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A relação do culto Lexé Egun com o culto Ayan No antigo culto a Ayan, o sacerdócio dos Alabês possuía uma estreita ligação com o culto Lexé Egun, ou o culto aos ancestrais. Na verdade o próprio instrumento - o tambor - é considerado como a veste material de um espírito e dizem os mitos, que cada tambor possui seu espírito elemental, que se materializa dentro dos mesmos durante as cerimônias para que o rito tenha prosseguimento segundo a egrégora do templo em questão, de acordo com o orixá regente da casa. Apenas os tambores Batá possuem em seu interior o assentamento de Ayan/Ayom, sendo que os verdadeiros tambores consagrados devem também levar o Afobô pregado no casco, sem o qual o tambor não é considerado "vivo" ou sagrado, é apenas um instrumento ritual, sem qualquer capacidade de invocação verdadeira. O Afobô é um saquinho - ou caixa - que contém os elementos secretos relativos ao "espírito" daquele atabaque ou tambor consagrado e cada instrumentos possui elementos particularizados que são indicados segundo o Odu no qual foram batizados e grafados dentro do casco, pois são essas marcas, os Ayan L´Onan (chamados de Tefás pelos sacerdotes de Ifá) que irão indicar o poder, o comando e o objetivo que aquele tambor terá ritualisticamente, além de dfinir o seu nome de batismo, que só é dado quando o Alabê completa o jogo dos quatro tambores sacramentados através de rituais que não se concluem antes de 12 anos; o nome Ayan do tambor é coletivo, ou seja, não é um nome para cada tambor, mas sim, apenas um nome para o jogo dos quatro tambores. Tal como nosso corpo, composto de cabeça, tronco e membros, os tambores devem perfazer uma unidade. Assim, os tambores poossuem o poder de chamar não apenas a força do Orixá e dos Ebora para dentro dos templos, mas também para invocar a presença de ancestrais ilustres e de outras personalidades do mundo astral que nos cultos de nação africana são conhecidos como Eguns.

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A relação do culto Lexé Egun com o culto Ayan

No antigo culto a Ayan, o sacerdócio dos Alabês possuía uma estreita ligação com o culto Lexé Egun, ou o culto aos ancestrais. Na verdade o próprio instrumento - o tambor - é considerado como a veste material de um espírito e dizem os mitos, que cada tambor possui seu espírito elemental, que se materializa dentro dos mesmos durante as cerimônias para que o rito tenha prosseguimento segundo a egrégora do templo em questão, de acordo com o orixá regente da casa.

Apenas os tambores Batá possuem em seu interior o assentamento de Ayan/Ayom, sendo que os verdadeiros tambores consagrados devem também levar o Afobô pregado no casco, sem o qual o tambor não é considerado "vivo" ou sagrado, é apenas um instrumento ritual, sem qualquer capacidade de invocação verdadeira.

O Afobô é um saquinho - ou caixa - que contém os elementos secretos relativos ao "espírito" daquele atabaque ou tambor consagrado e cada instrumentos possui elementos particularizados que são indicados segundo o Odu no qual foram batizados e grafados dentro do casco, pois são essas marcas, os Ayan L´Onan (chamados de Tefás pelos sacerdotes de Ifá) que irão indicar o poder, o comando e o objetivo que aquele tambor terá ritualisticamente, além de dfinir o seu nome de batismo, que só é dado quando o Alabê completa o jogo dos quatro tambores sacramentados através de rituais que não se concluem antes de 12 anos; o nome Ayan do tambor é coletivo, ou seja, não é um nome para cada tambor, mas sim, apenas um nome para o jogo dos quatro tambores. Tal como nosso corpo, composto de cabeça, tronco e membros, os tambores devem perfazer uma unidade. Assim, os tambores poossuem o poder de chamar não apenas a força do Orixá e dos Ebora para dentro dos templos, mas também para invocar a presença de ancestrais ilustres e de outras personalidades do mundo astral que nos cultos de nação africana são conhecidos como Eguns.

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Aqui no Brasil algumas direções espirituais foram simplesmente esquecidas. Tal fator propiciou o aparecimento de incompreensões e confusões dentro dos cultos brasileiros. Assim, a figura de Egun refere-se a todo e qualquer antepassado humano, ou seja, todo e qualquer espírito que já tenha passado pelo manto de carne em nosso orbe. São seres identificados com a civilização e com a evolução humana em suas várias etapas, desde as espécies mais antigas de primatas até o Homo Sapiens Sapiens. Orixás e Eboras são espíritos de outra categoria, espíritos elevados e puros, ligados à natureza através de sua emanação espiritual, senhores dos elementos em suas matrizes e diretamente ligados àqueles outros espíritos que conhecemos como elementares ou encantados e que "vivem" na natureza identificados com os filos e espécies, mas não é este o assunto aqui.

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Ayòón fun egungun, Aiyrá egungun ni sawo o lóòde...

A divindade Ayan está ligada a vários ancestrais através do mito do tambor. A vara Ixàn possui o mesmo fundamento invocatório e de encantamento que as varas Akidavi e Bilala usada nos tambores atabaques e batás. Os tambores são a voz dos ancestrais. Invoca-se em determinada época (de 12 em 12 anos, no culto a Ayan) o silêncio da morte e a voz dos vivos: Aparaká e Aku (ligadas a Yanla) e Egungun (ligado a Oxalá), o preto e o branco, o silêncio e o som, os dois fundamentos primordiais de Ayan. O terceiro, o ruído, é o mais perigoso e é de alto segredo.

Falaremos um pouco de Egun, lembrando que apenas uma divindade conheceu o mundo como os homens conhecem e apenas Ele esteve e voltou do mundo dos mortos e é por isso que é chamado de "Rei do Mundo", segundo a Cabala e os Itans mais profundos, ligados aos arcanos da Morte, do Mundo e do Julgamento, Ogbé-Fun, Ireté-Iwonrin, e outros. Mas isso é Awo, como se diz na linguagem do santo, é coisa a ser compreendida dentro dos templos e através da iniciação e não em

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cursos de final de semana como muitos fazem hoje em dia. Desculpem.

A idéia geral de Egun nos remete, obviamente, a relacionar Caboclos, Pretos Velhos e Crianças como Eguns. Realmente eles o são e é aí que a confusão começa, pois poucos sabem que nas tradições antigas existiam TRÊS categorias de Eguns, ou espíritos ligados aos homens e ao caminho da civilização em seus vários níveis:

1) Os Baba Egun:

que são os antepassados ilustres,aqueles que já conhecem o "outro lado" e já possuem uma posição definida no mundo astral, senhores de raça, de civilizações e de grupos humanos antigos. Estes são os que podem ser identificados - até certo grau, e acima de certa fronteira - como nossos Caboclos, Pais Velhos e Crianças e podem até mesmo ser assentados com o rito correto, com seus fundamentos de louça, de madeira nobre (cedro e outras) e seus objetos de poder. Nota: os Egun Apaaraká são a representação ritual dos Eguns que não falam e que não possuem suas bandeiras de identificação (os Bantés), mas se tornam, um dia, Baba Eguns. Traduzem apenas um momento da iniciação ainda não completa do Culto Lexé Egun.

2) Os Egun Oku Orun:

chamados de cidadãos do Orun. São os espíritos de pessoas simples desencarnadas, que não foram condutores de raça, nem antigos responsáveis por grupos humanos. São como eu e você, que ao chegarnos no mundo astral, somos direcionados para esta ou aquela função, embora saibamos nossa colocação momentânea no universo, etc. São aqueles que podem ser cultuados com o fundamento da telha e da madeira.

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Aku Agbeigui após materializar-se, saindo do Igbalé (a casa da morte), ao lado do Lessayn (a casa das ervas), para consagrar, com sua presença, os tambores rituais.

3) Egun Oku Ayê ou Iwin:

estes, sim, são aqueles que não saíram da órbita do planeta (em geral ficam presos em uma dimensão conhecida pelos antigos como Orunapadi), são chamados de cidadãos da terra, ou seja, são estes que vagam sem rumo, que ainda estão presos em redes negativas de emanações afeitas à paixão, à doença e a todas as mazelas humanas. Podem ser maléficos ou não, mas sempre são prejudiciais e se agrupam em falanges sem noção de sua condição no universo astral. Muitos acreditam que ainda estão vivos, outros sabem disso e se ligam a encarnados visando sugar-lhes a vitalidade. São conhecidos também como Kiumbas em língua Quicongo ou ainda são chamados de Arajés ou Ajaguns. Possuem o fundamento da bigorna e das tábuas de sangue, da corda e da corrente.

Estas três categorias se subdividem em mais três cada uma, no MISTÉRIO DAS ALMAS, que vai das Almas Glorificadas às Almas Penadas, Sofridas e Desesperadas do nono degrau, finalmente concretizando a escada das almas, símbolo máximo

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de Iansa, mãe dos nove Orun.

Aku Agbeigui saudando o sacerdote

Há ainda a representação dos Esa, divindades coletivas e as Aku, que são as ancestrais femininas, perigosíssimas, que "nascem" (voltam!) dentro da casa onde estã assentada as Iya-mi Odudwa. Os Esa são invocados e cultuados em diversas situações, especialmente no padê, e no axexê quando é constituído o assentamento de um adoxu ou dignatário ilustre falecido. O assento de Esa se caracteriza pela representação da existência genérica, e o Egungun pela representação do espírito individualizado, o Egungun se caracteriza pela aparição no aiyê. Os Esa e os Egun são invocados no ipadê nos códigos dos cânticos.

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Ayan Igui todowo! Ayan Oga Ilu! Ayan Ilusain!

O mestre dos carpinteiros saúda os presentes e vem dançar entre os Onilus e Alabês!

Invocação de Aku Alagbeigui - o primeiro carpinteiro

A mais óbvia ligação dos Alabês com os Ojés é a vara ritual. Os Alabês tocadores de Rum se utilizam das varas Akidavi para "dominar" o espírito do tambor. Há detalhes profundos sobre a utilização destas baquetas que vão desde a função específica de percutir o couro até percutir-se as bordas e o metal do instrumento. E há vários tipos de Akidavi, alguns com inscrições e desenhos rituais e determinadas "orações"

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amarradas ou inseridas nos mesmos, visando sempre objetivar a invocação e atingir-se os objetivos rituais. As varas rituais dos Ojés, os Ixans, possuem - pelos menos na África - funções semelhantes, que é a de marcar o tempo e o espaço de atuação dos eguns (quando estes dançam) e de dominá-los.

O próprio Opaxorô é, na verdade, o grande Ixán, que é o cetro de Oxalá, com o qual ele domina todas as almas do universo. E esse poder é estendido a todo e qualquer Opá, símbolo do poder masculino, por onde as divindades e eguns sobem e descem do Orun para o Ayê. E é, obviamente, o supremo Akidavi, o cetro ritual que comanda o espírito de todos os tambores.

Ayan Ilusain!! Sunre Okun Orun sun re O!! Aba dobale niwaju Eledá! Kawo Kabiecilê! ORO!! AYAN IRE AWA!!

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O ancestral dos carpinteiros vem dançar entre os descendentes de Ayan. Ayan está ligado aos tambores, aos canticos e aos dançarinos. Daí os

ancestrais que dançam ao som dos tambores do céu, também dançam ao som dos tambores da terra.

A outra ligação entre os Alabês e os Ojés está centralizada nos mistérios do tambor Batá, onde uma categoria desse tipo de tambor é consagrada a Egun. São os tambores pessoais do Onilu, o mestre dos tambores. Outros Batás são consagrados, em geral, a Xangô.

Uolé 1 - O ancestral volta para a terra!

Agbeigui se desmaterializando dentro do Igbalé

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Uolé 2 - O ancestral volta para a terra!

Agbeigui se desmaterializando dentro do Igbalé

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Uolé 3 - O ancestral volta para a terra!

Agbeigui se desmaterializando dentro do Igbalé

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Uolé 3 - O ancestral volta para a terra!

Agbeigui se desmaterializando dentro do Igbalé

Espero ter esclarecido aos irmãos interessados nas questões da ancestralidade do tambor e sua relação com o culto Egun, pois são mistérios profundos e perigosos que não podemos nos aprofundar muito, mas é sempre bom esclarecermos que a idéia de Egun no Brasil, assim como a dos toques rituais é incompleta, infelizmente.

Ayan Irê Ô!

Publicado por Yan Kaô (Obashanan)

Fonte: http://acervoayom.blogspot.com/2011/01/eventos-2010-parte-1-as-relacoes-do.html