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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ELIANE CRISTINA DE LIMA CARDOSO AS PRINCIPAIS CAUSAS DO FRACASSO ESCOLAR NOS SISTEMAS DE ENSINO E A INTERVENÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL COMO FACILITADOR DESSE PROCESSO Orientador: Prof. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO Rio de Janeiro Julho de 2010

AS PRINCIPAIS CAUSAS DO FRACASSO ESCOLAR NOS ...do fracasso escolar nos sistemas de ensino e como a Orientação Educacional pode intervir nesse processo para melhoria desse quadro

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  • UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

    PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

    ELIANE CRISTINA DE LIMA CARDOSO

    AS PRINCIPAIS CAUSAS DO FRACASSO ESCOLAR NOS

    SISTEMAS DE ENSINO E A INTERVENÇÃO DO ORIENTADOR

    EDUCACIONAL COMO FACILITADOR DESSE PROCESSO

    Orientador: Prof. VILSON SÉRGIO DE

    CARVALHO

    Rio de Janeiro

    Julho de 2010

  • 2

    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

    PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

    ELIANE CRISTINA DE LIMA CARDOSO

    AS PRINCIPAIS CAUSAS DO FRACASSO ESCOLAR NOS

    SISTEMAS DE ENSINO E A INTERVENÇÃO DO ORIENTADOR

    EDUCACIONAL COMO FACILITADOR DESSE PROCESSO

    OBJETIVOS:

    Monografia apresentada à Universidade

    Candido Mendes, como requisito para a

    conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato

    Sensu de Orientação Educacional e

    Pedagógica.

    Rio de Janeiro

    Julho de 2010

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    A Deus que é a razão do meu viver, sem ele

    não encontraria forças para encarar os

    obstáculos da vida. Obrigado por ter iluminado

    os meus pensamentos dando a necessária

    sabedoria para desenvolver este trabalho.

    Ao corpo docente do IAVM por ter nos

    incentivado a seguir nosso objetivo.

    A minha família, que mesmo distante, me

    incentivou com palavras de encorajamento.

    A minha diretora Zulmira Alem e minhas

    amigas companheiras de trabalho que

    estiveram comigo durante este trajeto, sempre

    me incentivando.

  • 4

    DEDICATÓRIA

    Dedico esta obra aos que muito contribuíram

    para minha formação, em especial a minha

    mãe Maria da Guia, por todo amor e carinho

    dedicados nos momentos de aflição, como

    reconhecimento de tudo o que tenho recebido

    dela. As minhas irmães Elisângela e Elidiane

    pelo companheirismo durante esse percurso.

  • 5

    RESUMO

    O tema que move esta pesquisa procura compreender alguns elementos que nos

    auxiliam a pensar sobre o fracasso escolar e suas principais causas nos sistemas de

    ensino. O fracasso escolar é hoje um grande problema encontrado nas instituições de

    ensino. Neste sentido, pretendo neste trabalho, apontar reflexões acerca do assunto,

    mostrando as possíveis causas do fracasso escolar, e, além disso, alguns mecanismos

    utilizados pela escola para minimizar esse quadro. Ao longo dos capítulos,

    responderemos as seguintes indagações: O que vem provocando o fracasso escolar

    nos sistemas de ensino? Que mecanismos de ensino o educador pode usar para

    minimizar a questão do fracasso escolar? Qual o Papel da Orientação Educacional na

    escola, para a possível redução do fracasso escola.

    O estudo busca sinalizar que o fracasso escolar pode ser transformado a partir da

    mudança de paradigmas de ensino dos educadores, sendo estes trabalhados de forma

    interativa com a Orientação Educacional, estimulando assim uma melhor visão de

    mundo da escola. Para isso, é necessário que os discentes avaliem sua práxis

    pedagógica, sendo esta estimulada pela Orientação Educacional na instituição escolar,

    valorizem e acreditem no potencial de seus alunos, mostrando-os que todos são

    capazes de aprender, cada um em seu tempo.

  • 6

    METODOLOGIA

    Este estudo foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfico / documental,

    seguindo os seguintes itens: levantamento e seleção da bibliografia e leitura analítica

    de textos.

  • 7

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO.....................................................................................................8 CAPÍTULO I O FRACASSO ESCOLAR................................................................................11 CAPÍTULO II A POSTURA DO PROFESSOR E O FRACASSO ESCOLAR......................26 CAPÍTULO III

    O PAPEL DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA ESCOLA PARA A POSSÍVEL

    REDUÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR........................................................35

    CONCLUSÃO.................................................................................................42

    BIBLIOGRAFIA..............................................................................................45

  • 8

    INTRODUÇÃO

    O fracasso escolar é hoje um grande problema para o sistema educacional

    brasileiro. Muitas vezes, para se livrar da responsabilidade deste fracasso, busca-se um

    culpado; alguém que possa assumir sozinho esta situação.

    A explicação para as causas do fracasso escolar passará obviamente pela

    reflexão de que a escola explica e lida com as desigualdades reais, porém, o que

    ocorre muitas vezes é a busca pelos culpados por tal fracasso e, a partir daí, percebe-

    se um jogo, ora se culpa a criança, ora determinada classe social, ora todo um sistema

    econômico e político. Mas será que existe mesmo um culpado para a não

    aprendizagem?

    Normalmente, define-se o fracasso escolar como conseqüência de dificuldades

    de aprendizagem e como a expressão de uma falta de conhecimentos e competências.

    Esta visão que “naturaliza” o fracasso impede a compreensão de que ele resulta de

    formas, de normas de excelência que foram incluídas pela escola, cuja execução revela

    algumas arbitrariedades, entre as quais a definição de exigência do qual depende o

    limiar que separa aqueles que têm êxito daqueles que não têm. As formas de

    excelência que a escola valoriza, se tornam critérios e categorias que coincidem sobre

    a aprovação ou reprovação do aluno. A própria instituição educativa que muitas vezes

    não leva em consideração a visão de mundo do aprendente. As discrepâncias entre o

    desempenho fora e dentro da escola são significativas. Ou seja, muitas vezes os

    profissionais da educação não conseguem transpor o conhecimento para a realidade do

    aprendente.

    Com efeito, é difícil ficar indiferente ou imune às discussões sobre o fracasso

    escolar e suas implicações no processo educativo, já que essa é uma questão contínua

    para aqueles comprometidos com a escola, seja ela, uma instituição pública ou privada.

  • 9

    Temos ciência de que este problema no interior da escola não se dá apenas por

    uma causa, e sim pelo currículo todo (objetivos, conteúdos, metodologia,

    relacionamento etc). Ou seja, se aprender é algo intrínseco ao ser humano, a verdade é

    que o ensino não é uma condição necessária nem suficiente para que se verifique uma

    aprendizagem. Aprendem-se coisas que são ensinadas e ensinam-se coisas que

    ninguém aprende.

    Para os seus incontestáveis méritos, a escola tem o gravíssimo defeito de não

    trabalhar com pessoas, mas sim com alunos, com o propósito principal de habituá-los a

    está sentados em silencio, e a observar pontualmente o lhe é prescrito.

    A verdade, é que a escola deveria ser o lugar onde os alunos ganhassem o

    gosto pelo trabalho de aprender, porém, as aulas não constituem uma parte significativa

    na vida dos educandos.

    Muitos estudiosos dessa problemática da aprendizagem vêm se dedicando a

    pesquisar as possíveis causas do baixo desempenho escolar, que hoje, já não são

    atribuídos somente aos alunos ou a fatores extra - escolares, como deficiências de

    ordem biológica e/ ou psicológica, cultural e carências de diversos tipos. O problema do

    fracasso escolar deve ser atribuído a diversas causas: deficiência na formação de

    professores; deficiência na avaliação dos alunos; preconceitos por conta de diferenças

    sócio - culturais do aluno; desconhecimento por parte da escola sobre o processo do

    conhecimento desconsidera os diferentes níveis do desenvolvimento cognitivo.

    No contexto deste estudo surge a necessidade de conhecer as principais causas

    do fracasso escolar nos sistemas de ensino e como a Orientação Educacional pode

    intervir nesse processo para melhoria desse quadro. Contudo, tentaremos responder as

    seguintes indagações: Quais as principais causas do fracasso escolar? Como a

    Orientação Educacional, juntamente a todo corpo docente da escola podem intervir

    para a melhoria desse quadro?

  • 10

    Acredita-se que a presente monografia possa apontar reflexões significativas

    sobre o tema e que os resultados escolhidos possam ter relevância social a partir do

    momento em que puderem contribuir para que os educadores passem a ter uma

    interação mais afetiva em suas realidades.

    Para isso, esta monografia foi organizada em três capítulos:

    Capítulo I - Procurou-se, conceituar e caracterizar o fracasso escolar,

    destacando alguns indicadores mais relevantes e tecendo-se considerações sobre suas

    conseqüências para a formação do aluno.

    Capítulo II - Esta parte aborda o fracasso escolar e a postura do professor,

    bucou-se apresentar as idéias para uma caracterização e delimitação das causas e

    conseqüências.

    Capítulo III – No último capítulo vislumbramos sugestões da Orientação

    Educacional para enfrentar desafios apontados nos capítulos anteriores, com intuito de

    reduzir o fracasso escolar nos sistemas de ensino.

    Ao final, tecemos algumas considerações cujas pretendem responder ao problema,

    bem como atingir o propósito desse trabalho.

  • 11

    CAPÍTULO I

    O FRACASSO ESCOLAR

    Fracasso escolar hoje em dia, não é tarefa fácil de ser abordada, principalmente

    a alguns tipos de públicos, para alguns o assunto é muito familiar, podendo assim

    correr o risco de ser repetitivo ou causar algum tipo de impacto, seja pelo nível de

    desconhecimento das causas até hoje identificadas, seja pelas resistências que podem

    provocar.

    A mais ou menos seis décadas, as altas taxas de reprovação e evasão escolar

    são denunciadas e, no entanto, este quadro muito lentamente vem sido alterado, e em

    apenas alguns locais. Por outro lado, de algumas forma estamos envolvidos com este

    problema, quer como professores, supervisores e / ou pesquisadores, quer como

    cidadãos.

    Segundo Candau (2008),

    “pensar a educação em um contexto de tantas dúvidas e incertezas nos obriga de certa forma articular a perplexidade inicial com o desafio instigante de refletir sobre mudanças, de procura pistas de reflexão para diferentes questões que se colocam hoje neste campo.”(p.19)

    Este estudo julga o tema – fracasso escolar – mito e realidade – bastante

    oportuno, pois quanto mais se ampliar o conhecimento sobre uma dada realidade,

    melhores serão as condições para encontrar formas de superar uma dada situação que

    julgamos ser profundamente injusta e inaceitável.

    Maria Helena de Souza Patto (1999), procurou explicar o fracasso escolar da

    seguinte forma:

    “fazendo um retrospecto das argumentações adotadas para explicar o insucesso na escola, afirmam que atitude moralista, que atribuía a culpa simplesmente à própria criança, teve que ser ultrapassada quanto os conhecimentos científicos mostraram que fatores diversos podiam estar atuando de forma acondicionar a dificuldade da criança na escola.” (p. 256)

  • 12

    Com isso vemos que a questão do fracasso escolar ultrapassa o pensamento, de

    que somente a criança é culpada pelo seu insucesso na escola. São vários fatores que

    interferem no aprendizado, já que a aprendizagem não só acontece na escola; ele se

    realiza em vários ambientes e deve ser levado em consideração na hora do ensino-

    aprendizagem, o saber não sistematizado dos educandos.

    Outra ação sobre o fracasso escolar diz que é uma simples conseqüência da

    dificuldade de aprendizagem, mas a escola muitas vezes não leva em consideração a

    visão de mundo do aprendente. As discrepâncias entre o desempenho fora e dentro da

    escola são significativas. O sujeito pode está em dificuldades de aprendizagem por ter

    ligado este fato a uma situação de desprazer. Esta situação pode está ligada a algum

    acontecimento escolar.

    Não há como negar que as condições materiais, concretas, de vida da maioria

    das crianças que freqüentam a Escola Pública são de fato extremamente precárias,

    ocorrendo, freqüentemente, um quadro de alimentação deficiente, falta de atenção, de

    carinho e de estímulos em casa, de informações, contatos com a língua escrita, além da

    necessidade de ajudar, seja trabalhando seja tomando conta dos irmãos, sabe-se

    também que não contam com o auxílio e até mesmo espaço apropriado para estudar.

    Essas crianças constituem a grande maioria da população do nosso país e são

    elas, justamente, as que mais precisam da escola para melhorar de vida.

    Segundo Freire (1979),... “nós não podemos nos colocar na posição do ser

    superior que ensina um grupo de ignorantes, mas sim na posição humilde daquele que

    comunica um saber relativo a outros que possuem outro saber relativo”. (p.29). Ou seja,

    o educador tem que ter consciência de que ele não é o centro do saber e sim, que deve

    exercer o seu papel como mediador, favorecendo assim uma interação entre todos.

    Podemos perceber que esse problema está ligado a um conjunto de situações

    envolvendo o fracasso escolar nas classes menos favorecidas, entre elas: a interação

    professor- aluno; o desemprego; a desmotivação dos alunos; a falta de vagas nas

  • 13

    Escolas Públicas; a deficiência na organização pedagógica, didática e administrativa; os

    baixos salários dos professores; as inadequadas estruturas físicas das escolas; a

    reprovação/ evasão e a falta de capacitação dos professores.

    Devemos deixar bem claro que a aprendizagem não só acontece na escola. O

    processo educativo se desenvolve em vários ambientes, e ele é parte integrante das

    relações sociais, econômicas, políticas e culturais de uma determinada sociedade. É

    importante que os professores aproveitem esses saberes não sistematizados e levem

    para a sala de aula o cotidiano de cada aluno, favorecendo assim uma interação entre

    todos. Como aponta Freire (1996),

    “ao professor ou, mais amplamente à escola, têm o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela, mas também, ele sugere, discutir com os alunos a razão de ser de alguns saberes em relação com o ensino dos conteúdos”. (p.30).

    Nesse sentido, a educação precisa ser voltada para uma prática reflexiva e os

    educandos aprendem de forma significativa, relacionando conceitos, idéias e

    proposições a idéias claras e disponíveis na estrutura cognitiva. Esse tipo de

    aprendizagem tem como característica básica à possibilidade de ser evocada com

    maior facilidade pelo indivíduo, sendo, portanto, mais duradoura.

    1.1 - O ambiente escolar.

    Freqüentemente se discute a crise da escola como se ela existisse desgarrada

    de um contexto histórico – social, econômico e político concreto onde a mesma se

    insere; como se ela pudesse ser decifrada sem a inteligência de como o poder, nesta

    ou naquela sociedade, se vem constituindo, a serviço de quem e servindo a quem, em

    favor de que e contra quê.

    Na crise da escola, percebem-se de saída, as complicações provocadas pelas

    relações pedagógicas. Do ponto de vista individual, os professores e alunos entram em

  • 14

    sala de aula agressivos. Lá não é mais o lugar onde é possível provar o próprio valor,

    crescer, dando aos alunos as respostas que se esperam. Ao contrário, a aula,

    atualmente, tornou-se o momento onde se ignoram ou se rejeita a cultura, onde o que

    os professores falam é contestado.

    Em um mundo onde só é admitido falar bem se trata da língua escolar

    estandardizada, a única reconhecida pela escola como correta. Toda maneira

    espontânea de falar da criança (expressões, frases, pronúncia etc), que não

    corresponda às normas da língua escolar, é constante e permanentemente corrigida,

    reprimida, penalizada pelo professor, na esperança de que, de correção em correção,

    todas as crianças acabarão falando a língua exigida pela escola.

    O resultado é que certas crianças, para não correr o risco de serem criticadas

    por falar “errado”, preferirão calar a boca e procurarão reduzir o que tiverem de escrever

    ao mínimo possível, para não se expor às observações do tipo “pobreza de

    vocabulário”, “falta de sentido”, “erro ortográfico”, etc.

    Lamentavelmente, se o processo de ensino - aprendizagem não se efetiva é o

    aluno que se culpa, é o aluno que não aprendeu, é nele que se acaba buscando a

    causa do fracasso escolar atribuir aos alunos estigmatiza alunos sadios, afetando o

    autoritarismo a auto –estima dos mesmos, além de perpetuar a situação. O aluno, por

    sua vez, com o acúmulo de fazeres escolares, acaba por usar estratégias ego

    defensivas para cada vez mais se distanciar do seu próprio aprender. Cabe enfatizar

    que, se por um lado, nas explicações tradicionais do fazer escolar a culpa recai no

    aluno, sem que se leve em conta mesmo, o papel da escola e das demais condições

    culturais mesmo, por outro lado, existem evidências sólidas de que os alunos que

    “fracassam” na escola não são, de modo algum, incapazes de raciocinar e aprender.

    Para Trindade (2000),

    "o que importa é deixar bem explícito que qualquer aprendiz precisa ser estimulado, incentivado, encorajado; afinal, aprender é aproximar-se de novo, do desconhecido, e é muito importante nesse caminho ter alguém em quem confiar, alguém que nos diga: “vai/vá”; alguém que nos diga “vem”; ou alguém que seja capaz de

  • 15

    dizer: vamos. Mas, para isto, nós educadores/ professores, temos que ter uma confiança inabalável na potência de vida dos nossos alunos olhá-los e sermos capazes de nos fascinar com a vida e as múltiplas possibilidades que ela nos apresenta.”(p.13)

    Ao inverso, as crianças dos meios populares sentem grande estranheza diante

    da linguagem, normas e valores da escola, que são totalmente diferentes daqueles a

    que estão habituadas. Elas sentir-se-ão ainda mais inferiorizadas pelo fato de não

    poderem trazer para a escola a maneira de falar e sua experiência na família e no

    bairro menos favorecido. Elas vão se sentir perdidas diante da falta de sentido e

    utilidade imediata dos exercícios escolares, confusas pelo lado artificial das situações

    na sala de aula.

    Ora, na escola todos aprendem justamente que nada podemos fazer, por nós

    mesmos ou em colaboração com outros, com aquilo que a escola nos ensina. Na

    verdade as qualificações escolares não nos ajudam em nada a melhorar nossa vida

    quotidiana nem a satisfazer nossas necessidades mais elementares. As aptidões

    aprendidas na escola, quando elas existem, só nos servem para vendermos um pouco

    mais da nossa própria força de trabalho no mercado.

    1.2- Visão bancária da educação

    A educação é um ato dinâmico, pois ela nos acompanha durante toda a nossa

    vida e deve ser levada a sério.

    Paulo Freire contribuiu como poucos na reflexão do homem e seu compromisso

    com a sociedade. Esta contribuição fez com que ele, um pedagogo brasileiro em

    destaque, não só no âmbito nacional, como também no internacional, não limitou

    apenas a teorizar, mas através do seu empenho e dedicação reverter à visão bancária

    da educação.

  • 16

    Portanto, entende-se por pedagogia em Freire, a ação que pode e deve ser

    muito mais que um processo de treinamento ou domesticação; um processo que nasce

    da observação e da reflexão e culmina na ação transformadora.

    A concepção bancária da educação é uma critica a educação que existe no

    sistema capitalista.

    Como aponta Paulo Freire (1983.)

    ” nesta concepção o educador é o que educa; os educandos os que são educados; o educador o que sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa; os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra; os educandos os que escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos os disciplinados; o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a prescrição; o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão que atuam; o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos se acomodam a ele; o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele; o educador finalmente é o sujeito do processo; os educandos meros objetos”. (p.68)

    Não é de surpreender, então que nesta visão “bancária” da educação, os

    homens sejam considerados como serem destinados a se adaptar, a se ajustar.

    Quanto mais alunos se empenham em arquivar os “depósitos” que lhes são

    entregues, tanto menos eles desenvolvem em si a consciência criticas que lhes

    permitiria inserir-se no mundo como agentes de sua transformação, como sujeitos.

    Quanto mais lhes é imposta a passividade, tanto mais, de maneira primária, ao

    invés de transformar o mundo, eles tendem a se adaptar à realidade fragmentada.

    No entanto, a grande maioria das reformas e inovações pelas quais a escola

    passa são simples retoques de fachada: prédios mais modernos, programas mais

    atualizados, exames mais menos comuns que os testes de múltipla escolha, utilização

  • 17

    de métodos audiovisuais etc. Estas novidades não tocam o essencial: o conhecimento

    continua a ser transmitido do professor, que sabe, aos alunos, que são ignorantes.

    Estes conhecimentos que vem dos livros ou da palavra do professor, e nunca da

    experiência e da pesquisa dos próprios alunos, é recebido, memorizado, repetido e

    arquivado. Não é jamais descoberto, testado e recriado pelos que estão ali para

    aprender. Em conseqüência, aquilo que a escola ensina pouco ou nada tem a ver com

    a vida, com a experiência, com as necessidades e com os interesses dos educadores e

    dos educandos.

    A escola inerente ao modo industrial de produção não faz senão prolongar e

    reforçar - ao invés de contrabalançar e de corrigir – a ação desintegradora, infantilizante

    e domesticadora da sociedade de consumo do estado.

    Como aponta Patto (1999)

    “por isso mesmo é que uma outra educação só será viável em larga escala quando a escola realizar uma sociedade de classes igualitárias, ou seja, uma sociedade no qual os lugares sociais seriam ocupados com mérito pessoal de participação e, portanto, de conhecimento.” (p.28)

    A reestruturação do modo de produção e de organização social no qual vivemos

    é um processo inseparável da reinvenção dos contextos e das modalidades de

    aquisição do saber.

    Para tornar o ambiente escolar mais agradável, é imprescindível fortalecer a

    atividade do professor, para melhorar suas condições de trabalho e seu

    desenvolvimento profissional. A preparação dos professores não pode se centrar

    exclusivamente nos seus conhecimentos das técnicas didáticas básicas, é necessário

    compreender as necessidades dos alunos, as estratégias para que os alunos

    participem no processo de aprendizagem e na avaliação do seu rendimento. Mas para

    isto é indispensável: estabilidade dos professores, os recursos disponíveis, as

    estratégias de formação, a oferta educativa, a resposta organizacional para a

  • 18

    diversidade dos alunos e os mecanismos de avaliação são questões que deveriam

    estar reunidas no acordo entre a escola e a administração educacional.

    Segundo Freire (1998)

    “a pratica educativa, [...],é algo muito sério. Lidamos com gente,

    com criança, adolescente ou adulto. Participamos de sua formação, ajudamo-los ou prejudicamos nessa busca. Estamos intrinsecamente a eles ligados no seu processo de conhecimento. Podemos concorrer com nossa incompetência, má preparação, irresponsabilidade, para o fracasso. Mas, podemos, também, com nossa responsabilidade, preparo científico e gosto do ensino, com nossa seriedade e testemunho de luta contra injustiças, contribuir para que os educandos vão se tornando presença marcante no mundo.” ( p.47)

    Portanto, é necessário termos consciência na escolha do magistério, para

    enfrentarmos a todos os obstáculos que surgirão. Devemos estar preparados para

    desvencilharmos dos mesmos. Precisamos de um profissional que saiba enfrentar as

    dificuldades de aprendizagem dos alunos, buscando junto a eles acabar com o fracasso

    escolar.

    1.3 - Repetência e evasão

    A relação entre repetência e evasão escolar é nítida, pois o aluno que repete por

    várias vezes a mesma série, acaba desinteressando-se pela escola e a abandonando-

    a. A questão da reprovação e evasão observada nas escolas públicas não é a mesma

    se comparada com as escolas privadas, já que se verifica que o “fracasso escolar” tem

    afetado mais as camadas populares. Visto por este lado, não podemos dizer que a

    escola tem sido democrática.

    É necessário que a escola pública estimule os educandos, dando-lhes um ponto

    de partida, e torne visíveis e concretizáveis modalidades de intervenção educativas

    orientadas para emancipação e a realização plena da pessoa humana. Quanto ao

    ponto de chegada, isso depende de cada um”.

  • 19

    Dentre diversos fatores responsáveis pelo fracasso escolar, os mais evidentes

    são a reprovação e a evasão, visto que são conseqüências de diversas outras falhas do

    processo de ensino – aprendizagem.

    A reprovação escolar não quer dizer maiores oportunidades de aprendizagem;

    ao contrario, ela reduz as oportunidades que o aluno possa ter, tanto na escola, quanto

    na vida. Em muitos casos esta reprovação ocorre não pela falta de desempenho do

    aluno, mas pela falta de desempenho e competência da escola.

    O aluno é reprovado por questões como: indisciplina, avaliações mal elaboradas, falta

    de planejamento escolar ou até mesmo por evasão do professor pelo aluno.

    A realidade da reprovação escolar, a qual tem sido atribuída ao aluno ou ao

    sistema de ensino do país, está na maioria dos casos dentro da sala de aula. Esta

    reprovação escolar tem esse índice elevado quando se trata da escola pública porque

    nela concentram-se as crianças das camadas populares, cujos privilégios são poucos

    em relação ao ensino e ao mercado de trabalho.

    O aluno fica em uma determinada série, sem justificativas plausíveis para tal.

    Há um jogo de culpabilidade entre os docentes quando vão passando de série

    em série a responsabilidade da escola e aumentando o fracasso escolar. É preciso que

    os docentes saiam deste jogo e entrem no jogo da responsabilidade buscando

    alternativas para cada problema vivenciado. Como disse Freire (1999.p.7), “só

    educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o

    ato de serem educados pelos educandos; só eles separam o ato de ensinar do de

    aprender”.

    È espantoso o quadro de evasão e repetência nas escolas públicas, não só pelo

    o que ocorre nas salas de aula, mas também pelo meio social. Os alunos que

    pertencem às camadas populares encontram dificuldades no rendimento escolar, tendo

    assim poucas pretensões para a vida futura. Estes alunos, por sofrerem mais no seu dia

    – a – dia, não têm o privilégio de iniciar seus estudos na idade escolar adequada e além

  • 20

    disto, ficaram retidos em diversas séries. Com isso concluem, quando fazem, o Ensino

    Fundamental com uma idade adulta, levando-o obrigatoriamente para o mercado de

    trabalho, tornando assim a mão de obra do país.

    Ainda dentro da condição de vida do aluno, a renda familiar contribui,

    principalmente, para o processo de evasão, visto que o aluno precisa abandonar a sala

    de aula em busca de recursos financeiros para a própria sobrevivência.

    1.4 – Avaliação e Fracasso Escolar

    A escola está tão intimamente ligada ao processo de avaliação, que esta é

    considerada o objetivo máximo da escola, na visão de muitos educadores. O que torna

    a avaliação escolar um insucesso levando-a como fator do fracasso escolar, é, antes de

    tudo, o seu caráter quantitativo.

    Não se avalia para medir a qualidade do ensino que está ministrando e nem a

    qualidade formada do discente, pensa-se em primeira estância nas notas que o aluno

    deve atingir para ser considerado aprovado ou reprovado. Diante dos resultados de

    avaliação, se o aluno fracassa, é tratado como desinteressado, incapaz, deficiente

    naquela questão. Ele se diferencia dos outros alunos por questões de deficiência do

    próprio ensino – aprendizagem.

    Como aponta Hoffmann (2005, p.45) “essa é uma questão bastante ampla que

    deve ser abordada e discutida e o educador não pode se limitar apenas a dar notas.

    Mesmo com outras possibilidades de avaliação, os professores e instituições de ensino

    ainda se mantêm atrelados a esse modelo”.

    A questão da “diferença” e da “deficiência” tem sido muito abordada pela

    professora Magda Soares, para qual ela dedica o livro “Linguagem e Escola”: uma

  • 21

    perspectiva social”. Ela mostra claramente como o aluno é tratado em relação às suas

    diferenças, as quais, ao invés de serem trabalhadas, são taxadas como deficiências,

    levando-o a discriminação e ainda mais, a reprovação ou a evasão.

    A principal questão que se levanta nessa discussão é não transformar o

    instrumento de avaliação no objetivo maior da educação, levando os alunos a

    estudarem apenas para conseguir bons resultados nas provas, tirar boas notas e

    passar de ano, anulando, assim, a apropriação de novos conhecimentos para a vida.

    Como sabemos, a boa nota não garante o sucesso na vida, e a baixa nota não define o

    limbo para ninguém, ao contrario do que o atual sistema pode demonstrar.

    A avaliação feita nas escolas tem se tornado um processo contra a escola, pois

    existe um mito e um medo por parte do aluno em relação a este quadro. O aluno

    entende por avaliar somente através das provas preestabelecidas e a escola reforça

    este pensamento dando ênfase somente as provas, criando um monstro em torno

    delas. Sentindo-se apreensivo, o aluno acaba por não ser bem sucedido, entrando na

    estatística da evasão ou da reprovação escolar.

    A nota, a quantificação é importante numa outra perspectiva, ou seja, numa

    situação de classificação em que o avaliador precisa seriar os alunos, como é o caso do

    vestibular, ou uma competição.

    Uma breve leitura dos estudos de Luckesi nos incita a repensar a avaliação da

    aprendizagem como um ato amoroso, e é através dessa metáfora, que nos remete a

    uma avaliação enquanto um dispositivo de inclusão.

    A escola, para aprender a avaliar, deve em primeiro lugar aprender a se avaliar.

    Tem que se tomar consciência de que o aluno deve ser avaliado continuamente,

    levando em consideração tudo o que ele faz. Esta avaliação deve ser um caráter

    qualitativo ou diagnóstico em que a avaliação serve para verificar como está se dando o

    aprendizado dos alunos, as dificuldades e os avanços desse progresso, para que o

  • 22

    educador possa corrigir ou mudar as diretrizes do planejamento pedagógico. É,

    portanto, uma ferramenta fundamental para garantir ao professor a aferição de seu

    trabalho, e sendo assim, deve assumir um caráter cooperativo e orientador.

    Para se avaliar adequadamente, não existe uma receita única e pronta, é preciso

    que se pense em cada escola como um problema diferente, pois as instituições de

    ensino não apresentam as mesmas características.

    A avaliação educacional através de dados confiáveis, pode contribuir para a

    centralização de mudanças efetivas no sistema educacional. Isto resume toda a

    proposta de mudanças no quadro da avaliação educacional.

    O material didático tem sido outro problema no processo de educacional. O

    professor trabalha com poucos recursos didáticos, limitando, às vezes o seu próprio

    desempenho. Alguns educadores usam a criatividade e, sobretudo, o profissionalismo

    para melhor abordar esta questão. Normalmente o que se vê são os livros didáticos, o

    quadro negro e o giz. Realmente são recursos precários para se realizar um ensino de

    boa qualidade.

    Enfatizando o livro didático, sabe-se que ele é um meio muito usado e mal

    explorado pelos docentes. Ele é usado a fim de tornar as aulas mais fáceis e menos

    cansativas para o professor, pois não trabalha com o lado ativo do aluno,

    desenvolvendo a disciplina. Esse fenômeno ocorre em grande escala na rede pública

    de ensino, já que os subsídios didáticos utilizados na rede privada de ensino são mais

    adequados aos alunos.

    Os livros didáticos precisam ser modificados, pois trazem ao longo de muitos

    anos as mesmas atividades, não acompanhando as mudanças que surgem com o

    tempo. As questões não são abordadas dentro da modernidade e o professor, por sua

    vez, não faz as adaptações necessárias para seus alunos, tornando assim, a aula

    maçante.

  • 23

    Mas o processo pedagógico parece exigir a instrução escolar muito mais do que

    isto. A instrução deveria permitir o uso do conhecimento informal que, ao invés de ser

    banido ou substituído, deveria ser integrado nos conhecimentos de sala da aula. A

    criança deveria poder ampliá-lo, revisar os modelos de conhecimento, ou seja, cada

    aluno tem uma bagagem que deveria ser respeitada e explorada pelo educador, não

    padronizadas.

    Quando organizamos o ensino, não devemos cometer o erro de desconsiderar

    as categorias conceituais que as crianças já têm sobre os objetos de estudos, pois

    dessa forma corremos o risco de tirar delas a oportunidade de interação com esses

    objetos e assim dificultar o seu processo de aprendizagem.

    A aprendizagem é um processo ativo, criativo e deve ser construída pelo aluno.

    Este não pode ser visto como um mero receptor passivo de informações. Existe todo

    um conjunto de fatores internos do aluno que devem ser considerados na hora do

    aprender, tais como: necessidades, expectativas de sucesso, atitudes, pensamentos e

    sentimentos, dentre outros.

    A linguagem do professor reflete uma metodologia que tem como característica

    principal à explanação. Ao explanar, discorrer, explicar, o professor transforma o aluno

    em receptor silencioso e submisso: um mero espectador.

    Segundo Paulo Freire (1985):

    “uma das características desta educação dissertadora é a “sonoridade” da palavra e não sua força transformadora quatro vezes quatro dezesseis. Pará capital Belém, que o educando fixa, memoriza, repete, sem perceber o que realmente significa quatro vezes quatro. O que realmente significa capital, na afirmação: Pará, capital Belém, Belém para o Pará e Pará para o Brasil.” (p.47)

    Aprendemos, então, que nesta linguagem dissertadora, o professor é o agente

    ativo do processo, enquanto o aluno é o receptor passivo. Hoje, depois de vários

    estudos nesta área, acredita-se que desta postura passiva do aluno, sem participação

  • 24

    consciente na construção do conhecimento, decorre apenas um acúmulo de

    informações e não de conhecimento. Conseqüentemente, o aluno, não percebe como e

    quando aplicar o que aprendeu. Há uma decodificação que ele se habitua a fazer.

    Paralelamente, há poucos recursos nas escolas no que se refere aos livros de

    pesquisa, visto que as bibliotecas escolares são mal equipadas. O aluno tem, portanto,

    pouco acesso aos materiais já utilizados no mundo fora da escola.

    Outros recursos didáticos são pouco utilizados pelos professores, como por

    exemplo, o retroprojetor, o slide, a televisão, a música, os quais não são encontrados

    em todas as escolas. Quando são, o professor não se sente estimulado para usá-los. A

    escola precisa dar passos largos para aproximar-se da realidade do mundo.

    Há muitas pessoas no campo da educação que são contra a cultura da avaliação

    e sustentam que é possível medir os resultados mais importantes da formação; que o

    procedimento de avaliação distorce o pleno de estudos e que todo o artifício desvia a

    atenção da aprendizagem e do ensino que são verdadeiros propósitos de estudos.

    As escolas que ainda utilizam práticas de avaliação autoritárias e excludentes,

    testes e provas são comprovadamente falhos por não respeitarem o processo de

    aprendizagem dos alunos porque estes instrumentos de avaliação são terminais. Não

    se entende que ele está construindo o seu saber, formulando hipóteses e tirando

    conclusões, que cada aluno tem o seu próprio tempo, que não adianta querer que todos

    acompanhem a matéria ao mesmo tempo.

    É o que Jussara Hoffmann diz (2003, p.61), “essa é uma escola que fracassa

    porque não exerce efetivamente uma ação educativa de respeito e acompanhamento

    do desenvolvimento dos alunos”. A escola em que a maioria dos alunos fracassa,

    reflete o fracasso do seu próprio sistema educacional e deixa de lado o maior

    compromisso, que é o de proporcionar as condições adequadas para que os alunos

    aprendam e se desenvolvam, tendo acesso aos outros graus de ensino.

  • 25

    O importante seria tentar mudar as formas de avaliação, explicitando critérios de

    classificação / e ou eliminação nela contidos: buscando organizar o aparelho escolar em

    torno da preocupação com o desenvolvimento da competência compartilhada por todos

    os educandos.

    Trabalhando nesta direção, a avaliação passaria a ter realmente um novo

    significado: ela constituiria um diagnóstico, servindo como indicadora do nível de

    aprendizagem, contribuindo para a melhoria da prática pedagógica. Seria, pois um meio

    através do qual um aluno tomaria consciência dos seus erros, de suas dificuldades e se

    posicionaria revendo seus problemas de aprendizagem. Nesse contexto, trabalhar-se-ia

    com uma avaliação que realmente estivesse pensando em uma educação voltada para

    a cidadania, para a formação das pessoas que possam ter maior possibilidade de

    comunicação, de discussão e entendimento para a solução de problemas comuns, e

    não para disputa e para competição.

    De acordo com Luckesi (1984, p.19), “nós, professores, temos de acolher os

    acertos e erros do aluno para ajudá-lo a progredir”. Dessa forma, o professor não

    padroniza o erro, mesmo porque cada aluno tem suas próprias condições de

    desenvolvimento e a cada erro, ele estará mais próximo de alcançar o sucesso. Por isso

    o aluno não deve ser punido quando erra, porque ele se sentirá desmotivado a continuar

    tentando. O erro deve ser visto como parte do processo de construção do saber.

    O fracasso escolar é visto então, como uma questão individual, própria de cada

    aluno e seus problemas. No entanto, não podemos responsabilizar somente a ele, nem

    tão pouco ao professor, que muitas vezes não é preparado para esta outra função de

    avaliador. Precisamos, sobretudo, rever os paradigmas da avaliação do desempenho

    escolar, bem como da educação como um todo, para que a aprendizagem possa ir além

    do aluno.

  • 26

    CAPÍTULO – II

    A POSTURA DO PROFESSOR E O FRACASSO ESCOLAR

    O problema do fracasso escolar também está associado à sala de aula e, em

    particular, ao docente. O atual corpo docente brasileiro é formado por professores que,

    levados pela remuneração precária, acabam por fazer da sala de aula um meio para a

    complementação da renda, esquecendo-se do profissionalismo e do compromisso de

    educar.

    Infelizmente esse é um grande problema existente em nosso sistema de ensino,

    pois, o professor deveria agir de forma diferente, procurando desenvolver o seu papel

    com alegria, esperança e responsabilidade, mesmo diante das dificuldades que

    enfrentam no cotidiano da escola: problemas sociais e econômicos, condições de

    trabalho e salários pouco estimulantes. Surgem, portanto, falhas irrecuperáveis como a

    falta de afetividade na sala de aula. Sem essa relação de afetividade entre educando e

    educador, não é possível um ensino rentável. Cada aluno tem o “rosto” do professor

    que educa. Para que surjam e se desenvolvam experiências de aprendizagem, os

    alunos devem ser atingidos por um envolvimento que não seja apenas algo que se lhes

    oferece como lição. Esse processo ou essa ação requer uma relação de paixão do

    professor pelo processo de aprendizagem como possibilidade de vida agradável e

    realizações possíveis. A convivência do olhar critico e da paixão, na pratica, tem feito

    tanto educadores quantos as escolas apresentarem resultados mais satisfatórios,

    diminuindo a reprovação e a evasão, conseqüentemente, aumentando a aprendizagem.

    Primeiro, conquista-se o ser humano, depois ensinam os caminhos da vida.

    Segundo Garcia (1978),

    “o professor assumiu também um caráter de autoritarismo, colocando-se em ponto extremo ao lado do aluno. Há, sem dúvida, uma distancia entre o professor e o aluno. A verdade passa a ser uma característica apenas do docente, pois, passa-se a idéia de que nele se concentra todo o saber. Deve se tirar da sala de aula a figura do professor autoritário, que realiza o seu trabalho através de ameaças e centraliza suas atividades nas páginas do livro didático; é preciso que entre um professor que saiba caminhar com o mundo: assim, ele saberá trabalhar com seus alunos. É possível tratar um perfil para um bom profissional da educação. Algumas sugestões incluem: conhecer direitos e deveres do aluno e do professor; ter autocontrole; ser afetivo; adquirir credibilidade no seu trabalho; ser

  • 27

    dinâmico; e até sonhar; ser incentivador da aprendizagem; ser diretor do espetáculo.” (p.107).

    Se tomarmos consciência e trabalharmos dentro de novas perspectivas, o

    fracasso escolar poderá ser reduzido acentuadamente, pois, apesar dos outros fatores,

    o docente é o maior intermediador do processo de ensino – aprendizagem.

    É preciso que o professor esteja bem atento para ajudar seus planos, motivando-

    se e aceitando-os com todas as limitações, visando aprimorar suas possibilidades, para

    que possam adquirir confiança em si mesmos.

    Na relação professor-aluno, as diferenças pessoais, os fatores afetivos e

    cognitivos de ambos exercem influencia decisiva no processo ensino-aprendizagem.

    O sentimento de alegria, de alto astral, produzirá resultados mais significativos

    na aprendizagem se houver uma contaminação geral da escola: os servidores

    entenderem que ali estão em jogo os destinos de cada aluno; se do porteiro ao diretor

    houver um compromisso generalizado com o sucesso do aluno. Mas que isso, se existir

    vontade e alegria na busca de fazer o melhor para o aluno. Entusiasmo e alegria não

    bastam para garantir a plena aprendizagem dos alunos; contudo, sem desejo, garra e

    alegria, também não será possível garantir uma aprendizagem satisfatória.

    Acreditando-se na afetividade e na auto-estima como fatores de grande

    importância na aprendizagem, a escola poderá abrir um espaço para ouvir seu aluno,

    aproximando-o do professor e favorecendo o diálogo entre os próprios colegas de sala

    de aula.

    O coração do educador, quando olha com carinho, com ternura, pode ver em

    cada aluno os mais ricos detalhes. Por que será que alguns educadores vêem tanta

    coisa bonita, tantos saberes em seus alunos, e outros educadores não conseguem ver

    nada nesses mesmos alunos, ou melhor, só conseguem ver qualidades negativas?

    Realçar as atitudes positivas, a riqueza cultural que o aluno já adquiriu, contribui para

    estimular a aprendizagem.

  • 28

    Ao professor cabe distinguir as semelhanças do seu tempo de adolescente e de

    agora. Se compreendê-las, vai cumprir melhor e com mais compromisso, vai conseguir

    melhores resultados na aprendizagem dos alunos. Os jovens de hoje continuam com a

    mesma energia do passado, porém, são mais irreverentes pelo fato de terem mais

    acesso à informação. Professores adultos que esqueceram que o seu passado como

    criança e adolescente foi semelhante ao das crianças e dos adolescentes de hoje

    sofrem na sua pratica pedagógica. Rotulam esses jovens de indisciplinados, quando

    compreendê-los facilitaria a sua ação.

    O brasileiro que mais falou de amor, de paixão e de educação juntos foi o

    educador Paulo Freire. Ele afirmou que, por mais difícil que o cotidiano se apresente,

    não podemos perder o entusiasmo e a esperança, pois estes atuam como motores das

    iniciativas da aprendizagem. E a alegria de ser professor, o prazer de conviver com a

    magia das crianças, a felicidade de poder ser contagiada com a irreverência da

    juventude, a busca para garantir a aprendizagem dos alunos, o desejo da esperança de

    que dias melhores estão por vir têm sido o sentimento dominante da maioria dos

    educadores brasileiros, mesmo diante das dificuldades que enfrentam no cotidiano da

    escola.

    É importante que os professores retornem ao trabalho de um educador que,

    embora morto há dez anos, ainda é utilizado como bússola para a nossa vida

    pedagógica, uma vida que não termina quando fechamos a porta da sala de aula a

    cada dia, mas que será incorporada a nossos corações e mentes e adaptada ao ritmo

    cotidiano de nossas vidas.

    Somente pela afetividade dentro da escola, onde o respeito e o

    comprometimento de todos aconteça de fato, estaremos colaborando na formação de

    um homem completo. Mesmo diante de todo o problema que a escola apresenta, a

    população ainda acredita na sua importância para a vida.

  • 29

    2.1-Professor: autoridade versus autoritarismo

    Apesar de muitos estudos e dos avanços nas teorias de aprendizagem, o nosso

    sistema de ensino ainda tem como figura central “o professor”. Ele encarna aquele que

    datem a posse do conhecimento que deve ser “transmitido” aos alunos. Esta visão de

    do ensino desenvolve uma relação entre professor e aluno, baseada no saber dos

    docentes. A posse deste privilégio transforma o professor em autoridade legitimada

    pelo sistema: “a autoridade legal”.

    Tradicionalmente, sobretudo no mundo político, a autoridade é classificada em

    liberal e autoritária. Entende-se por autoridade liberal aquela que faz uso do poder e da

    inteligência / habilidade que possui para satisfazer e servir aqueles que estão sob sua

    influência, ligando sua sorte a dos mesmos e perseguindo um fim comum.

    Por autoritária se entende aquela pessoa que se serve do poder e dos instrumentos de

    que dispõem para subordinar os outros a seus particulares, buscando primordialmente,

    impor-se aos demais para desfrutar das vantagens e privilégios derivados do poder que

    recebeu.

    Na sociedade atual, preponderam, geralmente, as relações de poder. Uns estão

    habituados, a obedecer aos “superiores” em quanto outros aprenderam a impor,

    dominar os que estão em posição subordinada.

    Assim, caberia a afirmação de que o professor se transforma em “saber – poder”

    ora, a se encontra uma versão do autoritarismo que conduz o aluno à passividade, à

    obediência serviu. Sente-se inibido de questionar a legitimidade dos instrumentos de

    que o professor se utiliza para realizar sua missão. Esta se resume a “transmitir” um

    conteúdo programático, sem admitir que seu conhecimento seja submetido à avaliação

    e que lhe seja a autoridade questionada ou desafiada.

    O que leva o aluno a acatar passivamente atitudes autoritárias do professor?

    Por que endossar essa postura de dono do poder?

  • 30

    Apesar de vivermos na era da globalização e da informática tanto a sociedade

    quanto a própria estrutura da escola ainda fazem o aluno acreditar que o professor é a

    única fonte do saber escolar. Raras são as escolas que estimulam o aluno a procurar o

    saber fora das salas de aula, a pesquisar, a tentar descobrir caminhos próprios para o

    seu desenvolvimento pessoal. A auto-educação, embora definida pelos teóricos, não é

    avaliada pela pratica pedagógica.

    O sistema de avaliação, atualmente adotado em grande parte de nossas escolas,

    por seu cunho classificatório, contribui também para que a figura do professor seja

    aceita como uma autoridade incontestável. Geralmente os alunos são avaliados a partir

    de provas em que devem repetir, tão fielmente como poderem, os conhecimentos que o

    professor lhe passou. Em contrapartida, são premiados ou castigados com notas, que

    por seu lado, são decisivas para o sucesso ou fracasso do sistema escolar.

    2.3- Professor: um mero transmissor de conhecimentos?

    No ensino brasileiro ainda costuma colocar como figura central do sistema “o

    professor”, apesar dos muitos estudos e dos avanços das teorias de aprendizagem. O

    professor encarna o papel daquele que detém a posse do ser “transmitido” aos alunos.

    Esta visão do ensino desenvolve uma relação entre professor e aluno, baseada

    no saber dos docentes. A posse deste privilégio transforma o professor em autoridade

    legitimada pelo sistema, ele vira “a autoridade legal”, o dono do poder.

    Sendo assim, é válido resumir as representações do imaginário social quanto à escola,

    da seguinte maneira:

    • a escola é o lugar onde se adquire conhecimento;

    • ensinar é transmitir conhecimento;

    • o professor controla o saber, sua autoridade é incontestável;

    • a avaliação restringe-se a promoção / reprovação do aluno;

    • o bom aluno obedece.

  • 31

    A escola, hoje, ainda não avalia a aprendizagem do educando, ela examina nos

    mesmos moldes jesuíticos. Para perceber isso, basta verificarmos o abismo que

    separa o ato de examinar do de avaliar.

    A todo o momento, professores dizem que os estudantes não têm interesse na

    escola. E nosso investimento onde está? Se quisermos que os nossos estudantes

    aprendam e que nossas estatísticas revelem resultados satisfatórios, precisamos

    cultivar a aprendizagem e seu desenvolvimento.

    Portanto, ”quebrar” tais preconceitos é um dos primeiros passos a mudar o

    paradigma atual de ensino, um dos maiores responsáveis pelo fracasso escolar.

    2.4 - Por uma nova relação professor – aluno.

    Nas escolas brasileiras é prática comum que nas primeiras series do Ensino

    Fundamental tenha-se somente um único professor por turma. A relação professor –

    aluno, sobre estas bases, se constrói através de um forte componente afetivo, devido a

    convivência diária entre ambos, possibilitando ao professor conhecer

    aspectos pessoais de seus alunos tais como: a história familiar, personalidade, as

    reações, os interesses, as dificuldades, dentre outros. Tal relação afetiva entre

    professor e aluno contribui muito no processo de ensino-aprendizagem, pois o

    professor conhecendo melhor sua turma, pode, certamente, orientá-la melhor.

    Esse vínculo afetivo favorece aos educandos e educadores a possibilidade de

    criar diálogos em torno das ações realizadas em sala de aula, tais ações estimulam os

    alunos a pensar em si mesmos e perceber o seu valor e a sua capacidade de aprender,

    resolver problemas e situações. É disso que o aluno precisa para construir sua

    aprendizagem.

    A partir do 6º ano do Ensino Fundamental, essa relação será radicalmente

    alterada. O aluno passa a ter um docente por disciplina, o que torna o convívio

  • 32

    professor – aluno muito reduzido e bastante impessoal. Conseqüentemente, ele só

    conhece de forma superficial seus alunos, bem como seus interesses pessoais. Fica

    sua atenção voltada apenas para o conteúdo / metodologia, o que dificulta qualquer

    orientação mais humana e pessoal. O elo entre professor – aluno passa a ser a

    disciplina de ensinar. Deixa de ser o vinculo afetivo/ pessoal.

    Diante da variedade de professores, o aluno percebe que o saber de cada

    disciplina exige modos específicos de apreensão cognitiva e gera reações afetivas

    também específicas. Sua mente / imaginação constrói para cada disciplina um

    respectivo modelo de professor. Assim, como os seus conteúdos são diferentes, e

    guardam peculiaridades bem distintas assim também deve ser diferenciada sua

    personalidade. O aluno logo percebe que cada educador estabelece uma relação

    diferente com ele.

    Ninguém aprende na indiferença. Aprendemos por amor, impregnados a um

    querer, ou seja, por meio de vínculos. Cabe ao professor, portanto, construir um

    movimento intencional, provocativo, que traga um tom mobilizador, capaz de ajudar os

    educandos nessa relação afetiva tão importante no processo de ensino - aprendizagem.

    Nós nos fazemos humanos na relação com o outro, superando obstáculos

    inteligentes e instigantes, em outras palavras, resolvendo problemas. Trata-se, portanto,

    de uma atividade interativa (construção compartilhada) e estratégica (propõe caminhos

    para atingir objetivos).

    O professor tem a missão de mostrar o caminho novo, tornar possibilidades de

    aprendizagens reais e significativas para o aluno, para que assim possamos ter

    realmente uma educação formativa. Além disso, ele tem que ser o mediador, com o

    objetivo de mostrar ao aluno o verdadeiro significado dele está ali, na sala de aula;

    fazer com que ele se aproprie da sua história e da cultura para ser feliz na vida e

    transformar seus sonhos em ação concreta para um país mais justo, ético e igualitário.

  • 33

    Todos os documentos oficiais que tratam da educação escolar propõem como

    um dos seus objetivos propiciar o desenvolvimento das potencialidades do educando. A

    formação de indivíduos críticos e criativos exige a transformação das concepções que

    orientam a pratica do professor. Este tem de resolver, em sua formação profissional,

    estas e outras questões psicopedagógicas. O que é aprender, como se adquire o

    conhecimento, como se desenvolve a inteligência, quais os procedimentos mais

    indicados para o desenvolvimento do espírito crítico, e que papel foi reservado ao

    professor em todo esse processo.

    Um trabalho voltado para a formação de alunos mais criativos exige desempenho

    mais atuante dos alunos e do professor. Este trabalho não restringe apenas a explorar

    as possibilidades dos materiais e suas propriedades.

    Diante de um tal quadro, tornam-se necessários todos os esforços para uma

    melhor formação do futuro professor.

    Segundo Libânio (1984)

    “o ensino escolar é o elemento coadjuvante no conjunto das lutas sociais. Portanto, o trabalho docente é responsável da prática social, o que significa que a primeira preocupação do professor é o conhecimento da prática de trabalho e da vida do aluno : suas condições socioculturais, vida familiar, ambiente social, conhecimento e experiências de que dispõem, reações frente ao estudo das matérias e expectativas em relação ao futuro.” (p.77)

    Os professores precisam conscientizar-se de que suas metas educacionais não

    se resumem na transmissão de conhecimentos e que devem, portanto atuar no sentido

    de promover o desenvolvimento, ensinando os seus alunos a aprender a prender, mas

    também sobre o papel das estratégias de aprendizagem, da auto - reflexão e dos

    processos cognitivos da aprendizagem. É essencial que aprendam a ensinar para o

    “aprender a aprender”. De fato, professores podem ensinar alunos quando usar

    estratégias específicas por meio da demonstração e da prática significativa.

  • 34

    Esforço, por parte de educadores, devem também ser direcionados no sentido de

    uma reflexão critica da maneira preconceituosa e esteriotipada, a que os alunos

    brasileiros com rendimento escolar insatisfatório vêem sendo alvos, para que possa se

    transformar o discurso do aluno “culpado pelo seu próprio fracasso escolar em atitude

    de confiança e credibilidade na capacidade do mesmo para” aprender a aprender “e se

    tornar um aprendiz motivado”.

  • 35

    CAPÍTULO III

    O PAPEL DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA ESCOLA PARA A POSSÍVEL

    REDUÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR

    A Orientação Educacional tem sido analisada em diferentes momentos históricos

    da nossa sociedade e podemos perceber que em cada época, ela apresentou

    diferentes papéis.

    Antes focava apenas o aluno, aos seus “problemas”, à sua família, aos

    “desajustes” escolares etc, pouco ou quase nada voltado à autonomia do aluno e à sua

    contextualização como cidadão. Em seguida, volto-se à prestação de serviços, mas

    sempre com o objetivo de ajustamento ou prevenção.

    A Orientação Educacional era responsável por encaminhar os estudantes

    considerados “problema” a Psicólogos. Ela ganhou uma nova atribuição, perdeu o

    antigo rótulo de delegado e hoje trabalha para intermediar os conflitos escolares e

    auxiliar os educadores a lidar com os alunos com dificuldade de aprendizagem, ou seja,

    ela faz a ponte entre estudantes, docentes e pais.

    Olívia Porto (2009) menciona que:

    “o educando passou a ser olhado de maneira mais compreensiva, com a intenção de ser apreendido integralmente, em sua realidade sócio – humana, sendo assistido e fortalecido em suas dificuldades, bem como, valorizado em seus aspectos positivos, de modo que se possa prepará-lo para integra-se ao meio social, como cidadão participativo”. (p.48)

    Para o sucesso profissional no âmbito escolar é necessário que o Orientador

    Educacional construa uma relação de confiança, que permita administrar os diferentes

  • 36

    pontos de vista, ter habilidade de negociar e prevê ações. Caso contrario, passa a se

    dedicar aos incêndios diários no ambiente escolar.

    Como aponta Grinspun (2006)

    “A Orientação Educacional deve ser parceira competente da escola, técnica ou politicamente, para pensar, refletir e procurar soluções para o fracasso dela, não somente em discursos científicos ou entre educadores, mas frente à realidade dos fatos ocorridos, sejam eles intra ou extras escolares”.(p.84)

    Sabemos que o compromisso da Orientação Educacional é com a formação

    permanente no que diz respeito a valores, atitudes, emoções, sentimentos, sempre

    discutindo, analisando e criticando. Entretanto, ele contribui para o desenvolvimento

    pessoal do aluno, ajuda à instituição escolar a organizar e desenvolver a proposta

    pedagógica, além de dinamizar o trabalho em parceria com o professor, para assim

    compreender o comportamento dos educandos e agir de maneira adequada em relação

    a eles ouve, dialoga e dá orientações. Ou seja, ele lida mais com assuntos que dizem

    respeito a escolhas, relacionamentos com colegas e vivencias familiares.

    Como vimos anteriormente, o fracasso escolar não depende de uma só causa, é

    um fato social sistêmico, são fatores (situação social, familiar e escolar) que atuam de

    modo coordenado, por seus múltiplos parâmetros, entrelaçando-se e provocando o seu

    surgimento. Uma vez que nenhum desses fatores isoladamente chegaria a provocar o

    fracasso escolar.

    O fracasso escolar ocorre quando alguma política educacional não funciona

    como deveria, é quando acontece a exclusão de algumas camadas sociais. Portanto,

    política ou prática que não funciona deve ser reparada deve-se estudar e denunciar as

    lógicas perversas que geram tais fatos e os educadores devem se comprometer com a

    transformação desse quadro.

  • 37

    Quando o papel da Orientação Educacional é bem sucedido, a dinamização do

    processo educativo é satisfatória. É necessário que aconteça a “prevenção” dos

    problemas institucionais, para que assim o fracasso escolar não venha a acontecer.

    O papel da educação hoje é formar cidadãos comprometidos com seu tempo e

    sua gente. Ela deve estar voltada ao crescimento educacional em todos os aspectos e

    formar o aluno para a escola e para a vida.

    Um dos principais papéis da Orientação Educacional é fazer uma escuta atenta

    das relações interpessoais construídas no cotidiano, cabendo a ele atender a todos os

    alunos em suas solicitações e expectativas, não restringindo a sua atenção apenas aos

    alunos que apresentam problemas disciplinares ou de aprendizagem. A atuação dele,

    entretanto, se potencializa quando está integrada ao trabalho da equipe pedagógica da

    escola. O Orientador Educacional precisa ter conhecimento sobre o desenvolvimento

    cognitivo do aluno, sua afetividade, emoções, sentimentos, valores, atitudes, além de

    promover entre eles atividades de discussão e informação sobre o mundo do trabalho.

    Estimular no cotidiano escolar o bom relacionamento com todos os colegas.

    A Orientação Educacional com os demais grupos integrantes do contexto escolar

    deve proporcionar meios para que seja discutida a problemática da escola, dos alunos,

    dos educadores, do currículo, de seu projeto - pedagógico. Dinamizando todo o

    processo educativo, o Orientador Educacional estará visando à construção de um

    espaço educativo ético e solidário.

    Segundo Olívia Porto (2009)

    “ É importante o Orientador Educacional ver a escola como um todo, interna e externamente; que a instituição escolar assuma a sua função de formar cidadãos críticos, para que acima de tudo, sejam capazes de organizar-se para defenderem para si e para os demais homens o direito de cidadania”.(p.73)

    Para que a formação escolar atenda a essas demandas educacionais é

    necessário que o Orientador Educacional seja co-responsável pela aprendizagem dos

  • 38

    alunos. Sendo assim, ele deve questionar práticas docente, envolvendo os aspectos

    didáticos-pedagógicos, tais como: metodologia, avaliação, relação professor-aluno,

    objetivos, conteúdos, mostrando para os educadores a importância do seu

    conhecimento sobre o real significado da existência da escola e sua função social. É

    importante lembrar que há uma necessidade de refletirmos sobre uma questão muito

    relevante sobre a formação do professor, a necessidade de domínio dos conteúdos

    para sua atuação em sala de aula. Precisamos de um professor mais atuante, mais

    atualizado e com novas competências; que seja capaz de perceber que o aluno por sua

    vez é a razão de ser da escola, e a Orientação Educacional deve estar engajada nesse

    processo, desenvolvendo propostas, juntamente aos educadores para que elevem o

    nível cultural dos alunos e tudo fazer para que o ambiente escolar seja o melhor

    possível.

    O Orientador Educacional é um dos membros do corpo gestor da escola.

    Portanto, cabe a ele, interagir em todo o trabalho pedagógico desenvolvido na

    instituição. Nos momentos coletivos como:Conselhos de Classe; avaliação da Proposta

    Pedagógica, por exemplo, ele deve oferecer subsídios para melhor avaliação do

    processo educacional. Participando do planejamento e conhecendo a escola e a

    comunidade, ele poderá contribuir significamente, para todas as decisões que se

    referem ao ambiente escolar.

    Partindo dessa ideia, se destaca a importância do trabalho do Orientador

    Educacional que é de promover a integração de todos os profissionais da escola,

    conscientizado-os da necessidade de sicronicidade do fazer pedagógico. Assim,

    garantindo um trabalho integrado e cooperativo na escola. Ele também é responsável

    por acompanhar as atitudes dos professores em sala de aula; analisando se há uma

    relação entre os conteúdos trabalhados e metodologia à realidade de vida dos alunos.

    Em relação à família, a Orientação Educacional é responsável em fazer a

    articulação entre ela e a escola. Para tanto, seu papel é contribuir para a aproximação

    entre as duas, planejando momentos culturais em que a família possa estar presente,

  • 39

    junto com seus filhos, na escola. A situação escolar do aluno deve ser informada aos

    responsáveis, e ele deve sempre ser estimulado a aprender de forma significativa. Ou

    seja, o papel da orientação educacional com relação à família não é apontar desajustes

    ou procurar os pais para tecer reclamações sobre o comportamento do filho e, sim,

    procurar meios, junto à família, para que o espaço escolar seja favorável ao aluno.

    O Orientador Educacional que compreende o modo de vida, os interesses,

    aspirações, necessidades, as conquistas do contexto local (comunidade) é muito

    importante, pois assim, é possível o apoio da instituição escolar na luta da comunidade

    por melhores condições de vida. Neste sentido, aponta-se uma das tarefas dele, que é

    o conhecimento da comunidade e das situações, cujas facilitam sua vida, tanto quanto

    as que dificultam.

    Grinspun (2006) diz que:

    “Devemos levar o aluno a valorizar todas as manifestações culturais de sua comunidade ou Estado, pois a Orientação poderá ajudá-los a desvelar sua própria historia cultural e social”. (p.71)

    O Orientador Educacional deve estar atento ainda aos acontecimentos sociais do

    país ou do mundo. Como ele não tem um currículo a seguir na escola, pode se

    organizar e trazer para os educandos os fatos sociais mais marcantes que nos

    envolvem, bem como, incentivá-los a participação de lutas maiores. A escola não pode

    fugir dos grandes questionamentos que a mídia nos mostra diariamente. Discutir

    questões como: corrupção, atos de terrorismo, violência urbana entre outras situações

    presentes na sociedade brasileira e mundial será de grande valia para os demais

    componentes curriculares.

    Todavia, a educação estará sendo pensada como processo social de formação

    de homem coletivo responsável pela construção não do seu futuro, mas do futuro de

    toda sociedade.

  • 40

    3.1 – Algumas atribuições do Orientador Educacional, a serem

    desenvolvidas no ambiente escolar, para o sucesso de todos os envolvidos no

    processo educativo.

    • Coordenar o processo de acompanhamento dos alunos, ouvindo, dialogando e

    encaminhando-os a outros especialistas aqueles que exigem assistência

    especial;

    • Contribuir na análise dos indicadores de aproveitamento escolar, repetência e

    evasão;

    • Realizar atendimentos individuais ou de pequenos grupos. Quando for em

    grupos, propor temas (textos, trabalhos, debates, vídeos etc);

    • Propor estratégias comuns entre os professores, coordenação e orientação, para

    assim haver uma melhor articulação das atividades;

    • Acompanhar o trabalho dos educadores em sala de aula, com intuito de divulgar

    nos conselhos de classe o perfil de cada turma, sanando algumas questões de

    ordem pedagógica para melhoria do processo educacional;

    • Proporcionar encontros com os professores com o objetivo de mostrá-los

    técnicas de observação sobre o comportamento dos alunos, para que em outras

    ocasiões consigam descobrir através da auto-avaliação e da execução de

    atividades, suas dificuldades e facilidades;

    • Analisar, juntamente aos educadores, as causas de desajustes e aproveitamento

    deficiente dos alunos;

  • 41

    • Planejar o processo de integração escola-família-comunidade, atuando como elo

    de ligação e comunicação entre todos;

    • Estimular atitudes favoráveis à efetiva participação dos senhores responsáveis

    na tarefa educativa;

    • Ilustrar, juntamente aos senhores responsáveis, atitudes corretas em relação ao

    estudo dos seus filhos, avaliando possibilidades e disponibilidades de

    colaboração em relação à vida escolar deles;

    • Construir, no espaço escolar, uma sala somente para o desenvolvimento das

    atividades de Orientação Educacional, já que este é um profissional de

    compromisso ético com a educação.

  • 42

    CONCLUSÃO

    Nos moldes em que a prática pedagógica se constrói hoje, mesmo diante de

    tantas discussões sobre uma educação transformadora, infelizmente em muitas

    instituições de ensino ainda permanece uma educação em que o papel do aluno é

    apenas ouvir e registrar o que o professor expõe. Efetuar exercícios semelhantes aos

    resolvidos pelo professor; memorizar regras das quais nem sempre entende a

    significação; envolver-se com a resolução de questões que não despertam seu

    interesse e que em geral, admitem uma única solução. Enfim, responder corretamente,

    isto é, segundo desejam os mestres, em questões propostas nas provas.

    Tal prática não leva em conta as diferenças individuais, porque nem sabe como

    lidar com elas. Não valoriza a contribuição pessoal do aluno, na descoberta de

    propriedades e relações, não o desafia a produzir soluções diferentes para o mesmo

    problema, nem reconhece quando ele o faz. Não aposta na sua capacidade em

    construir o conhecimento, não o induz a pensar, a refletir o porquê das coisas, leva-o

    apenas a tentar descobrir qual a resposta exata das questões propostas pelo educador.

    Nela se evita qualquer situação que possa gerar conflitos de opiniões.

    Os professores precisam conscientizar-se de que suas metas educacionais não

    se resumem na transmissão de conhecimentos e que devem, portanto atuar no sentido

    de promover o desenvolvimento dos processos psicológicos pelos quais o

    conhecimento é adquirido, ensinando aos educandos a aprender a prender. Isso não é

    uma tarefa tão simples de se resolver, pois muitos professores acabam usando essa

    maneira de transmissão de conhecimento sem lembrar que o verdadeiro aprendizado

    se dar a partir das experiências que os alunos já possuem consigo. Outro ponto

    importante são as estratégias de ensino que quando bem pensadas favorecem na

    aprendizagem dos alunos, já que é muito importante utilizar diferentes formas de

  • 43

    trabalhar determinados assuntos em sala de aula, logo se percebe tamanho interesse

    dos educandos pelo assunto.

    Ao término do presente trabalho monográfico a conclusão a que se chega é de

    que o fracasso escolar está intimamente relacionado a posturas pedagógicas

    inadequadas.

    A fim de se alcançar à formação de indivíduos críticos e criativos faz-se

    necessária à transformação de concepções que orientam a prática do professor.

    Não se pode, entretanto, evitar o questionamento acerca da própria formação do

    professor. Será que esta fornece ao professor condições necessárias para a tarefa que

    lhe cabe realizar? A responsabilidade que lhes é reservada nesse novo contexto de

    educação é de “recriar” sua experiência pedagógica. Cumpre assinalar que, afinal eles

    também são fruto dessa educação que inibe o espírito de inovação. Um trabalho

    voltado para a formação de alunos mais criativos exige desempenho mais atuante não

    só dos alunos como também do professor, ou seja, uma educação mais eficaz, crítica e

    mais planejada para os desafios do viver humano é fruto de um processo de interação e

    participação entre todos os envolvidos no processo pedagógico é o momento de

    percebermos a importância do Orientador Educacional como dinamizadora do processo

    de ensino, já que hoje sua função liga-se a construção da cidadania, à dimensão

    política, e o seu trabalho reveste-se de uma dimensão mais pedagógica.

    Cabe, portanto, ao educador, repensar sobre sua atuação, rever criticamente a

    sua forma de ensinar, refletir sobre preconceitos e ser capaz de encarar desafios

    surgidos no âmbito escolar acreditando sempre numa prática que realmente tenha

    significado para os alunos para que assim eles aprendam com prazer e construam seus

    próprios conceitos. Introduzir na sala de aulas práticas que possam fazer diferença, que

    possa atenuar e aliviar o sentimento de fracasso dos educandos. Nesse sentido,

    propõe-se que em momento nenhum se reduza o fracasso das escolas públicas

    brasileiras a meras inabilidades técnicas características de alunos desfavorecidos,

  • 44

    tente-se resgatar o compromisso e a responsabilidade da escola com seus alunos,

    tornando-se a instrução mais poderosa para ensinar aos alunos a aprender a aprender

    levando-se em conta variáveis psicológicas e cognitivas que afetam o processo de

    ensino – aprendizagem, sobretudo a relação professor – aluno.

    É preciso resgatar a auto – estima do professor: fazê-lo acreditar nas suas

    possibilidades de intervenção na realidade. Aumentar o grau de

    realização/concretização (e, portanto de satisfação) do trabalho; desfrutar o prazer de

    conhecer (a realidade do campo de intervenção) e de concretizar em seu trabalho

    docente o que foi planejado em busca de transformações positivas.

    A tarefa é difícil porque nos falta à cultura e a coragem de participação nas

    decisões, falta-nos experiência e confiança na continuidade das políticas educacionais.

    Falta principalmente intimidade com a democracia. Mas, é essencial lembrar que, o

    planejamento e compromisso docente são indispensáveis para organizar a mudança.

    Portanto, o desafio que temos a enfrentar é evidente: passar de mera

    aprendizagem para o aprender a aprender, fazer da escola o lugar privilegiado da

    educação e do conhecimento, unir saber a ação.

    Tendo o aluno como seu principal objeto de trabalho, o Orientador Educacional

    passa a ser um profissional de grande relevância para o resultado final do ensino que é

    a aprendizagem, conseqüentemente ser comprometido com a formação do cidadão

    consciente no mundo em que vive, disso, portanto, resulta a importância da escola.

    Só assim poderemos garantir e gerar o futuro, com uma sociedade que tenha

    acesso a uma base educativa que lhe propicie a respectiva cidadania.

    Afinal, não há como chegar à qualidade de vida sem a educação. Mas não será

    educação aquela que não se destinar a formar sujeito histórico crítico e criativo.

  • 45

    BIBLIOGRAFIA

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