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Universidade Federal Fluminense
Programa de Pós-Graduação em História
Área de Concentração: História Social
Nome: Mariana Gonçalves Guglielmo
Projeto de Pesquisa
Linha de Pesquisa: Economia e Sociedade
Setor: História Moderna
Mestrado
As múltiplas facetas do vassalo “mais rico e poderoso de Portugal no Brasil”
Joaquim Vicente dos Reis e sua atuação em Campos dos Goitacases
(1781-1813)
1
Introdução:
Designado pelo Conde de Resende para atuar como administrador na Fazenda Real de
Santa Cruz, antes pertencente aos jesuítas, o tenente-coronel Manoel Martins do Couto Reis
elaborou uma memória sobre esta propriedade em 1804. Em nota, atentou para o fato de que, com
a compra da Fazenda dos Jesuítas situada em Campos dos Goitacases1, um certo Joaquim Vicente
dos Reis havia se constituído no “mais rico e poderoso vassalo de Portugal no Brasil”2.
1 Conhecida também como Fazenda do Colégio ou Fazenda da Nossa Senhora da Conceição e Santo Inácio 2 REIS, Manuel Martins do Couto. “Memória sobre a fazenda de Santa Cruz”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, n. 17. Rio de Janeiro: Typographia de João Ignácio da Silva, 1863, p. 155, nota 6.
2
De fato, Couto Reis devia saber do que estava falando. Afinal, ele fôra designado em
1785 para mapear e descrever a região campista, quando constatou que a propriedade de Joaquim
Vicente dos Reis possuía 1482 escravos, sendo 51,6% deles crianças, e que havia produzido
8.618 arrobas de açúcar e 10550 medidas de aguardente, além de ter em suas terras 65
arrendatários, números muito superiores aos de todos os outros 1488 indivíduos listados neste
levantamento.
Com a retirada da Companhia, todos os seus bens foram seqüestrados e o destino a ser
dado a eles variou muito, sobretudo em função da natureza da propriedade e da região em que
estava localizada3. Vicente dos Reis arrematara a Fazenda do Colégio em hasta pública em 7 de
julho de 1781, vinte e dois anos após a expulsão dos jesuítas. Ofereceu inicialmente a quantia de
20 contos de réis sobre o montante de 187:953$130 em que esta era estimada e pagou o restante
do valor por meio de empréstimos de Letras da Fazenda Real.
Entretanto, Vicente dos Reis não estava sozinho na arrematação: nesta empreitada, havia
se associado ao seu tio, João Francisco Vianna, e a um comerciante da Bahia, Manoel José de
Carvalho. Até 1796, os três tinham posse sobre as terras, mas neste ano tanto Vianna quanto
Carvalho faleceram e Vicente dos Reis, após repor o valor aos herdeiros, passou a ser o único
proprietário.
Antes de se tornar senhor de terras, porém, Vicente dos Reis, natural da cidade de Lisboa,
fôra comerciante: inicialmente na Colônia de Sacramento, onde possuíra uma “grande casa de
negócio” e esteve muito ligado ao seu tio; depois, no Rio de Janeiro, onde aportou em 1777
devido à tomada espanhola de Sacramento. Dois anos após sua chegada, casou-se com D. Josefa
Bernardina do Nascimento, filha do importante comerciante José Vaz Caldas. Teve três filhas, as
3 FERREIRA NETO, Edgard Leite. Notórios Rebeldes: A expulsão da Companhia de Jesus da América Portuguesa In: ANDRÈS-GALLEGO, José (coord.): Tres Grandes Questiones de la Historia de Iberoamérica. 2. ed. Madri: Fundación Ignácio Larramendi, 2005, p. 226.
3
quais tiveram matrimônios muito bem arranjados. Após sua morte em 1813, foram elas as
herdeiras de sua fortuna, que somava a quantia de 969:671$8684, aproximadamente 46.708 libras
esterlinas, valor excepcionalmente elevado5.
Em Sacramento, nossa personagem obteve o posto de alferes da ordenança e ficou
incumbido de noticiar ao Governador sobre a movimentação dos espanhóis quando estes
pretendiam invadir a Praça do Rio Grande de São Pedro e a Ilha de Santa Catarina. Serviu
também muitas vezes com seu dinheiro e empréstimos para o pagamento das tropas e para as
despesas do Real Hospital. Em Campos, tornou-se um “potentado”, nas palavras de Salvador
Correia de Sá e Benevides Velasco, o 5º Visconde de Asseca6. Alcançou o posto de capitão do
Forte da Praia Vermelha e, mais tarde, o de coronel de milícias agregado ao Regimento de
Campos, além de ter participado ativamente da fundação da Santa Casa de Misericórdia no
mesmo distrito. Solicitou o Hábito de Cristo, afirmando que “nos Estados da América” não havia
“vassalo mais benemérito, nem que tenha sido mais útil” do que ele. Não teve sorte neste intento,
conseguindo apenas o de Santiago, o qual ainda não sei se efetivamente professou.
Meu objetivo é reconstruir os diversos campos de atuação de Joaquim Vicente dos Reis
em uma perspectiva microanalítica, de modo a compreender suas estratégias, conflitos e relações,
sobretudo a partir da compra da Fazenda de Santo Inácio e Conceição na capitania de Paraíba do
Sul. Examinarei suas experiências anteriores na medida em que auxiliam a compreensão de sua
trajetória, mas apenas de maneira acessória. Para este propósito, utilizarei fontes variadas,
principalmente manuscritas, não apenas para entender suas ações, mas também para compreender
a sociedade em que estava inserido. Neste sentido, o trabalho é facilitado pelo fato de nossa
4 FARIA, Sheila Siqueira de Castro. A Colônia em movimento: Fortuna e Família no Cotidiano Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p. 190. 5 De acordo com a cotação réis-pence inglês em MATTOSO, Kátia M. de Queiróz. Ser Escravo no Brasil (trad.) São Paulo: Brasiliense, 3ª ed., 1990 [1982], p. 254. 6 AHU, cód. Rio de Janeiro Avulsos, cx. 178, doc. 13026.
4
personagem ter aparecido em diversos tipos de documentos, pois era um homem que se destacava
não apenas por suas posses, mas por ser um vassalo atuante em todos os lugares em que esteve e
por ter se relacionado com diversos níveis de poder, tanto local quanto metropolitano.
Assim, mesmo que Vicente dos Reis não se constituísse de fato no “vassalo mais rico e
poderoso” do Brasil, acredito que um estudo aprofundado sobre suas relações sociais, suas
opções e escolhas pode contribuir para entendermos melhor o contexto que lhe dava sentido e
forma, de modo a percebermos algumas possibilidades de ação dos atores inseridos numa
sociedade colonial escravista em finais do Antigo Regime.
Quadro historiográfico:
Nesta conversa com a historiografia, Vicente dos Reis será o fio condutor da discussão.
Como nosso vassalo esteve em constante movimento até a sua fixação na capitania do Paraíba do
Sul, acompanharemos sua trajetória utilizando a bibliografia pertinente aos diversos temas que,
necessariamente, serão abordados em nossa investigação.
Nascido no ano de 1739 na freguesia do Monte Sinai, patriarcado de Lisboa, Joaquim
Vicente dos Reis cedo rumou para Sacramento, onde seu tio João Francisco Vianna já estava
estabelecido. Vianna deixara Portugal para residir na América com cerca de 15 anos, em 1733;
vinte anos depois, vivia “abastadamente” como comerciante na Colônia de Sacramento. Jorge
Pedreira argumenta, em estudo sobre os negociantes de Lisboa, que a maioria das pessoas que
saíam de Portugal eram, como nossa protagonista, remetidas a conhecidos ou parentes para se
tornar inicialmente caixeiro de um homem de negócio ou exercer um ofício mecânico7. Para
compreendermos a trajetória de Vicente dos Reis, portanto, devemos também examinar a vida de
7 PEDREIRA, Jorge M. V. Os homens de negócio da Praça de Lisboa de Pombal ao Vintismo (1755-1822). Diferenciação, reprodução e identificação de um grupo social. Dissertação de doutoramento em Sociologia. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1995, p. 218. Cf. também Id. “Brasil, fronteira de Portugal. Negócio, emigração e mobilidade social (séculos XVII e XVIII)” Anais da Universidade de Évora, 8-9, 1998-9, pp. 47-72.
5
seu tio, importante referência para nossa personagem, e lembrar que na sociedade de Antigo
Regime, os laços familiares desempenhavam um papel crucial na posição social dos indivíduos.
A boa reputação e o cabedal de João Francisco Vianna (que no ano de 1772 somava 30
mil cruzados) constituíram-se em atributos que lhe permitiram a posição de familiar do Santo
Ofício8. Daniela Calainho aponta, em seu trabalho Agentes da Fé, que a obtenção da Carta da
familiatura por si só era um símbolo de ascendência limpa e sinônimo de honra e status social.
Como os comerciantes já possuíam cabedal, faltava-lhes o enobrecimento; a autora atenta
também para o fato de que o cargo de familiar minorava o estigma inerente à atividade
comercial9.
O comércio era, aliás, uma atividade fundamental para Sacramento. Fabrício Prado
lembra-nos, ao estudar o extremo Sul da América Portuguesa, que apesar de a Colônia ser uma
zona marcada por guerras, avanços e recuos territoriais significativos, o comércio na região não
apresentava semelhante instabilidade na primeira metade do século XVIII. Este foi, ao contrário,
um período em que Sacramento teria alcançado o ápice de seu desenvolvimento e do seu
crescimento populacional. O autor destaca que o comércio se constituía na “razão de ser
primordial do núcleo urbano luso platino” e elemento dinamizador da região. Desta forma, Prado
acredita que, antes de ser associada a “um ninho e contrabandistas”, Sacramento deve ser vista
como uma “cidade de comerciantes”10.
8 KÜHN, Fábio. Gente da fronteira: família, sociedade e poder no sul da América Portuguesa - século XVIII. Tese de Doutorado em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2006, p. 345. Agradeço a Fabio Kunh por ter me passado o processo de familiatura de João Francisco Vianna. 9 CALAINHO, Daniela Buono. Agentes da Fé: Familiares da Inquisição Portuguesa no Brasil Colonial. Bauru: EDUSC, 2006, p. 97 (cabe destacar que este trabalho foi originalmente defendido em 1992 como dissertação de mestrado, sendo o primeiro trabalho de fôlego sobre os familiares do Santo Ofício na América portuguesa). 10 PRADO, Fabrício P. A Colônia do Sacramento - o extremo sul da América Portuguesa. Porto Alegre: Fabrício Pereira Prado, 2002, citações à p. 189. Para um trabalho que enfatiza mais a importância do contrabando, ver POSSAMAI, Paulo. O Cotidiano da Guerra: a vida na Colônia do Sacramento (1715-35). Tese de Doutorado em História. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2001.
6
Segundo este mesmo autor, como não existia Câmara nem sesmeiros em Sacramento,
pertencer a uma irmandade e ocupar um cargo militar permitia que os indivíduos se destacassem
dentro da sociedade local. Levando em consideração esses argumentos, constatamos que Vianna
deveria gozar de uma certa importância na Colônia, pois antes de se tornar um familiar, pertencia
à irmandade do Santíssimo Sacramento, caracterizada por ser composta pelos habitantes mais
destacados da localidade. A inexistência de uma Câmara também possibilitava uma centralização
do poder nas mãos do governador; conseqüentemente, boas relações com esta autoridade
poderiam gerar vantagens e facilitar estratégias. Além disso, a estrutura administrativa local
dependia de adiantamentos dos homens de negócio de Sacramento, os quais, ao financiar o
aparelho estatal, conseguiam benefícios e mercês11. Vianna se inseriu nesse mecanismo, assim
como, posteriormente, Vicente dos Reis, denotando um aspecto importante da atuação política de
ambos.
Em 1777, explode uma nova guerra diante da tomada espanhola da Ilha de Santa Catarina
e da Colônia de Sacramento, cujo resultado foi a passagem definitiva da Colônia para o domínio
espanhol. Por esta razão, nosso protagonista chega ao Rio de Janeiro neste mesmo ano e
estabelece uma casa de negócio, momento mais que propício para aportar por estas terras, se
pararmos para pensar sobre a importância do Rio como praça mercantil no século XVIII.
Segundo João Fragoso e Manolo Florentino, já na primeira metade do setecentos as formas de
acumulação mais marcadamente mercantis e os grupos sociais que estavam inseridos neste ramo
começam a ganhar espaço12. Isto porque, embora a corrida do ouro para Minas Gerais tenha
causado “a perda de população e de cabedais”, proporcionou por outro lado o incremento da
11 PRADO, Fabrício P. “A Colônia e a Banda Oriental Portuguesa”, artigo inédito gentilmente cedido pelo autor. 12 Em estudo posterior Antonio Carlos Jucá de Sampaio confirmou que o surgimento de uma elite mercantil carioca se deu em finais do século XVII. Cf. SAMPAIO, Antonio Carlos Jucá de Sampaio. Na encruzilhada do Império: hierarquias sociais e conjunturas econômicas no Rio de Janeiro (c.1650 – c.1750). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003.
7
atividade mercantil no Rio de Janeiro, uma vez que o comércio carioca era o responsável pelo
abastecimento de escravos daquela capitania. No final do século XVIII e início do XIX, a elite
mercantil carioca desempenhava um papel fundamental e seria ela a responsável pela reiteração
da economia colonial13.
Comentando o trabalho desses dois historiadores, Stuart Schwartz atenta para a
necessidade de entender esse processo de fortalecimento sociopolítico dos comerciantes também
como resultado da política de recuperação econômica realizada pelo Marques de Pombal, pois
este secretário de Estado procurou se livrar da dominação estrangeira no comércio luso-brasileiro
apoiando os comerciantes portugueses e brasileiros, ainda que tenha concentrado o comércio nas
mãos de uma pequena e enriquecida minoria de negociantes14. É necessário frisar ainda que o Rio
de Janeiro tornou-se sede do vice-reinado, consagrou sua situação de grande porto e passou a ter
papel central na reprodução da economia escravista da região Sudeste também durante a
administração pombalina15.
Dois anos após a sua chegada, provavelmente com o intuito de consolidar sua rede
mercantil, Vicente dos Reis casou-se com Dona Josefa Bernardina do Nascimento, filha do
13 FRAGOSO, João & FLORENTINO, Manolo. O Arcaísmo como projeto. Mercado Atlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma economia colonial tardia Rio de Janeiro, c.1790 – c.1840. Rio e Janeiro: Civilização brasileira, 2001, p. 78. Cf. também para uma exposição documentada e mais detalhada da argumentação dos autores: FRAGOSO, João. Homens de Grossa Aventura: acumulação e hierarquias na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998 [1992], 2ª ed. revista e FLORENTINO, Manolo. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Sobre o comércio interno no Rio de Janeiro é essencial cf. BROWN, Larissa V. Internal Commerce in a colonial economy. Rio de Janeiro and its hinterland, 1790-1822. Tese de doutorado em História. Virgínia: University of Virgínia, 1986. 14 SCHWARTZ, Stuart B. “Mentalidades e estruturas sociais no Brasil colonial: uma resenha coletiva” (trad.) Economia e Sociedade, n. 13, Campinas, 1999, p. 131. Cf. também PEDREIRA, ob. cit. 15 Cf. CARDOSO, Ciro Flamarion S. “A crise do colonialismo luso na America Portuguesa 1750-1822” in: LINHARES, Maria Yedda L. (coord.). Historia geral do Brasil: da colonização portuguesa à modernização autoritária. Rio de Janeiro: Campus, 1990, pp. 89-107. Cf. também para uma contextualização político-administrativa do Rio de Janeiro, cf. BICALHO, Maria Fernanda. A Cidade e o Império: o Rio de Janeiro no século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. Cf. também CAVALCANTI, Nireu. O Rio de Janeiro setecentista: a vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada da Corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
8
comerciante José Vaz Caldas, que atuava na praça carioca desde 175316. Interessante notar que o
casamento das três filhas de Vicente dos Reis e D. Josefa também revela a combinação de
diversas estratégias com sentidos distintos mas complementares, já que seus matrimônios foram
selados com um comerciante, com um primo e com um nobre titulado reinol17.
Em 1781, ao oferecer 20:000$000 sobre a quantia de 187:953$130 em que a Fazenda do
Colégio, situada em Campos dos Goitacases, era estimada, Vicente dos Reis arremata esta grande
propriedade, juntamente com seu tio e com o comerciante da Bahia Manoel José de Carvalho18.
Vale destacar que a compra da antiga propriedade dos jesuítas foi realizada quase que
integralmente através de empréstimos de Letras da Fazenda Real. Os três arrematantes
conseguiram 132 contos de réis com vários credores para aquisição da fazenda, o que significa
que 70% de seu valor foi pago graças ao bom relacionamento e a confiança de que certamente os
três arrematadores desfrutavam com aqueles que possuíam o controle da liquidez, ou seja, o
grupo mercantil. Fragoso ressalta que, como não havia instituições públicas ou privadas de
crédito na colônia, o capital mercantil se tornava o grande fornecedor de empréstimos ao
mercado. No entanto, esta hegemonia do capital mercantil não se revelaria apenas no Sudeste
colonial, seria antes um fenômeno característico de mercados com traços não-capitalistas. Por
16 Cf. CAVALCANTI, Nireu. “O comércio de escravos novos no Rio setecentista” in: FLORENTINO, Manolo (org.) Tráfico, cativeiro e liberdade: Rio de Janeiro, séculos XVII-XIX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p. 71. Em recente trabalho, Antônio Carlos Jucá de Sampaio tem destacado uma forte endogamia dos negociantes do Rio de Janeiro na primeira metade do setecentos, discordando de uma parte da historiografia, que enfatiza os casamentos de negociantes com senhores de engenho. Cf. SAMPAIO, Antonio Carlos Jucá. “Famílias e negócios: a formação da comunidade mercantil carioca na primeira metade do setecentos” in: FRAGOSO, João; SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá & ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de (orgs.). Conquistadores e negociantes: Historias de elites no Antigo Regime nos trópicos. América lusa, Século XVI a XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, pp. 225-64. Para uma visão contrária, cf., dentre outros, FARIA, ob. cit., pp. 206-12. 17 Cf. CASTRO, Manoel Vianna de. “O coronel Joaquim Vicente dos Reis e sua descendência” In: Revista Genealógica Brasileira, n. 10. São Paulo: Instituto Genealógico Brasileiro, 1944, pp. 283-305. 18 Sobre os comerciantes de Salvador, cf. LUGAR, Catherine. The Merchant Community of Salvador, Bahia. 1780-1830. Tese de doutorado em História. Nova Iorque: State University of New York, 1980.
9
conseguinte, o endividamento era comum, “um padrão geral”, e a economia funcionava através
desses processos de “adiantamento/endividamento” 19.
Aliás, Fragoso também aponta que esse capital foi o responsável pela rápida expansão da
agricultura canavieira em Campos dos Goitacases. A pecuária, inicialmente a principal
responsável pela ocupação territorial da região, dá espaço à cultura da cana-de-açúcar: a segunda
metade do século XVIII é marcada sobretudo pelo desenvolvimento da atividade açucareira em
Campos. Aliada a esta expansão, cresceu também a demanda por cativos na região.
Não restam dúvidas de que a cana interferiu não só na economia, mas também na
estruturação da sociedade colonial. Ao analisar a Bahia, o brasilianista Stuart Schwartz afirma
que o regime de grande lavoura reforçou as hierarquias sociais, uma vez que a escravidão e a raça
“criaram novos critérios de status que permearam a vida social e ideológica da colônia”. Os
senhores de engenho eram, por sua vez, “donos dos homens e da cana”, por isso reconhecidos
como a elite colonial20, apesar da importância crescente dos comerciantes no contexto.
Todavia, a entrada de Vicente dos Reis na sociedade “agrário-escravista” não significou o
abandono de suas intenções “empresariais”, já que provavelmente nossa personagem permaneceu
ligada ao comércio até o final de sua vida21, no mínimo em razão de suas relações familiares.
Florentino e Fragoso ressaltam que a transformação de comerciantes em fazendeiros derivava
19 FRAGOSO, ob cit., pp. 241-255. Stuart Schwartz em trabalho anterior já havia ressaltado o fato de que o crédito teve papel fundamental na economia açucareira do Brasil e que as duas principais fontes creditícias eram as instituições religiosas como a Misericórdia e os comerciantes cf. SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial (Bahia, 1550-1835). São Paulo: Companhia das Letras, 1988 (1985), pp. 178-9. Especificamente sobre crédito no mundo luso-brasileiro, cf. SAMPAIO, Antonio Carlos Jucá de. "A Produção Política da Economia: formas não-mercantis de acumulação e transmissão de riqueza numa sociedade colonial (Rio De Janeiro, 1650-1750)" Topoi, v. 4, no. 07, 2003, pp. 276-312; ROCHA, Maria Manuela da. "Actividade Creditícia Em Lisboa (1770-1830)" Análise Social, v. 31, ns. 136-137, 1996, pp. 579–98 e Id. "Crédito Privado Em Lisboa Numa Perspectiva Comparada (Séculos XVII e XIX)" Análise Social, v. 33, n. 145, 1998, pp. 91-115. 20 SCHWARTZ, ob cit., pp. 210-2. 21 Cf. PIÑEIRO, Théo Lombarinhas. “A construção da autonomia: o corpo de comercio no Rio de Janeiro”. In: Anais Eletrônicos do V Congresso Brasileiro de História Econômica e 6ª Conferência Internacional de História de Empresas. Caxambu: Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica, 2003, em que Joaquim Vicente dos Reis é citado no seleto grupo dos maiores negociantes do Rio de Janeiro em 1808.
10
sobretudo de um “forte ideal aristocratizante identificado ao controle de homens e à afirmação de
certa distância em face do mundo do trabalho”22.
Além da retirada da donataria dos Assecas e da pacificação dos ânimos na região, Sheila
de Castro Faria aponta movimentos econômicos intrinsecamente ligados ao processo de
proliferação de engenhos em Campos dos Goitacases. Em primeiro lugar, a decadência da
produtividade do açúcar no recôncavo da Guanabara permitiu que os investimentos dessa região
fossem liberados para outras áreas. A transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro
também contribuiu para esta evolução, na medida em que houve uma maior dinamização
econômica da cidade e seu recôncavo. Por fim, com a expulsão dos jesuítas em 1759, suas terras
foram adquiridas por particulares em leilões e destinadas em grande parte à cultura da cana23.
É necessário salientar que os estudos sobre a região campista entre a segunda metade do
XVIII e inicio do XIX são relativamente abundantes. Dentre os mais conhecidos podemos citar
três teses de doutorado: Campos da violência, de Silvia Lara, que analisa o cotidiano e o papel da
violência na relação senhor-escravo; A Colônia em Movimento, de Sheila de Castro Faria, que, ao
levar em consideração a família como base da organização social da colônia, procura entender o
dinamismo e também o cotidiano campista olhando a sociedade ao microscópio; e, mais
recentemente, a tese de Marcio Soares de Sousa, A remissão do cativeiro, que examina as
práticas de alforria em Campos e as formas de re-inserção social dos libertos e de seus
descendentes24. Estes estudos tornam-se indispensáveis para a pesquisa porque todos se referem à
sociedade campista e nos dão largas informações sobre ela, analisando seus componentes
22 FRAGOSO & FLORENTINO, ob.cit., p. 232. 23 FARIA, ob. cit., pp. 30-1. 24 LARA, Silvia Hunold. Campos da Violência: escravos e senhores na capitania do Rio de Janeiro – 1750-1808. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988; FARIA, Sheila Siqueira de Castro. A Colônia em Movimento: Fortuna e Família no Cotidiano Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998; SOARES, Márcio de Sousa. A Remissão do Cativeiro: alforrias e liberdades nos Campos dos Goitacases, c. 1750 - c. 1830. Tese de doutorado em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2006. Cf. também KJERFVE, Tânia Maria Gomes Nery. Família e escravidão no Brasil colonial. Dissertação de mestrado em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1995.
11
econômicos, demográficos e mentais por meio de um vasto corpus documental. Além dessas
pesquisas de fôlego, é necessário destacar também o trabalho dos chamados “historiadores
locais”, como Julio Feydit e Alberto Lamego, que, apesar de serem descritivos e em alguns
momentos tendenciosos, são importantes por apresentarem uma grande quantidade de fontes
transcritas e por informarem factualmente acerca da história daquelas paragens25.
Todas essas obras relacionadas a Campos referem-se, ainda que rapidamente, à
personagem central de nossa pesquisa, mencionando-a sempre como um senhor de engenho bem
sucedido e relatando as características de sua escravaria e sua relação com ela. Manolo
Florentino, Cacilda Machado e Carlos Engemann têm destacado que a reprodução da escravaria
das maiores propriedades, como a de Vicente dos Reis, se fazia, de modo geral, internamente,
enquanto os africanos trazidos pelo tráfico se destinavam a pequenas e médias propriedades26.
De acordo com Florentino e Machado, quando a contínua introdução de homens e
mulheres pelo mercado cessava, o dispositivo do matrimônio passava a funcionar de maneira
mais adequada27. Realmente, entre os escravos da fazenda de Joaquim Vicente dos Reis, a taxa de
legitimidade - pais casados perante a Igreja - encontrada por Sheila de Castro Faria no ano de
1782 foi muito elevada: 77,1%28. Provavelmente, os matrimônios e os laços consangüíneos que
se formaram dentro da Fazenda do Colégio proporcionaram também um incremento das relações
familiares, permitindo, por exemplo, que os padrinhos escolhidos para os filhos fossem
indivíduos da mesma propriedade.
25 FEYDIT, Júlio. Subsídios para a história de Campos dos Goitacases. Rio de Janeiro: Editora Esquilo, 1979 [1900]; LAMEGO, Alberto. A Terra Goitacá. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1941, 8 vols. e Id. História da Santa Casa de Campos. Rio de Janeiro: Brasil, 1951. 26 Cf. MACHADO, Cacilda S.; ENGEMANN, Carlos; FLORENTINO, Manolo. “Entre o geral e o singular: Histórias de fazendas escravistas da América do Sul – Séculos XVIII e XIX” In: FLORENTINO, Manolo & MACHADO, Cacilda S. (orgs.). Ensaios sobre escravidão (I). Belo Horizonte: EdUFMG, 2003, pp. 167-87. 27 FLORENTINO, Manolo & MACHADO, Cacilda S. “Sobre a Família Escrava em Plantéis Ausentes do Mercado de Cativos: Três Estudos de Caso - Século XIX” In: XI Encontro de Estudos Populacionais, 1998, Caxambu. Anais do XI Encontro de Estudos Populacionais. Belo Horizonte: ABEP, 1998, p. 1391. 28 FARIA, ob. cit., pp. 332-333
12
Na fazenda do Colégio, os escravos tinham a possibilidade de trabalhar em seus próprios
terrenos e hortas, o que lhes permitia algum grau de independência econômica. Os alimentos
cultivados poderiam ser vendidos, consumidos como alimentação suplementar ou mesmo
vendidos em mercados locais e aos próprios proprietários. O dinheiro obtido com a venda seria
provavelmente utilizado para melhora nas condições de vida, para o financiamento da própria
alforria ou de um ente querido29. Por outro lado, Robert Slenes, em trabalho inspirador, observa
que a “economia interna dos escravos”30 funcionava como um mecanismo de controle social na
medida em que criava um elo entre o escravo e o solo e proporcionava-lhes um certo amor à
propriedade. O autor faz questão de ressaltar, também, que esta “política de incentivos” não
impediria os conflitos31.
Carlos Engemann afirma que, se a reunião de um grande número de escravos aumentava a
possibilidade de tensão, igualmente aumentaria os mecanismos de negociação. Ao analisar
unidades produtivas com um grande número de cativos, o autor acredita que, “dada à densidade
demográfica e o tempo de convívio”, os escravos alocados nestas propriedades tinham condições
de formar uma comunidade escrava. A trama corriqueira de “laços e nós” forjaria um pacto social
na medida em que a “existência coletiva os facultava a viver em sociedade”. Engemann entende
como comunidade “um conjunto de indivíduos que partilham símbolos, ritos, mitos e parentesco
dentro do mesmo espaço socialmente ordenado”32. Estas reflexões são importantes para
29 Cf. SCHWARTZ, Stuart B. “Trabalho e cultura: vida nos engenhos e vida dos escravos” in: Escravos, roceiros e rebeldes (trad.). Bauru: EDUSC, 1999, pp. 89-121. 30 Robert Slenes acredita que o termo brecha camponesa utilizado por Ciro Flamarion Cardoso para designar a produção independente de alimentos por escravos para uso próprio ou para venda acabou se tornando uma metáfora infeliz. Por isso, se apóia na bibliografia mais recente, muito influenciada por E. P. Thompson, que enfoca a “economia interna” dos escravos como palco de conflitos, cujos desenlaces são ambíguos e imprevisíveis. Cf. SLENES. Robert. Na Senzala, uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava (Brasil Sudeste, Século XIX). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999 p. 199-200. 31 Id., ibid., p. 207 32 ENGEMANN, Carlos. De laços e de nós. Rio de Janeiro: Apicuri, 2008, citação à p. 144; especificamente sobre a Fazenda de Santa Cruz, cf. Id. Os servos de Santo Inácio a serviço do Imperador: Demografia e relações sociais entre a escravaria da Real Fazenda de Santa Cruz, RJ (1790-1820). Dissertação de Mestrado em História Social. Rio
13
compreendermos e tentarmos retraçar o processo de manutenção da expressiva escravaria da
Fazenda do Colégio e a relação de Vicente dos Reis com seus cativos, a qual certamente se
pautava por um espaço de barganhas e conflitos e oscilava entre o paternalismo e a força33.
Como senhor de uma propriedade que se destacava dentre as demais, Vicente dos Reis
tornou-se logo um indivíduo proeminente em Campos. Sua riqueza chegou a incomodar o 5º
Visconde de Asseca, o qual afirmou que, com tão grosso cabedal que vinha acumulando desde a
morte de seus dois sócios, Vicente dos Reis se fazia “temível” e havia se tornado um “potentado
daquele distrito”34. André Figueiredo Rodrigues utiliza o conceito de potentado para caracterizar
indivíduos que, à revelia da lei, comandavam o poder econômico e político de uma determinada
região e mandavam em um local como se fossem “seus verdadeiros donos”35; acreditamos que
este é também o sentido utilizado pelo Visconde.
Nossa personagem, porém, podia utilizar sua “potência” na localidade para barganhar
com o centro político. Na sociedade do Antigo Regime, o sistema de recompensas era uma forma
de criar laços entre o rei (centro) e súditos (periferia) e de manutenção do Império colonial, pois,
segundo Fernanda Olival, era preciso o incentivo do prêmio para que os vassalos servissem à
Coroa. Assim, dentro de uma lógica do dom, o monarca concedia a seus súditos benesses,
privilégios e honras, em recompensa a serviços realizados em benefício da Coroa. Os súditos, por
sua vez, valorizavam as mercês porque elas reforçavam sua própria posição social, tornando-os
de Janeiro: UFRJ, 2002. Para uma perspectiva um pouco diferente, que procura ampliar a noção de comunidade escrava, cf. FARIA, Sheila Siqueira de Castro. “Identidade e comunidade escrava: um ensaio”. Tempo, v. 11, n. 22, 2007, pp. 133-157. 33 REIS, João José & SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 34 AHU, cód. Rio de Janeiro Avulsos, cx. 178, doc. 13026. 35 Cf. RODRIGUES, Andre Figueiredo. “Os sertões proibidos da Mantiqueira: desbravamento, ocupação da terra e as observações do governador dom Rodrigo José de Meneses” Revista Brasileira de História, v. 23, n. 46, 2003, p. 265. Cf. também Id. Um potentado na Mantiqueira: José Aires Gomes e a ocupação da terra na Borda do Campo. Tese de Doutorado em História. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2002.
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superiores frente ao restante da sociedade, munindo-os de privilégios e de um capital simbólico
que legitimava seu papel de destaque na sociedade local.
A partir de meados do século XVIII, honra e fortuna estavam cada vez mais próximos, de
modo cada vez mais explícito. Olival destaca que “face aos prenúncios de guerra, os cabedais
eram escassos (...); o Estado acabava por pagar com honras os vassalos porque não tinha meios
remunerativos mais vantajosos e flexíveis”36. Não por acaso Vicente dos Reis sempre procurou
enfatizar serviços como a concessão de empréstimos e donativos. Através desses e outros
argumentos, alcançou o posto de Coronel de milícia em Campos. Como destaca Maria Beatriz
Nizza da Silva em recente obra, Ser nobre na Colônia, os oficiais de milícia obtinham poder e
diferenciação local, pois gozavam de nobreza e de diversos privilégios37.
A ocupação de cargos na Câmara e na Misericórdia também dava oportunidade aos atores
do Antigo Regime se destacarem localmente. Segundo Boxer, essas duas instituições poderiam
ser descritas como “os pilares gêmeos da sociedade colonial portuguesa” que garantiam a unidade
e a continuidade entre o Reino e seus domínios38. Pelo que sabemos, Joaquim Vicente dos Reis
não ocupou cargos na Câmara da vila de São Salvador, mesmo porque aqueles que faziam parte
das milícias não precisariam servir em cargos na administração concelhia, que eram ocupados
basicamente pelos oficiais da ordenança39. No entanto, alguns documentos encontrados nos
revelam a relação próxima que nossa personagem possuía com este órgão do poder local. Já em
relação à recém-fundada Santa Casa de Misericórdia em Campos, Vicente dos Reis teve papel
36 OLIVAL, Fernanda. As Ordens Militares e o Estado Moderno: honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789). Lisboa: Estar, 2001, citações às pp. 274 e 510. 37 Cf. SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Ser nobre na colônia. São Paulo: EdUNESP, 2005, pp. 239-44. 38 BOXER, Charles R. O Império Marítimo Português, 1415-1822 (trad.). São Paulo: Companhia das Letras, 2002 [1969], p. 286. Mais recentemente, cf. um revisão historiográfica sobre as Câmaras em.BICALHO, Maria Fernanda. “As câmaras ultramarinas e o governo do império” In: FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda & GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, pp. 189-221. 39 SILVA, ob. cit., p. 243.
15
ativo, provavelmente até mesmo na sua fundação40. Desde o trabalho pioneiro de Russell-Wood,
a historiografia enfatiza que as Misericórdias eram instituições de considerável importância para
as elites locais e se destacavam não só por seu papel de assistência e caridade, mas também como
fonte de crédito. A Santa Casa era também no Brasil um espaço de afirmação das elites locais;
não por acaso, os provedores em geral eram escolhidos dentre os ricos comerciantes e homens
mais influentes41.
Mas faltava ainda um título que desse ao nosso vassalo o reconhecimento em todo o
Império. Ciente disso, requereu em 1799 o Hábito de Cavaleiro da Ordem de Cristo, o mais
cobiçado dentre as três ordens militares. Contudo, o parecer do Conselho Ultramarino não foi tão
favorável a Vicente dos Reis desta vez. Com a reforma de 1789, D. Maria I reestruturou as três
Ordens militares e estabelecia-se uma relação entre os serviços prestados e cada uma delas. Desta
forma o hábito de Avis ficara destinado aos militares, mesmo quando despachados a serviços de
outro tipo. A insígnia de Santiago era destinada aos que serviam na magistratura e, por fim,o
hábito de Cristo ficava reservado àqueles que ocupavam os maiores postos nos cargos políticos,
militares e civis. Era uma tentativa clara de revalorização do Hábito de Cristo após sua
disseminação no século XVIII42. Alegando que Vicente dos Reis não possuía serviços tão
relevantes para a obtenção da cruz tomarense, o Conselho Ultramarino lhe conferiu o hábito de
Santiago ainda que este estivesse reservado aos serviços das letras. Fica patente, portanto que o
Conselho não seguia a letra da lei. Mesmo assim os serviços de Vicente dos Reis foram
considerados meritórios o suficiente, tanto é que recebeu o hábito de Santiago mesmo que não
40 Segundo Lamego, a Santa casa de Campos foi instituída oficialmente em 1791. História da Santa Casa, ob. cit. 41 Cf. RUSSELL-WOOD, A. J. R. Fidalgos e Filantropos: A Santa Casa da Misericórdia da Bahia, 1550-1755. Brasília: EdUnB, 1981 [1968]. Para um trabalho recente e mais abrangente, cf. SÁ, Isabel dos Guimarães. Quando o rico se faz pobre: misericórdias, caridade e poder no Império Português, 1500-1800. Lisboa: CNCDP, 1997. 42 OLIVAL, ob. cit., p. 490.
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tenha dedicado a maior parte de sua vida a servir a Coroa, o que nos faz crer mais do que nunca
que foi sua riqueza o principal motivo das suas mercês.
Objetivos:
1 – Analisar a trajetória de Joaquim Vicente dos Reis à luz de suas relações sociais.
1.1 – Entender sua ascensão social e econômica dentro do contexto de finais do Antigo
Regime.
1.2 – Compreender a importância das relações pessoais para a conformação de redes
comerciais e de crédito.
1.3 – Identificar as estratégias utilizadas para a manutenção de uma escravaria muito
numerosa.
1.4 – Explicar as relações de conflito e negociação deste “potentado” com as diferentes
instâncias do poder local e central.
Metodologia e Fontes:
Como pretendo reconstruir os diversos campos de atuação de Joaquim Vicente dos Reis,
dentro de um contexto mais amplo, utilizo como método a busca pelo nome uma vez que ele
distingue o indivíduo na sociedade43 e, segundo Bourdieu é “produto do rito de instituição
43 GINZBURG, Carlo & PONI, Carlo. “O nome e o como: troca desigual e mercado historiográfico”. In: Idem & CASTELNUOVO, Enrico. A Micro-história e outros ensaios. Rio de Janeiro: Bertrand, 1989, pp. 169-78.
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inaugural que marca o acesso à existência social”44. Através da redução de escala, procurarei
apreender movimentos que uma perspectiva mais ampla deixaria escapar e, a partir disso, tentarei
enxergar as múltiplas relações que são inerentes aos agentes históricos através da investigação
dos sujeitos em variados tipos de fonte, com o objetivo de compreender seus conflitos,
negociações e opções45.
A pesquisa teve início no começo desse ano e seu primeiro resultado foi minha
monografia, entregue em Julho. O primeiro passo da investigação foi uma busca na
documentação do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) onde encontrei 33 documentos, entre
requerimentos, consultas e ofícios de autoridades régias que citavam nos resumos o nome de
Vicente dos Reis entre o período de 1784 e 1805, sendo 27 do Rio de Janeiro, num total
aproximado de 225 fólios frente e verso. Essa documentação já foi transcrita por mim e a partir
dela obtive as primeiras informações sobre nossa personagem. Os principais temas aí retratados
são conflitos e demarcações de terra, pedidos de mercê, os serviços prestados para a Coroa em
Sacramento e no Rio de Janeiro, as características da Fazenda do Colégio, a forma pela qual ela
foi adquirida e a relação de Vicente dos Reis com sua escravaria. Posso observar, assim, a relação
da personagem com o poder central, seu cotidiano em Campos e sua atuação em Sacramento.
Esta documentação acabou revelando também um caso excepcional de um ex-escravo de Vicente
dos Reis, Francisco Antônio Granjeiro, que de Angola requeria à Rainha sua liberdade talhada
pelo seu ex-proprietário.
No Arquivo Nacional encontrei documentos referentes tanto à personagem quanto a
Campos. Os documentos contidos nos códices 244 (Empréstimo Pedido à Vila de Campos com
44 BOURDIEU, Pierre. “A ilusão biográfica”. In: Ferreira, Marieta e Amado, Janaína (org.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, p. 188. 45 FRAGOSO, João. “Afogando em nomes: temas e experiências em história econômica”. Topoi, v. 5, 2002, pp. 41-70. Cf. também prefácio do mesmo autor para OSÓRIO, Helen. O império português no Sul da América. Estancieiros, lavradores e comerciantes. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007, pp. 15-24.
18
Relação das Pessoas que Fizeram o dito Empréstimo, 1797) e 807 (Coleção de memórias e
outros documentos sobre vários objetos) já foram transcritos. Deste último, utilizarei um relato
sobre a Vila de São Salvador que aponta suas características. O códice 67 (Correspondência da
Corte de Portugal com os vice-reis, 1763-1807) também apresenta documentação de interesse,
pois complementa as informações obtidas no AHU e fornece novos dados, como a participação
de Vicente dos Reis em um donativo de 1804. Neste mesmo códice encontra-se uma carta da
Rainha a favor da liberdade do escravo Granjeiro46 e um mapa da população de Campos relativo
ao ano de 1790. No códice 952 (Cartas régias, avisos, alvarás, portarias etc., dirigidos aos
governadores do Rio de Janeiro, 1662-1821) há também uma representação dos moradores de
Campos de 1799 contra o Visconde de Asseca que será importante para compreender o conflito
entre ele e nossa personagem. Transcrevi também documentos de sesmarias envolvendo Vicente
dos Reis, suas filhas e genros: mais do que um registro de propriedades, essa documentação
revelou conflitos, algumas das disposições testamentárias de Vicente dos Reis e a passagem da
fazenda para as suas mãos depois da morte de seus dois sócios. Neste arquivo também há uma
escritura de distrate de empréstimo entre os três arrematantes da Fazenda e o importante
comerciante Anacleto Elias da Fonseca47, indicando caminhos para a análise da rede de crédito de
nosso protagonista e seus sócios48.
No Arquivo Municipal de Campos (AMC - que funciona na sede da Fazenda do Colégio,
onde residia nossa personagem), consultei o livro de Registro da Câmara, de onde transcrevi
cartas em que os camarários buscavam o auxílio e a presença de Vicente dos Reis para obras e
ocasiões cerimoniais, assim como as respostas da nossa personagem, permitindo-me analisar sua
relação com esta esfera do poder local. Importante também será a consulta aos Livros de Notas,
46 LARA, ob. cit., pp. 261-3 analisou este caso, mas não consultou a documentação do AHU. 47 Estudado por OSÓRIO, ob. cit. 48 Agradeço a Fábio Pesavento pela gentileza de me enviar este documento.
19
que possibilitarão o exame em maior detalhe da atuação cotidiana de Vicente dos Reis,
especialmente as alforrias que concedeu. Também consultarei suas contas de testamento, assim
como testamentos e inventários de parentes e outras pessoas próximas: este trabalho será muito
facilitado pelas exaustivas pesquisas de Sheila de Castro Faria e Márcio Soares, que gentilmente
se ofereceram para me passar a documentação que me interesse.
No AMC há uma cópia microfilmada da Coleção Alberto Lamego, depositada no Instituto
de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. Trata-se de uma documentação
administrativa diversificada composta basicamente de traslados, onde pude encontrar certidões de
doação de partes das terras aos jesuítas reivindicadas posteriormente por Vicente dos Reis, os
autos de arrematação da Fazenda, atestado da Câmara a favor de nossa personagem e de
idoneidade moral, assim como um empréstimo de quatro mil contos a Coroa. Toda ela já foi
transcrita e através dela será possível obter mais informações sobre sua relação com o poder local
e metropolitano e sobre conflitos de terras. Há que se destacar nessa coleção um amplo
levantamento da população, fábrica e escravos deste distrito em 1799 que servirá como um
instantâneo fotográfico a ser comparado com outras relações deste tipo. Em Campos, tentarei
consultar o Arquivo da Santa Casa de Misericórdia, uma vez que nosso protagonista foi um dos
provedores dessa instituição, assim como seus genros.
O diretor do AMC, Carlos Freitas, informou-me sobre a existência de um inventário dos
bens da Fazenda do Colégio após a expulsão dos jesuítas na Biblioteca Nacional que será útil
para compararmos a situação desta propriedade com o seu estado posterior à arrematação. Na BN
também consultarei outro mapa da população de Campos de 1790.
Utilizarei ainda algumas fontes relativas à Colônia de Sacramento que me foram
gentilmente cedidas por outros pesquisadores, como o processo de familiatura para o Santo
Ofício de João Francisco Vianna que se encontra na Torre do Tombo, uma Relação de pessoas
20
que ajudaram as tropas do Governador Francisco José da Rocha na Colônia com dinheiro, onde
aparecem listados o nome de Vianna e Vicente dos Reis da Biblioteca Nacional de Lisboa, e
finalmente um documento atestando a ajuda de Vianna na expedição de Gomes Freire do
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Mesmo que fragmentada, esta documentação permitirá
uma análise da atuação de nosso protagonista e de seu tio na Colônia.
Uma fonte essencial para a análise será o levantamento feito por Manoel do Couto Reis
em 1785, realizado com muito detalhamento, dando-nos uma série de informações que podem ser
comparadas com outras relações de tipo e situando melhor nossa protagonista na sociedade e
economia campista. Como fontes acessórias, utilizarei documentos impressos contidos nos livros
dos historiadores locais, como Alberto Lamego e Julio Feydit, e em algumas revistas do IHGB
que, embora pontuais, acrescentarão algumas informações.
Justificativa e Relevância:
Partindo da análise de um indivíduo pretendo entender algumas opções e possibilidades
de ação dos agentes sociais dentro da dinâmica imperial com o objetivo de “enriquecer o real
introduzindo na análise o maior número possível de variáveis, sem no entanto renunciar a
identificar suas regularidades”49, empreendendo assim uma descrição mais realista do
comportamento humano, indo além das explicações estruturais50. A redução de escala me permite
encontrar Joaquim Vicente dos Reis em diferentes contextos sociais e compreender suas escolhas
49 REVEL, Jacques. “A história ao rés-do-chão” In: LEVI, Giovanni. A Herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p.28 50 ROSENTAL, Paul André. “Construir o ‘macro’ pelo ‘micro’: Frederik Barth e a ‘microhistoria’”. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escalas: a experiência da microanálise. Rio de Janeiro: EdFGV, 1998 [1996], p. 153.
21
e estratégias que, embora restritas ao campo de possibilidades deste ator histórico, não
eliminavam seus espaços de manobra51.
O estudo da trajetória de Vicente dos Reis explica-se por esta personagem se ter
constituído em um dos maiores proprietários de escravos de que já tivemos conhecimento,
principalmente se desconsiderarmos as instituições religiosas. Além disso, Vicente dos Reis
acumulou uma fortuna de aproximadamente 47 mil libras, o que para um proprietário rural é um
valor muito elevado. Fragoso argumenta que apenas a elite mercantil conseguia reter montantes
que chegavam perto ou superavam a cifra de 50 mil libras. Segundo o autor, no período de 1810 a
1825 as fortunas essencialmente rurais e escravistas situavam-se entre as faixas de 5.0001 a 20
mil libras esterlinas52 mas, como já foi destacado acima, o inventário dos bens de Vicente dos
Reis excedia bastante esta quantia. Vicente dos Reis se apresenta, portanto, como um caso-limite,
que pode nos ajudar a compreender as possibilidades de ação e sucesso neste contexto.
Cronograma:
PERÍODO ATIVIDADES
1/2009 Cursar disciplinas; transcrição e análise das fontes primárias; leituras
adicionais; apresentação dos resultados parciais.
2/2009 Cursar disciplinas; transcrição e análise das fontes primárias; leituras
adicionais; apresentação dos resultados parciais.
1/2010 Discussão com a orientadora; análise das fontes; redação; qualificação.
2/2010 Discussão com a orientadora; redação; defesa.
51 REVEL, Jacques. “Microanálise e construção do social” In: REVEL, ob. cit., pp. 15-38. 52 FRAGOSO, ob. cit., p. 314.
22
Fontes e Bibliografia:
Fontes Manuscritas:
I) Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) de Lisboa, D igitalizado pelo projeto
Resgate Barão do Rio Branco.
Rio de Janeiro Avulsos
Documentos 9960, 10061-2, 10549, 10903, 11881, 11947, 11948, 11881, 11947, 11956,
12603, 12613, 12630, 12637, 12659, 12786, 12892, 12968, 13026, 13084, 13116, 13206, 13353,
13490, 13652, 13668, 15492.
Espírito Santo Avulsos
Documentos 392, 433.
Minas Gerais Avulsos
Documento 14406.
Bahia Avulsos
Documento 15109.
Bahia Castro Almeida
Documentos 23372-3.
23
II) Arquivo Nacional .
Códice 67: Correspondência da Corte de Portugal com os vice-reis, 1763-1807.
Códice 244: Empréstimo Pedido à Vila de Campos com Relação das Pessoas que
Fizeram o dito Empréstimo, 1797.
Códice 807: Coleção de memórias e outros documentos sobre vários objetos.
Códice 952: Cartas régias, avisos, alvarás, portarias etc., dirigidos aos governadores do
Rio de Janeiro, 1662-1821.
III) Arquivo Municipal de Campos.
Registros Gerais da Câmara Municipal, 15 livros.
Livros de Notas dos cartórios do 1º, 2º e 3º ofício de Campos.
Inventários post-mortem, testamento e contas, documentos não-catalogados.
IV) Coleção Alberto Lamego – Instituto de Estudos Brasileiros – Universidade de
São Paulo.
19.19, 19.21-5, 19-69-A8
V) Arquivo da Santa Casa de Misericórdia de Campos dos Goytacazes.
VI) Biblioteca Nacional.
Seção Manuscritos
I-29-19-42 e 9-2-11, n. 9.
24
VII) Biblioteca Nacional de Lisboa.
- Relação das letras que se passaram sobre a tesouraria Geral do Erário da Cap. Do Rio de
Janeiro, a favor das pessoas abaixo declaradas que a servirão com dinheiro a esta fazenda real
para pagamento das tropas desta guarnição por ordem do Governador desta praça o Coronel
Francisco José da Rocha. COD. 10855
VIII) Arquivo Nacional/ Torre do Tombo.
- Habilitação da Familiatura do Santo Ofício de João Francisco Viana. Maço 153, nº 2229.
- Registo Geral de Mercês, D. Maria I, liv. 31, fl. 102v.
IX) Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.
Documentação Fazendária – Lata 01 – Maço 02.
Expedição de Gomes Freire de Andrada.
Documento 06 - de março de 1753 – Requerimento (?) mau estado.
Fontes Publicadas e obras de referência:
“Memórias públicas e econômicas da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro para uso do
Vice-Rei Luiz de Vasconcellos por observação curiosa dos anos de 1779 até o de
1789”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, n. 47, 1884, pp. 25-60.
25
“O Rio de Janeiro nas balanças de comércio de Portugal, 1796 a 1807” . Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, n. 342, 1984, pp. 7-225.
“Relações parciais apresentadas ao Marquês do Lavradio” (1779). Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, n. 76, 1913, pp. 285-355.
“Relatório do vice-rei Luís de Vasconcelos ao entregar o governo ao seu sucessor, o Conde de
Resende”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, n. 23, 1860, pp.
143-239.
“Resumo total da população que existia no ano de 1779”. Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, n. 21, 1858, pp. 159.
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. 3. ed. Belo
Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1982. (Coleção Reconquista do Brasil)
BLUTEAU, Rafael. Vocabulário Portuguez e Latino. Coimbra: 1712-8 (disponível em
http://www.ieb.usp.br/online/dicionarios/Bluteau/imgbluteau.asp).
FEYDIT, Júlio. Subsídios para a história de Campos dos Goitacases. Rio de Janeiro: Editora
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LAMEGO, Alberto. A Terra Goitacá. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1941, 8 vols.
LAMEGO, Alberto. História da Santa Casa de Campos. Rio de Janeiro: Brasil, 1951.
REIS, Manuel Martins do Couto. “Memória sobre a fazenda de Santa Cruz”. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, n. 17, 1863, pp. 143-86.
REYS, Manoel Martinz do Couto. Manuscritos de Manoel Martinz do Couto Reys, 1785. Rio de
Janeiro: APERJ, 1997.
SILVA, José Carneiro da. Memória Topográfica e Histórica sobre os Campos dos Goitacases
com uma Notícia Breve de suas Produções e Comércio oferecida ao muito Alto e
Poderoso Rei D. João VI. RJ, Impressão Régia, 1819.
26
Livros, artigos, capítulos, teses e dissertações:
BICALHO, Maria Fernanda. A Cidade e o Império: o Rio de Janeiro no século XVIII. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
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nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001, pp. 189-221.
BOURDIEU, Pierre. “A ilusão biográfica”. In: Ferreira, Marieta e Amado, Janaína (org.). Usos e
abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, pp. 183-92.
BOXER, Charles R. O Império Marítimo Português, 1415-1822 (trad.). São Paulo: Companhia
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Revista Genealógica Brasileira, n. 10. São Paulo: Instituto Genealógico Brasileiro,
1944, pp. 283-305.
CAVALCANTI, Nireu. O Rio de Janeiro setecentista: a vida e a construção da cidade da invasão
francesa até a chegada da Corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
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imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
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Revista de História do programa de pós-graduação em História Social da UFRJ, Rio
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