13
AS TRANSFORMAÇÕES DO HOSPITAL GETÚLIO VARGAS AO LONGO DE 70 ANOS COMO REFERÊNCIA ARQUITETÔNICA E CULTURAL DE TERESINA-PI MAGALHÃES, ARACELLY M. (1); MOURA, VIVIANNY DE PAULA F. (2) 1. Centro Universitário Uninovafapi. Curso de Arquitetura e Urbanismo R. Victorino Orthigues Fernandes, 6123 B. Uruguai Teresina-PI [email protected] 2. Centro Universitário Uninovafapi. Curso de Arquitetura e Urbanismo R. Victorino Orthigues Fernandes, 6123 B. Uruguai Teresina-PI [email protected] RESUMO O Hospital Getúlio Vargas foi implantado no período do estado novo no qual se encontrava na posse da presidência do país Getúlio Vargas e no mandato de governador do estado do Piauí Leônidas de Melo. O projeto do hospital foi realizado ao decorrer da década de 40 e foi inaugurado em 1941, embora as inúmeras críticas à construção da obra, tornou-se um ponto referencial de valor histórico, social, político, econômico e cultural. O desejo de Leônidas foi construir o Hospital do Estado, como foi chamado a princípio, seguindo o mesmo padrão do Hospital das Clínicas de São Paulo, podendo ser observada semelhança na configuração arquitetônica, assim como na organização política administrativa da época. O Hospital Getúlio Vargas ficou considerado como o grande indutor e responsável pelo elevado nível da prática médica no Estado, alvo de escolha da população do Meio-Nordeste brasileiro, que procura Teresina como centro de referência médica, o que gera movimentação no mercado varejista local e das empresas de transportes, urbanos, interurbanos, interestaduais e taxistas no transporte e movimentação do pessoal que procura tais recursos. Hoje, mesmo tendo sofrido diversas reformas ao longo dos anos e com dimensão e características originais alteradas, o Hospital se mantém como centro e referência da zona hospitalar do centro de Teresina, capital do Piauí. Nosso objetivo é através do estudo e da análise da edificação compreende-la como patrimônio histórico hospitalar, além de realizar um estudo no seu entorno buscando relatar a sua influência para a criação da atual zona do Polo de Saúde de Teresina, que fica localizado nas extremidades do Hospital Getúlio Vargas, expondo assim sua contribuição para a existência da nova paisagem urbana da capital durante os mais de 70 anos de existência. Palavras-chave: Arquitetura hospitalar; Patrimônio; Paisagem.

AS TRANSFORMAÇÕES DO HOSPITAL GETÚLIO VARGAS … · um mapa de setorização e por final busca-se realizar uma análise da ... No governo de Vargas ocorreram ... Novo de Vargas

  • Upload
    vankien

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

AS TRANSFORMAÇÕES DO HOSPITAL GETÚLIO VARGAS AO LONGO DE 70 ANOS COMO REFERÊNCIA ARQUITETÔNICA E

CULTURAL DE TERESINA-PI

MAGALHÃES, ARACELLY M. (1); MOURA, VIVIANNY DE PAULA F. (2)

1. Centro Universitário Uninovafapi. Curso de Arquitetura e Urbanismo

R. Victorino Orthigues Fernandes, 6123 B. Uruguai Teresina-PI

[email protected]

2. Centro Universitário Uninovafapi. Curso de Arquitetura e Urbanismo R. Victorino Orthigues Fernandes, 6123 B. Uruguai

Teresina-PI [email protected]

RESUMO

O Hospital Getúlio Vargas foi implantado no período do estado novo no qual se encontrava na posse da presidência do país Getúlio Vargas e no mandato de governador do estado do Piauí Leônidas de Melo. O projeto do hospital foi realizado ao decorrer da década de 40 e foi inaugurado em 1941, embora as inúmeras críticas à construção da obra, tornou-se um ponto referencial de valor histórico, social, político, econômico e cultural. O desejo de Leônidas foi construir o Hospital do Estado, como foi chamado a princípio, seguindo o mesmo padrão do Hospital das Clínicas de São Paulo, podendo ser observada semelhança na configuração arquitetônica, assim como na organização política administrativa da época. O Hospital Getúlio Vargas ficou considerado como o grande indutor e responsável pelo elevado nível da prática médica no Estado, alvo de escolha da população do Meio-Nordeste brasileiro, que procura Teresina como centro de referência médica, o que gera movimentação no mercado varejista local e das empresas de transportes, urbanos, interurbanos, interestaduais e taxistas no transporte e movimentação do pessoal que procura tais recursos. Hoje, mesmo tendo sofrido diversas reformas ao longo dos anos e com dimensão e características originais alteradas, o Hospital se mantém como centro e referência da zona hospitalar do centro de Teresina, capital do Piauí. Nosso objetivo é através do estudo e da análise da edificação compreende-la como patrimônio histórico hospitalar, além de realizar um estudo no seu entorno buscando relatar a sua influência para a criação da atual zona do Polo de Saúde de Teresina, que fica localizado nas extremidades do Hospital Getúlio Vargas, expondo assim sua contribuição para a existência da nova paisagem urbana da capital durante os mais de 70 anos de existência.

Palavras-chave: Arquitetura hospitalar; Patrimônio; Paisagem.

4o. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Introdução

O seguinte artigo tem como objetivo de estudo o Hospital Getúlio Vargas, hospital esse

localizado na cidade de Teresina, atual capital do Piauí, no qual influência de maneira direta e

indireta na economia do estado, sendo assim uma obra de marco social, político e econômico

do estado. Ela foi considerada por muitos uma edificação percussora da saúde no estado,

pois foi a partir da fundação do hospital que houve uma maior preocupação em realizar

pesquisas médicas além de ter sido o pioneiro na estatização do setor de saúde na capital.

Busca-se abordar o seu entorno realizando uma análise sobre a influência da edificação na

ocupação dos lotes existentes aos seus arredores e de ser denominada uma subárea do polo

de saúde de Teresina no qual foi uma zona abordada na agenda Teresina 2015.

A pesquisa está sendo realizada em bases bibliográficas, tendo um livro de grande referência

que é Memorial do Hospital Getúlio Vargas” de autoria do médico Dr. Francisco Ferreira

Ramos, além dos acervos disponíveis na prefeitura da cidade e nas instituições públicas e em

referências de estudos sobre a arquitetura piuiense. Complementando a pesquisa está sendo

realizado um levantamento in loco que também foi um método bastante eficaz para que essa

análise inicial pudesse ser realizada precisamente, documentando assim a caracterização

dos usos e estilos arquitetônicos.

As edificações não existem isoladas, como algo em si, mas dialogam com o entorno que as

circundam (COELHO NETTO, 1979; LYNCH, 1998) não se pode ver uma edificação isolada

tem-se que estudar o conjunto, a paisagem de cidade com as edificações existentes nela,

para que haja uma análise de como o Hospital Getúlio Vargas foi impulsionador de inúmeros

serviços hospitalares em seu entorno e de como o mesmo influenciou na criação atual do polo

de saúde da capital.

O artigo foi dividido em três momentos, o primeiro relata resumidamente parte do contexto

histórico da edificação para que haja uma locação do mesmo no tempo, relatando assim toda

a história da edificação até os dias atuais, destacando os acontecimentos mais importantes

que ocorreram ao longo desses 70 anos de construção. No segundo momento busca-se

realizar uma análise no entorno do hospital caracterizando alguns lotes existentes através de

um mapa de setorização e por final busca-se realizar uma análise da influência do hospital

tanto para a criação do polo de saúde de Teresina quanto em prol da nova paisagem urbana

da capital.

4O. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Hospital Getúlio Vargas

Na década de 40 estavam ocorrendo grandes acontecimentos, de caráter global e local, um

dos acontecimentos mais marcantes e que deixou grandes feridas foi a segunda guerra

mundial que estava arrasando com todos os países envolvidos, deixando a economia mundial

e o crescimento de todos os setores estagnadas e em completo caos. No Brasil, Getúlio

Vargas encontrava-se de posse da presidência do país e tinha consigo uma ideia de

expansão e desenvolvimento de todas os setores econômicos, no qual buscava a

autossuficiência do mercado interno. No governo de Vargas ocorreram grandes

transformações, a questão médica e sanitária brasileira foi uma delas, pois nesse período o

sudeste brasileiro estava em pleno desenvolvimento da construção de hospitais e escolas de

pesquisa médica especializada, tendo grande influência da medicina aplicada na Europa e

sendo considerada por muitos o auge da pesquisa médica brasileira.

Sabe-se que no início da colonização brasileira a única medicina aplicada era a dos índios, e

só posteriormente com a chegada da Companhia de Jesus teve-se uma preocupação com a

medicina na colônia o que fez com que se buscasse realizar a implantação das santas casas

de misericórdia, estabelecimentos de caráter religioso que cuidava dos enfermos locais, mas

foi só no século XIX, em torno de 1808, onde houve a criação de escolas médicas no Brasil

sendo que a pioneira foi implantada em Salvador, na Bahia, e foi nomeada de Escola de

cirurgia da Bahia. Essas transformações na saúde ocorreram principalmente por causa da

chegada da família real no Brasil, pois D. João buscava o crescimento não só da saúde, mas

de todos os setores internos do país. Entre os anos de 1808 e 1980, o Rio de Janeiro foi o

maior centro de graduação médica do país e foi também o local onde ocorreu as maiores

reformas sanitárias do Brasil, fatos que marcaram esse evento foi a ação do médico

sanitarista Osvaldo Cruz e a revolta da vacina.

No Piauí até o ano de 1800 ainda não se tinha a presença de médico com atividade

profissional na província isso só veio ocorrer em 1803 onde no mesmo ano foi registrado a

primeira unidade de saúde chamada Hospital da Milícia, onde o mesmo não possui registros

relevantes, o primeiro hospital de caráter público no Piauí foi inaugurado na cidade de Oeiras

no ano de 1849. Em Teresina, atual capital do Piauí, somente no ano de 1854 há a

inauguração do Hospital da Caridade onde era destinado apenas aos funcionários públicos e

militares. A santa casa de misericórdia foi implantada no ano de 1860, sendo um hospital de

caráter filantrópico e de caráter religioso. Ocorreu em 1941 um grande feito na cidade, que

repercutiu em todo o nordeste, a inauguração do Hospital Getúlio Vargas, um hospital que fez

com que ocorresse a mudança no âmbito da saúde do estado, passando do caráter

4o. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

filantrópico para o estatal. Essa mudança foi um marco que representou o início do Estado

Novo de Vargas na província.

Histórico

Leônidas de Castro Melo, médico formado pela faculdade de medicina do Rio de Janeiro, foi

eleito governador do Estado do Piauí no ano de 1935 pela Assembleia Legislativa. Em sua

gestão, entre muitos feitos, o médico, entre os anos de 1937 e 1938, concebeu e idealizou a

construção de um hospital buscando substituir a Santa Casa de Misericórdia de Teresina,

buscava com isso implantar um novo e moderno sistema de saúde na capital que tivesse

feição de instituição de ensino e pesquisa. Ele se baseou pelas diversas clinicas já

implantadas no sudeste do país no qual já estavam bem atualizadas, com tecnologias de

ponta e grandes linhas de pesquisa.

Inicialmente o novo hospital foi chamado de Hospital do Estado, mas posteriormente foi

nomeado de Hospital Getúlio Vargas em homenagem ao presidente da época, permanecendo

assim até os dias atuais, pois segundo Leônidas, ele foi o único presidente que até então

olhou para a região nordeste e em particular o estado do Piauí, utilizando-se de ações de

apoio e auxílios governamentais.

O projeto do novo hospital teresinense teve uma grande influência do Hospital das Clinicas,

em São Paulo, pois mesmo sendo inaugurado posteriormente as características de ambas

tanto na sua arquitetura quanto no seu modo de setorização são bastante semelhantes. A

elaboração do projeto aconteceu em 1937, porém demorou um ano para iniciar a sua

construção e somente em 1941 houve sua inauguração oficial. O projeto do Hospital Getúlio

Vargas sofreu enormes críticas negativas antes, durante e após a sua construção, diferente

do Hospital das Clinicas em São Paulo inaugurado em 1944 que teve todo o apoio de médicos

e professores de medicina o que foi bastante relevante, pois foi gasto mais do que o

orçamento previsto e havia um déficit em alguns setores do hospital no qual não supriam a

necessidade de todos os pacientes.

O projeto do edifício foi elaborado pelo engenheiro e subdiretor de obras públicas Cícero

Ferraz de Sousa Martins, a construção do hospital durou cerca de cinco anos devido alguns

atrasos cuja principal causa foi a demora com o transporte do material de construção vindo de

outros estados do Brasil, principalmente do Rio de Janeiro, além de outras tecnologias que até

então o norte e nordeste não tinham. O edifício se restringiu a dois pavimentos no qual tinham

2.217 m² cada, nesse espaço se encontrava distribuído todos os setores do hospital desde as

4O. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

enfermarias até os mais de duzentos leitos, além de estar em sua composição a direção do

hospital e as sedes do Instituto de Assistência Hospitalar do Estado e a Associação Piauiense

de Medicina.

O hospital foi inaugurado no dia 3 de maio de 1941 conforme mostra a figura 1, tendo uma

grande celebração com a presença de grande parte da sociedade teresinense, importantes

gestores públicos locais, pessoas da classe conservadora, além de estudantes e participantes

do sindicado de trabalhadores. Sua abertura efetiva só aconteceu seis meses depois da

inauguração por causa da falta de equipamentos necessários para que houvesse o

funcionamento regular do hospital, por isso ocorreram mais críticas negativas em relação ao

hospital que dizia respeito aos custos da implantação, pois por ser financiado pelos cofres

públicos houve uma má aplicação de verba da construção pela quantidade de dinheiro que foi

gasto no qual passou exorbitantemente do orçamento inicial. O engenheiro Cícero Martins

mesmo com grandes críticas recebeu grandes elogios por ter trago para a capital as mais

novas tecnologias construtivas e assim ter realizado um grande feito para o estado.

Imagem 01: Fachada inicial do Hospital Getúlio Vargas. Fonte: Piaui. Prefeitura Municipal de Teresina,

junho 2016.

Pela falta de estrutura em Teresina, houve problemas na capital relacionados ao

abastecimento de energia o que interferiu diretamente no funcionamento do hospital e fez com

que Leônidas Melo em 1943 elaborasse um plano de reforma em todas as áreas da rede de

abastecimento do município. Alguns anos depois da inauguração do denominado HGV, entre

os anos de 1960 e 1966, foi iniciada uma grande reforma durante a gestão do diretor Dr. Luís

Fortes, e do até então governador do estado Petrônio Portela, esta reforma tinha como

4o. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

principal objetivo a ampliação do hospital para assim suprir a demanda da população por

assistência médico-hospitalar. Sendo assim foi concluído nessa reforma um terceiro

pavimento que já era previsto no projeto inicial, mas que não foi implantado por falta de

recursos. Nessa reforma houve também a construção de um centro cirúrgico centralizado, o

que fez com que o novo centro iniciasse suas atividades e as demais salas de cirurgia soltas

no prédio fossem desativadas.

Imagem 02: Algumas alterações na Fachada: Hospital Getúlio Vargas.

Fonte:<http://www.piaui.pi.gov.br/noticias/index/id/9385>. Acesso em: 28 de agosto de 2016.

No ano de 1922, o Hospital Getúlio Vargas torna-se patrimônio da Secretaria de Saúde do

Estado, sendo agora de total responsabilidade do mesmo. No ano de 2002 o HGV passou por

um novo processo de reforma desta vez por causa de reestruturação incluindo ampliações na

estrutura física, e aquisições de novos equipamentos de alta tecnologia a ampliação da UTI,

essa reforma ocorreu de uma parceria do governo do estado e do ministério da saúde.

Durante o seu funcionamento, o hospital garantiu o atendimento de grande parte dos estados

do norte e nordeste, o que fez com que o mesmo sofresse com lotação, pois não tinha

estrutura para funcionar como hospital de urgência, o que causou grande insatisfação da

população, pois muitas pessoas morreram nas filas e corredores, e fez com que surgisse

inúmeras críticas negativas. Um hospital que foi projetado para ser um centro de pesquisa

estava agora tentando suprir a ausência de uma unidade de atendimento de urgência, que só

4O. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

veio surgir com a inauguração da CASAMATER e outras instituições que surgiram na década

de 70.

Art Decó e a edificação

Leônidas de Melo, em seu governo, procurou adotar o modelo desenvolvimentista que

contemplou a elaboração de projetos direcionados a urbanização e embelezamento da

cidade de Teresina. (AFONSO, 2013, p. 90). O governador buscava projetar uma nova capital

no qual se encaixasse nos preceitos modernos, logo o Hospital Getúlio Vargas, obra

construída pelo mesmo, buscou adotar em sua arquitetura o estilo de predominância na

época, o estilo Art Decó, no qual este esteve presente principalmente nas construções da

capital realizadas entre as décadas de 30 e 40, cita-se como exemplar existente dessa nova

arquitetura na capital o Cine Rex, o Colégio Liceu Piauiense, além do edifício do Arquivo

Público Estadual.

Imagem 03: Fachada principal do Cine Rex e Colégio Liceu Piauiense. Fonte AFONSO, Alcília;

MARQUES, Rômulo. Teresina em Aquarelas. Teresina: Cidade Verde/EDUFPI, 2014.

4o. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

A Art Decó foi um movimento que surgiu na Europa e teve seu apogeu na Exposição

Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, ocorrida em 1925 em Paris. Foi

um estilo que atingiu todos os setores das artes, tanto da arquitetura, designer, moda e

decoração, foi estilo artístico que chegou ao Brasil somente no final da década de 20 e início

dos anos de 1930, e que teve grande influência na arquitetura brasileira. Foi uma corrente

que antecedeu o modernismo arquitetônico, e trazia consigo linhas retas estilizadas, a

utilização de formas geométricas e tinha influências do construtivismo, futurismo e cubismo.

No HGV há a grande presença da geometrização, de detalhes construtivos, sendo uma

construção que remete também aos preceitos do modernismo, mesmo em suas reformas e

com as alterações internas, o prédio ainda mantem as características iniciais. Essa edificação

expressa através de sua arquitetura o início de uma era de mudanças no desenvolvimento

médico-hospitalar, e abre também as portas para o modernismo do estado, representa a

memória de um período importante para a capital, a do desenvolvimento.

O hospital e seu entorno

O local onde se localiza o hospital era inicialmente desabitado e muito arborizado, todo o seu

entorno existia inúmeras árvores e só com o tempo seu entorno começou a ser povoado

sendo que inicialmente o número de edificações eram residenciais.

“O edifício ao ser inaugurado localizava-se em área “(...) ocupada por quintas

e vacarias...Poucas casas... se encontravam na Avenida Frei Serafim, quase

deserta, a partir do Colégio Sagrado Coração de Jesus, o conhecido colégio

das irmãs(...)” (LIGÓRIO,1994:31). Nos anos quarenta, Teresina apresentava

uma população pacata de aproximadamente de 67.641 habitantes, sendo

destes 34.695 viviam em zonas urbanas e suburbanas da cidade. Na capital,

permanecia o funcionalismo público em destaque, que atuava em setores da

saúde, educação, transporte e outros.” (AFONSO, 2013, p. 77)

Podem-se ter uma ideia de que a estrutura do hospital não condizia com a realidade da

época, pois as residências da década ainda tinham a grande presença de estrutura de adobe,

taipa e palha, e o HGV veio com sua grande estrutura em concreto armado e seus traços do

estilo Art Decó para inovar e enriquecer a arquitetura piauiense.

O hospital em si já é um grande marco em Teresina, pois foi a partir dele que a capital se

tornou um centro de saúde mais importante do norte-nordeste, a capital passou a receber

4O. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

inúmeros pacientes de outros estados o que fez com que a região do Hospital Getúlio Vargas

se tornasse um polo de saúde do Piauí, pois inúmeras empresas do ramo hospitalar se

estabeleceram com o passar dos anos em seu entorno, desde clinicas médicas até farmácias

particulares. Uma das edificações que merece destaque e que está localizada no entorno do

hospital é um prédio destinado a pesquisas do curso de medicina da Universidade Federal do

Piauí, nomeado de Centro de Ciências da Saúde (CCS).

O Hospital Getúlio Vargas localiza-se no centro sul de Teresina, e ocupa metade de um

quarteirão no qual é delimitado pela Avenida Frei Serafim, rua 1 de maio, rua São Pedro e rua

Governador Raimundo Artur de Vasconcelos, conforme o mapa abaixo. Fazendo uma análise

do seu entorno pode-se perceber o crescimento no ramo da saúde no local com muitas

edificações ligadas à área.

No ano de 1970, Teresina teve seu primeiro banco de sangue instalado, nas dependências

do Hospital Getúlio Vargas, em 1982 houve a criação do HEMOPI (Centro de Hematologia e

Hemoterapia do Piauí) e só em 1984 houve a inauguração de um local independente para o

serviço, que se encontra na mesma quadra do hospital em estudo. Realizando um

levantamento das edificações nas extremidades do Hospital Getúlio Vargas além do

HEMOPI, encontramos o Hospital de Doenças Infecto Contagiosas, denominado HDIC, que

teve sua inauguração no dia 31 de junho de 1973, e foi renomeado em 2000 para Instituto de

Doenças Tropicais Nathan Portela. Na mesma região também se encontra o Hospital Infantil

Lucídio Portela que abriu suas portas em março de 1986, e a FACIME (Faculdade de

Ciências Médicas do Estado) mais uma instituição localizada no polo de saúde de Teresina e

entre vários outros.

4o. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Imagem 04: Mapa de zoneamento por uso dos lotes. Fonte: Redesenho pelas autoras.

O mapa de zoneamento acima é um recorte da área denominada subárea 02 do polo de

saúde da capital, no qual se localiza o hospital estudado, percebemos através de uma análise

que a área possui a predominância do serviço médico-hospitalar, e igualmente há a presença

do comércio, fazendo com que essa zona se torne um polo econômico por causa dos

serviços prestados, tanto do setor público como privado.

Realizar a leitura do espaço requer a percepção desses constituintes em relação ao modo

como se estruturam em diferentes escalas, considerando não apenas “concepções estéticas,

ideológicas, culturais ou arquitetônicas, mas encontram-se indissociavelmente ligada a

comportamentos, a apropriação e utilização do espaço e a vida comunitária dos cidadãos”

(LAMAS, 2004 p.38). Vincula-se intimamente com a população na medida em que é

vivenciado, modificado e readaptado, acompanhando sempre as transformações das

mentalidades e costumes do local inserido (CHOAY, 2001). E é o que se percebe, na

observação do objeto investigado.

A arquitetura e o urbanismo em sua dimensão formal “materializam” (GHIONE, 2013) e

transformam os valores temporais e culturais, que surgem com a apropriação social do lugar,

em determinada temporalidade. A arquitetura e a paisagem também integram a memória por

4O. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

sediarem os acontecimentos e assim essa memória coletiva se espelha na transformação do

espaço realizado pela coletividade. Para Lynch (1999 p.44) a cidade pode ser vista como

“uma historia, um padrão de relações entre grupos humanos, um espaço de produção e de

distribuição, um campo de força física, um conjunto de decisões interligadas ou uma arena de

conflitos.” Intervenções que transfiguram o traçado urbano e a arquitetura da cidade possuem

uma conotação e um sentido, não se limitando apenas a modificações formais, mas

intencionando atingir “sociabilidades e valores do povo.” Se faz necessário investigar as

relações políticas e as transformações econômicas cujos sinais encontram-se nas

modificações espaciais e formais da paisagem a ser estudada.(PESAVENTO, 1999) E,

segundo Rossi (1997, p.9), “não há nada mais perene que as estruturas urbanísticas e

territoriais de uma cultura, nem mesmo a língua”, daí a importância e viabilidade de pesquisas

nesta área.

Procura-se com esse estudo apontar caminhos para novos estudos e discussões acerca do

patrimônio histórico, arquitetônico e urbanístico da cidade de Teresina. Realizar a leitura da

cidade como sujeito passível de modificações constantes, redefinindo o tempo todo

territórios, com suas continuidades e descontinuidades. O conhecimento histórico propicia

uma melhor compreensão da forma da cidade, podendo auxiliar no planejamento urbano

contemporâneo, em intervenções nos centros histórico estudado e no fortalecimento da

cultura urbana.

Considerações Finais

As iniciativas apresentadas pretendem alcançar o entendimento da evolução do entorno

urbano do Hospital Getúlio Vargas- HGV, e através da análise dos edifícios e obras já

mencionados, descobrir uma forma de fortalecer os significados culturais de lugar de memória

dos mesmos e as relações de identidade dos cidadãos com o sítio analisado. Busca-se

também subsidiar com esses dados, informações técnicas importantes, que por falta de

catalogação possam ser perdidas ao longo do tempo.

Entende-se que compreensão das transformações urbanas de uma paisagem significativa

para a cidade é fator indispensável para intervenções assertivas no urbanismo e na paisagem

contemporânea do local e de outros sítios semelhantes na cidade, servindo como experiência

para outros estudos que busquem preencher lacunas nessa área de estudo.

4o. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Espera-se também, a partir dos bancos de dados formulados, subsidiar informações técnicas

importantes, que, por falta de catalogação possam ser perdidas ao longo do tempo além de

servir também como experiência para outros estudos de outras edificações que contribuíram

para o desenvolvimento da arquitetura local.

Os resultados obtidos, serão disponibilizados num site próprio

(Amavel.com.br/Uninovafapi/pesquisa), de domínio da instituição e livre acesso a

comunidade, com os arquivos da primeira linha de pesquisa. Muitas das construções

analisadas encontram-se com as fichas preenchidas e plantas redesenhadas que em breve

também serão disponibilizadas.

Entre as dificuldades encontradas no desenvolvimento da pesquisa são a confirmação sobre

cada lote. A rápida mudança de usos, onde o residencial passa a dar lugar ao comercial,

também causa a desconfiguração original de espaços. A criação de um acervo digital vai

possibilitar o acesso desses documentos a um número considerável de pessoas – curiosos,

pesquisadores, professores e alunos, estimulando possibilidades diversas de pesquisas;

sendo hoje um importante meio de organizar e produzir o acesso universal a documentos

históricos:

O documento é uma prova pública, torna-lo visível na web é efetivar o direito ao seu acesso. Importa-nos (...) fazer coincidir a compreensão da palavra público no sentido de estar visível, exposto, com o público entendido como o usuário da coleção digital e que comporta uma multiplicidade de internautas com habilidades diferenciadas para a leitura de documentos. (LOPES, 2008 p.189).

Assim, sendo prova pública estará disponível para a busca de informações sobre o tema no

campo disciplinar do arquiteto, estando sujeitas a outras pesquisas relevantes sobre a história

da arquitetura brasileira em especial, a arquitetura piauiense a partir de iniciativas como essa.

Todas essas iniciativas relatadas visam incentivar na comunidade acadêmica o interesse pela

pesquisa científica e difundir o conhecimento produzido, uma vez que se corre o risco de

perder parte da história, e referência da arquitetura piauiense devido à falta de documentação.

Pretende-se com o fim do estudo apontar possíveis caminhos que possibilitem futuras

intervenções de atualização, conservação e até mesmo registro- pelos órgãos de

preservação- sobre o reconhecimento das edificações como bens culturais. Este estudo

pretende ainda identificar instrumentos técnicos-operacionais e seus critérios

teóricos-metodológicos na prática do ensino de projeto de arquitetura com ênfase nas

concepções construtivas e tecnológicas.

4O. COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO

Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Referências

AFONSO, Alcília. Documentação da arquitetura: Teresina,160 anos. Timon-Maranhão:

Gráfica Aliança, 2013.

AFONSO, Alcília; MARQUES, Rômulo. Teresina em Aquarelas. Teresina: Cidade

Verde/EDUFPI, 2014.

COELHO NETTO, J.T. A construção do Sentido na Arquitetura. São Paulo:

Perspectiva,1979, 179 p.

________. Art Decó. Disponível:<http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/art_deco.htm>.

Acesso em: 29 de agosto de 2016.

_________________________. Hospital Getúlio Vargas. Disponível

em:<http://www.hgv.pi.gov.br/>. Acesso em: 28 de agosto de 2016.

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio histórico; tradução de Luciano Vieira. São

Paulo: Editora Estação da Liberdade, 2001.

LYNCH, K. A Imagem da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1998, 227 p.

LYNCH, Kevin. A Boa forma da cidade. Lisboa: Edições 70, 1999. p.44.

LOPES, Myriam Bahia. Documento e ação: guardar e ver na coleção digital” Em

CASTRIOTA, Leonardo Barci (org.). Arquitetura e Documentação. São Paulo: Annablume

Editora, 2011. pp. 183-195.

GHIONE, Roberto. Tempo e Lugar. Disponível em http://www.caupr.org.br/?p=6432 Acesso

em 23/06/2013.

PESAVENTO, Sandra Jatahi. O imaginário da cidade. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1999.

RAMOS, Francisco Ferreira. Memorial do hospital Getúlio Vargas: contexto

histórico-político-econômico-social-cultural,1500-2000. Teresina: Gráfica do Povo, 2003.

ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes. 1998, p.9.

SANTOS, Jéssica. As escolas centenárias: um tour pela história e arquitetura

teresinense. Disponível em:<http://www.piaui.pi.gov.br/noticias/index/id/11847>. Acesso em

29 de agosto de 2016.