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ROBERTO TORRES TANGOA AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR: Um Estudo de Caso na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – FOUSP São Paulo 2006

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ROBERTO TORRES TANGOA

AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO

ENSINO SUPERIOR: Um Estudo de Caso na Faculdade de Odontologia da

Universidade de São Paulo – FOUSP

São Paulo 2006

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ROBERTO TORRES TANGOA

AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO

ENSINO SUPERIOR: Um Estudo de Caso na Faculdade de Odontologia da

Universidade de São Paulo – FOUSP

Tese apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo como exigência parcial para a obtenção do Título de Doutor em Ciências da Comunicação, sob a orientação da Profa. Dra. Dilma de Melo Silva

São Paulo 2006

Torres Tangoa, Roberto. As novas tecnologias de informação e comunicação no ensino superior: um estudo de caso na Faculdade de Odontologia da Univer- sidade de São Paulo – FOUSP / Roberto Torres Tangoa; orientadora Dilma de Melo Silva. – São Paulo, 2006. 242 f. : fig. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação. Área de Concentração: Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. 1. Novas tecnologias de informação e comunicação. 2. Teleodon- tologia. 3. Telemedicina. 4. Ensino médico odontológico. I. Título. CDD 301.16

BANCA EXAMINADORA

NOME ASSINATURA ---------------------------------- ------------------------- ---------------------------------- ------------------------- ---------------------------------- ------------------------- ---------------------------------- ------------------------- ---------------------------------- -------------------------

DEDICATÓRIA

A RICARDO E À ZAIDA: MEUS PAIS (IN MEMORIAM) PELO CARINHO E AMOR ETERNO

AGRADECIMENTOS

À Profa. Dilma de Melo Silva, pela incessante preocupação de inculcar me a luta para

conseguir os objetivos propostos.

À Profa. Lucilene Cury, Co-orientadora, que soube encaminhar meu trabalho com muito

acerto.

À Profa. Nelly de Camargo pelas orientações preliminares.

Ao Prof. Moacyr, pela enorme disponibilidade em ajudar-me na pesquisa na Faculdade de

Odontologia da USP.

À Luciana Correa do LIDO - Laboratório de Informática Dedicado à Odontologia da

FOUSP - pela grande colaboração com a concessão de quadros e testes.

À Gina, minha assistente social, da COSEAS, pela compreensão e ajuda nos momentos

mais críticos da minha vida no CRUSP.

À Sra. Hideko e à Isabel da COSEAS pela sua atenção durante o tratamento e

melhoramento da minha saúde.

À Angela Maria Pimenta, amiga incondicional que colaborou bem de perto na consecução

de meus objetivos.

Ao Cláudio ao Julio Barboza, pais e irmão pela amizade e ajuda na formatação das imagens.

Ao Julio Galharte, ao Martín Núñez, ao Sérgio Motejuna e ao Tristán pela ajuda na

correção dos capítulos.

À Denise, à Elenir e à Marizete amigas do CRUSP, pela disponibilidade de ajudar me.

Ao Renné P. Alegria, amigo, pelos constantes estímulos para minha superação pessoal.

Ao Cláudio N. Pinto e sua mãe dona Dita pelo grande carinho e amizade, nestes anos em

São Paulo.

Á Ivete Nishide, pela sua contribuição na correção e mensagens alentadoras.

À COSEAS pela moradia nestes quatro anos de permanência no CRUSP e aos

Departamento de alimentação pelos alimentos de a baixo custo nos restaurantes.

Aos meus irmãos: Martha Luz, Rosa Haydeé, Ricardo Fernando, Samuel, Israel, Robinson

e Maritza, meus cunhados e meus sobrinhos pela ajuda nos trâmites documentários e

inspiração para continuar estudos de pós-graduação em São Paulo.

RESUMO

Este trabalho é um estudo de caso, visando uma leitura reflexiva enfocada no novo paradigma pedagógico, apoiado no uso de ferramentas advindas das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) aplicadas tanto no ensino como na pesquisa das disciplinas “Patologia Geral” e "Introdução às Técnicas Cirúrgicas”, na FOUSP. Nossa tese sistematiza a dinâmica do ensino do Prof. Dr. Moacyr Domingos Novelli na referida disciplina; o docente emprega mídias eletrônicas inseridas nas práticas pedagógicas influenciando o comportamento dos estudantes; ao utilizarem essas ferramentas cognitivas ocorrem transformações e o aperfeiçoamento da qualidade do ensino presencial e também na divulgação dos conhecimentos. Os resultados desta pesquisa reforçam a relevância da utilização das NTICs pelo mestre, nesta nova era da informática e das imagens tridimensionais. Palavras Chaves: Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, Teleodontologia Telemedicina, Ensino Médico Odontológico Patologia Experimental, Técnicas Cirúrgicas e Arte-Cirurgia.

ABSTRACT

This case study envisions a reflective reading emphasizing the new pedagogical paradigm supported by the use of tools integrated from the “New Communication and Information Technologies”, applied in classes as much as in research of “General Pathology” and “Surgical Technical Introduction” in the school of dentistry at the University of São Paulo. This thesis systemizes the Prof. Moacyr Domingos Novelli’s dynamic teaching. The professor’s pedagogical practice makes use of electronic medias influencing student’s behavior; by using this cognitive tools have been promoting significant changes in teaching quality and improvements in classroom as the spread of knowledge. The result of this research reinforces the relevance of the use of NTICs in this era of computing technologies and tri-dimensional images. Key Words: New Communication and Information Technologies, Teleodontology, Telemedicine, Medical-Dentistry Teaching, Experimental Pathology, Surgical Techniques and Surgical-Art.

QUADROS E TABELAS Pág.

QUADROS QUADRO 1- Vantagens da e-learning 113 QUADRO 2 – Desvantagens da e-learning 113 TABELAS TABELA 1 – Cursos presenciais por categoria administrativa 114 TABELA 2 – Cursos a distância por categoria administrativa 115 TABELA 3 – Resultado do Formulário 177 TABELA 4 - Teste da turma do 2o. ano diurno 179 TABELA 5 - Teste da turma do 2o. ano noturno 179 TABELA 6 - Teste da turma do 3o. ano diurno 180 TABELA 7 - Teste da turma do 3o. ano noturno 180 FIGURAS Figura 1 – Mapa da exclusão digital no Brasil 46 Figura 2 – Pedra lavrada: a primeira ferramenta do homem 52 Figura 3 – O mouse: a nova ferramenta do homem 53 Figura 4 – Aparelhos usados para o ensino-aprendizagem e pesquisa 67 Figura 5 – As tecnologias como apoio para o ensino presencial e a distância 111 Figura 6 – As novas tecnologias e suas interfaces com as ciências da saúde 128 Figura 7 – Cérebro tridimensional criado pela estereoscopia 141 Figura 8 – Aulas práticas apoiadas com as novas tecnologias na FOUSP 152 Figura 9 – O homem virtual: Iconografia computadorizada 155 Figura 10 – O Professor Dr. Moacyr Domingos Novelli 166

Figura 11 – O ensino com tecnologias de simulação na ATM 172

Figura 12 – Práticas Interativas na FOUSP 203

Figura 13 – Anestesia, corte e sutura em coxa de frango 208

Figura 14 – O Prof. Novelli no ensino das práticas cirúrgicas 209

ANEXOS Pág.

ANEXO – 1 : Relatório das 19 aulas teóricas e práticas observadas na FOUSP 201

ANEXO – 2 : Resolução do CFE, que estabeleceu o Currículo Mínimo (3/9/1982) 219

ANEXO – 3 : Formulário aplicado aos alunos da FOUSP 220

ANEXO – 4: Ficha do relatório circunstancial das observações 220

ANEXO – 5 : Teste da empunhadura dos instrumentos cirúrgicos 221

ANEXO – 6 : Instrumentos cirúrgicos e Raios X dos ossos 221

ANEXO – 7 : Dicas médicas : Você Sabia? 222

ANEXO – 8 : Novos aparelhos do LIDO 222

ANEXO – 9 : O mestre-médico Moacyr nas práticas de Patologia Experimental 223

ANEXO – 10: Aparelhos com Image-Lab do LIDO 224

SUMÁRIO Pág.

INTRODUÇÃO 12 Capítulo 1. TEÓRICOS CONTEMPORÂNEOS: SUAS ABORDAGENS

SOBRE AS NOVAS TECNOLOGIAS

1.1. As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) 19

1.2. Visão dos teóricos contemporâneos sobre as NTICs 24

1.3. As mídias atuais eletrônicas e a necessidade da inclusão digital 45

Capítulo 2. AS NTICs E SEUS ALCANCES

2.1. Abrangência das NTICs na aprendizagem e na cultura 52

2.2. As NTICs e o discurso tecnológico no Brasil 61

2.3. Contribuições das NTICs para o conhecimento 67

2.4. Vínculos das NTICs com a Educação 78

2.5. As NTICs: Importância e percursos de seus usos 91

2.6. As tecnologias de informação e comunicação na sociedade 99

Capítulo 3. AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMACÃO E SUAS INTERFACES

COM A EDUCAÇÃO SUPERIOR

3.1. As NTICs no contexto do ensino superior na sociedade globalizada 105

3.2. A emergência do ensino presencial e a distância apoiada nas NTICs 110

3.3. As novas tecnologias no ensino superior 121

3.4. As NTICs e suas interfaces com as ciências da saúde e biomédicas 127

3.4.1. Escola de Enfermagem da USP, campus de São Paulo 128

3.4.2. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto –USP 131

3.4.2.1. Defesa on-line 133

3.4.3. A Telemedicina na Faculdade de Medicina da USP 136

3.4.3.1. Programa de Telepatologia 138

3.4.3.2. Aprendizado Multimídia 138

3.4.3.3. Cybertutor 138

3.4.3.4. Sala de aula do futuro 139

3.4.3.5. Telemedicina: Estratégia para controlar a Hanseníase 139

3.4.4. As NTICs no Instituto de Ciências Biomédicas da USP 140

3.4.4.1. Outros centros pesquisados 143

3.5. A linguagem das novas mídias eletrônicas e a educação 145

3.6. As NTICs no contexto sócio-cultural da aprendizagem 149

Capítulo 4. O ENSINO E PESQUISA MEDIADOS PELAS NTICs NA FOUSP

4.1. Histórico do ensino da Odontologia 151

4.2. As novas tecnologias e o ensino odontológico 152

4.3.O projeto homem virtual da Faculdade de Medicina da USP 155

4.4. Apresentação de casos no 10o Congresso de Telemedicina e Telesaúde 158

4.4.1. O uso da Telemedicina no Complexo do Hospital das Clínicas (HC) e

na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) 159

4.4.2.O II Encontro Brasileiro de Teleodontologia 159

4.4.3. Simpósios 160

4.4.4. Telecardiologia 160

4.4.5. Telenfermagem 160

4.5. O professor em medicina-odontológica 162

4.6. Dinâmica do ensino do Prof. Novelli na FOUSP: Um mergulho nas práticas

pedagógicas 165

4.6.1. Desenvolvimento das práticas 170

4.6.2. A Informática e o ensino odontológico. Um estudo pioneiro

desenvolvido pelo Prof. Moacyr D. Novelli usando a web-based. 173

4.7. Interpretações e reflexões sobre as respostas da pesquisa 177

CONSIDERAÇÕES FINAIS 182

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS 191

REFERÊNCIAS DA INTERNET 199

ANEXOS 201

GLOSSÁRIO 224

SIGLAS 229

12

INTRODUÇÃO

Antes da chegada das Ordens Religiosas espanholas dos jesuítas, dos franciscanos

dos agostinianos e de outros grupos católicos à selva amazônica peruana, para “catequizar”

os “infiéis” da região, os povos da floresta já tinham desenvolvido uma forma de se

comunicar entre as aldeias dos arredores. Eles o faziam através do “manguaré”,

instrumento cilíndrico de madeira, vazio, com aproximadamente 1.20 m. de comprimento

com orifícios na parte superior.

Esse instrumento ao ser acionado a golpes com uma vara forrada com borracha,

emitia sons e sinais, que interpretadas por aquelas comunidades serviam para estabelecer

uma comunicação sincrônica entre elas. Mediante essa ancestral forma de comunicação,

aqueles povos estabeleceram as suas primeiras atividades comerciais, baseadas na troca de

produtos.

Com o advento das revoluções industriais e o processo “civilizatório”, essa forma

de comunicação foi substituída pela radiofonia que possui mais alcance. Atualmente

algumas das comunidades e populações ribeirinhas estão inseridas no uso das novas

tecnologias de informação, produzindo-se o salto tecnológico do “manguaré para o

mouse”. Concomitante a isso, em algumas regiões do mundo os povos continuam

utilizando aquelas formas ancestrais de comunicação.

A revolução tecnológica – da informática –trouxe sistematicamente a hibridação do

rádio, da televisão, do telefone e do cinema pelo computador e da Internet. Nosso

entusiasmo, somada à vontade de realizar pós-graduação há algum tempo em centros de

estudos e aplicações tecnológicas reconhecidos pela comunidade acadêmica se

concretizaram a partir do ingresso na Escola de Comunicações e Artes da USP.

13

Acreditamos dessa forma, que o estudo do uso das Novas Tecnologias de

Informação e Comunicação (NTICs) como ferramentas de apoio ao ensino e à pesquisa e

das vantagens estruturais encontradas em São Paulo, se comparadas com a cidade de

Iquitos e, conseqüentemente do Peru, nos permitem ainda que utopicamente, depositar

nossa esperança na ciência e na tecnologia em proveito da humanidade.

Apesar disso, neste tempo de paradoxos e perplexidades, em que cada momento “é

um novo começo”, propiciado pelas aceleradas descobertas científicas e tecnológicas, das

quais ficamos assombrados e às vezes entusiasmados como se fosse uma ficção cientifica,

nos considerando participantes desse futuro que “já começou”. Acreditei que a ciência e a

tecnologia, social e politicamente bem utilizada podem significar a “salvação” bioética do

homem.

Nesse sentido, na última década ocorreram mudanças nas formas de disseminação

da informação e do conhecimento, influenciando o desenvolvimento de novas

metodologias de ensino-aprendizagem. Essas metodologias de ensino baseadas em novas

tecnologias e mídias eletrônicas têm o computador como eixo central desse ensino, seja

presencial ou a distância. Mas, também depende da qualidade e flexibilidade dos softwares

e da sua interface com os estudantes e professores.

Em 2001, a III Cúpula das Américas em Quebec reafirmou a melhoria dos sistemas

educacionais, o aumento do acesso à educação de qualidade, a melhoria da capacitação dos

professores e na expansão das Tecnologias de Informação e Comunicação. A Internet, um

dos ícones da globalização, parece, apresentar este paradigma que ainda é visto com

ceticismo por muitos. A verdadeira revolução em termos de aprendizagem via Internet

deve ocorrer com o uso de aparelhos portáteis: os computadores pessoais serão aqueles

que acompanhem o usuário e não somente nos estudos ou no trabalho.

14

A chamada “m-learning” (aprendizagem móvel) parece representar a próxima

geração das tecnologias de aprendizagem. O atual “e-learning” (aprendizagem eletrônica) é

reforçado ainda mais pelas vantagens da aprendizagem a distância.

Essas tecnologias não mudam necessariamente a relação pedagógica, nem

substituem o professor, mas modificam algumas das suas funções. A partir da introdução

de tecnologias na educação, o professor se transforma no estimulador da curiosidade do

aluno para que deseje conhecer, pesquisar, buscar a informação mais relevante. Num

segundo momento, coordena o processo de apresentação dos resultados pelos alunos.

As tecnologias permitem um novo encantamento nas escolas, ao abrir suas paredes

e possibilitar que alunos conversem e pesquisem com outros alunos da mesma cidade, do

país ou do exterior, no seu próprio ritmo. O mesmo acontece com os professores. Assim,

alunos e professores encontram inúmeras bibliotecas eletrônicas, revistas on-line, com

muitos textos, imagens e sons, facilitando a tarefa de preparar as aulas, fazer trabalhos de

pesquisa e dispor de materiais atraentes para a apresentação.

“O re-encantamento, enfim, não reside principalmente nas tecnologias –cada vez

mais sedutoras - mas em nós mesmos, na capacidade de nos tornar pessoas plenas, num

mundo em grandes mudanças e que nos solicita a um consumismo devorador e

pernicioso”1. Mesmo assim, as redes tecnológicas de comunicação permitem o processo de

distribuição just in time em tempo real.

Nesse sentido o presente trabalho nasceu de uma curiosidade, seguida de

entusiasmo pessoal para abordar os novos paradigmas educativos trazidos pelas novas

tecnologias sinalizando para o surgimento de nova sociedade de informação e, como, os

processos interativos de comunicação, uso do computador, suas aplicações: Internet, a

página web, entre outras, estão dentro do conceito de aula-pesquisa e podem colaborar

significativamente para modificar o ensino-aprendizagem. Poder-se-ia dizer que o ensino

1 MORÁN, Manuel. Disponível em:< http://www.eca.usp.br/prof/moran> Acesso em:13 de junho de 2004.

15

através das novas tecnologias atinge resultados significativos se estiver integrado a um

contexto de mudanças, no qual professores e alunos vivenciam processos de comunicação

abertos, de participação grupal e pessoal efetiva. Caso contrário, a Internet, a página web e

outras mídias poderão contribuir para reforçar as formas convencionais e autoritárias de

ensino.

O emprego dos meios de comunicação na tecnologia educativa ou, considerados

em uma perspectiva mais abrangente, na didática da comunicação, tem, assim, justificação.

Por exemplo, na Internet, hoje, há informações demais e conhecimentos de menos, para o

seu uso na educação. Assim, o conhecimento não se passa; o conhecimento se cria, se

constrói. Daí a importância de integrar a Internet e outras tecnologias à educação, como

vídeo, televisão, jornal, computador, para consolidar a tríade Comunicação, Educação e

Novas Tecnologias.

Existem hoje muitos indicadores de que estamos vivendo um momento de

mudanças radicais no processo tecnológico. Nos computadores, por exemplo, podemos

divisar, em primeiro lugar a possibilidade concreto de substituição da maioria do trabalho

mecânico realizado pelo homem por trabalho automático executado por máquinas. Na

estrutura social vigente, a instituição escolar continua sendo o foro privilegiado de

transmissão de conhecimento. No entanto, a tecnologia não tem permeado a sua prática,

pois, o computador é resultado de um movimento histórico, singular, inserido em um

processo de produção cada vez mais complexo “[...] daí a importância do computador e da

informática na educação [...]” (TENÓRIO, 2001, p.23).

Uma premisa importante é que a produção de conhecimentos ocorre

concretamente através do processo histórico. Por tanto, o ensino não pode estar

distanciado do seu contexto, deve ocorrer de forma articulada com a produção de

conhecimento, que se tornam cada vez mais complexas, genéricas, ricas em conteúdo.

16

As novas tecnologias tendem a acentuar ainda mais as desigualdades entre as elites e

as populações desfavorecidas. Entre s tecnologias de comunicação destacam-se a TV a

cabo, o computador, o computador com câmera fotográfica, os lap-top no escapam a esta

regra. Por enquanto, o microcomputador é mais do que um novo dispositivo, ele é a

materialização de um novo pensamento e ação. Das duas fontes de informação do saber:

escola convencional e a escola paralela da mídia são radicalmente diferentes da atual escola.

Uma tarefa inerente à instituição educativa é educar para o uso adequado das novas

mídias eletrônicas, pois diante dos desafios da tecnologia em geral e das mídias em

particular a escola deve-se adaptar, se reciclar, integrar as novas linguagens. Mas, integrar os

novos códigos visuais não é tarefa fácil. Aproveitar todas as potencialidades dessas

ferramentas integrando-as no cotidiano, não só das crianças, mas de todos nós, educadores,

comprometidos com as determinantes da nova sociedade de informação.

Dando continuidade a essa temática, iniciada no mestrado, sobre as aplicações

tecnológicas na educação, nosso objetivo visa um estudo dessas novas ferramentas

cognitivas em algumas unidades da USP que fazem uso dela para o ensino, a pesquisa e

prevenção de doenças. Assim, focalizamos nosso estudo na Faculdade de Odontologia;

outras unidades também foram pesquisadas como a Faculdade de Medicina, a Escola de

Enfermagem, a Escola Politécnica, o Instituto de Ciências Biomédicas, e outros espaços

como a Escola do Futuro, a Estação Ciência e Cidade do Conhecimento.

Todas essas unidades utilizam componentes tecnológicos e mídias informáticas

para o ensino, pesquisa e outros fins específicos, podendo ser abrangente e também

aproveitada pelas áreas humanas.

No primeiro capítulo realizamos uma viagem, pela nossa pátria grande - a América

Latina - de mãos dadas com os nossos intelectuais preocupados em analisar a problemática

comunicacional e educativa inserida na sociedade da informação. Pela necessidade que não

podemos evitar seu poder de sedução e convencimento, pois sutilmente vivemos a ditadura

17

das tecnologias. Para isso, analisamos as produções de Maria T. Quiroz, Valério Fuenzalida,

Mario Kaplún, Jesús M. Barbero, Manuel Morán, Nestor G. Canclini e Paulo Freire. Eles

nos instrumentalizaram para uma leitura crítica sobre os meios. Num segundo momento

desse capítulo, repensamos das análises sobre as novas tecnologias de informação e sua

influência na cultura a partir da leitura de McLuhan, M. Castells, Pierre Lévy e Edgar

Morin.

No segundo capítulo, descrevemos as novas tecnologias e os discursos tecnológicos

que se fazem no Brasil e em outros países do mundo, enfatizando as suas contribuições

para a gestão de conhecimentos, especificamente da Internet, que atualmente atinge a 80%

das famílias americanas no curto espaço de cinco anos.

No terceiro capítulo, analisamos a interface das NTICs com a educação superior no

ensino e na pesquisa como ferramentas indispensáveis para o desenvolvimento e a

incubação dos conhecimentos tanto a nível presencial como a distância. Enfatizamos a

importância dessas tecnologias nas suas aplicações nas ciências biomédicas e da saúde, por

serem áreas em que as suas aplicações são prioritárias. A pesquisa de campo passou pela

“visita” aos 146 núcleos e centros de pesquisa da USP, selecionando oito deles e

focalizando o nosso estudo na Faculdade de Odontologia da USP – FOUSP.

Fizemos uma radiografia no uso das NTICs nas Escolas de Enfermagem da USP

Campus de São Paulo e na Escola de Enfermagem da USP de Ribeirão Preto. Também se

descrevem as aplicações tecnológicas na disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina

da USP, nos programas de Telepatologia, Aprendizado Multimídia, Cybertutor e no Instituto

de Ciências Biomédicas da USP. Ainda nesse terceiro capítulo, apresentamos uma breve

análise das linguagens dessas novas mídias eletrônicas, que influenciam na formação de

uma programação curricular, dentro de um contexto sócio-cultural de aprendizagem.

No quarto capítulo, abordamos o ensino e as pesquisas mediados pelas NTICs na

Faculdade de Odontologia da USP – FOUSP - iniciando com um breve histórico do ensino

18

da odontologia. Depois, centralizamos a nossa análise na dinâmica de ensino do Prof.

Moacyr Domingos Novelli na disciplina de Patologia Geral. Na segunda parte desse quarto

capítulo, fazemos um levantamento da sua proposta metodológica e pedagógica e também

apresentando um quadro comparativo a partir do formulário de entrevistas com alunos da

disciplina em 2004 e 2005.

Nesse capítulo apontamos como o referido docente vincula a cirurgia com a arte,

sendo inovador, criativo e reflexivo, utilizando linguagens artísticas para concretizar os seus

objetivos. Nesse caso, o cirurgião se transforma em artífice, pois a cirurgia exige

concentração, memória e profundeza sendo um momento único. Ela pode ser repetida

muitas vezes, mas a sensibilidade do cirurgião no ato operatório é única do mesmo modo

que ocorre com o artista que coloca toda sua sensibilidade na criação de uma obra da arte.

Nos anexos encontram-se os relatórios das 19 aulas teóricas-práticas observadas do

período letivo – primeiros semestres de 2004 e 2005 - e, fotografias das práticas cirúrgicas

em coxa de frango. Devido ao teor técnico da pesquisa foi elaborado um glossário de

termos usados nas áreas médico-odontológicas, para uma melhor compreensão do texto.

Esta tese não contempla o estudo do mecanismo e funcionamento intrínseco das

novas tecnologias, que correspondem à parte técnica propriamente ditas dessas

ferramentas, mas trata-se de um estudo de caso sobre as aplicações tecnológicas e os efeitos

dessas máquinas digitais no ensino-aprendizagem, na pesquisa e na divulgação dos

conhecimentos.

19

Capítulo 1 - TEÓRICOS CONTEMPORÂNEOS: SUAS ABORDAGENS

SOBRE AS NOVAS TECNOLOGIAS

A vida não é uma vela curta para mim. É um tipo de tocha esplêndida a qual estou segurado pelo momento, e quero fazer com que ela queime tão brilhantemente quanto possível antes de passá-la para as próximas gerações - George Bernard Shaw

1.1. As novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs)

Sob o termo novas tecnologias designamos um conjunto de inovações surgidas nos

anos 80 e cujo impacto sobre as indústrias culturais tornou-se sensível no início dos anos

90. Trata-se da passagem da gravação digital da informação, da compreensão dos dados

gravados, do acoplamento das telecomunicações e do computador. As transmissões usam

cada vez mais a fibra ótica e os satélites, ao passo que os suportes de recepção são os

leitores de CD e os microcomputadores.

A estratégia das indústrias culturais foi profundamente remanejada sob o impacto

das novas tecnologias. De fato, antes dos anos 80, estas indústrias eram especializadas por

suportes ou conteúdos. Isto queria dizer que uma editora como a Perspectiva, por exemplo,

fazia unicamente livros, um produtor de eletrônica para o grande público como a Sony, por

exemplo, fazia apenas televisores, vídeo cassetes, aparelhos de som, etc., mas não produzia

discos.

Na década de 90, as novas tecnologias permitiam às indústrias combinar várias

mídias na produção de suportes e de conteúdos. Uma enciclopédia musical em CD-ROM,

20

que podemos consultar usando um microcomputador, combinará textos (anteriormente

sobre suporte em papel), gravações sonoras (anteriormente sobre suporte em filme ou

vídeo). Desse modo, para produzir suportes e conteúdos chamados de multimídia, uma

mesma empresa deveria reunir várias profissões, até então independentes umas das outras

(edição, disco, cinema, microinformática, imprensa, etc.). Conseqüentemente, ao longo da

década de 90, todas estas indústrias foram objeto de reestruturações e incorporações em

séries. Europeus, americanos e asiáticos lançaram-se em uma competição desenfreada, em

escala mundial, a fm de construir poderosos grupos multimídias e garantir acesso aos

direitos autorais e de fontes de dados que lhes permitissem alimentar-se com conteúdos

pelas próximas décadas.

Esses grupos são multinacionais implantados no mundo inteiro, financeiramente

poderosos. Desenvolvem estratégias planetárias e suas atividades têm como resultado a

mercantilização permanente dos conteúdos da cultura e da informação.

Essas novas tecnologias colocam também alguns problemas inéditos e ainda não

resolvidos de controle da propriedade artística, científica e literária em escala planetária.

Muitas vezes elas reforçam a desigualdade diante da informação e da cultura, pois, no

“máximo um décimo da humanidade é atingido por estas tecnologias”2. Elas colocam com

perspicácia a questão das funções de orientação da cultura.

Antes da década de 80, a família, a escola, o templo a igreja, o jornal, os clubes,

partidos políticos e associações constituíam instâncias de hierarquização, de avaliação e de

transmissão das informações e dos conteúdos culturais, eram os orientadores ou bússolas.

As novas tecnologias, ao saturar uma fração da humanidade com as mercadorias em

desordem e em grandes quantidades, criam uma forte demanda pelos editores ou aglutinadores

de um novo tipo. De fato, o indivíduo ao confrontar-se com a chegada de conteúdos

2 WARNIER, Jean-Pierre. A mundialização da cultura. Bauru: EDUSC, 2000, p. 84

21

culturais em desordem por múltiplos canais (TV, Internet, fax, etc.), não dispõe da

capacidade que lhe permita selecionar, hierarquizar e ordenar estes conteúdos.

No entanto, a introdução dessas novas tecnologias no contexto latino-americano

tem sido objeto das mais vivas controvérsias, sem chegar ainda a uma visão abrangente

sobre seus impactos e perspectivas. Mas, em alguns países, a informatização começa a se

tornar uma realidade, como é o caso do Brasil e do México. Apesar disso, já se começa a

questionar interpretações que condenam as NTICs, examinando-se as possibilidades do seu

uso, especialmente aquelas ligadas à informática, como opções para um desenvolvimento

alternativo.

A implantação das NTICs nesta parte do continente é examinada a partir de duas

perspectivas diferentes. Mas, reconhecer e aceitar essas divergências em um assunto tão

novo e complexo é sintoma de que se está no caminho correto, isto é, o de trabalhar as

contradições que surgem pelo uso exagerado dessas tecnologias e não simplesmente de

afastá-las com certa atitude antitecnológica.

Barbero focaliza os impactos das NTICs a partir da cultura popular e se pergunta

sobre a conveniência ou não da implantação das NTICs em nosso continente. Sua

desconfiança com relação a essas tecnologias baseia- se nas contradições que aponta entre

o tempo das NTCIs e o tempo dos processos culturais. Se elas se desenvolvem em forma

oposta às tradições culturais da América Latina qual então seria a saída, ele pergunta,

lançando uma hipótese:

[...] na América Latina a imposição acelerada dessas tecnologias aprofunda, irremediavelmente, talvez, um processo de esquizofrenia entre a máscara de modernização que a pressão dos interesses nacionais‘realiza’ e as possibilidades reais de apropriação e identificação cultural.3

Essas tecnologias põem em crise e, em alguns casos, dissolvem a ficção da

identidade cultural, que na maioria dos países é a cultura nacional. Estaríamos vivendo 3 BARBERO, Jesus Martin. In: Fadul, Ana Maria. Novas Tecnologias de comunicação, impactos políticos, culturais e sócio-econômicos. São Paulo: Summus, 1986, p. 24.

22

assim, na opinião de Barbero, uma rearticulação das identidades a partir de uma

racionalidade tecnológica que se constituiria no motor de uma nova sociedade.

Se por um lado, em sua perspectiva, as NTICs incidem sobre a crise do nacional,

por outro as culturas populares que representam a diferença cultural, resistem à

homogeneização generalizada na América Latina, ao contrário dos países desenvolvidos. A

cultura popular ainda nomeia um espaço de conflito profundo e uma dinâmica cultural que

não se pode passar por alto. E, frente à equivalência geral, ela opõe a diferença e a

ambigüidade fundamental de sua própria existência.

O que interessa, portanto, segundo Barbero (1986, p. 25) “[...] não é cantar odes à

tecnologia senão às pistas de articulação da tecnologia nos processos culturais, para captar

o sentido dessa relação na gestão e destruição das culturas populares, e no uso que essas

classes fazem do consumo do cinema, por exemplo, para se dar uma identidade [...]”.

Pensar as NTICs a partir do popular é a perspectiva de Barbero. Mais isso não

significa, em sua opinião, nem uma posição de saudade ou de desassossego frente à

complexidade tecnológica e a abstração dos meios de comunicação de massa. As

tecnologias não são meras ferramentas dóceis e transparentes e não se deixam usar de

qualquer modo, pois, em última instância são a realização de uma ideologia e de uma

concepção: a da dominação nas realidades culturais.

Se as NTICs são para Barbero, parte de um projeto de dominação universal

instalado pelo capitalismo, existe, entretanto, uma pequena brecha, quando ele se refere a

exemplos históricos, às potencialidades e a um redesenho não do equipamento tecnológico,

mas sim de sua função. Nesse sentido, a sua abordagem trata muito mais do novo uso das

tecnologias tradicionais, como o rádio e o gravador, do que propriamente das NTICs.

O elemento central para a análise do tema Tecnologia, Cultura e Desenvolvimento na

América Latina, segundo Rodrigues “[...] surge a partir da descrição da situação atual do

desequilíbrio do conhecimento originado pelo fenômeno das bases e bancos de dados

23

mundiais, que, situados em sua grande maioria nos países desenvolvidos, colocam os países

em vias de desenvolvimento em uma situação muito delicada[...]”.4

Nos países desenvolvidos as políticas de desenvolvimento nacional e continental

incorporam a problemática de desenvolvimento de bases próprias de informação. O rápido

crescimento das bases de dados da comunidade européia é uma conformação dessa

decisão.

É a partir, portanto, de uma análise da situação dos países desenvolvidos, que se

pensa um projeto para o Sul, cuja ênfase deve ser colocada nas propostas de usos

alternativos da informática no processo de desenvolvimento e de democratização. E, se por

um lado, é nítida a necessidade de se estabelecer políticas de utilização e acesso à

informação dos países desenvolvidos, por outro lado, também se constata a exigência de

desenvolver bases de dados próprias e de interligar estas àquelas de outros países em via de

desenvolvimento, gerando assim mecanismos de conexão horizontal Sul-Sul.

A existência de alguns projetos alternativos comprova que, a partir do campo das

comunicações, pode-se desenvolver um trabalho em torno do tema das NTICs e também

apontam quais são as possibilidades de um desenvolvimento autônomo no contexto das

restrições de um mundo transnacionalizado e interconectado através de uma perspectiva

real da análise da difusão das NTICs na América Latina. Nos próximos anos, no

continente, o desenvolvimento das NTICs e o processo democrático e alternativo serão

medidos por sua capacidade de net working (rede de trabalho) e sua iniciativa em ampliar,

por todos os meios, as possibilidades de participação dos movimentos sociais.

O uso adequado e apropriado das NTICs tem um grande potencial no auxílio ao

desenvolvimento, tanto na preservação da democracia na região quanto no estimulo a uma

participação ativa da sociedade civil nessa tarefa. A condição para tornar isto possível passa

4 RODRIGUES, Gabriel. Tecnologia, cultura e desenvolvimento na América Latina. São Paulo: Summus, 2002, p. 43.

24

pela mudança de atitude tradicionalmente negativa e excessivamente problematizadora que

os grupos alternativos tiveram frente à tecnologia e, em especial, à informática.

Apontar essas novas perspectivas de uso não significa cair em uma visão ingênua

em relação às possibilidades efetivas da técnica. Estamos conscientes de que, por trás delas,

existem interesses comerciais organizados em que empresas transnacionais desempenham

papel importante. No entanto, é necessário avançar no desenvolvimento de usos

apropriados deste patrimônio tecnológico e não entregá-lo ao uso exclusivo de caráter

comercial.

As várias possibilidades de uso concreto das NTICs nos países emergentes significa

estudar não somente as conseqüências sociais da suas aplicações como também a imperiosa

necessidade de se começar a disseminar o uso destas ferramentas no campo da

comunicação e do desenvolvimento alternativo.

1.2. Visão dos teóricos contemporâneos sobre as NTICs.

Desde os primórdios da humanidade, os personagens e instituições que se

apropriavam da informação e dos conhecimentos sobre a natureza e as artes detinham o

poder político, econômico e religioso sobre os leigos. Esse fato fortaleceu a

institucionalização da informação, que se instaura com seu poder autocrático e cativante.

Preocupados com essa problemática cultural, investigadores e estudiosos da sociedade,

pertencentes às áreas da Mediação e da Pedagogia do Receptor, no campo da Comunicação

Social detêm se para refletir, utilizando seus pressupostos teóricos.

Atualmente a sociedade desenvolve se através por caminhos inevitáveis de uma

cultura globalizada, que conduz a consumir mídias eletrônicas, pois sem elas estaríamos

fadados a perder o “[...]trem da história[...]” (BELLONI: 1999, 69). As abordagens desses

autores, nessa área do conhecimento, oferecem suportes para análises; porque, ficamos

25

perplexos pelas inesperadas e rápidas mutações, que acontecem com essas ferramentas

eletrônicas na passagem da sociedade moderna para a sociedade da informação e do

conhecimento.

A dependência econômica dos nossos países frente às potências hegemônicas dos

países desenvolvidos impossibilita o uso massivo dessas novas tecnologias. O Brasil, país

emergente, com forte hibridação étnico-cultural, interessa ao capital transnacional (do eixo

estadunidense e europeu), que busca ocupar os espaços geográficos tecnologicamente

vazios.

A partir dessa ótica sócio-cultural, os intelectuais têm investido seus potenciais de

reflexão, ultrapassando o estágio do neo-colonialismo cultural, na procura de análises que

ajudem à reafirmação da nossa identidade, estabelecendo diálogos e debates até mesmo com

autores desses eixos.

Na década de sessenta, por exemplo, dá-se o boom latino-americano no cinema,

teatro, literatura e em outras correntes e fluxos culturais, refletindo e motivando a busca da

identidade latino-americana, matizada com ideais críticos, que propiciaram análises,

partindo das contradições da sociedade, construindo conhecimentos com o intuito de

esclarecer melhor as origens da exploração sócio-econômica existente.

Decorrente da dependência econômica, a identidade regional, foi se tornando cada

vez mais periférica, quanto ao uso das novas tecnologias, da mass media comunication

estadunidense principalmente. Esse fato motivou a se fazer algumas reformulações no

modo de operar dos nossos sistemas comunicativos, sobretudo na análise crítica da

recepção, que, mais tarde, na década de oitenta, concretizar-se-ia nos estudos de: Guillermo

Orozco Gómez, Valério Fuenzalida, Jesús Martín Barbero, Maria Teresa Quiroz, Mário

Kaplún, Néstor Garcia Canclini, Paulo Freire, entre outros.

26

A vertente Latino-Americana consolida-se nos trabalhos sociológicos da

pesquisadora peruana Maria Teresa Quiroz, e suas publicações feitas com apoio da

FELAFACS (Federação Latino-americana de Faculdades de Comunicação Social) da qual é

presidente em exercício de 2004 até 2006.

Quiroz, analisa sobre o impacto das novas tecnologias no ensino, e, no cotidiano

das crianças, jovens, adultos que se encontram circundantes a um espaço sem fronteira ou

como ela diz, a uma “escola sem muros”, retomando a frase de McLuhan, que aplica essa

metáfora à explosão da informação, que tem desbordado as instituições formais de ensino e

competindo fortemente com a educação.

Interessa retomar esse aspecto ainda em momentos de crise como a que

compartilhamos na sociedade, num espaço onde a relatividade dos valores é notável, sendo

que a confusão a corrupção, a angústia e a incerteza permeiam nosso dia-a-dia. Apesar

disso, Maria T. Quiroz diz que “[...] tem que se evitar o retorno ao moralismo e ao

dogmatismo[...]”.5 A explicação sobre o papel e os efeitos dos meios massivos tem sido mal

interpretada devido às concepções eminentemente instrumentalistas, assim como à idéia

ilustrada da educação, provenientes da cultura da escrita, marginalizando muitas vezes as

novas culturas que se expressam por meio da comunicação.

É imprescindível enfrentar os abismos existentes entre as culturas - aquelas que

pensam e da qual falam os comunicadores e a que percebem os receptores - só assim

estaríamos em melhores condições para propor mudanças pertinentes, além de

modernizações tecnológicas que atualmente a envolvem todo, ou para lançar críticas à nova

cultura audiovisual e tecnológica. Lembrando que a educação permite, precisamente, essa

transmissão do capital cultural, que, por sua vez, forma parte da prática da humanidade,

5 QUIROZ, Maria Teresa. “Por una Educación que integre el pensar y el sentir: El papel de las Tecnologías de Información y Comunicación” In: Revista Digital de Cultura. Pensar Iberoamérica. Lima: Organización de Estados Iberoamericanos (OEI). Número dedicado a Cultura y Educación, 1997.

27

transmitida socialmente a qual “[...] levamos na consciência, na sensibilidade, nos valores,

nos movimentos, na disposição corporal, nas mãos [...]” (QUIROZ: 1993).

No cerne dessa análise está a comunicação sincrônica6 porque é um campo que

vincula os sujeitos, produzindo um intercâmbio entre a ação e a sociabilidade. Para isso

acontecer considera-se necessário mudar algumas idéias repletas de dogmatismos que

impregnam ainda hoje alguns conceitos da educação e impedem o uso de novas

tecnologias, como ferramentas auxiliares que ajudem à incubação dos conhecimentos.

Nesse processo dialógico na educação, ninguém deveria submeter ninguém Paulo

Freire já tinha enunciado “[...] ninguém educa ninguém, todos nos educamos em

comunhão[...]”. Para efeito, é necessária uma análise conjuntural da sociedade, para

focalizar a globalização econômica e as culturas regionais, atingidas pelo fenômeno global,

apesar de que elas resistem para não serem engolidas nem caírem nas “redes” da sociedade

consumista.

Os estudos de Fuenzalida sobre a televisão, em Santiago de Chile como agente do

processo comunicativo, vinculam os termos “Televisão, pobreza e desenvolvimento”. Ele

analisa a influência da televisão e do seu impacto na sociedade, sobretudo na educação.

O ressaltante da sua análise, de expectativa cultural e educativa, é a constatação de

que os meios atingem os consumidores segundo a condição socioeconômica, pois se

comprovaram que, em países da América Latina, a pobreza rural e urbana nutre se muito

das programações televisivas, o que facilita a distorção desses processos, pois, eles

alcançam muita ou pouca audiência a partir dessa perspectiva mencionada.

A sua análise revela, no entanto, que o significado educativo é extraído pelo

receptor como se fosse um subproduto, através de um gênero de “entretenimento”, ou

6 Comunicação Sincrônica é a comunicação que recorre à modalidade de troca simultânea, como o telefone, a vídeo-conferência, ou se operar a Internet os IRC (Internet Relay Chat), com a exigência de que os interlocutores estejam conectados no mesmo momento.

28

seja, as programações estão voltadas para “preencher” uma necessidade na vida diária,

coletiva ou pessoal dos televidentes.

A partir dessa perspectiva, o indivíduo daria importância e optaria por se apropriar

daquilo que o motiva, mesmo superficialmente, acreditando-se co-participante da

programação. Mas, não esqueçamos que o ser humano também é “homo ludens” (Morin:

2000), que a televisão e suas programações estão voltadas para o consumo, com programas

que enfatiza o “entretenimento”, e dirigem-se aos novos e cada vez mais numerosos

“adultescentes”, banalizando-os, ou vulgarizando-os, o que explicaria o pouco interesse dos

programas educativos. Para atingir seus objetivos, o indivíduo deveria estar mais bem

motivado e transpor subjetividades (porque a TV trabalha nesse âmbito) para concluir com

êxito, por exemplo, um curso de tele-educação, que na atualidade obtém cada vez mais

espaços, seja nos cursos de pré-grado ou da pós-graduação.

A tarefa é utilizar essa reflexão, aparentemente simples, mas na verdade muito

complexa, por atingir as sensibilidades, as emoções, os valores os prestígios que poderiam

ser mais bem utilizados. É pertinente considerar essa perspectiva, porque apesar de existir

hoje no mercado novíssimas tecnologias de informação e comunicação, é mister

experimentar um novo jeito de ver televisão, seja como novo produto, resultante da

hibridação tecnológica, ou como instrumento inspirador para ações conjuntas da educação

e de novas formas de comunicação de todos para todos.

Como as novas mídias eletrônicas usam deliberadamente as imagens, inicialmente é

conveniente identificar diferenças entre imagem - hoje se discute o surgimento de uma nova

especialidade: a imagenologia - e escrita, como se faz na história da arte, da semiótica e da

29

psicanálise, a fenomenologia, que ajudam a recolocar a imagem na complexidade das suas

relações com o cérebro e pensamento7.

No entanto, ler um texto8 coloca o leitor diante de um mundo abstrato de conceitos e

idéias que passam por difíceis operações analíticas e racionais de compreensão,

interpretação e memorização, potencializando a capacidade de pensamento lógico linear,

seqüencial, de distanciamento, com que o leitor controla o ritmo e a experiência, mas que

depende de um esforço para efetivar a penetração no texto.

Por outro lado, ver imagens numa tela coloca o indivíduo diante de um universo

“concreto” de objetivos e realidades, o que demanda decodificações automáticas,

instantâneas, que se aderem sem dificuldades e potenciam o pensamento visual, intuitivo e

global.

Mediatizar a ação educativa é o que Kaplún aponta em seus trabalhos. As suas

reflexões contribuem para o estudo do uso das novas tecnologias. Ele afirma: “existem

enormes possibilidades de articular as interseções, entre os saberes. A educação é a única

que pode produzir códigos conceituais que facilitem o domínio e a integração dessa

torrente informativa” (KAPLUN: 2000). Perfilam-se no campo da Comunicação Educativa

duas perspectivas teóricas socialmente atuantes: o pensamento tecnocrático e o pensamento

tradicional, refúgio dos valores humanos tradicionais. Kaplún desenvolve, nesse sentido,

uma sistematização dos paradigmas muito mais completa.

Ambas as vertentes – a tecnocrática e a tradicional – são de imprescindíveis

análises, pois, consideramos um risco deixar o seu uso ao livre arbítrio de

7 Em 2002, foi lançada na Franca o livro “Cérebro e Psicologia” pelo GIN (Grupo de Imagem Neurofuncional) uma equipe que estuda pioneiramente as funções cognitivas por meio do aparelho de Imagem por Ressonância Magnética (IRM). 8 Uma das pesquisas realizadas pelo GIN constituiu em examinar as reações cerebrais de oito pessoas no momento de leitura. Elas foram colocadas dentro de uma câmera e não tiveram outros estímulos externos que as palavras projetadas a sua frente. Os pesquisadores anteciparam: “Já se pode dizer que a leitura convoca uma rede de áreas cerebrais dedicada à linguagem que é comum àquela da escuta das palavras”. Disponível em: Folha de São Paulo em Paris, Folha On Line – Imagens que dizem tudo. Acesso em: 27 de agosto de 2002.

30

pseudocomunicadores e pseudocientistas (manipuladores do genoma através da

biotecnologia) em seus experimentos com seres humanos. No entanto, as duas

interpretações teóricas possuem visão informacional do processo que brinda a

comunicação à educação, a qual encontra-se dentro de uma perspectiva logocêntrica em

ambos os contextos, e dentro de uma racionalidade instrumental.

Por enquanto, frente a esse instrumental, a vertente de investigação cultural, a partir

dos anos 90, fornecem um ponto de vista muito mais abrangente, propõe uma integração

contextualizada e local dos meios, dos sistemas e recursos de informação e aprendizagem, a

partir das necessidades, características e hábitos culturais dos grupos destinatários da nova

educação tecnológica.

Em seus estudos, Kaplún coincide com o pensamento do pedagogo Paulo Freire

destacando que existem três modelos metodológicos diferentes na comunicação educativa:

o bancário, o dos efeitos e o modelo dialógico ou transformador. No entanto, na educação e na

cultura, que sofrem constantes transformações, é importante avaliar e usar as mensagens

que divulguem os sistemas complexos de informação, pois, nos modelos pedagógicos, em

sentido amplo, as respostas são radicalmente diferentes umas das outras.

Percebemos que essa análise abre um leque de idéias, e, confirma a abrangência das

NTICs (computador, Internet e outros recursos como os hipertextos, sites, homepages, links,

etc) no ensino superior, explicando a complexidade dos seus efeitos, colocando novos

paradigmas no campo educativo e originando uma outra maneira de olhar o mundo do

conhecimento. A prática e o pensamento de Kaplún continuam sendo hoje uma fonte para

o debate e para a prática da comunicação latino-americana. Talvez porque Kaplún

construiu a sua teoria: desde a prática e na prática.

Nos sistemas da comunicação, a reorganização das suas práticas e dos saberes que

hoje se compartilham graças à difusão massiva pelas novas fontes da informação, abre

31

espaços para perceber a “realidade” da sociedade, devido às transformações que essas

estruturas informativas têm estabelecido no processo de mediação cultural. No entanto,

surgem outros pontos de vista que ampliam cada vez mais as posições teóricas nesse

sentido. Kaplún re-atualiza, nesses estudos, conceitos que não são fáceis de sistematizar

somente no campo da comunicação educativa.

Seu trabalho crítico da realidade comunicacional latino-americana não lhe afastaram

da sua persistente labor na construção de alternativas concretas para a nossa realidade. É

talvez, devido a isso, que desde cedo percebeu os limites da crítica latino-americana à

comunicação hegemônica, que não permitia ver como os médios incorporavam a trama

cultural dos receptores em suas mensagens. Mas, também foi crítico das vertentes

culturalistas, que mais tarde, quiseram ver resistência no mero consumo e imaginaram um

receptor ativo capaz de re-significar qualquer mensagem.

Sua práxis foi o da construção de alternativas que serviram para abrir uma dupla via

na ampla rua da comunicação, compreendendo que não bastava ganhar receptores, mas

potenciar emissores, ensinando às pessoas a usar a tecla record e não somente a tecla play dos

gravadores. Ensinando-lhes a pré-alimentar mais que a retro-alimentar e a recuperar a dimensão

dialógica da comunicação.

Barbero oferece proposta teórica fundamentada na originalidade da sua análise e,

aporta para o estudo das novas mídias tecnológicas. Considera-se um transeunte, que se

transferiu da filosofia pura para a análise da problemática estrutural que leva o processo

comunicativo, ou como ele mesmo diz, “onde encontrou o espaço concreto” para pensar a

prática comunicativa como signo do esquema global de dominação cultural, social,

econômica e étnica.

Barbero traça horizontes e reflexões latino-americanas sobre o fato comunicativo,

todas elas cheias de tensões e contradições múltiplas, devido à pluriculturalidade e

32

heterogeneidade desses países. A consideração dessa perspectiva traz riqueza no

pensamento analítico, no uso decorrente das novas tecnologias de informação, no ensino

superior e ajuda-nos a compreenderem qual seriam os esquemas mais apropriados e o tono

pedagógico que mais exige as condições da produção cultural da América Latina.

Uma outra instância da análise do uso das novas tecnologias informáticas está no

modelo de produção. Elas já não correspondem ao modelo de produção da sociedade

industrial (fordista e pós-fordista), pois a matéria prima do computador já não é o carvão

nem o petróleo, nem seus produtos são objetos físicos. A dimensão propriamente humana

da produção já não é a força de trabalho. O que as novas tecnologias informáticas

trabalham é a interface cérebro e informação, pois o computador tem como matéria-prima

logaritmos e como produtos símbolos e textos.

A pertinência dessa análise envolve o computador, a internet e os hipertextos como

ferramentas cognitivas, porque elas estão adotando formas híbridas, adotando posturas e

misturas irreversíveis, das quais resultam um outro tipo de saber ou um novo “[...] desenho

da razão [...]” (BARBERO, 1985) que inevitavelmente abrirão as portas a outras fontes e

opções, perante o tecnicismo que estabelece uma mediação estrutural na produção de

conhecimentos e, não somente do fluxo emissor-receptor. Essas questões consolidam e

preenchem vazios que às vezes marginalizam argumentos das ciências da comunicação.

Por outro lado a sociedade atual, em todas as suas dimensões, vem sofrendo fortes

mudanças, orientadas pelo desenvolvimento tecnológico. Na área da informação, o

computador, a Internet e a multimídia estão oferecendo uma variedade de opções

metodológicas que podem influenciar a prática educativa em todos os níveis e áreas de

conhecimentos; possibilita hoje que as escolas e centros superiores de ensino se conectem

com comunidades próximas e com o mundo, permitindo que os estudantes façam contato

e construam conhecimentos interagindo virtualmente.

33

Na década de 1990, a revolução digital concentrou-se em torno da rede. Com mais

de 100 milhões de usuários, chegando a mais de um bilhão nesta década (CEBRIÁN, 1998,

p.14) e está se transformando em algo que nenhum empresário, político, educador ou

simples curioso poderá ignorar. Está surgindo um novo meio de comunicação humana que

poderia superar todas as revoluções anteriores (imprensa, rádio, telefone, TV e o

computador) referentes a seu alcance na vida econômica e social. As denominadas auto-

estradas da informação e seu arquétipo a Internet, estão possibilitando práticas econômicas

baseadas em redes de inteligência humana.

O novo mundo da informação romperá com esse padrão de contribuições

indiretas, Porque ele está diretamente vinculado às questões da educação, aquisição,

organização e transmissão de informações, bem como na simulação de processos que

representam o conhecimento e na utilização de instrumentos como e-mail e trabalho em

grupo, para mediar as relações entre alunos e professores e alunos entre si; sendo assim,

trata-se da primeira revolução socioeconômica da história a oferecer tecnologias diretamente

ligadas ao processo de aprendizado9. Por tanto, apresenta-se aí uma boa chance de promover

saltos qualitativos que não poderiam ter ocorrido no caso das tecnologias das duas

revoluções industriais anteriores cujos vínculos com o ensino eram tênues.

Pensamos que o mercado da informação mudará o papel das escolas, universidades

e da comunidade educacional. Um dos efeitos mais óbvios será a expansão simultânea do

mercado de ensino. No entanto, as abordagens sobre o aprendizado a distância ainda não

estão bem formuladas, quanto aos sistemas tradicionais, porque a educação é muito mais

de que transferência de conhecimentos dos professores para os estudantes; necessidades

básicas não podem atualmente ser satisfeitas apenas pela tecnologia informática.

9 DERTROUZOS, Michael. O que será. Como o novo mundo da informação transformará nossas vidas. São Paulo, Cia das Letras: 2000, p.239.

34

A Internet hoje é um meio importante dentro de qualquer dimensão da sociedade,

constituindo-se em ferramenta fundamental para acessos e intercâmbios de informação. O

professor cuja atividade docente se realiza face a face com seus alunos também se vê

induzido a introduzir a tecnologia educacional na sua prática. E é constante o apelo para

que o computador tenha espaço pedagógico nas atividades curriculares. Se usado

pedagogicamente, inserida em uma proposta educativa coerente com o currículo de uma

instituição de ensino, a Internet tem muito a oferecer ao ensino presencial, por exemplo:

como correio eletrônico, portais e atividades de pesquisa.

A cultura tradicional afirma que existe um tempo para tudo, aprender, para amar, só

que na realidade atual é muito diferente. Já não há uma idade para cada coisa. O saber não

ocupa um momento, porque segundo Giddens (1994): “[...] os avanços tecnológicos da

sociedade moderna tem permitido um distanciamento progressivo dos indivíduos de suas

referencias de tempo e espaço [...]”.

Concordamos com a hipótese de que o ensino em nível superior estaria

comprometido e, talvez, substituídos pela sociedade da informação e do conhecimento.

Nessa vertente os meios de comunicação vão acompanhar inevitavelmente, transmitindo-

nos uma quantidade abusiva de informações, bombardeando, com fatos e dados,

distorcendo nosso ideal de conhecimentos. Dessa forma, “Seria injusto atribuir aos meios o

papel único no aprendizado permanente”.10

A educação não pode ser senão um preparo para o estudo de nós mesmos, porque

“[...] nós somos o texto [...]” (LÉVY, 2000), e a arte de aprender não é determinada pelos

títulos acadêmicos e, sim pela solidez dos critérios que se aplicam na busca de saberes que

constitui a vida. No contexto educacional as tecnologias de ponta e os meios audiovisuais

combinam-se para oferecer novos e quase infinitas potencialidades de transmissão de

10 CEBRIÁN, Juan Luis. A rede. Como nossas vidas serão transformadas pelos meios de comunicação. São Paulo: Summus, 1998, p. 119.

35

saberes por métodos que, a princípio desafiam ainda mais os parâmetros de ensino clássico,

já submetido a uma revisão profunda.

A partir dessa perspectiva, percebe-se um autodidatismo crescente no

comportamento das pessoas impulsionadas pelas novas tecnologias. Uma outra questão é

também conhecer se a sociedade global da informação com seu universo de redes,

interatividade e demais emaranhados, acrescentará confusão e caos ao conjunto do sistema

educativo, ou acaso servirá para começar a discernir os elementos positivos da

cibercultura11. O que temos na frente é a incerteza.

Na decorrência disto, surge a Universidade Virtual, mas outros colocam a Internet –

que utiliza muito da noosfera12, e age como um gigantesco campus virtual, que permite a

extensão das melhores universidades. É nesse mesmo contexto que buscamos refletir sobre

o ensino superior no Brasil através do suporte inovador que as novas tecnologias de

informação trazem, no marco de uma educação solidária, libertária e autodidata que

comprometa a todos na participação numa solidariedade internacional do conhecimento.

Dada a relevância temática, é prioritária a democratização do uso dessas novas

tecnologias, para que os ciberalunos possam sentir-se participantes reais e não somente seres

virtuais do processo que, de fato possam conduzir à democratização da educação e

apropriar-se dos conhecimentos, gerados na sociedade brasileira e no mundo.

No cenário internacional vivencia-se uma nova ordem que tem suas bases nas mudanças

paradigmáticas pelo que o mundo esta passando tanto do ponto de vista social, econômico,

11 Neologismo que especifica o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais) de modos de pensamentos e valores que se desenvolvem juntamente com o ciberespaço. LÉVY, P. Cibercultura, São Paulo Editora 34, p.17. 12 A criação da idéia de noosfera é atribuída ao filosofo francês TEILHARD DE CHARDIN (1881-1955), nos anos de 1920. Explicando: assim como existe a atmosfera, também há uma espécie de mundo das idéias, constituído pelas coisas do espírito, produtos culturais, linguagens, teorias e conhecimentos. Todos nós alimentamos a noosfera quando pensamos e nos comunicamos. Daí, as conseqüências são imprevisíveis, nunca sabemos o que as pessoas farão com nossas idéias, podem morrer por elas. Assim a noosfera exerce uma influência decisiva sobre nossos comportamentos. Ou, como disse Edgar Morin, “as idéias que possuímos são capazes de nos possuir”. Além disso, “as idéias são menos biodegradáveis que o homem” (Wojciechowski) Disponível em:<www.a_noosfera.blogger.com.br>. Acesso em: 12 de novembro de 2004.

36

cultural, político, tecnológico e outros; o Brasil não está fora dessas mudanças e passagem

da Sociedade Industrial para a Sociedade da Informação e do Conhecimento.

Esses fatos que levam à transição de um estágio a outro, estão cheio de surpresas e

complexidades e a humanidade está encaminhada nessa corrente que inevitavelmente o

arrasta. Porque não é possível se contrapor às novas fontes de transmissão de

conhecimentos que impregnam a vida da sociedade, adaptando-se às novas exigências.

Como diz, Kenneth Boulding: “[...] a grande transição não é somente algo que afeta à

ciência, a tecnologia, o sistema físico da sociedade e o aproveitamento da energia. É

também a transição das instituições sociais […]”.13

O impacto trazido por essas mudanças se caracteriza por ter como um dos seus

elementos centrais o processo de gestão de conhecimento, ou seja, a capacidade de

produzir, armazenar, processar e disseminar informações e conhecimentos. Nesse contexto

a educação é um dos mais importantes protagonistas, por ser fonte principal do processo

de construção, consumo e transferência de conhecimentos. É muito importante valorizar

este aspecto como fator estratégico e crítico para o desenvolvimento, criando e

contribuindo de forma efetiva para o progresso do homem.

O mundo virtual aprofunda as alterações, principalmente nas concepções de espaço

e tempo. Isso implica que não há mais distância, território, domínio, vive-se o aqui e agora

(cf. BORGES: 2000, 28). O virtual utiliza novos espaços, novas velocidades, sempre

problematizando e reinventando o mundo.

A informação e o conhecimento são os dois bem primordiais com características

próprias e, diferenciadas dos outros bens, pois, ou seu uso não faz com que acabem ou

sejam consumidos. Então, pode-se pensar que o mundo virtual é inevitável.

13 BORGES, M. A Guimarães. “A compreensão da sociedade da informação” Cf. In: revista Ciência da Informação. V. 29, n. 3, Brasília: 2000, p. 25.

37

Envolvidos nesse resplendor de virtualidade vinda com as novas tecnologias

comunicacionais, McLuhan (1911), já falava que o meio é a mensagem, o que para ele traria

conseqüências sociais e pessoais, ou seja, constituiriam o resultado do novo padrão,

introduzido na vida pelas novas tecnologias ou extensões de próprio homem. McLuhan

diz: “A mensagem de qualquer meio tecnológico é a mudança da escala, cadência ou padrão que esse meio

ou tecnologia introduz nas coisas humanas”.14

Na sua análise das mídias tradicionais (imprensa, rádio, telefone, fotografia,

televisão) McLuhan critica seus aspectos intrínsecos, com perturbação psíquica e social

criada pela imagem da televisão, e não pela sua formação. Para ele a televisão, acima de tudo

é uma extensão do sentido do tato, que envolve a máxima inter-relação de todos os

sentidos, onde o professor e os olhos dos estudantes parecem se perder num mistério e

penetração profundos desse momento cognitivo, caso observado na sala de multimídias da

Faculdade de Odontologia da USP.

Ele já apontava para uma suposta hibridação das tecnologias, ao se referir à

automação onde não existe uma separação de operações, veiculando ao processo industrial

e mercadológico como o fazem o rádio e a TV com os indivíduos de uma audiência num

novo interprocesso. A automação, sem dúvida, incorpora o serviço mecânico e o

computador, ou seja, incorpora além de outros subsídios, mecanismos para acelerar a

informação. O temor ante a automação, encarada como uma ameaça de uniformidade em

escala mundial, é uma projeção no futuro da padronização mecânica que atualmente se

dissiparam e pertencem ao passado.

Por sua parte Castells, na Sociedade em rede (1999) preconiza a vinculação e interação

da nossa cotidianidade para alcançarem supostos e pressupostos de uma sociedade pós-

industrial pródiga nesses tipos de encontros com as novas tecnologias.

14 McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1974, p. 22.

38

À medida que a automação avança, vai ficando explícito que a informação é o bem

de consumo mais importante e que os produtos sólidos são meramente incidentais no

movimento informacional. Nessa ótica de reflexões Castells, re-afirma que as novas

tecnologias mediadas pela alheação do cérebro e informação estão integrando um mundo

em redes globais de instrumentalidade, gerando uma gama de comunidades virtuais e

ajudando a desfazer a visão do mundo promovida por ela no passado. Ele diz: “[…] o final

do século XX representou o final de nossa cultura material pelos caminhos de um novo

paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação […]”

(CASTELLS, 1999 p. 49).

Acompanhando essa seqüência de inovações tecnológicas, a mente humana constitui-

se em parceira indissolúvel desses fatos, desempenhando-se como um grande motor que

gera esses conhecimentos, diante desses fatos a mente humana, pela primeira vez na

história é uma força direta de produção e não apenas um elemento decisivo dentro do

sistema produtivo.

Ressaltamos essa singularidade que não limita as fronteiras da produção neuronal,

toda vez que o nosso estudo feito envolveram processos cognitivos, aliás, no ensino e

aprendizagem tradicional também essas forças estiveram presente, porém de forma tênue.

Atualmente essa força direta é mais bem aproveitada no ensino e pesquisa, onde

computadores, sistemas de comunicação e decodificação são todos amplificadores e

extensões da mente humana. “[...] é o cérebro que cresce para fora [...]” diz, Santaella, em

palestra realizada em 2003 na Escola do Futuro da USP, referindo-se ao grande avance

tecnológico destes últimos 5000 anos.

Uma das características do novo paradigma da Tecnologia da Informação baseia-se

em que a informação constitui a matéria prima e porque as tecnologias estão para agir

sobre a informação, e não apenas a informação sobre as tecnologias, como aconteceram

39

nas revoluções tecnológicas anteriores. Como a informação é uma parte integral de toda

atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva estão

diretamente moldados pelos novos meios tecnológicos.

No ensino superior está se empregando o novo sistema de comunicação eletrônica,

que começou a ser formado a partir da fusão da mídia de massa com a comunicação por

computador. É assim, que a multimídia, como novo sistema de LOGO, foi chamado para

estender o âmbito da comunicação eletrônica para todos os domínios da vida como no

caso da engenharia genética.

O filósofo da www, Pierre Lévy, aponta uma leitura da inteligência coletiva nessa época

da cibercultura e atualização da virtualidade. Enfatizando que o desenvolvimento dos

novos instrumentos de comunicação inscreve-se em uma mutação de grande alcance e sua

relação com o saber, alterando as funções cognitivas, dentro delas a memória, a imaginação,

a percepção e o raciocínio.

Para Lévy tais tecnologias favorecem as novas formas de acesso à informação, tais

como a simulação, que constitui uma verdadeira industrialização da experiência do

pensamento, que estão disponíveis na rede, na qual podem ser partilhadas entre grande

número de indivíduos incrementando assim, o potencial da inteligência coletiva entre os

humanos. Esses saberes e as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva estão

modificando profundamente a educação e a formação do novo profissional.

Mesmo que as pessoas aprendam em suas experiências profissionais e sociais, ainda

que a escola e a universidade estejam perdendo atualmente seu monopólio de criação e

transmissão do conhecimento, os sistemas de ensino público devem orientar os recursos

individuais no saber, e contribuir para o reconhecimento do conjunto de pessoas inclusive

os saberes não acadêmicos ou informais.

40

Morin, pensador francês, reforça a análise para uma educação mais humana e mais

reflexiva, no novo século, priorizando a preservação da vida no nosso planeta. Ele subsidia

elementos substanciais para a educação, na qual deve se ensinar a verdadeira condição do

ser humano, como espécie, pois, somos a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural,

social e histórico. Essa unidade complexa do ser humano é totalmente desintegrada com a

educação tradicional por meio de disciplinas, tornando-se impossível compreender na sua

totalidade o que significa o ser humano e o humano ser. Morin considera que é preciso

restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e

consciência, mas ao mesmo tempo, ele reconhece que somos seres muito complexos, no

entanto existe uma identidade comum entre todos os seres humanos.

Antes que essas reflexões e informações a nível molecular sobre o nosso corpo

físico aconteceram, acreditávamos que as fronteiras dos conhecimentos que tínhamos

sobre o humano estava próximo, todo seria facilmente explicado, através do mapa

genético, que não ficaria mais nada por conhecer se, pois a racionalidade operava nesse

sentido.

Foi possível que novas tecnologias biomédicas como: exames de tomografia

computadorizada, de imagens de ressonância magnética, de raios-X, do microscópio

eletrônico e outros recursos tecnológicos fizessem do corpo humano transparente,

exploraram e navegaram nele com ajuda da nanotecnologia15até converti-o num ser público, em

um hipercorpo. Apesar disso, o ser humano continua sendo a “medida de todas as coisas”

(Protágoras) penetrar por inteiro no âmago da nossa molécula ainda continua sendo um

desafio por descobrir-se. A ciência aceita o que está disponível nos seus registros de

15 As aplicações da Nanotecnologia no campo da medicina (nanomedicina) são fantásticas tais como: dispositivos invisíveis com capacidade para circular na corrente sanguínea e identificar agentes biológicos ao analisar reações químicas de caráter terapêutico, detectar e reparar células cancerígenas e tecidos danificados, transportar medicamentos e provocar reações químicas de caráter terapêutico. Disponível em: <www.rizoma.net/seção/mutacao> Acesso em: 24 de maio de 2004.

41

descobertas, e, somente poderia extrair conclusões relativas da nossa espécie, um ser tão

complexo, quanto mesmo nossa natureza.

Diante desse dilema, as condições na que se desenvolve nossa espécie no contexto

do mundo deveria ser o objeto essencial do ensino, afastando idéias e crenças obsoletas,

baseadas em estudos e disciplinas que fragmentaram a ciência e o ser humano, separando-o

da sua unidade e complexidade, da unidualidad16, intrínseca que possuímos.

Organizar esses conhecimentos, transdisciplinares será, pois, uma nova aposta do futuro

de professores e educadores, sobretudo no ensino superior auxiliado pelas novas

tecnologias, que possibilitará grandes chances de traçar a perspectiva de um novo horizonte

do ensino na real condição humana. Reunindo esses conhecimentos dispersos nas ciências

da natureza, nas ciências humanas, na literatura e na filosofia, a que evidenciaria uma vez

mais o elo indissolúvel entre a unidade e a diversidade de todo o que é humano.

A proposta de Morin, referente ao ensino da identidade terrena, é dizer a identificação

ou selo que carimba a presença física do homem no mundo, no universo físico, são

questões para refletirmos sobre o destino planetário e do gênero humano, fato que a

educação tradicional deixou-a na marginalidade. Acontecimentos novos, cheios de

episódios como a criatividade do espírito humano tem que se lembrada, para valorizar-se a

espécie hominídea, a única que pode discernir entre o bem e o mal e qual é o mais

adequado para a sobrevivência na aldeia global e em comunidade.

Os conhecimentos que temos sobre nosso planeta e fora dele, com tendência a se

aumentar cada vez mais no presente século com as explorações espaciais e descobertas de

novas estrelas no universo, permitiria conhecer melhor a nossa Era Planetária e o

16 Unidualidade: o humano é um ser a um só tempo plenamente biológico e plenamente cultural que traz em si a unidade originaria. São Paulo: Cortez UNESCO, 2002, p. 52. O homem é por tanto um ser plenamente biológico, mas, se não dispusesse plenamente da cultura, seria um primata do mais baixo nível. In: MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro, Cortez- UNESCO, 2002, p. 52.

42

reconhecimento da identidade terrena se tornaria cada vez mais indispensável a cada um e à

vez a todos, temática a incorporar se como uns dos principais objetos da atual educação.

Deveríamos ensinar os direitos universais da pessoa humana em geral, os direitos das

crianças, direitos da mulher, direitos dos animais e a preservação da flora e fauna do

planeta, ensinar a história planetária, da formação no seu aspecto físico, baseado nas

ciências geológicas e astronômicas. É mister ensinar a história mundial que se inicia com o

estabelecimento da comunicação no século XVI, e mostrar como todas as partes do mundo

de uma forma ou outra se mostraram solidárias, mas sem ocultar as opressões e a

dominação vergonhosa e inumana que fizeram os conquistadores e devastaram muitos

povos, que suportaram as invasões, mas sem exterminá-los.

Paradoxos complexos, de uma civilização que privilegia poucos, pela distribuição

desigual da produtividade, e carestia no outro extremo, polarizando as situações entre

humanos, mas que coexistem, na sociedade. Será, pois, necessário ensinar a refletir neste

problema, indicando que não é tão fácil a solução devido ao fato de que o humano como se

indicou anteriormente é um ser muito mais complexo do que se imaginava, e que somente

no século XX é que se começou a se desvendar vários mistérios, que parasitavam o

conhecimento e impediam que o ser humano pudesse atuar em comunidade como nos seus

alvores, mas que agora nos encontramos novamente confrontados aos mesmos problemas

de vida e morte e que partilhamos um destino comum.

Perante tais questões, reformar o pensamento essa é a proposta de Morin, pai da teoria

da complexidade, minuciosamente explicado nos livros da série O Método; defende a

interligação de todos os conhecimentos e valoriza o complexo. Para ele, o ser humano

tende se afastar do que é complicado, Morin insiste que se faça com urgência, uma

modificação nessa forma de pensar, “Só assim vamos compreender que a simplificação não

exprime a unidade e a diversidade presentes no todo” disse ele (Nova Escola, 2002, p. 20).

43

Considera a sala de aula como um fenômeno complexo, abrigando uma diversidade

de culturas, classes sociais e econômicas, ânimos e sentimentos, é um espaço heterogêneo,

e ideal para iniciar essa reforma da mentalidade. Para Morin, a escola, seguindo a sociedade,

se fragmentou em busca de especialização. Primeiro, dividiu os saberes em áreas e, dentro

delas, priorizou alguns conteúdos; para que essas idéias de Morin sejam implementadas, é

necessário reformular essa estrutura que é uma tarefa complicada, mas não impossível, a

dificuldade provêem em romper uma linearidade de raciocínio cultivada por várias

gerações.

Morin recomenda ensinar a compreensão e o amor pelo humano, pela nova

racionalidade ou como afirma Lucilene Cury (1999, p.57) “a nova racionalidade sob um

olhar amoroso”,17 fato que constitui até a mais difícil de todas, por que nós constituímos

essa unidualidade, que à vez torna-nos universos diferentes interconectados uns dos outros

pelo diálogo da “escuta poética” como diz Prigogine (PESSIS-PASTERNAK, 1993, p. 39).

Apesar desse fato peculiar e intrínseco do ser humano perfectível, a compreensão

torna-se ao mesmo tempo meio e fim da comunicação humana. Como lembra Morin “a

educação para a compreensão está ausente do ensino” (MORIN, 2000, p.17). Se a

compreensão entre os seres humanos e estes com a natureza entra em crises profundas de

desequilíbrio, então estamos condenados desaparecer como seres biológicos da faz da terra,

daí que o planeta necessita, em todos os sentidos do amor e da compreensão mutua entre os

seres humanos.

Valores universais para todas as esferas da sociedade, que de não serem colocadas

em prática corremos risco mesmo da própria existência, daí a importância da educação para

a compreensão a qual exige aos seres humanos uma rápida reforma das mentalidades

17 CURY, Lucilene. “A nova racionalidade sob um olhar amoroso”, In: Caminhos do saber plural. Dez anos de trajetória. Novo Pacto da ciência C-7. Organizadores: MEDINA, C; GRECO, M. São Paulo: ECA-USP, 1999, P.57-69

44

obsoletas, que acreditam no infinito do mundo, que os prodígios que brotam da mãe terra

nunca acabarão e outros mitos criados, para preencher vazios da própria existência.

Longe de prever, o fim das disciplinas, uma reforma do pensamento e da educação

reconhece como imperativo fazer dialogarem as estruturas de pensar, as competências os

saberes produzidos. Mais ainda, a educação hoje deve pautar-se por uma sustentabilidade e

pela preservação do capital cultural da humanidade. Foi precisamente o predomínio da

rigidez sobre a razão que acabou-se constituindo a matriz epistemológica iluminadora do

pensamento cientifico notadamente na modernidade.

Nesse protocolo de intenções uma pedagogia da complexidade precisa estar

comprometida com um ideário educacional mais ético, diante dos graves problemas

planetários, sem abrir mão, da herança milenar, que de certa forma, ainda se mantém nos

redutos dos saberes da tradição.

Neste novo século, nós seres humanos, que pertencemos a um tronco comum da

espécie hominídea, deveríamos fazer prevalecer a compreensão e o amor refletindo sobre

acontecimentos vergonhosos que nossos congêneres fizeram e continuam fazendo-o em

várias partes do mundo.

Decorrente disso existe a necessidade urgente de estudar a incompreensão a partir

das suas raízes, suas modalidades e seus efeitos. O que acarretaria conhecer os segredos do

racismo, a xenofobia o desprezo total pela vida do outro ser humano a qual constituiria ao

mesmo tempo, uma das bases sólidas e mais seguras da educação para a paz e as crianças e

jovens educadas em valores, a qual seria o novo símbolo de uma humanidade mais fraterna.

45

1.3. As mídias eletrônicas atuais e a necessidade da inclusão digital

Cotidianamente temos a chance, em nosso século de presenciar avanços tecnológicos,

e grande parte dessa marcha rumo ao futuro é possível graças à ajuda dos computadores.

Nossas vidas, cada vez mais, estão ligadas a essa máquina que nos oferece inúmeras

facilidades.

Nesse contexto, tentar separar educação do computador e de seus benefícios é

praticamente impossível. Vivemos na era digital, em que todo depende dessa ferramenta de

lazer, atualização, trabalho, comunicação e, sobretudo, aprendizagem. Por tudo isso

ocorreriam muitos prejuízos à educação se não a uníssemos à informática.

Defendemos a idéia de como o computador, bem utilizado, pode ser útil no decorrer

do processo ensino-aprendizagem, pois pode representar um importante instrumento para

atrair a atenção dos alunos, fazendo com que estes se interessem pelo conteúdo estudado e

se motivados, desenvolvam os trabalhos propostos.

No entanto, para que os computadores se tornem ferramentas capazes de auxiliar

no processo do conhecimento de cada aluno, é necessário que essa ferramenta eletrônica

esteja disponível, em número suficiente e distribuído de modo uniforme na rede de

educação pública do Brasil. Sabemos que a realidade do Brasil, analisado desse angulo, não

é muito animadora e isso implica dizer que as instituições escolares devem se preparar para

conciliar o processo ensino-aprendizagem com a inclusão digital. Não basta, portanto,

instalar equipamentos de ultima geração e disponibilizá-as aos alunos.

46

Figura 1 – Mapa da Exclusão Digital18

As escolas desempenham papel fundamental em busca da inclusão digital para os

brasileiros. A educação formal é um ambiente favorável a essa inclusão, pois cada

instituição de ensinar faz parte e auxilia a comunidade, adequando e sofrendo as influências

de uma educação formal. Por isso, não se pode separar as duas realidades. As escolas e

faculdades são os principais meios de acesso aos computadores das crianças, jovens e

adultos que não tem a sorte de possuírem um computador em seus lares.

Quando nos referimos à escola como importante aliada em busca da inclusão digital,

entendemos que não basta montar salas de instrução, instalar computadores nas escolas

públicas, aprender o que seja mouse CPU ou scanner. É necessário preparar o professor para

que ele seja capaz de transformar sua aula, utilizar recursos que o mundo digital lhe oferece. 18 O Mapa da Exclusão Digital é fruto de uma das mais importantes pesquisas sobre o tema já feitas no país. O documento foi lançado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) juntamente com outras entidades, em Abril de 2003, mas passa por atualizações todo ano. O documento traça um perfil dos brasileiros em relação às novas tecnologias de comunicação e informação e faz uma análise não somente do capital físico, ou seja, das máquinas e softwares, mas do capital humano e social, como educação e capacitação. De acordo com o estudo, apenas 12,46% da população tem acesso aos computadores, sendo que 97% concentra-se na área urbana – o que mostra o atraso das zonas rurais em relação às cidades. Um dado curioso diz respeito ao acesso tecnológico por etnia. De acordo com o levantamento, o grupo mais prejudicado é o indígena, com apenas 3,72% de acesso. Depois, vem o grupo dos negros, com somente 4%. Os orientais e os brancos são os menos excluídos, tendo, respectivamente, 42% e 15% de acesso a cada um.

47

O educador deve desenvolver atividades descontextualizadas e significativas, utilizando-se

da informática, para que os alunos, além de terem acesso à informação digital, sejam

sujeitos e produtores de conhecimento.

Poucas escolas têm investido numa capacitação profissional do seu corpo docente,

promovendo debates e proporcionando sua participação em seminários ou palestra,

sensibilizando-o e dando dessa forma, condições para que seja capaz de desenvolver

projetos educacionais, dentro dos conteúdos curriculares.

As ações da inclusão digital devem incluir empresas, entidades sociais, intelectuais,

estudantes, empresários, políticos, militares, sindicalistas, jovens, pessoas da terceira idade,

portadores de deficiência, homens e mulheres, tanto usuários como, principalmente,

produtores de conhecimentos. Nessa busca pela inclusão digital, podemos nos deparar com

problemas como a impossibilidade de nem todos terem acesso à Internet, devido ao fato de

não possuírem linha telefônica. O problema econômico faz parte da realidade do Brasil e

dos países da América Latina, onde as camadas populacionais de menor ingresso

econômico, são as mais atingidas pelos desníveis sócio-econômicos.

No caso peruano, por exemplo, se pode comprovar que em muitas cidades o

acesso às novas tecnologias da informação e comunicação é um assunto do futuro, mas

como em muitos países da América Latina a informalidade atingiu também esse setor.

Atualmente, as cabines públicas estendidas em todos os bairros de Lima e outras cidades,

têm resultado numa fórmula “eficaz” e massiva para o acesso público à Internet, pelo baixo

custo de aluguel por hora.

Indubitavelmente, as crianças e jovens de níveis sócio-econômicos mais altos

exploram de maneira mais intensa e proveitosa os recursos das novas tecnologias, porque

disponibilizam em seus lares desses aparelhos, mas, sobretudo, pelo grau de eficiência que

se está obtendo nas escolas a instrumentalização pedagógica do computador.

48

Outra questão a ser enfrentada é a falta de interesses dos poucos representantes do

povo no que se refere à coordenação de atividades que possam disseminar a inclusão

digital. O mero acesso às tecnologias digitais não é suficiente para incluir os excluídos

digitais. Não basta disponibilizar um computador, se a maior parte da população não tem

renda que assegure o pagamento da assinatura de um aparelho de telefone, e assim não há

possibilidade de acessar a Internet e trocar informações com outras pessoas em busca do

conhecimento.

O computador, a inclusão digital e a interação de ambos com o processo de

aprendizagem não devem ser abandonados. O aluno, ou “ciber-aluno”, através de “aulas

tecnologicamente digitalizadas”, poderá compreender o verdadeiro significado de tudo

aquilo que faz o produz, tornando-se agente transformador de seu próprio conhecimento e

capaz de resistir a manipulações e pressões externas que lhe forem impostas por déspotas

ou ditadores inescrupulosos.

O papel da mídia eletrônica – adquire na contemporaneidade alto relevo. Sua

complexidade atinge etnias, gêneros, em fim, a cultura de massas e o entretenimento têm

atualmente inquestionável força na sociedade. No passado, quando se cunho o termo

“quarto poder”, no sentido progressista, do avanço no pensamento social, pensava-se que

serviria como contraponto fiscalizador dos poderes constituídos – segundo relata uns dos

maiores especialistas no tema, o jornalista francês Ramonet.

Com o devir, e a crescente maquinação, a mídia tornou-se parte do poder. Perdeu sua

“autonomia”, “objetividade”, pelos interesses das elites e faz parte do jogo manipulador do

grande capital financeiro, caso evidenciado no atual cenário político que envolve o

presidente venezuelano Hugo Chávez, onde essa força manipuladora atuante enfrentou os

poderes políticos, com o intuito de derrubá-lo.

49

Assim, a mídia eletrônica manipula mentes, uniformiza pensamentos e condiciona

comportamentos, com mais rapidez e eficácia que as mídias tradicionais. Isto é feito sutil,

requintado – através de meias verdades, notícias fora dos contextos, fatos sem vínculos

com o passado, flashes instantâneos, aparência encobrindo a essência. Além disso, a

diferença do passado, a mídia está incorporada ao mundo do capital, as tecnologias

aceleram o processo.

Nesse parâmetro, também, as mídias eletrônicas com toda a sua carga semântica

criam espetacularizam o cotidiano das camadas sociais mais baixas, atuando como

“lâmpada maravilhosa”, através dos spots publicitários que surgem dessas mídias, criando

falsas expectativas. Aqueles são sintomas de uma sociedade descontenta.

Perante tais fatos criam-se suportes ou “janelas” como válvulas de escape, para

entrar no cotidiano, às vezes desanimadoras deste novo século, ou, como afirma Debord

em A sociedade do espetáculo: “O espetáculo domina os homens vivos quando a economia já

os dominou totalmente. Ele nada mais é do que a economia desenvolvendo-se por si

mesma”.19

A capacidade de manipular – das mídias atuais - se manifesta até nas palavras usadas.

O próprio termo globalização vendido como sinônimo de um mundo sem fronteiras e de

plena harmonia, visa ofuscar a crescente barbárie capitalista. Outra palavra muito em voga

reforma, tem seu conteúdo mistificado. Nos discursos do passado, ela caracterizava os

imaginários progressistas, identificados com as aspirações cidadãs; hoje expressa a regressão

neoliberal, a negação do direito. Como diz Canclini (1998): “[...] só é cidadão quem

consome [...]”, referindo-se à inserção dentro da nova fase do capitalismo globalizante.

Em tempos de globalização neoliberal e de regressão civilizacional, o poder da

mídia só se agigantou. No mundo inteiro, o capital desregulamenta as leis que restringem o

19 RIVITTI, Thais. Dois caminhos para a arte. In: O espectador no poder número 2. Centro Maria Antonia, São Paulo: 2004, p.18.

50

monopólio dos meios de comunicação. A mídia se entrelaça com os conglomerados

financeiros e se identifica com as idéias mais fascistóides. O imperialismo estadunidense,

numa ordem unipolar amplifica sua ideologia, pois, a guerra fria, não existe mais.

Segundo recente relatório de uma Comissão Especial da ONU, 85% das notícias que

circulam no planeta são geradas nos Estados Unidos. Cerca de duas dezenas de grupos

midiáticos, com receitas entre, US$ 5 bilhões e US$ 30 bilhões, veiculam dois terços das

informações disponíveis no mundo.

Conforme comenta Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique:

[...] a concentração empresarial e a falta de pluralidade na cobertura jornalística tornaram os meios de comunicação os principais meios poluentes da democracia. A globalização econômica criou conglomerados mediáticos e o objetivo de informar foi diluído entre outros interesses. Eles se unem ao poder para oprimir ao cidadão, este que antes era oprimido somente pelo Executivo, agora também é oprimido pelo mediático.20

Dois episódios recentes, a agressão ao Iraque e a conspiração golpista na Venezuela,

são emblemáticas desta poderosa distorção.

Esse alto poder de manipulação inclusive ajuda a entender o êxito ideológico do

neoliberalismo. Apesar do fragoso fiasco no terreno econômico o projeto neoliberal

conseguiu envolver importantes setores da sociedade, inclusive parcela dos trabalhadores.

Como explica Atílio Borón, no texto sobre mercados e utopias: a Victoria ideológico-cultural do

neoliberalismo, “a criação do senso comum penetrou nas crenças populares, com a mídia

produzindo uma lavagem cerebral que gerou conformismo diante dos ataques”. Mas, como

afirma, esta vitória é temporária, é pírrica, não existe as contradições com próprio sistema

capitalista. Ele lembra uma bela citação de Rosa Luxemburgo: “quanto mais negra a noite, mais

brilham as estrelas”.

20 BORGES, Altamiro. A luta contra o “latifúndio” da mídia. Disponível em: http://geocities.yahoo.com.br/ carlos.guimaraes/midiapower.htm. Acesso em: 23 de julho de 2004.

51

A capacidade manipuladora dessa mídia altamente concentrada, conforme se

mostrou, é brutal. Mas não invencível. Hoje a luta pela democratização dos meios de

comunicação adquire caráter estratégico. Conforme afirma Herz, dirigente nacional pela

democratização da comunicação “[...] sem enfrentar a disputa pela comunicação, nenhum

estado, partido o setor social está habilitado a atingir seus objetivos estratégicos [...]”. Nesse

sentido, é preciso intensificar a luta de idéias na sociedade. Este frente, que já era decisiva

na luta de classes, como ensinou Lênin e reafirmada pela filósofa Marilena Chauí, quando

disse: “[...] por trás da crise, está a luta de classes [...]”,21 ganha ainda maior relevo na

atualidade.

21 Chauí, Marilena. In: Revista Caros Amigos. Ano IX, No. 184, nov. São Paulo: Editora Casa Amarela, 2005, p. 30.

52

Capítulo 2 - AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO (NTICs) E SEUS ALCANCES.

2.1 Abrangência das NTICs na aprendizagem e na cultura

A tecnologia sempre constituiu um suporte primordial para auxiliar ao homem. Sob

esta premissa, afirmamos que desde os primórdios da humanidade a tecnologia esteve

presente em formas e estilos incipientes apoiando e facilitando a vida dos seres humanos

gradativamente.

Figura 2 – Pedra lavrada: primeira ferramenta do homem

Os primeiros instrumentos fabricados em pedra foram parceiros insubstituíveis por

muitos séculos, desse ser que surgiu na face da terra sem nenhuma proteção a não ser suas

próprias mãos, unhas e dentes. Aquele homem, indefenso perante uma natureza agreste e

selvagem, precisava com urgência elaborar ferramentas mais seguras e resistentes para se

defender dos predadores e garantir a sobrevivência, através da caça, o trabalho da terra e,

com isso, atingir o desenvolvimento em comunidade.

A melhoria dos instrumentos rudimentares e invenção de outros cada vez mais

sofisticados foram alavancas que impulsionaram o homo sapiens a transformações aceleradas,

até conseguir, atualmente, um alto grau de desenvolvimento científico tecnológico.

53

Figura 3 – O mouse: a nova ferramenta do homem

Nesta época há um re-encantamento pelas tecnologias, porque participamos de

uma interação cada vez mais intensa entre o real e o virtual. Comunicamo-nos realmente e ao

mesmo tempo nossa comunicação é virtual. Por exemplo, no meu caso, eu permaneço aqui

no NICA (Núcleo de Informática em Comunicações e Artes da ECA), “navego” sem

mover-me, analiso dados que já estão prontos, além de conversar com pessoas que não

conheço e, talvez nunca verei ou encontrarei.

O referido re-encantamento consolida-se porque estamos numa fase de re-

organização em todas as dimensões da sociedade, do econômico ao político; do

educacional ao familiar. Percebemos que os valores estão mudando, já que o referencial

teórico com o qual avaliávamos não consegue dar-nos explicações satisfatórias como antes.

Com efeito, estamos na transição para uma nova etapa da sociedade - com variadas

nomenclaturas -, por causa dos avanços tecnológicos que imprimem seu selo na

cotidianidade dos setores sociais infoincluidos.

Cada tecnologia modifica algumas dimensões da nossa inter-relação com o mundo,

da percepção da realidade, da interação com o tempo e o espaço. Cada inovação

tecnológica bem sucedida modifica os padrões através dos quais lida com a realidade

anterior, mudando o patamar de exigências de uso. Uma mudança significativa é a

54

necessidade de comunicarmos através de sons, imagens e textos, integrando mensagens e

tecnologias multimídia, a extremo de estarmos passando dos sistemas analógicos de

produção para os digitais.

Com as NTICs, “a comunicação torna-se mais sensorial, mais multidimensional,

mais e mais linear”22. Com o aperfeiçoamento da realidade virtual, simulando todas as

situações possíveis, exacerbamos a nossa relação com os sentidos e a intuição. Contudo,

nossa mente é a melhor tecnologia, infinitamente superior em complexidade ao melhor

computador, porque pensa, relaciona, sente, intui e pode surpreender com algum raciocínio

inédito.

Por outro lado, a investigação do fenômeno tecnológico pode se organizar em dois

níveis: o primeiro reúne as teorias que entendem a técnica como uma solução de problemas;

o segundo revela a técnica como um processo de invenção de problemas. No primeiro nível

temos autores como: W. Kolher, A. Leroi-Gourham e McLuhan. Tais autores apóiam-se

explicitamente na teoria da projeção orgânica, que considera o objeto técnico um

prolongamento do organismo ou de suas ações. Tendo como finalidade ampliar a

capacidade de ampliar o corpo biológico e superar seus limites. Exemplos: o telescópio e o

microscópio superam os limites do olho humano. O computador seria o cérebro eletrônico

– maximiza a inteligência e a memória - “Os computadores são tecnologias que atuam

como Próteses Cognitivas”.23

No nível de invenção de problemas, em sentido variado – dificuldades, obstáculos,

resistências, tarefa a cumprir; etc. - quando acontece a introdução de novas tecnologias no

ambientes de trabalho, os usuários convertem-se em palco dos mais variados sentimentos:

impotência, medo, bloqueio, rejeição, resistência, repulsa, etc. Atualmente esta posição é

22 MORAN, José Manuel. “Novas Tecnologias e o Reencantamento do mundo”. In: Tecnologia Educacional, Rio de Janeiro, set./out. v.23, n. 126, 1995, p. 24-26. 23 KASTRUP, Virginia. “Novas Tecnologias Cognitivas: o obstáculo e a invenção”. In: PELLANDA, N.M.C; PELLANDA, E., Cyberespaço um hipertexto com Pierre Lévy. Porto Alegre: Artes e ofícios, 2000, p.38-40.

55

defendida de modo consistente por Pierre Lévy, abordada e orientada pela distinção

bergsoniana da caracterização entre o virtual e o atual, (BERGSON, 1990, p.11).

A tecnologia mostrou, que “não economiza tempo, mas leva a maior produtividade.

Não torna as coisas simples, mas permite fazer coisas complexas de maneira simples”.24

Sem as poderosas tecnologias comunicacionais atuais, a globalização não teria sido

possível. As conseqüências dessas tecnologias para a comunicação e a cultura são

remarcáveis. Estamos entrando numa revolução da informação e da comunicação sem

precedentes chamada de revolução digital (som, imagem, vídeo, texto, programas

informáticos) com a mesma linguagem universal, isto é, uma espécie de “esperanto das

máquinas25”.

Os fatos mundiais (ataque às torres gêmeas de Nova Iorque, cerimônias pela morte

do Papa, os efeitos do Tsunami, os Jogos Olímpicos de 2004, etc.) foram assistidos de

modo simultâneo em todo o mundo, sintetizando-se o uso das novas tecnologias aplicadas

principalmente à Informação. Estas profundas mudanças forjam novas concepções nas

Ciências Humanas como as de indivíduo, memória, leitura, escrita, Inteligência Artificial

(IA) e outros códigos dessa nova forma de linguagem. É nas Ciências Humanas onde as

novas tecnologias buscam seus refúgios, pois, a técnica sempre emerge de um contexto

social, e uma historicidade, não sendo um sistema autônomo separado do homem.

As Tecnologias da Informação modificam as relações do homem com seu passado,

seu futuro e sua memória, mais do que qualquer época altera a percepção do tempo e do

espaço, bem como o imaginário de uma sociedade acenando para uma realidade virtual. As

NTICs trazem em si a idéia de que é possível universalizar o conhecimento, neutralizando

as diferenças humanas e sociais. Nessa utopia do futuro, a informática não é apenas

tecnologia, pois se trata de uma nova linguagem capaz de oferecer certas memórias

24 FIGUEIREDO, Nice M. de P. Paradigmas modernos da Ciência da Informação. São Paulo: Polis/ ABB, p. 11, 1999. 25 SANTAELLA, Lúcia. “A crítica das mídias na entrada do século XXI”. In: MARCONDES FILHO, C. Críticas das Práticas Mediáticas: da Sociedade de massa às ciberculturas. São Paulo: Hacker Ed., p. 51, 2002.

56

informacionais automatizadas, com a introdução de mudanças na construção da memória

do homem contemporâneo e a criação de um novo sentido de individualidade.

Atualmente, a introdução e disseminação da tecnologia digital no campo da

informação acarretam modificações profundas na maioria das atividades da sociedade

moderna, tais como no trabalho, na educação, na arte, na saúde, na cultura e no lazer, entre

outras. A plataforma inicial dessa revolução é o uso em grandes proporções do

computador e da Internet, que se expandem vertiginosamente a partir da constatação, pela

sociedade, de que não se trata apenas de uma ferramenta confinada ao uso exclusivo dos

cientistas.

Utilizam-se essas tecnologias para ampliar nossos sentidos cerebrais e capacidades,

(SANTAELLA, 2000, p. 73). Aquelas novas tecnologias estão desenvolvendo um papel

fundamental na configuração da sociedade, criando “redes”, (CASTELLS, 1999, p. 89) e

estruturando uma outra cultura diferente à “cibercultura”, (LÈVY, 2000, p. 37)

As profundas mudanças tecnológicas têm oferecido um leque de opções

metodológicas que podem influenciar na prática educativa. A utilização dessas novas

tecnologias, em especial da informática, como ferramenta no processo de mediação

pedagógica tornou-se a cada dia um instrumento bastante acionado nas salas de aula nos

diversos níveis de ensino.

Diferentemente, nos ambientes integrados por essas novas tecnologias, a

construção se dá pelo processamento da informação de várias formas de linguagens

simultâneas, chamadas sistemas multimídicos. Nestes novos ambientes, a construção dos

conhecimentos acontece de forma mais aberta, integrada e multisensorial, o que torna a

busca dos conhecimentos, muito mais atraente e complexo. Neste aspecto, é importante

uma maior análise da chamada teoria da flexibilidade cognitiva (TFC)26 que subsidia e

26 A Teoria da Flexibilidade Cognitiva foi proposta na década de 80 por Rand Spiro e colaboradores. É uma teoria da aprendizagem, da representação e da instrução. O desenvolvimento da flexibilidade cognitiva requer múltiplas representações do conhecimento, que favorecem a transferência do conhecimento para novas

57

reforça a importância da utilização dessas novas tecnologias, e, por conseguinte, desses

novos ambientes de aprendizagem.

A necessidade de se retomar os estudos sobre as NTICs, agora não mais a partir de

sua simples aceitação ou condenação, é cada dia mais urgente. A análise dessas NTICs, a

partir das suas contradições - especialmente em alguns casos, como o brasileiro, onde a luta

pela tecnologia nacional significa também a luta pela soberania nacional – não pode ser

considerada uma tarefa menor. Sua inserção nos debates sobre cultura e sociedade tem

conduzido a uma visão quase idealizada da cultura, porque é isenta de suas formas e

condições de produção.

A simples análise ideológica das mensagens deixando de lado questões irrelevantes

como o próprio meio e o receptor da mensagem, tem sua origem “nos pseudos-

humanismos que, em nome de uma visão ultrapassada de cultura, ignoram que as novas

formas de produção da informação e comunicação alteram profundamente o quadro

cultural”, Fadul (1986: 19). Os estudos sobre cultura e comunicação no Brasil ainda estão

voltados, em sua maior parte, para os problemas colocados pelos meios tradicionais como

a imprensa, cinema, rádio e televisão, considerados ainda em fase anterior às mudanças

introduzidas pelos computadores, satélites, laser, etc.

Os Meios de Comunicação de Massa incorporaram as NTICs, transformando-as

em mercadorias sedutoras quanto um eletrodoméstico. O computador, o videocassete, as

antenas parabólicas começam a fazer parte da vida cotidiana de grandes setores da

população, tanto em nível de experiências concretas como em nível de representação. As

telenovelas, os anúncios em TV, revistas, etc. mostram o profundo impacto das NTICs no

mundo da cultura, da comunicação, da educação e da sociedade em geral.

situações. Por esses motivos, os princípios das TFC são mais facilmente implementados em ambientes interativos, como é o caso dos documentos hipermídia, e, por conseguinte das novas tecnologias. Dsiponível em:<http://www.planetaeducacao.com.br/professores/suporteaoprof/pedagogia/>. Acesso em: 31de abr. 2005.

58

Devido a sua importância no que se refere à produção das mensagens e do seu

impacto na cultura e na sociedade, as NTICs estão sendo introduzidas aceleradamente nos

currículos das Faculdades de Comunicação ou da Educação, áreas mais diretamente

afetadas. O ensino nessas áreas reflete, às vezes, essa visão antitécnica que, de certa forma,

considera esse tipo de conhecimento como não fazendo parte de cursos com conteúdos

humanísticos, o que conduz a uma oposição falsa e artificial entre humanismo e tecnologia.

Esse distanciamento vem simplesmente mostrar que a universidade está voltada

mais para um passado utópico do que para o presente ou o futuro. Tem sido um privilégio

dos setores mais conservadores da sociedade a preocupação com as NTICs. Os

movimentos engajados nos setores populares com poucas e raras exceções encontraram no

vídeo e no computador importantes instrumentos de trabalho nessa área.

São as empresas privadas ou públicas, quando não autores como McLuhan ou

Viener, que, muitas vezes de forma acrítica, responderam ou estão respondendo aos

desafios colocados pelo desenvolvimento tecnológico nas áreas de cultura, de comunicação

e de educação. Embora os setores acadêmicos participem ou não das discussões sobre esta

nova realidade, as NTICs serão efetivamente implantadas por serem parte da lógica de

expansão e desenvolvimento do sistema capitalista.

Lutar por influir no delineamento de novas políticas públicas de comunicação,

cultura e educação, que incluam essas novas tecnologias é muito mais realista do que

continuar saudosamente voltado para um passado que, embora mais romântico, não serve

mais como ponto de partida para uma intervenção efetiva e concreta na sociedade

contemporânea.

Não esqueçamos que a relação do ser humano com as tecnologias não é apenas

complexa, mas também complementar. Essas tecnologias contribuíram para que o homo

habilis evoluisse aceleradamente para homo sapiens, confirmando em sentido geral que a

pedagogia e a tecnologia sempre foram “elementos fundamentais e inseparáveis da

59

educação”, conforme estudo realizado na dissertação de mestrado, (TANGOA, 2000 p.

27).

Perante o acelerado avanço tecnológico, os professores muitas vezes vêem-se

forçados a serem meros observadores de técnicas computacionais que dificilmente

conseguem assimilar, pois, quando se dilui uma determinando técnica, logo outra é

colocada no mercado tornando a anterior ultrapassada.

A tecnologia tem transformado o ser humano, até o ponto que não somos mais

conscientes de como ela tem contribuído nas mudanças. Só percebemos a tecnologia

quando algo falta ou desaparece temporariamente. O corte de energia elétrica, por

exemplo.

Um simples olhar da temática das múltiplas mídias e suas linguagens na educação, é

reduzi-los exclusivamente a seus aspectos didáticos, e considerá-las somente como um

meio e/ou recurso dos docentes, sem prever as mudanças as quais elas tendem num

contexto global mais avançado. Isto deve servir para reflexionar, e consolidar a

necessidade de redefinir as prioridades e perspectivas dos educadores democráticos,

abertos às inovações com o único propósito de melhorar o processo educativo e cultural da

sociedade.

Desde sua aparição e uso na sociedade, o computador e a Internet estão causando

uma série de fenômenos culturais que chamam a atenção e dos pesquisadores, pela forma

como essas ferramentas e suas novas linguagens audiovisuais, começam a fazer parte do

cotidiano pós-moderno, em que a televisão perde cada vez mais público O que é

evidentemente, primeiro, pela mediocridade, o baixo nível intelectual e cultural das

programações, e segundo, pela maneira como o poder elitista – os novos fazendeiros do

ciberespaço - a utiliza para adestrar valores e comportamentos sociais. Essas mudanças

atingem a escola que sendo uma instituição tradicionalmente oral e livresca não está

preparada para mexer com essa quantidade enorme de informações.

60

Como conseqüência da digitalização da informação, está mudando também o

suporte básico do saber e do conhecimento, pois a geração de crianças e jovens está cada

vez mais influenciada pela televisão e Internet. A instituição universitária tem o

compromisso em dar resposta dessa problemática social através do trabalho acadêmico e

da pesquisa. Pois, nos centos de ensino que tinham por função, entre outras coisas,

proporcionar informação competem atualmente com outra fonte de indiscutível poder de

informação: a Internet. Com essa nova mídia nasceram as comunidades virtuais que agem

como forma de inteligência coletiva e cujas ações científicas, sociais e econômicas deveriam

ser aproveitadas em favor da educação e da cultura.

Diante disto é importante conhecer como esse novo suporte tecnológico-cognitivo,

suas conexões, liberdade de expressão, produções de conteúdos e conhecimentos vêem-se

aplicando nos centros superiores de ensino e os resultados que essas práticas pedagógicas

trarão no futuro.

Tudo isso é importante porque a Internet é diferente às tecnologias anteriores. Ela

veio para ficar e já começou a alterar o comportamento da sociedade, portanto, do ensino.

Com a entrada da Internet na escola, reflete-se sobre seu uso como ferramenta que subsidia

informações paralelas às recebidas nas aulas e atualmente pensa-se numa hibridação dessas

tecnologias que atingem os modos de saber e conhecer espalhados na noosfera, não

ocupando lugar específico - ou “não lugares”27- e afastando o patrimônio do saber como

exclusivo dos intelectuais. Isso implica uma questão: a Internet representaria a

democratização do saber e do conhecimento?

Por outro lado, o fim do século XX marcou o final da cultura material, pelos

caminhos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da

Informação, que é para essa Revolução o que as novas fontes de energia foram para as

Revoluções Industriais anteriores. “As novas tecnologias de informação não são 27 AUGÊ, Marc. Não lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus Editora, 1994.

61

simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos”, afirma

Manuel Castells28. Elas são algo novo e diferente das tecnologias tradicionais que serviam

para aumentar o alcance dos sentidos (braços, visão e movimentos). No entanto, as novas

tecnologias ampliam o potencial cognitivo do ser humano (cérebro/mente) possibilitando

assim mixagens cognitivas complexas. As mídias tecnológicas têm um papel ativo nas

formas de aprender a conhecer.

Aliás, “[...] todas as mídias, desde o jornal até as mídias mais recentes, são formas

híbridas das linguagens, isto é, nascem da conjugação simultânea de diversas

linguagens[...]”.29 A Internet, por ser um instrumento de comunicação, tem uso

diversificado, porque sendo a pedagogia um como transmitir informação, e tendo em vista

uma filosofia e uma teoria, este instrumento se insere diretamente no âmago da pesquisa.

Uma outra questão poderia ser: o emprego de um livro, um jornal, um vídeo, um

computador ou até uma simples fotografia significa modificar a relação aluno-conhecimento,

aluno - professor e a relação escola-sociedade.

As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs), além de

proporcionar rápida difusão de materiais didáticos de interesse para os professores e

alunos, permitem, entre outras possibilidades, a construção interdisciplinar de informação

produzida individualmente ou em grupos por parte dos alunos geograficamente dispersos

ou através de desenvolvimentos colaborativos de projetos e a permuta de projetos didáticos

entre professores.

2.2. As NTICs e o discurso tecnológico no Brasil

No Brasil, país emergente, a implantação das NTICs não representa hoje uma

possibilidade, mas uma realidade concreta. Nesse sentido abordaremos as perspectivas, os

limites e os impactos dessas tecnologias. 28 CASTELLS, Manuel. A sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p.49 29 SANTAELLLA, Lúcia. Cultura das Mídias. São Paulo: Experimento, 2000, p.42

62

Esse novo cenário tecnológico introduzido pelos sistemas de telecomunicações e

de informática no Brasil exige uma postura distinta em cada país, devido aos avanços e

conquistas nesses setores, tendo como pano de fundo o dilema tecnológico enfrentado

pelos países do Terceiro Mundo, entre os quais o Brasil está em situação privilegiada.

O processo de implantação das NTICs no Brasil está acontecendo de forma

vertical, sem grandes discussões, sob a batuta principal do setor privado (transnacional ou

nacional) com o governo excessivamente fechado em certos casos e omisso em outros. No

Brasil não existe um claro planejamento, muito menos um planejamento participativo.

As atuais competições no mercado internacional estão definitivamente relacionadas

com a introdução das linhas de produção que permitem redução de custos em seus

produtos. Entretanto, se o impacto dos robôs no nível do emprego é bem menor que na

maioria dos outros ramos da informática como, por exemplo, a automação das atividades

no setor de serviços, estes foram os responsáveis por desencadear a discussão sobre os

impactos da automação na sociedade, em praticamente todos os países.

O dilema hoje enfrentado no Brasil resulta do fato de que não sendo mais um país

agrícola artesanal, não pode perder mercados duramente conquistados. Porém, o aspecto

mais importante do impacto social tem de ser o das relações de poder e controle social que

surgem de toda inovação tecnológica.

O Brasil acompanha tardiamente, a evolução das nações líderes ocidentais. O

Sistema de Ciência e Tecnologia brasileiro era incipiente quando se cristalizou a mudança

de postura do Estado no período pós-guerra. O apoio público sistemático à atividade de

pesquisa organizada ocorre a partir da década de 1950, com a criação de instituições de

auxilio à pesquisa (CNPq e CAPES).30

Ainda assim, esse sistema era de pequeno porte até o final da década de 1960. Uma

verdadeira idade de ouro para a Ciência e a Tecnologia apenas ocorrerá na década 30 CNPq: Conselho Nacional de Pesquisa Científica. CAPES: Coordenadora de Aperfeiçoamento e Pesquisa do Ensino Superior

63

subseqüente, com a formação de numerosos institutos públicos e a promoção da pós-

graduação nas universidades públicas. O sistema tecnológico brasileiro assume uma

dimensão próxima da atual durante esse período.

A partir dos anos 80, o sistema tecnológico brasileiro sofre um estado estacionário,

com grandes oscilações devido às crises cíclicas da economia brasileira. Mas isso não

impediu que as instituições públicas de pesquisas, principalmente acadêmicas, iniciassem

importantes transformações devido ao amadurecimento dos investimentos iniciados

durante a década de 1970.

A política científica e tecnológica brasileira deu menor ênfase aos programas

tecnológicos do que em países desenvolvidos. A chamada Big Science ocupou menor espaço

no país e a Big Technology - que recebeu forte apoio durante os governos militares com os

programas aeroespaciais, militares e nucleares - perdeu progressivamente espaço a partir do

processo de redemocratização do país.

Entretanto, a política científica e tecnológica teve um viés aplicado na pesquisa,

desde seu início, no começo do século XX. As aplicações nas áreas da agricultura e da

saúde sempre ocuparam um papel de destaque, e são até hoje das mais expressivas nesse

campo do conhecimento. A pós-graduação foi a dimensão mais bem-sucedida da política

cientifica e tecnológica brasileira, apesar da crise econômica que afligiu o país, levando a

uma estabilização dos recursos financeiros. O número de alunos titulados e de trabalhos

científicos produzidos aumentou substancialmente durante as décadas de 80 e 90. O Brasil

aumentou sua participação na produção científica internacional de 0,44%, em 1981, para

1,55%, em 2002.31

O padrão de política científica e tecnológica, construído durante a fase militar,

sofreu uma grande inflexão no setor industrial com a privatização das estatais e as quebras

31 Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), indicadores de Ciência e Tecnologia, Produção Científica. Disponível em:<www.mct.gov.br>. Atualizado em 28/10/2003. Fonte: Furtado, André, Novos Arranjos produtivos, estado e gestação da pesquisa pública. In: Revista da SBPC, ano 57, No. 1, jan/fev/março, 2005, p.44.

64

dos monopólios, ocorridas na década de 90, em setores de infra-estrutura. Com isso, os

laboratórios públicos associados a essas empresas perderão os seus elos privilegiados e

enfrentarão crescentes problemas de sustentabilidade financeira.

Para contrabalançar essa tendência, o governo federal, entre 1993 e 1994, tomou a

iniciativa de aumentar o gasto público em Ciência e Tecnologia, por intermédio de agências

como a Capes, CNPq, Finep; junto com alguns governos estaduais, conservou essa

tendência. As novas modalidades de fomento surgidas nesse período enfatizam a relação

entre universidade e empresa.

Hoje, a política científica e tecnológica brasileira está enfrentando dificuldades

ainda maiores do que nos países desenvolvidos devido à falta de perspectiva de

crescimento da economia. Tanto os grandes programas tecnológicos (espacial e militar)

quanto as modalidades de fomento a projetos cooperativos (universidade-empresa)

carecem de base de sustentação financeira por parte do setor público. Ainda assim, o

fomento a projetos cooperativos entre universidade-empresa passa a dominar a agenda de

país. Mesmo a FAPESP32, uma agência estadual paulista voltada ao apoio à pesquisa

acadêmica, incorpora essas novas modalidades de fomento.

Uma maneira de perceber estas questões é analisando as inter-relações de

comunicação na sociedade, uma vez que “na maioria dos casos, a sociedade é tanto

observável como constituída por tais relações e atividade discursivas” 33. Esta posição foi

examinada e demonstrada amplamente por Jurgëm Habermas e Michel Foucault, que

sustentam serem as relações de poder em uma sociedade ao mesmo tempo refletida e, pelo

menos parcialmente, constituídas por regras comunicacionais e discursivas.

A estrutura intrínseca das comunicações, através da tecnologia desenhada nos

computadores, está feita para permitir que certas sociedades e seus discursos exerçam o

32 FAPESP: Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo. 33 FINLAY, Marike. “Poder e controle nos discursos sobre as novas tecnologias de Comunicação” In: FADUL, Ana M. (org.). Novas Tecnologias de Comunicação, impactos políticos, culturais e socioeconômicos. São Paulo: Summus, 1986, p. 49.

65

poder, mantendo a vantagem da posse do conhecimento para exercitar o poder e o direito

de realizar certas práticas da comunicação. A demonstração de Foucault, segundo o

conhecimento clássico, derivou seu poder excluindo a muitos outros cidadãos do discurso

do conhecimento. Esta demonstração pode ser aplicada também aos sistemas de rede.

Dada a superposição das pressuposições comunicacionais que operam nos

discursos sobre as NTICs, com as regras comunicacionais das NTICs em si mesmas,

podemos afirmar que tal conhecimento – episteme – foi identificado nos procedimentos do

saber como fazê-lo ou realizá-lo, isto é, como um conhecimento instrumental. Sendo assim,

não encontramos nenhuma forma de conhecimento na discussão do impacto social das

NTICs que se pudesse afastar daqueles procedimentos muito técnicos.

Devido às semelhanças marcantes que existem entre os procedimentos discursivos

do conhecimento, que acompanha a ciência clássica e o liberalismo na era industrial, e os

procedimentos dos discursos sobre as NTICs e ela mesma, pode-se concordar que não

existe uma resolução das telecomunicações. A pesar das mudanças no produto nacional,

não houve mudanças nas práticas e regras de interação social comunicacional a partir da

sociedade industrial.

A revolução das comunicações e a sociedade pós-industrial são slogans destinados a

destruir nossa atenção dos problemas urgentes da sociedade industrial. São ruídos que

obscurecem outras mensagens sociais. Isto parece razoável, porque, se existisse uma

revolução das comunicações, nossas formas de atuar na sociedade também deveriam de ter

mudado. A superposição dos discursos que descobrimos nos discursos sobre as NTICs, e

os que procedem dela mesma, estabelecem discursos não substancialmente diferentes dos

praticados na era industrial.

Como Foucault mostra, muito dos procedimentos da comunicação na ciência

clássica foram desenhados como medidas de controle social e reforçado das relações

66

desiguais de dominação. As NTICs foram apresentadas ao público frente às regras do jogo

comunicacional determinado pelos técnicos e burocratas.

Por outra parte, os sistemas e os processos produtivos, organizados em grande

escala para fabricar quantidades de produtos padronizados, estão mexendo com a introdução

crescente de equipamentos e processos microeletrônicos. As novas máquinas e

equipamentos todos controlados por computadores, realizam as tarefas mais rápidas, de

forma mais eficiente e, portanto, a menor custo, pois consomem menos materiais, menos

energia, exige menos espaço e dispensam mão de obra.

Ao mesmo tempo, a linguagem do computador – o software cada vez mais

complexo – dificulta o acesso à informação relevante para a mão-de-obra menos

escolarizada e treinada, agravando a polarização entre o saber e o fazer.

As NTICs que penetram, e se difundem através de todos os setores da economia e

da sociedade, exigem informações e acesso a elas, sem o qual é impossível obter e manter

emprego. Contudo, a informação não leva necessariamente ao conhecimento e o aumento da

quantidade de informações, já que a falta de um método de integração tende a aumentar a

confusão e as dificuldades de processamento.

Nesse sentido as novas tecnologias (CAD/CAM/SFF)34, computador e

processador de texto parecem oferecer grandes vantagens, permitindo o processamento,

armazenamento e recuperação de dados e informações consideradas relevantes.

Paradoxalmente a operação e manipulação dos equipamentos microeletrônicos, por mais

que forem aclamadas como instrumentos-chave de uma futura era de bem-estar

generalizada, não nos proporciona um sentido ou direção de seu desenvolvimento nem

uma justificativa do seu dinamismo. Na verdade para enfrentarmos os desafios existentes

da era da microeletrônica, precisamos de sabedoria e responsabilidade.

34 CAD: Computer Aided Design, CAM: Computer Aided Manufacturing, SFF: Sistema de Fabricação Flexível.

67

Com o uso exagerado do computador ocorre uma perda da função da memória,

assumida crescentemente pelos chips e discos magnéticos. Da mesma forma, perde-se a

habilidade manual não somente para os robôs, mas, sobretudo, pela redução das operações

ao simples ato de apertar teclas e botões. Esse perigo de atrofiamento das características

essências do ser humano, bem como a sua natureza de homo faber não se manifesta apenas

nas fábricas e nos escritórios. Interesses comerciais tão poderosos quanto inescrupulosos

forçam a entrada e inundam com suas publicidades centros de ensino e lares, instigando

educadores e pais a adquirir essas tecnologias “indispensáveis” para a formação e o futuro

dos estudantes.

Assim, em vez de se tornar uma ferramenta útil para os estudantes, o computador é

cada vez mais um símbolo de status, posto que a proliferação de tipos, modelos, programas

e linguagens diferentes tornam praticamente impossível um plano pedagógico a médio ou

longo prazo. Uma prova disso é que o uso de computador não permitiria o salto qualitativo

dos analfabetos. Ao contrário, provavelmente, aumentaria ainda mais o fosso que separa as

elites da maioria do país, o que diminui claramente as opções para uma política educacional.

2.3. Contribuições das NTICs para o conhecimento

Figura 4 – Aparelhos usados para o ensino e pesquisa

68

Desde sua aplicação, na década de 80 - 1984 especificamente-, o computador

começa a ser visto como uma ferramenta de trabalho indispensável para a comunicação

social – as NTICs assumem grande importância para o acesso e renovação de

conhecimentos. No entanto, aqui, encontramos controvérsias entre alguns autores, quando

se trata de destacar a diferença existente entre dados, informações e conhecimentos.

Porém, não existe propriamente um consenso quanto à diferenciação ou definição entre

esses três conceitos, pois consideramos que dados são pré-requisitos para a informação, e esta

é pré-requisito para o conhecimento. Entre eles encontramos, aliás, uma seqüência lógica.

Apesar de que as NTICs não resolvem todos os problemas do trabalho com o

conhecimento explícito,porém, seus usos e potencialidades contribuem no

encaminhamento de significativa parte da solução desses problemas, sem chegar a se

pensar que constituam uma panacéia que “resolve tudo”. As NTICs são “fundamentais

para a combinação dos conhecimentos explícitos mas não contribuem significativamente

com o formato tácito do conhecimento.”35

Por outra parte, descobriu-se que estudos cognitivos de culturas orais, nas quais a

escrita linear fonética não existia ou possuía pouca significância social, tem evidenciado

como algumas características do pensamento, que eram atribuídos a estágios mais

avançados da própria natureza humana, são advindas da utilização da escrita como uma

tecnologia intelectual. Esses estudos defendem a tese de que as tecnologias intelectuais, tais

como a oralidade e a escrita, modificam a ecologia cognitiva de uma comunidade ao

possibilitar a ampliação, a restrição ou mesmo a supressão de determinadas atividades

cognitivas.

Diante de tais enunciados, com quais ferramentas contamos para organizar

informações no intuito da constituição de uma posição crítica/criativa de interação entre

tecnologia e conhecimento? Como as NTICs participam do conhecimento? Segundo Piaget 35 DA SILVA, Sérgio Luis. “Gestão de Conhecimentos: Uma revisão crítica orientada pela abordagem da criação do conhecimento”. In: Ciência da Informação, v. 33, n. 2, maio/ago, Brasília: 2004, p. 148.

69

(1982), o primeiro organizador é a ação, a própria atividade. Segundo Vygotsky (1987) é o

contexto sócio-histórico-cultural, dicotomias que explicam o processo do conhecimento.

A origem da mudança, que ocorre no homem ao longo do seu desenvolvimento,

está vinculada às interações que acontecem entre o sujeito e a sociedade, a cultura e a sua

história de vida, além das oportunidades e situações de aprendizagem que promovem este

desenvolvimento, ponderando acerca das várias representações de signos, instrumentos,

cultura e história, propiciando o desenvolvimento das funções mentais superiores.

Por enquanto, encontramos que as tecnologias podem interagir com o sistema

cognitivo principalmente sob duas formas:

a) Quando transformam a configuração da rede social de significação, cimentando

novos agenciamentos e possibilitando novas pautas interativas de representação e

de leitura do mundo;

b) Quando permitem construções novas, constituindo-se em fontes de metáforas e

analogias.

Estudos recentes revelam que o uso de tecnologias, para o entretenimento das

crianças e adolescentes - videogames, DVD, televisão ou jogos on line na Internet – são

altamente positivos e responsáveis pelo progressivo aumento do QI (Quociente de

Inteligência) médio das populações de muitos países, incluindo-se o Brasil.

Nos países do primeiro mundo o QI cresce à razão de quatro pontos por década. No

Brasil, ele aumentou em 20 pontos desde a década de 70. O fenômeno costuma ser

atribuído, em parte, aos avanços na área da saúde e à melhoria nos padrões de alimentação,

mas o fator cultural é considerado igualmente decisivo. “Com o avanço da tecnologia e dos

meios de comunicação nas últimas décadas, a carga de informação e a diversidade de

70

estímulos aumentaram muito, o que vem tornando os jovens mais inteligentes” diz Daniel

Fuentes neuropsicólogo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.36

O conceito de tecnologia da inteligência, introduzido por Pierre Lévy (1997), é central

para se pensar o conhecimento como sendo uma ecologia e um universo de interações

múltiplas, que tem sua gênese no coletivo, tanto no homem quanto no ambiente e as

coisas. Nesse sentido, o homem e a técnica não podem ser dissociados, pois, ser, fazer e

conhecer, constituem-se em um único processo que resulta na subjetividade.

Para Lévy (1997) a tecnologia possibilita um espaço relacional que, em

circunstâncias específicas, é interpretada e/ou empregada por determinado grupo social. A

presença de determinada técnica promove certos ritmos sobre as associações e

representações que estão sobre a sua influência.

Nessa linha de raciocínio, encontram-se os biólogos Humberto Maturana (1999) e

Francisco Varela, os quais desenvolvem estudos sobre o processo cognitivo a partir da

biologia, aproximando cada vez mais os conceitos dos sistemas de seres vivos, a autorganização e

a interação entre conhecer, fazer e ser.

Para Maturana e Varela, o mundo não é anterior à nossa experiência. Nossa

trajetória de vida nos faz construir nosso conhecimento do mundo, mas este também

constrói seu próprio conhecimento a nosso respeito. E mesmo que de imediato não o

percebamos, somos sempre influenciados e modificados pelo que experimentamos. Por

isso, para mentes condicionadas como as nossas não é nada fácil aceitar esse ponto de vista,

porque ele nos obriga a sair do conforto e da passividade de receber informações vindas de

um mundo já pronto e acabado. A idéia de que o mundo é construído por nós, num

processo incessante e interativo, é um convite à participação nessa construção.

Maturana e Varela mostram a idéia pela qual o mundo não é pré-dado, já que o

construímos ao longo de nossa interação com ele, não apenas teórica. Esta ideia apóia-se 36 SOUZA, Okky de & ZAKABI, Rosana. Especial. Imersos na Tecnologia – e mais espertos. Disponível em: <http://veja.abril.com.br>. Acesso em: 07 de janeiro de 2006.

71

em evidências concretas. As teorias deles constituem uma concepção original e desafiadora,

cujas conseqüências éticas agora começam a serem percebidas com crescente nitidez. A

vida é um processo de conhecimento; é necessário entender como os seres vivos conhecem

o mundo e todo esse processo que eles chamam-no de biologia da cognição.37

O modo como se dá o conhecimento é um dos assuntos que há séculos instiga a

curiosidade humana. Desde o Renascimento, em suas diversas formas, tem sido visto como

a representação fiel de uma realidade independente do conhecedor. Ou seja, as produções

artísticas e os saberes não eram considerados construções da mente humana. Com alguns

intervalos de contestação (como aconteceu logo ao início do século XX, por exemplo), a

idéia de que o mundo é pré-dado em relação à experiência humana é hoje predominante –

e isso talvez mais por motivos filosóficos e econômicos do que propriamente por causa de

descobertas científicas de laboratório.

Segundo essa teoria, nosso cérebro recebe passivamente informações vindas já

prontas de fora. O conhecimento é apresentado como o resultado do processamento

(computação) de tais informações. Em conseqüência, quando se investiga o modo como

ele ocorre (isto é, quando se faz ciência cognitiva), a objetividade é privilegiada e a

subjetividade é descartada como algo que poderia comprometer a exatidão científica.

Tal modo de pensar se chama representacionismo, e constitui o marco epistemológico

prevalecente na atualidade em nossa cultura. Sua proposta central é a de que o

conhecimento é um fenômeno baseado em representações mentais que fazemos do

mundo. A mente seria, então, um espelho da natureza. O mundo conteria “informações” e

nossa tarefa seria extraí-las dele por meio da cognição.

Como aconteceram com muitas outras, essa posição teórica produziu

conseqüências práticas e éticas. Veio, por exemplo, reforçar se a crença de que o mundo é

um objeto a ser explorado pelo homem em busca somente de lucro. Essa convicção 37 MATURANA H. & VARELA F. A árvore do conhecimento. Disponível em: http://www.caravansarai.com.br/>. Acesso em: 05 de dezembro de 2005.

72

constitui a base da mentalidade extrativista – e com muita freqüência predatória –

predominante entre nós. A idéia de extrair recursos de um mundo-coisa descarta em massa

os subprodutos do processo. Isso se estendeu às pessoas que assim passaram a serem

utilizadas e, quando reveladas “inúteis”, são também descartadas.

Como sabemos, a exclusão social alcança hoje em muitos países proporções

espantosas, em especial no continente africano e na América Latina. Ao convencer nos de

que cada um de nós é separado do mundo (e, em conseqüência, das pessoas), a visão

representacionista em muitos casos terminou desencadeando graves distorções de

comportamento, tanto em relação ao ambiente quanto no que diz respeito à alteridade.

Subsidiados por esses conceitos de forma integrada na experimentação educativa há

autores que insistem na autonomia da aprendizagem e na impossibilidade de “transmitir”

conhecimentos, já que este não surge do campo da transmissão, mas do da invenção,

considerada crucial para a lógica do processo de aprendizagem.

Pontualmente, na visão da ciência clássica, o determinismo e a linearidade orientavam

os modos de ser, e, conseqüentemente, os modos de conhecer. Descartes observou o mundo e o

humanizou através da lógica geométrica e aritmética, analisando todos os sistemas por

partes desintegradas que somadas mecanicamente formavam o inteiro. Quantificando a

forma, subtraiu a diferença e – dissociando razão-emoção, corpo-mente, sujeito-objeto –

fragmentou o ser do conhecer e do fazer cotidiano.

Concomitantemente a isso, o pensamento racionalista pressupôs o reto caminho da

verdade e a existência somente de uma visão verdadeira. O processo de homogeneização, de

fabricação de consensos e abolição da diferença e da desigualdade segue como

conseqüência desta ordem.

“[...] a concepção de uma ecologia cognitiva – que se constitui em torno da biologia

e da psicologia – compreende o conhecimento como processo em construção e invenção, e

não como representação [...]”, afirmam Maturana e Varela (1999, p. 93).

73

Com a ascensão das NTICs, tornou-se imprescindível a introdução da informática

nas redes de ensino em todos os níveis. Elas causam, às vezes muitas polêmicas e receio

entre os professores tradicionais. No entanto, o que se sabe é que sua aparição modifica as

formas de aquisição do conhecimento. E, com isso, os paradigmas educacionais são

questionados, pois a informática educativa redesenha o ensino. Uma vez que o uso do

computador requer operações intelectuais que vão desde o uso da palavra, da escrita, da

capacidade de comparar e diferenciar, da atenção, da abstração, até formas de organizar o

pensamento e a ação.

Nesse sentido, o impacto que estão causando as novas tecnologias está sendo

sentido através de um número cada vez crescente de atividades comunicacionais e

informacionais. Todas as tarefas relacionadas com manipulação, recuperação e

disseminação de informações; todos os tipos de trabalhos que lidam com o cognitivo e na

gestão de novos conhecimentos, dados simbólicos, textuais, numéricos, visuais e auditivos

precisam adequar-se a este novo referencial tecnológico.

Por sua vez, a impressão que permitiu a produção em massa de livros, sem sua

qualidade, substitui os manuscritos medievais e o codex38 como base para o arquivo do

conhecimento, o que agora está sofrendo uma modificação radical. Porque, atualmente, a

tecnologia industrial da impressão, suporte tradicional da Comunicação, está dando lugar a

um novo conceito do que a comunicação pode vir a ser, e esse conceito está relacionado ao

computador, às NTICs e às suas diversas formas de linguagens. A revolução digital

desencadeada por essas tecnologias, já afeta nossa relação com a informação e com o

próprio texto.

Nesse aspecto percebemos que, o temor da televisão e o computador

comprometerem a capacidade de leitura de texto (litteracy) das gerações futuras, encontra

38Antepassado medieval do livro atual, feito com texto manuscrito em folhas encartadas, dobradas e costuradas, constituindo um caderno. Fonte: “Comunicação e Tecnologia”. In: LEVACOV, Marília, et al. Tendências na Comunicação. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 14.

74

um adversário em Papert39. Ele questiona o currículo tradicional das escolas, face ao

surgimento das NTICs, fazendo uma distinção entre os conceitos de litteracy e letteracy: o

primeiro diz respeito à capacidade de decodificar sentido e construir conhecimentos a

partir de símbolos; o segundo, cada vez mais dissociado do anterior, refere-se à capacidade

de decodificar informações representadas exclusivamente por caracteres alfabéticos.

No entanto, contrariando a visão pessimista e apocalíptica de muitos sobre o

destino da escrita alfabética, percebemos que a letteracy está viva e que a revolução

eletrônica, mesmo que transformando profundamente a comunicação humana, está

deslocando a palavra do suporte oferecido pelo papel. Isto acontece porque, à medida que

o mundo caminha para tornar-se uma rede de fibras óticas interconectando pessoas e

máquinas, novas formas de colaboração aparecendo, de modo que nossos conceitos sobre

comunicação precisarão ser reavaliados.

Para tal efeito a convergência de novas tecnologias, teorias científicas e literárias

indicam a complexidade e a riqueza da revolução das NTICs, e, simultaneamente,

enfrentam algumas resistências e medos por parte daqueles adeptos da mídia ameaçada.

Nesse paralelo existente na sociedade da informação e comunicação, as NTICs

trazem outros paradoxos contemporâneos. Contudo, não deixamos de concordar que elas

estão proporcionando o aparecimento de novos estilos de vida, diferentes daqueles que

estamos acostumados a vivenciar. O que cria alguma incerteza para afirmar isso é

considerar que as relações humanas estão sendo enfraquecidas pelas relações tecnológicas,

conforme Quiroz (1984) “a opção da hegemonia do saber tecnológico que transfere ou

39 Seymour Papert, pesquisador do MediaLab no MIT, na área da Educação e Aprendizado, inventor da linguagem LOGO – uma linguagem de programação para crianças que deriva de LISP, uma linguagem de Inteligência Artificial (IA). Fonte: “Comunicação e Tecnologia”. In: LEVACOV, Marília, et al, Tendências na Comunicação. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 20.

75

coloca em segundo lugar as formas humanas de existência e comunidades de comunicação,

ficam afastadas pelo poder integrador e abrangente das novas tecnologias da informação”40.

As novas tecnologias da informação, sintetizadas no acesso à Internet, constituem

meios admiráveis para o descobrimento, a invenção e a criação humanas. As

transformações que permitem são imensamente favoráveis aos indivíduos. A cultura e as

artes ou qualquer outra forma de expressão da inteligência e sensibilidade humanas tendem

a se desenvolver nesse mundo virtual, e não ao contrário.

Atualmente o microcomputador não é visto como uma máquina de ensinar, mas

como uma mídia educacional41, ou melhor, uma ferramenta educacional, isto é, uma

ferramenta de compreensão, de aperfeiçoamento e de possível mudança na qualidade do

ensino. Portanto, em vez de mencionar informação, já que vivemos num mundo

essencialmente informatizado, no qual os fatos ocorrem muito rapidamente e não nos

damos conta da sua velocidade, os estudantes devem ser ensinados a buscar e a usar a

informação via computador.

Somente ali, no computador, eles poderão exercer a capacidade de procurar e

solucionar informações, resolvendo problemas e aprendendo sobre eles. O computador

criaria, assim, condições de aprendizagem e o professor seria o dinamizador do ambiente

de aprendizagem, bem como o facilitador do processo de desenvolvimento intelectual do

aluno.

O computador é usado como ferramenta auxiliar nas tarefas pedagógicas e de

pesquisa dos estudantes e dos professores. As tarefas que implicitamente emite o aparelho

são a comunicação e o uso em rede. Ao transmitir uma informação, esta máquina se transforma

em um veículo de comunicação.

40 QUIROZ, Maria T. Los medios: Una escuela paralela? Cuadernos CICOSUL. Universidad de Lima, 1984, p. 34. 41 BARROS, Edlaine F. de & MELLO, Carmen L. P de. “Aspectos pedagógicos das redes” In: Revista Tecnologia Educacional, anos XXX / XXXI, No. 157, Brasília: ABTE, 2003, p.113-117.

76

A rede, vista como um meio digital, é um universo de informações e pessoas que

interagem o tempo todo. As informações acessadas não se apresentam de forma linear, o

que permite as escolhas se darem de maneira individual. Como isso, cada um tem sua

própria maneira de “navegar”. É essa individualidade que possibilita ao aluno estabelecer

seu ritmo individual de acordo com a prioridade de interesses.

O professor pode instalar nas máquinas o software tutorial, arquivos de vídeos,

música ou imagens para que os estudantes trabalhem cooperativamente, como acontece na

FOUSP, e a partir daí construam seus conhecimentos por meio de troca de experiências

com seus colegas. A maneira de apresentar esses trabalhos ficaria por conta das escolhas

dos alunos envolvidos nas tarefas de ensino e pesquisas.

Partindo de uma das principais preocupações atuais da educação, a formação ética e

moral dos estudantes, o trabalho em rede abre uma oportunidade para a abordagem de

condutas mais ou menos apropriadas na atuação interativa. Com a interatividade, um

estudante tem facilidade para copiar e alterar textos, sons, imagens alheias. A falta de

legislação nesta área também favorece o desrespeito aos direitos autorais, assim, tudo

parece não ser de ninguém. Aprender a assumir e explicitar a interferência nos trabalhos

dos colegas, a respeito de objetivos predeterminados e justificáveis, é uma tarefa que a

instituição de ensino deve assumir com mais critérios e atenção.

Dentro de um contexto de mudanças da sociedade industrial para a sociedade do

conhecimento – alguns a denominam sociedade da informação – levantamos questões com o

propósito de entender como as novas tecnologias, as ciências da informação e da

comunicação, dentro de uma abordagem macro sistêmica, poderão ajudar não somente na

compreensão do mundo, mas também na solução de problemas, muitas vezes elementares,

que atinjam o ser humano.

Tanto no cenário mundial como no Brasil, vive-se uma palavra de ordem que cerca,

impulsiona, agride e até sufoca o indivíduo. Esta palavra é mudança. Vivenciamos uma nova

77

ordem que tem suas bases nas mudanças paradigmáticas porque passa aceleradamente a

humanidade, tanto do ponto de vista social, econômico, cultural, e político como

tecnológico e outros. Vários autores têm elaborado documentos, artigos, livros sobre esta

questão, buscando a compreensão de seus vários ângulos de enfoque.

Kenneth Boulding, em O significado do século XX, classifica a vida humana em duas

grandes épocas: a pré-civilizada, do nômade que adquire caráter de civilização ao urbanizar-

se, e a pós-civilizada, que constitui a atual. Dentro das mudanças que acontecem, existe

também uma transição das instituições sociais. Esta transição é o reflexo de uma

transformação, da passagem de um estágio a outro, enfim da conversão de uma

determinada situação para uma nova, hoje denominada de paradigma.

A simples compreensão que as instituições sociais e o mundo são sistemas, e não

soma de átomos físicos ou sociais, implica um redirecionamento da conduta do homem

perante os desafios do momento.

As tecnologias da informação criaram o mundo virtual que fez profundas alterações,

principalmente nas concepções de espaço e tempo. Não há mais distância, território e

domínio. Os dois bens primordiais do ponto de vista econômico com características

próprias e diferenciadas dos outros bens são a informação e o conhecimento. Quando são

usados, há um processo de interpretação, de interligação de complementaridade,

promovendo um ato de criação e invenção. O uso da virtualização, cada vez mais presente

no nosso cotidiano, amplia as potencialidades humanas criando novas relações, novos

conhecimentos, novas maneiras de aprender e de pensar.

A sociedade do conhecimento42 pode ser caracterizada sistematicamente por alguns itens:

• a grande alavanca do desenvolvimento da humanidade é o homem;

• a informação é um produto, um bem comercial;

42 Características da Sociedade do Conhecimento. Disponível em: <http://www.talentoseresultados.com/sociedade.htm>. Acesso em: 27 de outubro de 2004.

78

• o saber é um fator econômico;

• as Tecnologias de Informação e Comunicação vêm revolucionar a noção de “valor

agregado” à informação;

• a distância e o tempo entre a fonte de informação e o seu destinatário deixam de ter

qualquer importância; as pessoas não precisam se deslocar porque são os dados que

viajam;

• a probabilidade de se encontrarem respostas inovadoras a situações críticas é muito

superior à situação anterior;

• as Tecnologias de Informação e Comunicação converteram o mundo em uma

“aldeia global” (Mc Luhan)

• as NTICs criaram novos mercados, serviços, empregos e empresas;

• as NTICs interferiram no “ciclo informativo’, do ponto de vista dos processos, das

atividades, da gestão, dos custos etc.

As novas tecnologias, os novos mercados, as novas mídias, os novos consumidores

desta era do conhecimento conseguiram transformar o mundo em uma grande sociedade

globalizada e globalizante. No entanto, o homem, mediante essa nova realidade, continua o

mesmo: íntegro a sua unidualidade (MORIN: 2000) nas suas aspirações e sonhos, e no

comando desta mudança, como o único ser dotado de vontade, inteligência e

conhecimento capaz de compreender os desafios e definir todos processos que direcionam

o nosso próprio futuro.

2.4. Vínculos das NTICs com a educação

O mundo evoluiu rapidamente de uma sociedade industrial para uma outra baseada

no conhecimento, na qual a informação já não é um meio, mas um fim. Mais do que coisas

ou bens, o que se produz hoje com alto valor acrescentado nas sociedades mais avançadas

79

é conhecimento. Dito de outro modo, o conhecimento constitui-se na principal vantagem

competitiva das modernas sociedades, ou seja, o saber possui hoje um valor econômico e

social vital para o desenvolvimento humano a escala mundial.

O momento transformacional por que passa o mundo ocidental não pode ser

reconduzido a uma episódica crise conjuntural do modelo de sociedade capitalista, nem

tampouco a uma hipotética crise de crescimento. Antes disso configura a aparição de novas

formas de organização social e econômica, baseadas nas profundas mudanças tecnológicas,

sendo a globalização uma das suas mais visíveis faces.

Confrontando-nos com contingências acentuadamente inovadoras no trajeto

histórico da civilização humana: os conhecimentos mudam num espaço de tempo mais

curto do que o tempo médio de vida de uma pessoa. Antes se educava para toda a vida,

atualmente não; a velocidade das descobertas e dos acontecimentos forçam a que em cada

período de tempo se faça uma re-engenharia dos nossos conhecimentos para não ficarem

obsoletos e os nossos diplomas terem a solidez e valia de um documento pessoal, como se

fosse um passaporte trocado a cada período de tempo.

O processo de aquisição do conhecimento estende-se por toda a vida, não termina

nunca e afeta não só o mundo do trabalho, como também a cidadania, a vida familiar, os

nossos hábitos de consumo e de lazer. Isto é, trespassa e é onipresente às várias dimensões

da vida em sociedade. Ora, dado que a educação será sempre aquilo que venha a ser a

sociedade na qual ela se desenvolve, a aparição de novas formas de organização social

induz a mudanças que afetam todos os subsistemas sociais, incluindo obviamente o sub-

sistema educativo.

Nos escassos, mas vertiginosos últimos dez ou quinze anos - um grão de pó no

trilho do tempo histórico - passamos de uma sociedade pós-industrial para uma sociedade

de conhecimento, na qual não mais do que 5% da população ativa é suficiente para garantir

com qualidade acrescida as necessidades básicas de sobrevivência. Ao mesmo tempo, não

80

mais do que 15% será absorvida em processos de fábrica dos bens hoje tidos por

essenciais, aumentando-os qualitativa e quantitativamente.

O restante 80% da população ativa dedica-se à prestação de serviços relacionados

com o conhecimento, com a informação e com os serviços sociais. Formar indivíduos para

este novo mapeamento da organização social e econômica e do trabalho impõe educar as

novas gerações para viver criticamente a vida cívica, social e produtiva e protagonizar pró-

ativamente os paradigmas que a mudança obriga de forma permanente e duradoura.

Mais do que adquirir conhecimentos inamovíveis, unívocos e dogmaticamente

válidos para toda a vida, a escola passará necessariamente a focalizar-se na aprendizagem de

competências e atitudes adaptáveis e moldáveis às evoluções contextuais supervenientes do

ambientes sociais, econômicos, produtivos e tecnológicos da sociedade do conhecimento.

Este é o momento histórico que se nos torna presente, e produz o grande desafio de

modernidade e de adaptação à mudança anunciada, solicitada com redobrada veemência

aos sistemas educativos.

Há, pois, que aprender a aprender e aprender a desaprender. Na nossa

transbordante sociedade da informação, há que estabelecer regras individuais e coletivas de

economia mental, esquecendo (desaprendendo) os conhecimentos inúteis e (re)

aprendendo aqueles que nos são ou virão a serem úteis. É uma nova cultura, abismalmente

diferente dos cânones que a pauta de valores, em que até há bem pouco tempo fomos

educados, nos impunha como verdade inalienável e universal.

Em educação, esta revolução, não sendo apenas tecnológica, senão também

predominantemente existencial e vivencial, deve-se basear sobretudo nas mudanças de

metodologia e na necessária alteração do currículo e dos conteúdos de ensino. Com efeito,

se a escola tem por paradigma preparar as novas gerações, sabemos hoje que a sociedade de

amanhã já não é a atual, pois ela é inequívoca e incontornável à do conhecimento.

81

A população atual tem a sua mente moldada pelas referências culturais e simbólicas

emanadas da sociedade industrial e do mundo analógico nas quais baseou seu trabalho, a

sua comunicação, a sua aprendizagem, as suas interações sociais, a sua história de vida. No

futuro próximo, as novas gerações formadas no mundo cada vez mais digital, vêem aquelas

referências radicalmente alteradas: os perfis de competências profissionais são mais

seletivos e competitivos, e irremediavelmente mais excludentes para os poucos

escolarizados. Podemos afirmar, sem receio de errarmos, que a educação é já na nossa

atualidade, e será cada vez mais num futuro próximo, condição básica à sobrevivência do

indivíduo em sociedade.

Para os sistemas educativos e para os poderes nacionais, trata-se destes se darem

conta que é necessário construir uma sociedade nova para a humanidade e não para a

tecnologia, na medida em que inalienavelmente a vida deve predominar, agora e sempre,

sobre a técnica. Os objetivos civilizacionais a seguir em matéria de educação serão sempre

os de assegurar e aprofundar as liberdades pessoais e cívicas dos cidadãos, de eliminar a

marginalização do humano e dos humanos, em face de qualquer outro desígnio e da

erradicação da pobreza. Aquilo que aqui defendemos é uma sociedade do conhecimento

que esteja ao serviço de todos os cidadãos, justa e permanentemente democrática e

pluralista. É isto que nos faz acreditar no futuro e no desenvolvimento qualitativo da

condição humana.

Certamente, parte considerável do desnível entre indivíduos, organizações, regiões e

países deve-se às desigualdades de oportunidades relativas ao desenvolvimento da

capacidade de aprender e criar algo novo.

Se durante o século XIX, já começa um desenvolvimento progressivo do ensino

fundamental, é só a inícios do século XX que se observa a explosão do ensino médio. O

desenvolvimento da indústria cultural – no século XX – revolucionou o sistema de

comunicação, diversificando as formas de transmissão de conhecimentos e ampliando os

82

circuitos informativos. Acontece, assim, uma peculiar mudança nos sistemas de

comunicação com a implosão de novas linguagens e códigos vinculados à imagem e som.

O desenvolvimento tecnológico e sua repercussão na formação dos educandos criam novas

formas de acesso ao saber, ampliando os referenciais, o que permitiu o acesso a imagens

novas em longínquos lugares do Brasil e do mundo.

Hoje há pessoas que se deixam seduzir totalmente pela sociedade do futuro e

pensam na educação como forma de adaptação a uma nova ordem que se instala por cima

do individuo, instando-lhes a sua introdução nos parâmetros da sociedade da informação.

As NTICs produzidas por meio da informática, cresceram de maneira -acentuada

nestes últimos anos e ensejaram progressos extraordinários. Com isso, percebe-se que o

conhecimento tornou-se simples indústria, proporcionando à economia matéria-prima

fundamental e central para a produção. Segundo Shannon (1949) e Weaver (1975), a

palavra comunicação tem aqui um sentido amplo incluindo todos os procedimentos que

uma mente pode acionar para influenciar em outra. Isso, evidentemente, inclui não só a

linguagem escrita ou falada, mas também a música, as artes plásticas, o teatro, a dança; na

realidade, todo o comportamento humano. Nos dias atuais, metade da força de trabalho e

metade do PIB nos países desenvolvidos corresponde às industrias da informação-

telecomunicação, processamento de dados, publicações e educação.

Diante desta realidade expressa, é necessário desenvolver e avaliar programas de

educação e capacitação que permitam, aos vários estratos da sociedade tomar

conhecimento das novas tecnologias, sabendo utilizá-las sem frustrações e evitando que

essas técnicas dominem seus usuários ou os escravizem em vez de libertá-los. Porém, não

está claro ainda se este é o foco do trabalho, ou seja, se o computador e as tecnologias de

comunicação vão ajudar no processo de aprendizagem de um modo decisivo. Certamente

existem maneiras atraentes de usar a tecnologia informática no ensino, mas não convém

83

deslumbrar-nos com qualquer nova abordagem tecnológica e declarar que vai ser ótima na

educação, só porque nos parece interessante de primeira impressão.

Contudo, os estudantes aprenderam com métodos tecnológicos menos sofisticados

e, agora, vai se descobrindo aos poucos que a tecnologia por si não acelera

automaticamente “o processo de aprendizado por mais futurista ou promissor que pareça”

(DERTROUZOS, 2000 p.228). Então, deveria se propor usar o que sabemos fazer com

eficiência e testar novas idéias em profundidade, com um número pequeno de estudantes

de preferência, porque as abordagens promissoras das páginas mundiais estão na mira de

uma avaliação conclusiva que ainda não ocorreu.

Com as NTICs abrem-se novas possibilidades à educação e isto exige uma nova

postura do professor. Com a utilização de redes telemáticas na educação, podem-se obter

informações em centros de pesquisas, universidades, bibliotecas etc., permitindo trabalhos

em parcerias com diferentes escolas superiores, bem como a conexão com alunos e

professores a qualquer hora e local. Tudo isso favorece o desenvolvimento de trabalhos

com troca de informações entre os centros de estudo estados e países, através de cartas,

revistas e-books, permitindo que o professor avalie melhor o desenvolvimento do

conhecimento.

Cabe à educação formar esse profissional e, por isso, não se deve sustentar apenas

na instrução que o professor passa ao aluno, mas na construção do conhecimento pelo aluno e no

desenvolvimento de novas competências, como: capacidade para afrontar o novo,

criatividade, autonomia e comunicação. Dessa forma a escola, como instituição, inserida

em um ambiente onde as transformações tecnológicas moldam um novo ser, deve

estimular a reflexão sobre o caminho traçado pelo homem quanto às suas percepções,

sentimentos, idéias sobre o tempo, espaço, corpo, trabalho, lazer e moral.

Dentre as tecnologias da informação e comunicação disponíveis, a Internet tem

marcado sua presença na prática educativa, principalmente nos projetos de educação a

84

distância. Mas também, o professor que realiza sua atividade docente tradicionalmente face

a face com seus alunos vê se impelido a integrar a tecnologia na sua prática pedagógica.

Atualmente, o computador, principalmente devido à sua capacidade de comunicação em

rede, possibilitada pela Internet, tem permanecido cada vez mais presente nos variados

aspectos da educação.

Apesar da Internet apresentar um vasto campo para a pesquisa,

comunicação, educação presencial e a distância, alguns problemas se manifestam. O

acúmulo de páginas de informação disponíveis provoca muito tempo empregado nesta

tarefa. Ao mesmo tempo, o ato de ficar mudando de um endereço eletrônico para outro

revela a impaciência de se aprofundar em qualquer assunto.

Outros fatores podem interferir negativamente no trabalho de pesquisa na Internet.

Entre eles, está a falta de espírito crítico dos alunos na seleção de material, pois muitos

deles apresentam conteúdos duvidosos e antagônicos aos valores sociais, produzindo a falta

de objetividade na busca de informação e a dispersão em conseqüência da grande variedade

de opções de sites.

O computador, como recurso de ampliação da aprendizagem, pode ser utilizado

por meio do trabalho em redes, tanto na Internet como numa rede interna. As atividades

que utilizam as redes internas enfatizam a troca de informação por meio de arquivos, o

trabalho cooperativo e o compartilhamento de dados. Outra forma de se utilizar o

computador nesse tipo de atividades seria a criação de um banco de dados, com

informações pertinentes ao trabalho a ser desenvolvido num determinado momento e que

seriam consultadas pelos alunos no desenrolar da tarefa.

Ao compartilhar tais recursos, o professor estará colocando à disposição

arquivos/materiais para seus alunos, oferecendo um ou vários bancos de dados sem,

contudo, sobrecarregar os equipamentos com a ocupação de grande parte de memória com

o virtual: O trabalho em rede, tanto interno quanto a Internet, torna-se mais eficaz à

85

medida que se integra ao processo ensino-aprendizagem. As possibilidades de exploração

da rede interna são várias, como já foi apresentado antes, mas nada se iguala à grande rede

mundial, a Internet.

Pedagogicamente, a Internet abre novos caminhos para as instituições de ensino

formal e não formal no mundo: diminui a distância espacial; permite a troca de

informações, com pessoas distantes ou de culturas diferentes; facilita a aquisição de

informações; e, em fim, é uma nova forma de aprender e encarar o planeta em que

vivemos.

São muitas as possibilidades do computador como ferramenta educacional. É um

recurso para enriquecer e favorecer o processo de aprendizagem em desenvolvimento. Este

tipo de ferramenta cognitiva permite ao estudante o controle do processo de aprendizagem,

o qual passa a construir seu próprio conhecimento, sem receber a transferência direta das

informações do professor. Criar e pensar são processos longos e cabe à escola seguir esse

caminho construcionista iniciado por Piaget e levado adiante por Papert.

Nesse contexto, os estudos apontam que, apesar da instabilidade econômica

mundial, tem-se verificado um contínuo crescimento nos investimentos por parte das

empresas nos segmentos da educação on line e a distância. O impacto nas universidades não

poderia ser diferente, embora com outras implicações. Nas Instituições de Ensino Superior,

por exemplo, o e-learning avança, pois é visto como um complementador do conhecimento

do aluno, preparando-o para a nova realidade profissional que irá enfrentar.

Assim como ensinar é comunicar, isto é, formar e informar, o computador é um

meio de comunicar conhecimentos. Essa máquina não foi concebida para a educação, mas o seu

uso pode ser o de um veículo de informação com a vantagem de poder servir em qualquer

disciplina do currículo de ensino e em qualquer nível.

86

As possibilidades pedagógicas de se utilizar a rede são inúmeras, dependendo de

suas características: Internet, rede interna do laboratório de informática, a pesquisa

direcionada, ou ainda, a comunicação em rede e a educação a distância.

Nossa reflexão sobre o educando na era chamada “virtual”, impõe, definir quem é

este ser humano influenciado pelo novo e inusitado mundo virtual presente nos bancos

escolares, pois, segundo Gitaby e Menin (2003: 21) acrescentam “[...] exige também que se

avalie qual a responsabilidade da escola na formação não apenas do ser real, natural, mas

também do ser tecnológico, desnaturalizado e dependente da tecnologia [...]”.43

As novas tecnologias, segundo Schaff (1990), favorecerão o desenvolvimento de

atitudes típicas do individualismo moderado, gerando uma tendência de oposição às

tentativas totalitárias, particularmente quando estas significarem o sufoco da própria

autonomia. Tal fato, segundo esse autor, ocorrerá devido à abundância de informações de

todos os tipos que o homem da sociedade informatizada terá a disposição, gerando um

cidadão mais esclarecido e instituído universalmente.

Por sua parte, Treisman (1998) sugere, com apoio em Pierre Lévy (1993), que a

tecnologia de comunicação – portanto, também a tecnologia educacional – é produto da

mente humana, mas também é responsável por moldá-la, segundo padrões de apresentação

dos signos em qualquer suporte.

Considerando o cérebro humano como sendo “[...] um sistema aberto, de grande

plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história

da espécie e do desenvolvimento individual [...]”, segundo Oliveira (1993, p. 24), a

incorporação das inovações tecnológicas na educação só se justificaria se promovesse a

melhoria da qualidade do ensino, possibilitando que os indivíduos construam

conhecimentos, uma vez que não basta a instituição educativa ter o aparelho tecnológico

43 GITABY, Raquel R.C e MENIN, Maria S. de S. “A educação na Era da Tecnologia: O aluno como ser virtual” . In: Tecnologia Educacional, Rev. Brasileira de Tecnologia Educacional, anos XXX / XXXI, n.159/160. Brasília: ABTE, 2003, p. 21.

87

para que o ensino tenha qualidade, já que há de se promover situações e ações mediadoras,

de interação, em que os alunos possam ter a oportunidade de se desenvolverem, uma vez

que o aprendizado propicia o desenvolvimento.

As NTICs precisam ser utilizadas de forma que permitam a mediação e a interação

do sujeito com o outro social. A mediação é um conceito fundamental na teoria de

Vygotsky, uma vez que esta é a ação pela qual a relação do homem com o mundo não é

uma relação direta, mas várias relações mediadas, sendo os sistemas simbólicos os

elementos intermediários entre o sujeito e o mundo.

Essa análise é compatível com a do pedagogo Paulo Freire, quando afirma:

[..] ao terem consciência de sua atividade no mundo em que estão, o atuarem em

função de finalidades que propõem e se propõem, ao terem o ponto de sua busca

em si e em suas relações com o mundo, e com os outros, ao impregnarem o

mundo de sua presencia criadora, os homens, ao contrário do animal, não

somente vivem, mas existem e sua existência é histórica.44

O caráter interativo e comunicativo da educação promove o desenvolvimento do

ser humano em que a mediação e a interação contribuem e interferem na qualidade do

processo educativo. A concepção de que é o aprendizado que possibilita o despertar do

processo interativo do indivíduo liga o desenvolvimento da pessoa, tanto à sua relação com

o ambiente sócio-cultural em que vive como à sua situação de organismo que não se

desenvolve plenamente sem o suporte de outros seres da espécie.

Pensar nas NTICs aplicadas à educação é um desafio uma vez que se persegue a

efetivação da qualidade política das práticas pedagógicas que podem se pontuar como

indicadores relevantes: em práticas inovadoras baseadas na construção do conhecimento em

prol da qualidade de vida de forma significativa à existência do indivíduo e da sociedade; na

busca da qualidade política das práticas pedagógicas em que os educadores precisam

promover mudanças nos objetivos, formando o sujeito como uns seres pesquisadores,

44 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002, p. 89.

88

reflexivos, capazes de buscar superar suas limitações, através do desenvolvimento de

competências e habilidades que produzem conhecimentos.

Algumas análises trazem esclarecedores raciocínios sobre a utilização das NTICs.

Uma delas diz que se deve dar como fundamento e não como instrumento aplicado à

educação, pois são, segundo Pretto (1996),“mais um recurso didático” que tem a finalidade

de agir sobre o sistema já existente. Já como fundamento, possibilita o estímulo à

criatividade e uma comunicação bidirecional, onde tanto orientadores como orientados são

responsáveis pela solidificação da linguagem e conseqüentemente do imaginário social.

Quanto aos alcances e desafios pedagógicos na utilização das NTICs, em especial

os computadores e a Internet, sabemos que elas veiculam as suas potencialidades para

promover a interação intra e interpessoal, a comunicação, as trocas de experiências e

conhecimentos; bem como oportunidades de pesquisas nas quais as pessoas têm acesso a

fontes diversificadas de informações e ser mediada, conforme as necessidades e

oportunidades individuais e coletivas em ambientes de ensino e aprendizagem.

As NTICs nos aproximam e hoje criam nova relação com o mundo real ou virtual.

Desse esse ponto de vista, objetos e indivíduos presentes em um ambiente, seja natural ou

modificado, constituem parceiros dinâmicos na construção de conhecimentos. Limitar o

papel das tecnologias em um contexto de aprendizagem à gestão da comunicação é, sem

dúvida um ato reducionista. Evidentemente, todo ato de ensino é um ato de comunicação,

mas isso não significa que, para que exista aprendizagem, seja suficiente obter mensagens

transmitidas e, em seguida, aprendidas.

Atualmente tem crescido o uso de tecnologia aplicada à educação, além de seu uso

haver permitido a otimização dos recursos disponíveis, possibilitando multiplicar o acesso

ao conhecimento. Porém, é de suma importância, na hora de pensar em inovações,

reconhecer a necessidade de criá-las nos contextos educacionais específicos, a fim de que

sua implantação seja significativa. As tecnologias da informação, como elementos

89

facilitadores da aprendizagem, oferecem uma amplitude de recursos com exigência de

amigabilidade, performance, integridade e segurança.

As NTICs, sintetizadas hoje no acesso à Internet, constituem meios admiráveis

para o descobrimento, a invenção e a criação humanas. As transformações que permitem

são imensamente favoráveis aos indivíduos. A cultura e as artes ou qualquer outra forma de

expressão da inteligência e sensibilidade humanas tendem a se desenvolver nesse novo

mundo virtual, e não ao contrário. As características das novas tecnologias, portanto,

permitem potencializar as habilidades do indivíduo, que sempre está diante de uma nova

linguagem do conhecimento.

Nesse sentido, a informática é um campo vasto e riquíssimo que pode ser

aproveitada para fins pedagógicos, se for utilizada também como instrumento de

comunicação, de pesquisa, de produção de conhecimentos. Por isso, através da informática

podemos renovar a forma como a pesquisa vem sendo efetuada na nossa universidade.

Por outro lado temos a necessidade urgente de sairmos de visões meramente

utilitárias, que vêem nas NTICs, (especialmente no computador) somente um veículo de

disseminação de informações, e pregam a sua utilização restrita como máquina de ensinar,

ou uma instrução programada . Não podemos olhá-la somente como um banco de dados

que é utilizável por um usuário. Essas tecnologias são ferramentas de aperfeiçoamento que,

ao serem inseridas no ambiente educacional, visam à qualidade da pesquisa e do ensino.

Com a ascensão das novas tecnologias, tornou-se imprescindível a introdução da

informática nas redes de ensino. Nesse sentido, as instituições de ensino particular

investiram, nos últimos anos, na implantação de salas de aula de informática. Enquanto as

instituições de ensino público não acompanharam essa evolução. Na maioria destas o

educando ainda chega à sala de aula e encontra tudo pouco atrativo, pois ainda enfrenta

longas horas de oratória e só vislumbra a sua frente um quadro negro, contrastando com o

mundo lá fora, colorido, atrativo, sedutor.

90

O mundo mágico da informática no ensino e na pesquisa, com seus conteúdos

atraentes, ambiente multimídia, global e interdisciplinar, instiga o aluno à investigação,

descoberta do novo, além de aumentar suas possibilidades de pesquisa. Essa situação

favorece diferentes maneiras de se relacionar com o conhecimento. A informática não

oportuniza a robotização ao eliminar a mediação humana no contexto, pois a mediação, o

livro, o jornal, e a revista já o fazem. A informática abriu possibilidades de novas relações

entre as pessoas, que estão inseridas numa nova ordem social. Estamos em uma rede de

comunicação em que o homem é o centro do processo e a palavra continua sendo sua

ferramenta básica.

Nesse aspecto, o estudo auxiliado pelas NTICs não é somente dirigido pelo

professor nem centrado somente no ensino, senão também a pesquisa ocupa o centro

deste. O professor terá como preocupação lançar desafios que as novas tecnologias lhe

propõem, os quais devem ser estendidos aos estudantes, para que eles se aproveitem desses

conhecimentos, numa interação adequada. Isto não é uma diminuição do seu papel, mas

um deslocamento; o professor não é mais o detentor do saber, mas um facilitador do

processo de desenvolvimento intelectual do estudante. Como diz, Freire (2002, p. 69):

[...] ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si

mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo,

mediatizados pelos objetos cognoscíveis que na pratica bancária, são

possuídos pelo educador que os descreve ou os deposite nos educandos

passivos.

Com as NTICs, o processo de aprendizagem ocorre sem que haja um ensinamento

explícito. Não há mais aprendizagem que necessariamente passe pelas mãos do professor,

mas esta aprendizagem esta nas mãos do estudante, havendo liberdade para explorar e errar

sem punição. A sala de aula passa assim a ser um espaço de maior prazer, pois a multimídia

interativa favorece uma atividade exploratória e lúdica (constatou-se isso na sala-laboratório

da FOUSP). O conteúdo não é esvaziado de significado, como geralmente ocorre na

91

imposição do conhecimento sistematizado. E o conhecimento transmite formas de acesso

de apropriação que possibilitam ao sujeito assimilá-las plenamente e praticá-las ao longo de

sua vida.

Utilizando as novas tecnologias o estudante não só coleta informações, via rede,

mas também as dissemina. Assim, o processo exploratório, viabilizado pelo manuseio

dessas novas ferramentas, gera o processo construtivo. Referimo-nos à internalização45 do

saber através da construção, o que implica em modificação do indivíduo ante o grupo. Isso

acontece não somente com os estudantes que mexem nas novas versões de computadores,

pelo de termos milhões de pessoas que entram em rede não só para visitar sites, mas

também para escrever, comentar textos, interagir. “Temos com a interface proporcionada

pela Internet uma dinâmica diferente daquela que se apresentam nos livros, pois ela é

determinada pela mutabilidade, pela agilidade, pela interatividade”.46

Essas novas tecnologias, centralizadas no computador, se tornam mais uns

dispositivos técnicos, pelo qual podemos perceber o mundo que nos cerca. Nasce assim

mais uma forma de repensa-o e de debater o uso da comunicação em geral, gerando-se

mais uma tentativa de inserir a instituição educacional no mundo, tornando-a um espaço

vivificante que prepare o indivíduo para a vida e não priorize o mero aspecto das

informações.

2.5. As NTICs: importância e percursos de seus usos

Todos nós adquirimos ao longo de nossa existência uma série de conhecimentos:

os quais constituem conhecimentos dos mais variados tipos. Devemos até convir e

acrescentar que todos os nossos conhecimentos adquiridos, muitas vezes, são incompletos 45 Explicando:quando um país em desenvolvimento ou “emergente”, importa novas tecnologias dos países altamente desenvolvidos, os indivíduos que a utilizarão, estão obrigados a se preparar para o uso adequado dessas tecnologias, isso implica câmbios no comportamento dessas pessoas, que têm que lidar de acordo com a nova realidade que impõe o uso ou a aplicação dessas tecnologias. Tal é o caso do laser para aplicação na odontologia e aparelhos como os laptop, set-up e notebooks, etc. Fonte: Contribuição do autor. 46 Disponível em:< http://www.geocities.com/Athens/Sparta/1350/usoped.html>Acesso em: 17 ago de 2004.

92

ou simplesmente errôneos. O que implica o ato de conhecer as coisas deste mundo? Quais

os imperativos, as exigências e os caminhos de uma ciência do conhecimento, isto é de

qualquer tipo de conhecimento e não apenas da comunicação humana?

De Bateson47 pode-se perguntar, vinte anos depois de sua morte, duas coisas: ao

lado de seus colegas psiquiatras e antropólogos, ele não somente delineou os parâmetros de

uma Nova Comunicação, mas soube plantar os alicerces de uma Antropologia da Comunicação e

de uma Epistemologia da Comunicação. 1) O que significa pensar antropologicamente a

comunicação humana? 2) Ou, ainda, o que significa na perspectiva aberta por Bateson,

investigar etnograficamente os comportamentos, as situações, os objetos que, numa

comunidade, são percebidos como portadores de um poder comunicativo?

Bateson é um pensador discreto, mas que sempre soube inovar, e a quem

dispensaremos particular atenção neste novo século. Ele é, sobretudo, um olhar, um

observador que deixa a sua observação repercutir e questionar seu pensamento. Deixa ao

mundo dos seres vivos a tarefa e a responsabilidade de trabalhar e de despertar o seu

pensamento.

Nessa perspectiva, analisamos sobre os “olhares” de Bateson, o que as NTICs

trazem para o nosso atual cenário maquínico. Assim, muitas vezes, lemos nos textos que as

novas tecnologias tem um “impacto” sobre a sociedade e a cultura contemporânea. As

novas tecnologias seriam algo comparável a um projétil-pedra, míssil, obus – e o alvo seria

a sociedade e a cultura contemporânea. No entanto, essa metáfora bélica usada para definir

o impacto das novas tecnologias é inadequada em vários sentidos, posto que “É como se a

47 Gregory Bateson (1904-1980), biólogo e antropólogo Inglês, publicou em 1940, o Balinese Character, resultado da sua famosa pesquisa junto aos nativos da ilha de Bali (Indonesia). Nessa época não se discutia verdadeiramente as questões epistemológicas e heurísticas que os diversos suportes comunicacionais (a fala, a escrita, as visualidades) poderiam explorar, juntamente, respeitando os termos de suas singularidades e de suas complementaridades, enunciativas, representativas e interpretativas. Disponível em : <http://www.uff.br/mestaii>. Acesso em: 17 de outubro de 2005.

93

tecnologia fosse alienígena que vêem de outros planetas, do mundo das máquinas, frios,

sem emoção, estranhos a toda significação e qualquer valor humano”.48

A técnica é um ângulo de análise dos sistemas sócio-técnicos, um ponto de vista

que enfatiza a parte material e artificial dos fenômenos humanos, e não uma entidade real.

Embora suponhamos que realmente existam três entidades – técnica, cultura e sociedade -,

em vez de enfatizar o impacto das tecnologias, poderíamos igualmente pensar que as

tecnologias são produtos de uma sociedade e de uma cultura.

De fato, as técnicas carregam consigo projetos, esquemas, imaginários sociais e

culturais bastante variados. Sua presença e uso em lugar e época determinados cristalizam

relações de força sempre diferentes entre os seres humanos. E isso parece óbvio porque

por trás das técnicas agem e reagem idéias, projetos sociais, utopias, interesses econômicos,

estratégias de poder, bem como toda a gama dos jogos dos homens em sociedade. Segundo

Lévy (1999:24): “As técnicas respondem aos propôs de desenvolvedores e usuários que

procuram aumentar a autonomia dos indivíduos autonomia dos indivíduos e multiplicar

suas faculdades cognitivas”.

Nos primórdios das invenções e, devido ao incipiente conhecimento pelo ser

humano da natureza, começamos a formar uma tecnologia cuja premissa básica era que o

homem deveria dominar e não cooperar com a natureza. Certamente a tecnologia foi

motivada por um espírito hostil. Portanto, para nossa própria sobrevivência, hoje temos

urgência absoluta de rever a tecnologia com uma atitude e espírito diferentes, mas sem cair

numa atitude antitecnológica.

Na verdade, o que precisamos é compreender cada vez mais nossa dependência e a

complexidade de nossas relações com todos os seres vivos e não vivos, e, quanto mais

entendermos que nossa existência junto com todas as coisas que nos cercam é um único

48 Lévy, P. Cibercultura. Editora 34, Rio de Janeiro, 1999, p. 21.

94

processo, poderemos usar as tecnologias de uma forma mais inteligente e dar nosso apoio à

sustentabilidade.

Por um lado, se o primeiro pintor de cavernas foi artista e engenheiro ao mesmo

tempo, mas temos o hábito – cultivado por muito tempo – de imaginá-los como aptidões

separadas, então não é compatível ver hoje os dois grandes afluentes correndo

incessantemente para o mar da modernidade e dividindo, em seu curso, o mundo em dois

campos: os que habitam nas margens da tecnologia e os que habitam nas margens da cultura.

Logo o cérebro humano é visto como possuindo um lóbulo para artista e um para o

engenheiro. Qualquer analista profissional de tendências nos dirá que os mundos da

tecnologia e da cultura estão colidindo. Mas o fato que surpreende não é a própria colisão

em si, antes é o fato dela ser considerada novidade.

Por outro lado, poderíamos pensar que as vidas de Leonardo da Vinci ou de

Thomas Alva Edison seriam suficientes para nos convencer de que a mente criativa e a

mente técnica coabitam por longa data. Os decanos da tecnocultura estão ocupados demais

em proclamar que a Internet é “a coisa mais sensacional desde a invenção do fogo” para

poder contemplar os grandes revolucionários do passado. “O mundo digital pode estar

conectado a uma rede, ser inicializado e ter placa de som, mas é surdo para a história”.49

A explosão de tipos de meios de comunicação, no século XX, nos permite, pela

primeira vez, aprender a relação entre engenharia e arte. Um mundo governado

exclusivamente por um único meio de comunicação é um mundo governado por si mesmo.

Nesse tipo de mundo, não se pode avaliar a influência de uma mídia quando não se tem

com que compará-la.

Nascemos num mundo dominado pela TV, e de repente nos vemos tentado a

aclimatar nos à nova mídia da world wide web (WWW). A transição é alarmante, e até

49 JOHNSON, Steven. Cultura da Interface: Como o computador transforma nossa maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2001, p. 8.

95

palpitante, dependendo de nossa postura mental, mas, seja qual for nossa reação às novas

formas, a chegada delas tem uma força iluminadora entre nós.

Se passarmos a vida toda sob o feitiço da TV, o mundo mental que herdamos dela

– a supremacia da imagem sobre o texto, o consumo passivo, a preferência por fatos

transmitidos ao vivo em detrimento da contemplação histórica – nos parece inteiramente

natural. Por isso, nossa pesquisa também atinge a fusão da arte com a tecnologia, o que

Johnson (2001) chama “design de interface”, porque é um produto dessa mesma sabedoria

acelerada, similar ao advento da eletricidade enunciado por Mc Luhan (1974).

Chegamos a um ponto em que os vários meios de comunicação evoluem tão

rapidamente que os inventores e os profissionais se amalgamam numa unidade holística,

como em um laboratório de ciência que abrigasse um seminário sobre escrita criativa. Não

há artistas que trabalhem no meio de comunicação da interface que não sejam, de uma

maneira ou de outra, também engenheiros, arquitetos ou cirurgiões.

Sempre foi assim, com a cultura e a tecnologia, é claro; só que costumávamos fingir

que era diferente, mantendo zelosamente os pintores e os mecânicos separados nos campi

universitários, nos laboratórios, nas estantes dos livros, nos salões dos museus. Os artesãos

da cultura de interface não têm tempo a perder com essas divisões arbitrárias. Eles se

fusionaram numa nova espécie de artista e engenheiro, incumbidos da missão épica de

representarem nossas máquinas digitais, e de dar sentido à informação em sua forma bruta.

O ato de escrever sobre nova tecnologia sob uma perspectiva cultural modifica

invariavelmente o assunto, das maneiras mais diversas e mais surpreendentes. Esta nossa

era digital pertence à interface gráfica, e é hora de reconhecermos o trabalho de imaginação

que essa criação requer, e de nos preparar para as revoluções da imaginação que estão por

vir. “O espaço-informação é a grande realização simbólica de nosso tempo”.50

50 JOHNSON, Steven. Cultura da Interface. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2001, p.156.

96

A globalização parece ser a consagração máxima do capitalismo. Desde a década de

70, Deleuze e Guattari já advertiam que o capitalismo vive de carência, que a falta é

constitutiva do seu sistema de produção e consumo. Mas eles não estavam se referindo à

carência por necessidade que escraviza os pobres, e sim à carência no âmbito do desejo, essa que

move o impulso do consumidor ocidental. Como se a miséria material dos pobres

correspondesse a miséria libidinal dos ricos, manipuladas pelas forças do mercado.

Instaurou-se, assim, como uma espécie de situação exasperante: pois no momento

exato que as forças do capitalismo penetravam em toda parte suscitando novas demandas,

abrindo e aprofundando fatos reais e imaginários, ficava evidente que o sistema passara a

ser excludente por não poder incorporar a todos no universo dos consumidores. O que,

evidentemente, teve grande efeito tanto nos que ficavam de fora como nos dentro do

sistema.

Nesse contexto, as promessas pelas quais o desenvolvimento tecno-científico iria

permitir a inclusão progressiva de todos numa sociedade moderna esfumaram-se, e só se

mantém no ar graças ao assédio permanente que parte das mídias e da publicidade à mente

dos espectadores. O darwinismo social legitimou e naturalizou o ou eu ou você,

intensificando a luta pela sobrevivência, agora ainda mais perversa com a introdução da

questão da competência tecnológica.

Com efeito, tanto a “classe mundial” como a “classe virtual” passou-se a atribuir

umas superioridades incontestáveis, que lhes confere ares de uma outra humanidade – o

que, aliás, prepara o terreno para o melhoramento genético da elite, “que inaugura uma

segunda linha de evolução da espécie humana”51, tal como é também acrescentado pelos

entusiastas da biotecnologia e até mesmo pelos geneticistas respeitáveis.

As novas tecnologias nas organizações estão enfocadas na utilização de novas

metas para a tecnologia de informação e na computação em rede, aberta e centrada no 51 DOS SANTOS, Laymert Garcia. Politizar as novas tecnologias. O impacto sóciotécnico da informação digital e genética. São Paulo: Editora 34, 2003, p. 126.

97

usuário. O trabalho está mudando dramaticamente, a característica do local de trabalho está

em qualquer lugar e em qualquer tempo; pode-se perceber isto nas mudanças ocorridas

nesta década, visto que o armazenamento e a velocidade dos computadores vêm

aumentando rapidamente.

Fleury (1995) compara o processo de aprendizagem individual, nas quais precisam

ser considerados as crenças e valores da pessoa, enquanto que no processo de

aprendizagem organizacional o conceito mental é relevante para a compreensão deste

processo. A resposta, portanto está centrada no conceito de cultura organizacional.

Fleury, afirma que:

[...] a complexidade da questão exige do pesquisador e do profissional o

refinamento do se instrumento conceitual e de diagnóstico para trabalhar

o desenvolvimento de uma cultura de aprendizagem e inovação.

E conclui:

[...] entretanto, é possível vislumbrar que uma organização voltada para o

passado, passiva, autoritária, com reações de trabalho pautadas por

instabilidade, desqualificação, descoprometimento de seus membros,

dificilmente conseguirão uma cultura da aprendizagem.

Nos anos 80, na onda da Revolução da Informática, a inteligência artificial tornou-

se a expressão máxima da ambição da ciência e da tecnologia modernas; nos anos 90, na

onda da Revolução Biológica, a engenharia genética parece ter-lhe acrescentado a vida

artificial. Toda sociedade tem tecnologia – que significa, fundamentalmente, os meios que

as comunidades humanas usam para satisfazer suas necessidades e aspirações. Tecnologia é

um meio, valores humanos um fim, a tecnologia tem sido alçada de sua condição de meio para

preencher necessidades humanas à finalidade e objetivo da aspiração do homem.

Tal mudança também significou que a transformação tecnológica deixou de ser

considerada e avaliada, com base em valores humanos; ao contrário, a existência humana

passou a ser considerada segundo o padrão da rápida mudança tecnológica. Como isso, já

não se perguntavam mais quais seriam os impactos sociais, culturais ou ecológicos da

98

introdução em larga escala de uma tecnologia especifica, ou seja, se ela era desejável ou

imprópria. A tecnologia não precisava mais ser adaptada à sociedade e à natureza;

simplesmente, passou-se a esperar que a sociedade e a natureza se adaptassem à tecnologia;

e para essa adaptação impositiva e violenta, nenhum controle social e ecológico foi

considerado excessivo.

É nesse contexto que as novas tecnologias estão surgindo. As novas tecnologias

criaram linguagens da inteligência artificial, as novas biotecnologias criaram a linguagem

dos “construtores genéticos”, das “invenções biotecnológicas” ou a vida artificial. Embora

tais tendências tenham a pretensão e a arrogância de afirmar que o cientista está

reconstituindo o mundo, superando a própria criação, a “inteligência artificial” e a “vida

artificial” só podem substituir as funções de uma parte íntima do espectro da inteligência e

da vida em sua diversidade e complexidade; mas, embora a capacidade de “substituição” da

vida artificial seja muito limitada, sua capacidade destrutiva é muito grande.

É assim como o valor de um homem foi reduzido pelo capitalismo ao valor do trabalho

abstrato transferido para uma mercadoria; agora o valor da informação passa pela mesma

redução, através dos diferentes sistemas de propriedade intelectual. Abre-se assim um

horizonte e um campo de atuação insuspeitada para a apropriação capitalista: o plano

molecular do finito limitado, no qual, lembra Deleuze, um número finito de componentes

produz uma diversidade ilimitada de combinações.

Se mantivermos isso em mente e entendermos que a questão do acesso aos

recursos genéticos refere-se à informação genética e à informação digital, perceberemos

que para a tecnociência e a nova economia o problema consiste em encontrar uma

formulação jurídica que lhes permita assegurar o acesso e o controle da informação nos

dois extremos, isto é, nos planos molecular e global.

Por outra parte, se concordamos com Deleuze e Guattari que “a propriedade é

precisamente a relação desterritorializada do homem com a terra”, podemos perceber a que

99

grau de desterritorialização chegou à sociedade contemporânea, com a instalação da

propriedade intelectual que se pretende impor a todo o planeta para assegurar a

apropriação e monopolização da informação genética.

Traduzido em informação digital e genética, o indivíduo torna-se divisível, ou, para

usar o termo empregado por Deleuze, dividual. O sujeito não é mais modelado de uma vez

por todas, mas sim permanentemente modulado, seguindo uma nova lógica de dominação

que nos faz passar da sociedade disciplinar para a sociedade de controle segundo a expressão

cunhada por William Burroughs e emprestada por Deleuze.

2.6. As tecnologias de informação e comunicação na sociedade

Tendo como premissa que as tecnologias constituem o suporte primordial no

desenvolvimento da sociedade humana - as quais estão constantemente experimentando

mutações em todos os sentidos - essas tecnologias começam a preocupar cientistas e

filósofos, comunicólogos, tecnólogos, pedagogos, sociólogos e epistemólogos, pelo fato

dela tentarem se colocar em igualdade cognitiva com os seres humanos. Será possível isto,

de termos máquinas que reagem como nós mesmos?

Que função cumpre aqui a Informação e a Comunicação? Para responder isto, é

necessário, de alguma forma, analisarmos uma série de conceitos fundamentais para atingir

uma visão mais abrangente do assunto. Em primeiro lugar, destacaremos o que realmente é

a Comunicação, pois se trata de um conceito muito amplo, sem nenhuma definição fixa.

Por um lado, a comunicação é um substantivo muito pródigo em significações, o

termo é um bom exemplo de polissemia. Ela é empregada para designar as relações entre

humanos mediados pela palavra, os gestos e as imagens, mas o termo aplica-se também às

relações tanto entre os animais e como entre as máquinas. Agrega-se também a esta lista

certas relações da matéria com a matéria (transmissão de energia, códigos genéticos, etc.).

100

A carga semântica do termo, tal como se encontra em uso pelo sentido comum e

em outras áreas do conhecimento inclui um número demasiado grande de acepções, o que

faz praticamente inviável qualquer estudo que se sirva do termo comunicação sem antes

proceder a uma análise crítica.

Por outro lado, autores como Paul Virílio (1998) analisam uma seqüência evolutiva das

tecnologias antes de se constituírem como suporte principal da comunicação e da

informação, como sendo motores da história, constatando que a informação foi organizada

em cinco estágios:

• o motor a vapor, ou seja, a máquina que serviu à revolução industrial, modificando o

quadro da produção da história e também modificando a percepção da informação

• o motor a explosão, que propiciou o desenvolvimento do automóvel e da aviação. O

homem teve uma visão inédita do mundo: as visões aéreas, possibilitando a

máquina-veículo de produção industrial.

• o motor elétrico, que deu origem à turbina e favoreceu a eletrificação, permitindo uma

visão da cidade à noite. O cinema é uma arte do motor elétrico.

• o motor-foguete, que permitiu ao homem escapar da atração terrestre. Através dele

temos os satélites que servem à transmissão do sistema de segurança e permitem a

visão da terra a partir de uma outra terra: a lua.

• o último motor, que é o motor Informático, um motor à inferência lógica, aquele do

software, que está favorecendo a digitalização da imagem e de som, assim como a

realidade virtual. Ela, por sua vez está modificando totalmente a relação com o real,

na medida em que permite duplicar a realidade através de uma outra realidade, a

realidade imediata que funciona em tempo real e livre.

Por enquanto, a educação de hoje, no contexto do mundo globalizado, onde a

difusão da informação e do conhecimento se tornou maciça, o desenvolvimento científico

e tecnológico se dá de forma acelerada e continua, não pode negar a significação das

101

NTCIs e suas aplicações, assim como as implicações de sua aplicabilidade nos processos

educacionais. Nesse contexto se faz necessário rever os postulados epistemológicos e

psicológicos de uma teoria sócio-cultural, para assim poder relacionar a ideologia e os

princípios que fundamentam as ações no processo educativo, segundo tal teoria e os

desafios apresentados aos educadores para a utilização crítica das NTICs nos processos de

construção de conhecimentos.

A respeito dos meios e mensagens, é necessário conhecer que os meios trazem

implicitamente as mensagens. Isto se explica quando um indivíduo direciona o seu olhar e

atenção numa pessoa, animal, coisa ou símbolo, momento em que ela já está elaborando

alguns códigos referenciais das mensagens que lhe são emitidas por elas, seja reais ou

virtuais. Como diz McLuhan, aquelas mensagens constituem o resultado de um “novo estalão

introduzidas em nossas vidas por uma nova tecnologia ou extensões de nós mesmos” (McLuhan: 1974,

21).

Porém, essa automação a que ele se refere causa efeitos negativos na sociedade,

porque elimina postos de trabalho, acrescentando o número de desempregados,

constituindo um paradoxo desta era que produz baixo nível de vida de grandes populações;

tal fato foi analisado por Valério Fuenzalida na sua temática sobre o alcance das mídias,

especialmente quando ele se refere à televisão e seus efeitos. Ademais, a automação tem

efeitos positivos nas relações com outros e mesmo conosco.

No entanto, em termos de mudança, pouco importava que a nova tecnologia

produzisse flocos de milho ou Cadillacs e, sim importava reestruturação sobre esses novos

padrões da tecnologia moldada pela técnica de fragmentação, que constitui a essência da

tecnologia da máquina.

Por outro lado, afirma McLuhan, que os meios de extensão do homem são “agentes

produtores” do devir e do desenvolvimento, o que ele chama de “acontecimentos” (McLUHAN,

102

1974, p. 67) que não chegam a ser agentes produtores de “consciência”. Ele faz uma análise

sistêmica do fluído elétrico determinando-o como um meio sem mensagens, constatando

nesse processo uma energia híbrida que cancela o regime de noite e de dia, do exterior e do

interior.

Lévy (1998) estabeleceria no seu efeito Moebius (mas na versão do virtual), o que seria

a passagem do interior ao exterior e do exterior ao interior, com seus registros, no público e

privado, real e virtual, subjetivo e objetivo, mapa e território, autor e leitor, etc. Desse modo, as novas

tecnologias estão integrando o mundo em redes globais de instrumentalidade. A mediação

por computadores gera uma diversidade de comunidades virtuais em todo o mundo.

Dentro do parâmetro de um mundo globalizado e de fragmentação simultânea,

levantam-se questões com respeito às novas tecnologias como, por exemplo, a questão de:

como combinar as novas tecnologias e memória coletiva, a ciência universal e cultura das comunidades, a

paixão e a razão? Interessa isto, porque observamos cada dia no mundo a tendência ao

distanciamento que existe entre a globalização e a identidade entre a rede e o ser. Nesta

época, de paradoxos, o indivíduo é condicionado a ficar isolado dentro de uma multidão nas

grandes metrópoles, onde existencialmente encontra-se solitário, mas motivado a buscar

uma nova conectividade, dentro de quatro paredes. Em resumo: a tecnologia está ajudando a

desfazer a visão do mundo por ela promovida no passado.

Se antes houve uma aproximação de conceitos de comunicação, agora se tenta um

outro conceito que trata das Tecnologias da Informação baseada no que diz Castells. Para

ele, a Tecnologia da Informação “é um conjunto convergente de tecnologias em

microeletrônica, computação, telecomunicações, radiodifusão, optoeletrônica e engenharia

genética (código de informação da matéria viva)” (CASTELLS, 1999, p. 49). Todo um

conjunto de tecnologia e parafernália de instrumentos de informação, aliás, de

comunicação, invadem o mercado cada dia mais, onde a nanotecnologia (pequenas maravilhas

tecnológicas) converte-se na principal delas. Computadores, sistemas de comunicação e

103

decodificação e programação genética são todos amplificadores ou extensores da mente

humana.

No entanto, as inovações tecnológicas, perante nossa cotidianidade não constituem

um fato isolado. As elites do poder econômico aprendem fazendo e com isso modificam as

aplicações dessas tecnologias, enquanto que a maior parte das pessoas aprendem usando, o

que lhes permite permanecer dentro dos limites para aplicar essas tecnologias. A revolução

da tecnologia da Informação, propriamente dita, nasceu na década de 70, principalmente se

nela incluirmos o surgimento e a difusão paralela da engenharia genética. Assim, a

dimensão da revolução da tecnologia da informação parece destinada a cumprir a lei sobre a

relação entre a tecnologia e a sociedade, empurrando a uma transformação organizacional

que se desenvolveu independentemente da transformação tecnológica.

Por outro lado, um “movimento geral de virtualização afeta hoje não apenas a

informação e a comunicação, mas também os corpos, funcionamento econômico, os

quadros coletivos da sensibilidade ou mesmo os exercícios da inteligência” (LÉVY, 1996).

Pois, trata-se de um novo esquema paradigmático que vem a substituir, velhos e desusados

esquemas, na qual a cultura letrada parece estar chegando a seu final, que segundo opiniões

autorizadas afirmam com veemência que o livro sobrevirá a essa arremetida tecnológica e

hibridação das mídias. A virtualização constitui justamente a essência ou a ponta fina da

mutação em curso. Ela se apresenta como o movimento do “devir outro”, do humano.

Nesse percurso, analítico e de provocação para nos inserir em temas transversais e

trans-disciplinares no uso de tecnologias da inteligência, como se apresenta hoje o

computador que, para Pierre Lévy é um pedaço, um fragmento da trama, “um componente

incompleto da rede calculadora universal” (LÉVY, 1996, p.31). Para ele, há hoje um único

computador que está em toda parte e à vez em nenhuma, disperso, vivo, pululante, virtual,

um campo de Babel: o próprio Ciberespaço. Que, para compreendê-lo, teríamos que nos

remeter às mesmas fontes, proporcionado pela análise da Inteligência coletiva, que segundo

104

Lévy é uma inteligência distribuída por toda parte, que resulta em uma mobilização efetiva

da competência.

O desenvolvimento dos novos instrumentos de comunicação se dá dentro de uma

grande mutação de alcance universal que, no entanto, a ultrapassa, saindo da sua órbita

centrípeta e voltando ao círculo, do princípio, quer dizer voltamos a ser nômade.

Entendemos que o nomadismo desta época refere se principalmente à transformação

continua e rápida das paisagens científica, técnica, econômica, profissional e mental. Em

uma interação, que poderia se dar, o novo espaço do nomadismo não está constituído pelo

território geográfico dos estados, nem das instituições, mas são espaços invisíveis de

conhecimento e de saberes, as potencialidades do pensamento, a criatividade, onde brotam e se

transformam em qualidades do ser humano, quer dizer uma nova maneira de constituir

sociedade. Isto traz, novos problemas sociológicos, da pós-modernidade re-atualizando

conceitos de “tribo” “república”, abordados por MacLuhan.

105

Capítulo 3 - AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E SUAS

INTERFACES COM A EDUCACAO SUPERIOR

3.1. As NTICs no contexto do ensino superior na sociedade globalizada

Os recentes e intensos impactos socioeconômicos e culturais, que se propagam

com a velocidade dos acontecimentos e com a modernização, e que, graças à evolução

tecnológica, afetam, em diferentes graus, as rotinas dos países, confirmam a natureza

universal do atual processo de globalização da sociedade contemporânea. Esses impactos

vêm gerando mudanças que se tornam cada vez mais visíveis na vida quotidiana do

cidadão.

Nesse sentido, a principal característica deste novo estágio sócio-econômico é o

fabuloso acúmulo de informação em todos os domínios, com potencial de armazenamento

vertiginoso. Embora esse conhecimento não seja produzido necessariamente na

universidade, é aí onde se forma grande parte dos técnicos e pesquisadores que integram as

instituições de ensino, pesquisa e também técnicos que atuam no mundo do trabalho

produzindo ciência e tecnologia.

Atualmente o acúmulo de conhecimento produzido se concentram em alguns

países identificados como Grupo dos Sete ou G7. De fato, 70% dos trabalhos científicos

produzidos no globo, em 2004, aí se localizam, apesar desse grupo responder apenas por

14% da população mundial.

A concentração de informação agrava de modo significativo, o desequilíbrio

internacional em todos os níveis. Este fato coloca em crise o papel tradicional da

universidade que está relacionado à produção e à divulgação do saber.

A primeira questão que se coloca para a universidade, a fim de que ela possa

redefinir seu papel, diz respeito ao modelo ou à estratégia de desenvolvimento para os

quais ela está a serviço. Nesse sentido, duas alternativas extremas podem ser esboçadas

106

aqui: o modelo concentrador que busca aproximar o Brasil do padrão internacional pelo

fortalecimento científico-tecnológico de determinados setores da sociedade, a partir do qual

se aceita a exclusão de grandes segmentos sociais e, de outro lado, há o modelo includente,

para o qual o desenvolvimento deve ser igualitário, concentrado no princípio da cidadania

como patrimônio universal, de modo que todos os cidadãos possam desfrutar os avanços

alcançados.

O sentido da autonomia universitária requer que esta não aceita ser colocada a

serviço de um único segmento social. A contradição de seus múltiplos papéis é colocada, e

é de modo crítico e dialético que a universidade precisa situar-se na sociedade. De um lado,

ela contribui para o desenvolvimento tecnológico contemporâneo, formando quadros e

gerando conhecimento para esta sociedade concreta. De outro, a universidade está a

serviço de uma concepção radical e universal de cidadania. Como participante do

desenvolvimento tecnológico, ela será, ao mesmo tempo, crítica ao modelo econômico

globalizado e parceiro do setor produtivo. Enquanto promotora da cidadania universal,

orientará parte significativa de sua produção de saber pelos interesses sociais mais amplos

da sociedade.

De todas as formas, um papel se impõe à universidade contemporânea, que é sua

função social. Isso é assegurado pelo direito de todas as pessoas à vida digna. Mais ainda no

contexto da nova sociedade da informação, que propicia a ampliação democratizante do

acesso a esses conhecimentos. Ela deverá se orientar, em primeira instância, não só pelos

desafios tecnológicos, mas também pela questão ética que diz respeito a toda a amplitude

da existência humana. Assim, parece fundamental que a universidade, por todas as suas

ações, busque o equilíbrio entre vocação técnico-científico e vocação humanística. Nesta

interseção parece residir o amplo papel de instituição promotora da cultura.

Os desafios atuais enfrentados pela sociedade exigem qualificações cada vez mais

elevadas, ampliando-se as necessidades educacionais da população. Diante desse cenário,

107

cresce a importância dos cursos de graduação, entendendo-se que a responsabilidade da

universidade com a formação do cidadão não pode se restringir ao preparo do indivíduo

para o exercício de uma profissão, como se fosse o suficiente para integrá-lo no mundo do

trabalho. Essa formação exige o compromisso com a produção de novos conhecimentos e

o desenvolvimento da capacidade de adaptar-se às mudanças.

O incremento das novas tecnologias provoca intensas alterações profissionais bem

como requerem uma crescente intelectualização e o enriquecimento das atividades

produtivas, o que demanda um aprendizado que envolva o manejo de informações, os

conhecimentos abstratos e a habilidade de lidar com grupos em atividades integradas.

Os cursos de graduação devem propiciar a oferta de referenciais teórico-básicos

que possibilitem o trâmite em múltiplas direções, instrumentalizando o indivíduo para atuar

de forma criativa em situações imprevisíveis. A graduação não deve restringir-se à

perspectiva de uma profissionalização rigorosa, especializada. Há que propiciar,

primeiramente, a aquisição de competências em longo prazo, o domínio de métodos analíticos, de

múltiplos códigos e linguagens, enfim, uma qualificação intelectual de natureza

suficientemente ampla e abstrata para constituir, por sua vez, base sólida para a aquisição

continua e eficiente de conhecimentos específicos.

Assim, a aquisição de conhecimentos deve ir além da aplicação imediata,

impulsionando o sujeito, em sua dimensão individual e social e responder desafios. Ao

invés de ser apenas o usuário, deve ser um agente capaz de gerar e aperfeiçoar tecnologias.

Com isso, torna-se necessário desenvolver habilidades de recriar e aprender

permanentemente, retomando o sentido de uma educação continuada.

Para atender a essa exigência, a graduação necessita deixar de ser apenas um espaço

de transmissão e de aquisição de informações, para transformar-se no lócus de

construção/produção do conhecimento, no qual o aluno atue como sujeito da

aprendizagem.

108

Evidencia-se, assim, a importância da iniciação à prática da pesquisa: aprender a

aprender, a desenvolver processos teórico-epistemológicos de investigação da realidade,

utilizando informações de forma seletiva. E isso só acontecerá, de forma efetiva, pela

integração dos diversos níveis de ensino, em especial da graduação com a pós-graduação, e

pela definição de linhas prioritárias de pesquisa e extensão.

Nesse sentido, não há como isolar os programas de pós-graduação dos de

graduação. A perspectiva científica indispensável para o docente de graduação é objeto de

formação específica própria do nível de pós-graduação. A pós-graduação precisa integrar à

sua missão básica de formar pesquisadores, também a responsabilidade da formação de

professores de graduação, integrando, expressamente, questões pedagógicas que dizem

respeito ao rigor dos métodos específicos de produção do saber, em perspectiva

epistêmica.

O aprender e o recriar permanentemente, ou o aprender a aprender, são conceitos

pedagógicos derivados dos novos desafios da sociedade contemporânea, que não se

esgotam no campo da introdução à ciência ou aos métodos de reprodução do saber. Todo

o saber é contextualizado historicamente, assim como toda atividade profissional humana

se dá em contexto social, configurando que o papel da universidade situa-se entre os

interesses mais estreitos da sociedade tecnológica e a contingência ética da necessidade de

integração de todo patrimônio dos bens e da cultura que uma sociedade produz.

O processo pedagógico caracterizado como aprender a aprender, neste âmbito, inclui

igualmente o pólo da extensão universitária, que se desenvolve em parceria com grupos

sociais no contexto da sociedade que integra cidadãos. Trata-se do ensino e da pesquisa

articulados com as demandas sociais.

A nova modalidade de curso superior – os cursos seqüenciais criados pela LDB –

coloca, por seu forte nexo com a graduação, um novo desafio na perspectiva da articulação

do sistema como um todo. Através da flexibilização e da pluralização da formação dos

109

graduandos e da institucionalização de cursos não permanentes, pode-se ampliar espaços e

oportunidades para o atendimento de demandas localizadas e novas experiências didático-

pedagógicas, permitindo ganhos qualitativos para a estruturação da graduação.

Manter a relação entre os vários graus de ensino é alicerçar o entendimento da

necessidade de pensar-se o sistema como um todo, evitando a dispersão de energia na

aplicação de medidas isoladas, em que se fragiliza a dimensão do conjunto; possibilita a

percepção da dinamicidade do processo, configurando a educação como um processo não

linear, projetando-se no sentido da intercomplementaridade, estabelecendo relações

dialógicas em que se ampliam os espaços de negociação dos significados construídos em

cada campo.

A dinâmica e a velocidade das mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais

da sociedade moderna caracterizam o que se convencionou chamar de “novo milênio”. No

passado, as mudanças significativas na vida humana exigiriam, no mínimo, o tempo

correspondente a uma geração para ocorrerem. Gradativamente, passaram a serem

imprevisíveis. Trata-se da era da incerteza, conforme Morin (2000: 86): “[...] o conhecimento

navega no mar da incerteza, na busca do arquipélago da certeza [...]”.

Informatização, globalização e sociedade do conhecimento são alguns dos fatores

que estão pressionando o status quo da vida atual. Além desses fatores, ou mesmo como

conseqüência deles, assiste-se à falência do atual modelo econômico-político, preocupado

prioritariamente com a tríade: tecnologia, consumo e lucro, e desatento às questões

ecológicas e ambientais. Este rápido panorama evidencia a importância da educação

superior no Brasil, que, indubitavelmente é uma das mais respeitáveis instituições sociais.

110

Nesse sentido, a educação colabora na forma de infosfera52, porque ela é um

processo social que muitas vezes envolve grupos pequenos, como a família, ou grandes,

como a comunidade, desde o ensino fundamental até os graus mais avançados. Assim, no

que se refere ao ensino superior, observa-se a predominância dos critérios de busca de

atendimento de necessidades voltadas para o mercado, ou seja, prevalecem critérios

econômicos.

Surge, dessa forma, a comercialização do ensino superior, a predominância de

critérios utilitaristas, com o prejuízo de ações que privilegiam os aspectos sociais e o

atendimento aos interesses de um pequeno grupo. A educação superior é uma instituição

social, cujo papel fundamental é formar a elite intelectual e científica da sociedade a que

serve. Assim, a educação superior é estável e duradoura, concebida através de normas e

valores da sociedade. É, acima de tudo, um ideal que se destina, enquanto integrador de um

sistema, à qualificação profissional e promoção do desenvolvimento político, econômico,

social e cultural.

3.2. O ensino presencial e a distância apoiado pelas NTICs

As exigências, bem como as possibilidades do mundo contemporâneo, nos

induzem a pensar em inserir nos currículos das universidades o uso permanente das novas

tecnologias, considerando as nossas peculiaridades e analisando as nossas possibilidades,

limitações e potencialidades. As mudanças em curso sejam elas de cunho histórico, sociais,

políticas e econômicas surgem através de um conjunto de circunstâncias muito específicas

que têm causado impactos em todos os setores da atividade humana; sobretudo, as recentes

pesquisas científico-tecnológicas que, ampliando infinitamente o processo de comunicação

humana, surgem na sociedade interagindo em redes.

52 Infosfera. É o ambiente no qual os organismos se formam como células interconectadas. A linguagem constrói este sistema de inervações e simula uma comunidade, é na linguagem, que se forma a simulação de origem. Disponível em: <www.rizoma.net/neuropolítica/> Cognição e sensibilidade no hipermundo,. Acesso em: 23 de agosto de 2004.

111

Figura 5 – As tecnologias como apoio para o ensino presencial e a distância. Sala equipada com apoio do SIAE (Sistema Integrado de Apoio ao Ensino na USP)

Algumas questões iniciais nos instigam a investigar o ensino superior neste

determinado momento onde a incorporação da modalidade de ensino a distância segue em

complementaridade ao ensino presencial, inaugurando a convivência acadêmica em fluxos

de aprendizagem. As investigações priorizam as mudanças que ocorrem nas relações entre

professores e alunos com o conhecimento em ambiente onde a informação tende a ser

compartilhada a partir de interesses comuns os quais, além dos fatores cognitivos,

envolvem fatores afetivos que subjazem no domínio destas relações.

Analisando o cenário nacional da Educação a Distância – EAD – o professor em

Educação da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica de Paraná), Marco Eleutério, diz

que o Brasil é um país com grande potencial para uso da Internet no ensino a distância,

devido a sua extensão territorial e a carência de oferta de cursos em regiões menos

desenvolvidas. Ele comenta:

[...] o que falta, no entanto, é uma cultura de EAD, tanto por parte das instituições e professores. A cultura de EAD no Brasil é a dos antigos cursos por correspondência, mas no recente aumento na oferta de cursos a distância usando as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) tende a alterar a imagem da EAD e proporcionar uma mudança de postura de alunos e professores. Para isso, é preciso que a qualidade dos cursos on-line e a capacitação docente em e-learning seja uma preocupação constante das instituições. 53

Nesse contexto, especialistas apontam que a principal barreira para o crescimento

da EAD se encontra na estreita visão pedagógica de administradores e gestores

53 LIRA, Cícero. E-learning, tão longe e tão perto da construção do conhecimento. In: Voz do Paraná. Jornal de atualidade científica e qualidade de vida. Ano 47, n. 1779, Curitiba, out. 2003, p.8.

112

educacionais, reforçada pela grande resistência que boa parte do magistério tem em relação

à inovação pedagógica. O especialista em educação e consultor de empresas e universidades

em projetos de educação on-line, Wilson Azevedo, diz:

[...] A resistência à tecnologia é muito fácil de ser vencida. Em pouquíssimo tempo é possível superar a resistência à tecnologia e fazer professores, alunos e gestores operarem tecnologias extremamente sofisticadas. Alunos geralmente adoram a inovação pedagógica, embora um número muito reduzido de alunos resista. Mas professores e gestores resistem muito.

113

As vantagens e desvantagens da e-learning54, estão nos seguintes quadros: Quadro 1

VANTAGENS

- Flexibilidade de tempo

- Flexibilização de horário

-Personalização da aprendizagem

- Possibilidade de compartilhamento da pesquisa sem sair do

local de trabalho ou da cidade em que se vive

-Acesso fácil às grandes instituições de ensino

Quadro 2 DESVANTAGENS

- O aluno precisa saber gerenciar o tempo, autonomia para ler,

pesquisar e estudar sozinho em horários diferentes e muitos não

têm hábito nem a maturidade para fazê-lo.

- Muitos alunos não têm acesso ao computador, à Internet (só

10% da população brasileira o faz).

- Muitas instituições entram na EAD sem conhecimento da sua

complexidade e oferecem pacotes de ensino pronto, com quase

nenhuma interação e suporte.

Na atualidade a estrutura do Ensino Superior, seja presencial ou a distancia, é

resultado da concepção e das normas contidas na Reforma proposta pela lei 5540/68, que

fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e de sua articulação com a

escola de Ensino Médio, e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 5692/71 e

na LDB 9394/96, em vigor, revitalizando as expectativas positivas no Ensino Superior.

A universidade passa, no pressente momento, por uma crise de vários aspectos, no

entanto sua missão e compromissos sociais são mais relevantes, visto que já não é possível

prorrogar mudanças. “Nessa linha de considerações, as alternativas mais viáveis podem ser

o diálogo, a crítica, o planejamento e avaliação, adequados à realidade na qual se insere a

universidade”.55

54 LIRA, Cícero. Id., p. 9. 55 MATIAS, Nilcéia Lopes. Reflexões sobre a Educação Superior. São Paulo: Terceira Margem, 2002, p. 13.

114

Por outro lado, o crescimento da Educação a Distância (EAD), no Brasil e no

Mundo, cresce de modo paralelo à educação formal, pelo uso das NTICs, que possibilitam

a transmissão dos conhecimentos com maior facilidade e velocidade. A Universidade de

São Paulo -USP, a maior das Universidades Públicas da América Latina, é parceira do

Projeto da OECD e da CERI56, junto a dezenove universidades de treze países, com sede

na Europa. O professor Carlos Alberto Barbosa Dantas do IME (Instituo de Matemática e

Estatística), é o coordenador do Grupo de Trabalho de EAD na USP. Na reunião

acontecida em 2005, na Europa, estabeleceu-se que cada uma das universidades integrantes

do projeto deveria participar e implementar a EAD.

A Proposta da Educação a Distância na USP é uma iniciativa proposta pelo ex-

Reitor Jackes Marcovitch, “atualmente o projeto de implementação da EAD na USP não

está formalizado, mas se espera informes das diferentes unidades para concretizar o projeto

dentro do plano e atuar em rede” diz o Prof . Carlos Alberto Dantas (em entrevista do 10

de novembro de 2005).

Segundo o censo da educação superior no Brasil (2003), a Tabela 1 apresenta os

detalhes de número de cursos presenciais por categorias administrativas com mais de 30

horas.

Tabela 1: Cursos presenciais por categoria administrativa Categoria Administrativa Número %

Público 5, 467 53, 5

Privado 4, 744 46, 5

Total 10, 211 100, 00

Cursos a distância com mais de 30 horas também tiveram forte representação no

setor público, como nos mostra a Tabela 2.

56 OECD: Organization for Economic Co-operation and Development CERI: Center for Education Research and Inovation

115

Tabela 2: Cursos a distância por categoria administrativa

Categoria Administrativa Número %

Público 139 54, 1

Privado 118 45, 9

Total 257 100, 00

Fonte: Deaes/INEP/MEC, 2004.

A variedade das atividades de extensão e o expressivo número de participantes

indicam que estas atividades estão perdendo a característica assistencial que as marcou por

algumas décadas e estão se transformando num espaço de oportunidades educacionais e

sociais para a população como um todo.

No que diz respeito aos dados sobre as atividades de extensão colhidos no Censo

de 2003 é preciso ressaltar que, por tratar-se da primeira aplicação do instrumento, é

impossível estabelecer comparações com dados de anos anteriores, o que dificulta a sua

crítica técnica e recomenda com cautela quanto ao seu uso para a orientação de políticas

publicas. O INEP e o fórum de Pró-Reitores de Extensão procederam à rigorosa análise

do instrumento antes de serem aplicadas, em 2004.

Dentre as inúmeras constatações e revelações do Censo da Educação Superior de

2003, podemos destacar as seguintes:

1. pela primeira vez na história, o número de vagas na educação superior

foi maior que o número de concluintes do ensino médio. O número de

candidatos à educação superior (4.9 milhões) é mais do que o dobro do

número de vagas, e várias vezes o numeram de ingressantes (1.2

milhões).

2. a educação superior brasileira segue sendo majoritariamente noturna e se

expande principalmente no setor privado, tornando este setor a principal

116

oportunidade de acesso ao aluno-trabalhador. Do total de 2.270.466

matrículas, no ensino noturno, apenas 407.257 estão no setor público,

enquanto 1.863.209 estão no setor privado, o que parece identificar uma

grave contradição no processo de democratização do acesso à educação

superior nos últimos anos.

3. os estudos comparativos do crescimento populacional mostram que as

regiões Norte e Nordeste, apesar do maior crescimento de matrículas

nos últimos anos, ainda têm uma representatividade das matrículas

menos do que a representatividade percentual da população.

4. o censo de 2003, pela primeira vez, revela aspectos das atividades de

extensão das IES brasileiras, mostrando uma faceta da vida acadêmica

que até aqui permanecia oculta. Pela primeira vez, o INEP começa a

coletar, juntamente com o Fórum de Pró-Reitores de Extensão, um

conjunto significativo de dados relativos à extensão, com indicações

importantes sobre a participação das IES no seu entorno social.

5. o ritmo de crescimento das matrículas nas instituições de educação

superior diminui um pouco em 2003, mas não de forma significativa,

permanecendo muito próximo aos 13% ao ano e mantendo, portanto, a

tendência dos últimos cinco anos.

6. o setor público continua a ter uma maior representatividade percentual

com relação à titulação do quadro docente, sendo o espaço mais

adequado para estudos avançados, especializações, mestrados e

doutorados; não obstante o crescimento significativo de mestres e

doutores no setor privado.

7. a região sudeste, embora sem aumentar a sua participação percentual das

matrículas, continua a representar cerca da metade das matrículas da

117

graduação e 68% das matrículas da pós-graduação stricto sensu, enquanto

no ensino fundamental esta participação é de apenas 35,9%.

8. dados da CAPES revelam que 86,2% dos programas de pós-graduação

estão em instituições públicas, assim distribuídos: 56% em instituições

federais, 30% em instituições estaduais e 0,2% em instituições

municipais. O quadro que se apresenta é, pois, o oposto do ensino de

graduação no qual a oferta de cursos das instituições privadas é muito

maior do que a das instituições públicas.

Muitos outros aspectos certamente serão destacados pela comunidade acadêmica e

pelos estudiosos das questões que englobam a educação superior no Brasil. O que os

destaques acima sugerem, no entanto, merece reflexões profundas por parte de todos os

que têm compromisso de democratização do acesso à educação superior, no avanço da

arte, da cultura, da ciência e da tecnologia, a melhoria da qualidade do ensino, da pesquisa e

da extensão e os rumos da sociedade brasileira. O INEP entende estas reflexões iniciais

como ponto de partida para um debate intenso e profícuo e se coloca à disposição dos

pesquisadores e estudiosos interessados em desenvolver estudos aprofundados sobre estas

e outras questões.57

Um outro lado não menos instigante que nos induz a investigar e refletir refere-se

aos movimentos que surgem na sociedade em rede, examinados em acuidade por Castells

(2001: 22). Ao mesmo tempo em que eles contêm uma certa tendência de contestação à

Nova Ordem Mundial, estão intimamente relacionados com a formação de identidades e a

construção de significados capazes de dar um mote às ações coletivas cujos resultados

transformam os valores e as instituições da sociedade.

Compreender de forma aprofundada as relações peculiares que as pessoas

estabelecem em rede e, em especial, as relações que os acadêmicos estabelecem e/ou

57 Fonte: “INEP/ MEC”, Brasília: outubro de 2004.

118

podem estabelecer com seus professores, e de forma mais estreita, com o conhecimento,

nos parece fundamental para se propor ações educativas eficazes em ambientes

tecnológicos.

Dentre os principais desafios da modernidade, redefinir o papel da educação

superior é, sem dúvida, prioridade inadiável. Acreditamos que tal tarefa implica a

instauração de um espaço permanente de aprendizagem no interior das universidades no

sentido de atualizarem as suas práticas, flexibilizando os seus currículos de graduação.

Ressaltamos, porém, que a incorporação de novas tecnologias educacionais - na

esfera universitária - deve seguir por meio de ações articuladas em cooperação com o

mundo do trabalho, precisa promover a organização e a mobilização de esforços para

reconstruir uma nova ordem social. Essa reconstrução torna-se vital neste novo cenário

que se aflora num plano de imanência58, onde os acontecimentos se desenrolam num

ambiente de infinita complexidade, pois, ao mesmo tempo em que se multiplicam, as

formas de dominação social revestem-se dos mais variados atributos de dissimulação e

invisibilidade.

[...] A forma fundamental de nossa sociedade baseia-se na capacidade organizacional da elite dominante que segue de mãos dadas com sua capacidade de desorganizar os grupos da sociedade que, embora constituam maioria numérica, vêem (se é que vêem) seus interesses parcialmente representados apenas dentro da estrutura do atendimento dos interesses dominantes. (CASTELLS, 2001, p. 440)

Nesse sentido, deslindamos a problemática dos processos de ensino e

aprendizagem em nível superior, em contextos nos quais a educação presencial conjugada

com a virtualidade real da educação a distância, através, de tecnologias interativas de

comunicação e informação é incorporada ao currículo, fundamentando o fazer pedagógico

e, assim, contribui efetivamente para a melhoria da qualidade da educação nos cursos de

graduação na Universidade de São Paulo, IES analisada nesta pesquisa.

58 As redes virtuais constituem um plano de imanência, inserido na cultura, é o jogo livre entre todas as performances que ocorrem no mundo da imanência, que ultrapassa a relação sujeito-objeto. Disponível em: <www.rizoma.net/secao espaço>. Acesso em: 15 de abril de 2004.

119

As relações do saber em processos de construção de conhecimentos em ambientes

tecnológicos consideram que as aprendizagens ocorrem em nível pessoal, na interioridade

da mente do indivíduo e que também podem ser ativadas pelo professor por meio de

métodos e técnicas de ensino e potencializadas pela interatividade nos contextos

educacionais, como indica Pierre Lévy (1999:177):

[...] aprendizagens permanentes personalizadas através de navegação, orientação dos estudantes em um espaço do saber flutuante e destotalizado, aprendizagens cooperativas, inteligentes, inteligência coletiva no centro de comunidades virtuais, desregulamentação parcial dos métodos de reconhecimento dos saberes, gerenciamento dinâmico das competências em tempo real...esses processos sociais atualizam a nossa relação com o saber.

Essa nova relação com o saber disponibilizado no ciberespaço manifesta-se através

de um paradoxo no sentido de que este viabiliza o acesso ao conhecimento, ao mesmo

tempo massificado e também personalizado, de longo alcance, se desdobrando

infinitamente em termos de abrangência, promovendo uma interface direta e estreita com o

usuário.

A produção acadêmica sobre as tecnologias educacionais e suas aplicações no

processo de ensino e aprendizagem é vasta; todavia, ainda há muito a se pesquisar, a se

conhecer e explorar face às possibilidades de construção de conhecimento nestes

ambientes nos quais, para se atuar faz-se necessária uma nova concepção de educação, uma

educação passível a ser diligenciada tanto em ambiente presencial quanto pela educação a

distância numa relação de complementaridade. Ao mesmo tempo em que se ampliam as

possibilidades, multiplicam-se as questões acerca do próprio conceito de escola, de cursos,

de disciplina curricular, do processo de ensinar e aprender e, sobretudo, acerca da avaliação

da aprendizagem.

Lembrando que a comunicação, dispensando da presença verdadeira das pessoas

faz surgir os consumidores (Berger apud Pretto, p. 55) nestes espaços de representação da

realidade, espaços de magia, destinado a manifestações do espírito, das emoções, dos

sentidos e dos sentimentos, conforme Pretto (2001, p. 102):

120

[...] a nova escola que se está construindo em vez de razão, o seu elemento mais tem que ter imaginação, fundamental. Essa nova escola que está sendo gestada, nesse processo, deverá estar centrada em outras bases não mais reducionistas e manipulador. O novo sistema educativo trará, por tanto, na perspectiva de formar o ser humano mercadoria, tendo esse sistema como base a realidade maquínica dos meios de comunicação59.

A Universidade, face à sua responsabilidade social, e à sua inalienável função de

formar o homem, o cidadão e o cientista, deve assumir o compromisso de induzir novas

formas de transformação social voltadas para os princípios e valores fundamentais da vida,

sendo que estes nem sempre estão presentes na óptica da racionalidade dominante nas leis

que ora (des) regulamentam os mercados. Cabe à educação, particularmente à educação

superior, desenvolver no sujeito as capacidades intelectuais que o ajudem a compreender e

transformar a sociedade e, nesse sentido, a universidade deve assumir o seu papel enquanto

agente de formação que tem por desafio pensar o profissional no mundo contemporâneo.

Cientes da necessidade de perseguir o rigor da ciência, investigar o impacto em

potencial que as novas tecnologias pedagógicas poderão ter no ensino e na aprendizagem,

nos conduz a trilhar caminho próprio, visto as possibilidades de construção de

conhecimentos nesses novos ambientes.

O aprofundamento dos estudos que nos permita repensar a reconstrução dos

currículos de graduação na universidade, na sociedade da informação, deve levar em

consideração a concepção de um novo espaço de aprendizagem em ambientes de novas

tecnologias de informação e comunicação; a relação entre informação e conhecimento; as

interações professores - alunos em ambientes presencias e em ambientes virtuais; as inter-

relações entre educação e comunicação; as atribuições da educação a distância conjugada ao

ensino presencial no sentido de elevar os índices de proficiência acadêmica.

59 CASTRO, Rosalva Ieda V.G. de. Sociedade em Rede: Ensino Superior (des) Conectado? In: Revista Brasileira de tecnologia Educacional. Anos XXX / XXXI, n. 159/160. Brasília: ABT, 2003, p. 70.

121

3.3. As novas tecnologias no ensino superior

Desde 1970, quando começou a discussão sobre a “sociedade da informação”,

sabe-se que estão ocorrendo significativas transformações na maioria das sociedades do

primeiro mundo, tanto no ponto de vista social quanto econômico. Se compararmos um

país desenvolvido como os Estados Unidos de América (EUA) com o Brasil, por exemplo,

os EUA, também tem na sua origem, uma sociedade agrária, depois se tornaram uma

sociedade industrializada e atualmente, uma sociedade baseada na tecnologia da

informação. O Brasil, por sua vez, ainda está em transição à fase agrária - industrial, ao

mesmo tempo em que possui fortes componentes da era da informação em andamento.

Nesse contexto, a informática, subsidiada pelas novas tecnologias, tem um poder

transformador que, às vezes faz com que um país queime etapas e acelere seu

desenvolvimento. Isso ocorre, com o uso das novas tecnologias educacionais aplicadas

presencialmente e a distância. Reconhecendo o poder transformador das novas tecnologias

da informação e comunicação, a maioria das agências internacionais de fomento ao

desenvolvimento e universidades privadas e públicas estão estabelecendo programas de

incentivo e financiamento da expansão e da utilização das tecnologias de informação em

todas as áreas do saber.

Na área da saúde, por exemplo, estão sendo propostos vários projetos muito

interessantes e de grande importância para o desenvolvimento dos sistemas de informação

na área. Um deles é uma Universidade Virtual de Ciências da Saúde60, que oferecerá muitos

recursos on-line em todas as áreas de especialização e níveis de ensino. Está sendo proposto

também um prontuário médico (informações médicas sobre pacientes) unificado e

padronizado, que funcione através de rede de computadores.

60 Disponível em: <http://www.epub.org.br/informaticamedica/>. Acesso em: 29 de maio de 2004.

122

A telemedicina61 é outra área extremamente procurada, e que deve passar por um

grande crescimento nos próximos anos. Muitos dos projetos propostos, como o da

Universidade Virtual, serão de iniciativa do Brasil, mas envolverão grande número de

países, globalizando a oferta e a demanda, mas o que essencialmente se pretende é que a

rede passe a ser cada vez mais acessível para todos, inclusive para os menos privilegiados

economicamente – os infopobres.

Nesse sentido, a maior parte das instituições de ensino superior no Brasil, se voltou

para a educação compartilhada – presencial e a distância – com as NTICs, a partir de 1994,

inaugurando o uso e a expansão da Internet no ambiente universitário. Atualmente, 27

instituições estão credenciadas pelo Ministério da Educação a oferecer cursos de graduação

on-line. A maioria, no entanto, é dirigida para a formação de professores e ainda utiliza a

tradição do material impresso.

Embora especialistas concordem que a Internet pode ser um meio de interação num

processo educacional de excelente qualidade, o recurso ainda tem uso limitado no Brasil.

Um dos motivos é o público que se quer atingir. Outro desafio para a utilização adequada

das novas tecnologias é que as universidades brasileiras sejam públicas ou privadas, não

têm experiência de produção de material especifico para uso na Internet.

O uso da Internet já é bastante disseminado como ferramenta de ensino,

permitindo o ensino de cursos a distância e, em casos simples, o apoio a atividades

presenciais, apesar de não se constituir em um meio completo, pois embora possa utilizar

vídeos, áudios e textos, não o faz tão eficiente quanto o videocassete, a televisão e os livros.

A Internet apresenta duas vantagens principais sobre os demais tipos de mídia: em

primeiro lugar, ela reúne e combina as vantagens comuns às demais mídias; por exemplo,

apresenta recursos de som e vídeo melhor que qualquer livro; é mais interativa que

qualquer videocassete e, finalmente, pode reunir, com baixo custo, pessoas distantes

61 Telemedicina:Transmissão de informações sobre pacientes, imagens, etc., e a consulta médica a distância.

123

geograficamente. A segunda vantagem é que, sem dúvida, é o recurso que possibilita a maior

quantidade e diversidade de informações no mundo atual. Através dela é perfeitamente

possível incorporar em um curso toda a informação disponível na rede.

Essa tecnologia combina interatividade com fotos, áudio, vídeo e texto impresso;

utiliza hyperlinks para reforçar conhecimentos ou apresentar explicações; permite que sejam

efetuadas avaliações on-line. Como nova ferramenta cognitiva representa um novo conceito

em tecnologia: a livraria em sua mesa de trabalho, o dicionário em seus dedos, o som em

seus ouvidos. É um recurso que está se tornando cada vez mais presente, tanto nos

escritórios quanto nas indústrias, ou mesmo em residências.

Neste contexto, enfatizamos que as novas tecnologias são instrumentos de

mediação desse processo, não podendo ser considerada, por tanto, como ator principal da

construção do conhecimento. Entretanto, devemos também assinalar que quando

utilizamos meios de comunicação, estamos utilizando sua linguagem, que é a base do

processo de conhecer. Portanto, um meio audiovisual, ou um ambiente informático, não

são meramente simples recursos. Ele influencia, decisivamente, no modo como se constrói

o conhecimento. Ou seja, com meios distintos, não somente se aprende de modo distinto,

mas também se produzem aprendizagens distintas.

O ensino, por muito tempo, baseou-se em um processo meramente de transmissão

de conhecimentos teóricos, descontextualizados da realidade e dos interesses dos alunos.

Essas abordagens não conseguiram garantir uma aprendizagem verdadeiramente

significativa para a sociedade. Atualmente, o advento da utilização das novas tecnologias de

ensino está gerando uma expectativa, talvez exagerada, de que estes novos ambientes

garantirão uma excelência na aprendizagem.

É evidente que os computadores e seus aplicativos por si só não trarão mudanças

efetivas, se não vierem acompanhados de propostas metodológicas que valorizem a construção

do conhecimento e de sua importância na realidade social do aluno. As novas tecnologias

124

serão importantes ferramentas na construção dos conhecimentos, permitindo que os

estudantes possam utilizar as diversas formas de transmissão da informação (escrita, visual,

sonora etc.) em benefício da construção de uma aprendizagem mais flexível e aberta.

É provável que muitos programas de computadores, ao serem colocados à

disposição da sociedade, já tenham escolhido no seu escopo uma certa carga ideológica

podendo proporcionar alteração na formação econômica, social, cultural e política nas

escolas e na sociedade na qual são introduzidas.

Muitos professores jamais passaram por uma carga de informação tão grande e sem

o estudo de uma estratégia adequada para uso dessa tecnologia, eles, se vêem forcados a

serem absorvedores de técnicas computacionais que dificilmente conseguem assimilar, pois

quando estão assimilando uma nova técnica, logo uma outra é colocada no mercado,

tornando a anterior ultrapassada.

Podemos explorar o uso do computador em várias modalidades, e em cada uma

delas, é possível existir transformações que podem ser diferenciadas pela forma e facilidade

com que os métodos e técnicas possam ser aplicados. Nesta última década tem se

presenciado essa mudança nas formas de disseminação de informação e conhecimento,

propiciando o desenvolvimento de novas metodologias de ensino e pesquisa. Essas

metodologias são baseadas em novas tecnologias de computação e mídias eletrônicas,

como constatamos na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – FOUSP.

A sociedade depende tanto dos computadores que muitas empresas, hospitais,

indústrias e mesmo pessoas comuns não conseguem viver sem o auxílio desta ferramenta.

Muitas pesquisas vêm acompanhando a relação que ocorre entre o ser humano e os

computadores, tanto é que a HCI (Human Computer Interating) foi instituída para estudar a

relação de interação homem-computador.

Com o surgimento e expansão do uso dessa nova tecnologia, se instala uma disputa

entre aqueles que defendem o uso do computador como um instrumento de ensino e outros

125

que a defendem como uma ferramenta de aprendizagem, Contudo, há aspectos fundamentais

por detrás das respectivas colocações. Na verdade, as duas posições em questão nada mais

são de que uma retomada, agora envolvendo o computador numa disputa que atravessa

milênios. Se, estudamos a história das idéias pedagógicas veremos que, desde seu início, há

dois paradigmas que se confrontam e disputam a justificativa dos pedagogos.

De um lado, há o paradigma que vê a educação como um processo de transmissão

de crenças, habilidades, valores, atitudes, costumes etc., conduzido pelas gerações mais

velhas em benefício das mais novas, e que tem por objetivo a continuidade da cultura e a

preservação das tradições do grupo social. A necessidade levada nesse estudo é

basicamente a social, a ênfase está nos conteúdos a serem transmitidos, e,

conseqüentemente, no processo de ensino e no papel do professor.

De outro lado, há o paradigma que concebe a educação como um processo de

desenvolvimento do ser humano, processo este que, em condições próprias, leva ao

desabrochar das suas potencialidades, da sua criatividade, da sua inventividade. O produto

final desse processo é o indivíduo autônomo que aprende por si próprio, porque aprendeu a

aprender através de um processo de busca, de investigação, de descoberta e de invenção. A

prioridade induzida nesse estudo é, basicamente, a necessidade individual, com ênfase nos

processos a serem dominados por ele, e, conseqüentemente, na aprendizagem e no papel

que cada um possui na construção dessa aprendizagem.

Os defensores do segundo paradigma acreditam que a escola contemporânea está

dominada pelo primeiro paradigma. Este acontecimento fez, que se integrassem,

naturalmente, aos métodos pedagógicos convencionais – fato que, de outra forma, explica

porque professores aceitam o auxílio do computador com sensata facilidade.

Em sua tentativa de desbancar um paradigma que consideram ultrapassado, os

defensores da “aprendizagem por descoberta” procuram fazer do computador seu principal

126

aliado. Esperam que o computador possa ajudá-los a promover uma transformação

profunda dos objetivos e métodos da educação tradicional.

Este estudo insere-se no segundo paradigma, uma vez que, as ferramentas utilizadas

no Laboratório de Mídias na FOUSP, otimizam o aprendizado. Nas práticas - baseadas no

aprendizado colaborativo entre alunos, professores e estagiários - a capacidade interativa do

computador; ajuda-lhes a assinalar erros, assim como lhes permitindo repetir as práticas,

pois, o estudante precisa delas para aperfeiçoar seu aprendizado e pesquisa. Papert, criador

da linguagem de programação LOGO, inspirou-se na filosofia da educação; seu objetivo

fundamental é a promoção da filosofia da educação associada com o segundo paradigma,

que ele assimilou de Jean Piaget.

Resta perguntar quem tem razão, se os proponentes do primeiro ou os proponentes

do segundo paradigma. Não obstante, como em toda discussão em que posições se

radicalizam, nenhum dos dois lados tem toda a razão e nenhum dos dois carece totalmente

de razão.

Não resta a menor dúvida de que há contextos em que o ensino formal e

deliberado de determinados conteúdos faz sentido e é justificável. Talvez esses argumentos

se identifiquem mais como conjunto de treinamentos do que como contextos

propriamente educacionais, mas que existem não há dúvida. Obviamente ninguém querer

que pilotos de avião ou cirurgiões (por exemplo) aprendam por descoberta tudo o que têm

que aprender. Muitos poderiam morrer até que descobrissem o jeito certo de voar ou

realizar um ato cirúrgico, se é que o descobririam deste modo. Também não faz sentido,

mesmo em contextos educacionais, esperar que todos aprendam, por descoberta, tudo o

que têm que aprender.

Assim, se a educação se esgotar no processo de transmissão de conhecimentos e

dos valores criados pelas gerações anteriores, sem a geração de conhecimento novo, sem o

127

questionamento de valores, sem a inventividade e a inovação, deixarão de existir evolução

cultural e progresso, passando a haver estagnação ou mesmo retrocesso.

É preciso conhecer que a aprendizagem é algo que ocorre durante a vida inteira, e

não apenas na escola e que é importante reconhecer que poucas pessoas aprendem a

aprender por si próprias, sem nenhum ensino-aprendizagem nas escolas. Normalmente a

noção de aprender a aprender é utilizada apenas como um chavão, um slogan sem conteúdo.

Mas é possível atribuir-lhe importância.

3.4. As NTICs e suas interfaces com as ciências da saúde e ciências

biomédicas

Com base na premissa de que a história da ciência se modificou configurando

momentos de normalidade e de revolução científica, sendo esses representados pela busca

de respostas às indagações acerca da sociedade, é possível inferir que o homem sempre

procurou desenvolver sua capacidade física cognitiva, por meio de tecnologias que, de uma

forma ou de outra, intercedem seu relacionamento com a natureza.

Agora, atrelados, ao processo revolucionário das novas tecnologias, entramos em

uma fase mais avançada, que traz como potencial a aceleração das novas descobertas para o

melhor aproveitamento nas ciências da saúde, nas biomédicas e demais ciências que se

entrelaçam e compartilham os benefícios dessas descobertas.

Essas novas tecnologias contribuiriam significativamente para a libertação do

homem, por meio das facilidades cotidianas e do aumento da sua capacidade cerebral.

Tanto a revolução industrial quanto a informacional têm contribuído para a maximização

do trabalho e da comunicação entre os homens.

Assim, acreditamos que é preciso garantir a apropriação das interfaces que ampliam

a inteligência, e não somente as próprias extensões sensoriais do corpo humano, com

grande valia das NTICs. Nesse sentido, nosso trabalho fez um percurso panorâmico do

128

uso dessas novas ferramentas eletrônicas, em áreas biomédicas e ciências da saúde, na

Universidade de São Paulo, que apresentamos a seguir.

3.4.1. Escola de Enfermagem da USP Campus de São Paulo

No mundo contemporâneo – a chamada sociedade da informação – pesquisadores de

diversas áreas da atividade humana buscam novos recursos e ferramentas para a

disseminação cada vez maior e melhor dos conhecimentos.

Na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP), Campus da

Capital, acredita-se nas enormes possibilidades e também nos desafios que as Novas

Tecnologias da Informação trazem para a melhoria da qualidade do ensino e pesquisa,

garantindo vantagens e benefícios para toda a população que precisa tratamentos muito

mais eficientes nessa área da saúde.

Figura 6 – As tecnologias de informação e suas interfaces com as ciências da saúde

Essas possibilidades e desafios incidem principalmente sobre o docente,

sintetizadas em algumas dificuldades enfrentadas. O professor deste século encontra-se

com maiores dificuldades para controlar o fluxo de informação recebida cotidianamente

pelos alunos, se comparado com o professor do século passado. A variada

instrumentalização das informações distribuídas no ciberespaço, em forma de rede, e, que

de alguma maneira atingem aos estudantes, pois, essas redes se apresentam como uma

“escola paralela”, analisado por Mc Luhan ao referir-se à “escola sem muros”.

129

Tradicionalmente, a força física predominava em todas as atividades humanas

desde a produção de riqueza material até a intelectual (impressão de livros). Hoje, a

inteligência e os conhecimentos constituem a base do capital humano, pois, existe a constante

busca da informação e sua aplicação na produção, possibilitando um avanço no perfil da

competência e da empregabilidade. Segundo a Profa. Dra. Maria Madalena Januário Leite,

“o conhecimento é inexaurível e provisório e tornou-se valioso, transcendendo fronteiras,

sendo verdadeiramente global62 ”.

Na EEUSP, se concorda que no cenário atual, acontecem mudanças em ritmos

acelerados, apontando câmbios irreversíveis nessa sociedade pós-industrial. Nela, essas

mudanças, encontram espaços apropriados para o surgimento de paradigmas, os quais

fornecem tendências para novos valores.

Com o uso das novas tecnologias de informação, e comunicação as possibilidades

de criatividade acrescentam-se no desenvolvimento profissional dos indivíduos. Elas

podem auxiliar produzindo criações espetaculares, fazendo que os dois hemisférios do

nosso cérebro (esquerdo e direito) dialoguem, o que resultarão em criações inimagináveis.

Atualmente, os professores que têm acesso às novas tecnologias – infelizmente uma

minoria - não podem se queixar de que não têm material didático, pois com as novas

tecnologias, a criatividade se faz muito mais eficiente.

Referente às tecnologias da informação aplicadas na saúde/enfermagem, a Escola

de Enfermagem lançou uma proposta curricular e uma proposta pedagógica. Pois, elas

trazem vantagens no ensino e na pesquisa, sobretudo nos seguintes aspectos:

• mudanças nos padrões e condutas;

• mudanças no processo de trabalho do professor e do aluno;

• maior produtividade com melhor qualidade de resultados;

62 Palestra no 1º. Workshop na Escola de Enfermagem da USP, Campus da Capital, intitulado “Tecnologia da Informação para o apoio ao ensino de enfermagem”, realizado em 23 de junho de 2005 em São Paulo.

130

• maior satisfação do professor e do aluno;

• trabalhar com essas tecnologias em forma prazerosa.

Na EE da USP, as novas tecnologias da informação encontram muitas

possibilidades para a sua realização, porque o sistema de rede ajuda à socialização das

informações, beneficiando o ensino e o desenvolvimento de programas de capacitação por

meio de tele-educação, comprovado na nossa dissertação de mestrado, onde enfatizamos a

tele-educação para contribuir com a capacitação e atualização profissional dos estudantes,

e, colaborando com a eliminação do analfabetismo funcional.

Por outro lado, as novas tecnologias evidenciam também algumas dificuldades para a

sua aplicação, fato percebido na Escola de Enfermagem da USP, quais sejam:

• despreparo tecnológico de alguns docentes que necessariamente precisam

utilizar as tecnologias da informação;

• política de valorização das pesquisas e produção científica, falta de uma política

de informática, para desenhar e empregar melhor a “lousa interativa”;

• a tecnologia de informação é um meio, não um fim. Nesse sentido as tecnologias

de informação servem para o aprender fazendo e o aprender também analisando.

Na Escola de Enfermagem também se analisam os desafios institucionais no

ensino, observando-se que a política de capacitação tecnológica no Brasil, ainda é

incipiente, porque das que acontecem, se é que ha, não incorporam as tecnologias de

informação no processo de trabalho do professor. Além de outras questões como: apoio

institucional para o desenvolvimento dos programas, alto custo de implantação e

manutenção tecnológica, infra-estrutura e apoio interno. Formalizadas estas questões

garante-se o trabalho multidisciplinar do curso.

O grande desafio individual no uso das novas tecnologias de informação na Escola de

Enfermagem é necessário saber operar o computador enquanto instrumento de apoio ao

131

trabalho, usar o processador de textos, quer dizer, utilizar essa máquina para a

aprendizagem e acessar bibliotecas informatizadas ou virtuais.

Os desafios da EE, para a incorporação das novas tecnologias de informação para

o uso na enfermagem, implicariam os seguintes fatos:

• reconstrução de um novo projeto tecnológico;

• construção de uma nova concepção da informática no ensino-aprendizagem e

na pesquisa;

• capacitação tecnológica e pedagógica do docente;

• construção de novas competências do profissional enfermeiro;

• dimensão humana da prática da enfermagem e as novas tecnologias da

informática em enfermagem.

O workshop (1o. nesta escola) foi assistida em outros campi da USP, por meio de

teleconferência para o interior do Estado de São Paulo, o que proporcionou a

interatividade com os lugares acessados.

No primeiro semestre de 2005 a EEUSP também realizou, oito video-conferências,

apoiadas pela infra-estrutura da rede, as salas de informática e os laboratórios de Ensino

virtual, pois, à medida que as novas tecnologias se inovam, a telenfermagem seguirá os rumos

desse desenvolvimento para uma melhor capacitação do profissional da saúde, o que trará

benefícios a toda a sociedade que precise dos serviços assistências de saúde.

3.4.2. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP

A Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) segue a tendência de usar as

novas ferramentas da informática, aliadas para a disseminação cada vez maior dos

conhecimentos. Com recursos modernos de tecnologia e aulas teóricas-práticas mais

humanizadas, a unidade coloca em pauta a tele-enfermagem. As aulas demonstrativas

ganham ainda mais qualidade e fazem com que diminua a exposição dos pacientes.

132

A tele-enfermagem começou a ser desenvolvida no Brasil em 2000, pelo Grupo de

Estudos e Pesquisas em Comunicação no Processo de Enfermagem (GEPECOPEN), com

sede no Centro de Comunicação e Enfermagem da EERP. O grupo trabalha com várias

vertentes na área de Comunicação em Enfermagem e Saúde e foi idealizada pela Professora

Izabel Amélia Costa Mendes, atual diretora da unidade. O GEPECOPEN também é um

dos responsáveis pela organização, do Simpósio Brasileiro de Comunicação em

Enfermagem (SIBRACEM), que ocorrem a cada dois anos.

Segundo a Professora Isabel, um dos projetos de tele-enfermagem desenvolvidos

pelo grupo consiste na utilização de vídeo-conferência como tecnologia de apoio para

demonstração de procedimentos de enfermagem no paciente, a distância e em tempo real.

Um professor desenvolve as ações com o paciente no hospital, enquanto os alunos -

situados em sala de aula ou em laboratórios de ensino na EERP - assistem e interagem com

aquele professor e com o próprio paciente. Tendo em vista que “nos laboratórios de ensino

os alunos estão sempre acompanhados por outros professores, que dinamizam as aulas a

partir do conteúdo ensinado por telenfermagem”63, diz a professora.

A docente ressalta que as transmissões ocorrem sempre com a autorização do

paciente. As aulas acontecem em tempo real, permitindo que os alunos esclareçam suas

dúvidas simultaneamente ao procedimento, pois o sistema capta imagem e som em ambas

extremidades da comunicação (sala de aula / hospital).

A telenfermagem proporciona várias vantagens, tanto para o paciente como para o

professor e o aluno. Uma das prioridades, além do avanço do ensino apoiado em

tecnologia, é tornar as aulas que envolvem demonstrações em pacientes, tornando-as mais

humanizadas. Com o uso das novas tecnologias em enfermagem pode-se minimizar a

exposição do enfermo, isso acontece com freqüência nas aulas tradicionais onde os alunos

63 TALAMONE, Rosemeire Soares. “O saber em tempo real”, In: Jornal da USP, No. 740, ano XXI, de 6-16 outubro, pág. 9, São Paulo: 2005.

133

precisam se posicionar ou ficar ao redor do leito, o que não permite a mesma visibilidade a

todos os alunos.

Nas aulas mediadas por vídeo-conferência, isso não ocorre, porque o sistema

garante mais qualidade, conforto e uniformidade dos participantes. Assim, todos podem

acompanhar as aulas demonstrativas de um mesmo ângulo. Outra vantagem é a diminuição

do estresse no aprendizado, pois quando o aluno chega ao hospital já tem o conhecimento

prévio do ambiente e dos procedimentos, e de que a aula será compartilhada com outras

instituições de ensino.

A telenfermagem pode ser usada no ensino de graduação, pós-graduação, cursos de

extensão e também no desenvolvimento de pesquisas. O projeto da telenfermagem exigiu da

GEPECOPEN – Grupo de estudos e pesquisas em comunicação no processo de

enfermagem - parcerias que envolveram, além da EERP – Escola de enfermagem de

Ribeirão Preto - o Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

(FMRP) e o Centro de Informática de Ribeirão Preto (CIRP). Em 2004 o projeto de

telenfermagem firmou cooperação com a disciplina de Telemedicina da USP, em São Paulo.

3.4.2.1. Defesa on-line

Uma outra comprovação de que as novas tecnologias estão sendo usadas para

apoio ao ensino, à pesquisa e à divulgação dos conhecimentos foi a defesa realizada em

tempo real na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB). Nessa Faculdade foi realizada a

primeira apresentação de uma dissertação de mestrado na USP via satélite, o que ocorreu

no dia 23 de maio de 2005. O evento foi retransmitido para 208 telesalas distribuídas em 24

estados brasileiros.

A dissertação escrita por Ticiane Cestari Fagundes intitulada “Influência do ultrasom na

resistência adesiva a dentina de cimentos de ionômero de vidro”, foi discutida pela banca examinadora

134

através de teleconferência com sinal codificado e imagens transmitidas via satélite, com

interatividade em tempo real através de e-mail, fax e telefone.

Cerca de 600 pessoas, em sua maioria cirurgiões-dentistas, participaram da

apresentação da dissertação nas telesalas criadas a partir de parcerias estabelecidas com

vários municípios chamadas de “unidades convencionadas”. Nelas encontram-se

equipamentos que fazem a captação de imagens enviadas pela central na Universidade

Norte do Paraná (UNOPAR), em Londrina. O evento também ficou disponível via

Internet, o que contribuiu para que os profissionais da Universidade Estadual e Federal de

Rio de Janeiro acompanhassem a defesa.

A teleconferência é um sistema que permite a transmissão de áudio e vídeo em

tempo real. Possibilita a realização de reuniões virtuais, reunindo pessoas separadas muitas

vezes, por grandes distâncias. Esse recurso utilizado na realização de um seminário virtual,

em reuniões de negócio e, agora, em defesa de tese e dissertações, assim como em

telemedicina.

A FOB – Faculdade de Odontologia de Bauru - e a UNOPAR – Universidade do

Norte do Paraná - foram parcerias nessa iniciativa pioneira. Bauru e Londrina receberam

imagens e som com qualidade de televisão. De Bauru para Londrina foram enviados sinais

pela expositora com a mesma qualidade. Os sinais de áudio e vídeo da Profa Daniela,

captados em Londrina, foram enviados para Bauru, via satélite. Todo o material recebido

em Londrina foi transmitido para o satélite no segundo canal, pertencente à UNOPAR, e

para todo o Brasil. “Toda a tecnologia usada foi desenvolvida pela UNOPAR”,64 explica a

Profa. Dra. Maria Fidela de Lima Navarro, diretora da FOB e orientadora da Ticiane.

A proposta foi aprovada pelo Conselho Universitário da USP, que autorizou que,

no caso de dissertação de mestrado, um membro da banca examinadora fizesse a análise a

64 LEÃO, Isabel. Defesa em Tempo Real. In: Jornal da USP, de 6-12 de junho, São Paulo, 2005, p. 14

135

distância. Para a tese de doutorado, foi autorizado que até dois membros da banca

participem através de vídeo-conferência ou via satélite.

[...] a teleconferência permite que um conhecimento novo, no caso um trabalho de pesquisa, esteja disponível em tempo real para uma gama muito ampla de pessoas além da comunidade acadêmica da USP. Foi uma apresentação vista nos quatro cantos do Brasil. Uma defesa feita pelo sistema normal, sem ser via satélite, leva um longo período de tempo até ser disponibilizado na biblioteca virtual de tese da USP. Neste caso, a transmissão se deu instantaneamente colocando o que se pesquisa na academia mais próximo da sociedade.

diz a Profa. Dra. Suely Vilela, atual Reitora da USP.65

Acredita-se que essa inovação na USP traz vários benefícios, como a redução de

gastos com professores convidados externos e ao aproveitamento dessa ferramenta

tecnológica disponíveis. A defesa em tempo real, apoiada pelas novas tecnologias de

comunicação não traz prejuízos aos alunos candidatos visto que essa modalidade de defesa

é garantida pela eficiência da transmissão da tecnologia utilizada.

Uma preocupação do Conselho Universitário (CO) se referia à operacionalização

da teleconferência, que poderia acarretar atraso e dificuldades de entendimento. Embora

esses problemas possam existir, o sucesso de Bauru garante que novas defesas sejam feitas

dessa forma. A teleconferência permite criar um espaço destinado à troca de informações e

à disseminação de conhecimentos não exclusivamente circunscritos à comunidade interna

de alunos, docentes e pesquisadores, mas abre caminho para que outras entidades

geradoras de conhecimentos e pesquisas possam participar e receber em tempo real o que

se produz cientificamente nas universidades.

A diretora da FOB, acredita que essa tecnologia pudesse trazer maiores benefícios,

com alcance mais abrangente. Ela disse: “o modo como a tecnologia foi disponibilizada e o

acesso a Internet facilitaram a participação das pessoas”. A parceria entre a FOB e a

UNOPAR se dá através do sistema de ensino presencial conectado. Vários professores de

Londrina foram formados pelo campus de Bauru.

65LEÃO, Isabel. Id., p. 15

136

A tecnologia desenvolvida pela UNOPAR é uma parceria com a Microsoft para a

codificação e decodificação do sinal. Para efetuar a recepção das aulas, o diretor de

tecnologia em desenvolvimento da UNOPAR, utilizou uma antena banda KU, setupbox,

computador com placa de vidro com saída de televisão, datashow, caixas acústicas

amplificadas, microfone sem fio para perguntas nas localidades remotas e uma webcam para

o retorno das telesalas.

O ionômero de vidro, assunto abordado na defesa, é um material que esta sendo

largamente utilizado na adequação do meio bucal, antes de o paciente receber restauração

definitiva. Segundo Ticiane,: “o ionômero é melhor que a resina, mas ainda apresenta mais

deficiência na resistência e na adesão da estética bucal. Ao explicarmos o ultrasom, o ionômero

mostrou melhor aderência e as propriedades mecânicas de resistência à compreensão e à

microdureza foram positivas, demonstrando resultados satisfatórios”.66

3.4.3. A Telemedicina na Faculdade de Medicina da USP

O curso de Telemedicina é o pioneiro dessa forma de ensino na USP, mas, no Brasil,

ainda está desenvolvendo-se gradativamente, se comparada com países europeus e com os

Estados Unidos, os quais exploram e usam a Telemedicina da mesma forma que o faz nosso

sistema bancário, há mais de vinte anos. Se de um lado não existe banco algum que não

esteja inserido nas tecnologias, do outro, não há nenhum hospital que as utiliza

satisfatoriamente.

Não existe assistência médica em inúmeras regiões do território brasileiro. A

Telemedicina poderia suprir essa deficiência. Há carência de educação sanitária e medidas

preventivas contra doenças que assolam o país; a Telesaúde poderia provê-las. A disciplina

de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) recebeu em boa hora, uma

66 LEÃO, Isabel. Id., p. 15.

137

generosa contribuição do Banco Alfa, o que proporcionou um notável impulso às ações,

indo muito além das fronteiras da FMUSP e de seu complexo hospitalar das Clínicas.

Desde 1997 existe o curso de Telemedicina para alunos de graduação e pós-graduação

da USP. Diante do rápido avanço nas descobertas científicas e da enorme velocidade para

divulgá-los através das NTICs, a durabilidade dos conhecimentos – “média vida” – são de

três a quatro anos, isto é, se um estudante acabou o curso há quatro anos, precisa atualizar

imediatamente pelo menos 25% dos conhecimentos, pois o aprendido ficou obsoleto.

As ferramentas educacionais, na área da educação da saúde, a dinâmica da

iconografia e os objetivos propostos, indicam o aprendizado colaborativo. O fato de

empregarem-se ferramentas para o ensino insinua uma aprendizagem construtivista, esse

aprendizado está baseado em problemas e a medicina baseia-se em evidências.

Na FMUSP, acredita-se que a educação atual apoiada nas novas tecnologias

aprimora os recursos didáticos e incentiva o poder da comunicação. Comunicação através de

símbolos, que deu origem ao Homem Virtual67, que nasceu do ícone-iconografiado.

Portanto, o homem virtual viria a ser a tradução gráfica de um conjunto de informações.

Parceria da disciplina de Telemedicina FMUSP com o Ministério da Educação (Secretaria de

Educação a Distância) levará informações de saúde para os alunos de ensino médio. Em

fase de produção, programas sobre temas relevantes em saúde da pele serão transmitidos

por meio da TV Escola para quase 40 mil estabelecimentos da rede pública de ensino.

A TV Globo fez diversas reportagens mostrando a importância do Homem Virtual

para a educação de estudantes de medicina e da população geral. O quadro “Questão de

Peso”, apresentado pelo médico Drauzio Varella, no programa Fantástico, utilizou

iconografias especialmente produzidas para o programa, que facilitaram a compreensão das

causas e conseqüências da obesidade. Atualmente a emissora possui convênio com a

67 Homem Virtual, é um objeto de aprendizagem que alia ilustrações dinâmicas em três dimensões (3D) ao conhecimento científico especializado. Sua capacidade de comunicar, com rapidez e eficiência, temas relevantes para a saúde pública tem gerado grande reconhecimento por parte da grande mídia e órgãos governamentais. Disponível em: <www.homemvirtual.com.br>. Acesso em: 24 de junho de 2005.

138

disciplina de Telemedicina da FMUSP para a utilização do Homem Virtual nos programas e

matérias que abordem temas de saúde.

Além do Homem Virtual existem outras áreas para o estudo e divulgação com apoio

das modernas tecnologias de informação e comunicação. Essas áreas e programas são:

3.4.3.1. Programa de Telepatologia

Possibilita às faculdades de medicina de todo o país o acompanhamento de autopsias

on-line, por vídeo-conferência. Através do Centro de Tecnologia da disciplina de Telemedicina

da FMUSP, as instituições são conectadas com o serviço de verificação de óbitos da

Capital. Antes da autopsia os alunos debatem o caso clínico com especialistas do

departamento de Patologia. Os estudos são complementados pela Internet, onde se

encontram as aulas didáticas e todos os casos clínicos analisados por vídeo-conferência,

com exercícios interativos.

3.4.3.2. Aprendizado multimídia

O CD-ROM sobre doença pulmonar obstrutiva contém aulas, esquemas didáticos,

casos clínicos com os respectivos vídeos de autopsia, fotos macro e microscópicos e o

Homem Virtual, todos acompanhados de narração e comentários de especialistas. O CD-

ROM dá direito a um certificado, após avaliação do aprendizado por especialistas do

Departamento de Patologia da FMUSP, por meio da Internet.

3.4.3.3. Cybertutor

Sistema estabelecido na Internet para Teleducação, caracterizado pela

interatividade, avaliações automáticas e controle do desempenho durante a aprendizagem.

Os alunos são beneficiados pela facilidade de comunicação com especialistas e de

organização de seu próprio tempo de estudo, sem os inconvenientes do espaço físico e ou

horários determinados.

139

3.4.3.4. Sala de aula do futuro

Há uma nova forma de ministrar aulas e palestras, de forma presencial ou a distância. A

exposição do professor chega ao computador, notebook ou pocket PC do aluno, em tempo

real, por vídeo streaming. Também são transmitidos todos os recursos didáticos empregados

(apresentação em Power-point, sites, vídeo-conferências, imagens em 3D etc.), inclusive com

as anotações eletrônicas do professor. Há a possibilidade de interação por meio de chats.

3.4.3.5.Telemedicina: estratégia para controlar a Hanseniase

A FMUSP, através do seu Departamento de Dermatologia e da Disciplina de

Telemedicina firmou um projeto conjunto com a Organização Panamericana de Saúde para

avaliar a potencialidade da Telemedicina no controle da Hanseníase no país. O programa, que

poderá ser estendido pelo Ministério da Saúde, envolve a capacitação de médicos,

profissionais da saúde e agentes comunitários do Estado de São Paulo, no uso de

ferramentas para teleassistência e teleducação, incluindo o Cyberambulatório, Cybertutor e Homem

Virtual.

O Projeto Telemedhansen pode evoluir para a estruturação de uma Ação Nacional de

Prevenção e Controle (ANAPEC). O principal objetivo é de criar uma rede de alcance

nacional para a educação, com o encaminhamento de casos suspeitos (teletriagem) e

possibilitar uma segunda opinião médica. A ANAPEC – Hanseníases propõe a utilização

de diversos recursos tecnológicos – desde a Internet por linha discada até sistemas de

vídeo-conferência, relacionados de acordo com a necessidade e infra-estrutura de cada

local.

As grandes campanhas informativas, divulgadas na mídia geral, são importantes

para alcançar vários segmentos da sociedade, colocando o tema em debate. Mas seu efeito é

mais eficaz e duradouro se forem acompanhadas de ações continuas de educação e suporte

assistencial, com formas de comunicação e didáticas adequadas para motivar os diferentes

públicos envolvidos. É assim que funcionam as Ações Nacionais e Permanentes de

140

Controle (ANAPECs), uma contribuição da Disciplina de Telemedicina e do Depto. de

Dermatologia da FM da USP para a sociedade.

A proposta da FMUSP com a estruturação da ANAPEC à Hanseníase, é interligar,

por meio da telemedicina, centros de referências na pesquisa e tratamento da doença,

hospitais, postos de saúde, universidades, escolas, governos e órgãos de apoio. A estratégia

de controle prevê a participação de profissionais da área de beleza, como esteticistas,

manicures, massagistas e cabeleireiros. Com treinamento adequado, eles poderão detectar

manchas suspeitas em seus clientes e encaminhá-los aos serviços de saúde credenciados.

3.4. 4. As NTICs no Instituto de Ciências Biomédicas da USP

A era pós-industrial se caracteriza não mais pela intensiva utilização de máquinas,

mas pela veemente aplicação do conhecimento. O imput mais valorizado não é nem a

matéria prima, nem o capital financeiro, nem os equipamentos, mas cérebros. Por isso, em

nenhuma outra época foi tão importante a escola dar conta da sua missão em relação ao

compartilhar e divulgar o conhecimento.

Nesse sentido, no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, o pesquisador Prof.

Dr. Ciro Ferreira da Silva, do Departamento de Histologia e Embriologia, desenvolve um

sistema de ensino através da técnica da estereoscopia, que usa imagem tridimensional (3D)

como proposta de incrementar e enriquecer as aulas expositivas. Esta técnica pode ser

usada em disciplinas exatas, biológicas e humanas. Numa palestra realizada em 19 de maio

de 2004, o professor declara:

[...] quero mostrar o quanto é possível aplicar a técnica da estereoscopia tanto na área biológica quanto nas humanas, possibilitando que objetos históricos importantes saiam dos museus e sejam mostrados para um grande número de pessoas de uma forma lúdica e de fácil visualização. A técnica facilita o entendimento das peças utilizadas no estudo das Ciências Biológicas.68

68 LEÃO, Isabel “Para ensinar mais e melhor”, In: Jornal da USP/ Cultura, No. 689, de 7-13 de junho, pág. 8. São Paulo, 2004.

141

A apresentação foi feita em um telão, utilizando dois sistemas de datashows

sincronizados. Antes de entrar na sala, a platéia recebeu óculos escuros de polarização, que

tem a função de sobrepor corretamente as imagens geradas separadamente pelos dois

aparelhos. É daí que vem a sensação de que as imagens são reais, pois os óculos agrupam as

imagens dando perspectiva e profundidade. Ele comenta: “[...] Essa técnica permite que o

ensino fique, mas dinâmico e o aluno não se sinta aborrecido com aulas simplesmente

expositivas[...]”.69

Figura 7 – Cérebro tridimensional criado pela técnica da estereoscopia

O professor Ciro salienta que os educadores e educandos que se dedicassem às

tecnologias de ensino podem melhorar a qualidade do conhecimento em sala de aula.

Os equipamentos para desenvolver a técnica da estereoscopia com imagens estáticas já

existem no Departamento de Histologia e Embriologia do ICB da USP e se compõem de:

microscópio eletrônico, lupa, câmaras de vídeos e, outros aparelhos. A equipe do Prof.

Ciro coleta o material e o seleciona para ser fotografado. Inclusive estão sendo

fotografados embriões nas diferentes fases do desenvolvimento. Será preciso dissecá-los e

mostrar os diferentes órgãos e como eles são formados. O objetivo é montar uma aula

completa sobre embriões com a técnica da estereoscopia70.

69 LEÃO, Isabel. Id. p.8 70 A estereoscopia é uma reprodução artificial da visão humana, que é possível pela existência de células fotossensíveis na retina. Deriva dos termos gregos stereos e skopein, que significam sólido ou relevo e ver – ou seja, visão em relevo. A visão estereoscópica resulta do fato de que o olho humano, em decorrência da sua

142

A freqüente interpretação de estéreo no sentido de observarem-se dois objetos é

resultante de necessitarmos de dois olhos e dois ouvidos para vermos e ouvirmos

espacialmente. Esse é um fenômeno natural que ocorre quando uma pessoa observa uma

cena: são obtidas simultaneamente duas imagens da cena a partir de pontos de observação

ligeiramente diferentes. O cérebro, então, funde as duas imagens em uma única e, nesse

processo, obtém informações quanto a profundidade, distância, posição e tamanho dos

objetos presentes na cena gerando a visão 3D (tridimensional).

Isso ocorre porque a visão resultante da posição alinhada dos olhos permite que um

objeto seja visto de ângulos diferentes, um mais à direita e outro mais à esquerda. O

processamento dessas informações pelo sistema nervoso central propicia a percepção de

profundidade. Quando já houve contato com o objeto, há uma noção imediata de

tridimensionalidade, pela evocação de dados contidos na memória. O Professor Ciro

ressalta: “Uma imagem vale mais do que mil palavras. Já uma imagem tridimensional vale

mais do que mil imagens bidimensionais”.

A técnica da estereoscopia pode ser usada em qualquer área do conhecimento. Nas

ciências biológicas, estudos comprovam que a qualidade final da imagem na luz polarizada

é a melhor porque não altera a coloração natural da peça fotografada, mantendo traços

nítidos, com o menor custo. Essa técnica permite uma melhoria no aprendizado e facilita a

memorização; é menor a necessidade de cadáveres e segmentos anatômicos para o estudo

prático e também há um menor contato com substâncias conservantes tóxicas, como o

formol.

Com o uso da estereoscopia na anatomia, não é preciso que alunos estejam dissecando

cadáveres, que é uma prática muito trabalhosa, a estereoscopia é feita por etapas e cada uma

delas é fotografada para mostrar com detalhes todo o processo. Parte-se do todo para o

especifico. É como um escultor que de um bloco de mármore chega à escultura. Vai-se localização na face, enxerga imagens ligeiramente diferentes da cena. In: Jornal da USP, No. 689, de 7-13 de julho de 2004, pág. 8.

143

atrás das estruturas mostrando o processo. O aluno precisa olhar a partir da superfície o

que tem dentro do corpo.

Nos fins do século passado e começo deste, a estereoscopia adquiriu grande

divulgação como entretenimento. As primeiras máquinas estereoscópicas, que

possibilitavam uma simples imagem de estereograma, foram fabricadas depois do

surgimento da fotografia. Outros dispositivos necessários à observação de estereogramas

usufruíram um considerável aperfeiçoamento, criando-se, por exemplo, os óculos verde-

vermelhos, ainda hoje muito divulgados.

Além das imagens fixas, a estereoscopia pode se transformar num filme. Ao invés

de trabalhar com duas câmeras estáticas, é possível colocar dois vídeo-câmeras, lado a lado,

e filmar a cena. Cada câmera terá uma perspectiva diferente e depois é preciso projetar a

imagem e sincronizá-la. Mas, a sincronização é feita com um equipamento específico, que é

muito caro.

3. 4. 4. 1. Outros centros pesquisados

Nosso trabalho considerou também, outras unidades e centros de pesquisas na USP

as quais vêm incorporando no seu cotidiano o uso dessas novas ferramentas para o ensino,

a pesquisa e a divulgação dos conhecimentos com as NTICs, esses centros foram:

a) Faculdade de Medicina, na disciplina de Telemedicina, onde o Prof. e Pesquisador

Dr. Chao Lung Feng e uma equipe de profissionais desenvolvem o Projeto “Homem

Virtual” –considerado por ele como patrimônio do Brasil – no referido curso aplicam-se as

novas tecnologias para a criação de imagens tridimensionais, para o ensino, pesquisa e

divulgação da prevenção de hanseníases e outras doenças;

b) Escola Politécnica, e seu espaço virtual: “Caverna digital”, que visa uma linha de

ação e extensão da USP Digital. Ela subsidia opções para o emprego das NTICs em outras

esferas do saber.

144

c) Estação Ciência uns dos espaços culturais mais cativantes e surpreendentes de São

Paulo, onde são desvendadas a ciência e a tecnologia nas suas modernas salas com atrações

interativas, objetivadas, na difusão da ciência para alunos de ensino médio e público em

geral. Oferece durante todo o ano, cursos, eventos e programações especiais.

d) Escola do Futuro, é um laboratório interdisciplinar que investiga como as novas

tecnologias de comunicação podem melhorar o aprendizado em todos seus níveis. A

Escola do Futuro deseja explorar e implementar propostas inovadoras, utilizando recursos

como a Internet e a multimídia para a maximização das possibilidades do ensino e da

aprendizagem.

e) Cidade do Conhecimento, é um programa da Universidade de São Paulo que

promove a criação, a incubação e o desenvolvimento de projetos por meio de redes digitais

colaborativas.

3.5. A linguagem das novas mídias eletrônicas e a educação

Ninguém de raciocínio instável pode negar o poder dos meios de comunicação

sobre o conhecimento, as novas descobertas e o modo de ver a realidade. A avalanche de

imagens e mensagens audiovisuais transmitidos pelos meios de comunicação atinge a toda a

sociedade. É importantíssimo o papel que os meios de comunicação representam como

mediadores da realidade no processo pedagógico da apropriação de conhecimentos, uma

vez que eles têm a capacidade de registrar e transmitir o acúmulo de conhecimentos já

produzidos pela humanidade ao longo da história. O uso pedagógico desses meios de

comunicação busca refletir como podem ser utilizados esses poderosos transmissores de

informação em benefício da sociedade.

A era pós-industrial é caracterizada não mais pela utilização de máquinas, mas pela

veemente aplicação do conhecimento. O cérebro substitui à matéria prima, o capital

financeiro e os equipamentos. Por isso, em nenhuma outra época foi tão importante a

145

escola dar conta da sua missão em relação ao conhecimento. O estudante é um ser humano

em constante construção física, intelectual, afetiva, ética, estética, a partir de uma

subjetividade única, especial e individual que se desenvolve na relação com o outro e com o

mundo. Por esse fato a escola não pode fragmentar o aluno, muito menos prepará-lo para

o uso do mercado acumulando-o de conhecimento para ser fruto de consumo.

Por mais que existam forças globalizantes. Por mais que se apresente um

multiculturalismo que interfere nas culturas; por mais que a mídia interfere como força

homogeneizante e desequilibradora de conceitos individuais e sociais, o professor e a escola

não podem desistir de sua autonomia criadora para uma educação reflexiva, emancipatória

e autônoma.

Lembre-se que o mundo é tanto tribal quanto geral, há uma comunicação

generalizada, com propagação dos valores locais. A presença dos meios de comunicação no

cotidiano permite uma coexistência entre culturas diferentes, invade os lares com

informações maciças aceleradas e quase sempre sem ligação umas com as outras.

Com isso há um aumento de possibilidades de comunicação entre as pessoas com a

existência de valores modernos e antigos. Comunicação quanto à educação são campos

historicamente constituídos, deliberados, visíveis e fortes. Desde sempre o homem

estabeleceu procedimentos de comunicação entre si, usando para isto saídas diferentes. São

palcos com visibilidade dos seus respectivos corpos sociais.

O discurso educacional é mais fechado, oficial, legitimado por autoridades, não é

interrogado. Neste sentido é autoritário, posto que é selecionado por autoridades e imposto

em forma de programas a alunos e professores. A margem de deturpação é mínima. O discurso

comunicacional é aberto, flexível, oficioso no sentido de que está sempre à procura do

original, do diferente, do extraordinário.

A sociedade encontra-se em trânsito `a era da informação, na qual se depara com

os mais variados recursos e meios de comunicação, que de maneira massificante

146

transformam a vida social e psicológica dos indivíduos. Busca-se hoje, através do ensino, o

desenvolvimento da autonomia intelectual dos estudantes; para que eles adquiram uma

postura de protagonistas da ação educativa.

Por isso, é necessário incluir novas tecnologias e diferentes linguagens no domínio

da escola, incorporando-as no seu domínio, no seu dia-a-dia na sala de aula. Á medida que

se aprender a fazer a leitura crítica dos meios de comunicação, os estudantes passarão a

anotar e tornar conhecida a cultura de sua comunidade, as notícias e os fatos que lhes

dizem respeito.

A construção do trabalho perpassa pela missão educativa que implica na

valorização da dimensão humana, eficaz em todo projeto de comunicação. Trabalhar com

recursos audiovisuais significa democratizar o acesso do público à informação, à cultura e à

cidadania. A linguagem visual abre diferentes probabilidades e oportunidades educacionais. A

linguagem audiovisual, no sistema educativo, não pode ser apenas transmissão de informação.

Uma das principais características do mundo atual consiste no fato de que

diferentes espaços se complementam, se interagem. A escola, a sala de aula dentro da

sociedade contemporânea não pode ser mais considerada como um lugar isolado, mas sim

um lugar dentro de outros espaços interagindo reciprocamente e utilizando os recursos

audiovisuais.

No entanto, deve-se refletir que as Relações Humanas estão sendo enfraquecidas

pelas relações tecnológicas, ou melhor, diria se que as Relações Humanas encontraram

nova forma de expressão e desenvolvimento completamente diferente do padrão ao qual

estamos acostumados. As máquinas não possuem um desenvolvimento independente do

homem, mas respondem a uma necessidade de evolução da própria humanidade. “[...] a

informática não tem mais nada a ver com computadores. Tem a ver com a vida das

147

pessoas[...]”71 diz, Nicholas Negroponte, professor do MIT (Massachussets Institute

Tecnology) tentando explicar as novas linguagens das novas mídias e a importância na vida

cotidiana.

As NTICs, sintetizadas no acesso à Internet, constituem meios admiráveis para o

descobrimento, a invenção e a criação humana. O ciberespaço preserva os espaços

antecedentes do mundo concreto e físico, onde as atividades tradicionais irão permanecer.

As relações interpessoais sem a mediação dos meios eletrônicos de comunicação

continuarão a ser estabelecida nas formas com que se esta se acostumado.

As características do mundo virtual, portanto, permitem potencializar as habilidades

do indivíduo, que está diante de uma nova linguagem do conhecimento. Não é apenas a

superioridade do hipertexto72, que quebra a linearidade da escrita, permitindo estabelecer

conexões múltiplas no texto. Mas todo um conjunto de ícones, sons, imagens, que deságua

na sinergia da hipermídia, constituindo um formidável aparato para o desenvolvimento do

intelecto humano. É mais do que uma nova linguagem do conhecimento; é uma

metalinguagem, ou uma nova “[...] tecnologia digital da inteligência [...]”, diz Marcelo Araújo

Franco.

Por outro lado Treisman (1988) define a percepção visual como a atividade geradora, a

matriz inicial do conhecimento e da linguagem dos seres humanos, vale dizer, de sua

cognição. Sugere-se, com o apoio em Lévy (1993), que a tecnologia de comunicação (por

conseguinte; também a tecnologia educacional) é produto da mente humana, mas também é

responsável por moldá-la, segundo padrões de apresentação dos signos em qualquer

suporte.

A Internet, absorve as linguagens da TV, do rádio e do cinema, tal caso pode ser

evidenciado na transmissão do atentado do 11 de setembro de 2001, pela CNN. As

71 Informativo Jurídico/ Notícias Disponível em:< www.infojus.com.br/>. Acesso em: 16 de setembro de 2004. 72 HIPERTEXTO. É um conjunto de interfaces comunicativas, disponibilizadas nas redes telemáticas. In: Ciência da Informação. No. 2, v. 29, maio/ago, Brasília 2003, p. 8.

148

potencialidades geradas pelos ambientes virtuais, entretanto, agregaram novas razões aos

defensores do uso de vídeos educacionais, os quais podem, hoje, estar associados em

conjuntos que “favorecem a interatividade a interação com os bancos de dados e outras

pesquisas e aprofundamento”.73

Na denominada intoxicação informacional, em meio a um turbilhão de informações

nos deparamos com o uso cada vez mais assíduo do computador, o que leva a refletir sobre

a comunicação, como ela vem se processando tendo o homem como centro desse

processo. Com essa ascensão da tecnologia, tornou-se imprescindível a introdução da

informática nas redes de ensino.

O mundo mágico da informática com seus conteúdos atraentes, ambiente

multimídia, global e interdisciplinar instiga no estudante o desejo de investigação, de

descoberta do novo, além de aumentar suas possibilidades de pesquisa. A informática ela

não oportuniza a robotização do ser humano ao eliminar a mediação humana no contexto,

pois as mídias impressas o fazem. O uso do computador, especificamente da Internet,

requer operações intelectuais, que vão desde o uso da palavra, da escrita, da capacidade de

comparar e diferenciar, até a atenção, abstração, e formas de organizar o pensamento e a

ação.

A sala de aula passa, assim, a representar um espaço de maior prazer multimídia

interativa, favorece uma atividade exploratória e lúdica. O sujeito não só coleta

informações, via rede, mas também as dissemina. Temos na Internet uma dinâmica

diferente daquela que se apresenta nos livros, pois ela é determinada, pela agilidade, pela

interatividade.

73 “Tecnologia Educacional: Mídias e suas linguagens”, In: Novas Tecnologias em Educação. n. 1, v.1, p.6, CINTED-UFRGS: fevereiro de 2000.

149

3. 6. As NTICs no contexto sócio-cultural da aprendizagem

No entanto, tem que se compreender a importância de que no processo os

educadores e sua equipe tenham clareza epistemológica que fundamentam suas práticas.

Pois de acordo com a teoria sócio-histórica-cultural de L.S. Vygotsky, a origem das

mudanças que ocorrem no homem, ao longo do seu desenvolvimento, está vinculada às

interações que ocorrem entre o sujeito e a sociedade, a cultura e sua história de vida, além

de situações de aprendizagem, que promovem este desenvolvimento, ponderando acera das

várias representações de signos, instrumentos que a cultura e história propiciam o

desenvolvimento das funções mentais superiores.

Nesta perspectiva, a educação pode se fazer fundamental, oferecendo ao indivíduo

oportunidades significativas na construção de conhecimentos e valores. E para tal tarefa,

pode utilizar-se das NTICs como ferramentas e principalmente, com o objetivo de

promover interação, cooperação, comunicação e motivação a fim de diversificar e

potencializar as relações inter e intrapessoais. Para que tal tarefa seja bem sucedida todo o

processo de construção do conhecimento precisa ser bem articulado do ponto de vista

epistemológico e metodológico.

O professor, ao planejar, desenvolve e promove aprendizagens compartilhadas

potencializa a Zona de Desenvolvimento Proximal74 de modo que funções ainda não

consolidadas venham amadurecer. Dessa forma verificam o quanto a aprendizagem

interativa, compartilhada e dialogada permite o desenvolvimento do indivíduo. Sendo

assim, as NTICs precisam ser utilizadas de forma que permitam a mediação e a interação

do sujeito com outras instâncias do seu entorno social.

O caráter interativo e comunicativo do processo educativo promove o

desenvolvimento do indivíduo, no qual a mediação e as interações contribuem e interferem

74 Zona de Desenvolvimento Proximal: é a capacidade do individuo de desempenhar tarefas com a ajuda de companheiros mais capacitados, aqui mediadores, que facilitam o acesso a um conhecimento pelo qual percorrem um determinado caminho, a fim de torná-lo seu. In: Suanno, M.V.R, “Reflexões a partir da teoria Vygotskyana”. In: Novas Tecnologias de informação, p.11, UEG/Havanna: 2002

150

na qualidade do processo. Pensar nas NTICs aplicadas à educação é um desafio, uma vez

que se persegue a efetivação da qualidade política das práticas pedagógicas. Mas, outra

questão a se discutir é que os cursos de formação de professores precisam encarar os

desejos de promover pesquisas e inovações com a utilização crítica das NTICs aplicadas à

educação, além de aproximarem os acadêmicos das potencialidades da pesquisa

educacional, mediante a utilização de computador e Internet, assim como disponibilizar

artigos e conteúdos de qualidade nesse canal de informação.

Quanto ao alcance de desafios pedagógicos na utilização das NTICs, em especial os

computadores e a Internet, estão vinculados às suas potencialidades a “promoverem a

comunicação, troca de experiências e conhecimentos, oportunidades de pesquisa, tendo

acesso a fontes diversificadas de informação, mediadas conforme as necessidades e

oportunidades individuais e coletivas em ambientes de aprendizagem”.75

75 SUANNO. Marilza V.R. Novas Tecnologias de Informação: Reflexões a partir da Teoria Vygotskyana, Goiânia:UEG/Havanna: 2002, p. 11.

151

Capítulo 4 - ENSINO E PESQUISA MEDIADOS PELAS NTICs NA

FOUSP

4.1. Histórico do ensino da odontologia

O ensino da Odontologia através dos tempos sempre esteve intimamente ligado ao

ensino da medicina. Apenas em meados do século XIX ocorreu uma diferenciação,

enquanto na Europa a vinculação original ao ensino da Medicina era mantida, na América o

ensino da Odontologia desvinculava-se da Medicina.

Em 1840 ocorre, em Baltimore, nos Estados Unidos, a criação da primeira Escola

de Odontologia do mundo. Em 1879, a Odontologia começa a ser ensinada no Brasil,

ainda vinculada às Faculdades de Medicina. O ensino formal só teve início com o Decreto

No. 7.247 de 19 de abril de 1879, que estabeleceu o curso de cirurgia-dentária, anexo à

Faculdade de Medicina. Em 1882, foi criado, na Bahia, o primeiro curso, cujo currículo

refletia o modo de produção social.

Em 1884, foi retirada a matéria Medicina Operatória, sendo acrescentada, Prótese

Dentária e Higiene da Boca. Este currículo permaneceu até o Decreto No. 8.661, de 05 de

abril de 1911, quando foi introduzida a cadeira de Técnica Odontológica, com o ensino em

manequins.

Em 1933, os cursos de Odontologia tornaram-se autônomos, ou seja, desligaram-se

da tutela das escolas médicas, o que facultou a algumas escolas a criação de disciplinas além

das obrigatórias. Em 1961, com a Lei 4.024, o Conselho Federal de Educação passou a ter

competência para fixar o currículo mínimo e a duração dos cursos superiores.

Em 1o. de janeiro de 1971, surgia novo currículo, sem alterações substanciais,

reorientando o ciclo básico como a Biologia, as Ciências Morfológicas, as Ciências

Fisiológicas e a Patologia (geral), ficando o ciclo profissional como a Patologia e a clínica

152

Odontológica, a Odontologia Social e a Preventiva, a Odontopediatria e a Odontologia

Restauradora.

Em 3 de setembro de 1982, o Conselho Federal de Educação estabeleceu o novo

currículo mínimo, por meio da Resolução CFE No. 04/82 (Resolução em anexo). Este

currículo mínimo vigorou até a promulgação da Lei No. 9.394 de 2 0 de setembro de 1996

que estabeleceu as Diretrizes e Bases da educação nacional, a partir disso passaram a

vigorar as diretrizes curriculares, a serem aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação –

CNE.76

4.2. As novas tecnologias e o ensino odontológico

Imaginemos o quão valioso é para um estudante de medicina poder conhecer muito

perto, com riquezas de detalhes, o funcionamento do corpo humano, cada articulação em

movimento, cada célula com suas ações e reações. Por mais que se tenha conhecimento dos

órgãos em aulas de anatomia (utilizando cadáveres), são poucas as chances de se observar o

funcionamento de cada órgão, por exemplo. Esse detalhamento já é realidade no Brasil e o

mais importante: o material é acessível.

Figura 8 – Práticas de cirurgia apoiadas com as novas tecnologias na FOUSP

76 FONTE: ABENO – Associação Brasileira de Ensino Odontológico. Disponível em: <www.abeno.org.br,> Acesso em: 16 de setembro de 2004.

153

O impacto tecnológico, neste século, abrange tudo, e principalmente cada vez

maior na Medicina. Segundo o pesquisador do MIT Prof. Marvin Misky (um dos pais da

Inteligência Artificial), a Internet será a maior revolução na educação de todos os tempos.

O potencial educacional da Internet se manifesta em múltiplas áreas e processos.

Segundo, outro respeitado professor do mesmo instituto, Nicholas Negroponte, os

átomos de papel e da tinta estão sendo substituídos por bits, que não têm massa e são

transmitidos de forma praticamente instantânea para qualquer ponto do planeta. Quando

um bem constituído de átomos é distribuído para um usuário, o seu produto transfere

matéria e a perde, ao mesmo tempo. Com os bits, ele pode transferir informação em estado

puro ou abstrato, sem nunca perdê-la.

Com o uso das NTICs – e seu suporte, a Internet- ocorrem dois impactos:

a) o primeiro impacto se dá na disponibilização das informações interativa da

Internet das informações para o aprendiz, através das publicações eletrônicas e dos sites

especializados,

b) o segundo impacto acontece devido à característica interativa da Internet. Ela

permite a transmissão de informações entre dois pontos quaisquer ligados à

rede, em ambos sentidos, com grande velocidade.

Assim, podemos usar os recursos da Internet para simular praticamente qualquer

situação que ocorra num contexto educacional, como aulas magistrais e palestras, sessões

de tira-dúvidas, discussões de casos clínicos, exames orais ou escritos, trabalhos em grupo,

conversação telefônica, transmissão de vídeo e de áudio em tempo real, ou sob demanda,

etc.

A possibilidade de executar programas autônomos, tanto do lado do computador

onde a informação é disponibilizada quanto do lado do usuário, principalmente através das

NT que usa o Java, expande enormemente a possibilidade de interação. Para citar apenas

um exemplo, já existem laboratórios virtuais, nos quais um aluno pode realizar simulações de

154

experimentos biológicos em animais (como um choque hemorrágico ou o registro de

potenciais elétricos cardíacos) e de manejos de pacientes, inteiramente através da rede.

A rede dá um novo sentido ao que se convencionou chamar de educação a distância, e

que no Brasil ficou com má fama devido aos cursinhos por correspondência de má

qualidade. Entretanto, a utilidade de cursos a distância bem feitos em Medicina é fantástica.

Imagine, por exemplo, poder fazer um curso de reciclagem de conhecimento sobre

neuroradiologia, ou outro tema qualquer, sem precisar sair de casa, e com a mesma eficácia

que um curso presencial.

Evidentemente, nem todas as áreas de educação médica se prestam para isso (a

experiência clínica no contato direto com o paciente será sempre insubstituível, assim como

o trabalho em laboratório) mas sobram milhares de possibilidades para elevar o nível de

conhecimento e atualização dos médicos brasileiros, usando-se plenamente o potencial

dessas novas ferramentas tecnológicas.

Outras conseqüências interessantes dessas tecnologias é que se dissolve a distinção

entre educação formal e informal, uma vez que é mais fácil colocar cursos na Internet, e tão

democrático, que a universidade tradicional encontra-se ameaçada em sua função

tradicional - ensino presencial e uso de quadro negro e giz - abrindo a Internet novas

oportunidades para todos que querem e podem ensinar.

Com otimismo, afirmamos que nos encontramos às portas de uma nova era na

educação médica e odontológica. Quem não contemplar esse processo de enorme

vantagem para o ensino está em risco de ficar à margem do processo em andamento

colocada em movimento pelas novas tecnologias, e perder seu lugar assegurado pelas

tradicionais estruturas do ensino.

155

4.3. O projeto: homem virtual, da faculdade de medicina da USP ao serviço

da Teleodontologia

Nessa seqüência de descobertas médicas e de aplicações tecnológicas, surge o

Projeto Homem Virtual aplicado à Odontologia, desenvolvidas pela equipe de Telemedicina da

USP. No I Congresso de Tele-odontologia ocorrido em Minas Gerais (2004) foi lançado

esse programa único no mundo. As imagens tridimensionais criadas pela equipe de

Telemedicina, simulam com realismo a composição e funcionamento da Articulação

Temporomandibular (ATM) e da estrutura do dente e enervações, elas fazem parte do

projeto Homem Virtual – para a criação de modelos virtuais de órgãos e partes humanas.

Figura 9 – O homem virtual iconografia computadorizada

Reproduzidos com auxílio da computação gráfica, tais órgãos e partes têm seu

funcionamento exibido em detalhes na tela do computador. A equipe do projeto Homem

Virtual já desenvolveu modelos que simulam certas doenças, desde o início até estágios

mais avançados. Os novos módulos ATM e Estrutura do Dente são os primeiros a

contemplarem a odontologia, e não há similares no mundo. No ano de 2004, o simulador

ATM foi mostrado na Suécia no Congresso de Radiologia Odontológica. A receptividade

foi tão grande, que o principal docente e coordenador geral da disciplina de Telemedicina

156

na USP, o Prof. Chao Lung Wen, ressaltou a importância do programa que simula a

estrutura do dente.

Esse projeto inédito foi dividido em títulos, cada uns colocados em CD-ROM, que

auxiliam médicos e estudantes a compreenderem melhor o funcionamento do corpo

humano. “[...] Ele é fruto da junção de três coisas: design digital, orientação estratégica para

a comunicação e o conhecimentos de médicos especialistas. Por isso, é tão completo [...]”77,

afirma professor Chao Lung Wen, coordenador geral da área de telemedicina na USP, e um

dos “pais do homem virtual”.

Por enquanto, a série contém oito CDs. Entre os temas abordados estão: anatomia

dos órgãos genitais masculinos, a marcha humana e como é afetada por amputações e um

que mostra detalhadamente como ocorre o ciclo do nascimento e morte da pele. Os

Softwares são desenvolvidos de acordo com a necessidade e as parcerias. O CD sobre

anatomia geniturinária masculina, por exemplo, está sendo distribuído pela Sociedade

Brasileira de Urologia e Associados. O trabalho sobre a marcha já está ajudando médicos e

pacientes do serviço de reabilitação do Hospital das Clínicas de São Paulo, até o ano de

2006, a equipe pretende chegar à marca de 30 títulos.

O software da ATM, por sua vez, simula em detalhes a Articulação

Temporomandibular (encaixe do queixo ao crânio, na altura do ouvido). Essa articulação é

acionada durante os movimentos da boca. Para amortecer e amoldar as superfícies ósseas

da articulação, existe uma estrutura fibrocartilaginosa chamada disco articular.

Quando esse disco se desloca de sua posição (normal), surge a síndrome da ATM,

essa síndrome não é tarefa fácil, porque os sintomas, que variam de zumbidos até dor de

cabeça, podem sugerir inúmeras outras doenças. Assim, o dentista que domina o assunto

pode indicar exames que investiguem a articulação antes de enviar o paciente para uma

maratona de tratamentos. 77 COSCARELLI, Cristiane. Disponível em <www.universiabrasil.net/ead/materia> de 23 de junho de2004, Acesso em: 07 de dezembro de 2005.

157

Com imagens tridimensionais e programações que simulam situações reais, o

programa resume tudo o que foi dito no parágrafo anterior, para explicar a ATM e todo o

conjunto que envolve vários grupos musculares, ligamentos, articulações, ossos e as arcadas

dentárias que podem ser utilizadas pelo dentista para ampliar seus conhecimentos sobre as

doenças e também para que o paciente possa visualizar o que está acontecendo.

O I Congresso Brasileiro de Teleodontologia coordenado pelo Conselho Brasileiro

de Telemedicina e Telesaúde (CBTMS) teve como objetivo disseminar a idéia de que os

recursos da Telemedicina devem ser aplicados também à Odontologia. Com esse mesmo

pensamento, o Prof. Coordenador Geral da Telemedicina na USP Chao Lung Wen tem

muitas razões para acreditar que a Odontologia pode ser integrada ao Projeto Estação Digital

Médica, também da USP, cujos propósitos são reunir hospitais, instituições de ensino da

área da saúde, clínicas e profissionais numa rede para a troca de conhecimentos e até

realizações de cursos a distância. “[...] todo bom plano que prestigie promover a qualidade

de vida não pode esquecer a saúde bucal [...]” diz o Prof. Chao Lung Wen.78

Chao Wen reconhece que a Teleodontologia é uma disciplina atrasada à

Telemedicina, contudo, não tem dúvidas de que o setor tende a se estruturar muito bem em

dois anos. Mas, atualmente, dentistas de todo o país já podem se especializar, com mais da

metade do curso virtualmente, em três áreas: Dentística, Implantologia e Articulação

Temporomandibular, isso é possível através da ferramenta Cybertutor, desenvolvida pela

USP para atender à Faculdade de Odontologia da Universidade Sagrado Coração de Bauru.

78 Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telesaúde. Disponível em<http://www.cbtms.com.br/teleodontologia/> Acesso em: 16 de setembro de 2004.

158

O Cybertutor é um sistema interativo baseado na Internet, que acompanha todo o

teórico do aluno. Esse conteúdo é repassado através de telas de apresentação (normalmente

Power Point) iguais às utilizadas nas aulas presencias, com apoio de textos e posteriormente

Módulos do CD-ROM Homem Virtual complementam o ensino conforme especialização.

As dúvidas dos alunos são esclarecidas através da tutoria eletrônica e o sistema

acompanha ao coordenador da especialização o “avanço” do aluno a distância. Durante o

período de aprendizagem são realizados testes diversos e cada um dos tópicos contém uma

avaliação prévia do aprendizado do aluno.

O sucesso do Projeto é tanto que ele começa a ser expandido também para o

público leigo. A Faculdade de Medicina pretende fechar nos próximos meses uma parceria

com o SENAC que permitirá levar o homem virtual a alunos e técnicos, para que auxiliem na

detecção e prevenção de doenças. O Prof. Chao afirma:

[...] seria muito proveitoso se profissionais esteticistas, cabeleireiros, pedicures e manicures fossem capazes de detectar sinais de câncer de pele. Alem de detectar lesões na pele de seus clientes, micoses, infecções e até mesmo sinais de câncer da pele. Além de facilitar a cura com o diagnóstico, eles podem se tornar agentes multiplicadores de informação e também na prevenção.79

Outros projetos que envolvem a saúde pública já são realizados com o auxílio do

homem virutal, entrando como uma educação de postura e orientação para a prevenção de

doenças como câncer de pele e DTS (doenças sexualmente transmissíveis), esses projetos

podem ser acompanhados no site. O professor Chao afirma: “[...] costumo definir a

Telemedicina como um resgate social por meio da tecnologia [...]”.

4. 4. Apresentação de casos no 10o Congresso Internacional de Telemedicina

e Telesaúde: São Paulo - outubro de 2005

No 10o Congresso da Sociedade Internacional para a Telemedicina e Telesaúde e II

Congresso do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telesaúde, também dentro delas o II

79 Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telesaúde. Id. p. 2

159

Encontro de Teleodontologia ocorrida de 23 a 26 de outubro de 2005, em São Paulo,

destacamos os seguintes itens:

4.4.1 O uso da Telemedicina no complexo do Hospital das Clínicas (HC) e

Faculdade de Medicina da USP (FMUSP)

Experiências em teleassistência e teleducação, sob a coordenação da (FMUSP),

viabilizados pelo Banco Alfa. Aconteceram cursos, discussões clínicas, segundo

especializada e transmissões de cirurgias e autopsiais. No HC as ações envolvem o Instituto

Central, Instituto da Criança, Instituto de Psiquiatria, Instituto do Coração, Instituo de

Radiologia e Instituto de Ortopedia. Na FMUSP, abrangem praticamente todos os

departamentos e disciplinas.

4.4.2. O II Encontro Brasileiro de Teleondotologia: Outubro de 2005

A teleodontologia elimina a barreira da distância e introduz novas tecnologias para a

educação, intercâmbio cientifico e, no futuro, até para o relacionamento entre profissional e

paciente.

A teleodontologia deriva das experiências da telemedicina criadas a partir da corrida

espacial, que se resumem à prática, assistência e ensino a distância, mediados por sistemas de

informação, telecomunicações e recursos de multimídia. Isso vale tanto para uma troca de

e-mails entre colegas sobre um caso clínico, para uma videoconferência ou uma

interconsulta de emergência na presencial. Este ramo que une a ciência odontológica e

informática promete mudar a maneira como o cirurgião-dentista se relaciona com o mundo

e o mundo com ele.

A experiência pioneira de discussão e diagnóstico via satélite do Instituto Nacional

de Pesquisas Espaciais (INPE) em 1974, com a participação do patologista Moacyr Novelli,

ainda na fase analógica, a projetos baseados em tecnologia digital, desenvolvidos pela

disciplina de Telemedicina da FMUSP em cooperação com a Universidade Sagrado

Coração (USC), e cursos atualizados on-line como os ministrados pelo Centro

160

Interamericano de Aperfeiçoamento de Educação Continuada (CIAPEC) e certificados

pela ABO (Associação Brasileira de Odontologia) dão uma dimensão do potencial dessas

ferramentas tecnológicas.

As palestras e apresentações de casos deram um panorama do desenvolvimento da

teleodontologia no país, bem como as perspectivas e limites do uso de teletecnologia no

ensino e na prática odontológica. Um fórum onde os participantes discutiram a legislação

para utilização da teletecnologia na odontologia.

4.4.3. Simpósios: Urgências e traumas em Telemedicina

Foram abordados entre outros temas, o uso no Brasil da educação a distância e da

educação baseada em tecnologia para a capacitação no salvamento de vidas em casos de

traumas. Palestrantes e trabalhos internacionais mostraram os sistemas de Teletrauma nos

Estados Unidos e Franca, incluindo transmissão de imagens, protocolos operacionais e

planos de negócio para assegurar a sustentabilidade dos programas.

4.4.4. Telecardiologia Foram apresentadas experiências brasileiras em tele-eletrocardiograma,

teleradiografia, tele-eletrocardiografia, tele-medicina para outras situações específicas em

cardiologia. Experiência inglesa sobre atendimento a pacientes com insuficiência cardíaca

em casa e no hospital.

4.4.5. Telenfermagem

Foram apresentadas experiências brasileiras no uso da teleducação e tecnologias

para treinamento de profissionais e ensino da enfermagem, bem como na prática da

enfermagem com a utilização de novas tecnologias ou tele EGC. Entre outros temas, foi

discutida a integração da telenfermagem com a informática para padronização de bancos de

dados e aumento da segurança do paciente.

161

Foram alguns dos itens que se analisaram nesse Congresso, que contou com

especialistas brasileiros e estrangeiros, dando relevância à ação a distância, sobretudo no

uso de recursos interativos e as últimas novidades nessa área. Tal como destaca o médico

Giovanni Guido Cerri diretor da FMUSP:

[...] a Telemedicina neste país vai ter o mesmo crescimento geométrico que teve a telefonia celular. Hoje existem mais celulares no Brasil do que telefones fixos. É um instrumento que não pode ser ignorado pelas universidades brasileiras.80

Revistas especializadas afirmam que Brasil têm quase 80 milhões de celulares81. É

um indicador da expectativa por usar essa nova tecnologia e a necessidade da comunicação

entre os seres humanos.

Segundo Gerson Zafalon Martins do Conselho Federal de Medicina (CFM):

[...] a educação médica de forma continuada é uma das preocupações do CFM e a atualização profissional pede a participação de todas as faculdades de medicina do Brasil. O Conselho vai a coordenar todo o trabalho da educação continuada, com cursos para as diversas especialidades médicas. Isso será possível com a telemedicina. 82

O CFM já iniciou um trabalho de formação continuada com um projeto

desenvolvido no Estado de Paraná, por meio da Faculdade de Medicina da USP, que está

disponibilizando um acervo de aulas sobre telepatotologia.

Num outro projeto, com a Amazônia, se desenvolverão prontuários eletrônicos do

paciente, o que permitirá a eliminação de papéis principalmente em hospitais. Este é um

exemplo da parceria possível entre comunicação, telemedicina e saúde. Além disso, a telemedicina

é uma ferramenta para disseminar internacionalmente o conhecimento.

Embora a idéia corrente sobre este campo da medicina seja comumente associado à

educação médica a distância, o professor Eduardo Massad, da FMUSP, considera a

telemedicina um recurso estratégico para o controle de endemias e epidemias. A 80SEMESP: Sindicato de entidades mantenedoras de estabelecimentos de entidades de ensino superior no Estado de São Paulo. Disponível em: <http://semesp.org.br/portal/index.php>. Acesso em: 12 de outubro de 2005. 81 Apesar de setembro de 2005, ter sido o segundo pior mês do ano no que tange à adesão de assinantes de telefonia celular, perdendo apenas para janeiro, o país está à beira de alcançar a marca histórica de 80 milhões de aparelhos ativos, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Além disso, o Brasil segue entre os cincos maiores mercados do segmento no mundo, ao lado de países como os Estados Unidos, Japão, Alemanha e Rússia. Apenas no acumulado dos últimos 12 meses, o país ganhou 20.332.174 novos assinantes. In: Revista Meio & Mensagem,ano XXVII, No. 1181, out São Paulo: 2005, p.48. 82SEMESP: Id. p. 2

162

importância da telemedicina se estabelece, porque está associada à informação, ao

conhecimento, ao ensino e à pesquisa, mas também à melhoria da qualidade de vida das

pessoas. As ferramentas interativas irão permitir, além do uso assistencial, maior agilidade

na comunicação entre as pessoas.

Além da vertente assistencial e educacional, o que o público leigo em geral

desconhece é sua utilização como recurso ao que os profissionais da área chamaram de

segunda opinião. O procedimento nada mais é que um profissional apresentando um caso a

um par e solicitando sua opinião a distância.

Os terminais têm sido utilizados principalmente para esclarecer dúvidas dos

profissionais da saúde, além do uso para a segunda opinião, especialmente no que diz

respeito a problemas de diagnóstico laboratoriais e clínicos, uso de antibióticos e aspectos

epidemiológicos, o que não deixa de ter utilidade indireta ao paciente.

4. 5. O professor em medicina-odontológica

A espécie humana alcança hoje uma fase evolutiva inédita na qual os aspectos

cognitivos e relacionais da convivência humana se metamorfoseiam com rapidez nunca

antes experimentada. Isto se deve em parte à função mediadora, quase onipresente das

novas tecnologias. Paralelo a isso surge também novos riscos de discriminação e

desumanização.

No tocante à aprendizagem e ao conhecimento, chegamos a uma transformação

sem precedentes das ecologias cognitivas, tanto da escola como das que lhe são externas,

mas que interferem profundamente nelas.

Afirmamos, no entanto, que as novas tecnologias não substituirão o professor, nem

diminuirão o esforço disciplinado do estudo. Elas ajudam a intensificar o pensamento

complexo, interativo e transversal, criando novas chances para a sensibilidade solidária no

interior das próprias formas de conhecimento.

163

Na medida que as novas tecnologias de informação, invadem todos os cantos da

escola, assim também, vão extinguindo-se os professores tradicionalistas dando surgimento

a outros, com novos métodos, é o paradoxo do avanço tecnológico. Não sabemos se esse

fenômeno acontece em todas as áreas do conhecimento, mas estamos seguros que esteja

ocorrendo gradual e progressivamente, com muita eficiência, nos cursos médicos.

As razões para esse fato são claras, pois a carreira docente privilegia publicações,

pesquisas e, particularmente, aquela habilidade tão brasileira de transitar em comissões,

reuniões ou compromissos de forças políticas, sendo que vários professores se sairiam bem

em câmaras de vereadores ou algo semelhante.

Tudo isso não tem nada a ver com a capacidade de ensinar, talvez, até muito pelo

contrário, já que ensinar significa tornar claras as coisas complexas, enquanto que política

no sentido mais rasteiro do termo corresponde a deixar confusas as coisas que parecem

claras. Além do mais, ensino é considerado uma das menos importantes funções do

professor universitário, da medicina.

Professores titulares que ministram aulas na graduação são muito raros. Um

professor que ensine bem, mas que não tenha vocação ou tempo para fazer pesquisas não

progride na carreira, cada vez mais julgada pelas publicações que cada um deles faz.

Didática não é considerada atividade produtiva. Assim, mostrar imagens como recursos

audiovisuais não garantem uma boa aula: podem fornecer momentos de iluminação entre

hiatos de profundo tédio.

É mister observar que cursos de didática fazem parte dos programas de mestrado e

doutorado em medicina. Pelo jeito não são aproveitados. Ou se trata de um problema

vocacional: na verdade, ministrar aula exige fazer um pouco de teatro e, se não prevalecer a

vocação de ator, o resultado nunca ficará adequado, de modo que permita que os alunos

compreendam e lembrem o assunto. Aulas meramente expositivas, que repetem o que

livros e revistas contêm, afiguram-se criticáveis – é melhor pedir para ler direto da fonte.

164

É necessário fazer algo mais, pessoal, paralelamente à capacidade de explanar. Para

tanto, são fundamentais dois fatores: conhecer bem o que se está ensinando; e saber expor

de maneira lógica e encadeada o tema. Será que a didática em medicina é uma arte perdida?

Nos Estados Unidos, já se fala em reconhecer, na carreira acadêmica, a capacidade de

ensinar como atributo tão importante como pesquisar e publicar, “Numa faculdade de

medicina, os professores são pagos, entre outras coisas para ensinar medicina”83, dizem os

professores Vicente Neto e Jacyr Pasternak, médicos e professores universitários.

Nessa área do conhecimento – a médica – novos paradigmas têm sido pensados

para abordar os problemas de preparação de estudantes, não só para demandas biotécnicas

da prática clínica, mas também para a prática da medicina familiar, o gerenciamento de

doentes crônicos e as dimensões psicológicas das doenças.

Como referimos anteriormente, o professor deve dar algo mais de si, fazer da aula

uma semelhança teatral o que envolve em certos campos, a questão do talento artístico

profissional que vem à tona no contexto da continuidade da educação. Os educadores

questionam, de que forma profissionais maduros também podem ser ajudados a renovar se

de modo a evitar o esgotamento e como eles podem ser ajudados a construir seus

repertórios de habilidades e idéias de forma contínua.

Os professores que muitas vezes são alvo de críticas por causa dos fracassos na

educação pública, tendem, por sua vez, a defender suas próprias versões com relação à

necessidade e à renovação profissionais. Ao considerarmos o talento artístico de

profissionais extraordinários e explorarmos as formas pelas quais eles realmente o

adquirem, somos inevitavelmente levados a certas tradições divergentes de educação para

as práticas – tradições estas que se colocam fora dos currículos normativos das escolas ou

paralelamente a elas.

83 NETO, Vicente & PASTERNAK, Jacyr. A extinção do professor didático em medicina. In: Jornal da USP, de 28/3 – 03/04 de 2005, p. 2.

165

Como afirma SCHÖN (2000, p. 24): “[...] não é por acaso que os professores

freqüentemente se referem a uma ‘arte’ do ensino e usam o termo artista para referir-se a

profissionais especialmente aptos a lidar com situações de incerteza, singularidade e

conflito[...]”, ou como afirma Dewey (apud, Schön) “[...] as artes e as ocupações formam o

estágio inicial do currículo, correspondendo a saber como atingir os fins [...]”84

Por outra parte, encontramos professores didáticos e autodidatas, nesta era da

dispersão do saber. No entanto, com o surgimento de novas tecnologias e novas

metodologias de ensino mudaram os grandes beneficiários delas seriam: os estudantes e

mestres preocupados em inserir essas ferramentas como auxílio à pesquisa e ao ensino.

4. 6. Dinâmica do ensino do Prof. Novelli na FOUSP: Um mergulho nas

práticas pedagógicas.

No Brasil, uma das primeiras experiências teleodontológicas de discussão de casos

clínicos ocorreu em 1974, também no contexto da pesquisa espacial. Naquele ano, Moacyr

Domingos Novelli, atualmente Prof. Dr. associado de Patologia Geral da FOUSP, realizou

exames histopatológicos que foram transmitidos de Natal (RN), via satélite, para a base do

INPE -Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais - em São José dos Campos (SP).

84 SCHÖN, Donald A . Educando o profissional reflexivo. Um novo design para o ensino e aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, Sul, 2000, p.24.

166

Figura 10 – O Professor Moacyr D. Novelli

“[...] necessitávamos de dois satélites, que só estavam disponíveis para a

transmissão entre meio dia e meia[...]” lembra o pioneiro, que afirma ter assistido a aulas de

escultura e desenho na graduação, em 1971, transmitidas por cabos de TV a partir da

Escola de Comunicações e Artes (ECA) para a FOUSP.

No âmbito da FOUSP, o Prof. Novelli coordena o Laboratório de Informática

Dedicado à Odontologia (LIDO), criado em 1987. O núcleo desenvolveu um sistema de

comunicação entre diferentes ambientes utilizando rede analógica local. Por intermédio

dessa rede, é possível transmitir imagens do centro cirúrgico para diversas salas de aulas e

laboratórios.

O Laboratório de Informática Dedicado à Odontologia (LIDO) nasceu de um

projeto na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) em 1987.

O projeto tinha como principal objetivo formar um núcleo de processamento de imagens

em Odontologia. O primeiro equipamento para tal fim constitui um microscópio acoplado

a uma câmera, que transmitia a imagem de um corte histológico para um monitor. Isso

aconteceu na década de 80. De lá para cá, o LIDO modernizou seus equipamentos e

produziu softwares para a subtração e quantificação de estruturas macroscópicas e

167

microscópicas, bem como desenvolveu um setor de educação que utiliza os produtos das

suas pesquisas em prol do ensino. Atualmente, estão delineados no Laboratório cinco

objetivos.

• Desenvolver projeto de ensino na disciplina de patologia geral, monitorado por

computador e sistemas inteligentes;

• Desenvolver projeto de hardware para criação de interfaces entre o cirurgião

dentista e o computador;

• Desenvolver software especializado para o cirurgião dentista, clínico geral e

especialista;

• Pesquisar o potencial das propriedades físicas e químicas das entidades patológicas,

através de análises qualitativa e quantitativa da informação;

• Prestar assessoria técnica às demais disciplinas e serviços da USP, bem como às

Faculdades públicas e particulares.

O software ImageLab foi desenvolvido também pelo Prof. Moacyr Domingos

Novelli. O software destina-se a análises morfométricas e subtração de imagens, sendo

utilizado para espécimes de escala macroscópica e microscópica. O ImageLab possui vários

sistemas de conversão de unidades, filtros de correção de imagens, inúmeros formatos de

exportação, comunicação amigável com outros softwares e dispositivos de digitalização, entre

outras ferramentas.

Nosso trabalho foi efetivado a partir da “visita” aos 146 institutos de ensino e

pesquisa da USP, desse universo foram selecionados oito e, finalmente focalizamos nosso

estudo na Faculdade de Odontologia. Os centros pesquisados revelam que as NTICs estão

alcançando gradativamente um patamar de alta qualidade, devido ao uso eficiente das novas

168

tecnológicas e também à eficiente organização da universidade, pois, elas constituem

importantíssimas ferramentas tecno-cognitiva para o uso acadêmico dessas unidades.

Uma tendência nessas unidades visitadas é dar ênfase ao ensino e pesquisa com as

NTICs, buscando valorizar seus resultados obtidos por outras sub-áreas onde haja maior

possibilidade para uma interface multidisciplinar; e que essas mesmas ferramentas

tecnológicas constituam fontes para disseminar suas descobertas a fim de serem

confrontadas e aproveitadas por outras áreas do saber.

Através do nosso estudo foi possível evidenciar que, o auxílio das NTICs como

ferramentas cognitivas para o ensino-aprendizagem constituem suportes importantes na

FOUSP para o ensino a distância porque o LIDO faz parte do sistema de transmissão de

dados para a biblioteca e para o aluno em pontos “extra-muro”. Para tal, é necessária a

presença de uma central de produção de material didático, localizada no LIDO. Nesse nível

de interação, está sendo implementado o protocolo de utilização de rede digital,

principalmente da Internet.

Partindo dessas observações, nossa análise esteve focada num estudo de caso no

uso das NTICs na FOUSP. Apesar de que a pesquisa em Ciências Sociais tem sido

ancorada, basicamente, em estudos que utilizam métodos quantitativos para a descrição e

explicação de problemas. Esta realidade é fruto da hegemonia de um paradigma positivista,

que enfatiza a natureza probabilística e estatística da sociedade em que vivemos. Os estudos

de casos historicamente sempre estiveram presentes na investigação da natureza social, no

entanto, foram minimizados em sua importância e utilidade.

Assim, contextualizados, encontramos que as NTICs servem de suporte na

dinâmica de ensino do Prof. Moacyr D. Novelli, nas técnicas cirúrgicas e das pesquisas.

Observamos “in situ”, sala-laboratório multidisciplinar, duas aulas teóricas e

dezessete práticas da dinâmica de ensino do docente, na pesquisa de campo nos primeiros

169

semestres de 2004 e 2005. Elaboramos relatórios de 19 observações feitas (em anexo) nas

disciplinas de “Patologia Experimental: Introdução às Técnicas Cirúrgicas” e Semiologia.

A disciplina de Patologia Experimental está voltada para o ensino dos princípios da

cirurgia dental dos estudantes de graduação do segundo e terceiro semestres. É uma

disciplina prática que forma parte do currículo de estudos da graduação da FOUSP. A

anestesia, o corte e a sutura realizam-se em coxa de frango, que facilita as práticas pela sua

textura e cartilagem.

Dessas observações resgatamos o que segue:

• Os alunos, corretamente uniformizados, colocam-se nas mesas da prática, mas

antes disso acontecer, o professor Moacyr liga os aparelhos pendurados nas

paredes da sala-laboratório.

• O Prof. começa a manipular os instrumentos cirúrgicos e demais ferramentas

que o auxiliam. Ele não precisa de qualquer outro elemento auxiliar, além de

boa disposição e dinamismo nessa prática.

• Seguidamente, começa a mexer esses aparelhos (novos ou híbridos),

simultaneamente, explica o conteúdo da prática, que será acompanhada pelos

estudantes, que têm duas fontes de comunicação: uma real, emitida pela figura

do professor (sua voz viva real) e outra fonte contida na tela do computador

(simulação).

* Essas fontes de informação fornecem alternativas aos estudantes que podem

receber ou assimilá-los a sua livre escolha. Ambas fontes têm algum diferencial mas

significativamente está na emissão das imagens ampliadas e refletidas na tela dos

computadores.

170

• Os estudantes realizam a prática combinada a essas duas fontes de informação.

As explicações do Prof. não se refletem nas telas, porque elas não têm som

incorporado, mas as imagens especificam tudo e também escutam a sua voz,

sem a necessidade de estarem olhando na face dele.

A metodologia usada, ativa campos intelectuais dos estudantes que, se predispõem

para continuar na prática cirúrgica subsídio importante para sua formação profissional.

4.6.1. Desenvolvimento das práticas

Vejamos como se desenvolvia a dinâmica da disciplina:

As aulas acontecem com o apoio de multimídias nas quais as novas tecnologias de

informação são acionadas ao serviço da educação, o idealizador da dinâmica é o Prof. Dr.

Moacyr Domingos Novelli, do Departamento de Estomatologia. O Laboratório de

Informática dedicado à Odontologia – LIDO – é o centro onde se elaboram o design

instrucional – plano e diário das aulas teóricas e práticas – com suportes baseados nas

novas ferramentas para o ensino-aprendizagem. As disciplinas observadas foram: Patologia

Geral e Introdução às técnicas cirúrgicas. Neste caso os participantes foram alunos (55) do

I semestre (2004) em Patologia Geral.

A relevância dessa dinâmica de ensino percebeu-se quando o Prof. Moacyr ligou

o som com uma suave música dentro do laboratório de microscopia para que os

estudantes fiquem mais concentrados no momento das práticas. Consideramos que

aquelas músicas constituem parte da ecologia do ensino-aprendizagem, pois, elas agem

de várias maneiras sobre o cérebro humano, fornecendo-lhes certo prazer e conforto,

provocando-lhes ânimo, iniciativa, criatividade, gostos por desafios e disputas por fazer

da melhor maneira as suas práticas laboratoriais.

171

O Prof. Moacyr lembra, as músicas tem propósitos distintos segundo momentos do

fato educativo, ele recomenda seus usos nas seguintes circunstâncias:

• Advertência do comportamento em sala de aula usa Pink Floyd, com a música:

Teacher;

• “Punição”, recomenda o uso de cantigas infantis de Villa-Lobos;

• Euforia, música acústica eletrônica de balada;

• Reflexão, música clássica – principalmente de Mozart – ou música instrumental

brasileira.

O emprego da música como estimulante funcional do cérebro, já era utilizada no

século XIV, para o estabelecimento de diagnóstico de cura, mas, nessa oportunidade

tratava-se da versão atualizada para as práticas odontológicas. Depois de instalado no

cérebro, o fenômeno sonoro se incorpora à vida mental do indivíduo, de modo a tornar-se

susceptível de análise somente através da psicologia.

“[...] mas a música, ao contrário da literatura, do cinema e de outras artes, não

exprime situações nítidas, precisas, inteligíveis e revela-se incapaz, por si mesma de

determinar a formação de idéias claras e categóricas[...]”, afirma Ribas (1957, p. 61)

No passado, as “casas de saúde”, eram povoadas de executantes de instrumentos.

Algumas peças musicais eram tidas como antídotos contra venenos, outros considerados

tranqüilizantes poderosos. Certas peças musicais eram tocadas como afrodisíacos, outras,

como aceleradoras do parto.

Os médicos da idade média apreendiam a palpar completamente a artéria radical no

pulso para sentir a “música do pulso” que continha ritmo, o equilíbrio do corpo85. O

médico N.Cuellar e colaboradoras, enfermeiras, da Universidade de Pensilvânia, estudaram

85 Fonte: BMC Complement Altern Méd. 2003. Nov 18; 3 (1): 8 In: http://ram.uol.com.br/ RAM= Revista de atualização médica. Visitado em 06/12/ 2005, p. 1

172

os tipos de mediações alternativas que 186 idosos usavam para aliviar as queixas e dores.

Ficaram surpresas que os cantos e músicas religiosas estavam incluídos entre as principais

medidas, tanto entre idosos brancos como entre os negros.

Em sociedades urbanas como a que vivemos, estas questões tendem a se formar

mais complexas pela multiculturalidade que as caracterizam. Néstor Garcia Canclini (1998),

em sua obra “Culturas Híbridas”, afirma que nessas sociedades as ofertas culturais são

muito mais heterogêneas, justamente por ser fruto da mistura de tradições cultas, populares

e massivas, o que gera diversas maneiras de receber e de compreender seus significados

(CANCLINI, 1998, p. 150). Dessa forma, não podemos atribuir ao fenômeno musical uma

única significação, principalmente quando nos deparamos com esferas heterogêneas quanto

as urbanas, neste caso concentrados numa sala de aula de teor técnico.

Tecnologias de Simulação para o ensino e pesquisa na FOUSP86.

Figura 11 - Simulação com imagem tridimensional da ATM

86 Tecnologias de Simulação. As simulações têm demonstrado ser ferramentas de aprendizagem muito efetivas, ainda que os professores das áreas médicas tenham sido lentos para expressarem este claro potencial. Em estudos comparando programas de simulações com laboratórios tradicionais demonstrou-se que, embora a aquisição de conhecimentos por ambos grupos tenham sido a mesma, os estudantes tiveram uma atitude mais positiva na utilização em programas desse tipo, e que o custo de laboratório convencionais nessa abordagem foi de cinco vezes maior. A aprendizagem com simuladores é significativamente maior que os outros tipos. Para promover o uso de simulações na educação é necessário facilitar o seu desenvolvimento e maximizar seu uso, principalmente por professores da área biomédica. Atualmente muitos pesquisadores, certos dessa necessidade, estão desenvolvendo ferramentas que têm por objetivo tornar mais fácil a produção de simulações.

173

4.6.2. A informática e o ensino odontológico. Um estudo pioneiro

desenvolvido pelo Prof. Moacyr D. Novelli usando a web-based

Desde a década de 70 quando começou a discussão sobre a sociedade da informação

estão acontecendo notáveis transformações nas sociedades desenvolvidas e países em

desenvolvimento como Brasil, tanto do ponto de vista social quanto o econômico. Os

países do primeiro mundo que se iniciaram também como países agrários, passaram a uma

sociedade industrializada, e, atualmente estão na etapa global baseada nas tecnologias da

informação.

O Brasil está em processo de transformação agroindustrial, mas ao mesmo tempo

vislumbra-se um forte componente da nova era da informação. A Informática tem um

poder transformador que faz um país queimar etapas e acelerar seu desenvolvimento. Isso

ocorre, por exemplo, com as tecnologias educacionais. Reconhecendo o poder de

transformação das tecnologias de informação a maioria das agências internacionais de

fomento à expansão e utilização da informática em todas as áreas da sociedade.

Nesse parâmetro, o progresso inexorável das ciências médicas é uma coisa que

ninguém duvida. Nunca se experimentou tanto, nunca aconteceram tantas descobertas

novas, em tão pouco tempo na história da medicina. A maioria dos cursos médicos já tem

mais de dez mil horas de ensino, mas os médicos estão se formando com um

conhecimento muito superficial. Mesmo assim, cerca de 50% dessas informações estão

obsoletas após três ou quatro anos depois que o médico se forma. A única solução para

esse dilema é o uso intenso das tecnologias de informação.

Nesse sentido estão propostos grandes projetos para o desenvolvimento dos sistemas

de informação na área. Pensando nisso a Associação Americana de Escolas de Medicina

(AAMC) se posicionou, cerca de 15 anos atrás, de um famoso documento intitulado “O

Médico do século XXI”, recomendando nela que as Faculdades de Medicina deveriam

assumir a vanguarda no uso de tecnologia de informação em todo o curso médico, e de se

174

preocupar em treinar professores e alunos na operação de computadores, com a finalidade

de melhorar o acesso à informação disponível em forma eletrônica, que hoje assume

formas e volumes avassaladores.

A realidade virtual, as simulações computadorizadas e os cursos disponíveis na web

surgem dominantes, embora muitas dessas aplicações ainda não tenham encontrado espaço no

currículo médico, por diversos motivos, entre os quais a sua extrema novidade.

O choque cultural no ensino médico é imprevisível, e será tão grande talvez, quanto o

que se deve ter passado com a invenção da imprensa por Gutenberg. Os professores-

médicos estarão enfrentando um grave caso de degradação da autoridade perante seus

alunos no futuro, caso não promovam uma atualização de suas tecnologias didáticas (ainda,

muitas vezes presas ao quadro negro, giz e projetor de slides).

A Internet e outras tecnologias de informação e comunicação e mídias eletrônicas

(CD-ROMS, sites, links, imagens 3D) constituem atualmente o suporte principal nas

faculdades de Odontologia, Medicina, Escola de Enfermagem e Instituto de Bio-Ciências

da USP, através da amostra de materiais pela world wide web (www), fazendo uso da

interatividade on-line, discussões grupais e chats.

Um dos principais objetivos da disciplina de Patologia Experimental é descrever e

avaliar os princípios da cirurgia oral num curso prático baseado na web, o qual está sendo

aplicado em estudantes da graduação. Essa disciplina foi investigada como uma simulação

de aprendizagem a distância onde os estudantes estariam envolvidos na prática cirúrgica

desde sua própria casa ou ambientes da sala com ou sem o professor.

O site da web (www.fo.usp.br/lido) foi criado contendo materiais usados na

disciplina. Para tal caso, os estudantes têm participado de um curso básico na web, num

laboratório de multimídia equipado com computadores, Internet e Intranet, sistema de som

interno e circuito de TV, onde são mostrados todos os procedimentos para os participantes

175

ao mesmo tempo. Também são usadas microcâmeras para monitorar as práticas dos

estudantes durante o uso da Internet.

A opinião dos estudantes é avaliada mediante questionários. A manipulação do

computador com posições antiergonômicas são observadas. A conclusão preliminar é de

que um curso de aprendizagem a distância com módulos práticos deve ser considerado

como um tipo especial de modalidade educativa, com referência ao relacionamento entre

os estudantes e o computador.

Esse programa pioneiro no Brasil interessa pela interatividade tanto face a face como

a distância, porque contribui com técnicas adequadas no uso da aprendizagem, usando

novas tecnologias das mídias, na saúde dental das pessoas.

Os recursos do computador e a característica rizomática da Internet têm sido usados

como chave para o ensino e a aprendizagem, especialmente na ciência médica. De grande

porte de difusão de informação que inclui textos, imagens, vídeos e desenhos, são algumas

das vantagens desta nova forma de comunicação de “todos para todos” no sistema educativo.

Atuais investigações na área médicas através da educação e da Internet têm sido

empregadas também em aprendizagem colaborativos a distância, em que estudantes e

professores estão fora do contato físico, mas como inteligências espalhadas em toda a rede.

Muitos autores reportam a expansão do papel da aprendizagem a distância na educação

superior.

Particularmente no ensino de cirurgia oral, o computador tem sido usado

principalmente para simulações da realidade virtual para obter uma interatividade

tridimensional, chaves em práticas cirúrgicas. No entanto, alguns projetos usam a Internet

para entregar materiais didáticos, através da world wide web, e outros recursos interativos on-

line da prática cirúrgica cotidiana, tal como e-mails, grupos de discussão e bate-papo.

176

Em 1996, foi criado o curso Introdução às Técnicas Cirúrgicas, disciplina da Faculdade de

Odontologia da Universidade de São Paulo, voltada para o ensino dos princípios da cirurgia

oral para estudantes de graduação do segundo e terceiro semestre. É uma disciplina prática

que forma parte do currículo da graduação. Os estudantes aprendem algumas técnicas

cirúrgicas que seriam usadas e desenvolvidas em outras disciplinas do currículo geral da

Odontologia, como por exemplo, nomenclatura dos instrumentos cirúrgicos, tipos de

anestesia dental e princípios básicos de anestesia e sutura.

Ainda a disciplina desenvolve habilidades manuais dos alunos, e prepara-os para as

outras disciplinas que atinjam atividades clínicas e de laboratório. A disciplina envolve

também a interdisciplinaridade situação representada pelo contexto cirúrgico. São revisadas

e aplicadas em situações cirúrgicas disciplinas como: anatomia, psicologia, patologia e

radiologia. Todos as práticas são executadas em coxa de frango.Essa modalidade de ensino

que usa mídias das novas tecnologias está evoluindo aceleradamente, mas podemos afirmar

a priori, que facilita a pesquisa, na FOUSP. Nesse sentido trabalhamos na metodologia do

Prof. Novelli, aplicamos um formulário aos alunos da disciplina de Patologia Experimental,

ensino que se realiza na modalidade presencial e a distância com apoio das NTCIs, da qual

apresentamos a seguinte tabela:

177

Disciplina: Patologia Experimental: Introdução às técnicas cirúrgicas (ODE-0111)

Tabela 3 – Resultado do formulário aplicado aos alunos da FOUSP

QUESTÕES

2004 2005

Sim 26 35

Não 01 00

1. Você conseguiu compreender o tema com a

metodologia do Prof. Moacyr?

Mais ou menos 12 00

A explicação do Professor 03 00

A visualização da imagem 11 01

2. O que é que você considera como eficiente do

método do Prof. Moacyr?

A explicação e as imagens 22 31

A anestesia e o corte 02 01

O corte e sutura 21 20

3. O que você acha o que mais assimilou?

Anestesia, corte e sutura 14 14

Sim 09 08

Não 05 01

4. Você seria capaz de fazer o corte e sutura da

mesma forma como se vê na TV e no

computador? Talvez 25 26

Resultado do formulário aplicado aos estudantes da FOUSP, sobre a dinâmica do ensino do Prof. Moacyr D.

Novelli no ensino de técnicas cirúrgicas usando as novas tecnologias de Informação e Comunicação.

4.7. Interpretações e reflexões sobre a pesquisa

1. Para a questão 1 (Q-1) em ambas turmas – 2004 e 2005 – a metodologia do Professor

Moacyr recebeu uma alta taxa de aprovação, 90 e 99% respectivamente.

2. Na Questão 2 (Q-2) a explicação do Professor junto com as imagens mostradas nos

televisores e nos computadores, recebeu também uma alta aprovação dos estudantes, com

uns 70 e 90 % respectivamente para ambas turmas.

3. Na Questão 3 (Q-3), encontramos um equilíbrio entre ambas turmas referente à

cognição e assimilação, ou seja, ambas turmas assimilaram melhor o corte e sutura.

4. Para a questão 4 (Q-4) o item totalmente voltado para diagnosticar a prática cirúrgica

com apoio da imagem televisiva e do computador 90% responderam “talvez” o que indica

178

ainda uma insegurança em ambas turmas. Isto foi observado também pelo Prof. Moacyr,

recomendando a todos eles que não somente devem fazer somente uma prática, mas,

“centenas de vezes”, diz ele para os estudantes.

5. O resultado final foi extraído em base da entrevistas a 39 estudantes da turma do I

semestre de 2004 e 35 do I semestre de 2005.

A utilização de estudos de casos em pesquisas em comunicação vem, aos poucos

ganhando destaque na produção acadêmica da área. Sua utilização está especialmente

relacionada em áreas novas. Neste caso, do uso das NTICs nas técnicas cirúrgicas em

Odontologia.

A probabilidade uns dos aspectos do estudo de caso, utiliza a estatística para

permear a todos os aspectos da vida. A coleta sistemática de dados sobre pessoas afeta da

maneira na qual nós concebemos a sociedade. Isso influencia profundamente no que nos

escolhemos fazer, no que tentamos ser e no que nós pensamos de nós mesmos. Assim,

pessoas passam a serem “normais” quando em conformidade com a tendência central

definida pela estatística, enquanto os extremos são considerados “patológicos”87.

Também se aplicaram testes – com apoio da equipe do LIDO - ao início e final nas

disciplinas de Patologia Experimental e Semiologia para constatar se os estudantes

conseguiram assimilar o uso correto da empunhadura dos principais instrumentos

cirúrgicos, os quais se usariam também em disciplinas de outros níveis de estudos na

FOUSP. A avaliação consistiu na observação de oito figuras e um x deveria ser marcado

em todas aquelas que ele julgasse corretas (teste em anexo) O teste foram aplicados aos

alunos de 2o. e 3o. ano diurno e noturno em 2004.

Segue abaixo as tabelas de resumos com as porcentagens de respostas apontadas

como corretas: na empunhadura dos instrumentos cirúrgicos.

87 DOS SANTOS, Cristiane P. Estudo de caso e a lógica da pesquisa qualitativa. In: Comunicação & Sociabilidade. Coletânea de Comunicação. SILVEIRA, Ada C. Machado da, et al. Santa Maria, RS: FACOS- UFSM, 2001, p. 92.

179

Tabela 4 -Turma: 2o. ano diurno

Figuras Antes (%) Depois (%)

1 79,3 98,4

2 31,0 29,7

3 0,0 0,0

4 41,4 9,4

5 98,9 100,0

6 3,4 0,0

7 3,4 0,0

8 96,6 96,0

Tabela 5 - Turma: 2do. ano noturno

Figuras Antes (%) Depois (%)

1 71,4 93,8

2 26,2 12,5

3 2,4 0,0

4 42,9 18,8

5 81,0 93,8

6 16,7 0,0

7 2,4 6,3

8 92,9 100,0

180

Tabela 6 - Turma: 3er. ano diurno

Figuras Antes (%) Depois (%)

1 87,5 86,1

2 14,6 30,6

3 0,0 0,0

4 85,4 63,9

5 95,8 94,4

6 0,0 11,1

7 6,3 0,0

8 93,8 100,0

Tabela 7 - Turma: 3er. Ano noturno Figuras Antes (%) Depois (%)

1 59,5 75,6

2 14,3 39,0

3 28,6 2,4

4 66,7 68,3

5 50,0 90,2

6 47,6 9,8

7 7,1 12,2

8 66,7 90,2

Esses indicadores mostram a importância da avaliação de “entrada” e “saída” nas

disciplinas de Patologia Experimental e Semiologia. Aquelas avaliações foram feitas tendo

181

como instrumento a mídia impressa. Nesse sentido, reafirmamos a relevância da imagem,

no caso estática, diferentemente daquelas proporcionada pela informática.

As tabelas 4 e 5 apontam um alto percentual no manejo do instrumental depois de

que eles já fizeram práticas. Nas tabelas 6 e7 os resultados indicam que esse percentual vai

ficando mais estreito nas turmas do período noturno.

Observou-se maior porcentagem de acertos para a turma do 2o ano diurno com

relação à turma noturna de mesmo ano de estudos. Não houve diferenças estatisticamente

significantes considerando-se os cursos diurno e noturno para a turma do 3o ano na maioria

das figuras analisadas.

182

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi apontado anteriormente, vivenciamos mudanças aceleradas no sistema

capitalista, tais alterações propiciam maior interação entre racionalidade econômica e

racionalidade tecno-científica, as quais abrem novas perspectivas, promovendo uma

verdadeira “reconfiguração” de nossas práticas e percepções. A década de 1990 foi marcada

pelo impacto decisivo das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs)

sobre as mais variadas dimensões da existência; as transformações mais notáveis se

produziram na eletrônica, nas comunicações e na biotecnologia.

Contudo, as descobertas tecnológicas, em suas aplicações como auxiliares no

campo da educação têm sido efêmeras quando comparadas a outras instâncias sociais,

talvez devido ao desconhecimento de sua potencialidade na formulação e disseminação do

conhecimento. O aproveitamento mais intenso dessas tecnologias poderia fomentar a

participação efetiva dos envolvidos no processo educacional, uma vez que elas rompem o

controle das políticas educativas centralizadas, abrindo espaço para comunidades

infoexcluídas, facilitando o aumento do nível de instrução, e de acesso a bens culturais.

No vasto e complexo mundo das informações nos deparamos cada vez mais com

um alto volume de informações que recebemos, lemos e apagamos, nesse sentido, as novas

tecnologias atuam de modo complementar e não para excluir as formas tradicionais de

ensino. Uma análise parcial das novas tecnologias nos levaria pensar somente em seus

aspectos tangíveis; porém, é de suma importância, no campo das inovações tecnológicas,

pensar também nas suas linguagens, reconhecendo a necessidade de inseri-las para uso

massivo nas instituições de ensino, a fim de que a suas aplicações sejam bem aproveitadas

pela comunidade.

Contudo, não podemos esperar dessas novas tecnologias e, de suas redes virtuais,

uma solução mágica para modificar profundamente a relação pedagógica; a tendência é

183

facilitar a pesquisa individual - possibilitando o surgimento de uma geração de autodidatas -

ou em grupos. O impacto crescente que essa revolução tecno-científica exerce sobre nossa

sociedade e os efeitos subseqüentes que ela suscita em todas as áreas começa a ser sentido e

percebido, mas ainda está longe o dia em que possamos avaliá-lo em toda a sua dimensão e

alcance.

As novas tecnologias, definitivamente, não substituem o professor, mas alteram a

suas funções de transmissor de informações para o de agente mediador no uso dessas

ferramentas cognitivas, que bem aproveitadas atuam positivamente na formação do novo

arquétipo do estudante e futuro profissional.

Através deste nosso estudo evidenciamos que as NTICs utilizadas como

ferramentas cognitivas de ensino-aprendizagem e pesquisa, tornam-se suportes primordiais;

elas acrescentam qualidade ao ensino na Faculdade de Odontologia, e outros centros de

pesquisa da USP, assim como otimizam a disseminação das prevenções através da mídia

televisiva e pela Internet.

Tínhamos como pressuposto inicial o entendimento de que as novas tecnologias de

informação estão agindo sobre a educação, pois estão nas salas de aula, elas não têm

fronteiras, estão no ciberespaço, mas, auxiliam no aprimoramento acadêmico, otimizam

processos e abrem outras possibilidades metodológicas aos educadores. As NTICs, estão

demonstrando serem excelentes ferramentas para a prática docente, assim como

conseguem melhorar a qualidade do ensino.

Nossa pesquisa iniciada no campo teórico, analisando os canais comunicacionais,

cimentados hoje nas novas tecnologias da “era da informação”, para posteriormente

verificar, no campo empírico, sua atuação nos métodos e técnicas de ensino-aprendizagem

em nível superior, especificamente, nas ciências da saúde e biomédicas da Universidade de

São Paulo. A pesquisa de campo nos ofereceu subsídios para a consecução dos

objetivos do trabalho, ou seja, analisar e comparar os resultados obtidos através das

184

dinâmicas de ensino utilizadas pelo Prof. Moacyr com apoio das NTICs, também nas

discussões do caráter estratégico das aplicações dessas tecnologias que englobam o

processo de ensino e pesquisa, bem como a identificação da metodologia utilizada pela área

odontológica.

A metodologia utilizada foi adequada para um estudo de caso, na qual os estudantes

foram testados em base a variáveis sobre a dinâmica empregada pelo professor no uso das

tecnologias de informação para as técnicas cirúrgicas e no uso dos instrumentos cirúrgicos.

Nossa pesquisa institucional e interdisciplinar procurou, nas diferentes unidades da

USP as quais utilizam as NTICs no ensino e pesquisa, tanto presencial como a distância;

focalizamos, especialmente nas áreas da saúde, biomédicas, biotecnológicas.

Analisamos as práticas nas salas-laboratório multidisciplinar e de multimídias da

FOUSP, onde concentramos nosso estudo e concluímos:

• Na FOUSP, o Prof. Moacyr D. Novelli, através da dinâmica do seu ensino,

adquiriu a confiança dos estudantes, abrindo espaço para a comunicação dialógica,

no binômio milenar da educação: o professor e o aluno. Inculcava-lhes a

importância das práticas cirúrgicas e das atitudes reflexivas, imprescindíveis na

interface ensino-aprendizagem, devido às competências cada vez mais rigorosas

para formar o perfil dos profissionais, exigidos pelo mundo globalizado e em

constantes mudanças sócio-econômicas e culturais;

• A dinâmica de ensino do Prof. Moacyr é salientada por um grande percentual de

estudantes – segundo respostas ao formulário de perguntas - especificamente na

disciplina de “Patologia Experimental: Introdução às Técnicas Cirúrgicas” que é

referência para outras disciplinas na FOUSP e outras instituições de ensino do

Estado de São Paulo e do país;

* Na variável cognitiva – atenção, concentração e memória subsidiada pelas imagens -

os alunos confirmaram que assimilaram melhor a temática “anestesia, corte e sutura” em

185

coxa de frango, com explicações do docente e, simultaneamente a visualização das imagens,

evidenciando o fluxo de diversos filtros de informação, dinamizando e possibilitando muito

melhor o aprendizado. A dinâmica desse método leva uma grande vantagem se comparada

a técnicas tradicionais de ensino, meramente expositivas ou simplesmente imagéticas;

• Um grande percentual dos estudantes da turma do primeiro semestre de 2004,

ainda permaneceu inseguro se seriam ou não capazes de fazer o corte e a sutura de

forma similar à observada na tela do televisor ou no computador; isso nos induz a

pensar que muitos deles, que desenvolveram as práticas na sala-laboratório com

ícones virtuais e em coxas de frango reais, não consolidaram tais conhecimentos de

forma suficiente para adquirirem experiências e segurança quando utilizarem tais

práticas em pacientes humanos reais;

• As aulas práticas com apoio dessas ferramentas se tornam mais motivadas e

dinâmicas. Encontramos ainda outros aspectos positivos derivados do uso dessas

novas ferramentas:

* mudanças de padrões e condutas, tanto nos estudantes como nos professores;

* mudanças no processo do trabalho pedagógico dos professores e dos alunos;

* maior produtividade com melhor qualidade de resultados;

* maior satisfação do professor e do aluno;

* alteração qualitativa e quantitativa na forma de trabalho/ estudo /pesquisa.

• O uso das novas tecnologias – versão DVD videogames, Televisão, computadores

e jogos on-line na Internet – elevam o QI (Coeficiente Intelectual), pois, os novos

desenhos estimulam às crianças e jovens a raciocinar e a fazer associações de idéias

para acompanhar o que acontece na tela88. Isto é altamente positivo do ponto de

88 SOUZA, Okky de; ZAKABI, Rosana. Especial. Imersos na tecnologia – mais espertos. Disponível em: <http://veja.uol.com.br/>. Acesso em: 07 de janeiro de 2006.

186

vista pedagógico, pois, fornece subsídios na otimização do processo ensino-

aprendizagem, evidenciado no aproveitamento escolar.

Constatamos também que os estudantes aprendem as técnicas cirúrgicas que seriam

usadas e desenvolvidas em outras disciplinas do currículo Geral da Odontologia, como por

exemplo: “nomenclatura dos instrumentos cirúrgicos”, “tipos de anestesia dental” e

“princípios básicos de anestesia, corte e sutura”. A disciplina: “Patologia Experimental:

Introdução às Técnicas Cirúrgicas” a conceituamos disciplina matriz porque ela desenvolve

habilidades manuais dos estudantes, e os prepara para outras disciplinas que exijam

atividades clínicas e de laboratório.

Verificamos que a disciplina “Patologia Experimental: Introdução às Técnicas

Cirúrgicas”, é interdisciplinar devido à situação apresentada pelo contexto cirúrgico, pois

envolve situações técnicas a serem aplicadas em disciplinas como: Anatomia, Psicologia,

Patologia e Radiologia. Todas as práticas foram experimentadas em coxa de frango, que

facilita as práticas pela textura da pele, ossos e músculos.

Mesmo sendo optativa, sempre causa grande interesse nos estudantes; assim, no

primeiro semestre de 2004 constava com 83 e no primeiro semestre de 2005 com 56

estudantes matriculados, divididos em duas turmas para as aulas práticas. Acreditamos que

devido à grande quantidade de estudantes nas aulas teóricas, o entusiasmo era menor se

comparadas com as aulas práticas dirigidas pelo Prof. Moacyr; tal motivação dos alunos

aumentava quando música era colocada nos alto-falantes da sala-laboratório com

propósitos distintos, tais como: advertência, “punição”, euforia e reflexão.

Essas músicas contribuíam para que os alunos concentrassem a atenção no

momento das práticas; percebemos que essa forma de estimulação era apreciada, pois,

ficavam tranqüilos, desfrutando momentos quase lúdicos devido a que as aulas se tornavam

mais atraentes. A dinâmica ajudava no aspecto cognitivo e afetivo; isso foi comprovado,

187

pois, os estudantes se lembravam do Prof. Moacyr e da sua forma “sui generis” de

compartilhar os conhecimentos, semestres depois de terem concluído a disciplina.

Parece-nos que as músicas constituem parte da ecologia da aprendizagem, pois, podem

agir de variadas e inusitadas formas sobre todos os seres viventes – vegetais e animais -,

principalmente sobre o cérebro humano fornecendo-lhe certo prazer e conforto,

provocando ânimo, iniciativa, criatividade, estímulos para enfrentar desafios e disputas.

Deduzimos também, que as imagens cumprem um papel decisivo na configuração e

apreensão dos conhecimentos, na odontologia, na medicina, na enfermagem, e outras

unidades da USP, pois, uma imagem 3D em movimento vale por mil imagens simples. Isso

ficou evidente na pesquisa feita no Instituto de Biociências e na disciplina de Telemedicina

da FMUSP, que utilizam recursos do projeto Homem Virtual, para o ensino, pesquisa e

prevenção de doenças no ser humano89.

Diante da robotização na sociedade contemporânea, o Prof. Moacyr induzia aos

estudantes para que adotassem práticas reflexivas, com objetivos direcionados a

transformarem-se em proficientes. Essa prática pode ser entendida como uma reflexão-na-

ação, conceituação utilizada por Schön (2002) constatando-se que se é bem feita

envolvendo diálogo transforma-se numa forma de reflexão-na-ação-recíproca.

Enfatizamos esse dado porque o Prof. Moacyr transferia conhecimentos aos

alunos com exemplos da sua experiência acadêmica. Também porque acreditamos que a

profissão de dentista, como outras profissões ou ofícios envolvem relacionamentos face a

face com todas as instâncias sociais. A cirurgia dental, como outras práticas da medicina e

saúde do corpo, envolve uma íntima relação e consideração. O objeto de trabalho é uma

das partes mais sensíveis do ser humano: a boca, onde se inicia nosso metabolismo como ser

89 O projeto Homem Virtual da disciplina de Telemedicina da FMUSP, é um objeto de aprendizagem que alia ilustrações dinâmicas em 3D, foi criado pelo Prof. Dr. Chao Lung Wen, sua capacidade de comunicar com rapidez e eficiência temas relevantes para a saúde pública tem gerado reconhecimento por parte da mídia e órgãos governamentais. Disponível em: <www.projetohomemvirutal.com.br> Acesso em: 23 de outubro de 2004.

188

biológico, o que leva ao profissional dessa área a um alto grau de sensibilidade para

manipular a parte bucal das pessoas.

Também deduzimos que, usando as novas ferramentas tecnológicas para o ensino

de cirurgia oral, e combinando-as com a arte – atividade essencial para o ser humano -

resulta uma mixagem singular. Porque o artista e o cirurgião utilizam no momento do seu

ato toda a sua sensibilidade, constituindo um fato inédito, as cirurgias podem ser realizadas

muitas vezes, mas, a técnica e a sensibilidade do momento operatório serão sempre um

momento único havendo entre a arte e cirurgia um certo paralelismo.

Procuramos refletir sobre os principais elementos da natureza teórico-prático

salientado pelo professor e o site – http://www.fo.usp.br/lido/ - elaborado para

complementar os estudos presenciais relacionados ao aproveitamento das NTCIs nos

espaços educacionais, mediados principalmente pelo computador, a fim de apoiar o

processo cognitivo dos estudantes.

Os resultados obtidos comprovam a hipótese da tese referente ao grande potencial

didático das NTICs em ambientes educacionais nas áreas odontológicas, biomédicas e da

saúde, que utilizam múltiplos meios de comunicação, integrando-os através de diálogos

produtivos, favorecendo e acrescentando qualidade ao ensino e pesquisa em nível superior.

No entanto, apesar das perspectivas animadoras como qualquer nova tecnologia, o

uso do aparato que envolve a telemedicina impõe algumas barreiras que, ao que todo indica,

levarão algum tempo para serem contornadas. A primeira e mais importante delas é a

econômica. A transmissão de alguns tipos de imagens com sucesso e rapidez ainda é

extremamente cara. É o caso da radiologia, por exemplo.

De acordo com o radiologista Klaus Irion, da Santa Casa, por se tratar de uma

imagem analógica, os Raios-X não pode ser transmitido de um local remoto a um centro de

diagnóstico sem ser digitalizado antes. Já existem máquinas de Raios-X que fornecem

diretamente a imagem digital, sem a necessidade do uso da película fotográfica. Embora o

189

custo final do exame seja mais econômico, os gastos com a aquisição da máquina ainda são

proibitivos – cada equipamento custa, cerca de US$ 500 mil.

Para o endocrinologista Rogério Friedman, vice-presidente adjunto do Hospital

Clinicas de Porto Alegre (HCPA), outro problema que começa a preocupar os responsáveis

dos hospitais e centros de pesquisas é a dificuldade de transmitir a maior quantidade de

informações no menor tempo possível. A tecnologia empregada em cada centro e os

formatos para a transmissão, são bastante diferentes, o que dificulta o intercâmbio.

Uma alternativa que pode mudar a realidade descrita aponta o especialista, é a

formação de parcerias. Foi o que fez o Serviço do Departamento das Clínicas, que hoje faz

parte do projeto Telederma, um núcleo integrado de teleassistência e telediagnóstico baseado na

Internet (desenvolvido pela disciplina de Telemedicina da Universidade de São Paulo –USP).

Outro fantasma que ronda os sonhos cibernéticos dos entusiastas da telemedicina é a

segurança e a confidencialidade do tráfego de informações. A maioria das instituições que

trabalham com diagnósticos sente a ameaça da falsificação e mau emprego dessas

aplicações tecnológicas, desviando-as para aplicações indevidas, que podem acarretar

propósitos inadequados.

A participação como pesquisador dessa temática, nos leva para um olhar do que

acontece com a proliferação das novas tecnologias que invadiram todos os cantos da vida –

áreas agronômicas, biológicas, biomédicas, ciências da saúde e outras áreas - resgatando os

suportes positivos, inclusive aproveitar as aplicações que poderia trazer a inteligência artificial

(IA) usada na medicina e na educação em países desenvolvidos.

No entanto procedemos de um país “periférico” consideramos que podemos

utilizar as vantagens dessas ferramentas - sobretudo nas áreas médicas - e não ser meros

observadores dos processos que privilegiam uns poucos.

Finalmente nossa reflexão aponta uma aplicação adequada dessas novas

ferramentas cognitivas. Apropriar-se dessa nova mídia seria ideal para incluir os

190

infoexcluídos, democratizando a sua aplicação em todos os níveis educativos e segmentos

sociais, aproveitar a sua presença na nossa cotidianidade, utilizando-a em grande escala,

porque vieram para ficar, e seria uma atitude antitecnológica lutar contra elas, pois, as

novas mídias informáticas são irreversíveis, e concomitantes com as mídias tradicionais na

contemporaneidade.

191

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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201

ANEXOS

ANEXO 1 – Relatório das aulas teóricas e práticas observadas na

FOUSP

AULA N° 1:

I) Visita ao Laboratório Multidisciplinar

Os principais aparelhos usados nessa sala são:

* digital vídeo maker aparelho para monitorar as telas dos televisores,

* microscópio óptico ligado ao computador,

* computador com interatividade, anexado à Internet,

* super emotia: aparelho que sincroniza o sistema vídeo caster (não digital) a outras fontes,

* vídeo presentation stand: aparelho com sistema de som DVD

* Mesa de som com seis canais.

II) Distribuição dos estudantes (Laboratório de Multimídias)

Os estudantes sentam-se às mesas do Laboratório, cada mesa tem lugar para 10

pessoas.

As monitoras entregam uma folha com imagens dos instrumentos cirúrgicos aos

estudantes, para fazerem um teste que denominamos de entrada e determinar se possuem

fundamentos da forma de empunhar esses instrumentos, quais sejam: bisturi, tesoura, pinça

e porta-agulha, os resultados seriam divulgados na aula seguinte. Após três semanas farão

um outro teste, que denominamos de saída, sobre os mesmos ícones, para determinar se eles

conseguiram memorizar as empunhaduras corretamente.

III) Orientações do professor aos estudantes

- Os estudantes devem estar com luvas, máscara, touca, óculos de proteção e

uniforme branco. Através de quatro telas de TV instalados na parte superior da

sala, o professor explica e mostra simultaneamente a maneira correta de abrir as

embalagens de luva e como as colocar.

Intranet90

Nessa prática, os alunos conseguem acompanhar as explicações do professor

olhando diretamente para ele num percentual de 5% mas, assistem na tela da TV num

percentual de 90%, e num percentual de 5% está observando a sua própria mesa e 90 Intranet: é uma infra-estrutura de servidores em rede e comunicação por links entre si.

202

materiais. Pudemos comprovar que eles estão mais concentrados nas imagens do professor

e as explicações que ele passa pela tela da TV, eles estão usando o clássico modelo de

ensino áudio-visual, mas nos ícones da TV, deixam em segundo plano a pessoa real do

mestre a quem somente escutam. O contrário acontece com o ensino tradicional, onde os

estudantes centram a sua atenção somente na fala do professor (90%). Na prática

introdutória e com o uso de aparelhos mediáticos em circuito fechado (Intranet), os

estudantes são preparados para manipular instrumentos cirúrgicos em coxas de frango. Pela

nossa análise superficial determinamos que o professor continua sendo a peça fundamental

para comunicar e informar aos estudantes na FOUSP.

IV) Uso dos instrumentos cirúrgicos

A) Técnica e uso da tesoura e da porta-agulhas com empunhadura somente com uma mão.

B) Uso da porta-agulhas e outros materiais cirúrgicos para a sutura (fios, agulhas, etc).

Observação

Cada prática leva de uma a duas horas aproximadamente. As lojas dentais localizadas perto

da sala-laboratório fornecem instrumentais cirúrgicos necessários para as práticas, nas quais

professores e alunos podem comprá-las.

AULA N° 2:

DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 06 de dezembro 2003

FASES:

I) “Aquecimento mental”

Chamado assim pelo Prof. Moacyr porque consiste no reconhecimento do ambiente, dos

materiais, lembrando paulatinamente o que eles fizeram na aula anterior, aí vão surgindo

breves comentários entre os estudantes, preparando os materiais cirúrgicos. É um

intervalo para dar começo à prática, onde o professor deve saber mexer com os estudantes,

é importante para que, quando concluam esse aquecimento, estejam concentrados nas

indicações dele, o que proporcionaria melhor aproveitamento.

O docente coloca o instrumental cirúrgico sobre a mesa, onde está uma câmera de TV

enfocando a coxa de frango (desta vez, um desenho virtual), peça fundamental para a sutura.

II) Indicações do Professor ao vivo e pelo circuito interno de TV.

Foram as seguintes:

- forma de pegar a seringa para injeção de anestesia ao paciente,

- cirurgia exploratória,

- conhecer a anatomia da coxa do frango, pele, ossos, nervos, músculos, etc.,

203

- as incisões devem ser os momentos de maior reflexão,

- as técnicas de empunhar o bisturi,

- as operações cirúrgicas são feitas de pé.

III) “A prática em si”: Dividida em duas partes.

A) Incisão – Diérese

B) Sutura (reconstrução) - Síntese

Os estudantes realizam incisões e suturas na coxa de frango, o que é realizado sobre a

mesa, esquecendo um instante a tela da TV. Simultaneamente exibe-se um vídeo de sutura

e, nessa fase, a escuta da fala do professor é imprescindível. Com alguns intervalos os

alunos erguem a cabeça para dar uma olhada na tela para ver o que acontece no vídeo. O

professor alerta que o vídeo não deve permanecer estático, fato que consideramos

importante para dar seqüência na interatividade da informação.

Figura 12 - Práticas interativas na FOUSP

Observação: Os estudantes devem ter excelente equilíbrio nas mãos, qualquer tremida pode ser fatal no

ato cirúrgico com pacientes reais. As práticas continuam até o quinto nível. As avaliações

iniciais são flexíveis, conforme passam de níveis, são usados aparelhos mais sofisticados e

são empregadas outras técnicas; portanto as avaliações são mais exigentes. O uso das novas

mídias eletrônicas constitui um apoio didático, enquanto ferramentas cognitivas, pois,

ajudam a fixar na memória dos aprendizes os conhecimentos espalhados no ciberespaço.

204

AULA N° 3:

DISCIPLINA: Semiologia91 DATA: 19 de março de 2004

LOCAL: Laboratório de Multimídias da FOUSP

PROFESSOR: Dr. Moacyr Domingos Novelli Alunos: 3o. ano.

Indicações:

Nessa aula introdutória do primeiro semestre, o professor sugere que os estudantes se

instalem nas mesas de práticas com seus materiais e instrumentos cirúrgicos, enquanto ele

prepara o vídeo e centraliza a câmera de TV, para melhor aproveitamento das imagens.

A prática dessa aula consistiu em usar dois métodos de incisão:

a) Num tecido ósseo,

b) Num tecido muscular.

“A prática em si”:

Lembremos que eles estão fazendo uma simulação em tempo real, portanto, essas práticas

devem estar mais perto da realidade, pois serão aplicadas em pacientes humanos.

Os estudantes são induzidos a olhar a tela dos televisores instalados em suportes nas

paredes da sala, para permitir melhor visão das imagens projetadas.

A maioria dos estudantes dessa disciplina – semiologia - já realizou práticas de anestesia, corte

e sutura, nos primeiros semestres de ingresso à FOUSP, no entanto alguns deles são

apoiados pelas monitoras Mayra e Priscila e também pelo mesmo professor Moacyr. A

prática demora entre duas a três horas sem intervalos.

AULA N° 4:

DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 19 de abril de 2004.

PROFESSORES: Maria Izete (Teoria) e Moacyr Novelli (Lab.) SEMESTRE: I de

2004

TEMA: Inflamação Aguda

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:

Parte teórica: a cargo da Profa. Dra. Maria Izete

Ela pediu aos alunos para colaborarem com o silêncio, pois a sala enorme lota com 83

estudantes. Traçou um triângulo na lousa para explicar o tema. A aula é expositiva,

exemplificada, sem uso de qualquer mídia. Após uma hora e dez minutos de aula a 91 Semiologia é a especialidade que estuda as variações dos sinais e dos sintomas, em busca de hipótese de diagnóstico para identificar doenças. Está baseada na observação das variações de forma, cor, textura e consistência, bem como de sintomatologia (dolorosa, ou de outra natureza, como por exemplo, parestesia, ardor, prurido, etc.) Disponível em: <http://www.fo.usp/lido/>. Acesso em: 23 de outubro de 2004.

205

professora deu um intervalo de quinze minutos para que os estudantes se encaminhassem

aos laboratórios.

Parte prática: No Laboratório de Microscopia, com o Prof. Moacyr.

A turma foi dividida em dois grupos: uma turma com a Profa Izete e outra com o Prof.

Moacyr. Essa segunda parte da aula acarreta mais interesse dos estudantes, porque aqui

encontram 43 microscópios colocados nas mesas em grupo de três, seis aparelhos de TV

instalados em suportes nas paredes, monitores, equipamento de som e computador. Ele

recomenda os estudantes para que entrem no site onde está a disciplina com seus

respectivos links, voltando a lembrá-los do significado clínico e assimilar as explicações sobre

os tecidos. Os alunos olham a tela do TV e simultaneamente escutam o professor que fala a

viva voz.

Depois de instalados os estudantes começam a mexer nos microscópios, fazem as suas

anotações necessárias, sob uma tênue música expandida por todo o laboratório, selecionada

pelo Prof. Moacyr. As imagens projetadas nos televisores são analisadas pelos estudantes

no microscópio, sendo ampliadas para melhor visualização e aprendizado dos tecidos. Os

estudantes gostam dessa aula-prática, porque reúne os principais requisitos de uma ecologia

da aprendizagem.

AULA N° 5:

DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 26 de abril de 2004.

PROFESSORA: Maria Izete

TEMA: Granulomas: Reação Inflamatória Crônica. (Aula Teórica)

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO

Nessa aula, a Profa. Maria Izete começou definindo e comparando o que é granuloma e

classificando os existentes. Nesse tipo de aula expositiva os estudantes – inclusive desse

nível de ensino - precisam de muita predisposição pessoal e grande vontade para se

sentirem confortáveis e contribuírem com a sua formação pessoal e profissional.

Desta vez a professora fez uso de mídias tradicionais (slides transparentes) desenhados

manualmente, com caneta simples em papel. Também desenhou uma granuloma na lousa,

para explicar a inflamação do tipo de tuberculose, que resulta em um tubérculo. De certa

forma é uma aula auxiliada com ferramentas midiáticas clássicas. O feed-back consistiu em

lançar algumas perguntas para sondar se os estudantes assimilaram a temática.

206

AULA N° 6:

DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 04 de maio de 2004.

PROFESSOR: Dr. Moacyr D. Novelli

TEMA: Usos de Instrumentos Cirúrgicos

CONTEÚDO DA OBSEVAÇÃO:

Apoiados por três monitores, o Prof. fez entrega aos estudantes de uma folha (mídia

impressa) onde se mostravam os principais instrumentos cirúrgicos a serem utilizados nas

práticas. Ele explica que a aula será 80% prática com aplicação da teoria estudada.

Mostra inicialmente a forma correta de empunhar a 1a. tesoura, logo a 2a. tesoura e um 3o.

instrumento – a porta-agulha - utilizando-se somente uma das mãos. As tesouras foram

fabricadas para destros, os canhotos devem se adaptar a ela.

O Prof. e monitores estão espalhados em diferentes espaços da sala, explicando a técnica

aos alunos individualmente. Eles praticam consecutivamente muitas vezes as mesmas

operações do manejo dos instrumentos cirúrgicos, como um prelúdio às práticas que

realizarão nas próximas aulas. A mídia tradicional usada neste caso foi o xerox com os

desenhos dos instrumentos.

AULA N° 7:

DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 11 de maio de 2004.

PROFESSOR: Moacyr D. Novelli

TEMA: Técnica para corte e sutura.

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO

Nessa aula prática, os estudantes se acomodam nas mesas, com capacidade para 10,

preparam todos os materiais. O Prof. instala a câmera da TV com seus projetores e quatro

aparelhos de TV pendurados no laboratório de multimídias. Após uma breve explicação

introdutória e estando os estudantes devidamente uniformizados, a prática se inicia. Como

se observou anteriormente os alunos têm duas fontes de informação audiovisual: aquela

fornecida pelo professor e a outra fornecida pelo circuito fechado de televisão, o que

subsidia de forma mais eficiente essa forma de prática bimodal no ensino superior.

AULA N° 8:

DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 18 de maio de 2004.

PROFESSOR: Moacyr D. Novelli

TEMA: Anestesia, Corte e Sutura (Práticas com os instrumentos cirúrgicos)

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO

207

Indicações do vestiário adequado para entrar num consultório dental. Os aparelhos de TV

também mostram em forma simultânea o que o Prof. Moacyr realiza, uma explicação em

tempo real da observação. Os monitores são quatro, porque há 40 estudantes nessa prática.

Nessa aula, eles dedicam-se a repetir individualmente uma ou mais vezes as indicações do

professor. É um preparo físico e mental para anestesia, corte e sutura em coxa de frango

que serão realizados daqui a duas semanas.

AULA N° 9 :

DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 24 de maio de 2004.

PROFESSOR: Maria Izete

TEMA: Anatomia das Neoplasias

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO

A Profa. Izete explica diretamente o conteúdo temático, veiculado no aprendizado e uso da

memória dos estudantes, tentando apresentar a eles os conceitos básicos das ciências

médicas. Eles escutam, silenciosamente, a aula expositiva da Profa. Izete tentando lembrar

conceitos da aula anterior.

Na II Parte (aula prática), desenvolvida no Laboratório de Microscopia, metade dos

estudantes da aula teórica ficou com a Profa. Izete e a outra com o Prof. Moacyr. Nessa

sala-laboratório, os estudantes mexeram com os microscópios e puderam assistir a imagens

estáticas que o Prof. Moacyr ia projetando nos televisores pendurados. É um aprendizado e

uma comunicação assíncrona, pois o sentido da informação através das mídias eletrônicas

instaladas no laboratório assim o define.

AULA N° 10:

DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 25 de maio de 2004.

PROFESSOR: Moacyr D. Novelli

TEMA: Anestesia, Corte e Sutura em coxa de frango.

208

Figura 13 - Anestesia, corte e sutura em coxa de frango

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO

Depois das indicações pertinentes sobre uso dos materiais cirúrgicos (pinça, tesoura, bisturi

e porta-agulha) que devem ficar no lado esquerdo do estudante, o Prof. Moacyr manipula

as ferramentas de simulação, a partir de dispositivos inseridos no computador à maneira

dos antigos slides, mas o retro-projetor instalado na mesa pode projetar a sua própria

imagem do televisor ao “vivo”, explicando e manipulando os instrumentos cujas imagens

refletem nas telas. Isso oferece aos estudantes duas opções: assistir pela tela ou mexer

diretamente seus instrumentos indicados pelo professor. As mídias utilizadas nestes casos

como suporte são muito importantes na prática pedagógica do ensino superior na FOUSP,

facilitam muito a aprendizagem presencial. Como se indicou anteriormente, os conteúdos

temáticos dessa prática estão num programa de computador e na rede para o acesso pela

Internet – http://www.fo.usp.br/lido/ - e podem ser acessadas por qualquer um dos

estudantes e/ou pessoas interessadas na temática. É importante lembrar que esta turma

estava realizando pela primeira vez essa prática, eles se mostravam um pouco nervosos,

mas o apoio das monitoras lhes dão certa confiança.

209

AULA N° 11:

DISCIPLINA: Patologia DATA: 1o. de junho de 2004.

Figura 14 – O Professor Moacyr nas práticas cirúrgicas.

TEMA: Anestesia Corte e Sutura em coxa de frango.

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:

O Professor faz as indicações similares do que fez com a turma da semana anterior,

indicando a forma certa de inserir o tubete anestésico na seringa, o que é exibido na tela

dos quatro televisores do laboratório, isso simultaneamente possibilita uma melhor

interface com a informação.

Os estudantes realizam a prática com os instrumentais cirúrgicos após breves e repetidas

explicações do professor, que mostra as imagens destes nos televisores da sala.

Como mencionamos, essa prática já se fez com a turma anterior, ressaltando que a

anestesia é feita de três maneiras diferentes. Além de explicar os detalhes, e também com a

projeção das imagens nas telas, o professor exibe um vídeo de 15 minutos sobre a técnica

da anestesia. Tiramos fotografias para demonstrar que os conjuntos midiáticos podem ser

apresentados também através de fotografias e pela Intranet e Internet através do

computador (notebook) que é manipulado pelo professor Moacyr. Dessa forma, os

estudantes estão interagindo com as novas tecnologias para melhor aproveitamento.

210

AULA N° 12:

DISCIPLINA: Patologia Geral DATA: 08 de junho de 2004.

LOCAL: Anfiteatro da Fundação da FOUSP

PROFESSORES: Moacyr D. Novelli, Profa. Sheyla e uma equipe de monitores.

TEMAS: Hiperplasia (Cirurgia Laser) e Remoção de Tecido das Gengivas.

Material Áudio-visual: projetor, retro-projetor, slides, câmeras de vídeo conferência.

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO

Havia duas salas: uma munida com uma tela gigante com som próprio como se fosse o

écran de um cinema na qual estavam o Prof. Moacyr e os professores convidados e uma

outra sala na qual estavam a paciente, a Profa. Dra. Sheyla e uma equipe de auxiliares e

técnicos em processo de operação cirúrgica. Essa cirurgia era transmitida em tempo real

para os presentes na outra sala.

I PARTE DA CIRURGIA: HIPERPLASIA

Nesta primeira intervenção cirúrgica, em que seria retirado um acúmulo anormal de tecido

na cavidade bucal denominado de hiperplasia, a Profa. Sheyla anuncia que neste caso não

usará anestesia, porque a operação será indolor e não será necessário. Esta primeira

intervenção cirúrgica é assistida por todos os alunos, que usam a visão como sentido

principal do espaço cognitivo na tela gigante. As imagens enviadas do consultório para o

anfiteatro são comentadas pelo Prof. Moacyr e também pelos estudantes que conseguem

ter oportunidade de fazer perguntas. Esta primeira operação demora, aproximadamente,

uns vinte minutos.

Com microfone instalado perto da boca, a Profa. Sheyla, explica tudo o que está fazendo

na sala de cirurgia, para que os alunos e professores do Anfiteatro assistam a tudo o que

acontece com a paciente.

A Profa. Sheyla manipula um aparelho que emite raios laser. Ali todos na sala estão usando

óculos de proteção contra a radiação. Os raios laser aplicados à medicina são de 1,2 de

potência que passa através de uma fibra ótica. O Prof. Moacyr encaminha perguntas e

dúvidas dos alunos direcionadas à profa. Sheyla na sala de cirurgia.

Durante a retirada do tecido houve um “congelamento do vídeo” (imagem estática). A

duração da remoção do tecido demorou aproximadamente uns 20 minutos. A incisão se fez

com aplicação de raios laser e a ampliação da boca da paciente na tela gigante foi de doze

vezes.

211

II PARTE. MELANOPLASTIA: Operação cirúrgica estética (periodontia)

Esta operação consistiu em tirar de uma paciente voluntária (Rachel, uma estudante de

curso básico de periodontia) a parte escura da gengiva (pigmentação melânica) superior e

inferior que são características das raças negras e árabes. Aqui a Dra. Marina explica na sala

de operações todo o processo da intervenção, começando a fazer ou uso de Anestesia Local.

É importante mencionar que a Melanoplastia é uma operação para extirpar a parte escura

da gengiva em função da estética. A parte escura da gengiva deriva de um fator genético.

A primeira etapa consiste em anestesiar a gengiva, as papilas. A intenção é remover toda a

camada de epitélio existente.

Depois da Anestesia. Inicia-se a cirurgia com um bisturi e uma pinça para retirar o tecido

epitelial escuro. Também se usa um aparelho chamado sugador que aspira os resíduos do

tecido cortado. Elas vão tirando pedaço por pedaço o tecido melânico das gengivas e dos

espaços interdentais. A cirurgia ocasiona sangramento, mas a Rachel não sente pela doses

de anestesia aplicadas nela. Os dois professores doutores que fazem a cirurgia explicam

tudo o que acontece através de um microfone, comentando a seqüência da intervenção que

é acompanhada por mais de 80 alunos desde a sala da Congregação.

O gengivótomo (bisturi) é usado para raspar os tecidos que ainda ficam no epitélio gengival.

Gengivoplastia é uma técnica cirúrgica que visa o remodelamento do tecido gengival.

Reparação dos tecidos

A reparação natural começa com a multiplicação das células. Em 7 dias, essa ferida é

reparada.

Cuidados operativos. Após a operação a paciente terá os seguintes cuidados:

Ela deve fazer uma dieta de dois dias, bebendo somente líquidos e comendo alimentos

pastosos, frios ou gelados, para evitar sangramento.

Após 15 dias, a paciente pode mastigar normalmente. Não há necessidade de analgésicos,

nem de antibióticos, porque ela tem uma excelente saúde e a assepsia foi feita antes da

cirurgia. Um novo cimento é colocado após sete dias. A paciente deve higienizar essa área

com escova macia ou lavagem utilizando Listerine.

Rachel vai deixar essa área limpa com produtos químicos fazendo bochecho. Ela é uma

estudante do Curso de Especialização da FOUSP e o caso apresentado com a Rachel é

parte dos seus estudos que vem desenvolvendo nessa área.

Após o termo da operação (4.50pm), o Professor Moacyr fez algumas observações aos

estudantes:

212

O raio laser atinge partes mais importantes e profundas. O bisturi tira a superfície do epitélio

e a reparação do tecido é melhor e mais rápida. Com essas inovações, em termos

teleodontológicos, aplicando as novas ferramentas informáticas no ensino superior,

encerraram-se as aulas no primeiro semestre de 2004.

AULA N° 13:

DATA: 19 de abril de 2005 DISCIPLINA: Patologia Geral

TEMA: Aula introdutória ANO LETIVO: I semestre de 2005

PROFESSOR: Dr. M. Novelli MATERIAIS: Pinça, tesoura, luvas, fio e porta-agulha.

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:

O docente preparou os materiais a serem mostrados na tela. Os estudantes praticam a

forma certa da empunhadura da tesoura com a ajuda das monitoras Mayra e Priscilla e mais

quatro estagiários. Com a projeção das imagens ampliadas na tela os alunos podem

visualizar melhor a manipulação preparatória para a anestesia, o corte e a sutura.

Após repetir a forma correta até por três vezes na tela da TV, o Prof. Moacyr com apoio

dos estagiários ensina quase individualmente as técnicas para a anestesia, o corte e a sutura.

Explicou que há movimentos macrocirúrgicos; mas o que eles praticariam naquele momento

seriam atos microcirúrgicos

O seguinte passo foi a empunhadura de dois instrumentos numa só mão para a técnica de

sutura, mostrando como se faz isso, através das imagens, que é de importância visual no

momento cirúrgico. Os alunos escutam, olham e praticam as diferentes fases dessa técnica.

AULA N° 14:

DISCIPLINA: Patologia Experimental TEMA:Uso de instrumentos

cirúrgicos

PROFESSOR: Moacyr D. Novelli MATERIAS: Touca, óculos,

máscaras,

ANO LETIVO: I Semestre de 2005. luvas, avental, plástico, agulha

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:

O docente começa explicando e mostrando a forma correta de se colocar a touca, os

óculos, a máscara e o avental. Explica brevemente o que é biossegurança e também estimula

213

os discentes a manterem, disciplinadamente, a máscara, os óculos e a touca até o final da

aula.

O avental, para o Prof. Moacyr, é uma extensão do corpo, portanto deve ser respeitado.

Nesse momento, o Prof. explica algumas noções de bioética, envolvendo pacientes e

profissionais da área médica a partir da interface com o avental. Outras reflexões de

biossegurança do docente indicam a forma correta de manipular os instrumentos, o avental

e demais suportes, para evitar o contágio com a boca do paciente. Comentou também

sobre as zonas seguras para o depósito do lixo.

Insistiu na sua explicação sobre a biossegurança, para o qual desenhou no quadro verde

com um giz o espaço a utilizar na mesa do laboratório. Os estudantes praticaram o manejo

dos instrumentais com a sua ajuda pessoal e de dois estagiários.

AULA N° 15:

DISCIPLINA: Patologia Experimental TEMA: Preparo para anestesia, corte e

sutura

PROF. DR.: Moacyr D. Novelli MATERIAIS: Pinça, papel, luvas, ANO LETIVO:

I Semestre de 2005 bisturi, tesoura, seringa, touca, óculos.

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:

O Prof. elabora um diagrama no quadro verde referente à forma de colocar o papel com os

materiais na mesa. Explica brevemente sobre a hemostasia que é o processo de parar o

sangramento excessivo (hemorragia).Indica também como se deve colocar a máscara de

proteção, o mesmo acontece com a manipulação da luva e a forma de as colocar. A prática

nessa oportunidade ocorre utilizando papel: os estudantes fazem o corte na forma de um

trapézio. Eles terão que suturar a parte do corte feito no papel. É uma prática de preparo

para fazer a anestesia, o corte e a sutura na coxa de frango para a aula seguinte. O Prof.

Moacyr e um dos estagiários colaboram na prática individual dos estudantes.

AULA N° 16:

DISCIPLINA: Patologia Geral TEMA:Anestesia, corte e sutura

(ACS) PROFESSOR: DR. Moacyr D. Novelli em coxa de frango

ANO LETIVO: I Semestre de 2005 MATERIAIS: gaze, pinça, bisturi,

anestesia, fios, agulha, tesoura, papel, seringa, porta-agulha, coxa de frango.

TURMA: I Diurna

214

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:

O docente começa nessa prática com uma observação detalhada da forma de abrir as

embalagens, fechar e manipular o instrumental cirúrgico. Mostra lentamente a montagem

dos instrumentos, usa a porta-agulha e a pinça para colocar a lâmina afiada do bisturi no

seu suporte.

Na seqüência, entrega a cada um dos estudantes as coxas e sobrecoxas de frango cru, nas

quais os estudantes realizarão as práticas cirúrgicas.

Os estudantes observam, mexem, reconhecem e comparam a coxa de frango com as

imagens de uma radiografia impressa. Esse fato serve para fazer um feed-back das lições

teóricas e/ou práticas anteriores.

O Professor informa que praticarão três tipos de anestesia e pede para que eles olhem para

a ponta da agulha, para se concentrar melhor no momento cirúrgico. Pela ausência dos

monitores, o docente age rapidamente para dar atenção individualizada a cada um deles que

precisam, considerando também que essa turma realiza pela primeira vez essa prática.

O ato cirúrgico é a relação profissional do médico e o paciente e somente eles (os alunos)

podem se identificar com isso; não adianta perguntar tudo para o professor.

Após meia hora de aplicação das técnicas e do uso dos instrumentos cirúrgicos, os

estudantes estão muito concentrados nas suas práticas, mergulhando cada um deles nas

profundezas da concentração total para esse ato tão sublime que é o ato cirúrgico (incisão e

sutura); é um momento único, o silêncio absoluto está sobre a sala. Ninguém fala, comenta

ou olha para o colega do seu lado, todos conectados nesse momento mágico da exploração

ao máximo da suas potencialidades cognitivas e de concentração.

À medida que eles aprofundam as práticas na coxa de frango, novas inquietudes e

interrogações científicas afloram. O papel do professor com vontade de satisfazer a enorme

curiosidade dos estudantes se viu refletida nessa aula.

AULA N° 17:

DISCIPLINA: Patologia experimental TEMA: ACS em coxa de frango

PROFESSOR: DR. Moacyr D. Novelli MATERIAIS: Idênticos aos da aula

16

ANO LETIVO: I Semestre de 2005 TURMA: II diurna

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO

215

Nessa prática são usados quatro aparelhos de TV para visualizar melhor a imagem de uma

réplica de coxa de frango sobre a mesa. Como no caso da prática anterior, o professor

começa a explicar a forma de colocar a agulha na seringa e os demais instrumentos

cirúrgicos a serem utilizados durante o ato operatório.

Diferentemente da prática anterior, feita com uma outra turma de alunos, nessa aula os

alunos observam com muita atenção o que o professor está explicando sobre o manejo dos

instrumentos.

No momento em que o professor distribui as coxas de frango percebe-se que os estudantes

fazem uma projeção mental quanto ao futuro de cada um deles, pensando talvez que alguns

anos depois eles estarão mexendo com pacientes humanos reais. Eles, após esse processo,

observam por alguns instantes a coxa de frango na sua mesa de trabalho, mexem nela,

reconhecendo as articulações, músculos, cartilagem e nervos.

Como na primeira turma o professor ensina as três formas de injeção da anestesia: debaixo

da pele, a 45o e perpendicular.

Feitas as indicações pertinentes, eles mexem com suas próprias mãos e de acordo a sua

sensibilidade para iniciar o ato cirúrgico, começando pela anestesia. Pouco a pouco eles vão

se compenetrando nesse instante singular do ato pré-operatório, mantendo muita calma,

realizando movimentos devidamente controlados e concentrando-se profundamente no

que eles vêem realizando.

Com a ajuda da imagem de uma coxa de frango estruturada em partes e projetada nos

televisores, o professor indica que cada um dos alunos explore o que vai encontrar nessa

coxa e sobre-coxa. Também recomenda que não adianta chamá-lo muitas vezes para essa

ajuda exploratória.

Além da imagem projetada, o professor faz um desenho de uma coxa de frango na lousa

indicando onde eles podem fazer a incisão mais segura. Quando eles estão já no caminho

certo, e com grandes possibilidades de desenvolverem o que eles planejaram, entram na

etapa de concentração e silêncio absoluto, isto sugere que eles já estão nas imensidades da

exploração mental do ato cirúrgico em si. Obviamente no percurso de todos os alunos

iniciantes nessas práticas vão surgindo novas dúvidas, contrastando muitas vezes com tudo

aquilo que eles estudaram na teoria. Constatou-se que não basta somente a teoria que dá

lugar a um teoricismo, ou somente a prática, que deduz um praticismo, acreditamos que

temos que entrelaçar ambas para complementar uma cabal abordagem holística do ser

humano.

216

AULA N° 18:

DISCIPLINA: Patologia Geral TEMA: Mostra de quatro tipos de cirurgia.

Dois através de vídeo, dois ao vivo na sala de

cirurgia.

PROFESSOR: Dr. Moacyr D. Novelli ANO LETIVO: I Semestre de 2005

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:

Esta aula prática de observação se realizou na sala da Congregação da FOUSP.

No início dessa amostra foi aplicado um teste de conhecimentos sobre a empunhadura

correta de alguns instrumentos cirúrgicos, usados durante o semestre que está finalizando.

Esse teste consistia em marcar com um x dentro de um quadradinho junto a oito imagens

desses instrumentos. O objetivo desse teste consistia em determinar se o estudante

compreendeu corretamente a forma de empunhadura de pinça, tesoura, porta-agulha e

bisturi. No verso do teste, há dez perguntas com alternativas de respostas cada uma.

Depois de concluído o teste, o Prof. Moacyr os resolvia, explicando quais as respostas

corretas e fazendo uma retro-alimentação dos conhecimentos – feedback- para todos.

Após responder as dúvidas dos estudantes sobre o teste, o Prof. Moacyr pediu a eles

refletirem sobre essa sutil avaliação, indicando que, independentemente do resultado das

notas, elas não eram fator predominante, mas sim, para que eles possam ter

responsabilidade e seriedade nos estudos e sejam bons profissionais, quer dizer uns

profissionais reflexivos, na suas área de atuação e na sociedade.

Seguidamente explicou que passaria dois vídeos sobre tipos de cirurgia e um terceiro caso

ao vivo na sala de cirurgia. Os tipos de cirurgia observados foram:

a) Sutura Contínua (de uma pálpebra do olho), vídeo,

b) Incisão no sulco nasolabial, vídeo,

c) Frenotomia, com bisturi, ao vivo, realizada na sala de cirurgia,

d) Frenotomia com raios laser, ao vivo, realizada na sala de cirurgia.

I CASO: Sutura contínua. Este caso foi observado numa tela gigante na sala da

congregação da FOUSP. É uma cirurgia para corrigir as pálpebras. No vídeo mostrado o

corte já foi realizado, a seqüência foi a sutura da ferida da paciente. Ela apresenta sintomas

de que está com anestesia local e com um olho ortopédico de proteção. Foram aplicados

217

seis a oito pontos. O professor explica para toda a sala como se faz um nó ao final da

sutura.

II CASO: Incisão no sulco nasolabial. É uma cirurgia em que se realiza um corte no

sulco que fica entre o lábio superior e o nariz, de forma a torná-lo esteticamente compatível

com a visualização harmoniosa dos dentes superiores. O corte e a sutura são mostrados

pelo vídeo, são triangular e debaixo do nariz. A anestesia aplicada neste caso também foi

local.

III CASO: Frenotomia com bisturi. Este caso foi apresentado ao vivo da sala de

cirurgia para a sala da congregação.

Na sala de cirurgia, uma equipe de médicos e estagiários chefiados pela Profa. Dra. Marina

começa com a assepsia do rosto da paciente, ou seja, a limpeza da área a ser operada. O

problema que a paciente representa é uma retração gengival. Tudo o que acontece na sala de

cirurgia pode ser observado pelos estudantes numa tela gigante No anfiteatro da Fundação,

as imagens, o áudio e a interface da comunicação síncrona acontece entre o Prof. Moacyr e

na sala da Fundação e a Profa. Marina na sala cirúrgica, e este tipo de aula dá oportunidade

a todos participarem com suas dúvidas no momento mesmo do ato operatório.

Na seqüência a Profa. Marina explica passo a passo o que está realizando. Pode-se perceber

claramente a membrana existente entre a gengiva e o plano ósseo. Depois a Profa. e sua

equipe de médicos auxiliares realizam o corte até chegar à região óssea. A paciente está com

anestesia local e está com pouco sangramento. Depois do corte do freio gengival, os

auxiliares sugam alguns líquidos salivais e sangue com um sugador e algodão especial.

A operação cirúrgica demora uns 30 minutos aproximadamente, o maior espaço de tempo

ocupado nessa cirurgia foi ocupado pelo processo anestésico, o corte foi muito rápido e

fácil. Depois de secada a ferida é aplicada uma camada de cimento branco.

Houve um lapso de tempo para explicações e conforme a operação acontecia, as assistentes

secavam os lábios da paciente, liberando-a com recomendações específicas para tomar

alguns analgésicos e para voltar dentro de 45 dias.

Observação: Por que é feito a Frenotomia? Por que a existência de freio gengival dentro do

maxilar inferior ou superior cria obstáculos à higiene dental, gengival ou bucal e também

pela necessidade de estética na parte inferior da gengiva e dentes.

218

IV CASO: Frenotomia com raios laser

No caso anterior fez-se a frenotomia com bisturi, desta vez será com raios laser. O

processo inicial é semelhante ao anterior, anestesia-se a paciente. Mas neste caso a luz

potente do raio laser funciona como uma assepsia local. O sugador é de alta potência.

Quando o laser é ativado cumpre a função de um bisturi, cortando o freio. O laser tem

vantagem sobre o bisturi, porque cauteriza quase imediatamente o corte que é feito, e

também o tecido gengival. Não se observa sangramento nenhum, o laser o cauterizou e a

cicatrização é natural. Nesse caso não se usou o cimento cirúrgico.

O Prof. explica que o importante seria avaliar o ato pós-operatório, pois nele forma-se uma

pequena membrana, e a paciente tem que fazer uma fisioterapia para estimular o

crescimento das fibras. Então, a fisioterapia também será importante para a recomposição

dos tecidos alterados.

Nessa prática de observação utilizaram-se duas técnicas diferentes para uma cirurgia de

frenotomia.

Seguidamente o Prof. Moacyr convidou os alunos interessados a continuar aprofundando

essas práticas cirúrgicas e que ele estaria sempre à disposição às terças feiras.

AULA N° 19:

DISCIPLINA: Semiologia TEMA: Prova Final

PROFESSOR: DR. Moacyr D. Novelli ANO LETIVO: II Semestre 2005

TURNO: Noturno

A prova final consiste numa prática similar à disciplina de Patologia Experimental, feita em

coxa de frango. Utilizam-se os mesmos instrumentais cirúrgicos para Anestesia, corte e

sutura, a diferença está em que após as práticas, se utilizará o microscópio óptico e outras

ferramentas eletrônicas de pesquisa, que propiciam maior e melhor informação aos

estudantes.

A disciplina de Semiologia, como outras na FOUSP, é um pré-requisito que gera subsídios

teórico-práticos para outras disciplinas de estágios superiores da carreira de odontologia.

Nessa aula, especificamente avaliativa, foram observados os seguintes fatos:

* A informação teórica que os estudantes receberam há mais de um ano fica latente em

cem por cento, mas a prática é contrastante, porque a avaliação demonstra que dela só fica

219

trinta por cento. Deduzimos que há necessidade de estarem constantemente renovando as

práticas para manterem a associação entre teoria e prática.

A técnica empregada para anestesia, corte e sutura é a mesma se comparada com a

disciplina de Patologia Experimental. No entanto o que faz a diferença está no tempo

empregado para as ditas práticas que na nossa observação e medição foram as mesmas

daquelas empregadas pelos alunos do I Semestre ou II Semestre, toda vez que esta turma

está no VI semestre (3o. ano)

* Na realização dessa prática avaliativa com os estudantes de semiologia não houve a

necessidade de multimeios, pois, a grande maioria deles já havia fixado as principais

imagens que se projetam numa aula inicial de anestesia, corte e sutura. Eles também se

apóiam na seqüência dessa prática avaliativa no site da Internet. Os alunos receberam folhas

de papel com imagens dos principais instrumentos cirúrgicos e da coxa de frango.

* Nessa prática também observamos que os alunos se mostram mais seguros de si, estão

mais tranqüilos, menos nervosos, algumas esporádicas ajudas são providenciadas pelos

estagiários, monitores e professores. Os erros cometidos são menores se comparados com

alunos do I Semestre de 2004-2005.

* Uma outra coisa que observamos foi: das coxas de frango foram tiradas partículas do

tecido muscular, sangue e líquido sinovial, para serem submetidas a biópsia com apoio das

novas ferramentas tecnológicas usadas na odontologia para o ensino e pesquisa.

• Importante: Nessas aulas teóricas e práticas percebemos que tanto no vídeo como

nas projeções ao vivo predominam as imagens. Ela é o focus do fato cognoscitivo, é

um suporte primordial para o ensino e aprendizado na transição à sociedade da

informação e do conhecimento.

ANEXO 2

Resolução

do CFE:

estabelece

u o

Currículo

Mínimo

220

ANEXO 3 - Formulário aplicado aos estudantes da Faculdade de Odontologia da

USP, como parte da pesquisa de Roberto Torres Tangoa, da Escola de

Comunicações e Artes da USP (ECA-USP).

Disciplina: Patologia Geral

Professor Dr. : Moacyr Domingos Novelli

Semestres: 1os Anos: 2004-2005

Atenção: Preencha com um X dentro do quadradinho, de uma das alternativas

1. Você consegui compreender o tema com a metodologia empregada pelo Prof. Moacyr?

Sim � Não � Mais ou menos �

2. O que você considera como eficiente no método empregado pelo Prof. Moacyr?

A explicação do professor �

A visualização das imagens �

A explicação e as imagens �

3. O que acha o que você mais assimilou?

A anestesia e o corte �

O corte e a sutura �

A anestesia o corte e a sutura �

4. Você seria capaz de fazer o corte e a sutura da mesma forma como se vê na tela da TV e do computador?

Sim � Não � Talvez �

ANEXO – 4 Ficha do relatório circunstancial das observações na FOUSP

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DA USP

Relatório circunstancial de observação das aulas teóricas e práticas de laboratório com o uso de multimídias

na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo

DATA : HORA:

DISCIPLINA : TEMA:

SEMESTRE : ANO LETIVO:

No. DE ALUNOS : MATERIAIS:

PROFESSOR:

CONTEÚDO DA OBSERVAÇÃO:

Aluno: São Paulo, de 2004

Orientadora:

221

ANEXO 5 - Teste de “entrada” e “saída”

ANEXO 6 - Instrumentos cirúrgicos e Raios-X dos ossos

222

ANEXO 7 - Dicas médicas

ANEXO 8 - Novos aparelhos do LIDO

223

ANEXO 9 – O mestre Moacyr: nas práticas de Patologia Experimental

ANEXO 10 - Aparelhos com ImageLab do LIDO

224

GLOSSÁRIO

AUTOPOIESE: É a capacidade de um sistema para se organizar de maneira que o único

produto resultante seja ele mesmo, de tal forma que não há separação entre produtor e

produto.

BIOLOGIA DA COGNIÇÃO: Termo usado por Maturana e Varela para explicar como

os seres vivos conhecem o mundo.

BIÔNICA : Técnicas que toma as funções corporais dos seres vivos como modelos

para a construção de novas tecnologias.

BIÓPSIA : Ato cirúrgico que consiste em tirar uma parte de um órgão vivo, sendo

destinado ao exame histológico.

CIBERCULTURA: Neologismo que especifica o conjunto de técnicas (materiais e

espirituais) de modos de pensamentos e valores que se desenvolvem juntamente com o

ciberespaço. É usado por Pierre Lévy para designar a nova etapa da cultura que usa as redes

de informação eletrônica.

CIBERESPAÇO: Universo das redes digitais, palco de conflitos mundiais e uma fronteira

econômica e cultural.

CYBERTUTOR: Sistema estabelecido na Internet para a teleducação caracterizado pela

interatividade, avaliações automáticas e controle do desempenho durante a aprendizagem.

CYBERAMBULATÓRIO: Local para atendimento clínico através das redes digitais.

CIBERALUNO: Alunos que usam as redes eletrônicas para trocar informações e participar

no processo de aprendizagem.

ESTEREOSCOPIA: É uma reprodução artificial da visão humana, que é possível pela

existência de células fotossíntese na retina.

FRENOTOMIA: Ato cirúrgico que consiste em tirar o freio ou brida da cavidade bucal.

GENGIVÓTOMO: É um bisturi usado para raspar os tecidos que ainda permanecem no

epitélio gengival após a cirurgia.

GENGIVOPLASTIA: É uma técnica cirúrgica que se para tirar manchas residuais das

gengivas.

HANSENÍASE: (Lepra). Doença infecciosa da pele.

HIPERCORPO: Extensões do corpo através do espaço virtual.

HOLÍSTICA: Totalidade. Todo aberto que compreende todos os fenômenos que são

inseparáveis desse TODO e que, ao mesmo tempo, são, em si mesmos esse mesmo todo.

225

HOMEM VIRTUAL: Projeto para o ensino, pesquisa e divulgação da prevenção das

doenças criado na disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP.

HOMEPAGE : Pagina índice de um website que contém normalmente um menu de opções

e links para outros recursos dentro do site.

HIPERTEXTO: Conjunto de interfaces comunicativas, disponibilizadas nas redes

telemáticas.

HTML (Hypertext Markup Language): É um formato standard utilizado para definir o texto e

o layout das webpages. Os fichários HTML têm geralmente a extensão .html ou .htm

ÍCONE : Figura de pequenas dimensões, que quando acionada pelo apontador do

mouse executa o programa ou arquivo que representa.

IMAGENOLOGIA: Recursos altamente sofisticados para a obtenção de imagens na

medicina baseadas em tecnologias computacionais.

IMANÊNCIA : As redes virtuais constituem um plano de imanência inseridos na cultura

INPUT :Designação para a informação enviada para processamento em um

computador.

INFOINCLUÍDOS: Pessoas inseridas no uso das redes informáticas e computacionais.

INFOSFERA : Ambiente no qual os organismos se formam como células interconectadas.

INSTRUMENTALISMO: É um dos procedimentos que condicionaram nossa forma de

considerar as NTICs. É uma forma de razão descrita por Max Weber. As NTICs são uma

forma de razão instrumentalista . Conjunto de práticas que garantem ao homem um

controle e uma dominação mais eficiente sobre a natureza.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA): Ramo da Informática que se dedica a projetar e

programar máquinas capazes de reproduzir habilidades e condutas humanas, como visão,

poder de decisão, análise e solução de problemas.

INTERATIVIDADE: Capacidade de um sistema operacional ou programa de permitir

interação num processo.

INTERATIVO: Diz-se dos sistemas e programas que permitem ao usuário a interação ao

longo do processo, fornecendo novos dados à medida que se obtenha resultado.

INTERFACE: Ponto de contato e interação entre o computador e o usuário. 2.

Interligação entre dois equipamentos com funções distintas.

INTERNAUTA: (Neo). Designação dada a qualquer pessoa que navegue pela Internet. O

termo é uma analogia a astronauta.

226

INTRANET : Rede corporativa que utiliza a tecnologia e infra-estrutura para

transferência de dados da Internet. O acesso às páginas só é possível aos funcionários da

empresa e sempre por meio de senha

INFOVIA : (Neo). Via de informação. Modo de se referir à rede de computadores que

compõe a Internet.

IONÔMERO : Espécie de cimento ou fibra de vidro, utilizada para a reestruturação

dentária.

IRC : (Sigla para Internet Reality Chat) Ferramenta de comunicação que permite

conversações em tempo real baseado em texto, entre duas ou mais pessoas ligadas ao

mesmo tempo em qualquer parte da Internet. Serviço de comunicação, por escrito,

desenvolvido em 1988 pelo finlandês Jarkko Oikarinen, que permite o bate-papo em tempo

real, entre um irrestrito número de pessoas, de modo que cada uma delas possa ler o que as

demais escreveram.

iTV (Interative TV): Tecnologia que junta TV e Internet permitindo ao utilizador a

participação de forma interativa nos programas de T.

LÍQUIDO SINOVIAL: É liquido transparente e viscoso das cavidades articulares e

bainhas dos tendões.

LOGO : Termo criado por Papert, como linguagem de programação para crianças.

MEMEX : Memory Extender, inventado por Vannevar Bush, conselheiro de

Roosevelt, no texto “As we may think” em 1945.

MEDLINE : Banco de dados, revistas e links de medicina on-line

NANOMEDICINA: campo científico em rápida evolução no qual os cientistas estão

desenvolvendo uma ampla variedade de nanopartículas e nanodispositivos, que não

chegam a um milionésimo de polegada em diâmetro, para melhorar a detecção do câncer,

acelerar respostas imunes, reparar tecidos deteriorados e impedir a aterosclerose.

NOOSFERA : Espécie de mundo das idéias, construídas pelas coisas do espírito,

produtos culturais, linguagens, teorias e conhecimentos.

PANÓPTICA : É uma tática discursiva e tecnológica desenhada para o controle social e

institucional.

PATOLOGIA : Patologia é o ramo da ciência médica que estuda as alterações

morfológicas e fisiológicas dos estados de saúde. Quando essas alterações não são

compensadas podemos dizer que um indivíduo está doente.

SUTURA CONTÍNUA: Sucessão de pontos cirúrgicos sem a presença de nó entre eles.

Usa-se somente nó inicial e nó final.

227

SOCIÔNICA : Trata-se da questão de como é possível tomar exemplos da vida social

para desenvolver, a partir delas novas teorias computacionais. Modelização de sociabilidade

artificial.

TELEMEDICINA: Recurso que emprega as redes telemáticas para a educação e

prevenção a distância através das novas tecnologias de informação.

UNIDUALIDADE: Termo usado por Morin, para designar a complementaridade e a

complexidade do ser humano tanto no biológico como no cultual.

ULTRA-SOM : Obtenção de imagens de estruturas profundas do corpo por meio de

registro dos ecos dos pulsos das ondas ultra-sônicas direcionadas ao interior dos tecidos e

refletidas pelos planos teciduais onde ocorre alteração de densidade. A ultrasonografia

diagnóstica utiliza ondas de 1 a 10 MHZ.

WEB : É a parte da Internet que suporta interface gráfico de utilizador que

permite a navegação em hipertexto com um brouser do tipo Internet Explorer ou Netscape. É

na web que a maior parte das pessoas pensa que se está a falar quando se refere a Internet.

WORKAHOLICS: Indivíduos viciados no trabalho.

228

SIGLAS

AAMC : Associação Americana de Escolas de Medicina

ANAPEC : Ação Nacional de Prevenção e Controle

ATM : Articulação Temporo-mandibular

CBTMS : Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telesaúde

CAD : Computer Aided Design

CAM : Computer Aided Manufacturing

CFM : Conselho Federal de Medicina

CD-ROM : Compact Disc – Read only memory

CERI : Center for Education Research and Inovation

CIRP : Centro de Informática de Ribeirão Preto

DICOM : Digital Communication in Medicine

EERP-USP : Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

EEUSP : Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo

FELAFACS : Federação Latinoamericana de Faculdades de Comunicação Social

FMRP : Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

FOB : Faculdade de Odontologia de Bauru

GEPECOPEN : Grupo de Estudos e Pesquisas em Comunicação no Processo de

Enfermagem

GIN : Grupo de Imagem Neurofuncional

HCI : Human Computer Interating = Mecanismo instituído para estudar a

interação homem-computador

IRM : Imagem por ressonância magnética

LDB : Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira

LELO : Laboratório Especial de Laser em Odontologia

LIDO : Laboratório de Informática Dedicado à Odontologia

SFF : Sistema de Fabricação Flexível

SIBRACEM : Simpósio Brasileiro de Comunicação em Enfermagem.

OECD :Organization for Economic Co-operation and Development

UNOPAR : Universidade do Norte do Paraná

URL : (Universal Resources Locator) Texto que indica o endereço web de um

site

3D : Imagem Tridimensional

WWW : World Wide Web = Redes mundiais de computadores.

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

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