15
A D IVERSIDADE DA G EOGRAFIA B RASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 3089 AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO NOROESTE MATO-GROSSENSE ANA LETICIA DE OLIVEIRA 1 RESUMO O Mato Grosso vivenciou diferentes momentos sociais e econômicos ao longo dos últimos séculos, porém sua efetiva ocupação passou ocorrer após a intervenção governamental realizada a partir de década de 1960. Apesar disso, esse território já vivenciou muitas transformações, contradições e conflitos, e esses podem ser ainda mais observados no Noroeste do estado, que já presenciou conflitos de terras e culturais entre povos indígenas e colonizadores, a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção da soja. Assim, compreende-se necessária uma reconstrução histórica e atual dos processos que ocorreram e ainda se desenvolvem sobre o objeto de estudo, levando ao entendimento da validade de uma metodologia com base em uma dialética histórica, sendo considerada uma das mais condizentes e completas a ser aplicada nas ciências sociais. Palavras-chave: Expansão agrícola; espaço rural; dinâmica espacial; Mato Grosso. ABSTRACT Mato Grosso experienced different social and economic moments over the last centuries, but its effective occupation occurred indeed after government intervention carried out from the 1960s Nevertheless, this territory has experienced many changes, contradictions and conflicts, and these can be further observed in the northwest of the state, which has seen land and cultural conflicts between indigenous peoples and settlers, the replacement of extractive activities of diamond, gold and timber, for cattle and more recently the inclusion of soy. Thus, it is needed a historical and current reconstruction of the processes that have occurred and still happen to the object of study, leading to the understanding of the validity of a methodology based on a historical dialectic, being considered one of the most consistent and complete to be applied in social sciences. Keywords: Agricultural expansion; rural space; spatial dynamics; Mato Grosso. 1 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista, Campus Rio Claro e professora do Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Cáceres. E-mail de contato: [email protected]

AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

  • Upload
    ngotruc

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3089

AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO NOROESTE MATO-GROSSENSE

ANA LETICIA DE OLIVEIRA1

RESUMO

O Mato Grosso vivenciou diferentes momentos sociais e econômicos ao longo dos últimos séculos, porém sua efetiva ocupação passou ocorrer após a intervenção governamental realizada a partir de década de 1960. Apesar disso, esse território já vivenciou muitas transformações, contradições e conflitos, e esses podem ser ainda mais observados no Noroeste do estado, que já presenciou conflitos de terras e culturais entre povos indígenas e colonizadores, a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção da soja. Assim, compreende-se necessária uma reconstrução histórica e atual dos processos que ocorreram e ainda se desenvolvem sobre o objeto de estudo, levando ao entendimento da validade de uma metodologia com base em uma dialética histórica, sendo considerada uma das mais condizentes e completas a ser aplicada nas ciências sociais.

Palavras-chave: Expansão agrícola; espaço rural; dinâmica espacial; Mato Grosso.

ABSTRACT Mato Grosso experienced different social and economic moments over the last centuries, but its effective occupation occurred indeed after government intervention carried out from the 1960s Nevertheless, this territory has experienced many changes, contradictions and conflicts, and these can be further observed in the northwest of the state, which has seen land and cultural conflicts between indigenous peoples and settlers, the replacement of extractive activities of diamond, gold and timber, for cattle and more recently the inclusion of soy. Thus, it is needed a historical and current reconstruction of the processes that have occurred and still happen to the object of study, leading to the understanding of the validity of a methodology based on a historical dialectic, being considered one of the most consistent and complete to be applied in social sciences. Keywords: Agricultural expansion; rural space; spatial dynamics; Mato Grosso.

1 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista,

Campus Rio Claro e professora do Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Cáceres. E-mail de contato: [email protected]

Page 2: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3090

1 - Introdução

Ao observar a história e evolução territorial brasileira se observa que essas

sempre estiveram ligadas ao desenvolvimento e expansão das atividades

econômicas, principalmente à agropecuária. Isto explica a opção do Brasil, em

muitos momentos de sua história, por políticas socialmente injustas como a

utilização de mão-de-obra escrava, a apropriação indevida de áreas produtivas e a

concentração da terra em prol do favorecimento ao crescimento de uma economia

com base na valorização das atividades ligadas ao agropastoril destinadas ao

mercado externo (SILVA, 1998).

As espacialidades socioeconômicas no Brasil sofrem modificações

decorrentes da estruturação sistêmica político-econômica, calcada no modo de

produção determinado pela comercialização e competitividade dos e nos mercados

(ABRAMOVAY, 1998), descrita como a fase da economia neoliberal do processo de

globalização do capitalismo mundial.

Em busca da incorporação de novas áreas econômicas a ocupação do

território brasileiro se deu em distintos modelos, conforme o momento histórico em

que estava inserido. Um dos mais significativos, principalmente quando se discute a

ocupação do Estado de Mato Grosso, se deu ao longo das décadas de 1960 a 1980,

quando o Governo Militar incentiva a incorporação de distantes áreas brasileiras ao

Território já consolidado e ativo. Para isso contou com os Governos Estaduais e

empresas estatais e privadas com o intuito de elaborar e efetivar suas ações de

ocupação.

No entanto, essa ocupação não se dá isolada, uma vez que é acompanhada

de perto pela expansão das atividades econômicas, em especial aquelas ligadas aos

setores agropecuários e extrativistas. Com isso, os novos núcleos populacionais

criados foram acompanhados por incentivos à abertura de áreas agricultáveis junto

às florestas nativas e sua efetiva exploração, principalmente com atividade de

extrativismo de madeira e minérios (diamante e ouro), pecuária extensiva e

atualmente a soja.

Page 3: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3091

A importância do entendimento das dinâmicas que ocorrem nesse espaço

torna-se ainda mais evidente quando destaca-se que o Mato Grosso é um dos

estados que mais crescem no Brasil hoje e que mais contribuem para sua economia

principalmente através da produção agropecuária. Com isso, as espacialidades

socioeconômicas no Brasil sofrem modificações decorrentes da estruturação

sistêmica político-econômica, calcada no modo de produção determinado pela

comercialização e competitividade dos e nos mercados (ABRAMOVAY, 1998),

descrita como a fase da economia neoliberal do processo de globalização do

capitalismo mundial.

Leituras prévias e reconhecimento da realidade do estado do Mato Grosso e,

em especial, da região Noroeste desse, fizeram surgir algumas indagações que

motivam ainda mais a pesquisa sobre o tema. Em busca de respostas aos

questionamentos e problemáticas previamente levantados, traçam-se aqui os

objetivos que nortearão o estudo. Com isso o objetivo central dessa investigação

busca compreender como se desenvolveu a construção e (re)construção territorial e

dinâmica espacial do Mato Grosso nas últimas décadas sob o entendimento da

expansão agrícola.

Assim, compreende-se necessária uma reconstrução histórica e atual dos

processos que ocorreram e ainda se desenvolvem sobre o objeto de estudo, levando

ao entendimento da validade de uma metodologia com base em uma dialética

histórica, sendo considerada uma das mais condizentes e completas a ser aplicada

nas ciências sociais.

Partindo-se ainda do princípio defendido por Marconi; Lakatos (2011, p.83)

que a dialética compreende o mundo “como um conjunto de processos” inacabados

e em vias de constante transformação sendo o fim de um processo sempre o início

de outro, percebe-se sua aplicabilidade nesse estudo. Isso porque, busca-se

identificar as transformações territoriais e espaciais ocorridas nas últimas décadas

sobre o Noroeste do Mato Grosso.

Para tal, utiliza-se a realização de um estudo, através de um levantamento

bibliográfico abrangendo a expansão da ocupação sob o território brasileiro a partir

da sua interligação com a expansão agrícola. Ainda, deve-se se destacar que esse é

apenas o início de um amplo estudo a ser realizado sobre a expansão agrícola no

Page 4: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3092

Mato Grosso, por isso apresenta-se aqui também, uma pequena síntese de sua

ocupação e evolução histórica nos últimos anos.

2 - Atividades econômicas e a influência sobre a organização

espacial

Buscando sanar suas principais necessidades, o homem busca meios que

facilitem, ou intensifiquem, sua apropriação da natureza, tornando-se cada vez mais

técnico e por consequência mais produtivo. Todo esse processo pode ser

visualizado na obra de Ortega y Gasset (1991) que discorre sobre a evolução

técnica e produtiva do homem, desde suas formas mais primárias com a obtenção

da “técnica ao acaso” até a “técnica do técnico”, mais recente e cientificada.

Assim, o homem se torna técnico quando adquire a consciência clara de que

é capaz de invenções que superaram sua existência natural, meramente animal. E

essa capacidade é o iniciar de um complexo de atividades ilimitadas, que por vezes,

foram tidas como impossíveis. Isso acabou gerando também a perda do senso de

ilimitação e, consequentemente, contribuiu para que o homem perdesse a real

noção de quem é e de suas limitações, ampliando seu poder de dominação dos

recursos, criação e destruição de estruturas.

Isso pode ser observado desde a chegada dos europeus, quando a função

destinada as terras que hoje compõem o território nacional era a produção para o

atendimento das demandas do mercado metropolitano e demais países europeus e,

consequentemente, gerar lucros para os exploradores e para a Coroa Portuguesa.

Assim, Oliveira (2011) destaca que o Brasil passou por distintas fases econômicas,

cada uma incorporando uma distinta atividade produtiva, como o pau-brasil, a cana-

de-açúcar, a mineração, a pecuária, o café e mais recentemente a agricultura

modernizada. No entanto, todas têm em comum que auxiliaram na expansão e

ocupação do território nacional de acordo com suas particularidades.

Conforme pode-se entender, em relação aos principais ciclos da economia

brasileira, sua estrutura produtiva evoluiu, adaptando-se às exigências de mercado

de cada época, isto, obviamente, dentro dos limites técnicos de cada período. No

Page 5: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3093

entanto, permaneceu sempre trabalhando para suprir as demandas do mercado,

geralmente do externo, ou seja, permaneceu como integrante das exigências do

sistema econômico vigente.

Silva (1998, p.3) discorre evite o coloca utilize outro verbo que a evolução

agrícola brasileira ocorreu por meio de dois processos, sendo o primeiro “de

destruição da economia natural, pela retirada progressiva dos vários componentes

que asseguravam a „harmonia‟ da produção assentada na relação Homem-Natureza

(e suas contradições)”. Já o segundo diz respeito a uma reorganização “baseada no

conhecimento e no controle, cada vez maior, da Natureza e na possibilidade de

reprodução artificial das condições naturais da produção agrícola. A esta passagem,

denomina-se industrialização da agricultura.”

Ainda sobre as transformações da produção capitalista no campo, o mesmo

autor compreende que a produção agrícola se torna mais intensa sob a influência ou

o controle do capital, ou seja, uma maior produtividade do trabalho. Desta forma,

entende que, “com o desenvolvimento da produção capitalista na agricultura (ou

seja, as transformações que o capital provoca nas atividades agropecuárias)”, há a

tendência de ocorrer “um maior uso de adubos, de inseticidas, de máquinas, de

maior utilização de trabalho assalariado, o cultivo mais intensivo da terra, e outros”.

A partir de meados do Século XX, as políticas públicas desenvolvidas pelo

Governo Brasileiro, passaram a estimular o setor industrial de duas maneiras: a

primeira, referente a instalação de indústrias voltadas à base do setor agroindustrial,

ou seja, de maquinários e insumos básicos, os quais e por sua vez, necessitam de

indústrias de base como siderurgia e petroquímica, respectivamente. Os

investimentos nestes setores se deram tanto por iniciativa oficial junto às empresas

nacionais ou na forma de incentivos às empresas particulares nacionais e

internacionais.

Para Silva (1998, p.51) com a modernização da agricultura, também ocorreu

a expansão da indústria voltada a transformação da matéria-prima do setor agrícola,

passando este a ser considerado diretamente ligado ao setor industrial. Isto porque,

enquanto atua como fornecedor de matéria-prima a ser processada pela indústria,

também recebe desta os produtos necessários a sua produção como maquinários,

equipamentos, insumos e sementes selecionadas. Argumentando ainda Silva (1998,

Page 6: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3094

p.68) coloca que “aí então a produção agropecuária deixará de ser uma esperança

ao sabor das forças da Natureza para ser uma certeza sob o comando do Capital”. E

o autor continua “se faltar chuva, irriga-se; se não houver solos suficientemente

férteis, aduba-se; se ocorrerem pragas e doenças, responde-se com defensivos e

técnicas biológicas; e, se houver ameaças de inundação, estarão previstas formas

de drenagem”.

Apesar da constante evolução e adaptação da agricultura brasileira, a

principal transformação verificada na sua dinâmica, desde o século passado até

hoje, é a passagem do complexo rural para os complexos agroindustriais (CAIs)

(KAGEYAMA e SILVA, 1987, apud, SILVA, 1999, p. 89). Isto porque a intensificação

da atuação do capital e da tecnologia na agricultura não alterou apenas as relações

de produção entre a agricultura e a indústria, mas também as relações entre o

campo e a cidade e todas as implicações que estas trazem consigo.

As atividades se adaptam às exigências dos novos padrões (ABRAMOVAY,

1998) e a produção se desenvolve através da intensidade do mercado e dos fluxos

gerados pelas escalas de produção e de comercialização em diferentes

circunstâncias. A existência de distintos processos de produção e de circulação

determina a horizontalidade e a verticalidade. O espaço transforma-se segundo as

atividades produtivas que revelam suas formas assumidas, de acordo com as ações

dos agentes sociais, econômicos e políticos existentes na organização espacial.

A espacialidade rural brasileira sofre as mesmas pressões e interferências a

exemplo das demais estruturas produtivas que ocorreram em outras partes do

mundo. A necessidade de se tornar mais produtivo como fornecedor de matérias-

primas e se inserir como consumidor no mercado de insumos, equipamentos e

maquinários destinados à agropecuária fez com que o meio rural brasileiro em seu

processo evolutivo fosse acumulando e assumindo distintos processos de produção.

O entendimento das relações resultantes do trabalho humano na natureza

requer o uso de conceitos científicos, sua aplicação no auxílio da solução dos

problemas e no estabelecimento das relações e conexões entre teoria e prática.

Soja (1993) discutindo a dimensão espacial, além de reiterar o papel do espaço e da

espacialidade como fundamentais para a reconstituição e o devir da sociedade,

Page 7: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3095

considerou que o espaço deve ser visto como o receptáculo de múltiplas

contradições espaciais, como as condições socioeconômicas.

Nesse sentido, Santos (1997; 2008) entende não ser possível conceber uma

determinada formação socioeconômica sem se recorrer ao conceito de espaço,

embora reconhecendo que modo de produção, formação socioeconômica e espaço

sejam categorias interdependentes. Ao avançar nessa linha de pensamento, o autor

entende que os modos de produção de um dado território criam formas espaciais

que constituem uma linguagem dos modos de produção.

Por outro lado, chama a atenção para as formas constituintes da paisagem

revelando o modo de produção existente, permitindo que, através das formas se

alcance as funções criadoras, os processos geradores e as estruturas de

sustentação, como a dinâmica da produção e da reprodução de uma dada formação

socioeconômica.

Santos (1997, p.1) compreende ainda o espaço “como instância, ele contém e

é contido pelas demais instâncias, assim como cada uma delas o contém e é por ele

contida. A economia está no espaço, assim como o espaço está na economia”. O

autor ainda complementa colocando que “o espaço não pode ser apenas formado

pelas coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais”. Deste modo, orienta-se

ao entendimento de que o espaço contém uma combinação de elementos com a

sociedade.

A formação social e a organização espacial enquanto estruturas subordinado-

subordinantes, são contidas entre si e envolvem, por exemplo, cultura do grupo

social, história da trajetória de vida dos grupos humanos, trabalho de produção e de

sobrevivência, relações e inter-relações econômicas, interferências e ações políticas

em espacialidades geográficas, poder no/do espaço geográfico e capital técnico e

social das espacialidades produtivas.

A velocidade do comportamento processual das novas relações de produção

que se operacionalizam atinge as relações de caráter social, político e cultural.

Igualmente, atinge as relações tecnológicas, ambientais e econômicas. Os novos

processos estabelecem ligações e conexões que consolidam e configuram

realidades sócio espaciais, especialmente no meio rural. Observam-se mudanças no

modo de produção e de reprodução dos sistemas agrários vigentes, nas dinâmicas

Page 8: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3096

até então inerentes a estes sistemas e baseadas em matrizes tradicionais

(OLIVEIRA, 2011).

Neste contexto, velhas e novas formas de produção se transformam em um

movimento processual que, embora contínuo, contém contradições e antagonismos.

Conforme avançam as relações capitalistas de produção nestas espacialidades

geográficas, agricultores (produtores) e atividades tendem a se reestruturar

mediante processos de inovação e de aprendizagem.

As atividades agrícolas nos tempos atuais são o resultado de constantes

mudanças, principalmente do avanço tecnológico, do crescimento populacional e da

necessidade de abastecimento alimentar dos grupos sociais localizados nas mais

distintas localidades em escala mundial. Incorporar a natureza como bem de uso e

de produção, de sobrevivência e de sustentação tem sido tarefa comum a qualquer

formação sócio espacial.

Hoje, as atividades rurais estão inseridas e acompanham o sistema capitalista

de mercados que não atua apenas como um agente econômico, mas também como

um agente organizacional e, em algum momento, político. Assim, a organização

econômica privilegia as grandes propriedades, pois elas são capazes de circular

significativa quantidade de capital na chamada agricultura empresarial. No entanto,

essa não anula necessariamente a agricultura familiar, que mesmo em situações

mais delicadas continuam a coexistir e competir espaço com a estrutura dominante

principalmente na produção de alimentos.

Por isso o interesse no estudo da espacialidade construída e reconstruída

com a expansão da agropecuária sobre o Mato Grosso, uma vez que as dinâmicas

espaciais são visíveis e cada vez mais intensas, principalmente no Noroeste do

estado. Isso pode ser verificado e explicitado com as atuais alterações da estrutura

produtiva e dos tipos de produção, tendo como exemplo a substituições das culturas

já tradicionais como extrativismo e pecuária pelo cultivo de soja, a reconfiguração

espacial e as transformações sociais que ali passam a ocorrer.

Page 9: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3097

3 - Resultados parciais: a dinâmica espacial do Noroeste de Mato

Grosso

A região Centro-Oeste, em especial a área que assenta hoje o território do

Estado de Mato Grosso, é um dos berços indígenas, com populações que se

destacaram em relação a outros estados e que chegaram a mais de 60 mil

indivíduos em 1872. Hoje representam menos de 30 mil pessoas, redução essa,

resultado de sucessivos massacres e extermínios (PIAIA, 2003).

Em partes isso é resultado de contínuas investidas territoriais e econômicas

que remontam séculos de história. A colonização e ocupação do que hoje é o

estado de Mato Grosso, tidas como oficiais, foi um processo lento que teve início a

partir do século XVIII com entrada de bandeiras que descobriram seu grande

potencial aurífero na região de Cuiabá. Essas atividades passaram a incentivar o

povoamento e região (CAVALCANTE; COSTA, 1999).

Até os meados do século XX a população e as atividades econômicas

concentravam-se nas porções mais ao sul, hoje contempladas pelo Mato Grosso do

Sul. Enquanto às áreas ao norte, hoje pertencentes ao Mato Grosso, permaneciam

em parcial isolamento com uma população rarefeita. Esses dois estados só

separaram-se na década de 1970 com a Lei Complementar de 11/10/1977

(FERREIRA, 2001).

As tentativas de arranjo espacial e integração nacional das porções mais

afastadas do Brasil, somente passam a ter maior atenção do Governo Federal após

1930 quando Getúlio Vargas assume o poder. Pela proximidade da região Sudeste e

da infraestrutura já disponibilizada, a região que hoje pertence ao Mato Grosso Sul

passou a desenvolver uma economia e política mais dinâmicas, enquanto o norte,

semiabandonado minguava para sua manutenção, consumindo grandes

quantidades de recursos provenientes do seu coirmão ao sul.

Conforme Piaia (2003) somente a partir da década de 1950 programas de

efetiva colonização do Mato Grosso surgem através de órgãos como INTERMAT –

Instituto de Terras do Mato Grosso e DTC – Departamento de Terras e Colonização.

Ainda assim, as terras ao norte continuavam pouco povoadas e produtivas.

Page 10: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3098

A partir de 1960, com o Governo Militar, um novo direcionamento é dado

para a ocupação do território mato-grossense, com incentivos fiscais e de crédito

que privilegiavam a instalação de latifúndios dando os pilares para a estrutura

fundiária vigente até os dias atuais. Para isso foram fundamentais órgãos como o

Banco da Amazônia, a Superintendência para o Desenvolvimento do Centro-Oeste

(SUDECO) e a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM).

Isso vai ao encontro da concepção de Brandão (2010) quando discute que o

estado tem papel fundamental para a expansão do território produtivo e que desde

meados dos anos 1970, a ação estatal, sobretudo na periferia nacional, vinha

reforçando seu papel estruturante do território nacional.

Com isso, projetos de colonização, em distintas partes do estado começam

a surgir através da parceria do Estado e da iniciativa privada, atraindo imigrantes de

distintas partes do país. Esses eram agricultores vindos do sul e sudeste, expulsos

pela modernização da agricultura; nordestinos fugindo de uma situação de

estagnação econômica; além de populações atraídas pelos programas de

crescimento e ocupação do Centro-Oeste desde a construção de Brasília (PIAIA,

2003).

Com essas populações tem-se início uma nova expansão da fronteira

agrícola, com atividades voltadas para a pecuária e agricultura na porção sul do

estado, e ao extrativismo de minerais e madeira e pecuária ao norte e noroeste.

Essa expansão colonizatória, associada à grande presença de povos indígenas, fez

com que essas últimas se tornassem palco de intensos conflitos de terras e

genocídios em massa.

Essa violência presente nas apropriações de terras e recursos são

explicadas por Brandão (2010, p.44) uma vez que “o modo de produção capitalista

sempre combinou violência extraeconômica, direta, com a violência econômica,

indireta, pela mercadificação de tudo, isto é, sua inexorável tendência de transformar

tudo em mercadoria, levando a mercantilização às últimas consequências”.

Continua, “os métodos utilizados são os mais diversos, não deixando nada a desejar

em sua violência daqueles descritos por Marx durante o processo de acumulação

primitiva originária”, exemplo disso são a expropriação de terras; uso dos recursos

até a exaustão; privatização de recursos antes partilhados (Ibid., p.48).

Page 11: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3099

Isso marca uma das primeiras contradições presentes nesse espaço. A

retirada da população nativa do local, para apropriação da terra e ocupação por

migrantes provindos de outras regiões do país. Sobre isso, pode-se dar destaque a

Soja (1993) ao considerar que o espaço deve ser visto como o receptáculo de

múltiplas contradições espaciais, como as condições socioeconômicas. Isso

exemplifica a ocorrência de divergências dentro do mesmo espaço, uma vez que

sempre haverá a ascensão de um dominante e a repressão de um dominado

(ISNARD, 1978).

Após a década de 1990, a pecuária passa a ganhar ainda mais força,

expandindo também uma estrutura de terras baseada no latifúndio e grandes

propriedades, e com elas, a disseminação de uma política elitista e uma economia

concentrada nas mãos de poucos. Foi essa atividade econômica que atraiu o

desenvolvimento para diferentes regiões do Mato Grosso, incluindo aquela chamada

aqui por Região Noroeste.

Compreende-se aqui essa região como sendo constituída pelos municípios

de Juruena, Brasnorte, Juína, Juara, Castanheira, Aripuanã, Colniza e Rondolândia

(Ver Figura 01). Tal recorte foi pensado a partir de características comuns presentes

em cada um deles como a povoamento recente, basicamente ocupados nos últimos

30 e 40 anos através de projetos colonizatórios, com economias baseadas na

pecuária extensiva e extrativismo vegetal e mineral e atualmente passando por

processos de incorporação de agricultura de grãos.

Entende-se que nessa porção do território mato-grossense seja possível

observar a expansão recente do cultivo de grãos, principalmente a soja. Uma vez

que cada um desses municípios, encontra-se em diferentes níveis de

desenvolvimento da produção agrícola intensiva. Exemplo disso são: Brasnorte e

Juara já inseridos também na agricultura intensiva, ao mesmo tempo sendo grandes

produtores pecuaristas; Juína, Castanheira e Juruena vivenciando atualmente a

entrada da agricultura intensiva em substituição da pecuária bovina de corte; e

Aripuanã, Colniza e Rondolândia, ainda com sua economia fundamentada na

pecuária extensiva e silvicultura.

Figura 01 – Mapa de localização da Região Noroeste de Mato Grosso.

Page 12: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3100

Fonte: Org. FONSECA, R. G. (2015)

Entende-se que a inserção dessa nova estrutura produtiva, ocasionará (e já

veem ocasionando) intensas transformações espaciais na região. Uma vez que para

sua implantação necessita de toda uma infraestrutura de armazenamento e

transporte, redes viária, informacional e financeiras eficientes, fornecedores de

insumos e componentes agrícolas, além de uma efetiva rede de contato com

mercados consumidores. Resultantes desse processo, são as transformações

Page 13: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3101

imperadas sobre o espaço geográfico, que agem como ajustes espaço-temporais

necessários à reprodução do sistema capitalista vigente (HARVEY,2004).

Com isso, pode-se colocar em discussão que essa região, como já ocorrido

com tantas outras no Estado de Mato Grosso, está vulnerável à interferência de

forças externas que afetarão não apenas suas atividades econômicas. Junto dessas,

a dinâmica espacial e estrutura social como um todo serão afetadas pela entrada de

novas estruturas físicas, financeiras e informacionais que ali ingressarão.

4 - Considerações parciais

Na atualidade núcleos formados nas últimas décadas do Século XX

encontram-se em plena transformação, tendo seu espaço ainda mais dinamizado

sobre a influência do grande capital agrícola. Exemplo disso é a região Noroeste do

Mato Grosso, que atualmente vê a forte inserção da soja em substituição às

atividades tradicionalmente desenvolvidas.

Essa acaba sendo mais uma reconfiguração espacial e territorial em uma

região que já viu as bruscas transformações sob uma área naturalmente constituída

de uma transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica, em um domínio da

agricultura e pecuária. Igualmente vivenciou uma colonização forçada pelo Estado,

sobre áreas de domínio indígena, atualmente nas mãos do capital privado.

Fazendo uso das palavras de Isnard (1978, p.7) considera-se que “toda

sociedade participa da criação de seu espaço. Nele emprega todos os meios de

ação que seu estágio de civilização permite: a força de trabalho, a engenhosidade

de suas técnicas, o apoio de suas crenças, de suas esperanças, de ambições”.

Assim, toda evolução da sociedade e dos meios de produção, levarão a uma

evolução da organização do espaço.

Isso explica, porque cada vez mais há dinamismos nas construção e

(re)construções espaciais. Uma vez, que conforme se transformam as necessidades

do mercado consumidor, ampliam as ações produtivas e consequentemente

intensificam-se as transformações sobre o meio e sobre as relações sociais.

Page 14: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3102

As modificações produtivas que têm ocorrido na Região Noroeste de Mato

Grosso, são resultados das novas necessidades de investimentos e reinvenção da

economia. A incorporação de novas terras para a produção do agronegócio através

do cultivo intensivo de grãos, é uma forma de valorização e reprodução do capital

financeiro.

Com base nisso, considera-se de fundamental importância a compreensão

das transformações territoriais e espaciais que vêm ocorrendo no Estado de Mato

Grosso e em especial sua região Noroeste. Esta que vive na atualidade uma

reorganização decorrente da recente inserção da soja em sua área de abrangência,

e em substituição das tradicionais atividades de pecuária e extrativismo. Por isso,

reconhece-se que muito à de ser investigado e compreendido a cerca dessas

transformações, e que o presente é apenas um estudo introdutório.

5 - Referências bibliográficas

ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo. Campinas: Editora da UNICAMP, 1998. BRANDÃO, C.R. Acumulação primitiva permanente e desenvolvimento capitalista no Brasil contemporâneo. In: ALMEIDA et al. Capitalismo globalizado e recursos territoriais. Rio de janeiro: lamparina, 2010. CAVALCANTE, Else Dias de Araújo; COSTA, Maurim Rodrigues. Mato Grosso e sua História. Cuiabá: Edição dos autores, 1999. FERREIRA, João Carlos Vicente. Mato Grosso e seus Municípios. Cuiabá: Buriti, 2001. FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 34ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. HARVEY, David. O Novo imperialismo. São Paulo: Loyola, 2004. ISNARD, H. O espaço geográfico. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, ano 36, 258/259, jul./dez. de 1978. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2011.

Page 15: AS RECENTES TRANSFORMAÇÕES SÓCIO ESPACIAIS DO … · ... a substituição das atividades extrativistas de diamante, ouro e madeira, pela pecuária e mais recentemente a inserção

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

3103

OLIVEIRA, Ana Leticia de. Complexos Agroindustriais e ações na organização sócio-espacial: uma análise em Geografia rural. 2011. 149f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2011. ORTEGA Y GASSET, José. Meditação sobre a técnica. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1991. PIAIA, Ivaneide Inês. Geografia de Mato Grosso. 3 ed. Cuiabá: EdUNIC, 2003. SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4. ed. São Paulo: Edusp, 2008. __________. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e meio técnico-científico-informacional. 3. ed. São Paulo: HUCITEC, 1997. SILVA, José Graziano da. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas: UNICAMP, 1998. p. 211 __________. Tecnologia e agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1999. p. 238 SOJA, Edward W. Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica. Tradução (2 ed., inglesa) Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.