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CP v 01 ABR1993 Setor de DocumenUçso CABEÇA DUR*. AS TÉCNICAS JAPONESAS NA ELETROMETAL CONGRESSO NACIONAL DOS MOVIMB4TOS POPULARES DECLARAÇÃO DOS PCs DA AMÉRICA LATINA MISERÁVEIS ENCHEM AS RUAS E CAMPOS OS PLANOS DOS YANKEES CONTRA CUBA ALTERNATIVAS DA ESQUERDA NO MUNDO

AS TÉCNICAS JAPONESAS NA ELETROMETAL • CONGRESSO … · de verticalização ^ mo "terceirizar" (outsourdng) com a em^sas ficou a nu, vale dizer, quês- mera compra de suprimentos

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CP v

01 ABR1993

Setor de DocumenUçso

CABEÇA DUR*.

• AS TÉCNICAS JAPONESAS NA ELETROMETAL

• CONGRESSO NACIONAL DOS MOVIMB4TOS POPULARES

• DECLARAÇÃO DOS PCs DA AMÉRICA LATINA

• MISERÁVEIS ENCHEM AS RUAS E CAMPOS

• OS PLANOS DOS YANKEES CONTRA CUBA

• ALTERNATIVAS DA ESQUERDA NO MUNDO

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Quinzena Trabmthadorts O Estado de São Paulo • 17.03.33

A ESTRATÉGIA DA TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL A mais comum visa reduzir custos com diminuição da força de trabalho,

ou melhor, dos holerites e dos conseqüentes encargos sociais

RobenHearySrour cipal de geração de riqueza, a ineficá- Nao se deve confundir o neologis- cia ^ estratégia de verticalização ^

mo "terceirizar" (outsourdng) com a em^sas ficou a nu, vale dizer, quês- mera compra de suprimentos fora da tiona-se a estratégia que visa produzir empresa. Em toda economia de mer- internamente tudo aquilo que concorre cado, e mesmo em economias de co- p^ 0 produto final e que, de alguma mando, não existem empresas plena- forma, agrega-lhe valor, mente auto-suficientes. Vale dizer, Mas ^ ^ isso occcre? p^^ que operem como se fossem entidades agora tomovse possível, por exem- autárquicas no tocante às suas fontes pl0) que gênios ^ Moimáúcz ^ de abastecimenta Essas chegam a banquem empresas blue chips, ou que existir em economias de subsistência inovações tecnológicas e novas for- ou em herdades senhoriais e, mesmo ^ ^ gestão sacudam os ve]hos ^ assim, com reticências. p^ in^^^ (j09gtB ^^ 0 caso

A estratégia da terceirização diz norte-americano diante dos concor- respeito a outro tipo de processo: ao rentes ^^ e ^^^ Com j^ esforço das empresas em hvrar^e de niftam ^^ ^ muralhas ^ velha

atividades que não constituem sua ^^^ ^ chaminés e escancara. vantagem competitiva ou seu centro ma^ ^ p^ ^ a aova ^^ estratégico de produção de valor. gração ^ ^^ ^^ do capitaüano Quer dizer, que nao atinjam aquüo ^ fisco e da economia de mercado que os norte-amencanos chamam i- descentralizada, traços típicos de ca- legível business ou o âmago, o üegl^ pitalismo ^^^ ^ p,^^ vel do negócio. E, daí para frente. Revolução Industrial. É neste con- trata-se das empresas contratarem tais text0 que „ einpresas mundiais ^ produtos e serviços em condições 0perado ^ sucesso 0 chamado

mais vantajosas. ^j^ ^aning», buScando no mun- Além do mais, a escolha do que s^ do inteiro fornecedores com a melhor

rá terceirizado transcende a simples combinação entre preço, qualidade e divisão entre atividades de apoio - p^s ^ ^^^ que poderiam ser repassadas sem risco porém> o que mais inçorta para a fornecedores - e atividades-fim. a inteügibiüdade do processo que es- Porque. desde há muito tempo, tercei- ^^,5 analisando é que, nessa nova rizam-se igualmente parte das ativida- ctapa & capitalismo transnacional e des-fim. E, em certos casos, com evi- ^ Terceira Revolução Industrial, o dente êxito. Basta citar para isso o pnxesso de competição foi plena- exemplo emblemático das montadoras ^^ reabflitado, ^ contraste com automóveis ou da Xerox norte-ameri- ^ tendências monopolistas da etapa cana• anterior (capitalismo oligopolista da

Segunda Revolução Industrial). Até A VERTICALIZAÇÃO INEFICAZ ^ ^ p^^, w „ ^^

Recentemente, com a introdução não podemos predizê-lo. das chamadas novas tecnologias, o conhecimento tomando-se fonte prin- A PRODUÇÃO "CENTRADA" ASSINATURAS: IndMdual Cf$ 200.000,00 (6 meses) eCr$ 400.000,00 (12 meses) Enídades sindicais e outros Crt 25a000,00 (6 meses) eCí$50a000,00 (12 meses) Exteriof (via aérea) US$ 50,00 (6 meses) e US$ 100,00 (12 meses) O pagamento deverá ser feito em nome do CPV • Cento de Documentação e Pesquisa Vergueiro em cheque nominal cruzado, ou vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO BELA VISTA - CEP 01390-970 - Código da Agenda 403.300.

QUINZENA-Publicação do CPV-Caixa Postal 65.107-CEP 01390-970-Sáo Paulo-SP Fone (011)285-6288

A terceirização enfoca de imediato a delicada relação entre força de tra- balho e empresa, na tentativa explícita de tornar mais leve a estrutura organi- zacional. E, ao ser aplicada, transmu- ta-se numa relação entre fornecedor e empresa, porque assume, desde logo, as feições possíveis e não excludentes de locação de mão-de-obra, de su- bempreitada, de contrato de pesquisa, de constituição de franquias, de licen- ça de patente ou ainda de licença de marcas.

Mas a terceirização encontra apoio e similaridade numa outra estratégia de "focalização" e "enxugamento" organizacional que fez tocar os sinos da antiga estratégia da verticalização e de diversificação a qualquer custo.

As empresas, agigantadas por inú- meras incorporações e empreendi- mentos satélites, livram-se de negó- cios que não representam seu centro estratégico de produção de valor ou que não têm relação com aquilo que melhor sabem fazer. São ilustrações disso firmas industriais que abriram mão de suas operações financeiras; ou indústrias de cosméticos que repassa- ram para frente seus negócios na área medicinal; ou ainda indústrias de ali- mentos que venderam sua locadora de automóveis assim como suas fábricas de engarrafamento de Coca-Cola, de absorventes higiênicos e de sutiãs.

AS MODALIDADES No tocante ao Brasil, podemos

identificar duas modalidades básicas de terceirização que estão em curso. Uma, importada do Primeiro Mundo, integra uma estratégia relacionai. Ela consiste, a rigor, em almejar tanto

A QUINZENA divulga o debate do movimen- to, contudo coloca algumas condições para tanto. Publicamos teses, argumeotaçòes e ré- plicas que estejam no mesmo nível de lingua- gem e companheirismo, evitando-se os ataques pessoais. Nos reservamos o direito de divul- garmos apenas as partes significativas dos tex- tos, seja por imposição de espaço, seja por so- lução de redação.

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elementos de produtividade quanto condições novas de competitividade. É uma estratégia que deriva, em últi- ma instância, de um imperativo que as tecnologias gerenciais da qualidade impõem.

Outra, mais universal, porém mais a gosto do autoritarismo tupiniquim, integra uma estratégia de confronto e consiste, a rigor, em reduzir custos. Pretende assim enfrentar a recessão e fazer face à eliminação gradativa do protecionismo vigente, bem como das reservas de mercado.

A primeira modalidade, de cunho cooperativo, é mais afeita a empresas cujas formas de gestão são liberais. Nessa modalidade, cultiva-se a parce- ria (em sentido forte) no trato dos em- pregados, mas também na relação com os fornecedores e os clientes.

Esta nova filosofia implica uma relação de confiança (partilha de co- nhecimentos tecnológicos e informa- ções estratégicas), negociações orien- tadas por um posicionamento "ganha- ganha", o diferimento na realização dos lucros (perspectiva de ganho a médio ou longo prazo), o privilegja- mento do fonecedor único para dados produtos e serviços e sua conversão numa espécie de extensão do empre- endimento, uma abordagem da quali- dade avançada (de tipo "garantia de qualidade" ou "gestão estratégica da qualidade") e, finalmente, uma postu-

ra eminentemente inovadora diante das injunções do ambiente externo.

Em contrapartida, a segunda moda- lidade, de cunho confrontador, é mais afeita a empresas cujas formas de questão são autoritárias. Nessa moda- lidade, cultiva-se o antagonismo no trato dos empregados, assim como na relação com os fornecedores e os clientes.

Esta filosofia tradicional implica uma relação de desconfiança generali- zada (afora a cúpula da empresa, to- dos os "outros" são inimigos ou ad- versários), as negociações são orien- tadas por um posicionamento "ganha- perde", há um afã para obter lucros a curto prazo, privilegia-se a tática do "leilão" entre fornecedores (tática na qual o preço é tudo), adota-se uma abordagem tosca da qualidade (a ins- peção da qualidade ou, quando muito, o controle estatístico do processo) e, finalmente, assume-se uma postura eminentemente reativa diante das in- junções do ambiente externo.

O SENTIDO Ou seja: enquanto que na primeira

modalidade visa-se essencialmente a uma plena satisfação do cliente, atra- vés da "revolução da qualidade", na segunda modalidade objetiva-se es- sencialmente reduzir custos através da diminuição da força de trabalho, ou melhor, dos holerites e dos conse-

qüentes encargos sociais da mão-de- obra.

Qual desses formatos predomina hoje no panorama brasileiro? Eis uma pergunta lícita que cabe fazer, inves- tigando empiricamente o tipo de ter- ceirização que a maioria das empresas brasileiras adota. De forma impressio- nista, parece-nos que predomina a modalidade mais tradicioal e, portan- to, mais perversa e menos propícia à satisfação dos clientes, dos fornecedo- res e, sobretudo, dos próprios empre- gados. Isso significa que a terceiriza- ção, neste caso, não é uma terapia inofensiva, mas um remédio que im- plica efeitos, colaterais...

Em ambas as modalidades, porém, a estratégia da terceirização tem ínti- mos nexos com reestruturações orga- nizacionais de vulto. A começar pelo fato de que ela exige uma compaübili- zação com as demais estratégias da empresa e, por via de conseqüência, também com a sua forma de gestão.

Por isso mesmo, a terceirização me- rece madura reflexão por parte das cúpulas das empresas, quer para ser competentemente enunciada, quer pa- ra ser implantada. Pois não é pana- deia, nem é exercício que se possa confiar a amadores. #

Robert Heniy Srour é doutor em Soddogia pela USP e diretor da RHS - Serviços CieníRcos S.C. Lida., empresa de consultoria organizacional e de desenvolvimento gerencial

Os Trabalhadores e a Terceirização Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Rumo à Unificação - CUT - FevJ93

AS PROPOSTAS DOS METALÚRGICOS FRENTE

Nós, Metalúrgicos, reunidos nos dias 23, 24 e 25 de Outubro em São Bernardo do Campo, analisamos o processo de terceirização em curso e, a partir disso, propomos alternativas do interesse dos trabalhadores e da sociedade em geral.

Queremos destacar que este encon- tro resultado de um amplo trabalho de pesquisa e debate junto às diretorias dos sindicatos, comissões de fábrica, departamentos de assessoria e nossa müitância em geral.

Entendemos que a terceirização - enquanto transferência de atividades entre empresas - parte do acelerado

A TERCEIRIZAÇÃO processo de reestruturação industrial. Analisamos neste Encontro suas ca- racterísticas no cenário internacional, bem como a assim chamada terceiriza- ção "à brasileira".

Se ainda hoje as empresas teiceiri- zam prioritariamente nas chamadas áreas de apoio (limpeza, alimentação, segurança, transporte, etc), verifica- mos com preocupação o crescimento da terceirização em atividades como ferramentaria, manutenção de máqui- nas e outras ligadas diretamente à ati- vidade-fim. Segundo levantamento do DIEESE, realizado em nossa catego- ria, 25% das empresas pesquisadas

terceirizaram a área de ferramentaria. Lembramos ainda que este é um

processo que tem afetado não apenas os trabalhadores metalúrgicos ou do conjunto da indústria, mas também os do sistema financeiro, do comércio e assim por diante. A abertura indiscri- minada do mercado brasileiro, e a im- plementação de acordo como o que envolve a formação do Mercosul, são fatores que alimentam o crescimento desta reestruturação.

Os defensores da terceirização não apontam os prejuízos que tal processo acarreta aos trabalhadores. Quando muito falam em "distorções". Nada

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dizem sobre o desemprego causado. Não falam que o objetivo de reduzir os seus custos passa especialmente pela redução de salários, benefícios e encargos sociais. Em geral, assistimos à degradação das condições de traba- lho nas empresas sub-contraíadas, com ritmo de trabalho mais intenso, salários menores, perda de benefícios como alimentação, transporte e assis- tência médica, entre outros.

Finalmente, em inúmeros casos, e mais uma vez de maneira equivocada e retrógrada, os empresários buscam também o combate às organizações e conquistas sindicais.

Por tudo isto, destacamos mais uma vez nossa disposição em debater todas as grandes questões relacionadas à construção de uma política industrial para o Brasil, ao mesmo tempo em que reafirmamos nossos princípios de luta pela democratização dos locais de trabalho, e do conjunto da sociedade. Nesse sentido, reafirmamos também de forma clara que continuaremos a lutar firmemente não apenas pela ma- nutenção, como pelo avanço dos di- reitos e conquistas dos trabalhadores.

Nosso Sindicato tem buscado ne- gociar e contratar os processos de ter- ceirização, discutindo-os, em busca de uma efetiva modernização industrial e melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Os trabalhadores já se mobilizaram contra algumas experiên- cias e propostas de terceirização que perceberam prejudiciais, chegando em ai uns casos até à greve.

Em algumas empresas, como Vol- kswagen e Ford, já obtiveinos avanços importantes, garantindo-se a negocia- ção prévia de qualquer transferência de atividade para terceiros. Iniciamos negociações também com a Mercedes- Benz, e o faremos com outras empre- sas.

Por tudo isso, e visando intervir de modo mais expressivo sobre o proces- so de terceirização, parte de uma am- pla reestruturação da economia brasi- leira, elaboramos o diagnostico acima apresentado, definindo um conjunto de diretrizes e propostas que passam pela organização sindical, pela con- tratação coletiva, e pela redefinição da política industrial.

Este documento e esta reflexão não devem ser vistos de forma isolada. Ao contrário, aprofundamos aqui a expe-

riência de nossa participação na Câ- mara Setorial do Complexo Automo- bilístico, pretendendo com isto avan- çar no rumo de uma política industrial construída de forma democrática.

AÇÕES PRIORITÁRIAS 1. Investir na conscientização e

mobilização da base frente à terceiri- zação, ampliando o nível de informa- ção e disseminação propostas dentro das fábricas (campanhas nacionais/ie- gionais, cartilhas, vídeos etc.).

2. Lutar pelo enquadramento sindi- cal como metalúrgicos, dos trabalha- dores das firmas de 'terceiros" que atualmente prestam serviços dentro das empresas contratantes.

3. Revisar cláusula da convenção relativa ao tona, e incorporá-lo no debate sobre contrato coletivo de tra- balha

4. Lutar pela garantia de informa- ção (por escrito), discussão, análise e avaliação prévias para toda e qualquer intenção de transferência de ativida- des da empresa para terceiros.

5. Garantia de retreinarnento e realocação de pessoal afetado de for- ma direta e indireta.

6. Lutar contra a transferência de atividades da empresa para terceiros, sempre que não houver comprovação de possibilidades efetivas de melhoria de custos, produtividade e qualidade, e quando não houver distribuição dos resultados entre empresas, trabalhado- res e sociedade.

7. Denunciar e combater toda for- ma de terceirização ilegal, especial- mente quando existir relação gerencial hierárquica entre empresa contratante e empregados de terceiros, ou quando a empresa contratada desrespeitar a legislação ou os acordos coletivos vi- gentes.

8. Lutar pela implementação do salário profissional e pela elevação dos pisos salariais de forma a diminuir as diferenças entre empresas da cate- goria.

PROPOSTAS COMPLEMENTARES

1. Discutir política específica para a ampliação do número de comissões de fábrica e delegados sindicais, vi- sando aumentar representações de ba- se, mapeamento e negociação do pro- cesso de reestruturação.

2. Discutir política especifica de articulação entre representações de fábrica e quadros técnicos das empre- sas, com o objetivo de apoio análise e negociação de projetos.

3. Mapear em cada empresa as áreas de possível terceirização, as já terceirizadas e aquelas onde a terceiri- zação é inaceitável,

4. Acompanhamento pelo sindicato das empresas onde não haja organiza- ção de base.

5. Divulgar para a categoria as condições de trabalho de terceiros (salários, benefícios, rotatividade etc.).

6. Apoiar lutas nas empresas sub- ccm tratadas.

7. Organizar campanha intensiva através da CUT, pela redução da jor- nada, como forma de manter e ampliar o número de postos de trabalho.

8. Vincular a terceirização à redu- ção negociada da jornada de trabalho.

9. Promovo' intercâmbio sindical em nível nacional e internacional, vi- sando articular a luta das firmas cen- trais com a das firmas pequenas ter- ceiras/fornecedoras.

10. Desenvolver programas de for- mação sindical específicos para os trabalhadores de pequenas e médias empresas.

11. Divulgar experiências que não deram certo, problemas de qualidade e "arranjosVcambalachos' em proces- sos de terceirização.

12. Lutar pela transformação das C1PAS em Comissões de Condições de Trabalho, Saúde e Meio Ambiente, para interferir sobre o processo pro- dutivo e a terceirização, controlando suas conseqüências para os trabalha- dores e o meio ambiente.

13. A direção sindical, comissão de fábrica, delegados sindicais e OPA da empresa contratante podem nego- ciar com as empresas de "terceiros", em todos os aspectos necessários.

14. Intervir diretamente na política industrial, discutindo entre outros as- pectos, a necessidade de políticas ge- radoras de emprego.

15. Elaborar propostas para política industrial, garantindo o crescimento do setor e da economia, articuladas às câmaras setoriais.

16. No âmbito do Mercosul, propor que os projetos de reestruturação de setores e plantas sejam previamente

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informados e negociados cem sindi- catos e/ou centrais sindicais.

17. Desenvolver debate junto aos poderes públicos (Judiciário, Legisla- tivo e Executivo), visando a análise das causas e efeitos da terceirização, bem como a formulação e aprovação de legislação em defesa dos interesses dos trabalhadores.

18. Desenvolver propostas e mobi- lizar base para revisão constitucional, em especial no que diz respeito proi- bição da dispensa imotivada.

19. Lutar pela aprovação da Con- venção 87 da OIT.

20. Articular as negociações nas empresas com a prioritária negociação geral da terceirização na categoria.

21. Lutar contra a terceirização ou trabalho temporário nas empresas de terceiros.

22. Lutar para garantir aos traba- lhadores de "terceiros", os mesmos benefícios dos funcionários da empre- sa contratante.

Reafirmamos, com esta reflexão e estas propostas, nossa firmeza de princípios, e nossa disposição em dis- cutir de forma profunda e democrática não só a terceirização, mas também o

conjunto da reestruturação industrial brasileira. Para que esta não contenha apenas a retórica da modernização, mas seja sinônimo de valorização do trabalhador, e de avanço econômico e social, sem o que perde o sentido qualquer proposta dita modemizadora.

• São Bernardo do Campo,

25 de outubro de 1992 Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,

Rumo à Unificação

Foéha de Sáo Paulo - 07. OX 93

TÉCNICAS JAPONESAS REVOLUCIONAM

José Roberto Campos Quando o país mergulhou na reces-

são nos anos 80, o empresário José Diniz de Souza, presidente da Eletro- metal, siderúrgica privada que produz aços especiais, voou em busca de so- luções. Foi encontrar no Japão e seus métodos de Controle de Qualidade Total (Total Quality Cootrol) a ferra- menta para revolucionar a produção da empresa e dar a ela a eficácia das fábricas nipônicas.

Ar professoral, perfeccionista, Di- niz, 64 anos, ex-sócio da Construtora Tenenge que montou sua empresa em 1964, está colocando de portas para o ar a EletrometaL Criou grupos de par- ticipação de empregados, está redese- nhando sua fábrica para adaptá-la às células de produção que serão criadas e deu uma guinada radical nos méto- dos de gestão. Entregou ao "chão da fábrica" os poderes de resolver pro- blemas e tomar decisões - atributos que nos manuais de administração do Ocidente, segundo ele, não prerroga- tivas da direção.

Diniz está investindo - comprou máquinas japonesas -, quer dobrar sua produção até o final de 1994, voltar a atingir neste ano o í aíuramentc da era pré-Collor, de US$ 100 milhões men- sais, reduzido em um terço pela reces- são, e fazer suas exportações saltarem dos 35% atuais para 65% do total das vendas. Não teve prejuízos nestes anos difíceis e está convicto de que a reviravolta em curso na Eletrometal

ELETROMETAL vai dar certo. O motivo? "99% de tu- do que fazíamos era resultado de de- sinformação", crê Diniz.

BUSCAR PRODUTIVIDADE Até 1982 íamos muito bem, depois

veio a recessão de 83 e achei que es- távamos perdidos, não tínhamos saída. Pensei: como melhorar a produtivida- de? A partir de 1985 eu comecei a ir ao Japão duas vezes por ano, onde nos ensinavam a teoria de Deming do Controle de Qualidade Total (TQQ na qual se baseou o modelo industrial japonês. De 1985 a 1990, mantivemos dois engenheiros da empresa perma- nentemente lá. Notamos que 99% do que fazíamos era resultado de desin- formação e o que não era desinforma- ção era inaplicável ao Brasil O que nos interessava era o estágio inicial do método, como ele era no Japão há 20 anos atrás. Em Fort Talbot, a British Steel implantou em 1988 as técnicas usadas em 1975 pelo Japão. Era uma estatal falida, foi privatizada e boje compra uma usina de aço por ano nos Estados Unidos.

TRANSFERIR PODERES A filosofia do Controle de Quali-

dade Total, que na verdade quer dizer controle de qualidade para toda a em- presa, é a de buscar um produto de qualidade com um custo adequado e um prazo de entrega conveniente. Sua estratégia básica é transferir para o

chão da fábrica dois poderes, o de re- solver problemas e tomar decisões. Daí vem a participação dos operários na gestão das empresas. Sem educa- ção e treinamento, o operário é um desastre para si mesmo e para a em- presa. 96% dos trabalhadores japone- ses têm curso ginasial, 90% têm o colegial e 36%, curso superior, 50% de nossos trabalhadores são analfa- betos de fato.

ADMINISTRAR CONFLITOS É preciso resolvo* o conflito que

existe hoje entre os gerentes e os tra- balhadores, uma espécie de luta de classes nas empresas. O gerente teme que, com a delegação de poderes, ele deixe de ser o homem-chave e só quer delegar o trabalho braçal. O brasileiro não faz isto. O sistema ocidental colo- cou três das quatro etapas do processo produtivo - planejamento, execução, controle e ação corretiva - nas mãos de diretores e gerentes. O trabalhador só existe para executar tarefas. Não se quer educá-los para fazerem tudo.

EDUCAR E TREINAR Temos de deixar de pensar que o

CQT é uma varinha mágica, que tem mecanismos que por si só vão criar re- sultados. Não vão. Eles têm que pas- sar por esse grande esforço de produ- tividade que está baseado na educação e treinamento para levar ao chão da fábrica o poder de decidir e resolver problemas, sem o que a força de tra-

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balho nunca será motivada. Sem isto, a foiça criativa, a força mental de uma empresa será de 10% do pessoal que está em cima, em vez de ser de 100%. Por que o Japão é tão bom assim? Porque todo mundo colabora para is- so. Estive no Japão há pouco tempo e vi na porta da fábrica de Mitsubishi o sindicato conclamando que os japone- ses trabalhassem com mais afinco, trabalhassem fora de hora, porque o Japão cresceu só 2% no ano e devia crescer 3%.

DEMOCRATIZAR Cometemos um grande erro na im-

plantação do CQT. Nós começamos a implantá-lo no topo da empresa, entre diretores e gerentes. Eles se sentiram donos do conhecimento e não o transmitiram para o chão da fábrica. A partir de 91 mudamos tudo. Explica- mos o que era o CQT durante 24 ho- ras por dia, nos três turnos. Todos os funcionários da fábrica tiveram o mesmo curso, o curso do peão igual ao curso do diretor.

SIMPLIFICAR NORMAS Os diretores não queriam no inicio,

por exemplo, a normatização, que é o esforço de colocar todos os processos e metas da fábrica sob forma escrita. Pegamos três PhDs para escrever. O resultado foi que, mesmo que os fun- cionários quisessem aplicá-lo, seria impossível Tinha bibliografia de refe- rência, metodologia, extratos de arti- gos científicos enormes. Quando é que um peão com cinco anos de es- cola vai ter interesse em saber biblio- grafia de referência? Hoje é uma re- ceita. O peão faz a receita e o encar- regado registra e o pessoal de cima vai melhorar um pouquinho e assim por diante. Começamos de uma forma artificial, determinando que cada de- partamento deveria fazer dez normas por mês. Começamos de novo. Quais são os problemas da fábrica? Defini- mos dez problemas e procuramos so- luções para eles. As soluções são em- butidas em uma norma de fabricação. E todo mundo é obrigado a fazer um esforço para melhorar a norma.

SOLUÇÕES DE BAIXO

A força de trabalho reagiu muito bem. Criamos um grupo de participa- ção em junho passado. Escolhi os

primeiros 20 membros, com seis me- ses de estabilidade. Depois, serão eleitos. Temos reuniões a cada três meses. Nestes três meses, nós divul- gamos para o chão da fábrica os re- sultados da empresa e os problemas da empresa, eles têm tantas informações como as que os gerentes têm. Eles trabalham muito com sugestões. Não as do sujeito de gravata, mas a de quem está lá, fazendo o negócio para atingir a maneira de tomar a tarefa mais fácil, com menos esforço físico, com menor risco de acidentes e levan- do a um resultado melhor. As suges- tões deles são valiosíssimas. Eles se relacionam com a empresa, não com o presidente. Nomeamos um represen- tante da direção da empresa para dia- logar com os 20 da força de trabalho. Eles resolvem tudo entre si.

OPERÁRIO POLIVALENTE As células de produção que vamos

implantar se diferenciam da linha de montagem tradicional porque nela o operário é polivalente, pode operar várias máquinas. Elas valorizam o empregado e reduzem muito a duração do ciclo de produção. Isto é essencial para que você atenda bem o cliente e é muito importante para garantir signi- ficativa redução dos custos financei- ros. Ter um produto que demora 70 dias para ficar pronto significa que você está pagando juros de 3% ao mês sobre o valor desta produção. Nós tí- nhamos produtos com ciclo de 60 dias e vamos ter uma redução muito gran-

de. Nosso tempo de fabricação ficará muito próximo do dos japoneses e, no caso de um produto especifico, o mais rápido do mundo.

PROTEGER A INDÍISTRIA O melhor plano no Brasil foi o de

substituição de importações que nos deu a proteção tarifária para podermos desenvolver a produção pioneira no Brasil. Este modelo de portas fecha- das não se esgotou, 6 o modelo mais moderno do Japão. O próprio Gatt admite proteção tarifária por cinco anos para produtos pioneiros. Quando o Japão não fabricava o produto, comprava fora, desmontava, estudava e distribuía a tarefa de fabricá-lo entre várias indústrias. Isto educava e trei- nava. Tem de haver uma proteção, mas ela não pode ser exagerada, como

ocorreu com aquela infame Lei da In- formática. Qual é o incentivo que em- presas protegidas com 500% de tarifa têm para aumentar a produtividade? Nenhum. A proteção tem de ser por um período limitado e decrescente, de

modo que se aumente a produtividade de tal forma que, a cada redução de tarifa, haja um ganho correspondente.

MANTER PESQUISAS A portaria 365 da ministra Zéha

jogou da noite para o dia a tarifa para equipamentos a zero. Todos nós des- mantelamos os nossos departamentos de pesquisa e desenvolvimento. Por que eu vou investir tempo, dinheiro e recursos humanos, desenvolver uma tecnologia industrial, sabendo que a minha produção pioneira vai custar muitas vezes mais que a produção que vem do Japão e da Alemanha? Nós somos uma das poucas empresas que não fez isto. Tínhamos sete PhDs, te- mos quatro hoje. Tínhamos dez mes- tres, seguramos. A maioria das empre- sas colocou todo mundo na rua.

CONTER DEMISSÕES Nós faturávamos US$ 100 milhões

por mês antes de Collor e tínhamos 1.500 empregados. Hoje faturamos US$ 70 milhões por mês e temos 1.400 funcionários. Podemos reduzir 200 empregados tranqüilamente. O caminho não é este. O caminho é edu- car a força de trabalho que eu tenho para que ela possa produzir mais e haja aumento da produtividade real. Nós vamos ter a mesma força de tra- balho produzindo o dobro até o final do ano que vem. É uma receita para o Brasil. Não dispenso, educo o pes- soal, faço treinamento e vou produzir mais.

PACTO DA PRODUÇÃO A receita do desenvolvimento é

simples, é aumentar a produção per capita. Para isto o país precisa cres- cer. O pacto social que se necessita não é o pacto político, é o que se faz em termos de objetivos da Nação, de empresa. O resto é conversa mole. O PT, por exemplo, boje é um partido construtivo. Há dois anos ele soltava semanalmente um boletim aqui na fá- brica dizendo que o Controle Total de Qualidade era mais uma forma de fer- rar o peão. Evoluíram. Eu diria que a força de trabalho aqui está muito mais

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:íSíSí

Quinzena

motivada, por exemplo, do que a ge- rência. Eles se convenceram com a queda do império soviético de que não pode existir emprego sem empregador. E que o empregador só pode pagar bem se ele estiver numa situação boa.

METAS DE LONGO PRAZO Infelizmente 80% dos empregado-

res brasileiros são maus empregado- res, querem ganhar dinheiro amanhã. Um grande industrial brasileiro me vi- sitou há pouco tempo e disse: 'Você é uma besta, devia por seu dinheiro a

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3% ao mês em vez de aumentar sua empresa porque você não sabe nem o que vai acontecer. Nós somos a única empresa brasileira que pensa com ho- rizonte de dez anos. Os objetivos são fixados para dez anos. Sempre há im- passes. Tenho que investir, não sei se vou ter dinheiro, faremos uma primei- ra etapa agora. Ninguém pode prever o que vai acontecer com o país, mas também não podemos ser derrotistas a ponto de falar: está tudo perdido, não vamos fazer nada.

FRASES

TrabaOutdores

AVANÇAR NA TECNOLOGIA Outras empresas não estão tendo a

ousadia de fazer como nós estamos fazendo, investindo em pesquisa tec- nológica, que é uma coisa segura. Não há outra alternativa. Se não fizermos isto "o Brasil não tem futuro. Se nós nao tivéssemos partido para este plano de expanso e de renovação tecnológi- ca, daqui a três anos seriamos insol- ventes, como estão muitas aciarias es- peciais. Asseguro que seremos a ulti- ma siderúrgica a entrar numa situação difícil. •

"Sem educação e treinamento, o operário é um desastre para si mesmo e para a empresa." "Tem de haver uma proteção, mas da não pode ser exagerada, como, por exemplo, ocorreu com aquela infame Lei da Informática." "Podemos reduzir 200 empregados tranqüilamente. O caminho não é este. É educar a força de trabalho para que ela possa produzir mais e haja aumento da produtividade real." "Os trabalhadores se convenceram com a queda do império soviético de que não pode existir emprego sem empregador. E que o empregador só pode pagar bem se ele estivo* numa situação boa."

Em Tempo • N? 264 - Fevereiro 1993

A CUT EM 1993 Miguel Rossetto

Será possível que a CUT retome em 1993 uma perspectiva de mobili- zação sindical e luta pelas reivindica- ções dos trabalhadores? Depois de três anos de impasses, recuos e der- rotas parciais do movimento sindical cutista (e sobretudo de seus sindica- tos) frente ao projeto neoliberal, não há uma resposta simples de ser dada.

Na reunião da Executiva Nacioal da CUT de 27-29 de janeiro foram de- finidas linhas básicas de ação da central para o ano que contém a maté- ria prima para esta retomada, mas que por si só não dão conta disso. Tam- bém não constituem uma resposta aos impasses prolongados do movimento sindical, ainda que abram canais para que a mobilização volte a ser o tom do sindicalismo cutista.

Firmou-se como prioridade do ano a busca, pela CUT, de unificar, gene- ralizar, dirigir as campanhas salariais, a começar pelas do primeiro semestre (concentradas em tomo de abril). Além desse eixo prioritário, trabalha- ram-se a intervenção política da Cen- tral face à pauta "institucional" (ple-

biscito, revisão constitucional, etc), colocando como "norte" a defesa de um projeto alternativo frente ao con- servador-neoliberal e a retornada das questões oiganizativas da Central e seus sindicatos.

CAMPANHA SALARIAL DA CUT Há condições e a necessidade de

mudar o padrão das campanhas sala- riais. Falta, porém, construir a vonta- de política de fazê-lo. Nos últimos anos os sindicatos, em geral, foram acuados pela recessão e reformas neoliberais, levando as campanhas salariais a sua mínima expressão. A queda de Collor, as brechas abertas pelas contradições do governo Itamar e a retomada da atividade industrial em alguns ramos colocam a possibili- dade de alterar essa tendência, desde que se supere as campanhas salariais "feijão-com-arroz" dos últimos anos (e a CUT não escute o "canto de se- reia" dos que afirmam que os que tira- ram o Collor devem sustentar Itamar - que ao que tudo indica não acontece- rá).

Mas tirar os sindicatos da inércia

das datas-base, das pautas de catego- ria, das mobilizações localizadas, do afastamento dos grandes embates na- cionais, só será possível com a ativa intervenção da Central. Essa função da CUT até hoje não foi exercitada; a central até o momento não cumpriu um papel sindicai ativo nas campa- nhas dos seus sindicatos, e enfrentará resistência das direções sindicais ao tentar fazê-lo.

A Executiva Nacional da CUT ao convocar as categorias (sindicatos e organizações verticais) para essa dis- cussão tenderá a usar como chamariz a discussão sobre o contrato coletivo de trabalho. Mas isso é insuficiente. Trata-se de organizar uma campanha salarial de padrão diferente que pode- ria se caracterizar por. uma pauta bá- sica nacional, uma data nacional de referência para a mobilização e as ne- gociações (e uma negociação nacional com os patrões), assim como pela combinação dessa campanha com a pressão sobre o Estado por outra polí- tica salarial (de reajuste mensal e salá- rio mínimo) e estabilidade no empre-

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go. Assim, os elementos constitutivos do contrato coletivo de trabalho orientariam a organização das campa- nhas.

Por outro lado, há, na Central, uma propensão permanente a tratar as questões da ação sindical (e as nego- ciações trabalhistas) e as questões or- ganizativas como assuntos separados. De fato, o melhor momento para tratar de organização no local de trabalho, da construção das organizações verti- cais e horizontais da CUT, etc, é junto com as campanhas salariais - e não como é costume, em seminários, pa- lestras, etc, na entre-sqfras. Junto com a discussão sobre a implantação de elementos do contrato coletivo de trabalho, no bojo de campanhas rei- vindicando salário, emprego, etc, o movimento deve também reivindicar liberdade de organização sindical no local de trabalho e na sociedade. Para tanto há brechas institucionais que podem ser aproveitadas - desde que essa pauta esteja concretamente colo- cada nas mobilizações sindicais.

A CUT E OS EXCLUÍDOS

Depois de se definir como central "de sindicatos e sindicalizados", a CUT vem enxergando de forma dife- rente os problemas colocados pela existência de contingentes cada vez maiores de trabalhadores" sem cartei- ra assinada', do mercado informal, dos desempregados, isto é, dos excluídos

H) e inorganizados.

Mesmo com sinais eventuais de retomada da atividade neste ou aquele setor, este fenômeno social avança e veio para ficar. A CUT como central que aspira a organizar todos os traba- lhadores, deve buscar abrangê-los. Nas propostas discutidas na Executiva Nacional a questão aparece, mas não está equacionada. Assim, a perspecti- va de priorizar as campanhas salariais nos setores de ponta da economia (em "ilhas de prosperidade" da classe tra- balhadora) reduz o papel da CUT, se bem sucedido, ao de organizadora de uma minoria do povo trabalhador.

No bojo do recrudecimento da crise social, é necessário preencher este va- zio de formulação e de iniciativas po- líticas e organizativas. Para tanto, di- versos movimentos que organizam ex- cluídos, assim como pastorais de seto- res populares e partidos de esquerda, são parceiros indispensáveis.

AÇÃO INSTITUCIONAL E MOBILIZAÇÃO

Um período com "calendário ins- titucional carregado" (convocatória extraordinária do Congresso, plebis- cito, revisão constitucional, prepara- ção das eleições de 1994) certamente provoca um tensionamento no movi- mento sindical no sentido de circuns- crever sua ação política a esse âmbito. A visão sobre a necessária combina- ção da luta direta e ação institucional

Trábaíhaáofs está presente na discussão feita pela Executiva Nacional. Porém, é menos clara a compreensão de quais são as iniciativas necessárias para fazer de fato essa combinação.

As classes dominantes visam com esse calendário institucional consoli- dar o projeto conservador no sentido de: restringir os espaços democráti- cos na disputa política (tanto via o plebiscito como pela revisão constitu- cional); retirar direitos sociais e tra- balhistas para aumentar a exploração e opressão sobre os trabalhadores; re- privatizar o Estado em beneficio da acumulação do capital privado.

Esta pauta está enraizada na socie- dade e os setores conservadores não esperam o "calendário institucional" para fazer a disputa. Para disputar contra essas reformas conservadoras é necessário igualmente construir desde agora um forte movimento sociaL De imediato há duas iniciativas necessá- rias: a realização do debate nas bases da CUT sobre o perigo do "parla- mentarismo conservador", que é o que estará colocado no plebiscito de abril; e a construção de um amplo movi- mento, encabeçado pela CUT, pela defesa do patrimônio público, contra a política privatista, e por uma "reforma do Estado" de interesse das maiorias.

Miguel Rossetto é membro da executiva nacional da CUT.

Jornal do Commerdo • RJ-11.03.93

UNICAMP SEDIA PACTO SOCIAL SEM GOVERNO

O esboço do que se poderia chamar de "pacto social de verdade" come- çou a ser traçado ontem na Universi- dade de Campinas. O único ausente no encontro foi o Poder Executivo. Em tomo da mesma mesa, Paulo Guilherme Aguiar Cunha, presidente do Grupo Ultra, e Jair Meneguelli, presidente da Central Única dos Tra- balhadores. Articulada por professores da Unicamp, como João Manoel Car- doso de Mello e Luciano Coutinho, o Governo foi considerado supérfluo no primeiro contato de um pequeno gru- po de empresários e trabalhadores, mas, garantiu Coutinho, será chamado

em futuras rodadas, assim que pro- postas concretas para projetos à polí- tica econômica forem alinhavadas.

Ontem, além de Paulo Cunha e Meneguelli, sentaram-se ainda à mesa de empresários e trabalhadores Eugê- nio Staub, presidente da Gradiente, Ivoncy lochpe, acionista do Grupo lo- chpe, Paulo Francini, acionista da Coldex Frigor e Francisco Canindé Pegado do Nascimento, presidente da Confederação Geral dos Trabalhado- res (CGT).

A reunião durou quatro horas e terminou com a criação de um fórum informal entre as partes e uma agenda

de novos encontros. Política industrial foi eleita o primeiro ponto a ser dis- cutido por este heterogêneo grupo de trabalho. Em seguida, modernização das relações de trabalho, forma de fi- nanciamento do desenvolvimento, as- pectos da revisão constitucional e re- distribuição de renda.

- O maior problema nacional é a ausência de visão de futuro que per- meia a sociedade. Isto toma o pre- sente insuportável Portanto, temos de encontrar uma visão de futuro parti- lhada - argumentou Paulo Cunha. Se- gundo o empresário, também presi- dente do Instituto de Estudos para o

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Trabalhador**

Desenvolvimento Industrial (IEDI), 100% das discussões nacionais reali- zadas até aqui entre vários setores da sociedade privilegiaram as divergên- cias entre as partes. "Agora montamos um fórum onde poderemos trabalhar a convergência", completou, otimista cem os primeiros resultados práticos do encontro.

Para Meneguelli, o medo de o Bra- sil se transformar numa grande Ar- gentina, com um parque industrial su- cateado, o levou a concordar com a escolha da política industrial como o primeiro tema a ser debatido pelo gru- po. "Não podemos aceitar que as re- lações entre capital e trabalho sejam decididas pelo Parlamento", argu-

mentou, ressaltando a importância do segundo item da pauta. "Se não sen- tarmos e discutirmos o tema com os empresários, estaremos longe de al- cançarmos a modernidade", disse o sindicalista. •

Folha Sindical - N* 221 - 05.0X93 Sindicato dos Bancários de FPOLIS e REGIÃO

DRT AUTUA BESC POR EXCESSOS NA JORNADA DE TRABALHO

O Delegado Regional do Tra- halho. Paulo Rogério Soar, au- tuou no último dia 17 o Banco do Estado de Santa Catarina pe- los excessos cometidos na jornada de trabalho determinada aos em- pregados da Região de Florianó- polis. A autuação foi a primeira providência concreta das autori- dades, tomada imediatamente após o recebimento pelo órgão do dossiê do Sindicato os Bancários com denúncias de irregularidades cometidas pelo banco em relação às condições de saúde, segurança e jornada de trabalho nos postos e agências da instituição.

Soar decidiu também criar uma Comissão Especial da DRT para analisar as denúncias contidas no dossiê e encaminhar, juntamente com o Sindicato, ações visando a solução dos problemas. O docu- mento cita casos de bancários que chegam a trabalhar até 14h30min por dia, nos sábados, atendendo a retaguarda dos caixas eletrôni- cos. Afirma também que é "habi- tual o exercício de horas extras antes e depois do horário de aten- dimento ao público, sem paga- mento".

No mesmo dia 17, o procurador substituto do Ministério Público do Trabalho, Leonardo Baierli, prometeu encaminhar ao Besc um pedido formal de explicações sobre os temas levantados no dos- siê. O procurador orientou o Sin- dicato dos Bancários a ingressar imediatamente na Justiça com ação de cumprimento da lei que orienta o horário normal da jor- nada de trabalho (o artigo 224 da CLT) e da Norma Regulamenta- dora 17, que estabelece as condi- ções ideais de saúde e segurança no trabalho. Baierli promete sus- tentar judicialmente a ação do Sindicato,

A assessoria jurídica da entida- de reúne-se na próxima sexta-fei- ra para decidir a forma de encami- nhamento da ação. O dossiê apre- senta denúncias sobre irregulari- dades nas condições de saúde e

segurança de 11 postos e agências do Besc, constatadas por perícias realizadas desde setembro de 1989, das quais o banco tem co- nhecimento. Entre as irregulari- dades constam a sobrecarga das ligações elétricas da agência Praça XV — que já provocaram dois curto-circuitos apenas no mês de janeiro — e o caso os bancários de um posto de Palhoça, que pre- ferem guardar o dinheiro movi- mentado durante o dia em uma lixeira — o local que consideram mais seguro dentro do posto.

Mais Providências Ainda antes do Carnaval, o

dossiê foi entregue ao novo presi- dente da Assembléia Legislativa, Ivan Ranzolin (PRN), e ao presi- dente interino da Comissão de Saúde da Casa, Celso Bonatelli (PDT). O prefeito municipal de Florianópolis, Sérgio Orando (PPS), o delegado geral da Polícia Civil, Valério Alves de Brito, e a superintendência do INSS em Santa Catarina, também recebe-

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ram cópias do documento. Todas as autoridades promete-

ram medidas concretas visando sanar as irregularidades. O Sindi- cato, conforme o dossiê, aguarda as providências, de modo a "pre- servar o patrimônio do Besc, a vida e os direitos dos trabalha- dores".

Câmara de Vereadores A Câmara de Vereadores de

Florianópolis aprovou, na sessão do dia 2, a concessão de espaço em uma das próximas sessões da Casa para que a diretoria do Sin- dicato dos Bancários apresente e defenda o conteúdo do dossiê. O requerimento foi apresentado pe- lo vereador Márcio de Souza (PT) que, da tribuna, citou as princi- pais irregularidades contidas no documento, recebido por ele no mesmo dia.

As irregularidades com relação à jornada de trabalho foram o fato que mais impressionou os verea- dores. O líder do governo muni- cipal na Câmara, Francisco Küs- ter (PSDB), manifestou-se dis- posto a apresentar aos vereadores o requerimento de ações concre- tas para ampliar o horário de fun- cionamento dos bancos na capi- tal, conforme a reivindicação aos bancários. Os bancos atenderiam ao público das 9h às 17h, numa medida que geraria empregos e diminuiria as filas nas instituições financeiras. •

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Folha de Sáo Paulo- 06.03.33

BÓIA-FRIA SAI DO BERÇO E ENTRA NA LAVOURA

Antônio Caflado A vantagem de medir o estado de

miserabilidade do povo brasileiro pela miséria vigente em São Paulo é a se- guinte: sabe-se que no resto do Brasil é pior. Quando, há quase 20 anos, a editora Vozes publicou um livro cha- mado "O Bóia-Fria, Acumulação e Miséria", ficamos, ao mesmo tempo, conhecendo um novo personagem, o bóia-fria, e sabendo que ele só agüentava as condições em que vivia nos campos de Alta Sorocabana por- que eram bem piores as que enfrenta- va em seu lugar de origem, fieqüen- temente o Nordeste. A autora do livro, Maria Conceição Dlncao, explicava por que escolhera para sua pesquisa essa região: era devido à "existência de populações vivendo em condições de miserabilidade numa região eco- nomicamente próspera como é a Alta Sorocabana".

O livro é de 1975 e, em 1984, a autora publicou em formato de bolso da Brasiliense um novo e breve "Bóia-Fria". Se o primeiro trabalho - apesar da energia da denúncia e de

muito Marx e Engels, Lucien Gold- mann e Fernando Henrique Cardoso - era quase pessimista quando a autora encarava a possível metamorfose do bóia-fria em cidadão, no segundo o tom era bem mais confiante. Não só a ditadura militar se despedia, como do próprio campo brotava um lavrador diferente. Na introdução ao seu livri- nho, a autora descreve a mobilização dos bóias-frias: "Iniciada em maio de 84, com marcantes manifestações de violência entre os cortadores de cana e os apanhadores de laranja da região de Ribeirão Preto, essa mobilização expandiu-se em seqüência, por todo o Estado, permitindo pela primeira vez aos bóias-frias negociar com os em- pregadores a venda de sua foiça de trabalho". Eles "inauguraram uma nova etapa em sua história (...) cons- tituindo-se como sujeitos coletivos e adentrando o limiar de sua organiza- ção política. Tomando-se autores de

sua própria história". Ai de nós, ai dos bóias-frias. Do-

mingo passado, a Folha publicou uma reportagem de Amaury Ribeiro Jr. so- bre bóias-frias no Paraná. Tomaram- se, ali, autores de sua própria história, só que um tanto cedo demais. Já te- mos, com o passar do tempo, bóias- frias de chupeta na boca, como Joseli de Matos Silva. É bem verdade que Joseli tem seis anos e meninos dessa idade, quando bem criados, não usam mais chupeta. Mas é que ele começou a colher algodão ao lado da mãe quando contava apenas três, e a chu- peta era então um vício aceitável. Fi- cou o mau hábito. E a colheita do al- godão, pois ele mora com a mãe e mais três irmãos, e colhe dez quilos de algodão por dia.

A reportagem é assustadora e o Pa- raná é, como São Paulo, um Estado mais rico, organizado, humanizado, digamos, que os outros, os que ficam ao norte do trópico de Capricórnio. Além disso, o bóia-fria, que medrou primeiro em São Paulo, onde tefe iní- cio a transformação da agricultura em indústria, já se alastrou pelos campos pátrios. Na própria reportagem de Amaury Ribeiro Jr. vemos que essa região paranaense de Querência do Norte tem seu pensamento progres- sista. Lá existe uma Associação dos Moradores com belo projeto de assis- tência aos filhos dos bóias-frias: uma escola tipo Ciep "onde as crianças fi- carão o dia todo".

E quem é que vai apanhar o algo- dão de dona Eli, mãe de Joseli? E de dona Raquel Pinheiro, 76, que vive do trabalho da neta Adriana, de sete anos, que não só sustenta a cas como, prendada que é, pinta as unhas com esmalte cor-de-rosa antes de ir para o algodoal?

ESPANTALHO VIVO A reportagem que acabo de citar

me levou a lembranças de um tempo em que me parecia que o Brasil pode- ria, plantando uma classe rural enorme

e próspera, transformar-se num país como os Estados Unidos, ou pelo me- nos como a Austrália, o Canadá. En- contrei entre meus papéis uma refe- rência pitoresca, a de um costume que parecia criar força na Alta Sorocaba- na, mais exatamente em Assis, onde, em novembro de 1979, a Foíha foto- grafou um espantalho vivo. Em lugar do boneco de costume, vestido de tra- pos e fincado no meio da plantação para afugentar pássaros, lá estava um bóia-fria que, com uma lata e um pe- daço de pau, mantinha alto o barulho para manter longe os pardals. Como a diária dos bóias-frias era barata, os fazendeiros estavam cada vez mais empregando espantalhos. Os bonecos não custavam nada, é verdade, mas sua eficácia era mínima, comparada à dos bóias-frias, sobretudo quando munidos de fogos juninos.

Alguém me lembrou então, em de- fesa dos fazendeiros de Assis, que os ingleses usavam espantalhos vivos nos começos do século 19, como se vê em "Judas, o Obscuro", de Tbomas Har- dy. Judas Pawley tocava matraca nas plantações de cereais, até o dia em opta pelos corvos e melros, deixando a matraca em silencia Com a própria matraca, leva uma tremenda surra dos patrões. Hoje em dia, ao que me in- formam, há espantalhos eletrônicos, forrados de gravações barulhentas. Não sd se chegaram às nossas lavou- ras. O bóia-fria é tão barato que pro- vavelmente não. Emprego assim nin- guém lhe tira.

O POETA PORTINARI Minhas lembranças e meus papás

sobre bóias-frias e espantalhos têm pelo menos um canto de vibrantes co- res e de uma poesia triste, mas bela: o canto ocupado por Cândido Portinari, Eu me lembrei dele, do velho amigo morto em 1962, porque no corrente ano, mês de dezemro, Portinari faria 90 anos. Já temi, hoje não temo mais, que Portinari, com sua obra tão dis- seminada em coleções particulares,

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Quinzena ssíSSíSí; _

Trabalhadores

acabasse perdendo o contato, que ele tanto prezava, com o povo brasileiro, que ninguém retratou melhor do que ele. Quem mais teve esse temor, de que a obra de Candinho se pulverizas- se em salas de jantar e em poucos mu- seus e prédios públicos, foi João Cân- dido Portinari, filho único do pintor. Por isso, e sem abandonar seus traba- lhos de matemática, fundou o Projeto Portinari, que já completou 13 anos de idade. Ao iniciar os trabalhos do pro- jeto, João Cândido, como conta agora, constatou "que o Museu de Arte Mo- derna de Nova York dispunha de mais informações sobre Portinari do que todas as instituições brasileiras visita- das!. Hoje, segundo relatório que o Projeto Portinari acaba de distribuir, pode-se dizer que a obra completa do

mestre está fotografada, filmada, ca- talogada. "Além de 5.300 pinturas, desenhos e gravuras do pintor, foram levantados mais de 25 nril documentos diversos sobre a sua época e seus principais protagonistas."

Pois eu vou passar na sede do pro- jeto, vou percorrer o "catalogue rai- sonné" da obra de Candinho para ver quantos espantalhos foram par ele pintados, eu ia quase dizer retratados, de tal forma parecem gente na tela. O pintor conviveu com eles em sua in- fância passada na Alta Mogiana e fi- caram para sempre em sua companhia, na pintura e nos poemas que escreveu no fim da vida. Eis aqui um desses poemas:

"Vim da terra vermelha e do Cafezal.

As almas penadas, os brejos e as matas virgens Acompanham-me como o espantalho, Que é meu auto-retrato".

Aqui está um outro: "Sem cüios e sem destino No ar sem proteção Espantalho de beira-córrego".

E, num verso de extraordinário vi- gor, Candinho parece não só querer explicar por que se assemelham tanto a homens seus espantalhos, como pa- rece ainda prever o bóia-fria virando um dia espantalho. Escreveu ele, qua- se confundindo os espantalhos de sua infância com trabalhadores rurais: "Os espantalhos lutam para que o ar- roz cresça". •

Boletim Nacional PT-n? 68-Março 1993

Um salto de qualidade I Congresso Nacional dos Movimentos Populares

Oano de 1993 é histórico para os Movimentos Populares no Brasil, tendo em vista a realização do Congresso de Fundação da Central de

Movimentos Populares. Fundamen- tados na concepção estratégica do Movimento Popular, acreditamos que a articulação dos Movimentos e unificação das lulas é fator decisivo no processo de transformação da sociedade.

Esta arüculação hoje passa por eixos de luta que têm o papel funda- mental de aglutinar diversas lutas e fazer com que o Movimento saia do estágio reivindicatório e passe para uma luta mais ampla, ou seja, para o plano da proposição política, como o plano das políticas do cotidiano, fazendo com que os movimentos dêem um salto de qualidade.

A 2* Plenária dos Movimentos Populares realizada em outubro de 1991 definiu como eixos de luta: a Reforma Urbana e a Cidadania Aglutinados em tomo desses dois eixos, os movimentos tais como: Movimento Nacional de Direitos Humanos, Movimento Nacional de Luta pela Moradia, Movimento Po- pular de Saúde, Movimento Nacio-

nal Meninos e Meninas de Rua, Movimentode Mulheres, Movimen- to Comunitário e outros, estão cons- truindo a Central de Movimentos Populares.

Com outras entidades, o con- junto desses movimentos vem reali- zando várias alternativas entre as quais destacamos: Jornada de Luta Pela Terra:' Terra pra Morar e Ter- ra pra Plantar", Campanha de Luta pela Humanização da Saúde, Proje- to do Fundo Nacional de Moradia Popular, PrimeiraCaravanados Mo- vimentos Populares à Brasília, Con- ferência de Vitória: Terra, Ecologia e Direitos Humanos, Fórum Inter- nacional de Reforma Urbana, Cam- panha dos 500 anos de Resistência Negra, Indígena e Popular, 3o En- contro Continental dos Movimen- tos Populares.

A Articulação dos Movimentos Populares em tomo das lutas concre- tas vem propiciando um amadureci- mento da proposta de fundar uma Central que seja expressão da diver- sidade e pluralidade dos Movimen- tos, garantindo, ao mesmo tempo, a autonomiaedemocraciainterna dos mesmos. Uma Central que contribua na construção de um projeto demo-

crático e participativo, que possiblite o resgate de valores como justiça e solidariedade, lutando sempre na perspectiva da cidadania plena.

Em preparação ao Congresso de Fundação, a ser realizado de 25 a 29 de outubro deste ano, em Belo Hori- zonte, várias atividades estão sendo programadas: Campanha Nacional contra a Fome, Miséria e Violência - Pela Vida; Campanha Nacional Pela Humanização e Municipalização da Saúde e realização do Fórum Nacio- nal de Luta Pela Saúde.

No aspecto organizativo, o pro- cesso de preparação do Congresso está se dando em 21 estados, através de Seminários, Encontros e Plenári- as Municipais/Regionais e Estadu- ais, de modo que possamos realizar um Congresso que seja realmente representativo.

A construção da Central dos Movimentos Populares no Brasil vem no sentido de fortalecer a orga- nizaçãoda Sociedade Civil. Portan- to entendemos que é responsabili- dade do conjunto do Movimento dos setores democráticos populares assumir esse debate e contribuir na oonsolidaçáo desse processo.

José Albino de Melo

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Quinzena

Juventude Trabalhadora - N* 17-FevMarço 1993

ü. TnÜHtthador**

MUTIRÕES DE MORADIA

A A maioria da po- pulação brasileira vive nos grandes centros urbanos. É o resultado da falta de condições

do trabalhador permanecer no campo. Na esperança de conquistar melhores condições de vida se dirigem às cidades, onde vão engrossar a fila dos sem emprego, sem teto.

Inexiste uma política habitacional. As existentes não respondem às neces- sidades dos trabalhadores (má quali- dade das moradias, alto custo de produ- ção), alemde financiamentos que não dão acesso aos trabalhadores terem sua casa.

O sistema de construção em mutirão reduz os custos com mão-de-obra, pois são os próprios trabalhadores que cons- tróem suas casas.

Vamos conhecer um pouco dessa experiência, que esta acontecendo na cidade de São Paulo, e que começou na administração da prefeita Erundina, como uma das maneiras de enfrentar o problema de moradia na cidade.

É um programa desenvolvido através de co-gestão entre prefeitura e asso- ciações de moradores. As associações discutem e decidem qual projeto lhes interessa. A prefeitura aprova e repassa a verba que será administrada pelos mutirantes.

Esse repasse é feito considerando os critérios estabelecidos conforme a capacidade do mutirão.

Segundo Maria Esteia, da coor- denação do mutirão Estrela Guia, Zona Oeste de São Paulo, "está provado que há um barateamento de 40% nos custos. Além disso é o próprio mutirante quem determina a forma de construção".

Algumas dificuldades são encon- tradas pelos mutirões, uma delas diz respeito aos preços de materiais que sobem semanalmente e defasa a verba repassada pela prefeitura Outra é a burocracia imposta pela lei, aliada ás exigências técnicas as quais o trabalhador não está habituado e tem que conhecer e administrar.

Aprendizado Prático Apesar das dificuldades, construir

em mutirão tem um sentido maior. Pos- sibilita a convivência e o confronto entre os futuros moradores, cria o sen-tido de comunidade. Tudo é decidido com ampla discussão e coletivamente.

Criam-se espaços para a discussão de outras questões além da moradia, como a participação da mulher, do jovem e temas ligados á luta dos traba- lhadores. Há também espaços para celebrar as vitórias.

Um aspecto fundamental no sistema de mutirão é o aprendizado prático e

político que o trabalhador faz de administração e gerenciamento dos recursos. Esse aprendizado tem um grande significado, pois permite ao trabalhador assumir desafios maiores na sociedade, ao mesmo tempo que a luta pela moradia vai deixando seu aspecto apenas reivindicativo.

Construir em mutirão éum sacrifício9

Quem nos responde é Leacirde Brito, dò movimento de moradia da Zona Leste-SP: "Na verdade é uma discussão que se tem no movimento. Atualmente esta tem sido uma alternativa em função dos custos, mas existem reflexões que vão na linhade queosmutirõessejamuma prática mais permanente, situado em um projeto mais global".

Esta reflexão questiona a relação Estado x empreiteira x morador e ai dentro a participação do trabalhador na construção de sua moradia.

Construir moradia digna só com luta e organização. Desta luta tem que participar a juventude, como no mutirão Estrela Guia. Lá os jovens estão se organizando através de um grupmho, onde discutem sua participação no mutirão e seus problemas específicos

Pense nisto. Participe desta luta •

" David Ferreira/Margarida Marques são militantes da JOC S. Paulo e

mutirantes

GREVES ARRASTÃO DE CRIANÇAS

POBRES

Policiais detiveram várias crianças pobres que, num tipo de arrastão, in- vadiram um bairro rico da capitai de Bangladesh em busca de esmolas e roupa e dinheiro.

TRABALHADORES DA THANCO Os metalúrgicos da Thanco, fabri-

cante de carrocenas de ônibus, sedia- da em Guarulhos-SP, aceitaram a pro- posta feita pelo TRT e suspenderam a greve, que já durava 3 dias, contra atraso no pagamento dos salários e do direito dos 380 demitidos. Os 660 tra-

balhadores da Thanco podem retomar o movimento se a empresa não pagar o adiantamento de salário.

MANCHETE SAI NA MANCHETE

Os funcionários da TV Manchete tiraram dia 18 a emissora do ar, em protesto pelo atraso no pagamento dos salários desde dezembro. Os funcioná- rios já ficaram em greve por 54 dias, retomando a trabalho, após a Justiça do Trabalho ter julgado a greve legal e ter determinado o retorno ao traba- lho, com a condição de que a empresa pagasse os salários atrasados. Como o 1BF não cumpriu a determinação e prosseguiu também com as demissões (1200 desde 1992), os trabalhadores voltaram à greve, desta vez ocupando a emissora.

MOTORISTAS DE SÃO PAULO

A greve dos motoristas e cobrado- res das empresas particulares da cida- de de São Paulo, encenou-se dia 22, após o pagamento do adiantamento salarial quinzenal referente ao mês de março. O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo dis- se que o prefeito Maluf só tinha re- passado Cr$ 100 bilhões, insuficientes para cobrir a folha das 32 empresas.

METALÚRGICOS DA OSRAM Os metalúrgicos da Osram de

Osasco-SP fizeram paralisação dia 22 em protesto contra a demissão de 85 trabalhadores. O Sindicato dos Meta- lúrgicos de Osasco, ligado à Força Sindical, disse que está negociando um pacote de benefícios para os de-

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Quinzena >S;>:x->x<o:->::::::x:::::::::::::x

Trabalhadoras

mitidos e garantiu estabilidade de 4 meses para os 1.5011 trabalhadores que continuam na fábrica. Outra empresa também de Osasco, a Amazon, está com seus 20 operários parados reivin- dicando equiparação salarial para as mesmas funções, cesta básica, vale transporte e cronograma anual de compensação de folgas.

OPERÁRIOS ACAMPAM NA ENGESA

Os 100 trabalhadores demitidos da Engesa de São José dos Campos montaram acampamento em frente à empresa protestando contra o não pa- gamento de um vale de US$ 100 mil que deveria ter sido distribuído dia 4 entre 600 trabalhadores demitidos. A indústria bélica, alegando proble- mas burocráticos no fechamento de um contrato internacional, adiou o pa- gamento. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, os demitidos estão em situação desesperadora e exigem o pagamento imediato do vale.

CURTAS DESEMPREGO

O desemprego na Comunidade Eu- ropéia subiu para 10% em janeiro, a maior taxa média dos últimos 5 anos. Em relação a janeiro/92, a taxa subiu 0,9%. Na Espanha 35,5% dos traba- lhadores com menos de 25 anos não

tinham emprego em janeiro. As taxas médias de desemprego na Comunida- de Européia eram: Espanha 19,9%; Irlanda 18,4%; Reino Unido 11,5%; França 10,3%.

No Brasil a quantidade de traba- lhadores empregados no setor indus- trial é hoje semelhante a 1971, antes que ocorresse o "milagre brasileiro". O número de pessoas que trabalham na indústria caiu 7,3% em 1992 e o nível de emprego deste setor agora é 13,8% menor que o registrado em 1985. Em contrapartida, a produtivi- dade cresceu 3% em 1992.

Em São Paulo a taxa de desempre- go em fevereiro saltou para 15%, o que significam 1.176.000 pessoas de- mitidas.

A Alpargatas fechou sua fábrica de

São José dos Campos e demitiu 860 trabalhadores, após 33 anos na produ- ção de calçados na cidade.

52% DOS TRABALHADORES GANHAM ATÉ

2 SALÁRIOS-MÍNIMOS

Segundo dados do IBGE, a renda per capita brasileira caiu 1% em com- paração com 1991 e 1990, e 5,6% em comparação com 1980. Apenas 3% da população ocupada (1,8 milhão) tem rendimentos superiores a 20 salários mínimos e 52% (31,2 milhões) ga- nham até 2 salários mínimos.

TRABALHO DE CRIANÇAS "Sabe-se oficialmente que mais de

7 milhões de crianças e adolescentes no Brasil fazem parte da população economicamente ativa, a maioria sem qualquer direito trabalhista ou previ- denciário, utilizados em atividades in- salubres e arriscadas. As inúmeras de- núncias tomadas públicas nos últimos anos, se acrescenta agora a divulgação de que 4.000 meninos e meninas são bóias-frias no norte do Paraná, traba-

lhando dez horas por dia, para colher 30 quilos de algodão por dia. Estas conhecidas situações ferem claramente a Constituição e a Lei Federal n2

8.069. Cabe ao Ministério Público e ao Juizado da Infância e da Juventude ações imediatas na proteção destas crianças. Por que isto não é feito? Chega de críticas ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Vamos cumprir a lei," (Lauro Monteiro Filho, diretor-execu- tivo da Associação Brasileira Multi- proíissional de Proteção à Infância e Adolescência - Rio de Janeiro-RJ).

SAQUES EM 8 MUNICÍPIOS Nada menos do que 8 municípios

do sertão, agreste e zona da mata de Pernambuco acabaram de sofrer ten- tativas de saques, envolvendo cerca de 3.500 agricultores, de uma só vez, em conseqüência do agravamento da crise causada pela seca. Em alguns deles, os flagelados tinham como alvo os locais onde estavam armazéns abar- rotados de feijão enviado pelo gover- no federaL A Polícia Militar colocou um efetivo de 8 mil homens para evi- tar os saques. Um relatório preparado pela Federação dos Trabalhadores Ru- rais do Estado e pela Contag já ad-

vertiu que nos locais atingidos pela seca vive-se um estado de convulsão social.

COMISSÃO OUVE DEPOIMENTOS

A comissão criada pelo Ministério da Justiça para investigar a morte do lider sem terra Diniz Bento da Silva começou ontem a colher depoimentos sobre o que ocorreu segunda-feira na Fazenda Santana, em Campo Bonito, Oeste do Paraná. Os integrantes da comissão, Marcelo Lavenère, presi- dente da OAB, Álvaro Augusto Cos- ta, subprocurador-geral da Repúbli a, e Francisco Clóvis de Souza, da ABI, ouviram a versão do governo e da PM sobre o caso e a equipe da TV Naipi, de Cascavel, que testemunhou a ação policial que culminou com a morte do lavrador, acusado de liderar embosca- da em que foram mortos três PMs na semana passada. A comissão foi in- formada de que o governo estadual abriu IPM para investigar a operação.

O relator da comissão, Álvaro Costa, disse que o fato de a morte do líder ter ocorrido dias após o assassi- nato dos três PMs configurou uma "situação de conflito". O trabalho da comissão, além de esclarecer o que de fato houve, disse o subprocurador, ainda terá o papel de "desanuviar as tensões". O governador Roberto Re- quião ficou surpreso com a criação da comissão. (Jornal do Brasil 12.03.93)

PADRE DO PARÁ DENUNCIA PMs

O ministro Maurício Corrêa poderá viajar para Rio Maria-PA, depois de receber, ontem, denúncias do pároco Ricardo Resende, que acusou solda- dos da PM de envolvimento em 15 de- saparecimentos, inclusve de crianças, e sete mortes ocorridas nos últimos 18 meses. Em 10 de fevereiro, os possei- ros Luiz Rodrigues dos Santos e An- tônio Inácio de Faria desapareceram do barracão onde moravam na fazenda Mata Azul, em Conceição do Ara- guaia, de propriedade de Fábio Abreu Vieira. Seis posseiros disseram que na manhã seguinte havia snais de luta e marcas de cotumos no chão. Policiais que estavam por perto gritaram com eles, que fugiram amedrontados. (Jor- nal do Brasü - 12.03.93)

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Quinzena $í:í&:£:-x£:í£í

Trabalhadores

MEDEIROS É REELEITO Com 82,6% dos votos, Luiz Antô-

nio de Medeiros foi reeleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. A chapa da CUT obteve 9,1% do total de 65.420 votantes. A chapa 3 do MR-8 e CGT obteve 4,3%. Me- deiros declarou que sua vitória se de- veu à defesa dos 147% dos aposenta- dos, reajustes do FGTS, oposição ao 1PMF e apoio ao programa de privati- zações.

1U0SAIII HO JORM

LOCAÇÃO DE IMÓVEL PARA ENTIDADES

A FNT - Frente Nacional dos Tra- balhadores está alugando cerca de 200 m2 no prédio situado à avenida Ipi- ranga, 1267, 92 andar, preferencial- mente para entidades dos movimentos. O aluguel do imóvel é de Cr$ 10 mi- lhões. Os interessadosf poderão con- tatar a FNT pelo fone: (011) 228-2899, através da Táta.

CHILE EXIGE JUSTIÇA O objetivo da Campanha Nacional

de Anulação da Lei de Anistia é per- mitir que se conheça a verdade e haja justiça sobre o ocorrido durante o re- gime de Pinochet com mais de 1.000 desaparecidos e centenas de mortes de políticos, cujos restos ainda não foram encontrados e seus familiares não pu- deram dar sequer uma sepultura digna.

Por esse motivo, os diversos parti- dos da "La Concertación" apresenta- ram um projeto de lei que tramitará no senado para anular os efeitos do de- creto-lei 2191 de Anistia promulgado em 1978 pelo general Augusto Pino- chet, que impede a investigação das violações dos direitos humanos ocor- ridos em 1973 a 1978.

Pedimos a todas as mulheres e ho- mens, adultos e jovens, organizações sociais e personalidades representati- vas dos diversos setores da sociedade e engajarem-se nesta campanha ampla, que busca reparar a dignidade humana e estabelecer a verdade e a justiça, pilares de toda democracia. Enviar abaixo-assinados para: Agrupación de Familiares de Detenidos Desaparecidos Plaza de Armas 444 Santiago - Chile

FUNDAÇÃO DA CENTRAL DE MOVIMENTOS POPULARES O calendário das discussões sobre a

fundação da Central dos Movimentos Populares é o seguinte:

De 1 - de junho a 30 de julho de- verão ocorrer plenárias específicas dos movimentos, cujo quorum mínimo é de 10 pessoas.

De 30 de Julho a 30 de agosto de- verão ocorrer plenárias municipais ou regionais, cujo quorum mínimo é de 30 pessoas.

Nestas plenárias deverão ser tirados os delegados para as plenárias esta- duais e nacional, de acordo com os movimentos presentes e de acordo com o quorum obtido.

De 30 de agosto a 30 de setembro deverão ocorrer plenárias estaduais, que deverão tirar documento de uni- dade estadual e eleger uma coordena- ção estadual.

De 25 de outubro a 29 de outu- bro deverão acontecer a plenária na- cional no Mineirinho, em Belo Hori- zonte -Minas Gerais.

Maiores informações, entrar em contato com a PRÓ-Central, Fone (011) 288-1694.

,' íc ccs Movimentos oe Moradia de Sâo Paulo iCÂO CM Órgãos para Assistência Social e Educacional - SP

IREITO A MORADIA Uma contribuição para o debate

HFASE U.M.M. - SP

À VENDA NO CPV

VALORCrS 109.000,00

TEXTO-BASE

À VENDA NO CPV

VALORCrS 30-000,00

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Quinzena Economia

ANÁLBE SEMANAL DE CONJUNTURA ECONÔMICA 13 de Maio - NEP-11.03.93

ECONOMIA BRASILEIRA: PATINANDO NA TEMPESTADE = 2

FERRO VELHO INDUSTRIAL Existe um problemaf de fundo na

economia brasileira: a indústria está em rápido declínio. Isto quer dizer que a produção industrial caiu 7,4% no período de 1980-1992. Apenas pa- ra comparação, na década de 70, a produção industrial brasileira cresceu 138,7%. Em 1980 foram produzidos 933 mil automóveis. Em 1992 não passou de 680 mil. Máquinas e equi- pamentos, em 1992, não passam de metade do que era produzido em 1980. A produção de cimento ficou estacionada nas 27 milhões de tonela- das anuais de 1980. O aço está esta- cionado desde 1988 em 24 milhões de toneladas anuais, e assim por diante.

Este declínio na produção foi pro- vodado pela diminuição dos investi- mentos produtivos. A taxa de investi- mento, que chegou à média de 24% do PIB entre 1974 e 1980, caiu para 18,1% no período 1981-1988. No ano passado, ficou em 14,8%, segundo o IPEA, órgão de estudos do ministério do planejamento. O investimento das empresas estatais federais, que repre- sentavam 5% do PIB no final dos anos 70, agora está ao redor de 1,5%.

Esta diminuição dos investimentos representou um envelhecimento da maior parte da indústria. Na indústria têxtil, por exemplo, das cerca de 500 mil máquinas em operação no setor, 90% tem mais de vinte anos de uso. A idade média dos teares é de 18,5 anos, sendo que 32% tem mais de 25 anos de uso. O normal, no mercado mun- dial, nas principais economias, é que a reposição das máquinas e do capital fixo em geral, seja realizado em média a cada 6 ou 8 anos. É esta reposição que incorpora novas tecnologias, no- vas estruturas de produção, o que im- plica em maior produtividade da foiça de trabalho empregada. Quem não se- gue estes ciclos, acaba se atrasando tecnologicamente e perde a capacida- de de concorrer no mercado interna- cional.

SANGRIA NA POUPANÇA, QUEDA NO INVESTIMENTO Por que existe este retrocesso na

indústria brasileira? Em primeiro lugar porque é uma indústria de uma eco- nomia dependente, vulnerável às idas e vindas do sistema financeiro inter- nacional. Internamente, se baseia no trabalho barato e nos subsídios do go- verno. Por isso é tão importante a po- lítica econômica para esta indústria e, no lado externo, as exigências do ca- pital financeiro externo. Nos anos 80, quando esta indústria deveria ter se renovado, o capital mundial impôs à economia brasileira uma sangria vul- tuosa de recursos, que saíram para o pagamento da dívida externa e de ou- tras formas de remuneração do capital multinacional aqui instalado. Estes re- cursos foram subtraídos exatamente da chamada poupança nacional. Geral- mente, de acordo com a teoria econô- mica, a poupança se transforma em investimento. No caso brasileiro dos anos 80, boa parte da poupança se transformou em dinheiro líquido en- viado para os cofres dos bancos e em- presas multinacionais. Foi o que fal- tou para financiar a renovação dos in- vestimentos internos, e que acabou provocando o retrocesso da indústria nacional.

MECANISMOS DE COMPENSAÇÃO

A burguesia industrial se defendeu de várias maneiras. De nenhum modo, entretanto, desobedecendo ou resis- tindo à sangria imposta pelo sistema financeiro internacional e organizada pelo governo americano e FMI. Ao contrário, a burguesia brasileira sem- pre foi, e sempre será, extremamente dócil às ordens das burguesias cen- trais. Ela se defendeu com o aprofun- damento de certos mecanismos inter- nos de funcionamento da economia nacional Em primeiro lugar, compen- sou a queda da taxa de lucro com o mais brutal arrocho salarial da história brasileira. Usou o desemprego, decor- rente da queda da atividade industrial, para colocar os trabalhadores contra a parede. Em segundo lugar, usou o di- nheiro público para pagar suas dívidas extemasfe garantir novos subsídios internos. A indústria se adaptou à re- cessão, ao retrocesso dos investimen-

tos e da produção, de tal modo que a queda dos lucros fosse compensada pela pirataria sobre o salário do tra- balhador, em primeiro lugar, e sobre o dinheiro público, em segundo lugar. O ataque sobre o salário necessário do trabalhador, pagando-se cada vez me- nos do que se necessita para a simples reprodução física da família operária, acelerou aind mais a miséria e a mar- ginalidade social O ataque sobre o dinheiro público acelerou a inflação. Em resumo, arrocno salarial e inflação são dois expedientes implantados pela burguesia dependente brasileira para obedecer às ordens dos seus parceiros internacionais e, ao mesmo tempo, continuarem encenando o papel de "empresários industriais".

AS COISAS MUDAM Esta montagem funcionou para a

burguesia brasileira até o final dos anos 80. Recessão, desemprego, arro- cho salarial, especulação financeira, inflação, tudo isto combinado acabava compensando a queda do lucro empre- sarial. Uma queda de lucro, que como vimos, era provocada pela falta de in- vestimentos produtivos e pela perda de competitividade da indústria nacio- nal no mercado mundial Duas condi- ções importantes garantiam esta mon- tagem. A primeira, é que a economia internacional estava em expansão. A segunda é que se manteve por toda a década de oitenta uma certa proteção ao mercado interno. Pode-se então evitar a cooconência direta com o ca- pital industrial externo e se garantir a sobrevivência do ferro-velho nacional. Mas à partir de 1991, aproximada- mente, as condições globais da acu- mulação começaram a se modificar. As principais economias, como vimos anteriormente, estão em luta contra a desvalorização do seu próprio capital. A temperatura de concorrência sobe, quando a queda dos preços interna- cionais se funde com gigantescos es- toques de mercadorias, encalhadas pela retração do consumo no centro capitalista.

Nestas novas condições, o esquema inflacionário e protecionista da eco-

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Quinzena ® íííííSSíSSí

Economia nomia brasileira começa a se mostrar insuficiente para garantir a sobrevi- vência da indústria nacional. Em pri- meiro lugar, a crise mundial de super- produção afeta d iretamente a rentabi- lidade da indústria brasileira. Basta se verificar a grande queda dos lucros de algumas indústrias ligadas à exporta- ção. O setor de papel e derivados já teve uma rentabilidade sobre o patri- mônio negativa nos dois últimos anos. O setor de bebidas teve em 1990 um lucro sobre o patrimônio de 31,7%. Em 1992 este lucro caiu para 2,86%. A indústria de alimentos também en- trou no vermelho nos dois últimos anos. Em 1992 teve uma rentabilidade negativa de 1,35%. A indústria quími- ca está com prejuízos há três anos se- guidos. Nos setores mais atrasados tecnologicamente, o prejuízo é ainda maior. No vestuário, a taxa de lucro é negativa desde 1987. Em 1982 a ren- tabüidade média neste setor foi de (-) 22,7%. No setor têxtil, o retomo ne- gativo acontece há três anos, com (-) 6,5% no final de 1992.

A abertura mais rápida da econo- mia ao capital externo é uma pressão que vai aumentar com muita rapidez. Do mesmo modo que ocorreu na Ar- gentina, México, Venezuela, etc, esta pressão externa vai acelerar ainda mais o desmonte do esquema de so- brevivência que funcionava para a in- dústria nacional nos anos 80. As im- portações asiáticas podem destruir

com muita rapidez setores que produ- zem bois de consumo, enquanto a abertura para importações da Europa e Estados Unidos podem destruir am- plos setores de serviços e o que ainda resta da produção de máquinas e equipamentos no Brasil

MUDANDO PRESIDENTES E MINISTROS

Estas são as condições materiais que sustentam as instabilidades da política econômica atual. Não interes- sa às classes dominantes, por tudo que fd exposto acima, um combate efetivo ao processo inflacicmário. O fim da correção monetária, por exemplo, re- presentaria a própria destruição dos sistema de crédito implantado para manter de pé um envelhecido parque industrial. Um sistema de crédito que se baseia totalmente na delapidação das receitas fiscais do governo. O dé- ficit público provocado por este sis- tema é a causa mais aparente da infla- ção. O governo precisa expandir mais e mais a base monetária e os meios de pagamento da economia, para manter o seu próprio funcionamento. A des- valorização da moeda nacional é cada vez mais acelerada. Se o déficit públi- co é a causa mais imediata e aparente da inflação, a compensação dos pre- juízos e da falta de competitividade empresarial do capital nacional é a sua causa mais profunda e oculta. Se a atrasada estrutura industrial e agrícola

nacional é incapaz de produzir valor suficiente para sua sobrevivência no mercado internacional, o Estado é obrigado a produzir mais e mais moe- da para financiar esse atraso. É obri- gado a produzir mais e mais inflação.

Os chamados planos de estabiliza- ção serão cada vez menos eficientes e cada vez mais catastróficos para as condições de empregos e salários. Na ausência de reformas que alterem as condições de dependência e sub-de- senvolvimento da economia nacional, como a reforma agrária, a reforma in- dustrial, a reforma do sistema finan- ceiro, a reforma da propriedade fun- diária urbana, a reforma do comério exterior, a reforma do ensino público, etc, só restará às classes dominantes nacionais duas vias. A primeira é se manter o velho esquema de arrocho e inflação das últimas décadas. A se- gunda será embarcar na via Argentina da dolanzação e abertura passiva e acelerada às necessidades especulati- vas do capital internacional, momen- taneamente desempregado. Tanto a primeira quanto a segunda via au- mentarãof cada vez mais as instabili- dades econômicas e o desespero para as grandes massas. Indecisa entre uma outra via, as classes dominantes na- cionais continuarão trocando presi- dentes e ministros da Fazenda em in- tervalos de tempo cada vez menores. •

O Estado de Sâo Paulo -19.03.93

IPEA APRESENTA "MAPA DA FOME" DIANA FERNANDES

BRASÍLIA — Em estudo concluído esta semana e apresentado ontem na reunião ministerial, o Ins- tituto de Pesquisa Econô- mica Aplicada (Ipea) ca- dastrou como indigentes os 32 milhões de brasileiros que conseguem, na melhor das hipóteses, comprar apenas uma cesta básica de alimentos com a renda mensal da família. São no- ve milhões de famílias que vivem nessa situação ou pior ainda, segundo revela o "mapa da fome" do Ipea. Os brasileiros indigentes estão divididos, meio a meio, entre os centros ur- banos e zonas rurais. Dos

16 milhões que estão nas cidades, 7,2 milhões mo- ram no Nordeste e 5,2 mi- lhões no Sudeste.

Também no Nordeste es- tá concentrada mais da metade da população indi- gente que vive na zona ru- ral. A Bahia é o Estado que tem o maior número de miseráveis no campo — 4,3 milhões — seguido de Mi- nas Gerais, com 3,4 mi- lhões, e do Ceará, comj milhões. O Estado que tem o maior número de indi- gentes nos centros urba- nos é Minas Gerais.

O "mapa da fome" foi apresentado como subsí- dio a uma política alimen- tar do governo e aponta como ação prioritária para

combater a fome o Progra- ma de Merenda Escolar do Ministério da Educação. Ano passado, o governo fe- deral só conseguiu forne- cer merenda durante 40 dias letivos e este ano a maioria dos Estados ainda não recebeu estoques. "Se conseguirmos garantir me- renda e um programa mí- nimo de apoio às crianças subnutridas com menos de dois anos, será um grande avanço", afirmou ontem a socióloga e coordenadora do estudo do Ipea, Ana Maria Peliano.

Para garantir a distri- buição de merenda escolar a toda rede pública em 1993 o governo federal pre- cisaria dispor — em cola-

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Quinzena ■. •■. ■ ■ ■, ■.,.,.

Economia boraçao Cõm hstaaos emu- nicípios — de mais US$280 milhões, além dós US$ 430 milhões previstos no Orça-

mento da União'.'Foi mais Um problema apresentado ao presidente Itamar..' 9

VAPTVUPT -NO 11- Março 1993 Boletim dos Núcleos do PT Popular, Moóca, São Francisco Bebidas, Minérios, Brinquedos

Desemprego e baixos salários enchem as ruas de miseráveis

São Paulo, a cidade mais rica da América Latina, acomoda 600 mil mise- ráveis nas ruas. É o que revela o levan- tamento feito pela Secretaria do Bem Estar Social. Quase 90 por cento já trabalharam registrados. Muitos há me- nos de 1 ano.

Antes eram só migrantes. Hoje, me- tade é gente da cidade, que saiu de casa por causa dos aluguéis. Muitos trabalham, mas sem dinheiro para a condução dormem na rua e só vão pra casa no fim de semana. Gente como o carpinteiro Ribamar Ribeiro, de 33 anos, que há 2 anos vendeu o barraco e foi embora, mas no Piauí estava pior ainda. De volta a São Paulo, a rua foi a única alternativa de moradia. O pedrei- ro Cosmo Mariano, 34 anos, está na cidaoe há 13 anos. Sempre morou nos alojamentos das construtoras. Rouba-

ram seus documentos e ferramentas. A saida foi a rua. Marilene Arantes, 23 anos, vende doce nos faróis com o filho no colo. O marido Pedro está desem- pregado e o bico de servente de pedrei- ro rende apenas 50 mil por dia. O jeito foi baüitw na rua. Fica odia todo sem

comer. "Já pesei 48 quilos, mas agora devo estar com uns 35". Marilene so- nhava em ser professora. Estudou até a 5* série, quando a família foi sur- preendida com a queda do emprego e do salário. "Mudamos para a favela, foi um choque para mim." Walquides de Souza veio de Paraíso do Norte, no Paraná, há muito tempo. Lá trabalhava na roça, carpia a semana inteira para ganhar três contos. Aqui, seu trabalho começa de manhã, separando papel, e vai até à noite. Depois puxa a carroça carregada até o depósito. Sorte têm os

meninos que saem da periferia para juntar papel à noite, no centro da cidade. Ganham Cr$ 40 mil e aprovei- tam a comida jogada no lixo pelo Mac Donakfs.

Essa miséria aa rua é provocada pelo arrocho salarial e pelo desempre- go. Os sucessivos governos, incluindo o matreiro Itamar, mantém e aprofun- dam a política de penalização do povo trabalhador. Tudo é feito para benefi- ciar os ricaços que não trabalham e nada produzem. Mas ficam com toda a riqueza criada por nós. Por isso convo-

camos todo o povo a travar uma bata- lha política contra a usurpação dos ri- caços e para implantar a seguinte lei: aquele que quer comer deve Igual- mente trabalhar, náo só com seu cérebro, mas também com suas mãos! •

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Quinzena íííííííííiiííSSÍfíSÍÍÍÍÍS

Economia

Jornal do Brasi -12.03,93

PADRÃO DE VIDA E O PIOR EM 20 ANOS

Consuelo Dieguez A qualidade de vida do brasileiro

caiu pela metade nas duas últimas dé- cadas e atingiu seu nível mais baixo no ano passado: em 1992 os brasilei- ros viveram o pior ano de suas vidas desde o milagre econômico encerrado em 1973. Foi quando a economia ex- perimentou uma brutal inflação de 1.200% e uma queda no PIB de 0,97%, após dois anos consecutivos de redução da produção. A constata- ção é do economista Paulo Rabello de Castro, que utiliza o que chama de ín- dice de Bem Estar Social para calcular as perdas na qualidade de vida. Esse índice é calculado utilizando-se dois critérios: a inflação e o crescimento. Quanto mais baixa a inflação e maior o crescimento, melhor o índice de bem estar. Quanto menor o crescimento e maior a inflação, pior a qualidade de vida. "Com base nesse índice, o bem estar simplesmente desapareceu."

O brasileiro, hoje, vale a metade do que valia em 1973. Só nos últimos dez anos, em razão da recessão, da infla- ção alta, e da instabilidade política e econômica, deixaram de ser investidos no país cerca de US$ 600 bilhões, se- gundo avalia o economista. No en- tanto, na década de 80, a taxa média de crescimento foi bem inferior, sendo que em alguns anos houve cresci- mento negativo.

POS-GUERRA Paio Rabello costuma comparar a

situação brasileira à do pós-guerra na Alemanha, no início da década de 20, quando a inflação destruiu as esperan- ças da população. "Estamos vivendo algo semelhante ao final de uma guer- ra. A nossa batalha, no entanto, é com nossos próprios fantasmas. E uma guerra de fome, da inflação, da misé- ria, da desesperança.

O número de empregos é hoje 13,8% menor do que em 1985, de

índice de Bem-Estar Social 120

<mJíc«1971 -10O

33 8S 37 89 91 Inalrtuto Auéntico, 10/0395

acordo com os ciados do IBGE. A concentração de renda, por sua vez, aumentou significativamente. Dados

da Fundação Getúlio Vargas indicam que a renda aos 30% mais ricos é 30 vezes maior do que a dos 30% mais pobres, muito superior à registrada

nos países do Primeiro Mundo. Em 1991, a renda per capita dos brasilei- ros, de acordo com dados do FMI, era de US$ 1.912, contra uma renda per capita dos mexicanos de US$ 2.942, de US$ 2.870 dos argentinos, e de US$ 2.968 dos chilenos. •

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Quinzena W Política Nacional

Gazeta Mercantil - 12.03.93

MINISTRO FALA EM AMEAÇA À DEMOCRACIA

0 ministro do Exército, Zenildo Zoroastro de Luce- na. disse ontem que a situa- ção de miséria que o País atravessa é uma ameaça à democracia. Depois de as- sinar convênio com o Mi- nistério do Bem-Eslar So- cial, que garantirá a parti- cipação do Exército nos programas de apoio comu- nitário através das unida- des de Tiro de Guerra, o ge- neral disse que o primeiro "embate" das Forças Ar- madas deve ser contra a miséria, origem da insegu- rança e de uma possível convulsão social. Mas a atuação do Exército nesta área não significa que de- vam ser abandonadas as medidas repressivas, infor- mou a Agência Globo.

'.'Eu não acho que poae haver convulsão, mas a in- segurança começa na mi- séria. O primeiro embate tem que ser contra a misé- ria. Agora, é evidente que devemos estar sempre em condições de realizar aque- las medidas repressivas", disse Lucena, minutos de- pois de assinar com o mi- nistro Jutahy Magalhães Júnior um programa para a implantação de Unidades Militares Tiros de Guerra em municípios carentes.

O agravamento da misé- ria e a ameaça á democra- cia foram colocados na pauta de discussões no Clu- be Militar pelo grupo lide- rado pelo general da reser- va Plínio Pitaliga, ontem.

O ministro do Exército

acredita que, apesar da ameaça, é possível evitar a convulsão, combatendo suas causas. Segundo ele, o Exercito está em condições de empregar medidas re- pressivas, caso haja uma convulsão social, e ressal- tou que o combate à misé- ria é uma questão impor- tante hoje.

Devido ao grande alcan- ce social dos Tiros de Guer- ra, o' presidente Itamar Franco determinou que os ministérios do Exército e do Bem-Estar Social traba- lhassem juntos na implan- tação dessas organizações militares em pequenos mu- nicípios. Segundo Zenildo Lucena, os Tiros de Guerra formam reservistas de 2"

categoria, evitam o êxodo rural dos jovens e colabo- ram em atividades cívicas,

comunitárias e de defesa civil. O ministro do Bem- Estar Social disse que as seis primeiras unidades de Tiros de Guerra começa- rão a ser construídas após a votação do Orçamento da União.

Os municípios beneficia- dos serão Jequitinhonha (MG), Jeremoabo (BA) e Afogados da Ingazeira (PE). 0 Ministério do Bem-Estar Social fornece- rá os recursos financeiros para a construção e o fun- cionamento das unidades militares. #

Zoroastro vê insatisfação

O ministro do Exército, Ze- nildo Zoroastro de Lucena, criticou o aumento salarial concedido pelo legislativo — a Mesa do Senado concedeu reajuste de 28,27% retroati- vo a janeiro —, ressaltando que não está havendo respei- to ao principio da isonomia salarial entre os três poderes, por parte dos responsáveis pela concessão dos aumentos. Segundo o ministro, esse rea- juste representa mais uma preocupante disparidade en- tre os poderes e poderá gerar insatisfação nos quartéis.

— "Insatisfação, sim. Indis- ciplina, não, devido à nossa formação. A gente pode até imaginar que haja casos iso- lados de indisciplina, mas não generalizados. Somos brasi- leiros, patriotas e entendemos que a situação atual e difícil. Agora, nós damos a nossa contribuição e esperamos que os outros também dêem", dis- se Lucena, acrescentando que a isonomia é um processo mui- to complicado e que só será

resolvido na base da com- preensão.

— "Esse processo é muito complicado e muito difícil de ser realizado. Tem que ser por etopas, tem que ser pro- gressivo, tem que haver com- preensão dos responsáveis", afirmou.

O Estado de Sáo Paulo - 09.03.93

COMANDANTE DA ESG TEME CONVULSÃO SOCIAL

HÉLIO CONTREIRAS

RIO — O comandante da Escola Su- perior de Guerra (ESG), almirante Hernani Goulart Fortuna, defendeu ontem, na aula inaugural da Escola, "uma revolução da economia brasi- leira" e disse que "a recessão prolon- gada pode causar uma convulsão so- cial". Uma grande transformação na economia é necessária, segundo ele, "pelas mudanças que ocorreram no cenário mundial".

O almirante condenou a política de cpíl.tççjjp Jtó)WÍ^CRa*M«fiiWWi .qu.e . "nâo se pode mais imaginar um Esta- do-empresário num momento em que a economia brasi]eLra.precisa de mais dinamismo e o Estado não tem condi- ções de assumir compromissos que lhe foram impostos nas últimas déca- das".

"É fundamental que o Brasil passe por profundas reformas econômicas, políticas e institucionais para obter resultados nos blocos internacionais que se formaram: o europeu, o norte- ameríano e o asiático", disse Fortu- na, dando ênfase ao "papel decisivo a ser exercido pela iniciativa privada".

O Brasil, segunqo o comandante üa ESG, "necessita de algo que nunca foi feito antes: definir o essencial e o de- sejável, delimitando o possível e o que se situa além da nossa capacidade de criar e construir".

Para ele, a repercussão de tal opção "não deve ser motivo de perplexidade ou de atitude terceiromundista, mas, acima de tudo, permitir a eliminação dos preconceitos e o perfeito conheci- mento de nossa verdadeira realida- de ■ .'.►>»(.

Quarto Mundo — Após alertar para a . anjygíiça de o Brasil caminhar para o Quarto Mundo, principalmente se for mantido o quadro internacional atual, desfavorável ás nações do Te- reiro Mundo, e se perder mais uma dé- cada, o almirante Fortuna destacou alguns aspectos da realidade brasilei- ra que classificou de "preocupantes": ■ Os métodos de combate à inflação

não estão alcançando os efeitos dese- jados;

■ A política moneúária não conse- gue estabilizar a economia; ■ O controle da expansão dos agre-

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Quinzena w Política Nacional gados monetários, incluindo aplica- ções e poupança, é de difícil exeqüibi- 1 idade, em face de suas respectivas in- dexações;

■ Uma taxa de câmbio fixa não apresentará resultados, também, em face das mesmas indexações e a per- sistência nessa medida corre o risco de produzir uma defasagem cambial; ■ O controle dos preços provocará

uma administração burocratlzada e centralizada, ficando-se mais longe da economia de mercado;

■ Não há consenso sobre a reforma tributária, já que tanto a União.como os Estados e municípios têm poider de imposição tributária, o que obriga a Nação a conviver com mais de meia centena de tributos e contribuições;

■ O PIB de 1990 é, virtualmente, o mesmo PIB de 1980; ■ Uma recessão econômica, por pe-

ríodo longo, não pode ser aplicada ao Brasil, sob o risco de "conflitos e con- vulsões sociais". ..-

RETOMAR A ESTRATÉGIA

DEMOCRÁTICA E POPULAR Às vésperas do 8^ Encontro Nacio-

nal do PT, cresce o descontentamento com a situação atual do partido. Ace- lera-se a busca de alternativas para que o partido possa novamente cre- denciar-se como alternativa democrá- tica e popular para a sociedade brasi- leira.

Experimentando desde seu nasci- mento até a campanha presidencial de 1989 um contínuo crescimento políti- co e eleitoral, o PT vive hoje um im- passe de grandes proporções. Pode retomar sua trajetória, apoiando-se na mobilização popular para enfrentar os novos e gigantescos desafios que lhe são colocados ou pode abandonar o projeto de construir uma alternativa independente dos explorados e opri- midos e tomar-se sócio menor na co- gestão da crise capitalista.

O PT E O GOVERNO ITAMAR Um impasse está expresso com cla-

reza na ambígua posição do partido frente ao governo Itamar. Ambigüida- de que começou ainda no momento em que se lutava pelo impeachment, quando a ação do partido ficou restrita à denuncia das imoralidades cometi- das por Collor, deixando de enfatizar o aspecto mais perverso de seu gover- no, a cruel política econômica que condenou milhões de trabalhadores ao desemprego e à mais absoluta miséria. Prosseguiu no momento em que dei- xou de lado a possibilidade de ques- tionar a legitimidade não apenas de Collor mas do conjunto do mandato de Collor/Itamar. E alcançou seu mais alto grau quando a maioria da Execu- tiva Nacional optou pela política de

co-responsabilidade com a governabi- lidade de Itamar e apresentou Progra- ma Econômico de Emergência, talvez apostando num equivocado "governo de transição" para um futuro (e tam- bém impreciso) governo de centro-es- querda a ser eleito em 1994. É este o sentido do apoio oficioso de setores expressivos da direção nacional à ida de Valter Barelli para o Ministério do Trabalho, juntamente com vários mi- litantes do partido. É nesse quadro que se insere a iniciativa de Luíza Erundina de aceitar a Secretaria de Administração Federal mesmo após a decisão explícita do partido em não participar diretamente do governo.

É verdade que, depois de intensa luta política, as resoluções do Diretó- rio Nacional vêm apontando para uma política de oposição do PT ao governo Itamar, denunciando seu caráter con- servador e a continuidade dos ele- mentos estratégicos do programa neo- liberal de Collor. No entanto, tais re- soluções não têm produzido maiores conseqüências. As principais expres- sões púbücas do partido têm sistema- ticamente encaminhado suas próprias posições, se negando a difundir essa política de oposição. No Congresso nossa bancada tem votado favoravel- mente a projetos equivocados como o IPMF orientada principalmente pela preocupação com a governabilidade de Itamar.

Frente a esta situação é preciso su- perar as simples declarações e avan- çarmos para políticas de oposição ao governo Itamar no plano institucional (parlamento, prefeituras) e na luta so- cial (movimento sindical, popular.

estudantil). E não é suficiente, tam- bém aqui, resoluções genéricas e pro- ciamatórias. Devemos articular inicia- tivas institucionais concretas (projetos de lei, iniciativas populares, frente a prefeitos etc) com mobilizações sindi- cais e populares que busquem derrotar a atual política econômica recessiva e que procurem reverter a situação de miséria em que vive a grande maioria da população.

E necessário, ao lado disso, reto- mar o debate das reformas estruturais que propomos à sociedade brasileira. Este programa alternativo para o país, articulado com o programa de governo de Lula para 94, deve colocar ênfase na Reforma Agrária, Urbana e Finan- ceira, no mmnimentn rios atuais acor- dos com o FMI e na retomada dos ní- veis de emprego e salâno dos traba- lhadores. Sem nenhuma concessão aos dogmas do "social liberalismo" collo- rido como o faz o chamado "Plano econômico de emergência", apresen- tado meses atrás ao governo Itamar e à sociedade, que defende a redução dos gastos sociais do EStado e o en- xugamento da máquina estatal.

RETOMAR A ESTRATÉGIA DEMOCRÁTICA E POPULAR Quando se discute a estratégia do

partido, uma nova expressão vem ga- nhando cada vez mais espaço no de- bate. É o chamado "governo de cen- tro-esquerda", elevado à categoria de objetivo estratégico do PT. Apesar de todos os Encontros do partido, inclu- sive o l9 Congresso, terem reafirmado nossa estratégia democrática e popu- lar, o governo de centro-esquerda se- ria seu substituto "realista", "respon- sável" e que "garante a governabili- dade". Desse obscuro arco de alianças - a centro-esquerda - podem partici- par o PSDB, setores "não quercistas" do PMDB e até setores dos partidos notadamente de direita. Aliás, para al- guns petistas esta "estratégia de cen- tro-esquerda" pode se tornar realidade já no governo Itamar, que prepararia condições para um futuro governo Lula em 1994.

O resgate das resoluções do 59 e do 62 Encontros Nacionais sobre a alter- nativa democrática e popular nos leva a diferenciar radicalmente esta pers- pectiva da chamada "centro-esquer- da". Um governo encabeçado por

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Quinzena Política Nacional

Lula será um governo tensionado pela aplicação de um conjunto de reformas estruturais que enfrentarão uma firme oposição no seio das classes domi- nantes.

Assim, a definição de um programa democrático e popular que oriente não apenas a campanha Lula mas o con- junto da ação do partido no campo institucional e nos movimentos sociais é um dos desafios centrais do 82 En- contro Nacional. A definição da polí- tica de alianças, excluindo o PSDB e a chamada centro-esquerda como nos- sos aliados estratégicos e procurando afirmar um campo democrático e po- pular para sustentação de nosso pro- grama é outro elemento central de nossas discussões.

Esta crise de orientação política do PT tem se revelado também no debate entre presidencialismo e parlamenta- rismo. Não conseguimos abordar esta discussão priorizando as reformas po- líticas fundamentais para o país; o partido não conseguiu se distinguir e expressar posições próprias no debate, ficando a reboque de maiorias conser- vadoras nas Frentes Parlamentarista e Presidencialista.

Em qualquer hipótese, acreditamos que o fundamental para o PT será as- sociar o debate sobre sistema de go- verno à discussão das reformas políti- cas que ampliem a participação e o controle popular sobre o governo, lu- tando pela correção das desigualda- des entre os Estados na Câmara, a ex- tinção do Senado, o voto proporcio- nal, contra qualquer forma de voto distrital, a revogabiüdade dos man- datos por infidelidade partidária e o controle social dos meios de comuni- cação de massa.

CONSTRUIR O PT SOCIALISTA E DIRIGENTE

DAS LUTAS DOS TRABALHADORES

A polarização entre diferentes - pa- ra não dizer antagônicas - concep- ções de partido esteve no centro dos debates do le Congresso. As propos- tas que falavam em fortalecimento dos núcleos e das instâncias partidárias fi- caram no papel. O que assistimos a partir de então foi a predominância cada vez maior das chamadas figuras públicas do partido sobre as instân- cias. As resoluções deste ou daquele

Conselho Deliberativo são acatadas apenas quando convém. Freqüente- mente, parlamentares, sindicalistas e prefeitos descontentes com as deci- sões vão à grande imprensa inviabili- zar esta ou aquele política que os de- sagrada; nas campanhas eleitorais os candidatos impõem suas vontades so- bre as vontades coletivas do partido, muitas vezes "escondendo" o PT de suas propagandas eleitorais - com re- sultados políticos desastrosos, como se pôde perceber. Os mandatos parla- mentares e executivos conquistados pelo partido se constituem cada vez mais em centros autônomos de poder, paralelos, quando não concorrentes, ao partido, seja do ponto de vista po- lítico ou material.

Mas é possível resgatar o PT para cumprir um papel estratégico na construção do socialismo no Brasil. Para isso, mais do que nunca, é preci- so unir todos aqueles que tenham esse objetivo. Que busquem, sem saudo- sismo, retomar o espírito combativo, classista e revolucionário presente na militância que deu origem ao PT.

A revolução organizativa prometida desde o 52 Encontro Nacional e ainda não realizada é cada vez mais urgente. Muitas medidas podem ser propostas para alterar a situação de caos organi- zativo hoje vivida pelo PT, bem como para combater os movimentos centrí- fugos que hoje dominam a vida parti- dária. Revalorizar os núcleos por local de trabalho, categoria ou movimento social e local de moradia, aumentar a centralização política e dos recursos materiais das bancadas em torno das resoluções partidárias, rever as medi- das adotadas pelo l2 Congresso que dificultam o funcionamento regular das instâncias partidárias, são apenas alguns dos itens que já podem ser adotados pelo próximo Encontro Na- cional e que caminham no sentido de reverter o quadro de dissolução das instâncias partidárias.

CONCLUSÃO Companheiros, Neste momento crítico por que pas-

sa nosso partido temos assistido com otimismo posicionamentos públicos de outros companheiros buscando cami- nhos para enfrentar esta situação. Este texto, que busca expressar nossas opi- niões, não apresenta diferenças de

maior significado em relação aos ma- nifestos "A hora da verdade" e "Na luta PT". Conseqüentemente, conside- ramos fundamental intensificar o diá- logo e os debates com os signatários destes dois manifestos.

O PT, como já dissemos, vive uma crise de grandes propoipões. A reso- lução positiva deste impasse pressu- põe a construção de uma nova dire- ção, que reoriente o partido para en- frentar os principais desafios da con- juntura, da campanha Lula presidente em 94 e da construção partidária. O desafio de propor uma agenda, propor parâmetros para o debate e avançar propostas continua colocado para to- dos os que querem construir um PT socialista, democrático e revolucioná- rio. Esperamos que as propostas e o conjunto de questionamentos aqui apresentadas avancem, no debate com milhares de companheiros petistas, pa- ra outras mais completas e melhor elaboradas.

ASSINAM ESTE MANIFESTO: Ademir Alves Novais - CDZ Pírituba Alcinei Cardoso Rodrigues - CDE S.Paulo Aldo Leite - CDM São Paulo Ana Maria Chieffi • CDM São Paulo Anísio Batista - CDE São Paulo Antônio Carlos Cordeiro - PT Carapicutba Antônio José Martins - Vereador de Franca Antônio Rodrigues - Vereador de Diadema Beti Búrigo - Exec Municipal São Paulo Braz Augusto Menezes - PT Barretos Carlos Campos - PT Vila Prudente Carlos Gilberto Roldão - PT Limeira/Exec CUT Interior I Carlos Henrique Árabe - PT São Paulo Carlos Signoreüi - Pres. PT Campinas Claudia Pimenta - Pres. CDZ Cidade Ademar Dado - Dir. Sindicato dos Condutores de São Paulo Durval de Carvalho - Exec. Nacional da CUT Kdinho - Vereador de Araraquara Eduardo Tadeu Pereira • Exec Estadual Éicio Boca teto ■ Vereador de Vinhedo Fábio Pereira - Exec Estadual Fátima • PT Jabaquara Félix Sanchez - Exec Municipal São Paulo Havia Pereira • Exec. Municipal São Paulo Genildo Batista - PT Sudeste/Assessor parla- mentar Geraldo - Vereador de Santa Branca Geraldo de Freitas - PT Vinhedo Geuza Selin - PT Taboão da Serra Inès Paz - PT Mogi das Cruzes ítalo Cardoso ■ Vereador de São Paulo Ivan Valente - Dep. Estadual João Laerte Pacheco - PT Saúde/Ipiranga João Machado - Exec. Nacional Joaquim Soriano - Exec Nacional Jorge Luiz Martins - PT Franaca, Exec. CUT Estadual José Afonso Klein - Pres. CDM Maná Lauro Marcondes ■ PT Norte Léster Amaral Jr. - Pres. CDZ Butantá Lise Rov • Coord. Macro Campinas Marcelo - CDZ Sudeste Marcos Luis da Silva - CDM Ferraz de Vas- concelos Maria Doiores - PT Capela do Socorro Maria Nataüce Araki • CDM Maná Mário Rodrigues (Barba) - CDM São Pau-

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Quinzena Política Nacional lo/Dir. Apeoesp Marisol Recaman - CDM São Paulo Martizalém Covas Pontes - Dir. Sind. Plásti- cos São Paulo Maurício Segall - PT Sudeste Mercedes Duarte - PT Santo André Miguel de Carvalho - COM São Paulo Miguel L. Hernandes - CDM Mauá Regina Ávila Moreira - Sec Desenv. Social SJ.Campos Renato Simões - Exec Estadual Roberto Lajolo - PT Freguesia do Ó Rui Barbosa Alencar - Exec Estadual Tatau Godinho ■ Exec. Estadual

Valdemar Rossi - PT Moóca Valdir - Coord. macro Ribeirão Preto Valdir Piantoni - CDE/Sind. Metalúrgicos Campinas Vanda Russo ■ PT Campinas Vitoria Cancelli - Exec. Estadual Wagner l.ino Alves - Vereador de São Bernar- do William Jorge Gerab - Exec Municipal São Paulo Wilson Nunes Cerqueira - PT Limeira Zilda Machado Hernandez - CDM Mauá

A Classe Operária -N«97-Sa 21/03/93

RESGATAR A ESPERANÇA E CONSTRUIR O SONHO LIBERTADOR!

■ Declaração de Quito, assinada por 25 partidos e organizações: Partido Comunista do Brasil, Partido Comunista da República Dominicana, Partido Comunista do Chile, Partido Comunista da Argentina, Partido Comunista da Bolívia, Partido Comunista do Peru (Pátria Roja), Partido Comunista do Paraguai, Partido Comunista do Uruguai, Partido Popular Socialista (México), Partido do Povo do Panamá, Frente Sandinista de Libertação Nacional, Movimento UNIR do Peru, Partido Comunista Peruano, Unidade Revolucionária Caamanista (República Dominicana), Partido Comunista da Venezuela, Partido Unidade da Nova Alternativa (Venezuela), Partido do Povo Costarriquenho, Partido Vanguarda Popular da Costa Rica, Partido Comunista da Colômbia, Movimento Revolucionário 8 de Outubro (Brasil), Partido Comunista do Equador, Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador, Partido Socialista Equatoriano, Movimento Popular Democrático (Equador) e Frente Ampla de Esquerda (Equador).

Lutar pela democracia integrai para avançar rumo ao Socialismo

Os participantes do Segundo Seminá- rio Latino-Americano sobre as Experiên- cias de Construção de Partidos Políticos destacam a importância desse encontro das forças revolucionárias interessadas

nestes temas visto como um esforço direcionado à unidade e busca, que se soma ao Primeiro Seminário.realizado em Quito com este mesmo tema, em março do ano passado aos três Encontros do Foro de São Paulo, à Reunião de Partidos Comu- nistas e Movimentos Revolucionários, re- alizada em novembro de 1990 no México por iniciativa do Partido Popular Socialis- ta desse País, ao Seminário em homena- gem a Che Guevara em junho do ano passado, em Rosário, Argentina, ao en- contro que teVe lugar em agosto do ano passado em São Paulo, Brasil, convocado pelo Movimento Revolucionário 8 de Ou- tubro, o Partido Comunista do Brasil e o Partido Comunista, com a participação de destacados representantes de organizações comunistas da URSS.

Nesse mesmo sentido, o Seminário ponderou a importância dos grandes en- contros anti-imperialistas de organizações sociais e políticas que se levaram a cs^n no Equador, na Colwtbia ç rc B«fls;\., its- paldaacontinuidade desses valiosos esfor- ços de articulação.

A firmeza, adecisão de lula, adetermi- nação de avançar para a revolução e o socialismo com as bandeiras da soberania nacional, latino-americana e caribenha; com a bandeira da democracia econômica, da igualdade social, da participação democrática e da soberania popular, da democratização integral e profunda das sociedades do subcontinente; enfim com a bandeira da democracia integral caracteri- zaram o conteúdo essencial deste Segundo Seminário.

As bandeiras de igualdade entre o homem e a mulher, a reinvidicação dos direitos das populações indígenas, e das igualdades entre as etnias e nacionalida- des, a proteção e defesa da natureza e do meio ambiente; a condenação a toda a discriminação," exploração e opressão, a defesa da liberdade religiosa e dos movi- mentos cristãos comprometidos com a

Ubertação dos pobres e da libertação lati- no-americana foram assumidas com gran- de entusiasmo por todas as delegações participantes.

As trágicas ofertas do neocapitalismo

As perspectivas que o capitalismo ofe- rece para a humanidade na sua fase atual, longe de chamar-nos a arriar estas bandei- ras, obrigam-nos a desfraudá-las com pai- xão e vontade firme.

As perspectivas que o capitalismo ofe- rece neste período, agravando todos os males acumulados no quadro de sua atual estratégia neo liberal, são nada mais que a destruição acelerada das bases materiais e espirituais do progresso, da exploração e opressão em maÍOTescala de uma minoria sobre uma maioria, da população, a per- petuação e o aumento dos privilégios e as discriminaçõespor motivos sociais e raci- ais; a condenação de vastos setores da humanidade à fome, à miséria e à morte; o crescimento do desemprego em decor- rência de uma modernização manipulada pelo grande capital, a substituição da solidariedade humana pelo egoísmo indi- vidualistaeacompetição feroz, aperda de identidade comunitária, a redução das relações sociais aos mais grosseiros vín- culos mercantis, o exacerbado chauvinis- mo e a perverção e restrição de uma democracia excluente, escassamente re- presentativa e absolutamente nào participativa.

Impulsionar a luta e a solidariedade

Assumimos a necessidade de repre- sentar os interesses e impulsionar as lutas da classe operária como fator primordial das transformações anticapitalistas, e os anseios de mudança das massas campo- nesas, camadas médias, afetadas pela cri- se, desempregadas, marginalizadas, empobrecidas, que junto a ela constituem

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Quinzena ÍSi-i^S-x/iSí-ií

as grandes forças motrizes das transfor- mações que nos propomos realizar.

As organizações participantes, ao es- cutar os variados informes e distintas avaliações sobre os respectivos processos nacionais, constatam que a situação do subcontinente toma-se cada vez mais dra- mática, aproíundando-se todas as verten- tes da crise global que afeta nossos povos: a siUiação econômica, a tragédia social, o processodedesnacionalização,acomipção governamental, a deterioração do sistema partidário tradicional, a crises de credibili- dade nas instituições corrompidas e não- funcionais dessas pseudo-democracias, a deterioração do meio ambiente e o dese- quilíbrio ecológico.

Neste contexto todos os presentes con- cordaram que é necessário fortaleça a unidade do movimento sindical e a grande pluralidade do movimento popular, incrementararesistênciadasforças sociais oprimidas e de todas as camadas afetadas pelos ajustes neoliberais; impulsionar as lutas patrióticas, os movimentos reivindicativos e os combates pela demo- cratização profunda de nossa sociedade; ao mesmo tempo, saudámos e decidimos dar o maior aporte possível aos novos movimentos sociais: indígenas, ecologis- tas, femininos, culturais, cristãos, revolu- cionários, juvenis, militares democráti- cos-progressistas..., que ampliam a luta de libertação.

Além do mais, a conquista obtida pela FMLNeopovosalvadorenho,amanuten- ção de importantes conquistas da Revolu- ção Sandinista, a continuidade ascendente dos movimentos da Guatemala e da Co- lômbia, a destituição de Collor de Mello por um formidável movimento impug- nador no Brasil a vitória da Frente Ampla no referendum do Uruguai, os levanta- mentospopularesemilitaresna Venezuela, a vitória de Cheddi Jagan e do Partido do Povo na Guiana, os protestos sociais dos homensemulheres latino-americanosemi- grantes nos Estados Unidos e na Espanha e os levantamentos sociais e raciais nos próprios Estados Unidos, a intensa e multifacética resistência indígena, negra e popular contra as comemorações oficiais do Quinto Centenário da conquista e colo- nização da América. São fatos reveladores de um novo avanço da luta nacional e popular nestas regiões.

O apoio mútuo, a solidariedade com os povos em luta, o respaldo militante a todas as formas de rebeldia e de reivindica- ção popular ou nacional, tanto em nosso subcontinente como em todo o planeta, ficaram claramente estabelecidos no curso dos debates.

Expressou-se, ainda, com força, a voz de alento e o reconhecimento sincero à

firmeza dos partidos revolucionários, Esta- dos e povos que em Cuba, na República Democrática Popular da Coréia, no Vietnã e na República Popular da China, persis- tem no caminho socialista e empenham-se em aperfeiçoar seus respectivos sistemas e em combater, evitar e superar tudo o que possa afetar as conquistas já alcançadas e por alcançar. Todos concordam com a necessidade de defender com renovada firmeza a autodeterminação desses pro- cessos e suas conquistas.

O ideal socialista continua vigente

Os participantes, independentes da di- versidade de enfoques e avaliação sobre a causa da queda do denominado "Socialis- mo Real" na URSS e no Leste europeu, coincidiram em assinalar que tal fato não implica o fim do ideal socialista, mas a crise de sistemas políticos, modelos e es- truturas altamente burocratizadas e isola- das dos sentimentos, dos anseios, da parti- cipação e do poder de decisão de seus respectivos povos.

Concordamos em que não fracassa- ram osprincípios, as idéias transfoimadoras criadas por Maix, Engels, Lênin, embora, na prática, executores e seguidores dessas idéias tenham cometido graves erros, tanto no processo de transição ao socialismo como no falido intento de renovação dos modelos estabelecidos. Somam-se a isso tambémcircunstâncias internacionais mui- to adversas, políticas de cerco e de agressão das forças imperialistas e pressões direcionadas a uma custosa corrida arma- mentista, que afetaram tais processos e contribuíram para suas deformações, sem que o espírito crítico marxista se expres- sasse como fator corretivo.

Insistimos em aprofundar esse debate, em continuar o processo de avaliação crí- tica e autocrítica que no futuro permita extrair suas lições,procurando mais adian- te maiores coincidências.

Igualmente sublinhamos que o curso pré-capitalistaposterioraessa queda deter- minou a anulação de importantes conquis- tas sociais e o agravamento de múltiplos problemas, no quadro de uma crescente resistência e de um processo de tomada de consciência sobre a inviabilidade ou as conseqüências desastrosas da restauração capitalista.

As organizações presentes saudaram nesse sentido as expressões de protestos dos novos movimentos contestatórios, a retomada de setores partidários do verda- deiro socialismo, da igualdade social, inseparavelmente articulada à participa- ção democrática dos trabalhadores e do povo, e também das demais manifestações que enfrentam os desastrosos efeitos do

FolttUm Nmetonmi

capitalismo selvagem nessa parte do mun- do. Que a eles chegue nosso estímulo e nossa solidariedade.

O sonho revolucionário, o sonho soci- alista devidamente renovado, conserva grande vigência em nosso continente e tem, sem lugar à duvidas, identidade pró- pria, identidade caribenha, identidade lati- no-americana.

Resgatar a identidade do movimento

Revitalizar o latino-americano, o pe- cuüarcaribenho,eoespecífico nacional ou multi-racial, foi considerado como um dever indeclinável

Voltar a nossas raízes históricas e a nossos pensadores e lutadores revolucio- nários, pensar no marxismo a partir de nossas realidades, empregar seu instru- mental científico e todo o acervo revoluci- onário particular para criar e desenvolver as teorias correspondentes a nossos pro- cessos foi considerado como um dever do presente e do futuro imediato.

E ademais, junto ao avanço de nossa unidade e articulação,'junto à reafirmação do socialismo científico como base conceituai de extraordinário valor para todos os que se propõem transformar a sociedade capitahsta-dependente que nos é imposta, estas são tarefas que nos com- prometemos a levar adiante em novos e variados encontros nos próximos debates e esforços de consenso.

Os esforços pendentes, a avaliação crítica e autocrítica de nossas responsabili- dades como partidos e movimentos revo- lucionários, a busca coletiva de maiores coincidências autocríticas - conforme foi requerido por uma parte dos participantes - além de exigir o aprofundamento das autocríticas particulares, precisarão de um maior avanço no processo de avaliação dos acontecimentos tanto nos países do Leste europeu como em nossos respectivos paí- ses, regiões e sub-regiões. Continuaremos assumindo essas metas com toda respon- sabilidade.

Construir forças revolucionárias alternativas

O debate em tomo das experiências de construção de partidos, movimentos uni- tários, e frentes amplas, sobre os variados esforços de integração revolucionária, as alianças progressistas político-sociais em situações diversificadas teve um resultado muito rico. Neste ponto destacou-se a necessidade de manter o processo de cons- trução dos partidos comunistas, dos movi - mentos revolucionários, das forças socia- listas e das vanguardas unitárias.

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Quinzena wmm rmmmm

Internacional De toda maneira, corresponde a nós

aprcixleTdaexperiênciavivida,vincularrno- nos cada vez mais ao movimento real e especialmente ao movimento operário, popular, camponêsjuvenil, feminino, para lutar cada vez mais e melhor. Para desen- volver as idéias alternativas ao projeto neolibcral e às democracias restringidas e pervertidas vigentes. Para a construção, através da unidade em diferentes niveisdas forças revolucionárias alternativas.

Lutar pela vida, a liberdade, a alegria e o amor

Para desenhar e lutar com perspicácia pelos projetos de poder popular e de insti- tuições e alternativas, para converter nos- sos Estados em Estados nacionais, demo- cráticos, desmilitarizados e impulsionado- res do desenvolvimento nacional, da integração não subordinada, da justiça so- cial e de uma ordem internacional justa e equitativa, que favoreça o avanço do ideal libertador, do ideal socialista.

Para alcançar a necessária unidade revolucionária continental que possibilite converter nosso subcontinente em sub- continente integrado, numa grande pátria

bolivariana, num grande bloco multina- cional e multiétnico capaz de reivindicar direitos ante o mundo desenvolvido è frente ao norte opressor e capaz também de conquistaraimprescindívelnova indepen- dência

Para resgatar, enfim, a esperança e construir o sonho, que nada e ninguém nos fará abandonar.

O sonho que amalgame o direito ao pão, à vida, à soberania, à liberdade verda- deira, ao amor e à alegria. •

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OS PLANOS DOS EUA CONTRA CUBA Em novembro de 1992, a CORPO-

RAÇÃO RAND - pela qual passou Francís Fukuyama, o defensor da tese do "fim da história" - publicou um re- latório sobre Cuba baseado na pesquisa "O Futuro de Cuba em um Mundo Pós- Comunista", realizada sob encomenda para o secretário assistente de Defesa dos Assuntos de Segurança Internacio- nal do governo estadunidense. O relató- rio analisa o estado atual da crise cuba- na, além de estudar os possíveis cenários que podem se gestar a curto e médio prazos e suas conseqüências para a polí- tica dos EUA. O relatório foi resumido pela ALAI (Agencia Latinoamericana de Información, Quito, n- 166, 1.02.93) e, embora tenha sido preparado durante a administração de Bush, as linhas tra- çadas nele poderão influenciar a política de Clinton para Cuba. Cabe assinalar ainda que o relatório foi concluído antes da aprovação e aplicação da LEI TOR- RICELLI (lei de caráter extraterrito- rial dos EUA que restringe ainda mais o comércio exterior de Cuba). A seguir, o resumo.

Para a Corporação Rand, é improvável que Fidel Castro ceda diante das pressões externas e se integre à "nova ordem mun- dial". A partir dessa premissa, o relatório elabora uma série de desafios que a crise do regime de Havana pode colocar para os EUA, sendo os seguintes em ordem decres- cente de probabilidade:

1 - Que "Castro consiga sobreviver para continuar incomodando os EUA" é o mais prováveL Nesse cenário, o regime cu- bano acredita que a combinação de sua for- ça no plano interno com sua inserção limi- tada na economia mundial e com sua rede protetora de relações com a América Lati- na e outros Estados permitirá o seu desen- volvimento, Ainda mais, se o regime con- segue frear a deterioração econômica a curto prazo, o seu capital político interno e externo poderá ser suficiente para a supe- ração da crise sem desmoronamento (como ocorreu no México nos anos 80). Com esta nova injeção de vida - aponta o relatório —, e considerando que o embargo estaduni- dense toma-se cada vez mais insustentável. Castro poderá isolar os EUA promovendo

"duas Américas" e os excluir do bloco lati- no-americano e caribenho e, talvez, ceder à convocação de um plebiscito ou de eleições "livres" como condição do fim do embargo de Washington.

2 - A segunda probabilidade é o surgi- mento de um novo Mariel (imigração mas- siva de cubanos para os EUA). Se a nova estratégia econômica fracassar ou se as tensões políticas internas aumentarem, o governo de Havana poderá propiciar a imi- graição ilegal em uma escala maior do que aquela que ocorru em 1980. Apesar dos custos e riscos, inclusive o da eventual per- da do controle social, um novo Mariel po- deria diminuir as pressões internas e propi- ciar a distribuição dos bens materiais dos imigrantes entre os simpatizantes do regime

- afirma a Corporação Rand. Supõe-se ainda que isso colocaria os governantes es- tadunidenses em apuros e, ao mesmo tem- po, ressuscitaria o nacionalismo cubano diante das novas tensões com os EUA.

3 - O terceiro cenário é uma possível mudança violenta na ilha. O relatório acha que a sociedade civil cubana é fraca demais hoje para começar a mudança a partir de baixo, enquanto que a licença intransigente resiste às reformas de cima. Nesse contex- to, a crescente deterioração da economia eventualmente incitaria a uma explosão violenta a mediano prazo. O fator determi- nante poderá ser qualquer destes:

a) tentativa de golpe promovido por ofi- ciais subalternos do Exército que rompem com os seus comandantes pro-fidelistas e pró-raulitas;

b) atentado de morte simultâneo contra Fidel e Raul Castro, que precisaria de um número pequeno de conspiradores para não ser percebido;

c) greve geral não declarada por parte dos setores populares, cansados e desespe- rados, que desistem de ir ao trabalho por- que não há em que trabalhar nem o que comprar.

Considerando que o regime não é sus- cetível à rendição pacífica no caso de uma crise terminal, o relatório Rand aponta que esses cenários conduziriam a patamares de violência interna muito mais aguda do que aqueles que ocorreram na maioria dos sis- temas comunistas.

4 - O último dos cenários apresentados é o da confrontação direta com os EUA. Embora seja pouco provável no contexto atual, o relatório não descarta a possibilida- de de um último confronto coro o imperia- lismo manobrado por Fidel, caso seu regi- me esteja a ponto do desabamento total. Ele pode tentar provocar os EUA através de Mariel II, combates navais e aéreos, ataque à base militar de Guantánamo ou de uma forte repressão interna, em vista de que o povo cubano, as Forças Armadas e uma boa parte da América Latina apoiariam.

Mesmc que os EUA estejam se prepa- rando para enfrentar estes possíveis desfe- chos, a sua política deve ir além de uma atitude passiva, alerta o relatório. Pela sua situação estratégica no Caribe e sua proxi- midade aos EUA, Cuba continua sendo chave para a estabilidade da Bacia do Cari- be, assinala.

CONSEQÜÊNCIAS PARA A POLÍTICA DOS EUA

Na seção sobre as conseqüências para a política cubana dos EUA, o relatório Rand destaca que é preciso que este país faça a distinção entre os interesses e objetivos diante do regime de Castro e os diante de Cuba, que eventualmente poderá mudar de regime. A política estadunidense - diz o relatório - deve continuar propiciando a transformação ou desarticulação do atual regime, mas também deve trabalhar pela construção de uma sociedade civil onde possa jogar as bases de uma sociedade "li- vre, democrática, de mercado e que a longo prazo seja estável e independente". Nesse sentido - enfatiza - deve-se elaborar uma política para além dos próximos cinco anos, evitando, assim, que os ganhos a curto e médio prazos sejam alcançados em detri- mento dos objetivos de longo prazo. Esta política deve ser readaptada constante- mente segundo as mudanças que venham a ocorrer na ilha.

São quatro as opções globais que o re- latório identifica visando atingir os objeti- vps políticos dos EUA para com Cuba, a saber • Continuar a atual política de contenção

ativa, tue inclui o isolamento e as pres- sões seletivas sobre o regime;

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mmmmm Quinzena Internacional

• intensificar drasticamente as pressões políticas e econômicas e cogitar a possi- bilidade de intervenção militar no caso de uma guerra civil ou de repressão extre- mada:

• Reduzir as pressões caso o regime per- mita abrir espaço político e realize elei- ções livres (exemplo: interromper o em- bargo);

• Aumentar o fluxo de informações e pes- soas e tomar medidas para reforçar a confiança com o intuito de abrir as portas de Cuba, tal como foram penetrados e solapados outros sistemas comunistas através de vínculos mais estreitos com o Ocidente. O relatório deduz que tanto na segunda

opção quanto na terceira, as desvantagens em termos de resultados a longo prazo e de fatores de incerteza superam amplamente as possíveis vantagens a curto prazo. Au- mentar as pressões sobre Cuba não levará automaticamente ao fim do regime, a não ser que for acompanhado de uma massiva intervenção militar direta, onde o custo po- lítico e diplomático seria extremamente al- to. Isso pode tomar-se um prolongado conflito, que - entre outras coisas - dimi- nuiria a possibilidade dos EUA serem um contrapeso positivo em um regime demo- crático posterior. O relatório acredita que essa opção deve ser considerada apenas como resposta - por exemplo — a uma crise interna em Cuba e com o respaldo da OEA organização dos bstados Americanos,).

Em relação à opção que sugere reduzir as pressões para dar mais importância às posições reformistas, a Corporação Rand opina que esta poderia ser contraprodu- cente, já que não se conhecem bem os ele-

mentos reíormistas no interior de Cuba e o efeito poderia acabar fortalecendo, econô- mica e psicologicamente, o atual regime. Isso seria jogar pela janela a principal van- tagem que têm os EUA neste momento, que e o "embargo duplo" constituído pelo seu embargo econômico e o fim do apoio soviético.

Em tais circunstâncias, o relatório pre- fere a política atual pelo fato de ter a van- tagem de flexibilidade. No entanto - avisa -, ela por si só pode ser insuficiente, por exemplo, no caso de explodir uma guerra civil ou de uma campanha latino-americana em favor da normalização das relações com Cuba. Além disso também não permitiria a construção das pontes para com os atores cubanos que poderiam ser os agentes da reforma democrática e da liberalização econômica do futuro. Nesse sentido, o do- cumento considera que esta política deve ser combinada com a quarta opção, isto é, o fortalecimento de fluxos informativos e pontes de comunicação para Cuba, no mar- co da revolução mundial da informática.

A GUERRA INFORMATIVA Uma política para abrir Cuba deverá ir

além do Rádio e Televisão Marti, colocan- do em funcionamento a linha telefônica da AT&T entre Cuba e Flórida, que ainda está inutilizada. As medidas convencionais po- deriam incluir o aumento da distribuição de publicações estrangeiras dentro de Cuba e o estímulo à criação de canais de telecomu- nicações via terceiros países como o Méxi- co ou o Canadá. AJgumas medidas de abertura da sociedade cubana com uso de recurso da tecnologia sofisticada consistem em motivar as relações entre indivíduos e

organizações de Cuba com redes mundiais computadorizadas ou em facilitar o acesso dos cubanos aos aparelhos de fax, xerox, filmadoras portáteis e de desenhos gráfico e publicitário ("desktop publishing").

Além disso, o relatório propõe estabele- cer maiores contatos oficiais entre cubanos e estadunidenses com o intuito de mudar a visão de grupos cubanos-chave em favor dos objetivos e das intenções dos EUA. In- cluem-se aqui os contatos com militares em nível educativo ou até o convite de obser- vadores militares cubanos para exercícios militares estadunidenses.

O relatório Rand acredita que essa com- binação de políticas de pressão e abertura permitirá manter todas as opções abertas. Porém, para facilitar as ações de abertura e intercâmbio de informações, sugere ser conveniente que o governo estadunidense confirme o compromisso de nâo-interven- ção militar. Isso trilharia também o cami- nho para uma colaboração mais estreita com o México e a Espanha, que poderia dar pauta para que estes países aceitem apoiar conjuntamente os grupos de dissidentes e de direitos humanos de Cuba.

Em conclusão, o relatório da Corpora- ção Rand afirma que esse tipo de política combinada dará maiores possibilidades aos EUA para incentivar o desenvolvimento de uma sociedade civil em Cuba, enfrentar qualquer crise interna e lançar as bases para uma resposta interamericana diante de uma eventual crise desenfreada na ilha. •

Resumo da ALAI, Quito, n^ 166, 1.02.93, pp. 4-5.

Causa Operária -W 182-01 a 07.02.93

A SITUAÇÃO INTERNACIONAL E AS ALTERNATIVAS DA ESQUERDA

Reproduzimos abaixo trechos da palestra realizada em São Paulo pelo companheiro Jorge Altamira

"Boa noite, companheiros. "A primeira coisa que gostaria de

destacar é que se o tema em debate, "A situação política Internacional e as alternativas da esquerda", tivesse sido colocado para o conjunto da esquerda mundial, a resposta seria a seguinte: a esquerda não tem perspectiva nenhu- ma, não existe alternativa de esquer- da. Porque, para três quartas partes dos setores que não previram o fracas- so do "socialismo" no Leste Europeu, que dizem que o socialismo fracassou no Leste Europeu, que dizem que os acontecimentos na União Soviética e na Europa do Leste teriam sido uma grande vitória do capitalismo mundial; esse conjunto da esquerda, quer dizer,

95% da esquerda mundial, acha que as chances da esquerda ou são nula ou que esta deverá esperar por algumas décadas. Para essa esquerda, se o so- cialismo fracassou, depois de uma empreitada de 70 anos, não tem senti- do levar a classe operária para uma luta que necessariamente vai levá-la para outro fracasso e, se o socialismo não fracassou, mas os fatos na Europa do Leste, na China, na URSS, são uma vitória decisiva do capitalismo mundial centra a classe operária, en- tão será preciso passar algumas déca- daspara que a classe operária tenha uma chance para se colocar nova- mente como uma alternativa de poder político e, portanto, para a construção

do socialismo. Este é o raciocínio da imensa maioria da esquerda mundial. Em nome desta caracterização da si- tuação mundial, é que a esquerda jus- tifica a sua política do dia-a-dia. Se o socialismo não é possível ou se é pre- ciso esperar várias décadas, então, a gente deve entrar, deve compor com os governos burgueses pois uma polí- tica revolucionária para derrotar o re- gime e acabar com a exploração não seria possível Não seria possível construir o socialismo porque o capi- talismo provocou uma derrota decisiva naqueles países do Leste.

"Evidentemente o nosso raciocínio e a caracterização que a nossa cor- rente tem dessa análise diferem do

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Internacional

conjunto da esquerda. Em uma pales-

tra aqui no Brasil, era janeiro de 1989, fizemos algumas colocações e temos agora a chance de tirar um balanço. São as conclusões de quatro ou cinco anos que passaram desde o início do "fracasso do socialismo", pois o fra- casso do socialismo foi proclamado por volta de 1988, 1989... e para fazer uma correta análise internacional e ve- rificar as alternativas da esquerda é preciso levar era conta tudo o que aconteceu desde aquela época até ago- ra. E o que aconteceu foi que, aquilo que se convencionou chamar de crise extraordinária do socialismo e até do esfacelamento do socialismo, esteve ligado a outro fenômeno. Por exem- plo, do ano de 1989 até agora pude- mos verificar não só ura aumento do desemprego nos principais países ca- pitalistas, como também uma queda da produção, o abalo das moedas desses países, ou seja, uma desvalorização dessas moedas, era países de uma im- portância como a Alemanha, Itália, Inglaterra.

Há também uma gigantesca crise política, como por exemplo na Ingla- terra, onde a primeira ministra Marga- reth Thatcher foi derrubada. O presi- dente Bush, dos Estados Unidos, que combateu o povo do Iraque, que pro- clamou ter tido uma grande vitória internacional cora o apoio da popula- ção, perdeu as eleições, foi denotado por ura moleque do interior dos Esta- dos Unidos, do Estado de Arkansas. Vocês podem ver também a queda do governo Collor, o que não é uma coi- sa menor, porque o governo Collor foi o resultado da maior coligação da burguesia deste país corltra um candi- dato da classe operária nas eleições do ano de 1989.

Então, aos poucos aqueles aconte- cimentos que começaram por um "fra- casso do socialismo" foram se trans- formando ao mesmo tempo num fra- casso do capitalismo e nós nos vemos diante de uraa crise geral. Esta é a cri- se mundial que nos coloca diante de guerras, e não apenas nas regiões pe- riféricas do mundo, mas numa situa- ção de guerras na Europa, na Iugoslá- via e até diante de um movimento rea- cionário. Ou seja, é uma grave crise mundial.

Vou colocar para vocês quatro coi- sas fundamentais e, daí, chegaremos

rapidamente à questão de quais são as alternativas da esquerda. O que se convencionou chamar de fracasso do sociaüsmo não é, nem mais nem me- nos do que a política consciente da burocracia da União Soviética, para provocar a restauração do capitalismo naquple país. Aí não houve fracasso nenhum. Não fracassou a burocracia Não só porque lá não havia socialis- mo, mas também porque tudo o que foi feito não foi um fracasso mas uraa política consciente da burocracia para impulsionar a restauração do capta- lismo. Nós colocamos este problema desde o começo. Quando Gorbachov assumiu a chefia do governo ele anunciou o seguinte: a rainha tarefa no governo, neste país que é uraa di- tadura, ura regime totalitário. É reali- zar o socialismo cora democracia. Diante disso, toda a esquerda mundial ficou contente, saudou a colocação, todo o mundo aceitou esta política. E eu quero, era particular, citar uma pessoa, pela sua importância na políti- ca mundial, que apoiou & perestroyka, apoiou o socialismo cora democracia, que foi o primeiro-ministro e coman- dante e chefe das forças armadas de Cuba, Fidel Castro, que declarou seu apoio à perestroyka, a Gorbachov e ao socialismo cora democracia. Procu- ramos não nos deixar enganar pelas palavras fizemos uraa caracterização dizendo: aqui não há nem socialismo, nem democracia, a política da buro- cracia de retorno ao capitalismo, de cima prá baixo, é inviável porque re- gime nenhum do mundo muda de cima para baixo, mas somente de baixo pa- ra cima. Era segundo lugar, a política desta nova direção é recolocar acele- radamente um processo de acumula- ção de capital. Fomos a única corren- te, a única tendência mundial, que era meio de uma propaganda feroz era torno da reforma do socialismo dizía- mos que os trabalhadores do mundo inteiro não deveriam se deixar enga- nar porque estávamos diante de uma política contra-revolucionária, uma política lançada com o apoio do capi- tal.

"A burocracia não é uraa classe so- cial capitalista, não explora os traba- lhadores de uraa forma capitalista, mas é uma camada social exploradora porque, tendo nas suas mãos as rédeas do Estado, utiliza esse poder político

para poder ficar cora a maior parte do orçamento nacional, portanto, isto é uma exploração. Nós tonos uraa grande diferença cora as tendências que dizem que isto é uraa exploração capitalista, que o burocrata é ura pa-

trão. Mas ele não é dono de nenhuma empresa, apenas utiliza, na qualidade de burocrata, este poder político para tirar para ele um maior proveito. No entanto, o que ele tem só serve para consumir, ele não pode acumular, ele não pode converter este dinheiro em capital, pode comprar tudo o que qui- ser, mas não pode transformar o di- nheiro em capital. Ele não pode acu- mular como faz o capitalista, que se- para uraa parte para consumir e outra para investir em uraa nova fábrica ou, na bolsa de valores. Então a burocra- cia precisa, mais cedo ou mais tarde, de uraa mudança na estrutura social, na estrutura jurídica do País, para ga- rantir a propriedade privada. A políti- ca de Gorbachov, desde o início, tinha esse objetivo.

Seu conteúdo era a instauração da propriedade privada e é correto quan- do ele coloca que a transformação que ele está procurando é passar de ura regime autoritário a ura Estado socia- lista de direito, onde cada pessoa te- nha direitos. Em ura regime de direi- tos, acima de todos os direitos, está o direito de propriedade que é o direito fundamental. A luta pelo socialismo é a luta pela abolição do direito da pro- priedade privada, porque o direito à propriedade de um e o não direito à propriedade privada de outro; a pc- priedade privada é sempre ura negócio de uraa minoria para poder explorar a maioria que não tem propriedade pri- vada. Portanto, o direito à propriedade de ura é o direito à renúncia da pro- priedade privada de outro. E assim ocorre com todos os direitos: vejamos, por exemplo, a liberdade de imprensa. O dono da Folha de São Paulo tem liberdade de imprensa, mas os compa- nheiros do Pedroso têm liberdade apenas para tirar um panfleto, não têm liberdade de imprensa. A liberdade de expressão também é relativa. Por exemplo, hoje aqui temos dezenas de companheiros e eu estou exercendo a minha liberdade de expressão, mas eu não tenho esta liberdade de expressão para ir para a TV e atingir, ao invés de centenas, milhões, que é o que im-

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Quinzena porta na política. Então, esta política de Gorbachov que todo o mundo con- aderou que seria mais democracia e mais socialismo era, na verdade, uma política para permitir a restauração da propriedade privada e transformar aqueles que têm o dinheiro, ou seja, a burocracia, em classe capitalista e os operários continuariam sendo operá- rios sem direitos.

"Então existe esta contradição fantástica entre o conjunto da esquer- da e até os "trotskistas" da Democra- cia Socialista falaram que existia a intenção de uma reforma, de democra- cia e socialismo, enquanto nós afir- mávamos que aquilo era restauração do capitalismo e, nos nossos jornais, detacávamos que os direitos dos quais eles falavam eram na verdade a defesa do direito à propriedade privada.

A política que foi desenvolvida na- quele momento não era a expressão de um fracasso do socialismo, mas a ex- pressão da política que a burocracia procurou levar adiante de restauração do capitalismo. Se não entendermos bem este raciocínio não dá para en- tender nada e para entender tudo isso aí você tem que concordar, necessa- riamente, com as caracterizações que a IV Internacional, a Oposição de Es- qerda e Leon Trotsky tiveram da polí- tica mundial. Nesta época quem não é trotskista deve se dedicar a outro ne- gócio, deve abandonar a política, por- que se ele não é trotskista não tem condições de entender o desenvolvi- mento histórico atual, porque foi o trotskismo que desvendou a natureza complexa, contraditória e as tendên- cias que decorriam do surgimento desta burocracia do Estado soviético.

Os que achavam que realmente esta política era uma polilica de democra- cia e socialismo também achavam que esta era uma política possível de ser levada adiante, de cima para baixo, que era uma política que poderia, portanto uma reforma, poderia ser feita pacificamente. Para nós, para nossa tendência, as contradições entre as massas operárias e a burocracia, eram contradições irrecoociliáveis, com tendências a se tomarem explosi- vas e caminharem para a guerra civil.

A burocracia fracassou, e longe de ter fracassado o socialismo, fracassou a tentativa de restaurar o capitalismo ter fracassado o socialismo, fracassou

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iiii Internacional

a tentativa de restaruar o capitalismo pacificamente. Existe, então, a possi- bilidade de uma luta de classes aguda, realmente para impor a luta pelo so- cialismo. Agora é que existe a possi-

bilidade da luta pelo socialismo. Outro chavão que é importante

analisar é o de que neste período des- de a segunda guerra mundial existia uma guerra fria entre os países socia- listas e os países capitalistas, de que houve uma guerra entre os governos dos países socialistas e os governos dos países capitalistas. Não seria esta a prova de que houve uma vitória do capitalismo sobre o dito socialismo? O que se convencionou chamar de "guerra fria" foi nada mais do que uma expressão de atritos conjunturais entre a burocracia daqueles países e o imperialismo. Foram conflitos que re- fletiam uma situação mais aguda, mas, na verdade, a burocracia e o imperia- lismo tinham um acordo entre eles pa- ra atuar conjuntamente pela manuten- ção da estabilidade da dominação que eles tinham, internacionalmente sobre a classe operária. Por exemplo, quan- do houve a revolução da classe operá- ria na Hungria, por que o imperialis- mo não interveio para apoiar a revolu- ção contra o "inimigo", o governo naquele país? Porque, na verdade, o inimigo não era o governo, mas sim aqueles operários que se levantavam em uma revolução. Então, durante a revolução húngara, o imperialismo norte-americano e a burocracia sovié- tica deram um jeito para manterem-se unidos contra a classe operária da Hungria que tinha feito uma revolução no ano de 1957, para derrubar o go- verno. Não é só isso. Exatamente na- quele ano, por aqueles meses, os im- penaiistas da Inglaterra e da França e os sionistas de Israel, invadiram o Egito. E então, quando estes imperia- listas estavam invadindo o Egito e a classe operária da Hungria estava se levantando contra a burocracia húnga- ra, os Estados Unidos e a União So- viética fizeram uma aliança para deter o ataque dos imperialistas ingleses e franceses contra o Egito. Longe de atacar a burocracia que, segundo a versão da "guerra fria" era a inimiga, o governo americano estava fazendo uma aliança com ela exatamente quando a burocracia atacava a classe operária húngara que fazia uma revo-

lução. "Faz pouco tempo, a revista Time

de» uma informação sensacional. Ela conseguiu chegar aos arquivos secre- tos, me parece, do Vaticano. Segundo estes arquivos, o Vaticano, por meio de João Paulo II e Reagan, presidente dos Estados Unidos, haviam feito um acordo para sustentar clandestina- mente a oposição operária contra o governo dito comunista da Polônia. Não é uma prova de que o governo dito comunista da Polônia era o inimi- go, já que eles estavam apoiando os operários? Lendo o artigo da Time, fi- quei sabendo que o Vaticano e o go- verno americano fizeram este acordo em 1982, não no ano 1980, quando aconteceu a revolução dos operários poloneses, neste ano não fizeram um acordo para apoiar. Fizeram o acordo em 1982 quando os operários polone- ses estavam esmagados e não havia possibilidade de acontecer nada. No ano de 80 eles deixaram que o exér- cito esmagasse os operários da Polô- nia.

Em 82, quando os operários esta- vam esmagados foram apoiá-los, para que? Para conquistar alguma influên- cia. Sei lá, pensavam eles, não será que entre aqueles operários poderá haver alguma "Erundina" e possa en- trar num futuro governo Itamar". En- tão, quando os operários estavam em revolta não foram apoiados e só de-

pois de esmagados, receberam a aju- da.

Outro ponto importante é a queda do muro de Berlim. Com esta, a Ale- dita socialista, do Leste. Não foi uma vitória do capitalismo? Para desvendar isso aí é importante que analisemos um outro fato. Num momento em que tudo está dominado pela mídia, pela televisão, ninguém noticiou o discurso do primeiro ministro, Helmut Khol, no último Congresso do Partido Demo- crata Cristão da Alemanha... Khol in- formou aos delegados presentes àquele Congresso, qual era a impor- tância da dívida externa da antiga Alemanha Oriental. Ele apresentou a cifra espantosa de, que, no momento da queda do muro de Berlim, a Ale- manha Oriental devia ao mundo capi- talista, 280 bilhões de dólares, ou se- ja, a soma da dívida externa do Mexi- do, Brasil, Peru, Argentina e Uruguai, com a diferença de que estes cinco

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Quinzena Internacional

países latino-americanos têm, em conjunto, 250 milhões de habitantes e a Alemanha Oriental 35 milhões e com a diferença ainda, de que estes países são tão dependentes do impe- rialismo que quando o imperialismo quer aumentar a dívida ele cria uma nova dívida. Todos estes países não conseguiram uma dívida externa do tamanho da Alemanha. Só que ali es- tava um país "independente". Isso quer dizer que, antes da queda do mu- ro de Berlim, a Alemanha Oriental era uma colônia financeira do capitalismo mundial. Companheiros, ela estava num processo de restauração capita- lista bem antes da queda do muro. A única coisa que fez a queda do mu- ro foi estourar aquela bolha, porque o regime totalitário caiu, as massas con- quistaram as liberdades democráticas, o direito de organização e, agora, o comando capitalista vai ter que pagar esta dívida externa contra uma massa que quer lutar, quando antes, com um governo dito socialista, totalitário, sem liberdade de organização, os tra- balhadores tinham que pagar toda esta dívida externa sem poder lutar. Há até uma piada, uma piada que deve ser levada a sério; que diz que com a queda do muro de Berlim, a Alemanha Oriental é o único país do planeta que não vai pagar a dívida externa. Agora, que a Alemanha ocidental a anexou, é a Alemanha capitalista que tem que pagar a dívida. E a dívida externa agora é a dívida do governo da Ale- manha capitalista com os capitalistas a Alemanha, é uma divisão entre eles. Que deve ser paga pelos operários. Não mais por 17 milhões de operários, mas por 70 milhões. Diante de uma classe operária que não foi esmagada, uma classe operária que conquistou o direito de organização. Naturalmente o melhor teria sido que uma direção revolucionária tivesse organizado os operários daqueles países para lutar por um governo operário e camponês, por um governo dos trabalhadores. Então, todo este negócio teria acabado e a "vitória do capitalismo apareceria claramente como uma perda. Isso não aconteceu porque não houve uma di- reção revolucionária. Mas aquele acontecimento, nas condições da épo- ca, foi um acontecimento revolucioná- rio, provocou uma quebra das relações que estavam transformando um país

chamado socialista em uma simples colônia financeira do capital ocidental e unificou as massas na luta direta contra toda esta opressão.

Queria destacar uma colocação, pa- ra que fique gravada como uma das conclusões mais importantes desta palestra. Para nós a queda do Muro de Berlim é um episódio da revolução européia, de um modo geral, que por enquanto dissipou-se, mas que assim que retomar, vai dar continuidade à tendência desse episódio, que é o epi- sódio da revolução européia depois do esmagamento dos trabalhadores da

Polônia... E assim que as condições agraverem-se, os operários vão reto- mar este tipo de luta e, desta vez, para acabar com a exploração capitalista. É por isso que a Alemanha está numa crise muito aguda Pela primeira vez houve greves poderosas. A burguesia da Alemanha está pedindo para que a social-democracia e a burocracia dos sindicatos participem do governo, formem um governo de coalizão. Por- que nestas circunstâncias, o partido capitalista, sozinho não tem condições de sustentar a situação.

A crise destes regimes (burocráti- cos) é, ao mesmo tempo, a crise do conjunto das relações sociais que o capitalismo teceu com este regime. Por que todos estes regimes entraram em crise? Porque o mercado mundial não teve capacidade para encaixá-los, se desenvolver, porque os acordo que fizeram com o capitalismo não servi- ram para desenvolver a economia Então, a questão aqui é o afunda- mento das relações sociais que sus- tentavam, ao mesmo tempo, o capita- lismo e o regime burocrático, que aos poucos foi se manifestando, se reve- lando.

"Quais são, então, as perspectivas da esquerda? As perspectivas são fantásticas. No entanto, 95% da es- querda acha que a esquerda está cada vez pior, que ninguém liga para a es- querda, que o negócio está tão sério que você deveria fazer um acordo cora o Itamar. Porém a esquerda está avan- çando no mundo inteiro.

Vou tomar um exemplo que é dos mais significativos. De todos os países do mundo que eu acho o mais antico- munista é a Lituânia, porque foi inva- dida por tanques russos que tiraram da Li mania a independência Então,

diante desta opressão os lituanos fo- ram os primeiros a se mobilizarem contra a burocracia soviética e o Par- tido Comunista da Lituânia aos pou- cos, rachou, foi perdendo filiados e foi derrotado. Estabeleceu-se um go- verno nacionalista lutiano. Isso foi no ano de 90. Nos anos seguintes, o que ocorreu? Aumento do desemprego, perdas salariais, uma crise econômica monumental Então, houve eleições. E quem ganhou as eleições? O Partido Comunista. Em 50 anos, os "comu- nistas" nunca conseguiram que o po- vo lituano os quisesse, que o povo li- tuano os amasse. Nunca O povo li- tuano queria colocar para fora os co- munistas. Se tivesse ocorrido eleições, o Partido Comunista teria obtido 0,0001% dos votos. E agora os litua- nos estão votando pelos comunistas, diante do fracasso de dois anos de go- verno nacionalista O que é impor- tante é que um partido que se chama comunista ou social-democrata lituano ganhou as eleições contra o partido nacionalista Evidentemente este par- tido é um partido pró-capitalista e por isso ninguém ficou preocupado na Lituânia com sua vitória Na Polônia, o mesmo ocorre, os comunistas tam- bém ganharam as eleições.

E na América Latina? Aqui também a esquerda cresce. O PT é o único partido que teve um avanço nas últi- mas eleições brasileiras. A bancada do partido cresce. A CUT também cres- ce. Então tempos um avanço da es- querda. Temos um avanço da Frente Ampla do Uruguai, que venceu o ple- biscito faz um mês. O avanço do M-19 na Colômbia, que se aproximou bastante de converter-se em um parti- do majoritário. O PRT do México que ganhou as eleições e, finalmente, a Venezuela onde um partido das ca- racterísticas do PT do Brasil ganhou as eleições na capital, elegendo para prefeito o secretário-geral do sindicato dos professores.

O avanço da esquerda é sempre um sintoma de que vamos entrar em uma situação revolucionária Porque este avanço quer dizer duas coisas: - A primeira coisa é que o eixo político do Estado não se sustenta apenas com o partido direitista. O eixo político do Estado necessita, para manter-se a ca- pacidade de administrar o Estado, de deslocar-se um pouquinho para a es-

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Quinzena

querda. A segunda coisa significa que os explorados estão abandonando uma visão individual e estão partindo para uma visão coletiva, não estão apenas procurando resolver seus problemas pessoais na hora de vortar, olhando para os candidatos que sempre pro- meteram alguma coisa, isto é prome- tem aqueles que têm influência políti- ca no Estado e podem prometer, o que não ocorre com um partido de esquer- da, que não pode prometer. Eles não votam no partido que promete, mas votam nos programas que apresentam saídas mais gerais que dizem respeito

Gazeta Mercantil - 25.03.93

ao conjunto do povo, à transformação da sociedade. Então, temos uma gui- nada da situação política mundial.

"É porque a esquerda fala que não existe uma guinada, que não há pers- pectivas, que o povo está cético etc? Ela pensa dessa forma porque se "não acontece nada", se o povo está desa- nimado etc., ela não precisa impulsio- nar as lutas e ela está livre para dar sustentação à esta política de compo- sição e colaboração com os governos da burguesia.

O que podemos dizer é que a crise vai se aprofundar em todos os países e

que as lutas vão ser cada vez mais fe- rozes e que, de um modo geral, quan- do estas posições se encontram a bur- guesia vai solicitar a presença dos partidos de esquerda no governo para sustar a mobilização operária, para brecar a sua luta, propondo para isso governos de coalizão com a esquerda. Com o que está ocorrendo agora, de- pois da queda de Collor, entre Itaraar e o PT." •

A crise russa compromete o esforço de Tóquio para expandir influência política

por Charles Leadbeater do Financial Times

0 Japão está tentando desesperadamente defen- der a peça central de seu ano político: a reunião de cúpula do Grupo dos Sete iG-7) principais países in- dustrializados em Tóquio, no mês de julho.

Supunha-se que o meticu- loso planejamento da reu- nião de cúpula seria uma oportunidade para o Japão demonstrar sua capacida- de para exercer um papel de maior influência nos as- suntos internacionais. Na ausência de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Uni- das, o G-7 é a melhor espe- rança do Japão de conquis- tar esse papel.

Mas a diplomacia japo- nesa enfrentará um teste máximo se quiser que a conferência de cúpula re- presente um suave começo para esse papel internacio- nal mais amplo.

Um fator de complicação é a situação da política in- terna japonesa. Michio Wa- tanabe, ministro das Rela- ções Exteriores, está com a saúde abalada e precisou ser hospitalizado, depois de uma recente viagem aos Estados Unidos. Watanabe quer usar a montagem de uma reunião de cúpula cui- dadosamente preparada como um trampolim para sua última tentativa de se tornar primeiro-ministro, em substituição a Kiichi Miyazawa, nas eleições pa- ra a liderança do Partido Liberal Democrático (PLD), no final deste ano.

A reunião de cúpula pro- vavelmente seria sempre complicada porque o Japão está renegociando seu rela- cionamento com os Esta- dos Unidos, que há quatro décadas orientaram sua política externa.

O crescente superávit co- mercial do Japão provoca- rá novos apelos do governo Clinton em favor de um es- tímulo à economia japone- sa para ativar a demanda de importações e também medidas para abrir os mer- cados japoneses.

Miyazawa visitará Was- hington ao próximo mês, para tentar abrandar a equipe de Clinton, com um esboço de pacote econômi- co. Mas isso será apenas o início de negociações co- merciais potencialmente turbulentas, que poderão lançar uma sombra sobre a conferência de cúpula. Co- mo disse um veterano di- plomata em Tóquio: "Vai ocorrer um forte atrito com os Estados Unidos na ques- tão do comércio e seria me- lhor que acordássemos pa- ra este fato".

Mas, nas duas últimas semanas, a crescente crise política russa ameaçou ar- ruinar todos os planos cui- dadosamente traçados de Tóquio para a reunião de cúpula.

0 senso de protocolo de Tóquio, profundamente en- raizado, ficou ofendido com os apelos europeus, lidera- dos pela França, em favor de uma reunião de cúpula de emergência para discu- tir a crise russa. Yohei Ko- no, secretário de gabinete,

peatu abertamente a Paris que cessasse de tentar açambarcar a reunião de cúpula. Enviar os convites é uma tarefa de Tóquio, disse ele.

Mesmo que os parceiros do Japão aceitem que será suficiente uma reunião dos ministros das Relações Ex- teriores e das Finanças em abril, Tóquio ainda corre o risco de ficar isolada, se a crise russa ganhar mais força.

Notoriamente, o Japão não fez eco às mensagens de apoio da Alemanha e dos Estados Unidos ao presi- dente russo, Boris Yeltsin. A disputa ainda não resol- vida com a Rússia a respei- to das quatro ilhas ao norte do Japão é apenas um dos fatores responsáveis por essa relutância japonesa.

As autoridades japone- sas argumentam que á eco- nomia russa está numa si-1

tuação tão terrível que con- ceder mais ajuda a Moscou ser' o mesmo que jogar di- nheiro pelo esgoto. Afir- mam que metade da ajuda oferecida até agora—pelo Japão não foi desembolsa- da, em grande parte por causa do caos burocrático na Rússia.

A inesperada decisão de Yeltsin de cancelar uma viagem ao Japão, em fins do ano passado, somada sua decisão de visitar pos- teriormente a Coréia do Sul e a índia, simplesmente re- forçou a oposição contra o aumento da ajuda ao presi- dente russo nos escalões mais antigos e elevados do PLD.

Mas até mesmo os fun- cionários mais jovens acre- ditam que o Japão não deve tomar partido nas disputas políticas em outros países.

Como disse um alto fun- cionário internacional do Ministério das Finanças: "Uma mensagem de apoio a Yeltsin não seria bem re- cebida por (Ruslan) Khas- bulatov", presidente do Parlamento russo e rival de Yeltsin na luta pelo po- der.

O Japão está tentando consertar essas rachadu- ras emergentes através de seus diplomatas em Was- hington. Mas se estes fra- cassarem, o Japão enfren- ta a perspectiva de patroci- nar uma reunião de cúpula na'qual parece estar isola- do. No mínimo, a posição do Japão em relação à Rús- sia poderá distanciá-lo ain- da mais da Europa, num momento em que as ten- sões comerciais com a CEE estão aumentando.

Na pior das hipóteses, o Japão poderá ser acusado de estar se atrapalhando durante uma fase^crucial da crise russa, perdendo uma oportunidade de ouro para adotar uma iniciativa internacional em relação à Rússia, que seria muito bem recebida em toda a parte, e demonstrando uma vez mais que freqüen- temente só toma iniciativa quando a pressão estran- geira se torna irresistível. •

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Cultura

O BICHO

Vi ontem um bicho Na imundicie do pátio Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engulia com voracidade.

O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Rio, 27 de dezembro de 1947. Manuel Bandeira

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Mrio Vargas Cueüar