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. C K ) Êpen
AUTARQUIA ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ASPECTOS ESTRUTURAIS E DE ATIVIDADE BIOLÓGICA
DA GIROXINA (ENZIMA TROMBINA SÍMILE) DO VENENO
DA CASCAVEL SRP<S\LE\RfK, Crvta/us dur/ssus terr/f/cus
JOSÉ ALBERTO ALVES DA SILVA
Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear-Aplicações.
Orientadora: Ora. Maria Aparecida Pires Camillo
São Paulo 2004
INSTITUTO DE PESQUISAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES
AUTARQUIA ASSOCIADA À UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ASPECTOS DE ATIVIDADE BIOLÓGICA DA GIROXINA (ENZIMA TROMBINA
SÍMILE) ISOLADA DO VENENO DA CASCAVEL BRASILEIRA, Crotaius
durissus terrificus
JOSE ALBERTO ALVES DA SILVA / \ p F /
; / s V f ! o \ \
Dissertação apresentada como parte dos
requisitos para obtenção do Grau de Mestre
em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear -
Aplicações
Orientadora: Dra. Maria Aparecida Pires Camil lo
SAO PAULO
2 0 0 4
A G R A D E C I M E N T O S
Aos meus pais Lindinaiva e José Alves que estão sempre presente nos
momentos mais difíceis.
À minha Or ientadora Doutora Maria Aparecida Pires Camil lo pela
conf iança e paciência.
Ao Doutor José Roberto Rogero por t odo apoio e conf iança desde a
iniciação científ ica.
À CAPES pelo apoio f inancei ro .
À Doutora Nanei do Nascimento por t e r m e "aco lh ido" nesta inst i tu ição.
Ao Senhor Doutor Patrick Jack Spencer por toda a juda e incent ivo.
À Dra. Olga por todas as dicas e a juda e m vár ias etapas desse t raba lho .
Ao Dr. Cr istóforo Scavone e Msc. Elisa Mit iko Kawamoto do
Depar tamento de Farmacologia - ICB - USP pelo auxíl io nos ensaios
com NOS.
Ao Dr. Benedito Carlos Prezoto por sua val iosa colaboração.
À Dra. Emiko Murato do Centro de Radiofarmácia - IPEN pelo auxíl io no
ensaio de biodistr ibuiçao.
À Dra. Maria Tereza C P . Ribela pelo auxí l io na radioiodacao.
Ao Dr. Daniel P imenta, do Ins t i t u to Bu tan tan , por te r me a judado com
as análises de espect rometr ia de massa.
À minha i rmã Luciana Alves, meu p r ime i ro incent ivo.
Ao meu i rmão Joab Alves, Mestre e m encarar suas dif iculdades de uma
fo rma ex t raord inar iamente d iver t ida . . . gostar ia mui to de te r par te de
sua força.
Ao Doutor Paulo Sérgio Cardoso da Silva por todo apoio, incent ivo e
amizade.
Aos amigos Daniel Perez e Andrés do Ins t i t u to de Medicina Tropical que
pouco a juda ram no desenvo lv imento desse t raba lho .
Aos meus amigos , Janaina (Super S impát ica) , Lucelia (D iss imulada) ,
Muri lo (Químico Ocioso), Renan (Orácu lo) , Natalia Malavasi (Senhora
Joacyr) , Leonardo (Mala) e Helena Costa do Grupo de Venenos do IPEN
por toda amizade e, p r inc ipa lmente , pela paciência durante esse t e m p o .
Aos " i rmãoz inhos Japas" Wil l ian Sato , Jul iana Lully e Camila Yonamine
que mui to a juda ram nas etapas f inais desse t raba lho .
Aos amigos Álvaro Júnior, Marlon Melo e Glaciene Tomás, que saudade.
Ao amigo Eduardo Greco por suas frases inspiradoras "Você nunca vai
conseguir A lber to ! " .
ASPECTOS DE ATIVIDADE BIOLÓGICA DA GIROXINA (ENZIMA TROMBINA
SÍMILE) ISOLADA DO VENENO DA CASCAVEL BRASILEIRA, Crotaius
durissus terrificus
JOSÉ ALBERTO ALVES DA S I L V A
RESUMO
A giroxina é urna enz ima t romb ina sími le isolada do veneno da
cascavel brasi leira Crotaius durissus terrificus. Estas enzimas são
largamente encont radas no veneno de serpentes da subfamil ia
Crotal inae. A g i rox ina parece ser uma enz ima mul t i func iona l , pois induz
compor tamento neuro tóx ico , atua na coagulação e na pressão ar ter ia l .
Para isolar a g i rox ina fo ram ut i l izados métodos de cromatograf ía
de afinidade e gel f i l t ração. Foram fei tos ensaios de caracterização in
vitro e in vivo nos quais pôde-se comprova r sua at iv idade biológica.
Neste t raba lho foi de terminada a massa molecular , a at iv idade
hipotensiva, a b iod is t r ibu içao, a at iv idade da óx ido nítr ico síntase (NOS)
e m células endotel ia is após t ra tamen to com gi rox ina e a at iv idade
biológica f rente aos in ib idores da NOS.
Nos ensaios de at iv idade biológica ver i f icou-se que a giroxina
promove uma queda na pressão ar ter ia l de ra tos. Com os ensaios nas
células endotel iais de te rminou-se que o óxido nítrico pode ser a
molécula efetora nesta at iv idade. Observou-se , t a m b é m , que a via
óxido nítrico não é via pr incipal da at iv idade neurotóx ica da gi roxina. Os
ensaios de biodistr ibuiçao permi t i ram observar que a giroxina t e m
metabol ismo hepát ico, el iminação renal e que não atravessa a barreira
hematoencefál ica de modo signi f icat ivo.
BIOLOGICAL ACTIVITY FEATURES OF GYROXIN (THROMBIN LIKE ENZIME)
ISOLATED FROM Crotaius durissus terrificus VENOM
JOSÉ ALBERTO ALVES DA S I L V A
ABSTRACT
Gyrox in is a thronnbin- l ike enzyme isolated f r o m Crotaius durissus
terrificus v e n o m . Gyrox in is a mu l t i fun t iona l enzyme showing neurotox ic ,
f ibr inogenolyt ic at ic t iv i t ies and decrease in t h e mean blood pressure (MAP).
The gyrox in was isolated by af in i ty ch romatog raphy and gel f i l t ra t ion .
Character izat ions assays was also m a d e , in vitro and In vivo t o ver i fy
g y r o x i n ' s biological act iv i t ies. I n th is wo rk , g y r o x i n ' s molecular mass was
de te rmined . Hypotension ac t i v i t y , b iod is t r ibu t ion , gyrox in- induced NOS
act iv i ty in ECV 304 cells and biological ac t iv i ty a f ter NOS inhibi tor t r e a t m e n t
was also s tudied.
Gyrox in promotes hypotens ion in rats. The nitr ic oxide could be the
effect ive molécula in gyrox in - induced hypotens ion bu t probably i s n ' t the
main pathway in gy rox in neurotox ic ac t i v i t y . Biodist r ibut ion data showed
tha t gyrox in has renal and hepat ic metabo l ims . Gyrox in did no t pass b lood-
brain barr ier s igni f icant ly.
LISTA DE ABREVIATURAS
CaCl2 Cloreto de cálcio COBEA Colégio Brasileiro de Experimentação Animal DMSO Dimetilsuifóxido D.O. Densidade óptica DTT Ditiotreitol EDTA Ácido etileno diamine tetra-acético EGTA Etileno glicol - bis (p-aminoetil éter) FAD Flavina adenina dinucleotídeo HEPES Ácido 2-[4-(2-hidroxietil)-1-piperazinil]etanosulfonico HCI Ácido clorídrico NaCI Cloreto de sódio NADPH Fosfato de nicotinamida adenina denucleotídeo N-terminal Amino-terminal PBS Tampão salina fosfato PMSF Fluoreto fenilmetilsulfonil SAB Soro albúmina bovina SDS Duodecil sulfato de sódio SDS-PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida com SDS TAME N-alfa-tosil-arginina metil éster TEMED N,N,N',N', tetrametil 1,2 diamine Tris Tris (hidreximetil)-aminometano U.I. Unidade Internacional UNIFESP Universidade Federal de São Paulo
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 2. OBJETIVOS 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Obtenção da giroxina 3.1.1. Cromatografia em coluna de afinidade 3.1.2. Cromatografia em gel filtração 3.1.3. Concentração proteica 3.2. Ensaios de caracterização 3.2.1. Atividade Esterasica 3.2.2. Eletroforese em gel de poliacrilamida 3.2.3. Analise em espectrometría de massa 3.2.4. Atividade coagulante 3.2.5. Neurotoxicidade 3.2.6. Efeito na pressão arterial de ratos anestesiados 3.2.7. Efeito em células endoteliais em cultura 3.2.7.a Determinação da atividade da Óxido Nítrico Síntase 3.2.8. Ensaio in vivo com inibidores da NOS 3.2.9. Estudo da biodistribuiçao 3.2.9.a. Radioiodacao da giroxina 3.2.9.b. Biodistribuiçao 4. RESULTADOS 4.1. Obtenção da giroxina 4.1.2. Cromatografia em gel filtração 4.1.3. Concentração proteica 4.2. Ensaios de caracterização 4.2.1. Atividade Esterasica 4.2.2. Análise em eletroforese em gel de poliacrilamida 4.2.3. Análise em espectrometria de massa 4.2.4. Atividade coagulante 4.2.5. Neurotoxicidade 4.2.6. Efeitos na pressão arterial de ratos anestesiados 4.2.7. Efeito em células endoteliais em cultura 4.2.8. Determinação da atividade da Óxido Nítrico Sintase 4.2.9. Ensaio in vivo com inibidores da NOS 4.3. Estudo de biodistribuiçao 4.3.1. Radioiodacao da giroxina 4.3.2. Biodistribuiçao da [125l]giroxina 5. DISCUSSÃO 6. CONCLUSÕES 7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Página 1
12 13 13 13 14 14 15 15 16 17 18 18 19 19 21 23 24 24 26 28 28 28 28 31 31 31 34 34 36 37 37 37 41 41 41 43 50 60 61
1. INTRODUÇÃO
Os venenos animais consistem, geralmente, de uma mistura
complexa de diversas biomoléculas como proteínas, aminas biogénicas e
peptídeos com diferentes atividades; incluem neurotoxinas, citotoxinas,
cardiotoxinas, fatores de crescimento, lectinas, desintegrinas, peptídeos
vasoativos, enzimas, inibidores enzimáticos entre outros (MATSUI et ai., 2000). A
atividade biológica de cada componente é característica e irá definir sua
importância no quadro clínico do envenenamento.
No Brasil, os envenenamentos acontecem com serpentes do gênero
Bothrops (73,1%) Crotaius (6,2%) Lachesis (1,1%) e Micrurus (0,3 %). As
ocorrências com Crotaius geralmente são as mais sérias com 1,87% de letalidade
(FUNASA, 2001).
Nas regiões sudeste e sul a espécie mais comum do gênero Crotaius é a
Crotaius durissus terrificus. O seu veneno pode ser crotamina positivo, neste caso
é composto por 60% de crotoxina e 12% de crotamina e, em menor porcentagem,
giroxina, deltatoxina, convulxina e outros componentes.
O objeto de estudo deste trabalho foi a giroxina. Esta proteína parece ser
multifuncional, induzindo um comportamento neurotóxico, atuando na coagulação
e na pressão arterial.
A giroxina foi descrita por BARRIO (1961) e mais tarde isolada por
BARRABIN et al. (1978). Esta toxina se caracteriza por induzir alterações de
equilíbrio típicas de fenômenos motores. Após uma breve fase de contrações
musculares, o animal apresenta diversos sintomas e, finalmente, um giro ao longo
do eixo longitudinal do corpo lembrando o rolar de um barril (daí o nome
"rolamento em barril").
1
Alguns autores sugerem que o rolamento em barril possa ser uma
ferramenta importante para investigar o sistema de neurotransmissão no controle
dos neurônios vestibulares que convertem as informações para o núcleo ocular,
cerebelo e corda espinal para manter o equilíbrio corporal e a postura (KOSAKO
et al., 2000). O rolamento em barril pode servir também como um modelo
experimental das desordens do movimento humano (KAWACHI eí ai., 1998).
A giroxina também é conhecida por sua atividade enzimática trombina
símile, atuando sobre o fibrinogênio humano, olivando o fibrinopeptídeo A da
cadeia a próximo ao N-terminal (RAW eí al., 1986). Os monômeros de fibrina
resultantes polimerizam-se em uma rede anormal que difere da produzida pela
trombina. Esta rede anormal é instável e mais susceptível à ação de agentes
fibrinolíticos (MARKLAND, 1998; KOH eí al., 2001). A incoagubilidade sangüínea
parcial ou total observada em casos graves de pacientes picados, pode ser
decorrente do consumo do fibrinogênio (BUCARETCHI eí al., 2002).
RAW eí al. (1986) determinaram, por análise em eletroforese, que a
giroxina é uma proteína de cadeia única, com massa molecular estimada em 34
kDa.
As enzimas trombina símile possuem algumas propriedades fisico
químicas em comum: são glicoproteínas, com cadeia única e massa molecular
calculada entre 28 e 60 kDa, são ativas em substratos sintéticos específicos de
trombina e compartilham similaridades mecânicas com a trombina (CASTRO eí
a/., 2001), porém apresentam diferenças na clivagem das ligações peptídicas e
nas atividades sobre os fatores da coagulação e plaquetas (KORNALIK, 1990;
OUYANG et al., 1992).
Há uma variação considerável do conteúdo glicosilado entre as diferentes
enzimas trombina símile, o que poderia explicar a diferença de massa entre elas
(MARKLAND, 1998).
A giroxina pertence ao grupo das enzimas trombina símile e a um grupo
maior conhecido como serino proteases. Estas enzimas são largamente
encontradas em veneno de serpentes da subfamilia Crotalinae (SCHVARTSMAN,
1992), tendo ação pró-coagulante (MATSUI et al., 2000). Podem ser classificadas
em famílias de acordo com suas similaridades nas seqüências de aminoácidos
sendo então reunidas em clãs, quando consideradas provindas de um ancestral
comum (RAWLINGS et al., 2004). Estas toxinas podem agir em um ou mais
fatores da coagulação (ANDREWS et al., 2004).
O especial interesse pela atividade sobre o fibrinogênio deve-se à
possibilidade de utilização destas enzimas no tratamento de doenças trombóticas
e como anticoagulante. Do ponto de vista clínico, estas enzimas provaram ser
úteis na dissolução de coágulos formados, por exemplo, durante infarto do
miocardio, tromboses em veias profundas, pancadas e embolia pulmonar
(MARKLAND, 1998).
Na TABELA 1 estão relacionadas as enzimas trombina símile isoladas dos
venenos de serpentes com os seus respectivos substratos. Todas elas já tiveram
sua seqüência de aminoácidos determinada (htpp.7/www,ebi.ac.uk) porém,
existem muitas outras que ainda não estão estruturalmente caracterizadas. Estas
enzimas diferem da trombina por vários fatores como, por exemplo, clivam
preferencialmente o fibrinopeptídeo das cadeias Aa ou Bp do fibrinogênio, e não
ativam o fator XIII da coagulação (SELISTRE & GIGLIO, 1987), com exceção da
gabonase (PIRKLE eí al., 1986). Mesmo com todas as suas similaridades
TABELA 1. Relação de algumas serino proteases isoladas de veneno de serpentes com
atividade trombina símile. Entre parênteses, a espécie da qual as enzimas foram obtidas. Na
coluna à direita são apresentados os substratos da atividade enzimática (entre colchetes
fibrinopeptídeo liberado em menor velocidade.
Enzimas trombina símile Substratos
Ancrod {Calloselasma rhodostoma) Fibrinogênio (A, [B]), fator XII
Batroxobin {Botrops atrox moojeni) Fibrinogênio (A, [B]), fator XII?
Bilineobin {A. binlineatus) Fibrinogênio (B, [A])
Bothrobin (8. jararaca) Fibrinogênio (A), fator VIII?
Calobin (C. atrox) Fibrinogênio (A, [B])
Crotalase (C. Adamanteus) Fibrinogênio (A, [B])
Flavoxobin {Trimeresurus flavovirídis) Fibrinogênio (A)
Giroxina símile {Lactiesis muta muta) Fibrinogênio (A, [B])
TM-VIG (T. Mucrosquamatas) Fibrinogênio (A)
Gabonase {Bitis Gabonica) Fibrinogênio (A, B), fator XIII
Modificada de MATSUI et al. (2000).
seqüenciais algumas diferenças sutis na estrutura dessas toxinas determinam as
mais variadas atividades, o que faz com que uma mesma toxina tenha atividade
trombina símile, calicreína símile e até degradadora de angiontensina (HUNG &
CHIOU, 2001; MARKLAND & DAMUS, 1971; MARKLAND et al., 1982; ESNOUF
& TUNNAH, 1967; HATTON, 1973; MATSUI et al., 2000).
MATSUI et al. (2000) propõem a classificação destas enzimas baseando-
se em suas propriedades.
A atividade calicreína símile foi descrita para algumas destas enzimas, e
segundo HUNG & CHIOU (2001), este efeito é especialmente intrigante pois
algumas a-fibrinogenases como ancrod não apresentam alta especificidade por
cininogênio de alta massa molecular. O mesmo ocon-endo para algumas p-
fibrinogenases, cuja atividade enzimática libera bradicinina promovendo uma
diminuição da pressão arterial.
Outro mediador importante envolvido na queda da pressão arterial é o
óxido nítrico. Este foi originalmente descrito como fator relaxante derivado do
endotélio e mais tarde verificou-se que este efeito poderia ser explicado
quantitativamente pela formação de óxido nítrico pelas células endoteliais.
O papel do óxido nítrico como molécula vasodilatadora vem sendo descrito
há quase duas décadas (IGNARRO, 1987; MONCADA, 1991; XU & KRUKOFF,
2004).
O óxido nítrico difundi-se pelas células endoteliais onde ele ativa a enzima
guanilato ciclase solúvel (sCG), que aumenta a formação de guanosina
monofosfato cíclica (GMPc). A GMPc ativa a proteína quinase (PK) que fosforila e
inativa a quinase da miosina de cadeia leve (MLCK) interrompendo assim o
processo de contração, causando relaxamento do músculo liso vascular em
oposição ao aumento no número de íons Ca^"" induzidos por agonistas (FIGURA
1)-
As enzimas óxido nítrico sintase (NOS) são fundamentais para o controle
da biossíntese de óxido nítrico (FIGURA 2). Três isoformas de NOS foram
caracterizadas, e sabe-se que são codificadas por três genes diferentes podendo
ser classificadas em duas familias: as NOS constitutivas (c-NOS) e a NOS
induzível (i-NOS). As NOS constitutivas, que são dependentes de cálcio, podem
ser neuronais (n-NOS) e endoteliais (e-NOS). Estas isoformas produzem
pequenas quantidades de óxido nítrico por um curto período de tempo (minutos a
segundos) desempenhando funções regulatórias na neurotransmissão e no
sistema cardiovascular. A i-NOS pode produzir óxido nítrico por longos períodos
de tempo (horas a dias) após sua expressão e é independente de cálcio.
Todas as isoformas podem ser inibidas por análogos da L-arginina, com
substituições no grupamento guanidina. Alguns inibidores exibem certa
seletividade para determinada isoforma, geralmente por isoformas constitutivas,
como por exemplo a L-NAME (N^-nitro-L-arginina metil éster) que apresenta
seletividade por e-NOS. Outro inibidor muito utilizado é o 7-nitroindazol (7-Ni).
Este é um composto heterocíclico capaz de inibir a n-NOS, por um mecanismo
que parece envolver sua ligação ao grupamento heme da NOS (TEIXEIRA, 2001).
O óxido nítrico é uma molécula ativa em vários sistemas, pois além de sua
ação no sistema cardiovascular também participa do sistema imune (em
macrófagos, leucócitos e neutrófilos atuando na defesa contra vírus, bacténas e
protozoários), do sistema nervoso central e periférico como neurotransmissor de
fibras NANC (não adrenérgicas não colinérgicas). No sistema nervoso, o óxido
NO
Proteína ^ Ativação
quinase ^
Fosforilação e Inativacão
Guanosina monofosfato
cíclica
Ativação
•
^4^^° Guanilato Ciclase solúvel
Míosina quinase de cadeia leve
Interrupção da contração do vaso
Pressão Arterial
FIGURA 1. Representação esquemática do mecanismo de ação do óxido nítrico (NO) na hipotensão.
nítrico atua na neurotransmissão, na potenciação de longo prazo, plasticidade,
memória, controle do apetite e nocicepção (RANG et al., 2004).
H2N NHz
NH /
I T "
NH
NÂDm 02
L-ar^ina
+ NO
Hí lT^COO-
N-hidroB-l-arginina
H a f r t o o -
L-otrulina Onto nítrico
FIGURA 2. Síntese enzimática do óxido nítrico a partir da L-arginina pela ação da NOS (TEIXEIRA, 2001).
Outro aspecto importante relacionado às serino proteases é a atuação da
trombina como uma potente molécula sinalizadora que regula respostas
fisiológicas e patológicas em várias populações celulares e tecidos (TURGEON &
HOUENOU, 1997). Através da clivagem limitada de receptores PAR (receptores
protease ativados) ela controla o crescimento e funções de vários tipos celulares
incluindo neurônios, astrócitos e microglia (macrófagos cerebrais). Vários estudos
indicam que a trombina induz a liberação de citocinas e quimiocinas de células da
microglia sugerindo uma importante participação no desenvolvimento de doenças
neurodegenerativas (SUO eí a/., 2004).
Os receptores PARs pertencem à familia de receptores acoplados à
proteína G. Estudos de clonagem identificaram quatro membros deste grupo:
PAR-1, PAR-2, PAR-3 e PAR-4. Eles estão distribuídos em diferentes tecidos
(KAWABATA & KURODA, 2000) e atuam na ativação de plaquetas, na regulação
do tônus vascular, etc. (TABELA 2).
Nem todas as suas características foram totalmente esclarecidas: sabe-se
que pelo menos três deles são ativados pela trombina (PAR-1, PAR-3 e PAR-4) e
o PAR-2 é ativado pela tripsina. Alguns autores não descartam a hipótese de que
outras serino proteases possam ativar um ou mais desses receptores
(COUGHLIN, 1999).
Neste sentido, como uma primeira abordagem de uma possível ação da
giroxina nos receptores PAR, é interessante verificar se esta tem como tecido alvo
locais onde estes receptores estão presentes. Para tanto, será realizado um
ensaio de biodistribuiçao abordando aspectos da DME (biodistribuiçao,
metabolismo e excreção) tendo como radiotraçador a giroxina radioiodada.
As toxinas animais podem ser marcadas para o estudo de sua
biodistribuiçao direta ou indiretamente através da incorporação de um
radionuclídeo em sua estrutura:
- Diretamente quando se introduz o radiotraçador na molécula proteica, em seus
cofatores, coenzimas ou metal, quando um desses constituintes estiver presente;
- Indiretamente através da acoplagem da toxina em uma molécula já marcada. O
radiotraçador incorporado sinalizará o caminho da toxina durante todo o tempo
em que estiver no organismo.
A DME de um composto estranho em um dado organismo depende de uma
série de fatores físicos, químicos e fisiológicos (processos farmacocinéticos).
Estes fatores removem e diluem o composto a partir do ponto de entrada no
sistema biológico, o carregam para os diferentes tecidos, permitem sua difusão ou
PAR-2 PAR-3 TABELA 2. Possíveis atividades e localização dos receptores PAR (proteinase activated receptors).
PAR-1 Distribuição tecidual Cérebro, pulmão, (análise em Northem coração, estômago,
PAR-4
blot)
Expressão celular
Atividade fisiológica conhecida
cólon, rim e testículos
Plaquetas, endotélio, músculo liso, leucócitos, trato gastrointestinal, epitelio, fibroblastos, neurônios e mastócitos
Ativação de plaquetas
Próstata, intestino Coração, rim, páncreas, médio, cólon, fígado, timo, intestino grosso, rim, pâncreas e traqueia estômago, linfonodos e
traqueia
Endotélio, queratinócitos, pulmão, músculo liso, leucócitos, trato gastrointestinal, epitelio, fibroblastos, neurônios, mastócitos e células renais
Plaquetas e músculo liso
Pulmão, pâncreas, tireóide, testículos, intestino grosso, placenta, músculo esquelético, glândula adrenal, próstata, útero, cólon, plaquetas e megacariócitos
Ativação de plaquetas
Possível Atividade fisiológica
Regulação do tônus vascular, modulação da nocicepção, pro-inflamatória e desenvolvimento embrionário
Regulação do tônus vascular, modulação da nocicepção, pro-inflamatória
Cofator para PAR-4 Ativação de plaquetas
o transportam ativamente através das membranas e, finalmente, determinam sua
acumulação, disposição e excreção (COLOMBETTI, 1982).
A taxa de distribuição nos tecidos de cada órgão é determinada pelo fluxo
sangüíneo de perfusâo e pela facilidade com a qual as moléculas da substância
atravessam a parede capilar e penetram nas células do tecido (GIBALDI, 1991).
Dentre os vários fatores fisiológicos que facilitam a entrada ou aderência de
algumas moléculas à membrana citoplasmática estão as vias de comunicação
celular como os receptores de membrana. Dentre os receptores de membrana os
protease-ativados (PARs) podem ser uma das vias de contato da giroxina para
determinação de sua atividade no organismo.
11
2. OBJETIVOS
Considerando este contexto, o desenvolvimento deste trabalho visa
contribuir para o conhecimento dos mecanismos de ação da giroxina. Para tanto
as seguintes etapas serão desenvolvidas:
a. obter e caracterizar a giroxina pura do veneno de Crotaius durissus
terrificus;
b. testar a atividade na pressão arterial;
c. avallar a participação do óxido nítrico em seu mecanismo de ação;
d. estudar os aspectos da biodistribuiçao utilizando [^^^l]giroxina como
traçador.
12
3. MATERIAIS E MÉTODOS
^ Os reagentes utilizados foram todos de grau p.a., marca Merck.
^ O veneno de Crotaius durissus terrificus, na forma liofilizada, foi cedido
pelo Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos - CEVAP
(UNESP, Botucatu).
^ Os animais utilizados foram obtidos do Biotério do Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares - IPEN - onde foram mantidos em salas com
controle de temperatura, com água e comida ad libitum, em ciclo de luz
natural. Todas as manipulações seguiram os procedimentos ditados pelo
COBEA.
3.1. Obtenção da giroxina
A giroxina foi obtida pelo fracionamento do veneno total de Crotaius
durissus terrificus utilizando-se coluna de afinidade e gel filtração.
As eluições foram acompanhadas pela densidade óptica das frações,
determinadas em 280 nm, 1 cm, em espectrofotômetro Pharmacia, Ultrospec III.
3.1.1. Cromatografia em coluna de af inidade
Para a coluna de afinidade, ativou-se a resina Benzamidina Sepharose 6B
(Pharmacia) com lavagens alternadas de tampão Tris HCI lOOmM pH 9,0
contendo NaCI 50mM e tampão acetato de amónio 50mM pH 4,5.
Aproximadamente 300 mg de veneno de Crotaius durissus terrificus foram
dissolvidos em 4mL de solução tampão Tris HCI lOOmM pH 9,0, posteriormente
13
centrifugados a lO.OOOg durante 1 minuto e o sobrenadante aplicado na coluna de
afinidade em um sistema de cromatografia rápida (FPLC) em um fluxo de
0,5mL/min a baixa temperatura. Foram coletadas frações de 1,25mL. A eluição foi
feita com tampão acetato de amonio 50mM pH 5,0. Em seguida as frações com
atividade esterasica foram reunidas, analisadas em SDS-PAGE e liofilizadas.
3.1.2. Cromatografia em gel filtração
Nesta etapa foi utilizada a coluna Superdex 75 (XK 1,6 x 70) equilibrada em
tampão formiato de amónio 0,1M pH 3,0.
Para a calibração da coluna foram utilizados dois padrões de massa
molecular (PM) que permitiram determinar o volume de exclusão (Vo) e o volume
total (Vt) e uma amostra do veneno total (30mg/mL) para determinar o volume de
eluição (Ve) das principais proteínas deste veneno, facilitando a identificação nas
outras preparações. Para o Vofoi usado o Azul de dextrana (> 2.000.000) e para
Vt o TAME (378,9 Daltons).
Para a purificação em gel filtração, o liofilizado foi dissolvido em 1mL de
tampão formiato de amónio 0,1M pH 3,0 e centrifugado a lO.OOOg durante 1
minuto. O sobrenadante foi aplicado na coluna Superdex 75. Foram coletadas
frações de 1,0 mL, em fluxo constante de 0,5 mL/min.
3.1.3. Concentração proteica
A concentração proteica das amostras foi determinada com o método de
BRADFORD (1976). Este baseia-se na capacidade das proteínas de interferir com
14
a absorvância do corante Coomassie Brilliant Blue G-250 em meio altamente
ácido, resultando em modificação proporcional da cor, detectável em 595nm.
Para a cun/a padrão fez-se uma diluição seriada da albúmina bovina sérica
(SAB) 1mg/mL em solução salina: 0,5mg/mL; 0,25mg/mL; 0,125mg/mL;
0,0625mg/mL (1:2, 1:4, 1:8 e 1:16). Em seguida, lOO^L de cada amostra de
albúmina foram diluídas em 3,0mL do reagente, em duplicatas.
As amostras aluídas das cromatografías foram analisadas nas mesmas
condições.
A densidade óptica foi determinada em 595 nm, em espectrofotômetro
Pharmacia, Ultrospec III.
Os dados da curva padrão foram ajustados com o programa GRAPH PAD
PRISM, pela regressão linear com a equação Y = aX + b para calcular a
concentração proteica das amostras, sendo (Y) a densidade óptica, (X) a
concentração proteica, (a) o coeficiente angular da reta e (b) o intercepto da reta.
3.2. Ensaios de caracterização
Estes métodos foram inicialmente utilizados para acompanhar a purificação
da giroxina e posteriormente verificar a atividade, integridade e determinar a
massa molecular.
3.2.1. Atividade Esterasica
Neste ensaio foi utilizado o método descrito por NOLAN eí al. (1976). Para
determinação da atividade esterasica, as frações geradas nas duas etapas
15
cromatográficas, foram dissolvidas em tampão Tris HCI 0,08M pH 8,1 contendo
CaCl2 0,02M. Como padrão, foi utilizado a tripsina (1 mg/mL) em solução de ácido
clorídrico 0,001 M.
Na reação foram incubados 1 mL do substrato TAME 2,5mM com 50|iL da
amostra e medida a densidade óptica em 247 nm, a cada 30 segundos, durante 5
minutos.
3.2.2. Eletroforese em gel de poliacrilamida
A análise em eletroforese seguiu o método descrito por LAEMMLI (1970)
em um sistema desnaturante não reduzido. Objetivou observar a composição
proteica dos principais picos dos fracionamentos e estimar a massa molecular da
giroxina isolada.
As concentrações dos géis foram para resolução 15% e para empilhamento
6%.
As amostras (40 pg) e padrões de massa molecular foram desnaturadas
em tampão Tris HCI 0,08M pH 6,8 SDS 2%, glicerol 10%, azul de bromofenol
0 ,1% e aquecidas à 85°C por 5 minutos. O azul de bromofenol foi utilizado como
traçador e permitiu acompanhar a evolução da eletroforese.
Para a corrida foi utilizado tampão Tris 0,025M glicina 0,20M, pH 8,3 e SDS
1%; uma corrente fixa de 30mA e voltagem máxima de 100V à temperatura
ambiente. Após a corrida, o gel foi corado em uma solução contendo Coomassie
Bhlliant Blue R-250 0,4% em metanol 50% e ácido acético 7%, por 1 hora e, em
seguida, descorado em uma solução de ácido acético e etanol (1:3) à temperatura
ambiente.
16
A migração de cada banda foi medida e relacionada com a do traçador,
calculando-se a migração relativa (Rm)
Migração de cada banda proteica (em cm)
Rm =
Migração do traçador (em cm)
A massa molecular foi estimada pela relação inversamente proporcional
das massas moleculares (em log) e da migração relativa (Rm) de cada proteína.
Logio MM = A + B.Rm, onde
- B representa a inclinação da reta e é diretamente proporcional ao tamanho da
proteína (ou massa molecular).
3.2.3. Análise em espectrometria de massa
O outro método utilizado para determinar a massa molar da giroxina, foi a
análise em espectrómetro ETTAN - MALDITOF (Amersham Bioscience) do CAT
(Centro de Toxinologia Aplicada) no Instituto Butantan.
A amostra (1 |iL de giroxina a 5 mg/mL em água destilada) foi diluida em 1
|iL de ácido a-ciano-4-hidroxicinámico (10 mg/mL em acetonitrila contendo 0 ,1%
de ácido trifluoroacético) e a seguir, analisada.
As condições foram: voltagem de aceleração 20000 V, modo linear
positivo, pulso do laser: 3 ns, com 20 pulsos por segundo. Os espectros foram
processados com o programa ETTANS LWS.
17
3.2.4. Atividade coagulante
Efeito na coagulação do sangue em teste in vitro: Foram coletados
aproximadamente 350 i L de sangue de camundongos Swiss, com pipeta Pasteur
heparinizada, pela veia do plexo orbital, após anestesia dos animais. O sangue foi
acondicionado em tubos heparinizados e mantido a 37°C em banho maria. Após
homogeneização, foram separadas 4 alíquotas de 50 ¡uL de sangue nas quais
foram adicionadas mais 50 [iL de heparina 250 U.l. e em seguida, giroxina (1
mg/mL em salina) nas doses 50 Colocar quanto de giroxina por i^L, 25 |LIL, 12,5 piL
e 6 laL. As amostras foram mantidas a 37''C e a cada 60 segundos observou-se
se ocorreu a coagulação. O período máximo de observação foi de 120 minutos.
3.2.5. Neurotoxicidade
O comportamento característico causado pela giroxina é o rolamento em
barril. Para observação deste efeito neurotóxico foram utilizados camundongos
Swiss, machos, adultos, pesando entre 25 e 30 gramas. A toxina foi dissolvida em
salina na concentração de 2 mg/mL e foram administrados de 0,25 a 0,5 |ug/g de
peso corpóreo, via endovenosa (veia caudal).
Os animais ficaram sob observação e filmagem por aproximadamente 60
minutos para registro do efeito.
18
3.2.6. Efeito na pressão arterial de ratos anestesiados
Ratos Wistar machos, pesando entre 250 e 350 g, foram anestesiados com
pentobarbital sódico (Nembutal®, 60 mg/kg, i.p.). Após traqueostomia e
administração de heparina (200 a 300 U i.v.), a veia jugular direita foi canulada
para administração de drogas. A pressão arterial carotidiana média foi avaliada
continuamente com um transdutor fisiológico de pressão acoplado a um polígrafo
Statham Gould (com escala de calibração de 0-200 mmHg). Após estabilização
da pressão arterial, a viabilidade da preparação foi avaliada com a administração
de drogas-controle: [A] hipertensora (Angiotensina I - 100 ng) e [B] hipotensora
(Bradicinina sintética - 500 ng).
Todas as drogas foram diluídas em solução fisiológica e injetadas em um
volume final de 300 ^iL. A possível hipotensão causada pela giroxina foi avaliada
através da medição do efeito hipotensor em relação à linha de base do traçado.
3.2.7. Efeito em células endoteliais em cultura
Para o ensaio da atividade da giroxina em células endoteliais em cultivo
foram utilizadas as células ECV304, gentilmente cedidas pela Dra. Helena Nader
do Departamento de Bioquímica da UNIFESP. Estas células são
espontaneamente transformadas e originadas de veia umbilical humana.
Neste ensaio foi medida a atividade das enzimas NOS constitutiva e
induzida na presença e ausência da giroxina.
As células ECV304 foram cultivadas em meio RPMI 1640 suplementado
com 10% de soro fetal bovino (SFB) e L-glutamina 4mM na presença de penicilina
19
100U, estreptomicina 10pg/ mL e anfotericida B 0,25 jag/ mL. Foram mantidas à
37°C com 5% de CO2.
Para o ensaio foi escolliido trabalhar com as células em semi-confluência.
Para tanto foram distribuidas 90.000 células/3mL de meio por placa com 50 mm
de diâmetro. Após aproximadamente 72 horas, as células estavam semi-
confluentes, em condições ideais para o teste (em torno de 300.000
células/placa).
A giroxina foi diluida no meio de cultura sem soro para obter as
concentrações desejadas.
As células foram expostas a giroxina 0,15 por 15, 55, 95 e 135 minutos
para a determinação da NOS total. Para i-NOS foi utilizado giroxina 0,03 e 95
minutos de exposição.
Ao término de cada tempo de incubação o meio de cultura foi aspirado e
imediatamente adicionados 2 mL de PBS e as células foram descoladas do fundo
da placa com auxilio de um raspador. Em seguida a suspensão celular foi
transferida para um tubo de plástico de fundo cónico (15 mL) e procedeu-se uma
lavagem da placa com mais 1 mL de PBS. Os conteúdos de três placas foram
reunidos em 1 tubo que foi centrifugado em seguida a 2000g, por 5 minutos á
4°C. O sobrenadante foi descartado e o precipitado congelado a - 80°C até o
ensaio de atividade da NOS.
No ensaio da NOS cada ponto (concentração x tempo) foi ensaiado no
mínimo em duplicata de tubo.
Nas placas controles adicionou-se o meio de cultura sem giroxina e todas
as demais etapas do processo foram iguais.
20
Três placas de cada grupo foram fixadas com ácido acético - metanol (1:3)
durante 20 minutos e corados com Giemsa 10% (diluído em tampão Sorensem
pH 6,8) também por 20 minutos, enxaguadas duas vezes em água destilada e
secas à temperatura ambiente por uma noite. Foram fotografadas em microscópio
Nikon - TMS utilizando filme Fuji - Superior, asa 100 em um aumento de 100 e
200 vezes.
3.2.7.a. Determinação da atividade da Óxido Nítrico Sintase
O método utilizado baseia-se na estimativa da atividade da NOS
pela conversão de L-Arginina para L-Citrulina usando ^H-Arginina como
referencial da conversão (FERREIRO et al., 2004).
Inicialmente as células ECV-304 foram ressuspendidas em tampão de
homogeneização, pH 7,4 (HEPES 0,02M; sacarosa 0,32M; DTT 0,001 M; EDTA
0,0001 M; PMSF 0,001 M) e sonicadas para ruptura. Em seguida, foi medido o
conteúdo total de proteínas celulares com o método micro-Bradford (kit marca Bio
Rad®).
A curva padrão foi feita com soro albúmina bovina diluída no intervalo de
0,5 a 8 \xgl\iL. Os procedimentos deste ensaio são similares ao descrito no item
3.1.3.
Após a medida de cada amostra as concentrações foram ajustadas para
50|ag/100fil com tampão.
Para o ensaio, todas as amostras foram pré-tratadas em colunas de troca
iónica (DOWEX 50 WX 8 200 - 400, marca Sigma) para retirada da arginina
endógena presente na suspensão celular (a arginina ficou retida na coluna). As
2 1
condições escolhidas para o ensaio foram arginina I^M (fria e marcada) e 15
minutos de incubação.
O ensaio da NOS foi então realizado incubando-se 50pg de proteína total
com HEPES 0,03M; EDTA 0,001 M; CaCh 0,00125M; NADPH 0,001 M;
calmodulina lOng/mL; FAD 0,004M; BH4 0,025M; arginina 1,2x10'^M; ^H-arginina
(0,5|xCi) em um volume final de 200 ^L, à 37°C com agitação. Após este período
a reação foi inten-ompida pela adição de 1 mL de HEPES 0,02M e os- tubos
colocados no gelo.
A ^H-citrulina foi separada da ^H-arginina por cromatografia de troca iónica
nas mesmas condições usadas para a suspensão celular. Dessa forma, toda
radiação presente em cada amostra será reflexo da concentração do produto da
enzima, indicando assim, a atividade da NOS presente.
Para determinar a atividade da i-NOS foram adicionados ao tampão de
homogeneização das células, EDTA/EGTA. Não foram adicionados CaCb e
calmodulina ao meio de reação. As demais etapas do ensaio seguiram igual as da
NOS constitutiva.
Os eluatos foram transferidos para frascos de cintilação e após adição de
10 mL de líquido de cintilação em cada frasco, a radioatividade foi quantificada
com a utilização de um contador beta.
As contagens em c.p.m. (contagem por minuto) foram convertidas para
d.p.m. (decaimento por minuto) e calculada a atividade específica pela fórmula:
[arginina] - ^H-citailina - branco
Atividade NOS (pmol/mg.min) -
(Total - branco) x tempo (min) x proteína (mg)
22
o controle negativo usado como branco da reação, foi obtido usando o
mesmo procedimento de uma amostra, omitindo-se a enzima.
Para verificar a significancia das diferenças entre as atividades da NOS nos
grupos (controle e tratados com a giroxina) foi utilizada a análise de variância
monocaudal, com o Pós-teste Dunnet ou Newnan-Keuls; com auxílio do programa
GRAPH PAD PRISI\/I.
3.2.8. Ensaio in vivo com inibidores da NOS
Para o teste com os inibidores foram utilizados camundongos Balb C
divididos em 2 grupos de 5 animais, pesando entre 26 a 30 g.
O primeiro inibidor utilizado foi o 7-Nitroindazol (7-Ni) - Neste ensaio o
grupo controle foi injetado, via intraperitoneal, com 0,1 mL de DMSO 30 minutos
antes da toxina. No segundo grupo foi injetado, via intraperitoneal, em torno de
0,1 mL da solução de 7-Ni (25 mg/Kg) dissolvido em DMSO, no mesmo intervalo
de tempo.
O esquema de administração foi baseado em ZAMUNER eí al. (2001).
O segundo inibidor utilizado foi o L-NAME. Neste ensaio, no grupo controle
foram injetados 0,2mL de salina em duas doses. A primeira, 24 horas e a
segunda, 30 minutos, antes da toxina. No grupo experimental foram injetados
0,2mL da solução de L-NAME dissolvido em salina (50mg/Kg corpóreo) nos
mesmos intervalos de tempo.
A dose de giroxina injetada em todos os grupos foi 0,25^g/g de peso
corpóreo, via intravenosa (veia caudal).
Todos os animais (grupos controle e grupos tratados com os inibidores)
foram mantidos sob observação visual durante 1 hora e anotados todos os
23
sintomas (rolamento em barril, freqüência respiratória, agitação, comportamento
exploratório, tônus muscular entre outros).
3.2.9. Estudo da biodistribuiçao
3.2.9.a. Radioiodacao da giroxina
A giroxina foi radioiodada com Na^^^l utilizando-se o método clássico da
cloramina T (CAMILLO, et ai, 1997). A cloramina T é um agente oxidante, que em
solução aquosa forma o ácido hipocloroso capaz de promover a oxidação do
iodeto. O esquema da reação é mostrado na FIGURA 3 na qual estão indicados
os reagentes e os tampões usados. Este procedimento foi realizado em pH
alcalino e em capela química, devido à volatilidade do ^^^1. Foram feitas agitações
após a adição de cada reagente e aos 2,5 minutos após a adição da cloramina
Todas as soluções usadas foram preparadas imediatamente antes do uso.
A mistura de reação foi fracionada em coluna Sephadex G. 100 (3x50 cm). A
calibração da coluna foi com azul de dextrana para o Vo; ^ 1 para o Vt e giroxina
fria para o Ve. A constante Kav (característica de cada soluto) foi calculada por:
V, - Vo
O tampão fosfato de sódio 0,05 M, pH 7,4 contendo SAB 0 ,1% foi utilizado
como eluente, com fluxo de 12 mL/h e foram coletadas frações de 2 mL.
24
1) 10 HL T. Fosfato de Na 0,3 M pH 7,4
2) 10 nL T. Fosfato de Na 0,05 M pH 7,4
5) 10 |xL de Cloramina T (50 ^g/10^L) em T. Fosfato de Na 0,05 M pH 7,4
1 minuto
3) 5 pL de giroxina (1 mg/mL) 6) 20 \iL (200 ug/20 ^L) de IVIetabissulfito de Na em T. Fosfato de Na 0,05 IVI pH 7,4
4) - 2,6.10" Bq de Na em NaOH em 0,1 fVI
7) 200 ^l de Kl (2000ug/200ul) em T. Fosfato de Na 0,05 M pH 7,4 + 0,1 % SAB + 3 mg de Azul de Dextran
Reação
FIGURA 3. Esquema da radioiodacao da giroxina com Na^^ l utilizando-se o método
clássico da cloramina T modificado (CAMILLO et.al.,1997).
Amostras de 20 iaL de cada tubo foram contadas em contador gama de
poço (OAKFIELD Instruments, United Kingdown) para obtenção do perfil
cromatográfico.
25
Os picos obtidos no fracionamento da mistura de marcação foram
analisados em SDS-PAGE, método jé descrito no item 3.2.2. Após o fim da
corrida o gel foi cortado em tiras verticais correspondentes a cada amostra e, em
seguida, em segmentos horizontais de 5 mm.
A migração relativa (Rm) foi calculada da mesma forma descrita
anteriormente (item 3.2.2.).
3.2.9.b. Biodistribuiçao
No ensaio com a [^^^l]giroxina foram utilizados 30 camundongos machos
isogénicos B10.PL, pesando 20 ± 3 g, divididos em 10 grupos de 3 animais cada.
Os animais foram inoculados via endovenosa na veia da cauda, com 0,1 mL da
[^^^l]giroxina com atividade 18,5 MBq. Durante os experimentos, os animais
ficaram em sala com temperatura ambiente, luz natural e receberam água ad
libitum e comida. Após intervalos de 3, 5, 15, 30, 60, 180, 360, 600, 1500 e 2880
minutos, os animais foram anestesiados com éter para a retirada de sangue do
plexo orbital com pipeta Pasteur heparinizada. Em seguida, foram retirados o
cérebro, coração, pulmões, fígado, baço, rins, estômago, tireóide, intestino,
estômago, músculo esquelético (fragmentos) e cauda. Os órgãos foram pesados
e, em seguida, acondicionados em tubos de polipropileno. Das amostras de
sangue foram contados 50 pL de sangue total e 50 pL de plasma. A
radioatividade presente em cada amostra foi medida em contador gama poço
(OAKFIELD Instruments, United Kingdown).
26
o primeiro passo para os cálculos foi a subtração da quantidade que
permanece na cauda, do total da dose injetada. Em seguida foi feito o cálculo da
dose presente em cada órgão.
Os resultados foram expressos como porcentagem da dose do
radiotraçador incorporada por peso do órgão (%D/g). Esses cálculos foram feitos
com o auxílio do programa EXCELL.
Para análise dos resultados utilizou-se duas representações gráficas. A
primeira compara as médias (com os respectivos desvio padrão e erro padrão)
das porcentagens da dose total incorporada por peso do órgão (%D/g) em dado
tempo de amostragem. Nesta análise utilizou-se o programa STATISTICA.
A segunda representação dos dados, facilita visualizar a cinética. Neste
caso, a porcentagem da dose incorporada por cada órgão (%D/g) é expressa em
função do tempo, em um gráfico tipo XY. Para está segunda análise foi utilizado o
programa GRAPH PAD PRISMA.
27
4. RESULTADOS
4.1. Obtenção da giroxina
Os cromatogramas obtidos nas duas etapas necessárias para o isolamento
da giroxina estão nas FIGURAS 4 e 5.
4.1.1. Cromatografia em coluna de afinidade
A coluna de afinidade Benzamidina Sepharose 6B (FIGURA 4) separou
dois picos distintos. O primeiro que não interagiu com a coluna (Pico AP1) e o
segundo, o pico de interesse (Pico AP2), que eluiu com a mudança de pH (de 9,0
para 4,5).
4.1.2. Cromatografia em gel filtração
O pico AP2 obtido na coluna de afinidade foi repurificado na cromatografia
em gel filtração. Estas frações eluíram como um pico majoritário com Ve
compatível com a giroxina (SA); identificado na comparação com o perfil
cromatográfico do veneno total.
Ensaios enzimáticos específicos caracterizam o pico SA como sendo o
referente a giroxina (FIGURA 5). Os picos SB e SC são contaminantes.
4.1.3. Concentração proteica
No ensaio de medida do conteúdo proteico das amostras eluídas nas
cromatografías, a curva padrão de SAB foi ajustada pela equação y = 0,77195 x
0,01911 com r = 0,9986. O rendimento final da purificação da giroxina foi 2,0%.
28
to <3
FIGURA 4. Perfil cromatográfico da coluna de afinidade Benzamidina Sepharose 6B. Para o veneno de Crotaius durissus terrificus aplicação foi em tampão Tris HCI lOOmM pH 9,0 a eluição em acetato de amonio 50mM pH 4,5. A detecção foi feita em 280 nm, Fluxo 0,5 mL/min. Volume fração 1,25 mL. í™") frações positivas para atividade enzimática.
o 00 CM
.5 "ü c
> o (O
n
<
3 n
2 -
1 -
O O 50 1 0 0
Volume de eluição (mL)
150
Giroxina - - - - - V e n e n o total
FIGURA 5 Perfil cromatográfico do veneno de Crotaius durissus terrificus (pico AP2 pré-fracionado em coluna de afinidade) em Superdex 75 (1,6x70). (—) Perñl referente ao veneno total. O tampão eluente foi formiato de amonio 100 mM pH 3,0; fluxo 0,5 mL/min; frações de 1 mL. A detecção foi feita em 280 nm. ( ) Frações positivas para atividade enzimática.
o
4.2. Ensaios de caracterização
4.2.1. Atividade Esterasica
A atividade esterasica associada a giroxina foi confirmada no segundo pico
da coluna de afinidade (AP2) e no primeiro pico da gel filtração (SA), confirmando
a manutenção da atividade biológica nas duas etapas de purificação (FIGUíRA 6).
4.2.2. Análise em eletroforese em gel de poliacrilamida
As amostras coletadas nas etapas de purificação e analisadas em
eletroforese em gel de poliacrilamida 15%, sistema desnaturante não reduzido,
podem ser observadas nas FIGURAS 7 e 8.
Na TABELA 3 estão identificados os padrões proteicos de massa molecular
(PMM), referências para os cálculos de massa molecular.
TABELA 3. Padrões proteicos utilizados para a curva de calibração de massa
molecular em SDS-PAGE.
Proteínas Massa Molecular
(Daltons)
Álcool desidrogenase 150.000
Soro albumina bovina 66.000
Anidrase carbônica 29.000
Citocromo 0 12.400
31
E c
CM
mmm.
U C
> O (0
<
Atividade esterasica
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0.0 o' oT- cS-
^ ^ 4'
S u g - T A M E - 5min
i f
FIGURA 6. Gráfico da atividade esterasica em diferentes etapas da purificação da giroxina. Amostras 5pg; substrato TAME 2,5 mM; 5 minutos de reação; temperatura ambiente. Para o controle negativo foi utilizado a mistura de reação na ausência da giroxina.
1. Veneno total 2. PMM 3. AP1 4. AP2
FIGURA 7. Eletroforese em gel de poliacrilamida 15%, sistema desnaturante não reduzido com SDS. As setas indicam as bandas referentes a giroxina. Análise dos picos separados na cromatografia por afinidade (API e AP2).
kDa
66
29
12,4
1 2 3 4 5 6
•t •
PMM Veneno total SA SB SC
PMM
FIGURA 8. Eletroforese em gel de poliacrilamida 15%, sistema desnaturante não reduzido com SDS. As setas indicam as bandas referentes a giroxina. Análise dos picos separados na cromatografia em gel filtração (SA, SB e SC).
33
Na FIGURA 7 pode-se observar as bandas referentes às amostras dos
picos da coluna de afinidade. O pico referente às proteínas não retidas (AP1)
ainda apresenta uma banda na posição da giroxina, indicando uma certa perda de
material.
O gel referente às amostras dos picos obtidos na cromatografía em gel
filtração estão na FIGURA 8. A giroxina migrou como uma banda única e a massa
molecular foi estimada em 30,6kDa.
4.2.3. Análise em espectrometría de massa
Nas condições desse trabalho, a análise da giroxina por espectrometria de
massa identificou um componente majoritário e algumas impurezas não
quantificadas, porém em baixa concentração (FIGURA 9). O valor de massa
molecular calculado foi 29506,63 Da, estando de acordo com o esperado.
4.2.4. Atividade coagulante
A giroxina se mostrou ativa no teste sobre a coagulação sangüínea. Foi
capaz de induzir a coagulação mesmo na presença de heparina nas diferentes
doses ensaiadas (TABELA 4).
12.0
C1Q
14
,000
iB
.no
ri
i8,t
>m
A
I.IX
IO
2B,G
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Esp
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F pr
o (A
mer
scha
m B
iosc
ienc
es).
TABELA 4. Resultado do teste da coagulação sangüínea ativada pela giroxina.
Incubação Atividade
coagulante
A: 50 |iL giroxina + 50 |uL Heparina +
B: 25 i L giroxina + 50 nL Heparina +
C: 12,5 \xl. giroxina + 50 )iiL Heparina +
D: 6 )iL giroxina + 50 i L Heparina +
E: 50 ^L tronnbina + 50 JLIL Heparina -
F: 150 [LL trombina + 50 ^iL Heparina +
Controle: 50 \xL Heparina -
4.2.5. Neurotoxicidade
O rolamento em barril foi observado e filmado, ocorrendo entre 5 e 15
minutos após a administração intravenosa da giroxina na dose 0,25 ^g/g. Outros
sintomas observados foram agitação inicial seguida de aumento da freqüência
respiratória, perda do tônus muscular das patas. Os animais se recuperaram em
até 1 hora após a injeção e após 24 horas não apresentavam qualquer sintoma de
envenenamento.
36
4.2.6. Efeitos na pressão arterial de ratos anestesiados
Os animais que receberam doses menores que 500|ig não apresentaram
nenhum efeito sobre a pressão arterial.
Os ratos tratados com SOO^g de giroxina apresentaram uma queda
acentuada e prolongada na pressão arterial (FIGURA 10).
4.2.7. Efeito em células endoteliais em cultura
As condições inicialmente propostas para as células ECV304 foram
adequadas para a cultura. A primeira curva de crescimento celular mostrou que
em 24 horas o número total de células é praticamente o dobro do inicial. As fotos
evidenciaram alterações pouco significativas induzidas nas células ECV304
expostas à ação da giroxina. Na FIGURA 11 está a foto do grupo controle e dos
grupos tratados.
4.2.8. Determinação da atividade da Óxido Nítrico Sintase
No ensaio de atividade da NOS em células endoteliais ECV304 após
tratamento com giroxina, observou-se aumento de atividade da NOS total no
sistema (FIGURA 12). Este aumento foi significativo para todos os intervalos de
tempo ensaiados, comparando-se ao controle. A FIGURA 13 apresenta os
resultados para a i-NOS. Embora as atividades da NOS total e da i-NOS fossem
significativamente diferentes do grupo controle; na comparação entre ambas não
houve diferença.
37
FIGURA 11. Fotos da cultura das células endoteliais ECV304. (A) Controle [lOOx]; (B) células ECV304 mantidas na Universidade de Barcelona <www.ub.es/biocel/wbc/recursos/coleccionphc.htm>; (C) células tratadas com giroxina 1 |ig por 15 [lOOx] e (D) células tratadas com giroxina 1 g por 135 minutos [200x].
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FIGURA 12. Atividade da NOS total (pmol/mg.min) detenninada em células ECV304 expostas à giroxina 0,15 |iM durante diferentes intervalos de tempo. Os valores representam as médias ± erro padrão. Pela análise de variância (F 243; r 0,9949) as médias são significativamente diferentes (p < 0,05) e no teste de comparação múltiplas de Dunnet todas são diferentes do controle (p , 0,01).
FIGURA 13. Comparação das atividades da NOS total e NOS induzida (pmol/mg.min) determinadas em células ECV304 expostas á giroxina 0,03 ^iM durante 95 minutos. Os valores representam as médias ± erro padrão. Pela análise de variância (F 12,13; ^ 0,7294) as médias são significativamente diferentes (p 0,05) e no teste de comparações múltiplas de Newman-Keuls os grupos tratados são diferentes do controle (p <0,01) e não diferem entre si (P < 0,05).
40
4.2.9. Ensaio in vivo com inibidores da NOS
No ensaio com 7-Ni, os primeiros sintomas apareceram poucos minutos
após a administração da giroxina. Não foram observadas diferenças entre os
grupos controle e tratado com o inibidor. Em ambos os grupos os animais
manifestaram os sintomas seqüenciais de agitação, aumento da freqüência
respiratória, ficaram parados, tiveram diminuição do tónus das patas e não
apresentaram o rolamento em barril. Aproximadamente 1 hora após a injeção da
toxina os animais se recuperaram e todos estavam completamente livres de
qualquer sintoma após 48 horas. Não ocorreram mortes.
No ensaio com L-NAIVIE, os animais tratados e os animais controle
apresentaram todos os sintomas citados acima inclusive o rolamento em barril.
Pôde-se observar uma diferença significativa na intensidade dos sintomas no
grupo tratado com o inibidor. Neste grupo, os animais apresentaram o rolamento
em barril e os demais sintomas por aproximadamente 60 minutos a mais que os
do grupo controle, além de ocorrerem três mortes.
4.3. Estudo de biodistribuiçao
4.3.1. Radioiodacao da giroxina
No perfil radiocromatográfico obtido em Sephadex G.100 referente ao
fracionamento da mistura de marcação, pôde-se observar cincos picos distintos
(FIGUIRA 14), sendo que dois deles foram relacionados à [^^^Ijgiroxina por
apresentarem Kav próximo ao da giroxina fria (C e D).
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A análise enn eletroforese destes picos permitiu comprovar a composição
proteica de cada um (FIGURA 15). No pico A está a radioatividade aderida a
albúmina e agregados de maior massa molecular; no pico E está o ^ 1 livre e nos
picos C e D, a giroxina. Por esta técnica a pureza da [^^^l]giroxina isolada foi
estimada em 85,4%. Apesar da semelhança dos dados eletroforéticos obtidos
para as frações 42-43 e 45-46, optou-se por utilizar a de Kav mais próximo de 0,4,
que é o Kav obtido no fracionamento da giroxina não marcada, nas mesmas
condições cromatográficas.
4.3.2. Biodistribuiçao da [^^^l]giroxina
O resultado deste ensaio foi analisado de duas formas. A primeira que
compara a atividade total presente nos diferentes órgãos (FIGURAS 16 e 17) a
cada intervalo de tempo. Esta representação facilita a observação do "caminho"
feito pela [^^^l]giroxina durante os processos de DME. A segunda forma de análise
(FIGURA 18) apresenta o perfil cinético em cada órgão individualmente e permite
a identificação dos órgãos em que a toxina tem maior tempo de permanência,
candidatos a órgãos alvo.
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FIGURA 18. Comportamento cinético da giroxina radioiodada nos diferentes órgãos, após administração intravenosa em camundongos (escala log x log).
47
1
Q 1 -
No ensaio de biodistribuiçao da giroxina a radioatividade detectada nos
órgaos, permitiu diferenciá-los em três grandes grupos. O primeiro com órgãos
que repetem a cinética sanguínea - pulmão, coração (altamente vascularizados)
e cérebro. O segundo grupo com os órgãos de metabolismo e eliminação -
fígado, rins e intestino. E um terceiro grupo em que se observou uma tendência a
acumular a toxina - baço, músculo esquelético e estômago. Na primeira hora as
maiores %D/g foram no fígado e rins; decaindo em seguida. Após 1 hora a
concentração de [^^^l]giroxina no estômago passou a subir permanecendo por
longo período. Observando-se o perfil de radioatividade detectada no fígado e nos
rins, cerca de quatro vezes maior que nos outros órgãos, pode-se inferir que a
mesma tenha metabolismo hepático e eliminação renal.
Na análise das amostras sangüíneas, a radioatividade medida no plasma e
no sangue total foi similar (FIGUIRA 19).
A baixa radioatividade na tireóide nos tempos iniciais confirma a pureza do
radiotraçador (FIGURA 20).
48
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FIGURA 19. Gráfico dos valores de concentração do radiotraçador/tempo para as amostras de sangue. As barras indicam o intervalo de confiança de 95%. A curva foi ajustada pelo modelo bicompartimental C(t) = A e^* + B""'.
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FIGURA 20. Incorporação do iodo na tireóide indicativo do metabolismo da f ^^Ijgiroxina.
49
5. DISCUSSÃO
O isolamento da giroxina do veneno de Crotaius durissus terrificus é
freqüentemente iniciado com uma gel filtração do veneno total e, em seguida, a
utilização de uma coluna de afinidade (BERCOVICI eí al., 1987). Considerando-se
que o veneno crotálico é pouco proteolítico, neste trabalho optou-se por uma
inversão na ordem destas purificações. Esta abordagem pode ser considerada
rápida, principalmente quando comparada ao método utilizado por BARRABIN eí
al. (1978); embora não tenha melhorado o rendimento. Um outro fator que deve
ser ressaltado é que desta forma, é possível processar uma quantidade maior de
veneno por partida, o que se torna uma vantagem devido à baixa concentração da
giroxina no veneno total (2 a 3%) e evita as freqüentes diferenças de potências
entre as preparações para a realização dos ensaios in vivo.
A atividade esterasica (BARRABIN eí al., 1978) e trombina símile
(ALEXANDER eí al., 1988) estão associadas a giroxina. Por isso, as frações
obtidas tanto da coluna em gel filtração quanto da afinidade foram submetidas ao
teste com o substrato sintético TAME. Essas frações apresentaram forte atividade
esterasica confirmando a presença e a atividade da giroxina nas duas etapas de
purificação. Observou-se, porém que a giroxina liofilizada (SA) perde um pouco
de sua atividade quando comparada à fração não liofilizada (AP2),
provavelmente, devido às condições de congelamento e liofilização. Este fato foi
relatado anteriormente por BARRABIN eí a/., (1978).
Nas análises em eletroforese em gel de poliacrilamida as amostras
resultantes da cromatografia de afinidade migraram como banda dupla o que
pode ser devido à perda de partes do conteúdo glicosilado e, consequentemente
modificação de sua massa molecular, ou ainda, a um processo de autólise. Os
50
valores de massa calculados por este método foram compatíveis com o obtido na
análise em espectrometria de massa.
Esta análise também permite observar que em algumas purificações, na
coluna de afinidade, o pico referente às proteínas não retidas ainda manteve a
banda relacionada a giroxina, o que indica que a purificação da giroxina por esse
método é muito sensível às condições da corrida, especialmente ao pH; e
variações mínimas podem acarretar em perda de material. Para diminuir as
perdas, pode-se passar uma mesma amostra pela coluna de afinidade mais de
uma vez. No entanto, esta fase do trabalho foi concluída com os resultados
esperados, ou seja, obteve-se a giroxina com grau de pureza e quantidade
suficientes para os ensaios subsequentes e com todas as suas atividades
biológicas características (rolamento em barril e coagulação).
O ensaio da medida da pressão arterial em ratos anestesiados confirmou
uma potente ação hipotensora da giroxina.
Muitas serpentes utilizam-se de vários meios para induzir uma hipotensão
rápida e acentuada em suas presas para imobilizar, capturar e matar
(BJANARSON et al., 1983), porém, considerando a alta toxicidade da crotoxina,
principal toxina do veneno da Crotaius durissus terrificus, este parece ser um
efeito secundário promovido por um ou mais dos vários componentes do veneno,
inclusive a giroxina.
Algumas enzimas trombina símile, como por exemplo, a TM-VIG purificada
do veneno de Trimeresurus mucrosquamatus (HUNG & CHIOU, 2001) e a
crotalase purificada do veneno de Crotaius adamanteus (MARKLAND & DAMUS,
1971) promovem hipotensão em ratos, devido, principalmente, à sua atividade
calicreína símile, liberando bradicinina (MARKLAND eí a/., 1982; ESNOUF e
51
TUNNAH, 1967; HATTON, 1973) o que lhes atribuí urna alta atividade
hipotensiva. A ação hipotensiva comprovada in vivo (em ratos anestesiados)
sugere uma possível aplicação terapêutica como agente anti-hipertensivo.
Como a giroxina, algumas outras enzimas trombina símile (MARKLAND,
1998; HUNG & CHIOU, 2001; OYAMA & TAKAHASHI, 2003) também promovem
hipotensão, porém, ainda não se sabe ao certo qual a via utilizada para esta
atividade.
Em relação a giroxina, cogitou-se que a via mais provável fosse a liberação
de bradicinina diretamente através da clivagem do cininogênio de alto peso
molecular devido a sua possível similaridade estrutural com outras trombinas
símile e a sua atividade enzimática. No entanto, em estudos preliminares
utilizando-se substratos sintéticos, obsen/ou-se neste trabalho que a giroxina não
libera bradicinina (resultados não apresentados).
ASCHNER et al. (1997) determinaram que a bradicinina também contribui
para o aumento da permeabilidade endotelial permitindo a passagem da albúmina
através das células arteriais pulmonarias bovina e mesmo que os resultados em
relação a atividade calicreína símile tenham sido negativos, deve-se ressaltar que
esse resultado é parcial e, principalmente, que foram testados apenas substratos
sintéticos. Uma vez que os estudos realizados ainda não são conclusivos, a
possibilidade de ser este o mecanismo que a giroxina utiliza para enviar os
produtos de seus substratos endógenos para o tecido neural não pode ser
descartada.
Por outro lado, a giroxina poderia liberar uma molécula relacionada ao seu
efeito no sistema nervoso e efetora no relaxamento dos vasos que poderia ser o
óxido nítrico.
52
Os ensaios com as células endoteliais em cultura comprovaram o
envolvimento do óxido nítrico no mecanismo de ação desta toxina, envolvendo
especialmente a i-NOS. Em condições fisiológicas o NO é um importante
regulador do tônus vascular. A produção excessiva de NO, principalmente via i-
NOS, pode ter um efeito citotóxico através da formação de peroxinitrito com
superóxido (BUTTERY eí al., 1996). No entanto, nas condições deste ensaio, não
foi possível observar danos nas células em cultura quando comparado com o
grupo controle quanto com uma referência de um banco de células.
Esta observação foi corroborada por um teste de citotoxicidade em células
CHO, em que doses de até 1 mg/mL não foram suficientes para atingir a CT-50%
(resultados não apresentados).
Os resultados do teste in vivo com inibidores sugerem que a n-NOS não
tem participação na atividade da toxina já que não foram observadas diferenças
entre o grupo controle e o tratado com 7-Ni. Já a e-NOS parece ter participação
na modulação da indução do rolamento em barril, pois a presença do L-NAME
potencializou a ação da toxina. Resultado semelhante foi descrito por D'AMICO eí
al. (1995). Estes pesquisadores, ao investigarem o envolvimento da via L-arginina
- óxido nítrico no rolamento em barril induzido por endotelina-1, observaram um
aumento na capacidade em induzir o rolamento; assim sugeriram que o óxido
nítrico atua como modulador do evento e de forma inibitória.
A ação inibitória do óxido nítrico na atividade da giroxina pode estar
relacionada também ao seu papel neuroprotetor já discutido por outros autores
(RONZONI eí al., 2000). Isso explicaria os efeitos intensificados da giroxina nos
animais tratados com inibidores da e-NOS.
53
Com a determinação da atividade da NOS em células endoteliais ECV304
após tratamento com a giroxina, observou-se uma alta atividade da NOS no
sistema, o que pode explicar sua atividade hipotensiva; deixando em aberto a
questão do envolvimento do óxido nítrico no rolamento em barril. Estas células
endoteliais não apresentaram alterações morfológicas perceptíveis quando
comparadas ao controle e a outras culturas da mesma linhagem.
O óxido nítrico é um mensageiro com dupla ação que pode agir tanto no
desenvolvimento celular, principalmente no sistema nervoso central, quanto na
indução de apoptose (CONTESTABILE, 2000). Alguns autores relacionaram a
atividade da NOS com a proliferação das células ECV304, após adição de fatores
angiogênicos (SHIZUKUDA et al., 1999). Isto não parece ocorrer com a adição da
giroxina, assim como também não foi observada qualquer evidência de células
em processo de apoptose. Estudos in vitro têm demonstrado os efeitos benéficos
e tóxicos do óxido nítrico na sobrevivência dos neurônios (ESTEVEZ et al., 1998;
VIRGILI et al., 1999; NUCCI et al., 2003), porém, o papel do óxido nítrico em
células de mamíferos parece estar longe de ser conclusivo. Esses efeitos são
dependentes de vários fatores como a concentração de óxido nítrico, tipo ou
linhagem das células em questão, molécula ou substância a ser analisada na
ativação das diferentes isoformas da NOS, etc.
Os receptores de membrana protease-ativados (PARs) também podem
estar envolvidos na capacidade da giroxina em induzir o rolamento. Sabe-se que
através desses receptores, as serino proteases aumentam a permeabilidade das
células endoteliais em cultura, liberando a passagem de diferentes moléculas
para o meio intersticial (NGUYEN et al., 1997); esses receptores também estão
localizados no cérebro dos mamíferos (MACFALANE et al., 2001); as mudanças
54
na permeabilidade da barreira hematoencefálica são respostas fisiológicas
normais a vários eventos, tais como, vahação no pH, variação na pressão arterial
e no suprimento de nutrientes e oxigênio (YEPES et al., 2003).
Além disso, a barreira hematoencefálica é formada por células endoteliais,
astrócitos e pela membrana vascular; se a giroxina atuar via receptores PAR e
ocasionar aumento na permeabilidade endotelial, não só o produto de sua
atividade enzimática, mas também outras moléculas poderiam alcançar as células
neuronais.
Na verdade, existem vários caminhos possíveis que podem estar sendo
utilizados pela giroxina para que os produtos de sua atividade enzimática ou até
mesmo outras moléculas independentes de sua atividade alcancem os neurônios.
Como, por exemplo, os sinais imunes do cérebro via corrente sangüínea podem
ocorrer direta ou indiretamente. Células imunes como os monócitos, produzem
um mensageiro químico chamado interleucina-1 (IL-1), normalmente incapaz de
atravessar a barreira hematoencefálica. Porém, vasos sangüíneos cerebrais têm
junções porosas que permitem que as moléculas de IL-1 alcancem o cérebro. Lá
elas podem ativar o eixo HPA (hipotálamo - hipófise - adrenal) e outros sistemas
neurais, assim como se ligar a receptores nas células endoteliais que se alinham
na parede dos vasos sangüíneos cerebrais. Essa ligação pode fazer com que as
enzimas dentro das células produzam óxido nítrico ou prostaglandinas, que se
difundem pelo cérebro e agem diretamente nos neurônios.
Alguns produtos químicos e vários peptídeos endógenos como endotelina-
1, - 3 , arginina-vasopressina, losartan, endomorfina-1 (WURPEL et al., 1986a;
YOSHIZAWA et a/.,1990; DIAMANT eí al., 1994; KANNAN eí a/.,1994; D'AMICO
eí al., 1995; KAWACHI eí al., 1998; HUANG eí al., 2004), também induzem o
55
rolamento em barril, no entanto, é importante lembrar que todas essas
substâncias citadas apenas desencadeiam esta síndrome quando administradas
via intracerebroventricular, diferentemente da giroxina que o faz também após
administração via intraperitoneal ou intravenosa.
Vale lembrar que a trombina em doses até 2,5 vezes maiores do que a de
giroxina não induz o rolamento em barril (ALEXANDER et al., 1988), o que
estimula a busca pelo mecanismo específico com que algumas enzimas trombina
símile induzem este comportamento neurotóxico.
No ensaio de marcação da giroxina obteve-se um radiotraçador com
características adequadas para o ensaio de biodistribuiçao. Estudos anteriores
validaram as condições suaves de marcação com cloramina T para esta toxina
(CAMILLO etal., 1997).
Devido às características dos ensaios com radiotraçadores, a concentração
de giroxina utilizada na biodistribuiçao é inferior a dose necessária para induzir o
rolamento em barril. Assim, estes autores fizeram o controle da atividade biológica
da giroxina, após a marcação, foi feita utilizando ^^^lodo, com quantidades
ponderáveis e mantendo as proporções estequiométricas da reação. Foram
avaliadas as atividades amidásica e esterasica da toxina iodada comprovando a
preservação de sua integridade.
Através do estudo de biodistribuiçao, buscou-se mapear a presença da
giroxina em diferentes órgãos e relacionar estes dados com a presença ou não de
receptores PAR, tendo como base dados da literatura.
Com base nos valores obtidos para %D/g nos órgãos em diferentes
intervalos de tempo e segundo a primeira forma de análise (comparação das
56
contagem), foi possivel diferenciar os órgãos em três grupos. Os órgãos de cada
grupo foram, então, relacionados à distribuição dos receptores PAR.
TABELA 7. Distribuição tecidual dos receptores PAR.
PAR-1 PAR-2 PAR-3 PAR-4 cérebro próstata coração Pulmão pulmão intestino rim pâncreas coração cólon pâncreas testículos
estômago fígado timo intestino cólon rim intestino placenta
rim pâncreas estômago músculo testículos traqueia linfonodos
traqueia esquelético
glândula-adrenal próstata
útero cólon
plaquetas megacariócitos
TABELA 8: Distribuição tecidual da [^^^l]giroxina
PAR-1 PAR-2 PAR-3 PAR-4
Grupo 1 cérebro coração pulmão coração pulmão
Grupo 2 rim fígado rim intestino rim intestino
intestino Grupo 3 estômago estômago músculo-esquelético
Neste caso, observa-se que os grupos foram praticamente separados de
acordo com a disposição dos receptores. Pode-se observar que o primeiro grupo
está mais relacionado ao PAR-1 do que aos PAR-3 e -4. O segundo grupo está
57
mais relacionado ao PAR-2 do que aos PAR-1, -3 e -4. O terceiro grupo pode ser
relacionado tanto ao PAR-4 quanto aos PAR-1 e PAR-3.
Os PAR-1, -2 são particularmente abundantes no trato gastrointestinal e,
como observado na TABELA 8, podem ser os responsáveis pela alta
concentração da [^^^l]giroxina nesse sistema. O acúmulo progressivo no
estômago pode ser devido tanto ao PAR-1 quanto ao PAR-3 que também está
presente neste órgão.
O estudo da cinética na tireóide é um importante controle da concentração
de iodo livre circulante durante o experimento de biodistribuiçao. A radioatividade
detectada foi mínima e não apresentou um aumento linear com o tempo,
conforme o esperado. Um aumento significativo foi medido apenas após 1500
minutos, o que pode ser devido ao acúmulo de ^^^lodo livre decorrente da
degradação metabólica do marcado.
A atividade medida no plasma acompanhou a do sangue total, sugerindo
que não há seletividade da toxina pelas células sangüíneas. A cinética no sangue
não acompanhou o modelo mono nem o bicompartimental, nos tempos iniciais
que refletem o comportamento da grande maioria dos compostos. A [^^^l]giroxina
permanece no sangue por um longo período. Este resultado não reproduz o
observado anteriormente (CAMILLO et al., 1997) e pode ser devido às diferentes
linhagens de camundongos utilizados. Neste ensaio foi utilizada a linhagem
B10 .PL que é mais indicada para estudos imunológicos.
No cérebro, foram detectadas quantidades muito pequenas da
[^^^l]giroxina, cerca de 0,25 a 0,5% da dose e essa percentagem manteve-se
estável durante quase todo o intervalo de tempo estudado, reproduzindo o
comportamento no sangue. Isto pode indicar a pouca seletividade por esse órgão
58
e estaria de acordo com o proposto por CAMILLO et al. (2001) onde foi ressaltada
a baixa capacidade da giroxina em atravessar a barreira hematoencefálica e
sugerida a ocorrência de um composto intermediário para a manifestação dos
seus efeitos neurotóxicos.
Assim, neste estudo foi feita uma primeira abordagem da possível
interação da giroxina com os receptores PAR, presentes em diferentes órgãos.
Estudos mais específicos são necessários para caracterizar a interação da
giroxina com estes receptores e os efeitos decorrentes desta interação.
59
6. CONCLUSÕES
O trabalho desenvolvido permitiu alcançar os objetivos propostos e concluir
que:
• os métodos utilizados para isolar a giroxina do veneno crotálico foram
adequados e permitiram processar maiores quantidades de veneno em
cada lote e obter a giroxina em pureza adequada para o estudo;
• o teste in vivo permitiu registrar o rolamento em barril, confirmando a
atividade da giroxina obtida;
• por espectrómetro de massa obteve-se a massa molecular da giroxina de
29506,63 kDa;
• o complexo heparina-antitrombina III não inibe a atividade trombina-símile
da giroxina;
• o ensaio de pressão arterial comprovou que a giroxina do veneno crotálico
é hipotensiva;
• o ensaio de determinação da atividade da óxido nítrico sintase demonstrou
que a giroxina libera óxido nítrico em células endoteliais;
• os ensaios in vivo com inibidores da NOS,demonstraram que o óxido
nítrico participa da síndrome do rolamento em barril, porém não como
mediador principal, podendo ter um papel modulatório/inibitório;
» a análise do ensaio de biodistribuiçao sugere que a giroxina tem
metabolismo hepático e eliminação renal e que não atravessa a barreira
hematoencefálica.
60 •••'.'•JB'PJSP-WcB
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