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GeoTextos, vol. 4, n. 1 e 2, 2008. C. Lage, H. Peixoto, C. Vieira 11-36 .11 Resumo A Bacia do Rio Corrente é um exemplo expressivo dos problemas ambientais das bacias do Oeste Baiano. O crescente desenvolvimento econômico nesse espaço vem provocando conflitos relacionados à demanda de água pela irrigação e pela geração de energia elétrica, somando-se a essas questões os processos de degradação ambiental. Analisar aspectos da vulnerabilidade da Bacia é a fina- lidade deste trabalho, que pretende oferecer subsídios às estratégias que permi- tam sua revitalização e integração no processo produtivo da Bacia do Rio São Francisco. As unidades de paisagem - UIPs da Bacia do Rio Corrente foram classificadas de acordo com o seu grau de vulnerabilidade ambiental a partir do modelo da Ecodinâmica de Tricart, quantificado através do uso do geoprocessamento, o que permitiu uma análise integrada da paisagem. Os riscos ambientais identificados difundem-se pelas UIPs, classificados em graus diferenciados de vulnerabilidade e refletem as ações atinentes à produção do espaço regional. Os programas e projetos de desenvolvimento implantados na área, tanto pelo poder público quanto o privado, não levaram em conta as relações sociedade/natureza, insistindo, na sua maioria, por atividades nitida- mente exploratórias, sem a contrapartida dos estudos sobre a capacidade de sustentabilidade dos ecossistemas regionais. Palavras-chave: vulnerabilidade ambiental, unidades integradas da paisagem, riscos ambientais, Bacia do Rio Corrente. Creuza Santos Lage Professor associado, Mestrado em Geografia da UFBA [email protected] Heraldo Peixoto Professor adjunto, Departamento de Geografia da UFBA [email protected] Cláudia Margarete Batista Vieira Mestre em Geografia pela UFBA Aspectos da vulnerabilidade ambiental na Bacia do Rio Corrente-BA

Aspectos da vulnerabilidade ambiental na Bacia do Rio ... · Milton Santos, em “A Natureza do Espaço” (2002), afirma que a paisagem é um conjunto de Geotextos 4.pmd 14 2/2/2009,

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GeoTextos, vol. 4, n. 1 e 2, 2008. C. Lage, H. Peixoto, C. Vieira 11-36 .11

Resumo

A Bacia do Rio Corrente é um exemplo expressivo dos problemas ambientais dasbacias do Oeste Baiano. O crescente desenvolvimento econômico nesse espaçovem provocando conflitos relacionados à demanda de água pela irrigação epela geração de energia elétrica, somando-se a essas questões os processos dedegradação ambiental. Analisar aspectos da vulnerabilidade da Bacia é a fina-lidade deste trabalho, que pretende oferecer subsídios às estratégias que permi-tam sua revitalização e integração no processo produtivo da Bacia do Rio SãoFrancisco. As unidades de paisagem - UIPs da Bacia do Rio Corrente foramclassificadas de acordo com o seu grau de vulnerabilidade ambiental a partir domodelo da Ecodinâmica de Tricart, quantificado através do uso dogeoprocessamento, o que permitiu uma análise integrada da paisagem. Osriscos ambientais identificados difundem-se pelas UIPs, classificados em grausdiferenciados de vulnerabilidade e refletem as ações atinentes à produção doespaço regional. Os programas e projetos de desenvolvimento implantados naárea, tanto pelo poder público quanto o privado, não levaram em conta asrelações sociedade/natureza, insistindo, na sua maioria, por atividades nitida-mente exploratórias, sem a contrapartida dos estudos sobre a capacidade desustentabilidade dos ecossistemas regionais.

Palavras-chave: vulnerabilidade ambiental, unidades integradas da paisagem,riscos ambientais, Bacia do Rio Corrente.

Creuza Santos LageProfessor associado, Mestrado em Geografia da [email protected]

Heraldo PeixotoProfessor adjunto, Departamento de Geografia da [email protected]

Cláudia Margarete Batista VieiraMestre em Geografia pela UFBA

Aspectos da vulnerabilidadeambiental na Bacia doRio Corrente-BA

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Abstract

VULNERABILITY ASPECTS OF THE CORRENTE’S RIVER DRAINAGE BASIN

The Basin of the Corrente River is a significant example of the environmentalproblems of the western Baiano basins. The growing economic development inthat area is causing conflicts related to the irrigation demand of water andgeneration of electricity, adding to these issues the processes of environmentaldegradation. The purpose of this study is to considerer aspects of the vulnerabilityof the Basin, which plans to offer subsidies to strategies for its revitalization andintegration in the production process of the Basin of São Francisco River. Thelandscape units - UIPs of the Corrente River basin were classified according totheir degree of environmental vulnerability of the model of Ecodinâmica ofTricart, measured through the use of geoprocessing, which has an integratedanalysis of the landscape. The environmental risks identified are spread by UIPs,they are classified into different degrees of vulnerability, and they reflect theactions relating to the production of regional space. The program and developmentprojects located in that area, both the public as the private power, had notconsidered the relations society/environment, insisting most of them by exploratoryactivities clearly, without the consideration of studies on the ability of sustainabilityof regional ecosystems.

Key-words: environmental vulnerability, the landscape integrated units,environmental risks, Basin of the Corrente River.

1. Introdução ao tema

O diagnóstico ambiental de uma bacia hidrográfica, com avaliação

do seu estado hidroambiental através de indicadores de avaliação de ris-

cos previsíveis e azares “naturais”, tipificação do uso e ocupação do solo,

faculta a definição de práticas de manejo, conservação e recuperação de

áreas degradadas e oferece subsídios para formulação de políticas publi-

cas, programas e projetos de revitalização socioambiental.

O Cerrado Baiano é conhecido e reconhecido como “território” de

produção de águas, que abriga mananciais superficiais e subterrâneos

responsáveis pela vazão e estoque de água da Bacia do Rio São Francisco,

aportando aproximadamente 30% de sua vazão total, através das bacias

dos rios Grande, Corrente e margem esquerda do Carinhanha.

As bacias hidrográficas do Cerrado Baiano constituem-se em espaços

fragilizados. Séries históricas de vazões dessas bacias e dados piezométricos,

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contratados com crescentes demandas por usos múltiplos, evidenciam ten-

dência de redução da vazão em conseqüência de práticas inadequadas de

uso, manejo e ocupação dos seus espaços com o desmatamento generali-

zado, sem respeito ao código florestal, para a implantação da agricultura

produtora de comodities para exportação e o uso intensivo dos recursos

hídricos pela irrigação, sem critério rigoroso de outorga água e

monitoramento para uso eficiente da água. Processos de arenização são

visíveis em áreas próximas às nascentes de alguns rios.

A Bacia do Rio Corrente é um exemplo expressivo dos problemas

ambientais das bacias do Oeste Baiano (Figura 1).

Formada pelos rios Corrente, Correntina, Formoso, do Meio e Arroja-

do e com uma superfície de 45.732 quilômetros quadrados, abrange os

municípios de Santa Maria da Vitória, Correntina, Jaborandi, São Félix do

Coribe, Serra do Ramalho, Santana, Sítio do Mato, Serra Dourada, Canápolis,

Coribe, Feira da Mata, Brejolândia, Carinhanha, Baianópolis, Cocos, São

Desidério, Muquém do São Francisco, Tabocas do Brejo Velho e Bom Je-

Figura 1LOCALIZAÇÃO DA BACIA DO RIO CORRENTE

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sus da Lapa. Essa bacia hidrográfica situa-se entre as bacias dos rios Gran-

de e Carinhanha, nas latitudes de 12º45' e 14º50' Sul e longitudes de

43º20' e 46º15' Oeste e está inteiramente localizada no Estado da Bahia.

O crescente desenvolvimento econômico desses municípios vem

evidenciando conflitos relacionados à demanda de água para irrigação

e geração de energia elétrica. Somam-se a essas questões os processos

de degradação ambiental que vêm se expandindo e exigindo ações

públicas e privadas imediatas que permitam o controle e a mitigação

desses impactos.

Proceder ao diagnóstico ambiental da Bacia do Rio Corrente é a fina-

lidade deste trabalho que se propõe a oferecer subsídios de utilização dos

recursos naturais de forma proveitosa, que permitam a revitalização da

bacia. Para tanto, far-se-á uso das novas tecnologias através das técnicas

de geoprocessamento, que permitem uma análise integrada da paisagem,

visando à valorização e integração da bacia do Rio Corrente no processo

produtivo da bacia do Rio São Francisco.

2. Materiais e Métodos

O zoneamento ambiental de uma bacia hidrográfica caracteriza-se

como uma metodologia cujos pressupostos fundamentam-se na escolha

de categorias analíticas que facilitem primeiramente uma análise integra-

da das paisagens identificadas e em continuidade, permitindo o estabele-

cimento de perspectivas de mitigação dos problemas diagnosticados e iden-

tificação de suas ações causais.

Segundo Bertrand (1968), a paisagem é uma determinada porção do

espaço que resulta da combinação dinâmica dos elementos físicos,

biológicos e antrópicos, os quais interagindo dialeticamente uns sobre

os outros formam um conjunto indissociável em perpétua evolução.

Maria de Bolós (1992) define a paisagem como o conjunto de formas que

caracteriza determinada parte da superfície terrestre, distinguindo-se sua

heterogeneidade e homogeneidade de modo a permitir a análise dos

elementos em função de sua forma e magnitude. Milton Santos, em “A

Natureza do Espaço” (2002), afirma que a paisagem é um conjunto de

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formas que, num dado momento, exprime as heranças que representam

as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. Já Cemim et

al. (2007) referem-se à ecologia da paisagem como o estudo da estrutura,

da função e da dinâmica de áreas heterogêneas compostas por

ecossistemas interativos.

A visão de qualquer paisagem nos sugere, numa primeira aproxima-

ção, uma espécie de mosaico mais ou menos ordenado de formas e cores.

Se analisarmos atentamente, veremos que as peças desse mosaico são

muito diferentes: umas têm consistência sólida, outras, líquida; umas

são todas de vida, outras, não. Todos e cada uma das formas ou elementos

podem ser objetos de estudos e análise parciais, levados a cabo por

diferentes especialistas, mas o mais importante é a estrutura e o

funcionamento do todo, o mosaico, o conjunto. A análise integrada

da paisagem ou ciência da paisagem é justamente o estudo específico

deste aspecto global.

O geógrafo soviético Sotchava criou, em 1963, o conceito de

Geossistema, adotado em 1967 por Stoddart, geógrafo inglês, e, em 1969,

pelo geógrafo alemão Neef. A partir daí, geossistema passou a se tratar de

um termo científico utilizado pelos especialistas na Ciência da Paisagem.

Outros estudiosos como Jean Tricart, Carlos Figueiredo Monteiro e Anto-

nio Christofoletti utilizaram o conceito de geossistema na análise integra-

da da paisagem com contribuições teóricas e metodológicas importantes.

Christofoletti (1999), estudando a paisagem como sistema ambiental,

define a Geografia como o estudo das organizações espaciais e a Geografia

Física tendo como finalidade o estudo da organização espacial do sistema

natural adotando como categoria analítica o geossistema. Diz ele:

No campo conceitual e analítico para o estudo das características e complexida-de das paisagens como sistemas integrados duas perspectivas surgem comonorteadoras: a ecológica e a geográfica. A primeira focaliza as característicasdas comunidades biológicas e seu habitat, enquanto a segunda refere-se àorganização dos elementos da paisagem – naturais e socioeconômicos – nocontexto espacial (CRISTOFOLETTI, 1999, p. 123).

O geossistema, pois, corresponde à aplicação do conceito de sistema

à paisagem, ou seja, é a concepção sistêmica de paisagem. O geossistema,

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como o ecossistema, é ao mesmo tempo uma abstração, um modelo teóri-

co da paisagem e uma metodologia pelos procedimentos de análise e di-

agnóstico que oferece, representa o nível mais alto de organização do

sistema natural, dadas as numerosas variáveis ou elementos que possui.

Enquanto o ecossistema é definido como sendo área relativamente

homogênea de organismos interagindo com seu ambiente, o geossistema

é o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos

físicos, biológicos e antrópicos, que fazem da paisagem um conjunto úni-

co e indissociável.

Maria Bolós (1992) define a estrutura do geossistema como a

interdependência relativa de determinadas características do sistema em

relação a seu funcionamento, distinguindo dois níveis estruturais: o verti-

cal e o horizontal. Identifica-se na estrutura vertical do geossistema a

litomassa, a aeromassa, a hidromassa, a biomassa e a antropomassa. A

estrutura horizontal de um geossistema está constituída por um mosaico

de geofácies, cada uma apresentando uma seqüência de geohorizontes.

As variações que conduzem à formação de fácies permitem identificar de

forma precisa o caráter dinâmico e evolutivo do sistema. Essas mudanças

de dinâmica resultam em princípio da modificação dos elementos bióticos.

A dinâmica é controlada nos geossistemas naturais pelo ecossistema; nos

sistemas sociais esse controle se dá pelo homem, entretanto a taxa de

mudanças e o limite de desenvolvimento são determinados pelos elemen-

tos abióticos e pela energia. O estado final apresenta um máximo de

biomassa nos sistemas naturais e um de qualidade de vida nos antrópicos

e em ambos a máxima estabilidade. Os métodos para analisar esses ní-

veis são vários, caracterizando a interdisciplinaridade nos estudos

geossistêmicos.

O desenvolvimento da informática e o aparecimento do

geoprocessamento na década de 1960 vêm contribuindo com a coleta, o

armazenamento, a manipulação, a consulta e a análise de um volume

crescente de informações relativas ao espaço geográfico, facilitando so-

bremaneira a tomada de decisões de planejamento e gestão. O banco de

dados gerado por essa geotecnologia produz um conhecimento detalhado

do espaço regional, contribuindo com a proposição de programas de con-

trole e manejo do meio ambiente. Xavier da Silva e Carvalho Filho (1993)

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e Crepani et al. (2001) desenvolveram metodologias utilizando o SIG na

construção do banco de dados e na elaboração de cartas temáticas e os

programas Arcview e Spring aparecem como os melhores instrumentos

de análise e diagnóstico integrado da paisagem.

A Bacia do Rio Corrente constitui um geossistema que possui uma

dinâmica e uma estrutura que lhe são peculiares, contudo, contém unida-

des de paisagem que se diferenciam de acordo com o grau de

homogeneidade/ heterogeneidade em relação à vizinhança. Assim consi-

derou-se como base teórico-metodológica mais adequada ao diagnóstico e

ao zoneamento dessa bacia o modelo da Ecodinâmica de Tricart,

quantificado para se adequar ao manuseio das técnicas de geoprocessa-

mento (CREPANI et al., 2001).

A Ecodinâmica é uma metodologia de zoneamento ambiental basea-

da na abordagem sistêmica que enfoca as relações mútuas entre a estru-

tura, a dinâmica e os fluxos de matéria e energia dos geossistemas. Nessa

abordagem, a morfodinâmica – representada pelo balanço morfogênese/

pedogênese – orienta a avaliação dos ambientes permitindo classificá-los

em estáveis, intergrades e instáveis. Nos ambientes estáveis há uma

predominância da pedogênese sustentada pelos processos geoquímicos.

Nos ambientes intergrades tem-se uma transição que pode ser positiva

quando a pedogênese passa a influenciar a dinâmica ambiental, ou

torna-se negativa quando a morfogênese aparece como dominante. Nos

ambientes instáveis a fortemente instáveis a morfogênese predomina, com

destruição dos solos e conseqüente degradação dos demais ele-

mentos do sistema.

Segundo Crepani et al. (2001), a utilização de imagens de satélites

no zoneamento Ecológico-Econômico possibilita utilizar-se de todo o po-

tencial disponível no Sensoriamento Remoto e nos Sistemas de Informa-

ções Geográficas. As informações geradas por esse procedimento permi-

tem elaborar cartas de vulnerabilidade ambiental contendo informações

básicas do meio físico e do uso da terra da bacia.

Nesse contexto teórico-metodológico, os procedimentos adotados fun-

damentaram-se nos levantamentos e análises documentais e bibliográfi-

cos, no trabalho de campo e de laboratório e compreenderam: levanta-

mento de dados; elaboração da carta topográfica; geração de carta-ima-

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gem em 3D; definição das unidades integradas da paisagem (UIP’s);

classificação da cobertura e do uso do solo; elaboração dos mapas temáticos

de geologia, geomorfologia, solos, vegetação e uso do solo; ponderação

das classes dos mapas temáticos; cálculo das médias zonal e aritmética

dos temáticos em relação às unidades de paisagem; carta da vulnerabilidade

ambiental; verificação dos resultados em campo. Os trabalhos de campo

compreenderam coleta dos dados, aplicação de matrizes de observação e

dimensionamento dos processos de degradação socioambiental.

O trabalho de laboratório constituiu-se na digitalização dos mapas e

da organização do banco de dados; o tratamento quanti-qualitativo das

informações e sua representação através de gráficos e tabelas; e a confec-

ção de mapas temáticos. Para a realização do trabalho foram utilizados os

seguintes materiais: carta topográfica com eqüidistância entre as curvas

de nível de 10 metros, originada a partir do MDT, cuja resolução é de 30

metros quadrados; imagem de satélite; cartas de geologia, geomorfologia

e solos na escala 1:250.000 (IBGE/RADAMBRASIL), das folhas que com-

preendem a Bacia do Rio Corrente (SC-23-YB, SC-23-XC, SC-23-ZA e SC-

23-XA); cartas de vegetação na escala 1: 100.000 (extinta DDF/SEAGRI/

BA hoje SFC/SEMARH/BA), das folhas que compreendem a bacia do Rio

Corrente; Softwares de Sistema de Informações Geográficas ARCMAP

(ARCGIS) versão 9 e SPRING (INPE) versão 4.1, ambos em ambiente

Windows; Software de sensoriamento remoto Environment for Visualizing

Images – ENVI versão 3.5 (RESEARCH SYSTEMS, 2002).

Os resultados são apresentados em tópicos que se iniciam com a

análise do potencial ecodinâmico dos elementos naturais da bacia. Segue-

se a classificação das Unidades de Paisagem a partir do grau de

vulnerabilidade, uma Matriz Comparativa dos Cenários identificados e

sua síntese num mapa de vulnerabilidade da Bacia. A apresentação dos

riscos ambientais identificados caracteriza as considerações finais.

3. Potencial Ecodinâmico da Bacia do Rio Corrente

A análise integrada da paisagem da Bacia do Rio Corrente, como já

citado, foi realizada segundo o modelo da Ecodinâmica quantificado con-

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forme as técnicas de geoprocessamento. Para tanto, se considerou como

condicionantes naturais da vulnerabilidade ambiental a litologia, o rele-

vo, os solos e a vegetação. Os condicionantes sociais, por sua vez, dizem

respeito ao uso do solo. A conjunção desses condicionantes produz um

mosaico de situações ambientais que propiciam dinâmicas próprias e de-

pendentes na evolução da paisagem. Tais dinâmicas referem-se aos pro-

cessos morfogenéticos e pedogenéticos, onde os primeiros estão relacio-

nados aos processos modificadores do relevo e os segundos aos processos

formadores dos solos. A quantificação consiste em atribuir pesos às dife-

rentes unidades de paisagem da bacia hidrográfica e, para tanto, fez-se

necessário ponderar as diferentes classes da geologia (litologia),

geomorfologia, solos, vegetação e uso do solo que ocorrem em cada uma

dessas unidades.

Em linhas gerais, os diferentes pesos variam na escala de 1 (um) a 3

(três). Nas unidades de paisagem, onde na relação morfogênese/

pedogênese prevalece a primeira, se atribui peso 1. Em unidades de pai-

sagem onde na relação morfogênese/pedogênese há equivalência entre

ambas, se atribui peso 2. E, finalmente, em unidades de paisagem/

pedogênese que prevalece a segunda, então se atribui peso 3 (TRICART,

1979 apud CREPANI et al., 2001).

3.1. Litologia

Quadro 1LITOLOGIAS

Arenitos, Pelitos 2,6 Aluviões, Areia, Argila, Cascalho 3,0 Calcários, Calcarenito, Dolomito 2,5 Folhelhos, Siltitos 2.0 Ortognaisse 1.2 Quartzos, Monzonitos 1,0 Argilito 2,5 Laterita 1.5

No quadro 1 encontram-se identificados os tipos de rochas freqüentes

na Bacia do Rio Corrente. Segundo a análise da morfogênese/ pedogênese,

os diferentes graus de coesão da rocha implicam em processos que vari-

am desde aqueles que favorecem a modificação do relevo até aqueles que

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favorecem a formação dos solos. Então, em rochas pouco coesas prevale-

cem os processos morfogenéticos, pois estão intensamente submetidas às

ações dos agentes ativos do intemperismo que as deixam mais suscetíveis

de serem erodidas e transportadas. As rochas bastante coesas resistem à

atividade erosiva e à remoção, dando tempo, assim, para que ocorram os

processos pedogenéticos. Desse modo, atribuiu-se peso próximo de 1 (um)

às rochas coesas, peso próximo de 2 (dois) às rochas de coesão mediana e

peso próximo de 3 (três) às rochas pouco coesas. De acordo com estes

conceitos foram atribuídos pesos às classes rochas (litologias) como mos-

tra o quadro 1.

3.2. Relevo

Na Bacia do Rio Corrente predominam as formas aplainadas. Nessas

formas de relevo prevalecem os processos pedogenéticos, pois o gradiente

topográfico não é suficiente para gerar a energia cinética e permitir que o

solo seja removido e transportado. Muito pelo contrário, estará de certo

modo estabilizado e terá tempo suficiente para se desenvolver. Entretan-

to, as formas de relevo dissecadas apresentam as maiores disposições ao

desenvolvimento dos processos morfogenéticos, pois os índices de disse-

cação comandam a remoção e o transporte de materiais do solo para ou-

tras áreas. Daí, atribuiu-se peso próximo de 1 (um) às unidades onde

predomina o modelado de aplainamento; peso próximo de 2 (dois) para as

unidades onde predomina o modelado de dissolução e peso próximo de 3

(três) para as unidades onde predomina o modelado de dissecação. O Quadro

2 mostra a atribuição dos pesos às unidades geomorfológicas, resultado

das análises morfopedogenéticas.

Quadro 2UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS

Patamares estruturaisPedimentos funcionaisPediplano sertanejoPlano sub-estrutural dos geraisRegião de acumulação

3,01,51,01,02.0

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3.3. Solos

Os estágios de desenvolvimento do solo indicam a atuação dos pro-

cessos relacionados à modificação do relevo (morfogênese) e aqueles re-

lacionados à formação dos solos (pedogênese). Em solos jovens e pouco

desenvolvidos prevalecem os processos da morfogênese e predomina a

pedogênese em solos maduros e bem desenvolvidos. Neste sentido, atri-

buiu-se aos solos da Bacia do Rio Corrente peso próximo de 1 (um) aos

mais maduros, os intermediários tiveram peso próximo de 2 (dois) e os

solos jovens, peso próximo de 3 (três). O Quadro 3 mostra os tipos de

solos com seus respectivos pesos, resultado da análise descrita.

Quadro 3TIPOS DE SOLOS

3.4. Vegetação

A densidade da vegetação indica a atuação dos processos relaciona-

dos à modificação do relevo (morfogênese) e aqueles relacionados à for-

mação dos solos (pedogênese). Nesse sentido, coberturas vegetais densas

relacionam-se aos processos pedogenéticos, pois que possuem capacidade

de inibir a erosão do solo, e vegetação de densidade baixa relaciona-se aos

processos morfogenéticos, pois a capacidade de proteção ao solo pode ser

até nula. Sendo assim, atribuiu-se peso próximo de 1 (um) aos polígonos

de vegetação densa; peso próximo de 2 (dois) aos polígonos de vegetação

mediana e próximo de 3 (três) aos polígonos de vegetação rala. Esta aná-

lise resultou na atribuição de pesos às diferentes fitofisionomias encontra-

das na Bacia do Rio Corrente como mostra o Quadro 4.

Afloramentos rochososArgissolo vermelho-amarelo eutróficoCambissolo háplicoGleissolo háplicoLatossolo vermelho-amareloNeossolo flúvico eutróficoNeossolo quartzarênicoVertissolos

3.03.03.03.01.03.01.52.5

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Quadro 4FITOFISIONOMIAS

3.5. Uso do Solo

O uso atual do solo expressa no espaço as formas de derivações

antropogênicas existentes. A dinâmica e a intensidade dessas derivações

variam e podem favorecer os processos morfopedogenéticos. Quanto mais

essas derivações ocorrem no sentido da retirada da vegetação, mais atua a

morfogênese. Nesse caso, atribuiu-se peso próximo de 1 (um) às áreas

mais antropizadas; peso próximo de 2 (dois) às áreas onde há equivalên-

cia entre antropização e preservação e próximo de 3 (três) às áreas cuja

vegetação é mais preservada. Com base nesta análise foram atribuídos

pesos aos diferentes usos do solo, como mostra o Quadro 5.

Quadro 5USO DO SOLO

4. Unidades Integradas da Paisagem

A análise integrada da paisagem, segundo a base teórico-metodológica

utilizada, permitiu a delimitação na Bacia do Rio Corrente de 12 (doze)

unidades territoriais denominadas Unidades Integradas da Paisagem - UIPs.

Entende-se como unidade territorial as células de informação e análise de

um zoneamento ecológico/ econômico. Elas contêm atributos ambientais

Agricultura/PecuáriaBrejoCaatinga Arbórea/ArbustivaCampo LimpoCerradoVeredasFloresta Estacional

3.03.02.52,62.43,01.0

AgropecuáriaÁreas irrigadasEdificaçõesÁreas urbanizadasVegetaçãoSolo expostoReflorestamento

3,03,03,03,01,03,02,0

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UIP I - Caracterizada por grande homogeneidade dos seus aspectos naturais. Predomi-nam rochas areníticas, com algumas intercalações de aluviões ao longo dos valesfluviais; relevo caracterizado por formas aplainadas e os solos geralmente madurose bem desenvolvidos.

UIP II - Há predominância das rochas areníticas interrompidas por aluviões ao longo dosvales fluviais; as formas de relevo são aplainadas e os solos que predominam são madurose bem desenvolvidos.

UIP III - Predomina o arenito interrompido pelos aluviões ao longo dos vales fluviais,ambos sob formas de relevo dissecadas e recobertos pelos argissolos e neossolos.

UIP IV - Caracterizada pela heterogeneidade dos seus aspectos naturais. Os diversos tiposlitológicos estão recobertos por diversos tipos de solos e associados a formas de relevomuito dissecadas.

UIP V - Caracterizada pela diversidade de tipos litológicos, associados a formas de relevofortemente dissecadas e recobertos por diversos tipos de solos.

UIP VI - A rocha arenítica sob formas de relevo aplainadas e a presença dos latossolossustentando a vegetação raleada caracterizam esta unidade.

UIP VII - Predominam as rochas areníticas que sustentam as formas de relevo aplainadassob solos do tipo latossolos, onde a vegetação encontra-se preservada.

UIP VIII - Caracterizada pela presença do arenito sob formas de relevo aplainadas e solosbem desenvolvidos sustentando a vegetação ainda preservada.

UIP IX - A variedade litológica associada a formas de relevo de dissolução e os latossolossustentando os fragmentos da floresta estacional caracterizam esta UIP.

UIP X - Apresenta-se dividida em três geofácies, isto porque o uso do solo é diferenciado,embora os condicionantes naturais sejam quase os mesmos

GEOFÁCIES I - A predominância da agricultura do tipo sequeiro em solos férteis e rasoscaracteriza esta geofácies.

GEOFÁCIES II - Esta geofácies é caracterizada pela prática da agricultura irrigada naforma de pivots centrais.

GEOFÁCIES III - Caracteriza esta geofácies a ocorrência de brejos acompanhando o RioCorrente e a forte antropização, tanto pela urbanização como pela agropecuária quesuprimiram a vegetação.

que permitem diferenciá-las das demais (BECKER; EGLER apud CREPANI

et al., 2001). Essa delimitação ocorreu por intermédio da identificação da

homogeneidade de textura e matizes de cores da imagem de satélite. Foi

essencial que esta imagem estivesse visualizada em três dimensões para

facilitar a interpretação visual. Essas unidades constituíram-se na base

para o estabelecimento dos diferentes graus de vulnerabilidade ambiental

e vão descritas a seguir e representadas nas figuras 2 e 3.

4.1. Unidades Integradas da Bacia do Rio Corrente

Geotextos 4.pmd 2/2/2009, 10:4623

24. GeoTextos, vol. 4, n. 1 e 2, 2008. C. Lage, H. Peixoto, C Vieira 11-36

Figu

ra 2

UN

IDAD

ES I

NTE

GRA

DAS

DA

PAIS

AGEM

Geotextos 4.pmd 2/2/2009, 10:4624

GeoTextos, vol. 4, n. 1 e 2, 2008. C. Lage, H. Peixoto, C. Vieira 11-36 .25

Figu

ra 3

IMAG

EM D

E SA

TÉLI

TE

Geotextos 4.pmd 2/2/2009, 10:4625

26. GeoTextos, vol. 4, n. 1 e 2, 2008. C. Lage, H. Peixoto, C Vieira 11-36

5. Aspectos da Vulnerabilidade na Bacia do Rio Corrente

Os resultados obtidos na análise integrada da paisagem, com a con-

seqüente classificação das UIP’s e do potencial ecodinâmico dos

condicionantes naturais e antrópicos, permitiram estabelecer o grau de

vulnerabilidade de cada uma dessas classes. O Quadro 6 apresenta o pro-

cedimento adotado a partir do geoprocessamento, que definiu uma média

zonal para cada condicionante ambiental e daí uma média aritmética,

identificando, assim, o grau de vulnerabilidade a que está sujeita cada

unidade de paisagem. Esse procedimento foi a base da elaboração da Car-

ta da Vulnerabilidade Ambiental.

Quadro 6MÉDIAS DE VULNERABILIDADE POR UIP

Entende-se por vulnerabilidade ambiental a suscetibilidade maior ou

menor de pessoas, lugares, infra-estruturas ou ecossistemas de sofrerem

algum tipo de risco, perigo ou agravo. Segundo Rebelo (2005), exprime o

grau das conseqüências previsíveis geradas por um fenômeno natural e

que podem afetar um alvo. Caracteriza-se pelo potencial da paisagem em

absorver impactos. A vulnerabilidade se mede pela estimativa dos danos

potenciais e exprime a capacidade de resistência das pessoas, lugares,

Unidadeintegrada da

paisagem(UIP)

Área (km²)

Média zonal Médiaaritmética

Geologia Geomorfo-logia

Solos Vegetação Vulnerabilidadeambiental

Usoatual

2.612.612.592.332.242.602.572.592.272.492.542.80

1.141.182.662.832.812.041.821.701.6

2.091.761.97

1.071.061.562.202.251.171.151.181.532.281.552.20

2.812.642.652.252.622.531.141.402.142.682.622.64

2.892.982.992.992.993.003.003.002.993.002.982.92

2.102.092.492.522.582.271.941.972.112.512.292.51

7.4175.567

11.1443.0222.7772.3320.0950.0891.5450.3070.4710.134

UIP IUIP IIUIP IIIUIP IVUIP VUIP VIUIP VIIUIP VIIIUIP IXGEOFÁCIES IGEOFÁCIES IIGEOFÁCIES III

Geotextos 4.pmd 2/2/2009, 10:4626

GeoTextos, vol. 4, n. 1 e 2, 2008. C. Lage, H. Peixoto, C. Vieira 11-36 .27

infra-estruturas ou ecossistemas diante de um perigo ou processo.

Os resultados apresentados no Quadro 6 demonstram a suscetibilidade da

Bacia do Rio Corrente aos riscos ou impactos ambientais. Considerando

que os pesos atribuídos aos temas variaram entre 1 a 3 e as unidades de

paisagem na sua maioria apresentaram graus de vulnerabilidade de mé-

dio a alto, acima de 2,5, permitindo identificar a sua ecodinâmica nos

padrões instáveis a muito instáveis. Por outro lado, as UIP’s que apresen-

taram as menores médias de vulnerabilidade ficaram na ordem de 1.94,

configurando áreas intergrades, onde a morfogênese começa a predomi-

nar (Figura 4). Essas características estão apresentadas na Matriz de

Cenários (Quadro 7).

Geotextos 4.pmd 2/2/2009, 10:4627

28. GeoTextos, vol. 4, n. 1 e 2, 2008. C. Lage, H. Peixoto, C Vieira 11-36

Qua

dro

7M

ATRI

Z CO

MPA

RATI

VA E

NTR

E O

S CE

NÁR

IOS

QU

E O

RIGI

NAR

AM A

VU

LNER

ABIL

IDAD

E AM

BIEN

TAL

Uni

dade

int

egra

da d

apa

isage

m -

UIP

sCo

ndic

iona

ntes

nat

urai

s e

soci

ais

Vuln

erab

ilida

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bien

tal

UIP

I

Car

acte

riza

da

por

gra

nde

hom

ogen

eida

de d

os s

eus

as-

pect

os n

atur

ais.

Pre

dom

inam

roch

as a

rení

ticas

, co

m a

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mas

int

erca

laçõ

es d

e al

uvi-

ões

ao l

ongo

dos

val

es f

luvi

-ai

s; r

elev

o ca

ract

eriz

ado

por

form

as a

plai

nada

s e

os s

olos

gera

lmen

te m

adur

os e

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dese

nvol

vido

s.

algu

mas

con

diçõ

es n

atur

ais

que

favo

rece

m a

atu

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dos

pro

cess

ospe

doge

nétic

os n

esta

UIP

, co

mo

a pr

edom

inân

cia

do a

reni

to q

ue,

apes

ar d

enã

o po

ssui

r al

ta c

apac

idad

e de

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são,

est

á so

b fo

rmas

de

rele

vo a

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nada

squ

e fr

eiam

os

proc

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s er

osiv

os. A

dem

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o s

olo

pred

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ante

é o

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ssol

ove

rmel

ho-a

mar

elo

que

é m

adur

o e

bem

des

envo

lvid

o. D

e m

odo

rest

rito,

apar

ecem

alg

umas

man

chas

de

argi

ssol

os e

neo

ssol

os q

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oinc

idem

com

ore

levo

dos

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es f

luvi

ais

que

é di

ssec

ado.

Con

tudo

, o

uso

atua

l do

sol

o é

oas

pect

o qu

e m

ais

favo

rece

a a

tuaç

ão d

os p

roce

ssos

mor

foge

nétic

os,

pois,

ave

geta

ção

de c

erra

do (

lato

sen

su)

foi

quas

e qu

e to

talm

ente

sub

stitu

ída

pela

agro

pecu

ária

.

As

cond

içõe

s só

cio-

ambi

enta

is r

elac

iona

das

prop

icia

ram

a o

bten

ção

da m

édia

2,1

0.

UIP

II

pred

omin

ânci

a da

s ro

-ch

as a

rení

ticas

int

erro

mpi

das

por

aluv

iões

ao

long

o do

sva

les

fluvi

ais;

as

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as d

ere

levo

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apl

aina

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e os

solo

s qu

e pr

edom

inam

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mad

uros

e b

em d

esen

volv

i-do

s.

Ass

im c

omo

na U

IP I

, há

pre

dom

inân

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das

roch

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ticas

que

nes

tare

gião

pos

suem

méd

ia c

apac

idad

e de

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são.

Est

as r

ocha

s es

tão

asso

ciad

as a

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as d

e re

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pla

nas

e so

lo d

o tip

o la

toss

olo

verm

elho

-am

arel

o qu

e oc

orre

de m

odo

pred

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ante

e c

arac

teriz

ado

por

ser

mad

uro

e be

m d

esen

volv

ido.

O q

ue a

dife

renc

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a un

idad

e an

terio

r é

a pr

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ça d

o ce

rrad

o, q

ue,

apes

arde

se

trat

ar d

e um

a ve

geta

ção

secu

ndár

ia,

apre

sent

a-se

ora

pre

serv

ada,

ora

rale

ada,

dem

onst

rand

o qu

e o

uso

atua

l do

solo

não

é p

redo

min

ante

men

te a

agro

pecu

ária

. Ta

is c

ondi

ções

fav

orec

em a

mai

or a

tuaç

ão d

os p

roce

ssos

pedo

gené

ticos

em

rel

ação

à U

IP I

.

O m

osai

co d

e ta

is co

ndi-

ções

ger

ou su

bsíd

ios p

ara

a ob

tenç

ão d

a m

édia

2,09

.

Geotextos 4.pmd 2/2/2009, 10:4628

GeoTextos, vol. 4, n. 1 e 2, 2008. C. Lage, H. Peixoto, C. Vieira 11-36 .29

UIP

III

Pred

omin

a o

aren

ito i

nter

rom

pi-

do p

elos

alu

viõe

s ao

lon

go d

osva

les

fluvi

ais,

am

bos

sob

form

asde

rel

evo

diss

ecad

as e

rec

ober

tos

pelo

s ar

giss

olos

e n

eoss

olos

.

Pred

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a ne

sta

UIP

o a

reni

to,

litol

ogia

de

méd

ia c

oesã

o, a

pare

cem

tam

-bé

m o

s al

uviõ

es a

o lo

ngo

dos

vale

s flu

viai

s. N

esta

uni

dade

as

litol

ogia

sci

tada

s es

tão

asso

ciad

as a

for

mas

de

rele

vo d

issec

adas

cor

resp

onde

ntes

aos

cham

ados

Pat

amar

es.

No

que

diz

resp

eito

aos

sol

os,

ocor

rem

de

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eira

pred

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ante

os

argi

ssol

os e

neo

ssol

os,

que

são

cara

cter

izad

os c

omo

solo

sjo

vens

e p

ouco

des

envo

lvid

os. Q

uant

o à

vege

taçã

o, a

pesa

r de

sec

undá

ria e

rale

ada,

pre

dom

ina

em r

elaç

ão à

agr

opec

uária

. Es

tas

cond

içõe

s am

bien

tais

favo

rece

m e

m m

uito

a a

tuaç

ão d

os p

roce

ssos

mor

foge

nétic

os.

O m

osai

co d

e ta

is co

ndi-

ções

ger

ou s

ubsíd

ios

para

a ob

tenç

ão d

a m

édia

2,4

9.

UIP

IV

Car

acte

riza

da

pel

a he

tero

ge-

neid

ade

dos

seus

asp

ecto

s na

tu-

rais.

O

s di

vers

os t

ipos

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cos

estã

o re

cobe

rtos

por

div

erso

s ti-

pos

de s

olos

e a

ssoc

iado

s a

for-

mas

de

rele

vo m

uito

diss

ecad

as.

Nes

ta u

nida

de a

pare

cem

div

ersa

s lit

olog

ias

com

o ar

eia,

arg

ila,

casc

alho

,la

ma,

lat

erita

, ar

gilit

o, c

alcá

rio,

silt

ito,

calc

aren

ito,

dolo

mito

, fo

lhel

ho,

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gnai

sse

aren

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quar

tzo

mon

zoni

to,

roch

a ca

rbon

átic

a e

sedi

men

toal

uvio

nar,

que

estã

o as

soci

adas

a f

orm

as d

e re

levo

mui

to d

issec

adas

cor

-re

spon

dent

es a

os P

atam

ares

. Sã

o lit

olog

ias

mui

to a

ntig

as (

prot

eroz

óico

) e

apar

ecem

nes

ta u

nida

de p

or c

onta

da

fort

e di

ssec

ação

do

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vo q

ue a

sex

umou

ao

long

o do

tem

po g

eoló

gico

. Es

tas

litol

ogia

s de

ram

orig

em a

osdi

vers

os ti

pos d

e so

los c

omo

aflo

ram

ento

s roc

hoso

s, a

rgiss

olos

, cam

biss

olos

,la

toss

olos

, ne

osso

los

e ve

rtiss

olos

. N

o âm

bito

da

vege

taçã

o, s

e ob

serv

ouqu

e a

mes

ma

enco

ntra

-se

rale

ada

e na

mai

oria

das

vez

es s

ubst

ituíd

a pe

laag

rope

cuár

ia.

Tais

cond

içõe

s am

bien

tais

gera

m m

uito

mai

s su

bsíd

ios

para

a at

uaçã

o do

s pr

oces

sos

mor

foge

nétic

os e

m r

elaç

ão à

UIP

III.

As c

ondi

ções

am

bien

tais

desc

rita

s le

vara

m e

sta

UIP

a o

bter

méd

ia a

2,5

2.

Geotextos 4.pmd 2/2/2009, 10:4629

30. GeoTextos, vol. 4, n. 1 e 2, 2008. C. Lage, H. Peixoto, C Vieira 11-36

UIP

V

Cara

cter

izad

a pe

la d

iver

sidad

e de

tipos

lito

lógi

cos,

ass

ocia

dos

a fo

r-m

as

de

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vo

fort

emen

tedi

ssec

adas

e r

ecob

erto

s po

r di

ver-

sos

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de

solo

s.

Esta

UIP

apr

esen

ta a

s m

esm

as c

arac

terís

ticas

da

UIP

IV,

sen

do q

ue a

dife

-re

nça

enco

ntra

da r

esid

e na

for

ma

de r

elev

o, q

ue,

apes

ar d

e se

r a

mes

ma,

ocor

re e

m m

aior

gra

u de

diss

ecaç

ão.

No

que

se r

efer

e às

lito

logi

as,

apar

e-ce

m t

ipos

com

o ar

eia,

arg

ila,

casc

alho

, la

ma,

lat

erita

, ar

gilit

o, c

alcá

rio,

siltit

o, ca

lcar

enito

, dol

omito

, fol

helh

o, o

rtog

naiss

e ar

enito

, qua

rtzo

mon

zoni

to,

roch

a ca

rbon

átic

a, q

ue f

oram

exu

mad

as p

or c

onta

da

diss

ecaç

ão d

o re

levo

e qu

e ac

abam

sus

tent

ando

as

form

as c

ham

adas

Pat

amar

es.

Reco

brem

es-

tas

litol

ogia

s di

vers

os ti

pos

de s

olos

com

o af

lora

men

tos

roch

osos

, arg

issol

os,

cam

biss

olos

, lat

osso

los,

neo

ssol

os e

ve

rtiss

olos

. A a

grop

ecuá

ria é

pre

dom

i-na

nte,

sub

stitu

indo

a v

eget

ação

cer

rado

(str

ictu

sen

su).

Tais

cond

içõe

s am

bien

tais

favo

rece

ram

a o

bten

ção

da m

édia

2,5

8.

UIP

VI

A ro

cha

aren

ítica

sob

for

mas

de

rele

vo a

plai

nada

s e

a pr

esen

çado

s la

toss

olos

sus

tent

ando

a v

e-ge

taçã

o ra

lead

a ca

ract

eriz

ames

ta u

nida

de

As

cara

cter

ístic

as f

ísic

o-na

tura

is d

esta

uni

dade

com

o a

roch

a ar

eníti

ca,

pouc

o co

esa,

mas

sob

for

mas

de

rele

vo a

plai

nada

s, e

a e

xist

ênci

a de

sol

osm

adur

os e

bem

des

envo

lvid

os, o

s la

toss

olos

, fav

orec

em a

atu

ação

dos

pro

-ce

ssos

ped

ogen

étic

os.

Cont

udo,

a v

eget

ação

ral

eada

e a

pre

senç

a da

agro

pecu

ária

fav

orec

em a

atu

ação

dos

pro

cess

os m

orfo

gené

ticos

.

Esta

UIP

obt

eve

a m

édia

2,27

, dev

ido

às c

ondi

ções

natu

rais

e s

ocia

is a

que

está

sub

met

ida.

UIP

VII

Pred

omin

am a

s ro

chas

are

nític

asqu

e su

sten

tam

as

form

as d

e re

le-

vo a

plai

nada

s so

b so

los

do t

ipo

lato

ssol

os,

onde

a v

eget

ação

en-

cont

ra-s

e pr

eser

vada

.

Esta

UIP

apr

esen

ta a

s m

aior

es c

ondi

ções

par

a a

atua

ção

dos

proc

esso

spe

doge

nétic

os,

pois

nela

enc

ontr

am-s

e as

roc

has

aren

ítica

s so

b fo

rmas

de

rele

vo a

plai

nada

s. O

s so

los

que

pred

omin

am s

ão o

s la

toss

olos

e a

veg

eta-

ção

enco

ntra

-se

pres

erva

da,

evid

enci

ando

que

o u

so a

gríc

ola

e a

pecu

ária

são

insu

ficie

ntes

.

As c

ondi

ções

apr

esen

tada

sfa

vore

cera

m a

obt

ençã

oda

méd

ia 1

,94.

Geotextos 4.pmd 2/2/2009, 10:4630

GeoTextos, vol. 4, n. 1 e 2, 2008. C. Lage, H. Peixoto, C. Vieira 11-36 .31

UIP

VII

I

Cara

cter

izad

a pe

la p

rese

nça

doar

enit

o so

b fo

rmas

de

rele

voap

lain

adas

e s

olos

bem

des

envo

l-vi

dos

sust

enta

ndo

a ve

geta

ção

aind

a pr

eser

vada

.

Esta

UIP

apr

esen

ta a

s m

esm

as c

ondi

ções

am

bien

tais

que

a U

IP V

II, o

nde

aro

cha

aren

ítica

, as

for

mas

de

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vo a

plai

nada

s e

o so

lo d

o tip

o la

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olo

são

pred

omin

ante

s. A

cres

cent

am-s

e a

vege

taçã

o ai

nda

pres

erva

da e

apo

uca

pres

ença

da

agro

pecu

ária

, tud

o iss

o fa

vore

cend

o em

mui

to a

atu

ação

dos

proc

esso

s pe

doge

nétic

os.

Esta

UIP

obt

eve

méd

ia d

e1,

97 p

or c

onta

das

con

di-

ções

apr

esen

tada

s.

UIP

IX

A v

arie

dade

lito

lógi

ca a

ssoc

iada

a fo

rmas

de

rele

vo d

e di

ssol

ução

e os

lato

ssol

os su

sten

tand

o os

frag

-m

ento

s da

flo

rest

a es

taci

onal

ca-

ract

eriz

am e

sta

UIP

.

As c

ondi

ções

am

bien

tais

que

se

apre

sent

am c

omo

a pr

esen

ça d

e ar

eia,

lam

a, l

ater

ita e

roc

ha c

arbo

nátic

a so

b fo

rmas

de

rele

vo d

e di

ssol

ução

(car

ste)

e p

redo

min

ânci

a da

agr

opec

uária

fav

orec

em a

atu

ação

dos

pro

-ce

ssos

mor

foge

nétic

os.

Tal

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6. Conclusão

Os resultados obtidos no trabalho efetuado permitem estabelecer con-

siderações sobre a base teórico-metodológica utilizada, os riscos ambientais

que já atingem a bacia e algumas proposições com base no grau de

vulnerabilidade identificado nas UIPs.

Com relação à base teórico-metodológica utilizada, verificou-se que

é eficiente para zoneamentos de grandes superfícies, como é o caso da

Bacia do Rio Corrente, entretanto, quando se trata de estudar e represen-

tar áreas com fácies particulares é preciso associá-la a outros modelos de

análise integrada da paisagem. Outro ponto é que a metodologia não dis-

pensa um trabalho de campo apurado; embora o geoprocessamento apre-

sente índices confiáveis, a quantificação associada à escala em que o tra-

balho é desenvolvido pode mascarar fenômenos específicos e suas parti-

cularidades. Considera-se, todavia, que o modelo teórico é facilitador no

diagnóstico preliminar da área, mas que deve ser seguido por outras téc-

nicas de pesquisa que possam identificar com mais clareza a situação

ambiental estudada. Os softwares utilizados mostraram-se eficientes, per-

mitindo a integração dos mapas temáticos, dando origem a um único mapa,

caracterizado pelos valores de vulnerabilidade de cada componente do

meio físico homogeneizado pelas unidades de paisagem.

Os riscos ambientais que atingem a Bacia e difundem-se pelas UIPs

são classificados em graus diferenciados de vulnerabilidade e refletem as

ações atinentes à produção do espaço regional. Os programas e projetos

de desenvolvimento implantados na área, tanto pelo poder público quanto

pela iniciativa privada, não levaram em conta as relações sociedade/ na-

tureza, insistindo, na sua maioria, em atividades nitidamente exploratórias,

sem a contrapartida dos estudos sobre a capacidade de sustentabilidade

dos ecossistemas regionais. A implantação da agricultura de exportação

de soja, milho e algodão, através da irrigação, via pivots central, tem pro-

vocado conflitos relacionados com o uso da água – a utilização predatória

dos aqüíferos, em forma de poços artesianos que se multiplicam – vem

diminuindo a vazão dos rios, antes totalmente navegáveis e, por conseqü-

ência, a do Rio São Francisco, do qual são tributários. O desmatamento

vem se disseminando na Bacia. A implantação da agropecuária, com a

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devastação das matas ciliares provoca o desaparecimento das veredas, o

assoreamento e a intermitência de vários cursos d‘água. Entretanto, a

demanda das siderúrgicas de Minas Gerais vem criando um novo risco

ambiental na área da Bacia – o desmatamento de grandes áreas do cerra-

do para a produção clandestina de carvão vegetal. Essa situação agrava-se

com o aparecimento de áreas arenizadas, principalmente nas nascentes

de tributários importantes. A mineração que se instala progressivamente

nas áreas de afloramento do Bambui é outra atividade necessitada de fis-

calização, dada a vulnerabilidade ambiental que provoca. Importante con-

siderar os impactos sociais com riscos importantes para a população local.

As transformações nas relações de trabalho e de produção podem ser

inferidas pelo número de desempregados tanto nas áreas rurais quanto

nas urbanas, pela segregação habitacional e pela ampliação das zonas de

carência social. O comércio da maioria das localidades vive em função

dos rendimentos dos aposentados e a população jovem diminui pela emi-

gração constante.

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