3
Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Sociais Aplicadas Departamento de Relações Internacionais Teoria das Relações Internacionais 2 Professor Henrique Zeferino de Menezes Alunos: Iale Karine Pereira Silva 11413544 Lucas Barbosa da Silva 11406432 As fronteiras de pensamento no estudo das relações internacionais: Até onde um(a) internacionalista pode/deve pensar? O presente trabalho consiste em uma análise do artigo de Chris Achen "Why Do We Need Diversity in the Political Methodology Society?” à luz da literatura crítica sobre o debate metateórico das relações internacionais, expandindo o escopo geográfico da discussão sobre a diversidade nas ciências sociais. Achen aponta a falta de diversidade como a razão de uma séria falha no campo da ciência política. Tal ciência, em essência, está intrinsecamente ligada à vida do ser humano, e dada a diversidade do gênero humano, perspectivas dominantes tendem a gerar resultados limitados e errôneos. A maneira como um indivíduo pensa é condicionada pelo seu universo pessoal. A maioria dos metodólogos políticos, homens brancos, cisgêneros, heterossexuais e de elite escrevem a partir de uma visão própria do mundo, visão essa que tende a ser aceita como universal. No livro ‘Positivism and Beyond’, Steve Smith aponta que o positivismo tem desempenhado um papel de extrema importância no campo das relações internacionais, não apenas no sentido de oferecer ao campo um método de investigação, mas porque sua epistemologia empiricista tem determinado o que pode ou não ser estudado, uma vez que determina que tipo de coisas existe nas relações internacionais. O positivismo é o pressuposto metodológico comum a todas as teorias tradicionais presentes nos assim chamados grandes debates. Ao longo de 50 anos, os teóricos das relações internacionais buscaram criticar as ideias finais, as teorias resultantes do processo de investigação, mas nunca sua base, nunca se arriscando a ultrapassar as fronteiras de pensamento (neste caso, relacionadas ao empirismo e racionalismo), garantindo assim que seu trabalho fosse considerado produção científica válida. Da mesma maneira em que, segundo Achen, o estudo da ciência política é limitado pela ausência de diversidade humana, Smith aponta a mesma ausência, mas em relação à diversidade de perspectivas teóricas. As características pessoais do indivíduo condicionam a direção de sua visão. O positivismo determina para onde se pode olhar, quais problemas merecem ser analisados e solucionados e, na verdade, que problemas realmente existem, uma vez que a escolha de uma base teórica como padrão a estabelece como common sense, e assim se dá uma ligação entre a teoria e a

As Fronteiras de Pensamento Nas Relações Internacionais

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Breve dissertação sobre as abordagens pós-positivistas das relações internacionais

Citation preview

  • Universidade Federal da Paraba

    Centro de Cincias Sociais Aplicadas

    Departamento de Relaes Internacionais

    Teoria das Relaes Internacionais 2

    Professor Henrique Zeferino de Menezes

    Alunos: Iale Karine Pereira Silva 11413544

    Lucas Barbosa da Silva 11406432

    As fronteiras de pensamento no estudo das relaes internacionais:

    At onde um(a) internacionalista pode/deve pensar?

    O presente trabalho consiste em uma anlise do artigo de Chris Achen "Why Do We Need

    Diversity in the Political Methodology Society? luz da literatura crtica sobre o debate metaterico

    das relaes internacionais, expandindo o escopo geogrfico da discusso sobre a diversidade nas

    cincias sociais.

    Achen aponta a falta de diversidade como a razo de uma sria falha no campo da cincia

    poltica. Tal cincia, em essncia, est intrinsecamente ligada vida do ser humano, e dada a

    diversidade do gnero humano, perspectivas dominantes tendem a gerar resultados limitados e

    errneos. A maneira como um indivduo pensa condicionada pelo seu universo pessoal. A maioria

    dos metodlogos polticos, homens brancos, cisgneros, heterossexuais e de elite escrevem a partir

    de uma viso prpria do mundo, viso essa que tende a ser aceita como universal.

    No livro Positivism and Beyond, Steve Smith aponta que o positivismo tem desempenhado um

    papel de extrema importncia no campo das relaes internacionais, no apenas no sentido de oferecer

    ao campo um mtodo de investigao, mas porque sua epistemologia empiricista tem determinado o

    que pode ou no ser estudado, uma vez que determina que tipo de coisas existe nas relaes

    internacionais. O positivismo o pressuposto metodolgico comum a todas as teorias tradicionais

    presentes nos assim chamados grandes debates. Ao longo de 50 anos, os tericos das relaes

    internacionais buscaram criticar as ideias finais, as teorias resultantes do processo de investigao,

    mas nunca sua base, nunca se arriscando a ultrapassar as fronteiras de pensamento (neste caso,

    relacionadas ao empirismo e racionalismo), garantindo assim que seu trabalho fosse considerado

    produo cientfica vlida.

    Da mesma maneira em que, segundo Achen, o estudo da cincia poltica limitado pela

    ausncia de diversidade humana, Smith aponta a mesma ausncia, mas em relao diversidade de

    perspectivas tericas. As caractersticas pessoais do indivduo condicionam a direo de sua viso. O

    positivismo determina para onde se pode olhar, quais problemas merecem ser analisados e

    solucionados e, na verdade, que problemas realmente existem, uma vez que a escolha de uma base

    terica como padro a estabelece como common sense, e assim se d uma ligao entre a teoria e a

  • prtica, estipulando atravs desta nica viso dominante limites prticos e tericos ao dos

    pesquisadores. Dito isto, mesmo o debate interparadigmtico dos anos 80 se mostra bastante limitado,

    porque todos os trs paradigmas (realismo, pluralismo e globalismo/estruturalismo) trabalhavam sob

    asseres positivistas. Isso ajuda a explicar por que eles podem ser considerados mais trs verses de

    um mesmo mundo, do que abordagens inconciliveis, como se costumava crer, ou vises

    genuinamente alternativas das relaes internacionais. (SMITH, 1996) Realistas e neoliberais seriam

    duas faces da mesma moeda o mundo, pois, no seria completamente abarcado por nenhuma das

    respectivas teorias isoladamente, dado que este comporta mais conflito do que os liberais imaginam

    e mais cooperao do que os realistas vislumbram(STEIN, 1990).

    A verso do positivismo adotada pelas relaes internacionais, j bastante diferente daquela

    proposta por Comte envolve quatro pressupostos: o naturalismo, a busca por uma metodologia nica

    para todas as cincias; distino entre fatos e valores, isso significa que os fatos so neutros, e que o

    conhecimento deve ser objetivo, ainda que a observao no o seja; relaes causais entre os

    conhecimentos, o que permite a construo de modelos tericos; e a verificao emprica, a validao

    via experimentao. Segundo Smith, seria a aplicao da epistemologia empiricista (comumente

    confundida com o prprio positivismo) no causa de ampliao, mas de grave reduo do escopo de

    pensamento na rea.

    A abordagem empiricista em relao construo do conhecimento baseia-se na ideia de que

    o nico conhecimento genuno que se pode ter do mundo baseado nos fatos que podem ser

    observados atravs dos sentidos humanos, e esta uma reduo bastante simplista, dada a

    complexidade do mundo social. Por mais que os fatos sejam observveis, suas causas no o so.

    Assim no se sabe a origem dos eventos, e ainda que se possa predizer outros, no se pode explic-

    los.

    A base racionalista afirma que a observao por si s ineficiente, se no estiver associada a

    uma interpretao baseada na razo para trabalhar as relaes invisveis entre os dados colhidos a

    partir da observao. A principal crtica a essa base a ideia ingnua de que todas as pessoas

    chegariam mesma concluso analisando o mesmo fato a partir da razo e que as leis criadas em um

    campo das cincias sociais seriam compatveis com os problemas de todas as outras.

    As teorias ps-positivistas afirmam que, sendo a realidade social um fato construdo, abstrato,

    subjetivo, e no pode ser compreendido objetivamente, ou quantitativamente. Essa perspectiva

    representa uma ameaa s teorias criadas at ento pois, se no h realidade objetiva, todas essas

    teorias no passam do reflexo das crenas individuais de seus autores.

    O quarto debate permite uma interessante analogia ao mito da caverna de Plato. As bases

    metodolgicas pr-estabelecidas podem ser representadas, segundo a viso ps-positivista, pelos

    grilhes, que neste caso so colocados voluntariamente pelo encarcerado, justificando assim sua

    permanncia no conforto psicolgico da caverna escura e mida, mantendo-o distante do mundo real,

    onde h uma exuberante diversidade de pessoas, e maneiras de pensar, mas que nunca poder encant-

    lo, j que lhe falta a coragem de explorar esse mundo novo e estranho.

  • Referncias Bibliogrficas:

    1 ACHEN, Chris H. Why Do We Need Diversity in the Political Methodology Society?

    Disponvel em: http://goo.gl/uoo2kH, em 29/04/2015

    2 BRAGA, N. R. C. F. Perspectivas Positivistas e Ps-positivistas nas Relaes Internacionais: As Divergncias Epistemolgicas Levariam a Distines em seu Modo de Fazer Cincia?. Plemons, Braslia, vol. 2, n. 4, dezembro de 2013

    3 KURKI, M; WIGHT, C. International Relations and Social Science. In. DUNNE, Tim; KURKI, Milja; SMITH, Steve. International Relations Theories: discipline and diversity.

    Oxford: Oxford University Press

    4 SMITH, Steve. Positivism and Beyond. In. SMITH, Steve; BOOTH, Ken; ZALEWSKI,

    Marysia (eds). International Theory: Positivism and Beyond. Cambridge: Cambridge University

    Press, 1996

    5 STEIN, A.A. Why Nations Cooperate: Circumstance and Choice in International Relations.

    Ithaca, Cornell University Press, 1990