As Condicoes Da Classe Operaria a Epoca Da Revolucao Industrial

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As Condicoes Da Classe Operaria a Epoca Da Revolucao Industrial

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  • As condies da classe operria poca da

    Revoluo Industrial

    13/11/2009 - 07:03 | Maria Izabel Mazini do Carmo

    A Inglaterra, de fins do sculo XVIII a meados do sculo XIX, viveu um perodo

    conturbado. Foi o perodo do crescimento das cidades e da populao urbana,

    construo de inmeras ferrovias, aparecimento de fbricas e das classes

    sociais da poca capitalista: a burguesia, detentora dos meios de produo, e o

    proletariado, cuja fora de trabalho era explorada. Eram os anos da Revoluo

    Industrial.

    A base da mentalidade dos burgueses de tal poca era a explorao mxima da

    classe trabalhadora o proletariado de maneira que pudessem garantir o

    lucro e manter a massa operria dependente. E esta, na maioria, era oriunda

    dos cercamentos dos campos realizados na Inglaterra e que foraram a

    populao rural a trabalhar em meios alternativos no prprio campo ou a

    migrar para as cidades em busca de empregos principalmente nas minas de

    carvo ou nas primeiras fbricas, sobretudo as txteis, de alimentos, bebidas,

    cermica e outros demais produtos que visavam o nascente mercado

    consumidor urbano.

    Os trabalhadores, submetidos a esta nova ordem, muito sofreram em busca de

    melhorias de vida que nunca chegavam, devido ao salrio extremamente baixo.

    Acabavam, assim, realizando seus servios pela prpria subsistncia, sob

    pssimas condies de trabalho, em jornadas extremamente longas s vezes

    de 16 horas dirias trabalhando at o limite das foras e, no raro, tidos por

    negligentes e insubordinados pelos seus empregadores, ainda que tal se desse

    pela exausto fsica. Ademais, tiveram que aprender a trabalhar de maneira

    regular e ininterrupta, de forma que o trabalho rendesse. Alm disso,

    utilizavam meios de produo que no lhes pertenciam e geravam excedentes

    que, da mesma forma, nunca iriam lhes pertencer, com a nica finalidade de

    produzir o lucro para os burgueses. Esses patres os utilizariam para continuar

    a financiar a industrializao, ou seja, enriquecendo frente ao contnuo

    empobrecimento dos proletrios, o que levava os segundos insatisfao,

    muitas vezes ocasionando conflitos. Vemos assim que o proletrio era alienado

    do seu trabalho, pois alm de no saber qual era o fim da sua produo, no

    podia usufruir o produto que era destinado a outros.

    Importante ressaltar a preferncia de certos burgueses pela utilizao em larga

    escala da mo-de-obra considerada mais dcil e claro mais barata, como

    as mulheres (principalmente para a tecelagem), crianas e rapazes abaixo dos

    18 anos de idade, o que levava ao desemprego dos homens adultos.

    Dessa forma, a misria e a fome no tardaram a aparecer, assim como doenas

    como a clera e o tifo nas humildes regies habitacionais, devido s pssimas

  • condies de higiene, escassez do fornecimento de gua e pelo fato de no

    terem como se protegerem do frio. Tal quadro levou morte inmeros

    trabalhadores pobres.

    A triste realidade da classe trabalhadora no se restringiu populao urbana.

    Da mesma forma, os camponeses, desprovidos de terra ou assentados em

    terrenos infrteis, tambm sofriam com a fome.

    Apesar disso, a classe dominante manteve-se insensvel a tal realidade,

    preferindo ignorar os problemas sociais, pois no se sentia diretamente atingida

    por eles. Era mais cmodo e fcil fingir que nada via e tratar seus empregados

    como se no fossem seres humanos.

    A cidade se expandia e as habitaes populares passaram a crescer ao redor

    delas causando um ambiente pouco atrativo e um empobrecimento das cidades

    fabris. F. Engels, em sua obra A condio da classe trabalhadora na

    Inglaterra [1] diz: Um dia andei por Manchester com um destes cavalheiros

    da classe mdia. Falei-lhes das desgraadas favelas insalubres e chamei-lhe a

    ateno para a repulsiva condio daquela parte da cidade em que moravam os

    trabalhadores fabris. Declarei nunca ter visto uma cidade to mal construda

    em minha vida. Ele ouviu-me pacientemente e na esquina da rua onde nos

    separamos comentou: E ainda assim, ganham-se fortunas aqui. Bom dia,

    senhor!.

    Uma parte do operariado, acreditando na mensagem ideolgica da burguesia de

    que quanto mais se trabalhasse, mais ganharia, no desistia e labutava dia

    aps dia. Porm, muitos outros, desiludidos e desmoralizados pela extrema

    explorao e o constante empobrecimento, caam no alcoolismo, demncia,

    suicdio e as mulheres, na prostituio ou em muitos outros casos ,

    buscavam refugiar-se na promiscuidade.

    No entanto, parte desse contingente de miserveis via a sada na rebelio, na

    revolta, revoluo. Fizeram greves, revoltas armadas ou no, rebelies e

    muito importante formaram os sindicatos - as trade unions, visando a sua

    segurana, melhoria das condies de trabalho e o fortalecimento da luta

    operria. Indispensvel ressaltar que, quando tomam conscincia do seu papel

    na sociedade, reconhecessem-se como agentes sociais e transformadores, ou

    seja, no seria mais ou pobre enfrentando o rico, e sim a classe operria

    explorada e consciente enfrentando o seu explorador, responsvel pela sua

    misria e desgraa, o burgus capitalista.

    CRONOLOGIA:

    1780: Incio do processo de industrializao na Gr-Bretanha.

    1789: Inicia-se a Revoluo Francesa

  • Entre 1789 e 1848: Europa e Amrica inundadas por especialistas,

    mquinas a vapor e maquinarias para algodo e investimentos

    britnicos,

    Dcada de 1830: As artes e literatura passam a abordar a questo da

    Revoluo Industrial e a ascenso da sociedade capitalista.

    A partir da dcada de 1840: A classe operria, com acesso s obras

    socialistas como, por exemplo, O manifesto comunista, passa a se

    rebelar mais intensamente.

    1848: Revolues de cunho socialista mudam o conceito de revoluo de

    liberalismo para socialismo.

    TRECHOS ADICIONAIS DE POCA:

    A cano dos teceles de Lyon (Frana), citada por Eric Hobsbawn em sua obra

    A Era das Revolues:

    Pour gouverner il faut avoir

    Manteaux ou ruban em sautoir (bis)

    Nous em tissons pour vous, grands de la terre,

    Et nous, pauvres canuts, sans drap on nous enterre.

    Cest nous les canuts

    Nous sommes tout nus. (bis)

    Mais notre rgne arrivera

    Quand votre rgne finira.

    Alors nous tisserons l linceul du vieux monde

    Car on entend dj la revolte qui gronde.

    Cest nous les canuts

    Nous nirons plus nus.

    Para governar preciso ter

    Mantos ou condecoraes em brases

    Nsos tecemos para vs, grandes da terra,

    E ns, pobres operrios, sem roupa, somos enterrarrados.

    Somos ns os canuts ( operrios)

    Ns estamos nus.

    Porm, quando chegar nosso reino

    Quando vosso reino terminar

    Ento ns teceremos a mortalha do velho mundo

    Porque j se percebe a revolta que troa

    Somos ns os canuts ( operrios)

    No estaremos mais nus.

    Reflexo de A. de Toqueville, extrada da obra A Era das Revolues de Eric J.

    Hobsbawn:

  • Desta vala imunda a maior corrente da indstria humana flui para fertilizar o

    mundo todo. Deste esgoto imundo jorra o ouro puro. Aqui a humanidade atinge

    o seu mais completo desenvolvimento e sua maior brutalidade, aqui a

    civilizao faz milagres e o homem civilizado torna-se quase um selvagem.

    A. de Toqueville a respeito de Manchester.(TOQUEVILLE, A. de, Journeys to

    England and Ireland, ed. Mayer, 1958, p. 107-8.)

    Entrevista realizada com o pai de duas meninas menores de idade poca:

    1. Pergunta: A que horas vo as menores fbrica?

    Resposta: Durante seis semanas foram s trs horas da manh e voltaram s

    dez horas da noite.

    2. Pergunta: Quais os intervalos concedidos durante as dezenove horas, para

    descansar ou comer?

    Resposta: Quinze minutos para o desjejum, meia hora para o almoo e quinze

    minutos para beber.

    3. Pergunta: Tinha muita dificuldade para despertar suas filhas?

    Resposta: Sim. A princpio, tnhamos que sacudi-las para despert-las e se

    levantarem, bem como vestirem-se antes ir ao trabalho.

    4. Pergunta: Quanto tempo dormiam?

    Resposta: Nunca se deitavam antes das onze horas, depois de lhes dar algo

    que comer, e ento, minha mulher passava toda a noite em viglia ante o temor

    de no despert-las na hora certa.

    5. Pergunta: A que horas eram despertadas?

    Resposta: Geralmente, minha mulher e eu nos levantvamos s duas horas da

    manh para vesti-las.

    6. Pergunta: Ento, somente tinham quatro horas de repouso?

    Resposta: Escassamente quatro.

    7. Pergunta: Quanto tempo durou essa situao?

    Resposta: Umas seis semanas.

    8. Pergunta: Trabalhavam desde as seis horas da manh at s oito e meia da

    noite?

    Resposta: Sim, isso.

    9. Pergunta: As menores estavam cansadas com esse regime?

    Reposta: Sim, muito. Mais de uma vez ficaram adormecidas com a boca aberta.

    Era preciso sacudi-las para que comessem.

    10. Pergunta: Suas filhas sofreram acidentes?

    Resposta: Sim, a maior, a primeira vez que foi trabalhar, prendeu o dedo em

    uma engrenagem e esteve cinco semanas no hospital de Leeds.

    11. Pergunta: Recebeu o salrio durante esse tempo?

    Resposta: No, desde o momento do acidente, cessou o salrio.

    12. Pergunta: Suas filhas foram remuneradas?

    Resposta: Sim, ambas.

    13. Pergunta: Qual era o salrio em semana normal?

  • Resposta: Trs shillings por semana, cada uma.

    14. Pergunta: E quando faziam horas suplementares?

    Resposta: Trs shillings e sete pences e meio.. (NASCIMENTO, Amauri

    Mascaro, A indignao do trabalho subordinado, IN: Curso de Direito do

    Trabalho, Saraiva, So Paulo,1992, pg. 11-12.)

    SUGESTES DE FILMES:

    Germinal retrata a situao dos trabalhadores das minas de carvo na

    Frana.

    Tempos Modernos situando-se num perodo um pouco mais frente,

    Charlie Chaplin retrata a produo em srie do trabalho nas fbricas.

    BIBLIOGRAFIA:

    RODRIGUES, Antonio Edmilson Martins, As Revolues Burguesas, IN:

    O sculo XX O tempo das incertezas Da formao do capitalismo

    Primeira Grande Guerra, FILHO, Daniel Aaro Reis, FERREIRA, Jorge,

    ZENHA, Celeste (org.), Civilizao Brasileira, Rio de Janeiro, 2000.

    DOWBOR, Ladislau, Acumulao do capital, IN: O que CAPITAL, Abril

    Cultural / Brasiliense, So Paulo, 1985, Coleo Primeiros Passos.

    ANTUNES, Ricardo L. C., O advento do capitalismo e o papel dos

    sindicatos e O nascimento do sindicalismo e das lutas operrias: os

    trade-unions, IN: O que SINDICALISMO, Abril Cultural / Brasiliense,

    So Paulo, 1985, Coleo Primeiros Passos.

    HOBSBAWN, Eric J., A Revoluo Industrial, A carreira aberta ao

    talento e Os trabalhadores pobres, IN: A Era das Revolues: 1789

    1848., Paz e Terra, So Paulo, 2005.

    CODO, Wanderley. O que alienao, IN: O que ALIENAO, Nova

    Cultural / Brasiliense, So Paulo, 1986, Coleo Primeiros Passos.

    DICIONRIO DO PENSAMENTO MARXISTA, BOTTOMORE, Tom (editor),

    Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1983

    THOMPSON, E. P. Plantando a rvore da liberdade, IN: A formao da

    classe operria inglesa A rvore da liberdade, Paz e Terra, So Paulo,

    2004, Volume 1.

    GIDDENS, Anthony, As obras da Juventude Marx, IN: Capitalismo e

    Moderna Teoria, Presena, Lisboa, 1994.

    NASCIMENTO, Amauri Mascaro, A indignao do trabalho subordinado,

    IN: Curso de Direito do Trabalho, Saraiva, So Paulo,1992.

    [1] F. Engels, Conditions of the working class in England, captulo XII.

    http://www.historia.uff.br/nec/materia/grandes-processos/condi%C3%A7%C3%B5es-da-

    classe-oper%C3%A1ria-%C3%A0-%C3%A9poca-da-revolu%C3%A7%C3%A3o-industrial

  • 29/03/12