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ROBERTO TORRES TANGOA
AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO
ENSINO SUPERIOR: Um Estudo de Caso na Faculdade de Odontologia da
Universidade de São Paulo – FOUSP
São Paulo 2006
ROBERTO TORRES TANGOA
AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO
ENSINO SUPERIOR: Um Estudo de Caso na Faculdade de Odontologia da
Universidade de São Paulo – FOUSP
Tese apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo como exigência parcial para a obtenção do Título de Doutor em Ciências da Comunicação, sob a orientação da Profa. Dra. Dilma de Melo Silva
São Paulo 2006
Torres Tangoa, Roberto. As novas tecnologias de informação e comunicação no ensino superior: um estudo de caso na Faculdade de Odontologia da Univer- sidade de São Paulo – FOUSP / Roberto Torres Tangoa; orientadora Dilma de Melo Silva. – São Paulo, 2006. 242 f. : fig. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. Área de Concentração: Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. 1. Novas tecnologias de informação e comunicação. 2. Teleodon- tologia. 3. Telemedicina. 4. Ensino médico odontológico. I. Título. CDD 301.16
BANCA EXAMINADORA
NOME ASSINATURA ---------------------------------- ------------------------- ---------------------------------- ------------------------- ---------------------------------- ------------------------- ---------------------------------- ------------------------- ---------------------------------- -------------------------
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dilma de Melo Silva, pela incessante preocupação de inculcar me a luta para
conseguir os objetivos propostos.
À Profa. Lucilene Cury, Co-orientadora, que soube encaminhar meu trabalho com muito
acerto.
À Profa. Nelly de Camargo pelas orientações preliminares.
Ao Prof. Moacyr, pela enorme disponibilidade em ajudar-me na pesquisa na Faculdade de
Odontologia da USP.
À Luciana Correa do LIDO - Laboratório de Informática Dedicado à Odontologia da
FOUSP - pela grande colaboração com a concessão de quadros e testes.
À Gina, minha assistente social, da COSEAS, pela compreensão e ajuda nos momentos
mais críticos da minha vida no CRUSP.
À Sra. Hideko e à Isabel da COSEAS pela sua atenção durante o tratamento e
melhoramento da minha saúde.
À Angela Maria Pimenta, amiga incondicional que colaborou bem de perto na consecução
de meus objetivos.
Ao Cláudio ao Julio Barboza, pais e irmão pela amizade e ajuda na formatação das imagens.
Ao Julio Galharte, ao Martín Núñez, ao Sérgio Motejuna e ao Tristán pela ajuda na
correção dos capítulos.
À Denise, à Elenir e à Marizete amigas do CRUSP, pela disponibilidade de ajudar me.
Ao Renné P. Alegria, amigo, pelos constantes estímulos para minha superação pessoal.
Ao Cláudio N. Pinto e sua mãe dona Dita pelo grande carinho e amizade, nestes anos em
São Paulo.
Á Ivete Nishide, pela sua contribuição na correção e mensagens alentadoras.
À COSEAS pela moradia nestes quatro anos de permanência no CRUSP e aos
Departamento de alimentação pelos alimentos de a baixo custo nos restaurantes.
Aos meus irmãos: Martha Luz, Rosa Haydeé, Ricardo Fernando, Samuel, Israel, Robinson
e Maritza, meus cunhados e meus sobrinhos pela ajuda nos trâmites documentários e
inspiração para continuar estudos de pós-graduação em São Paulo.
RESUMO
Este trabalho é um estudo de caso, visando uma leitura reflexiva enfocada no novo paradigma pedagógico, apoiado no uso de ferramentas advindas das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) aplicadas tanto no ensino como na pesquisa das disciplinas “Patologia Geral” e "Introdução às Técnicas Cirúrgicas”, na FOUSP. Nossa tese sistematiza a dinâmica do ensino do Prof. Dr. Moacyr Domingos Novelli na referida disciplina; o docente emprega mídias eletrônicas inseridas nas práticas pedagógicas influenciando o comportamento dos estudantes; ao utilizarem essas ferramentas cognitivas ocorrem transformações e o aperfeiçoamento da qualidade do ensino presencial e também na divulgação dos conhecimentos. Os resultados desta pesquisa reforçam a relevância da utilização das NTICs pelo mestre, nesta nova era da informática e das imagens tridimensionais. Palavras Chaves: Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, Teleodontologia Telemedicina, Ensino Médico Odontológico Patologia Experimental, Técnicas Cirúrgicas e Arte-Cirurgia.
ABSTRACT
This case study envisions a reflective reading emphasizing the new pedagogical paradigm supported by the use of tools integrated from the “New Communication and Information Technologies”, applied in classes as much as in research of “General Pathology” and “Surgical Technical Introduction” in the school of dentistry at the University of São Paulo. This thesis systemizes the Prof. Moacyr Domingos Novelli’s dynamic teaching. The professor’s pedagogical practice makes use of electronic medias influencing student’s behavior; by using this cognitive tools have been promoting significant changes in teaching quality and improvements in classroom as the spread of knowledge. The result of this research reinforces the relevance of the use of NTICs in this era of computing technologies and tri-dimensional images. Key Words: New Communication and Information Technologies, Teleodontology, Telemedicine, Medical-Dentistry Teaching, Experimental Pathology, Surgical Techniques and Surgical-Art.
QUADROS E TABELAS Pág.
QUADROS QUADRO 1- Vantagens da e-learning 113 QUADRO 2 – Desvantagens da e-learning 113 TABELAS TABELA 1 – Cursos presenciais por categoria administrativa 114 TABELA 2 – Cursos a distância por categoria administrativa 115 TABELA 3 – Resultado do Formulário 177 TABELA 4 - Teste da turma do 2o. ano diurno 179 TABELA 5 - Teste da turma do 2o. ano noturno 179 TABELA 6 - Teste da turma do 3o. ano diurno 180 TABELA 7 - Teste da turma do 3o. ano noturno 180 FIGURAS Figura 1 – Mapa da exclusão digital no Brasil 46 Figura 2 – Pedra lavrada: a primeira ferramenta do homem 52 Figura 3 – O mouse: a nova ferramenta do homem 53 Figura 4 – Aparelhos usados para o ensino-aprendizagem e pesquisa 67 Figura 5 – As tecnologias como apoio para o ensino presencial e a distância 111 Figura 6 – As novas tecnologias e suas interfaces com as ciências da saúde 128 Figura 7 – Cérebro tridimensional criado pela estereoscopia 141 Figura 8 – Aulas práticas apoiadas com as novas tecnologias na FOUSP 152 Figura 9 – O homem virtual: Iconografia computadorizada 155 Figura 10 – O Professor Dr. Moacyr Domingos Novelli 166
Figura 11 – O ensino com tecnologias de simulação na ATM 172
Figura 12 – Práticas Interativas na FOUSP 203
Figura 13 – Anestesia, corte e sutura em coxa de frango 208
Figura 14 – O Prof. Novelli no ensino das práticas cirúrgicas 209
ANEXOS Pág.
ANEXO – 1 : Relatório das 19 aulas teóricas e práticas observadas na FOUSP 201
ANEXO – 2 : Resolução do CFE, que estabeleceu o Currículo Mínimo (3/9/1982) 219
ANEXO – 3 : Formulário aplicado aos alunos da FOUSP 220
ANEXO – 4: Ficha do relatório circunstancial das observações 220
ANEXO – 5 : Teste da empunhadura dos instrumentos cirúrgicos 221
ANEXO – 6 : Instrumentos cirúrgicos e Raios X dos ossos 221
ANEXO – 7 : Dicas médicas : Você Sabia? 222
ANEXO – 8 : Novos aparelhos do LIDO 222
ANEXO – 9 : O mestre-médico Moacyr nas práticas de Patologia Experimental 223
ANEXO – 10: Aparelhos com Image-Lab do LIDO 224
SUMÁRIO Pág.
INTRODUÇÃO 12 Capítulo 1. TEÓRICOS CONTEMPORÂNEOS: SUAS ABORDAGENS
SOBRE AS NOVAS TECNOLOGIAS
1.1. As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) 19
1.2. Visão dos teóricos contemporâneos sobre as NTICs 24
1.3. As mídias atuais eletrônicas e a necessidade da inclusão digital 45
Capítulo 2. AS NTICs E SEUS ALCANCES
2.1. Abrangência das NTICs na aprendizagem e na cultura 52
2.2. As NTICs e o discurso tecnológico no Brasil 61
2.3. Contribuições das NTICs para o conhecimento 67
2.4. Vínculos das NTICs com a Educação 78
2.5. As NTICs: Importância e percursos de seus usos 91
2.6. As tecnologias de informação e comunicação na sociedade 99
Capítulo 3. AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMACÃO E SUAS INTERFACES
COM A EDUCAÇÃO SUPERIOR
3.1. As NTICs no contexto do ensino superior na sociedade globalizada 105
3.2. A emergência do ensino presencial e a distância apoiada nas NTICs 110
3.3. As novas tecnologias no ensino superior 121
3.4. As NTICs e suas interfaces com as ciências da saúde e biomédicas 127
3.4.1. Escola de Enfermagem da USP, campus de São Paulo 128
3.4.2. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto –USP 131
3.4.2.1. Defesa on-line 133
3.4.3. A Telemedicina na Faculdade de Medicina da USP 136
3.4.3.1. Programa de Telepatologia 138
3.4.3.2. Aprendizado Multimídia 138
3.4.3.3. Cybertutor 138
3.4.3.4. Sala de aula do futuro 139
3.4.3.5. Telemedicina: Estratégia para controlar a Hanseníase 139
3.4.4. As NTICs no Instituto de Ciências Biomédicas da USP 140
3.4.4.1. Outros centros pesquisados 143
3.5. A linguagem das novas mídias eletrônicas e a educação 145
3.6. As NTICs no contexto sócio-cultural da aprendizagem 149
Capítulo 4. O ENSINO E PESQUISA MEDIADOS PELAS NTICs NA FOUSP
4.1. Histórico do ensino da Odontologia 151
4.2. As novas tecnologias e o ensino odontológico 152
4.3.O projeto homem virtual da Faculdade de Medicina da USP 155
4.4. Apresentação de casos no 10o Congresso de Telemedicina e Telesaúde 158
4.4.1. O uso da Telemedicina no Complexo do Hospital das Clínicas (HC) e
na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) 159
4.4.2.O II Encontro Brasileiro de Teleodontologia 159
4.4.3. Simpósios 160
4.4.4. Telecardiologia 160
4.4.5. Telenfermagem 160
4.5. O professor em medicina-odontológica 162
4.6. Dinâmica do ensino do Prof. Novelli na FOUSP: Um mergulho nas práticas
pedagógicas 165
4.6.1. Desenvolvimento das práticas 170
4.6.2. A Informática e o ensino odontológico. Um estudo pioneiro
desenvolvido pelo Prof. Moacyr D. Novelli usando a web-based. 173
4.7. Interpretações e reflexões sobre as respostas da pesquisa 177
CONSIDERAÇÕES FINAIS 182
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS 191
REFERÊNCIAS DA INTERNET 199
ANEXOS 201
GLOSSÁRIO 224
SIGLAS 229
12
INTRODUÇÃO
Antes da chegada das Ordens Religiosas espanholas dos jesuítas, dos franciscanos
dos agostinianos e de outros grupos católicos à selva amazônica peruana, para “catequizar”
os “infiéis” da região, os povos da floresta já tinham desenvolvido uma forma de se
comunicar entre as aldeias dos arredores. Eles o faziam através do “manguaré”,
instrumento cilíndrico de madeira, vazio, com aproximadamente 1.20 m. de comprimento
com orifícios na parte superior.
Esse instrumento ao ser acionado a golpes com uma vara forrada com borracha,
emitia sons e sinais, que interpretadas por aquelas comunidades serviam para estabelecer
uma comunicação sincrônica entre elas. Mediante essa ancestral forma de comunicação,
aqueles povos estabeleceram as suas primeiras atividades comerciais, baseadas na troca de
produtos.
Com o advento das revoluções industriais e o processo “civilizatório”, essa forma
de comunicação foi substituída pela radiofonia que possui mais alcance. Atualmente
algumas das comunidades e populações ribeirinhas estão inseridas no uso das novas
tecnologias de informação, produzindo-se o salto tecnológico do “manguaré para o
mouse”. Concomitante a isso, em algumas regiões do mundo os povos continuam
utilizando aquelas formas ancestrais de comunicação.
A revolução tecnológica – da informática –trouxe sistematicamente a hibridação do
rádio, da televisão, do telefone e do cinema pelo computador e da Internet. Nosso
entusiasmo, somada à vontade de realizar pós-graduação há algum tempo em centros de
estudos e aplicações tecnológicas reconhecidos pela comunidade acadêmica se
concretizaram a partir do ingresso na Escola de Comunicações e Artes da USP.
13
Acreditamos dessa forma, que o estudo do uso das Novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (NTICs) como ferramentas de apoio ao ensino e à pesquisa e
das vantagens estruturais encontradas em São Paulo, se comparadas com a cidade de
Iquitos e, conseqüentemente do Peru, nos permitem ainda que utopicamente, depositar
nossa esperança na ciência e na tecnologia em proveito da humanidade.
Apesar disso, neste tempo de paradoxos e perplexidades, em que cada momento “é
um novo começo”, propiciado pelas aceleradas descobertas científicas e tecnológicas, das
quais ficamos assombrados e às vezes entusiasmados como se fosse uma ficção cientifica,
nos considerando participantes desse futuro que “já começou”. Acreditei que a ciência e a
tecnologia, social e politicamente bem utilizada podem significar a “salvação” bioética do
homem.
Nesse sentido, na última década ocorreram mudanças nas formas de disseminação
da informação e do conhecimento, influenciando o desenvolvimento de novas
metodologias de ensino-aprendizagem. Essas metodologias de ensino baseadas em novas
tecnologias e mídias eletrônicas têm o computador como eixo central desse ensino, seja
presencial ou a distância. Mas, também depende da qualidade e flexibilidade dos softwares
e da sua interface com os estudantes e professores.
Em 2001, a III Cúpula das Américas em Quebec reafirmou a melhoria dos sistemas
educacionais, o aumento do acesso à educação de qualidade, a melhoria da capacitação dos
professores e na expansão das Tecnologias de Informação e Comunicação. A Internet, um
dos ícones da globalização, parece, apresentar este paradigma que ainda é visto com
ceticismo por muitos. A verdadeira revolução em termos de aprendizagem via Internet
deve ocorrer com o uso de aparelhos portáteis: os computadores pessoais serão aqueles
que acompanhem o usuário e não somente nos estudos ou no trabalho.
14
A chamada “m-learning” (aprendizagem móvel) parece representar a próxima
geração das tecnologias de aprendizagem. O atual “e-learning” (aprendizagem eletrônica) é
reforçado ainda mais pelas vantagens da aprendizagem a distância.
Essas tecnologias não mudam necessariamente a relação pedagógica, nem
substituem o professor, mas modificam algumas das suas funções. A partir da introdução
de tecnologias na educação, o professor se transforma no estimulador da curiosidade do
aluno para que deseje conhecer, pesquisar, buscar a informação mais relevante. Num
segundo momento, coordena o processo de apresentação dos resultados pelos alunos.
As tecnologias permitem um novo encantamento nas escolas, ao abrir suas paredes
e possibilitar que alunos conversem e pesquisem com outros alunos da mesma cidade, do
país ou do exterior, no seu próprio ritmo. O mesmo acontece com os professores. Assim,
alunos e professores encontram inúmeras bibliotecas eletrônicas, revistas on-line, com
muitos textos, imagens e sons, facilitando a tarefa de preparar as aulas, fazer trabalhos de
pesquisa e dispor de materiais atraentes para a apresentação.
“O re-encantamento, enfim, não reside principalmente nas tecnologias –cada vez
mais sedutoras - mas em nós mesmos, na capacidade de nos tornar pessoas plenas, num
mundo em grandes mudanças e que nos solicita a um consumismo devorador e
pernicioso”1. Mesmo assim, as redes tecnológicas de comunicação permitem o processo de
distribuição just in time em tempo real.
Nesse sentido o presente trabalho nasceu de uma curiosidade, seguida de
entusiasmo pessoal para abordar os novos paradigmas educativos trazidos pelas novas
tecnologias sinalizando para o surgimento de nova sociedade de informação e, como, os
processos interativos de comunicação, uso do computador, suas aplicações: Internet, a
página web, entre outras, estão dentro do conceito de aula-pesquisa e podem colaborar
significativamente para modificar o ensino-aprendizagem. Poder-se-ia dizer que o ensino
1 MORÁN, Manuel. Disponível em:< http://www.eca.usp.br/prof/moran> Acesso em:13 de junho de 2004.
15
através das novas tecnologias atinge resultados significativos se estiver integrado a um
contexto de mudanças, no qual professores e alunos vivenciam processos de comunicação
abertos, de participação grupal e pessoal efetiva. Caso contrário, a Internet, a página web e
outras mídias poderão contribuir para reforçar as formas convencionais e autoritárias de
ensino.
O emprego dos meios de comunicação na tecnologia educativa ou, considerados
em uma perspectiva mais abrangente, na didática da comunicação, tem, assim, justificação.
Por exemplo, na Internet, hoje, há informações demais e conhecimentos de menos, para o
seu uso na educação. Assim, o conhecimento não se passa; o conhecimento se cria, se
constrói. Daí a importância de integrar a Internet e outras tecnologias à educação, como
vídeo, televisão, jornal, computador, para consolidar a tríade Comunicação, Educação e
Novas Tecnologias.
Existem hoje muitos indicadores de que estamos vivendo um momento de
mudanças radicais no processo tecnológico. Nos computadores, por exemplo, podemos
divisar, em primeiro lugar a possibilidade concreto de substituição da maioria do trabalho
mecânico realizado pelo homem por trabalho automático executado por máquinas. Na
estrutura social vigente, a instituição escolar continua sendo o foro privilegiado de
transmissão de conhecimento. No entanto, a tecnologia não tem permeado a sua prática,
pois, o computador é resultado de um movimento histórico, singular, inserido em um
processo de produção cada vez mais complexo “[...] daí a importância do computador e da
informática na educação [...]” (TENÓRIO, 2001, p.23).
Uma premisa importante é que a produção de conhecimentos ocorre
concretamente através do processo histórico. Por tanto, o ensino não pode estar
distanciado do seu contexto, deve ocorrer de forma articulada com a produção de
conhecimento, que se tornam cada vez mais complexas, genéricas, ricas em conteúdo.
16
As novas tecnologias tendem a acentuar ainda mais as desigualdades entre as elites e
as populações desfavorecidas. Entre s tecnologias de comunicação destacam-se a TV a
cabo, o computador, o computador com câmera fotográfica, os lap-top no escapam a esta
regra. Por enquanto, o microcomputador é mais do que um novo dispositivo, ele é a
materialização de um novo pensamento e ação. Das duas fontes de informação do saber:
escola convencional e a escola paralela da mídia são radicalmente diferentes da atual escola.
Uma tarefa inerente à instituição educativa é educar para o uso adequado das novas
mídias eletrônicas, pois diante dos desafios da tecnologia em geral e das mídias em
particular a escola deve-se adaptar, se reciclar, integrar as novas linguagens. Mas, integrar os
novos códigos visuais não é tarefa fácil. Aproveitar todas as potencialidades dessas
ferramentas integrando-as no cotidiano, não só das crianças, mas de todos nós, educadores,
comprometidos com as determinantes da nova sociedade de informação.
Dando continuidade a essa temática, iniciada no mestrado, sobre as aplicações
tecnológicas na educação, nosso objetivo visa um estudo dessas novas ferramentas
cognitivas em algumas unidades da USP que fazem uso dela para o ensino, a pesquisa e
prevenção de doenças. Assim, focalizamos nosso estudo na Faculdade de Odontologia;
outras unidades também foram pesquisadas como a Faculdade de Medicina, a Escola de
Enfermagem, a Escola Politécnica, o Instituto de Ciências Biomédicas, e outros espaços
como a Escola do Futuro, a Estação Ciência e Cidade do Conhecimento.
Todas essas unidades utilizam componentes tecnológicos e mídias informáticas
para o ensino, pesquisa e outros fins específicos, podendo ser abrangente e também
aproveitada pelas áreas humanas.
No primeiro capítulo realizamos uma viagem, pela nossa pátria grande - a América
Latina - de mãos dadas com os nossos intelectuais preocupados em analisar a problemática
comunicacional e educativa inserida na sociedade da informação. Pela necessidade que não
podemos evitar seu poder de sedução e convencimento, pois sutilmente vivemos a ditadura
17
das tecnologias. Para isso, analisamos as produções de Maria T. Quiroz, Valério Fuenzalida,
Mario Kaplún, Jesús M. Barbero, Manuel Morán, Nestor G. Canclini e Paulo Freire. Eles
nos instrumentalizaram para uma leitura crítica sobre os meios. Num segundo momento
desse capítulo, repensamos das análises sobre as novas tecnologias de informação e sua
influência na cultura a partir da leitura de McLuhan, M. Castells, Pierre Lévy e Edgar
Morin.
No segundo capítulo, descrevemos as novas tecnologias e os discursos tecnológicos
que se fazem no Brasil e em outros países do mundo, enfatizando as suas contribuições
para a gestão de conhecimentos, especificamente da Internet, que atualmente atinge a 80%
das famílias americanas no curto espaço de cinco anos.
No terceiro capítulo, analisamos a interface das NTICs com a educação superior no
ensino e na pesquisa como ferramentas indispensáveis para o desenvolvimento e a
incubação dos conhecimentos tanto a nível presencial como a distância. Enfatizamos a
importância dessas tecnologias nas suas aplicações nas ciências biomédicas e da saúde, por
serem áreas em que as suas aplicações são prioritárias. A pesquisa de campo passou pela
“visita” aos 146 núcleos e centros de pesquisa da USP, selecionando oito deles e
focalizando o nosso estudo na Faculdade de Odontologia da USP – FOUSP.
Fizemos uma radiografia no uso das NTICs nas Escolas de Enfermagem da USP
Campus de São Paulo e na Escola de Enfermagem da USP de Ribeirão Preto. Também se
descrevem as aplicações tecnológicas na disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina
da USP, nos programas de Telepatologia, Aprendizado Multimídia, Cybertutor e no Instituto
de Ciências Biomédicas da USP. Ainda nesse terceiro capítulo, apresentamos uma breve
análise das linguagens dessas novas mídias eletrônicas, que influenciam na formação de
uma programação curricular, dentro de um contexto sócio-cultural de aprendizagem.
No quarto capítulo, abordamos o ensino e as pesquisas mediados pelas NTICs na
Faculdade de Odontologia da USP – FOUSP - iniciando com um breve histórico do ensino
18
da odontologia. Depois, centralizamos a nossa análise na dinâmica de ensino do Prof.
Moacyr Domingos Novelli na disciplina de Patologia Geral. Na segunda parte desse quarto
capítulo, fazemos um levantamento da sua proposta metodológica e pedagógica e também
apresentando um quadro comparativo a partir do formulário de entrevistas com alunos da
disciplina em 2004 e 2005.
Nesse capítulo apontamos como o referido docente vincula a cirurgia com a arte,
sendo inovador, criativo e reflexivo, utilizando linguagens artísticas para concretizar os seus
objetivos. Nesse caso, o cirurgião se transforma em artífice, pois a cirurgia exige
concentração, memória e profundeza sendo um momento único. Ela pode ser repetida
muitas vezes, mas a sensibilidade do cirurgião no ato operatório é única do mesmo modo
que ocorre com o artista que coloca toda sua sensibilidade na criação de uma obra da arte.
Nos anexos encontram-se os relatórios das 19 aulas teóricas-práticas observadas do
período letivo – primeiros semestres de 2004 e 2005 - e, fotografias das práticas cirúrgicas
em coxa de frango. Devido ao teor técnico da pesquisa foi elaborado um glossário de
termos usados nas áreas médico-odontológicas, para uma melhor compreensão do texto.
Esta tese não contempla o estudo do mecanismo e funcionamento intrínseco das
novas tecnologias, que correspondem à parte técnica propriamente ditas dessas
ferramentas, mas trata-se de um estudo de caso sobre as aplicações tecnológicas e os efeitos
dessas máquinas digitais no ensino-aprendizagem, na pesquisa e na divulgação dos
conhecimentos.
19
Capítulo 1 - TEÓRICOS CONTEMPORÂNEOS: SUAS ABORDAGENS
SOBRE AS NOVAS TECNOLOGIAS
A vida não é uma vela curta para mim. É um tipo de tocha esplêndida a qual estou segurado pelo momento, e quero fazer com que ela queime tão brilhantemente quanto possível antes de passá-la para as próximas gerações - George Bernard Shaw
1.1. As novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs)
Sob o termo novas tecnologias designamos um conjunto de inovações surgidas nos
anos 80 e cujo impacto sobre as indústrias culturais tornou-se sensível no início dos anos
90. Trata-se da passagem da gravação digital da informação, da compreensão dos dados
gravados, do acoplamento das telecomunicações e do computador. As transmissões usam
cada vez mais a fibra ótica e os satélites, ao passo que os suportes de recepção são os
leitores de CD e os microcomputadores.
A estratégia das indústrias culturais foi profundamente remanejada sob o impacto
das novas tecnologias. De fato, antes dos anos 80, estas indústrias eram especializadas por
suportes ou conteúdos. Isto queria dizer que uma editora como a Perspectiva, por exemplo,
fazia unicamente livros, um produtor de eletrônica para o grande público como a Sony, por
exemplo, fazia apenas televisores, vídeo cassetes, aparelhos de som, etc., mas não produzia
discos.
Na década de 90, as novas tecnologias permitiam às indústrias combinar várias
mídias na produção de suportes e de conteúdos. Uma enciclopédia musical em CD-ROM,
20
que podemos consultar usando um microcomputador, combinará textos (anteriormente
sobre suporte em papel), gravações sonoras (anteriormente sobre suporte em filme ou
vídeo). Desse modo, para produzir suportes e conteúdos chamados de multimídia, uma
mesma empresa deveria reunir várias profissões, até então independentes umas das outras
(edição, disco, cinema, microinformática, imprensa, etc.). Conseqüentemente, ao longo da
década de 90, todas estas indústrias foram objeto de reestruturações e incorporações em
séries. Europeus, americanos e asiáticos lançaram-se em uma competição desenfreada, em
escala mundial, a fm de construir poderosos grupos multimídias e garantir acesso aos
direitos autorais e de fontes de dados que lhes permitissem alimentar-se com conteúdos
pelas próximas décadas.
Esses grupos são multinacionais implantados no mundo inteiro, financeiramente
poderosos. Desenvolvem estratégias planetárias e suas atividades têm como resultado a
mercantilização permanente dos conteúdos da cultura e da informação.
Essas novas tecnologias colocam também alguns problemas inéditos e ainda não
resolvidos de controle da propriedade artística, científica e literária em escala planetária.
Muitas vezes elas reforçam a desigualdade diante da informação e da cultura, pois, no
“máximo um décimo da humanidade é atingido por estas tecnologias”2. Elas colocam com
perspicácia a questão das funções de orientação da cultura.
Antes da década de 80, a família, a escola, o templo a igreja, o jornal, os clubes,
partidos políticos e associações constituíam instâncias de hierarquização, de avaliação e de
transmissão das informações e dos conteúdos culturais, eram os orientadores ou bússolas.
As novas tecnologias, ao saturar uma fração da humanidade com as mercadorias em
desordem e em grandes quantidades, criam uma forte demanda pelos editores ou aglutinadores
de um novo tipo. De fato, o indivíduo ao confrontar-se com a chegada de conteúdos
2 WARNIER, Jean-Pierre. A mundialização da cultura. Bauru: EDUSC, 2000, p. 84
21
culturais em desordem por múltiplos canais (TV, Internet, fax, etc.), não dispõe da
capacidade que lhe permita selecionar, hierarquizar e ordenar estes conteúdos.
No entanto, a introdução dessas novas tecnologias no contexto latino-americano
tem sido objeto das mais vivas controvérsias, sem chegar ainda a uma visão abrangente
sobre seus impactos e perspectivas. Mas, em alguns países, a informatização começa a se
tornar uma realidade, como é o caso do Brasil e do México. Apesar disso, já se começa a
questionar interpretações que condenam as NTICs, examinando-se as possibilidades do seu
uso, especialmente aquelas ligadas à informática, como opções para um desenvolvimento
alternativo.
A implantação das NTICs nesta parte do continente é examinada a partir de duas
perspectivas diferentes. Mas, reconhecer e aceitar essas divergências em um assunto tão
novo e complexo é sintoma de que se está no caminho correto, isto é, o de trabalhar as
contradições que surgem pelo uso exagerado dessas tecnologias e não simplesmente de
afastá-las com certa atitude antitecnológica.
Barbero focaliza os impactos das NTICs a partir da cultura popular e se pergunta
sobre a conveniência ou não da implantação das NTICs em nosso continente. Sua
desconfiança com relação a essas tecnologias baseia- se nas contradições que aponta entre
o tempo das NTCIs e o tempo dos processos culturais. Se elas se desenvolvem em forma
oposta às tradições culturais da América Latina qual então seria a saída, ele pergunta,
lançando uma hipótese:
[...] na América Latina a imposição acelerada dessas tecnologias aprofunda, irremediavelmente, talvez, um processo de esquizofrenia entre a máscara de modernização que a pressão dos interesses nacionais‘realiza’ e as possibilidades reais de apropriação e identificação cultural.3
Essas tecnologias põem em crise e, em alguns casos, dissolvem a ficção da
identidade cultural, que na maioria dos países é a cultura nacional. Estaríamos vivendo 3 BARBERO, Jesus Martin. In: Fadul, Ana Maria. Novas Tecnologias de comunicação, impactos políticos, culturais e sócio-econômicos. São Paulo: Summus, 1986, p. 24.
22
assim, na opinião de Barbero, uma rearticulação das identidades a partir de uma
racionalidade tecnológica que se constituiria no motor de uma nova sociedade.
Se por um lado, em sua perspectiva, as NTICs incidem sobre a crise do nacional,
por outro as culturas populares que representam a diferença cultural, resistem à
homogeneização generalizada na América Latina, ao contrário dos países desenvolvidos. A
cultura popular ainda nomeia um espaço de conflito profundo e uma dinâmica cultural que
não se pode passar por alto. E, frente à equivalência geral, ela opõe a diferença e a
ambigüidade fundamental de sua própria existência.
O que interessa, portanto, segundo Barbero (1986, p. 25) “[...] não é cantar odes à
tecnologia senão às pistas de articulação da tecnologia nos processos culturais, para captar
o sentido dessa relação na gestão e destruição das culturas populares, e no uso que essas
classes fazem do consumo do cinema, por exemplo, para se dar uma identidade [...]”.
Pensar as NTICs a partir do popular é a perspectiva de Barbero. Mais isso não
significa, em sua opinião, nem uma posição de saudade ou de desassossego frente à
complexidade tecnológica e a abstração dos meios de comunicação de massa. As
tecnologias não são meras ferramentas dóceis e transparentes e não se deixam usar de
qualquer modo, pois, em última instância são a realização de uma ideologia e de uma
concepção: a da dominação nas realidades culturais.
Se as NTICs são para Barbero, parte de um projeto de dominação universal
instalado pelo capitalismo, existe, entretanto, uma pequena brecha, quando ele se refere a
exemplos históricos, às potencialidades e a um redesenho não do equipamento tecnológico,
mas sim de sua função. Nesse sentido, a sua abordagem trata muito mais do novo uso das
tecnologias tradicionais, como o rádio e o gravador, do que propriamente das NTICs.
O elemento central para a análise do tema Tecnologia, Cultura e Desenvolvimento na
América Latina, segundo Rodrigues “[...] surge a partir da descrição da situação atual do
desequilíbrio do conhecimento originado pelo fenômeno das bases e bancos de dados
23
mundiais, que, situados em sua grande maioria nos países desenvolvidos, colocam os países
em vias de desenvolvimento em uma situação muito delicada[...]”.4
Nos países desenvolvidos as políticas de desenvolvimento nacional e continental
incorporam a problemática de desenvolvimento de bases próprias de informação. O rápido
crescimento das bases de dados da comunidade européia é uma conformação dessa
decisão.
É a partir, portanto, de uma análise da situação dos países desenvolvidos, que se
pensa um projeto para o Sul, cuja ênfase deve ser colocada nas propostas de usos
alternativos da informática no processo de desenvolvimento e de democratização. E, se por
um lado, é nítida a necessidade de se estabelecer políticas de utilização e acesso à
informação dos países desenvolvidos, por outro lado, também se constata a exigência de
desenvolver bases de dados próprias e de interligar estas àquelas de outros países em via de
desenvolvimento, gerando assim mecanismos de conexão horizontal Sul-Sul.
A existência de alguns projetos alternativos comprova que, a partir do campo das
comunicações, pode-se desenvolver um trabalho em torno do tema das NTICs e também
apontam quais são as possibilidades de um desenvolvimento autônomo no contexto das
restrições de um mundo transnacionalizado e interconectado através de uma perspectiva
real da análise da difusão das NTICs na América Latina. Nos próximos anos, no
continente, o desenvolvimento das NTICs e o processo democrático e alternativo serão
medidos por sua capacidade de net working (rede de trabalho) e sua iniciativa em ampliar,
por todos os meios, as possibilidades de participação dos movimentos sociais.
O uso adequado e apropriado das NTICs tem um grande potencial no auxílio ao
desenvolvimento, tanto na preservação da democracia na região quanto no estimulo a uma
participação ativa da sociedade civil nessa tarefa. A condição para tornar isto possível passa
4 RODRIGUES, Gabriel. Tecnologia, cultura e desenvolvimento na América Latina. São Paulo: Summus, 2002, p. 43.
24
pela mudança de atitude tradicionalmente negativa e excessivamente problematizadora que
os grupos alternativos tiveram frente à tecnologia e, em especial, à informática.
Apontar essas novas perspectivas de uso não significa cair em uma visão ingênua
em relação às possibilidades efetivas da técnica. Estamos conscientes de que, por trás delas,
existem interesses comerciais organizados em que empresas transnacionais desempenham
papel importante. No entanto, é necessário avançar no desenvolvimento de usos
apropriados deste patrimônio tecnológico e não entregá-lo ao uso exclusivo de caráter
comercial.
As várias possibilidades de uso concreto das NTICs nos países emergentes significa
estudar não somente as conseqüências sociais da suas aplicações como também a imperiosa
necessidade de se começar a disseminar o uso destas ferramentas no campo da
comunicação e do desenvolvimento alternativo.
1.2. Visão dos teóricos contemporâneos sobre as NTICs.
Desde os primórdios da humanidade, os personagens e instituições que se
apropriavam da informação e dos conhecimentos sobre a natureza e as artes detinham o
poder político, econômico e religioso sobre os leigos. Esse fato fortaleceu a
institucionalização da informação, que se instaura com seu poder autocrático e cativante.
Preocupados com essa problemática cultural, investigadores e estudiosos da sociedade,
pertencentes às áreas da Mediação e da Pedagogia do Receptor, no campo da Comunicação
Social detêm se para refletir, utilizando seus pressupostos teóricos.
Atualmente a sociedade desenvolve se através por caminhos inevitáveis de uma
cultura globalizada, que conduz a consumir mídias eletrônicas, pois sem elas estaríamos
fadados a perder o “[...]trem da história[...]” (BELLONI: 1999, 69). As abordagens desses
autores, nessa área do conhecimento, oferecem suportes para análises; porque, ficamos
25
perplexos pelas inesperadas e rápidas mutações, que acontecem com essas ferramentas
eletrônicas na passagem da sociedade moderna para a sociedade da informação e do
conhecimento.
A dependência econômica dos nossos países frente às potências hegemônicas dos
países desenvolvidos impossibilita o uso massivo dessas novas tecnologias. O Brasil, país
emergente, com forte hibridação étnico-cultural, interessa ao capital transnacional (do eixo
estadunidense e europeu), que busca ocupar os espaços geográficos tecnologicamente
vazios.
A partir dessa ótica sócio-cultural, os intelectuais têm investido seus potenciais de
reflexão, ultrapassando o estágio do neo-colonialismo cultural, na procura de análises que
ajudem à reafirmação da nossa identidade, estabelecendo diálogos e debates até mesmo com
autores desses eixos.
Na década de sessenta, por exemplo, dá-se o boom latino-americano no cinema,
teatro, literatura e em outras correntes e fluxos culturais, refletindo e motivando a busca da
identidade latino-americana, matizada com ideais críticos, que propiciaram análises,
partindo das contradições da sociedade, construindo conhecimentos com o intuito de
esclarecer melhor as origens da exploração sócio-econômica existente.
Decorrente da dependência econômica, a identidade regional, foi se tornando cada
vez mais periférica, quanto ao uso das novas tecnologias, da mass media comunication
estadunidense principalmente. Esse fato motivou a se fazer algumas reformulações no
modo de operar dos nossos sistemas comunicativos, sobretudo na análise crítica da
recepção, que, mais tarde, na década de oitenta, concretizar-se-ia nos estudos de: Guillermo
Orozco Gómez, Valério Fuenzalida, Jesús Martín Barbero, Maria Teresa Quiroz, Mário
Kaplún, Néstor Garcia Canclini, Paulo Freire, entre outros.
26
A vertente Latino-Americana consolida-se nos trabalhos sociológicos da
pesquisadora peruana Maria Teresa Quiroz, e suas publicações feitas com apoio da
FELAFACS (Federação Latino-americana de Faculdades de Comunicação Social) da qual é
presidente em exercício de 2004 até 2006.
Quiroz, analisa sobre o impacto das novas tecnologias no ensino, e, no cotidiano
das crianças, jovens, adultos que se encontram circundantes a um espaço sem fronteira ou
como ela diz, a uma “escola sem muros”, retomando a frase de McLuhan, que aplica essa
metáfora à explosão da informação, que tem desbordado as instituições formais de ensino e
competindo fortemente com a educação.
Interessa retomar esse aspecto ainda em momentos de crise como a que
compartilhamos na sociedade, num espaço onde a relatividade dos valores é notável, sendo
que a confusão a corrupção, a angústia e a incerteza permeiam nosso dia-a-dia. Apesar
disso, Maria T. Quiroz diz que “[...] tem que se evitar o retorno ao moralismo e ao
dogmatismo[...]”.5 A explicação sobre o papel e os efeitos dos meios massivos tem sido mal
interpretada devido às concepções eminentemente instrumentalistas, assim como à idéia
ilustrada da educação, provenientes da cultura da escrita, marginalizando muitas vezes as
novas culturas que se expressam por meio da comunicação.
É imprescindível enfrentar os abismos existentes entre as culturas - aquelas que
pensam e da qual falam os comunicadores e a que percebem os receptores - só assim
estaríamos em melhores condições para propor mudanças pertinentes, além de
modernizações tecnológicas que atualmente a envolvem todo, ou para lançar críticas à nova
cultura audiovisual e tecnológica. Lembrando que a educação permite, precisamente, essa
transmissão do capital cultural, que, por sua vez, forma parte da prática da humanidade,
5 QUIROZ, Maria Teresa. “Por una Educación que integre el pensar y el sentir: El papel de las Tecnologías de Información y Comunicación” In: Revista Digital de Cultura. Pensar Iberoamérica. Lima: Organización de Estados Iberoamericanos (OEI). Número dedicado a Cultura y Educación, 1997.
27
transmitida socialmente a qual “[...] levamos na consciência, na sensibilidade, nos valores,
nos movimentos, na disposição corporal, nas mãos [...]” (QUIROZ: 1993).
No cerne dessa análise está a comunicação sincrônica6 porque é um campo que
vincula os sujeitos, produzindo um intercâmbio entre a ação e a sociabilidade. Para isso
acontecer considera-se necessário mudar algumas idéias repletas de dogmatismos que
impregnam ainda hoje alguns conceitos da educação e impedem o uso de novas
tecnologias, como ferramentas auxiliares que ajudem à incubação dos conhecimentos.
Nesse processo dialógico na educação, ninguém deveria submeter ninguém Paulo
Freire já tinha enunciado “[...] ninguém educa ninguém, todos nos educamos em
comunhão[...]”. Para efeito, é necessária uma análise conjuntural da sociedade, para
focalizar a globalização econômica e as culturas regionais, atingidas pelo fenômeno global,
apesar de que elas resistem para não serem engolidas nem caírem nas “redes” da sociedade
consumista.
Os estudos de Fuenzalida sobre a televisão, em Santiago de Chile como agente do
processo comunicativo, vinculam os termos “Televisão, pobreza e desenvolvimento”. Ele
analisa a influência da televisão e do seu impacto na sociedade, sobretudo na educação.
O ressaltante da sua análise, de expectativa cultural e educativa, é a constatação de
que os meios atingem os consumidores segundo a condição socioeconômica, pois se
comprovaram que, em países da América Latina, a pobreza rural e urbana nutre se muito
das programações televisivas, o que facilita a distorção desses processos, pois, eles
alcançam muita ou pouca audiência a partir dessa perspectiva mencionada.
A sua análise revela, no entanto, que o significado educativo é extraído pelo
receptor como se fosse um subproduto, através de um gênero de “entretenimento”, ou
6 Comunicação Sincrônica é a comunicação que recorre à modalidade de troca simultânea, como o telefone, a vídeo-conferência, ou se operar a Internet os IRC (Internet Relay Chat), com a exigência de que os interlocutores estejam conectados no mesmo momento.
28
seja, as programações estão voltadas para “preencher” uma necessidade na vida diária,
coletiva ou pessoal dos televidentes.
A partir dessa perspectiva, o indivíduo daria importância e optaria por se apropriar
daquilo que o motiva, mesmo superficialmente, acreditando-se co-participante da
programação. Mas, não esqueçamos que o ser humano também é “homo ludens” (Morin:
2000), que a televisão e suas programações estão voltadas para o consumo, com programas
que enfatiza o “entretenimento”, e dirigem-se aos novos e cada vez mais numerosos
“adultescentes”, banalizando-os, ou vulgarizando-os, o que explicaria o pouco interesse dos
programas educativos. Para atingir seus objetivos, o indivíduo deveria estar mais bem
motivado e transpor subjetividades (porque a TV trabalha nesse âmbito) para concluir com
êxito, por exemplo, um curso de tele-educação, que na atualidade obtém cada vez mais
espaços, seja nos cursos de pré-grado ou da pós-graduação.
A tarefa é utilizar essa reflexão, aparentemente simples, mas na verdade muito
complexa, por atingir as sensibilidades, as emoções, os valores os prestígios que poderiam
ser mais bem utilizados. É pertinente considerar essa perspectiva, porque apesar de existir
hoje no mercado novíssimas tecnologias de informação e comunicação, é mister
experimentar um novo jeito de ver televisão, seja como novo produto, resultante da
hibridação tecnológica, ou como instrumento inspirador para ações conjuntas da educação
e de novas formas de comunicação de todos para todos.
Como as novas mídias eletrônicas usam deliberadamente as imagens, inicialmente é
conveniente identificar diferenças entre imagem - hoje se discute o surgimento de uma nova
especialidade: a imagenologia - e escrita, como se faz na história da arte, da semiótica e da
29
psicanálise, a fenomenologia, que ajudam a recolocar a imagem na complexidade das suas
relações com o cérebro e pensamento7.
No entanto, ler um texto8 coloca o leitor diante de um mundo abstrato de conceitos e
idéias que passam por difíceis operações analíticas e racionais de compreensão,
interpretação e memorização, potencializando a capacidade de pensamento lógico linear,
seqüencial, de distanciamento, com que o leitor controla o ritmo e a experiência, mas que
depende de um esforço para efetivar a penetração no texto.
Por outro lado, ver imagens numa tela coloca o indivíduo diante de um universo
“concreto” de objetivos e realidades, o que demanda decodificações automáticas,
instantâneas, que se aderem sem dificuldades e potenciam o pensamento visual, intuitivo e
global.
Mediatizar a ação educativa é o que Kaplún aponta em seus trabalhos. As suas
reflexões contribuem para o estudo do uso das novas tecnologias. Ele afirma: “existem
enormes possibilidades de articular as interseções, entre os saberes. A educação é a única
que pode produzir códigos conceituais que facilitem o domínio e a integração dessa
torrente informativa” (KAPLUN: 2000). Perfilam-se no campo da Comunicação Educativa
duas perspectivas teóricas socialmente atuantes: o pensamento tecnocrático e o pensamento
tradicional, refúgio dos valores humanos tradicionais. Kaplún desenvolve, nesse sentido,
uma sistematização dos paradigmas muito mais completa.
Ambas as vertentes – a tecnocrática e a tradicional – são de imprescindíveis
análises, pois, consideramos um risco deixar o seu uso ao livre arbítrio de
7 Em 2002, foi lançada na Franca o livro “Cérebro e Psicologia” pelo GIN (Grupo de Imagem Neurofuncional) uma equipe que estuda pioneiramente as funções cognitivas por meio do aparelho de Imagem por Ressonância Magnética (IRM). 8 Uma das pesquisas realizadas pelo GIN constituiu em examinar as reações cerebrais de oito pessoas no momento de leitura. Elas foram colocadas dentro de uma câmera e não tiveram outros estímulos externos que as palavras projetadas a sua frente. Os pesquisadores anteciparam: “Já se pode dizer que a leitura convoca uma rede de áreas cerebrais dedicada à linguagem que é comum àquela da escuta das palavras”. Disponível em: Folha de São Paulo em Paris, Folha On Line – Imagens que dizem tudo. Acesso em: 27 de agosto de 2002.
30
pseudocomunicadores e pseudocientistas (manipuladores do genoma através da
biotecnologia) em seus experimentos com seres humanos. No entanto, as duas
interpretações teóricas possuem visão informacional do processo que brinda a
comunicação à educação, a qual encontra-se dentro de uma perspectiva logocêntrica em
ambos os contextos, e dentro de uma racionalidade instrumental.
Por enquanto, frente a esse instrumental, a vertente de investigação cultural, a partir
dos anos 90, fornecem um ponto de vista muito mais abrangente, propõe uma integração
contextualizada e local dos meios, dos sistemas e recursos de informação e aprendizagem, a
partir das necessidades, características e hábitos culturais dos grupos destinatários da nova
educação tecnológica.
Em seus estudos, Kaplún coincide com o pensamento do pedagogo Paulo Freire
destacando que existem três modelos metodológicos diferentes na comunicação educativa:
o bancário, o dos efeitos e o modelo dialógico ou transformador. No entanto, na educação e na
cultura, que sofrem constantes transformações, é importante avaliar e usar as mensagens
que divulguem os sistemas complexos de informação, pois, nos modelos pedagógicos, em
sentido amplo, as respostas são radicalmente diferentes umas das outras.
Percebemos que essa análise abre um leque de idéias, e, confirma a abrangência das
NTICs (computador, Internet e outros recursos como os hipertextos, sites, homepages, links,
etc) no ensino superior, explicando a complexidade dos seus efeitos, colocando novos
paradigmas no campo educativo e originando uma outra maneira de olhar o mundo do
conhecimento. A prática e o pensamento de Kaplún continuam sendo hoje uma fonte para
o debate e para a prática da comunicação latino-americana. Talvez porque Kaplún
construiu a sua teoria: desde a prática e na prática.
Nos sistemas da comunicação, a reorganização das suas práticas e dos saberes que
hoje se compartilham graças à difusão massiva pelas novas fontes da informação, abre
31
espaços para perceber a “realidade” da sociedade, devido às transformações que essas
estruturas informativas têm estabelecido no processo de mediação cultural. No entanto,
surgem outros pontos de vista que ampliam cada vez mais as posições teóricas nesse
sentido. Kaplún re-atualiza, nesses estudos, conceitos que não são fáceis de sistematizar
somente no campo da comunicação educativa.
Seu trabalho crítico da realidade comunicacional latino-americana não lhe afastaram
da sua persistente labor na construção de alternativas concretas para a nossa realidade. É
talvez, devido a isso, que desde cedo percebeu os limites da crítica latino-americana à
comunicação hegemônica, que não permitia ver como os médios incorporavam a trama
cultural dos receptores em suas mensagens. Mas, também foi crítico das vertentes
culturalistas, que mais tarde, quiseram ver resistência no mero consumo e imaginaram um
receptor ativo capaz de re-significar qualquer mensagem.
Sua práxis foi o da construção de alternativas que serviram para abrir uma dupla via
na ampla rua da comunicação, compreendendo que não bastava ganhar receptores, mas
potenciar emissores, ensinando às pessoas a usar a tecla record e não somente a tecla play dos
gravadores. Ensinando-lhes a pré-alimentar mais que a retro-alimentar e a recuperar a dimensão
dialógica da comunicação.
Barbero oferece proposta teórica fundamentada na originalidade da sua análise e,
aporta para o estudo das novas mídias tecnológicas. Considera-se um transeunte, que se
transferiu da filosofia pura para a análise da problemática estrutural que leva o processo
comunicativo, ou como ele mesmo diz, “onde encontrou o espaço concreto” para pensar a
prática comunicativa como signo do esquema global de dominação cultural, social,
econômica e étnica.
Barbero traça horizontes e reflexões latino-americanas sobre o fato comunicativo,
todas elas cheias de tensões e contradições múltiplas, devido à pluriculturalidade e
32
heterogeneidade desses países. A consideração dessa perspectiva traz riqueza no
pensamento analítico, no uso decorrente das novas tecnologias de informação, no ensino
superior e ajuda-nos a compreenderem qual seriam os esquemas mais apropriados e o tono
pedagógico que mais exige as condições da produção cultural da América Latina.
Uma outra instância da análise do uso das novas tecnologias informáticas está no
modelo de produção. Elas já não correspondem ao modelo de produção da sociedade
industrial (fordista e pós-fordista), pois a matéria prima do computador já não é o carvão
nem o petróleo, nem seus produtos são objetos físicos. A dimensão propriamente humana
da produção já não é a força de trabalho. O que as novas tecnologias informáticas
trabalham é a interface cérebro e informação, pois o computador tem como matéria-prima
logaritmos e como produtos símbolos e textos.
A pertinência dessa análise envolve o computador, a internet e os hipertextos como
ferramentas cognitivas, porque elas estão adotando formas híbridas, adotando posturas e
misturas irreversíveis, das quais resultam um outro tipo de saber ou um novo “[...] desenho
da razão [...]” (BARBERO, 1985) que inevitavelmente abrirão as portas a outras fontes e
opções, perante o tecnicismo que estabelece uma mediação estrutural na produção de
conhecimentos e, não somente do fluxo emissor-receptor. Essas questões consolidam e
preenchem vazios que às vezes marginalizam argumentos das ciências da comunicação.
Por outro lado a sociedade atual, em todas as suas dimensões, vem sofrendo fortes
mudanças, orientadas pelo desenvolvimento tecnológico. Na área da informação, o
computador, a Internet e a multimídia estão oferecendo uma variedade de opções
metodológicas que podem influenciar a prática educativa em todos os níveis e áreas de
conhecimentos; possibilita hoje que as escolas e centros superiores de ensino se conectem
com comunidades próximas e com o mundo, permitindo que os estudantes façam contato
e construam conhecimentos interagindo virtualmente.
33
Na década de 1990, a revolução digital concentrou-se em torno da rede. Com mais
de 100 milhões de usuários, chegando a mais de um bilhão nesta década (CEBRIÁN, 1998,
p.14) e está se transformando em algo que nenhum empresário, político, educador ou
simples curioso poderá ignorar. Está surgindo um novo meio de comunicação humana que
poderia superar todas as revoluções anteriores (imprensa, rádio, telefone, TV e o
computador) referentes a seu alcance na vida econômica e social. As denominadas auto-
estradas da informação e seu arquétipo a Internet, estão possibilitando práticas econômicas
baseadas em redes de inteligência humana.
O novo mundo da informação romperá com esse padrão de contribuições
indiretas, Porque ele está diretamente vinculado às questões da educação, aquisição,
organização e transmissão de informações, bem como na simulação de processos que
representam o conhecimento e na utilização de instrumentos como e-mail e trabalho em
grupo, para mediar as relações entre alunos e professores e alunos entre si; sendo assim,
trata-se da primeira revolução socioeconômica da história a oferecer tecnologias diretamente
ligadas ao processo de aprendizado9. Por tanto, apresenta-se aí uma boa chance de promover
saltos qualitativos que não poderiam ter ocorrido no caso das tecnologias das duas
revoluções industriais anteriores cujos vínculos com o ensino eram tênues.
Pensamos que o mercado da informação mudará o papel das escolas, universidades
e da comunidade educacional. Um dos efeitos mais óbvios será a expansão simultânea do
mercado de ensino. No entanto, as abordagens sobre o aprendizado a distância ainda não
estão bem formuladas, quanto aos sistemas tradicionais, porque a educação é muito mais
de que transferência de conhecimentos dos professores para os estudantes; necessidades
básicas não podem atualmente ser satisfeitas apenas pela tecnologia informática.
9 DERTROUZOS, Michael. O que será. Como o novo mundo da informação transformará nossas vidas. São Paulo, Cia das Letras: 2000, p.239.
34
A Internet hoje é um meio importante dentro de qualquer dimensão da sociedade,
constituindo-se em ferramenta fundamental para acessos e intercâmbios de informação. O
professor cuja atividade docente se realiza face a face com seus alunos também se vê
induzido a introduzir a tecnologia educacional na sua prática. E é constante o apelo para
que o computador tenha espaço pedagógico nas atividades curriculares. Se usado
pedagogicamente, inserida em uma proposta educativa coerente com o currículo de uma
instituição de ensino, a Internet tem muito a oferecer ao ensino presencial, por exemplo:
como correio eletrônico, portais e atividades de pesquisa.
A cultura tradicional afirma que existe um tempo para tudo, aprender, para amar, só
que na realidade atual é muito diferente. Já não há uma idade para cada coisa. O saber não
ocupa um momento, porque segundo Giddens (1994): “[...] os avanços tecnológicos da
sociedade moderna tem permitido um distanciamento progressivo dos indivíduos de suas
referencias de tempo e espaço [...]”.
Concordamos com a hipótese de que o ensino em nível superior estaria
comprometido e, talvez, substituídos pela sociedade da informação e do conhecimento.
Nessa vertente os meios de comunicação vão acompanhar inevitavelmente, transmitindo-
nos uma quantidade abusiva de informações, bombardeando, com fatos e dados,
distorcendo nosso ideal de conhecimentos. Dessa forma, “Seria injusto atribuir aos meios o
papel único no aprendizado permanente”.10
A educação não pode ser senão um preparo para o estudo de nós mesmos, porque
“[...] nós somos o texto [...]” (LÉVY, 2000), e a arte de aprender não é determinada pelos
títulos acadêmicos e, sim pela solidez dos critérios que se aplicam na busca de saberes que
constitui a vida. No contexto educacional as tecnologias de ponta e os meios audiovisuais
combinam-se para oferecer novos e quase infinitas potencialidades de transmissão de
10 CEBRIÁN, Juan Luis. A rede. Como nossas vidas serão transformadas pelos meios de comunicação. São Paulo: Summus, 1998, p. 119.
35
saberes por métodos que, a princípio desafiam ainda mais os parâmetros de ensino clássico,
já submetido a uma revisão profunda.
A partir dessa perspectiva, percebe-se um autodidatismo crescente no
comportamento das pessoas impulsionadas pelas novas tecnologias. Uma outra questão é
também conhecer se a sociedade global da informação com seu universo de redes,
interatividade e demais emaranhados, acrescentará confusão e caos ao conjunto do sistema
educativo, ou acaso servirá para começar a discernir os elementos positivos da
cibercultura11. O que temos na frente é a incerteza.
Na decorrência disto, surge a Universidade Virtual, mas outros colocam a Internet –
que utiliza muito da noosfera12, e age como um gigantesco campus virtual, que permite a
extensão das melhores universidades. É nesse mesmo contexto que buscamos refletir sobre
o ensino superior no Brasil através do suporte inovador que as novas tecnologias de
informação trazem, no marco de uma educação solidária, libertária e autodidata que
comprometa a todos na participação numa solidariedade internacional do conhecimento.
Dada a relevância temática, é prioritária a democratização do uso dessas novas
tecnologias, para que os ciberalunos possam sentir-se participantes reais e não somente seres
virtuais do processo que, de fato possam conduzir à democratização da educação e
apropriar-se dos conhecimentos, gerados na sociedade brasileira e no mundo.
No cenário internacional vivencia-se uma nova ordem que tem suas bases nas mudanças
paradigmáticas pelo que o mundo esta passando tanto do ponto de vista social, econômico,
11 Neologismo que especifica o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais) de modos de pensamentos e valores que se desenvolvem juntamente com o ciberespaço. LÉVY, P. Cibercultura, São Paulo Editora 34, p.17. 12 A criação da idéia de noosfera é atribuída ao filosofo francês TEILHARD DE CHARDIN (1881-1955), nos anos de 1920. Explicando: assim como existe a atmosfera, também há uma espécie de mundo das idéias, constituído pelas coisas do espírito, produtos culturais, linguagens, teorias e conhecimentos. Todos nós alimentamos a noosfera quando pensamos e nos comunicamos. Daí, as conseqüências são imprevisíveis, nunca sabemos o que as pessoas farão com nossas idéias, podem morrer por elas. Assim a noosfera exerce uma influência decisiva sobre nossos comportamentos. Ou, como disse Edgar Morin, “as idéias que possuímos são capazes de nos possuir”. Além disso, “as idéias são menos biodegradáveis que o homem” (Wojciechowski) Disponível em:<www.a_noosfera.blogger.com.br>. Acesso em: 12 de novembro de 2004.
36
cultural, político, tecnológico e outros; o Brasil não está fora dessas mudanças e passagem
da Sociedade Industrial para a Sociedade da Informação e do Conhecimento.
Esses fatos que levam à transição de um estágio a outro, estão cheio de surpresas e
complexidades e a humanidade está encaminhada nessa corrente que inevitavelmente o
arrasta. Porque não é possível se contrapor às novas fontes de transmissão de
conhecimentos que impregnam a vida da sociedade, adaptando-se às novas exigências.
Como diz, Kenneth Boulding: “[...] a grande transição não é somente algo que afeta à
ciência, a tecnologia, o sistema físico da sociedade e o aproveitamento da energia. É
também a transição das instituições sociais […]”.13
O impacto trazido por essas mudanças se caracteriza por ter como um dos seus
elementos centrais o processo de gestão de conhecimento, ou seja, a capacidade de
produzir, armazenar, processar e disseminar informações e conhecimentos. Nesse contexto
a educação é um dos mais importantes protagonistas, por ser fonte principal do processo
de construção, consumo e transferência de conhecimentos. É muito importante valorizar
este aspecto como fator estratégico e crítico para o desenvolvimento, criando e
contribuindo de forma efetiva para o progresso do homem.
O mundo virtual aprofunda as alterações, principalmente nas concepções de espaço
e tempo. Isso implica que não há mais distância, território, domínio, vive-se o aqui e agora
(cf. BORGES: 2000, 28). O virtual utiliza novos espaços, novas velocidades, sempre
problematizando e reinventando o mundo.
A informação e o conhecimento são os dois bem primordiais com características
próprias e, diferenciadas dos outros bens, pois, ou seu uso não faz com que acabem ou
sejam consumidos. Então, pode-se pensar que o mundo virtual é inevitável.
13 BORGES, M. A Guimarães. “A compreensão da sociedade da informação” Cf. In: revista Ciência da Informação. V. 29, n. 3, Brasília: 2000, p. 25.
37
Envolvidos nesse resplendor de virtualidade vinda com as novas tecnologias
comunicacionais, McLuhan (1911), já falava que o meio é a mensagem, o que para ele traria
conseqüências sociais e pessoais, ou seja, constituiriam o resultado do novo padrão,
introduzido na vida pelas novas tecnologias ou extensões de próprio homem. McLuhan
diz: “A mensagem de qualquer meio tecnológico é a mudança da escala, cadência ou padrão que esse meio
ou tecnologia introduz nas coisas humanas”.14
Na sua análise das mídias tradicionais (imprensa, rádio, telefone, fotografia,
televisão) McLuhan critica seus aspectos intrínsecos, com perturbação psíquica e social
criada pela imagem da televisão, e não pela sua formação. Para ele a televisão, acima de tudo
é uma extensão do sentido do tato, que envolve a máxima inter-relação de todos os
sentidos, onde o professor e os olhos dos estudantes parecem se perder num mistério e
penetração profundos desse momento cognitivo, caso observado na sala de multimídias da
Faculdade de Odontologia da USP.
Ele já apontava para uma suposta hibridação das tecnologias, ao se referir à
automação onde não existe uma separação de operações, veiculando ao processo industrial
e mercadológico como o fazem o rádio e a TV com os indivíduos de uma audiência num
novo interprocesso. A automação, sem dúvida, incorpora o serviço mecânico e o
computador, ou seja, incorpora além de outros subsídios, mecanismos para acelerar a
informação. O temor ante a automação, encarada como uma ameaça de uniformidade em
escala mundial, é uma projeção no futuro da padronização mecânica que atualmente se
dissiparam e pertencem ao passado.
Por sua parte Castells, na Sociedade em rede (1999) preconiza a vinculação e interação
da nossa cotidianidade para alcançarem supostos e pressupostos de uma sociedade pós-
industrial pródiga nesses tipos de encontros com as novas tecnologias.
14 McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1974, p. 22.
38
À medida que a automação avança, vai ficando explícito que a informação é o bem
de consumo mais importante e que os produtos sólidos são meramente incidentais no
movimento informacional. Nessa ótica de reflexões Castells, re-afirma que as novas
tecnologias mediadas pela alheação do cérebro e informação estão integrando um mundo
em redes globais de instrumentalidade, gerando uma gama de comunidades virtuais e
ajudando a desfazer a visão do mundo promovida por ela no passado. Ele diz: “[…] o final
do século XX representou o final de nossa cultura material pelos caminhos de um novo
paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação […]”
(CASTELLS, 1999 p. 49).
Acompanhando essa seqüência de inovações tecnológicas, a mente humana constitui-
se em parceira indissolúvel desses fatos, desempenhando-se como um grande motor que
gera esses conhecimentos, diante desses fatos a mente humana, pela primeira vez na
história é uma força direta de produção e não apenas um elemento decisivo dentro do
sistema produtivo.
Ressaltamos essa singularidade que não limita as fronteiras da produção neuronal,
toda vez que o nosso estudo feito envolveram processos cognitivos, aliás, no ensino e
aprendizagem tradicional também essas forças estiveram presente, porém de forma tênue.
Atualmente essa força direta é mais bem aproveitada no ensino e pesquisa, onde
computadores, sistemas de comunicação e decodificação são todos amplificadores e
extensões da mente humana. “[...] é o cérebro que cresce para fora [...]” diz, Santaella, em
palestra realizada em 2003 na Escola do Futuro da USP, referindo-se ao grande avance
tecnológico destes últimos 5000 anos.
Uma das características do novo paradigma da Tecnologia da Informação baseia-se
em que a informação constitui a matéria prima e porque as tecnologias estão para agir
sobre a informação, e não apenas a informação sobre as tecnologias, como aconteceram
39
nas revoluções tecnológicas anteriores. Como a informação é uma parte integral de toda
atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva estão
diretamente moldados pelos novos meios tecnológicos.
No ensino superior está se empregando o novo sistema de comunicação eletrônica,
que começou a ser formado a partir da fusão da mídia de massa com a comunicação por
computador. É assim, que a multimídia, como novo sistema de LOGO, foi chamado para
estender o âmbito da comunicação eletrônica para todos os domínios da vida como no
caso da engenharia genética.
O filósofo da www, Pierre Lévy, aponta uma leitura da inteligência coletiva nessa época
da cibercultura e atualização da virtualidade. Enfatizando que o desenvolvimento dos
novos instrumentos de comunicação inscreve-se em uma mutação de grande alcance e sua
relação com o saber, alterando as funções cognitivas, dentro delas a memória, a imaginação,
a percepção e o raciocínio.
Para Lévy tais tecnologias favorecem as novas formas de acesso à informação, tais
como a simulação, que constitui uma verdadeira industrialização da experiência do
pensamento, que estão disponíveis na rede, na qual podem ser partilhadas entre grande
número de indivíduos incrementando assim, o potencial da inteligência coletiva entre os
humanos. Esses saberes e as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva estão
modificando profundamente a educação e a formação do novo profissional.
Mesmo que as pessoas aprendam em suas experiências profissionais e sociais, ainda
que a escola e a universidade estejam perdendo atualmente seu monopólio de criação e
transmissão do conhecimento, os sistemas de ensino público devem orientar os recursos
individuais no saber, e contribuir para o reconhecimento do conjunto de pessoas inclusive
os saberes não acadêmicos ou informais.
40
Morin, pensador francês, reforça a análise para uma educação mais humana e mais
reflexiva, no novo século, priorizando a preservação da vida no nosso planeta. Ele subsidia
elementos substanciais para a educação, na qual deve se ensinar a verdadeira condição do
ser humano, como espécie, pois, somos a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural,
social e histórico. Essa unidade complexa do ser humano é totalmente desintegrada com a
educação tradicional por meio de disciplinas, tornando-se impossível compreender na sua
totalidade o que significa o ser humano e o humano ser. Morin considera que é preciso
restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e
consciência, mas ao mesmo tempo, ele reconhece que somos seres muito complexos, no
entanto existe uma identidade comum entre todos os seres humanos.
Antes que essas reflexões e informações a nível molecular sobre o nosso corpo
físico aconteceram, acreditávamos que as fronteiras dos conhecimentos que tínhamos
sobre o humano estava próximo, todo seria facilmente explicado, através do mapa
genético, que não ficaria mais nada por conhecer se, pois a racionalidade operava nesse
sentido.
Foi possível que novas tecnologias biomédicas como: exames de tomografia
computadorizada, de imagens de ressonância magnética, de raios-X, do microscópio
eletrônico e outros recursos tecnológicos fizessem do corpo humano transparente,
exploraram e navegaram nele com ajuda da nanotecnologia15até converti-o num ser público, em
um hipercorpo. Apesar disso, o ser humano continua sendo a “medida de todas as coisas”
(Protágoras) penetrar por inteiro no âmago da nossa molécula ainda continua sendo um
desafio por descobrir-se. A ciência aceita o que está disponível nos seus registros de
15 As aplicações da Nanotecnologia no campo da medicina (nanomedicina) são fantásticas tais como: dispositivos invisíveis com capacidade para circular na corrente sanguínea e identificar agentes biológicos ao analisar reações químicas de caráter terapêutico, detectar e reparar células cancerígenas e tecidos danificados, transportar medicamentos e provocar reações químicas de caráter terapêutico. Disponível em: <www.rizoma.net/seção/mutacao> Acesso em: 24 de maio de 2004.
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descobertas, e, somente poderia extrair conclusões relativas da nossa espécie, um ser tão
complexo, quanto mesmo nossa natureza.
Diante desse dilema, as condições na que se desenvolve nossa espécie no contexto
do mundo deveria ser o objeto essencial do ensino, afastando idéias e crenças obsoletas,
baseadas em estudos e disciplinas que fragmentaram a ciência e o ser humano, separando-o
da sua unidade e complexidade, da unidualidad16, intrínseca que possuímos.
Organizar esses conhecimentos, transdisciplinares será, pois, uma nova aposta do futuro
de professores e educadores, sobretudo no ensino superior auxiliado pelas novas
tecnologias, que possibilitará grandes chances de traçar a perspectiva de um novo horizonte
do ensino na real condição humana. Reunindo esses conhecimentos dispersos nas ciências
da natureza, nas ciências humanas, na literatura e na filosofia, a que evidenciaria uma vez
mais o elo indissolúvel entre a unidade e a diversidade de todo o que é humano.
A proposta de Morin, referente ao ensino da identidade terrena, é dizer a identificação
ou selo que carimba a presença física do homem no mundo, no universo físico, são
questões para refletirmos sobre o destino planetário e do gênero humano, fato que a
educação tradicional deixou-a na marginalidade. Acontecimentos novos, cheios de
episódios como a criatividade do espírito humano tem que se lembrada, para valorizar-se a
espécie hominídea, a única que pode discernir entre o bem e o mal e qual é o mais
adequado para a sobrevivência na aldeia global e em comunidade.
Os conhecimentos que temos sobre nosso planeta e fora dele, com tendência a se
aumentar cada vez mais no presente século com as explorações espaciais e descobertas de
novas estrelas no universo, permitiria conhecer melhor a nossa Era Planetária e o
16 Unidualidade: o humano é um ser a um só tempo plenamente biológico e plenamente cultural que traz em si a unidade originaria. São Paulo: Cortez UNESCO, 2002, p. 52. O homem é por tanto um ser plenamente biológico, mas, se não dispusesse plenamente da cultura, seria um primata do mais baixo nível. In: MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro, Cortez- UNESCO, 2002, p. 52.
42
reconhecimento da identidade terrena se tornaria cada vez mais indispensável a cada um e à
vez a todos, temática a incorporar se como uns dos principais objetos da atual educação.
Deveríamos ensinar os direitos universais da pessoa humana em geral, os direitos das
crianças, direitos da mulher, direitos dos animais e a preservação da flora e fauna do
planeta, ensinar a história planetária, da formação no seu aspecto físico, baseado nas
ciências geológicas e astronômicas. É mister ensinar a história mundial que se inicia com o
estabelecimento da comunicação no século XVI, e mostrar como todas as partes do mundo
de uma forma ou outra se mostraram solidárias, mas sem ocultar as opressões e a
dominação vergonhosa e inumana que fizeram os conquistadores e devastaram muitos
povos, que suportaram as invasões, mas sem exterminá-los.
Paradoxos complexos, de uma civilização que privilegia poucos, pela distribuição
desigual da produtividade, e carestia no outro extremo, polarizando as situações entre
humanos, mas que coexistem, na sociedade. Será, pois, necessário ensinar a refletir neste
problema, indicando que não é tão fácil a solução devido ao fato de que o humano como se
indicou anteriormente é um ser muito mais complexo do que se imaginava, e que somente
no século XX é que se começou a se desvendar vários mistérios, que parasitavam o
conhecimento e impediam que o ser humano pudesse atuar em comunidade como nos seus
alvores, mas que agora nos encontramos novamente confrontados aos mesmos problemas
de vida e morte e que partilhamos um destino comum.
Perante tais questões, reformar o pensamento essa é a proposta de Morin, pai da teoria
da complexidade, minuciosamente explicado nos livros da série O Método; defende a
interligação de todos os conhecimentos e valoriza o complexo. Para ele, o ser humano
tende se afastar do que é complicado, Morin insiste que se faça com urgência, uma
modificação nessa forma de pensar, “Só assim vamos compreender que a simplificação não
exprime a unidade e a diversidade presentes no todo” disse ele (Nova Escola, 2002, p. 20).
43
Considera a sala de aula como um fenômeno complexo, abrigando uma diversidade
de culturas, classes sociais e econômicas, ânimos e sentimentos, é um espaço heterogêneo,
e ideal para iniciar essa reforma da mentalidade. Para Morin, a escola, seguindo a sociedade,
se fragmentou em busca de especialização. Primeiro, dividiu os saberes em áreas e, dentro
delas, priorizou alguns conteúdos; para que essas idéias de Morin sejam implementadas, é
necessário reformular essa estrutura que é uma tarefa complicada, mas não impossível, a
dificuldade provêem em romper uma linearidade de raciocínio cultivada por várias
gerações.
Morin recomenda ensinar a compreensão e o amor pelo humano, pela nova
racionalidade ou como afirma Lucilene Cury (1999, p.57) “a nova racionalidade sob um
olhar amoroso”,17 fato que constitui até a mais difícil de todas, por que nós constituímos
essa unidualidade, que à vez torna-nos universos diferentes interconectados uns dos outros
pelo diálogo da “escuta poética” como diz Prigogine (PESSIS-PASTERNAK, 1993, p. 39).
Apesar desse fato peculiar e intrínseco do ser humano perfectível, a compreensão
torna-se ao mesmo tempo meio e fim da comunicação humana. Como lembra Morin “a
educação para a compreensão está ausente do ensino” (MORIN, 2000, p.17). Se a
compreensão entre os seres humanos e estes com a natureza entra em crises profundas de
desequilíbrio, então estamos condenados desaparecer como seres biológicos da faz da terra,
daí que o planeta necessita, em todos os sentidos do amor e da compreensão mutua entre os
seres humanos.
Valores universais para todas as esferas da sociedade, que de não serem colocadas
em prática corremos risco mesmo da própria existência, daí a importância da educação para
a compreensão a qual exige aos seres humanos uma rápida reforma das mentalidades
17 CURY, Lucilene. “A nova racionalidade sob um olhar amoroso”, In: Caminhos do saber plural. Dez anos de trajetória. Novo Pacto da ciência C-7. Organizadores: MEDINA, C; GRECO, M. São Paulo: ECA-USP, 1999, P.57-69
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obsoletas, que acreditam no infinito do mundo, que os prodígios que brotam da mãe terra
nunca acabarão e outros mitos criados, para preencher vazios da própria existência.
Longe de prever, o fim das disciplinas, uma reforma do pensamento e da educação
reconhece como imperativo fazer dialogarem as estruturas de pensar, as competências os
saberes produzidos. Mais ainda, a educação hoje deve pautar-se por uma sustentabilidade e
pela preservação do capital cultural da humanidade. Foi precisamente o predomínio da
rigidez sobre a razão que acabou-se constituindo a matriz epistemológica iluminadora do
pensamento cientifico notadamente na modernidade.
Nesse protocolo de intenções uma pedagogia da complexidade precisa estar
comprometida com um ideário educacional mais ético, diante dos graves problemas
planetários, sem abrir mão, da herança milenar, que de certa forma, ainda se mantém nos
redutos dos saberes da tradição.
Neste novo século, nós seres humanos, que pertencemos a um tronco comum da
espécie hominídea, deveríamos fazer prevalecer a compreensão e o amor refletindo sobre
acontecimentos vergonhosos que nossos congêneres fizeram e continuam fazendo-o em
várias partes do mundo.
Decorrente disso existe a necessidade urgente de estudar a incompreensão a partir
das suas raízes, suas modalidades e seus efeitos. O que acarretaria conhecer os segredos do
racismo, a xenofobia o desprezo total pela vida do outro ser humano a qual constituiria ao
mesmo tempo, uma das bases sólidas e mais seguras da educação para a paz e as crianças e
jovens educadas em valores, a qual seria o novo símbolo de uma humanidade mais fraterna.
45
1.3. As mídias eletrônicas atuais e a necessidade da inclusão digital
Cotidianamente temos a chance, em nosso século de presenciar avanços tecnológicos,
e grande parte dessa marcha rumo ao futuro é possível graças à ajuda dos computadores.
Nossas vidas, cada vez mais, estão ligadas a essa máquina que nos oferece inúmeras
facilidades.
Nesse contexto, tentar separar educação do computador e de seus benefícios é
praticamente impossível. Vivemos na era digital, em que todo depende dessa ferramenta de
lazer, atualização, trabalho, comunicação e, sobretudo, aprendizagem. Por tudo isso
ocorreriam muitos prejuízos à educação se não a uníssemos à informática.
Defendemos a idéia de como o computador, bem utilizado, pode ser útil no decorrer
do processo ensino-aprendizagem, pois pode representar um importante instrumento para
atrair a atenção dos alunos, fazendo com que estes se interessem pelo conteúdo estudado e
se motivados, desenvolvam os trabalhos propostos.
No entanto, para que os computadores se tornem ferramentas capazes de auxiliar
no processo do conhecimento de cada aluno, é necessário que essa ferramenta eletrônica
esteja disponível, em número suficiente e distribuído de modo uniforme na rede de
educação pública do Brasil. Sabemos que a realidade do Brasil, analisado desse angulo, não
é muito animadora e isso implica dizer que as instituições escolares devem se preparar para
conciliar o processo ensino-aprendizagem com a inclusão digital. Não basta, portanto,
instalar equipamentos de ultima geração e disponibilizá-as aos alunos.
46
Figura 1 – Mapa da Exclusão Digital18
As escolas desempenham papel fundamental em busca da inclusão digital para os
brasileiros. A educação formal é um ambiente favorável a essa inclusão, pois cada
instituição de ensinar faz parte e auxilia a comunidade, adequando e sofrendo as influências
de uma educação formal. Por isso, não se pode separar as duas realidades. As escolas e
faculdades são os principais meios de acesso aos computadores das crianças, jovens e
adultos que não tem a sorte de possuírem um computador em seus lares.
Quando nos referimos à escola como importante aliada em busca da inclusão digital,
entendemos que não basta montar salas de instrução, instalar computadores nas escolas
públicas, aprender o que seja mouse CPU ou scanner. É necessário preparar o professor para
que ele seja capaz de transformar sua aula, utilizar recursos que o mundo digital lhe oferece. 18 O Mapa da Exclusão Digital é fruto de uma das mais importantes pesquisas sobre o tema já feitas no país. O documento foi lançado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) juntamente com outras entidades, em Abril de 2003, mas passa por atualizações todo ano. O documento traça um perfil dos brasileiros em relação às novas tecnologias de comunicação e informação e faz uma análise não somente do capital físico, ou seja, das máquinas e softwares, mas do capital humano e social, como educação e capacitação. De acordo com o estudo, apenas 12,46% da população tem acesso aos computadores, sendo que 97% concentra-se na área urbana – o que mostra o atraso das zonas rurais em relação às cidades. Um dado curioso diz respeito ao acesso tecnológico por etnia. De acordo com o levantamento, o grupo mais prejudicado é o indígena, com apenas 3,72% de acesso. Depois, vem o grupo dos negros, com somente 4%. Os orientais e os brancos são os menos excluídos, tendo, respectivamente, 42% e 15% de acesso a cada um.
47
O educador deve desenvolver atividades descontextualizadas e significativas, utilizando-se
da informática, para que os alunos, além de terem acesso à informação digital, sejam
sujeitos e produtores de conhecimento.
Poucas escolas têm investido numa capacitação profissional do seu corpo docente,
promovendo debates e proporcionando sua participação em seminários ou palestra,
sensibilizando-o e dando dessa forma, condições para que seja capaz de desenvolver
projetos educacionais, dentro dos conteúdos curriculares.
As ações da inclusão digital devem incluir empresas, entidades sociais, intelectuais,
estudantes, empresários, políticos, militares, sindicalistas, jovens, pessoas da terceira idade,
portadores de deficiência, homens e mulheres, tanto usuários como, principalmente,
produtores de conhecimentos. Nessa busca pela inclusão digital, podemos nos deparar com
problemas como a impossibilidade de nem todos terem acesso à Internet, devido ao fato de
não possuírem linha telefônica. O problema econômico faz parte da realidade do Brasil e
dos países da América Latina, onde as camadas populacionais de menor ingresso
econômico, são as mais atingidas pelos desníveis sócio-econômicos.
No caso peruano, por exemplo, se pode comprovar que em muitas cidades o
acesso às novas tecnologias da informação e comunicação é um assunto do futuro, mas
como em muitos países da América Latina a informalidade atingiu também esse setor.
Atualmente, as cabines públicas estendidas em todos os bairros de Lima e outras cidades,
têm resultado numa fórmula “eficaz” e massiva para o acesso público à Internet, pelo baixo
custo de aluguel por hora.
Indubitavelmente, as crianças e jovens de níveis sócio-econômicos mais altos
exploram de maneira mais intensa e proveitosa os recursos das novas tecnologias, porque
disponibilizam em seus lares desses aparelhos, mas, sobretudo, pelo grau de eficiência que
se está obtendo nas escolas a instrumentalização pedagógica do computador.
48
Outra questão a ser enfrentada é a falta de interesses dos poucos representantes do
povo no que se refere à coordenação de atividades que possam disseminar a inclusão
digital. O mero acesso às tecnologias digitais não é suficiente para incluir os excluídos
digitais. Não basta disponibilizar um computador, se a maior parte da população não tem
renda que assegure o pagamento da assinatura de um aparelho de telefone, e assim não há
possibilidade de acessar a Internet e trocar informações com outras pessoas em busca do
conhecimento.
O computador, a inclusão digital e a interação de ambos com o processo de
aprendizagem não devem ser abandonados. O aluno, ou “ciber-aluno”, através de “aulas
tecnologicamente digitalizadas”, poderá compreender o verdadeiro significado de tudo
aquilo que faz o produz, tornando-se agente transformador de seu próprio conhecimento e
capaz de resistir a manipulações e pressões externas que lhe forem impostas por déspotas
ou ditadores inescrupulosos.
O papel da mídia eletrônica – adquire na contemporaneidade alto relevo. Sua
complexidade atinge etnias, gêneros, em fim, a cultura de massas e o entretenimento têm
atualmente inquestionável força na sociedade. No passado, quando se cunho o termo
“quarto poder”, no sentido progressista, do avanço no pensamento social, pensava-se que
serviria como contraponto fiscalizador dos poderes constituídos – segundo relata uns dos
maiores especialistas no tema, o jornalista francês Ramonet.
Com o devir, e a crescente maquinação, a mídia tornou-se parte do poder. Perdeu sua
“autonomia”, “objetividade”, pelos interesses das elites e faz parte do jogo manipulador do
grande capital financeiro, caso evidenciado no atual cenário político que envolve o
presidente venezuelano Hugo Chávez, onde essa força manipuladora atuante enfrentou os
poderes políticos, com o intuito de derrubá-lo.
49
Assim, a mídia eletrônica manipula mentes, uniformiza pensamentos e condiciona
comportamentos, com mais rapidez e eficácia que as mídias tradicionais. Isto é feito sutil,
requintado – através de meias verdades, notícias fora dos contextos, fatos sem vínculos
com o passado, flashes instantâneos, aparência encobrindo a essência. Além disso, a
diferença do passado, a mídia está incorporada ao mundo do capital, as tecnologias
aceleram o processo.
Nesse parâmetro, também, as mídias eletrônicas com toda a sua carga semântica
criam espetacularizam o cotidiano das camadas sociais mais baixas, atuando como
“lâmpada maravilhosa”, através dos spots publicitários que surgem dessas mídias, criando
falsas expectativas. Aqueles são sintomas de uma sociedade descontenta.
Perante tais fatos criam-se suportes ou “janelas” como válvulas de escape, para
entrar no cotidiano, às vezes desanimadoras deste novo século, ou, como afirma Debord
em A sociedade do espetáculo: “O espetáculo domina os homens vivos quando a economia já
os dominou totalmente. Ele nada mais é do que a economia desenvolvendo-se por si
mesma”.19
A capacidade de manipular – das mídias atuais - se manifesta até nas palavras usadas.
O próprio termo globalização vendido como sinônimo de um mundo sem fronteiras e de
plena harmonia, visa ofuscar a crescente barbárie capitalista. Outra palavra muito em voga
reforma, tem seu conteúdo mistificado. Nos discursos do passado, ela caracterizava os
imaginários progressistas, identificados com as aspirações cidadãs; hoje expressa a regressão
neoliberal, a negação do direito. Como diz Canclini (1998): “[...] só é cidadão quem
consome [...]”, referindo-se à inserção dentro da nova fase do capitalismo globalizante.
Em tempos de globalização neoliberal e de regressão civilizacional, o poder da
mídia só se agigantou. No mundo inteiro, o capital desregulamenta as leis que restringem o
19 RIVITTI, Thais. Dois caminhos para a arte. In: O espectador no poder número 2. Centro Maria Antonia, São Paulo: 2004, p.18.
50
monopólio dos meios de comunicação. A mídia se entrelaça com os conglomerados
financeiros e se identifica com as idéias mais fascistóides. O imperialismo estadunidense,
numa ordem unipolar amplifica sua ideologia, pois, a guerra fria, não existe mais.
Segundo recente relatório de uma Comissão Especial da ONU, 85% das notícias que
circulam no planeta são geradas nos Estados Unidos. Cerca de duas dezenas de grupos
midiáticos, com receitas entre, US$ 5 bilhões e US$ 30 bilhões, veiculam dois terços das
informações disponíveis no mundo.
Conforme comenta Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique:
[...] a concentração empresarial e a falta de pluralidade na cobertura jornalística tornaram os meios de comunicação os principais meios poluentes da democracia. A globalização econômica criou conglomerados mediáticos e o objetivo de informar foi diluído entre outros interesses. Eles se unem ao poder para oprimir ao cidadão, este que antes era oprimido somente pelo Executivo, agora também é oprimido pelo mediático.20
Dois episódios recentes, a agressão ao Iraque e a conspiração golpista na Venezuela,
são emblemáticas desta poderosa distorção.
Esse alto poder de manipulação inclusive ajuda a entender o êxito ideológico do
neoliberalismo. Apesar do fragoso fiasco no terreno econômico o projeto neoliberal
conseguiu envolver importantes setores da sociedade, inclusive parcela dos trabalhadores.
Como explica Atílio Borón, no texto sobre mercados e utopias: a Victoria ideológico-cultural do
neoliberalismo, “a criação do senso comum penetrou nas crenças populares, com a mídia
produzindo uma lavagem cerebral que gerou conformismo diante dos ataques”. Mas, como
afirma, esta vitória é temporária, é pírrica, não existe as contradições com próprio sistema
capitalista. Ele lembra uma bela citação de Rosa Luxemburgo: “quanto mais negra a noite, mais
brilham as estrelas”.
20 BORGES, Altamiro. A luta contra o “latifúndio” da mídia. Disponível em: http://geocities.yahoo.com.br/ carlos.guimaraes/midiapower.htm. Acesso em: 23 de julho de 2004.
51
A capacidade manipuladora dessa mídia altamente concentrada, conforme se
mostrou, é brutal. Mas não invencível. Hoje a luta pela democratização dos meios de
comunicação adquire caráter estratégico. Conforme afirma Herz, dirigente nacional pela
democratização da comunicação “[...] sem enfrentar a disputa pela comunicação, nenhum
estado, partido o setor social está habilitado a atingir seus objetivos estratégicos [...]”. Nesse
sentido, é preciso intensificar a luta de idéias na sociedade. Este frente, que já era decisiva
na luta de classes, como ensinou Lênin e reafirmada pela filósofa Marilena Chauí, quando
disse: “[...] por trás da crise, está a luta de classes [...]”,21 ganha ainda maior relevo na
atualidade.
21 Chauí, Marilena. In: Revista Caros Amigos. Ano IX, No. 184, nov. São Paulo: Editora Casa Amarela, 2005, p. 30.
52
Capítulo 2 - AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO (NTICs) E SEUS ALCANCES.
2.1 Abrangência das NTICs na aprendizagem e na cultura
A tecnologia sempre constituiu um suporte primordial para auxiliar ao homem. Sob
esta premissa, afirmamos que desde os primórdios da humanidade a tecnologia esteve
presente em formas e estilos incipientes apoiando e facilitando a vida dos seres humanos
gradativamente.
Figura 2 – Pedra lavrada: primeira ferramenta do homem
Os primeiros instrumentos fabricados em pedra foram parceiros insubstituíveis por
muitos séculos, desse ser que surgiu na face da terra sem nenhuma proteção a não ser suas
próprias mãos, unhas e dentes. Aquele homem, indefenso perante uma natureza agreste e
selvagem, precisava com urgência elaborar ferramentas mais seguras e resistentes para se
defender dos predadores e garantir a sobrevivência, através da caça, o trabalho da terra e,
com isso, atingir o desenvolvimento em comunidade.
A melhoria dos instrumentos rudimentares e invenção de outros cada vez mais
sofisticados foram alavancas que impulsionaram o homo sapiens a transformações aceleradas,
até conseguir, atualmente, um alto grau de desenvolvimento científico tecnológico.
53
Figura 3 – O mouse: a nova ferramenta do homem
Nesta época há um re-encantamento pelas tecnologias, porque participamos de
uma interação cada vez mais intensa entre o real e o virtual. Comunicamo-nos realmente e ao
mesmo tempo nossa comunicação é virtual. Por exemplo, no meu caso, eu permaneço aqui
no NICA (Núcleo de Informática em Comunicações e Artes da ECA), “navego” sem
mover-me, analiso dados que já estão prontos, além de conversar com pessoas que não
conheço e, talvez nunca verei ou encontrarei.
O referido re-encantamento consolida-se porque estamos numa fase de re-
organização em todas as dimensões da sociedade, do econômico ao político; do
educacional ao familiar. Percebemos que os valores estão mudando, já que o referencial
teórico com o qual avaliávamos não consegue dar-nos explicações satisfatórias como antes.
Com efeito, estamos na transição para uma nova etapa da sociedade - com variadas
nomenclaturas -, por causa dos avanços tecnológicos que imprimem seu selo na
cotidianidade dos setores sociais infoincluidos.
Cada tecnologia modifica algumas dimensões da nossa inter-relação com o mundo,
da percepção da realidade, da interação com o tempo e o espaço. Cada inovação
tecnológica bem sucedida modifica os padrões através dos quais lida com a realidade
anterior, mudando o patamar de exigências de uso. Uma mudança significativa é a
54
necessidade de comunicarmos através de sons, imagens e textos, integrando mensagens e
tecnologias multimídia, a extremo de estarmos passando dos sistemas analógicos de
produção para os digitais.
Com as NTICs, “a comunicação torna-se mais sensorial, mais multidimensional,
mais e mais linear”22. Com o aperfeiçoamento da realidade virtual, simulando todas as
situações possíveis, exacerbamos a nossa relação com os sentidos e a intuição. Contudo,
nossa mente é a melhor tecnologia, infinitamente superior em complexidade ao melhor
computador, porque pensa, relaciona, sente, intui e pode surpreender com algum raciocínio
inédito.
Por outro lado, a investigação do fenômeno tecnológico pode se organizar em dois
níveis: o primeiro reúne as teorias que entendem a técnica como uma solução de problemas;
o segundo revela a técnica como um processo de invenção de problemas. No primeiro nível
temos autores como: W. Kolher, A. Leroi-Gourham e McLuhan. Tais autores apóiam-se
explicitamente na teoria da projeção orgânica, que considera o objeto técnico um
prolongamento do organismo ou de suas ações. Tendo como finalidade ampliar a
capacidade de ampliar o corpo biológico e superar seus limites. Exemplos: o telescópio e o
microscópio superam os limites do olho humano. O computador seria o cérebro eletrônico
– maximiza a inteligência e a memória - “Os computadores são tecnologias que atuam
como Próteses Cognitivas”.23
No nível de invenção de problemas, em sentido variado – dificuldades, obstáculos,
resistências, tarefa a cumprir; etc. - quando acontece a introdução de novas tecnologias no
ambientes de trabalho, os usuários convertem-se em palco dos mais variados sentimentos:
impotência, medo, bloqueio, rejeição, resistência, repulsa, etc. Atualmente esta posição é
22 MORAN, José Manuel. “Novas Tecnologias e o Reencantamento do mundo”. In: Tecnologia Educacional, Rio de Janeiro, set./out. v.23, n. 126, 1995, p. 24-26. 23 KASTRUP, Virginia. “Novas Tecnologias Cognitivas: o obstáculo e a invenção”. In: PELLANDA, N.M.C; PELLANDA, E., Cyberespaço um hipertexto com Pierre Lévy. Porto Alegre: Artes e ofícios, 2000, p.38-40.
55
defendida de modo consistente por Pierre Lévy, abordada e orientada pela distinção
bergsoniana da caracterização entre o virtual e o atual, (BERGSON, 1990, p.11).
A tecnologia mostrou, que “não economiza tempo, mas leva a maior produtividade.
Não torna as coisas simples, mas permite fazer coisas complexas de maneira simples”.24
Sem as poderosas tecnologias comunicacionais atuais, a globalização não teria sido
possível. As conseqüências dessas tecnologias para a comunicação e a cultura são
remarcáveis. Estamos entrando numa revolução da informação e da comunicação sem
precedentes chamada de revolução digital (som, imagem, vídeo, texto, programas
informáticos) com a mesma linguagem universal, isto é, uma espécie de “esperanto das
máquinas25”.
Os fatos mundiais (ataque às torres gêmeas de Nova Iorque, cerimônias pela morte
do Papa, os efeitos do Tsunami, os Jogos Olímpicos de 2004, etc.) foram assistidos de
modo simultâneo em todo o mundo, sintetizando-se o uso das novas tecnologias aplicadas
principalmente à Informação. Estas profundas mudanças forjam novas concepções nas
Ciências Humanas como as de indivíduo, memória, leitura, escrita, Inteligência Artificial
(IA) e outros códigos dessa nova forma de linguagem. É nas Ciências Humanas onde as
novas tecnologias buscam seus refúgios, pois, a técnica sempre emerge de um contexto
social, e uma historicidade, não sendo um sistema autônomo separado do homem.
As Tecnologias da Informação modificam as relações do homem com seu passado,
seu futuro e sua memória, mais do que qualquer época altera a percepção do tempo e do
espaço, bem como o imaginário de uma sociedade acenando para uma realidade virtual. As
NTICs trazem em si a idéia de que é possível universalizar o conhecimento, neutralizando
as diferenças humanas e sociais. Nessa utopia do futuro, a informática não é apenas
tecnologia, pois se trata de uma nova linguagem capaz de oferecer certas memórias
24 FIGUEIREDO, Nice M. de P. Paradigmas modernos da Ciência da Informação. São Paulo: Polis/ ABB, p. 11, 1999. 25 SANTAELLA, Lúcia. “A crítica das mídias na entrada do século XXI”. In: MARCONDES FILHO, C. Críticas das Práticas Mediáticas: da Sociedade de massa às ciberculturas. São Paulo: Hacker Ed., p. 51, 2002.
56
informacionais automatizadas, com a introdução de mudanças na construção da memória
do homem contemporâneo e a criação de um novo sentido de individualidade.
Atualmente, a introdução e disseminação da tecnologia digital no campo da
informação acarretam modificações profundas na maioria das atividades da sociedade
moderna, tais como no trabalho, na educação, na arte, na saúde, na cultura e no lazer, entre
outras. A plataforma inicial dessa revolução é o uso em grandes proporções do
computador e da Internet, que se expandem vertiginosamente a partir da constatação, pela
sociedade, de que não se trata apenas de uma ferramenta confinada ao uso exclusivo dos
cientistas.
Utilizam-se essas tecnologias para ampliar nossos sentidos cerebrais e capacidades,
(SANTAELLA, 2000, p. 73). Aquelas novas tecnologias estão desenvolvendo um papel
fundamental na configuração da sociedade, criando “redes”, (CASTELLS, 1999, p. 89) e
estruturando uma outra cultura diferente à “cibercultura”, (LÈVY, 2000, p. 37)
As profundas mudanças tecnológicas têm oferecido um leque de opções
metodológicas que podem influenciar na prática educativa. A utilização dessas novas
tecnologias, em especial da informática, como ferramenta no processo de mediação
pedagógica tornou-se a cada dia um instrumento bastante acionado nas salas de aula nos
diversos níveis de ensino.
Diferentemente, nos ambientes integrados por essas novas tecnologias, a
construção se dá pelo processamento da informação de várias formas de linguagens
simultâneas, chamadas sistemas multimídicos. Nestes novos ambientes, a construção dos
conhecimentos acontece de forma mais aberta, integrada e multisensorial, o que torna a
busca dos conhecimentos, muito mais atraente e complexo. Neste aspecto, é importante
uma maior análise da chamada teoria da flexibilidade cognitiva (TFC)26 que subsidia e
26 A Teoria da Flexibilidade Cognitiva foi proposta na década de 80 por Rand Spiro e colaboradores. É uma teoria da aprendizagem, da representação e da instrução. O desenvolvimento da flexibilidade cognitiva requer múltiplas representações do conhecimento, que favorecem a transferência do conhecimento para novas
57
reforça a importância da utilização dessas novas tecnologias, e, por conseguinte, desses
novos ambientes de aprendizagem.
A necessidade de se retomar os estudos sobre as NTICs, agora não mais a partir de
sua simples aceitação ou condenação, é cada dia mais urgente. A análise dessas NTICs, a
partir das suas contradições - especialmente em alguns casos, como o brasileiro, onde a luta
pela tecnologia nacional significa também a luta pela soberania nacional – não pode ser
considerada uma tarefa menor. Sua inserção nos debates sobre cultura e sociedade tem
conduzido a uma visão quase idealizada da cultura, porque é isenta de suas formas e
condições de produção.
A simples análise ideológica das mensagens deixando de lado questões irrelevantes
como o próprio meio e o receptor da mensagem, tem sua origem “nos pseudos-
humanismos que, em nome de uma visão ultrapassada de cultura, ignoram que as novas
formas de produção da informação e comunicação alteram profundamente o quadro
cultural”, Fadul (1986: 19). Os estudos sobre cultura e comunicação no Brasil ainda estão
voltados, em sua maior parte, para os problemas colocados pelos meios tradicionais como
a imprensa, cinema, rádio e televisão, considerados ainda em fase anterior às mudanças
introduzidas pelos computadores, satélites, laser, etc.
Os Meios de Comunicação de Massa incorporaram as NTICs, transformando-as
em mercadorias sedutoras quanto um eletrodoméstico. O computador, o videocassete, as
antenas parabólicas começam a fazer parte da vida cotidiana de grandes setores da
população, tanto em nível de experiências concretas como em nível de representação. As
telenovelas, os anúncios em TV, revistas, etc. mostram o profundo impacto das NTICs no
mundo da cultura, da comunicação, da educação e da sociedade em geral.
situações. Por esses motivos, os princípios das TFC são mais facilmente implementados em ambientes interativos, como é o caso dos documentos hipermídia, e, por conseguinte das novas tecnologias. Dsiponível em:<http://www.planetaeducacao.com.br/professores/suporteaoprof/pedagogia/>. Acesso em: 31de abr. 2005.
58
Devido a sua importância no que se refere à produção das mensagens e do seu
impacto na cultura e na sociedade, as NTICs estão sendo introduzidas aceleradamente nos
currículos das Faculdades de Comunicação ou da Educação, áreas mais diretamente
afetadas. O ensino nessas áreas reflete, às vezes, essa visão antitécnica que, de certa forma,
considera esse tipo de conhecimento como não fazendo parte de cursos com conteúdos
humanísticos, o que conduz a uma oposição falsa e artificial entre humanismo e tecnologia.
Esse distanciamento vem simplesmente mostrar que a universidade está voltada
mais para um passado utópico do que para o presente ou o futuro. Tem sido um privilégio
dos setores mais conservadores da sociedade a preocupação com as NTICs. Os
movimentos engajados nos setores populares com poucas e raras exceções encontraram no
vídeo e no computador importantes instrumentos de trabalho nessa área.
São as empresas privadas ou públicas, quando não autores como McLuhan ou
Viener, que, muitas vezes de forma acrítica, responderam ou estão respondendo aos
desafios colocados pelo desenvolvimento tecnológico nas áreas de cultura, de comunicação
e de educação. Embora os setores acadêmicos participem ou não das discussões sobre esta
nova realidade, as NTICs serão efetivamente implantadas por serem parte da lógica de
expansão e desenvolvimento do sistema capitalista.
Lutar por influir no delineamento de novas políticas públicas de comunicação,
cultura e educação, que incluam essas novas tecnologias é muito mais realista do que
continuar saudosamente voltado para um passado que, embora mais romântico, não serve
mais como ponto de partida para uma intervenção efetiva e concreta na sociedade
contemporânea.
Não esqueçamos que a relação do ser humano com as tecnologias não é apenas
complexa, mas também complementar. Essas tecnologias contribuíram para que o homo
habilis evoluisse aceleradamente para homo sapiens, confirmando em sentido geral que a
pedagogia e a tecnologia sempre foram “elementos fundamentais e inseparáveis da
59
educação”, conforme estudo realizado na dissertação de mestrado, (TANGOA, 2000 p.
27).
Perante o acelerado avanço tecnológico, os professores muitas vezes vêem-se
forçados a serem meros observadores de técnicas computacionais que dificilmente
conseguem assimilar, pois, quando se dilui uma determinando técnica, logo outra é
colocada no mercado tornando a anterior ultrapassada.
A tecnologia tem transformado o ser humano, até o ponto que não somos mais
conscientes de como ela tem contribuído nas mudanças. Só percebemos a tecnologia
quando algo falta ou desaparece temporariamente. O corte de energia elétrica, por
exemplo.
Um simples olhar da temática das múltiplas mídias e suas linguagens na educação, é
reduzi-los exclusivamente a seus aspectos didáticos, e considerá-las somente como um
meio e/ou recurso dos docentes, sem prever as mudanças as quais elas tendem num
contexto global mais avançado. Isto deve servir para reflexionar, e consolidar a
necessidade de redefinir as prioridades e perspectivas dos educadores democráticos,
abertos às inovações com o único propósito de melhorar o processo educativo e cultural da
sociedade.
Desde sua aparição e uso na sociedade, o computador e a Internet estão causando
uma série de fenômenos culturais que chamam a atenção e dos pesquisadores, pela forma
como essas ferramentas e suas novas linguagens audiovisuais, começam a fazer parte do
cotidiano pós-moderno, em que a televisão perde cada vez mais público O que é
evidentemente, primeiro, pela mediocridade, o baixo nível intelectual e cultural das
programações, e segundo, pela maneira como o poder elitista – os novos fazendeiros do
ciberespaço - a utiliza para adestrar valores e comportamentos sociais. Essas mudanças
atingem a escola que sendo uma instituição tradicionalmente oral e livresca não está
preparada para mexer com essa quantidade enorme de informações.
60
Como conseqüência da digitalização da informação, está mudando também o
suporte básico do saber e do conhecimento, pois a geração de crianças e jovens está cada
vez mais influenciada pela televisão e Internet. A instituição universitária tem o
compromisso em dar resposta dessa problemática social através do trabalho acadêmico e
da pesquisa. Pois, nos centos de ensino que tinham por função, entre outras coisas,
proporcionar informação competem atualmente com outra fonte de indiscutível poder de
informação: a Internet. Com essa nova mídia nasceram as comunidades virtuais que agem
como forma de inteligência coletiva e cujas ações científicas, sociais e econômicas deveriam
ser aproveitadas em favor da educação e da cultura.
Diante disto é importante conhecer como esse novo suporte tecnológico-cognitivo,
suas conexões, liberdade de expressão, produções de conteúdos e conhecimentos vêem-se
aplicando nos centros superiores de ensino e os resultados que essas práticas pedagógicas
trarão no futuro.
Tudo isso é importante porque a Internet é diferente às tecnologias anteriores. Ela
veio para ficar e já começou a alterar o comportamento da sociedade, portanto, do ensino.
Com a entrada da Internet na escola, reflete-se sobre seu uso como ferramenta que subsidia
informações paralelas às recebidas nas aulas e atualmente pensa-se numa hibridação dessas
tecnologias que atingem os modos de saber e conhecer espalhados na noosfera, não
ocupando lugar específico - ou “não lugares”27- e afastando o patrimônio do saber como
exclusivo dos intelectuais. Isso implica uma questão: a Internet representaria a
democratização do saber e do conhecimento?
Por outro lado, o fim do século XX marcou o final da cultura material, pelos
caminhos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da
Informação, que é para essa Revolução o que as novas fontes de energia foram para as
Revoluções Industriais anteriores. “As novas tecnologias de informação não são 27 AUGÊ, Marc. Não lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus Editora, 1994.
61
simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos”, afirma
Manuel Castells28. Elas são algo novo e diferente das tecnologias tradicionais que serviam
para aumentar o alcance dos sentidos (braços, visão e movimentos). No entanto, as novas
tecnologias ampliam o potencial cognitivo do ser humano (cérebro/mente) possibilitando
assim mixagens cognitivas complexas. As mídias tecnológicas têm um papel ativo nas
formas de aprender a conhecer.
Aliás, “[...] todas as mídias, desde o jornal até as mídias mais recentes, são formas
híbridas das linguagens, isto é, nascem da conjugação simultânea de diversas
linguagens[...]”.29 A Internet, por ser um instrumento de comunicação, tem uso
diversificado, porque sendo a pedagogia um como transmitir informação, e tendo em vista
uma filosofia e uma teoria, este instrumento se insere diretamente no âmago da pesquisa.
Uma outra questão poderia ser: o emprego de um livro, um jornal, um vídeo, um
computador ou até uma simples fotografia significa modificar a relação aluno-conhecimento,
aluno - professor e a relação escola-sociedade.
As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs), além de
proporcionar rápida difusão de materiais didáticos de interesse para os professores e
alunos, permitem, entre outras possibilidades, a construção interdisciplinar de informação
produzida individualmente ou em grupos por parte dos alunos geograficamente dispersos
ou através de desenvolvimentos colaborativos de projetos e a permuta de projetos didáticos
entre professores.
2.2. As NTICs e o discurso tecnológico no Brasil
No Brasil, país emergente, a implantação das NTICs não representa hoje uma
possibilidade, mas uma realidade concreta. Nesse sentido abordaremos as perspectivas, os
limites e os impactos dessas tecnologias. 28 CASTELLS, Manuel. A sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p.49 29 SANTAELLLA, Lúcia. Cultura das Mídias. São Paulo: Experimento, 2000, p.42
62
Esse novo cenário tecnológico introduzido pelos sistemas de telecomunicações e
de informática no Brasil exige uma postura distinta em cada país, devido aos avanços e
conquistas nesses setores, tendo como pano de fundo o dilema tecnológico enfrentado
pelos países do Terceiro Mundo, entre os quais o Brasil está em situação privilegiada.
O processo de implantação das NTICs no Brasil está acontecendo de forma
vertical, sem grandes discussões, sob a batuta principal do setor privado (transnacional ou
nacional) com o governo excessivamente fechado em certos casos e omisso em outros. No
Brasil não existe um claro planejamento, muito menos um planejamento participativo.
As atuais competições no mercado internacional estão definitivamente relacionadas
com a introdução das linhas de produção que permitem redução de custos em seus
produtos. Entretanto, se o impacto dos robôs no nível do emprego é bem menor que na
maioria dos outros ramos da informática como, por exemplo, a automação das atividades
no setor de serviços, estes foram os responsáveis por desencadear a discussão sobre os
impactos da automação na sociedade, em praticamente todos os países.
O dilema hoje enfrentado no Brasil resulta do fato de que não sendo mais um país
agrícola artesanal, não pode perder mercados duramente conquistados. Porém, o aspecto
mais importante do impacto social tem de ser o das relações de poder e controle social que
surgem de toda inovação tecnológica.
O Brasil acompanha tardiamente, a evolução das nações líderes ocidentais. O
Sistema de Ciência e Tecnologia brasileiro era incipiente quando se cristalizou a mudança
de postura do Estado no período pós-guerra. O apoio público sistemático à atividade de
pesquisa organizada ocorre a partir da década de 1950, com a criação de instituições de
auxilio à pesquisa (CNPq e CAPES).30
Ainda assim, esse sistema era de pequeno porte até o final da década de 1960. Uma
verdadeira idade de ouro para a Ciência e a Tecnologia apenas ocorrerá na década 30 CNPq: Conselho Nacional de Pesquisa Científica. CAPES: Coordenadora de Aperfeiçoamento e Pesquisa do Ensino Superior
63
subseqüente, com a formação de numerosos institutos públicos e a promoção da pós-
graduação nas universidades públicas. O sistema tecnológico brasileiro assume uma
dimensão próxima da atual durante esse período.
A partir dos anos 80, o sistema tecnológico brasileiro sofre um estado estacionário,
com grandes oscilações devido às crises cíclicas da economia brasileira. Mas isso não
impediu que as instituições públicas de pesquisas, principalmente acadêmicas, iniciassem
importantes transformações devido ao amadurecimento dos investimentos iniciados
durante a década de 1970.
A política científica e tecnológica brasileira deu menor ênfase aos programas
tecnológicos do que em países desenvolvidos. A chamada Big Science ocupou menor espaço
no país e a Big Technology - que recebeu forte apoio durante os governos militares com os
programas aeroespaciais, militares e nucleares - perdeu progressivamente espaço a partir do
processo de redemocratização do país.
Entretanto, a política científica e tecnológica teve um viés aplicado na pesquisa,
desde seu início, no começo do século XX. As aplicações nas áreas da agricultura e da
saúde sempre ocuparam um papel de destaque, e são até hoje das mais expressivas nesse
campo do conhecimento. A pós-graduação foi a dimensão mais bem-sucedida da política
cientifica e tecnológica brasileira, apesar da crise econômica que afligiu o país, levando a
uma estabilização dos recursos financeiros. O número de alunos titulados e de trabalhos
científicos produzidos aumentou substancialmente durante as décadas de 80 e 90. O Brasil
aumentou sua participação na produção científica internacional de 0,44%, em 1981, para
1,55%, em 2002.31
O padrão de política científica e tecnológica, construído durante a fase militar,
sofreu uma grande inflexão no setor industrial com a privatização das estatais e as quebras
31 Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), indicadores de Ciência e Tecnologia, Produção Científica. Disponível em:<www.mct.gov.br>. Atualizado em 28/10/2003. Fonte: Furtado, André, Novos Arranjos produtivos, estado e gestação da pesquisa pública. In: Revista da SBPC, ano 57, No. 1, jan/fev/março, 2005, p.44.
64
dos monopólios, ocorridas na década de 90, em setores de infra-estrutura. Com isso, os
laboratórios públicos associados a essas empresas perderão os seus elos privilegiados e
enfrentarão crescentes problemas de sustentabilidade financeira.
Para contrabalançar essa tendência, o governo federal, entre 1993 e 1994, tomou a
iniciativa de aumentar o gasto público em Ciência e Tecnologia, por intermédio de agências
como a Capes, CNPq, Finep; junto com alguns governos estaduais, conservou essa
tendência. As novas modalidades de fomento surgidas nesse período enfatizam a relação
entre universidade e empresa.
Hoje, a política científica e tecnológica brasileira está enfrentando dificuldades
ainda maiores do que nos países desenvolvidos devido à falta de perspectiva de
crescimento da economia. Tanto os grandes programas tecnológicos (espacial e militar)
quanto as modalidades de fomento a projetos cooperativos (universidade-empresa)
carecem de base de sustentação financeira por parte do setor público. Ainda assim, o
fomento a projetos cooperativos entre universidade-empresa passa a dominar a agenda de
país. Mesmo a FAPESP32, uma agência estadual paulista voltada ao apoio à pesquisa
acadêmica, incorpora essas novas modalidades de fomento.
Uma maneira de perceber estas questões é analisando as inter-relações de
comunicação na sociedade, uma vez que “na maioria dos casos, a sociedade é tanto
observável como constituída por tais relações e atividade discursivas” 33. Esta posição foi
examinada e demonstrada amplamente por Jurgëm Habermas e Michel Foucault, que
sustentam serem as relações de poder em uma sociedade ao mesmo tempo refletida e, pelo
menos parcialmente, constituídas por regras comunicacionais e discursivas.
A estrutura intrínseca das comunicações, através da tecnologia desenhada nos
computadores, está feita para permitir que certas sociedades e seus discursos exerçam o
32 FAPESP: Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo. 33 FINLAY, Marike. “Poder e controle nos discursos sobre as novas tecnologias de Comunicação” In: FADUL, Ana M. (org.). Novas Tecnologias de Comunicação, impactos políticos, culturais e socioeconômicos. São Paulo: Summus, 1986, p. 49.
65
poder, mantendo a vantagem da posse do conhecimento para exercitar o poder e o direito
de realizar certas práticas da comunicação. A demonstração de Foucault, segundo o
conhecimento clássico, derivou seu poder excluindo a muitos outros cidadãos do discurso
do conhecimento. Esta demonstração pode ser aplicada também aos sistemas de rede.
Dada a superposição das pressuposições comunicacionais que operam nos
discursos sobre as NTICs, com as regras comunicacionais das NTICs em si mesmas,
podemos afirmar que tal conhecimento – episteme – foi identificado nos procedimentos do
saber como fazê-lo ou realizá-lo, isto é, como um conhecimento instrumental. Sendo assim,
não encontramos nenhuma forma de conhecimento na discussão do impacto social das
NTICs que se pudesse afastar daqueles procedimentos muito técnicos.
Devido às semelhanças marcantes que existem entre os procedimentos discursivos
do conhecimento, que acompanha a ciência clássica e o liberalismo na era industrial, e os
procedimentos dos discursos sobre as NTICs e ela mesma, pode-se concordar que não
existe uma resolução das telecomunicações. A pesar das mudanças no produto nacional,
não houve mudanças nas práticas e regras de interação social comunicacional a partir da
sociedade industrial.
A revolução das comunicações e a sociedade pós-industrial são slogans destinados a
destruir nossa atenção dos problemas urgentes da sociedade industrial. São ruídos que
obscurecem outras mensagens sociais. Isto parece razoável, porque, se existisse uma
revolução das comunicações, nossas formas de atuar na sociedade também deveriam de ter
mudado. A superposição dos discursos que descobrimos nos discursos sobre as NTICs, e
os que procedem dela mesma, estabelecem discursos não substancialmente diferentes dos
praticados na era industrial.
Como Foucault mostra, muito dos procedimentos da comunicação na ciência
clássica foram desenhados como medidas de controle social e reforçado das relações
66
desiguais de dominação. As NTICs foram apresentadas ao público frente às regras do jogo
comunicacional determinado pelos técnicos e burocratas.
Por outra parte, os sistemas e os processos produtivos, organizados em grande
escala para fabricar quantidades de produtos padronizados, estão mexendo com a introdução
crescente de equipamentos e processos microeletrônicos. As novas máquinas e
equipamentos todos controlados por computadores, realizam as tarefas mais rápidas, de
forma mais eficiente e, portanto, a menor custo, pois consomem menos materiais, menos
energia, exige menos espaço e dispensam mão de obra.
Ao mesmo tempo, a linguagem do computador – o software cada vez mais
complexo – dificulta o acesso à informação relevante para a mão-de-obra menos
escolarizada e treinada, agravando a polarização entre o saber e o fazer.
As NTICs que penetram, e se difundem através de todos os setores da economia e
da sociedade, exigem informações e acesso a elas, sem o qual é impossível obter e manter
emprego. Contudo, a informação não leva necessariamente ao conhecimento e o aumento da
quantidade de informações, já que a falta de um método de integração tende a aumentar a
confusão e as dificuldades de processamento.
Nesse sentido as novas tecnologias (CAD/CAM/SFF)34, computador e
processador de texto parecem oferecer grandes vantagens, permitindo o processamento,
armazenamento e recuperação de dados e informações consideradas relevantes.
Paradoxalmente a operação e manipulação dos equipamentos microeletrônicos, por mais
que forem aclamadas como instrumentos-chave de uma futura era de bem-estar
generalizada, não nos proporciona um sentido ou direção de seu desenvolvimento nem
uma justificativa do seu dinamismo. Na verdade para enfrentarmos os desafios existentes
da era da microeletrônica, precisamos de sabedoria e responsabilidade.
34 CAD: Computer Aided Design, CAM: Computer Aided Manufacturing, SFF: Sistema de Fabricação Flexível.
67
Com o uso exagerado do computador ocorre uma perda da função da memória,
assumida crescentemente pelos chips e discos magnéticos. Da mesma forma, perde-se a
habilidade manual não somente para os robôs, mas, sobretudo, pela redução das operações
ao simples ato de apertar teclas e botões. Esse perigo de atrofiamento das características
essências do ser humano, bem como a sua natureza de homo faber não se manifesta apenas
nas fábricas e nos escritórios. Interesses comerciais tão poderosos quanto inescrupulosos
forçam a entrada e inundam com suas publicidades centros de ensino e lares, instigando
educadores e pais a adquirir essas tecnologias “indispensáveis” para a formação e o futuro
dos estudantes.
Assim, em vez de se tornar uma ferramenta útil para os estudantes, o computador é
cada vez mais um símbolo de status, posto que a proliferação de tipos, modelos, programas
e linguagens diferentes tornam praticamente impossível um plano pedagógico a médio ou
longo prazo. Uma prova disso é que o uso de computador não permitiria o salto qualitativo
dos analfabetos. Ao contrário, provavelmente, aumentaria ainda mais o fosso que separa as
elites da maioria do país, o que diminui claramente as opções para uma política educacional.
2.3. Contribuições das NTICs para o conhecimento
Figura 4 – Aparelhos usados para o ensino e pesquisa
68
Desde sua aplicação, na década de 80 - 1984 especificamente-, o computador
começa a ser visto como uma ferramenta de trabalho indispensável para a comunicação
social – as NTICs assumem grande importância para o acesso e renovação de
conhecimentos. No entanto, aqui, encontramos controvérsias entre alguns autores, quando
se trata de destacar a diferença existente entre dados, informações e conhecimentos.
Porém, não existe propriamente um consenso quanto à diferenciação ou definição entre
esses três conceitos, pois consideramos que dados são pré-requisitos para a informação, e esta
é pré-requisito para o conhecimento. Entre eles encontramos, aliás, uma seqüência lógica.
Apesar de que as NTICs não resolvem todos os problemas do trabalho com o
conhecimento explícito,porém, seus usos e potencialidades contribuem no
encaminhamento de significativa parte da solução desses problemas, sem chegar a se
pensar que constituam uma panacéia que “resolve tudo”. As NTICs são “fundamentais
para a combinação dos conhecimentos explícitos mas não contribuem significativamente
com o formato tácito do conhecimento.”35
Por outra parte, descobriu-se que estudos cognitivos de culturas orais, nas quais a
escrita linear fonética não existia ou possuía pouca significância social, tem evidenciado
como algumas características do pensamento, que eram atribuídos a estágios mais
avançados da própria natureza humana, são advindas da utilização da escrita como uma
tecnologia intelectual. Esses estudos defendem a tese de que as tecnologias intelectuais, tais
como a oralidade e a escrita, modificam a ecologia cognitiva de uma comunidade ao
possibilitar a ampliação, a restrição ou mesmo a supressão de determinadas atividades
cognitivas.
Diante de tais enunciados, com quais ferramentas contamos para organizar
informações no intuito da constituição de uma posição crítica/criativa de interação entre
tecnologia e conhecimento? Como as NTICs participam do conhecimento? Segundo Piaget 35 DA SILVA, Sérgio Luis. “Gestão de Conhecimentos: Uma revisão crítica orientada pela abordagem da criação do conhecimento”. In: Ciência da Informação, v. 33, n. 2, maio/ago, Brasília: 2004, p. 148.
69
(1982), o primeiro organizador é a ação, a própria atividade. Segundo Vygotsky (1987) é o
contexto sócio-histórico-cultural, dicotomias que explicam o processo do conhecimento.
A origem da mudança, que ocorre no homem ao longo do seu desenvolvimento,
está vinculada às interações que acontecem entre o sujeito e a sociedade, a cultura e a sua
história de vida, além das oportunidades e situações de aprendizagem que promovem este
desenvolvimento, ponderando acerca das várias representações de signos, instrumentos,
cultura e história, propiciando o desenvolvimento das funções mentais superiores.
Por enquanto, encontramos que as tecnologias podem interagir com o sistema
cognitivo principalmente sob duas formas:
a) Quando transformam a configuração da rede social de significação, cimentando
novos agenciamentos e possibilitando novas pautas interativas de representação e
de leitura do mundo;
b) Quando permitem construções novas, constituindo-se em fontes de metáforas e
analogias.
Estudos recentes revelam que o uso de tecnologias, para o entretenimento das
crianças e adolescentes - videogames, DVD, televisão ou jogos on line na Internet – são
altamente positivos e responsáveis pelo progressivo aumento do QI (Quociente de
Inteligência) médio das populações de muitos países, incluindo-se o Brasil.
Nos países do primeiro mundo o QI cresce à razão de quatro pontos por década. No
Brasil, ele aumentou em 20 pontos desde a década de 70. O fenômeno costuma ser
atribuído, em parte, aos avanços na área da saúde e à melhoria nos padrões de alimentação,
mas o fator cultural é considerado igualmente decisivo. “Com o avanço da tecnologia e dos
meios de comunicação nas últimas décadas, a carga de informação e a diversidade de
70
estímulos aumentaram muito, o que vem tornando os jovens mais inteligentes” diz Daniel
Fuentes neuropsicólogo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.36
O conceito de tecnologia da inteligência, introduzido por Pierre Lévy (1997), é central
para se pensar o conhecimento como sendo uma ecologia e um universo de interações
múltiplas, que tem sua gênese no coletivo, tanto no homem quanto no ambiente e as
coisas. Nesse sentido, o homem e a técnica não podem ser dissociados, pois, ser, fazer e
conhecer, constituem-se em um único processo que resulta na subjetividade.
Para Lévy (1997) a tecnologia possibilita um espaço relacional que, em
circunstâncias específicas, é interpretada e/ou empregada por determinado grupo social. A
presença de determinada técnica promove certos ritmos sobre as associações e
representações que estão sobre a sua influência.
Nessa linha de raciocínio, encontram-se os biólogos Humberto Maturana (1999) e
Francisco Varela, os quais desenvolvem estudos sobre o processo cognitivo a partir da
biologia, aproximando cada vez mais os conceitos dos sistemas de seres vivos, a autorganização e
a interação entre conhecer, fazer e ser.
Para Maturana e Varela, o mundo não é anterior à nossa experiência. Nossa
trajetória de vida nos faz construir nosso conhecimento do mundo, mas este também
constrói seu próprio conhecimento a nosso respeito. E mesmo que de imediato não o
percebamos, somos sempre influenciados e modificados pelo que experimentamos. Por
isso, para mentes condicionadas como as nossas não é nada fácil aceitar esse ponto de vista,
porque ele nos obriga a sair do conforto e da passividade de receber informações vindas de
um mundo já pronto e acabado. A idéia de que o mundo é construído por nós, num
processo incessante e interativo, é um convite à participação nessa construção.
Maturana e Varela mostram a idéia pela qual o mundo não é pré-dado, já que o
construímos ao longo de nossa interação com ele, não apenas teórica. Esta ideia apóia-se 36 SOUZA, Okky de & ZAKABI, Rosana. Especial. Imersos na Tecnologia – e mais espertos. Disponível em: <http://veja.abril.com.br>. Acesso em: 07 de janeiro de 2006.
71
em evidências concretas. As teorias deles constituem uma concepção original e desafiadora,
cujas conseqüências éticas agora começam a serem percebidas com crescente nitidez. A
vida é um processo de conhecimento; é necessário entender como os seres vivos conhecem
o mundo e todo esse processo que eles chamam-no de biologia da cognição.37
O modo como se dá o conhecimento é um dos assuntos que há séculos instiga a
curiosidade humana. Desde o Renascimento, em suas diversas formas, tem sido visto como
a representação fiel de uma realidade independente do conhecedor. Ou seja, as produções
artísticas e os saberes não eram considerados construções da mente humana. Com alguns
intervalos de contestação (como aconteceu logo ao início do século XX, por exemplo), a
idéia de que o mundo é pré-dado em relação à experiência humana é hoje predominante –
e isso talvez mais por motivos filosóficos e econômicos do que propriamente por causa de
descobertas científicas de laboratório.
Segundo essa teoria, nosso cérebro recebe passivamente informações vindas já
prontas de fora. O conhecimento é apresentado como o resultado do processamento
(computação) de tais informações. Em conseqüência, quando se investiga o modo como
ele ocorre (isto é, quando se faz ciência cognitiva), a objetividade é privilegiada e a
subjetividade é descartada como algo que poderia comprometer a exatidão científica.
Tal modo de pensar se chama representacionismo, e constitui o marco epistemológico
prevalecente na atualidade em nossa cultura. Sua proposta central é a de que o
conhecimento é um fenômeno baseado em representações mentais que fazemos do
mundo. A mente seria, então, um espelho da natureza. O mundo conteria “informações” e
nossa tarefa seria extraí-las dele por meio da cognição.
Como aconteceram com muitas outras, essa posição teórica produziu
conseqüências práticas e éticas. Veio, por exemplo, reforçar se a crença de que o mundo é
um objeto a ser explorado pelo homem em busca somente de lucro. Essa convicção 37 MATURANA H. & VARELA F. A árvore do conhecimento. Disponível em: http://www.caravansarai.com.br/>. Acesso em: 05 de dezembro de 2005.
72
constitui a base da mentalidade extrativista – e com muita freqüência predatória –
predominante entre nós. A idéia de extrair recursos de um mundo-coisa descarta em massa
os subprodutos do processo. Isso se estendeu às pessoas que assim passaram a serem
utilizadas e, quando reveladas “inúteis”, são também descartadas.
Como sabemos, a exclusão social alcança hoje em muitos países proporções
espantosas, em especial no continente africano e na América Latina. Ao convencer nos de
que cada um de nós é separado do mundo (e, em conseqüência, das pessoas), a visão
representacionista em muitos casos terminou desencadeando graves distorções de
comportamento, tanto em relação ao ambiente quanto no que diz respeito à alteridade.
Subsidiados por esses conceitos de forma integrada na experimentação educativa há
autores que insistem na autonomia da aprendizagem e na impossibilidade de “transmitir”
conhecimentos, já que este não surge do campo da transmissão, mas do da invenção,
considerada crucial para a lógica do processo de aprendizagem.
Pontualmente, na visão da ciência clássica, o determinismo e a linearidade orientavam
os modos de ser, e, conseqüentemente, os modos de conhecer. Descartes observou o mundo e o
humanizou através da lógica geométrica e aritmética, analisando todos os sistemas por
partes desintegradas que somadas mecanicamente formavam o inteiro. Quantificando a
forma, subtraiu a diferença e – dissociando razão-emoção, corpo-mente, sujeito-objeto –
fragmentou o ser do conhecer e do fazer cotidiano.
Concomitantemente a isso, o pensamento racionalista pressupôs o reto caminho da
verdade e a existência somente de uma visão verdadeira. O processo de homogeneização, de
fabricação de consensos e abolição da diferença e da desigualdade segue como
conseqüência desta ordem.
“[...] a concepção de uma ecologia cognitiva – que se constitui em torno da biologia
e da psicologia – compreende o conhecimento como processo em construção e invenção, e
não como representação [...]”, afirmam Maturana e Varela (1999, p. 93).
73
Com a ascensão das NTICs, tornou-se imprescindível a introdução da informática
nas redes de ensino em todos os níveis. Elas causam, às vezes muitas polêmicas e receio
entre os professores tradicionais. No entanto, o que se sabe é que sua aparição modifica as
formas de aquisição do conhecimento. E, com isso, os paradigmas educacionais são
questionados, pois a informática educativa redesenha o ensino. Uma vez que o uso do
computador requer operações intelectuais que vão desde o uso da palavra, da escrita, da
capacidade de comparar e diferenciar, da atenção, da abstração, até formas de organizar o
pensamento e a ação.
Nesse sentido, o impacto que estão causando as novas tecnologias está sendo
sentido através de um número cada vez crescente de atividades comunicacionais e
informacionais. Todas as tarefas relacionadas com manipulação, recuperação e
disseminação de informações; todos os tipos de trabalhos que lidam com o cognitivo e na
gestão de novos conhecimentos, dados simbólicos, textuais, numéricos, visuais e auditivos
precisam adequar-se a este novo referencial tecnológico.
Por sua vez, a impressão que permitiu a produção em massa de livros, sem sua
qualidade, substitui os manuscritos medievais e o codex38 como base para o arquivo do
conhecimento, o que agora está sofrendo uma modificação radical. Porque, atualmente, a
tecnologia industrial da impressão, suporte tradicional da Comunicação, está dando lugar a
um novo conceito do que a comunicação pode vir a ser, e esse conceito está relacionado ao
computador, às NTICs e às suas diversas formas de linguagens. A revolução digital
desencadeada por essas tecnologias, já afeta nossa relação com a informação e com o
próprio texto.
Nesse aspecto percebemos que, o temor da televisão e o computador
comprometerem a capacidade de leitura de texto (litteracy) das gerações futuras, encontra
38Antepassado medieval do livro atual, feito com texto manuscrito em folhas encartadas, dobradas e costuradas, constituindo um caderno. Fonte: “Comunicação e Tecnologia”. In: LEVACOV, Marília, et al. Tendências na Comunicação. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 14.
74
um adversário em Papert39. Ele questiona o currículo tradicional das escolas, face ao
surgimento das NTICs, fazendo uma distinção entre os conceitos de litteracy e letteracy: o
primeiro diz respeito à capacidade de decodificar sentido e construir conhecimentos a
partir de símbolos; o segundo, cada vez mais dissociado do anterior, refere-se à capacidade
de decodificar informações representadas exclusivamente por caracteres alfabéticos.
No entanto, contrariando a visão pessimista e apocalíptica de muitos sobre o
destino da escrita alfabética, percebemos que a letteracy está viva e que a revolução
eletrônica, mesmo que transformando profundamente a comunicação humana, está
deslocando a palavra do suporte oferecido pelo papel. Isto acontece porque, à medida que
o mundo caminha para tornar-se uma rede de fibras óticas interconectando pessoas e
máquinas, novas formas de colaboração aparecendo, de modo que nossos conceitos sobre
comunicação precisarão ser reavaliados.
Para tal efeito a convergência de novas tecnologias, teorias científicas e literárias
indicam a complexidade e a riqueza da revolução das NTICs, e, simultaneamente,
enfrentam algumas resistências e medos por parte daqueles adeptos da mídia ameaçada.
Nesse paralelo existente na sociedade da informação e comunicação, as NTICs
trazem outros paradoxos contemporâneos. Contudo, não deixamos de concordar que elas
estão proporcionando o aparecimento de novos estilos de vida, diferentes daqueles que
estamos acostumados a vivenciar. O que cria alguma incerteza para afirmar isso é
considerar que as relações humanas estão sendo enfraquecidas pelas relações tecnológicas,
conforme Quiroz (1984) “a opção da hegemonia do saber tecnológico que transfere ou
39 Seymour Papert, pesquisador do MediaLab no MIT, na área da Educação e Aprendizado, inventor da linguagem LOGO – uma linguagem de programação para crianças que deriva de LISP, uma linguagem de Inteligência Artificial (IA). Fonte: “Comunicação e Tecnologia”. In: LEVACOV, Marília, et al, Tendências na Comunicação. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 20.
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coloca em segundo lugar as formas humanas de existência e comunidades de comunicação,
ficam afastadas pelo poder integrador e abrangente das novas tecnologias da informação”40.
As novas tecnologias da informação, sintetizadas no acesso à Internet, constituem
meios admiráveis para o descobrimento, a invenção e a criação humanas. As
transformações que permitem são imensamente favoráveis aos indivíduos. A cultura e as
artes ou qualquer outra forma de expressão da inteligência e sensibilidade humanas tendem
a se desenvolver nesse mundo virtual, e não ao contrário.
Atualmente o microcomputador não é visto como uma máquina de ensinar, mas
como uma mídia educacional41, ou melhor, uma ferramenta educacional, isto é, uma
ferramenta de compreensão, de aperfeiçoamento e de possível mudança na qualidade do
ensino. Portanto, em vez de mencionar informação, já que vivemos num mundo
essencialmente informatizado, no qual os fatos ocorrem muito rapidamente e não nos
damos conta da sua velocidade, os estudantes devem ser ensinados a buscar e a usar a
informação via computador.
Somente ali, no computador, eles poderão exercer a capacidade de procurar e
solucionar informações, resolvendo problemas e aprendendo sobre eles. O computador
criaria, assim, condições de aprendizagem e o professor seria o dinamizador do ambiente
de aprendizagem, bem como o facilitador do processo de desenvolvimento intelectual do
aluno.
O computador é usado como ferramenta auxiliar nas tarefas pedagógicas e de
pesquisa dos estudantes e dos professores. As tarefas que implicitamente emite o aparelho
são a comunicação e o uso em rede. Ao transmitir uma informação, esta máquina se transforma
em um veículo de comunicação.
40 QUIROZ, Maria T. Los medios: Una escuela paralela? Cuadernos CICOSUL. Universidad de Lima, 1984, p. 34. 41 BARROS, Edlaine F. de & MELLO, Carmen L. P de. “Aspectos pedagógicos das redes” In: Revista Tecnologia Educacional, anos XXX / XXXI, No. 157, Brasília: ABTE, 2003, p.113-117.
76
A rede, vista como um meio digital, é um universo de informações e pessoas que
interagem o tempo todo. As informações acessadas não se apresentam de forma linear, o
que permite as escolhas se darem de maneira individual. Como isso, cada um tem sua
própria maneira de “navegar”. É essa individualidade que possibilita ao aluno estabelecer
seu ritmo individual de acordo com a prioridade de interesses.
O professor pode instalar nas máquinas o software tutorial, arquivos de vídeos,
música ou imagens para que os estudantes trabalhem cooperativamente, como acontece na
FOUSP, e a partir daí construam seus conhecimentos por meio de troca de experiências
com seus colegas. A maneira de apresentar esses trabalhos ficaria por conta das escolhas
dos alunos envolvidos nas tarefas de ensino e pesquisas.
Partindo de uma das principais preocupações atuais da educação, a formação ética e
moral dos estudantes, o trabalho em rede abre uma oportunidade para a abordagem de
condutas mais ou menos apropriadas na atuação interativa. Com a interatividade, um
estudante tem facilidade para copiar e alterar textos, sons, imagens alheias. A falta de
legislação nesta área também favorece o desrespeito aos direitos autorais, assim, tudo
parece não ser de ninguém. Aprender a assumir e explicitar a interferência nos trabalhos
dos colegas, a respeito de objetivos predeterminados e justificáveis, é uma tarefa que a
instituição de ensino deve assumir com mais critérios e atenção.
Dentro de um contexto de mudanças da sociedade industrial para a sociedade do
conhecimento – alguns a denominam sociedade da informação – levantamos questões com o
propósito de entender como as novas tecnologias, as ciências da informação e da
comunicação, dentro de uma abordagem macro sistêmica, poderão ajudar não somente na
compreensão do mundo, mas também na solução de problemas, muitas vezes elementares,
que atinjam o ser humano.
Tanto no cenário mundial como no Brasil, vive-se uma palavra de ordem que cerca,
impulsiona, agride e até sufoca o indivíduo. Esta palavra é mudança. Vivenciamos uma nova
77
ordem que tem suas bases nas mudanças paradigmáticas porque passa aceleradamente a
humanidade, tanto do ponto de vista social, econômico, cultural, e político como
tecnológico e outros. Vários autores têm elaborado documentos, artigos, livros sobre esta
questão, buscando a compreensão de seus vários ângulos de enfoque.
Kenneth Boulding, em O significado do século XX, classifica a vida humana em duas
grandes épocas: a pré-civilizada, do nômade que adquire caráter de civilização ao urbanizar-
se, e a pós-civilizada, que constitui a atual. Dentro das mudanças que acontecem, existe
também uma transição das instituições sociais. Esta transição é o reflexo de uma
transformação, da passagem de um estágio a outro, enfim da conversão de uma
determinada situação para uma nova, hoje denominada de paradigma.
A simples compreensão que as instituições sociais e o mundo são sistemas, e não
soma de átomos físicos ou sociais, implica um redirecionamento da conduta do homem
perante os desafios do momento.
As tecnologias da informação criaram o mundo virtual que fez profundas alterações,
principalmente nas concepções de espaço e tempo. Não há mais distância, território e
domínio. Os dois bens primordiais do ponto de vista econômico com características
próprias e diferenciadas dos outros bens são a informação e o conhecimento. Quando são
usados, há um processo de interpretação, de interligação de complementaridade,
promovendo um ato de criação e invenção. O uso da virtualização, cada vez mais presente
no nosso cotidiano, amplia as potencialidades humanas criando novas relações, novos
conhecimentos, novas maneiras de aprender e de pensar.
A sociedade do conhecimento42 pode ser caracterizada sistematicamente por alguns itens:
• a grande alavanca do desenvolvimento da humanidade é o homem;
• a informação é um produto, um bem comercial;
42 Características da Sociedade do Conhecimento. Disponível em: <http://www.talentoseresultados.com/sociedade.htm>. Acesso em: 27 de outubro de 2004.
78
• o saber é um fator econômico;
• as Tecnologias de Informação e Comunicação vêm revolucionar a noção de “valor
agregado” à informação;
• a distância e o tempo entre a fonte de informação e o seu destinatário deixam de ter
qualquer importância; as pessoas não precisam se deslocar porque são os dados que
viajam;
• a probabilidade de se encontrarem respostas inovadoras a situações críticas é muito
superior à situação anterior;
• as Tecnologias de Informação e Comunicação converteram o mundo em uma
“aldeia global” (Mc Luhan)
• as NTICs criaram novos mercados, serviços, empregos e empresas;
• as NTICs interferiram no “ciclo informativo’, do ponto de vista dos processos, das
atividades, da gestão, dos custos etc.
As novas tecnologias, os novos mercados, as novas mídias, os novos consumidores
desta era do conhecimento conseguiram transformar o mundo em uma grande sociedade
globalizada e globalizante. No entanto, o homem, mediante essa nova realidade, continua o
mesmo: íntegro a sua unidualidade (MORIN: 2000) nas suas aspirações e sonhos, e no
comando desta mudança, como o único ser dotado de vontade, inteligência e
conhecimento capaz de compreender os desafios e definir todos processos que direcionam
o nosso próprio futuro.
2.4. Vínculos das NTICs com a educação
O mundo evoluiu rapidamente de uma sociedade industrial para uma outra baseada
no conhecimento, na qual a informação já não é um meio, mas um fim. Mais do que coisas
ou bens, o que se produz hoje com alto valor acrescentado nas sociedades mais avançadas
79
é conhecimento. Dito de outro modo, o conhecimento constitui-se na principal vantagem
competitiva das modernas sociedades, ou seja, o saber possui hoje um valor econômico e
social vital para o desenvolvimento humano a escala mundial.
O momento transformacional por que passa o mundo ocidental não pode ser
reconduzido a uma episódica crise conjuntural do modelo de sociedade capitalista, nem
tampouco a uma hipotética crise de crescimento. Antes disso configura a aparição de novas
formas de organização social e econômica, baseadas nas profundas mudanças tecnológicas,
sendo a globalização uma das suas mais visíveis faces.
Confrontando-nos com contingências acentuadamente inovadoras no trajeto
histórico da civilização humana: os conhecimentos mudam num espaço de tempo mais
curto do que o tempo médio de vida de uma pessoa. Antes se educava para toda a vida,
atualmente não; a velocidade das descobertas e dos acontecimentos forçam a que em cada
período de tempo se faça uma re-engenharia dos nossos conhecimentos para não ficarem
obsoletos e os nossos diplomas terem a solidez e valia de um documento pessoal, como se
fosse um passaporte trocado a cada período de tempo.
O processo de aquisição do conhecimento estende-se por toda a vida, não termina
nunca e afeta não só o mundo do trabalho, como também a cidadania, a vida familiar, os
nossos hábitos de consumo e de lazer. Isto é, trespassa e é onipresente às várias dimensões
da vida em sociedade. Ora, dado que a educação será sempre aquilo que venha a ser a
sociedade na qual ela se desenvolve, a aparição de novas formas de organização social
induz a mudanças que afetam todos os subsistemas sociais, incluindo obviamente o sub-
sistema educativo.
Nos escassos, mas vertiginosos últimos dez ou quinze anos - um grão de pó no
trilho do tempo histórico - passamos de uma sociedade pós-industrial para uma sociedade
de conhecimento, na qual não mais do que 5% da população ativa é suficiente para garantir
com qualidade acrescida as necessidades básicas de sobrevivência. Ao mesmo tempo, não
80
mais do que 15% será absorvida em processos de fábrica dos bens hoje tidos por
essenciais, aumentando-os qualitativa e quantitativamente.
O restante 80% da população ativa dedica-se à prestação de serviços relacionados
com o conhecimento, com a informação e com os serviços sociais. Formar indivíduos para
este novo mapeamento da organização social e econômica e do trabalho impõe educar as
novas gerações para viver criticamente a vida cívica, social e produtiva e protagonizar pró-
ativamente os paradigmas que a mudança obriga de forma permanente e duradoura.
Mais do que adquirir conhecimentos inamovíveis, unívocos e dogmaticamente
válidos para toda a vida, a escola passará necessariamente a focalizar-se na aprendizagem de
competências e atitudes adaptáveis e moldáveis às evoluções contextuais supervenientes do
ambientes sociais, econômicos, produtivos e tecnológicos da sociedade do conhecimento.
Este é o momento histórico que se nos torna presente, e produz o grande desafio de
modernidade e de adaptação à mudança anunciada, solicitada com redobrada veemência
aos sistemas educativos.
Há, pois, que aprender a aprender e aprender a desaprender. Na nossa
transbordante sociedade da informação, há que estabelecer regras individuais e coletivas de
economia mental, esquecendo (desaprendendo) os conhecimentos inúteis e (re)
aprendendo aqueles que nos são ou virão a serem úteis. É uma nova cultura, abismalmente
diferente dos cânones que a pauta de valores, em que até há bem pouco tempo fomos
educados, nos impunha como verdade inalienável e universal.
Em educação, esta revolução, não sendo apenas tecnológica, senão também
predominantemente existencial e vivencial, deve-se basear sobretudo nas mudanças de
metodologia e na necessária alteração do currículo e dos conteúdos de ensino. Com efeito,
se a escola tem por paradigma preparar as novas gerações, sabemos hoje que a sociedade de
amanhã já não é a atual, pois ela é inequívoca e incontornável à do conhecimento.
81
A população atual tem a sua mente moldada pelas referências culturais e simbólicas
emanadas da sociedade industrial e do mundo analógico nas quais baseou seu trabalho, a
sua comunicação, a sua aprendizagem, as suas interações sociais, a sua história de vida. No
futuro próximo, as novas gerações formadas no mundo cada vez mais digital, vêem aquelas
referências radicalmente alteradas: os perfis de competências profissionais são mais
seletivos e competitivos, e irremediavelmente mais excludentes para os poucos
escolarizados. Podemos afirmar, sem receio de errarmos, que a educação é já na nossa
atualidade, e será cada vez mais num futuro próximo, condição básica à sobrevivência do
indivíduo em sociedade.
Para os sistemas educativos e para os poderes nacionais, trata-se destes se darem
conta que é necessário construir uma sociedade nova para a humanidade e não para a
tecnologia, na medida em que inalienavelmente a vida deve predominar, agora e sempre,
sobre a técnica. Os objetivos civilizacionais a seguir em matéria de educação serão sempre
os de assegurar e aprofundar as liberdades pessoais e cívicas dos cidadãos, de eliminar a
marginalização do humano e dos humanos, em face de qualquer outro desígnio e da
erradicação da pobreza. Aquilo que aqui defendemos é uma sociedade do conhecimento
que esteja ao serviço de todos os cidadãos, justa e permanentemente democrática e
pluralista. É isto que nos faz acreditar no futuro e no desenvolvimento qualitativo da
condição humana.
Certamente, parte considerável do desnível entre indivíduos, organizações, regiões e
países deve-se às desigualdades de oportunidades relativas ao desenvolvimento da
capacidade de aprender e criar algo novo.
Se durante o século XIX, já começa um desenvolvimento progressivo do ensino
fundamental, é só a inícios do século XX que se observa a explosão do ensino médio. O
desenvolvimento da indústria cultural – no século XX – revolucionou o sistema de
comunicação, diversificando as formas de transmissão de conhecimentos e ampliando os
82
circuitos informativos. Acontece, assim, uma peculiar mudança nos sistemas de
comunicação com a implosão de novas linguagens e códigos vinculados à imagem e som.
O desenvolvimento tecnológico e sua repercussão na formação dos educandos criam novas
formas de acesso ao saber, ampliando os referenciais, o que permitiu o acesso a imagens
novas em longínquos lugares do Brasil e do mundo.
Hoje há pessoas que se deixam seduzir totalmente pela sociedade do futuro e
pensam na educação como forma de adaptação a uma nova ordem que se instala por cima
do individuo, instando-lhes a sua introdução nos parâmetros da sociedade da informação.
As NTICs produzidas por meio da informática, cresceram de maneira -acentuada
nestes últimos anos e ensejaram progressos extraordinários. Com isso, percebe-se que o
conhecimento tornou-se simples indústria, proporcionando à economia matéria-prima
fundamental e central para a produção. Segundo Shannon (1949) e Weaver (1975), a
palavra comunicação tem aqui um sentido amplo incluindo todos os procedimentos que
uma mente pode acionar para influenciar em outra. Isso, evidentemente, inclui não só a
linguagem escrita ou falada, mas também a música, as artes plásticas, o teatro, a dança; na
realidade, todo o comportamento humano. Nos dias atuais, metade da força de trabalho e
metade do PIB nos países desenvolvidos corresponde às industrias da informação-
telecomunicação, processamento de dados, publicações e educação.
Diante desta realidade expressa, é necessário desenvolver e avaliar programas de
educação e capacitação que permitam, aos vários estratos da sociedade tomar
conhecimento das novas tecnologias, sabendo utilizá-las sem frustrações e evitando que
essas técnicas dominem seus usuários ou os escravizem em vez de libertá-los. Porém, não
está claro ainda se este é o foco do trabalho, ou seja, se o computador e as tecnologias de
comunicação vão ajudar no processo de aprendizagem de um modo decisivo. Certamente
existem maneiras atraentes de usar a tecnologia informática no ensino, mas não convém
83
deslumbrar-nos com qualquer nova abordagem tecnológica e declarar que vai ser ótima na
educação, só porque nos parece interessante de primeira impressão.
Contudo, os estudantes aprenderam com métodos tecnológicos menos sofisticados
e, agora, vai se descobrindo aos poucos que a tecnologia por si não acelera
automaticamente “o processo de aprendizado por mais futurista ou promissor que pareça”
(DERTROUZOS, 2000 p.228). Então, deveria se propor usar o que sabemos fazer com
eficiência e testar novas idéias em profundidade, com um número pequeno de estudantes
de preferência, porque as abordagens promissoras das páginas mundiais estão na mira de
uma avaliação conclusiva que ainda não ocorreu.
Com as NTICs abrem-se novas possibilidades à educação e isto exige uma nova
postura do professor. Com a utilização de redes telemáticas na educação, podem-se obter
informações em centros de pesquisas, universidades, bibliotecas etc., permitindo trabalhos
em parcerias com diferentes escolas superiores, bem como a conexão com alunos e
professores a qualquer hora e local. Tudo isso favorece o desenvolvimento de trabalhos
com troca de informações entre os centros de estudo estados e países, através de cartas,
revistas e-books, permitindo que o professor avalie melhor o desenvolvimento do
conhecimento.
Cabe à educação formar esse profissional e, por isso, não se deve sustentar apenas
na instrução que o professor passa ao aluno, mas na construção do conhecimento pelo aluno e no
desenvolvimento de novas competências, como: capacidade para afrontar o novo,
criatividade, autonomia e comunicação. Dessa forma a escola, como instituição, inserida
em um ambiente onde as transformações tecnológicas moldam um novo ser, deve
estimular a reflexão sobre o caminho traçado pelo homem quanto às suas percepções,
sentimentos, idéias sobre o tempo, espaço, corpo, trabalho, lazer e moral.
Dentre as tecnologias da informação e comunicação disponíveis, a Internet tem
marcado sua presença na prática educativa, principalmente nos projetos de educação a
84
distância. Mas também, o professor que realiza sua atividade docente tradicionalmente face
a face com seus alunos vê se impelido a integrar a tecnologia na sua prática pedagógica.
Atualmente, o computador, principalmente devido à sua capacidade de comunicação em
rede, possibilitada pela Internet, tem permanecido cada vez mais presente nos variados
aspectos da educação.
Apesar da Internet apresentar um vasto campo para a pesquisa,
comunicação, educação presencial e a distância, alguns problemas se manifestam. O
acúmulo de páginas de informação disponíveis provoca muito tempo empregado nesta
tarefa. Ao mesmo tempo, o ato de ficar mudando de um endereço eletrônico para outro
revela a impaciência de se aprofundar em qualquer assunto.
Outros fatores podem interferir negativamente no trabalho de pesquisa na Internet.
Entre eles, está a falta de espírito crítico dos alunos na seleção de material, pois muitos
deles apresentam conteúdos duvidosos e antagônicos aos valores sociais, produzindo a falta
de objetividade na busca de informação e a dispersão em conseqüência da grande variedade
de opções de sites.
O computador, como recurso de ampliação da aprendizagem, pode ser utilizado
por meio do trabalho em redes, tanto na Internet como numa rede interna. As atividades
que utilizam as redes internas enfatizam a troca de informação por meio de arquivos, o
trabalho cooperativo e o compartilhamento de dados. Outra forma de se utilizar o
computador nesse tipo de atividades seria a criação de um banco de dados, com
informações pertinentes ao trabalho a ser desenvolvido num determinado momento e que
seriam consultadas pelos alunos no desenrolar da tarefa.
Ao compartilhar tais recursos, o professor estará colocando à disposição
arquivos/materiais para seus alunos, oferecendo um ou vários bancos de dados sem,
contudo, sobrecarregar os equipamentos com a ocupação de grande parte de memória com
o virtual: O trabalho em rede, tanto interno quanto a Internet, torna-se mais eficaz à
85
medida que se integra ao processo ensino-aprendizagem. As possibilidades de exploração
da rede interna são várias, como já foi apresentado antes, mas nada se iguala à grande rede
mundial, a Internet.
Pedagogicamente, a Internet abre novos caminhos para as instituições de ensino
formal e não formal no mundo: diminui a distância espacial; permite a troca de
informações, com pessoas distantes ou de culturas diferentes; facilita a aquisição de
informações; e, em fim, é uma nova forma de aprender e encarar o planeta em que
vivemos.
São muitas as possibilidades do computador como ferramenta educacional. É um
recurso para enriquecer e favorecer o processo de aprendizagem em desenvolvimento. Este
tipo de ferramenta cognitiva permite ao estudante o controle do processo de aprendizagem,
o qual passa a construir seu próprio conhecimento, sem receber a transferência direta das
informações do professor. Criar e pensar são processos longos e cabe à escola seguir esse
caminho construcionista iniciado por Piaget e levado adiante por Papert.
Nesse contexto, os estudos apontam que, apesar da instabilidade econômica
mundial, tem-se verificado um contínuo crescimento nos investimentos por parte das
empresas nos segmentos da educação on line e a distância. O impacto nas universidades não
poderia ser diferente, embora com outras implicações. Nas Instituições de Ensino Superior,
por exemplo, o e-learning avança, pois é visto como um complementador do conhecimento
do aluno, preparando-o para a nova realidade profissional que irá enfrentar.
Assim como ensinar é comunicar, isto é, formar e informar, o computador é um
meio de comunicar conhecimentos. Essa máquina não foi concebida para a educação, mas o seu
uso pode ser o de um veículo de informação com a vantagem de poder servir em qualquer
disciplina do currículo de ensino e em qualquer nível.
86
As possibilidades pedagógicas de se utilizar a rede são inúmeras, dependendo de
suas características: Internet, rede interna do laboratório de informática, a pesquisa
direcionada, ou ainda, a comunicação em rede e a educação a distância.
Nossa reflexão sobre o educando na era chamada “virtual”, impõe, definir quem é
este ser humano influenciado pelo novo e inusitado mundo virtual presente nos bancos
escolares, pois, segundo Gitaby e Menin (2003: 21) acrescentam “[...] exige também que se
avalie qual a responsabilidade da escola na formação não apenas do ser real, natural, mas
também do ser tecnológico, desnaturalizado e dependente da tecnologia [...]”.43
As novas tecnologias, segundo Schaff (1990), favorecerão o desenvolvimento de
atitudes típicas do individualismo moderado, gerando uma tendência de oposição às
tentativas totalitárias, particularmente quando estas significarem o sufoco da própria
autonomia. Tal fato, segundo esse autor, ocorrerá devido à abundância de informações de
todos os tipos que o homem da sociedade informatizada terá a disposição, gerando um
cidadão mais esclarecido e instituído universalmente.
Por sua parte, Treisman (1998) sugere, com apoio em Pierre Lévy (1993), que a
tecnologia de comunicação – portanto, também a tecnologia educacional – é produto da
mente humana, mas também é responsável por moldá-la, segundo padrões de apresentação
dos signos em qualquer suporte.
Considerando o cérebro humano como sendo “[...] um sistema aberto, de grande
plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história
da espécie e do desenvolvimento individual [...]”, segundo Oliveira (1993, p. 24), a
incorporação das inovações tecnológicas na educação só se justificaria se promovesse a
melhoria da qualidade do ensino, possibilitando que os indivíduos construam
conhecimentos, uma vez que não basta a instituição educativa ter o aparelho tecnológico
43 GITABY, Raquel R.C e MENIN, Maria S. de S. “A educação na Era da Tecnologia: O aluno como ser virtual” . In: Tecnologia Educacional, Rev. Brasileira de Tecnologia Educacional, anos XXX / XXXI, n.159/160. Brasília: ABTE, 2003, p. 21.
87
para que o ensino tenha qualidade, já que há de se promover situações e ações mediadoras,
de interação, em que os alunos possam ter a oportunidade de se desenvolverem, uma vez
que o aprendizado propicia o desenvolvimento.
As NTICs precisam ser utilizadas de forma que permitam a mediação e a interação
do sujeito com o outro social. A mediação é um conceito fundamental na teoria de
Vygotsky, uma vez que esta é a ação pela qual a relação do homem com o mundo não é
uma relação direta, mas várias relações mediadas, sendo os sistemas simbólicos os
elementos intermediários entre o sujeito e o mundo.
Essa análise é compatível com a do pedagogo Paulo Freire, quando afirma:
[..] ao terem consciência de sua atividade no mundo em que estão, o atuarem em
função de finalidades que propõem e se propõem, ao terem o ponto de sua busca
em si e em suas relações com o mundo, e com os outros, ao impregnarem o
mundo de sua presencia criadora, os homens, ao contrário do animal, não
somente vivem, mas existem e sua existência é histórica.44
O caráter interativo e comunicativo da educação promove o desenvolvimento do
ser humano em que a mediação e a interação contribuem e interferem na qualidade do
processo educativo. A concepção de que é o aprendizado que possibilita o despertar do
processo interativo do indivíduo liga o desenvolvimento da pessoa, tanto à sua relação com
o ambiente sócio-cultural em que vive como à sua situação de organismo que não se
desenvolve plenamente sem o suporte de outros seres da espécie.
Pensar nas NTICs aplicadas à educação é um desafio uma vez que se persegue a
efetivação da qualidade política das práticas pedagógicas que podem se pontuar como
indicadores relevantes: em práticas inovadoras baseadas na construção do conhecimento em
prol da qualidade de vida de forma significativa à existência do indivíduo e da sociedade; na
busca da qualidade política das práticas pedagógicas em que os educadores precisam
promover mudanças nos objetivos, formando o sujeito como uns seres pesquisadores,
44 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002, p. 89.
88
reflexivos, capazes de buscar superar suas limitações, através do desenvolvimento de
competências e habilidades que produzem conhecimentos.
Algumas análises trazem esclarecedores raciocínios sobre a utilização das NTICs.
Uma delas diz que se deve dar como fundamento e não como instrumento aplicado à
educação, pois são, segundo Pretto (1996),“mais um recurso didático” que tem a finalidade
de agir sobre o sistema já existente. Já como fundamento, possibilita o estímulo à
criatividade e uma comunicação bidirecional, onde tanto orientadores como orientados são
responsáveis pela solidificação da linguagem e conseqüentemente do imaginário social.
Quanto aos alcances e desafios pedagógicos na utilização das NTICs, em especial
os computadores e a Internet, sabemos que elas veiculam as suas potencialidades para
promover a interação intra e interpessoal, a comunicação, as trocas de experiências e
conhecimentos; bem como oportunidades de pesquisas nas quais as pessoas têm acesso a
fontes diversificadas de informações e ser mediada, conforme as necessidades e
oportunidades individuais e coletivas em ambientes de ensino e aprendizagem.
As NTICs nos aproximam e hoje criam nova relação com o mundo real ou virtual.
Desse esse ponto de vista, objetos e indivíduos presentes em um ambiente, seja natural ou
modificado, constituem parceiros dinâmicos na construção de conhecimentos. Limitar o
papel das tecnologias em um contexto de aprendizagem à gestão da comunicação é, sem
dúvida um ato reducionista. Evidentemente, todo ato de ensino é um ato de comunicação,
mas isso não significa que, para que exista aprendizagem, seja suficiente obter mensagens
transmitidas e, em seguida, aprendidas.
Atualmente tem crescido o uso de tecnologia aplicada à educação, além de seu uso
haver permitido a otimização dos recursos disponíveis, possibilitando multiplicar o acesso
ao conhecimento. Porém, é de suma importância, na hora de pensar em inovações,
reconhecer a necessidade de criá-las nos contextos educacionais específicos, a fim de que
sua implantação seja significativa. As tecnologias da informação, como elementos
89
facilitadores da aprendizagem, oferecem uma amplitude de recursos com exigência de
amigabilidade, performance, integridade e segurança.
As NTICs, sintetizadas hoje no acesso à Internet, constituem meios admiráveis
para o descobrimento, a invenção e a criação humanas. As transformações que permitem
são imensamente favoráveis aos indivíduos. A cultura e as artes ou qualquer outra forma de
expressão da inteligência e sensibilidade humanas tendem a se desenvolver nesse novo
mundo virtual, e não ao contrário. As características das novas tecnologias, portanto,
permitem potencializar as habilidades do indivíduo, que sempre está diante de uma nova
linguagem do conhecimento.
Nesse sentido, a informática é um campo vasto e riquíssimo que pode ser
aproveitada para fins pedagógicos, se for utilizada também como instrumento de
comunicação, de pesquisa, de produção de conhecimentos. Por isso, através da informática
podemos renovar a forma como a pesquisa vem sendo efetuada na nossa universidade.
Por outro lado temos a necessidade urgente de sairmos de visões meramente
utilitárias, que vêem nas NTICs, (especialmente no computador) somente um veículo de
disseminação de informações, e pregam a sua utilização restrita como máquina de ensinar,
ou uma instrução programada . Não podemos olhá-la somente como um banco de dados
que é utilizável por um usuário. Essas tecnologias são ferramentas de aperfeiçoamento que,
ao serem inseridas no ambiente educacional, visam à qualidade da pesquisa e do ensino.
Com a ascensão das novas tecnologias, tornou-se imprescindível a introdução da
informática nas redes de ensino. Nesse sentido, as instituições de ensino particular
investiram, nos últimos anos, na implantação de salas de aula de informática. Enquanto as
instituições de ensino público não acompanharam essa evolução. Na maioria destas o
educando ainda chega à sala de aula e encontra tudo pouco atrativo, pois ainda enfrenta
longas horas de oratória e só vislumbra a sua frente um quadro negro, contrastando com o
mundo lá fora, colorido, atrativo, sedutor.
90
O mundo mágico da informática no ensino e na pesquisa, com seus conteúdos
atraentes, ambiente multimídia, global e interdisciplinar, instiga o aluno à investigação,
descoberta do novo, além de aumentar suas possibilidades de pesquisa. Essa situação
favorece diferentes maneiras de se relacionar com o conhecimento. A informática não
oportuniza a robotização ao eliminar a mediação humana no contexto, pois a mediação, o
livro, o jornal, e a revista já o fazem. A informática abriu possibilidades de novas relações
entre as pessoas, que estão inseridas numa nova ordem social. Estamos em uma rede de
comunicação em que o homem é o centro do processo e a palavra continua sendo sua
ferramenta básica.
Nesse aspecto, o estudo auxiliado pelas NTICs não é somente dirigido pelo
professor nem centrado somente no ensino, senão também a pesquisa ocupa o centro
deste. O professor terá como preocupação lançar desafios que as novas tecnologias lhe
propõem, os quais devem ser estendidos aos estudantes, para que eles se aproveitem desses
conhecimentos, numa interação adequada. Isto não é uma diminuição do seu papel, mas
um deslocamento; o professor não é mais o detentor do saber, mas um facilitador do
processo de desenvolvimento intelectual do estudante. Como diz, Freire (2002, p. 69):
[...] ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si
mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo,
mediatizados pelos objetos cognoscíveis que na pratica bancária, são
possuídos pelo educador que os descreve ou os deposite nos educandos
passivos.
Com as NTICs, o processo de aprendizagem ocorre sem que haja um ensinamento
explícito. Não há mais aprendizagem que necessariamente passe pelas mãos do professor,
mas esta aprendizagem esta nas mãos do estudante, havendo liberdade para explorar e errar
sem punição. A sala de aula passa assim a ser um espaço de maior prazer, pois a multimídia
interativa favorece uma atividade exploratória e lúdica (constatou-se isso na sala-laboratório
da FOUSP). O conteúdo não é esvaziado de significado, como geralmente ocorre na
91
imposição do conhecimento sistematizado. E o conhecimento transmite formas de acesso
de apropriação que possibilitam ao sujeito assimilá-las plenamente e praticá-las ao longo de
sua vida.
Utilizando as novas tecnologias o estudante não só coleta informações, via rede,
mas também as dissemina. Assim, o processo exploratório, viabilizado pelo manuseio
dessas novas ferramentas, gera o processo construtivo. Referimo-nos à internalização45 do
saber através da construção, o que implica em modificação do indivíduo ante o grupo. Isso
acontece não somente com os estudantes que mexem nas novas versões de computadores,
pelo de termos milhões de pessoas que entram em rede não só para visitar sites, mas
também para escrever, comentar textos, interagir. “Temos com a interface proporcionada
pela Internet uma dinâmica diferente daquela que se apresentam nos livros, pois ela é
determinada pela mutabilidade, pela agilidade, pela interatividade”.46
Essas novas tecnologias, centralizadas no computador, se tornam mais uns
dispositivos técnicos, pelo qual podemos perceber o mundo que nos cerca. Nasce assim
mais uma forma de repensa-o e de debater o uso da comunicação em geral, gerando-se
mais uma tentativa de inserir a instituição educacional no mundo, tornando-a um espaço
vivificante que prepare o indivíduo para a vida e não priorize o mero aspecto das
informações.
2.5. As NTICs: importância e percursos de seus usos
Todos nós adquirimos ao longo de nossa existência uma série de conhecimentos:
os quais constituem conhecimentos dos mais variados tipos. Devemos até convir e
acrescentar que todos os nossos conhecimentos adquiridos, muitas vezes, são incompletos 45 Explicando:quando um país em desenvolvimento ou “emergente”, importa novas tecnologias dos países altamente desenvolvidos, os indivíduos que a utilizarão, estão obrigados a se preparar para o uso adequado dessas tecnologias, isso implica câmbios no comportamento dessas pessoas, que têm que lidar de acordo com a nova realidade que impõe o uso ou a aplicação dessas tecnologias. Tal é o caso do laser para aplicação na odontologia e aparelhos como os laptop, set-up e notebooks, etc. Fonte: Contribuição do autor. 46 Disponível em:< http://www.geocities.com/Athens/Sparta/1350/usoped.html>Acesso em: 17 ago de 2004.
92
ou simplesmente errôneos. O que implica o ato de conhecer as coisas deste mundo? Quais
os imperativos, as exigências e os caminhos de uma ciência do conhecimento, isto é de
qualquer tipo de conhecimento e não apenas da comunicação humana?
De Bateson47 pode-se perguntar, vinte anos depois de sua morte, duas coisas: ao
lado de seus colegas psiquiatras e antropólogos, ele não somente delineou os parâmetros de
uma Nova Comunicação, mas soube plantar os alicerces de uma Antropologia da Comunicação e
de uma Epistemologia da Comunicação. 1) O que significa pensar antropologicamente a
comunicação humana? 2) Ou, ainda, o que significa na perspectiva aberta por Bateson,
investigar etnograficamente os comportamentos, as situações, os objetos que, numa
comunidade, são percebidos como portadores de um poder comunicativo?
Bateson é um pensador discreto, mas que sempre soube inovar, e a quem
dispensaremos particular atenção neste novo século. Ele é, sobretudo, um olhar, um
observador que deixa a sua observação repercutir e questionar seu pensamento. Deixa ao
mundo dos seres vivos a tarefa e a responsabilidade de trabalhar e de despertar o seu
pensamento.
Nessa perspectiva, analisamos sobre os “olhares” de Bateson, o que as NTICs
trazem para o nosso atual cenário maquínico. Assim, muitas vezes, lemos nos textos que as
novas tecnologias tem um “impacto” sobre a sociedade e a cultura contemporânea. As
novas tecnologias seriam algo comparável a um projétil-pedra, míssil, obus – e o alvo seria
a sociedade e a cultura contemporânea. No entanto, essa metáfora bélica usada para definir
o impacto das novas tecnologias é inadequada em vários sentidos, posto que “É como se a
47 Gregory Bateson (1904-1980), biólogo e antropólogo Inglês, publicou em 1940, o Balinese Character, resultado da sua famosa pesquisa junto aos nativos da ilha de Bali (Indonesia). Nessa época não se discutia verdadeiramente as questões epistemológicas e heurísticas que os diversos suportes comunicacionais (a fala, a escrita, as visualidades) poderiam explorar, juntamente, respeitando os termos de suas singularidades e de suas complementaridades, enunciativas, representativas e interpretativas. Disponível em : <http://www.uff.br/mestaii>. Acesso em: 17 de outubro de 2005.
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tecnologia fosse alienígena que vêem de outros planetas, do mundo das máquinas, frios,
sem emoção, estranhos a toda significação e qualquer valor humano”.48
A técnica é um ângulo de análise dos sistemas sócio-técnicos, um ponto de vista
que enfatiza a parte material e artificial dos fenômenos humanos, e não uma entidade real.
Embora suponhamos que realmente existam três entidades – técnica, cultura e sociedade -,
em vez de enfatizar o impacto das tecnologias, poderíamos igualmente pensar que as
tecnologias são produtos de uma sociedade e de uma cultura.
De fato, as técnicas carregam consigo projetos, esquemas, imaginários sociais e
culturais bastante variados. Sua presença e uso em lugar e época determinados cristalizam
relações de força sempre diferentes entre os seres humanos. E isso parece óbvio porque
por trás das técnicas agem e reagem idéias, projetos sociais, utopias, interesses econômicos,
estratégias de poder, bem como toda a gama dos jogos dos homens em sociedade. Segundo
Lévy (1999:24): “As técnicas respondem aos propôs de desenvolvedores e usuários que
procuram aumentar a autonomia dos indivíduos autonomia dos indivíduos e multiplicar
suas faculdades cognitivas”.
Nos primórdios das invenções e, devido ao incipiente conhecimento pelo ser
humano da natureza, começamos a formar uma tecnologia cuja premissa básica era que o
homem deveria dominar e não cooperar com a natureza. Certamente a tecnologia foi
motivada por um espírito hostil. Portanto, para nossa própria sobrevivência, hoje temos
urgência absoluta de rever a tecnologia com uma atitude e espírito diferentes, mas sem cair
numa atitude antitecnológica.
Na verdade, o que precisamos é compreender cada vez mais nossa dependência e a
complexidade de nossas relações com todos os seres vivos e não vivos, e, quanto mais
entendermos que nossa existência junto com todas as coisas que nos cercam é um único
48 Lévy, P. Cibercultura. Editora 34, Rio de Janeiro, 1999, p. 21.
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processo, poderemos usar as tecnologias de uma forma mais inteligente e dar nosso apoio à
sustentabilidade.
Por um lado, se o primeiro pintor de cavernas foi artista e engenheiro ao mesmo
tempo, mas temos o hábito – cultivado por muito tempo – de imaginá-los como aptidões
separadas, então não é compatível ver hoje os dois grandes afluentes correndo
incessantemente para o mar da modernidade e dividindo, em seu curso, o mundo em dois
campos: os que habitam nas margens da tecnologia e os que habitam nas margens da cultura.
Logo o cérebro humano é visto como possuindo um lóbulo para artista e um para o
engenheiro. Qualquer analista profissional de tendências nos dirá que os mundos da
tecnologia e da cultura estão colidindo. Mas o fato que surpreende não é a própria colisão
em si, antes é o fato dela ser considerada novidade.
Por outro lado, poderíamos pensar que as vidas de Leonardo da Vinci ou de
Thomas Alva Edison seriam suficientes para nos convencer de que a mente criativa e a
mente técnica coabitam por longa data. Os decanos da tecnocultura estão ocupados demais
em proclamar que a Internet é “a coisa mais sensacional desde a invenção do fogo” para
poder contemplar os grandes revolucionários do passado. “O mundo digital pode estar
conectado a uma rede, ser inicializado e ter placa de som, mas é surdo para a história”.49
A explosão de tipos de meios de comunicação, no século XX, nos permite, pela
primeira vez, aprender a relação entre engenharia e arte. Um mundo governado
exclusivamente por um único meio de comunicação é um mundo governado por si mesmo.
Nesse tipo de mundo, não se pode avaliar a influência de uma mídia quando não se tem
com que compará-la.
Nascemos num mundo dominado pela TV, e de repente nos vemos tentado a
aclimatar nos à nova mídia da world wide web (WWW). A transição é alarmante, e até
49 JOHNSON, Steven. Cultura da Interface: Como o computador transforma nossa maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2001, p. 8.
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palpitante, dependendo de nossa postura mental, mas, seja qual for nossa reação às novas
formas, a chegada delas tem uma força iluminadora entre nós.
Se passarmos a vida toda sob o feitiço da TV, o mundo mental que herdamos dela
– a supremacia da imagem sobre o texto, o consumo passivo, a preferência por fatos
transmitidos ao vivo em detrimento da contemplação histórica – nos parece inteiramente
natural. Por isso, nossa pesquisa também atinge a fusão da arte com a tecnologia, o que
Johnson (2001) chama “design de interface”, porque é um produto dessa mesma sabedoria
acelerada, similar ao advento da eletricidade enunciado por Mc Luhan (1974).
Chegamos a um ponto em que os vários meios de comunicação evoluem tão
rapidamente que os inventores e os profissionais se amalgamam numa unidade holística,
como em um laboratório de ciência que abrigasse um seminário sobre escrita criativa. Não
há artistas que trabalhem no meio de comunicação da interface que não sejam, de uma
maneira ou de outra, também engenheiros, arquitetos ou cirurgiões.
Sempre foi assim, com a cultura e a tecnologia, é claro; só que costumávamos fingir
que era diferente, mantendo zelosamente os pintores e os mecânicos separados nos campi
universitários, nos laboratórios, nas estantes dos livros, nos salões dos museus. Os artesãos
da cultura de interface não têm tempo a perder com essas divisões arbitrárias. Eles se
fusionaram numa nova espécie de artista e engenheiro, incumbidos da missão épica de
representarem nossas máquinas digitais, e de dar sentido à informação em sua forma bruta.
O ato de escrever sobre nova tecnologia sob uma perspectiva cultural modifica
invariavelmente o assunto, das maneiras mais diversas e mais surpreendentes. Esta nossa
era digital pertence à interface gráfica, e é hora de reconhecermos o trabalho de imaginação
que essa criação requer, e de nos preparar para as revoluções da imaginação que estão por
vir. “O espaço-informação é a grande realização simbólica de nosso tempo”.50
50 JOHNSON, Steven. Cultura da Interface. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2001, p.156.
96
A globalização parece ser a consagração máxima do capitalismo. Desde a década de
70, Deleuze e Guattari já advertiam que o capitalismo vive de carência, que a falta é
constitutiva do seu sistema de produção e consumo. Mas eles não estavam se referindo à
carência por necessidade que escraviza os pobres, e sim à carência no âmbito do desejo, essa que
move o impulso do consumidor ocidental. Como se a miséria material dos pobres
correspondesse a miséria libidinal dos ricos, manipuladas pelas forças do mercado.
Instaurou-se, assim, como uma espécie de situação exasperante: pois no momento
exato que as forças do capitalismo penetravam em toda parte suscitando novas demandas,
abrindo e aprofundando fatos reais e imaginários, ficava evidente que o sistema passara a
ser excludente por não poder incorporar a todos no universo dos consumidores. O que,
evidentemente, teve grande efeito tanto nos que ficavam de fora como nos dentro do
sistema.
Nesse contexto, as promessas pelas quais o desenvolvimento tecno-científico iria
permitir a inclusão progressiva de todos numa sociedade moderna esfumaram-se, e só se
mantém no ar graças ao assédio permanente que parte das mídias e da publicidade à mente
dos espectadores. O darwinismo social legitimou e naturalizou o ou eu ou você,
intensificando a luta pela sobrevivência, agora ainda mais perversa com a introdução da
questão da competência tecnológica.
Com efeito, tanto a “classe mundial” como a “classe virtual” passou-se a atribuir
umas superioridades incontestáveis, que lhes confere ares de uma outra humanidade – o
que, aliás, prepara o terreno para o melhoramento genético da elite, “que inaugura uma
segunda linha de evolução da espécie humana”51, tal como é também acrescentado pelos
entusiastas da biotecnologia e até mesmo pelos geneticistas respeitáveis.
As novas tecnologias nas organizações estão enfocadas na utilização de novas
metas para a tecnologia de informação e na computação em rede, aberta e centrada no 51 DOS SANTOS, Laymert Garcia. Politizar as novas tecnologias. O impacto sóciotécnico da informação digital e genética. São Paulo: Editora 34, 2003, p. 126.
97
usuário. O trabalho está mudando dramaticamente, a característica do local de trabalho está
em qualquer lugar e em qualquer tempo; pode-se perceber isto nas mudanças ocorridas
nesta década, visto que o armazenamento e a velocidade dos computadores vêm
aumentando rapidamente.
Fleury (1995) compara o processo de aprendizagem individual, nas quais precisam
ser considerados as crenças e valores da pessoa, enquanto que no processo de
aprendizagem organizacional o conceito mental é relevante para a compreensão deste
processo. A resposta, portanto está centrada no conceito de cultura organizacional.
Fleury, afirma que:
[...] a complexidade da questão exige do pesquisador e do profissional o
refinamento do se instrumento conceitual e de diagnóstico para trabalhar
o desenvolvimento de uma cultura de aprendizagem e inovação.
E conclui:
[...] entretanto, é possível vislumbrar que uma organização voltada para o
passado, passiva, autoritária, com reações de trabalho pautadas por
instabilidade, desqualificação, descoprometimento de seus membros,
dificilmente conseguirão uma cultura da aprendizagem.
Nos anos 80, na onda da Revolução da Informática, a inteligência artificial tornou-
se a expressão máxima da ambição da ciência e da tecnologia modernas; nos anos 90, na
onda da Revolução Biológica, a engenharia genética parece ter-lhe acrescentado a vida
artificial. Toda sociedade tem tecnologia – que significa, fundamentalmente, os meios que
as comunidades humanas usam para satisfazer suas necessidades e aspirações. Tecnologia é
um meio, valores humanos um fim, a tecnologia tem sido alçada de sua condição de meio para
preencher necessidades humanas à finalidade e objetivo da aspiração do homem.
Tal mudança também significou que a transformação tecnológica deixou de ser
considerada e avaliada, com base em valores humanos; ao contrário, a existência humana
passou a ser considerada segundo o padrão da rápida mudança tecnológica. Como isso, já
não se perguntavam mais quais seriam os impactos sociais, culturais ou ecológicos da
98
introdução em larga escala de uma tecnologia especifica, ou seja, se ela era desejável ou
imprópria. A tecnologia não precisava mais ser adaptada à sociedade e à natureza;
simplesmente, passou-se a esperar que a sociedade e a natureza se adaptassem à tecnologia;
e para essa adaptação impositiva e violenta, nenhum controle social e ecológico foi
considerado excessivo.
É nesse contexto que as novas tecnologias estão surgindo. As novas tecnologias
criaram linguagens da inteligência artificial, as novas biotecnologias criaram a linguagem
dos “construtores genéticos”, das “invenções biotecnológicas” ou a vida artificial. Embora
tais tendências tenham a pretensão e a arrogância de afirmar que o cientista está
reconstituindo o mundo, superando a própria criação, a “inteligência artificial” e a “vida
artificial” só podem substituir as funções de uma parte íntima do espectro da inteligência e
da vida em sua diversidade e complexidade; mas, embora a capacidade de “substituição” da
vida artificial seja muito limitada, sua capacidade destrutiva é muito grande.
É assim como o valor de um homem foi reduzido pelo capitalismo ao valor do trabalho
abstrato transferido para uma mercadoria; agora o valor da informação passa pela mesma
redução, através dos diferentes sistemas de propriedade intelectual. Abre-se assim um
horizonte e um campo de atuação insuspeitada para a apropriação capitalista: o plano
molecular do finito limitado, no qual, lembra Deleuze, um número finito de componentes
produz uma diversidade ilimitada de combinações.
Se mantivermos isso em mente e entendermos que a questão do acesso aos
recursos genéticos refere-se à informação genética e à informação digital, perceberemos
que para a tecnociência e a nova economia o problema consiste em encontrar uma
formulação jurídica que lhes permita assegurar o acesso e o controle da informação nos
dois extremos, isto é, nos planos molecular e global.
Por outra parte, se concordamos com Deleuze e Guattari que “a propriedade é
precisamente a relação desterritorializada do homem com a terra”, podemos perceber a que
99
grau de desterritorialização chegou à sociedade contemporânea, com a instalação da
propriedade intelectual que se pretende impor a todo o planeta para assegurar a
apropriação e monopolização da informação genética.
Traduzido em informação digital e genética, o indivíduo torna-se divisível, ou, para
usar o termo empregado por Deleuze, dividual. O sujeito não é mais modelado de uma vez
por todas, mas sim permanentemente modulado, seguindo uma nova lógica de dominação
que nos faz passar da sociedade disciplinar para a sociedade de controle segundo a expressão
cunhada por William Burroughs e emprestada por Deleuze.
2.6. As tecnologias de informação e comunicação na sociedade
Tendo como premissa que as tecnologias constituem o suporte primordial no
desenvolvimento da sociedade humana - as quais estão constantemente experimentando
mutações em todos os sentidos - essas tecnologias começam a preocupar cientistas e
filósofos, comunicólogos, tecnólogos, pedagogos, sociólogos e epistemólogos, pelo fato
dela tentarem se colocar em igualdade cognitiva com os seres humanos. Será possível isto,
de termos máquinas que reagem como nós mesmos?
Que função cumpre aqui a Informação e a Comunicação? Para responder isto, é
necessário, de alguma forma, analisarmos uma série de conceitos fundamentais para atingir
uma visão mais abrangente do assunto. Em primeiro lugar, destacaremos o que realmente é
a Comunicação, pois se trata de um conceito muito amplo, sem nenhuma definição fixa.
Por um lado, a comunicação é um substantivo muito pródigo em significações, o
termo é um bom exemplo de polissemia. Ela é empregada para designar as relações entre
humanos mediados pela palavra, os gestos e as imagens, mas o termo aplica-se também às
relações tanto entre os animais e como entre as máquinas. Agrega-se também a esta lista
certas relações da matéria com a matéria (transmissão de energia, códigos genéticos, etc.).
100
A carga semântica do termo, tal como se encontra em uso pelo sentido comum e
em outras áreas do conhecimento inclui um número demasiado grande de acepções, o que
faz praticamente inviável qualquer estudo que se sirva do termo comunicação sem antes
proceder a uma análise crítica.
Por outro lado, autores como Paul Virílio (1998) analisam uma seqüência evolutiva das
tecnologias antes de se constituírem como suporte principal da comunicação e da
informação, como sendo motores da história, constatando que a informação foi organizada
em cinco estágios:
• o motor a vapor, ou seja, a máquina que serviu à revolução industrial, modificando o
quadro da produção da história e também modificando a percepção da informação
• o motor a explosão, que propiciou o desenvolvimento do automóvel e da aviação. O
homem teve uma visão inédita do mundo: as visões aéreas, possibilitando a
máquina-veículo de produção industrial.
• o motor elétrico, que deu origem à turbina e favoreceu a eletrificação, permitindo uma
visão da cidade à noite. O cinema é uma arte do motor elétrico.
• o motor-foguete, que permitiu ao homem escapar da atração terrestre. Através dele
temos os satélites que servem à transmissão do sistema de segurança e permitem a
visão da terra a partir de uma outra terra: a lua.
• o último motor, que é o motor Informático, um motor à inferência lógica, aquele do
software, que está favorecendo a digitalização da imagem e de som, assim como a
realidade virtual. Ela, por sua vez está modificando totalmente a relação com o real,
na medida em que permite duplicar a realidade através de uma outra realidade, a
realidade imediata que funciona em tempo real e livre.
Por enquanto, a educação de hoje, no contexto do mundo globalizado, onde a
difusão da informação e do conhecimento se tornou maciça, o desenvolvimento científico
e tecnológico se dá de forma acelerada e continua, não pode negar a significação das
101
NTCIs e suas aplicações, assim como as implicações de sua aplicabilidade nos processos
educacionais. Nesse contexto se faz necessário rever os postulados epistemológicos e
psicológicos de uma teoria sócio-cultural, para assim poder relacionar a ideologia e os
princípios que fundamentam as ações no processo educativo, segundo tal teoria e os
desafios apresentados aos educadores para a utilização crítica das NTICs nos processos de
construção de conhecimentos.
A respeito dos meios e mensagens, é necessário conhecer que os meios trazem
implicitamente as mensagens. Isto se explica quando um indivíduo direciona o seu olhar e
atenção numa pessoa, animal, coisa ou símbolo, momento em que ela já está elaborando
alguns códigos referenciais das mensagens que lhe são emitidas por elas, seja reais ou
virtuais. Como diz McLuhan, aquelas mensagens constituem o resultado de um “novo estalão
introduzidas em nossas vidas por uma nova tecnologia ou extensões de nós mesmos” (McLuhan: 1974,
21).
Porém, essa automação a que ele se refere causa efeitos negativos na sociedade,
porque elimina postos de trabalho, acrescentando o número de desempregados,
constituindo um paradoxo desta era que produz baixo nível de vida de grandes populações;
tal fato foi analisado por Valério Fuenzalida na sua temática sobre o alcance das mídias,
especialmente quando ele se refere à televisão e seus efeitos. Ademais, a automação tem
efeitos positivos nas relações com outros e mesmo conosco.
No entanto, em termos de mudança, pouco importava que a nova tecnologia
produzisse flocos de milho ou Cadillacs e, sim importava reestruturação sobre esses novos
padrões da tecnologia moldada pela técnica de fragmentação, que constitui a essência da
tecnologia da máquina.
Por outro lado, afirma McLuhan, que os meios de extensão do homem são “agentes
produtores” do devir e do desenvolvimento, o que ele chama de “acontecimentos” (McLUHAN,
102
1974, p. 67) que não chegam a ser agentes produtores de “consciência”. Ele faz uma análise
sistêmica do fluído elétrico determinando-o como um meio sem mensagens, constatando
nesse processo uma energia híbrida que cancela o regime de noite e de dia, do exterior e do
interior.
Lévy (1998) estabeleceria no seu efeito Moebius (mas na versão do virtual), o que seria
a passagem do interior ao exterior e do exterior ao interior, com seus registros, no público e
privado, real e virtual, subjetivo e objetivo, mapa e território, autor e leitor, etc. Desse modo, as novas
tecnologias estão integrando o mundo em redes globais de instrumentalidade. A mediação
por computadores gera uma diversidade de comunidades virtuais em todo o mundo.
Dentro do parâmetro de um mundo globalizado e de fragmentação simultânea,
levantam-se questões com respeito às novas tecnologias como, por exemplo, a questão de:
como combinar as novas tecnologias e memória coletiva, a ciência universal e cultura das comunidades, a
paixão e a razão? Interessa isto, porque observamos cada dia no mundo a tendência ao
distanciamento que existe entre a globalização e a identidade entre a rede e o ser. Nesta
época, de paradoxos, o indivíduo é condicionado a ficar isolado dentro de uma multidão nas
grandes metrópoles, onde existencialmente encontra-se solitário, mas motivado a buscar
uma nova conectividade, dentro de quatro paredes. Em resumo: a tecnologia está ajudando a
desfazer a visão do mundo por ela promovida no passado.
Se antes houve uma aproximação de conceitos de comunicação, agora se tenta um
outro conceito que trata das Tecnologias da Informação baseada no que diz Castells. Para
ele, a Tecnologia da Informação “é um conjunto convergente de tecnologias em
microeletrônica, computação, telecomunicações, radiodifusão, optoeletrônica e engenharia
genética (código de informação da matéria viva)” (CASTELLS, 1999, p. 49). Todo um
conjunto de tecnologia e parafernália de instrumentos de informação, aliás, de
comunicação, invadem o mercado cada dia mais, onde a nanotecnologia (pequenas maravilhas
tecnológicas) converte-se na principal delas. Computadores, sistemas de comunicação e
103
decodificação e programação genética são todos amplificadores ou extensores da mente
humana.
No entanto, as inovações tecnológicas, perante nossa cotidianidade não constituem
um fato isolado. As elites do poder econômico aprendem fazendo e com isso modificam as
aplicações dessas tecnologias, enquanto que a maior parte das pessoas aprendem usando, o
que lhes permite permanecer dentro dos limites para aplicar essas tecnologias. A revolução
da tecnologia da Informação, propriamente dita, nasceu na década de 70, principalmente se
nela incluirmos o surgimento e a difusão paralela da engenharia genética. Assim, a
dimensão da revolução da tecnologia da informação parece destinada a cumprir a lei sobre a
relação entre a tecnologia e a sociedade, empurrando a uma transformação organizacional
que se desenvolveu independentemente da transformação tecnológica.
Por outro lado, um “movimento geral de virtualização afeta hoje não apenas a
informação e a comunicação, mas também os corpos, funcionamento econômico, os
quadros coletivos da sensibilidade ou mesmo os exercícios da inteligência” (LÉVY, 1996).
Pois, trata-se de um novo esquema paradigmático que vem a substituir, velhos e desusados
esquemas, na qual a cultura letrada parece estar chegando a seu final, que segundo opiniões
autorizadas afirmam com veemência que o livro sobrevirá a essa arremetida tecnológica e
hibridação das mídias. A virtualização constitui justamente a essência ou a ponta fina da
mutação em curso. Ela se apresenta como o movimento do “devir outro”, do humano.
Nesse percurso, analítico e de provocação para nos inserir em temas transversais e
trans-disciplinares no uso de tecnologias da inteligência, como se apresenta hoje o
computador que, para Pierre Lévy é um pedaço, um fragmento da trama, “um componente
incompleto da rede calculadora universal” (LÉVY, 1996, p.31). Para ele, há hoje um único
computador que está em toda parte e à vez em nenhuma, disperso, vivo, pululante, virtual,
um campo de Babel: o próprio Ciberespaço. Que, para compreendê-lo, teríamos que nos
remeter às mesmas fontes, proporcionado pela análise da Inteligência coletiva, que segundo
104
Lévy é uma inteligência distribuída por toda parte, que resulta em uma mobilização efetiva
da competência.
O desenvolvimento dos novos instrumentos de comunicação se dá dentro de uma
grande mutação de alcance universal que, no entanto, a ultrapassa, saindo da sua órbita
centrípeta e voltando ao círculo, do princípio, quer dizer voltamos a ser nômade.
Entendemos que o nomadismo desta época refere se principalmente à transformação
continua e rápida das paisagens científica, técnica, econômica, profissional e mental. Em
uma interação, que poderia se dar, o novo espaço do nomadismo não está constituído pelo
território geográfico dos estados, nem das instituições, mas são espaços invisíveis de
conhecimento e de saberes, as potencialidades do pensamento, a criatividade, onde brotam e se
transformam em qualidades do ser humano, quer dizer uma nova maneira de constituir
sociedade. Isto traz, novos problemas sociológicos, da pós-modernidade re-atualizando
conceitos de “tribo” “república”, abordados por MacLuhan.
105
Capítulo 3 - AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E SUAS
INTERFACES COM A EDUCACAO SUPERIOR
3.1. As NTICs no contexto do ensino superior na sociedade globalizada
Os recentes e intensos impactos socioeconômicos e culturais, que se propagam
com a velocidade dos acontecimentos e com a modernização, e que, graças à evolução
tecnológica, afetam, em diferentes graus, as rotinas dos países, confirmam a natureza
universal do atual processo de globalização da sociedade contemporânea. Esses impactos
vêm gerando mudanças que se tornam cada vez mais visíveis na vida quotidiana do
cidadão.
Nesse sentido, a principal característica deste novo estágio sócio-econômico é o
fabuloso acúmulo de informação em todos os domínios, com potencial de armazenamento
vertiginoso. Embora esse conhecimento não seja produzido necessariamente na
universidade, é aí onde se forma grande parte dos técnicos e pesquisadores que integram as
instituições de ensino, pesquisa e também técnicos que atuam no mundo do trabalho
produzindo ciência e tecnologia.
Atualmente o acúmulo de conhecimento produzido se concentram em alguns
países identificados como Grupo dos Sete ou G7. De fato, 70% dos trabalhos científicos
produzidos no globo, em 2004, aí se localizam, apesar desse grupo responder apenas por
14% da população mundial.
A concentração de informação agrava de modo significativo, o desequilíbrio
internacional em todos os níveis. Este fato coloca em crise o papel tradicional da
universidade que está relacionado à produção e à divulgação do saber.
A primeira questão que se coloca para a universidade, a fim de que ela possa
redefinir seu papel, diz respeito ao modelo ou à estratégia de desenvolvimento para os
quais ela está a serviço. Nesse sentido, duas alternativas extremas podem ser esboçadas
106
aqui: o modelo concentrador que busca aproximar o Brasil do padrão internacional pelo
fortalecimento científico-tecnológico de determinados setores da sociedade, a partir do qual
se aceita a exclusão de grandes segmentos sociais e, de outro lado, há o modelo includente,
para o qual o desenvolvimento deve ser igualitário, concentrado no princípio da cidadania
como patrimônio universal, de modo que todos os cidadãos possam desfrutar os avanços
alcançados.
O sentido da autonomia universitária requer que esta não aceita ser colocada a
serviço de um único segmento social. A contradição de seus múltiplos papéis é colocada, e
é de modo crítico e dialético que a universidade precisa situar-se na sociedade. De um lado,
ela contribui para o desenvolvimento tecnológico contemporâneo, formando quadros e
gerando conhecimento para esta sociedade concreta. De outro, a universidade está a
serviço de uma concepção radical e universal de cidadania. Como participante do
desenvolvimento tecnológico, ela será, ao mesmo tempo, crítica ao modelo econômico
globalizado e parceiro do setor produtivo. Enquanto promotora da cidadania universal,
orientará parte significativa de sua produção de saber pelos interesses sociais mais amplos
da sociedade.
De todas as formas, um papel se impõe à universidade contemporânea, que é sua
função social. Isso é assegurado pelo direito de todas as pessoas à vida digna. Mais ainda no
contexto da nova sociedade da informação, que propicia a ampliação democratizante do
acesso a esses conhecimentos. Ela deverá se orientar, em primeira instância, não só pelos
desafios tecnológicos, mas também pela questão ética que diz respeito a toda a amplitude
da existência humana. Assim, parece fundamental que a universidade, por todas as suas
ações, busque o equilíbrio entre vocação técnico-científico e vocação humanística. Nesta
interseção parece residir o amplo papel de instituição promotora da cultura.
Os desafios atuais enfrentados pela sociedade exigem qualificações cada vez mais
elevadas, ampliando-se as necessidades educacionais da população. Diante desse cenário,
107
cresce a importância dos cursos de graduação, entendendo-se que a responsabilidade da
universidade com a formação do cidadão não pode se restringir ao preparo do indivíduo
para o exercício de uma profissão, como se fosse o suficiente para integrá-lo no mundo do
trabalho. Essa formação exige o compromisso com a produção de novos conhecimentos e
o desenvolvimento da capacidade de adaptar-se às mudanças.
O incremento das novas tecnologias provoca intensas alterações profissionais bem
como requerem uma crescente intelectualização e o enriquecimento das atividades
produtivas, o que demanda um aprendizado que envolva o manejo de informações, os
conhecimentos abstratos e a habilidade de lidar com grupos em atividades integradas.
Os cursos de graduação devem propiciar a oferta de referenciais teórico-básicos
que possibilitem o trâmite em múltiplas direções, instrumentalizando o indivíduo para atuar
de forma criativa em situações imprevisíveis. A graduação não deve restringir-se à
perspectiva de uma profissionalização rigorosa, especializada. Há que propiciar,
primeiramente, a aquisição de competências em longo prazo, o domínio de métodos analíticos, de
múltiplos códigos e linguagens, enfim, uma qualificação intelectual de natureza
suficientemente ampla e abstrata para constituir, por sua vez, base sólida para a aquisição
continua e eficiente de conhecimentos específicos.
Assim, a aquisição de conhecimentos deve ir além da aplicação imediata,
impulsionando o sujeito, em sua dimensão individual e social e responder desafios. Ao
invés de ser apenas o usuário, deve ser um agente capaz de gerar e aperfeiçoar tecnologias.
Com isso, torna-se necessário desenvolver habilidades de recriar e aprender
permanentemente, retomando o sentido de uma educação continuada.
Para atender a essa exigência, a graduação necessita deixar de ser apenas um espaço
de transmissão e de aquisição de informações, para transformar-se no lócus de
construção/produção do conhecimento, no qual o aluno atue como sujeito da
aprendizagem.
108
Evidencia-se, assim, a importância da iniciação à prática da pesquisa: aprender a
aprender, a desenvolver processos teórico-epistemológicos de investigação da realidade,
utilizando informações de forma seletiva. E isso só acontecerá, de forma efetiva, pela
integração dos diversos níveis de ensino, em especial da graduação com a pós-graduação, e
pela definição de linhas prioritárias de pesquisa e extensão.
Nesse sentido, não há como isolar os programas de pós-graduação dos de
graduação. A perspectiva científica indispensável para o docente de graduação é objeto de
formação específica própria do nível de pós-graduação. A pós-graduação precisa integrar à
sua missão básica de formar pesquisadores, também a responsabilidade da formação de
professores de graduação, integrando, expressamente, questões pedagógicas que dizem
respeito ao rigor dos métodos específicos de produção do saber, em perspectiva
epistêmica.
O aprender e o recriar permanentemente, ou o aprender a aprender, são conceitos
pedagógicos derivados dos novos desafios da sociedade contemporânea, que não se
esgotam no campo da introdução à ciência ou aos métodos de reprodução do saber. Todo
o saber é contextualizado historicamente, assim como toda atividade profissional humana
se dá em contexto social, configurando que o papel da universidade situa-se entre os
interesses mais estreitos da sociedade tecnológica e a contingência ética da necessidade de
integração de todo patrimônio dos bens e da cultura que uma sociedade produz.
O processo pedagógico caracterizado como aprender a aprender, neste âmbito, inclui
igualmente o pólo da extensão universitária, que se desenvolve em parceria com grupos
sociais no contexto da sociedade que integra cidadãos. Trata-se do ensino e da pesquisa
articulados com as demandas sociais.
A nova modalidade de curso superior – os cursos seqüenciais criados pela LDB –
coloca, por seu forte nexo com a graduação, um novo desafio na perspectiva da articulação
do sistema como um todo. Através da flexibilização e da pluralização da formação dos
109
graduandos e da institucionalização de cursos não permanentes, pode-se ampliar espaços e
oportunidades para o atendimento de demandas localizadas e novas experiências didático-
pedagógicas, permitindo ganhos qualitativos para a estruturação da graduação.
Manter a relação entre os vários graus de ensino é alicerçar o entendimento da
necessidade de pensar-se o sistema como um todo, evitando a dispersão de energia na
aplicação de medidas isoladas, em que se fragiliza a dimensão do conjunto; possibilita a
percepção da dinamicidade do processo, configurando a educação como um processo não
linear, projetando-se no sentido da intercomplementaridade, estabelecendo relações
dialógicas em que se ampliam os espaços de negociação dos significados construídos em
cada campo.
A dinâmica e a velocidade das mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais
da sociedade moderna caracterizam o que se convencionou chamar de “novo milênio”. No
passado, as mudanças significativas na vida humana exigiriam, no mínimo, o tempo
correspondente a uma geração para ocorrerem. Gradativamente, passaram a serem
imprevisíveis. Trata-se da era da incerteza, conforme Morin (2000: 86): “[...] o conhecimento
navega no mar da incerteza, na busca do arquipélago da certeza [...]”.
Informatização, globalização e sociedade do conhecimento são alguns dos fatores
que estão pressionando o status quo da vida atual. Além desses fatores, ou mesmo como
conseqüência deles, assiste-se à falência do atual modelo econômico-político, preocupado
prioritariamente com a tríade: tecnologia, consumo e lucro, e desatento às questões
ecológicas e ambientais. Este rápido panorama evidencia a importância da educação
superior no Brasil, que, indubitavelmente é uma das mais respeitáveis instituições sociais.
110
Nesse sentido, a educação colabora na forma de infosfera52, porque ela é um
processo social que muitas vezes envolve grupos pequenos, como a família, ou grandes,
como a comunidade, desde o ensino fundamental até os graus mais avançados. Assim, no
que se refere ao ensino superior, observa-se a predominância dos critérios de busca de
atendimento de necessidades voltadas para o mercado, ou seja, prevalecem critérios
econômicos.
Surge, dessa forma, a comercialização do ensino superior, a predominância de
critérios utilitaristas, com o prejuízo de ações que privilegiam os aspectos sociais e o
atendimento aos interesses de um pequeno grupo. A educação superior é uma instituição
social, cujo papel fundamental é formar a elite intelectual e científica da sociedade a que
serve. Assim, a educação superior é estável e duradoura, concebida através de normas e
valores da sociedade. É, acima de tudo, um ideal que se destina, enquanto integrador de um
sistema, à qualificação profissional e promoção do desenvolvimento político, econômico,
social e cultural.
3.2. O ensino presencial e a distância apoiado pelas NTICs
As exigências, bem como as possibilidades do mundo contemporâneo, nos
induzem a pensar em inserir nos currículos das universidades o uso permanente das novas
tecnologias, considerando as nossas peculiaridades e analisando as nossas possibilidades,
limitações e potencialidades. As mudanças em curso sejam elas de cunho histórico, sociais,
políticas e econômicas surgem através de um conjunto de circunstâncias muito específicas
que têm causado impactos em todos os setores da atividade humana; sobretudo, as recentes
pesquisas científico-tecnológicas que, ampliando infinitamente o processo de comunicação
humana, surgem na sociedade interagindo em redes.
52 Infosfera. É o ambiente no qual os organismos se formam como células interconectadas. A linguagem constrói este sistema de inervações e simula uma comunidade, é na linguagem, que se forma a simulação de origem. Disponível em: <www.rizoma.net/neuropolítica/> Cognição e sensibilidade no hipermundo,. Acesso em: 23 de agosto de 2004.
111
Figura 5 – As tecnologias como apoio para o ensino presencial e a distância. Sala equipada com apoio do SIAE (Sistema Integrado de Apoio ao Ensino na USP)
Algumas questões iniciais nos instigam a investigar o ensino superior neste
determinado momento onde a incorporação da modalidade de ensino a distância segue em
complementaridade ao ensino presencial, inaugurando a convivência acadêmica em fluxos
de aprendizagem. As investigações priorizam as mudanças que ocorrem nas relações entre
professores e alunos com o conhecimento em ambiente onde a informação tende a ser
compartilhada a partir de interesses comuns os quais, além dos fatores cognitivos,
envolvem fatores afetivos que subjazem no domínio destas relações.
Analisando o cenário nacional da Educação a Distância – EAD – o professor em
Educação da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica de Paraná), Marco Eleutério, diz
que o Brasil é um país com grande potencial para uso da Internet no ensino a distância,
devido a sua extensão territorial e a carência de oferta de cursos em regiões menos
desenvolvidas. Ele comenta:
[...] o que falta, no entanto, é uma cultura de EAD, tanto por parte das instituições e professores. A cultura de EAD no Brasil é a dos antigos cursos por correspondência, mas no recente aumento na oferta de cursos a distância usando as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) tende a alterar a imagem da EAD e proporcionar uma mudança de postura de alunos e professores. Para isso, é preciso que a qualidade dos cursos on-line e a capacitação docente em e-learning seja uma preocupação constante das instituições. 53
Nesse contexto, especialistas apontam que a principal barreira para o crescimento
da EAD se encontra na estreita visão pedagógica de administradores e gestores
53 LIRA, Cícero. E-learning, tão longe e tão perto da construção do conhecimento. In: Voz do Paraná. Jornal de atualidade científica e qualidade de vida. Ano 47, n. 1779, Curitiba, out. 2003, p.8.
112
educacionais, reforçada pela grande resistência que boa parte do magistério tem em relação
à inovação pedagógica. O especialista em educação e consultor de empresas e universidades
em projetos de educação on-line, Wilson Azevedo, diz:
[...] A resistência à tecnologia é muito fácil de ser vencida. Em pouquíssimo tempo é possível superar a resistência à tecnologia e fazer professores, alunos e gestores operarem tecnologias extremamente sofisticadas. Alunos geralmente adoram a inovação pedagógica, embora um número muito reduzido de alunos resista. Mas professores e gestores resistem muito.
113
As vantagens e desvantagens da e-learning54, estão nos seguintes quadros: Quadro 1
VANTAGENS
- Flexibilidade de tempo
- Flexibilização de horário
-Personalização da aprendizagem
- Possibilidade de compartilhamento da pesquisa sem sair do
local de trabalho ou da cidade em que se vive
-Acesso fácil às grandes instituições de ensino
Quadro 2 DESVANTAGENS
- O aluno precisa saber gerenciar o tempo, autonomia para ler,
pesquisar e estudar sozinho em horários diferentes e muitos não
têm hábito nem a maturidade para fazê-lo.
- Muitos alunos não têm acesso ao computador, à Internet (só
10% da população brasileira o faz).
- Muitas instituições entram na EAD sem conhecimento da sua
complexidade e oferecem pacotes de ensino pronto, com quase
nenhuma interação e suporte.
Na atualidade a estrutura do Ensino Superior, seja presencial ou a distancia, é
resultado da concepção e das normas contidas na Reforma proposta pela lei 5540/68, que
fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e de sua articulação com a
escola de Ensino Médio, e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 5692/71 e
na LDB 9394/96, em vigor, revitalizando as expectativas positivas no Ensino Superior.
A universidade passa, no pressente momento, por uma crise de vários aspectos, no
entanto sua missão e compromissos sociais são mais relevantes, visto que já não é possível
prorrogar mudanças. “Nessa linha de considerações, as alternativas mais viáveis podem ser
o diálogo, a crítica, o planejamento e avaliação, adequados à realidade na qual se insere a
universidade”.55
54 LIRA, Cícero. Id., p. 9. 55 MATIAS, Nilcéia Lopes. Reflexões sobre a Educação Superior. São Paulo: Terceira Margem, 2002, p. 13.
114
Por outro lado, o crescimento da Educação a Distância (EAD), no Brasil e no
Mundo, cresce de modo paralelo à educação formal, pelo uso das NTICs, que possibilitam
a transmissão dos conhecimentos com maior facilidade e velocidade. A Universidade de
São Paulo -USP, a maior das Universidades Públicas da América Latina, é parceira do
Projeto da OECD e da CERI56, junto a dezenove universidades de treze países, com sede
na Europa. O professor Carlos Alberto Barbosa Dantas do IME (Instituo de Matemática e
Estatística), é o coordenador do Grupo de Trabalho de EAD na USP. Na reunião
acontecida em 2005, na Europa, estabeleceu-se que cada uma das universidades integrantes
do projeto deveria participar e implementar a EAD.
A Proposta da Educação a Distância na USP é uma iniciativa proposta pelo ex-
Reitor Jackes Marcovitch, “atualmente o projeto de implementação da EAD na USP não
está formalizado, mas se espera informes das diferentes unidades para concretizar o projeto
dentro do plano e atuar em rede” diz o Prof . Carlos Alberto Dantas (em entrevista do 10
de novembro de 2005).
Segundo o censo da educação superior no Brasil (2003), a Tabela 1 apresenta os
detalhes de número de cursos presenciais por categorias administrativas com mais de 30
horas.
Tabela 1: Cursos presenciais por categoria administrativa Categoria Administrativa Número %
Público 5, 467 53, 5
Privado 4, 744 46, 5
Total 10, 211 100, 00
Cursos a distância com mais de 30 horas também tiveram forte representação no
setor público, como nos mostra a Tabela 2.
56 OECD: Organization for Economic Co-operation and Development CERI: Center for Education Research and Inovation
115
Tabela 2: Cursos a distância por categoria administrativa
Categoria Administrativa Número %
Público 139 54, 1
Privado 118 45, 9
Total 257 100, 00
Fonte: Deaes/INEP/MEC, 2004.
A variedade das atividades de extensão e o expressivo número de participantes
indicam que estas atividades estão perdendo a característica assistencial que as marcou por
algumas décadas e estão se transformando num espaço de oportunidades educacionais e
sociais para a população como um todo.
No que diz respeito aos dados sobre as atividades de extensão colhidos no Censo
de 2003 é preciso ressaltar que, por tratar-se da primeira aplicação do instrumento, é
impossível estabelecer comparações com dados de anos anteriores, o que dificulta a sua
crítica técnica e recomenda com cautela quanto ao seu uso para a orientação de políticas
publicas. O INEP e o fórum de Pró-Reitores de Extensão procederam à rigorosa análise
do instrumento antes de serem aplicadas, em 2004.
Dentre as inúmeras constatações e revelações do Censo da Educação Superior de
2003, podemos destacar as seguintes:
1. pela primeira vez na história, o número de vagas na educação superior
foi maior que o número de concluintes do ensino médio. O número de
candidatos à educação superior (4.9 milhões) é mais do que o dobro do
número de vagas, e várias vezes o numeram de ingressantes (1.2
milhões).
2. a educação superior brasileira segue sendo majoritariamente noturna e se
expande principalmente no setor privado, tornando este setor a principal
116
oportunidade de acesso ao aluno-trabalhador. Do total de 2.270.466
matrículas, no ensino noturno, apenas 407.257 estão no setor público,
enquanto 1.863.209 estão no setor privado, o que parece identificar uma
grave contradição no processo de democratização do acesso à educação
superior nos últimos anos.
3. os estudos comparativos do crescimento populacional mostram que as
regiões Norte e Nordeste, apesar do maior crescimento de matrículas
nos últimos anos, ainda têm uma representatividade das matrículas
menos do que a representatividade percentual da população.
4. o censo de 2003, pela primeira vez, revela aspectos das atividades de
extensão das IES brasileiras, mostrando uma faceta da vida acadêmica
que até aqui permanecia oculta. Pela primeira vez, o INEP começa a
coletar, juntamente com o Fórum de Pró-Reitores de Extensão, um
conjunto significativo de dados relativos à extensão, com indicações
importantes sobre a participação das IES no seu entorno social.
5. o ritmo de crescimento das matrículas nas instituições de educação
superior diminui um pouco em 2003, mas não de forma significativa,
permanecendo muito próximo aos 13% ao ano e mantendo, portanto, a
tendência dos últimos cinco anos.
6. o setor público continua a ter uma maior representatividade percentual
com relação à titulação do quadro docente, sendo o espaço mais
adequado para estudos avançados, especializações, mestrados e
doutorados; não obstante o crescimento significativo de mestres e
doutores no setor privado.
7. a região sudeste, embora sem aumentar a sua participação percentual das
matrículas, continua a representar cerca da metade das matrículas da
117
graduação e 68% das matrículas da pós-graduação stricto sensu, enquanto
no ensino fundamental esta participação é de apenas 35,9%.
8. dados da CAPES revelam que 86,2% dos programas de pós-graduação
estão em instituições públicas, assim distribuídos: 56% em instituições
federais, 30% em instituições estaduais e 0,2% em instituições
municipais. O quadro que se apresenta é, pois, o oposto do ensino de
graduação no qual a oferta de cursos das instituições privadas é muito
maior do que a das instituições públicas.
Muitos outros aspectos certamente serão destacados pela comunidade acadêmica e
pelos estudiosos das questões que englobam a educação superior no Brasil. O que os
destaques acima sugerem, no entanto, merece reflexões profundas por parte de todos os
que têm compromisso de democratização do acesso à educação superior, no avanço da
arte, da cultura, da ciência e da tecnologia, a melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa e
da extensão e os rumos da sociedade brasileira. O INEP entende estas reflexões iniciais
como ponto de partida para um debate intenso e profícuo e se coloca à disposição dos
pesquisadores e estudiosos interessados em desenvolver estudos aprofundados sobre estas
e outras questões.57
Um outro lado não menos instigante que nos induz a investigar e refletir refere-se
aos movimentos que surgem na sociedade em rede, examinados em acuidade por Castells
(2001: 22). Ao mesmo tempo em que eles contêm uma certa tendência de contestação à
Nova Ordem Mundial, estão intimamente relacionados com a formação de identidades e a
construção de significados capazes de dar um mote às ações coletivas cujos resultados
transformam os valores e as instituições da sociedade.
Compreender de forma aprofundada as relações peculiares que as pessoas
estabelecem em rede e, em especial, as relações que os acadêmicos estabelecem e/ou
57 Fonte: “INEP/ MEC”, Brasília: outubro de 2004.
118
podem estabelecer com seus professores, e de forma mais estreita, com o conhecimento,
nos parece fundamental para se propor ações educativas eficazes em ambientes
tecnológicos.
Dentre os principais desafios da modernidade, redefinir o papel da educação
superior é, sem dúvida, prioridade inadiável. Acreditamos que tal tarefa implica a
instauração de um espaço permanente de aprendizagem no interior das universidades no
sentido de atualizarem as suas práticas, flexibilizando os seus currículos de graduação.
Ressaltamos, porém, que a incorporação de novas tecnologias educacionais - na
esfera universitária - deve seguir por meio de ações articuladas em cooperação com o
mundo do trabalho, precisa promover a organização e a mobilização de esforços para
reconstruir uma nova ordem social. Essa reconstrução torna-se vital neste novo cenário
que se aflora num plano de imanência58, onde os acontecimentos se desenrolam num
ambiente de infinita complexidade, pois, ao mesmo tempo em que se multiplicam, as
formas de dominação social revestem-se dos mais variados atributos de dissimulação e
invisibilidade.
[...] A forma fundamental de nossa sociedade baseia-se na capacidade organizacional da elite dominante que segue de mãos dadas com sua capacidade de desorganizar os grupos da sociedade que, embora constituam maioria numérica, vêem (se é que vêem) seus interesses parcialmente representados apenas dentro da estrutura do atendimento dos interesses dominantes. (CASTELLS, 2001, p. 440)
Nesse sentido, deslindamos a problemática dos processos de ensino e
aprendizagem em nível superior, em contextos nos quais a educação presencial conjugada
com a virtualidade real da educação a distância, através, de tecnologias interativas de
comunicação e informação é incorporada ao currículo, fundamentando o fazer pedagógico
e, assim, contribui efetivamente para a melhoria da qualidade da educação nos cursos de
graduação na Universidade de São Paulo, IES analisada nesta pesquisa.
58 As redes virtuais constituem um plano de imanência, inserido na cultura, é o jogo livre entre todas as performances que ocorrem no mundo da imanência, que ultrapassa a relação sujeito-objeto. Disponível em: <www.rizoma.net/secao espaço>. Acesso em: 15 de abril de 2004.
119
As relações do saber em processos de construção de conhecimentos em ambientes
tecnológicos consideram que as aprendizagens ocorrem em nível pessoal, na interioridade
da mente do indivíduo e que também podem ser ativadas pelo professor por meio de
métodos e técnicas de ensino e potencializadas pela interatividade nos contextos
educacionais, como indica Pierre Lévy (1999:177):
[...] aprendizagens permanentes personalizadas através de navegação, orientação dos estudantes em um espaço do saber flutuante e destotalizado, aprendizagens cooperativas, inteligentes, inteligência coletiva no centro de comunidades virtuais, desregulamentação parcial dos métodos de reconhecimento dos saberes, gerenciamento dinâmico das competências em tempo real...esses processos sociais atualizam a nossa relação com o saber.
Essa nova relação com o saber disponibilizado no ciberespaço manifesta-se através
de um paradoxo no sentido de que este viabiliza o acesso ao conhecimento, ao mesmo
tempo massificado e também personalizado, de longo alcance, se desdobrando
infinitamente em termos de abrangência, promovendo uma interface direta e estreita com o
usuário.
A produção acadêmica sobre as tecnologias educacionais e suas aplicações no
processo de ensino e aprendizagem é vasta; todavia, ainda há muito a se pesquisar, a se
conhecer e explorar face às possibilidades de construção de conhecimento nestes
ambientes nos quais, para se atuar faz-se necessária uma nova concepção de educação, uma
educação passível a ser diligenciada tanto em ambiente presencial quanto pela educação a
distância numa relação de complementaridade. Ao mesmo tempo em que se ampliam as
possibilidades, multiplicam-se as questões acerca do próprio conceito de escola, de cursos,
de disciplina curricular, do processo de ensinar e aprender e, sobretudo, acerca da avaliação
da aprendizagem.
Lembrando que a comunicação, dispensando da presença verdadeira das pessoas
faz surgir os consumidores (Berger apud Pretto, p. 55) nestes espaços de representação da
realidade, espaços de magia, destinado a manifestações do espírito, das emoções, dos
sentidos e dos sentimentos, conforme Pretto (2001, p. 102):
120
[...] a nova escola que se está construindo em vez de razão, o seu elemento mais tem que ter imaginação, fundamental. Essa nova escola que está sendo gestada, nesse processo, deverá estar centrada em outras bases não mais reducionistas e manipulador. O novo sistema educativo trará, por tanto, na perspectiva de formar o ser humano mercadoria, tendo esse sistema como base a realidade maquínica dos meios de comunicação59.
A Universidade, face à sua responsabilidade social, e à sua inalienável função de
formar o homem, o cidadão e o cientista, deve assumir o compromisso de induzir novas
formas de transformação social voltadas para os princípios e valores fundamentais da vida,
sendo que estes nem sempre estão presentes na óptica da racionalidade dominante nas leis
que ora (des) regulamentam os mercados. Cabe à educação, particularmente à educação
superior, desenvolver no sujeito as capacidades intelectuais que o ajudem a compreender e
transformar a sociedade e, nesse sentido, a universidade deve assumir o seu papel enquanto
agente de formação que tem por desafio pensar o profissional no mundo contemporâneo.
Cientes da necessidade de perseguir o rigor da ciência, investigar o impacto em
potencial que as novas tecnologias pedagógicas poderão ter no ensino e na aprendizagem,
nos conduz a trilhar caminho próprio, visto as possibilidades de construção de
conhecimentos nesses novos ambientes.
O aprofundamento dos estudos que nos permita repensar a reconstrução dos
currículos de graduação na universidade, na sociedade da informação, deve levar em
consideração a concepção de um novo espaço de aprendizagem em ambientes de novas
tecnologias de informação e comunicação; a relação entre informação e conhecimento; as
interações professores - alunos em ambientes presencias e em ambientes virtuais; as inter-
relações entre educação e comunicação; as atribuições da educação a distância conjugada ao
ensino presencial no sentido de elevar os índices de proficiência acadêmica.
59 CASTRO, Rosalva Ieda V.G. de. Sociedade em Rede: Ensino Superior (des) Conectado? In: Revista Brasileira de tecnologia Educacional. Anos XXX / XXXI, n. 159/160. Brasília: ABT, 2003, p. 70.
121
3.3. As novas tecnologias no ensino superior
Desde 1970, quando começou a discussão sobre a “sociedade da informação”,
sabe-se que estão ocorrendo significativas transformações na maioria das sociedades do
primeiro mundo, tanto no ponto de vista social quanto econômico. Se compararmos um
país desenvolvido como os Estados Unidos de América (EUA) com o Brasil, por exemplo,
os EUA, também tem na sua origem, uma sociedade agrária, depois se tornaram uma
sociedade industrializada e atualmente, uma sociedade baseada na tecnologia da
informação. O Brasil, por sua vez, ainda está em transição à fase agrária - industrial, ao
mesmo tempo em que possui fortes componentes da era da informação em andamento.
Nesse contexto, a informática, subsidiada pelas novas tecnologias, tem um poder
transformador que, às vezes faz com que um país queime etapas e acelere seu
desenvolvimento. Isso ocorre, com o uso das novas tecnologias educacionais aplicadas
presencialmente e a distância. Reconhecendo o poder transformador das novas tecnologias
da informação e comunicação, a maioria das agências internacionais de fomento ao
desenvolvimento e universidades privadas e públicas estão estabelecendo programas de
incentivo e financiamento da expansão e da utilização das tecnologias de informação em
todas as áreas do saber.
Na área da saúde, por exemplo, estão sendo propostos vários projetos muito
interessantes e de grande importância para o desenvolvimento dos sistemas de informação
na área. Um deles é uma Universidade Virtual de Ciências da Saúde60, que oferecerá muitos
recursos on-line em todas as áreas de especialização e níveis de ensino. Está sendo proposto
também um prontuário médico (informações médicas sobre pacientes) unificado e
padronizado, que funcione através de rede de computadores.
60 Disponível em: <http://www.epub.org.br/informaticamedica/>. Acesso em: 29 de maio de 2004.
122
A telemedicina61 é outra área extremamente procurada, e que deve passar por um
grande crescimento nos próximos anos. Muitos dos projetos propostos, como o da
Universidade Virtual, serão de iniciativa do Brasil, mas envolverão grande número de
países, globalizando a oferta e a demanda, mas o que essencialmente se pretende é que a
rede passe a ser cada vez mais acessível para todos, inclusive para os menos privilegiados
economicamente – os infopobres.
Nesse sentido, a maior parte das instituições de ensino superior no Brasil, se voltou
para a educação compartilhada – presencial e a distância – com as NTICs, a partir de 1994,
inaugurando o uso e a expansão da Internet no ambiente universitário. Atualmente, 27
instituições estão credenciadas pelo Ministério da Educação a oferecer cursos de graduação
on-line. A maioria, no entanto, é dirigida para a formação de professores e ainda utiliza a
tradição do material impresso.
Embora especialistas concordem que a Internet pode ser um meio de interação num
processo educacional de excelente qualidade, o recurso ainda tem uso limitado no Brasil.
Um dos motivos é o público que se quer atingir. Outro desafio para a utilização adequada
das novas tecnologias é que as universidades brasileiras sejam públicas ou privadas, não
têm experiência de produção de material especifico para uso na Internet.
O uso da Internet já é bastante disseminado como ferramenta de ensino,
permitindo o ensino de cursos a distância e, em casos simples, o apoio a atividades
presenciais, apesar de não se constituir em um meio completo, pois embora possa utilizar
vídeos, áudios e textos, não o faz tão eficiente quanto o videocassete, a televisão e os livros.
A Internet apresenta duas vantagens principais sobre os demais tipos de mídia: em
primeiro lugar, ela reúne e combina as vantagens comuns às demais mídias; por exemplo,
apresenta recursos de som e vídeo melhor que qualquer livro; é mais interativa que
qualquer videocassete e, finalmente, pode reunir, com baixo custo, pessoas distantes
61 Telemedicina:Transmissão de informações sobre pacientes, imagens, etc., e a consulta médica a distância.
123
geograficamente. A segunda vantagem é que, sem dúvida, é o recurso que possibilita a maior
quantidade e diversidade de informações no mundo atual. Através dela é perfeitamente
possível incorporar em um curso toda a informação disponível na rede.
Essa tecnologia combina interatividade com fotos, áudio, vídeo e texto impresso;
utiliza hyperlinks para reforçar conhecimentos ou apresentar explicações; permite que sejam
efetuadas avaliações on-line. Como nova ferramenta cognitiva representa um novo conceito
em tecnologia: a livraria em sua mesa de trabalho, o dicionário em seus dedos, o som em
seus ouvidos. É um recurso que está se tornando cada vez mais presente, tanto nos
escritórios quanto nas indústrias, ou mesmo em residências.
Neste contexto, enfatizamos que as novas tecnologias são instrumentos de
mediação desse processo, não podendo ser considerada, por tanto, como ator principal da
construção do conhecimento. Entretanto, devemos também assinalar que quando
utilizamos meios de comunicação, estamos utilizando sua linguagem, que é a base do
processo de conhecer. Portanto, um meio audiovisual, ou um ambiente informático, não
são meramente simples recursos. Ele influencia, decisivamente, no modo como se constrói
o conhecimento. Ou seja, com meios distintos, não somente se aprende de modo distinto,
mas também se produzem aprendizagens distintas.
O ensino, por muito tempo, baseou-se em um processo meramente de transmissão
de conhecimentos teóricos, descontextualizados da realidade e dos interesses dos alunos.
Essas abordagens não conseguiram garantir uma aprendizagem verdadeiramente
significativa para a sociedade. Atualmente, o advento da utilização das novas tecnologias de
ensino está gerando uma expectativa, talvez exagerada, de que estes novos ambientes
garantirão uma excelência na aprendizagem.
É evidente que os computadores e seus aplicativos por si só não trarão mudanças
efetivas, se não vierem acompanhados de propostas metodológicas que valorizem a construção
do conhecimento e de sua importância na realidade social do aluno. As novas tecnologias
124
serão importantes ferramentas na construção dos conhecimentos, permitindo que os
estudantes possam utilizar as diversas formas de transmissão da informação (escrita, visual,
sonora etc.) em benefício da construção de uma aprendizagem mais flexível e aberta.
É provável que muitos programas de computadores, ao serem colocados à
disposição da sociedade, já tenham escolhido no seu escopo uma certa carga ideológica
podendo proporcionar alteração na formação econômica, social, cultural e política nas
escolas e na sociedade na qual são introduzidas.
Muitos professores jamais passaram por uma carga de informação tão grande e sem
o estudo de uma estratégia adequada para uso dessa tecnologia, eles, se vêem forcados a
serem absorvedores de técnicas computacionais que dificilmente conseguem assimilar, pois
quando estão assimilando uma nova técnica, logo uma outra é colocada no mercado,
tornando a anterior ultrapassada.
Podemos explorar o uso do computador em várias modalidades, e em cada uma
delas, é possível existir transformações que podem ser diferenciadas pela forma e facilidade
com que os métodos e técnicas possam ser aplicados. Nesta última década tem se
presenciado essa mudança nas formas de disseminação de informação e conhecimento,
propiciando o desenvolvimento de novas metodologias de ensino e pesquisa. Essas
metodologias são baseadas em novas tecnologias de computação e mídias eletrônicas,
como constatamos na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – FOUSP.
A sociedade depende tanto dos computadores que muitas empresas, hospitais,
indústrias e mesmo pessoas comuns não conseguem viver sem o auxílio desta ferramenta.
Muitas pesquisas vêm acompanhando a relação que ocorre entre o ser humano e os
computadores, tanto é que a HCI (Human Computer Interating) foi instituída para estudar a
relação de interação homem-computador.
Com o surgimento e expansão do uso dessa nova tecnologia, se instala uma disputa
entre aqueles que defendem o uso do computador como um instrumento de ensino e outros
125
que a defendem como uma ferramenta de aprendizagem, Contudo, há aspectos fundamentais
por detrás das respectivas colocações. Na verdade, as duas posições em questão nada mais
são de que uma retomada, agora envolvendo o computador numa disputa que atravessa
milênios. Se, estudamos a história das idéias pedagógicas veremos que, desde seu início, há
dois paradigmas que se confrontam e disputam a justificativa dos pedagogos.
De um lado, há o paradigma que vê a educação como um processo de transmissão
de crenças, habilidades, valores, atitudes, costumes etc., conduzido pelas gerações mais
velhas em benefício das mais novas, e que tem por objetivo a continuidade da cultura e a
preservação das tradições do grupo social. A necessidade levada nesse estudo é
basicamente a social, a ênfase está nos conteúdos a serem transmitidos, e,
conseqüentemente, no processo de ensino e no papel do professor.
De outro lado, há o paradigma que concebe a educação como um processo de
desenvolvimento do ser humano, processo este que, em condições próprias, leva ao
desabrochar das suas potencialidades, da sua criatividade, da sua inventividade. O produto
final desse processo é o indivíduo autônomo que aprende por si próprio, porque aprendeu a
aprender através de um processo de busca, de investigação, de descoberta e de invenção. A
prioridade induzida nesse estudo é, basicamente, a necessidade individual, com ênfase nos
processos a serem dominados por ele, e, conseqüentemente, na aprendizagem e no papel
que cada um possui na construção dessa aprendizagem.
Os defensores do segundo paradigma acreditam que a escola contemporânea está
dominada pelo primeiro paradigma. Este acontecimento fez, que se integrassem,
naturalmente, aos métodos pedagógicos convencionais – fato que, de outra forma, explica
porque professores aceitam o auxílio do computador com sensata facilidade.
Em sua tentativa de desbancar um paradigma que consideram ultrapassado, os
defensores da “aprendizagem por descoberta” procuram fazer do computador seu principal
126
aliado. Esperam que o computador possa ajudá-los a promover uma transformação
profunda dos objetivos e métodos da educação tradicional.
Este estudo insere-se no segundo paradigma, uma vez que, as ferramentas utilizadas
no Laboratório de Mídias na FOUSP, otimizam o aprendizado. Nas práticas - baseadas no
aprendizado colaborativo entre alunos, professores e estagiários - a capacidade interativa do
computador; ajuda-lhes a assinalar erros, assim como lhes permitindo repetir as práticas,
pois, o estudante precisa delas para aperfeiçoar seu aprendizado e pesquisa. Papert, criador
da linguagem de programação LOGO, inspirou-se na filosofia da educação; seu objetivo
fundamental é a promoção da filosofia da educação associada com o segundo paradigma,
que ele assimilou de Jean Piaget.
Resta perguntar quem tem razão, se os proponentes do primeiro ou os proponentes
do segundo paradigma. Não obstante, como em toda discussão em que posições se
radicalizam, nenhum dos dois lados tem toda a razão e nenhum dos dois carece totalmente
de razão.
Não resta a menor dúvida de que há contextos em que o ensino formal e
deliberado de determinados conteúdos faz sentido e é justificável. Talvez esses argumentos
se identifiquem mais como conjunto de treinamentos do que como contextos
propriamente educacionais, mas que existem não há dúvida. Obviamente ninguém querer
que pilotos de avião ou cirurgiões (por exemplo) aprendam por descoberta tudo o que têm
que aprender. Muitos poderiam morrer até que descobrissem o jeito certo de voar ou
realizar um ato cirúrgico, se é que o descobririam deste modo. Também não faz sentido,
mesmo em contextos educacionais, esperar que todos aprendam, por descoberta, tudo o
que têm que aprender.
Assim, se a educação se esgotar no processo de transmissão de conhecimentos e
dos valores criados pelas gerações anteriores, sem a geração de conhecimento novo, sem o
127
questionamento de valores, sem a inventividade e a inovação, deixarão de existir evolução
cultural e progresso, passando a haver estagnação ou mesmo retrocesso.
É preciso conhecer que a aprendizagem é algo que ocorre durante a vida inteira, e
não apenas na escola e que é importante reconhecer que poucas pessoas aprendem a
aprender por si próprias, sem nenhum ensino-aprendizagem nas escolas. Normalmente a
noção de aprender a aprender é utilizada apenas como um chavão, um slogan sem conteúdo.
Mas é possível atribuir-lhe importância.
3.4. As NTICs e suas interfaces com as ciências da saúde e ciências
biomédicas
Com base na premissa de que a história da ciência se modificou configurando
momentos de normalidade e de revolução científica, sendo esses representados pela busca
de respostas às indagações acerca da sociedade, é possível inferir que o homem sempre
procurou desenvolver sua capacidade física cognitiva, por meio de tecnologias que, de uma
forma ou de outra, intercedem seu relacionamento com a natureza.
Agora, atrelados, ao processo revolucionário das novas tecnologias, entramos em
uma fase mais avançada, que traz como potencial a aceleração das novas descobertas para o
melhor aproveitamento nas ciências da saúde, nas biomédicas e demais ciências que se
entrelaçam e compartilham os benefícios dessas descobertas.
Essas novas tecnologias contribuiriam significativamente para a libertação do
homem, por meio das facilidades cotidianas e do aumento da sua capacidade cerebral.
Tanto a revolução industrial quanto a informacional têm contribuído para a maximização
do trabalho e da comunicação entre os homens.
Assim, acreditamos que é preciso garantir a apropriação das interfaces que ampliam
a inteligência, e não somente as próprias extensões sensoriais do corpo humano, com
grande valia das NTICs. Nesse sentido, nosso trabalho fez um percurso panorâmico do
128
uso dessas novas ferramentas eletrônicas, em áreas biomédicas e ciências da saúde, na
Universidade de São Paulo, que apresentamos a seguir.
3.4.1. Escola de Enfermagem da USP Campus de São Paulo
No mundo contemporâneo – a chamada sociedade da informação – pesquisadores de
diversas áreas da atividade humana buscam novos recursos e ferramentas para a
disseminação cada vez maior e melhor dos conhecimentos.
Na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP), Campus da
Capital, acredita-se nas enormes possibilidades e também nos desafios que as Novas
Tecnologias da Informação trazem para a melhoria da qualidade do ensino e pesquisa,
garantindo vantagens e benefícios para toda a população que precisa tratamentos muito
mais eficientes nessa área da saúde.
Figura 6 – As tecnologias de informação e suas interfaces com as ciências da saúde
Essas possibilidades e desafios incidem principalmente sobre o docente,
sintetizadas em algumas dificuldades enfrentadas. O professor deste século encontra-se
com maiores dificuldades para controlar o fluxo de informação recebida cotidianamente
pelos alunos, se comparado com o professor do século passado. A variada
instrumentalização das informações distribuídas no ciberespaço, em forma de rede, e, que
de alguma maneira atingem aos estudantes, pois, essas redes se apresentam como uma
“escola paralela”, analisado por Mc Luhan ao referir-se à “escola sem muros”.
129
Tradicionalmente, a força física predominava em todas as atividades humanas
desde a produção de riqueza material até a intelectual (impressão de livros). Hoje, a
inteligência e os conhecimentos constituem a base do capital humano, pois, existe a constante
busca da informação e sua aplicação na produção, possibilitando um avanço no perfil da
competência e da empregabilidade. Segundo a Profa. Dra. Maria Madalena Januário Leite,
“o conhecimento é inexaurível e provisório e tornou-se valioso, transcendendo fronteiras,
sendo verdadeiramente global62 ”.
Na EEUSP, se concorda que no cenário atual, acontecem mudanças em ritmos
acelerados, apontando câmbios irreversíveis nessa sociedade pós-industrial. Nela, essas
mudanças, encontram espaços apropriados para o surgimento de paradigmas, os quais
fornecem tendências para novos valores.
Com o uso das novas tecnologias de informação, e comunicação as possibilidades
de criatividade acrescentam-se no desenvolvimento profissional dos indivíduos. Elas
podem auxiliar produzindo criações espetaculares, fazendo que os dois hemisférios do
nosso cérebro (esquerdo e direito) dialoguem, o que resultarão em criações inimagináveis.
Atualmente, os professores que têm acesso às novas tecnologias – infelizmente uma
minoria - não podem se queixar de que não têm material didático, pois com as novas
tecnologias, a criatividade se faz muito mais eficiente.
Referente às tecnologias da informação aplicadas na saúde/enfermagem, a Escola
de Enfermagem lançou uma proposta curricular e uma proposta pedagógica. Pois, elas
trazem vantagens no ensino e na pesquisa, sobretudo nos seguintes aspectos:
• mudanças nos padrões e condutas;
• mudanças no processo de trabalho do professor e do aluno;
• maior produtividade com melhor qualidade de resultados;
62 Palestra no 1º. Workshop na Escola de Enfermagem da USP, Campus da Capital, intitulado “Tecnologia da Informação para o apoio ao ensino de enfermagem”, realizado em 23 de junho de 2005 em São Paulo.
130
• maior satisfação do professor e do aluno;
• trabalhar com essas tecnologias em forma prazerosa.
Na EE da USP, as novas tecnologias da informação encontram muitas
possibilidades para a sua realização, porque o sistema de rede ajuda à socialização das
informações, beneficiando o ensino e o desenvolvimento de programas de capacitação por
meio de tele-educação, comprovado na nossa dissertação de mestrado, onde enfatizamos a
tele-educação para contribuir com a capacitação e atualização profissional dos estudantes,
e, colaborando com a eliminação do analfabetismo funcional.
Por outro lado, as novas tecnologias evidenciam também algumas dificuldades para a
sua aplicação, fato percebido na Escola de Enfermagem da USP, quais sejam:
• despreparo tecnológico de alguns docentes que necessariamente precisam
utilizar as tecnologias da informação;
• política de valorização das pesquisas e produção científica, falta de uma política
de informática, para desenhar e empregar melhor a “lousa interativa”;
• a tecnologia de informação é um meio, não um fim. Nesse sentido as tecnologias
de informação servem para o aprender fazendo e o aprender também analisando.
Na Escola de Enfermagem também se analisam os desafios institucionais no
ensino, observando-se que a política de capacitação tecnológica no Brasil, ainda é
incipiente, porque das que acontecem, se é que ha, não incorporam as tecnologias de
informação no processo de trabalho do professor. Além de outras questões como: apoio
institucional para o desenvolvimento dos programas, alto custo de implantação e
manutenção tecnológica, infra-estrutura e apoio interno. Formalizadas estas questões
garante-se o trabalho multidisciplinar do curso.
O grande desafio individual no uso das novas tecnologias de informação na Escola de
Enfermagem é necessário saber operar o computador enquanto instrumento de apoio ao
131
trabalho, usar o processador de textos, quer dizer, utilizar essa máquina para a
aprendizagem e acessar bibliotecas informatizadas ou virtuais.
Os desafios da EE, para a incorporação das novas tecnologias de informação para
o uso na enfermagem, implicariam os seguintes fatos:
• reconstrução de um novo projeto tecnológico;
• construção de uma nova concepção da informática no ensino-aprendizagem e
na pesquisa;
• capacitação tecnológica e pedagógica do docente;
• construção de novas competências do profissional enfermeiro;
• dimensão humana da prática da enfermagem e as novas tecnologias da
informática em enfermagem.
O workshop (1o. nesta escola) foi assistida em outros campi da USP, por meio de
teleconferência para o interior do Estado de São Paulo, o que proporcionou a
interatividade com os lugares acessados.
No primeiro semestre de 2005 a EEUSP também realizou, oito video-conferências,
apoiadas pela infra-estrutura da rede, as salas de informática e os laboratórios de Ensino
virtual, pois, à medida que as novas tecnologias se inovam, a telenfermagem seguirá os rumos
desse desenvolvimento para uma melhor capacitação do profissional da saúde, o que trará
benefícios a toda a sociedade que precise dos serviços assistências de saúde.
3.4.2. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
A Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) segue a tendência de usar as
novas ferramentas da informática, aliadas para a disseminação cada vez maior dos
conhecimentos. Com recursos modernos de tecnologia e aulas teóricas-práticas mais
humanizadas, a unidade coloca em pauta a tele-enfermagem. As aulas demonstrativas
ganham ainda mais qualidade e fazem com que diminua a exposição dos pacientes.
132
A tele-enfermagem começou a ser desenvolvida no Brasil em 2000, pelo Grupo de
Estudos e Pesquisas em Comunicação no Processo de Enfermagem (GEPECOPEN), com
sede no Centro de Comunicação e Enfermagem da EERP. O grupo trabalha com várias
vertentes na área de Comunicação em Enfermagem e Saúde e foi idealizada pela Professora
Izabel Amélia Costa Mendes, atual diretora da unidade. O GEPECOPEN também é um
dos responsáveis pela organização, do Simpósio Brasileiro de Comunicação em
Enfermagem (SIBRACEM), que ocorrem a cada dois anos.
Segundo a Professora Isabel, um dos projetos de tele-enfermagem desenvolvidos
pelo grupo consiste na utilização de vídeo-conferência como tecnologia de apoio para
demonstração de procedimentos de enfermagem no paciente, a distância e em tempo real.
Um professor desenvolve as ações com o paciente no hospital, enquanto os alunos -
situados em sala de aula ou em laboratórios de ensino na EERP - assistem e interagem com
aquele professor e com o próprio paciente. Tendo em vista que “nos laboratórios de ensino
os alunos estão sempre acompanhados por outros professores, que dinamizam as aulas a
partir do conteúdo ensinado por telenfermagem”63, diz a professora.
A docente ressalta que as transmissões ocorrem sempre com a autorização do
paciente. As aulas acontecem em tempo real, permitindo que os alunos esclareçam suas
dúvidas simultaneamente ao procedimento, pois o sistema capta imagem e som em ambas
extremidades da comunicação (sala de aula / hospital).
A telenfermagem proporciona várias vantagens, tanto para o paciente como para o
professor e o aluno. Uma das prioridades, além do avanço do ensino apoiado em
tecnologia, é tornar as aulas que envolvem demonstrações em pacientes, tornando-as mais
humanizadas. Com o uso das novas tecnologias em enfermagem pode-se minimizar a
exposição do enfermo, isso acontece com freqüência nas aulas tradicionais onde os alunos
63 TALAMONE, Rosemeire Soares. “O saber em tempo real”, In: Jornal da USP, No. 740, ano XXI, de 6-16 outubro, pág. 9, São Paulo: 2005.
133
precisam se posicionar ou ficar ao redor do leito, o que não permite a mesma visibilidade a
todos os alunos.
Nas aulas mediadas por vídeo-conferência, isso não ocorre, porque o sistema
garante mais qualidade, conforto e uniformidade dos participantes. Assim, todos podem
acompanhar as aulas demonstrativas de um mesmo ângulo. Outra vantagem é a diminuição
do estresse no aprendizado, pois quando o aluno chega ao hospital já tem o conhecimento
prévio do ambiente e dos procedimentos, e de que a aula será compartilhada com outras
instituições de ensino.
A telenfermagem pode ser usada no ensino de graduação, pós-graduação, cursos de
extensão e também no desenvolvimento de pesquisas. O projeto da telenfermagem exigiu da
GEPECOPEN – Grupo de estudos e pesquisas em comunicação no processo de
enfermagem - parcerias que envolveram, além da EERP – Escola de enfermagem de
Ribeirão Preto - o Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
(FMRP) e o Centro de Informática de Ribeirão Preto (CIRP). Em 2004 o projeto de
telenfermagem firmou cooperação com a disciplina de Telemedicina da USP, em São Paulo.
3.4.2.1. Defesa on-line
Uma outra comprovação de que as novas tecnologias estão sendo usadas para
apoio ao ensino, à pesquisa e à divulgação dos conhecimentos foi a defesa realizada em
tempo real na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB). Nessa Faculdade foi realizada a
primeira apresentação de uma dissertação de mestrado na USP via satélite, o que ocorreu
no dia 23 de maio de 2005. O evento foi retransmitido para 208 telesalas distribuídas em 24
estados brasileiros.
A dissertação escrita por Ticiane Cestari Fagundes intitulada “Influência do ultrasom na
resistência adesiva a dentina de cimentos de ionômero de vidro”, foi discutida pela banca examinadora
134
através de teleconferência com sinal codificado e imagens transmitidas via satélite, com
interatividade em tempo real através de e-mail, fax e telefone.
Cerca de 600 pessoas, em sua maioria cirurgiões-dentistas, participaram da
apresentação da dissertação nas telesalas criadas a partir de parcerias estabelecidas com
vários municípios chamadas de “unidades convencionadas”. Nelas encontram-se
equipamentos que fazem a captação de imagens enviadas pela central na Universidade
Norte do Paraná (UNOPAR), em Londrina. O evento também ficou disponível via
Internet, o que contribuiu para que os profissionais da Universidade Estadual e Federal de
Rio de Janeiro acompanhassem a defesa.
A teleconferência é um sistema que permite a transmissão de áudio e vídeo em
tempo real. Possibilita a realização de reuniões virtuais, reunindo pessoas separadas muitas
vezes, por grandes distâncias. Esse recurso utilizado na realização de um seminário virtual,
em reuniões de negócio e, agora, em defesa de tese e dissertações, assim como em
telemedicina.
A FOB – Faculdade de Odontologia de Bauru - e a UNOPAR – Universidade do
Norte do Paraná - foram parcerias nessa iniciativa pioneira. Bauru e Londrina receberam
imagens e som com qualidade de televisão. De Bauru para Londrina foram enviados sinais
pela expositora com a mesma qualidade. Os sinais de áudio e vídeo da Profa Daniela,
captados em Londrina, foram enviados para Bauru, via satélite. Todo o material recebido
em Londrina foi transmitido para o satélite no segundo canal, pertencente à UNOPAR, e
para todo o Brasil. “Toda a tecnologia usada foi desenvolvida pela UNOPAR”,64 explica a
Profa. Dra. Maria Fidela de Lima Navarro, diretora da FOB e orientadora da Ticiane.
A proposta foi aprovada pelo Conselho Universitário da USP, que autorizou que,
no caso de dissertação de mestrado, um membro da banca examinadora fizesse a análise a
64 LEÃO, Isabel. Defesa em Tempo Real. In: Jornal da USP, de 6-12 de junho, São Paulo, 2005, p. 14
135
distância. Para a tese de doutorado, foi autorizado que até dois membros da banca
participem através de vídeo-conferência ou via satélite.
[...] a teleconferência permite que um conhecimento novo, no caso um trabalho de pesquisa, esteja disponível em tempo real para uma gama muito ampla de pessoas além da comunidade acadêmica da USP. Foi uma apresentação vista nos quatro cantos do Brasil. Uma defesa feita pelo sistema normal, sem ser via satélite, leva um longo período de tempo até ser disponibilizado na biblioteca virtual de tese da USP. Neste caso, a transmissão se deu instantaneamente colocando o que se pesquisa na academia mais próximo da sociedade.
diz a Profa. Dra. Suely Vilela, atual Reitora da USP.65
Acredita-se que essa inovação na USP traz vários benefícios, como a redução de
gastos com professores convidados externos e ao aproveitamento dessa ferramenta
tecnológica disponíveis. A defesa em tempo real, apoiada pelas novas tecnologias de
comunicação não traz prejuízos aos alunos candidatos visto que essa modalidade de defesa
é garantida pela eficiência da transmissão da tecnologia utilizada.
Uma preocupação do Conselho Universitário (CO) se referia à operacionalização
da teleconferência, que poderia acarretar atraso e dificuldades de entendimento. Embora
esses problemas possam existir, o sucesso de Bauru garante que novas defesas sejam feitas
dessa forma. A teleconferência permite criar um espaço destinado à troca de informações e
à disseminação de conhecimentos não exclusivamente circunscritos à comunidade interna
de alunos, docentes e pesquisadores, mas abre caminho para que outras entidades
geradoras de conhecimentos e pesquisas possam participar e receber em tempo real o que
se produz cientificamente nas universidades.
A diretora da FOB, acredita que essa tecnologia pudesse trazer maiores benefícios,
com alcance mais abrangente. Ela disse: “o modo como a tecnologia foi disponibilizada e o
acesso a Internet facilitaram a participação das pessoas”. A parceria entre a FOB e a
UNOPAR se dá através do sistema de ensino presencial conectado. Vários professores de
Londrina foram formados pelo campus de Bauru.
65LEÃO, Isabel. Id., p. 15
136
A tecnologia desenvolvida pela UNOPAR é uma parceria com a Microsoft para a
codificação e decodificação do sinal. Para efetuar a recepção das aulas, o diretor de
tecnologia em desenvolvimento da UNOPAR, utilizou uma antena banda KU, setupbox,
computador com placa de vidro com saída de televisão, datashow, caixas acústicas
amplificadas, microfone sem fio para perguntas nas localidades remotas e uma webcam para
o retorno das telesalas.
O ionômero de vidro, assunto abordado na defesa, é um material que esta sendo
largamente utilizado na adequação do meio bucal, antes de o paciente receber restauração
definitiva. Segundo Ticiane,: “o ionômero é melhor que a resina, mas ainda apresenta mais
deficiência na resistência e na adesão da estética bucal. Ao explicarmos o ultrasom, o ionômero
mostrou melhor aderência e as propriedades mecânicas de resistência à compreensão e à
microdureza foram positivas, demonstrando resultados satisfatórios”.66
3.4.3. A Telemedicina na Faculdade de Medicina da USP
O curso de Telemedicina é o pioneiro dessa forma de ensino na USP, mas, no Brasil,
ainda está desenvolvendo-se gradativamente, se comparada com países europeus e com os
Estados Unidos, os quais exploram e usam a Telemedicina da mesma forma que o faz nosso
sistema bancário, há mais de vinte anos. Se de um lado não existe banco algum que não
esteja inserido nas tecnologias, do outro, não há nenhum hospital que as utiliza
satisfatoriamente.
Não existe assistência médica em inúmeras regiões do território brasileiro. A
Telemedicina poderia suprir essa deficiência. Há carência de educação sanitária e medidas
preventivas contra doenças que assolam o país; a Telesaúde poderia provê-las. A disciplina
de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) recebeu em boa hora, uma
66 LEÃO, Isabel. Id., p. 15.
137
generosa contribuição do Banco Alfa, o que proporcionou um notável impulso às ações,
indo muito além das fronteiras da FMUSP e de seu complexo hospitalar das Clínicas.
Desde 1997 existe o curso de Telemedicina para alunos de graduação e pós-graduação
da USP. Diante do rápido avanço nas descobertas científicas e da enorme velocidade para
divulgá-los através das NTICs, a durabilidade dos conhecimentos – “média vida” – são de
três a quatro anos, isto é, se um estudante acabou o curso há quatro anos, precisa atualizar
imediatamente pelo menos 25% dos conhecimentos, pois o aprendido ficou obsoleto.
As ferramentas educacionais, na área da educação da saúde, a dinâmica da
iconografia e os objetivos propostos, indicam o aprendizado colaborativo. O fato de
empregarem-se ferramentas para o ensino insinua uma aprendizagem construtivista, esse
aprendizado está baseado em problemas e a medicina baseia-se em evidências.
Na FMUSP, acredita-se que a educação atual apoiada nas novas tecnologias
aprimora os recursos didáticos e incentiva o poder da comunicação. Comunicação através de
símbolos, que deu origem ao Homem Virtual67, que nasceu do ícone-iconografiado.
Portanto, o homem virtual viria a ser a tradução gráfica de um conjunto de informações.
Parceria da disciplina de Telemedicina FMUSP com o Ministério da Educação (Secretaria de
Educação a Distância) levará informações de saúde para os alunos de ensino médio. Em
fase de produção, programas sobre temas relevantes em saúde da pele serão transmitidos
por meio da TV Escola para quase 40 mil estabelecimentos da rede pública de ensino.
A TV Globo fez diversas reportagens mostrando a importância do Homem Virtual
para a educação de estudantes de medicina e da população geral. O quadro “Questão de
Peso”, apresentado pelo médico Drauzio Varella, no programa Fantástico, utilizou
iconografias especialmente produzidas para o programa, que facilitaram a compreensão das
causas e conseqüências da obesidade. Atualmente a emissora possui convênio com a
67 Homem Virtual, é um objeto de aprendizagem que alia ilustrações dinâmicas em três dimensões (3D) ao conhecimento científico especializado. Sua capacidade de comunicar, com rapidez e eficiência, temas relevantes para a saúde pública tem gerado grande reconhecimento por parte da grande mídia e órgãos governamentais. Disponível em: <www.homemvirtual.com.br>. Acesso em: 24 de junho de 2005.
138
disciplina de Telemedicina da FMUSP para a utilização do Homem Virtual nos programas e
matérias que abordem temas de saúde.
Além do Homem Virtual existem outras áreas para o estudo e divulgação com apoio
das modernas tecnologias de informação e comunicação. Essas áreas e programas são:
3.4.3.1. Programa de Telepatologia
Possibilita às faculdades de medicina de todo o país o acompanhamento de autopsias
on-line, por vídeo-conferência. Através do Centro de Tecnologia da disciplina de Telemedicina
da FMUSP, as instituições são conectadas com o serviço de verificação de óbitos da
Capital. Antes da autopsia os alunos debatem o caso clínico com especialistas do
departamento de Patologia. Os estudos são complementados pela Internet, onde se
encontram as aulas didáticas e todos os casos clínicos analisados por vídeo-conferência,
com exercícios interativos.
3.4.3.2. Aprendizado multimídia
O CD-ROM sobre doença pulmonar obstrutiva contém aulas, esquemas didáticos,
casos clínicos com os respectivos vídeos de autopsia, fotos macro e microscópicos e o
Homem Virtual, todos acompanhados de narração e comentários de especialistas. O CD-
ROM dá direito a um certificado, após avaliação do aprendizado por especialistas do
Departamento de Patologia da FMUSP, por meio da Internet.
3.4.3.3. Cybertutor
Sistema estabelecido na Internet para Teleducação, caracterizado pela
interatividade, avaliações automáticas e controle do desempenho durante a aprendizagem.
Os alunos são beneficiados pela facilidade de comunicação com especialistas e de
organização de seu próprio tempo de estudo, sem os inconvenientes do espaço físico e ou
horários determinados.
139
3.4.3.4. Sala de aula do futuro
Há uma nova forma de ministrar aulas e palestras, de forma presencial ou a distância. A
exposição do professor chega ao computador, notebook ou pocket PC do aluno, em tempo
real, por vídeo streaming. Também são transmitidos todos os recursos didáticos empregados
(apresentação em Power-point, sites, vídeo-conferências, imagens em 3D etc.), inclusive com
as anotações eletrônicas do professor. Há a possibilidade de interação por meio de chats.
3.4.3.5.Telemedicina: estratégia para controlar a Hanseniase
A FMUSP, através do seu Departamento de Dermatologia e da Disciplina de
Telemedicina firmou um projeto conjunto com a Organização Panamericana de Saúde para
avaliar a potencialidade da Telemedicina no controle da Hanseníase no país. O programa, que
poderá ser estendido pelo Ministério da Saúde, envolve a capacitação de médicos,
profissionais da saúde e agentes comunitários do Estado de São Paulo, no uso de
ferramentas para teleassistência e teleducação, incluindo o Cyberambulatório, Cybertutor e Homem
Virtual.
O Projeto Telemedhansen pode evoluir para a estruturação de uma Ação Nacional de
Prevenção e Controle (ANAPEC). O principal objetivo é de criar uma rede de alcance
nacional para a educação, com o encaminhamento de casos suspeitos (teletriagem) e
possibilitar uma segunda opinião médica. A ANAPEC – Hanseníases propõe a utilização
de diversos recursos tecnológicos – desde a Internet por linha discada até sistemas de
vídeo-conferência, relacionados de acordo com a necessidade e infra-estrutura de cada
local.
As grandes campanhas informativas, divulgadas na mídia geral, são importantes
para alcançar vários segmentos da sociedade, colocando o tema em debate. Mas seu efeito é
mais eficaz e duradouro se forem acompanhadas de ações continuas de educação e suporte
assistencial, com formas de comunicação e didáticas adequadas para motivar os diferentes
públicos envolvidos. É assim que funcionam as Ações Nacionais e Permanentes de
140
Controle (ANAPECs), uma contribuição da Disciplina de Telemedicina e do Depto. de
Dermatologia da FM da USP para a sociedade.
A proposta da FMUSP com a estruturação da ANAPEC à Hanseníase, é interligar,
por meio da telemedicina, centros de referências na pesquisa e tratamento da doença,
hospitais, postos de saúde, universidades, escolas, governos e órgãos de apoio. A estratégia
de controle prevê a participação de profissionais da área de beleza, como esteticistas,
manicures, massagistas e cabeleireiros. Com treinamento adequado, eles poderão detectar
manchas suspeitas em seus clientes e encaminhá-los aos serviços de saúde credenciados.
3.4. 4. As NTICs no Instituto de Ciências Biomédicas da USP
A era pós-industrial se caracteriza não mais pela intensiva utilização de máquinas,
mas pela veemente aplicação do conhecimento. O imput mais valorizado não é nem a
matéria prima, nem o capital financeiro, nem os equipamentos, mas cérebros. Por isso, em
nenhuma outra época foi tão importante a escola dar conta da sua missão em relação ao
compartilhar e divulgar o conhecimento.
Nesse sentido, no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, o pesquisador Prof.
Dr. Ciro Ferreira da Silva, do Departamento de Histologia e Embriologia, desenvolve um
sistema de ensino através da técnica da estereoscopia, que usa imagem tridimensional (3D)
como proposta de incrementar e enriquecer as aulas expositivas. Esta técnica pode ser
usada em disciplinas exatas, biológicas e humanas. Numa palestra realizada em 19 de maio
de 2004, o professor declara:
[...] quero mostrar o quanto é possível aplicar a técnica da estereoscopia tanto na área biológica quanto nas humanas, possibilitando que objetos históricos importantes saiam dos museus e sejam mostrados para um grande número de pessoas de uma forma lúdica e de fácil visualização. A técnica facilita o entendimento das peças utilizadas no estudo das Ciências Biológicas.68
68 LEÃO, Isabel “Para ensinar mais e melhor”, In: Jornal da USP/ Cultura, No. 689, de 7-13 de junho, pág. 8. São Paulo, 2004.
141
A apresentação foi feita em um telão, utilizando dois sistemas de datashows
sincronizados. Antes de entrar na sala, a platéia recebeu óculos escuros de polarização, que
tem a função de sobrepor corretamente as imagens geradas separadamente pelos dois
aparelhos. É daí que vem a sensação de que as imagens são reais, pois os óculos agrupam as
imagens dando perspectiva e profundidade. Ele comenta: “[...] Essa técnica permite que o
ensino fique, mas dinâmico e o aluno não se sinta aborrecido com aulas simplesmente
expositivas[...]”.69
Figura 7 – Cérebro tridimensional criado pela técnica da estereoscopia
O professor Ciro salienta que os educadores e educandos que se dedicassem às
tecnologias de ensino podem melhorar a qualidade do conhecimento em sala de aula.
Os equipamentos para desenvolver a técnica da estereoscopia com imagens estáticas já
existem no Departamento de Histologia e Embriologia do ICB da USP e se compõem de:
microscópio eletrônico, lupa, câmaras de vídeos e, outros aparelhos. A equipe do Prof.
Ciro coleta o material e o seleciona para ser fotografado. Inclusive estão sendo
fotografados embriões nas diferentes fases do desenvolvimento. Será preciso dissecá-los e
mostrar os diferentes órgãos e como eles são formados. O objetivo é montar uma aula
completa sobre embriões com a técnica da estereoscopia70.
69 LEÃO, Isabel. Id. p.8 70 A estereoscopia é uma reprodução artificial da visão humana, que é possível pela existência de células fotossensíveis na retina. Deriva dos termos gregos stereos e skopein, que significam sólido ou relevo e ver – ou seja, visão em relevo. A visão estereoscópica resulta do fato de que o olho humano, em decorrência da sua
142
A freqüente interpretação de estéreo no sentido de observarem-se dois objetos é
resultante de necessitarmos de dois olhos e dois ouvidos para vermos e ouvirmos
espacialmente. Esse é um fenômeno natural que ocorre quando uma pessoa observa uma
cena: são obtidas simultaneamente duas imagens da cena a partir de pontos de observação
ligeiramente diferentes. O cérebro, então, funde as duas imagens em uma única e, nesse
processo, obtém informações quanto a profundidade, distância, posição e tamanho dos
objetos presentes na cena gerando a visão 3D (tridimensional).
Isso ocorre porque a visão resultante da posição alinhada dos olhos permite que um
objeto seja visto de ângulos diferentes, um mais à direita e outro mais à esquerda. O
processamento dessas informações pelo sistema nervoso central propicia a percepção de
profundidade. Quando já houve contato com o objeto, há uma noção imediata de
tridimensionalidade, pela evocação de dados contidos na memória. O Professor Ciro
ressalta: “Uma imagem vale mais do que mil palavras. Já uma imagem tridimensional vale
mais do que mil imagens bidimensionais”.
A técnica da estereoscopia pode ser usada em qualquer área do conhecimento. Nas
ciências biológicas, estudos comprovam que a qualidade final da imagem na luz polarizada
é a melhor porque não altera a coloração natural da peça fotografada, mantendo traços
nítidos, com o menor custo. Essa técnica permite uma melhoria no aprendizado e facilita a
memorização; é menor a necessidade de cadáveres e segmentos anatômicos para o estudo
prático e também há um menor contato com substâncias conservantes tóxicas, como o
formol.
Com o uso da estereoscopia na anatomia, não é preciso que alunos estejam dissecando
cadáveres, que é uma prática muito trabalhosa, a estereoscopia é feita por etapas e cada uma
delas é fotografada para mostrar com detalhes todo o processo. Parte-se do todo para o
especifico. É como um escultor que de um bloco de mármore chega à escultura. Vai-se localização na face, enxerga imagens ligeiramente diferentes da cena. In: Jornal da USP, No. 689, de 7-13 de julho de 2004, pág. 8.
143
atrás das estruturas mostrando o processo. O aluno precisa olhar a partir da superfície o
que tem dentro do corpo.
Nos fins do século passado e começo deste, a estereoscopia adquiriu grande
divulgação como entretenimento. As primeiras máquinas estereoscópicas, que
possibilitavam uma simples imagem de estereograma, foram fabricadas depois do
surgimento da fotografia. Outros dispositivos necessários à observação de estereogramas
usufruíram um considerável aperfeiçoamento, criando-se, por exemplo, os óculos verde-
vermelhos, ainda hoje muito divulgados.
Além das imagens fixas, a estereoscopia pode se transformar num filme. Ao invés
de trabalhar com duas câmeras estáticas, é possível colocar dois vídeo-câmeras, lado a lado,
e filmar a cena. Cada câmera terá uma perspectiva diferente e depois é preciso projetar a
imagem e sincronizá-la. Mas, a sincronização é feita com um equipamento específico, que é
muito caro.
3. 4. 4. 1. Outros centros pesquisados
Nosso trabalho considerou também, outras unidades e centros de pesquisas na USP
as quais vêm incorporando no seu cotidiano o uso dessas novas ferramentas para o ensino,
a pesquisa e a divulgação dos conhecimentos com as NTICs, esses centros foram:
a) Faculdade de Medicina, na disciplina de Telemedicina, onde o Prof. e Pesquisador
Dr. Chao Lung Feng e uma equipe de profissionais desenvolvem o Projeto “Homem
Virtual” –considerado por ele como patrimônio do Brasil – no referido curso aplicam-se as
novas tecnologias para a criação de imagens tridimensionais, para o ensino, pesquisa e
divulgação da prevenção de hanseníases e outras doenças;
b) Escola Politécnica, e seu espaço virtual: “Caverna digital”, que visa uma linha de
ação e extensão da USP Digital. Ela subsidia opções para o emprego das NTICs em outras
esferas do saber.
144
c) Estação Ciência uns dos espaços culturais mais cativantes e surpreendentes de São
Paulo, onde são desvendadas a ciência e a tecnologia nas suas modernas salas com atrações
interativas, objetivadas, na difusão da ciência para alunos de ensino médio e público em
geral. Oferece durante todo o ano, cursos, eventos e programações especiais.
d) Escola do Futuro, é um laboratório interdisciplinar que investiga como as novas
tecnologias de comunicação podem melhorar o aprendizado em todos seus níveis. A
Escola do Futuro deseja explorar e implementar propostas inovadoras, utilizando recursos
como a Internet e a multimídia para a maximização das possibilidades do ensino e da
aprendizagem.
e) Cidade do Conhecimento, é um programa da Universidade de São Paulo que
promove a criação, a incubação e o desenvolvimento de projetos por meio de redes digitais
colaborativas.
3.5. A linguagem das novas mídias eletrônicas e a educação
Ninguém de raciocínio instável pode negar o poder dos meios de comunicação
sobre o conhecimento, as novas descobertas e o modo de ver a realidade. A avalanche de
imagens e mensagens audiovisuais transmitidos pelos meios de comunicação atinge a toda a
sociedade. É importantíssimo o papel que os meios de comunicação representam como
mediadores da realidade no processo pedagógico da apropriação de conhecimentos, uma
vez que eles têm a capacidade de registrar e transmitir o acúmulo de conhecimentos já
produzidos pela humanidade ao longo da história. O uso pedagógico desses meios de
comunicação busca refletir como podem ser utilizados esses poderosos transmissores de
informação em benefício da sociedade.
A era pós-industrial é caracterizada não mais pela utilização de máquinas, mas pela
veemente aplicação do conhecimento. O cérebro substitui à matéria prima, o capital
financeiro e os equipamentos. Por isso, em nenhuma outra época foi tão importante a
145
escola dar conta da sua missão em relação ao conhecimento. O estudante é um ser humano
em constante construção física, intelectual, afetiva, ética, estética, a partir de uma
subjetividade única, especial e individual que se desenvolve na relação com o outro e com o
mundo. Por esse fato a escola não pode fragmentar o aluno, muito menos prepará-lo para
o uso do mercado acumulando-o de conhecimento para ser fruto de consumo.
Por mais que existam forças globalizantes. Por mais que se apresente um
multiculturalismo que interfere nas culturas; por mais que a mídia interfere como força
homogeneizante e desequilibradora de conceitos individuais e sociais, o professor e a escola
não podem desistir de sua autonomia criadora para uma educação reflexiva, emancipatória
e autônoma.
Lembre-se que o mundo é tanto tribal quanto geral, há uma comunicação
generalizada, com propagação dos valores locais. A presença dos meios de comunicação no
cotidiano permite uma coexistência entre culturas diferentes, invade os lares com
informações maciças aceleradas e quase sempre sem ligação umas com as outras.
Com isso há um aumento de possibilidades de comunicação entre as pessoas com a
existência de valores modernos e antigos. Comunicação quanto à educação são campos
historicamente constituídos, deliberados, visíveis e fortes. Desde sempre o homem
estabeleceu procedimentos de comunicação entre si, usando para isto saídas diferentes. São
palcos com visibilidade dos seus respectivos corpos sociais.
O discurso educacional é mais fechado, oficial, legitimado por autoridades, não é
interrogado. Neste sentido é autoritário, posto que é selecionado por autoridades e imposto
em forma de programas a alunos e professores. A margem de deturpação é mínima. O discurso
comunicacional é aberto, flexível, oficioso no sentido de que está sempre à procura do
original, do diferente, do extraordinário.
A sociedade encontra-se em trânsito `a era da informação, na qual se depara com
os mais variados recursos e meios de comunicação, que de maneira massificante
146
transformam a vida social e psicológica dos indivíduos. Busca-se hoje, através do ensino, o
desenvolvimento da autonomia intelectual dos estudantes; para que eles adquiram uma
postura de protagonistas da ação educativa.
Por isso, é necessário incluir novas tecnologias e diferentes linguagens no domínio
da escola, incorporando-as no seu domínio, no seu dia-a-dia na sala de aula. Á medida que
se aprender a fazer a leitura crítica dos meios de comunicação, os estudantes passarão a
anotar e tornar conhecida a cultura de sua comunidade, as notícias e os fatos que lhes
dizem respeito.
A construção do trabalho perpassa pela missão educativa que implica na
valorização da dimensão humana, eficaz em todo projeto de comunicação. Trabalhar com
recursos audiovisuais significa democratizar o acesso do público à informação, à cultura e à
cidadania. A linguagem visual abre diferentes probabilidades e oportunidades educacionais. A
linguagem audiovisual, no sistema educativo, não pode ser apenas transmissão de informação.
Uma das principais características do mundo atual consiste no fato de que
diferentes espaços se complementam, se interagem. A escola, a sala de aula dentro da
sociedade contemporânea não pode ser mais considerada como um lugar isolado, mas sim
um lugar dentro de outros espaços interagindo reciprocamente e utilizando os recursos
audiovisuais.
No entanto, deve-se refletir que as Relações Humanas estão sendo enfraquecidas
pelas relações tecnológicas, ou melhor, diria se que as Relações Humanas encontraram
nova forma de expressão e desenvolvimento completamente diferente do padrão ao qual
estamos acostumados. As máquinas não possuem um desenvolvimento independente do
homem, mas respondem a uma necessidade de evolução da própria humanidade. “[...] a
informática não tem mais nada a ver com computadores. Tem a ver com a vida das
147
pessoas[...]”71 diz, Nicholas Negroponte, professor do MIT (Massachussets Institute
Tecnology) tentando explicar as novas linguagens das novas mídias e a importância na vida
cotidiana.
As NTICs, sintetizadas no acesso à Internet, constituem meios admiráveis para o
descobrimento, a invenção e a criação humana. O ciberespaço preserva os espaços
antecedentes do mundo concreto e físico, onde as atividades tradicionais irão permanecer.
As relações interpessoais sem a mediação dos meios eletrônicos de comunicação
continuarão a ser estabelecida nas formas com que se esta se acostumado.
As características do mundo virtual, portanto, permitem potencializar as habilidades
do indivíduo, que está diante de uma nova linguagem do conhecimento. Não é apenas a
superioridade do hipertexto72, que quebra a linearidade da escrita, permitindo estabelecer
conexões múltiplas no texto. Mas todo um conjunto de ícones, sons, imagens, que deságua
na sinergia da hipermídia, constituindo um formidável aparato para o desenvolvimento do
intelecto humano. É mais do que uma nova linguagem do conhecimento; é uma
metalinguagem, ou uma nova “[...] tecnologia digital da inteligência [...]”, diz Marcelo Araújo
Franco.
Por outro lado Treisman (1988) define a percepção visual como a atividade geradora, a
matriz inicial do conhecimento e da linguagem dos seres humanos, vale dizer, de sua
cognição. Sugere-se, com o apoio em Lévy (1993), que a tecnologia de comunicação (por
conseguinte; também a tecnologia educacional) é produto da mente humana, mas também é
responsável por moldá-la, segundo padrões de apresentação dos signos em qualquer
suporte.
A Internet, absorve as linguagens da TV, do rádio e do cinema, tal caso pode ser
evidenciado na transmissão do atentado do 11 de setembro de 2001, pela CNN. As
71 Informativo Jurídico/ Notícias Disponível em:< www.infojus.com.br/>. Acesso em: 16 de setembro de 2004. 72 HIPERTEXTO. É um conjunto de interfaces comunicativas, disponibilizadas nas redes telemáticas. In: Ciência da Informação. No. 2, v. 29, maio/ago, Brasília 2003, p. 8.
148
potencialidades geradas pelos ambientes virtuais, entretanto, agregaram novas razões aos
defensores do uso de vídeos educacionais, os quais podem, hoje, estar associados em
conjuntos que “favorecem a interatividade a interação com os bancos de dados e outras
pesquisas e aprofundamento”.73
Na denominada intoxicação informacional, em meio a um turbilhão de informações
nos deparamos com o uso cada vez mais assíduo do computador, o que leva a refletir sobre
a comunicação, como ela vem se processando tendo o homem como centro desse
processo. Com essa ascensão da tecnologia, tornou-se imprescindível a introdução da
informática nas redes de ensino.
O mundo mágico da informática com seus conteúdos atraentes, ambiente
multimídia, global e interdisciplinar instiga no estudante o desejo de investigação, de
descoberta do novo, além de aumentar suas possibilidades de pesquisa. A informática ela
não oportuniza a robotização do ser humano ao eliminar a mediação humana no contexto,
pois as mídias impressas o fazem. O uso do computador, especificamente da Internet,
requer operações intelectuais, que vão desde o uso da palavra, da escrita, da capacidade de
comparar e diferenciar, até a atenção, abstração, e formas de organizar o pensamento e a
ação.
A sala de aula passa, assim, a representar um espaço de maior prazer multimídia
interativa, favorece uma atividade exploratória e lúdica. O sujeito não só coleta
informações, via rede, mas também as dissemina. Temos na Internet uma dinâmica
diferente daquela que se apresenta nos livros, pois ela é determinada, pela agilidade, pela
interatividade.
73 “Tecnologia Educacional: Mídias e suas linguagens”, In: Novas Tecnologias em Educação. n. 1, v.1, p.6, CINTED-UFRGS: fevereiro de 2000.
149
3. 6. As NTICs no contexto sócio-cultural da aprendizagem
No entanto, tem que se compreender a importância de que no processo os
educadores e sua equipe tenham clareza epistemológica que fundamentam suas práticas.
Pois de acordo com a teoria sócio-histórica-cultural de L.S. Vygotsky, a origem das
mudanças que ocorrem no homem, ao longo do seu desenvolvimento, está vinculada às
interações que ocorrem entre o sujeito e a sociedade, a cultura e sua história de vida, além
de situações de aprendizagem, que promovem este desenvolvimento, ponderando acera das
várias representações de signos, instrumentos que a cultura e história propiciam o
desenvolvimento das funções mentais superiores.
Nesta perspectiva, a educação pode se fazer fundamental, oferecendo ao indivíduo
oportunidades significativas na construção de conhecimentos e valores. E para tal tarefa,
pode utilizar-se das NTICs como ferramentas e principalmente, com o objetivo de
promover interação, cooperação, comunicação e motivação a fim de diversificar e
potencializar as relações inter e intrapessoais. Para que tal tarefa seja bem sucedida todo o
processo de construção do conhecimento precisa ser bem articulado do ponto de vista
epistemológico e metodológico.
O professor, ao planejar, desenvolve e promove aprendizagens compartilhadas
potencializa a Zona de Desenvolvimento Proximal74 de modo que funções ainda não
consolidadas venham amadurecer. Dessa forma verificam o quanto a aprendizagem
interativa, compartilhada e dialogada permite o desenvolvimento do indivíduo. Sendo
assim, as NTICs precisam ser utilizadas de forma que permitam a mediação e a interação
do sujeito com outras instâncias do seu entorno social.
O caráter interativo e comunicativo do processo educativo promove o
desenvolvimento do indivíduo, no qual a mediação e as interações contribuem e interferem
74 Zona de Desenvolvimento Proximal: é a capacidade do individuo de desempenhar tarefas com a ajuda de companheiros mais capacitados, aqui mediadores, que facilitam o acesso a um conhecimento pelo qual percorrem um determinado caminho, a fim de torná-lo seu. In: Suanno, M.V.R, “Reflexões a partir da teoria Vygotskyana”. In: Novas Tecnologias de informação, p.11, UEG/Havanna: 2002
150
na qualidade do processo. Pensar nas NTICs aplicadas à educação é um desafio, uma vez
que se persegue a efetivação da qualidade política das práticas pedagógicas. Mas, outra
questão a se discutir é que os cursos de formação de professores precisam encarar os
desejos de promover pesquisas e inovações com a utilização crítica das NTICs aplicadas à
educação, além de aproximarem os acadêmicos das potencialidades da pesquisa
educacional, mediante a utilização de computador e Internet, assim como disponibilizar
artigos e conteúdos de qualidade nesse canal de informação.
Quanto ao alcance de desafios pedagógicos na utilização das NTICs, em especial os
computadores e a Internet, estão vinculados às suas potencialidades a “promoverem a
comunicação, troca de experiências e conhecimentos, oportunidades de pesquisa, tendo
acesso a fontes diversificadas de informação, mediadas conforme as necessidades e
oportunidades individuais e coletivas em ambientes de aprendizagem”.75
75 SUANNO. Marilza V.R. Novas Tecnologias de Informação: Reflexões a partir da Teoria Vygotskyana, Goiânia:UEG/Havanna: 2002, p. 11.
151
Capítulo 4 - ENSINO E PESQUISA MEDIADOS PELAS NTICs NA
FOUSP
4.1. Histórico do ensino da odontologia
O ensino da Odontologia através dos tempos sempre esteve intimamente ligado ao
ensino da medicina. Apenas em meados do século XIX ocorreu uma diferenciação,
enquanto na Europa a vinculação original ao ensino da Medicina era mantida, na América o
ensino da Odontologia desvinculava-se da Medicina.
Em 1840 ocorre, em Baltimore, nos Estados Unidos, a criação da primeira Escola
de Odontologia do mundo. Em 1879, a Odontologia começa a ser ensinada no Brasil,
ainda vinculada às Faculdades de Medicina. O ensino formal só teve início com o Decreto
No. 7.247 de 19 de abril de 1879, que estabeleceu o curso de cirurgia-dentária, anexo à
Faculdade de Medicina. Em 1882, foi criado, na Bahia, o primeiro curso, cujo currículo
refletia o modo de produção social.
Em 1884, foi retirada a matéria Medicina Operatória, sendo acrescentada, Prótese
Dentária e Higiene da Boca. Este currículo permaneceu até o Decreto No. 8.661, de 05 de
abril de 1911, quando foi introduzida a cadeira de Técnica Odontológica, com o ensino em
manequins.
Em 1933, os cursos de Odontologia tornaram-se autônomos, ou seja, desligaram-se
da tutela das escolas médicas, o que facultou a algumas escolas a criação de disciplinas além
das obrigatórias. Em 1961, com a Lei 4.024, o Conselho Federal de Educação passou a ter
competência para fixar o currículo mínimo e a duração dos cursos superiores.
Em 1o. de janeiro de 1971, surgia novo currículo, sem alterações substanciais,
reorientando o ciclo básico como a Biologia, as Ciências Morfológicas, as Ciências
Fisiológicas e a Patologia (geral), ficando o ciclo profissional como a Patologia e a clínica
152
Odontológica, a Odontologia Social e a Preventiva, a Odontopediatria e a Odontologia
Restauradora.
Em 3 de setembro de 1982, o Conselho Federal de Educação estabeleceu o novo
currículo mínimo, por meio da Resolução CFE No. 04/82 (Resolução em anexo). Este
currículo mínimo vigorou até a promulgação da Lei No. 9.394 de 2 0 de setembro de 1996
que estabeleceu as Diretrizes e Bases da educação nacional, a partir disso passaram a
vigorar as diretrizes curriculares, a serem aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação –
CNE.76
4.2. As novas tecnologias e o ensino odontológico
Imaginemos o quão valioso é para um estudante de medicina poder conhecer muito
perto, com riquezas de detalhes, o funcionamento do corpo humano, cada articulação em
movimento, cada célula com suas ações e reações. Por mais que se tenha conhecimento dos
órgãos em aulas de anatomia (utilizando cadáveres), são poucas as chances de se observar o
funcionamento de cada órgão, por exemplo. Esse detalhamento já é realidade no Brasil e o
mais importante: o material é acessível.
Figura 8 – Práticas de cirurgia apoiadas com as novas tecnologias na FOUSP
76 FONTE: ABENO – Associação Brasileira de Ensino Odontológico. Disponível em: <www.abeno.org.br,> Acesso em: 16 de setembro de 2004.
153
O impacto tecnológico, neste século, abrange tudo, e principalmente cada vez
maior na Medicina. Segundo o pesquisador do MIT Prof. Marvin Misky (um dos pais da
Inteligência Artificial), a Internet será a maior revolução na educação de todos os tempos.
O potencial educacional da Internet se manifesta em múltiplas áreas e processos.
Segundo, outro respeitado professor do mesmo instituto, Nicholas Negroponte, os
átomos de papel e da tinta estão sendo substituídos por bits, que não têm massa e são
transmitidos de forma praticamente instantânea para qualquer ponto do planeta. Quando
um bem constituído de átomos é distribuído para um usuário, o seu produto transfere
matéria e a perde, ao mesmo tempo. Com os bits, ele pode transferir informação em estado
puro ou abstrato, sem nunca perdê-la.
Com o uso das NTICs – e seu suporte, a Internet- ocorrem dois impactos:
a) o primeiro impacto se dá na disponibilização das informações interativa da
Internet das informações para o aprendiz, através das publicações eletrônicas e dos sites
especializados,
b) o segundo impacto acontece devido à característica interativa da Internet. Ela
permite a transmissão de informações entre dois pontos quaisquer ligados à
rede, em ambos sentidos, com grande velocidade.
Assim, podemos usar os recursos da Internet para simular praticamente qualquer
situação que ocorra num contexto educacional, como aulas magistrais e palestras, sessões
de tira-dúvidas, discussões de casos clínicos, exames orais ou escritos, trabalhos em grupo,
conversação telefônica, transmissão de vídeo e de áudio em tempo real, ou sob demanda,
etc.
A possibilidade de executar programas autônomos, tanto do lado do computador
onde a informação é disponibilizada quanto do lado do usuário, principalmente através das
NT que usa o Java, expande enormemente a possibilidade de interação. Para citar apenas
um exemplo, já existem laboratórios virtuais, nos quais um aluno pode realizar simulações de
154
experimentos biológicos em animais (como um choque hemorrágico ou o registro de
potenciais elétricos cardíacos) e de manejos de pacientes, inteiramente através da rede.
A rede dá um novo sentido ao que se convencionou chamar de educação a distância, e
que no Brasil ficou com má fama devido aos cursinhos por correspondência de má
qualidade. Entretanto, a utilidade de cursos a distância bem feitos em Medicina é fantástica.
Imagine, por exemplo, poder fazer um curso de reciclagem de conhecimento sobre
neuroradiologia, ou outro tema qualquer, sem precisar sair de casa, e com a mesma eficácia
que um curso presencial.
Evidentemente, nem todas as áreas de educação médica se prestam para isso (a
experiência clínica no contato direto com o paciente será sempre insubstituível, assim como
o trabalho em laboratório) mas sobram milhares de possibilidades para elevar o nível de
conhecimento e atualização dos médicos brasileiros, usando-se plenamente o potencial
dessas novas ferramentas tecnológicas.
Outras conseqüências interessantes dessas tecnologias é que se dissolve a distinção
entre educação formal e informal, uma vez que é mais fácil colocar cursos na Internet, e tão
democrático, que a universidade tradicional encontra-se ameaçada em sua função
tradicional - ensino presencial e uso de quadro negro e giz - abrindo a Internet novas
oportunidades para todos que querem e podem ensinar.
Com otimismo, afirmamos que nos encontramos às portas de uma nova era na
educação médica e odontológica. Quem não contemplar esse processo de enorme
vantagem para o ensino está em risco de ficar à margem do processo em andamento
colocada em movimento pelas novas tecnologias, e perder seu lugar assegurado pelas
tradicionais estruturas do ensino.
155
4.3. O projeto: homem virtual, da faculdade de medicina da USP ao serviço
da Teleodontologia
Nessa seqüência de descobertas médicas e de aplicações tecnológicas, surge o
Projeto Homem Virtual aplicado à Odontologia, desenvolvidas pela equipe de Telemedicina da
USP. No I Congresso de Tele-odontologia ocorrido em Minas Gerais (2004) foi lançado
esse programa único no mundo. As imagens tridimensionais criadas pela equipe de
Telemedicina, simulam com realismo a composição e funcionamento da Articulação
Temporomandibular (ATM) e da estrutura do dente e enervações, elas fazem parte do
projeto Homem Virtual – para a criação de modelos virtuais de órgãos e partes humanas.
Figura 9 – O homem virtual iconografia computadorizada
Reproduzidos com auxílio da computação gráfica, tais órgãos e partes têm seu
funcionamento exibido em detalhes na tela do computador. A equipe do projeto Homem
Virtual já desenvolveu modelos que simulam certas doenças, desde o início até estágios
mais avançados. Os novos módulos ATM e Estrutura do Dente são os primeiros a
contemplarem a odontologia, e não há similares no mundo. No ano de 2004, o simulador
ATM foi mostrado na Suécia no Congresso de Radiologia Odontológica. A receptividade
foi tão grande, que o principal docente e coordenador geral da disciplina de Telemedicina
156
na USP, o Prof. Chao Lung Wen, ressaltou a importância do programa que simula a
estrutura do dente.
Esse projeto inédito foi dividido em títulos, cada uns colocados em CD-ROM, que
auxiliam médicos e estudantes a compreenderem melhor o funcionamento do corpo
humano. “[...] Ele é fruto da junção de três coisas: design digital, orientação estratégica para
a comunicação e o conhecimentos de médicos especialistas. Por isso, é tão completo [...]”77,
afirma professor Chao Lung Wen, coordenador geral da área de telemedicina na USP, e um
dos “pais do homem virtual”.
Por enquanto, a série contém oito CDs. Entre os temas abordados estão: anatomia
dos órgãos genitais masculinos, a marcha humana e como é afetada por amputações e um
que mostra detalhadamente como ocorre o ciclo do nascimento e morte da pele. Os
Softwares são desenvolvidos de acordo com a necessidade e as parcerias. O CD sobre
anatomia geniturinária masculina, por exemplo, está sendo distribuído pela Sociedade
Brasileira de Urologia e Associados. O trabalho sobre a marcha já está ajudando médicos e
pacientes do serviço de reabilitação do Hospital das Clínicas de São Paulo, até o ano de
2006, a equipe pretende chegar à marca de 30 títulos.
O software da ATM, por sua vez, simula em detalhes a Articulação
Temporomandibular (encaixe do queixo ao crânio, na altura do ouvido). Essa articulação é
acionada durante os movimentos da boca. Para amortecer e amoldar as superfícies ósseas
da articulação, existe uma estrutura fibrocartilaginosa chamada disco articular.
Quando esse disco se desloca de sua posição (normal), surge a síndrome da ATM,
essa síndrome não é tarefa fácil, porque os sintomas, que variam de zumbidos até dor de
cabeça, podem sugerir inúmeras outras doenças. Assim, o dentista que domina o assunto
pode indicar exames que investiguem a articulação antes de enviar o paciente para uma
maratona de tratamentos. 77 COSCARELLI, Cristiane. Disponível em <www.universiabrasil.net/ead/materia> de 23 de junho de2004, Acesso em: 07 de dezembro de 2005.
157
Com imagens tridimensionais e programações que simulam situações reais, o
programa resume tudo o que foi dito no parágrafo anterior, para explicar a ATM e todo o
conjunto que envolve vários grupos musculares, ligamentos, articulações, ossos e as arcadas
dentárias que podem ser utilizadas pelo dentista para ampliar seus conhecimentos sobre as
doenças e também para que o paciente possa visualizar o que está acontecendo.
O I Congresso Brasileiro de Teleodontologia coordenado pelo Conselho Brasileiro
de Telemedicina e Telesaúde (CBTMS) teve como objetivo disseminar a idéia de que os
recursos da Telemedicina devem ser aplicados também à Odontologia. Com esse mesmo
pensamento, o Prof. Coordenador Geral da Telemedicina na USP Chao Lung Wen tem
muitas razões para acreditar que a Odontologia pode ser integrada ao Projeto Estação Digital
Médica, também da USP, cujos propósitos são reunir hospitais, instituições de ensino da
área da saúde, clínicas e profissionais numa rede para a troca de conhecimentos e até
realizações de cursos a distância. “[...] todo bom plano que prestigie promover a qualidade
de vida não pode esquecer a saúde bucal [...]” diz o Prof. Chao Lung Wen.78
Chao Wen reconhece que a Teleodontologia é uma disciplina atrasada à
Telemedicina, contudo, não tem dúvidas de que o setor tende a se estruturar muito bem em
dois anos. Mas, atualmente, dentistas de todo o país já podem se especializar, com mais da
metade do curso virtualmente, em três áreas: Dentística, Implantologia e Articulação
Temporomandibular, isso é possível através da ferramenta Cybertutor, desenvolvida pela
USP para atender à Faculdade de Odontologia da Universidade Sagrado Coração de Bauru.
78 Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telesaúde. Disponível em<http://www.cbtms.com.br/teleodontologia/> Acesso em: 16 de setembro de 2004.
158
O Cybertutor é um sistema interativo baseado na Internet, que acompanha todo o
teórico do aluno. Esse conteúdo é repassado através de telas de apresentação (normalmente
Power Point) iguais às utilizadas nas aulas presencias, com apoio de textos e posteriormente
Módulos do CD-ROM Homem Virtual complementam o ensino conforme especialização.
As dúvidas dos alunos são esclarecidas através da tutoria eletrônica e o sistema
acompanha ao coordenador da especialização o “avanço” do aluno a distância. Durante o
período de aprendizagem são realizados testes diversos e cada um dos tópicos contém uma
avaliação prévia do aprendizado do aluno.
O sucesso do Projeto é tanto que ele começa a ser expandido também para o
público leigo. A Faculdade de Medicina pretende fechar nos próximos meses uma parceria
com o SENAC que permitirá levar o homem virtual a alunos e técnicos, para que auxiliem na
detecção e prevenção de doenças. O Prof. Chao afirma:
[...] seria muito proveitoso se profissionais esteticistas, cabeleireiros, pedicures e manicures fossem capazes de detectar sinais de câncer de pele. Alem de detectar lesões na pele de seus clientes, micoses, infecções e até mesmo sinais de câncer da pele. Além de facilitar a cura com o diagnóstico, eles podem se tornar agentes multiplicadores de informação e também na prevenção.79
Outros projetos que envolvem a saúde pública já são realizados com o auxílio do
homem virutal, entrando como uma educação de postura e orientação para a prevenção de
doenças como câncer de pele e DTS (doenças sexualmente transmissíveis), esses projetos
podem ser acompanhados no site. O professor Chao afirma: “[...] costumo definir a
Telemedicina como um resgate social por meio da tecnologia [...]”.
4. 4. Apresentação de casos no 10o Congresso Internacional de Telemedicina
e Telesaúde: São Paulo - outubro de 2005
No 10o Congresso da Sociedade Internacional para a Telemedicina e Telesaúde e II
Congresso do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telesaúde, também dentro delas o II
79 Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telesaúde. Id. p. 2
159
Encontro de Teleodontologia ocorrida de 23 a 26 de outubro de 2005, em São Paulo,
destacamos os seguintes itens:
4.4.1 O uso da Telemedicina no complexo do Hospital das Clínicas (HC) e
Faculdade de Medicina da USP (FMUSP)
Experiências em teleassistência e teleducação, sob a coordenação da (FMUSP),
viabilizados pelo Banco Alfa. Aconteceram cursos, discussões clínicas, segundo
especializada e transmissões de cirurgias e autopsiais. No HC as ações envolvem o Instituto
Central, Instituto da Criança, Instituto de Psiquiatria, Instituto do Coração, Instituo de
Radiologia e Instituto de Ortopedia. Na FMUSP, abrangem praticamente todos os
departamentos e disciplinas.
4.4.2. O II Encontro Brasileiro de Teleondotologia: Outubro de 2005
A teleodontologia elimina a barreira da distância e introduz novas tecnologias para a
educação, intercâmbio cientifico e, no futuro, até para o relacionamento entre profissional e
paciente.
A teleodontologia deriva das experiências da telemedicina criadas a partir da corrida
espacial, que se resumem à prática, assistência e ensino a distância, mediados por sistemas de
informação, telecomunicações e recursos de multimídia. Isso vale tanto para uma troca de
e-mails entre colegas sobre um caso clínico, para uma videoconferência ou uma
interconsulta de emergência na presencial. Este ramo que une a ciência odontológica e
informática promete mudar a maneira como o cirurgião-dentista se relaciona com o mundo
e o mundo com ele.
A experiência pioneira de discussão e diagnóstico via satélite do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE) em 1974, com a participação do patologista Moacyr Novelli,
ainda na fase analógica, a projetos baseados em tecnologia digital, desenvolvidos pela
disciplina de Telemedicina da FMUSP em cooperação com a Universidade Sagrado
Coração (USC), e cursos atualizados on-line como os ministrados pelo Centro
160
Interamericano de Aperfeiçoamento de Educação Continuada (CIAPEC) e certificados
pela ABO (Associação Brasileira de Odontologia) dão uma dimensão do potencial dessas
ferramentas tecnológicas.
As palestras e apresentações de casos deram um panorama do desenvolvimento da
teleodontologia no país, bem como as perspectivas e limites do uso de teletecnologia no
ensino e na prática odontológica. Um fórum onde os participantes discutiram a legislação
para utilização da teletecnologia na odontologia.
4.4.3. Simpósios: Urgências e traumas em Telemedicina
Foram abordados entre outros temas, o uso no Brasil da educação a distância e da
educação baseada em tecnologia para a capacitação no salvamento de vidas em casos de
traumas. Palestrantes e trabalhos internacionais mostraram os sistemas de Teletrauma nos
Estados Unidos e Franca, incluindo transmissão de imagens, protocolos operacionais e
planos de negócio para assegurar a sustentabilidade dos programas.
4.4.4. Telecardiologia Foram apresentadas experiências brasileiras em tele-eletrocardiograma,
teleradiografia, tele-eletrocardiografia, tele-medicina para outras situações específicas em
cardiologia. Experiência inglesa sobre atendimento a pacientes com insuficiência cardíaca
em casa e no hospital.
4.4.5. Telenfermagem
Foram apresentadas experiências brasileiras no uso da teleducação e tecnologias
para treinamento de profissionais e ensino da enfermagem, bem como na prática da
enfermagem com a utilização de novas tecnologias ou tele EGC. Entre outros temas, foi
discutida a integração da telenfermagem com a informática para padronização de bancos de
dados e aumento da segurança do paciente.
161
Foram alguns dos itens que se analisaram nesse Congresso, que contou com
especialistas brasileiros e estrangeiros, dando relevância à ação a distância, sobretudo no
uso de recursos interativos e as últimas novidades nessa área. Tal como destaca o médico
Giovanni Guido Cerri diretor da FMUSP:
[...] a Telemedicina neste país vai ter o mesmo crescimento geométrico que teve a telefonia celular. Hoje existem mais celulares no Brasil do que telefones fixos. É um instrumento que não pode ser ignorado pelas universidades brasileiras.80
Revistas especializadas afirmam que Brasil têm quase 80 milhões de celulares81. É
um indicador da expectativa por usar essa nova tecnologia e a necessidade da comunicação
entre os seres humanos.
Segundo Gerson Zafalon Martins do Conselho Federal de Medicina (CFM):
[...] a educação médica de forma continuada é uma das preocupações do CFM e a atualização profissional pede a participação de todas as faculdades de medicina do Brasil. O Conselho vai a coordenar todo o trabalho da educação continuada, com cursos para as diversas especialidades médicas. Isso será possível com a telemedicina. 82
O CFM já iniciou um trabalho de formação continuada com um projeto
desenvolvido no Estado de Paraná, por meio da Faculdade de Medicina da USP, que está
disponibilizando um acervo de aulas sobre telepatotologia.
Num outro projeto, com a Amazônia, se desenvolverão prontuários eletrônicos do
paciente, o que permitirá a eliminação de papéis principalmente em hospitais. Este é um
exemplo da parceria possível entre comunicação, telemedicina e saúde. Além disso, a telemedicina
é uma ferramenta para disseminar internacionalmente o conhecimento.
Embora a idéia corrente sobre este campo da medicina seja comumente associado à
educação médica a distância, o professor Eduardo Massad, da FMUSP, considera a
telemedicina um recurso estratégico para o controle de endemias e epidemias. A 80SEMESP: Sindicato de entidades mantenedoras de estabelecimentos de entidades de ensino superior no Estado de São Paulo. Disponível em: <http://semesp.org.br/portal/index.php>. Acesso em: 12 de outubro de 2005. 81 Apesar de setembro de 2005, ter sido o segundo pior mês do ano no que tange à adesão de assinantes de telefonia celular, perdendo apenas para janeiro, o país está à beira de alcançar a marca histórica de 80 milhões de aparelhos ativos, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Além disso, o Brasil segue entre os cincos maiores mercados do segmento no mundo, ao lado de países como os Estados Unidos, Japão, Alemanha e Rússia. Apenas no acumulado dos últimos 12 meses, o país ganhou 20.332.174 novos assinantes. In: Revista Meio & Mensagem,ano XXVII, No. 1181, out São Paulo: 2005, p.48. 82SEMESP: Id. p. 2
162
importância da telemedicina se estabelece, porque está associada à informação, ao
conhecimento, ao ensino e à pesquisa, mas também à melhoria da qualidade de vida das
pessoas. As ferramentas interativas irão permitir, além do uso assistencial, maior agilidade
na comunicação entre as pessoas.
Além da vertente assistencial e educacional, o que o público leigo em geral
desconhece é sua utilização como recurso ao que os profissionais da área chamaram de
segunda opinião. O procedimento nada mais é que um profissional apresentando um caso a
um par e solicitando sua opinião a distância.
Os terminais têm sido utilizados principalmente para esclarecer dúvidas dos
profissionais da saúde, além do uso para a segunda opinião, especialmente no que diz
respeito a problemas de diagnóstico laboratoriais e clínicos, uso de antibióticos e aspectos
epidemiológicos, o que não deixa de ter utilidade indireta ao paciente.
4. 5. O professor em medicina-odontológica
A espécie humana alcança hoje uma fase evolutiva inédita na qual os aspectos
cognitivos e relacionais da convivência humana se metamorfoseiam com rapidez nunca
antes experimentada. Isto se deve em parte à função mediadora, quase onipresente das
novas tecnologias. Paralelo a isso surge também novos riscos de discriminação e
desumanização.
No tocante à aprendizagem e ao conhecimento, chegamos a uma transformação
sem precedentes das ecologias cognitivas, tanto da escola como das que lhe são externas,
mas que interferem profundamente nelas.
Afirmamos, no entanto, que as novas tecnologias não substituirão o professor, nem
diminuirão o esforço disciplinado do estudo. Elas ajudam a intensificar o pensamento
complexo, interativo e transversal, criando novas chances para a sensibilidade solidária no
interior das próprias formas de conhecimento.
163
Na medida que as novas tecnologias de informação, invadem todos os cantos da
escola, assim também, vão extinguindo-se os professores tradicionalistas dando surgimento
a outros, com novos métodos, é o paradoxo do avanço tecnológico. Não sabemos se esse
fenômeno acontece em todas as áreas do conhecimento, mas estamos seguros que esteja
ocorrendo gradual e progressivamente, com muita eficiência, nos cursos médicos.
As razões para esse fato são claras, pois a carreira docente privilegia publicações,
pesquisas e, particularmente, aquela habilidade tão brasileira de transitar em comissões,
reuniões ou compromissos de forças políticas, sendo que vários professores se sairiam bem
em câmaras de vereadores ou algo semelhante.
Tudo isso não tem nada a ver com a capacidade de ensinar, talvez, até muito pelo
contrário, já que ensinar significa tornar claras as coisas complexas, enquanto que política
no sentido mais rasteiro do termo corresponde a deixar confusas as coisas que parecem
claras. Além do mais, ensino é considerado uma das menos importantes funções do
professor universitário, da medicina.
Professores titulares que ministram aulas na graduação são muito raros. Um
professor que ensine bem, mas que não tenha vocação ou tempo para fazer pesquisas não
progride na carreira, cada vez mais julgada pelas publicações que cada um deles faz.
Didática não é considerada atividade produtiva. Assim, mostrar imagens como recursos
audiovisuais não garantem uma boa aula: podem fornecer momentos de iluminação entre
hiatos de profundo tédio.
É mister observar que cursos de didática fazem parte dos programas de mestrado e
doutorado em medicina. Pelo jeito não são aproveitados. Ou se trata de um problema
vocacional: na verdade, ministrar aula exige fazer um pouco de teatro e, se não prevalecer a
vocação de ator, o resultado nunca ficará adequado, de modo que permita que os alunos
compreendam e lembrem o assunto. Aulas meramente expositivas, que repetem o que
livros e revistas contêm, afiguram-se criticáveis – é melhor pedir para ler direto da fonte.
164
É necessário fazer algo mais, pessoal, paralelamente à capacidade de explanar. Para
tanto, são fundamentais dois fatores: conhecer bem o que se está ensinando; e saber expor
de maneira lógica e encadeada o tema. Será que a didática em medicina é uma arte perdida?
Nos Estados Unidos, já se fala em reconhecer, na carreira acadêmica, a capacidade de
ensinar como atributo tão importante como pesquisar e publicar, “Numa faculdade de
medicina, os professores são pagos, entre outras coisas para ensinar medicina”83, dizem os
professores Vicente Neto e Jacyr Pasternak, médicos e professores universitários.
Nessa área do conhecimento – a médica – novos paradigmas têm sido pensados
para abordar os problemas de preparação de estudantes, não só para demandas biotécnicas
da prática clínica, mas também para a prática da medicina familiar, o gerenciamento de
doentes crônicos e as dimensões psicológicas das doenças.
Como referimos anteriormente, o professor deve dar algo mais de si, fazer da aula
uma semelhança teatral o que envolve em certos campos, a questão do talento artístico
profissional que vem à tona no contexto da continuidade da educação. Os educadores
questionam, de que forma profissionais maduros também podem ser ajudados a renovar se
de modo a evitar o esgotamento e como eles podem ser ajudados a construir seus
repertórios de habilidades e idéias de forma contínua.
Os professores que muitas vezes são alvo de críticas por causa dos fracassos na
educação pública, tendem, por sua vez, a defender suas próprias versões com relação à
necessidade e à renovação profissionais. Ao considerarmos o talento artístico de
profissionais extraordinários e explorarmos as formas pelas quais eles realmente o
adquirem, somos inevitavelmente levados a certas tradições divergentes de educação para
as práticas – tradições estas que se colocam fora dos currículos normativos das escolas ou
paralelamente a elas.
83 NETO, Vicente & PASTERNAK, Jacyr. A extinção do professor didático em medicina. In: Jornal da USP, de 28/3 – 03/04 de 2005, p. 2.
165
Como afirma SCHÖN (2000, p. 24): “[...] não é por acaso que os professores
freqüentemente se referem a uma ‘arte’ do ensino e usam o termo artista para referir-se a
profissionais especialmente aptos a lidar com situações de incerteza, singularidade e
conflito[...]”, ou como afirma Dewey (apud, Schön) “[...] as artes e as ocupações formam o
estágio inicial do currículo, correspondendo a saber como atingir os fins [...]”84
Por outra parte, encontramos professores didáticos e autodidatas, nesta era da
dispersão do saber. No entanto, com o surgimento de novas tecnologias e novas
metodologias de ensino mudaram os grandes beneficiários delas seriam: os estudantes e
mestres preocupados em inserir essas ferramentas como auxílio à pesquisa e ao ensino.
4. 6. Dinâmica do ensino do Prof. Novelli na FOUSP: Um mergulho nas
práticas pedagógicas.
No Brasil, uma das primeiras experiências teleodontológicas de discussão de casos
clínicos ocorreu em 1974, também no contexto da pesquisa espacial. Naquele ano, Moacyr
Domingos Novelli, atualmente Prof. Dr. associado de Patologia Geral da FOUSP, realizou
exames histopatológicos que foram transmitidos de Natal (RN), via satélite, para a base do
INPE -Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais - em São José dos Campos (SP).
84 SCHÖN, Donald A . Educando o profissional reflexivo. Um novo design para o ensino e aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, Sul, 2000, p.24.
166
Figura 10 – O Professor Moacyr D. Novelli
“[...] necessitávamos de dois satélites, que só estavam disponíveis para a
transmissão entre meio dia e meia[...]” lembra o pioneiro, que afirma ter assistido a aulas de
escultura e desenho na graduação, em 1971, transmitidas por cabos de TV a partir da
Escola de Comunicações e Artes (ECA) para a FOUSP.
No âmbito da FOUSP, o Prof. Novelli coordena o Laboratório de Informática
Dedicado à Odontologia (LIDO), criado em 1987. O núcleo desenvolveu um sistema de
comunicação entre diferentes ambientes utilizando rede analógica local. Por intermédio
dessa rede, é possível transmitir imagens do centro cirúrgico para diversas salas de aulas e
laboratórios.
O Laboratório de Informática Dedicado à Odontologia (LIDO) nasceu de um
projeto na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) em 1987.
O projeto tinha como principal objetivo formar um núcleo de processamento de imagens
em Odontologia. O primeiro equipamento para tal fim constitui um microscópio acoplado
a uma câmera, que transmitia a imagem de um corte histológico para um monitor. Isso
aconteceu na década de 80. De lá para cá, o LIDO modernizou seus equipamentos e
produziu softwares para a subtração e quantificação de estruturas macroscópicas e
167
microscópicas, bem como desenvolveu um setor de educação que utiliza os produtos das
suas pesquisas em prol do ensino. Atualmente, estão delineados no Laboratório cinco
objetivos.
• Desenvolver projeto de ensino na disciplina de patologia geral, monitorado por
computador e sistemas inteligentes;
• Desenvolver projeto de hardware para criação de interfaces entre o cirurgião
dentista e o computador;
• Desenvolver software especializado para o cirurgião dentista, clínico geral e
especialista;
• Pesquisar o potencial das propriedades físicas e químicas das entidades patológicas,
através de análises qualitativa e quantitativa da informação;
• Prestar assessoria técnica às demais disciplinas e serviços da USP, bem como às
Faculdades públicas e particulares.
O software ImageLab foi desenvolvido também pelo Prof. Moacyr Domingos
Novelli. O software destina-se a análises morfométricas e subtração de imagens, sendo
utilizado para espécimes de escala macroscópica e microscópica. O ImageLab possui vários
sistemas de conversão de unidades, filtros de correção de imagens, inúmeros formatos de
exportação, comunicação amigável com outros softwares e dispositivos de digitalização, entre
outras ferramentas.
Nosso trabalho foi efetivado a partir da “visita” aos 146 institutos de ensino e
pesquisa da USP, desse universo foram selecionados oito e, finalmente focalizamos nosso
estudo na Faculdade de Odontologia. Os centros pesquisados revelam que as NTICs estão
alcançando gradativamente um patamar de alta qualidade, devido ao uso eficiente das novas
168
tecnológicas e também à eficiente organização da universidade, pois, elas constituem
importantíssimas ferramentas tecno-cognitiva para o uso acadêmico dessas unidades.
Uma tendência nessas unidades visitadas é dar ênfase ao ensino e pesquisa com as
NTICs, buscando valorizar seus resultados obtidos por outras sub-áreas onde haja maior
possibilidade para uma interface multidisciplinar; e que essas mesmas ferramentas
tecnológicas constituam fontes para disseminar suas descobertas a fim de serem
confrontadas e aproveitadas por outras áreas do saber.
Através do nosso estudo foi possível evidenciar que, o auxílio das NTICs como
ferramentas cognitivas para o ensino-aprendizagem constituem suportes importantes na
FOUSP para o ensino a distância porque o LIDO faz parte do sistema de transmissão de
dados para a biblioteca e para o aluno em pontos “extra-muro”. Para tal, é necessária a
presença de uma central de produção de material didático, localizada no LIDO. Nesse nível
de interação, está sendo implementado o protocolo de utilização de rede digital,
principalmente da Internet.
Partindo dessas observações, nossa análise esteve focada num estudo de caso no
uso das NTICs na FOUSP. Apesar de que a pesquisa em Ciências Sociais tem sido
ancorada, basicamente, em estudos que utilizam métodos quantitativos para a descrição e
explicação de problemas. Esta realidade é fruto da hegemonia de um paradigma positivista,
que enfatiza a natureza probabilística e estatística da sociedade em que vivemos. Os estudos
de casos historicamente sempre estiveram presentes na investigação da natureza social, no
entanto, foram minimizados em sua importância e utilidade.
Assim, contextualizados, encontramos que as NTICs servem de suporte na
dinâmica de ensino do Prof. Moacyr D. Novelli, nas técnicas cirúrgicas e das pesquisas.
Observamos “in situ”, sala-laboratório multidisciplinar, duas aulas teóricas e
dezessete práticas da dinâmica de ensino do docente, na pesquisa de campo nos primeiros
169
semestres de 2004 e 2005. Elaboramos relatórios de 19 observações feitas (em anexo) nas
disciplinas de “Patologia Experimental: Introdução às Técnicas Cirúrgicas” e Semiologia.
A disciplina de Patologia Experimental está voltada para o ensino dos princípios da
cirurgia dental dos estudantes de graduação do segundo e terceiro semestres. É uma
disciplina prática que forma parte do currículo de estudos da graduação da FOUSP. A
anestesia, o corte e a sutura realizam-se em coxa de frango, que facilita as práticas pela sua
textura e cartilagem.
Dessas observações resgatamos o que segue:
• Os alunos, corretamente uniformizados, colocam-se nas mesas da prática, mas
antes disso acontecer, o professor Moacyr liga os aparelhos pendurados nas
paredes da sala-laboratório.
• O Prof. começa a manipular os instrumentos cirúrgicos e demais ferramentas
que o auxiliam. Ele não precisa de qualquer outro elemento auxiliar, além de
boa disposição e dinamismo nessa prática.
• Seguidamente, começa a mexer esses aparelhos (novos ou híbridos),
simultaneamente, explica o conteúdo da prática, que será acompanhada pelos
estudantes, que têm duas fontes de comunicação: uma real, emitida pela figura
do professor (sua voz viva real) e outra fonte contida na tela do computador
(simulação).
* Essas fontes de informação fornecem alternativas aos estudantes que podem
receber ou assimilá-los a sua livre escolha. Ambas fontes têm algum diferencial mas
significativamente está na emissão das imagens ampliadas e refletidas na tela dos
computadores.
170
• Os estudantes realizam a prática combinada a essas duas fontes de informação.
As explicações do Prof. não se refletem nas telas, porque elas não têm som
incorporado, mas as imagens especificam tudo e também escutam a sua voz,
sem a necessidade de estarem olhando na face dele.
A metodologia usada, ativa campos intelectuais dos estudantes que, se predispõem
para continuar na prática cirúrgica subsídio importante para sua formação profissional.
4.6.1. Desenvolvimento das práticas
Vejamos como se desenvolvia a dinâmica da disciplina:
As aulas acontecem com o apoio de multimídias nas quais as novas tecnologias de
informação são acionadas ao serviço da educação, o idealizador da dinâmica é o Prof. Dr.
Moacyr Domingos Novelli, do Departamento de Estomatologia. O Laboratório de
Informática dedicado à Odontologia – LIDO – é o centro onde se elaboram o design
instrucional – plano e diário das aulas teóricas e práticas – com suportes baseados nas
novas ferramentas para o ensino-aprendizagem. As disciplinas observadas foram: Patologia
Geral e Introdução às técnicas cirúrgicas. Neste caso os participantes foram alunos (55) do
I semestre (2004) em Patologia Geral.
A relevância dessa dinâmica de ensino percebeu-se quando o Prof. Moacyr ligou
o som com uma suave música dentro do laboratório de microscopia para que os
estudantes fiquem mais concentrados no momento das práticas. Consideramos que
aquelas músicas constituem parte da ecologia do ensino-aprendizagem, pois, elas agem
de várias maneiras sobre o cérebro humano, fornecendo-lhes certo prazer e conforto,
provocando-lhes ânimo, iniciativa, criatividade, gostos por desafios e disputas por fazer
da melhor maneira as suas práticas laboratoriais.
171
O Prof. Moacyr lembra, as músicas tem propósitos distintos segundo momentos do
fato educativo, ele recomenda seus usos nas seguintes circunstâncias:
• Advertência do comportamento em sala de aula usa Pink Floyd, com a música:
Teacher;
• “Punição”, recomenda o uso de cantigas infantis de Villa-Lobos;
• Euforia, música acústica eletrônica de balada;
• Reflexão, música clássica – principalmente de Mozart – ou música instrumental
brasileira.
O emprego da música como estimulante funcional do cérebro, já era utilizada no
século XIV, para o estabelecimento de diagnóstico de cura, mas, nessa oportunidade
tratava-se da versão atualizada para as práticas odontológicas. Depois de instalado no
cérebro, o fenômeno sonoro se incorpora à vida mental do indivíduo, de modo a tornar-se
susceptível de análise somente através da psicologia.
“[...] mas a música, ao contrário da literatura, do cinema e de outras artes, não
exprime situações nítidas, precisas, inteligíveis e revela-se incapaz, por si mesma de
determinar a formação de idéias claras e categóricas[...]”, afirma Ribas (1957, p. 61)
No passado, as “casas de saúde”, eram povoadas de executantes de instrumentos.
Algumas peças musicais eram tidas como antídotos contra venenos, outros considerados
tranqüilizantes poderosos. Certas peças musicais eram tocadas como afrodisíacos, outras,
como aceleradoras do parto.
Os médicos da idade média apreendiam a palpar completamente a artéria radical no
pulso para sentir a “música do pulso” que continha ritmo, o equilíbrio do corpo85. O
médico N.Cuellar e colaboradoras, enfermeiras, da Universidade de Pensilvânia, estudaram
85 Fonte: BMC Complement Altern Méd. 2003. Nov 18; 3 (1): 8 In: http://ram.uol.com.br/ RAM= Revista de atualização médica. Visitado em 06/12/ 2005, p. 1
172
os tipos de mediações alternativas que 186 idosos usavam para aliviar as queixas e dores.
Ficaram surpresas que os cantos e músicas religiosas estavam incluídos entre as principais
medidas, tanto entre idosos brancos como entre os negros.
Em sociedades urbanas como a que vivemos, estas questões tendem a se formar
mais complexas pela multiculturalidade que as caracterizam. Néstor Garcia Canclini (1998),
em sua obra “Culturas Híbridas”, afirma que nessas sociedades as ofertas culturais são
muito mais heterogêneas, justamente por ser fruto da mistura de tradições cultas, populares
e massivas, o que gera diversas maneiras de receber e de compreender seus significados
(CANCLINI, 1998, p. 150). Dessa forma, não podemos atribuir ao fenômeno musical uma
única significação, principalmente quando nos deparamos com esferas heterogêneas quanto
as urbanas, neste caso concentrados numa sala de aula de teor técnico.
Tecnologias de Simulação para o ensino e pesquisa na FOUSP86.
Figura 11 - Simulação com imagem tridimensional da ATM
86 Tecnologias de Simulação. As simulações têm demonstrado ser ferramentas de aprendizagem muito efetivas, ainda que os professores das áreas médicas tenham sido lentos para expressarem este claro potencial. Em estudos comparando programas de simulações com laboratórios tradicionais demonstrou-se que, embora a aquisição de conhecimentos por ambos grupos tenham sido a mesma, os estudantes tiveram uma atitude mais positiva na utilização em programas desse tipo, e que o custo de laboratório convencionais nessa abordagem foi de cinco vezes maior. A aprendizagem com simuladores é significativamente maior que os outros tipos. Para promover o uso de simulações na educação é necessário facilitar o seu desenvolvimento e maximizar seu uso, principalmente por professores da área biomédica. Atualmente muitos pesquisadores, certos dessa necessidade, estão desenvolvendo ferramentas que têm por objetivo tornar mais fácil a produção de simulações.
173
4.6.2. A informática e o ensino odontológico. Um estudo pioneiro
desenvolvido pelo Prof. Moacyr D. Novelli usando a web-based
Desde a década de 70 quando começou a discussão sobre a sociedade da informação
estão acontecendo notáveis transformações nas sociedades desenvolvidas e países em
desenvolvimento como Brasil, tanto do ponto de vista social quanto o econômico. Os
países do primeiro mundo que se iniciaram também como países agrários, passaram a uma
sociedade industrializada, e, atualmente estão na etapa global baseada nas tecnologias da
informação.
O Brasil está em processo de transformação agroindustrial, mas ao mesmo tempo
vislumbra-se um forte componente da nova era da informação. A Informática tem um
poder transformador que faz um país queimar etapas e acelerar seu desenvolvimento. Isso
ocorre, por exemplo, com as tecnologias educacionais. Reconhecendo o poder de
transformação das tecnologias de informação a maioria das agências internacionais de
fomento à expansão e utilização da informática em todas as áreas da sociedade.
Nesse parâmetro, o progresso inexorável das ciências médicas é uma coisa que
ninguém duvida. Nunca se experimentou tanto, nunca aconteceram tantas descobertas
novas, em tão pouco tempo na história da medicina. A maioria dos cursos médicos já tem
mais de dez mil horas de ensino, mas os médicos estão se formando com um
conhecimento muito superficial. Mesmo assim, cerca de 50% dessas informações estão
obsoletas após três ou quatro anos depois que o médico se forma. A única solução para
esse dilema é o uso intenso das tecnologias de informação.
Nesse sentido estão propostos grandes projetos para o desenvolvimento dos sistemas
de informação na área. Pensando nisso a Associação Americana de Escolas de Medicina
(AAMC) se posicionou, cerca de 15 anos atrás, de um famoso documento intitulado “O
Médico do século XXI”, recomendando nela que as Faculdades de Medicina deveriam
assumir a vanguarda no uso de tecnologia de informação em todo o curso médico, e de se
174
preocupar em treinar professores e alunos na operação de computadores, com a finalidade
de melhorar o acesso à informação disponível em forma eletrônica, que hoje assume
formas e volumes avassaladores.
A realidade virtual, as simulações computadorizadas e os cursos disponíveis na web
surgem dominantes, embora muitas dessas aplicações ainda não tenham encontrado espaço no
currículo médico, por diversos motivos, entre os quais a sua extrema novidade.
O choque cultural no ensino médico é imprevisível, e será tão grande talvez, quanto o
que se deve ter passado com a invenção da imprensa por Gutenberg. Os professores-
médicos estarão enfrentando um grave caso de degradação da autoridade perante seus
alunos no futuro, caso não promovam uma atualização de suas tecnologias didáticas (ainda,
muitas vezes presas ao quadro negro, giz e projetor de slides).
A Internet e outras tecnologias de informação e comunicação e mídias eletrônicas
(CD-ROMS, sites, links, imagens 3D) constituem atualmente o suporte principal nas
faculdades de Odontologia, Medicina, Escola de Enfermagem e Instituto de Bio-Ciências
da USP, através da amostra de materiais pela world wide web (www), fazendo uso da
interatividade on-line, discussões grupais e chats.
Um dos principais objetivos da disciplina de Patologia Experimental é descrever e
avaliar os princípios da cirurgia oral num curso prático baseado na web, o qual está sendo
aplicado em estudantes da graduação. Essa disciplina foi investigada como uma simulação
de aprendizagem a distância onde os estudantes estariam envolvidos na prática cirúrgica
desde sua própria casa ou ambientes da sala com ou sem o professor.
O site da web (www.fo.usp.br/lido) foi criado contendo materiais usados na
disciplina. Para tal caso, os estudantes têm participado de um curso básico na web, num
laboratório de multimídia equipado com computadores, Internet e Intranet, sistema de som
interno e circuito de TV, onde são mostrados todos os procedimentos para os participantes
175
ao mesmo tempo. Também são usadas microcâmeras para monitorar as práticas dos
estudantes durante o uso da Internet.
A opinião dos estudantes é avaliada mediante questionários. A manipulação do
computador com posições antiergonômicas são observadas. A conclusão preliminar é de
que um curso de aprendizagem a distância com módulos práticos deve ser considerado
como um tipo especial de modalidade educativa, com referência ao relacionamento entre
os estudantes e o computador.
Esse programa pioneiro no Brasil interessa pela interatividade tanto face a face como
a distância, porque contribui com técnicas adequadas no uso da aprendizagem, usando
novas tecnologias das mídias, na saúde dental das pessoas.
Os recursos do computador e a característica rizomática da Internet têm sido usados
como chave para o ensino e a aprendizagem, especialmente na ciência médica. De grande
porte de difusão de informação que inclui textos, imagens, vídeos e desenhos, são algumas
das vantagens desta nova forma de comunicação de “todos para todos” no sistema educativo.
Atuais investigações na área médicas através da educação e da Internet têm sido
empregadas também em aprendizagem colaborativos a distância, em que estudantes e
professores estão fora do contato físico, mas como inteligências espalhadas em toda a rede.
Muitos autores reportam a expansão do papel da aprendizagem a distância na educação
superior.
Particularmente no ensino de cirurgia oral, o computador tem sido usado
principalmente para simulações da realidade virtual para obter uma interatividade
tridimensional, chaves em práticas cirúrgicas. No entanto, alguns projetos usam a Internet
para entregar materiais didáticos, através da world wide web, e outros recursos interativos on-
line da prática cirúrgica cotidiana, tal como e-mails, grupos de discussão e bate-papo.
176
Em 1996, foi criado o curso Introdução às Técnicas Cirúrgicas, disciplina da Faculdade de
Odontologia da Universidade de São Paulo, voltada para o ensino dos princípios da cirurgia
oral para estudantes de graduação do segundo e terceiro semestre. É uma disciplina prática
que forma parte do currículo da graduação. Os estudantes aprendem algumas técnicas
cirúrgicas que seriam usadas e desenvolvidas em outras disciplinas do currículo geral da
Odontologia, como por exemplo, nomenclatura dos instrumentos cirúrgicos, tipos de
anestesia dental e princípios básicos de anestesia e sutura.
Ainda a disciplina desenvolve habilidades manuais dos alunos, e prepara-os para as
outras disciplinas que atinjam atividades clínicas e de laboratório. A disciplina envolve
também a interdisciplinaridade situação representada pelo contexto cirúrgico. São revisadas
e aplicadas em situações cirúrgicas disciplinas como: anatomia, psicologia, patologia e
radiologia. Todos as práticas são executadas em coxa de frango.Essa modalidade de ensino
que usa mídias das novas tecnologias está evoluindo aceleradamente, mas podemos afirmar
a priori, que facilita a pesquisa, na FOUSP. Nesse sentido trabalhamos na metodologia do
Prof. Novelli, aplicamos um formulário aos alunos da disciplina de Patologia Experimental,
ensino que se realiza na modalidade presencial e a distância com apoio das NTCIs, da qual
apresentamos a seguinte tabela:
177
Disciplina: Patologia Experimental: Introdução às técnicas cirúrgicas (ODE-0111)
Tabela 3 – Resultado do formulário aplicado aos alunos da FOUSP
QUESTÕES
2004 2005
Sim 26 35
Não 01 00
1. Você conseguiu compreender o tema com a
metodologia do Prof. Moacyr?
Mais ou menos 12 00
A explicação do Professor 03 00
A visualização da imagem 11 01
2. O que é que você considera como eficiente do
método do Prof. Moacyr?
A explicação e as imagens 22 31
A anestesia e o corte 02 01
O corte e sutura 21 20
3. O que você acha o que mais assimilou?
Anestesia, corte e sutura 14 14
Sim 09 08
Não 05 01
4. Você seria capaz de fazer o corte e sutura da
mesma forma como se vê na TV e no
computador? Talvez 25 26
Resultado do formulário aplicado aos estudantes da FOUSP, sobre a dinâmica do ensino do Prof. Moacyr D.
Novelli no ensino de técnicas cirúrgicas usando as novas tecnologias de Informação e Comunicação.
4.7. Interpretações e reflexões sobre a pesquisa
1. Para a questão 1 (Q-1) em ambas turmas – 2004 e 2005 – a metodologia do Professor
Moacyr recebeu uma alta taxa de aprovação, 90 e 99% respectivamente.
2. Na Questão 2 (Q-2) a explicação do Professor junto com as imagens mostradas nos
televisores e nos computadores, recebeu também uma alta aprovação dos estudantes, com
uns 70 e 90 % respectivamente para ambas turmas.
3. Na Questão 3 (Q-3), encontramos um equilíbrio entre ambas turmas referente à
cognição e assimilação, ou seja, ambas turmas assimilaram melhor o corte e sutura.
4. Para a questão 4 (Q-4) o item totalmente voltado para diagnosticar a prática cirúrgica
com apoio da imagem televisiva e do computador 90% responderam “talvez” o que indica
178
ainda uma insegurança em ambas turmas. Isto foi observado também pelo Prof. Moacyr,
recomendando a todos eles que não somente devem fazer somente uma prática, mas,
“centenas de vezes”, diz ele para os estudantes.
5. O resultado final foi extraído em base da entrevistas a 39 estudantes da turma do I
semestre de 2004 e 35 do I semestre de 2005.
A utilização de estudos de casos em pesquisas em comunicação vem, aos poucos
ganhando destaque na produção acadêmica da área. Sua utilização está especialmente
relacionada em áreas novas. Neste caso, do uso das NTICs nas técnicas cirúrgicas em
Odontologia.
A probabilidade uns dos aspectos do estudo de caso, utiliza a estatística para
permear a todos os aspectos da vida. A coleta sistemática de dados sobre pessoas afeta da
maneira na qual nós concebemos a sociedade. Isso influencia profundamente no que nos
escolhemos fazer, no que tentamos ser e no que nós pensamos de nós mesmos. Assim,
pessoas passam a serem “normais” quando em conformidade com a tendência central
definida pela estatística, enquanto os extremos são considerados “patológicos”87.
Também se aplicaram testes – com apoio da equipe do LIDO - ao início e final nas
disciplinas de Patologia Experimental e Semiologia para constatar se os estudantes
conseguiram assimilar o uso correto da empunhadura dos principais instrumentos
cirúrgicos, os quais se usariam também em disciplinas de outros níveis de estudos na
FOUSP. A avaliação consistiu na observação de oito figuras e um x deveria ser marcado
em todas aquelas que ele julgasse corretas (teste em anexo) O teste foram aplicados aos
alunos de 2o. e 3o. ano diurno e noturno em 2004.
Segue abaixo as tabelas de resumos com as porcentagens de respostas apontadas
como corretas: na empunhadura dos instrumentos cirúrgicos.
87 DOS SANTOS, Cristiane P. Estudo de caso e a lógica da pesquisa qualitativa. In: Comunicação & Sociabilidade. Coletânea de Comunicação. SILVEIRA, Ada C. Machado da, et al. Santa Maria, RS: FACOS- UFSM, 2001, p. 92.
179
Tabela 4 -Turma: 2o. ano diurno
Figuras Antes (%) Depois (%)
1 79,3 98,4
2 31,0 29,7
3 0,0 0,0
4 41,4 9,4
5 98,9 100,0
6 3,4 0,0
7 3,4 0,0
8 96,6 96,0
Tabela 5 - Turma: 2do. ano noturno
Figuras Antes (%) Depois (%)
1 71,4 93,8
2 26,2 12,5
3 2,4 0,0
4 42,9 18,8
5 81,0 93,8
6 16,7 0,0
7 2,4 6,3
8 92,9 100,0
180
Tabela 6 - Turma: 3er. ano diurno
Figuras Antes (%) Depois (%)
1 87,5 86,1
2 14,6 30,6
3 0,0 0,0
4 85,4 63,9
5 95,8 94,4
6 0,0 11,1
7 6,3 0,0
8 93,8 100,0
Tabela 7 - Turma: 3er. Ano noturno Figuras Antes (%) Depois (%)
1 59,5 75,6
2 14,3 39,0
3 28,6 2,4
4 66,7 68,3
5 50,0 90,2
6 47,6 9,8
7 7,1 12,2
8 66,7 90,2
Esses indicadores mostram a importância da avaliação de “entrada” e “saída” nas
disciplinas de Patologia Experimental e Semiologia. Aquelas avaliações foram feitas tendo
181
como instrumento a mídia impressa. Nesse sentido, reafirmamos a relevância da imagem,
no caso estática, diferentemente daquelas proporcionada pela informática.
As tabelas 4 e 5 apontam um alto percentual no manejo do instrumental depois de
que eles já fizeram práticas. Nas tabelas 6 e7 os resultados indicam que esse percentual vai
ficando mais estreito nas turmas do período noturno.
Observou-se maior porcentagem de acertos para a turma do 2o ano diurno com
relação à turma noturna de mesmo ano de estudos. Não houve diferenças estatisticamente
significantes considerando-se os cursos diurno e noturno para a turma do 3o ano na maioria
das figuras analisadas.
182
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi apontado anteriormente, vivenciamos mudanças aceleradas no sistema
capitalista, tais alterações propiciam maior interação entre racionalidade econômica e
racionalidade tecno-científica, as quais abrem novas perspectivas, promovendo uma
verdadeira “reconfiguração” de nossas práticas e percepções. A década de 1990 foi marcada
pelo impacto decisivo das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs)
sobre as mais variadas dimensões da existência; as transformações mais notáveis se
produziram na eletrônica, nas comunicações e na biotecnologia.
Contudo, as descobertas tecnológicas, em suas aplicações como auxiliares no
campo da educação têm sido efêmeras quando comparadas a outras instâncias sociais,
talvez devido ao desconhecimento de sua potencialidade na formulação e disseminação do
conhecimento. O aproveitamento mais intenso dessas tecnologias poderia fomentar a
participação efetiva dos envolvidos no processo educacional, uma vez que elas rompem o
controle das políticas educativas centralizadas, abrindo espaço para comunidades
infoexcluídas, facilitando o aumento do nível de instrução, e de acesso a bens culturais.
No vasto e complexo mundo das informações nos deparamos cada vez mais com
um alto volume de informações que recebemos, lemos e apagamos, nesse sentido, as novas
tecnologias atuam de modo complementar e não para excluir as formas tradicionais de
ensino. Uma análise parcial das novas tecnologias nos levaria pensar somente em seus
aspectos tangíveis; porém, é de suma importância, no campo das inovações tecnológicas,
pensar também nas suas linguagens, reconhecendo a necessidade de inseri-las para uso
massivo nas instituições de ensino, a fim de que a suas aplicações sejam bem aproveitadas
pela comunidade.
Contudo, não podemos esperar dessas novas tecnologias e, de suas redes virtuais,
uma solução mágica para modificar profundamente a relação pedagógica; a tendência é
183
facilitar a pesquisa individual - possibilitando o surgimento de uma geração de autodidatas -
ou em grupos. O impacto crescente que essa revolução tecno-científica exerce sobre nossa
sociedade e os efeitos subseqüentes que ela suscita em todas as áreas começa a ser sentido e
percebido, mas ainda está longe o dia em que possamos avaliá-lo em toda a sua dimensão e
alcance.
As novas tecnologias, definitivamente, não substituem o professor, mas alteram a
suas funções de transmissor de informações para o de agente mediador no uso dessas
ferramentas cognitivas, que bem aproveitadas atuam positivamente na formação do novo
arquétipo do estudante e futuro profissional.
Através deste nosso estudo evidenciamos que as NTICs utilizadas como
ferramentas cognitivas de ensino-aprendizagem e pesquisa, tornam-se suportes primordiais;
elas acrescentam qualidade ao ensino na Faculdade de Odontologia, e outros centros de
pesquisa da USP, assim como otimizam a disseminação das prevenções através da mídia
televisiva e pela Internet.
Tínhamos como pressuposto inicial o entendimento de que as novas tecnologias de
informação estão agindo sobre a educação, pois estão nas salas de aula, elas não têm
fronteiras, estão no ciberespaço, mas, auxiliam no aprimoramento acadêmico, otimizam
processos e abrem outras possibilidades metodológicas aos educadores. As NTICs, estão
demonstrando serem excelentes ferramentas para a prática docente, assim como
conseguem melhorar a qualidade do ensino.
Nossa pesquisa iniciada no campo teórico, analisando os canais comunicacionais,
cimentados hoje nas novas tecnologias da “era da informação”, para posteriormente
verificar, no campo empírico, sua atuação nos métodos e técnicas de ensino-aprendizagem
em nível superior, especificamente, nas ciências da saúde e biomédicas da Universidade de
São Paulo. A pesquisa de campo nos ofereceu subsídios para a consecução dos
objetivos do trabalho, ou seja, analisar e comparar os resultados obtidos através das
184
dinâmicas de ensino utilizadas pelo Prof. Moacyr com apoio das NTICs, também nas
discussões do caráter estratégico das aplicações dessas tecnologias que englobam o
processo de ensino e pesquisa, bem como a identificação da metodologia utilizada pela área
odontológica.
A metodologia utilizada foi adequada para um estudo de caso, na qual os estudantes
foram testados em base a variáveis sobre a dinâmica empregada pelo professor no uso das
tecnologias de informação para as técnicas cirúrgicas e no uso dos instrumentos cirúrgicos.
Nossa pesquisa institucional e interdisciplinar procurou, nas diferentes unidades da
USP as quais utilizam as NTICs no ensino e pesquisa, tanto presencial como a distância;
focalizamos, especialmente nas áreas da saúde, biomédicas, biotecnológicas.
Analisamos as práticas nas salas-laboratório multidisciplinar e de multimídias da
FOUSP, onde concentramos nosso estudo e concluímos:
• Na FOUSP, o Prof. Moacyr D. Novelli, através da dinâmica do seu ensino,
adquiriu a confiança dos estudantes, abrindo espaço para a comunicação dialógica,
no binômio milenar da educação: o professor e o aluno. Inculcava-lhes a
importância das práticas cirúrgicas e das atitudes reflexivas, imprescindíveis na
interface ensino-aprendizagem, devido às competências cada vez mais rigorosas
para formar o perfil dos profissionais, exigidos pelo mundo globalizado e em
constantes mudanças sócio-econômicas e culturais;
• A dinâmica de ensino do Prof. Moacyr é salientada por um grande percentual de
estudantes – segundo respostas ao formulário de perguntas - especificamente na
disciplina de “Patologia Experimental: Introdução às Técnicas Cirúrgicas” que é
referência para outras disciplinas na FOUSP e outras instituições de ensino do
Estado de São Paulo e do país;
* Na variável cognitiva – atenção, concentração e memória subsidiada pelas imagens -
os alunos confirmaram que assimilaram melhor a temática “anestesia, corte e sutura” em
185
coxa de frango, com explicações do docente e, simultaneamente a visualização das imagens,
evidenciando o fluxo de diversos filtros de informação, dinamizando e possibilitando muito
melhor o aprendizado. A dinâmica desse método leva uma grande vantagem se comparada
a técnicas tradicionais de ensino, meramente expositivas ou simplesmente imagéticas;
• Um grande percentual dos estudantes da turma do primeiro semestre de 2004,
ainda permaneceu inseguro se seriam ou não capazes de fazer o corte e a sutura de
forma similar à observada na tela do televisor ou no computador; isso nos induz a
pensar que muitos deles, que desenvolveram as práticas na sala-laboratório com
ícones virtuais e em coxas de frango reais, não consolidaram tais conhecimentos de
forma suficiente para adquirirem experiências e segurança quando utilizarem tais
práticas em pacientes humanos reais;
• As aulas práticas com apoio dessas ferramentas se tornam mais motivadas e
dinâmicas. Encontramos ainda outros aspectos positivos derivados do uso dessas
novas ferramentas:
* mudanças de padrões e condutas, tanto nos estudantes como nos professores;
* mudanças no processo do trabalho pedagógico dos professores e dos alunos;
* maior produtividade com melhor qualidade de resultados;
* maior satisfação do professor e do aluno;
* alteração qualitativa e quantitativa na forma de trabalho/ estudo /pesquisa.
• O uso das novas tecnologias – versão DVD videogames, Televisão, computadores
e jogos on-line na Internet – elevam o QI (Coeficiente Intelectual), pois, os novos
desenhos estimulam às crianças e jovens a raciocinar e a fazer associações de idéias
para acompanhar o que acontece na tela88. Isto é altamente positivo do ponto de
88 SOUZA, Okky de; ZAKABI, Rosana. Especial. Imersos na tecnologia – mais espertos. Disponível em: <http://veja.uol.com.br/>. Acesso em: 07 de janeiro de 2006.
186
vista pedagógico, pois, fornece subsídios na otimização do processo ensino-
aprendizagem, evidenciado no aproveitamento escolar.
Constatamos também que os estudantes aprendem as técnicas cirúrgicas que seriam
usadas e desenvolvidas em outras disciplinas do currículo Geral da Odontologia, como por
exemplo: “nomenclatura dos instrumentos cirúrgicos”, “tipos de anestesia dental” e
“princípios básicos de anestesia, corte e sutura”. A disciplina: “Patologia Experimental:
Introdução às Técnicas Cirúrgicas” a conceituamos disciplina matriz porque ela desenvolve
habilidades manuais dos estudantes, e os prepara para outras disciplinas que exijam
atividades clínicas e de laboratório.
Verificamos que a disciplina “Patologia Experimental: Introdução às Técnicas
Cirúrgicas”, é interdisciplinar devido à situação apresentada pelo contexto cirúrgico, pois
envolve situações técnicas a serem aplicadas em disciplinas como: Anatomia, Psicologia,
Patologia e Radiologia. Todas as práticas foram experimentadas em coxa de frango, que
facilita as práticas pela textura da pele, ossos e músculos.
Mesmo sendo optativa, sempre causa grande interesse nos estudantes; assim, no
primeiro semestre de 2004 constava com 83 e no primeiro semestre de 2005 com 56
estudantes matriculados, divididos em duas turmas para as aulas práticas. Acreditamos que
devido à grande quantidade de estudantes nas aulas teóricas, o entusiasmo era menor se
comparadas com as aulas práticas dirigidas pelo Prof. Moacyr; tal motivação dos alunos
aumentava quando música era colocada nos alto-falantes da sala-laboratório com
propósitos distintos, tais como: advertência, “punição”, euforia e reflexão.
Essas músicas contribuíam para que os alunos concentrassem a atenção no
momento das práticas; percebemos que essa forma de estimulação era apreciada, pois,
ficavam tranqüilos, desfrutando momentos quase lúdicos devido a que as aulas se tornavam
mais atraentes. A dinâmica ajudava no aspecto cognitivo e afetivo; isso foi comprovado,
187
pois, os estudantes se lembravam do Prof. Moacyr e da sua forma “sui generis” de
compartilhar os conhecimentos, semestres depois de terem concluído a disciplina.
Parece-nos que as músicas constituem parte da ecologia da aprendizagem, pois, podem
agir de variadas e inusitadas formas sobre todos os seres viventes – vegetais e animais -,
principalmente sobre o cérebro humano fornecendo-lhe certo prazer e conforto,
provocando ânimo, iniciativa, criatividade, estímulos para enfrentar desafios e disputas.
Deduzimos também, que as imagens cumprem um papel decisivo na configuração e
apreensão dos conhecimentos, na odontologia, na medicina, na enfermagem, e outras
unidades da USP, pois, uma imagem 3D em movimento vale por mil imagens simples. Isso
ficou evidente na pesquisa feita no Instituto de Biociências e na disciplina de Telemedicina
da FMUSP, que utilizam recursos do projeto Homem Virtual, para o ensino, pesquisa e
prevenção de doenças no ser humano89.
Diante da robotização na sociedade contemporânea, o Prof. Moacyr induzia aos
estudantes para que adotassem práticas reflexivas, com objetivos direcionados a
transformarem-se em proficientes. Essa prática pode ser entendida como uma reflexão-na-
ação, conceituação utilizada por Schön (2002) constatando-se que se é bem feita
envolvendo diálogo transforma-se numa forma de reflexão-na-ação-recíproca.
Enfatizamos esse dado porque o Prof. Moacyr transferia conhecimentos aos
alunos com exemplos da sua experiência acadêmica. Também porque acreditamos que a
profissão de dentista, como outras profissões ou ofícios envolvem relacionamentos face a
face com todas as instâncias sociais. A cirurgia dental, como outras práticas da medicina e
saúde do corpo, envolve uma íntima relação e consideração. O objeto de trabalho é uma
das partes mais sensíveis do ser humano: a boca, onde se inicia nosso metabolismo como ser
89 O projeto Homem Virtual da disciplina de Telemedicina da FMUSP, é um objeto de aprendizagem que alia ilustrações dinâmicas em 3D, foi criado pelo Prof. Dr. Chao Lung Wen, sua capacidade de comunicar com rapidez e eficiência temas relevantes para a saúde pública tem gerado reconhecimento por parte da mídia e órgãos governamentais. Disponível em: <www.projetohomemvirutal.com.br> Acesso em: 23 de outubro de 2004.
188
biológico, o que leva ao profissional dessa área a um alto grau de sensibilidade para
manipular a parte bucal das pessoas.
Também deduzimos que, usando as novas ferramentas tecnológicas para o ensino
de cirurgia oral, e combinando-as com a arte – atividade essencial para o ser humano -
resulta uma mixagem singular. Porque o artista e o cirurgião utilizam no momento do seu
ato toda a sua sensibilidade, constituindo um fato inédito, as cirurgias podem ser realizadas
muitas vezes, mas, a técnica e a sensibilidade do momento operatório serão sempre um
momento único havendo entre a arte e cirurgia um certo paralelismo.
Procuramos refletir sobre os principais elementos da natureza teórico-prático
salientado pelo professor e o site – http://www.fo.usp.br/lido/ - elaborado para
complementar os estudos presenciais relacionados ao aproveitamento das NTCIs nos
espaços educacionais, mediados principalmente pelo computador, a fim de apoiar o
processo cognitivo dos estudantes.
Os resultados obtidos comprovam a hipótese da tese referente ao grande potencial
didático das NTICs em ambientes educacionais nas áreas odontológicas, biomédicas e da
saúde, que utilizam múltiplos meios de comunicação, integrando-os através de diálogos
produtivos, favorecendo e acrescentando qualidade ao ensino e pesquisa em nível superior.
No entanto, apesar das perspectivas animadoras como qualquer nova tecnologia, o
uso do aparato que envolve a telemedicina impõe algumas barreiras que, ao que todo indica,
levarão algum tempo para serem contornadas. A primeira e mais importante delas é a
econômica. A transmissão de alguns tipos de imagens com sucesso e rapidez ainda é
extremamente cara. É o caso da radiologia, por exemplo.
De acordo com o radiologista Klaus Irion, da Santa Casa, por se tratar de uma
imagem analógica, os Raios-X não pode ser transmitido de um local remoto a um centro de
diagnóstico sem ser digitalizado antes. Já existem máquinas de Raios-X que fornecem
diretamente a imagem digital, sem a necessidade do uso da película fotográfica. Embora o
189
custo final do exame seja mais econômico, os gastos com a aquisição da máquina ainda são
proibitivos – cada equipamento custa, cerca de US$ 500 mil.
Para o endocrinologista Rogério Friedman, vice-presidente adjunto do Hospital
Clinicas de Porto Alegre (HCPA), outro problema que começa a preocupar os responsáveis
dos hospitais e centros de pesquisas é a dificuldade de transmitir a maior quantidade de
informações no menor tempo possível. A tecnologia empregada em cada centro e os
formatos para a transmissão, são bastante diferentes, o que dificulta o intercâmbio.
Uma alternativa que pode mudar a realidade descrita aponta o especialista, é a
formação de parcerias. Foi o que fez o Serviço do Departamento das Clínicas, que hoje faz
parte do projeto Telederma, um núcleo integrado de teleassistência e telediagnóstico baseado na
Internet (desenvolvido pela disciplina de Telemedicina da Universidade de São Paulo –USP).
Outro fantasma que ronda os sonhos cibernéticos dos entusiastas da telemedicina é a
segurança e a confidencialidade do tráfego de informações. A maioria das instituições que
trabalham com diagnósticos sente a ameaça da falsificação e mau emprego dessas
aplicações tecnológicas, desviando-as para aplicações indevidas, que podem acarretar
propósitos inadequados.
A participação como pesquisador dessa temática, nos leva para um olhar do que
acontece com a proliferação das novas tecnologias que invadiram todos os cantos da vida –
áreas agronômicas, biológicas, biomédicas, ciências da saúde e outras áreas - resgatando os
suportes positivos, inclusive aproveitar as aplicações que poderia trazer a inteligência artificial
(IA) usada na medicina e na educação em países desenvolvidos.
No entanto procedemos de um país “periférico” consideramos que podemos
utilizar as vantagens dessas ferramentas - sobretudo nas áreas médicas - e não ser meros
observadores dos processos que privilegiam uns poucos.
Finalmente nossa reflexão aponta uma aplicação adequada dessas novas
ferramentas cognitivas. Apropriar-se dessa nova mídia seria ideal para incluir os
190
infoexcluídos, democratizando a sua aplicação em todos os níveis educativos e segmentos
sociais, aproveitar a sua presença na nossa cotidianidade, utilizando-a em grande escala,
porque vieram para ficar, e seria uma atitude antitecnológica lutar contra elas, pois, as
novas mídias informáticas são irreversíveis, e concomitantes com as mídias tradicionais na
contemporaneidade.
191
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201
ANEXOS
ANEXO 1 – Relatório das aulas teóricas e práticas observadas na
FOUSP
AULA N° 1:
I) Visita ao Laboratório Multidisciplinar
Os principais aparelhos usados nessa sala são:
* digital vídeo maker aparelho para monitorar as telas dos televisores,
* microscópio óptico ligado ao computador,
* computador com interatividade, anexado à Internet,
* super emotia: aparelho que sincroniza o sistema vídeo caster (não digital) a outras fontes,
* vídeo presentation stand: aparelho com sistema de som DVD
* Mesa de som com seis canais.
II) Distribuição dos estudantes (Laboratório de Multimídias)
Os estudantes sentam-se às mesas do Laboratório, cada mesa tem lugar para 10
pessoas.
As monitoras entregam uma folha com imagens dos instrumentos cirúrgicos aos
estudantes, para fazerem um teste que denominamos de entrada e determinar se possuem
fundamentos da forma de empunhar esses instrumentos, quais sejam: bisturi, tesoura, pinça
e porta-agulha, os resultados seriam divulgados na aula seguinte. Após três semanas farão
um outro teste, que denominamos de saída, sobre os mesmos ícones, para determinar se eles
conseguiram memorizar as empunhaduras corretamente.
III) Orientações do professor aos estudantes
- Os estudantes devem estar com luvas, máscara, touca, óculos de proteção e
uniforme branco. Através de quatro telas de TV instalados na parte superior da
sala, o professor explica e mostra simultaneamente a maneira correta de abrir as
embalagens de luva e como as colocar.
Intranet90
Nessa prática, os alunos conseguem acompanhar as explicações do professor
olhando diretamente para ele num percentual de 5% mas, assistem na tela da TV num
percentual de 90%, e num percentual de 5% está observando a sua própria mesa e 90 Intranet: é uma infra-estrutura de servidores em rede e comunicação por links entre si.
202
materiais. Pudemos comprovar que eles estão mais concentrados nas imagens do professor
e as explicações que ele passa pela tela da TV, eles estão usando o clássico modelo de
ensino áudio-visual, mas nos ícones da TV, deixam em segundo plano a pessoa real do
mestre a quem somente escutam. O contrário acontece com o ensino tradicional, onde os
estudantes centram a sua atenção somente na fala do professor (90%). Na prática
introdutória e com o uso de aparelhos mediáticos em circuito fechado (Intranet), os
estudantes são preparados para manipular instrumentos cirúrgicos em coxas de frango. Pela
nossa análise superficial determinamos que o professor continua sendo a peça fundamental
para comunicar e informar aos estudantes na FOUSP.
IV) Uso dos instrumentos cirúrgicos
A) Técnica e uso da tesoura e da porta-agulhas com empunhadura somente com uma mão.
B) Uso da porta-agulhas e outros materiais cirúrgicos para a sutura (fios, agulhas, etc).
Observação
Cada prática leva de uma a duas horas aproximadamente. As lojas dentais localizadas perto
da sala-laboratório fornecem instrumentais cirúrgicos necessários para as práticas, nas quais
professores e alunos podem comprá-las.
AULA N° 2:
DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 06 de dezembro 2003
FASES:
I) “Aquecimento mental”
Chamado assim pelo Prof. Moacyr porque consiste no reconhecimento do ambiente, dos
materiais, lembrando paulatinamente o que eles fizeram na aula anterior, aí vão surgindo
breves comentários entre os estudantes, preparando os materiais cirúrgicos. É um
intervalo para dar começo à prática, onde o professor deve saber mexer com os estudantes,
é importante para que, quando concluam esse aquecimento, estejam concentrados nas
indicações dele, o que proporcionaria melhor aproveitamento.
O docente coloca o instrumental cirúrgico sobre a mesa, onde está uma câmera de TV
enfocando a coxa de frango (desta vez, um desenho virtual), peça fundamental para a sutura.
II) Indicações do Professor ao vivo e pelo circuito interno de TV.
Foram as seguintes:
- forma de pegar a seringa para injeção de anestesia ao paciente,
- cirurgia exploratória,
- conhecer a anatomia da coxa do frango, pele, ossos, nervos, músculos, etc.,
203
- as incisões devem ser os momentos de maior reflexão,
- as técnicas de empunhar o bisturi,
- as operações cirúrgicas são feitas de pé.
III) “A prática em si”: Dividida em duas partes.
A) Incisão – Diérese
B) Sutura (reconstrução) - Síntese
Os estudantes realizam incisões e suturas na coxa de frango, o que é realizado sobre a
mesa, esquecendo um instante a tela da TV. Simultaneamente exibe-se um vídeo de sutura
e, nessa fase, a escuta da fala do professor é imprescindível. Com alguns intervalos os
alunos erguem a cabeça para dar uma olhada na tela para ver o que acontece no vídeo. O
professor alerta que o vídeo não deve permanecer estático, fato que consideramos
importante para dar seqüência na interatividade da informação.
Figura 12 - Práticas interativas na FOUSP
Observação: Os estudantes devem ter excelente equilíbrio nas mãos, qualquer tremida pode ser fatal no
ato cirúrgico com pacientes reais. As práticas continuam até o quinto nível. As avaliações
iniciais são flexíveis, conforme passam de níveis, são usados aparelhos mais sofisticados e
são empregadas outras técnicas; portanto as avaliações são mais exigentes. O uso das novas
mídias eletrônicas constitui um apoio didático, enquanto ferramentas cognitivas, pois,
ajudam a fixar na memória dos aprendizes os conhecimentos espalhados no ciberespaço.
204
AULA N° 3:
DISCIPLINA: Semiologia91 DATA: 19 de março de 2004
LOCAL: Laboratório de Multimídias da FOUSP
PROFESSOR: Dr. Moacyr Domingos Novelli Alunos: 3o. ano.
Indicações:
Nessa aula introdutória do primeiro semestre, o professor sugere que os estudantes se
instalem nas mesas de práticas com seus materiais e instrumentos cirúrgicos, enquanto ele
prepara o vídeo e centraliza a câmera de TV, para melhor aproveitamento das imagens.
A prática dessa aula consistiu em usar dois métodos de incisão:
a) Num tecido ósseo,
b) Num tecido muscular.
“A prática em si”:
Lembremos que eles estão fazendo uma simulação em tempo real, portanto, essas práticas
devem estar mais perto da realidade, pois serão aplicadas em pacientes humanos.
Os estudantes são induzidos a olhar a tela dos televisores instalados em suportes nas
paredes da sala, para permitir melhor visão das imagens projetadas.
A maioria dos estudantes dessa disciplina – semiologia - já realizou práticas de anestesia, corte
e sutura, nos primeiros semestres de ingresso à FOUSP, no entanto alguns deles são
apoiados pelas monitoras Mayra e Priscila e também pelo mesmo professor Moacyr. A
prática demora entre duas a três horas sem intervalos.
AULA N° 4:
DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 19 de abril de 2004.
PROFESSORES: Maria Izete (Teoria) e Moacyr Novelli (Lab.) SEMESTRE: I de
2004
TEMA: Inflamação Aguda
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:
Parte teórica: a cargo da Profa. Dra. Maria Izete
Ela pediu aos alunos para colaborarem com o silêncio, pois a sala enorme lota com 83
estudantes. Traçou um triângulo na lousa para explicar o tema. A aula é expositiva,
exemplificada, sem uso de qualquer mídia. Após uma hora e dez minutos de aula a 91 Semiologia é a especialidade que estuda as variações dos sinais e dos sintomas, em busca de hipótese de diagnóstico para identificar doenças. Está baseada na observação das variações de forma, cor, textura e consistência, bem como de sintomatologia (dolorosa, ou de outra natureza, como por exemplo, parestesia, ardor, prurido, etc.) Disponível em: <http://www.fo.usp/lido/>. Acesso em: 23 de outubro de 2004.
205
professora deu um intervalo de quinze minutos para que os estudantes se encaminhassem
aos laboratórios.
Parte prática: No Laboratório de Microscopia, com o Prof. Moacyr.
A turma foi dividida em dois grupos: uma turma com a Profa Izete e outra com o Prof.
Moacyr. Essa segunda parte da aula acarreta mais interesse dos estudantes, porque aqui
encontram 43 microscópios colocados nas mesas em grupo de três, seis aparelhos de TV
instalados em suportes nas paredes, monitores, equipamento de som e computador. Ele
recomenda os estudantes para que entrem no site onde está a disciplina com seus
respectivos links, voltando a lembrá-los do significado clínico e assimilar as explicações sobre
os tecidos. Os alunos olham a tela do TV e simultaneamente escutam o professor que fala a
viva voz.
Depois de instalados os estudantes começam a mexer nos microscópios, fazem as suas
anotações necessárias, sob uma tênue música expandida por todo o laboratório, selecionada
pelo Prof. Moacyr. As imagens projetadas nos televisores são analisadas pelos estudantes
no microscópio, sendo ampliadas para melhor visualização e aprendizado dos tecidos. Os
estudantes gostam dessa aula-prática, porque reúne os principais requisitos de uma ecologia
da aprendizagem.
AULA N° 5:
DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 26 de abril de 2004.
PROFESSORA: Maria Izete
TEMA: Granulomas: Reação Inflamatória Crônica. (Aula Teórica)
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO
Nessa aula, a Profa. Maria Izete começou definindo e comparando o que é granuloma e
classificando os existentes. Nesse tipo de aula expositiva os estudantes – inclusive desse
nível de ensino - precisam de muita predisposição pessoal e grande vontade para se
sentirem confortáveis e contribuírem com a sua formação pessoal e profissional.
Desta vez a professora fez uso de mídias tradicionais (slides transparentes) desenhados
manualmente, com caneta simples em papel. Também desenhou uma granuloma na lousa,
para explicar a inflamação do tipo de tuberculose, que resulta em um tubérculo. De certa
forma é uma aula auxiliada com ferramentas midiáticas clássicas. O feed-back consistiu em
lançar algumas perguntas para sondar se os estudantes assimilaram a temática.
206
AULA N° 6:
DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 04 de maio de 2004.
PROFESSOR: Dr. Moacyr D. Novelli
TEMA: Usos de Instrumentos Cirúrgicos
CONTEÚDO DA OBSEVAÇÃO:
Apoiados por três monitores, o Prof. fez entrega aos estudantes de uma folha (mídia
impressa) onde se mostravam os principais instrumentos cirúrgicos a serem utilizados nas
práticas. Ele explica que a aula será 80% prática com aplicação da teoria estudada.
Mostra inicialmente a forma correta de empunhar a 1a. tesoura, logo a 2a. tesoura e um 3o.
instrumento – a porta-agulha - utilizando-se somente uma das mãos. As tesouras foram
fabricadas para destros, os canhotos devem se adaptar a ela.
O Prof. e monitores estão espalhados em diferentes espaços da sala, explicando a técnica
aos alunos individualmente. Eles praticam consecutivamente muitas vezes as mesmas
operações do manejo dos instrumentos cirúrgicos, como um prelúdio às práticas que
realizarão nas próximas aulas. A mídia tradicional usada neste caso foi o xerox com os
desenhos dos instrumentos.
AULA N° 7:
DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 11 de maio de 2004.
PROFESSOR: Moacyr D. Novelli
TEMA: Técnica para corte e sutura.
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO
Nessa aula prática, os estudantes se acomodam nas mesas, com capacidade para 10,
preparam todos os materiais. O Prof. instala a câmera da TV com seus projetores e quatro
aparelhos de TV pendurados no laboratório de multimídias. Após uma breve explicação
introdutória e estando os estudantes devidamente uniformizados, a prática se inicia. Como
se observou anteriormente os alunos têm duas fontes de informação audiovisual: aquela
fornecida pelo professor e a outra fornecida pelo circuito fechado de televisão, o que
subsidia de forma mais eficiente essa forma de prática bimodal no ensino superior.
AULA N° 8:
DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 18 de maio de 2004.
PROFESSOR: Moacyr D. Novelli
TEMA: Anestesia, Corte e Sutura (Práticas com os instrumentos cirúrgicos)
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO
207
Indicações do vestiário adequado para entrar num consultório dental. Os aparelhos de TV
também mostram em forma simultânea o que o Prof. Moacyr realiza, uma explicação em
tempo real da observação. Os monitores são quatro, porque há 40 estudantes nessa prática.
Nessa aula, eles dedicam-se a repetir individualmente uma ou mais vezes as indicações do
professor. É um preparo físico e mental para anestesia, corte e sutura em coxa de frango
que serão realizados daqui a duas semanas.
AULA N° 9 :
DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 24 de maio de 2004.
PROFESSOR: Maria Izete
TEMA: Anatomia das Neoplasias
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO
A Profa. Izete explica diretamente o conteúdo temático, veiculado no aprendizado e uso da
memória dos estudantes, tentando apresentar a eles os conceitos básicos das ciências
médicas. Eles escutam, silenciosamente, a aula expositiva da Profa. Izete tentando lembrar
conceitos da aula anterior.
Na II Parte (aula prática), desenvolvida no Laboratório de Microscopia, metade dos
estudantes da aula teórica ficou com a Profa. Izete e a outra com o Prof. Moacyr. Nessa
sala-laboratório, os estudantes mexeram com os microscópios e puderam assistir a imagens
estáticas que o Prof. Moacyr ia projetando nos televisores pendurados. É um aprendizado e
uma comunicação assíncrona, pois o sentido da informação através das mídias eletrônicas
instaladas no laboratório assim o define.
AULA N° 10:
DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 25 de maio de 2004.
PROFESSOR: Moacyr D. Novelli
TEMA: Anestesia, Corte e Sutura em coxa de frango.
208
Figura 13 - Anestesia, corte e sutura em coxa de frango
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO
Depois das indicações pertinentes sobre uso dos materiais cirúrgicos (pinça, tesoura, bisturi
e porta-agulha) que devem ficar no lado esquerdo do estudante, o Prof. Moacyr manipula
as ferramentas de simulação, a partir de dispositivos inseridos no computador à maneira
dos antigos slides, mas o retro-projetor instalado na mesa pode projetar a sua própria
imagem do televisor ao “vivo”, explicando e manipulando os instrumentos cujas imagens
refletem nas telas. Isso oferece aos estudantes duas opções: assistir pela tela ou mexer
diretamente seus instrumentos indicados pelo professor. As mídias utilizadas nestes casos
como suporte são muito importantes na prática pedagógica do ensino superior na FOUSP,
facilitam muito a aprendizagem presencial. Como se indicou anteriormente, os conteúdos
temáticos dessa prática estão num programa de computador e na rede para o acesso pela
Internet – http://www.fo.usp.br/lido/ - e podem ser acessadas por qualquer um dos
estudantes e/ou pessoas interessadas na temática. É importante lembrar que esta turma
estava realizando pela primeira vez essa prática, eles se mostravam um pouco nervosos,
mas o apoio das monitoras lhes dão certa confiança.
209
AULA N° 11:
DISCIPLINA: Patologia DATA: 1o. de junho de 2004.
Figura 14 – O Professor Moacyr nas práticas cirúrgicas.
TEMA: Anestesia Corte e Sutura em coxa de frango.
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:
O Professor faz as indicações similares do que fez com a turma da semana anterior,
indicando a forma certa de inserir o tubete anestésico na seringa, o que é exibido na tela
dos quatro televisores do laboratório, isso simultaneamente possibilita uma melhor
interface com a informação.
Os estudantes realizam a prática com os instrumentais cirúrgicos após breves e repetidas
explicações do professor, que mostra as imagens destes nos televisores da sala.
Como mencionamos, essa prática já se fez com a turma anterior, ressaltando que a
anestesia é feita de três maneiras diferentes. Além de explicar os detalhes, e também com a
projeção das imagens nas telas, o professor exibe um vídeo de 15 minutos sobre a técnica
da anestesia. Tiramos fotografias para demonstrar que os conjuntos midiáticos podem ser
apresentados também através de fotografias e pela Intranet e Internet através do
computador (notebook) que é manipulado pelo professor Moacyr. Dessa forma, os
estudantes estão interagindo com as novas tecnologias para melhor aproveitamento.
210
AULA N° 12:
DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 08 de junho de 2004.
LOCAL: Anfiteatro da Fundação da FOUSP
PROFESSORES: Moacyr D. Novelli, Profa. Sheyla e uma equipe de monitores.
TEMAS: Hiperplasia (Cirurgia Laser) e Remoção de Tecido das Gengivas.
Material Áudio-visual: projetor, retro-projetor, slides, câmeras de vídeo conferência.
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO
Havia duas salas: uma munida com uma tela gigante com som próprio como se fosse o
écran de um cinema na qual estavam o Prof. Moacyr e os professores convidados e uma
outra sala na qual estavam a paciente, a Profa. Dra. Sheyla e uma equipe de auxiliares e
técnicos em processo de operação cirúrgica. Essa cirurgia era transmitida em tempo real
para os presentes na outra sala.
I PARTE DA CIRURGIA: HIPERPLASIA
Nesta primeira intervenção cirúrgica, em que seria retirado um acúmulo anormal de tecido
na cavidade bucal denominado de hiperplasia, a Profa. Sheyla anuncia que neste caso não
usará anestesia, porque a operação será indolor e não será necessário. Esta primeira
intervenção cirúrgica é assistida por todos os alunos, que usam a visão como sentido
principal do espaço cognitivo na tela gigante. As imagens enviadas do consultório para o
anfiteatro são comentadas pelo Prof. Moacyr e também pelos estudantes que conseguem
ter oportunidade de fazer perguntas. Esta primeira operação demora, aproximadamente,
uns vinte minutos.
Com microfone instalado perto da boca, a Profa. Sheyla, explica tudo o que está fazendo
na sala de cirurgia, para que os alunos e professores do Anfiteatro assistam a tudo o que
acontece com a paciente.
A Profa. Sheyla manipula um aparelho que emite raios laser. Ali todos na sala estão usando
óculos de proteção contra a radiação. Os raios laser aplicados à medicina são de 1,2 de
potência que passa através de uma fibra ótica. O Prof. Moacyr encaminha perguntas e
dúvidas dos alunos direcionadas à profa. Sheyla na sala de cirurgia.
Durante a retirada do tecido houve um “congelamento do vídeo” (imagem estática). A
duração da remoção do tecido demorou aproximadamente uns 20 minutos. A incisão se fez
com aplicação de raios laser e a ampliação da boca da paciente na tela gigante foi de doze
vezes.
211
II PARTE. MELANOPLASTIA: Operação cirúrgica estética (periodontia)
Esta operação consistiu em tirar de uma paciente voluntária (Rachel, uma estudante de
curso básico de periodontia) a parte escura da gengiva (pigmentação melânica) superior e
inferior que são características das raças negras e árabes. Aqui a Dra. Marina explica na sala
de operações todo o processo da intervenção, começando a fazer ou uso de Anestesia Local.
É importante mencionar que a Melanoplastia é uma operação para extirpar a parte escura
da gengiva em função da estética. A parte escura da gengiva deriva de um fator genético.
A primeira etapa consiste em anestesiar a gengiva, as papilas. A intenção é remover toda a
camada de epitélio existente.
Depois da Anestesia. Inicia-se a cirurgia com um bisturi e uma pinça para retirar o tecido
epitelial escuro. Também se usa um aparelho chamado sugador que aspira os resíduos do
tecido cortado. Elas vão tirando pedaço por pedaço o tecido melânico das gengivas e dos
espaços interdentais. A cirurgia ocasiona sangramento, mas a Rachel não sente pela doses
de anestesia aplicadas nela. Os dois professores doutores que fazem a cirurgia explicam
tudo o que acontece através de um microfone, comentando a seqüência da intervenção que
é acompanhada por mais de 80 alunos desde a sala da Congregação.
O gengivótomo (bisturi) é usado para raspar os tecidos que ainda ficam no epitélio gengival.
Gengivoplastia é uma técnica cirúrgica que visa o remodelamento do tecido gengival.
Reparação dos tecidos
A reparação natural começa com a multiplicação das células. Em 7 dias, essa ferida é
reparada.
Cuidados operativos. Após a operação a paciente terá os seguintes cuidados:
Ela deve fazer uma dieta de dois dias, bebendo somente líquidos e comendo alimentos
pastosos, frios ou gelados, para evitar sangramento.
Após 15 dias, a paciente pode mastigar normalmente. Não há necessidade de analgésicos,
nem de antibióticos, porque ela tem uma excelente saúde e a assepsia foi feita antes da
cirurgia. Um novo cimento é colocado após sete dias. A paciente deve higienizar essa área
com escova macia ou lavagem utilizando Listerine.
Rachel vai deixar essa área limpa com produtos químicos fazendo bochecho. Ela é uma
estudante do Curso de Especialização da FOUSP e o caso apresentado com a Rachel é
parte dos seus estudos que vem desenvolvendo nessa área.
Após o termo da operação (4.50pm), o Professor Moacyr fez algumas observações aos
estudantes:
212
O raio laser atinge partes mais importantes e profundas. O bisturi tira a superfície do epitélio
e a reparação do tecido é melhor e mais rápida. Com essas inovações, em termos
teleodontológicos, aplicando as novas ferramentas informáticas no ensino superior,
encerraram-se as aulas no primeiro semestre de 2004.
AULA N° 13:
DATA: 19 de abril de 2005 DISCIPLINA: Patologia Geral
TEMA: Aula introdutória ANO LETIVO: I semestre de 2005
PROFESSOR: Dr. M. Novelli MATERIAIS: Pinça, tesoura, luvas, fio e porta-agulha.
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:
O docente preparou os materiais a serem mostrados na tela. Os estudantes praticam a
forma certa da empunhadura da tesoura com a ajuda das monitoras Mayra e Priscilla e mais
quatro estagiários. Com a projeção das imagens ampliadas na tela os alunos podem
visualizar melhor a manipulação preparatória para a anestesia, o corte e a sutura.
Após repetir a forma correta até por três vezes na tela da TV, o Prof. Moacyr com apoio
dos estagiários ensina quase individualmente as técnicas para a anestesia, o corte e a sutura.
Explicou que há movimentos macrocirúrgicos; mas o que eles praticariam naquele momento
seriam atos microcirúrgicos
O seguinte passo foi a empunhadura de dois instrumentos numa só mão para a técnica de
sutura, mostrando como se faz isso, através das imagens, que é de importância visual no
momento cirúrgico. Os alunos escutam, olham e praticam as diferentes fases dessa técnica.
AULA N° 14:
DISCIPLINA: Patologia Experimental TEMA:Uso de instrumentos
cirúrgicos
PROFESSOR: Moacyr D. Novelli MATERIAS: Touca, óculos,
máscaras,
ANO LETIVO: I Semestre de 2005. luvas, avental, plástico, agulha
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:
O docente começa explicando e mostrando a forma correta de se colocar a touca, os
óculos, a máscara e o avental. Explica brevemente o que é biossegurança e também estimula
213
os discentes a manterem, disciplinadamente, a máscara, os óculos e a touca até o final da
aula.
O avental, para o Prof. Moacyr, é uma extensão do corpo, portanto deve ser respeitado.
Nesse momento, o Prof. explica algumas noções de bioética, envolvendo pacientes e
profissionais da área médica a partir da interface com o avental. Outras reflexões de
biossegurança do docente indicam a forma correta de manipular os instrumentos, o avental
e demais suportes, para evitar o contágio com a boca do paciente. Comentou também
sobre as zonas seguras para o depósito do lixo.
Insistiu na sua explicação sobre a biossegurança, para o qual desenhou no quadro verde
com um giz o espaço a utilizar na mesa do laboratório. Os estudantes praticaram o manejo
dos instrumentais com a sua ajuda pessoal e de dois estagiários.
AULA N° 15:
DISCIPLINA: Patologia Experimental TEMA: Preparo para anestesia, corte e
sutura
PROF. DR.: Moacyr D. Novelli MATERIAIS: Pinça, papel, luvas, ANO LETIVO:
I Semestre de 2005 bisturi, tesoura, seringa, touca, óculos.
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:
O Prof. elabora um diagrama no quadro verde referente à forma de colocar o papel com os
materiais na mesa. Explica brevemente sobre a hemostasia que é o processo de parar o
sangramento excessivo (hemorragia).Indica também como se deve colocar a máscara de
proteção, o mesmo acontece com a manipulação da luva e a forma de as colocar. A prática
nessa oportunidade ocorre utilizando papel: os estudantes fazem o corte na forma de um
trapézio. Eles terão que suturar a parte do corte feito no papel. É uma prática de preparo
para fazer a anestesia, o corte e a sutura na coxa de frango para a aula seguinte. O Prof.
Moacyr e um dos estagiários colaboram na prática individual dos estudantes.
AULA N° 16:
DISCIPLINA: Patologia Geral TEMA:Anestesia, corte e sutura
(ACS) PROFESSOR: DR. Moacyr D. Novelli em coxa de frango
ANO LETIVO: I Semestre de 2005 MATERIAIS: gaze, pinça, bisturi,
anestesia, fios, agulha, tesoura, papel, seringa, porta-agulha, coxa de frango.
TURMA: I Diurna
214
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:
O docente começa nessa prática com uma observação detalhada da forma de abrir as
embalagens, fechar e manipular o instrumental cirúrgico. Mostra lentamente a montagem
dos instrumentos, usa a porta-agulha e a pinça para colocar a lâmina afiada do bisturi no
seu suporte.
Na seqüência, entrega a cada um dos estudantes as coxas e sobrecoxas de frango cru, nas
quais os estudantes realizarão as práticas cirúrgicas.
Os estudantes observam, mexem, reconhecem e comparam a coxa de frango com as
imagens de uma radiografia impressa. Esse fato serve para fazer um feed-back das lições
teóricas e/ou práticas anteriores.
O Professor informa que praticarão três tipos de anestesia e pede para que eles olhem para
a ponta da agulha, para se concentrar melhor no momento cirúrgico. Pela ausência dos
monitores, o docente age rapidamente para dar atenção individualizada a cada um deles que
precisam, considerando também que essa turma realiza pela primeira vez essa prática.
O ato cirúrgico é a relação profissional do médico e o paciente e somente eles (os alunos)
podem se identificar com isso; não adianta perguntar tudo para o professor.
Após meia hora de aplicação das técnicas e do uso dos instrumentos cirúrgicos, os
estudantes estão muito concentrados nas suas práticas, mergulhando cada um deles nas
profundezas da concentração total para esse ato tão sublime que é o ato cirúrgico (incisão e
sutura); é um momento único, o silêncio absoluto está sobre a sala. Ninguém fala, comenta
ou olha para o colega do seu lado, todos conectados nesse momento mágico da exploração
ao máximo da suas potencialidades cognitivas e de concentração.
À medida que eles aprofundam as práticas na coxa de frango, novas inquietudes e
interrogações científicas afloram. O papel do professor com vontade de satisfazer a enorme
curiosidade dos estudantes se viu refletida nessa aula.
AULA N° 17:
DISCIPLINA: Patologia experimental TEMA: ACS em coxa de frango
PROFESSOR: DR. Moacyr D. Novelli MATERIAIS: Idênticos aos da aula
16
ANO LETIVO: I Semestre de 2005 TURMA: II diurna
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO
215
Nessa prática são usados quatro aparelhos de TV para visualizar melhor a imagem de uma
réplica de coxa de frango sobre a mesa. Como no caso da prática anterior, o professor
começa a explicar a forma de colocar a agulha na seringa e os demais instrumentos
cirúrgicos a serem utilizados durante o ato operatório.
Diferentemente da prática anterior, feita com uma outra turma de alunos, nessa aula os
alunos observam com muita atenção o que o professor está explicando sobre o manejo dos
instrumentos.
No momento em que o professor distribui as coxas de frango percebe-se que os estudantes
fazem uma projeção mental quanto ao futuro de cada um deles, pensando talvez que alguns
anos depois eles estarão mexendo com pacientes humanos reais. Eles, após esse processo,
observam por alguns instantes a coxa de frango na sua mesa de trabalho, mexem nela,
reconhecendo as articulações, músculos, cartilagem e nervos.
Como na primeira turma o professor ensina as três formas de injeção da anestesia: debaixo
da pele, a 45o e perpendicular.
Feitas as indicações pertinentes, eles mexem com suas próprias mãos e de acordo a sua
sensibilidade para iniciar o ato cirúrgico, começando pela anestesia. Pouco a pouco eles vão
se compenetrando nesse instante singular do ato pré-operatório, mantendo muita calma,
realizando movimentos devidamente controlados e concentrando-se profundamente no
que eles vêem realizando.
Com a ajuda da imagem de uma coxa de frango estruturada em partes e projetada nos
televisores, o professor indica que cada um dos alunos explore o que vai encontrar nessa
coxa e sobre-coxa. Também recomenda que não adianta chamá-lo muitas vezes para essa
ajuda exploratória.
Além da imagem projetada, o professor faz um desenho de uma coxa de frango na lousa
indicando onde eles podem fazer a incisão mais segura. Quando eles estão já no caminho
certo, e com grandes possibilidades de desenvolverem o que eles planejaram, entram na
etapa de concentração e silêncio absoluto, isto sugere que eles já estão nas imensidades da
exploração mental do ato cirúrgico em si. Obviamente no percurso de todos os alunos
iniciantes nessas práticas vão surgindo novas dúvidas, contrastando muitas vezes com tudo
aquilo que eles estudaram na teoria. Constatou-se que não basta somente a teoria que dá
lugar a um teoricismo, ou somente a prática, que deduz um praticismo, acreditamos que
temos que entrelaçar ambas para complementar uma cabal abordagem holística do ser
humano.
216
AULA N° 18:
DISCIPLINA: Patologia Geral TEMA: Mostra de quatro tipos de cirurgia.
Dois através de vídeo, dois ao vivo na sala de
cirurgia.
PROFESSOR: Dr. Moacyr D. Novelli ANO LETIVO: I Semestre de 2005
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:
Esta aula prática de observação se realizou na sala da Congregação da FOUSP.
No início dessa amostra foi aplicado um teste de conhecimentos sobre a empunhadura
correta de alguns instrumentos cirúrgicos, usados durante o semestre que está finalizando.
Esse teste consistia em marcar com um x dentro de um quadradinho junto a oito imagens
desses instrumentos. O objetivo desse teste consistia em determinar se o estudante
compreendeu corretamente a forma de empunhadura de pinça, tesoura, porta-agulha e
bisturi. No verso do teste, há dez perguntas com alternativas de respostas cada uma.
Depois de concluído o teste, o Prof. Moacyr os resolvia, explicando quais as respostas
corretas e fazendo uma retro-alimentação dos conhecimentos – feedback- para todos.
Após responder as dúvidas dos estudantes sobre o teste, o Prof. Moacyr pediu a eles
refletirem sobre essa sutil avaliação, indicando que, independentemente do resultado das
notas, elas não eram fator predominante, mas sim, para que eles possam ter
responsabilidade e seriedade nos estudos e sejam bons profissionais, quer dizer uns
profissionais reflexivos, na suas área de atuação e na sociedade.
Seguidamente explicou que passaria dois vídeos sobre tipos de cirurgia e um terceiro caso
ao vivo na sala de cirurgia. Os tipos de cirurgia observados foram:
a) Sutura Contínua (de uma pálpebra do olho), vídeo,
b) Incisão no sulco nasolabial, vídeo,
c) Frenotomia, com bisturi, ao vivo, realizada na sala de cirurgia,
d) Frenotomia com raios laser, ao vivo, realizada na sala de cirurgia.
I CASO: Sutura contínua. Este caso foi observado numa tela gigante na sala da
congregação da FOUSP. É uma cirurgia para corrigir as pálpebras. No vídeo mostrado o
corte já foi realizado, a seqüência foi a sutura da ferida da paciente. Ela apresenta sintomas
de que está com anestesia local e com um olho ortopédico de proteção. Foram aplicados
217
seis a oito pontos. O professor explica para toda a sala como se faz um nó ao final da
sutura.
II CASO: Incisão no sulco nasolabial. É uma cirurgia em que se realiza um corte no
sulco que fica entre o lábio superior e o nariz, de forma a torná-lo esteticamente compatível
com a visualização harmoniosa dos dentes superiores. O corte e a sutura são mostrados
pelo vídeo, são triangular e debaixo do nariz. A anestesia aplicada neste caso também foi
local.
III CASO: Frenotomia com bisturi. Este caso foi apresentado ao vivo da sala de
cirurgia para a sala da congregação.
Na sala de cirurgia, uma equipe de médicos e estagiários chefiados pela Profa. Dra. Marina
começa com a assepsia do rosto da paciente, ou seja, a limpeza da área a ser operada. O
problema que a paciente representa é uma retração gengival. Tudo o que acontece na sala de
cirurgia pode ser observado pelos estudantes numa tela gigante No anfiteatro da Fundação,
as imagens, o áudio e a interface da comunicação síncrona acontece entre o Prof. Moacyr e
na sala da Fundação e a Profa. Marina na sala cirúrgica, e este tipo de aula dá oportunidade
a todos participarem com suas dúvidas no momento mesmo do ato operatório.
Na seqüência a Profa. Marina explica passo a passo o que está realizando. Pode-se perceber
claramente a membrana existente entre a gengiva e o plano ósseo. Depois a Profa. e sua
equipe de médicos auxiliares realizam o corte até chegar à região óssea. A paciente está com
anestesia local e está com pouco sangramento. Depois do corte do freio gengival, os
auxiliares sugam alguns líquidos salivais e sangue com um sugador e algodão especial.
A operação cirúrgica demora uns 30 minutos aproximadamente, o maior espaço de tempo
ocupado nessa cirurgia foi ocupado pelo processo anestésico, o corte foi muito rápido e
fácil. Depois de secada a ferida é aplicada uma camada de cimento branco.
Houve um lapso de tempo para explicações e conforme a operação acontecia, as assistentes
secavam os lábios da paciente, liberando-a com recomendações específicas para tomar
alguns analgésicos e para voltar dentro de 45 dias.
Observação: Por que é feito a Frenotomia? Por que a existência de freio gengival dentro do
maxilar inferior ou superior cria obstáculos à higiene dental, gengival ou bucal e também
pela necessidade de estética na parte inferior da gengiva e dentes.
218
IV CASO: Frenotomia com raios laser
No caso anterior fez-se a frenotomia com bisturi, desta vez será com raios laser. O
processo inicial é semelhante ao anterior, anestesia-se a paciente. Mas neste caso a luz
potente do raio laser funciona como uma assepsia local. O sugador é de alta potência.
Quando o laser é ativado cumpre a função de um bisturi, cortando o freio. O laser tem
vantagem sobre o bisturi, porque cauteriza quase imediatamente o corte que é feito, e
também o tecido gengival. Não se observa sangramento nenhum, o laser o cauterizou e a
cicatrização é natural. Nesse caso não se usou o cimento cirúrgico.
O Prof. explica que o importante seria avaliar o ato pós-operatório, pois nele forma-se uma
pequena membrana, e a paciente tem que fazer uma fisioterapia para estimular o
crescimento das fibras. Então, a fisioterapia também será importante para a recomposição
dos tecidos alterados.
Nessa prática de observação utilizaram-se duas técnicas diferentes para uma cirurgia de
frenotomia.
Seguidamente o Prof. Moacyr convidou os alunos interessados a continuar aprofundando
essas práticas cirúrgicas e que ele estaria sempre à disposição às terças feiras.
AULA N° 19:
DISCIPLINA: Semiologia TEMA: Prova Final
PROFESSOR: DR. Moacyr D. Novelli ANO LETIVO: II Semestre 2005
TURNO: Noturno
A prova final consiste numa prática similar à disciplina de Patologia Experimental, feita em
coxa de frango. Utilizam-se os mesmos instrumentais cirúrgicos para Anestesia, corte e
sutura, a diferença está em que após as práticas, se utilizará o microscópio óptico e outras
ferramentas eletrônicas de pesquisa, que propiciam maior e melhor informação aos
estudantes.
A disciplina de Semiologia, como outras na FOUSP, é um pré-requisito que gera subsídios
teórico-práticos para outras disciplinas de estágios superiores da carreira de odontologia.
Nessa aula, especificamente avaliativa, foram observados os seguintes fatos:
* A informação teórica que os estudantes receberam há mais de um ano fica latente em
cem por cento, mas a prática é contrastante, porque a avaliação demonstra que dela só fica
219
trinta por cento. Deduzimos que há necessidade de estarem constantemente renovando as
práticas para manterem a associação entre teoria e prática.
A técnica empregada para anestesia, corte e sutura é a mesma se comparada com a
disciplina de Patologia Experimental. No entanto o que faz a diferença está no tempo
empregado para as ditas práticas que na nossa observação e medição foram as mesmas
daquelas empregadas pelos alunos do I Semestre ou II Semestre, toda vez que esta turma
está no VI semestre (3o. ano)
* Na realização dessa prática avaliativa com os estudantes de semiologia não houve a
necessidade de multimeios, pois, a grande maioria deles já havia fixado as principais
imagens que se projetam numa aula inicial de anestesia, corte e sutura. Eles também se
apóiam na seqüência dessa prática avaliativa no site da Internet. Os alunos receberam folhas
de papel com imagens dos principais instrumentos cirúrgicos e da coxa de frango.
* Nessa prática também observamos que os alunos se mostram mais seguros de si, estão
mais tranqüilos, menos nervosos, algumas esporádicas ajudas são providenciadas pelos
estagiários, monitores e professores. Os erros cometidos são menores se comparados com
alunos do I Semestre de 2004-2005.
* Uma outra coisa que observamos foi: das coxas de frango foram tiradas partículas do
tecido muscular, sangue e líquido sinovial, para serem submetidas a biópsia com apoio das
novas ferramentas tecnológicas usadas na odontologia para o ensino e pesquisa.
• Importante: Nessas aulas teóricas e práticas percebemos que tanto no vídeo como
nas projeções ao vivo predominam as imagens. Ela é o focus do fato cognoscitivo, é
um suporte primordial para o ensino e aprendizado na transição à sociedade da
informação e do conhecimento.
ANEXO 2
Resolução
do CFE:
estabelece
u o
Currículo
Mínimo
220
ANEXO 3 - Formulário aplicado aos estudantes da Faculdade de Odontologia da
USP, como parte da pesquisa de Roberto Torres Tangoa, da Escola de
Comunicações e Artes da USP (ECA-USP).
Disciplina: Patologia Geral
Professor Dr. : Moacyr Domingos Novelli
Semestres: 1os Anos: 2004-2005
Atenção: Preencha com um X dentro do quadradinho, de uma das alternativas
1. Você consegui compreender o tema com a metodologia empregada pelo Prof. Moacyr?
Sim � Não � Mais ou menos �
2. O que você considera como eficiente no método empregado pelo Prof. Moacyr?
A explicação do professor �
A visualização das imagens �
A explicação e as imagens �
3. O que acha o que você mais assimilou?
A anestesia e o corte �
O corte e a sutura �
A anestesia o corte e a sutura �
4. Você seria capaz de fazer o corte e a sutura da mesma forma como se vê na tela da TV e do computador?
Sim � Não � Talvez �
ANEXO – 4 Ficha do relatório circunstancial das observações na FOUSP
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DA USP
Relatório circunstancial de observação das aulas teóricas e práticas de laboratório com o uso de multimídias
na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
DATA : HORA:
DISCIPLINA : TEMA:
SEMESTRE : ANO LETIVO:
No. DE ALUNOS : MATERIAIS:
PROFESSOR:
CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:
Aluno: São Paulo, de 2004
Orientadora:
223
ANEXO 9 – O mestre Moacyr: nas práticas de Patologia Experimental
ANEXO 10 - Aparelhos com ImageLab do LIDO
224
GLOSSÁRIO
AUTOPOIESE: É a capacidade de um sistema para se organizar de maneira que o único
produto resultante seja ele mesmo, de tal forma que não há separação entre produtor e
produto.
BIOLOGIA DA COGNIÇÃO: Termo usado por Maturana e Varela para explicar como
os seres vivos conhecem o mundo.
BIÔNICA : Técnicas que toma as funções corporais dos seres vivos como modelos
para a construção de novas tecnologias.
BIÓPSIA : Ato cirúrgico que consiste em tirar uma parte de um órgão vivo, sendo
destinado ao exame histológico.
CIBERCULTURA: Neologismo que especifica o conjunto de técnicas (materiais e
espirituais) de modos de pensamentos e valores que se desenvolvem juntamente com o
ciberespaço. É usado por Pierre Lévy para designar a nova etapa da cultura que usa as redes
de informação eletrônica.
CIBERESPAÇO: Universo das redes digitais, palco de conflitos mundiais e uma fronteira
econômica e cultural.
CYBERTUTOR: Sistema estabelecido na Internet para a teleducação caracterizado pela
interatividade, avaliações automáticas e controle do desempenho durante a aprendizagem.
CYBERAMBULATÓRIO: Local para atendimento clínico através das redes digitais.
CIBERALUNO: Alunos que usam as redes eletrônicas para trocar informações e participar
no processo de aprendizagem.
ESTEREOSCOPIA: É uma reprodução artificial da visão humana, que é possível pela
existência de células fotossíntese na retina.
FRENOTOMIA: Ato cirúrgico que consiste em tirar o freio ou brida da cavidade bucal.
GENGIVÓTOMO: É um bisturi usado para raspar os tecidos que ainda permanecem no
epitélio gengival após a cirurgia.
GENGIVOPLASTIA: É uma técnica cirúrgica que se para tirar manchas residuais das
gengivas.
HANSENÍASE: (Lepra). Doença infecciosa da pele.
HIPERCORPO: Extensões do corpo através do espaço virtual.
HOLÍSTICA: Totalidade. Todo aberto que compreende todos os fenômenos que são
inseparáveis desse TODO e que, ao mesmo tempo, são, em si mesmos esse mesmo todo.
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HOMEM VIRTUAL: Projeto para o ensino, pesquisa e divulgação da prevenção das
doenças criado na disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP.
HOMEPAGE : Pagina índice de um website que contém normalmente um menu de opções
e links para outros recursos dentro do site.
HIPERTEXTO: Conjunto de interfaces comunicativas, disponibilizadas nas redes
telemáticas.
HTML (Hypertext Markup Language): É um formato standard utilizado para definir o texto e
o layout das webpages. Os fichários HTML têm geralmente a extensão .html ou .htm
ÍCONE : Figura de pequenas dimensões, que quando acionada pelo apontador do
mouse executa o programa ou arquivo que representa.
IMAGENOLOGIA: Recursos altamente sofisticados para a obtenção de imagens na
medicina baseadas em tecnologias computacionais.
IMANÊNCIA : As redes virtuais constituem um plano de imanência inseridos na cultura
INPUT :Designação para a informação enviada para processamento em um
computador.
INFOINCLUÍDOS: Pessoas inseridas no uso das redes informáticas e computacionais.
INFOSFERA : Ambiente no qual os organismos se formam como células interconectadas.
INSTRUMENTALISMO: É um dos procedimentos que condicionaram nossa forma de
considerar as NTICs. É uma forma de razão descrita por Max Weber. As NTICs são uma
forma de razão instrumentalista . Conjunto de práticas que garantem ao homem um
controle e uma dominação mais eficiente sobre a natureza.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA): Ramo da Informática que se dedica a projetar e
programar máquinas capazes de reproduzir habilidades e condutas humanas, como visão,
poder de decisão, análise e solução de problemas.
INTERATIVIDADE: Capacidade de um sistema operacional ou programa de permitir
interação num processo.
INTERATIVO: Diz-se dos sistemas e programas que permitem ao usuário a interação ao
longo do processo, fornecendo novos dados à medida que se obtenha resultado.
INTERFACE: Ponto de contato e interação entre o computador e o usuário. 2.
Interligação entre dois equipamentos com funções distintas.
INTERNAUTA: (Neo). Designação dada a qualquer pessoa que navegue pela Internet. O
termo é uma analogia a astronauta.
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INTRANET : Rede corporativa que utiliza a tecnologia e infra-estrutura para
transferência de dados da Internet. O acesso às páginas só é possível aos funcionários da
empresa e sempre por meio de senha
INFOVIA : (Neo). Via de informação. Modo de se referir à rede de computadores que
compõe a Internet.
IONÔMERO : Espécie de cimento ou fibra de vidro, utilizada para a reestruturação
dentária.
IRC : (Sigla para Internet Reality Chat) Ferramenta de comunicação que permite
conversações em tempo real baseado em texto, entre duas ou mais pessoas ligadas ao
mesmo tempo em qualquer parte da Internet. Serviço de comunicação, por escrito,
desenvolvido em 1988 pelo finlandês Jarkko Oikarinen, que permite o bate-papo em tempo
real, entre um irrestrito número de pessoas, de modo que cada uma delas possa ler o que as
demais escreveram.
iTV (Interative TV): Tecnologia que junta TV e Internet permitindo ao utilizador a
participação de forma interativa nos programas de T.
LÍQUIDO SINOVIAL: É liquido transparente e viscoso das cavidades articulares e
bainhas dos tendões.
LOGO : Termo criado por Papert, como linguagem de programação para crianças.
MEMEX : Memory Extender, inventado por Vannevar Bush, conselheiro de
Roosevelt, no texto “As we may think” em 1945.
MEDLINE : Banco de dados, revistas e links de medicina on-line
NANOMEDICINA: campo científico em rápida evolução no qual os cientistas estão
desenvolvendo uma ampla variedade de nanopartículas e nanodispositivos, que não
chegam a um milionésimo de polegada em diâmetro, para melhorar a detecção do câncer,
acelerar respostas imunes, reparar tecidos deteriorados e impedir a aterosclerose.
NOOSFERA : Espécie de mundo das idéias, construídas pelas coisas do espírito,
produtos culturais, linguagens, teorias e conhecimentos.
PANÓPTICA : É uma tática discursiva e tecnológica desenhada para o controle social e
institucional.
PATOLOGIA : Patologia é o ramo da ciência médica que estuda as alterações
morfológicas e fisiológicas dos estados de saúde. Quando essas alterações não são
compensadas podemos dizer que um indivíduo está doente.
SUTURA CONTÍNUA: Sucessão de pontos cirúrgicos sem a presença de nó entre eles.
Usa-se somente nó inicial e nó final.
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SOCIÔNICA : Trata-se da questão de como é possível tomar exemplos da vida social
para desenvolver, a partir delas novas teorias computacionais. Modelização de sociabilidade
artificial.
TELEMEDICINA: Recurso que emprega as redes telemáticas para a educação e
prevenção a distância através das novas tecnologias de informação.
UNIDUALIDADE: Termo usado por Morin, para designar a complementaridade e a
complexidade do ser humano tanto no biológico como no cultual.
ULTRA-SOM : Obtenção de imagens de estruturas profundas do corpo por meio de
registro dos ecos dos pulsos das ondas ultra-sônicas direcionadas ao interior dos tecidos e
refletidas pelos planos teciduais onde ocorre alteração de densidade. A ultrasonografia
diagnóstica utiliza ondas de 1 a 10 MHZ.
WEB : É a parte da Internet que suporta interface gráfico de utilizador que
permite a navegação em hipertexto com um brouser do tipo Internet Explorer ou Netscape. É
na web que a maior parte das pessoas pensa que se está a falar quando se refere a Internet.
WORKAHOLICS: Indivíduos viciados no trabalho.
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SIGLAS
AAMC : Associação Americana de Escolas de Medicina
ANAPEC : Ação Nacional de Prevenção e Controle
ATM : Articulação Temporo-mandibular
CBTMS : Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telesaúde
CAD : Computer Aided Design
CAM : Computer Aided Manufacturing
CFM : Conselho Federal de Medicina
CD-ROM : Compact Disc – Read only memory
CERI : Center for Education Research and Inovation
CIRP : Centro de Informática de Ribeirão Preto
DICOM : Digital Communication in Medicine
EERP-USP : Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
EEUSP : Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
FELAFACS : Federação Latinoamericana de Faculdades de Comunicação Social
FMRP : Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
FOB : Faculdade de Odontologia de Bauru
GEPECOPEN : Grupo de Estudos e Pesquisas em Comunicação no Processo de
Enfermagem
GIN : Grupo de Imagem Neurofuncional
HCI : Human Computer Interating = Mecanismo instituído para estudar a
interação homem-computador
IRM : Imagem por ressonância magnética
LDB : Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
LELO : Laboratório Especial de Laser em Odontologia
LIDO : Laboratório de Informática Dedicado à Odontologia
SFF : Sistema de Fabricação Flexível
SIBRACEM : Simpósio Brasileiro de Comunicação em Enfermagem.
OECD :Organization for Economic Co-operation and Development
UNOPAR : Universidade do Norte do Paraná
URL : (Universal Resources Locator) Texto que indica o endereço web de um
site
3D : Imagem Tridimensional
WWW : World Wide Web = Redes mundiais de computadores.
Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )
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