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Radios locais
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As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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Universidade da Beira Interior Mestrado em Jornalismo
As Rdios Locais: o que mudou desde 1989?
Autora: Daniela Baltazar da Silva
Covilh, Agosto de 2008
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
1
Dissertao apresentada para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Jornalismo, realizada sob a orientao cientfica de Joo Canavilhas, Professor Auxiliar do Departamento de Comunicao e Artes da Universidade da Beira Interior.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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Agradeo a todas as rdios que responderam ao inqurito e contriburam para esta investigao. Agradeo tambm a todas as pessoas que se disponibilizaram para prestar informaes sobre o funcionamento das rdios. Agradeo ainda ao orientador pela ajuda prestada e minha famlia e amigos que sempre me deram fora para levar a cabo este trabalho.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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Resumo
As rdios locais actuais so o resultado de um processo evolutivo iniciado em 1989.
Para alm da natural evoluo tcnica registada nestas quase duas dcadas, as grandes
mudanas polticas, sociais e econmicas no pas tambm marcaram as rdios locais. Neste
trabalho procuramos identificar as principais alteraes no funcionamento das rdios locais
portuguesas desde 1989, ano em que foram legalizadas.
Para realizar este estudo foram analisadas as respostas aos questionrios enviados a
rdios locais de todo o pas. Ao mesmo tempo foram entrevistadas duas personalidades
envolvidas na criao das rdios e na sua legalizao. Com estas informaes foi possvel
verificar as principais alteraes ocorridas ao longo destes quase 20 anos nas rdios locais.
Palavras-chave: Rdio; Rdio Local
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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Abstract
The actual local radios are the result of one evolutive process that has began in
1989. Beyond the natural technical evolution verified in these almost two decades, the big
political, social and economical changes have also distinguished the local radios. In this
work we try to identify the most important changes in the working process of portuguese
local radios since 1989, when they were legalized.
To realize this study, were analysed the answers of the questionnaires sent to local
radios from all the country. At the same time, were interviewed two personalities who were
involved in the creation of the radios and in their legalization. With these informations it
was possible to verify the principal changes occurred along this almost 20 years in the local
radios.
Key-Words: Radio; Local Radio
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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ndice INTRODUO...........................................................................................................................7 1. A Rdio em Portugal............................................................................................................... 9
1.1 As Origens.........................................................................................................................9 1.2 As Rdios Livres............................................................................................................. 10 1.3 O processo de legalizao ..............................................................................................15 1.4 Lei da Rdio .................................................................................................................... 17 1.5 Concurso Pblico............................................................................................................ 19
2. As Rdios Locais em Portugal: consequncias da legalizao .......................................... 20 3. Problema de investigao ..................................................................................................... 26 4. Metodologia...........................................................................................................................30 5. Resultados e discusso.......................................................................................................... 33
5.1 Propriedade e Direco................................................................................................... 33 5.2 Recursos Humanos ......................................................................................................... 34 5.3 Condies Tcnicas ........................................................................................................ 39 5.4 Audincia.........................................................................................................................45 5.5 Publicidade...................................................................................................................... 46 5.6 Programao.................................................................................................................... 48
6. Concluses.............................................................................................................................53 6.1 Condies Tcnicas ........................................................................................................ 53 6.2 Propriedade e Direco................................................................................................... 54 6.3 Recursos Humanos ......................................................................................................... 55 6.4 Publicidade e Audincia................................................................................................. 56 6.5 Programao.................................................................................................................... 57
Bibilografia................................................................................................................................60 Anexos ....................................................................................................................................... 65
1- Entrevista ..........................................................................................................................66 2- Entrevista a Antnio Colao ............................................................................................67 3- Entrevista a Jos Faustino ................................................................................................74 4- Inqurito ............................................................................................................................84
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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A rdio um meio de comunicao extraordinariamente rico, com
uma narrativa singular e para muitos, fascinante. A compreenso da
Rdio no pode dissociar-se do pas e da sua Histria, no contexto do
desenvolvimento econmico, cultural e social, numa observao que
se deve desenvolver a partir das estruturas que desenham a
operacionalidade deste meio. Para melhor conhecermos a rdio,
devemos procurar decifrar os trilhos do paradigma comunicacional
moderno, no que toca problemtica das mudanas operadas pela
tecnologia. O desafio das novas tecnologias tem sido um factor de
renovao para a rdio que, ao longo dos ltimos anos, se tem vindo
a reinventar, quer ao nvel da produo, dos contedos e das formas
de recepo das emisses. (Cordeiro, 2003, 1)
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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INTRODUO
As rdios locais em Portugal comearam por emitir clandestinamente. O grande
surto das rdios piratas (tambm chamadas rdios livres, em pases como a Frana ou a
Itlia) aconteceu nos anos 80, mas j antes, no final dos anos 70, elas tinham comeado a
aparecer num contexto intimamente ligado a 1974 e ao 25 de Abril. As rdios piratas
apareceram num momento ps-revolucionrio em que a sede de liberdade de expresso
ainda estava bem viva (Bonixe, 2003, 52). Esta vontade de exprimir ideias e dar
visibilidade s culturas minoritrias este sempre ligada ao movimento das rdios livres.
Embora os pioneiros destas rdios piratas tivessem conhecimento das experincias
que aconteciam um pouco por toda a Europa, em Portugal o movimento s viria a adquirir
os mesmos contornos em meados da dcada de 80. Nas rdios que foram nascendo um
pouco por todo o pas, o amadorismo era uma caracterstica comum. As pessoas que nelas
colaboravam tinham diferentes profisses, em nada relacionadas com o jornalismo ou com
a comunicao. O importante era dar voz s populaes. Os fracos recursos tcnicos,
humanos e financeiros eram outra constante na maioria das rdios piratas. O dinheiro que
mantinha as rdios em funcionamento provinha de alguma publicidade (tambm ela
escassa, nessa altura) e de donativos que alguns particulares faziam.
Em 1983 comeou a sentir-se a necessidade das rdios serem legalizadas, algo que
veio a acontecer cinco anos mais tarde, durante o XI Governo Constitucional, com Anbal
Cavaco Silva como Primeiro-Ministro. Em 1989, foi constituda uma Lei que
regulamentava o exerccio de radiodifuso em Portugal: a Lei n. 87/88 de 30 de Julho,
tambm conhecida por Lei da Rdio. Com esta Lei foram legalizadas mais de trs centenas
de rdios locais, um nmero que continuou a crescer at actualidade.
O que se prope com este trabalho procurar saber qual a evoluo das rdios
locais em Portugal, quase 20 anos depois da legalizao e perceber quais as principais
mudanas no funcionamento dessas mesmas rdios.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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As novas tecnologias que entretanto foram surgindo mudaram, em muito, o modo
de trabalhar na rdio que entrou na era digital. A utilizao da Internet veio trazer algumas
mudanas no comportamento, no s dos que fazem rdio, como dos que ouvem a ouvem.
Para melhor compreender o fenmeno, este trabalho aborda o nascimento da rdio
em Portugal, a sua evoluo, o contexto do aparecimento das rdios piratas e o seu
funcionamento, descrevendo posteriormente o processo de legalizao e estudando as
principais mudanas ocorridas de 1989 at ao presente (mudanas de funcionamento, de
recursos humanos e meios tcnicos).
Para alm da realizao de inquritos s rdios locais existentes em Portugal,
procedeu-se realizao de entrevistas a protagonistas envolvidos na transio da
clandestinidade para a legalidade, para assim se perceberem melhor as diferenas ocorridas
nestes 20 anos de rdios locais.
Os resultados mostram que estas foram duas dcadas de grandes transformaes nas
rdios locais, no apenas ao nvel do seu funcionamento, mas tambm na estrutura tcnica
e de recursos humanos.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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1. A Rdio em Portugal 1.1 As Origens
No dia 9 de Maro de 1901 era feito o primeiro contacto via rdio em Portugal. Esta
primeira ligao em Morse entre o Forte da Raposeira e o Alto da Ajuda pode ser
considerada a data do nascimento da rdio em Portugal. J nesse mesmo ano, em Fevereiro,
se tinha especulado acerca do interesse do governo portugus na Telegrafia Sem Fios
(TSF) para fins comerciais (Silva, 2004). Um ms depois, concretiza-se ento a primeira
experincia radiofnica em Portugal.
Em 1902 so feitos os primeiros ensaios com um emissor TSF Depois desse ano, a
utilizao e a experimentao da telegrafia sem fios foi continuando a ser feita, at que em
1912 se reconhece oficialmente o primeiro rdio telegrafista portugus, de nome Alberto
Carlos de Oliveira. Nesse mesmo ano, a 22 de Maio, o Governo portugus contactou a
Companhia Marconi para serem instalados postos de TSF em alguns pontos do pas.
Em 1914 acontece a primeira emisso de voz: Fernando Cardelho de Medeiros fez-
se ouvir a 100 metros de distncia. As primeiras palavras foram: Est l? Ouve bem?.
Ainda nesse ano, Fernando de Medeiros emitiu msica, ligando uma grafonola ao
microfone. Ouviram o Festival de Wagner, trs pessoas.
Ao longo dos anos, a tcnica foi sendo aperfeioada e, em 1924, surge a primeira
estao de rdio: a CT1AA-Rdio Portugal, pela mo de Ablio Nunes dos Santos. A partir
dessa data comearam a surgir vrias outras rdios e em 1926 contavam-se cinco em todo o
pas. A 4 de Agosto de 1935 nasce oficialmente a Emissora Nacional de Radiodifuso,
aquela que hoje conhecemos por RDP. Depois de vrios anos em experimentao, em 1963
o Rdio Clube Portugus passa a emitir ininterruptamente em onda mdia.
Apesar de todas as evolues ao longo destes 60 anos, a rdio destacou-se em 1974
aquando do 25 de Abril. Os chamados anos de ouro da rdio, que oscilam entre 1930 e
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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1950, traduziram-se num fenmeno de radiodifuso que procurava reconstruir a realidade
dentro do estdio, com dramatizaes e espectculos produzidos na prpria estao
emissora. Os programas humorsticos estavam sob vigilncia da censura, obrigando a
manobras lingusticas para que os textos passassem. (Cordeiro, 2003, 2)
Era este o cenrio radiofnico em Portugal at 1974, quando um grupo de militares
ocupou os estdios de Lisboa do Rdio Clube Portugus, transformando-o no Posto de
Comando do Movimento das Foras Armadas. (Silva, 2004) Um ano depois, em 1975,
foram nacionalizadas quase todas as rdios em Portugal. Esta situao levou a que se
cimentasse um monoplio de trs estaes: a RDP (antiga emissora nacional), o Rdio
Clube Portugus e a Rdio Renascena. O sector ressentiu-se pelo facto de os privados no
poderem criar as suas prprias rdios e comearam a aparecer as rdios piratas, cujas
primeiras emisses se caracterizavam pela inteno de dar voz a populaes locais. Os
registos documentais disponveis mostram que a maior parte das programaes das
estaes piratas continham msica e estilos musicais que no eram comuns nas rdios
nacionais. (Bonixe, 2003, 56)
Na base do movimento das rdios pirata, mais tarde denominadas rdios locais,
esteve o desejo de marcar a diferena em relao ao que era veiculado nos meios de
comunicao de cobertura nacional.
1.2 As Rdios Livres
No incio dos anos 80 existiam em Portugal a Emissora Nacional, a Rdio
Renascena e o Rdio Clube Portugus, rdios que transmitiam maioritariamente notcias
dos grandes centros urbanos de Portugal. Espontaneamente, e na sequncia do que j
acontecia por toda a Europa, comearam a aparecer rdios livres por todo o pas.
Inicialmente as rdios piratas tinham uma programao muito idntica das trs
rdios que existiam em Portugal, por serem essas as escolas portuguesas de radiodifuso.
Contudo, ao conhecerem a realidade estrangeira, muitas conseguiram descolar-se desses
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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modelos. Estas rdios inovaram e experimentaram novos formatos, preenchendo espaos
de criatividade que tinham sido deixados em aberto pelas rdios nacionais (Cordeiro,
2003, 4). Esses espaos, no diziam apenas respeito informao, mais voltada para a
localidade onde a rdio estava sedeada, mas tambm diziam respeito msica, mais
irreverente. Alis, foi a irreverncia e a vontade de quebrar com aquilo que era transmitido
pelas rdios nacionais que levou ao surgimento destas rdios ilegais. A rebeldia da
juventude e a vontade de dar voz s populaes esquecidas pelas rdios nacionais
conduziram as rdios locais para uma programao onde se destacavam concursos, discos
pedidos, debates e notcias de cariz local e, portanto, do interesse de uma minoria. Com este
tipo de programao, permitia-se rdio fazer uma aproximao comunidade local.
Surgiram tambm rdios mais irreverentes, feitas por jovens com objectivos muito
diferentes. Estas rdios passavam msicas alternativas, maioritariamente estrangeiras e
muito pouco ouvidas nas rdios nacionais. Outras ainda eram compostas por jovens que
gostavam de desafiar as regras impostas e os fiscais das rdios piratas. Nesta altura
comeam a tentar criar-se rdios inspiradas num gnero em voga nos Estados Unidos, onde
a animao e a escolha musical ficava a cargo de DJs. com estas rdios que comeam a
evidenciar-se as estaes onde a msica se sobrepe palavra. Seriam, aps a legalizao,
as rdios mais voltadas para a juventude.
Algumas rdios comearam, ainda antes da legalizao, a ficar dependentes da
publicidade e a conhecer o conceito da concorrncia. Muitas pessoas ligadas ao sector
econmico comearam a olhar para estas rdios como uma forma de dar a conhecer os seus
negcios. A medio de audincias no era fcil, contudo era feita atravs dos programas
que envolviam chamadas telefnicas. Com estas inovaes, as rdios piratas conseguiram
criar novas dinmicas e novas ideias num mercado aparentemente esgotado.
A informao transmitida por estas rdios visava sobretudo dar a conhecer as
culturas e os problemas das localidades onde se encontravam inseridas. Em muitos casos, a
denncia feita pela rdio resultava num acordar a populao para situaes que, em muitas
ocasies, passavam despercebidas aos polticos. Nalgumas situaes foram at factores
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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meteorolgicos a dar um impulso s rdios. Em Abrantes o que esteve na origem foram
as cheias (). Dar resposta a questes concretas levou a que percebssemos que tnhamos
de ir mais longe e a rdio comeou a ter mais solicitaes1. De acordo com Antnio
Colao, um dos fundadores da Rdio Antena Livre de Abrantes (RAL), este foi um
processo que se desenvolveu por trs fases. Uma primeira para dar resposta s populaes,
uma outra de entretenimento e a terceira de consolidao, em que estas rdios mais
pequenas se descolaram das rdios nacionais e criaram o seu modo de estar e de ser. Muitas
rdios, como foi o caso da RAL, encontraram nas autarquias apoio para se constiturem. Na
altura, a rdio ainda no era vista como um meio de ataque ao poder local, como veio a
acontecer posteriormente. Quando os problemas da terra comearam a vir ao de cima
atravs da rdio, foi necessrio mostrar aos polticos que as rdios livres serviam tambm
de ponto de encontro entre diversos flancos da poltica e de discusso pblica. As rdios
serviam a vontade de comunicar e de informar as populaes acerca de tudo o que lhes
dizia respeito, directa ou indirectamente.
No entanto, nem sempre esse objectivo pde ser concretizado, uma vez que os
meios disponveis, quer humanos, quer tcnicos, eram insuficientes, sobretudo os
primeiros. Em 1987, das 126 rdios locais referenciadas no estudo do jornal Expresso, 20
no possuam redaco, 59 possuam, mas no existiam jornalistas profissionais e s 47
redaces de emissoras locais eram coordenadas por jornalistas. (Bonixe, 2003, 63) A
falta de pessoas qualificadas era uma realidade presente em quase todas as estaes
emissoras, principalmente nas do interior do pas, onde o nvel de instruo da populao
diminua drasticamente em relao aos grandes centros urbanos. Para alm disso, as rdios
livres nesta regio, constituam uma escola prtica para futuros profissionais que, como
antes foi referido, eram muito jovens. Por essa razo, muitos dos que acompanharam o
nascimento das rdios, consideram que o factor da instruo dos profissionais no era um
elemento fundamental para o desenvolvimento do fenmeno. Para Jos Faustino, presidente
da Associao Portuguesa de Radiodifuso, ningum tinha especial vocao de jornalista e
os jornalistas que existiam eram jornalistas da tarimba. No havia () uma grande
1 Entrevista a Antnio Colao em anexo
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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diferena entre o indivduo que j era jornalista e aquele que comeou a ser2. Tambm
para Antnio Colao, a formao constitui um meio e no um fim.
Embora com poucas qualificaes tcnicas para o exerccio da actividade, eram
muitas as pessoas que colaboravam, sobretudo em regime de voluntariado. A rdio era vista
como algo construdo por todos e desta forma todos davam uma ajuda nas rdios piratas.
Na generalidade das rdios colaboravam mais de duas dezenas de pessoas, umas com
funes especficas e outras acumulando diferentes responsabilidades. Desde os
animadores, aos carpinteiros que construram os estdios ou s cozinheiras que
confeccionavam as refeies, todos colaboravam e, de acordo com Antnio Colao, todos
ramos poucos para levar essas emisses por diante.
As emisses iniciais eram irregulares e dependiam da disponibilidade dos
animadores, uma vez que habitualmente desenvolviam esta actividade em paralelo com as
suas profisses. No princpio, as rdios emitiam apenas alguns dias por semana e apenas
durante algumas horas, normalmente noite. Posteriormente e por via da disponibilidade,
alargaram o perodo de transmisso ao fim-de-semana. Com o tempo, o perodo de emisso
alargou-se s 24 horas dirias, embora parte dela fosse previamente gravada.
As emisses era feitas a partir de arrecadaes, garagens ou de qualquer lugar onde
fosse possvel montar os parcos equipamentos: Pratos para os discos de vinil, microfones,
a mesa de mistura e leitores de CDs, mas ainda muito poucos. Haviam gravadores com fita
de arrasto (as Revox), e () os sistemas de cartucheira para os spots, refere Jos Faustino.
Era este o material que se podia encontrar dentro dos estdios. Os telefones foram sendo
adquiridos medida que se verificou a sua importncia para a relao com os ouvintes e
para os programas de participao popular como o caso dos Discos Pedidos. Algumas
rdios, as que tinham mais recursos financeiros, tinham j carros de exteriores patrocinados
pelos anunciantes ou pela prpria marca do automvel.
2 Entrevista a Jos Faustino em anexo
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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A programao variava consoante a rdio, no entanto havia espao para a
informao e para o entretenimento. Tinha uma estrutura clssica separada de hora a hora,
com programas de autor de uma ou mais horas, relembra o Presidente da APR. No que diz
respeito aos ouvintes, ainda no se faziam estudos de audincias naquela altura, pelo que
incerto avanar nmeros. Um facto que as rdios livres conseguiram despoletar o
interesse das pessoas e, por tratarem de assuntos da terra, supe-se que eram ouvidas por
grande parte da populao abrangida.
De salientar ainda que as principais fontes informativas eram pessoas ligadas a
partidos polticos e que a actualidade da informao no constitua, como actualmente, um
factor fulcral e prioritrio na rdio, uma vez que as informaes eram transmitidas por
correio e no por e-mail como hoje em dia. As informaes resumiam-se, dessa forma,
quelas que vinham das Cmaras Municipais, a alguns acontecimentos, a denncias de
outras situaes e ao desporto, que se comeou a evidenciar por esta altura. Os relatos de
futebol, desde logo ganharam adeptos e preencheram uma lacuna que se sentia no campo
desportivo.
No que diz respeito propriedade, a maioria das rdios piratas partiram de
iniciativas individuais. Alis, o dinheiro investido na formao das rdios provinha de
privados e dos impulsionadores. A banca resistia a emprestar dinheiro para a construo
destas rdios que no tinham qualquer consistncia legal. O que hoje parece ser pouco
dinheiro, em meados dos anos 80 constitua uma soma avultada. Jos Faustino fala em 500
ou 1000 euros, na altura 100 ou 200 contos () mas se calhar at se fazia com menos,
tambm porque havia muito voluntariado. Para atenuar o investimento, os
impulsionadores dividiam entre si as despesas ou davam garantias pessoais de bom
pagamento. As receitas provinham sobretudo da publicidade, pois cedo despertou o
interesse dos anunciantes.
A Igreja, associaes desportivas, associaes culturais e muitas outras, comearam
a ver na rdio uma boa forma de conseguir algum destaque e de veicular mensagens
prprias, pelo que sob a forma de cooperativas criaram rdios. Alis, ainda hoje existe a
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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Associao de Rdios de Inspirao Crist, da qual fazem parte um grande nmero de
rdios locais portuguesas. Estas cooperativas eram tambm uma forma de as rdios
conseguirem obter financiamento para o seu funcionamento, no dependendo apenas da
publicidade.
Estima-se que em 1984 existissem, em Portugal, cerca de 19 estaes de rdio
ilegais, nmero que provavelmente no correspondia realidade, uma vez que em 1987, as
rdios piratas em Portugal ultrapassavam as quatro centenas. O clculo exacto do nmero
de rdios a emitir na altura, muito difcil de fazer, no s pelo facto de trabalharem
ilegalmente, mas tambm pela irregularidade e instabilidade das suas emisses.
A desorganizao era evidente e a necessidade de criar uma lei que controlasse o
crescimento de novas rdios e o trabalho das que j existiam, crescia a cada dia. O XI
Governo Constitucional do primeiro-ministro Anbal Cavaco Silva, decidiu abrir um
concurso de concesso de alvars para o exerccio da actividade de radiodifuso, a
chamada Lei da Rdio.
1.3 O processo de legalizao
A Lei n. 87/88 de 30 de Julho, conhecida vulgarmente por Lei da Rdio, veio
actualizar e concentrar num s diploma de legislao, alguma da qual datava j dos anos
30, que regulamenta o exerccio da actividade da radiodifuso no nosso pas. (Magalhes
Crespo, 1996, 18)
O nmero de rdios livres em Portugal no parava de crescer e a soluo encontrada
para criar alguma ordem foi a sua legalizao atravs da abertura de um concurso de
concesso de alvars. Esta ideia ter surgido em 1983, quando os deputados do Partido
Comunista apresentaram um diploma que previa que as empresas privadas de rdio
pudessem emitir mediante uma licena.
Mais tarde, Dinis Alves e Jaime Ramos (deputados do PS e do PSD,
respectivamente) apresentaram o projecto de Lei n 252/III de 26 de Novembro de 1983
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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onde se destacava que as rdios locais deveriam desempenhar funes de alcance social
para com as populaes que as ouviam. Os noticirios locais tambm foram contemplados
na elaborao deste diploma, referindo-se que a sua durao nunca deveria ser inferior
das notcias nacionais ou internacionais. Outra regra importante foi a obrigatoriedade de
que as rdios tivessem uma programao com durao no inferior a 21 horas semanais. No
projecto de Lei de 26 de Novembro de 1983 estavam ainda previstas outras medidas, como
a impossibilidade das autarquias financiarem a criao ou a manuteno das rdios, a
proibio de transmisso das licenas de modo a evitar constituio de monoplios e
considerava servio local de radiodifuso, aquele cujo emissor no ultrapassasse os 30 km.
Em 1986, no segundo ano do X Governo Constitucional, encabeado por Anbal
Cavaco Silva, pretendeu-se alterar e corrigir o panorama comunicacional que vigorava em
Portugal. O ento primeiro-ministro considerava que as nacionalizaes de 1975 tinham
colocado Portugal numa situao de quase estatizao dos meios de comunicao social.
Esta condio tambm abrangia a rdio, tendo sido um dos motivos pelos quais comearam
a aparecer as rdios piratas. Este Governo procurou a privatizao dos meios de
comunicao e os primeiros passos foram dados com a Lei n 20/86, de 21 de Julho, e o
Decreto-Lei n 358/86, de 27 de Outubro. O Governo comeou desde logo a trabalhar ao
nvel da imprensa, conseguindo aos poucos acabar com o controlo poltico sobre os rgos
de comunicao social. Um dos objectivos era fazer com que o processo decorresse de
forma transparente.
Em 1987 surgiu uma Lei que nunca chegou a ser aprovada: a Lei 8/87 de 11 de
Maro. Apesar de no ter avanado, esta lei serviu de base e deu os moldes para a
constituio da Lei da Rdio aprovada em 1988, respondendo assim a uma srie de
preocupaes manifestadas nos projectos de Lei anteriores (Bonixe, 2003, 75). Este
documento foi o primeiro a prever a existncia de emissoras regionais e locais,
apresentando tambm as condies de preferncia para a obteno de alvars. A Lei
estabelecia tambm o tempo mnimo de emisso, fazendo distino entre as rdios
nacionais e as locais (16 horas dirias para as nacionais, 10 horas para as regionais e seis
horas para as locais). O nmero de noticirios ainda no estava previsto e no que diz
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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respeito aos trabalhadores das redaces, referia-se que estes no precisavam de ser
licenciados, situao que ainda hoje se mantm pois basta apenas ter a carteira profissional.
Esta Lei pretendia ainda criar um mecanismo que garantisse a liberdade e o
pluralismo das rdios existentes, bem como dar o parecer acerca de novos licenciamentos
para a radiodifuso. Este mecanismo seria o Conselho da Rdio, cujos membros estariam
no cargo por trs anos. Contudo, e porque a Lei no foi aprovada, tambm o Conselho da
Rdio no foi para a frente. Quanto ao licenciamento, as rdios deveriam concorrer no
primeiro ms de cada ano, devendo apresentar um projecto at 60 dias depois da abertura
do concurso pblico, anunciada em Dirio da Repblica. Neste documento estava prevista
uma validade para o alvar: 15 anos para as rdios nacionais, 12 para as regionais e 7 para
as locais. Publicidade, Sanes e Conselho de Redaco estavam tambm previstos neste
projecto que serviu de base para a lei que veio ser aprovada.
1.4 Lei da Rdio A Lei n 87/88 de 30 de Julho, vulgarmente conhecida por Lei da Rdio, atribuiu a
empresas pblicas, privadas e cooperativas a liberdade de exercerem servios de
radiodifuso, acabando desta forma com o monoplio do Estado que at aqui vigorava. De
acordo com o n 1 do artigo 2, a actividade de radiodifuso pode ser exercida por
entidades pblicas, privadas ou cooperativas, de acordo com a presente lei e nos termos do
regime de licenciamento (Lei n. 87/88).
Nos 50 artigos desta lei (revista em 1996), legisla-se todo o funcionamento das
rdios. O documento prev as tipologias de rdios, sejam elas, gerais, regionais ou locais.
De acordo com o artigo 3, partidos, associaes polticas e autarquias locais, entre outras,
esto proibidos de financiar a actividade.
As finalidades da actividade de radiodifuso de cobertura regional e local de
contedo generalista, todos eles destinados a responder s necessidades e interesses das
populaes regionais ou locais abrangidas pela rdio, constam do artigo 6 e so as
seguintes: preservar e divulgar valores culturais, difundir informaes regionais e
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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incentivar as boas relaes entre as populaes vizinhas. A liberdade de expresso e de
informao que integra os direitos fundamentais dos cidados tambm englobada no
servio de radiodifuso, tal como a proibio de emisso de mensagens que atentem contra
a dignidade da pessoa humana. Neste artigo (8) pode ainda ler-se que esta liberdade de
expresso atribuda rdio dever assegurar o confronto de diferentes opinies, exercendo
a democracia e incitando ao nascimento de um esprito crtico.
Ao contrrio do que acontecia at aqui, a Lei define a obrigatoriedade das rdios
emitirem noticirios regulares, contudo no feita referncia quantidade diria. Pela
primeira vez em documentos do gnero feita aluso quanto qualificao profissional dos
jornalistas da Redaco. Est disposto no n 2 do artigo 12, que o servio noticioso, bem
como as funes de redaco, so obrigatoriamente assegurados por jornalistas
profissionais (Lei n. 87/88). Ainda no mesmo artigo feita uma distino entre as
estaes de cobertura geral, regional e local. Nestas ltimas, os servios noticiosos deviam
ser assegurados por jornalistas profissionais e tambm por detentores do carto de
jornalista de imprensa regional.
Outra das particularidades desta Lei a regulao da publicidade emitida nos
rgos de radiodifuso. De acordo com o disposto, a publicidade deve ser bem assinalada e
no pode exceder 20 por cento do tempo da programao diria. Ainda no mesmo
documento feita referncia ao exerccio do direito de antena.
No que diz respeito atribuio de alvars para o exerccio de radiodifuso, esta
remetida para um Decreto-Lei, tal como definido no artigo 2 da Lei da Rdio. O artigo
refere-se ao Decreto-Lei n. 338/88 que se destinava a regulamentar o regime de
licenciamento da actividade de radiodifuso. No decreto definia-se que a atribuio de
alvar deveria ser feita atravs de concurso pblico e que a apreciao das candidaturas
estaria a cargo da Comisso Consultiva, surgida no seguimento da tentativa de criao do
Conselho da Rdio, proposto na Lei 8/87 de 11 de Maro. Com a aprovao da Lei n.
87/88 sentiu-se a necessidade de ter uma comisso que apresentasse ao Governo as
propostas de atribuio ou renovao de alvars, tendo sido ento criada a Comisso
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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Consultiva. Ainda no Decreto-Lei n. 338/88, determinava-se que seria dada preferncia s
sociedades maioritariamente constitudas por profissionais da comunicao e que entre os
motivos de rejeio das candidaturas se encontrava o facto de a entidade possuir um
emissor que se mantivesse em funcionamento, para alm do 10 dia que antecedia o prazo
limite para apresentao de candidaturas, uma vez que o Governo exigia que a actividade
das rdios piratas fosse interrompida para no interferirem no processo de deciso. Aps
um perodo de alguma contestao, as rdios acederam interrupo de emisses.
1.5 Concurso Pblico
Com as emisses das rdios livres interrompidas desde dia 24 de Dezembro de
1988, o concurso pblico para atribuio de alvars teve incio em Janeiro de 1989. Esta
medida de silenciamento das rdios que emitiam ilegalmente gerou alguma discrdia no
meio, pelo que antes, a 17 Novembro de 1988 se tinha feito um protesto de emisso em
cadeia, naquele que ficou conhecido como o Dia da Rdio. A emisso contnua, que se
prolongou das 7 s 20 horas, contou com a participao de cerca de 200 rdios, que
promoveram debates nos quais participaram deputados da Assembleia da Repblica e
outras figuras pblicas.
Candidataram-se obteno de alvars 402 entidades, verificando-se uma notria
discrepncia entre o nmero de candidatos s frequncias no litoral e os que mostraram
interesse pelo interior do pas. Enquanto no interior ficaram frequncias por atribuir, no
litoral de Portugal aconteceu exactamente o contrrio.
Aps a promessa de que o concurso pblico decorreria num curto espao de tempo,
os primeiros alvars foram atribudos no dia 6 de Maro, a 6 rdios de Lisboa e 5 do Porto.
Os distritos de Lisboa e Porto obtiveram o maior nmero de alvars (31), com os distritos
de Castelo Branco (14) e Bragana (13) a conseguirem o menor nmero. No distrito de
Portalegre ficaram por ocupar 13 das 17 disponveis, e na Guarda, foram atribudas dez das
19 a concurso. As surpresas no foram muitas, uma vez que as rdios que apresentaram
melhores projectos conseguiram o licenciamento. Apesar disso, registou-se alguma
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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contestao devido s potncias atribudas. Jos Faustino , ainda hoje, um desses
contestatrios: Digamos que o processo de legalizao foi mais um processo de seleco.
O processo de legalizao foi uma vergonha, uma distoro total No se legalizaram
rdios que tinham uma capacidade extraordinria, puseram-se outras l em cima que nem
rdios eram.
Jos Faustino, director da Rdio Diana e presidente da APR, um dos protagonistas
dessa poca que, apesar de concordar com a legalizao, discorda do modo como foi feita a
atribuio das frequncias e da prpria formulao da Lei da Rdio. O director considera
que a Lei, foi feita para se adaptar realidade e no, para moldar a realidade existente.
Com a legalizao, as diferenas que marcavam as rdios livres foram esbatidas,
levando a que todas procedessem da mesma forma e a que se tornassem muito semelhantes
nos contedos.
2. As Rdios Locais em Portugal: consequncias da legalizao
Entre 1990 e 1993, muitas rdios atravessaram um perodo de dificuldades o que
levou ao encerramento de estaes. Outras associaram-se ou foram vendidas e houve ainda
aquelas que alteraram o projecto inicial. Muitas rdios legalizadas, especialmente no
interior do pas, no emitiam porque no tinham meios. As rdios mais fortes viram aqui
uma oportunidade para formarem cadeias de rdios, de modo a cobrir todo o territrio
portugus. Estas rdios mais pequenas passaram a emitir programao que em nada se
adequava ao cenrio onde estavam inseridas.
Com a constituio das cadeias de rdio (situao que foi posteriormente legalizada
em 1992), as rdios de Lisboa e Porto passaram a controlar uma parte significativa das
rdios locais do pas, mas outras mantiveram-se fiis ao projecto inicial.
A reviso em 1996, que entrou em vigor em 1997 no Governo de Antnio Guterres,
introduziu novas alteraes ao quadro legal de funcionamento das rdios. Uma das
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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novidades foi um artigo que classificava as rdios quanto tipologia. O artigo 2 definia
que as rdios poderiam ser de mbito geral, regional ou local. As primeiras eram aquelas
que, com a frequncia atribuda, conseguiam chegar totalidade do territrio nacional. As
de mbito regional seriam as que alcanassem um conjunto de distritos, e as locais as que
abrangessem apenas um municpio. Ainda de acordo com este artigo, as rdios distinguiam-
se pelo tipo de programao apresentado. Assim, passaram a existir rdios generalistas e
temticas. Pelo prprio nome se depreende que as rdios generalistas seriam as que tinham
uma programao diversificada e as temticas, aquelas que tinham uma programao
centrada num tema (a ttulo de exemplo, programao apenas musical ou informativa). O n
7 do mesmo artigo previa tambm que s poderia existir uma rdio temtica, desde que no
concelho estivesse garantida a existncia de uma rdio generalista.
No artigo 8 da reviso da original Lei da Rdio foi acrescentado um ponto. De
acordo com o ponto 4, as rdios passaram a ter de elaborar e funcionar de acordo com um
estatuto editorial. O objectivo desde estatuto, que at ento no existia, era definir os
objectivos, a orientao e caractersticas da sua programao e incluir o compromisso de
assegurar o respeito pelo rigor e pluralismo informativo, pelos princpios da tica e da
deontologia, assim como pela boa f dos ouvintes (Lei n. 87/88, de 30 de Julho, com as
alteraes resultantes da Lei n2/97 de 18 de Janeiro). O estatuto editorial veio obrigar as
rdios a cumprir a linha de funcionamento que tinham imposto para si mesmas,
contribuindo para a organizao e para a diminuio de alteraes que se vinham a verificar
no funcionamento das rdios.
Em 1997, altura em que a lei revista entrou em vigor, os servios noticiosos e o
artigo respeitante (12) foram completamente alterados. Passou a ser obrigatrio que as
rdios locais e regionais de contedo generalista emitissem pelo menos trs servios
noticiosos ligados sua rea de abrangncia, entre as 7 e as 24 horas, com um intervalo de
tempo superior a trs horas. Nos dois pontos deste artigo (metade dos que eram
anteriormente), as rdios gerais ou nacionais continuaram a ser obrigadas a transmitir
servios noticiosos regulares, no havendo referncia quantidade. Nesta reviso, foram
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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acrescentados o artigo 12 - A e o artigo 12 - B. O primeiro diz respeito qualificao dos
profissionais e o segundo programao das rdios.
No nmero 1 do artigo 12 - A ficou disposto que os servios noticiosos deviam ser
assegurados por jornalistas titulares da respectiva carteira profissional (Lei n. 87/88, de
30 de Julho, com as alteraes resultantes da Lei n2/97 de 18 de Janeiro). Ainda no mesmo
artigo feita referncia s rdios com mais de cinco jornalistas, que poderiam eleger o
conselho de redaco. A este conselho de redaco estavam atribudas funes como dar
parecer sobre questes relacionadas com o departamento de informao da rdio, com o
estatuto editorial e estatuto e com o cdigo deontolgico.
No artigo 12 - B, em trs pontos, ficou regulamentada a programao. Tornou-se
obrigatrio que as rdios locais transmitissem pelo menos seis horas dirias de
programao prpria, entre as 7 e as 24 horas. Para que no existissem dvidas em relao
definio de programao prpria, esta vem descrita no n 2 do artigo, sendo entendida
como aquela que produzida pela prpria rdio sendo dirigida aos ouvintes abrangidos na
rea geogrfica. Durante o tempo de emisso de programao prpria, a rdio fica ainda
obrigada a emitir, de hora a hora, indicativos referentes ao nome da rdio, frequncia e
localidade de onde emite.
Para alm destas alteraes, deve ainda ser referida uma outra que diz respeito
substituio do Conselho de Comunicao Social e da Comisso Consultiva pela Alta
Autoridade para a Comunicao Social, que entretanto tinha sido constituda. No artigo 28
da Lei n. 87/88 fala-se da Comisso Consultiva e em cinco pontos encontra-se descrito o
processo de formao e funcionamento desta Comisso que devia avaliar as propostas de
atribuio de alvars. Na lei n 2/97, este mesmo artigo regulamenta a atribuio, renovao
e transmisso de alvars, funo que conferida Alta Autoridade para a Comunicao
Social. Quando comparados os artigos, facilmente se verifica que o mais recente tambm
mais simples. O primeiro tem cinco pontos e um deles subdivide-se em vrias alneas. O
segundo apenas necessita de trs pontos para estabelecer e legislar o licenciamento das
rdios. Esta uma situao compreensvel, uma vez que a primeira lei serviu sobretudo
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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para legalizar as rdios e atribuir os alvars para o exerccio da actividade de radiodifuso.
Em 1996, na altura da reviso, o nmero de novas rdios que apareciam era muito inferior
ao registado em 1987. A lei n 2/97 introduz ainda mais alterao de relevo, que se prende
com o valor das coimas a aplicar pelo no cumprimento do disposto em determinados
artigos. Para alm de mais especificados os incumprimentos, tambm os valores surgem
diferentes e superiores aos anteriormente praticados.
Quatro anos aps esta reviso Lei da Rdio, o documento foi novamente alterado,
ainda com Antnio Guterres no Governo e Jorge Sampaio como Presidente da Repblica. A
primeira grande diferena est logo no artigo 5 e refere-se a servios de programas
universitrios. Neste artigo prev-se que as frequncias disponveis para a radiodifuso
podero ser utilizadas por populaes universitrias. Aps um concurso de atribuio de
frequncias, as candidaturas seriam avaliadas tendo em considerao factores como a
diversidade e criatividade e a capacidade de contribuir para o debate de ideias e
conhecimentos fomentando a aproximao entre a populao universitria e local. Ainda
neste artigo, estava prevista a proibio de qualquer publicidade e a obrigao de transmitir
programao prpria. Apesar desta alterao, em Portugal existe apenas uma rdio
universitria portuguesa com emisso hertziana, a RUA, da Universidade do Algarve.
O artigo 7 desta lei faz referncia concorrncia e concentrao, que at aqui ainda
no tinha sido referida na lei. No n 1 deste artigo pode ler-se que os operadores
radiofnicos devero promover e defender a concorrncia. As operaes de concentrao
poderiam ser canceladas no caso de colocarem em causa a livre expresso e o confronto de
correntes de opinio, tal como est disposto no n 2 deste artigo.
O artigo 8 faz referncia transparncia de propriedade, onde obriga a uma
natureza nominativa das aces que constituem o capital social de rdios sob a forma de
sociedade annima.
Esta ltima alterao Lei, aprovada em Fevereiro de 2001, acrescentou ainda mais
alguns artigos importantes. O 10 faz referncia ao servio pblico a assegurar pelo Estado.
O artigo 11 fala em incentivos, no discriminatrios, do Estado com vista a apoiar a
radiodifuso local. O artigo 12 atribui ao Instituto da Comunicao Social a tarefa de
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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organizar um registo dos operadores radiofnicos e dos respectivos ttulos de habilitao
para a profisso. F artigo 13 aborda as questes tcnicas e no seu n 2 fixa que possvel
solicitar a utilizao de estaes retransmissoras no caso de ser necessrio melhorar a
qualidade tcnica do servio.
O segundo captulo desta lei refere-se ao acesso actividade. A Seco I apresenta
na generalidade as mesmas informaes que as leis anteriores. A Seco II do segundo
captulo fala em apenas um artigo da radiodifuso digital terrestre e a Seco III refere-se
radiodifuso analgica.
A programao encontra-se disposta no terceiro captulo. O artigo 38 reservado
ao estatuto editorial, que na lei anterior se encontrava englobado no artigo referente
liberdade de expresso e informao. As regras em relao ao estatuto editorial esto
melhor definidas. dito que o estatuto editorial deve ser elaborado pelo responsvel da
orientao e superviso do contedo de programas e deve ser entregue Alta Autoridade da
Comunicao Social, no prazo de 60 dias a contar do incio das emisses ou da entrada em
vigor da lei.
No que diz respeito aos servios noticiosos, dispostos no artigo 39, no se
verificam quaisquer alteraes significativas. O artigo 40 fala da qualificao profissional
e obriga a que os servios noticiosos e as funes de redaco sejam assegurados por
jornalistas ou por equiparados a jornalistas nas rdios locais. At ao final deste captulo
ainda so abordadas a programao prpria, o nmero de horas de emisso, o registo das
emisses e a publicidade. No artigo 41 (programao) pode verificar-se que o nmero de
horas de programao prpria para as rdios de cobertura local aumenta de 6 para 8 horas.
Os indicativos do nome da rdio e de outras informaes com ela relacionada continuam a
ter obrigatoriedade de ser transmitidos em intervalos no superiores a uma hora. O artigo
42 estabelece que as rdios que emitem por via hertziana terrestre devem funcionar 24
horas por dia.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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O registo das emisses para efeitos de direitos de autor encontra-se disposto no
artigo 43. Em comparao com a lei anterior, as diferenas neste artigo, no so muitas. O
artigo de 1997 estipula um prazo mnimo de 30 dias para a conservao das gravaes.
Noutro ponto atribudo aos servios de programas a responsabilidade de organizar um
registo mensal das obras, acrescentando tambm os dados a utilizar.
Por fim, o artigo 44 (publicidade) refere logo no primeiro ponto que a publicidade
se deve reger pelo disposto no Cdigo da Publicidade. Tambm nesta lei se refere que a
publicidade deve ocupar um espao nuca superior a 20% da programao total da rdio.
Continua a impossibilidade de os servios noticiosos serem patrocinados e os programas
que podem ter patrocnio devem estar bem assinalados com uma meno de que um
programa patrocinado.
Do artigo 45 at ao final (79), a lei aborda ainda pontos como o servio pblico,
direito de antena, direito de resposta e rectificao e sanes que podem ser aplicadas aos
meios de radiodifuso.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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3. Problema de investigao Passado o tempo da ilegalidade, as rdios piratas passaram a denominar-se rdios
locais e regionais, consoante o tipo de frequncia atribuda e a sua cobertura.
A necessidade de cumprir os compromissos decorrentes da atribuio do alvar
levou muitas rdios ao encerramento. Sem grandes surpresas, a maior parte dessas rdios
encontrava-se no interior do pas. Se em 1989 foram entregues 400 alvars, em 1992 j s
existiam 243 rdios em Portugal (Merayo Prez, 1994, 5). Em trs anos desapareceram
cerca de 150 rdios em todo o pas.
Aps a legalizao, as rdios locais comearam a sentir dificuldades e por isso
associaram-se a outras rdios de maior dimenso. Esta foi a soluo que muitas emissoras
encontraram para preencher o espao de programao exigido por lei que acontecia devido
falta de recursos humanos e financeiros.
No quadro 1 (Santos, 2005, 141) possvel ver alguns dos grupos resultantes da
referida associao de rdios.
Quadro 1 Grupos media em Portugal em 2003 Grupo Estaes
Grupo RDP Antena 1, Antena 2, Antena 3, RDP Internacional, RDP regional
Grupo Rdio Renascena Rdio Renascena, RFM, Mega FM, Voz de Lisboa (e outras estaes regionais)
Grupo Media Capital Rdio Comercial, Rdio Clube Portugus, Cidade FM, Best Rock, Rdio Nacional, Romntica FM, 96.2 Lisboa Grupo PT TSF Rdio Jornal, Rdio Jornal Fundo
Grupo Nova Antena RNA, Rdio Horizonte Planos (vora) Grupo Maior-Hiper (Rio Maior) Rdio Maior, Hiper FM Grupo Pernes-2000 (Santarm) Rdio Pernes, 2000
Grupo RCA (Alentejo) RCA, UniRdio Grupo RCA (Ribatejo) RCA, Bonfim, 100 (todas em Santarm)
Grupo Total FM Total FM, Sagres FM (ambas em Faro) Grupo Luso Canal (Lisboa) Marginal, Oxignio, Radar, Nova (Porto), Festival (Porto)
Grupo Rdio F Noar Rdio F (Guarda), No Ar (Viseu) Grupo Rdio Capital Rdio Capital (em vrias cidades do pas)
Grupo Norte Rdio Televiso Estaes em Bragana e Vila Real Grupo RBA Estaes em Bragana e Vila Real
Grupo So Mamede Estaes em Portalegre, vora e Castelo Branco
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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Grupo 94 FM Estaes em Leiria, Lisboa e Santarm Grupo Rdio Regional Centro Estaes em Coimbra e Aveiro
Grupo Ateneu-ris Lisboa e Santarm Grupo Nova Era Rdio Nova Era (V. N. Gaia)
Esta situao, entretanto legislada, levou a uma descaracterizao das rdios locais,
uma vez que passaram a emitir programao que pouco tinha a ver com a rea abrangida
pela estao.
No que concerne formao de profissionais, a legalizao nada alterou. O acesso
profisso de jornalista continua a no exigir formao superior na rea. Se at aqui a rdio
era vista pelos seus profissionais como sendo um hobby, com a legalizao essa viso
alterou-se e os radialistas passaram a fazer desta profisso, o seu modo de vida. Como
consequncia, os funcionrios passaram a ser remunerados. Nem todas as rdios
conseguiam pagar a todas as pessoas envolvidas, levando a que muitos jornalistas
procurassem outras emissoras para trabalhar, ou at outras profisses. Foi tambm
inevitvel reduzir o nmero de pessoas a trabalhar na estao, para poder reduzir as
despesas.
Com toda esta situao, o nmero de funcionrios diminuiu ou aumentou?
Continuam a existir pessoas a trabalhar como colaboradores no remunerados?
Actualmente as rdios apostam em funcionrios com formao acadmica ou continuam a
empregar jornalistas sem essa formao? Em que propores?
Estas foram algumas das perguntas para as quais este trabalho procurou respostas.
Nesta altura no falamos ainda da Internet e das possibilidades que faculta, mas sim
do computador e de outras tecnologias entretanto desenvolvidas. O computador permite
redigir os textos, guard-los em arquivo e fazer o alinhamento de noticirios. No incio,
tanto em Portugal como em Espanha, grande parte dos jornalistas apenas usavam o
computador para redigir e imprimir os textos. Merayo Prez confirma essa mesma situao
num texto publicado em 1994, dizendo que o emprego que se faz do computador nos
stios onde esto instalados muito limitado, por falta de capacidades dos seus
utilizadores, os quais se conformam aos poucos com o simples domnio de tratamento de
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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texto. Raros eram os profissionais que faziam maior uso desta que se veio transformar
uma ferramenta de trabalho para qualquer profisso.
A Internet chegou s redaces na segunda metade da dcada de 90 e comeou por
ser utilizada como fonte de informao. Uns anos depois e aps ter sido consolidada a sua
utilizao, as rdios viram na Internet uma forma de chegar mais longe e a mais ouvintes
com novos formatos. Mas ser que as rdios aderiram a estas novas ferramentas?
A publicidade foi outro campo que sofreu alteraes. Antes da legalizao, a
maioria dos funcionrios da rdio trabalhava em regime de voluntariado. A legalizao
trouxe a necessidade de contratar os funcionrios, uma situao que aumentou a estrutura
de custos e obrigou as rdios a procurarem fontes de financiamento. A competio pela
publicidade cresceu e os preos diminuram, uma situao que se arrasta at aos dias de
hoje.
O aparecimento de novos canais de televiso privados tambm teve repercusses
nas audincias e, consequentemente, nas receitas publicitrias da rdio. Em determinados
horrios diminuiu o nmero mdio de ouvintes o que levou a uma transferncia dos
anunciantes da rdio para a televiso. Apesar desta situao, muitos ouvintes continuam
sintonizados nas rdios locais, participando nas emisses e contactando a rdio. Mas se
inicialmente esse contacto se fazia por carta e telefone, actualmente as novas tecnologias
permitem outras formas de contacto: quais so, afinal, os novos canais de comunicao
entre as rdios locais e os seus ouvintes?
A dificuldade em conquistar novos ouvintes para rdios generalistas (no s pelo
aparecimento da televiso, mas tambm pela rotina em que a rdio caiu), conduziu a que as
rdios procurassem novas reas de interesse para o seu pblico. Grande parte das rdios (se
no mesmo a maioria) optou por dar mais espao msica dirigida a uma faixa etria mais
jovem. Outras, como a TSF, optaram pela aposta na informao, mas alguns horrios
estavam irremediavelmente perdidos para a televiso. Perante esta situao e a necessidade
de inovar, como responderam as rdios?
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
29
As tendncias de futuro esto sobretudo ligadas Internet e a todas as ferramentas
por ela disponibilizadas, uma vez que poder constituir uma maneira de reinventar o modo
de fazer rdio. Pesquisadores da rea de vrias partes do mundo apontam para a
necessidade de uma reinveno do rdio para que se adaptar nova tecnologia. (Del
Bianco, 2003, 2)
Em 1996, falava-se muito superficialmente na possibilidade de vir a existir a
disponibilizao Online de contedos radiofnicos. De facto a Internet veio alterar o modo
de fazer rdio e passou a oferecer servios que unem ao som, elementos escritos e visuais
e junta-se a outros media para estar presente e responder s solicitaes do consumidor
multimdia. (Cordeiro, 2004). Mas de que forma esto as rdios a explorar as
potencialidades da Internet?
Como verificmos, os primeiros dez anos aps a legalizao das rdios piratas
ficaram marcados por constantes alteraes legislativas que revolucionaram a rdio e o
modo como esta era vista. Se numa dcada a rdio mudou muito, quais sero as principais
alteraes no modo de funcionamento, quase 20 anos depois da legalizao?
Para responder a estas questes e avaliar a evoluo registada nos ltimos 19 anos
foi pensada uma metodologia que desse a conhecer o modo como a rdio funcionava antes
da legalizao e a forma como hoje as rdios se encontram. Para tal no bastava apenas
utilizar o mtodo dos questionrios e foi necessrio realizar entrevistas a pessoas que
tenham participado nos primeiros anos da rdio local em Portugal. Desta forma
conseguimos obter as repostas procuradas e fazer uma melhor distino entre a situao
vivida h dois sculos e aquela com que hoje nos deparamos.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
30
4. Metodologia Para proceder a este estudo constatou-se a necessidade de recorrer a entrevistas
realizadas a pessoas que participaram e fizeram parte do movimento das rdios piratas,
mais tarde chamadas rdios locais. A bibliografia sobre o tema reduzida e muitas
informaes disponveis so contraditrias porque no perodo inicial as rdios trabalhavam
na clandestinidade. Por isso, para se fazer um retrato do perodo anterior legalizao e
imediatamente posterior a este processo, optmos por entrevistar duas personalidades
marcantes deste movimento: Antnio Colao, um dos fundadores da Rdio Antena Livre de
Abrantes, e Jos Faustino, um dos fundadores da Rdio Diana de vora e presidente da
Associao Portuguesa de Radiodifuso. Pela sua influncia e pela participao no
movimento do nascimento das rdios, procurmos obter atravs deles as informaes que
preenchessem as lacunas e as dvidas existentes.
Foi elaborada uma entrevista semi-estruturada (anexo 1) composta por 19 perguntas
que abordavam diferentes temas. Para alm do contexto do nascimento das rdios,
interessava saber o seu modo de funcionamento nos primeiros tempos de vida. Foram
tambm elaboradas algumas perguntas relacionadas com os meios tcnicos e humanos
existentes nas rdios. Outras perguntas estavam relacionadas com as eventuais presses,
nomeadamente polticas ou econmicas, que poderiam ser sentidas dadas as fragilidades
econmicas iniciais que as rdios apresentavam. A entrevista terminou com perguntas
relacionadas relativas ao perodo posterior legalizao.
Feito o retrato da situao anterior, faltava traar o quadro actual. Com essa
finalidade foi preparado um inqurito que posteriormente foi enviado a cerca de metade das
rdios locais actualmente existentes em Portugal. O objectivo da realizao deste inqurito
foi procurar saber junto dos prprios meios de comunicao o estado actual das rdios
locais portuguesas, nomeadamente ao nvel das condies financeiras e tcnicas. O
questionrio, revelou ser a melhor opo para conhecer o conjunto de dados que se
procuravam, uma vez que uma tcnica de obteno de dados sobre aspectos objectivos
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
31
(feitos) e subjectivos (opinies, atitudes), baseada na informao (oral ou escrita)
proporcionada pelo prprio sujeito. (Igartua e Humanes, 2004)
Para a construo do inqurito foram utilizados dados recolhidos nas entrevistas,
mas tambm informaes compiladas nos estgios realizados numa rdio local e numa
rdio nacional.
Os seis grupos de perguntas (anexo 4) abordavam os seguintes temas:
- Propriedade e Direco: As rdios surgiram atravs de um movimento espontneo
de cidados comuns. Durante alguns anos foram esses cidados que suportaram as rdios.
Na altura os custos ainda eram reduzidos, uma vez que as pessoas envolvidas eram, na sua
grande maioria, voluntrias. Com a legalizao tudo mudou. Nesta questo procurmos
saber em que moldes se organizaram as rdios e o que mudou desde a legalizao,
traando-se desta forma um perfil de cada rdio.
- Recursos Humanos: Neste grupo, as questes colocadas foram apenas quatro e
pretendiam saber o nmero de funcionrios remunerados e no remunerados, bem como o
nmero de jornalistas com formao acadmica e sem formao acadmica existentes nas
rdios. Desta forma pretendia-se verificar se os colaboradores dos primeiros anos foram
substitudos por profissionais ou se o voluntariado continua a ser uma marca das rdios
locais.
- Condies Tcnicas: Nos anos 90 surgiram novos equipamentos que mudaram
muito o modo de funcionamento das rdios nacionais. Com este grupo de questes
pretendia-se saber at que ponto as rdios locais tm tambm acompanhado a evoluo
tecnolgica. Desde as instalaes onde se encontram, ao nmero de estdios, da tecnologia
e nmero de gravadores ao nmero de viaturas prprias, tudo foi questionado. Neste grupo,
a Internet mereceu especial destaque.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
32
- Audincia: sabido que a televiso e a forte concorrncia das rdios nacionais tem
vindo a roubar audincias s rdios locais. O factor proximidade, a grande arma das rdios
locais, hoje explorado pelas televises, que abriram delegaes em todos os distritos do
pas. A melhoria das estradas reduziu o tempo de viagem, as novas tecnologias permitem
enviar contedos a partir de qualquer ponto com uma ligao de rede e o aparecimento de
canais temticos criou o espao de antena necessrio para colocar no ar informao
regional. Tudo isto provocou alteraes nas audincias e por isso este grupo de questes
procurava saber de que forma reagem as rdios locais a esta nova concorrncia.
- Publicidade: A publicidade surgiu neste meio um pouco ao acaso, uma vez que
comeou a ser utilizada como retribuio de favores a empresas ou pessoas que ajudavam a
rdio. Um exemplo disso o caso da Metalrgica Duarte Ferreira de que fala Antnio
Colao na entrevista. Com o passar dos anos, a publicidade comeou a ser vista como uma
fonte de financiamento das rdios, que passaram a cobrar os anncios emitidos, e
actualmente ganhou tamanha importncia que funciona como um sector autnomo dentro
das rdios.
- Programao: A rdio do incio dos anos 80 era muito diferente daquela que hoje
podemos escutar. Programas como as radionovelas e os discos pedidos nasceram com a
rdio e fizeram parte dela durante muitos anos. Tambm nessa altura, as horas de emisso,
em muitos casos, no ultrapassavam as seis horas, sendo que por vezes nem todas elas eram
emitidas em directo. As novas tecnologias permitiram melhorar a produo e a emisso,
mas ser que isso se repercute nas programaes. Com esta pergunta procurava-se saber se
existem grelhas tipo nas rdios locais ou se estas se limitam a copiar os modelos nacionais.
O inqurito foi enviado por e-mail a 140 rdios portuguesas, cerca de metade das
rdios actualmente existentes em Portugal. O nmero de rdios para as quais foi enviado o
inqurito foi escolhido numa relao proporcional s rdios existentes em cada distrito e a
seleco foi aleatria.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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5. Resultados e discusso
Responderam ao inqurito 31 rdios de 11 distritos. Destas, 29 nasceram nos anos
80 e apenas duas se formaram em 1990. Dessas 29, duas apareceram na primeira metade
dos anos 80.
Para alm da anlise nacional dos dados obtidos foi ainda feita uma anlise por
regio, dividindo-se o pas em Norte (distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Bragana,
Vila Real, Aveiro e Viseu), Centro (Guarda, Castelo Branco, Coimbra, Leiria, Santarm e
Lisboa) e Sul (Portalegre, vora, Setbal, Beja e Faro).
5.1 Propriedade e Direco:
Quase metade dos detentores de alvars de rdios locais portuguesas (quadro 2) so
Cooperativas (48,4%), com as empresas (41,9%) a surgirem em segundo lugar.
Quadro 2 Entidade proprietria Norte Centro Sul Portugal
Empresa 33.3% 40% 55.6% 41.9% Cooperativa 58.3% 50% 33.3% 48.4%
Outro 8.3% 10% 11.1% 9.7%
Apesar das percentagens nacionais apresentarem resultados semelhantes, a anlise
por regies permite observar que as Cooperativas so maioritrias no Norte (58,3%) e no
Centro (50%), enquanto no Sul ocorre o contrrio, com as rdios pertencentes a Empresas a
surgirem em maioria (55,6%).
Na segunda questo, as rdios responderam em relao a ligaes a grupos media.
Esta uma tendncia que parece acentuar-se cada vez mais nos restantes meios de
comunicao, contudo, as rdios locais parecem ainda alhear-se dessa situao. Pelo que se
pode observar (quadro 3), a grande maioria (83.8%) das rdios no esto ligadas a nenhum
grupo media. Em contrapartida, 16.1%, afirmaram estar ligadas a jornais e Webtv.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
34
Quadro 3 Ligaes a grupos media Norte Centro Sul Portugal
Sim 25% 20% 0 16.1% No 75% 80% 100% 83.9%
No responde 0 0 0% 0
Verificando a situao por regies pode observar-se que no Norte que as ligaes
mais existem, registando 25%. No Sul nenhuma rdio afirmou estar ligada a grupos media.
No Norte todas as rdios que responderam afirmativamente encontram-se associadas tanto
a um jornal como a uma Webtv.
Para melhor se perceber o tipo de organizao das rdios, foi perguntado o nmero
de pessoas que fazem parte da direco. A nvel nacional, as rdios que tm entre quatro e
sete directores esto em maior nmero (51.6%). As rdios com um, dois ou trs directores
somam 45.2% do total.
Quadro 4 Pessoas na direco das rdios Norte Centro Sul Portugal
1 a 3 41.7% 40% 55.6% 45.2% 4 a 7 50% 60% 44.4% 51.6%
8 ou mais 8.3% 0 0 3.2% No responde 0 0 0 0
Por regies, no Norte metade das rdios (50%) afirmou ter entre quatro a sete
directores. No Centro, a maioria das respostas (60%) pertence ao mesmo grupo, mas no Sul
as rdios tm menos directores, entre um e trs (55.6%).
5.2 Recursos Humanos: No quadro relativo ao nmero de funcionrios remunerados a nvel nacional (quadro
5), pode facilmente compreender-se que a maioria das rdios trabalha com um reduzido
nmero de funcionrios, sejam eles jornalistas, comerciais, ou tcnicos. Como se pode ver
no quadro 5, as diferenas no so muito significativas entre as categorias de funcionrios.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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Quadro 5 - Funcionrios remunerados: dados nacionais
Jornalistas Comerciais Tcnicos Directores 1 a 3 70.9% 74.2% 77.4% 51.6% 4 a 7 22.6% 9.1% 3.2% 3.2%
8 ou mais 3.2% 3.2% 0 0 No responde 3.2% 12.9% 19.4% 45.2%
Quadro 6 Funcionrios remunerados na regio Norte Jornalistas Comerciais Tcnicos Directores
1 a 3 58.3% 75% 83.3% 58.3% 4 a 7 33.3% 16.7% 8.3% 0
8 ou mais 0 0 0 0 No responde 8.3% 8.3% 8.3% 41.7%
Quadro 7 Funcionrios remunerados na regio Centro
Quadro 8 Funcionrios remunerados na regio Sul
A maioria das estaes (70.9%) consegue funcionar com trs jornalistas, trs
comerciais (74.2%), o mesmo nmero de tcnicos (77.4%) e de directores (51.6%). Apenas
22.6% das rdios consegue pagar a quatro ou mais jornalistas. Outra situao de realce o
facto de o nmero de directores remunerados ser menor, quando comparado com outras
categorias, o que indica que as direces de rdios continuam a funcionar em voluntariado.
Jornalistas Comerciais Tcnicos Directores 1 a 3 70% 90% 70% 50% 4 a 7 20% 0 0 10%
8 ou mais 10% 10% 0 0 No responde 0 0 30% 40%
Jornalistas Comerciais Tcnicos Directores 1 a 3 88.9% 55.6% 66.7% 55.6% 4 a 7 11.1% 11.1% 0 0
8 ou mais 0 0 0 0 No responde 0 33.3% 33.3% 40%
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
36
Regionalmente verifica-se que tambm no Norte (quadro 6) onde existem em
maior nmero, funcionrios remunerados. Apesar da maioria das rdios (58.3%) afirmar
remunerar entre um e trs jornalistas, encontra-se uma grande percentagem (33.3%) a pagar
entre quatro e sete jornalistas. Tambm nos comerciais (75%) e tcnicos (83.3%), a maioria
das rdios afirma pagar apenas entre um e trs funcionrios.
No Centro (quadro 7), 70% das rdios afirmou ter entre um e trs jornalistas
remunerados e 10% das rdios afirmaram pagar a mais de oito jornalistas. No que diz
respeito aos comerciais, 90% das estaes declarou remunerar entre uma e trs pessoas que
exercem estas funes. Nos directores metade (50%) remunera entre um e trs directores.
Quanto a tcnicos, as rdios apenas pagam a um, dois ou trs funcionrios.
No Sul (quadro 8), tcnicos (66.7%) e directores (55.6%) so remunerados, no
mximo, trs por rdio. 88.9% das rdios afirmaram remunerar at trs jornalistas, e 55.6%
disseram pagar ao mesmo nmero de comerciais.
A pergunta seguinte, relativa ao nmero de funcionrios no remunerados, foi a
questo a que as rdios menos responderam. De acordo com as poucas respostas obtidas,
verifica-se que em Portugal o nmero de jornalistas, comerciais, tcnicos e directores no
remunerados inferior aos remunerados. A razo para a no resposta a esta questo
desconhecida apesar de ser possvel que tal tenha acontecido pelo facto dos colaboradores
no serem considerados funcionrios das rdios. Apesar das colaboraes no remuneradas
registarem um decrscimo em relao aos primeiros anos, as rdios locais ainda tm muitos
voluntrios, contudo pela fraca resposta a esta questo no possvel estabelecer uma
comparao entre o nmero de funcionrios remunerados e no remunerados e verificar
esta mesma situao.
Colocaram-se ainda questes relacionadas com o nmero de jornalistas com
formao acadmica (quadro 9) e sem formao acadmica existentes nas rdios.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
37
Quadro 9 Jornalistas com formao acadmica
Os nmeros indicam que em Portugal a maioria das rdios (51.6%) emprega, no
mximo, trs jornalistas com formao acadmica, mas 32.3% das rdios no tm qualquer
jornalista com este grau de ensino
No quadro 9 verifica-se que no Centro (60%) e no Sul (66.7%), a maioria das rdios
emprega entre um e trs jornalistas com formao acadmica. No Norte, parte significativa
das rdios (41.7%) afirmaram estar a trabalhar com um, dois ou trs jornalistas licenciados.
Com ou sem formao acadmica, o facto que os jornalistas titulares de carteira
profissional so hoje presena obrigatria nas rdios, tal como obriga o artigo 12 - A da
Lei n. 87/88, de 30 de Julho, com as alteraes resultantes da Lei n2/97 de 18 de Janeiro.
De facto, em Portugal as exigncias para o acesso profisso de jornalista so reduzidas,
podendo qualquer pessoa com o 12 ano aceder carteira profissional. Jornalistas so
aqueles cuja ocupao principal, permanente e remunerada, exercem com capacidade
editorial funes de pesquisa, recolha, seleco e tratamento de factos, notcias ou opinies,
atravs de texto, imagem ou som, destinados a divulgao, com fins informativos, pela
imprensa, por agncia noticiosa, pela rdio, pela televiso ou por qualquer outro meio
electrnico de difuso. (artigo 1 da Lei n 1/99 de 13 de Janeiro) No n 3 do mesmo artigo
tambm se consideram jornalistas os cidados que exeram a funo em regime de
ocupao principal, permanente e remunerada h 10 anos seguidos ou h 15 anos com
intermitncias, desde que sejam portadores da carteira profissional. Entende-se desta forma
que a profisso de jornalista uma profisso regulada pelo tempo de exerccio e pela posse
de carteira profissional. Este ttulo uma condio para o exerccio do jornalismo e pode
ser conseguido por qualquer cidado com mais de 18 anos que tenha realizado um estgio
Norte Centro Sul Portugal 0 33.3% 30% 22.2% 32.3%
1 a 3 41.7% 60% 66.7% 51.6% 4 a 7 25% 10% 11.1% 16.1%
8 ou mais 0 0 0 0 No responde 0 0 0 0
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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de 12 meses (no caso da pessoa ser licenciada na rea de comunicao ou curso
equivalente) ou de 18 meses (nos restante casos). Pelo disposto, entende-se que o exerccio
desta profisso, ao contrrio de outras, no necessita de formao acadmica, tornando
mais difcil o acesso profisso por parte dos licenciados em comunicao.
Os dados apresentados na tabela seguinte (quadro 10) permitem concluir que quase
metade das rdios (41.9%) tem ao seu servio jornalistas com e sem formao acadmica.
Apesar disso, 29% das emissoras respondeu que apenas emprega jornalistas com formao
acadmica, no muito longe dos 25.8% de rdios que apenas tm jornalistas sem estudos na
rea.
Quadro 10 Caracterizao dos jornalistas das rdios Norte Centro Sul Portugal
S com formao acadmica 16.7% 20% 55.6% 29%
S sem formao acadmica 25% 30% 22.2% 25.8%
Com ambos 50% 50% 22.2% 41.9% No responde 8.3% 0 0 3.2%
No Norte e no Centro, 50% das respostas apontaram para a existncia de jornalistas
com e sem formao. No Norte os jornalistas com formao apenas representam 16.7%,
enquanto no Centro no vo muito alm, com apenas 20%. No Sul a situao
completamente diferente: a maioria das rdios (55.6%) declarou apenas empregar
jornalistas com formao acadmica, enquanto 22% disseram ter a trabalhar apenas
jornalistas sem estudos na rea. a nica regio do pas onde isso acontece e no coincide
com o panorama nacional.
Esta constatao poderia estar ligada ao facto de existirem nas regies cursos na
rea de jornalismo, porm no isso que acontece. Verificando a oferta de cursos de ensino
superior ligados comunicao e ao jornalismo, constata-se que no Centro onde esses
cursos mais se concentram. Existem 10 cursos ligados rea no Centro do pas, enquanto
no Sul so cinco e no Norte apenas quatro, razo pela qual as ligaes entre a oferta de
cursos e a contratao de jornalistas com formao acadmica no so evidentes. O facto de
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
39
existirem estes cursos nestas regies poderia levar a que, estando mais perto das
universidades e politcnicos, as rdios locais aproveitassem os recursos humanos que estas
disponibilizam. Contudo, a mobilidade que actualmente existe, leva a que os estudantes
estejam em constante movimento e as dificuldades que hoje existem em encontrar emprego
na rea, levam a que os licenciados percorram o pas procura de um primeiro trabalho.
5.3 Condies Tcnicas:
No grupo de perguntas dirigidas s condies tcnicas, a primeira questo procurava
informaes sobre as instalaes das rdios. Como se pode ver pelo quadro 11, a maioria
das rdios locais, possui instalaes arrendadas ou cedidas. Contudo, a resposta que obteve
maior percentagem (38,7%) foi a de que as rdios possuem instalaes prprias. As rdios
com instalaes arrendadas representam 29%, a mesma percentagem que as emissoras em
instalaes cedidas.
Quadro 11 - Instalaes
Norte Centro Sul Portugal Prprias 25% 40% 55.6% 38.7%
Arrendadas 25% 40% 22.2% 29% Cedidas 41.7% 20% 22.2% 29%
No responde 8.3% 0% 0% 3.2%
Por regies, observa-se que o Sul reflecte a situao do pas: a maioria das rdios
encontra-se em instalaes prprias (55.6%), e o resto divide-se em igual nmero por
instalaes arrendadas e cedidas. No Norte, grande parte das rdios (41.7%) funciona em
instalaes cedidas. As restantes repartem-se por instalaes prprias e arrendadas. No
Centro, a maioria encontra-se em igual nmero em instalaes prprias e arrendadas (40%
cada). Apenas 20% responderam encontrar-se em instalaes cedidas.
A maioria das rdios que ocupa instalaes cedidas obteve essas mesmas instalaes
atravs da autarquia, como afirmaram 66.7% das rdios. Por outro lado, em 33.3% dos
casos, as instalaes foram cedidas s rdios por particulares.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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Quadro 12 Proprietrio no caso de
cedncia de instalaes Norte Centro Sul Portugal
Autarquia 80% 50% 50% 66.7% Particular 20% 50% 50% 33.3%
No responde 0% 0% 0% 0%
Tambm no Norte do pas, a grande maioria das rdios receberam as instalaes das
autarquias, pelo menos o que indicam 80% das respostas. Tanto no Centro como no Sul,
as rdios que responderam encontrar-se me instalaes cedidas dividem-se, tendo 50%
recebido as instalaes da autarquia e os outros 50% de particulares.
Se o nmero significativo de instalaes cedidas por particulares demonstra
interesse da comunidade pelas rdios em questo, j o peso das autarquias levanta outro
tipo de questes. No artigo 6, a Lei da Rdio em vigor probe as autarquias de financiarem
directa ou indirectamente as rdios. Embora a proibio de financiamento directo seja clara,
as autarquias apoiam de outras formas: a publicidade relacionada com as autarquias que
muitas vezes se ouve na rdio, por exemplo, uma forma subtil das autarquias ajudarem
economicamente as emissoras locais.
Ainda no mbito das condies tcnicas, procurmos saber o que mudou desde o
tempo em que o estdio era uma arrecadao, como nos primeiros anos da Rdio Covilh,
ou num sto, como no caso da Rdio Cova da Beira. Apesar de grande parte das rdios
questionadas funcionar com apenas um estdio (32.3%), a maioria j dispe de dois ou trs
estdios (54.8%). A existncia de quatro estdios ainda uma situao rara, apenas vivida
por 12.9% das rdios locais portuguesas. Mais de cinco estdios, uma situao,
provavelmente, apenas vivida pelas rdios nacionais.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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Quadro 13 Estdios
Norte Centro Sul Portugal 1 25% 10% 66.7% 32.3% 2 33.3% 30% 11.1% 25.8% 3 25% 50% 11.1% 29% 4 16.7% 10% 11.1% 12.9%
5 ou mais 0 0 0 0 No responde 0 0 0 0
semelhana do que acontece a nvel nacional, a maioria das rdios do Sul (66.7%)
apenas dispe de um estdio. No Centro, 50% das rdios afirmou ter disposio trs
estdios e 30% disse ter dois estdios. Com quatro estdios encontram-se 10% das rdios
do Centro do pas. No Norte, as rdios com mais de um estdio totalizam 75%. Dessas,
33.3% declararam ter dois estdios, 25% disseram ter trs estdios e quase 16.7%
afirmaram ter quatro estdios.
No que concerne ao material de trabalho (quadro 14) utilizado pelos jornalistas,
muita coisa mudou desde o tempo dos gravadores de cassetes, ainda que nalguns casos com
alguma resistncia. A maioria das rdios utiliza Mini-disc e Gravadores MP3 na recolha de
som.
Quadro 14 Equipamentos para recolha de som Norte Centro Sul Portugal
Apenas Mini-disc 0 30% 22.2% 16.1% Apenas Gravador
MP3 33.3% 30% 11.1% 25.8%
Ambos 66.7% 40% 66.7% 58.1%
Os gravadores Mini-disc substituram os gravadores de cassetes, mas est j a ser
gradualmente substitudo pelos Gravadores MP3. A maioria das rdios (58.1%), apesar de
aderir aos Gravadores MP3, no deixa os Mini-disc: as explicaes para este facto so as
dificuldades financeiras, a compatibilidade de equipamentos e a ideia de que a qualidade de
som dos Mini-disc continua a ser melhor do que a dos gravadores de MP3 com o mesmo
preo.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
42
No que se refere quantidade, as rdios que apenas possuem Mini-disc, tm em
mdia, quatro gravadores disponveis. As rdios que utilizam os Gravadores MP3 tm em
mdia, trs gravadores. Nas rdios que preferem utilizar ambos equipamentos verifica-se
que os Mini-disc se encontram em nmero superior, ou em nmero igual ao dos Gravadores
MP3. A situao contrria acontece apenas em duas rdios. Em geral, as rdios tm trs
Mini-disc e dois Gravadores MP3.
Na contextualizao histrica do fenmeno das rdios locais foi possvel verificar
que nos primeiros anos apenas algumas rdios tinham viaturas prprias. Passados quase 20
anos, essa parece ter passado a ser uma condio obrigatria para a maioria das rdios
portuguesas. Quase 67.7% das rdios locais de Portugal dispe de viatura prpria (quadro
15) e algumas rdios possuem mais do que uma viatura.
Quadro 15 Rdios com viatura prpria Norte Centro Sul Portugal
Sim 33.3% 90% 88.9% 67.7% No 66.7% 10% 11.1% 32.3%
No responde 0 0 0 0
Regionalmente, o Norte a zona do pas que mais dispensa o carro. Quase 66.7%
das rdios afirmaram no ter viatura prpria. No Centro (90%) e no Sul (88.9%) a situao
inverte-se. No que concerne ao nmero mdio de viaturas por regio, o Norte no chega s
duas viaturas por rdio e o Centro e o Sul situam-se perto das duas viaturas. Esta diferena
poder ser explicada pelo modo de trabalhar das rdios em questo e tambm pelas
distncias que necessitam ser percorridas para realizar os trabalhos. Em muitos locais o
jornalista desloca-se na sua viatura para cobrir um acontecimento, apresentado
posteriormente os gastos em combustvel que so pagos pela rdio. Outras preferem colocar
disposio dos funcionrios algumas viaturas para que estes se desloquem em servio,
controlando e assumindo desde logo as despesas. Alm destas diferenas no modo de
funcionamento e gesto dos equipamentos, h rdios que apenas fazem a cobertura
noticiosa da localidade onde se inserem e outras que fazem a cobertura dos concelhos
limtrofes.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
43
Com a massificao da Internet, sobretudo na dcada de 90, foram introduzidas
alteraes nos contedos e no modo de apresentao das rdios em geral. No final da
dcada passada, a Internet comeou a surgir associada s emisses e levou a que as rdios
apostassem fortemente na sua divulgao atravs deste meio de comunicao chegar s
novas geraes, a Internet pode levar as rdios para l da sua zona de cobertura hertziana,
um factor importante num pas de forte migrao interna e emigrao.
Atentos a esta realidade, 96.8% das rdios que responderam ao inqurito afirmou ter
stio na Internet ou emisso Online (quadro 16).
Quadro 16 Rdios com stio na Internet
ou emisso Online Norte Centro Sul Portugal
Sim 91.7% 100% 100% 96.8% No 8.3% 0 0 3.2%
No responde 0 0 0 0
Analisando as respostas por regies, verifica-se que a nica rdio que afirmou no
disponibilizar emisso Online ou stio na Internet se encontra no Norte do pas. Tanto no
Centro como no Sul, as respostas afirmativas atingiram os 100%.
A aposta na apresentao e nos contedos Online forte. Muitos dos stios exibem
uma imagem jovem, outros uma imagem mais sria, mas todos com uma grande aposta na
informao veiculada pela estao. Esta aposta na Internet tem sido apoiada pelo Gabinete
para os Meios de Comunicao Social (GMCS). De acordo com dados apresentados no
stio da instituio, de 2002 a 2004 foi atribudo a 29 rdios locais o incentivo criao de
contedos na Internet para estas rdios, resultando no montante de quase 479 mil euros. So
estmulos que no se resumem aposta em contedos de Internet, para que as rdios locais
adiram s novas tecnologias e continuem a evoluir.
Associada a essa questo, foi colocada uma outra de resposta livre, relacionada com
as vantagens encontradas na disponibilizao de emisso Online e no facto de ter um stio
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
44
na Internet. Todas as respostas obtidas referem o aumento de audincia, principalmente na
comunidade de emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. Outras referem a
possibilidade de angariao e venda de publicidade e tambm a possibilidade de interaco
com os ouvintes. De todas as questes colocadas s rdios, esta parece ser aquela onde se
regista um maior equilbrio.
Associado questo da Internet, foi ainda perguntado se a rdios disponibilizam
programas em Podcast. Apesar de 96,8% das rdios terem presena na Internet, apenas
16.1% oferecem programas em Podcast (quadro 17).
Quadro 17 Rdios que disponibilizam programas em Podcast Norte Centro Sul Portugal
Sim 8.3% 30% 11.1% 16.1% No 83.3% 70% 88.9% 80.6%
No responde 8.3% 0 0 3.2%
A nvel nacional o Podcast recolheu ainda muito poucos adeptos, e observando as
regies atravs do quadro, verifica-se que a grande parte desses adeptos se encontra na
regio Centro do pas, tendo 30% das rdios aderido a essa nova ferramenta. No Norte a
percentagem de rdios com Podcast na Internet no chega aos 9% e no Sul pouco passa dos
11%.
Apesar de apostarem na pgina de Internet, as rdios locais ainda no
disponibilizam muitos contedos programticos em Podcast. Esta possibilidade ainda
muito recente, pelo que as rdios podem ainda no estar aptas a faz-lo ou at desconhecer
as funcionalidades e possibilidades deste sistema. Habituadas a que as pessoas ouam a
emisso em directo atravs da telefonia, as rdios apresentam na pgina de Internet apenas
os contedos informativos e outras informaes que possam ser mais teis aos ouvintes.
Por outro lado, os ouvintes podem tambm ainda no estar familiarizados com o Podcast,
pelo que a sua utilizao no comum nas rdios que o disponibilizam e a sua falta em
determinadas rdios no sentida.
As Rdios Locais: O que mudou desde 1989?
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5.4 Audincia:
No que concerne a audincias, grande parte das rdios no respondeu ou declarou
no ter dados sobre o tema. Algumas rdios apontaram nmeros, mas todos eles muito
dspares. As rdios do litoral do pas apontam nmeros superiores, chegando at, no caso de
rdios dos grandes centros urbanos, a atingir os dois milhes de ouvintes. Nas restantes
rdios o nmero de ouvintes fixava-se entre os 1500 e os 30 mil.
Quanto ao perodo de maior audincia, 67.7% das rdios, declararam ser o perodo
da manh (quadro 18), o que est de acordo com os dados das rdios nacionais. As restantes
rdios (32.3%) no conseguem identificar diferenas significativas nos vrios perodos do
dia.
Quadro 18 Perodo de maior audincia
Norte Centro Sul Portugal Manh 75% 60% 44.4% 67.7% Tarde 0 0 0 0 Noite 0 0 0 0
Sem diferenas significativas 25% 20% 55.6% 32.3%
No responde 0 10% 0 0
As rdios tentam sempre responder s expectativas dos ouvintes, por isso atravs
das reaces destes ltimos que as rdios conseguem saber se esto a realizar um bom
trabalho. Questionadas acerca das reaces dos ouvintes em relao programao emitida,
a resposta foi unnime: a totalidade das rdios de Portugal recebe feedback dos ouvintes.
Foi ainda perguntado de que forma as rdios recebem as reaces dos ouvintes. A
resposta mais repetida foi a Internet: apenas 3.2% das respostas no indicavam a Internet
como um meio de recepo de feedback. O velho hbito de