacuteREZ M SOLER DIacuteAZ J

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 387 de 415

LOacutePEZ PADILLA J (coords) - Actas del 4ordm Congreso del Neoliacutetico Peninsular Alicante MARQ Museo Arqueoloacutegico de Alicante vol 2 p 112-120

GONCcedilALVES V S ANDRADE M PEREIRA A (2004) ndash As placas de xisto das grutas artificiais do Tojal de Vila Chatilde (Carenque) e da necroacutepole das Bauacutetas (Mina) Amadora O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 22 p 113-162

GONCcedilALVES V S PEREIRA A R (1974-77) ndash Consideraccedilotildees sobre o espoacutelio Neoliacutetico da Gruta dos Carrascos Monsanto Alcanena O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf seacuterie 7-9 p 49-87

GONCcedilALVES V S SOUSA A C (1997) ndash A propoacutesito do grupo megaliacutetico de Reguengos de Monsaraz e das origens do megalitismo no Ocidente Peninsular In Actas do Coloacutequio Internacional O Neoliacutetico Atlacircntico e as orixes do megalitismo Santiago de Compostela Universidad de Santiago de Compostela p 609-634

GONCcedilALVES V S SOUSA A C (2000) ndash O grupo megaliacutetico de Reguengos de Monsaraz e a evoluccedilatildeo do megalitismo no Ocidente Peninsular (espaccedilos de vida espaccedilos de morte sobre as antigas sociedades camponesas em Reguengos de Monsaraz) In GONCcedilALVES V S (coord) ndash Muitas antas pouca gente Actas do Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portugecircs de Arqueologia p 11-104 (Trabalhos de Arqueologia 16)

GONCcedilALVES V S SOUSA A C (2003) ndash Novos dados sobre as praacuteticas funeraacuterias das antigas sociedades camponesas em Reguengos de Monsaraz o limite oriental In GONCcedilALVES V S (coord) - Muita Gente Poucas Antas Origens Espaccedilos e Contextos do Megalitismo Actas do 2ordm Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 195-221 (Trabalhos de Arqueologia 25)

GONCcedilALVES V S SOUSA A C (2006) ndash Algumas breves reflexotildees sobre quatro datas 14C para o Castro da Rotura no contexto do terceiro mileacutenio ane nas peniacutensulas de Lisboa e Setuacutebal O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 24 p 233-266

GOURICHON L CARDOSO JL (1995) ndash Lrsquoavifaune de lrsquohabitat fortifieacute Chalcolitique de Leceia (Oeiras Portugal) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 165-186

GUERREIRO A CARDOSO J L (2001-2002) ndash A fauna malacoloacutegica encontrada no povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudo sistemaacutetico e respectivo significado Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 10 p 89-129

GUILAINE J (coord) (1999) ndash Megalithismes de lrsquoAtlantique a lrsquoEthiopie Paris Editions Errance HARPSOumlE C H RAMOS M F (1987) ndash Gruta dos Penedos (Ponte de Lousa) Arqueologia Porto

15 p 140-143 HARRIS E (1997) ndash Principles of archaeological stratigraphy London Academic Press Limited 2ordf

ediccedilatildeo HARRISON R J (1977) - The Bell Beaker Cultures of Spain and Portugal Cambridge

Massachusetts Harvard University HAVERKORT C M LUBELL D (1999) - Cutmarks on Capsian human remains implications for

Maghreb Holocene social organization and palaeoeconomy International Journal of Osteoarchaeology 9 3 p 147-169

HEDGES R (2004) ndash Isotopes and red herrings comments on Milner et al and Lideacuten et al Antiquity 78 p 34-37 Debate Change of diet in Northern Europersquos Mesolithic-Neolithic transition a new critique

HELENO M (1933) - Grutas artificiais do Tojal de Vila Chatilde (Carenque) Lisboa Comunicaccedilatildeo feita ao Congresso Luso-Espanhol de 1932

HELENO M (1942a) ndash Gruta artificial da Ermegeira Ethnos Lisboa 2 p 449-459 il HELENO M (1942b) ndash O Problema da origem das luacutenulas Ethnos Lisboa 2 p 464-467 HELENO M (1956) ndash Um quarto de seacuteculo de investigaccedilatildeo arqueoloacutegica O Arqueoacutelogo Portuguecircs

Lisboa 2ordf seacuterie 3 p 221-237 HERNANDO GONZALO A (1993) ndash Campesinos y ritos funerarios El desarollo de la complejidad

en el Mediterraneo Occidental (IV-II Milenios AC) In 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Actas II Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto SPAE 33 3-4 p 91-98

HERNANDO GONZALO A (1997) - The Funerary World and the Dynamics of Change in Southeast Spain (Fourth-Second Millenia BC) In DIacuteAZ-ANDREU M KEAY S (Ed) The Archaeology of Iberia The Dynamics of Change London Routledge p 85-97

HERRMANN B GRUPE G HUMMEL S PIEPENBRINK H SCHUTKOWSKI H (1990) - Praehistorische Anthropologie Berlin Springer-Verlag

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 388 de 415

HILLIER M (2008a) ndash Osteological report ndash the dolmen of Carcavelos [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura e Florbela Estecircvatildeo no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008b) ndash Osteological report ndash the dolmen of Carrascal [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008c) ndash Osteological report ndash the dolmen of Casal do Penedo [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008d) ndash Osteological report ndash the dolmen of Estria [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008e) ndash Osteological report ndash the dolmen of Monte Abraatildeo [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008f) ndash Osteological report ndash the dolmen of Pedras Grandes [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008g) ndash Osteological report ndash the dolmen of Pedra dos Mouros [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008h) ndash Osteological report ndash the dolmen of Trigache 2 [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M BOAVENTURA R ANTUNES-FERREIRA N ESTEVAtildeO F (no prelo) ndash Cutmarks on human remains from the dolmen of Carcavelos (Portugal) Possible evidence of disarticulation and defleshing in the Late Neolithic Actas das Jornadas de Arqueologia do Vale do Tejo em Territoacuterio Portuguecircs

HILLIER M BOAVENTURA R RICHARDS M (2008) ndash Diet and Mobility of Late Neolithic populations of Central-South Portugal Isotopic analysis of human remains from the Lisbon and Alentejo regions of Portugal Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa Era-Arqueologia SA 1 p 29-34 Revista electroacutenica http wwweraarqueologiapt

HILLIER M BOAVENTURA R JACKES M RICHARDS M (2008) ndash Stable isotope analysis and the investigacion of marine resource exploitation and social complexity in Neolithic Portugal Apresentaccedilatildeo na 36th Annual Meeting Canadian Association for Physical Anthropology November 5-8 2008 Hamilton Ontario Canada

HOFFMAN G (1990) ndash Zur Holozaumlnen Landschaftensentwicklung im tal des Rio Sizandro (Portugal) Madrider Mitteilungen Mainz am Rhein 31 p 21-33

HOFFMAN G SCHULZ H (1994) ndash Cambio de situacioacuten de la liacutenea costera y estratigrafia del holoceno en el valle del rio Sizandro Portugal In Kunst M (ed) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Lisboa IPPAR p 45-46 (Trabalhos de Arqueologia 7)

HOPF M (1981) ndash Pflauzliche reste aus Zambujal In E SANGMEISTER amp H SCHUBART ndash Zambujal die grabungen 1964 bis 1973 Mainz am Rhein Verlag Philipp von Zabern vol 1 p 315-340 (Madrider Beitraumlge 5 1)

HOSKIN M (2001) ndash Tombs Temples and Their Orientations A New Perspective on Mediterranean Prehistory Oxford UK Ocarina Books 264 p

HOSKIN M CALADO M (1998) - Orientations of Iberian Tombs Central Alentejo Region of Portugal Archaeoastronomy Cambridge 23 p S77-82

HOUAISS A VILLAR M FRANCO F (2005) ndash Dicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Lisboa

HUGHEN K A BAILLIE M G L BARD E BECK J W BERTRAND C J H BLACKWELL P G BUCK C E BURR G S CUTLER K B DAMON P E EDWARDS R L FAIRBANKS R G FRIEDRICH M GUILDERSON TP KROMER B MCCORMAC G MANNING S BRONK RAMSEY C REIMER P J REIMER R W REMMELE S SOUTHON J R STUIVER M TALAMO S TAYLOR F W VAN DER PLICHT J WEYHENMEYER C E (2004) - Marine04 marine radiocarbon age calibration 0-26 cal kyr BP Radiocarbon 46 3 p 1059-1086

HURTADO PEacuteREZ V (1981) ndash Las figuras humanas del yacimiento de La Pijotilla (Badajoz) Madrider Mitteilungen 22 p 78-88

HURTADO PEacuteREZ V (1986) ndash El Calcoliacutetico en la Cuenca Media del Guadiana y la necroacutepolis de La Pijotilla In Actas de la Mesa Redonda sobre Megalitismo peninsular 8-14 Outubre 1984 Madrid p 51-75

HURTADO PEacuteREZ V (1988) ndash Informe sobre las campantildeas de excavaciones en La Pijotilla (Badajoz) Extremadura Arqueoloacutegica Meacuterida 1 p 35-54

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 389 de 415

HURTADO PEacuteREZ V (1991) ndash Informe de las excavaciones de urgecircncia en La Pijotilla Campantildea de 1990 Extremadura Arqueoloacutegica Meacuterida 2 p 45-68 I Jornadas de Prehistoria y Arqueologia en Extremadura

HURTADO PEacuteREZ V (2004) ndash El asentamiento fortificado de San Blas (Cheles Badajoz) III mileacutenio AC Trabajos de Prehistoria Madrid 61 1 p 141-155

HURTADO PEacuteREZ V GARCIA SANJUAacuteN L (1994) ndash La necropolis de Guadajira (Badajoz) y la transicioacuten a la Edad del Bronce en la Cuenca Media del Guadiana SPAL 3 p 95-144

HURTADO PEacuteREZ V MONDEJAR FERNAacuteNDEZ DE QUINCOCES P PECERO ESPIacuteN J (2000) ndash Excavaciones en la Tumba 3 de La Pijotilla Extremadura Arqueoloacutegica Meacuterida 8 p 249-266 JIMEacuteNEZ AacuteVILA J ENRIacuteQUEZ NAVASCUEacuteS J (coords) ndash El Megalitismo en Extremadura (Homenaje a Elias Dieacuteguez Luengo)

INIZAN M-L REDURON-BALLINGER M ROCHE H TIXIER J (1999) ndash Techonology and Terminology of Knapped Stone Nanterre CREP (Preacutehistoire de la Pierre Tailleacutee 5)

IPPC - Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio Cultural (1986) ndash Roteiros da Arqueologia portuguesa 1- Lisboa e arredores Lisboa IPPC

IPQ - Instituto Portuguecircs de Qualidade (1995) ndash Norma Portuguesa 405-1 1994 Informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo Referecircncias bibliograacuteficas documentos impressos Monte da Caparica IPQ

ISIDORO A F (1964) - Estudo do espoacutelio antropoloacutegico da gruta neo-eneoliacutetica do Bugio (Sesimbra) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 19 3-4 p 221-284

ISIDORO A F (1981) - Espoacutelio oacutesseo humano da gruta neoliacutetica do Escoural Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 24 1 p 5-46 il

JACKES M (1993) ndash On Paradox and Osteology Current Anthropology 34 4 p 434-439 JACKES M (2004) ndash Osteological evidence for Mesolithic and Neolithic violence problems of

interpretation In Evidence and meaning of violent interactions in the Mesolithic Oxford Archaeopress p 23-39 (BAR International Series 1237)

JACKES M LUBELL D (1992) ndash The Early Neolithic human remains from Gruta do Caldeiratildeo In ZILHAtildeO J ndash Gruta do Caldeiratildeo ndash o Neoliacutetico Antigo Lisboa IPPAAR p 259-295 (Trabalhos de Arqueologia 6)

JACKES M LUBELL D (1999) ndash Human skeletal biology and the Mesolithic-Neolithic transition in Portugal In THEacuteVENIN A (ed) - LrsquoEurope des derniers chasseurs Actes du 5e colloque international UISPP commission XII Grenoble 18-23 septembre 1995 Paris Editions du CTHS p 59-64

JACKES M LUBELL D MEIKLEJOHN C (1997) - Healthy but Mortal Human Biology and the First Farmers of Western Europe Antiquity 71 273 p 639-658 Suplementos em httpintarchacu kantiquityjackes

JALHAY E PACcedilO A (1946) ndash A gruta II da necroacutepole de Alapraia Anais da Academia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 4 Separata

JALHAY E PACcedilO A RIBEIRO L (1944) - Estaccedilatildeo preacute-histoacuterica de Montes Claros Monsanto Introduccedilatildeo Revista Municipal Lisboa 5 20-21 p 17-28 Separata de 1945

JIMENEZ BROBEIL S ORTEGA VALLET J GARCIacuteA SAacuteNCHEZ M (1986) ndash Incisiones intencionales sobre huesos humanos del Neoliacutetico de la Cueva de Malalmuerzo (Mocliacuten Granada) Antropologiacutea y Paleoecologiacutea Humana 4 p 34-65

JIMEacuteNEZ GOacuteMEZ M C (1995) ndash Los amuletos en el Eneoliacutetico portugeacutes Zambujal In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das 1ordfs Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 31-35 (Trabalhos de Arqueologia 7)

JORDAacute PARDO J F MESTRES TORRES J S (1999) - El enterramiento calcoliacutetico precampaniforme de Jarama II Una nueva fecha radiocarboacutenica para la Prehistoria Reciente de Guadalajara e y su Integracioacuten en la cronologiacutea de la regioacuten Zephyrus Salamanca Universidad 52 p 175-190

JORDAtildeO P MENDES P (2000) ndash As grutas de Ribeira de Crastos (Caldas da Rainha) reinterpretaccedilotildees de um siacutetio O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 18 4ordf seacuterie p 11-60

JORGE S O (1978) ndash Pontas de seta provenientes de tuacutemulos megaliacuteticos do Noroeste de Portugal Minia 2ordf seacuterie 1 2 p 99-175

JORGE S O (2003) ndash Pensar o espaccedilo da Preacute-Histoacuteria Recente A propoacutesito dos recintos murados da Peniacutensula Ibeacuterica In JORGE S (coord) ndash Recintos murados da Preacute-Histoacuteria Recente Porto Faculdade de Letras do Porto p 13-50

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 390 de 415

JORGE S O OLIVEIRA M L NUNES S GOMES S (1998-1999) ndash Estrutura ritual com ossos humanos no siacutetio preacute-histoacuterico de Castelo Velho de Freixo de Numatildeo (Vordf Nordf de Foz Cocirca) Portugaacutelia Porto nova seacuterie 19-20 p 29-70

JORGE V O (1986) - laquoMonumentalizaccedilatildeoraquo e laquoNecropolizaccedilatildeoraquo no Megalitismo Europeu Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia 26 1-4 p 233-237

JORGE V O (1990a) - Les monuments meacutegalithiques du Nord du Portugal In Probleme der Megalithgraumlberforschung vortraumlge zum 100 Geburtstag von Vera Leisner Berlin Walter de Gruyter p 35-52

JORGE V O (1990b) - Progressos da investigaccedilatildeo preacute-histoacuterica no norte de Portugal nos uacuteltimos doze anos o exemplo da Serra da Aboboreira e do seu megalitismo In Arqueologia Hoje I etno-arqueologia Faro Universidade do Algarve p 14-36

JORGE V O (2000) ndash Megalitismo europeu e portuguecircs breves consideraccedilotildees histoacuterics em jeito de balanccedilo Arqueologia e Histoacuteria Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses 54 p 79-85

JORGE V O (1999-2000) ndash Arqueologia e Preacute-Histoacuteria Alguns toacutepicos de reflexatildeo Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 7 p 447-487

JORGE V O JORGE S O FIGUEIRAL I DELIBRIAS G FONTUGNE M CABRAL P SOARES A M (1988-89) - Novos elementos sobre o megalitismo da Serra da Aboboreira (Baiatildeo) Portugaacutelia Porto nova seacuterie 9-10 p 101-104

JOUSSAUME R (1985) ndash Des Dolmens pour les morts Paris Hachette JOUSSAUME R (2004) - Dolmen In VIALOU D JOUSSAUME R PAUTREAU J-P - La

Preacutehistoire Histoire et Dictionnaire Paris Robert Laffont p 540-547 KALB P (1981) ndash Zur relativen chronologie portugiesischer Megalithgraumlber Madrider Mitteilungen

Madrid DAI 22 p 55-77 KALB P (1988) - Megalithic Remains and Neolithization in the Iberian Peninsula Berytus

Archaeological Studies Beirut The American University of Beirut 36 p 53-68 KALB P (1989) - O Megalitismo e a Neolitizaccedilatildeo no Oeste da Peniacutensula Ibeacuterica Arqueologia Porto

20 p 33-46 KALB P (1996) - Megalith-Building Stone Transport and Territorial Markers Evidence from Vale

de Rodrigo Eacutevora South Portugal Antiquity 70 269 p 683-685 KALB P HOumlCK M (1996) - Investigaccedilatildeo Geoloacutegica na Zona Megaliacutetica de Vale de Rodrigo

Eacutevora In 3ordf Reuniatildeo do Quaternaacuterio Ibeacuterico Coimbra 1993 Set 27 - Out 1 p 469-474 KNUumlSEL C (2005) ndash The Physical Evidence of Warfare ndash Subtle Stigmata In PARKER

PEARSON M THORPE I (coords) - Warfare Violence and Slavery in Prehistory Proceedings of a Prehistoric Society conference at Sheffield University Oxford Archaeopress p 49-65 (BAR International Series 1374)

KRA R (1988) - The Second International Symposium on Archaeology and 14C Radiocarbon 30 1 p 130

KUNST M (1987) ndash Zambujal Glockenbecher und kerbblattverzierte Keramik aus den Grabungen 1964 bis 1973 Mainz Deutsch Archaeologisches Institut 2 vol

KUNST M (1990) - Sizandro and Guadiana Rivers a comparison as example of the interdependence between the development of settlement and the natural environment In Arqueologia Hoje I etno-arqueologia Faro Universidade do Algarve p 118-131

KUNST M (1995) ndash Ceracircmica do Zambujal ndash novos resultados para a cronologia da ceracircmica calcoliacutetica In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 37-59 (Trabalhos de Arqueologia 7)

KUNST M (1996) ndash As ceracircmicas decoradas do Zambujal e o faseamento do Calcoliacutetico da Estremadura portuguesa Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 257-287

KUNST M (2000) ndash A guerra no Calcoliacutetico na Peniacutensula Ibeacuterica Era Arqueologia Lisboa 2 p 128-142

KUNST M (2005) ndash Bell Beakers in Portugal A short summary In ROJO-GUERRA M GARRIDO-PENA R GARCIacuteA-MARTINEZ DE LAGRAacuteN I (Coords) - Bell Beakers in the Iberian Peninsula and their European context Valladolid Universidad p 213-225

LAGO M DUARTE C VALERA A ALBERGARIA J ALMEIDA F CARVALHO AF (1998a) - Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) Dados Preliminares dos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 391 de 415

Trabalhos Realizados em 1997 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 1 1 p 45-151

LAGO M DUARTE C VALERA A ALBERGARIA J ALMEIDA F CARVALHO A F REIS S (1998b) - Povoado Preacute-Histoacuterico dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) Relatoacuterio final dos trabalhos de Salvamento arqueoloacutegico Lisboa Era Arqueologia Lda 4 vol

LARSEN C S (1995) - Biological changes in human populations with agriculture Annual Review of Anthropology 24 p 185-213

LARSEN C S (1997) - Bioarchaeology Interpreting Behavior from the Human Skeleton Cambridge Cambridge University Press

LARSSON L (2000) ndash Symbols in stone ndash ritual activities and petrified traditions In Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Porto vol 3 p 445-458

LAZARICH GONZALEZ M (2006) ndash Excavaciones de urgencia en la necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazules) Caacutediz) Almajar 2 p 195-198

LAZARICH GONZALEZ M (2008) ndash Ritos ante la muerte Necroacutepolis de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazuacuteles Caacutediz) Caacutediz Universidad

LAZARICH GONZALEZ M RAMOS A JENKINS V VALENTIacuteN FERNAacuteNDEZ DE LA GALA J CARRERAS A RICHARTE M J BRICENtildeO E FELIU M J PERALTA P MESA M STRATTON S NUNtildeEZ M REMAUD P AGUILERA L (no prelo) ndash A contribution to the knowledge of funeral customs of the IIIrd millenium BC in the South of the Iberian Peniacutensula The necropolis of Paraje de Monte Bajo in Alcalaacute de los Gazules (Caacutediz Spain) World Archaeological Congress 6

LEE-THORP J (2008) ndash On Isotopes and Old Bones Archaeometry 50 6 p 925-950 LEISNER G (1940) - O doacutelmen de falsa cuacutepula de Vale-de-Rodrigo Biblos Coimbra 20 p 23-52

il LEISNER G (1946) ndash [Cartatildeo] 1946 [a] Manuel Heleno [Manuscrito] Arquivo Manuel Heleno

Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal LEISNER G LEISNER V (1949) - Los monumentos megaliacuteticos del mediodiacutea de la Peniacutensula

Ibeacuterica seguacuten los resultados a que han llegado G y V Leisner Archivo Espantildeol de Arqueologiacutea Madrid CSIC 22 p 75-85

LEISNER G LEISNER V (1943) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Suden Berlin Walter de Gruyter Co vol 1

LEISNER G LEISNER V (1951) ndash Antas do concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCH 2ordf ediccedilatildeo Reproduccedilatildeo do original de 1951

LEISNER G LEISNER V (1955) - Antas nas herdades da Casa de Braganccedila no concelho de Estremoz Lisboa Fundaccedilatildeo Casa de Braganccedila 29 p il

LEISNER G LEISNER V (1959) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Berlin Walter de Gruyter Co vol 2

LEISNER V (1965) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Berlin Walter de Gruyter Co vol 3 Text and Tafeln

LEISNER V (1983) - As Diferentes Fases do Neoliacutetico em Portugal Arqueologia 7 p 7-15 Traduccedilatildeo do artigo de 1966 publicado em Palaeohistorica 12

LEISNER V (1985) ndash Mikrolithen ndash Aufzeichnungen im NationalMuseum fuer Archaeologie und Ethnologie in Lissabon Lisboa Deutsches Archaeologisches Institut Bilingue Microacutelitos ndash Apontamentos tomados no Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia em Lisboa Lisboa Instituto Arqueoloacutegico Alematildeo

LEISNER V FERREIRA O V (1959) - Os monumentos megaliacuteticos de Trigache e de A-de-Beja In Actas e Memoacuterias do I Congresso Nacional de Arqueologia Lisboa 15 a 20 Dezembro de 1958 Lisboa vol 1 p 187-233

LEISNER V FERREIRA O V (1961) - Monumentos megaliacuteticos de Trigache e de A-da-Beja II Monumentos megaliacuteticos Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 40 p 300-337 il

LEISNER V FERREIRA O V (1963) ndash Primeiras datas de radiocarbono 14 para a cultura megaliacutetica portuguesa Revista de Guimaratildees Guimaratildees 73 3-4 p 358-366

LEISNER V KALB P (1998) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Berlin Walter de Gruyter Co vol 4 Text and Tafeln KALB P (Comp)

LEISNER V PACcedilO A RIBEIRO L (1964) ndash Grutas artificiais de Satildeo Pedro do Estoril Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 79 p

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 392 de 415

LEISNER V RIBEIRO L (1966) ndash A escavaccedilatildeo do DolmenndashOrca das Castenairas Fraacuteguas ndash Vila Nova de Paiva Lucerna Porto 5 p 376-382 il

LEISNER V RIBEIRO L (1968) ndash Die doacutelmen von Carapito Madrider Mitteilungen Madrid DAI 9 p 11-62 il

LEISNER V ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V (1961) ndash Les grottes artificielles de Casal do Pardo (Palmela) et la Culture du vase campaniforme Lisboa Serviccedilos Goeloacutegicos de Portugal (Memoacuteria Nova seacuterie 8)

LEISNER V ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V (1969) - Les monuments preacutehistoriques de Praia das Maccedilatildes et de Casainhos Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal (Memoacuteria nova Seacuterie 16)

LEITAtildeO M NORTH C T FERREIRA O V (1973) ndash O povoado preacute-histoacuterico da Serra da Espargueira (Belas) In Actas das 2ordfs Jornadas Arqueoloacutegicas Lisboa 1972 Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses vol 1 p 143-157

LEITAtildeO M NORTH C T NORTON J FERREIRA O V ZBYSZWESKI G (1984) ndash The Prehistoric Burial Cave at Verdelha dos Ruivos (Vialonga) Portugal In GUILAINE J - LrsquoAcircge du Cuivre europeacuteen Civilisations agrave vases campaniformes Paris CNRS p 221-239

LEITAtildeO M NORTH C T NORTON J FERREIRA O V ZBYSZWESKI G (1987) - A gruta preacute-histoacuterica do Lugar do Canto Valverde Alcanede O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 5 p 37-65

LEITAtildeO V (2001) - The travel of Geologist Carlos Ribeiro (1813-1882) to Europe in 1858 Comunicaccedilotildees do Instituto Geoloacutegico e Mineiro Lisboa 88 p 293-300

LEITAtildeO V (2004) - Assentar a primeira pedra As primeiras Comissotildees Geoloacutegicas portuguesas (1848-1868) Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Lisboa Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Nova de Lisboa Policopiado

LEROI-GOURHAN A (1984a) ndash Evoluccedilatildeo e teacutecnicas 1 O Homem e a mateacuteria Lisboa Ediccedilotildees 70 (Perspectivas do Homem 20)

LEROI-GOURHAN A (1984b) ndash Evoluccedilatildeo e teacutecnicas 2 O meio e as teacutecnicas Ediccedilotildees 70 (Perspectivas do Homem 21)

LIDEacuteN K (1995) ndash Megaliths Agriculture and Social Complexity A Diet Study of Two Swedish Megalith Populations Journal of Anthropological Archaeology 14 p 404-417

LIDEacuteN K ERIKSSON G BENGT N ANDERS G BENDIXEN E (2004) ndash laquoThe wet and the wild followed by the dry and the tameraquo - or did they occur at the same time Diet in Mesolithic-Neolithic Southern Sweden Antiquity 78 p 23-33 Debate Change of diet in Northern Europersquos Mesolithic-Neolithic transition a new critique

LILLIOS K (1996) - The Historiography of Late Prehistoric Portugal In LILLIOS K - The Origins of Complex Societies in Late Prehistoric Iberia p7-19

LILLIOS K (1997) - Amphibolite tools of the Portuguese Copper Age (3000-2000 BC) A Geoarchaeological approach to prehistoric economics and symbolism Geoarchaeology An International Journal 12 2 p 137-163

LILLIOS K (2000) - A Biographical Approach to the Ethnogeology of Late Prehistoric Portugal Trabajos de Prehistoria Madrid CSIC 57 1 p 19-28

LILLIOS K (2002) ndash Some new views of the engraved schist plaques of southwest Iberia Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa IPA 5 2 p 135-152

LILLIOS K (2003) ndash Creating memory in prehistory The engraved slate plaques of southwest Iberia In DYKE R V ALCOCK S (coords) ndash Archaeologies of Memory Oxford Blackwell p 129-150

LILLIOS K (2004a) - Lives of stone lives of people Re-viewing the engraved plaques of Late Neolithic and Copper Age Iberia European Journal of Archaeology 7 2 p 125-158

LILLIOS K (2004b) ndash The Engraved Stone Plaque Registry and Inquiry Tool (ESPRIT) [em linha] Disponiacutevel em httpresearch2itsuiwoaeduiberian

LILLIOS K (2006) ndash Liminal animals liminal people The barn owl (Tyto alba) and the engraved plaques of Late Neolithic and Copper Age Iberia In BICHO N (coord) - Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular (Faro 2004) Faro Universidade p 27-34

LILLIOS K (2008) ndash Heraldry for the Dead memory Identity and the Engraved Stone Plaques of Neolithic Iberia Austin University of Texas Press

LINARES CATELA J (2006) ndash Documentacioacuten consolidacioacuten y puesta en valor del conjunto dolmeacutenico de Los Gabrieles (Valverde del Camino Huelva) 2ordf fase In Anuaacuterio Arqueoloacutegico de Andaluciacutea Sevilla Junta de Andaluciacutea p 250-264

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 393 de 415

LISBOA I M G (1985) ndash Meaning and messages Mapping style in the Iberian Chalcolithic Archaeological Review from Cambridge 4 2 p 181-196

LOPES S C (2005-2006) ndash Paleobiologia da gruta-necroacutepole do Cadaval (Tomar) Contribuiccedilatildeo para o estudo da Neolitizaccedilatildeo no Alto Ribatejo Master Erasmus Mundus em Quaternaacuterio e Preacute-Histoacuteria Tomar Instituto Politeacutecnico de Tomar Policopiado

LOacutePEZ DE CALLE C ILARRAZA J A (1997) ndash Fases antiguas del Megalitismo de Cameros (La Rioja) Caracterizacioacuten y cronologiacutea In RODRIGUEZ CASAL A (ed) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 415-430

LUBELL D JACKES M (1985) ndash Mesolithic-Neolithic continuity Evidence from Chronology and Human Biology In Actas da 1ordf Reuniatildeo do Quaternaacuterio Ibeacuterico Lisboa Instituto Nacional de Investigaccedilatildeo Cientiacutefica vol 1 p 113-133

LUBELL D JACKES M (1988) ndash Portuguese Mesolithic-Neolithic subsistence and settlement Rivista di Antropologia Roma 46 Suplemento p 231-248

LUBELL D JACKES M SCHWARCZ H KNYF M MEIKLEJOHN C (1994) ndash The Mesolithic-Neolithic Transition in Portugal Isotopic and Dental Evidence of Diet Journal of Archaeological Science 21 p 201-216

LUCAS M M (1994) ndash As regiotildees de ldquoTorresrdquo e ldquoAlenquerrdquo no contexto do Calcoliacutetico da Estremadura Porto Tese de Mestrado apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto por Maria Miguel Lucas Simotildees Policopiado

LUCAS M M (2002) - Sobre o Calcoliacutetico na Regiatildeo de Torres Vedras In Turres Veteras IV Actas de Preacute-Histoacuteria e Histoacuteria Antiga Torres Vedras Cacircmara Municipal p 31-65

MANtildeANA BORRAZAacuteS P (2003) ndash Vida e Muerte de los Megalitos Se abandonam los Tuacutemulos Era Arqueologia Lisboa 5 p 164-177

MARCHAND G (2005) ndash Interpretar as mudanccedilas dos sistemas teacutecnicos do Mesoliacutetico final em Portugal O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 23 p 171-196

MARQUES G (1971) ndash Fojo dos Morcegos ndash Assafora (Sintra) In Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia Coimbra p 143-149

MARQUES G (1987) - Aspectos da Proto-Histoacuteria do territoacuterio portuguecircs III Castelo da Amoreira (Odivelas Loures) Boletim Cultural Loures Cacircmara Municipal 1 p 51-58

MARQUES T FERREIRA C J (1987) ndash Antas de Belas Informaccedilatildeo arqueoloacutegica Lisboa IPPC 8 p 52-53

MARQUES T LOURENCcedilO F FERREIRA C J (1991) ndash Antas de Belas Uma tentativa de valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio arqueoloacutegico nos arredores de Lisboa In Actas das IV Jornadas Arqueoloacutegicas (Lisboa 17 a 19 Maio de 1990) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 87-91

MARQUEacuteS MERELO I AGUADO MANCHA T BALDOMERO NAVARRO A FERRER PALMA J (2004) ndash Proyectos sobre la Edad del Cobre en Antequera (Maacutelaga) In III Simpoacutesio de Prehistoria Cueva de Nerja Las Primeras Sociedades Metaluacutergicas en Andaluciacutea Homenaje al Professor Antoacutenio Arribas Palau Nerja Fundacioacuten Cueva de Neacuterja p 238-260

MAacuteRQUEZ ROMERO J E (2004) ndash Muerte ubiacutecua sobre deposiciones de esqueletos humanos en zanjas y pozos en la Prehistoria reciente de Andalucia Mainakeacute Maacutelaga 36 p 116-138

MAacuteRQUEZ ROMERO J E FERNAacuteNDEZ RUIZ J (2002) ndash Viejos depoacutesitos nuevas interpretaciones la estructura nordm 2 del yacimiento prehistoacuterico de Los Villares de Alagane (Coiacuten Maacutelaga) In Colonizadores e indiacutegenas en la Peniacutensula Ibeacuterica Mainake 24 p 301-333 monograacutefico

MARTINS A (2004) ndash As Bacias sedimentares do Baixo Tejo e do Sado In FEIO M DAVEAU S - Relevo de Portugal Grandes unidades regionais Coimbra Associaccedilatildeo Portuguesa de Geomorfoacutelogos p 49-60

MARTINS A C (2003) ndash Possidoacutenio da Silva 1806-1896 e o elogio da Memoacuteria Um percurso na Arqueologia de Oitocentos Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses (Arqueologia amp Histoacuteria Monografias)

MARTINS A C (2005) ndash A Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses na senda da salvaguarda patrimonial Cem anos de (trans)formaccedilatildeo (1863-1963) Tese de Doutoramento em Histoacuteria Faculdade de Letras Universidade de Lisboa Texto policopiado

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 394 de 415

MARTINS A C (2007) ndash laquoA Oeste nada de novoraquo Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 15 p 233-291 Cardoso J L (Coord) ndash Actas do Coloacutequio A Arqueologia portuguesa e o espaccedilo europeu balanccedilos e perspectivas Sociedade de Geografia de Lisboa (Lisboa 30 de Outubro de 2007)

MASSET C (1987) ndash Le ldquoRecrutementrdquo drsquoun ensemble funeacuterarire In DUDAY H MASSET C (eds) - Anthropologie Physique et Archaeologie Paris CNRS p 111-134

MASSET C (1997) ndash Les dolmens Socieacuteteacutes neacuteolithiques Pratiques funeacuteraires Les seacutepultures collectives dEurope occidentale Paris Editions Errance 2e eacutedition

MATALOTO R (2006) ndash Entre Ferradeira e Montelavar um conjunto artefactual da Fundaccedilatildeo Paes Teles (Ervedal Avis) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 9 2 p 83-108

MATALOTO R MUumlLLER R (no prelo) ndash Construtores e metalurgistas Faseamento e cronologia pelo radiocarbono da ocupaccedilatildeo calcoliacutetica de Satildeo Pedro (Redondo Alentejo Central) In Kupferzeitliche Metallurgie in Zambujal in Estremadura Suumldportugal und Suumldwestspanien Vom Fertigprodukt zur Lagerstaumltte Arbeitstagung Alqueva-Staudamm 27 bis 30 Oktober 2005 DAI Abteilung Madrid (Iberia Archaeologica)

MCGARVEY SC (2002) - Evidence forDisease and Trauma in Crania from the Late Neolithic Site of Algar do Bom Santo Portugal Master Thesis Edmonton Alberta Department of Anthropology University of Alberta Policopiado

MELLO OAP FORTUNA V FRANCcedilA J C FERREIRA O V ROCHE J (1961) - O monumento preacute-histoacuterico da Bela Vista (Colares) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 40 p 237-249 il

MILNER G (1999) ndash Warfare in Prehistoric and Early Historic Eastern North Ameacuterica Journal of Archaeological Research 7 2 p 105-151

MILNER G (2004) ndash The Moundbuilders Ancient peoples of Eastern North America London Thames amp Hudson

MILNER G ANDERSON E SMITH V (1991) - Warfare in late prehistoric West-Central Illinois American Antiquity 56 4 p 581-603

MILNER N CRAIG O BAILEY G PEDERSEN K ANDERSEN S (2004) ndash Something fishy in the Neolithic A re-evaluation of stable isotope analysis of Mesolithic and Neolithic coastal populations Antiquity 78 p 9-22 Debate Change of diet in Northern Europersquos Mesolithic-Neolithic transition a new critique

MILNER N CRAIG O BAILEY G ANDERSEN S (2006) ndash A response to Richards and Schulting Antiquity 80 456-458 Debate Touch not the fish the Mesolithic-Neolithic change of diet and its significance

MIRANDA J ENCARNACcedilAtildeO G VIEGAS J ROCHA E GONZALEZ A (1999) ndash Carta Arqueoloacutegica Do Paleoliacutetico ao Romano Amadora Cacircmara Municipal

MIRANDA M (2006) ndash A osteologia humana do Penedo de Lexim Boletim Cultural Locus 3 3b e Locus 6 Mafra Cacircmara Municipal p 334-359

MOHEN J-P SCARRE C (2002) ndash Les tumulus de Bougon Complexe meacutegalithique du Ve au IIIe milleacutenaire Paris Eacuteditions Errance

MOITA I (1956) ndash Subsiacutedios para o estudo do Eneoliacutetico do Alto Alentejo O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 2ordf seacuterie 3 p 135-175

MOITA I (1966) - Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Ethnos 5 p 189-277 il

MONTEIRO R ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V (1967) ndash Uma notaacutevel placa de xisto encontrada na Lapa do Bugio (Azoacuteia) Revista de Guimaratildees Guimaratildees 77 3-4 p 323-328

MONTEIRO R ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V (1971) ndash Nota preliminar sobre a lapa preacute-histoacuterica do Bugio In Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia (Coimbra 1970) Coimbra Junta Nacional de Educaccedilatildeo vol 1 p 107-120 il

MONTERO RUIacuteZ I RUIacuteZ TABOADA A (1996) - Enterramiento colectivo y metalurgia en el yacimiento neoliacutetico de Cerro Virtud (Cuevas de Almanzora Almeria) Trabajos de Prehistoria 53 2 p 55-75

MONTERO RUIacuteZ I RIHUETE HERRADA C RUIacuteZ TABOADA A (1999) - Precisiones sobre el enterramiento colectivo neoliacutetico de Cerro Virtud (Cuevas de Almanzora Almeriacutea) Trabajos de Prehistoria 56 1 p 119-130

MORAacuteN E PARREIRA R (2004) ndash Alcalar 7 Estudo e reabilitaccedilatildeo de um monumento megaliacutetico Lisboa IPPAR

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 395 de 415

MORAacuteN E PARREIRA R (2007) ndash Alcalar Monumentos Megaliacuteticos Lisboa IGESPAR (Roteiros da Arqueologia Portuguesa 10)

MUumlLDNER G RICHARDS M (2007) ndash Stable Isotope Evidence for 1500 Years of Human Diet at the City of York UK American Journal of Physical Anthropology 133 p 682-697

MUNICIO GONZAacuteLEZ L PINtildeON VARELA F (1990) ndash Cueva de Los Enebralejos (Praacutedena Segovia) Numantia 3 p 51-76

MURALHA J COSTA C (2006) ndash A ocupaccedilatildeo neoliacutetica da Encosta de SantrsquoAna (Martim Moniz Lisboa) In Actas do 4ordm Congresso de Arqueologia Peninsular ndash Do Epipaleoliacutetico ao Calcoliacutetico na Peniacutensula Ibeacuterica Faro Centro de Estudos do Patrimoacutenio da Universidade do Algarve p 157-169 (Promontoria Monografica 4)

MURILLO GONZAacuteLEZ J M (2007) ndash El asentamiento prehistoacuterico de Torre de San Francisco (Zafra Badajoz) y su contextualizacioacuten en la Cuenca Media del Guadiana Meacuterida Junta de Extremadura (Memorias de Arqueologiacutea Extrementildea 8)

NOCETE CALVO F LIZCANO PRESTEL R NIETO LINtildeAacuteN J SAacuteEZ RAMOS R LINARES CATELA J ORIHUELA PARRALES A RODRIacuteGUEZ ARIZA M (2004) ndash El desarrollo del processo interno El territorio megaliacutetico del Andeacutevalo oriental In NOCETE CALVO F (coord) ndash Odiel Proyecto de investigacioacuten arqueoloacutegica para el anaacutelisis del origin de la desigualdad social en el Suroeste de la Peniacutensula Ibeacuterica Sevilla Consejeriacutea de Cultura (Arqueologiacutea Monografias)

NOGUEIRA A M (1927) ndash Estaccedilatildeo neoliacutetica de Melides Grutas sepulcrais Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 16 p 41-49 il Separata de 1928

NOGUEIRA A M (1931) ndash Estaccedilatildeo prehistoacuterica de Olelas Elementos para o seu estudo Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 17 p 105-124 il Separata de 1933

NORONHA T B (1897a) ndash [Carta] 1897 Abril 13 [a] J L Vasconcelos [Manuscrito] Epistolaacuterio J L Vasconcelos nordm 16302 Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

NORONHA T B (1897b) - [Carta] 1897 Junho 9 [a] J L Vasconcelos [Manuscrito] Epistolaacuterio J L Vasconcelos nordm 16304 Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

NORONHA T B (1898a) - [Bilhete postal] 1898 Outubro 25 [a] J L Vasconcelos [Manuscrito] Epistolaacuterio J L Vasconcelos nordm 16305 Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

NORONHA T B (1898b) - [Carta] 1898 Novembro 27 [a] J L Vasconcelos [Manuscrito] Epistolaacuterio J L Vasconcelos nordm 16307 Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

NORTH C T (1973) - Relato das escavaccedilotildees feitas no monumento megaliacutetico de Monte Serves Bucelas Dactilografado 11 p Processo S-4792 Arquivo do Instituto Portuguecircs de Arqueologia

NORTH C BOAVENTURA R CARDOSO J L (2005) ndash O monumento megaliacutetico de Monte Serves (Verdelha do Ruivo Vila Franca de Xira) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 13 p 323-335

OBERMAIER H (1919) ndash El dolmen de Matarrubilla (Sevilla) Madrid Comisioacuten de Investigaciones Paleontologicas y Prehistoricas

OBERMAIER H (1920) ndash Die Dolmen Spaniens Wien Ferninand Berger OBERMAIER H (1924) ndash El dolmen de Soto (Trigueros Huelva) Madrid Fototipia de Hauser y

Menet Versatildeo facsimilada In CABRERO GARCIacuteA R (1993) ndash Aproximacioacuten al Megalitismo onubense Huelva Diputacioacuten Provincial de Huelva

OBERMAIER H (1925) ndash El Ombre foacutesil Madrid Museo Nacional de Ciecircncias Naturales 2ordf ediccedilatildeo revista e ampliada

OBERMAIER H (1932) ndash El hombre prehistorico y los origenes de la humanidad Madrid Revista Occidente

OLHO VIVO (1998) ndash Antas de Belas Um patrimoacutenio a preservar Queluz Olho Vivo OLIVEIRA A BRANDAtildeO J V (1969) - Descoberta de restos de uma provaacutevel gruta artificial em

Liceia O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf seacuterie 3 p 287-290 OLIVEIRA A C (1994) - Projecto de Demarcaccedilatildeo e Valorizaccedilatildeo de duas estaccedilotildees arqueoloacutegicas do

concelho de Loures In V Jornadas Arqueoloacutegicas Actas (Lisboa 1993) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 27-32

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 396 de 415

OLIVEIRA A C SILVA A R DEUS M (1997) ndash Carta Arqueoloacutegica do Municiacutepio de Loures Loures Cacircmara Municipal de Loures Policopiado

OLIVEIRA A C SILVA A R ESTEcircVAtildeO F DEUS M M (2000) ndash Carta Arqueoloacutegica do Municiacutepio de Loures Loures Cacircmara Municipal de Loures

OLIVEIRA C ROCHA L SILVA C M (2007) ndash O Megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central Arquitectura e orientaccedilotildees O estado da questatildeo em Montemor-o-Novo In Crookscape Siacutetio da internet consultado em 1812009 httpwww crookscapeorgtextmar2006text07html

OLIVEIRA C SILVA C M (2006) ndash Moon Spring and Large Stones Landscape and ritual calendar and symbolization In Crookscape Siacutetio da internet consultado em 1812009 httpwwwcrookscapeorgtextmsls2006p_50moonspringhtml

OLIVEIRA F P (1884) ndash Note sur les ossements humains qui se trouve dans le museacutee de la section geacuteologique de Lisbonne In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique 9ordm Lisboa 1880 ndash Compte rendue Lisbonne p 291-305 il

OLIVEIRA F P (1886) ndash Les ossements humains du Museacutee Geacuteologique a Lisbonne In Cartailhac E ndash Les acircges prehistoriques de lrsquoEspagne et du Portugal Paris Ch Reinwald p 305-321 il

OLIVEIRA F P (1889) ndash Note sur les ossements humaines existant dans le Museacutee de la Comission des Travaux Geologiques Comunicaccedilotildees da Comissatildeo de Trabalhos Geoloacutegicos Lisboa 2 p 57-81

OLIVEIRA J (1997a) ndash Datas absolutas de monumentos megaliacuteticos da bacia hidrograacutefica do rio Sever In II Congreso de Arqueologia Peninsular Neoliacutetico Calcoliacutetico y Bronce Zamora 24 a 27 de Septiembre de 1996 Vol 2 p 229-239

OLIVEIRA J (1997b) - Monumentos Megaliacuteticos da Bacia Hidrograacutefica do Rio Sever Ibn Maruan Lisboa Ediccedilatildeo Especial Com versatildeo simultacircnea em Espanhol

OLIVEIRA J (2000) ndash Reflexiones sobre el conjunto megaliacutetico de Cedillo Extremadura Arqueoloacutegica Meacuterida Junta de Extremadura 8 p 169-186 (El Megalitismo en Extremadura ndash Homenaje a Elias Dieacuteguez Luengo)

OLIVEIRA J (2006) ndash Patrimoacutenio arqueoloacutegico da Coudelaria de Alter e as primeiras comunidades agropastoris [Eacutevora] Colibri

OLIVEIRA R (1980) ndash Pente votivo em osso proveniente do monumento funeraacuterio megaliacutetico laquoPedra dos Mourosraquo - Belas Cadernos de Divulgaccedilatildeo Cultural Preacute-histoacuteria

OLIVEIRA H N FERREIRA O V (1990) - Algumas obras de restauro e consolidaccedilatildeo do castro de Vila Nova de S Pedro Azambuja Revista de Arqueologia Lisboa 1 p 49-58

OLSEN S SHIPMAN P (1994) ndash Cutmarks and Perimorten Treatment of Skeletal Remains on the Northern Palins In OWSLEY D JANTZ R (coords) - Skeletal Biology in the Great Plains Migration Warfare Health and Subsistence Washington Smithsonian Institution Press p 377-387

OOSTERBEEK L (1985a) ndash A faacutecies megaliacutetica da gruta do Cadaval (Tomar) In Actas I Reuniatildeo do Quaternaacuterio Ibeacuterico Lisboa vol 2 p 147-159

OOSTERBEEK L (1985b) ndash Elementos para o estudo da estratigrafia da gruta do Cadaval (Tomar) Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 4-5 p 7-12

OOSTERBEEK L (1993a) ndash Gruta dos Ossos ndash Tomar Um ossuaacuterio do Neoliacutetico final Boletim Cultural Tomar Cacircmara Municipal 18 p 10-28

OOSTERBEEK L (1993b) ndash Nossa Senhora das Lapas excavation of prehistoric cave burials in Central Portugal Papers from the Institute of Archaeology London University College London 4 p 49-62

OOSTERBEEK L (1994) minus Megalitismo e Necropolizaccedilatildeo no Alto Ribatejo o III mileacutenio Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu 2 p 137-149 Actas do Seminaacuterio ldquoO Megalitismo no Centro de Portugal novos dados problemaacutetica e relaccedilotildees com outras peninsulares (Mangualde Novembro 1992)

OOSTERBEEK L (1995) ndash O Neoliacutetico e o Calcoliacutetico na regiatildeo do Vale do Nabatildeo (Tomar) In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 101-111 (Trabalhos de Arqueologia 7)

OOSTERBEEK L (1997a) ndash Back home Neolithic life and the rituals of death in the Portuguese Ribatejo In BONSALL C TOLAN-SMITH C (eds) ndash The human use of caves Oxford Archaeopress p 70-80 (BAR International Series 667)

OOSTERBEEK L (1997b) minus Echoes from the East The western network North Ribatejo (Portugal) an insight to unequal and combined development 7000-2000 BC ARKEOS 2

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 397 de 415

OOSTERBEEK L (2004) ndash Archaeographic and conceptual advances in interpreting Iberian Neolithisation Documenta Praehistorica Ljubljana 31 p 83-87

OOSTERBEEK L (2003a) ndash Megaliths in Portugal the western network revisited In BURENHULT G WESTERGAARD S (eds) ndash Stones and Bones formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC archaeological conference in honour of the late Professor J OrsquoKelly 2002 Sligo Ireland Oxford Archaeopress p 27-37 (BAR-International Series 1201)

OOSTERBEEK L (2003b) ndash Problems of Megalithic Chronology in Portugal In BURENHULT G WESTERGAARD S (coords) ndash Stones and Bones formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC archaeological conference in honour of the late Professor J OrsquoKelly 2002 Sligo Ireland Oxford Archaeopress p 83-86 (BAR-International Series 1201)

OOSTERBEEK L CRUZ A R (1991) ndash A Arqueologia da Morte consideraccedilotildees a propoacutesito da interpretaccedilatildeo dos contextos sepulcrais na regiatildeo de Tomar Boletim Cultural Tomar Cacircmara Municpal 15 p 269-291

OOSTERBEEK L CRUZ A R FEacuteLIX P (1992) ndash Anta 1 de Val da Laje notiacutecia de 3 anos de escavaccedilotildees (1989-91) Boletim Cultural da Cacircmara Municipal de Tomar Tomar 16 p 31-49

ORTNER D J (2003) - Identification of Pathological Conditions in Human Skeletal Remains London Academic Press 2ordf ediccedilatildeo

O SEacuteCULO (1897) ndash Antiguidades da Arruda O Seacuteculo 25 de Fevereiro de 1897 O SEacuteCULO (1898) ndash Museu ethnographico O Seacuteculo 6 de Novembro de 1898 OWLEYS D JANTZ R (eds) (1994) ndash Skeletal Biology in the Great Plains Migration Warfare

Health and Subsistance Washington Smithsonian Institution Press PACcedilO A BARBOSA F SOUSA J N BARBOSA F B (1959) ndash Notas arqueoloacutegicas da regiatildeo

de Alcobertas (Rio Maior) In Actas e memoacuterias do I Congresso Nacional de Arqueologia realizado em Lisboa de 15 a 20 de Dezembro de 1958 Lisboa vol 1 p 281-287

PACcedilO A BAacuteRTHOLO M L (1954) - Consideraccedilotildees acerca da estaccedilatildeo arqueoloacutegica de Montes Claros (Monsanto) e da sua ceracircmica campaniforme Broteacuteria Lisboa 59 2-3 p 200-203 Separata

PACcedilO A JALHAY E (1945) ndash El castro de Vilanova de San Pedro Actas y Memorias de la Sociedad Espantildeola de Antropologiacutea Etnografiacutea y Prehistoria 20 p 5-93 [reediccedilatildeo (1971) - Trabalhos de Arqueologia de Afonso do Paccedilo (1929-1968) vol 2 Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 183-266]

PACcedilO A VAULTIER M (1943) - A gruta de Porto-Cocircvo In 4ordm Congresso da Associaccedilatildeo Portuguesa para o Progresso das Ciecircncias 7ordf secccedilatildeo - Ciecircncias histoacutericas e filoloacutegicas Porto Imprensa Portuguesa vol 8 p 95-103

PACcedilO A VAULTIER M ZBYSZWESKI G (1942) ndash Nota sobre a Lapa da Bugalheira Boletim da Sociedade Portuguesa de Ciecircncias Naturais 13 Supl 2 p 116-119 Actas do I Congresso Nacional de Ciecircncias Naturais (Lisboa 1941)

PACcedilO A ZBYSZWESKI G FERREIRA O V (1971) ndash Resultados das escavaccedilotildees na Lapa da Bugalheira (Torres Novas) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa SGP 55 p 23-47

PARKER PEARSON M (2002) ndash Archaeology of Death and Burial Texas AampM University Press 3ordf reimpressatildeo (1ordf ediccedilatildeo de 1999)

PARKER PEARSON M (2005) ndash Warfare Violence and Slavery in Later Prehistory An Introduction In PARKER PEARSON M THORPE I (coords) - Warfare Violence and Slavery in Prehistory Proceedings of a Prehistoric Society conference at Sheffield University Oxford Archaeopress p 19-33 (BAR International Seacuteries 1374)

PARREIRA R (1985) ndash Inventaacuterio do patrimoacutenio arqueoloacutegico e construiacutedo do concelho de Vila Franca de Xira ndash Notiacutecia da parcela 403-8 Boletim Cultural Vila Franca de Xira Cacircmara Municipal p 107-120

PARREIRA R (1990) - Consideraccedilotildees sobre os mileacutenios IV e III a C no centro e sul de Portugal In Estudos orientais Presenccedilas orientalizantes em Portugal Da preacute-histoacuteria ao periacuteodo romano Lisboa Instituto Oriental vol 1 p 27-43

PARREIRA R (1996) - O conjunto megaliacutetico do Crato (Alto Alentejo) Contribuiccedilatildeo para o registo das antas portuguesas Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Arqueologia Faculdade Letras da Universidade do Porto 2 vol Policopiado

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 398 de 415

PARREIRA R SERPA F (1995) ndash Novos dados sobre o povoamento da regiatildeo de Alcalar (Portimatildeo) no IV e III Mileacutenios AC Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 35 3 p 233-256 Actas do 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular vol 7

PASCUAL BENITO J L (1998) ndash Utillaje oacuteseo adornos e iacutedolos neoliacuteticos valencianos Valecircncia Servicio de Investigacioacuten Prehistorica (Serie de Trabajos vaacuterios 95)

PATTON M (1992) - Megalithic transport and territorial markers evidence from the Channel Islands Antiquity Cambridge 251 66 p 392-395

PENN D SMITH K (2007) ndash Differential fitness costs of reproduction between the sexes Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of Ameacuterica - PNAS 104 2 p 553-558

PEREIRA J M (1999) - Os Artefactos de Pedra Polida do Almonda ao Zecirczere (Marcas do Povoamento da Regiatildeo) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Policopiado

PEREIRA J P (1976-77) - A gruta natural da Salveacute Rainha (Serra de Montejunto) Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal 2-3 p 49-98 il

PEREIRA P M (1986) ndash Investigaccedilatildeo espeleoloacutegica no concelho Gruta do Tufo Ponte de Lousa Vento Novo Loures 166 (1661986) p 7

PEREIRA P GUAPO J CHAVES M BENITO P (2008) ndash Portugal megaliacutetico Lisboa Ediccedilotildees INAPA

PERSSON P SJOumlGREN K-G (1995) ndash Radiocarbon and the Chronology of Scandinavian Megalithic Graves Journal of European Archaeology 3 2 p 59-88

PIGOTT S (1953) ndashThe tholos tomb in Iberia Antiquity 27 p 137-143 PINtildeOacuteN VARELA F (2004) ndash El Horizonte cultural megaliacutetico en el aacuterea de Huelva Junta de

Andaluciacutea (Arqueologia monografias) PIRES F CARDOSO J L PETRUCCI-FONSECA F (2001-2002) ndash Estudo arqueozooloacutegico dos

carniacutevoros do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 10 p 183-247

PRADA GALLARDO A CERRILLO CUENCA E (2004) ndash Hallazgo de un enterramiento en fosa de la transicioacuten Calcoliacutetico-Edad del Bronce en Valencia del Ventoso (Badajoz) Revista de Estudios Extrementildeos 60 2 p 451-473

PRIETO MARTIacuteNEZ M Pilar (2007) - Volviendo a un mismo lugar recipientes y espacios en un monumento megaliacutetico gallego (NW de Espantildea) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa IPA 10 2 p 101-125

QUEIROZ P F (1999) - Ecologia histoacuterica da paisagem do Noroeste Alentejano Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Faculdade de Ciecircncias da Universidade de Lisboa para obtenccedilatildeo do grau de Doutor em Biologia (Ecologia e Biossistemaacutetica) Lisboa 300 p

QUEIROZ P F LEEUWAARDEN WV (2001) - Estudos de Arqueobotacircnica no siacutetio neoliacutetico de S Pedro de Canaferrim Sintra Lisboa Policopiado (Trabalhos do CIPA 21)

QUEIROZ P F LEEUWAARDEN WV (2004) - Estudos de Arqueobotacircnica no Castro de Satildeo Mamede Bombarral Leiria Lisboa Policopiado (Trabalhos do CIPA 72)

QUEIROZ P F MATEUS J E (2004) ndash Paleoecologia litoral entre Lisboa e Sines do Tardiglaciaacuterio aos tempos de hoje In TAVARES A TAVARES M CARDOSO J L (coords) ndash Actas Evoluccedilatildeo geohistoacuterica do Litoral portuguecircs e fenoacutemenos correlativos Geologia Histoacuteria Arqueologia e Climatologia Lisboa Universidade Aberta p 257-304

RAFTER - RAFTER GNS SCIENCE (2009) ndash Sample processing Stable isotope measurements In Rafter Radiocarbon Laboratory (Consultado em 642009) httpwwwgnscrinz nicrafterradiocarbonsamprephtm

RAMALHO M M (2005) ndash A Geologia de Cascais In GONCcedilALVES V S (coord) - Cascais haacute 5000 anos Cascais Cacircmara Municipal p 13-15

RAMALHO M M PAIS J REY J BERTHOU PY ALVES CAM PALAacuteCIOS T LEAL N KULLBERG MC (1993) ndash Carta geoloacutegica de Portugal na escala de 150000 ndash 34-A Notiacutecia explicativa da folha 34-A Sintra Lisboa Serviccedilos geoloacutegicos de Portugal

RAMOS MUNtildeOZ J GILES PACHECO F (1996) ndash El doacutelmen de Alberite (Villamartiacuten) Aportaciones a las formas econoacutemicas y sociales de las comunidades neoliacuteticas en el Noroeste de Caacutediz Espantildea Universidad de Caacutediz

RAPOSO L (1999) ndash Apresentaccedilatildeo In PONTIS - Carta Arqueoloacutegica de Ponte de Sor Ponte de Sor Cacircmara Municipal p 11

RENFREW C (1967) ndash Colonialism and Megalithismus Antiquity 41 164 p 276-288

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 399 de 415

RENFREW C (1976) ndash Megaliths territories and populations In DE LAET S (coord) ndash Acculturation and continuity in Atlantic Europe mainly during the Neolithic period and the Bronze Age IV Atlantic Colloquium Ghent 1975 Bruges De Tempel p 198-220

RENFREW C (1990) ndash Before civilisation The Radiocarbon Revolution and Prehistoric Europe London Penguim Books Reimpressatildeo 1ordf ediccedilatildeo de 1973

RENFREW C BAHN P (2004) ndash Archaeology Theories Methods and Practice London Thames amp Hudson 4a ediccedilatildeo

REIMER PJ BAILLIE MGL BARD E BAYLISS A BECK JW BERTRAND C BLACKWELL PG BUCK CE BURR G CUTLER KB DAMON PE EDWARDS RL FAIRBANKS RG FRIEDRICH M GUILDERSON TP HUGHEN KA KROMER B MCCORMAC FG MANNING S BRONK RAMSEY C REIMER RW REMMELE S SOUTHON JR STUIVER M TALAMO S TAYLOR FW VAN DER PLICHT J WEYHENMEYER CE (2004) ndash IntCal04 Terrestrial Radiocarbon Age Calibration 0-26 cal Kyr BP Radiocarbon Tucson AZ-USA 46 3 p 1029-1058

RIBEIRO C (1871-1875) ndash [Caderno de Campo] 22-VI a 10-VIII-1871 [ateacute] Jan e Fev 1875 [Sem coacutedigo] Acessiacutevel no Arquivo Histoacuterico Geoloacutegico e Mineiro Laboratoacuterio Nacional de Energia e Geologia

RIBEIRO C (1871) ndash Descriccedilatildeo de alguns silex e quartzites lascados encontrados em camadas dos terrenos terciaacuterio e quaternaacuterio das bacias do Tejo e Sado Lisboa Typ da Academia

RIBEIRO C (1873) ndash Sur la position geacuteologique des couches mioceacutenes et plioceacutenes du Portugal qui contiennent des silex tailleacutes In Congreacutes International drsquoAnthropologie et drsquoArcheacuteologie Preacute-historique 6ordm Bruxeles Bruxeles C Muquardt Ed p 95-100

RIBEIRO C (1878) ndash Estudos Prehistoricos em Portugal Noticia de algumas estaccedilotildees e monumentos prehistoricos I - Notiacutecia da estaccedilatildeo humana de Licecirca Lisboa Typographia da Academia Reediccedilatildeo de 1991 ndash Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 1 Notas e comentaacuterios de J L CARDOSO

RIBEIRO C (1880) ndash Estudos Prehistoricos em Portugal Noticia de algumas estaccedilotildees e monumentos prehistoricos II - Monumentos megalithicos das visinhanccedilas de Bellas Lisboa Typographia da Academia

RIBEIRO C (1884) ndash Les kioekkenmoeddings de la valleacutee du Tage In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique 9ordm Lisboa 1880 ndash Compte Rendu Lisbonne p 279-292 il

RIBEIRO L (1966) - Relatoacuterio das escavaccedilotildees feitas na estaccedilatildeo Neo-Eneoliacutetica de Montes Claros Arqueologia e Histoacuteria Lisboa 8ordf Seacuterie 12 p 223-283 Separata

RIBEIRO O (1937) - A Arraacutebida Esboccedilo geograacutefico Revista Faculdade de Letras de Lisboa Lisboa 4 1 p 2-131

RIBEIRO O (1998) - Portugal o Mediterracircneo e o Atlacircntico Esboccedilo de relaccedilotildees geograacuteficas Lisboa Livraria Saacute da Costa Editora 7ordf ediccedilatildeo revista e ampliada 189 p

RIBEIRO O LAUTENSACH H DAVEAU S (1991) ndash Geografia de Portugal I A posiccedilatildeo geograacutefica e o territoacuterio Lisboa Joatildeo Saacute da Costa 2ordf ediccedilatildeo

RIBEIRO O LAUTENSACH H DAVEAU S (1988) ndash Geografia de Portugal II O ritmo climaacutetico e a paisagem Lisboa Joatildeo Saacute da Costa 1ordf ediccedilatildeo

RICHARDS M FULLER B SPONHEIMER M ROBINSON T AYLIFFE L (2004) ndash Sulphur Isotopes in Paleodietary Studies a Review and Results from a Controlled Feeding Experiment International Journal of Osteoarchaeology 13 p 37-45

RICHARDS M PRICE T D KOCH E (2003) ndash Subsistence in Denmark New Stable Isotope Data Current Anthropology 44 2 p 288-295

RICHARDS M SCHULTING R HEDGES R (2003) ndash Sharp shift in diet at onset of Neolithic Nature 425 p 366

RICHARDS M SCHULTING R (2006) ndash Against the grain A response to Milner et al (2004) Antiquity 80 p 444-456 Debate Touch not the fish the Mesolithic-Neolithic change of diet and its significance

RIGGS J (2003) - Whatever happened to BC and AD and why United Church News Retrieved on December 19 2005

RIVERO GALAacuteN E (1986) ndash Ensaio tipoloacutegico en los enterramientos colectivos denominados Cuevas Artificiales de la mitad meridional de la Peniacutensula Ibeacuterica Habis 17 p 371-402

RIVERO GALAacuteN E (1988) ndash Anaacutelisis de las cuevas artificiales en Andaluciacutea y Portugal Sevilla Universidad de Sevilla

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 400 de 415

ROBBEN C G (ed) (2006) ndash Death Mourning and Burial A Cross-Cultural Reader Oxford Blackwell Publishing 3ordf ediccedilatildeo

ROBERTS C MANCHESTER K (2005) - The Archaeology of Disease Great Britain Sutton Publishing 3ordf ediccedilatildeo

ROCHA A S (1908) - Placas de suspensatildeo neolithicas Boletim da Sociedade Archaeologica Santos Rocha Figueira Imprensa Lusitana de Augusto Veiga 1 6 (Deacutecima sessatildeo plenaacuteria) p 174-175

ROCHA L (2004) Entre vivos e mortos arte rupestre e megalitismo funeraacuterio na regiatildeo de Eacutevora In CALADO M (coord) - Sinais de Pedra 1ordm Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo e Arte Rupestre Eacutevora Fundaccedilatildeo Eugeacutenio de Almeida

ROCHA L (2005) - Origens do megalitismo funeraacuterio no Alentejo central a contribuiccedilatildeo de Manuel Heleno Tese de Doutoramento em Histoacuteria (Arqueologia) Faculdade de Letras Universidade de Lisboa Texto Policopiado

ROCHA L DUARTE C (no prelo) - Megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central os dados antropoloacutegicos das escavaccedilotildees de Manuel Heleno In Actas do IX Congresso de Paleopatologia Morella

ROCHE J (1957) ndash Premiegravere datation du meacutesolithique portugais par la methode du carbone 14 Boletim da Academia das Ciecircncias de Lisboa Lisboa 29 p 294-296

ROCHE J DELIBRIAS G (1964) ndash Datation drsquoun monument eacuteneacuteolithique du Bas-Alentejo (Portugal) par la meacutethode du Carbone 14 Revue Archeacuteologique 1 p 185-186

ROCHE J FERREIRA O V (1961) ndash Reacutevision des boutons perforeacutes em V de lrsquoEacuteneacuteolitihique portugais LrsquoAnthropologie Paris Masson et Cie Editeurs 65 p 67-73

ROCHE J FERREIRA O V (1970) ndash Stratigraphie et faunes des niveaux paleacuteolithiques de la Grotte de Salemas (Ponte de Lousa) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 54 p 263-269

ROCHE J FERREIRA O V (1975) - La station de Penha Verde (Sintra) Comunicaccedilotildees Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 59 p 253-263

ROCHE J FRANCcedilA J FERREIRA O V ZBYSZEWSKI G (1962) ndash Le Paleacuteolithique supeacuterieur de la grotte de Salemas (Ponte de Lousa) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 46 p 188-207

RODRIGUES M C M (1986) ndash Coacutedigo para a anaacutelise das placas de xisto gravadas Castelo de Vide Cacircmara Municipal

RODRIacuteGUEZ VINCEIRO F J MAacuteRQUEZ ROMERO J E (2003) - Dataciones absolutas para la Prehistoria reciente de la provincia de Maacutelaga Una revisoacuten criacutetica Baetica Maacutelaga Universidad 25 p 313-353

ROJO GUERRA M GARRIDO-PENA R GARCIacuteA MARTINEZ DE LAGRAacuteN I MORAacuteN DAUCHEZ G KUNST M (2005a) ndash Del enterramiento colectivo a la tumba individual El sepulcro monumental de La Sima en Mintildeo de Medinaceli Soria Espantildea BSAA Arqueologia Boletiacuten del Seminaacuterio de Estuacutedios de Arte y Arqueologia Valladolid Universidad 71 p 11-42

ROJO GUERRA M KUNST M GARRIDO-PENA R GARCIacuteA MARTINEZ DE LAGRAacuteN I MORAacuteN DAUCHEZ G (2005b) ndash Un desafio a la eternidad Tumbas monumentales del Valle de Ambrona Castilla y Leoacuten Junta

ROKSANDIC M (2002) ndash Position of Skeletal Remains as a Key to Understanding Mortuary Behaviour In HAGLUND W SORG M (eds) ndash Advances in Forensic Taphonomy Method Theory and Archaeological Perspectives Florida USA CRC Press p 99-117

RUBIN M ALEXANDER C (1960) ndash US Geological Survey Radiocarbon DatesV American Journal of Science Radiocarbon Supplement 2 p 129-185

RUIZ-GAacuteLVEZ PRIEGO M (2000) ndash El Conjunto dolmeacutenico de La Dehesa Boyal de Montehermoso Extremadura Arqueoloacutegica Meacuterida 8 p 187-207 El Megalitismo en Extremadura (Homenaje a Elias Dieacuteguez Luengo)

RUIZ TABOADA A MONTERO RUIZ I (1999) ndash Occupaciones neoliacuteticas en Cerro Virtud Estratigrafia y dataciones In BERNABEU AUBAacuteN J OROZCO KOumlHLER T (eds) - II Congreacutes del Neoliacutetic a la Peniacutensula Ibegraverica Universitat de Valegravencia 7-9 dAbril 1999 Saguntum-PLAV Valecircncia Universitat de Valegravencia Extra-2 p 439-445

RUSSELL M (1987) - Mortuary practices at the Krapina Neandertal site American Journal of Physical Anthropology 72 p 381-397

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 401 de 415

SAacute M C M (1959) ndash A Lapa da Galinha In 1ordm Congresso Nacional de Arqueologia Lisboa 1958 Actas e Memoacuterias Lisboa vol 1 p 117-128 il

SALANOVA L (2005) ndash The origins of the Bell Beaker phenomenon Breakdown analysis mapping In ROJO-GUERRA M GARRIDO-PENA R GARCIacuteA-MARTINEZ DE LAGRAacuteN I (coords) - Bell Beakers in the Iberian Peninsula and their European context Valladolid Universidad p 19-27

SALVADO M C (2004) ndash Apontamentos sobre a utilizaccedilatildeo do osso no Neoliacutetico e Calcoliacutetico da Peniacutensula de Lisboa As colecccedilotildees do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Museu Nacional de Arqueologia (O Arqueoacutelogo Portugecircs Suplemento 2)

SANCHES M J NUNES S A SILVA M S (2005) ndash A Mamoa 1 do Castelo (Jou) ndash Murccedila (Traacutes-os-Montes) Resultados dos trabalhos de escavaccedilatildeo e de restauro dum doacutelmen de vestiacutebulo Portugaacutelia Porto nova Seacuterie 26 p 5-39

SANGMEISTER E SCHUBART H (1981) - Zambujal Die Grabungen 1964 bis 1973 Mainz Verlag Philipp von Zabern (Madrider Beitraumlge 5 1)

SANTOS F C (2006) ndash Siacutetio do Neoliacutetico finalCalcoliacutetico da Horta do Albardatildeo 3 (Satildeo Manccedilos Eacutevora) Trabalhos arqueoloacutegicos Relatoacuterio final [Novembro 2006] Arquivo do IGESPAR Policopiado

SANTOS M F (1967) - A necroacutepole de tipo laquotholosraquo de Santiago do Escoural O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf seacuterie 1 p 113-114

SANTOS M F (1980) ndash Estudos de Preacute-histoacuteria em Portugal de 1850 a 1880 Anais Lisboa Academia Portuguesa de Histoacuteria 2ordf seacuterie 26 2 p 253-297

SANTOS M F FERREIRA O V (1969) - O monumento eneoliacutetico de Santiago do Escoural O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf seacuterie 3 p 37-62 il

SANTOS M F GOMES M V CARDOSO J L (1991) ndash Dois artefactos de osso poacutes-paleoliacuteticos da gruta do Escoural (Montemor-o-Novo Eacutevora) Almansor Montemor-o-Novo 9 p 75-94

SANTOS M C (1968) ndash Apontamentos ineacuteditos de Antoacutenio Mendes O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf seacuterie p 169-181

SANTOS N C (1989) ndash Projecto Calcoliacutetico na Estremadura Anaacutelise do povoamento Neoliacutetico e Calcoliacutetico na mancha norte do Complexo Basaacuteltico de Lisboa (Concelho de Loures) Relatoacuterio dos trabalhos realizados em 1988 Lisboa IICT e Departamento de Arqueologia da Universdiade de Boston Policopiado

SANTOS N C (1994) ndash Notiacutecia sobre o siacutetio calcoliacutetico de Casal das Gaitadas (Loures) In Actas das V Jornadas Arqueoloacutegicas (Lisboa 1993) Lisboa Asscociaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 163-173

SANTOS N C (1995) ndash Povoamento calcoliacutetico na Estremadura Problemas da anaacutelise de ditribuiccedilatildeo espacial In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das 1ordfs Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 141-148 (Trabalhos de Arqueologia 7)

SCARRE C (1996) ndash Megalithic Tombs In FAGAN B (ed) - The Oxford Companion to Archaeology Oxford Oxford University Press p 434-436

SCARRE C (2004) minus Monumentos de Pedra lsquoRudersquo e Pedras Trofeacuteu a relaccedilatildeo com os materiais nos megaacutelitos da Europa ocidentalrdquo In CALADO M (coord) - Sinais de Pedra 1ordm Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo e Arte Rupestre Eacutevora Fundaccedilatildeo Eugeacutenio de Almeida Republicado em 2007 In Crookscape Siacutetio da internet consultado em 1812009 httpwwwcrookscapeorg textset2007 text13html

SCARRE C ARIAS P BURENHULT G FANO M OOSTERBEEK L SCHULTING R SHERIDAN A WHITTLE A (2003) ndash Megalithic chronologies In BURENHULT G WESTERGAARD S (coords) ndash Stones and Bones formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC archaeological conference in honour of the late Professor J OrsquoKelly 2002 Sligo Ireland Oxford Archaeopress p 65-115 (BAR International Series 1201)

SCHULTING R (2000) ndash New AMS dates from the Lambourn Long Barrow and the Question of the Earliest Neolithic in Southern England Repacking the Neolithic Package Oxford Journal of Archaeology 19 1 p 25-35

SCHULTING R RICHARDS M (2002) ndash The wet the wild and the domesticated The Mesolithic-Neolithic transition on the West coast of Scotland European Journal of Archaeology 5 2 p 147-189

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 402 de 415

SEBASTIAtildeO L F (1991) - Anta foi deitada abaixohellip antes que caiacutesse O Puacuteblico Lisboa 12 de Abril p 56

SENNA-MARTINEZ J C (1989) ndash Preacute-Histoacuteria recente da bacia do Meacutedio e Alto Mondego Algumas contribuiccedilotildees para um modelo soacuteciocultural Tese de Doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Lisboa Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Policopiada

SENNA-MARTINEZ J C (1990) - Idade do Bronze na Estremadura atlacircntica subsiacutedios para um programa de estudo Lisboa [Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa] Prova complementar de doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Policopiado

SENNA-MARTINEZ J C VENTURA J M (2008) ndash Do mundo das sombras ao mundo dos vivos Octaacutevio da Veiga Ferreira e o Megalitismo da Beira Alta meio seacuteculos depois In CARDOSO J L (coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 317-350

SERRAtildeO E C (1962) - Alguns problemas arqueoloacutegicos da regiatildeo de Sesimbra Arqueologia e Historia Lisboa 8ordf seacuterie 9 p 11-42 il

SERRAtildeO E C (1964) - Um pequeno museu arqueoloacutegico regional Arqueologia e Historia Lisboa 8ordf seacuterie 9 p105-125

SERRAtildeO E C (1967) ndash As grutas de Sesimbra (Introduccedilatildeo) I - As grutas A e B do Forte do Cavalo II ndash Duas grutas da regiatildeo de Sesimbra contendo materiais arqueoloacutegicos atribuiacuteveis agrave cultura do vaso campaniforme vista pelo arqueoacutelogo Octaacutevio da Veiga Ferreira Boletim do Centro de Estudos do Museu Arqueoloacutegico de Sesimbra Sesimbra Ediccedilatildeo da Liga dos Amigos do Castelo de Sesimbra 1 p 22-39 p 106-109 113-122 il

SERRAtildeO E C (1968) - A Lapa do Fumo Geographica Lisboa 4 15 p69-92 il SERRAtildeO E C (1973) - Carta Arqueoloacutegica do concelho de Sesimbra (Desde o Paleoliacutetico antigo

ateacute 1200 d C) Identificaccedilatildeo sumaacuteria dos monumentos estaccedilotildees e locais com interesse arqueoloacutegico assinalados nos mapas [Setuacutebal] Junta Distrital de Setuacutebal

SERRAtildeO E C (1975) - Contribuiccedilotildees arqueoloacutegicas do Sudoeste da Peniacutensula de Setuacutebal Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 1 p 199-225

SERRAtildeO E C (1979) - Sobre a periodizaccedilatildeo do Neoliacutetico e Calcoliacutetico do territoacuterio portuguecircs In Actas da 1ordf Mesa- Redonda sobre o Neoliacutetico e o Calcoliacutetico em Portugal Porto p147-182

SERRAtildeO E C (1982-1983) ndash As jazidas arqueoloacutegicas de Catrivana e o dolmen de laquoPedra Erguidaraquo Sintria Sintra Museu Arqueoloacutegico de Satildeo Miguel de Odrinhas 1-2 p 11-28

SERRAtildeO E C (1991) - Sobre os iacutedolos de calcaacuterio - ldquopinhasrdquo- do calcoliacutetico da Estremadura - Algumas consideraccedilotildees sobre dois exemplares da Lapa do Bugio Sesimbra Cultural Sesimbra Cacircmara Municipal de Sesimbra 1 p 6-14

SERRAtildeO E C MARQUES G (1971) - Estrato preacute-campaniforme da Lapa do Fumo (Sesimbra) In Actas do 2ordm Congresso Nacional de Arqueologia Coimbra 1970 Coimbra Junta Nacional de Educaccedilatildeo 1 p 121-142

SERRAtildeO E C MESQUITA I MESQUITA M (1984) - Megaacutelito de Pego Longo ndash Belas Trabalhos arqueoloacutegicos efectuados no concelho de Sintra em 1983 Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Relatoacuterio policopiado Processo S-3518

SERRAtildeO E C VICENTE E P (1958) - O castro Eneoliacutetico de Olelas Primeiras escavaccedilotildees Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 39 p 87-125 Separata

SERRAtildeO V (1998) ndash Antas de Belas Uma viagem de seduccedilotildees por um patrimoacutenio de excepccedilatildeo In OLHO VIVO ndash Antas de Belas Um patrimoacutenio a preservar Queluz Olho Vivo p 7-9

SHERRATT A (1981) - Plough and pastoralism aspects of the Secondary Products Revolution In HODDER I ISAAC G HAMMOND N (coords) - Pattern of the Past Studies in Honour of David Clarke Cambridge Cambridge University Press p 261-305

SHERRATT A (1983) ndash The Secondary Exploitation of Animals in the Old World World Archaeology 15 1 p 90-104 Transhumance and Pastoralism

SHERRATT A (1987) ndash Wool Wheels and Ploughmarks Local Developments or Outside Introductions in Neolithic Europe Bulletin Institute of Archaeology London University College 23 p 1-15

SHERRATT A (1990) ndash The Genesis of Megaliths Monumentality Ethnicity and Social Complexity in Neolithic North-West Europe World Archaeology 22 2 p 147-167 Monuments and the Monumental

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 403 de 415

SHERRATT A (1995) ndash Instruments of Conversion The Role of Megaliths in the MesolithicNeolithic Transition in Northwest Europe Oxford Journal of Archaeology Oxford Blackwell Publishers Ltd 14 3 p 245-260

SHERRATT A (1996) - Secondary products revolution In FAGAN B (ed) Oxford Companion to Archaeology Oxford Oxford University Press p 632-634

SHERRATT A (1999) - Cash-crops before cash organic consumables and trade In GOSDEN C HATHER J - The Prehistory of Food Appetites for Change London Routledge p 13-34

SHIPMAN P ROSE J (1983) - Early hominid hunting butchering and carcass-processing behaviors approaches to the fossil record Journal of Anthropological Archaeology 2 1 p 57-98SILVA A M (1993) - Os restos humanos da gruta artificial de Satildeo Pedro do Estoril II Estudo Antropoloacutegico Relatoacuterio de investigaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas Coimbra Departamento de Antropologia Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de Coimbra Policopiado

SILVA A M (1995a) - Sex assessment using calcaneus and talus Antropologia Portuguesa Coimbra 13 p 85-97

SILVA A M (1995b) - Os restos humanos exumados da Anta da Arquinha da Moura (Tondela Viseu) Estudos Preacute-histoacutericos Viseu 3 p 141ndash150

SILVA A M (1996a) ndash O Hipogeu de Monte Canelas I Contribuiccedilatildeo da Antropologia de campo e da Paleobiologia na interpretaccedilatildeo dos gestos funeraacuterios do IV e III mileacutenios aC In Actas do 2ordm Congreso Peninsular de Arqueologia Zamora Espanha 24-27 de Setembro Zamora vol 2 p 241-248

SILVA A M (1996b) ndash Paleobiology of the Population Inhumated in the Hipogeum of Monte Canelas I (Alcalar ndash Portugal) In Proceedings of the XIII Congress Forligrave- Itaacutelia 1996 814 September Section 9 The Neolithic in the Near East and Europe Subsection Ethnic and anthropological aspects Vol 3 p 437-446

SILVA A M (1997) - Ler os ossos Antropologia de Campo e Arqueologia Funeraacuteria In Noventa seacuteculos entre a Serra e o Mar Lisboa IPPAR p 207-219

SILVA A M (1999a) - A Necroacutepole Neoliacutetica do Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras Portugal) os dados paleobioloacutegicos In BERNABEU AUBAacuteN J OROZCO KOumlHLER T (coords) - II Congreacutes del Neoliacutetic a la Peniacutensula Ibegraverica Universitat de Valegravencia 7-9 dAbril 1999 Saguntum-PLAV Valecircncia Universitat de Valegravencia Extra-2 p 355-360

SILVA A M (1999b) - Human remains from the artificial cave of Satildeo Pedro do Estoril II (Cascais Portugal) Human Evolution 14 3 p 199-206

SILVA A M (1999c) - Inumaccedilotildees colectivas algumas consideraccedilotildees sobre a respectiva anaacutelise paleobioloacutegica In Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Vila Real 21-27 de Setembro Porto ADECAP vol 9 321-329

SILVA A M (2000a) Dental anthropology of the Chalcolithic Portuguese population from Cova da Moura (Torres Vedras Portugal) Permanent lower teeth In VARELA T (coord) - Investigaciones en Biodiversidad Humana Santiago de Compostela Universidad de Santiago de Compostela p 367-374SILVA A M (2002) ndash Antropologia Funeraacuteria e Paleobiologia das Populaccedilotildees Portuguesas (Litorais) do Neoliacutetico Final Calcoliacutetico Coimbra Universidade Dissertaccedilatildeo de DoutoramentoSILVA AM (2003a) ndash A Neolithic skull lesion probably caused by an arrowhead Antropologia Portuguesa 19 p 139-144

SILVA A M (2003b) ndash Portuguese populations of Late Neolithic and Chalcolithic periods exhumed from collective burials An overview Anthropologie 41 1-2 p 55-64

SILVA A M (2003c) - Trepanation in the Portuguese Late Neolithic Chalcolithic and Early Bronze Age Periods In ARNOTT R FINGER S SMITH C (coords) ndash Trepanation History-Discovery-Theory Lisse Swets amp Zeitlinger Publishers p 117-130

SILVA A M (2005) ndash A necroacutepole da Serra da Roupa Caracterizaccedilatildeo demograacutefica morfoloacutegica e patoloacutegica de uma populaccedilatildeo portuguesa do Neoliacutetico finalCalcoliacutetico In ARIAS CABAL P ONTANtildeON PEREDO R GARCIacuteA-MONCOacute C (coords) - Actas del 3ordm Congreso del Neoliacutetico da la Peniacutensula Ibeacuterica (Santander 5 a 8 de Octubre 2003) Santander Universidad de Cantabria p 787-792

SILVA A M (2006) ndash Anta II do Rego da Murta Relatoacuterio antropoloacutegico dos restos odontoloacutegicos exumados em 2003 2004 e 2005 In FIGUEIREDO A - Complexo megaliacutetico de Rego da Murta (Rego da Murta Alvaiaacutezere) no contexto da Preacute-histoacuteria Recente do Alto Ribatejo (V-II mileacutenio aC) ndash Problemaacuteticas e Interrogaccedilotildees Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Faculdade de Letras da Universidade do Porto Ficheiro PDF Apecircndice IV

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 404 de 415

SILVA A M (2008) ndash Os ossos humanos In GONCcedilALVES V S ndash A utilizaccedilatildeo preacute-histoacuterica da gruta de Porto Covo (Cascais) Uma revisatildeo e algumas novidades Cascais Cacircmara Municipal p 148-157 (CTA Cascais Tempos Antigos)

SILVA A M CRUBEacuteZY E CUNHA E (2008) ndash Bone weight New reference values based on a Modern Portuguese Identified Skeletal Collection International Journal of Osteoarchaeology Published online in Wiley InterScience (wwwintersciencewileycom) Consulta Dez 2008

SILVA A M CUNHA E (2001) - Paleopathological study of the community exhumed from the Hipogeu of Monte Canelas I (Alcalar Portugal) In SAacuteNCHEZ SAacuteNCHEZ J (ed) - Actas do 5ordm Congreso Nacional de Paleopatologia Alcalaacute la Real Espanha p 353-356

SILVA A M CUNHA E (2004) ndash O Algar do Covatildeo do Poccedilo Nota antropoloacutegica sobre os ossos humanos recuperados In Actas das I Jornadas de Patrimoacutenio e Arqueologia do Litoral Centro Porto de Moacutes Maio-Junho de 2001 [Porto de Moacutes] OIKOS p 81-89

SILVA A M FERREIRA M T (2006) ndash Anta I do Rego da Murta Relatoacuterio antropoloacutegico final dos restos oacutesseos e dentaacuterios exumados In FIGUEIREDO A - Complexo megaliacutetico de Rego da Murta (Rego da Murta Alvaiaacutezere) no contexto da Preacute-histoacuteria Recente do Alto Ribatejo (V-II mileacutenio aC) ndash Problemaacuteticas e Interrogaccedilotildees Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Faculdade de Letras da Universidade do Porto Ficheiro PDF Apecircndice III

SILVA A M FERREIRA M T (2007) ndash Os ossos humanos ldquoesquecidosrdquo da Praia das Maccedilatildes Anaacutelise antropoloacutegica da amostra oacutessea do Museu Arqueoloacutegico de Satildeo Miguel de Odrinhas Cominbriga Coimbra 46 p 5-26

SILVA A M FERREIRA M T CODINHA S (2006) ndash Praia da Samarra anaacutelise antropoloacutegica dos restos oacutesseos humanos depositados no Museu Arqueoloacutegico de Satildeo Miguel de Odrinhas Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 9 2 p 157-159

SILVA A M FERREIRA M T RODRIGUES Z (2006) ndash Anta II do Rego da Murta 1ordm Relatoacuterio do estudo laboratorial dos restos oacutesseos humanos exumados In FIGUEIREDO A - Complexo megaliacutetico de Rego da Murta (Rego da Murta Alvaiaacutezere) no contexto da Preacute-histoacuteria Recente do Alto Ribatejo (V-II mileacutenio aC) ndash Problemaacuteticas e Interrogaccedilotildees Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Faculdade de Letras da Universidade do Porto Ficheiro PDF Apecircndice V

SILVA A M UMBELINO C (1996) ndash Anaacutelise paleodemograacutefica dos indiviacuteduos recuperados de dois monumentos funeraacuterios neoliacuteticos portugueses Rubricatum 1 p 591-598 I Congregraves del Neolitic a la Peniacutesula Ibegraverica Gavagrave-Bellaterra 1995 Vol 2

SILVA A M S (1983) ndash Portugal Atlas do Ambiente Notiacutecia explicativa I13 Carta litoloacutegica Lisboa Comissatildeo Nacional do Ambiente

SILVA C M (2000) - Sobre o possiacutevel significado astronoacutemico do cromeleque dos Almendres A Cidade de Eacutevora Eacutevora Cacircmara Municipal Nova seacuterie 4 p 109-128

SILVA C M (2004) - The Spring Full Moon Journal for the History of Astronomy 35 p 475-478 Fundida com a revista Archaeoastronomy

SILVA C M CALADO M (2003) - New Astronomically Significant Directions of Megalithic Monuments in the Central Alentejo Journal of Iberian Archaeology Porto 5 p 67-88

SILVA C M CALADO M (2005) ndash Spring Moon Sites in Central Alentejo Crookscape Siacutetio da internet consultado em 1812009 httpwwwcrookscapeorgtextjulb2005text04html

SILVA C T (1990) - Influecircncias orientalizantes no calcoliacutetico do centro e sul de Portugal notas para um debate In Estudos orientais Presenccedilas orientalizantes em Portugal Da preacute-histoacuteria ao periacuteodo romano Lisboa Instituto Oriental vol 1 p 45-52

SILVA C T (1996) ndash Malacofauna e Arqueologia Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 5 p 89-95 SILVA C T (2008) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira e o estudo do Megalitismo da Serra de Monchique e

do Baixo Alentejo Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 301-315 CARDOSO J L (coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor

SILVA C T CABRITA M G (1966) - A utilizaccedilatildeo dos moluscos durante o Eneoliacutetico portuguecircs Revista de Guimaratildees Guimaratildees 76 3-4 p 307-338 Separata

SILVA C T SOARES J (1976-1977) - Contribuiccedilatildeo para o conhecimento dos povoados calcoliacuteticos do Baixo Alentejo e Algarve Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal 2-3 p 179-272

SILVA C T SOARES J (1981) ndash Preacute-Histoacuteria da aacuterea de Sines trabalhos de 1972-77 Lisboa Gabinete da aacuterea de Sines

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 405 de 415

SILVA C T SOARES J (1983) - Contribuiccedilatildeo para o estudo do megalitismo do Alentejo Litoral A sepultura do Marco Branco (Santiago do Caceacutem) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 1 p 63-88

SILVA C T SOARES J (1986) - Arqueologia da Arraacutebida Setuacutebal (Colecccedilatildeo Parques Naturais nordm 5)

SILVA C T SOARES J (1997) ndash Chibanes revisitado Primeiros resultados da campanha de escavaccedilotildees de 1996 Estudos Orientais Lisboa Instituto Oriental da Universidade Nova de Lisboa 6 p 33-66 Volume de Homenagem ao Professor Antoacutenio Augusto Tavares

SILVA C T SOARES J CARDOSO J L (1995) - Os povoados fortificados do Monte da Tumba e de Leceia Elementos para um estudo comparado In KUNST M (coord) ndash Origens Estruturas e Relaccedilotildees das Culturas Calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril de 1987 Lisboa IPPAR p 159-168 (Trabalhos de Arqueologia 7)

SILVA C T SOARES J CARDOSO JL CRUZ S REIS C (1986) - Neoliacutetico da Comporta Aspectos Cronoloacutegicos (Datas 14C) e Paleoambientais Arqueologia Porto 14 p 59-82

SILVA F C (2005) ndash Sinais de fogo Anaacutelise antropoloacutegica de restos oacutesseos cremados do Neoliacutetico finalCalcoliacutetico do tholos OP2b (Olival da Pega Reguengos de Monsaraz) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Evoluccedilatildeo Humana na aacuterea cientiacutefica de Antropologia Fiacutesica Coimbra Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de Coimbra Policopiado

SILVA J P (1878) ndash Archaeologia prehistorica (Palafitas de Italia Suissa Aacuteustria e Franccedila) Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 2 5

SILVA J P (1878) ndash Novos monumentos megalithicos em Portugal Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 2 6

SILVA J P (1881) ndash Archaeologia pre-historica Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 3 7

SILVA J P (1881) ndash Archaeologia pre-historica (Introducccedilatildeo) Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 3 4

SILVA J P (1881) ndash Archaeologia prehistorica As cavernas Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 3 7

SILVA J P (1881) ndash Dolmens descobertos em Portugal Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 3 8

SILVA J P (1882) ndash Archaeologia pre-historica (Continuaccedilatildeo) Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 3 5

SILVA J P (1885) ndash Archaeologia prehistorica Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 4 9

SILVA J P (1885) ndash Archaeologia prehistorica Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 4 12

SILVA M M SANTOS P J da Mota (1988-1989) - As ceracircmicas tipo Penha do Museu da Sociedade Martins Sarmento - Guimaratildees estudo tipoloacutegico Portugaacutelia Porto nova seacuterie 9-10 p 63-71

SIMOtildeES A F (1878) ndash Introducccedilatildeo aacute Archaeologia da Peniacutensula Ibeacuterica Parte Primeira Antiguidades Prehistoricas Lisboa Livraria Ferreira

SIMOtildeES T (1993) ndash A Preacute-histoacuteria de Sintra In Histoacuteria de Portugal Portugal na Preacute-histoacuteria Amadora Ediclube vol 1 p 224-230

SMITH M (1997) - Osteological indications of warfare in the Archaic period of the western Tennessee Valley In MARTIN D L FRAGER D W (eds) - Trouble Times Violence and Warfare in the Past Amsterdam Gordon and Breach Publishing p 241-266

SMITH M BRIKLEY M (2006) ndash The Date and Sequence of use of Neolithic Funerary Monuments New AMS Dating Evidence from the Cotswold-Severn Region Oxford Journal of Archaeology Oxford Blackwell Publishing Ltd 25 4 p 335-355

SOARES A M (1995) ndash Dataccedilatildeo Absoluta da Necroacutepole ldquoNeoliacuteticardquo da Gruta do Escoural In ARAUacuteJO A C LEJEUNE M ndash Gruta do Escoural Necroacutepole Neoliacutetica e Arte Rupestre Paleoliacutetica Lisboa IPPAR p 111-119 (Trabalhos de Arqueologia 8)

SOARES A M (1996a) ndash A dataccedilatildeo pelo radicarbono Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 5 p 109-116 SOARES A M (1996b) ndash Meacutetodos de dataccedilatildeo Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 5 p 116-121 SOARES A M (1999) ndash Megalitismo e Cronologia Absoluta In II Congreso de Arqueologia

Peninsular Zamora Vol 3 p 689-706

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 406 de 415

SOARES A M (2007) ndash 25 anos de mudanccedila na Arqueologia portuguesa O contributo do Radiocarbono Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 15 p 110-112

SOARES A M (2008) ndash O da Veiga Ferreira e as primeiras dataccedilotildees de radiocarbono para a Arqueologia portuguesa In CARDOSO J L (coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 377-382

SOARES A M CABRAL J M P (1984) ndash Datas convencionais de radiocarbono para estaccedilotildees arqueoloacutegicas portuguesas e a sua calibraccedilatildeo revisatildeo criacutetica O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 2 p 167-214

SOARES A M CABRAL J M P (1987) ndash O povoado calcoliacutetico do Monte da Tumba VI Cronologia absoluta Setuacutebal Arqueoloacutegica 8 p 155-165

SOARES A M CABRAL J M P (1993) ndash Cronologia Absoluta para o Calcoliacutetico da Estremadura e do Sul de Portugal In 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Actas II Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto SPAE 33 3-4 p 217-235

SOARES A M CARDOSO JL (1995) ndash Cronologia absoluta para as ocupaccedilotildees do Neoliacutetico final e do Calcoliacutetico inicial do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 263-276

SOARES A M SOARES J SILVA C T (2007) ndash A dataccedilatildeo pelo radiocarbono das fases de ocupaccedilatildeo do Porto das Carretas Algumas reflexotildees sobre a cronologia do Campaniforme Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa IGESPAR 10 2 p 127-134

SOARES J (2000) ndash A Ponta da Passadeira e a diversidade do registo arqueoloacutegico dos IVIII mileacutenios AC In 1ordfs Jornadas Arqueoloacutegicas e do Patrimoacutenio da Corda Ribeirinha Sul Actas Barreiro Cacircmara Municipal p 88-109

SOARES J (2001) ndash O povoado preacute-histoacuterico da Ponta da Passadeira economia ribeirinha dos IVIII mileacutenios AC In Arqueologia e Histoacuteria Regional da Peniacutensula de Setuacutebal Lisboa Centro de Estudos Histoacutericos Interdisciplinares da Universidade Aberta p 101-127

SOARES J (2003) ndash Os hipogeus preacute-histoacutericos da Quinta do Anjo (Palmela) e as economias do simboacutelico Setuacutebal MAEDS

SOARES J SILVA C T (1975) ndash A ocupaccedilatildeo preacute-histoacuterica do Pedratildeo e o Calcoliacutetico da regiatildeo de Setuacutebal Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 1 p 53-154

SOARES J SILVA C T (1976-1977) - O monumento megaliacutetico da Palhota (Santiago do Caceacutem) Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 2-3 p 109-150 il

SOARES J SILVA C T (1992) ndash Para o conhecimento dos povoados do megalitismo de Reguengos Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal 9-10 p 37-88

SOARES J SILVA C T (2000) ndash Protomegalitismo no Sul de Portugal inauguraccedilatildeo das paisagens megaliacuteticas In GONCcedilALVES V (coord) ndash Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo (Reguengos de Monsaraz Outubro de 1996) Lisboa IPA p 117-134 (Trabalhos de Arqueologia 16)

SOARES J SILVA C T e BARROS L (1979) - Identificaccedilatildeo de uma jazida neoliacutetica em Fonte de Sesimbra (Santana) Setuacutebal Arqueoloacutegica 5 p47-65

SOUSA A C (1998) ndash O Neoliacutetico final e o Calcoliacutetico na aacuterea da Ribeira de Cheleiros Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 11)

SOUSA A C (1999) ndash O povoado preacute-histoacuterico do Penedo do Lexim (Igreja Nova Mafra) Resultados preliminares da Campanha 1 (98) Boletim Cultural 1998 Mafra Cacircmara Municipal 1998 p 451-501

SOUSA A C (2000) ndash Penedo do Lexim Campanha 1999 Mafra Cacircmara Municipal (Cadernos de Arqueologia de Mafra)

SOUSA A C (2003) ndash O Neoliacutetico final do Penedo do Lexim (Mafra) In GONCcedilALVES V S (ed) ndash Muita gente poucas antas Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 25)

SOUSA A C (2004a) ndash Dinacircmicas de povoamento nas comunidades do 4ordm e 3ordm mileacutenio aC na aacuterea da Ribeira de Cheleiros (Mafra) In Vivecircncia Comunitaacuteria Histoacuteria e problemaacuteticas actuais O desafio educacional Actas do V Curso de Veratildeo da Ericeira Ericeira Mar de Letras p 29-47

SOUSA A C (2004b) ndash Natureza e transformaccedilatildeo O Penedo do Lexim e outros casos do Calcoliacutetico estremenho In JORGE S O ndash Recintos Murados na Preacute-Histoacuteria Peninsular Porto Faculdade de Letras do Porto p 178-197

SPINDLER K (1969) ndash Die Kupferzeitliche siedlung von Penedo Portugal Madrider Mitteilungen Heidelberg Deutsches Archaumlologisches Institut Abteilung Madrid 10 p 45-116

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 407 de 415

SPINDLER K (1972) ndash Die tholos von Pai Mogo Portugal Madrider Mitteilungen Heidelberg Deutsches Archaumlologisches Institut abteilung Madrid 13 p 38-82

SPINDLER K (1981) ndash Cova da Moura Die Besuedlung decircs Atlantischen Kuumlstengebietes Mittelportugals vom Neolithikum bis and decircs Ende der Bronzezeit Mainz am Rheim Verlag Philipp von Zabern (Madrider Beitraumlge 7)

SPINDLER K GALLAY G (1973) ndash Kupferzeitliche siedlung und begraumlbnisstaumltten von Matacatildees in Portugal Mainz (Madrider Beitraumlge 1)

SPINDLER K TRINDADE L (1970) - A poacutevoa Eneoliacutetica do Penedo - Torres Vedras In Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas Lisboa 1969 Lisboa AAP p 57-157

STOCKLER C (1998) - Em torno da cronologia do Megalitismo da Serra da Aboboreira Novas datas de Carbono 14 da Mamoa de Cabras (Amarante) Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu 6 p 167-173 Actas do Coloacutequio laquoA Preacute-Histoacuteria na Beira Interiorraquo (Tondela Nov 1997)

STRAUS LG (1989) - New chronometric dates for the prehistory of Portugal Arqueologia Porto 20 p 73-6

STRAUS LG ALTUNA J FORD D MARAMBAT L RHINE JS SCHAWRCZ J-H VERNET J-L (1992) ndash Early farming in the Algarve (Southern Portugal) A Preliminary view from two cave excavations near Faro Trabalhos de Antropologia e Etnologia 32 p 141-161

STRAUS L G ALTUNA J JACKES M KUNST M (1988) - New excavations in Casa da Moura (Serra drsquoel Rei Peniche) and at the Abrigos de Bocas (Rio Maior) Portugal Arqueologia Porto 18 p 65-95

STEELMAN K L CARRERA RAMIacuteREZ F FAacuteBREGAS VALCARCE R GUILDERSON T ROWE M W (2005) ndash Direct Radiocarbon Dating of Megalithic Paints from North-West Iberia Antiquity 79 p 379-389

STUART-MACADAM P (1992) - Porotic hyperostosis a new perspective American Journal of Physical Anthropology 87 p 39-47

STUIVER M KRA R (eds) (1986) - Proceedings of the Twelfth International Radiocarbon Conference - Trondheim Norway 24-28 June 1985 Calibration Issue Radiocarbon 28 2B p 805-1030

STUIVER M REIMER PJ REIMER RW (2005) ndash Calib 50 wwwcalib qubacuk TERESO J NEVES C GASPAR R ALDEIAS V DUARTE C GONCcedilALVES D NETO F

PINHEIRO V (2006) ndash A necroacutepole da gruta do Rio Seco (Alcobaccedila) Dados da primeira intervenccedilatildeo In Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular Simbolismo Arte e Espaccedilos Sagrados na Preacute-histoacuteria da Peniacutensula Ibeacuterica Faro Universidade de Faro p 89-109 (Promontoria Monograacutefica 5)

THORPE R S WILLIAMS-THORPE O (1991) ndash The Myth of Long-Distance Megalith Transport Antiquity Cambridge 65 246 p 64-73

TOMEacute T (2006) ndash Reflexos da Vida na Morte Paleobiologia das populaccedilotildees do neoliacutetico final Calcoliacutetico do Vale do Nabatildeo ndash Gruta dos Ossos Mestrado em Arqueologia Preacute-histoacuterica e Arte rupestre Master Erasmus Mundus in Quaternary and Prehistory Tomar Instituto Politeacutecnico de Tomar Versatildeo PDF

TRINDADE L FERREIRA O V (1956) - A Necroacutepole do Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras) Anais da Faculdade de Ciecircncias do Porto 38 (4) Separata

UBELAKER D (1974) - Reconstruction of demographic profiles from ossuary skeletal samples a case from Tidewater Potomac Smithsonian Contributions to Anthropology 18

UBELAKER D (1989) - Human Skeletal Remains Excavation Analysis Interpretation Washington Taraxacum Press 2ordf ediccedilatildeo

UBELAKER D (1990) ndash J Lawrence Angel and the Development of Forensic Anthropology in the United States In BUIKSTRA J E (coord) - A Life in Science Papers in Honor of J Lawrence Angel Center for American Archeology p 191-200 (Scientific Papers 6)

UERPMANN H-P (1995) ndash Observaccedilotildees sobre a ecologia e economia do Castro do Zambujal In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 47-53 (Trabalhos de Arqueologia 7)

UERPMANN M (1995) ndash A induacutestria da pedra lascada do Zambujal ndash Alguns resultados In KUNST M (Coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 37-59 (Trabalhos de Arqueologia 7)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 408 de 415

UMBELINO C (1999) ndash Novos elementos sobre a amostra Neoliacutetica da Gruta dos Alqueves (Coimbra) inferecircncias sobre a dieta eleita Estudos Preacute-Histoacutericos 7 p 15-25

UMBELINO C (2006) ndash Outros sabores do Passado As anaacutelises de oligoelementos e de isoacutetopos estaacuteveis na reconstituiccedilatildeo da dieta das comunidades humanas do Mesoliacutetico Final e do Neoliacutetico Final Calcoliacutetico do territoacuterio portuguecircs Coimbra Universidade de Coimbra Departamento de Antropologia Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Policopiado

USCATESCU A (1992) ndash Los botones de perforacion en ldquoVrdquo en la Peniacutensula Ibeacuterica y las Baleares durante la Edad de los Metales Foro Madrid

VALENTE A (2006) ndash Ceracircmicas com bordos denteados no povoado de Vale de Lobos (Sintra) Tese de Mestrado em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Lisboa Faculade de Letras da Universiade de Lisboa Policopiado

VALERA A (1997) ndash O Castro de Santiago (Fornos de Algodres Guarda) Aspectos da calcolitizaccedilatildeo da Bacia do Alto Mondego Lisboa Cacircmara Municipal de Fornos de Algodres (Textos Monograacuteficos 1)

VALERA A (2000a) ndash Moinho de Valadares 1 e a transiccedilatildeo Neoliacutetico Final Calcoliacutetico na margem esquerda do Guadiana uma anaacutelise preliminar Era Arqueologia Lisboa Colibri 1 p 24-37

VALERA A (2000b) ndash O Monte do Tosco Uma anaacutelise preliminar no contexto do povoamento calcoliacutetico e do iniacutecio da Idade do Bronze na margem esquerda do Guadiana Era Arqueologia Lisboa Colibri 2 p 32-51

VALERA A (2001) ndash A ocupaccedilatildeo preacute-histoacuterica do siacutetio do Mercador (Mouratildeo) a campanha de 2000 Era Arqueologia Lisboa Colibri 3 p 42-57

VALERA A (2006) ndash A margem esquerda do Guadiana (regiatildeo de Mouratildeo) dos finais do 4ordm aos iniacutecios do 2ordm mileacutenio AC Era Arqueologia Lisboa Colibri 7 p 136-210

VALERA A (2007) ndash Investigaccedilatildeo no Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees ponto da situaccedilatildeo de dados e problemas In Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular A concepccedilatildeo das paisagens e dos espaccedilos na Arqueologia da Peniacutensula Ibeacuterica Faro 14 a 19 setembro de 2004 Faro Universidade do Algarve p 53-66 (Promontoria Monograacutefica 8)

VALERA A (2008) ndash Recinto Calcoliacutetico dos Perdigotildees Fossos e fossas do Sector I Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 3 p 19-27 Revista online

VALERA A COELHO M FERREIRA A (2008) ndash Novos dados sobre a ocupaccedilatildeo neoliacutetica do Bairro Alto (Lisboa) Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 2 p 7-12

VALERA A LAGO M DUARTE C EVANGELISTA L (2000) ndash Ambientes funeraacuterios no complexo arqueoloacutegico dos Perdigotildees uma anaacutelise preliminar no contexto das praacuteticas funeraacuterias calcoliacuteticas no Alentejo Era Arqueologia Lisboa Colibri 2 p 84-105

VALERA A SOARES A M COELHO M (2008) ndash Primeiras datas de radiocarbono para a necroacutepole de hipogeus da [Sobreira] de Cima (Vidigueira Beja) Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 2 p 27-30 Revista em linha httpwwwnia-eraorgcomponentoptioncom_docmantaskcat_viewgid32Itemid55

VARGAS JIMENEZ J M [2004a] ndash Carta Arqueoloacutegica Municipal Valencina de La Concepcioacuten Sevilla Junta de Andaluciacutea (Arqueologia Monografias)

VARGAS JIMENEZ J M [2004b] ndash El yacimiento prehistoacuterico de Valencina de La Concepcioacuten (Sevilla) Sevilla Ayuntamiento de Valencina de La Concepcioacuten

VASCONCELOS J L (1895) ndash Collecccedilatildeo Ethnographica do Sr M dAzuaga O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 1ordf seacuterie 1 p 20-28

VASCONCELOS J L (1897) ndash As religiotildees da Lusitacircnia na parte que principalmente se refere a Portugal Lisboa Imprensa Nacional Reediccedilatildeo Fac-similada Apresentaccedilatildeo por J M GARCIA

VASCONCELOS J L (1898) - Relatoacuterio da exploraccedilatildeo da anta do laquoCasal das Antas de Baixoraquo (Arruda) [Manuscrito] Arquivo de J L de Vasconcelos Caixa 6 (A-B) Apontamentos por proveniecircncia Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

VASCONCELOS J L (1915) ndash Histoacuteria do Museu Etnoloacutegico Portuguecircs (1893-1914) Lisboa Imprensa Nacional

VASCONCELOS J L (1917) ndash Coisas velhas 26 Antas em Alenquer O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 22 p 121

VAULTIER M ZBYSZEWSKI G (1951) - Le dolmen de Casal do Penedo (Verdelha dos Ruivos) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto Instituto de Antropologia 13 p 17-33

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 409 de 415

VAULTIER M ROCHE J FERREIRA O V (1959) ndash Novas escavaccedilotildees na gruta da Ponte da Lage (Oeiras) In Congresso Nacional de Arqueologia 1ordm Lisboa 1958 ndash Actas e Memoacuterias Lisboa vol 1 p 111-115 il

VAZ M M (2001) ndash O concelho de Odivelas Amadora Comissatildeo instaladora do Municiacutepio de Odivelas

VEGAS ARAMBURU J I ARMENDARIZ A ETXEBERRIA F FERNAacuteNDEZ M S HERRASTI L ZUMALABE F (1999) - La sepultura colectiva de San Juan ante Portam Latinam (Languardia Alava) In BERNABEU AUBAacuteN J OROZCO KOumlHLER T (coords) - II Congreacutes del Neoliacutetic a la Peniacutensula Ibegraverica Universitat de Valegravencia 7-9 dAbril 1999 Saguntum-PLAV Valecircncia Universitat de Valegravencia Extra-2 p 439-445

VEGAS ARAMBURU J I (dir) (2007) - San Juan Ante Portam Latinam Una inhumacioacuten colectiva prehistoacuterica en el valle medio del Ebro Memoria de las excavacioacutenes arqueoloacutegicas 1985 1990 y 1991

VEIGA S P M E (1879) ndash Antiguidades de Mafra ou a Relaccedilatildeo Archeologica dos Caracteristicos relativos aos povos que senhorearam aquelle territorio antes da instituiccedilatildeo da monarchia portugueza Lisboa Typographia da Academia

VEIGA S P M E (1886-1891) ndash Antiguidades monumentaes do Algarve Lisboa Imprensa Nacional 4 vols

VIERRA B J (1992) ndash Subsistence Diversification and the Evolution of Microlithic Technologies A Study of the Portuguese Mesolithic PhD Dissertation New Meacutexico Department of Anthropology University of New Meacutexico

VILLA P (1992) - Cannibalism in prehistoric Europe Evolutionary Anthropology Issues News and Reviews 1 3 p 93-104

VILLA P BOUVILLE C COURTIN J HELMER D MAHIEU E SHIPMAN P BELLUOMINI G BRANCA M (1986) - Cannibalism in the Neolithic Science 233 4762 p 431-437

VILACcedilA R (1990) - Sondagem arqueoloacutegica em Covatildeo dAlmeida - Eira Pedrinha - Condeixa-a-Nova Antropologia Portuguesa Coimbra 8 p 101-132

VILACcedilA R CRUZ D (1990) - A casa da Orca da Cunha Baixa (Mangualde) Mangualde Cacircmara Municipal p 33-35

WALDRON T (1987) - The relative survival of the human skeleton implications for paleopathology In BODDINGTON A GARLAND A N JANAWAY R C (coords) - Death decay and reconstruction Approaches to archaeology and forensic science Manchester Manchester University Press p 55-64

WARNER RB (1990) - A proposed adjustment for the ldquooldwoodrdquo effect In MOOK WG WATERBOLK HT (coords) - Proceedings of the Second International Symposium 14C and Archaeology PACT Journal of the European Study Group on Physical Chemical and Mathematical Techniques Applied to Archaeology 29 p 159ndash172

WALKER P (2001) ndash A Bioarchaeological Perspective on the History of Violence Annual Review of Anthropology 30 p 573-596

WHITE T D (1992) - Prehistoric Cannibalism at Mancos 5MTUMR-2346 Princeton Princeton University Press

WHITE T D FOLKENS P (2005) ndash The Human Bone Manual Amsterdam Elsevier WHITEHOUSE R (1983) - Macmillan Dictionary of Archaeology London Macmillan Press WHITTLE A BARCLAY A BAYLISS A MCFADYEN L SCHULTING R WYSOCKI M

(2007) ndash Building for the Dead Events Processes and Changing Worldviews from the Thrity-eight to the Thirthy-fourth Centuries cal BC in Southern Britain Cambridge Archaeological Journal 17 1 Supplement p 123-147

WHITTLE A BAYLISS A (2007) ndash The Times of their Lifes from Chronological Precision to Kinds of History and Change Cambridge Archaeological Journal UK McDonald Institute for Archaeological Research 17 1 Supplement p 29-44

WHITTLE E H ARNAUD J M (1975) ndash Thermoluminescent Dating of Neolithic and Chalcolithic Pottery from Sites in Central Portugal Archaeometry 17 (1) p 5-24

WILLIAMS H (Ed) (2003) ndash Archaeologies of Remembrance Death and Memory in Past Societies 324 p

WOOD J W (1998) - A theory of preindustrial population dynamics Demography economy and wellbeing in Malthusian systems Current Anthropology 39 p 99-135

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 410 de 415

WOOD J W MILNER G R HARPENDING HC WEISS KM (1992) - The osteological paradox Problems of inferring prehistoric health from skeletal samples Current Anthropology 33 p 343-370

WRIGHT L YODER C (2003) ndash Recent progress in Bioarchaeology Approaches to the Osteological Paradox Journal of Archaeological Research 11 1 43-68

ZBYSZWESKI G (1950) ndash Une curieuse plaque de schiste orneacutee de Quinta de Farinheira (Chelas Lisbonne) Bulletin de la Societeacute Preacutehistorique Franccedilaise Paris 9 p 397

ZBYSZWESKI G (1963) - A importacircncia das grutas em Preacute-histoacuteria Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa Lisboa 71 1-6 p 31-50

ZBYSZWESKI G (1964) ndash Carta geoloacutegica dos arredores de Lisboa na escala de 150000 Notiacutecia explicativa da folha 2 [34-B] Loures Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal

ZBYSZWESKI G ASSUNCcedilAtildeO C T (1965) ndash Carta geoloacutegica dos arredores de Lisboa na escala de 150000 Notiacutecia explicativa da folha 30-D Alenquer Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal

ZBYSZEWSKI G FERREIRA O da Veiga LEITAtildeO M NORTH C T NORTON J (1976) ndash Deacutecouverte drsquoun silo preacutehistorique pregraves de Verdelha dos Ruivos (Vialonga) Portugal Madrider Mitteilungen Heidelberg 17 p 76

ZBYSZEWSKI G FERREIRA O da V LEITAtildeO M NORTH C T amp NORTON J (1977) ndash Le monument de ldquoPedras da Granjardquo ou de ldquoPedras Altasrdquo dans la ldquoVaacuterzea de Sintrardquo Ciecircncias da Terra Lisboa Universidade Nova de Lisboa 3 p 197-239 il

ZBYSZEWSKI G LEITAtildeO M PENALVA C FERREIRA O V (1980-1981) ndash Paleo-Anthropologie du Wuumlrm au Portugal Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 6-7 p 7-23

ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V (1958) - Estaccedilatildeo preacute-histoacuterica da Penha Verde (Sintra) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 39 p 37-57 il

ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V LEITAtildeO M NORTH C T NORTON J (1981) ndash As joacuteias auriacuteferas da gruta preacute-histoacuterica da Verdelha dos Ruivos (Vialonga-Portugal) Zephyrus Salamanca 32-33 p 113-119

ZBYSZEWSKI G ROCHE J FRANCcedilA J C FERREIRA O V (1962) - Note preacuteliminaire sur les niveaux du Paleacuteolithique supeacuterieur de la grotte de Salemas (Ponte de Lousa) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa SGP 45 p 197-206 il

ZBYSZEWSKI G VIANA A FERREIRA O V (1957) ndash A gruta preacute-histoacuterica da Ponte da Lage (Oeiras) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos Lisboa 38 (2) p 389-402 il

ZILHAtildeO J (1984) ndash A Gruta da Feteira (Lourinhatilde) Escavaccedilatildeo de salvamento de uma necroacutepole neoliacutetica Lisboa IPPC (Trabalhos de Arqueologia 1)

ZILHAtildeO J (1987) ndash Bolores Informaccedilatildeo Arqueoloacutegica 1986 Lisboa IPPC 8 p 54-55 ZILHAtildeO J (1992) ndash Gruta do Caldeiratildeo ndash o Neoliacutetico Antigo Lisboa IPPAAR (Trabalhos de

Arqueologia 6) ZILHAtildeO J (1993) - The Spread of Agro-Pastoral economies across Mediterranean Europe A view

from the Far West Journal of Mediterranean Archaeology 6 1 p 5-63 ZILHAtildeO J (1995) ndash Primeiras dataccedilotildees absolutas para os niacuteveis neoliacuteticos das grutas do Caldeiratildeo e

da Feteira Suas implicaccedilotildees para a cronologia da Preacute-histoacuteria do Sul de Portugal In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Lisboa IPPAR p 113-122 (Trabalhos de Arqueologia 7)

ZILHAtildeO J (1997) ndash O Paleoliacutetico superior da Estremadura portuguesa Lisboa Colibri Vol 2 ZILHAtildeO J (2001) ndash Radiocarbon evidence for maritime pioneer colonization at the origins of

farming in the West Mediterranean Europe PNAS 98 p 14180-14185 wwwpnasorg ZILHAtildeO J CARVALHO A F (1996) - O Neoliacutetico do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho Crono-

estratigrafia e povoamento In I Congreacutes del Neoliacutetic a la Peniacutensula Ibegraverica Gavagrave Bellaterra p 659-671

Referecircncias cartograacuteficas IGC ndash INSTITUTO GEOGRAacuteFICO E CADASTRAL (1951) ndash Carta Topograacutefica de Portugal folha

34-B 4-1 1 10000 Lisboa IGE ndash INSTITUTO GEOGRAacuteFICO DO EXEacuteRCITO (1993) - Carta Militar de Portugal folha 417 -

Loures 1 25000 4ordf ediccedilatildeo Reimpressatildeo em 1995

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 411 de 415

SEA ndash SECRETARIA DE ESTADO DO AMBIENTE (1974) ndash Atlas do Ambiente Carta de Regiotildees Naturais 1 1000000

SCE ndash SERVICcedilO CARTOGRAacuteFICO DO EXEacuteRCITO (1965) ndash Carta Militar de Portugal folha 417 1 25000

SCE ndash SERVICcedilO CARTOGRAacuteFICO DO EXEacuteRCITO (1992a) ndash Carta Militar de Portugal folha 390 1 25000 4ordf ediccedilatildeo

SCE ndash SERVICcedilO CARTOGRAacuteFICO DO EXEacuteRCITO (1992b) ndash Carta Militar de Portugal folha 416 1 25000 3ordf ediccedilatildeo

SCE ndash SERVICcedilO CARTOGRAacuteFICO DO EXEacuteRCITO (1993) ndash Carta Militar de Portugal folha 403 1 25000

SGP - SERVICcedilOS GEOLOacuteGICOS DE PORTUGAL (1981) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal Folha 34-B Loures 1 50000

SGP - SERVICcedilOS GEOLOacuteGICOS DE PORTUGAL (1991) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal Folha 34-A Sintra 1 50000

SGP - SERVICcedilOS GEOLOacuteGICOS DE PORTUGAL (1962) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal Folha 30-D Alenquer 1 50000

SGP - SERVICcedilOS GEOLOacuteGICOS DE PORTUGAL (1992) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal Folha 2 1 500000 5ordf ediccedilatildeo

Recursos arquiviacutesticos consultados e utilizados AGMARQUES - Arquivo Gustavo Marques Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa AJLVASCONCELOS ndash Arquivo Joseacute Leite de Vasconcelos Biblioteca do Museu Nacional de

Arqueologia Lisboa ALEISNER - Arquivo Leisner Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP

Lisboa AMHELENO - Arquivo Manuel Heleno Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa AVFERREIRA ndash Arquivo Veiga Ferreira Posse particular de J L Cardoso DGEMN - Direcccedilatildeo-Geral dos Edifiacutecios e Monumentos Nacionais (sd) ndash Inventaacuterio do Patrimoacutenio

Arquitectoacutenico httpwwwmonumentospt (consultas efectuadas nos anos 2005-2007) ENDOVELICO (sd) ndash Base de dados de siacutetios arqueoloacutegicos (ex-IPA) Instituto de Gestatildeo do

Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico (IGESPAR IP) httpwwwipa-culturapt (consultas efectuadas nos anos 2003-2009)

Iacutendice de Anexos (Volume 2) Anexo 1 Cartografia Anexo 2 Figuras Anexo 3 Dataccedilotildees pelo radiocarbono de contextos funeraacuterios do Megalitismo peninsular Anexo 4 Figuras gerais Anexo 5 Quadros gerais Anexo 6 Relatoacuterios de Antropologia fiacutesica Anexo 7 Relatoacuterio de faunas Anexo 8 Apontamentos de J L Vasconcelos acerca da anta da Arruda Iacutendice de Figuras Volume 1 Fig 1 Fisiografia da Estremadura e delimitaccedilatildeo da aacuterea em estudo Fig 1a Estremadura no actual territoacuterio portuguecircs e na Peniacutensula Ibeacuterica (Anexo 1) Fig 2 Sepulcros da Estremadura e indicaccedilatildeo de siacutetios habitacionais sobretudo da regiatildeo de Lisboa Fig 3 Largura e comprimento dos produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa Fig 4 Espessura e largura dos produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa Fig 5 Produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa por categoria (N=267) Fig 6 Efectivos de geomeacutetricos por anta da regiatildeo de Lisboa (N=39) Fig 7 Largura e espessura dos geomeacutetricos das antas da regiatildeo de Lisboa (N=39)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 412 de 415

Fig 8 Largura e espessura dos geomeacutetricos das antas de Lisboa Beira Interior e Alentejo (N= 53)

Fig 9 Utensiacutelios de pedra polida por anta da regiatildeo de Lisboa (N= 53) Fig 10 Iacutendices de espessura e alongamento dos utensiacutelios de pedra polida das antas da regiatildeo

de Lisboa (N=40) Fig 11 NMI por anta (Centro-Sul de Portugal) Fig 12 NMI por gruta-necroacutepole (Centro-Sul de Portugal) Fig 13 NMI por gruta artificial (Centro-Sul de Portugal) Fig 14 NMI por tholos (Centro-Sul de Portugal) Fig 15 Meacutedia do NMI por tipo de sepulcro (Centro-Sul de Portugal) Fig 16 Valores de δ13C e δ15N e quatro extremos (teoacutericos) possiacuteveis de uma dieta humana

segundo M Richards e R Hedges (1999) Fig 17 Paleodietas de 47 indiviacuteduos sepultados em antas da regiatildeo de Lisboa Fig 18 Paleodietas do MesoliacuteticoNeoliacutetico do Centro-Sul de Portugal Fig 19 Dataccedilotildees por 14C e tipos de sepulcro das partes central e ocidental da Peniacutensula Ibeacuterica Fig 20 Tipo de amostra de contextos funeraacuterios por regiotildees e datada por 14C das partes central e

ocidental da Peniacutensula Ibeacuterica Fig 21 Dataccedilotildees 14C e presenccedila por tipo de espoacutelio das antas da regiatildeo de Lisboa Volume 2 Anexo 1 Fig 22 Geologia da Estremadura Fig 23 Principais unidades geoloacutegicas do actual territoacuterio portuguecircs Fig 24 Provaacutevel contorno da costa atlacircntica do actual territoacuterio portuguecircs por volta de 4000 ane Fig 25 Aacuterea das antas de Belas Fig 26 Aacuterea das antas dos Campos de Trigache Fig 27 Aacuterea das antas de Loures Fig 28 Aacuterea das antas de Verdelha dos Ruivo Fig 29 Aacuterea da anta da Arruda Fig 30 Aacuterea da anta de Pedras da Granja Fig 31-33 Anta de Pedra dos Mouros Fig 34-43 Anta de Monte Abraatildeo Fig 44-49 Anta de Estria Fig 50-52 Anta do Carrascal Fig 53 Pego Longo Fig 54 Antas de Trigache 1 e 2 Fig 55 Antas de Trigache 3 e 4 Fig 56 Anta de Trigache 1 e necroacutepole de Trigache Fig 57-59 Anta de Trigache 2 Fig 60-62 Anta de Trigache 3 Fig 63 Antas de Trigache 3 e 4 Fig 64 Anta de Trigache 4 Fig 65-68 Anta de Conchadas Fig 69-73 Anta de Pedras Grandes Fig 74 Anta de Alto da Toupeira 1 Fig 75 Anta de Alto da Toupeira 1 e 2 Fig 76-87 Anta de Casaiacutenhos Fig 88a-105 Anta de Carcavelos Fig 106-108 Anta de Casal do Penedo Fig 109-110 Anta de Monte Serves Fig 111-114 Anta de Arruda Fig 115-124 Anta de Pedras da Granja Fig 125 Satildeo Pedro e Quinta da Piedade (Bela Vista) Anexo 4 Fig 126 Tipologia das antas da regiatildeo de Lisboa Sepulcros orientados face ao Norte lato senso Fig 127 Espessura e largura de produtos alongados das antas de Lisboa (1) Fig 128 Espessura e largura de produtos alongados das antas de Lisboa (2) Fig 129 Espessura e largura de produtos alongados das antas de Lisboa (3)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 413 de 415

Fig 130 Espessura e largura de produtos alongados das antas de Lisboa (4) Fig 131 Largura e comprimento de produtos alongados por anta de Lisboa Fig 132 Largura e comprimento de utensiacutelios de pedra polida (N=40) das antas de Lisboa Fig 133 Espessura e peso de utensiacutelios de pedra polida (N=37) das antas de Lisboa Iacutendice de Quadros Volume 1 Quadro 1 Dimensotildees dos esteios da anta do Carrascal Quadro 2 Dimensotildees dos esteios da anta de Pedras Grandes Quadro 3 Implantaccedilatildeo das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 4 Tipologia e dimensotildees das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 5 Orientaccedilatildeo dos acessos das antas tholoi e grutas artificiais da regiatildeo de Lisboa Quadro 6 Mateacuteria-prima dos nuacutecleos recolhidos nas antas de Lisboa Quadro 7 Extensatildeo do retoque em produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 8 Tipologia das pontas de seta das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 9 Dimensotildees meacutedias das pontas de seta das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 10 Secccedilatildeo dos utensiacutelios polidos das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 11 Mateacuteria-prima dos utensiacutelios polidos das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 12 Pedra afeiccediloada das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 13 Utensiacutelios de osso das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 14 Diagnose sexual dos indiviacuteduos das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 15 Caracteriacutesticas das ossadas humanas das Nothern Great Plains da Ameacuterica do Norte Quadro 16 Valores de δ13C e δ15N obtidos para dataccedilotildees 14C sobre ossos humanos da gruta de Porto

Covo Quadro 17 Valores de δ13C δ15N obtidos para datas de 14C e paleodietas de antas de Lisboa Quadro 18 Dataccedilotildees por Termoluminiscecircncia de espoacutelio ceracircmico funeraacuterio de sepulcros do Centro-

Sul de Portugal Quadro 19 Sequecircncia faseada dos sepulcros da Estremadura Quadro 20 Sequecircncia faseada dos sepulcros do Alentejo Quadro 21 Sequecircncia faseada dos sepulcros da Beira Interior Volume 2 Anexo 3 Quadro 22 Dataccedilotildees de sepulcros de regiatildeo de Lisboa Quadro 23 Dataccedilotildees de sepulcros de Alta Estremadura Quadro 24 Dataccedilotildees de sepulcros de Alentejo Quadro 25 Dataccedilotildees de sepulcros da Extremadura espanhola Quadro 26 Dataccedilotildees de sepulcros do Algarve Quadro 27 Dataccedilotildees de sepulcros do Sudoeste espanhol Quadro 28 Dataccedilotildees de sepulcros de Antequera Quadro 29 Dataccedilotildees de sepulcros de Almeria Quadro 30 Dataccedilotildees de sepulcros da Beira Interior Quadro 31 Dataccedilotildees de sepulcros do Noroeste peninsular Quadro 32 Dataccedilotildees de pinturas em sepulcros do Noroeste peninsular e Beira Interior Quadro 33 Dataccedilotildees de sepulcros da Meseta Norte Quadro 34 Dataccedilotildees de sepulcros da Meseta Sul Quadro 35 Dataccedilotildees de sepulcros da Meseta Nordeste Quadro 36 Siacutetios de exploraccedilatildeo de recursos marinhos dos estuaacuterios do Tejo e Sado Anexo 5 Quadro 37 Espoacutelio presente em sepulcros da Estremadura e Alto Alentejo Quadro 38 Presenccedila de pedra lascada das antas de Lisboa Quadro 39 Tipo de suporte para fabrico de pontas de seta Quadro 40 Largura de geomeacutetricos trapeacutezios e triacircngulos Quadro 41 Tipos de contas e pingentes das antas de Lisboa Quadro 42 Artefactos votivos de calcaacuterio e outros tipos de idoliformes Quadro 43 Tipos de recipientes ceracircmicos das antas de Lisboa

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 414 de 415

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 415 de 415

Quadro 44 Tipos de artefactos campaniformes nas antas de Lisboa Quadro 45 Tipos de espeacutecies presentes em sepulcros da Estremadura Quadro 46 Nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos por tipo de sepulcro (Centro-Sul de Portugal) Quadro 47 Pontas de seta das antas de Lisboa Quadro 48 Produtos alongados das antas de Lisboa

Page 2: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA

As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa

Volume 1

Rui Jorge Narciso Boaventura

Doutoramento em Preacute-Histoacuteria

Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonccedilalves

2009

Resumo

As antas satildeo uma das facetas visiacuteveis do fenoacutemeno do Megalitismo da regiatildeo

de Lisboa verificando-se este tambeacutem em grutas naturais e artificiais e tholoi

Assim este trabalho procurou integrar e compreender aquele tipo de sepulcro

especiacutefico no acircmbito do fenoacutemeno funeraacuterio regional

Quando avaliadas localmente mas tambeacutem com outras regiotildees vizinhas as

antas de Lisboa surgem em nuacutemero bastante reduzido Contudo mais do que um

fraco impacto do Megalitismo desta regiatildeo pelo contraacuterio a sua construccedilatildeo parece

reforccedilar a importacircncia do fenoacutemeno para aquelas comunidades

Os dados compilados permitiram situar cronologicamente as primeiras

utilizaccedilotildees das antas de Lisboa essencialmente entre os meados e a segunda metade

do 4ordm mileacutenio ane em momento aparentemente mais recente do que as primeiras

evidecircncias do fenoacutemeno do Megalitismo registadas em grutas naturais da regiatildeo

Posteriormente na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane estes sepulcros continuam a

ser usados sem interregnos evidentes mas com alteraccedilotildees no espoacutelio de

acompanhamento Numa primeira fase provavelmente ateacute finais do 4 ordm mileacutenio os

materiais depositados apresentavam um caraacutecter utilitaacuterio e tecnoacutemico no periacuteodo

sequente evidenciou-se o conjunto de artefactos ideoteacutecnicos

Alargando a abordagem cronoloacutegica a outras regiotildees peninsulares os

resultados escrutinados parecem indicar periacuteodo similar para as primeiras utilizaccedilotildees

daqueles edifiacutecios funeraacuterios com a sua generalizaccedilatildeo durante a segunda metade do

4ordm mileacutenio ane

Face agrave possibilidade de anaacutelise dos restos osteoloacutegicos depositados nos

sepulcros estremenhos e em concreto das antas da regiatildeo de Lisboa foi possiacutevel

verificar a ausecircncia de qualquer aparente exclusatildeo de indiviacuteduos por sexo ou idade

Inclusive a anaacutelise de paleodietas de alguns indiviacuteduos adultos evidenciou haacutebitos

alimentares semelhantes entre sexos Assim eacute provaacutevel que estas comunidades

valorizassem as suas linhagens tendo as antas servido para o depoacutesito final dos seus

elementos

i

ii

Abstract

Antas are one of the visible facets of the Megalithism phenomenon in the

region of Lisbon as well as natural caves rock-cut tombs and vaulted chamber tombs

(tholoi) This work seeks to integrate and understand this type of specific sepulchre

within the context of the funerary phenomenon in this area

When evaluated locally but also with other neighbouring regions the antas of

Lisbon are represented by a drastically reduced number However more than just

suggesting a poor representation of the impact of Megalithism in this region on the

contrary its construction appears to reinforce the importance of this phenomenon for

those communities

The data compiled here allows for a chronological reading of the first periods

of usage for the antas of Lisbon dating to the middle and second half of the 4th

millennium BCE a moment apparently more recent than the evidence of the

Megalithic phenomenon as registered in the natural caves in the region Later on

during the first half of the 3rd millennium BCE these tombs continued in usage

without evident interruption but with alterations in burial assemblages In the initial

stage probably until the end of the 4th millennium the materials deposited are

characterized as utilitarian and technomic in nature while in the subsequent period

there is evidence of ideotechnic assemblages

Widening the chronological reading to other areas of the peninsula scrutinized

results appear to indicate a similar periods of first utilization in these types of

funerary structures becoming widespread during the 2nd half of the 4th millennium

BCE

Given the possibility of analyzing the osteological remains deposited in tombs

from the Estremadura specifically in the antas from the region of Lisbon it was

possible to verify that no individuals were excluded due to sex or age Moreover the

paleodietary analysis of some adult individuals demonstrated similar nutrition

standards between both sexes Therefore it is probable that these communities

valued its lineages with the antas and other types of tombs serving as the final resting

grounds for all of its members

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 1 de 415

As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa

Iacutendice

Agradecimentos 0 O quando o como e o porquecirc 1 Megalitismo delimitaccedilatildeo de um conceito abrangente e de longa duraccedilatildeo

11 Uma discriminaccedilatildeo positiva as antas da regiatildeo de Lisboa 2 Enquadramento geograacutefico

21 Fisiografia da Baixa Estremadura 22 Rio Tejo um palco fundamental da histoacuteria da regiatildeo

3 A investigaccedilatildeo preacute-histoacuterica na regiatildeo de Lisboa 4 Sepulcros para repouso dos mortos e dos vivos

41 As antas da regiatildeo de Lisboa 411 O cluster de Belas

4111 Pedra dos Mouros 4112 A ldquoanta de Belasrdquo 4113 Monte Abraatildeo 4114 Estria 4115 Um espaccedilo necropolizado na primeira metade 3ordm mileacutenio

412 Os monumentos megaliacuteticos das imediaccedilotildees do cluster de Belas 4121 Carrascal 4122 Pego Longo megaliacutetico mas natildeo sepulcral

413 O cluster de Trigache 4131 Trigache 1 4132 Trigache 2 4133 Trigache 3 4134 Trigache 4 4135 Os ldquooacuterfatildeosrdquo de Trigache 4136 O espaccedilo necropolizado de Trigache

414 As antas entre os clusters de Belas e Trigache 4141 Conchadas 4142 Pedras Grandes e siacutetio das Batalhas

41421 Pedras Grandes 41422 Siacutetio das Batalhas

415 As antas ldquoisoladasrdquo de Loures 4151 Alto da Toupeira 1 e 2 4152 Casaiacutenhos 4153 Carcavelos

416 Os sepulcros de Verdelha do Ruivo 4161 Casal do Penedo 4162 Monte Serves

417 Arruda 418 Pedras da Granja 419 Dados avulsos de possiacuteveis antas

42 A implantaccedilatildeo e construccedilatildeo das antas de Lisboa 421 Tipologia das antas 422 A orientaccedilatildeo prescrita

43 As outras soluccedilotildees sepulcrais 44 Poucas antas muitos sepulcros

5 O(s) espoacutelio(s) funeraacuterio(s) 51 Pedra lascada 52 Pedra polida 53 Pedra afeiccediloada

p 4

7

12 15 18 20 23 26 35 37 37 38 45 48 61 67 68 68 73 78 81 83 88 93 96 97 99 99

107 109 125 126 126 131 139 158 158 164 166 174 183 187 195 198 207 214 220 221 245 256

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 2 de 415

54 Ceracircmicas 55 Utensiacutelios em osso 56 As faunas das antas 57 Elementos de adorno 58 Artefactos e objectos votivos

6 Sepultantes e sepultados uma avaliaccedilatildeo possiacutevel 61 As dificuldades das amostras antropoloacutegicas disponiacuteveis 62 Inumaccedilotildees primaacuterias eou secundaacuterias 63 Os efectivos inumados 64 O sexo a idade e a estatura dos sepultados 65 Patologias e lesotildees traumaacuteticas 66 Um introacuteito dieteacutetico o potencial das anaacutelises isotoacutepicas

7 Os lugares dos vivos uma correlaccedilatildeo difiacutecil 8 Os tempos do Megalitismo da Baixa Estremadura

81 A cronologia absoluta das antas de Lisboa 82 Diacronia e sincronia dos outros espaccedilos sepulcrais 83 As sincronias com os vivos uma avaliaccedilatildeo assimeacutetrica 84 O carvatildeo e o osso desfasamento cronoloacutegico inter-regional ou uma questatildeo de

mateacuteria e contexto 9 O epiacutelogo de uma tradiccedilatildeo maacutegico-religiosa o fenoacutemeno campaniforme 10 As antas da regiatildeo de Lisboa e o Megalitismo peninsular Referecircncias bibliograacuteficas Referecircncias cartograacuteficas Recursos arquiviacutesticos consultados Lista de figuras e quadros

258 263 264 266 269 282 282 285 293 299 304 314 324 328 334 338 350 352

364 366

372 412 412 412

Iacutendice de anexos (volume 2) Anexo 1 Cartografia Anexo 2 Figuras Anexo 3 Dataccedilotildees pelo radiocarbono de contextos funeraacuterios do Megalitismo peninsular Anexo 4 Figuras gerais Anexo 5 Quadros gerais Anexo 6 Relatoacuterios de Antropologia fiacutesica Anexo 7 Relatoacuterio de faunas Anexo 8 Apontamentos de J L Vasconcelos acerca da anta da Arruda

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 3 de 415

Agradecimentos

O meu profundo e sincero agradecimento a diversas entidades individuais e

colectivas eacute incontornaacutevel pois o seu apoio a diferentes niacuteveis tornou possiacutevel a

concretizaccedilatildeo desta tese

Ao professor Victor S Gonccedilalves pelo desafio e a confianccedila manifestada desde

o iniacutecio deste trabalho bem como a cedecircncia de verbas para a realizaccedilatildeo de algumas

dataccedilotildees pelo radiocarbono

Aos professores Joatildeo C Senna-Martinez Joatildeo L Cardoso e Christopher

Tillquist pelas boas referecircncias acerca do meu projecto permitindo a obtenccedilatildeo da

bolsa de doutoramento da Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e Tecnologia

(SFRHBD178822004) Aquele apoio foi fundamental para o desenvolvimento de

algumas linhas de pesquisa bem como novas oportunidades de conhecimento

Aos presidentes da Cacircmara Municipal de Odivelas Manuel Varges e Susana

Amador bem como ao vereador Carlos Lourenccedilo pela concessatildeo da licenccedila

necessaacuteria ao desenvolvimento da investigaccedilatildeo Este agradecimento expande-se aos

directores do departamento Sociocultural e chefes de Divisatildeo bem como colegas da

labuta patrimonial e cultural do municiacutepio Aliaacutes a escavaccedilatildeo e o restauro da anta de

Pedras Grandes deveu-se agrave autorizaccedilatildeo e vontade do executivo municipal

Ao juacuteri do Plano Nacional de Trabalhos Arqueoloacutegicos do lamentavelmente

extinto Instituto Portuguecircs de Arqueologia pela aprovaccedilatildeo de um projecto que

contribuiu em parte para a realizaccedilatildeo de um programa de dataccedilotildees pelo radiocarbono

de vaacuterias antas de Lisboa

Entre os colegas e funcionaacuterios do ex-IPA e CIPA encontrei sempre o maior

apoio possiacutevel especialmente de Cidaacutelia Duarte Marta Moreno J P Ruas David

Gonccedilalves Marina Arauacutejo Paulo Oliveira Fernando Real Filipa Neto Simon

Davis Dina Pinheiro Fernando Fernanda e demais amigos do conhecimento

arqueoloacutegico

A Julie Peteet directora do Department of Anthropology da University of

Louisville (KY USA) que ao longo dos anos apoiou o trabalhos arqueoloacutegicos

desenvolvidos com estudantes daquela universidade e providenciou o meu acesso ao

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 4 de 415

fabuloso mundo das bibliotecas digitais hoje recurso incontornaacutevel e desejaacutevel para

todos

Outra bolsa fundamental veio do Archaeology of Portugal Award por

intermeacutedio do Archaeological Institute of America que conduziu ao projecto maior

de anaacutelises de paleodietas e mais algumas dataccedilotildees Os ensinamentos de Mary

Powell Katina Lillios e John Hale acerca de como fazer boas candidaturas natildeo foram

esquecidos e foram inestimaacuteveis na obtenccedilatildeo daquele preacutemio

A Antoacutenio Monge Soares pelo seu profissionalismo e os ensinamentos acerca

do radiocarbono dataccedilotildees e calibraccedilotildees na perspectiva do utilizador e ao Zeacute

Martins pelas noccedilotildees baacutesicas de OxCal

Ao Dr Miguel Ramalho e a Joseacute Anacleto pela recepccedilatildeo sempre positiva das

pesquisas desenvolvidas no Museu Geoloacutegico lugar por vezes inoacutespito de Inverno e

abrasador de Veratildeo

Ao director Luiacutes Raposo e conservadora Ana Isabel Santos do Museu

Nacional de Arqueologia mas tambeacutem a tantos dos seus funcionaacuterios que de vaacuterias

formas ajudaram no desenvolvimento dos meus trabalhos nomeadamente Carmo

Vale Mathias Tissot Liacutevia Coito Adiacutelia Antunes Luiacutesa Guerreiro e Carla Martinho

A Florbela Estecircvatildeo e ao executivo da Cacircmara Municipal de Loures pelo

acolhimento ao estudo da anta de Carcavelos ainda hoje desenvolvido em parceria

A Teresa Simotildees e Catarina Coelho do Museu Municipal de S M Odrinhas

bem como ao seu director pelo acesso agrave colecccedilatildeo de Pedras da Granja e todas as

facilidades prestadas

A Carlos Pereira Fernanda Sousa e Henrique Matias pela excelecircncia dos

desenhos de materiais arqueoloacutegicos

A Maria Hillier pela colaboraccedilatildeo de vaacuterios anos que permitiu a concretizaccedilatildeo

preliminar dos estudos dos restos osteoloacutegicos da maioria das antas de Lisboa bem

como o desenvolvimento em colaboraccedilatildeo com Mike Richards (Max Planck

Institute) de um projecto de anaacutelises isotoacutepicas para verificar paleodietas

Aos estudantes dos programas de Portanta que ao longo dos anos permitiram a

prossecuccedilatildeo dos trabalhos de escavaccedilatildeo das antas de Pedras Grandes e Carcavelos

em Lisboa mas tambeacutem de outras em Monforte do Alentejo bem como do novo

conhecimento antropoloacutegico dos fundos museoloacutegicos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 5 de 415

A Cacircndido Marciano da Silva pelas visitas orientadas aos sepulcros de Lisboa

A Ana Maria Silva e M Teresa Ferreira pelos conselhos e liccedilotildees

antropoloacutegicos dados a um arqueoacutelogo mero utilizador da antropologia mas sempre

disposto a novos desafios interdisciplinares

Ao Rui Mataloto pelas longuiacutessimas horas de discussatildeo extensas visitas de

terreno e partilha de ideias nem sempre concordantes mas sempre sob a mesma

paixatildeo pelo Alentejo e pelo conhecimento arqueoloacutegico e histoacuterico das sociedades

que fizeram o que somos hoje Um perdatildeo agrave Maria Joatildeo pelo tempo tomado

Aos meus pais Antoacutenio e Faacutetima por tudo o que puderam e fizeram para

ajudar tanto a mim como aos seus netos

Agrave minha abelha Maia obreira infatigaacutevel na busca de soluccedilotildees para que fosse

possiacutevel alcanccedilar os objectivos estabelecidos contrastando a minha fatalidade

portuguesa com a Can do attitude que em tempos remotos levaram outros

portugueses a lugares novos e fabulosos Por outro lado pelas infindaacuteveis horas na

produccedilatildeo da base cartograacutefica da regiatildeo

Aos meus filhos mais do que agradecer a sua paciecircncia com um pai ausente

ainda que presente fisicamente votos de felizes jornadas para as quais este trabalho

possa contribuir com uma pequena janela de conhecimento e identidade deste

territoacuterio agrave beira mar plantado

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 6 de 415

0 O quando o como e o porquecirc

ldquoSe as pessoas satildeo o que satildeo e sobretudo aquilo

que as circunstacircncias as deixam ser as realizaccedilotildees cientiacuteficas satildeo-no em muito maior graurdquo

(Raposo 1999 p 11)

Quando apoacutes a conclusatildeo da licenciatura em 1993 ponderava acerca da minha

vida profissional e cientiacutefica jaacute o bichinho do Megalitismo que me atingira durante

a minha formaccedilatildeo e nas campanhas de escavaccedilotildees no Alto Alentejo se tinha

entranhado Assim apesar das minhas raiacutezes alfacinhas ainda que com algumas

costelas alto alentejanas aconteceu naturalmente a definiccedilatildeo de uma aacuterea de estudo

na regiatildeo de Monforte e a tentativa de abordagem sistemaacutetica natildeo soacute dos sepulcros

megaliacuteticos usualmente conhecidos por antas ou doacutelmenes mas tambeacutem das

ocupaccedilotildees dos seus construtores e utilizadores atribuiacuteveis aos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane

(ou aC para outros autores) Daiacute resultou a minha tese de mestrado acerca do

povoado do Pombal e necroacutepoles putativamente correlacionadas (Boaventura 2001)

Tendo esse trabalho suscitado mais interrogaccedilotildees do que respostas considerei

imperativo a continuaccedilatildeo desse projecto regional pelo que delineei um programa de

trabalhos com o intuito de aprofundar a compreensatildeo do fenoacutemeno do Megalitismo

daquela regiatildeo atraveacutes de vaacuterias intervenccedilotildees no cluster de Rabuje (Boaventura

1999-00 2000 e 2006) mas tambeacutem num acircmbito mais alargado inclusive

procurando perceber melhor as relaccedilotildees com as regiotildees vizinhas nomeadamente a

Estremadura portuguesa e a Extremadura espanhola

Quis o Fado se acreditasse nele que na sequecircncia de diversos episoacutedios da

minha vida profissional retornasse a Lisboa em 2002 deparando-me com algumas

dificuldades para alcanccedilar no curto e meacutedio prazo a intenccedilatildeo delineada atraacutes

Contudo esse projecto mantinha uma questatildeo de fundo de acircmbito peninsular um

melhor conhecimento histoacuterico e social das sociedades construtoras dos sepulcros

megaliacuteticos e das suas praacuteticas funeraacuterias

Quando o professor Victor dos Santos Gonccedilalves lanccedilou o desafio para

reavaliar as construccedilotildees ortostaacuteticas funeraacuterias da regiatildeo de Lisboa confesso que

sentindo-me entatildeo um ldquoarqueoacutelogo de sequeirordquo natildeo me considerei apto a tal

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 7 de 415

empreendimento No meu curto percurso de formaccedilatildeo e investigaccedilatildeo tinha aprendido

o quatildeo importante eacute conhecermos razoavelmente bem a regiatildeo que estudamos

correndo seacuterios riscos de leituras enviesadas se tal natildeo fosse alcanccedilado No caso

proposto tal desiderato implicava conhecer e entender uma fisiografia distinta

agravado pelo alucinante ritmo de mudanccedila da paisagem resultante do crescimento

tentacular de Lisboa (Gonccedilalves 1995 p 27) Todavia e em oposiccedilatildeo agrave regiatildeo

alentejana que estudava a Estremadura tinha sido alvo de inuacutemeros estudos e

publicaccedilotildees por vezes desequilibrados quanto ao seu acircmbito e profundidade mas

que possibilitavam uma sistematizaccedilatildeo bastante enriquecida ainda que mais

complexa

No acircmbito do desafio lanccedilado procedi ao reinventaacuterio e anaacutelise dos espoacutelios

recolhidos natildeo soacute de objectos utensiacutelios e artefactos mas tambeacutem diligenciei os

estudos dos restos osteoloacutegicos humanos e fauniacutesticos graccedilas agrave colaboraccedilatildeo com

outros investigadores referidos ao longo deste trabalho Por outro lado procurando

novos dados realizei as intervenccedilotildees possiacuteveis em duas antas uma delas tambeacutem em

colaboraccedilatildeo

O estudo dos restos humanos permitiu a concretizaccedilatildeo de um programa-ensaio

de dataccedilotildees pelo radiocarbono de utilizaccedilotildees daqueles sepulcros apenas limitado

pela disponibilidade financeira bem como um projecto em colaboraccedilatildeo de anaacutelise

das paleodietas e possiacuteveis indiacutecios de mobilidade dos indiviacuteduos sepultados

Como se poderaacute verificar ao longo deste trabalho a maior parte dos espoacutelios

estudados era jaacute conhecida desde o seacuteculo XIX resultado das primeiras exploraccedilotildees

em sepulcros da regiatildeo de Lisboa (Ribeiro 1880) Outros conjuntos foram exumados

deacutecadas mais tarde (Vaultier e Zbyszewski 1951 Leisner Zbyszewski e Ferreira

1969) Em ambos os casos porque a maioria desse espoacutelio foi recolhido por

funcionaacuterios dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal actualmente Laboratoacuterio Nacional

de Energia e Geologia (LNEG ex-INETI) eacute no Museu Geoloacutegico que este se

encontra depositado

V S Gonccedilalves (1995 p 275) referiu-se ao Museu Geoloacutegico como ldquouma

verdadeira laquoMinaraquordquo ainda que fosse ldquoum excelente lugar para aplicar a laquoteoria do

caosraquordquo De facto para boa parte das colecccedilotildees ali estudadas foi necessaacuterio uma

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 8 de 415

revalidaccedilatildeo da proveniecircncia das peccedilas e objectos arqueoloacutegicos felizmente com um

elevado grau de sucesso

Se as colecccedilotildees recolhidas no seacuteculo XIX apresentavam normalmente num

grupo significativo de peccedilas inclusive osteoloacutegicas uma etiqueta com a respectiva

proveniecircncia aquelas recuperadas nas deacutecadas de 50 a 70 raramente eram

etiquetadas ou marcadas individualmente sendo apenas acompanhadas por diversas

etiquetas de cartatildeo indicando a sua proveniecircncia E isso seria suficiente se o

sistema aberto de armazenagem em vitrinas e tabuleiros natildeo tivesse

permitidooriginado a mistura de colecccedilotildees dada a facilidade com que se podia

aceder e mexer nas peccedilas Ainda mais grave foi a soluccedilatildeo encontrada nos anos 90

durante a reorganizaccedilatildeo de colecccedilotildees (Brandatildeo 1999) em que se optou por juntar as

colecccedilotildees por topoacutenimo de proveniecircncia no que se refere agraves antas por exemplo

todos os materiais dos quatro sepulcros de Trigache foram associados sob um soacute

coacutedigo (MG179) surgindo as etiquetas antigas com informaccedilatildeo pertinente

agrupadas jaacute sem os objectos correspondentes (por vezes porque jaacute se tinham

extraviado anteriormente e se considerou impossiacutevel recuperar a proveniecircncia

original) situaccedilatildeo semelhante ocorreu com a anta de Casal do Penedo a cavidade de

Verdelha dos Ruivos e o silo localizado na pedreira daquele local que foram tambeacutem

dispostos sob o mesmo coacutedigo (MG177) e a primeira das designaccedilotildees

Felizmente a publicaccedilatildeo relativamente exaustiva dos espoacutelios primeiro por C

Ribeiro (1880) e depois por V Leisner (1965) e em colaboraccedilatildeo com O V Ferreira

(1959 e 1961 Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) permitiu re-identificar a

maioria dos artefactos e objectos Aliaacutes no caso dos trabalhos do casal Leisner tal

verificaccedilatildeo foi ainda reforccedilada pelos desenhos e fotos de materiais constantes no seu

arquivo (alguns natildeo publicados) maioritariamente efectuados durante os anos 40 e

que permitiram por vezes uma melhor identificaccedilatildeo Outra alternativa sobretudo no

caso dos espoacutelios osteoloacutegicos baseou-se na distinccedilatildeo da coloraccedilatildeo dos sedimentos

associados com resultados satisfatoacuterios Estas estrateacutegias poderatildeo ser verificadas no

inventaacuterio de materiais assim como nos capiacutetulos seguintes

Apenas no caso de trecircs antas as suas colecccedilotildees encontravam-se noutros locais

Assim parte do espoacutelio da anta de Pedras da Granja estaacute depositada no Museu

Municipal de Satildeo Miguel de Odrinhas (Sintra) graccedilas a acccedilatildeo diligente do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 9 de 415

arqueoacutelogo J L Cardoso desconhecendo-se o paradeiro do restante ainda que

possamos ter uma ideia deste atraveacutes do inventaacuterio publicado (Zbyszweski et al

1977) ndash durante o Veratildeo de 2008 foi possiacutevel verificar a existecircncia de trecircs

ldquoinumaccedilotildeesrdquo (pacotes de ossos humanos) desta anta em depoacutesito no Museu

Geoloacutegico sob uma denominaccedilatildeo equivocada A anta da Arruda tem o seu espoacutelio

guardado no Museu Nacional de Arqueologia bem como o conjunto da anta de Belas

(de que apenas se pode especular uma proveniecircncia especiacutefica) tendo ambos os

conjuntos sofrido alguns percalccedilos Finalmente no Museu Municipal da Quinta do

Conventinho (Loures) encontra-se depositado o espoacutelio da anta de Carcavelos

recolhido ao longo de vaacuterias campanhas por G Marques a que se juntou aquele

exumado nos uacuteltimos anos por mim e colaboradores Dessas primeiras campanhas

verificou-se alguma perda de informaccedilatildeo mas o saldo tambeacutem foi positivo

Com excepccedilatildeo das intervenccedilotildees mais recentes nomeadamente Pedras Grandes

e Carcavelos ou ainda que com outro registo Pedras da Granja e Casaiacutenhos nas

restantes antas a localizaccedilatildeo dos espoacutelios eacute bastante incerta apesar de algumas

noacutetulas dos seus escavadores terem permitido uma abordagem microespacial mesmo

que limitada

Portanto o trabalho agora em apreciaccedilatildeo procurou reavaliar e enquadrar

cronoloacutegica social e culturalmente as antas de Lisboa no Megalitismo regional e

supra-regional procurando verificar as suas caracteriacutesticas especiacuteficas bem como

aquelas comuns a outros grupos

Finalizando este introacuteito resta apenas clarificar a terminologia usada para as

Eras e respectivas cronologias Assim inveacutes da habitual designaccedilatildeo de Era ldquoantes de

Cristordquo (aC) e ldquodepois de Cristordquo (dC) optou-se pela denominaccedilatildeo de

respectivamente ldquoantes da nossa Erardquo (ane) e ldquoEra comumrdquoou ldquoEra correnterdquo

(ec) Esta escolha visa uma perspectiva secular adequada agraves minhas crenccedilas

pessoais de cidadatildeo laico e republicano situaccedilatildeo que outros autores ainda que por

motivos natildeo expliacutecitos parecem subscrever (Oosterbeek 1994 Castro Martinez

Lull e Ricoacute 1996 Moraacuten e Parreira 2004 Gonccedilalves 2005b e 2008a 2008b

Gonccedilalves e Sousa 2006) Mas no outro lado do espectro de crenccedilas grassa hoje

entre as vaacuterias organizaccedilotildees religiosas (cristatildes e de outros credos) um espiacuterito

ecumeacutenico que tambeacutem procura uma terminologia menos preconceituosa

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 10 de 415

(Cunningham e Starr 1998 Riggs 2003) Em consonacircncia com esta opccedilatildeo ainda

que seguindo o espiacuterito de rigor da proposta de nomenclatura apresentada no acircmbito

do Workshop sobre dataccedilatildeo pelo radiocarbono e aprovada no 1ordm Congresso de

Arqueologia Peninsular (Cabral 1995) que por sua vez transmitia as recomendaccedilotildees

discutidas na 12ordf Conferecircncia Internacional sobre Radiocarbono em Trondheim

1985 (Stuiver e Kra 1986) em vez de Before Christ (BC) e Anno Domini (AD) as

datas calibradas seratildeo apresentadas pela versatildeo actualmente disponibilizada do

programa de calibraccedilatildeo OxCal 405 (Bronk Ramsey 2001 e 2008) respectivamente

Before Common Era (BCE) e Common Era ou Current Era (CE) Tambeacutem conviraacute

realccedilar que ao longo deste trabalho exceptuando os casos devidamente assinalados

todas as datas e seus intervalos de tempo estaratildeo calibradas ldquocal BCECErdquo com uma

probabilidade de 2 sigmas (954) resultante do programa de calibraccedilatildeo jaacute

mencionado OxCal 405 (Bronk Ramsey 2001 e 2008) que utiliza as curvas de

calibraccedilatildeo IntCal04 (Reimer et al 2004) e Marine04 (Hughen et al 2004) Em

anexo constam as tabelas com as datas BP conhecidas dos sepulcros por regiatildeo

devidamente calibradas a 1 e 2 sigmas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 11 de 415

1 Megalitismo delimitaccedilatildeo de um conceito abrangente e de longa

duraccedilatildeo

A expressatildeo Megalitismo tem vindo a ser utilizada com muacuteltiplos significados

pelo que importa aqui clarificar a sua abrangecircncia no acircmbito do presente trabalho

Literalmente e em sentido estrito corresponde a um tipo de construccedilatildeo em que

se utilizam componentes peacutetreos de grande dimensatildeo megaliacuteticos (Joussaume 1985

Sherratt 1995 Gonccedilalves 1999a p 137) podendo corresponder a elementos

aparentemente natildeo funeraacuterios os menires isolados ou agrupados ou a edifiacutecios

funeraacuterios normalmente designados em Portugal e na restante Peniacutensula Ibeacuterica por

anta ou doacutelmen objecto deste estudo A investigaccedilatildeo recente tem vindo a demonstrar

que aqueles dois elementos seratildeo diacronicamente distintos ainda que o primeiro

possa ter sido reutilizado por geraccedilotildees sequentes ou integrado nas proacuteprias

construccedilotildees do segundo (Calado 2004 p 201-202)

O Megalitismo eacute tambeacutem entendido ldquocomo um complexo conjunto de

prescriccedilotildees maacutegico-religiosas relacionadas com a morte e natildeo apenas

redutoramente como um tipo de arquitectura funeraacuteriardquo que ocorre no Ocidente

peninsular durante os 4ordm e 3ordm mileacutenios ane (Gonccedilalves 1995 p 27) mas tambeacutem

verificaacutevel na ldquoEuropa das antigas sociedades camponesasrdquo (Gonccedilalves 1999a p

137 Sherratt 1995) Contudo esta quase expressatildeo-idiomaacutetica eacute sobretudo utilizada

e compreensiacutevel no acircmbito cientiacutefico franco-ibeacuterico ainda que actualmente com

especificidades regionais reconhecidas

No mundo acadeacutemico anglo-saxatildeo tal expressatildeo eacute pouco utilizada definindo-se

aquelas praacuteticas como ldquomortuary practicesrdquo associadas a ldquochamberedrdquo ou ldquocollective

tombsrdquo megaliacuteticas e de outros tipos (Renfrew 1990 Scarre 1996 Masset 1997

Bradley 1998) A Sherratt (1995) foi um dos poucos autores britacircnicos a discutir a

ideia de um ldquoNeolithic megalithism in Europerdquo Antes disso C Renfrew (1967)

recordava a expressatildeo alematilde algo pejorativa ldquoMegalithismusrdquo para criticar visotildees

abrangentes mas limitadas apenas a algumas das caracteriacutesticas mais megaliacuteticas do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 12 de 415

fenoacutemeno esquecendo a importacircncia das leituras dos contextos locais Contudo

reconhecia que a expressatildeo espanhola ldquoMegalithismordquo (idecircntica agrave expressatildeo

portuguesa Megalitismo) natildeo tinha o mesmo cariz negativo

A obra colectiva dirigida por J Guilaine (1999) ldquoMegalithismesrdquo na senda de

R Joussaume (1985) recorda-nos a faceta megaliacutetica com especificidades regionais

e cronoloacutegicas na Europa (sobretudo Franccedila e Peniacutensula Ibeacuterica) e na Etioacutepia numa

diacronia bem mais recente Aliaacutes como foi referido atraacutes A Sherratt uma

excepccedilatildeo britacircnica tambeacutem abordou o fenoacutemeno como laquohighly visible symbolism of

the living community through the medium of monumental constructions for the

deadrdquo realccedilando que ldquoTruly ldquomegalithicrdquo monuments formed part of a spectrum of

such constructions which otherwise used earth timber and smaller stonesraquo

(Sherratt 1995 p 247) No mesmo sentido tambeacutem A Gallay (2006) parece discutir

ldquoLes Socieacuteteacutes Meacutegalithiquesrdquo procurando pela via antropoloacutegica enquadrar este

fenoacutemeno como um reflexo soacutecio-cultural

Em Portugal alguns autores tecircm procurado uma expressatildeo mais adequada para

este complexo fenoacutemeno Assim V Gonccedilalves (2003e p 263-265) admite o uso de

laquoMegalitismoraquo como laquosinoacutenimo pobreraquo e complemento de outra expressatildeo ldquoas

praacuteticas funeraacuterias do 4ordm e do 3ordm mileacuteniordquo a que acrescentou posteriormente ldquoantigas

sociedades camponesasrdquo (Gonccedilalves 2005b) ou talvez mais adequado ldquosociedades

agro-pastorisrdquo

Portanto para o acircmbito deste trabalho o conceito de Megalitismo eacute entendido

no sentido amplo e supra-estrutural relacionado com as praacuteticas funeraacuterias daquelas

comunidades agro-pastoris genericamente limitadas aos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane

Assim na regiatildeo da Estremadura esses ritos funeraacuterios satildeo visiacuteveis em diferentes

espaccedilos nomeadamente em cavidades naturais e artificiais antas e tholoi Aliaacutes V

S Gonccedilalves (1978a e 1978b) havia jaacute discutido o conceito de ldquoMegalitismo de

grutasrdquo como forma de enquadrar as deposiccedilotildees funeraacuterias ali realizadas em tudo

idecircnticas agravequelas encontradas em antas Esta diversidade de soluccedilotildees estruturais

tambeacutem parece ocorrer noutras regiotildees da peniacutensula e fora dela (Leisner e Leisner

1943 e 1959 Leisner 1965 Briard 1995 Bradley 1998 Masset 1997 Scarre

1996 Mohen e Scarre 2003 Cerrillo e Gonzalez 2007 Dowd 2008) com

significado sincroacutenico e diacroacutenico podendo relevar-se para aleacutem do substrato

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 13 de 415

cultural um certo grau de determinismo geograacutefico nas oportunidades e escolhas que

as populaccedilotildees de cada aacuterea puderam concretizar nos seus contentores sepulcrais

No que concerne o maior ou menor investimento num sepulcro a utilizaccedilatildeo de

uma cavidade natural (nem sempre proacutexima ou facilmente acessiacutevel) ou a abertura de

uma fossa individual implicaria um esforccedilo menor no curto prazo ainda que

multiplicado pelos oacutebitos ocorridos ao longo do tempo (Masset 1997) Pelo

contraacuterio a construccedilatildeo de um grande jazigo obrigaria a um investimento comunitaacuterio

maior mas aquele espaccedilo poderia servir vaacuterias geraccedilotildees de inumados (Masset

1997)

Uma das caracteriacutesticas comuns do Megalitismo no espaccedilo geograacutefico europeu

ocidental independentemente das suas variaccedilotildees regionais parece ser a praacutetica

funeraacuteria colectiva Nesse sentido relembro a jaacute referida expressatildeo ldquocollective

tombsrdquo para laacute do Canal da Mancha reflectindo essa realidade Mas ldquolessentiel en

effet nest pas que le coutume de linhumation collective ait eacuteteacute transmise ou quelle

ait eacuteteacute inventeacutee cest le fait quelle a eacuteteacute reccedilue (Masset 1997 p 15) e dessa forma

apresentam-se como um bloco cultural genericamente homogeacuteneo

Para alguns autores contudo a praacutetica funeraacuteria colectiva encontra-se atestada

jaacute no 5ordm mileacutenio ane nomeadamente na fachada atlacircntica francesa (Masset 1997

Chambon 2003) ou no Sudeste espanhol em Cerro Virtud (Montero e Ruiacutez 1996

Montero et al 1999) em momentos anteriores agraves construccedilotildees megaliacuteticas pelo que

ambos os fenoacutemenos colectivizaccedilatildeo na morte e megalitismo natildeo deveratildeo ser

confundidos como um soacute Por outro lado situaccedilotildees haacute em que grandes sepulcros

monumentalizados teratildeo sido utilizados aparentemente para deposiccedilatildeo de um

indiviacuteduo ou de um pequeno grupo deles e por outro lado conjuntos numerosos de

indiviacuteduos foram sepultados em jazigos discretos escavados no substrato ou

utilizando grutas naturais (Masset 1997 Chambon 2003) No caso das antas de

Lisboa e regiotildees vizinhas o cruzamento de factores cronoloacutegicos e geograacuteficos eacute

deveras importante para um melhor entendimento dessas realidades mas seraacute

efectuado noutro capiacutetulo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 14 de 415

11 Uma discriminaccedilatildeo positiva as antas da regiatildeo de Lisboa

ldquoLes monuments meacutegalithiques classiques ne sont

en effet qursquoune partie drsquoun tout tregraves particulier les espaces de la mort des anciennes socieacuteteacutes paysannes Il faut choisir ce qursquoon doit viser seulement les monuments drsquoun type particulier ou lrsquoensemble articuleacute des rites des mythes et des pratiques magico-religieuses qui les ont fait naicirctre Mon choix a toujours eacuteteacute la deuxiegraveme possibiliteacute mais jrsquoaccepte la dualiteacute des critegraveres si on arrive agrave la justifierrdquo (Gonccedilalves 2006 p 498-499)

Como jaacute foi referido atraacutes na regiatildeo de Lisboa eacute possiacutevel verificar uma

diversidade de soluccedilotildees estruturais para a uacuteltima residecircncia dos defuntos Desses

vaacuterios jazigos existem numerosas notiacutecias inclusive realizadas de forma mais ou

menos sistemaacutetica (Ribeiro 1880 Ferreira 1959 Leisner 1965) Nas uacuteltimas

deacutecadas os conjuntos recolhidos sobretudo em grutas naturais e artificiais (Cardoso

1990 e 1995a e 1995b Cardoso et al 1992 e 2003 Gonccedilalves 2003e 2005a e

2005b) e em tholoi (Gonccedilalves J L 1979a e 1979b Cardoso et al 1996

Gonccedilalves 2003e) tecircm vindo a ser revistas e estudadas dentro de paracircmetros e

questionaacuterios actuais Contudo as antas de Lisboa quedavam-se por tratar apesar de

algumas terem sido escavadas haacute mais de cem anos ndash nomeadamente Monte Abraatildeo

Estria Pedra dos Mouros e Carrascal (Ribeiro 1880) ndash e serem constantemente

referidas sobretudo pelos paralelos apontados para alguns artefactos nelas

recolhidos Tornava-se entatildeo importante rever e avaliar estas antas discriminando-

as pelas suas caracteriacutesticas especiacuteficas a sua feiccedilatildeo ortostaacutetica e megaliacutetica

Primeiramente considerou-se importante estabelecer os criteacuterios estritos para

anta ou doacutelmen

A utilizaccedilatildeo do termo anta seraacute preferencial mas significaraacute exactamente o

mesmo que doacutelmen quando usado Na sua origem latina a palavra anta surge

associada agraves ldquopilastras ou colunas na frontaria de um edifiacutecio [normalmente

templos] encravadas em parte na parede e colocadas aos lados das portasrdquo e

posteriormente referindo-se a ldquoespeacutecie de marco de terra que se erguia diante de

castelos ou povoaccedilotildeesrdquo (Houaiss Villar e Franco 2005 p 657) O perfil que muitos

destes sepulcros megaliacuteticos apresentavam (e apresentam) ainda cobertos marcando

a paisagem ou depois de despidos do seu manto tumular assemelhando-se o seu

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 15 de 415

esqueleto peacutetreo a um portal poderaacute explicar a difusatildeo e adopccedilatildeo daquele termo

Outros termos de cariz popular que denotam o reconhecimento destas estruturas na

paisagem satildeo referenciados por Vasconcelos (1897) inclusive com um certo tom

regional como por exemplo ldquoarcardquo e ldquoaltarrdquo mais a norte anta no centro-sul ou

ldquomamoardquo por todo o paiacutes

Segundo o mesmo dicionaacuterio referido atraacutes (Houaiss Villar e Franco 2005 p

3081) doacutelmen (dolmin ou dolmen) resultou de ldquouma transcriccedilatildeo inexacta feita pelo

arqueoacutelogo francecircs Latour drsquoAuvergne do coacuternico tolmenrdquo admitindo-se que seraacute

menos provaacutevel ldquoa hipoacutetese de uma formaccedilatildeo directa com base no bretatildeo tol taol

lsquomesarsquo + mean men lsquopedrarsquo rdquo Contudo o termo divulgou-se e eacute comum a admissatildeo

da origem bretatilde com aquele significado Por sua vez essa designaccedilatildeo teraacute sido

adoptada em Portugal pelo meio acadeacutemico pelo menos desde o seacuteculo XVIII

(Vasconcelos 1897) provavelmente no intuito de normalizaccedilatildeo e adequaccedilatildeo ao

implantado e mais desenvolvido discurso cientiacutefico europeu setentrional

Actualmente com o avanccedilo da investigaccedilatildeo e a consciecircncia da complexidade do

fenoacutemeno funeraacuterio nas vaacuterias regiotildees a designaccedilatildeo ldquodolmenrdquo eacute usada de formas

diacutespares tendo caiacutedo em desuso nas ilhas britacircnicas normalmente limitada a ldquoPortal

Dolmenrdquo (Whitehouse 1983 Barclay 1997) ou ganhou novos significados ndash por

exemplo em Franccedila abrangendo as estruturas funeraacuterias verdadeiramente

megaliacuteticas aquelas parcial ou totalmente de pedra seca com cuacutepula ou inclusive

aquelas construiacutedas com madeira (Masset 1997 Joussaume 2004)

Se os elementos ortostaacuteticos e megaliacuteticos satildeo parte essencial da definiccedilatildeo de

anta estes tambeacutem se poderiam aplicar a alguns tholoi da Estremadura bastando

recordar os elementos peacutetreos dos sepulcros do Monge (Ribeiro 1880) ou da Tituaria

(Cardoso et al 1996) as dimensotildees de alguns dos blocos utilizados na construccedilatildeo

das suas cuacutepulas satildeo semelhantes ou mesmo superiores agravequelas de antas

nomeadamente de Monte Serves (North Boaventura e Cardoso 2005) Mas a teacutecnica

construtiva difere sobretudo no tipo de planta e cobertura final pelo que natildeo seratildeo

incluiacutedos no grupo agora em discussatildeo

Aplica-se entatildeo o termo anta de uma forma geneacuterica ao monumento funeraacuterio

constituiacutedo por grandes pedras (esteios ou ortoacutestatos) definindo uma cacircmara que

pode apresentar-se aproximadamente poligonal mais ou menos alongada coberta

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 16 de 415

por uma grande laje monoliacutetica (chapeacuteu) ainda que naquelas mais alongadas se

tenha talvez recorrido a mais de uma laje Podia ainda prolongar-se por um

corredor tambeacutem ortostaacutetico com extensotildees variaacuteveis e coberto por lajes menores

(linteacuteis) Noutros casos a cacircmara surge sem qualquer corredor ou mesmo fechada

apresentando dimensotildees ortostaacuteticas mais reduzidas sendo apontadas como os

exemplares pioneiros desta nova forma arquitectoacutenica de enterramento e

frequentemente designadas ldquosepulturas protomegaliacuteticasrdquo (Silva e Soares 2000) Os

esqueletos peacutetreos das antas seriam em princiacutepio recobertos por terra e pedras

formando o tumulus ou mamoa emergindo na paisagem mais ou menos destacado

como uma espeacutecie de colina semi-esfeacuterica

Ao utilizar os criteacuterios mencionados o universo de sepulcros do tipo anta

corresponde genericamente aos ldquomegalithgraumlberrdquo de V Leisner (1965) ou aos

ldquomonumentos megaliacuteticosrdquo enunciados por O V Ferreira (1959) para a regiatildeo de

Lisboa ainda que em obra colectiva posterior da qual participa este uacuteltimo se

admita que os sepulcros megaliacuteticos com cacircmaras alongadas natildeo poderiam ser

ldquoconsideacutereacutees comme veacuteritables ldquodolmensrdquo dans le sens commun du termerdquo pois

apresentariam caracteriacutesticas dos monumentos do Sudeste espanhol (Zbyszweski et

al 1977) Contudo julgo que aquelas especificidades tipoloacutegicas nem sempre

confirmadas no presente estudo e que seratildeo tratadas noutro capiacutetulo natildeo satildeo

suficientes para relegar esses sepulcros como ldquonatildeo-antasrdquo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 17 de 415

2 Enquadramento geograacutefico

As caracteriacutesticas geomorfoloacutegicas estabelecidas por H Lautensach do

Portugal Litoral Meacutedio e do Portugal Meridional (Alentejo) contrapotildeem-se ao Alto

Portugal (Ribeiro Lautensach e Daveau 1991) Assim a Cordilheira Central

delimita duas aacutereas o Norte e o Sul de Portugal nesta uacuteltima integrando-se o

Portugal Litoral Meacutedio e o Alentejo ldquoa mais vasta e monoacutetona unidade natural do

nosso territoacuteriordquo (Ribeiro 1998 p 151)

Ao Portugal Litoral Meacutedio segundo Barros Gomes secundado por Lautensach

(Ribeiro Lautensach e Daveau 1991) correspondem duas regiotildees distintas a Beira

Litoral correspondendo ao Baixo Mondego a norte e sul do rio homoacutenimo e

estendendo-se ateacute agrave Nazareacute a segunda o Centro Litoral Esta uacuteltima refere-se

essencialmente agrave Estremadura mas na qual eacute possiacutevel verificar duas realidades

fiacutesicas contrastantes uma correspondendo ao Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho com

altimetrias entre os 400-600 metros orientando-se de NNE para SSW terminando na

Serra de Montejunto a outra realidade mais baixa estendendo-se pela orla costeira

para sul ateacute agrave Arraacutebida (o outro maciccedilo calcaacuterio) eacute essencialmente uma superfiacutecie de

erosatildeo com raros cabeccedilos e alinhamentos de relevos recortada pela acccedilatildeo

hidrograacutefica fluvial e mariacutetima apresentando por vezes vales encaixados (Ribeiro

Lautensach e Daveau 1991)

Contudo estes contrastes natildeo satildeo suficientes para uma clivagem profunda com

o Portugal Meridional Assim O Ribeiro (1998 p 152) relembra-nos que a orla

mariacutetima entre o Tejo ateacute quase ao Douro era designada ainda no seacuteculo XVI por

Estremadura ldquoera o sentimento de tudo o que aproxima as regiotildees separadas pelo

baixo vale do Mondegordquo (Ribeiro 1998 p 152) Aliaacutes seria aiacute que ldquoo carvalho

alvarinho cede o lugar ao carvalho portuguecircs forma de transiccedilatildeo para as espeacutecies

de folha perenerdquo (Ribeiro 1998 p 152) Mas para O Ribeiro a Estremadura tem de

facto algo original ldquonos maciccedilos calcaacuterios onde se encontram belos exemplos de

todas as formas caacutersicasrdquo os Maciccedilos Estremenho e da Arraacutebida (Ribeiro 1998 p

153)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 18 de 415

Fig 1 Fisiografia da Estremadura e delimitaccedilatildeo da aacuterea em estudo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 19 de 415

21 Fisiografia da Baixa Estremadura

A regiatildeo de Lisboa definida no acircmbito deste trabalho (Fig 1 1a e 23)

corresponde grosso modo agrave designada Baixa Estremadura contexto geograacutefico jaacute

utilizado por outros investigadores (por ex Sousa 1998 Cardoso 2004) Abrange as

peniacutensulas de Lisboa e Setuacutebal limitando-se a norte pelas faldas da Serra de

Montejunto e a sul pela foz do rio Sado e a Serra da Arraacutebida A nascente o imenso

estuaacuterio do Tejo e a sua bacia terciaacuteria marca-lhe a fronteira tal como a costa

atlacircntica o faz a poente No caso presente o limite setentrional quedou-se pelas bacias

das ribeiras do Lizandro Trancatildeo e da Pipa estas duas uacuteltimas associadas ao acircmago

do manto basaacuteltico do Complexo vulcacircnico de Lisboa que parece corresponder aos

limites daquela denominada por J L Gonccedilalves (1979c) como Baixa peniacutensula de

Lisboa

No acircmbito da Geologia de Cascais M Ramalho (2005) estipulou quatro

conjuntos de formaccedilotildees geoloacutegicas cuja caracterizaccedilatildeo poderaacute facilmente estender-

se agrave restante peniacutensula de Lisboa bem como agrave de Setuacutebal onde deveremos

acrescentar o maciccedilo da Arraacutebida (Fig 22)

a O conjunto dos calcaacuterios margas e arenitos do Juraacutessico Superior-Cretaacutecico

onde os niacuteveis com uma composiccedilatildeo carbonatada predominante especialmente do

Cretaacutecico inferior estiveram na origem de fenoacutemenos de carsificaccedilatildeo de diversos

tipos ndash lapiaacutes dolinas e cavernas muitas delas com presenccedila arqueoloacutegica As

bancadas do Cretaacutecico superior com calcaacuterios de rudistas e foraminiacuteferos serviram

ateacute hoje para extracccedilatildeo de rochas para a construccedilatildeo civil Alguns daqueles leitos

geoloacutegicos apresentam intercalaccedilotildees de siacutelex que foram abundantemente

aproveitadas na preacute-histoacuteria (Ramalho 2005 Ramalho et al 1993)

b O Maciccedilo eruptivo de Sintra sendo o relevo mais importante da regiatildeo

apresenta um nuacutecleo sieniacutetico com aneacuteis graniacuteticos e grabro-dioriacuteticos surgindo

associados a numerosos filotildees e a uma cintura de calcaacuterios metamorfizados Esta

intrusatildeo teraacute ocorrido entre 75 e 95 milhotildees de anos jaacute no final do Cretaacutecico sendo

exposto pela erosatildeo haacute cerca de 40 milhotildees de anos no Terciaacuterio inferior (Ramalho

2005 Ramalho et al 1993)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 20 de 415

c O Complexo vulcacircnico de Lisboa resultou de actividade vulcacircnica haacute cerca

de 70 milhotildees de anos no Cretaacutecico final Corresponde essencialmente a rochas

laacutevicas resultantes de escoadas basaacutelticas e depoacutesitos vulcano-sedimentares ndash tufos

brechas e piroclastos A decomposiccedilatildeo daquelas rochas deu origem a solos

considerados hoje dos mais feacuterteis do paiacutes (Zbyszewski 1964 Oliveira et al 2000

Ramalho 2005)

Durante os episoacutedios de instalaccedilatildeo do Maciccedilo de Sintra e a actividade

vulcacircnica natildeo se registou actividade sedimentar significativa ateacute agrave formaccedilatildeo das

rochas terciaacuterias Alguns desses depoacutesitos geoloacutegicos resultaram da erosatildeo de relevos

preacute-existentes tendo resultado em conglomerados e calcaacuterios argilosos e areniacuteticos

(Martins 2004 Ferreira 2005b) e foram aproveitados na preacute-histoacuteria para a

escavaccedilatildeo de cavidades sepulcrais (Ramalho 2005) Estas manchas geoloacutegicas

situam-se maioritariamente na orla fluvial e costeira da peniacutensula de Lisboa a norte-

nordeste da serra de Sintra e nas aacutereas nascente e norte do maciccedilo da Arraacutebida da

peniacutensula de Setuacutebal

d Finalmente os depoacutesitos quaternaacuterios correspondendo essencialmente a

fenoacutemenos marinhos e fluviais formaram vaacuterias cascalheiras de calhaus e areias por

vezes com os primeiros indiacutecios de actividade humana (Ramalho 2005 Zbyszweski

1964) Boa parte dos depoacutesitos mais recentes ocuparam o espaccedilo outrora preenchido

por aacuteguas estuarinas a que me referirei abaixo

De uma forma genialmente sucinta O Ribeiro (1998 p 154) ilustra as

consequecircncias da diversidade geomorfoloacutegica da regiatildeo referida ldquo(hellip) Nos

arredores de Lisboa por exemplo os barros basaacutelticos datildeo campos limpos e abertos

destinados agrave cultura do cereal os calcaacuterios secundaacuterios charnecas abandonadas ao

mato e pasto os calcaacuterios terciaacuterios cobrem-se de olivedo as baixas argilosas de

hortas regadas o pinhal reveste as colinas de arenito improdutivo No horizonte da

cidade duas montanhas que se vecircem uma agrave outra encerram a escala destas

combinaccedilotildees Sintra envolta em neacutevoas e afofada de arvoredos frondosos rica de

aacuteguas e de sombras musgosas eacute uma recorrecircncia do Norte a Arraacutebida nos campos

de calcaacuterio no soberbo matagal mediterracircneo na serenidade das aacuteguas onde a

serra se despenha quase a pique um fragmento de riviera isolado agrave beira do

Atlacircnticordquo (Ribeiro 1998 p 154)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 21 de 415

De facto ldquoa morfologia da regiatildeo de Lisboa depende fundamentalmente de

uma grande variedade litoloacutegica (os diferentes tipos de rochas em contacto oferecem

diferentes tipos de resistecircncia agrave erosatildeo) e da tectoacutenica local (dobras e falhas) que

modelam colinas interfluacutevios de uma rica rede hidrograacutefica Os mantos basaacutelticos

alternantes com leitos de tufos e brechas vulcacircnicas cobrem grande parte da regiatildeo

da capital dando origem normalmente a solos muito feacuterteisrdquo (Silva 1983) E essa

situaccedilatildeo parece jaacute registar-se durante os 4 e 3ordm mileacutenios ane resultando em ldquosolos

feacuterteis boa insolaccedilatildeo relevos suaves abundacircncia de aacutegua e uma rede hidrograacutefica

regular amenidade climaacutetica e ainda a proximidade dos estuaacuterios do Tejo e do

Sado domiacutenios abundantes de recursos facilmente exploraacuteveis ao longo do anordquo

(Cardoso 2004 p 21)

Por outro lado a extracccedilatildeo de rochas (calcaacuterios maacutermore basalto etc) por

exemplo para o aqueduto das Aacuteguas Livres ou a reconstruccedilatildeo de Lisboa poacutes-

terramoto 1755 originou e ainda origina crateras imensas na paisagem o que afecta

a leitura do relevo em determinadas aacutereas da regiatildeo Inclusive erradicando sepulcros

como os de Trigache ou mais tarde os de Casal do Penedo

Quanto aos solos da regiatildeo de Lisboa se eacute possiacutevel presumir a sua riqueza

referida atraacutes a sujeiccedilatildeo multissecular a uma pressatildeo antroacutepica massiva suscita seacuterias

cautelas para anaacutelises de pormenor Aliaacutes a pequena escala da cartografia disponiacutevel

(1 1 000 000) torna ainda mais vatildeo tal desiderato

Os dados paleo-ecoloacutegicos actualmente disponiacuteveis para a Baixa Estremadura

durante os 4ordm e 3ordm mileacutenios ane satildeo limitados mas eacute possiacutevel extrapolar as suas

caracteriacutesticas gerais a partir de algumas curvas poliacutenicas realizadas na peniacutensula de

Setuacutebal e no Alentejo litoral (Queiroz 1999 Queiroz e Mateus 2004)

Assim aquele periacuteodo enquadra-se de forma geneacuterica no Holoceacutenico meacutedio

fase B e C num clima subhuacutemido transitando para um mais seco de caraacutecter

mesomediterracircnico com formaccedilotildees lenhosas de pinhal bravo (Pinus pinaster)

dominante nos interfluacutevios mas gradualmente substituiacutedo por urzal alto (urze das

vassouras ndash Erica scoparia) nas zonas de solos podzoacutelicos As matas marescentes

(Quercus faginea - carvalho cerquinho ou portuguecircs) nas meia-encostas dos vales

vatildeo sendo substituiacutedas por carrascal escleroacutefilo (Quercus coccifera- carrasqueiro) O

zambujal (Olea europaea sylvestris) surge nas encostas secas e mais expostas com

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 22 de 415

sub-bosque de Erica arboacuterea (urze branca) sobretudo nos litossolos da Arraacutebida e

as baixas fluviais satildeo dominadas por amiais (Alnus glutinosa e Frangula) e

salgueiros (Salix sp) (Queiroz 1999 p 228)

Outros estudos arqueobotacircnicos (carpoloacutegicos e antracoloacutegicos) produzidos

pontualmente para ocupaccedilotildees preacute-histoacutericas da Estremadura ainda que de

cronologias diacutespares (Queiroz e Leeuwaarden 2001 e 2004 Hopf 1981) datildeo

seguranccedila agrave extrapolaccedilatildeo proposta atraacutes Assim no povoado de Satildeo Pedro de

Caneferrim no contexto montanhoso de Sintra parece registar-se durante o Neoliacutetico

antigo uma mata marescente de Quercus faginea de caraacutecter mediterracircnico mas com

zonaccedilatildeo de espeacutecies associadas a aacutereas mais aacuteridas ou mais huacutemidas nomeadamente

mata deciacutedua ribeirinha (Fraxinus angustifolia Populus Salix e Ulmus) charnecas e

matos rasteiros podendo estas uacuteltimas corresponder a impacto humano relacionado

com pastagens (Queiroz e Leeuwaarden 2001) Mais para norte no povoado de Satildeo

Mamede (Bombarral) em contextos dos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane foram recolhidos

elementos vegetais que parecem apontar para matagais escleroacutefilos de caraacutecter

mediterracircnico semelhantes aos actuais onde se encontram o medronheiro (Arbutus

unedo) o carrasco e a urze branca parecendo a presenccedila de giesta (Cytius striatus)

sugerir a existecircncia de charnecas em aacutereas com maior impacto humano (Queiroz e

Leeuwaarden 2004) Semelhante quadro tambeacutem surge em redor do povoado do

Zambujal Torres Vedras (Hopf 1981) referindo-se a presenccedila de pinheiro (Pinus

sp) floresta de carvalhos (Quercus ilex - azinheira ndash e Quercus suber ndash sobreiro) nas

encostas e junto das margens fluviais o freixo (Fraxinus excelsior) o choupo

(Populus sp) e o amieiro (Alnus sp)

De facto P Queiroz (1999) realccedila para o periacuteodo dos 4ordm-3ordm mileacutenios no litoral

norte alentejano um impacto humano acentuado que teraacute resultado na reduccedilatildeo do

coberto florestal dos interfluacutevios e abertura dos ribeirinhos ainda que mantendo-se

os bosques de encosta bem como registando-se a expansatildeo de matagais

22 Rio Tejo um palco fundamental para a histoacuteria da regiatildeo

O Tejo eacute um dos maiores rios da Peniacutensula Ibeacuterica quer em extensatildeo quer em

caudal Nasce na Cordilheira Ibeacuterica orientando o seu curso de este para oeste

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 23 de 415

apenas virando para sudoeste perto de Constacircncia onde absorve o rio Zecirczere

(Ribeiro Lautensach e Daveau 1988) Daiacute em diante alarga-se pela bacia sedimentar

terciaacuteria para apenas estreitar na sua foz apertada pelas peniacutensulas de Lisboa e

Setuacutebal as duas metades da Baixa Estremadura (Fig 1 e 1a)

A foz do Tejo rompe a continuidade da costa atlacircntica de forma peculiar

resultando num dos raros portos de abrigo para a navegaccedilatildeo bem como graccedilas ao

seu prolongado estuaacuterio numa via de penetraccedilatildeo navegaacutevel da maior importacircncia

para os territoacuterios interiores (Daveau 1980 1994 e 1995) A outra descontinuidade

imediatamente a sul do estuaacuterio do Sado apesar de larga fica limitada a este pois o

caudal desse rio natildeo atinge a pujanccedila ou a extensatildeo do primeiro

Portanto para aleacutem de ser ldquoo palco da histoacuteria de Lisboardquo (Daveau 1994) o

Tejo surge-nos tambeacutem como o palco da histoacuteria das populaccedilotildees da Baixa

Estremadura e dos territoacuterios vizinhos por ele banhados do Centro-Sul de Portugal

O emaranhado de relevos acidentados existentes a norte de Lisboa (Complexo

vulcacircnico de Lisboa e faldas da Serra de Montejunto) dificulta a circulaccedilatildeo sul-

norte pelo que o Tejo e os seus tributaacuterios foram ateacute o aparecimento da ligaccedilatildeo

ferroviaacuteria o meio por onde circulavam para territoacuterios interiores maioritariamente

pessoas e bens (Daveau 1994) Recorde-se o caso particular do rio Trancatildeo que ateacute

o seacuteculo XIX era a via preferencial para transporte de bens de e para as feacuterteis

terras da regiatildeo de Loures (Daveau 1994 Fragoso 2001 Oliveira et al 2000) Ou

a importacircncia que a montante do rio Santareacutem e sobretudo Tomar assumiram para

a passagem dos Maciccedilos centrais (Daveau 1994) mas tambeacutem na faacutecil ligaccedilatildeo ao

Alto e Meacutedio Alentejo E se esta importacircncia histoacuterico-geograacutefica estaacute

abundantemente documentada tambeacutem uma situaccedilatildeo ainda mais optimizada teraacute

existido durante os 4ordm e 3ordm mileacutenios ane

Segundo S Daveau (1980 e 1994) na sequecircncia da transgressatildeo flandriana o

vale do Tejo profundamente escavado durante o periacuteodo glaciar do Wuumlrm viu-se

preenchido pelas aacuteguas de um mar cujo niacutevel subiu rapidamente (Fig 1 e 24) Assim

nos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane o estuaacuterio do Tejo apresentar-se-ia com aacuteguas salobras

sentindo provavelmente o efeito das mareacutes ateacute agrave aacuterea de Constacircncia cerca de 100

quiloacutemetros para montante da foz do rio Apesar de impactos e dimensotildees variaacuteveis

essa transgressatildeo aquaacutetica tambeacutem se fez sentir noutras bacias estuarinas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 24 de 415

nomeadamente no Sado e Mondego (Daveau 1980 Senna-Martinez 1990) bem

como naquelas que desaguavam directamente na orla costeira estremenha (Fig 1 e

24) Foi aliaacutes com esta verificaccedilatildeo que se compreendeu melhor o enquadramento de

vaacuterios povoados deste periacuteodo nomeadamente Vila Nova de Satildeo Pedro e Zambujal

(Daveau 1980 Daveau e Gonccedilalves 1983-84 Hoffman 1990 Hoffman e Schulz

1994)

Eacute portanto no acircmbito da fisiografia e hidrografia expostas atraacutes que as

populaccedilotildees preacute-histoacutericas dos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane deveratildeo ser enquadradas

verificando a forma como aproveitavam no seu quotidiano os recursos disponiacuteveis

bem como isso poderaacute ter influenciado as suas praacuteticas funeraacuterias

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 25 de 415

3 A investigaccedilatildeo preacute-histoacuterica na regiatildeo de Lisboa

ldquoNum tempo [seacuteculo XIX] em que se discutia como organizar oficialmente os estudos da arqueologia em Portugal e como dar-lhe expressatildeo museoloacutegica (hellip) quem melhor se sucede (hellip) parecem ser homens que ao talento e saber acrescem fortuna pessoal e capacidade de aglutinar elites economicamente desafogadas e mentalmente empenhadas no progresso moral da naccedilatildeordquo (Ferreira 1994 p 76)

ldquo(hellip) uma realidade que (essa sim) se pode

considerar uma constante na actividade arqueoloacutegica portuguesa o choque de personalidadesrdquo (Fabiatildeo 1999 p 109)

ldquoOs arqueoacutelogos em Portugal sempre tiveram

dificuldades em trabalhar desafogadamente e em fazer-se ouvir mesmo aqueles que supostamente mais proacuteximo se encontravam do poder poliacuteticordquo (Cardoso 2002 p 40-41)

A reflexatildeo e o debate acerca da histoacuteria da investigaccedilatildeo arqueoloacutegica e

especificamente da Preacute-histoacuteria em Portugal receberam nas uacuteltimas deacutecadas um

grande incremento Vaacuterios autores tecircm com sucesso analisado o desempenho de

indiviacuteduos e instituiccedilotildees nesse labor (Gonccedilalves 1980a e 1980b Santos 1980

Fabiatildeo 1989 e 1999 Diniz e Gonccedilalves 1993-94 Lillios 1996 e 2008 Cardoso

2002 2008a 2008b e 2008c Martins 2003 2005 e 2007 Carneiro 2005 Rocha

2005 Coito Cardoso e Martins 2008 Boaventura 2008 Boaventura e Langley no

prelo) Eacute pois no acircmbito do presente trabalho importante delinear e enquadrar os

processos poliacuteticos e socio-econoacutemicos que desde o seacuteculo XIX moldaram e

condicionaram as perguntas e as respostas que diversos investigadores efectuaram

acerca do periacuteodo hoje associado ao Megalitismo e como se proporaacute centrado nos 4ordm

e 3ordm mileacutenios ane Enquadrado por esse esboccedilo tambeacutem se analisaraacute com maior

detalhe nos capiacutetulos especiacuteficos dos respectivos sepulcros os investigadores e os

trabalhos desenvolvidos por eles

Apesar de se poder encontrar em seacuteculos anteriores o interesse pelos vestiacutegios

preacute-histoacutericos nomeadamente as construccedilotildees megaliacuteticas parece unacircnime para

vaacuterios autores que a segunda metade do seacuteculo XIX e sobretudo o terceiro quartel

daquele marcaram o nascimento de uma arqueologia preacute-histoacuterica em Portugal

(Fabiatildeo 1989 e 1999 Diniz e Gonccedilalves 1993-94 Cardoso 2002 Martins 2003 e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 26 de 415

2007 Rocha 2005) culminando essa intensa actividade na realizaccedilatildeo em Portugal

com o patrociacutenio reacutegio do laquoIX Congresso Internacional de Antropologia e

Arqueologia Preacute-Histoacutericasraquo (Santos 1980 Gonccedilalves 1980b Diniz e Gonccedilalves

1993-94) Este encontro consagrou o prestiacutegio cientiacutefico de alguns investigadores

portugueses dentro e fora do paiacutes para o qual Eacutemile Cartailhac (1880 e 1886) teraacute

sido um dos seus maiores arautos sobretudo porque as suas publicaccedilotildees em francecircs

distribuiacutedas a partir de Franccedila permitiram uma maior exposiccedilatildeo da arqueologia preacute-

histoacuterica portuguesa perante a comunidade cientiacutefica europeia e norte-americana

Num contexto europeu de crescimento industrial em que a procura de

potenciais recursos naturais se tornava urgente depois de um pouco produtivo grupo

de trabalho chefiado por Charles Bonnet eacute criada a laquoComissatildeo Geoloacutegica do Reinoraquo

- 1857-1868 - encabeccedilada por Carlos Ribeiro e Francisco Pereira da Costa (Santos

1980 Cardoso 2002 Leitatildeo 2004 Carneiro 2005) Num afatilde sem precedente o

primeiro militar de formaccedilatildeo e com maior capacidade para o trabalho de campo

promoveu o registo da geologia (mas tambeacutem de outros recursos naturais) do

territoacuterio portuguecircs graccedilas ao seu esforccedilo e do grupo de colectores que instruiu

Simultaneamente deu atenccedilatildeo a diversos vestiacutegios humanos atribuiacuteveis a diversos

periacuteodos da Preacute-histoacuteria em alguns casos escavando-os noutros inventariando-os

para posteriores trabalhos Esta faceta arqueoloacutegica do trabalho da Comissatildeo foi

reproduzida pelo seu assistente e sucessor Joaquim Nery Delgado tambeacutem militar

de carreira ainda que lhe dedicasse menor atenccedilatildeo apoacutes a morte do seu mentor

Destoava destes dois investigadores F P Costa pouco propenso ao trabalho de

campanha preferindo a actividade de gabinete para a anaacutelise de foacutesseis e produccedilatildeo

dos seus escritos (Leitatildeo 2004 Carneiro 2005) Estes caracteres pessoais distintos

acabaram por originar posiccedilotildees profissionais antagoacutenicas levando agrave extinccedilatildeo breve

mas dolosa da Comissatildeo Geoloacutegica em 1868 tendo parte da colecccedilatildeo dos

espeacutecimes recolhidos (geoloacutegicos e arqueoloacutegicos) sido transferida para a Escola

Politeacutecnica onde leccionava F P Costa apoacutes a sua intervenccedilatildeo junto do poder

instalado (Leitatildeo 2004) No ano seguinte na sequecircncia de mudanccedila governamental

a extinta Comissatildeo eacute recriada (ainda que soacute em 1870 iniciasse funccedilotildees) agora

somente sob a direcccedilatildeo de Carlos Ribeiro com a assistecircncia de J N Delgado mas

denominada laquoSecccedilatildeo dos Trabalhos Geoloacutegicosraquo (Leitatildeo 2004 Carneiro 2005)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 27 de 415

Talvez para colmatar as perdas registadas em 1868 mas tambeacutem porque se

tornara oportuno no acircmbito da preparaccedilatildeo do planeado Congresso Internacional de

1880 registou-se uma intensa actividade de escavaccedilatildeo que perdurou ateacute ao referido

encontro e agrave doenccedila e morte de Carlos Ribeiro em 1882 Posterior e gradualmente a

actividade arqueoloacutegica decresce embrenhando-se o novo director J N Delgado

em questotildees mais geoloacutegicas (Carneiro 2005) De facto aleacutem dos terraccedilos terciaacuterios

(Ribeiro 1871 e 1873) da gruta da Cesareda (Delgado 1867) e de parte dos

concheiros de Muge (Costa 18651) genericamente enquadraacuteveis no Paleoliacutetico e

Mesoliacutetico a maioria das escavaccedilotildees foi efectuada no acircmbito desta nova

ldquoComissatildeordquo Assim registaram-se novas intervenccedilotildees nos concheiros de Muge bem

como em siacutetios de habitat e de necroacutepole anteriormente inventariados sobretudo em

antas e grutas naturais e artificiais (Ribeiro 1878 1880 e 1884 Delgado 1880

1884 1891a e 1891b) Por exemplo na regiatildeo Lisboa foram identificadas as antas

de Monte Abraatildeo Estria Pedra dos Mouros Carrascal Pedras Grandes Alto da

Toupeira 1 Batalhas Casal do Penedo e Carcavelos que com excepccedilatildeo das uacuteltimas

trecircs foram entatildeo escavadas pelo menos entre 1875 e 1878 Aleacutem destas realizaram-

se intervenccedilotildees no tholos do Monge nas grutas artificiais do Casal do Pardo

(Leisner Zbyszweski e Ferreira 1961 Soares 2003) e Folha das Barradas

(sobretudo a recolha de informaccedilatildeo e artefactos) bem como nas grutas naturais da

Cova da RaposaCova Grande e Cova do Biguino do Moinho da Moura (associada

ao povoado de Leceia) da Ponte da Laje de Porto Covo e de Poccedilo Velho No seu

conjunto quase todos os siacutetios tiveram notiacutecia publicada ou pelo menos os seus

materiais foram depositados no Museu Geoloacutegico no essencial devidamente

etiquetados com a sua proveniecircncia (por vezes cobrindo excessivamente as peccedilas)

Este cuidado museoloacutegico foi deveras importante pois por natildeo ter sido continuado

em deacutecadas posteriores satildeo estas peccedilas e as suas proveniecircncias mais fiaacuteveis do que

outras que deram entrada no poacutes Grande Guerra

No que concerne a qualidade da actividade arqueoloacutegica os trabalhos de C

Ribeiro e depois de J N Delgado apresentavam-se cientificamente rigorosos e

nalguns aspectos precursores tendo em conta a eacutepoca e a precocidade destes A

aplicaccedilatildeo do meacutetodo estratigraacutefico na escavaccedilatildeo de algumas das grutas-necroacutepole eacute 1 Escavados por C Ribeiro e abusivamente apresentados e publicados por F P Costa (1865 Leitatildeo 2004)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 28 de 415

evidente na gruta da Furninha (Delgado 1884) bem como se verifica uma

sistematizaccedilatildeo e comparaccedilatildeo tipoloacutegica dos materiais arqueoloacutegicos recolhidos (por

exemplo Ribeiro 1878 e 1880) Inclusive C Ribeiro (1880) procurou perscrutar nos

restos antropoloacutegicos de alguns sepulcros em particular de Monte Abraatildeo e Folha

das Barradas informaccedilatildeo hoje comummente expectaacutevel como o nuacutemero miacutenimo de

indiviacuteduos a idade e o sexo ndash algo entretanto relegado para um plano secundaacuterio em

favor de avaliaccedilotildees raacutecicas dos indviacuteduos exumados em Portugal seguindo a

tendecircncia europeia perdurando ateacute a deacutecada de 80 do seacuteculo XX (Cunha 2000)

Ainda associados aos trabalhos dos serviccedilos geoloacutegicos haacute que registar algumas

abordagens multidisciplinares sobre materiais depositados no Museu nomeadamente

por Francisco Oliveira e Paula (1884 1886 e 1889) acerca das ossadas humanas

mesoliacuteticas e neoliacuteticas exumadas e por Alfredo Bensauacutede (1884 e 1889) sobre a

natureza mineraloacutegica de artefactos liacuteticos ou a constituiccedilatildeo dos artefactos em cobre

Alguns autores oitocentistas menos interessados na investigaccedilatildeo de campo

produziram ainda algum trabalho sobre a Preacute-Histoacuteria nomeadamente Augusto

Simotildees (1878) Outros prosseguiram no campo outras abordagens mais

independentes como Sebastiatildeo Estaacutecio da Veiga (Veiga 1879 e 1886-91

Gonccedilalves 1980a Cardoso e Gradim 2004) ou integrados na laquoReal Associaccedilatildeo dos

Architectos Civis e Archeoacutelogos Portuguesesraquo como Joaquim Possidoacutenio da Silva

(Martins 2003 e 2005) Aliaacutes este uacuteltimo procedeu a vaacuterias escavaccedilotildees em sepulcros

megaliacuteticos nomeadamente nas regiotildees de Eacutevora e Elvas ou no pretenso doacutelmen de

Adrenunes Sintra na deacutecada de 1850 onde natildeo verificou qualquer evidecircncia

sepulcral (cit in Martins 2003 p 237) Contudo manifestava em vaacuterios escritos um

maior interesse pelo registo e salvaguarda daqueles monumentos e menos pelo seu

teor cientiacutefico (Martins 2003 p 240-241)

Apesar de variados trabalhos realizados em antas de vaacuterios pontos do paiacutes

nomeadamente por C Ribeiro J P Silva S E Veiga eacute curioso verificar que apenas

uma comunicaccedilatildeo portuguesa acerca deste assunto foi proferida por Joseacute Caldas

(1884) no Congresso de 1880 tratando de antas da regiatildeo do Minho (Santos 1980)

Ainda que a qualidade dos trabalhos produzidos seja variada durante o periacuteodo

tratado acima eacute possiacutevel verificar que os investigadores portugueses de oitocentos

procuravam perceber as origens da Terra e da Humanidade num contexto

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 29 de 415

eminentemente positivista e universalista agrave imagem dos seus congeacuteneres do mundo

ocidental e que os investigadores dos serviccedilos geoloacutegicos foram um claro exemplo

Contudo outros indiviacuteduos inclinavam-se decididamente para anaacutelises mais locais e

regionais mais preocupados com aspectos paleoetnoloacutegicos como era o caso de

Martins Sarmento um dos participantes do Congresso de 1880 (Fabiatildeo 1999)

Infelizmente aquele breve desabrochar da disciplina arqueoloacutegica em Portugal

natildeo frutificou No caso dos serviccedilos geoloacutegicos assistiu-se a um decreacutescimo de

interesse e de publicaccedilotildees acerca da preacute-histoacuteria nomeadamente com siacutetios

escavados que se quedaram por publicar ateacute meados do seacuteculo XX para o qual natildeo

seraacute estranho a ausecircncia de disciacutepulos interessados naquelas temaacuteticas ou com as

condiccedilotildees estruturais para as desenvolver O trabalho de Estaacutecio da Veiga acabou

absorvido pelo Museu Etnoloacutegico (hoje MNA) sem concretizaccedilatildeo do seu programa

arqueoloacutegico

Ainda assim nos anos poacutes-Congresso registou-se a influecircncia daqueles

investigadores sobre individualidades que se tornariam fulcrais nas deacutecadas

seguintes A Santos Rocha criava a Sociedade Arqueoloacutegica da Figueira surgia a

Sociedade Carlos Ribeiro no Porto e Joseacute Leite de Vasconcelos inclinava-se para a

busca da geacutenese portuguesa Esta nova geraccedilatildeo acarinhava entatildeo um novo paradigma

de investigaccedilatildeo definido como Paleoetnoloacutegico (Fabiatildeo 1999) De facto a Preacute-

histoacuteria parece interessar a estes investigadores apenas como meio para buscar as

origens da nacionalidade atraveacutes da triacuteade povoliacutenguanaccedilatildeo para a qual os estudos

antropoloacutegicos numa perspectiva raacutecica (Carrisso 1909 Athayde 1931 e 1933

Bubner 1979 e 1986 Silva 2002 Cunha 2000 e 2008) e arqueoloacutegicos acresciam

com os seus dados essenciais Os vestiacutegios materiais comprovariam a sucessatildeo das

idades civilizacionais colocando os primeiros ocupantes do territoacuterio portuguecircs em

igualdade com outros povos da Europa e da restante Peniacutensula Ibeacuterica

A actividade de J L Vasconcelos no que respeita a regiatildeo de Lisboa eacute

reduzida pois este procurava compreender o todo nacional viajando e colectando por

todo o territoacuterio portuguecircs Mesmo assim a escavaccedilatildeo da anta da Arruda em 1898

revela que este investigador aplicava uma metodologia razoaacutevel e de alguma forma

standard para a eacutepoca Ao analisar os apontamentos desta escavaccedilatildeo e daquela

efectuada na anta da Comenda da Igreja 1 (Montemor-o-Novo) no mesmo ano

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 30 de 415

(Coito Cardoso e Martins 2008 p 145) eacute interessante verificar as semelhanccedilas no

registo de escavaccedilatildeo bem como as anotaccedilotildees acerca do que seria expectaacutevel

encontrar e que natildeo o foi Mas os resultados resumiam-se e eram utilizados para

reforccedilar o objectivo primordial obter ldquoelementos para determinar relaccedilotildees sociaes

ou ethnicas entre a tribu que ali estanciou e outras da Estremadura mas de pontos

afastados drsquoaquelle localrdquo (O Seacuteculo 6111898)

Entre os vaacuterios protagonistas interessados pela nacionalidade eacute sem duacutevida J

L Vasconcelos quem por meacuterito proacuteprio pela sua longevidade e pelo

enquadramento institucional que o Museu Etnoloacutegico lhe dava quem marca as

primeiras deacutecadas do seacuteculo XX apresentando-se com um projecto ndash o museu da

naccedilatildeo (Fabiatildeo 1999 Coito Cardoso e Martins 2008)

Manuel Heleno um dos disciacutepulos de J L Vasconcelos inicialmente

procurou no Megalitismo as eventuais origens da nacionalidade (Heleno 1956

Fabiatildeo 1999 Cardoso 2002 Rocha 2005) Para tal centrou a sua investigaccedilatildeo nos

sepulcros do Alto e Meacutedio Alentejo (Heleno 1956 Rocha 2005) Contudo ldquopara

tirar a contraprova das [suas] conclusotildees e ver o problema na sua totalidaderdquo

(Heleno 1956 p 229) aquele estendeu as suas pesquisas a vaacuterias grutas artificiais da

Estremadura nomeadamente em Casal do Tojal de Vila Chatilde e Bauacutetas Amadora

(Heleno 1933 e 1942b) na Ermegeira Torres Vedras (Heleno 1942a) Ribeira de

Crastos Caldas da Rainha (Jordatildeo e Mendes ) Tambeacutem desenvolveu trabalhos em

algumas grutas naturais ldquoagrave procura duma estratigrafiardquo (Heleno 1956 p 230)

incidindo ainda alguns esforccedilos em siacutetios de habitat sobretudo na aacuterea de Rio Maior

O contributo de M Heleno para a investigaccedilatildeo do Megalitismo poderaacute resumir-

se em dois tempos um resumido por Fernando de Almeida (197_) ao afirmar que

ldquobastariam estes trabalhos para ser classificada de notaacutevel a acccedilatildeo do Prof Heleno

(hellip) se os materiais recolhidos (hellip) tivessem sido estudados e publicadosrdquo outro

tempo presente que vecirc os espoacutelios recolhidos e os apontamentos proacutedigos de M

Heleno finalmente a serem estudados e publicados de forma compreensiacutevel

(Cardoso 2002 Rocha 2005)

Entretanto aleacutem fronteiras Hugo Obermaier (1919 1920 1924 1925 e 1932)

na sequecircncia dos seus proacuteprios estudos acerca do Megalitismo numa perspectiva

pan-ibeacuterica contribuiu de forma directa para o interesse do casal Leisner (Georg e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 31 de 415

Vera) por aquele fenoacutemeno (Almeida 1972 Dehn 1990 Boaventura e Langley no

prelo) Assim suscitou-se dessa forma o imenso trabalho de inventariaccedilatildeo

sistemaacutetica do fenoacutemeno megaliacutetico peninsular materializado nos volumes dos

Megalithgraumlber o primeiro verdadeiro cataacutelogo de estruturas e espoacutelios associadas

ao Megalitismo sobretudo antas (Leisner e Leisner 1943 1951 e 1959 Leisner

1965 Leisner e Kalb 1998) hoje obra incontornaacutevel e fundamental para a

compreensatildeo da cultura material de extensas regiotildees peninsulares nomeadamente da

Estremadura

O prestiacutegio internacional granjeado pelo trabalho do casal alematildeo facilitou

tambeacutem a divulgaccedilatildeo dos resultados peninsulares e das suas interpretaccedilotildees junto de

alguns dos preacute-historiadores mais creditados da Europa nomeadamente V Gordon

Childe Glyn Daniel e Stuart Pigott (Boaventura e Langley no prelo) algo que

autores portugueses nem sempre conseguiam Exemplo disso seraacute a defesa de uma

origem ocidental e peninsular do fenoacutemeno megaliacutetico de alguma forma defendido

por J L Vasconcelos A S Rocha e Estaacutecio da Veiga (Cardoso 2002) explicaccedilatildeo

tambeacutem adiantada P Bosh Gimpera (1966) ainda que focada no noroeste peninsular

Contudo estas hipoacuteteses apenas obtecircm maior eco com a publicaccedilatildeo dos trabalhos de

Reguengos de Monsaraz desenvolvidos pelo casal Leisner (1951 e 1959) como

parece transparecer no artigo de S Piggot (1953 cit in Cardoso 2002) ou em cartas

de V Gordon Childe para o casal Leisner (Boaventura e Langey no prelo)

Simultaneamente a actividade arqueoloacutegica dos Serviccedilos Geoloacutegicos de

Portugal sofre um novo incremento apoacutes o ingresso de G Zbyszweski nos finais

dos anos 30 (Cardoso 1999-00a) Por sua iniciativa e da equipa que conseguiu

reunir nomeadamente em estreita e frutuosa colaboraccedilatildeo com O V Ferreira bem

como com um vasto leque de colaboradores (Cardoso 1999-00a 2008c e 2008d) as

actividades de prospecccedilatildeo geoloacutegica levaram agrave identificaccedilatildeo e escavaccedilatildeo de vaacuterias

centenas de siacutetios muitos deles de outra forma desaparecidos sem qualquer notiacutecia

Eacute nesse contexto quando se intensifica a mecanizaccedilatildeo da agricultura e a pressatildeo e

expansatildeo urbanas que muitos siacutetios da regiatildeo de Lisboa satildeo salvaguardados pela

escavaccedilatildeo e registo ndash mesmo que deficitaacuterio segundo padrotildees do que se podia fazer

na eacutepoca e mais ainda dos actuais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 32 de 415

A colaboraccedilatildeo entre O V Ferreira e o casal Leisner mas sobretudo com Vera

Leisner apoacutes o falecimento de Georg Leisner em 1958 (Boaventura e Langley no

prelo) contribuiacuteram para o conhecimento de alguns dos sepulcros mais emblemaacuteticos

da Estremadura nomeadamente Casaiacutenhos e Praia das Maccedilatildes (Leisner e Ferreira

1959 1961 e 1963 Leisner Zbyszweski e Ferreira 1961 e 1969 Cardoso 2002 e

2008d)

Se bem que o impacto das dataccedilotildees pelo radiocarbono abalava o meio

arqueoloacutegico europeu desde a deacutecada de 50 e sobretudo 60 em Portugal apesar de

cedo se terem realizado algumas mediccedilotildees as implicaccedilotildees reais desses resultados

apenas se tornaram evidentes durante essa uacuteltima deacutecada O V Ferreira um dos

primeiros investigadores em Portugal a promover a realizaccedilatildeo de dataccedilotildees absolutas

(Soares 2008) e que cedo se apercebeu da antiguidade dos sepulcros megaliacuteticos

aleacutem do enquadramento histoacuterico-culturalista manteve paradoxalmente uma

perspectiva histoacuterico-culturalista e indigenistadifusionista para o fenoacutemeno do

megalitismo ateacute a deacutecada de 70 buscando modelos e paralelos no sul peninsular

bem como no Egipto e outras regiotildees mediterracircnicas (veja-se por exemplo a obra de

siacutentese acerca da Preacute-Histoacuteria de Portugal - Ferreira e Leitatildeo sd)

Durante a deacutecada de 70 satildeo ainda escavados por O V Ferreira e

colaboradores (Zbyszweski et al 1977 Leitatildeo et al 1984 e 1987 Cardoso et al

1996 North Boaventura e Cardoso 2005 Cardoso 2008c) um conjunto de

sepulcros megaliacuteticos alguns directamente implicados no presente trabalho como

Pedras da Granja e Verdelha dos Ruivos

As mudanccedilas poliacuteticas de 1974 tornaram possiacutevel uma variedade abordagens

que se comeccedilavam a esboccedilar anteriormente (Gonccedilalves 1971 Arnaud e Gamito

1972 Silva e Soares 1981) Assim a deacutecada de 80 regista para aleacutem da manutenccedilatildeo

de abordagens histoacuterico-culturalistas uma adesatildeo e divulgaccedilatildeo de novas correntes de

pensamento aplicadas ao estudo do Megalitismo normalmente refutando ideias

difusionistas adoptando concepccedilotildees histoacuterico-materialistas indigenistas e

processualistas (Silva e Soares 1974-77 Silva et al 1986 Gonccedilalves 1978b

Arnaud 1978 Parreira 1990 Jorge 1990a e 1990b)

Simultaneamente eacute tambeacutem neste periacuteodo que a importacircncia da antropologia

fiacutesica para as interpretaccedilotildees arqueoloacutegicas retoma as abordagens perdidas no seacuteculo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 33 de 415

XIX e menorizadas durante o seacuteculo XX (Cunha 2000 Lubell 1988 Lubell e

Jackes 1985 Jackes e Lubell 1992) E uma vez mais surgem O V Ferreira e seus

colaboradores nomeadamente Manuel Leitatildeo como percursores dessas novidades

procurando cruzar os conhecimentos antropoloacutegicos e arqueoloacutegicos ao incentivar o

estudo da colecccedilatildeo osteoloacutegica humana de Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987) pelo

jovem mestrando Scott Rolston entre 1979 e 1980 entatildeo aluno de Angel Lawerence

(Ubleaker 1990) e um dos pioneiros junto com Douglas Ubelaker (1974) das

novas metodologias de anaacutelise antropoloacutegica do Smithsonian Institute

Finalmente nas uacuteltimas deacutecadas correntes variadas de pensamento poacutes-

processualistas originaram abordagens inovadoras valorizando por vezes aspectos

menos considerados da investigaccedilatildeo preacute-histoacuterica nomeadamente o estudos de

Geacutenero

Por outro lado tambeacutem nestes uacuteltimos anos a informaccedilatildeo disponiacutevel aumentou

exponencialmente por vezes facilitando a revisatildeo integraccedilatildeo e compreensatildeo de

dados antigos estes por vezes jaacute sem informaccedilatildeo completa dos seus contextos

originais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 34 de 415

4 Sepulcros para repouso dos mortos e dos vivos

Fig 2 Sepulcros da Estremadura e indicaccedilatildeo de siacutetios habitacionais sobretudo da regiatildeo de

Lisboa

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 35 de 415

Legenda da figura 2 Sepulcros da Estremadura e indicaccedilatildeo de siacutetios habitacionais sobretudo da regiatildeo de Lisboa

1- Grutas de Pedreira do Sobral e Vale

do Freixo 2 2- Grutas do Morgado dos Morcegos

da Nossa Senhora das Lapas dos Ossos do Cadaval e Penha da Moura

3- Grutas da Buraca das Andorinhas e do Caldeiratildeo

4- Zurrague 1 5- Buraco Roto 2 6- Cova das Lapas 7- Pragais 8- Lapa do Mouraccedilatildeo 9- Buraca da Moura da Rexaldia 10- Gruta do Cadoiccedilo 11- Grutas do Cabeccedilo da Ministra Alta

Pena Velha Mosqueiros Alta Ervideira Calatras Alta Calatras Meacutedia e Casa da Geacutenia

12- Ventas do Diabo 13- Lapa da Modeira 14- Algar do Picoto 15- Nascente do Almonda e Lapa da

Bugalheira 16- Ribeira Branca 17- Lapas 18- Gruta do Rio Seco 19- Gruta do Vale do Touro 20- Algar do Joatildeo Ramos 21- Gruta do Carvalhal de Turquel 22- Casa da Moira do Cabeccedilo de

Turquel 23- Fontes Belas 24- Gruta dos Ursos 25- Gruta das Alcobertas 26- Anta das Alcobertas 27- Raposa 28- Lugar do Canto 29- Carrascos 30- Algar dos Casais da Mureta 31- Lapa da Galinha 32- Gruta dos Casais do Arrife 33- Algar do Barratildeo 34- Marmota 35- Lapa do Saldanha 36- Ribeira de Crastos 37- Outeiro da Assenta 38- Furadouro (Amoreira de Oacutebidos) 39- Malgasta 40- Casa da Moura 41- Cesareda 42- Lapa Furada 43- Outeiro de Satildeo Mamede 44- Serra da Roupa

45- Columbeira 46- Gruta das Pulgas e Lapa do Suatildeo 47- Anta da Columbeira 48- Grutas da Senhora da Luz 1 e 2 49- Abrigo Grande das Bocas 50- Buraca da Moura 51- Furninha 52- Paimogo 1 e 2 53- Feteira 54- Vila Nova de Satildeo Pedro 55- Rochaforte 2 56- Furadouro de Rochaforte 57- Charco (Foacuternea) 58- Praganccedila 59- Salveacute Rainha 60- Algar do Bom Santo 61- Furadouro 62- Fontaiacutenhas 63- Lapa da Rainha 1 e 2 64- Ermegeira 65- Quinta das Lapas 1 e 2 66- Siacutetio dos Malhatildees 67- Ota 68- Quinta do Vale das Lajes 69- Paiol 70- Bolores 71- Abrigo da Carrasca 72- Portucheira 1 e 2 73- Foacuternea 74- Penedo 75- Charrino 76- Cova da Moura 77- Zambujal 78- Serra da Vila e Barro 79- Serra das Mutelas 80- Cabeccedilo da Arruda 1 e 3 81- Cabeccedilo da Arruda 2 82- Pedra do Ouro 83- Refugidos 84- Castelo 85- Arruda 86- Pedra Furada 87- Juromelo 88- Tituaria 89- Lameiro das Antas 90- Moinho das Antas 91- Fojo dos Morcegos 92- Antas (Sintra) 93- Samarra e Pedranta 94- Faiatildeo 95- Penedo do Lexim 96- Negrais (Fonte Figueira

Barruncheiro e Pedraceiras) 97- Carcavelos 98- Crasto de Ponte Lousa e Grutas do

Tufo e das Salamandras 99- Gruta das Salemas e povoado do

Alto da Toupeira 100- Alto da Toupeira 1 e 2 101- Casaiacutenhos 102- Lapa da Figueira 103- Monte Serves

104- Casal do Penedo e Verdelha dos Ruivos

105- Moita Ladra 106- Praia das Maccedilatildes 107- Vaacuterzea 108- Pedras da Granja 109- Lameiras 110- Folha das Barradas 111- Cortegaccedila 112- Vale de Lobos 113- Cova da Raposa 114- Olelas 115- Correio-Moacuter 116- Serra da Amoreira e Antas

(Loures) 117- Trigache 1 a 4 118- Pedras Grandes e Batalhas 119- Conchadas 120- Pedreira do Campo 121- Tojal de Vila Chatilde 1 a 4 e

Espargueira 122- Povoado e sepulcro de Bauacutetas 123- Pedra dos Mouros Estria e Monte

Abraatildeo 124- Carrascal 125- Agualva 126- Satildeo Martinho 1 e 2 127- Castanhais 128- Bela Vista 129- Monge 130- Porto Covo 131- Penha Verde 132- Leceia e Moinho da Moura 133- Monte do Castelo 134- Grutas e povoado de Carnaxide 135- Alto do Dafundo 136- Ponte da Laje 137- Antas (Oeiras) 138- Alapraia 1 a 4 139- Satildeo Pedro do Estoril 1 e 2 140- Parede 141- Murtal 142- Estoril 143- Grutas de Poccedilo Velho 144- Satildeo Paulo 1 e 2 145- Casal do Pardo 1 a 4 146- Chibanes 147- Rotura e Lapa da Rotura 148- Pena 149- Capuchos 150- Sampaio 151- Castelo de Sesimbra 152- Forte do Cavalo A e B 153- Lapa do Fumo e Pinheirinhos 1 e

2 154- Lapas do Bugio e da Furada 155- Lapa da Janela 1 Lapa 4 de Maio

e Lapa da Janela 3 156- Azoacuteia 157- Montes Claros 158- Ponta da Passadeira

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 36 de 415

41 As antas da regiatildeo de Lisboa

O nuacutemero hoje conhecido de antas na regiatildeo de Lisboa eacute limitado De facto o

seu cocircmputo ronda as duas dezenas Como jaacute foi referido atraacutes tal situaccedilatildeo poderaacute

compreender-se num territoacuterio sujeito agrave pressatildeo antroacutepica que desde a preacute-histoacuteria se

documenta mas sobretudo durante os uacuteltimos seacuteculos em que a atracccedilatildeo da capital

do reino hoje repuacuteblica conduziu a uma raacutepida ocupaccedilatildeo e alteraccedilatildeo da paisagem

No entanto julgo que esta fraca representatividade tambeacutem poderaacute ser explicada pelo

contexto sociocultural que adiante tratarei

Apesar de se poder lamentar que muitos destes siacutetios tenham sido escavados

prematuramente quando as teacutecnicas de escavaccedilatildeo ainda natildeo estavam tatildeo

desenvolvidas haacute que simultaneamente felicitar as suas intervenccedilotildees pois em

muitos casos estes sepulcros teriam desaparecido sem qualquer notiacutecia Por outro

lado a sua identificaccedilatildeo granjeou-lhes algum destaque o suficiente para alguns

serem classificados como monumentos de importacircncia cultural e daiacute protegidos o

que aconteceu de facto apesar de vicissitudes vaacuterias e peculiares sofridas

411 O cluster de Belas

O cluster de Belas eacute formado pelas antas de Pedra dos Mouros Monte Abraatildeo

e Estria cada uma classificada como Monumento Nacional pelo Decreto de

1661910 publicado no Diaacuterio do Governo nordm 136 de 23 de Junho de 1910 Eacute um

dos poucos agrupamentos deste tipo de sepulcro conhecido na regiatildeo de Lisboa (Fig

25) tendo sobrevivido ateacute agora ao tempo e aos homens mas sobretudo agrave deficiente

gestatildeo territorial e patrimonial das uacuteltimas deacutecadas o que outro autor melhor retratou

(Serratildeo 1998)

No momento em escrevo estas linhas novas investidas assombram

definitivamente este conjunto e eacute com tristeza que verifico uma certa actualidade

num texto com quase vinte anos produzido na sequecircncia de uma acccedilatildeo de

salvaguarda dos trecircs sepulcros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 37 de 415

ldquoEm 1973 um projecto de urbanizaccedilatildeo para o local felizmente natildeo

concretizado propunha mesmo que as antas servissem de centro a largos relvados

destinados ao embelezamento das construccedilotildees envolventes

Se a descontextualizaccedilatildeordquo paisagiacutestica dos monumentos natildeo se consumou

integralmente realizaram-se contudo alteraccedilotildees nefastas na sua envolvente Foram

construiacutedos edifiacutecios nas imediaccedilotildees de Pedra dos Mouros desfigurando-lhe o

enquadramento e provocando a acumulaccedilatildeo de detritos na sua aacuterea Uma pedreira

hoje inactiva parou a poucos metros da Anta de Monte Abraatildeo A Estria a uacutenica

que pela sua implantaccedilatildeo topograacutefica numa dobra do terreno (hellip) eacute regularmente

aradardquo (Marques Lourenccedilo e Ferreira 1991)

As antas de Belas foram identificadas durante os primeiros levantamentos

geoloacutegicos dos arredores de Lisboa no seacuteculo XIX conduzidos por C Ribeiro e

posteriormente exploradas e publicadas por aquele (Ribeiro 1880)

Localizam-se numa plataforma de calcaacuterios cretaacutecicos cuja altitude ronda os

200-210 metros apresentando-se aquelas bancadas ligeiramente inclinadas para

sudeste cobertas do lado sul pelo manto basaacuteltico e recortadas no extremo norte por

filotildees traquiacuteticos (Ribeiro 1880 5-6 Ramalho et al 1993 SGP 1991) Aliaacutes

segundo C Ribeiro aquelas intrusotildees contribuiacuteram para a alteraccedilatildeo localizada dos

calcaacuterios o que foi aproveitado para a implantaccedilatildeo das antas de Pedra dos Mouros e

Estria (Ribeiro 1880)

Em redor deste conjunto surgiram lendas que poucos se lembraratildeo

actualmente perdurando apenas no texto impresso A implantaccedilatildeo da capela do

Senhor da Serra ali proacutexima poderaacute ainda reflectir uma intenccedilatildeo de cristianizaccedilatildeo

(Casa Vargas e Oliveira 1998) da plataforma necropolizada

4111 Pedra dos Mouros

A anta de Pedra dos Mouros (CNS-11301) teraacute sido detectada por C Ribeiro

em 1856 provavelmente durante os trabalhos de reconhecimento geoloacutegico e

hidroloacutegico nos arredores de Lisboa (Leitatildeo 2004 Carneiro 2005) mas este soacute teraacute

tido oportunidade de proceder agrave sua exploraccedilatildeo em 1876 para a qual obteve a

autorizaccedilatildeo e o apoio do proprietaacuterio o Marquecircs de Belas (Ribeiro 1880)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 38 de 415

Entretanto no acircmbito das suas descriccedilotildees dedicadas a Lisboa e seus arrabaldes

publicadas no Archivo Pittoresco I V Barbosa (1862 e 1863) descrevia a Quinta do

referido Marquecircs referindo a estrutura posteriormente conhecida como Pedra dos

Mouros ldquoNo cimo dos montes que orlam a parte plana da quinta pelo lado oeste

avultam dois enormes penedos tatildeo singulares pelo feitio como pela disposiccedilatildeo Satildeo

duas grossas lages ponteagudas collocadas a prumo uma ao peacute da outra de modo

que fazem um acircngulo unido na base ateacute um terccedilo da altura Drsquoahi para cima

separam-se os rochedos por causa da sua foacuterma pyramidal Tem a base apenas

assente no terreno tanto aacute superficie que parecem alli dispostas por matildeos humanas

Natildeo se vecirc mais penedo algum nrsquoaquellas visinhanccedilas Seraacute isto uma curiosidade

natural ou alguma construccedilatildeo anterior aacute monarchia que ficasse incompleta ou de

que restem unicamente aquelles vestigios A tradiccedilatildeo popular pretende jaacute se sabe

que seja obra dos mouros e diz que lhes servia de atalaiardquo (Barbosa 1863 p 185)

Associada a esta descriccedilatildeo mas na paacutegina 192 da publicaccedilatildeo surge uma gravura

titulada ldquoPenedos na quinta de Bellasrdquo realccedilando a sua grande dimensatildeo face ao

indiviacuteduo posando junto dela (Fig 31 2) Contudo este autor nunca considerou esta

estrutura como anta deixando esse tiacutetulo para Adrenunes a uacutenica que conhecia na

Estremadura (Barbosa 1868) posiccedilatildeo seguida aparentemente por F Pereira da

Costa (1868)

A anta de Pedra dos Mouros situa-se ainda hoje dentro da quinta jaacute referida

hoje conhecida por Senhor da Serra numa cota de 200m um pouco acima e a cerca

de 400 metros a poente da capela do Senhor Jesus da Serra existindo contacto visual

com a anta de Monte Abraatildeo a cerca de 800 m para sul mas natildeo com a anta da

Estria apenas a 400 m para su-sudoeste (Fig 25) Na vasta plataforma cretaacutecica

assenta em particular nas bancadas do Albiano-Cenomaniano Meacutedio e Inferior com

calcaacuterios e margas do ldquoBelasianordquo (Ramalho et al 1993 SGP 1991)

Agrave data da intervenccedilatildeo arqueoloacutegica o local era ainda visitado no acircmbito da

romaria das populaccedilotildees locais tradiccedilatildeo descrita por I V Barbosa que considerava

aquela ldquouma das festividades dos arrabaldes de Lisboa que maior concurso atrahem

da capital e suas visinhanccedilasrdquo (Barbosa 1862 p 291) Esta popularidade surge

referida por V Correia (1917) e eacute recordada por outros autores (Casa Vargas e

Oliveira 1998) A romaria relacionada com o Senhor Jesus da Serra realizava-se no

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 39 de 415

uacuteltimo Domingo de Agosto com ldquofeira e festa de arrayalrdquo (Barbosa 1862 p 291)

tendo terminado em 1942 quando o proprietaacuterio proibiu o acesso puacuteblico agrave capela

(Casa Vargas e Oliveira 1998 Ferreira 1963)

Acerca da anta V Correia (1917 p 185) afirmava ldquoConhece-a bem o

povinho lisboeta que vae laacute anualmente deixar-se escorregar pela sua pedra

inclinadardquo O V Ferreira (1963) especificava ainda aquela tradiccedilatildeo ldquoas moccedilas

casadas de fresco subiam ateacute ao topo da pedra tiravam as cuecas quando as

tinham sentavam-se e escorregavam ateacute agrave base na crenccedila que apoacutes este acto

podiam conceber A superfiacutecie da pedra estaacute toda gasta e polida de geraccedilotildees

sucessivas de posterioresrdquo Se dessa praacutetica natildeo haacute imagem ficou pelo menos um

registo fotograacutefico no espoacutelio da actual Quinta do Senhor da Serra de romeiros do

sexo masculino galgando e posando sobre a laje talvez em 1910 (Casa Vargas e

Oliveira 1998)

Pelo referido acima o sepulcro eacute tambeacutem conhecido por anta do Senhor da

Serra (Olho Vivo 1998 p 15) podendo a designaccedilatildeo anta da Idanha (IPPC 1986)

relacionar-se com a povoaccedilatildeo homoacutenima situada a cerca de 500 metros a oeste do

sepulcro

Entretanto V Correia (1917) dava conta da existecircncia de gravuras na face

externa do esteio maior 137 m acima do solo Estas representariam uma possiacutevel

cruz e uma figura antropomorfa que aquele autor acreditava serem preacute-histoacutericas a

primeira representando uma figura feminina e a segunda uma masculina (Fig 321)

Um dos motivos para essa antiguidade residiria na paacutetina dos sulcos da gravaccedilatildeo

questionando-se o autor se aquelas teriam sido efectuadas antes do esteio ter sido

coberto pela mamoa ou se esta nunca teria existido Durante a minha visita em 2004

verifiquei que aquelas imagens se encontram muito sumidas e sobrepostas com

outros grafitos e pinturas mais recentes Contudo creio que tais produccedilotildees poderatildeo

ter resultado da associaccedilatildeo da anta ao local de romaria Gravaccedilotildees semelhantes

parecem ter sido avistadas tambeacutem num afloramento junto a uma nascente da

Falagueira Amadora (Oliveira 1980)

C Ribeiro (1880) descrevia Pedra dos Mouros como ldquoum monumento

incompletordquo apenas com trecircs ortoacutestatos remanescentes in situ (Fig 31-32) O esteio

A encontrava-se inclinado para norte apresentando 5 metros de comprimento acima

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 40 de 415

do solo por 37 m de largura e 027 m de espessura meacutedia Este apoiava-se

parcialmente no esteio B agrave data ainda inteiro com 45 m de comprimento por 2 m

de largura e 025 m de espessura meacutedia Por sua vez o bloco B estaria encostado ao

esteio C com cerca de 4 metros de largura mas aflorando apenas a 1 metro acima do

solo pois encontrava-se partido natildeo se avistando qualquer fragmento em redor

Durante a escavaccedilatildeo encontrou ainda quatro lajes menores que considerou poderem

corresponder a fragmentos de outras maiores ou eventualmente ldquoda mesa ou chapeacuteo

que coroava o monumento se eacute que o teverdquo (Ribeiro 1880 p 6) Na sua planta

representa dois desses blocos do lado nascente

Os trecircs esteios mas provavelmente os restantes blocos tambeacutem eram de

ldquocalcareo argilloso cinzento mui durordquo em tudo semelhantes ao substrato imediato

(Ribeiro 1880 p 6) caracterizaccedilatildeo ainda hoje possiacutevel de verificar

No espoacutelio do casal Leisner natildeo foi possiacutevel localizar uma planta de pormenor

que tivesse registado as pequenas lajes mas na planta publicada (Leisner 1965 taf

53 1) pelo menos duas delas estatildeo indicadas em tudo semelhantes agraves apontadas por

C Ribeiro No conjunto de imagens desta anta eacute possiacutevel verificar que essas lajetas

do lado nascente se encontravam quase na vertical provavelmente funcionando

como cunhas do interstiacutecio Outro aspecto interessante eacute que estas fotos teratildeo sido

obtidas durante a visita agrave anta de Monte Abraatildeo em 13 de Abril de 1933 (data do

desenho entatildeo realizado) quando o esteio B de Pedra dos Mouros ainda se mantinha

inteiro (Fig 32 ALeisner Leis31 Leisner 1965 taf 143 3) O referido esteio teraacute

quebrado entre aquela data e 5 de Dezembro de 1943 quando outro apontamento do

casal alematildeo registou aquela nova situaccedilatildeo (ALeisner Leis64)

Em 2004 foi possiacutevel verificar que os elementos descritos ainda ali se

encontravam nomeadamente a laje B quebrada em trecircs (a base ainda in situ um

segmento maior e uma lacircmina menor que jaacute se notava a destacar nos fotos antigas

antes da sua queda) e as duas lajetas do lado nascente agora na horizontal (tombadas

pela cedecircncia do esteio A)

Era ainda observaacutevel a acccedilatildeo de salvaguarda desenvolvida pelo IPPC em 1986

pela mancha de brita ali depositada (Marques e Ferreira 1987 Marques Lourenccedilo e

Ferreira 1991) No entanto por causa da vegetaccedilatildeo rasteira natildeo foi possiacutevel

verificar a carapaccedila peacutetrea apontada em redor do esteio maior (Marques e Ferreira

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 41 de 415

1987) Mas a inclinaccedilatildeo do esteio A eacute bastante evidente e preocupante pois este natildeo

resistiraacute muitos mais anos agrave gravidade e ao aumento da trepidaccedilatildeo causada pelo

traacutefego rodoviaacuterio na envolvente daquela aacuterea E isso para aleacutem da destruiccedilatildeo seraacute

gravoso para futuros trabalhos que intentem esclarecer neste sepulcro algumas

questotildees pendentes

C Ribeiro pensava que a cabeceira do sepulcro seria do lado sul constituiacuteda

pelos esteios A e B (Ribeiro 1880 p 6) Se tal interpretaccedilatildeo se pode atribuir aos

poucos dados entatildeo disponiacuteveis e sistematizados resultam mais surpreendentes as

leituras realizadas posteriormente

Assim V Leisner (1965 p 70 e taf 53 1) considera o esteio A (na sua planta

o esteio C) a laje de cobertura apresentando a planta do monumento desorientada

De facto a orientaccedilatildeo do esteio C (em Leisner esteio A) alinha-se entre norte-sul

pelo que a seta do norte e a orientaccedilatildeo a noroeste teratildeo resultado de algum lapso

Entretanto O V Ferreira (1959 p 216) apontava a possibilidade do corredor

se localizar a nordeste ainda que realccedilando a necessidade de uma nova escavaccedilatildeo

para o esclarecer De facto este chegou a ter com V Leisner (1961) uma acccedilatildeo de

escavaccedilatildeo planeada para aquela zona contudo aparentemente natildeo concretizada por

doenccedila da arqueoacuteloga durante o periacuteodo implicado

Face agravequelas propostas ainda que me encontre numa posiccedilatildeo privilegiada pela

acumulaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo de dados acerca deste tipo de sepulcro megaliacutetico julgo

que o esteio C corresponderaacute agrave cabeceira do sepulcro Esta hipoacutetese baseia-se no

imbricamento do esteio B e A em sequecircncia recorrente noutros sepulcros mas

tambeacutem pela largueza do esteio C Assim eacute provaacutevel que esta anta apresentasse uma

grande cacircmara poligonal com cerca de 4 metros de largura por 4 metros de

comprimento aberta a nascente (Fig 31) sem que seja possiacutevel garantir a presenccedila

de um corredor por ora A provaacutevel orientaccedilatildeo do seu acesso a nascente torna mais

inteligiacutevel a estrutura restando todavia a necessidade de verificar esta proposta com

a escavaccedilatildeo dos quadrantes nordeste-sudeste daquele sepulcro aacutereas que a

intervenccedilatildeo original natildeo abrangeu a crer na notiacutecia de C Ribeiro (1880 p 4-6)

Algo que eacute digno de nota mas sem possibilidade maior desenvolvimento de

momento relaciona-se com o facto do esteio de cabeceira (C) e o segundo esteio

lateral (A) apresentarem as superfiacutecies interiores com icnofoacutesseis provavelmente de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 42 de 415

thalassinoacuteides Apenas o esteio B natildeo apresenta essa caracteriacutestica Esta aparente

organizaccedilatildeo surge de forma mais evidente nas outras duas antas deste cluster como

se verificaraacute noutros capiacutetulos

Segundo o geoacutelogo oitocentista a exploraccedilatildeo da anta realizou-se no espaccedilo

compreendido entre os trecircs esteios detectados com um formato trapezoidal ateacute uma

profundidade 080 m Nessa aacuterea foi possiacutevel observar que a base dos esteios

assentava no filatildeo-camada de ldquoporphyro trachyticordquo que havia reduzido a dureza

dos estratos calcaacuterios (Ribeiro 1880 p 6)

Poreacutem notava-se que o conteuacutedo do sepulcro fora jaacute revolvido sendo os

achados ldquopouco fructuososrdquo Essa impressatildeo confirmou-se com a presenccedila no fundo

da escavaccedilatildeo de uma moeda portuguesa de cinco reis de cobre datada de 1741

(paradeiro desconhecido) mas sobretudo pelas informaccedilotildees de habitantes locais

que referiram a exploraccedilatildeo daquele doacutelmen cerca de doze anos antes (1864)

recolhendo-se ali bastantes objectos Infelizmente C Ribeiro natildeo conseguiu obter

dos seus informadores maior detalhe descritivo da acccedilatildeo Assim concluiacutea que

aqueles visitantes buscavam tesouros tendo atingido todos os cantos da aacuterea

escavada Curiosamente aleacutem desse episoacutedio ocorrer por volta da data da publicaccedilatildeo

de I V Barbosa (1862 e 1863) podendo aquela notiacutecia ter suscitado alguma

cavaccedilatildeo no proacuteprio escrito referia-se que ldquohaacute bastantes annos achou-se casualmente

nrsquoesta quinta fazendo-se escavaccedilotildees uma curiosa antigualha (hellip) Era a sepultura

de Viriato capitatildeo da Lusitania segundo inscripccedilatildeo gravada em uma urna que ali

se encontrourdquo (Barbosa 1862 p 291)

Todavia contrariamente agrave opiniatildeo de C Ribeiro (1880) e de autores

posteriores (Ferreira 1959) os elementos recolhidos apesar de escassos satildeo

significativos e permitem uma compreensatildeo global do sepulcro

Os liacuteticos lascados em siacutelex (Fig 33) apresentam uma grande lacircmina

plenamente retocada (MG1722) diversas lamelas e lascas Destas uacuteltimas algumas

foram retocadas para raspadores (MG1726 e 8) e furadores (MG1724 e 21) Haacute

ainda em quartzo branco uma peccedila do uacuteltimo tipo (MG17210)

O uacutenico utensiacutelio de pedra polida resume-se a um machado com secccedilatildeo

poligonal (MG1721) mas obtido sobre rocha calcaacuteria mateacuteria pouco adequada para

um uso efectivo (Fig 33) Assim enquadrar-se-ia melhor no grupo de artefactos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 43 de 415

votivos em calcaacuterio que nesta anta contava ainda com um fragmento de uma luacutenula

com perfuraccedilotildees e incisotildees (MG17213) e um vaso globular com um sulco abaixo do

bordo hoje de difiacutecil observaccedilatildeo (MG17217)

No grupo de pedra afeiccediloada podem ser incluiacutedas trecircs peccedilas descritas por C

Ribeiro 1880 p 8 e est II 11 12 e 13) mas natildeo localizadas no Museu Geoloacutegico ndash

de facto tambeacutem o casal Leisner natildeo as regista (ALeisner Leis64) Segundo o seu

achador eram ldquoduas espheras de calcareo uma com seis outra com quatro e meio

centiacutemetros de diacircmetro tendo a maior drsquoellas uma pequena cavidade (hellip) aberta

intencionalmente (hellip) mas natildeo penetrou aleacutem de alguns millimetrosrdquo e ldquoum martello

formado de rocha feldspathica de cocircr trigueira avermelhada (hellip) deixando ver na

sua superfiacutecie claros vestiacutegios de trabalho de trituraccedilatildeo em que foi principalmente

empregadordquo (Ribeiro 1880 p 8) Portanto duas esferas talvez pedras para funda

segundo o autor e um percutor

Entre os fragmentos ceracircmicos encontrados todos ldquosem vestiacutegios de ornatosrdquo o

geoacutelogo apenas destacava o vaso globular quase inteiro (MG17218) tambeacutem o

uacutenico actualmente na colecccedilatildeo de Pedra dos Mouros (Fig 33)

O material osteoloacutegico segundo o escavador resumiu-se a ldquoalguns fragmentos

de tibias de costellas peccedilas de craneos etc todos muito deterioradosrdquo (Ribeiro

1880 p 8) destacando alguns fragmentos de mandiacutebula sobretudo de adultos

baseando-se para tal no desgaste dos dentes nomeadamente dos caninos e molares

que apresentavam a ldquocorocirca gasta horisontalmenterdquo (Ribeiro 1880 p 8) Esta fraca

preservaccedilatildeo ter-se-aacute devido agraves mexidas anteriores mas o proacuteprio substrato rochoso

filoniano com uma componente mais aacutecida tambeacutem poderaacute ter agravado a sua

conservaccedilatildeo o que foi possiacutevel verificar durante o seu estudo Aleacutem dos restos

humanos tambeacutem foram recolhidos alguns elementos fauniacutesticos provavelmente de

ldquoruminantesrdquo (Ribeiro 1880 p 8)

Aleacutem dos materiais referidos V Leisner apresentava ainda um seixo ovalado e

achatado provavelmente de rocha basaacuteltica com um lascamento acidental

(MG17219 Leisner 1965 taf 53 2) A marcaccedilatildeo jaacute em 1944 referia-se a ldquoPedra

dos Mouros nordm 25rdquo (ALeisner Leis64) mas esta peccedila natildeo corresponde a nenhuma

das referidas por C Ribeiro (1880) ainda que se possa admitir a sua pertenccedila ao

sepulcro Outro objecto apresentado interpretado como cabo de instrumento com

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 44 de 415

uma coloraccedilatildeo inusitada bastante esbranquiccedilada (MG17211 Leisner 1965 taf 53

3) corresponde a uma diaacutefise de feacutemur humano ainda que os restantes elementos

oacutesseos natildeo apresentem aquela qualidade de preservaccedilatildeo

Actualmente consta ainda da colecccedilatildeo deste siacutetio um pendente em pedra verde

(MG17216) natildeo referido por C Ribeiro (1880) ou V Leisner (1965) pelo que eacute

considerado sob reserva

Nos anos 60 Luiacutes Almeida um entusiasta local pelas coisas do patrimoacutenio da

entatildeo freguesia da Amadora recolheu na aacuterea da cacircmara alguns fragmentos de

ceracircmica dentes e um pente em osso (Oliveira 1980) Tendo a oportunidade de

observar apenas a referida peccedila de osso ainda no Gabinete de Arqueologia da

Cacircmara Municipal da Amadora esta natildeo me pareceu atribuiacutevel a eacutepocas preacute-

histoacutericas podendo ter resultado da visita de algum romeiro romeira que visitou o

siacutetio e a perdeu

Perante o exposto e mesmo com um conjunto limitado por espoliaccedilotildees

anteriores julgo que eacute possiacutevel vislumbrar uma utilizaccedilatildeo inicial desta anta nos

uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane provavelmente intensificada na primeira metade

deste uacuteltimo o que parece denotado pela presenccedila de vaacuterios elementos votivos em

calcaacuterio A dataccedilatildeo absoluta Beta-228582 obtida sobre uma mandiacutebula humana de

adulto jovem entre 2910-2630 cal BCE parece confirmar esta impressatildeo (Anexo 3

Quadro 22)

Eacute de realccedilar a aparente ausecircncia de geomeacutetricos e de utensiacutelios em pedra polida

e no espectro cronoloacutegico oposto tambeacutem de ceracircmicas campaniformes

A actividade de romaria atraacutes mencionada talvez se relacione com a segunda

data obtida (Beta-228581) sobre uma falange de Bos (MG17240) recolhida com

outras faunas por C Ribeiro (1880) situada entre cal CE 1480-1960 (com 854 de

probabilidade restringe-se a cal CE 1480-1680)

4112 A ldquoanta de Belasrdquo

No Museu Nacional de Arqueologia existe um conjunto de materiais com a

designaccedilatildeo de ldquoAnta de Belasrdquo que na opiniatildeo de V Leisner (1965 p 77) poderia

corresponder a espoacutelio exumado na anta de Pedra dos Mouros (Fig 33) eacute constituiacutedo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 45 de 415

por duas lacircminas em siacutelex MNA5095) uma delas ainda inteira e bem retocada

(MNA5094) uma grande ponta com retoque bifacial tambeacutem em siacutelex (MNA5096)

trecircs artefactos votivos concretamente dois cilindros de calcaacuterio (MNA5089 e

5100B) e um iacutedolo-placa em xisto (MNA5092) um aparente machado em basalto

(MNA5088) cuja mateacuteria-prima natildeo teria utilidade efectiva duas contas discoacuteides

em pedra verde (MNA5097-5098) um vaso ciliacutendrico decorado em osso

(MNA5093) e um fragmento de outro liso em ceracircmica (MNA9846785) e ainda

outros troccedilos amorfos da mesma mateacuteria Poreacutem a taccedila apresentada como ldquoAnta de

Belasrdquo (MNA5106 Leisner 1965 p 11) pertence segundo a ficha de inventaacuterio e

as dimensotildees ali referidas a espoacutelio recolhido em Santareacutem (Vale de Figueira

Alpompeacute) Tambeacutem a taccedila MNA9846781 e o fragmento de iacutedolo ciliacutendrico

MNA5100C pertencem agrave anta da Arruda (Capiacutetulo 417)

Finalmente A Simotildees (1878) refere e apresenta alguns artefactos da ldquoAnta de

Bellasrdquo correspondendo a algumas das peccedilas listadas acima nomeadamente uma

das contas de colar a de ldquocalcareordquo (MNA5097 Simotildees 1878 p 55-56 fig 36) o

iacutedolo-placa (MNA5092 Simotildees 1878 p 52) e o vaso ciliacutendrico decorado em osso

(MNA5093 Simotildees 1878 p 51 e fig 30) No entanto menciona outras peccedilas de

que se desconhece o seu paradeiro hoje nomeadamente duas contas de colar em

xisto (Simotildees 1878 p 55-56 e fig 37) e pelo menos uma ponta de seta com base

cocircncava (Simotildees 1878 p 41 e fig 13)

A hipoacutetese dos artefactos da ldquoAnta de Belasrdquo provirem da anta de Pedra dos

Mouros eacute plausiacutevel se forem ponderadas algumas informaccedilotildees

V Leisner (1965 p 77) refere papeacuteis de J L Vasconcelos atribuindo aqueles

materiais a ldquoexploraccedilatildeo e roacutetulos de Pereira da Costardquo De facto nas fichas de

inventaacuterio do MNA poacutes-J L Vasconcelos (nordms 5008 a 5100C e alguns coacutedigos de

1984) bem como naquelas produzidas anteriormente por este arqueoacutelogo (receacutem-

descobertas nos fundos do Museu com os nuacutemeros de inventaacuterio natildeo sequenciais

entre 3865 e 3904) constam materiais atribuiacutedos agrave ldquoAnta de Belasrdquo (note-se no

singular) com roacutetulos de Pereira da Costa provenientes da Escola Politeacutecnica

(Lisboa) e que A Simotildees (1878) tambeacutem atribui ao Museu daquela instituiccedilatildeo Ora

sabe-se que parte dos materiais recolhidos pela primeira Comissatildeo Geoloacutegica

inclusive colecccedilotildees preacute-histoacutericas entre as quais poderiam encontrar-se algumas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 46 de 415

peccedilas desta anta foi sequestrada em 1868 por aquele paleontoacutelogo no Museu da

Escola Politeacutecnica na sequecircncia de disputa acesa com C Ribeiro e Nery Delgado

(Leitatildeo 2004 Carneiro 2005) Por outro lado depois daquela data teraacute ainda

adquirido outras peccedilas conforme atribuiccedilatildeo legal (Leitatildeo 2004)

Algo que importa recordar eacute que as marcaccedilotildees antigas nas peccedilas e as proacuteprias

fichas natildeo correspondem a uma numeraccedilatildeo sequencial talvez correspondendo a

aquisiccedilatildeo de peccedilas em momentos diferentes o que poderia tambeacutem explicar porque

A Simotildees (1878) natildeo menciona outras peccedilas de Belas especificamente os artefactos

em calcaacuterio

Aleacutem dos objectos jaacute mencionados J L Vasconcelos (1895 p 21) daacute conta de

outros dois na ldquoCollecccedilatildeo Ethnographica do Sr M Azuagardquo ldquo(hellip) provenientes dos

megalithos de Bellasrdquo (neste caso no plural) um fragmento de lacircmina e um pedaccedilo

de beacutetilo afuselado com incisotildees representados na publicaccedilatildeo em moldura da eacutepoca

Considerando que a anta de Pedra dos Mouros tambeacutem conhecida por Senhor

da Serra se situava dentro da quinta do Marquecircs de Belas junto agrave aldeia homoacutenima

eacute plausiacutevel que aquela tambeacutem fosse reconhecida como ldquoAnta de Belasrdquo sobretudo

por visitantes exteriores agrave povoaccedilatildeo O tiacutetulo atribuiacutedo a esta anta ldquoPenedos na

quinta de Bellasrdquo (Barbosa 1863 p 192) tambeacutem poderaacute reforccedilar essa impressatildeo

Por outro lado as exploraccedilotildees anteriores naquela anta referidas por C Ribeiro

teratildeo sido acccedilotildees de curiosos e caccediladores de tesouros cujas peccedilas acabavam

vendidas a interessados o que poderia ter acontecido com aquelas da colecccedilatildeo de F

Pereira da Costa investigador interessado nos objectos mas avesso ao trabalho de

campo (Leitatildeo 2004) Aliaacutes pelo menos ateacute agrave preparaccedilatildeo da sua obra acerca das

antas de Portugal (Costa 1868) este parecia desconhecer em concreto os sepulcros

da Estremadura listando apenas o siacutetio de Adrenunes como possiacutevel anta na serra de

Sintra a partir da informaccedilatildeo de I V Barbosa lamentando natildeo ter encontrado a

bibliografia referida por este bem como a sua posiccedilatildeo natildeo lhe permitira ainda visitar

aquele e outros monumentos de que tinha notiacutecia mas que daria conta quando o

fizesse (Costa 1868 p 94-95) Isto depois da intervenccedilatildeo infrutiacutefera de J P Silva

naquele siacutetio (cit in Martins 2003 p 237) Claro estaacute muito uacutetil seria se fosse

encontrada documentaccedilatildeo esclarecendo cabalmente a intervenccedilatildeo do paleontoacutelogo na

recepccedilatildeo dos materiais da ldquoAnta de Belasrdquo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 47 de 415

Finalmente poderia colocar-se a hipoacutetese de as peccedilas resultarem das vaacuterias

antas de Belas nomeadamente Estria e Monte Abraatildeo esta uacuteltima tambeacutem situada

dentro da referida quinta do Marquecircs de Belas No entanto o reduzido grau de

revolvimento do espoacutelio recolhido na uacuteltima causa a impressatildeo de que tal natildeo teraacute

ali ocorrido com intensidade Por outro lado a anta da Estria apesar de segundo C

Ribeiro 1880 p 64) apresentar-se espoliada situava-se fora da quinta na

ldquopropriedade do Sr Abreu da Casa da Estriardquo (segundo etiqueta colada em osso

humano ndash MG71940) sendo reconhecida por tal topoacutenimo

E no entanto independentemente da comprovaccedilatildeo de uma origem especiacutefica

abordada atraacutes a atribuiccedilatildeo crono-cultural de tais objectos (beacutetilos em calcaacuterio

iacutedolo-placa vaso ciliacutendrico em osso etc) seria perfeitamente plausiacutevel com os jaacute

mencionados acima encontrados na anta de Pedra dos Mouros mas tambeacutem com

aqueles das restantes antas de Belas como se veraacute seguidamente

4113 Monte Abraatildeo

A anta de Monte Abraatildeo (CNS-655) da Pedra do Monte Abraatildeo (Ribeiro

1880) ou do Alto de Monte Abraatildeo (Simotildees 1878 etiqueta da peccedila MG178242)

teraacute sido provavelmente detectada por C Ribeiro (1880) tal como a antecedente em

meados do seacuteculo XIX mas a sua escavaccedilatildeo soacute teraacute ocorrido anos depois pelo

menos em diversos momentos a crer nas etiquetas coladas em alguns materiais em

Fevereiro de 1875 (121875 ndash MG178242 821875 - MG1782 e 56) Maio e

Junho de 1877 (2051877 ndash MG178240 e 243 3161877 ndash 178215) e Setembro de

1878 (791878 - MG178186 e 187) este uacuteltimo ano talvez dedicado agrave crivagem de

terras da escavaccedilatildeo pois os dentes soltos satildeo as peccedilas que apresentam esta data com

a menccedilatildeo a ldquoterra joeiradardquo (MG178186 187 194 etc)

A designaccedilatildeo da anta parece denunciar uma tentativa de explicaccedilatildeo daquela

estrutura ou do conjunto de trecircs estruturas pelas populaccedilotildees locais sobretudo por se

localizar no cimo da plataforma e simultaneamente no sopeacute da chamineacute basaacuteltica

hoje denominada com o mesmo topoacutenimo (Fig 34)

Situado na cota 213 m o doacutelmen de Monte Abraatildeo apresenta a implantaccedilatildeo

mais elevada no conjunto dos trecircs sepulcros Dali avista e eacute avistado pela anta de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 48 de 415

Pedra dos Mouros a cerca de 800 m para norte mas com a anta de Estria apesar

desta distar apenas 300m para nor-noroeste natildeo tem dela qualquer contacto visual

Segundo C Ribeiro (1880 p 9) Monte Abraatildeo era o mais bem conservado de

todos ldquoos megalithos (hellip) nas visinhanccedilas de Bellasrdquo com uma orientaccedilatildeo oeste-

este apresentando um estilo diferente de Pedra dos Mouros que apontava de acordo

com o geoacutelogo para norte (Fig 34) O sepulcro foi implantado na bancada de

calcaacuterios duros do Cenomaniano superior (Ribeiro 1880 p 5-6 Ramalho et al

1993 SGP 1991) encontrando-se parcialmente coberta por uma capa de argila

ldquovermelho-sanguiacuteneardquo nalguns pontos atingindo a espessura de 060 m resultante da

degradaccedilatildeo do manto basaacuteltico situado a poucos metros para sul Para a sua

implantaccedilatildeo o recinto foi escavado bem como os alveacuteolos dos ortoacutestatos admitindo

o autor o uso do fogo para a quebra e desagregaccedilatildeo de algumas partes do substrato

No entanto as lajes utilizadas na construccedilatildeo do edifiacutecio foram sacadas a algumas

centenas de metros para norte na bancada subjacente que permitiu a obtenccedilatildeo de

blocos regulares ainda que bastante rugosos

O sepulcro apresentava uma cacircmara constituiacuteda pelo menos por 6 ortoacutestatos

(A-F) cujo maior deles era o esteio de cabeceira sobre o qual assentava ainda

parcialmente a laje de cobertura (Fig 34 e 36) O esteio principal surgia ainda

reforccedilado pela face interna por uma laje em cutelo e um anel peacutetreo pelo exterior

que se estenderia aos restantes ortoacutestatos C Ribeiro apontava ainda trecircs esteios (H I

e J) alinhados no lado sul do corredor aparentemente ainda in situ (Ribeiro 1880 p

9-11 Leisner 1965 taf 54) descrevendo no lado norte aleacutem de uma pequena laje

em cutelo K (G em Ribeiro 1880) um alinhamento de pedras orientado a este por

vezes na vertical por uma extensatildeo de 3 a 4 metros provavelmente calccedilos dos

esteios entretanto desaparecidos A restante extensatildeo do corredor foi presumida pelos

achados e por uma concentraccedilatildeo de seixos fluviais em quartzito basalto e calcaacuterio

sob a qual ainda se encontraram restos oacutesseos No entanto estes seixos tambeacutem

parecem ter surgido por toda a aacuterea da anta sobretudo na camada superficial talvez

um vestiacutegio do manto tumular Aliaacutes tal realidade jaacute natildeo deveria evidenciar-se pois

natildeo foi digna de nota por C Ribeiro

A planta realizada pelo casal Leisner durante a sua visita em 13 de Abril de

1933 refinada em 1944 e publicada posteriormente (Fig 36 ALeisner Leis64

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 49 de 415

Leisner 1965 taf 54) registava apenas os elementos da cacircmara e possivelmente o

bloco H do corredor ainda que na planta de 1933 surgissem desenhadas trecircs pedras

alinhadas no lado norte do corredor pressupondo-se que os restantes teriam

desaparecido ou encontravam-se cobertos No conjunto de fotos obtidas pelos

arqueoacutelogos (provavelmente de 1933) mostra-se a aacuterea em redor da anta com seara

plantada ateacute junto dos esteios da cacircmara passando a oeste proacuteximo do esteio de

cabeceira um caminho orientado norte-sul (Fig 35 ALeisner CF16996-16998)

Contudo ao observar todas as imagens disponiacuteveis mas sobretudo duas (ALeisner

CF4512 e CF16996) verifica-se que o esteio I ainda subsistia natildeo se

compreendendo porque tal natildeo foi registado No caso do esteio D este encontrava-

se tal como ainda hoje quase na horizontal talvez pressionado para fora pelo

resvalar do chapeacuteu em dado momento apoacutes a escavaccedilatildeo de C Ribeiro

Actualmente verifica-se a sobrevivecircncia dos mesmos elementos peacutetreos mais

deteriorados e partidos jaacute natildeo se avistando o bloco H (o esteio B estaacute quebrado e

caiacutedo para dentro da cacircmara e o chapeacuteu (G) apresenta uma fractura longitudinal que

em breve claudicaraacute) No entanto ainda eacute possiacutevel observar a depressatildeo do corredor

e a cacircmara parcialmente preenchidas com gravilha ali colocada durante os trabalhos

de salvaguarda realizados em 1986 (Marques e Ferreira 1987 Marques Lourenccedilo e

Ferreira 1991) Aliaacutes o pilar ali entatildeo construiacutedo sob a laje de cobertura tem

atrasado a sua previsiacutevel quebra total

Cruzando a informaccedilatildeo disponibilizada por C Ribeiro com a do casal Leisner

eacute possiacutevel ter uma ideia das dimensotildees gerais do edifiacutecio a cacircmara teria cerca de

280 por 4 metros (36 m para C Ribeiro) o corredor prolongar-se-ia por 8 metros

com uma largura meacutedia de 2 m segundo Ribeiro (1880) ainda que os elementos

peacutetreos tivessem sido detectados apenas nos primeiros 4 metros o chapeacuteu

apresentava cerca de 44 m por 32 m O esteio de cabeceira teria cerca de 3 metros

de altura a partir do solo antes da escavaccedilatildeo (4 metros no total) por 210 m de

largura surgindo os restantes por se encontrarem partidos com alturas mais

reduzidas mas com larguras aproximadas B e F ndash 1 m C ndash 130 m E ndash 14 m D ndash

15 m A excepccedilatildeo eacute o esteio D que aparenta estar inteiro mas tombado com um

comprimento rondando os 350 m muito aproximado do esteio de cabeceira (Fig

34)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 50 de 415

Como jaacute ocorrera com a leitura de Pedra dos Mouros C Ribeiro natildeo teraacute

compreendido totalmente a estrutura de Monte Abraatildeo Assim interpretava a laje G

natildeo como a tampa da anta mas como apenas um dos esteios propositadamente

inclinado e sustido pelo esteio D considerando que aquele sepulcro natildeo fora

desenhado para receber uma laje de cobertura distinguindo-se por isso dos outros

sepulcros da regiatildeo (Ribeiro 1880 p 12) Dado o percurso cientiacutefico de excelecircncia

deste geoacutelogo tais considerandos dever-se-iam sobretudo agrave precocidade das suas

investigaccedilotildees naquele tipo de realidade sepulcral

Face ao exposto eacute possiacutevel verificar que esta anta apresentava uma cacircmara

poligonal de que restavamrestam apenas 6 esteios mas teria provavelmente um

seacutetimo do lado norte (Fig 34) Para nascente da cacircmara prolongava-se um corredor

ortostaacutetico pelo menos com 4 metros de comprimento seguido por uma parte

vestibular que se iniciava num aacutetrio com a concentraccedilatildeo de seixos Contudo a

largura de 2 metros daquela passagem deve ser encarada com reserva pois foi

calculada pela mancha de achados e natildeo entre esteios eou eventuais alveacuteolos destes

ndash parece mais provaacutevel a distacircncia entre o esteio H-I e a pequena laje K balizando

um corredor com cerca de 120 m de largura (o que soacute uma re-escavaccedilatildeo poderia

talvez esclarecer) A evidecircncia de um provaacutevel tumulus natildeo foi comprovada pois

natildeo se realizou qualquer sondagem com esse fim sendo apenas possiacutevel assegurar a

existecircncia de um anel peacutetreo no exterior e encostado aos esteios

No acircmbito da cacircmara apesar de incompleta foi possiacutevel verificar que o esteio

de cabeceira (A) com superfiacutecies rugosas e alveolares foi ladeado por duas lajes (B e

F) em que as suas faces com icnofoacutesseis provavelmente de thalassinoides foram

viradas para dentro Por sua vez nos esteios seguintes (C e E) as faces com estes

foacutesseis ficaram viradas para fora (Fig 35) Do provaacutevel par de esteios seguintes

apenas eacute possiacutevel verificar que as faces do esteio D do lado sul natildeo apresentam este

tipo de foacutessil ainda que a observaccedilatildeo da superfiacutecie exterior seja condicionada

porque a laje se encontra caiacuteda sobre o solo ndash de qualquer forma esta laje assemelha-

se aos esteios de cabeceira e de cobertura Finalmente desconhece-se o paradeiro do

provaacutevel esteio do lado norte Apesar desta lacuna julgo que o efeito destes foacutesseis

entrelaccedilados poderaacute ter provocado alguma reacccedilatildeo esteacutetica ou mesmo maacutegico-

religiosa tendo os construtores da anta optado por uma disposiccedilatildeo simeacutetrica das

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 51 de 415

faces dos ortoacutestatos Soluccedilatildeo semelhante parece ter ocorrido tambeacutem na anta da

Estria que analisarei adiante

Apesar de reconhecer que o sepulcro pudesse ter sido devassado e remexido

anteriormente C Ribeiro tambeacutem anotava que ldquoos exploradores deixaram ali os

objectos de arte que encontraram por natildeo lhes comprehenderem o valor ou por natildeo

terem encontrado entre elles coisa alguma que lhes dispertasse a cubiccedilardquo (Ribeiro

1880 p 13) de alguma forma contradizendo os motivos para o reduzido espoacutelio da

anta de Pedra dos Mouros

A escavaccedilatildeo foi iniciada pela aacuterea da cacircmara avanccedilando depois pela galeria

ldquoE agrave medida que a terra ia sendo arregaccedilada tomava-se nota da posiccedilatildeo em que

iam sendo encontrados os objectos mais importantes e depois era catada com

cuidado Em seguida estas mesmas terras depois de bem seccas foram joeiradas

conseguindo-se assim um grande augmento na colheita dos objectos havidos nrsquoeste

dolmenrdquo (Ribeiro 1880 p 13) Contudo tal tarefa de crivagem de terras soacute teraacute sido

realizada ou pelo menos concluiacuteda quase trecircs anos apoacutes o iniacutecio da intervenccedilatildeo

como se mencionou supra

Infelizmente do cuidado no registo da proveniecircncia dos achados apenas eacute

possiacutevel obter algumas informaccedilotildees na publicaccedilatildeo pois desconhece-se o paradeiro

do caderno de campo o qual poderia conter mais detalhes Mas da listagem do

espoacutelio recolhido que foi reavaliado no Museu Geoloacutegico eacute possiacutevel notar a sua

abundacircncia

Uma primeira verificaccedilatildeo de C Ribeiro (1880 p 12) foi a localizaccedilatildeo da

maioria das ossadas do lado sul o que parece somente coincidir com o lado do

sepulcro melhor preservado A excepccedilatildeo ocorreu apenas junto ao esteio K elemento

que reforccedila a hipoacutetese de um maior estreitamento do corredor (Fig 34 e 36)

Os achados localizaacuteveis de forma aproximada estatildeo concentrados nas mesmas

aacutereas que as ossadas humanas Analisando a sua dispersatildeo e tipo natildeo se nota

nenhuma disposiccedilatildeo inusitada o que tambeacutem soacute seria pertinente com a localizaccedilatildeo

integral dos objectos Eacute no entanto possiacutevel verificar que o iacutedolo-placa (MG17820)

foi recolhido proacuteximo do esteio D na entrada da cacircmara Uma concentraccedilatildeo de

vaacuterios artefactos junto agrave pedra K foi realccedilada por C Ribeiro apontando ali para

aleacutem de ossadas humanas dois iacutedolos afuselados (um deles o MG17810) um punhal

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 52 de 415

(MG1786) lacircminas (MG17863 e 64) o iacutedolo almeriense (MG17824) e vaacuterias

pontas de seta

O espoacutelio recolhido por C Ribeiro destaca-se dos conjuntos recolhidos noutras

antas da regiatildeo de Lisboa pela abundacircncia de alguns elementos sobretudo liacuteticos

(fig 36-43)

Entre os produtos alongados haacute cerca de 14 peccedilas que poderatildeo ser incluiacutedas no

grupo das lamelas oito das quais com retoques Com excepccedilatildeo de trecircs lamelas em

quartzo hialino (MG178156 160 e 161) natildeo retocadas as restantes satildeo de siacutelex

Ainda que sem uma relaccedilatildeo directa evidenciada por remontagem registam-se trecircs

pequenos nuacutecleos de lamelas (MG17884 86 e 87) no mesmo tipo de quartzo

Outras 35 peccedilas enquadram-se no grupo de lacircminas retocadas algumas delas de

tamanho consideraacutevel e extensivamente trabalhadas Algo que importa ressalvar eacute a

quase inexistecircncia de lacircminas de pequena dimensatildeo neste conjunto

A classe dos geomeacutetricos limita-se a um provaacutevel pequeno trapeacutezio em siacutelex

curiosamente desenhado pelo casal Leisner mas posteriormente natildeo incluiacutedo e

apenas referido (Fig 4013 MG1784856 ALeisner Leis64 Leisner 1965 p 75)

Apesar de subrepresentado nas ilustraccedilotildees de V Leisner (1965) ainda que as

refira regista-se um conjunto de lascas retocadas algumas agrupadas no acircmbito dos

raspadores Estes satildeo de siacutelex excepto um obtido de um prisma de quartzo

(MG17846189) Para aleacutem de um dos nuacutecleos de lamelas trabalhado

posteriormente para obtenccedilatildeo de uma extremidade apontada (MG17886) a presenccedila

de furadores e peccedilas afins natildeo foi detectada

As pontas de seta todas em siacutelex satildeo o artefacto mais representado

totalizando cerca de 77 peccedilas nuacutemero semelhante ao apresentado por S Forenbaher

(1999) e aproximado agraves ldquonatildeo menos de 80 pontas de setta de diferentes typosrdquo

enunciadas por C Ribeiro (1880 p 32) Genericamente 66 peccedilas apresentam bases

convexas e apenas 11 a base recta ou cocircncava resultados aproximados aos referidos

por V Leisner (1965) e S Forenbaher (1999) Aleacutem dos artefactos claramente

classificados como pontas de projeacutectil existem ainda algumas peccedilas que se poderatildeo

enquadrar como esboccedilos (nomeadamente MG178155 88 MA57 MA165 MA168

e MA174)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 53 de 415

O retoque bifacial aplicado na produccedilatildeo das pontas de seta foi tambeacutem a

teacutecnica utilizada nas grandes pontas bifaciais designadamente os provaacuteveis punhal

(MG1786) e a alabarda (MG1785) ambos em siacutelex recolhidos na anta A uacuteltima

peccedila apresentava ainda um polimento posterior aos levantamentos

O tipo ldquolacircmina ovoacuteiderdquo tambeacutem obtido pelo retoque bifacial natildeo foi registado

nesta anta apesar de algumas lacircminas apresentarem pontualmente um trabalho

similar

No Museu Geoloacutegico aleacutem dos objectos exumados por C Ribeiro encontra-se

ainda um conjunto de lascas retocadas (MG178184) cuja etiqueta indica ldquojunto ao

dolmen do Monte Abraatildeo (Belas) Col M Alves Costardquo A abreviatura Col poderaacute

relacionar-se com ldquocolecccedilatildeordquo ou com maior probabilidade referindo-se ao colector

que recolheu os materiais Infelizmente natildeo foi possiacutevel obter mais informaccedilotildees

acerca deste conjunto nem do nome associado excepto que existe outro grupo de

peccedilas proveniente da anta da Estria com a mesma denominaccedilatildeo Apesar de natildeo ter

localizado o nome em questatildeo no inventaacuterio que foi possiacutevel localizar dos

funcionaacuterios das pioneiras comissotildees geoloacutegicas surge referido o nome dos

colectores Joatildeo Alves e Joaquim Alves (Carneiro 2005 p 149 163 e 183)

Sabendo-se que por vezes estes funcionaacuterios eram admitidos graccedilas agrave ldquocunhardquo e aos

laccedilos familiares de pessoas jaacute ao serviccedilo (Carneiro 2005 p 183) eacute possiacutevel que M

Alves Costa fosse um desses colectores que recolheu materiais nas antas

mencionadas

O grupo de instrumentos de pedra polida eacute deveras limitado quando

comparado com conjuntos de outras antas mas sobretudo face agrave abundacircncia de pedra

lascada situaccedilatildeo anotada por C Ribeiro (1880 p 19) Outro aspecto que tambeacutem

parece acentuar essa limitaccedilatildeo eacute o nuacutemero de instrumentos que possivelmente teratildeo

sido funcionais Assim regista-se apenas um machado de secccedilatildeo circular em

anfibolito (MG1781 Leisner 1965 taf 54 4) um machado ou enxoacute em xisto

argiloso (MG1783 Leisner 1965 taf 54 6) um pequeno machado de duplo gume

() em fibrolite (MG1784 Leisner 1965 taf 54 18) e uma peccedila com algumas das

caracteriacutesticas de machado mas com o gume boleado (MG1782 Leisner 1965 taf

54 5) talvez por ter servido como alisador de curtumes

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 54 de 415

V Leisner classifica ainda dois blocos basaacutelticos proveninetes do aacutetrio como

possiacuteveis ldquoinstrumentos polidosrdquo (MG17894 e 93 Leisner 1965 taf 54 11 e 3)

sobretudo o segundo pela vaga silhueta e um certo polimento no que seria o gume A

primeira peccedila contrariamente agrave ilustraccedilatildeo natildeo apresenta sinais de afeiccediloamento ou

polimento (Fig 42 1 e 7)

Menos controversa eacute a identificaccedilatildeo da peccedila em calcaacuterio conquiacutefero

representando uma aparente lacircmina de machado ou enxoacute (MG1787 Leisner 1965

taf 55 21) De facto jaacute C Ribeiro reconhecia essa tipologia no artefacto mas

tambeacutem que a mateacuteria-prima era inadequada para uma funccedilatildeo real pelo que admitia

que aquele ldquotivesse sido preparado para servir de insiacutegnia ou de distinctivordquo

(Ribeiro 1880 p 41)

Haacute ainda uma outra peccedila polida em calcaacuterio (MG1788 Leisner 1965 taf 54

1) desenhada por C Ribeiro (1880 fig 44) mas que provavelmente por lapso natildeo

a descreveu ainda que surja no acircmbito das ldquoclavas ou massas de guerrardquo (Ribeiro

1880 p 38-41) Pela sua morfologia com uma secccedilatildeo poligonal bem marcada e a

sugestatildeo de um gume esta peccedila parece tambeacutem evocar uma grande lacircmina de

machado ou enxoacute

Dentro do grupo de artefactos polidos mas de claro cariz ideoteacutecnico surgem

pelo menos 8 peccedilas de calcaacuterio e uma em calcite (MG17817) normalmente descritas

como iacutedolos Os seus formatos permitem classificaacute-las em dois grupos geneacutericos os

iacutedolos ciliacutendricos (MG178151718 e 19) sem qualquer tipo de gravaccedilatildeo e os

afuselados com secccedilatildeo plano-convexa (MG178101116 50 e 72) alguns destes

uacuteltimos apresentando sulcos circundantes nas aacutereas extremas (MG17811 16 e 72)

Apesar da mateacuteria-prima geneacuterica ser o calcaacuterio entre os artefactos afuselados um

deles eacute tatildeo silicioso que poderia ser classificado como siacutelex (MG17850) enquanto o

outro parece corresponder a um calcaacuterio cristalino (MG17810)

Poderia tambeacutem remeter-se pela tipologia aproximada ao grupo dos iacutedolos a

peccedila MG1789 em basalto entatildeo incluiacuteda por C Ribeiro (1880) juntamente com as

peccedilas anteriores no grupo das ldquoclavas e massasrdquo e cuja classificaccedilatildeo foi mantida por

V Leisner (1965 p 74 e taf 54 2) Contudo o seu formato em ldquogotardquo ainda com

evidecircncia da picotagem em quase toda a superfiacutecie apresenta uma das superfiacutecies

com polimento parecendo ter resultado da acccedilatildeo de moagem Outras duas peccedilas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 55 de 415

apresentadas por V Leisner (1965 taf 54 14 e 16 MG17839 e 48) ainda que

fragmentadas e de menores dimensotildees tambeacutem mostram sinais de abrasatildeo e

aparentam ter tido um formato oblongo Perante estas caracteriacutesticas julgo que estas

trecircs peccedilas poderiam enquadrar-se num conjunto de pequenos alisadores ou paletas

portaacuteteis lembrando outra peccedila recolhida na anta de Casal do Penedo (Leisner 1965

taf 14 2) Ali tambeacutem se encontrou de facto uma peccedila mais claramente

classificaacutevel como paleta (Leisner 1965 taf 14 4) Aliaacutes em Monte Abraatildeo foi

ainda recolhida uma outra placa em arenito (MG17876) que poderaacute ter cumprido

essa mesma funccedilatildeo Outros dois elementos de moacute ambos em granito um dormente

(MG178183) e outro movente (MG17879) encontram-se no espoacutelio desta anta

Finalmente no conjunto de artefactos em calcaacuterio recolheu-se ainda uma

pequena taccedila com fundo espesso (MG17826 Leisner 1965 taf 58 14) talvez para

utilizaccedilatildeo como almofariz

No acircmbito dos artefactos classificaacuteveis como iacutedolos regista-se ainda uma placa

completa do tipo claacutessico (MG17820 Leisner 1965 taf 56 101) em xisto bem

como o fragmento de outra reutilizado como eventual pingente (MG17821 Leisner

1965 taf 56 100) parecendo imitar um utensiacutelio de corte Em osso encontrou-se

um pequeno ldquoiacutedolo-almerienserdquo (Fig 392 MG178241 Leisner 1965 taf 56 92)

As peccedilas referidas neste paraacutegrafo denunciam claramente contactos quiccedilaacute atraveacutes da

circulaccedilatildeo de indiviacuteduos locais com outras aacutereas regionais Outro objecto liacutetico com

um formato pentagonal (MG17874 Ribeiro 1880 p 51 Leisner 1965 taf 54 17)

teraacute suscitado uma possiacutevel relaccedilatildeo como amuleto com representaccedilatildeo

antropomoacuterfica

O mediacuteocre grau de conservaccedilatildeo do espoacutelio oacutesseo nomeadamente humano

poderaacute explicar o reduzido nuacutemero de artefactos em osso Assim para aleacutem do iacutedolo

jaacute referido apenas se registam alguns utensiacutelios e peccedilas de adorno Entre os

utensiacutelios haacute dois fragmentos de osso apontados (MG178240 Leisner 1965 taf 56

98) o maior deles de um possiacutevel furador (MG178MA207 Leisner 1965 taf 56

88) um cabo de artefacto (MG17840 Leisner 1965 taf 56 89) e uma caixa

ciliacutendrica com incisotildees (MG17846 Leisner 1965 taf 56 91) Como peccedilas de

adorno pessoal aponta-se um possiacutevel bracelete (MG17842 e 44 Leisner 1965 taf

56 90) um fragmento de cabeccedila de alfinete de cabelo possivelmente associado com

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 56 de 415

uma parte posticcedila gravada com linhas horizontais (MG178237-238 Leisner 1965

taf 56 93) outra cabeccedila maciccedila em marfim () em forma de botatildeo com faixa

decorada em losangos (MG17847 Leisner 1965 taf 56 94) e duas grandes contas

uma ovoacuteide e outra cilindroacuteide (MG17841 e 43 Leisner 1965 taf 56 96 e 97)

Aleacutem destas peccedilas regista-se ainda um botatildeo coacutenico com perfuraccedilatildeo em ldquoVrdquo

(MG17845 Leisner 1965 taf 56 95) aleacutem de outros possiacuteveis fragmentos

referidos por C Ribeiro (1880 p 46)

No acircmbito dos elementos de adorno pessoal registam-se pelo menos 175 contas

de colar de vaacuterias tipologias e mateacuterias-primas Aqui incluem-se 4 pequenos

pendentes que poderiam ter feito parte de um qualquer colar Tambeacutem conviraacute

realccedilar que os trecircs ldquocolaresrdquo hoje depositados no Museu Geoloacutegico satildeo resultado de

criteacuterios subjectivos ou pelo menos desconhecidos actualmente Assim ainda que se

possa admitir o agrupamento de algumas das peccedilas a forma como esta se fazia ou

dispunha eacute meramente especulativa

De qualquer forma entre as vaacuterias tipologias presentes as 129 contas

discoidais em xisto (excepto duas em calcaacuterio) assumem-se como as mais

frequentes Em conjuntos numericamente mais reduzidos surgem as contas

globulares ou esferoidais (23) tubulares (6) bitroncocoacutenicas (4) ovoacuteide ou em

forma de azeitona (5+) e troncocoacutenica (1) que com algumas excepccedilotildees

nomeadamente as grandes contas de osso e azeviche satildeo essencialmente efectuadas

sobre pedras verdes Como curiosidade uma conta ciliacutendrica em xisto apresenta

vaacuterios cortes paralelos - marcas-guia para uma eventual produccedilatildeo de contas

discoidais

Os recipientes ceracircmicos completos ou quase satildeo tambeacutem um conjunto

reduzido e heterogeacuteneo (Fig 38) Assim no conjunto apresentado por V Leisner

(1965 taf 56 106-110 e 113) contam-se apenas 5 taccedilas lisas duas delas de pequenas

dimensotildees (MG17830 32 Leisner 1965 taf 56 107 e 108) e uma com caneluras

(MG17834 Leisner 1965 taf 56 110) Haacute ainda dois vasos carenados (Leisner

1965 taf 56 112 e 114 MG17833) um deles com uma carena bem marcada

(MG17856) ainda que estes possam corresponder a formas de periacuteodo mais recente

Entre as cerca de 4 dezenas de fragmentos ceracircmicos para aleacutem do fragmento

de possiacutevel taccedila com decoraccedilatildeo campaniforme geomeacutetrica impressa (Simotildees 1878

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 57 de 415

p 56-57 e fig 38 Leisner 1965 taf 56 111) apenas se registou outro com duas

linhas incisas paralelas (MG178255) Aleacutem destes haacute a assinalar um conjunto de

fragmentos de bordos todos sem decoraccedilatildeo correspondendo a 6 possiacuteveis taccedilas 3 a

vasos e um a prato bem como um troccedilo de uma carena e outro com perfuraccedilotildees

Haacute ainda no Museu um conjunto de elementos peacutetreos recolhidos numa

possiacutevel aacuterea de aacutetrio ainda misturados com ossos humanos (Ribeiro 1880 p 61)

muitos com a referecircncia ldquona galeriardquo Resultado de agentes naturais nomeadamente

ribeirinhos estes objectos correspondiam a seixos de quartzito calcaacuterio e basalto

inexistentes in loco que soacute poderiam ali ter chegado segundo C Ribeiro (1880 p

61) por matildeo humana dos cursos fluvialis do fundo do vale A maioria deles

apresenta formatos betiloacuteides (Fig 42 1 5-7) pelo que eacute possiacutevel admitir algum tipo

de arranjo particular junto agrave entrada do acesso Inclusive V Leisner (1965 taf 54 3

e 11) considerou pelo menos dois deles como provaacuteveis instrumentos polidos o que

como se expocircs atraacutes teria apenas um fim simboacutelico dada a sua ineficiecircncia como

ferramenta se foi essa intenccedilatildeo

Entre as peccedilas provavelmente recolhidas no possiacutevel aacutetrio registam-se

tambeacutem seis fragmentos de possiacuteveis foacutesseis de rudistas um deles ainda com etiqueta

anotando ldquoentrada para a galeriardquo (MG178MA221) Trecircs objectos foram

representados por V Leisner (1965 taf 54 12 (natildeo localizado) 13 e 15 MG17837

e 38) mas C Ribeiro jaacute apresentara outro (MG178MA13) confundindo-o como

parte de um dos iacutedolos afuselados (1880 p 38 e fig 41) que o casal Leisner natildeo teraacute

localizado (ALeisner Leis64) talvez porque buscasse um fragmento de iacutedolo

O tipo de aglomeraccedilatildeo de objectos betiloacuteides referido poderia ser interpretado

como um simples arranjo de pavimento do aacutetrio do corredor Contudo a

possibilidade de corresponder a um altar de alguma forma semelhante a outros casos

reconhecidos na regiatildeo de Lisboa (em Correio-Moacuter) no Sudeste espanhol

(nomeadamente em alguns sepulcros de Los Millares Almeria) e na Galiza (Cardoso

et al 1995) natildeo deveraacute ser descartada por ora Isto porque se nos dois primeiros

casos os elementos envolvidos correspondem de facto a peccedilas claramente

trabalhadas na Galiza apesar da evidente concentraccedilatildeo alguns desses objectos natildeo

se apresentam tatildeo claramente produzidos situaccedilatildeo que tambeacutem parece ocorrer em

Monte Abraatildeo Aliaacutes a interpretaccedilatildeo adiantada por C Ribeiro (1880 p 61)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 58 de 415

aproximava-se deste sentido ldquoParece-nos pois podermos inferir drsquoeste facto que o

emprego dos referidos seixos estranhos aacute localidade natildeo era para cobrir os restos

mortaes dos indiviacuteduos ali inhumados (hellip) mas significaria acaso o cumprimento de

um preceito religioso ou seria a expressatildeo de uma homenagem de sentimento de

respeito e de saudade prestada pelos parentes e amigos dos finados ali depositados

lanccedilando cada qual na jazida uma pedra trazida de longe de forma arredondada

que symbolisasse uma ideia um pensamento o da eternidade por exemplo se eacute que

na eacutepoca dos dolmens jaacute havia uma tal ou qual noccedilatildeo a este respeitordquo

Finalmente apesar da dificuldade de preservaccedilatildeo de muitas das ossadas

humanas detectadas visto ldquoque natildeo era possivel tocar numa apophyse e em muitos

ossos esponjosos que natildeo se desfizessem logo em poacute ou em miuacutedos fragmentosrdquo

(Ribeiro 1880 p 60) o geoacutelogo anotou uma seacuterie de consideraccedilotildees para o conjunto

osteoloacutegico humano recuperado

Ainda que natildeo seja hoje possiacutevel perceber que ossos foram recuperados onde

C Ribeiro indicou as concentraccedilotildees osteoloacutegicas principais em planta inclusive

classificando-os de esqueletos (cinco ou seis) e peccedilas oacutesseas soltas Ao longo da sua

descriccedilatildeo nomeava os tipos de ossos identificados sobretudo os cracircnios bem como

as associaccedilotildees com objectos e artefactos Por exemplo julgo ter sido possiacutevel

identificar a ldquoporccedilatildeo de abobada craneana com parte do seu frontal e dois

parietaesrdquo (Ribeiro 1880 p 60) referida pelo geoacutelogo mas sem que tenha sido

possiacutevel perceber a sua origem dentro do sepulcro ndash aliaacutes eacute um caso curioso de

tentativa de restauro pois os vaacuterios fragmentos foram marcados com incisotildees de

forma a saber-se que parte colava com qual mas quando se procedeu ao seu estudo

recente jaacute se encontravam descolados e dispersos na colecccedilatildeo

Face ao estado revolto de muitas das ossadas humanas C Ribeiro colocou a

hipoacutetese de ldquoque os individuos a que diziam respeito tivessem sido sepultados

nrsquooutros logares drsquoonde depois de consumidas as partes molles tivessem os seus

restos sido removidos para o logar do doacutelmenrdquo (Ribeiro 1880 p 58) admitindo

portanto deposiccedilotildees secundaacuterias na sequecircncia de trasladaccedilatildeo Contudo argumentava

contra aquela hipoacutetese por causa do elevado investimento na construccedilatildeo do sepulcro

bem como pelas abundantes oferendas que se encontraram acompanhando os restos

mortais Assim apontou uma explicaccedilatildeo hoje considerada tafonoacutemica para a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 59 de 415

dispersatildeo das ossadas ldquoOra eacute claro que em qualquer drsquoestas posiccedilotildees [cadaacutever de

coacutecoras ou sentado com a cabeccedila apoiada nos joelhos] e depois do

desappparecimento das partes molles do cadaver deviam as peccedilas osseas do

esqueleto separar-se e grande parte drsquoellas misturarem-se mais ou menos

confusamente se este modo de sepultar foi executado em Monteabratildeordquo (Ribeiro

1880 p 58) A partir dessa questatildeo adiantava ainda a possibilidade da preacute-existecircncia

de enterramentos antes da erecccedilatildeo da anta argumentando para isso com o

imbricamento das lajes B e E esta uacuteltima atravessando ldquoa terra vermelha contendo

ossos humanos dispersos e quebradosrdquo e com os restos oacutesseos recolhidos entre os

esteios (Ribeiro 1880 p 59) Ressalvando o pioneirismo destes trabalhos julgo que

a anaacutelise actual das evidecircncias natildeo admite esta uacuteltima possibilidade

Outro aspecto pioneiro no texto de C Ribeiro tambeacutem tentado na gruta

artificial de Folha das Barradas ainda que de forma menos sistemaacutetica foi a tentativa

de estimar o nuacutemero de indiviacuteduos com base em elementos do esqueleto humano

considerados menos nobres ndash no presente caso dentes mais precisamente os

caninos De facto este tipo de exerciacutecio apenas voltaraacute a ser realizado desta forma

nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX quando se impotildeem em Portugal novos

procedimentos para a avaliaccedilatildeo de restos antropoloacutegicos Assim a partir dos 252

laneares ou caninos de indiviacuteduos adultos o autor estima cerca de 6364 pessoas

como nuacutemero aproximado a cujo cocircmputo junta a existecircncia de

maxilaresmandiacutebulas de idosos jaacute com os molares gastos e os alveacuteolos dos caninos

ldquoobliteradosrdquo e de natildeo-adultos ainda em desenvolvimento ndash conclui entatildeo que ldquonatildeo

seraacute exagerado dizer que o numero dos indiviacuteduos a quem pertenciam aquelles

dentes natildeo era inferior a oitentardquo (Ribeiro 1880 p 59) Face agravequela conclusatildeo

rematava declarando ldquoeacute faacutecil comprehender que a inhumaccedilatildeo de um tatildeo crescido

numero de individuos natildeo poderia ter-se realizado senatildeo de um modo sucessivo

com intervallos de tempo mais ou menos longos o que importaria frequentes

remeximentos nas terras para dar logar a novas inhumaccedilotildees e nos quaes teriam

sido revolvidos quebrados e misturados a maioria das peccedilas osseas dos esqueletos

que ali jaziamrdquo (Ribeiro 1880 p 59)

Perante as evidecircncias conhecidas desta anta julgo que eacute possiacutevel vislumbrar

uma utilizaccedilatildeo inicial provaacutevel dos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 60 de 415

provavelmente intensificada na transiccedilatildeo para o mileacutenio seguinte e na sua primeira

metade o que parece denotado pela presenccedila de vaacuterios elementos votivos em

calcaacuterio iacutedolos-placa a taccedila canelada e os liacuteticos com retoque bifacial (alabarda

punhal e pontas de seta) As duas dataccedilotildees absolutas Beta-228580 e Beta-228579

obtidas sobre dois fragmentos de feacutemures de diferentes indiviacuteduos entre 2900-2630

cal BCE e 2840-2460 cal BCE (a segunda com 903 de probabilidade restringe-se

a 2680-2460 cal BCE) parecem confirmar esta impressatildeo A ceracircmica

campaniforme bem como alguns elementos de adorno nomeadamente os bototildees em

osso e vaacuterias contas parecem assinalar ainda uma utilizaccedilatildeo da segunda metade do 3ordm

mileacutenio ane Finalmente ceracircmicas carenadas poderatildeo denunciar reutilizaccedilotildees

posteriores talvez de iniacutecios do 2ordm mileacutenio ane

4114 Estria

A anta da Estria (CNS-3001) da Cova da Estria (Ribeiro 1871-75 Simotildees

1878) ou Istria (Ferreira 1959 p 215) eacute a terceira do cluster de Belas e teraacute sido

detectada por C Ribeiro juntamente com as anteriores Segundo um pequeno

apontamento no uacutenico caderno de campo deste geoacutelogo que tive oportunidade de

localizar no Arquivo Histoacuterico Geoloacutegico e Mineiro do Laboratoacuterio Nacional de

Energia e Geologia (LNEG Ex-Instituto Geoloacutegico e Mineiro) este sepulcro foi

intervencionado entre Janeiro e Fevereiro de 1875 (Ribeiro 1871-75) Em 26 de

Janeiro o geoacutelogo refere este ldquoDolmen no casal do Estrias 200 m a O do muro da

Quinta do Marquez de Bellas e situado nrsquouma depressatildeo do solo ou a descer [para]

uma baixa ou depressatildeo que esta a S da Idanhardquo referindo-se ainda ao local por

ldquoCova da Estriardquo (Ribeiro 1871-75) Aquela data eacute proacutexima de outra constante em

etiqueta colada em osso longo indicando ldquo82[18]75 Da propriedade do Sr Abreu

cova da Estriardquo (MG71940)

Em finais do seacuteculo XX esta anta foi alvo de alguns trabalhos de salvaguarda

Em 1986 empreendidos pelo entatildeo Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio Cultural

(IPPC) permitindo verificar uma profunda violaccedilatildeo na aacuterea da cacircmara junto ao

esteio de cabeceira mas tambeacutem a manutenccedilatildeo da situaccedilatildeo estrutural do monumento

desde os trabalhos de C Ribeiro (Fig 44 e 45 2 Marques e Ferreira 1987

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 61 de 415

Marques Lourenccedilo e Ferreira 1991) Posteriormente em 1995 no acircmbito da

construccedilatildeo da auto-estrada da Cintura Regional Externa de Lisboa e de uma estaccedilatildeo

de serviccedilo automoacutevel que na fase de projecto previa a destruiccedilatildeo da anta realizou-se

a re-escavaccedilatildeo e restauro do sepulcro agora pelo Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio

Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico (IPPAR) sob a direcccedilatildeo de Ana Carvalho Dias

Infelizmente ateacute hoje natildeo existe qualquer relatoacuterio e os contactos que desenvolvi

desde 2004 junto da arqueoacuteloga natildeo foram suficientes para esclarecer os dados

obtidos e os criteacuterios que resultaram no actual monumento in perpetuam rei

memoriam Portanto avalia-se este sepulcro apenas com as informaccedilotildees publicadas e

as observaccedilotildees possiacuteveis no terreno

C Ribeiro anotava a implantaccedilatildeo inusitada daquele sepulcro ldquocomo que

occulto nrsquouma prega ou dobra de terreno deixando apenas ver aacute flocircr do solo no acto

da descoberta os topes de algumas das suas pedrasrdquo (Ribeiro 1880 p 62) Aliaacutes a

proacutepria denominaccedilatildeo ldquoestriardquo reflecte essa ideia de prega ou sulco no terreno Tal

localizaccedilatildeo surgira segundo o geoacutelogo da intenccedilatildeo de aproveitar uma estreita faixa

de calcaacuterio alterado em resultado da acccedilatildeo do filatildeo ldquoporphiroiderdquo que se registava

tambeacutem junto a Pedra dos Mouros Assim a construccedilatildeo ajeitou e enterrou-se dentro

daquela faixa orientada es-nordesteoes-sudoeste com cerca de 2 a 5 metros de

largura Talvez por isso desta anta natildeo fosse possiacutevel observar os outros dois

sepulcros do cluster apesar das distacircncias de 400 m para Pedra dos Mouros a

nordeste ou de 300 m para Monte Abraatildeo a sudeste

De acordo com C Ribeiro a anta apresentava um recinto com cacircmara e

galeria semelhante a Monte Abraatildeo ainda que mais cravado e encostado ao

substrato rochoso Na cacircmara indicava ldquonove lages erguidas ao altordquo que apenas

deixavam uma gola para aceder ao corredor (Fig 44) Apesar de remeter essa leitura

para a planta aiacute apenas eacute possiacutevel verificar a existecircncia de sete esteios e dois

pequenos blocos (o que perfaria nove) mas referia mais adiante que completavam ldquoo

recinto ou cacircmara outras lages de menor porte cravadas no solordquo (Ribeiro 1880 p

63) Analisando o alccedilado em perspectiva (Ribeiro 1880 fig 65) notam-se os

referidos sete esteios juntamente com outros blocos do provaacutevel estreitamento da

cacircmara para o corredor Esta passagem era ldquodelimitada por dois renques de pequenas

lages de calcareo cravadas de cutello no terreno e parallelos entre sirdquo por cerca de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 62 de 415

dez metros mas natildeo apresentou essa parte da estrutura em planta curiosamente

ocorrendo o mesmo no esquiccedilo do seu apontamento (Ribeiro 1871-1875 1880 p

63-64) A natildeo representaccedilatildeo da aacuterea do corredor poderaacute dever-se ao aspecto caoacutetico

dos blocos mas tambeacutem porque os trabalhos naquele troccedilo poderatildeo ter sido

realizados por algum colector e natildeo devidamente registados condicionando entatildeo a

apresentaccedilatildeo possiacutevel de C Ribeiro Finalmente apesar do autor ter detectado alguns

grandes fragmentos de blocos natildeo encontrou nenhum que lhe parecesse de facto

parte da cobertura do sepulcro

Todos os blocos da anta eram segundo o geoacutelogo de calcaacuterio duro cinzento

extraiacutedos nas bancadas locais Eram denominados pelos caboqueiros como ldquobancos

reaesrdquo e permitiam obter lajes de grandes dimensotildees ldquocapazes de resistir a grandes

cargas e aacute acccedilatildeo destruidora do tempo como as empregadas em pontotildees e em

outras de caracter rustico que exigem seguranccedila duraccedilatildeo e economiardquo (Ribeiro

1880 p 63) Portanto do mesmo tipo das lajes utilizadas nas antas de Pedra dos

Mouros e Monte Abraatildeo

No acircmbito da cacircmara foi possiacutevel verificar o tiacutepico imbricamento da maioria

dos esteios a partir da cabeceira (A) Este esteio com superfiacutecies rugosas e

alveolares ainda que erodidas foi ladeado por duas lajes (B e E) em que as suas

faces com icnofoacutesseis provavelmente de thalassinoides foram dispostas para dentro

do recinto (Fig 45 3 e 5) Por sua vez os esteios seguintes (C-D e F) tambeacutem

tiveram a mesma disposiccedilatildeo emparelhada para o interior Isto porque os esteios C e

D aparentam ter sido outrora um soacute bloco entretanto quebrado tendo sido disposto

de forma peculiar para melhor aguentar as terras da vertente apoiando-se nos

extremos exteriores de B e H Finalmente os esteios G e H apresentavam-se

relativamente lisos sem os mencionados foacutesseis Agrave semelhanccedila da situaccedilatildeo em Monte

Abraatildeo tambeacutem aqui julgo que o efeito destes foacutesseis entrelaccedilados poderaacute ter

provocado alguma reacccedilatildeo esteacutetica ou mesmo maacutegico-religiosa optando os

construtores da anta por uma disposiccedilatildeo simeacutetrica das faces dos ortoacutestatos

Como eacute possiacutevel verificar tanto em C Ribeiro (1880 p 63) ou V Leisner

(1965 taf 57) o esteio H natildeo teraacute sido avistado ou pelo menos registado o que

poderaacute explicar-se pelo seu reduzido peacute porque partido face aos restantes blocos agrave

data da escavaccedilatildeo que natildeo teraacute atingido o substrato rochoso em toda a aacuterea do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 63 de 415

recinto Por outro lado pelas imagens obtidas pelo casal Leisner na visita de 1944

(ALeisner Leis64) este sepulcro encontrava-se novamente bastante entulhado pelo

que eacute tambeacutem compreensiacutevel a leitura entatildeo obtida que se limitou ao levantamento

do alccedilado visiacutevel a nor-nordeste Assim a primeira imagem que foi possiacutevel

consultar do esteio H resultou dos trabalhos de limpeza e salvaguarda em 1986 (Fig

44 2 e 4)

A cacircmara da anta com o esteio de cabeceira (A) com cerca de 275 m de altura

(acima da solo) e 19 m de largura na base teria cerca de 4 metros de comprido por

cerca de 380 metros de largura maacutexima prolongando-se o corredor segundo C

Ribeiro (1880 p 62) por ldquouns 10 metrosrdquo extensatildeo hoje recriada sem que se saiba

de facto se foram detectados alveacuteolos ou outros vestiacutegios passiacuteveis de garantir tal

passagem e alcance (Fig 44 4 e 6)

Apesar da duacutevida latente quanto agrave caracterizaccedilatildeo da passagem eacute possiacutevel

verificar que este sepulcro apresentava uma cacircmara poligonal com sete esteios jaacute

adiantada por V Leisner (1965) pelo que a sua classificaccedilatildeo como ldquogaleria cobertardquo

adiantada por O V Ferreira (1959) natildeo parece aceitaacutevel

Algo notado pelo escavador da anta e atribuiacutedo agraves circunstacircncias da sua

implantaccedilatildeo foi a orientaccedilatildeo do monumento para poente De facto as leituras

realizadas nos uacuteltimos anos apontam um rumo aproximado de 213ordm ou 212ordm (Hoskin

2001 Cacircndido Marciano da Silva ip) Acrescentaria que em tal escolha para aleacutem

do condicionamento referido tambeacutem a inclinaccedilatildeo do terreno obrigava agravequela

orientaccedilatildeo caso contraacuterio o recinto sepulcral estaria sujeito agrave raacutepida entrada de

sedimentos e sequente colmatagem Simultaneamente ao optar por aquela

implantaccedilatildeo o edifiacutecio encontrava-se quase a meia altura enterrado na encosta natildeo

se conhecendo dados acerca de uma eventual mamoa percebendo-se pontualmente

na actual estrutura visiacutevel alguns blocos do que seria um anel peacutetreo de contraforte

exterior

Segundo C Ribeiro o sepulcro jaacute teria sido profanado ldquoIsto eacute jaacute tinham sido

remexidas as terras que estavam dentro drsquoelle e despojadas de quasi todos os

objectos drsquoarchaeologia e restos humanos que com ellas se achavamrdquo (1880 p 64)

Essa situaccedilatildeo explicaria entatildeo o reduzido espoacutelio recolhido

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 64 de 415

Actualmente o espoacutelio referente agrave anta da Estria (Fig 46-49) em depoacutesito no

Museu Geoloacutegico encontra-se marcado com os coacutedigos de estaccedilatildeo 171 e 719 este

uacuteltimo correspondendo agrave listagem existente No entanto muitas das peccedilas

apresentam o coacutedigo 171 marcado sobrepondo-se ao anterior

Uma questatildeo que merece reparo tem a ver com algumas peccedilas apontadas por

A Simotildees (1878) como da Estria mas que C Ribeiro (1880) atribui a Pedra dos

Mouros Satildeo os casos da lacircmina em siacutelex (MG1722 Simotildees 1878 fig 16-17

Ribeiro 1880 p 7 e est I 2) e o fragmento de luacutenula em calcaacuterio (MG17213

Simotildees 1878 fig 34 Ribeiro 1880 p 7 est I 9) Sendo este uacuteltimo o seu

escavador presume-se a sua correcccedilatildeo em detrimento do primeiro

Os elementos liacuteticos lascados resumem-se a duas lamelas natildeo retocadas em

quartzo hialino (MG17122 e 33) e pelo menos sete lacircminas em siacutelex todas retocadas

ndash quatro quase completas (MG1715-7 e 15) e trecircs fragmentos de outras (MG1718-

10) Curiosamente estas uacuteltimas fazem parte de um conjunto de peccedilas lascadas com

algumas lascas apontadas como ldquoEstria (Belas) Col M Alves Costardquo (MG1718-10

17 e 29 7191) em contexto semelhante a outro conjunto associado a Monte Abraatildeo

Das doze pontas de seta inventariadas por V Leisner (1965) nuacutemero repetido

por S Forenbaher (1999 p 135) apenas localizei onze delas Contudo tal falta natildeo

parece dificultar a sua anaacutelise geral Assim com a excepccedilatildeo de uma peccedila quebrada

na base (MG17131) as restantes apresentam bases cocircncavas Destas uma apresenta

os bordos serrilhados faltando-lhe um fragmento anteriormente existente

(MG17136 Leisner 1965 taf 57 13 Forenbaher 1999 p 135 e EST8) e duas

enquadram-se segundo S Forenbaher (1999 p 135 e EST9 e 11) no grupo das

pontas mitriformes (MG17130 e 34)

No acircmbito das grandes pontas com retoque bifacial haacute ainda um possiacutevel

punhal (com o coacutedigo errado de Pedra dos Mouros MG1723) e um fragmento distal

de possiacutevel ldquoalabardardquo (MG17111)

Os objectos em pedra polida apenas se enquadram no grupo de artefactos

votivos de calcaacuterio nomeadamente um iacutedolo betiloacuteide (MG17113) um fragmento

de luacutenula (MG17114) em que eacute visiacutevel hoje algumas incisotildees uma placa encurvada

(MG1712) uma enxoacute encabada (MG1713) e uma possiacutevel ldquoalabardardquo (MG1711)

esta uacuteltima aparentemente em rocha xisto-anfiboacutelica

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 65 de 415

Eacute curioso notar que os uacutenicos instrumentos polidos surgem entatildeo de forma

aparentemente simboacutelica Aliaacutes no caso da enxoacute encabada esta peccedila parece ser

composta por duas lacircminas num soacute objecto uma lacircmina de enxoacute atada e uma lacircmina

de machado no que seria simultaneamente o cabo do instrumento

Aleacutem das peccedilas polidas referidas regista-se ainda um baacuteculo em xisto

(MG1714) gravado em ambas as faces a que se juntaria um fragmento de placa de

xisto apresentado por A Simotildees (1878 fig 32) de que se ignora actualmente o

paradeiro Aliaacutes jaacute em 1944 o casal Leisner natildeo o teraacute localizado (ALeisner Leis64)

Os artefactos em osso estatildeo representados apenas por um cabo de instrumento

(MG17116) e um outro osso longo apontado (MG17118)

A ceracircmica recolhida apresenta trecircs pequenos vasos quase completos Uma

taccedila simples (MG17121) que teraacute perdido recentemente um fragmento com bordo

(natildeo localizado) um vaso com bordo espessado externamente com alguns aparentes

sulcos (MG17119) e um vaso carenado decorado com linhas brunidas diagonais e

paralelas assentando noutra horizontal sobre a carena provavelmente rodeando todo

o recipiente (Fig 49 4 MG17120) Esta decoraccedilatildeo natildeo teraacute sido detectada por V

Leisner (1965 taf 57 21) porque agrave data do seu estudo (17111944 ndash ALeisner

Leis64) a peccedila ainda se encontrava com camada terrosa ocultando-a

Os restos osteoloacutegicos humanos agrave semelhanccedila do espoacutelio restante foram

recolhidos no conteuacutedo revolto do sepulcro em elevado estado de fragmentaccedilatildeo e

sem qualquer indicaccedilatildeo de localizaccedilatildeo Segundo C Ribeiro (1880 p 67) eram

essencialmente ldquofragmentos de ossos longos do craneo e dos maxillaresrdquo

registando-se inteiros apenas um uacutemero de indiviacuteduo adulto e diversas falanges e

diria ainda muitos dentes soltos Durante o estudo laboratorial dos ossos humanos

foi possiacutevel localizar um uacutemero quebrado (MG-71939) ainda que colando

completando-se posteriormente utilizado para dataccedilatildeo No caso desta anta o

geoacutelogo natildeo propocircs uma estimativa do nuacutemero de indiviacuteduos

Perante a evidecircncia recolhida nesta anta julgo que eacute possiacutevel vislumbrar uma

utilizaccedilatildeo inicial com alguma probabilidade na transiccedilatildeo do 4ordm para o 3ordm mileacutenio ou

mesmo soacute na sua primeira metade durante a qual se intensificou o seu uso denotado

pela presenccedila dos artefactos em calcaacuterio o baacuteculo mas tambeacutem as pontas de seta

com base cocircncava As duas dataccedilotildees absolutas Beta-208950 e Beta-228578 (Anexo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 66 de 415

3 Quadro 22) obtidas respectivamente sobre um uacutemero e uma mandiacutebula ambos

ossos de indiviacuteduos humanos adultos possivelmente distintos entre 2900-2620 cal

BCE e 2880-2500 cal BCE (a segunda com 943 de probabilidade restringe-se a

2880-2570 cal BCE) parecem indiciar um momento de construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo mais

tardio que as antas vizinhas o que tambeacutem poderia explicar a desorientaccedilatildeo do

sepulcro face aos cacircnones seguidos para a implantaccedilatildeo e construccedilatildeo das antas de

Lisboa e detectados noutras regiotildees limiacutetrofes (Hoskin 2001 Gonccedilalves 1999)

A aparente ausecircncia de ceracircmica campaniforme poderia significar o desuso

deste sepulcro talvez em meados do 3ordm mileacutenio ane apenas reutilizado jaacute em iniacutecios

do 2ordm mileacutenio ane Contudo agrave semelhanccedila dos comentaacuterios efectuados infra para a

anta de Casaiacutenhos subsiste a possibilidade de deposiccedilotildees dataacuteveis destes momentos

posteriores sem os correspondentes elementos nomeadamente campaniformes pelo

que este terminus deveraacute ser encarado com reserva ateacute novos dados Exemplos dessa

situaccedilatildeo satildeo as deposiccedilotildees possivelmente secundaacuterias com ldquovasos inteiros de loiccedilardquo

na cavidade de Leceia-Locus 2 com a dataccedilatildeo ICEN-737 de 2580-2150 cal BCE

(Ribeiro 1878 Cardoso Cunha e Dalberto 1991) mas sem espoacutelio caracterizador

ou da Samarra (Franccedila e Ferreira 1958 Leisner 1965 Silva Ferreira e Codinha

2006) cuja dataccedilatildeo Sac-1827 2470-2060 cal BCE parece mais recente que o

conjunto coeso ali recolhido Ou no sentido inverso a gruta-necroacutepole de Verdelha

dos Ruivos (Leitatildeo et al 1984 Cardoso e Soares 1990-92) que apresenta espoacutelio

campaniforme mas com dataccedilotildees semelhantes agraves anteriores (Capiacutetulo 8 e Anexo 3

Quadro 22)

4115 Um espaccedilo necropolizado na primeira metade do 3ordm

mileacutenio

Perante os dados disponiacuteveis eacute admissiacutevel falar de um espaccedilo necropolizado

ocupado pelo cluster de Belas Ali os diversos sepulcros teratildeo sido aparentemente

utilizados simultaneamente pelo menos num intervalo de 300 anos Contudo

algumas caracteriacutesticas particulares dos seus espoacutelios e as proacuteprias dataccedilotildees

absolutas obtidas para algumas utilizaccedilotildees permitem propor uma provaacutevel

anterioridade para as antas de Pedra dos Mouros e de Monte Abraatildeo face a Estria

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 67 de 415

Infelizmente seratildeo necessaacuterios ainda mais dados acerca de cada anta e um programa

sistemaacutetico de dataccedilotildees que delimite com maior probabilidade a construccedilatildeo e

utilizaccedilatildeootildees de cada sepulcro

412 Os monumentos megaliacuteticos das imediaccedilotildees do cluster de Belas

Nas imediaccedilotildees do cluster de Belas registam-se os dois monumentos

megaliacuteticos do Carrascal e Pego Longo que poderiam associar-se a este

O primeiro situa-se em vertente de vale entre os 150-160 metros de cota a

cerca de dois quiloacutemetros para oeste-noroeste da plataforma onde aquele cluster se

implantou sendo provavelmente no 4ordm-3ordm mileacutenios ane provavelmente visiacutevel de

Pedra dos Mouros e Monte Abraatildeo e vice-versa (fig 25)

Do segundo pretenso monumento funeraacuterio apesar de facilmente ver e ver-se

Monte Abraatildeo e Pedra dos Mouros por se situar a um quiloacutemetro de distacircncia em

linha recta em altitude semelhante agravequelas antas rondando os 200 metros ficaria

bem mais apartado por causa do vale profundo da ribeira do Jamor neste troccedilo

entatildeo conhecido por ribeira do Castanheiro (Ribeiro 1880 p 70) que separa as duas

plataformas

4121 Carrascal

O sepulcro do Carrascal (CNS-4295) tambeacutem conhecido por anta ou doacutelmen

de Agualva (Ribeiro 1880) estaacute classificado como Monumento Nacional (sob o

nome Agualva) por Decreto de 16 de Junho de 1910 (Diaacuterio do Governo nordm 163 de

23 de Junho de 1910) Para aleacutem do topoacutenimo local Carrascal eacute ainda conhecido por

ldquoFonte das Eirasrdquo constando num painel ali colocado recentemente partido e atirado

para dentro da cacircmara no acircmbito do vandalismo a que tem sido sujeito

A designaccedilatildeo Carrascal utilizada por O V Ferreira (1959) e V Leisner

(1965) surgia associada ao material em depoacutesito no Museu Geoloacutegico pelo menos

em 1944 (ALeisner Leis64) mas provavelmente desde a sua recolha Esta

denominaccedilatildeo permitiu tambeacutem agravequeles autores distinguir este siacutetio de Agualva do

tholos encontrado tambeacutem naquela localidade em 1951 (Ferreira 1953)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 68 de 415

O siacutetio foi identificado durante os levantamentos geoloacutegicos conduzidos por C

Ribeiro constando entre os sepulcros que o geoacutelogo daacute a conhecer na sua segunda

notiacutecia de estudos preacute-histoacutericos (Ribeiro 1880 p 67-69)

No uacutenico caderno de campo de C Ribeiro (1871-75) jaacute referido que consegui

localizar no arquivo do LNEG ainda que outros possam existir2 constam alguns

apontamentos acerca da escavaccedilatildeo desta anta bem como a sua planta com mediccedilotildees

ligeiramente diferentes das publicadas (Ribeiro 1880) Aleacutem de situar a intervenccedilatildeo

que teraacute ocorrido pelo menos em 28 de Fevereiro de 1875 a restante informaccedilatildeo

coincide com aquela disponibilizada na publicaccedilatildeo posterior

Segundo C Ribeiro (1880 p 68) os construtores daquela anta buscaram ldquoum

solo brando atacaacutevel aos utensiacutelios de pedra para ali abrir natildeo soacute a praccedila mas os

caboucos para o accomodamento e construcccedilatildeordquo deste monumento (Fig 50 3) De

facto apesar de se localizar em mancha de calcaacuterios e margas do Albiano-

Cenomaniano meacutedio e inferior (SGP 1991 Ramalho et al 1993) o sepulcro teraacute

sido implantado em pequena colina numa zona alterada proacutexima de filotildees de

ldquorocha feldsphatica eruptivardquo provavelmente correspondendo a filotildees traquiacuteticos

natildeo cartografados naquela aacuterea mas sim na de implantaccedilatildeo das jaacute referidas antas de

Pedra dos Mouros e Estria (Ribeiro 1880) Assim de acordo com o geoacutelogo para

aleacutem da localizaccedilatildeo aquela escolha subordinou tambeacutem a sua orientaccedilatildeo que

apontava para um eixo de talvez por lapso este-nordesteoeste-sudoeste (no seu

apontamento regista-se a orientaccedilatildeo oeste-noroeste pressupondo-se o este-sudeste)

Finalmente indicava que a extracccedilatildeo dos esteios teria sido efectuada nas bancadas

calcaacuterias imediatas

Quando o casal Leisner visitou a anta em 5 de Janeiro de 1944 (ALeisner

Leis64) a maioria dos seus esteios apresentava-se relativamente preservada e in situ

(Fig 51 1) Estes formavam uma cacircmara poligonal de 7 esteios continuada por

corredor baixo e curto do qual faltavam jaacute as duas lajes do lado norte entatildeo

desenhadas por C Ribeiro (1880) mas mantendo-se a do lado sul As fotos entatildeo

tiradas junto com a documentaccedilatildeo permitem observar os diversos afloramentos

disponiacuteveis em redor Outras imagens obtidas pelo casal numa segunda visita em

momento impreciso mas talvez da deacutecada de 50 mostram a erecccedilatildeo de um poste de 2 A inventariaccedilatildeo e catalogaccedilatildeo do imenso espoacutelio dos antigos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal satildeo processos abertos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 69 de 415

electricidade () por detraacutes do esteio de cabeceira (ALeisner Leis64) actualmente

inexistente (Fig 51 2 e 3)

As mediccedilotildees do sepulcro respeitantes agraves larguras de esteios e dimensotildees dos

espaccedilos da cacircmara e corredor publicadas por C Ribeiro (1880 p 67) divergem

daquelas anotadas (Ribeiro 1871-75) mas tal poderaacute dever-se a uma segunda visita

em que o registo tenha sido efectuado com outros criteacuterios Um desses criteacuterios teraacute

considerado os esteios B e C e I e J como as mesmas pedras ainda que fracturadas

No caso das anotaccedilotildees do casal alematildeo para aleacutem de separar os blocos B e C

aquelas medidas abrangeram tambeacutem a altura espessura e inclinaccedilatildeo dos esteios

bem como procuraram ilustrar as altimetrias registadas daquele edifiacutecio As medidas

abaixo referidas baseiam-se nos apontamentos de 1944 (ALeisner Leis64) cruzadas

com as publicadas ndash apenas na largura do esteio de cabeceira parece surgir um

divergecircncia significativa talvez resultando de algum lapso

Quadro 1 Dimensotildees dos esteios da anta do Carrascal

Esteio C Ribeiro 1871-75

C Ribeiro 1880 Leisner 1965 L x A x E

A 25 28 235280 x 18 x 02 B (B+C) 18 19 18 x 18 x 026 C - 11 13 x 13 x 036 D 17 17 x 19 x 034 E 13 15 13 x 13 x 026 F 145 15 143 x 22 x 32 G 12 14 09 x 13 x 024 H 25 21 24 x 105 x - I (I+J) 23 08 - J - 14 -

Diacircmetro cacircmara 344 380 370 35 Comprimento corredor [25 23] [25 22] [24]

Largura corredor 1 142 152216 - Mediccedilotildees em metros

Perante os diversos registos verifica-se uma consonacircncia geneacuterica das

dimensotildees condizente com o cariz megaliacutetico da estrutura

No alccedilado produzido pelo casal Leisner (1965 taf 57 2) este assumiu a

existecircncia de uma colina tumular significativa sem contudo ter sido realizada

qualquer intervenccedilatildeo no sentido de a identificar (Fig 52 1) Aliaacutes a observaccedilatildeo

actual do terreno contradiz tal leitura dada a existecircncia de aparentes topos de

afloramento a cotas aproximadas aos dos esteios

O sepulcro apresenta-se bastante enterrado emergindo os topos dos seus

esteios pelo lado exterior apenas cerca de meio metro de altura acima do solo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 70 de 415

envolvente O seu interior escavado por C Ribeiro encontra-se hoje ldquovaziordquo (se natildeo

se considerar o lixo para ali atirado) contribuindo para a inclinaccedilatildeo cada vez mais

acentuada dos ortoacutestatos

Em 1994 foram iniciados trabalhos de avaliaccedilatildeo para uma sequente

valorizaccedilatildeo Nessa campanha realizou-se uma sondagem para verificar a existecircncia

de manto tumular distinguiacutevel da colina natural mas os trabalhos foram suspensos

sem conclusotildees definitivas aguardando-se para breve o seu reiniacutecio (informaccedilatildeo

pessoal de T Simotildees arqueoacuteloga da Cacircmara Municipal de Sintra)

Os resultados da intervenccedilatildeo de C Ribeiro segundo este foram parcos pois a

anta teria jaacute sido explorada anteriormente tendo os seus visitantes despojado ldquoa

cacircmara e galeria dos objectos drsquoarte que ali deveria haver de modo que soacute [achou]

alguns raros fragmentos de siacutelex e de vasos de barro dentes e fragmentos de

pequenos ossos humanosrdquo (Ribeiro 1880 p 69) Apoacutes aquela acccedilatildeo os anteriores

visitantes teriam reposto a terra quase ateacute quase ao topo do sepulcro Durante a sua

escavaccedilatildeo C Ribeiro registou ainda trecircs grandes blocos que poderiam na sua

opiniatildeo ser fragmentos da antiga laje de cobertura

A presunccedilatildeo de uma escavaccedilatildeo anterior ainda que plausiacutevel natildeo explica

totalmente o limitado espoacutelio (Fig 52) Sobretudo quando o recinto se encontrava

preenchido com terras quase cobrindo-o (eacute improvaacutevel que algueacutem no passado se

desse a tal trabalho de reposiccedilatildeo de terras) Assim tambeacutem se deve considerar que

aquele sepulcro teria apenas um espoacutelio arcaico e normalmente menos abundante e

variado contra outros mais recentes que C Ribeiro (1880) exumou por exemplo

nas antas de Belas

Quanto ao espoacutelio especiacutefico C Ribeiro natildeo deu qualquer pista natildeo se

conhecendo a sua proveniecircncia dentro do sepulcro existindo apenas um artefacto

um braccedilal de arqueiro que parece ter sido recolhido ldquona galeriardquo segundo a

marcaccedilatildeo da peccedila (MG29528) Contudo antes de avanccedilar para o significado deste

achado e dos restantes eacute importante explanar a condiccedilatildeo do espoacutelio ali recolhido

Contrariamente a outras colecccedilotildees mais ldquoimportantesrdquo do Museu Geoloacutegico as

peccedilas do Carrascal natildeo apresentavam etiquetas coladas com identificaccedilatildeo como era

frequente fazer-se no seacuteculo XIX inclusive em alguns restos osteoloacutegicos mais

interessantes Possivelmente porque aqueles restos eram apenas ldquopequenos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 71 de 415

fragmentosrdquo natildeo receberam a sempre uacutetil etiquetagem Apresentavam apenas uma

marcaccedilatildeo ldquoArdquo como vim a verificar na sequecircncia da avaliaccedilatildeo do espoacutelio

Dos materiais referidos por C Ribeiro hoje apenas se localizaram os liacuteticos e

os osteoloacutegicos Os cacos ceracircmicos natildeo foram detectados Mas tal situaccedilatildeo parece

que jaacute acontecia em 1 de Maio de 1944 quando o casal Leisner procedeu ao desenho

dos materiais (ALeisner Leis64) pois natildeo consta qualquer referecircncia a esse material

No entanto desde entatildeo os materiais liacuteticos acabaram misturados com outros

nomeadamente sob a designaccedilatildeo de ldquoDoacutelmen das Pedras Grandesrdquo (MG637)

Recorrendo agrave publicaccedilatildeo de V Leisner (1965) verifiquei que aquelas peccedilas com a

marcaccedilatildeo ldquoArdquo correspondiam a algumas das atribuiacutedas ao Carrascal Por outro lado

o braccedilal de arqueiro migrou para a colecccedilatildeo do tholos de Agualva inclusive

constando como tal na vitrina expositiva talvez pela matildeo de algueacutem influenciado

pela a ideia preconcebida de ceracircmica campaniforme + braccedilal de arqueiro Poreacutem

como natildeo havia nenhuma referecircncia de C Ribeiro agravequele artefacto a descoberta do

referido tholos se tinha dado em 1951 e a publicaccedilatildeo de V Leisner datava de 1965

tornava-se difiacutecil garantir com rigor a sua proveniecircncia ou que tivesse ocorrido

alguma reposiccedilatildeo erroacutenea Felizmente este dilema foi solucionado quando tive

acesso aos referidos apontamentos do casal alematildeo pois outras das peccedilas marcadas

com ldquoArdquo e o braccedilal surgiam desenhados em pranchas com a data de 1944 (ALeisner

Leis64)

O espoacutelio osteoloacutegico humano encontrava-se com registo proacuteprio atribuiacutedo ao

ldquoDoacutelmen do Carrascalrdquo (MG538) Apenas um fragmento de calote craniana

encontrava-se misturada com materiais do tholos de Agualva ainda que sob um

coacutedigo da ldquoEncosta do Pendatildeordquo (MG1853) Contudo o facto de ter a marcaccedilatildeo

ldquoAgualva-15rdquo e uma coloraccedilatildeo semelhante aos outros restos oacutesseos do Carrascal foi

possiacutevel separaacute-la das trecircs veacutertebras que apresentavam um sedimento avermelhado

semelhante ao do restante espoacutelio do tholos A indicaccedilatildeo de pertenccedila a Encosta do

Pendatildeo teraacute sido apenas mais um acidente de percurso

Portanto apoacutes esta criacutetica das fontes julgo possiacutevel avanccedilar com seguranccedila na

anaacutelise dos parcos materiais recolhidos na anta do Carrascal

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 72 de 415

Estes resumem-se a algumas pequenas lacircminas pouco retocadas normalmente

de forma descontiacutenua dois geomeacutetricos trapeacutezios e um fragmento de lacircmina espessa

bem retocada

Seria ainda importante perceber que fragmentos ceracircmicos foram recolhidos

por C Ribeiro mas talvez o braccedilal de arqueiro possa denunciar a presenccedila de alguma

ceracircmica campaniforme que infelizmente se perdeu

Assim perante as caracteriacutesticas dos materiais agrave semelhanccedila de outras antas

estudadas diria que a anta do Carrascal foi utilizada entre meados e os dois uacuteltimos

quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane As duas dataccedilotildees absolutas (Anexo 3 Quadro 2) obtidas

sobre dois feacutemures um esquerdo (MG5380406) e outro direito (MG538047-8)

ainda que pelas suas caracteriacutesticas de indiviacuteduos diferentes permitiram assegurar

essa antiguidade inclusive localizando-a essencialmente no terceiro quartel do 4ordm

mileacutenio ane Os intervalos obtidos foram respectivamente os seguintes (Beta-

225167) 3620-3350 cal BCE (com 942 de probabilidade restringe-se a 3530-3350

cal BCE) e a outra (Beta-228577) 3650-3350 cal BCE

Finalmente em momento posterior da 2ordf metade do 3ordm mileacutenio ou jaacute no 2ordm

mileacutenio eacute realizado pelo menos um depoacutesito eventualmente funeraacuterio no corredor

Portanto a anta do Carrascal parece ter sido implantada em momento anterior agrave

erecccedilatildeo da necroacutepole de Belas pelo que qualquer relaccedilatildeo espacial de causa e efeito

apenas pode ser procurada a partir deste sepulcro e natildeo o contraacuterio

4122 Pego Longo megaliacutetico mas natildeo sepulcral

O edifiacutecio megaliacutetico de Pego Longo (CNS-3518) encontra-se classificado

como Imoacutevel de Interesse Puacuteblico pelo Decreto nordm 2990 publicado no Diaacuterio da

Repuacuteblica 163 de 17 de Julho de 1990 Aleacutem desta designaccedilatildeo eacute tambeacutem conhecido

como Galeria coberta de Carenque (Ferreira 1959 Leisner 1965) ou da Serra das

Camelas (Ferreira e Leitatildeo sd p 189) ou Cameacutelias (IPPAR 1986 p 35) Segundo

E C Serratildeo a denominaccedilatildeo D Maria foi atribuiacuteda por O V Ferreira (Ferreira

1959) depois de este ter identificado aquele nome entre algumas inscriccedilotildees gravadas

num dos blocos da estrutura (Serratildeo Mesquita e Mesquita 1984) Nos seus

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 73 de 415

apontamentos o casal Leisner regista ainda as designaccedilotildees Ribeiro do Castanheiro e

Alto das Camelas (ALeisner Leis47) para esta estrutura

O siacutetio foi identificado e estudado por C Ribeiro no seacuteculo XIX tendo sido

alvo de notiacutecia nos Estudos Preacute-histoacutericos (Fig 53 1 e 2) sem designaccedilatildeo

especiacutefica apenas situado face a Monte Abraatildeo num relevo que separava as ribeiras

do Castanheiro e Carenque (Ribeiro 1880) Posteriormente O V Ferreira (1959)

refere ter feito nova pesquisa no ano anterior (1958) em colaboraccedilatildeo com V

Leisner o que esta aponta ter acontecido em 1960 (Leisner 1965 p 82) sobretudo

para melhor perceberem a sua estrutura Em 1983 a pedido da Cacircmara Municipal de

Sintra E C Serratildeo procede a nova exploraccedilatildeo com resultados tambeacutem pouco

clarificadores (Serratildeo Mesquita e Mesquita 1984) Finalmente em 1991 um

cidadatildeo preocupado com a seguranccedila de crianccedilas que ali baloiccedilavam numa das lajes

de cobertura desloca os linteacuteis destruindo com uma buldozer os muretes de pedra

seca que os suportavam (Sebastiatildeo 1991) encontrando-se estes tombados desde

entatildeo cada vez mais rodeados por entulhos

O cariz megaliacutetico desta estrutura resulta da utilizaccedilatildeo de quatro lajes de

cobertura de dimensotildees consideraacuteveis mas assentes numa estrutura mural em pedra

seca e nivelada quase integral do lado oeste e sul e parcial do lado este visto que aiacute

os seus construtores aproveitaram o proacuteprio afloramento alinhado e alteado Assim a

diaacuteclase alargada ali existente foi aproveitada como o espaccedilo interior rodeada com

a referida estrutura abrindo a norte Este edifiacutecio apresentava entatildeo segundo C

Ribeiro (1880 p 70) 4 m de comprimento por cerca de 175 m de largura e 19 m de

altura meacutedia V Leisner (1965 p 82) apresenta a planta e alccedilado do edifiacutecio

reflectindo mais fielmente a sua estrutura com novas mediccedilotildees 510 m de

comprimento por 240 m de largura maacutexima e 150 m miacutenima natildeo ultrapassando o

15 m de altura (Fig 53 3 e 4)

Em 1983 durante os trabalhos de E C Serratildeo uma das lajes de cobertura

desaparecera jaacute encontrando-se outra inclinada para dentro da cacircmara (Serratildeo

Mesquita e Mesquita 1984)

Os paralelos directos para este tipo de construccedilatildeo na regiatildeo de Lisboa

enquadraacuteveis em eacutepoca preacute-histoacuterica satildeo desconhecidos No entanto C Ribeiro

considerava que este edifiacutecio teria caracteriacutesticas ldquoalgum tanto anaacutelogasrdquo a outras

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 74 de 415

descritas por si concretamente a ldquopequena casa de mui grosseira construcccedilatildeo

servindo-lhe de tecto duas grandes lagesrdquo junto ao Moinho da Moura em Leceia

(Ribeiro 1880 p 70 Ribeiro 1878 p 9-11) e a outra a cerca de 500 metros a

noroeste do Casal de Colaride com dois monoacutelitos de calcaacuterio na sua cobertura

ainda que neste caso se salientasse ldquouma tal ou qual regularidade nos paramentos

das paredes que denunciam um certo adiantamento na arte de traccedilar e de construir

semelhantes edificaccedilotildeesrdquo (Ribeiro 1880 p 71-72) Na aacuterea onde se localizava esta

uacuteltima estrutura registaram-se posteriormente vaacuterios vestiacutegios de eacutepocas diversas

parcialmente afectados pela extracccedilatildeo de pedra (Coelho 2002) Em ambas as

construccedilotildees quadrangulares as exploraccedilotildees de C Ribeiro nada identificaram

Quase um seacuteculo depois O V Ferreira (1975) aborda o assunto a pretexto de

um apontamento de Francisco C Ribeiro (ver capiacutetulo 413) Este identificara nos

anos 20 outra construccedilatildeo quadrangular com cobertura ortostaacutetica junto agraves pedreiras

de Trigache conhecida por laquoCasinhotaraquo sem ter recolhido nela qualquer material

Com esta estrutura satildeo ainda consideradas outras duas uma possiacutevel a este de

Monte Serves (semi-destruiacuteda) e outra na Figueira da Foz com uma descriccedilatildeo menos

clara onde surgiram materiais preacute-histoacutericos Na opiniatildeo deste arqueoacutelogo as

estruturas apresentavam teacutecnicas construtivas semelhantes agraves dos tholoi e agraves

ldquomegaliacuteticasrdquo Apesar de admitir usos mais recentes (atestados pela presenccedila de

telhas) numa perspectiva difusionista actualmente desacreditada considerava que

estas poderiam corresponder a santuaacuterios ldquomegaronrdquo de povos provenientes do

mediterracircneo oriental (Ferreira 1975 p 54-55)

Entretanto no caso especiacutefico de Pego Longo O V Ferreira (1959) via

semelhanccedilas nesta estrutura e na de Trigache 3 com aquelas de Otranto no sul da

Peniacutensula Itaacutelica (Ferreira 1959 p 217 e 223) De facto as semelhanccedilas formais

imediatas satildeo surpreendentes mas aleacutem de se contrapor a distacircncia fiacutesica que separa

as duas regiotildees tambeacutem naquelas estruturas natildeo se reconheceu espoacutelio

caracterizaacutevel mantendo-se enigmaacuteticas com especulativas relaccedilotildees com as

construccedilotildees maltesas (Whitehouse 1967)

Quando se avalia a implantaccedilatildeo conhecida das estruturas enumeradas estas

surgem sempre nas proximidades de exploraccedilotildees de pedra activas ou desactivadas o

que levanta a hipoacutetese de poderem ter servido como abrigo inclusive durante os tiros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 75 de 415

detonados Isto porque esse tipo de estrutura megaliacutetica ainda hoje pode ser

observada por vezes nas pedreiras em laboraccedilatildeo tanto na regiatildeo de Lisboa como

noutras aacutereas do paiacutes nomeadamente Alto Alentejo

No que concerne o uso do elemento natural e o tipo de estrutura de Pego

Longo julgo que Bela Vista (CNS-19452 Mello et al 1961 Leisner 1965) poderia

ser talvez a realidade mais aproximada pois tambeacutem aquela aproveitou a

circunstacircncia de uma anomalia natural neste caso a cavidade sob o caos de blocos

graniacuteticos para ali instalar um pseudo-tholos adossado Contudo o traccedilo

arquitectoacutenico e o espoacutelio ali recolhido permitiram caracterizar a estrutura como

funeraacuteria num acircmbito cronoloacutegico provavelmente da 2ordf metade do 3ordm mileacutenio ane

o que natildeo eacute possiacutevel por desconhecimento de qualquer material no edifiacutecio em

anaacutelise

As diversas exploraccedilotildees efectuadas na estrutura dentro e fora natildeo

conseguiram ateacute hoje detectar elementos passiacuteveis de classificaccedilatildeo C Ribeiro

referia que naquela ldquoespeacutecie de monumento meio gruta artificial meio dolmen

nenhuns restos de animaes nem vestiacutegios de objectos drsquoarte encontraacutemos apenas no

solo adjacente topaacutemos com algumas lascas de siacutelexrdquo (1880 p 71) o que na regiatildeo eacute

frequente Tais resultados infrutiacuteferos tambeacutem se registaram nas estruturas de Leceia

e Colaride (Ribeiro 1878 p 9-11 Ribeiro 1880 p 70-72)

Na acccedilatildeo mencionada por O V Ferreira (1959) tambeacutem natildeo se referem

achados o que V Leisner (1965 p 82) realccedila anotando a inexistecircncia de material

recolhido

Por fim E C Serratildeo descreve o interior daquele edifiacutecio cheio de lixo na base

do qual recolheu alguns fragmentos ceracircmicos de difiacutecil classificaccedilatildeo e um

fragmento de ardoacutesia com 1cm2 - o que surpreende e levanta duacutevidas quanto agrave sua

proveniecircncia pois a forma meticulosa de escavar que C Ribeiro e seus

colaboradores praticavam teria detectado tais materiais com certeza se ali

estivessem originalmente

A fraqueza dos dados dispostos bem como a inusitada estrutura satildeo entatildeo

dificuldades evidentes para a sua classificaccedilatildeo Aliaacutes E C Serratildeo teraacute sentido isso

verificando-se essa preocupaccedilatildeo na sua argumentaccedilatildeo ldquoNa realidade este megaacutelito

de Belas foge aos tipos dos megaacutelitos claacutessicos incluindo mesmo os de classe das

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 76 de 415

ldquogalerias cobertasrdquo iquestE porque havemos de o introduzir rigidamente num grupo

como se investigaacutessemos em Zoologia por exemplo ciecircncia em cujo seio aparecem

aliaacutes com alguma frequecircncia exemplares de geacuteneros e famiacutelias novas Por muito

que os arqueoacutelogos pretendam sistematizar tecircm de estar preparados para casos de

excepccedilatildeo em todos os campos da construccedilatildeo de monumentos e fabrico de artefactos

antigos pois os autores foram homens e caracteriza os homens o poder da

criatividade onde estaacute o germe do progressordquo (Serratildeo Mesquita e Mesquita 1984 p

3) Ainda para justificar a ausecircncia de espoacutelio enumera vaacuterias hipoacuteteses estrutura

construiacuteda sem que tenha sido posteriormente utilizada trasladaccedilatildeo dos espoacutelios ali

depositados e finalmente ldquomuitas e sucessivas ldquoviolaccedilotildeesrdquo por populaccedilotildees de

vaacuterias eacutepocas seguintes e durante quase 6 mileacuteniosrdquo Contudo observa que rdquoas

violaccedilotildees de que quase todos os megaacutelitos foram alvo rariacutessimamente provocaram o

desaparecimento de simples resiacuteduos de artefactos de quaisquer mateacuterias primas e

ateacute de esquiacuterolas de ossos humanos ou natildeo principalmente dentes pois aos

violadores (que natildeo eram arqueoacutelogos) natildeo interessava esvaziar mas sim procurar

mateacuterias primas de que careciam ou objectos com utilidade desprezando inuacutemeras

peccedilas inteiras ou fragmentadasrdquo (Serratildeo Mesquita e Mesquita 1984 p 4) Fazendo

minhas as suas palavras apontaria este uacuteltimo motivo para tambeacutem descartar a

possibilidade do espoacutelio sob a designaccedilatildeo de ldquoAnta de Belasrdquo poder provir dali

Perante o exposto eacute entatildeo difiacutecil adscrever para este edifiacutecio uma funccedilatildeo

funeraacuteria para a qual a presenccedila de restos humanos seria condiccedilatildeo primaacuteria mais

ainda numa regiatildeo em que a sua preservaccedilatildeo eacute recorrente

Por outro lado para aleacutem do aspecto megaliacutetico da estrutura a atribuiccedilatildeo

funeraacuteria parece tambeacutem ter resultado da proximidade dos diversos sepulcros preacute-

histoacutericos de Belas e Carenque sobretudo do primeiro grupo construindo-se

historiograficamente uma realidade natildeo comprovaacutevel mas aceite de boa feacute por vaacuterios

autores inclusivamente no iniacutecio do meu proacuteprio trabalho (Boaventura no prelo b)

Sintomaacutetico dessa falta de comprovaccedilatildeo talvez seja o facto das trecircs antas de Belas e

a de Carrascal terem sido logo em 1910 classificadas como Monumentos Nacionais

mas o Pego Longo se quedasse arredado de tal distinccedilatildeo

Se a funccedilatildeo funeraacuteria resulta questionaacutevel a sua atribuiccedilatildeo cronoloacutegica eacute

entatildeo uma tarefa vatilde Contudo se de facto aquela construccedilatildeo cumprisse a funccedilatildeo de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 77 de 415

abrigo esta pertenceria a momentos mais recentes quiccedilaacute apoacutes a introduccedilatildeo da

poacutelvora na extracccedilatildeo de pedra

Assim a natildeo ser que sejam recolhidos novos elementos ou detectadas

estruturas semelhantes apoacutes a anaacutelise supra considerei que este edifiacutecio deveria ser

excluiacutedo do presente estudo

413 O cluster de Trigache

Os sepulcros de Trigache e Conchadas foram apresentados agrave comunidade

arqueoloacutegica por intermeacutedio de V Leisner e O V Ferreira (1959 e 1961) a partir

dos espoacutelios exumados e dos apontamentos produzidos por Francisco Carlos Ribeiro

(Ferreira 1961 Leisner e Ferreira 1961) O V Ferreira (1959) refere-se a trecircs deles

de forma sucinta no seu inventaacuterio de monumentos megaliacuteticos de Lisboa publicado

no mesmo volume do trabalho conjunto com V Leisner (Leisner e Ferreira 1959)

Contudo aquelas referecircncias teratildeo resultado provavelmente de uma primeira notiacutecia

ainda sem os dados sistematicamente estudados pois notam-se algumas

incongruecircncias que teratildeo sido rectificadas posteriormente mas sem o devido alerta

F C Ribeiro empregado bancaacuterio residente em Odivelas durante os anos 20

do seacuteculo XX procedeu a escavaccedilotildees de vaacuterios sepulcros nos arredores daquela

povoaccedilatildeo entre 1920 e 1925 durante a sua convalescenccedila de doenccedila prolongada

(Ferreira 1961) As suas actividades arqueoloacutegicas teratildeo chamado a atenccedilatildeo puacuteblica

pois foram noticiadas no Diaacuterio de Notiacutecias (1331925) e inclusive a de J L

Vasconcelos com quem se teraacute correspondido ndash no epistolaacuterio deste arqueoacutelogo

apenas localizei uma carta de F C Ribeiro desculpando-se pela demora em

responder aos assuntos de Arqueologia mas sem os desenvolver (AJLVasconcelos)

Tambeacutem enquanto soacutecio da Sociedade de Geografia teraacute proferido uma conferecircncia

acerca dos resultados de seus trabalhos (Ferreira 1961) Aquela actividade teraacute

abarcado outros tipos de vestiacutegios e cronologias nomeadamente a escavaccedilatildeo de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 78 de 415

algumas sepulturas aparentemente visigoacuteticas na aacuterea de A-da-Beja (Ferreira 1963)

ou recolhas de material paleoliacutetico do Casal do Monte (ALeisner Leis61)

Apesar de natildeo ter concretizado a publicaccedilatildeo daquelas pesquisas megaliacuteticas os

seus materiais e apontamentos permaneceram guardados pelo que apoacutes a sua morte

em 1951 o seu sobrinho A R Ferreira (1961) diligenciou o seu estudo atraveacutes de O

V Ferreira e V Leisner sendo provaacutevel que G Leisner tambeacutem tenha colaborado ndash

no entanto a idade avanccedilada e os problemas de sauacutede que conduziriam ao seu

falecimento em Setembro de 1958 teratildeo limitado essa colaboraccedilatildeo Portanto eacute

graccedilas a todos estes intervenientes que hoje se tem conhecimento destes sepulcros

pois a voragem da exploraccedilatildeo de pedra em Trigache e em A-da-Beja erradicaram

completamente qualquer vestiacutegio

Aleacutem das publicaccedilotildees daqueles autores utilizei ainda a documentaccedilatildeo referente

a estes sepulcros produzida pelo casal Leisner aparentemente no primeiro semestre

de 1958 (ALeisner Leis61 e Leis64) nomeadamente os desenhos de materiais (com

coacutedigos entretanto desaparecidos) e as transcriccedilotildees dactilografadas efectuadas dos

papeacuteis de F C Ribeiro ainda que notando-se a falta de algumas paacuteginas Estas

transcriccedilotildees natildeo indicam por vezes as mediccedilotildees das lajes deixando espaccedilos em

branco mas noutros papeacuteis surgem anotaccedilotildees delas pelo que se pode assumir que

algumas existiam originalmente Por outro lado o desenho das plantas daqueles

sepulcros ter-se-aacute baseado essencialmente nas descriccedilotildees manuscritas de F C

Ribeiro mas eacute possiacutevel que tais esquiccedilos existissem pois satildeo referidos para Trigache

4 e Conchadas A consulta directa da documentaccedilatildeo de F C Ribeiro natildeo foi possiacutevel

por natildeo ter conseguido localizaacute-la quer no Museu Geoloacutegico ou na biblioteca do

Laboratoacuterio Nacional de Energia e Geologia (ex-INETI) Assim foi a partir do

cruzamento e anaacutelise dos documentos sobreviventes que foi possiacutevel compreender

melhor as conclusotildees publicadas e propor novas leituras para alguns dos sepulcros

Em geral os apontamentos de F C Ribeiro satildeo pormenorizados tendo existido

a preocupaccedilatildeo de atribuir coacutedigos a parte das peccedilas relacionando-as com as posiccedilotildees

de recolha por vezes com as profundidades registadas a partir da superfiacutecie

Depreende-se dos textos que as terras da escavaccedilatildeo deveriam ter sido sempre

crivadas normalmente no final da acccedilatildeo mas tal soacute ficou expliacutecito no caso da

exploraccedilatildeo de Trigache 4 quando se afirma que ldquoterminada a exploraccedilatildeo e passadas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 79 de 415

pelo crivo as terras deste monumento passamos agrave examinaccedilatildeo dos seguintes

objectosrdquo (cit in ALeisner Leis61)

Entretanto uma das questotildees que teraacute passado desapercebida aos editores do

espoacutelio de F C Ribeiro refere-se agrave anta de Pedras Grandes Quando compilava a

bibliografia para as antas de Lisboa e reli este trabalho algo que me suscitou

interrogaccedilatildeo foi o facto das exploraccedilotildees se terem realizado em Trigache e em

Conchadas quedando-se intocada e natildeo referida a anta de Pedras Grandes (ou do

Fojo) situada a escasso quiloacutemetro de Trigache e com certeza conhecida pelo

bancaacuterio pois refere-se ao trabalho de Carlos Ribeiro (ALeisner Leis61) Uma das

hipoacuteteses que coloquei inicialmente para tal omissatildeo teria sido a dificuldade de

qualquer exploraccedilatildeo ali se concretizar com parcos meios pois a queda do seu esteio

de cabeceira selando o acesso a quase toda a cacircmara limitaria o sucesso da tarefa

tal como jaacute acontecera a C Ribeiro (1880 p 69) Mas isso natildeo teria impedido

alguma pesquisa pontual

Quando procedi a nova anaacutelise das publicaccedilotildees referentes aos monumentos de

Trigache verifiquei que uma das imagens fotograacuteficas atribuiacuteda agrave anta de Trigache 1

(Leisner e Ferreira 1961 est XII-2) correspondia de facto agrave anta de Pedras

Grandes vista de Este-Nordeste com a Serra de Sintra no horizonte algo impossiacutevel

de se observar na aacuterea do agrupamento de Trigache (Fig 69 1 e 2) Como F C

Ribeiro surge fotografado em todas as antas exploradas por ele eacute provaacutevel que

tambeacutem nesta tenha sido realizada alguma pesquisa mas se recolheu algum material

tal natildeo foi detectado por V Leisner e O V Ferreira (1961)

Com a excepccedilatildeo do caso referido atraacutes as informaccedilotildees de F C Ribeiro

permitiram a reconstituiccedilatildeo geneacuterica das suas intervenccedilotildees bem como dos materiais

recolhidos pelo menos para a maioria deles Isto porque algumas peccedilas jaacute tinham

perdido a sua proveniecircncia por monumento como aconteceu com parte do espoacutelio

ceracircmico dos sepulcros de Trigache entretanto designados ldquoNecroacutepole de Trigacherdquo

(Leisner e Ferreira 1961 p 312) e posteriormente com outro espoacutelio nomeadamente

de Conchadas

Apoacutes a entrada do espoacutelio de Trigache e Conchadas no Museu Geoloacutegico este

sofreu outros infortuacutenios culminando nos anos 90 com a unificaccedilatildeo dos sepulcros

de Trigache sob um mesmo coacutedigo (MG179) sem que as peccedilas tivessem sido

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 80 de 415

sistematicamente inventariadas com adscriccedilatildeo de monumento o que deveria ter sido

possiacutevel Contudo informaccedilatildeo pessoal de J Brandatildeo em 2005 entatildeo o responsaacutevel

interino pelo Museu (Brandatildeo 1999) referiu que muitos dos materiais agrave data da

inventariaccedilatildeo jaacute se encontravam misturados nos tabuleiros com etiquetas perdidas ou

fora de siacutetio

Felizmente boa parte do espoacutelio tinha jaacute sido publicado com listagem

desenhos e fotografias (Leisner e Ferreira 1959 Leisner e Ferreira 1961 Leisner

1965) a que se juntou a documentaccedilatildeo referida atraacutes tornando foi possiacutevel a

recuperaraccedilatildeo da maioria das proveniecircncias dos materiais quando ingressaram no

Museu Aqueles em que tal objectivo natildeo foi alcanccedilado engrossaram o grupo

designado ldquoNecroacutepole de Trigacherdquo

Neste capiacutetulo discutirei apenas os sepulcros de Trigache abordando-se o de

Conchadas noutro capiacutetulo

Segundo V Leisner e O V Ferreira (1961) os monumentos megaliacuteticos de

Trigache situavam-se na encosta oriental do planalto denominado ldquoCampo de

Trigacherdquo no fundo da qual corre a Ribeira de Odivelas (Fig 26) O substrato desta

aacuterea apresenta calcaacuterios cretaacutecicos do Cenomaniano superior (SGP 1981)

anteriormente classificado como Turoniano (Leisner e Ferreira 1961 Zbyszewski

1964) Teraacute sido esta a mateacuteria-prima utilizada na construccedilatildeo dos sepulcros 1 a 3 e

possivelmente do 4 Isto porque de acordo com a sua localizaccedilatildeo este uacuteltimo

situar-se-ia em calcaacuterios cretaacutecicos mas do Cenomaniano meacutedio com ldquocalcaacuterios e

margas (ldquoBelasianordquo)rdquo (Leisner e Ferreira 1961 fig 1 Zbyszweski 1964) Apesar

disso poderaacute admitir-se que os blocos utilizados foram extraiacutedos localmente se natildeo

mesmo nas imediaccedilotildees da erecccedilatildeo das construccedilotildees Outro aspecto que importa reter eacute

a abundante presenccedila de siacutelex nas bancadas rochosas desta zona (Zbyszweski 1964)

inclusive ainda hoje recordada pelo topoacutenimo ldquoPedernaisrdquo (IGE 1993)

4131 Trigache 1

A anta de Trigache 1 (CNS-4733) situava-se ldquonuma pequena encosta de

declive natildeo excedenterdquo (F C Ribeiro cit in ALeisner Leis61) o que a fotografia

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 81 de 415

apresentada parece ilustrar como um pequeno patamar (Leisner e Ferreira 1961 est

XII 1)

Apesar da referida imagem ser bastante clara acerca do caraacutecter megaliacutetico do

sepulcro (Leisner e Ferreira 1961 est XII 1) a descriccedilatildeo e a planta apresentadas

revelam-se menos esclarecedoras No entanto nos apontamentos de V Leisner o

esboccedilo de uma das plantas eacute mais legiacutevel e compatiacutevel com aquela imagem

(ALeisner Leis64) O motivo para tal contradiccedilatildeo deveraacute residir no facto dos

arqueoacutelogos terem optado na planta final por seguir literalmente a descriccedilatildeo de F C

Ribeiro Contudo neste caso diria que uma imagem vale por mil palavras

preferindo dar primazia agrave foto pois nem sempre aquele teraacute compreendido

totalmente as realidades que escavava e descrevia (Fig 54 1 e 2)

A anta mantinha quatro esteios da cacircmara aproximadamente in situ ainda que

inclinados sobretudo o esteio B e D As dimensotildees apontadas pelos autores referem

uma altura maacutexima para o esteio A de 220 m de altura por 062 m de espessura Os

restantes tinham alturas de B - 162 m por 034 m de espessura C - 103 m por 015

m e D ndash 2 m por 020 m Estas verticais corresponderatildeo aos valores medidos dos seus

topos inclinados ao chatildeo e natildeo na sua posiccedilatildeo original Jaacute a posiccedilatildeo do bloco E

parece ser menos paciacutefica pois F C Ribeiro coloca-o dentro da cacircmara em cutelo

Mas observando a foto aquela laje de facto em cutelo surge no limite daquele

espaccedilo podendo inclusive corresponder a outro esteio deslocado As suas dimensotildees

anotadas por V Leisner eram de 2 m comprimento tombado por 096 m de largura e

030 m de espessura Quanto ao corredor natildeo havia registo acerca deste ainda que

pudesse subsistir na sua mamoa aparentemente perceptiacutevel na foto (Leisner e

Ferreira 1961 est XII 1) e assinalada por F C Ribeiro (ALeisner Leis64)

contrariamente ao que eacute referido no texto publicado (Leisner e Ferreira 1961 p

302)

Apesar de se referir que a orientaccedilatildeo do sepulcro era incerta surge na planta

uma seta indicando o Norte provavelmente porque se utilizou algum apontamento

ou o relevo circundante como ponto de referecircncia De facto se considerarmos que

aquele monumento se localizava na encosta oriental do ldquoCampo de Trigacherdquo este

estaria num patamar em niacutevel inferior ao seu horizonte pelo que o esteio C apontaria

a Noroeste daiacute deduzindo-se genericamente o Norte

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 82 de 415

Face ao exposto ainda que com alguma reserva eacute plausiacutevel admitir que esta

anta apresentaria uma cacircmara poligonal de dimensotildees meacutedias provavelmente

orientada para nascente

A escavaccedilatildeo do sepulcro segundo F C Ribeiro (cit in ALeisner Leis64)

revelou uma cacircmara entulhada com terra e pedras registando-se sob estas uma

camada de 15-20 cm de espessura onde se recolheram ossos humanos e dentes O

piso seria de terra batida com muitas lascas de siacutelex Os objectos encontrados foram

pouco numerosos resumindo-se a uma lacircmina de siacutelex natildeo retocada de secccedilatildeo

triangular (em mm comp 428 larg 197 esp 46) dois fragmentos de outras duas

lacircminas e dois machados de secccedilatildeo circular De todo o espoacutelio mencionado apenas

foi possiacutevel localizar os instrumentos de pedra polida Mas eacute provaacutevel que tal

situaccedilatildeo jaacute ocorresse agrave data do estudo anterior ainda que nem sempre seja claro

aquilo que de facto resultou da listagem dos achados referida por F C Ribeiro ou

dos objectos que foram realmente identificados pelos editores do trabalho Refira-se

que um dos conjuntos de restos humanos actualmente sob a designaccedilatildeo de

Necroacutepole de Trigache poderia corresponder a este siacutetio

Pelo espoacutelio recolhido eacute difiacutecil apontar com seguranccedila um periacuteodo de

utilizaccedilatildeo mas a ausecircncia de menccedilatildeo a fragmentos ceracircmicos a presenccedila de

machados polidos de secccedilatildeo circular ou ovalada e eventualmente as lacircminas

poderatildeo apontar uma utilizaccedilatildeo geral na 2ordf metade do 4ordm mileacutenio ane

4132 Trigache 2

O sepulcro de Trigache 2 (CNS-3857) situar-se-ia a cerca de 160 metros a

leste-sudeste do nordm 1 ldquomuito proximo do caminho que vem do casal de Trigaches ndash

pedreiras se bifurca para descer em dois ramos ateacute o riordquo (F C Ribeiro cit in

ALeisner Leis61)

Segundo F C Ribeiro a mamoa ainda subsistia parcialmente (Fig 54 3-4)

Apesar de natildeo abarcar a totalidade do relevo do sepulcro a fotografia desta estrutura

evidencia ainda um corredor com as faces externas dos esteios envolvidas por terras

com um certo porte (Leisner e Ferreira 1961 est XIII 3)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 83 de 415

Pela mesma imagem percebe-se ainda a dimensatildeo megaliacutetica desta estrutura

(Fig 54 4) mas jaacute natildeo eacute clara a grande cacircmara circular com aproximadamente 550

metros de diacircmetro definida por V Leisner e O V Ferreira (1961) De facto F C

Ribeiro apenas descreve dois esteios da cacircmara b e a admitindo a possibilidade

deste uacuteltimo ser jaacute parte do corredor Entre b e a num fosso de violaccedilatildeo anterior

localizou outro bloco que considerou um fragmento de esteio Quanto agraves dimensotildees

do esteio b inclinado ligeiramente para o interior da cacircmara teraacute havido troca de

valores na publicaccedilatildeo pois 190 m era a largura maacutexima e 145 m a sua altura

(ALeisner Leis61) Assim face aos parcos dados para esta parte do sepulcro

limitaria a interpretaccedilatildeo agrave possibilidade de uma anta com cacircmara de caraacutecter

poligonal

No que concerne o corredor o tamanho da laje a com cerca de 120 m de

altura por 110 m de largura com uma altimetria aproximada do esteio b distingue-

se claramente dos restantes elementos do corredor que natildeo ultrapassariam o meio

metro mas sem que aparentassem estar quebrados O comprimento daquela parte

baixa com cerca de 210 m e uma largura 090 m no tramo inicial para se alargar a

meio ateacute 130 m coloca a possibilidade da existecircncia de um tramo vestibular

intratumular natildeo coberto dando acesso a um curto corredor com uma altura

aproximada agrave da cacircmara A largura agrave entrada da cacircmara 125 m deve ser

considerada com reserva pois natildeo se reconheceu o esteio ou o seu alveacuteolo no lado

sul De qualquer forma os autores estimaram a orientaccedilatildeo da passagem apontando a

sudeste

A maioria do espoacutelio recolhido nesta anta encontrava-se no troccedilo do vestiacutebulo e

corredor tendo o seu escavador considerado que estaria relativamente preservado

(Fig 57-59) No entanto os ossos recolhidos bastante fragmentados e revoltos bem

como os artefactos nomeadamente dois vasos juntos virados para baixo mas ldquofeitos

em pedaccedilosrdquo (F C Ribeiro cit in ALeisner Leis61) parecem demonstrar que aquele

contexto se encontrava remexido Na cacircmara apenas haacute notiacutecia de dois instrumentos

polidos e algumas pontas de seta na aacuterea de entrada

O inventaacuterio entatildeo apresentado revela um conjunto abundante de materiais do

qual foi possiacutevel re-identificar a maioria

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 84 de 415

Os restos osteoloacutegicos que foi possiacutevel adscrever a esta anta seratildeo discutidos

noutro local (capiacutetulo 6 e Anexo 6) mas registaram-se ossos e dentes

No conjunto da pedra lascada os produtos alongados apresentam um nuacutemero

de peccedilas superior (22 fragmentos) agravequele apontado na publicaccedilatildeo limitado a 15

peccedilas das quais satildeo destacadas trecircs (MG17934 38 e 118J Leisner 1965 taf 16

16 17 e 19) Um quarto fragmento de lacircmina (MG17949B) surge desenhado na

documentaccedilatildeo do arquivo Leisner (ALeisner Leis61) mas natildeo chegou a ser incluiacutedo

na prancha de materiais publicados

Um pequeno nuacutecleo exausto de lamelas (MG17942) eacute referido e apresentado

mas o seu desenho (Leisner 1965 taf 16 21) eacute de leitura difiacutecil pelo que se

apresenta nova ilustraccedilatildeo (Fig 58)

Aleacutem do raspador sobre lasca (MG179120B Leisner 1965 taf 16 43)

registam-se outros utensiacutelios expeditos nomeadamente alguns furadores sobre lasca

(MG17939 e 40)

Ainda no universo dos instrumentos lascados haacute que realccedilar um nuacutemero de sete

geomeacutetricos 6 dos quais trapezoidais (Fig 58 1-7) Trecircs haviam sido desenhados

para a publicaccedilatildeo (Leisner e Ferreira 1961 p 306 Leisner 1965 taf 16) Naquele

cocircmputo inclui-se o fragmento distal de geomeacutetrico (MG17950A) considerado

pelos autores triangular o que me parece arriscado de afirmar Curiosamente F C

Ribeiro referia 6 peccedilas entre as categorias de pontas de seta do 7ordm tipo ldquopontas

trapezoidais feitas geralmente de fragmentos de facasrdquo (ALeisner Leis61) todas

com um escrito a laacutepis ldquo7ordm tipordquo (MG17949A 50A 50B 50C 50D e 50 E)

As pontas de seta (Fig 58 12-23) apresentam-se essencialmente com bases

convexas (27) cujo formato triangular eacute o mais frequente outra tem base recta e

duas cocircncavas No entanto conviraacute alertar para o facto de estas totalizarem cerca de

45 segundo F C Ribeiro mas incluindo os geomeacutetricos (cit in ALeisner Leis61) e

posteriormente 39 sem os geomeacutetricos (Leisner e Ferreira 1961 p 306)

Haacute ainda duas peccedilas (MG17946A e 46C) incluiacutedas no grupo referido das

pontas de seta que necessitam de ser clarificadas Estas surgem atribuiacutedas a Trigache

2 e 3 na publicaccedilatildeo de V Leisner (1965 taf 16 25 e taf 17 29-30) e nos seus

apontamentos (ALeisner Leis 61) No trabalho colectivo com O V Ferreira (1961)

apenas eacute possiacutevel perceber parte desta questatildeo pois os materiais natildeo foram ilustrados

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 85 de 415

e as descriccedilotildees satildeo sumaacuterias Se aquela dupla atribuiccedilatildeo de origem pode ser

explicada como um lapso a dupla classificaccedilatildeo como ponta de seta e ldquomicroacutelito (hellip)

com o retoque abrangendo parte da superfiacutecierdquo (Leisner e Ferreira 1961 p 308) eacute

curiosa De facto na documentaccedilatildeo de V Leisner as duas peccedilas surgem desenhadas

nas minutas de Trigache 2 (uma delas datada de 22 de Maio de 1958) como pontas

de seta e noutra de Trigache 3 (natildeo datada) como ldquomicroacutelitos de transiccedilatildeordquo

(ALeisner Leis61)

Ambas as peccedilas apresentam um formato proacuteximo do trapezoidal mas porque

foram obtidas a partir de lascas sofreram um retoque invasor o suficiente para lhes

dar o acabamento final na minha opiniatildeo de pontas de projeacutectil

Quanto ao discernimento da proveniecircncia das peccedilas julgo que se registou

alguma confusatildeo entre sepulcros nos trabalhos publicados (Leisner e Ferreira 1961)

sobretudo visiacutevel na apresentaccedilatildeo graacutefica (Leisner 1965 taf 16 25 e taf 17 29-30)

devendo aquelas corresponder a Trigache 2 tal como foram inicialmente

inventariadas e desenhadas (ALeisner Leis61) Com certeza a consulta integral aos

apontamentos de F C Ribeiro talvez pudesse encerrar a questatildeo mas tal natildeo parece

possiacutevel

Finalmente um troccedilo de bordo em siacutelex com retoque bifacial parece incluir-se

no grupo das grandes pontas bifaciais

Face agrave pedra lascada os instrumentos de pedra polida encontraram-se em

menor quantidade resumindo-se a dois achados na cacircmara uma enxoacute quebrada em

xisto anfiboacutelico (MG17956) no entulho junto ao topo do esteio b e um machado em

anfibolito (MG17958) Outra enxoacute quase intacta tambeacutem de xisto anfiboacutelico

(MG17957) foi encontrada na entrada defronte do esteio a A publicaccedilatildeo apresenta

ainda um fragmento de uma pequena enxoacute em ldquofibrolite brancardquo (Leisner e Ferreira

1961 e Leisner 1965 taf 16 4)

A pedra afeiccediloada eacute apenas listada por um seixos de quartzito um com sinais

de uso e outro com levantamento de lascas

No acircmbito dos artefactos votivos em pedra regista-se a recolha de um

fragmento de iacutedolo-placa antropomorfo (Fig 59 1 MG17962) e outros dois

fragmentos Um deles (MG17963A) colando com o iacutedolo referido e outro

correspondendo a uma segunda peccedila (MG17963B) Aleacutem destes apresenta-se um

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 86 de 415

fragmento de uma luacutenula decorada e perfurada e um pequeno betilo troncocoacutenico

aparentemente afeiccediloado ambos em calcaacuterio

Os adornos em pedra resumiam-se a contas de colar ainda que de pedra verde

(segundo F C Ribeiro ldquoribeiriterdquo mas depois designadas na publicaccedilatildeo ldquocalaiacuteterdquo) e

xisto Contudo das 20 contas em pedra verde apenas relocalizei 12 Isto poderaacute

dever-se a extravio ou simplesmente a uma classificaccedilatildeo geneacuterica pois em vez das

19 contas de xisto contabilizei 25 o que perfaz um total de 37 peccedilas a que se

poderia juntar as duas contas em osso

As outras peccedilas de adorno satildeo fragmentos de hastes e cabeccedilas posticcedilas de

alfinetes de cabelo em osso totalizando um nuacutemero miacutenimo de 4 peccedilas Uma destas

ainda se encontrou com parte da cabeccedila e a haste inclusa Estas posticcedilas apresentam-

se decoradas com incisotildees horizontais Outro fragmento de haste que seria a parte

proximal de um alfinete com cabeccedila simples foi decorado tambeacutem com algumas

incisotildees mas obliacutequas

Aleacutem das peccedilas de osso referidas indicou-se um fragmento de ldquoalfinete

espatuliformerdquo (Leisner e Ferreira 1961 p 306) Contudo a anaacutelise da peccedila

(MG17968) permitiu verificar que seria possivelmente um pequeno pente ou garfo

de cabelo com caracteriacutesticas formais semelhantes a outro recolhido no sepulcro da

Samarra (Franccedila e Ferreira 1958 Leisner 1965 taf 36 50) Inclusive no desenho

apresentado teraacute escapado o pormenor de um pequeno orifiacutecio no interior da peccedila

bem como algumas incisotildees numa das suas faces (Fig 59 2 e 4)

V Leisner apresenta ainda outro fragmento oacutesseo afeiccediloado (1965 taf 16 13)

mas a peccedila natildeo permite uma interpretaccedilatildeo clara

Finalmente no que concerne a ceracircmica apesar de F C Ribeiro localizar a

proveniecircncia de dois vasos juntos no corredor natildeo foi possiacutevel correspondecirc-los com

as peccedilas sobreviventes de Trigache 2 ou aquelas genericamente atribuiacuteveis agrave

Necroacutepole Assim o conjunto ceracircmico limita-se a um grande pedaccedilo de uma taccedila

com decoraccedilatildeo canelada e fragmentos de pelo menos dois vasos campaniformes

um com decoraccedilatildeo pontilhada no estilo internacional preenchida com pasta branca

outro com decoraccedilatildeo incisa (Leisner 1965 taf 16 51) natildeo localizado na colecccedilatildeo

Aleacutem destes haacute ainda mais dois fragmentos com faixas impressas provavelmente de

cruzetas normalmente registadas no fundo de taccedilas ou vasos campaniformes Aleacutem

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 87 de 415

destes elementos haacute ainda vaacuterias dezenas de fragmentos ceracircmicos alguns com

decoraccedilotildees incisas campaniformes mas sem a possibilidade reconstruccedilatildeo de formas

Anote-se ainda a referecircncia de F C Ribeiro a ldquoescoacuterias de cobrerdquo mas jaacute natildeo

encontradas pelos editores do trabalho quedando-se pela duacutevida (Leisner e Ferreira

1961 p 324-325)

Perante os dados descritos atraacutes eacute possiacutevel propor alguns momentos de

utilizaccedilatildeo para a anta de Trigache 2

Assim os geomeacutetricos algumas pequenas lacircminas e eventualmente o nuacutecleo de

lamelas poderiam marcar um momento inicial de utilizaccedilatildeo entre os dois uacuteltimos

quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane O seu uso teraacute continuado durante a passagem do 4ordm

para o 3ordm mileacutenio de que satildeo testemunho as pontas de seta os instrumentos polidos

de secccedilatildeo poligonal os alfinetes de cabelo e os iacutedolos-placa Contudo o iacutedolo-placa

antropomorfo poderaacute ter convivido com a taccedila canelada e os elementos de calcaacuterio

durante a primeira metade do 3ordm mileacutenio ane

Foi tentada uma primeira dataccedilatildeo radiocarboacutenica sobre amostra de osso

occipital mas o colageacutenio revelou-se insuficiente Uma segunda tentativa (Beta-

239755 Anexo 3 Quadro 2) sobre outro fragmento de calote craniana proporcionou

um intervalo de 3090-2890 cal BCE (com 898 de probabilidade restringe-se a

3030-2890 cal BCE) Esta data reforccedila a proposta de uma utilizaccedilatildeo na passagem de

mileacutenio

Finalmente os recipientes campaniformes e as eventuais ldquoescoacuterias de cobrerdquo

parecem denunciar re-usos desde meados do 3ordm mileacutenio ane

4133 Trigache 3

O sepulcro de Trigache 3 (CNS-3789) localizava-se para nordeste da anta de

Trigache 2 a escassos 15 metros (Leisner e Ferreira 1959) Corresponde agrave ldquogaleria

coberta de Trigacherdquo inicialmente referida por O V Ferreira (1959 p 219) sem

espoacutelio identificado

Observando a fotografia disponiacutevel (Leisner e Ferreira 1961 XIII-3) eacute

possiacutevel admitir que este sepulcro se implantava no mesmo patamar de Trigache 2

se natildeo mesmo no limite do seu tumulus considerando a distacircncia entre os dois (Fig

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 88 de 415

55 1-2) Nessa imagem eacute niacutetida a paacutetina da parte exposta do esteio de cabeceira (a)

face agrave alvura da parte inferior e dos outros provaacuteveis ortoacutestatos encontrados

enterrados ainda que por vezes deslocados das suas posiccedilotildees originais Apesar de

natildeo haver menccedilatildeo agrave altura daquele ou qualquer outro esteio eacute possiacutevel admitir que

este sepulcro de cariz megaliacutetico seria relativamente baixo ndash apreciando a proporccedilatildeo

de F C Ribeiro posando defronte do esteio de cabeceira bem como o facto dos

poucos achados com a profundidade anotada nunca terem ultrapassado os 075-084

metros de profundidade abaixo da superfiacutecie (segundo F C Ribeiro cit in ALeisner

Leis61) eacute provaacutevel que rondasse 1 a 15 metros de altura dando a impressatildeo de

descer da entrada para o interior da cacircmara se considerar as cotas de achados na

entrada (variando entre 013 m e 057 m)

Como o esteio de cabeceira se encontrava inclinado para noroeste F C

Ribeiro presumiu que o espaccedilo sepulcral se localizasse daquele lado procedendo ali

a uma primeira sondagem tendo recolhido alguns ossos humanos e objectos

arqueoloacutegicos Contudo ao realizar outra sondagem apercebeu-se que o recinto se

estendia para o lado oposto tendo entatildeo alargado a escavaccedilatildeo naquela aacuterea

A reconstituiccedilatildeo realizada por V Leisner e O V Ferreira (1961 p 307-308)

baseada na documentaccedilatildeo de F C Ribeiro apresenta entatildeo uma cacircmara ldquopoligonal

alongadardquo com cerca de 275 metros de comprimento e 175 metros de largura em

toda a sua extensatildeo apenas estreitando na aacuterea do presumiacutevel corredor de forma

trapezoidal Com este troccedilo o espaccedilo sepulcral teria pelo menos 450 metros de

comprimento No entanto aquela particcedilatildeo do espaccedilo natildeo parece ser tatildeo clara pelo

que faraacute mais sentido falar de um sepulcro com uma planta de tendecircncia trapezoidal

em que a entrada da cacircmara natildeo se demarcava nitidamente de um corredor

O ortoacutestato de cabeceira (a) teria dois pilares a ladeaacute-lo (b e l) mantendo-se

ainda mais ou menos in situ os esteios c h k e j No espaccedilo entre os blocos c e h

surgiu um ldquomuro de pedra seca composto por duas ou trecircs fiadasrdquo sobre as quais foi

encontrado um conjunto variado de objectos A cota do topo daquelas pedras (f e g)

era relativamente superficial de acordo com algumas das profundidades registadas

para as lacircminas ali recolhidas nomeadamente a 024 m (MG 179121A e 124B) e

010 m (MG179124A 124B e 124C) o que poderaacute denunciar visitas e remeximento

anteriores e que as lajes tombadas i e m-n (segundo o escavador pertenciam ao

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 89 de 415

mesmo bloco) dentro do recinto tambeacutem poderatildeo ser uma consequecircncia Natildeo teraacute

sido avistado qualquer elemento passiacutevel da cobertura

Segundo F C Ribeiro o piso da cacircmara encontrava-se pavimentado com lajes

de calcaacuterio assente sobre camada calcada de terra e lascas de siacutelex Na aacuterea do

ldquocorredorrdquo esse lajeamento dava lugar somente ao piso terroso A presenccedila de lascas

de siacutelex misturadas no sedimento eacute recorrente neste e nos restantes sepulcros

sobretudo num substrato onde estes noacutedulos satildeo bastante frequentes No entanto

pode tambeacutem resultar de resiacuteduos de zonas de extracccedilatildeo e talhe anteriores daquela

mateacuteria-prima Apesar de natildeo ser claro presume-se que os materiais arqueoloacutegicos

foram recolhidos sobre o pavimento referido

Aleacutem do espoacutelio jaacute mencionado sobre as pedras f e g foram encontradas mais

algumas lacircminas o iacutedolo antropomorfo em greacutes (MG17992) um alfinete de cabelo

com cabeccedila posticcedila (MG17995-94) o pendente em calcite duas contas discoidais

em xisto e uma outra de pedra verde

No lado externo do esteio a foram recolhidos alguns ossos humanos e um

fragmento de placa em xisto mas ldquosem ornamentaccedilatildeordquo segundo o escavador

devendo corresponder a MG1791292 Aleacutem destes referem-se duas pontas de seta e

uma lacircmina Estes achados fora da cacircmara reforccedilam a impressatildeo referida

anteriormente de acentuada remobilizaccedilatildeo de materiais

Na cacircmara algum espoacutelio teraacute sobrevivido a mexidas antigas nomeadamente

uma lacircmina retocada mas partida (MG179124E) cujas partes foram colhidas a cotas

de 074 m e 084 m (a mais profunda registada) e uma lacircmina ovoacuteide junto com

fragmentos de cracircnio no espaccedilo entre o esteio c e m-n

Na aacuterea de entrada no curto ldquocorredorrdquo eacute possiacutevel distinguir dois conjuntos de

achados Um primeiro grupo de materiais relativamente dispersos sob e em redor da

laje i constituiacutedo por lacircminas (ex MG179124D) pontas de seta e um machado

(MG179191) O segundo conjunto corresponderaacute a um provaacutevel depoacutesito de

instrumentos de pedra polida (MG179113A 189 190 e 194) encontrado numa cota

inferior agrave base do esteio h rondando os 060 m e 075 m de profundidade Este tipo

de concentraccedilatildeo ainda que aparentemente pouco frequente nos sepulcros de Lisboa

(antas e outros tipos) eacute recorrente em sepulcros de outras regiotildees por exemplo no

Alentejo nomeadamente em escavaccedilotildees recentes nas antas de Santa Margarida 2

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 90 de 415

(Gonccedilalves 2001) ou de Rabuje 3 (Monforte) intervencionada por mim Nestas

conjuntos de utensiacutelios em pedra polida surgiram respectivamente no lado esquerdo

da entrada da cacircmara e num nicho escavado sob um dos esteios do corredor O

recente e clariacutessimo exemplo das grutas artificiais de Sobreira de Cima (Valera

Soares e Coelho 2008) parece reforccedilar esta tendecircncia tambeacutem verificada em antas

de Reguengos de Monsaraz e do Alentejo em geral (Leisner e Leisner 1951 e 1959

Gonaccedillves 2001)

A listagem do espoacutelio recolhido revela-se abundante sobretudo de materiais

em pedra lascada (Fig 60-62) Haacute no entanto que ressalvar que alguns destes

objectos poderatildeo corresponder natildeo a deposiccedilotildees funeraacuterias mas resultaram da

colheita entre as inuacutemeras lascas do piso do sepulcro (MG179146161) Esta

situaccedilatildeo em escavaccedilatildeo recente ocorreu na anta de Pedras Grandes num contexto

geoloacutegico semelhante e a cerca de 1 quiloacutemetro de Trigache 3

Apesar de mencionar-se a sua recolha natildeo foi possiacutevel identificar os restos

humanos deste sepulcro podendo corresponder a algum dos conjuntos sem

proveniecircncia da Necroacutepole de Trigache

Entre as lascas retocadas eacute possiacutevel destacar raspadores carenados e do tipo

leque bem como furadores sobre lasca e lasca laminar alguns deles apresentados

posteriormente por V Leisner (1965 taf 17)

Um pequeno nuacutecleo de siacutelex exausto (MG179123) encontrava-se entre as

lacircminas

Num total de 40 lacircminas e fragmentos destas apenas 5 natildeo apresentavam

retoque apresentando-se em geral largas e espessas Entre estas destaca-se um

conjunto de lacircminas compridas com retoque extensivo em um ou nos dois bordos

Registe-se ainda uma lacircmina ovoacuteide (MG17998)

As pontas de seta enumeradas foram todas identificadas mantendo-se a

proporccedilatildeo de 8 peccedilas com base convexa e 5 com base cocircncava

Os dois ldquomicroacutelitos de transiccedilatildeordquo listados natildeo foram considerados pois como

explanei acima pertenceratildeo a Trigache 2

O depoacutesito de instrumentos de pedra polida jaacute referido junto ao esteio h era

constituiacutedo por duas enxoacutes uma de xisto anfiboacutelico (MG179189) e outra de

anfibolito (MG179190) um machado em anfibolito (MG179113A) e um fragmento

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 91 de 415

de talatildeo de outra possiacutevel enxoacute em xisto anfiboacutelico (MG179194) Haacute ainda outro

machado em anfibolito (MG179191) sob o esteio i Entretanto outro fragmento

distal atribuiacutedo a Trigache 3 sem localizaccedilatildeo concreta (MG179113B) corresponde a

peccedila desenhada por V Leisner do espoacutelio de Conchadas (ALeisner Leis64) Em

geral as secccedilotildees destas peccedilas apresentam-se poligonais ou poligonais achatadas

Um fragmento de luacutenula em calcaacuterio (MG179114) e um iacutedolo-placa

antropomorfo em greacutes (MG17992) foram os uacutenicos artefactos votivos registados

Entre as contas de colar apenas foi possiacutevel localizar a veacutertebra de peixe (Fig

63 1) segundo os autores da Superclasse Teleostomi (Leisner e Ferreira 1961 p

322) com perfuraccedilatildeo (MG17993) o pingente ou conta em seixo de calcite

(MG17991) e o esboccedilo de conta em osso ainda natildeo totalmente perfurada

(MG17970B) As 11 contas de xisto discoidais e aquela em forma de azeitona em

pedra verde natildeo foram encontradas apesar do desenho de trecircs delas ser apresentado

(Leisner 1965 taf 18 1) F C Ribeiro refere ainda a possibilidade de ter

encontrado contas em azeviche mas estas desintegraram-se quando imersas em aacutegua

(ALeisner Leis61) Esta possibilidade eacute criacutevel pois conhecem-se outros achados

semelhantes noutros sepulcros nomeadamente em Monte Abraatildeo (Ribeiro 1880)

No acircmbito das peccedilas de osso para aleacutem das contas jaacute referidas foram

recolhidos fragmentos de alfinetes de cabelo com cabeccedila posticcedila podendo

corresponder a duas peccedilas Um das cabeccedilas era lisa (MG17996B) e a outra tinha

incisotildees horizontais encaixando ainda num pedaccedilo de haste (MG17994-95)

A presenccedila ceracircmica neste sepulcro resume-se a dois fragmentos ceracircmicos

provavelmente de um cincho ou queijeira (MG179115A e B) e alguns recipientes

campaniformes A sua reconstituiccedilatildeo permitiu verificar a existecircncia de dois vasos de

forma campanulada e uma taccedila com bordo espessado todos apresentando decoraccedilatildeo

impressa no estilo Palmela (Leisner e Ferreira 1961 Leisner 1965 p 18)

Segundo F C Ribeiro teraacute sido recolhida na cacircmara uma peccedila metaacutelica em

cobre a uma profundidade de 037 m Segundo este seria a ponta de um estilete ou

uma agulha apresentando-se as suas medidas 25 mm de comprido por 5 mm de

largura maacutexima e 4 mm de espessura Infelizmente jaacute natildeo foi encontrada pelos

editores do trabalho ainda que colocassem como hipoacutetese ser um fragmento de

punccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 92 de 415

Ateacute o momento natildeo foi possiacutevel obter qualquer dataccedilatildeo absoluta para este

sepulcro No entanto as caracteriacutesticas dos materiais exumados permitem apontar

alguns momentos de uso para este Assim julgo que este sepulcro teraacute sido

inicialmente utilizado na transiccedilatildeo do 4ordm para o 3ordm mileacutenio ane com maior

incidecircncia na primeira metade do uacuteltimo mas tambeacutem pontualmente na sua segunda

metade

Algo que importa realccedilar eacute a proximidade com Trigache 2 possivelmente

construiacuteda em momento anterior mas que depois teraacute sido utilizada em simultacircneo

com Trigache 3 o que pelo menos os fragmentos de luacutenulas distintas e algumas

pontas de seta parecem indiciar

4134 Trigache 4

O sepulcro de Trigache 4 (CNS-20099) localizava-se a cerca de 400 metros

para noroeste da anta de Trigache 1 numa chatilde conhecida localmente por

ldquoCasinholardquo De acordo com F C Ribeiro um dos proprietaacuterios Luiacutes Pedroso

lembrava-se ldquomuito bem desta anta quando ainda conservava chapeacuteu e outros

esteios que lhe davam a aparecircncia duma pequena casardquo (cit in ALeisner Leis 61)

A fotografia deste monumento que permite avistar atraacutes os relevos encaixantes

do vale da ribeira de Caneccedilas parece evidenciar as suas caracteriacutesticas megaliacuteticas

pelo menos dos dois esteios remanescentes na cacircmara e das lajes do corredor (Fig

55 3-4) Estes esteios apesar de apresentarem os seus topos fracturados datildeo uma

ideia da sua dimensatildeo antiga sobretudo quando consideramos a sua proporccedilatildeo face a

F C Ribeiro posando dentro da cacircmara atraacutes de um deles (Leisner e Ferreira 1961

est XIV 5) Aquele par de esteios (a e b) encontrava-se ainda in situ ligeiramente

inclinados para dentro do espaccedilo sepulcral distantes entre si cerca de 060 m

marcando e estrangulando a passagem do corredor para a cacircmara sem que tivesse

sido detectado restos da laje de cobertura Numa planta esquemaacutetica aparentemente

da autoria de F C Ribeiro (ALeisner Leis61) para aleacutem daqueles monoacutelitos surge

indicado um terceiro esteio na cacircmara do lado sul

A implantaccedilatildeo do recinto cacircmara e corredor implicou a escavaccedilatildeo parcial do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 93 de 415

substrato rochoso do Cenomaniano meacutedio3 ainda que o uacuteltimo sector se quedasse

numa cota um pouco superior o que parece evidente na foto referida atraacutes A

superfiacutecie do substrato em redor da cacircmara escavada atingia cotas variaacuteveis de 015

m e 094 m acima do seu pavimento Assim a partir daqueles limites afeiccediloados F

C Ribeiro supocircs que a cacircmara teria uma planta ldquocircular ou sensivelmente

poligonalrdquo (cit in ALeisner Leis61) alcanccedilando um diacircmetro de cerca de 5 metros

(Leisner e Ferreira 1961 p 310)

Quase no centro da cacircmara foi detectada uma cavidade de formato triangular

ainda com vaacuterias pedras inclusas forrando as faces internas daquela realidade uma

laje cujo topo estava 010 m acima do pavimento outra cujo topo aflorava 045 m

sem que a base assentasse no fundo e ainda um pequeno muro de pedra seca de 4

fiadas Na boca daquela estrutura foi ainda recolhida uma pedra de calcaacuterio com

sinais uso interpretada como alisador pelo seu escavador mas tal superfiacutecie

entretanto observada natildeo corresponde a tal surgindo apenas alguns sinais de

percussatildeo num dos veacutertices Pelas caracteriacutesticas referidas esta estrutura

corresponderaacute a um buraco de poste com calccedilos Contudo a diferenccedila de altimetria

entre os topos e o pavimento da cacircmara levam-me a questionar a sua

contemporaneidade natildeo crendo que reflectisse a existecircncia de um eventual suporte

de uma cuacutepula proposto pelos editores (Leisner e Ferreira 1961 p 310) Tal

clarificaccedilatildeo definitiva eacute hoje impossiacutevel mas alguns argumentos seratildeo discutidos

infra refutando esta possibilidade

Salientava-se ainda uma particularidade geoloacutegica dentro cacircmara que

produzira um veio rochoso dividindo a cacircmara em duas partes desiguais para a qual

F C Ribeiro apontava como paralelos os casos de Palmela e de Folha das Barradas

neste uacuteltimo caso as lajes fincadas procurariam obter o mesmo efeito (cit in

ALeisner Leis61)

Segundo V Leisner e O V Ferreira (1961) o corredor tinha 250 m de

comprimento por cerca 120 m de largura ainda que F C Ribeiro apontasse 220 m

de comprido e uma largura no final do corredor junto aos esteios a e b de 1 metro o

que surge indicado na planta esquemaacutetica jaacute referida acima Tambeacutem natildeo se percebe

a origem dos blocos servindo de umbrais de entrada incluiacutedos na planta publicada

3 Contrariamente ao afirmado por V Leisner e O V Ferreira (1961 p 311)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 94 de 415

pois o escavador apenas esboccedila e refere ldquodois renques paralelos de lajes colocadas

ao alto em disposiccedilatildeo imbricada e assentes no pavimento de rochardquo (cit in ALeisner

Leis61) A orientaccedilatildeo do corredor apontaria a sudeste

O que parece paciacutefico eacute a condiccedilatildeo extremamente perturbada do espoacutelio na

aacuterea da cacircmara e em menor grau no corredor

Na cacircmara o seu conteuacutedo tinha sido quase totalmente remexido e provaacutevel e

parcialmente retirado detectando-se apenas junto do esteio b uma concentraccedilatildeo de

objectos aparentemente natildeo tocada com duas lacircminas (MG17913 e 89) junto a

fragmentos de cracircnio a uma profundidade de 024 m ndash dois cracircnios atribuiacutedos ao 1ordm

niacutevel (MG17924 e 25) poderatildeo corresponder a esta zona coincidindo com a

anotaccedilatildeo de F C Ribeiro (ALeisner Leis61) Ainda na cripta recolheram-se avulsos

fragmentos de lacircminas um apito de aspecto recente (MG17990 numa profundidade

de 057 m abaixo do solo) e um ldquopunhalrdquo (MG17903) ambos sobre osso

Segundo F C Ribeiro a preservaccedilatildeo do conteuacutedo da aacuterea do corredor era

semelhante agrave de outros doacutelmenes portanto mais recheada que a cacircmara

evidenciando uma maior concentraccedilatildeo de restos osteoloacutegicos No entanto como a

maioria do espoacutelio foi apanhada durante o processo de crivagem o escavador natildeo

especificou a sua proveniecircncia referindo que viria tanto da cacircmara como da galeria

Inclusive a falange de equiacutedeo (MG17902) aparentemente com restos de pigmento

vermelho (Leisner e Ferreira 1961 p 312) eacute anotada junto com ossos mas sem

adscriccedilatildeo a uma aacuterea concreta Actualmente aquela tonalidade desapareceu talvez

porque a peccedila pareccedila ter sido limpa num passado recente Contudo por causa dessa

limpeza eacute possiacutevel verificar que a falange natildeo teve qualquer trabalho de

afeiccediloamento ou polimento nas suas superfiacutecies como ocorreu noutros casos

nomeadamente em Leceia (Cardoso 1995a) ou na Lapa da Bugalheira (Paccedilo

Vaultier e Zbyszweski 1942 Paccedilo Zbyszweski e Ferreira 1971) o que natildeo invalida

o seu provaacutevel caraacutecter ideoteacutecnico

Entre o espoacutelio apresentado por V Leisner e O V Ferreira (1961 Leisner

1965) satildeo ainda referidos fragmentos de hastes de alfinetes de cabelo e de tubos

ambos em osso que ainda se encontram entre o espoacutelio Contudo o mesmo jaacute natildeo

ocorre com as contas de colar apresentadas por V Leisner (1965 taf 18-23) mas

natildeo referidas na primeira publicaccedilatildeo (Leisner e Ferreira 1961 p 311-312) Aqui teraacute

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 95 de 415

ocorrido algum lapso pois jaacute na prancha de desenhos das peccedilas de Trigache 4 as

contas que ali constam estatildeo destacadas e tituladas como Trigache 3 (ALeisner

Leis61)

Para aleacutem das peccedilas em osso polido o restante material resume-se a liacuteticos

lascados notando-se a ausecircncia completa de instrumentos de pedra polida

recipientes ceracircmicos ou artefactos claramente votivos normalmente presentes em

contextos atribuiacuteveis a partir de momentos de transiccedilatildeo do 4ordm para o 3ordm mileacutenio ane

Assim avaliando o espoacutelio recolhido (Fig 63 2 e 64) destacam-se os

geomeacutetricos e algumas lacircminas remetendo-se para um momento inicial de uso pelo

menos entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane Essa impressatildeo parece

confirmar-se pela dataccedilatildeo absoluta Beta-228583 (Anexo 3 Quadro 2) situada entre

3340-2930 cal BCE (com 895 de probabilidade restringe-se a 3340-3000 cal

BCE) realizada sobre um dos cracircnios humanos (MG1792401) provavelmente

recolhido na cacircmara junto ao esteio b Este intervalo de tempo poderia marcar a

substituiccedilatildeo gradual de um primeiro pacote de objectos votivos por artefactos de

osso polido e as lacircminas retocadas (MG17911 e MG17989) a uacuteltima das quais

encontrada inteira no local de proveniecircncia do cracircnio e posteriormente com a ponta

de seta de base cocircncava elemento provaacutevel do 3ordm mileacutenio ane da regiatildeo

Perante tal proposta cronoloacutegica reflectida pelo espoacutelio arcaico a

possibilidade de Trigache 4 ter sido uma estrutura com falsa cuacutepula tipo tholos

(Leisner e Ferreira 1961 p 310) eacute difiacutecil de aceitar o que natildeo nega a possibilidade

de este sepulcro poder ter tido uma cobertura pereciacutevel em determinado momento da

sua histoacuteria antiga eou recente Mas face agrave descriccedilatildeo do antigo proprietaacuterio e ao

cariz megaliacutetico dos elementos entatildeo sobreviventes creio que estariacuteamos perante

uma anta que natildeo teria 5 metros de diacircmetro no seu topo pois a habitual inclinaccedilatildeo

dos esteios reduziria a aacuterea necessitada de cobertura agrave semelhanccedila do que ocorria na

anta de Pedra Grandes soacute para dar um exemplo a cerca de um quiloacutemetro de

distacircncia e recentemente escavada

4135 Os ldquooacuterfatildeosrdquo de Trigache

Resta ainda fazer referecircncia aos materiais hoje apenas classificados por

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 96 de 415

Necroacutepole de Trigache Inicialmente resumiam-se a um conjunto ceracircmico

heterogeacuteneo constituiacutedo por um bordo denteado taccedilas hemisfeacutericas uma grande taccedila

com decoraccedilatildeo canelada e alguns recipientes com decoraccedilatildeo campaniforme dois

deles campanulados (Fig 56 2) As decoraccedilotildees deste uacuteltimo grupo apresentam-se

impressas no estilo internacional e Palmela mas tambeacutem se registam alguns

fragmentos incisos (Leisner e Ferreira 1959 e 1961 Leisner 1965) Apesar de

desconhecerem a proveniecircncia por sepulcro daqueles recipientes os editores do

trabalho garantiam a sua pertenccedila agrave dita Necroacutepole talvez graccedilas a documentaccedilatildeo a

que natildeo tive acesso Por outro lado no arquivo Leisner os apontamentos transcritos

de F C Ribeiro satildeo bastante parcos em referecircncias a ceracircmicas apenas apontadas

em Trigache 2 ndash apesar da listagem mais ou menos cuidada da maioria dos objectos

natildeo encontrei enumeraccedilotildees similares para as ceracircmicas que teratildeo existido tal como

acontece com as ceracircmicas de Conchadas (ALeisner Leis64) Assim pelo que eacute

possiacutevel compilar parece que apenas em Trigache 2 e 3 foram recolhidas ceracircmicas

sobretudo campaniformes semelhantes agraves oacuterfatildes pelo que eacute plausiacutevel a sua adscriccedilatildeo

a estes dois sepulcros

No que se refere a posteriores perdas as lascas de siacutelex e os restos humanos

satildeo dois conjuntos para os quais eacute hoje difiacutecil estabelecer a origem

Se a perda da proveniecircncia concreta de dezenas de lascas eacute lamentaacutevel a

referecircncia a sedimentos misturados com lascas de siacutelex em todos os monumentos

ainda que mais claramente para Trigache 2 e 3 parece realccedilar a riqueza da aacuterea em

siacutelex e a sua provaacutevel extracccedilatildeo

O prejuiacutezo maior resulta dos restos humanos ldquooacuterfatildeosrdquo Havendo uma referecircncia

mais cuidada em relaccedilatildeo a estes durante a escavaccedilatildeo o seu estudo e dataccedilatildeo absoluta

teriam permitido uma melhor integraccedilatildeo cronoloacutegica dos sepulcros Contudo porque

no momento em que escrevo estas linhas ainda natildeo se concluiu o estudo da

totalidade do material osteoloacutegico de Trigache (sobretudo o classificado como

Necroacutepole) que inclui a intenccedilatildeo de cruzamento e verificaccedilatildeo de colagens entre

conjuntos de ossos fica incerta aquela possibilidade

4136 O espaccedilo necropolizado de Trigache

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 97 de 415

Perante a descriccedilatildeo e anaacutelise de cada um dos sepulcros eacute possiacutevel verificar que

estes haviam sido estruturalmente danificados e mexidos com evidentes subtracccedilotildees

de espoacutelio Ainda assim eacute possiacutevel adscrever de forma geneacuterica possiacuteveis momentos

de utilizaccedilatildeo situados essencialmente entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm e meados

do 3ordm mileacutenio ane com alguns usos em dois deles (Trigache 2 e 3) na 2ordf metade

deste uacuteltimo

A tipologia de trecircs destes sepulcros Trigache 1 2 e 4 eacute passiacutevel de ser

integrada no grupo de cacircmaras poligonais pelo menos em dois casos com corredor

A excepccedilatildeo eacute o sepulcro de Trigache 3 com uma planta alongada quase trapezoidal

curiosamente aquele com uma cronologia de utilizaccedilatildeo aparentemente mais recente

Conjugando as propostas cronomeacutetricas agrave sua agregaccedilatildeo espacial (Fig 26) eacute

possiacutevel vislumbrar na vertente do Campo de Trigache um espaccedilo necropolizado

cujo significado maacutegico-religioso se teraacute mantido por vaacuterios seacuteculos inclusive para

aleacutem do seu intuito original No entanto essa aacuterea parece ter sido simultaneamente

ou pelo menos em momentos imediatamente anteriores local de extracccedilatildeo de siacutelex

(Andrade e Cardoso 2004) Portanto que relaccedilatildeo entre essas duas realidades Hoje

apenas se pode registaacute-la e presumi-la como uma provaacutevel mais-valia daquelas

populaccedilotildees

Mas se o espaccedilo para os defuntos eacute conhecido os locais de habitaccedilatildeo em redor

ainda natildeo foram esclarecidos Se a imensa pedreira poderaacute ter erradicado alguns

deles haacute pelo menos o registo de uma possiacutevel presenccedila atribuiacutevel a finais do 4ordm

mileacutenio no topo da Serra da Amoreira (Marques 1987 Andrade e Cardoso 2004)

situado a nordeste e sobranceiro ao vale destes mortos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 98 de 415

414 As antas entre os clusters de Belas e Trigache

Entre os clusters de Belas e Trigache localizavam-se as antas de Conchadas

Pedras Grandes e Batalhas As duas uacuteltimas encontravam-se aparentemente

agrupadas e natildeo longe de Trigache mas a anta de Conchadas parecia surgir mais

isolada

4141 Conchadas

O siacutetio de Conchadas (CNS-2095) foi escavado no acircmbito dos jaacute referidos

trabalhos empreendidos por Francisco C Ribeiro durante a deacutecada de 20

aparentemente na sequecircncia das exploraccedilotildees de Trigache Alguns dos iacutedolos-placa

ali recolhidos apresentam etiquetas indicando os meses de Agosto e Setembro de

1922 (ldquo68922rdquo- MG30214 rdquo108922rdquo- MG30203 17 ldquo168922rdquo- MG30202

04 12 13 16 18 ldquo69922rdquo- MG30232) reflectindo uma intervenccedilatildeo pontual

sujeita agrave disponibilidade e sauacutede do escavador

A transcriccedilatildeo dos apontamentos de F C Ribeiro constante no arquivo Leisner

apresenta-se quase como um manuscrito para publicaccedilatildeo onde se faz referecircncia a um

esboccedilo de planta e fotografias da escavaccedilatildeo que natildeo constam no arquivo Leisner

O sepulcro situava-se a cerca de 750 metros a oeste-noroeste da aldeia de A-

da-Beja numa vertente virada a sul (Fig 26) Seguindo essa informaccedilatildeo e aquela

resultante de testemunhos orais compilados por J Miranda e colaboradores (1999 p

8) verifica-se que aquele siacutetio se implantava numa aacuterea de calcaacuterios do Cretaacutecico

concretamente do Hauteriviano superiorBarremiano inferior com calcaacuterios recifais e

calcaacuterios com Chofattellas e Dasicladaacuteceas onde por vezes se detectam depoacutesitos de

argilas coloridas (SGP 1991 Ramalho et al 1993)

Observando a imagem publicada (Leisner e Ferreira 1961 est XIV 6) eacute

possiacutevel constatar uma paisagem extremamente alterada pela extracccedilatildeo de pedra

naquele local Inclusive junto agrave cacircmara do lado norte tinha sido aberto um fosso

com aquele fim (ALeisner Leis64)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 99 de 415

O espaccedilo da cacircmara tinha sido escavado no substrato cerca de 020 m a 025 m

sendo esse desniacutevel anotado face agrave superfiacutecie das bancadas em redor A partir deste

negativo entretanto preenchido F C Ribeiro apontava um espaccedilo de cariz poligonal

com cerca de 290 m de diacircmetro Ali apenas restava um esteio (A) in situ cravado

na rocha cerca de 015 m com cerca de 130 m de largura por 020 m de espessura e

mais 095 m em altura a partir do pavimento isto porque tinha sido quebrado

anteriormente Este encontrava-se relativamente inclinado (cerca de 45ordm para oeste)

pelo que a sua posiccedilatildeo original natildeo estaria tatildeo descentrada face ao corredor como

pretendo demonstrar (Fig 68 1-2)

O corredor encontrava-se melhor preservado o que eacute possiacutevel confirmar pela

imagem jaacute referida Este apresentava ainda in situ vaacuterios blocos mas natildeo tinha sido

escavado no substrato como a cacircmara surgindo a uma cota superior com todos os

esteios assentes sobre uma camada de argila avermelhada (provavelmente parte do

proacuteprio substrato) excepto o esteio C cravado directamente na rocha A orientaccedilatildeo

apresentada com certeza baseada em documentaccedilatildeo do escavador aponta a

passagem do sepulcro numa direcccedilatildeo sul-sudeste

Marcando a entrada da cacircmara encontravam-se dois blocos alongados de

secccedilatildeo rectangular servindo de umbrais (B e G) respectivamente com 040 m e 038

m de altura 022 m e 050 m de largura e 014 m e 010 m de espessura Entre estes

jazia alinhada e sobre o pavimento ainda que ligeiramente inclinada para a cacircmara

um bloco de secccedilatildeo triangular com cerca de 092-081 m de comprimento por 025 m

de largura na base (H) provavelmente servindo de soleira Esta estrutura de portal

parece evidente na imagem e teria a sua funccedilatildeo ainda mais acentuada pelo desniacutevel

que ocorria entre o corredor e o espaccedilo central que rondaria cerca de 030-035 m

Estruturando o restante acesso implantavam-se do lado nascente dois esteios (C

e D) em posiccedilatildeo vertical e a poente outros dois (F e E) ligeiramente inclinados para

fora O maior deles era o C com 050 m de altura acima do piso 130 m de largura e

020 m de espessura o esteio D mantinha a mesma altura e espessura mas apenas

053 m de largura A outra fiada com um hiato entre o umbral G e a laje F

apresentava esta uacuteltima com 050 m de altura por 085 m de comprido e a laje E com

030 m de altura por 077 m de comprimento mas ambas com uma espessura

semelhante de 007 m de espessura A distacircncia meacutedia entre as duas fiadas era de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 100 de 415

125 m estendendo-se a passagem por cerca de 2 m No entanto esta aacuterea de

passagem prolongava-se ainda de forma desigual mas na mesma direcccedilatildeo cerca de

140 m aleacutem do esteio D e 080 m aleacutem do esteio E de acordo com F C Ribeiro que

ali ainda recolheu materiais arqueoloacutegicos (ALeisner Leis 64)

Face agraves dimensotildees dos elementos do corredor e sobretudo agrave fragilidade dos

esteios do lado oeste F C Ribeiro duvidava que este alguma vez tivesse cobertura

Argumentava ainda com a evidecircncia de um depoacutesito funeraacuterio sobre uma laje

horizontal 020 m abaixo do topo do esteio C (e natildeo E como referido por V Leisner

e O V Ferreira 1961 p 314) o que natildeo teria sido possiacutevel se existisse um

cobertura Independentemente daquela realidade perante a descriccedilatildeo global eacute

provaacutevel que esta passagem tivesse mais um caraacutecter vestibular do que

correspondesse a um verdadeiro corredor o que poderia explicar o portal na entrada

da cacircmara

Assim face agraves caracteriacutesticas expostas eacute possiacutevel admitir que este sepulcro

fosse do tipo anta ainda que muito destruiacuteda A classificaccedilatildeo como tholos (Leisner e

Ferreira 1959 Ferreira 1966 Miranda et al 1999) colide com as caracteriacutesticas

megaliacuteticas do uacutenico ortoacutestato sobrevivente da cacircmara a ausecircncia de elementos

associaacuteveis a uma cuacutepula bem como com alguns dos artefactos presentes

nomeadamente os geomeacutetricos lembrando o caso de Trigache 4

A descriccedilatildeo e localizaccedilatildeo dos achados providenciadas nos apontamentos de F

C Ribeiro apresentavam-se mais pormenorizadas do que aquelas dos sepulcros de

Trigache Talvez por isso as plantas reconstituiacutedas nas publicaccedilotildees apontem mais

objectos (Leisner e Ferreira 1961 fig 2) nomeadamente com a identificaccedilatildeo

especiacutefica de alguns objectos (Leisner 1965 taf 26) Contudo nem sempre essa

relaccedilatildeo pocircde ser esclarecida pelo que indicaram apenas o tipo de peccedila Noutros

casos talvez por lapso alguns artefactos surgem equivocados como eacute o caso dos

fragmentos de um iacutedolo-placa (MG30225A-D Leisner 1965 taf 26 e 27 61)

indicados no corredor mas afinal recolhidos na cacircmara (ALeisner Leis64) ou de

lacircminas e machados com os mesmos equiacutevocos Poreacutem mesmo com estas situaccedilotildees

rectificadas eacute importante realccedilar que a discriminaccedilatildeo do escavador eacute susceptiacutevel de

precauccedilatildeo pois as suas noacutetulas nem sempre se apresentavam coerentes por exemplo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 101 de 415

boa parte das localizaccedilotildees satildeo dadas a partir de outros objectos mas como por vezes

esses natildeo surgem situados tudo o resto se torna irrelevante

Apesar das insuficiecircncias do registo espacial dos achados eacute pelo menos

possiacutevel verificar que a cacircmara jaacute tinha sido grandemente saqueada provindo a

maioria do espoacutelio da aacuterea vestibular (Fig 65-67) Neste uacuteltimo sector os achados

foram recolhidos normalmente em cotas rodando os 040 m abaixo da superfiacutecie

(segundo F C Ribeiro estaria ao niacutevel do topo do esteio C ndash ALeisner Leis64)

ainda que tambeacutem surgissem menos a 020 m Segundo o escavador aquele sector

encontrava-se relativamente preservado o que parece confirmar-se pelo grau de

integridade do material recolhido Pelo contraacuterio na cacircmara os poucos materiais

encontrados estavam mais quebrados (por exemplo os iacutedolos-placa) excepto aqueles

junto agrave entrada (algumas lacircminas) ou em cotas profundas em redor dos 060 m

como duas das placas (MG30215 e 19)

Na aacuterea vestibular eacute pertinente mencionar a grande taccedila com caneluras abaixo

do bordo encontrada segundo os autores junto e entre as lajes E e F (Leisner e

Ferreira Leisner 1965) ainda que nas transcriccedilotildees dos apontamentos de F C

Ribeiro apenas se encontra a referecircncia a ldquogaleriardquo (ALeisner Leis64) Para aleacutem de

um conjunto de trecircs lacircminas retocadas (MG30257 62C e 62D) junto ao esteio G e agrave

soleira da entrada da cacircmara as outras concentraccedilotildees satildeo difiacuteceis de estabelecer

podendo salientar-se o agrupamento de materiais defronte do esteio C ou os dois

iacutedolos-placa sobrepostos (MG30212 e outra placa jaacute natildeo encontrada pelos

arqueoacutelogos que F C Ribeiro designou ldquo26(8ordf)rdquo) proacuteximos da enxoacute inteira

MG30226 Mas o que parece significativo eacute a acumulaccedilatildeo de materiais nesta

passagem

Ainda no vestiacutebulo conviraacute descrever melhor o uacutenico depoacutesito osteoloacutegico

mencionado Como jaacute foi referido acima aquela realidade explicaria para o

escavador a ausecircncia de cobertura da passagem Esta consistia numa laje pentagonal

com 010 m de espessura alcanccedilando as dimensotildees miacutenima e maacutexima de 046 m e

088 m respectivamente A cerca de 020 m abaixo do topo do esteio C assentava

horizontal e paralelamente agravequele esteio e a 037 m de distacircncia do B Sobre esta

ldquorepousava um esqueleto colocado paralelamente ao eixo da galeria e com os peacutes

voltados para o portal reducido agrave coluna vertebral costelas claviacuteculas ossos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 102 de 415

iliacuteacos ossos longos alguns dos quais se prolongavam para fora da pedra

mostrando entre si e no seu conjunto a posiccedilatildeo normal de um cadaver

cuidadosamente inumado de costas A este despojo humano estava associada uma

facardquo (F C Ribeiro cit in ALeisner Leis64) Pelo relato julgo que aquela realidade

corresponderia a algum tipo de ossaacuterio ainda que hoje jaacute natildeo seja possiacutevel analisar

aquele conjunto pois no espoacutelio de Conchadas com excepccedilatildeo de dois dentes

humanos natildeo se conhece mais material osteoloacutegico humano ndash talvez misturado nos

conjuntos de Necroacutepole de Trigache Quem sabe

O material lascado foi recolhido na cacircmara e vestiacutebulo tendo listado 21 peccedilas

alongadas (na publicaccedilatildeo referiam pelo menos 20) quase totalmente em siacutelex

Caracteriza-se por um conjunto de fragmentos de pequenas lacircminas e duas lamelas

(uma em quartzo hialino) pouco ou nada retocados Outro conjunto de grandes

lacircminas apresenta 3 peccedilas natildeo retocadas e 6 retocadas algumas extensivamente

De produtos alongados teratildeo sido obtidos os 4 geomeacutetricos trapezoidais ali

encontrados (Fig 68 3) bem como as 11 pontas de seta maioritariamente com bases

convexas e apenas duas com base cocircncava

Para aleacutem de uma pequena lasca sem retoque haacute outras duas que foram

trabalhadas para pequenos raspadores

Finalmente haacute uma referecircncia a um punhal em siacutelex mas tal jaacute natildeo foi

encontrado (Leisner e Ferreira 1961 p 315)

Os instrumentos de pedra polida resumem-se a dois machados de anfibolito

com secccedilotildees poligonais (MG30234 e 179113B) e duas enxoacutes em xisto anfiboacutelico

(MG30226 e 36) com secccedilotildees arredondadas tal como eacute referido pelos autores Surge

ainda um machado em rocha basaacuteltica com secccedilatildeo ovalada bem polido com uma

marcaccedilatildeo ilegiacutevel (mas com coacutedigo MG30233) mas do mesmo cariz de outras

observadas em peccedilas tratadas por F C Ribeiro No entanto ainda que V Leisner

tenha desenhado a peccedila no conjunto de Conchadas anotou que aquela natildeo era

referida nos apontamentos para Trigache ou Conchadas interrogando-se acerca da

sua proveniecircncia (ALeisner Leis64) Mas o mesmo se poderia dizer do fragmento

de enxoacute (MG30236) que tambeacutem natildeo eacute listado nas transcriccedilotildees disponiacuteveis de F C

Ribeiro mas aceite como Conchadas Finalmente registo ainda a rectificaccedilatildeo jaacute

adiantada noutro capiacutetulo acerca do machado MG179113B pertencente a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 103 de 415

Conchadas mas que tinha migrado para a colecccedilatildeo de Trigache (mantive o coacutedigo da

estaccedilatildeo Trigache para natildeo causar maior confusatildeo pois seraacute o Museu atribuir-lhe

nova referecircncia)

Dentro da categoria de pedra afeiccediloada poderaacute incluir-se o seixo quartziacutetico

oblongo com sinais de percussatildeo numa das extremidades (MG30245)

No acircmbito dos artefactos votivos esta anta apresenta um dos maiores

conjuntos de iacutedolos-placa da regiatildeo de Lisboa com pelo menos catorze peccedilas

nuacutemero aproximado agravequele da cacircmara ocidental do tholos da Praia das Maccedilatildes

(Leisner 1965) ainda que a pouco mais de um quiloacutemetro no conjunto de grutas

artificiais do Tojal de Vila Chatilde (Carenque) sobretudo em Carenque 1 e 2 tambeacutem se

registam alguns exemplares mas em nuacutemero mais reduzido (Gonccedilalves Andrade e

Pereira 2004)

As informaccedilotildees disponiacuteveis apontam para a recolha de 4 placas na cacircmara

Conforme a condiccedilatildeo da cacircmara jaacute referida acima compreende-se porque algumas

das peccedilas recolhidas se encontrassem quebradas

Uma das placas (MG30235) encontra-se extremamente fragmentada para o

que teraacute contribuiacutedo bastante o facto de ser em micaxisto luzente Natildeo apresenta

gravaccedilatildeo visiacutevel notando-se apenas o seu contorno rectangular com cantos

arredondados e parte de uma perfuraccedilatildeo num topo

Outra provaacutevel placa presume-se pelos seus 4 fragmentos (MG30225A-D) em

xisto ardosiano com caracteriacutesticas semelhantes dois deles colando e depreendendo-

se que os restantes poderiam pertencer agrave mesma peccedila um fragmento do topo

(MG30225B) ainda com gravaccedilatildeo numa das faces e uma perfuraccedilatildeo e que cola com

um fragmento meacutedio do corpo verificando-se gravaccedilatildeo em ambas as faces

(MG30225A) um fragmento da base com gravaccedilatildeo numa das faces (MG30225C)

e um pequeno fragmento sem faces polidas preservadas (MG30225D)

As outras duas placas recolhidas na cacircmara apresentam-se quase intactas

(MG30215 e 19) ainda que se desconhecendo quando foram recolhidas surgindo

ambas com a menccedilatildeo ldquoencontrada no mesmo diardquo

Na aacuterea vestibular foram encontrados outros dez iacutedolos-placa com algumas

fracturas e lascagens mas essencialmente preservados Destes apenas uma placa natildeo

foi encontrada por V Leisner e O V Ferreira (1961) ainda que tal facto natildeo seja

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 104 de 415

esclarecido na publicaccedilatildeo Mas na documentaccedilatildeo de V Leisner apesar de surgirem

os desenhos natildeo publicados de duas das placas listadas aquela tambeacutem natildeo surge

desenhada Assim segundo o inventaacuterio de F C Ribeiro sabe-se que essa placa teria

o coacutedigo ldquo26(8ordf)rdquo ndash seria de xisto cinzento micaacuteceo com uma altura de 15 cm

largura meacutedia de 76 cm e espessura maacutexima de 07 cm O seu contorno seria

subtrapezoidal com acircngulos arredondados A face gravada estaria dividida em 5

secccedilotildees (4 bandas e o topo) com ornamentaccedilatildeo triangular e teria 2 orifiacutecios

(ALeisner Leis64)

Das restantes peccedilas apenas a placa ldquoCTTrdquo (MG30213) merece para jaacute um

breve destaque pois apresenta aleacutem da sua gravaccedilatildeo principal um esboccedilo das linhas-

guia gravadas na outra face

Finalmente haacute ainda um outro iacutedolo-placa (MG30232) que teraacute sido recolhido

a 9 de Setembro mas que natildeo consta da listagem de F C Ribeiro No entanto V

Leisner apresenta-o ainda que natildeo se saiba a sua proveniecircncia concreta no sepulcro

Esta placa apresenta-se muito sumida com linhas-guia verticais e faixas

ziguezagueantes O mais evidente eacute o par de orifiacutecios no topo

Genericamente o conjunto de placas depositadas na anta das Conchadas

apresenta topos simeacutetricos e corpos com bandas relativamente coerentes e

preenchidas com triacircngulos

Aleacutem destes iacutedolos-placa denunciando influecircncias inter-regionais registaram-

se trecircs beacutetilos cilindroacuteides sem qualquer gravaccedilatildeo mais frequentes nesta regiatildeo em

dado periacuteodo Infelizmente estes foram encontrados em camadas superficiais ou

revolvidas O fragmento de pequeno iacutedolo ciliacutendrico MG30210 surgiu nos entulhos

da cacircmara bem como outro pedaccedilo maior de um outro Este uacuteltimo colou com

fragmento recolhido na passagem (MG30201) Por fim recolheu-se ainda uma peccedila

completa (MG30211) mas quase na superfiacutecie da aacuterea de acesso ao sepulcro

Uma pequena peccedila betiloacuteide sobre osso (MG30241) tambeacutem se enquadraraacute

no grupo dos iacutedolos ciliacutendricos mas porque se encontra fracturada num dos topos

natildeo se sabe se teria um estrangulamento tornando-a num iacutedolo-gola

Tambeacutem realizadas sobre osso foram recolhidos trecircs figurinhas de lagomorfos

(MG30253 e 54) uma delas completa na cacircmara (MG30222) Este artefacto

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 105 de 415

votivo tem sido identificado em outros sepulcros da regiatildeo de Lisboa e fora dela

(Leisner e Leisner 1959 Leisner 1965 Ferreira 1970)

Os elementos de adorno nesta anta satildeo variados Um alfinete de cabelo com

cabeccedila posticcedila sem evidente decoraccedilatildeo Outras duas cabeccedilas tambeacutem se apresentam

quase lisas notando-se apenas algumas incisotildees pouco consistentes registando-se

ainda alguns pedaccedilos de hastes Com um fragmento de haste (MG30228E) tentei

obter uma dataccedilatildeo radiocarboacutenica mas o colageacutenio revelou-se insuficiente para tal

desiderato

Entre os elementos de colar contam-se alguns pingentes sobre pedra

(MG30244) osso (MG30239) e presa de Sus sp (MG3024301) Para ser usada

como conta uma veacutertebra de peixe segundo os autores da Superclasse Teleostomi

(Leisner e Ferreira 1961 p 322) foi afeiccediloada e polida (MG30240) Mas no

essencial satildeo as pequenas contas discoidais (MG30256) que representam esta classe

de artefactos nomeadamente 46 de xisto duas sobre concha e trecircs em osso

Associados possivelmente ao vestuaacuterio de defuntos encontraram-se cerca de

sete bototildees em osso com perfuraccedilotildees em V (Fig 68 6-8) um de formato coacutenico

(MG30248) trecircs com apecircndices do tipo cabeccedila de tartaruga (MG3024647 e 49) e

trecircs com apecircndices troncocoacutenicos (MG30250-52)

Haacute ainda um elemento oacutesseo polido tipo espaacutetula (MG30229) que natildeo eacute

referido na listagem publicada (Leisner e Ferreira 1961 Leisner 1965) nem surge

desenhado na documentaccedilatildeo de V Leisner (ALeisner Leis64) pelo que coloco

reservas na sua pertenccedila originalmente a este conjunto

Quanto aos recipientes ceracircmicos apesar de existir parte da sua listagem natildeo

surge indicada a proveniecircncia concreta dos fragmentos excepto no caso da taccedila

canelada jaacute referida Aleacutem desta regista-se apenas uma taccedila lisa quase completa de

difiacutecil enquadramento cronoloacutegico

A restante ceracircmica representa vaacuterios exemplares campaniformes Dois vasos

campanulados com decoraccedilatildeo pontilhada no estilo internacional (MG30277A-B)

Algumas taccedilas com decoraccedilatildeo pontilhada mais elaborada recordando o estilo

Palmela No que concerne a decoraccedilatildeo incisa surgem alguns fragmentos em bandas

mas destacam-se sobretudo duas peccedilas uma taccedila com decoraccedilatildeo na face interna com

espinhados (MG30270) e fragmentos de uma taccedila com peacute decorado com reticulado

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 106 de 415

inciso (MG30282) cujo desenho eacute apresentado invertido (Leisner e Ferreira 1961

fig 5 Leisner 1965 taf 28 81) Esta peccedila corresponderaacute ao raro tipo de vaso tipo

fruteira (Fig 67) encontrado em Satildeo Pedro do Estoril 1 e Porto Covo (Gonccedilalves

2005b)

Um fragmento mesial de um elemento de tear do tipo crescente com secccedilatildeo

arredondada encontrava-se num conjunto de peccedilas amorfas de ceracircmica V Leisner

natildeo se lhe refere pelo que registo-o com reserva tendo em conta as vicissitudes das

colecccedilotildees do Museu Geoloacutegico bem como a raridade destas peccedilas na Estremadura

(Diniz 1994 Boaventura 2001)

Para um enquadramento cronoloacutegico teria sido uacutetil obter uma dataccedilatildeo absoluta

sobre algum dos elementos osteoloacutegicos ali detectados mas infelizmente natildeo foram

localizados Por isso tentou-se a dataccedilatildeo pelo radiocarbono de um fragmento de

haste de um alfinete de cabelo mas este natildeo apresentava colageacutenio suficiente Assim

face agraves caracteriacutesticas do sepulcro e dos materiais ali recolhidos nomeadamente

geomeacutetricos e pequenas lacircminas julgo que eacute admissiacutevel apontar uma cronologia de

utilizaccedilatildeo inicial pelo menos entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane Esse

uso teraacute sido intensificado na passagem para o 3ordm do mileacutenio ane e nos seus

primeiros dois quarteis a que corresponderaacute a maioria dos artefactos votivos (iacutedolos-

placa e beacutetilos de calcaacuterio) bem como as lacircminas retocadas pontas de seta e a taccedila

canelada Posteriormente a presenccedila da ceracircmica campaniforme bem como objectos

de adorno que costumam acompanhaacute-la documentam usos em meados e segunda

metade daquele mileacutenio

4142 Pedras Grandes e siacutetio das Batalhas

A primeira notiacutecia conhecida acerca das antas de Pedras Grandes (CNS-6484) e

Batalhas (CNS-649) deve-se a Carlos Ribeiro (1880 p 69) no acircmbito dos seus

levantamentos geoloacutegicos na deacutecada anterior descrevendo-as ldquoMais longe 6 a 7 km

ao NE de Bellas e proximo da pittoresca aldeia de Caneccedilas encontram-se os restos

de outros dois dolmens um drsquoelles situado a 1000 metros drsquoeste povo no siacutetio

denominado o Fojo meio demolido conserva ainda duas grandes lages medindo 4 Na base de dados arqueoloacutegicos do Endoveacutelico surge ainda o siacutetio de ldquoFojordquo com o CNS 3005 ainda que corresponda ao mesmo siacutetio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 107 de 415

uma drsquoellas dois metros acima da flor do terreno vendo-se uma terceira que lhe

pertencia tombada para dentro da camara e quebrada talvez em consequencia da

excavaccedilatildeo que ali fizeram deixando esta pedra ao desamparo ou sem encontro O

outro dolmen a 500 mais para o SE no sitio das Batalhas estaacute representado por

uma uacutenica lage grande ainda inteira e por fragmentos de outras grandes lages

tombadas sobre o terreno e que parece terem pertencido ao mesmo megalithordquo

Ambas as antas foram classificadas como Monumento Nacional pelo Decreto

nordm 33587 publicado no Diaacuterio do Governo (1ordf Seacuterie) de 27 de Marccedilo de 1944

situadas no entatildeo concelho de Loures e descritas como ldquodois doacutelmenes existentes em

Caneccedilas um deles a sul 77ordm este do moinho do Baeta e a norte 49ordm este do marco

geodeacutesico do Bispo no calcaacutereo do Turoniano no siacutetio actualmente denominado

Siacutetio das Pedras Grandes e o outro a norte 34ordm este do marco geodeacutesico do Bispo e a

norte 76ordm este do moinho do Baeta no calcaacutereo do Cenomaniano o qual eacute conhecido

por laquodoacutelmen no siacutetio das Batalhasraquordquo Sem que tenha sido possiacutevel perceber porquecirc a

anta de Pedras Grandes surgiu novamente classificada como Monumento Nacional

exactamente com a mesma descriccedilatildeo cinco anos mais tarde pelo Decreto nordm 37450

publicado no Diaacuterio de Governo (1ordf Seacuterie) de 16 de Junho de 1949 Ainda que em

listagens distintas com siacutetios de todo o territoacuterio portuguecircs a sua inclusatildeo na segunda

deveraacute ter sido apenas um lapso pois nada acrescentou agrave classificaccedilatildeo primeiramente

publicada

A descriccedilatildeo relativamente abreviada de C Ribeiro (1880) acerca da anta do

siacutetio do ldquoFojordquo poderaacute explicar alguma confusatildeo que se gerou posteriormente em

redor deste sepulcro e daquele denominado Batalhas cuja referecircncia foi ainda mais

curta Por isso eacute importante sistematizar as informaccedilotildees disponiacuteveis procurando

dessa forma elucidar e clarificar algumas discrepacircncias nelas contidas e ainda hoje

repetidas

Tambeacutem como se poderaacute verificar estas duas antas encontravam-se

relativamente proacuteximas do cluster de Trigache quase integraacuteveis como o seu limite

ocidental (Fig 26) De facto este par de antas que distava entre si cerca de 500

metros situava-se aproximadamente a igual distacircncia de alguns dos sepulcros

daquele cluster

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 108 de 415

41421 Pedras Grandes

A localizaccedilatildeo de C Ribeiro (1880 p 69) do siacutetio do Fojo a cerca de mil

metros do centro de Caneccedilas bem como a sua descriccedilatildeo coincidem grosso modo

com a anta actualmente designada por Pedras Grandes Nesse sentido tambeacutem joga a

favor o proacuteprio significado de fojo (ldquocova para depoacutesito de aacuteguas junto a minardquo)

podendo observar-se na Carta Militar de Portugal folha 417 (SCE 1965) a indicaccedilatildeo

de um desaterro circular (numa aacuterea com vaacuterias frentes de pedreira) imediatamente a

norte-nordeste da actual anta Ainda hoje o topoacutenimo ldquopedreirardquo surge na rua situada

nessa direcccedilatildeo Toda a aacuterea a sudeste conhecida como Campos de Trigache foi ao

longo de seacuteculos sujeita a exploraccedilatildeo de pedreiras de que a cartografia antiga regista

algumas das crateras produzidas O topoacutenimo ldquoHorta do Fojo de Dentrordquo que

entretanto desapareceu da memoacuteria colectiva local surge indicado para um espaccedilo de

horta na Carta Topograacutefica de Portugal folha 34-B4-1 (IGC 1951) a 100-200

metros para sul-sudoeste da anta Por outro lado alguns dos materiais da ldquocatardquo

realizada pelo geoacutelogo apresentavam etiqueta com a mesma informaccedilatildeo 2221875

300m S70ordmE do Mordm do Baeta[ou Baeto] Caneccedilas (MG63801-05) o que coincide

com a anta em discussatildeo

J L Vasconcelos visitou o sepulcro em 1913 registando numa ficha acerca

dele ldquoDolmen 600m ao NE do sinal trigonomeacutetrico do Bispo (2 km NE de A da

Beja) 1913 2 pedras levantadas as outras tombadas seria bom photographalo

antes de desaparecer Os campos ao peacute tem muitas lascas de siacutelex Lumiar ndash

Odivelas ndash Casal Ramadardquo (AJLVasconcelos [Pedras Grandes]) Felizmente o

prognoacutestico natildeo se concretizou mas natildeo foi possiacutevel verificar se a imagem foi

obtida

Uma deacutecada mais tarde F C Ribeiro tambeacutem visitou Pedras Grandes no

acircmbito das suas pesquisas arqueoloacutegicas na regiatildeo entre Odivelas e A-da-Beja

nomeadamente nas antas de Trigache e Conchadas (ver os capiacutetulos respectivos)

Contudo esta visita e eventuais anotaccedilotildees natildeo foram detectadas durante o estudo e

publicaccedilatildeo dos seus apontamentos por V Leisner e O V Ferreira (1959 e 1961) De

facto a uacutenica pista para a visita e possiacutevel intervenccedilatildeo eacute uma fotografia em que este

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 109 de 415

explorador posa junto agrave anta de Pedras Grandes (Fig 69 1) ainda que tenha sido

atribuiacuteda pelos editores a Trigache 1 (Leisner e Ferreira 1961 est XII 2) Aleacutem de

se identificar claramente na imagem um dos esteios daquela anta (Fig 69 2) a vista

obtida de este-nordeste regista a Serra de Sintra no horizonte algo impossiacutevel de se

observar na aacuterea do agrupamento de Trigache Em todas as antas intervencionadas

por F C Ribeiro pelo que se pode depreender das fotos apresentadas (Leisner e

Ferreira 1961 est XII-XIV) este teria por haacutebito posar junto delas No entanto face

agrave dificuldade que a ruiacutena da anta colocava agrave sua exploraccedilatildeo situaccedilatildeo jaacute lamentada

por C Ribeiro (1880 p 69) eacute provaacutevel que qualquer exploraccedilatildeo de F C Ribeiro

tenha sido bastante limitada e reduzida

Apesar da anta ter sido classificada em 1944 com a designaccedilatildeo actual uma

deacutecada mais tarde O V Ferreira (1959 p 218) ainda se refere ao ldquoMonumento do

Fojordquo situado a 600 metros Norte 25 graus Este do marco geodeacutesico Bispo e

explorado por C Ribeiro Surpreendentemente associa a denominaccedilatildeo ldquoPedras

Grandesrdquo ao ldquoMonumento das Batalhasrdquo Aliaacutes este autor juntamente com V

Leisner (1961 fig 1) indicava num mapa de localizaccedilatildeo das antas de Trigache e de

Conchadas outros dois siacutembolos de anta ndash um deles a nordeste do geodeacutesico do

Bispo parece corresponder agrave actual localizaccedilatildeo da anta de Pedras Grandes (para O

V Ferreira ldquoMonumento do Fojordquo) mas o outro a noroeste do mesmo marco

geodeacutesico poderaacute ter resultado de alguma confusatildeo entre o topoacutenimo do Moinho do

Baeta (ali localizado) e os materiais depositados por C Ribeiro no Museu Geoloacutegico

referidos atraacutes com referecircncia ao mesmo termo Outra hipoacutetese carecendo de

comprovaccedilatildeo poderaacute relacionar-se com a possibilidade de O V Ferreira ter

localizado alguma minuta de um mapa antigo com indicaccedilatildeo de monumentos

megaliacuteticos Mas pelo referido neste capiacutetulo isso contradiria a informaccedilatildeo

publicada por C Ribeiro (1880)

Outra designaccedilatildeo da anta surge por intermeacutedio de V Leisner (1965) que situa o

ldquoDolmen 1 de Caneccedilasrdquo isto eacute Pedras Grandes a 1 km a este-sudeste de Caneccedilas no

siacutetio do Fojo 300 m sul 70ordm este do ldquoMonte da Baetardquo (sic) e 600 m norte 25ordm este

do marco geodeacutesico Bispo correspondendo perfeitamente com a localizaccedilatildeo

actualmente conhecida Eacute tambeacutem esta autora que apresenta pela primeira vez uma

planta da anta produzida por si e G Leisner em 1 de Dezembro de 1943 ndash aiacute

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 110 de 415

verifica-se a ausecircncia do esteio U8 ainda escondido sob pedras e vegetaccedilatildeo (situaccedilatildeo

verificaacutevel nas fotos obtidas ndash ALeisner Leis31) a indicaccedilatildeo da provaacutevel entrada

mas sem qualquer monoacutelito e o desenho dos materiais recolhidos por C Ribeiro

depositados no Museu Geoloacutegico (ALeisner Leis64 Leisner 1965 taf 53 3)

No referido museu localizei ainda um noacutedulo de siacutelex (MG63701) etiquetado

ldquoDolmen de Caneccedilasrdquo associado a uma fotografia datada de 26 de Marccedilo de 1941 e

legendada ldquoDoacutelmen das Pedras Grandes [espaccedilo] Caneccedilasrdquo (Fig 69 6)

correspondendo a uma das vistas da anta publicada por O V Ferreira (1959 fig 11-

12) com a legenda ldquoSepultura das Pedras Grandes ou das Batalhas Outro aspecto

da mesmardquo A data anotada na foto da anta anterior agraves obtidas pelo casal alematildeo

(Fig 69 3-4) poderaacute explicar o interesse suscitado e a sua posterior classificaccedilatildeo

como Monumento Nacional No entanto a confusatildeo de designaccedilotildees natildeo eacute totalmente

compreensiacutevel pois a noacutetula de C Ribeiro (1880) apesar de breve eacute francamente

clarificadora Aliaacutes a folha da Carta Geoloacutegica com base nos levantamentos antigos

dos Serviccedilos Geoloacutegicos assinala as duas antas perfeitamente de acordo com essas

indicaccedilotildees (SGP 1981)

De meados do seacuteculo XX ateacute os anos 80 a anta viu-se progressivamente sitiada

por bairros de geacutenese ilegal tendo inclusive sido incluiacuteda num loteamento que a

erradicaria de vez natildeo fosse acccedilatildeo que a Comissatildeo de Moradores do Casal Novo

promoveu para o impedir (informaccedilatildeo pessoal de Joseacute Candeias antigo presidente da

Comissatildeo) Pouco tempo depois em 1992 a anta sofreu a fractura de um dos esteios

por meio de uma retro-escavadora que tentava alinhar os dentes do seu balde (69 5)

Entretanto perante a pressatildeo urbana que este Monumento Nacional sofria

foram delineados projectos de valorizaccedilatildeo pela Cacircmara Municipal de Loures

(Oliveira 1994) mas tais desiacutegnios natildeo se concretizaram

Intervenccedilotildees arqueoloacutegicas no seacuteculo XXI

Em 2001 sob um novo enquadramento administrativo foi realizada uma

campanha de trabalhos arqueoloacutegicos pela empresa Era Arqueologia Lda

contratada para o efeito pela Cacircmara Municipal de Odivelas Aquela acccedilatildeo visava

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 111 de 415

sobretudo verificar o potencial patrimonial e o grau de preservaccedilatildeo do sepulcro mas

os trabalhos incidiram sobretudo na sua aacuterea exterior (Fig 71 Era - Arqueologia

2001) Os resultados da avaliaccedilatildeo efectuada facilitaram a concretizaccedilatildeo em 2004 de

uma campanha de escavaccedilatildeo mais abrangente inclusive no interior da anta

A intervenccedilatildeo arqueoloacutegica em 2004 na anta de Pedras Grandes decorreu

essencialmente entre os dias 5 de Julho e 6 de Agosto com uma primeira limpeza da

vegetaccedilatildeo no dia 1 de Julho e o aterro das aacutereas sondadas no dia 16 de Agosto (Fig

69 5) Perante os resultados de 2001 a escavaccedilatildeo em aacuterea de todo o monumento foi

entendida como uma acccedilatildeo localizada Isto eacute natildeo se considerou necessaacuterio escavar a

totalidade do contraforte e aacutereas imediatamente circundantes do sepulcro pois o

troccedilo jaacute intervencionado permitira uma leitura suficiente dessa estrutura ndash tambeacutem

porque se pretendeu deixar um testemunho para a posteridade Assim a escavaccedilatildeo

iniciou-se pelos troccedilos exteriores que estavam associados a contextos de queda ou

inclinaccedilatildeo acentuada dos esteios nomeadamente os ortoacutestatos U3 U4 e U5 e outros

fragmentos peacutetreos dentro da cacircmara (U6 U7 U8 U17 U18 e U215) Apoacutes essa

fase foi possiacutevel extrair os blocos referidos e proceder tambeacutem agrave escavaccedilatildeo do

interior da cacircmara ateacute entatildeo impedida (Fig 72 2-6)

Um melhor entendimento da entrada era importante para a leitura integral do

monumento pelo que a sua escavaccedilatildeo foi efectuada

A equipa de escavaccedilatildeo foi constituiacuteda por mim enquanto arqueoacutelogo

municipal e responsaacutevel cientiacutefico pela arqueoacuteloga Maia M Langley e o

bioarqueoacutelogo Aacutelvaro Figueiredo Sob esta coordenaccedilatildeo os 14 estudantes

universitaacuterios de antropologia e arqueologia participaram nas diversas actividades

implicadas na intervenccedilatildeo

Consoante os contextos a escavaccedilatildeo processou-se com uso de picareta

picadeira ou colherim As terras extraiacutedas foram crivadas a seco (rede de 3 mm)

consoante a pertinecircncia do contexto ndash no caso da cacircmara as terras foram sempre

crivadas

O espoacutelio exumado foi tratado e depositado agrave guarda da Cacircmara Municipal de

Odivelas sob gestatildeo da Divisatildeo de Cultura e Patrimoacutenio Cultural

5 A U21 eacute apontada em todas as plantas do relatoacuterio de 2001 como U10 mas isso eacute com certeza uma gralha

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 112 de 415

Procurando o maacuteximo de compatibilidade com a intervenccedilatildeo anterior optou-se

por manter e aplicar a descriccedilatildeo das unidades estratigraacuteficas estabelecidas

adicionando as novas ndash para as quais se optou por uma maior segmentaccedilatildeo das

unidades pelas aacutereas onde eram detectadas

Tambeacutem se procurou implantar uma quadriacutecula de 10x10 m em consonacircncia

com a anterior com quadrados de 1x1 m ainda que se tenha registado um desvio

adicional de cerca de 20 cm de sul para norte e de 5 cm de oeste para este No

sentido de efectuar um registo tridimensional dos achados mais pertinentes atribuiu-

se ao eixo Y (sul-norte) uma coordenada alfabeacutetica (excluindo as letras O e Q) e ao

eixo X (oeste-este) uma coordenada numeacuterica (excluindo o algarismo 0) As diversas

sondagens efectuadas na envolvente basearam-se na mesma quadriacutecula ndash ainda que

para sul se tenha dobrado a coordenada alfabeacutetica e para oeste a coordenada

numeacuterica passou a negativa A cota de referecircncia utilizada 27324 m a partir dos

dados fornecidos pelo topoacutegrafo municipal foi implantada no afloramento calcaacuterio a

cerca de 10 metros a norte da anta

Agrave data das intervenccedilotildees de 2001 e 2004 a anta correspondia de forma geral agrave

descriccedilatildeo apresentada por C Ribeiro (1880) dois dos esteios ainda completos mas

tombados para dentro da cacircmara e outros jazendo no seu interior (U3 U4 U5 e U8)

assim como outros blocos peacutetreos (U6 U7 U17 U18 e U21) parecendo natildeo ter sido

mexida desde entatildeo As imagens conhecidas desta anta das deacutecadas de 20 e 40

tambeacutem demonstram a condiccedilatildeo relativamente inalterada do sepulcro A excepccedilatildeo

devia-se ao esteio (U4) quebrado em 1992 sob o qual foi colocado um bloco peacutetreo

para evitar a sua queda Perante tal situaccedilatildeo a pequena cata de C Ribeiro (1880) teraacute

sido realizada nos interstiacutecios dos esteios tombados dentro da cacircmara ainda que

tivesse recolhido um conjunto significativo de materiais osteoloacutegicos e liacuteticos

Em 2001 a intervenccedilatildeo arqueoloacutegica incidiu sobre as aacutereas de entrada e do

quadrante sul no qual se realizou uma vala de sondagem para detecccedilatildeo de possiacuteveis

vestiacutegios de mamoa Na primeira aacuterea verificou-se a presenccedila de dois pequenos

esteios mas natildeo foi possiacutevel verificar se estes prenunciariam uma passagem mais

extensa Por outro lado natildeo se registaram vestiacutegios da mamoa mas somente um anel

peacutetreo de contraforte encostado aos esteios U8 e U9 (Era ndash Arqueologia 2001)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 113 de 415

A continuaccedilatildeo dos trabalhos em 2004 incidiu a escavaccedilatildeo na aacuterea de acesso agrave

cacircmara e nos quadrantes exteriores em redor dos blocos peacutetreos U3 U4 U5 U6 e

U7 que apresentaram o mesmo tipo de realidades jaacute detectadas na intervenccedilatildeo de

2001 sob a U1 surgiu a U10 que se sobrepunha agrave U13 correspondendo

essencialmente a depoacutesitos alterados e superficiais Estas unidades cobriam por sua

vez o contraforte enrocamento criado junto aos esteios (U57 U34 U27 e U41) A

excepccedilatildeo registou-se na aacuterea oeste onde a U10 se sobrepunha directamente sobre o

afloramento e terras argilosas acastanhadas (U39) e o contraforte era residual

As ausecircncias referidas na aacuterea poente parecem ter resultado de dois factores

- A U13 (terras castanho-amareladas) resultava do substrato de argilas

amarelas mas naquele sector dava lugar ao afloramento de calcaacuterio camada que se

lhe se sobrepunha preenchido por argilas acastanhadas Posteriormente verificou-se

que esta realidade tambeacutem se prolongava dentro da cacircmara e sob a aacuterea de

contraforte U14

- A quase inexistecircncia de contraforte no lado oeste deveraacute ter resultado da

extracccedilatildeo do esteio que ali existiu Esta abertura teraacute permitido o acesso ao interior

da cacircmara (antes da queda do esteio dos esteios no seu interior) bem como facilitou

o desmonte localizado do contraforte Os blocos U6 U7 e U21 (ainda que possiacuteveis

fragmentos de esteios) jaziam soltos sobre as U10 e U19 O ldquoalveacuteolordquo do esteio

desaparecido (U40) foi aberto no substrato calcaacuterio ou pelo menos na argila

acastanhada o que condicionou a sua profundidade e delimitaccedilatildeo situaccedilatildeo

semelhante detectada para a implantaccedilatildeo do esteio U8

Onde era mais visiacutevel o contraforte (U57 U34 U27 e U41) apresentava as

mesmas caracteriacutesticas da U14 (descrito por Era ndash Arqueologia 2001 fig 13) tendo

sido utilizadas pedras de calcaacuterio e basalto na sua construccedilatildeo entre as quais se

detectaram alguns elementos talhados em siacutelex

A inclinaccedilatildeo acentuada dos esteios U3 e U4 teraacute sido em parte a consequecircncia

da queda do esteio de cabeceira (U5) ao qual a U4 se encostava Esse episoacutedio teraacute

originado os contextos U25 e U26 que satildeo o resultado do preenchimento

primeiramente imediato e depois gradual dos vazios criados por elementos das

unidades U1 U10 U13 U27 e U34

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 114 de 415

Situaccedilatildeo semelhante de arrastamento parcial do contraforte parece ter

ocorrido com a queda do esteio U5 Este esteio ao tombar para o interior da cacircmara

teraacute arrastado o topo do seu contraforte (U57) mas tambeacutem ao expor a estrutura

contribuiu para a sua degradaccedilatildeo natural e gradual dando origem agrave U23 que cobriu

a face exterior da sua base

O tombo da U5 arrastou ainda os blocos U17 e U18 Estes teratildeo funcionado

como lajes de tapamento do interstiacutecio sul do esteio de cabeceira o que potildee de lado a

hipoacutetese aventada em 2001 de um qualquer tipo de divisatildeo dentro da cacircmara Aliaacutes

essa funccedilatildeo de tapamento repete-se nos interstiacutecios entre os esteios U5U4 U4U3

U3U2 e U9U8 nos quais foi possiacutevel verificar a existecircncia de blocos

tendencialmente maiores que os restantes mas de dimensotildees semelhantes aos blocos

U17 e U18

Apoacutes o esclarecimento suficiente da aacuterea exterior aos esteios da cacircmara

avanccedilou-se com a extracccedilatildeo daqueles monoacutelitos que impediam a escavaccedilatildeo dentro da

cacircmara nomeadamente os blocos U4 U5 U6 U7 U8 e U21 No caso do esteio U8

apenas foi retirado o fragmento caiacutedo no interior da cacircmara permanecendo in situ a

sua base ainda que ligeiramente inclinada Este esteio apresentava ainda na sua aacuterea

de fractura 3 entalhes realizados para o quebrar parecendo notar-se uma possiacutevel

ldquocovinhardquo um pouco abaixo daquela linha

A extracccedilatildeo de alguns dos monoacutelitos com uma grua moacutevel permitiu registar

algumas das suas dimensotildees (Quadro 2) permitindo apreciar o esforccedilo envolvido no

seu transporte

Quadro 2 Dimensotildees dos esteios da anta de Pedras Grandes

Esteio bloco Peso (em toneladas) Comprimento (m) Largura (m)

U3 68 4 180 160

U4 25 230+ 130 = 360 130 110

U5 + U5 47+22 = 69 250 + 140 = 390 190 2

U8 (frag) 12 - 2

U21 04 - -

Os blocos U6 e U7 foram retirados manualmente numa fase anterior da

escavaccedilatildeo pelo que natildeo foram pesados De qualquer forma pelas suas dimensotildees

teratildeo pesos semelhantes ou menores ao bloco U21

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 115 de 415

Apreciando as caracteriacutesticas dos blocos utilizados na construccedilatildeo verifica-se

que estes afloram ainda a cerca de 20 metros a norte da anta pelo que a seu

transporte apesar de esforccedilado natildeo teraacute sido longo (Fig 72 1)

O grau de preservaccedilatildeo do interior da cacircmara revelou-se aqueacutem das

expectativas

Sob o esteio de cabeceira (U5) que cobria a maioria da cacircmara registou-se

bastante lixo recente ali acumulado 1 teacutenis Adidas plaacutesticos embalagem de iogurte

latas de conserva vidros de garrafas mas tambeacutem alguns elementos em siacutelex

Uma concentraccedilatildeo especial de terra solta e escura (U45) tambeacutem com lixo

recente inclusive um boneco do pato Donald tornou-se evidente na aacuterea

correspondendo ao pequeno espaccedilo entre a U8 e parcialmente sob as U5 U17 U18

e U21 Esta realidade parece apontar para uma intervenccedilatildeo numa das poucas aacutereas

acessiacuteveis talvez por C Ribeiro Contudo um morador do Casal Novo recordava-se

de por volta de 1977-78 dois indiviacuteduos terem passado um dia inteiro a cavar dentro

da anta por entre as pedras Ora sendo o lixo de caraacutecter muito recente e na aacuterea

junto agrave anta se registar uma festa anual do tipo feira eacute provaacutevel que este segundo

episoacutedio esteja mais proacuteximo da causa Reforccedilando esta explicaccedilatildeo para o lixo

recente sob pedras caiacutedas antes de 1880 pode presumir-se uma cavaccedilatildeo em galeria e

a acccedilatildeo de roedores e reacutepteis no local Estes animais ao produzirem os seus redutos

sob as pedras criaram espaccedilos vazios que foram posteriormente preenchidos por lixo

O estudo das faunas recolhidas (ver anexo) parece reforccedilar esta ideia

A remoccedilatildeo dos restos da U19 e das terras soltas dentro da cacircmara (originadas

pela extracccedilatildeo dos monoacutelitos) permitiu evidenciar algumas realidades de interesse

notando-se uma concentraccedilatildeo de vestiacutegios arqueoloacutegicos numa aacuterea central de

formato aproximadamente circular (U49 e U51) e segmentos de um anel peacutetreo pelo

lado interior dos esteios (U53 U54 U61) excepto na aacuterea relacionada com o esteio

U5 e junto aos esteios U2 e U9 (estes dois uacuteltimos esteios natildeo foram extraiacutedos nem

os seus alveacuteolos escavados)

Ainda que inicialmente se tenha considerado a U58 como uma realidade

arqueoloacutegica pois apresentava bolsas de terra acastanhada com materiais verificou-

se posteriormente que a sua consistecircncia argilosa de cor amarelada correspondia jaacute

ao substrato geoloacutegico ndash mas somente apoacutes a remoccedilatildeo da U49 e da raspagem

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 116 de 415

aprofundada das aacutereas limiacutetrofes se tornou evidente essa situaccedilatildeo na qual

revolvimentos antigos haviam misturado o sedimento geoloacutegico com terras e

materiais arqueoloacutegicos Assim a mancha de terras sob a U49 foi classificada como

uma nova unidade a U58A Estas duas unidades juntamente com as U19 U61 e

U59 continham a maioria do material arqueoloacutegico associaacutevel ao sepulcro

nomeadamente alguns elementos de siacutelex trabalhados e ossos humanos Por outro

lado a U58A preenchia a referida aacuterea central da cacircmara a uma cota inferior face

aos topos da U58 que eram simultaneamente os bordos internos dos alveacuteolos dos

esteios da cacircmara Essa depressatildeo poderaacute ter sido escavada e utilizada daquela forma

intencionalmente ainda que posteriormente tenha sofrido perturbaccedilotildees de tal forma

que no fundo desta se recolheram fragmentos de ceracircmica vidrada verde (p ex

PG(04)J7-28 e PG(04)I7-28) junto com artefactos em siacutelex (PG(04)I7-26 e

PG(04)J7-32) e restos humanos

No lado sul da cacircmara as unidades U61 e U59 ainda continham restos do

espoacutelio sepulcral mas muito fragmentaacuterio

A U61 apresentava-se remexida com materiais arqueoloacutegicos grandes lascas

da fractura do esteio U8 e ainda alguns blocos calcaacuterios e basaacutelticos do que teraacute sido

o enrocamento interno do alveacuteolo desse esteio Aliaacutes como jaacute foi referido acima este

esteio tinha sido quebrado intencionalmente jaacute muito proacuteximo da sua base Por outro

lado porque assentava na aacuterea de substrato calcaacuterio natildeo tinha um alveacuteolo muito

aprofundado ndash a cota do afloramento rondava os 27170-90 m acima do topo do

preenchimento da U58A mas muito abaixo do fundo da U59 Quase sob a base do

esteio U8 numa falha mesial recolheu-se um percutor esferoidal em seixo de

quartzito

A U59 assentava no substrato geoloacutegico argiloso (U58) a uma cota aproximada

de 27220-30 m o que coincidia com a cota do lado norte do mesmo substrato junto

ao bordo dos alveacuteolos e com a entrada da cacircmara Eacute provaacutevel que esta cota tenha sido

o niacutevel aproximado da cacircmara com uma depressatildeo central que teraacute atingido a

profundidade mais baixa de 27108 m (cota de recolha de uma ceracircmica vidrada

PG(04)I7-28)

Como jaacute foi referido atraacutes o esteio de cabeceira (U5) selou a maioria da aacuterea

da cacircmara quando caiu No entanto quebrou o seu topo porque embateu no esteio U9

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 117 de 415

e no substrato argiloso na entrada da cacircmara ambos em cotas superiores ao bordo

interno detectado do seu alveacuteolo Isto parece significar que quando U5 tombou a

cacircmara jaacute se apresentava parcialmente deprimida no lado oeste-sudoeste Apesar da

localizaccedilatildeo do alveacuteolo da U5 ainda no substrato argiloso o que permitiu uma maior

profundidade (c 27160 m) o seu bordo encontrava-se extremamente rebaixado ndash

cerca de 27180 m em vez de 27220-30 m como nos bordos dos outros alveacuteolos (Fig

73 1) Outra caracteriacutestica associada ao esteio U5 eacute a sua base assimeacutetrica - apesar

de apresentar cerca de 2 metros de largura meacutedia a sua base tinha um recorte com

cerca de 1 m por 050 m de altura Perante a situaccedilatildeo descrita a que se deve juntar a

ausecircncia de apoio do lado sul (o esteio desaparecido que se fincava na U40) e a

pressatildeo dos esteios do lado norte (U4 e U3) percebe-se o conjunto de eventos que

teratildeo contribuiacutedo para a sua queda

Resta ainda descrever em pormenor o anel de enrocamento associado aos

alveacuteolos dos esteios U4 e U3 respectivamente U42 e U56 Situando-se os alveacuteolos

no substrato argiloso estes apresentavam profundidades de cerca de 27170-80 m

bem como o rebordo interno preservado (cerca de 27220-30 m) Em ambos os

alveacuteolos na face interna registou-se a concentraccedilatildeo de blocos calcaacuterios e basaacutelticos

de dimensotildees similares (20-30 cm) No entanto apresentavam-se numa formaccedilatildeo

espalmada o que deve relacionar-se com a inclinaccedilatildeo acentuada dos esteios e a

maleabilidade natural da argila (inclusive originando no alveacuteolo U56 uma seacuterie de

ldquoespelhos de falhardquo)

A identificaccedilatildeo dos dois ortoacutestatos marcando a entrada para o sepulcro (U11 e

U12) emparelhados e orientados a sudeste colocava a hipoacutetese de um possiacutevel

corredor que poderia prolongar-se com ou sem estrutura peacutetrea agrave semelhanccedila de

outros sepulcros da regiatildeo nomeadamente Monte Abraatildeo (Ribeiro 1880) e

Casaiacutenhos (Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) Contudo isso natildeo se registou

pelo que parece mais adequado designar esta componente da arquitectura do sepulcro

como um portal os dois esteios funcionariam como postes ou marcadores da entrada

impedindo o colapso do contraforte (o que poderia bloquear o acesso agrave cacircmara) e ou

poderiam sustentar uma laje em cutelo que fecharia o espaccedilo superior entre os dois

primeiros esteios da cacircmara criando uma passagem com cerca de 40-50 cm de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 118 de 415

altura O uso de lajes em cutelo sobre a entrada da cacircmara de antas eacute conhecido no

Alto Alentejo e Beira Interior (Leisner e Leisner 1959 Parreira 1996)

A intervenccedilatildeo na aacuterea do portal jaacute parcialmente escavada em 2001 confirmou

a interrupccedilatildeo do contraforte tendo apenas evidenciado os calccedilos dos dois esteios e os

seus alveacuteolos Estes uacuteltimos mais do que fossas individualizadas foram abertos

simultaneamente com os alveacuteolos para os ortoacutestatos da cacircmara devendo os pequenos

esteios do portal ter sido cravados no final da sequecircncia Aliaacutes ao serem implantados

perpendicularmente junto aos dois primeiros esteios da cacircmara tambeacutem

funcionariam como parte integrante do contraforte

Os ortoacutestatos do portal apresentavam uma inclinaccedilatildeo quase simeacutetrica para sul

o que natildeo seria a sua posiccedilatildeo original Essa tendecircncia teraacute sido sustida pelos calccedilos

no lado sul de U11 e pelo contraforte U14 a sul da U12 parecendo resultar da

inclinaccedilatildeo da pendente orientada nordeste-sudoeste o que originou o deslizamento

de terras ao longo dos anos pressionando os esteios

No eixo da possiacutevel passagem apenas surgiu uma mancha de restos de talhe

(U31) maioritariamente de siacutelex com alguns artefactos assentando sobre o substrato

argilosocalcaacuterio As suas caracteriacutesticas conjugam-se com outras aacutereas escavadas

nomeadamente com a U63 da sondagem R12-S12 apontando para realidades

anteriores agrave construccedilatildeo da anta em que depressotildees do terreno originaram a

acumulaccedilatildeo dos restos liacuteticos Portanto mesmo a possibilidade de um aacutetrio

pavimentado natildeo se verificou

O relatoacuterio dos trabalhos de 2001 colocava a hipoacutetese passiacutevel de confirmaccedilatildeo

da U13 corresponder a vestiacutegios da mamoa (Era ndash Arqueologia 2001) No entanto a

intervenccedilatildeo de 2004 nas aacutereas oeste norte e sudeste do exterior da cacircmara permitiu

verificar que a referida U13 seraacute com maior probabilidade o resultado da extracccedilatildeo

do substrato argiloso amarelado durante a abertura dos alveacuteolos cujo sedimento foi

posteriormente reutilizado na consolidaccedilatildeo do contraforte Entretanto anos de erosatildeo

teratildeo arrastado esse depoacutesito pela superfiacutecie inclinada

A maior altimetria do contraforte no lado nordeste confirma a leitura de 2001

acerca da U14 ser uma parte pior conservada daquela estrutura Contudo esta

estrutura peacutetrea natildeo parece ter sido muito mais elevada se considerarmos o topo do

ortoacutestatos do portal e uma das suas provaacuteveis funccedilotildees Isto poderaacute apontar para a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 119 de 415

existecircncia de uma estrutura tumular apenas parcial que eventualmente teraacute possuiacutedo

no momento de construccedilatildeo uma rampa para a colocaccedilatildeo da tampa (hoje

desaparecida) ou se o tumulus cobriu totalmente o sepulcro este natildeo resistiu aos

elementos naturais

Perante o exposto eacute possiacutevel descrever Pedras Grandes como um sepulcro com

uma provaacutevel cacircmara poligonal de 7 esteios com cerca de 350 metros de largura por

320 metros de comprimento alcanccedilando os 3 metros de altura sobre a qual

assentaria uma grande laje de cobertura (chapeacuteu) Acedia-se ao interior atraveacutes de um

portal com a largura e comprimento de 1 por 1 metro constituiacutedo por um par de

pequenos esteios com cerca de 050 metros (Fig 73 2) A implantaccedilatildeo dos esteios da

cacircmara e portal implicou que os alveacuteolos fossem abertos quase ininterruptamente em

fosso ainda que de acordo com a dimensatildeo e formato dos ortoacutestatos (o caso de U5 eacute

significativo) Dentro deles foram implantados os esteios primeiramente o esteio de

cabeceira ao qual se foram encostando lateralmente os ortoacutestatos seguintes Todos

eles imediatamente consolidados por um enrocamento interno e externo Os

interstiacutecios dos esteios foram entatildeo tapados com pedras de dimensatildeo superior agravequelas

dos enrocamentos algumas delas mais parecendo pequenos esteios (por exemplo as

U17 e U18) No lado norte da U5 a U57 preencheria um grande vazio o que teraacute

implicado um pequeno muro de pedra seca que se ligava ao calccedilo interno (U53) do

esteio U4 Por fim do lado exterior o enrocamento foi aumentado formando-se um

contraforte coberto com as terras locais para melhor suster as pressotildees dos ortoacutestatos

Portanto a possibilidade de um tumulus que cobrisse o esqueleto peacutetreo deste

sepulcro natildeo foi cabalmente confirmada

Tambeacutem parece ter havido a intenccedilatildeo de localizar o sepulcro no substrato

geoloacutegico argiloso mais faacutecil de trabalhar ndash no entanto apenas trecircs quartos da aacuterea

acertaram nessa intenccedilatildeo talvez porque agrave superfiacutecie tal natildeo era evidente De facto a

implantaccedilatildeo da anta parece coincidir com uma aacuterea de transiccedilatildeo de calcaacuterios

cretaacutecicos do Cenomaniano Meacutedio e Superior anteriormente incluindo a

classificaccedilatildeo do Turoniano (SGP 1981 Zbyszweski 1964 Leisner e Ferreira 1961)

Imediatamente a norte a cerca de 20 metros afloram ainda calcaacuterios brancos onde eacute

possiacutevel observar a possibilidade de extracccedilatildeo de blocos em tudo semelhantes agraves

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 120 de 415

lajes utilizadas na anta Esta situaccedilatildeo teraacute permitido encurtar o esforccedilo envolvido na

construccedilatildeo da anta

No interior da cacircmara os restos humanos encontravam-se sobretudo junto aos

esteios nomeadamente junto a U8 e U9 mas a depressatildeo central poderia tambeacutem ser

uma estruturaccedilatildeo particular que permitiria o aterro dos cadaacuteveres ndash no entanto tal

contexto poderaacute ter resultado somente de remeximento e cavaccedilatildeo recente (mas

anterior agrave queda de U5) que provocou a migraccedilatildeo de ceracircmica vidrada para o seu

interior

Na maioria dos depoacutesitos detectados bem como nas estruturas de enrocamento

dentro e fora dos espaccedilos do sepulcro foram recolhidos inuacutemeros elementos

talhados maioritariamente de siacutelex As maiores concentraccedilotildees registam-se nas U1

U10 e nas unidades equivalentes das diversas sondagens realizadas na envolvente da

anta Saliente-se que dentro dos recheios dos alveacuteolos escavados e no contraforte

estes elementos estavam presentes mas natildeo eram tatildeo abundantes como noutras

unidades estratigraacuteficas

A presenccedila dos elementos talhados fora jaacute detectada em 2001 mas com certeza

foi notada por C Ribeiro Inclusive J L Vasconcelos no seu apontamento de 1913

tambeacutem referia a existecircncia de muitas lascas de siacutelex em redor da anta Como se

poderaacute verificar adiante esta situaccedilatildeo relacionar-se-ia com um provaacutevel uso anterior

agrave construccedilatildeo da anta mas que poderaacute ter prosseguido durante a sua utilizaccedilatildeo

O desmoronamento da anta parece ter ocorrido algures no iniacutecio do seacutec XIX

(ver espoacutelio) provavelmente despoletado por remeximento do seu conteuacutedo e pela

retirada do esteio cravado na U40 A fractura de U8 cujo fragmento caiu para dentro

da cacircmara e os outros fragmentos presentes (U6 U7 e U21) parecem indicar a

extracccedilatildeo de pedra Mas antes que o fragmento de U8 pudesse ser retirado o esteio

U5 caiu acabando por selar a cacircmara e inclinando consigo os esteios U4 e U3

A envolvente da anta

Havendo a necessidade de compreender melhor o abundante nuacutemero de

elementos de siacutelex talhado que se detectava agrave superfiacutecie do solo na envolvente da

anta de Pedras Grandes foram realizadas sete sondagens nas aacutereas que aparentavam

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 121 de 415

ainda natildeo ter sido muito remexidas para sul as sondagens ZT12 ZI12 e YY12 para

oeste as sondagens Dlt8 e Mlt8 para norte a sondagem R12-S12 e para este a

sondagem D19

ZT12 o afloramento calcaacuterio surgiu a poucos centiacutemetros da superfiacutecie Nos

interstiacutecios do calcaacuterio sobretudo nas cotas mais proacuteximas da superfiacutecie surgiram

elementos em siacutelex alguns destes artefactos (U28)

ZI12 o afloramento calcaacuterio surgiu a poucos centiacutemetros da superfiacutecie Num

grande interstiacutecio registou-se uma bolsa de elementos de siacutelex talhados com

inuacutemeros artefactos (U30) sobretudo nas cotas mais proacuteximas da superfiacutecie Refira-

se que nesta sondagem se registaram dezenas de peccedilas talhadas passiacuteveis de se

considerarem artefactos

YY12 o afloramento calcaacuterio surgiu mais aprofundado com um aspecto

erodido dando a impressatildeo de ter estado exposto anteriormente Sobre o afloramento

verificou-se a existecircncia de depoacutesitos recentes resultado de aterro Ainda assim nos

interstiacutecios do calcaacuterio sobretudo nas cotas acima do topo do afloramento surgiram

elementos em siacutelex alguns destes artefactos

Dlt8 o afloramento calcaacuterio surgiu a muito poucos centiacutemetros da superfiacutecie

Nos interstiacutecios do calcaacuterio sobretudo nas cotas mais proacuteximas da superfiacutecie

surgiram elementos em siacutelex alguns destes talhados

Mlt8 o afloramento calcaacuterio surgiu a muito poucos centiacutemetros da superfiacutecie

No interstiacutecio do calcaacuterio sobretudo nas cotas mais proacuteximas da superfiacutecie surgiram

elementos em siacutelex alguns destes talhados

R12-S12 Inicialmente apenas S12 esta sondagem foi ampliada com R12 para

melhor compreender uma bolsa com elementos em siacutelex alguns talhados que surgia

sobre um substrato argiloso amarelado em tudo semelhante agravequele detectado em

parte da aacuterea onde a anta foi construiacuteda Nesta sondagem o afloramento calcaacuterio natildeo

foi registado

D19 o afloramento calcaacuterio surgiu a poucos centiacutemetros da superfiacutecie Nos

interstiacutecios do calcaacuterio sobretudo nas cotas mais proacuteximas da superfiacutecie surgiram

elementos em siacutelex alguns destes talhados

Nas sondagens realizadas natildeo se detectou qualquer tipo de estrutura associada

aos elementos de siacutelex Por outro lado a potecircncia estratigraacutefica destes elementos em

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 122 de 415

siacutelex eacute bastante superficial exceptuando algumas acumulaccedilotildees nos interstiacutecios ou

eventualmente pequenas bolsas de materiais (U30 e U63) em depressotildees do terreno

As caracteriacutesticas dos achados permitem apontar para uma ldquooficina de talherdquo do siacutelex

local e em menor quantidade do quartzo este uacuteltimo provavelmente proveniente dos

depoacutesitos de argilas terciaacuterias

Perante a ausecircncia de uma estratigrafia vertical a possibilidade de qualquer

organizaccedilatildeo horizontal eacute tambeacutem difiacutecil de recuperar aleacutem da aacuterea enquanto

ldquooficina de talherdquo poder ser um vasto palimpsesto a fraca potecircncia estratigraacutefica foi

sujeita agrave actividade agriacutecola ao longo dos anos o que remexeu continuamente

aquelas realidades mesmo que os materiais natildeo tenham sido arrastados por grandes

distacircncias provavelmente por poucos metros

O espoacutelio

A leitura resultante da intervenccedilatildeo de 2001 manteve-se actual com os trabalhos

de 2004 De facto o espoacutelio arqueoloacutegico recolhido foi na sua grande maioria

resultante da actividade de talhe do siacutelex Inclusive dentro do sepulcro foram

recolhidos dezenas de elementos em siacutelex tambeacutem passiacuteveis dessa atribuiccedilatildeo

A distinccedilatildeo entre o espoacutelio resultante da oficina de talhe e aquele que

acompanhou as deposiccedilotildees funeraacuterias revelou-se complexa No exterior da anta

associado agrave actividade da referida oficina foram recolhidos utensiacutelios ndash lamelas e

lacircminas com retoque furadores raspadeiras e restos de talhe em siacutelex o que tambeacutem

ocorreu dentro do sepulcro Noutros sepulcros da regiatildeo a presenccedila deste tipo de

artefactos e seus restos eacute comum mas natildeo em tatildeo elevada quantidade o que ocorre

na cacircmara de Pedras Grandes Uma das explicaccedilotildees para isto jaacute adiantada acima foi

a utilizaccedilatildeo preacutevia da aacuterea como oficina de talhe mas tambeacutem caso se aceite a

hipoacutetese da depressatildeo central na cacircmara poderia ter resultado do transporte de terras

do exterior da cacircmara para a cobertura dos enterramentos

Assim a identificaccedilatildeo do espoacutelio funeraacuterio baseou-se na associaccedilatildeo de peccedilas

trabalhadas e ossos humanos em unidades da cacircmara visivelmente remanescentes da

actividade mortuaacuteria (mesmo que perturbadas) nomeadamente U19 U49 U52

U58A U59 e U61 Com este criteacuterio adscreveram-se alguns objectos potencialmente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 123 de 415

como parte do espoacutelio funeraacuterio fragmentos de pequenas lacircminas com e sem

retoque um geomeacutetrico trapeacutezio e uma lasca eventualmente trabalhada para atingir a

mesma tipologia alguns raspadores um furador e um percutor sobre seixo

quartziacutetico e uma moacute dormente quase completa em granito (Fig 70)

Junto com os materiais referidos recolheram-se alguns fragmentos de ceracircmica

de torno essencialmente com vidrado verde provaacutevel testemunho de periacuteodos bem

mais recentes

Aleacutem das peccedilas recolhidas nas intervenccedilotildees recentes haacute que considerar a cata

de espoacutelio realizada por C Ribeiro que corresponderaacute a algumas peccedilas onde eacute

possiacutevel observar etiquetas indicando o ano de 1875 Segundo a descriccedilatildeo do

geoacutelogo este recolheu ldquofragmentos de ossos longos e dentes humanos tanto de

individuos novos como de adultos um machado de calcareo argilloso um rim de

silex cinzento com um dos bordos afeiccediloados para servir de raspador e algumas

lascas de siacutelex as maiores drsquoellas do typo das facasrdquo (Ribeiro 1880 p 69) Este

breve relatoacuterio refere um nuacutemero de elementos reduzido quando se considera o

espoacutelio presente no Museu Geoloacutegico com as mencionadas etiquetas do 1875 O

referido ldquomachadordquo corresponde a um bloco calcaacuterio ligeiramente afeiccediloado no que

seria o gume (MG6383) lembrando de alguma forma um sacho e a lasca maior de

siacutelex seraacute a lacircmina retocada quase completa (MG6385) Aleacutem das peccedilas

mencionadas haacute que acrescentar um machado em anfibolito de secccedilatildeo poligonal

(MG6381) e um fragmento de provaacutevel enxoacute em xisto anfiboacutelico (MG6382)

Considerando o espoacutelio em presenccedila verifica-se uma evidente ausecircncia de

ceracircmica preacute-histoacuterica bem como artefactos de produccedilatildeo claramente ideoteacutecnica A

possibilidade de uma qualquer intervenccedilatildeo anterior agrave queda do esteio de cabeceira e

da visita de C Ribeiro poderia explicar o desaparecimento do material ceracircmico

Contudo tal hipoacutetese parece-me remota pois algum fragmento ceracircmico teria

escapado ao antiquaacuterio putativo que buscaria peccedilas mais completas ndash a presenccedila de

fragmentos de ceracircmica vidrada misturados com elementos liacuteticos preacute-histoacutericos

parece de facto denunciar algum tipo de remeximento No entanto recorde-se que

todos os depoacutesitos do interior do sepulcro foram sistematicamente crivados bem

como aqueles da maioria das aacutereas exteriores Assim seraacute de admitir uma situaccedilatildeo

semelhante agravequela provavelmente detectada nas antas do Carrascal e Trigache 4 ou

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 124 de 415

em contextos de cavidade natural normalmente com diversas deposiccedilotildees sem ou

quase sem ceracircmica presente como por exemplo em Salemas (Castro e Ferreira

1972) no Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987) e no Bom Santo (Duarte 1998)

Assim as presenccedilas e ausecircncias referidas parecem acentuar o caraacutecter

provavelmente arcaico desta anta algures entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio

ane o que eacute reforccedilado pelas duas dataccedilotildees de radiocarbono obtidas (Anexo 3

Quadro 2) Estas foram realizadas a partir de diaacutefises de feacutemur direitos de indiviacuteduos

humanos distintos uma proveniente da escavaccedilatildeo de 2004 a outra da cata de C

Ribeiro ainda com uma etiqueta identificativa de 1875 situando os intervalos de

tempo respectivamente entre 3520-3100 cal BCE e 3370-3090 cal BCE (Beta-

205946 e Beta-234136)

41422 Siacutetio das Batalhas

Como eacute possiacutevel verificar pelo apontamento de C Ribeiro (1880 p 69) a

informaccedilatildeo acerca deste provaacutevel sepulcro no ldquoSiacutetio das Batalhasrdquo eacute extremamente

limitada A sua classificaccedilatildeo agrave falta de outros dados eacute comummente aceite pelo

rigor e prestiacutegio que os trabalhos dirigidos por C Ribeiro inspiram A referecircncia a

uma grande laje ainda inteira com outros fragmentos de outras jaacute tombadas em seu

redor adequar-se-ia a muitas antas ainda hoje existentes e reconhecidas no actual

territoacuterio portuguecircs Infelizmente o seu estado de ruiacutena teraacute acelerado o seu

desaparecimento a que natildeo teraacute sido alheia uma provaacutevel exploraccedilatildeo de pedreira

isto se natildeo for esquecido que aquele sepulcro localizar-se-ia na vizinhanccedila da

mancha das pedreiras de Trigache

Eacute portanto plausiacutevel que esta estrutura jaacute tivesse sido erradicada agrave data da

visita de JL Vasconcelos que conhecendo as noacutetulas de C Ribeiro teria com

certeza registado algum apontamento acerca desse outro doacutelmen menos composto

Perante tatildeo parcos dados e possiacutevel erradicaccedilatildeo eacute com surpresa que se verifica

a sua classificaccedilatildeo como Monumento Nacional em 1944 devendo-se talvez agrave boa

vontade de emparelhamento dos dois sepulcros descritos por C Ribeiro No entanto

desconhecem-se quaisquer registos de F C Ribeiro ou de 1941 agrave semelhanccedila do

conhecido para a anta de Pedras Grandes E em finais de 1943 o casal Leisner

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 125 de 415

(ALeisner Leis 64) jaacute natildeo o conseguiu localizar admitindo-o destruiacutedo (Leisner

1965 p 26)

Assim uma seacuterie de equiacutevocos contribuiu para o avolumar da confusatildeo entre

as antas de Batalhas e Pedras Grandes O V Ferreira (1959) aglutina ambas as

designaccedilotildees no mesmo monumento parecendo descartar as localizaccedilotildees apontadas

por C Ribeiro Por outro lado a proacutepria classificaccedilatildeo oficial talvez por lapso aponta

o Siacutetio das Batalhas noutro local espaccedilo esse ainda hoje sob a respectiva servidatildeo

administrativa De facto para aleacutem do desconhecimento pormenorizado do sepulcro

tambeacutem a sua localizaccedilatildeo foi alvo de vaacuterias propostas Aleacutem da original de C

Ribeiro registam-se ainda aquela da classificaccedilatildeo oficial a de O V Ferreira (1959)

deste autor e V Leisner (1961) e de V Leisner (1965) Resumindo excepto perante

nova documentaccedilatildeo provando o contraacuterio assumirei a localizaccedilatildeo original como a

correcta (Fig 26)

Aleacutem da discussatildeo da sua localizaccedilatildeo e denominaccedilatildeo pouco mais se pode

adiantar para a anta de Batalhas ainda que como jaacute foi referido acima a sua

existecircncia eacute perfeitamente plausiacutevel perante os dados circunstanciais

415 As antas ldquoisoladasrdquo de Loures

Localizadas nos terrenos relativamente acidentados e recortados do Complexo

Vulcacircnico de Lisboa encontram-se as antas de Alto da Toupeira 1 e 2 Casaiacutenhos e

Carcavelos Analisadas no acircmbito do tipo de sepulcro e implantaccedilatildeo as duas uacuteltimas

surgem isoladas sem uma relaccedilatildeo de proximidade que as permita integrar em

conjuntos funeraacuterios (Fig 27)

4152 Alto da Toupeira 1 e 2

Primeiramente julgo necessaacuterio esclarecer alguma confusatildeo que se tem vindo

a registar quanto agrave presenccedila de sepulcros megaliacuteticos na plataforma imediatamente a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 126 de 415

nordeste do relevo conhecido por Alto da Toupeira Sobretudo no que se refere as

suas designaccedilotildees ldquoAnta do Alto da Toupeirardquo ldquoAnta da Toupeirardquo ou ldquoDoacutelmen de

Salemasrdquo

A anta do Alto da Toupeira (CNS-30076) corresponde ao sepulcro ainda hoje

existente constituiacutedo por cinco esteios visiacuteveis formando uma grande cacircmara

aparentemente poligonal ainda que natildeo se conheccedila vestiacutegios de corredor (Fig 74 1)

Este siacutetio surge tambeacutem designado por ldquoAlto do Toupeirordquo (ALeisner Leis 61)

ldquoDoacutelmen de Salemasrdquo (IPPC 1986 p 47 CNS-2754) a que recentemente se juntou

ldquoToupeirardquo (Oliveira et al 2000 p 44)

A outra realidade possivelmente megaliacutetica foi identificada e descrita por O

V Ferreira (1963) ldquoQuando exploraacutevamos a gruta das Salemas em Ponte de Lousa

encontraacutemos nos terrenos da parte superior da cornija de calcaacuterios do Turoniano

que servem de cobertura agrave gruta alguns objectos que pertencem agrave cultura do vaso

campaniforme e que pensamos terem feito parte dum monumento destruiacutedo Ainda se

nota na pequena chatilde uma elevaccedilatildeo que poderia muito bem ter pertencido ao

laquotumulusraquo assim como fragmentos de grandes lajes de calcaacuterio semelhantes agraves que

constituem os esteios do monumento megaliacutetico do Alto da Toupeira que dista cerca

de 250 m para sulrdquo Em seguida lista alguns materiais (iacutedolo ciliacutendrico em calcaacuterio

machado de xisto anfiboacutelico escopro de cobre ponta de seta com aletas e espigatildeo

em cobre e pendente de calaiacutete) a que seratildeo posteriormente acrescentados agora no

designado siacutetio da ldquoToupeirardquo (Ferreira 1966 p 52-53) mais um largo bordo de

taccedila tipo Palmela com decoraccedilatildeo incisa e uma pequena placa calcaacuteria amorfa com

perfuraccedilatildeo e gravaccedilatildeo quadriculada Apesar das reservas que eacute aconselhaacutevel ter para

esta realidade eacute plausiacutevel a existecircncia de um segundo sepulcro megaliacutetico nesta aacuterea

Contudo na visita agrave aacuterea referida no topo da cornija da gruta das Salemas ainda que

tenha sido possiacutevel verificar a chatilde com um suave montiacuteculo onde se avistavam

objectos arqueoloacutegicos atribuiacuteveis a vaacuterios periacuteodos natildeo se encontraram as lajes

calcaacuterias mencionadas Tambeacutem a corresponder agrave realidade apontada esta dista

apenas 100 metros da anta do Alto da Toupeira e natildeo os 250 metros referidos Outra

questatildeo talvez um equiacutevoco tem a ver com o grande machado em xisto anfiboacutelico

(MG4596) pois apesar de atribuiacutedo por V Ferreira (1963 e 1966 p 52-53 Leisner 6 Na Base de Dados Endoveacutelico (IGESPAR) surge ainda o CNS-2754 atribuiacutedo a ldquoSalemas (Anta de )rdquo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 127 de 415

1965 taf 19 3) ao possiacutevel sepulcro este surge tambeacutem indicado por aquele autor e

L Castro (1967 est II 22) como proveniente do povoado das Salemas

Apoacutes as notiacutecias referidas acima V Leisner (1965 p 27 e taf 19 1 e 3)

apresenta a planta de Alto da Toupeira bem como o espoacutelio encontrado proacuteximo

daquele sepulcro ldquo3Streufunde bei Alto da Toupeirardquo recolhido por O V Ferreira

Apesar daquela distinccedilatildeo leitura menos atenta fundiu aquelas duas realidades sob

uma mesma designaccedilatildeo (Oliveira et al 2000) o que importa destrinccedilar

Assim torna-se de facto importante clarificar definitivamente aquelas duas

realidades pelo que passarei a designaacute-las respectivamente pela ordem de

descoberta Alto da Toupeira 1 (ainda existente) e Alto da Toupeira 2 Os povoados

do Alto da Toupeira (Oliveira et al 2000 nordm 25) referido na Carta Arqueoloacutegica de

Loures corresponderaacute ao povoados das Salemas (Oliveira et al 2000 nordm 27) pois eacute

ainda possiacutevel observar vestiacutegios de ocupaccedilotildees de diversa cronologia na plataforma

sobrevivente inclusive na jaacute referida aacuterea de Alto da Toupeira 2

A anta do Alto da Toupeira 1 (CNS-3007) teve a sua planta desenhada

primeiramente durante a visita do casal Leisner no dia 17 de Janeiro de 1944 (Fig

74 2) durante uma jornada que implicava o reconhecimento desta segundo

informaccedilotildees natildeo especificadas de Mesquita Figueiredo e Carlos Ribeiro (ALeisner

Leis61) As imagens fotograacuteficas entatildeo obtidas mostram que o sepulcro natildeo sofreu

grandes alteraccedilotildees ateacute hoje Mas tambeacutem eacute possiacutevel vislumbrar parcialmente a norte

daquele sepulcro o lapiaacutes anos mais tarde destruiacutedo pela lavra da pedreira e em cuja

aacuterea foram recolhidos vestiacutegios de eacutepocas diversas nomeadamente de enterramentos

dataacuteveis do Neoliacutetico antigo nas diaacuteclases daquele substrato (Castro e Ferreira

1959 Ferembach 1964-65 Ferreira e Castro 1967 Zbyszweski et al 1980-81

Cardoso 1993 p 88-89 Cardoso e Carreira 1996)

Posteriormente agrave visita do casal alematildeo no I Congresso Nacional de

Arqueologia em 1958 O V Ferreira (1959) inclui a anta no seu inventaacuterio dos

monumentos megaliacuteticos de Lisboa Refere entatildeo que este sepulcro teria sido jaacute

sondado por um meacutedico da regiatildeo que retirou algumas peccedilas bem como por Carlos

Ribeiro informaccedilatildeo obtida provavelmente a partir de algum apontamento dos

Serviccedilos Geoloacutegicos Apesar disto anunciava a sua intervenccedilatildeo naquele sepulcro

para breve o que se veio a verificar

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 128 de 415

Na sequecircncia do avanccedilo da lavra da pedreira mencionada atraacutes em 1959 foi

identificada a gruta das Salemas (CNS- 1707) com vestiacutegios de utilizaccedilatildeo do

Paleoliacutetico e do Neoliacutetico (Zbyszewski et al 1962 Roche et al 1962 Roche e

Ferreira 1970 Castro e Ferreira 1972) A exploraccedilatildeo inicial realizou-se em

Setembro e Novembro daquele ano (sobretudo os depoacutesitos neoliacuteticos de superfiacutecie)

mas foi no seguinte entre Outubro e Dezembro que a exploraccedilatildeo daquele espaccedilo foi

intensificada e concluiacuteda Como jaacute foi mencionado acima eacute durante os trabalhos na

gruta das Salemas que se identifica o siacutetio do Alto da Toupeira 2

Entretanto aproveitando as sinergias envolvidas na intervenccedilatildeo da gruta V

Leisner em colaboraccedilatildeo com O V Ferreira procede agrave escavaccedilatildeo da cacircmara da anta

de Alto da Toupeira 1 durante os dias 12 e 18 de Novembro de 1959 (Fig 74 3-4)

ainda que soacute os primeiros trecircs tenham sido dedicados verdadeiramente agrave escavaccedilatildeo

(ALeisner Leis61) Poreacutem os resultados ficaram aqueacutem das expectativas criadas

pela dimensatildeo de tal monumento registando-se apenas trecircs estratos esteacutereis uma

camada de terras escuras com pedaccedilos de basalto sobre outra acinzentada com restos

de calcaacuterio que assentava em substrato argiloso avermelhado (Leisner 1965 p 27

ALeisner Leis61)

A planta realizada em 1944 eacute rectificada e produz-se um alccedilado da cacircmara

(Leisner 1965 taf 19 1) Assim V Leisner classifica este sepulcro como uma

cacircmara poligonal aparentemente sem corredor observaacutevel com cerca de 5 m por 55

m de aacuterea e uma altura maacutexima registada de 2 metros no esteio B (Leisner 1965 p

27 ALeisner Leis61) Os cinco esteios (A-E) identificados satildeo todos de calcaacuterio

Cretaacutecico presente no substrato imediato do Cenomaniano superior (SGP 1981)

mas anteriormente atribuiacutedo ao Turoniano (Ferreira 1959 Zbyszweski 1964)

Curiosamente perante os fracos resultados no interior da cacircmara o interesse em

perscrutar a potencial aacuterea do corredor limitou-se a um pequeno alargamento da aacuterea

escavada naquela direcccedilatildeo procurando detectar o seguimento da estrutura Como tal

natildeo teraacute ocorrido no imediato assumiu-se a sua inexistecircncia Apesar disso eacute detectado

um bloco peacutetreo do lado sul delimitando o que seria a entrada Tambeacutem no caso da

envolvente exterior eacute apresentado um alccedilado evidenciando o desniacutevel da cacircmara

sem que se tivesse procedido a uma vala de sondagem

Os materiais recolhidos no Alto da Toupeira 2 (Fig 75 1) foram depositados

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 129 de 415

no Museu Geoloacutegico sob a designaccedilatildeo ldquoMonumento entre Alto da Toupeira e

Salemasrdquo (MG459) Contudo os dois artefactos metaacutelicos o cinzel e a ponta com

aletas e espigatildeo apesar de inventariados correctamente encontravam-se expostos

sob a designaccedilatildeo de ldquomonumento perto do tholos das Salemasrdquo

Portanto apesar da riqueza em vestiacutegios arqueoloacutegicos nesta plataforma a

leitura dos seus sepulcros megaliacuteticos queda-se por vaacuterias interrogaccedilotildees e inferecircncias

indirectas sobretudo a partir dos dados obtidos dentro da gruta das Salemas e na

possiacutevel anta de Alto da Toupeira 2 Para esta uacuteltima a ter sido de facto um sepulcro

megaliacutetico os objectos recolhidos nomeadamente o iacutedolo calcaacuterio e o machado de

xisto anfiboacutelico com gume intacto parecem apontar para uma utilizaccedilatildeo no 3ordm

mileacutenio ane enquanto a ceracircmica campaniforme e os objectos metaacutelicos indiciam

momentos posteriores provavelmente no uacuteltimo quartel daquele eou jaacute no 2ordm

mileacutenio ane

Mas a gruta das Salemas permite outras ilaccedilotildees Aiacute a presenccedila de um espoacutelio

de cariz antigo (Ferreira 1965 Ferreira e Castro 1972) parece apontar para aquele

espaccedilo ter sido utilizado como necroacutepole pelo menos entre o segundo e o terceiro

quartel do 4ordm mileacutenio ane no qual se enquadra a dataccedilatildeo Beta-233282 de 3660-

3380 cal BCE (com 938 de probabilidade restringe-se a 3660-3510 cal BCE)

obtida sobre uacutemero humano feminino (MG270538 Anexo 3 Quadro 2) Este

balizamento cronoloacutegico poderia entatildeo significar uma mudanccedila na estrateacutegia de

sepultamento dos indiviacuteduos da comunidade o que teria implicado a construccedilatildeo de

estruturas megaliacuteticas Assim se Alto da Toupeira 1 e 2 foram construiacutedas em

momentos finais ou posteriores agrave utilizaccedilatildeo da gruta admite-se a hipoacutetese de um

uso na segunda metade do 4ordm mileacutenio ou jaacute na sua transiccedilatildeo Mas como mera

hipoacutetese de trabalho pois necessita de fundamentos materiais ainda natildeo adquiridos

se for possiacutevel obtecirc-los No momento em que escrevo estas linhas paira a ameaccedila de

instalaccedilatildeo de um aerogerador para produccedilatildeo de electricidade na plataforma em

causa

Mas pelo menos eacute possiacutevel falar de um conjunto de antas integradas num

espaccedilo aparentemente necropolizado ao longo do tempo ndash natildeo soacute pelos sepulcros

referidos mas tambeacutem com inumaccedilotildees no lapiaacutes local datadas (ICEN-351) entre

5300-4610 cal BCE (Cardoso Carreira e Ferreira 1996 p 10) evidenciando

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 130 de 415

praacuteticas anteriores com caracteriacutesticas distintas

4152 Casaiacutenhos

A anta de Casaiacutenhos (CNS-650) foi identificada na sequecircncia de notiacutecia

providenciada por morador na aldeia homoacutenima que trabalhava na escavaccedilatildeo da

gruta das Salemas durante a campanha de 1960 (Leisner Zbyszweski e Ferreira

1969 Roche e Ferreira 1970) Actualmente estaacute classificada como Monumento

Nacional pelo Dec Nordm 12977

Situa-se numa plataforma sobranceira agrave Ribeira de Casaiacutenhos proacutexima a antiga

pedreira (Fig 27 e 87) cujo substrato apresenta calcaacuterios do Cretaacutecico

(Cenomaniano superior) Aliaacutes todos os esteios encontrados eram daquele material

provavelmente extraiacutedos localmente

A intervenccedilatildeo arqueoloacutegica realizou-se em 1961 (Leisner Zbyszweski e

Ferreira 1969 p 68) entre os dias 16 e 20 de Fevereiro (ALeisner Leis61) Nela

participaram V Leisner G Zbyszewski O V Ferreira e J C Franccedila

A aacuterea da cacircmara encontrava-se preenchida por terra ateacute cerca de 1 metro de

altura parcialmente removida do lado sul por gente local que na ausecircncia de esteio

ali tinha procedido a pesquisas depois de terem avistado restos oacutesseos Contudo

como nada encontraram de significativo abandonaram a acccedilatildeo

O corredor soacute foi descoberto com o avanccedilo da escavaccedilatildeo naquela direcccedilatildeo

verificando-se que o terreno naquele local descia para sudeste

Segundo os escavadores as irregularidades do substrato calcaacuterio natildeo foram

niveladas atingindo profundidades de 080 m e 020 m na cacircmara e corredor tendo

sido aproveitadas para deposiccedilatildeo das inumaccedilotildees Contudo natildeo eacute apresentada

qualquer evidecircncia de inumaccedilotildees dentro daquelas depressotildees excepto se for

considerado o ldquonichordquo ainda que com reserva onde no seu interior se registaram

alguns fragmentos de ossos humanos sem que hoje seja possiacutevel perceber quais Nas

restantes situaccedilotildees porque natildeo haacute qualquer registo espacial da dispersatildeo dos restos

humanos que parecem ocorrer em todas as aacutereas intervencionadas haacute que assumir a

probabilidade da concentraccedilatildeo natural de objectos naquelas clivagens

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 131 de 415

Eacute apontado para o sepulcro um comprimento de 970 metros ainda que se deva

reparti-lo por trecircs aacutereas distintas um possiacutevel vestiacutebulo um corredor curto e a

cacircmara (Fig 81)

O vestiacutebulo considerado parte do corredor teria cerca de 4 metros por 1 a 15

metro de largura e teraacute sido ligeiramente escavado no substrato rochoso ainda que

essa delimitaccedilatildeo tenha sido baseada sobretudo na malha de achados Aliaacutes nas

imagens obtidas entatildeo e em visitas ao local eacute difiacutecil perceber este espaccedilo sem uma

planta de distribuiccedilatildeo dos objectos e menos ainda observar a passagem afeiccediloada no

substrato

O corredor tambeacutem com um suposto afeiccediloamento superficial do substrato

mas ainda com um esteio (D) do lado norte e possiacutevel ombreira (E) tinha cerca de 2

m de comprimento por 115 m de largura Apresentava do seu lado sul uma

depressatildeo obliacutequa com cerca de 210 m de comprido por 1 m de largura e uma

profundidade de 080 m denominada ldquocacircmara lateralrdquo ou ldquonichordquo Este espaccedilo

encontrava-se preenchido por terra e pedras recolhendo-se apenas alguns restos

osteoloacutegicos humanos na sua base Se a esta realidade juntar a existecircncia de outra

depressatildeo com caracteriacutesticas semelhantes na aacuterea a poente da cacircmara em B2-C2

(Estecircvatildeo 2000 e 2001) entatildeo talvez o significado atribuiacutedo ao ldquonichordquo deva ser

reavaliado Assim tais realidades poderatildeo ser o resultado do preenchimento daquelas

depressotildees com depoacutesitos remobilizados por anteriores violaccedilotildees do sepulcro A

origem natural das depressotildees eacute uma possibilidade mas tambeacutem natildeo deveraacute ser

descartada a actividade mineira recente que na deacutecada de sessenta ainda se realizava

a escassas dezenas de metros a poente do monumento (Leisner Zbyszweski e

Ferreira 1969 Estecircvatildeo 2000-2001)

Finalmente a cacircmara mantinha ainda trecircs esteios (A B e C) delimitando um

espaccedilo poligonal irregular com cerca de 3 metros de comprimento por 5 metros de

largura notando-se a falta de mais 2 ou 3 monoacutelitos O esteio de cabeceira (A)

atingia ainda cerca de 25 m de altura Segundo os autores a sua planta pentagonal

que eacute rara no Alentejo seria comparaacutevel a outras antas da Estremadura dando como

exemplos Monte Abraatildeo Estria e Pedra dos Mouros (Leisner Zbyszewski e Ferreira

1969) o que natildeo parece adequado face agraves descriccedilotildees desses sepulcros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 132 de 415

Nas observaccedilotildees acerca do corredor aponta-se a existecircncia entre as terras de

fragmentos de lajes que poderiam ter servido de cobertura bem como outras mais

pequenas mas as imagens disponiacuteveis apenas mostram um fragmento no extremo do

corredor

A escavaccedilatildeo do monumento desenvolveu-se primeiramente na cacircmara com

fracos resultados tendo sido recolhidos apenas um geomeacutetrico trapeacutezio duas pontas

de seta de base convexa triangular e restos osteoloacutegicos fragmentados Soacute com a

extensatildeo da intervenccedilatildeo para o que seria o corredor se registou uma profusatildeo de

materiais arqueoloacutegicos No entanto os autores admitiam que parte dos materiais

recolhidos no corredor sobretudo o troccedilo ocidental poderiam ter sido resultado de

remeximento e remobilizaccedilatildeo de objectos da cacircmara dando como exemplo o pente

votivo e o objecto de calcaacuterio toneliforme (Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 p

95)

Curiosamente a concentraccedilatildeo de objectos junto da placa de xisto completa e o

iacutedolo semiciliacutendrico afuselado aleacutem de se encontrar na extremidade do que seria o

verdadeiro corredor ortostaacutetico encontrava-se exactamente numa depressatildeo deste

que atingia os 80 cm de profundidade podendo aquela realidade empilhada resultar

de acccedilatildeo tafonoacutemica

O troccedilo vestibular seria entatildeo segundo as evidecircncias aquela aacuterea menos

afectada justificando-se essa possibilidade porque muitos dos recipientes ceracircmicos

se encontravam completos ou fracturados em posiccedilotildees consideradas originais

(Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 p 95) Aiacute registavam-se ainda restos

humanos e na extremidade nascente foi recolhido um conjunto de pontas de seta

Apesar da planta com alguns dos artefactos recolhidos haacute que registar a

ausecircncia da localizaccedilatildeo dos nuacutecleos de lamelas produtos alongados (lacircminas e

lamelas com a excepccedilatildeo de uma) trapeacutezios e pontas de seta (de que se assinala

apenas o conjunto oriental) possivelmente porque estes artefactos teratildeo sido

recolhidos durante a crivagem das terras ou natildeo foram considerados pertinentes

No que se refere a dispersatildeo de instrumentos polidos dos doze identificados no

Museu onze surgem referidos nas publicaccedilotildees provavelmente porque o outro um

pequeno fragmento de uma enxoacute em xisto anfiboacutelico () encontrava-se misturado

com ceracircmicas onde o localizei ainda coberto de sedimento Daqueles apenas oito

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 133 de 415

surgem na referida planta Desses oito dois satildeo machados de anfibolito (Leisner

1965 Taf 20 4-5) um ldquociseaurdquo tambeacutem em anfibolito (Leisner 1965 Taf 20 22)

e os restantes satildeo enxoacutes trecircs de xisto anfiboacutelico () e duas em anfibolito

Curiosamente verifiquei que o referido ldquociseaurdquo (MG-CSH99) e o fragmento de

enxoacute (MG-CSH98 Leisner 1965 taf 21 9) ambos em anfibolito pertenceram a

uma grande enxoacute entretanto quebrada mesialmente A fractura do fragmento

proximal foi suavizada e o seu topo da enxoacute inicial foi afiado para produccedilatildeo de um

novo instrumento que pelas suas caracteriacutesticas se assemelha a um machado

Infelizmente soacute eacute possiacutevel ter uma ideia geral onde se localizavam as duas metades

da peccedila entre as aacutereas vestibular e do corredor Mas parece evidente o gesto de

reaproveitamento de uma enxoacute depositada para ser transformada em outro utensiacutelio

(Fig 86 1) Curiosamente a outra grande enxoacute em anfibolito tambeacutem tinha o seu

topo quebrado com a fractura apresentando sinais de polimento

Os restos osteoloacutegicos encontram-se tambeacutem ausentes na planta o que

resultaraacute sobretudo do grau de fragmentaccedilatildeo daquele material visto que ateacute aos anos

80 para aleacutem das deficiecircncias de registo da escavaccedilatildeo apenas eram dignos de nota

os elementos oacutesseos ldquonobresrdquo (cracircnio e ossos longos inteiros ou quase) ou outras

peccedilas completas Apesar disso a maioria daqueles fragmentos foi recolhida e

depositada no Museu Geoloacutegico

Eacute de facto no Museu Geoloacutegico que se encontra depositado o espoacutelio

exumado em 1961 bem como o iacutedolo-pinha recolhido recentemente

No essencial foi possiacutevel re-identificar quase todo o espoacutelio exumado (Fig 76-

78) apenas ressalvando-se algumas situaccedilotildees

Aleacutem dos catorze produtos alongados apresentados nas publicaccedilotildees 13 lacircminas

e uma lamela (Fig 77 82 e 83) encontra-se ainda na colecccedilatildeo de Casaiacutenhos com a

mesma marcaccedilatildeo outro tanto de fragmentos de lacircminas e diversos restos de talhe

nomeadamente lascas lamelares (ou pequenos fragmentos de lamelas) mas sem uma

ideia da sua localizaccedilatildeo original Duas lamelas em siacutelex satildeo tambeacutem apresentadas em

foto (Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 est XIII 151 e 166) e uma delas

desenhada (Leisner 1965 taf 22 60 Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 est P

69) assemelhando-se esta a um pequeno crescente Infelizmente ambas natildeo foram

relocalizadas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 134 de 415

Os quatro nuacutecleos de lamelas apresentados na publicaccedilatildeo trecircs de quartzo

hialino e outro de quartzo ldquoleitosordquo (Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 est P 70-

72 e 80) satildeo apenas uma parte do conjunto De facto aleacutem destes verifiquei a

existecircncia de mais cinco com levantamentos lamelares e em alguns tambeacutem de

lascas sendo dois de siacutelex (MG-CSH71) um deles ainda com coacutertex (MG-CSH113)

Um dos nuacutecleos de quartzo hialino (MG-CSH59) tinha sido obtido a partir de um

cristal prismaacutetico

Agraves cinco grandes pontas bifaciais (Fig 77 84 e 83) bem realccediladas neste

trabalho pode juntar-se mais um fragmento de bordo de outra (MG-CSH174_330B)

ou improvaacutevel parte daquela quebrada

Entre os elementos natildeo referidos haacute que destacar um fragmento de moacute

movente em greacutes ainda que outras peccedilas de cariz semelhante tenham sido anotadas

nomeadamente placas de arenito argiloso talvez amoladeiras ou paletas (Leisner

1965 taf 21 10-11) e um bloco de poacuterfiro () relativamente polido por uso (Leisner

1965 taf 21 16)

No que se refere agraves ceracircmicas (fig 78-80) apesar de ter localizado a maioria

dos fragmentos decorados no que se refere agrave ceracircmica lisa essa re-identificaccedilatildeo

revelou-se mais complicada devido agrave sua degradaccedilatildeo e dificuldade de adscrevecirc-las

aos desenhos realizados pelo que optei por seguir as pranchas e listagens publicadas

Aliaacutes parte dos fragmentos encontrava-se em parte incerta agrave data do estudo

reaparecendo recentemente pelo que talvez seja possiacutevel efectuar uma tentativa de

revisatildeo proximamente

Os recipientes decorados correspondem a trecircs taccedilas com caneluras (Leisner

1965 taf 23 93 95 e 96) No entanto em vez das comuns linhas com punccedilatildeo

rombo originando suaves caneluras estas apresentam incisotildees bem distintas e

profundas No caso da taccedila com caneluras ziguezagueantes Leisner 1965 taf 23 95

MG-CSH243) o estilo decorativo aproxima-se de outros mais elaborados

normalmente associados com ceracircmicas de estilo campaniforme ndash a taccedila de Casal do

Pardo infelizmente sem proveniecircncia concreta apresenta padratildeo similar (Leisner

1965 taf 114 66) Aliaacutes o pequeno fragmento com decoraccedilatildeo reticulada (Leisner

1965 taf 23 94) que natildeo pude analisar pessoalmente poderia corresponder a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 135 de 415

fragmento campaniforme No entanto tambeacutem poderaacute associar-se somente ao estilo

ldquofolha de acaacuteciardquo em parte contemporacircneo do primeiro

No que respeita as ceracircmicas lisas estas enquadram-se nos vasos hemisfeacutericos

taccedilas e pratos alguns com espessamento do bordo (Leisner 1965 taf 24-25)

Finalmente regista-se uma pequena lacircmina metaacutelica possivelmente de cobre

que natildeo eacute referida nas publicaccedilotildees acerca do sepulcro nem nos apontamentos de V

Leisner (Leisner 1965 Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 ALeisner Leis61)

Esta eacute referida na listagem do Museu produzida nos anos 90 encontrando-se num

pequeno tubo de ensaio (MG-CSH332) mas teraacute surgido misturada com os ossos

humanos Eacute portanto com reserva que aqui a menciono ainda que possa ter passado

desapercebida na colecccedilatildeo oacutessea

Na uacuteltima deacutecada (entre 1997 e 2000) trabalhos de valorizaccedilatildeo na anta

verificaram infelizmente a perda dos esteios A e C (Deus 1998 Estecircvatildeo 2000 e

2001) Aliaacutes o desaparecimento dos esteios jaacute tinha sido verificado desde os anos 80

(informaccedilatildeo pessoal de F Estecircvatildeo) No acircmbito daqueles trabalhos foi implantado um

quadriculado dividido de 2 em 2 metros procedendo agrave re-escavaccedilatildeo de aacutereas

intervencionadas anteriormente (no corredor e cacircmara) bem como na periferia na

possiacutevel aacuterea do tumulus Verificou-se que a crivagem antiga das terras entretanto

repostas teraacute sido relativamente cuidada pois foram recolhidos poucos materiais

sobretudo pequenos fragmentos oacutesseos contas de colar sobre concha e lascas siacutelex

alguns recolhidos nas fendas do substrato (Estecircvatildeo 2000 e 2001) Nas sondagens da

possiacutevel aacuterea tumular foram tambeacutem detectados materiais que poderatildeo ter sido

resultado das violaccedilotildees antigas ou das terras da escavaccedilatildeo passada (Estecircvatildeo 2000 e

2001 Estecircvatildeo e Deus 2000) Numa dessas aacutereas em C2 verificou-se a existecircncia de

uma depressatildeo relativamente profunda com caracteriacutesticas semelhantes ao ldquonichordquo

com vaacuterios fragmentos oacutesseos um deles um fragmento do trocanter de um feacutemur

esquerdo de adulto (classificaccedilatildeo de Nathalie Antunes-Ferreira Quadrado C2 Cam

05 Saco geral 20799) que se utilizou para a obtenccedilatildeo da dataccedilatildeo referida abaixo

Apoacutes a suspensatildeo daqueles trabalhos deu-se ainda a extraordinaacuteria descoberta

de um iacutedolo-pinha (Fig 85 Cardoso Gonzalez e Cardoso 2001-02) Segundo a

localizaccedilatildeo dada pelo seu achador encontrava-se no limite nascente do quadrado C5

uma das poucas aacutereas que as arqueoacutelogas natildeo tiveram oportunidade de abordar

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 136 de 415

(Deus 1998 Estecircvatildeo 2000 e 2001 Estecircvatildeo e Deus 2000) Este achado fortuito em

plena aacuterea de entrada da cacircmara que fora escavada ateacute agrave rocha em 1961 poderia

denunciar uma escavaccedilatildeo pouco cuidada cujas terras repostas continham ainda

materiais importantes Isto porque ao analisar as imagens da escavaccedilatildeo (Leisner

1965 taf 142 Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 est XI ALeisner Leis61) o

local aproximado onde se recolheu a peccedila parece ter sido de facto escavado ateacute o

substrato rochoso Contudo nessa anaacutelise eacute tambeacutem possiacutevel observar que o esteio

C inclinado tal como os autores tinham descrito nunca foi reerguido notando-se

uma mancha de terras escuras em redor deste pela face interna e externa

provavelmente deixada para sustentaccedilatildeo daquele (Fig 87 2 88 e 87a) Isto poderia

significar entatildeo que em momento incerto quando o esteio C foi arrancado teria

originado alguma remobilizaccedilatildeo de terras onde se encontraria incluso o dito

artefacto entretanto recoberto e soacute exposto apoacutes um periacuteodo de chuvas intenso

como a imagem apresentada parece indiciar (Cardoso Gonzalez e Cardoso 2001-02

fig 1) Mas este achado apenas reafirma a descriccedilatildeo dos primeiros escavadores de

uma cacircmara vazia com evidentes sinais de remobilizaccedilatildeo de materiais a que este

escapou entatildeo Por outro lado hoje eacute ainda possiacutevel observar no canto sudeste da

quadriacutecula C5 aquilo que parecem ser os calccedilos da face interna do esteio C e cuja

escavaccedilatildeo a arqueoacuteloga F Estecircvatildeo pretende realizar no futuro

Portanto numa anaacutelise microespacial dos achados eacute sobretudo de salientar o

conjunto ceracircmico in situ da aacuterea vestibular nomeadamente os grandes pratos e as

taccedilas com decoraccedilatildeo canelada entre os quais foi recolhido o lagomorfo e o iacutedolo-

plano antropomorfo ambos em osso e a aparente concentraccedilatildeo de pontas de seta

Infelizmente para esta uacuteltima natildeo eacute possiacutevel verificar que espeacutecimes foram

encontrados pois teria sido interessante localizar na anta as trecircs pontas de base

cocircncava Mas apesar disto levanta a possibilidade de uma deposiccedilatildeo de cariz ritual

junto ao sepulcro Tambeacutem a situaccedilatildeo dos recipientes ceracircmicos recorda outras

situaccedilotildees semelhantes nomeadamente documentadas em Vale de Rodrigo 2

(Larsson 2000) atribuiacuteveis a rituais funeraacuterios poacutes-inumaccedilatildeo Talvez esta situaccedilatildeo

natildeo detectada ateacute hoje noutros contextos sepulcrais possa explicar a presenccedila de

algumas formas consideradas estranhas pelos autores para os conjuntos da ldquoculture

dolmeniqueldquo da Estremadura (Leisner Zbyszewski e Ferreira 1969 p 93-94)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 137 de 415

Para os outros dois conjuntos possiacuteveis os iacutedolos-placa e iacutedolos ciliacutendricos

bem como as grandes pontas bifaciais jaacute foi salientada a possibilidade de

remobilizaccedilatildeo e alteraccedilotildees tafonoacutemicas pelo que deveratildeo ser abordados com

cuidados especiais Assim a coincidecircncia de dois iacutedolos de origens regionalmente

distintas e as pontas bifaciais presentes em ambas as regiotildees poderia reforccedilar a

impressatildeo de outros casos para uma coexistecircncia cronoloacutegica daqueles objectos

ideoteacutecnicos no acircmbito de rituais maacutegico-religiosos No entanto o conteuacutedo da

cacircmara ocidental do tholos da Praia das Maccedilatildes rico em placas de xisto e pontas de

seta contrapondo-se a um conteuacutedo de artefactos votivos em calcaacuterio na cacircmara

central e raros projeacutecteis siliciosos parece realccedilar a ideia de um desfasamento

cronoloacutegico ou ritual ou ambos entre aquelas realidades

Assim pelo espoacutelio recolhido nomeadamente geomeacutetricos fragmentos de

lamelas e lacircminas natildeo retocadas e pouco espessas os nuacutecleos de lamelas e alguns

instrumentos polidos parece ser possiacutevel admitir um iniacutecio de utilizaccedilatildeo da anta de

Casaiacutenhos algures entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane Esse uso parece

intensificar-se na passagem daquele mileacutenio devendo corresponder ao grosso do

espoacutelio atribuiacutevel essencialmente a esse periacuteodo de transiccedilatildeo e da primeira metade

do 3ordm mileacutenio ane coincidindo com a dataccedilatildeo Beta-225168 obtida sobre um

fragmento de feacutemur humano entre 2880-2610 cal BCE (Anexo 3 Quadro 2) Este

fragmento apesar de recolhido fora da cacircmara eacute com certeza testemunho de uma

das inumaccedilotildees deste sepulcro

Uma ausecircncia brevemente anotada pelos primeiros escavadores (Leisner

Zbyszewski e Ferreira 1969 p 93) refere-se agrave ceracircmica e outros elementos

normalmente associados ao fenoacutemeno campaniforme nomeadamente bototildees braccedilais

de arqueiro e elementos metaacutelicos Por outro lado entre as ceracircmicas lisas tambeacutem

natildeo se registam formas campanuladas No entanto haacute que recordar a existecircncia de

fragmentos ceracircmicos com decoraccedilotildees passiacuteveis de enquadrar-se como derivados

campaniformes Mas a confirmar-se esta ausecircncia teria como primeira assumpccedilatildeo

cronoloacutegico-cultural o abandono deste sepulcro desde meados do 3ordm mileacutenio ane

ainda que subsista a possibilidade de deposiccedilotildees dataacuteveis destes momentos

posteriores sem os correspondentes testemunhos materiais nomeadamente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 138 de 415

campaniformes pelo que a hipoacutetese enunciada para a anta de Estria tambeacutem se

deveraacute considerar aqui

Finalmente a peccedila metaacutelica referida acima eacute tambeacutem algo que poderia

denunciar algum tipo de reutilizaccedilatildeo posterior mas eacute difiacutecil asseguraacute-lo pelos

motivos anotados acima

4153 Carcavelos

A anta de Carcavelos (CNS-3502) a escassas centenas de metros a sudeste da

aldeia homoacutenima freguesia de Lousa Loures (Fig 27) era jaacute assinalada pela

tradiccedilatildeo oral De facto o microtopoacutenimo ldquoAntasrdquo corresponde agrave parcela

imediatamente a norte da aacuterea de implantaccedilatildeo do sepulcro o que o arquitecto

Gustavo Marques em 1986 jaacute tinha registado (AGMarques) Por outro lado as

gentes locais designavam o siacutetio como ldquoCemiteacuterio dos Mourosrdquo (AGMarques) ou

ldquoCasa dos Mourosrdquo (Estecircvatildeo e Marques 1997)

Entretanto em 1944 o casal de arqueoacutelogos alematildees G Leisner e V Leisner

ao empreender o inventaacuterio sistemaacutetico dos sepulcros de Lisboa visitou esta anta

(Fig 88a 1) seguindo as informaccedilotildees de Mesquita Figueiredo e Carlos Ribeiro

(ALeisner Leis61) Acerca dela produziram documentaccedilatildeo graacutefica posteriormente

publicada (ALeisner Leis61 Leisner 1965 p 27 e taf 19) mas sem realizar

qualquer escavaccedilatildeo arqueoloacutegica A anaacutelise das fotos e da planta datada de 17 de

Janeiro de 1944 (ALeisner Leis61) permitiu verificar que o estado da estrutura natildeo

sofreu alteraccedilatildeo significativa ateacute os anos 80

No acircmbito do Congresso Nacional de Arqueologia em 1958 ao listar os

monumentos megaliacuteticos da regiatildeo de Lisboa O V Ferreira (1959 p 219) apontava

uma futura intervenccedilatildeo arqueoloacutegica na anta de Carcavelos que natildeo teraacute

concretizado

Jaacute em meados dos anos 80 mais precisamente em 1986 G Marques no

acircmbito do programa de ldquoocupaccedilatildeo de tempos livresrdquo (OTL) para jovens do concelho

de Loures iniciou um periacuteodo de pesquisas pontuais na sequecircncia de notiacutecias de

cavaccedilotildees clandestinas procedendo a trabalhos durante alguns dias desse Veratildeo (13

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 139 de 415

14 e 21 de Agosto e 17 de Setembro) para verificar o seu impacto na jazida (Fig 88a

2)

Todavia as visitas de curiosos agrave anta continuaram ocorrendo algumas mexidas

no conteuacutedo do sepulcro Em 1987 Luiacutes Henriques entrega materiais que tinha

recolhido na anta na sequecircncia de violaccedilotildees anteriores (AGMarques) Poreacutem

segundo Florbela Estecircvatildeo (informaccedilatildeo pessoal) algumas das incursotildees dos curiosos

poderatildeo ter resultado na extracccedilatildeo de objectos que natildeo eacute hoje possiacutevel conferir

Para aleacutem do interesse arqueoloacutegico a situaccedilatildeo de saque na anta levou G

Marques a intensificar os seus trabalhos pelo que depois de 1986 seguiu um

programa de escavaccedilotildees entre 1991 e 1994 natildeo tendo continuado no ano seguinte

por motivos de sauacutede Aliaacutes durante esses anos registaram-se novas mexidas Os

trabalhos de escavaccedilatildeo desenrolavam-se normalmente durante os meses de Veratildeo de

forma mais ou menos contiacutenua Isto porque natildeo ocorriam sempre em dias e semanas

consecutivas mas estavam condicionados pela disponibilidade logiacutestica e temporal

do responsaacutevel G Marques e dos seus serviccedilos no Municiacutepio de Loures Apesar

destas campanhas de escavaccedilatildeo terem contribuiacutedo para a salvaguarda de informaccedilatildeo

apenas a de 1994 foi oficializada junto da tutela do patrimoacutenio existindo um

relatoacuterio produzido por F Estecircvatildeo (1997)

Ainda que F Estecircvatildeo tivesse colaborado nos trabalhos arqueoloacutegicos entre

1991 e 1994 e a maioria do espoacutelio arqueoloacutegico estivesse depositada no Museu

Municipal todas as imagens apontamentos e registos de campo ficaram em poder de

G Marques enquanto responsaacutevel Entretanto quando este faleceu no ano de 1996

esses elementos bem como alguns dos materiais arqueoloacutegicos quedavam-se em sua

casa Por isso F Estecircvatildeo promoveu o contacto entre a famiacutelia do arqueoacutelogo e o

Museu Nacional de Arqueologia no intuito de salvaguardar a documentaccedilatildeo e o

espoacutelio Estes foram integrados no referido museu nomeadamente a documentaccedilatildeo

no designado ldquoArquivo Gustavo Marquesrdquo (AGMarques) Infelizmente essa

iniciativa natildeo conseguiu evitar o desaparecimento de alguma informaccedilatildeo e materiais

(por exemplo o caderno diaacuterio da campanha de 1994 uma pinha votiva em calcaacuterio

ou um botatildeo em osso)

Entretanto em Fevereiro de 1995 apoacutes visita de teacutecnicos do entatildeo Instituto

Portuguecircs do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico (IPPAR) por solicitaccedilatildeo da

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 140 de 415

Cacircmara Municipal de Loures a aacuterea da cacircmara foi coberta com tela de

sombreamento e gravilha como medida de salvaguarda

Posteriormente no acircmbito de um plano municipal de valorizaccedilatildeo das antas do

municiacutepio de Loures a arqueoacuteloga F Estecircvatildeo realizou em 1998 uma campanha de

escavaccedilatildeo no sepulcro de Carcavelos (Estecircvatildeo 1999) ainda que por motivos

institucionais natildeo a tenha prosseguido

Quando iniciei a pesquisa para a minha tese de doutoramento colocou-se a

necessidade e a possibilidade de efectuar algumas intervenccedilotildees em antas da regiatildeo de

Lisboa procurando dessa forma obter novos dados que permitissem um melhor

enquadramento daqueles adquiridos anteriormente Assim propus a F Estecircvatildeo e agrave

Cacircmara Municipal de Loures a continuaccedilatildeo em colaboraccedilatildeo do projecto de estudo

da anta de Carcavelos por ela iniciado Esse desiderato foi desenvolvido entre 2005

e 2007 com duas campanhas mensais de escavaccedilatildeo (2005 e 2006) e trabalhos de

laboratoacuterio (2005 a 2007) nomeadamente para o abundante espoacutelio antropoloacutegico

(ainda e apenas com resultados preliminares pois o estudo de uma pequena parte

ainda natildeo foi concluiacutedo)

Como jaacute foi mencionado atraacutes a documentaccedilatildeo que constitui o arquivo G

Marques tinha sofrido alguma desorganizaccedilatildeo antes de ter entrado no Museu

Nacional de Arqueologia pelo que inicialmente foi necessaacuterio proceder agrave sua

revisatildeo e inventariaccedilatildeo detalhada com especial atenccedilatildeo aos papeacuteis referentes agrave

arqueologia de Loures e mais concretamente da anta de Carcavelos Assim

localizou-se o essencial dos apontamentos de 1986 1991 1992 e 1993 mas os

referentes ao ano de 1994 a campanha de maior duraccedilatildeo natildeo foram encontrados ndash

sendo essa lacuna apenas parcialmente preenchida pelo relatoacuterio de F Estecircvatildeo

(1997) referente aos trabalhos daquele ano Tambeacutem a cobertura fotograacutefica dos

vaacuterios anos de trabalhos registava lacunas bem como natildeo se encontrou quase

nenhum filme negativo que permitisse a recuperaccedilatildeo das imagens

As intervenccedilotildees arqueoloacutegicas na anta de Carcavelos ocorreram pontualmente

em Agosto e Setembro de 1986 em 1991 entre 4 e 25 de Setembro em 1992 e 1993

entre Agosto e Setembro e em 1994 entre 14 de Julho e 20 de Agosto e de 4 a 10 de

Setembro (Estecircvatildeo 1997) Em 1998 enquadrado pelo novo projecto municipal

(Estecircvatildeo 1999 Estecircvatildeo e Deus 2000) os trabalhos realizaram-se de forma

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 141 de 415

intermitente entre Agosto e Novembro daquele ano Finalmente em Julho-Agosto de

2005 e Maio-Julho de 2006 realizou-se a escavaccedilatildeo da maioria dos contextos

remanescentes da anta com uma equipa mais alargada para aleacutem dos arqueoacutelogos

responsaacuteveis (F Estecircvatildeo e o autor destas linhas) contou-se com a colaboraccedilatildeo das

antropoacutelogas Nathalie Antunes-Ferreira e Maria Hillier posteriormente assistidas em

laboratoacuterio pelo antropoacutelogo David Boutilier

A estrateacutegia e a metodologia de escavaccedilatildeo aplicada em 1986 revelaram-se

pouco rigorosas incidindo em duas manchas as ldquozonasrdquo I (a cargo de G Marques) e

a II (subdividida pelas porccedilotildees da ldquoCristina Teresa e Joatildeordquo) A acccedilatildeo limitou-se agrave

decapagem das camadas superficiais revelando diversos materiais

Em 1991 G Marques instalou um eixo transversal (aproximadamente este-

oeste) na cacircmara a partir do qual estabeleceu novas zonas agora a I (semelhante a

1986) II e III (incidindo e dividindo a zona II de 1986) Contudo esta divisatildeo natildeo

foi suficientemente rigorosa pelo que em 1992 a intervenccedilatildeo centrou-se numa vala

com cerca de 80 cm de largura a sul e ao longo do referido eixo considerando-se o

primeiro metro a partir do ponto Zero a zona I e a II para o segundo metro (Fig

89) Pelo menos ateacute o aparecimento de uma pedra em cutelo aproximadamente a 1

metro na diagonal que se tornou ad hoc a separaccedilatildeo das referidas zonas Neste ano

a estrateacutegia centrou-se na obtenccedilatildeo de uma leitura estratigraacutefica para os depoacutesitos da

cacircmara estrateacutegia que se prolongou em 1993 agora mantendo as duas zonas I e II

inalteradas avanccedilando-se mais 1 metro (zona III) Finalmente em 1994 apesar da

falta dos apontamentos de campo foi possiacutevel verificar atraveacutes do relatoacuterio de F

Estecircvatildeo (1997) que se procedeu agrave escavaccedilatildeo da restante aacuterea da vala inicial A partir

do eixo setentrional desta segmentado por metro desde o ponto Zero procedeu-se agrave

abertura de valas designadas alfabeticamente vala A B C e D

Eacute de referir que por vezes com a instalaccedilatildeo do eixo este-oeste foram

efectuadas mediccedilotildees para a coordenaccedilatildeo dos achados sobretudo nos anos de 1992 a

1994 No entanto essas mediccedilotildees natildeo foram consistentes sobretudo para o Z

(altimetria) umas vezes medido a partir da superfiacutecie inicial outras de ldquopavimentosrdquo

detectados outras ainda a partir do topo de esteios De qualquer forma permitiram a

localizaccedilatildeo aproximada dos objectos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 142 de 415

A estrateacutegia e metodologia da intervenccedilatildeo de 1998 (Fig 93 3) procuraram

conciliar as acccedilotildees anteriores pelo que se seguiu a orientaccedilatildeo dos eixos

estabelecidos agora numa malha de quadriacuteculas com 1 metro de lado Assim

segundo o relatoacuterio da campanha de 1998 (Estecircvatildeo 1999) o eixo norte-sul

designado X correspondia agrave coluna alfabeacutetica e o eixo este-oeste designado Y agrave

numeacuterica Anote-se que neste uacuteltimo eixo os valores cresceriam a partir do ponto

Zero a este No entanto essa sequecircncia eacute contrariada na publicaccedilatildeo (Estecircvatildeo e Deus

2000) crescendo o eixo numeacuterico de oeste para este Ali constam tambeacutem trecircs

pontos fixos cotados um deles utilizado para registar a altimetria dos achados e

situado no veacutertice da quadriacutecula de F4 com 24824 metros

Perante os trabalhos anteriores quando se avanccedilou para a campanha de 2005

procuraacutemos dentro do possiacutevel manter o quadriculado anteriormente estabelecido

Finalmente conviraacute realccedilar as condicionantes actuais do tratamento da

informaccedilatildeo para a anta de Carcavelos Os resultados apresentados deveratildeo ser

entendidos apenas como preliminares pois a intervenccedilatildeo natildeo foi concluiacuteda em aacutereas

pontuais nomeadamente no corredor ndash isso implicaria a desarticulaccedilatildeo do jaacute bastante

fracturado e inclinado esteio U3 o que se realizaraacute apenas quando for possiacutevel a sua

colagem e reimplantaccedilatildeo Tambeacutem optou-se por natildeo descalccedilar interna e

externamente os esteios ainda erguidos ainda que fosse possiacutevel perscrutar restos

oacutesseos entre as pedras pois isso poderia levar agrave sua ruiacutena ndash no caso dos esteios U8

(cabeceira) e U9 a escavaccedilatildeo dos calccedilos e dos alveacuteolos seria de grande importacircncia

mas soacute possiacutevel quando se proceder agrave sua extracccedilatildeo com garantias de colagem e

reimplantaccedilatildeo Por fim o estudo dos materiais exumados prossegue no acircmbito da

colaboraccedilatildeo referida acima procurando conciliar-se os dados provenientes das

primeiras intervenccedilotildees com aqueles adquiridos nos uacuteltimos anos ndash o acesso agrave

documentaccedilatildeo do arquivo de G Marques apenas ocorreu em 2006 Assim procurar-

se-aacute nos capiacutetulos seguintes essencialmente discutir as leituras obtidas nas

campanhas de 2005-2007 cruzadas com alguns apontamentos anteriores e o

enquadramento possiacutevel dos materiais considerados mais pertinentes no acircmbito da

anaacutelise geral das antas e do Megalitismo regional

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 143 de 415

Situaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo da anta em 2005-2006

A anta de Carcavelos situa-se num patamar ligeiramente inclinado para Sul

sobranceiro ao vale da ribeira do Tufo Assenta num substrato de margas conquiacuteferas

surgindo na pendente sul a pouco mais de 20 metros dos afloramentos de calcaacuterios

do Cretaacutecico tambeacutem com foacutesseis conquiacuteferos do Cenomaniano meacutedio ndash

ldquoBelasiano-Albianordquo (SGP 1981 Zbyszweski 1964) No relevo sobranceiro situado

a norte-noroeste encontram-se manchas de basaltos e arenitos com raras

intercalaccedilotildees calcaacuterias e a poucas dezenas de metros para este da anta nota-se um

filatildeo basaacuteltico (SGP 1981 Zbyszweski 1964)

Em 2005 a anta mantinha a aacuterea da cacircmara coberta com gravilha e tela (ali

colocados em 1995) bem como a parte correspondente agraves quadriacuteculas escavadas em

1998 cobertas com a terra crivada da intervenccedilatildeo O desniacutevel entre as aacutereas jaacute

intervencionadas e os depoacutesitos remanescentes era bem visiacutevel tornando-se uma das

maiores dificuldades para a leitura dos diversos contextos presentes e ou jaacute

exumados Por outro lado os sinais de remeximento tambeacutem eram evidentes pelas

tocas e buracos escavados por roedores notando-se fragmentos de ossos humanos

um pouco por toda a aacuterea interior e exterior da anta nesta uacuteltima sobretudo nos

pontos de despejo das terras das intervenccedilotildees anteriores

O esqueleto ortostaacutetico do sepulcro conservava ainda os esteios a este norte e

oeste (U5 U6 U7 U8 e U9) bem como um grande esteio de corredor (U3)

apontando a sudeste ao qual se apoiava um pequena laje (U4) na transiccedilatildeo para o

corredor (Fig 88a 3-4) No lado sudoeste e sul do monumento avistavam-se caiacutedos

vaacuterios fragmentos de lajes que teratildeo sido partes dos esteios (por exemplo U13 cola

com U8) No entanto esta disposiccedilatildeo geral do sepulcro jaacute era conhecida desde o

registo do casal Leisner (ALeisner Leis61) pelo que as perturbaccedilotildees teratildeo ocorrido

antes de 1944

Confinando a sul com o sepulcro corria um muro de pedra seca de divisatildeo de

propriedade em grande parte coberto por vegetaccedilatildeo inclusive um zambujeiro o que

impedia uma leitura segura do edifiacutecio naquela aacuterea

Dada a natureza dos blocos utilizados na construccedilatildeo da anta um calcaacuterio

conquiacutefero e margoso obtido nas imediaccedilotildees do local de implantaccedilatildeo desta os

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 144 de 415

fenoacutemenos de erosatildeo eram bastantes evidentes notando-se fissuras longitudinais em

muitos deles explicando tambeacutem muitas das fracturas nomeadamente nos esteios de

cabeceira e do corredor

Estrateacutegia de intervenccedilatildeo

Procurando conciliar os trabalhos anteriores optou-se por implantar um

quadriculado alfanumeacuterico segmentado em quadriacuteculas (Q) de 1x1 m com os eixos

orientados norte-sul e oeste-este de acordo com o alinhamento cartograacutefico

estabelecido anteriormente por G Marques e F Estecircvatildeo Contudo alterou-se a

designaccedilatildeo do eixo alfabeacutetico (norte-sul) para Y e o numeacuterico (oeste-este) para X

mas ambos crescendo segundo o estabelecido na publicaccedilatildeo jaacute referida (Estecircvatildeo e

Deus 2000 Anexo 1) Um dos pontos cotados e cimentados da campanha de 1998

localizado num dos veacutertices de Q F4 (24824 m) foi utilizado durante os primeiros

dias para registo da altimetria mas como a progressatildeo da escavaccedilatildeo o erradicaria

inevitavelmente decidiu estabelecer-se um novo ponto cotado no afloramento

localizado a cerca de 50 metros da anta para este junto a um arroio Este ponto

media 24768 metros de altitude

Ainda no acircmbito do registo de escavaccedilatildeo procurou-se identificar e registar as

unidades estratigraacuteficas para uma melhor compreensatildeo do monumento No entanto

este uacuteltimo desiderato revelou-se complexo para parte dos contextos visto que como

posteriormente se poderaacute verificar a actividade humana clandestina mas tambeacutem

das intervenccedilotildees anteriores bem como a acccedilatildeo dos animais que por ali passaram

(registaram-se inuacutemeras tocas de coelhos e afins) contribuiacuteram para a

desorganizaccedilatildeo de alguns dos depoacutesitos

O inventaacuterio das realidades arqueoloacutegicas foi efectuado por Unidades

Estratigraacuteficas (U) adaptando a metodologia proposta por P Barker (1993) e E

Harris (1997) conjuntamente com a anotaccedilatildeo tridimensional para todos os achados

pertinentes sempre que possiacutevel Os elementos ortostaacuteticos foram tambeacutem

considerados individualmente como unidades pelo que natildeo se seguiu a numeraccedilatildeo

apresentada anteriormente por F Estecircvatildeo (1999)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 145 de 415

Tomando como mais importante a preservaccedilatildeo das ossadas humanas para

posterior estudo do que a sua exposiccedilatildeo durante vaacuterios dias e sequente deterioraccedilatildeo

para obtenccedilatildeo de uma foto ou desenho de conjunto bem como a possibilidade de

visitas inopinadas e sequente roubo ndash tal como tinha acontecido pouco tempo antes

na escavaccedilatildeo de um silo preacute-histoacuterico em Murtal (Loures) e veio a acontecer na anta

em 2006 ndash optaacutemos por um meacutetodo expedito de escavaccedilatildeo dos restos osteoloacutegicos

que foram sendo fotografados e coordenados antes de cada grupo de peccedilas ser

extraiacutedo preferencialmente no final do dia de trabalho Na fotografia registava-se

posteriormente o nuacutemero de inventaacuterio de cada peccedila para identificaccedilatildeo Entre as

ossadas recolheram-se outros objectos arqueoloacutegicos nomeadamente vaacuterios iacutedolos

calcaacuterios alguns liacuteticos lascados e artefactos de osso e fragmentos de recipientes

ceracircmicos todos eles devidamente coordenados

Devido agrave morosidade da escavaccedilatildeo dos restos oacutesseos a intervenccedilatildeo dentro da

cacircmara avanccedilou com um ritmo mais lento que noutras aacutereas

A intervenccedilatildeo centrou-se primeiramente nas aacutereas da cacircmara e corredor bem

como no esclarecimento da aacuterea exterior do sepulcro procurando perceber a

existecircncia ou natildeo de tumulus e contraforte Para tal procedeu-se inicialmente agrave

decapagem superficial prevendo-se a realizaccedilatildeo de duas valas que cortassem

transversalmente o tumulus uma para norte e outra para este mas apenas realizadas

parcialmente pois o estrato rochoso alterado surgiu em cotas bastante superficiais

A escavaccedilatildeo foi desenvolvida de acordo com as realidades detectadas e perante

as novas questotildees que se colocaram mas tambeacutem considerando as limitaccedilotildees do

calendaacuterio da intervenccedilatildeo

O registo graacutefico efectuou-se com imagens digitais e em diapositivo (este

uacuteltimo suporte soacute em 2005) bem como com desenhos de estruturas e planos agrave escala

120 devidamente cotados

Todas as terras extraiacutedas foram crivadas com uma rede de 3 mm

Descriccedilatildeo dos trabalhos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 146 de 415

Antes do iniacutecio da remoccedilatildeo do solo foram efectuados o corte e a raspagem

com serra e enxada dos arbustos e demais vegetaccedilatildeo nas aacutereas das quadriacuteculas

prioritaacuterias com vista agrave delineaccedilatildeo de eventuais realidades especiacuteficas

Apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo foi possiacutevel verificar que o esteio de corredor

(U3) era maior do que ateacute agora tinha sido registado mas apenas aflorava no terreno

pois estava quebrado

O muro de pedra solta para divisatildeo de propriedade imediatamente a sul da

anta interrompia-se onde jazia uma grande laje De facto nas imagens obtidas pelo

casal Leisner (ALeisner Leis18 CF4828-CF4832 Leisner 1965) tal estrutura ainda

natildeo existia pelo que tal realidade surgiu nos uacuteltimos sessenta anos Aliaacutes a

desmontagem do troccedilo de murete veio a revelar a inexistecircncia de fundaccedilatildeo tendo as

pedras sido assentes parcialmente naquilo que foi interpretado como o remanescente

do contraforte do corredor no lado Sul

No lado exterior do corredor a este procedeu-se ao registo de um aglomerado

de pedras muito soltas talvez resultado de anteriores trabalhos agriacutecolas e

arqueoloacutegicos ou de desmoronamento do muro localizado a sul Esta situaccedilatildeo

tambeacutem ocorria no lado oeste e sudoeste Aliaacutes algumas imagens produzidas pelo

teacutecnico do IPPAR em 1994 permitiram esclarecer alguns dos contextos inicialmente

considerados remexidos ou mesmo de violaccedilatildeo Assim estes foram o resultado dos

depoacutesitos retirados nas escavaccedilotildees de G Marques e colocados junto agrave anta Neles foi

ainda possiacutevel recolher alguns materiais arqueoloacutegicos normalmente de diminuto

tamanho nomeadamente esquiacuterolas de ossos contas bototildees e fragmentos ceracircmicos

No interior da anta (Fig 90) procedeu-se agrave retirada da gravilha e tela colocadas

anteriormente distinguindo-se da aacuterea intervencionada em 1998 por ali ter sido

utilizada a terra crivada da escavaccedilatildeo de cor castanha Dentro da cacircmara depois da

limpeza surgiu de imediato uma camada argilosa amarela acastanhada (U20) onde se

avistavam ainda alguns ossos Junto aos esteios dessa aacuterea na face interna

verificaram-se as pedras de calccedilo causando a impressatildeo de que em alguns pontos jaacute

se teria atingido a base do recinto o que se veio a confirmar no quadrante nordeste-

este da cacircmara ainda que com negativos de algumas tocas de animais

Foi tambeacutem possiacutevel detectar a vala realizada por G Marques entre o esteio U4

e U9 onde ainda se avistava um prego com fio azul correspondendo sensivelmente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 147 de 415

ao quadriculado reimplantando (E5-E8) Sobretudo do lado este (E7-E8) essa vala

tambeacutem parecia jaacute ter atingido a base do sepulcro Paralelamente foi tambeacutem

possiacutevel perceber os dois quadrados intervencionados em 1998 (F6-F7) com

diferentes altimetrias bem como as faixas de 20 cm dos Q E6 e E7

A aacuterea oeste-norte junto ao esteio de cabeceira apresentava ainda cotas

superiores agraves das aacutereas anteriormente escavadas notando-se na sua superfiacutecie restos

de ossadas humanas pelo que se presumiu a possibilidade de estratos ainda

preservados A escavaccedilatildeo foi iniciada em Q C6 e parte de C7 verificando-se a

existecircncia naquele local de um aglomerado de peccedilas osteoloacutegicas nomeadamente

ossos longos e cracircnios misturados e imbricados aleatoriamente Por vezes surgiram

algumas pedras umas talvez caiacutedas das estruturas de calccedilo dos esteios outras

possivelmente natildeo

O avanccedilo dos trabalhos em redor das quadriacuteculas D5-D6 permitiu a definiccedilatildeo

de algumas aglomeraccedilotildees osteoloacutegicas junto e ao longo da estrutura de calccedilo (U17)

do esteio de cabeceira (U8) inseridas entre os sedimentos dessa aacuterea que se

desenvolviam pela cacircmara ndash aiacute o depoacutesito de terras amareladas (U54) apresentava

bolsas de terras acastanhadas denotando sinais de remexido pontual Nesta unidade

ainda se encontraram concentraccedilotildees oacutesseas mas tambeacutem aleacutem de peccedilas preacute-

histoacutericas alguns fragmentos de telha e ceracircmica vidrada sobretudo no quadrante

sul Por sua vez este contexto cobria uma depressatildeo com um formato ovalado

irregular mais ou menos central no espaccedilo da cacircmara preenchida com terras

semelhantes agraves superiores ainda que mais acastanhadas (U57) Presumindo-se que a

realidade negativa pudesse corresponder a um eventual buraco de poste central

procurou identificar-se eventuais pedras de calccedilo prestando-se bastante atenccedilatildeo agrave sua

escavaccedilatildeo No entanto tal estruturaccedilatildeo natildeo foi verificada revelando-se apenas um

contexto com materiais arqueoloacutegicos (pequenos fragmentos ceracircmicos alguns deles

campaniformes com decoraccedilatildeo internacional ossos humanos partidos um iacutedolo

quebrado e algumas contas discoacuteides) essencialmente fracturados de dimensotildees

reduzidas e revoltos Pelas suas caracteriacutesticas esta depressatildeo poderaacute ter resultado da

escavaccedilatildeo de uma toca de animal tendo arrastado para o seu interior os elementos de

menor dimensatildeo presentes na anta situaccedilatildeo detectada noutros pontos da cacircmara em

cavidades similares de menor dimensatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 148 de 415

Na aacuterea sul aquela onde os contextos apresentavam sinais de maior

revolvimento foi possiacutevel relocalizar sob a U54 uma depressatildeo alongada que

deveraacute corresponder ao alveacuteolo de implantaccedilatildeo quiccedilaacute da laje U12 tombada a sul

(pelo menos as suas dimensotildees parecem corresponder) Tambeacutem na transiccedilatildeo da

cacircmara para o corredor foi possiacutevel verificar uma pequena depressatildeo numa posiccedilatildeo

potencialmente simeacutetrica ao lado este que poderia corresponder a outro alveacuteolo de

um pequeno esteio ou de um pequeno pilar nomeadamente do bloco prismaacutetico de

basalto (U36) tombado mesmo junto a este

A zona do corredor revelou alguns materiais arqueoloacutegicos numa camada do

substrato conquiacutefero bastante alterado (U25 e U35) Contudo a continuaccedilatildeo da sua

escavaccedilatildeo ficou condicionada pela inclinaccedilatildeo acentuada do esteio U3 No entanto

foi possiacutevel verificar pela altimetria registada que a base desta passagem estaria

ligeiramente mais elevada do que a da cacircmara originalmente

A dita inclinaccedilatildeo da laje U3 contribuiu tambeacutem para a posiccedilatildeo quase horizontal

do pequeno esteio U4 Este teria sido colocado encostado ao primeiro talvez como

remate para alguma imperfeiccedilatildeo do esteio e arrastado com ele quando se inclinou

Aleacutem de inclinado o esteio de corredor apresentava-se bastante fracturado faltando

partes hoje natildeo localizadas nas duas extremidades A existirem a dimensatildeo de U3

seria bem maior daquela actualmente aparente

Sob o esteio U4 verificou-se um conjunto de taccedilas ceracircmicas empilhadas na

aacuterea de transiccedilatildeo para a cacircmara lembrando uma realidade similar em Casaiacutenhos

(Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) Curiosamente nesta aacuterea registou-se ainda

uma laje em cutelo que parecia prolongar o corredor ou pelo menos produzir um

nicho junto ao esteio U5 onde de facto se recolheram em vaacuterios niacuteveis um conjunto

assinalaacutevel de objectos e ossadas Ainda que a anaacutelise natildeo esteja concluiacuteda este

arranjo microespacial parece ter ocorrido em momento posterior ao original pois

segundo G Marques (AGMarques 1992) existiam fragmentos de vaso e algumas

ossadas humanas sob a base da referida laje Tambeacutem haacute que referir a presenccedila nos

niacuteveis superficiais de ceracircmica campaniforme o que poderia apontar para um tipo de

estruturaccedilatildeo semelhante agravequele verificado em Pedra Branca (Ferreira et al 1975)

Ainda nesta aacuterea de transiccedilatildeo para a cacircmara registaram-se nas escavaccedilotildees antigas em

niacuteveis associaacuteveis agrave camada amarelada da base um iacutedolo-pinha e outro ciliacutendrico

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 149 de 415

junto a fragmentos ceracircmicos com caneluras correspondendo a uma pequena taccedila e

um copo (Fig 89 1 e 3 96 1 AGMarques 1992)

A recolha de fragmentos de telha lusitana bem como de recipientes vidrados e

em faianccedila em cotas superficiais da cacircmara (as recolhas destes materiais em 1993 e

1994 tambeacutem provieram desses niacuteveis) mas tambeacutem na U54 parece apontar para o

uso deste espaccedilo como abrigo para pessoas e ou gado em eacutepoca mais recente

Inclusive essa utilizaccedilatildeo poderia estar associada ao actualmente arruinado Casal do

Rocha situado a cerca de 100 metros a sudeste onde se avistam fragmentos de telha

semelhantes

Apoacutes a decapagem exterior da aacuterea circundante da cacircmara nas aacutereas norte e

este tornaram-se evidentes junto aos esteios troccedilos do anel de contraforte (Fig 88a

5-6) parecendo ter sido colocado em alveacuteolo aberto no substrato margoso Natildeo se

confirmou evidecircncia de tumulus verificando-se apenas depoacutesitos alterados do

substrato margoso local Conviraacute referir que a lavra do terreno envolvente da anta

tinha sido realizada ateacute junto dos esteios pelo menos do lado oeste norte e este

devendo ter contribuiacutedo para aquela alteraccedilatildeo

Nos lados sudoeste e sul foi necessaacuterio remover as lajes tombadas permitindo

a continuaccedilatildeo dos trabalhos para melhor compreender a aacuterea que se afigurava mais

perturbada

A decapagem das aacutereas oeste e sudoeste permitiu verificar uma realidade mais

alterada pois apesar de se registarem pedras passiacuteveis de associaccedilatildeo ao anel de

contraforte outras surgiram soltas em bolsas de terras amareladas argilosas ou

castanhas e com materiais arqueoloacutegicos misturados ndash alguns correspondendo aos

montiacuteculos de terras resultantes das intervenccedilotildees anteriores a 1998 Contudo outras

bolsas teratildeo surgido ainda antes das intervenccedilotildees pois cobriam parcialmente as

fracturas do esteio U9 ainda in situ Aliaacutes verificou-se que este esteio colaraacute com os

fragmentos de laje designados U10 e U11 Por outro lado alguns dos aglomerados de

pedras ainda que soltas quedavam-se em posiccedilotildees proacuteximas do que seria o

contraforte original Inclusive na face exterior de U9 (Fig 92 1) foi possiacutevel

observar o alveacuteolo de implantaccedilatildeo (U60) ainda com algumas pedras a preenchecirc-lo

(U61)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 150 de 415

Como jaacute foi referido acima a anta foi implantada num substrato de margas

conquiacuteferas com uma inclinaccedilatildeo das camadas naturais para sul (Fig 92) No entanto

durante a escavaccedilatildeo esse substrato revelou duas camadas distintas que se

sobrepunham uma inferior margosa de coloraccedilatildeo amarelada e outra superior

tambeacutem margosa mas constituiacuteda por conchas fossilizadas de espeacutecies bivalves

antigas Esta uacuteltima camada eacute observaacutevel no terccedilo sul da aacuterea da cacircmara e na quase

totalidade do corredor De facto a escavaccedilatildeo exploratoacuteria destes depoacutesitos revelou-se

esteacuteril apenas encontrando-se espoacutelio em aacutereas muito alteradas e em contacto com

contextos arqueoloacutegicos

A observaccedilatildeo do substrato margoso e das cotas em que se regista permitiu

adiantar uma possiacutevel estrateacutegia de construccedilatildeo e erecccedilatildeo da estrutura sepulcral

Assim o espaccedilo interno teraacute sido desaterrado em anfiteatro produzindo-se um certo

desniacutevel entre as superfiacutecies originais do lado norte e sul Posteriormente abriram-se

os alveacuteolos para os esteios O referido desniacutevel poderaacute tambeacutem ter contribuiacutedo para

um desmonte mais facilitado da estrutura ortostaacutetica do lado sul aacuterea onde ocorre a

mancha de depoacutesito conquiacutefero

Perante os trabalhos realizados eacute possiacutevel admitir que esta anta apresentaria

provavelmente o tiacutepico padratildeo de 7 esteios de uma cacircmara poligonal de que apenas

restavam cinco e o alveacuteolo (U59) do sexto mas havia ainda um espaccedilo que

corresponderia ao seacutetimo A altura dos esteios rondaria aproximadamente aquela

registada nos ortoacutestatos U6 U7 e U8 com cerca de 190 m face agrave base da cacircmara

com cerca de 35 m de largura por 3 m de comprimento (Fig 93 1-2) Agrave sala

funeraacuteria acedia-se por um corredor com cerca de 25 m de comprimento de que

apenas nos chegaram os restos de 2 esteios do lado norte Entre os vaacuterios blocos

observados junto da anta nenhum pareceu corresponder a parte de uma eventual

tampa da cacircmara ou tambeacutem atribuiacutevel a um lintel do corredor

Espoacutelio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 151 de 415

O espoacutelio recolhido (Fig 94-105) proveacutem essencialmente do interior da

cacircmara mas tambeacutem de alguns contextos remexidos daquela e depositados no seu

exterior essencialmente a oeste-sudoeste e sul

Dentro da cacircmara o espoacutelio das unidades U34 U17 U18 e U56 mais

encostadas aos esteios remanescentes (U6 U7 U8 e U9) apresentava-se melhor

preservado sendo aiacute que se identificaram tambeacutem as maiores concentraccedilotildees de

ossos nomeadamente o ossaacuterio da U34 De certa forma agrave camada amarela nas suas

diversas tonalidades (U34 U20 U23 U54 mas tambeacutem os contextos similares

descritos por G Marques) corresponde o grosso das deposiccedilotildees funeraacuterias sobre as

quais se realizaram mais tarde aquelas com ceracircmica campaniforme ndash de facto ainda

que se tenham recolhido fragmentos normalmente pequenos de ceracircmicas

campaniformes no acircmago daquela camada a maioria dos grandes fragmentos foi

recolhida nas camadas superficiais acastanhadas ou na transiccedilatildeo para o estrato

inferior Uma explicaccedilatildeo para a sua presenccedila mais aprofundada poderaacute relacionar-se

com a acccedilatildeo escavadora dos animais jaacute referida atraacutes causando a migraccedilatildeo de

pequenos elementos ndash por exemplo em U34 o ossaacuterio considerado relativamente

preservado em Q C6 natildeo se recolheu qualquer fragmento de ceracircmica

campaniforme Outro detalhe importante eacute a maioria desses pequenos fragmentos em

cotas mais baixas corresponderem agrave teacutecnica impressa essencialmente no estilo

internacional Mas esta impressatildeo necessita de uma afericcedilatildeo mais cuidada para a

qual as largas centenas de restos fauniacutesticos recolhidas ainda em fase de estudo

tambeacutem poderatildeo contribuir

O espoacutelio antropoloacutegico revelou-se abundante isto se considerarmos que

apenas se escavou mais ou menos integralmente a base do quadrante noroeste No

entanto uma primeira anaacutelise da informaccedilatildeo das intervenccedilotildees anteriores permitiu

verificar que outras concentraccedilotildees oacutesseas do mesmo cariz se registaram nos

quadrantes nordeste este e sudoeste da cacircmara nesta uacuteltima aacuterea correspondendo

sobretudo agraves quadriacuteculas E5 e E6 A projecccedilatildeo possiacutevel dessa distribuiccedilatildeo decorre

ainda mas eacute possiacutevel verificar um padratildeo semelhante para os artefactos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 152 de 415

Aleacutem dos restos fauniacutesticos tambeacutem se recolheu cerca de duas dezenas de

gracircnulos de carvotildees sobretudo inseridos nas unidades amareladas Infelizmente

nada se pode adiantar pois ainda se aguarda o seu estudo

O conjunto de artefactos recolhidos na anta revelou-se surpreendentemente

limitado quando comparado com os restos osteoloacutegicos humanos e fauniacutesticos mas

tambeacutem com certas categorias de espoacutelio identificadas noutros sepulcros

aparentemente contemporacircneos designadamente nas antas de Monte Abraatildeo e

Casaiacutenhos

O conjunto da pedra lascada para aleacutem de algumas lascas em siacutelex e poucas

em quartzo apresenta um grupo diverso de artefactos mas em nuacutemero reduzido de

unidades exceptuando talvez as lacircminas ovoacuteides (Fig 94-95)

Os 9 fragmentos de lacircminas todos de siacutelex mas alguns de pequena dimensatildeo

parecem corresponder sobretudo a peccedilas espessas e relativamente largas ndash o maior

exemplar deveria corresponder agrave lacircmina HC1131 com um retoque invasor bem

marcado No entanto algumas delas curiosamente as menos espessas apresentam um

retoque mais localizado e marginal Um uacutenico exemplar proximal natildeo apresentava

retoque (HC321)

Natildeo foram recuperadas lamelas mas junto de um dos geomeacutetricos foi

recolhido um nuacutecleo em quartzo leitoso (HC1123) para a extracccedilatildeo desses pequenos

produtos alongados

Registaram-se 2 geomeacutetricos trapezoidais sobre lacircmina (HC1121 e 1122)

curiosamente ambos na base da cacircmara ainda que em pontos distintos (Fig 94)

As pontas de seta todas em siacutelex limitam-se a 5 exemplares trecircs deles com

bases convexas duas triangulares (HC1126 e 1127) e uma ligeiramente pedunculada

(HC1128) Outra apresenta uma base cocircncava (HC138) Haacute ainda um fragmento

mesial em siacutelex (HC131) que corresponderaacute a uma ponta de seta mas eacute de difiacutecil

classificaccedilatildeo

O grupo de 5 lacircminas ovoacuteides eacute relativamente numeroso (Fig 95) quando

comparado com outros conjuntos funeraacuterios ortostaacuteticos Seguindo a proposta de S

Forenbaher (1999 p 84) ainda que simplificada duas peccedilas (HC320 e 802) satildeo do

tipo ovalado e outras duas (HC313 e 801) subrectangulares Uma quinta peccedila

(HC129) apresenta um formato ovalado mas com uma espeacutecie de alongamento para

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 153 de 415

eventualmente facilitar o seu encabamento Lembra de alguma forma a peccedila votiva

em calcaacuterio das grutas do Poccedilo Velho (Gonccedilalves 2005 fig 1234) Haacute ainda dois

fragmentos com retoque bifacial (HC3144 e HC311) que poderatildeo corresponder a

outras duas peccedilas ovoacuteides hoje perdidas No entanto estes mesmos fragmentos

poderiam corresponder a grandes pontas bifaciais do tipo lanccedila punhal ou alabarda

de outro modo ausentes nesta anta

Finalmente entre as lascas e restos de talhe identificam-se algumas peccedilas

retocadas nomeadamente dois possiacuteveis furadores um em siacutelex (HC1133) e outro

em quartzo (HC811) e um raspador em siacutelex (HC174)

Durante os trabalhos de 2005-2006 a observaccedilatildeo de largas centenas de pedras

pequenas e grandes natildeo conduziu agrave identificaccedilatildeo de qualquer elemento liacutetico

afeiccediloado nomeadamente percutores e elementos de moagem Assim apenas se

conhece um percutor esferoidal em calcaacuterio cristalino recolhido em 1993 e um seixo

com sinais de percussatildeo (HC0673) da campanha de 1998 e um fragmento de

movente em arenito tambeacutem recolhido em campanhas anteriores

O grupo dos utensiacutelios de pedra polida tambeacutem se apresenta limitado mas

neste caso tal situaccedilatildeo eacute recorrente noutros conjuntos sepulcrais da regiatildeo Foram

recolhidas apenas duas enxoacutes uma de anfibolito (HC310) e outra de xisto (HC799)

mas ambas com gumes intactos ndash a primeira apresenta uma secccedilatildeo poligonal

achatada e a segunda peccedila uma secccedilatildeo ovalada achatada O outro instrumento

originalmente um provaacutevel machado de anfibolito (HC445) encontrava-se quebrado

longitudinalmente e utilizado como percutor em ambos os topos (Fig 96)

Aleacutem dos utensiacutelios polidos referidos recolheu-se uma pequena vareta (Fig

104 10) talvez um pequeno punccedilatildeo ou furador realizado sobre uma rocha xistosa de

dureza assinalaacutevel onde eacute possiacutevel observar numa das faces o serrilhado da sua

extracccedilatildeo Finalmente recolheu-se um provaacutevel fragmento mesial de braccedilal de

arqueiro (HC449) ainda que sem os orifiacutecios que garantam com maior fiabilidade

esta interpretaccedilatildeo (104 6)

Foram recolhidos pelo menos 16 artefactos votivos em calcaacuterio (Fig 97-98)

Destes 12 enquadram-se no grupo dos iacutedolos cilindroacuteides ainda que um deles se

aproxime do formato afuselado (HC383) Aleacutem dessa particularidade apenas um

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 154 de 415

pequeno cilindro com um perfil romboacuteide apresentava uma gravaccedilatildeo com pares de

ldquoolhosrdquo e ldquotatuagensrdquo (HCF8-34)

Um dos dois iacutedolos com formato afuselado apresenta gravaccedilatildeo com as linhas

horizontais no topo e base (HC385) comuns neste tipo de peccedila mas tambeacutem um par

de possiacuteveis orifiacutecios oculares Dois outros orifiacutecios no topo do betilo colocam a

possibilidade de terem sido realizados para colocaccedilatildeo de um qualquer penacho de

material pereciacutevel isto se for aceite o posicionamento proposto por J Cardoso

(1995) para a deposiccedilatildeo deste tipo de peccedila O outro iacutedolo natildeo apresenta qualquer tipo

de gravaccedilatildeo

Aleacutem do artefactos idoliformes enumerados recolheu-se em 1992 um iacutedolo-

pinha (Fig 89 3 98 4 AGMarques) infelizmente hoje natildeo localizado com um

padratildeo de decoraccedilatildeo muito semelhante ao encontrado na anta de Casaiacutenhos

(Cardoso Gonzalez e Cardoso 2001-02) distinguindo-se apenas pela ausecircncia do

serpentiforme Curiosamente ambas as peccedilas foram recolhidas na aacuterea de entrada

das respectivas cacircmaras funeraacuterias

No acircmbito dos recipientes em calcaacuterio recolheram-se alguns fragmentos pelo

menos de um pequeno vaso com sulco no bordo (HC454) e talvez do mesmo

artefacto mas sem colagem evidente um pedaccedilo do fundo

Finalmente poderaacute incluir-se neste conjunto votivo um pequeno iacutedolo de gola

em osso e sem qualquer decoraccedilatildeo (Fig 104 11 HC314)

Deve anotar-se a aparente ausecircncia de iacutedolos-placas em xisto ou arenito nesta

anta quando eacute recorrente a sua presenccedila ainda que minoritaacuteria noutros sepulcros

coevos Apenas um diminuto fragmento de xisto negro (HC664) foi recolhido em

contexto perturbado No entanto este poderaacute corresponder somente agrave mateacuteria-prima

utilizada nas contas de colar em xisto estas bastante abundantes na anta

Os aparentes utensiacutelios em osso resumiram-se a um cabo (HC1236) e um

furador em osso (HCC5-10)

Entre os elementos de adorno regista-se um alfinete quase completo com

cabeccedila simples (HC806) e mais alguns fragmentos de hastes Recolheram-se ainda

vaacuterios bototildees do tipo tartaruga (HC803 e HC1237 muito semelhantes e HC805)

Outros dois tambeacutem de tipologia similar apresentam as aletas trapezoidais

decoradas com pequenas incisotildees (HC306 e HC430) Outro com um formato coacutenico

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 155 de 415

perdeu-se em 1991 Todos apresentam a tiacutepica perfuraccedilatildeo em ldquoVrdquo mas num caso

(HC805) a perfuraccedilatildeo teraacute sido tentada pelo menos duas vezes pois observam-se 3

perfuraccedilotildees (Fig 104 3) Com excepccedilatildeo dos bototildees encontrados fora da cacircmara ou

em contexto mais revolto os restantes foram recolhidos nas aacutereas com maior

concentraccedilatildeo de ceracircmica campaniforme

Finalmente as contas de colar inclusive algumas encontradas ainda alinhadas

destacam-se pelo seu nuacutemero abundante ndash cerca de duas centenas ndash ainda que um

putativo colar pudesse englobar boa parte delas numa soacute peccedila Estas obtidas a partir

de conchas e rocha xistosa negra apresentam uma morfologia discoidal Outro

conjunto de contas com formatos discoacuteide globular e tubular foi realizado sobre

pedra verde

Natildeo haacute registo de qualquer peccedila em metal recolhida nesta anta excepto um

elemento de sacho em ferro de cronologia recente

Os fragmentos ceracircmicos revelaram-se abundantes perfazendo vaacuterias dezenas

de recipientes podendo repartir-se por trecircs grupos com caracteriacutesticas especiacuteficas

(Fig 99-103)

Registam-se ceracircmicas com decoraccedilatildeo campaniforme impressa nomeadamente

do estilo internacional e do estilo ldquoPalmelardquo e incisa com vasos acampanados e

taccedilas com bordo espessado Apesar de ainda natildeo estar concluiacuteda a anaacutelise

microespacial estes elementos juntamente com os bototildees parecem surgir sobretudo

nos estratos superficiais tendo sido recolhidos apenas pequenos fragmentos na base

da cacircmara

Outro conjunto eacute o dos recipientes com incisotildeescaneluras junto ao bordo

sobretudo representado por taccedilas de vaacuterias dimensotildees mas tambeacutem por um talvez

dois pequenos copos

Um grupo de recipientes de diversas tipologias com uma definiccedilatildeo

cronoloacutegica preacute-histoacuterica menos concreta eacute composto por taccedilas e vasos de vaacuterias

dimensotildees mas essencialmente sem qualquer tipo de decoraccedilatildeo muito semelhantes

ao conjunto recolhido em Casaiacutenhos Aliaacutes a situaccedilatildeo de empilhamento de

recipientes detectada nesta anta foi tambeacutem detectada em Carcavelos sob o esteio

U4

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 156 de 415

Aleacutem dos materiais atribuiacuteveis agrave utilizaccedilatildeo genericamente ldquooriginalrdquo da anta

recolheram-se ainda fragmentos de ldquotelha lusitanardquo e de ceracircmicas vidradas e

faianccedila

Segundo G Marques (AGMarques) o espoacutelio recolhido por ele na anta

corresponderia a pelo menos trecircs momentos cronoloacutegicos um inicial o ldquoNeoliacutetico

IIrdquo um meacutedio o ldquoNeoliacutetico IIIrdquo e o ldquoCalcoliacuteticoCampaniformerdquo Os vasos

ceracircmicos simples sem decoraccedilatildeo mas tambeacutem alguns com caneluras um

geomeacutetrico um nuacutecleo de lamelas poderiam relacionar-se com o primeiro momento

seguido de um segundo ligado aos artefactos votivos em calcaacuterio Finalmente a

ceracircmica campaniforme marcaria as uacuteltimas deposiccedilotildees Apesar da perspectiva

datada e de alguma forma linear o arquitecto tinha consciecircncia do revolvimento dos

estratos nalgumas aacutereas escavadas mas porque seguia o paradigma da Lapa do Fumo

(Serratildeo e Marques 1971) procurava adaptar a realidade da anta agravequela leitura

Natildeo obstante apesar das limitaccedilotildees mencionadas atraacutes eacute possiacutevel definir entre

o espoacutelio recolhido alguns momentos de utilizaccedilatildeo e inclusivamente realccedilar a

tendecircncia para as ceracircmicas campaniformes nos estratos superficiais Os artefactos

de calcaacuterio a ceracircmica com caneluras e as lacircminas ovoacuteides encontram-se sobretudo

na camada amarelada Ainda na base dessa camada surgiram os elementos

aparentemente mais arcaicos nomeadamente os geomeacutetricos o nuacutecleo de lamelas

algumas lacircminas e uma das enxoacutes

A avaliaccedilatildeo do espoacutelio descrito permite entatildeo apontar para uma provaacutevel

utilizaccedilatildeo inicial desta anta nos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane A intensificaccedilatildeo

do uso daquele espaccedilo teraacute ocorrido possivelmente entre 3000 e 2600 ane o que

parece reforccedilado natildeo soacute pelo espoacutelio mas tambeacutem pelas duas dataccedilotildees de

radiocarbono obtidas ateacute o momento sobre ossos humanos uma sobre um feacutemur de

adulto (Beta-208518) apontando o intervalo de 3020-2700 cal BCE e outra (Beta-

225170) sobre uma mandiacutebula de adulto entre 2880-2580 cal BCE

A presenccedila de ceracircmica de estilo campaniforme nos estratos superficiais da

anta parece denunciar o prolongamento da sua utilizaccedilatildeo durante os meados e a

segunda metade do 3ordm mileacutenio ane

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 157 de 415

416 Os sepulcros de Verdelha do Ruivo

O vale de Verdelha do Ruivo7 por onde corre a Ribeira da Carvalha regista no

seu acircmbito vaacuterios siacutetios com ocupaccedilotildees atribuiacuteveis aos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane (Fig

28 North Boaventura e Cardoso 2005) nomeadamente as antas de Casal do Penedo

(CNS- 656 Vaultier amp Zbyszweski 1951) e Monte Serves (CNS- 4792 North

1973) Aleacutem daqueles testemunhos haacute que registar a presenccedila da gruta-necroacutepole de

Verdelha dos Ruivos (CNS ndash 12825 Leitatildeo et al 1984) localizada a poente e nas

proximidades da ocupaccedilatildeo habitacional que ali teraacute ocorrido e que o silo do Casal do

Penedo eacute um dos uacuteltimos vestiacutegios (Zbyszweski et al 1976) Para melhor

clarificaccedilatildeo daquelas duas realidades R Parreira (1985) designou-as

respectivamente de Pedreira do Casal do Penedo 2 e 1 Curiosamente de iniacutecio O

V Ferreira (1975 nota 4) descrevia a primeira como gruta artificial impressatildeo

mantida posteriormente mas matizada por R Parreira (1985) como gruta afeiccediloada

4161 Casal do Penedo

A anta do Casal do Penedo teraacute sido identificada ainda por C Ribeiro no

seacuteculo XIX pois segundo M Vaultier e G Zbyszewski (1951 p 17) jaacute surgia

indicada nas minutas dos levantamentos geoloacutegicos por ele produzidas Contudo

apesar de aqueles autores em 1941 terem visitado o sepulcro juntamente com R

Matos e A M Nogueira soacute em 1946 procederam agrave sua escavaccedilatildeo por receio da sua

destruiccedilatildeo depois de P C Deus ter verificado que habitantes locais tinham cavado

na anta em busca de tesouros (Vaultier e Zbyszweski 1951) Assim os trabalhos de

escavaccedilatildeo realizaram-se em Fevereiro durante 5 dias com pessoal dos Serviccedilos

Geoloacutegicos orientado pelos referidos autores

Entretanto o casal Leisner tambeacutem teraacute visitado o sepulcro no dia 31 de

Janeiro de 1944 seguindo o apontamento de C Ribeiro que o denominava ldquoDolmen

de Vialongardquo (ALeisner Leis48) tendo registado os elementos visiacuteveis (Fig 106)

7 Na Carta Militar de Portugal ( ) surge designado por Verdelha do Ruivo apesar de outros documentos referirem ldquoVerdelha dos Ruivosrdquo nomeadamente por O V Ferreira e colaboradores (1984)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 158 de 415

muito semelhantes agrave planta realizada posteriormente com mais elementos pelos seus

escavadores As duas fotos entatildeo obtidas mostram que jaacute naquele ano a anta se

encontrava ameaccedilada pois as lavras realizavam-se ao longo da base de todo o lado

sul da cacircmara Ainda nessas imagens eacute evidente o desniacutevel acentuado onde a anta foi

implantada o que os Leisner esboccedilaram em esquema Curiosamente essa

perspectiva inclinada foi tambeacutem registada mais tarde pelos escavadores pois de

facto eacute uma caracteriacutestica peculiar da implantaccedilatildeo deste sepulcro

Segundo M Vaultier e G Zbyszewski (1951) a anta situava-se a cerca de 300

m a noroeste do Casal homoacutenimo na encosta sul de um cabeccedilo no qual se

detectaram vestiacutegios de ocupaccedilatildeo humana correspondendo agrave aacuterea mais tarde

destruiacuteda pela abertura de uma pedreira clandestina que expocircs o silo referido acima

Esta localizaccedilatildeo coloca a anta na altitude aproximada da curva de niacutevel dos 170

metros

O substrato rochoso de calcaacuterios do Cretaacutecico com calcaacuterios do Cenomaniano

Superior no topo apresentava na aacuterea de implantaccedilatildeo do sepulcro uma inclinaccedilatildeo

bastante acentuada para Sul Segundo os escavadores foi naquelas bancadas que se

extraiacuteram as lajes necessaacuterias para a construccedilatildeo da estrutura Os esteios mais

setentrionais (3 e 4) tinham sido levantados sobre o afloramento inclinado tendo

recebido uma sapata de pedras chatas e terra calcada para estabilizaccedilatildeo Por outro

lado o esteio de cabeceira e o de entrada encontravam-se cravados em aacutereas de

fissuras de rocha alterada Todos os esteios detectados in situ apresentavam-se bem

calccedilados pelo lado interno tendo do lado exterior um anel de pedras que os envolvia

e provavelmente cobria As lajes 2 e 5 estavam deslocadas devendo corresponder

aos espaccedilos vazios detectados ainda com calccedilos respectivamente entre os esteios 1

- 3 e 4 - 6 Assim o sepulcro tinha ainda um esteio de cabeceira (1) ladeado por

outro menor (2) continuado por outras quatro lajes em cutelo (3 4 5 e 6)

funcionado o bloco 7 como elemento de encerramento da entrada (Fig 106 2 e 4)

Apesar de ser uma cacircmara com uma dimensatildeo aproximada em planta de 65

metros de comprimento por 35 metros de largura maacutexima a altura registada para os

esteios de cabeceira (esteio 1) e laterais do lado direito (esteios 3 e 6) que natildeo

aparentavam estar quebrados nos seus topos rondava e natildeo ultrapassava o metro e

meio Como a base dos alveacuteolos da fiada de esteios do lado esquerdo jaacute desaparecida

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 159 de 415

agrave data da intervenccedilatildeo seria com certeza mais baixa por causa da inclinaccedilatildeo acima

referida isso teria implicado lajes mais altas para manter uma cobertura mais ou

menos nivelada se tal desiacutegnio foi considerado importante Aliaacutes ao observar-se as

imagens da intervenccedilatildeo (Vaultier amp Zbyszewski 1951 est II-III) nota-se uma

acentuada assimetria entre o esteio de cabeceira e os laterais sendo visiacutevel que a aacuterea

central da cacircmara tinha sido escavada no subsolo (a referida ldquofosse centralrdquo escavada

entre as duas camadas peacutetreas mais duras) o que aumentava em cerca de meio metro

a altura do espaccedilo sepulcral Assim eacute possiacutevel admitir que este sepulcro teria uma

cacircmara com um tecto relativamente constante entre a cabeceira e a sua entrada ainda

que no seu interior se descesse da entrada para a cacircmara

Extrapolando o nuacutemero e a posiccedilatildeo dos esteios ainda detectados do lado norte

para o sul esta anta apresentaria uma planta trapezoidal constituiacuteda por cerca de 11

esteios sem a diferenciaccedilatildeo clara de um corredor de acesso (Fig 106 1) Nessa aacuterea

de transiccedilatildeo foi detectado um ldquoprismardquo basaacuteltico de secccedilatildeo triangular com cerca de

70 cm de altura cujo espaccedilo entre este e o esteio 6 tinha sido preenchido por um

ldquomureterdquo de pedras chatas para o qual as imagens natildeo satildeo totalmente esclarecedoras

Segundo os escavadores aquilo parecia demarcar da cacircmara principal um pequeno

vestiacutebulo onde se recolheu uma enxoacute (inicialmente designada machado) uma maccedila

(possiacutevel iacutedolo) e um buacutezio (encostado ao esteio 7)

Apoacutes a retirada do coberto vegetal a escavaccedilatildeo iniciou-se com duas sondagens

no vestiacutebulo e na aacuterea A ao longo do esteio 2 No primeiro local recolheu-se a

referida maccedila e uma enxoacute Junto ao esteio 2 algumas ossadas e fragmento ceracircmico

Seguidamente avanccedilou-se na aacuterea D (entre os elementos 5 8 9 e 6) para

depois se estender para uma vala entre 5 e 1 a uma profundidade de 20-30 cm No

ponto A foram recolhidos 4 cracircnios uns ao lado dos outros separados e cobertos por

pedras Sob eles encontrou-se uma taccedila um cilindro e uma concha de Pecten

maximus e no dia seguinte uma paleta em greacutes

No segundo dia a vala de sondagem entre os pontos A e B foi aprofundada

mais 30 cm tendo sido abertas outras duas valas paralelas ( 8 ) agrave primeira

Entretanto sondou-se o ponto C (entre as lajes 1 2 e 3) verificando-se que tinha

sido mexido recolhendo-se apenas ceracircmica decorada contas de colar e ldquocendresrdquo 8 A descriccedilatildeo natildeo eacute clara acerca da sua posiccedilatildeo mas pelas informaccedilotildees posteriores no texto faz algum sentido uma estrateacutegia daquele tipo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 160 de 415

(presumo que se refere a restos mortais isto eacute ossos e poacute de ossos e natildeo cinzas

como a traduccedilatildeo tambeacutem admite)

Nas valas realizadas recolheram-se fragmentos de siacutelex uma ponta de seta e

um trapeacutezio

No terceiro dia a escavaccedilatildeo avanccedilou na parte central H (A ou B) delimitada

pelas valas abertas na veacutespera recolhendo-se contas siacutelex dois fragmentos de

lacircminas e um pedaccedilo de moacute dormente em greacutes

No dia seguinte toda a cacircmara eacute aprofundada em extensatildeo recolhendo-se uma

lacircmina de siacutelex outra enxoacute (sob a laje 5) e 28 contas na maioria de xisto e uma de

ldquocalaiacuteterdquo

O uacuteltimo dia concluiu-se com a retirada de terras atingindo o substrato

calcaacuterio recolhendo-se ainda alguns fragmentos de siacutelex apoacutes remoccedilatildeo da laje 5

Realizou-se ainda uma vala de sondagem na aacuterea provaacutevel de implantaccedilatildeo dos

esteios do lado Sul mas nada foi detectado Por fim procurou-se estabilizar os

esteios da anta reforccedilando-os com anteparas de pedra

Segundo os escavadores todas as terras da escavaccedilatildeo foram crivadas agrave medida

que eram retiradas tendo-se recolhido ainda dessa actividade algum espoacutelio liacutetico

ceracircmico e osteoloacutegico

Assim aleacutem do espoacutelio mencionado atraacutes a listagem final refere a presenccedila

vaacuterias lascas em siacutelex e quartzo e um nuacutemero mais elevado de contas num total de

51 ndash 45 em xisto 3 em ldquocalaiacuteterdquo 2 troccedilos perfurados em calcaacuterio e uma conta

troncocoacutenica em ceracircmica (parecendo imitar aquelas de anfibolito) Para aleacutem da

taccedila encontrada em A indica-se a presenccedila de ceracircmica campaniforme que deveraacute

corresponder pelo menos a alguma da ldquoceramique orneacuteerdquo recolhida no ponto C

junto com contas

O material malacoloacutegico (Fig 107-108) resume-se agrave concha de Pecten

maximus ao buacutezio e a inuacutemeras conchas de Tapes decussatus ainda que para estas

uacuteltimas se admitisse poder resultar da remobilizaccedilatildeo atraveacutes da encosta de detritos

provenientes do povoado localizado no topo do relevo onde tambeacutem se avistavam

Aponta-se ainda um pequeno dente de espariacutedeo (pargo) e alguns elementos

de cabra ou ovelha natildeo foram relocalizados durante a revisatildeo do espoacutelio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 161 de 415

Finalmente a partir dos restos osteoloacutegicos humanos recolhidos bastante

fragmentados os autores apontaram um nuacutemero miacutenimo de 9 indiviacuteduos alguns

deles correspondendo a crianccedilas Aquele valor baseou-se nos ossos dos peacutes e matildeos

(vaacuterias centenas) mas salientava-se ainda a existecircncia de 10 fragmentos de

extremidade distal de uacutemeros e 417 dentes humanos alguns deles de leite Por

vicissitudes museoloacutegicas ou outras desconhecidas este registo jaacute natildeo correspondia

ao verificado durante o estudo antropoloacutegico

No Museu Geoloacutegico foi possiacutevel identificar a maioria dos objectos e

artefactos listados (Fig 107) A excepccedilatildeo regista-se com o percutor de quartzito

ainda por localizar bem como para a colecccedilatildeo osteoloacutegica que se encontrava

integrada sob a mesma designaccedilatildeo ldquoCasal do Penedordquo com os restos da gruta-

necroacutepole de Verdelha dos Ruivos (Pedreira de Casal do Penedo 2) e do silo

(Pedreira de Casal do Penedo 1)

Felizmente porque os materiais se mantinham mais ou menos agrupados por

caixas ou sacos ainda por limpar a separaccedilatildeo dos dois conjuntos osteoloacutegicos foi

alcanccedilada com seguranccedila servindo os sedimentos ainda agarrados aos ossos e

algumas marcaccedilotildees nos ossos como elemento de confirmaccedilatildeo O espoacutelio do Casal do

Penedo apresentava um sedimento avermelhado na maioria das situaccedilotildees

concrecionado resultando em ossos com aquela tonalidade como por exemplo a

calote craniana 1776123 peccedila apresentada pelos autores como uma das mais

completas (Vaultier amp Zbyszweski 1951 est IX 28) ndash este sedimento resultando

da erosatildeo natural eacute ainda hoje visiacutevel na aacuterea onde se situaria a anta Os restos

oacutesseos da gruta-necroacutepole de Verdelha dos Ruivos surgiam com um sedimento

branco tipo cal apresentando-se com uma tonalidade amarelada paacutelida e nalguns

com marcaccedilotildees de ldquosepulturardquo (H-2 H-16 etc) Tal sedimento eacute ainda hoje

observaacutevel no remanescente do referido sepulcro Contudo apesar do sucesso desta

anaacutelise soacute foi possiacutevel localizar cerca de metade do nuacutemero de dentes entatildeo

recolhidos na anta

O espoacutelio recolhido e caracterizaacutevel da anta parece evidenciar uma utilizaccedilatildeo

funeraacuteria inicial algures entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane de que os

geomeacutetricos poderatildeo ser testemunho Mas parece ser na primeira metade do 3ordm

mileacutenio que o uso deste sepulcro teraacute sido intensificado o que parece reforccedilado por

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 162 de 415

algum espoacutelio (lacircmina ovoacuteide iacutedolo calcaacuterio e pontas de seta) e duas dataccedilotildees

idecircnticas (Anexo 3 Quadro 2) sobre 2 feacutemures direitos de indiviacuteduos distintos

situando pelo menos duas das deposiccedilotildees (Beta-229585 e Beta-234134) entre 3020-

2760 cal BCE (com 898 de probabilidade restringe-se a 3020-2860 cal BCE)

Finalmente a presenccedila de ceracircmica campaniforme impressa em bandas e no

estilo Palmela (cariz internacional e regional) num aparente contexto intrusivo (no

ponto C) parece determinar um momento final de uso da anta nos meados e segundo

quartel 3ordm mileacutenio ane Claro estaacute para este balizamento haacute que recordar as

deposiccedilotildees realizadas no cimo do cabeccedilo na gruta-necroacutepole a pouco mais de uma

centena de metros da anta datando-se entre o segundo quartelmeados e a segunda

metade do mileacutenio (Cardoso e Soares 1990-92 Anexo 3 Quadro 2) Naquela

necroacutepole os seus escavadores realccedilavam que ldquoJust as important as the actual finds

made at Verdelha dos Ruivos is the material which did not appear here no bone

borers microliths or flint arrowheads of any kind no large flint blades or daggers

no axes adzes (hoes) gouges or chisels no schist plaques pendants large

greenstone beads or discoidal schist beads and no decorated Neolithic pottery or

clay spoons (hellip)rdquo (Leitatildeo et al 1984 p 224)

R Harrison (1977 p 142) enumera no seu inventaacuterio de siacutetios com espoacutelio

campaniforme para aleacutem da anta de Casal do Penedo (SN 61) um segundo ldquosmall

megalithic graverdquo (SN 60) natildeo publicado e depositado no Museu Geoloacutegico em

Lisboa Este siacutetio eacute posteriormente referido por R Parreira (1985 p 111) no seu

inventaacuterio do patrimoacutenio de Vila Franca de Xira em observaccedilotildees referentes agrave anta

Contudo durante a anaacutelise do inventaacuterio do Museu Geoloacutegico natildeo se detectou

qualquer conjunto diferenciado o que poderia ter sido resultado da homogeneizaccedilatildeo

das colecccedilotildees por topoacutenimo jaacute mencionada Mas ao comparar-se as descriccedilotildees das

ceracircmicas campaniformes para os dois siacutetios de R Harrison (SN60 e SN61) eacute

possiacutevel verificar que estas no seu todo correspondem agravequelas recolhidas na anta de

Casal do Penedo e publicados por M Vaultier e G Zbyszweski (1951) e

seguidamente desenhadas por V Leisner (1965 taf 14) Assim julgo que poderaacute

ficar resolvida a duacutevida suscitada por R Harrison

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 163 de 415

4162 Monte Serves

Monte Serves eacute o outro sepulcro ortostaacutetico do tipo anta que se regista na aacuterea

de Verdelha do Ruivo Apesar de ser brevemente referido em vaacuterias trabalhos

(Ferreira 1975 Zbyszweski et al 1977 p 224 Parreira 1985) inclusive

anunciando-se a sua publicaccedilatildeo (Zbyszewski et al 1981 p 114) soacute recentemente

esta se concretizou com base no relatoacuterio produzido C North (1973 North

Boaventura e Cardoso 2006)

O sepulcro foi detectado durante os levantamentos geoloacutegicos da regiatildeo de

Vila Franca de Xira por O V Ferreira No seguimento dessa descoberta C T North

requereu a autorizaccedilatildeo para proceder agrave sua escavaccedilatildeo em Marccedilo de 1972 decorrendo

os trabalhos durante os dias 30 de Setembro e 1 de Outubro do mesmo ano com a

colaboraccedilatildeo de G Zbyszweski O V Ferreira M Leitatildeo H R Sousa J Norton e J

Paulino (North 1973)

O sepulcro situa-se num ponto de cumeada com a cota de 311 metros de

altitude a cerca de 1300 metros para norte da anta de Casal do Penedo Apesar de se

assemelhar a outros montiacuteculos em redor o facto de apresentar no cimo alguns topos

de lajes em cutelo orientadas perpendicularmente agraves camadas naturais facilitou a

sua detecccedilatildeo (Fig 110 2)

A escavaccedilatildeo da estrutura realizou-se por camadas artificiais em meacutedia de 15

cm ateacute uma profundidade de 50 centiacutemetros onde segundo o relatoacuterio (North 1973)

surgiu uma camada de pequenas lajes que cobriam todo o tuacutemulo e interpretadas

como restos de falsa cuacutepula Contudo esta hipoacutetese eacute difiacutecil de sustentar pois apoacutes a

consulta das imagens disponiacuteveis as referidas lajetas natildeo se apresentavam em

quantidade suficiente para fazer parte de tal construccedilatildeo Poderatildeo sim eventualmente

ser apenas pedras caiacutedas para dentro do espaccedilo interno depois de ter perdido a sua

cobertura ou como algum tipo de selagem dos depoacutesitos funeraacuterios que se estenderia

desde a entrada A cobertura jaacute desaparecida e em consonacircncia com estruturas

semelhantes teria sido ortostaacutetica

Soacute a cerca de 90 cm de profundidade se detectaram alguns vestiacutegios de

deposiccedilatildeo funeraacuteria nomeadamente alguns fragmentos de ossos em mau estado de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 164 de 415

conservaccedilatildeo proacuteximo do esteio 5 nomeadamente de raacutedio e uacutemero (Fig 110 3) Na

aacuterea da entrada registou-se ainda fragmentos de cracircnio e alguns dentes e 10 cm

abaixo mais outros segmentos de braccedilo Proacuteximo do esteio de cabeceira verificou-se

ainda um pedaccedilo de tiacutebia Estes vestiacutegios foram interpretados como um uacutenico

possiacutevel enterramento

Aleacutem dos restos osteoloacutegicos encontrou-se apenas ldquodois fragmentos

inclassificaacuteveis de siacutelex alguns restos de corantes e um fragmento de carvatildeordquo

(North 1973) Infelizmente natildeo foi possiacutevel relocalizar no Museu Geoloacutegico

nenhum dos elementos referidos no relatoacuterio registando-se no seu inventaacuterio com o

topoacutenimo ldquoMonte Servesrdquo apenas a referecircncia a peccedila liacutetica recolhida na encosta

atribuiacuteda ao Paleoliacutetico e tambeacutem essa agora extraviada

A planta do sepulcro (Fig 109) apresentava um formato trapezoidal alongado

constituiacuteda por 9 esteios imbricados e ligeiramente inclinados para sul e estreitando

para a entrada onde a evidecircncia de corredor estaacute ausente (Fig 110 4) Os esteios de

calcaacuterio do Cenomaniano disponiacutevel no substrato imediato rondam e natildeo

ultrapassam um metro de altura apesar de diminuiacuterem ligeiramente de tamanho na

direcccedilatildeo da entrada A cacircmara teria cerca de dois metros de comprimento por cerca

de um metro e vinte de largura maacutexima Os ortoacutestatos encontravam-se calccedilados pela

face interna com pequenas pedras devendo o seu exterior natildeo sondado ser

constituiacutedo por um anel peacutetreo que os consolidaria e circundaria Esta assumpccedilatildeo

baseia-se na secccedilatildeo da entrada onde era visiacutevel uma camada de pedras atraacutes do bloco

7 (Fig 110 4 que corresponderaacute agravequele anel e que ali tinha pressionado o seu

desvio e inclinaccedilatildeo Actualmente jaacute natildeo eacute possiacutevel observar este bloco in situ

Na parte traseira da cabeceira foi afixada com cimento uma laje de maacutermore

com a identificaccedilatildeo do sepulcro bem como implantado um curto periacutemetro com

correntes o que teraacute contribuiacutedo para a sua salvaguarda

A anta de Monte Serves eacute a vaacuterios niacuteveis um tipo de sepulcro ortostaacutetico

singular na regiatildeo de Lisboa primeiro pelas suas dimensotildees reduzidas quando

comparado com os restantes monumentos verdadeiramente megaliacuteticos Por outro

lado apresenta aquilo que parece ser um tumulus relativamente bem preservado

quando nos restantes essa estrutura quase natildeo eacute visiacutevel por ter desaparecido ou

nunca ter existido Finalmente o seu escasso e incaracteriacutestico espoacutelio e possiacutevel

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 165 de 415

inumaccedilatildeo que poderia ser atribuiacuteda hipoteticamente a um momento antigo do 4ordm

mileacutenio ane quiccedilaacute dos seus meados

Resulta ainda digno de nota que ambos os sepulcros Casal do Penedo e Monte

Serves apesar das distintas dimensotildees apresentem plantas similares (Fig 110 5

126) de formato trapezoidal sem aparente corredor ainda que pouco mais se possa

adiantar acerca por ora pois natildeo eacute possiacutevel apurar uma cronologia ldquofinardquo para o

segundo monumento

417 Arruda

A intervenccedilatildeo da anta da Arruda (CNS ndash 2237) eacute mais um caso de precocidade

das intervenccedilotildees arqueoloacutegicas na regiatildeo de Lisboa

Em 1897 P Belchior da Cruz daacute conta em O Arqueoacutelogo Portuguecircs de uma

notiacutecia do jornal O Seacuteculo do dia 25 de Fevereiro daquele ano que apelava agrave

intervenccedilatildeo das autoridades acerca do aparecimento de vaacuterios vestiacutegios

possivelmente romanos num siacutetio denominado ldquoAntasrdquo proacuteximo de Arruda do

Vinhos referindo-se ainda que ldquopelos matos tem apparecido varias especies de

dolmensrdquo (Cruz 1897) Esta informaccedilatildeo teraacute chamado a atenccedilatildeo de J L

Vasconcelos que em Abril procedeu a uma ldquoexcursatildeo aacute Arrudardquo para avaliaccedilatildeo das

ldquoantasrdquo (Vasconcelos 1915 p 318) suscitando o seu interesse em escavar a anta ali

identificada

A visita e o interesse de J L Vasconcelos confirmam-se tambeacutem pela

correspondecircncia do meacutedico de Arruda dos Vinhos Tito de Bourbon e Noronha

notaacutevel local que atentamente registava e comunicava ao seu amigo arqueoacutelogo as

antiguidades da regiatildeo Assim em carta de 13 de Abril de 1897 informa J L

Vasconcelos da recolha de ldquoum machado de pedra muito perfeito encontrado no

logar das antasrdquo manifestando a sua inteira disponibilidade para o receber sempre

que lhe aprouvesse (Noronha 1897a) Tal oportunidade parece ter surgido em 13 de

Junho daquele ano mas a acccedilatildeo teve que ser adiada pois nesse dia de Domingo

comemorava-se o Santo Antoacutenio e ldquonatildeo se podem arranjar os homens precisos o

nosso povinho pella-se por uma festinhardquo (Noronha 1897b)

Soacute no ano seguinte se concretizou a intervenccedilatildeo pretendida cerca de dezasseis

meses depois da primeira tentativa durante o fim-de-semana de 28 e 29 de Outubro

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 166 de 415

(Vasconcelos 1898) Alguns dias antes a 25 de Outubro T B Noronha informa J

L Vasconcelos dos preparativos ldquoHaacute caacute os crivos escusas de trazer caacute fallo a

alguns homens com as precisas alfaias A occasiatildeo agora eacute boa estaacute bom tempo e

pouco quenterdquo (Noronha 1898a) No entanto os trabalhos natildeo foram completados

naqueles dois dias apesar da notiacutecia de O Seacuteculo do dia 6 de Novembro falar dos

trabalhos como concluiacutedos Havia que repor as terras para salvaguarda do sepulcro

mas de tal natildeo se encontrou notiacutecia confirmando a acccedilatildeo mas tatildeo soacute a referecircncia agrave

sua intenccedilatildeo cerca de um mecircs mais tarde (27 de Novembro) por causa das chuvas

ldquoO Joseacute Romatildeo estaacute aacute espera de occasiatildeo para laacute ir e eu um drsquoestes dias passando

pelo Casal pedi aos homens que se removessem alguma terra para dentro da anta

como tencionam o fizessem com a maacutexima cautella e procurassem bem a ver se

encontravam qualquer objecto mesmo pequenordquo (Noronha 1898b)

Estranhamente o relatoacuterio referente agravequela intervenccedilatildeo nunca chegou a ser

publicado por J L Vasconcelos apesar da notiacutecia de O Seacuteculo (6Nov1898) o

anunciar e aquele arqueoacutelogo ter produzido um manuscrito preliminar para esse fim

Soacute anos mais tarde faz breve menccedilatildeo agrave intervenccedilatildeo da anta na Histoacuteria do Museu

Etnoloacutegico (1915 p 175 318 320) Os motivos para tal poderatildeo dever-se aos fracos

resultados da exploraccedilatildeo na opiniatildeo do seu escavador apesar de publicamente

destacar as ldquoduas esplecircndidas lanccedilas de siacutelex inteiras as quaes (hellip) soacute por si

compensam do rude trabalho que teverdquo (O Seacuteculo 1898) Contudo a falta de tempo

causada pelas diversas viagens que empreendeu durante os anos seguintes

nomeadamente pela Europa em 1899 e 1901 durante as quais concluiu o seu

doutoramento em Franccedila poderaacute tambeacutem ter sido um factor importante

Entretanto na deacutecada passada o referido manuscrito foi parcialmente

publicado por J L Gonccedilalves (1995) com partes significativas do texto bem como

os esboccedilos da planta e da secccedilatildeo da anta constantes no caderno de campo daquela

intervenccedilatildeo Contudo porque algumas passagens natildeo estatildeo completas apresenta-se

em Anexo 8 a transcriccedilatildeo integral da informaccedilatildeo do caderno de campo e do

manuscrito bem como os desenhos realizados

Jaacute anteriormente no acircmbito dos trabalhos do casal Leisner a anta da Arruda

teve parte do espoacutelio estudado e a sua planta apresentada (Fig 113 1 Leisner 1965

p 17-18 e taf 13) Contudo a planta difere no seu formato daquela registada

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 167 de 415

originalmente no caderno de campo de J L Vasconcelos (1898) Apesar de

apresentarem quase o mesmo nuacutemero de esteios (doze contra treze de J L

Vasconcelos) as plantas mostram uma cacircmara poligonal alongada (ainda que uma

delas com o canto Oeste mais anguloso aproximando-se da versatildeo alematilde) enquanto

aquela de V Leisner (1965 taf 13) surge com um formato trapezoidal assimeacutetrico a

partir da qual teraacute sido levantado um alccedilado da anta visto de oeste-sudoeste (Fig

111-112)

Curiosamente J L Vasconcelos (1898) refere no seu manuscrito que a planta

que iria apresentar se baseava em desenho de T Noronha o que natildeo foi possiacutevel

perceber totalmente pois as duas plantas do caderno de campo bem como outros

apontamentos soltos eram claramente produccedilatildeo do arqueoacutelogo (Fig 111) No

entanto quando os materiais da anta da Arruda me foram entregues para estudo

constava dentro de uma das caixas de papelatildeo restos de cartolina muito desagregada

e em pedaccedilos de dois desenhos tintados algo sumidos mais parecendo um pequeno

quebra-cabeccedilas notando-se ainda os furos de alfinetes nos cantos dando ideia de

terem estado afixados (numa vitrina) Os dois desenhos correspondem a uma planta

(com os esteios nomeados por letras escritas a laacutepis iguais agrave sequecircncia do esboccedilo de

J L Vasconcelos) e um alccedilado ambos na escala 1100 e titulados anta da Arruda

sem assinatura visiacutevel (fig 111 4-5) Estes deveratildeo corresponder agravequeles que V

Leisner (1965 p 17) menciona como fonte dos seus situando e datando-os nos

apontamentos produzidos por si e seu marido (ALeisner Leis97) em ldquoBeleacutem

181944rdquo Comparando os dois conjuntos graacuteficos eacute possiacutevel verificar algumas

diferenccedilas de pormenor bem como a falta de alguns elementos peacutetreos nos desenhos

alematildees ndash devendo-se isso ao referido sumiccedilo de alguns traccedilos mas tambeacutem porque

natildeo tiveram provavelmente acesso ao caderno de campo de J L Vasconcelos o que

teria facilitado uma melhor compreensatildeo das imagens Finalmente eacute provaacutevel que os

desenhos associados ao espoacutelio da anta correspondam aos referidos por J L

Vasconcelos baseados em esboccedilos de T Noronha

O facto do casal Leisner ter utilizado o desenho disponiacutevel no Museu e natildeo

realizar o registo in loco como fez para quase todas as antas de Lisboa entre 1943-

1944 deve-se com certeza a esta se encontrar jaacute destruiacuteda naquele periacuteodo o que eacute

referido (Leisner 1965 p 17) natildeo tendo subsistido ateacute os anos 70 como J L

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 168 de 415

Gonccedilalves (1995) indicava Tambeacutem porque se esta ainda existisse agravequela data com

certeza que Hipoacutelito Cabaccedilo conhecedor da regiatildeo e com quem o casal se

correspondia desde 1943 os levaria facilmente ao sepulcro natildeo se limitando a

transmitir-lhes uma localizaccedilatildeo sumaacuteria

Segundo as informaccedilotildees de J L Vasconcelos a anta da Arruda ficava dentro

do Casal das Antas de Baixo (Fig 111 e 29) Para Nordeste deste siacutetio existia ainda o

Casal das Antas de Cima a menos de um quiloacutemetro sem que o arqueoacutelogo ali

tivesse reconhecido mais algum sepulcro O substrato rochoso daquela aacuterea

corresponde agraves Margas da Abadia do periacuteodo Juraacutessico (SGP 1962 Zbyszweski e

Assunccedilatildeo 1965) Em trabalhos recentes alguns autores (Simotildees 1994 cit in Branco

2007) anotam a existecircncia de pelo menos duas antas (uma delas a de Arruda)

entretanto destruiacutedas Aquela indicaccedilatildeo no plural ainda que plausiacutevel precisaria de

comprovaccedilatildeo o que seraacute difiacutecil de obter

Em redor e dentro da anta o terreno servia de horta encontrando-se por isso

muito remexido e estrumado quedando-se os esteios do lado norte a menos de dois

metros dos edifiacutecios do casal Esta parecia assentar num ldquoaltinhordquo que J L

Vasconcelos via como possiacutevel vestiacutegio da mamoa entretanto muito danificada pelas

culturas (Vasconcelos 1898)

A anta era constituiacuteda por onze esteios in situ e dois possiacuteveis tombados natildeo

se verificando qualquer laje de cobertura Todos os ortoacutestatos eram segundo J L

Vasconcelos (1898) de ldquogreacutes micaacuteceo calcareifero ou de cimento calcaacutereo do

Juraacutessico Superiorrdquo tendo sido enumerados alfabeticamente (essencialmente no

sentido contraacuterio ao dos ponteiros do reloacutegio) e medidos sabendo-se que o mais alto

a pedra J media ainda 321 metros Apreciando as mediccedilotildees tomadas e a

reconstituiccedilatildeo do alccedilado realizado e posteriormente apresentado por V Leisner

(1965 taf 13) verifica-se alguma discrepacircncia na altura das pedras G C e D

(resultado da situaccedilatildeo atraacutes mencionada) mas sem que altere significativamente a

leitura geral

As dimensotildees do sepulcro permitem perceber porque o seu interior era

utilizado como horta Apresentava um comprimento de 771 metros entre o esteio de

cabeceira e o limite dos esteios da entrada (pontos c-d-e) e uma largura maacutexima de

45 metros (pontos f-g) estreitando gradualmente para a entrada primeiro com 231

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 169 de 415

metros (pontos a-b) e finalmente com uns estimados 127 metros (pontos h-i)

Considerando a altura meacutedia provaacutevel dos esteios da cacircmara nos 321 metros este

sepulcro teria um tamanho consideraacutevel da cabeceira ao esteio de entrada (pedra F)

que ainda se apresentava com 182 m de altura Contudo apesar de J L Vasconcelos

ter mandado escavar uma vala com cerca de 3x2 metros a este dos esteios de entrada

detectados atingindo o solatildeo apoacutes 20 cm natildeo foram detectados indiacutecios do corredor

admitindo este no entanto que aqueles caiacutedos (pedras K e M) e a pedra F seriam a

ldquogaleriardquo De facto como jaacute foi referido acima esta anta apresentava uma cacircmara

com um plano trapezoidal assimeacutetrico no qual o corredor surgia pouco ou nada

diferenciado o que eacute possiacutevel verificar noutros sepulcros da regiatildeo

Os apontamentos da intervenccedilatildeo na anta da Arruda de J L Vasconcelos

revelam agrave data o conhecimento que este tinha daquelas estruturas sepulcrais

escavadas em momentos anteriores ainda que nas Beiras e Alentejo com

especificidades locais (Vasconcelos 1897 e 1915) Primeiramente a planta

produzida de iniacutecio de formato poligonal com um esteio de cabeceira ladeado por

outros esteios parece denotar alguma ideia preconcebida para aquele tipo de

sepulcro que eacute depois alterada para se conformar com a realidade final da escavaccedilatildeo

Por outro lado regista natildeo soacute as caracteriacutesticas presentes mas tambeacutem as ausentes

ldquoo solo ou chatildeo da anta natildeo estava coberto de lajes de como noutras acontecerdquo bem

como ldquonatildeo apresentam covinhas artificiais nem qualquer insculptura ou pinturardquo

(Vasconcelos 1898) Sendo a primeira anta em que intervinha na Baixa

Estremadura eacute de registar aquela anotaccedilatildeo de ausecircncias como prenuacutencio de algumas

das caracteriacutesticas das antas de Lisboa

A exploraccedilatildeo teraacute contado para aleacutem de J L Vasconcelos com dois e cinco

homens no primeiro e segundo dias respectivamente Um desses homens seria Joseacute

Romatildeo acima referido como o indiviacuteduo que iria proceder agrave reposiccedilatildeo das terras

bem como T Noronha que produziu um desenho da planta do sepulcro

Ainda que tenha verificado a referecircncia a crivos durante a preparaccedilatildeo da

escavaccedilatildeo julgo que a crivagem das terras natildeo teraacute sido sistemaacutetica pois os cuidados

realccedilados mais tarde para a reposiccedilatildeo daquelas levantam a duacutevida de terem sido de

facto peneiradas A crivagem das terras era normalmente realizada indirectamente

depois de amontoadas por montiacuteculos ou natildeo procedia-se agrave sua peneiraccedilatildeo no final

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 170 de 415

da intervenccedilatildeo praacutetica pressentida nas escavaccedilotildees de C Ribeiro (1880) mas que se

registava na escavaccedilatildeo da anta das Cabeccedilas Alentejo nos anos 40 (Leisner e

Leisner 1944 ALeisner Leis45) ou ainda em Carcavelos nos anos 80 (Capiacutetulo

4153) No presente caso julgo que os fracos resultados bem como as chuvas nas

semanas seguintes que transformaram ldquoaquelle montezinho de terra archaeologica

em um charco de lama moderniacutessimardquo (Noronha 1898b) teratildeo impedido a

conclusatildeo da tarefa de crivagem Isso tambeacutem explicaria a ausecircncia de espoacutelio de

reduzidas dimensotildees nomeadamente pequenos liacuteticos e dentes humanos

A estratigrafia verificada por J L Vasconcelos resumia-se a trecircs camadas a

superficial com ldquorelvardquo a de ldquoentulhordquo com cerca de 051 metros (uma primeira

anotaccedilatildeo regista 042 metros mas resultaraacute do somatoacuterio com o topo de 09 m) onde

surgiu algum espoacutelio e o solatildeo ou solo natural cuja superfiacutecie correspondia ao piso

do sepulcro encontrando-se sobre ele a maior parte dos objectos funeraacuterios e nele

foram escavados os alveacuteolos de implantaccedilatildeo dos esteios

O registo dos achados foi realizado por J L Vasconcelos sobre a primeira

planta produzida ainda com um formato poligonal pelo que se apresenta aquela

planta e a posterior (presumivelmente mais fidedigna) para comparaccedilatildeo e

esclarecimento das proveniecircncias dos objectos

Tendo em conta a eacutepoca a localizaccedilatildeo dos achados foi relativamente rigorosa

apesar do seu escavador concluir que tudo estaria remexido Graccedilas agravequele cuidado

foi possiacutevel verificar que alguns dos materiais poderatildeo ter sido recolhidos mais ou

menos no tiacutepico contexto de sepulcro muitas vezes remexido natildeo soacute em periacuteodos

recentes mas jaacute em eacutepoca coeva das deposiccedilotildees funeraacuterias Tal seraacute o caso do torratildeo

com ossos recolhido junto agrave cabeceira (MNA 5569) ou de outros objectos recolhidos

sobre o piso do sepulcro Assim analisando a dispersatildeo dos objectos nota-se uma

concentraccedilatildeo na entrada e outras mais reduzidas junto agrave base de alguns esteios

Apesar de escasso o espoacutelio revela-se significativo permitindo deduzir uma

ocupaccedilatildeo relativamente coesa e natildeo demasiado extensa no tempo

O apontamento de campo lista os achados com a correspondente legenda de

localizaccedilatildeo pela ordem de recolha (Fig 112 1) No entanto depois de concluir que

tudo estava remexido o esboccedilo para publicaccedilatildeo apresenta apenas uma listagem

sistemaacutetica e organizada por tipos de materiais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 171 de 415

Se no caso de alguns objectos eacute ainda possiacutevel identificar a sua localizaccedilatildeo

noutros tal desiderato eacute hoje impossiacutevel Eacute esse o caso da maioria dos restos oacutesseos

humanos e fauniacutesticos e dos fragmentos ceracircmicos Por outro lado desde que os

materiais deram entrada no Museu Etnoloacutegico (actualmente Museu Nacional de

Arqueologia) algumas das peccedilas ter-se-atildeo extraviado por exemplo natildeo foi ainda

possiacutevel localizar uma ldquogoivardquo (que pelas dimensotildees atribuiacutedas ndash 14 cm de

comprimento por 65 cm de diacircmetro ndash poderia ser uma enxoacute) trecircs ldquoinstrumentos em

dioriterdquo gastos (que segundo J L Vasconcelos a serem de facto semelhantes ao

machado sobrevivente seratildeo de anfibolito) diversas lascas de siacutelex e quartzito bem

como uma de ldquomachado polidordquo uma placa de ldquocalcareo argilosordquo que ldquoserviu de

moacute ou amoladeirardquo e um fragmento de iacutedolo-placa em xisto da qual o casal Leisner

apenas pode aproveitar o desenho em tamanho real produzido por J L Vasconcelos

ndash aliaacutes deveria existir um desenho da peccedila no tabuleiro pois tudo indica que os

Leisner natildeo consultaram o caderno de campo do escavador onde este tinha de facto

um esboccedilo da placa

Entretanto com o estudo desenvolvido no MNA foi possiacutevel verificar que duas

peccedilas atribuiacutedas agrave anta de Belas satildeo com certeza da anta da Arruda 1 um

fragmento de topo ou base de um iacutedolo ciliacutendrico (MNAndash 5100C) com dimensotildees e

patina idecircnticas aos fragmentos atribuiacutedos agrave Arruda e cuja ficha do nuacutemero de

inventaacuterio referia ter surgido ldquosem indicaccedilatildeo de procedecircnciardquo junto com peccedilas de

Belas Por outro lado J L Vasconcelos apontava 4 fragmentos de rodelas de

calcaacuterio existindo actualmente apenas trecircs 2 um fragmento de taccedila (MNA-

9846781) com marcas de fabrico de roda com a superfiacutecie interna negra lustrosa

correspondendo a peccedila descrita pelo arqueoacutelogo Para ambos os achados eacute ainda de

referir que nas receacutem reencontradas fichas antigas de inventaacuterio do actual MNA para

peccedilas provenientes da colecccedilatildeo organizada por Pereira da Costa na Escola

Politeacutecnica referentes agrave anta de Belas aqueles natildeo satildeo mencionados

Finalmente um fragmento de moacute dormente em conglomerado (MNA- 5566)

atribuiacutedo agrave anta da Arruda natildeo surge mencionado no inventaacuterio de J L

Vasconcelos Ainda por cima surge com uma etiqueta colada (inexistente para o

restante espoacutelio da Arruda) mas infelizmente com o escrito muito desgastado

apenas sendo possiacutevel ler qualquer coisa como ldquo[pedra de moacute] ([ilegiacutevel] Sul)rdquo o

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 172 de 415

que faz lembrar as menccedilotildees nas fichas antigas mencionadas atraacutes indicando na

mesma caligrafia ldquotalvez do Sulrdquo ou ldquoProvavelmente do Sulrdquo

Resumindo entre presentes e ausentes os materiais recolhidos na anta da

Arruda foram os seguintes (Fig 113-114)

Pedra lascada ndash duas grandes pontas bifaciais de siacutelex talvez lacircminas de lanccedila

ou punhal (Leisner 1965 taf 13 5 e 6) ainda que S Forenbaher (1999 p 153 Anta

da Arruda nordm 3) apontasse uma terceira peccedila remetendo a informaccedilatildeo para E Jalhay

(1947 p 42) o que natildeo se verifica sendo talvez resultado de algum lapso duas

lacircminas pouco ou nada retocadas em siacutelex um nuacutecleo de lamelas de quartzo hialino

originalmente um cristal prismaacutetico e algumas lascas de siacutelex e quartzito estas jaacute

natildeo localizadas

Pedra polida ndash Um machado poligonal trecircs possiacuteveis ldquomachados gastosrdquo uma

ldquogoivardquo e algumas lascas de instrumento polido

Pedra afeiccediloada ndash um fragmento de moacute dormente em greacutes negro um percutor

sobre noacutedulo de siacutelex e uma placa ldquoamoladeirardquo em ldquocalcaacuterio argilosordquo

Outros liacuteticos ndash uma conta esferoidal em pedra verde (designada por J L

Vasconcelos ldquoribeiriterdquo) 4 fragmentos de iacutedolo ciliacutendrico em calcaacuterio podendo

corresponder a um nuacutemero miacutenimo de uma ou duas peccedilas e um fragmento de iacutedolo-

placa em xisto que o arqueoacutelogo destaca pelo peculiar desenho mas com paradeiro

desconhecido

Ceracircmica ndash para aleacutem da taccedila de roda mencionada atraacutes regista-se apenas dois

fragmentos de vasos com decoraccedilatildeo impressa com roleta lembrando as decoraccedilotildees

campaniformes Os restantes fragmentos com coacutedigo atribuiacutedos agrave anta da Arruda natildeo

permitem reconstituiccedilatildeo mas as suas pastas assmelham-se agraves preacute-histoacutericas

Finalmente os restos osteoloacutegicos humanos e fauniacutesticos resumem-se a uma

pequena quantidade de fragmentos estudados respectivamente pela antropoacuteloga

Cidaacutelia Duarte e pela arqueozooacuteloga Marta Moreno cujos resultados seratildeo discutidos

noutros capiacutetulos

No manuscrito de J L Vasconcelos (1898) nota-se ainda que este pretendia

desenvolver alguns aspectos essenciais como o tipo de enterramento a proveniecircncia

de mateacuterias-primas de outras regiotildees e a comparaccedilatildeo com outras antas e os seus

espoacutelios Talvez por isso a notiacutecia de ldquoO Seacuteculordquo (6111898) faccedila referecircncia agrave

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 173 de 415

colheita de ldquoelementos para determinar relaccedilotildees sociaes ou ethnicas entre a tribu

que ali estanciou e outras da Estremadura mas de pontos afastados drsquoaquelle

localrdquo

Face aos resultados expostos eacute possiacutevel admitir que a anta teraacute sido de facto

mexida e alguns dos seus elementos eventualmente retirados Contudo entre o

espoacutelio que nos chegou haacute peccedilas passiacuteveis de uma atribuiccedilatildeo cronoloacutegica geneacuterica

Assim a presenccedila de pedra polida (com uma goiva) lacircminas pouco ou nada

retocadas e um nuacutecleo de lamelas poderia estar relacionada com um primeiro

momento algures nos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm e iniacutecios do 3ordm mileacutenios ane e ao qual

corresponderia a dataccedilatildeo Beta-229584 de 3330-2910 cal BCE (Anexo 3 Quadro 2)

sobre um raacutedio direito humano retirado do torratildeo de terra depositado junto ao esteio

de cabeceira (com 811 de probabilidade restringe-se a 3120-2910 BCE) Neste

acircmbito tambeacutem seria plausiacutevel o iacutedolo-placa de xisto e as grandes pontas bifaciais

Todavia estas uacuteltimas e os iacutedolos calcaacuterios poderiam situar-se jaacute em plena primeira

metade do 3ordm mileacutenio ane Finalmente os fragmentos de ceracircmica decorada a

pontilhado remetem para a presenccedila campaniforme e os meados e seacuteculos seguintes

daquele mileacutenio

418 Pedras da Granja

A anta de Pedras da Granja (CNS-91) tambeacutem conhecida por Pedras Altas

(Zbyszweski et al 1977) Pedra Erguida Pedras Brancas ou de Meirames (Serratildeo

1982-83) e Vaacuterzea (Cunha e Silva 2000) teve a sua primeira notiacutecia em 1958 por

intermeacutedio de O V Ferreira (1959) no Congresso de Nacional de Arqueologia

listando-a entre os monumentos megaliacuteticos de Lisboa Entretanto E Serratildeo (1982-

83) apoacutes a notiacutecia da escavaccedilatildeo do sepulcro reclama a primazia da identificaccedilatildeo e

registo desta anta no final da Primavera de 1950 juntamente com E Prescott Vicente

e A Ricardo Belo de que produziram alguns apontamentos Contudo importa

clarificar que a designaccedilatildeo de Pedras Brancas teraacute resultado de alguma confusatildeo do

autor pois atribuiacutea-a ao artigo de G Zbyszweski e colaboradores (1977) o que natildeo

acontece talvez por confusatildeo com a anta de Pedra Branca (Melides) entatildeo publicada

pelos mesmos autores (Ferreira et al 1975)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 174 de 415

A intervenccedilatildeo arqueoloacutegica deste siacutetio foi ensaiada por E Serratildeo e

colaboradores em 1950 tendo apenas desenvolvido ldquoum singelo projecto de

escavaccedilatildeo do dolmenrdquo que se iniciou ldquopela abertura de duas pequenas trincheiras

perpendiculares agraves faces internas dos esteiosrdquo (Serratildeo 1982-83 p 23 e fig 7)

podendo a depressatildeo com paredes rectas assinalada na secccedilatildeo ldquoCCrdquo produzida pelos

escavadores posteriores (Zbyszweski et al 1977 fig 3) corresponder-lhe Mas

dessa primeira acccedilatildeo superficial apenas se recolheram ldquoalguns pequenos e

inexpressivos fragmentos de quartzo hialinordquo (Serratildeo 1982-83 p 23) Referia-se

ainda a possiacutevel relaccedilatildeo entre aglomerados de pedras num arco de ciacuterculo a cerca de

25 m dos ortoacutestatos do sepulcro como eventuais resquiacutecios de mamoa (Serratildeo 1982-

83 p 23 e fig 8) algo que os investigadores posteriores natildeo valorizaram natildeo se

percebendo se devido agrave inexistecircncia de tal realidade por natildeo a terem detectado ou

porque teria desaparecido entretanto Nas vaacuterias visitas realizadas ao local natildeo me foi

possiacutevel verificar tal estrutura que em parte poderaacute dever-se ao coberto vegetal

actual ou agrave degradaccedilatildeo da envolvente

A escavaccedilatildeo arqueoloacutegica sistemaacutetica da anta apenas se concretizou em 1973

com os elementos da equipa dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal e seus

colaboradores (Zbyszweski et al 1977) que desenvolveram os trabalhos durante

vaacuterios meses totalizando cerca de 25 dias de trabalho de campo natildeo consecutivos

No iniacutecio da deacutecada de 90 o monumento foi alvo de destruiccedilatildeo na sequecircncia

de um loteamento da aacuterea (informaccedilatildeo pessoal de Teresa Simotildees) sendo hoje visiacutevel

entre o mato que o cobre um monte de escombros encostado ao esteio do lado sul

(A) aparentemente ainda in situ mas quebrado A necessaacuteria e importante re-

escavaccedilatildeo do sepulcro para avaliaccedilatildeo concreta dos danos causados natildeo foi ainda

realizada

O sepulcro foi implantado numa aacuterea aberta e suave sem relevos abruptos em

calcaacuterios do Cretaacutecico ndash Cenomaniano meacutedio e inferior com calcaacuterios e margas

(Belasiano) (Zbyszweski et al 1977 SGP 1991 Ramalho et al 1993)

aproveitando as diaacuteclases incipientes resultantes do processo caacutersico como alveacuteolos

dos esteios De acordo com os autores os ortoacutestatos eram de calcaacuterio local e de greacutes

calcaacuterio Presume-se entatildeo que este uacuteltimo tipo de rocha teraacute sido obtido a maior

distacircncia pois segundo a Carta Geoloacutegica de Portugal na escala 1 50000 (SGP

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 175 de 415

1991) apenas a cerca de 1 km para este-nordeste da anta em Alpolentim existe uma

mancha de greacutes calcaacuterio podendo ser o este o seu local de proveniecircncia

Agrave data da sua identificaccedilatildeo o sepulcro tinha apenas visiacutevel um par de duas

grandes lajes (A e E) ligeiramente inclinadas integradas num muro de pedra seca

que corria e separava o caminho rural de uma propriedade (Fig 118 2-3) No seio da

intervenccedilatildeo veio a verificar-se a existecircncia de mais alguns elementos peacutetreos ainda

in situ demarcando o recinto da cacircmara soterrados sob o caminho Natildeo consta no

trabalho publicado qualquer menccedilatildeo a um possiacutevel tumulus (Zbyszweski et al

1977)

Os escavadores desenvolveram a intervenccedilatildeo com uma primeira vala de

sondagem (ldquotrancheacutee de reconnaissancerdquo) com cerca de 3 metros por 090 m de

largura implantada paralelamente ao esteio a sudeste (A) e a cerca de 025 m deste

(Fig 115) A partir dos bordos dessa sondagem estabeleceram um quadriculado

segundo a planta apresentada (Zbyszweski et al 1977 fig 1) segmentado agora de

meio em meio metro aproximadamente com um sistema de referecircncia alfanumeacuterico

SE-NW numeacuterico NE-SW alfabeacutetico Por sua vez cada quadriacutecula foi dividida em

quadrantes numerados de 1 a 4 a partir do canto inferior direito Segundo estas

informaccedilotildees presume-se que a vala de sondagem compreendeu inicialmente a aacuterea

correspondente agraves quadriacuteculas C3-C4 D3-D4 E3-E4 F3-F4 G3-G4 e H3-H4 (Fig

115)

A escavaccedilatildeo iniciou-se com a decapagem de terra arenosa superficial onde se

recolheu por exemplo um fragmento de iacutedolo-placa em G42 mas a cerca de 013

m aquela camada mudava de cor para castanho-amarelada e apresentava uma

textura mais argilosa Segundos os escavadores aquele estrato revelou-se esteacuteril ateacute agrave

profundidade de 033-035 m a partir da qual se encontrava o espoacutelio arqueoloacutegico

por sua vez assente no substrato rochoso sobretudo nas diaacuteclases do afloramento

calcaacuterio que atingia cerca de 110 m

De acordo com o relato diaacuterio dos trabalhos desenvolvidos a intervenccedilatildeo foi

realizada por quadriacuteculas descendo-se ateacute ao substrato rochoso nalguns pontos pela

diaacuteclase adentro alargando-se dessa forma agrave restante aacuterea do sepulcro A imagem

apresentada da aacuterea escavada ilustra a escavaccedilatildeo faseada de acordo com as referidas

quadriacuteculas (Zbyszweski et al 1977 fig 15)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 176 de 415

O sepulcro apresentava ainda in situ os dois esteios quase completos (A e E)

ambos com cerca de 26 metros de altura (Fig 116 e 116a) bem como outros trecircs

fracturados quase pela base (B C e D) No local onde se implantaria o esteio de

cabeceira natildeo se localizou qualquer elemento peacutetreo digno dessa classificaccedilatildeo mas

apenas vaacuterias lascas de calcaacuterio (Fig 115 e 117) Aleacutem disso teraacute sido possiacutevel

definir um provaacutevel alveacuteolo com base em algumas provaacuteveis pedras de calccedilo e uma

aparente aacuterea de assentamento do esteio no substrato rochoso (Zbyszweski et al

1977 p 211 e fig 1) Diria ainda que seguindo o mesmo criteacuterio eacute possiacutevel admitir

a presenccedila de outro esteio do lado oeste da cabeceira local com uma concentraccedilatildeo

alongada e inusitada de achados num espaccedilo sem muitas pedras assemelhando-se ao

preenchimento do espaccedilo resultante do arranque de uma laje

Apesar de se ter escavado parcialmente a aacuterea a sudeste dos esteios A e E a

interpretaccedilatildeo proposta de um corredor com muretes em pedra seca natildeo se afigura

convincente sobretudo porque tais ldquovestiacutegiosrdquo se encontravam quase na superfiacutecie

Mas tambeacutem porque coincidem com o muro de propriedade Por outro lado os

achados recolhidos sobretudo na diaacuteclase rareavam para aleacutem da aacuterea de entrada da

cacircmara o que a existir uma passagem ocorreriam mais aleacutem como se verificou

noutros sepulcros megaliacuteticos analisados neste trabalho Assim concluo que natildeo foi

possiacutevel identificar indiacutecios concretos do corredor porque este natildeo existia ou porque

foi erradicado no troccedilo imediato que foi escavado Talvez com a reavaliaccedilatildeo do

monumento essa questatildeo pudesse ser verificada

Tambeacutem talvez por influecircncia do referido muro de propriedade foram

registadas vaacuterias lajetas horizontais na camada superficial que foram interpretadas

como restos de uma falsa cuacutepula o que pelos dados disponiacuteveis julgo ser pouco

verosiacutemil

A planta trapezoidal proposta pelos autores parece basear-se numa leitura

limitada aos esteios sobreviventes e ao seu imbricamento Contudo face aos dados

disponiacuteveis e agrave leitura proposta acima julgo que eacute possiacutevel inferir um sepulcro com

uma cacircmara poligonal de sete esteios com cerca de 440 m de largura por 4 m de

comprimento sem corredor aparente desconhecendo-se o tipo de cobertura utilizada

ainda que se presuma uma grande laje (Fig 115)

O registo efectuado para os materiais recolhidos permite verificar

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 177 de 415

genericamente o seu posicionamento (Fig 117) mas com algumas limitaccedilotildees a

localizaccedilatildeo espacial dos achados foi apresentada em trecircs planos estabelecidos a

posteriori sabendo-se a altimetria apenas para algumas peccedilas sobretudo dos restos

humanos Por outro lado as altimetrias anotadas foram essencialmente efectuadas na

primeira quinzena de trabalhos notando-se um registo mais vago na segunda fase

Finalmente porque hoje soacute se conhece o paradeiro de parte dos materiais recolhidos

e nem sempre a descriccedilatildeo foi suficientemente pormenorizada eacute complexo elaborar

demasiado acerca de algumas dessas peccedilas Por isso apenas considerei pertinente

identificar espacialmente entre aquelas que o permitiam as peccedilas com maior

significado cronoloacutegico procurando perceber de alguma forma um possiacutevel

faseamento de utilizaccedilatildeo (Fig 117)

O espoacutelio desta anta teraacute sofrido ainda ao longo do tempo e antes da

intervenccedilatildeo arqueoloacutegica remobilizaccedilatildeo mais ou menos severa em parte devido ao

arranque dos esteios ausentes Por exemplo os fragmentos dos vasos campaniformes

MASMO-PGNC9923 (Zbyszweski et al 1977 invent nordm 92 193 e 444 e fig 9 4)

e MASMO-PGNC9927 (Zbyszweski et al 1977 invent nordm 56 58 122 e 224 e fig

9 3) encontravam-se dispersos pela cacircmara sobretudo na aacuterea mais perturbada a

oeste-noroeste (Fig 117) Aproximadamente na mesma aacuterea recolheram-se vaacuterios

fragmentos de recipientes ceracircmicos das Idades do Bronze e do Ferro

nomeadamente deste uacuteltimo periacuteodo um vaso negro com brunido bem marcado

tambeacutem este quebrado e disperso (MASMO-PGNC9920 (Zbyszweski et al 1977

invent nordm 93 218B 434 e 459 e fig 10 23) Nas diaacuteclases sobretudo aquelas menos

afectadas na parte este-sudeste da cacircmara surgiram alguns dos elementos mais

antigos e mais intactos particularmente taccedilas quase completas (PGNC9903 e

PGNC9904 Zbyszweski et al 1977 fig 9 7 e 10 31) ou os instrumentos em

pedra polida e um iacutedolo calcaacuterio Contudo porque natildeo eacute possiacutevel adscrever todos os

artefactos a uma posiccedilatildeo efectiva esta assumpccedilatildeo deveraacute ser contida Inclusive

porque o grau de influecircncia dos processos tafonoacutemicos na sua formaccedilatildeo eacute

desconhecido

A localizaccedilatildeo de ldquorestes humainsrdquo ldquoos humains concentraisrdquo e ldquoinhumationsrdquo

designadas de H1 a H48 significando provavelmente o H a espeacutecie Homo Sapiens

Sapiens teve algum destaque no relatoacuterio produzido Nas primeiras semanas havia

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 178 de 415

maior detalhe na sua descriccedilatildeo chegando a identificar-se o tipo de osso recolhido

Posteriormente as concentraccedilotildees de ossadas passaram a ser designadas por

ldquoinumaccedilotildeesrdquo Contudo as provaacuteveis 48 deposiccedilotildees (Fig 117) deveratildeo ser

consideradas apenas meras concentraccedilotildees de restos humanos por vezes espartilhadas

de forma artificial em parte por causa da metodologia de escavaccedilatildeo ndash no entanto

graccedilas a um pouco mais de detalhe na informaccedilatildeo eacute possiacutevel admitir que H10 e H11

juntos pudessem corresponder a uma inumaccedilatildeo com provaacutevel conexatildeo anatoacutemica

mas infelizmente o registo dessas ossadas foi insuficiente e hoje desconhece-se o seu

paradeiro concreto

O estudo antropoloacutegico produzido por E Cunha e A M Silva (2000) acerca de

um conjunto osteoloacutegico atribuiacutedo agrave anta da Vaacuterzea isto eacute Pedras da Granja

(algumas ainda marcadas com a denominaccedilatildeo de ldquoinumaccedilatildeordquo por exemplo H45 e

com um novo coacutedigo V1 V2 etc) reforccedila a ideia do nuacutemero excessivo de indiviacuteduos

presumidos mesmo que o espoacutelio estudado aparente estar truncado ndash resume-se

sobretudo a fragmentos de maxilares mandiacutebulas e dentes infelizmente com a

maioria das designaccedilotildees originais sumidas e substituiacutedas pela marcaccedilatildeo ldquoVrdquo natildeo

tendo sido possiacutevel por exemplo identificar as ossadas de H10 ou H11 com ossos

longos associados Assim com uma amostra significativa de peccedilas da face registou-

se a presenccedila de indiviacuteduos de vaacuterias idades mas o seu nuacutemero miacutenimo natildeo

ultrapassou as dezasseis unidades (Cunha e Silva 2000)

Jaacute depois deste capiacutetulo se encontrar mais ou menos definido localizei nos

fundos do Museu Geoloacutegico no Veratildeo de 2008 ainda que sob denominaccedilatildeo

equivocada (S Caetano MG-390) um conjunto de quatro ldquodeposiccedilotildeesrdquo da ldquoVaacuterzeardquo

H9 H19 H26 e H47 ainda com os ossos agrupados em sacos separados tal como

presumo exumados originalmente Seraacute pois uma oportunidade no futuro para

verificar a possibilidade de corresponderem a enterramentos especiacuteficos

Perante os dados da escavaccedilatildeo os autores (Zbyszweski et al 1977 p 224)

apontavam a existecircncia de trecircs niacuteveis arqueoloacutegicos ilustrando essa sequecircncia com a

distribuiccedilatildeo de achados (Zbyszweski et al 1977 fig 3 6 7 e 8)

1Um superior com campaniforme

2Um meacutedio que continha ainda campaniforme mas confundia-se

com o niacutevel inferior devido agrave utilizaccedilatildeo das bancadas e das diaacuteclases

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 179 de 415

3Um niacutevel de base mais antigo com o depoacutesito de corpos mais ou

menos in situ

Contudo assinalam a possibilidade de alguns enterramentos intrusivos

nomeadamente H24 (Zbyszweski et al 1977 p 206) mas tambeacutem duas bolsas

onde indicavam as ldquoinumaccedilotildeesrdquo H18 H25 e H31 (Zbyszweski et al 1977 fig 3)

curiosamente natildeo coincidindo genericamente com as aacutereas de proveniecircncia das

peccedilas ceracircmicas de periacuteodos mais recentes

Dessa forma eacute difiacutecil aceitar o faseamento proposto aliaacutes contraditado pelo

proacuteprio espoacutelio preacute-histoacuterico quando analisado em detalhe onde foi possiacutevel

Actualmente apenas se conhece o paradeiro de uma parte do rico espoacutelio

exumado e listado desta anta Assim para aleacutem da receacutem-descoberta mencionada

atraacutes esse conjunto conhecido encontra-se depositado no Museu Arqueoloacutegico

Municipal de Satildeo Miguel de Odrinhas (MASMO) parte integrada em 1986 entregue

directamente por um dos escavadores M Leitatildeo e outra do mesmo autor em 1999

por intermeacutedio de J L Cardoso (informaccedilatildeo pessoal de T Simotildees)

No acircmbito dos objectos lascados registam-se dez nuacutecleos prismaacuteticos de

lamelas 8 em quartzo hialino em dois deles notando-se ainda parte das faces do

cristal original (MASMO-PGNC9935 e 36) Os restantes dois nuacutecleos foram

obtidos de cristais de quartzo leitoso notando-se ainda algumas das superfiacutecies

originais (MASMO-PGNC9938 e 39)

Apesar de se encontrarem em parte incerta eacute possiacutevel saber pela listagem de

materiais que teratildeo sido recolhidas cerca de 61 lacircminas todas em siacutelex ou rochas

afiliadas A partir das dimensotildees e caracteriacutesticas gerais fornecidas no inventaacuterio

apresentado verifica-se que apenas 9 se enquadrariam no grupo de pequenas lacircminas

e lamelas cinco das quais retocadas Assim as restantes corresponderiam a lacircminas

espessas e retocadas algumas ainda com dimensatildeo consideraacutevel (Zbyszweski et al

1977 est III)

Os geomeacutetricos resumem-se a trecircs provaacuteveis peccedilas em siacutelex Um deles

claramente trapezoidal (MASMO-PGNC8632) outro um fragmento de um

possiacutevel crescente (MASMO-PGNC8631) que tambeacutem poderia ser uma ponta de

seta e finalmente uma lasca com um formato triangular assimeacutetrico (MASMO-

PGNC8633) assemelhando-se a um geomeacutetrico aparentemente retocado na ponta

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 180 de 415

(Fig 119 7-9)

As 28 pontas de seta satildeo em siacutelex (Fig 119 10-18 120) com a excepccedilatildeo de

uma em xisto silicioso acinzentado (MASMO-PGNC8630) A maioria das pontas

apresenta a base convexa sobretudo triangular e apenas 6 tecircm uma base cocircncava

incluindo a ponta em xisto Neste uacuteltimo agrupamento uma destas apresenta a sua

extremidade distal com as caracteriacutesticas de uma ponta de seta do tipo mitriforme

(Fig 120 11 MASMO-PGNC864)

Foi ainda recolhido uma grande ponta bifacial de siacutelex talvez um punhal ou

ponta de lanccedila (Zbyszweski et al 1977 est III 53) de que se desconhece o

paradeiro

Do conjunto de dezenas de raspadores lascas algumas retocadas e restos de

talhe apenas se encontram actualmente 4 lascas duas das quais de grande tamanho

Aleacutem dessa regista-se uma outra lasca com alguns retoques recolhida na sequecircncia

da destruiccedilatildeo da anta

Face ao registo de outros sepulcros os instrumentos de pedra polida nesta anta

satildeo relativamente abundantes (Fig 121 1-7) totalizando 4 machados em anfibolito

com secccedilotildees poligonais 2 enxoacutes em xisto anfiboacutelico com secccedilotildees arredondadas

achatadas e uma goiva em anfibolito com secccedilatildeo poligonal Aleacutem destas peccedilas

listam-se ainda mais dois fragmentos de enxoacutes (Zbyszweski et al 1977 invent nordm

187 e 371) actualmente perdidos

Os artefactos votivos recolhidos nesta anta limitaram-se a um iacutedolo plano-

convexo afuselado em calcaacuterio sem gravaccedilatildeo evidente (Fig 121 8 MASMO-

PGNC8659) e a um iacutedolo-placa completo (Fig 121a MASMO- PGNC8650) e

fragmentos de outros infelizmente extraviados Se o uacuteltimo tipo de artefacto surge

normalmente em nuacutemeros reduzidos a raridade do primeiro resulta surpreendente

sobretudo quando em sepulcros coevos estes elementos surgem em maior nuacutemero

Os elementos em osso (Fig 122 7-11) resumem-se a 2 furadores (MASMO-

PGNC8654 e 55) trecircs fragmentos de haste de alfinete de cabelo e alguns

fragmentos de ossos com sinais de polimento sem possibilidade de identificaccedilatildeo do

artefacto Aleacutem destes haacute um pedaccedilo de uma peccedila que poderaacute corresponder a um

possiacutevel pente votivo (MASMO-PGNC8658) e um botatildeo ldquoen os ou en ivoire (hellip)

en forme de carapace de tortuerdquo e perfuraccedilatildeo em ldquoVrdquo (Zbyszweski et al 1977

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 181 de 415

invent nordm 11 e est II 19) de que actualmente se desconhece o paradeiro

Aleacutem dos possiacuteveis elementos de adorno em osso recolheram-se ainda cerca

de 133 contas discoidais em xisto uma em concha e outra em osso (Zbyszweski et

al 1977) Contudo apenas as outras contas em pedra verde (fig 122 1-6) se

encontram depositadas no Museu correspondendo agravequelas listadas pelos

escavadores excepto uma discoidal Estas apresentam formatos ciliacutendricos alguns

ligeiramente ovalados Haacute ainda uma conta bitroncocoacutenica (MASMO- PGNC8649)

em rocha negra classificada pelos autores como provaacutevel azeviche

Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a elementos metaacutelicos recolhidos nesta anta

Os recipientes ceracircmicos recolhidos eram abundantes e apresentavam

aparentemente fragmentos facilmente reconstituiacutedos (Fig 123-124) para aleacutem dos

cerca de 158 fragmentos mencionados sem aparente leitura Infelizmente apenas um

pequena parte consta hoje do acervo conhecido pelo que se torna impossiacutevel

verificar a validade das classificaccedilotildees efectuadas pelos autores da escavaccedilatildeo

nomeadamente o conjunto de ceracircmicas atribuiacutedas agrave Idade do Bronze (Zbyszweski et

al 1977 fig 9 18-19 e fig 10 20-24 43-45 e 47) ainda que a legenda da figura 10

remeta os nuacutemeros 25 a 47 para o ldquodolmeacutenico-almerienrdquo Importaria ainda perceber a

que correspondem os pequenos recipientes natildeo listados mas apresentados

(Zbyszweski et al 1977 fig 9 15-17) que por se enquadrarem no fundo comum

ceracircmico de longa duraccedilatildeo poderiam corresponder ou natildeo a momento antigo da

utilizaccedilatildeo da anta No entanto pela sua tipologia natildeo destoariam de outros

recipientes referidos e integraacuteveis nos momentos de utilizaccedilatildeo original da anta Resta

ainda anotar a presenccedila de uma ceracircmica romana infelizmente natildeo ilustrada

(Zbyszweski et al 1977 invent nordm 368)

Como jaacute foi referido atraacutes algumas das peccedilas ceracircmicas encontravam-se quase

completas sobretudo aquelas recolhidas em niacuteveis inferiores das diaacuteclases Estas

correspondem sobretudo a pequenas taccedilas de bordo simples e alguns vasos esfeacutericos

perfeitamente enquadraacuteveis no periacuteodo de utilizaccedilatildeo original do sepulcro

No acircmbito das ceracircmicas campaniformes registam-se fragmentos de pelo

menos dois vasos com decoraccedilatildeo de estilo internacional outro vaso com decoraccedilatildeo

reticulada em banda realizada por impressatildeo e uma taccedila com faixa de triacircngulos

invertidos tambeacutem preenchidos por impressatildeo Aleacutem destas peccedilas verifica-se a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 182 de 415

ausecircncia de estilos campaniformes incisos e mistos

Perante os dados disponiacuteveis nesta anta julgo que eacute possiacutevel vislumbrar uma

utilizaccedilatildeo inicial algures entre os dois uacuteltimos quarteacuteis do 4ordm mileacutenio ane

justificada pelos geomeacutetricos pequenas lacircminas e nuacutecleos de lamelas A presenccedila

significativa de instrumentos de pedra polida e recipientes ceracircmicos parece

denunciar uma clara intensificaccedilatildeo do uso deste sepulcro na passagem do mileacutenio

marcada provavelmente jaacute no 3ordm mileacutenio ane pela deposiccedilatildeo de iacutedolos-placa

Algumas das lacircminas espessas largas e retocadas e as pontas de seta sobretudo as

de base convexa poderiam relacionar-se ainda com esse periacuteodo mas tambeacutem satildeo

integraacuteveis jaacute no 3ordm mileacutenio Aliaacutes as pontas com base cocircncava poderatildeo corresponder

tambeacutem a esse momento sendo menos frequentes nos seacuteculos anteriores

A presenccedila de um iacutedolo em calcaacuterio ainda que solitaacuterio enquadraacutevel na

primeira metade do 3ordm mileacutenio ane ou sobretudo no seu segundo quartel poderia

ser interpretada como uma diminuiccedilatildeo da utilizaccedilatildeo do sepulcro Contudo esse uso

comprova-se pela dataccedilatildeo radiocarboacutenica Beta-225171 de 2860-2470 cal BCE (com

862 de probabilidade o intervalo restringe-se a 2700-2470 cal BCE Anexo 3

Quadro 2) Esta data foi obtida sobre uma mandiacutebula de indiviacuteduo humano adulto

(MASMO-PG-V2 correspondendo a um dos elementos da ldquoinumaccedilatildeordquo H-45) no

designado ldquoniveau moyenrdquo

A presenccedila de ceracircmicas campaniformes de estilo internacional e impresso

parece assinalar um momento de meados terceiro quartel do 3ordm mileacutenio ane mas

que natildeo se teraacute estendido ateacute o final deste Isto se for considerado significativo numa

perspectiva crono-cultural a ausecircncia do estilo inciso

Posteriormente o sepulcro parece ter sido utilizado provavelmente para

deposiccedilotildees funeraacuterias durante as Idades do Bronze e do Ferro Finalmente a

presenccedila de ceracircmica romana poderaacute relacionar-se com alguma visita pontual ao

sepulcro

419 Dados avulsos de possiacuteveis antas

Aleacutem das antas listadas nos uacuteltimos capiacutetulos alguns elementos parecem

indiciar que a presenccedila destas na regiatildeo teraacute sido provavelmente mais numerosa e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 183 de 415

geograficamente mais abrangente

No Museu Geoloacutegico encontra-se um pequeno machado de anfibolito com

secccedilatildeo poligonal (Fig 125 1-3 MG6501) A etiqueta colada neste atribui a sua

proveniecircncia a ldquoDolmen na Qta do Marquecircs de Vianna S Pedro (Sintra) Off Sr

Bensauacutederdquo O seu doador poderaacute corresponder a Alfredo Bensauacutede um engenheiro

de minas dos Serviccedilos Geoloacutegicos entre 1869-1886 associado a estudos

mineraloacutegicos (Carneiro 2005 p 158 e 164 Bensauacutede 1884 e 1889) Mas

infelizmente natildeo foi possiacutevel identificar hoje os limites da dita quinta e o eventual

doacutelmen podendo apenas admitir-se que tal estrutura estivesse situada na aacuterea de Satildeo

Pedro em Sintra

No mesmo museu encontrei um conjunto de materiais associados a uma ficha

de siacutetio datada de 22 de Janeiro de 1927 (Fig 125 4 MG624)

ldquoColares Quinta da Piedade (proximo aacute Eugaria) Segundo informaccedilatildeo

de Armando Ferreira confirmada pelos cacos juntos existe no pinhal da Quinta da

Piedade proximo aacute ldquoPreza do Duquerdquo um outeiro em cujo cume encontrou umas

pedras grandes formando circulo cobertas por uma outra muito maior (chapeu) (um

doacutelmen em parte semelhante ao do Monge) Procedendo a tres sondagens recolheu

ele os cacos e os ossos juntos (a quinta da Piedade pertence aacute Casa Cadaval)

Informaccedilatildeo prestada em Odivelas (hellip)rdquo

De facto o conjunto depositado consiste em algumas faunas e fragmentos

ceracircmicos Alguns desses fragmentos ceracircmicos correspondem a cronologias

recentes mas cerca de uma dezena satildeo pedaccedilos de recipientes campaniformes com

teacutecnica incisa e impressa do estilo Palmela (MG684) A leitura da ficha leva a crer

que este registo teraacute sido efectuado por Francisco C Ribeiro (ver capiacutetulo 413)

podendo corresponder talvez ao siacutetio de Bela Vista estudado anos mais tarde

(Mello et al 1961) tanto pela localizaccedilatildeo como pela semelhanccedila dos materiais

recolhidos No entanto a publicaccedilatildeo natildeo faz qualquer referecircncia a esta ficha ou aos

seus materiais ainda que se encontrassem depositados no Museu Geoloacutegico

podendo isso dever-se agrave data posterior de entrada da colecccedilatildeo algures na deacutecada de

60 Mas se estes dois siacutetios satildeo um soacute este sepulcro natildeo corresponde a um

ldquodoacutelmenrdquo e sim a um pseudo-tholos

Outra informaccedilatildeo avulsa surge no acircmbito de apontamentos compilados por P

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 184 de 415

Azevedo (1905) Este autor para aleacutem de referecircncias aos siacutetios preacute-histoacutericos de

Belas Leceia e Campolide bem como de siacutetios do Vale de Alcacircntara destaca um

documento do seacuteculo XVII acerca do termo de Lisboa onde satildeo apontadas duas

provaacuteveis antas ao longo da linha de fronteira com Torres Vedras

[Uma] () direito as pedras das Antas que estatildeo na terra lavradia de

Domingos Ribeiro lavrador defronte do lugar do Jormello honde estatildeo cinco pedras

grandes em Redondo que fazem hum morouccedilo de pedras honde na pedra maior se

fez huma naveta que he a divisa da cidade em uma ilharga delapera ficar por marco

() [e a outra] ateacute chegar ao casal do Malforno o qual casal fica no termo de Torres

Vedras e o caminho que vai ao longo das casas do dito casal fica dividindo o termo

desta cidade com o termo de Torres Vedras e deste caminho vai partindo direito as

outras pedras das antas que estatildeo mais acima do dito casal contra o levante honde

estatildeo sete pedras grandes de Redondo e hua deitada no chatildeo antre elas e outras

piquenas as quais ficam por marco e destas pedras das Antas que ficam por marco

vai partindo direito contra o levante ateacute chegar honde se chama o Barro onde no

comaro da terra do Casal da Atalaia esta um marco () (cit in Azevedo 1905 p

163-164)

No acircmbito da realizaccedilatildeo da Carta Arqueoloacutegica de Mafra A C Sousa

(informaccedilatildeo pessoal) natildeo conseguiu relocalizar aquelas possiacuteveis antas

A toponiacutemia regional tambeacutem acrescenta potencialmente o nuacutemero de

possiacuteveis antas ou sepulcros afins (Fig 2) Contudo porque eacute hoje extremamente

difiacutecil analisar in loco a informaccedilatildeo recolhida haacute que consideraacute-las sob reserva

mesmo que noutras situaccedilotildees melhor preservadas seja em Lisboa ou noutras

regiotildees como o Alentejo tais topoacutenimos corresponderem frequentemente agraves

expectativas ndash aliaacutes na descriccedilatildeo de algumas das antas de Lisboa isso foi possiacutevel

verificar Mas o contraacuterio tambeacutem eacute vaacutelido e para tal bastaraacute lembrar a possiacutevel anta

do Zambujal Loures indicada pelo colector oitocentista dos Serviccedilos Geoloacutegicos

Antoacutenio Mendes (cit in Santos 1968) Posteriormente M C Santos e O V Ferreira

teratildeo procurado relocalizar a referida anta mas na aacuterea indicada apenas avistaram

grandes blocos basaacutelticos apresentando disjunccedilotildees prismaacuteticas pelo que admitiram a

possibilidade daquele colector tecirc-las confundido por restos de um edifiacutecio megaliacutetico

(Santos 1968 p 170)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 185 de 415

Recentemente J L Cardoso e A M Soares (informaccedilatildeo pessoal) deram conta

de uma possiacutevel anta no Faiatildeo ainda que soacute com a sua escavaccedilatildeo tal poderaacute ser

confirmado

A cartografia da informaccedilatildeo toponiacutemica recolhida juntamente com aquela

confirmada de facto pela existecircncia dos sepulcros revela uma dispersatildeo de

possiacuteveis sepulcros megaliacuteticos um pouco mais abrangente (Fig 2) todavia sem

desfazer por completo a jaacute referida delimitaccedilatildeo geograacutefica das antas que se analisaraacute

adiante bem como o seu cocircmputo situado entre duas e trecircs dezenas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 186 de 415

42 A implantaccedilatildeo e a construccedilatildeo das antas de Lisboa

A distribuiccedilatildeo das antas de Lisboa reconhecidas parece realccedilar para aleacutem do jaacute

mencionado reduzido nuacutemero uma relativa concentraccedilatildeo geograacutefica por

coincidecircncia correspondendo agrave aacuterea sul-sudoeste do Complexo vulcacircnico de Lisboa

(Fig 1 2 e 22) Tambeacutem por mero exerciacutecio teoacuterico se ignorar os restantes tipos de

sepulcros notam-se trecircs clusters destas estruturas funeraacuterias em Belas Campos de

Trigache e Verdelha do Ruivo surgindo as restantes relativamente isoladas (Fig 25-

30) Que poderaacute isso reflectir Julgo que em parte o impacto antroacutepico jaacute referido da

regiatildeo No entanto mesmo admitindo o desaparecimento de vaacuterias antas se forem

considerados os indiacutecios toponiacutemicos referidos atraacutes este cocircmputo natildeo ultrapassaria

as cerca de trecircs dezenas de antas na regiatildeo da Baixa Estremadura assunto a que

voltarei mais adiante

Analisando a questatildeo da implantaccedilatildeo das antas do territoacuterio de Reguengos de

Monsaraz Alentejo V S Gonccedilalves (1992 p 149) enumerava trecircs criteacuterios que

poderiam ter condicionado a sua localizaccedilatildeo preferencial em funccedilatildeo de uma

visibilidade positiva em funccedilatildeo de uma visibilidade negativa ou sem qualquer

condicionante especiacutefica No entanto acrescentava ainda uma quarta possibilidade

em que ldquoos criteacuterios de implantaccedilatildeo dos monumentos [teriam variado] conforme o

Tempo e o Espaccedilo neste uacuteltimo caso dependendo de caracteriacutesticas especiacuteficas dos

territoacuterios utilizados pelos grupos que a [implementaram] rdquo (Gonccedilalves 1992 p

150) nomeadamente o coberto vegetal da eacutepoca e diria a oro-hidrografia

A implantaccedilatildeo maioritaacuteria das antas de Lisboa conhecidas parece ter ocorrido

em rechatildes mais ou menos extensas eou elevadas Um dos melhores exemplos seraacute

com certeza o conjunto de Belas concretamente as antas de Monte Abraatildeo e Pedra

dos Mouros destacando-se na rechatilde relativamente extensa ainda que limitada a sul

pelo relevo hoje denominado Monte Abraatildeo Mas as antas de Pedras da Granja

Conchadas Pedras Grandes Alto da Toupeira 1 e 2 e Monte Serves tambeacutem se

ergueram em posiccedilotildees similares com maior ou menor domiacutenio paisagiacutestico ndash

Casaiacutenhos foi implantada numa pequena chatilde destacada no meio do vale e sobranceira

agrave ribeira homoacutenima As restantes antas foram construiacutedas em encostas mais ou

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 187 de 415

menos acentuadas sobretudo na parte cimeira ou aproveitando patamares existentes

como em Carcavelos e Trigache 1 e 4 A anta de Casal do Penedo foi erguida numa

encosta com uma inclinaccedilatildeo elevada provavelmente para tirar proveito dos

afloramentos do local em contraste com as pendentes mais suaves das localizaccedilotildees

das antas de Trigache 2 e 3 Quase no fundo do vale proacutexima do ribeiro que por ali

corre regista-se a anta do Carrascal talvez aquela com as caracteriacutesticas de

implantaccedilatildeo mais inusitadas principalmente quando apresenta tambeacutem um elevado

aprofundamento da sua cacircmara no substrato local

Quadro 3 Implantaccedilatildeo das antas da regiatildeo de Lisboa

Anta Topografia

Monte Abraatildeo Rechatilde Pedras Grandes Rechatilde Pedra dos Mouros Rechatilde Monte Serves Rechatilde Alto da Toupeira 1 e 2 Rechatilde Arruda Rechatilde Conchadas Rechatilde Pedras da Granja Rechatilde Batalhas Rechatilde Casaiacutenhos Chatilde no vale Casal do Penedo Encosta iacutengreme Carcavelos Patamar em encosta Trigache 1 Patamar em encosta Trigache 4 Patamar em encosta Estria Encosta Trigache 2 Encosta Trigache 3 Encosta Carrascal Encosta

Portanto exceptuando o caso de Carrascal poderaacute verificar-se que os sepulcros

foram instalados essencialmente em aacutereas de interfluacutevios ou proacuteximos destes Tais

escolhas poderatildeo ter-se baseado num aproveitamento circunstancial nomeadamente

a reduccedilatildeo detectada do coberto florestal durante os 4ordm-3ordm mileacutenios ane que afectou

sobretudo aquelas aacutereas topograacuteficas provocando a existecircncia de clareiras (Queiroz

1999) Em parte esta situaccedilatildeo ter-se-aacute devido ao abate de aacutervores destas cotas mais

acessiacuteveis e permitindo um melhor manuseamento dos lenhos Por outro lado dada a

inclinaccedilatildeo acentuada para sul de muitas bancadas calcaacuterias da regiatildeo a tarefa de

extracccedilatildeo de lajes estaria facilitada nos topos ou no alto das encostas como parece

ocorrer nos locais das antas Por outro lado muitos dos vales da regiatildeo apresentavam

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 188 de 415

as suas encostas bastante iacutengremes ou mesmo escarpadas dificultando a construccedilatildeo

nessas aacutereas

A perspectiva pragmaacutetica que sugiro acima mais do um determinismo

geograacutefico deveraacute ser entendida como tomadas de decisatildeo daquelas populaccedilotildees face

ao meio onde viviam e circulavam Sendo aquelas aacutereas de interfluacutevios por onde

provavelmente circulariam com maior frequecircncia julgo que teria feito sentido para

aqueles grupos a instalaccedilatildeo dos sepulcros em alguns desses pontos acessiacuteveis

sobretudo facilitado pelas circunstacircncias referidas Contudo coloca-se a questatildeo

acerca do tipo de visibilidade que estes sepulcros teriam

A pequena anta de Monte Serves foi situada num ponto quase cumeada com

grande domiacutenio de paisagem avistando para sul uma larga extensatildeo do estuaacuterio do

Tejo e os vales em redor E no entanto esta natildeo se destaca sendo apenas

reconhecida a meia distacircncia por quem soubesse onde se situava proacutexima do relevo

homoacutenimo Como se desconhece uma cronologia fina para este sepulcro eacute tambeacutem

difiacutecil perceber o papel deste face aos povoados da Pedreira do Casal do Penedo 1 ou

de Moita Ladra (North Boaventura e Cardoso 2005)

Outros exemplos de relevos importantes proacuteximos das antas podem ser

apontados para o Alto da Toupeira Carcavelos Trigache ou Belas De facto apesar

destes sepulcros apresentarem alguma visibilidade local a partir dos vales e cumes

circundantes as suas localizaccedilotildees natildeo permitiam com algumas excepccedilotildees avistar ou

serem avistados para aleacutem destes horizontes limitados Por isso a sua situaccedilatildeo ainda

que em aacutereas deprimidas quando avaliadas no relevo atribulado da regiatildeo de Lisboa

mas junto de pontos naturais destacados poderia ter suprido este constrangimento

caso fosse essa um das intenccedilotildees ndash marcar o territoacuterio (Gonccedilalves e Sousa 2000) De

certo modo esta verificaccedilatildeo tem sido proposta noutras aacutereas regionais

nomeadamente no Noroeste peninsular onde sepulcros tendem a localizar-se

proacuteximo de grandes afloramentos (Criado Boado Faacutebregas Valcarce e Vaquero

Lastres 1994) No entanto tais referecircncias geograacuteficas seriam melhor identificadas

por aqueles que conhecessem de facto aqueles locais e a existecircncia de tais

necroacutepoles e natildeo tanto por forasteiros de passagem

Quando se cruzam as implantaccedilotildees e as cronologias conhecidas os resultados

satildeo limitados Os casos diacronicamente opostos Carrascal e Estria parecem seguir

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 189 de 415

implantaccedilotildees semelhantes Isto poderia significar um momento inicial onde a relativa

proeminecircncia local ainda natildeo seria importante algo que tambeacutem ocorreria no final da

tradiccedilatildeo construtiva megaliacutetica Mas tal leitura aconselha reserva

As soluccedilotildees construtivas das antas de Lisboa ainda que genericamente

semelhantes agraves de outras regiotildees como o Alentejo apresentavam algumas

caracteriacutesticas especiacuteficas algumas delas talvez realccedilando a importacircncia menor dada

a um destaque supralocal das estruturas

O espaccedilo interior da cacircmara destas antas surgia frequentemente numa cota

inferior agrave superfiacutecie original e exterior Este afundamento parcial do espaccedilo interno

tornava-se possiacutevel pois aparentemente eram escolhidas zonas alteradas do

substrato rochoso o que facilitava a tarefa de abertura dos alveacuteolos dos esteios e

eventual escavaccedilatildeo daquele espaccedilo Contudo nem sempre tal tarefa teraacute acertado

totalmente com a referida mancha como foi possiacutevel verificar nas antas de Pedras

Grandes e Pedras da Granja Noutros casos o aprofundamento realizado foi bastante

elevado como parece evidente na anta do Carrascal mas tambeacutem em Monte Abraatildeo

e Estria Aliaacutes neste uacuteltimo sepulcro acredito que a desorientaccedilatildeo do sepulcro se

deveu agrave prioridade dada a um substrato rochoso adequado agrave escavaccedilatildeo do recinto No

caso de Carcavelos notou-se que a cacircmara foi semi-escavada vencendo a ligeira

pendente norte-sul De tal forma que a sua degradaccedilatildeo e maior exposiccedilatildeo erosiva

verificada eacute do lado sul A anta de Casaiacutenhos seraacute talvez o exemplo oposto visto que

o substrato rochoso onde se instalou natildeo teraacute permitido um aprofundamento da

cacircmara ainda que nas depressotildees deste tenham surgido materiais arqueoloacutegicos Esta

dificuldade parece evidente hoje quando se observa a carcaccedila remanescente do

sepulcro com os esteios quase sem alveacuteolo de sustentaccedilatildeo

O motivo real para o aprofundamento das cacircmaras eacute difiacutecil de discernir mas

talvez se devesse agrave necessidade de consolidar a estrutura do sepulcro No entanto

pelo menos em alguns casos parece existir alguma aproximaccedilatildeo com a estrateacutegia de

escavaccedilatildeo das grutas artificiais ou posteriormente dos tholoi Por outro lado esta

soluccedilatildeo reduziria o investimento necessaacuterio no tumulus envolvente caso este tenha

sido produzido para a maioria das antas de Lisboa

Os trabalhos de escavaccedilatildeo antigos nas antas centraram-se sobretudo no interior

destas sabendo-se pouco acerca das aacutereas exteriores A referecircncia a mamoas ou agrave sua

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 190 de 415

existecircncia eacute rara J L Vasconcelos (1898) apontava um ldquoaltinhordquo em redor da anta

da Arruda admitindo que pudesse corresponder aos restos do tumulus jaacute muito

destruiacutedo pela lavoura No entanto nenhum trabalho foi realizado para o verificar F

C Ribeiro (cit in ALeisner Leis61) tambeacutem se referia agrave existecircncia de mamoa na anta

de Trigache 2 sem que tenha testado essa leitura hoje impossiacutevel de ser realizada

No sepulcro de Pedras da Granja E C Serratildeo (1982-83) apontava uma possiacutevel

estrutura tumular delimitada mas tal realidade tem de ser encarada com reserva

Aleacutem destes casos apenas Monte Serves parece manter de facto uma mamoa

identificaacutevel (North Boaventura e Cardoso 2005) ainda que parte do relevo possa

corresponder ao substrato rochoso local Aqui tambeacutem natildeo foi realizada qualquer

vala de sondagem no exterior do sepulcro para a sua avaliaccedilatildeo mas que seria de todo

o interesse realizar no futuro

O inventaacuterio de V Leisner (1965) registava a impressatildeo que ainda hoje se

manteacutem para alguns dos sepulcros sobreviventes possiacuteveis vestiacutegios de tumulus ou

pouco evidentes mas que nunca foram avaliados Ateacute agraves recentes escavaccedilotildees das

antas de Pedras Grandes e Carcavelos apenas se tinha ensaiado a realizaccedilatildeo de

sondagens na anta do Carrascal visando avaliar a presenccedila de tumulus mas com

resultados incompletos e inconclusivos (informaccedilatildeo pessoal de T Simotildees) Pelo

menos nas duas antas intervencionadas natildeo foi possiacutevel identificar a mamoa se de

facto existiu Os esteios destes edifiacutecios foram calccedilados por dentro e por fora para

melhor sustentaccedilatildeo acrescentando-se ainda um anel peacutetreo externo de contraforte

que abraccedilava todos os esteios por sua vez coberto por terra No entanto a sua

extensatildeo natildeo ultrapassava os 2 metros a partir da face externa dos esteios levando a

crer que em altura aquele anel natildeo cobriria a totalidade do esqueleto peacutetreo do

sepulcro A ser assim entatildeo coloca-se a questatildeo de como se fechava a cacircmara com

uma grande laje ou com outro tipo de cobertura Apesar do conhecimento limitado

desta caracteriacutestica entre as antas de Lisboa creio que seria com uma grande laje a

exemplo do que subsiste em Monte Abraatildeo e contudo nesta anta os vestiacutegios de

mamoa satildeo residuais necessitados de avaliaccedilatildeo Portanto se admitir que as antas de

Lisboa natildeo tiveram mamoas integrais eacute provaacutevel que pelo menos tenham sido

criadas rampas para permitir a colocaccedilatildeo dos respectivos chapeacuteus Entretanto a

erosatildeo multi-milenar natural e humana dificultou a verificaccedilatildeo dos vestiacutegios dessas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 191 de 415

rampas Mas o mesmo argumento pode ser referido para as eventuais mamoas

Outro criteacuterio aparentemente importante para a implantaccedilatildeo das antas teraacute sido

a proximidade da mateacuteria-prima necessaacuteria para a sua construccedilatildeo Como natildeo foi

possiacutevel promover a colaboraccedilatildeo de um geoacutelogo para um projecto global que

desenvolvesse um estudo aprofundado e sistemaacutetico de proveniecircncia dos elementos

ortostaacuteticos optei por utilizar a informaccedilatildeo disponibilizada pelos escavadores das

antas na sua maioria geoacutelogos de profissatildeo cruzando-a com os meus conhecimentos

elementares de geologia Apenas no caso de Pedras Grandes contei com a

colaboraccedilatildeo da geoacuteloga Lara Saacute (Cacircmara Municipal de Odivelas) para uma breve

avaliaccedilatildeo daqueles elementos e dos afloramentos vizinhos

As rochas calcaacuterias consoante o faacutecies disponiacutevel na respectiva aacuterea foram a

mateacuteria-prima essencial utilizada na construccedilatildeo das antas de Lisboa sobretudo na

forma de grandes lajes mas tambeacutem como blocos menores ainda que entre estes

surjam com frequecircncia basaltos e rochas afins A qualidade das rochas calcaacuterias natildeo

teraacute sido condicionante maior nas soluccedilotildees arquitectoacutenicas mas sim na sua

preservaccedilatildeo ateacute os dias de hoje (excluindo aqui a acccedilatildeo humana) A

monumentalidade das antas de Pedra dos Mouros Monte Abraatildeo Pedras Grandes

Carcavelos etc eacute disso claro exemplo

Quando avaliada a proximidade de afloramentos com o potencial para

extracccedilatildeo de lajes em quase todos os casos isso teraacute ocorrido maioritariamente nas

imediaccedilotildees a poucas dezenas de metros ou mesmo no proacuteprio local de erecccedilatildeo Esta

uacuteltima situaccedilatildeo parece ter ocorrido nas antas de Casal do Penedo Monte Serves e

Estria As maiores distacircncias registadas para a proveniecircncia de algumas lajes

verificaram-se nas antas de Monte Abraatildeo a algumas centenas de metros e de

Pedras da Granja a cerca de 1 km Este limitado raio de acccedilatildeo deveraacute relacionar-se

com a proacutepria oro-hidrografia da regiatildeo relativamente acidentada apresentando

vales profundos e ainda relativamente arborizados que dificultariam a deslocaccedilatildeo de

pesados monoacutelitos por longos percursos sujeitos a declives acentuados As

proveniecircncias mais distantes referidas correspondem a antas de aacutereas sem obstaacuteculos

naturais significativos entre os locais de extracccedilatildeo e de erecccedilatildeo

Os estudos realizados no Alto Alentejo (Dehn Kalb e Vortisch 1991 Kalb

1996 Kalb e Houmlck 1996 Boaventura 1999-2000 e 2000) acerca da origem

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 192 de 415

geoloacutegica dos ortoacutestatos das antas apesar de registarem essencialmente origens

locais ou das suas imediaccedilotildees apresentaram casos de distacircncias superiores entre 8 e

12 km agravequelas registadas para Lisboa No entanto a oro-hidrografia da planura

alentejana com regiotildees abertas e sem obstaacuteculos naturais influentes teraacute facilitado o

transporte destes blocos

A proximidade da mateacuteria-prima para a construccedilatildeo dos sepulcros ortostaacuteticos

parece tambeacutem ocorrer noutras regiotildees europeias quase sempre com excepcionais

transportes de longa distacircncia ainda que por vezes atribuiacutedos ao transporte natural

por arrasto dos glaciares durante periacuteodos de influecircncia polar (Burl 1991 Thorpe e

Williams-Thorpe 1991 Patton 1992 Scarre 2004)

O esteio de cabeceira de Pedras Grandes suscita algum interesse ainda que natildeo

possa provavelmente ser considerado pela sua esteacutetica Ali houve a escolha com

certeza consciente de uma grande laje desequilibrada isto eacute a sua base apenas

apresentava metade da largura total do bloco Esta situaccedilatildeo foi reparada pelos seus

construtores ao abrirem um meio alveacuteolo adequado reforccedilado por um soco de

pedras Tal reforccedilo natildeo foi suficiente todavia pois a sua limitada implantaccedilatildeo teraacute

sido um dos motivos para a sua queda posterior No entanto como tambeacutem o esteio

lateral a norte apresentava uma base assimeacutetrica que comprometia a sua sustentaccedilatildeo

julgo que aquelas utilizaccedilotildees se sujeitaram ao aproveitamento dos blocos mais

adequados entre aqueles disponiacuteveis na vizinhanccedila De facto a observaccedilatildeo possiacutevel

das bancadas calcaacuterias que ainda persistem (do lado sul jaacute desapareceram mas

seriam semelhantes) com inclinaccedilatildeo para sul localizadas a cerca de 20 metros a

norte da anta permitiu verificar que os tipos de lajes utilizadas provieram daquelas

com grande probabilidade sobretudo do faacutecies superior enquanto outros esteios de

uma rocha de matriz mais argilosa teriam sido sacados no faacutecies imediatamente

inferior A disponibilidade de lajes nestes afloramentos eacute ainda tal que natildeo seria

difiacutecil construir hoje uma nova anta (Fig 72 1) Situaccedilotildees similares podem referir-se

para as restantes antas observadas sobretudo quando se observam as imagens mais

antigas Em todas elas existiam por vezes ainda hoje afloramentos passiacuteveis de

exploraccedilatildeo liacutetica Poderia falar-se entatildeo de uma utilizaccedilatildeo oportunista da mateacuteria-

prima Julgo que sim mas simultaneamente podendo ser apontados alguns indiacutecios

de selectividade

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 193 de 415

Como algumas antas jaacute desapareceram natildeo foi possiacutevel uma anaacutelise cuidada

dos seus esteios Contudo naquelas que pude observar verifiquei alguns aspectos

interessantes que colocam a possibilidade de uma valorizaccedilatildeo esteacutetica da qualidade

da rocha utilizada

Primeiramente os blocos utilizados natildeo apresentam qualquer tipo de trabalho

evidente Esta atitude face a rochas que seriam mais facilmente trabalhadas do que

os granitos da regiatildeo vizinha alentejana mas natildeo o foram recorda a proposta de C

Scarre (2004) de uma intencionalidade na escolha e sobretudo numa valorizaccedilatildeo de

pedras naturalmente em bruto

As antas de Belas apresentam vaacuterios dos seus esteios com faces repletas de

icnofoacutesseis provavelmente de thalassinoides com certeza obtidos nas bancadas

calcaacuterias locais ainda que natildeo tenha sido possiacutevel localizar exactamente qual o

faacutecies Apesar do padratildeo registado em cada uma das antas natildeo ser totalmente similar

e infelizmente estas natildeo se encontrarem completas julgo eacute mesmo assim

interessante realccedilar a forma como os esteios foram dispostos Pelo que eacute hoje

possiacutevel avaliar o esteio da cabeceira de Pedra dos Mouros apresentava esta

caracteriacutestica mas o lateral sul jaacute natildeo No entanto o esteio sequente a sul surge com

o mesmo padratildeo Estria eacute o caso aparentemente mais completo aqui o esteio de

cabeceira eacute acompanhado pelos dois seguintes pares de esteios todos eles com as

faces internas repletas de icnofoacutesseis Soacute o uacuteltimo par de esteios apresenta ortoacutestatos

lisos com uma componente mais argilosa Finalmente a cacircmara de Monte Abraatildeo

surge com uma disposiccedilatildeo peculiar o esteio de cabeceira eacute bastante rugoso

semelhante agrave laje de cobertura mas estaacute ladeado por dois ortoacutestatos com os paineacuteis

de foacutesseis virados para dentro seguindo-se-lhes outros dois mas agora com aquelas

faces para o exterior O par sequente restringe-se ao esteio sul sem foacutesseis Esta

alternacircncia poderia justificar-se se as faces externas dos esteios fossem tambeacutem

visiacuteveis o que sustentaria a hipoacutetese da existecircncia limitada de uma mamoa talvez

funcionando no essencial como um anel de contraforte

Aleacutem destes casos o esteio de cabeceira da anta de Carcavelos um calcaacuterio

conquiacutefero bastante rico em restos de conchas fossilizadas tambeacutem parece apresentar

esta qualidade esteacutetica mas como natildeo se verificou um padratildeo com os restantes

esteios a sua interpretaccedilatildeo eacute reservada

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 194 de 415

Caso similar da regiatildeo vizinha alentejana onde a intencionalidade esteacutetica

parece manifestar-se eacute aquele da anta de Rabuje 4 (Boaventura 1999-00 e 2000 em

estudo) onde a sua construccedilatildeo produziu uma cacircmara com um esteio de cabeceira em

xisto biotiacutetico ladeado por dois pares de ortoacutestatos de granito rosa prolongando-se o

seu corredor com mais lajes de xisto

A tradiccedilatildeo de produccedilatildeo de covinhas em sepulcros megaliacuteticos e afloramentos

proacuteximos destas necroacutepoles eacute relativamente frequente no Alentejo (Leisner e Leisner

1951 e 1959 Gonccedilalves 1993 Calado 1995 2004 e 2005 Rocha 2004) Apesar

dos motivos para a sua realizaccedilatildeo suscitar debate podendo de facto existirem vaacuterias

explicaccedilotildees (Gonccedilalves 1993) estas natildeo se registaram ateacute o momento nas antas da

Estremadura A excepccedilatildeo de um pequeno conjunto de 6 covinhas foi registada num

ortoacutestato de arenito do corredor do tholos da Tituaria (Cardoso et al 1996) No

entanto por ser inusitado e corresponder a um tipo de sepulcro cronologicamente

mais avanccedilado limito-me a registaacute-lo

Face ao exposto julgo que as antas de Lisboa foram construiacutedas em locais

circunspectos sobretudo condicionadas pela fisiografia e pela proximidade e faacutecil

acesso da mateacuteria-prima Se aquelas comunidades quisessem de facto tornar

proeminentes os seus sepulcros bastaria terem-nos erigido nos relevos destacados

que se registavam nas proximidades Contudo a monumentalidade destas estruturas

garantia por si um destaque local e talvez esse fosse suficiente para as comunidades

construtoras e aquelas suas vizinhas

421 Tipologia das antas de Lisboa

O nuacutemero reduzido e a qualidade da informaccedilatildeo acerca das antas da regiatildeo de

Lisboa limitam as ilaccedilotildees a retirar acerca da tipologia destas Entre aquelas que

permitiram uma leitura mais ou menos segura parecem notar-se essencialmente dois

grupos (Fig 126)

1 Antas com cacircmara poligonal de sete esteios com corredores baixos face agrave

altura daquela apresentando extensotildees curtas ou meacutedias natildeo se registando passagens

longas ou muito longas ndash a classificaccedilatildeo do tipo de corredor quanto agrave sua extensatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 195 de 415

segue a proposta de V S Gonccedilalves (1989b e 1993)

2 Antas com cacircmara trapezoidal alongada ou sub-rectangular sem corredor

demarcado

As antas com cacircmaras poligonais satildeo as melhores representadas com 13

exemplares (ainda que 7 delas apresentem as suas plantas incompletas) Entre os 8

sepulcros onde foi identificado o corredor Monte Abraatildeo destaca-se pela extensatildeo

apontada de 4 metros natildeo ultrapassando os restantes acessos os 2 m250 m de

comprimento Em contraste a passagem de Pedras Grandes eacute tatildeo curta que a

designaccedilatildeo mais apropriada seria a de portal Naquelas antas em que se desconhece a

existecircncia de corredores tal poderaacute dever-se a falta de escavaccedilatildeo das provaacuteveis

aacutereas que parecem ter sido muito perifericamente abordadas

Quadro 4 Tipologia e dimensotildees das antas da regiatildeo de Lisboa

Tipo Siacutetio Cacircmara

(LxCxA) metros

Corredor (LxCxA) metros

Carrascal 350 x 350 x ~280 ~15x250x~1 Pedra dos Mouros ~4 x ~4 x ~5

Poligonal Monte Abraatildeo 280 x 360 x ~350 ~120x~4x Estria 380 x 4 x ~275 Pedras Grandes 350 x 320 x ~3 1x1x~050 Alto da Toupeira 1 5 x 55 x ~2 Trigache 2 550 x x ~1x210x050 Trigache 4 5 x x 1x220x Conchadas 290 x x 125x2x050 Carcavelos 350 x 3 x ~190 x250x Casaiacutenhos 350 x 5 x ~250 115x2x Pedras da Granja 440 x 4 x 26 Trigache 1 Batalhas Alto da Toupeira 2 Arruda 445127 x 771 x 321 na

Trapezoacuteide Casal do Penedo 35 x 65 x 150 na Monte Serves 120 x 2 x ~1 na Trigache 3 175 x 450 x 1 na

Se forem consideradas as extensotildees vestibulares natildeo ortostaacuteticas das antas de

Monte Abraatildeo e Casaiacutenhos estas apresentariam corredores longos atingindo cerca

de 6 metros algo que em menor extensatildeo tambeacutem parece ter ocorrido em

Conchadas

A cacircmara poligonal de Estria apresentava-se aparentemente um pouco mais

alongada mas infelizmente pelo que jaacute foi referido noutro local natildeo eacute possiacutevel

aceitar pacificamente a passagem recriada durante os trabalhos de valorizaccedilatildeo da

anta

No reduzido grupo de cacircmaras trapezoidais encontram-se alguns sepulcros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 196 de 415

com entradas sem evidecircncia de corredor bem marcado (Monte Serves Casal do

Penedo Arruda e Trigache 3) Contudo se para o primeiro sepulcro eacute ainda hoje

possiacutevel confirmar a leitura nos restantes a classificaccedilatildeo baseia-se nos dados

disponiacuteveis dos seus escavadores

Se as cacircmaras poligonais encontram paralelos com regiotildees vizinhas proacuteximas

nomeadamente Alentejo Alta Estremadura e Beiras alguns autores viram nos

sepulcros com plantas trapezoidais (entre as quais algumas por mim consideradas

agora fora desse grupo) claras influecircncias da cultura almeriense do Sul-Sudeste

ibeacuterico (Ferreira 1959 Leisner e Ferreira 1959) No entanto tais caracteriacutesticas

arquitectoacutenicas satildeo tambeacutem passiacuteveis de encontrar-se no mundo funeraacuterio beiratildeo

(Leisner e Kalb 1998) Curiosamente os artefactos apontados como claras

influecircncias de Almeria por exemplo o ldquoiacutedolo chatordquo natildeo surgiram nas antas com o

tipo de planta trapezoidal mas sim em cacircmaras poligonais nomeadamente Monte

Abraatildeo e Casaiacutenhos

Quando se contrasta o tipo de antas de Lisboa com as propostas de evoluccedilatildeo

tipoloacutegica para estas no Centro-Sul de Portugal (Leisner e Leisner 1951 e 1959

Leisner 1965 e 1983 Moita 1956 e 1966 Kalb 1981 1988 e 1989 Soares e Silva

1983 e 2000 Oliveira 1997b Rocha 2005) parece verificar-se a ausecircncia na regiatildeo

de Lisboa dos tipos considerados mais antigos nomeadamente sepulturas

protomegaliacuteticas e sepulcros de cacircmaras simples de meacutedia dimensatildeo ndash os exemplares

correspondentes a esses primeiros sepulcros seriam eventualmente Trigache 1 e

Monte Serves ndash contudo a planta incompleta e o parco espoacutelio do primeiro que

tambeacutem estaacute quase ausente (algumas lascas de siacutelex) no segundo natildeo permitem o

esclarecimento dessas duacutevidas Um pouco mais para norte da regiatildeo de Lisboa

Cabeccedilo da Arruda 3 supostamente uma pequena sepultura onde se avistou um

esqueleto com um machado poderia corresponder agravequele tipo de sepulcro sobretudo

porque a revisatildeo da colecccedilatildeo osteoloacutegica (se natildeo tiver sido contaminada) aponta

pelo menos um nuacutemero de 3 indiviacuteduos (Silva 2002)

A disponibilidade de cavidades naturais da regiatildeo estremenha poderia explicar

a inexistecircncia dos primeiros tipos de sepulcros ortostaacuteticos Assim dada a tradiccedilatildeo

funeraacuteria aparentemente troglodita dos grupos humanos estremenhos (Oosterbeek

1997a e 1997b) a adopccedilatildeo dos novos contentores funeraacuterios ortostaacuteticos teria

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 197 de 415

ocorrido numa fase posterior No entanto como se poderaacute verificar adiante a

cronologia absoluta disponiacutevel para a Estremadura e Alentejo ainda que limitada

natildeo indica qualquer tipo de precedecircncia entre as antas das duas regiotildees apesar da

diferenccedila arquitectural ndash em Lisboa antas com cacircmara poligonal e corredor curto

(Carrascal e Pedras Grandes) apresentam dataccedilotildees semelhantes a antas alentejanas

com pequenas cacircmaras (Cabeceira 4 Sobreira 1 e Rabuje 5) num caso

correspondendo a uma sepultura protomegaliacutetica (Cabeccedilo da Areia)

O significado cronoloacutegico entre os dois formatos de antas conhecidas para

Lisboa eacute inconclusivo mesmo depois de se cruzar a informaccedilatildeo disponiacutevel Apesar

dos dados muito limitados eacute possiacutevel admitir a existecircncia de algum polimorfismo

entre sepulcros aparentemente contemporacircneos na medida em que os intervalos de

tempo permitem percebecirc-lo Por exemplo as antas de Casal do Penedo e Arruda

com cacircmaras trapezoidais e aquelas de Monte Abraatildeo e Carcavelos com cacircmaras

poligonais apresentam espoacutelios e dataccedilotildees muito similares o mesmo parece ocorrer

com as antas de Estria e Trigache 3 provavelmente sepulcros erigidos tardiamente

mas que apresentam plantas distintas

Portanto face agraves limitaccedilotildees da anaacutelise tipoloacutegica das antas seraacute com a anaacutelise

dos espoacutelios e suas cronologias relativas e absolutas que se poderaacute eventualmente

obter uma leitura crono-cultural menos difusa para as antas de Lisboa

422 A orientaccedilatildeo prescrita

Os trabalhos sistemaacuteticos desenvolvidos acerca da orientaccedilatildeo geograacutefica das

entradas dos sepulcros enquadrados no Megalitismo do Centro-Sul de Portugal

nomeadamente das antas vieram demonstrar uma tendecircncia geral e constante virada

para nascente sobretudo este-sudeste com algumas excepccedilotildees que apenas parecem

confirmar essa verificaccedilatildeo (Gonccedilalves 1993 e 2003e Hoskin e Calado 1998

Hoskin 2001 Oliveira Rocha e Silva 2007)

No caso da regiatildeo de Lisboa Michael Hoskin (2001) havia registado a

orientaccedilatildeo de algumas das antas e outros sepulcros bem como se conheciam as

mediccedilotildees actualizadas para as necroacutepoles de grutas artificiais de Alapraia

(Gonccedilalves 2003e) e Casal do Pardo (Soares 2003) Contudo quedavam-se por

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 198 de 415

conhecer de forma sistemaacutetica as orientaccedilotildees de vaacuterias antas Isso foi realizado para

os sepulcros sobreviventes e passiacuteveis de mediccedilatildeo dentro das circunstacircncias

possiacuteveis em colaboraccedilatildeo com Cacircndido Marciano da Silva durante o ano de 2004

optando-se por rever as orientaccedilotildees daqueles abordados por M Hoskin (2001) Os

valores apresentados devem ser encarados como preliminares pois pretende realizar-

se uma segunda ronda de mediccedilotildees

Os resultados obtidos para as antas confluem com aqueles apresentados

anteriormente mantendo-se a mesma tendecircncia de orientaccedilatildeo a nascente com as

provaacuteveis variaccedilotildees Algumas resultaram talvez do momento sazonal em que teraacute

sido definido o alinhamento do sepulcro a construir Outras diferenccedilas entre as

leituras registadas deveram-se com probabilidade ao grau de subjectividade

implicado no estabelecimento do alinhamento medido bem como em alguns casos

pela degradaccedilatildeo ou melhoria das condiccedilotildees de visibilidade do local no momento da

visita

Finalmente em algumas antas apenas se pode utilizar os valores registados por

outros investigadores desconhecendo-se se a declinaccedilatildeo magneacutetica foi corrigida

nomeadamente pelo casal Leisner (Leisner 1965) ou somente pela representaccedilatildeo

graacutefica disponiacutevel como aquelas de Trigache e Conchadas obtidas a partir dos

apontamentos de F C Ribeiro (Leisner e Ferreira 1959 e 1961) No caso de

Trigache 1 a leitura proposta natildeo foi utilizada por ser ainda menos fiaacutevel dado o

estado de destruiccedilatildeo do sepulcro No entanto apesar das limitaccedilotildees referidas

considerei como relativamente verosiacutemeis as leituras conhecidas destes sepulcros

desaparecidos sobretudo porque se aproximam dos valores obtidos recentemente

com objectivos especiacuteficos e maior rigor

Apesar de todas as condicionantes enumeradas o caso da anta da Estria

destaca-se pela diferenccedila Como refiro noutros pontos deste trabalho alguns motivos

teratildeo contribuiacutedo para este desalinhamento A implantaccedilatildeo num ponto faacutecil de

escavar e que facilitava a instalaccedilatildeo do sepulcro em detrimento da orientaccedilatildeo

prescrita teraacute sido com certeza um desses motivos mas o facto de tal ter sido

admitido consubstancia uma razatildeo superestrutural o decliacutenio da importacircncia de

prescriccedilatildeo da orientaccedilatildeo da anta a nascente ndash ainda que se mantivessem outros

preceitos Esta impressatildeo parece reforccedilada pela cronologia relativa e absoluta

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 199 de 415

conhecidas para a anta da Estria De facto desta natildeo se conhece espoacutelio

especialmente caracteriacutestico do 4ordm mileacutenio ane como por exemplo geomeacutetricos e

utensiacutelios de pedra polida surgindo apenas espoacutelio melhor integraacutevel no 3ordm mileacutenio

ane ou na transiccedilatildeo para este como um baacuteculo de xisto artefactos de calcaacuterio e

pontas de seta de base cocircncava As duas dataccedilotildees pelo radiocarbono situam-se com

uma probabilidade superior a 90 entre 2900 e 2570 ane (Anexo 3 Quadro 2)

mas requerem-se mais dataccedilotildees para um melhor balizamento cronoloacutegico absoluto

Quadro 5 Orientaccedilatildeo dos acessos das antas tholoi e grutas artificiais da regiatildeo de Lisboa

Siacutetio

Anta

Azimute (Hoskin 2001)

Azimute ( m ) (Mediccedilatildeo preliminar de

C M Silva 2004) Observaccedilatildeo

Monte Abraatildeo 98ordm 99ordm (101ordm) Carrascal 110ordm 94ordm (96ordm) Carcavelos 111ordm 120ordm (122ordm) Mediccedilatildeo apoacutes escavaccedilatildeo Estria 213ordm 212ordm (217ordm) Pedras Grandes - 128ordm (130ordm) Mediccedilatildeo apoacutes restauro Monte Serves - 112ordm (114ordm) Pedra dos Mouros - nm E-SE Casaiacutenhos - 112ordm (114ordm) Alto da Toupeira 1 - 126ordm (128ordm) Casal do Penedo - 90ordm Leisner 1965 Arruda - 112ordm Planta de Vasconcelos 1898 Trigache 2 - 115ordm Leisner 1965 Trigache 3 - 135ordm Leisner 1965 Trigache 4 - 135ordm Leisner 1965 Conchadas - 115ordm Leisner 1965 Pedras da Granja - 110ordm Planta de Zbyszweski et al 1977 Trigache 1 - 80ordm Leisner 1965 Batalhas - - Sem informaccedilatildeo

Tholos Tituaria 105ordm 105ordm (107ordm) Satildeo Martinho 1 118ordm 123ordm (125ordm) Monge 152ordm 210ordm (212ordm) Praia das Maccedilatildes - 48ordm (50ordm) 70ordm segundo V Leisner (1965)

Bela Vista 80ordm nm Pseudo-tholos Orientaccedilatildeo inicialmente publicada (Mello et al 1961) eacute divergente

Barro (Alta Estremadura) 160ordm nm

Paimogo 1 (Alta Estremadura) - 115ordm Planta de Spindler e Gallay

1972 Gruta artificial

Vila Chatilde 1 38ordm nm Vila Chatilde 2 153ordm nm Vila Chatilde 3 174ordm nm Alapraia 1 109ordm nm Alapraia 2 166ordm nm Alapraia 3 118ordm nm Alapraia 4 109ordm nm

Mediccedilotildees de V S Gonccedilalves (2003e) em grados convertidas para graus ndash correcccedilatildeo da declinaccedilatildeo desconhecida

Casal do Pardo 1 102ordm nm Casal do Pardo 2 29ordm nm Casal do Pardo 3 201ordm nm

Mediccedilotildees de J Soares (2003) Correcccedilatildeo da declinaccedilatildeo desconhecida

Folha das Barradas - 270ordm Planta de C Ribeiro (1880) m ndash azimute magneacutetico (obtido com buacutessola e corrigido agrave esquerda azimute verdadeiro usando uma declinaccedilatildeo de 2ordmW nm ndash natildeo medido

A anta da Estria poderia entatildeo marcar um momento em que os preceitos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 200 de 415

maacutegico-religiosos estabelecidos do Megalitismo se haviam modificado De facto

esta estrutura poderia representar um dos uacuteltimos edifiacutecios daquele tipo construiacutedos

na regiatildeo de Lisboa algures na transiccedilatildeo dos mileacutenios

Portanto a excepccedilatildeo descrita parece confirmar para as restantes antas a regra

do alinhamento para nascente este-sudeste situaccedilatildeo recorrentemente verificada nos

trabalhos jaacute referidos (Gonccedilalves 1993 e 2003e Hoskin e Calado 1998 Hoskin

2001 Oliveira Rocha e Silva 2007) Se a este preceito juntar-se o padratildeo mais ou

menos definido das antas com cacircmaras poligonais com sete esteios com e sem

corredor mais ou menos curto cujas cronologias absolutas conhecidas afiguram

situaacute-las essencialmente entre os meados e o final do 4ordm mileacutenio ane algo tambeacutem

verificado genericamente no resto do Centro-Sul de Portugal entatildeo isso poderaacute

realccedilar um periacuteodo de apogeu deste cacircnone relativamente mais curto que o

fenoacutemeno do Megalitismo abrangido por este trabalho Aliaacutes alguns dos sepulcros

teoricamente mais antigos possivelmente atribuiacuteveis agrave primeira metade e meados do

4ordm mileacutenio ane parecem apresentar as orientaccedilotildees mais discrepantes como se

verificou na regiatildeo de Montemor-o-Novo onde entre as sepulturas protomegaliacuteticas

cerca de 15 destas (10 sepulturas) alinhavam para poente (Oliveira Rocha e Silva

2007) Isto poderia indiciar uma fase de formaccedilatildeo do cacircnone entretanto generalizado

na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane mas seria importante ampliar esta leitura

para outras regiotildees nomeadamente alentejanas de forma a confirmar tal hipoacutetese

Segundo M Hoskin (2001) a orientaccedilatildeo dos sepulcros do sudoeste peninsular

teria um motivo astronoacutemico podendo relacionar-se entre outros com os solstiacutecios

de Veratildeo e Inverno os equinoacutecios ou os ciclos lunares Contudo este autor

acreditava que o solstiacutecio de Inverno teria sido o principal denominador comum

dada a concentraccedilatildeo dos alinhamentos obtidos naquele intervalo este-sudeste Face a

esta hipoacutetese o autor ilustrava a questatildeo ldquoas the solstice approached the sunrsquos rising

point had for almost six months been moving south along the horizon and of late the

days had been getting alarmingly short and gloomy Unless the sun called a halt and

reversed the movement of sunrise darkness and cold would take over and human

life would cease Happily at the solstice and no doubt in response to ritual appeals

the sun did stop its alarming southwards progress and began its return with the

promise of a new yearrdquo (Hoskin 2001 p 17)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 201 de 415

Assim aleacutem do alinhamento preponderante do solstiacutecio de Inverno entre as

antas seria possiacutevel admitir que aquelas orientaccedilotildees distintas e minoritaacuterias mas

balizadas pelos dois solstiacutecios poderiam corresponder a momentos peculiares do

ano Entatildeo o eixo destes sepulcros teria sido estabelecido e eventualmente iniciada a

sua construccedilatildeo fora da eacutepoca preferencial

Utilizando as mesmas mediccedilotildees obtidas para os sepulcros da regiatildeo alentejana

Cacircndido Marciano da Silva (2004) propocircs uma nova interpretaccedilatildeo relacionando a

mesma concentraccedilatildeo de orientaccedilotildees com a ldquoLua de Primaverardquo Tal como o Sol

tambeacutem o planeta sateacutelite apresentava um ciclo semelhante ainda que em oposiccedilatildeo agrave

estrela Entre os vaacuterios ciclos lunares o momento em que a Lua e o Sol trocavam de

posiccedilatildeo ao nascer (cross-over) na Primavera perto do equinoacutecio de Veratildeo (ainda

que ocorra outro cruzamento no Outono) teria grande impacto sobre as populaccedilotildees

preacute-histoacutericas sobretudo porque anunciaria o fim da invernia sazonal (Silva 2004)

Esta leitura foi inicialmente proposta para os recintos megaliacuteticos alentejanos (Silva

2000 Silva e Calado 2005) mas entretanto aplicada ao fenoacutemeno funeraacuterio Assim

a construccedilatildeo das antas sob determinada orientaccedilatildeo correspondia agrave manutenccedilatildeo de

uma tradiccedilatildeo anterior (Silva e Calado 2003 e 2005 Oliveira Rocha e Silva 2007

Oliveira e Silva 2006)

Recentemente numa latitude mais setentrional foi avaliada a questatildeo da

orientaccedilatildeo em sepulcros megaliacuteticos da Dinamarca construiacutedos e utilizados durante

sensivelmente o mesmo periacuteodo comparando as possibilidades solar e lunar

levando os autores a inclinar-se para uma preponderacircncia do planeta sateacutelite

(Clausen Einicke e Kjaegaard 2008)

Alguns elementos da tradiccedilatildeo popular e da histoacuteria antiga foram valorizados

para reforccedilar a importacircncia da Lua entre as comunidades humanas do actual territoacuterio

portuguecircs nomeadamente o culto lunar da Serra de Sintra em eacutepoca romana e a

celebraccedilatildeo pascal associada ao ciclo da ldquoLua de Primaverardquo (Oliveira e Silva 2006)

Aquela orientaccedilatildeo eacute tambeacutem validada por exemplos proacuteximos do Megalitismo natildeo

mortuaacuterio e do funeraacuterio nomeadamente representaccedilotildees lunares em alguns menires

constituintes de recintos megaliacuteticos e na regiatildeo de Lisboa com a presenccedila entre o

espoacutelio sepulcral de artefactos de calcaacuterio na forma de crescentes ou com estes

gravados (informaccedilatildeo pessoal de M Calado Oliveira e Silva 2006) Contudo se

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 202 de 415

aceitar que aqueles crescentes foram gravados nos menires no periacuteodo de utilizaccedilatildeo

dos recintos megaliacuteticos ambos os exemplos localizam-se cronologicamente a

montante e jusante respectivamente do periacuteodo em que a maioria das antas foi

erecta inclusive ocorrendo em regiotildees geograficamente distintas Natildeo obstante esta

desvalorizaccedilatildeo de prova natildeo me parece que reprove a existecircncia de algum tipo de

importacircncia para o ciclo lunar assunto que importa continuar a aprofundar

Alguns aspectos da proposta de K Lillios (2004a 2006 e 2008) para os iacutedolos-

placa biomorfos encontrados entre o espoacutelio funeraacuterio das antas poderiam tambeacutem

coadunar-se com a faceta lunar e nocturna das antas Segundo a autora aquele tipo

de placa apresentaria caracteriacutesticas que recordariam a coruja das torres (Tyto Alba)

espeacutecie noctiacutevaga associada a crenccedilas de morte e regeneraccedilatildeofertilidade (Lillios

2004) e que seria avistada com maior facilidade durante as noites com a claridade

lunar no seu auge Contudo esta hipoacutetese poderia relacionar-se tambeacutem o Sol e o

ciclo diaacuterio de luz e trevas

Ainda no campo dos siacutembolos e dos artefactos a presenccedila de siacutembolos solares

em alguns menires bem como em vasos ceracircmicos e em iacutedolos-placa cilindroacuteides e

em falange poderiam advogar pela importacircncia da estrela solar Contudo o

argumento cronoloacutegico da anterioridade e posterioridade daquelas evidecircncias face ao

momento de apogeu da orientaccedilatildeo apontado para a hipoacutetese lunar parece tambeacutem

registar-se nestes casos colocando interrogaccedilotildees semelhantes

Aparte a interessante discussatildeo e possiacuteveis interpretaccedilotildees para a orientaccedilatildeo das

antas torna-se importante tambeacutem avaliar esta caracteriacutestica nos outros tipos de

sepulcros sujeitos ao mesmo leque de condicionalismos referidos acima para as suas

leituras

Os poucos tholoi da Estremadura (onde a regiatildeo de Lisboa se inclui) que

permitiram o registo da sua orientaccedilatildeo parecem apresentar um padratildeo menos

coerente Os tholoi do Barro e do Monge alinharam-se mais para sul

(respectivamente 152ordm e 160ordm) se bem que este uacuteltimo segundo a leitura de C M

Silva (210ordm) poderaacute apontar para sudoeste assemelhando-se a Estria No entanto em

ambos os tholoi natildeo satildeo visiacuteveis constrangimentos que impedissem a sua orientaccedilatildeo

para este-sudeste O tholos de Praia das Maccedilatildes com cerca de 48ordm de orientaccedilatildeo teraacute

sido condicionado pela colina onde foi instalado bem como o pseudo-tholos da

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 203 de 415

Belavista (80ordm)9 visto que foi adossado a um espaccedilo preacute-existente sob um caos de

blocos graniacuteticos ainda que recebendo um paramento em pedra seca semelhante

agravequele utilizado noutros sepulcros do tipo tholoi

A menor coerecircncia de orientaccedilatildeo dos tholoi estremenhos parece verificar-se

tambeacutem em Reguengos de Monsaraz Aiacute vaacuterios casos de tholoi inclusos nos tumuli

de antas apresentam os seus corredores convergindo nas respectivas galerias preacute-

existentes quer do lado norte ou sul sem um padratildeo claro (Leisner e Leisner 1951

Gonccedilalves 1993) indiciando uma preocupaccedilatildeo reduzida com o seu alinhamento de

acordo com os cacircnones precedentes Contudo nestes casos poder-se-ia argumentar

que em uacuteltima instacircncia o acesso aos tholoi utilizava a orientaccedilatildeo anteriormente

instaurada para nascente por vezes prolongada como parece registar-se na

reformulaccedilatildeo do corredor de Olival da Pega 2 (Gonccedilalves 1993 e 2003e) Ainda na

mesma regiatildeo o conjunto de sepulcros do povoado com fossos dos Perdigotildees de que

se conhece melhor os dois pseudo-tholoi ndash sepulcro 1 e 2 ndash agrupados numa bolsa

delimitada por fossos localizada no ponto sudeste do siacutetio ainda que possam existir

outros nas imediaccedilotildees mas fora desta aparentam orientaccedilotildees distintas No entanto

para aleacutem da localizaccedilatildeo no limite sudeste do povoado em ambos os casos as

orientaccedilotildees caiem dentro do quadrante nascente respectivamente 90ordm no sepulcro 1

e 130ordm no sepulcro 2 (Valera 2007) o que parece indicativo da manutenccedilatildeo de

cacircnones anteriores

Considerando a cronologia geneacuterica dos tholoi na primeira metade do 3ordm

mileacutenio ane e sobretudo daqueles de Lisboa que natildeo evidenciam

constrangimentos na sua implantaccedilatildeo julgo que poderia adiantar-se uma explicaccedilatildeo

similar agravequela da anta de Estria Ainda que o cacircnone fosse conhecido e de certa

forma respeitado jaacute natildeo teria a importacircncia evidenciada nos seacuteculos precedentes

As orientaccedilotildees das grutas artificiais apresentam ainda maiores disparidades que

os tholoi Para isso natildeo seraacute estranho o facto de estes sepulcros terem sido escavados

no substrato rochoso encontrando-se sujeitos agrave disponibilidade de espaccedilo e da

capacidade de escavaccedilatildeo com as teacutecnicas e instrumentos disponiacuteveis Contudo

9 A informaccedilatildeo e a planta apresentada inicialmente por Mello e colaboradores (1961) apontava o corredor para oeste V Leisner (1965) repete a mesma planta mas indica uma orientaccedilatildeo de ldquoE5ordmSrdquo proacutexima daquela registada por M Hoskin (2001) Ainda que natildeo tenha sido possiacutevel registaacute-la com exactidatildeo a nossa visita ao local permitiu verificar que o corredor apontava para a metade oriental

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 204 de 415

mesmo entre estes sepulcros eacute possiacutevel verificar uma tendecircncia geral para nascente

ainda que com espectro alargado em Casal do Pardo entre 29ordm e 201ordm e no Casal do

Tojal de Vila Chatilde entre 38ordm e 174ordm ressaltando Folha das Barradas como um caso

extremo pela orientaccedilatildeo oposta de 270ordm Contudo neste uacuteltimo siacutetio apenas se

conhece um uacutenico sepulcro registado por C Ribeiro (1880) ainda no seacuteculo XIX na

sequecircncia de trabalhos rurais que provocaram a sua identificaccedilatildeo e posteriormente

destruiccedilatildeo A avaliaccedilatildeo topograacutefica possiacutevel do local um relevo pouco acentuado e

o seu substrato geoloacutegico margas do TerciaacuterioComplexo de Benfica (SGP 1991)

indiciam a possibilidade da existecircncia de outros sepulcros similares

Apesar da cronologia absoluta das grutas artificiais da Estremadura natildeo se

encontrar bem definida a presenccedila de artefactos de cariz arcaico parece situaacute-las

pelo menos na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane prolongando-se o seu uso pelo

mileacutenio seguinte De facto as dataccedilotildees pelo radiocarbono conhecidas ainda que

sejam claras na atribuiccedilatildeo das utilizaccedilotildees mais recentes deixam algumas duacutevidas

quanto agravequelas mais recuadas por motivos de fiabilidade das amostras utilizadas (ver

capiacutetulo 8 e Anexo 3 Quadro 2) Mas a confirmar-se a antiguidade destes sepulcros

durante o referido apogeu do cacircnone astronoacutemico e perante a presenccedila de espoacutelios

funeraacuterios semelhantes agravequeles recolhidos em antas algumas possibilidades satildeo

passiacuteveis de reflexatildeo

1 Estes foram severamente condicionados pelo substrato rochoso tout court

2 Agraves grutas artificiais mais antigas dos respectivos clusters corresponderiam as

orientaccedilotildees tradicionais reflectindo aquelas menos canoacutenicas momentos

cronoloacutegicos onde tal preceito se subjugou a outras circunstacircncias nomeadamente

geoloacutegicas

3 A escolha por este tipo de sepulcro subterracircneo estaria associado a grupos

especiacuteficos que adoptaram soluccedilotildees arquitectoacutenicas distintas por motivos soacutecio-

culturais relegando para segundo plano a importacircncia da orientaccedilatildeo ndash neste caso

colocar-se-ia a questatildeo de poderem ser gente forasteira que ali se instalou ou

indiacutegenas que natildeo adoptaram em plenitude os novos cacircnones funeraacuterios ortostaacuteticos

sendo influenciados por outras formas de enterramento subterracircneo possivelmente

mais proacuteximas daquelas praticadas anteriormente em grutas naturais Eis uma

questatildeo que necessitaraacute de maior aprofundamento eventualmente pelos dados

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 205 de 415

antropoloacutegicos ou esclarecida com um projecto de anaacutelises isotoacutepicas versando natildeo

soacute as paleodietas mas tambeacutem a mobilidade dos indiviacuteduos sepultados destes grupos

Criadas por processos naturais as cavidades naturais apresentam os seus

acessos com alinhamentos pouco padronizaacuteveis Assim algumas das grutas de

Lisboa apresentam-se abertas genericamente para norte (Salemas Salamandras

Cova da Raposa e Fojo dos Morcegos) sul (Tufo Cova do Biguino e Poccedilo Velho)

este e oeste (Carnaxide) e oeste (Ponte da Laje e Castanhais) Por outro lado nas

cavidades de acesso vertical esta questatildeo torna-se ainda mais complexa de definir

eventualmente associada agrave pendente onde se localize

Face ao exposto a prescriccedilatildeo ritual de uma passagem virada para nascente

sobretudo no quadrante este-sudeste parece uma realidade verificaacutevel

maioritariamente para os sepulcros do tipo anta (Fig 126) afigurando-se como

provaacutevel praacutetica canoacutenica essencialmente durante a segunda metade do 4ordm mileacutenio

ane registando-se o decliacutenio gradual da sua importacircncia na primeira metade do

mileacutenio seguinte

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 206 de 415

43 As outras soluccedilotildees sepulcrais

Ainda que este trabalho incida sobre a questatildeo das antas da regiatildeo de Lisboa

como jaacute foi salientado noutros pontos inclusive no capiacutetulo anterior seria uma

abordagem empobrecida se natildeo fossem discutidas ainda que sumariamente os

restantes tipos de sepulcros e as suas implantaccedilotildees Um motivo crucial para tal eacute com

certeza a relativa contemporaneidade das praacuteticas funeraacuterias independentemente do

contentor utilizado verificada atraveacutes dos espoacutelios recolhidos (capiacutetulo 5) e das

dataccedilotildees absolutas obtidas (capiacutetulo 8)

Cavidades naturais

Graccedilas agrave fisiografia da Estremadura e no particular da Baixa Estremadura

regiatildeo onde se encontram as antas de Lisboa a presenccedila de cavidades naturais e a

sua utilizaccedilatildeo satildeo frequentes em alguns casos quase exclusiva como parece ocorrer

na extremidade sul da peniacutensula de Setuacutebal Semelhante quase exclusividade

evidencia-se tambeacutem ao longo do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho na Alta

Estremadura

De acordo com a proposta classificativa de G Zbyszweski (1963) a maioria

das grutas da regiatildeo de Lisboa parece integrar-se no tipo em corredor surgindo nas

escarpas das bancadas alteradas ou nas encostas mais ou menos iacutengremes

proporcionando acessos com diferentes graus de dificuldade A este grupo

pertenceriam as grutas de Salemas (Castro e Ferreira 1972) Salamandras (Harpsoumle e

Ramos 1987) Tufo (Oliveira Silva e Deus 1997) Ponte da Laje (Zbyszweski

Viana e Ferreira 1957) Carnaxide (Cardoso 1995a) Poccedilo Velho (Gonccedilalves 2005)

Porto Covo (Gonccedilalves 2008) e Cova da Raposa (Nogueira 1931) Na referida aacuterea

de Setuacutebal o acesso por poccedilo vertical como na Lapa Furada (Cardoso e Cunha

1995 Cardoso 1997) parece coexistir com outros casos mais acessiacuteveis como a Lapa

do Fumo (Serratildeo e Marques 1971) Nos relevos calcaacuterios setentrionais do Maciccedilo

Estremenho o nuacutemero de grutas com utilizaccedilatildeo funeraacuteria eacute bastante elevado

registando-se grutas extensas como Algar do Bom Santo (Duarte 1998) ou pequenas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 207 de 415

diaacuteclases como Rio Seco (Tereso et al 2006)

O destaque na paisagem da maioria destas grutas-necroacutepole seria bastante

reduzido e mais ainda para os casos de cavidades com acesso vertical No entanto

haveria algumas grutas sobretudo aquelas em corredor que poderiam ter sido mais

facilmente avistadas localmente nomeadamente as grutas de Pedra Furada (Parreira

1985) ou do Tufo (Pereira 1986) denunciadas pelas suas cavidades na face do

escarpado O afeiccediloamento da entrada da gruta de Ponte de Laje delineando um

formato circular da sua entrada (Zbyszweski Viana e Ferreira 1957 Vaultier Roche

e Ferreira 1959 Zbyszweski 1963) realccedilaria aquela cavidade Outra situaccedilatildeo que

poderia ter ocorrido com maior frequecircncia mas que o registo arqueoloacutegico natildeo

permite hoje verificar seria a sinalizaccedilatildeo da entrada da cavidade como parece ter

ocorrido na gruta eventualmente afeiccediloada de Verdelha dos Ruivos (Pedreira do

Casal do Penedo 2) com acesso vertical e assinalada segundo os seus escavadores

por um pequeno monoacutelito fincado junto agrave sua entrada (Leitatildeo et al 1984)

Finalmente a associaccedilatildeo circunstancial de certas cavidades a relevos destacados na

paisagem poderia tambeacutem ter funcionado como marcador destas um pouco agrave

semelhanccedila ainda que numa escala diferente do jaacute referido para as antas de Lisboa

As grutas de Salemas e Salamandras poderiam incluir-se nesta situaccedilatildeo

Como se discutiraacute adiante em muitas destas grutas surgem as primeiras

evidecircncias datadas pelo radiocarbono de praacuteticas enquadradas no fenoacutemeno do

Megalitismo da regiatildeo podendo isso justificar talvez o facto de ateacute o momento se

desconhecerem sepulcros ortostaacuteticos do tipo sepultura protomegaliacutetica e antas de

cacircmara simples na Baixa Estremadura Mas como aquelas cavidades continuaram a

ser utilizadas denunciando essas tradiccedilotildees anteriores isso poderia tambeacutem explicar o

nuacutemero limitado de antas

Grutas artificiais

A questatildeo da tradiccedilatildeo funeraacuteria regional em gruta poderaacute tambeacutem em certa

medida ajudar a perceber o sucesso relativo das grutas artificiais na regiatildeo de

Lisboa e de alguma forma noutras aacutereas da Estremadura nomeadamente na regiatildeo

de Torres Vedras com Cabeccedilo da Arruda 1 (Trindade e Ferreira 1956) Ermegeira

(Heleno 1942 Leisner 1965) e Quinta das Lapas 1 e 2 (Gonccedilalves J 1992) em

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 208 de 415

Caldas da Rainha com a Ribeira de Crastos 1 e 2 (Jordatildeo e Mendes 2000) e

possivelmente em Torres Novas com Ribeira Branca (Leisner 1965) Mas eacute em

redor da desembocadura do Tejo que se regista um nuacutemero superior deste tipo de

sepulcros subterracircneos organizados em clusters designadamente Casal do Pardo

(Leisner 1965 Soares 2003) Satildeo Paulo (Barros e Santo 1997 Silva 2002) Tojal

de Vila Chatilde (Heleno 1933 Leisner 1965) Satildeo Pedro do Estoril e Alapraia (Leisner

1965 Gonccedilalves 2003e) com indicaccedilatildeo de duas outras grutas artificiais no Murtal

(Cardoso G 1991) Outras provaacuteveis grutas artificiais ainda que aparentemente

isoladas satildeo a cacircmara ocidental de Praia das Maccedilatildes (Leisner 1965 Leisner

Zbyszweski e Ferreira 1969) Folha das Barradas (Ribeiro 1880 Leisner 1965) e

Monte do Castelo (Oliveira e Brandatildeo 1969) na peniacutensula de Lisboa e Capuchos na

Arraacutebida (Ferreira 1966)

E Rivero Galaacuten (1986 e 1988) ensaiou para a ldquomitad meridional de la

Peniacutensula Ibeacutericardquo uma classificaccedilatildeo das grutas artificiais estabelecendo o tipo I e II

para sepulcros totalmente escavados no substrato rochoso respectivamente com e

sem acessos definidos e o tipo III para estruturas subterracircneas semi-artificiais pois

utilizariam em parte da sua construccedilatildeo blocos peacutetreos

Na regiatildeo de Lisboa as grutas melhor conhecidas parecem enquadrar-se

genericamente no tipo II subgrupo 1BC com corredor entretanto distinguidas por

V S Gonccedilalves com algumas caracteriacutesticas particulares ldquoum corte longitudinal

fornece uma caracteriacutestica imagem de igloo esquimoacute visto do interior Mas os

corredores satildeo sinuosos e compreendem por vezes uma antecacircmara No topo da

cacircmara de algumas grutas artificiais uma abertura coberta por uma laje permitia a

introduccedilatildeo de mais corpos quando o acesso pelo corredor jaacute natildeo era possiacutevel satildeo

as grutas artificiais tipo coelheirardquo (Gonccedilalves 2003 p 119) Portanto a provaacutevel

existecircncia de laje de fechamento da claraboacuteia apontada bem como em alguns destes

corredores natildeo haver evidecircncia de que fossem integralmente escavados na rocha

pelo contraacuterio apresentando por vezes depressotildees que poderiam ter servido para o

assentamento de linteacuteis casos de Casal do Pardo 2 Alapraia 1 ou Tojal de Vila Chatilde

1 2 e 3 talvez obriguem agrave sua inclusatildeo no tipo III Contudo julgo que para aleacutem da

tipologia mais ou menos rigorosa que as evidecircncias sobreviventes permitem realizar

seraacute de reter a implantaccedilatildeo negativa destes sepulcros que originava uma presenccedila na

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 209 de 415

paisagem bastante discreta tendo implicado sobretudo uma escavaccedilatildeo de um espaccedilo

sepulcral uma gruta artificial e natildeo a erecccedilatildeo de um edifiacutecio como ocorria com as

antas ainda que mesmo essas se poderatildeo considerar de alguma forma espaccedilos

cavernosos artificiais (Oosterbeek 1997a)

O cluster de grutas artificiais da Sobreira de Cima recentemente descoberto e

escavado no Alentejo (Valera Soares e Coelho 2008) apresentava sepulcros com

acesso por poccedilo (Tipo II1A) No entanto um deles tinha um acesso rampado

(possiacutevel Tipo II1B) surgindo com vaacuterias estruturas de calccedilo levando a crer que

aquele sepulcro pelo menos teria algum tipo de estela assinalando a sua entrada

(informaccedilatildeo pessoal de A Valera) Esta possibilidade de sinalizaccedilatildeo jaacute mencionada

para a gruta natural provavelmente afeiccediloada de Verdelha dos Ruivos poderia ter

ocorrido tambeacutem nas grutas artificiais de Lisboa evidecircncia hoje perdida

Tholoi

Os tholoi da regiatildeo de Lisboa e mesmo incluiacutendo os restantes da Estremadura

satildeo em nuacutemero o tipo de sepulcro menos abundante No entanto como se veraacute

adiante (Capiacutetulo 63) os totais de deposiccedilotildees funeraacuterias por sepulcro apresentam-se

superiores aos restantes tipos

V S Gonccedilalves anota que a definiccedilatildeo de tholos ldquorefere-se em Portugal a

monumentos efectivamente muito diferentes entre si tanto em termos morfoloacutegicos

como muito possivelmente cronoloacutegicos Basicamente todos tecircm uma cobertura em

falsa cuacutepula de onde por vezes serem referidos como laquomonumentos de falsa

cuacutepularaquo Os corredores destes monumentos geralmente longos ou muito longos

apresentam tambeacutem variantes construtivas podendo consistir em finos ortoacutestatos ou

em estruturas laquotipo muroraquordquo (Gonccedilalves 2003e p 335-336)

A pretexto da escavaccedilatildeo de dois sepulcros com semelhanccedilas a tholoi do

povoado de Perdigotildees (Valera et al 2000) eacute proposto o abandono da designaccedilatildeo

laquotholosraquo ldquosob pena de perpetuaccedilatildeo de determinados equiacutevocos generalizadoresrdquo

(Valera et al 2000 p 92) Isto porque a referida expressatildeo implicaria ldquofalar de uma

teacutecnica particular de construccedilatildeo arquitectoacutenica para coberturas (ou paredes e

coberturas) de compartimentosrdquo (Valera et al 2000 p 92) Assim argumentava-se

que dos cerca de 60 sepulcros designados como tholoi no actual territoacuterio portuguecircs

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 210 de 415

apenas trecircs exibiriam dados indiscutiacuteveis para a sua adscriccedilatildeo como tal Alcalar 7

(Moraacuten e Parreira 2004 e 2007) Monge (Ribeiro 1880) e Vale Rodrigo 1 (Leisner

1940 Leisner e Leisner 1959)

De facto na maioria dos sepulcros designados como tholoi natildeo se conhece

evidecircncia arqueoloacutegica suficiente que comprove sempre a existecircncia de coberturas

peacutetreas em cuacutepula No entanto os indiacutecios presentes nomeadamente a estrutura

delimitadora da cacircmara quase sempre circular seguida de corredor com extensotildees

variadas em muro com fiadas de pedra ou forrada por lajes mais ou menos finas

poderatildeo ser suficientes para pelo menos admitir um propoacutesito comum de construccedilatildeo

distinto das construccedilotildees ortostaacuteticas ou subterracircneas conhecidas anteriormente

Tambeacutem a possibilidade de utilizaccedilatildeo de materiais lenhosos nas estruturas de

paramento e cobertura entretanto desaparecidas deve ser equacionada pois tal

situaccedilatildeo tem vindo a ser verificada noutras regiotildees europeias onde o fenoacutemeno do

Megalitismo (ainda que com especificidades regionais) tambeacutem se registou (Masset

1997 Chambon 2003 Joussaume 1985 e 2004) Por outro lado o diacircmetro

alargado de alguns sepulcros deste grupo implicaria um ou mais postes centrais de

madeira ou pedra como parece ser sido detectado na Praia das Maccedilatildes (Leisner 1965

Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) mas tais situaccedilotildees satildeo admissiacuteveis para outros

como Tituaria ou Barro (Leisner 1965) na Estremadura ou do Escoural (Santos

1967 Santos e Ferreira 1969) e Perdigotildees no Alentejo

Assim na falta de uma designaccedilatildeo ou expressatildeo novas que melhor enquadrem

estas estruturas funeraacuterias julgo que o termo tholos (tholoi plural) mesmo que

sujeito pelos mais distraiacutedos a alguns equiacutevocos eacute ainda uacutetil e passiacutevel de ser

aplicado a um conjunto de construccedilotildees funeraacuterias que mesmo sem uma evidecircncia

completa e irrefutaacutevel de cuacutepulas peacutetreas se aproximam estruturalmente daquelas

caracteriacutesticas ainda que com variaccedilotildees regionais inclusive nos seus mobiliaacuterios

funeraacuterios Outro argumento para a utilizaccedilatildeo do termo eacute a aparente cronologia

similar entre os sepulcros referidos que surge centrada na primeira metade do 3ordm

mileacutenio ane (ver capiacutetulo 8) de certa forma compatiacutevel com o momento em que a

mesma teacutecnica se encontra aplicada na construccedilatildeo de povoados amuralhados Aliaacutes

aqueles que aconselhavam o abandono da designaccedilatildeo admitiam poreacutem que ldquoestas

formulaccedilotildees arquitectoacutenicas parecem estar associadas a populaccedilotildees enquadradas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 211 de 415

em sistemas religiosos similares manifestando atitudes perante a morte aparentadas

entre si e globalmente reflectindo aspectos essenciais dos sistemas do megalitismo

funeraacuteriordquo (Valera et al 2000 p 93)

Os tholoi da Estremadura apresentam caracteriacutesticas arquitectoacutenicas similares

entre si cacircmaras tendencialmente circulares de diacircmetro consideraacutevel com

paramentos em muro de pedra estendendo-se pelo corredor Todavia o tholos de

Agualva (Ferreira 1953 Leisner 1965) parece ter aplicado ldquogrossos blocosrdquo na

vertical dos troccedilos do corredor e cacircmara a partir do qual neste uacuteltimo espaccedilo

arrancaria a cuacutepula tambeacutem na Tituaria o corredor foi construiacutedo por um misto de

blocos verticais e horizontais (Cardoso et al 1996)

Com a excepccedilatildeo do tholos do Monge onde eacute possiacutevel observar ainda a

construccedilatildeo por fiadas gradualmente salientes nos restantes essas evidecircncias satildeo

menos clarificadoras Contudo para aleacutem do ldquoar de famiacuteliardquo os espoacutelios funeraacuterios

relativamente similares bem como as dataccedilotildees pelo radiocarbono permitem

vislumbrar a sua contemporaneidade

Como foi referido em anteriormente (capiacutetulos 4134 e 4141) alguns

sepulcros outrora classificados como tholoi nomeadamente Trigache 4 e

Conchadas enquadram-se pelas suas caracteriacutesticas no grupo das antas Por outro

lado perante os elementos conhecidos do sepulcro de tipo indefinido de Samarra

(Franccedila e Ferreira 1958) julgo que este poderaacute ter correspondido a um tholos pela

sua implantaccedilatildeo provaacutevel e os inuacutemeros blocos provavelmente restos da construccedilatildeo

misturados com um tipo de espoacutelio frequente neste tipo de sepulcro e de forma

secundaacuteria pela ausecircncia de uma dataccedilatildeo absoluta pelo radiocarbono que recue

aquelas deposiccedilotildees (Silva Ferreira e Codinha 2006 Anexo 3 Quadro 2)

Agrave semelhanccedila das antas de Lisboa tambeacutem os tholoi parecem ter sido

escavados parcialmente no substrato local sendo talvez o caso de Praia das Maccedilatildes

aquele mais evidente Tambeacutem na Tituaria e no Monge tal situaccedilatildeo eacute observaacutevel O

caso jaacute mencionado de Bela Vista apesar de peculiar enquadra-se numa estrateacutegia

de construccedilatildeo semelhante

No Alentejo os tholoi apresentam similar caracteriacutestica semi-subterracircnea

encastrados dentro de tumulus de antas anteriores ou no solo virgem ainda que na

sua maioria os paramentos sejam essencialmente com lajes na vertical mais ou

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 212 de 415

menos finas (Leisner e Leisner 1951 Gonccedilalves 2003d) Haacute contudo excepccedilotildees

como o tholos OP2d (Gonccedilalves 1999a) mas sobretudo no Baixo Alentejo onde

alguns paramentos satildeo em murete (Leisner e Leisner 1959 Leisner 1965)

Recordando a maior concentraccedilatildeo conhecida de tholoi em Los Millares muitos

destes sepulcros tambeacutem aparentam ter sido abertos parcialmente no solo (Leisner e

Leisner 1943 Almagro e Arribas 1963) registando-se ali ambos os tipos de

paramentos

A maioria das implantaccedilotildees dos tholoi conhecidos da Estremadura contrasta

com aquela dos restantes tipos de sepulcros De facto apenas Satildeo Martinho 1 e 2

foram instalados no fundo do vale na base de vertente virada para este-sudeste ndash

aliaacutes o par de tholoi tatildeo proacuteximo eacute tambeacutem por si inusitado Este tipo de sepulcro

tem sido encontrado frequentemente isolado podendo isso dever-se a uma realidade

proacutepria ou a lacuna de investigaccedilatildeo pois Paimogo 1 teria proacuteximo outro sepulcro

provavelmente similar e noutros casos aleacutem Tejo foram detectadas concentraccedilotildees

destes sepulcros na anta de Olival da Pega 2 e possivelmente Olival da Pega 1

(Gonccedilalves 1993 e 2006) em Alcalar (Parreira e Serpa 1995 Moraacuten e Parreira

2004) La Pijotilla (Hurtado 1986 1988 e 1991 Hurtado Mondejar e Pecero 2000)

San Blas (Hurtado 2004) Valencina da La Concepcioacuten (Vargas 2004a e 2004b) e

no jaacute referido Los Millares (Leisner e Leisner 1943 Almagro e Arribas 1963)

Aparte Satildeo Martinho 1 e 2 os restantes tholoi encontram-se em pontos

relativamente cimeiros de vertente (Praia da Maccedilatildes Vaacuterzea Agualva Tituaria e

Paimogo 1) ou nos seus cumes (Monge Bela Vista e Pedreira do Campo) Isto

poderia significar entatildeo uma maior preocupaccedilatildeo com a marcaccedilatildeo da paisagem

situando aqueles sepulcros em pontos altos facilmente avistados e de alguma forma

avistando sobretudo porque provavelmente em redor o coberto florestal seria

reduzido Contudo queda-se por perceber a forma como a cuacutepula ou tecto seria

revestida exteriormente ndash se com uma massa tumular terrosa ou com um paramento

orgacircnico ndash o que contribuiria para uma maior ou menor visibilidade da estrutura na

paisagem

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 213 de 415

44 Poucas antas muitos sepulcros

A fraca representatividade adiantada supra das antas da regiatildeo de Lisboa (cerca

de duas dezenas) no acircmbito do Megalitismo parece um facto ainda mais ampliado se

abranger a restante Estremadura ou se for comparada com os efectivos da regiatildeo

vizinha alentejana (Leisner e Leisner 1959 Leisner 1965 Kalb 1981 1988 e 1989

Rocha 2005)

Na Baixa Estremadura a peniacutensula de Setuacutebal natildeo tem ateacute hoje qualquer anta

identificada apesar de alguns apontamentos antigos registarem a existecircncia de

topoacutenimos que o prenunciariam (Serratildeo 1973 Soares 2003)

Na aacuterea central e setentrional estremenha o inventaacuterio das antas natildeo

ultrapassaraacute a dezena infelizmente muito mal conhecidas dispersas e na maioria jaacute

desaparecidas Isso eacute sugerido por provaacuteveis antas em Alenquer ndash Paiol (Leisner

1965) Cabanas da Torre siacutetio dos Malhatildees (Vasconcelos 1917) e Quinta do Vale

das Lajes (Lucas 1994) em Torres Vedras ndash Serra da Vila que poderaacute corresponder

a um tholos hipoacutetese para a qual me inclino (Leisner 1965) em Alcanena ndash Fonte

Moreira (Leisner 1965) Bombarral ndash Columbeira (CNS- 17654) Alcobaccedila ndash Fontes

Belas (CNS- 5725) Oureacutem ndash Zurrague 1 (CNS- 25072) Tambeacutem da espantosa anta

de Alcobertas (Rio Maior) com uma dimensatildeo consideraacutevel e incorporada na igreja

local como capela lateral (Paccedilo et al 1959 Pereira et al 2008) natildeo se conhece

ainda informaccedilatildeo esclarecedora

O incremento da investigaccedilatildeo da regiatildeo do Alto Ribatejo aacuterea do limite

noroeste das faldas do Maciccedilo Estremenho (Oosterbeek 1994 e 1997b Cruz 1997)

tambeacutem designada por sub-regiatildeo natural nabantina (SEA 1974) poderaacute no entanto

exemplificar que soacute com estudos regionais sistemaacuteticos e focados na respectiva

temaacutetica neste caso das antas seratildeo possiacuteveis dados para uma avaliaccedilatildeo mais

rigorosa da sua presenccedilaausecircncia algo que foi subalternizado face ao estudo das

cavidades naturais dos relevos caacutersicos estremenhos As investigaccedilotildees mencionadas

e a sistematizaccedilatildeo das antas daquela regiatildeo assinalaram concentraccedilotildees destas

algumas entretanto escavadas nomeadamente Val da Laje 1 (Oosterbeek Cruz e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 214 de 415

Feacutelix 1992) e Rego da Murta 1 e 2 (Figueiredo 2006 e 2007) Os resultados obtidos

ateacute o momento indicam uma aparente clivagem espacial ainda que relativamente

contemporacircnea entre a utilizaccedilatildeo de cavidades naturais na mancha caacutersica sem a

presenccedila de antas face agrave construccedilatildeo e utilizaccedilatildeo destes sepulcros ortostaacuteticos nas

aacutereas limiacutetrofes do maciccedilo antigo com um substrato rochoso de xistos onde natildeo

ocorrem grutas (Oosterbeek 1997b Cruz 1997 Figueiredo 2006 e 2007)

Assim os condicionalismos da investigaccedilatildeo e o impacto antroacutepico poderatildeo ser

apontados como uma explicaccedilatildeo para parte das ausecircncias de antas sobretudo na

Baixa Estremadura Mas mesmo relativizando a questatildeo o cocircmputo geral das antas

manteacutem-se reduzido

Como jaacute referi noutros pontos julgo que a disponibilidade de cavidades

naturais e substratos rochosos que permitiam uma escavaccedilatildeo facilitada de jazigos

teratildeo pesado nas escolhas dos tipos de contentores funeraacuterios utilizados

influenciando essas praacuteticas a um niacutevel super-estrutural Essa escolha que me parece

evidente para a Estremadura tambeacutem teraacute ocorrido noutras regiotildees onde tais

estruturas naturais se encontravam disponiacuteveis ndash a gruta alentejana do Escoural

(Arauacutejo Santos e Cauwe 1993 Arauacutejo e Lejeune 1995) aquelas do Algarve (Straus

et al 1988) ou da parte cacerentildea da Extremadura espanhola (Cerrillo e Gonzaacutelez

2007) seratildeo disso indicadores

Observando a cartografia da regiatildeo (Fig 1 25-30) nota-se uma distribuiccedilatildeo

das antas na aacuterea do Complexo vulcacircnico de Lisboa sobretudo na sua franja sul-

sudoeste termoarredores da actual cidade de Lisboa em alguns casos agrupadas

Outras antas surgem isoladas por vezes proacuteximas de outros tipos de sepulcros

A aacuterea da cidade de Lisboa realccedila o desconhecimento que infelizmente temos

desta Os vestiacutegios de ocupaccedilotildees preacute-histoacutericas no Vale de Alcacircntara e Monsanto

(Jalhay Paccedilo e Ribeiro 1944 Paccedilo e Baacutertholo 1954 Leisner 1965 Ribeiro 1966

Cardoso e Carreira 1995) bem como recentes dados para ocupaccedilotildees na transiccedilatildeo do

5ordm para o 4ordm mileacutenio ane no centro lisboeta (Muralha e Costa 2006 Valera Coelho

e Ferreira 2008) permitem supor a existecircncia de uma densidade humana superior agrave

dos seus restos conhecidos inclusive funeraacuterios pelo menos durante aquele uacuteltimo

mileacutenio O iacutedolo-placa encontrado na Quinta da Farinheira Chelas (Zbyszewski

1950) relembra essa probabilidade

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 215 de 415

Os agrupamentos de antas cuja anaacutelise foi jaacute desenvolvida nos respectivos

capiacutetulos resumem-se na regiatildeo de Lisboa a quatro casos ainda que soacute dois deles de

forma incontroversa Os clusters de Belas e de Trigache aparentam ter sido criados

pelo menos na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane ainda que perdurando a sua

importacircncia funeraacuteria ao longo do 3ordm mileacutenio ane Essas situaccedilotildees sugerem a

necropolizaccedilatildeo daqueles espaccedilos no sentido proposto por V O Jorge (1986) Os

outros dois conjuntos de Alto da Toupeira e Verdelha do Ruivo poderatildeo tambeacutem

enquadrar-se como espaccedilos necropolizados ainda que nestes casos associados a

grutas naturais com periacuteodos de ocupaccedilatildeo distintos No primeiro caso com uma

utilizaccedilatildeo anterior ao provaacutevel momento de construccedilatildeo das antas de Alto da Toupeira

1 e 2 e no segundo com uma cavidade eventualmente afeiccediloada () utilizada em

periacuteodo posterior agrave da construccedilatildeo das antas de Casal do Penedo e Monte Serves

As restantes antas da regiatildeo de Lisboa surgem relativamente isoladas sem que

o desconhecimento de outros sepulcros similares nas suas proximidades seja prova

de que natildeo tivessem existido Aliaacutes os testemunhos toponiacutemicos referem-se a

ldquoantasrdquo (no plural) para algumas das aacutereas onde aqueles sepulcros se localizam ndash por

exemplo em Carcavelos e Arruda

Se a proximidade entre antas e grutas naturais ocorreu essa relaccedilatildeo espacial

com as grutas artificiais e os tholoi natildeo foi registada ateacute o momento De facto como

foi referido no capiacutetulo anterior as grutas artificiais surgem em clusters monotiacutepicos

apenas com a excepccedilatildeo conhecida de Praia das Maccedilatildes onde um tholos foi

implantado junto a uma provaacutevel gruta artificial Outro caso de proximidade entre

diferentes tipos de sepulcros mas jaacute a norte da Baixa Estremadura parece registar-se

no Cabeccedilo da Arruda (Trindade e Ferreira 1956 Leisner 1965) ainda que a sua

caracterizaccedilatildeo suscite discussatildeo quanto agrave sua real classificaccedilatildeo A construccedilatildeo de

tholoi no acircmago de tumulus das antas do territoacuterio alentejano de Reguengos de

Monsaraz (Leisner e Leisner 1951 Gonccedilalves 1993) manteacutem-se desconhecida na

regiatildeo de Lisboa e restantes aacutereas estremenhas

Retornando agrave cartografia da regiatildeo de Lisboa (Mapa 1) de imediato notamos

uma aparente exclusividade de grutas naturais e artificiais nas margens da foz do

Tejo sobretudo prolongando-se ateacute a aacuterea de Estoril-Cascais No caso das grutas

artificiais registam-se clusters em Alapraia com 4 sepulcros (CNS-638 Leisner

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 216 de 415

1965 p 91-100) S Pedro do Estoril com 2 (CNS-3031 Leisner et al 1964) e

Murtal com 2 (CNS- 11288 Cardoso G 1991 nordm 164)

Apesar do tholos do Monge (CNS- 3385 Leisner 1965 p 82-85) se encontrar

relativamente isolado na face sul da Serra de Sintra na vertente norte desta parece

notar-se outra concentraccedilatildeo principalmente sobranceira agrave ribeira de Colares Esta

apresenta uma outra diversidade com as cavidades naturais de Castanhais (CNS-

6247 Leisner 1965 p 89) e Estefacircnea (CNS- 19444 AML 2002) os tholoi de Satildeo

Martinho 1 e 2 (CNS- 657 Leisner 1965 p 38-41) o pseudo-tholos da Bela Vista

(CNS- 19452 Leisner 1965 p 85-88) e quiccedilaacute o doacutelmen em S Pedro (capiacutetulo

419) Para norte desta aacuterea detectamos vaacuterios tipos de sepulcros aparentemente

mais dispersos como os tholoi da Praia das Maccedilatildes (CNS- 146 Leisner 1965

Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) e da Vaacuterzea (informaccedilatildeo pessoal de M C

Coelho e T Simotildees Gonccedilalves 2005) a anta de Pedras da Granja (CNS- 91

Zbyszweski et al 1977) a gruta artificial de Folha das Barradas (CNS- 977 Ribeiro

1880 Leisner 1965 p 41-43) e as grutas das Covas da Raposa e do Biguino no

Vale da Calada (Nogueira 1931 Leisner 1965 p 89)

O possiacutevel tholos da Samarra (CNS-3773 Leisner 1965 p 68-70) e a gruta do

Fojo dos Morcegos (CNS- 174 Marques 1971 AML 2002) parecem apontar para

outra eventual concentraccedilatildeo de sepulcros de que os topoacutenimos proacuteximos de Pedranta

(Franccedila e Ferreira 1958) e ldquoantasrdquo poderatildeo ser testemunho

Um outro agrupamento parece vislumbrar-se desta vez com as grutas naturais

de Salemas (CNS- 1707 Castro e Ferreira 1972) Tufo (CNS-10303) e

SalamandrasPenedos ndash Ponte de Lousa (CNS-10305 Harpsoumle e Ramos 1987) e as

antas de Carcavelos (CNS- 3502 Estecircvatildeo e Deus 2000) Alto da Toupeira 1 e 2

(CNS- 3007 Leisner 1965 p 27) e Casaiacutenhos (CNS- 650 Leisner Zbyszweski e

Ferreira 1969)

Para nascente do uacuteltimo grupo registamos o conjunto de Verdelha do Ruivo

com as antas de Monte Serves (CNS- 4792 North Boaventura e Cardoso 2005) e

Casal do Penedo (CNS- 656 Vaultier e Zbyszweski 1951) e a gruta de Verdelha

dos Ruivos (CNS- 12825 Leitatildeo et al 1984)

Finalmente notamos as duas concentraccedilotildees proacuteximas de Trigache e Belas

(Ribeiro 1880 Leisner 1965 Leisner e Ferreira 1959) A primeira congrega

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 217 de 415

apenas as antas de Pedras Grandes (CNS- 648 Ribeiro 1880) Batalhas (CNS- 649

Ribeiro 1880) e Trigache 1 a 4 (CNS- 4733 3857 3789 e 20099) A segunda

concentraccedilatildeo aleacutem do cluster de antas de Monte Abraatildeo (CNS- 655 Ribeiro 1880)

Pedra dos Mouros (CNS- 11301 Ribeiro 1880) e Estria (CNS- 3001 Ribeiro 1880)

tem proacuteximo as antas de Carrascal (CNS- 4295 Ribeiro 1880) e Conchadas (CNS-

2095 Leisner e Ferreira 1959) Registam-se ainda as grutas naturais com possiacutevel

utilizaccedilatildeo funeraacuteria de Colaride (CNS- 3528 Coelho 2002) e Carrascal (AML

2002) esta uacuteltima mais distante e as grutas artificiais do Tojal de Vila Chatilde 1 a 3 e de

Bauacutetas (CNS- 3077 e 1979 Leisner 1965 p 80-82) e os tholoi de Agualva (CNS-

654 Ferreira 1953) e Pedreira do Campo (CNS- 6116 Miranda et al 1999 p 10-

11)

Por fim na peniacutensula de Setuacutebal sobretudo nas faldas este e oeste da Serra da

Arraacutebida conhecem-se apenas grutas naturais e artificiais (Leisner 1965 p 119-138

Serratildeo 1973) com apontamentos natildeo confirmados de antas e uma surpreendente

ausecircncia de tholoi E no entanto a teacutecnica construtiva deste uacuteltimo tipo de sepulcro

era conhecida como o povoado amuralhado de Chibanes (Silva e Soares 1997

Soares 2003) parece demonstrar natildeo sendo surpreendente que algum tholos seja

identificado num futuro proacuteximo

A comparaccedilatildeo entre o efectivo de antas da regiatildeo de Lisboa com outros de

regiotildees alentejanas nomeadamente Reguengos de Monsaraz Elvas ou Montemor-o-

Novo (Leisner e Leisner 1951 e 1959 Rocha 2005) realccedila o seu cocircmputo limitado

Contudo pelo menos num primeiro niacutevel plasmado da realidade se todos os tipos de

sepulcros lisboetas forem considerados face a cada uma das regiotildees alentejanas esses

nuacutemeros aproximam-se realccedilando uma aparente persistecircncia de modelos ortostaacuteticos

no Alentejo provavelmente resultado da tradiccedilatildeo funeraacuteria adaptada agrave

disponibilidade dos elementos naturais

Face agrave questatildeo que encabeccedilava este capiacutetulo laquoPoucas antas muitos

sepulcrosraquo julgo que a resposta eacute evidente Satildeo poucas de facto Mas isso reflectiraacute

um impacto reduzido do fenoacutemeno do Megalitismo na Estremadura Pelo contraacuterio

a variedade de soluccedilotildees estruturais para deposiccedilatildeo dos mortos destas comunidades

indicia uma adaptaccedilatildeo aos territoacuterios ocupados e das suas tradiccedilotildees mas adoptando

ao longo do tempo no essencial as praacuteticas funeraacuterias e os preceitos maacutegico-

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 218 de 415

religiosos entatildeo estabelecidos e generalizados consubstanciados num conjunto de

espoacutelio mobiliaacuterio ainda que por vezes de cariz regional No entanto o ritmo de

adopccedilatildeo e adaptaccedilatildeo de novos cacircnones natildeo teraacute sido constante nem territorialmente

uniforme podendo quiccedilaacute falar-se de assimetrias regionais entre comunidades

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 219 de 415

5 O(s) espoacutelio(s) funeraacuterio(s)

O espoacutelio das antas de Lisboa natildeo se apresenta homogeacuteneo entre estas

Primeiramente os condicionalismos tafonoacutemicos e posteriormente das proacuteprias

escavaccedilotildees satildeo motivos jaacute discutidos atraacutes Por outro lado a utilizaccedilatildeo funeraacuteria

destas estruturas resultou numa sequecircncia variada de depoacutesitos com significados

funeraacuterio e cronoloacutegico distintos Inclusive em muitos destes sepulcros a maioria do

material foi recolhido nos seus corredores visto que as cacircmaras se encontravam

semi-destruiacutedas ou parcialmente espoliadas o que teraacute ocorrido nas antas de

Trigache Conchadas e Casaiacutenhos Essa situaccedilatildeo obsta agrave seguranccedila de certas ilaccedilotildees

micro-espaciais como por exemplo as concentraccedilotildees de recipientes ceracircmicos

defronte da entrada dos sepulcros ou o depoacutesito de utensiacutelios de pedra polida

normalmente no corredor ou na transiccedilatildeo para a cacircmara

Em algumas antas nomeadamente Pedras da Granja Monte Abraatildeo Trigache

3 Trigache 2 e Casaiacutenhos o espoacutelio recolhido foi relativamente abundante

denunciando uma utilizaccedilatildeo intensa e prolongada daqueles sepulcros Noutras o

espoacutelio revelou-se escasso (Quadro 37) Para aleacutem das vicissitudes referidas nos

respectivos capiacutetulos monograacuteficos isso poderaacute relacionar-se em algumas situaccedilotildees

com curtos periacuteodos de utilizaccedilatildeo caso do Carrascal onde parece registar-se

quantidades aproximadas de espoacutelio funeraacuterio e indiviacuteduos depositados Contudo

noutros casos como Carcavelos o elevado nuacutemero de indiviacuteduos depositados faria

esperar um conjunto artefactual mais elevado e variado do que aquele recolhido

podendo isso reflectir um espoacutelio pereciacutevel ou praacuteticas funeraacuterias distintas

Face agraves limitaccedilotildees expressas acima a anaacutelise do espoacutelio incidiu essencialmente

numa verificaccedilatildeo de presenccedilas e ausecircncias procurando dessa forma estabelecer

padrotildees entre os espoacutelios funeraacuterios e as suas eventuais cronologias relativas de

utilizaccedilatildeo combinadas com as dataccedilotildees absolutas pelo radiocarbono

Outros estudos poderiam ter sido realizados para o espoacutelio aqui em discussatildeo

Contudo as limitaccedilotildees de tempo e sobretudo financeiras constringiram a sua

realizaccedilatildeo Assim a classificaccedilatildeo das mateacuterias-primas dos materiais liacuteticos de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 220 de 415

extrema importacircncia e interesse limitou-se agraves informaccedilotildees disponibilizadas pelos

seus escavadores cruzadas com os meus conhecimentos baacutesicos de geologia A

anaacutelise de pastas de recipientes ceracircmicos identificados natildeo foi realizada sobretudo

porque esta correspondia sobretudo a ceracircmica de estilo campaniforme cuja

presenccedila nas antas aparenta ser tardia No caso dos artefactos de osso contei com a

colaboraccedilatildeo da arqueozooacuteloga Marta Moreno (ex-CIPAIPA hoje IGESPAR) para

a identificaccedilatildeo das espeacutecies utilizadas na sua manufactura Tambeacutem no caso

particular de Carcavelos graccedilas agrave colaboraccedilatildeo de Marina Arauacutejo Igreja (ex-

CIPAIPA hoje IGESPAR) procedeu-se agrave anaacutelise traceoloacutegica de algumas lacircminas

ovoacuteides

As mediccedilotildees discutidas foram realizadas em miliacutemetros arredondadas agrave

unidade No caso do peso os valores satildeo apresentados em gramas arredondados agrave

unidade

51 Pedra lascada

A abundacircncia de siacutelex na regiatildeo de Lisboa explicaraacute em parte porque os

objectos lascados desta mateacuteria-prima sobretudo artefactos utilitaacuterios sejam os mais

numerosos dentro da maioria das antas (Quadro 37 e 38) O quartzo essencialmente

hialino na forma de cristais daquela mateacuteria eacute o segundo grupo peacutetreo lascado Aleacutem

destes materiais registou-se a presenccedila ocasional de quartzito como raspador

A classificaccedilatildeo global dos objectos lascados teve em conta as propostas

apresentadas por vaacuterios autores (Leroi-Gourhan 1984a e 1984b Senna-Martinez

1989 Inizan et al 1999 Vierra 1922 Carvalho 1996 e 1998b Foranbaher 1999)

por vezes acrescentadas de contributos especiacuteficos devidamente assinalados

No caso dos materiais das antas de Trigache 2 3 e 4 pelos motivos explicados

noutro capiacutetulo regista-se um conjunto significativo de peccedilas que apenas se pode

adscrever especulativamente a sua proveniecircncia especiacutefica Assim decidi inclui-las

nas listagens de materiais mas natildeo foram tratadas na presente anaacutelise

Nuacutecleos

Os nuacutecleos conhecidos resultaram essencialmente da extracccedilatildeo de lamelas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 221 de 415

totalizando 23 peccedilas sobretudo de formatos prismaacutetico e piramidal e apenas trecircs de

lascas Foram obtidos frequentemente em quartzo hialino nalguns casos notando-se

ainda superfiacutecies do cristal original O caraacutecter especial desta mateacuteria-prima parece

reflectido pelo nuacutemero de 16 entre os 23 nuacutecleos de lamelas conhecidos ndash entre as

diversas presenccedilas aquelas das antas de Pedras da Granja e Casaiacutenhos sobressaem

apresentando uma dezena de peccedilas cada

Quadro 6 Mateacuteria-prima dos nuacutecleos recolhidos nas antas de Lisboa

Nuacutecleo Siacutelex Quartzo hialino

Quartzo Total

Lamelas 4 16 3 23 Lascas 1 2 - 3

A presenccedila de nuacutecleos em contextos funeraacuterios considerados antigos eacute pouco

frequente De facto quando se analisa o tipo de espoacutelio dos sepulcros considerados

arcaicos (Leisner e Leisner 1951 e 1959 Leisner 1965 Rocha 2005 Leitatildeo et al

1987) aquelas peccedilas estatildeo ausentes ou constam excepcionalmente em alguns

conjuntos Pelo contraacuterio os nuacutecleos surgem com frequecircncia em sepulcros com

espoacutelios mais abundantes e diversificados parecendo associar-se a um periacuteodo

genericamente o uacuteltimo terccedilo do 4ordm mileacutenio ane quando se verifica aparentemente

uma alteraccedilatildeo dos componentes mobiliaacuterios funeraacuterios perdurando ainda em alguns

sepulcros utilizados na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane

Produtos alongados

Os produtos alongados lamelas e lacircminas sem e com retoque surgem em

nuacutemero relativamente elevado em alguns sepulcros Satildeo esmagadoramente de siacutelex

ainda que o quartzo tenha sido utilizado por vezes na obtenccedilatildeo de lamelas ndash num

total de 267 peccedilas sete satildeo de quartzo hialino e uma de quartzo branco Poreacutem este

nuacutemero reduzido de lamelas fica aqueacutem da extracccedilatildeo destas pressentida pelo nuacutemero

de nuacutecleos conhecidos essencialmente daquela mateacuteria-prima Poreacutem aquela

produccedilatildeo poderaacute ter sido efectuada noutro local ou as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo e

escavaccedilatildeo dos sepulcros natildeo permitiram a sua recolha

No caso dos produtos alongados da anta de Pedras da Granja utilizaram-se as

medidas apresentadas no cataacutelogo publicado (Zbyszweski et al 1977) pois

desconhece-se actualmente o seu paradeiro

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 222 de 415

A proposta de classificaccedilatildeo de lamelas e lacircminas do Groupe drsquoEtude de

LrsquoEpipaleacuteolithique-Meacutesolithique (GEEM 1969) foi seguida inicialmente Estas

seriam o produto de debitagem com um comprimento igual ou ultrapassando o dobro

da largura das peccedilas No caso das lacircminas deveriam apresentar pelo menos um

comprimento de 50 mm ou superior e uma largura de 12 mm ou mais e as lamelas

teriam um comprimento igual ou superior a 50 mm mas uma largura inferior a 12

mm Poreacutem a anaacutelise realizada veio demonstrar discrepacircncias dos valores obtidos

com aqueles paracircmetros

Assim a distinccedilatildeo entre lamela e lacircmina utilizada por A Valera (1997)

adequou-se melhor ao universo estudado lacircmina seraacute o produto alongado com um

comprimento superior a 2 vezes a largura devendo esta uacuteltima ser igual ou superior a

14 mm enquanto a lamela teraacute um comprimento igual ou inferior a 2 vezes a largura

que deveraacute ser igual ou inferior a 13 mm

A elevada fragmentaccedilatildeo das peccedilas alongadas natildeo permitiu uma avaliaccedilatildeo

alargada da relaccedilatildeo da largura e comprimento reduzindo-se a 18 das peccedilas (49 em

267) Mesmo assim os limites utilizados parecem evidenciar um conjunto

relativamente claro de lamelas face ao das lacircminas (Fig 3 e 131)

Fig 3 Largura e comprimento dos produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa

0

5

10

15

20

25

30

35

0 25 50 75 100 125 150 175 200

Comprimento (mm)

Larg

ura

(mm

)

Lamelas (13x)Lacircminas (36x)

Devido agrave referida fragmentaccedilatildeo das peccedilas a largura e a espessura revelaram-se

os criteacuterios mais pertinentes para a anaacutelise efectuada verificando-se concentraccedilotildees

relativamente significantes para lamelas e lacircminas (Fig 4 127-130) Nos casos

menos definidos deu-se a primazia ao criteacuterio largura mesmo quando a espessura se

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 223 de 415

assemelhava agrave das lacircminas Semelhante opccedilatildeo foi tambeacutem seguida para a

classificaccedilatildeo das peccedilas completas

Fig 4 Espessura e largura dos produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa

02468

10121416

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36

Largura (mm)

Espe

ssur

a (m

m)

Lamelas (88x)Lacircminas (179x)

Quando se avaliam os criteacuterios largura e espessura dos produtos alongados por

anta (Fig 127-130) naqueles sepulcros com uma cronologia mais recuada (por

exemplo Carrascal e Pedras Grandes ndash ver capiacutetulo 8) parece notar-se uma

tendecircncia para a existecircncia de peccedilas mais delgadas sobretudo inclusas no grupo de

lamelas mas tambeacutem de lacircminas com largura ateacute cerca de 16 mm e espessura

raramente ultrapassando os 5 mm Entretanto nas antas em que a cronologia de

utilizaccedilatildeo conhecida se prolonga pelo 3ordm mileacutenio ane aleacutem das peccedilas com

espessamentos delgados registam-se tambeacutem lacircminas mais largas e espessas o que

poderaacute indiciar um eventual significado crono-tipoloacutegico Aliaacutes situaccedilatildeo

aproximadamente similar era jaacute apontada pelo casal Leisner (1951) acerca do

espoacutelio lascado alongado das antas de Reguengos de Monsaraz Tambeacutem ainda que

numa escala temporal mais ampla essa tendecircncia para o aumento das dimensotildees dos

produtos alongados foi realccedilada por A F Carvalho (1998b) desde contextos

mesoliacuteticos neoliacuteticos (antigos meacutedios e finais) e calcoliacuteticos do Centro e Sul do

actual territoacuterio portuguecircs associada nos periacuteodos finais ao aparecimento de peccedilas

com retoque bifacial como as pontas de seta lacircminas ovoacuteides e laquoalabardasraquo

Portanto ainda que natildeo seja possiacutevel uma destrinccedila segura dos materiais alongados

depositados nas antas este significado cronoloacutegico poderaacute revelar-se vaacutelido ndash aliaacutes

os recentes estudos realizados para as grutas-necroacutepole com cronologias recuadas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 224 de 415

de Lugar do Canto (Cardoso e Carvalho 2008) e Algar do Bom Santo (Carvalho no

prelo) parecem verificar essencialmente a presenccedila de produtos alongados de cariz

delgado

Por outro lado a anaacutelise realizada bem como os estudos referidos suscitam a

possibilidade de uma classificaccedilatildeo dos produtos alongados mais detalhada

designadamente de lamelas lacircminas estreitas e delgadas e lacircminas largas e espessas

(ou robustas) com base numa aparente diferenciaccedilatildeo da largura e espessura de peccedilas

ndash sobretudo se forem considerados como limites para a largura de produtos

alongados os balizamentos de le 9 mm 10-15 mm e ge16 mm Concomitantemente os

dois primeiros conjuntos apresentam essencialmente espessuras iguais ou abaixo de 3

e 5 mm respectivamente e o terceiro acima daquela uacuteltima baliza Poreacutem o

limitado universo em anaacutelise e os limitados dados de outras colecccedilotildees de sepulcros

da regiatildeo natildeo permitiram uma abordagem aprofundada o que seria interessante

testar no futuro com um nuacutemero mais alargado de materiais inclusive com peccedilas de

aacutereas habitacionais De alguma forma M Uerpmann (1995) ao efectuar o estudo dos

materiais do povoado do Zambujal parece registar com base na largura das peccedilas

alongadas intervalos aproximados dos valores agora propostos mas sem precisar a

sua correlaccedilatildeo cronoloacutegica naquele caso quase todo o 3ordm mileacutenio ane Ainda em

contexto habitacional o pequeno conjunto de dois sectores QQ e R de Leceia

(Cardoso Soares e Silva 1996) apesar dos dados limitados parece coincidir com as

impressotildees referidas para alargamento e robustecimento das peccedilas alongadas

Face agrave classificaccedilatildeo bipartida utilizada o nuacutemero de lamelas eacute sempre inferior

ao das lacircminas Entre os conjuntos mais numerosos de lacircminas aquelas com retoque

apresentam-no abrupto e semi-abrupto essencialmente marginal com raros casos

invasores ndash deste uacuteltimo tipo de extensatildeo do retoque registam-se alguns casos

sobretudo nas antas de Monte Abraatildeo e Trigache 3 ainda que percentualmente pouco

significativos normalmente realizados sobre lacircminas largas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 225 de 415

Quadro 7 Extensatildeo do retoque em produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa

Anta

Retoque marginal

Retoque invasor

Mte Abraatildeo 35 (85) 6 (15) Trigache 3 21 (72) 8 (28) P Mouros 3 (67) 1 (33) Conchadas 9 (82) 2 (18) Trigache 2 21 (95) 1 (5) Trigache 4 9 (90) 1 (10) Carcavelos 6 (75) 2 (25)

A localizaccedilatildeo do retoque eacute variaacutevel mas nas peccedilas inteiras costuma abarcar

ambos os bordos de forma contiacutenua inclusive as extremidades As peccedilas apresentam

essencialmente secccedilotildees trapezoidais sendo frequente a presenccedila de restos do coacutertex

original

Fig 5 Produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa por categoria (N=267)

33

5

8

1

30

9

2

6

23

9

6

13

3

1

17

1

4

1

4

1

1

1

6

2

2

11

3

7

4

5

13

1

4

1

5

1

2

4

6

5

2

1

1

1

1

0 5 10 15 20 25 30 35

P Granja

Carrascal

Estria

P Mouros

Mte Abraatildeo

Conchadas

P Grandes

Trigache 4

Trigache 3

Trigache 2

Carcavelos

Casaiacutenhos

C Penedo

Arruda

anta

s

nordm de peccedilas

LamelaLamela retocadaLacircminaLacircmina retocada

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 226 de 415

Geomeacutetricos

Os geomeacutetricos conhecidos nas antas de Lisboa provecircm de apenas dez destes

sepulcros normalmente em reduzido nuacutemero perfazendo um total de 39 peccedilas todas

em siacutelex As antas de Casaiacutenhos e Trigache 2 apresentam os maiores conjuntos

totalizando quase metade dessas peccedilas Estes reduzidos cocircmputos parecem verificar-

se noutros contextos sepulcrais da regiatildeo contrastando com casos excepcionais

designadamente da gruta artificial de Casal do Pardo 3 com cerca de meia centena

de geomeacutetricos (Leisner 1965 Soares 2003) Supra-regionalmente semelhante

representatividade limitada de geomeacutetricos usualmente de siacutelex parece verificar-se

nos sepulcros alentejanos (Leisner 1959 Rocha 2005) com poucas excepccedilotildees

como a anta do Paccedilo A com cerca de meia centena destes artefactos (Rocha 2005)

Poreacutem em algumas antas da Beira Interior surgem casos mais contrastantes

nomeadamente de Carapito 1 Lameira de Cima 1 e Areita com vaacuterias dezenas de

geomeacutetricos (Leisner e Kalb 1998 Gomes 1996 Gomes et al 1998) ou Arquinha

da Moura com largas centenas (Cunha 1993 Cruz et al 2003) Estas concentraccedilotildees

elevadas de geomeacutetricos em sepulcros de regiotildees importadoras do siacutelex (a mateacuteria-

prima da maioria daqueles artefactos) como a Beira Interior e o Alentejo ocorrem

tambeacutem em periacuteodo posterior com os produtos de retoque bifacial designadamente

as pontas de seta e as ldquoalabardasrdquo Tais aglomeraccedilotildees daquelas peccedilas bifaciais foram

salientadas por S Forenbaher (1999) como provaacutevel reflexo da importacircncia e

eventualmente do prestiacutegio social que a sua posse implicaria

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 227 de 415

Fig 6 Efectivos de geomeacutetricos por anta da regiatildeo de Lisboa (N=39)

Carrascal (2x)

Trigache 2 (7x)

Carcavelos (2x)Trigache 4 (5x)

Pedras Grandes (1x)

Casaiacutenhos (11x)

Casal do Penedo (3x)

Pedras da Granja (3x)

Monte Abraatildeo (1x)

Conchadas (4x)

Ao reduzido nuacutemero de elementos acresce a quase exclusividade do

geomeacutetrico monotiacutepico de formato trapezoacuteide maioritariamente assimeacutetrico ndash entre

as 39 peccedilas apenas se regista uma peccedila simeacutetrica em Pedras Grandes e 4

indeterminaacuteveis de outras antas No caso de dois espeacutecimes um de Pedras da Granja

e outro natildeo confirmado de Casaiacutenhos (natildeo localizado) aquelas peccedilas poderiam

corresponder a crescentes ainda que sob reserva

Assim aparente ausecircncia de geomeacutetricos crescentes e triangulares nas antas da

regiatildeo de Lisboa que parece tambeacutem ocorrer genericamente nas grutas artificiais

contrasta com a sua presenccedila geralmente minoritaacuteria em grutas naturais

nomeadamente de Salemas (Castro e Ferreira 1972) Poccedilo Velho (Gonccedilalves

2005b) e Correio-Moacuter (Cardoso et al 2003) ndash exemplos que poderiam alargar-se

pela Estremadura nas grutas de Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987 Cardoso e

Carvalho 2008) Carrascos (Gonccedilalves e Pereira 1974-77) Lapa da Galinha (Saacute

1959) Senhora da Luz 2 (Cardoso Ferreira e Carreira 1996) e Casa da Moura

(Carreira e Cardoso 2001-02) Isso poderia entatildeo reflectir um momento anterior do

megalitismo em que ainda se produziam e depositavam aqueles tipos de geomeacutetricos

entretanto caiacutedos em desuso na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane ndash a cronologia

conhecida para o Algar do Bom Santo situada essencialmente naquele periacuteodo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 228 de 415

(Duarte 1998b Anexo 3 Quadro 2) poderia explicar a aparente exclusividade de

geomeacutetricos trapeacutezios (Carvalho no prelo) Nesse sentido as dataccedilotildees absolutas

conhecidas para contextos do Megalitismo na Estremadura (Capiacutetulo 8) apontando

para um uso inicial mais arcaico de cavidades naturais parecem ressalvar essa

situaccedilatildeo quando se comeccedilaram a construir antas na regiatildeo jaacute aquelas armaduras natildeo

eram utilizadas

Os geomeacutetricos foram obtidos sobre lamelas e lacircminas de acordo com os

paracircmetros utilizados essencialmente com secccedilotildees trapezoidais No entanto as suas

dimensotildees seriam enquadraacuteveis no grupo proposto supra de lacircminas delgadas De

facto entre os vaacuterios conjuntos apenas duas peccedilas de Trigache 2 e Casaiacutenhos

ultrapassam a largura de 16 mm concentrando-se a maioria dos restantes abaixo de

14 mm e com 4 mm de espessura ou menos (Fig 7) Esta situaccedilatildeo parece condizer

com aquela jaacute mencionada dos produtos alongados remetendo os geomeacutetricos para

momentos anteriores ao aumento de dimensatildeo daqueles suportes

Fig 7 Largura e espessura dos geomeacutetricos das antas da regiatildeo de Lisboa (N=39)

0

1

2

3

4

5

8 10 12 14 16 18Largura (mm)

Esp

essu

ra (m

m)

Carcavelos (2x) Carrascal (2x) Casaiacutenhos (11x) Casal do Penedo (3x)Conchadas (4x) Monte Abraatildeo (1x) Pedras da Granja (3x) Pedras Grandes (1x)Trigache 2 (6x) Trigache 4 (5x)

Apenas foi possiacutevel registar o comprimento de 25 geomeacutetricos cujo valor

maacuteximo natildeo ultrapassa os 30 mm Esse valor eacute inferior a vaacuterias peccedilas do tipo

trapeacutezio de antas da Beira Interior que por vezes rondam os 40 mm No entanto

quando se comparam as dimensotildees largura e espessura entre os conjuntos de Lisboa

com os congeacuteneres beirotildees eou alentejanos essas diferenccedilas esbatem-se

ressalvando uma relativa padronizaccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 229 de 415

Fig 8 Largura e espessura dos geomeacutetricos das antas de Lisboa Beira Interior e Alentejo

(N= 53)

0

1

2

3

4

5

6

6 8 10 12 14 16 18 20Largura (mm)

Esp

essu

ra (m

m)

AntasLx (39x) LCima1 (35x) LCima2 (11x) Areita1 (34x) GEscoural (10x) Rabuje 5 (8x)

As truncaturas menores e maiores dos geomeacutetricos trapeacutezios de Lisboa

apresentam-se maioritariamente cocircncavas e sinuosas essencialmente com retoques

directos marginais e abruptos Um entalhe na base menor de 4 geomeacutetricos foi

registado nas antas do Carrascal Casaiacutenhos Casal do Penedo e Conchadas

A maior dimensatildeo dos geomeacutetricos cronologicamente mais recentes tem sido

apontada (Carvalho 1998a e 1998b Marchand 2005 Cardoso e Carvalho 2008) e

tal parece verificar-se tambeacutem nas antas de Lisboa e de outras regiotildees ndash veja-se a

comparaccedilatildeo entre geomeacutetricos trapeacutezios de Valada do Mato Alentejo (Diniz 2007)

um siacutetio de habitaccedilatildeo na transiccedilatildeo do 6ordm para o 5ordm mileacutenio ane e aqueles de

sepulcros adscritos ao fenoacutemeno do Megalitismo (Quadro 40) No entanto essa

maior dimensatildeo aparenta ser uma consequecircncia do processo de crescimento dos

suportes alongados obtidos mais do que um reflexo de um arcaiacutesmo funeraacuterio isto eacute

peccedilas que seriam produzidas propositadamente como espoacutelio funeraacuterio mas jaacute natildeo

utilizadas nas actividades diaacuterias daqueles grupos Ainda que natildeo seja possiacutevel

descartar absolutamente essa possibilidade julgo que eacute de reavaliaacute-la face agrave anaacutelise

das dataccedilotildees disponiacuteveis (Capiacutetulo 82) nos sepulcros onde se registaram apenas

geomeacutetricos algumas dataccedilotildees prolongam-se genericamente ateacute ao uacuteltimo quartel do

4ordm mileacutenio ane periacuteodo de transiccedilatildeo onde parecem desenvolver e generalizar-se os

primeiros produtos com retoque bifacial nomeadamente as pontas de seta que iriam

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 230 de 415

entatildeo substituir os artefactos anteriores com funccedilotildees similares de acordo com alguns

estudos recentes (Carvalho 1998a e 1998b Gibaja e Palomo 2004 Domingo

2005a) e acumulando-se junto com o mobiliaacuterio anteriormente depositado Por outro

lado esta transiccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo teraacute sido simultacircnea e imediatamente abrangente

pelo que eacute plausiacutevel a existecircncia de assimetrias entre comunidades e regiotildees

Apesar da assumpccedilatildeo funcional mencionada o objectivo dos geomeacutetricos natildeo

eacute ainda consensual podendo adscrever-se a diversos usos designadamente como

parte de instrumentos de corte ou de arremesso (Domingo 2005b) No entanto os

estudos de traceologia desenvolvidos inclusive com base experimental parecem

inclinar-se de facto para a sua utilizaccedilatildeo como pontas de projeacutectil (Gibaja e Palomo

2004 Domingo 2005 Gibaja 2007 Dias 2008) Portanto isto poderia explicar

parcialmente a substituiccedilatildeo no espoacutelio funeraacuterio de geomeacutetricos por peccedilas de

retoque bifacial ndash pontas de seta ndash que se teriam generalizado nos finais do 4ordm

mileacutenio ane Os geomeacutetricos da regiatildeo de Lisboa reflectiriam essa funcionalidade

ainda que necessitem de uma cabal comprovaccedilatildeo pela traceologia caso tenham

subsistido vestiacutegios de tal uso

Pontas de seta

As pontas de seta satildeo o segundo grupo mais numeroso no universo de

artefactos lascados (N=209) depois dos produtos alongados Esmagadoramente satildeo

de siacutelex e rochas afins registando-se apenas uma peccedila da anta de Pedras da Granja

efectuada em xisto silicioso com base cocircncava Esta relaccedilatildeo maioritaacuteria da mateacuteria-

prima eacute frequente em contexto funeraacuterio da regiatildeo de Lisboa bem como em siacutetios

habitacionais (Leisner 1965 Sousa 1998 e 2000 Forenbaher 1999 Soares 2003)

A presenccedila de pontas de seta eacute conhecida para dez antas aspecto cujo

significado cronoloacutegico seraacute discutido noutro capiacutetulo Aqui importa realccedilar que os

cocircmputos por anta natildeo satildeo similares entre si (Quadro 38) podendo isso representar

uma proporcionalidade face ao nuacutemero de inumados Tal hipoacutetese poderia ser

relativamente compatiacutevel com o efectivo humano das antas de Monte Abraatildeo Estria

Pedras da Granja e Casaiacutenhos (Capiacutetulo 6) Contudo noutros casos tal aproximaccedilatildeo

eacute difiacutecil de sustentar como nas antas de Casal do Penedo e de Carcavelos onde o

nuacutemero deveras reduzido de pontas de seta contrasta com os nuacutemeros miacutenimos de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 231 de 415

indiviacuteduos proporcionalmente elevados Noutros casos designadamente das antas de

Trigache Conchadas e Arruda as circunstacircncias das suas escavaccedilotildees poderatildeo ter

afectado essa anaacutelise Aleacutem das condicionantes referidas haacute que considerar que nem

todas as antas foram sistematicamente (re)utilizadas reflectindo-se esse ritmo

funeraacuterio no espoacutelio votivo recolhido inclusive porque penso que a deposiccedilatildeo de

pontas de seta teraacute sido uma praacutetica generalizada mas limitada no tempo algures

entre o uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane e a primeira metade essencialmente o

primeiro quartel do 3ordm mileacutenio ane como proporei adiante

Quando se compara os efectivos globais por anta ou mesmo de outros

sepulcros estremenhos com aqueles de outras regiotildees nomeadamente Alentejo e

Beira Interior sucede situaccedilatildeo semelhante agravequela referida para os geomeacutetricos ndash de

facto em contexto funeraacuterio apenas Casa da Moura parece ultrapassar a centena de

exemplares de siacutelex (Forenbaher 1999) No entanto ainda que pontualmente

surgem conjuntos de pontas de seta de siacutelex bem acima da centena de peccedilas no

Alentejo na anta da Comenda da Igreja 1 (Leisner 1965 Forenbaher 1999) e

Zambujeiro 1 (informaccedilatildeo pessoal de L Rocha) e na Beira Interior nas antas de

Moinhos de Vento 1 Sobreda e Orca do Tanque (Senna-Martinez 1989 Leisner e

Kalb 1998 Forenbaher 1999) Estas situaccedilotildees para aleacutem de comprovarem claros

intercacircmbios entre comunidades da Estremadura e de outras regiotildees reforccedilam a ideia

de uma apreciaccedilatildeo particular pelo artefacto de siacutelex em zonas distantes da sua origem

(Senna-Martinez 1989 Gonccedilalves 1992 1999a e 2003e Forenbaher 1999)

A anaacutelise das pontas de seta seguiu as propostas de classificaccedilatildeo de S

Forenbaher (1999) com algumas adaptaccedilotildees Aliaacutes as pontas das antas de

Casaiacutenhos Estria e Monte Abraatildeo tinham jaacute sido estudadas no acircmbito daquele

trabalho Contudo porque o inventaacuterio realizado natildeo registou a codificaccedilatildeo de cada

peccedila dificultando a sua revisatildeo optei por efectuar novamente essa classificaccedilatildeo

agora com a devida identificaccedilatildeo unitaacuteria passiacutevel entatildeo de futuras revisotildees

Genericamente as classificaccedilotildees das peccedilas corresponderam agravequelas da anterior

inventariaccedilatildeo com a excepccedilatildeo de alguns casos pouco significativos que se deveram

julgo sobretudo ao grau de subjectividade implicado nestas anaacutelises ndash encontram-se

devidamente assinalados na respectiva listagem de material (Quadro 47)

As pontas de seta do tipo 1 com bases convexas (incluindo as romboacuteides e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 232 de 415

pedunculadas) surgem com maior frequecircncia no espoacutelio das antas de Lisboa No

universo de 203 pontas recolhidas e tipologicamente classificaacuteveis 156 (77)

pertencem ao tipo 1 seguidas das pontas do tipo 2 com bases cocircncavas e rectas com

apenas 41 peccedilas (20) Aleacutem destes tipos registam-se ainda o tipo 6 foliaacuteceas (4

exemplares 2) e o tipo 3 mitriformes (2 exemplares 1) que podem contabilizar-

se junto respectivamente com os primeiros grupos mencionados As pontas de seta

do tipo 4 e 5 normalmente designadas por tipos Torre-Eifel e alcalarense natildeo se

registaram nos espoacutelios funeraacuterios analisados

Alargando a anaacutelise a outros tipos de sepulcro e agrave restante Estremadura

verifica-se que o tipo 1 surge maioritariamente nos sepulcros (Forenbaher 1999

Figueiredo 2006) sobretudo naqueles com uma cronologia de construccedilatildeo ainda do

4ordm mileacutenio ane No entanto ao comparar-se essa amostragem com contextos

habitacionais as pontas de tipo 1 surgem em reduzido nuacutemero motivo que seraacute

discutido infra

As pontas de tipo 3 mitriformes surgem em alguns sepulcros estremenhos

mas sobretudo em cavidades naturais normalmente na parte setentrional como a

Lapa da Bugalheira Senhora da Luz 2 Buraca da Moura Casa da Moura Cova da

Moura (Leisner 1965 Gonccedilalves J 1990-92a Forenbaher 1999) e pelo menos na

gruta artificial da Ermegeira (Leisner 1965) em todos os casos com efectivos

reduzidos face ao tipo 1 Em menor nuacutemero registam-se ainda as pontas de tipo 6

foliaacuteceas que para aleacutem dos peccedilas mencionadas surgem nas grutas de Cova da

Moura (Forenbaher 1999) e da Casa da Moura (Carreira e Cardoso 2001-02) No

entanto em contextos habitacionais nomeadamente no Outeiro de Satildeo Mamede

Zambujal Penedo Pico Agudo Praganccedila e Leceia (Uerpmann M 1995

Forenbaher 1999 Cardoso 1994 Cardoso e Carreira 2003) as peccedilas mitriformes

assumem presenccedilas mais consideraacuteveis situaccedilatildeo que natildeo se detecta para o tipo das

foliaacuteceas limitadas a alguns casos da Columbeira e Zambujal (Forenbaher 1999)

No caso do Outeiro de Satildeo Mamede a elevada presenccedila de pontas do tipo mitriforme

foi interpretada como resultado de uma concentraccedilatildeoesconderijo em contexto

semelhante agravequele apontado para um conjunto de pontas de seta no fortiacuten 7 de Los

Millares (cit in Forenbaher 1999 e Cardoso e Carreira 2003)

Quanto ao tipo 4 aleacutem de natildeo se verificar nas antas da regiatildeo de Lisboa surge

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 233 de 415

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 234 de 415

raramente noutros tipos de sepulcro nomeadamente nas grutas do Casal do Pardo

(Leisner 1965 taf 101 e 119 Soares 2003) ndash isto porque apenas uma peccedila estaacute

apontada para o sepulcro 3 desconhecendo-se a proveniecircncia especiacutefica das restantes

ndash nas grutas naturais da Casa da Moura (Forenbaher 1999 Carreira e Cardoso 2001-

02) e Furadouro da Rocha Forte (Gonccedilalves J 1990-92a) e no tholos do Barro

(Leisner 1965) O tipo 5 parece ausente dos contextos funeraacuterios estremenhos No

entanto em contextos habitacionais aleacutem do tipo 4 ocorrer mas de forma

minoritaacuteria designadamente no Zambujal Penedo Pico Agudo Praganccedila Outeiro

de Satildeo Mamede e Leceia (Uerpmann M 1995 Forenbaher 1999 Cardoso e

Carreira 2003) alguns exemplares do tipo 5 estatildeo anotados no Zambujal e em

Leceia (Forenbaher 1999)

Quadro 8 Tipologia das pontas de seta das antas da regiatildeo de Lisboa

Apesar da dificuldade em discernir o tipo de suporte utilizado na manufactura

das pontas de seta (Carvalho 1998b) procurei identificaacute-lo (Quadro 39) Os

produtos alongados provavelmente laminares parecem ser usuais (56) ainda que

por vezes tenham sido aproveitadas lascas (7) Haacute no entanto uma percentagem

consideraacutevel (37) de peccedilas indecifraacuteveis De facto o retoque bifacial que estas

peccedilas sofreram normalmente com uma extensatildeo invasora eou cobridora originou o

(Bases convexas romboacuteides e pedunculadas) (Bases rectas e cocircncavas)

Tipologia das pontas

de seta

Tipo 1 T6 Tipo 2 T

3

Anta

10

C 1

10

D 0

10

D 1

10

E 0

10

E 1

10

F 0

20

C 0

20

C 1

20

D 0

20

D 1

20

E 0

20

E 1

20

F 0

30

E 0

10

C 0

Subt

otal

10

B 0

20

A 0

20

B 0

21

B 1

11

B 0

Subt

otal

Sem

cla

ssifi

caccedilatilde

o

Tot

al

Casaiacutenhos 3 2 3 1 4 2 5 3 2 25 2 1 3 28 C do Penedo 1 1 1 1 2 Mte Abraatildeo 4 1 2 3 1 7 5 10 2 13 5 10 1 64 5 7 12 1 77

Trigache 2 2 5 3 3 1 1 1 4 1 3 2 2 28 1 1 1 3 2 33 Trigache 4 1 1 1 Conchadas 2 2 1 1 1 1 1 9 1 1 2 11

P da Granja 3 4 3 3 2 3 1 1 1 1 22 2 1 3 6 28 Carcavelos 2 1 3 2 5 Trigache 3 2 2 1 2 1 8 2 3 5 13

Estria 5 3 2 10 1 11 Total 13 13 16 10 7 3 11 9 19 8 25 5 17 1 4 160 18 2 20 1 2 43 6 209

Segundo a tipologia de S Foranbaher (1999)

desaparecimento de marcas pertinentes para a anaacutelise do suporte utilizado inclusive

reduzindo o seu tamanho (Carvalho 1998b) Contudo as dimensotildees meacutedias

registadas para estas pontas sobretudo a largura e a espessura levam a crer que pelo

menos no que toca agravequelas produzidas sobre suportes alongados estas

corresponderiam essencialmente a lacircminas Enquadradas pela proposta de

classificaccedilatildeo tripartida dos produtos alongados aquelas peccedilas seriam classificadas

maioritariamente como lacircminas delgadas e apenas algumas robustas (Quadro 9)

Quadro 9 Dimensotildees meacutedias das pontas de seta das antas da regiatildeo de Lisboa

Dimensotildees Anta

C L E

Casaiacutenhos 29 20 13 28 4 28 C do Penedo 22 1 16 1 4 2 Mte Abraatildeo 25 39 13 72 4 77

Trigache 2 22 17 13 30 3 33 Trigache 4 - - 16 1 3 1 Conchadas 31 5 14 9 3 11

P da Granja 26 19 13 25 3 28 Carcavelos 33 3 9 3 3 4 Trigache 3 34 7 14 9 4 13

Estria 34 2 12 10 4 10 Total 113 188 207

Em mm C- comprimento L- largura E- espessura - nuacutemero de peccedilas utilizadas nos caacutelculos

O enquadramento crono-tipoloacutegico das pontas de seta conhecidas na

Estremadura recebeu importantes contributos nos uacuteltimos anos sendo hoje algum

consenso possiacutevel pelo menos em torno de certos tipos outros dada a sua longa

diacronia de uso tornam difiacutecil um posicionamento cronoloacutegico especiacutefico Natildeo

obstante eacute hoje exequiacutevel com um pouco mais de rigor situar pelo menos o

aparecimento dos materiais com retoque bifacial concretamente das pontas de seta

O casal Leisner (1943 1951 e 1959) e posteriormente V Leisner (1965 e

1983) apontava como os primeiros tipos de pontas de seta aquelas de base convexa

romboacuteide e pedunculada servindo-se do exemplo da Praia das Maccedilatildes (Leisner

1965) mas tambeacutem dos dados coligidos nos seus trabalhos pela Peniacutensula Ibeacuterica O

retoque daquelas pontas natildeo cobriria totalmente as peccedilas notando-se ainda o seu

suporte laminar original algo que se modificaria nas pontas com bases cocircncavas e

retoque mais abrangente Portanto destacava-se uma certa anterioridade relativa das

pontas de base convexas generalizadas peninsularmente com um posterior

surgimento e expansatildeo de bases cocircncavas a partir da parte meridional peninsular De

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 235 de 415

facto observando a dispersatildeo dos tipos de pontas de seta no Centro e Sul do actual

territoacuterio portuguecircs de forma plasmada nota-se uma preponderacircncia dos tipos 2 e 5

na regiatildeo meridional quase em exclusividade dando lugar nas regiotildees da

Estremadura Alto Alentejo e Beiras a pontas do tipo 1 3 4 e 6 mas onde o tipo 2

ainda marca um presenccedila relativamente abundante (Forenbaher 1999 Gonccedilalves

2003e) Mais para norte a imagem modifica-se agora com tipos quase

exclusivamente de bases convexas (Jorge 1978 Forenbaher 1999) Resta entatildeo

procurar o significado cronoloacutegico para aquela imagem da Estremadura

Ainda que de uma regiatildeo distinta na bacia meacutedia do rio Ebro alguns dos

indiviacuteduos depositados nos sepulcros de S J A Portam Latinam (Vegas 2007) e

Longar (Armendaacuteriz e Irigaray 1993-94 e 1995) apresentavam pontas de seta

enquadraacuteveis no tipo 6 foliaacuteceo cravadas nos seus ossos tendo algumas delas sido a

provaacutevel causa das suas mortes As dataccedilotildees pelo radiocarbono sobre ossos humanos

situaram genericamente algumas daquelas inumaccedilotildees entre os uacuteltimos quatro seacuteculos

do 4ordm mileacutenio ane e o primeiro seacuteculo do seguinte Esse intervalo de tempo eacute

aproximado agraves dataccedilotildees obtidas sobre ossos de fauna ndash hastes de alfinetes de cabelo

ndash e ainda que com menor concordacircncia de carvotildees da cacircmara ocidental do sepulcro

da Praia das Maccedilatildes (Quadro 22) Ora neste espaccedilo apenas foram recolhidas pontas

de seta convexas com bases romboacuteides e pedunculadas (Leisner 1965)

Se a cronologia referida para aquelas presenccedilas de pontas de seta for

considerada juntamente com a utilizaccedilatildeo de geomeacutetricos ainda na segunda metade do

4ordm mileacutenio ane julgo ser plausiacutevel admitir que algures nos uacuteltimos seacuteculos desse

mileacutenio e na transiccedilatildeo para o seguinte se registou a generalizaccedilatildeo do novos modelos

de projeacutectil (Ver capiacutetulo 8) No entanto tal como jaacute salientei atraacutes esta transiccedilatildeo

poderaacute ter decorrido regionalmente de forma assimeacutetrica

A relaccedilatildeo simultaneamente cronoloacutegica e regional das leituras para as pontas

de seta da Estremadura permitiu entatildeo um faseamento relativo Assim S Forenbaher

(1999) sistematizando esse conhecimento admitia como provaacutevel uma anterioridade

cronoloacutegica para as pontas de tipo 1 atribuiacutedas ao ldquoNeoliacutetico finalrdquo mais numerosas

e frequentes em sepulcros (natildeo categorizados) do que em povoados nos quais as

pontas de tipo 2 surgiam em nuacutemeros mais elevados Contudo esta contradiccedilatildeo seria

explicada pelo facto de muitos dos povoados onde tais cocircmputos ocorriam

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 236 de 415

apresentarem fundaccedilotildees ldquocalcoliacuteticasrdquo portanto em momentos posteriores agraves

deposiccedilotildees funeraacuterias com pontas de tipo 1 Poreacutem mesmo nos poucos povoados

escavados extensivamente com ocupaccedilotildees do ldquoNeoliacutetico finalrdquo como Leceia

(Cardoso 1989) a presenccedila de pontas de tipo 1 pareceu ser reduzida (Forenbaher

1999) Aliaacutes nessa mesma fase do povoado registaram-se tambeacutem as primeiras

pontas com bases cocircncavas o que o torna sui generis no panorama estremenho Isto

porque noutros casos conhecidos aquele tipo de projeacutectil foi recolhido em contextos

essencialmente do ldquoCalcoliacutetico inicial eou plenordquo portanto na primeira metade e

meados do 3ordm mileacutenio ane As pontas do tipo 3 (mitriformes) e 4 (Torre-Effeil)

pelos dados conhecidos tambeacutem parecem restringir-se cronologicamente ao mesmo

periacuteodo do 3ordm mileacutenio ane

Por outro lado regionalmente no Alto Alentejo e na Beira Interior apesar de

se verificar uma aparente primazia temporal das pontas de tipo 1 com bases

convexas os percursos tipoloacutegicos posteriores tomaram rumos distintos (Forenbaher

1999) No Alto e Meacutedio Alentejo as pontas de tipo 1 aparentemente mais frequentes

em contextos funeraacuterios e sempre em nuacutemeros reduzidos deram rapidamente lugar

agraves de tipo 2 com bases rectas e cocircncavas frequentes tipo 5 alcalarenses e

excepcionalmente pontas de tipo 3 em alguns grandes sepulcros como a anta da

Comenda da Igreja 1 (Leisner 1959) e a anta do Zambujeiro 1 (informaccedilatildeo pessoal

de L Rocha) Portanto as influecircncias meridionais estariam registadas de forma clara

no 3ordm mileacutenio ane nesta regiatildeo (Gonccedilalves 1989 e 2003e) bem como em contacto

com a Estremadura Na Beira Interior o percurso assemelhou-se ao estremenho

registando-se no 3ordm mileacutenio ane a presenccedila de pontas de tipo 1 e 2 este segundo

minoritariamente em contexto funeraacuterio mas abundante em contexto habitacional

(Leisner e Kalb 1998 Senna-Martinez 1989 Valera 1997) Ainda que

pontualmente o tipo 3 e 5 surge evidenciado na anta de Orca do Tanque (Leisner e

Kalb 1998 Senna-Martinez 1889 Forenbaher 1999) bem como possivelmente o

tipo 4

Assim com os elementos expostos acima ao avaliar os tipos de pontas

presentes e os seus efectivos nas antas da regiatildeo de Lisboa eacute possiacutevel propor que

com algumas excepccedilotildees a maioria das deposiccedilotildees destes projeacutecteis poderaacute ter

ocorrido essencialmente durante os uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane e nos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 237 de 415

primeiros do 3ordm justificando-se desta forma o caraacutecter minoritaacuterio das pontas de tipo

2 introduzidas em momento posterior Aliaacutes a presenccedila de pontas de tipo 2 e 3 em

exclusivo na anta de Estria e relativamente abundantes em Trigache 3 dois

sepulcros que indiciam ter sido erigidos tardiamente parece reforccedilar essa impressatildeo

Isso tambeacutem ressalta nos espoacutelios dos sepulcros de construccedilatildeo atribuiacutevel

essencialmente ao 3ordm mileacutenio ane como os tholoi onde apesar de um decreacutescimo

de pontas de seta no espoacutelio funeraacuterio as de tipo 2 surgem com frequecircncia junto

com artefactos votivos de calcaacuterio caixas ciliacutendricas de osso e peccedilas de retoque

bifacial como as lacircminas ovoacuteides e algumas grandes pontas foliaacuteceas

Lacircminas ovoacuteides

As peccedilas aqui denominadas lacircminas ovoacuteides surgem na literatura arqueoloacutegica

tambeacutem com outras designaccedilotildees referenciadas sucintamente por S Forenbaher

(1999) como ldquofoicinhasrdquo ldquofacas ovoacuteidesrdquo e ldquolacircminas de foicerdquo tendo este autor

proposto um novo termo que considerou menos comprometedor ndash ldquoovoid bifacesrdquo ndash

bifaces ovoacuteides Para o justificar argumenta que as funcionalidades destas peccedilas

natildeo foiforam ainda claramente estabelecidas nem como instrumento ou parte dele

para corte ou raspagem pelo que se deveria optar por um termo mais isento

Contudo dada a conotaccedilatildeo com a preacute-histoacuteria antiga do termo biface optei por

manter a utilizaccedilatildeo da designaccedilatildeo lacircmina ovoacuteide

Nas antas da regiatildeo de Lisboa as lacircminas ovoacuteides satildeo raras Aliaacutes o estudo

desenvolvido por S Forenbaher acerca destas peccedilas realccedila de forma bastante

marcante alguns aspectos relacionados com estas peccedilas satildeo esmagadoramente de

siacutelex (refere apenas duas de mateacuteria-prima distinta num universo de 377 peccedilas)

surgem sobretudo em contextos habitacionais sendo pouco frequentes em sepulcros

e circunscrevem-se essencialmente agrave plataforma calcaacuteria da Estremadura

De facto fora da Estremadura apenas se conhecem alguns casos alentejanos

provaacuteveis na anta da Comenda da Igreja 1 (Leisner e Leisner 1959) uma possiacutevel

lacircmina ovoacuteide (Forenbaher 1999) onde ocorre tambeacutem a presenccedila de pontas de seta

de tipo 3 mitriforme L Rocha (informaccedilatildeo pessoal) teraacute identificado mais algumas

dessas peccedilas de siacutelex na anta de Zambujeiro 1 Eacutevora e recentemente R Mataloto

(informaccedilatildeo pessoal) exumou dos estratos ldquocalcoliacuteticosrdquo do povoado amuralhado de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 238 de 415

S Pedro Redondo um conjunto de peccedilas em xisto silicioso que na minha opiniatildeo

se assemelham bastante com as lacircminas ovoacuteides estremenhas excepto na mateacuteria-

prima que condicionou o retoque rasante e invasor

Retornando entatildeo agraves antas de Lisboa as lacircminas ovoacuteides conhecidas

restringem-se a trecircs sepulcros Uma peccedila quebrada de Casal do Penedo outra inteira

de Trigache 3 e cinco de Carcavelos quatro delas completas De acordo com a

tipologia proposta por S Forenbaher (1999) estas peccedilas apresentam formatos

ovoacuteides excepto no caso de Carcavelos onde duas delas seratildeo subrectangulares e

uma terceira apesar de ovoacuteide apresenta uma extensatildeo que poderia servir para

encabamento que tambeacutem poderia registar-se na peccedila de Casal do Penedo

infelizmente quebrada impossibilitando uma leitura mais precisa

Procurando elucidar a eventual funccedilatildeo destes artefactos propus a Marina

Arauacutejo Igreja um pequeno estudo de traceologia do conjunto de cinco peccedilas ovoacuteides

e uma lacircmina retocada (HC800) todas de Carcavelos A observaccedilatildeo das suas

superfiacutecies permitiu registar as seguintes informaccedilotildees a lacircmina apresentava

superfiacutecies alteradas natildeo se tendo verificado qualquer traccedilo de uso das cinco peccedilas

ovoacuteides duas apresentavam as superfiacutecies alteradas (HC129 e HC313) natildeo se tendo

registado qualquer traccedilo de uso o mesmo ocorrendo noutra peccedila com bom estado das

superfiacutecies (HC802) Apenas nas restantes duas com superfiacutecies bem preservadas se

verificaram alguns traccedilos longitudinais de uso passiacuteveis de ser atribuiacutedos ao trabalho

de mateacuteria vegetal (HC801) e vegetal macia (HC320) Para aleacutem da utilizaccedilatildeo

associada a elementos vegetais a ausecircncia de vestiacutegios nestas peccedilas poderaacute dever-se

tambeacutem ao seu caraacutecter funeraacuterio elaboradas propositadamente com esse objectivo

Aliaacutes outra perspectiva suscitada por este pequeno estudo eacute com certeza a

necessidade de mais anaacutelises acerca deste tipo de artefacto ainda que o mesmo se

poderaacute dizer para todo um leque de outros utensiacutelios podendo clarificar com maior

rigor a evidecircncia ou ausecircncia de traccedilos de uso nas peccedilas depositadas

Entretanto jaacute anteriormente em 1966 E Serratildeo e E Vicente (1980) tinham

efectuado uma avaliaccedilatildeo de um conjunto de 10 lacircminas ovoacuteides de contextos

habitacionais (9 de Olelas e uma de Negrais) Dessa anaacutelise concluiacuteram os autores

que aquelas peccedilas teriam sido utilizadas provavelmente como ldquolacircminas cortantesrdquo de

uso domeacutestico ldquopara cortar carnes umas para aguccedilar outras e em casos mais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 239 de 415

raros para rasparrdquo (Serratildeo e Vicente 1980 p 43) Como se pode concluir natildeo

existe entatildeo consenso quanto ao uso especiacutefico destes artefactos que talvez nunca o

tenham tido mas o seu cariz domeacutestico parece ser o aspecto menos controverso e

talvez o mais relevante Portanto esse cariz explicaria a importacircncia reduzida como

objecto funeraacuterio mas simultaneamente a importacircncia do indiviacuteduo que foi inumado

junto com aquele utensiacutelio

Noutro local (Boaventura no prelo a) realcei a possibilidade de correlaccedilatildeo

deste tipo de instrumento a elementos do sexo eou geacutenero feminino potencialmente

os principais responsaacuteveis pelas lides domeacutesticas mas tambeacutem por outros factores

como a tecnologia ceracircmica e tecircxtil Aliaacutes a sua dispersatildeo limitada essencialmente

na regiatildeo estremenha com uma tipologia muito aproximada poderia relacionar-se

com uma praacutetica patrilocal de troca de mulheres a um niacutevel local e regional Os casos

referidos no Alentejo por ora excepcionais reflectiriam outro niacutevel de trocas e

eventualmente possiacuteveis alianccedilas entre comunidades mas os dados satildeo deveras

limitados para que se possa afirmaacute-lo com seguranccedila

Apesar da jaacute referida presenccedila limitada das lacircminas ovoacuteides noutros sepulcros

estremenhos estas peccedilas surgem ocasionalmente em grutas naturais como Correio-

Moacuter (Cardoso et al 2003) e Poccedilo Velho (Gonccedilalves 2005b) ou na aacuterea norte em

Casa da Moura (Carreira e Cardoso 2001-02) Tambeacutem se registam em grutas

artificiais nomeadamente Alapraia 2 (1 peccedila) e Casal do Pardo (1 peccedila) ainda que

sem sepulcro especificado (Leisner 1965) Contudo eacute nos tholoi que estas peccedilas

surgem com maior frequecircncia normalmente de forma singular designadamente em

Praia das Maccedilatildes Satildeo Martinho 12 (1 peccedila) Monge (1 peccedila) e Agualva (esta uacuteltima

com quatro exemplares10 Samarra que poderaacute ter sido um tholos tambeacutem apresenta

uma peccedila similar Para norte o possiacutevel tholos de Serra da Vila (2 peccedilas) e os tholoi

de Barro (1 peccedila) Cabeccedilo da Arruda 2 (1 peccedila) e Paimogo 1 registam tambeacutem a

presenccedila de lacircminas ovoacuteides ainda que no uacuteltimo sepulcro se conheccedilam 6

espeacutecimes De facto G Gallay e colaboradores (1973) ao discutir esta presenccedila

realccedilavam frequecircncia deste artefacto em sepulcros do tipo tholoi

Cronologicamente a partir dos dados de povoados escavados designadamente

Leceia (Cardoso 1994) e Zambujal (Uerpmann M 1995) as lacircminas ovoacuteides tecircm 10 Incluo aqui o artefacto que S Forenbaher (1999) considerou uma mini-ponta bifacial Apoacutes observaccedilatildeo daquela julgo enquadrar-se melhor como lacircmina ovoacuteide

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 240 de 415

sido atribuiacutedas ao ldquoCalcoliacutetico inicial e plenordquo (Cardoso 1994 Forenbaher 1999)

que se poderaacute situar lato senso entre 2900-2400 ane Este enquadramento parece

coincidir com o tipo de sepulcro com presenccedilas mais frequentes os tholoi No

entanto se estes artefactos perduraram em contexto habitacional a sua valorizaccedilatildeo

funeraacuteria natildeo teraacute ultrapassado provavelmente os meados daquele mileacutenio periacuteodo

em que aparentemente um novo pacote funeraacuterio (campaniforme) comeccedilou a ser

introduzido na regiatildeo de Lisboa de forma mais ou menos sistemaacutetica

Grandes pontas com retoque bifacial

As grandes pontas com retoque bifacial satildeo com certeza outro dos artefactos

presentes nas antas de Lisboa que natildeo atingem efectivos elevados agrave semelhanccedila das

lacircminas ovoacuteides No entanto contrariamente agravequelas estas surgem sobretudo em

contexto funeraacuterio sendo muito raras em locais habitacionais (Forenbaher 1999)

Com a excepccedilatildeo de um fragmento de possiacutevel grande ponta bifacial de Casaiacutenhos e

outro de Trigache 2 (Leisner 1965 taf 16 18) as restantes peccedilas conhecidas das

antas de Lisboa foram tratadas no trabalho de S Forenbaher ainda que sem a

respectiva codificaccedilatildeo o que foi efectuado agora

O formato destas grandes peccedilas bifaciais assemelha-se ao das pontas de seta

mas com as referidas dimensotildees superiores As suas bases satildeo sobretudo rectas ou

ligeiramente convexas por vezes insinuando um peduacutenculo apresentando

maioritariamente um retoque tendencialmente cobridor surgindo 2 peccedilas em cada 3

com polimento parcial (Forenbaher 1999) ndash segundo E Jalhay o casal Leisner

apontava uma predominacircncia dos espeacutecimes estremenhos com as faces polidas face

agravequeles de outras regiotildees normalmente apenas com o retoque bifacial (Leisner e

Leisner 1943 cit in Jalhay 1947) No entanto uma breve consulta do cataacutelogo agora

disponiacutevel (Forenbaher 1999) que multiplicou a informaccedilatildeo disponiacutevel em meados

do seacuteculo 20 tal verificaccedilatildeo natildeo parece ocorrer registando-se peccedilas polidas ou

apenas lascadas em todas as regiotildees

Se em vez da denominaccedilatildeo geral referida estas peccedilas forem categorizadas

como lacircminas de alabardas punhais eou lanccedilas a sua presenccedila eacute ainda mais

reduzida por sepulcro De facto S Forenbaher (1999) na sequecircncia da sua anaacutelise de

205 grandes pontas bifaciais de que apenas 63 foram medidas pessoalmente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 241 de 415

servindo-se o autor dos dados disponibilizados em publicaccedilatildeo para as restantes

salientava que natildeo tinha sido possiacutevel obter conjuntos mais ou menos destacados

que permitissem uma classificaccedilatildeo determinada de grupos de peccedilas como alabarda e

punhal ou lanccedila As dimensotildees das peccedilas variam geralmente entre 80 e 180 mm de

comprimento por 30 e 90 mm de largura e tecircm uma meacutedia de espessura de 16 mm

com valores miacutenimos rondando os 5 mm O peso destas peccedilas varia entre 10 e 100

gramas Natildeo obstante haacute casos extraordinaacuterios em que tais peccedilas atingem dimensotildees

superiores como o artefacto de Cabecinha Figueira da Foz com cerca de 340 mm de

comprimento e 520 gramas ou de Casal de Barba Pouca com 232 mm de

comprimento e 400 gramas entre outros Aliaacutes alguns desses casos surgem tal

como se realccedilou para os geomeacutetricos e pontas de seta em sepulcros dolmeacutenicos fora

da regiatildeo estremenha na Beira Interior em Moinhos de Vento 1 no Alto Alentejo

em Satildeo Gens 1 ndash Nisa e Boudanha ndash Monforte evidenciando uma vez mais a

especial importacircncia do siacutelex e em particular daqueles artefactos

Apesar das dificuldades referidas acima S Forenbaher (1999 p 91) distinguiu

entre as peccedilas dois grupos com base no tipo de suporte e tipo de retoque Assim

separou as ldquolacircminas apontadasrdquo (Gonccedilalves 2003 p 267) apesar do seu aspecto

aproximado das grandes pontas bifaciais destacam-se pelo seu formato bastante

alongado e por vezes encurvado devido ao suporte laminar O tipo de retoque eacute

bifacial e tendencialmente invasor notando-se normalmente em partes da peccedila

sobretudo na base o negativo original da lacircmina A sua largura raramente ultrapassa

os 25 mm apresentando frequentemente uma secccedilatildeo plano-convexa O outro grupo

engloba as verdadeiras pontas bifaciais obtidas essencialmente sobre blocos de siacutelex

com desbaste e posterior retoque bifacial cobridor Para este uacuteltimo estabeleceu ainda

uma tipologia fundada essencialmente no formato das bases destas peccedilas wide

(largas) intermediate (intermeacutedias) e elongated (alongadas)

A anta de Casaiacutenhos destaca-se entre as suas congeacuteneres pelo nuacutemero (seis)

proporcionalmente elevado de pontas bifaciais Regista-se ali a uacutenica peccedila de tipo

largo com o formato 10 sendo as restantes enquadradas no tipo intermeacutedio com o

formato 1 Nesse grupo podem juntar-se ainda as peccedilas de Monte Abraatildeo e Estria

Aleacutem destas haacute ainda trecircs peccedilas alongadas uma com o formato 4 de Monte Abraatildeo

e duas com o formato 11 da Arruda e da ldquoanta de Belasrdquo (quiccedilaacute Pedra dos Mouros)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 242 de 415

Na anta da Arruda regista-se outra peccedila alongada de formato 1 que pelas suas

caracteriacutesticas tambeacutem poderia ser incluiacuteda no conjunto das ldquolacircminas apontadasrdquo

Haacute ainda outra peccedila da anta da Estria (MG17101) de caraacutecter aparentemente

votivo e natildeo-funcional feita sobre rocha xisto-anfiboacutelica que parece representar uma

ponta bifacial Esta enquadra-se no tipo intermeacutedio com o formato 1

A cronologia destas grandes pontas bifaciais ainda natildeo estaacute totalmente

definida e esse desiderato passaraacute com certeza pela escavaccedilatildeo de contextos melhor

conservados o que eacute um objectivo bastante ambicioso quando se lida com sepulcros

colectivos sujeitos a constantes perturbaccedilotildees mais ou menos contemporacircneas na

sequecircncia de novas deposiccedilotildees No entanto a atribuiccedilatildeo geneacuterica ao ldquoNeoliacutetico finalrdquo

e ldquoCalcoliacuteticordquo tecircm sido a mais frequente (Forenbaher 1999) Perante as

consideraccedilotildees jaacute desenvolvidas para outros tipos de artefactos lascados julgo que eacute

de ponderar acerca de alguns aspectos pertinentes

O retoque bifacial parece generalizar-se nos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio

ane na transiccedilatildeo para o 3ordm momento em que tambeacutem parece possiacutevel verificar a

substituiccedilatildeo dos geomeacutetricos pelas pontas de seta bem como um eventual

robustecimento dos produtos alongados Por outro lado no segundo quartel do 3ordm

mileacutenio ane a presenccedila em contexto funeraacuterio de elementos lascados regista um

decreacutescimo entre os espoacutelios funeraacuterios conhecidos sobretudo naqueles que com

alguma seguranccedila satildeo passiacuteveis de se circunscrever pelo menos genericamente agrave

primeira metade daquele mileacutenio como os tholoi Inclusive a presenccedila de grandes

pontas bifaciais nos tholoi eacute limitada quando comparada com outros sepulcros

nomeadamente grutas naturais e antas Eacute de reter a imagem que o exerciacutecio de S

Forenbaher (1999 p 94) transmite de uma presenccedila elevada daqueles artefactos

nestes uacuteltimos tipos de jazigos face a grutas artificiais e tholoi - mesmo que

relativizada pelo facto de naquele exerciacutecio constarem sepulcros de regiotildees onde

estes uacuteltimos dois uacuteltimos tipos sepulcrais natildeo constarem ou serem raros no estudo

como a Beira Interior e o Alto e Meacutedio Alentejo Finalmente parece existir uma

coincidecircncia ainda que possa ser apenas circunstancial entre a presenccedila de pontas

de seta com bases convexas e as grandes pontas que seria interessante analisar com

maior pormenor Aliaacutes os formatos daquelas grandes peccedilas assemelham-se aos

pequenos elementos de projeacutectil

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 243 de 415

Portanto pelo exposto penso que as grandes pontas bifaciais teriam a sua

introduccedilatildeo e generalizaccedilatildeo nos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane quiccedilaacute e

sobretudo na transiccedilatildeo para o 3ordm mileacutenio ane mantendo-se a praacutetica da sua

deposiccedilatildeo por mais alguns seacuteculos ainda que gradualmente perdendo importacircncia

durante o segundo quartel desse mileacutenio Estas peccedilas ter-se-iam divulgado entatildeo pela

mesma rede de vias e contactos que jaacute anteriormente permitira a obtenccedilatildeo de

suportes laminares a partir dos quais se produziram geomeacutetricos primeiro e pontas

de seta depois reflectindo a importacircncia funcional mas tambeacutem simboacutelica e social

que o siacutelex e mateacuterias-primas afins em bruto ou jaacute trabalhadas tiveram para as

comunidades das regiotildees sequiosas destes produtos

Raspadores furadores e outras peccedilas lascadas

Registam-se em vaacuterias antas um conjunto de peccedilas lascadas que podem ser de

forma geral categorizadas como raspadores furadores e outras peccedilas lascadas natildeo

especificadas com retoque mais ou menos abrangente No entanto se em alguns

casos o trabalho da peccedila a torna crediacutevel como artefacto funeraacuterio em vaacuterias

situaccedilotildees essa adscriccedilatildeo eacute mais problemaacutetica como se poderaacute confirmar nos

respectivos capiacutetulos monograacuteficos Em aacutereas ricas em siacutelex com evidecircncias do talhe

desta rocha junto dos sepulcros levantam-se reservas Aliaacutes em vaacuterios casos a

presenccedila de restos de talhe e lascas sem retoque por vezes corticais colocam

algumas questotildees que natildeo se anulam mutuamente ter-se-aacute registado o talhe do siacutelex

junto e dentro de algumas antas entre as praacuteticas funeraacuterias houve casos em que os

cadaacuteveres foram cobertos por terras trazidas de contextos habitacionais a construccedilatildeo

da colina tumular a ter existido importou terras do local de habitaccedilatildeo ou de lugares

proacuteximos onde se praticava o talhe do siacutelex ou o sepulcro foi implantado em local

com ocupaccedilatildeo habitacional preacute-existente mas neste caso outros indiacutecios seriam

detectados o que natildeo parece ocorrer Por outro lado a forma como as respectivas

escavaccedilotildees foram realizadas poderaacute ter influenciado a presenccedilaausecircncia de

elementos casos das antas de Arruda e Alto da Toupeira 1 e 2

Face a estas questotildees limitei a abordagem destes elementos agrave sua

representatividade por anta que se revelou mais elevada especialmente naquelas

antas onde existem maiores indiacutecios de possiacuteveis aacutereas de talhe junto delas (Quadro

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 244 de 415

38)

A mateacuteria-prima da maioria das peccedilas lascadas eacute o siacutelex surgindo

pontualmente algumas peccedilas de quartzo quartzo hialino e ainda mais raramente de

quartzito nomeadamente um raspador sobre lasca em Pedras Grandes De forma

geral as peccedilas enumeradas parecem resultar sobretudo de uma forma expedita de

utensiacutelios a que a presenccedila frequente e proacutexima de mateacuteria-prima natildeo seraacute estranha

52 Pedra polida

Apesar de outros artefactos de pedra polida poderem ser incluiacutedos neste grupo

abordar-se-aacute aqui apenas aqueles que corresponderiam a utensiacutelios nomeadamente

para corte e percussatildeo remetendo a abordagem das restantes peccedilas nomeadamente

de adorno e de caraacutecter votivo para outros capiacutetulos Aleacutem daquelas categorias

porque surge isolada regista-se um fragmento de uma peccedila polida apontada na

extremidade enquadraacutevel como punccedilatildeofurador

O conjunto de instrumentos de pedra polida conhecido para as antas de Lisboa

resume-se a cerca de 53 peccedilas11 distribuiacutedas de forma assimeacutetrica nestes sepulcros

sem que se registe algum com efectivos extraordinariamente distintos De facto com

a excepccedilatildeo de Casaiacutenhos com dez peccedilas os restantes sepulcros com presenccedilas

significativas rondam ou aproximam-se da meia duacutezia de artefactos polidos Ainda

naquela anta refira-se que o machado CSH99 resultou do reaproveitamento de parte

da enxoacute CSH98 tendo sido contabilizados como duas peccedilas cujos motivos se

explanaram noutro local (Capiacutetulo 4152) Outro caso tambeacutem considerado foi o

machado apontado para Conchadas (Capiacutetulo 4141) apesar das duacutevidas acerca da

sua proveniecircncia

A anaacutelise destes artefactos baseou-se nos criteacuterios utilizados no estudo do

povoado alentejano do Pombal (Boaventura 2001 p 27-29) por sua vez inspirado

em estudos anteriores (Gonccedilalves 1989 Senna-Martinez 1989 Faacutebregas Valcarce

1991 Valera 1997) Entretanto alguns acrescentos foram efectuados a esses

criteacuterios nomeadamente acerca das aacutereas do artefacto a que peccedilas fragmentadas

11 Incluiacutedas as 4 peccedilas mencionadas por J L Vasconcelos para a Arruda

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 245 de 415

corresponderiam (proximal mesial e distal ndash pmd) e no tipo de secccedilatildeo transversal

que aleacutem de arredondada (a) e poligonal (p) considerou-se ainda a arredondada

achatada (aa) e poligonal achatada (pa) Para a distinccedilatildeo tipoloacutegica dos utensiacutelios

nomeadamente de machado e enxoacute privilegiei os criteacuterios de simetria do gume e da

secccedilatildeo longitudinal das peccedilas

Na Baixa Estremadura o estudo dos utensiacutelios polidos do povoado de Leceia

(Cardoso e Carvalhosa 1995 Cardoso 1999-00a) originou tambeacutem o

estabelecimento de criteacuterios de anaacutelise aproximados dos outros estudos jaacute referidos

Assim mesmo quando cruzado com aquele agora utilizado a possibilidade de

comparaccedilatildeo eacute viaacutevel apesar de algumas diferenccedilas facilmente assinaladas

Os tipos de utensiacutelios polidos mais frequentes nas antas satildeo os machados e as

enxoacutes com uma pequena superioridade numeacuterica global dos primeiros ndash no entanto

as enxoacutes estatildeo em maioria em alguns desses sepulcros nomeadamente de

Casaiacutenhos Carcavelos e Trigache 2

Uma breve anaacutelise acerca de outros contextos funeraacuterios da regiatildeo estremenha

(Leisner 1965 Leitatildeo et al 1987 Gonccedilalves J 1990-92a e 1992 Cardoso 1996a

Cardoso e Cunha 1995 Cardoso Ferreira e Carreira 1996 Cardoso et al 1992

1996 e 2003 Lillios 1997 e 2000 Carreira e Cardoso 2001-02 Gonccedilalves 2003e e

2005b Cardoso e Carvalho 2008) demonstra a ocorrecircncia de ambas as situaccedilotildees

ainda que com valores aproximados No entanto verifica-se uma vantagem numeacuterica

dos machados no contexto habitacional de Leceia (Cardoso 1999-00) Extra-

regionalmente essa tendecircncia habitacional tambeacutem parece verificar-se (Pereira

1999 Boaventura 2001) inclusive na regiatildeo de Beira Interior ndash ainda que aqui

devido aos criteacuterios distintos de classificaccedilatildeo tal preponderacircncia ocorre apenas

quando se conjugam machados e cunhas (Senna-Martinez 1989 Valera 1997)

Outra interpretaccedilatildeo para muitas das peccedilas designadas como enxoacutes eacute a sua

funccedilatildeo como sacho ou sachola (Leisner e Leisner 1951 Cardoso 1999-00)

Contudo como tal hipoacutetese necessita de ser testada e demonstrada de forma

sistemaacutetica neste trabalho mantive a designaccedilatildeo de enxoacute

Aleacutem dos utensiacutelios referidos regista-se apenas uma goiva de Pedras da

Granja cuja singularidade eacute frequente entre os contextos regionais (Leisner 1965

Cardoso 1999-00 Gonccedilalves 2003e e 2005b)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 246 de 415

Outra peccedila peculiar eacute um possiacutevel polidor de Monte Abraatildeo ndash peccedila

enquadraacutevel como machado natildeo fosse o seu gume boleado e polido por uma

utilizaccedilatildeo natildeo totalmente esclarecida De facto a presenccedila deste desgaste no gume

ainda que em utensiacutelios polidos do tipo machado e enxoacute foi verificado em Leceia

tendo sido classificado como ldquomartelo transversalrdquo colocando-se como uma hipoacutetese

de utilizaccedilatildeo para trabalhos de precisatildeo e possiacutevel martelagem do cobre (Cardoso

1989 p 104 1994 fig 106 e 1999-00a Cardoso Soares e Silva 1996) Outra peccedila

semelhante registou-se na gruta do Correio-Moacuter (Cardoso et al 2003) Poreacutem soacute a

anaacutelise traceoloacutegica generalizada deste tipo de peccedila poderaacute eventualmente elucidar a

sua funccedilatildeo Face ao aspecto polido da superfiacutecie com estrias obliacutequaslongitudinais

ao longo da extremidade do ldquogumerdquo julgo que tambeacutem poderia ter sido utilizado

para brunir ou alisar ideia jaacute avanccedilada por C Ribeiro (1880 p 16) quiccedilaacute de

curtumes () mais do que algum tipo de percussatildeo Entretanto V S Gonccedilalves

(2005b p 106 Leisner 1965 taf 83 2 5-6) atribui a algumas peccedilas com

caracteriacutesticas similares da gruta artificial de Satildeo Pedro do Estoril 1 um valor

essencialmente simboacutelico comparando-as pela ausecircncia de gume com uma enxoacute

alentejana de Santa Margarida 3 (Gonccedilalves 2003f) Recorda-se ainda a presenccedila

deste tipo de artefacto no povoado do Pombal Monforte (Boaventura 2001) e em

Torre de Palma (ineacutedito) ambas as peccedilas (uma ldquoenxoacuterdquo e um ldquomachadordquo

respectivamente) provenientes de aacutereas onde a ocupaccedilatildeo preacute-histoacuterica foi intensa

(Boaventura 2001)

A ausecircncia no espoacutelio funeraacuterio de peccedilas enquadraacuteveis como martelos parece

relevar a sua importacircncia essencialmente em contexto habitacional

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 247 de 415

Fig 9 Utensiacutelios de pedra polida por anta da regiatildeo de Lisboa (N= 53)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Alto da Toupeira 2

Arruda

Carcavelos

Casaiacutenhos

Casal do Penedo

Conchadas

Monte Abraatildeo

Pedra dos Mouros

Pedras da Granja

Pedras Grandes

Trigache 1

Trigache 2

Trigache 3

S Pedro

10

Machado Enxoacute Goiva Outro Indeterminado

O peso das peccedilas analisadas (Fig 133) parece reflectir valores diferentes

daqueles conhecidos para outras regiotildees jaacute mencionadas (Senna-Martinez 1989

Valera 1997 Pereira 1999 Boaventura 2001) Assim a meacutedia de peso dos

machados em redor de 250 gramas resulta ligeiramente inferior ao das enxoacutes com

259 gramas Mesmo se forem excluiacutedas da anaacutelise os quatro machados mais leves a

meacutedia dessas peccedilas queda-se nos 266 gramas Aleacutem do provaacutevel machadinho de

fibrolite de Monte Abraatildeo com apenas 24 gramas os dois machados mais leves

situam-se entre 73 e 124 gramas e os dois mais pesados entre 345 e 459 gramas No

caso das enxoacutes a mais leve pesa 165 gramas e a mais pesada 379 gramas Contudo

estes resultados deveratildeo ser relativizados ateacute que exista um conjunto de dados mais

alargado para a Estremadura nomeadamente daquelas peccedilas jaacute estudadas de Leceia

(Cardoso 1999-00) Por exemplo na gruta de Porto Covo (Gonccedilalves 2008a) os

machados assumem uma meacutedia de peso superior agrave das enxoacutes

Ao analisar a larguras e comprimento (Fig 132) e os iacutendices de alongamento

(IA) e espessura (IE) dos utensiacutelios polidos eacute possiacutevel distinguir relativamente bem

os dois conjuntos mais frequentes de machados e enxoacutes Aiacute destaca-se o evidente

espessamento dos machados face agraves enxoacutes (e a goiva) mas a distinccedilatildeo do

alongamento entre estes eacute menos visiacutevel ainda que haja uma aglomeraccedilatildeo do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 248 de 415

primeiro tipo aqueacutem do segundo Aleacutem disso registam-se tambeacutem alguns casos

excepcionais

a A lacircmina de calcaacuterio conquiacutefero de Monte Abraatildeo (178007)

classificada como machado situa-se entre aquelas de enxoacutes (IE- 6 IA-

26) De facto a suas dimensotildees e formato podem enquadrar-se entre

elas se natildeo forem considerados os criteacuterios empiacutericos da simetria do

gume e das faces da peccedila

b Outro machado de Monte Abraatildeo (178003) classificado sob criteacuterios

idecircnticos agrave peccedila anterior situa-se tambeacutem entre as enxoacutes (IE- 12 IA-

46) A sua mateacuteria-prima xisto argiloso eacute frequente nas enxoacutes pelo

que isso poderia contribuir para uma eventual reclassificaccedilatildeo

c Sob criteacuterios similares aos anteriores tambeacutem um machado de

Casaiacutenhos (CSH099) enquadra-se entre as enxoacutes (IE- 14 IA- 47) Isso

poderaacute dever-se ao facto de este ter sido manufacturado a partir da

parte proximal-mesial de uma grande enxoacute apresentando um gume

simeacutetrico (anteriormente o talatildeo) para o qual convergem os bordos da

peccedila

d Finalmente a enxoacute de Pedras Grandes (MG63802) resultou de um

bloco calcaacuterio achatado cuja aacuterea de um gume foi polida sem

qualquer outro trabalho (IE- 26 IA-74)

Fig 10 Iacutendices de espessura e alongamento dos utensiacutelios de pedra polida das antas da regiatildeo

de Lisboa (N=40)

0

10

20

30

40

50

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Iacutendice de Alongamento

Iacutendi

ce d

e Es

pess

ura

Machado

Enxoacute

Goiva

Polidor

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 249 de 415

Quando se compara as meacutedias do IE e do IA de machados e enxoacutes das antas de

Lisboa com outras regiotildees nomeadamente Beira Interior (Senna-Martinez 1989) e

Alentejo (Boaventura 2001) verifica-se uma aproximaccedilatildeo agravequeles valores ainda

que ficando aqueacutem destes Assim nos machados sem os trecircs casos problemaacuteticos

referidos o IE eacute de 33 e o IA de 42 e nas enxoacutes mesmo sem o caso excepcional

manteacutem-se um IE de 12 e um IA de 39

Em concreto no caso das enxoacutes recolhidas nas antas de Lisboa as espessuras

apresentam-se mais reduzidas que as suas congeacuteneres extra-regionais o que poderaacute

dever-se ao tipo de mateacuteria-prima utilizado (Carreira e Cardoso 2001-02) nem

sempre rochas anfiboacutelicas

A maioria dos artefactos polidos apresenta secccedilotildees poligonais ou poligonais

achatadas correspondendo genericamente agraves configuraccedilotildees respectivamente de

machados e enxoacutes A uacutenica goiva conhecida tambeacutem apresenta uma secccedilatildeo

poligonal Os raros casos de secccedilotildees arredondadas de machados registam-se nas

antas de Trigache 1 (2x) Conchadas (1x) e Monte Abraatildeo (1x) Aleacutem destas peccedilas

apenas um possiacutevel machadinho de fibrolite de Monte Abraatildeo apresenta uma secccedilatildeo

semelhante Entre as enxoacutes haacute alguns casos em que as suas secccedilotildees se aproximam do

arredondado mas francamente achatado por vezes quase lenticular

As peccedilas apresentam essencialmente uma extensatildeo do polimento integral em

ambas as faces e bordos inclusive naquelas com secccedilatildeo arredondada Nos poucos

casos em que tal natildeo acontece as secccedilotildees apresentam-se poligonais nomeadamente

em materiais de Casaiacutenhos Arruda Pedras da Granja e Pedras Grandes

Quadro 10 Secccedilatildeo dos utensiacutelios polidos das antas da regiatildeo de Lisboa

Secccedilatildeo

Tipo

poligonal poligonal

achatada

arredondada arredondada

achatada

Total

machado 19 1 3 23 enxoacute 12 8 20

outro 3 1 1 5 Total 22 15 4 8 49

Algumas caracteriacutesticas dos artefactos polidos nomeadamente o seu tipo de

secccedilatildeo transversal e a extensatildeo do polimento sobretudos dos machados tecircm sido

utilizados para estabelecer a maior ou menor antiguidade destes (Leisner e Leisner

1951 e 1959 Leisner 1965 e 1983 Senna-Martinez 1989 Gonccedilalves 1992 Calado

1995 Cardoso 1999-00c Carreira e Cardoso 2001-02) Assim os utensiacutelios mais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 250 de 415

arcaicos apresentariam secccedilotildees arredondadas com o polimento circunscrito agrave aacuterea

distal e o restante corpo picotado numa segunda etapa as peccedilas surgem com secccedilotildees

poligonais quadrangulares ou rectangulares e as suas faces e bordos mais ou menos

extensivamente polidas considerando-se aquelas com maior superfiacutecie polida e

maior achatamento as mais recentes

As caracteriacutesticas enunciadas aplicadas ao conjunto abordado colocam-no

num periacuteodo aparentemente avanccedilado da utilizaccedilatildeo destas peccedilas como espoacutelio

funeraacuterio o que seraacute discutido adiante Todavia em contexto habitacional

designadamente de Leceia (Cardoso 1999-00c) peccedilas com caracteriacutesticas similares

agraves das antas foram situadas no ldquoNeoliacutetico finalCalcoliacuteticordquo

A atribuiccedilatildeo cronoloacutegica dos referidos atributos deve contudo ser utilizada

com ponderaccedilatildeo Talvez um bom exemplo desta reserva seja a colecccedilatildeo de utensiacutelios

polidos do Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987 Cardoso e Carvalho 2008) Aiacute apesar

de um conjunto arcaico cuja a dataccedilatildeo conhecida remete pelo menos para a

transiccedilatildeo primeiro quartel do 4ordm mileacutenio ane a maioria daqueles artefactos do tipo

machado apresentam secccedilotildees poligonais registando-se apenas um caso de secccedilatildeo

arredondada Em geral esses machados apresentam apenas as aacutereas distais polidas

Por outro lado as enxoacutes apresentam essencialmente secccedilotildees poligonais achatadas e

algumas arredondadas achatadas mas ambas com um polimento integral ou proacuteximo

disso (Cardoso e Carvalho 2008) Na regiatildeo vizinha do Alto e Meacutedio Alentejo os

utensiacutelios polidos sobretudo machados com secccedilotildees arredondadas normalmente

com polimento limitado agrave parte distal e a restante superfiacutecie picotada tecircm sido

utilizados como evidecircncia arcaica nomeadamente a colecccedilatildeo de peccedilas da anta do

Poccedilo da Gateira 1 (Leisner 1951 e 1959 Gonccedilalves 1992 Soares e Silva 2000) No

entanto como se discutiraacute adiante (capiacutetulo 8) dificilmente esta anta teraacute sido

utilizada antes da segunda metade do 4ordm mileacutenio ane Outros casos alentejanos

surgem tambeacutem com elementos polidos de caracteriacutesticas eliacutepticas antigas (Leisner

1951 e 1959 Rocha 2005) contrastando assim com as peccedilas do sepulcro de Lugar do

Canto Estas diferenccedilas poderiam entatildeo reflectir caracteriacutesticas regionais eou

cronoloacutegicas ainda natildeo suficientemente esclarecidas

O propoacutesito funeraacuterio dos instrumentos polidos parece evidenciado pelo estado

de conservaccedilatildeo dos respectivos gumes e talotildees De facto no essencial estes gumes

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 251 de 415

apresentam-se intactos ou com ligeiros sinais de uso bem como os talotildees intactos ou

ligeiramente lascados No entanto em muitos casos aquelas cicatrizes poderatildeo dever-

se a causas poacutes-deposicionais Por outro lado alguns sinais de uso mais intenso do

gume registam-se em duas enxoacutes de Casaiacutenhos numa possiacutevel machadinha de

fibrolite de Monte Abraatildeo e em trecircs machados de Conchadas Monte Abraatildeo e

Pedras da Granja respectivamente Genericamente esta situaccedilatildeo de menor utilizaccedilatildeo

dos artefactos de cariz funeraacuterio contrapotildee-se a contextos habitacionais como aquele

registado em Leceia (Cardoso 1999-00c) ou nos povoados beiratildeo de Castro de

Santiago (Valera 1997) e alentejano do Pombal (Boaventura 2001)

A questatildeo da mateacuteria-prima destas peccedilas seria um dos aspectos mais

interessantes desta abordagem pois algumas das rochas utilizadas reflectem

necessariamente a sua importaccedilatildeo o que explicaria simultaneamente a presenccedila de

siacutelex em regiotildees sem esse recurso geoloacutegico Contudo como referi de iniacutecio a

classificaccedilatildeo liacutetica das rochas foi limitada pelas circunstacircncias Portanto as ilaccedilotildees

apresentadas deveratildeo ser entendidas como relativas dependentes de um estudo

sistemaacutetico posterior agrave imagem daqueles jaacute efectuados e mencionados abaixo

Globalmente a maioria dos utensiacutelios depositados eacute de rochas anfiboacutelicas

sobretudo no grupo dos machados Apesar de algumas enxoacutes bem como a goiva e o

polidor terem sido efectuadas tambeacutem sobre anfibolitos e talvez algum xisto

anfiboacutelico a sua maioria resultou do trabalho do xisto argiloso Duas peccedilas

possivelmente dois pequenos machados de Monte Abraatildeo (MG178004) e Trigache

2 (MG179055) foram realizados sobre fibrolite O basalto e o calcaacuterio serviram

tambeacutem para a manufactura de alguns artefactos cuja eficiecircncia e funcionalidade

seriam com certeza limitadas presumindo-se sobretudo o seu caraacutecter simboacutelico o

primeiro para a produccedilatildeo de um machado de secccedilatildeo arredondada de Conchadas

(MG30202) o segundo para a produccedilatildeo da lacircmina de enxoacutemachado de Monte

Abraatildeo (178007) do machado de Pedra dos Mouros (MG17201) e da enxoacute de

Pedras Grandes (MG63802)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 252 de 415

Quadro 11 Mateacuteria-prima dos utensiacutelios polidos das antas da regiatildeo de Lisboa

Rocha Tipo utensiacutelio

anfibolito xisto

argiloso e (anfiboacutelico)

fibrolite calcaacuterio basalto

machado 20 1 (1) 1 2 1 enxoacute 4 11 (4) 1

outro 2 1 1 Total 26 18 2 3 1

Os poucos mas importantes estudos petrograacuteficos e litoloacutegicos realizados no

acircmbito dos estudos acerca de siacutetios estremenhos sobretudo povoados

nomeadamente Leceia (Cardoso e Carvalhosa 1995 Cardoso 1999-00c Lillios

1997 e 2000) Zambujal e Praganccedila (Lillios 1997 e 2000) ou de contextos

funeraacuterios designadamente das grutas da Lapa do Bugio (Cardoso 1996a) Cova da

Moura e Algar do Bom Santo (Lillios 1997 e 2000) demonstraram a natureza local

e regional de variadas rochas utilizadas nomeadamente de xistos argilosos calcaacuterios

e basaltos (Cardoso e Carvalhosa 1995) bem como a origem extra-regional de

outros elementos peacutetreos como o anfibolito o vulcanito baacutesico e a fibrolite Aliaacutes

nos estudos de C Ribeiro (1878 e 1880) ou apontamentos de J L Vasconcelos

(1898) a proveniecircncia exoacutegena de algumas rochas era jaacute enunciada

No caso da gruta da Lapa do Bugio o estudo realizado sobre os artefactos

polidos (Cardoso et al 1992 Cardoso 1996a) ainda que natildeo descurando o Alto

Alentejo realccedilava a possiacutevel origem das rochas duras na regiatildeo do Baixo Alentejo

designadamente nas aacutereas de Alcaacutecer do SalTorratildeo e em fenoacutemenos filonianos

associados agrave intrusatildeo do maciccedilo de Sines

Por outro lado no estudo dedicado aos utensiacutelios polidos de Leceia (Cardoso e

Carvalhosa 1995 Cardoso 1999-00c) apontava-se como provaacuteveis locais de origem

dos anfiboloxistos aacutereas da orla ocidental do maciccedilo paleozoacuteico nomeadamente de

Abrantes (com maior probabilidade) Ponte de Socircr Montargil Avis e Montemor-o-

Novo Apesar de resultados mais geneacutericos o estudo de proveniecircncia de K Lillios

(1997 e 2000) remetia genericamente para o Alto Alentejo nomeadamente as aacutereas

de Arronches e Montemor-o-Novo os possiacuteveis focos das rochas anfiboacutelicas

utilizadas nos povoados estremenhos estudados Ainda que natildeo sendo uma proposta

inviaacutevel ateacute porque pontualmente coincide com o outro estudo referido julgo que a

facilidade de acesso aos locais da referida orla mais proacuteximos do estuaacuterio e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 253 de 415

consequentemente da Estremadura tornam essa origem mais plausiacutevel Sobretudo se

algumas questotildees forem equacionadas primeiramente a grande via de penetraccedilatildeo

providenciada pelo estuaacuterio do Tejo possibilitaria o transporte em piroga ou jangada

Isso evitaria o transporte terrestre aliviando com certeza o transporte daquelas

rochas mais ainda se aproveitassem o ritmo das mareacutes daquele imenso estuaacuterio

Outro aspecto eacute a dispersatildeo tipoloacutegica de materiais lascados de siacutelex estremenhos

nomeadamente as pontas de seta grandes pontas bifaciais e ateacute lacircminas ovoacuteides no

Alto e Meacutedio Alentejo ndash de facto as trocas teriam um cariz simbioacutetico originando a

dispersatildeo de modelos regionais em ambas as direcccedilotildees e no caso concreto pelo

menos mais intensamente naquelas aacutereas de abastecimento mais proacuteximo

A fibrolite rocha pontualmente utilizada na produccedilatildeo de pequenos artefactos

polidos provavelmente pelo seu valor esteacutetico eou simboacutelico natildeo parece ocorrer no

actual territoacuterio portuguecircs (Carreira e Cardoso 2001-02) Assim ao inventariar este

tipo de peccedilas O V Ferreira (1953) apontava para uma provaacutevel proveniecircncia da

Meseta Norte espanhola na regiatildeo de Somosierra

Se a rocha anfiboliacutetica parece assumir na Estremadura um caraacutecter relevante

entre os vivos quer pela sua resistecircncia e eficiecircncia quer pelo provaacutevel prestiacutegio

social o seu depoacutesito funeraacuterio nomeadamente nas antas prolongaria essa

importacircncia Mas tal como parece ocorrer com os artefactos lascados em regiotildees

deficitaacuterias em siacutelex tambeacutem para a manufactura de utensiacutelios polidos se utilizaram

rochas localmente acessiacuteveis

O depoacutesito de utensiacutelios polidos obtidos a partir de rochas locais e regionais

parece indiciar a sua importacircncia no ritual funeraacuterio enquanto siacutembolo

provavelmente associados ao processo de desflorestaccedilatildeo e preparaccedilatildeo dos campos

para a agricultura (Gonccedilalves 2003e Cardoso 1999-00c) Poreacutem a valorizaccedilatildeo que

simultaneamente as rochas duras por serem mais resistentes teriam econoacutemica e

socialmente para aquelas comunidades natildeo pode ser esquecida pois isso levaria a

que natildeo se descartassem com ligeireza daqueles materiais nobres Poderaacute ter sido o

caso das populaccedilotildees que utilizaram a gruta da Cova da Moura como sepulcro a norte

da regiatildeo de Lisboa onde num conjunto de 65 utensiacutelios polidos se verificou apenas

uma peccedila de anfibolito face a rochas de origem local e regional (Lillios 1997 e

2000) Poreacutem este caso eacute por ora singular entre as realidades melhor conhecidas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 254 de 415

Nas antas de Lisboa a totalidade das rochas locais aproxima-se do cocircmputo dos

anfibolitos Todavia essa relaccedilatildeo torna-se menos evidente se for analisada caso a

caso por tipo de rocha e de utensiacutelio pois em algumas antas os efectivos polidos satildeo

diminutos

Os estudos onde se conhece com maior pormenor as peccedilas polidas em

contextos funeraacuterios estremenhos incidiram essencialmente sobre as grutas de

Salemas (Castro e Ferreira 1972) Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987 Cardoso e

Carvalho 2008) Casa da Moura (Carreira e Cardoso 2001-02) Algar do Bom Santo

(Duarte 1998 Lillios 2000) Porto Covo (Gonccedilalves 2008a) e Lapa do Bugio

(Cardoso et al 1992) Aiacute a presenccedila de rochas anfiboacutelicas sobretudo trabalhadas

para machados assume particular relevacircncia No entanto a mateacuteria-prima das enxoacutes

eacute com frequecircncia de origem local casos de Lugar do Canto Casa da Moura Algar

do Bom Santo e Porto Covo De facto o anfibolito parece ter sido mais

frequentemente utilizado para a feitura de machados enquanto para as enxoacutes foram

utilizados rochas nomeadamente xistos siliciososargilosos de aquisiccedilatildeo

provavelmente local e regional consoante a localizaccedilatildeo do respectivo sepulcro Essa

relaccedilatildeo geo-tipoloacutegica parece registar-se tambeacutem em contexto habitacional

nomeadamente em Leceia (Cardoso 1999-00c)

Quando se lista a presenccedila ausecircncia de utensiacutelios polidos entre os vaacuterios

sepulcros estremenhos parece repetir-se uma tendecircncia geneacuterica similar agravequela

apontada para os artefactos lascados Assim se os instrumentos polidos ocorrem

frequentemente em grutas naturais e artificiais bem como em antas nos tholoi estes

apenas se registam ocasionalmente De facto com a excepccedilatildeo de Cabeccedilo da Arruda

2 com um conjunto alargado de artefactos estes estatildeo ausentes nos tholoi do Monge

e Tituaria surgindo apenas de forma limitada noutros sepulcros congeacuteneres Por

outro lado esses artefactos satildeo sobretudo machados o que resulta interessante pois a

ausecircncia de lacircminas de enxoacute parece colmatada por vaacuterias peccedilas de caraacutecter votivo

(Lillios 2000 Gonccedilalves 2003e) representando a lacircmina encabada situaccedilatildeo

atestada em Satildeo Martinho 1-2 Tituaria e Paimogo 1 Tambeacutem em algumas situaccedilotildees

onde a utilizaccedilatildeo funeraacuteria parece ter sido mais intensa na primeira metade do 3ordm

mileacutenio ane como na anta da Estria e Carcavelos a deposiccedilatildeo de utensiacutelios polidos

estaacute ausente ou eacute bastante limitada

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 255 de 415

Face ao exposto eacute provaacutevel que a praacutetica de deposiccedilatildeo de utensiacutelios polidos

nomeadamente machados enxoacutes e goivas componente inicial de uma primeira fase

de praacuteticas mortuaacuterias teraacute tido o seu auge na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane

decaindo a sua importacircncia funeraacuteria na transiccedilatildeo para o mileacutenio seguinte De facto

essa hipoacutetese concordaria com os dois grandes fluxos de mateacuterias-primas (siacutelex e

anfibolitos) de e para a Estremadura com certeza acompanhados por outros

elementos como os ornamentos marinhos o sal as placas de xisto as pedras verdes

a fibrolite e numa fase mais tardia o mineacuterio de cobre No entanto quando esses

fluxos inter-regionais se consolidaram e tornaram constantes tornando a mateacuteria-

prima relativamente mais acessiacutevel e comum em contexto habitacional o seu valor

simboacutelico alterou-se

53 Pedra afeiccediloada

O conjunto de objectos e utensiacutelios integrados neste grupo eacute bastante reduzido

Um dos motivos poderaacute relacionar-se com a forma como os trabalhos antigos foram

realizados limitando as suas recolhas a peccedilas facilmente identificadas No entanto a

escassa presenccedila desses elementos inclusive provenientes de duas intervenccedilotildees

recentes nas antas de Pedras Grandes e Carcavelos leva-me a crer que isso poderaacute

de facto corresponder a uma realidade

Os instrumentos inseridos no grupo da pedra afeiccediloada inserem-se em dois

grandes grupos por um lado os percutores usados numa acccedilatildeo de percussatildeo e por

outro as moacutes usadas numa acccedilatildeo abrasiva de moagem ou de esmagamento

Associadas a este uacuteltimo grupo pode ainda juntar-se algumas peccedilas passiacuteveis da

atribuiccedilatildeo de paleta e amoladeira

A classificaccedilatildeo litoloacutegica destas peccedilas deveraacute ser entendida como aproximada

pelos motivos jaacute indicados atraacutes

Em geral os percutores conhecidos resultaram do uso expedito de seixos de

quartzito As excepccedilotildees registam-se na anta de Casaiacutenhos com um bloco de siacutelex

(MG174339B) e de Carcavelos com um calcaacuterio cristalino ambos de formato

esferoidal usados como percutores de forma continuada

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 256 de 415

Os elementos de moagem encontram-se presentes sobretudo as partes

dormentes Um dos moventes de Monte Abraatildeo (178078) apresentava ainda sinais

de percussatildeo nas suas extremidades A mateacuteria-prima destas peccedilas eacute variada basalto

na anta de Arruda arenito nas antas de Casal do Penedo e Carcavelos e

possivelmente granito nas antas de Pedras Grandes e Monte Abraatildeo

Duas peccedilas aparentemente de basalto de Casal do Penedo e Monte Abraatildeo

apresentam caracteriacutesticas peculiares Apesar de se aproximarem da configuraccedilatildeo de

iacutedolos afuselados ambas apresentam uma das faces desgastadas por abrasatildeo como

se de pequenas moacutes alongadas se tratassem lembrando de alguma forma as

amoladeiras

As possiacuteveis paletas satildeo outro grupo de peccedilas utilizadas para abrasatildeo Satildeo

pequenas placas pouco espessas de arenito de gratildeo fino com suaves concavidades

resultantes da acccedilatildeo abrasiva A esta funccedilatildeo poderia associar-se uma esfera achatada

de arenito totalmente polido de Casaiacutenhos que poderia funcionado com o elemento

movente de um conjunto que visava eventualmente o esmagamento e preparaccedilatildeo de

poacute de ocre

Finalmente em Casaiacutenhos surgiu um pequeno bloco calcaacuterio com orifiacutecio

resultante de fricccedilatildeo continuada talvez com a funccedilatildeo de afiador

Quadro 12 Pedra afeiccediloada das antas da regiatildeo de Lisboa

utensiacutelio Anta

percutor

moacute dormente e

movente

paleta

outro

Arruda 1d 1 Casal do Penedo 1 1

Casaiacutenhos 3 1m 1 2 Carcavelos 2 1d

Pedras Grandes 1 1d Monte Abraatildeo 2 1d+1m 1

Conchadas 1 Total 9 6 4 3

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 257 de 415

54 Ceracircmicas

Recipientes ceracircmicos

Os recipientes ceracircmicos das antas de Lisboa colocam algumas questotildees

difiacuteceis de solucionar

Primeiramente apenas quatro antas apresentam conjuntos ceracircmicos

relativamente abundantes casos de Carcavelos (em estudo) Monte Abraatildeo (Ribeiro

1880 Leisner 1965) Casaiacutenhos (Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969 Leisner

1965) e Pedras da Granja (Zbyszweski et al 1977) Se do primeiro apenas eacute possiacutevel

uma abordagem preliminar que se espera concluir posteriormente dos restantes a

anaacutelise efectuada baseou-se sobretudo nos dados publicados Isto porque natildeo tive

acesso de imediato agrave maior parte da colecccedilatildeo ceracircmica de Casaiacutenhos entretanto

localizada mas jaacute sem tempo para uma revisatildeo aprofundada e no caso de Pedras da

Granja desconhece-se o paradeiro da maioria da colecccedilatildeo ceracircmica Assim optei por

uma abordagem breve destes artefactos realccedilando sobretudo as caracteriacutesticas mais

pertinentes para o seu enquadramento cronoloacutegico Assim as designaccedilotildees utilizadas

para os tipos de recipientes basearam-se em diversos trabalhos (Silva e Soares 1976-

77 Silva Soares e Cardoso 1995 Gonccedilalves 1989 Boaventura 2001)

Aleacutem das praacuteticas funeraacuterias de cariz colectivo dos sepulcros estudados que

contribuiacuteram para a quebra e mistura dos seus espoacutelios a forma insuficiente

(segundo os paracircmetros actuais) como estes foram em geral exumados registados e

catalogados agravaram ainda mais a tarefa de anaacutelise tornando-se delicada a

destrinccedila crono-tipoloacutegica para peccedilas menos passiacuteveis de uma adscriccedilatildeo especiacutefica

Referindo-se ao espoacutelio ceracircmico das grutas natural e grutas artificiais da aacuterea

de Cascais V S Gonccedilalves (2005b) dizia ldquonatildeo eacute faacutecil estabelecer um conjunto

laquomais antigoraquo Poderiacuteamos separar as ceracircmicas em laquocampaniformesraquo e laquonatildeo

campaniformesraquo estas uacuteltimas as mais antigas Mas dentro do primeiro conjunto

natildeo eacute por vezes possiacutevel falar com seguranccedila do que pertence aos construtores das

grutas artificiais e o que dentro delas continuou a ser depositado (hellip)rdquo (Gonccedilalves

2005b p 120) Reforccedilaria dizendo que a sobrevivecircncia de certos modelos de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 258 de 415

recipientes ao longo de uma larga diacronia eacute entatildeo uma condicionante relevante

para a seriaccedilatildeo destes artefactos

Uma das soluccedilotildees poderia passar pelo desenvolvimento de estudos de pastas

ceracircmicas agrave semelhanccedila do que foi realizado para o contexto do siacutetio dos Perdigotildees e

seus sepulcros (Dias et al 2007) permitindo perscrutar proveniecircncias das argilas

mas tambeacutem a verificaccedilatildeo de agrupamentos dentro de tipologias menos

caracterizaacuteveis No entanto essa valorizaccedilatildeo deveria incluir tambeacutem o teste de

materiais de siacutetios habitacionais putativamente correlacionaacuteveis cronologicamente

A separaccedilatildeo entre ceracircmicas laquocampaniformesraquo e laquonatildeo campaniformesraquo das

antas de Lisboa sendo faacutecil demonstra de imediato o quatildeo limitado e complexo se

torna o universo de anaacutelise (Quadro 43) De facto para aleacutem de ceracircmicas

campaniformes de vaacuterios estilos a maioria dos recipientes taccedilas e vasos

hemisfeacutericas com superfiacutecies lisas correspondem a formas de longa diacronia

muitas vezes junto com aquelas podendo presumir-se depoacutesitos conjuntos ndash alguns

casos melhor conhecidos demonstram essa situaccedilatildeo nomeadamente nas antas de

Pedra Branca (Ferreira et al 1975) e Casas do Canal 1 (Leisner e Leisner 1955) no

Alentejo ou com menor pormenor na gruta de Verdelha dos Ruivos (Leitatildeo et al

1984) e no pseudo-tholos Bela Vista (Mello et al 1961 Leisner 1965) Mas mesmo

que tal combinaccedilatildeo natildeo tenha ocorrido torna-se difiacutecil a sua separaccedilatildeo na sequecircncia

de depoacutesitos funeraacuterios Existem todavia alguns tipos de recipientes cujas formas e

caracteriacutesticas particulares podem servir para uma tentativa de destrinccedila entre

momentos de deposiccedilotildees

Alguns vasos esfeacutericos nomeadamente de Carcavelos Casaiacutenhos Pedras da

Granja Pedra dos Mouros e Monte Abraatildeo assemelham-se a recipientes de cariz

antigo normalmente designados por ldquoceracircmica dolmeacutenicardquo como aqueles recolhidos

em sepulcros com utilizaccedilotildees limitadas no tempo como nas grutas de Salemas

(Castro e Ferreira 1972) e Escoural (Arauacutejo e Lejeune 1995) ou com a miacutetica anta

alentejana de Poccedilo da Gateira 1 (Leisner e Leisner 1951 Gonccedilalves 1992 e 1999a)

Em muitas taccedilas e vasos recolhidos o espessamento do bordo ou a sua leve

extroversatildeo parecem assinalar momentos do ldquoNeoliacutetico finalrdquo e periacuteodo posterior

ldquoCalcoliacuteticordquo (Silva e Soares 1976-77 Silva Soares e Cardoso 1995 Calado

1995) tornando-se essa tendecircncia pertinente para a anaacutelise das ceracircmicas lisas Neste

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 259 de 415

caso a sua presenccedila nas antas de Casaiacutenhos Pedras da Granja e Carcavelos

indiciariam deposiccedilotildees recentes

O uacutenico fragmento de bordo denteado (MG179165B) normalmente atribuiacutedo

ao ldquoNeoliacutetico finalrdquo mas tambeacutem ao ldquoCalcoliacutetico inicial (Cardoso 1994 e 2007

Gonccedilalves 2003e) proveio de uma das antas de Trigache No entanto o

desconhecimento da sua proveniecircncia especiacutefica limita qualquer ilaccedilatildeo mais

adequada

Tambeacutem os vasos carenados satildeo espeacutecimes raros nas antas De facto com

excepccedilatildeo de um conjunto de peccedilas carenadas de cariz cronoloacutegico mais recente

apenas em Casaiacutenhos parece registar-se um recipiente carenado atribuiacutevel ao

ldquoNeoliacutetico finalrdquo (Cardoso 1994 e 2007 Gonccedilalves 2003e) Aliaacutes eacute tambeacutem nesta

anta que se registam vaacuterios pratos um deles inclusive com bordo almendrado

(Leisner 1965 taf 25 120) usualmente atribuiacutedo ao ldquoCalcoliacuteticordquo (Silva e Soares

1976-77 Gonccedilalves 1989 e 2003e Silva Soares e Cardoso 1995 Cardoso 1994 e

2007)

Em Monte Abraatildeo regista-se um grande mamilo infelizmente sem outra parte

do recipiente No entanto o seu caraacutecter genericamente preacute-histoacuterico eacute

inquestionaacutevel

As taccedilas vasos e copos com caneluras satildeo talvez os melhores foacutesseis-

directores dentro do conjunto de ceracircmica laquonatildeo-campaniformeraquo atribuiacutedos

genericamente ao ldquoCalcoliacutetico inicial e plenordquo (Kunst 1987 e 1995 Cardoso 1994 e

2007 Silva Soares e Cardoso 1995 Sousa 1998 Gonccedilalves 2003e) Este tipo de

decoraccedilatildeo em recipientes normalmente taccedilas e raramente copos surge com relativa

frequecircncia mas numericamente reduzida nos sepulcros estremenhos (Leisner 1965

Gonccedilalves 2003e Cardoso et al 1992 e 1996) sobretudo em tholoi mas sempre de

forma pontual (Leisner 1965 Gallay et al 1973 Cardoso et al 1996) No caso das

antas registam-se taccedilas com caneluras nomeadamente em Casaiacutenhos Monte

Abraatildeo Trigache 2 Conchadas e Carcavelos - neste uacuteltimo ainda com um talvez

dois copos canelados

Quanto aos estilos de ceracircmica campaniforme remeto para uma breve anaacutelise

no capiacutetulo 8 Isso porque sendo um fenoacutemeno tardio aparentemente anunciando

novos paradigmas funeraacuterios parece registar-se em todos os tipos de sepulcros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 260 de 415

prolongando-se aparentemente ateacute o final do 3ordm mileacutenio ane ndash portanto implicaria

um tipo de abordagem que extravasaria o acircmbito deste estudo dedicado agraves antas

Como se discutiraacute noutro capiacutetulo com os dados disponiacuteveis julgo hoje difiacutecil

recuar a cronologia das deposiccedilotildees de Poccedilo da Gateira 1 para traacutes de meados do 4ordm

mileacutenio ane Aliaacutes as dataccedilotildees pelo radiocarbono de contextos funeraacuterios mais ou

menos seguros como as grutas do Escoural Algar do Barratildeo e Algar do Bom Santo

(Quadro 22-24) onde a presenccedila de ceracircmica eacute rariacutessima ainda que semelhante aos

vasos esfeacutericos de Poccedilo da Gateira 1 estendem-se com margens de probabilidade

elevada ateacute os uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane e mesmo ao primeiro seacuteculo do

seguinte No entanto as dataccedilotildees disponiacuteveis para a camada 4 do ldquoNeoliacutetico finalrdquo

do povoado de Leceia apontam um intervalo de 3510-2900 ane (Soares e Cardoso

1995) sobrepondo-se estatisticamente agravequelas das praacuteticas funeraacuterias referidas que

primam pela raridade da ceracircmica Uma explicaccedilatildeo para esta disparidade passaria

por um forte arcaiacutesmo das praacuteticas funeraacuterias Todavia os dados cronoloacutegicos

compilados recentemente para outros povoados estremenhos (Gonccedilalves e Sousa

2007) e alentejanos (Mataloto e Muumlller no prelo) parecem concentrar os estratos do

ldquoNeoliacutetico finalrdquo sobretudo no uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane por vezes ateacute

apenas no uacuteltimo seacuteculo em transiccedilatildeo para o seguinte

Perante o exposto e as referidas limitaccedilotildees a maioria dos recipientes

ceracircmicos das antas de Lisboa corresponderaacute a deposiccedilotildees funeraacuterias tardias face agraves

provaacuteveis cronologias iniciais de utilizaccedilatildeo Assim eacute admissiacutevel que a praacutetica de

deposiccedilotildees ceracircmicas nestes contextos funeraacuterios tenha ocorrido de forma pontual

durante a segunda metade do 4ordm mileacutenio ane sobretudo nos uacuteltimos seacuteculos deste

registando-se um incremento na passagem para o mileacutenio seguinte e na sua primeira

metade Aliaacutes em algumas situaccedilotildees como Conchadas mas sobretudo Casaiacutenhos a

concentraccedilatildeo de recipientes ceracircmicos defronte da entrada do sepulcro leva a crer em

eventuais deposiccedilotildees votivas posteriores

Apesar de corresponderem a grutas artificiais e a regiotildees distintas os sepulcros

de Sobreira de Cima 1 e 4 Baixo Alentejo (Valera Soares e Coelho 2008) e de

Monte Canelas 1 Algarve (Parreira e Serpa 1995 Moraacuten e Parreira 2004 e 2007)

devem ser aqui recordados sobretudo pela fiabilidade dos seus contextos na

necroacutepole alentejana algumas deposiccedilotildees foram situadas graccedilas a dataccedilotildees pelo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 261 de 415

radiocarbono no uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane natildeo se registando ali contentores

ceracircmicos no caso algarvio o niacutevel inferior de deposiccedilotildees tambeacutem situado no

uacuteltimo quartel daquele mileacutenio natildeo continha ceracircmicas apenas surgindo alguns

fragmentos no niacutevel superior com decoraccedilatildeo simboacutelica caracteriacutestica normalmente

datada da primeira metade do 3ordm mileacutenio ane De alguma forma ainda que com as

limitaccedilotildees contextuais conhecidas a cacircmara ocidental do sepulcro da Praia das

Maccedilatildes parece coincidir no nuacutemero reduzido de ceracircmicas neste caso de dois

recipientes e nas dataccedilotildees de haste de alfinete remetendo para os uacuteltimos seacuteculos do

4ordm e a transiccedilatildeo para o 3ordm mileacutenios ane (Quadro 22)

Por outro lado poderia apontar-se alguma coincidecircncia entre a presenccedila

relativamente abundante de espoacutelios lascados sobretudo pontas de seta e lacircminas

utensiacutelios de pedra polida e ceracircmicas que no essencial parecem concentrar-se

nesses uacuteltimos seacuteculos do 4ordm e primeiros do 3ordm mileacutenios ane Entre as antas a

excepccedilatildeo regista-se em Carcavelos onde o seu espoacutelio na sua maioria se assemelha

mais agravequele recolhido em alguns tholoi portanto com cronologia do 3ordm mileacutenio

ane

Outros artefactos ceracircmicos

Aleacutem dos recipientes ceracircmicos referidos regista-se ainda alguns fragmentos

de artefactos ceracircmicos peculiares em contexto funeraacuterio

Um deles eacute o pequeno fragmento mesial de um possiacutevel elemento de tear do

tipo crescente (MG30280A) Pelo que jaacute referi acima registo-o com reserva

Outra peccedila eacute um pequeno cilindro ceracircmico (MG178262) recolhido em Monte

Abraatildeo

Haacute ainda dois fragmentos ceracircmicos de possiacutevel cincho ou queijeira da anta

de Trigache 3 jaacute anteriormente mencionados (Leisner e Ferreira 1961 Leisner

1965) que satildeo raros em ambiente funeraacuterio De facto entre as publicaccedilotildees

consultadas natildeo me foi possiacutevel verificar a presenccedila de peccedilas similares na

Estremadura

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 262 de 415

55 Utensiacutelios de osso

Apesar do conjunto de artefactos de osso ser relativamente abundante no

espoacutelio de algumas antas quando delimitado apenas aos utensiacutelios daquela mateacuteria

este revela-se deveras escasso Isto porque os restantes elementos correspondem a

peccedilas de adorno traje e de caraacutecter ideoteacutecnico nomeadamente pequenos iacutedolos e

amuletos zoomorfos

A caracterizaccedilatildeo dos utensiacutelios de osso seguiu genericamente as propostas de J

L Pascual Benito (1998) J L Cardoso (2003) e C Salvado (2004)

Assim os utensiacutelios resumem-se a cerca de 14 peccedilas destacando-se o conjunto

de furadores e cabos Regista-se ainda uma agulha uma espaacutetula (sob a reserva jaacute

referida noutro capiacutetulo) e possivelmente dois recipientes ciliacutendricos ou caixas

ciliacutendricas (Salvado 2004) um de Monte Abraatildeo e outro sob a designaccedilatildeo de ldquoAnta

de Belasrdquo

Quadro 13 Utensiacutelios de osso das antas da regiatildeo de Lisboa

utensiacutelio anta

furador cabo agulha espaacutetula caixas

ldquoAnta de Belasrdquo 1 Carcavelos 1 1 Casaiacutenhos 1

Conchadas 1 Estria

Monte Abraatildeo 2 2 1 Pedras da Granja 2

Trigache 4 1 1 Total 7 4 1 1 1

Com a excepccedilatildeo das referidas caixas ciliacutendricas enquadraacuteveis na primeira

metade do 3ordm mileacutenio ane (Gonccedilalves 2003e 2005b e 2008b Salvado 2004) as

restantes peccedilas satildeo de mais difiacutecil adscriccedilatildeo cronoloacutegica Isso parece patente no caso

do povoado de Leceia registando-se tipos de utensiacutelios similares ao longo da

ocupaccedilatildeo do siacutetio (Cardoso 2003)

As caixas ciliacutendricas surgem com frequecircncia e sobretudo associadas agrave

panoacuteplia de artefactos votivos de calcaacuterio Por outro lado entre os tipos de sepulcros

os tholoi surgem como aqueles onde tais peccedilas se registam em maiores nuacutemeros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 263 de 415

Aliaacutes este tipo de artefacto ocorre tambeacutem no Alentejo e Extremadura espanhola

em sepulcros do tipo tholos nomeadamente Perdigotildees (Valera et al 2000) e La

Pijotilla (Hurtado Mondejar e Pecero 2000)

56 As faunas das antas

Ao analisar os artefactos de osso procurei com a colaboraccedilatildeo de M Moreno

identificar as espeacutecies de cujos ossos foram utilizados na sua feitura Infelizmente

em boa parte deles natildeo foi possiacutevel uma identificaccedilatildeo positiva por vezes limitada a

mamiacutefero de grandes dimensotildees ou pequenas dimensotildees por exemplo No entanto

nas situaccedilotildees de identificaccedilatildeo viaacutevel verificou-se uma tendecircncia para a utilizaccedilatildeo

frequente de ossos de animais presumivelmente domesticados (ovinos e caprinos)

face a espeacutecies selvagens Esta impressatildeo parece corresponder agraves anaacutelises efectuadas

para o conjunto de utensiacutelios do povoado de Leceia maioritariamente realizados

sobre ossos de espeacutecies domesticadas como ovinos e caprinos (Cardoso 2003)

Outro aspecto que considerei pertinente avaliar era a possibilidade de

oferendas de alimentos nomeadamente faunas mamaloacutegicas e malacoloacutegicas Assim

entre os espeacutecimes recolhidos a eventual existecircncia de ossos e conchas natildeo

trabalhados ou apenas com marcas de corte nos primeiros poderia ser um indicador

vaacutelido para tal avaliaccedilatildeo Aliaacutes a deposiccedilatildeo de vaacuterios recipientes ceracircmicos defronte

da entrada da anta de Casaiacutenhos permitiam admitir actos de caraacutecter ritual dedicados

aos inumados onde eventualmente alguns alimentos poderiam ter sido depositados

hipoacutetese sugerida para situaccedilatildeo similar na anta de Vale Rodrigo 3 (Larsson 2000)

A Figueiredo (2006) ao analisar o espoacutelio recolhido dentro da anta de Rego da

Murta 1 referia uma presenccedila abundante de faunas indicando-as como provaacuteveis

oferendas rituais No entanto natildeo realizou qualquer dataccedilatildeo sobre ossos dessas

faunas pelo que a sua relaccedilatildeo circunstancial natildeo pode ser esquecida sobretudo

quando aquelas estruturas megaliacuteticas se tornam um excelente abrigo para pessoas e

animais e um local de depoacutesito de lixo orgacircnico de campesinos ao longo do tempo

Assim motivos mais terrenos poderatildeo explicar aquelas presenccedilas aliaacutes recorrentes

nos sepulcros de Lisboa escavados com maior detalhe caso da gruta de Salemas e

das antas de Monte Abraatildeo Pedra dos Mouros e Carcavelos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 264 de 415

Existindo um conjunto de ossos de grandes mamiacuteferos na anta de Pedra dos

Mouros optei por submeter a dataccedilatildeo pelo radiocarbono uma falange de Bos

(MG17240) situando a sua morte entre cal CE 1480-1960 (com 854 de

probabilidade restringe-se a cal CE 1480-1680) Teria sido interessante proceder agrave

dataccedilatildeo de outros elementos de faunas de outras antas nomeadamente de Carcavelos

mas financeiramente natildeo foi comportaacutevel De qualquer forma a dataccedilatildeo de Pedra

dos Mouros tornou-se uacutetil ao realccedilar o cuidado e as reservas a ter com elementos de

fauna em contexto funeraacuterio

Por outro lado satildeo conhecidos alguns casos de espeacutecies animais depositadas

junto de inumados mas frequentemente a sua condiccedilatildeo de alimento natildeo parece

plausiacutevel pois representam espeacutecies aparentemente de acompanhamento como

caniacutedeos Parece ser esse o caso da anta de Santa Margarida 3 (Gonccedilalves 2003f) da

gruta artificial de Paraje de Monte Bajo 2 (Lazarich 2006 e 2008 Lazarich et al no

prelo) ou da cavidade de S J A Portam Latinam (Vegas et al 1999 Vegas 2007)

No entanto quando se efectuou a anaacutelise dos carniacutevoros recolhidos no povoado de

Leceia (Pires Cardoso e Petrucci-Fonseca 2001-02) natildeo foi possiacutevel descartar a

possibilidade de esta espeacutecie ter servido ocasionalmente de alimento

A fauna malacoloacutegica era outro conjunto que eventualmente poderia ter sido

depositado como oferenda de alimento No entanto a forma como muitas das

escavaccedilotildees foram realizadas natildeo permite garantir que todo o material pertinente

tenha sido recolhido bem pelo contraacuterio Por outro lado a falta de registos claros

acerca dos contextos estratigraacuteficos da sua proveniecircncia colocam reservas acerca da

sua contemporaneidade com os depoacutesitos funeraacuterios agrave semelhanccedila do jaacute sugerido

para as faunas mamaloacutegicas

Assim como mero exerciacutecio comparativo procurei verificar a presenccedila de

elementos conquiacuteferos transformados ou natildeo recolhidos nas antas e noutros tipos de

sepulcro com base na informaccedilatildeo publicada (Quadro 45)

As pulseiras sobre concha de Glycimeris e as contas de Dentallium surgem

com alguma frequecircncia em contextos funeraacuterios de gruta natural tendencialmente

antigos com cronologias da primeira metade do 4ordm mileacutenio ane Aliaacutes este tipo de

espeacutecies nomeadamente a primeira estaacute documentada em contextos bem mais

antigos transformada em pingente e pulseiras das grutas do Caldeiratildeo (Zilhatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 265 de 415

1992) e Nossa Senhora das Lapas (Oosterbeek 1993) ou a sul em Castelo Belinho

(Gomes 2008)

As conchas de Cardium sp e Mytilus sp registam-se tambeacutem com frequecircncia

mas raramente trabalhadas a exemplo de outras espeacutecies pontualmente indicadas na

bibliografia Eacute tambeacutem em contexto funeraacuterio de gruta que estes achados parecem

ocorrer maioritariamente

Finalmente as conchas de Pecten maximus ocorrem em grutas-necroacutepole e

antas cujas cronologias disponiacuteveis as situam entre meados do 4ordm e 3ordm mileacutenio ane

Dado a sua origem batimeacutetrica infralitoral eacute provaacutevel que estas conchas tivessem

sido intencionalmente depositadas pelo seu valor esteacutetico e simboacutelico recolhidas

post mortem Aliaacutes esta hipoacutetese tem sido referida para vaacuterios casos onde esta e outra

espeacutecies de valor nutricional nulo ou reduzido (Silva e Cabrita 1966 Silva et al

1986 Guerreiro e Cardoso 2001-02 Gonccedilalves 2008a) Esta importacircncia simboacutelica

eacute ainda mais realccedilada em contextos do interior alentejano onde se registam conchas

marinhas tanto em sepulcros como espaccedilos habitacionais (Leisner e Leisner 1959

Silva e Cabrita 1966 Coelho 2008)

57 Elementos de adorno

Em quase todas as antas se registaram elementos de adorno e traje pessoais Se

as peccedilas de traje satildeo essencialmente artefactos de osso as de adorno apresentam por

vezes objectos que foram adaptados como pingentes ou contas nomeadamente

pequenos seixos ou pedras brutas conchas mas tambeacutem fragmentos ceracircmicos e

outros artefactos atraveacutes da sua simples perfuraccedilatildeo com pouco ou sem qualquer

outro trabalho (Quadro 41)

A classificaccedilatildeo dos elementos de adorno e traje seguiu no essencial as

propostas de J L Pascual Benito (1998)

A miriacuteade de elementos de adorno recolhidos surge hoje reunida em

ldquocolaresrdquo produzidos pelos seus escavadores idealizando a sua forma de

apresentaccedilatildeo Apesar de em algumas situaccedilotildees ser possiacutevel admitir a existecircncia de

colares com largas dezenas de contas soacute em poucas situaccedilotildees estas peccedilas de adorno

foram recolhidas in situ ainda alinhadas No caso das antas com a excepccedilatildeo de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 266 de 415

algumas contas de Carcavelos ainda recolhidas em pequenas sequecircncias as restantes

leituras parecem resultar de uma reconstituiccedilatildeo posterior

As contas discoacuteides satildeo as mais frequentes e numerosas obtidas

essencialmente a partir de rocha xistosa negra calcaacuterio concha e osso Nas peccedilas de

origem conquiacutefera pode observar-se ainda as nervuras da superfiacutecie externa No caso

do osso apenas se registam duas completas de Trigache 2 e um ensaio de conta de

osso de Trigache 3

As contas globulares ovoacuteides e tubulares foram obtidas na sua maioria de

pedras verdes Um tipo raro eacute a conta bitroncocoacutenica uma delas em rocha negra ou

azeviche () em Pedras da Granja e outra de dimensotildees consideraacuteveis de ceracircmica

em Casal do Penedo

Algumas das contas de maiores dimensotildees referidas atraacutes poderiam ter sido

utilizadas como pingentes ndash casos provaacutevel das grandes contas de Monte Abraatildeo O

mesmo se poderia afirmar para os tipos peculiares nomeadamente as duas veacutertebras

de peixe (Trigache 3 e Conchadas) e as duas pedras perfuradas do Casal do Penedo

Contudo tendo em conta a questatildeo da centralidade do orifiacutecio foram consideradas

no grupo das contas

Os pingentes foram obtidos sobretudo com base em xisto negro e pedra verde

apresentando formatos variados Aliaacutes em Monte Abraatildeo parte de um iacutedolo-placa

de xisto foi transformado num pingente ao ser transformado como uma possiacutevel

lacircmina de um machado ou enxoacute com uma perfuraccedilatildeo para suspensatildeo

Ainda que se conheccedilam noutros sepulcros da regiatildeo natildeo se registaram conchas

como provaacuteveis pingentes registando-se apenas um fragmento de um canino inferior

de Sus sp com perfuraccedilatildeo em Conchadas

Entre os elementos de traje os alfinetes de cabelo com e sem cabeccedila posticcedila

esta uacuteltima podendo apresentar ou natildeo decoraccedilatildeo incisa satildeo os mais frequentes

infelizmente na sua maioria resumindo-se a fragmentos de hastes e partes das

caacutepsulas da cabeccedila Todavia haacute ainda alguns exemplares com a referida caacutepsula

posticcedila e topo da haste recordando que alguns dos alfinetes com cabeccedila simples

poderatildeo corresponder de facto a peccedilas mais elaboradas No entanto no caso de um

fragmento de cabeccedila simples de um alfinete de Trigache 2 esta apresenta ainda

vaacuterias incisotildees obliacutequas com provaacutevel finalidade decorativa Em Monte Abraatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 267 de 415

regista-se ainda um possiacutevel fragmento de cabeccedila maciccedila de alfinete talvez de

marfim decorado com um reticulado

Aleacutem dos dois possiacuteveis pentes votivos aqui assinalados apenas existe a

probabilidade de um pequeno garfo de cabelo de Trigache 2

Finalmente os bototildees surgem raramente De facto das quatro antas

assinaladas apenas Conchadas e Carcavelos apresentam um conjunto significativo

de peccedilas Nas antas de Monte Abraatildeo e Pedras da Granja esses elementos resumem-

se a uma peccedila cada

Alguns dos elementos de adorno e traje referidos permitem um enquadramento

cronoloacutegico mais preciso do que outros Assim pelas suas caracteriacutesticas alguns

comentaacuterios poderatildeo ser adiantados

Primeiramente nos sepulcros mais antigos os adornos apresentam

caracteriacutesticas distintas registando-se elementos conquiacuteferos nomeadamente

pulseiras de Glycimeris contas de Dentallium e outras espeacutecies por vezes pouco

modificadas Estes tipos natildeo se registam nas antas de Lisboa Aparentemente aquele

gosto mais naturalista parece alterar-se por meados do 4ordm mileacutenio ane As contas

discoacuteides em xisto parecem surgir ainda com o espoacutelio de cariz antigo como os

geomeacutetricos mas sem ceracircmica (Leisner 1983 Soares e Silva 1976-77) Nos finais

do mileacutenio aleacutem da presenccedila frequente de contas discoacuteides regista-se a presenccedila de

alfinetes de cabelo com e sem cabeccedila posticcedila - em contextos de gruta artificial como

Monte Canelas 1 (Moraacuten e Parreira 2004 e 2007) e da cacircmara ocidental de Praia das

Maccedilatildes essas presenccedilas estatildeo atestadas inclusive pela dataccedilatildeo indirecta e directa

respectivamente (Moraacuten e Parreira 2004 Cardoso e Soares 1995b)

As pedras verdes parecem ter assumido uma importacircncia grande como mateacuteria-

prima na manufactura de adornos durante a primeira metade do 3ordm mileacutenio ane

(Jimeacutenez 1995 Gonccedilalves 2003e e 2005b) Esta possibilidade coincide com outros

artefactos de cronologia similar presentes nas mesmas antas onde aquelas contas e

pingentes se registam

Os bototildees identificados remetem para presenccedilas ainda mais recentes

provavelmente da segunda metade do 3ordm mileacutenio ane associados aos elementos do

pacote campaniforme (Roche e Ferreira 1961 Harrison 1977 Gonaccedillves 2003e e

2005b)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 268 de 415

Portanto pelo exposto eacute possiacutevel apontar agrave semelhanccedila de outros tipos

artefactuais um incremento de deposiccedilotildees de elementos de adorno e de traje nos

uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane e durante a primeira metade do seguinte Por fim

os bototildees parecem corresponder ao periacuteodo final das (re)utilizaccedilotildees funeraacuterias mais

ou menos constantes das antas

58 Artefactos e objectos votivos

Os artefactos votivos das antas de Lisboa correspondem a um conjunto

tipoloacutegico diversificado onde se incluem os iacutedolos-placa baacuteculos os artefactos

votivos de calcaacuterio e de osso com formatos betiloacuteides e outras representaccedilotildees

(Quadro 42) Aleacutem destes eacute possiacutevel ainda incluir um conjunto de objectos liacuteticos da

anta de Monte Abraatildeo tambeacutem de formato betiloacuteide mas sem um aparente trabalho

intencional que pela sua localizaccedilatildeo poderiam corresponder a uma concentraccedilatildeo do

tipo nicho

Os elementos analisados nos capiacutetulos anteriores correspondem com algumas

excepccedilotildees nomeadamente os adornos essencialmente a peccedilas utilitaacuterias presentes

nas actividades quotidianas daquelas comunidades Essas peccedilas essencialmente

tecnoacutemicas teriam com certeza um valor soacutecio-cultural em vida que era prolongado

na morte pelo seu depoacutesito intencional muitas vezes sem ou com pouco uso

colocando-se a hipoacutetese de serem propositadamente produzidas para tal destino pelo

menos algumas Os elementos de adorno que acompanhavam o defunto

corresponderiam a peccedilas de uso pessoal Por outro lado a padronizaccedilatildeo verificada no

tipo de espoacutelio depositado parece reflectir um simultaneamente um gosto esteacutetico

similar e um conjunto de crenccedilas maacutegico religiosas dos vivos acerca daqueles que

faleceram

No caso das peccedilas analisadas neste capiacutetulo o seu caraacutecter ideoteacutecnico eacute

evidente De facto estes elementos parecem representar entidades e crenccedilas hoje

difiacuteceis de apreender encontrando-se depositados na sua esmagadora maioria em

contextos funeraacuterios acompanhando os indiviacuteduos inumados A presenccedila destes

artefactos em contextos habitacionais regista-se (Cardoso 1989 1994 e 1999-00b) e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 269 de 415

eacute expectaacutevel no sentido em que satildeo os vivos os sepultantes que produzem e

depositam este mobiliaacuterio funeraacuterio de acompanhamento e caraacutecter votivo

Iacutedolos-placa e baacuteculos

Os iacutedolos-placa encontram-se presentes em vaacuterias antas de Lisboa (Quadro 42)

ainda que frequentemente em nuacutemero reduzido inclusive singular (ver capiacutetulos

monograacuteficos) A excepccedilatildeo eacute a anta de Conchadas com cerca de 14 peccedilas tornando-

se um dos conjuntos mais numerosos entre os sepulcros da Estremadura Esta

situaccedilatildeo tambeacutem ocorre noutros tipos de sepulcros assinalando-se aiacute presenccedilas

relativamente abundantes como Praia das Maccedilatildes (Leisner 1965) Tojal de Vila Chatilde

1 (Gonccedilalves Andrade e Pereira 2004) ou Lapa do Bugio (Cardoso et al 1992)

Outro aspecto pertinente na regiatildeo de Lisboa eacute a mateacuteria-prima de suporte

para a produccedilatildeo destes iacutedolos-placa essencialmente o xisto ardosiano e variantes

litoloacutegicas de caraacutecter exoacutegeno

Haacute tambeacutem registadas na Estremadura um conjunto de placas de greacutesarenito

com caracteriacutesticas similares a algumas efectuadas em xisto cuja concentraccedilatildeo

corresponde agrave aacuterea da bacia meacutedia do rio Tejo (Alto Alentejo Extremadura

espanhola Beira Baixa Ribatejo e Alta Estremadura) Nas antas de Lisboa apenas se

conhecem os casos de Trigache 3 de uma placa de arenito provavelmente

antropomorfa e de Conchadas uma placa lisa com formato rectangular e cantos

arredondados semelhante agraves congeacuteneres de xisto

Considerando as recentes abordagens referidas abaixo natildeo realizei um estudo

aturado dos iacutedolos-placa limitando-me agraves descriccedilotildees referidas nos capiacutetulos

monograacuteficos

As placas gravadas tecircm sido motivo para trabalhos mais ou menos profundos

acerca delas Vaacuterios autores trataram-nas sob vaacuterios pontos de vista (Veiga 1887

Vasconcelos 1897 Rocha 1908 Correia 1915 e 1917 Leisner e Leisner 1951 e

1959 Leisner 1965 Lisboa 1985 Rodrigues 1986 Bueno Ramirez 1992) mas no

devir cientiacutefico constante de tese e antiacutetese os estudos desenvolvidos nos uacuteltimos

anos acerca dos iacutedolos-placa independentemente dos modelos explicativos

contrastantes renovaram e sistematizaram um conjunto de ideias antigas

actualizadas hoje por metodologias e posiccedilotildees teoacutericas aparentemente distintas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 270 de 415

Retomando abordagens anteriores (Gonccedilalves 1989a 1993 e 1995) o projecto

ldquoPlaca Nostrardquo optou pela revisatildeo e renovaccedilatildeo do registo graacutefico e sistemaacutetico das

placas ainda que limitada a uma abordagem essencialmente monograacutefica de

conjuntos e sepulcros mais emblemaacuteticos normalmente com numerosos exemplares

(Gonccedilalves 1999a 2003c 2003d 2003e 2004a 2004b 2006a 2006b e 2008b

Gonccedilalves Andrade e Pereira 2004)

Os iacutedolos-placa representam para V S Gonccedilalves (1989a 1992 1993 2003d

2003e 2008b) que os prefere designar por placas de xisto siacutembolos de uma

entidade uma Deusa-Matildee ldquoprotectora da Vida e da Morterdquo (Gonccedilalves 1992 p

228) Um primeiro grande grupo de placas apresenta formatos rectangulares e

trapezoidais normalmente bipartidos em duas aacutereas a laquocabeccedilaraquo e o laquocorporaquo

profusamente gravadas com motivos geomeacutetricos Outras placas evidenciando um

caraacutecter mais antropomorfo ou teomorfo surgem com a zona da laquocabeccedilaraquo destacada

pelo recorte da proacutepria placa destacando os ldquoombrosrdquo ou com gravaccedilotildees insinuando

o contorno antropomoacuterfico os olhos braccedilos tranccedilas ou o triacircngulo puacutebico Aquela

distinccedilatildeo morfoloacutegica parece assumir um significado cronoloacutegico que em alguns

casos se torna mais evidente ao assemelhar-se pelo contorno ou incorporando a

figura do iacutedolo almeriense Resumindo para este autor ldquouma placa laquoclaacutessicaraquo uma

laquoplaca loucaraquo uma laquoplaca CTTraquo uma laquoplaca hiacutebridaraquo representam basicamente o

mesmo E as laquoplacas com Olhos de Solraquo algo natildeo muito distanterdquo (Gonccedilalves

2008b p 46)

Outra abordagem no acircmbito do projecto ESPRIT (Lillios 2002 2003 2004a

2004b 2006 e 2008) optou por inventariar todas as placas gravadas entretanto

publicadas disponibilizando-as numa base de dados da Internet aberta a novos

registos (Lillios 2004b) Simultaneamente procedeu agrave revisatildeo directa de muitos

daqueles espeacutecimes inclusive identificando outros natildeo publicados Todavia esta

estrateacutegia de anaacutelise descurou a qualidade graacutefica em prol do maior nuacutemero de

espeacutecimes descritos limitando-se ao registo das suas gravaccedilotildees por fotografia e

digitalizaccedilatildeo nem sempre suficientes para delinear as imagemens presentes

A valorizaccedilatildeo maacutegico-religiosa e simboacutelica dos iacutedolos-placa satildeo negadas e

substituiacutedas para K Lillios (2002 e 2008) por um caraacutecter heraacuteldico e genealoacutegico

retomando propostas anteriores que abordavam estes aspectos (Lisboa 1985 Bueno

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 271 de 415

Ramirez 1992) Assim utiliza como um dos argumentos o nuacutemero reduzido de

peccedilas que apresentam de facto claros elementos de uma qualquer entidade

sobrenatural Esta autora estabeleceu criteacuterios descritivos semelhantes para as placas

mais comuns que apresentam um laquotoporaquo e uma laquobaseraquo (a laquocabeccedilaraquo e o laquocorporaquo)

utilizando o padratildeo decorativo em particular o nuacutemero de registos da base (number

of registers of the base) para acentuar um provaacutevel objectivo genealoacutegico ndash o tipo

decorativo e o nuacutemero de registos em sequecircncia apontariam a linhagem do indiviacuteduo

depositado e a sua pertenccedila a determinado grupo ou clatilde A concentraccedilatildeo e dispersatildeo

geograacutefica de certos tipos de padrotildees geomeacutetricos poderia corresponder a momentos

de implantaccedilatildeo da praacutetica e posterior divulgaccedilatildeo na sequecircncia da deslocaccedilatildeo de

indiviacuteduos para essas novas regiotildees Por outro lado para K Lillios (2006 e 2008) as

placas de caraacutecter antropomoacuterfico denominadas pela autora como biomoacuterficas mais

do que entidades humanizadas representariam animais Apoacutes anaacutelise de um conjunto

de placas biomoacuterficas propocircs a coruja das torres (Tyto alba) como o provaacutevel animal

representado associado agrave noite e agrave morte e vida das sociedades campesinas

A dicotomia entre as duas abordagens referidas destaca-se entatildeo pela muacutetua

negaccedilatildeo das respectivas propostas No entanto analisadas genericamente as duas

interpretaccedilotildees eacute possiacutevel conciliar em parte o aparentemente inconciliaacutevel

Primeiramente confesso-me um adepto racional das interpretaccedilotildees dos iacutedolos-

placa como representantes de atributos e simbologias de uma entidade protectora da

Vida e da Morte uma Deusa-Matildee No entanto a padronizaccedilatildeo presente num

conjunto significativo de placas com padrotildees decorativos especiacuteficos em que eacute

possiacutevel verificar a sequecircncia de registos como no caso de Conchadas parece difiacutecil

de refutar Com certeza faltaratildeo contextos e dataccedilotildees que situem com maior precisatildeo

estes tipos de placas mas assumindo-as como anteriores agravequelas de cariz teomoacuterfico

talvez seja interessante admitir como modelo exploratoacuterio que no iniacutecio do uso

destes artefactos funeraacuterios a importacircncia eacutetnica e eventualmente genealoacutegica fosse

um aspecto considerado por sepultantes e para os sepultados procurando acima

destes clatildes a protecccedilatildeo de uma Deusa-Matildee

Por outro lado a hipoacutetese de sincretismo para as placas mais claramente

antropomorfas natildeo seria de todo ineacutedita Assim as qualidades e caracteriacutesticas de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 272 de 415

animais que de alguma forma emanassem as divindades seriam integradas na

representaccedilatildeo da entidade superior nomeadamente a coruja das torres

Um aspecto em que parece existir algum consenso entre as duas perspectivas

referidas eacute o caraacutecter individual destes artefactos concebidos para depoacutesito funeraacuterio

junto com um inumado (Gonccedilalves 1992 2003e e 2003f Lillios 2008) Nos poucos

casos referidos como tal apenas se conhece bem documentada a associaccedilatildeo da anta

de Santa Margarida 3 do indiviacuteduo J8-588 e o iacutedolo-placa J8-667 (Gonccedilalves

2003f) e a possiacutevel relaccedilatildeo entre os restos esqueleacuteticos humanos e uma estrutura de

combustatildeo com placas associadas da anta de Bola da Cera (Oliveira 1997) O outro

caso referido por V S Gonccedilalves (1987 1989a e 2003f) de um indiviacuteduo da Cova

das Lapas aguarda a sua publicaccedilatildeo pelo que natildeo eacute possiacutevel avaliar a interpretaccedilatildeo

proposta

Aquela adscriccedilatildeo indiviacuteduoiacutedolo-placa conduziu agrave hipoacutetese de caacutelculo do

nuacutemero aproximado de deposiccedilotildees por sepulcro (Gonccedilalves 2003f) No entanto

julgo que essa estimativa poderaacute servir como tal apenas para um determinado

periacuteodo de utilizaccedilatildeo funeraacuteria dos sepulcros Isto porque antes e depois daquela

praacutetica outras inumaccedilotildees poderatildeo ter sido realizadas associadas ou natildeo a objectos e

artefactos visiacuteveis no registo arqueoloacutegico Outra questatildeo que perturba aquela

hipoacutetese eacute o facto de alguns casos estes artefactos surgirem concentrados na aacuterea de

acesso agrave cacircmara ou jaacute no seu corredor como no caso de algumas antas de Lisboa

nomeadamente Conchadas Casaiacutenhos Pedras da Granja e Monte Abraatildeo podendo

corresponder ou natildeo a inumaccedilotildees localizadas naqueles sectores do sepulcro

Outro elemento recolhido foi um baacuteculo de xisto limitado a um exemplar da

anta da Estria Este tipo de artefacto tem sido interpretado como siacutembolo de poder

(Ferreira 1985 Leisner 1951 e 1959 Leisner 1965 Gonccedilalves 1992 1999a e

2003e) Sendo mais frequente no Alto e Meacutedio Alentejo tambeacutem se conhecem

alguns exemplares na Estremadura (Leisner e Leisner 1959 Leisner 1965

Gonccedilalves 1999a e 2003e Carreira e Cardoso 2001-02 Cardoso et al 2003)

Ambos os tipos de artefactos votivos mencionados atraacutes agrave semelhanccedila de

outros jaacute tratados reflectem evidentes contactos inter-regionais No entanto o

caraacutecter ideoteacutecnico destes artefactos e a sua presenccedila relativamente abundante entre

os sepulcros estremenhos suscita algumas questotildees

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 273 de 415

a Esses artefactos satildeo o testemunho da presenccedila de indiviacuteduos

imigrantes e das suas respectivas crenccedilas

b Representaratildeo a integraccedilatildeo local de crenccedilas exoacutegenas materializadas

naqueles artefactos importados

c Seratildeo peccedilas adquiridas pelo seu caraacutecter exoacutegeno e eventual estatuto

social proporcionado na sequecircncia de trocas de produtos mais

importantes para o quotidiano natildeo correspondendo agrave integraccedilatildeo das

crenccedilas das comunidades de origem

Penso que todas estas possibilidades poderatildeo ter ocorrido e entrecruzar-se

sendo difiacutecil valorizar uma face agraves restantes No entanto eacute provaacutevel que as crenccedilas

magico-religiosas de ambas as comunidades tivessem pontos em comum

aproximando-as e facilitando algum grau de ecletismo ou fossem de facto

semelhantes apenas divergentes na sua materializaccedilatildeo

Por outro lado uma questatildeo ainda natildeo cabalmente respondida eacute a de que

grupos ou indiviacuteduos se movimentariam entre estas regiotildees independentemente de

ali estagiarem (Boaventura no prelo a) Se as diferenccedilas antropoloacutegicas natildeo

permitiram ainda pistas uma eventual resposta proviraacute talvez da anaacutelise de alguns

isoacutetopos de indiviacuteduos inumados nestes sepulcros proporcionando uma avaliaccedilatildeo da

sua mobilidade (Capiacutetulo 6)

Resta entatildeo procurar situar cronologicamente estes artefactos Assim se de

facto os iacutedolos-placa evoluiacuteram de motivos geomeacutetricos para atributos mais

antropomoacuterficos julgo que essas fases teriam ocorrido algures nos uacuteltimos seacuteculos

do 4ordm mileacutenio e primeiros do seguinte No entanto deixarei para o capiacutetulo 8 um

exerciacutecio mais aturado acerca desta questatildeo

Artefactos votivos de calcaacuterio

Correspondendo a regiatildeo de Lisboa a parte da Estremadura aacuterea onde os

artefactos votivos de calcaacuterio surgem com muita frequecircncia e variedade (Leisner

1965 Gonccedilalves 2003e 2005b e 2008b) natildeo resulta surpreendente que estes

tambeacutem ocorram nas antas (Quadro 37 e 42) ainda que como se veraacute denunciando

utilizaccedilotildees posteriores

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 274 de 415

Os iacutedolos ciliacutendricos aqui designados genericamente ainda que as suas

paredes se apresentem por vezes rectas hiperboloacuteides ou romboacuteides e outras com um

formato troncocoacutenico satildeo os mais frequentes nas antas mas tambeacutem noutros tipos

de sepulcros estremenhos

As dimensotildees daqueles aqui analisados variam bastante entre os cerca de 210

mm de altura por 10 mm de diacircmetro do maior em Carcavelos e os 35 mm por 23

mm do pequeno iacutedolo troncocoacutenico de Trigache 2 Apresentam as suas superfiacutecies

quase sempre lisas excepto um uacutenico caso reconhecido com gravaccedilatildeo de ldquoolhosrdquo e

ldquotatuagens faciaisrdquo num pequeno iacutedolo ciliacutendrico romboacuteide de Carcavelos

A presenccedila de iacutedolos ciliacutendricos com ldquoolhosrdquo e ldquotatuagens faciaisrdquo entre

aqueles com gravaccedilotildees parece ocorrer sobretudo em peccedilas tendencialmente

romboacuteides encontrando-se usualmente em minoria Alguns casos excepcionais

assinalam o triacircngulo puacutebico como a peccedila proveniente de contexto habitacional de

Leceia (Cardoso 1989 fig 110) ou utilizam representaccedilotildees de crescentes para os

ldquoolhosrdquo e ldquobocardquo como no iacutedolo de Casal do Pardo 4 (Leisner 1965 taf 108 36)

Os iacutedolos afuselados ou fusiformes tambeacutem de se encontram com alguma

frequecircncia nas antas de Carcavelos e Monte Abraatildeo e de forma pontual em Pedras

da Granja e Casaiacutenhos Alguns apresentam linhas gravadas nas aacutereas das suas

extremidades sobretudo na face convexa mas outros satildeo lisos O exemplar de

Casaiacutenhos eacute a excepccedilatildeo por se apresentar gravado em toda a extensatildeo da sua

superfiacutecie convexa agrave semelhanccedila daqueles de Correio-Moacuter (Cardoso et al 1995 e

2003) Folha das Barradas e Casal do Pardo 1 (Leisner 1965) ainda que com

desenhos peculiares Neste grupo inclui-se ainda a peccedila de Estria ndash esta apresenta

uma secccedilatildeo longitudinal aproximada aos iacutedolos fusiformes bem como as

caracteriacutesticas linhas circulares na base mas no topo parece reproduzir linhas de

ldquotatuagemrdquo

A anaacutelise destas peccedilas suscitou sobretudo depois de conhecer a proposta de

reconstituiccedilatildeo do provaacutevel altar da gruta do Correio-Moacuter (Cardoso et al 1995 e

2003) alguma reflexatildeo acerca da forma como seriam depositadas Assim tendo em

conta o formato afuselado de difiacutecil sustentaccedilatildeo vertical a sua estrutura plano-

convexa transversal e longitudinal e naquelas que a tecircm a decoraccedilatildeo incidir

sobretudo na superfiacutecie convexa julgo que estas peccedilas talvez fossem posicionadas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 275 de 415

deitadas No caso de referido altar isso em nada alteraria a sua uniformidade mas

ajudaria a explicar o motivo de decoraccedilotildees natildeo abrangentes e a superfiacutecie plana

contrariamente a outros tipos de artefactos de calcaacuterio como as pinhas e enxoacutes A

possiacutevel interpretaccedilatildeo para os sulcos paralelos nas extremidades da peccedila de

Casaiacutenhos mas tambeacutem de outras servindo para a fixaccedilatildeo do artefacto a uma

estrutura pereciacutevel hoje desaparecida (Gonccedilalves 2003e p 170) poderia tambeacutem

explicar a face aplanada e quase sem decoraccedilatildeo daqueles iacutedolos permitindo que

aqueles se recostassem a uma superfiacutecie tambeacutem ela plana

Outra peccedila com algumas das caracteriacutesticas dos iacutedolos fusiformes seria aquela

recolhida em Monte Abraatildeo (MG-1788 Leisner 1965 taf 54 1) podendo

simultaneamente representar uma grande lacircmina de machado ou enxoacute Aliaacutes no

conjunto de ldquoAnta de Belasrdquo tambeacutem parece registar-se uma peccedila em basalto que

simularia uma lacircmina de machado

As luacutenulas registam-se em quatro antas curiosamente proacuteximas Trigache 2 e

3 Pedra dos Mouros e Estria

Na sequecircncia da recolha de duas luacutenulas na gruta artificial de Alapraia 2

procurou sistematizar-se este tipo de representaccedilotildees em forma de crescente (Jalhay e

Paccedilo 1946) na qual se incluiacutea o fusiforme de Folha das Barradas (Leisner 1965 taf

34 1) e o iacutedolo ciliacutendrico de Casal do Pardo 4 (Leisner 1965 taf 108 36) ambos

com crescentes nas suas decoraccedilotildees Desse inventaacuterio realccedilava-se uma concentraccedilatildeo

em redor da Serra de Sintra entretanto aumentada por novos achados como Praia

das Maccedilatildes (Leisner 1965 Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969) O sepulcro mais

distante com este tipo de peccedila eacute ateacute o momento o tholos de Cabeccedilo da Arruda 2

(Leisner 1965) em Torres Vedras ou Pai Mogo 1 (Gallay et al 1973) se as

eventuais insiacutegnias em forma de crescente forem consideradas

Quando a presenccedila destas peccedilas eacute analisada por tipo de sepulcro para aleacutem das

antas referidas estas estatildeo quase ausentes de contextos em gruta natural com a

excepccedilatildeo de Poccedilo Velho (Leisner 1965 Gonccedilalves 2005b) mas presentes em

tholoi como Cabeccedilo da Arruda 2 Praia das Maccedilatildes e Pai Mogo 1 e em grutas

artificiais como Alapraia 2 Tojal de Vila Chatilde e Bauacutetas

As peccedilas do tipo ldquopinhardquo foram encontradas inteiras apenas nas antas de

Casaiacutenhos (Cardoso Gonzalez e Cardoso 2001-01) e Carcavelos (AGMarques

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 276 de 415

ineacutedito) Um terceiro exemplar sem haste atribuiacutedo agrave ldquoAnta de Belasrdquo permite

apenas admitir que talvez tenha provindo de Pedra dos Mouros mas sem poder

negar-se as outras duas antas candidatas para o seu depoacutesito

O exemplar de Casaiacutenhos eacute extraordinaacuterio sobretudo pelo grau de preservaccedilatildeo

da gravaccedilatildeo mas tambeacutem pela representaccedilatildeo provaacutevel de serpentes (Cardoso

Gonzalez e Cardoso 2001-02) Natildeo muito distante de Casaiacutenhos o artefacto de

Carcavelos eacute semelhante mas agora sem as referidas serpentes representadas

A decoraccedilatildeo reticulada eacute a mais recorrente dos exemplares decorados

conhecidos nos sepulcros estremenhos ainda que se registem algumas peccedilas lisas

Com a excepccedilatildeo das peccedilas de Cabeccedilo da Arruda 2 todas as restantes foram

elaboradas em calcaacuterio Outro facto interessante a realccedilar eacute a localizaccedilatildeo dos achados

nas referidas antas ambos nas respectivas aacutereas limiares das cacircmaras

E C Serratildeo (1991) a pretexto de duas peccedilas de cariz similar discutia a

possibilidade de estas ldquopinhasrdquo poderem por vezes representar outros elementos

nomeadamente alcachofras

Vaacuterios autores (Leisner 1965 Gonccedilalves 2003e 2005b e 2008b Cardoso et

al 1996 e 2003 Cardoso Gonzalez e Cardoso 2001-02) tecircm realccedilado o cariz

exclusivamente regional destas peccedilas ateacute o momento apenas registadas na

Estremadura essencialmente na parte central e meridional Uma vez mais a sua

presenccedila em tholoi eacute frequente ndash Barro Serra das Mutelas Cabeccedilo da Arruda 2 Satildeo

Martinho 1-2 (Leisner 1965 Spindler e Gallay 1972 Gallay et al 1973) ainda que

tambeacutem surjam nos restantes tipos de sepulcros nomeadamente nas grutas de Cova

da Moura (Spindler 1981) e Lapa do Bugio (Serratildeo 1991 Cardoso et al 1992) e

nas grutas artificiais de Alapraia 4 (Leisner 1965) e de Tojal de Vila Chatilde e Bauacutetas

(Heleno 1933 Leisner 1965 Gonccedilalves Andrade e Pereira 2004)

Apenas uma enxoacute votiva foi recolhida nas antas de Lisboa designadamente em

Estria Tendo em consideraccedilatildeo outros elementos conhecidos nesta anta

nomeadamente outros artefactos votivos de calcaacuterio e o baacuteculo de xisto poderia

supor-se algum tipo de relaccedilatildeo No entanto esta presenccedila simultacircnea de enxoacutes

encabadas e baacuteculos natildeo eacute conhecida para outros sepulcros De facto as enxoacutes

encabadas surgem com maior frequecircncia associadas a outros artefactos de calcaacuterio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 277 de 415

em grutas naturais e artificiais e tholoi sobretudo nos dois uacuteltimos tipos de sepulcro

(Leisner 1965 Gallay et al 1973 Cardoso et al 1996 Gonccedilalves 2003e e 2005b)

Os recipientes de calcaacuterio e almofarizes sobretudo do primeiro tipo registam-

se em algumas antas De facto correspondem a pequenos vasos globulares de

calcaacuterio em Carcavelos e Pedra dos Mouros e um almofariz em Monte Abraatildeo

Ainda que denunciando um caraacutecter utilitaacuterio mas simultaneamente votivo

(Gonccedilalves 2003e e 2008b) decidi incluir estes artefactos neste capiacutetulo Aliaacutes eacute

normalmente com os restantes tipos de artefactos calcaacuterios que estas peccedilas costumam

surgir

Aleacutem dos artefactos votivos referidos surge ainda na anta da Estria uma placa

encurvada lisa com vaacuterios paralelos em diversos sepulcros estremenhos (Leisner

1965 Gallay et al 1973 Cardoso et al 1996 e 2003)

Uma grande conta toneliforme de calcaacuterio foi recuperada na anta de Casaiacutenhos

sem que se conheccedilam paralelos imediatos Talvez o artefacto mais aproximado pela

sua tipologia seja a conta em marfim de Casal do Pardo 3 (Leisner 1965 taf 102

140 Soares 2003 p 57) Aliaacutes ambas poderiam enquadrar-se como pingentes

Finalmente porque jaacute referida noutro capiacutetulo e porque trabalhada a partir de

uma mateacuteria-prima natildeo calcaacuteria haacute que referir a alabarda da anta da Estria esta sem

paralelo conhecido pelo menos na forma votiva

Na globalidade o conjunto de artefactos votivos de calcaacuterio parece enquadrar-

se na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane talvez com maior vigor na passagem para

seu segundo quartel No entanto agrave semelhanccedila dos iacutedolos-placa abordarei esta

questatildeo no capiacutetulo 8 acerca da cronologia absoluta

Betilos naturais ou afeiccediloados

Na anta de Monte Abraatildeo na aacuterea correspondente a um provaacutevel aacutetrio

verificou C Ribeiro (1880) a existecircncia de uma concentraccedilatildeo de pedras

arredondadas especialmente seixos tendencialmente de formato betiloacuteide Se em

alguns destes parece existir algum tipo de afeiccediloamento ou sinais de uso a maioria

apresentava-se sem qualquer trabalho visiacutevel A sua contextualizaccedilatildeo eacute discutida no

capiacutetulo monograacutefico mas importava aqui recordar a eventual possibilidade de uma

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 278 de 415

realidade de caraacutecter votivo com beacutetilos naturais o que poderia significar um

momento posterior agraves utilizaccedilotildees iniciais daquela anta

Artefactos votivos de osso

Aleacutem dos elementos oacutesseos jaacute referidos noutros capiacutetulos nomeadamente

utensiacutelios e adornos haacute ainda um conjunto limitado de pequenos artefactos com um

caraacutecter marcadamente ideoteacutecnico

Dois iacutedolos gola foram recolhidos nas antas de Carcavelos e Conchadas Este

tipo de artefacto surge com frequecircncia associado agrave panoacuteplia de artefactos de calcaacuterio

(Leisner 1965 Gonccedilalves 2003e) podendo contudo ter funcionado como pingente

enquanto amuleto ou representaccedilatildeo de alguma entidade

Ainda que com um significado crono-cultural importante e imediato os iacutedolos

almerienses recolhidos nas antas de Casaiacutenhos e Monte Abraatildeo destacam-se tambeacutem

pela sua raridade Aleacutem destes exemplares apenas satildeo conhecidos talvez dois no

provaacutevel tholos da Samarra e outros na gruta da Lapa do Bugio (Monteiro

Zbyszweski e Ferreira 1971 Cardoso et al 1992 Gonccedilalves 2003e) Aliaacutes neste

uacuteltimo sepulcro para aleacutem das pequenas figurinhas estas representaccedilotildees surgem

integradas em alguns iacutedolos-placa (Monteiro Zbyszweski e Ferreira 1967

Gonccedilalves 2003e e 2006b) Recentemente parece ter sido identificado por Carla

Martinho outro iacutedolo de osso na colecccedilatildeo das grutas artificiais do Tojal de Vila Chatilde

(Gonccedilalves Andrade e Pereira 2004 p 124) mas num formato distinto do tiacutepico

almeriense (informaccedilatildeo pessoal de V S Gonccedilalves)

A imediata relaccedilatildeo dos exemplares estremenhos com outros do Alentejo de

Olival da Pega 1 (Leisner e Leisner 1951 e 1959) da Extremadura espanhola na

gruta de Tiacuteo Republicano Caacuteceres (Cerrillo e Gonzalez 2007) e sobretudo com

vaacuterios sepulcros do sul peninsular entre Huelva e Almeria (Leisner e Leisner 1943 e

1959 Leisner 1965 Garcia e Spahni 1959) suscitam a reflexatildeo acerca de eventuais

contactos transregionais No entanto a cronologia provaacutevel da sua presenccedila no

Centro-Oeste e Sudoeste peninsular deveraacute situar-se na primeira metade do 3ordm

mileacutenio ane talvez no seu primeiro quartel

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 279 de 415

Outro exemplo de contactos entre regiotildees vizinhas e outras mais distantes

parece revelar-se pela presenccedila de pequenas figurinhas zoomorfas frequentemente

atribuiacutedas a lagomorfos (Leisner e Leisner 1951 e 1959 Leisner 1965 Gonccedilalves

1992 e 2003d Cardoso et al 1992) De facto nas antas de Lisboa estas verificam-se

em Casaiacutenhos e Conchadas Talvez devido agrave sua condiccedilatildeo fragmentada apenas num

exemplar de Conchadas eacute possiacutevel perceber os orifiacutecios de sustentaccedilatildeo

O V Ferreira (1970) num breve inventaacuterio deste tipo de peccedilas realccedilava a sua

concentraccedilatildeo em sepulcros da Estremadura limitando ao actual territoacuterio portuguecircs

aquele tipo de artefacto No entanto eram jaacute conhecidos algumas peccedilas deste tipo da

regiatildeo de Huelva (Leisner e Leisner 1951 e 1959) De qualquer forma aquela

concentraccedilatildeo de figurinhas na Estremadura tem de ser relativizada face ao limitado

grau de preservaccedilatildeo de material orgacircnico na regiatildeo alentejana eacute plausiacutevel que

aqueles elementos tivessem sido mais frequentes mas chegando ateacute noacutes apenas as

mateacuterias liacuteticas e soacute muito raramente aquelas de osso como recentemente se

registaram na aacuterea da necroacutepole de Perdigotildees (Valera et al 2000) Todavia aquele

inventaacuterio realccedila tambeacutem os tipos de sepulcros onde com mais frequecircncia estas peccedilas

surgem sobretudo em grutas naturais e artificiais (bem como nas antas referidas) da

Estremadura e em antas no Alentejo Por isso os exemplares agora recolhidos em

Perdigotildees onde se identificaram vaacuterios sepulcros do tipo tholos tornam interessante

a sua avaliaccedilatildeo no futuro

Eacute provaacutevel que a cronologia destas figuras zoomorfas corresponda aos uacuteltimos

seacuteculos do 4ordm mileacutenio ane na transiccedilatildeo para o seguinte mantendo a sua relevacircncia

ateacute aos iniacutecios do segundo quartel o que explicaria a sua presenccedila ainda nos

sepulcros de Perdigotildees Por outro lado esta diacronia eacute compatiacutevel com o periacuteodo

onde parece evidenciar-se uma intensificaccedilatildeo de contactos inter-regionais

Na anta de Trigache 4 recolheu-se uma falange de equiacutedeo agrave data do estudo

original ainda com tonalidade avermelhada (Leisner e Ferreira 1959 e 1961) hoje

desaparecida Tambeacutem natildeo se detectou trabalho intencional nesta peccedila

contrariamente ao apontamento de J L Cardoso (1995) citando V Leisner (1965

taf 18 2 28) No entanto essa ausecircncia natildeo retira propriedades agravequela peccedila

sobretudo pelo conhecimento que se tecircm hoje deste tipo de objectosartefactos em

contexto funeraacuterio com um caraacutecter eminentemente votivosimboacutelico encontrando-

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 280 de 415

se diversas peccedilas na Estremadura profusamente trabalhadas algumas com atributos

tambeacutem identificaacuteveis nos iacutedolos-placa e iacutedolos ciliacutendricos como os olhos e o

triacircngulo puacutebico (Cardoso 1995) Agrave semelhanccedila de outros artefactos referidos atraacutes

estes iacutedolos falange distribuem-se pela Estremadura Alentejo Extremadura

espanhola e Andaluzia alguns com um caraacutecter teomorfo evidente nomeadamente

um dos iacutedolos da Lapa da Bugalheira (Paccedilo Vaultier e Zbyszweski 1941 Paccedilo

Zbyszweski e Ferreira 1971) e outro de La Pijotilla (Hurtado Mondejar e Pecero

2000) A cronologia destas peccedilas parece situar-se na primeira metade do 3ordm mileacutenio

ane

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 281 de 415

6 Sepultantes e sepultados uma avaliaccedilatildeo preliminar

No acircmbito deste trabalho e como jaacute foi salientado atraacutes a possibilidade de

conhecer os personagens do Megalitismo nomeadamente dos utilizadores das antas

estremenhas tornou-se uma vantagem acrescida Graccedilas ao estudo dos restos

osteoloacutegicos humanos obteve-se uma informaccedilatildeo privilegiada dos indiviacuteduos

sepultados que simultaneamente tambeacutem poderatildeo ter sido em dado momento os

sepultantes de outros membros dos seus grupos Assim a determinaccedilatildeo eou

conhecimento das suas classes etaacuterias sexos lesotildees e patologias bem como um

vislumbre dos seus haacutebitos alimentares tornou-se bastante pertinente permitindo

avaliar algumas das assumpccedilotildees para o periacuteodo em causa

Como se veraacute pelos dados actualmente disponiacuteveis a identificaccedilatildeo de quais

teratildeo sido os primeiros sepultados foi quase impossiacutevel admitindo-se todavia a

probabilidade de se limitar no iniacutecio a um nuacutemero reduzido de indiviacuteduos quiccedilaacute

apenas singular o que parece tambeacutem ser indiciado pelos espoacutelios e dados

cronoloacutegicos conhecidos por sepulcro

Por outro lado a comparaccedilatildeo do perfil bioloacutegico dos indiviacuteduos depositados

nas antas e noutros tipos de sepulcros da regiatildeo revelava-se pertinente

61 As dificuldades das amostras antropoloacutegicas disponiacuteveis

A elevada quantidade de restos osteoloacutegicos humanos recolhida em sepulcros

da Estremadura nomeadamente nas antas de Lisboa ilude acerca da qualidade da

informaccedilatildeo registada e disponiacutevel agrave data da sua exumaccedilatildeo De facto a precocidade

de muitas das escavaccedilotildees realizadas em ambientes sepulcrais obstou ao registo

apropriado (para o questionaacuterio actual) da forma como os espoacutelios jaziam e se

relacionavam Nos casos das antas de Lisboa essa situaccedilatildeo ficou explanada nos

capiacutetulos monograacuteficos sendo recorrentemente anotada a condiccedilatildeo dos contextos

remexidos e sem aparente nexo salientando-se pontualmente sobretudo artefactos e

alguns elementos oacutesseos mais relevantes como cracircnios e ossos longos mais

completos Infelizmente se para os artefactos dada a sua representaccedilatildeo nas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 282 de 415

publicaccedilotildees foi possiacutevel reposicionaacute-los no caso dos restos oacutesseos muito raramente

tal desiderato foi alcanccedilado com sucesso Sabemos que certos tipos de ossos foram

recolhidos e inclusive aproximadamente onde mas natildeo eacute hoje possiacutevel saber com

parcas excepccedilotildees quais eram exactamente entre a miriacuteade dos restos sobreviventes

agraves vicissitudes dos processos posteriores agrave sua exumaccedilatildeo Noutras situaccedilotildees as

classificaccedilotildees de ldquoenterramentordquo ou ldquoinumaccedilatildeordquo atribuiacutedas pelos escavadores foram

aplicadas a concentraccedilotildees de ossos sem posteriores estudos que conferissem a

justeza daquelas ndash satildeo exemplo disso os trabalhos desenvolvidos pela equipa dos

Serviccedilos Geoloacutegicos em vaacuterias necroacutepoles preacute-histoacutericas nomeadamente na anta de

Pedras da Granja (Zbyszewski et al 1977) ou em outro tipo de sepulcro na gruta do

Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987) onde apesar das admissiacuteveis e provaacuteveis

inumaccedilotildees o estudo laboratorial sequente natildeo foi efectuado em consonacircncia para o

comprovar

A criacutetica efectuada agraves limitaccedilotildees do registo arqueoloacutegico anterior natildeo pode

todavia esquecer a acccedilatildeo humana contemporacircnea dos sepultados e nos seacuteculos

sequentes que incidiu sobre aqueles depoacutesitos bem como a acccedilatildeo natural por

intermeacutedio de animais escavadores e roedores ou simplesmente pela acccedilatildeo de

plantas e aacuteguas pluviais Assim julgo que a escavaccedilatildeo parcial que pude realizar na

anta de Carcavelos poderaacute contribuir para relembrar essa situaccedilatildeo apesar da

escavaccedilatildeo minuciosa e de um registo rigoroso aplicado agrave definiccedilatildeo dos contextos e agrave

recuperaccedilatildeo dessas concentraccedilotildees de ossos natildeo foi possiacutevel identificar ateacute o

momento conexotildees anatoacutemicas entre estes elementos Confirmou-se isso sim essas

aglomeraccedilotildees de ossos aparentemente originadas pela reduccedilatildeo rearranjo ou simples

afastamento dos esqueletos para os cantos do espaccedilo sepulcral Contudo essas

acumulaccedilotildees de ossos foram afectadas por inuacutemeros animais causando bioturbaccedilotildees

de vaacuterias magnitudes ndash outros aspectos dessas acccedilotildees satildeo visiacuteveis nos proacuteprios ossos

que foram mordidos e roiacutedos por animais e descolorados e alterados quimicamente

por precipitaccedilotildees e raiacutezes entre outros fenoacutemenos tafonoacutemicos (Hillier 2008a)

Perante o breve retrato qualitativo das ossadas humanas recuperadas nas antas

de Lisboa que se aplicaraacute certamente agrave maioria das outras colecccedilotildees reconhece-se

infelizmente que nenhum esqueleto depositado parcial ou completo foi

identificadorecuperado nos estudos recentemente empreendidos Se tal identificaccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 283 de 415

de esqueletos mais ou menos completos ocorreu agrave data da sua escavaccedilatildeo a forma

como os restos oacutesseos foram recuperados catalogados e acondicionados natildeo

permitiu no presente a sua verificaccedilatildeo e o estudo de conjunto individualizado No

essencial as colecccedilotildees estudadas correspondem a ossos sem qualquer tipo de conexatildeo

anatoacutemica reconhecidacomprovada Contudo graccedilas aos meacutetodos desenvolvidos no

acircmbito da Antropologia Fiacutesica nomeadamente da Paleoantropologia e da

Bioarqueologia (Ubelaker 1989 Herrmann et al 1990 Silva 2002 e outras

metodologias descritas nos relatoacuterios anexos e nas publicaccedilotildees citadas) bem como

pela avaliaccedilatildeo criacutetica desses meacutetodos (Wood et al 1992 Wood 1998 Wright e

Yoder 2003 Duarte 2003) esta dificuldade foi relativamente amenizada sendo hoje

possiacutevel obter informaccedilatildeo baacutesica e fundamental para a compreensatildeo dos indiviacuteduos

sepultados o estabelecimento do nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos o reconhecimento

do seu sexo e a estimativa da sua idade agrave morte e a identificaccedilatildeo de lesotildees e

patologias que deixaram sinais nos restos oacutesseos Contudo para que os dados

pudessem ser minimamente comparaacuteveis houve que utilizar criteacuterios e paracircmetros

semelhantes ndash por isso para as colecccedilotildees estudadas foram adoptados

consensualmente criteacuterios jaacute estabelecidos nomeadamente para o maior conjunto de

seacuteries deste periacuteodo estudado no Centro-Sul de Portugal no acircmbito do trabalho de A

M Silva (2002 e 2003b) mas tambeacutem com e de outros autores (Cunha e Silva

2000 Cunha Silva e Miranda 2003 Silva e Cunha 2001 Silva Ferreira e Codinha

2006 Silva e Ferreira 2007)

Todavia as dificuldades expostas natildeo obstaram totalmente ao potencial

informativo dos espoacutelios osteoloacutegicos das antas bem como de outros sepulcros

Neste capiacutetulo procurarei explorar esse potencial com base nos trabalhos

preliminares desenvolvidos em colaboraccedilatildeo com antropoacutelogas fiacutesicas

nomeadamente com M Hillier D Boutillier C Duarte M T Ferreira A M Silva

e N Antunes-Ferreira para as colecccedilotildees osteoloacutegicas das antas de Lisboa passiacuteveis

de maior desenvolvimento posterior No caso da anta de Pedras da Granja esse

estudo tinha jaacute sido realizado ainda que como desconfiavam as autoras apenas

sobre parte da colecccedilatildeo (Cunha e Silva 2000) confirmando-se isso recentemente

quando relocalizei mais alguns elementos osteoloacutegicos desta anta (ver capiacutetulo

418)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 284 de 415

Graccedilas aos estudos antropoloacutegicos realizados tornou-se tambeacutem possiacutevel a

obtenccedilatildeo de informaccedilatildeo quiacutemica dos ossos nomeadamente dos isoacutetopos do Carbono

(δ13C) Azoto (δ15N) e Estrocircncio (87Sr86Sr) graccedilas a estudo desenvolvido em

colaboraccedilatildeo brevemente discutido adiante

62 Inumaccedilotildees primaacuterias eou secundaacuterias

A verificaccedilatildeo de deposiccedilotildees primaacuterias eou secundaacuterias nos sepulcros

colectivos eacute importante para a compreensatildeo das praacuteticas funeraacuterias das sociedades

antigas nomeadamente para aquelas relacionadas com o Megalitismo dadas as

implicaccedilotildees soacutecio-culturais mas tambeacutem econoacutemicas que a soluccedilatildeo adoptada

acarretaria (Binford 1981 Carr 1995 Parker-Pearson 2002)

Primeiramente conviraacute definir o que entendo por deposiccedilatildeo funeraacuteria primaacuteria

e secundaacuteria seguindo para tal C Duarte (2003)

ldquoDefine-se como deposiccedilatildeo primaacuteria a que se refere ao local em que os restos

humanos foram depositados logo apoacutes a morte do indiviacuteduo (quer seja inumaccedilatildeo

cremaccedilatildeo deposiccedilatildeo de superfiacutecie ou outra) Assim as transformaccedilotildees sofridas

pelos restos humanos sob anaacutelise seratildeo necessariamente resultantes das

transformaccedilotildees poacutes-deposicionais e natildeo de uma acccedilatildeo do proacuteprio ritual funeraacuteriordquo

(Duarte 2003)

ldquoDefine-se como deposiccedilatildeo secundaacuteria aquela em que os restos humanos satildeo

colocados em locais distintos daqueles onde foram depositados apoacutes a morte Isto eacute

a deposiccedilatildeo secundaacuteria resulta de um tratamento mais complexo do cadaacutever em

fases distintas e sucessivas Essas fases podem ser muacuteltiplasrdquo (Duarte 2003)

Portanto estas definiccedilotildees estritas correspondem agravequilo que a escavaccedilatildeo

arqueoloacutegica permitiu verificar ldquodeacuteconnexion plus ou moins complegravete

deacutesorganisation du squelette absence des os des articulations labiles repreacutesentation

des os proportionnelle agrave leur taille etcrdquo (Chambon 2003) Contudo para a

avaliaccedilatildeo do tipo de deposiccedilotildees realizadas nos sepulcros em estudo julgo que

aquelas definiccedilotildees necessitam de ser encaradas de forma relativa e complementar

(Masset 1987 Roksandic 2002)

Os sepulcros teriam espaccedilo para mais de uma deposiccedilatildeo primaacuteria admitindo-se

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 285 de 415

como provaacutevel que estes receberiam mais de um indiviacuteduo Se apoacutes uma primeira

fase em que possivelmente estes sepulcros colectivos foram utilizados por um

nuacutemero limitado de indiviacuteduos preenchendo-os a sucessiva utilizaccedilatildeo implicaria

entatildeo a reduccedilatildeo e o rearranjo das ossadas ali depositadas anteriormente ou

inclusivamente o seu despejo total ou parcial tal como foi proposto por P Chambon

(2003) para necroacutepoles francesas mas ateacute agora sem nenhum caso verificado

arqueoloacutegica e antropologicamente no territoacuterio portuguecircs ndash seraacute uma questatildeo para

anaacutelise detalhada de sepulcros escavados mais recentemente com metodologias mais

rigorosas Provavelmente aqueles rearranjos foram ocorrendo desde o iniacutecio agrave

medida que a decomposiccedilatildeo dos cadaacuteveres o permitia inadvertidamente ou

intencionalmente empurrando os corpos para os recantos do espaccedilo sepulcral para

dar lugar a outros Outras vezes o gesto intencional eacute evidente quando se detectam

conjuntos de ossos de alguma forma ldquoembaladosrdquo em conjunto normalmente ossos

longos e cracircnios designados por ossaacuterios (Duarte 2003) e colocados nos cantos ou

em nichos do jazigo Portanto muitos dos contextos que foram entretanto escavados

e classificados como deposiccedilotildees secundaacuterias sofreram alguns daqueles

manuseamentos de restos mortais primeiramente depositados para aleacutem das vaacuterias

circunstacircncias tafonoacutemicas que tambeacutem os afectaram E no entanto inicialmente

teriam sido com grande probabilidade deposiccedilotildees primaacuterias ndash as grutas artificiais de

Monte Canelas (Silva 1996a e 1999b) e Sobreira de Cima (Valera Soares e Coelho

2008) satildeo recentes e excelentes exemplos deste devir de praacuteticas mortuaacuterias que soacute o

seu estudo completo e aprofundado permitiraacute entender com melhor e maior detalhe

Outro tipo de deposiccedilatildeo secundaacuteria implica ainda uma maior complexificaccedilatildeo

de praacuteticas funeraacuterias pois os ossos seriam descarnados natural ou propositadamente

em locais externos ao sepulcro servindo este como um verdadeiro receptaacuteculo de

pacotes de ossos ndash um ossaacuterio colectivo tal como parece ser proposto para o sepulcro

1 de Perdigotildees (Duarte 1998a Valera et al 2000 Valera 2007) ainda que natildeo

totalmente demonstrado ndash ateacute o momento natildeo se conhece informaccedilatildeo acerca das

condiccedilotildees dos ossos nem eventuais marcas de desmembramentos e descarnaccedilotildees

causadas por instrumentos humanos ou pela acccedilatildeo de animais necroacutefagos que seriam

de alguma forma expectaacuteveis Contudo a detecccedilatildeo na aacuterea do povoado de algumas

deposiccedilotildees primaacuterias com partes dos esqueletos desaparecidas (Valera 2008

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 286 de 415

Godinho 2008) levou um dos seus investigadores a colocar a hipoacutetese ser um dos

possiacuteveis locais de decomposiccedilatildeo e descarnaccedilatildeo para posterior trasladaccedilatildeo para o

sepulcro 1 (Valera 2008) Resta contudo a demonstraccedilatildeo da sua

contemporaneidade

O caso de Perdigotildees natildeo eacute inusitado pois parece tambeacutem repetir-se noutros

povoados delimitados por fossos do Alentejo como Horta do Albardatildeo 3 (Santos

2006) e da regiatildeo extrementildea espanhola nomeadamente em La Pijotilla (Hurtado

1986 e 1991 Hurtado Mondejar e Pecero 2000) e na Torre de San Francisco Zafra

(Murillo 2007) onde fossas com inumaccedilotildees foram detectadas Infelizmente em

alguns casos a ausecircncia de espoacutelio directamente associado e a inexistecircncia por ora

de dataccedilotildees absolutas suscita um manto de interrogaccedilotildees e duacutevidas crono-culturais

para estas praacuteticas funeraacuterias A existecircncia de outros casos em contextos similares na

Meseta (Bellido 1996 Garrido 1999 e 2006) e Andaluzia (Hurtado 1991 Hurtado

Mondejar e Pecero 2000 Marquez 2004 Vargas 2004a e 2004b) com alguns dos

andaluzes datados nomeadamente em Amarguillo II com um indiviacuteduo feminino

numa fossa aberta em povoado anterior apontando uma cronologia da primeira

metade do 3ordm mileacutenio ane (Quadro 27 Cabrero Garciacutea et al 1997) ou de Los

Villares del Alganes fossa 2 onde ossos de fauna junto do enterramento indicaram o

uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane (Quadro 28 Marquez e Fernandez 2002

Marquez 2004) poderatildeo contribuir para o esclarecimento da cronologia deste tipo

de fenoacutemeno mortuaacuterio No entanto para o Alentejo e Extremadura natildeo deveraacute ser

descartada a hipoacutetese de estes contextos corresponderem a momentos mais recentes

como os casos de Guadajira (Hurtado e Garcia Sanjuan 1994) e de Valencia del

Ventoso (Prada e Cerrillo 2004) parecem sugerir

Ateacute o momento natildeo foram verificadas na Estremadura portuguesa fossas com

utilizaccedilatildeo mortuaacuteria ainda que se conheccedilam na regiatildeo casos deste tipo de estruturas

negativas do periacuteodo preacute-histoacuterico em estudo (informaccedilotildees pessoais de A C Sousa e

A C Oliveira) natildeo devendo tal verificaccedilatildeo ser sobrevalorizada quiccedilaacute devendo-se

eventualmente a lacuna da investigaccedilatildeo

Podendo associar-se ou natildeo ao precedente caso dos Perdigotildees foi tambeacutem

proposta ldquouma praacutetica sistemaacutetica de trasladaccedilatildeo de restos mortais e artefactos de

monumentos mais antigos para os novos monumentos que iam sendo construiacutedosrdquo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 287 de 415

(Rocha 2005 p 269) Isso explicaria os contextos pobres em espoacutelio osteoloacutegico e

artefactual de muitos dos sepulcros de cacircmara simples ou de menores dimensotildees

teoricamente mais antigos bem como a presenccedila de espoacutelios arcaicos em antas de

maior dimensatildeo normalmente jaacute com cacircmara e corredor (Rocha 2005) Ainda no

acircmbito desta proposta os sepulcros menores acabariam por ser reutilizados

apresentando espoacutelios aparentemente mais recentes face agrave cronologia real destes

Apesar de ser um modelo interessante e teoricamente plausiacutevel julgo que a base

arqueoloacutegica utilizada para esta proposta natildeo teraacute sido a mais adequada os sepulcros

do Alentejo sujeitos a elevado grau de acidez dos solos de origem graniacutetica e

xistosa natildeo permitiram a preservaccedilatildeo da maioria do material oacutesseo o que impede de

imediato a verificaccedilatildeo documental do modelo inclusive obviando a realizaccedilatildeo de

dataccedilotildees pelo radiocarbono sobre ossos humanos o que permitiria constatar de uma

forma mais sistemaacutetica o grau de antiguidade das ossadas face aos espoacutelios presentes

por sepulcro

A regiatildeo de Lisboa onde o grau de preservaccedilatildeo dos ossos humanos eacute bastante

razoaacutevel parece contradizer a referida trasladaccedilatildeo sistemaacutetica Ainda que

condicionadas pelas questotildees tafonoacutemicas e outras referidas no capiacutetulo anterior a

maioria das antas mas tambeacutem outros tipos de sepulcros apresentaram

frequentemente um conjunto de espoacutelio osteoloacutegico e artefactual relativamente

proporcionado Aliaacutes nos casos de espoacutelios mais reduzidos isso parece relacionar-se

com a sua cronologia antiga como parece ser o caso das antas do Carrascal e Pedras

Grandes (Quadro 22 e capiacutetulo 8) Contudo o modelo de trasladaccedilatildeo manteacutem a sua

plausibilidade e interesse teoacuterico podendo ajudar no esclarecimento de casos

pontuais como por exemplo de Satildeo Pedro do Estoril 2 onde as recentes dataccedilotildees

(Gonccedilalves 2005b) parecem indiciar a presenccedila de algumas ossadas humanas bem

mais antigas do que o espoacutelio artefactual ali recolhido ndash apesar de outras questotildees se

colocarem o despejo ou a trasladaccedilatildeo poderiam ser uma explicaccedilatildeo (Capiacutetulo 82)

A presenccedila de ossos humanos em contexto de povoados dos 4ordm e 3ordm mileacutenios

ane nomeadamente Leceia Penedo do Lexim e Zambujal (Cardoso Cunha e

Aguiar 1991 Miranda 2006 informaccedilatildeo pessoal de M Kunst) poderia tambeacutem ser

utilizada como argumento acerca do manuseamento de deposiccedilotildees funeraacuterias em que

determinados elementos seriam extraiacutedos dos sepulcros ou para eles levados

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 288 de 415

Contudo julgo que esta questatildeo mereceraacute muita atenccedilatildeo e cautela

Em Leceia os restos humanos avulsos (osteoloacutegicos e dentaacuterios) foram

recolhidos na Estrutura II num contexto de ldquolixeira estruturadardquo correspondendo a

cerca de 3-4 indiviacuteduos adultos encontrando-se no mesmo preenchimento ceracircmicas

decoradas ldquoem folha de acaacuteciardquo (Cardoso Cunha e Aguiar 1991) portanto situando-

se provavelmente entre o segundo e terceiro quartel do 3ordm mileacutenio ane ainda que

fosse importante a sua dataccedilatildeo absoluta pois aquele depoacutesito poderaacute ter sido criado

jaacute numa fase de decadecircncia do amuralhado Sob o povoado de Leceia numa

cavidade designada por Locus 2 (ou Moinho da Moura) tambeacutem se recolheram

restos humanos (ossos e dentes) junto com alguns artefactos de osso e pedra polida e

algumas faunas (Ribeiro 1878 Cardoso Cunha e Aguiar 1991) com uma a dataccedilatildeo

pelo radiocarbono de 2580-2150 cal BCE (ICEN-737) que situa o depoacutesito entre os

meados e a segunda metade do 3ordm mileacutenio ane

No povoado do Penedo do Lexim os restos humanos (sobretudo dentes e

alguns ossos) surgiram nos pontos designados Locus 3 e 3b e Locus 6 associados a

abrigos sob rocha dentro da aacuterea intra-amuralhado correspondendo a indiviacuteduos

natildeo-adultos e adulto (Miranda 2006 informaccedilatildeo pessoal de A C Sousa)

Assumindo que a dataccedilatildeo Beta-186855 obtida pelo radiocarbono (Miranda 2006

Gonccedilalves e Sousa 2006 informaccedilatildeo pessoal de A C Sousa) com o intervalo 2470-

2200 cal BCE situa aquele conjunto de restos humanos referidos entatildeo eacute provaacutevel

que estes tivessem sido ali depositados num momento de abandono ou pelo menos

de decadecircncia do povoado amuralhado

Por fim o exemplo registado no povoado amuralhado do Zambujal ainda natildeo

totalmente estudado parece tambeacutem surgir num momento de desactivaccedilatildeo pelo

menos de uma das portas do bastiatildeo L onde cerca de 83 fragmentos de ossos

humanos se encontravam associados a cacos campaniformes (Sangmeister e

Schubart 1981 p 116 e informaccedilatildeo pessoal de M Kunst)

Assim a presenccedila de restos humanos em contexto habitacional apesar de

necessitar de estudo mais aprofundado poderia relacionar-se com momentos em que

as praacuteticas do Megalitismo jaacute se encontravam em decliacutenio Aquelas situaccedilotildees

parecem entatildeo o resultado de deposiccedilotildees oportunistas em aacutereas desafectadas do

espaccedilo habitacional ainda que relevando uma eventual importacircncia atribuiacuteda agravequelas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 289 de 415

ruiacutenas eventualmente dos seus antepassados Esta possibilidade tambeacutem foi proposta

para deposiccedilotildees funeraacuterias de transiccedilatildeo do 3ordm para o 2ordm mileacutenios ane encontradas

na aacuterea alentejana do Guadiana nomeadamente em contextos habitacionais

entretanto abandonados de Moinho de Valadares e Mercador (Valera 2000a 2000b

2001 e 2006) ou Monte Novo dos Albardeiros (Gonccedilalves 1988-89 e 2005d) Outro

caso conhecido mais setentrional eacute a utilizaccedilatildeo de uma estrutura ovalada (Jorge et

al 1998-99 Jorge 2003) provavelmente um torreatildeo da segunda linha amuralhada

do povoado de Castelo Velho de Freixo de Numatildeo onde foram depositados os restos

de vaacuterios indiviacuteduos entre os quais foi possiacutevel verificar uma provaacutevel deposiccedilatildeo

primaacuteria do sexo feminino associados a elementos de tear fragmentos ceracircmicos e

faunas (Antunes e Cunha 1998 Jorge et al 1998-99) A dataccedilatildeo pelo radiocarbono

GrN-23512 infelizmente sobre carvotildees recolhidos na aacuterea sul daquela estrutura e

natildeo sobre os ossos humanos aponta o intervalo bastante amplo de 2880-2200 cal

BCE (Jorge et al 1998-99) desconhecendo-se o motivo da natildeo mediccedilatildeo dos ossos

humanos Contudo noutro trabalho sem que se compreenda o criteacuterio S Jorge

(2003) colocou aquela realidade na segunda metade do 3ordm mileacutenio ane portanto

encurtando o intervalo da dataccedilatildeo obtida Independentemente das duacutevidas levantadas

julgo que de facto o depoacutesito funeraacuterio corresponderia agrave semelhanccedila dos outros

casos supra a um momento de decliacutenio deste povoado amuralhado na segunda

metade do 3ordm mileacutenio ane

A precocidade temporal e a forma como a maioria das colecccedilotildees osteoloacutegicas

humanas foram recolhidas e registadas bem como os vaacuterios processos tafonoacutemicos

associados tornaram muito difiacutecil de facto verificar a presenccedila de conexotildees

anatoacutemicas totais ou parciais ainda que em alguns casos apontadas como existentes

pelos seus escavadores Eacute portanto um acto de crenccedila nos relatos e capacidades

teacutecnicas destes escavadores a existecircncia de possiacuteveis restos completos ou parciais de

esqueletos humanos ainda que admissiacuteveis Mas alguns casos excepcionais satildeo ainda

hoje possiacuteveis de aceitar pacificamente nomeadamente nas grutas do Escoural

(Arauacutejo Santos e Cawe 1993 Arauacutejo e Lejeune 1996) e do Lugar do Canto (Leitatildeo

et al 1987) ou na gruta artificial de Satildeo Pedro do Estoril 1 (Leisner Paccedilo e Ribeiro

1964 Gonccedilalves 2008a p 168-171)

Tambeacutem os recentes trabalhos de escavaccedilatildeo de sepulcros colectivos do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 290 de 415

Centro-Sul de Portugal alguns deles fora da Estremadura permitiram contudo a

verificaccedilatildeo de deposiccedilotildees esqueleacuteticas mais ou menos completas algumas jaacute

indicadas acima Estas registaram-se em diferentes tipos de sepulcros

nomeadamente no Algar do Bom Santo (Duarte 1998) na anta de Santa Margarida

3 (Gonccedilalves 2003) nas grutas artificiais de Monte Canelas (Silva 1996a e 1996b) e

Sobreira de Cima (Valera Soares e Coelho 2008) ou jaacute na Extremadura espanhola

no tholos de La Pijotilla 3 (Hurtado Mondejar e Pecero 2000)

Perante o conjunto de evidecircncias directas que frequentemente natildeo eacute possiacutevel

reconhecer durante a escavaccedilatildeo das deposiccedilotildees colectivas tecircm sido avanccediladas

metodologias que com base na representatividade por categorias dos elementos

oacutesseos recolhidos permitem inferir sobre o tipo de inumaccedilatildeo (Ubelaker 1974 Silva

2002) Dessa forma tambeacutem se tem procedido agrave avaliaccedilatildeo de quais os tipos de peccedilas

oacutesseas que melhor se preservaram registando-se uma maior resistecircncia dos ossos

densos e pesados (Waldron 1987 cit in Silva 2002) Contudo por vezes esses ossos

estatildeo de tal forma fragmentados que impossibilitam sequer a sua identificaccedilatildeo

conveniente o que resulta na sua subrepresentaccedilatildeo e indefiniccedilatildeo da interpretaccedilatildeo do

tipo de depoacutesito funeraacuterio (Silva 2002) Assim para obviar a esse constrangimento

alguns autores propuseram utilizar o peso dos ossos uma vez que nesta metodologia

natildeo eacute necessaacuterio a identificaccedilatildeo completa dos restos oacutesseos humanos (Crubeacutezy et al

1998 Crubeacutezy 2007 Silva Crubeacutezy e Cunha 2008)

O estudo efectuado por A M Silva (2002 e 2003b) aplicou as duas

metodologias referidas em algumas colecccedilotildees osteoloacutegicas provenientes de diversos

tipos de sepulcros nomeadamente as cavidades naturais de Serra da Roupa e Cova

da Moura os tholoi de Paimogo 1 e Cabeccedila da Arruda 2 as grutas artificiais de Satildeo

Paulo 2 e Cabeccedilo da Arruda 1 (esta apenas para o peso) e o doacutelmen de Ansiatildeo

O padratildeo de representatividade das diferentes peccedilas oacutesseas compatiacuteveis com

deposiccedilotildees primaacuterias apenas se verificou nos sepulcros de Satildeo Paulo 2 e Paimogo 1

apresentando as restantes colecccedilotildees fracas presenccedilas de determinadas elementos o

que poderaacute explicar-se pelos historiais respectivos das suas intervenccedilotildees e

armazenamento (Silva 2002)

A anaacutelise do peso proporcional por categoria de osso das colecccedilotildees permitiu

aferir com maior rigor a sua representatividade Os ossos do toacuterax continuaram a ser

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 291 de 415

em todas as seacuteries osteoloacutegicas aqueles pior representados o que segundo A M

Silva (2002) seria expectaacutevel dada a maior percentagem de osso trabecular Entre as

diversas seacuteries aquelas de Satildeo Paulo 2 e Paimogo 1 continuaram a apresentar os

melhores resultados ainda que tenha sido possiacutevel tambeacutem perceber melhor as

deposiccedilotildees de Ansiatildeo e da Serra da Roupa As colecccedilotildees de Cabeccedilo da Arruda 1 e 2

e de Cova da Moura foram aquelas que mantiveram as duacutevidas da sua caracterizaccedilatildeo

dados os valores discrepantes face aqueles esperados (Silva 2002)

Assim de forma sucinta o tipo de anaacutelise produzido permitiu demonstrar que

pelo menos nas seacuteries melhor recuperadas as deposiccedilotildees funeraacuterias teriam um

caraacutecter primaacuterio posteriormente sujeitas a todos um conjunto de processos poacutes-

deposicionais (Silva 2002 e 2003b)

O estudo preliminar das colecccedilotildees das antas de Lisboa natildeo incluiu o tipo de

anaacutelise aprofundada referida atraacutes (Duarte 2004 Hillier 2008a 2008b 2008c

2008d 2008e 2008f 2008g 2008h Cunha e Silva 2000) Contudo dados os

constrangimentos jaacute mencionados para o tipo de recolhas e posterior tratamento

museoloacutegico das ossadas destes sepulcros eacute provaacutevel que alguns deles tambeacutem natildeo

permitissem afericcedilotildees tatildeo conclusivas casos das antas de Trigache 2 (Hillier 2008h)

e Trigache 4 (Informaccedilatildeo pessoal de M T Ferreira) Pedras Grandes (Hillier 2008f)

Arruda (Duarte 2004) Pedras da Granja (Cunha e Silva 2000) e Pedra dos Mouros

(Hillier 2008g) e talvez com um relativo sucesso em Carrascal (Hillier 2008b)

correspondendo agravequeles que apesar de tudo apresentavam peccedilas oacutesseas nas suas

colecccedilotildees museoloacutegicas Por outro lado entre aquelas antas com perfis osteoloacutegicos

mais completos ndash Carcavelos (Hillier 2008a) Casal do Penedo (Hillier 2008a)

Monte Abraatildeo (Hillier 2008a) e Estria (Hillier 2008a) ndash a primeira e a maior de

todas natildeo tem ainda o estudo de todas as peccedilas osteoloacutegicas concluiacutedo Eacute portanto

com algumas reservas que admito a possibilidade das deposiccedilotildees funeraacuterias das

antas de Lisboa terem sido tambeacutem primaacuterias aparentemente indiciada pela presenccedila

de alguns elementos oacutesseos nomeadamente do toacuterax e das extremidades laacutebeis

O que transparece dos sepulcros mais recentemente escavados eacute de importacircncia

capital para a afericcedilatildeo das praacuteticas funeraacuterias a recolha mais rigorosa seguida do

trabalho laboratorial sistemaacutetico dos restos humanos no contexto de sepulcros

colectivos tem vindo a reforccedilar o argumento para uma praacutetica maioritaacuteria de

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 292 de 415

deposiccedilotildees funeraacuterias primaacuterias mesmo que posteriormente transformadas em

deposiccedilotildees secundaacuterias por reduccedilatildeo ou rearranjo do esqueleto para dar espaccedilo a

novas deposiccedilotildees primaacuterias Todavia esta praacutetica mortuaacuteria que seria a regra natildeo

descarta a possibilidade de pontualmente outras situaccedilotildees tivessem ocorrido de

facto os depoacutesitos secundaacuterios resultantes da trasladaccedilatildeo do espoacutelio de sepulcros

mais antigos do processo de descarnaccedilatildeo ou do falecimento de indiviacuteduos em aacutereas

geograficamente distantes posteriormente trazidos em partes significantes para o seu

local de origem Comprovaacute-lo eacute no entanto tarefa difiacutecil

63 Os efectivos inumados

A anaacutelise dos efectivos inumados por anta ou por outro tipo de sepulcro ficou

sujeita agraves limitaccedilotildees das colecccedilotildees respectivas resultantes de factores como aqueles

referidos supra mas tambeacutem porque em alguns casos se apresentam os valores

indicados pelos estudos antigos desenvolvidos por metodologias hoje

desactualizadas nomeadamente para as grutas das Salamandras (Harpsoumle e Ramos

1987) Lapa do Bugio (Isidoro 1964) Lapa do Fumo (Serratildeo e Marques 1971) e do

Escoural (Isidoro 1981) e gruta artificial de Casal do Pardo 3 (Bubner 1979) Aleacutem

dessas assimetrias entre sepulcros tambeacutem se verificaram diferenccedilas nos cocircmputos

obtidos dentro de cada um deles consoante os elementos utilizados para as

estimativas dos nuacutemeros miacutenimos de indiviacuteduos ndash NMI (Quadro 46) Uma vez mais

o grau diferenciado de preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo neste caso dos elementos dentaacuterios

e oacutesseos poderaacute indicar-se como condicionante importante Natildeo obstante se em

alguns casos os nuacutemeros de deposiccedilotildees propostas natildeo estaratildeo longe duma possiacutevel

realidade outros valores parecem ficar aqueacutem do que se presumiria Avaliando

sumariamente o nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos de todos os sepulcros considerados

neste capiacutetulo contabilizaram-se 3277 efectivos que foram depositados durante pelo

menos cerca de 1500 anos ndash em alguns casos como a gruta de Casa da Moura as

dataccedilotildees absolutas recuam o espectro temporal para outras realidades culturais

tornando mais complexa a sua destrinccedila (Quadro 22 e 46) Por outro lado o total de

deposiccedilotildees funeraacuterias de indiviacuteduos aumentaria se fossem estipuladas meacutedias pelos

sepulcros onde infelizmente natildeo se preservaram os restos mortais como ocorre entre

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 293 de 415

os milhares de jazigos registados do Alentejo De qualquer forma como se discutiraacute

noutro capiacutetulo eacute possiacutevel admitir uma concentraccedilatildeo de deposiccedilotildees entre os meados

do 4ordm e os do 3ordm mileacutenios ane

A tomada de consciecircncia da relatividade do cocircmputo obtido por sepulcro deve

considerar ainda que aquele resultado eacute entatildeo uma estimativa plasmada da

realidade isto eacute a acumulaccedilatildeo de deposiccedilotildees durante um tempo mais ou menos

longo (Masset 1997) Uma forma de contornar este obstaacuteculo para aleacutem de ter isso

presente seria avaliar estratigraacutefica e cronologicamente as evidecircncias arqueoloacutegicas

identificadas e complementarmente ou na falta delas realizando seacuteries de dataccedilotildees

absolutas em indiviacuteduos potencialmente natildeo repetidos Claro estaacute para conjuntos de

largas dezenas de indiviacuteduos esse desiderato torna-se utoacutepico ou extremamente

oneroso financeiramente Por outro lado o intervalo de tempo obtido por cada

dataccedilatildeo ronda usualmente os seacuteculos pelo que uma leitura estratigraacutefica

pormenorizada dos depoacutesitos onde possiacutevel poderia contribuir para o seu

estreitamento estatiacutestico

Entre as antas de Lisboa a de Carcavelos apresentou o nuacutemero miacutenimo de

indiviacuteduos mais elevado (NMI-81 baseado na peccedila oacutessea da piracircmide petrosial

direita) No entanto devo recordar que neste cocircmputo geral ainda natildeo foram

incluiacutedos os restos oacutesseos dos natildeo-adultos (Hillier 2008a) que totalizaratildeo

provavelmente mais algumas dezenas de pessoas A avaliaccedilatildeo separada dos dentes

desta colecccedilatildeo indicou um NMI-74 com 36 adultos e 40 natildeo-adultos (Boutilier

2007a) um valor aqueacutem daquele obtido pelas peccedilas oacutesseas pelo que importaraacute

aprofundar esta questatildeo no futuro

Aleacutem de Carcavelos apenas Monte Abraatildeo com um NMI-65 (baseado em

dentes) parece aproximar-se daqueles valores (Hillier 2008a Boutilier 2007a) ndash por

curiosidade recorde-se a proposta de C Ribeiro (1880) para um nuacutemero natildeo inferior

a cerca de 80 indiviacuteduos neste sepulcro

Entre os efectivos mais reduzidos das antas Estria (NMI-43 baseado em

dentes) surge com menos de metade do total de Carcavelos mas com um valor

superior agraves restantes Essencialmente estas apresentaram nuacutemeros miacutenimos de

indiviacuteduos entre uma e as duas dezenas Mas recordo que em alguns casos estes

totais poderatildeo basear-se em colecccedilotildees truncadas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 294 de 415

Quatro casos exteriores agrave regiatildeo de Lisboa as antas de Ansiatildeo Rego da Murta

1 e 2 (Alta Estremadura) e Santa Margarida 3 (Alentejo Meacutedio) apresentam efectivos

aproximados agrave anta da Estria

Fig 11 NMI por anta (Centro-Sul de Portugal)

6

81

10

14

23

43

65

3

16

7

22

8

37

50

47

37

29

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Arruda

Carcavelos

Carrascal

Casaiacutenhos

Casal do Penedo

Estria

Monte Abraatildeo

Pedra dos Mouros

Pedras da Granja

Pedras Grandes

Trigache 2

Trigache 4

Ansiatildeo

Rego da Murta 1

Rego da Murta 2

Santa Margarida 3

meacutedia

Quando se compara a informaccedilatildeo das antas com aquela disponiacutevel para os

outros tipos de sepulcros (Quadro 46) registam-se algumas diferenccedilas numeacutericas

As grutas naturais apresentam maioritariamente NMI mais elevados que as

antas Por sua vez aqueles valores satildeo ultrapassados pelos registos das grutas

artificiais e estas pelos efectivos dos tholoi Ressalve-se que no do Casal do Tojal

de Vila Chatilde o NMI baseado em dentes refere-se ao conjunto das trecircs grutas

artificiais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 295 de 415

Fig 12 NMI por gruta-necroacutepole (Centro-Sul de Portugal)

10

115

6

10

70

13

130

90

17

120

30

340

43

40

20

6

48

24

26

31

141

34

29

51

60

0 50 100 150 200 250 300 350 400

Salamandras

Poccedilo Velho

Porto Covo

V dos Ruivos

Lapa do Bugio

Lapa do Fumo

Lapa da Furada

Cova da Moura

Fontaiacutenhas

A Bom Santo

Feteira

Casa da Moura

Furninha

Serra da Roupa

Algar do Barratildeo

Covatildeo do Poccedilo

Lugar do Canto

Cadaval

Ossos

Alqueves

Covatildeo dAlmeida

G Escoural

Lagar

Cerca do Zambujal

meacutedia

Fig 13 NMI por gruta artificial (Centro-Sul de Portugal)

167

33

53

254

46

19

171

106

0 50 100 150 200 250 300

T Vila Chatilde 1 a 3

Folha dasBarradas

SPedro Estoril 2

Satildeo Paulo 2

Casal do Pardo 3

Cab da Arruda 1

Monte Canelas 1

meacutedia

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 296 de 415

Fig 14 NMI por tholos (Centro-Sul de Portugal)

11

44

413

74

79

124

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Agualva

Praia das Maccedilatildes

Paimogo 1

Cab da Arruda 2

Samarra

meacutedia

Estimando-se a meacutedia de NMI para cada tipo de sepulcro as antas surgem

como o tipo de necroacutepole com o efectivo de deposiccedilotildees mais reduzido e os tholoi

com o mais elevado ndash ainda que o tholos de Paimogo 1 contribua com dois terccedilos das

deposiccedilotildees conhecidas neste tipo de sepulcro na Estremadura De qualquer forma a

impressatildeo de os tholoi terem recebido um maior nuacutemero de deposiccedilotildees parece

tambeacutem verificar-se na regiatildeo vizinha alentejana ainda que natildeo existam dados

definitivos acerca destes a abundacircncia de restos osteoloacutegicos recolhidos indicia-o

no tholos de Olival da Pega 2b do qual o estudo de uma pequena parcela da colecccedilatildeo

apontou um total provisoacuterio de 16 indiviacuteduos (Silva F 2005) ou no sepulcro 1 de

Perdigotildees com um NMI provisoacuterio 101 indiviacuteduos com base no molar inferior

esquerdo (Valera 2007 Lago et al 1998a e 1998b Valera et al 2000) Os tholoi da

Extremadura espanhola nomeadamente de La Pijotilla 3 com cerca de 300

indiviacuteduos com base no registo de cracircnios durante a sua exumaccedilatildeo (Hurtado

Mondejar e Pecero 2002) e Huerta Montero com dezenas de indiviacuteduos (Blasco e

Ortiz 1991) satildeo tambeacutem exemplos destes nuacutemeros elevados de deposiccedilotildees

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 297 de 415

Fig 15 Meacutedia do NMI por tipo de sepulcro (Centro-Sul de Portugal)

29

63

106

124

0 20 40 60 80 100 120 140

Antas

Grutas

G artificiais

Tholoi

Vaacuterias explicaccedilotildees poderatildeo ser apontadas para estas diferenccedilas de efectivos

entre tipos de sepulcros

1 Deve-se simplesmente ao erro estatiacutestico e fraca representatividade dos

dados podendo as meacutedias obtidas mascarar assimetrias regionais correspondendo a

comunidades de dimensotildees variadas

2 Relaciona-se com os espaccedilos exiacuteguos das antas face aos outros sepulcros

ainda que isso deva ser relativizado ndash algumas grutas naturais e artificiais apresentam

espaccedilos e acessibilidades bastante semelhantes agraves antas ou ateacute por vezes mais

limitadas

3 A cronologia de utilizaccedilatildeo dos sepulcros corresponde a momentos de

praacuteticas funeraacuterias com regras comunitaacuterias distintas Assim as antas enquanto o

tipo de sepulcro artificial provavelmente mais antigo (ver capiacutetulo 8) juntamente

com as grutas naturais seguidas pelas grutas artificiais teriam recebido apenas um

parte dos membros desses grupos No entanto tais preceitos alteraram-se e seacuteculos

mais tarde o nuacutemero de indiviacuteduos com direito de deposiccedilatildeo naqueles espaccedilos

sepulcrais aumentou Simultaneamente algumas das antas e das grutas naturais e

artificiais ainda se utilizavam agrave data dessa ldquodemocratizaccedilatildeordquo do acesso aos espaccedilos

funeraacuterios construiacutedos

4 O nuacutemero conhecido de grutas artificiais e tholoi eacute bem mais reduzido que

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 298 de 415

os outros tipos de sepulcros ainda que essa impressatildeo se possa dever ao caraacutecter

subterracircneo ou semi-subterracircneo das estruturas tornando-os de difiacutecil detecccedilatildeo Mas

a aceitar-se essa baixa representaccedilatildeo como uma realidade de facto isso poderia ter

contribuiacutedo para a acumulaccedilatildeo em maior nuacutemero de indiviacuteduos depositados

provocando uma distorccedilatildeo estatiacutestica da leitura

5 Tambeacutem de um ponto de vista geograacutefico notam-se discrepacircncias na

Estremadura - com maior incidecircncia na sua aacuterea setentrional as grutas eram jaacute

utilizadas antes do 4ordm mileacutenio ane e mantiveram-se em muitos casos em uso

durante todo o fenoacutemeno do Megalitismo inclusive durante todo o mileacutenio seguinte

O mesmo se poderaacute admitir para a peniacutensula de Setuacutebal onde ateacute hoje ainda natildeo foi

possiacutevel localizar antas e tholoi

Ao cruzar os valores referidos dos efectivos inumados com as presenccedilas de

objectos e artefactos recolhidos nos sepulcros parece registar-se alguma

coincidecircncia indiciando o processo cumulativo a que os sepulcros estiveram mais ou

menos sujeitos De um momento em que apenas alguns indiviacuteduos foram tumulados

as suas sequentes utilizaccedilatildeootildees aumentariam o nuacutemero de deposiccedilotildees De certa

forma esse processo tambeacutem se verifica de um ponto de visto cronoloacutegico quando se

cruzam as dataccedilotildees absolutas com os restantes dados (capiacutetulo 8)

De um ponto de vista social poderia presumir-se que inicialmente apenas

alguns indiviacuteduos poucos teriam direito ao uso destes sepulcros mas que por

direitos familiares ou de clatilde aqueles espaccedilos passaram a ser utilizados por um maior

leque de membros das comunidades Mas quem teriam sido estes primeiros

indiviacuteduos Adultos Natildeo-adultos Homens Mulheres Categorias sociais que nos

escapam

64 O sexo a idade e a estatura dos sepultados

O trabalho de A M Silva (2002 e 2003b) para diversos contextos sepulcrais

dos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane na regiatildeo Centro-Sul de Portugal bem como outros

trabalhos (Silva 1993 1996a 1996b 1999a e 1999b Gama 2003 Cunha e Padez

1987 Cunha e Silva 2000 Cunha Silva e Miranda 2003 Silva e Ferreira 2006 e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 299 de 415

2007 Silva Ferreira e Codinha 2006 Tomeacute 2006) demonstraram a presenccedila

recorrente de ambos os sexos e das diversas faixas etaacuterias em todos os tipos de

sepulcros Tais presenccedilas tambeacutem se verificaram nas antas de Lisboa (Quadro 14 e

46) incluindo indiviacuteduos nascituros e receacutem-nascidos como por exemplo na anta de

Casal do Penedo (Hillier 2008c) mas que usualmente satildeo raros

Algo tambeacutem realccedilado no trabalho de A M Silva (2002) foi uma aparente e

recorrente maioria de indiviacuteduos do sexo feminino em vaacuterios sepulcros deste

periacuteodo nomeadamente nas grutas artificiais de Satildeo Pedro do Estoril 2 Baixa

Estremadura (Silva 1993 e 1999b) e Monte Canelas 1 Algarve (Silva 1996a e

1996b) ou no tholos de Paimogo 1 Alta Estremadura (Silva 2002) Aliaacutes ainda que

relativa a um caso especiacutefico esta situaccedilatildeo tambeacutem foi apontada na anaacutelise dos

restos humanos da gruta do Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987)

Apesar de ser possiacutevel registar ambos os sexos nas antas de Lisboa a sua

avaliaccedilatildeo quantitativa foi dificultada pelo grau de fragmentaccedilatildeo das colecccedilotildees

osteoloacutegicas limitando-se a maioria das classificaccedilotildees ao grau de possibilidade bem

como a percentagens muito reduzidas quando comparadas com os respectivos NMI

obtidos somente sobre elementos oacutesseos (Quadro 14) Inclusive naquela mais

completa da anta de Carcavelos (com um NMI-81) apenas foi possiacutevel estimar a

presenccedila miacutenima de 9 indiviacuteduos do sexo feminino contra 8 do masculino (um

nuacutemero maacuteximo de elementos diagnosticaacuteveis sobe os valores para 40 contra 29

nomeadamente) Na anta de Casal do Penedo (NMI-23) registou-se uma presenccedila de

3 elementos femininos contra 2 masculinos (avaliando os nuacutemeros maacuteximos estes

sobem para 19 contra 12 respectivamente) Perante os dados destas e das restantes

antas a leitura queda-se por esclarecer cabalmente De facto em algumas antas o

sexo masculino surge identificado solitariamente com diversos elementos adultos de

sexo indeterminado Aleacutem desta dificuldade entre indiviacuteduos adultos conviraacute

recordar que a diagnose sexual de peccedilas osteoloacutegicas de natildeo-adultos natildeo foi

realizada Isto porque os meacutetodos hoje disponiacuteveis para tal tecircm revelado pouca

fiabilidade sobretudo devido ao dimorfismo sexual dos ossos que ainda natildeo

atingiram a sua maturidade (Silva 2002 White e Folkens 2005)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 300 de 415

Quadro 14 Diagnose sexual dos indiviacuteduos das antas da regiatildeo de Lisboa

Anta NMI Feminino Masculino Observaccedilotildees

Arruda 6 1 1 Duarte 2004

Carcavelos 81 9 8 Hillier 2008a

Carrascal 6 1 1 Hillier 2008b

Casal do Penedo 23 3 2 Hillier 2008c

Estria 19 3 3 Hillier 2008d

Monte Abraatildeo 21 2 Hillier 2008e

Pedra dos Mouros 3 Hillier 2008g

Pedras Grandes 7 1 Hillier 2008f

Pedras da Granja (16) Cunha Silva e Ferreira 2000

Trigache 2 6 2 Hillier 2008h

Trigache 4 8 2 3 Inf pessoal de M T Ferreira

A presenccedila maioritaacuteria do sexo feminino em sepulcros colectivos deste periacuteodo

(4ordm-3ordm mileacutenios ane) parece tambeacutem registar-se nos conjuntos franceses

Chasseacutennes (Bresson e Crubeacutezy 1994 cit in Silva 2002) Uma primeira explicaccedilatildeo

para esses resultados poderia relacionar-se basicamente com a metodologia e os

paracircmetros utilizados tal como A M Silva (2002) pondera Contudo assumindo-se

por ora que a parte analiacutetica estaraacute correcta satildeo enumeradas algumas hipoacuteteses

demograacuteficas e soacutecio-culturais para explicar os resultados (Silva 2002)

nomeadamente

1 De facto haveria mais mulheres que homens nestas comunidades

2 Poderiam ocorrer praacuteticas funeraacuterias distintas para os indiviacuteduos do sexo

masculino sendo estes depositados em locais especiacuteficos de acordo com determinado

status por exemplo

Recentemente propus como temaacutetica de reflexatildeo a questatildeo do sexogeacutenero e a

sua mobilidade (Boaventura no prelo b) Argumentei entatildeo com base na dispersatildeo

regional e inter-regional de determinados artefactos tradicional e putativamente

associaacuteveis ao geacutenero mulher ou homem conforme as actividades desempenhadas

quem realizaria com maior frequecircncia as viagens de meacutediolongo curso Pela

dispersatildeo regional da tipologia de artefactos associados agraves tarefas domeacutesticas

(produccedilatildeo ceracircmica tecelagem tratamento de peles horticultura etc) bem como

dos cuidados com crianccedilas de tenra idade considerei que as mulheres raramente se

deslocariam por grandes distacircncias excepto em ocasiotildees nupciais dentro da sua

regiatildeo ou pontualmente acompanhando expediccedilotildees Pelo contraacuterio a dispersatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 301 de 415

inter-regional de certas tipologias associadas a actividades de caccedila pastoreio

intercacircmbio de produtos e eventualmente de raids e conflitos beacutelicos parecem

encontrar-se associadas a homens

Assim partindo dos pressupostos enunciados julgo que a ausecircncia nos

povoados de grupos de homens dedicados a estas expediccedilotildees poderia explicar de

alguma forma um desequiliacutebrio nos efectivos inumados pois alguns destes

padeceriam nessas missotildees podendo acabar por ser depositados noutros locais Ao

contraacuterio como natildeo se deslocavam para muito longe dos seus locais de habitaccedilatildeo as

mulheres falecidas facilmente seriam depositadas nos sepulcros colectivos das suas

comunidades Outro aspecto importante eacute a funccedilatildeo reprodutiva do sexo feminino

pois poderia obstar a deslocaccedilotildees fisicamente longas e dilatadas no tempo Aliaacutes a

gravidez o parto e a convalescenccedila poacutes-parto poderiam tambeacutem ser responsaacuteveis por

taxas elevadas de oacutebitos o que explicaria parcialmente as deposiccedilotildees femininas

maioritaacuterias ndash essa situaccedilatildeo parece verificar-se em sociedades preacute-industriais (Penn e

Smith 2007)

A hipoacutetese referida acima para espaccedilos funeraacuterios preferencialmente

masculinos parece necessitar de comprovaccedilatildeo pois ateacute hoje ainda natildeo se encontrou

um depoacutesito claramente maioritaacuterio com homens quer junto dos outros sepulcros ou

no caso de morte durante expediccedilotildees em aacutereas aparentemente distantes das suas

afinidades culturais identificadas por elementos materiais estranhos agrave regiatildeo Caso

existissem suspeitas dessa situaccedilatildeo a anaacutelise isotoacutepica tambeacutem poderia

eventualmente contribuir para o seu esclarecimento

Apesar de ser possiacutevel admitir a presenccedila de todas as faixas etaacuterias para os

inumados das antas de Lisboa a condiccedilatildeo fragmentada e por vezes provavelmente

truncada das colecccedilotildees osteoloacutegicas condicionou todavia a estimativa especiacutefica das

idades dos indiviacuteduos identificados sobretudo para os adultos normalmente

adscritos somente a essa classificaccedilatildeo geneacuterica

Entre os indiviacuteduos natildeo-adultos graccedilas aos diversos estaacutedios de

desenvolvimento dos restos oacutesseos e dentaacuterios foi possiacutevel registar identificar todas

as faixas etaacuterias Os indiviacuteduos nasciturosreceacutem-nascidos no Casal do Penedo bem

como crianccedilas de vaacuterias idades e adolescentes presentes em todas as antas (que

forneceram informaccedilatildeo para esta anaacutelise) permitiram confirmar as leituras obtidas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 302 de 415

noutros sepulcros (Silva 2002 e 2003b) Inclusive tambeacutem nestas antas os receacutem-

nascidos surgiram subrepresentados face aos valores esperados pelos modelos

demograacuteficos existentes (Silva 2002)

Portanto face aos dados expostos e constantes nos estudos especializados

julgo que eacute possiacutevel verificar que durante o fenoacutemeno do Megalitismo se registaram

deposiccedilotildees representativas de todos os elementos de uma comunidade humana isto

eacute de ambos os sexos e de vaacuterias idades Mas confirmar se corresponderiam agrave

totalidade dos membros destes grupos eacute uma questatildeo difiacutecil de responder por ora

com um grau de certeza elevado

Como se referiu no iniacutecio deste capiacutetulo os resultados apresentados satildeo

essencialmente preliminares passiacuteveis de um maior aprofundamento Onde tais

estudos jaacute avanccedilaram para a anaacutelise natildeo meacutetrica de caracteres discretos e de

patologias congeacutenitas (Silva 2002) parece possiacutevel verificar indiacutecios de

caracteriacutesticas fiacutesicas transmitidas entre os indiviacuteduos depositados em sepulcros

especiacuteficos indiciando relaccedilotildees de parentesco ou mesmo casos de endogamia como

em Paimogo 1 onde a morfologia atiacutepica da regiatildeo proximal de vaacuterios feacutemures

permitiu avanccedilar com esta possibilidade (Silva 2002) No caso das antas de Lisboa

tais indiacutecios foram assinalados nas antas de Carcavelos Casal do Penedo Monte

Abraatildeo e Estria (Hillier 2008a 2008c 2008d e 2008e) mas sem uma contabilidade

e verificaccedilatildeo face a outras seacuteries da regiatildeo

Finalmente a avaliaccedilatildeo da estatura dos indiviacuteduos adultos devido ao estado

fragmentaacuterio das colecccedilotildees apenas foi possiacutevel de aferir para Monte Abraatildeo

Carcavelos Casal do Penedo e Estria (Hillier 2008a 2008c 2008d e 2008e) Entre

os valores obtidos parece possiacutevel situar a estatura entre o 150m e 170m sem

valores claros que separem o sexo feminino e masculino talvez em parte devido agrave

fraca representatividade da diagnose sexual Quando confrontadas com as dimensotildees

dos sepulcros ortostaacuteticos as estaturas verificadas relevam a escala sobre-humana

destes edifiacutecios bem como o esforccedilo fiacutesico pessoal e soacutecio-econoacutemico da

comunidade necessaacuterio para os criar

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 303 de 415

65 Patologias e lesotildees traumaacuteticas

A presenccedila de patologias nos indiviacuteduos depositados nas antas de Lisboa

aparenta similitudes com o padratildeo registado noutros tipos de sepulcros (Silva 2002)

ainda que natildeo tenha sido possiacutevel aprofundar tanto este aspecto sobretudo para as

peccedilas dentaacuterias Portanto a caraacutecter preliminar da maioria destes estudos apenas

autoriza ilaccedilotildees geneacutericas inclusive incompletas para alguns aspectos

Tambeacutem importa realccedilar o paradoxo osteoloacutegico (Wood et al 1992 Jackes

1993) subjacente agraves ilaccedilotildees retiradas das colecccedilotildees abordadas os indiviacuteduos que

apresentavam lesotildees e patologias infecciosas graves bem como sinais de stress

poderatildeo ter sido de facto aqueles com os melhores sistemas imunitaacuterios capazes de

fazerem frente a episoacutedios mais ou menos extensos de crises nutricionais e infecccedilotildees

morrendo posteriormente por outras causas visiacuteveis ou natildeo nos ossos Pelo contraacuterio

aqueles indiviacuteduos sem evidecircncias de lesotildees ou patologias nos seus elementos

esqueleacuteticos teriam tido uma maior susceptibilidade ao stress tornando-os demasiado

fracos para as combater o que conduziria a uma morte relativamente raacutepida sem

tempo para impactos visiacuteveis nos seus ossos

O potencial de informaccedilatildeo das peccedilas odontoloacutegicas natildeo foi explorado na sua

totalidade por motivos de disponibilidade temporal e financeira encontrando-se

planeada para o futuro a continuaccedilatildeo desses estudos na perspectiva da sauacutede dentaacuteria

e higiene oral Para aleacutem dos cocircmputos de NMI e idades das colecccedilotildees dentaacuterias

apenas foram anotadas pontualmente outras caracteriacutesticas a presenccedila de hipoplasias

do esmalte dentaacuterio taacutertaro caacuteries e lesotildees periapicais (abcessos) ocorre em quase

todas as colecccedilotildees com variadas incidecircncias (inf pessoal de D Boutilier) tambeacutem

foram detectados dentes com alteraccedilotildees intencionais ou resultantes de tarefas

repetidas nomeadamente na anta de Casaiacutenhos (inf pessoal de D Boutilier)

As hipoplasias do esmalte dentaacuterio que permitem obter indiacutecios acerca do

stress nutricional eou infeccioso durante a infacircncia ateacute os doze anos (Silva 2002)

natildeo foram ainda avaliadas sistematicamente para a maioria das antas de Lisboa

Apesar disso anotaram-se algumas situaccedilotildees interessantes a precisar de maior

atenccedilatildeo por exemplo os indiviacuteduos jovens da anta de Monte Abraatildeo apresentavam

um nuacutemero de ocorrecircncias de hipoplasias mais elevado do que aqueles depositados

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 304 de 415

em Carcavelos e nas outras antas (inf pessoal de D Boutilier) ndash para tal alguns

motivos poderiam ser adiantados nomeadamente o periacuteodo de desmame (entre os 2 e

os 5 anos) ou isso dever-se a condiccedilotildees soacutecio-econoacutemicas e de subsistecircncia mais

severas no primeiro grupo As leituras obtidas para outras colecccedilotildees odontoloacutegicas

(Silva 2002) parecem tambeacutem ter verificado percentagens baixas de hipoplasias nos

dentes tanto para deciduais como definitivos ou seja que durante a gravidez

(periacuteodo de formaccedilatildeo dos dentes deciduais) e na primeira deacutecada de vida as

afectaccedilotildees nutricionais e infecciosas natildeo teriam um impacto significativo no

crescimento destas comunidades (Silva 2002 e 2003b)

Entre as patologias mais recorrentemente verificadas nos ossos dos indiviacuteduos

sepultados nas antas surge a hiperostose poroacutetica (onde se inclui a Cribra Orbitalia

como uma destas afecccedilotildees) indiciando possiacuteveis crises de anemia nos indiviacuteduos

normalmente proacuteximas do momento da morte pois natildeo tiveram tempo de sanar

Aliaacutes os estudos acerca desta afectaccedilatildeo parecem vecirc-la mais como um ldquoindicador de

esgotamento fisioloacutegico e de carecircncia metaboacutelica do que uma resposta adaptativa

com o fim de prevenir ou diminuir a actividade infecciosardquo (Hill 2001 cit in Silva

2002) Por outro lado nomeadamente para os casos de Carcavelos Casal do Penedo

e Monte Abraatildeo M Hillier para aleacutem de outras possiacuteveis origens realccedila esta

afecccedilatildeo como frequente em comunidades com uma economia agriacutecola (Larsen 1995

e Stuart-Macadam 1992 cit in Hillier 2008a 2008c 2008e)

A periostite e outras doenccedilas infecciosas oacutesseas normalmente associadas as

ossos dos membros inferiores (ex tiacutebia e peroacutenio) encontram-se registadas nas

colecccedilotildees de Carcavelos Casal do Penedo e Monte Abraatildeo Apesar do

enquadramento geograacutefico e climaacutetico poder influir nestas afectaccedilotildees tem sido

proposto que estas resultariam de periacuteodos de adaptaccedilatildeo neste caso a uma

subsistecircncia baseada parcialmente ou totalmente na agricultura (Silva 2002)

Todavia o facto de este tipo de infecccedilatildeo se tornar croacutenica parece evidenciar que o

indiviacuteduo que a suportava era suficientemente saudaacutevel para lhe resistir e natildeo

padecer desta (Silva 2002)

As artroses e maleitas degenerativas afins presentes ainda que em

percentagens baixas satildeo passiacuteveis de associaccedilatildeo a stress mecacircnico a actividade

fiacutesica intensa e agrave idade relativamente avanccedilada As aacutereas articulares onde estas se

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 305 de 415

registam com maior frequecircncia satildeo nomeadamente nos ombros coluna vertebral

matildeos anca joelhos e peacutes Todas essas situaccedilotildees foram assinaladas para indiviacuteduos

depositados nas antas sem que por si soacute seja possiacutevel valorizar se relacionadas com

actividades laborais que requeressem grande esforccedilo fiacutesico e repeticcedilatildeo mecacircnica ou

simplesmente devido agrave idade do indiviacuteduo ndash mas poderatildeo ser apenas um resultado

cumulativo

A entesopatia eacute outro tipo de patologia degenerativa associada a actividade

fiacutesica repetitiva eou excessiva mas em aacutereas natildeo articulares normalmente em zonas

de inserccedilatildeo muscular sujeitas a esforccedilo causando micro-rupturas de fibras

tendinosas seguido de um processo de reparaccedilatildeo (Silva 2002) De alguma forma a

associaccedilatildeo de artroses e entesopatias num mesmo indiviacuteduo poderaacute indicar o tipo de

ocupaccedilatildeo a que este se dedicaria com maior intensidade

Entre as colecccedilotildees analisadas a presenccedila de casos de artroses entesopatias e

periostites em indiviacuteduos de Monte Abraatildeo associada a uma visiacutevel robustez geral

dos ossos longos (dos braccedilos e pernas) permitem avanccedilar com a possibilidade de uma

comunidade relativamente activa e robusta ocupada em tarefas fisicamente exigentes

Nos restantes conjuntos das antas tambeacutem se registam evidecircncias destas marcas

ocupacionais mas em menor grau ainda que em algumas delas talvez devido agrave fraca

representatividade das suas colecccedilotildees

Julgo que tambeacutem seraacute pertinente para o referido no paraacutegrafo anterior realccedilar

os dados obtidos para os iacutendices de achatamento do feacutemur e da tiacutebia (nas antas de

Monte Abraatildeo Carcavelos Casal do Penedo e Estria) em consonacircncia com aqueles

obtidos para outros sepulcros (Jackes Lubell e Meiklejohn 1997 Silva 2002 e

2003b) Apesar do presumido sedentarismo das comunidades dos finais do 4ordm e 3ordm

mileacutenios ane os valores medidos para os feacutemures e tiacutebias ainda apresentam

indiviacuteduos com um achatamento significativo desses ossos levando a crer que estas

comunidades mantinham todavia um grau de mobilidade consideraacutevel podendo

eventualmente relacionar-se com actividades de pastoriacutecia (Silva 2003b) Outra

possibilidade poderia dever-se a longas distacircncias percorridas no acircmbito de

intercacircmbios e outras actividades supra-regionais Contudo se nem todos os

indiviacuteduos se deslocariam isso implicaria diferenccedilas nos iacutendices registados o que

necessita de ser melhor aferido O mesmo se poderaacute dizer tambeacutem infelizmente para

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 306 de 415

eventuais diferenccedilas entre os sexos o que a ser possiacutevel permitiria um vislumbre

sobre as actividades preferenciais desempenhadas por ambos

Actividades fisicamente exigentes intensas e por vezes obrigando a grandes ou

consecutivas deslocaccedilotildees dariam azo a acidentes e possiacuteveis traumas visiacuteveis nos

ossos dos indiviacuteduos sepultados Contudo essas evidecircncias foram raramente

registadas nas colecccedilotildees das antas de Lisboa Assim apenas se registou uma

depressatildeo em processo de remodelaccedilatildeo no cracircnio de um indiviacuteduo de Monte Abraatildeo

resultado de lesatildeo traumaacutetica ou de infecccedilatildeo (Hillier 2008e) e uma fractura ante

mortem remodelada num peroacutenio de Carcavelos (Hillier 2008a) Aleacutem destes

poderiam integrar-se os casos de marcas de corte que seratildeo discutidos adiante No

entanto algumas das patologias descritas anteriormente para indiviacuteduos depositados

nas antas poderiam resultar de reacccedilotildees a episoacutedios traumaacuteticos entretanto

remodelados Esta quase ausecircncia de evidecircncias de trauma parece coincidir com as

baixas frequecircncias de casos conhecidos noutros sepulcros da Baixa Estremadura

(Silva 2002 Antunes-Ferreira 2005)

Em contraste algumas das colecccedilotildees de sepulcros localizados no Maciccedilo

Calcaacuterio Estremenho nomeadamente da cavidade de Serra da Roupa e da anta de

Ansiatildeo registaram vaacuterias lesotildees cranianas sem que tivesse sido possiacutevel estabelecer

se por causas de violecircncia interpessoal ou acidentais sobretudo porque se encontram

numa regiatildeo montanhosa (Silva 2002) Natildeo obstante na anta de Ansiatildeo existe ainda

uma calote craniana com uma eventual perfuraccedilatildeo causada por um projeacutectil (Silva

2002 e 2003a)

Natildeo longe do Maciccedilo tambeacutem se registaram em Paimogo 1 vaacuterios casos de

trauma ainda que no esqueleto poacutes-craniano (Silva 2002)

Aleacutem dos casos listados (Silva 2002) conhecem-se ainda outros similares na

mesma regiatildeo nomeadamente da gruta dos Ossos com vaacuterios traumas cranianos

alguns remodelados (Tomeacute 2006) e outros do Lugar do Canto (Leitatildeo et al 1987)

A M Silva listou ainda os casos de trepanaccedilotildees cranianas conhecidas (Silva

2002 e 2003c) Apesar de se registarem dois casos na regiatildeo de Lisboa ambos em

grutas artificiais a maioria destes concentra-se na mesma regiatildeo montanhosa do

Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho (Alta Estremadura)

Os motivos para a realizaccedilatildeo das trepanaccedilotildees satildeo alvo de discussatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 307 de 415

propondo-se que este procedimento ciruacutergico estaria relacionado com praacuteticas

maacutegico-religiosas com um eventual aliacutevio da pressatildeo craniana devido a pancadas

traumaacuteticas ou para a remoccedilatildeo de lascamentos cranianos (Christensen 2004) Outros

dados interessantes entre os indiviacuteduos com trepanaccedilotildees satildeo a frequecircncia muito

elevada de homens sujeitos a esta intervenccedilatildeo tanto na regiatildeo portuguesa como

noutras europeias mas tambeacutem que a maioria destas cirurgias seria realizada

maioritariamente nos parietais cranianos sobretudo no lado direito (Silva 2002 e

2003c Christensen 2004) Pelo menos nos casos portugueses a taxa de

sobrevivecircncia era elevada (Silva 2003c)

Quando se avalia a questatildeo de evidecircncias traumaacuteticas face a possiacuteveis surtos ou

periacuteodos de violecircncia interpessoal na Estremadura portuguesa durante os 4ordm e 3ordm

mileacutenios ane os dados directos inequiacutevocos de casos verificados em ossos

humanos satildeo escassos Contudo os povoados amuralhados erigidos na primeira

metade do 3ordm mileacutenio ane parecem indiciar algum tipo de necessidade premente

que delimitasse e protegesse aqueles grupos e os seus bens travando eventuais raids

ou pelo menos dificultando e dissuadindo esses assaltos (Kunst 2000) Talvez essa

dissuasatildeo praacutetica aparentemente recorrente em vaacuterias sociedades histoacuterica e

geograficamente (Cioffi-Revilla 1999) fosse factor suficiente para evitar o

confronto fiacutesico limitando o nuacutemero de baixas humanas Por outro lado a anaacutelise e

avaliaccedilatildeo da evidecircncia disponiacutevel deve ter em conta que nem sempre as agressotildees

fiacutesicas entre indiviacuteduos mesmo quando causaram a morte deixaram marcas distintas

nos ossos (Milner 1999 Walker 2001 Christensen 2004 Jackes 2004 Knuumlsel

2006 Parker Pearson 2005)

Um uacuteltimo caso detectado na anta de Carcavelos merece ser aqui abordado

sobretudo porque a sua leitura permite vaacuterias interpretaccedilotildees

Entre o espoacutelio recolhido durante os trabalhos de G Marques verificou-se a

existecircncia de uma calote craniana e um possivelmente dois uacutemeros com marcas de

corte sujeitos a estudo detalhado (Hillier 2008a Hillier Boaventura Antunes-

Ferreira e Estecircvatildeo no prelo)

As marcas de corte em ossos humanos satildeo uma questatildeo bastante estudada tanto

entre investigadores da Europa como da Ameacuterica do Norte encontrando-se

relativamente estabelecidos os criteacuterios para a sua identificaccedilatildeo bem como as suas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 308 de 415

causas (Binford 1981 Villa et al 1986 Villa 1992 White 1992 Olsen e Shipman

1994 Haverkort e Lubell 1999 Etxeberria 2000 Botella et al 2000 Botella

Aleman e Jimenez 2000)

Alguns casos de marcas de corte encontradas em necroacutepoles do periacuteodo

Neoliacutetico de Franccedila e Espanha grosso modo foram interpretados como evidecircncias

de canibalismo (Villa et al 1986 Villa 1992 Botella e Aleman 1998 Botella et al

2000 Botella Aleman e Jimenez 2000) ou de descarnaccedilatildeo e desarticulaccedilatildeo para

posterior deposiccedilatildeo (Jimenez Ortega e Garcia 1986 Botella Aleman e Jimenez

2000) Em Portugal a maioria das marcas de corte em elementos osteoloacutegicos

recolhidos nos sepulcros dos 4ordm e 3ordm mileacutenios ane surge associada agrave realizaccedilatildeo de

trepanaccedilotildees (Silva 2003c) Outros casos menos frequentes foram identificados em

grutas-necroacutepole nomeadamente em vaacuterios ossos da gruta do Lugar do Canto com

uma possiacutevel trepanaccedilatildeo entre eles (Leitatildeo et al 1987) numa tiacutebia de Correio-Moacuter

(Antunes e Cunha 2007) e pelo menos num cracircnio do Algar de Bom Santo

(McGarvey 2002) Tambeacutem se verificaram cortes em fragmentos cranianos e outros

ossos da gruta de Salemas (estudo em colaboraccedilatildeo com M T Ferreira e A M

Silva) Aleacutem de Carcavelos apenas se indicaram possiacuteveis marcas de corte na anta

de Rego da Murta 1 (Silva e Ferreira 2006)

Diversas categorias de actividades humanas foram atribuiacutedas para explicar o

aparecimento de marcas de corte nos restos osteoloacutegicos (Haverkort e Lubell 1999)

Apesar de outras serem possiacuteveis estas categorias incluem acccedilotildees de violecircncia

obtenccedilatildeo de trofeacuteus trepanaccedilotildees canibalismo e a praacutetica de deposiccedilotildees secundaacuterias

podendo as incisotildees ser atribuiacutedas a um comportamento melhor definido quando

avaliadas em contextos com outras evidecircncias arqueoloacutegicas e osteoloacutegicas

1 Violecircncia ndash evidecircncia de um padratildeo de traumas no esqueleto e uma

cultura material associada a actividade beacutelica (Larsen 1997

Walker 2001) A escalpelizaccedilatildeo e o esfolamento podem associar-

se a esta categoria (Milner Anderson e Smith 1991 Milner 1999

e 2004 Botella Aleman e Jimenez 2000)

2 Obtenccedilatildeo de trofeacuteus ndash Um padratildeo de ossos ausentes em diversas

colecccedilotildees ou em subgrupos dessas colecccedilotildees (Smith 1997

Andrushko et al 2005) Desarticulaccedilatildeo inclusive

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 309 de 415

desmembramento e decapitaccedilatildeo bem como escalpelizaccedilatildeo e

esfolamento podem incluir-se nesta categoria (Milner Anderson e

Smith 1991 Olsen e Shipman 1994 Milner 1999 e 2004 Botella

Aleman e Jimenez 2000)

3 Trepanaccedilatildeo ndash Jaacute mencionada acima apresenta por vezes incisotildees

realizadas para raspagem ou extracccedilatildeo de segmento de osso

craniano (Ortner 2003 Silva 2003c Roberts e Manchester 2005)

4 Canibalismo ndash Os ossos humanos e de faunas surgem dispostos

num padratildeo similar e em conjunto Os ossos apresentam sinais de

cozedura fracturas especiacuteficas e por vezes esmagados (Turner

1983 Villa et al 1986 Turner e Turner 1992 Villa 1992 White

1992 Botella et al 2000 Botella Aleman e Jimenez 2000)

5 Deposiccedilotildees secundaacuterias ndash As incisotildees resultam do processo de

desarticulaccedilatildeo descarnaccedilatildeo e raspagemlimpeza dos ossos (Russell

1987 Olsen e Shipman 1994) para posterior gestatildeo dos ossos

soltos (Villa 1992) visando a reduccedilatildeorearranjo dentro do mesmo

espaccedilo sepulcral para adicionar novas deposiccedilotildees primaacuterias ou

secundaacuterias a separaccedilatildeo espacial ou temporal de ossos e esqueletos

dentro do mesmo espaccedilo funeraacuterio ou entre siacutetios distintos com a

presenccedila de ldquopacotesrdquo de ossos de um soacute ou diversos indiviacuteduos

Os espeacutecimes osteoloacutegicos de Carcavelos encontravam-se na mescla de ossos

humanos ali depositados sem nenhuma localizaccedilatildeo aparentemente especiacutefica Como

referido noutro local a cronologia absoluta conhecida para este sepulcro aponta a

primeira metade do 3ordm mileacutenio ane mas as peccedilas agora em discussatildeo natildeo possuem

dataccedilatildeo directa ateacute o momento Isto eacute importante referir pois a presenccedila de alguns

tipos de artefactos permite admitir um uso da anta ainda no 4ordm mileacutenio ane bem

como na segunda metade do 3ordm mileacutenio ane

As imagens para anaacutelise macro e microscoacutepica foram obtidas respectivamente

por uma Nikon D2X com uma lente MicroNikkor 60mm (com a colaboraccedilatildeo de Joseacute

P Ruas do IGESPAR) e um microscoacutepio Leica DM1000 Light Microscope

A calote craniana (HC49A001) natildeo estava completa conhecendo-se hoje parte

dos parietais direito e esquerdo e parte do occipital As 27 marcas de corte

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 310 de 415

detectadas concentram-se em dois grupos um primeiro grupo fica junto da sutura

sagital no obelion e o segundo situa-se na parte posterior da linha do temporal no

parietal direito Em ambos os grupos de linhas de cortes estas surgem mais ou

menos paralelas

O fragmento distal de uacutemero esquerdo (HC37A014) com idade e sexo natildeo

identificadas apresenta as marcas de corte na crista supracondilar e no rebordo

interno Estas surgem em pequenos grupos paralelos devendo ter sido efectuadas de

baixo para cima notam-se ainda pequenos cortes na aacuterea mesial da fossa

oleocraneana

Finalmente o segundo fragmento distal de uacutemero direito (HCD685A001) de

adulto com um grau de preservaccedilatildeo menor parece apresentar o mesmo tipo de

padratildeo de marcas de corte do outro uacutemero Contudo perante a condiccedilatildeo da peccedila por

efeitos tafonoacutemicos a interpretaccedilatildeo destas marcas limita-se agrave sua possibilidade

Em ambas as peccedilas melhor preservadas os cortes apresentavam uma secccedilatildeo

em V sem distinccedilatildeo de cor entre a aacuterea cortada e a inalterada correspondendo agraves

caracteriacutesticas descritivas propostas por P Shipman e J Rose (1983) Surgindo num

padratildeo regular e intencional as incisotildees ocorrem em aacutereas de inserccedilatildeo muscular e no

caso do cracircnio satildeo contiacutenuas mesmo entre fracturas post mortem e descontiacutenuas

onde ondulaccedilotildees naturais do osso ocorrem ndash portanto provavelmente realizadas num

momento perimortem As marcas aqui descritas assemelham-se a outras identificadas

em restos arqueoloacutegicos humanos e de faunas associadas a actividades de remoccedilatildeo

de tecidos moles e desarticulaccedilatildeo do corpo nomeadamente para deposiccedilatildeo funeraacuteria

ou alimentaccedilatildeo no caso das faunas (Villa et al 1986 Villa 1992 Olsen e Shipman

1994 Botella Aleman e Jimenez 2000 Andrushko et al 2005)

No Sul da Peniacutensula Ibeacuterica conhecem-se alguns casos muito semelhantes aos

uacutemeros aqui apresentados nomeadamente em Las Majoacutelicas e Cueva de

Malalmuerzo atribuiacutedas ao Neoliacutetico final mas sem que se conheccedilam dataccedilotildees pelo

radiocarbono (Jimenez Ortega e Garcia 1986 Botella et al 2000 Botella Aleman

e Jimenez 2000) Contudo estas peccedilas apontadas como exemplos de desarticulaccedilatildeo

surgem associadas a outras interpretadas como acccedilotildees de esfolamento e canibalismo

Aliaacutes num conjunto de 14 grutas com vestiacutegios osteoloacutegicos atribuiacutedos ao Neoliacutetico

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 311 de 415

ldquoavanzadordquo e talvez ao Calcoliacutetico os autores consideram-nos em geral associados a

praacuteticas de canibalismo (Botella et al 2000)

Os casos da anta de Carcavelos descritos poderiam enquadrar-se na praacutetica

funeraacuteria de deposiccedilatildeo secundaacuteria ainda que com possiacuteveis variantes

1 Na anta de Carcavelos efectuavam-se deposiccedilotildees primaacuterias

posteriormente reduzidas e reorganizadas em ldquopacotesrdquo de ossos

quando novos cadaacuteveres eram introduzidos As marcas de cortes

corresponderiam a um momento preacutevio de reorganizaccedilatildeo surgindo

a necessidade de desarticular e descarnar partes de alguns dos

indiviacuteduos anteriormente depositados e ainda natildeo completamente

decompostas Esta praacutetica parece reforccedilada pelas concentraccedilotildees de

ossos junto aos esteios da anta de alguma forma empurrados do

centro da cacircmara para a sua periferia A aparente maioria de

sepulcros com deposiccedilotildees primaacuterias jaacute discutida atraacutes (capiacutetulo

72) parece coadunar-se com esta hipoacutetese

2 Todas as deposiccedilotildees eram secundaacuterias tendo os cadaacuteveres sido

decompostos em local proacuteximo do sepulcro ou a maior distacircncia

As marcas de corte resultariam do processo de preparaccedilatildeo dos

indiviacuteduos para a realizaccedilatildeo da deposiccedilatildeo secundaacuteria A anta de

Carcavelos serviria assim como um ossaacuterio colectivo Esta

hipoacutetese pelos motivos referidos atraacutes (capiacutetulo 72) natildeo parece

concordar com os dados disponiacuteveis Inclusive a existir seria

expectaacutevel uma percentagem mais elevada de peccedilas oacutesseas com

marcas de corte natildeo soacute como as referidas mas tambeacutem noutras

superfiacutecies dos ossos (Olsen e Shipman 1994)

3 A descarnaccedilatildeo e a desarticulaccedilatildeo foram necessaacuterias para facilitar o

transporte dos indiviacuteduos do seu local de falecimento para o local

de deposiccedilatildeo funeraacuteria Isto demonstraria a importacircncia da anta de

Carcavelos para aqueles indiviacuteduos que morreram bem como dos

vivos que os transportaram talvez por representar o local de

repouso de determinado clatilde Apesar de admissiacutevel o reduzido

nuacutemero de peccedilas oacutesseas (duas talvez trecircs) limita esta possibilidade

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 312 de 415

pois pelo que tambeacutem eacute apontado no ponto anterior deveriam

registar-se mais elementos desses indiviacuteduos com incisotildees (veja-se

o exemplo apresentado por S Olsen e P Shipman 1994)

As incisotildees do cracircnio poderiam resultar de uma tentativa de trepanaccedilatildeo ainda

que esta natildeo seja detectaacutevel nas partes recuperadas nem fosse frequente a sua

realizaccedilatildeo na aacuterea sagital (Silva 2003c)

A praacutetica do canibalismo atribuiacutevel a estas incisotildees natildeo foi considerada pois

natildeo se verificavam as caracteriacutesticas contextuais designadas para tal

A hipoacutetese de obtenccedilatildeo de trofeacuteus poderia coadunar-se com a remoccedilatildeo de

partes corporais (Andrushko et al 2005 Milner Anderson e Smith 1991) num

caso do antebraccedilo o que implicaria o corte de tendotildees e muacutesculos no local onde se

detectam as incisotildees dos uacutemeros e noutro caso do escalpe Estas remoccedilotildees poderiam

tambeacutem relacionar-se com crenccedilas rituais ou propoacutesitos maacutegico-religiosos hoje

difiacuteceis de perceber

Face ao exposto a preparaccedilatildeo dos restos mortais na sequecircncia de

manuseamento todavia pouco frequente parece a causa mais plausiacutevel para as peccedilas

oacutesseas discutidas tendo em conta que natildeo foram identificadas ateacute o momento outras

evidecircncias de violecircncia tais como sinais de lesotildees traumaacuteticas e projeacutecteis cravados

No entanto a obtenccedilatildeo de trofeacuteus indiciadora de surtos de violecircncia interpessoal

natildeo deveraacute ser totalmente descartada

Ainda que de uma regiatildeo e periacuteodos distintos o exemplo das Northern Great

Plains da Ameacuterica do Norte (Olsen e Shipman 1994) realccedila existecircncia de dois

padrotildees de marcas de corte para as colecccedilotildees estudadas relacionados com momentos

crono-culturais sequentes no periacuteodo designado Middle Woodland-Extended

Coalescent registam-se sobretudo evidecircncias de marcas de corte associadas agrave praacutetica

de deposiccedilotildees secundaacuterias na fase seguinte Postcontact e Disorganized Coalescent

quando se regista o movimento de populaccedilotildees para aacutereas ocupadas por outros grupos

o que teraacute provocado situaccedilotildees de conflito originando as marcas de corte

relacionadas sobretudo com agressotildees interpessoais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 313 de 415

Quadro 15 Caracteriacutesticas das ossadas humanas das Nothern Great Plains da Ameacuterica do

Norte Adaptado de S Olsen e P Shipman (1994) Deposiccedilotildees secundaacuterias

Conflito

Esqueletos incompletos Normalmente esqueletos completos Elevada frequecircncia de marcas de corte

Poucas marcas de corte normalmente menos de 20

Marcas de descarnaccedilatildeo do cracircnio Marcas de escalpelizaccedilatildeo Marcas nas mandiacutebulas satildeo frequentes

Marcas nas mandiacutebulas estatildeo usualmente ausentes

Marcas no esqueleto poacutes-craniano satildeo frequentes

Marcas no esqueleto poacutes-craniano satildeo pouco frequentes

Orientaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo das marcas no esqueleto poacutes-craniano apresentam um padratildeo

Orientaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de marcas no esqueleto poacutes-craniano variaacuteveis

Tipos de marcas marcas resultantes de raspagem e alargamento do foramen magnum

Tipo de marcas incisotildees marcas de corte por percussatildeo feridas de machados pancadas restos de siacutelex cravados feridas de apunhalamentos ou de projeacutecteis

Assumindo portanto que as populaccedilotildees dos 4ordm-3ordm mileacutenios ane da

Estremadura praticariam frequentemente deposiccedilotildees primaacuterias sendo o tipo

secundaacuterio raro ou um resultado da decomposiccedilatildeo e posterior gestatildeo dos espaccedilos

sepulcrais por reduccedilatildeo dos esqueletos o exemplo referido serve apenas para ilustrar a

possibilidade de casos pontuais de violecircncia interpessoal que deixariam

eventualmente apenas algumas marcas especiacuteficas nos ossos

Apesar de natildeo existir uma dataccedilatildeo para cada uma das peccedilas oacutesseas discutidas

se admitir-se que estas foram depositadas durante a primeira metade do 3ordm mileacutenio

ane entatildeo talvez possam relacionar-se com algum episoacutedio de violecircncia

interpessoal durante aquele periacuteodo onde a erecccedilatildeo de estruturas amuralhadas parece

revelar a existecircncia de tensotildees entre comunidades Mas tais agressotildees poderiam

tambeacutem ocorrer antes ou depois desta fase Contudo como jaacute foi referido acima os

dados disponiacuteveis para a existecircncia de violecircncia satildeo escassos sobretudo porque

muitas das patologias poderatildeo ser atribuiacutedas a meros acidentes quotidianos

66 Um introacuteito dieteacutetico o potencial das anaacutelises isotoacutepicas

Perante a informaccedilatildeo osteoloacutegica humana disponiacutevel considerou-se pertinente e

oportuno desenvolver um programa de anaacutelises isotoacutepicas em colaboraccedilatildeo com M

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 314 de 415

Hillier e M Richards para verificaccedilatildeo do tipo de dieta preferencial entre os

indiviacuteduos adultos sepultados em algumas das antas de Lisboa bem como eventuais

diferenccedilas dieteacuteticas entre os sexos (Hillier Boaventura Richards 2008) Para tal

foram identificadas seacuteries oacutesseas natildeo repetidas de indiviacuteduos adultos com a provaacutevel

diagnose sexual proposta infelizmente com pouco sucesso (por exemplo feacutemures ou

uacutemeros com lateralidade estabelecida) de vaacuterias antas (Carcavelos Monte Abraatildeo

Carrascal Casal do Penedo e Trigache 2) Desses elementos oacutesseos foi extraiacutedo o

colageacutenio a partir do qual se determinaram os raacutecios de dois dos isoacutetopos do carbono

(13C e 12C) e dos isoacutetopos do azoto (15N e 14N) obtendo-se os valores de δ13C e de

δ15N passiacuteveis de indicarem o tipo de dieta praticada pelo menos nos uacuteltimos 5 a 10

anos de vida (Richards e Hedges 1999) De uma forma bastante sumaacuteria um valor

tiacutepico de δ13C de colageacutenio de osso humano com uma dieta 100 terrestre

apresentaraacute valores proacuteximos de -20permil e para uma dieta 100 marinha rondaraacute -

12plusmn1permil (Richards e Hedges 1999) O δ15N apresentaraacute valores para uma dieta

terrestre entre 4 e 10permil e marinha entre 10 e 22permil conforme o niacutevel troacutefico

consumido (Richards e Hedges 1999)

Fig 16 Valores de δ13C e δ15N e quatro extremos (teoacutericos) possiacuteveis de uma dieta humana segundo M Richards e R Hedges (1999)

A anaacutelise de um subconjunto de mandiacutebulas humanas de adultos com o

segundo e terceiro molares presentes ndash dentes cujo esmalte se forma apoacutes o

nascimento e o desmame ateacute cerca dos 12 anos (Bentley 2006) e sempre que

possiacutevel com diagnose sexual anotada provenientes de algumas das antas

(Carcavelos Estria Carrascal Pedra dos Mouros e Monte Abraatildeo) foi tambeacutem

processada para avaliaccedilatildeo de paleodietas (Hillier Boaventura Richards 2008)

Contudo neste caso aleacutem da determinaccedilatildeo do δ13C e δ15N pretendia verificar-se a

mobilidade dos indiviacuteduos comparando o registo isotoacutepico do local de residecircncia agrave

data da sua morte (assumindo que tenha sido depositado em sepulcro proacuteximo da sua

aacuterea de residecircncia) com aquele durante a sua infacircncia Para tal fim optou-se por

proceder agrave mediccedilatildeo dos valores dos isoacutetopos do estrocircncio (87Sr86Sr) nos dentes

designados visto que a acccedilatildeo diageneacutetica eacute menor no esmalte do que nos ossos e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 315 de 415

estes formarem-se sem uma eventual influecircncia directa da alimentaccedilatildeo da matildee

(Bentley 2006) ndash a realizaccedilatildeo desta mediccedilatildeo conta para aleacutem dos intervenientes

mencionados atraacutes com a colaboraccedilatildeo de Vaughan Grimes (Max Planck Institute for

Evolutionary Anthropology Leipzig Repuacuteblica Federal da Alemanha) De forma

simplificada a eventual diferenccedila dos resultados comparados entre o registo do

esmalte no dente e aquele registado localmente atraveacutes dos dentes de faunas locais

contemporacircneas poderaacute indiciar a mobilidade do indiviacuteduo em questatildeo (Bentley

2006)

Os resultados obtidos ateacute o momento neste projecto encontram-se em fase de

avaliaccedilatildeo e validaccedilatildeo planeando-se a sua apresentaccedilatildeo exaustiva noutro local Mas eacute

possiacutevel pelo menos preliminarmente avanccedilar com os valores jaacute validados dos

isoacutetopos de δ13C e δ15N ainda que passiacuteveis de algumas correcccedilotildees posteriores ndash o

processamento das amostras realizado por M Hillier e M Richards seguiu os

paracircmetros propostos por M Richards e R Hedges (1999) com ultrafiltragem

(Brown et al 1988) sendo avaliadas pela qualidade e teor de colageacutenio e proporccedilatildeo

de CN (DeNiro 1985 Muumlldner e Richards 2007) O mesmo avanccedilo natildeo eacute ainda

possiacutevel para os resultados do 87Sr86Sr pois encontram-se em fase de processamento

estatiacutestico

Fig 17 Paleodietas de 47 indiviacuteduos sepultados em antas da regiatildeo de Lisboa

(Hillier Boaventura e Richards em estudo)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 316 de 415

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

-22 -21 -20 -19 -18 -17

δ 13C

δ15

NCarrascal (4x)Pedras Grandes (3x)Mte Abraatildeo (8x)Estria (1x)Carcavelos (31x)

Os valores obtidos de δ13C e δ15N para os indiviacuteduos sepultados nas antas de

Lisboa parecem apontar para uma dieta essencialmente terrestre Apesar destes

resultados serem expectaacuteveis para comunidades ldquoneoliacuteticasrdquo com base nos dados

conhecidos (Lubell e Jackes 1988 e 1994 Straus et al 1992 Schulting e Richards

2002 Richards Price e Koch 2003 Richards Schulting e Hedges 2003 Umbelino

2006) satildeo simultaneamente surpreendentes pois as populaccedilotildees da Baixa

Estremadura viviam proacuteximo ou a escassos quiloacutemetros do oceano do alargado mar

interior tagano ou ainda de outros estuaacuterios e lagunas de menores dimensotildees ao

longo da sua costa atlacircntica Nesses bioacutetopos importantes recursos alimentares

poderiam ser obtidos e de facto a presenccedila de elementos conquiacuteferos e osteoloacutegicos

de espeacutecies mariacutetimas eou estuarinas entre os espoacutelios funeraacuterios mas sobretudo

habitacionais parecem comprovaacute-lo Vaacuterias evidecircncias arqueoloacutegicas tornam

crediacutevel e admissiacutevel que a componente pisciacutecola eou malacoloacutegica fizesse parte da

dieta destas populaccedilotildees como parece patente pela existecircncia de ldquoconcheirosrdquo datados

deste periacuteodo como Ponta da Passadeira no estuaacuterio do Tejo (Soares 2000 e 2001) e

dos siacutetios da Comporta na margem sul do estuaacuterio do Sado (Silva et al 1986) ou no

povoado de Leceia pelos restos fauniacutesticos malacoloacutegicos ali recolhidos mas

tambeacutem por artefactos (pesos de rede e anzoacuteis) provavelmente associados a pesca

costeira (Antunes e Cardoso 1995 Cardoso 1989 1994 e 1996c Guerreiro e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 317 de 415

Cardoso 2001-02) A sul no siacutetio da Rotura a presenccedila de anzoacuteis (Gonccedilalves 1971

Cardoso 2000 Soares 2003) tambeacutem indicia essa actividade marinha Mais para

norte o povoado do Zambujal tambeacutem verifica a presenccedila de produtos marinhos

(Driesch e Boessneck 1976 e 1981) Contudo uma explicaccedilatildeo para aqueles valores

de δ13C e δ15N apontando para uma dieta essencialmente terrestre poderia centrar-se

nos tipos de espeacutecies marinhas capturadas que natildeo contribuiriam o suficiente para a

dieta dos indiviacuteduos testados deixando uma marca irrelevante no registo isotoacutepico

do colageacutenio dos ossos destes (Richards e Schulting 2006 Lee-Thorp 2008) Nesse

sentido M Richards e R Schulting (2006) no acircmbito do debate acerca desta questatildeo

no Noroeste europeu relembravam o peso relativo de moluscos citando G Bailey

(1978) ldquoThe ease with which molluscs can be over-rated as a source of food will be

swiflty appreciated from the fact that approximately 700 oysters [ostras] would be

needed to supply enough kilocalories for one person for one day if no other food

were eaten or 1400 cockles [berbigotildees] or 400 limpets [lapas] to name the species

most often found in European middens I have estimated that approximately 52267

oysters would be required to supply the calorific equivalent of a single red deer

carcase 156800 cockles or 31360 limpets figures which may help to place in

proper nutritional perspective the vast numbers of shells recorded archaeologicallyrdquo

(Bailey 1978 p 39 cit in Richards e Schulting 2006)

Por outro lado R Hedges (2004) reconhecia debatendo a mesma questatildeo para

o Noroeste da Europa que ldquothe absence of a marine signal in bone collagen carbon

isotopes may not be such incontrovertible evidence for absence of a partially marine

diet That is we cannot on current understanding rule out that the level of marine

resource consumption which is indistinguishable from terrestrial values from a bulk

collagen measurement may under some conceivable circumstance be as high as 30

per cent This possibility brings some interesting archaeological science into play

and the issue requires more research before it can be resolvedrdquo (Hedges 2004 p

37) Portanto o exposto aconselha alguma relativizaccedilatildeo do peso de recursos

marinhos nas dietas das populaccedilotildees de Lisboa estudadas mas sem que seja possiacutevel

por ora discernir quanto

No caso concreto de elementos marinhos em ambiente funeraacuterio se por

exemplo a presenccedila de conchas de Pecten maximus de origem batimeacutetrica

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 318 de 415

infralitoral poderia ser atribuiacuteda a recolhas post mortem na praia pela sua aparecircncia

outras espeacutecies resultariam de reais oferendas de alimento ou de aproveitamento dos

restos alimentares para a feitura de utensiacutelios adornos e outros objectos valorizados

funcional esteacutetica eou ritualmente tal como parece ocorrer tambeacutem com vaacuterias

faunas terrestres (Capiacutetulo 57) Essa valorizaccedilatildeo ritual eacute a explicaccedilatildeo de V S

Gonccedilalves (2005b e 2008a) para a presenccedila de conchas de espeacutecies marinhas nas

grutas de Poccedilo Velho e Porto Covo

As duacutevidas levantadas acerca do real contributo marinho na dieta das

populaccedilotildees dos 4ordm-3ordm mileacutenios ane sobretudo para o periacuteodo dos indiviacuteduos

estudados natildeo podem contudo fazer esquecer a abundacircncia de evidecircncias

arqueoloacutegicas conhecidas nomeadamente artefactuais fauniacutesticas e botacircnicas em

parte condizentes com a consolidaccedilatildeo das novas formas de produccedilatildeo neoliacuteticas

normalmente reconhecidas como a ldquorevoluccedilatildeo dos produtos secundaacuteriosrdquo Uma vez

mais o povoado de Leceia serve para comprovar essa realidade presente no elevado

nuacutemero de espeacutecies domesticadas com especial atenccedilatildeo ao gado bovino e ovino-

caprino mesmo que continuassem a ser caccediladas espeacutecies selvagens (Cardoso e

Detry 1995) mas tambeacutem pela actividade agriacutecola associada agrave produccedilatildeo de cereais e

plantas hortiacutecolas (Cardoso 1989 1994 1999-00b e 2004) Para norte outros

povoados como Vale de Lobos (Valente 2006) Olelas (Gonccedilalves J 1990-92b) e

Penedo do Lexim (Sousa 1998 2000 e 2003) tambeacutem apresentaram realidades

materiais semelhantes ainda que o seu conhecimento esteja condicionado pela

dimensatildeo das amostras Todavia em Penedo do Lexim conhece-se melhor a presenccedila

significativa de espeacutecies domeacutesticas (Davis e Moreno no prelo) e os artefactos

associados a actividades de produccedilatildeo e processamento de alimentos de origem

terrestre (Sousa 1998 e 2000)

Apesar das limitaccedilotildees da diagnose sexual dos elementos oacutesseos humanos

testados para os isoacutetopos de δ13C e δ15N a ausecircncia de diferenccedilas acentuadas nos

valores recolhidos parece realccedilar a praacutetica de dietas semelhantes entre os indiviacuteduos

de ambos os sexos No que respeita aos indiviacuteduos natildeo-adultos como este projecto

natildeo procedeu agrave sua amostragem mantecircm-se possiacuteveis interrogaccedilotildees ainda que sejam

provaacuteveis haacutebitos alimentares semelhantes aos adultos Contudo a eventual ausecircncia

de diferenciaccedilatildeo dieteacutetica entre sexos necessita de maior aprofundamento que

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 319 de 415

passaraacute pela anaacutelise de um maior nuacutemero de espeacutecimes identificados com maior

sucesso e fiabilidade

Os resultados agora apresentados para indiviacuteduos sepultados nas antas parecem

ser confirmados por outros obtidos em diferentes tipos de sepulcros da regiatildeo de

Lisboa ainda em processo de estudo no acircmbito do mesmo projecto e naquele dos

colaboradores Mas tambeacutem pelos estudos jaacute mencionados acima poreacutem com

amostragens mais reduzidas no acircmbito da comparaccedilatildeo entre as dietas de

comunidades mesoliacuteticas e neoliacuteticas (grosso modo) do Centro e Sul de Portugal

(Lubell e Jackes 1988 Lubell et al 1994 Straus et al 1992 Umbelino 2006

Roksandic 2006)

Fig 18 Paleodietas do MesoliacuteticoNeoliacutetico do Centro-Sul de Portugal

(Straus et al 1992 Lubell e Jackes 1994 Umbelino 2006 Roksandic 2006)

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

-22 -21 -20 -19 -18 -17 -16 -15 -14

δ13C

δ15N

Mesoliacutetico Muge

Mesoliacutetico Sado

Neoliacutetico antigo

Neoliacutetico meacutediotardio

De facto durante a implementaccedilatildeo das novidades neoliacuteticas a componente

terrestre da dieta aparenta verificar-se no Centro e Sul de Portugal No entanto a

excepccedilatildeo registada na gruta do Lagar (Melides costa alentejana) com uma dieta

marinha verificada num fragmento de costela humana (TO-2091 Lubell e Jackes

1988 Lubell et al 1994) a que se juntaram mais dois resultados com valores

aproximados da gruta vizinha de Cerca do Zambujal obtidos sobre uacutemeros humanos

com a mesma lateralidade e natildeo repetidos (Hillier Boaventura Jackes e Richards

2008) suscitam um breve comentaacuterio Encontrando-se as duas grutas proacuteximas entre

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 320 de 415

si com rituais funeraacuterios aparentemente similares e durante o periacuteodo neoliacutetico agrave

beira de um estuaacuterio com recursos marinhos seria importante perceber a que

cronologias corresponderatildeo os uacuteltimos indiviacuteduos testados Isto porque de acordo

com a dataccedilatildeo pelo radiocarbono aquele indiviacuteduo do Lagar morreu algures na

primeira metade do 4ordm mileacutenio ane mas a uacutenica dataccedilatildeo para a Cerca do Zambujal

situa-se no uacuteltimo quartel deste mileacutenio obtida sobre a costela de um indiviacuteduo com

uma dieta essencialmente terrestre (TO-2090 Lubell e Jackes 1988 Lubell et al

1994) Por outro lado esses indiviacuteduos peculiares visto que os restantes apresentam

essencialmente dietas terrestres (Hillier Boaventura Jackes e Richards 2008)

poderatildeo indiciar a existecircncia de membros daqueles grupos ainda adaptados e

especializados a um nicho ecoloacutegico com recursos marinhos disponiacuteveis no seu

territoacuterio ao longo de uma larga diacronia

Uma avaliaccedilatildeo diacroacutenica similar agrave referida atraacutes tambeacutem faria sentido para as

anaacutelises realizadas sobre as deposiccedilotildees em anta entre o 4ordm e o 3ordm mileacutenio ane mas

o nuacutemero de elementos oacutesseos alvo simultacircneo de dataccedilatildeo e mediccedilatildeo dos isoacutetopos

para inferecircncia de paleodietas eacute reduzido ndash aleacutem disso os valores obtidos dos

isoacutetopos satildeo relativamente proacuteximos tornando-se difiacutecil uma destrinccedila facilitada das

suas dietas Natildeo obstante os valores dos isoacutetopos de δ13C e δ15N obtidos para

recentes dataccedilotildees pelo radiocarbono sobre ossos de indiviacuteduos da gruta de Porto

Covo Baixa Estremadura (Gonccedilalves 2008) poderatildeo indiciar essa tendecircncia

terriacutecola das paleodietas entre os dois mileacutenios (Ver Quadro)

Quadro 16 Valores de δ13C e δ15N obtidos para dataccedilotildees 14C sobre ossos humanos da gruta de

Porto Covo Adaptado de V S Gonccedilalves (2008a)

Amostras testadas

Cod Lab Data BP 14C

δ13C (permil)

14C δ15N (permil)

Diaacutefise de feacutemur humano direito IGM-GPC-A3 Beta-245134 4870plusmn40 -1890 93

Diaacutefise de feacutemur humano direito feminino IGM-GPC-A5 Beta-245136 4790plusmn40 -1890 102

Diaacutefise de feacutemur humano direito IGM-GPC-A6 Beta-244819 4660plusmn40 -1800 91

Uacutemero humano esquerdo feminino IGM-GPC-A1 Beta-245133 4650plusmn40 -1880 88

Uacutemero humano esquerdo feminino IGM-GPC-A2 Beta-244818 4580plusmn40 -1950 78

Diaacutefise de tiacutebia humana de adulto IGM-GPC-A4 Beta-245135 4100plusmn40 -2000 83

Para realccedilar que nem todas as populaccedilotildees neoliacuteticas europeias estudadas

apresentavam sempre valores de dietas terrestres ressalvando as diferenccedilas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 321 de 415

geograacuteficas recordo os casos escandinavos (Lideacuten 1995 Lideacuten et al 2004

Eriksson 2004) Aqui grupos do 3ordm mileacutenio ane aproximadamente

contemporacircneos construtores de sepulcros colectivos de caraacutecter megaliacutetico como

Resmo (Oumlland) e Roumlssberga (Falbygden Vaumlstergoumltland) e outros onde se praticaram

enterramentos em fossa como em Vaumlsterbjers (Gotland) apresentaram valores de

δ13C e δ15N denunciando diferentes estrateacutegias alimentares No caso das populaccedilotildees

costeiras do sepulcro colectivo de Resmo (Lideacuten 1995 Lideacuten et al 2004 Eriksson

et al 2008) e da necroacutepole de enterramentos em fossa de Vaumlsterbjers (Eriksson

2004) estas tiravam partido de recursos marinhos Contudo no interior o grupo

depositado no sepulcro colectivo de Roumlssberga (Lideacuten 1995 Lideacuten et al 2004)

explorava essencialmente os alimentos terrestres disponiacuteveis

Os dados conhecidos para as populaccedilotildees do territoacuterio portuguecircs ainda natildeo satildeo

suficientes para delimitar situaccedilotildees em territoacuterios especiacuteficos mas a existecircncia de

grupos adaptados aos seus nichos ecoloacutegicos com registos peculiares de dietas

como parece ocorrer na Escandinaacutevia (Lideacuten et al 2004 Milner et al 2006

Eriksson et al 2008) eacute uma hipoacutetese passiacutevel de teste

Recentemente perante a falta de mais estudos acerca de paleodietas do

Mesoliacutetico e do Neoliacutetico A Carvalho (2007b) efectuou um exerciacutecio teoacuterico

listando em conjunto valores δ13C obtidos especificamente para afericcedilatildeo de

paleodietas (normalmente junto com os valores de δ15N) e outros registados para

efeito de correcccedilatildeo das dataccedilotildees pelo radiocarbono Intentava realccedilar as diferenccedilas

entre os dois periacuteodos o primeiro com uma componente alimentar marinha

importante e o segundo com uma componente alimentar terrestre denunciando o

momento de incremento agro-pastoril Contudo a comparaccedilatildeo de valores de δ13C

obtidos para distintos fins ndash δ13C para a correcccedilatildeo de dataccedilotildees 14C versus δ13C para

a verificaccedilatildeo de paleodietas ndash eacute desaconselhada (Barret e Richards 2004) inclusive

alertada por laboratoacuterio que realiza dataccedilotildees pelo radiocarbono (Rafter 2009)

mesmo que a tendecircncia geneacuterica daqueles valores pareccedila plausiacutevel sendo por vezes

trazida ao debate (Barret e Richards 2004 Eriksson et al 2008) Por exemplo essa

coincidecircncia tambeacutem parece verificar-se entre os valores obtidos para as antas de

Lisboa com δ13C medidos em diferentes laboratoacuterios para respectivamente a

correcccedilatildeo das mediccedilotildees de 14C (Beta Analytic Miami Estados Unidos da Ameacuterica)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 322 de 415

e para a avaliaccedilatildeo de paleodietas (Instituto Max Planck Leipzig Repuacuteblica Federal

da Alemanha)

Quadro 17 Valores de δ13C δ15N obtidos para datas de 14C e paleodietas de antas de Lisboa Amostras ainda em avaliaccedilatildeo por causa da qualidade do colageacutenio (M Hillier R Boaventura e M Richards em estudo)

Antas de Lisboa (Coacutedigo amostra)

14C Cod Lab

14C Data BP

14C δ13C (permil)

Dieta Cod Lab

Dieta δ13C (permil)

Dieta δ15N (permil)

Carrascal 538047-8 Beta-228577 4770plusmn40 -193 SEVA-6531 -1903 939

Pedras Grandes PG(04)H6-28 Beta-205946 4590plusmn40 -208 SEVA-6038 -1986 837

Pedras Grandes 6380502 Beta-234136 4530plusmn40 -192 SEVA-6042 -1957 858

Casal do Penedo 1776282 Beta-229585 4280plusmn40 -200 SEVA-6034 -2002 817

Casal do Penedo 1776283 Beta-234134 4280plusmn40 -199 SEVA-6030 -1989 719

Pedra dos Mouros 1724101 Beta-228582 4210plusmn50 -197 SEVA-6533 -2005 774

Carcavelos HC(06)D6-51 Beta-225170 4130plusmn40 -205 SEVA-4367 -1992 814

Estria 7194104 Beta-228578 4110plusmn40 -200 Amostra sem colageacutenio suficiente

Monte Abraatildeo 17821226 Beta-228579 4040plusmn40 -207 SEVA-6513 -1996 825

Aleacutem das anaacutelises dos isoacutetopos referidos tecircm sido desenvolvidos estudos sobre

outros elementos nomeadamente o enxofre (δ34S) e o oxigeacutenio (δ18O) podendo em

combinaccedilatildeo ajudar na resoluccedilatildeo de algumas das questotildees actualmente sem resposta

(Hedges 2004 Richards et al 2004 Lee-Thorp 2008) pelo que outros contributos

seratildeo expectaacuteveis nos proacuteximos anos

7 Os lugares dos vivos uma correlaccedilatildeo difiacutecil

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 323 de 415

O povoamento da regiatildeo de Lisboa tal como para muitos dos sepulcros foi

precocemente abordado ainda que em muitos casos apenas com pequenas

intervenccedilotildees pontuais ou de salvamento e caracterizaccedilotildees baseadas em recolhas de

superfiacutecie (Ribeiro 1878 e 1880 Franccedila e Ferreira 1951 e 1958 Serratildeo e Vicente

1958 Zbyszweski e Ferreira 1958 Andrade e Gomes 1959 Castro e Ferreira 1959

Ferreira e Castro 1967 Gonccedilalves 1971 Cardoso 1996b) Contudo soacute no uacuteltimo

terccedilo do seacuteculo XX a sua sistematizaccedilatildeo permitiu uma visatildeo mais abrangente (Roche

e Ferreira 1975 Gonccedilalves e Serratildeo 1978 Gonccedilalves J 1979c Cardoso 1989

1994 1999-00b e 2004 Santos 1989 1994 e 1995 Simotildees 1993 Sousa 1998 e

2004a) De facto poucos satildeo os povoados suficiente ou extensivamente escavados

Leceia (Cardoso 1997) Penedo do Lexim (Sousa 1998 2000 2003 e 2004b) e

Chibanes (Silva e Soares 1997 Soares 2003) seratildeo talvez os melhores exemplos em

extensatildeo e com metodologia adequada Um pouco mais para norte o povoado do

Zambujal eacute tambeacutem outro exemplo positivo (Sangmeister e Schubart 1981 Kunst

1987) inclusive pelo incentivo ao reconhecimento da regiatildeo envolvente (Spindler

1969 e 1981 Spindler e Trindade 1970 Spindler e Gallay 1973 Lucas 1994 e

2002) Noutros casos as aacutereas intervencionadas continuam a ser limitadas

(Gonccedilalves J 1990-92b Santos 1994 Estecircvatildeo 2000a) Jaacute no novo mileacutenio novos

povoados foram escavados ou encontram-se em estudo nomeadamente Moita Ladra

(Cardoso e Caninas no prelo) ou o Castro de Sesimbra (informaccedilatildeo pessoal de J L

Cardoso)

Ainda a norte da regiatildeo de Lisboa eacute intrigante como um dos primeiros

povoados escavados mais extensiva e sistematicamente em Portugal Vila Nova de

Satildeo Pedro (Paccedilo e Jalhay 1945) continua a surgir isolado sem que se saiba muito

acerca do seu territoacuterio envolvente nomeadamente eventuais aacutereas de necroacutepole

Quando se procura estabelecer uma correlaccedilatildeo sincroacutenica entre necroacutepole e

povoado uma primeira questatildeo impotildee-se Existe de facto uma separaccedilatildeo entre

espaccedilos de vivos os sepultantes e de mortos os sepultados durante os 4ordm e 3ordm

mileacutenios ane

Os dados disponiacuteveis levam a crer nesta assumpccedilatildeo Como se discutiu atraacutes

(Capiacutetulo 62) tendo em conta as aacutereas habitacionais escavadas ateacute o momento os

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 324 de 415

poucos restos humanos recolhidos parecem relacionar-se com periacuteodos tardios e de

abandono de partes daqueles espaccedilos surgindo as deposiccedilotildees de restos mortais em

espaccedilos com especificidades funeraacuterias fossem eles grutas antas grutas artificiais

ou tholoi Contudo esses dados natildeo satildeo abundantes para todo o periacuteodo abordado

revelando-se relativamente abundantes sobretudo para os uacuteltimos seacuteculos do 4ordm

mileacutenio ane e para o seguinte (Capiacutetulo 82)

Parecendo entatildeo afirmativa a questatildeo da separaccedilatildeo entre os espaccedilos talvez a

mais simples a clara identificaccedilatildeo de lugares habitacionais e funeraacuterios

putativamente relacionados no espaccedilo e tempo torna-se melindrosa (Gonccedilalves

1992 Gonccedilalves e Sousa 1997 e 2000 Boaventura 2001) Assim a correlaccedilatildeo entre

ambos os espaccedilos eacute conscientemente um exerciacutecio arriscado devendo procurar-se

alguns criteacuterios de anaacutelise que julgo possam assegurar a plausibilidade da

interpretaccedilatildeo Mas deve ser tentado

A proximidade entre espaccedilos eacute com certeza um criteacuterio ainda que possa ou natildeo

existir uma inter-visibilidade real Infelizmente em muitas situaccedilotildees os sepulcros

surgem hoje isolados ou vice-versa podendo isso reflectir uma destruiccedilatildeo brutal da

paisagem ou lacunas de investigaccedilatildeo O referido caso de V N S Pedro eacute um

exemplo de desconhecimento da sua envolvente Leceia eacute outro caso onde apesar

dos esforccedilos empreendidos no seu estudo e envolvente natildeo se conseguiu identificar

eventuais necroacutepoles associadas com a excepccedilatildeo de Monte do Castelo

possivelmente utilizado apenas em momento anterior ou inicial da ocupaccedilatildeo e a

cavidade do Locus 2 (Moinho da Moura) sob o povoado mas usada provavelmente

durante o decliacutenio daquele

A comparaccedilatildeo da cronologia absoluta e relativa da cultura material

nomeadamente de tipologias similares eacute com certeza outro exerciacutecio pertinente

Contudo nem sempre o mobiliaacuterio dos vivos eacute aquele que se deposita junto dos

mortos Por isso o estudo das mateacuterias-primas e suas proveniecircncias poderiam

tambeacutem ajudar nessa correlaccedilatildeo

Fora da Estremadura um interessante estudo foi realizado para as pastas

ceracircmicas dos espaccedilos habitacional e funeraacuterio de Perdigotildees cuja cronologia natildeo foi

ainda cabalmente estabelecida mas que se situaraacute entre finais do 4ordm mileacutenio ane e

meados e segunda metade do seguinte (Lago et al 1998a e 1998b Valera et al

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 325 de 415

2000) Aiacute foi possiacutevel verificar similitudes entre os barros utilizados na feitura de

recipientes funeraacuterios e domeacutesticos (Dias et al 2007) Contudo registou-se uma

diversidade maior entre os recipientes funeraacuterios facto interpretado como resultado

do provaacutevel uso daqueles sepulcros por populaccedilotildees da envolvente do siacutetio dos

Perdigotildees (Dias et al 2007)

Estudos deste tipo natildeo foram realizados para as eventuais relaccedilotildees adiantadas

para algumas das antas estudadas De facto os criteacuterios utilizados nesta breve

correlaccedilatildeo hipoteacutetica foram a proximidade e eventual sincronia relativa e absoluta

entre aqueles espaccedilos

A proximidade entre os povoados de EspargueiraSerra das Eacuteguas (Heleno

1932 Leitatildeo North e Ferreira 1973 informaccedilatildeo pessoal de Gisela Encarnaccedilatildeo) e de

Bauacutetas (Arnaud e Gamito 1972) ao conjunto de Belas seria uma possibilidade A

cronologia absoluta conhecida para aquelas antas e a relativa para a Espargueira e

Bauacutetas permitem pelo menos verificar a sua sincronia ndash aliaacutes a presenccedila de

fragmentos de iacutedolos-placa na aacuterea da ocupaccedilatildeo da EspargueiraSerra das Eacuteguas

reforccedila essa relaccedilatildeo (informaccedilatildeo pessoal de Gisela Encarnaccedilatildeo) Contudo estas

ocupaccedilotildees podem tambeacutem relacionar-se com o conjunto de grutas artificiais de Tojal

de Vila Chatilde e Bauacutetas Aleacutem disso o conhecimento das aacutereas envolventes a sul oeste

e norte do conjunto de Belas eacute limitado se exceptuarmos alguns indiacutecios

identificados na aacuterea de Colaride (Ribeiro 1880 Coelho 2002)

A relaccedilatildeo de proximidade entre o povoado de Crasto de Lousa (Estecircvatildeo 2000)

e as grutas de Salamandras (visiacutevel defronte deste) e Tufo ou eventualmente as antas

de Carcavelos e Alto da Toupeira 1-2 parece tambeacutem provaacutevel ainda que junto

destas duas uacuteltimas antas os vestiacutegios conhecidos sugerem tambeacutem a existecircncia de

espaccedilo habitacional (Castro e Ferreira 1959 Ferreira e Castro 1967) Todavia o

registo de materiais dispersos na rechatilde de Fontelas e Penedo dos Mouros (Estecircvatildeo

2000) poderia relacionar-se com os siacutetios do Tufo e Carcavelos porque mais

proacuteximos

Finalmente no conjunto de Verdelha do Ruivo a aparente existecircncia de uma

ocupaccedilatildeo habitacional Pedreira do Casal do Penedo 1 sobranceira agrave anta do Casal

do Penedo e do povoado amuralhado de Moita Ladra de cronologia mais recente

(Cardoso e Caninas no prelo) parecem demonstrar algum tipo de relaccedilatildeo fiacutesica

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 326 de 415

sincroacutenica mas em dois momentos sequentes tanto com a anta como com a gruta de

Verdelha dos Ruivos (Pedreira do Casal do Penedo 2)

O conjunto de Trigache poderia relacionar-se com a ocupaccedilatildeo da Serra da

Amoreira mas os dados conhecidos natildeo satildeo totalmente esclarecedores

Para as restantes antas de Lisboa a existecircncia de ambas as realidades em

proximidade eacute mais difiacutecil de definir Isto porque nas suas imediaccedilotildees se

desconhecem siacutetios habitacionais hipoteticamente relacionaacuteveis ainda que outros

mais afastados e aparentemente sincroacutenicos pudessem putativamente associar-se-

lhes Exemplos dessa ausecircncia aparente satildeo as antas de Casaiacutenhos Pedras da Granja

e Arruda

Natildeo obstante apesar das limitaccedilotildees expostas se a correlaccedilatildeo entre sepulcros e

habitaccedilotildees dataacuteveis dos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio e de quase todo o 3ordm mileacutenio

ane tem sido detectada de forma mais ou menos frequente essa evidecircncia eacute bem

mais reduzida ou clara para momentos do iniacutecio e meados do 4ordm mileacutenio ane

periacuteodos em que se verificam as primeiras praacuteticas funeraacuterias atribuiacuteveis ao

fenoacutemeno do Megalitismo De facto a detecccedilatildeo de ocupaccedilotildees habitacionais destes

periacuteodos tem-se revelado difiacutecil registando-se casos pontuais eou vestigiais

(Muralha e Costa 2006 Valera Coelho e Ferreira 2008) indiciando a existecircncia de

um povoamento pouco estruturado (Carreira e Cardoso 1992 Cardoso e Carreira

1995 Carvalho 1998a e 2007a)

8 Os tempos do Megalitismo da Baixa Estremadura

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 327 de 415

ldquoHenrik Tauber summed up the conflicts between

archaeologists and radiocarbon dates with an appropriate

if not chauvinistic analogue about women Life is difficult

with them but impossible without them (Kra 1988)

Ateacute agrave aplicaccedilatildeo dos meacutetodos de dataccedilatildeo absoluta no campo da Arqueologia as

seriaccedilotildees tipoloacutegicas de artefactos e arquitecturas dos sepulcros foram o meio pelo

qual se estabeleceu uma sequecircncia cronoloacutegica aproximada para o Megalitismo Os

trabalhos de G e V Leisner (1943 1951 1959) e que esta uacuteltima prosseguiu apoacutes a

morte do primeiro (Leisner 1965 Leisner e Kalb 1998) permitiram-lhes propor

uma possiacutevel evoluccedilatildeo de sepulcros ortostaacuteticos de pequenas dimensotildees

construindo-se posteriormente antas com cacircmara e corredor algumas de dimensotildees

consideraacuteveis ndash tal proposta natildeo era novidade mas surgia sustentada no formidaacutevel

corpus de informaccedilatildeo dos Megalithgraumlber e demais publicaccedilotildees de alcance

internacional Tambeacutem foi possiacutevel perceber em Reguengos de Monsaraz (Leisner e

Leisner 1951) a anterioridade das antas face aos tholoi (casos das antas de Farisoa e

Comenda com os respectivos tholoi integrados nos seus tumuli) ou na Estremadura

com o caso do sepulcro da Praia das Maccedilatildes (Leisner Zbyszweski e Ferreira 1969)

em que uma provaacutevel gruta artificial (cacircmara ocidental) teraacute antecedido o tholos ali

construiacutedo

No que concerne o espoacutelio moacutevel associado aos sepulcros o claacutessico trabalho

de V Leisner (1983 publicado em alematildeo em 1966) que sistematizava a informaccedilatildeo

ateacute entatildeo produzida apontava uma seriaccedilatildeo baseada nos espoacutelios recolhidos

cruzando-os com as respectivas tipologias arquitectoacutenicas dos sepulcros Ainda hoje

essa proposta manteacutem-se actual ainda que com alguns ajustes que a investigaccedilatildeo

subsequente permitiu (Soares e Silva 2000 Cardoso 2002 Gonccedilalves 2003e

Rocha 2005) e que o presente trabalho tambeacutem seguiu De forma sucinta um

primeiro conjunto (proto-fase do megalitismo) considerado arcaico com

geomeacutetricos pequenas lacircminas alguns machados e enxoacutes mas sem ceracircmica

normalmente encontrado em sepulcros de pequenas dimensotildees Um segundo grupo

apresentava-se semelhante ao anterior mas agora com maior nuacutemero de utensiacutelios de

pedra polida (incluindo tambeacutem goivas) e vasos ceracircmicos lisos em sepulcros

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 328 de 415

maiores Finalmente num terceiro agrupamento registam-se para aleacutem de ceracircmicas

as pontas de seta normalmente com bases convexas (romboacuteides triangulares ou

pedunculadas) os iacutedolos-placa alfinetes de cabelo de osso com cabeccedila posticcedila

artefactos votivos de calcaacuterio o iacutedolo almeriense etc ainda que V Leisner verifique

tambeacutem o aparecimento de pontas de seta de base cocircncava admitindo a sua origem

no sul peninsular Apesar de natildeo totalmente expliacutecito no seu texto haacute ainda um

quarto grupo com a presenccedila dos elementos do fenoacutemeno campaniforme Portanto

com a acumulaccedilatildeo deste conhecimento tipoloacutegico de cariz histoacuterico-culturalista foi

possiacutevel perceber e periodizar o fenoacutemeno do Megalitismo ainda que de forma

geneacuterica e pouco precisa subjugado agraves teorias difusionistas do ex orient lux

A aplicaccedilatildeo do radiocarbono na mediccedilatildeo absoluta do tempo no acircmbito do

estudo do Megalitismo ibeacuterico e do actual territoacuterio portuguecircs registou-se nos finais

da deacutecada de 50 acompanhando a verdadeira revoluccedilatildeo europeia que questionava as

teorias difusionistas e orientalistas (Renfrew 1967 Renfrew 1990) Esta introduccedilatildeo

precoce do meacutetodo e a aplicaccedilatildeo a contextos do Megalitismo deveraacute ser entendida no

contexto de colaboraccedilotildees de arqueoacutelogos portugueses com estrangeiros estes uacuteltimos

normalmente apoiados pelas suas instituiccedilotildees que detinham a capacidade para a

realizaccedilatildeo destas anaacutelises

A primeira dataccedilatildeo pelo 14C realizada para contextos arqueoloacutegicos

portugueses foi sobre material do concheiro mesoliacutetico de Muge no acircmbito dos

trabalhos em colaboraccedilatildeo de O V Ferreira e J Roche (Roche 1957 Soares 2008)

Mas O V Ferreira eacute tambeacutem co-responsaacutevel pelas primeiras dataccedilotildees realizadas para

contextos do Megalitismo nomeadamente da anta de Antelas e do povoado de

Penha Verde (Rubin e Alexander 1960 cit in Soares 2008) do tholos de A-dos-

Tassos (Roche e Delibrias 1964) e da gruta das Salemas (Delibrias Guillier e

Labeyrie 1965) Neste uacuteltimo caso a colaboraccedilatildeo com J Roche devia-se agrave esperanccedila

de datar o niacutevel do Paleoliacutetico superior mas a dataccedilatildeo (Sa-198 6320plusmn350BP)

remeteu para o periacuteodo neoliacutetico (Delibrias Guillier e Labeyrie 1965 Cabral e

Soares 1984) Aliaacutes a publicaccedilatildeo deste resultado por J Roche agrave revelia dos

escavadores que lhe cederam a amostra L A Castro J C Franccedila e O V Ferreira

originou um reparo crispado em artigo posterior (Castro e Ferreira 1972)

Os trabalhos desenvolvidos por V Leisner e apoiados pelo Instituto

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 329 de 415

Arqueoloacutegico Alematildeo tambeacutem contribuiacuteram jaacute na deacutecada de 60 para outro

conjunto de dataccedilotildees pioneiras do Megalitismo portuguecircs Estas foram obtidas para

utilizaccedilotildees funeraacuterias das antas beiratildes de Castenairas Carapito e Orca de Seixas

(Leisner e Ribeiro 1966 e 1968 Soares e Cabral 1984) e para a Estremadura

concretamente na necroacutepole da Praia das Maccedilatildes (Leisner e Ferreira 1963 Kalb

1981 Soares e Cabral 1984) todas elas tambeacutem datando carvotildees mas apresentando

desvios-padratildeo bem mais reduzidos que as anteriores Desde entatildeo o conjunto de

dataccedilotildees cresceu em quantidade e qualidade sobretudo desde finais dos anos 80

permitindo estabelecer com maior precisatildeo (dentro daquilo que as curvas de

calibraccedilatildeo do 14C o permitem) periacuteodos especiacuteficos para diversas praacuteticas funeraacuterias

De facto numa recente avaliaccedilatildeo geral dos uacuteltimos avanccedilos do radiocarbono na

Repuacuteblica portuguesa (Soares 2007) destaca-se com justeza a importacircncia da

instalaccedilatildeo do laboratoacuterio de dataccedilatildeo pelo radiocarbono em 1986 bem como o

evidente empenhamento dos seus responsaacuteveis pela sensibilizaccedilatildeo da comunidade

arqueoloacutegica para as virtudes e os problemas do meacutetodo assim como a

sistematizaccedilatildeo com algum sucesso da nomenclatura apropriada para a apresentaccedilatildeo

dos resultados (Cabral 1993 Soares e Cabral 1993) Portanto eacute tambeacutem natural que

tenham surgido vaacuterios trabalhos de recensatildeo criacutetica das dataccedilotildees pelo radiocarbono

disponiacuteveis (Soares e Cabral 1984 Cardoso e Soares 1990-92 Soares e Cabral

1993 Cruz 1995 Soares 1999 Cruz 2001 Cruz et al 2003 Gonccedilalves e Sousa

2006) avaliando a mateacuteria orgacircnica que foi utilizada para a dataccedilatildeo o seu contexto e

a interpretaccedilatildeo daiacute decorrente

Entretanto no iniacutecio da deacutecada de 70 perante a falta de mateacuteria orgacircnica em

muitos dos casos emblemaacuteticos do Megalitismo portuguecircs procurou obter-se

resultados cronoloacutegicos atraveacutes da dataccedilatildeo pela Termoluminescecircncia (TL) aplicada a

ceracircmica recolhida dentro de diversos sepulcros da Estremadura e Alentejo (Whittle

e Arnaud 1975) As datas entatildeo obtidas tiveram um impacto relevante na

comunidade cientiacutefica nacional e internacional (Renfrew 1976) de tal forma que ateacute

muito recentemente e apesar dos largos desvios-padratildeo (apresentados apenas com

68 de probabilidade isto eacute aproximadamente a 1 sigma) algumas delas

nomeadamente as datas das miacuteticas antas de Poccedilo da Gateira 1 e Gorginos 2 com um

pacote artefactual supostamente arcaico e de transiccedilatildeo mantinham-semantecircm-se ()

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 330 de 415

como exemplos da antiguidade de uma fase meacutedia do Megalitismo alentejano

portanto recuando ainda mais as origens do fenoacutemeno (Joussaume 1985 Castro

Martinez Lull e Ricoacute 1996 Gonccedilalves 1999a Cardoso 2002 Oosterbeek 2003a e

2003b Figueiredo 2006) Contudo pelo que se expocircs supra e pelo que se discutiraacute

infra julgo que ficaraacute patente a dificuldade em aceitar hoje aqueles intervalos

reconhecendo-lhes apenas um valor essencialmente historiograacutefico Isto apesar do

rigor cientiacutefico do meacutetodo de dataccedilatildeo pela TL reconhecido por A M Soares (1999)

na sua revisatildeo de datas disponiacuteveis para os megaacutelitos portugueses Mas como o

proacuteprio tambeacutem admitia ldquoas datas obtidas pela Termoluminescecircncia vecircm eivadas de

um desvio padratildeo grande (hellip) o que torna este meacutetodo pouco recomendaacutevel se se

quiser obter uma cronologia relativamente finardquo (Soares 1999 p 691) Mas

concluiacutea dizendo que ldquoeacute uma ferramenta valiosa para o estabelecimento de

cronologias absolutas e deveraacute ser feito um esforccedilo para a sua aplicaccedilatildeo a contextos

que se revelem natildeo susceptiacuteveis de datar pelo radiocarbonordquo (Soares 1999 p 691)

Quadro 18 Dataccedilotildees por Termoluminiscecircncia de espoacutelio ceracircmico funeraacuterio de sepulcros do

Centro-Sul de Portugal Adaptado de E Whittle e J Arnaud (1975)

Siacutetio

Amostra ceracircmica

Datas individuais

BC

Referecircncia Data meacutedia BC (prob 68)

Anta de Poccedilo da Gateira 1 b1 4640plusmn430 (OxTL169a) b2 4305plusmn400 4510plusmn360 b3 4615plusmn450 [4870-4150] Anta de Gorginos 2 c1 3860plusmn360 (OxTL169b) c2 4805plusmn400 4440plusmn360 c3 4595plusmn420 [4800-4080] Anta Grande da Comenda da Igreja f1 3380plusmn340 (OxTL169f) f2 3340plusmn350 3235plusmn310 f3 3255plusmn330 [3545-2925] f5 3015plusmn340 Anta de Farisoa 1 i1 2745plusmn380 (OxTL169i) i2 2185plusmn260 2405plusmn260 [2665-2145]

Tholos de Farisoa 1 j1 2740plusmn300 (OxTL169j) j2 2900plusmn320 2675plusmn270 j3 2335plusmn310 [2945-2405] Gruta artificial de Carenque 2 h1 4095plusmn390 (OxTL169h) [Vila Chatilde 2] h2 3545plusmn370 3930plusmn340 h3 4130plusmn420 [4270-3590]

Infelizmente em muitos casos do Megalitismo portuguecircs e ibeacuterico continua a

registar-se uma grande dificuldade em encontrar em muitos sepulcros mateacuteria

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 331 de 415

orgacircnica passiacutevel de dataccedilatildeo Por isso algumas tentativas de dataccedilatildeo por TL e OSL

(Optically Stimulated Luminescence ndash Luminescecircncia Opticamente Estimulada) tecircm

sido experimentadas Satildeo exemplos as datas por TL de Val da Laje 1 com os seus

intervalos de quase mil anos a 2 sigmas (Oosterbeek 2004) e mais recentemente em

Sobreira de Cima 1 e 2 Contudo o meacutetodo carece ainda de mais avaliaccedilatildeo criacutetica

sobretudo quanto agrave proveniecircncia e significado dos elementos que satildeo datados e da

utilidade dos largos desvios-padratildeo obtidos ndash exemplo ilustrativo destas situaccedilotildees

verifica-se na comparaccedilatildeo das mediccedilotildees de 14C e OSL realizadas para a gruta

artificial de Sobreira de Cima 1 (Valera Soares e Coelho 2008 Dias et al 2008) aiacute

os intervalos a 2 sigmas (954 de probabilidade) das dataccedilotildees pelo radiocarbono

satildeo menores que a amplitude das mediccedilotildees OSL em anos de calendaacuterio a 1 sigma

(682 de probabilidade) ndash aleacutem disto as dataccedilotildees OSL dali obtidas resultaram

bastante diacutespares

Portanto depois deste breve introacuteito e do que foi abordado noutros capiacutetulos eacute

possiacutevel verificar que a regiatildeo da Estremadura e no caso especiacutefico a Baixa

Estremadura teve sempre um papel fundamental na caracterizaccedilatildeo e definiccedilatildeo das

cronologias relativas e absolutas do Megalitismo e dos grupos humanos associados a

este fenoacutemeno

As uacuteltimas duas deacutecadas tecircm sido extremamente feacuterteis na obtenccedilatildeo de

dataccedilotildees pelo radiocarbono para os sepulcros da regiatildeo estremenha No acircmbito de

revisotildees de conjuntos exumados em trabalhos antigos e graccedilas ao grau de

preservaccedilatildeo do material orgacircnico vaacuterias dataccedilotildees foram obtidas essencialmente

sobre ossos humanos (Cardoso e Soares 1990-92 Cardoso e Soares 1995a e 1995b

Cardoso et al 1996 Gonccedilalves 2005b) o que permitiu verificar pelo menos o

tempo de algumas utilizaccedilotildees funeraacuterias mas ateacute agora sem dados para as antas

A possibilidade de recolha de mateacuteria orgacircnica para as antas de Lisboa eacute

portanto um aspecto positivo Contudo dada a precocidade da maioria das

escavaccedilotildees em que o objectivo essencial era a recolha de elementos para a

construccedilatildeo de um quadro tipoloacutegico natildeo se teraacute dado grande atenccedilatildeo a aacutereas

exteriores e agraves suas fases construtivas Dessa forma natildeo se recolheram elementos

orgacircnicos desses contextos nomeadamente carbonosos como parece usual noutras

regiotildees deficitaacuterias em material oacutesseo No entanto tenho que realccedilar que nas duas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 332 de 415

intervenccedilotildees que realizei respectivamente nas antas de Pedras Grandes e Carcavelos

natildeo se encontrou material orgacircnico passiacutevel de dataccedilatildeo dentro de alveacuteolos ou

estruturas de calccedilo dos esteios ou das massas tumulares infelizmente quase

inexistentes Apenas na anta de Carcavelos entre os restos oacutesteoloacutegicos do interior

da cacircmara foram recolhidos alguns gracircnulos de carvotildees mas ateacute o momento natildeo foi

possiacutevel concretizar o seu estudo Assim esta anotaccedilatildeo serve para realccedilar o facto de

que as dataccedilotildees obtidas para as antas de Lisboa mas de alguma forma para a maioria

dos sepulcros da Estremadura correspondem aos restos mortais de indiviacuteduos

portanto presumivelmente referentes a depoacutesitos funeraacuterios primaacuterios eou

secundaacuterios ainda que seja provaacutevel uma maioria do primeiro tipo pelos motivos

expostos no capiacutetulo 6

Para um melhor enquadramento das dataccedilotildees referentes a contextos funeraacuterios

da Estremadura empreendi uma recolha sistemaacutetica da informaccedilatildeo acessiacutevel para a

maioria das regiotildees da Peniacutensula Ibeacuterica exceptuando a parte oriental (Valecircncia

Catalunha e aacuterea pirenaica) reunindo quase meio milhar de datas mas eacute natural que

quando se lerem estas linhas esse nuacutemero tenha aumentado Assim nos proacuteximos

capiacutetulos passarei a discutir os valores compilados agrupados por regiotildees

tradicionalmente definidas na investigaccedilatildeo do periacuteodo em questatildeo Estremadura

Alentejo Algarve Sudoeste espanhol (Huelva Sevilha e Caacutediz) Antequera

Almeria Extremadura espanhola Meseta Sul e Meseta Norte Beira Interior e

Noroeste (Norte de Portugal e Galiza) As datas compiladas incluiacutedas e excluiacutedas

nesta abordagem constam do quadro em anexo

81 A cronologia absoluta das antas de Lisboa

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 333 de 415

ldquoFor a method or approach to be able to

revolutionize a subject is normally considered a good

thing but radiocarbon seems to have managed rather too

many revolutions for the good of either archaeology or the

application of science to the artsrdquo (Bronk Ramsey 2008

p 249)

Como foi possiacutevel alcanccedilar um conhecimento mais detalhado e sistemaacutetico dos

conjuntos osteoloacutegicos humanos dos vaacuterios sepulcros estudados antes de ter optado

pela estrateacutegia de dataccedilotildees descrita abaixo considerei a hipoacutetese de realizar uma

seacuterie monograacutefica de dataccedilotildees para uma das antas em detrimento de um panorama

geral das antas de Lisboa Dada a natureza das colecccedilotildees estudadas com

concentraccedilotildees de espoacutelio aparentemente misturado agravada pela reduzida

informaccedilatildeo estratigraacutefica registada durante os trabalhos originais de escavaccedilatildeo esse

exerciacutecio poderia (e poderaacute) ajudar na avaliaccedilatildeo dos periacuteodos de utilizaccedilatildeo funeraacuteria

quiccedilaacute natildeo tatildeo dilatados como se pensaraacute Aliaacutes eacute um exerciacutecio que jaacute foi efectuado

noutros casos regionais do Megalitismo europeu ainda que com melhores

contextualizaccedilotildees nomeadamente em Inglaterra (Smith e Brickley 2006 Whittle e

Bayliss 2007) na Franccedila (Mohen e Scarre 2002 Chambon 2003) na Escandinaacutevia

(Persson e Sjoumlgren 1995) e de alguma forma tentado em grutas naturais e artificiais

de Cascais Portugal (Gonccedilalves 2005b e 2008) Contudo face agrave existecircncia de

espoacutelios caracterizadores nas antas exerciacutecio que foi ensaiado supra e que permitia

atribuiccedilotildees cronoloacutegicas relativas para provaacuteveis usos funeraacuterios optei por uma

abordagem mais abrangente que tambeacutem natildeo tinha ainda sido realizada procurando

dessa forma verificar a coincidecircncia daquelas leituras com as dataccedilotildees absolutas

obtidas

O nuacutemero de dataccedilotildees realizadas para as antas de Lisboa foi apenas

condicionado pelas verbas disponiacuteveis angariadas ao longo do percurso de estudo

Assim num cocircmputo geral avanccedilou-se para a tentativa de dataccedilatildeo de um conjunto de

20 amostras seleccionadas (Anexo 3 Quadro 22) Destas amostras apenas duas

apresentaram niacuteveis de colageacutenio insuficientes um fragmento de haste de alfinete de

cabelo da anta de Conchadas (MG30228E) a uacutenica peccedila oacutessea natildeo humana e um

fragmento de occipital humano da anta de Trigache 2 (MG179) Nos casos das antas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 334 de 415

de Monte Abraatildeo Estria Carrascal Pedras Grandes Carcavelos e Casal do Penedo

foram efectuadas duas dataccedilotildees para cada uma delas preferencialmente sobre

espeacutecimes oacutesseos de indiviacuteduos humanos distintos ndash contudo devido ao estudo de

paleodietas por anaacutelises isotoacutepicas referido supra e que foi desenvolvido em duas

fases o criteacuterio definido natildeo foi sistematicamente aplicado concretamente nos casos

de Carcavelos e Estria Na anta de Pedra dos Mouros dada a existecircncia de faunas

aparentemente recolhidas junto com os ossos humanos procedeu-se agrave dataccedilatildeo de um

desses elementos (Bos sp- MG17240) com a intenccedilatildeo de verificar a sua

contemporaneidade o que natildeo se verificou ndash aliaacutes a aparente melhor preservaccedilatildeo da

fauna colocava essa possibilidade Por outro lado julgo que este caso demonstrou a

dificuldade e o cuidado a ter na correlaccedilatildeo entre as deposiccedilotildees funeraacuterias e as

oferendas de faunas o que por vezes eacute esquecido ndash por exemplo nas antas de Rego

da Murta 1 e 2 onde essa relaccedilatildeo eacute proposta mas apesar de uma excelente bateria de

datas sobre ossos humanos nenhuma fauna foi datada ateacute agora (Figueiredo 2006)

Em paralelo com a seacuterie de amostras das antas foram realizadas mais trecircs

dataccedilotildees sobre indiviacuteduos de sepulcros com tipologias distintas mas pertinentes para

o enquadramento cronoloacutegico dos sepulcros em estudo Isso foi possiacutevel porque os

seus conjuntos antropoloacutegicos tambeacutem foram estudados em colaboraccedilatildeo num

projecto de investigaccedilatildeo complementar Garantiu-se entatildeo uma dataccedilatildeo para a gruta

de Salemas outra da gruta artificial de Folha das Barradas e ainda uma do tholos de

Agualva (com um primeiro espeacutecime sem colageacutenio suficiente) Estas datas seratildeo

discutidas infra

A anaacutelise de conjunto das dataccedilotildees para as antas de Lisboa coloca as suas

utilizaccedilotildees mais antigas entre o segundo e terceiro quartel (meados) do 4ordm mileacutenio

ane concomitantes com sepulcros de cacircmara poligonal e corredor curto mas com

espoacutelios reduzidos de cariz arcaico sem a presenccedila comprovada de ceracircmica e

reduzidos nuacutemeros miacutenimos de indiviacuteduos ali depositados Satildeo os casos de Carrascal

Pedras Grandes e Trigache 4 Paralelamente esta imagem parece espelhar-se em

casos similares de antas do Alentejo (Quadro 24) Como jaacute foi referido atraacutes da

uacutenica anta de pequenas dimensotildees de Lisboa Monte Serves natildeo foi possiacutevel obter

material para dataccedilatildeo ainda que se pudesse presumir um momento antigo face ao

muito reduzido espoacutelio entatildeo identificado (North Boaventura e Cardoso 2005)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 335 de 415

Se considerar a presenccedila de algum espoacutelio como indicador crono-cultural (por

exemplo os geomeacutetricos as lacircminas delgadas pouco retocadas e utensiacutelios de pedra

polida) e que estas dataccedilotildees registam algumas das primeiras deposiccedilotildees em anta da

regiatildeo de Lisboa entatildeo eacute possiacutevel que a maioria das antas tenha sido erguida entre os

meados e a segunda metade do 4ordm mileacutenio ane Naquelas que apresentaram dataccedilotildees

mais recentes essencialmente da primeira metade do 3ordm mileacutenio ane (a maioria)

isso resultaria do processo acumulativo de deposiccedilotildees funeraacuterias que originou uma

maior quantidade de ossadas humanas limitando a probabilidade estatiacutestica de

acertar com os elementos mais antigos o que soacute um leque maior de dataccedilotildees poderaacute

eventualmente verificar Reforccedilando esta ideia haacute que realccedilar uma correspondecircncia

entre os sepulcros com datas mais antigas e o nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos

sepultados

Por outro lado apenas as antas da Estria e Trigache 3 parecem natildeo apresentar o

espoacutelio de cariz arcaico ainda que soacute tenha sido possiacutevel obter duas dataccedilotildees para a

primeira colocando-a na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane Ressaltam tambeacutem

destes sepulcros alguns aspectos particulares Trigache 3 parece ter sido implantada

na aacuterea tumular de Trigache 2 mas em posiccedilatildeo perifeacuterica e no caso de Estria a sua

implantaccedilatildeo indicia um sacrifiacutecio aparente da prescriccedilatildeo de orientar a passagem para

nascente em favor de um substrato rochoso mais favoraacutevel agrave sua construccedilatildeo Seratildeo

estes casos reflexos de construccedilotildees tardias quando a forccedila do rito construtivo se

perdia Diria que eacute plausiacutevel

A aglomeraccedilatildeo das datas conhecidas de antas na primeira metade do 3ordm mileacutenio

ane limitando-se a maioria das balizas superiores dos intervalos de tempo aos

meados deste eacute digna de nota sobretudo quando se regista a presenccedila de espoacutelio

campaniforme nestas Uma vez mais a probabilidade de acertar com os indiviacuteduos

mais recentes poderaacute explicaacute-lo Contudo isso poderaacute relacionar-se com outras duas

questotildees por um lado a presenccedila campaniforme nas antas natildeo eacute tatildeo abundante como

noutros tipos de sepulcros o que prenuncia um nuacutemero reduzido de indiviacuteduos ali

depositados e por outro esse material apresenta-se essencialmente com as

caracteriacutesticas daquelas consideradas mais antigas (campaniforme internacional e

impresso) Poderiam entatildeo alguns dos resultados denunciar a presenccedila de deposiccedilotildees

campaniformes em meados do 3ordm mileacutenio ane Julgo que a resposta se inclinaraacute

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 336 de 415

para a positiva todavia ainda necessitando de mais dataccedilotildees especialmente bem

contextualizadas Por isso a proposta cronoloacutegica de J L Cardoso e A M Soares

(1990-92) para a vigecircncia do fenoacutemeno campaniforme da regiatildeo estremenha ndash 2800-

2300 ane ndash manteacutem a sua pertinecircncia para futuras anaacutelises ainda que talvez recue

demasiadamente o seu iniacutecio Aliaacutes alguns dos casos utilizados para a leitura

proposta (curiosamente aqueles com balizas mais recuadas) foram recentemente

reavaliados criticamente por um dos seus proponentes ainda que noutro trabalho

colectivo porque colocavam alguns problemas de contextualizaccedilatildeo (Soares Soares e

Silva 2008) Mesmo assim isso natildeo implicou um reconhecimento de uma baliza

cronoloacutegica inferior mais avanccedilada parecendo manter-se a opiniatildeo anterior (Cardoso

e Soares 1990-92 Soares Soares e Silva 2008) Outro elemento proveniente do

Algarve que parece reforccedilar o uso de ceracircmica campaniforme pelo menos nos

meados do referido mileacutenio eacute a presenccedila de fragmentos de ceracircmica campaniforme

internacional na base da mamoa do tholos de Alcalar 7 (Moraacuten e Parreira 2004)

Apesar de natildeo existir uma cronologia absoluta para tal contexto foi obtida uma

dataccedilatildeo pelo radiocarbono sobre carvatildeo de aroeira em lareira intermediando uma

realidade de remodelaccedilatildeo na aacuterea defronte da fachada tumular - o intervalo obtido

situa-se entre 2470-2200 cal BCE (Quadro 26) Portanto no momento de construccedilatildeo

deste sepulcro que teraacute sido anterior agrave referida remodelaccedilatildeo (mas natildeo se sabe quatildeo

anterior) a ceracircmica campaniforme jaacute existia acabando integrada na base tumular

Mesmo no caso extremo de tais momentos de construccedilatildeo e remodelaccedilatildeo terem sido

muito raacutepidos haacute que admitir os meados do mileacutenio para tal presenccedila

Face ao exposto e perante os dados disponiacuteveis julgo que a cronologia das

antas de Lisboa parece indiciar um dealbar da sua construccedilatildeo em redor dos meados

do 4ordm mileacutenio ane registando um pico de erecccedilotildees durante a segunda metade deste

Contudo ainda que soacute um pequeno nuacutemero de novos sepulcros possa ter surgido no

primeiro quartel do 3ordm mileacutenio ane parece interessante verificar um incremento de

deposiccedilotildees funeraacuterias durante a primeira metade deste periacuteodo aparentando uma

reduccedilatildeo draacutestica nos seus meados

82 Diacronia e sincronia dos outros espaccedilos sepulcrais

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 337 de 415

Quando se compara os dados cronoloacutegicos disponiacuteveis para as antas da

Estremadura (onde a regiatildeo de Lisboa se inclui) e os outros tipos de sepulcros ndash

grutas naturais grutas artificiais e tholoi ndash alguns aspectos satildeo dignos de realce

reforccedilando de alguma forma propostas anteriores para a antiguidade das deposiccedilotildees

em gruta e antas face a grutas artificiais e tholoi (Gonccedilalves 2003e)

Primeiramente foi em cavidades naturais que se registaram as praacuteticas

funeraacuterias mais antigas Eacute uma afirmaccedilatildeo quase desnecessaacuteria se recordar que grande

parte dos primeiros vestiacutegios mortuaacuterios da Humanidade foi encontrada em

ambientes de gruta de diversas regiotildees do planeta (Ferreira 1982 Oosterbeek

1997a Parker Pearson 2002 Olaria i Puyoles 2002-03) Tambeacutem no actual

territoacuterio portuguecircs eacute nas cavidades naturais que se conhecem as presenccedilas

funeraacuterias neoliacuteticas mais antigas Assim optei por compilar as dataccedilotildees sobre ossos

humanos recolhidos em grutas atribuiacutedas a deposiccedilotildees funeraacuterias e associadas agraves

primeiras evidecircncias do Neoliacutetico antigo nas grutas do Caldeiratildeo (Lubell e Jackes

1988 Zilhatildeo 1992 e 1993 Lubell et al 1994) Nossa Senhora das Lapas

(Oosterbeek 1993b e 1997b) Algar do Picoto (Zilhatildeo e Carvalho 1996 Carvalho

2007b) Casa da Moura (Lubell e Jackes 1988 Straus et al 1988 Lubell et al

1994) e Correio-Moacuter (Carvalho 2007b) Destas cavidades as duas primeiras

providenciaram as melhores evidecircncias contextualizadas para o tipo de deposiccedilatildeo

funeraacuteria ndash concretamente em N Sra das Lapas uma das inumaccedilotildees foi rodeada por

blocos peacutetreos com escasso espoacutelio talvez melhor esclarecido no Caldeiratildeo com

alguma ceracircmica decorada e elementos de adornos sobre concha O nuacutemero reduzido

de inumaccedilotildees que a crer nas dataccedilotildees foi alargado no tempo natildeo favorece a ideia de

uma necroacutepole com praacutetica funeraacuteria colectiva mas antes um espaccedilo reutilizado

pontualmente inclusive ocasionalmente ocupado como habitaccedilatildeo

No siacutetio da Pedreira das Salemas a dataccedilatildeo ICEN-351 com um intervalo de

5300-4610 cal BCE sobre osso de um enterramento na diaacuteclase do lapiaacutes num local

onde se pensa tambeacutem ter existido um espaccedilo habitacional parece denunciar a

promiscuidade entre o espaccedilo funeraacuterio e o de habitaccedilatildeo Fora da Estremadura dois

exemplos podem reforccedilar essa impressatildeo Cerro Virtud (Almeria) onde ocorrem

vestiacutegios habitacionais e funeraacuterios na mesma aacuterea de ocupaccedilatildeo datados da primeira

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 338 de 415

metade do 5ordm mileacutenio ane (Montero Ruiacutez e Ruiacutez Taboada 1996 Montero Ruiacutez

Rihuete Herrada e Ruiacutez Taboada 1999 Ruiacutez Taboada 1999) e a anta de Azutaacuten

(Toledo Meseta Sul) onde se recolheu na base da sua cacircmara um osso humano

datado da primeira metade do 5ordm mileacutenio ane coetacircneo da ocupaccedilatildeo habitacional

do Neoliacutetico antigo sobre a qual se implantou (Bueno Ramirez Balbiacuten Behrmann e

Barroso Bermejo 2006) podendo admitir-se uma ldquotrasladaccedilatildeordquo de restos humanos

recolhidos durante a posterior construccedilatildeo do sepulcro Outro exemplo recente do

Algarve eacute Castelo Belinho com diversos enterramentos em fossa e associados a

possiacuteveis contextos habitacionais (Gomes 2008) datados de meados do 5ordm mileacutenio

ane

Pelas caracteriacutesticas explicitadas acima as praacuteticas funeraacuterias situadas entre os

finais do 6ordm mileacutenio ane e pelo menos os primeiros dois terccedilos do seguinte (mas

provavelmente todo o 5ordm mileacutenio) natildeo parecem enquadrar-se nos criteacuterios definidos

para o Megalitismo no acircmbito deste trabalho Apesar disso alguns dos elementos aiacute

identificados como os elementos de adornos sobre concha perduraram e foram

integrados na primeira fase daquele fenoacutemeno o que os dados cronoloacutegicos

permitem perceber Afinal algumas dataccedilotildees disponiacuteveis parecem demonstrar que na

segunda metade do 5ordm mileacutenio ane as cavidades continuaram a ser utilizadas como

necroacutepole nomeadamente a jaacute referida gruta de N Sra das Lapas (Oosterbeek

1993b e 1997b Cruz 1997) mas tambeacutem a Lapa dos Namorados (Zilhatildeo e

Carvalho 1996 Carvalho 2007b) Contudo os dados contextuais limitados natildeo

permitem leituras esclarecidas

Uma das datas mais antigas passiacutevel de enquadrar uma deposiccedilatildeo integraacutevel

no Megalitismo proveacutem do enterramento da camada D sala 1 da gruta do Cadaval

(Oosterbeek 1994 Cruz 1997) Este apresentava um pequeno conjunto de espoacutelio

(geomeacutetrico pequenas lacircminas machado enxoacute adornos sobre concha e ceracircmica

associado a uma inumaccedilatildeo coberta com uma grande laje) que se tornaraacute numa

primeira fase do 4ordm mileacutenio ane um conjunto habitual de acompanhamento

funeraacuterio A data ICEN-464 sobre um dos ossos humanos desta inumaccedilatildeo que

forneceu o intervalo de tempo de 4150-3790 cal BCE (restringindo-se a 4060-3790

cal BCE com 948 de probabilidade) parece prenunciar o momento em que os

enterramentos e o ritual funeraacuterio se elaboraram com maior dedicaccedilatildeo e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 339 de 415

investimento Contudo o registo do δ13C (-1919permil) aconselha algum cuidado para a

hipoacutetese de alguma percentagem de dieta marinha eou estuarina com sequente efeito

de reservatoacuterio e maior envelhecimento Outro aspecto que deveraacute reter-se eacute a

aparente utilizaccedilatildeo colectiva daquele espaccedilo que poderaacute depreender-se pelo nuacutemero

miacutenimo de 24 indiviacuteduos (Lopes 2005-06) ainda que as dataccedilotildees disponiacuteveis

questionem a leitura estratigraacutefica proposta ndash ossos da camada C apresentaram uma

idade semelhante agrave data da sepultura da camada D da sala 1 bem como agrave sepultura

da camada D da sala 2 (Quadro 23 Oosterbeek 1994 Cruz 1997)

Um exemplo em que a necessidade da correcccedilatildeo da data poderaacute originar uma

idade mais recente encontrou-se no siacutetio da Costa do Pereiro onde em aacuterea

habitacional junto a abrigo rochoso foi inumado em covacho um infante com cerca

de 5 meses de idade (Carvalho 2007a) contexto peculiar face ao que se conhece

para o periacuteodo Para o osso datado (Wk-13682) registou-se um intervalo de tempo

entre 4040-3790 cal BCE com um δ13C de -1750permil (Carvalho 2007a e 2007b) o

que poderaacute indicar uma antiguidade maior por efeito de reservatoacuterio Infelizmente

como se desconhece o valor de δ15N eacute problemaacutetico efectuar com seguranccedila a sua

correcccedilatildeo o que aquele autor pretende rectificar

Outro caso mas para o qual foi possiacutevel a correcccedilatildeo da data obtida ainda que a

sul da Estremadura no Alentejo litoral vem da gruta do Lagar Melides (Nogueira

1927) Existindo para a data TO-2091 os valores do δ13C (-1490permil) e do δ15N (1310

permil ) providenciados por D Lubell e colaboradores (1994) procedeu-se agrave sua

correcccedilatildeo (agradeccedilo a informaccedilatildeo pessoal de A M Soares para os valores de ΔR e

da percentagem de organismos marinhos na dieta) originando um rejuvenescimento

de cerca de trecircs seacuteculos passando de um intervalo de 4340-3990 cal BCE para 4000-

3650 cal BCE Acontece que para muitas das dataccedilotildees disponiacuteveis nem sempre eacute

providenciado o valor realmente medido do δ13C e menos ainda o do δ15N

Mas agrave parte das importantes questotildees da avaliaccedilatildeo rigorosa e do crivo criacutetico

que todas as datas devem ser alvo parece admissiacutevel localizar na passagem do 5ordm

para o 4ordm mileacutenios ane com um maior ecircnfase no primeiro quartel deste uacuteltimo as

primeiras dataccedilotildees associaacuteveis a deposiccedilotildees passiacuteveis de se integrarem no fenoacutemeno

do Megalitismo ainda que por ora todas elas em contexto de gruta

A data Sac-1715 conhecida para a gruta de Lugar do Canto (Cardoso 2002

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 340 de 415

Carvalho 2007b Cardoso e Carvalho 2008) com um intervalo entre 4230-3700 cal

BCE (restringindo-se a 4070-3700 cal BCE com 931 de probabilidade) parece

marcar essas novas praacuteticas funeraacuterias No entanto esta data foi obtida natildeo de um

osso mas de um conjunto de ossos humanos natildeo especificados (informaccedilatildeo pessoal

de J L Cardoso Cardoso e Carvalho 2008) pelo que se tornam importantes novas

dataccedilotildees que esclareccedilam os tempos desta necroacutepole Todavia neste caso o δ13C (-

2032permil) parece indiciar uma dieta terrestre De qualquer forma a existecircncia de

outras dataccedilotildees semelhantes das grutas jaacute mencionadas do Caldeiratildeo Casa da

Moura e Cadaval mas tambeacutem do Algar do Bom Santo (Duarte 1998) e da Lapa da

Bugalheira todavia esta uacuteltima de um contexto pouco esclarecido (Zilhatildeo et al

1996 Carvalho 2007b) parecem reforccedilar esse iniacutecio Fora da Estremadura eacute ainda

possiacutevel verificar dataccedilotildees semelhantes na gruta do Lagar (referida supra) e na gruta

de Canaleja 1 Caacuteceres (Cerrillo Cuenca e Gonzaacutelez Cordero 2007) cujo intervalo

de 3990-3770 cal BCE se baseia numa data (Beta-202343) com um δ13C de -1880permil

(informaccedilatildeo pessoal de E Cerrillo Cuenca) o que poderia implicar algum cuidado na

sua valorizaccedilatildeo ndash contudo neste caso a ausecircncia de potenciais recursos marinhos ou

estuarinos proacuteximos tornam menos premente a cautela ainda que soacute cabalmente

esclarecida com a mediccedilatildeo dos valores de δ13C e δ15N para verificaccedilatildeo da paleodieta

Se o iniacutecio das praacuteticas enquadraacuteveis no Megalitismo aparenta situar-se no

primeiro quartel do 4ordm mileacutenio ane o nuacutemero de dataccedilotildees disponiacutevel parece

denunciar uma intensificaccedilatildeo de deposiccedilotildees funeraacuterias em grutas algumas ad novo a

partir de meados do mileacutenio E daiacute ateacute meados do 3ordm mileacutenio ane a utilizaccedilatildeo de

cavidades naturais manteve-se paralelamente agraves antas e demais sepulcros Mas

continuaratildeo a ser procuradas frequentemente com menor intensidade durante a

segunda metade do mileacutenio quando isso natildeo parece ocorrer nas antas de Lisboa

Portanto face aos dados disponiacuteveis para os espaccedilos de necroacutepole em

cavidades naturais da Estremadura eacute possiacutevel verificar nestas uma relativa

anterioridade face agraves antas o que poderaacute ser explicado pela tradiccedilatildeo milenar do seu

uso Assim mesmo que as novas praacuteticas funeraacuterias e seus mobiliaacuterios tivessem sido

apropriadas rapidamente a preacute-existecircncia das cavidades e a tradiccedilatildeo do seu uso

tornava-as os candidatos naturais inicialmente mais favorecidos quiccedilaacute os arqueacutetipos

dos novos tipos de contentores sepulcrais (Oosterbeek 1997a) Semelhante

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 341 de 415

interpretaccedilatildeo eacute apontada em recente sistematizaccedilatildeo das grutas irlandesas e britacircnicas

(Dowd 2008)

Outro tipo de espaccedilo sepulcral da Estremadura as grutas artificiais apresenta

algumas dificuldades para a interpretaccedilatildeo das dataccedilotildees disponiacuteveis Os valores mais

recuados situam-se em meados do 4ordm mileacutenio ane o que de alguma forma seria

expectaacutevel para algumas delas face ao tipo de espoacutelio presente similar agravequele

recolhido em antas e grutas naturais com cronologias idecircnticas Contudo estas datas

satildeo tambeacutem aquelas que apresentam os maiores problemas de contextualizaccedilatildeo e

legibilidade

A data de Satildeo Pedro do Estoril 1 Beta-188390 sobre um osso humano

(Gonccedilalves 2005b) apresenta um intervalo de 3640-3370 cal BCE e um δ13C de -

1900permil o que poderaacute indiciar algum tipo de dieta marinha e por conseguinte a

necessidade de correcccedilatildeo Mais ainda porque o espoacutelio recolhido nesta gruta artificial

(Leisner Paccedilo e Ribeiro 1964 Leisner 1965) coaduna-se melhor com as outras duas

dataccedilotildees atribuiacutedas jaacute agrave segunda metade do 3ordm mileacutenio ane (Gonccedilalves 2005b ver

Quadro 22) No entanto caso seja possiacutevel esclarecer a questatildeo isotoacutepica e esta

validar o resultado bem como natildeo tenha havido mistura de materiais durante o

depoacutesito museoloacutegico entatildeo haacute que admitir alguns cenaacuterios alternativos ainda que

ambos de difiacutecil comprovaccedilatildeo a) S Pedro do Estoril 1 seria um sepulcro que foi

esvaziado para receber novos enterramentos tendo o elemento datado sobrevivido ao

despejo b) algumas ossadas humanas de sepulcros mais antigos foram trasladadas

para aquele

A provaacutevel gruta artificial de Monte do Castelo (Oliveira e Brandatildeo 1969

Cardoso Cunha e Aguiar 1991 Cardoso e Soares 1995) possui a dataccedilatildeo ICEN-

738 sobre um dos ossos humanos de 3630-3130 cal BCE (restringindo-se a 3530-

3330 cal BCE com 909 de probabilidade) Contudo o espoacutelio que foi possiacutevel

recolher eacute incaracteriacutestico bem como pouco se pode conhecer da planta do sepulcro

Outro sepulcro onde se poderia esperar encontrar dataccedilotildees em meados do 4ordm

mileacutenio ane seria a provaacutevel gruta artificial de Cabeccedilo da Arruda 1 (Ferreira e

Trindade 1954 e 1956 Leisner 1965) Contudo como se avaliaraacute adiante acerca do

possiacutevel tholos homoacutenimo a explicaccedilatildeo poderaacute residir numa mistura de restos

osteoloacutegicos durante a estadia museoloacutegica em Torres Vedras

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 342 de 415

Assim se as restantes dataccedilotildees disponiacuteveis para as grutas artificiais forem

consideradas julgo que pelo menos desde o uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane estes

sepulcros estariam a ser utilizados na Estremadura seguindo grosso modo um padratildeo

de incremento de deposiccedilotildees semelhante aos outros tipos de sepulcros referidos

anteriormente isto eacute na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane perdurando em menor

escala pela sua segunda metade

Por outro lado as dataccedilotildees conhecidas para os dois conjuntos de grutas

artificiais descobertas nos uacuteltimos anos Monte Canelas Algarve (Parreira e Serpa

1995 Silva 1996a 1996b Moraacuten e Parreira 2004 e 2007) e Sobreira de Cima

Alentejo (Valera Soares e Coelho 2008) levam a admitir que estes sepulcros

estariam em utilizaccedilatildeo jaacute no terceiro quartel do 4ordm mileacutenio ane ou mesmo desde os

seus meados no caso da segunda necroacutepole Isso coincidiria entatildeo com as datas mais

antigas da Estremadura Contudo reafirmo a cautela com que aquelas datas

estremenhas deveratildeo ser enquadradas pelo menos ateacute que novos dados sejam obtidos

naqueles e noutros sepulcros congeacuteneres Tambeacutem haacute que realccedilar os valores

conhecidos de δ13C para trecircs das datas de Sobreira de Cima (informaccedilatildeo pessoal de

A M Soares) ndash estes apresentaram respectivamente -1868permil (Sac-2260) -1877permil

(Sac-2261) e -1926permil (Sac-2256) sem que se conheccedilam os valores de δ15N A

verificar-se alguma influecircncia marinha ou estuarina na dieta entatildeo haveria lugar a

um rejuvenescimento das datas Mas agrave semelhanccedila de Canaleja 1 os sepulcros de

Sobreira de Cima tambeacutem se encontram distantes (ainda que menos) daqueles tipos

de bioacutetopos pelo que esta questatildeo poderaacute dever-se somente a motivos teacutecnicos e

laboratoriais ainda que as paleodietas destes indiviacuteduos devessem ser avaliadas no

futuro

Os tholoi satildeo o quarto tipo de sepulcro inventariado na Estremadura e ao seu

reduzido nuacutemero corresponde tambeacutem um conjunto de dataccedilotildees limitadas ainda que

muito importantes

Assim agrave parte das dataccedilotildees de Cabeccedilo de Arruda 2 (CA2) e se excluir os

resultados da cacircmara ocidental da Praia das Maccedilatildes por poderem corresponder ao

momento anterior agrave construccedilatildeo do tholos os dados disponiacuteveis resumem o

aparecimento deste tipo de sepulcro agrave primeira metade do 3ordm mileacutenio ane onde se

verificou o pico de utilizaccedilatildeo mas perdurando pela segunda metade deste com um

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 343 de 415

nuacutemero aparentemente mais reduzido de deposiccedilotildees Reforccedilando esta verificaccedilatildeo

quando se valoriza a teacutecnica de construccedilatildeo em pedra seca com falsa cuacutepula destes

sepulcros e se compara com aquela utilizada nos povoados amuralhados verifica-se

uma similitude construtiva bem como uma contemporaneidade cronoloacutegica

A desconsideraccedilatildeo pelas dataccedilotildees de CA2 deve-se essencialmente agrave real

suspeita de mistura de restos oacutesseos de Cabeccedilo da Arruda 1 (CA1) durante o periacuteodo

que mediou a sua exumaccedilatildeo depoacutesito no Museu e o estudo antropoloacutegico recente

(Silva 2002) De facto apesar de serem mencionados feacutemures para CA1 a

antropoacuteloga A M Silva que estudou os restos humanos deste sepulcro e de CA2

apenas verificou a presenccedila de mandiacutebulas no primeiro registando-se feacutemures

somente no segundo Esta situaccedilatildeo tambeacutem poderaacute ter ocorrido segundo A Carneiro

(1997) entre alguns dos artefactos destes sepulcros ainda que essa mistura seja mais

facilmente rastreada Finalmente existindo hoje um conhecimento razoaacutevel do tipo

de espoacutelios associados a certos sepulcros e periacuteodos o espoacutelio atribuiacutedo a CA2

coaduna-se com momentos do 3ordm mileacutenio ane e eacute frequente nos tholoi da

Estremadura

Face ao exposto quando se compara a diacronia dos vaacuterios tipos de sepulcros

da regiatildeo de Lisboa em particular e da Estremadura em geral eacute possiacutevel verificar

uma certa antecedecircncia das cavidades naturais provavelmente no primeiro quartel do

4ordm mileacutenio ane de certa forma loacutegica dada a anterior utilizaccedilatildeo destas como

habitaccedilatildeo e jazigo As antas estudadas parecem erguer-se poucos seacuteculos apoacutes

aqueles primeiros usos funeraacuterios em cavernas com uma suspeita mas plausiacutevel

contemporaneidade das grutas artificiais Finalmente jaacute no 3ordm mileacutenio ane surgem

os tholoi Contudo apesar destas aparentes diferenciaccedilotildees cronoloacutegicas dos seus

primeiros momentos de utilizaccedilatildeo tambeacutem me parece importante realccedilar a sua

utilizaccedilatildeo coetacircnea De facto como se apontou ao longo deste capiacutetulo parece

registar-se uma tendecircncia geral de incremento de inumaccedilotildees entre a segunda metade

do 4ordm mileacutenio ane (sobretudo no uacuteltimo quartel) e a primeira metade do 3ordm mileacutenio

ane culminando em praacuteticas funeraacuterias similares ao longo do tempo

independentemente do contentor sepulcral utilizado

Partindo do cruzamento das cronologias absolutas disponiacuteveis e da presenccedila e

ausecircncia de artefactos ldquofoacutesseis-directoresrdquo nos sepulcros procurei realizar um

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 344 de 415

exerciacutecio que sequenciasse genericamente algumas das fases associadas ao

Megalitismo uma fase anterior agrave introduccedilatildeo dos iacutedolos-placa outra para o seu uso e

uma uacuteltima para o periacuteodo em que estas jaacute natildeo eram produzidas ndash simultaneamente

procurei tambeacutem situar a utilizaccedilatildeo dos artefactos votivos de calcaacuterio

aparentemente produzidos num momento ligeiramente posterior agraves placas Estas

sequecircncias poderiam tambeacutem elucidar o momento de transiccedilatildeo de uma primeira fase

das praacuteticas funeraacuterias com mobiliaacuterio essencialmente utilitaacuterio ainda que valorado

simbolicamente para um mobiliaacuterio de cariz essencialmente votivo

Ao intentar este exerciacutecio estava ciente de que poderia estar a ignorar

potenciais assimetrias regionais condicionadas pelo meio fiacutesico e social Por isso

este foi aplicado agraves regiotildees da Estremadura e do Alentejo dada a sua vizinhanccedila e

evidentes contactos inter-regionais ainda que separadamente perante algumas

particularidades dos seus espoacutelios como por exemplo a aparente quase ausecircncia de

artefactos votivos de calcaacuterio na uacuteltima Para o desiderato utilizei o programa de

calibraccedilatildeo OxCal 405 (Bronk Ramsey 2001 e 2008a) estabelecendo um modelo de

sequecircncia faseada (Quadro 19 e 20) Acerca desta abordagem C Bronk Ramsey

(2008b) referia

ldquoThe other class of radiocarbon study in which Bayesian methods have found

their place is those studies in which radiocarbon dates from archaeological phases

are analysed together in order to better understand the chronology of regions or

cultures (hellip) The groupings on which they are based are not from actual

stratigraphic information from a specific site they are based on an interpretation or

a range of possible interpretations of the regional chronology and frequently make

assumptions about synchronous changes that take place across a region It is

frequently assumed for example that particular types of ceramic or bronze artefact

come into use and go out of use at particular times Such changes are of course not

really events but gradual processes If the changes take place within a few years this

may not matter within the resolution of the chronology but if they take a generation

or so this may be significant These assumptions are usually and certainly should be

made explicit in the analysis and consequently the results of the analysis are

contingent on these interpretations being correct Others might interpret the same

information in significantly different waysrdquo (Bronk Ramsey 2008 p 265)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 345 de 415

Como existem poucas datas conhecidas associadas a contextos claros com a

presenccedila de iacutedolos-placa e porque em muitos sepulcros os processos acumulativos

de deposiccedilotildees funeraacuterias ao longo do tempo natildeo permitem uma destrinccedila facilitada

estabeleci alguns criteacuterios que procuraram ultrapassar esses obstaacuteculos

1 Para o conjunto ldquopreacute-iacutedolos-placardquo considerei apenas as dataccedilotildees

provenientes de sepulcros onde se registava essencialmente o conjunto mais arcaico

com geomeacutetricos lacircminas instrumentos de pedra polida e ceracircmicas lisas sem a

presenccedila de pontas de seta iacutedolos-placa e seus variantes alabardas lacircminas ovoacuteides

e lacircminas espessas retocadas A dataccedilatildeo de Trigache 4 foi aqui considerada apesar

de se ter recolhido na anta uma ponta de seta de base cocircncava visto ter assumido que

aquela tipologia corresponderaacute jaacute a uma provaacutevel cronologia do 3ordm mileacutenio ane

Natildeo incluiacute neste grupo algumas das datas mais antigas sobretudo de grutas

face agraves duacutevidas que algumas suscitam ndash tivesse-o feito e a baliza inferior teria

recuado um pouco mais como se veraacute Por outro lado algumas datas natildeo foram

consideradas porque o proacuteprio modelo lhes atribuiacutea uma concordacircncia reduzida

(poor agreement) abaixo dos 60

2 No conjunto ldquoiacutedolos-placardquo considerei as dataccedilotildees provenientes de sepulcros

onde se encontraram iacutedolos-placa pontas de seta ceracircmica com caneluras alabardas

lacircminas ovoacuteides e grandes lacircminas retocadas normalmente associadas a dataccedilotildees

cujo o intervalo compreendia essencialmente o 3ordm mileacutenio ane ndash o melhor exemplo

satildeo as dataccedilotildees da anta de Santa Margarida 3 Alentejo uma dela possivelmente

associada a um enterramento com iacutedolo-placa (Gonccedilalves 2003f)

Excepcionalmente considerei as dataccedilotildees provenientes dos povoados de Peacute da Erra e

Sala 1 onde contextos associados a iacutedolos-placa foram datados (Gonccedilalves 2006c)

As datas conhecidas de Cova das Lapas e Marmota-S2 atribuiacutedas a associaccedilotildees com

iacutedolos-placa (Gonccedilalves 1989a e 2006c) natildeo foram consideradas pois a antiguidade

dos seus intervalos calibrados aparenta coadunar-se com artefactos mais arcaicos o

que de facto se indicia ndash em ambas as grutas foram recolhidos geomeacutetricos

(Gonccedilalves 1987 Gonccedilalves e Pereira 1974-77 e informaccedilatildeo pessoal de V S

Gonccedilalves) Estas duacutevidas parecem ter sido tambeacutem reconhecidas por V S

Gonccedilalves (2003f) que em trabalhos mais recentes as considera com alguma reserva

Tambeacutem o proacuteprio modelo considerou estas duas datas com uma concordacircncia

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 346 de 415

reduzida (poor agreement) abaixo dos 60

3 Com o terceiro conjunto ldquopoacutes-iacutedolos-placardquo apenas aplicado na

Estremadura considerei aqueles sepulcros que natildeo evidenciavam a presenccedila de

iacutedolos-placa mas somente artefactos votivos de calcaacuterio denunciando uma possiacutevel

diacronia entre os dois pacotes simboacutelicos Neste grupo considerei a data de Folha

das Barradas pois apesar de possuir um fragmento de placa esta teraacute sido o

resultado de um reaproveitamento

4 No caso do Alentejo utilizei as dataccedilotildees de Vale Rodrigo 2 e 3 para balizar

de alguma forma um momento inicial e final da sequecircncia As datas sobre carvatildeo Ua-

10830 e KIA-31381 (3940-3520 cal BCE e 3940-3700 cal BCE) parecem estabelecer

momentos de terminii post quem portanto anteriores agrave construccedilatildeo dos respectivos

sepulcros A outra data tambeacutem sobre carvatildeo (Ua-10831 2580-2140 cal BCE) situa

um momento em que a passagem de Vale Rodrigo 2 teraacute sido bloqueada (Larsson

2000)

A sequecircncia aplicada ao conjunto de sepulcros da Estremadura apesar de

utilizar grupos de artefactos parece reforccedilar as leituras pontuais realizadas acima por

tipo de sepulcro Assim apesar de natildeo terem sido consideradas as dataccedilotildees mais

antigas para as praacuteticas funeraacuterias enquadraacuteveis no Megalitismo pelos vaacuterios

motivos explanados atraacutes eacute possiacutevel verificar a sua generalizaccedilatildeo pelo menos desde

o segundo quartel do 4ordm mileacutenio ane ou mais apropriadamente os meados do

mileacutenio Esta fase teria perdurado ateacute o ultimo quartel deste mileacutenio quando parece

afirmar-se um conjunto de novos artefactos funeraacuterios nomeadamente os iacutedolos-

placa e as pontas de seta Apesar de alguma sobreposiccedilatildeo eacute possiacutevel verificar essa

transiccedilatildeo para um pacote artefactual mais ideoteacutecnico Com menor definiccedilatildeo

estabeleceu-se um eventual faseamento entre as deposiccedilotildees com iacutedolos-placa e

aquelas com artefactos votivos de calcaacuterio Contudo o modelo de faseamento

proposto ao agrupar essas datas sobretudo no segundo quartel do 3ordm mileacutenio ane

parece coincidir de alguma forma com as datas disponiacuteveis para os tholoi Torna-se

tambeacutem interessante verificar que a proposta para o final desta fase se adequa

genericamente com os intervalos conhecidos para a introduccedilatildeo dos artefactos

campaniformes no periacuteodo sequente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 347 de 415

Quadro 19 Sequecircncia faseada dos sepulcros da Estremadura Siacutetio (Ref Lab)

Modelled cal BCE

1 σ (682)

Modelled cal BCE

2 σ (954)

Agreement

(gt60)

Convergence

(gt95) Sequecircncia

Fase 1 ndash preacute-iacutedolos-placa Boundary start 1 3710-3570 3760-3550 978

A Bom Santo (OxA-5513) 3670-3380 3700-3370 991 996 A Bom Santo (Beta-120048) 3640-3510 3650-3370 1005 997 A Bom Santo (OxA-5511) 3620-3370 3640-3360 1006 997 A Bom Santo (OxA-5512) 3520-3350 3640-3140 1069 997 A Bom Santo (Beta-120047) 3340-3240 3360-3080 84 996 Algar do Barratildeo (ICEN-740) 3350-3230 3370-3100 1051 994 Feteira C3 (TO-353) 3500-3190 3520-3130 1007 997 G Salemas (Beta-233282) 3640-3520 3660-3380 1027 997 Carrascal (Beta-225167) 3510-3360 3530-3350 1008 997 Carrascal (Beta-228577) 3640-3520 3650-3380 993 996 Pedras Grandes (Beta-205946) 3500-3330 3520-3130 1106 997 Pedras Grandes (Beta-234136) 3370-3200 3370-3130 957 996 Trigache 4 (Beta-228583) 3340-3240 3360-3090 1026 997 Porto Covo (Beta-244819) 3520-3360 3630-3360 1009 997 Porto Covo (Beta-245136) 3640-3520 3650-3380 1017 998 Porto Covo (Beta-245134) 3670-3530 3700-3520 762 99

Boundary End 1 3290-3140 3320-3030 987 Fase 2 ndash uso de iacutedolos-placa

Boundary Start 2 3030-2920 3130-2900 995 Feteira C1 (TO-352) 2880-2800 2890-2720 977 999 Casaiacutenhos (Beta-225168) 2880-2790 2890-2730 1014 999 Monte Abraatildeo (Beta-228580) 2890-2780 2900-2730 1046 998 Estria (Beta-208950) 2890-2780 2910-2730 1052 998 Estria (Beta-228578) 2870-2810 2880-2720 947 999 Praia das Maccedilatildes W (OxA-5509) 2980-2890 3060-2870 1016 998 Praia das Maccedilatildes W (OxA-5510) 2980-2900 3050-2880 1099 998 Praia das Maccedilatildes W (H-20491467) 2930-2780 3010-2750 1258 999

Boundary End 2 2830-2710 2860-2670 997 Fase 3 ndash poacutes uso de iacutedolos-placa

Boundary Start 3 2770-2670 2830-2630 996 Carcavelos (Beta-225170) 2740-2630 2780-2590 111 998 Folha das Barradas (Beta-234135) 2730-2630 2790-2610 87 998 Agualva (Beta-239754) 2750-2630 2770-2590 1071 998 Paimogo 1 (Sac-1556) 2730-2630 2790-2600 853 998 Paimogo 1 (UBAR-539) 2740-2630 2780-2590 1158 998 Paimogo 1 (Sac-1782) 2750-2630 2780-2580 110 998 Verdelha dos Ruivos (GrN-10972) 2750-2630 2780-2580 110 998

Boundary End 3 2730-2600 2760-2540 99

Amodel= 1067 Aoverall= 1074

O modelo aplicado para as dataccedilotildees consideradas dos sepulcros do Alentejo

resulta semelhante ao estremenho Mas como referi atraacutes foram incluiacutedas as datas

de Vale Rodrigo 2 e 3 de momentos anteriores e outro final das antas procurando

balizar as duas fases preacute-utilizaccedilatildeo de iacutedolos-placa e o seu posterior uso

generalizado O facto destes momentos inicial e final se limitarem a trecircs datas

explicaraacute os respectivos largos espectros obtidos clamando por mais datas

Quadro 20 Sequecircncia faseada dos sepulcros do Alentejo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 348 de 415

Siacutetio (Ref Lab)

Modelled cal BCE

1 σ (682)

Modelled cal BCE

2 σ (954)

Agreement

(gt60)

Convergence

(gt95) Sequecircncia

Fase 1 ndash Terminus post quem Boundary start 1 3840-3710 4060-3690 983

Vale Rodrigo 2 (Ua-10830) 3780-3680 3900-3630 1026 998 Vale Rodrigo 3 (KIA-31381) 3790-3710 3910-3670 108 998

Boundary End 1 3760-3630 3800-3530 997 Fase 2 ndash preacute-iacutedolos-placa Boundary Start 2 3660-3510 3680-3400 991

G Escoural (ICEN-861) 3520-3360 3630-3130 1046 996 G Escoural (Lv-1923) 3510-3190 3530-3120 1048 996 G Escoural (Lv-1922) 3360-3180 3380-3050 1067 996 G Escoural (Lv-1924) 3350-3160 3370-3040 106 996 G Escoural (Lv-1925) 3340-3160 3360-3030 832 995 C Zambujal (TO-2090) 3350-3160 3360-3040 871 995 Cabeceira 4 (Beta-196094) 3570-3380 3640-3370 76 991 Cabeccedilo da Areia (Beta-196091) 3500-3360 3520-3350 1005 994 Sobreira 1 (Beta-233283) 3570-3380 3620-3370 767 992 Rabuje 5 (Beta-191133) 3500-3360 3620-3330 1032 996 Santa Margarida 2 (Beta-153911) 3340-3080 3360-3020 739 994 Sobreira de Cima 3 (Beta-231071) 3500-3360 3620-3350 1055 996 Sobreira de Cima 1 (Sac-2260) 3370-3180 3380-3090 101 995 Sobreira de Cima 1 (Sac-2261) 3360-3180 3490-3040 1076 996 Sobreira de Cima 4 (Sac-2256) 3360-3180 3370-3110 983 997

Boundary End 2 3220-3010 3290-2940 993 Fase 3 ndash uso de iacutedolos-placa

Boundary Start 3 2950-2890 3020-2880 992 Estanque (Wk-17091) 2890-2790 2900-2700 1036 999 Bola da Cera (ICEN-66) 2930-2890 2980-2870 865 997 Santa Margarida 3 (Beta-176897) 2920-2880 2960-2860 1274 999 Santa Margarida 3 (Beta-166422) 2910-2880 2930-2770 1212 999 Santa Margarida 3 (Beta-166416) 2910-2880 2930-2770 1212 998 Santa Margarida 3 (Beta-176896) 2890-2790 2900-2710 1022 998 Santa Margarida 3 (Beta-166423) 2880-2810 2890-2680 834 997 Olival da Pega 2b (ICEN-955) 2930-2840 2970-2710 1361 998 Olival da Pega 2b (ICEN-956) 2910-2800 2920-2710 1077 998 Olival da Pega 2b (ICEN-957) 2890-2810 2900-2700 975 997 Cabeccedilo Peacute da Erra (ICEN-587) 2910-2790 2920-2700 1177 999 Sala nordm 1 (ICEN-448) 2910-2810 2930-2700 1062 998

Boundary End 3 2870-2740 2880-2630 985 Fase 4 ndash poacutes-iacutedolos-placa Boundary Start 4 2680-2400 2840-2290 995

Vale Rodrigo 2 (Ua-10831) 2570-2130 2630-2200 976 996 Boundary End 4 2540-2200 2650-1820 979

Amodel= 1078 Aoverall= 1042

Quanto agraves duas fases que se queria avaliar essencialmente o modelo aponta

uma ligeira posteridade para as deposiccedilotildees funeraacuterias alentejanas face agraves

estremenhas Caso a data da gruta do Lagar tivesse sido incluiacuteda esta baliza recuaria

com certeza Natildeo obstante poderaacute propor-se tambeacutem os meados do 4ordm mileacutenio ane

para um momento de generalizaccedilatildeo do Megalitismo do Alentejo que parece alterar a

seu mobiliaacuterio funeraacuterio nos finais deste mileacutenio para dar lugar a deposiccedilotildees com

pontas de seta e iacutedolos-placa Ainda que sendo exemplos geograficamente distintos

do extremo nordeste da Meseta espanhola julgo que os casos dos sepulcros de

Longar (Armendaacuteriz e Irigaray 1993-94) e San Juan Portam Latinam (Vegas 2007)

parecem reforccedilar a introduccedilatildeo das pontas de seta nos uacuteltimos seacuteculos do 4ordm mileacutenio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 349 de 415

ane princiacutepio do seguinte (Quadro 35) registando-se ferimentos eventualmente

mortais com aqueles artefactos cravados em ossos de diversos indiviacuteduos Em

ambos os casos os geomeacutetricos encontram-se ausentes (Armendaacuteriz e Irigaray 1993-

94 Vegas 2007)

Eacute de realccedilar a semelhanccedila com a Estremadura para o final da fase com iacutedolos-

placa o que soacute seraacute possiacutevel compreender melhor quando se obtiverem dataccedilotildees para

sepulcros com espoacutelio presumivelmente mais tardio como por exemplo de

Perdigotildees com reduzido nuacutemero de iacutedolos-placa (alguns aparentemente

reaproveitados) e artefactos votivos de calcaacuterio (Lago et al 1998) que

putativamente se poderia situar genericamente no segundo quartel do 3ordm mileacutenio

ane agrave semelhanccedila do que parece ocorrer na Estremadura

Portanto com o exerciacutecio apresentado acima procurei estabelecer

cronologicamente um provaacutevel faseamento para aspectos artefactuais do

Megalitismo funeraacuterio das regiotildees da Estremadura e Alentejo que me parece

plausiacutevel face aos dados que se conhecem actualmente Haja mais e melhores

dataccedilotildees e julgo que melhores e mais afinados modelos seratildeo possiacuteveis ndash por

exemplo distinguindo dentro do primeiro faseamento (mais arcaico) os momentos

relacionados com espoacutelios aceracircmicos daqueles associados a conjuntos como Poccedilo

da Gateira 1 jaacute com ceracircmicas Aliaacutes na sequecircncia das duacutevidas colocadas supra os

dados disponiacuteveis natildeo permitem hoje situar as praacuteticas realizadas nesse sepulcro se

natildeo na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane quiccedilaacute no uacuteltimo quartel deste

83 As sincronias com os vivos uma avaliaccedilatildeo assimeacutetrica

Este trabalho natildeo teve por objectivo primordial um desenvolvimento

aprofundado acerca do povoamento daqueles que utilizavam os sepulcros ou seja

dos espaccedilos habitacionais daqueles que foram sepultantes e por sua vez sepultados

Ateacute porque como se viu noutro capiacutetulo os dados disponiacuteveis natildeo permitiram uma

correlaccedilatildeo facilitada Contudo quando sistematizei os dados cronoloacutegicos absolutos

algo que ressaltou foi a fraca representatividade de espaccedilos habitacionais datados do

4ordm mileacutenio ane sobretudo da sua primeira metade e meados quando

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 350 de 415

simultaneamente se conhecem vaacuterios espaccedilos funeraacuterios enquadraacuteveis no

Megalitismo deste periacuteodo Uma breve revisatildeo criacutetica das datas disponiacuteveis natildeo

permitiu uma avaliaccedilatildeo tatildeo rigorosa como aquela que realizei para os contextos

funeraacuterios mas ainda assim alguns comentaacuterios pareceram-me pertinentes

Recentemente a pretexto de um conjunto de dataccedilotildees do povoado da Rotura

foram genericamente alinhadas as principais datas conhecidas para a Estremadura

(Gonccedilalves e Sousa 2006) Porque a temaacutetica incidia num povoado do 3ordm mileacutenio

ane a atenccedilatildeo dada a ocupaccedilotildees do 4ordm mileacutenio ane relacionou-se essencialmente

com essa problemaacutetica Contudo com a excepccedilatildeo de algumas datas de Olelas

(Gonccedilalves J 1990-92b e 1993) infelizmente natildeo totalmente esclarecidas mesmo

que se quisesse recuar a questatildeo cronologicamente os dados seriam escassos e

nalgumas aacutereas inexistentes

Na Alta Estremadura mais precisamente no Arrife do Maciccedilo Calcaacuterio

Estremenho os siacutetios vizinhos do Abrigo da Pena drsquoAacutegua e Costa do Pereiro

(Carvalho 1998 2007a e 2007b) seratildeo dos poucos casos em que existem dados

cronomeacutetricos para a primeira metade do 4ordm mileacutenio ane atribuiacuteda pelo autor a um

ldquoNeoliacutetico meacutediordquo periacuteodo cronoloacutegico durante o qual como se propotildee acima

corresponderaacute talvez ao dealbar das praacuteticas funeraacuterias enquadraacuteveis no Megalitismo

Contudo do primeiro siacutetio o intervalo calibrado 4530-3380 cal BCE da data ICEN-

1147 sobre carvotildees eacute demasiado extenso para uma avaliaccedilatildeo fina No segundo siacutetio

foram obtidas duas datas para momentos distintos ndash a inumaccedilatildeo jaacute referida de um

infante datada na primeira metade do 4ordm mileacutenio ane e uma lareira cujos carvotildees

datados (Sac-1744 4410plusmn60 BP 3340-2900 cal BCE) situaram-na no uacuteltimo quartel

do mesmo mileacutenio em consonacircncia com outras datas conhecidas para ocupaccedilotildees

habitacionais da regiatildeo

Algo jaacute referido para os sepulcros foi a verificaccedilatildeo de um aparente incremento

das deposiccedilotildees funeraacuterias essencialmente na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane e

sobretudo no seu uacuteltimo quartel atingindo um pico na primeira metade do 3ordm

mileacutenio ane Ora tal situaccedilatildeo parece coincidir com os dados conhecidos para as

ocupaccedilotildees habitacionais concentrando-se o maior nuacutemero de registos

aproximadamente nos mesmos intervalos de tempo Inclusive as datas que

assinalam o surgimento de povoados amuralhados parecem coincidir genericamente

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 351 de 415

com aquelas conhecidas para os tholoi

Se observar os dados cronomeacutetricos de contextos habitacionais no Alentejo

(Mataloto e Muumlller no prelo) a situaccedilatildeo descrita para a Estremadura parece repetir-

se Tambeacutem aqui as datas concentram-se na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane

(sobretudo no uacuteltimo quartel) e na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane inclusive

com um padratildeo cronoloacutegico semelhante entre povoados amuralhados e tholoi

Que dizer deste padratildeo Julgo que as ocupaccedilotildees muito discretas dos primeiros

praticantes do Megalitismo dificultam sobremaneira por agora a obtenccedilatildeo de dados

que permitam uma melhor compreensatildeo dessas comunidades ndash alguns dos momentos

dos siacutetios de Xarez 12 (Gonccedilalves 2003b) e Quinta da Fidalga (Soares e Silva 1992)

poderiam ser associados a esse periacuteodo menos conhecido mas faltam as dataccedilotildees

comprovativas Contudo numa fase posterior da segunda metade do 4ordm mileacutenio

ane parece demonstrada a generalizaccedilatildeo de certo tipo de praacuteticas funeraacuterias

ritualizadas ou pelo menos estabelecidas pela tradiccedilatildeo correlacionando-se com o

registo de povoados com fossos e ou sem estruturas delimitadoras prolongando-se

pelo 3ordm mileacutenio ane periacuteodo em que surgem os povoados amuralhados com

teacutecnicas construtivas similares aos tholoi

84 O carvatildeo e o osso desfasamento cronoloacutegico inter-regional ou uma

questatildeo de mateacuteria e contexto

Quando se comparam as cronologias conhecidas para as antas de Lisboa mas

tambeacutem de outros tipos de sepulcros da Estremadura com aquelas de outras regiotildees

nomeadamente Alentejo e Beira Interior poderia pensar-se num desfasamento

cronoloacutegico Como penso ter demonstrado com o exerciacutecio para a Estremadura e

Alentejo julgo que tal desfasamento natildeo parece ocorrer entre aquelas duas regiotildees

Para essa leitura optei pelos criteacuterios mencionados atraacutes mas tambeacutem por natildeo

considerar os dados cronoloacutegicos de difiacutecil enquadramento face aos dados

actualmente disponiacuteveis como as datas TL de Poccedilo da Gateira 1 e Gorginos 2 mas

tambeacutem de um conjunto de datas obtidas de contextos que suscitam duacutevidas quanto agrave

sua valorizaccedilatildeo ou com desvios-padratildeo demasiado elevados (ver Anexo 3 com as

datas natildeo consideradas)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 352 de 415

Restava entatildeo avaliar e discutir os dados cronomeacutetricos que se conhecem para

as regiotildees normalmente utilizadas para o estabelecimento de paralelos com a

Estremadura portuguesa comeccedilando pelas mateacuterias datadas e aos seus contextos

O nuacutemero de dataccedilotildees pelo radiocarbono realizadas para a Estremadura

ultrapassa a centena abrangendo os vaacuterios tipos de sepulcro A maior concentraccedilatildeo

de datas obtidas regista-se nas grutas o que de alguma forma parece reflectir a

presenccedila proporcional neste territoacuterio de cada tipo de sepulcro onde aquelas

assumem a maioria mas tambeacutem por permitirem uma melhor preservaccedilatildeo da mateacuteria

orgacircnica

Apesar de ser uma das maiores concentraccedilotildees de antas do Ocidente peninsular

o Alentejo apresenta um cocircmputo de datas bem mais reduzido ainda que se

conhecendo dados para diversos tipos de sepulcros

A Beira Interior apresenta um nuacutemero razoaacutevel de dataccedilotildees essencialmente

provenientes de antas Este cocircmputo eacute apenas duplicado pela regiatildeo Noroeste da

Peniacutensula Ibeacuterica onde se conhecem quase centena e meia de datas

A Meseta Norte tem cerca de meia centena de dataccedilotildees e na Meseta Sul o seu

nuacutemero eacute menos de metade daquele A esta uacuteltima regiatildeo pode acrescentar-se o

pequeno grupo de uma dezena de datas da Extremadura espanhola

Apesar do Sul peninsular ser frequentemente utilizado como paralelo para as

regiotildees do Centro e Sul de Portugal regista-se uma escassez de dataccedilotildees Isso eacute

surpreendente pois em muitos casos relata-se a existecircncia de ossadas humanas nos

sepulcros ndash por exemplo em Alberite (Ramos e Giles 1996) ou em Valencina de La

Concepcioacuten (Vargas 2004a e 2004b) Assim se para o Algarve haacute cerca de uma

dezena de datas do Sudoeste espanhol (Huelva Sevilha e Caacutediz) junto com

Antequera o seu nuacutemero limita-se a cerca de duas dezenas ndash conviraacute no entanto

realccedilar que este panorama parece que seraacute em breve alterado por novos trabalhos

hoje em desenvolvimento Finalmente uma das regiotildees miacuteticas da Arqueologia preacute-

histoacuterica peninsular Almeria (sobretudo o conjunto de Los Millares) continua a

apresentar apenas as datas sobre carvatildeo conhecidas na deacutecada de 70 (Almagro

Gorbea 1970 Alonso et al 1978)

Fig 19 Dataccedilotildees por 14C e tipos de sepulcro das partes central e ocidental da Peniacutensula Ibeacuterica

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 353 de 415

72

7

1

1

3

3

3

13

76

136

22

4

29

36

19

5

3

7

5

3

10

3

21

1

10

12

0 20 40 60 80 100 120 140

Extremadura

Algarve

Sudoeste Espanha

Almeria

Beira interior

Noroeste

Meseta N

Meseta S

160

Estremadura

Alentejo

Grutas Antas Grutas artificiais Tholoi Tumbas-Calero Outros Sepulcros

O desequiliacutebrio de dados cronomeacutetricos entre as vaacuterias regiotildees eacute um factor a ter

em consideraccedilatildeo quando estas satildeo comparadas Mais ainda quando muitas das

dataccedilotildees disponiacuteveis satildeo de primeira geraccedilatildeo apresentando desvios-padratildeo elevados

impossibilitando intervalos de tempo ldquocurtosrdquo (no sentido em que o radiocarbono o

permite) aconselhando a sua exclusatildeo ou quando muito um enquadramento muito

geneacuterico

Mas se a quantidade eacute importante tambeacutem a qualidade das amostras e os seus

contextos tem que ser considerada Assim se as amostras das dataccedilotildees referidas

forem caracterizadas verifica-se a existecircncia de algumas particularidades regionais

condicionadas pelo meio fiacutesico nomeadamente quanto agrave preservaccedilatildeo de mateacuteria

orgacircnica o que poderaacute limitar tambeacutem a sua valoraccedilatildeo

Os depoacutesitos calcaacuterios e afins da Estremadura permitiram uma boa preservaccedilatildeo

dos restos osteoloacutegicos pelo que a sua utilizaccedilatildeo na obtenccedilatildeo de datas pelo

radiocarbono tem sido usual e maioritaacuteria Por outro lado a precocidade das

intervenccedilotildees na maioria dos sepulcros natildeo suscitou a recolha de carvotildees que

devidamente contextualizados poderiam contribuir para um melhor entendimento dos

seus processos de construccedilatildeo pelo que apenas os restos oacutesseos puderam ser datados

ndash eacute o caso das antas de Lisboa e de parte de outros sepulcros da regiatildeo No entanto

um importante facto a reter com o uso destes elementos eacute que se procede agrave dataccedilatildeo

de um depoacutesito funeraacuterio de facto seja ele de cariz primaacuterio ou secundaacuterio

O Alentejo com o seu substrato geoloacutegico essencialmente graniacutetico e xistoso

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 354 de 415

natildeo permitiu uma preservaccedilatildeo razoaacutevel de mateacuteria orgacircnica sendo poucos os casos

onde foram recolhidos restos osteoloacutegicos ou se o foram natildeo continham colageacutenio

suficiente para mediccedilatildeo ndash o recentemente escavado cluster de sepulturas

ldquomegaliacuteticasrdquo de Atafonas (Albergaria 2007) eacute disso exemplo pois apesar de terem

sido recolhidos restos de ossadas humanas natildeo foi possiacutevel obter colageacutenio

adequado para dataccedilatildeo Claro estaacute as intervenccedilotildees antigas em antas com honrosas

excepccedilotildees tambeacutem natildeo cuidaram em recolher os resquiacutecios de ossos pois como se

referiu noutro capiacutetulo soacute ossos completos mereciam a atenccedilatildeo dos escavadores ndash o

caso dos inuacutemeros sepulcros de Reguengos de Monsaraz com restos osteoloacutegicos

escavados pelo casal Leisner (1951) eacute disso exemplo angustiante No caso de M

Heleno as suas escavaccedilotildees ldquoagrave distacircnciardquo no Alentejo permitiram ainda assim a

recolha de algumas ossadas com recentes benefiacutecios para o panorama cronoloacutegico

alentejano (Rocha 2005) Quanto a carvotildees tambeacutem estes natildeo foram guardados Por

outro lado alguns daqueles recolhidos nas uacuteltimas deacutecadas revelaram resultados tatildeo

diacutespares que se clama por maior rigor na sua contextualizaccedilatildeo ainda que alguns

bons exemplos tenham permitido demonstrar que vale a pena a sua recolha os

gracircnulos de carvotildees sob as estruturas de condenaccedilatildeo das antas de Vale Rodrigo 2

(Larsson 2000) de Santa Margarida 2 (Gonccedilalves 2001) e Rabuje 5 (em estudo)

Mas globalmente apesar destas limitaccedilotildees existe um conjunto de dataccedilotildees sobre

ambas as mateacuterias orgacircnicas que permitiram um enquadramento razoaacutevel para o

Megalitismo alentejano

Na Beira interior e Noroeste peninsular com substratos semelhantes aos do

Alentejo mas ainda mais inoacutespitos a maioria das dataccedilotildees foi obtida sobre carvotildees

normalmente recolhidos em quatro situaccedilotildees geneacutericas sistematizadas por vaacuterios

autores (Cruz 1995 Cruz 2001 Cruz et al 2003)

1 Sob as massas tumulares dos monumentos ndash portanto fornecendo

dataccedilotildees de um terminus post quem tornando-se mais problemaacutetico

perceber exactamente a duraccedilatildeo do interregno antes da construccedilatildeo

posterior (Soares 1999)

2 Inclusos nas terras das mamoas sem uma origem clara o que

parece evidente pela disparidade de resultados numa mesma

mamoa

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 355 de 415

3 Provenientes de estruturas de combustatildeo localizadas dentro do

tumulus ou do espaccedilo sepulcral indicando uma utilizaccedilatildeo concreta

possivelmente associada a actividade funeraacuteria

4 Encontrados dispersos ou relativamente concentrados no interior do

espaccedilo sepulcral indicando algum tipo de utilizaccedilatildeo

Contudo por vezes as dataccedilotildees dos carvotildees de um mesmo contexto revelam

disparidades que suscitam a duacutevida por exemplo as dataccedilotildees do aacutetrio da Orca de

Merouccedilos (Cruz et al 2003) mas tambeacutem de Dombate (Alonso e Bello 1995

Alonso 1999) onde vaacuterias amostras de interface entre o paleosolo e a massa tumular

apontam diversos momentos cronoloacutegicos (Quadro 31)

Aleacutem da questatildeo da proveniecircncia das amostras haacute ainda a questatildeo para os

carvotildees do ldquoold-wood effectrdquo pois pode originar dataccedilotildees mais antigas

independentemente da fiabilidade do contexto Infelizmente a identificaccedilatildeo da

espeacutecie vegetal que resultou no carvatildeootildees datados nem sempre foi realizada ou

possiacutevel desconhecendo-se se a planta seria de vida curta ou longa No caso de

aacutervores centenaacuterias acresce ainda a dificuldade de perceber a posiccedilatildeo dos gracircnulos

de carvotildees datados dentro da sequecircncia dos aneacuteis de crescimento destas obstando ao

conhecimento pelo menos do momento do seu abate natural ou intencional

Tambeacutem resulta difiacutecil perceber quanto tempo distou entre esse momento e as suas

utilizaccedilatildeootildees Assim R B Warner (1990) resumia a questatildeo ldquoUnless the sample

description or context makes a short-life status certain the archaeologist must

assume there to be a high chance of a substancial old-wood effect being presentrdquo

(Warner 1990 p 162) No entanto a consciencializaccedilatildeo destas questotildees tem

permitido uma mais apropriada valorizaccedilatildeo das dataccedilotildees obtidas sobretudo nos

uacuteltimos anos graccedilas a meacutetodos de escavaccedilatildeo mais eficientes a uma mais cuidada

identificaccedilatildeo das espeacutecies vegetais carbonizadas e ao tratamento estatiacutestico adequado

no processo da proacutepria calibraccedilatildeo da data obtida (Bayliss e Tyers 2004)

A oportunidade de recolha de material osteoloacutegico em antas da Beira Interior eacute

tambeacutem um dado importante existindo hoje quatro monumentos com dataccedilotildees sobre

ossos humanos isto eacute para deposiccedilotildees funeraacuterias concretas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 356 de 415

Fig 20 Tipo de amostra de contextos funeraacuterios por regiotildees e datada por 14C das partes central e ocidental da Peniacutensula Ibeacuterica

5

19

5

2

11

3

68

130

29

4

5

4

8

27

16

6

2

0 20 40 60 80 100 120 140

Extremadura

Algarve

Sudoeste Espanha

Almeria

Beira interior

Noroeste

Meseta N

Meseta S

125

32

Estremadura

Alentejo

Carvatildeo Osso Indeterminado

Nas restantes regiotildees pode verificar-se que os carvotildees tambeacutem tecircm sido

utilizados mas nos uacuteltimos anos uma maior atenccedilatildeo tem sido dada agrave utilizaccedilatildeo do

osso humano sobretudo em contextos funeraacuterios das Mesetas Aliaacutes eacute essa mais

frequente utilizaccedilatildeo que chama a atenccedilatildeo para um facto crucial a maior antiguidade

de muitas das datas sobre carvatildeo face agravequelas de ossos humanos

Alguns casos em particular suscitavam uma atenccedilatildeo especial e neste caso

passarei a algumas questotildees relacionadas com a Beira Interior regiatildeo proacutexima da

Estremadura e Alentejo mas que aparentava uma maior antiguidade do seu

Megalitismo

Tendo em conta os valores obtidos para muitos contextos com terminus post

quem sob estruturas funeraacuterias beiratildes e outros atribuiacutedos agraves suas primeiras

utilizaccedilotildees realizei um exerciacutecio semelhante agravequele efectuado entre as regiotildees da

Estremadura e do Alentejo Assim neste caso estabeleci um modelo de sequecircncia

faseada com dataccedilotildees referentes a momentos ldquopreacute-sepulcrosrdquo e a ldquoprimeiras

utilizaccedilotildees dos sepulcrosrdquo

Algumas dataccedilotildees por se revelarem demasiado antigas ou demasiado

recentes foram excluiacutedas pelo programa apontando-as com um ldquopoor agreementrdquo

(abaixo de 60) Entre essas datas encontrava-se uma sobre ossos humanos da anta

de Areita 1 aquela com maior antiguidade tendo a outra sido incluiacuteda (Quadro 30)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 357 de 415

Outra data natildeo considerada foi a OxA-4084 da anta de Lameira de Cima 1 3950-

3650 cal BCE estatisticamente semelhante a outras da vizinha Lameira de Cima 2 ndash

contudo num caso o autor considera-a um valor de terminus post quem noutro de

utilizaccedilatildeo primaacuteria apesar da cultura material mais arcaica em presenccedila ser similar

em ambos os sepulcros (Gomes 1996)

O modelo obtido ajustando as datas ao faseamento estipulado (Quadro 21)

propocircs genericamente os primeiros seacuteculos (aproximadamente o primeiro quartel) do

4ordm mileacutenio ane para um momento anterior agrave construccedilatildeo das antas beiratildes

estipulando o periacuteodo para as primeiras utilizaccedilotildees funeraacuterias nos meados da

primeira metadesegundo quartel do 4ordm mileacutenio ane Portanto a realizaccedilatildeo de

deposiccedilotildees funeraacuterias realizando-se na primeira metade do 4ordm mileacutenio ane agrave

semelhanccedila dos dados da Estremadura e Alentejo ainda que com uma ligeira

antecedecircncia se considerar apenas os sepulcros do tipo anta destas regiotildees Tambeacutem

como parte destes sepulcros eram jaacute grandes monumentos de cacircmara e corredor

poderia admitir-se que talvez o processo se tivesse iniciado com alguma

anterioridade ndash mas as dataccedilotildees obtidas foram essencialmente sobre carvotildees umas

vezes identificados outras natildeo de contextos mais ou menos esclarecidos pelo que

deveraacute existir algum cuidado na sua valorizaccedilatildeo e nas ilaccedilotildees daiacute retiradas

Quadro 21 Sequecircncia faseada dos sepulcros da Beira Interior

Siacutetio (Ref Lab)

Modelled cal BCE

1 σ (682)

Modelled cal BCE

2 σ (954)

Agreement

(gt60)

Convergence

(gt95)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 358 de 415

Sequecircncia Fase 1 ndash Terminus post quem

Boundary start 1 4200-4050 4290-4000 966 Antelas (OxA-5496) 4120-3990 4200-3970 905 993 Antelas (OxA-5497) 4110-3980 4190-3960 956 994 Antelas (OxA-5498) 3970-3850 3990-3790 108 996 Senhora do Monte 3 (GrN-20791) 3990-3830 4040-3800 1038 997 Senhora do Monte 3 (ICEN-1200) 3980-3840 4040-3800 1056 997 Senhora do Monte 3 (ICEN-1201) 3950-3870 3960-3780 697 996 Carapito 1 (OxA-3733) 4040-3840 4050-3800 106 996 Carapito 1 (TO-3336) 3980-3830 4040-3800 101 996 Orquinha dos Juncais (GrA-17163) 3950-3860 3970-3790 1025 997 Lameira de Cima 2 (OxA-5102) 4130-4000 4210-3980 787 995

Boundary End 1 3860-3770 3920-3760 996 Fase 2 - Utilizaccedilatildeo

Boundary Start 2 3800-3750 3820-3730 996 Areita 1 (GrA-18497) 3700-3630 3770-3610 1106 998 Picoto do Vasco (CSIC-1199) 3760-3700 3800-3690 1127 998 Picoto do Vasco (OxA-6910) 3750-3650 3780-3640 1171 998 Carapito 1 (GrN-5510) 3700-3630 3710-3620 1167 998 Orca de Seixas (GrN-26225) 3760-3700 3790-3660 1053 998 Orca de Seixas (CSIC-1665) 3760-3650 3780-3650 1044 998 Orca de Seixas (CSIC-1664) 3750-3650 3770-3640 1036 999 Orca de Seixas (GrN-5734) 3710-3640 3760-3630 1038 999 Moinhos de Vento 1 (ICEN-196) 3640-3610 3650-3590 92 997 Sangrino (CSIC-1325) 3760-3670 3780-3650 1039 997 Lameira de Cima 2 (CSIC-1114) 3770-3710 3800-3700 1092 998 Lameira de Cima 2 (GrN-21353) 3770-3700 3790-3660 115 998 Lameira de Cima 2 (CSIC-1113) 3770-3700 3780-3660 1038 998 Orca de Merouccedilos (GrA-14767) 3770-3700 3790-3660 1153 998 Orca de Merouccedilos (GrA-14768) 3770-3700 3790-3660 1148 998 Orca de Merouccedilos (GrA-14765) 3770-3690 3780-3650 1101 998 Orca de Merouccedilos (GrA-14770) 3710-3650 3760-3640 104 998

Boundary End 2 3640-3600 3650-3570 993

Amodel= 1207 Aoverall= 1179

Retornando agraves dataccedilotildees obtidas para a anta de Areita 1 (Gomes 1998) estas

destacam-se como um conjunto interessante para a discussatildeo de datas obtidas sobre

carvatildeo e ossos humanos (Quadro 30) As quatro dataccedilotildees sobre troncos carbonizados

de Pinus pinaster e Pinus pinea-pinaster encontrados no interior da cacircmara

apontam o espectro do 5ordm mileacutenio ane (Gomes 1998 Cruz et al 2003) Sobre a

camada de restos carbonizados foram recolhidos os ossos humanos com os quais se

obtiveram duas dataccedilotildees (GrA-18518 e GrA-18497) com os intervalos de 4230-3790

cal BCE (restringindo-se a 4080-3790 cal BCE com 878 de probabilidade) e 3770-

3380 cal BCE (restringindo-se a 3770-3510 cal BCE com 933 de probabilidade)

A comparaccedilatildeo dos dois conjuntos demonstra uma clara discrepacircncia entre os valores

dos carvotildees e dos ossos humanos talvez explicada em parte pelo ldquoold-wood effectrdquo

Contudo segundo os autores pelo menos um dos troccedilos de tronco carbonizado natildeo

seria de ldquouma aacutervore de vida longa pelo simples facto de se reportar a um Pinus

pinaster com c de 19 cm de diacircmetro e com escassos anos de vidardquo (Gomes et al

1998) atribuindo os restos a uma possiacutevel estrutura preacute-existente com funccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 359 de 415

desconhecida ou de escoramento durante a construccedilatildeo da carcaccedila peacutetrea e entretanto

queimada antes das utilizaccedilotildees funeraacuterias ndash nesta uacuteltima situaccedilatildeo as dataccedilotildees obtidas

natildeo parecem coadunar-se totalmente com a interpretaccedilatildeo proposta

No que concerne as amostras de ossos humanos de Areita 1 estas foram

datadas aparentemente pelo agrupamento respectivamente de vaacuterios fragmentos de

cracircnio e outros natildeo especificados (Cruz et al 2003) apesar da listagem de peccedilas

oacutesseas recolhidas permitir uma melhor identificaccedilatildeo (Gomes et al 1998 p 80-81)

Outro aspecto a realccedilar para as datas obtidas sobre ossos humanos nesta mas

tambeacutem nas restantes antas beiratildes eacute o desconhecimento dos valores medidos de

δ13C No entanto dada a distacircncia para bioacutetopos marinhos eacute provaacutevel que os

indiviacuteduos sepultados tivessem uma alimentaccedilatildeo essencialmente terrestre portanto

sem influecircncia isotoacutepica nos resultados obtidos ndash mas por confirmar Aliaacutes alguns

dos laboratoacuterios utilizados para estas datas por natildeo terem espectroacutemetro de massa

estimam (ou estimavam) os valores de δ13C (informaccedilatildeo pessoal de AM Soares)

Com resultados bastante plausiacuteveis no caso da Orca da Penela 1 (Cruz et al

2003) os ossos humanos datados ainda que sem apresentaccedilatildeo dos valores de δ13C

situaram as utilizaccedilotildees da anta claramente na segunda metade do 4ordm mileacutenio ane

mas teria sido um exerciacutecio comparativo uacutetil a dataccedilatildeo dos carvotildees devidamente

identificados que se encontravam associados

Face agrave situaccedilatildeo exposta semelhante a outras referidas para a Estremadura e o

Alentejo a valoraccedilatildeo das datas da Beira Interior aconselha cautela sobretudo para

aquela data mais antiga de Areita 1 ndash na eventualidade das questotildees referidas atraacutes

serem esclarecidas e descartadas poderia ter ocorrido um caso similar ao dos

sepulcros de Azutaacuten e Los Castillejos (Meseta Sul) tratados infra

Exemplos de outra regiatildeo de antas da Meseta Norte (Quadro 33) em que

carvotildees e ossos humanos foram datados nomeadamente de Arnillas (Delibes Alonso

e Rojo 1987 Delibes e Rojo 1997) Collado Palomero 1-2 e Pentildea Guerra 2 (Lopez

de Calle e Ilarraza 1997) permitiram tambeacutem realccedilar o caraacutecter mais recente das

cronologias das deposiccedilotildees funeraacuterias normalmente associadas a geomeacutetricos e

outros elementos considerados arcaicos Nestes casos as inumaccedilotildees situavam-se no

4ordm mileacutenio ane maioritariamente entre os meados e a segunda metade deste Aleacutem

destas agrave semelhanccedila de outras regiotildees registaram-se tambeacutem utilizaccedilotildees ao longo do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 360 de 415

3ordm mileacutenio ane por exemplo na anta de El Collado del Mallo (Lopez de Calle e

Ilarraza 1997) Infelizmente para todas estas dataccedilotildees sobre osso humano

desconhecem-se os valores de δ13C

No Sudoeste espanhol (Quadro 27) a anta de Alberite do tipo galeria (Ramos

e Giles 1996) apresenta trecircs dataccedilotildees sobre carvatildeo As amostras foram recolhidas

em ldquofuegosrdquo duas delas (Muestra 1 - 3970-3660 cal BCE - e Muestra 5 ndash 4330-3990

cal BCE) no interior e na base do sepulcro aparentemente associadas a uma camada

de ocre e a terceira (Muestra 3 ndash 4260-3640 cal BCE) no exterior no ldquonivel de

construccioacuten del dolmenrdquo Apesar de terem sido recolhidos restos de ossos humanos

na mesma aacuterea interior do sepulcro estes natildeo foram submetidos para dataccedilatildeo natildeo se

percebendo se devido ao estado aparentemente mineralizado de alguns dos ossos ou

por uma opccedilatildeo metodoloacutegica ndash mas a dataccedilatildeo bem sucedida destes elementos poderia

clarificar melhor a cronologia Isto porque tendo em conta possibilidade de uma

ocupaccedilatildeo habitacional atribuiacutevel ao Neoliacutetico antigomeacutedio os carvotildees recuperados

poderatildeo datar aquela realidade e natildeo a utilizaccedilatildeo do espaccedilo sepulcral

Eventualmente a Muestra 1 na camada de ocre unidade 75 poderia corresponder a

uma utilizaccedilatildeo funeraacuteria compatiacutevel com outros casos jaacute referidos mas no caso da

Muestra 5 integrada na unidade 88 (Ramos e Giles 1997 p 73 e 359) esta

encontrava-se sob a dita camada de ocre Portanto para aleacutem da antiguidade que

eventualmente um ldquoold-wood effectrdquo poderaacute exercer pelo menos as duas amostras

mais antigas parecem corresponder a momentos de terminii post quem agrave construccedilatildeo

da anta de Alberite

Uma dataccedilatildeo sobre osso humano pode por vezes natildeo corresponder

directamente a momentos de utilizaccedilatildeo funeraacuteria especiacutefica dos sepulcros Os casos

da anta de Azutaacuten e de Los Castillejos na Meseta Sul (Quadro 34) satildeo exemplos

provaacuteveis dessas situaccedilotildees admitidas pelos proacuteprios escavadores (Bueno Balbiacuten e

Barroso 2005) Em ambos os casos nos locais de erecccedilatildeo dos sepulcros registaram-

se ocupaccedilotildees anteriores integraacuteveis no Neoliacutetico antigo podendo admitir-se a

possibilidade de ldquotrasladaccedilotildeesrdquo intencionais ou natildeo de ossadas de indiviacuteduos

inumados que entretanto foram encontradas durante as respectivas construccedilotildees

O texto siacutentese de P Aacuterias e M Fano (2003) procurando situar

cronologicamente o fenoacutemeno do Megalitismo da parte espanhola da Peniacutensula

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 361 de 415

Ibeacuterica sobretudo aquele associado aos megaacutelitos com os dados entatildeo disponiacuteveis

propunha com variaccedilotildees regionais dependentes dos trabalhos realizados pelos

diversos investigadores nestas um momento inicial rondando o uacuteltimo quartel do 5ordm

mileacutenio ane Para tal proposta os autores utilizaram muitas das datas que agora

sugiro deverem ser valoradas com ponderaccedilatildeo

Face ao exposto julgo que eacute possiacutevel admitir uma relativa contemporaneidade

do fenoacutemeno do Megalitismo entre as vaacuterias regiotildees do Ocidente peninsular mas

tambeacutem da extensa Meseta e da Andaluzia Os desequiliacutebrios parecem registar-se

sobretudo na forma como os dados cronomeacutetricos foram e puderam ser obtidos e

depois valorizados

De forma geral a julgar pelos dados agora abordados as praacuteticas funeraacuterias do

Megalitismo parecem desenvolver-se durante a primeira metade do 4ordm mileacutenio ane

com maior incidecircncia apoacutes os seus meados E daiacute assiste-se a uma expansatildeo destas

praacuteticas quer pela erecccedilatildeo de verdadeiros sepulcros megaliacuteticos quer pelo uso de

outros contentores sepulcrais onde eacute possiacutevel verificar apesar de peculiaridades

regionais ritos com um ldquoar de famiacuteliardquo

Quando se olha para a costa norte euro-atlacircntica estas impressotildees cronoloacutegicas

parecem registar-se tambeacutem nas ilhas britacircnicas (Schulting 2000 Smith e Brickley

2006 Whittle et al 2007 Whittle e Bayliss 2007) e na Escandinaacutevia (Persson e

Sjoumlgren 1995 Eriksson et al 2008) onde o fenoacutemeno de construccedilotildees megaliacuteticas

funeraacuterias aparenta emergir de forma consistente e explosiva nos meados do 4ordm

mileacutenio ane Como a excepccedilatildeo parece destacar-se a Bretanha francesa em que

algumas dataccedilotildees sobre ossos humanos de Bougon nomeadamente do Tumulus F0 e

E1 parecem recuar as praacuteticas funeraacuterias para os iniacutecios do 5ordm mileacutenio ane (Mohen

e Scarre 2002 Chambom 2003) Contudo ao analisar-se essas datas alguns dos

seus desvios-padratildeo satildeo elevados e desconhecem-se os seus valores de δ13C Ainda

que a proximidade de recursos marinhos cerca de 50 km naquele periacuteodo seja

relativa interessava mesmo assim verificar qual a real influecircncia destes na dieta

daquelas populaccedilotildees Mas haacute que ressalvar que a maioria das dataccedilotildees sobre ossos

humanos do complexo funeraacuterio de Bougon parece concentrar-se de facto no

uacuteltimo quartel do 5ordm mileacutenio ane mantendo-se um registo funeraacuterio pelo menos ao

longo de todo o mileacutenio seguinte

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 362 de 415

9 O epiacutelogo de uma tradiccedilatildeo maacutegico-religiosa o fenoacutemeno

campaniforme

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 363 de 415

A presenccedila de ceracircmica campaniforme e outros artefactos associados eacute

frequente dentro dos sepulcros que tecircm sido discutidos neste trabalho

nomeadamente antas grutas artificiais tholoi e cavidades naturais (Leisner 1965

Ferreira 1966 Harrison 1977) mas natildeo eacute integral

Em capiacutetulos anteriores referi-me por vezes a aspectos relacionados com a

questatildeo do fenoacutemeno campaniforme mas salientando que esse tema extravasava

bastante a abordagem proposta dedicada ao sepulcro do tipo anta No entanto para

realccedilar o objectivo deste capiacutetulo conviraacute sistematizar a presenccedila deste fenoacutemeno

com base nos itens mais tiacutepicos do campaniforme (Salanova 2005 Kunst 2005)

ceracircmicas com a teacutecnica impressa nomeadamente no estilo Internacional e outras

ornamentaccedilotildees e com a teacutecnica incisa ou mista bototildees braccedilais de arqueiro e

artefactos metaacutelicos (nomeadamente a ponta de Palmela e ornamentos de ouro)

Na regiatildeo de Lisboa (Quadro 44) das dezoito antas que se conhecem mais ou

menos bem com todas a limitaccedilotildees jaacute referidas apenas em sete antas foram

recolhidos fragmentos de ceracircmica decorada do estilo Internacional e variantes

impressas Mas destas apenas trecircs (quatro se Alto da Toupeira 2 for incluiacuteda) tinham

cacos com decoraccedilatildeo incisa

Para aleacutem de Carcavelos apenas em Conchadas se conhecem bototildees do tipo

tartaruga com perfuraccedilatildeo em ldquoVrdquo Monte Abraatildeo e Pedras da Granja apresentam

bototildees respectivamente coacutenicos e alongados com perfuraccedilatildeo em ldquoVrdquo

Braccedilais de arqueiro apenas foram recolhidos na anta do Carrascal e em

Carcavelos desconhecendo-se artefactos metaacutelicos em qualquer das antas

atribuiacuteveis ao periacuteodo agora em questatildeo

Assim as restantes antas parecem ter sido esquecidas no periacuteodo em que o

espoacutelio campaniforme comeccedilou a ser introduzido nas praacuteticas funeraacuterias o que

poderia ter ocorrido em redor dos meados do 3ordm mileacutenio ane como referi atraacutes

Uma explicaccedilatildeo frequente para esta presenccedila ocasional eacute a hipoacutetese do ldquoninho

do cucordquo (Gonccedilalves 2003e p 148) interpretada como uma intrusatildeo em sepulcros

preacute-existentes e abandonados por grupos incapazes ou desinteressados em

construiacuterem as suas proacuteprias estruturas funeraacuterias Desta forma nem todas as antas

teriam sido reutilizadas Mas o abandono de certos sepulcros em momentos antigos e

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 364 de 415

a cessaccedilatildeo de linhagens ou dissociaccedilatildeo com os antepassados tambeacutem poderia

explicaacute-lo

As explicaccedilotildees listadas atraacutes poderiam aplicar-se agraves antas de Casaiacutenhos Estria

e Pedra dos Mouros Nestas apesar de uma utilizaccedilatildeo funeraacuteria comprovada durante

toda a primeira metade do 3ordm mileacutenio ane esta natildeo parece ter continuado durante a

segunda metade daquele Contudo talvez outro motivo possa ser proposto apesar do

espoacutelio campaniforme se encontrar em uso durante a maioria da segunda metade do

3ordm mileacutenio ane (Cardoso e Soares 1990-92 Soares Soares e Silva 2007) nem

todos os grupos da Baixa Estremadura seguiriam tais praacuteticas funeraacuterias Esta

hipoacutetese foi proposta para o Alentejo (Mataloto 2006) com base em diversos

exemplos nomeadamente nos resultados radiocarboacutenicos obtidos nos enterramentos

exumados na anta de Santa Margarida 3 (Gonccedilalves 2003f) e possivelmente de

Cebolinhos 2 (Gonccedilalves 2003a) Nas antas da Baixa Estremadura ainda natildeo foi

possiacutevel obter dataccedilotildees que comprovem esta hipoacutetese Mas noutros tipos de

sepulturas da regiatildeo nomeadamente a cavidade de Leceia-Locus 2 (o mesmo que

Moinho da Moura - Ribeiro 1878 Cardoso Cunha e Aguiar 1991) e o possiacutevel

tholos da Samarra (Franccedila e Ferreira 1958 Silva Ferreira e Codinha 2006) as

dataccedilotildees pelo radiocarbono apontaram esse periacuteodo da segunda metade do 3ordm mileacutenio

ane sem que se conheccedilam claramente materiais campaniformes

Apesar de serem necessaacuterios mais dados que passaraacute tambeacutem pela continuaccedilatildeo

da revisatildeo dos materiais recolhidos em trabalhos anteriores julgo que a presenccedila de

materiais campaniformes sobretudo aqueles de provaacutevel cariz mais antigo com

decoraccedilatildeo internacional permitem vislumbrar provaacuteveis continuidades de utilizaccedilatildeo

das antas bem como noutros tipos de sepulcro Apesar do pacote funeraacuterio que

acompanha os indiviacuteduos inumados parecer denunciar uma alteraccedilatildeo de siacutembolos e

significados eventualmente reflectindo a forma como a morte era entatildeo encarada

com um caraacutecter mais individualizado a raridade e ateacute ausecircncia deste material nas

antas poderaacute assinalar o epiacutelogo daqueles sepulcros daiacute em diante utilizados como o

ldquoninhos do cucordquo

10 As antas da regiatildeo de Lisboa e o Megalitismo peninsular

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 365 de 415

ldquoPara mim mesmo que um fenoacutemeno tenha eventualmente uma uacutenica explicaccedilatildeo imediata e laquoverdadeiraraquo o facto de geralmente a desconhecermos origina diversas e legiacutetimas vidas paralelas Tantas quantas correspondem aos olhares fundamentados que sobre ele podemos focarrdquo (Gonccedilalves 2008b p 100)

ldquoA situaccedilatildeo que a investigaccedilatildeo da calcolitizaccedilatildeo

peninsular vive de momento eacute a de um desconforto relativamente a terminologias que se vatildeo mostrando insuficientes e por vezes desadequadas (hellip) Um desconforto acompanhado pela dificuldade em propor novas designaccedilotildees que mais natildeo espelha do que uma situaccedilatildeo de ldquointervalordquo de antiacutetese face a um conjunto de realidades emergentes ainda mal compreendidas e estudadas (hellip)rdquo (Valera 2007)

A procura de um enquadramento crono-cultural das antas de Lisboa mais do

que um produto acabado resultou num extenso rol de questotildees a que apenas para

algumas foi possiacutevel responder com alguma plausibilidade mas natildeo certezas

absolutas

O nuacutemero de antas mesmo que putativamente considerado parece reduzido

quando comparado com os restantes contentores funeraacuterios daquela regiatildeo e de

outras vizinhas Entre as antas melhor conhecidas aparentam estar ausentes os tipos

normalmente atribuiacutedos a momentos iniciais do fenoacutemeno do Megalitismo (Leisner

1983 Moita 1956 e 1966 Gonccedilalves 1992 e 2003e Soares e Silva 2000 Rocha

2005) Em geral a tipologia claacutessica de cacircmara e corredor curto e meacutedio eacute a mais

frequente

Face aos dados disponiacuteveis os traccedilos do Megalitismo estremenho registam

uma maior antiguidade em cavidades naturais notando-se a utilizaccedilatildeo das antas por

volta de meados do 4ordm mileacutenio ane Uma primeira observaccedilatildeo daquele facto seria a

natureza tardia das construccedilotildees ortostaacuteticas na Estremadura e em particular da regiatildeo

de Lisboa Isso explicaria tambeacutem a exclusividade de geomeacutetricos trapeacutezios das

antas quando em grutas ainda se registam mesmo que minoritariamente triacircngulos

e crescentes provaacutevel reflexo dessas tradiccedilotildees mais antigas Contudo os dados

cronoloacutegicos absolutos disponiacuteveis para a regiatildeo vizinha do Alto e Meacutedio Alentejo

ou mesmo da Beira Interior assemelham-se genericamente agravequelas ainda que no

caso alentejano provenham de pequenos sepulcros distintos dos estremenhos Natildeo

obstante a presenccedila sempre minoritaacuteria de geomeacutetricos triacircngulos e crescentes em

algumas daquelas antas fora da Estremadura quando aquelas tipologias estatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 366 de 415

aparentemente ausentes nos sepulcros de Lisboa poderaacute indiciar uma certa

anterioridade todavia natildeo cabalmente demonstrada pelo radiocarbono

A reduzida amostra de casos conhecidos tambeacutem poderia explicar a situaccedilatildeo

verificada atraacutes mas eacute interessante anotar a presenccedila de espoacutelios funeraacuterios

aproximadamente semelhantes entre sepulcros de distintas regiotildees ndash excepto no que

concerne os geomeacutetricos destacados Portanto resta prosseguir esta linha de

abordagem e a obtenccedilatildeo de mais dataccedilotildees fiaacuteveis para deposiccedilotildees funeraacuterias

Aliaacutes a questatildeo da fiabilidade das dataccedilotildees pelo radiocarbono manteacutem-se

como fundamental para a compreensatildeo do fenoacutemeno do Megalitismo quer das

origens quer do seu apogeu e decliacutenio tanto da regiatildeo de Lisboa como peninsular

Mais do que uma questatildeo de teacutecnica laboratorial que estaacute constantemente sujeita a

controlo de qualidade a compreensatildeo dos seus contextos os criteacuterios e a forma como

as dataccedilotildees obtidas satildeo valorizadas e interpretadas parecem continuar a mascarar

situaccedilotildees inusitadas e a dificultar a sua comparaccedilatildeo jaacute de si complexa mas

simultaneamente simples no que concerne os valores estatiacutesticos Neste trabalho

procurei enumerar algumas dessas situaccedilotildees demonstrando a necessidade de

rectificaccedilatildeo realccedilando as reservas que muitas das dataccedilotildees sobre ossos mas

sobretudo carvotildees podem por vezes suscitar Por outro lado a nova abordagem

estatiacutestica bayesiana integrada no programa OxCal 405 permitiu elaborar com os

dados disponiacuteveis e vislumbrar pelo menos dois grandes periacuteodos deste fenoacutemeno

Outra verificaccedilatildeo das antas estremenhas e que se regista tambeacutem nas suas

congeacuteneres das regiotildees circundantes satildeo os momentos de aparente generalizaccedilatildeo e

apogeu de construccedilatildeo e respectivas primeiras utilizaccedilotildees situados globalmente na

segunda metade do 4ordm mileacutenio ane Contudo aqueles momentos natildeo parecem

corresponder ao periacuteodo em que se concentra o maior nuacutemero de deposiccedilotildees

funeraacuterias Isto eacute apesar das dificuldades em distinguir dentro do contentor

funeraacuterio a sequecircncia de inumaccedilotildees naquelas em que se conhecem os seus efectivos

humanos o espoacutelio e alguns dados cronoloacutegicos foi possiacutevel vislumbrar um nuacutemero

de indiviacuteduos mais reduzido em momentos antigos e mais abundante em periacuteodo

posterior da primeira metade do 3ordm mileacutenio ane O efeito de acumulaccedilatildeo

contribuiu com certeza para esse resultado mas o aumento de inumados noutros

tipos de sepulcros nomeadamente tardios como os tholoi parece reforccedilar a ideia

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 367 de 415

desse incremento de deposiccedilotildees na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane situaccedilatildeo

ilustrada pelo cruzamento dos dados disponiacuteveis para as antas de Lisboa (Fig )

Fig 21 Dataccedilotildees 14C e presenccedila por tipo de espoacutelio das antas da regiatildeo de Lisboa

Legenda G- geomeacutetrico L- lacircmina Lr- lacircmina retocada Ll- lamela N- nuacutecleo M- machado

E- enxoacute Gv- goiva C- contas Fu- furador de osso Al- alfinetes de osso Lg- lagomorfos Cl- ceracircmica lisa Cc- ceracircmica canelada Px- ponta de seta convexa Pc- ponta de seta cocircncava Ip- iacutedolo-placa Lo- lacircmina ovoacuteide Ab- grandes pontas bifaciais Vo- caixas ciliacutendricas Av- artefactos votivos de calcaacuterio Ic- iacutedolos cilindriacutecos NMI- nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos + presenccedila possiacutevel presenccedila presenccedila natildeo esclarecida

Assim poderia ser plausiacutevel admitir que as antas mais antigas teriam sido

construiacutedas para um nuacutemero reduzido de indiviacuteduos da sociedade alterando-se

posteriormente esse preceito funeraacuterio No entanto a anaacutelise antropoloacutegica dos restos

humanos depositados nos sepulcros estremenhos regista a presenccedila de todo o

espectro de indiviacuteduos de uma comunidade independentemente de sexo e idade

Aceitar que alguns indiviacuteduos de condiccedilatildeo especial teriam sido ali depositados

colide entatildeo com aquela evidecircncia diversa mas sobretudo com a ausecircncia de dados

que nos permitam afirmaacute-lo com seguranccedila ndash natildeo existe ainda uma bateria de dados e

dataccedilotildees que tenha situado temporalmente por sexos e idades uma porccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 368 de 415

significativa de indiviacuteduos num determinado sepulcro permitindo compreender

quem e quando foi ali depositado Pelo menos o estudo de paleodietas verificou uma

alimentaccedilatildeo similar entre todos os indiviacuteduos adultos amostrados que poderatildeo

abranger a linha temporal de utilizaccedilatildeo funeraacuteria mas eacute provaacutevel que os natildeo-adultos

apresentem tambeacutem resultados similares

A hipoacutetese de linhagens associadas a sepulcros especiacuteficos eacute entatildeo uma

explicaccedilatildeo mais plausiacutevel para as deposiccedilotildees detectadas aliaacutes hipoacutetese proposta por

Alain Gallay (2006) para as comunidades megaliacuteticas do territoacuterio atlacircntico francecircs

cujos sepulcros se apresentavam com acessos bem definidos permitindo uma faacutecil

entrada para novas deposiccedilotildees A comunidade que ia depositando os seus mortos em

sepulcros especiacuteficos entretanto inaugurados com um primeiro sepultado procuraria

dessa forma consolidar a linhagem do seu grupo familiar alargado Dizia este autor

que ldquole caractegravere collectif drsquoune tombe se reacutefegravere (hellip) agrave la preacutesence drsquoune structure

geacuteneacuteologique particuliegravere diffeacuterente qui favorise le regroupment drsquoindividus de

geacuteneacuterations successives au sein drsquoun mecircme ensemble funeacuteraire Cette structure

geacuteneacuteologique est probablement celle qursquoimpose une conception lignagegravere de la

socieacuteteacute Le terme seacutepulture collective ne caracteacuterise que lrsquoutilisation du monument et

non sa architecturerdquo (Gallay 2006 p 94) Isso poderia explicar em parte a

diversidade de contentores estremenhos como o resultado de uma escolha

comunitaacuteria em determinado momento prolongando-se no tempo o seu uso

posterior

Entatildeo quem e que tipo de sociedades teratildeo construiacutedo as antas e continuado a

utilizaacute-las

Diria que com alguma probabilidade correspondem aos mesmos grupos

humanos apenas distanciados pelo tempo e alteraccedilotildees soacutecio-culturais entretanto

ocorridas eventualmente com algumas trocas pontuais inter-regionais de indiviacuteduos

presumidas por determinada cultura material exoacutegena

As comunidades que iniciaram as construccedilotildees ortostaacuteticas apresentariam uma

organizaccedilatildeo diferente daquela que continuou a usaacute-las nos finais do 4ordm e primeira

metade do 3ordm mileacutenios ane

Os locais de habitaccedilatildeo das comunidades da primeira metade e terceiro quartel

do 4ordm mileacutenio ane periacuteodo para o qual utilizarei a designaccedilatildeo de Neoliacutetico meacutedio

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 369 de 415

continuam difiacuteceis de localizar com algumas poucas excepccedilotildees As suas praacuteticas

funeraacuterias incluem sobretudo para aleacutem dos contentores sepulcrais espoacutelios

aparentemente do seu quotidiano os utensiacutelios de pedra polida e lascada alguns

ornamentos individuais e recipientes ceracircmicos

Um segundo periacuteodo que designarei como Neoliacutetico tardio parece

corresponder ao que V S Gonccedilalves associava com a Revoluccedilatildeo dos Produtos

Secundaacuterios ldquoa constataccedilatildeo de um conjunto de peculiaridades no Neoliacutetico antigo

portuguecircs parecia tornar evidente que a primeira Revoluccedilatildeo Neoliacutetica natildeo se tinha

efectivamente verificado em Portugal senatildeo num momento tardio Tatildeo tardio que

poderia certamente coincidir com as grandes transformaccedilotildees provocadas pela

Revoluccedilatildeo dos Produtos Secundaacuteriosrdquo (Gonccedilalves 2003e p 157) Isto eacute abarcando

aqueles periacuteodos comummente discutidos do Neoliacutetico final e Calcoliacutetico inicial e

pleno

De facto no uacuteltimo quartel do 4ordm mileacutenio ane e primeira metade do seguinte

a evidecircncia habitacional torna-se visiacutevel e marcante sobretudo com os povoados

amuralhados identificados nomeadamente na Estremadura mas tambeacutem noutras

regiotildees onde surgem em simultacircneo povoados de fossos Simultaneamente o

fenoacutemeno do Megalitismo parece atingir o seu auge primeiramente com um

aumento significativo de espoacutelio ainda de cariz utilitaacuterio na torna do mileacutenio para de

seguida apresentar frequentemente um cariz ideoteacutecnico e simboacutelico Aliaacutes as

caracteriacutesticas de algum desse novo espoacutelio parece denunciar pelo menos contactos

intensos com regiotildees vizinhas mas tambeacutem transregionais e meridionais (Gonccedilalves

2003e e 2008b)

Se o espoacutelio denunciador daqueles contactos durante este periacuteodo corresponde

a chegada de grupos exoacutegenos os dados antropoloacutegicos natildeo o permitem afirmar por

ora ndash pelo contraacuterio os traccedilos epigeneacuteticos dos indiviacuteduos sepultados parecem

indiciar semelhanccedilas regionais entre inumados em grutas antas grutas artificiais e

tholoi natildeo sendo poreacutem possiacutevel negaacute-lo ndash aliaacutes penso que eacute perfeitamente plausiacutevel

a chegada de pequenos grupos humanos aloacutectones Com certeza esta avaliaccedilatildeo sai

prejudicada pelo material antropoloacutegico disponiacutevel de regiotildees vizinhas jaacute referidas

mas tambeacutem pela ausecircncia de estudos deste tipo transregionais nomeadamente com

o Sul peninsular Numa tentativa de verificar essa eventual mobilidade aguarda-se a

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 370 de 415

chegada dos resultados dos isoacutetopos de estrocircncio para indiviacuteduos adultos das antas de

Lisboa mas importa alargar essas anaacutelises aos sepultados nos restantes tipos de

sepulcros Poreacutem este tipo de mobilidade deveraacute ter-se jaacute verificado durante o 4ordm

mileacutenio ane Isso parece patente quando se comparam alguns dos elementos

presentes em contextos funeraacuterios estremenhos e daqueles localizados no Alto e

Meacutedio Alentejo e Beira Interior

De alguma forma e face aos dados disponiacuteveis os dois periacuteodos do

Megalitismo estremenho parecem corresponder a contactos com uma tendecircncia

pendular Durante o Neoliacutetico meacutedio a realidade estremenha apresenta

caracteriacutesticas muito similares com as regiotildees alentejana e beiratilde o que parece

coincidir com as cronologias discutidas supra mas isso poderaacute dever-se apenas a

lacunas da investigaccedilatildeo meridional Entretanto no Neoliacutetico tardio sobretudo na

primeira metade do 3ordm mileacutenio ane as influecircncias do Sul peninsular parecem

insinuar-se de uma forma clara na Estremadura e Alentejo parecendo que o mundo

beiratildeo apesar da evidecircncia de contactos natildeo integrou da mesma forma que os

grupos do Centro-Sul as novidades meridionais nomeadamente no que agraves praacuteticas

funeraacuterias diz respeito

Eacute portanto neste enquadramento que a integraccedilatildeo das antas de Lisboa se torna

um pouco mais clara enquanto produto de comunidades autoacutectones em contacto com

outros grupos regionais de onde natildeo se pode excluir eventuais contributos

populacionais exoacutegenos

As antas da regiatildeo de Lisboa materializaram assim num periacuteodo

aparentemente mais reduzido do que se pensava os vaacuterios aspectos do fenoacutemeno do

Megalitismo o seu caraacutecter colectivo os preceitos maacutegico-religiosos e a

monumentalizaccedilatildeo e necropolizaccedilatildeo dos espaccedilos da morte para os vivos

Referecircncias Bibliograacuteficas

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 371 de 415

AGUAYO DE HOYOS P GARCIacuteA SANJUAacuteN L (2006) - The megalithic phenomenon in Andalusia an overview In JOUSSAUME R LAPORTE L SCARRE C (coords) - Origin and Development of the Megalithic Phenomenon of Western Europe Proceedings of the International Symposium (Bougon France October 26th-30th 2002) Niort Conseil Geacuteneacuteral de Deux Segravevres p 452-472

ALBERGARIA J (2007) ndash O siacutetio neoliacutetico das Atafonas (Torre de Coelheiros Eacutevora) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 10 1 p 5-35

ALMAGRO BASCH M ARRIBAS PALAU A (1963) - El Poblado y la Necroacutepolis Megaliacuteticos de Los Millares (Santa Fe de Monduacutejar Almeriacutea) Madrid CSIC (Bibliotheca Praehistorica Hispana 3)

ALMAGRO GORBEA M (1970) ndash La fechas del C14 para la prehistoria y la arqueologia peninsular Trabajos de Prehistoria Madrid CSIC 27 p 9-42

ALMAGRO GORBEA M (1973) ndash Los idolos del Bronce I Hispano Madrid CSIC (Bibliotheca Praehistorica Hispana)

ALMEIDA F (197_) ndash Necrologia de Manuel Heleno [Dactilografado] Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

ALMEIDA F (1972) ndash Vera Leisner O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf Seacuterie 6 p 341-343 ALONSO F CABRERA VALDEacuteS V CHAPA BRUNET T FERNAacuteNDEZ MIRANDA M

(1978) ndash Iacutendice de fechas arqueoloacutegicas de C-14 en Espantildea y Portugal In ALMAGRO M FERNAacuteNDEZ MIRANDA M (coords) ndash C14 y Prehistoria de la Peniacutensula Ibeacuterica Madrid Fundacioacuten Juan March p 155-183 (Serie Universitaria 77)

ALONSO MATTHIacuteAS F BELLO DIEGUEZ J M (1995) - Aportaciones del monumento de Dombate al megalitismo noroccidental dataciones de Carbono 14 y su contexto arqueoloacutegico Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 35 3 p 154-168

ALONSO MATTHIacuteAS F BELLO DIEGUEZ J M (1997) ndash Cronologia y periodizacioacuten del fenoacutemeno megaliacutetico en Galicia a la luz de las dataciones por Carbono14 In RODRIGUEZ CASAL A (coord) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 507-520

ALVES R V FERREIRA J M (1959) - Algumas grutas portuguesas de interesse arqueoloacutegico In Actas e Memoacuterias do I Congresso Nacional de Arqueologia Lisboa vol 1 p 129-136

AMBRUESTER T (2007) ndash Technology neglected A painted ceramic fragment from the dated Middle Neolithic site of Vale Rodrigo 3 Vipasca Aljustrel 2ordf seacuterie 2 p 83-94

AML ndash AacuteREA METROPOLITANA DE LISBOA (2002) ndash Patrimoacutenio metropolitano Inventaacuterio geo-referenciado do patrimoacutenio da Aacuterea Metropolitana de Lisboa CD-Rom

ANDRADE G M GOMES J F (1959) ndash Estudo da estaccedilccedilatildeo preacute-histoacuterica de Carnaxide In Actas e Memoacuterias do I Congresso Nacional de Arqueologia (Lisboa 1958) Lisboa vol 1 p 137-146

ANDRADE M CARDOSO M [2002] ndash O povoado preacute-histoacuterico do Castelo da Amoreira (Ramada Odivelas) Relatoacuterio de Prospecccedilotildees Policopiado

ANDRADE M CARDOSO M (2004) ndash O siacutetio preacute-histoacuterico da Pedreira do Aires (Ramada Odivelas) Notiacutecia da sua identificaccedilatildeo Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 7 1 p 137-163

ANDRUSHKO V A LATHAM K A S GRADY D L PASTRON A G WALKER P L (2005) - Bioarchaeological evidence for trophy-taking in prehistoric central California American Journal of Physical Anthropology 127 4 p 375-384

ANTUNES M T CARDOSO J L (1995) ndash Ictiofauna do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 187-192

ANTUNES M T CUNHA A S (1998) ndash Restos humanos do Calcoliacutetico-Idade do Bronze de Castelo Velho Freixo de Numatildeo (Vordf Nordf de Foz Cocirca Portugal) ndash nota preliminar Cocircavisatildeo Cultura e Ciecircncia 0 p 35-42

ANTUNES-FERREIRA N (no prelo) ndash Antropobiologia dos indiviacuteduos exumados no doacutelmen de Casaiacutenhos Rede de Museus do Municiacutepio de Loures

ANTUNES-FERREIRA N (2005) ndash Paleobiologia de grupos populacionais do Neoliacutetico final Calcoliacutetico do Poccedilo Velho (Cascais) Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 40)

APOLLINARIO M (1896) ndash Necroacutepole neolithica do valle de S Martinho O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 1ordf seacuterie 2 p 210-221

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 372 de 415

ARAUacuteJO A C SANTOS A S CAUWE N (1993) ndash Gruta do Escoural ndash A necroacutepole neoliacutetica In 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Actas II Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia 33 3-4 p 51-90

ARAUacuteJO A C LEJEUNE M (1995) ndash Gruta do Escoural Necroacutepole Neoliacutetica e Arte Rupestre Paleoliacutetica Lisboa Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico (Trabalhos de Arqueologia 8)

ARIAS P FANO M (2003) ndash The Chronology of the earliest phases of megalithic monuments in Spain In BURENHULT G WESTERGAARD S (coords) ndash Stones and Bones formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC archaeological conference in honour of the late Professor J OrsquoKelly 2002 Sligo Ireland Oxford Archaeopress p 80-83 (BAR International Series 1201)

ARMENDAacuteRIZ MARTIJA J IRIGARAY SOTO S (1993-1994) - Resumen de las excavaciones arqueoloacutegicas en el hipogeo de Longar (Viana Navarra) 1991-1993 Trabajos de Arqueologia Navarra Pamplona 11 p 270-275

ARMENDAacuteRIZ MARTIJA J IRIGARAY SOTO S (1995) ndash Violecircncia y muerte en la Prehistoria El Hipogeo de Longar Revista de Arqueologia 168 p 16-29

ARNAUD J M (1978) - O Megalitismo em Portugal Problemas e Perspectivas In Actas III Jornadas Arqueoloacutegicas 1977 Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses vol 1 p 97-112 il

ARNAUD J M (1987) - O Processo de Neolitizaccedilatildeo e o Fenoacutemeno Megaliacutetico In Arqueologia no Vale do Tejo Lisboa Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio Cultural p 22-23 il

ARNAUD J M (2000) ndash Os concheiros mesoliacuteticos do vale do Sado e a exploraccedilatildeo dos recursos estuarinos (nos tempos preacute-histoacutericos e na actualidade) In Actas do Encontro sobre Arqueologia da Arraacutebida Convento da Arraacutebida 6 e 7 de Novembro de 1998 Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 45-70 (Trabalhos de Arqueologia 14)

ARNAUD J M GAMITO T J (1972) ndash O povoado fortificado neo- e eneoliacutetico da Serra das Bauacutetas (Carenque Belas) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 3ordf seacuterie 6 p 119-161

ARNAUD J M GONCcedilALVES J L M (1990) - A fortificaccedilatildeo preacute-histoacuterica de Vila Nova de S Pedro Azambuja balanccedilo de meio seacuteculo de investigaccedilatildeo 1ordf parte Revista de Arqueologia Lisboa 1 p 25-48

ASQUERINO FERNAacuteNDEZ-RIDRUEJO M D (1999) ndash Sepulturas de la prehistoria reciente en Priego de Coacuterdoba Anales de prehistoria y arqueologia Murcia 15 p 29-40

ATHAYDE A (1931) ndash Sobre umas ossadas prehistoacutericas da Gruta do Carvalhal In 15eme Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacute-Historique Coimbra e Porto 1930 ndash Compte Rendu Paris p 203-206

ATHAYDE A (1933) ndash Ossadas preacute-histoacutericas da gruta dos Refugidos In Homenagem a Martins Sarmento Miscelacircnea de estudos em honra do investigador vimarenense no centenaacuterio do seu nascimento (1833-1933) Guimaratildees Sociedade Martins Sarmento p 31-36

AYALA JUAN M M ALESSAN A SAFONT S JIMENEZ LORENTE S MALGOSA A (1999) - Los enterramientos infantiles en la Prehistoria reciente del Levante y Sureste Peninsular Anales de preshitoria y arqueologia Murcia 15 p 15-28

AZEVEDO P A (1905) - Notiacutecias de antas junto a Lisboa no Seacutec XVII O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 1ordf seacuterie 10 p 161-165

BARBOSA I V (1862) ndash Quinta dos senhores de Bellas Archivo Pittoresco Lisboa Typographia de Castro Irmatildeo 5 p 289-291

BARBOSA I V (1863) ndash Fragmentos de um roteiro de Lisboa (Ineacutedito) Arrabaldes de Lisboa Archivo Pittoresco Lisboa Typographia de Castro Irmatildeo 6 p 185-186 Com gravura intitulada Penedos na quinta de Bellas p 192

BARBOSA I V (1868) ndash Os monumentos prehistoricos Dolmin ou anta de Adrenunes na serra de Cintra Archivo Pittoresco Lisboa Typographia de Castro Irmatildeo 11 p 377-379

BARCLAY A (1997) ndash The Portal Dolmens of the North East Cotswolds Symbolism Architecture and the Transformation of the Earliest Neolithic In RODRIGUEZ CASAL A (coord) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 151-159

BARKER P (1993) ndash Techniques of Archaeological Excavation London Routledge 3ordf ediccedilatildeo

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 373 de 415

BARRET J RICHARDS M (2004) ndash Identity Gender Religion and Economy New isotope and radiocarbon evidence for marine resource intensification in Early Historic Orkney Scotland UK European Journal of Archaeology 7 (3) p 249-271

BARROS L SANTO P E (1997) ndash Gruta artificial de Satildeo Paulo Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 11-12 p 217-220

BAYLISS A TYERS I (2004) ndash Interpreting radiocarbon dates using evidence from tree rings Radiocarbon Arizona EUA 46 2 p 957-964

BELLIDO BLANCO A (1996) ndash Los campos de hoyos Inicios de la economia agricola en la Meseta Norte Valladolid Universidad (Studia Archaeologica 85)

BENSAUacuteDE A (1884) ndash Note sur la nature mineacuteralogique de quelques instruments de pierre trouveacutes en Portugal In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArcheacuteologie Preacutehistorique 9ordm Lisboa 1880 ndash Compte rendu Lisboa p 682-697

BENSAUacuteDE A (1889) ndash Notice sur quelques objects preacutehistoriques du Portugal fabriqueacutes en cuivre Comunicaccedilotildees da Comissatildeo dos Trabalhos Geoloacutegicos Lisboa 2 p 119-124

BENTLEY R (2006) ndash Strontium Isotopes from Earth to the Archaeological Skeleton A Review Journal of Archaeological Method and Theory 13 3 p 135-187

BICHO N (2006) ndash Manual de Arqueologia preacute-histoacuterica Lisboa Ediccedilotildees 70 Lda BINFORD L (1971) - Mortuary Practices Their Study and Their Potential American Antiquity

Michigan 36 3 (Memoirs of the Society for American Archaeology 25) BLAS CORTINA M A (2006) - La arquitectura como fin de un processo Una revisioacuten de la

naturaleza de los tuacutemulos prehistoacutericos sin caacutemaras convencionales en Asturias Zephyrus Salamanca 59 p 233-255

BLASCO F ORTIZ M (1991) ndash Trabajos arqueoloacutegicos en Huerta Montero (Almendralejo Badajoz) Extremadura Arqueoloacutegica Badajoz 2 p 129-138 Actas de las I Jornadas de Prehistoria y Arqueologiacutea en Extremadura (1986-1990)

BOAVENTURA R (no prelo-a) ndash Bodies in motion implications of gender in long distance exchange between the Lisbon and Alentejo regions of Portugal in the Late Neolithic In LILLIOS K (coord) ndash Comparative Archaeologies The American Southwest (AD 900-1600) and the Iberian Peninsula (3000-1500 BC) Obermann Center for Advanced Studies Summer 2006 Research Seminar Iowa City The University of Iowa

BOAVENTURA R (no prelo-b) - O Megalistimo da regiatildeo de Lisboa as antas In 3ordm Coloacutequio Internacional Transformaccedilatildeo amp Mudanccedila Cascais Centro Cultural 6-9 Outubro 2005

BOAVENTURA R (1999-2000) - A proveniecircncia geoloacutegica das antas de Rabuje (Monforte Alentejo) Ibn Maruan Marvatildeo Colibri 9-10 p 303-310

BOAVENTURA R (2000) ndash A geologia das antas de Rabuje (Monforte Alentejo) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 3 2 p 15-23

BOAVENTURA R (2001) - O siacutetio calcoliacutetico do Pombal (Monforte) uma recuperaccedilatildeo possiacutevel de velhos e novos dados Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia

BOAVENTURA R (2006) ndash Os IV e III mileacutenios ane na regiatildeo de Monforte para aleacutem dos mapas com pontos os casos do cluster de Rabuje e do povoado com fossos de Moreiros 2 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 9 2 p 61-73

BOAVENTURA R (2008) ndash Antoacutenio Sardinha arqueoacutelogo O recrutamento do poeta de Monforte pelo ldquoPae Rochardquo A Cidade Portalegre Ediccedilotildees Colibri 15 p 111-140

BOAVENTURA R ESTEVAtildeO F (no prelo) - A presenccedila de campaniforme na anta de Carcavelos (Loures) Um introacuteito In Vasos campaniformes Siacutembolos de uma comunidade cultural europeia haacute 5000 anos Encontro Internacional de Arqueologia 1 a 5 Maio Torres Vedras

BOAVENTURA R LANGLEY M (no prelo) - Georg Leisner (1870-1957) Determinaccedilatildeo na busca do Megalitismo Ibeacuterico O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa

BOSCH-GIMPERA P (1966) - Cultura megaliacutetica portuguesa y Culturas espantildeolas Revista de Guimaratildees Guimaratildees 76 3-4 p 250-306

BOTELLA M ALEMAacuteN I JIMEacuteNEZ BROBEIL S (2000) ndash Los huesos humanos Manipulacioacuten y alteraciones Barcelona Edicions Bellaterra

BOTELLA M JIMEacuteNEZ BROBEIL S ALEMAacuteN SOUICH P GARCIacuteA SAacuteNCHEZ C (2000) ndash Evidencias de canibalismo en el neoliacutetico espantildeol In Tendencias actuales de Investigacioacuten en la Antropologia Fiacutesica Espantildeola Leoacuten Universidad de Leoacuten p 43-56

BOUTILIER D (2007a) ndash Preliminary report on the human dental remains of seven Neolithic funerary monuments [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 374 de 415

BOUTILIER D (2007b) ndash Preliminary report on the dental remains of Casaiacutenhos [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

BOUTILIER D (2007c) ndash Preliminary report on the dental remains from Agualva [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007]

BRADLEY R (1993) ndash Altering the Earth Edingburgh Society of Antiquaries of Scotland BRADLEY R (1998) ndash The Significance of Monuments On the Shaping of Human Experience in

Neolitihic and Bronze Age Europe London Routledge BRANCO M G (2007) ndash A Pedra de Ouro (Alenquer) Uma leitura actual da Colecccedilatildeo Hipoacutelito

Cabaccedilo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia ) BRANDAtildeO J (1999) ndash As colecccedilotildees arqueoloacutegicas do Instituto Geoloacutegico e Mineiro O Arqueoacutelogo

Portuguecircs Lisboa 4ordf seacuterie 17 p 111-122 BRESSON F CRUBEacuteZY E (1994) - Apport des Chasseacuteens de Saint-Paul-Trois-Chateaux (Drocircme)

et Monteacutelimar (site du Gournier Drocircme) au problegraveme de la gracilisation Reacutesultats preacuteliminaires In Actes des Premiegraveres Rencontres Meacuteridionales de Preacutehistoire Reacutecente p 159 ndash 166

BRIARD J (1995) ndash Les Meacutegalithes de lrsquoEurope atlantique Architecture et art funeraire (5000-2000 avant J-C) Paris Errance

BRONK RAMSEY C (2001) - Development of the Radiocarbon calibration program OxCal Radiocarbon 43 p 355-363 Proceedings of 17th International 14C Conference OxCal 405 Last Updated 2852008 httpc14archoxacukoxcal html

BRONK RAMSEY C (2008a) - Deposition models for chronological records Quaternary Science reviews 27 p 42-60 OxCal 405 Last Updated 2852008 httpc14archoxacuk oxcalhtml

BRONK RAMSEY C (2008b) ndash Radiocarbon dating Revolution in understanding Archaeometry 50 2 p 249-275

BROWN T A NELSON D E VOGEL J S SOUTHON J R (1988) - Improved collagen extraction by modified Longin method Radiocarbon 30 2 p 171ndash177

BUBNER T (1979) - Restos humanos dos hipogeus do Casal do Pardo (Palmela) Ethnos Lisboa 8 p 87-105

BUBNER T (1986) - Restos humanos de Carenque O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 4 p 91-148

BUENO RAMIREZ P (1992) ndash Les plaques decoreacutees alenteacutejaines Approche de leur eacutetude et analyse LrsquoAnthropologie 96 2-3 p 573-604

BUENO RAMIREZ P BARROSO BERMEJO R BALBIacuteN BEHRMANN R (2004a) ndash Construcciones megaliacuteticas avanzadas de la Cuenca interior del Tajo El nuacutecleo cacerentildeo SPAL Revista de Prehistoria y Arqueologia Sevilha Universidad 13 p 83-112

BUENO RAMIREZ P BARROSO BERMEJO R BALBIacuteN BEHRMANN R (2004b) ndash Prehistoria reciente en la Cuenca interior del Tajo Los yacimientos neoliticos y calcoliacuteticos de Huecas (Toledo) In Investigaciones arqueoloacutegicas en Castilla-La Mancha 1996-2002 Toledo p 13-23

BUENO RAMIREZ P BALBIacuteN BEHRMANN R BARROSO BERMEJO R (2005) - El dolmen de Azutaacuten (Toledo) Aacutereas de habitacioacuten y aacutereas funerarias en la cuenca interior del Tajo Universidad de Alcalaacute de Henares Diputacioacuten de Toledo (Monografias 02)

BUENO RAMIREZ P BARROSO BERMEJO R BALBIacuteN BEHRMANN R (2007-2008) ndash Campaniforme en las construcciones hipogeas del Megalitismo reciente al interior de la Peniacutensula Ibeacuterica Veleia Vitoria Universidad del Pais Vasco 24-25 p 771-790

BURL A (1991) - Megalithic Myth or Man the Mover Antiquity Cambridge 65 247 p 297-298 CABRAL J P (1995) ndash Secccedilatildeo VII ndash Workshop sobre dataccedilatildeo pelo radiocarbono Proposta 1

Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 35 2 p 511-512 CABRAL J P (1996) ndash Caracterizaccedilatildeo de materiais arqueoloacutegicos 1 Alimentos e reconstituiccedilatildeo de

dietas Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 5 p 122-130 CABRERO GARCIacuteA R RUIZ MORENO M BLAS CUADRADO L SABATEacute DIAZ I (1997)

ndash El poblado metaluacutergico de Amarguillo II en Los Morales (Sevilla) y su entorno inmediato en La Campintildea Uacuteltimas analiacuteticas realizadas Anuario Arqueoloacutegico de Andaluciacutea 1993 Sevilla Junta de Andaluciacutea 2 p 131-141

CABRERO GARCIacuteA R PAJUELO PANDO A GOacuteMEZ MURGA E LOacutePEZ ALDANA P (2003) ndash Objectos diversos procedentes del poblado Calcoliacutetico de Amarguillo II (Los Molares Sevilla) Spal Sevilla 12 p 145-178

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 375 de 415

CALADO M (1995) ndash A regiatildeo de Serra drsquoOssa Introduccedilatildeo ao estudo do povoamento Neoliacutetico e Calcoliacutetico Lisboa vol 1 Provas de Aptidatildeo Pedagoacutegica e Capacidade Cientiacutefica (Policopiado)

CALADO M (2001) ndash Da Serra drsquoOssa ao Guadiana Um estudo de preacute-histoacuteria regional Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 19)

CALADO M (2004) ndash Menires do Alentejo Central Geacutenese e evoluccedilatildeo da paisagem megaliacutetica regional Tese de dissertaccedilatildeo de Doutoramento Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Policopiado

CALADO M (2005) ndash Standing Stones and Natural Outcrops Crookscape Siacutetio da internet consultado em 1812009 httpwwwcrookscapeorgtextjan2005text html

CALDAS J (1884) ndash Archeacuteologie preacutehistorique dans la province de Minho In 9eme Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique Lisboa 1880 ndash Compte Rendu Lisbonne p 333-351

CARDOSO G (1991) ndash Carta arqueoloacutegica do concelho de Cascais Cascais Cacircmara Municipal CARDOSO G ENCARNACcedilAtildeO J (1990) - Uma sondagem de emergecircncia no Casal do Geraldo

Estoril - Cascais Arquivo de Cascais Cascais Cacircmara Municipal 9 p 45-62 CARDOSO J L (1989) ndash Leceia Resultados das escavaccedilotildees realizadas 1983-1989 Oeiras Cacircmara

Municipal CARDOSO J L (1990) - A Lapa do Bugio Sesimbra Cultural Sesimbra Cacircmara Municipal de

Sesimbra 0 p 15-34 CARDOSO J L (1993a) ndash Contribuiccedilatildeo para o conhecimento dos grandes mamiacuteferos do

Plistoceacutenico superior de Portugal Oeiras Cacircmara Municipal CARDOSO J L(1993b) ndash A primeira campanha de escavaccedilotildees realizadas na Lapa da Furada

(Sesimbra) Sesimbra Cultural Sesimbra Cacircmara Municipal de Sesimbra 3 p 15-17 CARDOSO J L (1994) ndash Leceia 1983-1993 Escavaccedilotildees do povoado fortificado preacute-histoacuterico

Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal nuacutemero especial CARDOSO J L (1995a) ndash Materiais arqueoloacutegicos ineacuteditos das grutas de Carnaxide (Oeiras)

Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 67-86 CARDOSO J L (1995b) ndash Novas escavaccedilotildees na gruta da Ponte de Lage (Oeiras) Revisatildeo dos

materiais paleoliacuteticos Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 49-66

CARDOSO J L (1995c) ndash Os iacutedolos falange do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudo comparado Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 213-232

CARDOSO J L (1996a) ndash A Geoarqueologia ndash fundamentos e meacutetodos Sua aplicaccedilatildeo em Portugal Almadan Almada 2ordf seacuterie 5 p 70-77

CARDOSO J L (1996b) ndash Materiais arqueoloacutegicos ineacuteditos do povoado preacute-histoacuterico de Carnaxide (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 27-45

CARDOSO J L (1996c) ndash Pesos de pesca do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudo comparado Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 107-119

CARDOSO J L (1997) ndash A cronologia absoluta do depoacutesito arqueoloacutegico da Lapa da Furada ndash Azoia Sesimbra Seu significado e incidecircncias rituais e culturais Sesimbra cultural Sesimbra Cacircmara Municipal 6 p 10-15

CARDOSO J L (1999-2000a) ndash Georges Zbyszweski (1909-1999) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 8 p 9-20

CARDOSO J L (1999-2000b) ndash O Calcoliacutetico da Baixa Estremadura Contributos para um ensaio a propoacutesito de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 8 p 325-353

CARDOSO J L (1999-2000c) ndash Os artefactos de pedra polida do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 8 p 241-323

CARDOSO J L (2000) ndash Na Arraacutebida do Neoliacutetico Antigo ao Bronze Final In Actas do Encontro sobre Arqueologia da Arraacutebida Convento da Arraacutebida 6 e 7 de Novembro de 1998 Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 45-70 (Trabalhos de Arqueologia 14)

CARDOSO J L (2002) ndash Preacute-Histoacuteria de Portugal [sl] Verbo CARDOSO J L (2003) ndash A utensilagem oacutessea de uso comum do povoado preacute-histoacuterico de Leceia

(Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 11 p 25-84 CARDOSO J L (2004) ndash A Baixa Estremadura dos finais do IV mileacutenio AC ateacute agrave chegada dos

romanos um ensaio de Histoacuteria regional Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 12

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 376 de 415

CARDOSO J L (2006) ndash As ceracircmicas decoradas preacute-campaniformes do povoado preacute-histoacuterico de Leceia suas caracteriacutesiticas e distribuiccedilatildeo estratigraacutefica Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 14 9-276

CARDOSO J L (2008a) ndash Correspondecircncia seleccionada enviada a O da Veiga Ferreira Cinquenta anos de actividade arqueoloacutegica (1946-1995) In CARDOSO J L (coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 383-408

CARDOSO J L (2008b) ndash Joaquim Filipe Nery Delgado arqueoacutelogo In Nery Delgado (1835-1908) Geoacutelogo do Reino Lisboa Museu Geoloacutegico p 65-81

CARDOSO J L (2008c) ndash O da Veiga Ferreira (1917-1997) sua vida e obra cientiacutefica In CARDOSO J L (coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 13-123

CARDOSO J L (coord) (2008d) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16

CARDOSO J L CANINAS J C (no prelo) ndash O povoado calcoliacutetico fortificado de Moita da Ladra (Vila Franca de Xira) In 3ordm Coloacutequio Internacional Transformaccedilatildeo e Mudanccedila Cascais 6 a 9 de Outubro de 2005

CARDOSO J L CARVALHO A F (2008) ndash A gruta do Lugar do Canto (Alcanede) e a sua importacircncia no faseamento do Neoliacutetico no territoacuterio portuguecircs Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras CM 16 p 269-300 CARDOSO J L (Coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor

CARDOSO J L CARVALHOSA A B (1995) - Estudos petrograacuteficos de artefactos de pedra polida do povoado Preacute-Histoacuterico de Leceia (Oeiras) Anaacutelises de proveniecircncias Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 123-151

CARDOSO J L CARREIRA J R (1995) ndash O povoado de Montes Claros (Lisboa) Resultados das escavaccedilotildees d 1988 Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 277-298

CARDOSO J L CARREIRA J R (2003) ndash O povoado calcoliacutetico do Outeiro de Satildeo Mamede (Bombarral) estudo do espoacutelio das escavaccedilotildees de Bernardo de Saacute (19031905) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 11 p 97-228

CARDOSO J L CARREIRA J R FERREIRA O V (1996) ndash Novos elementos para o estudo do Neoliacutetico antigo da regiatildeo de Lisboa Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 9-26

CARDOSO J L CUNHA A S (1995) - A Lapa da Furada Resultados das escavaccedilotildees arqueoloacutegicas realizadas em Setembro de 1992 e 1993 Sesimbra Cacircmara Municipal de Sesimbra

CARDOSO J L CUNHA A S AGUIAR D (1991) ndash O Homem preacute-histoacuterico no concelho de Oeiras Estudos de Antropologia Fiacutesica Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 2

CARDOSO J L DETRY C (2001-2002) ndash Estudo arqueozooloacutegico dos restos de ungulados do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 10 p 131-182

CARDOSO J L FERREIRA O V (1990) - Trecircs suportes de lareira da Penha Verde Sintra Revista de Arqueologia Lisboa 1 p 5-12

CARDOSO J L FERREIRA O V CARREIRA J R (1996) ndash O espoacutelio arqueoloacutegico das grutas naturais da Senhora da Luz (Rio Maior) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 195-256

CARDOSO J L FERREIRA O V ZBYSZEWSKI G LEITAtildeO M NORTH CT BERGER F (2003) ndash A gruta do Correio-Moacuter (Loures) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 11 p 229-321

CARDOSO J GONZALEZ A CARDOSO G (2001-2002) ndash Um notaacutevel iacutedolo de calcaacuterio do doacutelmen de Casainhos (Loures) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 10 p 375-386

CARDOSO J L GRADIM A (2004) ndash Estaacutecio da Veiga e o reconhecimento do Algarve o concelho de Alcoutim O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 22 p 67-112

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 377 de 415

CARDOSO J L LEITAtildeO M FERREIRA O V (1987) - Nota acerca de uma conta-amuleto encontrada na Tholos da Tituaria Mafra O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 5 p 89-99

CARDOSO J L LEITAtildeO M FERREIRA O NORTH C NORTON J MEDEIROS J SOUSA P (1996) ndash O monumento preacute-histoacuterico de Tituaria Moinhos da Casela (Mafra) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 135-193

CARDOSO J L LEITAtildeO M NORTON J FERREIRA O NORTH C (1995) ndash O santuaacuterio calcoliacutetico da gruta do Correio-Moacuter (Loures) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 97-121

CARDOSO J L MONTEIRO R FERREIRA O V COELHO A V GUERRA F GIL F B PAIS J (1992) - A Lapa do Bugio Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 9-10 p 89-225

CARDOSO J L SOARES A M (1990-1992) - Cronologia Absoluta para o Campaniforme da Estremadura e do Sudoeste de Portugal O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 4ordf Seacuterie 8-10 p 203-228

CARDOSO J L SOARES A M (1995) - Sobre a cronologia absoluta das grutas artificiais da Estremadura portuguesa Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 4 p 10-13

CARDOSO J L SOARES J SILVA C T (1996) ndash A ocupaccedilatildeo neoliacutetica de Leceia (Oeiras) Materiais recolhidos em 1987 e 1988 Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 47-89

CARNEIRO A (1997) ndash Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras) Fragmentos de um contexto Trabalho apresentado para seminaacuterio de Arqueologia Departamernto de Histoacuteria Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Policopiado

CARNEIRO A (2001) - The Travels of Nery Delgado (1835-1908) in the context of the Portuguese Geological Survey Comunicaccedilotildees do Instituto Geoloacutegico e Mineiro Lisboa 99 p 277-292

CARNEIRO A (2005) - Outside Government Science Not a Single Tiny Bone to Cheer Us Up The Geological Survey of Portugal (1857-1908) The Involvement of Common Men and the Reaction of Civil Society to Geological Research Annals of Science 62 p 141-204

CARR C (1995) - Mortuary practices Their social philosophical-religious circumstancial and physical determinants Journal of Archaeological Method and Theory 2 2 p 105-200

CARREIRA J R CARDOSO J L (1992) ndash Testemunhos da ocupaccedilatildeo neoliacutetica da serra de Monsanto Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 1 p 15-18

CARREIRA J R CARDOSO J L (2001-2002) ndash A gruta da Casa da Moura (Cesareda Oacutebidos) e sua ocupaccedilatildeo poacutes-paleoliacutetica Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 10 p 249-361

CARRISSO L W (1909) ndash Estudo anthropologico sobre alguns restos humanos da Caverna dos Alqueves Boletim da Sociedade Archaeologica Santos Rocha Figueira da Foz SASR 1 10 p 267-276

CARTAILHAC E (1880) ndash Congregraves International drsquoAnthropologie et drsquoArcheacuteologie Preacutehistorique raport sur la session de Lisbonne Paris Eugegravene Boban

CARTAILHAC E (1886) ndash Les acircges preacutehistoriques de lrsquoEspagne et du Portugal Paris Ch Reinwald

CARVALHO A F (1996) ndash O Neoliacutetico antigo do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho Tecnologia e tipologia da induacutestria da pedra lascada Tese de Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Lisboa Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Policopiado

CARVALHO A F (1998a) ndash O Abrigo da Pena drsquoAacutegua (Rexaldia Torres Novas) resultados dos trabalhos de 1992-1997 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 1 2 p 39-72

CARVALHO A F (1998b imp) ndash O talhe da pedra e a transiccedilatildeo Neoliacutetico ndash Calcoliacutetico no Centro e Sul de Portugal tecnologia e aspectos da organizaccedilatildeo da produccedilatildeo Trabalhos de Arqueologia da EAM Lisboa Colibri 3-4 (1995-1996) p 41-60

CARVALHO A F (2003) - O Neoliacutetico antigo no Arrife da Serra dAire Um case-study da neolitizaccedilatildeo da Meacutedia e Alta Estremadura Portuguesa In GONCcedilALVES V S (ed) - Muita gente poucas antas Origens espaccedilos e contextos do Megalitismo II Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 23-44 (Trabalhos de Arqueologia 25)

CARVALHO A F (2007a) ndashA neolitizaccedilatildeo do Portugal meridional Os exemplos do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho e do Algarve Ocidental Tese de Doutoramento Faro Universidade do Algarve Ficheiro PDF

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 378 de 415

CARVALHO A F (2007b) - Novos dados sobre dois temas da Preacute-Histoacuteria do Sul de Portugal o Mirense e o processo de neolitizaccedilatildeo Promontoria Faro 5 p 45-110

CARVALHO A F (no prelo) ndash O final do Neoliacutetico e as origens da produccedilatildeo laminar calcoliacutetica na Estremadura Portuguesa os dados da gruta-necroacutepole do Algar do Bom Santo (Alenquer Lisboa) In GIBAJA J F TERRADAS X (coords) ndash Workshop ldquoLa Peniacutensula Ibeacuterica al final de la Prehistoria las grandes laacuteminas de siacutelexrdquo Barcelona Museu drsquoArqueologia de Catalunya

CASA J VARGAS J M OLIVEIRA R (1998) ndash As antas de Belas na tradiccedilatildeo e no imaginaacuterio popular In OLHO VIVO ndash Antas de Belas Um patrimoacutenio a preservar Queluz Olho Vivo p 27-29

CASTRO L A FERREIRA O V (1959) ndash Vaso de tipo neoliacutetico do Alto da Toupeira ndash Lousa In Actas e Memoacuterias do I Congresso Nacional de Arqueologia (Lisboa 1958) Lisboa vol 1 p 109-110

CASTRO L A FERREIRA O V (1972) - O niacutevel neoliacutetico da gruta das Salemas (Ponte de Lousa) Arqueologia e Histoacuteria Lisboa 4 9ordf seacuterie p 399-409 il

CASTRO MARTIacuteNEZ P LULL V MICOacute R (1996) ndash Cronologia de la Prehistoria Reciente de la Peniacutensula Ibeacuterica y Baleares (c 2800-900 cal ANE) Oxford Tempus Reparatum (BAR International Series 652)

CAUWE N (1997) ndash Les morts en mouvement essai sur lrsquoorigine des rites funeacuteraires meacutegalithiques In RODRIGUEZ CASAL A (ed) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 719-737

CERRILLO CUENCA E GONZAacuteLEZ CORDERO A (2007) ndash Cuevas para la eternidad sepulcros prehistoricos de la provincia de Caacuteceres Badajoz Instituto de Arqueologia de Meacuterida (Estudios Histoacutericos de la Lusitacircnia 3)

CHACON R DYE D (coords) (2007) ndash The Trophy and Displaying of Human Body Parts as Trophies by Amerindians New York Springer

CHAPMAN R (1999) ndash What do we want to know about Iberian megaliths In Studien zur Megalithik Forschungsstand und ethnoarchaumlologische Perspektiven Mannheim BeierampBeran p 123-134

CHAMBON P (2003) ndash Les morts dans les Seacutepultures collectives neacuteolithiques en France Du cadaver aux restes ultimes Paris CNRS Editions

CHASE D (1996) ndash Burial and Tombs In FAGAN B (coord) - The Oxford Companion to Archaeology Oxford Oxford University Press p 109-110

CIOFFI-REVILLA C (1999) ndash Origins and Age of Deterrence Comparative Research on Old World and New World Systems Cross-Cultural Research 33 3 p 239-264

CLAUSEN C EINICKE O KJAEGAARD P (2008) ndash The Orientation of Danish Passage Graves Acta Archaeologica Denmark 79 p 216-229

COITO L C CARDOSO J L MARTINS A C (2008) ndash Joseacute Leite de Vasconcelos fotobiografia Lisboa Verbo RAPOSO L (dir)

COELHO M (2008) ndash A fauna malacoloacutegica proveniente do sector I do recinto calcoliacutetico dos Perdigotildees Apontamentos de Arqueologia e Patimoacutenio Lisboa NIA 3 p 35-40

COELHO M C (2002) ndash Estudo preliminar da pedreira romana e outros vestiacutegios identificados no siacutetio arqueoloacutegico de Colaride Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 5 2 p 277-323

CORREIA V (1915) ndash Idolos preistoricos tatuados de Portugal A Aacuteguia 2ordf seacuterie 7 p 244-252 CORREIA V (1917a) - Arte preacute-histoacuterica os iacutedolos-placas Terra Portuguesa 12 p 29-35 CORREIA V (1917b) ndash Notas Gravuras do laquodolmenraquo da Pedra dos Mouros (Belas) Terra

Portuguesa Lisboa 12 p 185-186 CORTES V FERREIRA O V FURTADO A MAURIacuteCIO A S MONTEIRO J A (1978

imp) ndash A Lapa do Suatildeo (Bombarral) Relatoacuterio da campanha de escavaccedilotildees de 1970 Boletim Cultural Lisboa Assembleia Distrital de Lisboa 83 p 219-237

CORTEZ F R (1942) ndash Materiais arqueoloacutegicos do concelho de Sintra na Casa-Museu laquoTeixeira Lopesraquo Viriatis Boletim do Museu de Gratildeo Vasco 1 2 p 92-98

COSTA F A P (1865) ndash Da existecircncia do homem em eacutepocas remotas no valle do Tejo notiacutecia sobre os esqueletos humanos descobertos no Cabeccedilo da Arruda Lisboa Imprensa Nacional

COSTA F A P (1868) ndash Notions sur lrsquoeacutetat prehistorique de la Terre et de lrsquoHomme suivies de la description de quelques dolmens ou antas du Portugal Lisbonne Imprimerie de lrsquoAcademie

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 379 de 415

CHRISTENSEN J (2004) ndash Warfare in the European Neolithic Acta Archaeologica Denmark 75 p 129-156

CRIADO BOADO F FAacuteBREGAS VALCARCE R VAQUERO LASTRES J (1994) ndash Regional Patterning among the Megaliths of Galicia (NW Spain) Oxford Journal of Archaeology Oxford 13 1 p 33-47

CRUBEacuteZY E (2007) - Lrsquoeacutetude des seacutepultures ou du monde des morts au monde des vivants Anthropologie archeacuteologie funeacuteraire et anthropologie de terrain In FERDIEgraveRE A (dir) - Archeacuteologie funeacuteraire Paris Editions Errance 2ordf ediccedilatildeo p 8-54 (Archeacuteologiques) 1ordf ediccedilatildeo de 2000

CRUBEacuteZY E LUDES B POUJOL J COQUEUGNOT H GRUAT P JUSOT V LEFILATTRE V ROUGE D CATHALA J (1998) - Pratiques et Espaces funeacuteraires Les grands Causses au Neacuteolithique Ouvrage 1 du PCR Pratiques et Espaces funeacuteraires Les grands Causses du Neacuteolithique au Moye-Age

CRUZ A R (1997) ndash Vale do Nabatildeo do neoliacutetico agrave Idade do bronze Arkeos Tomar CHEIPHAR 3

CRUZ D J (1990) - A Mamoa 2 de Chatilde de Carvalhal Serra da Aboboreira Baiatildeo Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia 1990 - Sep dos Trabalhos de Antropologia e Etnologia 31 1-4

CRUZ D J (1995) ndash Cronologia dos monumentos com tumulus do Noroeste Peninsular e Beira Alta Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu 3 p 81-119

CRUZ D J (1998) -Expressotildees funeraacuterias e cultuais no Norte da Beira Alta (V-II mileacutenios a C) Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu 6 p 149-166 Actas do Coloacutequio laquoA Preacute-Histoacuteria na Beira Interiorraquo (Tondela Nov 1997)

CRUZ D J (2001) ndash O Alto Paiva Megalitismo Diversidade Tumular e Praacuteticas Rituais Durante a Preacute-Histoacuteria recente Dissertaccedilatildeo de doutoramento apresentado agrave Faculdade de Letras da Universiadade de Coimbra 2 Vol

CRUZ D J CUNHA A M L GOMES L F C (1988-89) - A Orca de Corgas da Matanccedila Fornos de Algodres Portugaacutelia Porto Nova seacuterie 9-10 p 31-47

CRUZ D J CUNHA A M L GOMES L F C (1990) - A casa da Orca de Corgas da Matanccedila Fornos de Algodres Guarda Fornos de Algodres Cacircmara Municipal Sep de Portugaacutelia (1988-89) 9-10

CRUZ D J VILACcedilA R (1990) - A anta da Cunha Baixa (Mangualde) escavaccedilatildeo restauro e conservaccedilatildeo de um monumento megaliacutetico Viseu [sn] 1990 - Sep de Actas do 1ordm Coloacutequio Arqueoloacutegico de Viseu

CRUZ D J VILACcedilA R (1994) ndash O doacutelmen 1 do Carapito (Aguiar da Beira Guarda) Novas dataccedilotildees de carbono 14 In Actas do Seminaacuterio ldquoO Megalitismo no Centro de Portugalrdquo (Mangualde Nov 1992) Viseu p 63-68

CRUZ D J LOacutePEZ SAEZ J S CANHA A L MENDES S L VALINHO A VIEIRA M A (2003) ndash Projecto ldquoO Alto Paiva Sociedade e estrateacutegias de povoamento desde a Preacute-histoacuteria Recente agrave Alta Idade Meacutediardquo Relatoacuterio final (1998-2002) Coimbra Policopiado Acessiacutevel no arquivo do IGESPAR Proc 981(762) vol 2

CRUZ P B (1897) ndash Notiacutecias vaacuterias 3 Antiguidades de Arruda dos Vinhos O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3 p 143-144

CUNHA A L (1995) ndash Anta da Arquinha da Moura (Tondela) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto SPAE 35 3 p 133-140 il JORGE V J (Coord) - Actas do 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular (Porto 12-18 de Outubro de 1993) vol 8

CUNHA E (1996) ndash Viajar no tempo atraveacutes dos ossos a investigaccedilatildeo paleobioloacutegica Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 5 p 131-141

CUNHA E (2000) ndash Antropologia Fiacutesica e Paleoantropologia em Portugal Um balanccedilo Arqueologia e Histoacuteria Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses 54 p 261-272

CUNHA E (2008) ndash Antropologia Bioloacutegica em Portugal Uma retrospectiva soa uacuteltimos 25 anos Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 15 p 113-115

CUNHA E PADEZ C (1987) - Material osteoloacutegico da gruta dos Alqueves In VILACcedilA R RIBEIRO J P - Escavaccedilotildees arqueoloacutegicas na gruta dos Alqueves (S Martinho do Bispo Coimbra) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 27 1-4 p 45-49

CUNHA E SILVA A M (2000) ndash Relatoacuterio antropoloacutegico do material osteoloacutegico exumado da anta da Vaacuterzea (Sintra) Coimbra Laboratoacuterio de Paleodemografia e Paleopatologia do

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 380 de 415

Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra Policopiado Acessiacutevel no Museu Municipal de Satildeo Miguel de Odrinhas

CUNHA E SILVA AM MIRANDA M (2003) ndash Caracterizaccedilatildeo e estudo dos materiais antropoloacutegicos provenientes da Anta 3 da Herdade de Santa Margarida In GONCcedilALVES V S ndash STAM-3 a Anta 3 da Herdade de Santa Margarida (Reguengos de Monsaraz) Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 384-420 (Trabalhos de Arqueologia 32)

CUNNINGHAM P A STARR A F (1998) - Sharing Shalom A Process for Local Interfaith Dialogue Between Christians and Jews Paulist Press ISBN 0-8091-3835-2

DAVEAU S (1980) - Espaccedilo e Tempo Evoluccedilatildeo do ambiente geograacutefico de Portugal ao longo dos tempos preacute-histoacutericos Clio-Revista do Centro de Histoacuteria da Universidade de Lisboa 2 p 13-37

DAVEAU S (1994) - A Foz do Tejo Palco da Histoacuteria de Lisboa In Lisboa Subterracircnea Lisboa Museu Nacional de Arqueologia p

DAVEAU S (1995) - Portugal geograacutefico Lisboa Ediccedilotildees Joatildeo Saacute da Costa 2ordf ediccedilatildeo DAVEAU S (2004) ndash A Estremadura In FEIO M DAVEAU S - Relevo de Portugal Grandes

unidades regionais Coimbra Associaccedilatildeo Portuguesa de Geomorfoacutelogos p -48 DAVEAU S GONCcedilALVES V S (1985) - A evoluccedilatildeo holoceacutenica do Vale do Sorraia e as

particularidades da sua antropizaccedilatildeo (Neoliacutetico e Calcoliacutetico) In Actas 1ordf reuniatildeo do Quaternaacuterio Ibeacuterico Lisboa INIC vol 2 p 187-197

DAVIS S MORENO GARCIacuteA M (no prelo) - Of metapodials measurements and music ndash eight years of miscellaneous zooarchaeological discoveries at the IPA Lisbon O Arqueoacutelogo Portuguecircs 25

DEHN W (1990) ndash Em Homenagem agrave Dra H C Vera Leisner In Probleme der Megalithgraumlberforschung Vortraumlge zum 100 Geburtstag von Vera Leisner Berlin Walter de Gruyter

DEHN W KALB P VORTISCH W (1991) - Geologisch-Petrographische Untersuchungen an Megalithgraumlbern Portugals Madrider Mitteilungen 32 p 1-28

DELGADO J F N (1867) ndash Da existecircncia do Homem no nosso solo em tempos mui remotos provada pelos estudos das cavernas Notiacutecia acerca das grutas de Cesareda Lisboa 133 p il

DELGADO J F N (1880) ndash Les grottes de Peniche et Casa da Moura Portugal Station et seacutepulture neacuteolithique Materiaux pour lrsquoHistoire Primitive et Naturel de lrsquoHomme Paris 2ordf seacuterie 11

DELGADO J F N (1884) ndash La grotte de Furninha a Peniche In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique 9ordm Lisboa 1880 ndash Compte Rendu Lisbonne p 207-278 il

DELGADO J F N (1891a) ndash Grottes de Santo Adriatildeo dans le Nord du Portugal In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique 10ordm Paris 1889 Paris p 553-568

DELGADO J F N (1891b) ndash Notice sur les grottes de Carvalhal drsquoAljubarrota (Portugal) In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique 10ordm Paris 1889 Paris p 565-568 Re-publicado em 1901 - Comunicaccedilotildees da Direcccedilatildeo dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa p 161-164

DELIBES DE CASTRO G ROJO GUERRA M REPRESA BERMEJO J I (1993) ndash Doacutelmenes de La Lora Burgos Castill y Leon Junta (Guia Arqueoloacutegica)

DELIBES DE CASTRO G ALONSO DIEZ M ROJO GUERRA M (1987) - Los sepulcros colectivos del Duero Medio y las Loras y su conexioacuten com el foco dolmeacutenico riojano In El Megalitismo en la Peninsula Ibeacuterica Madrid p 181-197

DELIBES DE CASTRO G ROJO GUERRA M (1997) ndash C14 y secuencia megaliacutetica en La Lora burgalesa Acotaciones a la problemaacutetica de las dataciones absolutas referentes a yacimientos dolmeacutenicos In RODRIGUEZ CASAL A (ed) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 391-414

DELIBRIAS G GUILLIER M LABEYRIE J (1965) ndash Saclay Natural Radiocarbon Measurements II Radiocarbon 7 p 236-244

DeNIRO M (1985) ndash Postmortem preservation and alteration of in vivo bone collagen isotope ratios in relation to palaeodietary reconstruction Nature 317 (October) p 806-809

DEUS M M (1998) - Relatoacuterio da campanha de escavaccedilotildees na anta de Casaiacutenhos 1997 Loures Relatoacuterio policopiado Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Processo S-650

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 381 de 415

DEVIGNES M (1997) ndash Quelques reflexions sur lrsquoancienneteacute du Meacutegalithisme du Sud-Ouest de la France In RODRIGUEZ CASAL A (ed) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 299-308

DIAS M I (2008) ndash Estudo composicional da material envolvente aos geomeacutetricos da necroacutepole neoliacutetica da Sobreira de Cima (Vidigueira) Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 1 p 13-14

DIAS M I PRUDEcircNCIO M I SANJURJO SANCHEZ J CARDOSO G O FRANCO D (2008) ndash Dataccedilatildeo por luminiscecircncia de sedimentos de sepulcros artificiais da necroacutepole preacute-histoacuterica da Sobreira de Cima (Vidigueira) Resultados preliminares Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 2 p 31-40

DIAS M I VALERA A C LAGO M PRUDEcircNCIO M I (2008) - Proveniecircncia e tecnologia de produccedilatildeo de ceracircmicas nos Perdigotildees Vipasca Aljustrel 2ordf seacuterie 2 p 117-121 Actas do III Encontro de Arqueologia do SW (Aljustrel 2006)

DINIZ M (1994) - Pesos de tear e tecelagem no Calcoliacutetico em Portugal Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 34 3-4 p 133-147 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular (Porto 1993 Out 12-18) Actas Vol 4

DINIZ M (2007) ndash O siacutetio da Valada do Mato (Eacutevora) aspectos da neolitizaccedilatildeo no InteriorSul de Portugal Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 48)

DINIZ M GONCcedilALVES V S (1993-94) ndash A actividade arqueoloacutegica em Portugal na 2ordf metade do seacuteculo XIX O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 11-12 p 176-187

DOMINGO MARTIacuteNEZ R (2005a) ndash Anaacutelisis functional de los microlitos geomeacutetricos del Abrigo de Aizpea (Arive Navarra) Veleia 22 p 27-49

DOMINGO MARTIacuteNEZ R (2005b) ndash La funcionalidad de los microlitos geomeacutetricos Bases experimentales para su estudo Zaragoza Universidad de Zaragoza (Monografiacuteas Arqueoloacutegicas 41)

DOWD M (2008) ndash The use of caves for funerary and ritual practices in Neolithic Ireland Antiquity 82 316 p 305-317

DRIESCH A BOESSNECK J (1976) ndash Castro do Zambujal Die Fauna Munchen Universitaumlt (Studien uber fruhe Tiernochenfunde von der Iberischen Halbinsel 5)

DRIESCH A BOESSNECK J (1981) ndash Die fauna von Zambujal In SANGMEISTER E SCHUBART H ndash Zambujal die grabungen 1964 bis 1973 Mainz am Rhein Verlag Philipp von Zabern vol 1 p 303-314 (Madrider Beitraumlge 51)

DUARTE C (1993) ndash Analysis of dental wear and pathological conditions in human teeth from the Neolithic site of Grutas Artificiais do Tojal de Vila Chatilde (Estremadura Portugal) Thesis submitted to the Faculty of Graduate Studies and Research in partial fulfilment of the degree of Master of Arts Edmonton University of Alberta Policopiado

DUARTE C (1998a) ndash Gestatildeo do espaccedilo funeraacuterio no Monumento Funeraacuterio 1 dos Perdigotildees dados da anaacutelise osteoloacutegica In LAGO M DUARTE C VALERA A ALBERGARIA J ALMEIDA F CARVALHO AF (1998a) - Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) Dados Preliminares dos Trabalhos Realizados em 1997 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 1 1 p 75-79

DUARTE C (1998b) ndash Necroacutepole neoliacutetica do Algar do Bom Santo Contexto cronoloacutegico e espaccedilo funeraacuterio Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 1 2 p 107-118

DUARTE C (2003) ndash Bioantropologia In MATEUS J E MORENO-GARCIA M - Paleoecologia humana e arqueociecircncias Um programa multidisciplinar para a Arqueologia sob a tutela da Cultura Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 263-296 (Trabalhos de Arqueologia 29)

DUARTE C (2004) ndash Anta da Arruda (Arruda dos Vinhos Portugal) Analysis of human remains stored at the Museu Nacional de Arqueologia Lisbon Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia Policopiado (Anexo 6)

DUARTE C EVANGELISTA L LAGO M VALENTE M J VALERA A C (2006) - Animal remains in Chalcolithic funerary context in Portugal the case of Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz Alentejo) In Actas do IV congresso de Arqueologia Peninsular Faro Universidade do Algarve vol 3 p 47-55

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 382 de 415

ERA-ARQUEOLOGIA LDA [2001] ndash Valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio arqueoloacutegico do municiacutepio de Odivelas Anta das Pedras Grandes ndash Caneccedilas Relatoacuterio dos trabalhos arqueoloacutegicos Policopiado

ERIKSSON G (2004) ndash Part-time farmers or hard-core sealers Vaumlsterbjers studied by means of stable isotope analysis Journal of Anthropological Archaeology 23 p 135-162

ERIKSSON G LINDERHOLM A FORNANDER E KANSTRUP M SCHOULTZ P OLOFSSON H LIDEacuteN K (2008) ndash Same island diferent diet Cultural evolution of food practice on Oumlland Sweden from the Mesolithic to the Roman Period Journal of Anthropological Archaeology 27 p 520-543

ESTEcircVAtildeO F (1997) ndash Relatoacuterio preliminar da anta de Carcavelos Lisboa Relatoacuterio policopiado Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Processo S-3502

ESTEcircVAtildeO F [1999] ndash Relatoacuterio da 2ordf campanha de escavaccedilatildeo na Anta de Carcavelos (Lousa) Lisboa Relatoacuterio policopiado Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Processo S-3502

ESTEcircVAtildeO F (2000a) ndash O Crasto de Ponte de Lousa (Loures) ndash notiacutecia preliminar O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 18 p 61-70

ESTEcircVAtildeO F (2000b) - Projecto de estudo e valorizaccedilatildeo do Megalitismo do concelho de Loures Relatoacuterio 1999 Loures Cacircmara Municipal Relatoacuterio policopiado Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Processo S-650

ESTEcircVAtildeO F (2001) - Projecto de estudo e valorizaccedilatildeo do Megalitismo do concelho de Loures Relatoacuterio 2000 Loures Cacircmara Municipal Relatoacuterio policopiado Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Processo S-650

ESTEcircVAtildeO F DEUS M (2000) ndash A Preacute-Histoacuteria recente em Loures Dois projectos de investigaccedilatildeo em curso In Neolitizaccedilatildeo e Megalitismo da Peniacutensula Ibeacuterica Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Porto ADECAP vol 3 p 473-483

ETXEBERRIA F (2000) - The accidental the intentional and the ritual in human burials In 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Porto ADECAP vol 9 p 291-308

ETXEBERRIA F VEGAS ARAMBURU J I (1988) ndash iquestAgressividad social o guerra durante el Neo-eneoliacutetico en la cuenca media del Valle del Ebro a propoacutesito de San Juan Ante Portam Latinam (Rioja alavesa) Munibe San Sebastian 6 p 105-112

ETXEBERRIA F VEGAS ARAMBURU J I (1992) ndash Heridas por flecha durante la Prehistoria en la Peniacutensula Ibeacuterica Munibe San Sebastian 8 p 129-136

FABIAtildeO C (1989) ndash Para a Histoacuteria da Arqueologia em Portugal Peneacutelope Fazer e Desfazer Histoacuteria Lisboa 2 p 10-26

FABIAtildeO C (1999) - Um Seacuteculo de Arqueologia em Portugal - 1 Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 8 p 104-126

FABIAtildeO C (2008) ndash Evocaccedilatildeo de O da Veiga Ferreira In CARDOSO J L (Coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 147-154

FAacuteBREGAS VALCARCE R (1991) ndash Megalitismo del Noroeste de la Peniacutensula Ibeacuterica Tipologiacutea y secuencia de los materiales liacuteticos Madrid UNED

FEREMBACH D (1964-1965) - Les ossements humains de Salemas (Portugal) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 48 p 165-184

FERNAacuteNDEZ RUIZ J MAacuteRQUEZ ROMERO J E FERRER PALMA J E BALDOMERO NAVARRO A (1997) ndash Los enterramientos colectivos de El Tardoacuten (Antequera Maacutelaga) In BALBIacuteN BERHMAN R BUENO RAMIREZ P (coord) ndash II Congreso de Arqueologia Peninsular Zamora vol 2 p 371-380

FERNAacuteNDEZ RUIZ J MAacuteRQUEZ ROMERO J E (2001) ndash El sepulcro megaliacutetico del Tesolrillo de la Llanaacute de Cerro Ardite Alozaina (Maacutelaga) Spal Sevilla 10 p 193-206

FERNAacuteNDEZ RUIZ J MAacuteRQUEZ ROMERO J E (2003) ndash El traacutensito del cal IV-III milenio aC en la Cuenca media de Rio Grande (Maacutelaga) Plioceacutenica II Congreso de Paleotologiacutea Villa de Estepona Paleontropologiacutea y Prehistoria p 144-151

FERREIRA A B (2005a) ndash Estrutura geoloacutegica do territoacuterio In C MEDEIROS (coord) - Geografia de Portugal Rio de Mouro Ciacuterculo de Leitores vol 1 p 56-74

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 383 de 415

FERREIRA A B (2005b) ndash Geomorfologia das Bacias sedimentares In C MEDEIROS (Coord) - Geografia de Portugal Rio de Mouro Ciacuterculo de Leitores vol 1 p 103-120

FERREIRA A M (1994) - Santos Rocha o Museu Municipal e a Sociedade Arqueoloacutegica da Figueira da Foz (1894-1910) In Museu Municipal Dr Santos Rocha Centenaacuterio (1894-1994) Figueira da Foz Cacircmara Municipal p 73-94

FERREIRA A R (1961) ndash Monumentos megaliacuteticos de Trigache e de A-da-Beja I Notas biograacuteficas de Carlos Ribeiro Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 40 p 297-300

FERREIRA O V (1953a) - A colecccedilatildeo de instrumentos de fibrolite do Museu dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Anais da Academia de Ciecircncias do Porto Porto 37 p 37-44

FERREIRA O V (1953b) - O monumento prehistorico de Agualva (Cacem) Zephyrus Salamanca 4 p 145-166 il

FERREIRA O V (1954) ndash Os artefactos preacute-histoacutericos de calaiacutete e sua distribuiccedilatildeo em Portugal Arqueologia e Histoacuteria Lisboa 5 p 85-93

FERREIRA O V (1957) ndash Tipos de punhal liacutetico da colecccedilatildeo dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Revista de Guimaratildees Guimaratildees 67 p 185-191 Separata

FERREIRA O V (1959) ndash Inventaacuterio dos monumentos megaliacuteticos dos arredores de Lisboa In Actas e Memoacuterias do 1ordm Congresso Nacional de Arqueologia Lisboa 15 a 20 Dezembro de 1958 Lisboa vol 1 p 215-233

FERREIRA O V (1963) ndash Notiacutecia de algumas estaccedilotildees preacute-histoacutericas e objectos isolados ineacuteditos ou pouco conhecidos Boletim da Junta Distrital de Lisboa 2ordf seacuterie p 59-60 Separata

FERREIRA O V (1965) ndash Os pendentes de osso laquocaneladosraquo do niacutevel I da Gruta das Salemas (Ponte de Lousa) Revista de Guimaratildees Guimaratildees Sociedade Martins Sarmento 75 1-4 p 73-81

FERREIRA O V (1966) ndash La Culture du Vase Campaniforme au Portugal Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal (Memoacuterias SGP nova seacuterie 12)

FERREIRA O V (1970) ndash Alguns objectos ineacuteditos bastante raros da colecccedilatildeo do professor Manuel Heleno O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 3ordf seacuterie 4 p 165-173

FERREIRA O V (1973-1974) ndash Notiacutecia de algumas estaccedilotildees preacute e proto-histoacutericas e objectos isolados ineacuteditos ou pouco conhecidos 2ordf parte Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa Lisboa 2ordf seacuterie 79-80 p 131

FERREIRA O V (1975) ndash Acerca dos monumentos de planta quadrada ou rectangular encontrados em Portugal Boletim Cultural da Junta Distrital de Lisboa Lisboa 3ordf seacuterie 81 p 49-55

FERREIRA O V (1982) - Cavernas com interesse cultural encontradas em Portugal Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 68 2 p 285-298

FERREIRA O V (1985) ndash Acerca dos enigmaacuteticos laquobaacuteculosraquo da cultura megaliacutetica do Alto Alentejo Arqueologia Porto 12 p 86-93

FERREIRA O V CASTRO L A (1967) ndash O povoado neo-eneoliacutetico das Salemas (Ponte de Lousa) Revista de Guimaratildees Guimaratildees 77 1-2 p 39-45

FERREIRA O V LEITAtildeO M (s d) ndash Portugal preacute-histoacuterico seu enquadramento no mediterracircneo Mem Martins Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica 2ordf ediccedilatildeo

FERREIRA O V TRINDADE L (1954) ndash Objectos da necroacutepole do Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras) Zephyrus Salamanca 5 p 29-35

FERREIRA O V TRINDADE L (1956) ndash A necroacutepole do Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras) Anais da Faculdade de Ciecircncias da Faculdade do Porto Porto 38 3 p 193-212

FERREIRA O V ZBYSZEWSKI G LEITAtildeO M NORTH C T SOUSA H R (1975) - Le monument meacutegalithique de Pedra Branca aupregraves de Montum (Melides) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 59 p 107-192

FERRER PALMA J MARQUEacuteS MERELO I (1993) ndash Informe de las actuaciones realizadas en la necroacutepolis megaliacutetica de Antequera (Maacutelaga) durante 1991 Anuaacuterio Arqueoloacutegico de Andaluciacutea 1991 Sevilla Junta de Andaluciacutea 3 p 358-360

FIGUEIREDO A (2006) - Complexo megaliacutetico de Rego da Murta (Rego da Murta Alvaiaacutezere) no contexto da Preacute-histoacuteria Recente do Alto Ribatejo (V-II mileacutenio aC) ndash Problemaacuteticas e Interrogaccedilotildees Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Faculdade de Letras da Universidade do Porto Ficheiro PDF

FIGUEIREDO A (2007) ndash Entre as grutas e os monumentos megaliacuteticos problemaacuteticas e interrogaccedilotildees na Preacute-histoacuteria recente do Alto Ribatejo Al-Madan online Adenda electroacutenica Almada 2ordf seacuterie 15 p 1-15 httpwwwalmadanpublpt

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 384 de 415

FORENBAHER S (1999) ndash Production and Exchange of Bifacial Flaked Stone Artifacts during the Portuguese Chalcolithic Oxford Archaeopress (BAR International Series 756)

FRAGOSO V (2001) ndash A Vaacuterzea de Loures In MUSEU MUNICIPAL DE LOURES - Redescobrir a Vaacuterzea de Loures Ambiente Geologia e Preacute-histoacuteria antiga na Vaacuterzea Loures

FRANCcedilA J C FERREIRA O V (1951) - A estaccedilatildeo prehistoacuterica do Alto do Montijo (Sintra) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 13 1-2 p 34-44 il

FRANCcedilA J C FERREIRA O V (1958) - Estaccedilatildeo preacute-histoacuterica da Samarra (Sintra) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 39 p 61-86 il

GALLAY A (2006) ndash Les Socieacuteteacutes Meacutegalithiques Pouvoir des hommes meacutemoir decircs morts Lausanne Presses polytechniques et universitaires romandes (Le Savoir suisse 37)

GALLAY G SPINDLER K TRINDADE L FERREIRA O V (1973) ndash O monumento preacute-histoacuterico de Pai Mogo (Lourinhatilde) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses 170 il

GAMA R P (2003) ndash Ressuscitar Eira Pedrinha Neoliacutetica Calcoliacutetica Uma nova abordagem antropoloacutegica Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Evoluccedilatildeo Humana Universidade de Coimbra

GARCIacuteA SANJUAacuteN L HURTADO PEacuteREZ V (2002) - La arquitectura de las construcciones funerarias de tipo tholos en el Suroeste de Espantildea In SERRELLI D VACCA D (coords) - Aspetti del Megalitismo Prehistoacuterico Incontro di Studio Sardegna-Spagna (Museo del Territorio Lunamatrona Cagliari Italia 21-23 de Septiembre de 2001) Cagliari Grafica del Parteolla p 36-47

GARCIA SANCHEZ M SPAHNI C (1959) ndash Sepulcros megaliacuteticos de la region de Gorafe (Granada) Archivo de Prehistoria Levantina Valencia 8 p 43-113

GARRIDO-PENA R (1999) ndash El Campaniforme en la Meseta Anaacutelisis de su contexto social econoacutemico y ritual Tesis Doctoral Madrid Universidad Complutense de Madrid Policopiado

GARRIDO-PENA R (2006) ndash Transegalitarian societies an ethnoarchaeological model for the analysis of Copper Age Bell Beaker using groups in Central Iberia In DAacuteZ-DEL-RIacuteO P GARCIacuteA SANJUAacuteN L (coords) ndash Social Inequality in Iberian Late Prehistory Oxford Archaeopress p 81-96 (BAR International Seacuteries 1525)

G E E M ndash Groupe dEacutetude de lEacutepipaleacuteolithique-Meacutesolithique (1969) - Epipaleacuteolithic-Meacutesolithic Las microlithes geacuteometriques Bulletin de la Socieacuteteacute Preacutehistorique Franccedilaise Eacutetudes et Travaux 66 p 355-366

GIBAJA BAO J (2007) ndash Estudios de traceologiacutea y funcionalidad Praxis Archaeologica [Porto] Associaccedilatildeo Profissional de Arqueoacutelogos 2 p 49-74

GIBAJA BAO J PALOMO A (2004) ndash Geomeacutetricos usados como proyectiles Implicaciones econoacutemicas sociales e ideoloacutegicas en sociedades neoliacuteticas del VI-III mileacutenio cal BC en el Noreste de la Peniacutensula Ibeacuterica Trabajos de Prehistoria Madrid CSIC 61 1 p 81-98

GODINHO R (2008) ndash Deposiccedilotildees funeraacuterias em fossa nos Perdigotildees Dados antropoloacutegicos do Sector I Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 3 p 29-34

GOMES L F (1996) ndash A necroacutepole megaliacutetica da ldquoLameira de Cimardquo (Penedo Viseu) Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu Centro de Estudos Preacute-Histoacutericos da Beira Alta 4

GOMES L F CARVALHO P S PERPEacuteTUO J M MARRAFA C (1998) ndash O Doacutelmen de Areita (S Joatildeo da Pesqueira Viseu) In Actas do Coloacutequio ldquoA Preacute-Histoacuteria na Beira Interiorrdquo (Tondela Nov 1997) Viseu p 33-93

GOMES M V (2008) ndash Castelo Belinho (Algarve Portugal) and the first Southwest Iberian villages In DINIZ M (coord) ndash Early Neolithic in Iberian Peniacutensula Regional and Transregional components Oxford Archaeopress p 71-78 (BAR International series 1857)

GOMES M V CARDOSO J L CUNHA A S (1994) ndash A sepultura de Castro Marim Comunicaccedilotildees do Instituto Geoloacutegico e Mineiro Lisboa 80 p 99-105

GONCcedilALVES J L M (1979a) ndash O monumento preacute-histoacuterico da Praia das Maccedilatildes Arquitectura e ceracircmica preacute-campaniforme Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa Lisboa 3ordf Seacuterie 85 p 125-135

GONCcedilALVES J L M (1979b) ndash O monumento preacute-histoacuterico da Praia das Maccedilatildes (Sintra) Notiacutecia preliminar Sintria Sintra Cacircmara Municipal 1-2 p 29-58

GONCcedilALVES J L M (1979c) - Os povoados Neo e Calcoliacuteticos da Peniacutensula de Lisboa Boletim Cultural Lisboa Assembleia Distrital de Lisboa 3ordf seacuterie 85 p 137-162

GONCcedilALVES J L M (1990-1992a) - As Grutas da Serra de Montejunto (Cadaval) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 4ordf seacuterie 8-10 p 41-201

GONCcedilALVES J L M (1990-1992b) ndash Olelas e Praganccedila duas fortificaccedilotildees calcoliacuteticas da Estremadura O Arqueacuteologo Portuguecircs Lisboa 4ordf seacuterie 8-10 p 31-40

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 385 de 415

GONCcedilALVES J L M (1991) ndash O povoado do Alto do Dafundo (Linda-a-Velha Oeiras) corte A e dataccedilatildeo para o Calcoliacutetico inicial estremenho Arqueologia Porto 26 p 24-26

GONCcedilALVES J L M (1992) ndash Grutas artificiais da Quinta das Lapas (Monte Redondo Torres Vedras) Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal 9-10 p 247-276

GONCcedilALVES J L M (1993) ndash Iacutedolos de cornos de Olelas (Sintra) e da Serra das Eacuteguas (Amadora) Al-madan Almada 2ordf seacuterie 2 p 38-40

GONCcedilALVES J L M (1995) ndash Arruda dos Vinhos Notas Arqueoloacutegicas Revista de Arqueologia da Assembleia Distrital de Lisboa Lisboa 2 Separata

GONCcedilALVES J L M SERRAtildeO E C (1978) - O povoado do Calcoliacutetico inicial do Alto do Dafundo Linda-a-Velha In Actas das III Jornadas da Associaccedilatildeo de Arqueoacutelogos Portugueses Lisboa p 75-96

GONCcedilALVES V S (1971) ndash O castro da Rotura e o vaso campaniforme Setuacutebal Junta Distrital de Setuacutebal

GONCcedilALVES V S (1978a) ndash Neolitizaccedilatildeo e megalitismo da regiatildeo de Alcobaccedila Lisboa Secretaria de Estado da Cultura

GONCcedilALVES V S (1978b) ndash Para um programa de estudo do Neoliacutetico em Portugal Zephyrus Salamanca 28-29 p 147-162

GONCcedilALVES V S (1980a) ndash Estaacutecio da Veiga um programa para a instituiccedilatildeo dos estudos arqueoloacutegicos em Portugal 1880-1891 Lisboa Histoacuteria e Criacutetica

GONCcedilALVES V S (1980b) ndash O IX Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Preacute-Histoacutericas Lisboa 1880 Uma leitura seguida da ldquocroacutenicardquo de Bordalo Pinheiro Lisboa Centro de Histoacuteria da Universidade de Lisboa

GONCcedilALVES V S (1987) ndash Cova das Lapas (Montes) ou gruta da Ribeiro do Pereiro Informaccedilatildeo Arqueoloacutegica 1986 Lisboa IPPC 8 p 40-41

GONCcedilALVES V S (1988-1989) - A ocupaccedilatildeo preacute-histoacuterica do Monte Novo dos Albardeiros Reguengos de Monsaraz Portugaacutelia Porto nova seacuterie 9-10 p 49-61

GONCcedilALVES V S (1989a) ndash Manifestaccedilatildeo do sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente Peninsular 1 Deusa(s)-Matildee placas de xisto e cronologias uma nota preambular Almansor 7 p 289-302

GONCcedilALVES V S (1989b) - Megalitismo e metalurgia no Alto Algarve Oriental uma aproximaccedilatildeo integrada Lisboa INICUNIARQ 2 vol

GONCcedilALVES V S (1990) ndash Siacutetios horizontes e artefactos o caso da Parede - Cascais Lisboa Arquivo de Cascais Cascais Cacircmara Municipal 9 p 13-43

GONCcedilALVES V S (1992) ndash Revendo as antas de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARQ 264 p

GONCcedilALVES V S (1993) ndash Manifestaccedilotildees do Sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente Peninsular 3 A Deusa dos olhos de sol Um primeiro olhar Revista da Faculdade de Letras de Lisboa Lisboa 5ordf seacuterie 15 p 41-47

GONCcedilALVES V S (1994a) ndash A primeira metade do 3ordm mileacutenio no CentroSul de Portugal Algumas breves reflexotildees enquanto outras natildeo satildeo possiacuteveis In JORGE V (coord) ndash Actas do 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular (Porto 12-18 de Outubro de 1993) Porto SPAE vol 4 p 117-131

GONCcedilALVES V S (1994b) ndash Os artefactos votivos de calcaacuterio oferendas votivas do 3ordm mileacutenio In Lisboa Subterracircnea Lisboa Ed Lisboa 94 p 115-135

GONCcedilALVES V S (1995) ndash Siacutetios ldquoHorizontesrdquo e Artefactos Leituras Criacuteticas de Realidades Perdidas Cascais 1ordf ediccedilatildeo 304 p

GONCcedilALVES V S (1997) - Manifestaccedilotildees do Sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente Peninsular 2 A Propoacutesito dos Artefactos Votivos de Calcaacuterio das Necroacutepoles de Alcalar e Monte Velho Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal 11-12 p 199-216 I Encontro de Arqueologia da Costa Sudoeste

GONCcedilALVES V S (1999a) ndash Reguengos de Monsaraz Territoacuterios megaliacuteticos Lisboa Cacircmara Municipal de Reguengos de Monsaraz 151 p

GONCcedilALVES V S (1999b) ndash Time landscape and burials 1 Megalithic rites of ancient peasant societies in central and southern Portugal Journal of Iberian Archaeology Porto ADECAP p 83-91

GONCcedilALVES V S (2001) ndash A anta 2 da Herdade de Santa Margarida (Reguengos de Monsaraz) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 4 2 p 115-206

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 386 de 415

GONCcedilALVES V S (2003a) ndash A anta 2 da Herdade dos Cebolinhos (Reguengos de Monsaraz Eacutevora) Sinopse das intervenccedilotildees de 1996-97 e duas dataccedilotildees de radiocarbono para a uacuteltima utilizaccedilatildeo da cacircmara ortostaacutetica Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 6 2 p 143-166

GONCcedilALVES V S (2003b) ndash Comer em Reguengos no Neoliacutetico As estruturas de combustatildeo da Aacuterea 3 de Xarez 12 In GONCcedilALVES V S (coord) - Muita Gente Poucas Antas Origens Espaccedilos e Contextos do Megalitismo Actas do 2ordm Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 81-99 (Trabalhos de Arqueologia 25)

GONCcedilALVES V S (2003c) - Manifestaccedilotildees do sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente Peninsular 4 laquoA siacutendrome das placas loucasraquo Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 6 1 p 131-157

GONCcedilALVES V S (coord) (2003d) ndash Muita Gente Poucas Antas Origens Espaccedilos e Contextos do Megalitismo Actas do 2ordm Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 534 p (Trabalhos de Arqueologia 25)

GONCcedilALVES V S (2003e) ndash Siacutetios ldquoHorizontesrdquo e Artefactos Leituras Criacuteticas de Realidades Perdidas Cascais 2ordf ediccedilatildeo revista e aumentada 380 p

GONCcedilALVES V S (2003f) ndash STAM-3 a anta 3 da herdade de Santa Margarida (Reguengos de Monsaraz) Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 32)

GONCcedilALVES V S (2004a) ndash As deusas da noite o projecto laquoPlaca Nostraraquo e as placas de xisto gravadas da regiatildeo de Eacutevora Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa IPA 7 2 p 49-72

GONCcedilALVES V S (2004b) ndash As placas de xisto gravadas dos sepulcros colectivos de Aljezur (3ordm mileacutenio ane) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 22 p 163-318

GONCcedilALVES V S (2004c) - Manifestaccedilotildees do sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente peninsular 5 O expliacutecito e o impliacutecito Breve dissertaccedilatildeo invocando os limites fluidos do figurativo a propoacutesito do significado das placas de xisto gravadas do terceiro mileacutenio ane Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 7 1 p 165-183

GONCcedilALVES V S (Coord) (2005a) ndash Cascais haacute 5000 anos Cascais Cacircmara Municipal 221 p GONCcedilALVES V S (2005b) ndash Cascais haacute 5000 mil anos Tempos siacutembolos e espaccedilos da Morte das

antigas Sociedades Camponesas In GONCcedilALVES V S (coord) - Cascais haacute 5000 anos Cascais Cacircmara Municipal p 63-195

GONCcedilALVES V S (2005c) ndash Espaccedilos construiacutedos siacutembolos e ritos da morte das antigas sociedades camponesas no Extremo Sul de Portugal algumas reflexotildees sob a forma de qmf Mainakeacute Maacutelaga 36 p 89-113

GONCcedilALVES V S (2005d) ndash Manifestaccedilotildees do Sagrado no Ocidente Peninsular 6 As representaccedilotildees da Deusa no edifiacutecio funeraacuterio tipo tholos do Monte Novo dos Albardeiros Reguengos de Monsaraz Eacutevora O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 23 p 195-229

GONCcedilALVES V S (2005e) ndash As placas de xisto gravadas dos sepulcros colectivos de Aljezur Aljezur Cacircmara Municipal

GONCcedilALVES V S (2006a) ndash Manifestaccedilotildees do Sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente peninsular 7 As placas hiacutebridas Definiccedilatildeo do conceito alguns poucos exemplos e de novo os possiacuteveis significados das placas Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa IPA 9 2 p 27-59

GONCcedilALVES V S (2006b) ndash Manifestaccedilotildees do Sagrado na Preacute-Histoacuteria do Ocidente peninsular 8 Sete placas de xisto gravadas O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 24 p 167-231

GONCcedilALVES V S (2006c) ndash Quelques questions autour du temps de lrsquoespace et des symboles meacutegalithiques du centre et sud du Portugal In Origine et deacutevelopment du meacutegalithisme de lrsquoouest de lrsquoEurope (Bougon 26-30 octobre 2002) Bougon vol 1 p 485-510

GONCcedilALVES V S (2007) - Breves reflexotildees sobre os caminhos das antigas sociedades camponesas no Centro e Sul de Portugal Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municpal 15 p 79-94 CARDOSO J L (coord) - Actas do Coloacutequio A Arqueologia Portuguesa e o Espaccedilo Europeu Balanccedilos e Perspectivas Sociedade de Geografia de Lisboa (Lisboa 30 de Outubro de 2007)

GONCcedilALVES V S (2008a) ndash A utilizaccedilatildeo preacute-histoacuterica da gruta de Porto Covo (Cascais) Uma revisatildeo e algumas novidades Cascais Cacircmara Municipal (CTA Cascais Tempos Antigos)

GONCcedilALVES V S (2008b) ndash Na primeira metade do 3ordm mileacutenio ane dois subsistemas maacutegico-religiosos no Centro e Sul de Portugal In HERNAacuteNDEZ PEacuteREZ M SOLER DIacuteAZ J

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 387 de 415

LOacutePEZ PADILLA J (coords) - Actas del 4ordm Congreso del Neoliacutetico Peninsular Alicante MARQ Museo Arqueoloacutegico de Alicante vol 2 p 112-120

GONCcedilALVES V S ANDRADE M PEREIRA A (2004) ndash As placas de xisto das grutas artificiais do Tojal de Vila Chatilde (Carenque) e da necroacutepole das Bauacutetas (Mina) Amadora O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 22 p 113-162

GONCcedilALVES V S PEREIRA A R (1974-77) ndash Consideraccedilotildees sobre o espoacutelio Neoliacutetico da Gruta dos Carrascos Monsanto Alcanena O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf seacuterie 7-9 p 49-87

GONCcedilALVES V S SOUSA A C (1997) ndash A propoacutesito do grupo megaliacutetico de Reguengos de Monsaraz e das origens do megalitismo no Ocidente Peninsular In Actas do Coloacutequio Internacional O Neoliacutetico Atlacircntico e as orixes do megalitismo Santiago de Compostela Universidad de Santiago de Compostela p 609-634

GONCcedilALVES V S SOUSA A C (2000) ndash O grupo megaliacutetico de Reguengos de Monsaraz e a evoluccedilatildeo do megalitismo no Ocidente Peninsular (espaccedilos de vida espaccedilos de morte sobre as antigas sociedades camponesas em Reguengos de Monsaraz) In GONCcedilALVES V S (coord) ndash Muitas antas pouca gente Actas do Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portugecircs de Arqueologia p 11-104 (Trabalhos de Arqueologia 16)

GONCcedilALVES V S SOUSA A C (2003) ndash Novos dados sobre as praacuteticas funeraacuterias das antigas sociedades camponesas em Reguengos de Monsaraz o limite oriental In GONCcedilALVES V S (coord) - Muita Gente Poucas Antas Origens Espaccedilos e Contextos do Megalitismo Actas do 2ordm Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia p 195-221 (Trabalhos de Arqueologia 25)

GONCcedilALVES V S SOUSA A C (2006) ndash Algumas breves reflexotildees sobre quatro datas 14C para o Castro da Rotura no contexto do terceiro mileacutenio ane nas peniacutensulas de Lisboa e Setuacutebal O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 24 p 233-266

GOURICHON L CARDOSO JL (1995) ndash Lrsquoavifaune de lrsquohabitat fortifieacute Chalcolitique de Leceia (Oeiras Portugal) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 165-186

GUERREIRO A CARDOSO J L (2001-2002) ndash A fauna malacoloacutegica encontrada no povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudo sistemaacutetico e respectivo significado Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 10 p 89-129

GUILAINE J (coord) (1999) ndash Megalithismes de lrsquoAtlantique a lrsquoEthiopie Paris Editions Errance HARPSOumlE C H RAMOS M F (1987) ndash Gruta dos Penedos (Ponte de Lousa) Arqueologia Porto

15 p 140-143 HARRIS E (1997) ndash Principles of archaeological stratigraphy London Academic Press Limited 2ordf

ediccedilatildeo HARRISON R J (1977) - The Bell Beaker Cultures of Spain and Portugal Cambridge

Massachusetts Harvard University HAVERKORT C M LUBELL D (1999) - Cutmarks on Capsian human remains implications for

Maghreb Holocene social organization and palaeoeconomy International Journal of Osteoarchaeology 9 3 p 147-169

HEDGES R (2004) ndash Isotopes and red herrings comments on Milner et al and Lideacuten et al Antiquity 78 p 34-37 Debate Change of diet in Northern Europersquos Mesolithic-Neolithic transition a new critique

HELENO M (1933) - Grutas artificiais do Tojal de Vila Chatilde (Carenque) Lisboa Comunicaccedilatildeo feita ao Congresso Luso-Espanhol de 1932

HELENO M (1942a) ndash Gruta artificial da Ermegeira Ethnos Lisboa 2 p 449-459 il HELENO M (1942b) ndash O Problema da origem das luacutenulas Ethnos Lisboa 2 p 464-467 HELENO M (1956) ndash Um quarto de seacuteculo de investigaccedilatildeo arqueoloacutegica O Arqueoacutelogo Portuguecircs

Lisboa 2ordf seacuterie 3 p 221-237 HERNANDO GONZALO A (1993) ndash Campesinos y ritos funerarios El desarollo de la complejidad

en el Mediterraneo Occidental (IV-II Milenios AC) In 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Actas II Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto SPAE 33 3-4 p 91-98

HERNANDO GONZALO A (1997) - The Funerary World and the Dynamics of Change in Southeast Spain (Fourth-Second Millenia BC) In DIacuteAZ-ANDREU M KEAY S (Ed) The Archaeology of Iberia The Dynamics of Change London Routledge p 85-97

HERRMANN B GRUPE G HUMMEL S PIEPENBRINK H SCHUTKOWSKI H (1990) - Praehistorische Anthropologie Berlin Springer-Verlag

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 388 de 415

HILLIER M (2008a) ndash Osteological report ndash the dolmen of Carcavelos [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura e Florbela Estecircvatildeo no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008b) ndash Osteological report ndash the dolmen of Carrascal [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008c) ndash Osteological report ndash the dolmen of Casal do Penedo [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008d) ndash Osteological report ndash the dolmen of Estria [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008e) ndash Osteological report ndash the dolmen of Monte Abraatildeo [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008f) ndash Osteological report ndash the dolmen of Pedras Grandes [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008g) ndash Osteological report ndash the dolmen of Pedra dos Mouros [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M (2008h) ndash Osteological report ndash the dolmen of Trigache 2 [Relatoacuterio produzido para Rui Boaventura no acircmbito do programa Megaosteology 2007] (Anexo 6)

HILLIER M BOAVENTURA R ANTUNES-FERREIRA N ESTEVAtildeO F (no prelo) ndash Cutmarks on human remains from the dolmen of Carcavelos (Portugal) Possible evidence of disarticulation and defleshing in the Late Neolithic Actas das Jornadas de Arqueologia do Vale do Tejo em Territoacuterio Portuguecircs

HILLIER M BOAVENTURA R RICHARDS M (2008) ndash Diet and Mobility of Late Neolithic populations of Central-South Portugal Isotopic analysis of human remains from the Lisbon and Alentejo regions of Portugal Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa Era-Arqueologia SA 1 p 29-34 Revista electroacutenica http wwweraarqueologiapt

HILLIER M BOAVENTURA R JACKES M RICHARDS M (2008) ndash Stable isotope analysis and the investigacion of marine resource exploitation and social complexity in Neolithic Portugal Apresentaccedilatildeo na 36th Annual Meeting Canadian Association for Physical Anthropology November 5-8 2008 Hamilton Ontario Canada

HOFFMAN G (1990) ndash Zur Holozaumlnen Landschaftensentwicklung im tal des Rio Sizandro (Portugal) Madrider Mitteilungen Mainz am Rhein 31 p 21-33

HOFFMAN G SCHULZ H (1994) ndash Cambio de situacioacuten de la liacutenea costera y estratigrafia del holoceno en el valle del rio Sizandro Portugal In Kunst M (ed) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Lisboa IPPAR p 45-46 (Trabalhos de Arqueologia 7)

HOPF M (1981) ndash Pflauzliche reste aus Zambujal In E SANGMEISTER amp H SCHUBART ndash Zambujal die grabungen 1964 bis 1973 Mainz am Rhein Verlag Philipp von Zabern vol 1 p 315-340 (Madrider Beitraumlge 5 1)

HOSKIN M (2001) ndash Tombs Temples and Their Orientations A New Perspective on Mediterranean Prehistory Oxford UK Ocarina Books 264 p

HOSKIN M CALADO M (1998) - Orientations of Iberian Tombs Central Alentejo Region of Portugal Archaeoastronomy Cambridge 23 p S77-82

HOUAISS A VILLAR M FRANCO F (2005) ndash Dicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Lisboa

HUGHEN K A BAILLIE M G L BARD E BECK J W BERTRAND C J H BLACKWELL P G BUCK C E BURR G S CUTLER K B DAMON P E EDWARDS R L FAIRBANKS R G FRIEDRICH M GUILDERSON TP KROMER B MCCORMAC G MANNING S BRONK RAMSEY C REIMER P J REIMER R W REMMELE S SOUTHON J R STUIVER M TALAMO S TAYLOR F W VAN DER PLICHT J WEYHENMEYER C E (2004) - Marine04 marine radiocarbon age calibration 0-26 cal kyr BP Radiocarbon 46 3 p 1059-1086

HURTADO PEacuteREZ V (1981) ndash Las figuras humanas del yacimiento de La Pijotilla (Badajoz) Madrider Mitteilungen 22 p 78-88

HURTADO PEacuteREZ V (1986) ndash El Calcoliacutetico en la Cuenca Media del Guadiana y la necroacutepolis de La Pijotilla In Actas de la Mesa Redonda sobre Megalitismo peninsular 8-14 Outubre 1984 Madrid p 51-75

HURTADO PEacuteREZ V (1988) ndash Informe sobre las campantildeas de excavaciones en La Pijotilla (Badajoz) Extremadura Arqueoloacutegica Meacuterida 1 p 35-54

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 389 de 415

HURTADO PEacuteREZ V (1991) ndash Informe de las excavaciones de urgecircncia en La Pijotilla Campantildea de 1990 Extremadura Arqueoloacutegica Meacuterida 2 p 45-68 I Jornadas de Prehistoria y Arqueologia en Extremadura

HURTADO PEacuteREZ V (2004) ndash El asentamiento fortificado de San Blas (Cheles Badajoz) III mileacutenio AC Trabajos de Prehistoria Madrid 61 1 p 141-155

HURTADO PEacuteREZ V GARCIA SANJUAacuteN L (1994) ndash La necropolis de Guadajira (Badajoz) y la transicioacuten a la Edad del Bronce en la Cuenca Media del Guadiana SPAL 3 p 95-144

HURTADO PEacuteREZ V MONDEJAR FERNAacuteNDEZ DE QUINCOCES P PECERO ESPIacuteN J (2000) ndash Excavaciones en la Tumba 3 de La Pijotilla Extremadura Arqueoloacutegica Meacuterida 8 p 249-266 JIMEacuteNEZ AacuteVILA J ENRIacuteQUEZ NAVASCUEacuteS J (coords) ndash El Megalitismo en Extremadura (Homenaje a Elias Dieacuteguez Luengo)

INIZAN M-L REDURON-BALLINGER M ROCHE H TIXIER J (1999) ndash Techonology and Terminology of Knapped Stone Nanterre CREP (Preacutehistoire de la Pierre Tailleacutee 5)

IPPC - Instituto Portuguecircs do Patrimoacutenio Cultural (1986) ndash Roteiros da Arqueologia portuguesa 1- Lisboa e arredores Lisboa IPPC

IPQ - Instituto Portuguecircs de Qualidade (1995) ndash Norma Portuguesa 405-1 1994 Informaccedilatildeo e documentaccedilatildeo Referecircncias bibliograacuteficas documentos impressos Monte da Caparica IPQ

ISIDORO A F (1964) - Estudo do espoacutelio antropoloacutegico da gruta neo-eneoliacutetica do Bugio (Sesimbra) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 19 3-4 p 221-284

ISIDORO A F (1981) - Espoacutelio oacutesseo humano da gruta neoliacutetica do Escoural Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 24 1 p 5-46 il

JACKES M (1993) ndash On Paradox and Osteology Current Anthropology 34 4 p 434-439 JACKES M (2004) ndash Osteological evidence for Mesolithic and Neolithic violence problems of

interpretation In Evidence and meaning of violent interactions in the Mesolithic Oxford Archaeopress p 23-39 (BAR International Series 1237)

JACKES M LUBELL D (1992) ndash The Early Neolithic human remains from Gruta do Caldeiratildeo In ZILHAtildeO J ndash Gruta do Caldeiratildeo ndash o Neoliacutetico Antigo Lisboa IPPAAR p 259-295 (Trabalhos de Arqueologia 6)

JACKES M LUBELL D (1999) ndash Human skeletal biology and the Mesolithic-Neolithic transition in Portugal In THEacuteVENIN A (ed) - LrsquoEurope des derniers chasseurs Actes du 5e colloque international UISPP commission XII Grenoble 18-23 septembre 1995 Paris Editions du CTHS p 59-64

JACKES M LUBELL D MEIKLEJOHN C (1997) - Healthy but Mortal Human Biology and the First Farmers of Western Europe Antiquity 71 273 p 639-658 Suplementos em httpintarchacu kantiquityjackes

JALHAY E PACcedilO A (1946) ndash A gruta II da necroacutepole de Alapraia Anais da Academia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 4 Separata

JALHAY E PACcedilO A RIBEIRO L (1944) - Estaccedilatildeo preacute-histoacuterica de Montes Claros Monsanto Introduccedilatildeo Revista Municipal Lisboa 5 20-21 p 17-28 Separata de 1945

JIMENEZ BROBEIL S ORTEGA VALLET J GARCIacuteA SAacuteNCHEZ M (1986) ndash Incisiones intencionales sobre huesos humanos del Neoliacutetico de la Cueva de Malalmuerzo (Mocliacuten Granada) Antropologiacutea y Paleoecologiacutea Humana 4 p 34-65

JIMEacuteNEZ GOacuteMEZ M C (1995) ndash Los amuletos en el Eneoliacutetico portugeacutes Zambujal In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das 1ordfs Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 31-35 (Trabalhos de Arqueologia 7)

JORDAacute PARDO J F MESTRES TORRES J S (1999) - El enterramiento calcoliacutetico precampaniforme de Jarama II Una nueva fecha radiocarboacutenica para la Prehistoria Reciente de Guadalajara e y su Integracioacuten en la cronologiacutea de la regioacuten Zephyrus Salamanca Universidad 52 p 175-190

JORDAtildeO P MENDES P (2000) ndash As grutas de Ribeira de Crastos (Caldas da Rainha) reinterpretaccedilotildees de um siacutetio O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 18 4ordf seacuterie p 11-60

JORGE S O (1978) ndash Pontas de seta provenientes de tuacutemulos megaliacuteticos do Noroeste de Portugal Minia 2ordf seacuterie 1 2 p 99-175

JORGE S O (2003) ndash Pensar o espaccedilo da Preacute-Histoacuteria Recente A propoacutesito dos recintos murados da Peniacutensula Ibeacuterica In JORGE S (coord) ndash Recintos murados da Preacute-Histoacuteria Recente Porto Faculdade de Letras do Porto p 13-50

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 390 de 415

JORGE S O OLIVEIRA M L NUNES S GOMES S (1998-1999) ndash Estrutura ritual com ossos humanos no siacutetio preacute-histoacuterico de Castelo Velho de Freixo de Numatildeo (Vordf Nordf de Foz Cocirca) Portugaacutelia Porto nova seacuterie 19-20 p 29-70

JORGE V O (1986) - laquoMonumentalizaccedilatildeoraquo e laquoNecropolizaccedilatildeoraquo no Megalitismo Europeu Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia 26 1-4 p 233-237

JORGE V O (1990a) - Les monuments meacutegalithiques du Nord du Portugal In Probleme der Megalithgraumlberforschung vortraumlge zum 100 Geburtstag von Vera Leisner Berlin Walter de Gruyter p 35-52

JORGE V O (1990b) - Progressos da investigaccedilatildeo preacute-histoacuterica no norte de Portugal nos uacuteltimos doze anos o exemplo da Serra da Aboboreira e do seu megalitismo In Arqueologia Hoje I etno-arqueologia Faro Universidade do Algarve p 14-36

JORGE V O (2000) ndash Megalitismo europeu e portuguecircs breves consideraccedilotildees histoacuterics em jeito de balanccedilo Arqueologia e Histoacuteria Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses 54 p 79-85

JORGE V O (1999-2000) ndash Arqueologia e Preacute-Histoacuteria Alguns toacutepicos de reflexatildeo Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 7 p 447-487

JORGE V O JORGE S O FIGUEIRAL I DELIBRIAS G FONTUGNE M CABRAL P SOARES A M (1988-89) - Novos elementos sobre o megalitismo da Serra da Aboboreira (Baiatildeo) Portugaacutelia Porto nova seacuterie 9-10 p 101-104

JOUSSAUME R (1985) ndash Des Dolmens pour les morts Paris Hachette JOUSSAUME R (2004) - Dolmen In VIALOU D JOUSSAUME R PAUTREAU J-P - La

Preacutehistoire Histoire et Dictionnaire Paris Robert Laffont p 540-547 KALB P (1981) ndash Zur relativen chronologie portugiesischer Megalithgraumlber Madrider Mitteilungen

Madrid DAI 22 p 55-77 KALB P (1988) - Megalithic Remains and Neolithization in the Iberian Peninsula Berytus

Archaeological Studies Beirut The American University of Beirut 36 p 53-68 KALB P (1989) - O Megalitismo e a Neolitizaccedilatildeo no Oeste da Peniacutensula Ibeacuterica Arqueologia Porto

20 p 33-46 KALB P (1996) - Megalith-Building Stone Transport and Territorial Markers Evidence from Vale

de Rodrigo Eacutevora South Portugal Antiquity 70 269 p 683-685 KALB P HOumlCK M (1996) - Investigaccedilatildeo Geoloacutegica na Zona Megaliacutetica de Vale de Rodrigo

Eacutevora In 3ordf Reuniatildeo do Quaternaacuterio Ibeacuterico Coimbra 1993 Set 27 - Out 1 p 469-474 KNUumlSEL C (2005) ndash The Physical Evidence of Warfare ndash Subtle Stigmata In PARKER

PEARSON M THORPE I (coords) - Warfare Violence and Slavery in Prehistory Proceedings of a Prehistoric Society conference at Sheffield University Oxford Archaeopress p 49-65 (BAR International Series 1374)

KRA R (1988) - The Second International Symposium on Archaeology and 14C Radiocarbon 30 1 p 130

KUNST M (1987) ndash Zambujal Glockenbecher und kerbblattverzierte Keramik aus den Grabungen 1964 bis 1973 Mainz Deutsch Archaeologisches Institut 2 vol

KUNST M (1990) - Sizandro and Guadiana Rivers a comparison as example of the interdependence between the development of settlement and the natural environment In Arqueologia Hoje I etno-arqueologia Faro Universidade do Algarve p 118-131

KUNST M (1995) ndash Ceracircmica do Zambujal ndash novos resultados para a cronologia da ceracircmica calcoliacutetica In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 37-59 (Trabalhos de Arqueologia 7)

KUNST M (1996) ndash As ceracircmicas decoradas do Zambujal e o faseamento do Calcoliacutetico da Estremadura portuguesa Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 6 p 257-287

KUNST M (2000) ndash A guerra no Calcoliacutetico na Peniacutensula Ibeacuterica Era Arqueologia Lisboa 2 p 128-142

KUNST M (2005) ndash Bell Beakers in Portugal A short summary In ROJO-GUERRA M GARRIDO-PENA R GARCIacuteA-MARTINEZ DE LAGRAacuteN I (Coords) - Bell Beakers in the Iberian Peninsula and their European context Valladolid Universidad p 213-225

LAGO M DUARTE C VALERA A ALBERGARIA J ALMEIDA F CARVALHO AF (1998a) - Povoado dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) Dados Preliminares dos

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 391 de 415

Trabalhos Realizados em 1997 Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 1 1 p 45-151

LAGO M DUARTE C VALERA A ALBERGARIA J ALMEIDA F CARVALHO A F REIS S (1998b) - Povoado Preacute-Histoacuterico dos Perdigotildees (Reguengos de Monsaraz) Relatoacuterio final dos trabalhos de Salvamento arqueoloacutegico Lisboa Era Arqueologia Lda 4 vol

LARSEN C S (1995) - Biological changes in human populations with agriculture Annual Review of Anthropology 24 p 185-213

LARSEN C S (1997) - Bioarchaeology Interpreting Behavior from the Human Skeleton Cambridge Cambridge University Press

LARSSON L (2000) ndash Symbols in stone ndash ritual activities and petrified traditions In Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Porto vol 3 p 445-458

LAZARICH GONZALEZ M (2006) ndash Excavaciones de urgencia en la necroacutepolis de Paraje de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazules) Caacutediz) Almajar 2 p 195-198

LAZARICH GONZALEZ M (2008) ndash Ritos ante la muerte Necroacutepolis de Monte Bajo (Alcalaacute de los Gazuacuteles Caacutediz) Caacutediz Universidad

LAZARICH GONZALEZ M RAMOS A JENKINS V VALENTIacuteN FERNAacuteNDEZ DE LA GALA J CARRERAS A RICHARTE M J BRICENtildeO E FELIU M J PERALTA P MESA M STRATTON S NUNtildeEZ M REMAUD P AGUILERA L (no prelo) ndash A contribution to the knowledge of funeral customs of the IIIrd millenium BC in the South of the Iberian Peniacutensula The necropolis of Paraje de Monte Bajo in Alcalaacute de los Gazules (Caacutediz Spain) World Archaeological Congress 6

LEE-THORP J (2008) ndash On Isotopes and Old Bones Archaeometry 50 6 p 925-950 LEISNER G (1940) - O doacutelmen de falsa cuacutepula de Vale-de-Rodrigo Biblos Coimbra 20 p 23-52

il LEISNER G (1946) ndash [Cartatildeo] 1946 [a] Manuel Heleno [Manuscrito] Arquivo Manuel Heleno

Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal LEISNER G LEISNER V (1949) - Los monumentos megaliacuteticos del mediodiacutea de la Peniacutensula

Ibeacuterica seguacuten los resultados a que han llegado G y V Leisner Archivo Espantildeol de Arqueologiacutea Madrid CSIC 22 p 75-85

LEISNER G LEISNER V (1943) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Suden Berlin Walter de Gruyter Co vol 1

LEISNER G LEISNER V (1951) ndash Antas do concelho de Reguengos de Monsaraz Lisboa UNIARCH 2ordf ediccedilatildeo Reproduccedilatildeo do original de 1951

LEISNER G LEISNER V (1955) - Antas nas herdades da Casa de Braganccedila no concelho de Estremoz Lisboa Fundaccedilatildeo Casa de Braganccedila 29 p il

LEISNER G LEISNER V (1959) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Berlin Walter de Gruyter Co vol 2

LEISNER V (1965) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Berlin Walter de Gruyter Co vol 3 Text and Tafeln

LEISNER V (1983) - As Diferentes Fases do Neoliacutetico em Portugal Arqueologia 7 p 7-15 Traduccedilatildeo do artigo de 1966 publicado em Palaeohistorica 12

LEISNER V (1985) ndash Mikrolithen ndash Aufzeichnungen im NationalMuseum fuer Archaeologie und Ethnologie in Lissabon Lisboa Deutsches Archaeologisches Institut Bilingue Microacutelitos ndash Apontamentos tomados no Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia em Lisboa Lisboa Instituto Arqueoloacutegico Alematildeo

LEISNER V FERREIRA O V (1959) - Os monumentos megaliacuteticos de Trigache e de A-de-Beja In Actas e Memoacuterias do I Congresso Nacional de Arqueologia Lisboa 15 a 20 Dezembro de 1958 Lisboa vol 1 p 187-233

LEISNER V FERREIRA O V (1961) - Monumentos megaliacuteticos de Trigache e de A-da-Beja II Monumentos megaliacuteticos Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 40 p 300-337 il

LEISNER V FERREIRA O V (1963) ndash Primeiras datas de radiocarbono 14 para a cultura megaliacutetica portuguesa Revista de Guimaratildees Guimaratildees 73 3-4 p 358-366

LEISNER V KALB P (1998) ndash Die Megalithgraumlber der Iberischen Halbinsel Der Westen Berlin Walter de Gruyter Co vol 4 Text and Tafeln KALB P (Comp)

LEISNER V PACcedilO A RIBEIRO L (1964) ndash Grutas artificiais de Satildeo Pedro do Estoril Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 79 p

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 392 de 415

LEISNER V RIBEIRO L (1966) ndash A escavaccedilatildeo do DolmenndashOrca das Castenairas Fraacuteguas ndash Vila Nova de Paiva Lucerna Porto 5 p 376-382 il

LEISNER V RIBEIRO L (1968) ndash Die doacutelmen von Carapito Madrider Mitteilungen Madrid DAI 9 p 11-62 il

LEISNER V ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V (1961) ndash Les grottes artificielles de Casal do Pardo (Palmela) et la Culture du vase campaniforme Lisboa Serviccedilos Goeloacutegicos de Portugal (Memoacuteria Nova seacuterie 8)

LEISNER V ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V (1969) - Les monuments preacutehistoriques de Praia das Maccedilatildes et de Casainhos Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal (Memoacuteria nova Seacuterie 16)

LEITAtildeO M NORTH C T FERREIRA O V (1973) ndash O povoado preacute-histoacuterico da Serra da Espargueira (Belas) In Actas das 2ordfs Jornadas Arqueoloacutegicas Lisboa 1972 Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses vol 1 p 143-157

LEITAtildeO M NORTH C T NORTON J FERREIRA O V ZBYSZWESKI G (1984) ndash The Prehistoric Burial Cave at Verdelha dos Ruivos (Vialonga) Portugal In GUILAINE J - LrsquoAcircge du Cuivre europeacuteen Civilisations agrave vases campaniformes Paris CNRS p 221-239

LEITAtildeO M NORTH C T NORTON J FERREIRA O V ZBYSZWESKI G (1987) - A gruta preacute-histoacuterica do Lugar do Canto Valverde Alcanede O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 5 p 37-65

LEITAtildeO V (2001) - The travel of Geologist Carlos Ribeiro (1813-1882) to Europe in 1858 Comunicaccedilotildees do Instituto Geoloacutegico e Mineiro Lisboa 88 p 293-300

LEITAtildeO V (2004) - Assentar a primeira pedra As primeiras Comissotildees Geoloacutegicas portuguesas (1848-1868) Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Lisboa Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia Universidade Nova de Lisboa Policopiado

LEROI-GOURHAN A (1984a) ndash Evoluccedilatildeo e teacutecnicas 1 O Homem e a mateacuteria Lisboa Ediccedilotildees 70 (Perspectivas do Homem 20)

LEROI-GOURHAN A (1984b) ndash Evoluccedilatildeo e teacutecnicas 2 O meio e as teacutecnicas Ediccedilotildees 70 (Perspectivas do Homem 21)

LIDEacuteN K (1995) ndash Megaliths Agriculture and Social Complexity A Diet Study of Two Swedish Megalith Populations Journal of Anthropological Archaeology 14 p 404-417

LIDEacuteN K ERIKSSON G BENGT N ANDERS G BENDIXEN E (2004) ndash laquoThe wet and the wild followed by the dry and the tameraquo - or did they occur at the same time Diet in Mesolithic-Neolithic Southern Sweden Antiquity 78 p 23-33 Debate Change of diet in Northern Europersquos Mesolithic-Neolithic transition a new critique

LILLIOS K (1996) - The Historiography of Late Prehistoric Portugal In LILLIOS K - The Origins of Complex Societies in Late Prehistoric Iberia p7-19

LILLIOS K (1997) - Amphibolite tools of the Portuguese Copper Age (3000-2000 BC) A Geoarchaeological approach to prehistoric economics and symbolism Geoarchaeology An International Journal 12 2 p 137-163

LILLIOS K (2000) - A Biographical Approach to the Ethnogeology of Late Prehistoric Portugal Trabajos de Prehistoria Madrid CSIC 57 1 p 19-28

LILLIOS K (2002) ndash Some new views of the engraved schist plaques of southwest Iberia Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa IPA 5 2 p 135-152

LILLIOS K (2003) ndash Creating memory in prehistory The engraved slate plaques of southwest Iberia In DYKE R V ALCOCK S (coords) ndash Archaeologies of Memory Oxford Blackwell p 129-150

LILLIOS K (2004a) - Lives of stone lives of people Re-viewing the engraved plaques of Late Neolithic and Copper Age Iberia European Journal of Archaeology 7 2 p 125-158

LILLIOS K (2004b) ndash The Engraved Stone Plaque Registry and Inquiry Tool (ESPRIT) [em linha] Disponiacutevel em httpresearch2itsuiwoaeduiberian

LILLIOS K (2006) ndash Liminal animals liminal people The barn owl (Tyto alba) and the engraved plaques of Late Neolithic and Copper Age Iberia In BICHO N (coord) - Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular (Faro 2004) Faro Universidade p 27-34

LILLIOS K (2008) ndash Heraldry for the Dead memory Identity and the Engraved Stone Plaques of Neolithic Iberia Austin University of Texas Press

LINARES CATELA J (2006) ndash Documentacioacuten consolidacioacuten y puesta en valor del conjunto dolmeacutenico de Los Gabrieles (Valverde del Camino Huelva) 2ordf fase In Anuaacuterio Arqueoloacutegico de Andaluciacutea Sevilla Junta de Andaluciacutea p 250-264

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 393 de 415

LISBOA I M G (1985) ndash Meaning and messages Mapping style in the Iberian Chalcolithic Archaeological Review from Cambridge 4 2 p 181-196

LOPES S C (2005-2006) ndash Paleobiologia da gruta-necroacutepole do Cadaval (Tomar) Contribuiccedilatildeo para o estudo da Neolitizaccedilatildeo no Alto Ribatejo Master Erasmus Mundus em Quaternaacuterio e Preacute-Histoacuteria Tomar Instituto Politeacutecnico de Tomar Policopiado

LOacutePEZ DE CALLE C ILARRAZA J A (1997) ndash Fases antiguas del Megalitismo de Cameros (La Rioja) Caracterizacioacuten y cronologiacutea In RODRIGUEZ CASAL A (ed) ndash O Neolitico Atlacircntico e as orixes do Megalitismo Actas do Coloquio Internacional Abril 1996 Santiago de Compostela p 415-430

LUBELL D JACKES M (1985) ndash Mesolithic-Neolithic continuity Evidence from Chronology and Human Biology In Actas da 1ordf Reuniatildeo do Quaternaacuterio Ibeacuterico Lisboa Instituto Nacional de Investigaccedilatildeo Cientiacutefica vol 1 p 113-133

LUBELL D JACKES M (1988) ndash Portuguese Mesolithic-Neolithic subsistence and settlement Rivista di Antropologia Roma 46 Suplemento p 231-248

LUBELL D JACKES M SCHWARCZ H KNYF M MEIKLEJOHN C (1994) ndash The Mesolithic-Neolithic Transition in Portugal Isotopic and Dental Evidence of Diet Journal of Archaeological Science 21 p 201-216

LUCAS M M (1994) ndash As regiotildees de ldquoTorresrdquo e ldquoAlenquerrdquo no contexto do Calcoliacutetico da Estremadura Porto Tese de Mestrado apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto por Maria Miguel Lucas Simotildees Policopiado

LUCAS M M (2002) - Sobre o Calcoliacutetico na Regiatildeo de Torres Vedras In Turres Veteras IV Actas de Preacute-Histoacuteria e Histoacuteria Antiga Torres Vedras Cacircmara Municipal p 31-65

MANtildeANA BORRAZAacuteS P (2003) ndash Vida e Muerte de los Megalitos Se abandonam los Tuacutemulos Era Arqueologia Lisboa 5 p 164-177

MARCHAND G (2005) ndash Interpretar as mudanccedilas dos sistemas teacutecnicos do Mesoliacutetico final em Portugal O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 23 p 171-196

MARQUES G (1971) ndash Fojo dos Morcegos ndash Assafora (Sintra) In Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia Coimbra p 143-149

MARQUES G (1987) - Aspectos da Proto-Histoacuteria do territoacuterio portuguecircs III Castelo da Amoreira (Odivelas Loures) Boletim Cultural Loures Cacircmara Municipal 1 p 51-58

MARQUES T FERREIRA C J (1987) ndash Antas de Belas Informaccedilatildeo arqueoloacutegica Lisboa IPPC 8 p 52-53

MARQUES T LOURENCcedilO F FERREIRA C J (1991) ndash Antas de Belas Uma tentativa de valorizaccedilatildeo do patrimoacutenio arqueoloacutegico nos arredores de Lisboa In Actas das IV Jornadas Arqueoloacutegicas (Lisboa 17 a 19 Maio de 1990) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 87-91

MARQUEacuteS MERELO I AGUADO MANCHA T BALDOMERO NAVARRO A FERRER PALMA J (2004) ndash Proyectos sobre la Edad del Cobre en Antequera (Maacutelaga) In III Simpoacutesio de Prehistoria Cueva de Nerja Las Primeras Sociedades Metaluacutergicas en Andaluciacutea Homenaje al Professor Antoacutenio Arribas Palau Nerja Fundacioacuten Cueva de Neacuterja p 238-260

MAacuteRQUEZ ROMERO J E (2004) ndash Muerte ubiacutecua sobre deposiciones de esqueletos humanos en zanjas y pozos en la Prehistoria reciente de Andalucia Mainakeacute Maacutelaga 36 p 116-138

MAacuteRQUEZ ROMERO J E FERNAacuteNDEZ RUIZ J (2002) ndash Viejos depoacutesitos nuevas interpretaciones la estructura nordm 2 del yacimiento prehistoacuterico de Los Villares de Alagane (Coiacuten Maacutelaga) In Colonizadores e indiacutegenas en la Peniacutensula Ibeacuterica Mainake 24 p 301-333 monograacutefico

MARTINS A (2004) ndash As Bacias sedimentares do Baixo Tejo e do Sado In FEIO M DAVEAU S - Relevo de Portugal Grandes unidades regionais Coimbra Associaccedilatildeo Portuguesa de Geomorfoacutelogos p 49-60

MARTINS A C (2003) ndash Possidoacutenio da Silva 1806-1896 e o elogio da Memoacuteria Um percurso na Arqueologia de Oitocentos Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses (Arqueologia amp Histoacuteria Monografias)

MARTINS A C (2005) ndash A Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses na senda da salvaguarda patrimonial Cem anos de (trans)formaccedilatildeo (1863-1963) Tese de Doutoramento em Histoacuteria Faculdade de Letras Universidade de Lisboa Texto policopiado

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 394 de 415

MARTINS A C (2007) ndash laquoA Oeste nada de novoraquo Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 15 p 233-291 Cardoso J L (Coord) ndash Actas do Coloacutequio A Arqueologia portuguesa e o espaccedilo europeu balanccedilos e perspectivas Sociedade de Geografia de Lisboa (Lisboa 30 de Outubro de 2007)

MASSET C (1987) ndash Le ldquoRecrutementrdquo drsquoun ensemble funeacuterarire In DUDAY H MASSET C (eds) - Anthropologie Physique et Archaeologie Paris CNRS p 111-134

MASSET C (1997) ndash Les dolmens Socieacuteteacutes neacuteolithiques Pratiques funeacuteraires Les seacutepultures collectives dEurope occidentale Paris Editions Errance 2e eacutedition

MATALOTO R (2006) ndash Entre Ferradeira e Montelavar um conjunto artefactual da Fundaccedilatildeo Paes Teles (Ervedal Avis) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 9 2 p 83-108

MATALOTO R MUumlLLER R (no prelo) ndash Construtores e metalurgistas Faseamento e cronologia pelo radiocarbono da ocupaccedilatildeo calcoliacutetica de Satildeo Pedro (Redondo Alentejo Central) In Kupferzeitliche Metallurgie in Zambujal in Estremadura Suumldportugal und Suumldwestspanien Vom Fertigprodukt zur Lagerstaumltte Arbeitstagung Alqueva-Staudamm 27 bis 30 Oktober 2005 DAI Abteilung Madrid (Iberia Archaeologica)

MCGARVEY SC (2002) - Evidence forDisease and Trauma in Crania from the Late Neolithic Site of Algar do Bom Santo Portugal Master Thesis Edmonton Alberta Department of Anthropology University of Alberta Policopiado

MELLO OAP FORTUNA V FRANCcedilA J C FERREIRA O V ROCHE J (1961) - O monumento preacute-histoacuterico da Bela Vista (Colares) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 40 p 237-249 il

MILNER G (1999) ndash Warfare in Prehistoric and Early Historic Eastern North Ameacuterica Journal of Archaeological Research 7 2 p 105-151

MILNER G (2004) ndash The Moundbuilders Ancient peoples of Eastern North America London Thames amp Hudson

MILNER G ANDERSON E SMITH V (1991) - Warfare in late prehistoric West-Central Illinois American Antiquity 56 4 p 581-603

MILNER N CRAIG O BAILEY G PEDERSEN K ANDERSEN S (2004) ndash Something fishy in the Neolithic A re-evaluation of stable isotope analysis of Mesolithic and Neolithic coastal populations Antiquity 78 p 9-22 Debate Change of diet in Northern Europersquos Mesolithic-Neolithic transition a new critique

MILNER N CRAIG O BAILEY G ANDERSEN S (2006) ndash A response to Richards and Schulting Antiquity 80 456-458 Debate Touch not the fish the Mesolithic-Neolithic change of diet and its significance

MIRANDA J ENCARNACcedilAtildeO G VIEGAS J ROCHA E GONZALEZ A (1999) ndash Carta Arqueoloacutegica Do Paleoliacutetico ao Romano Amadora Cacircmara Municipal

MIRANDA M (2006) ndash A osteologia humana do Penedo de Lexim Boletim Cultural Locus 3 3b e Locus 6 Mafra Cacircmara Municipal p 334-359

MOHEN J-P SCARRE C (2002) ndash Les tumulus de Bougon Complexe meacutegalithique du Ve au IIIe milleacutenaire Paris Eacuteditions Errance

MOITA I (1956) ndash Subsiacutedios para o estudo do Eneoliacutetico do Alto Alentejo O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 2ordf seacuterie 3 p 135-175

MOITA I (1966) - Caracteriacutesticas predominantes do grupo dolmeacutenico da Beira Alta Ethnos 5 p 189-277 il

MONTEIRO R ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V (1967) ndash Uma notaacutevel placa de xisto encontrada na Lapa do Bugio (Azoacuteia) Revista de Guimaratildees Guimaratildees 77 3-4 p 323-328

MONTEIRO R ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V (1971) ndash Nota preliminar sobre a lapa preacute-histoacuterica do Bugio In Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia (Coimbra 1970) Coimbra Junta Nacional de Educaccedilatildeo vol 1 p 107-120 il

MONTERO RUIacuteZ I RUIacuteZ TABOADA A (1996) - Enterramiento colectivo y metalurgia en el yacimiento neoliacutetico de Cerro Virtud (Cuevas de Almanzora Almeria) Trabajos de Prehistoria 53 2 p 55-75

MONTERO RUIacuteZ I RIHUETE HERRADA C RUIacuteZ TABOADA A (1999) - Precisiones sobre el enterramiento colectivo neoliacutetico de Cerro Virtud (Cuevas de Almanzora Almeriacutea) Trabajos de Prehistoria 56 1 p 119-130

MORAacuteN E PARREIRA R (2004) ndash Alcalar 7 Estudo e reabilitaccedilatildeo de um monumento megaliacutetico Lisboa IPPAR

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 395 de 415

MORAacuteN E PARREIRA R (2007) ndash Alcalar Monumentos Megaliacuteticos Lisboa IGESPAR (Roteiros da Arqueologia Portuguesa 10)

MUumlLDNER G RICHARDS M (2007) ndash Stable Isotope Evidence for 1500 Years of Human Diet at the City of York UK American Journal of Physical Anthropology 133 p 682-697

MUNICIO GONZAacuteLEZ L PINtildeON VARELA F (1990) ndash Cueva de Los Enebralejos (Praacutedena Segovia) Numantia 3 p 51-76

MURALHA J COSTA C (2006) ndash A ocupaccedilatildeo neoliacutetica da Encosta de SantrsquoAna (Martim Moniz Lisboa) In Actas do 4ordm Congresso de Arqueologia Peninsular ndash Do Epipaleoliacutetico ao Calcoliacutetico na Peniacutensula Ibeacuterica Faro Centro de Estudos do Patrimoacutenio da Universidade do Algarve p 157-169 (Promontoria Monografica 4)

MURILLO GONZAacuteLEZ J M (2007) ndash El asentamiento prehistoacuterico de Torre de San Francisco (Zafra Badajoz) y su contextualizacioacuten en la Cuenca Media del Guadiana Meacuterida Junta de Extremadura (Memorias de Arqueologiacutea Extrementildea 8)

NOCETE CALVO F LIZCANO PRESTEL R NIETO LINtildeAacuteN J SAacuteEZ RAMOS R LINARES CATELA J ORIHUELA PARRALES A RODRIacuteGUEZ ARIZA M (2004) ndash El desarrollo del processo interno El territorio megaliacutetico del Andeacutevalo oriental In NOCETE CALVO F (coord) ndash Odiel Proyecto de investigacioacuten arqueoloacutegica para el anaacutelisis del origin de la desigualdad social en el Suroeste de la Peniacutensula Ibeacuterica Sevilla Consejeriacutea de Cultura (Arqueologiacutea Monografias)

NOGUEIRA A M (1927) ndash Estaccedilatildeo neoliacutetica de Melides Grutas sepulcrais Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 16 p 41-49 il Separata de 1928

NOGUEIRA A M (1931) ndash Estaccedilatildeo prehistoacuterica de Olelas Elementos para o seu estudo Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 17 p 105-124 il Separata de 1933

NORONHA T B (1897a) ndash [Carta] 1897 Abril 13 [a] J L Vasconcelos [Manuscrito] Epistolaacuterio J L Vasconcelos nordm 16302 Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

NORONHA T B (1897b) - [Carta] 1897 Junho 9 [a] J L Vasconcelos [Manuscrito] Epistolaacuterio J L Vasconcelos nordm 16304 Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

NORONHA T B (1898a) - [Bilhete postal] 1898 Outubro 25 [a] J L Vasconcelos [Manuscrito] Epistolaacuterio J L Vasconcelos nordm 16305 Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

NORONHA T B (1898b) - [Carta] 1898 Novembro 27 [a] J L Vasconcelos [Manuscrito] Epistolaacuterio J L Vasconcelos nordm 16307 Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

NORTH C T (1973) - Relato das escavaccedilotildees feitas no monumento megaliacutetico de Monte Serves Bucelas Dactilografado 11 p Processo S-4792 Arquivo do Instituto Portuguecircs de Arqueologia

NORTH C BOAVENTURA R CARDOSO J L (2005) ndash O monumento megaliacutetico de Monte Serves (Verdelha do Ruivo Vila Franca de Xira) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 13 p 323-335

OBERMAIER H (1919) ndash El dolmen de Matarrubilla (Sevilla) Madrid Comisioacuten de Investigaciones Paleontologicas y Prehistoricas

OBERMAIER H (1920) ndash Die Dolmen Spaniens Wien Ferninand Berger OBERMAIER H (1924) ndash El dolmen de Soto (Trigueros Huelva) Madrid Fototipia de Hauser y

Menet Versatildeo facsimilada In CABRERO GARCIacuteA R (1993) ndash Aproximacioacuten al Megalitismo onubense Huelva Diputacioacuten Provincial de Huelva

OBERMAIER H (1925) ndash El Ombre foacutesil Madrid Museo Nacional de Ciecircncias Naturales 2ordf ediccedilatildeo revista e ampliada

OBERMAIER H (1932) ndash El hombre prehistorico y los origenes de la humanidad Madrid Revista Occidente

OLHO VIVO (1998) ndash Antas de Belas Um patrimoacutenio a preservar Queluz Olho Vivo OLIVEIRA A BRANDAtildeO J V (1969) - Descoberta de restos de uma provaacutevel gruta artificial em

Liceia O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf seacuterie 3 p 287-290 OLIVEIRA A C (1994) - Projecto de Demarcaccedilatildeo e Valorizaccedilatildeo de duas estaccedilotildees arqueoloacutegicas do

concelho de Loures In V Jornadas Arqueoloacutegicas Actas (Lisboa 1993) Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 27-32

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 396 de 415

OLIVEIRA A C SILVA A R DEUS M (1997) ndash Carta Arqueoloacutegica do Municiacutepio de Loures Loures Cacircmara Municipal de Loures Policopiado

OLIVEIRA A C SILVA A R ESTEcircVAtildeO F DEUS M M (2000) ndash Carta Arqueoloacutegica do Municiacutepio de Loures Loures Cacircmara Municipal de Loures

OLIVEIRA C ROCHA L SILVA C M (2007) ndash O Megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central Arquitectura e orientaccedilotildees O estado da questatildeo em Montemor-o-Novo In Crookscape Siacutetio da internet consultado em 1812009 httpwww crookscapeorgtextmar2006text07html

OLIVEIRA C SILVA C M (2006) ndash Moon Spring and Large Stones Landscape and ritual calendar and symbolization In Crookscape Siacutetio da internet consultado em 1812009 httpwwwcrookscapeorgtextmsls2006p_50moonspringhtml

OLIVEIRA F P (1884) ndash Note sur les ossements humains qui se trouve dans le museacutee de la section geacuteologique de Lisbonne In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique 9ordm Lisboa 1880 ndash Compte rendue Lisbonne p 291-305 il

OLIVEIRA F P (1886) ndash Les ossements humains du Museacutee Geacuteologique a Lisbonne In Cartailhac E ndash Les acircges prehistoriques de lrsquoEspagne et du Portugal Paris Ch Reinwald p 305-321 il

OLIVEIRA F P (1889) ndash Note sur les ossements humaines existant dans le Museacutee de la Comission des Travaux Geologiques Comunicaccedilotildees da Comissatildeo de Trabalhos Geoloacutegicos Lisboa 2 p 57-81

OLIVEIRA J (1997a) ndash Datas absolutas de monumentos megaliacuteticos da bacia hidrograacutefica do rio Sever In II Congreso de Arqueologia Peninsular Neoliacutetico Calcoliacutetico y Bronce Zamora 24 a 27 de Septiembre de 1996 Vol 2 p 229-239

OLIVEIRA J (1997b) - Monumentos Megaliacuteticos da Bacia Hidrograacutefica do Rio Sever Ibn Maruan Lisboa Ediccedilatildeo Especial Com versatildeo simultacircnea em Espanhol

OLIVEIRA J (2000) ndash Reflexiones sobre el conjunto megaliacutetico de Cedillo Extremadura Arqueoloacutegica Meacuterida Junta de Extremadura 8 p 169-186 (El Megalitismo en Extremadura ndash Homenaje a Elias Dieacuteguez Luengo)

OLIVEIRA J (2006) ndash Patrimoacutenio arqueoloacutegico da Coudelaria de Alter e as primeiras comunidades agropastoris [Eacutevora] Colibri

OLIVEIRA R (1980) ndash Pente votivo em osso proveniente do monumento funeraacuterio megaliacutetico laquoPedra dos Mourosraquo - Belas Cadernos de Divulgaccedilatildeo Cultural Preacute-histoacuteria

OLIVEIRA H N FERREIRA O V (1990) - Algumas obras de restauro e consolidaccedilatildeo do castro de Vila Nova de S Pedro Azambuja Revista de Arqueologia Lisboa 1 p 49-58

OLSEN S SHIPMAN P (1994) ndash Cutmarks and Perimorten Treatment of Skeletal Remains on the Northern Palins In OWSLEY D JANTZ R (coords) - Skeletal Biology in the Great Plains Migration Warfare Health and Subsistence Washington Smithsonian Institution Press p 377-387

OOSTERBEEK L (1985a) ndash A faacutecies megaliacutetica da gruta do Cadaval (Tomar) In Actas I Reuniatildeo do Quaternaacuterio Ibeacuterico Lisboa vol 2 p 147-159

OOSTERBEEK L (1985b) ndash Elementos para o estudo da estratigrafia da gruta do Cadaval (Tomar) Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 4-5 p 7-12

OOSTERBEEK L (1993a) ndash Gruta dos Ossos ndash Tomar Um ossuaacuterio do Neoliacutetico final Boletim Cultural Tomar Cacircmara Municipal 18 p 10-28

OOSTERBEEK L (1993b) ndash Nossa Senhora das Lapas excavation of prehistoric cave burials in Central Portugal Papers from the Institute of Archaeology London University College London 4 p 49-62

OOSTERBEEK L (1994) minus Megalitismo e Necropolizaccedilatildeo no Alto Ribatejo o III mileacutenio Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu 2 p 137-149 Actas do Seminaacuterio ldquoO Megalitismo no Centro de Portugal novos dados problemaacutetica e relaccedilotildees com outras peninsulares (Mangualde Novembro 1992)

OOSTERBEEK L (1995) ndash O Neoliacutetico e o Calcoliacutetico na regiatildeo do Vale do Nabatildeo (Tomar) In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 101-111 (Trabalhos de Arqueologia 7)

OOSTERBEEK L (1997a) ndash Back home Neolithic life and the rituals of death in the Portuguese Ribatejo In BONSALL C TOLAN-SMITH C (eds) ndash The human use of caves Oxford Archaeopress p 70-80 (BAR International Series 667)

OOSTERBEEK L (1997b) minus Echoes from the East The western network North Ribatejo (Portugal) an insight to unequal and combined development 7000-2000 BC ARKEOS 2

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 397 de 415

OOSTERBEEK L (2004) ndash Archaeographic and conceptual advances in interpreting Iberian Neolithisation Documenta Praehistorica Ljubljana 31 p 83-87

OOSTERBEEK L (2003a) ndash Megaliths in Portugal the western network revisited In BURENHULT G WESTERGAARD S (eds) ndash Stones and Bones formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC archaeological conference in honour of the late Professor J OrsquoKelly 2002 Sligo Ireland Oxford Archaeopress p 27-37 (BAR-International Series 1201)

OOSTERBEEK L (2003b) ndash Problems of Megalithic Chronology in Portugal In BURENHULT G WESTERGAARD S (coords) ndash Stones and Bones formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC archaeological conference in honour of the late Professor J OrsquoKelly 2002 Sligo Ireland Oxford Archaeopress p 83-86 (BAR-International Series 1201)

OOSTERBEEK L CRUZ A R (1991) ndash A Arqueologia da Morte consideraccedilotildees a propoacutesito da interpretaccedilatildeo dos contextos sepulcrais na regiatildeo de Tomar Boletim Cultural Tomar Cacircmara Municpal 15 p 269-291

OOSTERBEEK L CRUZ A R FEacuteLIX P (1992) ndash Anta 1 de Val da Laje notiacutecia de 3 anos de escavaccedilotildees (1989-91) Boletim Cultural da Cacircmara Municipal de Tomar Tomar 16 p 31-49

ORTNER D J (2003) - Identification of Pathological Conditions in Human Skeletal Remains London Academic Press 2ordf ediccedilatildeo

O SEacuteCULO (1897) ndash Antiguidades da Arruda O Seacuteculo 25 de Fevereiro de 1897 O SEacuteCULO (1898) ndash Museu ethnographico O Seacuteculo 6 de Novembro de 1898 OWLEYS D JANTZ R (eds) (1994) ndash Skeletal Biology in the Great Plains Migration Warfare

Health and Subsistance Washington Smithsonian Institution Press PACcedilO A BARBOSA F SOUSA J N BARBOSA F B (1959) ndash Notas arqueoloacutegicas da regiatildeo

de Alcobertas (Rio Maior) In Actas e memoacuterias do I Congresso Nacional de Arqueologia realizado em Lisboa de 15 a 20 de Dezembro de 1958 Lisboa vol 1 p 281-287

PACcedilO A BAacuteRTHOLO M L (1954) - Consideraccedilotildees acerca da estaccedilatildeo arqueoloacutegica de Montes Claros (Monsanto) e da sua ceracircmica campaniforme Broteacuteria Lisboa 59 2-3 p 200-203 Separata

PACcedilO A JALHAY E (1945) ndash El castro de Vilanova de San Pedro Actas y Memorias de la Sociedad Espantildeola de Antropologiacutea Etnografiacutea y Prehistoria 20 p 5-93 [reediccedilatildeo (1971) - Trabalhos de Arqueologia de Afonso do Paccedilo (1929-1968) vol 2 Lisboa Associaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 183-266]

PACcedilO A VAULTIER M (1943) - A gruta de Porto-Cocircvo In 4ordm Congresso da Associaccedilatildeo Portuguesa para o Progresso das Ciecircncias 7ordf secccedilatildeo - Ciecircncias histoacutericas e filoloacutegicas Porto Imprensa Portuguesa vol 8 p 95-103

PACcedilO A VAULTIER M ZBYSZWESKI G (1942) ndash Nota sobre a Lapa da Bugalheira Boletim da Sociedade Portuguesa de Ciecircncias Naturais 13 Supl 2 p 116-119 Actas do I Congresso Nacional de Ciecircncias Naturais (Lisboa 1941)

PACcedilO A ZBYSZWESKI G FERREIRA O V (1971) ndash Resultados das escavaccedilotildees na Lapa da Bugalheira (Torres Novas) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa SGP 55 p 23-47

PARKER PEARSON M (2002) ndash Archaeology of Death and Burial Texas AampM University Press 3ordf reimpressatildeo (1ordf ediccedilatildeo de 1999)

PARKER PEARSON M (2005) ndash Warfare Violence and Slavery in Later Prehistory An Introduction In PARKER PEARSON M THORPE I (coords) - Warfare Violence and Slavery in Prehistory Proceedings of a Prehistoric Society conference at Sheffield University Oxford Archaeopress p 19-33 (BAR International Seacuteries 1374)

PARREIRA R (1985) ndash Inventaacuterio do patrimoacutenio arqueoloacutegico e construiacutedo do concelho de Vila Franca de Xira ndash Notiacutecia da parcela 403-8 Boletim Cultural Vila Franca de Xira Cacircmara Municipal p 107-120

PARREIRA R (1990) - Consideraccedilotildees sobre os mileacutenios IV e III a C no centro e sul de Portugal In Estudos orientais Presenccedilas orientalizantes em Portugal Da preacute-histoacuteria ao periacuteodo romano Lisboa Instituto Oriental vol 1 p 27-43

PARREIRA R (1996) - O conjunto megaliacutetico do Crato (Alto Alentejo) Contribuiccedilatildeo para o registo das antas portuguesas Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Arqueologia Faculdade Letras da Universidade do Porto 2 vol Policopiado

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 398 de 415

PARREIRA R SERPA F (1995) ndash Novos dados sobre o povoamento da regiatildeo de Alcalar (Portimatildeo) no IV e III Mileacutenios AC Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto 35 3 p 233-256 Actas do 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular vol 7

PASCUAL BENITO J L (1998) ndash Utillaje oacuteseo adornos e iacutedolos neoliacuteticos valencianos Valecircncia Servicio de Investigacioacuten Prehistorica (Serie de Trabajos vaacuterios 95)

PATTON M (1992) - Megalithic transport and territorial markers evidence from the Channel Islands Antiquity Cambridge 251 66 p 392-395

PENN D SMITH K (2007) ndash Differential fitness costs of reproduction between the sexes Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of Ameacuterica - PNAS 104 2 p 553-558

PEREIRA J M (1999) - Os Artefactos de Pedra Polida do Almonda ao Zecirczere (Marcas do Povoamento da Regiatildeo) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Policopiado

PEREIRA J P (1976-77) - A gruta natural da Salveacute Rainha (Serra de Montejunto) Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal 2-3 p 49-98 il

PEREIRA P M (1986) ndash Investigaccedilatildeo espeleoloacutegica no concelho Gruta do Tufo Ponte de Lousa Vento Novo Loures 166 (1661986) p 7

PEREIRA P GUAPO J CHAVES M BENITO P (2008) ndash Portugal megaliacutetico Lisboa Ediccedilotildees INAPA

PERSSON P SJOumlGREN K-G (1995) ndash Radiocarbon and the Chronology of Scandinavian Megalithic Graves Journal of European Archaeology 3 2 p 59-88

PIGOTT S (1953) ndashThe tholos tomb in Iberia Antiquity 27 p 137-143 PINtildeOacuteN VARELA F (2004) ndash El Horizonte cultural megaliacutetico en el aacuterea de Huelva Junta de

Andaluciacutea (Arqueologia monografias) PIRES F CARDOSO J L PETRUCCI-FONSECA F (2001-2002) ndash Estudo arqueozooloacutegico dos

carniacutevoros do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 10 p 183-247

PRADA GALLARDO A CERRILLO CUENCA E (2004) ndash Hallazgo de un enterramiento en fosa de la transicioacuten Calcoliacutetico-Edad del Bronce en Valencia del Ventoso (Badajoz) Revista de Estudios Extrementildeos 60 2 p 451-473

PRIETO MARTIacuteNEZ M Pilar (2007) - Volviendo a un mismo lugar recipientes y espacios en un monumento megaliacutetico gallego (NW de Espantildea) Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa IPA 10 2 p 101-125

QUEIROZ P F (1999) - Ecologia histoacuterica da paisagem do Noroeste Alentejano Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Faculdade de Ciecircncias da Universidade de Lisboa para obtenccedilatildeo do grau de Doutor em Biologia (Ecologia e Biossistemaacutetica) Lisboa 300 p

QUEIROZ P F LEEUWAARDEN WV (2001) - Estudos de Arqueobotacircnica no siacutetio neoliacutetico de S Pedro de Canaferrim Sintra Lisboa Policopiado (Trabalhos do CIPA 21)

QUEIROZ P F LEEUWAARDEN WV (2004) - Estudos de Arqueobotacircnica no Castro de Satildeo Mamede Bombarral Leiria Lisboa Policopiado (Trabalhos do CIPA 72)

QUEIROZ P F MATEUS J E (2004) ndash Paleoecologia litoral entre Lisboa e Sines do Tardiglaciaacuterio aos tempos de hoje In TAVARES A TAVARES M CARDOSO J L (coords) ndash Actas Evoluccedilatildeo geohistoacuterica do Litoral portuguecircs e fenoacutemenos correlativos Geologia Histoacuteria Arqueologia e Climatologia Lisboa Universidade Aberta p 257-304

RAFTER - RAFTER GNS SCIENCE (2009) ndash Sample processing Stable isotope measurements In Rafter Radiocarbon Laboratory (Consultado em 642009) httpwwwgnscrinz nicrafterradiocarbonsamprephtm

RAMALHO M M (2005) ndash A Geologia de Cascais In GONCcedilALVES V S (coord) - Cascais haacute 5000 anos Cascais Cacircmara Municipal p 13-15

RAMALHO M M PAIS J REY J BERTHOU PY ALVES CAM PALAacuteCIOS T LEAL N KULLBERG MC (1993) ndash Carta geoloacutegica de Portugal na escala de 150000 ndash 34-A Notiacutecia explicativa da folha 34-A Sintra Lisboa Serviccedilos geoloacutegicos de Portugal

RAMOS MUNtildeOZ J GILES PACHECO F (1996) ndash El doacutelmen de Alberite (Villamartiacuten) Aportaciones a las formas econoacutemicas y sociales de las comunidades neoliacuteticas en el Noroeste de Caacutediz Espantildea Universidad de Caacutediz

RAPOSO L (1999) ndash Apresentaccedilatildeo In PONTIS - Carta Arqueoloacutegica de Ponte de Sor Ponte de Sor Cacircmara Municipal p 11

RENFREW C (1967) ndash Colonialism and Megalithismus Antiquity 41 164 p 276-288

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 399 de 415

RENFREW C (1976) ndash Megaliths territories and populations In DE LAET S (coord) ndash Acculturation and continuity in Atlantic Europe mainly during the Neolithic period and the Bronze Age IV Atlantic Colloquium Ghent 1975 Bruges De Tempel p 198-220

RENFREW C (1990) ndash Before civilisation The Radiocarbon Revolution and Prehistoric Europe London Penguim Books Reimpressatildeo 1ordf ediccedilatildeo de 1973

RENFREW C BAHN P (2004) ndash Archaeology Theories Methods and Practice London Thames amp Hudson 4a ediccedilatildeo

REIMER PJ BAILLIE MGL BARD E BAYLISS A BECK JW BERTRAND C BLACKWELL PG BUCK CE BURR G CUTLER KB DAMON PE EDWARDS RL FAIRBANKS RG FRIEDRICH M GUILDERSON TP HUGHEN KA KROMER B MCCORMAC FG MANNING S BRONK RAMSEY C REIMER RW REMMELE S SOUTHON JR STUIVER M TALAMO S TAYLOR FW VAN DER PLICHT J WEYHENMEYER CE (2004) ndash IntCal04 Terrestrial Radiocarbon Age Calibration 0-26 cal Kyr BP Radiocarbon Tucson AZ-USA 46 3 p 1029-1058

RIBEIRO C (1871-1875) ndash [Caderno de Campo] 22-VI a 10-VIII-1871 [ateacute] Jan e Fev 1875 [Sem coacutedigo] Acessiacutevel no Arquivo Histoacuterico Geoloacutegico e Mineiro Laboratoacuterio Nacional de Energia e Geologia

RIBEIRO C (1871) ndash Descriccedilatildeo de alguns silex e quartzites lascados encontrados em camadas dos terrenos terciaacuterio e quaternaacuterio das bacias do Tejo e Sado Lisboa Typ da Academia

RIBEIRO C (1873) ndash Sur la position geacuteologique des couches mioceacutenes et plioceacutenes du Portugal qui contiennent des silex tailleacutes In Congreacutes International drsquoAnthropologie et drsquoArcheacuteologie Preacute-historique 6ordm Bruxeles Bruxeles C Muquardt Ed p 95-100

RIBEIRO C (1878) ndash Estudos Prehistoricos em Portugal Noticia de algumas estaccedilotildees e monumentos prehistoricos I - Notiacutecia da estaccedilatildeo humana de Licecirca Lisboa Typographia da Academia Reediccedilatildeo de 1991 ndash Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 1 Notas e comentaacuterios de J L CARDOSO

RIBEIRO C (1880) ndash Estudos Prehistoricos em Portugal Noticia de algumas estaccedilotildees e monumentos prehistoricos II - Monumentos megalithicos das visinhanccedilas de Bellas Lisboa Typographia da Academia

RIBEIRO C (1884) ndash Les kioekkenmoeddings de la valleacutee du Tage In Congres International drsquoAnthropologie et drsquoArchaeologie Preacutehistorique 9ordm Lisboa 1880 ndash Compte Rendu Lisbonne p 279-292 il

RIBEIRO L (1966) - Relatoacuterio das escavaccedilotildees feitas na estaccedilatildeo Neo-Eneoliacutetica de Montes Claros Arqueologia e Histoacuteria Lisboa 8ordf Seacuterie 12 p 223-283 Separata

RIBEIRO O (1937) - A Arraacutebida Esboccedilo geograacutefico Revista Faculdade de Letras de Lisboa Lisboa 4 1 p 2-131

RIBEIRO O (1998) - Portugal o Mediterracircneo e o Atlacircntico Esboccedilo de relaccedilotildees geograacuteficas Lisboa Livraria Saacute da Costa Editora 7ordf ediccedilatildeo revista e ampliada 189 p

RIBEIRO O LAUTENSACH H DAVEAU S (1991) ndash Geografia de Portugal I A posiccedilatildeo geograacutefica e o territoacuterio Lisboa Joatildeo Saacute da Costa 2ordf ediccedilatildeo

RIBEIRO O LAUTENSACH H DAVEAU S (1988) ndash Geografia de Portugal II O ritmo climaacutetico e a paisagem Lisboa Joatildeo Saacute da Costa 1ordf ediccedilatildeo

RICHARDS M FULLER B SPONHEIMER M ROBINSON T AYLIFFE L (2004) ndash Sulphur Isotopes in Paleodietary Studies a Review and Results from a Controlled Feeding Experiment International Journal of Osteoarchaeology 13 p 37-45

RICHARDS M PRICE T D KOCH E (2003) ndash Subsistence in Denmark New Stable Isotope Data Current Anthropology 44 2 p 288-295

RICHARDS M SCHULTING R HEDGES R (2003) ndash Sharp shift in diet at onset of Neolithic Nature 425 p 366

RICHARDS M SCHULTING R (2006) ndash Against the grain A response to Milner et al (2004) Antiquity 80 p 444-456 Debate Touch not the fish the Mesolithic-Neolithic change of diet and its significance

RIGGS J (2003) - Whatever happened to BC and AD and why United Church News Retrieved on December 19 2005

RIVERO GALAacuteN E (1986) ndash Ensaio tipoloacutegico en los enterramientos colectivos denominados Cuevas Artificiales de la mitad meridional de la Peniacutensula Ibeacuterica Habis 17 p 371-402

RIVERO GALAacuteN E (1988) ndash Anaacutelisis de las cuevas artificiales en Andaluciacutea y Portugal Sevilla Universidad de Sevilla

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 400 de 415

ROBBEN C G (ed) (2006) ndash Death Mourning and Burial A Cross-Cultural Reader Oxford Blackwell Publishing 3ordf ediccedilatildeo

ROBERTS C MANCHESTER K (2005) - The Archaeology of Disease Great Britain Sutton Publishing 3ordf ediccedilatildeo

ROCHA A S (1908) - Placas de suspensatildeo neolithicas Boletim da Sociedade Archaeologica Santos Rocha Figueira Imprensa Lusitana de Augusto Veiga 1 6 (Deacutecima sessatildeo plenaacuteria) p 174-175

ROCHA L (2004) Entre vivos e mortos arte rupestre e megalitismo funeraacuterio na regiatildeo de Eacutevora In CALADO M (coord) - Sinais de Pedra 1ordm Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo e Arte Rupestre Eacutevora Fundaccedilatildeo Eugeacutenio de Almeida

ROCHA L (2005) - Origens do megalitismo funeraacuterio no Alentejo central a contribuiccedilatildeo de Manuel Heleno Tese de Doutoramento em Histoacuteria (Arqueologia) Faculdade de Letras Universidade de Lisboa Texto Policopiado

ROCHA L DUARTE C (no prelo) - Megalitismo funeraacuterio no Alentejo Central os dados antropoloacutegicos das escavaccedilotildees de Manuel Heleno In Actas do IX Congresso de Paleopatologia Morella

ROCHE J (1957) ndash Premiegravere datation du meacutesolithique portugais par la methode du carbone 14 Boletim da Academia das Ciecircncias de Lisboa Lisboa 29 p 294-296

ROCHE J DELIBRIAS G (1964) ndash Datation drsquoun monument eacuteneacuteolithique du Bas-Alentejo (Portugal) par la meacutethode du Carbone 14 Revue Archeacuteologique 1 p 185-186

ROCHE J FERREIRA O V (1961) ndash Reacutevision des boutons perforeacutes em V de lrsquoEacuteneacuteolitihique portugais LrsquoAnthropologie Paris Masson et Cie Editeurs 65 p 67-73

ROCHE J FERREIRA O V (1970) ndash Stratigraphie et faunes des niveaux paleacuteolithiques de la Grotte de Salemas (Ponte de Lousa) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 54 p 263-269

ROCHE J FERREIRA O V (1975) - La station de Penha Verde (Sintra) Comunicaccedilotildees Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 59 p 253-263

ROCHE J FRANCcedilA J FERREIRA O V ZBYSZEWSKI G (1962) ndash Le Paleacuteolithique supeacuterieur de la grotte de Salemas (Ponte de Lousa) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 46 p 188-207

RODRIGUES M C M (1986) ndash Coacutedigo para a anaacutelise das placas de xisto gravadas Castelo de Vide Cacircmara Municipal

RODRIacuteGUEZ VINCEIRO F J MAacuteRQUEZ ROMERO J E (2003) - Dataciones absolutas para la Prehistoria reciente de la provincia de Maacutelaga Una revisoacuten criacutetica Baetica Maacutelaga Universidad 25 p 313-353

ROJO GUERRA M GARRIDO-PENA R GARCIacuteA MARTINEZ DE LAGRAacuteN I MORAacuteN DAUCHEZ G KUNST M (2005a) ndash Del enterramiento colectivo a la tumba individual El sepulcro monumental de La Sima en Mintildeo de Medinaceli Soria Espantildea BSAA Arqueologia Boletiacuten del Seminaacuterio de Estuacutedios de Arte y Arqueologia Valladolid Universidad 71 p 11-42

ROJO GUERRA M KUNST M GARRIDO-PENA R GARCIacuteA MARTINEZ DE LAGRAacuteN I MORAacuteN DAUCHEZ G (2005b) ndash Un desafio a la eternidad Tumbas monumentales del Valle de Ambrona Castilla y Leoacuten Junta

ROKSANDIC M (2002) ndash Position of Skeletal Remains as a Key to Understanding Mortuary Behaviour In HAGLUND W SORG M (eds) ndash Advances in Forensic Taphonomy Method Theory and Archaeological Perspectives Florida USA CRC Press p 99-117

RUBIN M ALEXANDER C (1960) ndash US Geological Survey Radiocarbon DatesV American Journal of Science Radiocarbon Supplement 2 p 129-185

RUIZ-GAacuteLVEZ PRIEGO M (2000) ndash El Conjunto dolmeacutenico de La Dehesa Boyal de Montehermoso Extremadura Arqueoloacutegica Meacuterida 8 p 187-207 El Megalitismo en Extremadura (Homenaje a Elias Dieacuteguez Luengo)

RUIZ TABOADA A MONTERO RUIZ I (1999) ndash Occupaciones neoliacuteticas en Cerro Virtud Estratigrafia y dataciones In BERNABEU AUBAacuteN J OROZCO KOumlHLER T (eds) - II Congreacutes del Neoliacutetic a la Peniacutensula Ibegraverica Universitat de Valegravencia 7-9 dAbril 1999 Saguntum-PLAV Valecircncia Universitat de Valegravencia Extra-2 p 439-445

RUSSELL M (1987) - Mortuary practices at the Krapina Neandertal site American Journal of Physical Anthropology 72 p 381-397

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 401 de 415

SAacute M C M (1959) ndash A Lapa da Galinha In 1ordm Congresso Nacional de Arqueologia Lisboa 1958 Actas e Memoacuterias Lisboa vol 1 p 117-128 il

SALANOVA L (2005) ndash The origins of the Bell Beaker phenomenon Breakdown analysis mapping In ROJO-GUERRA M GARRIDO-PENA R GARCIacuteA-MARTINEZ DE LAGRAacuteN I (coords) - Bell Beakers in the Iberian Peninsula and their European context Valladolid Universidad p 19-27

SALVADO M C (2004) ndash Apontamentos sobre a utilizaccedilatildeo do osso no Neoliacutetico e Calcoliacutetico da Peniacutensula de Lisboa As colecccedilotildees do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Museu Nacional de Arqueologia (O Arqueoacutelogo Portugecircs Suplemento 2)

SANCHES M J NUNES S A SILVA M S (2005) ndash A Mamoa 1 do Castelo (Jou) ndash Murccedila (Traacutes-os-Montes) Resultados dos trabalhos de escavaccedilatildeo e de restauro dum doacutelmen de vestiacutebulo Portugaacutelia Porto nova Seacuterie 26 p 5-39

SANGMEISTER E SCHUBART H (1981) - Zambujal Die Grabungen 1964 bis 1973 Mainz Verlag Philipp von Zabern (Madrider Beitraumlge 5 1)

SANTOS F C (2006) ndash Siacutetio do Neoliacutetico finalCalcoliacutetico da Horta do Albardatildeo 3 (Satildeo Manccedilos Eacutevora) Trabalhos arqueoloacutegicos Relatoacuterio final [Novembro 2006] Arquivo do IGESPAR Policopiado

SANTOS M F (1967) - A necroacutepole de tipo laquotholosraquo de Santiago do Escoural O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf seacuterie 1 p 113-114

SANTOS M F (1980) ndash Estudos de Preacute-histoacuteria em Portugal de 1850 a 1880 Anais Lisboa Academia Portuguesa de Histoacuteria 2ordf seacuterie 26 2 p 253-297

SANTOS M F FERREIRA O V (1969) - O monumento eneoliacutetico de Santiago do Escoural O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf seacuterie 3 p 37-62 il

SANTOS M F GOMES M V CARDOSO J L (1991) ndash Dois artefactos de osso poacutes-paleoliacuteticos da gruta do Escoural (Montemor-o-Novo Eacutevora) Almansor Montemor-o-Novo 9 p 75-94

SANTOS M C (1968) ndash Apontamentos ineacuteditos de Antoacutenio Mendes O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 3ordf seacuterie p 169-181

SANTOS N C (1989) ndash Projecto Calcoliacutetico na Estremadura Anaacutelise do povoamento Neoliacutetico e Calcoliacutetico na mancha norte do Complexo Basaacuteltico de Lisboa (Concelho de Loures) Relatoacuterio dos trabalhos realizados em 1988 Lisboa IICT e Departamento de Arqueologia da Universdiade de Boston Policopiado

SANTOS N C (1994) ndash Notiacutecia sobre o siacutetio calcoliacutetico de Casal das Gaitadas (Loures) In Actas das V Jornadas Arqueoloacutegicas (Lisboa 1993) Lisboa Asscociaccedilatildeo dos Arqueoacutelogos Portugueses p 163-173

SANTOS N C (1995) ndash Povoamento calcoliacutetico na Estremadura Problemas da anaacutelise de ditribuiccedilatildeo espacial In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das 1ordfs Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 141-148 (Trabalhos de Arqueologia 7)

SCARRE C (1996) ndash Megalithic Tombs In FAGAN B (ed) - The Oxford Companion to Archaeology Oxford Oxford University Press p 434-436

SCARRE C (2004) minus Monumentos de Pedra lsquoRudersquo e Pedras Trofeacuteu a relaccedilatildeo com os materiais nos megaacutelitos da Europa ocidentalrdquo In CALADO M (coord) - Sinais de Pedra 1ordm Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo e Arte Rupestre Eacutevora Fundaccedilatildeo Eugeacutenio de Almeida Republicado em 2007 In Crookscape Siacutetio da internet consultado em 1812009 httpwwwcrookscapeorg textset2007 text13html

SCARRE C ARIAS P BURENHULT G FANO M OOSTERBEEK L SCHULTING R SHERIDAN A WHITTLE A (2003) ndash Megalithic chronologies In BURENHULT G WESTERGAARD S (coords) ndash Stones and Bones formal disposal of the dead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC archaeological conference in honour of the late Professor J OrsquoKelly 2002 Sligo Ireland Oxford Archaeopress p 65-115 (BAR International Series 1201)

SCHULTING R (2000) ndash New AMS dates from the Lambourn Long Barrow and the Question of the Earliest Neolithic in Southern England Repacking the Neolithic Package Oxford Journal of Archaeology 19 1 p 25-35

SCHULTING R RICHARDS M (2002) ndash The wet the wild and the domesticated The Mesolithic-Neolithic transition on the West coast of Scotland European Journal of Archaeology 5 2 p 147-189

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 402 de 415

SEBASTIAtildeO L F (1991) - Anta foi deitada abaixohellip antes que caiacutesse O Puacuteblico Lisboa 12 de Abril p 56

SENNA-MARTINEZ J C (1989) ndash Preacute-Histoacuteria recente da bacia do Meacutedio e Alto Mondego Algumas contribuiccedilotildees para um modelo soacuteciocultural Tese de Doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Lisboa Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Policopiada

SENNA-MARTINEZ J C (1990) - Idade do Bronze na Estremadura atlacircntica subsiacutedios para um programa de estudo Lisboa [Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa] Prova complementar de doutoramento em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Policopiado

SENNA-MARTINEZ J C VENTURA J M (2008) ndash Do mundo das sombras ao mundo dos vivos Octaacutevio da Veiga Ferreira e o Megalitismo da Beira Alta meio seacuteculos depois In CARDOSO J L (coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 317-350

SERRAtildeO E C (1962) - Alguns problemas arqueoloacutegicos da regiatildeo de Sesimbra Arqueologia e Historia Lisboa 8ordf seacuterie 9 p 11-42 il

SERRAtildeO E C (1964) - Um pequeno museu arqueoloacutegico regional Arqueologia e Historia Lisboa 8ordf seacuterie 9 p105-125

SERRAtildeO E C (1967) ndash As grutas de Sesimbra (Introduccedilatildeo) I - As grutas A e B do Forte do Cavalo II ndash Duas grutas da regiatildeo de Sesimbra contendo materiais arqueoloacutegicos atribuiacuteveis agrave cultura do vaso campaniforme vista pelo arqueoacutelogo Octaacutevio da Veiga Ferreira Boletim do Centro de Estudos do Museu Arqueoloacutegico de Sesimbra Sesimbra Ediccedilatildeo da Liga dos Amigos do Castelo de Sesimbra 1 p 22-39 p 106-109 113-122 il

SERRAtildeO E C (1968) - A Lapa do Fumo Geographica Lisboa 4 15 p69-92 il SERRAtildeO E C (1973) - Carta Arqueoloacutegica do concelho de Sesimbra (Desde o Paleoliacutetico antigo

ateacute 1200 d C) Identificaccedilatildeo sumaacuteria dos monumentos estaccedilotildees e locais com interesse arqueoloacutegico assinalados nos mapas [Setuacutebal] Junta Distrital de Setuacutebal

SERRAtildeO E C (1975) - Contribuiccedilotildees arqueoloacutegicas do Sudoeste da Peniacutensula de Setuacutebal Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 1 p 199-225

SERRAtildeO E C (1979) - Sobre a periodizaccedilatildeo do Neoliacutetico e Calcoliacutetico do territoacuterio portuguecircs In Actas da 1ordf Mesa- Redonda sobre o Neoliacutetico e o Calcoliacutetico em Portugal Porto p147-182

SERRAtildeO E C (1982-1983) ndash As jazidas arqueoloacutegicas de Catrivana e o dolmen de laquoPedra Erguidaraquo Sintria Sintra Museu Arqueoloacutegico de Satildeo Miguel de Odrinhas 1-2 p 11-28

SERRAtildeO E C (1991) - Sobre os iacutedolos de calcaacuterio - ldquopinhasrdquo- do calcoliacutetico da Estremadura - Algumas consideraccedilotildees sobre dois exemplares da Lapa do Bugio Sesimbra Cultural Sesimbra Cacircmara Municipal de Sesimbra 1 p 6-14

SERRAtildeO E C MARQUES G (1971) - Estrato preacute-campaniforme da Lapa do Fumo (Sesimbra) In Actas do 2ordm Congresso Nacional de Arqueologia Coimbra 1970 Coimbra Junta Nacional de Educaccedilatildeo 1 p 121-142

SERRAtildeO E C MESQUITA I MESQUITA M (1984) - Megaacutelito de Pego Longo ndash Belas Trabalhos arqueoloacutegicos efectuados no concelho de Sintra em 1983 Acessiacutevel no Arquivo do Ex-IPA Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP Lisboa Relatoacuterio policopiado Processo S-3518

SERRAtildeO E C VICENTE E P (1958) - O castro Eneoliacutetico de Olelas Primeiras escavaccedilotildees Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 39 p 87-125 Separata

SERRAtildeO V (1998) ndash Antas de Belas Uma viagem de seduccedilotildees por um patrimoacutenio de excepccedilatildeo In OLHO VIVO ndash Antas de Belas Um patrimoacutenio a preservar Queluz Olho Vivo p 7-9

SHERRATT A (1981) - Plough and pastoralism aspects of the Secondary Products Revolution In HODDER I ISAAC G HAMMOND N (coords) - Pattern of the Past Studies in Honour of David Clarke Cambridge Cambridge University Press p 261-305

SHERRATT A (1983) ndash The Secondary Exploitation of Animals in the Old World World Archaeology 15 1 p 90-104 Transhumance and Pastoralism

SHERRATT A (1987) ndash Wool Wheels and Ploughmarks Local Developments or Outside Introductions in Neolithic Europe Bulletin Institute of Archaeology London University College 23 p 1-15

SHERRATT A (1990) ndash The Genesis of Megaliths Monumentality Ethnicity and Social Complexity in Neolithic North-West Europe World Archaeology 22 2 p 147-167 Monuments and the Monumental

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 403 de 415

SHERRATT A (1995) ndash Instruments of Conversion The Role of Megaliths in the MesolithicNeolithic Transition in Northwest Europe Oxford Journal of Archaeology Oxford Blackwell Publishers Ltd 14 3 p 245-260

SHERRATT A (1996) - Secondary products revolution In FAGAN B (ed) Oxford Companion to Archaeology Oxford Oxford University Press p 632-634

SHERRATT A (1999) - Cash-crops before cash organic consumables and trade In GOSDEN C HATHER J - The Prehistory of Food Appetites for Change London Routledge p 13-34

SHIPMAN P ROSE J (1983) - Early hominid hunting butchering and carcass-processing behaviors approaches to the fossil record Journal of Anthropological Archaeology 2 1 p 57-98SILVA A M (1993) - Os restos humanos da gruta artificial de Satildeo Pedro do Estoril II Estudo Antropoloacutegico Relatoacuterio de investigaccedilatildeo em Ciecircncias Humanas Coimbra Departamento de Antropologia Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de Coimbra Policopiado

SILVA A M (1995a) - Sex assessment using calcaneus and talus Antropologia Portuguesa Coimbra 13 p 85-97

SILVA A M (1995b) - Os restos humanos exumados da Anta da Arquinha da Moura (Tondela Viseu) Estudos Preacute-histoacutericos Viseu 3 p 141ndash150

SILVA A M (1996a) ndash O Hipogeu de Monte Canelas I Contribuiccedilatildeo da Antropologia de campo e da Paleobiologia na interpretaccedilatildeo dos gestos funeraacuterios do IV e III mileacutenios aC In Actas do 2ordm Congreso Peninsular de Arqueologia Zamora Espanha 24-27 de Setembro Zamora vol 2 p 241-248

SILVA A M (1996b) ndash Paleobiology of the Population Inhumated in the Hipogeum of Monte Canelas I (Alcalar ndash Portugal) In Proceedings of the XIII Congress Forligrave- Itaacutelia 1996 814 September Section 9 The Neolithic in the Near East and Europe Subsection Ethnic and anthropological aspects Vol 3 p 437-446

SILVA A M (1997) - Ler os ossos Antropologia de Campo e Arqueologia Funeraacuteria In Noventa seacuteculos entre a Serra e o Mar Lisboa IPPAR p 207-219

SILVA A M (1999a) - A Necroacutepole Neoliacutetica do Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras Portugal) os dados paleobioloacutegicos In BERNABEU AUBAacuteN J OROZCO KOumlHLER T (coords) - II Congreacutes del Neoliacutetic a la Peniacutensula Ibegraverica Universitat de Valegravencia 7-9 dAbril 1999 Saguntum-PLAV Valecircncia Universitat de Valegravencia Extra-2 p 355-360

SILVA A M (1999b) - Human remains from the artificial cave of Satildeo Pedro do Estoril II (Cascais Portugal) Human Evolution 14 3 p 199-206

SILVA A M (1999c) - Inumaccedilotildees colectivas algumas consideraccedilotildees sobre a respectiva anaacutelise paleobioloacutegica In Actas do 3ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Vila Real 21-27 de Setembro Porto ADECAP vol 9 321-329

SILVA A M (2000a) Dental anthropology of the Chalcolithic Portuguese population from Cova da Moura (Torres Vedras Portugal) Permanent lower teeth In VARELA T (coord) - Investigaciones en Biodiversidad Humana Santiago de Compostela Universidad de Santiago de Compostela p 367-374SILVA A M (2002) ndash Antropologia Funeraacuteria e Paleobiologia das Populaccedilotildees Portuguesas (Litorais) do Neoliacutetico Final Calcoliacutetico Coimbra Universidade Dissertaccedilatildeo de DoutoramentoSILVA AM (2003a) ndash A Neolithic skull lesion probably caused by an arrowhead Antropologia Portuguesa 19 p 139-144

SILVA A M (2003b) ndash Portuguese populations of Late Neolithic and Chalcolithic periods exhumed from collective burials An overview Anthropologie 41 1-2 p 55-64

SILVA A M (2003c) - Trepanation in the Portuguese Late Neolithic Chalcolithic and Early Bronze Age Periods In ARNOTT R FINGER S SMITH C (coords) ndash Trepanation History-Discovery-Theory Lisse Swets amp Zeitlinger Publishers p 117-130

SILVA A M (2005) ndash A necroacutepole da Serra da Roupa Caracterizaccedilatildeo demograacutefica morfoloacutegica e patoloacutegica de uma populaccedilatildeo portuguesa do Neoliacutetico finalCalcoliacutetico In ARIAS CABAL P ONTANtildeON PEREDO R GARCIacuteA-MONCOacute C (coords) - Actas del 3ordm Congreso del Neoliacutetico da la Peniacutensula Ibeacuterica (Santander 5 a 8 de Octubre 2003) Santander Universidad de Cantabria p 787-792

SILVA A M (2006) ndash Anta II do Rego da Murta Relatoacuterio antropoloacutegico dos restos odontoloacutegicos exumados em 2003 2004 e 2005 In FIGUEIREDO A - Complexo megaliacutetico de Rego da Murta (Rego da Murta Alvaiaacutezere) no contexto da Preacute-histoacuteria Recente do Alto Ribatejo (V-II mileacutenio aC) ndash Problemaacuteticas e Interrogaccedilotildees Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Faculdade de Letras da Universidade do Porto Ficheiro PDF Apecircndice IV

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 404 de 415

SILVA A M (2008) ndash Os ossos humanos In GONCcedilALVES V S ndash A utilizaccedilatildeo preacute-histoacuterica da gruta de Porto Covo (Cascais) Uma revisatildeo e algumas novidades Cascais Cacircmara Municipal p 148-157 (CTA Cascais Tempos Antigos)

SILVA A M CRUBEacuteZY E CUNHA E (2008) ndash Bone weight New reference values based on a Modern Portuguese Identified Skeletal Collection International Journal of Osteoarchaeology Published online in Wiley InterScience (wwwintersciencewileycom) Consulta Dez 2008

SILVA A M CUNHA E (2001) - Paleopathological study of the community exhumed from the Hipogeu of Monte Canelas I (Alcalar Portugal) In SAacuteNCHEZ SAacuteNCHEZ J (ed) - Actas do 5ordm Congreso Nacional de Paleopatologia Alcalaacute la Real Espanha p 353-356

SILVA A M CUNHA E (2004) ndash O Algar do Covatildeo do Poccedilo Nota antropoloacutegica sobre os ossos humanos recuperados In Actas das I Jornadas de Patrimoacutenio e Arqueologia do Litoral Centro Porto de Moacutes Maio-Junho de 2001 [Porto de Moacutes] OIKOS p 81-89

SILVA A M FERREIRA M T (2006) ndash Anta I do Rego da Murta Relatoacuterio antropoloacutegico final dos restos oacutesseos e dentaacuterios exumados In FIGUEIREDO A - Complexo megaliacutetico de Rego da Murta (Rego da Murta Alvaiaacutezere) no contexto da Preacute-histoacuteria Recente do Alto Ribatejo (V-II mileacutenio aC) ndash Problemaacuteticas e Interrogaccedilotildees Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Faculdade de Letras da Universidade do Porto Ficheiro PDF Apecircndice III

SILVA A M FERREIRA M T (2007) ndash Os ossos humanos ldquoesquecidosrdquo da Praia das Maccedilatildes Anaacutelise antropoloacutegica da amostra oacutessea do Museu Arqueoloacutegico de Satildeo Miguel de Odrinhas Cominbriga Coimbra 46 p 5-26

SILVA A M FERREIRA M T CODINHA S (2006) ndash Praia da Samarra anaacutelise antropoloacutegica dos restos oacutesseos humanos depositados no Museu Arqueoloacutegico de Satildeo Miguel de Odrinhas Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia 9 2 p 157-159

SILVA A M FERREIRA M T RODRIGUES Z (2006) ndash Anta II do Rego da Murta 1ordm Relatoacuterio do estudo laboratorial dos restos oacutesseos humanos exumados In FIGUEIREDO A - Complexo megaliacutetico de Rego da Murta (Rego da Murta Alvaiaacutezere) no contexto da Preacute-histoacuteria Recente do Alto Ribatejo (V-II mileacutenio aC) ndash Problemaacuteticas e Interrogaccedilotildees Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Faculdade de Letras da Universidade do Porto Ficheiro PDF Apecircndice V

SILVA A M UMBELINO C (1996) ndash Anaacutelise paleodemograacutefica dos indiviacuteduos recuperados de dois monumentos funeraacuterios neoliacuteticos portugueses Rubricatum 1 p 591-598 I Congregraves del Neolitic a la Peniacutesula Ibegraverica Gavagrave-Bellaterra 1995 Vol 2

SILVA A M S (1983) ndash Portugal Atlas do Ambiente Notiacutecia explicativa I13 Carta litoloacutegica Lisboa Comissatildeo Nacional do Ambiente

SILVA C M (2000) - Sobre o possiacutevel significado astronoacutemico do cromeleque dos Almendres A Cidade de Eacutevora Eacutevora Cacircmara Municipal Nova seacuterie 4 p 109-128

SILVA C M (2004) - The Spring Full Moon Journal for the History of Astronomy 35 p 475-478 Fundida com a revista Archaeoastronomy

SILVA C M CALADO M (2003) - New Astronomically Significant Directions of Megalithic Monuments in the Central Alentejo Journal of Iberian Archaeology Porto 5 p 67-88

SILVA C M CALADO M (2005) ndash Spring Moon Sites in Central Alentejo Crookscape Siacutetio da internet consultado em 1812009 httpwwwcrookscapeorgtextjulb2005text04html

SILVA C T (1990) - Influecircncias orientalizantes no calcoliacutetico do centro e sul de Portugal notas para um debate In Estudos orientais Presenccedilas orientalizantes em Portugal Da preacute-histoacuteria ao periacuteodo romano Lisboa Instituto Oriental vol 1 p 45-52

SILVA C T (1996) ndash Malacofauna e Arqueologia Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 5 p 89-95 SILVA C T (2008) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira e o estudo do Megalitismo da Serra de Monchique e

do Baixo Alentejo Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 301-315 CARDOSO J L (coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor

SILVA C T CABRITA M G (1966) - A utilizaccedilatildeo dos moluscos durante o Eneoliacutetico portuguecircs Revista de Guimaratildees Guimaratildees 76 3-4 p 307-338 Separata

SILVA C T SOARES J (1976-1977) - Contribuiccedilatildeo para o conhecimento dos povoados calcoliacuteticos do Baixo Alentejo e Algarve Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal 2-3 p 179-272

SILVA C T SOARES J (1981) ndash Preacute-Histoacuteria da aacuterea de Sines trabalhos de 1972-77 Lisboa Gabinete da aacuterea de Sines

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 405 de 415

SILVA C T SOARES J (1983) - Contribuiccedilatildeo para o estudo do megalitismo do Alentejo Litoral A sepultura do Marco Branco (Santiago do Caceacutem) O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 1 p 63-88

SILVA C T SOARES J (1986) - Arqueologia da Arraacutebida Setuacutebal (Colecccedilatildeo Parques Naturais nordm 5)

SILVA C T SOARES J (1997) ndash Chibanes revisitado Primeiros resultados da campanha de escavaccedilotildees de 1996 Estudos Orientais Lisboa Instituto Oriental da Universidade Nova de Lisboa 6 p 33-66 Volume de Homenagem ao Professor Antoacutenio Augusto Tavares

SILVA C T SOARES J CARDOSO J L (1995) - Os povoados fortificados do Monte da Tumba e de Leceia Elementos para um estudo comparado In KUNST M (coord) ndash Origens Estruturas e Relaccedilotildees das Culturas Calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril de 1987 Lisboa IPPAR p 159-168 (Trabalhos de Arqueologia 7)

SILVA C T SOARES J CARDOSO JL CRUZ S REIS C (1986) - Neoliacutetico da Comporta Aspectos Cronoloacutegicos (Datas 14C) e Paleoambientais Arqueologia Porto 14 p 59-82

SILVA F C (2005) ndash Sinais de fogo Anaacutelise antropoloacutegica de restos oacutesseos cremados do Neoliacutetico finalCalcoliacutetico do tholos OP2b (Olival da Pega Reguengos de Monsaraz) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Evoluccedilatildeo Humana na aacuterea cientiacutefica de Antropologia Fiacutesica Coimbra Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade de Coimbra Policopiado

SILVA J P (1878) ndash Archaeologia prehistorica (Palafitas de Italia Suissa Aacuteustria e Franccedila) Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 2 5

SILVA J P (1878) ndash Novos monumentos megalithicos em Portugal Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 2 6

SILVA J P (1881) ndash Archaeologia pre-historica Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 3 7

SILVA J P (1881) ndash Archaeologia pre-historica (Introducccedilatildeo) Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 3 4

SILVA J P (1881) ndash Archaeologia prehistorica As cavernas Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 3 7

SILVA J P (1881) ndash Dolmens descobertos em Portugal Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 3 8

SILVA J P (1882) ndash Archaeologia pre-historica (Continuaccedilatildeo) Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 3 5

SILVA J P (1885) ndash Archaeologia prehistorica Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 4 9

SILVA J P (1885) ndash Archaeologia prehistorica Boletim de Architectura e Archeologia Lisboa Typographia Lallemant-Fregraveres 2ordf seacuterie 4 12

SILVA M M SANTOS P J da Mota (1988-1989) - As ceracircmicas tipo Penha do Museu da Sociedade Martins Sarmento - Guimaratildees estudo tipoloacutegico Portugaacutelia Porto nova seacuterie 9-10 p 63-71

SIMOtildeES A F (1878) ndash Introducccedilatildeo aacute Archaeologia da Peniacutensula Ibeacuterica Parte Primeira Antiguidades Prehistoricas Lisboa Livraria Ferreira

SIMOtildeES T (1993) ndash A Preacute-histoacuteria de Sintra In Histoacuteria de Portugal Portugal na Preacute-histoacuteria Amadora Ediclube vol 1 p 224-230

SMITH M (1997) - Osteological indications of warfare in the Archaic period of the western Tennessee Valley In MARTIN D L FRAGER D W (eds) - Trouble Times Violence and Warfare in the Past Amsterdam Gordon and Breach Publishing p 241-266

SMITH M BRIKLEY M (2006) ndash The Date and Sequence of use of Neolithic Funerary Monuments New AMS Dating Evidence from the Cotswold-Severn Region Oxford Journal of Archaeology Oxford Blackwell Publishing Ltd 25 4 p 335-355

SOARES A M (1995) ndash Dataccedilatildeo Absoluta da Necroacutepole ldquoNeoliacuteticardquo da Gruta do Escoural In ARAUacuteJO A C LEJEUNE M ndash Gruta do Escoural Necroacutepole Neoliacutetica e Arte Rupestre Paleoliacutetica Lisboa IPPAR p 111-119 (Trabalhos de Arqueologia 8)

SOARES A M (1996a) ndash A dataccedilatildeo pelo radicarbono Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 5 p 109-116 SOARES A M (1996b) ndash Meacutetodos de dataccedilatildeo Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 5 p 116-121 SOARES A M (1999) ndash Megalitismo e Cronologia Absoluta In II Congreso de Arqueologia

Peninsular Zamora Vol 3 p 689-706

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 406 de 415

SOARES A M (2007) ndash 25 anos de mudanccedila na Arqueologia portuguesa O contributo do Radiocarbono Al-Madan Almada 2ordf seacuterie 15 p 110-112

SOARES A M (2008) ndash O da Veiga Ferreira e as primeiras dataccedilotildees de radiocarbono para a Arqueologia portuguesa In CARDOSO J L (coord) ndash Octaacutevio da Veiga Ferreira Homenagem ao homem ao arqueoacutelogo e ao professor Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 16 p 377-382

SOARES A M CABRAL J M P (1984) ndash Datas convencionais de radiocarbono para estaccedilotildees arqueoloacutegicas portuguesas e a sua calibraccedilatildeo revisatildeo criacutetica O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 4ordf seacuterie 2 p 167-214

SOARES A M CABRAL J M P (1987) ndash O povoado calcoliacutetico do Monte da Tumba VI Cronologia absoluta Setuacutebal Arqueoloacutegica 8 p 155-165

SOARES A M CABRAL J M P (1993) ndash Cronologia Absoluta para o Calcoliacutetico da Estremadura e do Sul de Portugal In 1ordm Congresso de Arqueologia Peninsular Actas II Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto SPAE 33 3-4 p 217-235

SOARES A M CARDOSO JL (1995) ndash Cronologia absoluta para as ocupaccedilotildees do Neoliacutetico final e do Calcoliacutetico inicial do povoado preacute-histoacuterico de Leceia (Oeiras) Estudos Arqueoloacutegicos de Oeiras Oeiras Cacircmara Municipal 5 p 263-276

SOARES A M SOARES J SILVA C T (2007) ndash A dataccedilatildeo pelo radiocarbono das fases de ocupaccedilatildeo do Porto das Carretas Algumas reflexotildees sobre a cronologia do Campaniforme Revista Portuguesa de Arqueologia Lisboa IGESPAR 10 2 p 127-134

SOARES J (2000) ndash A Ponta da Passadeira e a diversidade do registo arqueoloacutegico dos IVIII mileacutenios AC In 1ordfs Jornadas Arqueoloacutegicas e do Patrimoacutenio da Corda Ribeirinha Sul Actas Barreiro Cacircmara Municipal p 88-109

SOARES J (2001) ndash O povoado preacute-histoacuterico da Ponta da Passadeira economia ribeirinha dos IVIII mileacutenios AC In Arqueologia e Histoacuteria Regional da Peniacutensula de Setuacutebal Lisboa Centro de Estudos Histoacutericos Interdisciplinares da Universidade Aberta p 101-127

SOARES J (2003) ndash Os hipogeus preacute-histoacutericos da Quinta do Anjo (Palmela) e as economias do simboacutelico Setuacutebal MAEDS

SOARES J SILVA C T (1975) ndash A ocupaccedilatildeo preacute-histoacuterica do Pedratildeo e o Calcoliacutetico da regiatildeo de Setuacutebal Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 1 p 53-154

SOARES J SILVA C T (1976-1977) - O monumento megaliacutetico da Palhota (Santiago do Caceacutem) Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 2-3 p 109-150 il

SOARES J SILVA C T (1992) ndash Para o conhecimento dos povoados do megalitismo de Reguengos Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal 9-10 p 37-88

SOARES J SILVA C T (2000) ndash Protomegalitismo no Sul de Portugal inauguraccedilatildeo das paisagens megaliacuteticas In GONCcedilALVES V (coord) ndash Muitas antas pouca gente Actas do I Coloacutequio Internacional sobre Megalitismo (Reguengos de Monsaraz Outubro de 1996) Lisboa IPA p 117-134 (Trabalhos de Arqueologia 16)

SOARES J SILVA C T e BARROS L (1979) - Identificaccedilatildeo de uma jazida neoliacutetica em Fonte de Sesimbra (Santana) Setuacutebal Arqueoloacutegica 5 p47-65

SOUSA A C (1998) ndash O Neoliacutetico final e o Calcoliacutetico na aacuterea da Ribeira de Cheleiros Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 11)

SOUSA A C (1999) ndash O povoado preacute-histoacuterico do Penedo do Lexim (Igreja Nova Mafra) Resultados preliminares da Campanha 1 (98) Boletim Cultural 1998 Mafra Cacircmara Municipal 1998 p 451-501

SOUSA A C (2000) ndash Penedo do Lexim Campanha 1999 Mafra Cacircmara Municipal (Cadernos de Arqueologia de Mafra)

SOUSA A C (2003) ndash O Neoliacutetico final do Penedo do Lexim (Mafra) In GONCcedilALVES V S (ed) ndash Muita gente poucas antas Lisboa Instituto Portuguecircs de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 25)

SOUSA A C (2004a) ndash Dinacircmicas de povoamento nas comunidades do 4ordm e 3ordm mileacutenio aC na aacuterea da Ribeira de Cheleiros (Mafra) In Vivecircncia Comunitaacuteria Histoacuteria e problemaacuteticas actuais O desafio educacional Actas do V Curso de Veratildeo da Ericeira Ericeira Mar de Letras p 29-47

SOUSA A C (2004b) ndash Natureza e transformaccedilatildeo O Penedo do Lexim e outros casos do Calcoliacutetico estremenho In JORGE S O ndash Recintos Murados na Preacute-Histoacuteria Peninsular Porto Faculdade de Letras do Porto p 178-197

SPINDLER K (1969) ndash Die Kupferzeitliche siedlung von Penedo Portugal Madrider Mitteilungen Heidelberg Deutsches Archaumlologisches Institut Abteilung Madrid 10 p 45-116

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 407 de 415

SPINDLER K (1972) ndash Die tholos von Pai Mogo Portugal Madrider Mitteilungen Heidelberg Deutsches Archaumlologisches Institut abteilung Madrid 13 p 38-82

SPINDLER K (1981) ndash Cova da Moura Die Besuedlung decircs Atlantischen Kuumlstengebietes Mittelportugals vom Neolithikum bis and decircs Ende der Bronzezeit Mainz am Rheim Verlag Philipp von Zabern (Madrider Beitraumlge 7)

SPINDLER K GALLAY G (1973) ndash Kupferzeitliche siedlung und begraumlbnisstaumltten von Matacatildees in Portugal Mainz (Madrider Beitraumlge 1)

SPINDLER K TRINDADE L (1970) - A poacutevoa Eneoliacutetica do Penedo - Torres Vedras In Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas Lisboa 1969 Lisboa AAP p 57-157

STOCKLER C (1998) - Em torno da cronologia do Megalitismo da Serra da Aboboreira Novas datas de Carbono 14 da Mamoa de Cabras (Amarante) Estudos Preacute-Histoacutericos Viseu 6 p 167-173 Actas do Coloacutequio laquoA Preacute-Histoacuteria na Beira Interiorraquo (Tondela Nov 1997)

STRAUS LG (1989) - New chronometric dates for the prehistory of Portugal Arqueologia Porto 20 p 73-6

STRAUS LG ALTUNA J FORD D MARAMBAT L RHINE JS SCHAWRCZ J-H VERNET J-L (1992) ndash Early farming in the Algarve (Southern Portugal) A Preliminary view from two cave excavations near Faro Trabalhos de Antropologia e Etnologia 32 p 141-161

STRAUS L G ALTUNA J JACKES M KUNST M (1988) - New excavations in Casa da Moura (Serra drsquoel Rei Peniche) and at the Abrigos de Bocas (Rio Maior) Portugal Arqueologia Porto 18 p 65-95

STEELMAN K L CARRERA RAMIacuteREZ F FAacuteBREGAS VALCARCE R GUILDERSON T ROWE M W (2005) ndash Direct Radiocarbon Dating of Megalithic Paints from North-West Iberia Antiquity 79 p 379-389

STUART-MACADAM P (1992) - Porotic hyperostosis a new perspective American Journal of Physical Anthropology 87 p 39-47

STUIVER M KRA R (eds) (1986) - Proceedings of the Twelfth International Radiocarbon Conference - Trondheim Norway 24-28 June 1985 Calibration Issue Radiocarbon 28 2B p 805-1030

STUIVER M REIMER PJ REIMER RW (2005) ndash Calib 50 wwwcalib qubacuk TERESO J NEVES C GASPAR R ALDEIAS V DUARTE C GONCcedilALVES D NETO F

PINHEIRO V (2006) ndash A necroacutepole da gruta do Rio Seco (Alcobaccedila) Dados da primeira intervenccedilatildeo In Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular Simbolismo Arte e Espaccedilos Sagrados na Preacute-histoacuteria da Peniacutensula Ibeacuterica Faro Universidade de Faro p 89-109 (Promontoria Monograacutefica 5)

THORPE R S WILLIAMS-THORPE O (1991) ndash The Myth of Long-Distance Megalith Transport Antiquity Cambridge 65 246 p 64-73

TOMEacute T (2006) ndash Reflexos da Vida na Morte Paleobiologia das populaccedilotildees do neoliacutetico final Calcoliacutetico do Vale do Nabatildeo ndash Gruta dos Ossos Mestrado em Arqueologia Preacute-histoacuterica e Arte rupestre Master Erasmus Mundus in Quaternary and Prehistory Tomar Instituto Politeacutecnico de Tomar Versatildeo PDF

TRINDADE L FERREIRA O V (1956) - A Necroacutepole do Cabeccedilo da Arruda (Torres Vedras) Anais da Faculdade de Ciecircncias do Porto 38 (4) Separata

UBELAKER D (1974) - Reconstruction of demographic profiles from ossuary skeletal samples a case from Tidewater Potomac Smithsonian Contributions to Anthropology 18

UBELAKER D (1989) - Human Skeletal Remains Excavation Analysis Interpretation Washington Taraxacum Press 2ordf ediccedilatildeo

UBELAKER D (1990) ndash J Lawrence Angel and the Development of Forensic Anthropology in the United States In BUIKSTRA J E (coord) - A Life in Science Papers in Honor of J Lawrence Angel Center for American Archeology p 191-200 (Scientific Papers 6)

UERPMANN H-P (1995) ndash Observaccedilotildees sobre a ecologia e economia do Castro do Zambujal In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 47-53 (Trabalhos de Arqueologia 7)

UERPMANN M (1995) ndash A induacutestria da pedra lascada do Zambujal ndash Alguns resultados In KUNST M (Coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das Culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Actas das I Jornadas Arqueoloacutegicas de Torres Vedras 3-5 Abril 1987 Lisboa IPPAR p 37-59 (Trabalhos de Arqueologia 7)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 408 de 415

UMBELINO C (1999) ndash Novos elementos sobre a amostra Neoliacutetica da Gruta dos Alqueves (Coimbra) inferecircncias sobre a dieta eleita Estudos Preacute-Histoacutericos 7 p 15-25

UMBELINO C (2006) ndash Outros sabores do Passado As anaacutelises de oligoelementos e de isoacutetopos estaacuteveis na reconstituiccedilatildeo da dieta das comunidades humanas do Mesoliacutetico Final e do Neoliacutetico Final Calcoliacutetico do territoacuterio portuguecircs Coimbra Universidade de Coimbra Departamento de Antropologia Dissertaccedilatildeo de Doutoramento Policopiado

USCATESCU A (1992) ndash Los botones de perforacion en ldquoVrdquo en la Peniacutensula Ibeacuterica y las Baleares durante la Edad de los Metales Foro Madrid

VALENTE A (2006) ndash Ceracircmicas com bordos denteados no povoado de Vale de Lobos (Sintra) Tese de Mestrado em Preacute-Histoacuteria e Arqueologia Lisboa Faculade de Letras da Universiade de Lisboa Policopiado

VALERA A (1997) ndash O Castro de Santiago (Fornos de Algodres Guarda) Aspectos da calcolitizaccedilatildeo da Bacia do Alto Mondego Lisboa Cacircmara Municipal de Fornos de Algodres (Textos Monograacuteficos 1)

VALERA A (2000a) ndash Moinho de Valadares 1 e a transiccedilatildeo Neoliacutetico Final Calcoliacutetico na margem esquerda do Guadiana uma anaacutelise preliminar Era Arqueologia Lisboa Colibri 1 p 24-37

VALERA A (2000b) ndash O Monte do Tosco Uma anaacutelise preliminar no contexto do povoamento calcoliacutetico e do iniacutecio da Idade do Bronze na margem esquerda do Guadiana Era Arqueologia Lisboa Colibri 2 p 32-51

VALERA A (2001) ndash A ocupaccedilatildeo preacute-histoacuterica do siacutetio do Mercador (Mouratildeo) a campanha de 2000 Era Arqueologia Lisboa Colibri 3 p 42-57

VALERA A (2006) ndash A margem esquerda do Guadiana (regiatildeo de Mouratildeo) dos finais do 4ordm aos iniacutecios do 2ordm mileacutenio AC Era Arqueologia Lisboa Colibri 7 p 136-210

VALERA A (2007) ndash Investigaccedilatildeo no Complexo Arqueoloacutegico dos Perdigotildees ponto da situaccedilatildeo de dados e problemas In Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular A concepccedilatildeo das paisagens e dos espaccedilos na Arqueologia da Peniacutensula Ibeacuterica Faro 14 a 19 setembro de 2004 Faro Universidade do Algarve p 53-66 (Promontoria Monograacutefica 8)

VALERA A (2008) ndash Recinto Calcoliacutetico dos Perdigotildees Fossos e fossas do Sector I Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 3 p 19-27 Revista online

VALERA A COELHO M FERREIRA A (2008) ndash Novos dados sobre a ocupaccedilatildeo neoliacutetica do Bairro Alto (Lisboa) Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 2 p 7-12

VALERA A LAGO M DUARTE C EVANGELISTA L (2000) ndash Ambientes funeraacuterios no complexo arqueoloacutegico dos Perdigotildees uma anaacutelise preliminar no contexto das praacuteticas funeraacuterias calcoliacuteticas no Alentejo Era Arqueologia Lisboa Colibri 2 p 84-105

VALERA A SOARES A M COELHO M (2008) ndash Primeiras datas de radiocarbono para a necroacutepole de hipogeus da [Sobreira] de Cima (Vidigueira Beja) Apontamentos de Arqueologia e Patrimoacutenio Lisboa NIA 2 p 27-30 Revista em linha httpwwwnia-eraorgcomponentoptioncom_docmantaskcat_viewgid32Itemid55

VARGAS JIMENEZ J M [2004a] ndash Carta Arqueoloacutegica Municipal Valencina de La Concepcioacuten Sevilla Junta de Andaluciacutea (Arqueologia Monografias)

VARGAS JIMENEZ J M [2004b] ndash El yacimiento prehistoacuterico de Valencina de La Concepcioacuten (Sevilla) Sevilla Ayuntamiento de Valencina de La Concepcioacuten

VASCONCELOS J L (1895) ndash Collecccedilatildeo Ethnographica do Sr M dAzuaga O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa Museu Nacional de Arqueologia 1ordf seacuterie 1 p 20-28

VASCONCELOS J L (1897) ndash As religiotildees da Lusitacircnia na parte que principalmente se refere a Portugal Lisboa Imprensa Nacional Reediccedilatildeo Fac-similada Apresentaccedilatildeo por J M GARCIA

VASCONCELOS J L (1898) - Relatoacuterio da exploraccedilatildeo da anta do laquoCasal das Antas de Baixoraquo (Arruda) [Manuscrito] Arquivo de J L de Vasconcelos Caixa 6 (A-B) Apontamentos por proveniecircncia Acessiacutevel na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa Portugal

VASCONCELOS J L (1915) ndash Histoacuteria do Museu Etnoloacutegico Portuguecircs (1893-1914) Lisboa Imprensa Nacional

VASCONCELOS J L (1917) ndash Coisas velhas 26 Antas em Alenquer O Arqueoacutelogo Portuguecircs Lisboa 22 p 121

VAULTIER M ZBYSZEWSKI G (1951) - Le dolmen de Casal do Penedo (Verdelha dos Ruivos) Trabalhos de Antropologia e Etnologia Porto Instituto de Antropologia 13 p 17-33

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 409 de 415

VAULTIER M ROCHE J FERREIRA O V (1959) ndash Novas escavaccedilotildees na gruta da Ponte da Lage (Oeiras) In Congresso Nacional de Arqueologia 1ordm Lisboa 1958 ndash Actas e Memoacuterias Lisboa vol 1 p 111-115 il

VAZ M M (2001) ndash O concelho de Odivelas Amadora Comissatildeo instaladora do Municiacutepio de Odivelas

VEGAS ARAMBURU J I ARMENDARIZ A ETXEBERRIA F FERNAacuteNDEZ M S HERRASTI L ZUMALABE F (1999) - La sepultura colectiva de San Juan ante Portam Latinam (Languardia Alava) In BERNABEU AUBAacuteN J OROZCO KOumlHLER T (coords) - II Congreacutes del Neoliacutetic a la Peniacutensula Ibegraverica Universitat de Valegravencia 7-9 dAbril 1999 Saguntum-PLAV Valecircncia Universitat de Valegravencia Extra-2 p 439-445

VEGAS ARAMBURU J I (dir) (2007) - San Juan Ante Portam Latinam Una inhumacioacuten colectiva prehistoacuterica en el valle medio del Ebro Memoria de las excavacioacutenes arqueoloacutegicas 1985 1990 y 1991

VEIGA S P M E (1879) ndash Antiguidades de Mafra ou a Relaccedilatildeo Archeologica dos Caracteristicos relativos aos povos que senhorearam aquelle territorio antes da instituiccedilatildeo da monarchia portugueza Lisboa Typographia da Academia

VEIGA S P M E (1886-1891) ndash Antiguidades monumentaes do Algarve Lisboa Imprensa Nacional 4 vols

VIERRA B J (1992) ndash Subsistence Diversification and the Evolution of Microlithic Technologies A Study of the Portuguese Mesolithic PhD Dissertation New Meacutexico Department of Anthropology University of New Meacutexico

VILLA P (1992) - Cannibalism in prehistoric Europe Evolutionary Anthropology Issues News and Reviews 1 3 p 93-104

VILLA P BOUVILLE C COURTIN J HELMER D MAHIEU E SHIPMAN P BELLUOMINI G BRANCA M (1986) - Cannibalism in the Neolithic Science 233 4762 p 431-437

VILACcedilA R (1990) - Sondagem arqueoloacutegica em Covatildeo dAlmeida - Eira Pedrinha - Condeixa-a-Nova Antropologia Portuguesa Coimbra 8 p 101-132

VILACcedilA R CRUZ D (1990) - A casa da Orca da Cunha Baixa (Mangualde) Mangualde Cacircmara Municipal p 33-35

WALDRON T (1987) - The relative survival of the human skeleton implications for paleopathology In BODDINGTON A GARLAND A N JANAWAY R C (coords) - Death decay and reconstruction Approaches to archaeology and forensic science Manchester Manchester University Press p 55-64

WARNER RB (1990) - A proposed adjustment for the ldquooldwoodrdquo effect In MOOK WG WATERBOLK HT (coords) - Proceedings of the Second International Symposium 14C and Archaeology PACT Journal of the European Study Group on Physical Chemical and Mathematical Techniques Applied to Archaeology 29 p 159ndash172

WALKER P (2001) ndash A Bioarchaeological Perspective on the History of Violence Annual Review of Anthropology 30 p 573-596

WHITE T D (1992) - Prehistoric Cannibalism at Mancos 5MTUMR-2346 Princeton Princeton University Press

WHITE T D FOLKENS P (2005) ndash The Human Bone Manual Amsterdam Elsevier WHITEHOUSE R (1983) - Macmillan Dictionary of Archaeology London Macmillan Press WHITTLE A BARCLAY A BAYLISS A MCFADYEN L SCHULTING R WYSOCKI M

(2007) ndash Building for the Dead Events Processes and Changing Worldviews from the Thrity-eight to the Thirthy-fourth Centuries cal BC in Southern Britain Cambridge Archaeological Journal 17 1 Supplement p 123-147

WHITTLE A BAYLISS A (2007) ndash The Times of their Lifes from Chronological Precision to Kinds of History and Change Cambridge Archaeological Journal UK McDonald Institute for Archaeological Research 17 1 Supplement p 29-44

WHITTLE E H ARNAUD J M (1975) ndash Thermoluminescent Dating of Neolithic and Chalcolithic Pottery from Sites in Central Portugal Archaeometry 17 (1) p 5-24

WILLIAMS H (Ed) (2003) ndash Archaeologies of Remembrance Death and Memory in Past Societies 324 p

WOOD J W (1998) - A theory of preindustrial population dynamics Demography economy and wellbeing in Malthusian systems Current Anthropology 39 p 99-135

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 410 de 415

WOOD J W MILNER G R HARPENDING HC WEISS KM (1992) - The osteological paradox Problems of inferring prehistoric health from skeletal samples Current Anthropology 33 p 343-370

WRIGHT L YODER C (2003) ndash Recent progress in Bioarchaeology Approaches to the Osteological Paradox Journal of Archaeological Research 11 1 43-68

ZBYSZWESKI G (1950) ndash Une curieuse plaque de schiste orneacutee de Quinta de Farinheira (Chelas Lisbonne) Bulletin de la Societeacute Preacutehistorique Franccedilaise Paris 9 p 397

ZBYSZWESKI G (1963) - A importacircncia das grutas em Preacute-histoacuteria Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa Lisboa 71 1-6 p 31-50

ZBYSZWESKI G (1964) ndash Carta geoloacutegica dos arredores de Lisboa na escala de 150000 Notiacutecia explicativa da folha 2 [34-B] Loures Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal

ZBYSZWESKI G ASSUNCcedilAtildeO C T (1965) ndash Carta geoloacutegica dos arredores de Lisboa na escala de 150000 Notiacutecia explicativa da folha 30-D Alenquer Lisboa Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal

ZBYSZEWSKI G FERREIRA O da Veiga LEITAtildeO M NORTH C T NORTON J (1976) ndash Deacutecouverte drsquoun silo preacutehistorique pregraves de Verdelha dos Ruivos (Vialonga) Portugal Madrider Mitteilungen Heidelberg 17 p 76

ZBYSZEWSKI G FERREIRA O da V LEITAtildeO M NORTH C T amp NORTON J (1977) ndash Le monument de ldquoPedras da Granjardquo ou de ldquoPedras Altasrdquo dans la ldquoVaacuterzea de Sintrardquo Ciecircncias da Terra Lisboa Universidade Nova de Lisboa 3 p 197-239 il

ZBYSZEWSKI G LEITAtildeO M PENALVA C FERREIRA O V (1980-1981) ndash Paleo-Anthropologie du Wuumlrm au Portugal Setuacutebal Arqueoloacutegica Setuacutebal MAEDS 6-7 p 7-23

ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V (1958) - Estaccedilatildeo preacute-histoacuterica da Penha Verde (Sintra) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa 39 p 37-57 il

ZBYSZEWSKI G FERREIRA O V LEITAtildeO M NORTH C T NORTON J (1981) ndash As joacuteias auriacuteferas da gruta preacute-histoacuterica da Verdelha dos Ruivos (Vialonga-Portugal) Zephyrus Salamanca 32-33 p 113-119

ZBYSZEWSKI G ROCHE J FRANCcedilA J C FERREIRA O V (1962) - Note preacuteliminaire sur les niveaux du Paleacuteolithique supeacuterieur de la grotte de Salemas (Ponte de Lousa) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos de Portugal Lisboa SGP 45 p 197-206 il

ZBYSZEWSKI G VIANA A FERREIRA O V (1957) ndash A gruta preacute-histoacuterica da Ponte da Lage (Oeiras) Comunicaccedilotildees dos Serviccedilos Geoloacutegicos Lisboa 38 (2) p 389-402 il

ZILHAtildeO J (1984) ndash A Gruta da Feteira (Lourinhatilde) Escavaccedilatildeo de salvamento de uma necroacutepole neoliacutetica Lisboa IPPC (Trabalhos de Arqueologia 1)

ZILHAtildeO J (1987) ndash Bolores Informaccedilatildeo Arqueoloacutegica 1986 Lisboa IPPC 8 p 54-55 ZILHAtildeO J (1992) ndash Gruta do Caldeiratildeo ndash o Neoliacutetico Antigo Lisboa IPPAAR (Trabalhos de

Arqueologia 6) ZILHAtildeO J (1993) - The Spread of Agro-Pastoral economies across Mediterranean Europe A view

from the Far West Journal of Mediterranean Archaeology 6 1 p 5-63 ZILHAtildeO J (1995) ndash Primeiras dataccedilotildees absolutas para os niacuteveis neoliacuteticos das grutas do Caldeiratildeo e

da Feteira Suas implicaccedilotildees para a cronologia da Preacute-histoacuteria do Sul de Portugal In KUNST M (coord) ndash Origens estruturas e relaccedilotildees das culturas calcoliacuteticas da Peniacutensula Ibeacuterica Lisboa IPPAR p 113-122 (Trabalhos de Arqueologia 7)

ZILHAtildeO J (1997) ndash O Paleoliacutetico superior da Estremadura portuguesa Lisboa Colibri Vol 2 ZILHAtildeO J (2001) ndash Radiocarbon evidence for maritime pioneer colonization at the origins of

farming in the West Mediterranean Europe PNAS 98 p 14180-14185 wwwpnasorg ZILHAtildeO J CARVALHO A F (1996) - O Neoliacutetico do Maciccedilo Calcaacuterio Estremenho Crono-

estratigrafia e povoamento In I Congreacutes del Neoliacutetic a la Peniacutensula Ibegraverica Gavagrave Bellaterra p 659-671

Referecircncias cartograacuteficas IGC ndash INSTITUTO GEOGRAacuteFICO E CADASTRAL (1951) ndash Carta Topograacutefica de Portugal folha

34-B 4-1 1 10000 Lisboa IGE ndash INSTITUTO GEOGRAacuteFICO DO EXEacuteRCITO (1993) - Carta Militar de Portugal folha 417 -

Loures 1 25000 4ordf ediccedilatildeo Reimpressatildeo em 1995

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 411 de 415

SEA ndash SECRETARIA DE ESTADO DO AMBIENTE (1974) ndash Atlas do Ambiente Carta de Regiotildees Naturais 1 1000000

SCE ndash SERVICcedilO CARTOGRAacuteFICO DO EXEacuteRCITO (1965) ndash Carta Militar de Portugal folha 417 1 25000

SCE ndash SERVICcedilO CARTOGRAacuteFICO DO EXEacuteRCITO (1992a) ndash Carta Militar de Portugal folha 390 1 25000 4ordf ediccedilatildeo

SCE ndash SERVICcedilO CARTOGRAacuteFICO DO EXEacuteRCITO (1992b) ndash Carta Militar de Portugal folha 416 1 25000 3ordf ediccedilatildeo

SCE ndash SERVICcedilO CARTOGRAacuteFICO DO EXEacuteRCITO (1993) ndash Carta Militar de Portugal folha 403 1 25000

SGP - SERVICcedilOS GEOLOacuteGICOS DE PORTUGAL (1981) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal Folha 34-B Loures 1 50000

SGP - SERVICcedilOS GEOLOacuteGICOS DE PORTUGAL (1991) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal Folha 34-A Sintra 1 50000

SGP - SERVICcedilOS GEOLOacuteGICOS DE PORTUGAL (1962) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal Folha 30-D Alenquer 1 50000

SGP - SERVICcedilOS GEOLOacuteGICOS DE PORTUGAL (1992) ndash Carta Geoloacutegica de Portugal Folha 2 1 500000 5ordf ediccedilatildeo

Recursos arquiviacutesticos consultados e utilizados AGMARQUES - Arquivo Gustavo Marques Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa AJLVASCONCELOS ndash Arquivo Joseacute Leite de Vasconcelos Biblioteca do Museu Nacional de

Arqueologia Lisboa ALEISNER - Arquivo Leisner Instituto de Gestatildeo do Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico IP

Lisboa AMHELENO - Arquivo Manuel Heleno Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia Lisboa AVFERREIRA ndash Arquivo Veiga Ferreira Posse particular de J L Cardoso DGEMN - Direcccedilatildeo-Geral dos Edifiacutecios e Monumentos Nacionais (sd) ndash Inventaacuterio do Patrimoacutenio

Arquitectoacutenico httpwwwmonumentospt (consultas efectuadas nos anos 2005-2007) ENDOVELICO (sd) ndash Base de dados de siacutetios arqueoloacutegicos (ex-IPA) Instituto de Gestatildeo do

Patrimoacutenio Arquitectoacutenico e Arqueoloacutegico (IGESPAR IP) httpwwwipa-culturapt (consultas efectuadas nos anos 2003-2009)

Iacutendice de Anexos (Volume 2) Anexo 1 Cartografia Anexo 2 Figuras Anexo 3 Dataccedilotildees pelo radiocarbono de contextos funeraacuterios do Megalitismo peninsular Anexo 4 Figuras gerais Anexo 5 Quadros gerais Anexo 6 Relatoacuterios de Antropologia fiacutesica Anexo 7 Relatoacuterio de faunas Anexo 8 Apontamentos de J L Vasconcelos acerca da anta da Arruda Iacutendice de Figuras Volume 1 Fig 1 Fisiografia da Estremadura e delimitaccedilatildeo da aacuterea em estudo Fig 1a Estremadura no actual territoacuterio portuguecircs e na Peniacutensula Ibeacuterica (Anexo 1) Fig 2 Sepulcros da Estremadura e indicaccedilatildeo de siacutetios habitacionais sobretudo da regiatildeo de Lisboa Fig 3 Largura e comprimento dos produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa Fig 4 Espessura e largura dos produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa Fig 5 Produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa por categoria (N=267) Fig 6 Efectivos de geomeacutetricos por anta da regiatildeo de Lisboa (N=39) Fig 7 Largura e espessura dos geomeacutetricos das antas da regiatildeo de Lisboa (N=39)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 412 de 415

Fig 8 Largura e espessura dos geomeacutetricos das antas de Lisboa Beira Interior e Alentejo (N= 53)

Fig 9 Utensiacutelios de pedra polida por anta da regiatildeo de Lisboa (N= 53) Fig 10 Iacutendices de espessura e alongamento dos utensiacutelios de pedra polida das antas da regiatildeo

de Lisboa (N=40) Fig 11 NMI por anta (Centro-Sul de Portugal) Fig 12 NMI por gruta-necroacutepole (Centro-Sul de Portugal) Fig 13 NMI por gruta artificial (Centro-Sul de Portugal) Fig 14 NMI por tholos (Centro-Sul de Portugal) Fig 15 Meacutedia do NMI por tipo de sepulcro (Centro-Sul de Portugal) Fig 16 Valores de δ13C e δ15N e quatro extremos (teoacutericos) possiacuteveis de uma dieta humana

segundo M Richards e R Hedges (1999) Fig 17 Paleodietas de 47 indiviacuteduos sepultados em antas da regiatildeo de Lisboa Fig 18 Paleodietas do MesoliacuteticoNeoliacutetico do Centro-Sul de Portugal Fig 19 Dataccedilotildees por 14C e tipos de sepulcro das partes central e ocidental da Peniacutensula Ibeacuterica Fig 20 Tipo de amostra de contextos funeraacuterios por regiotildees e datada por 14C das partes central e

ocidental da Peniacutensula Ibeacuterica Fig 21 Dataccedilotildees 14C e presenccedila por tipo de espoacutelio das antas da regiatildeo de Lisboa Volume 2 Anexo 1 Fig 22 Geologia da Estremadura Fig 23 Principais unidades geoloacutegicas do actual territoacuterio portuguecircs Fig 24 Provaacutevel contorno da costa atlacircntica do actual territoacuterio portuguecircs por volta de 4000 ane Fig 25 Aacuterea das antas de Belas Fig 26 Aacuterea das antas dos Campos de Trigache Fig 27 Aacuterea das antas de Loures Fig 28 Aacuterea das antas de Verdelha dos Ruivo Fig 29 Aacuterea da anta da Arruda Fig 30 Aacuterea da anta de Pedras da Granja Fig 31-33 Anta de Pedra dos Mouros Fig 34-43 Anta de Monte Abraatildeo Fig 44-49 Anta de Estria Fig 50-52 Anta do Carrascal Fig 53 Pego Longo Fig 54 Antas de Trigache 1 e 2 Fig 55 Antas de Trigache 3 e 4 Fig 56 Anta de Trigache 1 e necroacutepole de Trigache Fig 57-59 Anta de Trigache 2 Fig 60-62 Anta de Trigache 3 Fig 63 Antas de Trigache 3 e 4 Fig 64 Anta de Trigache 4 Fig 65-68 Anta de Conchadas Fig 69-73 Anta de Pedras Grandes Fig 74 Anta de Alto da Toupeira 1 Fig 75 Anta de Alto da Toupeira 1 e 2 Fig 76-87 Anta de Casaiacutenhos Fig 88a-105 Anta de Carcavelos Fig 106-108 Anta de Casal do Penedo Fig 109-110 Anta de Monte Serves Fig 111-114 Anta de Arruda Fig 115-124 Anta de Pedras da Granja Fig 125 Satildeo Pedro e Quinta da Piedade (Bela Vista) Anexo 4 Fig 126 Tipologia das antas da regiatildeo de Lisboa Sepulcros orientados face ao Norte lato senso Fig 127 Espessura e largura de produtos alongados das antas de Lisboa (1) Fig 128 Espessura e largura de produtos alongados das antas de Lisboa (2) Fig 129 Espessura e largura de produtos alongados das antas de Lisboa (3)

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 413 de 415

Fig 130 Espessura e largura de produtos alongados das antas de Lisboa (4) Fig 131 Largura e comprimento de produtos alongados por anta de Lisboa Fig 132 Largura e comprimento de utensiacutelios de pedra polida (N=40) das antas de Lisboa Fig 133 Espessura e peso de utensiacutelios de pedra polida (N=37) das antas de Lisboa Iacutendice de Quadros Volume 1 Quadro 1 Dimensotildees dos esteios da anta do Carrascal Quadro 2 Dimensotildees dos esteios da anta de Pedras Grandes Quadro 3 Implantaccedilatildeo das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 4 Tipologia e dimensotildees das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 5 Orientaccedilatildeo dos acessos das antas tholoi e grutas artificiais da regiatildeo de Lisboa Quadro 6 Mateacuteria-prima dos nuacutecleos recolhidos nas antas de Lisboa Quadro 7 Extensatildeo do retoque em produtos alongados das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 8 Tipologia das pontas de seta das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 9 Dimensotildees meacutedias das pontas de seta das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 10 Secccedilatildeo dos utensiacutelios polidos das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 11 Mateacuteria-prima dos utensiacutelios polidos das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 12 Pedra afeiccediloada das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 13 Utensiacutelios de osso das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 14 Diagnose sexual dos indiviacuteduos das antas da regiatildeo de Lisboa Quadro 15 Caracteriacutesticas das ossadas humanas das Nothern Great Plains da Ameacuterica do Norte Quadro 16 Valores de δ13C e δ15N obtidos para dataccedilotildees 14C sobre ossos humanos da gruta de Porto

Covo Quadro 17 Valores de δ13C δ15N obtidos para datas de 14C e paleodietas de antas de Lisboa Quadro 18 Dataccedilotildees por Termoluminiscecircncia de espoacutelio ceracircmico funeraacuterio de sepulcros do Centro-

Sul de Portugal Quadro 19 Sequecircncia faseada dos sepulcros da Estremadura Quadro 20 Sequecircncia faseada dos sepulcros do Alentejo Quadro 21 Sequecircncia faseada dos sepulcros da Beira Interior Volume 2 Anexo 3 Quadro 22 Dataccedilotildees de sepulcros de regiatildeo de Lisboa Quadro 23 Dataccedilotildees de sepulcros de Alta Estremadura Quadro 24 Dataccedilotildees de sepulcros de Alentejo Quadro 25 Dataccedilotildees de sepulcros da Extremadura espanhola Quadro 26 Dataccedilotildees de sepulcros do Algarve Quadro 27 Dataccedilotildees de sepulcros do Sudoeste espanhol Quadro 28 Dataccedilotildees de sepulcros de Antequera Quadro 29 Dataccedilotildees de sepulcros de Almeria Quadro 30 Dataccedilotildees de sepulcros da Beira Interior Quadro 31 Dataccedilotildees de sepulcros do Noroeste peninsular Quadro 32 Dataccedilotildees de pinturas em sepulcros do Noroeste peninsular e Beira Interior Quadro 33 Dataccedilotildees de sepulcros da Meseta Norte Quadro 34 Dataccedilotildees de sepulcros da Meseta Sul Quadro 35 Dataccedilotildees de sepulcros da Meseta Nordeste Quadro 36 Siacutetios de exploraccedilatildeo de recursos marinhos dos estuaacuterios do Tejo e Sado Anexo 5 Quadro 37 Espoacutelio presente em sepulcros da Estremadura e Alto Alentejo Quadro 38 Presenccedila de pedra lascada das antas de Lisboa Quadro 39 Tipo de suporte para fabrico de pontas de seta Quadro 40 Largura de geomeacutetricos trapeacutezios e triacircngulos Quadro 41 Tipos de contas e pingentes das antas de Lisboa Quadro 42 Artefactos votivos de calcaacuterio e outros tipos de idoliformes Quadro 43 Tipos de recipientes ceracircmicos das antas de Lisboa

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 414 de 415

Rui Boaventura ndash As antas e o Megalitismo da regiatildeo de Lisboa 415 de 415

Quadro 44 Tipos de artefactos campaniformes nas antas de Lisboa Quadro 45 Tipos de espeacutecies presentes em sepulcros da Estremadura Quadro 46 Nuacutemero miacutenimo de indiviacuteduos por tipo de sepulcro (Centro-Sul de Portugal) Quadro 47 Pontas de seta das antas de Lisboa Quadro 48 Produtos alongados das antas de Lisboa

Page 3: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 4: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 5: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 6: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 7: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 8: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 9: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 10: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 11: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 12: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 13: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 14: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 15: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 16: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 17: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 18: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 19: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 20: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 21: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 22: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 23: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 24: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 25: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 26: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 27: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 28: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 29: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 30: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 31: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 32: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 33: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 34: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 35: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 36: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 37: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 38: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 39: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 40: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 41: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 42: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 43: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 44: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 45: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 46: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 47: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 48: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 49: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 50: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 51: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 52: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 53: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 54: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 55: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 56: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 57: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 58: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 59: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 60: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 61: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 62: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 63: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 64: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 65: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 66: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 67: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 68: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 69: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 70: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 71: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 72: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 73: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 74: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 75: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 76: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 77: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 78: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 79: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 80: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 81: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 82: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 83: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 84: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 85: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 86: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 87: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 88: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 89: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 90: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 91: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 92: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 93: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 94: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 95: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 96: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 97: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 98: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 99: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 100: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 101: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 102: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 103: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 104: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 105: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 106: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 107: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 108: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 109: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 110: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 111: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 112: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 113: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 114: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 115: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 116: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 117: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 118: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 119: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 120: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 121: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 122: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 123: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 124: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 125: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 126: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 127: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 128: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 129: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 130: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 131: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 132: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 133: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 134: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 135: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 136: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 137: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 138: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 139: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 140: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 141: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 142: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 143: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 144: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 145: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 146: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 147: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 148: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 149: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 150: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 151: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 152: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 153: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 154: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 155: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 156: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 157: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 158: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 159: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 160: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 161: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 162: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 163: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 164: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 165: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 166: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 167: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 168: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 169: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 170: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 171: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 172: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 173: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 174: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 175: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 176: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 177: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 178: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 179: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 180: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 181: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 182: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 183: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 184: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 185: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 186: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 187: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 188: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 189: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 190: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 191: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 192: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 193: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 194: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 195: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 196: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 197: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 198: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 199: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 200: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 201: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 202: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 203: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 204: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 205: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 206: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 207: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 208: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 209: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 210: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 211: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 212: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 213: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 214: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 215: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 216: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 217: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 218: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 219: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 220: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 221: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 222: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 223: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 224: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 225: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 226: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 227: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 228: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 229: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 230: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 231: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 232: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 233: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 234: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 235: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 236: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 237: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 238: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 239: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 240: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 241: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 242: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 243: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 244: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 245: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 246: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 247: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 248: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 249: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 250: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 251: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 252: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 253: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 254: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 255: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 256: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 257: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 258: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 259: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 260: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 261: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 262: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 263: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 264: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 265: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 266: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 267: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 268: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 269: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 270: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 271: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 272: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 273: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 274: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 275: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 276: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 277: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 278: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 279: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 280: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 281: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 282: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 283: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 284: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 285: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 286: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 287: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 288: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 289: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 290: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 291: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 292: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 293: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 294: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 295: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 296: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 297: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 298: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 299: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 300: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 301: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 302: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 303: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 304: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 305: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 306: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 307: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 308: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 309: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 310: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 311: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 312: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 313: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 314: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 315: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 316: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 317: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 318: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 319: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 320: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 321: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 322: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 323: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 324: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 325: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 326: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 327: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 328: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 329: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 330: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 331: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 332: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 333: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 334: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 335: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 336: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 337: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 338: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 339: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 340: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 341: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 342: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 343: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 344: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 345: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 346: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 347: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 348: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 349: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 350: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 351: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 352: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 353: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 354: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 355: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 356: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 357: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 358: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 359: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 360: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 361: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 362: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 363: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 364: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 365: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 366: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 367: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 368: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 369: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 370: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 371: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 372: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 373: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 374: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 375: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 376: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 377: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 378: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 379: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 380: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 381: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 382: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 383: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 384: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 385: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 386: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 387: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 388: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 389: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 390: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 391: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 392: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 393: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 394: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 395: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 396: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 397: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 398: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 399: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 400: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 401: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 402: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 403: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 404: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 405: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 406: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 407: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 408: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 409: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 410: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 411: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 412: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 413: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 414: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 415: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 416: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 417: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 418: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo
Page 419: As antas e o Megalitismo da região de Lisboa...Rui Jorge Narciso Boaventura Doutoramento em Pré-História Tese orientada pelo Professor Doutor Victor dos Santos Gonçalves 2009 Resumo