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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA AS RELAÇÕES DA CRIANÇA CANDOMBLECISTA NO ESPAÇO SOCIAL DA ESCOLA Mônica Estela Neves Higino Salvador 2011

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I

CURSO DE PEDAGOGIA

AS RELAÇÕES DA CRIANÇA CANDOMBLECISTA NO ESPAÇO SOCIAL DA ESCOLA

Mônica Estela Neves Higino

Salvador

2011

Mônica Estela Neves Higino

AS RELAÇÕES DA CRIANÇA CANDOMBLECISTA NO ESPAÇO SOCIAL DA ESCOLA

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia, com Habilitação em Anos Iniciais da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação do prof. Dr. Valdélio Santos Silva.

Salvador

2011

FICHA CATALOGRÁFICA

Sistema de Bibliotecas da UNEB - SISB

Higino, Mônica Estela Neves As relações da criança candomblecista no espaço social da escola / Mônica Estela Neves Higino. - Salvador, 2011. 43f. Orientador: Prof.Dr. Valdélio Santos Silva. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade do Estado da Bahia Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia . Campus I. Inclui referências.

1. Candomblé. 2. Oralidade. 3. Educação. 4. Religiosidade. I. Silva, Valdélio Santos. II. Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. CDD: 299.67

Mônica Estela Neves Higino

AS RELAÇÕES DA CRIANÇA CANDOMBLECISTA NO ESPAÇO SOCIAL DA ESCOLA

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação - da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação do prof. Dr. Valdélio Santos Silva. Salvador, 18 de Março de 2011

_______________________________________________ Professor Dr. Valdélio Santos Silva – UNEB

___________________________________________ Professor Dr. Luciano Bonfim – UNEB

____________________________________________ Professor Msc. Juipurema Sandes - UNEB

Dedico este trabalho a minha mãe,

Adalgisa Lopes Neves (In Memorian),

que com carinho e orientação formou

a mulher que sou hoje.

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Professor Valdélio Santos

Silva, que tornou possível a realização deste

trabalho.

Aos meus amigos de Candomblé, pela troca de

experiências.

A todos que, de alguma forma, contribuíram

para esta construção.

“A palavra é o nosso fogo.

Nosso axé.

Sem ela não somos nada.

Por isso é a oralidade que ensina.

A oralidade é o fundamental, foi com ela que chegamos até aqui.

A vida inteira eu mantive meu axé através da palavra.

Só comecei a publicar agora, a escrita vem para complementar isso.

Imagina se nós negros tivéssemos dependido da escrita para não

perder nossa fé, nossa cultura, nossa história?

A abolição não garantiu nosso direito de ler e escrever.

Sobrevivemos graças à nossa oralidade.

Mas mesmo na escrita, a palavra tem

que ser carregada de axé e da nossa história, se não se perde e o candomblé

nunca vai ser perder.

Por isso precisamos contar e nos contar”,

Mãe Beata de Yemonjá (2005)

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo conhecer a prática social desenvolvida no

espaço escolar em que a criança candomblecista interage. Esta traz de sua

comunidade uma experiência pedagógica que difere da praticada nas escolas de

educação formal, que invariavelmente, não leva em conta os legados herdados

dos antepassados africanos que contribuíram no desenvolvimento da cultura

afro-brasileira e cujas tradições perpetuam através da oralidade e da transmissão

de saberes dos mais velhos numa dimensão educativa. Observaremos também

como o sistema escolar e seus educadores tratam as diferenças, a tolerância

religiosa e as crianças candomblecistas. Neste trabalho será utilizado uma

metodologia baseada em pesquisa bibliográfica e nas experiências e práticas

educativas observadas. Nesta observação será compreendido se o espaço social

escolar é responsável pelo processo de socialização infantil no qual se

estabelecem relações com crianças de diferentes núcleos religiosos e se o

contato diversificado poderá fazer da escola o primeiro espaço de liberdade

religiosa, dando espaço para todas as culturas religiosas.

Palavras- chave: Candomblé, Oralidade, Educação e Religiosidade.

ABSTRACT

This work aims to understand the social practice developed within the school the

child candomblecista interacts. This brings your community a pedagogical

experience that differs from the practiced in schools of formal education, which

invariably does not take into account the legacy inherited from ancestors Africans

who contributed in the development of Afro-Brazilian culture and traditions

perpetuate through orality and transmission of knowledge from older an educational

dimension. We also like the school system and their educators deal with the

differences, religious tolerance and children candomblecistas. This work will be used

a methodology based on bibliographic research, experiments and educational

practices observed. This note will be understood if the school social space is

responsible for the child socialization process in which relationships with children of

different religious cores and contact diverse can make school the first area of

religious freedomgiving space for all religious cultures.

Keywords: Candomblé, Orality, education and Religiosity.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................. 10

1 A HERANÇA RELIGIOSA E A EDUCAÇÃO NO ÂMBITO DO

CANDOMBLÉ................................................................................................

13

1.1 OS PRINCÍPIOS EDUCATIVOS DO CANDOMBLÉ PARA

EDUCAÇÃO DA CRIANÇA..........................................................................

18

2 IDENTIDADE DA CRIANÇA CANDOMBLECISTA NO ESPAÇO

SOCIAL ESCOLAR......................................................................................

22

3 O PAPEL DO EDUCADOR NO TRATO COM A DIVERSIDADE

CULTURAL E RELIGIOSA..........................................................................

29

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 37

REFERÊNCIAS............................................................................................. 38

ANEXOS

10

INTRODUÇÃO

As religiões afro-brasileiras ocupam posições marcantes na vida cultural de várias

cidades brasileiras, porém se considerarmos o avanço da educação brasileira no

que se refere à identidade negra, tendo como ponto de partida a herança religiosa

de matriz afro-brasileira, esses avanços ainda são tímidos.

Na área da educação existe a carência de profissionais capacitados para a

execução de propostas de trabalho que contemplem os conteúdos voltados para a

cultura negra, por isso a abordagem da referida temática vem sendo prejudicada no

cenário educacional. Prova disso é que os cursos de formação inicial do educador

não tem acompanhado a presença deste profissional em debates sobre as relações

sociais na escola, muitas vezes promovido pelas entidades do Movimento Negro.

Durante os anos 80 e 90 ocorreram algumas parcerias entre governo e entidades

negras visando atingir esse objetivo, mesmo assim, acreditamos que a demanda

nacional exigiu um maior enfrentamento da problemática.

O acesso da criança negra ao processo de construção de conhecimentos e sua

valorização e respeito à cultura negra deverá vir através da viabilização de um

trabalho pedagógico, onde as suas indagações em relação às heranças culturais e

religiosas de matrizes africanas sejam objeto de reflexão e discussão. Certamente a

história de vida desses antepassados deverá ser o ponto de partida para o processo

de construção de conhecimento. Assim, o docente deverá incorporar no cotidiano

estratégias que contemplem às necessidades específicas desse público, pois este é

o dever de todo profissional de educação, principalmente aquele que atua na escola

pública, ou seja, que as propostas curriculares deverão fundamentar-se em

princípios norteadores de uma educação de diversidade.

A discussão sobre a cultura através da religiosidade também exigirá do docente

um posicionamento sobre o que realmente quer dizer quando apela para a

construção de projetos e práticas multiculturais e o direcionará a um compromisso

11

político explícito diante da questão racial, entendida aqui como indissoluvelmente

ligada ao conjunto de questões sociais, culturais, históricas e políticas do nosso

país.

Isso nos leva a pensar nas ações afirmativas para o povo negro e a forma como os

educadores negros e brancos, favoráveis à discussão e à inserção da cultura

religiosa no currículo escolar, posicionam-se diante delas. Assim, esta monografia

pretende discutir as relações da criança candomblecista no espaço social da Escola.

Para a criança, o ambiente escolar pode ser o espaço para a sedimentação da sua

identidade, cuja construção se inicia no seio familiar, ou ainda, pode vir a ser o palco

onde a construção da sua identidade nega suas heranças culturais, abala sua

integridade psicológica, física e moral, caso o espaço escolar seja hostil às suas

referências culturais.

Na prática educativa, o educador pode utilizar várias estratégias que contribuam

para a superação da atitude de indiferença de educadores/as e alunos frente ao

preconceito, a formação da identidade e à intolerância religiosa de que são vítimas

crianças e adolescentes no âmbito escolar. No alcance desse objetivo, este trabalho

será desenvolvido através da investigação da cultura afro-descendente, em especial

o legado religioso, com o intento de contribuir para o entendimento do papel da

educação nas relações da criança candomblecista no espaço social da escola. Com

isso, promover o fortalecimento da construção de sua identidade e de seus direitos

na sociedade.

É um traço particular da cultura africana e afro-brasileira transmitir aos seus

descendentes suas histórias que se perpetuavam como lendas sagradas na cultura

de seus povos e as contavam para seus filhos e netos, que as transmitiam

oralmente às gerações seguintes, como a “chave”, o segredo, a sagrada constituição

da existência do povo e de seus sistemas de vida.

Segundo Vygotsky, o homem é constituído por meio de suas interações sociais em

que transforma e é transformado através das relações produzidas em uma

determinada cultura. Assim, deve-se fazer uma reflexão sobre a ideia de tradução

12

desta história por meio de uma metodologia de esclarecimento e construção de

identidade. Consequentemente, a matriz religiosa deve ser pesquisada e ao ser

introduzida no currículo escolar é necessário ressaltar a importância dos seus

valores sociais na formação do indivíduo.

O docente deve contribuir para a construção de um currículo que considere o

repertório histórico e cultural das religiões afro-brasileiras existentes em nossa

sociedade. É imprescindível fazer com que o assunto não seja reduzido a estudos

esporádicos ou unidades didáticas isoladas. Sendo assim, as questões sobre a

religiosidade das crianças brasileiras candomblecistas podem e deve compor as

propostas de trabalho, projetos e unidades de estudo de todo o ano letivo.

A subjetividade das crianças oriundas dos espaços dos terreiros ganha destaque no

processo educativo, pois as identificações ocorrem a partir das histórias dos sujeitos

reais e concretos com experiências diversas na vida religiosa. Essa dimensão da

subjetividade é um importante instrumento a ser utilizado pelos profissionais da

educação que lidam constantemente com a diversidade religiosa entre alunas e

alunos. No entanto, faz-se necessário a partir de estudos de campo, analisar como

acontecem atitudes de preconceito religioso que comprometem a identidade e auto-

estima da criança candomblecista, podendo levá-la a um processo de exclusão

social.

Portanto, a importância da temática consiste em analisar a função do professor (a) e

o papel da escola na discussão sobre a diversidade religiosa. Assim, o presente

trabalho questionará até que ponto o sistema escolar está sendo coerente com sua

função social de preservar a diversidade cultural e promover a equidade entre a

comunidade escolar e a religiosidade trazida por estes alunos.

13

1 A HERANÇA RELIGIOSA E A EDUCAÇÃO NO ÂMBITO DO CANDOMBLÉ

A comunidade de matriz religiosa afro-brasileira que adota a oralidade para

transmitir sua herança cultural tem uma importante ferramenta na educação de suas

crianças e jovens afro-descendentes. Com as histórias contadas pelos seus

familiares mais velhos e as suas experiências vividas e marcadas através do tempo,

a criança chega à escola com princípios e valores internalizados. Sendo assim,

estes conhecimentos têm um significado especial para esses seres em construção,

pois permite a continuidade da sua cultura.

Ao ser iniciada nos ritos religiosos do terreiro, a criança está conservando os

elementos da cultura afro-brasileira que implicam na sua educação religiosa e

identidade étnica e cultural baseada no reconhecimento da alteridade. Vale ressaltar

que os valores morais e étnicos contidos na transmissão dos fundamentos da

religião afro- brasileira são os princípios educativos oriundos de sua religiosidade,

cultura e ensinamentos de seus ancestrais e é desse processo que originará uma

cultura de mundo e um melhor entendimento de sua identidade e consciência

religiosa. (ANEXO 01)

O conhecimento da cada núcleo dos saberes ancestrais, a partir das matrizes de

religião afro-brasileira preservou a oralidade como mecanismo de transmissão de

saberes para seus descendentes. Sendo assim, a oralidade é o veículo da

transmissão dos valores ancestrais e dos mitos contados com a mescla de

elementos contemporâneos que servem à formação social e pessoal das crianças e

adultos daquela comunidade. Assim, é por meio dela que se pode refletir e aprender

sobre organização social, respeito, conhecimento de vida e definição dos papéis

sociais.

Portanto, o conhecimento religioso do candomblé nos terreiros transmitidos pelos

velhos e velhas africanos e legados às novas gerações devem ser estudados,

compreendidos e preservados dentro do contexto contemporâneo escolar. Assim,

deve ser o objeto dos docentes / pesquisadores, comprometidos com a construção

da identidade cultural, ligar tais valores com as suas respectivas matrizes

14

civilizatórias e resgatar o valor afro - brasileiro contido e preservado nesse complexo

religioso.

O silêncio é uma constante nas relações sociais da escola quando o assunto é a

discussão sobre religiosidade africana e afro-brasileira. Desse modo, torna-se

compreensível tratar a história religiosa apenas na perspectiva de folclore ou das

lendas contadas nos livros didáticos. Neste ínterim, as representações religiosas das

crianças negras são esquecidas na vida escolar ou a história e a cultura negra tem

pouco ou nenhum destaque no ambiente escolar ou nos livros didáticos, realidade

muito diferente da cultura européia. Com isso, o espaço social da escola cria

obstáculos na construção da identidade religiosa destas crianças e não compreende

o significado social e cultural da matriz afro – brasileira.

A tradição religiosa afro-brasileira é parte do legado deixado por homens e mulheres que contribuíram de forma significativa para a diversidade do país em que vivemos. A sabedoria e os valores das religiões de matriz africana é um expressivo elemento da cultura brasileira, que foi mantido por gerações. (Comitê Técnico de Saúde da População Negra - MS, 2000)

O espaço social do terreiro, um espaço religioso, é um espaço educativo, pois é na

convivência que se estabelece a troca de conhecimentos. A herança religiosa educa,

visto que esta contém no decorrer da história resistências e opressões sociais num

contexto que define a identidade e a consciência necessários na busca do negro

exercer sua cidadania. (ANEXO 02)

Na educação do Candomblé há valores transmitidos por estarem ligados à

espiritualidade e a base de sua existência é a transmissão de fundamentos e

doutrinas oralmente por seus mais velhos.

De acordo com MACHADO (2002, p.10), “[...] muitos anos atrás, antes dos tempos

da Grécia, do Egito e dos Fenícios, bem como no centro da África Negra, um negro

bastante velho, contava história para seus netos e para os netos de seus vizinhos.”

Este velho contador de histórias o Gryot (“aquele que transmite a fala dos

ancestrais para as novas gerações”) na infância da África, iniciava o aprendizado

15

das crianças das tribos através de suas histórias, mantendo viva a tradição da

oralidade falando da vida, dos valores e das origens que estruturava o mundo Nagô.

(ANEXO 03)

Para SIQUEIRA (2004, p.156):

Essas narrações mitológicas, que falam do nascimento, do amadurecimento da terra, do sol, da água, do fogo, do mundo sensível, entraves, conquistas, dor, prazer, casamento, envelhecimentos, morte, coragem sagacidade, sabedoria, força, determinação, amor, compaixão, enfrentamento dos desafios da vida, cura, liberdade.

Esta experiência africana em grande parte está presente nos terreiros, assim, a

criança absorve princípios e valores através desta vasta oralidade passada por seus

mais velhos em sua comunidade religiosa. Estas poderiam ser utilizadas como

suporte de construção da sua identidade nos estudos sobre relações raciais na

educação.

Vale ressaltar que a discussão sobre a matriz da religião afro-brasileira não pode

desconsiderar a existência do preconceito religioso e da desigualdade entre negros

e brancos em nosso espaço escolar. Tal consideração nos afastará das práticas

educativas que ainda insistem em colocar a cultura trazida como herança no lugar

do exótico e do folclore e possibilitará a construção de uma postura política diante

da questão religiosa no espaço social da escola.

A discriminação religiosa e cultural, a demonização e os estereótipos de selvagem,

tribal e atrasada, para referir-se às religiões de matrizes afro-brasileiras, contribuíram

para estigmatizar as práticas religiosas nas cidades e nos ambientes escolares,

ainda que os currículos reivindiquem o respeito às diferenças. Esse objetivo

democrático vem tendo obstáculos, tanto pela falta de preparação dos professores

no tema das culturas religiosas de matrizes afro-brasileiras, quanto pela influência

de algumas igrejas protestantes dentro das próprias escolas, cuja campanha contra

as manifestações da religião de matrizes afro-brasileiras não se mascara.

Observar o trabalho desenvolvido nas áreas educacionais, discutindo o preconceito

16

religioso existente em sala de aula ou na área externa da escola é sem dúvida uma

postura que professores regentes devem ter em defesa do futuro de alunos e

cidadãos que tem direitos numa sociedade.

Em algumas escolas percebemos o constrangimento ao falar da possibilidade de

trazer para vivência educacional esta herança cultural. As escolas e a educação, ao

contribuírem para a indiferença à matriz da religião afro-brasileira, não cumprem com

o objetivo de reconhecer a diversidade cultural e lutar contra a discriminação e a

desigualdade religiosa.

Art. 275. È dever do Estado preservar e garantir a integridade, a respeitabilidade e permanência dos valores da religião afro-brasileira e especialmente: ... IV- promover a adequação dos programas de ensino das disciplinas de geografia, história, comunicação e expressão, estudos sociais e educação artística à realidade histórica afro – brasileiras, nos estabelecimentos estaduais de 1º, 2º e 3º graus. (Parágrafos do Artigo 257 da Lei 10639/03).

O fato de a matriz religiosa afro-brasileira estar presente em nossa formação

histórica deveria bastar como afirmação para ser respeitada e considerada como

parte da cultura e da sociedade. O simples fato da “existência” deveria ser o

suficiente para o

direito a uma história presente no sistema educacional. Ela faz parte da cultura

nacional, pois está sempre participando dela com festas populares ou com

referências a seus orixás e tradições candomblecistas em alguns estados

brasileiros, mas não na esfera educacional.

As danças, músicas, alimentos e atividades das comunidades candomblecistas

apresentam singularidades próprias com um peso importante no desenvolvimento

cultural de diversas nações de matriz religiosa afro-brasileira. No entanto, no

espaço social escolar, este legado muitas vezes é tratado como folclore ou é

apresentado de forma caricatural.

A visão universalista hegemônica no Brasil funciona como uma imposição

eurocêntrica de mundo, quer dizer, as idéias de Ocidente são utilizadas como

17

fundamentais e dominantes sem considerar as raízes próprias da visão afro-

brasileira. Essas culturas fundamentam o eurocentrismo e desconhecem como

relevantes as expressões de afro- brasileiros.

O empenho eurocêntrico deixou um legado raciológico que ainda hoje continua

dominando os estudos afro-brasileiros, constituindo um sério obstáculo para a

realidade histórica desse país. Esse obstáculo somente cederá diante da

criatividade, do rigor cientifico e da curiosidade investigativa do pesquisador ou

docente.

Os projetos políticos pedagógicos construídos nas escolas de ensino fundamental

mostram que não há uma preocupação em responder às demandas de

historicidades específicas na vida da criança candomblecista da rede de ensino, não

há nada que revele a incorporação da diversidade cultural de maneira continua e

permanente, ainda que negros e pardos constituam a maioria no sistema

escolar público. De acordo com REIS (1993, p. 189), “[...] enquanto o negro

brasileiro não tiver conhecimento da história de si próprio, a escravidão cultural se

manterá no País.”

A educação informal aprendida na oralidade da religiosidade enriquece a criança na

sua existência, nos princípios e na sabedoria, manifestando-se no seu

relacionamento com o novo, com o diferente, aprendendo a incluir e torna-se

inclusivo na sociedade, na medida em que incorpora novos valores, enriquecendo

sua linguagem e conhecimento para toda vida. Esse conhecimento será

potencializado quando os seus valores culturais forem levados em conta nas

diferentes situações do espaço social escolar, vivenciando diversas oportunidades

de aprendizagem e integração na formação de sua educação. Segundo Silva:

As representações observadas no cotidiano das crianças constituem-se no seu senso comum, elaborado a partir de imagens, crenças, mitos e ideologias, vindo a formar, então, identidade cultural [...] ( Watthier, ano 2007 p.3/ apud, Silva, ano 2002).

As expressões culturais africanas fizeram e fazem parte na formação da nossa

brasilidade e o processo de construção positiva da identidade religiosa pode ser um

18

espaço de satisfação, de diálogo e troca de conhecimento com os saberes

escolares.

1.1 – OS PRINCÍPIOS EDUCATIVOS DO CANDOMBLÉ PARA EDUCAÇÃO DA

CRIANÇA

O processo educativo nos terreiros de Candomblé começa através das histórias

contadas sobre os ancestrais de cada casa ou de cada nação, considerando as

experiências vividas e marcadas através dos tempos: no ato de escutar, a criança

passa por etapas do que está sendo narrado e compreende a dinâmica de

conhecimentos que esta sendo apresentado. Assim, princípios e valores são

transmitidos nesta oralidade, inserindo na criança princípios que ganham força e dão

significado e orientação para a sua vida: o corpo, o comportamento humano, os

elementos contidos na natureza.

Os princípios vivenciados no terreiro como o ato de escutar as histórias e aprender

os direcionamentos dos mais velhos, cria na criança possibilidades cognitivas de

sentimentos e estrutura seus diversos saberes. Para Vanda Machado (1999):

Toda essa história da fala e escrita da criança passa por um momento que é decisivo na sua vida. O momento de aceitação da auto-imagem, do gosto por si mesmo, por sua família e por sua comunidade.

A criança oriunda dessa experiência de religiosidade se expressará sem restrição à

sua cultura, dos seus ancestrais e de sua história. Sua leitura de mundo exigirá

respeito à sua diferença, à sua identidade e consciência religiosa como criança

afrodescendente. A educação da criança candomblecista será concebida

considerando os valores do universo cultural dos afro-descendentes, com o

entendimento de como a sua ancestralidade se desenvolveu. O verdadeiro

entendimento dos princípios da educação é através da apropriação do conhecimento

e da transmissão da cultura.

A visão de mundo que a criança adquire, vem da oralidade dos mais velhos nas

comunidades dos terreiros, do que é ensinado na sua iniciação para afirmar sua

19

identidade religiosa recriando a tradição e adaptando a realidade. Desse modo, o

passado subsidiará o presente para a construção do futuro.

Assim, se houvesse a compreensão da contribuição desta transmissão de valores

como fator formador dos princípios educacionais nestas crianças, certamente a

escola incorporaria todas as atividades relacionadas às danças, aos cânticos, na

arrumação do ambiente, na seleção de roupas, na linguagem utilizada, enfim, em

todo processo participativo que fazem parte da sua vivência e reafirmam a noção de

pertencimento aquela comunidade religiosa.

Todo este ensinamento é avaliado como um significado pedagógico nas análises

feitas por Paulo Freire (1970):

Como valor fundamental, com a crença de que pode ser construída uma comunidade de significados em torno das experiências básicas da vida humana que todos compartilhem.

O conhecimento transmitido e assimilado pela criança proporciona oportunidades de

mudanças nos seus princípios de vida, pois os valores considerados nesta

comunidade que concentram este saber são constantemente reafirmados e através

deles, os princípios educacionais são desenvolvidos. Dessa forma, através do

conhecimento de suas origens, as crianças candomblecistas podem refletir sobre o

presente e indicar suas perspectivas futuras.

A importância dos rituais religiosos afros- brasileiros, o respeito à natureza, o dever

da participação nos trabalhos, a obediência à família, sua identidade religiosa e a

busca do entendimento aos mais velhos dentro da comunidade candomblecista são

valores que fazem parte de padrão sociais que marcam as historias de vida destas

crianças.

Os valores culturais transmitidos vão se modificando através do tempo, mas é

continuamente reconstituído e se sedimentam em tradições que são transmitidos de

uma geração para outra. Os princípios de uma educação de matrizes africanas são

adquiridos pela interpretação e assimilação dos fatos, eventos e acontecimentos nos

20

espaços de terreiro. Assim, os processos educativos são construídos informalmente

e a aprendizagem ocorre de maneira natural pela criança. “Passou- se a valorizar

os processos de aprendizagem em grupo e a dar-se grande importância aos valores

culturais que articulam as ações dos indivíduos.” (GEETZ, 1992)

A compreensão do sentido educacional nas realizações das festas é fundamental

para o entendimento da importância destes rituais na formação e aprendizagem das

crianças. O desenvolvimento de princípios educacionais ocorre de uma maneira

informal na formação da identidade de crianças e jovens da comunidade religiosa.

O aproveitamento desta experiência na educação formal, onde crianças e jovens

conheçam sua história e sua formação religiosa e seu processo de socialização,

será fundamental para o seu acolhimento na escola. Paulo Freire refere-se a uma

“invasão cultural” forçada como forma de negação das culturas e heranças de um

povo:

A invasão cultural é a penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo a estes sua visão de mundo enquanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua expansão. (FREIRE, 1975, P.178).

Os princípios educativos de uma comunidade religiosa de matrizes africanas levam

em conta os valores de sua própria história, enquanto na sociedade em geral são

impostos outros valores e poucas referências são utilizadas da historicidade vividas

e aprendidas pelos jovens e crianças afro-brasileiras. A experiência que eles trazem

de sua vivência, o saber transmitido pelos pais e avós, pela sua comunidade, sua

herança religiosa familiar, pelas leituras e origem étnica é forte na sua formação de

princípios educacionais.

A transmissão de saberes que se desenvolve sob diversas formas, proporciona um

sentimento de pertencimento, ampliando-se à medida de seu crescimento como ser

humano. Jovens e crianças reproduzem em seu cotidiano, na vida em sociedade,

os valores que são passados de geração a geração.

É nos seus terreiros de candomblé, suas comunidades religiosas, que os princípios

vão sendo condensados, que as crianças e jovens vão despertando a vontade de

21

continuar a manter a identidade religiosa que lhes confere sua cultura, resgatando

sua história e suas origens, seus princípios educacionais a partir dos valores e

respeito às suas matrizes culturais. De acordo com JUNG (1987):

Compreender e respeitar o saber que se condensa nas

culturas religiosas populares revelaria sua extrema

importância, como instrumentos de decifração dos

pilares em que se assenta nossa formação. A cultura,

enquanto universo simbólico através do qual se atribui

significado é experiência de vida, orienta todos os

processos de criação do homem.

22

2 IDENTIDADE DA CRIANÇA CANDOMBLECISTA NO ESPAÇO SOCIAL

ESCOLAR

A noção de identidade religiosa da criança no espaço social escolar implica uma

ampliação do próprio conceito da identidade no todo, superando-se a etapa da

descoberta do eu e passando-se à fase da identificação social. De acordo com

Barth, citado por Poutignat e Streiff Fernat (1998, p. 41):

A etnicidade é uma forma de organização social baseada na atribuição categorial que dispõe as pessoas em função de suas origens raciais e representações culturais. A etnicidade implica na auto-identificação e no reconhecimento de si pelos outros, estabelecida a partir de sua historicidade, dos traços raciais e culturais comuns e realçados nos processos de inter-relação com outros grupos.

Nesse processo, de acordo com Oliveira (1976, p. 4), a construção da identidade

(étnica) adquire, então, duas dimensões distintas: uma pessoal (individual) e outra

social (coletiva), sendo que é dessa última que resulta o reconhecimento da

etnicidade. Muitas vezes, as crianças oriundas das comunidades religiosas afro-

brasileiras não são aceitos e não aceitam sua herança religiosa, e ainda têm que

enfrentar as posturas preconceituosas de colegas, de professores, funcionários no

ambiente escolar e fora dele.

A identidade fragmentada ou não completamente formada é um dos fatores que

ampliam as possibilidades de sobrevivência de tais posturas preconceituosas

encontradas em diversos ambientes sociais escolares. Na medida em que a

identidade positiva se afirma, as condutas de enfrentamento reduzem as

manifestações de preconceito, pois seguro de si, o jovem consegue impor-se

perante os companheiros e colegas em quaisquer ambientes.

Por outro lado é difícil a criança reconhecer sua matriz religiosa africana e afro-

brasileira, uma vez que a sociedade tem tradicionalmente estigmatizado esta

religião, associando-a ao fracasso, ao demônio, à morte, à sexualidade incontida, à

criminalidade e à marginalidade. Considerando que a educação escolar é um

instrumento que possibilita a inserção do cidadão em vários espaços, com objetivo

23

de integrar a criança, sobretudo como um ser social, deve-se considerá-lo como um

local de aperfeiçoamento de práticas pedagógicas.

Segundo Veiga (1994), a prática pedagógica inserida no contexto social pressupõe a

relação teoria–prática, constituindo-se em dever dos educadores a busca de

condições necessárias para a sua realização. Com isso, as práticas pedagógicas

expressam as relações e os conhecimentos elaborados e construídos pela escola.

Este conhecimento torna-se o mecanismo de inserção ou exclusão em um espaço

culturalmente construído, por isso o nosso entendimento é de que as disciplinas do

currículo, a organização da escola, a formação e atuação de seus professores e

funcionários, são elementos de extrema relevância para a expectativa da criança

candomblecista em relação a sua herança cultural de matriz religiosa.

Quando se trata de levar a temática da religiosidade ao universo do currículo e das

práticas pedagógicas se estabelece uma polêmica. Não se trata de discutir apenas o

ensino religioso previsto na Lei 9475/97, mas sim, de refletir sobre a relação do

ensino religioso e da religiosidade no âmbito da escolarização básica. Quando se

considerar religião e cultura como elementos fundamentais à construção de uma

identidade positiva, o ensino da cultura contida na religiosidade afro-brasileira

poderá ser uma excelente ferramenta para o fortalecimento da auto-estima e

identidade da criança negra evitando assim, a construção do preconceito em seu

desenvolvimento no espaço social escolar. Cabe ainda lembrar que a educação não

reduz-se à escolarização. Para Valente (2003, p.105), a educação é a expressão do

social e da cultura que caracteriza os seres humanos e que se transforma ao longo

do tempo por ser histórica.

O verdadeiro sentido da educação é o de socializar o individuo através da

apropriação do conhecimento, logo, da transmissão da cultura. Entende-se cultura

como uma herança de valores e objetivos compartilhados por um grupo

Entende-se prática pedagógica como uma dimensão da prática social orientada por objetivos, finalidades e conhecimentos, e como o conjunto e ações e trabalho realizado por todos no espaço escolar, o ideário pedagógico, as idéias que fundamentam o trabalho do professor, e de toda a comunidade escolar, seu ideal de sociedade e educação. (VEIGA, 1994, p.16).

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relativamente coeso na formação da sua identidade cultural. Educa-se também fora

do sistema educacional formal, um exemplo disso é a educação ministrada nas

casas de culto afro- brasileira como o Candomblé, na maneira pela qual se transmite

seus fundamentos e rituais aos adeptos e no modo pelo qual eles absorvem os

conhecimentos. Uma religião que educa para si própria e para a sociedade, onde já

existe um sistema organizado para a formação cultural de seu povo.

A reconstrução da identidade religiosa e o fortalecimento da auto-estima são

pressupostos básicos para a formação da cidadania das crianças candomblecistas

oriunda das escolas de públicas. A inexistência de disciplina que trabalhe a

religiosidade no ensino fundamental não impede, ao contrário, tem autorizado o

estudo privilegiado das religiões ocidentais, mediante o aprofundamento nos seus

contextos históricos e filosóficos, graças à tradicional distribuição das disciplinas que

estudam o tema. Como o ensino das culturas africanas e afro brasileiros, ainda são

incipientes, o estudo das religiões de matriz africana fica fora e apenas as religiões

ocidentais mantêm legitimidade histórica.

Urge, portanto, incluir no processo educacional, novas experiências em que a

diversidade étnico-cultural possa servir de base à formação plena de cidadania, por

exemplo, através dos valores civilizatórios presentes nas religiões de matriz afro-

brasileiras.

Pesquisas Bibliográficas (SANTOS, 2004/ ARAÚJO, 2001 / ANDRÉ, 1995) sobre

relações raciais e religiosas apontam dificuldades de relacionamento de crianças

negras no espaço escolar, gerando tensões no ambiente educacional provocados

por seu pertencimento às matrizes religiosas afro-brasileiras. No exercício de educar

para vida, o pensamento africano, transmitindo a partir de narrativas míticas, pode

ser considerado como prática educacional que chama a atenção para princípios e

valores que vão inserir a criança ou jovem na história da comunidade e na grande

história da vida, produzindo ações sociais comprometidas com a vida das pessoas,

bem como dos problemas que elas enfrentam na sociedade.

O aprendizado que as crianças e jovens trazem dos terreiros de candomblé pode-se

dizer é uma educação multicultural. O convívio com os orixás elabora uma vivência

25

singular entre o sagrado e o humano, a natureza e a sociedade, adultos e crianças,

a tradição e a modernidade (ou pós-modernidade), a vida e a morte. Crescer em um

terreiro de candomblé (e também de umbanda) é aprender a conviver com as

múltiplas diferenças e partilhar, com isso, uma nova perspectiva de educação, anti-

racista e plural. Há muito a escola perde essa experiência porque é longa a sua

prática de silenciar culturas não hegemônicas.

As relações existentes no processo de construção e significação das diferenças

religiosas na sociedade precisam ser muito bem compreendidas. É necessário que o

professor valorize a diferença religiosa das crianças candomblecistas no sentido de

reconhecer e afirmar positivamente a pluralidade e a singularidade de cada cultura e

não a aceitação das desigualdades, muitas vezes, justificadas equivocadamente

pela diferença cultural/racial e que resultam na inferiorização destas crianças nestes

ambientes.

Milhares de crianças e adolescentes que frequentam terreiros de Candomblé no

Brasil possuem em comum o amor, o respeito e o orgulho a esta religião afro-

descendente que cultua os orixás. No entanto, parte destas crianças já iniciadas em

sua religião, quando estão em suas escolas escondem suas marcas de iniciação

e negam sua religiosidade para não serem discriminadas e possam assim ser

aceitas socialmente. De acordo com Declaração dos Direitos Humanos:

Nenhuma pessoa pode ser submetida, por causa de sua identidade nacional ou cultural, ao massacre, à tortura, à perseguição, à deportação, à expulsão ou a condições de vida que possam comprometer a identidade ou a integridade do povo a qual pertence. (Art. 4, Declaração Universal dos direitos dos povos)

Mesmo que muitas vezes a escola perceba que está tratando com crianças que

possuem em suas efetivas particularidades valores religiosos e construções sociais

diferentes, o que prevalece é a prática universalista da cultura que resulta no

fortalecimento das culturas hegemônicas. Portanto, o sistema educacional escolar é

inclinado a acolher uma visão eurocêntrica, que reproduz preconceitos na sala de

aula e no espaço escolar.

26

A escola deveria ser um espaço para a afirmação da igualdade, tendo como

legitimidade a base em que a cultura deve ser comum a todos os cidadãos, tendo

acesso e colaborando na sua permanente construção.

A identidade religiosa da criança candomblecista no espaço social escolar, por não

ser aceita ou legitimada pelo sistema escolar, é atropelada pelo racismo e suas

derivações, como o preconceito e a discriminação religiosa. Essas práticas sociais

são fundamentadas numa ideologia de superioridade e dominação, corroboradas por

um processo de desfiguração da identidade social e cultural da população que

cultiva a religião matriz afro-brasileira e africana.

No processo educativo, a escola é o espaço privilegiado para o desenvolvimento

afetivo e cognitivo de seu educando, estimulando neles a formação de hábitos,

valores e comportamentos que respeitem as diferenças e as peculiaridades de cada

grupo. O contato social que a criança estabelece na escola, amplia e intensifica sua

interação com outras crianças, com jovens e adultos e com outros objetos de

conhecimento.

Essas experiências podem ser positivas ou negativas para o pleno desenvolvimento

da criança, o que dependerá da maneira como a escola trabalhará os tópicos

relacionados ao afetivo, social, racial e intelectual. Na organização escolar e nas

relações sociais que se estabelecem no seu interior, de forma explícita e/ou

implícita, permeiam valores e crenças construídas no imaginário da sociedade,

imaginário no qual o ideal religioso e as experiências culturais de cristãos / católicos

são símbolos de valor e de identidade religiosa social.

Por essa razão, a escola se defronta com pontos de tensão entre diversidade e

homogeneidade e precisa pensar na necessária abordagem e articulação entre

educação e a perspectiva multicultural, para que os educadores possam assumir a

responsabilidade de desconstruir as atitudes e posturas discriminatórias e

preconceituosas do pensamento hegemônico.

A escola deve contribuir para desenvolver um olhar diferenciado sobre os fatos e

oportunizar aos educandos no Ensino Fundamental, a refletirem de que forma foi

27

construída a história das religiões no Brasil, ou seja, uma leitura que apresenta um

povo colonizado por portugueses com forte influência católica; assim como uma

visão das manifestações religiosas e culturais do povo africano, que chegou ao

Brasil por meio da força do colonizador e de seus conceitos religiosos e culturais. O

educando, assim, poderá conhecer e debater sobre mais um traço fundamental que

integra e constitui um Brasil multicultural, pluriétnico e pluri-religioso.

Sendo a escola um lugar social concebido como espaço das várias aprendizagens e

das vivências concretas dos professores e estudantes, é possível que os símbolos e

mitos africanos sejam inseridos na escola visto que vivemos numa cidade onde

esses saberes estão presentes e fazem parte da nossa cultura. Assim, é possível na

prática pedagógica, que os docentes utilizem em sala de aula a diversidade cultural

frente ao legado africano e afro-brasileiro e as diversas denominações religiosas.

Estamos cientes de que o desafio é grande, mas mudanças serão imprescindíveis

em algumas escolas que estão caminhando rumo à pesquisa sobre as matrizes

religiosas africanas, buscando a cumplicidade com seus profissionais e

transformando o que antes eram problemas em oportunidades para o crescimento

da comunidade escolar como um todo, resgatando o elo com as heranças de

matrizes religiosas, fortalecendo os vínculos entre as relações de terreiros com

áreas escolares, visando sempre o melhor aproveitamento para o educando,

proporcionando ao mesmo um conhecimento diversificado, para que entre iguais

seja visto em sua individualidade, proporcionando assim seu pleno fortalecimento

enquanto sujeito.

No âmbito escolar, o objetivo principal da educação inicialmente é a socialização da

criança. Assim, ao identificar a sua religiosidade de matriz africana e afro-brasileira,

cabe à escola socializar esta criança dentro de normas de ensino não burocrático e

hierárquico.

Na educação do candomblé, há a intenção de socializar a criança com menos

burocracia por meio de seus valores religiosos e ensinamentos de sua herança

cultural. Nessa formação, a identidade da criança candomblecista se inicia através

de um estudo informal de depoimentos do “povo de santo”, que além das histórias

28

de vida de seus antepassados, podem transmitir a experiência do aprender ouvindo.

Para Mãe Beata de Yemonjá: “[...] a oralidade não é apenas a fala do povo-de-santo,

é antes, sua estrutura, sua constituição.”

29

3 O PAPEL DO EDUCADOR NO TRATO COM A DIVERSIDADE CULTURAL E

RELIGIOSA

Candomblé é uma religião culturalmente rica, pois sua dança, roupas, música e

comidas têm um papel muito importante nos rituais, considerado por seus adeptos o

culto afro que mais preserva as origens africanas. O candomblé é a denominação

genérica das religiões de matriz africana, difundidas e praticadas no Brasil,

especialmente na Bahia, onde surgiram os primeiros e mais tradicionais terreiros.

Segundo cadastro da ACBANTU e pesquisas de revistas e censos há

aproximadamente 3.800 terreiros em Salvador.

Identificamos várias formas de preservação cultural no campo da religião dentre

elas destaca-se a resistência do escravizado que se expressava em sua cultura e

que assumiu a forma de um protesto sutil, inteligente e resistiu na sua identidade

interior. Quando parecia aceitar a imposição de práticas religiosas por parte dos

dominadores, na realidade adaptava-as à sua cultura e mantinha viva, através desta,

a lembrança de sua origem e de seu mundo. Segundo José Bertazzo (2002), “as

danças e os batuques eram vistos pelo branco, como puro lazer, uma forma de

aliviar as tensões, mas para o escravo, era um meio de perpetuar os mitos dos

Orixás.

A população candomblecista alimentou ao longo do tempo forte consciência da

ancestralidade de sua história e muito orgulho da nobreza de suas tradições

religiosas e culturais. O juízo de valores preconcebido, ou preconceito, encontrado

em todas as partes do mundo, sempre acompanhado por atitudes discriminatórias

contra o indivíduo ou grupo das entidades religiosas de matrizes africanas, não

compreende como a força de resistência destes povos foi importante na época

escravagista. Os povos juntavam-se para cultuação religiosa independente de sua

nação. Para Kamananjê do terreiro Bate Folha, a diferença de raça, religião e

cultura não foi vista pelos colonizadores como riqueza humana. Isto foi um grande

equívoco, pois a diferença foi considerada como inferioridade.

Na prática docente constatei que a educação desenvolvida no espaço social escolar

tem contribuido para reforçar e reproduzir preconceitos, mecanismos de exclusão e

30

discriminação contra os praticantes das matrizes de religião afro- brasileiras. Um

processo que vem através de décadas e até mesmo com a utilização de educadores

afro-descendentes, oriundos de comunidades religiosas aqui na Bahia. No entanto,

estes não se reconhecem como religiosos porque pesam sobre eles uma enorme

pressão da sociedade, que nega tais experiências religiosas. Como conceber que no

Municipio de Salvador não se considera como componente de valores culturais os

adeptos do Candomblé?

A Constituição asegura o direito inviolável à liberdade de consciência e de crença. A

escola é o espaço de socialização do sujeito e o que deve fazer é construir com as

crianças e jovens o conhecimento da pluralidade, da diversidade de expressão

religiosa existente em nossa sociedade, trabalhando as formas universais que

atendam as diferentes culturas, estimulando os alunos a pensar a religiosidade

como expressividade humana, incentivá-lo a conviver com todos os segmentos

religiosos, inclusive o de matrizes africanas.

A educação, sobretudo a educação básica nas escolas, deve dar visibilidade à

diversidade, a essa e a outras formas de interagir com o sagrado e, assim contribuir

para a construção das relações de convivência entre praticantes de diferentes

religiões. A intolerância religiosa, no caso específico da direcionada contra o

Candomblé e outras expressões religiosas de matrizes africanas, vem associada de

mecanismos racistas e de dominação, um desastroso processo de alienação,

autonegação e perda de identidade de crianças e jovens, isso porque impõe a

negação da história dos costumes, das tradições, das crenças e religiões dos seus

ancestrais.

O espaço social escolar deve estar voltado para a construção de valores e práticas

de relações humanas que permitam o reconhecimento da diversidade, da

pluralidade cultural e religiosa e o respeito a essa diversidade no sentido de superar

as descriminações e relações de exclusão dentro de nossas escolas.

De acordo com JERUSE ROMÃO (1999 p.10):

A primeira e importantíssima atitude a ser tomada pela escola e

31

pelos educadores é a de compreender os alunos como seres individuais que pertencem à cultura coletiva. Ou seja, um aluno não é igual ao outro. Nem mesmos aqueles que se parecem iguais.

Na sala de aula as crianças irão apresentar características individuais que se

somam às características do coletivo do qual fazem parte, mas, nós os educadores,

por vezes somos levados a concluir que ensinar é transmitir conhecimentos para

alguém que nada sabe. Esquecemos que as crianças têm toda uma vida antes e

fora da escola e, que ainda vivenciam outros espaços educativos que ora

complementam, ora divergem, das informações passadas pela escola.

Se não estivermos preparados para trabalhar com a diversidade, tendemos a

padronizar o comportamento de nossos alunos, com uma postura etnocêntrica, logo,

tolhemos suas potencialidades. As crianças de comunidades de terreiros são de

diferentes identidades, a maioria com responsabilidades religiosas, e assim como

adultos, muitas desempenham funções importantes, ocupam cargos na hierarquia

do culto e manifestam orgulhos de sua fé. É necessário investir na capacidade

destas crianças, motivá-las a compartilhar e contribuir para o espaço social escolar

em que vivem, pois isto muito contribuirá para a promoção de seu sucesso pessoal e

escolar.

Na escola, o papel dos educadores deve ser o de buscar informações reais e

concretas sobre as crianças vindas destas comunidades, redescobrir a história delas

e possibilitar a troca entre os diversos grupos sociais daquele espaço, ser mediador

no processo de transformação na escola, atuar contra os preconceitos, promover a

igualdade e compreender que a criança também tem saberes a serem transmitidos.

Um professor comprometido busca os conhecimentos sobre a história e cultura de

seus alunos e de seus antecedentes e a compreensão dos preconceitos embutidos

na postura, linguagem e prática do espaço escolar. Informar corretamente neste

espaço os fatores culturais e históricos presentes, assim permitindo que o processo

de troca e conhecimento seja pautado por igualdade.

A escola é parte da sociedade e um dos meios de interação com o mundo. O

educador é o maestro, o que comanda esta música entre espaço social escolar e o

32

mundo, assim se faz necessário na motivação que buscamos para reforçar a auto-

estima de nossas crianças e adolescentes, incorporar a nossa prática pedagógica,

os mais diversos elementos que contribuam para a interação destas crianças no

mundo social escolar e além dele. “A escola prepara o indivíduo para o Mundo...”

O que refletiremos é se estamos trazendo o mundo e suas diversidades para a

escola. Reconhecemos como conhecimento, as diversas experiências educativas

que as crianças vivenciam fora dela, como exemplo as religiões de matrizes afro-

brasileiras e africanas, o riquíssimo acervo cultural, político e histórico presente em

suas vidas de comunidade religiosa que poderá fazer parte da escola. A criança, ao

perceber que sua história e cultura interagem no seu espaço social escolar, sentirá

que realmente pertence aquele grupo.

Trazendo a diversidade para a escola, rompemos com um preconceito presente no

sistema de ensino e em tantos espaços institucionais. Responderemos aos anseios

de pais e mães destas comunidades religiosas que os preconceitos culturais

religiosos impostos no passado foram superados por suas crianças, possibilitando

que façam o que gostam como foi ensinado por seus mais velhos e se sintam

aceitos com aqueles que convivem.

É necessário pensar o que a criança candomblecista é, como esta se forma, que

conhecimento produz, e situá-la nas relações objetivas e simbólicas nas quais está

inserida, pois ao entendermos a escola como espaço que colabora com essa

formação apresentada em sua prática, estaremos entendendo que é também na

escola que a criança se situa, interage e adquire o conhecimento paralelo ao que ela

traz ao chegar a esse espaço.

No espaço escolar devemos associar a experiência à razão para validar a relação

pedagógica do educador com as experiências das crianças de religião matriz afro

brasileira, tendo como objetivo vencer a barreira na produção da existência destes

pequenos seres humanos. Por isso, é fundamental um olhar mais apurado do

educador com a criança candomblecista.

Devemos nos ater ao cotidiano em sala de aula e na escola, observar e descrever

33

os modos de interação e interlocução existentes neste espaço social e buscar

explicações para aqueles eventos que podem ser relevantes as nossas

observações. Dessa forma, um olhar exploratório na interação destes processos

desenvolvidos no espaço escolar e com bases neles um estudo exploratório de

como se constitui a educação e identidade social da criança candomblecista na sua

comunidade.

Ao ser transportado para o espaço escolar a criança candomblecista tem muito a

transmitir, as crianças de terreiros crescem entre orixás, entre “as coisas do santo” e

se preparam para receber cargos na hierarquia do culto e para, se for o caso,

incorporar os orixás. Sua linguagem é construída através de conhecimentos do dia a

dia, da oralidade em sua comunidade. Isso vale também para o aprendizado das

palavras em yorubá que circulam nos terreiros e nos livros.

As palavras relacionadas aos artefatos, comidas e funções são mais facilmente e

rapidamente compreendidas, inclusive, na sua tradução para o português. Já os

cantos, muitas vezes são reproduzidos por todos, mas a sua compreensão é

transmitida de forma bastante distinta. José Baniste (2002) autor de vários livros

sobre candomblé e professor de Cultura e Conhecimento em Terreiros de

Candomblé, afirma que o conhecimento das coisas do santo é passado na medida

em que haja participação, pois tudo se aprende fazendo. Ainda segundo ele, não há

uma cultura didática, há uma cultura de imitação. Viu, repetiu, aprendeu.

As crianças tendem a manifestar essa cultura adquirida na sua comunidade religiosa

em brincadeiras, conversas, desenhos ou atividades escritas feitas no espaço

escolar. O educador deve trabalhar com a criança numa perspectiva mais ampla,

explorando as múltiplas possibilidades de interação desta criança e a expressão

cultural de sua comunidade. A constatação da criança como ser ativo, capaz de

conceber idéias, num significado de dimensão sócio histórica, inserida numa cultura,

que também interferirá no âmbito social.

Ao aprofundar a reflexão sobre o modo pelo qual a criança se vê e se avalia na

escola, tendo como foco não somente a relação aluno/religião/espaço escolar, mas,

também os processos envolvidos na interação aluno/religião/aluno, observa-se um

34

processo de discriminação nas interações estabelecidas entre as crianças e que de

alguma forma interferem na formação social da identidade dos alunos. Dessa forma,

cabe ao educador interagir para interromper essa discriminação. No exercício de

educar para a vida, o pensamento africano mantém como tradição as histórias

míticas que podem ser consideradas como práticas educacionais.

Esse encontro com a diversidade cultural pode constituir uma experiência

extremamente enriquecedora para as crianças deste espaço escolar, mesmo porque

ele ocorre na dimensão lúdica da convivência informal, pautadas por brincadeiras e

momentos de liberdade no espaço escolar. Uma proposta de reflexão sobre as

crianças afro-descendentes e o seu legado religioso no intuito de encaminhar

subsídios para os professores de rede pública de educação, em especial das

escolas com porcentagem maior de crianças de comunidades de matrizes africana e

afro brasileira.

Compreender os fundamentos das religiões de matriz africanas, por meio de aulas

de História, como códigos sócios culturais, referentes à outra forma de sociabilidade,

pode ser um dos caminhos para afastar atitudes como a indiferença, a intolerância e

o preconceito na educação escolar. Essa perspectiva de compreensão contribui para

que a criança adepta de religiões de matriz africana, possa ver sua religião ser

abordada na escola, especialmente no ensino da história de seu país como uma

referência identitária positiva. E através de professores com orientações adequadas

e materiais que permitam entendimento desta temática, acontecerão mudanças de

mentalidades e práticas educativas no espaço escolar.

Cientes da importância da valorização de todas as abordagens da cultura africana e

dos afro-brasileiros nas escolas, o nosso propósito foi o de tratar especificamente da

religiosidade africana no espaço social escolar. Segundo a lei número 7.716/89,

conhecida como Lei Cão em seu Artigo 20, que instrui o registro de casos de

intolerância religiosa. “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito

de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a

três anos”

35

Portanto, reflexões no espaço escolar com um novo olhar para enfrentar a

discriminação religiosa, injustiças sociais, sensibilizando-nos para um sentindo maior

da nossa existência, que é o respeito à diferença e conseqüentemente ao outro, seja

ele de que raça ou religião contribuirá para um olhar educacional voltado para

diversidade.

A lei 10.639/03, que altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que

estabelece as diretrizes e bases de educação nacional, para incluir no currículo de

forma oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura

Afro-Brasileira”, dá outras providências e pretende transformar os brasileiros, desde

bem cedo, em povos mais conhecedores de suas origens, o que melhoraria a

convivência entre negros e brancos no país e, além disso, derrubaria

obstáculos culturais que, muitas vezes, impedem uma aproximação real entre

brasileiros e africanos.

Na prática, a aplicação da lei tem sido feita de forma isolada e precária por alguns

professores de determinadas escolas do país. A implementação deveria ocorrer em

forma de sistema e envolver todos os atores necessários para que seja conhecida e

utilizada um segmento contínuo, não apenas pela boa vontade. Isto porque o

currículo é etnocêntrico, não só de raiz européia, e, portanto, cabe o espaço social

escolar incluir no contexto dos estudos não apenas culturais dos povos que

colonizaram nosso país, mas também suas contribuições históricas que fazem parte

da nossa sociedade.

O processo de aprendizagem deve informar a verdadeira história da colonização, da

presença e herança dos símbolos, crenças, religiosidade, culinária, aspectos

educativos, de nossos ancestrais africanos, influenciando assim a desconstrução

dos olhares negativos à nossa cultura. A implementação de políticas de combate ao

racismo, à intolerância religiosa e à descriminação é condição essencial para que as

injustiças sejam proscritas e o País possa enfim caminhar de forma democrática.

A discussão constante sobre as religiões de matrizes africanas e afro-brasileiras no

espaço social escolar será uma grande oportunidade frente aos novos paradigmas

educacionais, pois uma parceria baseada no conhecimento cultural e religioso

36

transmitido pelas crianças candomblecistas permitirá a compreensão de uma rica

cultura da humanidade.

37

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A religiosidade afro-brasileira e africana presente na sociedade brasileira faz parte

da cultura do país e deve ser abordada no espaço social escolar, pois a escola

contribui para o processo de construção de identidade e por essa razão é que o

ensino de História e Cultura Afro- brasileira e Africana deve perpassar nas

disciplinas na escola pública brasileiras.

O candomblé, parte desse processo, precisa ser abordado pela escola. Quando se

trata de levar essa temática ao universo do ensino religioso uma polêmica se

estabelece, mas a idéia não é de discutir apenas o ensino religioso previsto na Lei

9475/97, mas sim de refletir sobre a relação do ensino religioso e da religiosidade no

âmbito do espaço social escolar.

A manutenção de um conjunto de idéias errôneas sobre as religiões de base

africana é prejudicial à formação das crianças, visto que o ensino da cultura contida

na religiosidade afro- brasileira pode ser excelente ferramenta para o auto- estima e

identidade da criança candomblecista: “A educação é expressão do social e da

cultura que caracteriza os seres humanos e que, por ser histórica, transforma-se ao

longo do tempo”. (VALENTE, 2003).

Portanto, numa perspectiva mais abrangente, o nosso propósito foi o de incluir no

processo educacional nova experiências em que a diversidade étnico-cultural possa

servir de base à formação plena de uma cidadania, como por exemplo, os valores

civilizatórios presentes nas religiões de matriz afro-brasileiras.

38

REFERÊNCIAS

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39

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40

ANEXOS

Anexo 01

A educação familiar.

41

Anexo 02

Crianças brincando no terreiro de candomblé

42

Anexo 03

GRYOT

Aquele que transmite a fala dos ancestrais para as novas gerações.