As Greves antes da Greve (Antônio Luigi Negro e Flávio dos Santos Gomes)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

"Esquecidos pela história, foram os escravos, não os imigrantes anarquistas, os primeiros trabalhadores brasileiros a cruzar os braços por seus direitos."

Citation preview

  • TRABALHO

    As greves antes da"GREVE"

    Esquecidos pela histria, foram os escravos,no os imigrantes anarquistas, os primeiros trabalhadores

    no Brasil a cruzar os braos por seus direitos

    ATEASDC FCG4

    0 MISSIONNRIO -- Ma vi, Diustino, ricorda Ia vita 1 Que cosa e etchinco tosta pro uno hfrrigato co famiglia ? Lasciate Ia firramenta ! Andiamo a fare Ia rivuluticine

    OPE, r o --- Oc, S I'asuho, l perdendo s tempo. Eu no comprendo lingua extrangeir

    62 BrHistria

  • 9

    -EZed saiopegllegeza scumo a saiAil SOUeou;e 'SOAUUEJ'OZ81 ap epeip ep IEUt; oN seizisnpui seu soAezisozod sena; sag3Esilezed ap seiaupiAa se seppA oes

    seoizgp; seuanbad wa sopegaidula sonpeo soppzado puiZ ap siem eiAui4 onaue[ ap oiU ou anb noiuode ZL81 apOiuaweasuaiaz o 'oSSip U1 \7 SOAEJJSa meia % '- siai-xi a snadeip 'soznoo beges 'laded bzpin ap seopgp; seuaiuawleiiadsa - OSBi e ml ap soue so anua oziaue[ apoi'J op seznte;nucm seu sopezisi3az soupzado so j sa3edsasassou saiAil a SOA CD sazopeTllegezi zaAETl wnwoo Ez3

    SOAEZisa salop OI opus 'soppzado 009 a seupi;ozap ap eozao moi 'apepp ep somuawpalageisa sazoiew sopmn cio eis3 eiazd,4 Eju0d ep e3lzge; eu zeTllegezi E waz-espoai as enej ap apuOJSiA oe saiuaiuaizad sopeziAennsosaiopeglegezi so 'saiue oue wn 'anb Eood ep Esuoidwielad sowageS ipzas -sied op zanlei 'ozpue[ ap oij op ez-iawizd e io; 8S81 ap so;ai 9dp sop oAai2 e anb oaip eTluazwanb pH ili5Ei OU sanazg se wezigzns leuge opuen

    Sazopeglegezi owoo sazanapa soiiazip suas ap ouzoi ma sieuoppipEZZ s303eoipuiAiazopuenine 'senpaloO sa3esileied ma ieziligow as uiagmeiweipod o il )inie;nuem oe so5i uas op zoias op wei anb sei-imouoJa sapepinne ap ouloi wa wezeziueg.TO as sol njsoaiaguizoJ o saaepp;le 'seiiapuipnb 'aiial-ap-sewe 'semi-usoid 'saiueingwe saiopapuaA 'soziaiozlem E!AETI 'Saznila soneic sa soueDU;e a.uu3 J1o soueileii 'sasauolod 'si9T4u-edsa 'sasapue11! 'sasauisp 'sasangmiod a sepupaiozdsesioAip ap soueoiz;e eiunaz onb 'eouozaaagl eppzadoassep euin now.To; as - so iogil o sOApeD 'Saiuezgiui weA-egazdma anb sepuoze; seu omsaw no 'iopenies a oziaue[ap Oi21 omoo sopupp uia - XIX olnJS op oguoi od

    oupsn[ a IEOOSed ap essa mas oillegezi op sopunui sop

    o!-)S(

    SOJI31APUC3 SOpOWPJIpUIS 01?

    olgau wawoqwn ap oe5eil!j

    ap eipq 'PWIJV,analg 10ZPiP oliaiisPlqlopeynegrli

    wn 1OJUaAUOJOpUP1Uai

    oueileli wn

    rz1SOL sol1eJap agleyoe 'opel oeeuiged eN

    1qwooYUo)sgJqA i

    suageuoszad sozamnui so - seznie;puem a seuisn 'sepuaze;anuo - opueinJpicaz seiauuadxa sessa iusuad lEiuouTepun; 'aloH nouigemi as anb op oEsuai a oe3ezadooo

    'eznasiw siem oenw 'wzod 'annOH edozn3 ep sopegaglJsazopeTllegen sop sepeiedas mio; OTllegeai op sopunwsop seAisiJap scpuuadxa'oesiA essap opeiinsaz owo3

    zaJazepsa med anb opzipun;uoD E.led s1ew ni uos anb o 'eisimio;uww igza14-pue oweneJI;iuoszad `oueiodo OiuauiiAow op zedppied e enes-niaz os anb bunsn[ ap e omoo seznl3 seu uodo semi sepeisiuogeiozd owoi e3a1ede (oneJJSa o aATsnpui) oziolisuiqiopeTllege.z o onb exiop oeu 'soiuawpanbsa a soiiuelisanua 'anbzod esoniiaouoJazd 5Eisinazg soplagai meiosnadozna saiopeglegeni so sopoi mau onbzod eDidgirlesoniiaouoiazd o eiidgin mgmei sem 'eJpuemoi aized

    cio OCSJ0A eu mU 'IeDipez aiuezgiwi op oiiw o wenezgojoJEismbieue ozio uensa op ezn$i; e e3zo; nollue le 3opeilonaz ouEileii op Opii3i; odii assa wezeginAlp soo-nepip soixai a Selanou 'esuaidwi '(L161 maTeazv)eisiAa.T eu epeJilgnd) solte) [ ap agiego eu oww luL

    ,; emagueziso enguia e opuooid-woD oeu n3 odwaz nas opuapiad pisa - (anbmios moow, gwel) oupsn[ noiuawnze - IeoDsed nos 'aDOA,, o>35-nlonaz e iate; e a 051A10s o iegzei e sopor noiioui 'souplesnoonuo :ogo; teme ezaiA Oue11e1i o 'opeganeo anbeios oopuesuadwow 'soem se wo0 opueinopso oiuaiw o-op-uemoso 'soTlio sop emale eu waq 1eoosed zeAlaSgo Ezedaiuaieq ou esned ewn za; - oigau wn - oupiado o `oEuieu ed aQ E3ageo eu Eisiiepos aiueiiltw ap saialodeilosassap mn eACAai Oueileii lei o 'oizpuoiss!JAopewego wgwel oupsn[ ozialiseiq op ew-ixoide as ieoosed ouEileii o opeiEiosua ei

    op ssVopepossv op S9V

    -a9rJonss^wpv ap ai:aQ _-......_ -.- _ i' ais i olJtlQnoo a t,ttofialaJcntaw};>saN /u ... ou5nJisul Pia opera

    }soalafSe.A aoii taa____._..

    i , t3t S ^'No3ta ueals^

    sa,lin;^'"- N o7niD>'u1

    ^'N Jauolsstioi^ar, r

    ovjed!Jta^t

    awoil

    Kl UL4i^I

  • No quadro deArmand-Julien

    Pallire, cenade escravos

    de ganho, quealugavam seus

    servios edavam parte doque recebiam a

    seus senhores,trabalhando no

    comrcio derua da Bahia

    TRABALHO

    ram a Fbrica de Plvora Ipanema,controlada pelo Estado Imperial.Reivindicavam melhorias nas con-dies de trabalho, como dirias edieta alimentar. No Rio de Janeiro,em abril de 1833, um levante numacaldeiraria trouxe apreenso, com osescravos enfrentando a fora policial,havendo tiros e mortes.

    Em 1854, Joaquim da RochaPaiva foi testemunha e vtima daao coletiva dos seus escravos. Tudoaconteceu na tera-feira, 5 de setem-bro. Foi na Fbrica de Velas e Sabo,sua propriedade na Gamboa. Umgrupo de escravos "armados de achasde lenhas e facas" paralisou as ati-vidades e reivindicou sua imediatavenda para outro senhor. A decisofinal do proprietrio apareceu nonuma mesa de negociao, mas simna rpida represso policial de quase100 homens, que assustou os morado-res da corte, e fez alardear a imprensa.

    O uso da palavra francesa grve sugere queo conceito era desconhecido aqui, mas ostrabalhadores negros , escravos ou livres, jfaziam paredes para interromper os trabalhos

    H informaes de que Rocha Paivatentou negociar, propondo discutiro assunto no dia seguinte, enquantoalegava que j era tarde da noite.Crioulos e africanos, na sua resposta,se dirigiram ao proprietrio "em tomalto". Esclareceram "que no queriamesperar porque aquilo era negcio deser decidido logo".

    Chegando a fora policial fbri-ca, os escravos se entregaram s auto-ridades sem opor resistncia. Talvezjulgassem que, sendo presos, ficariamtodos juntos, afastados da fbrica poralgum tempo e depois poderiam servendidos, como reivindicavam.

    Em 1858, na rua da Sade, outrogrupo de escravos que trabalhavanum armazm de caf se insurgiu con-tra seu proprietrio, Manuel FerreiraGuimares. Igualmente, paralisaramo trabalho e fizeram reivindicaes.No caso, no queriam ser vendidos.Sabedores das dificuldades financei-

    ras de Ferreira Guimares em man-ter o armazm, os escravos talvezprevissem que seu destino poderiaser as fazendas de caf no interiorda provncia. Acostumados com otrabalho na cidade, temiam a vendapara as reas rurais.

    Estar prximo cidade poderiasignificar no apenas ficar longe doscafezais, mas manter naquele espaourbano arranjos e laos sociais anti-gos. Queriam permanecer juntos, nacorte. Por causa disso o armazmparou. Como resultado, os escravossofreram represlia: foram encami-nhados para a Casa de Deteno.

    Contudo, de acordo com o mitodo imigrante radical, a paralisaocoletiva do trabalho seria algo toindito que sequer haveria um termoem portugus para nome-la. ramosobrigados a tomar a palavra grvede emprstimo aos franceses! Masa paralisao do trabalho como

  • '661 '8 L 5u 'dSne]sAa:ul'21ge8eu LSS L ap eisau

    anais Voeol SI32i'bOOZ 'OlXal

    wo8 'oilauel apoia-epien$ wa

    eiJllod'aAaig wasaiope4legeil '9

    olaDJC Nsolivi,

    '196L 'asualllsei8'olned OeS '6161

    'e2aw0-CJIV'oinud oes z lon

    ' L lon'pseig oueueiadoassepv -s

    olned'02113HNIdj 11IDiw 'IIVH

    'S661'Ieu0PPCN oAlnbJV

    'oilauef ap oca'XIXoInDas 'oilaue ap

    oRI ouselezuasap sapeprunwoJ

    a sogweJokrselogwollnb ap

    selilsiH'soluessop 0!Ae13 'SAWOD

    f'OO 'gala'JOPCAIPS '(],7 61-i' 161) asuJ ap

    einaunluoj ewnusoueleq solieiado a

    sreulsnpul-uupiV'IJJlll31SVJ

    siem Pgies

    99

    SEIaiIJ mela `misseowS3JA1'EUEwasopIuui3mnno 'seip meAElnpanbsepedeosa soldwissazaAseWEi3sodn.i ma sozoAsellnwweln3soA-elJSa 90 olsoloid a 010.11 Um apSEAEJJSa seaSIBIlO1IU3S SEI 113 1S3

    SE 'misse 'aS-weAEl3 2'J (seiiaLunl-SOJ selinqcens a) S0AeJJS3 sopsoluaweliodmo3a sawnlsoz algossgo,SuwJojuimulains 'soiJunuesimma ouiolal nas o WCAEwB1Jal anbsaioquas iod soed leuiofopsop-unuewasElsid seus uEAexiop SEw

    'ewalsis op segjaj selad meiwns soAIIeo saiopelllegeil so'ige a TnbV

    Ot pTAe10Sa w03 epule

    opunw wnu',,apepiaggl ep o> 3uanu1ap 9e1-ewe14P sow0p0,J SOAEJJS3 asaioLluas acua o>~ SETJOoau ap euiiojowoo SazEJ!3a mela - selim sepl-ndeosa se owsaw - sen3 sewn$le'owsaw Ossi 1oc1 -Dublai nas opuelo-Oau 'SO,5lAlas so 'aluawelieiodwal'wapuadsns oluenbua sawipuoo sai-olliaw iod wuuo!ssaid 'aasS ewnuowo3 ol41ege1l op solsaloid op SEUI

    epewiu oew e sleolpuls SaO3e1o-osse se weiegoa;Sew 'weiapao anb ale soilaulsn50 SOgyseo sop mil a leolpuls Oluawloaquooai'leliules oluawne'oglegeil ap seioq orlo ap epeuiofweiianbewn$le eiousissu welgaoai oeu aluam-eolleid a aigod eia ieluawlle elalp uns 'soquAuasop wzewie oe weiAap'sodeiiuj wa weneglegeilSOAEiosa ap saluapuaosap sass3;soilawsn sopseunlio; sep iole;oiiawlid o eia leini iopeglequilo 'opldnlsa a alualopul owoo opeleilap eiogwa'anb assipoJngcueuiad uca e/OJ ' iopeglegeil o'enllelolui esofeioo essa gigos soisau a so3llsaw'soliagg a SOAEJJSa ap sOlll} meia 'eolul apep-lluapl uns e selauialai wulslxa oeu anb epuldeilauw anaA Ewn weielualsns eilaieon3e euoz epsaiopeglegeil so'oe3eioldxa epnge siem e Sopllaw-qns owsaw'6161. wa 'oongweuiad ] oueginOuawoua}wn OS meio} Oeu SanaIR se 'SalueiRlwlsop apepnlsnloxa meia oeu owoD wlsse Sey^

    ]o; seilnosowagoJladaOE5IA essousowelele opowassOQ sol?aouooaidleuloluooeied oqunmeo loillaw o3SOAe1JSaa SaiATI salopegpEgellapseiJuuadxa se ielunf 'sa1uPJif1 asocial!selq'soLieJl13eopuTnlpUI

    eiplagal e aiua.IoJipuiluuopeu lopuLijegell op oppm op

    959 L wa ojsaio idosopina wn weaazg

    a oqiegeaq owe,iadwoaaajui

    oilaue(ap 01H ou }eiap wzewae wn ap

    sonea)sa SO 'sepuaZe}eaed sopipuaA

    wa.ias opuawalElupsip aluawmlaldwoiapepleai

    ewn o anb o 'WEAEDT1I121 S0i13IIS

    -eiq so O 5E1aunwoi efno 503!A135

    1E112JE WEAEwnlsoJ sala 'salopeA-iasuoD asooilgleD 'Ieuoissijoidaprp1AE1e min ap oiuiwop olod

    iqwooeliolslgiqMM.M

    iiladwoo weipod sollno a sun 'se:)-13Padso SoQT20i ap soauellaluoo011100 SEw 'sOUEllmll oUIOJ OeN

    eslOA-aJ!A 3 sasaigeleo sop (ozaleipno) emolp o zapualua wEmasuoJmau 'oldwaxo iod 'solaueA eoiulpapeppuap uns weAe3Seige saimi21m1solmw '- souCile4T owoo waiaA asmas o - selsmbieue epeN -somouSaiAll saiopeLllegeil no 'soAeJJSa Sai-opelltugeil iod Sevai sapaied 'soou-91SILI soluauimop sou'someiluoJUa'opel opa L ' sowexiap opuen?j

    sapaied owoo sepoalluoo WE1E313sapepApu sep enpalOJ oesuadsns apsumio3 seiiawud se `XIX oIn3s op

    1!Sei9 oloiadoiosma OLC190 'OSIAiaso weied opuunb 'soucileli oluunbua'ffilanq wo wEiluo SigiluEdsa 5o e[O)uis waze3 sasalui 'ESOJUei3aai2ep wly OUawyua3 o ieudlsap eiedeudgid uineled em Einssod suiodorna senJuil sep aliud uoq anb saiope1llEgeil sop epOuuadxo eu) BJ1gl a

    eaueluodso oul eiounbasuoo ewnioj ullueieq a olsaloid ap uwio3

    sapepiolne sep onoai olad epeoiew lo}apaied e 'eoodo ep esuaidwl elad epequudwooualuaweldwd SOp!p!Alp wgwel saioquas so wo0'Senlleloadxa a Saosual ap seuewas senp weio jalwluoo ap el2eilsaewn simowoo suls!A wuio3'ezaliao woo 'seis] oe3eolllluapl ap sedugo ap osno eiRixa anb ledplunw uiuwuD Ep oe3eulwialap eeiluoo meia Sels!Aai$ so 'aluawielnollied ;,solueoso - oglegeil ap so3udsa snas ap oe1ezluuRio euweliajialul anb soAll!sodsip woo 'epll uns ieloiluooEAESIA anb oe3ulslgal Ewn e as-wequndo so$ll-suo ap wl3 olad wau solides iod oeu wuAelnjapodsueil a oluawloalsuge ap colas o a oliodo seuewas senp iod weiesquied-so2eu so'sleluapoo soumOlije alied iolew e - oqueg ousoueoluJe ap seualuao 'LS81 w3 ',,ui2au anai$ apnowego e sla^I oeoi iopuliolslq o 'oseoe iod O NiOPEAIES wa opl.uODO Equal SOACJOSa a soliagll apeuegin oE3eslluied aluapuaaidins slew e zanlel

    21oad/llds n02 Vd anb V21W]N 3n3219 V

  • Anncio deescravo fugido,

    de 1854: muitasvezes cativos

    escapuliamdo trabalho

    como estratgiapara, na volta,conseguir dos

    proprietriosmelhores

    condiesde vida

    TRABALHO

    de tenses, castigos, concesses eriscos (para senhores e escravos).

    Era comum proprietrios espera-rem alguns dias para anunciar fugi-dos ou contratar capites-do-mato.Tempo suficiente para que algunsfujes voltassem apadrinhados porsenhores influentes e vizinhos deseus sinhs. A um padrinho cabiainterceder invocando generosidadee tolerncia. Muitas vezes, o escra-vo ganhava o que desejava: umamelhoria nas condies do cativeiro.Polticas dos senhores e polticas dosescravos acabavam assim redefinidas,numa relao at algum tempo atrsbem pouco conhecida.

    Episdios aparentemente semmaior expresso como fugas tempo-rrias, bebedeiras, desordens, ofensasfsicas talvez escondam aspectos deci-sivos da cultura escrava, guardandoexpectativas relacionadas ao ritmodo trabalho, ao controle senhorial, disciplina e at ao lazer. Em pocasque antecediam as festas religiosas,aumentava a incidncia das fugas.

    No emaranhado da definiogelatinosa de "criminalidade escra-va", podemos ver a gestao de umaidentidade coletiva. Numa amostrade cativos recolhidos na Casa deDeteno em 1863, podemos verifi-car, entre suas motivaes, a prisotanto "a pedido" quanto por "insu-bordinar-se", ou mesmo "queixar-se".Estamos, talvez, diante da forma-o de uma cultura de classe urbanaentre os escravos, uma vez que haviaum alto nmero de cativos domsti-cos, cozinheiros, lavadeiras etc.

    Podiam ser escravos que se insur-giam, no mbito domstico, contraseus senhores (e assim eram remeti-dos Deteno). Mas tambm haviacativos que procuravam as autori-dades policiais para defender algu-ma relao de trabalho. A lavadeiracrioula Ludovina, por exemplo, pro-curou as autoridades policiais trsvezes num mesmo ano. No regis-

    66

    CRIOULO FUGIDO.

    Anda fugido , desde o dia 18 de Outubro de 1854, oescravo crioulo de nome

    lORTIvATO,de 20 e tantos asnos de idade, com falta de dentes nafrente, com pouca ou nenhuma barba, baixo , reforado,e picado de bexigas que leve lia poucos amuos, muitopachola , nial encarado , latia apressado e com a boccacheia olhando para o cho ; costuma s vezes andarcalado intitulando -se forro , e dizendo chamar-seFortunato Lopes da Silva. Sabe cozinhar , trabalham deencadernador , e entende de plantaes da roa, donde natural. Quem o prender, entregar priso, e avisar nacrte ao seu senhor Eduardo Lacm ucrt, rua daQuitanda n. 77, receber 500000 dc gratificao.

    Rir- do I_caire.-Tpp. "!&iver:el da LALSL''1tT , Ru, doa L,'didn;, 0! B.

    tro prisional feito, est marcado seucrime: "queixar-se" - o que poderiaser a tentativa de reclamar contra oseu senhor ou seus clientes. Isto eracrucial, em particular no caso deescravos urbanos, muitos dos quais"ao ganho." Eram os escravos que,por si mesmos, alocavam os seusservios no mercado: carregadores,quitandeiras e vendedores ambulan-tes. Depois de trabalhar, tinham dedar ao seu senhor uma parte deseus ganhos. Entre aqueles presos por"queixar-se" (certamente acusados deinsolentes), temos um grande nme-ro de lavadeiras.

    Mas, com certeza, os motivos dasqueixas, protesto e negociao dosescravos iam alm do ambiente e da

    lida domsticos. Estudando revoltase movimentos sociais em Salvador,Joo Reis revelou uma greve de car-regadores em 1857, em resposta amudanas na lei que interferiram nasrelaes entre senhor e escravo, e naforma de organizao do trabalho. Oque estava em jogo era uma intensadisputa com o poder pblico: o con-trole das prticas e costumes do tra-balho urbano de escravos e libertosao longo do sculo XIX.

    ANTONIO LUIGI NEGRO professor doDepartamento de Histria da Universida-de Federal da BahiaFLVIO GOMES professor do Departa-mento de Histria da Universidade Fede-ral do Rio de janeiro

    BrHistria

    page 1page 2page 3page 4page 5