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As lógicas espaciais do sistema bancário: reestruturação na cidade de Presidente Prudente – SP Juliana Santos de Oliveira Universidade Estadual Paulista – FCT/UNESP- Campus de Presidente Prudente [email protected] INTRODUÇÃO Este texto tem como intuito apresentar os resultados da pesquisa de iniciação científica intitulada “As lógicas espaciais do sistema bancário: reestruturação na cidade de Presidente Prudente – SP”, em estágio avançado, que está vinculada ao projeto temático “Lógicas econômicas e práticas espaciais: cidades médias e consumo” e é financiada pela agência de fomento à pesquisa FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo). Como forma de anteceder e contextualizar as discussões vindouras faz-se necessário uma breve contextualização sobre as cidades médias e seus papéis contemporâneos na rede urbana, para se tratar dos desdobramentos das lógicas espaciais do sistema bancário nessas cidades, já que o processo de globalização e a intensiva introdução do Brasil nos circuitos internacionais da economia redundaram em transformações profundas que, por sua vez, implicaram em reestruturação espacial e novas formas de uso do território. Tais transformações levaram a um reforço da importância dos papeis exercidos pelas cidades médias, já que, segundo Branco (2007): “(...) o universo das cidades médias corresponderia à gama de centros regionais com posição hierárquica entre as metrópoles e os centros locais.” (p.95). Elas foram reposicionadas na rede urbana brasileira, gerando uma nova divisão interurbana do trabalho, ao exercerem funções mais relevantes orientadas a partir dos interesses de distribuição da produção industrial e, sobretudo, do setor de comércio e serviços, assim “(...) o consumo teve papel mais importante na orientação dos papéis intermediários dessas cidades do que propriamente a produção industrial.” (SPOSITO, 2007, p.39) e ainda hoje o é. Com isso, torna-se preocupação da iniciativa privada e do poder público o aumento cada vez mais acentuado da densidade técnica dessas cidades que se traduz [MES1] Comentário: Juliana, reitrei o meu nome porque acho justo que o autor seja quem escreve o texto. Acho adequado colocar meu nome em rodapé como orientadora. Se um dia escrevemos um texto juntas (e podemos fazer isso) meu nome entra com o seu ok? É um procedimento meu e acho que não tinha conversado contigo ainda [MES2] Comentário: Quem é o autor? Branco ou Sposito?

As lógicas espaciais do sistema bancário ...€¦ · necessário uma breve contextualização sobre as cidades médias e seus papéis contemporâneos na rede urbana, para se tratar

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As lógicas espaciais do sistema bancário: reestruturação na cidade de Presidente Prudente – SP

Juliana Santos de Oliveira

Universidade Estadual Paulista – FCT/UNESP- Campus de Presidente Prudente

[email protected]

INTRODUÇÃO Este texto tem como intuito apresentar os resultados da pesquisa de iniciação

científica intitulada “As lógicas espaciais do sistema bancário: reestruturação na cidade

de Presidente Prudente – SP”, em estágio avançado, que está vinculada ao projeto

temático “Lógicas econômicas e práticas espaciais: cidades médias e consumo” e é

financiada pela agência de fomento à pesquisa FAPESP (Fundação de Amparo a

Pesquisa do Estado de São Paulo).

Como forma de anteceder e contextualizar as discussões vindouras faz-se

necessário uma breve contextualização sobre as cidades médias e seus papéis

contemporâneos na rede urbana, para se tratar dos desdobramentos das lógicas espaciais

do sistema bancário nessas cidades, já que o processo de globalização e a intensiva

introdução do Brasil nos circuitos internacionais da economia redundaram em

transformações profundas que, por sua vez, implicaram em reestruturação espacial e

novas formas de uso do território. Tais transformações levaram a um reforço da

importância dos papeis exercidos pelas cidades médias, já que, segundo Branco (2007):

“(...) o universo das cidades médias corresponderia à gama de centros regionais com

posição hierárquica entre as metrópoles e os centros locais.” (p.95). Elas foram

reposicionadas na rede urbana brasileira, gerando uma nova divisão interurbana do

trabalho, ao exercerem funções mais relevantes orientadas a partir dos interesses de

distribuição da produção industrial e, sobretudo, do setor de comércio e serviços, assim

“(...) o consumo teve papel mais importante na orientação dos papéis intermediários

dessas cidades do que propriamente a produção industrial.” (SPOSITO, 2007, p.39) e

ainda hoje o é. Com isso, torna-se preocupação da iniciativa privada e do poder público

o aumento cada vez mais acentuado da densidade técnica dessas cidades que se traduz

[MES1] Comentário: Juliana, reitrei o meu nome porque acho justo que o autor seja quem escreve o texto. Acho adequado colocar meu nome em rodapé como orientadora. Se um dia escrevemos um texto juntas (e podemos fazer isso) meu nome entra com o seu ok? É um procedimento meu e acho que não tinha conversado contigo ainda

[MES2] Comentário: Quem é o autor? Branco ou Sposito?

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na melhoria e diversificação dos meios de transporte, telecomunicações e infraestrutura

urbana (Sposito, 2007).

Assim, dentre os vários ramos de atividades que compõem o setor de comércio e

serviços e que se estabeleceram nessas cidades, contribuindo para a reestruturação

urbana e de seus espaços, ainda em processo, é notável o papel das redes bancárias

nesse cenário de transformações, ramo que se aproveitou amplamente do adensamento

da tecnificação e modernização desses territórios e que, na cidade de Presidente

Prudente, acompanhou e reforçou o processo de descentralização espacial e formação de

novas áreas e eixos que expressam importante concentração “(...) aumentando a

centralidade de Presidente Prudente no plano regional e multiplicando a sua expressão

no plano local.” (SPOSITO, 2001, p.247). Assim, apesar de os estabelecimentos

bancários se concentrarem, sobretudo, na área central da cidade, também têm

acompanhado e contribuído para a reestruturação da cidade a partir do reforço e

redefinição da centralidade intra-urbana. Além disso, as lógicas locacionais dos bancos

também têm contribuído para a segmentação socioespacial na cidade, através da

instalação de agências e caixas eletrônicos em áreas que atendem um público com maior

poder aquisitivo, áreas mais centrais, em detrimento das áreas periféricas da cidade.

OBJETIVOS

O objetivo central desse trabalho é contribuir para a compreensão das lógicas

espaciais do sistema bancário no município de Presidente Prudente, no Estado de São

Paulo, de forma a apreender qual a intensidade e como tem se redefinido a centralidade

urbana nessa cidade, também analisar como as lógicas espaciais do sistema bancário

ampliam a segmentação socioespacial, visto que há uma tendência de localização das

agências bancárias e caixas eletrônicos nas áreas residenciais de maior poder aquisitivo.

Em síntese, teremos como objetivos a abordagem de três focos de análise principais, um

relacionado à reestruturação na cidade de Presidente Prudente a partir da redefinição ou

reforço da centralidade intra-urbana; o segundo relacionado à lógica mais geral que

orienta a localização do sistema bancário e seus desdobramentos na cidade; e o terceiro

[MES3] Comentário: Setores são o primário, secundário e terciário, Cada um deles se divide em ramos e o bancário é um deles

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relativo à essa lógica espacial bancária que reforça a segmentação espacial na cidade de

Presidente Prudente.

METODOLOGIA Ao longo da realização dos trabalhos de investigação científica foi adotada uma

série de procedimentos metodológicos, dentre eles destacam-se: coleta, organização e

representação de dados através da elaboração de mapas, tabelas e gráficos; aplicação de

enquetes; observação de campo e revisão bibliográfica necessária ao embasamento

teórico. Tal revisão foi feita durante todo o transcorrer da pesquisa, através de

fichamentos, a fim de compor as análises e a discussão teórica. Já a coleta de dados se

concentrou, sobretudo, nas informações sobre a localização dos estabelecimentos

bancários na cidade de Presidente Prudente, através do site da FEBRABAN

(http://www.febraban.org.br/), sendo seguida da organização desses dados em tabelas,

confirmação dos endereços e representação através de produtos cartográficos.

As observações de campo também foram realizadas seguindo alguns critérios,

sendo que, para o centro da cidade, foram escolhidas agências na área core do

quadrilátero central e em suas adjacências, seguindo um cronograma de períodos

escolhidos para que pudéssemos analisar os fluxos de pessoas durante e após o

fechamento das agências e compreender a intensidade da centralidade delas ao longo do

dia, além da compreensão da intensidade de fluxos de pessoas atraídos para o centro a

partir da centralidade exercida pelos equipamentos bancários, também nas diferentes

áreas do quadrilátero central. Esses dados foram organizados em tabelas e gráficos.

Já a elaboração do instrumento e a aplicação das enquetes foi feita de forma a

buscar traçar um perfil dos usuários de certas agências bancárias, além de identificar os

locais de origem deles e contribuir para a compreensão da centralidade exercida pelos

equipamentos bancários na escala da cidade e também na escala regional. Buscamos,

ainda, identificar com qual frequência esses usuários se deslocam até agências e caixas

eletrônicos e como se deslocam, identificando, assim, alguns traços das práticas

espaciais cotidianas desses citadinos. As informações também foram tabuladas,

organizadas e representadas em tabelas, gráficos e mapas.

[MES4] Comentário: A metodologia é o conjunto de procedimentos – estes vem no plural e a metodologia fics no singular ok?

[MES5] Comentário: Retirei esta parte no intuito de diminuir

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RESULTADOS PRELIMINARES A seguir, analisaremos brevemente os resultados obtidos, primeiramente,

apresentando a representação dos dados de localização dos estabelecimentos bancários

na cidade de Presidente Prudente, o que nos ajuda a elucidar, conjuntamente a outras

análises, as lógicas espaciais do sistema bancário na cidade de Presidente Prudente,

inclusive, fornecendo-nos elementos para a confirmação da hipótese de que as lógicas

espaciais dos bancos reforçam a segmentação socioespacial nesta cidade, como poderá

ser observado no MAPA 1. Além disso, foi dado destaque para a quadrilátero central da

cidade, considerado o centro principal, sendo possível observar que há áreas de maior

concentração de estabelecimentos bancários que indicam uma especialização, como

representado no MAPA 2.

Como se pode observar nos mapa 1 e 2, as agências bancárias estão

extremamente concentradas, sobretudo, neste centro, onde há “(...) uma forte

centralização territorial, tanto em sua localização na cidade, como em sua localização

intra-central...” (WHITACKER, 1997, p.159), havendo uma especialização de áreas

dentro do quadrilátero central, mas também nos eixos imediatamente próximos que

conformam este quadrilátero. Essa disposição acompanha um processo de

reestruturação da cidade de Presidente Prudente, onde o centro passou por um processo

de perda de papéis em favor de outros pontos da cidade, pois, sobretudo os eixos

próximos e os novos subcentros, adquiriram parte desses papéis na forma de

equipamentos de comércio e serviços (WHITACKER, 1997). Os estabelecimentos

bancários também fizeram parte dessa reestruturação, abrindo novas agências e caixas

eletrônicos em novos pontos da cidade, contribuindo para o reforço da centralidade

desses novos pontos, com destaque para a Av. Washington Luiz, eixo norte do

quadrilátero central, e Av. Manoel Goulart, eixo sul do quadrilátero central.

Por outro lado, poderemos observar que a localização dos caixas eletrônicos se

dá de forma mais dispersa pela cidade, mesmo que ainda haja uma concentração

marcante desses equipamentos no centro, o que primeiramente nos indica, entre outras

coisas, que a instalação desse tipo de equipamento bancário segue uma lógica diferente,

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já que oferece serviços mais restritos e também mais simples e rápidos, e que fazem

mais parte do cotidiano dos citadinos, por esse motivo, também, grande parte deles está

localizada nos shopping centers, supermercados, postos de gasolina, subcentros e etc.,

locais onde há fluxos de pessoas em horários e dias alternativos, levando em conta que

há um câmbio na centralidade e nos usos do centro durante os dias da semana e também

durante os diferentes períodos do dia (SPOSITO, 2001). Esses locais se apresentam

como uma alternativa viável ao centro no que se refere, também, aos serviços bancários,

ou seja, o oferecimento desses serviços bancários está vinculado a outras práticas

espaciais, diferentes dos oferecidos pelas agências bancárias localizadas na área mais

central da cidade, especificamente, com relação aos caixas eletrônicos 24hs, vemos uma

dispersão total deles pela cidade, mesmo não estando em grande número, sendo que não

há nenhum localizado dentro do quadrilátero central.

MAPA 1–Presidente Prudente. Síntese das localizações e áreas de concentração das agências bancárias e

caixas eletrônicos. 2014

MAPA 2- Presidente Prudente. Localização das agências no centro principal e áreas principais de

localização desses equipamentos. 2014

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Nota metodológica: Como critério de delimitação das áreas de maior concentração de equipamentos bancários, traçamos um circulo

que abrange uma área de aproximadamente 50m a partir de uma aglomeração de, pelo menos, dois bancos que estejam a menos de

10m de distância.

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Outro aspecto fundamental do trabalho diz respeito ao resultado das observações

de campo e aplicação de enquetes, que, como já elucidado anteriormente, ofereceu-nos

recursos para analisar não só os fluxos e a intensidade da centralidade exercida pelos

equipamentos bancários nas diferentes áreas do quadrilátero central, mas, sobretudo, para

compreender as lógicas espaciais desses citadinos no que diz respeito ao uso de serviços

bancários.

Como já visto, as observações de campo foram realizadas em dois horários,

durante o funcionamento das agências bancárias e após o seu fechamento, e nas Tabelas 1

e 2, poderemos observar os dados resultantes da contagem de usuários feita durante 10

minutos em diferentes agências do centro da cidade, o que nos ajuda a apreender onde

estão os maiores fluxos de pessoas e, portanto, quais são as áreas intra-centrais que

exercem maior centralidade com relação ao oferecimento de serviços bancários.

MAPA 3–Presidente Prudente. Localização das agências do centro principal onde foram feitas as

observações de campo. 2014

Assim, no primeiro período, percebemos um grande número de pessoas que

acessam esses bancos, sendo que a Rua Nicolau Maffei (Calçadão), por concentrar maior

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número de agências, mas também onde o fluxo de pessoas é mais intenso por conta da

grande quantidade de estabelecimentos comerciais e de serviços, identificou-se um maior

fluxo de pessoas utilizando bancos, 69%, em, segundo lugar, identificamos a Rua Siqueira

Campos e, por ultimo, a Rua Felício Tarabay. Já no segundo período, após fechamento das

agências, nota-se uma queda brusca no fluxo de usuários nesses bancos, o que nos mostra

a importância ainda maior destes quando no período de funcionamento das agências,

sobretudo, pelo oferecimento de serviços não encontrados, ou de difícil acesso para

algumas pessoas, nos caixas eletrônicos. Entretanto, como é possível identificar no

gráfico, a Rua Nicolau Maffei ainda se destaca, em relação aos outros pontos do

quadrilátero, mesmo com a queda do fluxo de pessoas, mas a Rua Felício Tarabay supera

a Rua Siqueira Campos nesse período.

Gráfico 1–Presidente Prudente. Fluxo de usuários de bancos em algumas ruas do centro

principal, período de funcionamento das agências bancárias. 2014

Gráfico 2 - Fluxo de usuários de bancos em algumas ruas do quadrilátero central, segundo

período.

Em síntese, primeiramente pudemos identificar uma importância marcante dos

equipamentos bancários no reforço da centralidade no centro da cidade de Presidente

[MES6] Comentário: Indicar o horário e retirar primeiro período

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Prudente; em segundo lugar pôde-se analisar aspectos que marcam diferenças no nível de

centralidade, exercida por esses equipamentos bancários e que tem relação direta com a

estruturação dos serviços e comércios no centro da cidade que atraem diferentes fluxos

para determinadas áreas, nos diferentes pontos do quadrilátero central, e também em

diferentes períodos.

Desta forma, apreendemos uma relação dialética entre as lógicas locacionais do

sistema bancário no centro da cidade e a estruturação desse mesmo centro, já que a

localização dos bancos acentua a centralidade de certas áreas, mas também os fluxos que

são capazes de atrair são determinados, em certa medida, pelo entorno, dependendo da

maior ou menor concentração de comércio e serviços nas áreas onde são instalados esses

equipamentos.

Outro aspecto da pesquisa, extremamente enriquecedor, tem relação com os dados

resultantes da aplicação de enquetes, direcionada a usuários dos bancos do centro da

cidade, e também as aplicadas pelos pesquisadores do projeto temático, no centro da

cidade, e que nos possibilitou compreender melhor a origem dos usuários desses bancos, a

frequência com que utilizam esses equipamentos, como realizam os deslocamentos

necessários para tal, qual sua escolaridade (como um indicador que nos ajudasse a

compreender o seu padrão social), e qual a motivação na utilização das agências bancárias

no centro da cidade. Nesse sentido, obtivemos informações importantes sobre possíveis

determinantes das lógicas espaciais dos estabelecimentos bancários, compreendidas a

partir da visão dos citadinos, além da elucidação de algumas de suas práticas espaciais.

Com isso, as variáveis de local de origem, escolaridade e forma de deslocamento

dos entrevistados foram fundamentais para identificar e relacionar o local de origem e

padrão social dos usuários que mais utilizam bancos no centro com a estrutura

socioespacial de Presidente Prudente e a lógica de localização dos empreendimentos

bancários no centro da cidade e, desta forma, identificar que os bairros mais citados nas

enquetes estão fora da área de concentração da população de mais alta renda da cidade,

com exceção do bairro Bosque, que se localiza nas imediações do centro, ou seja, os

bairros mais citados estão nas áreas periféricas da cidade. Isto nos indica, também, que a

população de mais alta renda tem utilizado equipamentos bancários em outras áreas, que

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não no centro, e que oferecem comércios e serviços direcionados à população com

maiores rendimentos.

Com isso, pudemos compreender na prática um aspecto importante do processo de

reestruturação do centro da cidade e também da lógica de localização dos bancos, já que a

área central continua a atender a maior parcela da população, por concentrar ainda grande

parte do comércio e serviços e ser de grande acessibilidade, entretanto, atraindo, em sua

maioria, uma população de menor poder aquisitivo, já que existem outros locais, como os

shopping centers, que atendem à população de alta renda. Esta tendência apresenta-nos

indícios claros do processo de segmentação socioespacial, reforçada pelas lógicas de

localização do sistema bancário, que tem buscado novas áreas onde possa atender a

população de maior poder aquisitivo, que passa a utilizar os serviços bancários, dentre

outros, em áreas fora do centro da cidade, maximizando seus lucros, expressão

materializada do fator renda na lógica espacial da firma bancária (SICSÚ E CROCCO,

2003).

Também é possível analisar a centralidade de Presidente Prudente em relação às

cidades da região, o que é característica essencial das cidades médias (SPOSITO, 2009), já

que algumas cidades vizinhas foram citadas como local de origem dos usuários

entrevistados, o que nos permite compreender que Presidente Prudente exerce essa

centralidade regional também através do oferecimento de serviços bancários, já que “de

fato, a área central constitui-se no foco principal não apenas da cidade, mas, também, de

sua hinterlândia.” (CORRÊA,1995, p.38) o que, em última análise, demonstra a

centralidade desses equipamentos bancários em nível regional.

A frequência com que os usuários entrevistados declararam utilizar os bancos do

centro da cidade também revelou um dado importante, isso à medida que grande parte

deles utiliza esses equipamentos, pelo menos, mais de uma vez por mês, também uma

parcela significativa declarou frequentar esses bancos pelo menos mais de uma vez por

semana, e isso nos ajuda a esclarecer a regularidade no fluxo de pessoas que utilizam

bancos no centro da cidade, e como o uso de serviços bancários está intimamente

relacionado à suas práticas espaciais cotidianas.

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Gráfico 9 - Presidente Prudente. Sistema bancário: frequência aos bancos no centro

principl citadas pelos usuários entrevistados. 2014.

Em suma, todos os dados apresentados nos auxiliam na percepção das práticas

espaciais dos citadinos, já que os fluxos e as percepções espaciais, além das preferências

pessoais por certos equipamentos bancários, por exemplo, leva-nos a interpretar que essas

escolhas são próprias às dinâmicas da cidade e produzem uma espacialidade particular,

que, em certa medida, pode transcender certos aspectos da lógica mais geral do sistema

bancário, já que, como destacado na obra de Whitacker (1997), “...a única coisa que nos

dá conta do real não são as estruturas coerentes da técnica, mas as modalidades de

incidência das práticas sobre as técnicas ou, mais exatamente, as modalidades de

obstrução das técnicas pelas práticas” (SANTOS, p.84), e a percepção desse processo é

possível, sobretudo, na dimensão do lugar. Desta forma há uma articulação clara e

indissociável entre a lógica mais geral de localização da firma bancária e o processo de

estruturação e reestruturação das cidades, conformando um quadro particular de

constituição do espaço.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 2002.

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BRANCO, M. L. G. C. Algumas considerações sobre a identificação de cidades médias.

In: SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1996.

SPOSITO, M. E. B.(Org.), et al. Cidades Médias: espaços em transição. São Paulo:

Expressão Popular, 2007.

SPOSITO, M. E. B.; et al. O estudo das cidades médias brasileiras: uma proposta

metodológica. In: SPOSITO, M. E. B.(Org.); et al. Cidades Médias: espaços em

transição. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

SPOSITO, M. E. B. Cidades médias: reestruturação das cidades e reestruturação urbana.

In: SPOSITO, M. E. B.(Org.); et al. Cidades Médias: espaços em transição. São Paulo:

Expressão Popular, 2007.

WHITACKER, A. M. A produção do espaço urbano em Presidente Prudente: uma

discussão sobre a centralidade urbana. 1997. 318f. Dissertação (Mestrado em

geografia) – FCT/UNESP. Presidente Prudente.

SICSÚ, J., CROCCO, M. L. Em Busca de uma Teoria de Localização das Agências Bancárias: algumas evidências do caso brasileiro. Revista Economia (Anpec), v.4, n.1, p. 85-112, 2003.