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As concentrações de actividades empresariais … concentração de actividades empresariais pode ter sido previamente qualificada como um investi-mento em associadas e contabilizada

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JUL/SET 2007 REVISORES AUDITORES 17

As concentrações de actividades empresariais segundoa IFRS 3

Maria da Conceição da CostaMarques

Contabilidade

As decisões de negócios são usualmente tomadas semter em consideração os aspectos contabilísticos.Contudo, quando não se consideram as implicaçõescontabilísticas em decisões não rotineiras, como as

concentrações de negócios, pode resultar em surpresaspouco agradáveis. Há, por conseguinte, que tomartodos os cuidados antes de se concluir a operação deconcentração.

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A IFRS 3 trata das Concentrações deActividades Empresariais (BusinessCombinations). O objectivo desta Norma é ode especificar o relato financeiro por parte deuma entidade, quando esta empreende umaconcentração de actividades empresariais.Todas as concentrações de negócios devemser contabilizadas pela aplicação do métodode compra.

A adquirente reconhece os activos, passivos epassivos contingentes identificáveis da adqui-rida pelos seus justos valores à data de aqui-sição, e reconhece também o goodwill, que éposteriormente testado quanto à imparidadeem vez de ser amortizado.

Estes e outros aspectos vão ser desenvolvidosneste artigo.

Quando as empresas decidem ligar-se umas àsoutras, têm razões subjacentes, como o crescimentoexterno, o ambiente competitivo actualmente exis-tente, ou a globalização da economia, entre outras.As formas de ligação que podem ser usadas são aconcentração de actividades empresariais, os acor-dos de cooperação, as alianças, os investimentos emassociadas, os empreendimentos conjuntos, conglo-merados, etc.

As concentrações de actividades permitem o refor-ço da competitividade das empresas, possibilitam asua actuação num mercado planetário, diminuindoassim os riscos, pois passa a haver menor concorrên-cia, têm acesso a novos produtos e mercados, eco-nomias de escala, existência de sinergias, controlode segmentos de mercado, etc.. Também as admi-nistrações aumentam deste modo o seu prestígiosocial, a remuneração, entre outros aspectos.

Existem as seguintes modalidades: aquisição, poruma empresa, de uma ou mais empresas - controloda empresa adquirida pela adquirente, e a unifica-ção de interesses - controlo partilhado, através deum acordo. No entanto, a aquisição é a forma mais

comum. Tem em vista o alcance de objectivos estra-tégicos e o crescimento externo rápido.

A aquisição pressupõe sempre o controlo de umaempresa sobre outra, ou outras, dado que compraparte dos seus activos, compra a totalidade dos seusactivos e passivos, ou de partes sociais.Considera-se que existe concentração de actividadesempresariais quando se der a fusão de duas ou maisempresas anteriormente independentes, por absor-ção de uma ou mais empresas por outra; ou porconstituição de uma nova empresa à custa da disso-lução de outras.

Uma ou mais pessoas que já controlem pelo menosuma empresa, ou uma ou mais empresas, adquiremo controlo directo ou indirecto da totalidade ou departes de uma ou mais empresas, por compra departes de capital ou de activos, por contrato ou porqualquer outro meio.

A generalidade das concentrações de actividadesempresariais consiste substancialmente em aquisi-ções empresariais. Daí que o método contabilísticoda compra seja considerado de aplicação genérica,uma vez que está especificamente orientado paratais aquisições.

Neste processo verifica-se a necessidade de avalia-ção de ambas as empresas, embora o enfoque sejamaior na empresa que vai ser adquirida.

A contabilização pode seguir os seguintes modelos:

• Aquisição - aplicação do método da compra (aempresa adquirente contabiliza a aquisição daoutra (ou outras) empresas;

• Unificação de interesses - comunhãode interesses (não é identificada uma empresaadquirente)1.

Um aspecto importante das concentrações deactividades empresariais é o goodwill - diferençaentre o preço de aquisição da empresa e o somató-rio dos justos valores dos activos e passivos. Pode

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Contabilidade

1 - Este método não é reconhecido na IFRS 3.

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ainda verificar-se a existência de um goodwill nega-tivo ou badwill na concentração, que é uma situaçãooposta à anterior.

1. AS NORMAS DO IASB

As Normas Internacionais de Relato Financeiro sãoas Normas e Interpretações aprovadas peloInternational Accounting Standards Board (IASB).

Compreendem:

• As Normas Internacionais de Relato Financeiro(NIRF)2;

• As Normas Internacionais de Contabilidade (NIC);

• As interpretações elaboradas pelo InternationalFinancial Reporting Interpretations Committee(IFRIC) e pelo antigo Standing InterpretationsCommittee (SIC) (NIC n.º 1).

Todas as empresas europeias cotadas em bolsadevem preparar as suas demonstrações financeirasde acordo com as Normas Internacionais de RelatoFinanceiro “International Financial ReportingStandards (IFRS)”, incluindo as NormasInternacionais de Contabilidade “InternationalAccounting Standards (IAS)” a partir do ano de2005. As empresas de outras jurisdições, nomeada-mente a Austrália, Canadá e Nova Zelândia, tam-

bém adoptarão as IAS na mesma data. A IFRS 1 trata da adopção pela primeira vez dasIFRS pelas empresas, enquanto a IFRS 3 trata das Concentrações de Actividades Empresasriais(Business Combinations). Quando as empresasadoptam as IFRS pela primeira vez, podem elegera aplicação da IFRS 3 desde a data de adopção detodas as IFRS ou retrospectivamente, desde umadata anterior.

No quadro seguinte apresentam-se algumas datasrelativamente à adopção da IFRS 3, ou o seu equi-valente:

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País Norma Data de vigência

Internacional IFRS 3 31 de Março de 2004Australia AASB 3 1 de Janeiro de 2005Hong Kong HK FRS 3 1 de Janeiro de 2005Malásia FRS 3 1 de Janeiro de 2006Nova Zelândia NZ FRS 3 1 de Janeiro de 20073

Singapura FRS 103 1 de Julho de 2004US GAAP FAS 141 1 de Julho de 20014

FONTE: ADAPTADO DE WINSTON KHOO (2006)

2 - Em inglês a sua denominação é: - International Financial Reporting Standards (IFRS), as normas emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB);- International Accounting Standards (IAS), as normas emitidas pelo International Accounting Standards Committee (IASC), organismo

que já não existe. 3 - É permitida a sua adopção mais cedo apenas se a entidade cumprir com a NZ FRS 1 em Janeiro de 2005. 4 - A FAS 141 precede a introdução da IFRS 3, mas contém muitos dos seus conteúdos. Existem, no entanto, diferenças chaves em certas áreas.

Maria da Conceição da CostaMarques

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O objectivo da Norma Internacional de RelatoFinanceiro (IFRS) 3 ‘Concentrações de activida-des empresariais’5 é o de especificar o relato finan-ceiro por parte de uma entidade, quando estaempreende uma concentração de actividadesempresariais. Segundo a norma, todas as concen-trações de actividades empresariais devem ser con-tabilizadas pela aplicação do método de compra.

A adquirente reconhece os activos, passivos e pas-sivos contingentes identificáveis da adquirida pelosseus justos valores à data de aquisição, e reconhe-ce também o goodwill, que é posteriormente testa-do quanto à imparidade em vez de ser amortizado. A Norma não se aplica a entidades separadas quese reúnem para formar um empreendimento con-junto, concentrações que envolvam controlocomum, concentrações que envolvam duas ou maisentidades mútuas e concentrações em que entida-des ou actividades separadas se reúnem para for-mar uma entidade que relata.

2. IFRS 3 - ‘BUSINESS COMBINATIONS’

2.1 Aspectos principais

Uma concentração de actividades empresariais é ajunção de entidades ou actividades empresariaisseparadas numa única entidade que relata (IFRS 3ponto 4). Em quase todas as concentrações de acti-vidades empresariais uma entidade, a adquirente,obtém o controlo de uma ou mais actividadesempresariais diferentes, as adquiridas.

A estruturação de empresas pode ter por baserazões de carácter legal, fiscal ou outras. Podeenvolver a compra por parte de uma empresa docapital próprio de outra empresa, a compra detodos os activos líquidos de outra entidade, aassumpção dos passivos de outra entidade ou acompra de alguns dos activos líquidos de outra enti-dade, que em conjunto formem uma ou mais activi-dades empresariais.

Pode envolver o estabelecimento de uma nova enti-

dade para controlar as entidades concentradas ou osactivos líquidos transferidos ou a reestruturação deuma ou mais entidades concentradas.

Todas as concentrações de actividades empresariaisdevem ser contabilizadas pela aplicação do métodode compra. O método de compra vê a concentraçãode actividades empresariais sob a perspectiva daentidade concentrada, que é identificada como aadquirente. A adquirente compra activos líquidos ereconhece os activos adquiridos e os passivos e pas-sivos contingentes assumidos, incluindo aqueles quenão tenham sido anteriormente reconhecidos pelaadquirida.

A IFRS 3 refere que deve ser identificada umaadquirente para todas as concentrações de activida-des empresariais, sendo a adquirente a entidadeconcentrada que obtém o controlo sobre as outrasentidades ou actividades empresariais concentradas.

Controlo é aqui definido como o poder de gerir aspolíticas financeiras e operacionais de uma entidadeou actividade empresarial, de forma a obter benefí-cios das suas actividades.

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5 - Também identificada neste trabalho como ‘combinações de negócios’ ou ‘concentrações de negócios’.

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A adquirente deve mensurar o custo de uma con-centração de actividades empresariais segundo osjustos valores, à data da troca, dos activos cedidos,dos passivos incorridos ou assumidos, e dos instru-mentos de capital próprio emitidos pela adquirente,em troca do controlo sobre a adquirida mais quais-quer custos directamente atribuíveis à concentraçãode actividades empresariais.

Numa concentração de negócios, a verificar-se umajustamento no custo que esteja dependente defuturos acontecimentos, a adquirente deve incluir aquantia desse ajustamento no custo da concentra-ção de actividades empresariais à data da aquisição,se o ajustamento for provável e puder ser mensura-do com fiabilidade.

A adquirente deve, à data da aquisição, reconhecero goodwill adquirido numa concentração de activi-dades empresariais como um activo e mensurarinicialmente esse goodwill pelo seu custo, que é oexcesso do custo da concentração de actividadesempresariais sobre o interesse da adquirente nojusto valor líquido dos activos, passivos e passivoscontingentes identificáveis.

Depois do reconhecimento inicial, a adquirente devemensurar o goodwill adquirido numa concentraçãode actividades empresariais pelo custo menos qual-quer perda por imparidade acumulada.

Quando o interesse da adquirente no justo valorlíquido dos activos, passivos e passivos contingentesidentificáveis reconhecidos exceder o custo da con-centração de actividades empresariais, deve aadquirente (IFRS 3, ponto 56):

• reavaliar a identificação e a mensuração dosactivos, passivos e passivos contingentes identi-ficáveis da adquirida e a mensuração do custoda concentração;

• reconhecer imediatamente nos resultados qual-quer excesso remanescente após a reavaliação.

Se uma concentração de actividades empresariaisenvolver mais de uma transacção de troca, os justosvalores dos activos, passivos e passivos contingentesidentificáveis da adquirida podem ser diferentes àdata de cada transacção de troca. Eventuais ajusta-mentos nesses justos valores relativamente aos inte-resses da adquirente anteriormente detidos são umarevalorização e devem ser contabilizados como tal.Isso não significa que a adquirente tenha optadopor aplicar uma política contabilística de revalori-zação desses itens após o reconhecimento inicial.

Uma concentração de actividades empresariais podeter sido previamente qualificada como um investi-mento em associadas e contabilizada de acordo coma IAS 28 “Investimentos em Associadas”, usando ométodo da equivalência patrimonial. Então, os jus-tos valores dos activos líquidos identificáveis dainvestida à data de cada transacção de troca ante-rior, terão sido determinados ao aplicar o métododa equivalência patrimonial ao investimento.

Se o valor inicial de uma concentração de activida-des empresariais apenas puder ser determinadoprovisoriamente, a adquirente deve contabilizar aconcentração usando esses valores provisórios. Aadquirente deve reconhecer quaisquer ajustamentosnesses valores provisórios como resultado da conclu-são da contabilização inicial num período ate dozemeses após a data de aquisição e desde a data daaquisição.

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ContabilidadeMaria da Conceição da CostaMarques

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FONTE: ADAPTADO DE DELLOITE IASPLUS FEBRERO 2005

Data de vigência Concentrações de negócios posteriores a 31 de Março de 2004.

Objectivo Estabelecer e informação financeira que uma sociedade deve apresentar quando leva a cabo uma concentração de negócios.

Resumo • O método da compra utiliza-se para todas as concentrações de negócios. O método da comunhão de interesses, utilizado na NIC 22, está proibido.

• O godwill e outros activos intangíveis com vida indefinida não se amortizam. Por suavez, estes activos devem ser submetidos a testes de imparidade pelo menos uma vez por ano.

• O goodwill sofreu uma perda de valor se o montante registado nos livros da unidade geradora de fundos a que o goodwill está afectado, supera o seu valor recuperável.

• Se a participação da adquirente no justo valor líquido dos activos, passivose passivos contingentes identificáveis da sociedade adquirida é superior ao custo, oexcesso (goodwill negativo ou badwill) é reconhecido imediatamente como ganho.

• A participação dos interesses minoritários nos activos líquidos adquiridos é registada ao justo valor.

• A participação dos interesses minoritários apresenta-se como fazendo parte do património líquido no Balanço.

Interpretações Nenhuma.

2.2 As implicações do goodwill nos resultados

O tratamento contabilístico do goodwill no contextodas normas internacionais de relato financeiro, espe-cialmente a IFRS 3, a IAS 38 e a IAS 36, contribuipara uma maior volatilidade dos resultados e, con-sequentemente, para maior risco. Segundo Rosa(2006) «os “earnings” influenciam o “price earningsratio” e por essa via as expectativas de valorizaçãobolsista. Bem como decisões de fusões e aquisições,através dos efeitos de diluição dos “earnings pershare”».

As influências fazem-se sentir também no Impostosobre o rendimento (IRC), na distribuição de resul-tados, na remuneração dos gestores, no cumprimen-

to de rácios financeiros em contratos de mútuo e naanálise de imparidades futuras.

Os analistas financeiros também assumem riscos, namedida em que integram nas análises comparativasde um sector ou de um país, sociedades com normascontabilísticas diferentes. Mesmo para as sociedadesque adoptam as IFRS, existe o risco de aplicarempressupostos inconsistentes, de que são exemplo aaplicação de taxas de desconto diferentes na actua-lização dos ‘ “cash flows’” ou a estimativa da vidaútil de certos activos intangíveis (Rosa, 2006).

O goodwill é considerado um activo com vida econó-mica indefinida e, como tal, não é amortizável.Quando se conjuga a IFRS 3 com a IAS 38, as pos-

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Em resumo, da IFRS 3 merecem destaque os seguintespontos:

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sibilidades de identificação de activos intangíveisaumentam. Um activo intangível com vida útil fini-ta, pode ser avaliado de forma fiável, aumentandoassim as probabilidades de preenchimento dosrequisitos para ser considerado um activo intangí-vel: identificação, reconhecimento e medição.

Por seu lado, os activos intangíveis com vida útilindefinida ficam sujeitos a testes de imparidade,deixando de ser amortizados, contribuindo, destemodo, para maior volatilidade nos resultados.

Refira-se, que a IAS 38 dispõe de mecanismos quecontribuem também para a volatilidade dos resulta-dos. Veja-se a possibilidade de revalorização daquantia pela qual um activo foi inicialmente reco-nhecido, a revisão do período de amortização emesmo o método de amortização. Outro aspectocom o mesmo fim, diz respeito aos activos com vidaútil indefinida que poderão vir a ser considerados deoutro modo.

3. UMA NORMA POUCO CONSENSUAL

A Norma referente às combinações de negócios éuma das que mais polémica tem suscitado no pro-cesso de normalização contabilística nos últimosanos (González-Vallinas 2006). Além do tratamento

do goodwill, uma questão que tem gerado muitasdiscussões tem a ver com a presunção de que todasas combinações de negócios são operações em queuma entidade adquire o controlo de outra entidadeou negócio, não se admitindo a existência das deno-minadas fusões entre iguais, nomeadamente, ascombinações em que nenhuma das entidades parti-cipantes adquire o controlo do resto.

O projecto concebido pelo IASB para a harmoniza-ção internacional da contabilidade sobre as opera-ções de reestruturação empresarial, compõe-se deduas fases. A primeira fase terminou em Março de2004, e teve como resultado a emissão da IFRS 3 –Concentrações de Actividades Empresariais e aaprovação das versões modificadas da NIC 36 –Imparidade de Activos e da NIC 38 – ActivosIntangíveis.

Com a aprovação da IFRS 3, a NIC 22 –Concentrações de Negócios foi revogada. Estanorma, que foi aprovada em Novembro de 1983,sofreu posteriormente várias modificações em dife-rentes datas: Dezembro de 1993, Outubro de 1996,Julho e Outubro de 1998, e em 1999, para introdu-zir as alterações necessárias decorrentes da aprova-ção de outras NIC.

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A IFRS 3 foi aprovada pelo IASB em 31 de Marçode 2004, tendo sido adoptada nesse mesmo ano pelaUnião Europeia, conforme dispõe o Regulamento daComissão Europeia nº 2236/2004.

Podem destacar-se como aspectos mais significati-vos da IFRS 3 os seguintes:

• O método de contabilização;

• A valorização inicial dos activos identificáveisadquiridos e dos passivos e passivos contingen-tes assumidos pela entidade adquirente numacombinação de negócios;

• O tratamento da denominada diferença negati-va de consolidação;

• O tratamento contabilístico do goodwill e dosactivos intangíveis adquiridos numa concentra-ção de negócios.

Se quisermos ter uma visão mais detalhada dessasmudanças significativas, vejamos o quadro seguinte:

Para o IASB, a questão das combinações de negó-cios está ainda longe do seu termo, uma vez quecontinua a desenvolver o projecto de harmonizaçãocontabilística sobre as concentrações de actividadesempresariais. Assim, em Junho de 2005 emitiu umprojecto de norma no qual propunha diversas modi-ficações à IFRS 3, entre as quais se destacam(Bonham et al, 2006):

• A introdução de uma nova definição de con-centrações de negócios;

• O reflexo nas demonstrações financeiras conso-lidadas do goodwill atribuível aos sócios exter-nos ao grupo (full goodwill);

• O tratamento dos custos directamente atribuí-veis à operação de concentração que devem reconhecer-se na demonstração dos resultados;

• O tratamento das aquisições sucessivas.

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Contabilidade

Mudanças Significativas na IFRS 3

Métodos de contabilização

Activos e passivos adquiridos

Goodwill Não é amortizado, mas testado quanto áimparidade anualmente

O método da compra é obrigatório

Todos os activos, passivos e passivoscontingentes identificáveis adquiridos são

valorizados a 100% pelo justo valor

Goodwill negativo Reconheciso nos ganhos e perdasimediatamente

Custos de RestruturaçãoSomente reconhecido até à data

de aquisição

FONTE: DELOITTE (2007)

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Existem, por outro lado, múltiplos aspectos que nãoestão regulados, como por exemplo, a união de enti-dades para formar uma entidade multigrupo, e ascombinações entre entidades sob um controlocomum.

A Fase II do projecto combinações de negócios doIASB, tem três componentes, a saber:

• Questões relacionadas com a aplicação do méto-do da compra;

• Contabilização das combinações de negócios emque se agrupam entidades independentes ouactividades independentes de entidades paraformar um negócio conjunto;

• Questões que foram excluidas da fase I, entre asquais se encontram as combinações de negóciosque afectam entidades (ou actividades de enti-dades) sob controlo comum.

O primeiro destes componentes (procedimentos dométodo da compra) é um projecto conjunto com oFinancial Accounting Standards Board (FASB).

As concentrações de actividades empresariais naIFRS 3 são definidas como a concentração de enti-dades ou negócios independentes numa única enti-dade. Contudo, a norma prevê apenas um método

de contabilização para as combinações de negócios,o denominado método de aquisição ou compra, querequer sempre a identificação de uma entidadeadquirente. Neste aspecto, o IASB parte do princí-pio que todas as concentrações são aquisições e queas fusões entre iguais ou unificações de interessesnão existem.

No actual projecto de revisão da IFRS 3 (ExposureDraft of Proposed Amendments to IFRS 3 BusinessCombinations), o IASB introduz uma nova defini-ção de concentrações de negócios, que é entendidacomo uma transacção ou outro evento no qual umaadquirente obtem o controlo de um ou mais negó-cios.

Um conceito chave da IFRS 3 é o controlo, em quese baseia todo o tratamento contabilístico das con-centrações de negócios, definido como o poder dedirigir as políticas financeiras e operacionais de umaentidade ou negócio, com o propósito de obter bene-fícios económicos futuros. Nesta Norma, o IASBproporciona uma série de evidências para poderidentificar quando uma entidade controla outra.

Segundo Forbes (2007) tudo parece indicar que aIFRS 3 não esteja a ser aplicada conforme foi origi-nalmente previsto. Da aplicação prática da normaresultam algumas limitações importantes, comosejam:

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• O goodwill, cujo valor evidenciado nas demons-trações financeiras resulta de uma combinaçãode valores, antes e depois da IFRS 3, deduzidodas amortizações contabilizadas até à adopçãoda IFRS. Na sua opinião, trata-se de umacombinação complicada de conceitos de goodwill,difícil de compreender;

• Outro aspecto é a imparidade. Trata-se de umamatéria altamente sensível e na opinião doautor, as demonstrações financeiras raramentereflectem as afectações por imparidade, excep-ção feita a alguns activos em que se verificarammudanças de estratégia;

• Certos activos intangíveis continuam a figurar acustos históricos e, consequentemente, a sofre-rem amortizações;

• Os valores do goodwill e outros activos intangí-veis continuam a figurar a custos históricos enunca foram reavaliados;

• Outros activos, como as marcas ou a fidelizaçãodos clientes podem ser avaliados duas vezes, seforem objecto de avaliação separada. Não éusual as contas fazerem alusão a estes factos;pelo menos nas demonstrações financeiras que oautor analisou.

4. APLICAÇÃO RETROSPECTIVA DA IFRS 3

4.1 Quem deve considerar a adopção retros-pectiva da IFRS 3

Para algumas empresas a adopção retrospectiva daIFRS 3 pode representar benefícios significativos.Essa hipótese deve ser seriamente encarada se:

• Os recursos intangíveis, particularmente asmarcas, forem os elementos-chaves do negócio;

• Os recursos intangíveis não sejam correntemen-te relatados no balanço;

• Foram efectuadas aquisições significativas demarcas ou outros activos intangíveis nos últi-mos anos;

• Os registos se processem a custos históricos.

4.2 Vantagens da adopção retrospectiva dascombinações de negócios

As concentrações de actividades empresariais reali-zadas no passado recente, foram contabilizadas deacordo com os princípios contabilísticos locais entãoem vigor. Por exemplo, na Grã-Bretanha (UK) si-gnifica o reconhecimento do goodwill na aquisição ea sua amortização, usualmente até 20 anos, de acor-do com a FRS 10. Antes da introdução da FRS 10,em 1998, o goodwill era geralmente contabilizado emreservas (Intangible Business, 2007).

Para as empresas adquiridas, o goodwill representafrequentemente uma proporção significativa dosactivos líquidos totais, mas é um recurso mal defini-do e compreendido. A amortização num períodoarbitrário foi requerida, mas esta não tem nenhumimpacto nos “cash flows”, sendo usualmente ignora-do por analistas e investidores.

A adopção retrospectiva da IFRS 3 permite àsempresas reformular as combinações de negóciosanteriores de acordo com a IFRS 3, tal como se estativesse sido aplicada desde a data de aquisição. Asempresas podem reconhecer os activos intangíveispreviamente incluídos no goodwill. No caso das mar-cas, pode ser determinado que elas têm vidas inde-finidas e não são amortizadas.

O goodwill da maior parte das empresas pode serreclassificado como o activo intangível mais signifi-cativo, activo que os analistas e os investidorespodem compreender e reconhecer.

Onde os recursos intangíveis, tais como as marcas,sejam indutores-chaves do negócio de uma empresa,o seu reconhecimento no balanço emite uma men-

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sagem poderosa à comunidade de investidores. Se umconcorrente já reconhecer os activos intangíveis, acomparabilidade é melhorada.

A amortização do goodwill pode ser invertida e ogoodwill reconhecido anteriormente na aquisiçãopode ser restabelecido, aumentando desse modo osactivos líquidos de uma companhia. Isso podemelhorar o recurso ao crédito e permitir às empre-sas negociar financiamento adicional e por vezesbaixar mesmo as taxas de juro.

Para grupos multinacionais, os recursos intangíveisreconhecidos em consequência da aplicação retros-pectiva da IFRS 3 pode ocorrer em moedas diferen-tes ao goodwill que substituem. Isto pode ajudar afornecer recursos apropriados para fins de investi-mento de acordo com a IAS 39 – InstrumentosFinanceiros: reconhecimento e mensuração.

O reconhecimento dos activos intangíveis no balan-ço intensifica o focus da gestão nestes indutores donegócio.

4.3 A adopção retrospectiva na prática

Segundo o Intangible Business (2007), a adopçãoretrospectiva da IFRS 3 na prática é dispendiosa econsome muito tempo. Por isso, muitas empresasargumentarão que os custos não compensam osbenefícios. No entanto, algumas companhias reco-nhecerão a oportunidade de benefícios reais.

As companhias podem eleger a aplicação da IFRS 3a partir de qualquer data escolhida, mas devemaplicá-la consistentemente a todas as combinaçõesde negócios após essa data. A IAS 36 - Imparidadede Activos (Impairment of Assets) e a IAS 38 -Activos Intangíveis (Intangible Assets), devem sertambém aplicadas desde a mesma data que a IFRS3.

O processo de adopção deve, naturalmente, serauditado.

Todas as normas da IFRS 3 devem ser seguidas

para cada combinação de negócios, de molde a queos ajustamentos do justo valor para uma variedadede activos e passivos adquiridos, tais como stocks,activos fixos, benefícios de reforma e impostosdiferidos devem ser todos determinados. Frequente-mente, os justos valores em IFRS não variarãomaterialmente dos obtidos pelas normas locais epodem ser ignorados.

Os justos valores dos activos devem ser determina-dos usando a informação em vigor na data recolhi-da quando a aquisição foi originalmente contabiliza-da. A conformidade com a IAS 36 e com a IAS 38deve também usar a informação histórica. Na práti-ca, esta exigência torna a adopção progressivamen-te mais difícil. A data mais apropriada da adopçãoé provavelmente determinada pela disponibilidadedos registos históricos que suportam o processo.

Por exemplo, para testar a imparidade do goodwillrestante, o valor do activo seria normalmente com-parado com o valor actual líquido dos fluxos decaixa futuros. Estas previsões dos fluxos de caixafuturos devem ser baseadas na informação disponí-vel na data do teste. Na prática, isto significa queas companhias precisam de ser capazes de ter osorçamentos, as previsões e os planos estratégicospreparados a tempo. A imparidade do goodwill nãopode ser invertida, é necessário realizar os testes daimparidade em cada balanço subsequente à data daaplicação da IFRS 3.

Para outros intangíveis, à excepção do goodwill, areversão da imparidade é permitida em IFRS e, con-sequentemente, é somente necessário testar a impa-ridade na data do último balanço.

Segundo Caldwell (2006) das FTSE1006, apenasuma empresa – a Rentokil – aplicou a IFRS 3retrospectivamente.

4.4 Data de aplicação

A adopção retrospectiva da IFRS 3 é somente per-mitida quando uma companhia adopta IFRS para aprimeira vez, de acordo com IFRS 1. A data preci-

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6 - FTSE 100 é o índice das 100 maiores empresas cotadas na London Stock Exchange.

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sa depende da data de fim de ano da empresa querelata, e a implementação deve ser terminada parao primeiro relato sob IFRS, normalmente demons-trações financeiras intercalares. Assim, para umacompanhia com um fim de ano em Dezembro, o pri-meiro relato em IFRS será para as suas demonstra-ções financerias intercalares para os seis meses a 30de Junho de 2005, enquanto uma companhia comum fim de ano de Setembro relatará os seis meses a31 de Março de 2006.

CONCLUSÕES

A harmonização das normas internacionais de con-tabilidade é de crucial importância, não apenas nasconcentrações de actividades empresariais, mastambém quando se equaciona a procura de recursosno exterior.

A convergência das práticas contabilísticas temvindo a tornar-se uma realidade no início desteséculo, devido, em grande parte, à globalização dosmercados de capitais.

A adopção da IFRS 3 inclui mais actividade e dili-

gências, envolvendo mais especialistas, conselheirose profissionais financeiros no processo, em ordem aassegurar que todas as implicações foram compreen-didas.

Existe, por isso, a oportunidade de os profissionaisda contabilidade contribuirem com os seus conheci-mentos e experiências para melhorarem aquelesaspectos que a IFRS 3 não acolheu.

Cabe às empresas a aprendizagem das regras eadaptarem-se progressivamente à mudança. A histó-ria revela que só as empresas com capacidade parase adaptar à evolução da técnica e do mercado, con-seguiram sobreviver.

Neste processo de alterações ao nível contabilístico,é muito importante que as sociedades tenham capa-cidade de adaptação, pois será essa capacidade quedeterminará o seu êxito ou o seu fracasso.

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BIBLIOGRAFIA

Allan Caldwell (2006). Financial Reporting Feature: Practical application of IFRS3 - BusinessCombinations. AccountingWEB 20-Sep-2006.Bonham et al (2006). International GAAP 2007. LexisNexis, Ernest & Young. London. Borely, A. Madureira et al (2005). Revista Pensar Contábil nº 30. Nov 2005/Jan 2006, pp. 30-35. Comissão Europeia (2004). Regulamento nº 2236/2004. Delloite, IASPLUS (2005). Guía Rápida IFRS. www.iasplus.deloitte.esDeloitte (2007). IAS PLUS. www.iasplus.com (Abril de 2007).Forbes, Thayne (2007). The failure of IFRS 3. Intellectual Asset Management. January 2007. FRS 10 – Goodwill and Intangible Assets. http://www.accountingweb.co.ukGonzález-Vallinas, Javier Calvo (2006). Las combinaciones de negocios en las NIIF. Delloite. Boletim deNovembro.IASB (2004). International Financial Reporting Standards nº 1 – First-time Adoption of InternationalFinancial Reporting Standards.IASB (2004). International Financial Reporting Standards nº 3 – Business Combinations.IASB. International Accounting Standards Nº 36 – Impairment of Assets.IASB. International Accounting Standards Nº 38 – Intangible Assets.Intangible Business (2007). http://www.intangiblebusiness.com.Rodrigues, João (2005). Adopção em Portugal das Normas Internacionais de Relato Financeiro. ÁreasEditora. Lisboa.

Contabilidade

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JUL/SET 2007 REVISORES AUDITORES 29

Reconhecimento e reversão de perdas de imparidadeem Unidades Geradoras de Caixa

Ana Luísa Nabais Aniceto Contabilidade

Se a identificação e teste de imparidade de activosindividuais pode apresentar-se como um processo com-plexo e subjectivo, este torna-se ainda mais complexoquando é necessário identificar as Unidades Geradoras

de Caixa (UGC) onde o activo em teste está incluído.

A temática de imparidade, pese embora o projecto denovo modelo contabilístico emitido pela Comissão de

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Normalização Contabilística no passado mês deMarço, e que se baseia no modelo do IASB, encon-tra-se especificamente tratada na IAS 36 –Imparidade de Activos.

Com o objectivo de estabelecer procedimentos quepermitam assegurar que os activos não se encon-tram escriturados por um montante superior à suaquantia recuperável, a norma vem exigir que, sem-pre que tal não aconteça, e estando na presença deum activo em imparidade, deverá ser reconhecida arespectiva perda directamente nos resultados daentidade, excepto se se tratar de um activo revalo-rizado, cuja perda será reconhecida contra o exce-dente de revalorização ainda existente.

A quantia recuperável, dada pelo valor mais eleva-do entre o justo valor menos os custos de vender eo valor de uso, deverá ser determinada para umactivo individual, excepto se o seu valor de uso nãopuder ser estimado como estando próximo do justovalor menos os custos de vender e não tiver capaci-dade de gerar influxos de caixa que sejam em largamedida independentes dos de outros activos ou gru-pos de activos. Nestas circunstâncias, a entidadedeverá determinar a quantia recuperável da UGC àqual o activo pertence.

Regra geral, os testes de imparidade apenas sãoexigidos se a entidade estiver na presença de indi-cações de que o activo ou UGC se encontram emimparidade. Contudo, o teste deverá ser efectuadoanualmente, e sempre que existam indícios, caso setratem de activos intangíveis com vida útil indefini-da ou ainda não disponíveis para uso ou caso tenhasido imputado goodwill à UGC.

A. IDENTIFICAÇÃO DE UMA UGC

Na identificação das UGC dever-se-á ter semprepresente que o risco de existirem perdas por impar-idade de activos não lucrativos encobertas pelarentabilidade dos activos lucrativos aumenta direc-tamente com o nível de agregação desses activospelo que a UGC deverá conter “… o mais pequeno

grupo identificável de activos…”. Uma outra cara-cterística da definição é a capacidade dos activosgerarem influxos de caixa futuros independentes deoutros activos. A referida independência resulta,largamente, da forma como a gestão efectua o acom-panhamento das operações da organização1, bemcomo da existência de um mercado activo para ooutput produzido pelo activo ou grupo de activosque se encontram a ser testados, mesmo que parteou a totalidade desse output seja usado interna-mente. A existência de um mercado activo para osreferidos outputs assume especial relevância emorganizações integradas verticalmente onde, mesmoque parte deste seja usado internamente, o activo ougrupo de activos de onde o output teve origempoderão formar uma UGC. Da mesma forma, emsituações específicas, a inexistência de um mercadoactivo para o output de uma unidade produtiva nacadeia de produção, poderá indiciar que toda a enti-dade seja, ela própria, uma única UGC.

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Exemplo 1 – Identificação de uma UGC

Durante o ano de 2006, a sociedade M & M,S.A. fabricou o produto XYZ, vendido no mer-cado nacional, cujo processo produtivo sedivide em duas fábricas, A e B, estando afábrica A responsável pela primeira fase doprocesso produtivo e a fábrica B pela suafinalização.

Hipótese 1 – é possível transaccionar o produ-to na sua fase intermédia, à saída da fábricaA, num mercado activo. Nestas circunstân-cias, as fábricas A e B possuem capacidade degerar influxos de caixa largamente indepen-dentes pelo que cada uma delas será, àpartida, uma UCG autónoma2.

Hipótese 2 – o produto, à saída da fábrica A,não é transaccionável em nenhum mercado.Nestas circunstâncias, as fábricas A e B nãotêm capacidade de gerar influxos de caixaindependentes pelo que, à partida, a sociedadeM & M, S.A. será, ela própria, uma UGC.

1 - O acompanhamento efectuado pela gestão poderá ser levado a cabo por negócio, linha de produto, áreas geográficas ou residirna forma da gestão tomar decisões sobre a continuidade ou alienação dos activos e unidades operacionais da entidade.

2 - Na determinação da quantia recuperável das duas unidades, será necessário avaliar se os preços de transferência internos reflectemas condições que seriam praticadas no mercado entre partes independentes, e efectuar os ajustamentos que se considerem necessários.

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B. ATRIBUIÇÃO DE ACTIVOS A UMA UGC

A quantia escriturada de uma UGC deverá, emqualquer circunstância, ser consistente com a quan-tia recuperável, pelo que se torna fundamental oprocesso de atribuição de activos e passivos à UGC.Assim, a quantia escriturada de uma dada UGCdeverá incluir os activos que lhe são exclusiva edirectamente atribuíveis, os activos que lhe são indi-rectamente3, e de uma forma razoável e consistente,atribuíveis, bem como os passivos já reconhecidosmas apenas até ao ponto em que a quantia recu-perável dessa UGC não possa ser determinada semos considerar4. Salienta-se ainda o facto de que acomposição das UGC, excepto se existir um acon-tecimento que justifique a alteração, deve ser con-sistente entre os diferentes períodos.

C. GOODWILL

Dado que o goodwill não gera fluxos de caixa inde-pendentes, a sua quantia recuperável não pode serdeterminada como sendo um activo individual.Consequentemente, e uma vez que contribui para osfluxos de caixa de UGC, a entidade deverá proce-der à inclusão do goodwill na determinação daquantia escriturada da UGC que se encontra a sertestada. Note-se contudo que, caso o goodwill con-tribua para mais do que uma UGC, este deverá serimputado ao grupo de UGC para o qual contribui eque se espera virem a beneficiar das sinergias daconcentração, de uma forma independente daatribuição dos activos e passivos adquiridos àsUGC.

A imputação de goodwill às UGC deverá ser consis-tente, pelo que, quando a entidade proceder à reor-ganização da composição das UGC ou à alienaçãode uma unidade operacional pertencente a umaUCG, o goodwil deverá ser reimputado às unidades

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Contabilidade

3 - Como activos indirectos incluem-se os activos corporate bem como o goodwill que serão objecto de referência mais adiante.4 - A necessidade de incluir passivos reconhecidos na quantia recuperável da UGC poderá ocorrer quando a alienação da Unidade

obrigue a que o comprador assuma a respectiva responsabilidade.

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reorganizadas bem como ser considerado na quantiaescriturada da unidade operacional alienada, numabase proporcional das unidades reorganizadas ouretidas e alienadas.

D. ACTIVOS CORPORATE

Aquando dos testes de imparidade de uma UGC,deverão ser identificados os activos corporate5 quelhe sejam atribuíveis e proceder à respectivaimputação. Se estes activos puderem ser imputadosà UGC numa base razoável e consistente, então aquantia escriturada da UGC, incluindo os activoscorporate, deverá ser comparada com a sua quantiarecuperável. Caso contrário, a quantia recuperávelda UGC deverá ser comparada com a quantiaescriturada dos seus activos (sem o activo corporate)e reconhecer eventuais perdas de imparidade quepossam existir. Posteriormente, deverá ser identifi-cado o mais pequeno grupo de UGC que contém oactivo corporate ao qual este possa ser imputadonuma base razoável e consistente, procedendo entãoà comparação da quantia recuperável com a suaquantia escriturada (incluindo o activo corporate).

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Exemplo 2 – Imputação de Goodwill a UGC

Em Janeiro de 2007, tendo em conta que afábrica A não se encontrava a laborar na suacapacidade máxima, a sociedade M & M, S.A.adquiriu uma participação de 80% na sociedadeFLY, S.A. por 5.000 u.m, cujo justo valor, a essadata, ascende a 4.000 u.m. A sociedade adquiri-da possui uma fábrica C cujo processo tecnológi-co é semelhante à fábrica B pelo que M & Mplaneia efectuar uma ligeira adaptação da linhade produção de forma a complementar a finaliza-ção do produto XYZ. De acordo com os estudosda M & M, espera-se que ambas as UGC (B eC), de características e dimensões semelhantes,beneficiem da concentração de forma equitativa.

Tendo por base os pressupostos, o goodwill, novalor de 1.800 u.m, deverá ser imputado em 900u.m. a cada uma das UGC - B e C.

5 - Activo, que não goodwill, que contribui para os fluxos de caixa futuros de várias UGC.

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E. RECONHECIMENTO DE UMA PERDAPOR IMPARIDADE EM UGC

O reconhecimento de perdas por imparidade emUGC obedece à regra geral da norma. Torna-seentão fundamental determinar quais os activoscujas quantias escrituradas devem ser objecto deredução. Assim, poderemos estar na presença deduas hipóteses:

A. Não foi imputado qualquer goodwill àUGC

O teste de imparidade deverá ser efectuado sempreque existam indícios, ou anualmente caso tenhamsido imputados activos intangíveis que se encontremnas condições definidas anteriormente. Assim, apósdeterminar a quantia recuperável da UGC (e naimpossibilidade de identificação de activos emimparidade), a entidade avalia a necessidade dereconhecer uma perda por imparidade, comparandoo valor apurado com a quantia escriturada dosactivos imputados. Caso se conclua pela existênciade uma perda por imparidade na UGC, esta deveráser reconhecida imediatamente nos resultados con-

tra os activos identificados, numa base proporcionalàs suas quantias escrituradas.

B. Foi imputado goodwill à UGC

A entidade deverá realizar testes de imparidadeanuais e sempre que esteja na presença de indícios.No momento do teste poderão surgir duassituações:

• Foram identificados activos, dentro da UGC, que se encontram em imparidade. Deverá pro-ceder-se à determinação e imputação da perdaao activo identificado e apenas posteriormentepoderá ser efectuado o teste de imparidade daUGC. Deverá então comparar-se a quantia recuperável da unidade com a sua quantiaescriturada, incluindo o goodwill e a nova quan-tia do activo. Caso a UGC esteja em impari-dade, a perda deverá ser inicialmente reconheci-da no goodwill6 e, posteriormente, nos restantesactivos da entidade, numa base proporcional àssuas quantias escrituradas;

• Não foram identificados activos dentro da UGCem situação de imparidade. A entidade procedeao teste de imparidade da UGC e compara asua quantia recuperável com a respectiva quan-tia escriturada, incluindo o goodwill atribuído.Caso se identifique uma situação de impari-dade, a perda deverá ser primeiramente imputada ao goodwill e, posteriormente, aosactivos da unidade, numa base proporcional àquantia escriturada de cada activo.

Na imputação da perda por imparidade, dever-se-áter sempre presente que a quantia escriturada dosactivos, após a imputação da perda, não deveráresultar num valor inferior à sua quantia recuperávele zero. Adicionalmente, caso se tenha concluído queum activo pertencente à UGC que está a ser testa-da não se encontra em imparidade, não lhe poderáser imputada qualquer perda apurada para a UGC,devendo esta ser distribuída pelos restantes activosque a constituem.

A existência de goodwill associado a uma UGCassume especial interesse quando, decorrente de

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Ana Luísa Nabais Aniceto Contabilidade

Exemplo 3 – Imputação de ActivosCorporate a UGC

As operações das três UCG (A, B, C) da M& M, S.A., são geridas transversalmente apartir da sede da sociedade cuja quantiaescriturada ascende a 300 u.m. O trabalhodesenvolvido pela sede pode ser divididopelas três UGC de uma forma equitativadado que exigem tarefas de complexidade eduração semelhantes.

Desta forma, o activo corporate, no valor de300 u.m. pode ser imputado a A, B e C deforma equitativa – 100 u.m. para cada umadelas.

6 - Dada a sua natureza de activo cuja valorização de apresenta como subjectiva.

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uma concentração de actividades empresariais, aentidade não fica na posse da totalidade daunidade, sendo, nestes casos, necessário ter em con-sideração a existência de interesses minoritários. Oprocesso de imputação deverá, então, seguir asseguintes fases:

1. Ajustar a quantia escriturada de forma“nocional” de modo a que inclua o montante dogoodwill atribuível ao interesse minoritário;

2. Comparar a quantia escriturada da UGC ajus-tada com a sua quantia recuperável e determi-nar se a UGC se encontra em imparidade;

3. Dado que a perda por imparidade inclui a parteatribuível ao goodwill do interesse minoritário,torna-se necessário determinar o valor da suaquota-parte e excluí-lo da perda a ser re-conhecida nos resultados da entidade;

4. Reconhecer a perda por imparidade, ajustadapela parte do interesse minoritário, de acordocom os princípios já apresentados.

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Exemplo 4 – Reconhecimento de Perdaspor Imparidade em UGC

Em Dezembro de 2007 a M & M, S.A. realizaos procedimentos requeridos pela IAS 36.Abaixo apresenta-se informação complementarà dos exemplos anteriores de forma a identificarperdas por imparidade existentes.

Quantia Escriturada (inclui os activoscorporate):- A: 5.500 u.m.- B: 4.600 u.m.

Vida Útil Remanescente de A, B e C: 10 anosQuantia Recuperável:- A: 5.000 u.m.- B: 4.100 u.m.- C: 3.550 u.m.

A B CActivos Activos Goodwill TOTAL Activos Goodwill TOTALIdentific. Identific. Identific.

Quantia Escriturada Bruta 5,500 4,600 900 5,500 4,000 900 4,900Amortização (550) (460) (460) (400) (400)Quantia Escriturada Líquida 4,950 4,140 900 5,040 3,600 900 4,500Goodwill Interesse Minoritário 225 225 225 225Quantia Escriturada Líquida Ajustada 4,950 4,140 1,125 5,265 3,600 1,125 4,725Quantia Recuperável 5,000 4,100 3,550Perda por Imparidade (PI) - (1,165) (1,175)Imputação da Perda por Imparidade - (40) (1,125) (1,165) (50) (1,125) (1,175)Reconhecimento da PI em M & M - (40) (900) (940) (50) (900) (950)Quantia Escriturada após PI 4,950 4,100 - 4,100 3,550 - 3,550

* o goodwill ajustado de forma “nocional” ascende a 2.250 u.m. (1.800/80%) pelo que o goodwill atribuível ao Interesse Minoritário é de 450 u.m. pelo que a cada UGC deveráser imputado 225 u.m.

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F. REVERSÃO DE UMA PERDA PORIMPARIDADE EM UGC

Uma entidade deve avaliar, a cada data de relatofinanceiro, a existência de indicações de que umaperda por imparidade, reconhecida em períodosanteriores, já não exista ou tenha diminuído pelaocorrência de eventos ou alterações favoráveis,desde o reconhecimento da perda. Caso estejamosna presença de tais indicações, deverá ser calculadaa quantia recuperável do activo ou UGC e, caso seconclua pela inexistência ou redução da perdareconhecida em períodos anteriores, proceder aoreconhecimento da reversão directamente em resul-tados.

Na reversão de perdas por imparidade, e respectivaimputação aos activos que constituem uma UGC,deve-se ter sempre por base algumas regras espe-ciais, das quais se destacam:

• Proibição de reverter uma perda por imparidade anteriormente reconhecida no goodwill. Estaproibição aplica-se também no caso da perdapor imparidade ter sido reconhecida no períodointercalar anterior ao período anual, não podendo a entidade alegar que ocorreu umaalteração nas condições que deram origem aoreconhecimento prévio da perda e que estas jánão se verificam à data de reporte anual.

• O valor revertido deverá ser, no máximo, aque-le que aumenta a quantia escriturada para asua quantia recuperável ou valor que o activoapresentaria caso não tivesse sido reconhecidaqualquer perda por imparidade em períodosanteriores, líquida das respectivas amortizações.

Caso estejamos na presença de um activo revalori-zado, a reversão deverá ser tratada como um acrés-cimo de revalorização e creditada directamente nocapital próprio, mas apenas após ter sido revertidaem resultados qualquer perda anteriormente reco-nhecida em resultados. Do exposto podemos con-cluir que a reversão de uma perda por imparidadedeverá ser consistente com o tratamento adoptadono reconhecimento inicial da perda sendo imputadaaos activos, excepto goodwill, que constituem aUGC numa base proporcional às suas quantiasescrituradas.

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Ana Luísa Nabais Aniceto Contabilidade

BIBLIOGRAFIA

ORDEM DOS REVISORES OFICIAIS DE CONTAS (2004), Norma Internacional de Contabilidade 36,Imparidade de Activos, Revisão 2004, Manual do Revisor Oficial de Contas, Lisboa

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MORAIS, Ana I.; LOURENÇO, Isabel C. (2005), Aplicação das Normas do IASB em Portugal, Lisboa:Publisher Team

Quantia Escriturada

A 5.500B 4.600Vida Útil RemanescenteA, B e C 10 anos

Quantia RecuperávelA 5.000B 4.100C 3.550TOTAL 12.650

Fábrica C:Valor Aquisição 5.000Justo Valor 4.000% Participação 80%Goodwill 1.800Goodwill Total 2.250GW Int Minorit. 450