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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ LORENA ESTRELA DE SENNA ISRAEL E PALESTINA: ASPECTOS HISTÓRICOS, TÁTICOS E A SITUAÇÃO DA PAZ ILHÉUS – BAHIA 2008

aspectos históricos, táticos e a situação da

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

LORENA ESTRELA DE SENNA

ISRAEL E PALESTINA: ASPECTOS HISTÓRICOS, TÁTICOS E A SITUAÇÃO DA PAZ

ILHÉUS – BAHIA 2008

LORENA ESTRELA DE SENNA

ISRAEL E PALESTINA: ASPECTOS HISTÓRICOS, TÁTICOS E A SITUAÇÃO DA PAZ

Monografia apresentada, para obtenção de título de bacharel em Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais, à Universidade Estadual de Santa Cruz. Área de concentração: Relações Inter-sociais Orientadora: Prof. Kátia Vinhático Pontes

ILHÉUS – BAHIA 2008

LORENA ESTRELA DE SENNA

ISRAEL E PALESTINA: ASPECTOS HISTÓRICOS, TÁTICOS E A SITUAÇÃO DA

PAZ Ilhéus-BA, / /2008

______________________________________________ Prof. Kátia Vinhático Pontes

(Orientadora)

______________________________________________

Prof. Claudete Rejane Weiss (Parecerista)

______________________________________________ Prof. Clodoaldo Silva da Anunciação

(Parecerista)

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Gilvan e Zaide que não mediram esforços para que eu

chegasse até esta etapa de minha vida, presentes em todos os momentos. Pela dedicação, pelo

zelo constante, por me darem força quando precisei e por me ensinarem que na vida é preciso

perseverança e determinação. Foram eles que me apoiaram nos meus momentos de desânimo,

quando achei que não iria conseguir e é com eles que compartilho dessa minha alegria. Meu

amor profundo, e do mais sincero do meu coração a minha enorme gratidão a Deus por tê-los

dado a mim como pais.

AGRADECIMENTO

Ao meu Senhor, sem o qual eu não existiria, aquele que me ama e guia em todo o

tempo, te amo meu Deus, não sei como exprimir tamanho sentimento e adoração por Ti, meus

dias são Teus, minha vida é Tua.

Ao meu pai Gilvan, tão paciente e cuidadoso. A minha mãe Zaide, tão “MÃE” no

sentido mais lindo da palavra, amo vocês demais!! O apoio de vocês foi essencial.

Ao meu irmão Gilvan, que me é exemplo de um jovem determinado com seus planos e

que luta para realizá-los, minha admiração.

À minha vozinha linda Floripes, meu xodó, mulher de garra que em meio às lutas da

vida alcançou a vitória.

À Thais Lago Borges, taiiiiiiiiiiiiii... companheira diária de tardes tão longas, “tenho

tanto pra te falar” hehehe!! Obrigada por realmente exercer o suportai-vos, e já sabe né “vamo

levano”.

À Joice, amiga sempre pronta a ajudar e servir. Neném tu é importante pra mim!

À minha orientadora Kátia pela paciência, disposição e apoio para a conclusão deste

curso.

À Ilka, pela ajuda e conselhos de onde, como e com que eu deveria falar e/ou fazer.

Aos demais professores e funcionários do curso de Línguas Estrangeiras Aplicadas às

Negociações Internacionais.

E a todos que contribuíram com este trabalho direta e indiretamente.

SUMÁRIO

Resumo ..................................................................................................................................... v

Resumen .................................................................................................................................. vi

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9

2. BREVE HISTÓRICO ANTES DA CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL ............... 11

Nascimento do Sionismo ............................................................................................. 16

Colonização Palestina ................................................................................................. 17

Rumo ao Estado de Israel ............................................................................................ 19

Estado Duplo ............................................................................................................... 21

Independência de Israel ............................................................................................... 22

3. PÓS-INDEPENDÊNCIA DE ISRAEL ........................................................................... 25

Situação Palestina ........................................................................................................ 25

A Guerra de Suez e a expansão econômica de Israel .................................................. 26

A criação da Organização pela Libertação da Palestina e a Guerra dos Seis Dias..... 27

A Guerra do Yom Kippur e os acordos de Camp David ............................................. 30

Primeira Intifada .......................................................................................................... 32

Acordos de paz de Oslo ............................................................................................... 33

O fracasso dos Acordos de paz de Oslo ...................................................................... 35

Segunda Intifada .......................................................................................................... 38

4. AS RELAÇÕES NO ORIENTE MÉDIO NOS ANOS 2006 – 2008.............................. 43

5. A POSIÇÃO DO BRASIL ................................................................................................ 47

6. METODOLOGIA ............................................................................................................. 50

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 51

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 53

ANEXOS ................................................................................................................................ 59

v

ISRAEL E PALESTINA: ASPECTOS HISTÓRICOS, TÁTICOS E A SITUAÇÃO DA PAZ

RESUMO

A relação entre Israel e Palestina acontece há milênios e a história entrelaçada dessas duas nações representa o que elas são hoje. Dois povos que se odeiam mutuamente e que buscam a sua própria identidade e lugar na conjuntura local e internacional. Os conflitos gerados e mantidos por tais civilizações deixaram de ser de uma esfera puramente política e territorial para passarem a ser, também, de razão religiosa e cultural, instigados por grupos extremistas que mantém o terror na região. Nesse sentido, esta pesquisa objetivou estudar as causas e conseqüências das ações decorrentes de cada um dos países numa linha cronológica, para entender o atual comportamento e para encontrar uma solução viável. Para tanto, foi realizado um estudo documental e bibliográfico, juntamente com um estudo de caso sobre os dois países. Foram analisados os aspectos históricos, táticos e situação da paz, visto que estas são as informações mais relevantes para o atual cenário no Oriente Médio. A metodologia adotada tem uma abordagem qualitativa de caráter exploratório. Os dados foram obtidos por meio de pesquisa, principalmente, em livros, jornais, revistas, artigos científicos e material disponibilizado na internet. Os resultados encontrados indicam que a situação entre árabes e judeus, mesmo com tantas tentativas para a paz, ainda é muito problemática, porém, ambos os lados desejam chegar num ponto final. A pesquisa revela que a solução para tais conflitos é possível, uma vez que haja empenho dos governos, neutralização dos grupos extremistas e a disposição de confiança mútua. Palavras-chave: Israel; Palestina; conflitos; árabes; judeus; paz.

vi

ISRAEL Y PALESTINA: ASPECTOS HISTÓRICOS, TÁCTICOS Y LA SITUACIÓN DE LA PAZ

RESUMEN

La relación entre Israel y Palestina ocurre hay milenios y la historia entrelazada de estas dos naciones representa lo que son hoy en día. Dos pueblos que se odian y buscan su propia identidad y el lugar en la coyuntura local e internacional. Los conflictos generados y mantenidos por estas civilizaciones han dejado de ser de ámbito puramente político y territorial para llegaren a ser, también, de basamento religioso y cultural, incitados por grupos extremistas que mantiene el terror en la región. En ese sentido, esta investigación tuvo como objetivo estudiar las causas y las consecuencias de las acciones derivadas de cada uno de los países en una línea cronológica, para comprender el comportamiento actual y para encontrar una solución viable. Con ese fin, se realizó un estudio bibliográfico y documental, junto con un estudio de caso sobre los dos países. Se analizaron los aspectos históricos, tácticos y la situación de la paz, ya que son las informaciones más relevantes para el escenario actual en el Oriente Medio. La metodología propuesta tiene un abordaje cualitativo de carácter exploratorio. Los datos fueron obtenidos a través de la investigación, principalmente, en libros, periódicos, revistas, artículos científicos y material disponible en la Internet. Los resultados encontrados indican que la situación entre los árabes y los judíos, a pesar de tantos intentos de paz, todavía es muy problemática, sin embargo, ambas partes desean llegar a un punto final.La investigación muestra que la solución para estos conflictos es posible, siempre que exista el compromiso de los gobiernos, la neutralización de los grupos extremistas y el ofrecimiento de la confianza mutua. Palabras-clave: Israel; Palestina; conflictos; árabes; judíos; paz.

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1. INTRODUÇÃO

Palestina e Israel compõem a história mundial e suas relações conturbadas, duradouras

e complexas, apesar de representarem o que essas nações são, não se mostram de forma clara

e por isso, merecem atenção especial.

Ao pensar na região do Oriente Médio, pensa-se em conflito. Poucas são as pessoas

que realmente entendem o porquê da situação em que se encontram esses dois países e o pra

quê desta disputa que perdura por tantos anos.

Dois países em busca de uma mesma terra, um grupo humano - com princípios,

tradições e culturas totalmente diferentes – tentando ocupar o território de outro grupo

humano. São lados distintos, com visões distintas. Saber quem é o certo ou errado não é a

questão, mas entender a raiz de todo esse desenrolar histórico, que conseqüentemente, reflete

a situação atual. Como mesmo disse o escritor israelense Yoram Kaniuk, “mesmo quando há

duas partes que têm razão, a justiça é um jogo ilusório, porque é sempre julgada pelo lado de

quem vê”.

É um processo marcado fortemente pela disputa entre religiões, daí a importância de

abordá-las, pois, nestes conflitos elas compõem um elemento condicionador do processo

histórico. De um lado o judaísmo, primeira das religiões monoteístas, tem sua fé baseada na

existência de apenas um Deus, o criador de tudo e todos, e tem Jerusalém como um centro

religioso fundado pelo rei Davi. Seguem os livros sagrados Torá ou Pentateuco1, e Talmude

2.

Os judeus reivindicam sua prerrogativa religiosa alegando, que Deus fez um acordo com os

hebreus, fazendo com que eles se tornassem o povo escolhido e certificando-lhes a Terra

Prometida. Hoje, apesar de praticada em várias regiões do mundo, é no Estado de Israel que

se concentra um grande número de praticantes dessa religião.

1 A Torá ou Pentateuco, de acordo com os judeus, é considerado o livro sagrado que foi revelado diretamente por Deus. Fazem parte da Torá : Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. 2 O Talmude é o livro que reúne muitas tradições orais e é dividido em quatro livros: Mishnah, Targumin, Midrashim e comentários.

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E do outro o islamismo, religião seguida pela maioria da população árabe-palestina,

que segue a fé fundada por Maomé - o qual eles acreditam ter sido um profeta - no século VII.

Um povo que segue a doutrina sagrada do Alcorão ou Corão3, e da Suna

4 e crêem em Alá

como um único Deus. Para os muçulmanos, existem três locais sagrados: a cidade de Meca,

onde fica a pedra negra, também conhecida como Caaba; a cidade de Medina, local onde

Maomé construiu a primeira Mesquita5 e a cidade de Jerusalém, cidade onde o profeta subiu

ao céu e foi ao paraíso para encontrar com Moisés e Jesus.

Histórias controversas, mas que se cruzam e estão ligadas de alguma forma por um

espaço geográfico, que tem a reivindicação de dois donos.

Assim, o resultado deste material pode ser aproveitado pela sociedade como um todo,

sendo evidenciado para as pessoas e organismos que têm interesse em conhecer mais a fundo

as relações de diversos âmbitos que permeiam essa região.

O presente trabalho visa analisar as relações culturais e sociais entre Israel e Palestina,

seus aspectos históricos, como foram conduzidas as formações desses Estados para que se

tenham chegado à atual conjuntura, as ações colonizadoras e dominadoras, suas

conseqüências e influências. Para isso, serão identificadas as raízes religiosas e históricas,

bem como a organização de uma cronologia dos acontecimentos. Serão também apontados os

princípios em que cada um dos Estados se baseiam; será identificado quando houve a

formação do Estado duplo; será descrita como eram e como se encontram as divisões

territoriais; serão explanadas as várias guerras e as intifadas; serão expostos os acordos e

planos, passados e futuros, para que houvesse/haja a paz; haverá uma breve explanação

acerca da posição do Brasil e suas relações comerciais com Israel e Palestina, será apresentada

a atual situação encontrada em ambas as nações e as possíveis soluções de interesse social

para o fim deste conflito.

3 O Alcorão ou Corão é um livro sagrado que reúne as revelações que o profeta Maomé recebeu do anjo Gabriel. Este livro é dividido em 114 capítulos (suras). Entre tantos ensinamentos contidos, destacam-se: onipotência de Deus (Alá), importância de praticar a bondade, generosidade e justiça no relacionamento social. O Alcorão também registra tradições religiosas, passagens do Antigo Testamento judaico e cristão. Os muçulmanos acreditam na vida após a morte e no Juízo Final, com a ressurreição de todos os mortos. 4 Outra fonte religiosa dos muçulmanos é a Suna que reúne os dizeres e feitos do profeta Maomé. 5 A mesquita é o templo religioso dos muçulmanos.

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2. ANTES DA CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL

Falar na história de Israel e da Palestina, diretamente se remete à parte da narrativa

bíblica. A Bíblia é usada como uma referência importante para o entendimento da história de

Israel. De acordo com as escrituras sagradas, por volta de 1.700 a.C., Abraão recebeu um sinal

de Deus para abandonar o politeísmo e para viver em Canaã, ou melhor dizendo, na antiga

Palestina6, terra escolhida por Deus para seu povo habitar:

Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. Assim partiu Abrão como o Senhor lhe tinha dito, e foi Ló com ele; e era Abrão da idade de setenta e cinco anos quando saiu de Harã. E tomou Abrão a Sara, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã; e saíram para irem à terra de Canaã; e chegaram à terra de Canaã. E passou Abrão por aquela terra até ao lugar de Siquém, até ao carvalho de Moré; e estavam então os Cananeus na terra. E apareceu o Senhor a Abrão, e disse: A tua descendência darei esta terra. E edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera. E moveu-se dali para a montanha do lado oriental de Betel, e armou a sua tenda, tendo Betel ao ocidente, e Ai ao oriente; e edificou ali um altar ao Senhor, e invocou o nome do Senhor. Depois caminhou Abrão dali, seguindo ainda para o lado do sul (GÊNESIS, cap. 12, vers. 1-9).

Isaque, filho de Abraão, tem um filho chamado Jacó. Este luta, num certo dia, com um

anjo de Deus e tem seu nome mudado para Israel. Jacó, ou Israel, teve doze filhos, os quais

deram origem às doze tribos que formavam o povo de Israel. Dentre eles está José, que foi

vendido como escravo ao faraó, rei do Egito. José tornou-se um homem querido pelo faraó e

foi promovido a governador do Egito. Trouxe os seus familiares de Canaã, ou antiga

Palestina, onde havia uma grande fome. Do faraó receberam terras, para que as cultivassem. E

assim os israelitas começaram a prosperar. Prosperaram tanto e se tornaram tão ricos e tão

numerosos que assustaram o reino egípcio. Com isso, foram subjugados militarmente e

submetidos à escravidão por aproximadamente 400 anos.

6 Canaã, mais recentemente conhecida como antiga Palestina, para os judeus Terra de Israel, e onde hoje se localizam o Estado de Israel e Jordânia.

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O faraó ainda não satisfeito pretendia interromper de forma definitiva sua expansão,

então, decidiu que todos os varões que nascessem nas famílias israelitas deveriam ser mortos.

E assim, de forma cruel esse povo foi perseguido e seus bebês varões mortos. Um desses

bebês foi escondido por seus pais dos soldados egípcios e quando a vida do bebê passou a

correr perigo iminente, seus pais o colocaram numa cesta e o soltou no rio Nilo.

Esse bebê era Moisés, que foi salvo e criado pela filha do faraó. Ele cresceu e estudou

dentro do reino egípcio, sempre muito bem tratado, apesar da filha do faraó saber que ele era

filho de hebreus. Um dia, Moisés foi visitar seus irmãos hebreus e viu um deles ser ferido

com crueldade por um egípcio. Irado, Moisés matou o egípcio e escondeu seu corpo na areia.

Mas o faraó ao saber do crime decidiu mandar matar Moisés. No entanto, ele conseguiu fugir

para a terra de Midiã.

Ali ficou por anos, casou-se e teve filho. O faraó que o perseguia morreu, mas os

israelitas, ou hebreus, continuavam sob o jugo egípcio. Diz a Bíblia que Deus se compadeceu

do sofrimento de seu povo e ouviu o seu clamor: “E ouviu Deus o seu gemido, e lembrou-se

Deus da sua aliança com Abraão, com Isaque, e com Jacó; E viu Deus os filhos de Israel, e

atentou Deus para a sua condição” (ÊXODO, cap. 2, vers. 24).

Deus apareceu para Moisés pela primeira vez numa sarça em chamas, no monte

Horebe. E lhe disse: “Eis que os clamores dos israelitas chegaram até mim, e vi a opressão

que lhes fazem os egípcios. Vai, te envio ao faraó para tirar do Egito os israelitas, meu povo”

(ÊXODO, cap. 3, vers. 9-10).

Voltou para o Egito e contatou o faraó, que parecia inabalável na decisão de manter os

hebreus escravos. Mas após ser atingido por dez pragas enviadas diretamente por Deus.

Permitiu que o povo finalmente fosse liberto, e ali começou o Êxodo dos israelitas que

partiram em direção ao deserto. Começava a caminhada para voltar a conquistar a terra de

Canaã. A Bíblia fala em seiscentos mil homens - sem contar as mulheres e crianças, eram

aproximadamente três milhões de pessoas - andando pelo deserto durante 40 anos, em direção

à terra prometida: “Assim partiram os filhos de Israel de Ramessés para Sucote, cerca de

seiscentos mil a pé, somente de homens, sem contar os meninos” (ÊXODO, cap. 12, vers. 37).

Nas quatro décadas da caminhada no deserto Deus falou diretamente com Moisés e

deu todas as leis a serem seguidas por seu "povo eleito" (ÊXODO, cap.20 vers.1-17), os dez

mandamentos, o conjunto de leis sociais e penais, as regras dos alimentos, os direitos sobre

propriedades e etc. Enfim, tudo foi transmitido por Deus a Moisés, que retransmitia cada

palavra ao povo que o seguia. Nascendo assim o Judaísmo.

13

A caminhada foi difícil e longa, porém, Moisés resistiu firme até a entrada de Canaã,

mas ele não pôde entrar, apenas contemplou a terra e em seguida morreu. “Eis a terra que

jurei a Abraão, Isaac e a Jacó dar à tua posteridade. Viste-a com os teus olhos, mas não

entrarás nela e Moisés morreu” (DEUTERONÔMIO, cap. 34, vers. 4 e 5).

Josué tomou a direção do Povo, foram grandes e difíceis batalhas até tomarem posse

por completo de Canaã, a Terra Prometida. Inicialmente o povo era dirigido pelos juízes,

Gideão, Eli, Samuel, etc. Mas o povo desejou ser guiado por reis, então Deus levantou Saul

como primeiro rei. Em seguida, Jerusalém torna-se a capital do reino de Davi. Salomão foi o

terceiro rei, considerado homem muito sábio e abençoado, construiu o Primeiro Templo,

centro nacional e espiritual do povo judeu, em Jerusalém. Algazi (1962) em seu trabalho

Síntese da História Judaica, afirma que depois que o rei Salomão morre, as tribos são

divididas em dois reinos: o reino de Israel (ao norte) com dez tribos e reino de Judá (ao sul)

com duas tribos. Neste cenário de discórdia, as nações vizinhas aproveitaram-se para sua

própria expansão e o povo de Israel perdeu assim o caráter específico que lhe havia

assegurado o rei Salomão. Neste momento de separação, aparece a crença da vinda de um

messias que reuniria o povo de Israel e restauraria o poder de Deus sobre o mundo.

Entre 722 – 720 a.C., o reino de Israel foi destruído pelos assírios e as dez tribos

exiladas, as chamadas “As Dez Tribos Perdidas” (EMBAIXADA DE ISRAEL - BRASIL).

A partir de 586 a.C., o reino de Judá foi conquistado pela Babilônia (2 REIS, cap. 24

vers. 10-12), Jerusalém e o Primeiro Templo foram destruídos e a maioria dos judeus foram

exilados, no que seria a primeira Diáspora (2 REIS, cap. 24 e 25).

No ano 539 a.C., quando o imperador persa Ciro tomou o poder da Babilônia, muitos

hebreus puderam voltar à antiga Palestina. Depois da conquista do império persa pelo

macedônio Alexandre, a antiga Palestina ficou submetida à influência helenística7. No início

do século II a.C. passou do domínio da dinastia ptolomaica, que governava então o Egito, para

os selêucidas da Síria. Estes impuseram a helenização à força, provocando a reação armada

dos hebreus mais conservadores. O país recuperou a independência sob a dinastia dos

macabeus (BARSA, 2001, v. 11, p. 64).

No século I a.C., começou a manifestar-se de modo crescente o intervencionismo

romano. Em 40 a.C., a Palestina foi invadida pelos partos8. Herodes obteve ajuda romana e

7 Forma de civilização grega que, estando já à Grécia em decadência, foi difundida pelo mundo asiático e egípcio por Alexandre Magno e especialmente por seus sucessores. 8 A Pártia, também conhecida como Império Arsácida, foi a potência dominante no Planalto Iraniano a partir do século III a.C., e controlou a Mesopotâmia de maneira intermitente entre 190 a.C. e 224 d.C. A Pártia era o arquiinimigo do Império Romano, ao limitar a expansão deste ao leste além da Capadócia (Anatólia central).

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expulsou os invasores, e passou a ser reconhecido rei da Judéia. Depois de sua morte, o reino

foi dividido entre seus filhos, mas nos primeiros anos da era cristã Roma começou a

administrar diretamente o território (NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, 2001).

Em 63 a.C., a antiga Palestina passou a fazer parte do império romano. Por volta do

século I da era cristã, os judeus da antiga Palestina tentaram libertar-se do domínio romano.

Houve várias revoluções locais. No ano de 66 a.C. a revolta generalizou-se e em 70 a.C. os

romanos conquistaram Jerusalém e destruíram o templo judaico. Os judeus da antiga Palestina

voltaram a revoltar-se em 131 a.C. Após ter acabado com a revolta, em 135, o imperador

Adriano fez de Jerusalém uma colônia romana, Colonia Aelia Capitolina, da qual os judeus

estiveram excluídos durante algum tempo (COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ, 2002).

Uma parcela significante da população foi massacrada e os sobreviventes tiveram que

emigrar, no início da dispersão pelo mundo, ou segunda Diáspora (NOVA ENCICLOPÉDIA

BARSA, 2001).

Com a destruição do templo e o fim da autonomia judaica na Palestina desapareceu a

maioria dos grupos político-religiosos nos quais o judaísmo, sobretudo o judaísmo

palestinense, estava então dividido. Praticamente só ficaram em campo dois grupos: o

farisaísmo e o cristianismo, recém-formado. Os dois grupos se separaram e tiveram evoluções

distintas e independentes, em concorrência e, não raro, em conflito. O farisaísmo deu origem

ao judaísmo rabínico, isto é, o judaísmo atual (COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ, 2002).

Ao abraçar o cristianismo como religião oficial, o estado romano dispensou especial

proteção ao território que a partir de então começou a ser considerado como Terra Santa.

Jerusalém voltou a florescer e transformou-se em importante centro de peregrinação, ao qual

afluíam habitantes de todas as regiões do império. Construíram-se basílicas notáveis e a

cidade foi embelezada pelos imperadores bizantinos, sob cuja jurisdição ficou a Palestina após

a divisão do império, no ano de 395. Houve a invasão dos persas no ano de 611, que três anos

mais tarde tomaram Jerusalém e destruíram todas as igrejas da cidade. E em 628 o imperador

bizantino Heráclio recuperou a Terra Santa (NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, 2001).

Segundo a Comissão de Justiça e Paz (2002), dez anos mais tarde, em 638 toda a

Palestina passou para o domínio arábico-muçulmano. Este exerceu-se através de uma

sucessão de dinastias, de origens, de etnias e com capitais diferentes:

A primeira dessas dinastias, a dos Omíadas (660-750), com a capital em Damasco, foi uma das que mais marcou a Palestina, nomeadamente com a construção do Haram ech-Cherife (o Nobre Santuário/Esplanada das Mesquitas) no lugar que ocupara outrora o templo judaico, tornando Jerusalém a terceira cidade santa do islamismo. Seguiram-se os Abássidas (750-974) e os Fatimidas (975-1071), com as capitais respectivamente em Bagdá e no Cairo. Entre 1072 e 1092 a Palestina esteve

15

sob domínio dos Turcos Seldjúcidas, que então tinham a sede em Bagdá. (COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ, 2002).

Embora não tenha dado origem a uma imigração popular e, por conseguinte, não tenha

mudado a composição étnica e a demografia de maneira considerável, o regime árabe-

muçulmano resultou na arabização9 e a islamização da Palestina. A arabização,

nomeadamente da população cristã de língua aramaica, deu-se muito depressa. Não se pode

dizer o mesmo da islamização. Apesar de o islamismo se apresentar como o acabamento da

tradição bíblica, partilhada pelo cristianismo, pelo judaísmo e pelo samaritanismo, o processo

de islamização da população palestinense10 (cristã, judaica e samaritana) parece ter sido muito

lento. Em 985, após três séculos e meio de regime islâmico, a quantidade de cristãos e judeus

é em maior número em Jerusalém. E essa característica em fins do séc. X valia também para o

conjunto da Palestina e continuou provavelmente a valer durante cerca de mais dois séculos e

meio (COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ, 2002).

Organizada com o intuito declarado de arrancar o túmulo de Cristo das mãos dos

"infiéis", a primeira cruzada terminou, em 1099, com a conquista de Jerusalém e, no ano

seguinte, a criação do Reino Latino de Jerusalém. Este manteve-se até 1187, tendo sido então

conquistado pelo curdo Saladino, o fundador da dinastia ayúbida. Aos Ayúbidas seguiram-se

os Mamelucos, primeiro turcos (1250-1382) e depois circassianos (1382-1516). Os Ayúbidas

e os Mamelucos tiveram a capital no Cairo. Segundo a maioria dos especialistas da questão,

foi durante o período mameluco que teve lugar a grande vaga da islamização popular da

Palestina. Desde então até a segunda metade do século XX, os muçulmanos eram a maioria da

população. Do ponto de vista numérico, o segundo grupo era constituído pelos cristãos,

seguidos pelos grupos dos judeus e dos samaritanos. Em 1517 a Palestina passou para o poder

dos Turcos Otomanos, cuja capital era Istambul (COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ, 2002).

A Palestina permaneceu durante quase três séculos integrada ao império otomano, até

que Napoleão conquistou o Egito, em 1799. Os exércitos franceses apoderaram-se durante

breve tempo da maior parte da Palestina, mas não conseguiram tomar a cidade Acre (atual

Akko), auxiliada pela frota britânica. No início do século XIX, Mohamed Ali, governador do

Egito, se desvinculou com Istambul e , em 1831, com apoio da França, ocupou a Palestina e a

Síria. Nove anos mais tarde o Reino Unido, a Áustria e a Rússia forçaram os egípcios a

devolver a região ao império otomano. O período de domínio egípcio marcou a abertura da

Palestina à influência ocidental. Começaram a instalar-se nos lugares santos comunidades

9 Adoção da língua árabe, da forma árabe dos nomes pessoais e da era da Hégira. 10 Usa-se palestinense em relação com a Palestina antiga.

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religiosas de várias nacionalidades, e o país experimentou um notável desenvolvimento

cultural e econômico. No final do século começaram a chegar à Palestina imigrantes judeus,

apoiados por organizações sionistas internacionais (NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA,

2001).

Nascimento do Sionismo

Massoulié (1994, p. 47) fala que “é no século XIX, num contexto onde aparentemente

triunfam as exigências de justiça e de igualdade para todos os cidadãos, que nasce o ideal

sionista da ‘saída’ da Europa e de reagrupamento dos judeus na Palestina.”

De acordo com Grinberg (2002), o surgimento do sionismo, ou movimento sionista,

que preconiza a volta a Sion - colina de Jerusalém que simboliza a Terra Prometida - na

década de 1890, foi incrivelmente marcado pelo crescente anti-semitismo11 europeu. O

colapso político de integração dos judeus à sociedade européia, colocada em prática em vários

países durante todo o século XIX, ficou evidente quando massacres de comunidades inteiras

de judeus – os chamados pogroms12 – começaram a acontecer na Rússia e quando o judeu

francês Alfred Dreyfus foi acusado de passar informações secretas de seu exército para o

inimigo alemão. Este ocorrido, que provocou inúmeras manifestações anti-semitas na França

e é hoje considerado um dos maiores erros judiciários da história francesa, causou grande

impressão ao jornalista vienense Theodor Herzl, que, também judeu, escreveu o livro O

Estado Judeu, publicado em 1896, e organizou o primeiro congresso sionista na Basiléia no

ano seguinte.

Continuando, Massoulié (1994) expõe que, os pais fundadores13 do movimento

sionista, desencantaram-se com a proposta de assimilação dos judeus aos países onde

residiam. Constatando o fracasso da idéia de emancipação individual, opõem a ela um

contraprojeto de emancipação coletiva.

Primeiramente, e contrária a utopia religiosa acerca a reunião de “Isarel”, o novo

Estado elaborado pelos nacionalistas judaicos não tinham a Palestina como cenário:

11 Anti-semitismo é a ideologia de aversão cultural, étnica e social aos judeus. (Revista Mundo Educação) 12 Pogrom, termo usado para denominar “os massacres de comunidades inteiras de judeus” (GRINBERG, 2002), é um ataque violento maciço a pessoas, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos). 13 Moisés Hess (1812-1875), Leon Pinsker (1821-1891) e Theodor Herzl (1860-1904).

17

Com efeito, o seu principal promotor, Teodoro Herzl, encarou a possibilidade de o criar na Argentina. Falou-se também de Chipre, da África oriental e do Congo. Diga-se de passagem, que a liberdade na escolha do futuro “território nacional” de que deram mostras os nacionalistas judaicos se explicam pelo fato de se viver então na Europa no apogeu do sonho colonialista. Consideravam-se colonizáveis todos os territórios situados fora da Europa. Colonizá-los era tido por uma obra benemérita, pois era “civilizá-los” (COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ, 2002).

Porém, Massoulié (1994) prossegue e explica que, aos ataques anti-semitas contra o

judeu apátrida, eles respondem com a aspiração ao retorno à pátria ancestral, a Palestina. Às

acusações contra o judeu explorador, aviltado pelo exílio e pelas atividades pecuniárias, eles

propõem o ideal de “regeneração” e de “conquista do trabalho” (físico) pelo povo judeu. Essa

dimensão socializante irá afirmar-se nos kibutzim, comunidades coletivistas que formam,

desde 1911, a espinha dorsal da implantação sionista na Palestina.

Mesmo com tudo isso, Grinberg (2002, p. 182) explana que “nessa época e até meados

do século XX, quando o sentimento anti-semita já tinha virado política oficial na Alemanha

nazista a idéia sionista foi desconsiderada pela maioria dos judeus”.

Muitas foram as resistências encontradas pelo projeto sionista entre os judeus, e

muitos os motivos para tal comportamento. Pelo lado árabe, este movimento é visto com

maus olhos, pois era considerado uma nova versão do colonialismo das grandes potências

mundiais (GRINBERG, 2002).

Colonização Palestina

A migração de novos grupos judeus para a Palestina foi estimulada pela repressão

desencadeada na Rússia após o fracasso da revolução de 190514. O sionismo considerava

fundamental o estabelecimento de bases legais para a colonização judaica no país. Durante a

Primeira Guerra Mundial, a Turquia (Domínio Otomano) lutou ao lado da Alemanha e após

sua derrota viu-se privada de todas as suas possessões no mundo árabe. Aproveitando-se

dessa disputa entre turcos e britânicos após a Primeira Guerra Mundial, o centro do

movimento sionista foi para Londres a fim de pressionar o governo britânico a conseguir o

direito de posse da Palestina, até então sob Domínio Otomano.

Em 1917, o secretário de assuntos exteriores do Reino Unido, Arthur James Balfour

atendendo solicitações, enviou uma carta ao Lorde Rothschild. Essa carta ficou conhecida

14 A Revolução Russa de 1905 foi um movimento espontâneo, anti-governamental, que se espalhou por todo o Império Russo, aparentemente sem liderança, direção, controle ou objetivos muito precisos. Geralmente é considerada como o marco inicial das mudanças sociais que culminaram com a Revolução de 1917. (Wikipédia)

18

como Declaração de Balfour e diz que encara favoravelmente, com estima, o estabelecimento

na Palestina de um lar nacional para o povo judeu.

A partir do ano de 1920, após a conquista no campo de batalha, a Liga das Nações

entrega uma grande parte das terras do Oriente Médio para a Grã-Bretanha (Mandato

Britânico), no intuito de facilitar o estabelecimento de uma nação para o povo judeu.

Mapa 1 – Mandato Britânico

Fonte: Revista VEJA. Disponível em: http://veja.abril.com.br:80/historia/israel/infografico-israel.html

Mapa 2 – Divisão administrativa britânica

Fonte: Revista VEJA. Disponível em: http://veja.abril.com.br:80/historia/israel/infografico-israel.html

No entanto, os interesses da Grã-Bretanha além da simpatia de vários dirigentes pelo

ideal sionista e do desejo de encontrar uma solução para o problema dos refugiados da Europa

19

central, eram os de garantir a presença de uma fortaleza estável próximo ao canal de Suez –

cuja importância econômica e estratégica aumentou durante a Primeira Guerra – e de tomar

posição diante da França, que, apoiada em seu papel tradicional de protetora dos cristãos do

Oriente, alimentava ambições sobre a Terra Santa. Havia por fim, a necessidade de ganhar a

simpatia da opinião judaica, em geral pró-germânica – por ódio da Rússia dos pogroms –

neste ano crucial da Primeira Guerra Mundial (MASSOULIÉ, 1994).

Mesmo destacando a necessidade de respeito aos direitos civis e religiosos das

comunidades não-judaicas locais, a Declaração Balfour não mencionava especificamente a

existência da comunidade árabe no local, o que causou grande insatisfação entre os membros

desta (GRINBERG, 2002).

Assim, no que se refere à Palestina, a política britânica acabou sendo extremamente dúbia: numa sucessão de acordos e declarações secretas (eles só seriam tornados públicos alguns anos depois), os ingleses conseguiram se comprometer tanto com Husseini e seus seguidores, quanto com os sionistas, apoiando as pretensões nacionais dos dois, no entanto, sem entrar em detalhes sobre os limites geográficos das futuras nações. (GRINBERG, 2002, p.104).

Entre os dois pontos de vista, o sionista e o árabe, a incompreensão acaba sendo

completa. A nova comunidade judaica se vê como uma “ilha” perdida no meio de um

“oceano” árabe em revolta. Para os árabes, o enclave sionista é visto como um “abcesso”,

uma “mordida” ocidental que faz sangrar o coração do Oriente Médio e impede o progresso.

Com isso, deu-se início a aparição de um anti-semitismo popular, que tomou emprestado ao

Ocidente estereótipos até então ignorados (MASSOULIÉ, 1994).

Rumo ao Estado de Israel

Com o crescente aumento do número de colônias judias, e enquanto outros países da

região ganhavam sua independência formal, os palestinos insatisfeitos e se sentindo lesados

em seus interesses, em 1936, após vários anos de conflitos, árabes e judeus enfrentam-se na

primeira guerra aberta, na Revolta Árabe. No mesmo ano, uma comissão britânica (Comissão

Peel) chefiada por Lorde Robert Peel estudou a situação da Palestina e recomendou a partilha

da região em dois Estados:

A Primeira Guerra Mundial e suas seqüelas reanimaram em todos os árabes a esperança de fazer reviver num mundo árabe livre e unido, sua Idade de Ouro. Da mesma forma, os judeus sentem-se motivados pela grandeza do seu próprio passado. Eles têm pressa de provar ao mundo do que é capaz a nação judaica assim que ela se reinstalar na terra de seus ancestrais. Nestas condições, a assimilação nacional entre judeus e árabes é impossível. (MASSOULIÉ, 1994, p.59 - 60).

20

Mapa 3 – Proposta de partilha da Comissão Peel

Fonte: Revista VEJA. Disponível em: http://veja.abril.com.br:80/historia/israel/infografico-israel.html

Os judeus, vendo uma proposta favorável a eles, já que antes não possuíam terra

alguma, aceitam, mas os árabes rejeitam e renovam seu protesto armado, que foi combatido

pelos britânicos. “Em 1939 publicou-se novo documento oficial (Livro Branco), pelo qual se

faziam concessões aos árabes e limitavam a imigração e a expansão dos judeus” (BARSA,

2001, v. 8, p. 225) para 75 000 pessoas ao longo de cinco anos e depois disso, a retomada do

processo de imigração ficaria sob as condições dos árabes.

Desta vez são os direitos nacionais dos judeus que são desprezados pela potência mandatária... Essa mudança de direção é fruto de um cálculo cínico: com a aproximação da Segunda Guerra Mundial, o Império Britânico não pode afastar de si os países árabes, agitados pela revolta da Palestina e sensíveis à propaganda antibritânica dos nazistas. (MASSOULIÉ, 1994, p. 61)

Segundo Grinberg (2002), foram os judeus que optaram pela via da violência para

rechaçar a decisão britânica, em 1945, mesmo contra a posição da Agência Judaica,

segmentos extremistas minoritários (grupos terroristas15) da comunidade judaica deram início

à luta armada, que resultou, entre outras ações, na explosão da sede do governo inglês, o

Hotel King David em Jerusalém.

Os judeus da Palestina apresentam uma posição difícil e dúbia, por conta da

necessidade de continuar ao lado dos ingleses na disputa européia contra os nazistas, Ben-

Gurion, líder da Agência Judaica, declarou: “Combateremos ao lado da Inglaterra como se o

15 Terrorismo, visto como um método que consiste no uso de violência, física ou psicológica, por indivíduos, ou grupos políticos, contra a ordem estabelecida através de um ataque a um governo ou à população que o legitimou, de modo que os estragos psicológicos e sociais ultrapassem largamente o círculo das vítimas para incluir o resto do território.

21

Livro Branco não existisse, e combateremos o Livro Branco como se a guerra não existisse”.

(MASSOULIÉ, 1994, p. 63)

Porém, esta visão apresentada pelo líder da Agência Judaica não mais seria possível

diante o desfecho da Segunda Guerra e a descoberta do genocídio de judeus16 pelos nazistas.

A pressão pública aumentou em relação à concordância da entrada dos cem mil judeus que

ainda aguardavam, na Europa ou em navios clandestinos, uma solução para o seu destino. Em

1947, a junção de todos esses acontecimentos chegou ao auge, o navio Exodus, que aportou

em Haifa tendo a bordo quatro mil e quinhentos sobreviventes dos campos de extermínio foi

expulso pelas autoridades britânicas e obrigado a voltar para a Alemanha.

Estado Duplo

Em novembro de 1947, já com a situação fora de controle e terminada a Segunda

Guerra, a Inglaterra internacionaliza o problema e o leva à Assembléia Geral das Nações

Unidas, que resolve pelo fim do Mandato Britânico e aprova a partilha da palestina em dois

Estados autônomos e independentes, um judeu e um árabe, sendo que Jerusalém seria

considerada zona internacional.

Mapa 4 – Proposta de partilha da ONU

Fonte: http://br.geocities.com/paz_israel/isrpais.htm

16O Holocausto, morte de milhões de judeus causada pelas idéias hitleristas para a existência de uma raça ariana pura.

22

A proposta é aceita pelos judeus, que receberiam a maior parte do território, mas a

Liga Árabe se opôs à decisão considerando que “seria uma derrota permitir que os judeus

legitimassem sua presença na Palestina” explica Grinberg (2002, p. 108).

Com a data do fim do Mandato Britânico marcada, e com o conhecimento público da

partilha da Palestina, os combates entre judeus e árabes se intensificaram. Enquanto os

ingleses retrocedem cada lado procura reforçar suas posições, prevendo um conflito que

parece inevitável. (MASSOULIÉ, 1994)

Massacres ocorreram dos dois lados, multiplicaram-se as ações terroristas. Até março

de 1948 as lutas favoreceram aos palestinos. Todavia, o provimento de armas às forças

judaicas pelos países ocidentais inverteu a situação. O trabalho de implantação territorial e de

organização comunitária que já vinha sendo realizado pelos pioneiros sionistas fazia 40 anos

surtiu efeito. A conseqüência, foi a derrota dos Estados árabes, que entraram em guerra em 14

de maio de 1948, data do fim do mandato britânico e da proclamação do Estado de Israel

(MASSOULIÉ, 1994)

Tabela 1 - A evolução das proporções demográficas na Palestina 1882 24 mil judeus numa população de 600 000, ou seja, 4%

1914 85 mil judeus numa população de 815 000, ou seja, 10%

1922 84 mil judeus numa população de 836 000, ou seja, 10%

1931 174 mil judeus numa população de 1 207 000, ou seja, 14%

1935 443 mil judeus numa população de 1 843 000, ou seja, 24%

1947 589 341 mil judeus numa população de 1 908 775, ou seja, 30%

15 de maio de 1948 650 341 mil judeus numa população de 2 000 000, ou seja, 33%

Fonte: MASSOULIÉ, François. Os conflitos do Oriente Médio. 3 ed. São Paulo: Ática, 1994, p. 64.

Independência de Israel

Em 14 de maio de 1948, o Museu Nacional de Tel-Aviv foi transformado no cenário

que sediou a cerimônia aguardada simbolicamente pelos hebreus há 1.878 anos, quando a

destruição do Segundo Templo pelos romanos, em 70 d.C., acabou com a soberania dos

judeus em Jerusalém e deu início à segunda diáspora. Em 14 de maio de 1948, a história seria

para eles reescrita: a terra prometida estava voltando às mãos dos judeus, de acordo com

matéria especial da Revista VEJA (1948), intitulada Batismo de Sangue.

Nesta mesma matéria sobre a criação do Estado de Israel da Revista VEJA (1948),

constam dados, e detalhes importantes e curiosos sobre este período da história mundial:

23

Lida por Ben-Gurion e assinada pelos 24 dos 37 membros da assembléia presentes ao histórico evento, a declaração do mais novo país do globo buscou no passado histórico e no presente político as bases morais e legais para sua fundação. O documento notificava que a Terra de Israel era o local de nascimento do povo judeu e que o movimento sionista era testemunho do papel representado pela Palestina em sua história e religião. Dizia também que a declaração de Balfour e a partilha das Nações Unidas, além do sacrifício dos pioneiros sionistas e da tormenta sofrida com o Holocausto, davam aos judeus o direito inalienável de estabelecer seu estado no Oriente Médio.17

De certo, pode-se considerar esse um dos dias mais importantes para o povo judeu, e

ao mesmo tempo, o mais lamentável para o povo árabe-Palestino. O que se via pelas ruas

eram judeus emocionados, cantando, congratulando-se. Mas em meio às comemorações, era

também notório o semblante do líder David Ben-Gurion que não comungava do regozijo de

seus agora, patriotas. Antes de sair do local confidenciou para um de seus auxiliares “Não

sinto alegria dentro de mim. Apenas uma ansiedade profunda, como no último 29 de

novembro [data do anúncio da partilha da ONU, aceita pelos judeus, mas rejeitada pelos

países árabes], em que eu mais parecia um lamentador num banquete." Tal diligente

declaração para Ben-Gurion representava que tudo isso ainda era apenas o começo. E a

história não demorou a prová-la correta (VEJA NA HISTÓRIA, 1948).

A ação do povo judeu em tornar a terra da Palestina, já ocupada por um povo, em terra

judia, sem se preocupar com qual seria o destino desse outro povo gerou descontentamento de

várias partes. Uma dessas demonstrações foi a do professor judeu Martin Buber que disse:

Quando nós, os judeus, retornamos à Terra Santa depois de muitas centenas de anos, agimos como se essa terra estivesse vazia, sem habitantes. Pior ainda: agimos como se o povo que estava ali não nos afetasse, como se não fosse preciso lidar com ele, como se aquele povo não nos enxergasse. Mas eles nos enxergam. Ainda assim, não prestamos atenção a isso. (VEJA NA HISTÓRIA, São Paulo, mai. 1948.)

Nesse clima de descontentamento é que no dia seguinte à declaração de independência

a guerra entre árabes e israelenses alargou-se, tropas da Jordânia, Egito, Síria, Líbano e Iraque

invadiram a Palestina, marcando assim o início da Primeira Guerra Árabe-Israelense.

Contudo, Israel nessa época já apresentava uma grande vantagem sobre os árabes, com

exército mais numeroso, estava mais bem treinado e melhor equipado. Além disso, Israel

tinha o apoio das grandes potências, tais como Estados Unidos e União Soviética, e a simpatia

da opinião pública ocidental. Os combates cessaram, graças à intervenção da Organização das

Nações Unidas (ONU), em novembro de 1949 com os árabes derrotados (COMISSÃO

JUSTIÇA E PAZ, 2002).

Conforme a Comissão Justiça e Paz (2002), entre fevereiro e julho de 1949, os países

árabes - implicados na guerra, com exceção do Iraque – assinaram uma série de armistícios 17 Batismo de sangue. VEJA NA HISTÓRIA, São Paulo, mai. 1948.

24

com Israel, propostos pela ONU, para vigorarem até assinatura dos tratados de paz

definitivos.

Ao fim desta guerra, o território israelense constituía-se em 78% da Palestina, ficando

de fora a cadeia de baixas montanhas do centro e do sul da Palestina, a chamada Cisjordânia ,

assim como a faixa de Gaza – respectivamente, a primeira passa a ser parte da Jordânia, e a

segunda área fica sob domínio egípcio.

Em relação a Jerusalém a situação foi composta da seguinte forma: sob o poder de

Israel ficou a parte oeste da cidade extra-muros, e para os árabes a parte da cidade antiga e o

bairro extra-muros a norte. Posteriormente, indo de contra a resolução da Assembléia Geral da

ONU, que recomendava a internacionalização de Jerusalém, Israel declarou a cidade como

sendo sua capital, porém tal decisão foi ignorada pela comunidade internacional (COMISSÃO

JUSTIÇA E PAZ, 2002).

Toda essa situação gerou conseqüências para os dois lados, e como há dois lados

existem também duas versões do que, posteriormente, aconteceria com a população árabe-

Palestina:

Os principais perdedores desta guerra, portanto, não são os países árabes, que vêem a criação do Estado de Israel como um ‘enclave ocidental’ no Oriente Médio, e sim os palestinos, forçados a se exilar fora do novo território israelense. A questão é controversa: a história oficial israelense defende que os cerca de 750 mil palestinos que deixaram suas terras – metade da população palestina local – o fizeram instigados pelos seus vizinhos árabes, que pretendiam usá-los na luta contra Israel, enquanto que a explicação árabe defende a tese da expulsão pelas forças armadas israelenses (GRINBERG, 2002, p. 109).

Mapa 5 – Após Independência de Israel

Fonte: http://br.geocities.com/paz_israel/isrpais.htm

25

3. PÓS-INDEPENDÊNCIA DE ISRAEL

Situação Palestina

Após combate e derrota, no que seria a Primeira Guerra Árabe-Israelense, e até hoje

objeto de grande polêmica, encontra-se a situação dos palestinos refugiados e de Israel

considerado o maior responsável por tal episódio. Massacres em várias regiões do país foram

cometidos contra a população palestina causando pânico. Em um deles, mais de 100 pessoas

(homens, mulher e crianças) foram mortas, provocando uma fuga de cerca de 100 mil pessoas

da região de Jerusalém. E outros palestinos, que não fugiram por medo, foram expulsos

(COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ, 2002).

A ONU em dezembro de 1948 aprovou a resolução 194:

[...] reconhece aos refugiados palestinianos o direito de regressarem aos seus lares ou de serem indenizados, se assim o preferirem. Apesar de o preâmbulo da resolução que o admitiu na ONU mencionar explicitamente a aplicação desta resolução, Israel recusou-se e continua a recusar-se a aplicá-la. Apressando-se a arrasar as aldeias palestinianas que tinham sido esvaziadas dos seus habitantes (o número habitualmente avançado é de cerca de 500 localidades) e distribuindo as terras aos imigrantes judeus, Israel tornou impossível o regresso de uma boa parte dos refugiados aos seus lares (COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ, 2002).

Segundo Grinberg (2002, p. 109), “em 1950, 957 mil pessoas – cerca da metade da

população palestina – vivia nos campos criados pela UNRWA, sem o direito de retornar às

suas casas, nem de, à exceção da Jordânia, estabelecer residência nos países árabes vizinhos.”

A UNRWA é a agência criada pela ONU em 1949 para tratar dos problemas dos palestinos

refugiados da guerra

Milhares de palestinos árabes foram expulsos de suas casas, de suas terras, por ordem

do então primeiro-ministro, David Ben-Gurion. Ao mesmo tempo em que a Lei do Retorno

(1950) aprovada pelo Parlamento de Israel, concedeu cidadania israelense a todos os judeus

que desejasse imigrar para o novo país, assim como aos 160 mil árabes palestinos que

permaneceram em seus locais de origem. Concluindo, Grinberg (2002, p. 109) afirma que, “é

assim que o momento de fundação do Estado de Israel, solução dos problemas dos refugiados

26

judeus da Segunda Guerra Mundial, está indelevelmente ligado à criação do problema dos

refugiados palestinos que, passados mais de cinqüenta anos, ainda persiste.”

A Guerra de Suez e a expansão econômica de Israel

Em meados da década de 1950, nasceu a liderança política do oficial egípcio Gamal

Abdel Nasser, que revoltado com a situação de corrupção no seu país e a derrota para Israel

tomou o poder do Egito. Nasser tinha uma ideologia vagamente constituída como “socialismo

árabe”, que foi amplamente aceita nos outros países árabes. Ele apoiou-se nos princípios da

necessidade do progresso econômico e do reencontro da dignidade árabe (GRINBERG,

2002).

Na demonstração desses ideais, constituindo-se, segundo Grinberg (2002, p. 111),

“num símbolo popular da unidade e do não-alinhamento às potências estrangeiras”, o Egito

age e materializa esses conceitos na nacionalização da Companhia do Canal de Suez em 1956,

que antes eram de domínio inglês e francês.

O Egito assina uma aliança militar tripartite - entre o Egito, a Síria e a Jordânia -

tornando a ameaça à existência de Israel mais iminente. Em seguida o Egito atacou Israel,

partindo da Faixa de Gaza e os judeus, em reação contrária, também bombardearam a região.

Já na região do Golfo de Ácaba, Israel havia começado a construir um porto em Eilat, porém

os canhões egípcios, colocados na entrada do golfo, impediam a livre circulação dos navios

israelenses. Assim como também se faziam em relação ao Canal de Suez, os egípcios os

bloqueavam em terras egípcias.

Porém, para essa ação houve também uma reação e iniciou-se assim a Guerra de Suez,

também conhecida como Segunda Guerra Árabe-Israelense:

Naquele momento, o líder trabalhista israelense Ben-Gurion já conspirava com o conservador britânico Anthony Eden e o (vejam só) socialista francês Guy Mollet para invadir o Egito. ‘Não devemos permitir que Nasser tape nosso respiradouro com o polegar’, afirmava Anthony Eden, referindo-se ao canal. Em 1956, os três exércitos atacaram, ameaçando chegar até o Cairo. Mas o avanço foi detido por uma das raras ações diplomáticas conjuntas entre soviéticos e norte-americanos. Nasser foi derrotado no campo de batalha mas saiu da Guerra de Suez como herói do pan-africanismo e da unidade árabe (BRENER, 1993, p. 36 ).

Finda a Guerra, a situação econômica israelense só melhorava. Já nessa época, o

Estado de Israel tinha tido o auxílio do governo dos Estados Unidos, através dos empréstimos

de bancos americanos, da contribuição dos judeus da 2ª Diáspora e das reparações alemãs que

foram empregados na construção de moradias, na mecanização da agricultura, no

estabelecimento da marinha mercante e da linha aérea nacional, no desenvolvimento

27

industrial e na expansão de rodovias, telecomunicações e rede elétrica. E a vitória no campo

de batalha permitiu a Israel abrir o porto de Eilat, que se expandiu rapidamente como centro

de comércio entre Israel e países da África e da Ásia. Foi construído um oleoduto, para o

transporte do petróleo importado de Eilat até uma refinaria em Haifa. E no ano de 1964, Israel

começou a canalizar água do mar da Galiléia e de alguns rios para desenvolver lavouras em

Neguev.

A Criação da Organização pela Libertação da Palestina e a Guerra dos Seis Dias

Em 1964, os países árabes criaram a Organização pela Libertação da Palestina (OLP)

numa estratégia dos países árabes, que como Brener (1993, p. 50) afirma, estavam “dispostos

a usar a questão palestina como instrumento de sua unidade e da luta contra Israel, mas sem

permitir autonomia política aos palestinos.” A organização, que ficou sob controle do Egito e

de forças ligadas aos exércitos árabes vizinhos de Israel, tinha o objetivo de criar o Estado da

Palestina em todo território, aplicando assim o desaparecimento do Estado de Israel. Nesse

pensamento, os árabes de diversas formas provocaram e agiram contra o Estado judeu de

maneira que, mais uma vez, incita outra guerra.

Em 1967 a força aérea israelense atacou os campos de aviação do Egito, Síria e

Jordânia e praticamente destruiu toda a força aérea dos árabes. Depois derrotaram os exércitos

árabes. Em poucos dias, ocuparam toda a península do Sinai, a Cisjordânia, as colinas do

Golã (então pertencentes à Síria) e, principalmente, anexaram Jerusalém, no conflito-

relâmpago que ficou conhecido como Guerra dos Seis Dias (GRINBERG, 2002).

Depois do término dessa Guerra curta, os territórios árabes controlados pelos

israelenses quase que quadruplicam. E essa vitória esmagadora sobre a coalizão árabe (OLP)

fez com que os palestinos perdessem as ilusões diante de seus primos, segundo Brener (1993).

Esse controle, agora sobre um maior número de palestinos, fez com que o sentimento de

identidade palestina se fortalecesse.

28

Mapa 6 – Pós-Guerra dos Seis Dias

Fonte: http://br.geocities.com/paz_israel/isrpais.htm

Esta guerra muda, definitivamente, o equilíbrio de forças no Oriente Médio, deixando

claro que Israel era o país militarmente mais poderoso, aumentando seus atrativos para os

Estados Unidos.

Grinberg (2002, p. 113) afirma, que “divididos entre a possibilidade de retaliação e

solução dos problemas pela via política, os países árabes aceitaram a Resolução 242 da

ONU”.

Resolução no. 242 da ONU, 22 de novembro de 1967:

O Conselho de Segurança, Expressando sua preocupação permanente com a grave situação no Oriente Médio, enfatizando a inadmissibilidade da aquisição de território pela guerra e a necessidade de trabalhar por uma paz justa e duradoura na qual cada Estado na região possa viver em segurança, Enfatizando, ademais, que todos os Estados Membros em sua aceitação da Carta das Nações Unidas assumiram um compromisso de agir de acordo com o Artigo 2 da carta, 1. Afirma que a efetivação dos princípios da Carta requer o estabelecimento de uma paz justa e duradoura no Oriente Médio que inclua a aplicação dos dois seguintes princípios: I. Evacuação das forças armadas israelenses dos territórios ocupados no conflito recente; II. Encerramento de todas as reivindicações ou estados de beligerância e respeito pelo reconhecimento da soberania, integridade territorial e independência política de cada Estado da região e de seu direito a viver em paz dentro das fronteiras seguras e reconhecidas, livres de ameaças ou de atos de força; 2. Afirma ainda a necessidade de: a. Garantia de liberdade de navegação através das áreas internacionais; b. Conseguir um acordo justo para o problema dos refugiados;

29

c. Garantir a inviolabilidade territorial e independência política de cada Estado da região, através de medidas que incluam a criação de zonas desmilitarizadas; 3. Pede que o Secretário- Geral indique um representante especial para ir ao Oriente Médio para estabelecer e manter contatos com os Estados envolvidos a fim de promover um acordo e os apoiar visando à obtenção de um acordo de paz aceitável, de acordo com as normas e princípios desta resolução; 4. Pede que o Secretário- Geral apresente um relatório ao Conselho de Segurança sobre o progresso dos esforços do Representante Especial, logo que seja possível. (http://www.libanoshow.com/home/oriente_medio/onu.htm#242)

A grande derrota na Guerra dos Seis Dias foi decisiva para a mudança na liderança da

OLP que seguiu para o comando de um dos líderes do Movimento de Libertação Nacional da

Palestina (Al Fatah), Yasser Arafat, em 1969.

As tensões entre a OLP e a Jordânia culminaram em sangrentos enfrentamentos no

território jordaniano. A OLP mudou sua base da Jordânia para o Líbano. Novos ataques

contra o Estado judeu voltaram a acontecer depois da mudança do controle da OLP

transformando-a em uma organização de combate, intensificando as ações basicamente

terroristas por grupos de palestinos – ataques nas comunidades israelenses, seqüestros de

aviões comerciais, atentado contra os atletas israelenses nos Jogos Olímpicos de Munique e

outras ações – para chamar atenção mundial sobre a causa palestina e para exigir libertação de

prisioneiros palestinos. Esse episódio de ação palestina ficou conhecido como Setembro

Negro.

E ao passo que as coisas aconteciam, Israel dava sua resposta:

Israel reagia imediatamente a cada ataque, investindo contra supostas bases de guerrilha em outros países. A tática não era nova. Tratava-se de golpear as bases civis de apoio da guerrilha, para colocá-las contra os rebeldes. Ninguém gosta de acordar com um obus zumbindo pela sala de sua casa, certo? Em 1953, a unidade especial 101 das Forças Armadas israelenses invadiu a aldeia jordaniana de Kibieh, matando 15 pessoas. O comandante da unidade era Ariel Sharon (lembra-se?), o mesmo que estaria à frente da invasão do Líbano, quase duas décadas depois (BRENER, 1993, p.51).

O fracasso da resolução 242 da ONU, a recusa israelense de devolver os territórios

ocupados - incentivada pela consciência de sua superioridade militar - e o fracasso das

propostas de paz de Anuar el Sadat, então presidente do Egito, acabaram por provocar um

ataque conjunto do Egito e da Síria contra Israel, que ficou conhecido como a Guerra do Yom

Kippur.

30

A Guerra do Yom Kippur e os acordos de Camp David

As retaliações do Estado judeu e a crescente do terrorismo precipitaram mais um

confronto direto com Israel. Com o intuito de recuperar as terras perdidas na Guerra dos Seis

Dias, além de responder aos bombardeios israelenses na Síria e no Líbano em busca das bases

militares da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), os árabes vizinhos,

inicialmente a Síria e o Egito, atacaram às posições israelenses no Sinai e nas Colinas de

Golã, em 6 de outubro, dia em que os judeus comemoram o Yom Kippur - Dia do Perdão, em

que os judeus ficam em jejum - feriado religioso, de 1973.

Os sírios, ajudados por tropas jordanianas e iraquianas, avançaram ao norte em direção

a Golã, enquanto as forças egípcias invadiram pelo sudoeste, a partir do Canal de Suez.

Obrigando os israelenses a abandonarem suas linhas de defesa em Bar-Lev e os campos

petrolíferos de Balayim, ocupando toda a área do canal, de Port Said a Suez. Porém o contra-

ataque de Israel obrigou o recuo de sírios e egípcios. Damasco foi bombardeada e os

blindados israelenses obrigaram as forças sírias a retornarem até as linhas demarcadas pela

Guerra dos Seis Dias. No Sinai, cerca de 200 tanques e 10 mil soldados de Israel cruzaram o

canal, destruindo instalações de artilharia e bases de lançamento egípcias na margem oeste.

Pressões diplomáticas dos EUA e da URSS impediram o massacre das forças egípcias

cercadas no canal. Em 24 de outubro foi assinado o cessar-fogo, que não provocou alterações

territoriais nas posições vigentes ao final da Guerra dos Seis Dias graças a acordos assinados

entre Israel e Síria, em 1974, e entre israelenses e egípcios, em 1975 (ENCICLÓPEDIA

BRASILEIRA, 2001).

A guerra durou poucos dias e chega ao fim sob a intervenção das potências mundiais,

que se utilizaram de um provisório acordo de paz. E como Grinberg (2002, p. 114 - 115)

coloca:

Sem vitórias espetaculares de nenhuma parte, esta guerra veio consolidar o poderio militar israelense, o apoio dos Estados Unidos ao Estado de Israel, mas ao mesmo tempo representou um baque no mito de invencibilidade de Israel: pegos de surpresa, eles necessitaram do apoio americano para enfrentar o ataque de árabes, e suas perdas humanas foram tais que abalaram a autoconfiança israelense. Ao mesmo tempo, essa foi a primeira guerra em que os países árabes usaram o petróleo como arma política: ameaçando reduzir a produção enquanto Israel continuasse ocupando terras árabes, a tática teve sucesso, ainda mais porque, exatamente nessa época, um aumento nas necessidades dos países industriais tornava a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) mais poderosa, tanto que, em fins de 1973, aumentaram em 300% o preço do produto.

Em contrapartida, a estratégia de usar o petróleo como arma política também gerou a

“intervenção americana, que foi feita para salvaguardar seus próprios interesses, passou a ser

31

permanente, aumentado inclusive a dependência dos países árabes em relação a este país”

(GRINBERG, 2002, p. 115).

Continuando, Grinberg (2002) expõe que esta situação foi a que fez com que os

Estados Unidos tomassem o lugar de mediadores no conflito, com o objetivo de formular uma

política conjunta com a URSS, para solução dos conflitos do Oriente Médio. Conflitos esses

que depois de anos de confrontos e discórdias, não somente pertenceria aos palestinos e

israelenses, mas sim aos árabes e judeus.

Seguindo os acontecimentos, pequenos passos em busca de uma paz foram dados. O

sucessor do oficial Gamal Abdel Nasser, Anuar Sadat decidiu tomar uma atitude radical e

procurou obter a paz a qualquer preço, dando uma chance ao Egito de sair da miséria e do

subdesenvolvimento. Nessa espetacular reviravolta nas alianças tradicionais, iniciou-se a

expulsão dos conselheiros militares egípcios e então, houve a união com os americanos,

acreditando no rompimento da lógica da guerra fria e facilitando um acordo sob as promessas

da principal potência mundial (MASSOULIÉ, 1993).

No entanto, essa tentativa não foi de todo bem-sucedida, a paz entre Egito e Israel

acabou sendo feita sob as promessas do presidente americano Jimmy Carter, através dos

históricos acordos de Camp David (1978), que constava “além da formalização da paz, os

israelenses se retirariam do Sinai e seriam iniciadas negociações nos próximos cinco anos

para discutir a concessão de autonomia às colônias de Gaza e da Cisjordânia, onde vivia a

maioria dos palestinos” (GRINBERG, 2002, p. 115). Mas, a iniciativa do oficial egípcio não

foi bem recebida pelo mundo árabe e da OLP, apoiados pela URSS. Os acordos foram

assinados na intenção de uma paz, mas os palestinos dos territórios ocupados nem sequer

foram consultados, e a Síria e a Líbia o considerou uma traição, condenando assim o Egito ao

ostracismo, excluindo-o da Liga Árabe:

A partir de então, o mundo árabe se veria genericamente dividido entre aqueles países chamados ‘pró-Ocidente’, cuja política aceitava a ingerência americana e a negociação com Israel, como o Egito, e os outros, que tentavam manter uma política independente, caracterizada por relações em diferentes níveis com a URSS, como a Síria, o Iraque e a Líbia (GRINBERG, 2002, p. 115).

Os acordos de Camp David, nesse sentido, foram considerados uma nova

oportunidade em relação à paz perdida. Na década de 80, com o enfraquecimento da URSS na

cena internacional o jogo muda e outros fatores passaram a influenciar a arena política do

Oriente Médio criando novos focos de conflitos, dos quais se destacam com o passar dessa

década além do impasse entre Israel e palestinos, os problemas no Golfo Pérsico – com a

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revolução islâmica -, a Guerra Irã-Iraque e a invasão do Kuwait pelo Iraque e a Guerra do

Golfo.

Toda essa situação fez também com que em 1987 o Egito, apesar de ainda vinculado

aos acordos de Camp David, fosse reintegrado à Liga Árabe. Contudo, o mais significativo é

que a partir desse tempo, não é mais Israel, mas sim o petróleo e o islamismo o motor

principal dos conflitos do Oriente Médio (MASSOULIÉ, 1993).

A questão da paz no Oriente Médio passa a estar diretamente ligada a questão da

palestina, ou melhor dizendo, a solução para os árabes apátridas que tanto lutam por um lugar.

E por conta da crise da URSS, os Estados Unidos despontam como o único mediador possível

na garantia de uma estabilidade.

Primeira Intifada

Intifada, segundo Brener (1993), quer dizer “sobressalto” em árabe. A primeira

Intifada aconteceu em 1987 quando milhares de jovens saíram às ruas para protestar contra a

ocupação israelense, considerada ilegal pela ONU, na Cisjordânia e em Gaza.

Agora o inimigo não eram mais exércitos e/ou terroristas armados com metralhadoras

e coquetéis molotov, eram mulheres e crianças lutando com paus e pedras contra soldados

israelenses. A imagem vista nesse momento pela comunidade internacional era a de crianças e

mulheres indefesas lutando contra homens fortes e bem armados:

Israel revelou-se totalmente despreparado para a rebelião. Seus soldados, acostumados a enfrentar tropas árabes regulares ou terroristas, viram-se disparando para todos os lados. Até 1992, mais de dois mil palestinos haviam sido mortos na intifada, 20 mil foram feridos e nada menos que 120 mil presos, pelas mais distintas razões (BRENER, 1993, p. 57).

Mais do que rapidamente, grupos extremistas islâmicos que queriam a destruição de

Israel a qualquer custo e não reconheciam a liderança da OLP, começaram a participar dos

ataques. Espantado com a probabilidade de perder de vez o comando da população palestina,

após tantos fracassos, “Arafat usa a intifada como instrumentos de propaganda, angariando a

simpatia mundial aos revoltosos” (GRINBERG, 2002, p. 120).

Essa revolta popular, porém, mostra que o caminho não era mais a guerrilha, muito

menos o terrorismo. E essa nova situação beneficiou a linha diplomática, que Arafat vinha

adotando, progressivamente, desde 1974, quando aceitou um Estado Palestino apenas em

Gaza e na Cisjordânia e não no conjunto de Israel,e chegou a visitar a ONU, onde declarou:

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“Não deixem que o ramo de oliveira, o símbolo da paz, caia das minhas mãos” (BRENER,

1993, p. 59).

Na reunião do Conselho Nacional Palestino de 1988, Arafat praticamente esquece as

ações de guerrilha, embora criticado, ao mesmo tempo que reconhecia implicitamente o

Estado de Israel e enfatiza a necessidade próxima de criação do Estado Palestino, sinalizando

um espaço para negociações de paz com o velho inimigo.

Israel, no entanto, se apresenta contra essas negociações, chefiado pelo então primeiro-

ministro Itzhak Shamir, que continuava não admitindo negociar com os “terroristas”

(BRENER, 1993), quando até ao americanos já o faziam abertamente.

Anos seguiram-se de tentativas infrutíferas de conversas, mediadas pelos Estados

Unidos. A primeira intifada, até mesmo pela força da repressão israelense esvaziou-se.

Acordos de paz de Oslo

As conversações para chegar a uma solução foram iniciadas pelo governo norueguês

que estava neutro com o conflito. Estes foram acordos complexos e de grande importância

quanto ao futuro da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.

Em 13 de setembro de 1993, após vários meses de negociações secretas mediadas pelo

então presidente Bill Clinton, em Oslo (Noruega), Yitzhak Rabin (primeiro-ministro de Israel)

e Yasser Arafat (presidente da OLP) – protagonistas da tão famosa foto onde se davam as

mãos como símbolo da paz - se reconhecem reciprocamente e firmam uma Declaração de

Princípios onde se comprometiam a unir esforços para a realização da paz entre os dois povos,

proclamando “a autonomia palestina sobre a Faixa de Gaza e partes da Cisjordânia, com a

retirada do exército de Israel e a substituição por uma polícia palestina.” (GRINBERG, 2002)

As questões consideradas mais difíceis como a situação dos refugiados, os assentamentos

judaicos, o futuro de Jerusalém, que poderiam provocar o fracasso prematuro do diálogo,

foram deixadas para o final (FOLHA ONLINE, 2007).

Princípios dos Acordos de Paz de Oslo:

A retirada das forças armadas israelense da Faixa de Gaza e Cisjordânia, assim como o direito dos palestinos ao auto-governo nas zonas governadas pela Autoridade palestina. O governo palestino duraria cinco anos de manera interina, durante os quais o status seria renegociado (a partir de maio de 1996). As questões sobre Jerusalén, refugiados, assentamentos, segurança e fronteiras. O auto-governo seria divido em Áreas:

• Área A - controle total pela Autoridade palestina.

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• Área B - controle civil pela Autoridade palestina e controle militar pelo Exército de Israel.

• Área C - controle total pelo Governo de Israel. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_de_Paz_de_Oslo)

Essa autonomia palestina, aos poucos, englobaria outras áreas, o que levou a formação

da Autoridade Nacional Palestina (ANP)18 em 1994. Pelo acordo, a ANP deveria durar até

maio de 1999. No final desse tempo, o status final dos territórios da faixa de Gaza e da

Cisjordânia, ocupados por Israel desde a Guerra dos Seis Dias (1967), já deveria estar

resolvido (FOLHA ONLINE, 2007).

A ANP foi formada sob o comando de Yasser Arafat, o qual se torna dirigente de um

Estado isolado e desagregado territorialmente, onde grande parte da população sofre por não

ter quase com o que se alimentar e vivem em guetos cercados por colonos e militares

israelenses. A então formada ANP inicia então uma repressão ao povo palestino, incluindo

assassinatos, torturas e perseguições de todos os opositores dos processos de paz. De líder

guerrilheiro na luta pela autodeterminação da Palestina, Arafat tornou-se o chefe de uma

máquina estatal corrupta, perseguido e ameaçado de morte pelo terrorismo sionista e

questionado por uma parcela de seu próprio povo descontente com sua nova linha de

pensamento.

Acordou-se, também, que o período interino teria duração limitada a cinco anos e que nada que ameaçasse o resultado das negociações seria levado a cabo e a decisão final não contradiria as resoluções 242 e 338 da ONU, que reafirmam que nenhum território pode ser adquirido pelo uso da força. Isto, se cumprido, levaria segundo os negociadores, finalmente à paz na região. (LAMAS, 2004, p. 3)

Os acordos que seguiram este primeiro passo, assinados entre 1993 e 1999, ficaram

conhecidos como os Acordos de Oslo.

18 A Autoridade Nacional Palestina (ANP) é uma organização concebida para ser um governo de transição até o estabelecimento do Estado palestino independente.

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Mapa 7 – Situação proposta pós-Acordos de Paz de Oslo

Fonte: http://br.geocities.com/paz_israel/isrpais.htm

O fracasso dos acordos de paz de Oslo

A situação de paz não obteve o efeito esperado. A repressão aos grupos

fundamentalistas palestinas aconteceu, mas não da maneira efetiva que se esperava, e com

isso os “militantes” palestinos continuavam com os ataques contra civis israelenses. Enquanto

que Israel postergava suas retiradas militares e continuava a exercer um certo “controle”

contra os palestinos.

Visto que nenhuma das partes cumpriu com o acordado, vários artigos dos acordos

foram violados. Os princípios e termos dos acordos eram excessivamente amplos e ambíguos,

de forma que palestinos e israelenses os interpretaram de maneiras distintas o estabelecido.

“Assim, ao final dos cinco anos, não só as retiradas militares israelenses foram muito

limitadas – ou, segundo Barreñada (2002), houve uma realocação das forças de ocupação –

como também nenhuma das questões cruciais havia sido resolvida” (LAMAS, 2004, p. 3).

O crescimento da violência parecia não ter limites, uma amostra disso foi o assassinato

do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, por um fundamentalista religioso judeu que alegava que

Rabin estava impedindo a continuação do processo messiânico, ao fim de uma manifestação

de paz em Tel-Aviv.

Em 1996 Binyamin Netanyahu assume o governo israelense, e este fato só complicou

mais um processo que já era alvo de forte oposição interna nas duas populações, pois uma das

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promessas defendidas por ele era a de frear todas as negociações possíveis com os palestinos

(GRINBERG, 2002).

Tenho certeza de que (se Rabin ainda estivesse vivo) tudo teria sido diferente", opina Abu Libdeh. “Ele se movimentou numa direção que era visionária para o Estado de Israel, baseada na idéia de fazer algumas concessões, tendo em vista os direitos dos palestinos.” (BBC BRASIL,12 set. 2003)

Tal posição radical fez com que os Estados Unidos interferissem e pressionassem o

novo governo israelense, obrigando-o a fazer concessões, que resultaram nos acordos de Wye,

em 1998. O documento determina a forma de uma segunda retirada militar israelense da

Cisjordânia e a libertação, por parte de Israel, de 750 prisioneiros palestinos. Como

conseqüência Israel passa aos palestinos a autoridade civil sobre 21% da Cisjordânia, de

acordo com a primeira fase do acordo de Wye Plantation (TERRA NOTÍCIAS - MUNDO).

Seguindo uma cronologia a partir desses acontecimentos, israelenses e palestinos

concluem um acordo de princípios sobre o calendário da retirada militar israelense da

Cisjordânia. A primeira etapa, que ficou estabelecida em 7% de retirada, foi marcada para

começar em setembro de 1998 e a saída dos 4% restantes agendada para estar concluída no

meio de janeiro de 1999. Em 5 de setembro de 1999, Ehud Barak (primeiro-ministro de Israel

na época) e Yasser Arafat assinam em Sharm el-Sheij (Egito) uma versão renegociada dos

acordos de Wye Plantation. Em 10 de setembro de 1999 o Estado judeu efetua uma retirada da

Cisjordânia de 7% do território. Em 8 de novembro de 1999 começam as negociações israelo-

palestinas sobre o estatuto final da Cisjordânia, que foram oficialmente estipuladas em 13 de

setembro. Em 20 de dezembro de 1999, negociadores israelenses e palestinos retomam

discussões sobre o estatuto final em relação à Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Em 25 de junho

de 2000, Arafat declara em um discurso na Cisjordânia que um estado palestino será

proclamado “em algumas semanas”. Em 03 de julho de 2000, o Conselho Central da OLP

(CCOLP), reunido em Gaza, decide que os palestinos proclamarão um Estado Independente

em 13 de setembro. Clinton, em julho de 2000, lança a cúpula de paz em Camp David

(EUA), da qual participam o presidente palestino Arafat e o primeiro-ministro de Israel, Ehud

Barak (TERA NOTÍCIAS – MUNDO).

A proposta final foi rejeitada pela Autoridade Palestina, sob o argumento de que negava viabilidade e independência ao Estado Palestino, ao dividir o território em quatro cantões totalmente separados e rodeados por território israelense (o que lhes permitiria controle) e porque negava o controle palestino sobre suas fronteiras, espaço aéreo e recursos hídricos, enquanto legitimava e expandia as colônias israelenses em território palestino. Ademais, legitimava e forçava a aceitação, pelos palestinos, da ocupação de Jerusalém – apesar de Ehud Barak ter aceitado a discussão posterior do status de Jerusalém, uma oferta tão insólita que talvez lhe tenha custado o posto de primeiro-ministro. Além disso, o acordo proposto não vislumbrava a questão dos refugiados (a criação do Estado de Israel, em 1948, e a

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Guerra dos Seis Dias, em 1967, produziram uma onda de refugiados): Israel não se opõe à volta dos refugiados, desde que se instalem na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia; os palestinos exigem que os refugiados tenham direito a retornar inclusive para o território israelense, se assim quiserem, o que Israel não aceita, tendo em vista que os refugiados são cerca de 4 milhões e Israel tem, no total, 6 milhões de habitantes, sendo 1 milhão destes árabes-israelenses (LAMAS, 2004, p. 3 - 4).

Em setembro, durante a Cúpula da ONU, em Nova York, Arafat e Barak têm reuniões

em separado com o presidente dos Estados Unidos na tentativa de vencer esse impasse, porém

não foi possível se chegar a um acordo (TERRA NOTÍCIAS – MUNDO).

Tabela 2 – Antes e depois de Oslo Aspectos

considerados Antes de Israel

Oslo Palestina

Depois de Israel

Oslo Palestina

Fronteiras Não definidas Ameaçadas o tempo todo pelo confisco de terras e assentamentos de colônias

Ajustadas por meio de anexação

Reduzidas na medida da expansão de Israel

Segurança Reforçada Inexistente Reforçada Sujeita às necessidades de Israel

Exportações Plenas Inexistentes Plenas Controladas, dependendo da benevolência de Israel

Importações Plenas Somente produtos israelenses

Irrestritas De acordo com cotas previamente aprovadas por Israel e passando pelos portos israelenses

Nível de renda Padrões europeus Padrões de países de 3º mundo

Padrões europeus Padrões de países de 3º mundo

Educação Acessível Acesso restrito Acessível Algumas restrições

Condições para investimento

Atraentes Inexistentes, território sob ocupação

Muito atraentes Ainda pendente, nenhuma estabilidade política. Israel ainda controla totalmente o acesso e a entrada no território palestino

Locomoção Totalmente livre Controlada Totalmente livre Restrita mediante aprovação dos israelenses

Fonte: DUPAS, G.; VIGEVANI, T. (Org). Israel-Palestina: a construção da paz vista de uma perspectiva. global. São Paulo: Unesp, 2002, p. 91-92.

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Segunda Intifada

Em setembro de 2000 inicia-se a Segunda Intifada, também conhecida como a intifada

de Al-Aqsa - que representa a resistência palestina contra as forças de ocupação sionistas na

Faixa de Gaza e na Cisjordânia - após Ariel Sharon ter caminhado nas redondezas da

mesquita de Al-Aqsa, considerada sagrada pelos muçulmanos e parte do Monte do Templo,

área sagrada também para os judeus.

Nessa data, as ruas de Jerusalém foram tomadas por milhares de soldados israelitas e

um estado de sítio foi instalado em volta da mesquita Muçulmana al-Aqsa (a terceira mais

sagrada mesquita islâmica). O Estado de Israel proibiu nessa altura a entrada de qualquer

muçulmano à mesquita e os cidadãos de Jerusalém não foram informados sobre o que estava

acontecendo. O bloqueio à mesquita foi conduzido pelo general Ariel Sharon. O mesmo

Sharon, que dirigira anteriormente atos de extrema violência e covardia contra soldados

egípcios desarmados e civis (entre eles mulheres e crianças). E que em 2001 foi eleito

primeiro-ministro do Estado de Israel, iniciando uma constante de assassinatos dos líderes da

OLP.

Frente à resistência palestina, e a superioridade organizacional e militar de Israel, a

situação em que a “nação palestina” está submetida e os efeitos dessa opressão são os piores,

sendo considerado esse o mais sangrento e cruel dos enfrentamentos entre israelenses e

palestinos. São milhares de vítimas entre os dois povos - sem distinção de sexo, idade ou raça

-, outros milhares de pessoas estão detidos, inclusive crianças. Os castigos coletivos, dos

quais outros tantos sofrem incluem a destruição de suas casas (com as mais variadas

explicações para tais atos), postos de controle situados em diversos locais, bloqueios físicos

de rota, restrição ou proibição total da passagem de palestinos em algumas ruas e a construção

do muro da segregação, tudo baseado na justificativa do impedimento e/ou diminuição dos

ataques palestinos – violando os direitos humanos de ir e vir da população palestina - segundo

consta no relatório da organização de direitos humanos de B’Tselem. Acrescentando-se que as

impunidades, dos dois lados, são incontáveis.

A medida da construção do muro teve reações mais fortes além do qual pelo que foi

levantado, que refletiu na economia local. Pois como Lamas (2004) mesmo colocou, na

medida em que fechou o mercado israelense para os árabes, os impactos que o conflito gerou

foram potencializados, tanto para palestinos quanto para israelenses.

Realmente essa Intifada foi e é a mais longa e mais desastrosa, em todos os sentidos,

para ambos os lados. A crise chegou a tal ponto que o líder Arafat foi impedido de sair de seu

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quartel-general, em Ramalá, na Cisjordânia, em dezembro de 2001. Segundo Sharon, tal

medida se deu com o aumento da violência dos ataques palestinos contra israelenses.

Arafat tentou cumprir as determinações de Israel. Centenas de militantes de

organizações terroristas palestinas foram presos nos territórios controlados pela ANP. Ao

mesmo tempo, Sharon anunciava que as medidas não eram suficientes e que Arafat e seus

aliados continuavam fomentando a violência contra seu país. Nem mesmo a pressão

internacional para a libertação do líder palestino foi eficaz. Arafat continua preso em sua casa,

que é bombardeada sistematicamente pelo exército israelense. O cerco se apertou quando, em

março de 2002, Israel invadiu Ramalá (TERRA – NOTÍCIAS).

O Conselho de Segurança das Nações Unidas, no dia 30 de março 2002, adotou uma

resolução que pede a retirada das tropas israelenses da cidade de Ramalá e solicita um cessar-

fogo na região.

Texto da resolução 1402 da ONU: O Conselho de Segurança, Reafirmando suas resoluções 242 de 22 de novembro de 1967, 338 de 22 de outubro de 1973, 1397 de 12 de março de 2002 e os princípios de Madri, "Expressando suas graves preocupações ante o novo agravamento da situação (no oriente Médio), incluídos os recentes ataques suicidas com bomba em Israel e o ataque militar contra o quartel-general do presidente da Autoridade Palestina (Yasser Arafat, sexta-feira). 1 - Exige que as duas partes se comprometam imediatamente com um cessar-fogo construtivo; pede a retirada das tropas israelenses das cidades palestinas, incluindo Ramalah; pede às parte que cooperem plenamente com o general (e emissário norte-americano na região, Anthony Zinni, e outros, para por em prática o plano Tenet de segurança, primeiro passo para a aplicação das recomendações do informe Mitchell que tem como finalidade a retomada das negociações para uma solução política; 2 - Reitera seu pedido formulado na resolução 1397 (2002) exigindo o fim imediato de todos os atos de violência, incluindo todos os atos de terror, provocação, incitação e destruição. 3 - Expressa seu apoio aos esforços do secretário-geral (da ONU, Kofi Annan) e de seus enviados especiais ao Oriente Médio para ajudar as partes a acabar com a violência e retomar o processo de paz. 4 - Decide permanecer interado da questão. (http://noticias.uol.com.br/inter/afp/2002/03/30/ult34u38321.jhtm)

Estados Unidos, União Européia, Rússia e ONU, em 2003, apresentaram um plano de

paz intitulado Mapa da Paz (Road Map for peace), em que se prevê a criação de um Estado

Palestino independente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, ao lado de Israel. Em resumo,

sugere que em troca de um estado soberano a ANP deve fazer reformas democráticas,

abandonar e combater o terrorismo. Israel, da sua parte, deve aceitar e apoiar a emergência de

um governo palestino reformado e encerrar a presença colonial em Gaza e na Cisjordânia,

quando estiver eliminada a atividade terrorista de origem palestina. E o fim permanente ao

conflito com um acordo final sobre as fronteiras, o status de Jerusalém e o futuro dos

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refugiados e assentamentos israelenses, que deveria acontecer até 2005. Os Estados árabes

também devem firmar acordos de paz com Israel.

Em seu trabalho, Lamas (2004, p. 4 - 5) fala do que sucedeu no pós-Mapa da Paz:

Tanto Ariel Sharon como Yasser Arafat aceitaram o acordo proposto. Contudo, o Mapa da Paz continua inefetivo: Israel exige que a violência palestina seja controlada antes que comece a implementar sua parte do acordo; os palestinos afirmam que é impossível reduzir os níveis de violência se as cidades continuam tomadas e os israelenses continuam suas incursões. Recentemente, Israel decidiu desocupar a Faixa de Gaza, mas ainda assim, não havia qualquer possibilidade de negociações de paz, enquanto os protagonistas fossem Ariel Sharon e Yasser Arafat, haja vista a pessoalidade do trato entre os dois.

As ações sem sucesso da ANP geraram uma desilusão aos palestinos e com a morte do

líder Arafat (2004) a opinião pública palestina foi liberada da lealdade ao movimento dele. O

Hamas, com Mahmud Abbas., uma organização política palestina que luta contra a existência

do Estado de Israel e que também é vista por alguns como uma organização terrorista, venceu

as eleições da ANP em 2005, colocando a prova a situação do descontento popular dos

palestinos (SMITH, 2008).

As ações militares e terroristas continuam de ambos os lados sem sinal de uma

solução, em 2005, Israel destrói assentamento palestinos na Faixa de Gaza, e os palestinos

continuam seus ataques indiscriminados e o mundo acompanha uma sucessão de

acontecimentos catastróficos que põe a perder milhares de vidas.

A este ponto, politicamente, Israel também estava dividido. O afastamento entre os

partidários e os opositores do acordo de 1993 com a OLP foi grande, intenso e marcado pela

agressividade. À medida que avançava a Segunda Intifada, muitos israelenses passaram a ver

os habitantes dos assentamentos não mais como heróis, mas como parte do problema. Mesmo

entre os mais determinados defensores da ocupação da Cisjordânia e de Gaza cresceu o

reconhecimento de que teria de haver ao menos uma retirada parcial, entre eles o próprio

Sharon. Para que fosse possível abraçar essa escolha, Sharon precisou sair do Likud (partido

político) e formar outro partido, o Kadima (SMITH, 2008).

Como propôs Sharon, Israel retira suas tropas da Faixa de Gaza com a Lei de

Implementação do Plano de Evacuação, adotada pelo governo e decretada em agosto de 2005,

que previa remover toda a presença permanente israelita da Faixa de Gaza e de quatro

colônias no norte da Cisjordânia. Essa ação do governo israelita não é bem aceito por uma

parcela da população, principalmente pela direita nacionalista e religiosa, tendo até ações

violentas de resistência entre os colonos contra o exército israelita.

Apontando essa nova fase, em um artigo publicado em fevereiro de 2005, intitulado

“Mais uma chance para a paz...” o jornalista Diogo Schelp diz:

41

O encontro da semana passada entre o primeiro-ministro de Israel e o presidente da Autoridade Palestina representa a oportunidade de retomada das negociações num ambiente melhor, em vários aspectos, que o existente anteriormente. Há três mudanças principais, todas auspiciosas. A primeira é a morte de Yasser Arafat, que abriu caminho para que Abbas, um pragmático que se declara abertamente contra os ataques a Israel, assumisse a liderança palestina. A segunda é a conversão de Sharon, antes um hipernacionalista que se opunha ao recuo de um só centímetro nos territórios ocupados em 1967 e hoje disposto a evacuar tropas e colonos da Faixa de Gaza e de parte da Cisjordânia. A terceira novidade é a percepção crescente entre a população palestina de que, em lugar de ajudar, a intifada dificulta a criação de um Estado palestino. De concreto, a reunião produziu uma promessa de cessar-fogo. Se a trégua prevalecer, significará o fim da intifada e uma perspectiva de vida quase normal para israelenses e palestinos.

Mas como ao falar desse conflito, boas intenções e apertos de mãos não representam

muita coisa, era preciso esperar e ver o que realmente na prática seria feito. Se haveria mais

uma decepção ou enfim o povo veria uma trégua, uma paz tão desejada.

No entanto, com a chegada do Hamas ao poder em uma eleição livre e democrática

(contra o Al Fatah) decorrida em Janeiro de 2006 para o parlamento Palestino, conquistando

74 das 132 cadeiras do parlamento, o partido político-religioso agora não precisa, portanto,

formar coligações. Com isso a situação do conflito israelo-palestino alterou-se, pois um dos

itens da carta de fundação do Hamas é a libertação total da Palestina, incluindo a eliminação

do Estado de Israel.

No mesmo artigo publicado em fevereiro de 2005, Diogo Schelp explica um pouco

mais essa situação:

Para Sharon, que tem controle sobre as ações de um exército disciplinado, é mais fácil cumprir a promessa. Abbas não pode falar pelos grupos terroristas, como o Hamas e a Jihad Islâmica, e ainda precisa reconstruir seu aparato de segurança, arruinado pelas retaliações israelenses. Novos ataques terroristas, seguidos de expedições punitivas de Israel, podem muito bem remeter o aperto de mão da última semana para a galeria dos encontros fracassados. Foi o que se viu na década passada. A decepção entre os palestinos, frustrados pela falta de melhorias em sua vida nos anos pós-Oslo, gerou a intifada. Os israelenses, que se animaram com a possibilidade de paz, viram nos homens-bomba que explodiam dentro de seus ônibus e restaurantes a confirmação de que Arafat não era digno de confiança. Ainda que não se possa duvidar da sinceridade de Sharon e Abbas, a experiência dos acordos de Oslo mostra os riscos de um processo em que as decisões que realmente importam são deixadas para o futuro indeterminado.

Em 2006, Ariel Sharon sofre um derrame cerebral e é substituído em janeiro de 2006

por Ehud Olmert, membro, também, do partido centrista Kadima. Olmert, que se opôs

inicialmente a qualquer retirada das terras ocupadas na Guerra dos Seis Dias, e que votou

contra os Acordos de Paz de Camp David em 1978, apoiou a retirada de Gaza. Diz que votou

contra Menachem Begin (ex-primeiro-ministro de Israel) após a sua nomeação:

Eu disse-lhe que era um erro histórico, quão perigoso seria, e assim por diante. Agora lamento que ele não esteja vivo para que eu possa reconhecer publicamente

42

sua sabedoria e meu erro. Ele estava certo e eu estava errado. Graças a Deus que nos retiramos do Sinai. (WIKIPÉDIA)

No seu discurso de vitória Olmert defendeu seu plano para redefinir as fronteiras do

país, e disse que iriam estabelecer as bordas do Estado de Israel, um Estado judeu com uma

maioria judia. Ele já disse que seu plano para redefinir as fronteiras, onde prevê a anexação do

território palestino de forma definitiva, pode ser implementado unilateralmente, mas no seu

discurso assegurou que tentará obter um “acordo com os palestinos” e que está disposto a

firmar um compromisso, desistir de parte da amada terra israelense e evacuar (FOLHA

ONLINE, 2006.)

Passam-se os anos e a Segunda Intifada ainda permanece, agora num estado mais

morno onde não há efetivamente uma guerra, mas também não há uma paz. Os dois lados

continuam com suas divergências e reivindicações, mas nenhuma posição concreta. Muitas

são as ações teóricas, ou seja, muito se é dito para se chegar a uma paz definitiva, porém o

que é posto em prática se mostra de maneira contrária. Afinal, para duas nações que se

indispõem a abrir mão, ou serem flexíveis quanto a algumas questões, o sucesso de tais

intenções pacíficas ainda é muito distante.

43

4. AS RELAÇÕES NO ORIENTE MÉDIO NOS ANOS 2006-2008

Os planos e desejos de que haja uma trégua no Oriente Médio é um desejo de muitas

nações ao redor do mundo, e a cada dia que passa mais se comprova que essa disputa deixou

de ser apenas entre israelenses e palestinos, a abrangência desse conflito atingiu patamares

impensados, a região transformou-se numa área dividida não tanto entre israelenses e árabes,

mas entre aqueles - não importando a identidade nacional ou religiosa - que acreditam em

tolerância e coexistência, e aqueles que rejeitam a legitimidade de qualquer ideologia ou

interesse a não ser seu próprio e preferem recorrer à violência indiscriminada para avançar em

sua causa, a tal ponto que uma luta entre povos com diferenças em quase tudo passasse a ser

uma luta interna entre cada um dos povos, em que árabes disputam contra árabes e judeus

contra judeus.

Neste contexto, estamos testemunhando esforços intensificados por forças radicais, como o Irã, Hezbolá e o Hamas, de aumentar seu poder político e militar. Estas forças estão ativamente procurando transformar disputas que por sua própria natureza são políticas e passíveis de resolução, em conflitos religiosos irreconciliáveis não acessíveis à negociação ou compromisso. Pensa-se às vezes que o conflito israelense-árabe é a causa deste extremismo. Mas é bem mais correto dizer que é a falta de um confronto apropriado e a superação destas forças extremistas que têm mantido este conflito. Esta divisão entre forças moderadas e extremistas se manifesta em todo o Oriente Médio. Há exigência de um esforço combinado e sofisticado, usando todas as ferramentas a sua disposição, para autorizar aqueles comprometidos com um Oriente Médio estável, seguro e pacífico enquanto desautorizam e desligitimizam aqueles com uma agenda radical fundamentalista (EMBAIXADA DE ISRAEL - BRASIL).

Tomando como centro para tal conflito o Estado de Israel e a Palestina (ver quadro 1),

essa corrida desmedida pelo poder, além das desastrosas e lamentáveis conseqüências para a

população local, também gera um interesse de muitos outros países. Os Estados Unidos, há

tempos “investem” nessa situação, proporcionando encontros e conversas com os líderes

políticos de cada país envolvido. Não se sabe ao certo qual o real interesse dessa nação em

manter tais relações, mas as especulações são muitas, afinal, as riquezas e os perigos,

militares e terroristas, desses países são diversos. E dizer que a finalidade somente de que haja

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a paz é o que rege tais ações é pedir muito para uma população cansada e calejada com tantas

interferências e boas intenções vinda da mais poderosa nação mundial.

Tabela 3 – Dados atuais sobre Israel e a Palestina ESTADO DE ISRAEL AUTORIDADE NACIONAL PALESTINA

Capital: Jerusalém Capital: Ramallah Língua oficial: hebraico e árabe Língua oficial: árabe Governo: República parlamentarista, com o partido político Kadima no atual governo.

Governo: Conselho Legislativo (Parlamento) composto por 132 membros, eleito por sufrágio universal. E conta com um primeiro-ministro, designado pelo presidente da ANP.

- Presidente: Shimon Peres - Primeiro-ministro: Ehud Olmert

- Presidente: Mahmoud Abbas - Primeiro-ministro: Salam Fayyad

População (estimativa de 2008): 7.282.000 habitantes

População (estimativa de 2005): 3.702.212 habitantes

PIB (estimativa de 2007) - Total US$232,7 bilhões - Per capita US$33.299

PIB (estimativa de 2005) - Total US$ 4 bilhões - Per capita US$ 950 a 1.100

IDH (2007) 0,932 IDH (2007) 0,731 Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Israel; http://pt.wikipedia.org/wiki/Autoridade_Nacional_Palestiniana;

http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2006/02/27/ult1808u59952.jhtm

É certo que, entre muitos países, existe um consenso sobre como deva terminar tais

conflitos. Os Estados Unidos, a União Européia e os países árabes concordam que a solução é

a criação de um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com fronteiras próximas

às existentes antes de 1967, e ao lado de Israel. Mas complicado mesmo será fazer com que os

instigadores da guerra estejam de acordo sobre os detalhes da divisão, que é complexa pela

pequena extensão do território em disputa, pela falta de separação natural entre as duas

populações e, sobretudo, pelas birras nacionalistas de parte a parte (REVISTA VEJA, 2005).

Smith (2008) aponta quatro fatores que normalmente levam ao fracasso os processos

de paz: a falta de sinceridade dos negociadores, a decepção com promessas não realizadas, a

fragmentação interna de um ou ambos os lados do conflito e, por último, a persistência das

causas que levaram ao confronto armado.

Com tantas divergências, é claro que se faz necessária a presença de um mediador

imparcial, alguém que dê voz forte, equilibrado em observar os questionamentos e chegar a

uma conclusão sensata. Mas quem? Nessa linha, os EUA têm se colocado como o candidato

mais forte, porém as ações terroristas por parte dos árabes no 11 de setembro e a infindável

Guerra do Iraque mostram que a imparcialidade está muito longe de ser uma característica do

governo americano. Comprovado por diversas razões, inclusive pela declaração, durante o 60º

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aniversário da independência de Israel em maio deste ano, do presidente George W. Bush que

afirmou que os EUA continuam sendo “o melhor amigo de Israel no mundo”. No último

parágrafo do seu discurso, nessa mesma comemoração, Bush conclui dizendo:

Nas últimas seis décadas, o povo judeu estabeleceu um Estado que faria aquele rabino humilde se orgulhar. Vocês levantaram uma sociedade moderna na terra prometida, uma luz para as nações que preserva o legado de Abraão, Isaac e Jacó. E vocês construíram uma democracia que durará para sempre e que poderá sempre contar com os Estados Unidos da América ao seu lado. Deus abençoe. (FOLHA ONLINE, 14 mai. 2008).

O povo grita por paz, os militantes terroristas continuam com suas causas, pessoas

morrem quase todos os dias por parte das ações terroristas ou por falta de condições

adequadas de vida. E assim segue o conflito, com suas causas e conseqüências sem uma data

certa de fim. O Estado de Israel fazendo suas declarações e imperando como um dono único,

controlador e a Palestina disputando pelo seu “pequeno” espaço tanto territorial como social.

Mapa 8 – Palestina (2005)

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2005/eleicaopalestina/a_regiao.shtml

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A Posição israelense sobre as atividades terroristas na Faixa de Gaza (2008):

As Forças de Defesa de Israel (F.D.I.), realizaram uma operação para abortar um plano do Hamas de seqüestrar soldados usando um túnel da Faixa de Gaza para dentro do território israelense. As F.D.I. interditaram um ataque semelhante aquele em que Gilad Shalilt foi seqüestrado há dois anos e meio. A operação recente das F.D.I. foi limitada à um parâmetro de segurança definido com precisão, e, após sua conclusão, as forças de Israel deixaram a Faixa de Gaza. Israel vê com gravidade a política do Hamas de continuar a planejar ataques terroristas contra Israel enquanto mantém um pretenso estado de calma. Israel culpa o Hamas por todo o terrorismo proveniente da Faixa de Gaza e continuará a tomar ações determinadas para se defender como também a seus cidadãos de qualquer ataque terrorista. As ações do Hamas constituem uma clara violação dos acordos obtidos com o Egito concernentes ao estado de calma e visam minar o processo de negociação entre Israel e a Autoridade Palestina. Independente da tentativa do Hamas de escavar um túnel para dentro de Israel para tentar seqüestrar um soldado, Israel tem interesse em preservar e manter o estado de calma. Os ataques de foguetes e morteiros às comunidades israelenses ao oeste do Negev, constituem uma latente violação da calma por parte do Hamas e representam uma continuação de sua política de terrorismo contra civis inocentes. (http://brasilia.mfa.gov.il/mfm/web/main/missionhome.asp?MissionID=8&)

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5. A POSIÇÃO DO BRASIL

O Brasil, em linhas gerais, apresenta a mesma posição esboçada em 1947 em relação

ao conflito Israel – Palestina. Essa posição teve seu início a partir do momento em que o país,

assim como a comunidade internacional, foi chamado a se manifestar formalmente acerca

dessa questão, e não tem um cunho de autonomia coerente com as necessidades de longo

prazo do Brasil, pelo contrário, as razões do posicionamento brasileiro foram fortemente

condicionadas pela posição dos EUA, da Igreja e pelas relações com seu parceiro mais forte

no MERCOSUL19, a Argentina. Essa decisão, referente à partilha da Palestina de 1947, tem a

atuação direta do brasileiro Oswaldo Aranha, que foi o presidente da 49ª Sessão da 2ª

Assembléia-Geral da ONU, na qual foi tomada tal decisão (VIGEVANI, T.; CINTRA, R.;

KLEINAS, A., 2002).

O autor João Vicente Pimentel em seu artigo O padrão de votação brasileiro na ONU e

a questão do Oriente Médio (2002, p. 288) faz a seguinte formulação:

Aranha empenhou-se para facilitar a obtenção de um consenso e desobstruir o ardiloso curso dos trabalhos, contribuindo para aprovar um plano que ele sabia imperfeito, mas que não deixava de atender aos interesses ocidentais e brasileiros. O desempenho do estadista assegurou ao Brasil um papel essencial na adoção da Resolução n. 181. O texto estabelecia um regime territorial internacional para Jerusalém, um corpus separatum, fundamentado na singular dimensão espiritual e universal da cidade.

A posição do Brasil, ainda segundo Pimentel, baseava-se na lógica dos

constrangimentos, não sendo a melhor solução na opinião do governo e Ministério das

Relações Exteriores. Inicialmente, o Brasil acreditava na possibilidade de uma solução

federativa.

Nos anos seguintes, a posição brasileira era baseada na tentativa de preservação do

princípio da defesa dos direitos de todos os Estados da região, porém não deixava de

apresentar também indecisões e ambigüidades. Durante a Guerra de Suez, o ponto de vista

19O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é um bloco econômico entre Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela.

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brasileiro defendeu o princípio da livre navegação dos navios de todos os Estados

(VIGEVANI, T.; CINTRA, R.; KLEINAS, A., 2002).

Na reunião dos embaixadores brasileiros no Oriente Próximo, realizada em Roma em

1965, as posições do Brasil se mostram as mesmas de antes, mesmo com as mudanças

políticas em 1964:

Recomenda a Reunião que continue a diplomacia brasileira a manter, em face do conflito árabe-israelense, a posição realista, imparcial e equânime já constante de instruções específicas da Secretaria de Estado e que é a de ver no estado de Israel uma realidade do cenário internacional, com a qual, posto que ela existe, sente-se o Brasil perfeitamente livre para conduzir relações bilatérias e legítimas, mas ressalva sendo feita de que o reconhecimento da realidade estatal de Israel não implica endosso total ao status quo vigente na Palestina. (Ministério das Relações Exteriores, Circular n. 6.102,1966) (VIGEVANI, T.; CINTRA, R.; KLEINAS, A., 2002, p. 38)

O que vemos até agora ainda é uma situação onde o Brasil se deixa levar por

influências externas, não apresenta um posicionamento relevante em relação ao Oriente

Médio e ao conflito Israel – Palestina, nem mesmo a formulação de princípios próprios para

as operações de paz, que na década de 1990 e no início da década de 2000, passam a ser um

tema central nas relações internacionais.

Pimentel, também em seu artigo, ao se referir as décadas de 50 e 60 conta que o Brasil

beneficiou as resoluções que defendiam a solução de situações de conflito e o provimento de

assistência aos palestinos, uma posição tal que tomou forma definitiva com a Resolução 242

da ONU (1967), e tal resolução é usada até hoje como meio normativo central nas

negociações entre israelenses e árabes.

O Brasil, até a Guerra do Yom Kippur (1973), apresentava uma posição que buscava

uma saída negociada e capaz de comportar as vontades das partes em litígio, tendo como

premissa formal a justiça e a paz, a serem conseguidos através de negociações no seio da

comunidade internacional (VIGEVANI, T.; CINTRA, R.; KLEINAS, A., 2002)

A crise do petróleo, a evolução do diálogo Norte-Sul e da Guerra Fria, bem como a percepção do governo Geisel quanto aos interesses desenvolvimentistas do país vão conduzir a diplomacia brasileira a se aproximar, nos foros internacionais, da maioria dos países em desenvolvimento. Data de 1975 a controvertida resolução n. 3.379, que considerava o sionismo como forma de discriminação racial, e que foi aprovada na Assembléia Geral com o voto favorável do Brasil. (PIMENTEL, 2002, p. 289).

Inicia-se agora uma mudança na orientação diplomática brasileira, afinal o peso da

questão do petróleo faz com que o país reveja seu lugar, tornando a questão palestina um tema

concreto da política internacional, já que os países árabes são detentores de uma grande

parcela da produção petrolífera mundial. E essa crise fez com as importações brasileiras de

petróleo aumentassem significativamente, enquanto que em 1972 as importações de tal

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produto correspondiam a 9,6% do total de importações feita pelo país, em 1983 esse

percentual sobe para 53,01%, alcançando seu auge. No entanto, tal reposicionamento não

significou uma ruptura plena com a tradição anterior. “Para a diplomacia brasileira, a

orientação que deriva do pragmatismo responsável não alteraria totalmente o princípio do

reconhecimento do direito de Israel, apenas tornaria mais viável o apoio aos direitos

palestinos” (VIGEVANI, T.; CINTRA, R.; KLEINAS, A., 2002, p. 40).

Num resumo de seus argumentos, Pimentel (2002) sinaliza alguns pontos que

considera o norteamento do posicionamento brasileiro:

Uma análise serena do padrão de votação do Brasil nas Nações Unidas desde 1947 sobre as questões do Oriente Médio revela um consistente pragmatismo em defesa dos interesses brasileiros, que são condicionados por elementos da realidade, tais como: a) a relevância político-diplomática da região no contexto internacional, e particular, para um país como o Brasil, que busca adequar sua inserção e visibilidade aos seus objetivos permanentes e imediatos; b) os meios disponíveis para uma atuação conseqüente; c) a presença no Brasil de expressivas e influentes comunidades árabes e judaicas; d) a manifesta preferência das lideranças dessas comunidades por um encaminhamento pacífico das pendências do Oriente Médio, uma vez que a paz providenciaria o cenário adequado à intensificação do intercâmbio, seja no âmbito familiar, seja no econômico-comercial; e) a importância estratégico-econômica do Golfo Árabe/Pérsico, região onde se concentra cerca de metade das reservas mundiais de petróleo, e o fato de os países do golfo, tradicionais fornecedores de petróleo ao Brasil, constituírem importante mercado consumidor/reexportador, além de serem investidores internacionais. (PIMENTEL, 2002, p. 287 – 288).

Tabelas 4 e 5 – Relação comercial com o Brasil

COMÉRCIO COM OS PAÍSES ÁRABES

EXPORTAÇÕES (1999) US$ 1.544.149.000 – 3,22% do total

IMPORTAÇÕES (1999) US$ 2.880.476.000 – 5,16% do total

*Com porcentagem significativa nas importações de petróleo.

*As importações referem-se sobretudo a produtos químicos e as exportações a manufaturados de baixo valor

agregado (fios de cobre), produtos agrícolas e derivados. Fonte: Secex, 2000.

Contudo, o que podemos concluir acerca do posicionamento do Brasil é o fato de que

ele poderia participar de forma mais intensa de movimentos que buscam o direcionamento da

solução desse conflito entre Israel e Palestina, na tentativa de cooperar nessa relação de

maneira mais equilibrada e imparcial possível. No entanto, o Brasil além de defender

princípios, também quer defender seu próprio ponto de vista da ordem internacional desejável

no século XXI (VIGEVANI, T.; CINTRA, R.; KLEINAS, A., 2002).

COMÉRCIO COM ISRAEL

EXPORTAÇÕES (1999) US$ 66.116.947 – 1,38% do total

IMPORTAÇÕES (1999) US$ 214.758.756 – 3,85% do total

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6. METODOLOGIA

Do ponto de vista da sua natureza, a pesquisa realizada nesse trabalho se caracteriza

como aplicada, que objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de

problemas específicos. Tem uma abordagem qualitativa de pesquisa, onde não requer o uso de

métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o

pesquisador é o instrumento- chave.

Segundo Gil (1991), uma pesquisa, tendo em vista seus objetivos, pode ser classificada

da seguinte forma: pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e pesquisa explicativa. Este

estudo é de nível exploratório, tendo como objetivo proporcionar maior familiaridade com o

problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Com a utilização dos

procedimentos técnicos caracterizados como pesquisa documental e bibliográfica, que é

desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros,

jornais, revistas e artigos científicos e atualmente com material disponibilizado na Internet. E

estudo de caso, o que consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de

maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento. Caracterizado por ser um estudo

intensivo. É levada em consideração, principalmente, a compreensão, como um todo, do

assunto investigado. Todos os aspectos do caso são investigados. Quando o estudo é intensivo

podem até aparecer relações que de outra forma não seriam descobertas.

Faz-se o uso do método dedutivo (DESCARTES, 1969), partindo de teorias e leis mais

gerais para a ocorrência de fenômenos particulares. E por fim, utiliza-se do método de

procedimento histórico, que parte do princípio de que as atuais formas de vida e de agir na

vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado, por isso é importante

pesquisar suas raízes para compreender sua natureza e função.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As relações conflituosas entre Israel e Palestina, que se tornou em maior abrangência

entre árabes e judeus, continuam a ocupar espaço no cenário internacional como uma das

principais questões do Oriente Médio. Uma situação que dura há tantos anos que mais parece

sem solução. Muitos, para não dizer a maioria, dos cidadãos residentes nesta área de conflito

nunca conheceram ou viveram outras coisas que não sejam guerras, ataques militares e

terroristas.

Sabemos que são duas “sociedades” com fundamentações totalmente distintas e se

detestam mutuamente. Defender um dos lados apontando um culpado não é a intenção deste

trabalho, mas a resposta para uma pergunta dá a noção do que poderia ser desse conflito para

as gerações futuras.

É possível uma paz no Oriente Médio? Há sim algumas possibilidades de solução.

Mas outra pergunta permeia essa possível solução, que é, será que os países e os políticos

locais dessa região que lucram com tal conflito se interessam por esta paz?

Essa disputa, que antes considerada de trato político-geográfica, onde duas nações

disputavam por um pedaço de terra, para alguns passou a ser de trato religioso e racial. E é

nesse ponto que precisa haver a separação, pois quem, normalmente, considera tal conflito de

tal cunho se afundou em princípios fundamentalistas radicais que exercem seu ponto de vista

das maneiras mais cruéis e insensatas. Porque caso essa linha de pensamento seja seguida, a

única solução que resta é a mais desumana e inaceitável, ou seja, para a existência de uma

população a outra precisaria ser exilada ou aniquilada pela outra população.

Por outro lado, para uma solução mais viável e adequada, se tem o meio-termo entre

uma e outra população, onde não há vitórias e nem derrotas, e sim o aceite da criação de dois

Estados independentes, solução já antes apresentada e aceita tanto por Israel quanto pela OLP,

que é até hoje discutida, mas que se faz impossível até o momento devido ações do Hamas,

grupo extremista islâmico com princípios anti-semitas, que governa a faixa de Gaza e é

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abertamente militante pela destruição do Estado de Israel - assim como Hizbollah no Líbano e

o governo iraniano, entre outros.

Assim, para que tal desfecho aconteça se faz necessário que ambas as lideranças

acreditem na proposta e inspirem confiança mútua, recuperando sua força e papel político

frente um povo tão desejoso de paz, ao mesmo tempo em que neutralizem as ações dos grupos

fanáticos em ambos os lados. Talvez esse seja um plano fantasioso, porém também possível,

mas se faz muito distante do que essas sociedades apresentam atualmente.

Nesse caso, é evidenciado que o desejo de um povo apenas não basta, já que alguns

outros países, que ditam uma intenção pura de “paz definitiva”, criaram elos políticos e

econômicos que os beneficiam e possam ver nessa trégua tão sonhada uma decrescente em

seu poder, fazendo com que o sacrifício de uns se torne o possível ganho de outros.

Portanto, esse trabalho dá as ferramentas que possibilitam um entendimento para tal

conflito, mostrando a importância dessas sociedades tão subjugadas nas relações

internacionais, apresentando dados de relevância sobre as linhas de pensamento de ambos

lados, e dando teorias de possíveis soluções, as quais se fazem muito necessárias a prática

para um povo que só sabe o que é viver em guerras e lutas, mas que, talvez, não tenham ainda

seu anseio realizado por ações de interesse encoberto por fachadas de “amigos”.

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ANEXOS

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ANEXO 1 - DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL

A terra de Israel é o local de origem do povo judeu. Aqui a sua identidade espiritual, política e religiosa foi moldada. Aqui eles primeiro atingiram a formação de um estado, criaram valores culturais de significância nacional e universal e deram ao mundo o eterno Livro dos Livros. Depois de serem forçosamente exilados de sua terra, o povo conservou consigo sua fé durante sua Dispersão e nunca deixou de rezar e sonhar com o retorno para sua terra e com a restauração, lá, de sua liberdade política.

Impelidos por sua ligação histórica e de tradições, judeus lutaram geração após geração para se reestabelecerem em sua antiga terra natal. Nas décadas recentes, eles voltaram em massa. Pioneiros, desafiadores refugiados e defensores, eles fizeram desertos florescerem, reavivaram a língua hebraica, construíram vilarejos e pequenas cidades, criaram uma próspera comunidade que controla a sua própria economia e cultura, adorando a paz mas sabendo como se defender, trazendo as bênçãos de progresso para todos os habitantes do país e aspirando a um estado independente.

No ano 5657 (1897), nas conferências do pai espiritual do Estado Judeu, Theodore Herzl, o Primeiro Congresso Sionista delineou e proclamou o direito de o povo judeu fazer renascer o seu próprio país.

Este direito foi reconhecido na Declaração Balfour de 2 de novembro de 1917 e reafirmado no Mandato da Liga das Nações que, em particular, deu sanção internacional para a conexão histórica entre o povo judeu e Eretz-Israel e o direito de o povo judeu reconstruir o seu Lar Nacional.

A catástrofe que recentemente caiu sobre o povo judeu - o massacre de milhões de judeus na Europa - foi outra demonstração clara da urgência de resolver o problema da falta de um lar através do reestabelecimento em Eretz-Israel do Estado Judeu, que abriria bem os portões da terra natal para todo judeu e conferiria ao povo judeu o status de membro privilegiado na comudidade de nações.

Sobreviventes do holocausto nazista na Europa, assim como os judeus do resto do mundo, continuaram a migrar para Eretz-Israel, apesar das dificuldades, restrições e perigos e nunca deixaram de assegurar o seu direito a uma vida de dignidade, liberdade e trabalho honesto em seu lar nacional.

Na Segunda Guerra Mundial, a comunidade judaica deste país contribuiu por completo com as nações que amam a paz e a liberdade contra as forças da tirania nazista e, com o sangue de seus soldados e seus esforços de guerra, ganhou o direito de ser reconhecida entre os povos que fundaram as Nações Unidas.

No dia 29 de novembro de 1947, a Assembéia Geral das Nações Unidas aprovou a resolução do estabelecimento de um Estado Judeu em Eretz-Israel; a Assembéia Geral requereu aos habitantes de Eretz-Israel tomarem as medidas necessárias para a implementação desta resolução. Este reconhecimento das Nações Unidas pelo direito de o povo judeu estabelecer o seu Estado é irrevogável.

Este é o direito natural de o povo judeu ser mestre de seu próprio destino, como todas as outras nações, em seu próprio Estado soberano.

De acordo, nós, membros do Conselho do Povo, representantes da Comunidade Judaica de Eretz-Israel e do Movimento Sionista, estamos aqui reunidos no dia de término do Mandato Britânico sobre Eretz-Israel e, por virtude de nossos direitos naturais e históricos e pela força da resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas, aqui declaramos o estabelecimento do estado judeu em Eretz-Israel, a ser conhecido como Estado de Israel.

Declaramos que, vigorando a partir do término do Mandato a esta noite, véspera de Shabbath, 6 de Iyar de 5708 (15 de maio de 1948), até o estabelecimento das autoridades eleitas, regulares do Estado em acordo com a Constituição que será adotada pela Assembléia

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Constituinte Eleita no mais tardar em 1o. de outubro de 1948, o Conselho do Povo atuará como Conselho Provisório do Estado, e seu órgão executivo, a Administração do Povo, será o Governo Provisório do Estado Judeu, a ser chamado "Israel."

O Estado de Israel será aberto para imigração judaica e para a o recebimento de exilados; patrocinará o desenvolvimento do país para o benefício de todos os seus habitantes; será baseado na liberdade, justiça e paz como imaginado pelos profetas de Israel; garantirá liberdade de religião, consciência, língua, educação e cultura; respeitará os lugares sagrados de todas as religiões; e será fiel aos princípios da Ata das Nações Unidas.

O Estado de Israel está preparado para cooperar com agências e representantes das Nações Unidas a implementar a resolução da Assembléia Geral de 29 de novembro de 1947 e tomará as medidas necessárias para trazer a unidade econômica de toda Eretz-Israel.

Nós fazemos um apelo às Nações Unidas para assistir o povo judeu a construir o seu Estado e para receber o Estado de Israel na comunidade das nações.

Nós fazemos um apelo - em meio ao duro ataque lançado contra nós há meses - aos habitantes árabes do Estado de Israel para manter a paz e participar da construção do Estado na base de igual e completa cidadania e através de representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes.

Nós estendemos nossa mão a todos os estados vizinhos e seus povos numa oferta de paz e boa vizinhança, e apelamos a eles para o estabelecimento de laços de cooperação e ajuda mútua com o soberano povo judeu, estabelecido em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para fazer a sua parte em um esforço comum para o desenvolvimento de todo o Oriente Médio.

Nós apelamos ao povo judeu em toda a Diáspora para ajudar os judeus de Eretz-Israel nas tarefas de imigração e construção e de os apoiarem na grande luta de realização do antigo sonho - a redenção de Israel.

Colocando nossa confiança no Misericordioso, nós afixamos nossas assinaturas a esta proclamação nesta sessão do Conselho de Estado, no solo da Terra Natal, na cidade de Tel-Aviv, nesta véspera de Shabbath, em 5 de Iyar de 5708 (14 de maio de 1948).

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ANEXO 2 - DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS SOBRE A AUTORIDADE DO GOVERNO INTERINO

Assinado em 13 de setembro de 1993 O governo do Estado de Israel e a delegação da Organização para a Libertação da Palestina (na delegação jordaniano- palestina para a Conferência de Paz no Oriente Médio), representando o povo palestino, concordam que é época de pôr fim a décadas de confronto e conflito, reconhecem sua legitimidade e direitos políticos mútuos e lutam para viver em coexistência pacífica e dignidade mútua e segurança para conseguir um acordo de paz amplo, justo e duradouro e sua reconciliação histórica através de um processo político negociado. Desta forma, as duas partes concordam com os seguintes princípios:

• Artigo I: Meta das negociações A meta das negociações israelense-palestinas dentro do processo atual de paz do Oriente Médio é, entre outras coisas, criar uma Autoridade de Autogoverno Interino Palestino, o conselho eleito para o povo palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, por um período de transição não superior a cinco anos, que leve a um acordo permanente baseado nas Resoluções 242 e 338 do Conselho de Segurança da ONU. Fica entendido que as medidas interinas são uma parte integrante de todo o processo de paz e que as negociações sobre o status permanente conduzirão à implementação das Resoluções 242 e 337 do Conselho de Segurança.

• Artigo II: Estrutura para o período interino A estrutura acordada para o período interino é apresentada nesta Declaração de Princípios.

• Artigo III: Eleições 1. A fim de que o povo palestino da Cisjordânia e Faixa de Gaza possa se governar de acordo com princípios democráticos, eleições livres, diretas e gerais, serão realizadas para o Conselho, sob supervisão e observação internacional acordadas, enquanto a polícia palestina garantirá a ordem pública. 2. Será concluído um acordo sobre o modo e as condições exatas das eleições, de acordo com o protocolo referido como Anexo I, com a meta de incrementar as realizações mo máximo nove meses depois da entrada em vigor desta Declaração de Princípios. 3. Essas eleições constituirão um significativo passo preparatório transitório na direção da conquista dos direitos legítimos do povo palestino e de suas justas reivindicações.

• Artigo IV: Jurisdição A Jurisdição do Conselho cobrirá os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, exceto para questões que serão negociadas nas negociações de status permanente. As duas partes vêem a Cisjordânia e a Faixa de Gaza como uma unidade territorial cuja integridade será mantida durante o período interino.

• Artigo V: Período de transição e negociações de status permanente 1. O período de transição de cinco anos começará com a evacuação da área da Faixa de Gaza e Jericó. 2. As negociações de status permanente começarão logo que possível, mas não após o começo do terceiro ano do período interino, entre o governo de Israel e os representantes do povo palestino. 3. Fica entendido que essas negociações cobrirão questões remanescentes, incluindo: Jerusalém, refugiados, colônias, medidas de segurança, fronteiras, relações e cooperação com outros vizinhos e outras questões de interesse comum. 4. As duas partes concordam que o resultado das negociações de status permanente não devem ser prejudicadas nem ter seus resultados antecipados por acordos alcançados no período interino.

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• Artigo VI: Transferência preparatória de poderes e responsabilidades 1. Com a entrada em vigor desta Declaração de Princípios e a evacuação da área da Faixa de Gaza e Jericó, começará a transferência de autoridade do governo militar israelense e sua Administração Civil para os palestinos autorizados para essas tarefas. Esta transferência de autoridade será de natureza preparatória até a inauguração do Conselho. 2. Imediatamente após a entrada em vigor desta Declaração de Princípios e a evacuação da Faixa de Gaza e Jericó, com vistas à promoção de desenvolvimento econômico na Cisjordânia e Faixa de Gaza, a autoridade será transferida para os palestinos nas seguintes esferas: educação, cultura, saúde, bem-estar social, imposto direto e turismo. A parte palestina começará a montar a força policial palestina, como foi acordado. Antes da inauguração do Conselho, as duas partes podem negociar a transferência de poderes e responsabilidades adicionais.

• Artigo VII: Acordo Interino 1. As delegações israelense e palestina negociarão e acordarão durante o período interino. 2. O Acordo Interino especificar, entre outras coisas, a estrutura do Conselho, o número de seus membros e a transferência de poderes e responsabilidades do governo militar israelense e sua Administração Civil para o Conselho. O Acordo Interino também especificará a autoridade executiva do Conselho, a autoridade legislativa de acordo com o Artigo IX e os órgãos judiciais palestinos independentes. 3. O Acordo Interino incluirá medidas a serem implementadas com a inauguração do Conselho, para a posse do Conselho de todos os poderes e responsabilidades transferidas previamente de acordo com o Artigo VI. 4. A fim de capacitar o Conselho a promover o crescimento econômico, o Conselho criará uma Autoridade de Eletricidade Palestina, uma Autoridade Portuária da Faixa de Gaza, um Banco de Desenvolvimento Palestino, uma Câmara de Promoção de Exportação Palestina, uma Autoridade Ambiental Palestina e uma Autoridade de Administração Hidráulica Palestina, de acordo com o Acordo Interino que especificará seus poderes e responsabilidades. 5. Depois da inauguração do Conselho, a Administração Civil será dissolvida e o governo militar israelense será retirado.

• Artigo VIII: Ordem e segurança pública A fim de garantir a ordem pública e a segurança interna para os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, o Conselho criará uma forte força policial, enquanto Israel continuará a assumir a responsabilidade pela defesa contra ameaças externas, bem como com a responsabilidade pela defesa contra ameaças externas, bem como com a responsabilidade pela segurança geral dos israelenses com o objetivo de salvaguardar sua segurança interna e a ordem pública.

• Artigo IX: Leis e ordens militares 1. O Conselho será investido do poder de legislar, de acordo com o Acordo Interino, com todas as autoridades a ele transferidas. 2. Ambas as partes revisarão conjuntamente leis e ordens militares presentemente em vigor nas esferas remanescentes.

• Artigo X: Comitê de Contato Misto Israelense- palestino A fim de permitir a implementação suave desta Declaração de Princípios e de quaisquer acordos subsequentes pertinentes ao período interino, com a entrada em vigor desta Declaração de Princípios, um comitê de Contato Misto Israelense-palestino será criado a fim de lidar com questões que exijam coordenação, com outras questões de interesse comum e disputas.

• Artigo XI: Cooperação israelense- palestina em áreas econômicas

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Reconhecendo o benefício mútuo de cooperação na promoção do desenvolvimento da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e de Israel, com a entrada em vigor desta Declaração de Princípios, um Comitê de Cooperação Econômica Israelense- Palestino será criado a fim de desenvolver e implementar de forma cooperativa os programas identificados nos protocolos como Anexos III e IV.

• Artigo XII: Contato e cooperação com a Jordânia e o Egito As duas partes convidarão os governantes da Jordânia e do Egito para participar da criação de medidas de cooperação entre si. Essas medidas incluirão a criação de um Comitê de Continuidade que decidirá via acordo sobre as modalidades de admissão de pessoal deslocado da Cisjordânia e da Faixa de Gaza em 1967, juntamente com as medidas necessárias para evitar distúrbio e desordem. Outras medidas de interesse comum serão tratadas por este Comitê.

• Artigo XIII: Redistribuição de forças israelenses 1. Com a entrada em vigor desta Declaração de Princípios e não depois da véspera de eleições para o Conselho, as forças militares israelenses na Cisjordânia e na Faixa de Gaza serão redistribuídas juntamente com a evacuação das forças israelenses, conforme o Artigo XIV. 2. Ao redistribuir suas forças militares, Israel será guiada pelo princípio de que suas forças militares devem ser redistribuídas fora das áreas populacionais. 3. Redistribuições adicionais para locais especificados serão implementadas gradualmente, concomitantemente à posse, pela força policial palestina, da responsabilidade pela ordem pública e pela segurança interna, de conformidade com o Artigo VIII acima.

• Artigo XIV: Evacuação israelense da área da Faixa de Gaza e Jericó Israel evacuará a área da Faixa de Gaza e Jericó, como foi detalhado no protocolo referido como Anexo II.

• Artigo XV: Resolução das disputas 1. Disputas decorrentes da aplicação ou interpretação desta Declaração ou quais acordos subsequentes pertinentes ao período interino serão resolvidos pela via da negociação através do Comitê de Contato Misto a ser criado conforme o Artigo X. 2. Disputas que não puderem ser resolvidas pela via da negociação poderão ser resolvidas por um mecanismo de conciliação a ser acertado entre as partes. 3. As partes podem concordar em submeter à arbitragem disputas relativas ao período interino que não puderem ser resolvidas pela conciliação. Para este fim, com a anuência de ambas as partes, as partes criarão um Comitê de Arbitragem.

• Artigo XVI: Cooperação israelense- palestina concernente a programas regionais Ambas as partes vêem os grupos de trabalho multilaterais como um instrumento apropriado para criar um "Plano Marshall" , os programas regionais e outros programas, incluindo programas específicos para a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, como indicado no protocolo referido como Anexo IV.

• Artigo XVII: Providências diversas 1. Esta declaração de Princípios entrará em vigor um mês após a sua assinatura. 2. Todos os protocolos referidos nesta Declaração de Princípios e Minutas Acordadas pertinentes a ela serão consideradas como partes integrantes dela. ANEXO I: Protocolo sobre o modo e condições de eleições 1. Os palestinos de Jerusalém que vivem ali terão o direito de participar do processo eleitoral, de acordo com um acordo entre os dois lados. 2. Ademais, o acordo eleitoral cobrirá, entre outras coisas os seguintes itens: a. O sistema de eleições; b. O modo de observação e supervisão acordado e a composição de seu pessoal;

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c. Regras e regulamentos relativos à campanha eleitoral, incluindo medidas acertadas para a organização de meios de comunicação de massa, e a possibilidade de licenciamento de transmissão de rádio e televisão. 3. O futuro status dos palestinos deslocados que se registraram em 4 de junho de 1967 não será prejudicado devido ao fato de eles estarem impedidos de participar do processo eleitoral por razões práticas. ANEXO II: Protocolo sobre a evacuação das forças israelenses da área da Faixa de Gaza e Jericó 1. Os dois lados concluirão e assinarão dentro de dois meses a data de entrada em vigor desta Declaração de Princípios, um acordo sobre a evacuação das forças militares israelenses da área da Faixa de Gaza e Jericó. Este acordo incluirá medidas abrangentes para serem aplicadas na área da Faixa de Gaza e Jericó subsequentes à evacuação israelense. 2. Israel implementará uma evacuação acelerada e programada das forças militares israelenses da área da Faixa de Gaza e Jericó e que será completada dentro de um período não superior a quatro meses após a assinatura deste acordo. 3. O acordo acima incluirá, entre outras coisas, a. Medidas para uma transferência suave e pacífica de autoridade do governo militar israelense e sua Administração Civil para os representantes palestinos. b. Estrutura, poderes e responsabilidades da autoridades palestina nestas áreas, exceto: segurança externa, colônias israelenses, relações exteriores e outras matérias mutuamente acordadas. c. Medidas para a assunção da segurança interna e da ordem pública pela força policial israelense consistindo de membros recrutados localmente e no estrangeiro (detentores de passaportes jordaniano e de documentos palestinos emitidos no Egito). Aqueles que participarem da força policial palestina vindos do estrangeiro serão treinados como membros da força policial. d. Uma presença temporária internacional ou estrangeira, como acertado. e. Criação de um Comitê de Cooperação e Coordenação Conjunta Palestino- Israelense para questões de segurança mútua. f. Um programa de desenvolvimento e estabilidade econômica, incluindo a criação de um Fundo de Emergência para incentivar investimentos estrangeiros e apoio financeiro e econômico. Ambos os lados coordenarão e cooperarão conjunta e unilateralmente com as partes regionais e internacionais para reforçar essas metas. g. Medidas para um tráfego seguro de trabalhadores e transportes entre a área da Faixa de Gaza e a área de Jericó. 4. O acordo acima incluirá medidas para a coordenação entre as partes a respeito das passagens Gaza-Egito e Jericó-Jordão. 5. Os escritórios responsáveis para pôr em prática os poderes e responsabilidades da autoridade palestina sob o Anexo II e Artigo IV da Declaração de Princípios serão localizados na área da Faixa de Gaza e Jericó até a inauguração do Conselho. 6. Além dessas medidas, o status da área da Faixa de Gaza e Jericó continuará a ser parte integrante da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e não será alterado no período interino. ANEXOIII: Protocolo sobre a cooperação israelense-palestina em programas econômicos e de desenvolvimento Os dois lados concordam em criar um Comitê Permanente Israelense- Palestino para Cooperação Econômica enfocando o seguinte: 1. Cooperação no campo hidráulico, incluindo Programa de Desenvolvimento de Água preparado por peritos de ambos os lados, os quais também especificarão a forma de

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cooperação na administração dos recursos hídricos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e incluirão propostas para estudos e planos sobre direitos hídricos de cada parte, bem como a utilização equitativa de recursos hídricos conjuntos para implementação no período interino. 2. Cooperação na área de eletricidade, incluindo um Programa de Desenvolvimento de Eletricidade que também especificará a forma de cooperação para a produção, manutenção, compra e venda de recursos de eletricidade. 3. Cooperação na área de energia, incluindo um Programa de Desenvolvimento de Energia, o que implicará na exploração de óleo e gás para fins industriais, particularmente na Faixa de Gaza e no Neguev e encorajará exploração conjunta ulterior de outras fontes energéticas. Este programa pode também incluir a construção de um complexo industrial petroquímico na Faixa de Gaza e construção de oleodutos e gasodutos. 4. Cooperação no campo financeiro, incluindo um Programa de Ação e Desenvolvimento Financeiro para o incremento de investimento internacional na Cisjordânia e na faixa de Gaza 5. Cooperação na área de transportes e comunicações, incluindo um Programa que definirá diretrizes para a criação de linhas de comunicação e transporte partindo da Cisjordânia e da Faixa de Gaza para Israel e outros países. Ademais, este programa significará a construção de obras de rodovia, estradas de ferro, linhas de comunicação... 6. Cooperação na área de comércio, incluindo pesquisas e Programas de Promoção Comercial os quais incrementarão o comércio inter- regional, regional e local, bem como uma pesquisa sobre a viabilidade da criação de zonas de comércio livres na Faixa de Gaza e em Israel, acesso mútuo a essas zonas e cooperação e em outras áreas relacionadas aos negócios e ao comércio. 7. Cooperação na área industrial, incluindo Programas de Desenvolvimento Industrial que prevêem a criação de Centros Mistos de Pesquisa e Desenvolvimento Industrial Israelense- Palestinos internacional, promoverão joint ventures mistas israelense- palestinas e fornecerão diretrizes para a cooperação nas indústrias de pesquisa e de computação, têxteis, farmacêuticas, eletrônicas e diamantíferas. 8. Um programa para a cooperação em relações trabalhistas e em questões de bem- estar social. 9. Um Plano de Cooperação e Desenvolvimento de recursos Humanos, prevendo oficinas e seminários mistos israelense-palestinos e de centros de treinamento vocacional mistos, institutos de pesquisas e banco de dados. 10. Um Plano de Proteção Ambiental, disponibilizando medidas conjuntas ou coordenadas nesta esfera. 11. Um programa para desenvolver cooperação e coordenação bilateral na área de comunicações e mídia. ANEXO IV: Protocolo sobre cooperação israelense-palestina relativa a programas de desenvolvimento regional 1. As duas partes cooperarão no contexto dos esforços de paz multilateral promovendo um Programa de Desenvolvimento para a região, incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, a ser iniciado pelo G-7. As partes pedirão ao G- 7 para buscar a participação neste programa de outros Estados interessados, tais como os membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, instituições e Estados regionais árabes, bem como membros dos setores privados. 2. O Programa de Desenvolvimento consistirá de dois elementos: a. Um Programa de Desenvolvimento Econômico para a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Este programa se constituirá dos seguintes elementos: - Programa de Reabilitação Social, incluindo um Programa de Construção e Moradia. - Plano de Desenvolvimento Comercial Médio e Pequeno.

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- Programa de Desenvolvimento de Infra-estrutura. - Plano de Recursos Humanos. b. Um Programa de Desenvolvimento Econômico Regional Este programa se constituirá dos seguintes elementos: - Criação de um Fundo para o Desenvolvimento do Oriente Médio e um Banco de Desenvolvimento do Oriente Médio. - Desenvolvimento de um plano trilateral israelense- palestino- jordaniano para a exploração conjunta da área do Mar Morto. - O Canal Mar Mediterrâneo - Mar Morto. - Dessalinização regional e outros projetos de desenvolvimento hídrico. - Plano regional para o desenvolvimento agrícola, incluindo um esforço regional coordenado para a prevenção da desertificação. - Interconexão de redes elétricas - Cooperação regional para a transferência, distribuição e exploração industrial de gás, óleo e outros recursos energéticos. As duas partes estimularão grupos de oficinas multilaterais e os coordenarão com vistas a seu sucesso. AS duas partes encorajarão atividades afins, bem como estudos sobre potencialidade e aplicabilidade desse programa, dentro dos vários grupos de trabalho regionais. - Plano Regional de Desenvolvimento do Turismo, Transportes e Telecomunicações. - Cooperação regional em outras esferas. 3. As duas partes encorajarão grupos de trabalho multilaterais e interagirão com vistas ao sucesso de suas atividades. As duas partes estimularão atividades intersecionais, bem como estudos sobre viabilidade e aplicabilidade, dentro dos vários grupos multilaterais de trabalho. Concluído em Washington D.C, em 13 de setembro de 1993 pelo Governo de Israel, assinado por Shimon Peres e pela Organização para Libertação da Palestina, assinado por Mahmoud Abbas.