Conflitos sociais contemporâneos

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    CONFLITOS SOCIAIS CONTEMPORNEOS: CONSIDERAESCONFLITOS SOCIAIS CONTEMPORNEOS: CONSIDERAESCONFLITOS SOCIAIS CONTEMPORNEOS: CONSIDERAESCONFLITOS SOCIAIS CONTEMPORNEOS: CONSIDERAESCONFLITOS SOCIAIS CONTEMPORNEOS: CONSIDERAESSOBRE O AMBIENTALISMO BRASILEIROSOBRE O AMBIENTALISMO BRASILEIROSOBRE O AMBIENTALISMO BRASILEIROSOBRE O AMBIENTALISMO BRASILEIROSOBRE O AMBIENTALISMO BRASILEIRO

    LCIA DLCIA DLCIA DLCIA DLCIA DA COSA COSA COSA COSA COSTTTTTA FERREIRA*A FERREIRA*A FERREIRA*A FERREIRA*A FERREIRA*

    APRESENTAPRESENTAPRESENTAPRESENTAPRESENTAOAOAOAOAO

    H na literatura internacional uma diferena de nfase quanto aos focosde causalidade na abordagem dos movimentos sociais ou da ao coletiva,principalmente naquela que trata do ambientalismo (CALDWELL, 1984, PAEHLKE,1989; ECKERSLEY, 1992; MILTON, 1995; Mc CORMICK, 1992, 1995). Para ossocilogos e antroplogos, a nfase recai sobre as mudanas culturais ou sociaisprovocadas no tecido social ou nas orientaes que organizam a ao. J os cientistaspolticos centram sua ateno nas caractersticas das instituies polticas, ou em suacapacidade organizativa.

    Do ponto de vista das categorias explicativas preferenciais, h basicamenteduas opes, cabendo grande variedade de abordagens o papel de variaes sobre os

    mesmos temas. De um lado, a linha estruturalista compreende o desenvolvimento deaes coletivas ou movimentos sociais como resultado de mudanas sociais eeconmicas nas formaes sociais contemporneas. De outro, a tradio culturalistacompreende-os como resultado de alteraes culturais e mudanas de valores. Nessalinha esto aqueles autores preocupados com novos estilos de vida baseados em valoresno materiais, possveis graas satisfao das necessidades bsicas em sociedadesps-industriais.

    Entretanto, a questo chave que preocupa a todos os autores e compartilhada aqui, diz respeito tenso entre crise e mudana social, que temmobilizado uma fatia considervel das Cincias Sociais desde a Modernidade incipiente,mas que se recoloca desta feita para o Ambientalismo dos anos de 1990, na medidaem que este se viu obrigado a enfrentar um redirecionamento das instituiesestabelecidas, sejam elas nacionais ou supranacionais, no sentido da descentralizaodas decises e popularizao do processo de formulao de polticas pblicas, queexpressaram em perodo recente uma orientao genrica a um futuro vivel.

    Em paralelo, o fortalecimento do fenmeno Organizaes NoGovernamentais (ONGs) aponta algumas fragilidades das teorias sobre movimentossociais, especialmente no que se refere compreenso do ambientalismo atual, seja do

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    seu ponto de vista constitutivo, seja do ponto de vista do papel social que as teoriasdesempenham na contemporaneidade. Sobre essa crtica a tericos como Alain

    Touraine, Clauss Offe e Jrgen Habermas, Mathias Finger (1996) afirma que as teoriaspor eles desenvolvidas so inadequadas para compreender o papel das ONGs, porquepartem de um conceito tradicional de poltica, referindo-se modernidade e modernizao, ou seja, questo da racionalidade e do alinhamento que conferemsentido a ambos os processos que impulsionaram o crescente desenvolvimento industrialdo incio do sculo1 . Os movimentos sociais, para os tericos citados, teriam comocaracterstica principal integrar o conjunto de cidados e a sociedade como um todoao ideal moderno, atravs de um tipo de ao social dirigida ao sistema poltico,compreendido como o ponto de referncia de todas essas teorias. Em ltima instncia,Mathias Finger (1996) se pergunta se as ONGs atuais no seriam uma expresso dasmudanas sociais e polticas contemporneas, emergindo em um contexto de erosodas polticas tradicionais, correspondentes fragmentao dos ideais coletivos, do

    poder e do prprio projeto da modernidade.De fato, para o caso da questo ambiental, depois da Conferncia do Rio

    e reafirmada cinco anos depois, a opo pela democracia desviou-se das ruas e ganhouo espao oficial. Sem sombra de dvida esse processo representou uma oportunidadempar s propostas de sustentabilidade, mas no representaria tambm uma falnciageneralizada da capacidade institucional do Estado nacional em formular e executarpolticas pblicas? Ou ainda, ser que no representaria, diante da falncia do seupapel original, uma busca esquizofrnica por ocupar um papel conquistado por atoressociais autnomos, marginais ao arcabouo institucional?

    curioso notar a quantidade de eventos patrocinados pelo prprioambientalismo, cujo objetivo central a autoavaliao, seja ela de um perodo especfico,

    seja do processo de constituio do movimento como um todo (FUNDAOFRANCISCO, 1995; ISA, 1997). A grande motivao desta conduta pode ser resumidaem uma preocupao em avaliar suas origens, caractersticas, seu desempenho e orumo tomado. Mas ao que parece, essa motivao no casual e nem demonstra faltade flego de lideranas, militantes e filiados, ou qualquer indcio de derrota de suaspropostas.

    Em contrapartida, seria conveniente aceitar aqui essa hiptese de crisedo ambientalismo, simplesmente porque esta uma hiptese boa de se pensar. Atravsdela pode-se trabalhar questes fundamentais, j que remete sua essncia reflexivae francamente orientada a mudanas e inovaes. Sendo assim, prope-se pensar estahiptese, a suposta crise do ambientalismo, atravs de alguns pares de opostos geralmentetrabalhados pela teoria da ao social: movimento social e grupo de presso,

    particularidade e universalidade, atores sociais e sistema, atores sociais e agentespolticos, para que se possa ressaltar as especificidades de cada uma das categorias desujeitos englobadas na categoria mais ampla de ambientalismo, alm do impactoprovocado interna e externamente pelo alargamento do dilogo com movimentos sociaisdiferenciados em perodo recente. Esses pares de opostos talvez sejam teis para sepensar a envergadura da tarefa que os ambientalistas impuseram-se, a partir do momento

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    em que surgiram a pblico redefinidos pelo perfil de ONG, tentando ao mesmo tempomanter a antiga promessa da universalidade: universalidade na ao e universalidade

    nos propsitos.Esse ensaio visa atacar essas questes para compreender o ambientalismocontemporneo, em especial o brasileiro, atravs de algumas pistas fornecidas pelaliteratura brasileira e internacional sobre ambientalismo, movimentos sociais eorganizaes no-governamentais, alm de algumas reflexes resultantes de observaodireta do cotidiano de ambientalistas desde a fase preparatria da Rio-92.

    A SUPOSA SUPOSA SUPOSA SUPOSA SUPOSTTTTTA CRISE DO AMBIENTA CRISE DO AMBIENTA CRISE DO AMBIENTA CRISE DO AMBIENTA CRISE DO AMBIENTALISMOALISMOALISMOALISMOALISMO

    Nos anos de 1970 e incio dos de 1980, quando o ambientalismo emergiacom as caractersticas reconhecidas nele hoje, a literatura especializada em movimentossociais caracterizava-o como um novo movimento social (HABERMAS, 1981; EVERS,

    1984; TOURAINE, 1985; OFFE, 1985; ANTUNIASSI, 1989). Isso se deu justamentepelo fato de que, emergindo no seio das classes mdias intelectualizadas dos grandescentros urbanos, parecia a todos que, tal qual os movimentos estudantil, de minoriastnicas, de gnero, ou de liberao de costumes, o objetivo central do ambientalismoseria muito mais a aceitao das suas idias e da sua identidade enquanto gruposocial diferenciado do que a transformao da sociedade como um todo; seria muitomais o seu reconhecimento enquanto uma especificidade por parte de outras categoriasde sujeitos do que a proposta de transformao desses sujeitos segundo seus parmetrose propsitos. Mas o ambientalismo surpreendeu a todos, ou a si mesmo, quando comeoua esboar intenes mais amplas de se constituir como um ator que ultrapassava asclasses mdias para dialogar com outros segmentos sociais e, tambm, quandoultrapassou suas prprias idias estabelecidas inicialmente na oposio genrica a uma

    sociedade predatria e imediatista, para esboar algo que parecia constituir-se comoum novo projeto de sociedade.

    Nesse momento, alguns autores reconheceram ali um possvel movimentosocial, portador de um projeto histrico-social de transformao da sociedade comoum todo. Vale a pena mencionar a reflexo fundamental de Eduardo Viola (1987),bastante impactado por autores como Galthung (1984), que frisava sua dimensomultissetorial e Robin Eckersley (1992), autora cuja contribuio maior foi definir opensamento ecopoltico como um esboo de ideologia que organizaria as foras sociaisrumo historicidade acalentada pela nova esquerda. Nesse e em vrios outros artigossolo e em parceria com Srgio Boeira (1990) e Hctor Leis (1991, 1992) o autor traouum perfil de um movimento social histrico, portador de um projeto de mudanauniversalizante, com flego para articular setores sociais dspares provenientes deagncias governamentais, do mundo acadmico, de empresas, de organizaes nogovernamentais e de movimentos comunitrios. A identidade que os integrava era aorientao sustentabilidade ou ao desenvolvimento sustentvel.

    O que de fato se buscava ressaltar no ambientalismo definindo-o comomovimento social era sua potencialidade como forma de mobilizao coletiva capaz de

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    reinventar a sociedade e a vida poltica. Tendo em vista que nem todas as formas deao coletiva podem ser consideradas demandas sociais procura de uma oferta poltica

    passvel de ser encontrada mais cedo ou mais tarde, nem tampouco so sinais de umarecusa global sociedade (Touraine, 1989), o conceito de movimento social pareciaaos analistas do ambientalismo de grande valia porque indicava o lugar onde tendema formar-se os conflitos com flego suficiente para a aglutinao de diferentes interesses,expectativas e valores, onde a capacidade de homens e mulheres para fazerem a suahistria atingiria o grau mais elevado e refinado.

    A lembrana dos trs elementos constitutivos de um movimento social, adefinio do prprio ator, de seu adversrio e do campo de disputa onde se desenrolariao conflito proposto (TOURAINE, 1989), marcou a anlise dos tericos, mas impactoutambm as grandes lideranas nacionais que reconheceram em sua ao elementos deuma legitimidade inesperada.

    Ocorreu que, a partir do final dos anos de 1980 e incio dos anos de 1990,

    a literatura especializada na compreenso da ao ambientalista, apesar das inovaesempreendidas, no ficou impune aos problemas de fundo colocados pelas limitaesda prpria teoria dos movimentos sociais e que agora, depois de anos de produointensa, pode ser amplamente questionada. Ambos, tericos e lideranas ambientalistas,estiveram quase sempre impregnados pelas referncias tericas do modelo clssico deinterpretao histrica das transformaes sociais.

    Herdeiros indiretos dos intelectuais cuja produo centrou-se nas lutassociais da sociedade industrial, criador e criatura analistas e objetos de anlise influenciaram-se mutuamente na construo de uma concepo instrumental dessefenmeno contemporneo conhecido como ambientalismo. Seja ele compreendidocomo movimento social, agregado ou no ao adjetivo novo, ou como grupo de presso,

    seja ele compreendido como ideologia, pensamento social e poltico, tica ou discurso,de uma certa forma o quadro de referncia do debate sempre estabeleceu-se em tornode suas possibilidades como meio eficaz para atingir uma orientao a um tipo defuturo verdadeiramente vivel. Essa caracterstica foi reproduzida atravs da leituraatenta dos mais influentes quadros tericos de referncia utilizados pelos cientistassociais preocupados com os movimentos sociais, sejam eles revolucionrios ou noradicais.

    No que diz respeito aos tericos contemporneos de movimentos sociais,pode-se dizer, juntamente com Alexander (1998:07), que eles secularizaram o modeloclssico, despojando-o da teleologia revolucionria e conservando sua teoria explicativafirmemente racional, distributiva e materialista. Quer se inspirassem em Marx, Weber,ou nos autores da teoria do conflito, quer fossem influenciados pelos tericos da escolha

    racional, individual ou coletiva, os mais importantes socilogos das duas ltimasdcadas interpretaram os movimentos sociais como respostas prticas e coerentes distribuio desigual das privaes sociais criadas pela mudana institucional(ALEXANDER, 1998:07). Pensava-se que fatores como estratgias, tipos de organizaointerna, disponibilidade e capacidade de mobilizao de recursos pudessem proporcionar ao social meios confiveis e eficazes para atingir o xito2 .

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    Segundo Alexander (1998) a hegemonia da secularizao sociolgicado modelo clssico de anlise dos movimentos sociais de tal envergadura que

    influencia at as abordagens culturalistas surgidas nos ltimos anos. Emboraaparentando oferecer uma alternativa substantivao da escolha racional, essestrabalhos resultaram no efeito contrrio de deslocar os aspectos simblicos e utpicos,colocando em seu lugar uma exagerada nfase nos aspectos prticos, chegando at asugerir recentemente que os novos movimentos sociais orientam-se preferencialmentepor inovaes culturais porque estas so menos dispendiosas e de xito mais garantidodo que por tentativas de modificar os arranjos institucionais que ordenam a vidasocial (ALEXANDER, 1998:09). Com a pulverizao atual do poder e a altacomplexidade do sistema poltico contemporneo, que exigem recursos de poder einfluncia muito acima da mdia dos movimentos sociais, este modelo explicativoinstrumental, que pode ser expresso na imagem genrica mais eficiente reformularo mundo pela redefinio de seus termos do que pelo rearranjo de suas sanes

    (SWIDLER, 1996:06 apud ALEXANDER, 1998), pareceu bastante sedutor a tericose lideranas polticas.

    J a linha de pesquisa dos novos movimentos sociais traou uma perspectivaque levou em conta a contingncia e a subjetividade dos atores, revelando uma fortesensibilidade tambm para os aspectos histricos e institucionais. Ao reconhecer acentralidade da subjetividade nos movimentos sociais contemporneos, esses analistasultrapassaram o modelo clssico, materialista e realista, sem contudo desvincular-sede um olhar atento s mudanas decorrentes da passagem de uma sociedade industrialpara outra ps-industrial. Acreditaram que a centralidade das necessidades materiaisanteriores tivessem sido deslocadas nos novos movimentos sociais por uma orientaovoltada para os significados e identidades. Para esses autores (HABERMAS, 1981;

    TOURAINE, 1985; OFFE, 1985; MERLUCCI, 1989), nas dcadas de 1960 e 1970surgiu uma nova forma de dominao, pois os centros de controle e manipulaopenetraram a vida cotidiana, colonizando de modo sem precedentes o campo de relaesintersubjetivas e, em um mesmo movimento, desnudando a urgncia de se deslocar aao coletiva, orientando-a defesa das identidades pessoais e coletivas, damanuteno e reproduo subjetiva ou de grupos, e da vida de um modo geral. Oambientalismo, que por princpio tentou atuar no plano poltico, mas tambm no privado,pareceu ser o herdeiro desta contemporaneidade bipartida e colonizada resultante deuma ordem simblica totalizadora.

    De qualquer modo, a teoria sobre novos movimentos sociais legitimou atenso permanente entre o modelo clssico de movimentos sociais e a constataoemprica de tendncias inevitveis da vida social contempornea, permitindo manter

    intacta sua grade conceitual, alterando apenas seus referenciais empricos. AlainTouraine, primeiro terico a problematizar a concepo clssica de mudana social,apontou para a predominncia dos atores sobre os sistemas, autodenominando-se umterico da ao. Sua profunda imerso nas mentalidades e nos movimentos da dcadade 1960 propiciou uma compreenso mais demorada da contingncia e reflexividadedestes modos de ao, bem como uma interpretao mais coletiva e orientada para a

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    sociedade. Nessa interpretao, a sociedade ps-industrial compreendida como criativae expressiva, alm de orientada para uma ordem simblica totalizadora (ALEXANDER,

    1998). Na verdade, Touraine esteve o tempo todo em busca de uma mudana socialradical e apenas pensou encontrar o sentido para essa radicalidade em uma orientaoalternativa anterior, compreendida como material e agora, segundo sua perspectiva,voltada ordem normativa que rege a sociedade atual.

    A consequncia mais imediata dessa mudana de rumo analtico suacrtica abordagem estratgica caracterstica do modelo clssico, que reduziria asanlises da sociedade a meras anlises das relaes de poder, desvinculadas de umacompreenso mais ampla do sistema social. Essa ordem coletiva, parcialmente autnomaao sistema poltico e lgica estratgica que lhe confere sentido, denominada porTouraine (1981) sistema cultural. Para ele, uma situao social tambm se baseia nacultura, ou seja, na construo coletiva de normas que influenciam as relaes de umdado grupo social com outros que lhe so concernentes: ao invs de representarem aideologia do dominador, definem de fato um campo social e os atores histricos sodeterminados tanto pelo campo da cultura quanto pelo conflito social (TOURAINE,1977:66).

    Nessa linha, a sociedade capitalista caracterizada muito mais como ummodo de integrao social do que um modo de produo e de alocao de recursos eas lutas pela hegemonia ideolgica caracterizam tanto os conflitos pela mudana socialquanto as lutas pelo poder e pelo dinheiro (ALEXANDER, 1998). Isso significa que,muito antes do advento da sociedade ps-industrial, os movimentos sociais eram lutasque visavam a distribuio dos recursos materiais, mas eram tambm conflitos emtorno da distribuio de recursos culturais, reivindicando o direito normativamentedefinido como legtimo de distribu-los coletividade como um todo.

    Para Alain Touraine h uma relao bionvoca entre sociedade e cultura,pois ambos os sistemas so parcialmente autnomos, dando lugar a uma tensopermanente entre possibilidade e realidade, ou seja, contingncia (TOURAINE,1981). Assim, Alexander (1998) tem razo em afirmar:

    (...) O que Touraine viu e que Parsons no entendeu que a institucionalizao

    um processo historicamente contingente e de fim indeterminado; depende das

    idias, energias e experincias culturais acumuladas das vitrias e das derrotas

    dos movimentos sociais(ALEXANDER, 1998:17).

    Para a sociologia da ao de Alain Touraine, uma dada situao o

    resultado instvel das relaes entre atores que, atravs de conflitos sociais e orientaesculturais, produzem a sociedade (TOURAINE, 1981), ou seja, um movimento social ao mesmo tempo um conflito social e um projeto cultural, pois visa sempre arealizao de valores culturais, ao mesmo tempo que a vitria sobre um adversriosocial (TOURAINE, 1997: 254).

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    Em contrapartida, os tericos da sociologia dos novos movimentos sociais,includos o prprio Touraine e tambm Habermas e Clauss Offe, ao tentarem

    compreender as mudanas possveis na sociedade ps-moderna, procuraram atualizaro modelo de mudana revolucionria baseado no conflito de classes. Como procuravamreconhecer nos conflitos sociais contemporneos um grupo cujos membros, por suaposio subordinada ao novo sistema de produo, tivesse flego para transformar umadifusa resistncia dominao em um movimento social capaz de impor umareestruturao fundamental sociedade como um todo, esses tericos acabaram porconceber as lutas atuais como incompletas e parciais.

    Tomando como prerrogativa da sociedade ps-industrial a mudanapermanente, esses trs autores, em meados da dcada de 1980, compreendiam asnovas formas de ao como formas de autopreservao dos grupos em si mesmos. Osnovos movimentos sociais no podiam ir alm da defesa de identidades, uma vez queo imperativo tecnocrtico da mudana permanente impedia a manuteno de qualquer

    tipo de estrutura tambm permanente. Habermas (1981), Touraine (1985) e Offe(1985), nos artigos em que estabeleceram o dilogo a trs para delimitar o referencialterico sobre Novos Movimentos Sociais, reconheceram no ecologismo umrepresentante exemplar de seu objeto, reformista diga-se de passagem.

    Em um mesmo movimento, uma parcela do ambientalismo brasileiro,influenciada pelo debate acadmico e, acima de tudo, impactada pelos acontecimentosdo incio da dcada de 1990, passou a reconhecer-se como um ator social ao motivar-se a constituir-se como um grupo de conflito, portador de um projeto cultural desociedade. Essa parcela do ambientalismo brasileiro desempenhou um papel bastantesignificativo, tanto por sua visibilidade pblica quanto por sua influncia sobre seusparceiros.

    No h como afirmar que, ao final da dcada de 1990, a no ser emocasies especficas, aqueles ambientalistas tivessem sido vitoriosos na tarefa dedemarcar adversrios, nem em redigir um projeto de sociedade verdadeiramentecoerente. Ao que parece, infelizmente tambm no conseguiram consenso sobre odesign institucional da sociedade que sonharam e apregoaram. Houve sem sombra dedvida um esboo de tudo isso, mas as dificuldades em realizarem sua principal promessade constituirem-se como um nico ator, multissetorial claro, atravs da capacidadede dilogo entre categorias diferenciadas de sujeitos, inegavelmente o princpioconstitutivo da prpria ao ambientalista, frustraram em muito suas prpriasexpectativas.

    Os resultados desse dilogo foram no um, mas inmeros projetos,pulverizados muitas vezes em solues de contingncia, inmeras estratgias, na maior

    parte das vezes inconciliveis e adversrios exageradamente genricos, cuja nicaexpresso coletiva foram as listas dos poluidores contumazes, sejam representantes doEstado ou do empresariado. Qualquer prognstico sobre sua eficcia como movimentosocial pareceria piegas e simplificador.

    Por isso o termo Ambientalismo acabou parecendo exageradamentegenrico e sua promessa de universalidade propiciou a militantes e lideranas que

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    embarcassem no modelo analtico que o compreendia como um movimentomultissetorial, que penetrava o Governo, a Academia, o empresariado, alm de outros

    movimentos sociais, polticos e civis (GALTUNG, 1984; VIOLA, 1992; VIOLA &LEIS, 1992). Eternamente em crise, escravo da contingncia, o ambientalismobrasileiro, tal qual outros novos movimentos sociais, padeceu por uma dcada dosentimento inconfesso de suspeitar-se incompleto e parcial.

    Chega-se hoje, ao final dos anos de 1990, com algumas caractersticasangariadas nessas mudanas de rumo, mas tambm com outras que so devidas speculiaridades do momento histrico por que passava o Brasil no perodo constitutivoe de consolidao do ambientalismo (FERREIRA, 1996). Quanto a essas caractersticase, principalmente, s peculiaridades da mobilizao social em meados da dcada de1980, no h necessidade de qualquer anlise exaustiva, j que acerca disso, quasetudo j foi dito (DURHAM, 1984; MOISS, 1985; NUNES & JACOBI, 1985; TELLES,1987; KRISCHKE, 1987; CITTADINO, 1988; JACOBI, 1989; NUNES, 1989). Seriainteressante apenas assinalar que a etapa atual vivida pelo ambientalismo, inauguradapela internacionalizao das discusses durante a Conferncia da ONU e recolocadapela avaliao da Agenda 21, impediu no longo prazo o fortalecimento dosparticularismos e imps-lhe uma ordem universal. No entanto, o ambientalismo atualcarrega em si a herana do que foi em seu momento de constituio e consolidao. Oambientalismo no final dos anos de 1990, apesar da obrigatoriedade da universalidade,no poderia deixar de ser preferencialmente poltico e nem tampouco conseguiriaabrir mo de temas que lhe foram oferecidos atravs do dilogo com outros atoressociais (FERREIRA, 1997). Mas o que mais importante, a hiptese de crise, formuladapelas lideranas e militantes, apresenta inmeras outras facetas. Investig-las, mesmoque rapidamente, ajuda a compreender o ambientalismo no Brasil, mas ajuda tambm

    a compreender o lugar onde se escondem suas verdadeiras mudanas e vitrias.Assim, antes de analisar as atuais mudanas e vitrias, vale mencionarainda um par de opostos que talvez seja til para refletir uma outra possvel dimensoda crise do ambientalismo: ator social e agente poltico (FERREIRA, 1997). O queest em jogo nessa oposio a questo da representatividade dos agentes polticos,perante interesses, aspiraes e projetos que os diversos atores tm sobre a vida social(Touraine, 1996). Para que exista representatividade preciso que existam algumascondies. Em primeiro lugar, deve haver forte agregao das demandas provenientesde indivduos e grupos bastante diferenciados na vida social. O mximo darepresentatividade s seria possvel se houvesse total correspondncia entre as camadassociais e a oferta poltica. A segunda condio pressupe a capacidade de organizaoautnoma das diversas categorias que compem a vida social. A vida social e a

    constituio de atores portanto anterior prpria constituio da vida poltica e dosagentes que lhe conferem sentido. Os elos entre a vida social e poltica no so porsua vez diretos, mas passam por mediadores que orientam as escolhas polticas econtribuem para formar a oferta poltica em inmeros setores da vida social(TOURAINE, 1996).

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    Sob essa tica, o ambientalismo no padeceria apenas de uma crise deidentidade, por constituir-se como um movimento multissetorial que congrega inmeras

    tendncias e propostas. A crise apareceria tambm como resultado de um momentoespecfico, cuja caracterstica principal a pluralidade dos papis sociais desempenhadospor ambientalistas, independentemente de sua filiao (FERREIRA, 1997). Daconstituio paulatina do ambientalismo como ator, cuja tarefa principal era serportador da capacidade organizativa no interior da vida social, este foi atirado a outrosdois papis simultneos: agentes polticos e mediadores entre a vida social e poltica.Esse aumento na demanda por um desempenho adequado da representatividade emsua atuao no sistema poltico, no foi acompanhado do tempo necessrio pararestabelecer o flego daqueles que integravam papis de militantes e lideranas,governmentse deputados/vereadores, dentre outros. Essa dificuldade nunca chegou aser resolvida, mesmo porque nos anos de 1990 lideranas e militantes de um modogeral tiveram que se desdobrar frente a presses internas e internacionais para

    reformularem sua organizao interna e ao.Por essa ocasio, a franca visibilidade das dimenses da crise ambiental

    global, aliada a um alargamento sem precedentes da popularizao da aoambientalista junto opinio pblica de um modo geral, propiciou inclusive, queautores importantes redefinissem sua avaliao do movimento. Alain Touraine, porexemplo, que na dcada anterior interpretava-o como um novo movimento socialreformista, passou a reconhecer nele um tipo de ator que elevou o conflito do planoda utilizao social dos recursos e valores culturais para o plano das orientaes culturaisem si mesmas. Segundo ele (TOURAINE,1996:197), para alm do capitalismo ou daburocracia, o produtivismo que atacado por um movimento que amplia o campo daao democrtica. tambm o primeiro movimento social e cultural de alcance geral

    (...). Enfim, pergunta ele se no teria sido a ecologia poltica quem conseguiu, nemque fosse de forma precria, restabelecer o elo rompido entre agentes polticos e atoressociais; quem reintroduziu no sistema poltico as esperanas e receios de uma sociedadeampliada s dimenses da sociedade humana? (TOURAINE, 1996:197-8).

    O AMBIENTO AMBIENTO AMBIENTO AMBIENTO AMBIENTALISMO COMO O OUTRALISMO COMO O OUTRALISMO COMO O OUTRALISMO COMO O OUTRALISMO COMO O OUTRO DE SI MESMO, OU OS MUITO DE SI MESMO, OU OS MUITO DE SI MESMO, OU OS MUITO DE SI MESMO, OU OS MUITO DE SI MESMO, OU OS MUITOSOSOSOSOSAMBIENTAMBIENTAMBIENTAMBIENTAMBIENTALISMOSALISMOSALISMOSALISMOSALISMOS

    Essa promessa de universalidade e as dificuldades a ela inerentes foramacompanhadas pela disseminao de um novo formato de ao ambientalista,conhecido como Organizaes No Governamentais (ONGs). A denominao genricaONGs foi criada pelas Naes Unidas em 1950 (Resoluo 288 do ECOSOC) parasintetizar um conjunto muito variado e heterogneo de organizaes internacionaisno oriundas de acordos governamentais e atuantes no mbito supranacional(MENESCAL, 1995). A impreciso do termo ONG foi tornando-se mais evidente medida que novas organizaes civis internacionais eram criadas e, sobretudo, a partirdo expressivo aumento das entidades civis nacionais (GONALVES, 1995) .

    As ONGs ambien ta li sta s tr ansnac iona is , da fo rma como socompreendidas por Princen & Finger (1996: 16) so grupos no-lucrativos com base

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    ou atividades em mais de um pas, cuja misso principal impedir a degradaoambiental e promover formas sustentveis de desenvolvimento3 . Mathias Finger (1996)

    por sua vez, revisa as principais teorias sobre os novos movimentos sociais, com o objetivode verificar seu potencial analtico para a compreenso do significado e dos papisque as ONGs ambientalistas internacionais vm desempenhando na polticainternacional e na esfera local. Apesar da impreciso do termo e da relativa variaodos nmeros, os dados de Princen & Finger (1996) so indicativos suficientes de umarevitalizao do que denominam sociedades civis nacionais e de uma crescentearticulao das ONGs locais com as globais e/ou das nacionais com as transnacionais,formando aquilo que genericamente denomina-se sociedade civil global.

    Milhares de ONGs emergiram em todos os continentes; algumas delasmovimentam milhes de dlares e contam com contribuies pelo mundo afora. OEuropean Environmental Bureau, por exemplo, congrega 120 ONGs ambientalistas; tem

    20 milhes de scios distribudos em 12 pases europeus e dispe de acesso Comissoda Comunidade Europia. Na Amrica Latina e Caribe h cerca de 6 mil ONGs e nandia so mais de 12 mil ONGs que se ocupam com temas ligados ao desenvolvimento.Entre 1983 a 1991 a renda da World Wildlife Found (WWF) cresceu de 9 milhes dedlares para 53 milhes de dlares e seus membros aumentaram de 94 mil para mais deum milho. Hoje a WWF tem 4,7 milhes de filiados em todo o mundo e dispe de umoramento anual de 293 milhes de dlares. No perodo entre 1985 a 1990, o Greenpeaceaumentou o nmero de seus membros de 1.4 milhes para 6,75 milhes e os rendimentosaumentaram de 24 milhes para 100 milhes de dlares. Em 1992 o Greenpeacetinhaescritrios em 24 pases. AFriends of the Earth comeou suas atividades em 1969 emSo Francisco (USA) e em 1992 j contava com 51 membros espalhados pelo mundo.O Natural Resources Defense Council fundada em 1972 com 6 mil membros, conta

    agora com 170 mil e um oramento anual de 16 milhes de dlares (PRINCEN &FINGER, 1996: 2-3).

    Diante da abrangncia e caractersticas deste fenmeno, para Finger(1996), a perspectiva clssica sobre movimentos sociais e seus desdobramentos nasteorias sobre novos movimentos sociais, que tm como referncia poltica o Estado-nao, foram desenvolvidas no contexto das democracias ocidentais. Em contrapartida,as ONGs ambientalistas transnacionais que atuam no mbito local e global so, namaioria da vezes, independentes dos sistemas polticos nacionais. As principais teoriassobre movimentos sociais desenvolvidas ao longo dos anos de 1970 e 1980,particularmente as de Touraine, Offe, Habermas, alm das teorias da mobilizao derecursos e do terceiro setor, levam em considerao apenas os contextos nacionais

    onde os movimentos ou entidades atuam e, fundamentalmente, reduzem os atoressociais sua dimenso poltica, em constante relao com o Estado. As ONGsambientalistas transnacionais buscam solues para os desequilbrios gerados pelodesenvolvimento nos espaos local, regional e global, algumas vezes em colaboraocom o Estado, mas em muitas outras, suas aes passam ao largo da poltica tradicionaldo Estado Nao (FINGER, 1996: 55).

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    Quanto crtica de Finger (1996) teoria do terceiro setor, ele afirmaque o seu referencial de anlise apresenta limites (FINGER, 1996: 58-9) que vo

    desde a desconsiderao de fatores sociolgicos importantes, como por exemplo, ainstitucionalizao, o poder e o controle, at a no diferenciao de fatores culturaisconsiderados por essa teoria como sendo similares e agregveis, como por exemplo,valores, atividades e comportamentos resultantes de contextos socioculturais especficos,alm do desprezo pela insustentabilidade dos modelos atuais de desenvolvimento.

    Ainda segundo o mesmo autor (FINGER, 1996), o principal limite dasteorias sobre movimentos sociais reside no fato de serem tipicamente modernas. Emoutros termos, apostam na capacidade, no interesse e na possibilidade dos indivduosinterferirem no sistema poltico. Esse recorte terico preferencialmente poltico eexcessivamente instrumental dos movimentos sociais e da sociedade civil dificulta acompreenso da crise global que afeta a contemporaneidade e desconsidera o papeldesempenhado por inmeros atores sociais, mesmo que estes sejam independentes e

    distantes das instituies e dos limites geopolticos dos Estados nacionais. As ONGsambientalistas transnacionais s poderiam ser compreendidas, segundo Finger (1996),a partir de um novo arcabouo terico.

    Para isso, seria necessrio inicialmente diagnosticar adequadamente acrise global atual (FINGER, 1996: 60-1), cujas manifestaes imediatas seriam as crisesdo projeto moderno, do Estado Nao e a crise ecolgica global, considerada visvel edramtica em todas as partes do mundo, alm de inigualvel em suas propores(PRINCEN & FINGER, 1996: 10).

    O rompimento do crculo vicioso (FINGER, 1996: 62) que produz ereproduz a crise global, particularmente a crise ecolgica, vai alm da adoo denovas leis ambientais, acordos diplomticos e transformaes no sistema industrial.

    Para ele (FINGER, 1996: 64), as mudanas setoriais sero pouco eficazes se o modelode desenvolvimento inaugurado na modernidade no for radicalmente superado.Apenas uma mudana de perspectiva (FINGER, 1996: 64), representada por umlongo processo de aprendizado individual e coletivo, horizontal, vertical einterdisciplinar, seria capaz de propiciar uma sada para esta crise.

    A crise ecolgica global e a incapacidade dos agentes polticos tradicionaisde responderem satisfatoriamente a ela originaram um campo poltico especificamenteambiental, onde as ONGs desempenham papis preponderantes. As prprias ONGsforam fundamentais na criao desse tipo de campo, e por meio dele que elaspressionam os governos e os substituem sempre que necessrio, desenvolvem pesquisas,novos projetos e experincias, apoiam iniciativas voltadas promoo dasustentabilidade, estreitam relaes e parcerias entre os nveis local e global, alm de

    exigirem transparncia nas decises. Seu papel principal na atualidade talvez possaser resumido em apontar evidncias de que h inmeras possibilidades de superar acrise global atual.

    Apesar da profunda diferenciao que caracteriza o universo das ONGsquanto ao tamanho, montante de recursos financeiros e humanos, quanto ideologia,estrutura organizacional, cultura, abrangncia da ao, e recursos de poder, elas

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    inegavelmente podem ser reconhecidas como agentes de mudana social, pois socapazes de eleger um campo de luta e mobilizar pessoas, recursos e instituies em

    defesa de determinada causa. Atravs do trabalho gradual, intenso e obstinado, milharesde ONGs vem dando respostas, mesmo que superficiais e, s vezes pouco adequadas, crise global que afeta a poca atual. O que mudou no papel que desempenham foi anoo de devir que compartilham e divulgam.

    De fato, no Brasil, o ambientalismo poltico das dcadas anterioresressurgiu nos anos de 1990 voltado resoluo direta de problemas considerados urgentese revestido de um design especfico para uma atuao que poderia ser chamada depara-institucional, uma vez que as ONGs nacionais ou transnacionais com atuaono Brasil procuraram, nesses ltimos dez anos, dividir responsabilidades com governos,universidades e centros de pesquisa. Isso se deu em parte em funo de fatores comoa globalizao da economia, a pulverizao do poder e fragmentao dos projetosutpicos e metas coletivas, mas tambm muito em funo dos esforos globais para a

    definio de um pacto social pela recuperao e conservao ambientais, que comeoua ser esboado na Conferncia das Naes Unidas em 1992.

    As ONGs ambientalistas com atuao no territrio nacional tm levadoa cabo inmeros tipos de projetos (LANDIM, 1996; SPVS, 1997). Dentre eles, merecemdestaque projetos de diagnstico participativo dos recursos naturais e dos usos a quese destinam, de popularizao de tcnicas de agroecologia ou de manejo de espcies esistemas, de alternativas de gerao de emprego e renda para moradores de Unidadesde Conservao e seu entorno, de tcnicas sustentveis de abastecimento de guapara zonas semi-ridas, de mutires para reposio florestal, alm de projetos de co-gesto de reas protegidas em parceria com rgos governamentais. Todos esses projetosincluem, ainda, cursos de capacitao especficos. O pblico alvo preferencial destes

    projetos constitudo por ndios, seringueiros, ribeirinhos, sertanejos, pescadores,pequenos agricultores familiares, artesos, ex sem terra assentados, grupos de jovensmoradores de Unidades de Conservao de uso indireto, sem alternativas de empregoe renda, dentre outros.

    Atravs dessas aes, as ONGs movimentam pessoas, recursos financeiros,conhecimentos e principalmente cdigos culturais difceis de serem avaliados em seuimpacto. medida em que encontraram solues muitas vezes simples e baratas paraproblemas que pareciam insolveis, seus recursos de poder e legitimidade aumentaramnuma intensidade antes inimaginvel.

    O discurso poltico anterior de contestao e crtica social est perdendointensidade em nome de um esforo pactuado para dar uma destinao social aoconhecimento tcnico-cientfico interdisciplinar, visando a sustentabilidade dos

    sistemas naturais e melhoria de vida s coletividades pobres que deles dependemdiretamente. Desse esforo participam ONGs, governos, agncias multilaterias,financiadores e instituies de ensino e pesquisa (ONU, 1991; FERNANDES, 1994;DULANY, 1997).

    Mathias Finger (1996) tem razo em apontar a centralidade do papel dasONGs nas mudanas sociais em curso atualmente no mundo. Funcionando como

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    agentes do aprendizado social (FINGER, 1996: 60-65), as ONGs ambientalistas tmcontribudo para transmitir o conhecimento tcnico-cientfico interdisciplinar a

    coletividades anteriormente apartadas do direito a us-lo em seu benefcio. Em ummesmo movimento, sua atuao tem propiciado a pesquisadores e estudiosos uma novacompreenso das metas populares, seus anseios, crenas e interpretaes sobre o queseria um futuro vivel. E mesmo sem objetivo imediato, muitas delas tm contribudoem grande medida para o delineamento de uma linguagem pactuada entre sujeitossociais diferenciados que d conta de uma possvel inteligibilidade do mundocontemporneo.

    A reabilitao do conhecimento, seja o conhecimento popular, seja oconhecimento tcnico-cientfico interdisciplinar, atravs de sua legitimidadecrescente, est sendo fundada paulatinamente em justificativas de ordem moral,prtica, esttica ou poltica. A atuao das ONGs tem colocado a nu as potencialidadesdo conhecimento humano na busca da universalidade e, atravs de uma historicidade

    perturbadoramente obscura, quem sabe, as ONGs consigam delinear o futuro.Infelizmente no existem ainda dados suficientes para compreender e

    avaliar os contedos dessa nova gramtica social, que tenta traar pontos de refernciacomuns entre atores pulverizados, nveis diferenciados de ao e mltiplos objetivos,mas j se sabe de antemo que sua atuao tem se mostrado assustadoramente eficaznessa transmisso mtua de conhecimentos.

    H ainda uma consequncia da ao atual das ONGs que merece serressaltada, porque talvez seja a de maior impacto para a compreenso das mudanassociais em curso. Trata-se do dilogo intenso e do estabelecimento de acordos quevi sam a implementao de projetos conjuntos entre categorias extremamentediferenciadas de sujeitos: do lado das ONGs encontram-se grupos sociais oriundos

    das classes mdias urbanas intelectualizadas, muitas vezes sem uma experincia prviaimportante na vida poltica; do lado do pblico alvo preferencial dos projetos encontram-se categorias sociais apartadas da vida citadina, algumas anteriormente mobilizadas,como o caso por exemplo, de exsem terra assentados, ou ribeirinhos ligados aomovimento de seringueiros. Outros esto penetrando o sistema poltico graas presenade seus novos parceiros urbanos, como o caso de pescadores, roceiros e extratoresque habitam a faixa litornea da Mata Atlntica (FERREIRA, 1999).

    De qualquer modo, essa relao dialgica, nem sempre eficaz e prolongadae muitas vezes apenas voluntarista, provoca inevitavelmente uma situao deaprendizagem social intensa e de grande impacto para ambos os plos da relao(FINGER, 1996). Nela, h uma troca sem precedentes de cdigos culturais amplamentediferenciados, mas tambm uma troca de sonhos, expectativas, crenas, valores, modos

    de fazer e interpretar o prprio feito, tambm bastante heterogneos (MILTON, 1994).

    O OUTRO OUTRO OUTRO OUTRO OUTRO DO AMBIENTO DO AMBIENTO DO AMBIENTO DO AMBIENTO DO AMBIENTALISMO, OU DE COMO ENSALISMO, OU DE COMO ENSALISMO, OU DE COMO ENSALISMO, OU DE COMO ENSALISMO, OU DE COMO ENSAIAR CONCLAIAR CONCLAIAR CONCLAIAR CONCLAIAR CONCLUSESUSESUSESUSESUSES

    Vale mencionar em primeiro lugar que, para que o ambientalismo brasileiroseja reconhecido como tal, seria necessrio compreend-lo como fruto contingente

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    de uma tenso permanente entre a realidade das peculiaridades dos vrios segmentosque o compem e sua promessa de universalidade, entre sua vocao para a

    contemporaneidade e a concretude da democracia e do bem estar social no pas.Assim, apesar de sua inteno verbalizada em diferenciar-se de outros modos de ao,o ambientalismo emergente no pas foi se constituindo na convivncia, para alm desua agenda prpria, na ausncia de espaos de reconhecimento e de vnculospropriamente civis, traduzidos pela dificuldade de formular os dramas pblicos eprivados na linguagem dos direitos (TELLES, 1994). Sua herana imediata foram, talqual para outras formas de mobilizao, cdigos morais que disputavam a gramticada legitimidade reconhecida no dilogo tradicional com o Estado. Se seus parceirosinter e transnacionais direcionavam suas estratgias para um total reordenamento dosistema poltico, o ambientalismo brasileiro teve de conviver com o paradoxo de suadupla insero.

    Se por um lado, especialmente a partir dos anos de 1990, as ONGsambientalistas contaram com os recursos de poder disponiblizados pela mundializaode suas lutas e globalizao dos financiamentos a seus projetos, por outro, a heranapoltica e cultural deixada ao ambientalismo aprofundou dilemas e dificultou suaatuao poltica. Curiosamente, foi essa herana que retirou militantes do dilogoautocentrado para acenar-lhes com a possibilidade de tentar, pelo menos em tese,concretizar a meta mais audaciosa esboada por seus tericos mais caros: sua constituiocomo projeto cultural de sociedade, com ares de universalidade. Curiosamente tambm,foi exatamente esta tarefa estabelecida nos anos de 1990, graas principalmente universalidade imposta pelo dilogo iniciado por ocasio da Rio 92 com outrosmovimentos sociais e com parceiros internacionais, que propiciou a aproximao desuas tendncias internas, sejam elas culturalistas, sejam grupos de presso ou

    militantes4

    . Essa aproximao evidentemente provocou inicialmente uma reaoesperada de fortalecimento de identidades e divergncias5 . O inesperado foi aincorporao de cdigos diferenciadamente estabelecidos e anteriormente circunscritosa tendncias especficas.

    Ainda prematuro es tabe lecer ju lgamentos sobre o f lego dessamiscigenao de propsitos e aes, mas difcil hoje imaginar uma organizaomilitante que desconsidere a importncia de reformulao radical em cdigos e valoresindividuais e privados para a constituio de uma nova sociedade. difcil aindaapostar que, hoje, esses ambientalistas acreditem apenas em estratgias que se restrinjamao espao pblico, do jogo poltico nacional. Em contrapartida, so raros os grupos defiliao culturalista que abdicam da atuao centrada no dilogo com o Estado, demodo a criar canais de participao poltica. Os grupos de presso, por sua vez,incorporaram cdigos de uma gramtica estabelecida ideologicamente e compactuaramda necessidade de se estabelecer parcerias com outras formas de mobilizao social. Apoltica de resultados perdeu repentinamente legitimidade, enquanto estratgia deinterveno poltica nica, para reaparecer como uma possibilidade a mais de forar aexpanso de uma cidadania verde em um universo predatrio, perverso e imediatista.

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    Quanto possibilidade de um projeto cultural pactuado, vale umareferncia forte influncia que o ambientalismo como um todo sofreu das tradies

    anarquista e socialista, porque isso lhe rendeu, na dcada de 1980, a tendncia aincorporar em sua agenda, pelo menos em tese, reivindicaes prximas dos interessestradicionais do universo mobilizatrio brasileiro. Hoje o contedo predominante daspropostas das ONGs ambientalistas visa integrar em seus projetos a manuteno dosecossistemas nacionais necessidade mais ampla e universal de manuteno da biosferacomo um todo e da vida de um modo geral, o que pressupe o bem estar dascoletividades que vivem e se assentam em seus domnios. Talvez por enfrentar nadcada de 1980 eventos dramticos de degradao ambiental, como Cubato, em SoPaulo, Cricima em Santa Catarina, Goinia em Gois, Rondnia, dentre tantos outros,o ambientalismo brasileiro tenha, de incio, se orientado preferencialmente pelamotivao coletiva de transformar uma difusa resistncia ao nacionaldesenvolvimentismo em movimento social capaz de impor uma reestruturao da

    sociedade brasileira como um todo.No caso da politizao da degradao ambiental e social no municpio de

    Cubato, SP, apontava-se para uma experincia emblemtica do pas, que poderia sercaracterizada como anmica em sua relao com a natureza. Naquela ocasio, o papelpredominante do ambientalismo foi fornecer cdigos e valores construdos na alteridadeem relao ao acordo nacional anterior, responsvel pelo drama cotidiano de homense mulheres ligados direta ou indiretamente ao polo industrial. Acordo este queultrapassava classes ou interesses setoriais e apontava para a supremacia dodesenvolvimento do sistema produtivo sobre o bem estar social, bem como sobre aqualidade dos sistemas naturais. A presena dos ambientalistas ali tornava visvel ainexistncia de normas ou regras que organizassem a predao generalizada. Cubato,

    atravs de seu olhar, reaparecia de modo exemplar e com uma carga de dramaticidadempar, de modo a desvendar o fato de que a cultura nacional, to impregnada pelodrama da pobreza e do desenvolvimento, no conseguira at ento nominar o nexodoloroso entre ambos com a natureza (FERREIRA, 1993).

    Militantes, grupos de presso e tendncias culturalistas, em conjunto comalguns grupos predominantes no interior da burocracia governamental decodificarama cultura desenvolvimentista de um modo geral como o adversrio fundamental manuteno dos ecossistemas nacionais e da biosfera como um todo. A grande maioriadesses grupos reivindicou naquela poca, mesmo que atravs de repertriosdiferenciados, o papel social de desvendar o contedo ideolgico que sustentava aqueleestranho pacto entre a tecnoburocracia, industriais, operariado e representantes doEstado, integrados em torno de um campo definido pelo conflito social e pela cultura,

    graas promessa de uma sempre crescente e ilimitada produtividade do trabalho ede domnio tambm crescente sobre a natureza que, somados, resguardariam o direitoindividual ilimitado ao bem estar social.

    Hoje, os ambientalistas que atuam em ONGs substituram essa pretensouniversalizante por uma pretenso preferencial de transformar as difusas resistncias crise ambiental em motivao para atuar em projetos especficos, instrumentais at,

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    para promover mudanas de ordem prtica e imediata. Sem se preocuparem comescatologias, expressam atravs de suas aes uma dupla vontade: de um lado, a vontade

    de realizao imediata de valores culturais ambientalistas e, de outro, a de orientaremdesde j a vida social em direo a um tipo de futuro vivel. Contam a seu favor comum fator perverso das sociedades ps-industriais, que sua incapacidade estruturalpara absorver jovens aptos a penetrar no mercado de trabalho. As ONGs representamhoje uma alternativa real de absoro de mo de obra altamente qualificada e criativa(FERREIRA, 2000).

    De resto, pode-se dizer que a grande vitria das ONGs foi a delimitaodefinitiva de um campo especificamente ambiental, tensionado por embates e tentativasde dilogo entre grupos sociais que expressavam interesses, interpretaes e projetosaltamente diferenciados. Sem apresentar qualquer tipo de identidade nas motivaese propsitos, que justificasse compreend-los como um coletivo especfico, o que osunificou foi uma orientao pela busca de um futuro vivel.

    A crise ecolgica global, a incapacidade dos agentes polticos tradicionaisde responderem a ela, as lutas travadas em outros tempos para enfrentar a devastaoambiental no pas originaram esse campo especificamente ambiental e nele as ONGsambientalistas desempenham papel preponderante. A ao cotidiana dessas ONGs foipea chave em sua delimitao e no sua promessa de universalidade. Pressionandogovernos e mesmo substituindo-os em diversas tarefas quando necessrio,desenvolvendo pesquisas, projetos de apoio a iniciativas populares de promoo dasustentabilidade, as ONGs estreitam relaes e parcerias entre os nveis local e globalem um campo que Kay Milton (1996a, 1996b) chama de campo de comunicao,delimitado pelo discurso.

    As cincias sociais utilizaram o termo discurso, ass im como cultura,

    simultaneamente, no sentido de processo e substncia. Assim, o discurso ambientalno representa apenas o discurso sobre o ambiente, mas tambm o processo socialatravs do qual ele construdo e transmitido. Touraine e Habermas, por exemplo,alm de Giddens, preocupados com a ao social, entendem a cultura como processo,atravs do qual a ao constituda e transformada, atravs da comunicao. Nessesentido processual, os conceitos de cultura e discurso so muito semelhantes 6 . Todavia,Milton (1996a, 1996b) frisa que, o que est se globalizando o discurso, no a cultura.O ambientalismo, segundo sua proposta, um discurso transcultural que perpassadiferentes categorias de sujeitos, sem contudo abolir diferenas culturais, j que incorporado de maneira diferenciada por sujeitos tambm diferenciados.

    Para compreender as mudanas sociais de fato empreendidas pelas ONGscontemporneas, convm observar sua orientao para colocar em um mesmo campo

    de relaes de aprendizado, categorias de sujeitos to diferenciadas quanto as abordadasaqui. Seria necessrio tambm imagin-las expressando e comunicando um discursotranscultural organizado em torno de responsabilidades pactuadas sobre asustentabilidade ambiental. Visto desse modo, como expresses culturais diferenciadas, fcil compreender como e porque as novas responsabilidades ambientais so maisaceitas em determinados contextos que em outros e como e porque diferentes expresses

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    culturais do ambientalismo podem ser adotadas por diferentes grupos, a ponto de umdia militantes, lideranas e simpatizantes terem esperado encontrar ali a manifestao

    de um movimento social.

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    Conflitos sociais contemporneos - LCIADA COSTA FERREIRA

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    Ambiente & Sociedade - Ano II - No 5 - 2o Semestre de 1999

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    NONONONONOTTTTTASASASASAS

    * Lcia da Costa Ferreira doutora em Cincias Sociais, pesquisadora do NEPAM/UNICAMP e co-editora darevistaAmbiente e Sociedade.1 Sobre Mathias Finger ver a resenha de TREVISOL (1998).2 Para os tericos da mobilizao de recursos, os movimentos sociais so aes planejadas com a finalidade deproduzir e orientar um tipo determinado de sentimento coletivo de descontentamento, pressuposto bsico paraque estes consigam realizar suas metas (MacCARTHY & ZALD, 1977). Segundo ALEXANDER (1998:08)),alm disso, as organizaes s se tornam poderosas se houver disponibilidade de recursos e essas condiesexternas de ao so os determinantes da fora de qualquer mobilizao. Para uma crtica da teoria da mobilizaode recursos para a compreenso da ao ambientalista ver FINGER (1996).3 Sobre a disseminao de ONGs ambientalistas ver tambm PRINCEN, et al. (1995).4 Sobre as definies e caractersticas de cada uma dessas tendncias ver FERREIRA (1996). Para uma discussodos diferentes grupos que compem o ambientalismo ver VIOLA (1992).5 Sobre as divergncias, especificidades e tendncias do ambientalismo brasileiro ver especialmente: CRESPO(1996), HERCULANO (1995), FERREIRA (1996), VIOLA (1992a), LEIS & AMATO (1996).

    6 Sobre a discusso sobre as semelhanas entre os conceitos ver MILTON (1996a: 8-36), especialmente o sub-tem Culture as process do tem Anthropology, culture e environmentalism.

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    Ambiente & Sociedade - Ano II - No 5 - 2o Semestre de 1999

    LCIADACOSTAFERREIRA

    Conflitos sociais contemporneos: consideraes sobre o ambientalismo brasileiroConflitos sociais contemporneos: consideraes sobre o ambientalismo brasileiroConflitos sociais contemporneos: consideraes sobre o ambientalismo brasileiroConflitos sociais contemporneos: consideraes sobre o ambientalismo brasileiroConflitos sociais contemporneos: consideraes sobre o ambientalismo brasileiro

    Este ensaio se utiliza do instrumental analtico da teoria da ao sobre movimentossociais e conflitos sociais contemporneos, bem como de reflexes sobre ONGs, paraesboar um modelo explicativo que d conta de aspectos relevantes do ambientalismocontemporneo. Parte-se da hiptese de que a crise que afeta lideranas e militantesambientalistas provocada pela sua dificuldade de, por um lado, constituir-se comoum nico ator social portador de um projeto cultural de sociedade e, por outro, dedesempenhar o duplo papel de ator social e agente poltico. A partir da, prope-secompreender a mudana provocada pela ao das ONGs ambientalistas em suadimenso cotidiana. As ONGs desempenham papel predominante no profundo processode aprendizado social que mobiliza categorias muito variadas de sujeitos e, tambm,

    no estabelecimento definitivo de um campo especificamente ambiental. Alm do debateterico nacional e internacional sobre o tema, essas consideraes tambm se baseiamem observao direta do cotidiano de ambientalistas desde a CNUMAD-92.Palavras-chave: conflitos sociais, ambientalismo, organizaes no governamentais.

    Contemporary Social Conflicts: Considerations on the Brazilian EnvironmentalismContemporary Social Conflicts: Considerations on the Brazilian EnvironmentalismContemporary Social Conflicts: Considerations on the Brazilian EnvironmentalismContemporary Social Conflicts: Considerations on the Brazilian EnvironmentalismContemporary Social Conflicts: Considerations on the Brazilian Environmentalism

    This article makes use of the analytical tools of the Theory of Action regarding social movements

    and contemporary social conflicts, as well as reflections about NGOs, in order to outline a

    suitable explanatory model to understand relevant aspects of the contemporary

    environmentalism. The initial hypothesis is that the crisis experienced by leaders and militants

    is caused by a two-side difficulty: on one hand, its constitution as a unique social actor with a

    cultural project of society and, on the other hand, its double performance as a social actorand a political agent. From then on, our purpose is to understand the change caused by the

    social action of the environmental NGOs in its everyday dimension. The NGOs have an

    outstanding role in the deep process of social learning that mobilizes very different categories

    of social actors, as well as, in the final establishment of an environmental field. Besides the

    national and international theoretical debate on the subject, this article is also based on the

    direct observation of the environmentalists everyday action since the CNUMAD-92.

    Keywords: social conflicts, environmentalism, non governmental organizations.

    ALPINA BEGOSSI

    Caiaras, Caboclos e Recursos Naturais: regras e padres de escalaCaiaras, Caboclos e Recursos Naturais: regras e padres de escalaCaiaras, Caboclos e Recursos Naturais: regras e padres de escalaCaiaras, Caboclos e Recursos Naturais: regras e padres de escalaCaiaras, Caboclos e Recursos Naturais: regras e padres de escala

    Uma questo importante da sustentabilidade de populaes locais ou nativas se refere interao com as instituies locais e globais. Podemos esperar que populaes quedemonstrem capacidade de interagir de forma econmica e poltica com as instituiesapresentem tambm uma chance maior de continuidade cultural e ecolgica, assimcomo de seus sistemas de troca e subsistncia. O nvel da interao ecolgica e social