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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ THAYS CRISTINA VARELA SCHUMACHER ASPECTOS IMPORTANTES DE DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO NO PARCELAMENTO DO SOLO URBANO São José 2010

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1

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

THAYS CRISTINA VARELA SCHUMACHER

ASPECTOS IMPORTANTES DE DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO NO PARCELAMENTO DO SOLO URBANO

São José

2010

2

THAYS CRISTINA VARELA SCHUMACHER

ASPECTOS IMPORTANTES DE DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO NO PARCELAMENTO DO SOLO URBANO

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Msc. Marcelo Buzaglo

Dantas.

São José 2010

3

THAYS CRISTINA VARELA SCHUMACHER

ASPECTOS IMPORTANTES DE DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO NO PARCELAMENTO DO SOLO URBANO

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração:

São José, 24 de novembro de 2010.

Prof. Msc. Marcelo Buzaglo Dantas UNIVALI – Campus de São José

Orientador

Prof. Msc. Rafael Burlani Neves Universidade do Vale do Itajaí

Membro

Prof. Msc. Adriana Conterato Bulsing Universidade Federal de Santa Catarina

Membro

4

Dedico esta monografia aos meus avós, Zilma Padilha Varela e Sebastião Ramos

Varella (in memorian), aos meus pais, Sônia Maria Varela e Mário Sézar

Schumacher, e a minha irmã Sabrina Suélen Schumacher, por terem me apoiado

em todos os momentos desta caminhada e de tantas outras.

A minha querida amiga, Adriana Conceição, por todo carinho e incentivo dado para

a realização deste trabalho.

5

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a minha avó, Zilma Padilha Varela, aos meus pais,

Sônia Maria Varela e Mário Sézar Schumacher, bem como a toda minha família por

estarem sempre ao meu lado, dando todo o suporte necessário.

A minha querida amiga, Adriana Conceição, por toda a confiança e pelo

auxílio prestado em todos os momentos desta jornada.

Ao meu professor Marcelo Buzaglo Dantas, excelente orientador nesta

pesquisa, por todo o tempo e conhecimento despendido, sem nunca medir esforços

para que essa monografia fosse a mais completa e correta possível.

A todos os professores desta instituição que de grande forma contribuíram

para a minha formação.

Ao Drs. Carlos Alberto Platt Nahas e Raul de Araujo Santos Neto,

Promotores de Justiça, pela oportunidade oferecida e por todo conhecimento

compartilhado.

E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram na elaboração deste

trabalho.

6

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

São José, 24 de novembro de 2010.

Thays Cristina Varela Schumacher

7

RESUMO

A presente monografia, a qual foi elaborada através do método dedutivo, discorre

sobre a importância das áreas verdes nos grandes aglomerados urbanos, tratando-

as como sendo bem de uso comum do povo, situação que o Poder Municipal tenta

mudar ao desafetar tais áreas. Cuida ainda, da divergência relacionada à utilização

do distanciamento legal a ser mantido de áreas de preservação permanente,

conforme previsão tanto da Lei de Parcelamento do Solo Urbano, quanto do Código

Florestal. Por fim, trabalha a questão de supressão de área de preservação

permanente, conforme previsto na Resolução do CONAMA nº 369/2006, e questões

de supressão de Mata Atlântica, sobre o fundamento da necessidade de Avaliação

de Impacto Ambiental com a elaboração de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e

Relatório de Impacto sobre Meio Ambiente (RIMA), visando diagnosticar o impacto

causado no meio ambiente através de supressão de vegetação. Este estudo tem por

base as previsões legais, os posicionamentos jurisprudenciais e os entendimentos

doutrinários para a sua realização. Desta maneira, abordou-se os princípios

ambientais que delineam e os deveres específicos do Poder Público na preservação

do meio ambiente, bem como se procurou demonstrar um panorama geral da

legislação sobre meio ambiente natural e artificial, a fim de se dar conhecimento das

legislações existentes. Abrangeu-se, também, a questão ambiental na Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988, que inovou ao trazer conceitos de

preservação e conservação ambiental às futuras gerações. Desta forma, vê-se que o

direito ambiental e urbanístico é indispensável para que a população dê a

importância necessária e assuma cuidados imprescindíveis à manutenção do meio

ambiente, para que se possa usufruir de bem-estar e de boa qualidade de vida hoje e

sempre.

Palavra-chave: Direito Ambiental e Urbanístico. Áreas verdes. Parcelamento do Solo

Urbano. Áreas de Preservação Permanente. Mata Atlântica.

8

ABSTRACT

The present monograph that was elaborated by the deductive method, talks about the

importance of green areas in large urban agglomerations, treating its as well for

common use, situation of Public Power try to change when disaffected such areas.

Still cares, the divergence relative the use of the legal gap to be keeping in areas of

permanent preservation, as predicting both the Law on Urban Land Installment, the

Forest Code. Finally, working on the issue of removal of permanent preservation

area, as provided in Resolution CONAMA 369/2006, and issues of suppression of the

Atlantic Forest, about the plea of needs of Environmental Impact Assessment with the

preparation of Environmental Impact Assessment (EIA) and Environmental Impact

Report (EIRs), order to diagnose the impact caused in environmental by the

suppression of vegetation. This study is based on the legal provisions, the positions

and understandings jurisprudential doctrine for their implementation. Thus, it dealt

with environmental principles and that outlines the specific duties of the Public Power

in preservation of environmental, as tried to demonstrated an overview of legislation

on the natural environment and artificial to knowledge of the existing laws. Covered is

also the environmental issue in the Constitution of the Federative Republic of Brazil in

1988, which led to bring concepts of environmental preservation and conservation for

future generations. Thus, it sees that the right environmental and urban is

indispensable for the population to give the necessary importance and take care

essential to sustaining the environment, so can enjoy well-being and quality of life

today and always.

Key-word: Urban and Environmental Law. Green Areas. Installment Urban Land.

Permanent Preservation Areas. Atlantic Forest.

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 11

1 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO 13

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .............................................................................. 13

1.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ............................................................. 15

1.3 PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E PREVENÇÃO ............................................... 17

1.4 PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO ............................................................................ 21

1.5 PRINCÍPIO DO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO

DIREITO FUNDAMENTAL DA PESSOA HUMANA .................................................. 22

1.6 PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL ............... 24

1.7 PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE .................. 26

1.8 DEVERES ESPECÍFICOS DO PODER PÚBLICO NA TUTELA DO AMBIENTE

.................................................................................................................................. 28

2 PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE MEIO

AMBIENTE NATURAL E ARTIFICIAL ................................................. 36

2.1 MEIO AMBIENTE NATURAL E ARTIFICIAL ...................................................... 36

2.2 A QUESTÃO AMBIENTAL E URBANÍSTICA NA CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 ................................................... 41

2.3 A LEGISLAÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL ................................... 44

2.3.1 Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/01) ........................................................... 44

2.3.2 Plano Diretor ................................................................................................... 48

2.3.3 Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei nº 6.766/79) ............................... 52

2.4 A LEGISLAÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE NATURAL ..................................... 55

2.4.1 Código Florestal (Lei nº 4.771/65) ................................................................. 55

2.4.2 Lei Da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81) ..................... 59

10

2.4.3 Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC

(Lei nº 9.958/00) ....................................................................................................... 61

2.4.4 Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/06) ........................................................ 66

3 QUESTÕES POLÊMICAS E ATUAIS ............................................... 72

3.1 ÁREAS VERDES ................................................................................................ 72

3.2 LEI DE PARCELAMENTO DO SOLO URBANO X CÓDIGO FLORESTAL ........ 80

3.3 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE PREVISTAS NA RESOLUÇÃO DO

CONAMA Nº 369/2006.............................................................................................. 91

3.4 MATA ATLÂNTICA ............................................................................................. 96

CONCLUSÃO ..................................................................................... 104

REFERÊNCIAS .................................................................................. 107

11

INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico pretende desenvolver estudo sobre

questões de direito ambiental e urbanístico, frente ao parcelamento do solo urbano,

mormente para a conservação e a defesa de área verde, considerada bem de uso

comum do povo, bem como demonstra a aplicabilidade das Leis Federais nºs

6.766/1979 e 4.771/1965 ante às áreas de preservação e de expansão urbana. Além

disso, trata da possibilidade de aplicação de supressão de Mata Atlântica, com o

advento da Lei nº 11.428/2006.

O interesse pelo tema desta pesquisa surgiu do fascínio pela área do Direito

Ambiental e Urbanístico, em especial pela devida proteção às áreas verdes de nosso

país. Ademais, considerando haver divergências em relação à jurisprudência no

sentido de qual lei aplicar em cada caso concreto, procura o presente trabalho

elucidar questões que causam controvérsia legal, doutrinária e jurisprudencial.

Esta pesquisa tem como objetivo institucional a obtenção do grau de

bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – Campus São José.

Este trabalho tem como objetivo geral apresentar conceitos doutrinários

acerca de leis ambientais, especialmente a Lei de Parcelamento do Solo Urbano,

bem como as posições das leis e aplicações jurisprudenciais, especialmente o

Tribunal de Justiça de Santa Catarina, acerca da utilidade de cada lei.

Dentre os objetivos específicos está o de buscar definir e conceituar o

instituto das principais leis de meio ambiente natural e artificial, além dos princípios

que as norteiam, de modo a se chegar, então, à análise das questões referentes às

áreas verdes, áreas de preservação permanente e Mata Atlântica, com o fim de se

entender quais são as possibilidades de aplicação para cada questão em estudo.

Deste modo, inicia-se este trabalho, no Capítulo 1, com o estudo acerca dos

princípios de Direito Ambiental e Urbanístico importantes ao presente tema, bem

como, com uma breve apresentação dos aspectos referentes aos deveres do Poder

12

Público na defesa do meio ambiente.

O Capítulo 2 trata da relevância da legislação brasileira sobre meio ambiente

natural e artificial, comentando acerca das principais leis de cada instituto, assim

como oferece uma breve exposição do direito ambiental em relação à Constituição

Federal de 1988.

O Capítulo 3 finaliza a pesquisa abordando, propriamente questões

polêmicas, acerca da instituição de área destinada à preservação das áreas verdes,

para ordenar o desenvolvimento da população que irá residir no local onde for

realizado o parcelamento do solo urbano, visando coibir ações do Poder Público, que

insiste em desafetá-las para realizar interesses diversos da proteção ambiental.

Ainda, trata-se da questão de áreas urbanas, nas quais existem divergências no

sentido de qual lei utilizar em respeito às áreas de preservação permanente, gerando

dúvidas acerca da aplicação da Lei nº 6.766/1979 ou da Lei nº 4.771/1965.

Finalizando o trabalho, abordam-se questões sobre a supressão de áreas de

preservação permanente com o advento da Resolução do CONAMA nº 369/2006,

bem como questões de supressão de vegetação de Mata Atlântica, contando com o

posicionamento da jurisprudência de Santa Catarina e Rio Grande do Sul sobre a

sua aplicabilidade.

Em sede de considerações finais, mostram-se os resultados gerais

alcançados por meio desta monografia, expondo-se os pontos conclusivos, o

estímulo à continuidade dos estudos sobre o direito ambiental e urbanístico,

fundamental à boa qualidade de vida das gerações presentes e futuras.

O método de abordagem será o dedutivo, ou seja, do geral para o particular,

partindo da análise da legislação ambiental, adentrando nas questões das áreas

verdes, das áreas de preservação permanente quando da instituição do

parcelamento do solo urbano, bem como da supressão de Mata Atlântica. A técnica

de pesquisa será a análise da legislação frente ao posicionamento jurisprudencial.

13

1 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL E URBANÍSTICO

O presente trabalho acadêmico tem por objetivo adentrar no estudo do

Direito Ambiental e Urbanístico, para tanto, torna-se imprescindível a análise dos

princípios que o norteiam, verificando-se como fundamento de cada ciência. A

identificação dos princípios propicia o desenvolvimento da doutrina e suas

concepções, mediante o estudo das teorias que o regem, bem como dos demais

aspectos relevantes deste tema.

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os princípios, como norteadores do Direito, são o ponto de partida diante da

necessidade de fundamentação e regulamentação a uma boa administração da

Justiça, como forma de instrumentalizar as normas disciplinadoras, viabilizando a

aplicação da lei.

E no Direito Ambiental, os princípios são utilizados como alicerce e

orientação para a implementação do direito. Nas palavras de Paulo de Bessa

Antunes:

[...] os princípios do Direito Ambiental se tornam mais relevantes e importantes, pois é a partir deles que as matérias que ainda não foram objeto de legislação específica podem ser tratadas pelo Poder Judiciário e pelos diferentes aplicadores do Direito, pois, na inexistência de norma legal, há que se recorrer aos diferentes elementos formadores do Direito, conforme expressa determinação da lei na Introdução ao CC e do próprio CPC.1

1 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 21.

14

Ainda, na concepção de José Joaquim Gomes Canotilho ao citar Larenz, os

princípios:

“[...] são normas jurídicas impositivas de uma optimização, compatíveis com vários graus de concretização, consoante os condicionalismos fáticos e jurídicos. Permitem o balanceamento de valores e interesses (não obedece, como as regras, à „lógica do tudo ou nada‟), consoante o seu peso e ponderação de outros princípios eventualmente conflitantes.” São padrões “juridicamente vinculantes radicados nas exigências de „justiça‟ (Dworkin) ou na „idéia de direito‟ (Larenz).”2

No entanto, a respeito dos princípios do Direito Ambiental, há por parte da

doutrina um consenso sobre os princípios reconhecidos, e ao mesmo tempo,

divergências acerca do significado de cada um deles. Quanto à natureza dos

princípios, tem-se que eles podem ser implícitos ou explícitos. E, conforme ensina

Paulo de Bessa Antunes, os princípios explícitos, “são aqueles que estão claramente

escritos nos textos legais e, fundamentalmente, na CRFB;” e os implícitos, “são os

princípios que decorrem do sistema constitucional, ainda que não se encontrem

escritos.” 3

Desta forma, percebe-se que é fundamental o estudo dos princípios do

Direito Ambiental e Urbanístico, uma vez que segundo Mirra:

a) são os princípios que permitem compreender a autonomia do Direito Ambiental em face dos outros ramos do Direito;

b) são os princípios que auxiliam no entendimento e na identificação da unidade e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que compõem o sistema legislativo ambiental;

c) é dos princípios que se extraem as diretrizes básicas que permitem compreender a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na sociedade;

d) e, finalmente, são os princípios que servem de critério básico e inafastável para a exata inteligência e interpretação de todas as normas que compõem o sistema jurídico ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Direito nessa área.4

2 CANOTILHO, José Joaquim Gomes apud MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 55.

3 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 22.

4 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios Fundamentais do Direito Ambiental. Disponível em: <http://www.direitoambiental.adv.br/ambiental.qps/Ref/PAIA-6SRNQ8> Acesso em: 18 jun 2010.

15

Assim, os princípios jurídicos do Direito Ambiental devem ser procurados,

fundamentalmente, na Constituição Federal de 1988, bem como nos alicerces éticos

que esclarecem as relações às pessoas, para que se possa garantir a preservação

da qualidade de vida, conciliando os elementos econômicos e sociais para o

desenvolvimento sustentável.

1.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A Constituição Federal, em seu art. 225, caput, oportunizou a inserção da

obrigação de instaurar o desenvolvimento sustentável, “impondo-se ao Poder Público

e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações.” E sua formalização decorre do princípio nº 4, da Declaração da Rio/92,

que contém a seguinte dicção: “Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a

proteção ambiental constituirá parte integrante do processo de desenvolvimento e

não pode ser considerada isoladamente deste.” 5

Segundo Celso Antônio Pacheco Fiorillo:

O princípio de desenvolvimento sustentável tem por conteúdo a manutenção das bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades, garantindo igualmente uma relação satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente, para que as futuras gerações também tenham oportunidade de desfrutar os mesmos recursos que temos hoje a nossa disposição.6

5 Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576> Acesso em: 18 jun 2010.

6 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ysvsPHjNQp4J:www.sedam.ro.gov.br/c/document_library/get_file%3FfolderId%3D36%26name%3DDLFE-469.doc+desenvolvimento+sustent%C3%A1vel+direito+ambiental&cd=11&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br> Acesso em: 18 jun 2010.

16

Desta forma, compreende-se no art. 3º, III, do Decreto nº 6.040/2007, que diz

respeito à Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e

Comunidades Tradicionais (PNPCT), que para se construir uma sociedade

sustentável é necessário “o uso equilibrado dos recursos naturais, voltado para a

melhoria da qualidade de vida da presente geração, garantindo as mesmas

possibilidades para as gerações futuras.” 7

Juntamente com o princípio do desenvolvimento sustentável estão

relacionados os espaços ambientais, que auxiliam no equilíbrio entre o

desenvolvimento industrial e as áreas de habitação do homem e da vida silvestre, de

modo a preservar a qualidade de vida das presentes e futuras gerações. E nesta

perspectiva o zoneamento ambiental encontra-se fundamentalmente ligado com o

desenvolvimento sustentável, auxiliando na preservação ambiental, com a limitação

do uso do solo, a partir do controle no uso da propriedade particular.8

Nesse prisma, verifica-se a importância de trazer alguns princípios que

norteiam a construção de uma sociedade sustentável. Primeiramente, menciona-se o

dever de respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos, de modo que as pessoas

se preocupem com as outras formas de vida, a fim de que haja a sobrevivência das

espécies. Além disso, percebe-se a necessidade de melhorar a qualidade de vida

humana, que se traduz como o objetivo do desenvolvimento sustentável:9

[...] permitindo que as pessoas realizem o seu potencial e vivam com dignidade, com acesso à educação, com liberdade política, com garantia de direitos humanos e ausência de violência. O desenvolvimento sustentável só é real se o padrão de vida melhorar em todos os aspectos.10

7 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 619.

8 ABELARDINO, Isabela. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ysvsPHjNQp4J:www.sedam.ro.gov.br/c/document_library/get_file%3FfolderId%3D36%26name%3DDLFE-469.doc+desenvolvimento+sustent%C3%A1vel+direito+ambiental&cd=11&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br> Acesso em: 18 jun 2010.

9 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 74.

10 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 74.

17

Em seguida, deve-se ter a conservação da vitalidade e da diversidade do

planeta Terra, baseado no dever de conservação e criar mecanismos para a

proteção das funções e da diversidade dos sistemas naturais do Planeta, fazendo-se

necessário, então, a conservação dos processos ecológicos que tornam a Planeta

Terra adequado ao desenvolvimento da vida, bem como, a conservação da

biodiversidade de plantas, animais e outros organismos do ecossistema. E ainda,

assegurar o uso sustentável dos recursos renováveis, minimizando-se o

esgotamento de recursos não-renováveis.11

Ainda, preocupam-se com conservação dos limites da capacidade de suporte

do Planeta, instituindo “políticas que equilibrem os números e os modos de vida

humanos com a capacidade de suporte da Terra, devendo ser complementadas por

tecnologias que melhorem e respeitem essa capacidade por meio de cuidadoso

controle.” 12

Nessa vertente, buscando efetivar o desenvolvimento sustentável, a doutrina

procura apoiar-se em princípios que devem adotar uma postura legal que viabilize

atitudes e práticas pessoais, disseminando informações por meio da educação, de

modo que a legislação crie mecanismos que permitam que as comunidades cuidem

e se preocupem com seu próprio meio ambiente. Estabelecendo uma estrutura

nacional para a integração de desenvolvimento e conservação, através de leis e

instituições de políticas econômicas e sociais sólidas para que se possam evitar os

problemas antes que eles surjam.13

1.3 PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E PREVENÇÃO

11

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 74/75.

12 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 75.

13 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 76.

18

O princípio da Precaução, contemplado na doutrina brasileira, recebe forte

influência do Direito Alemão, no qual esse princípio teve origem. A idéia da

precaução surgiu por volta da década de 1970, quando surgiu a preocupação com a

necessidade de avaliação prévia em decorrência dos diversos empreendimento e

projetos que se pretendia implementar.14

A concepção desse princípio é incorporada através do projeto de lei que visa

proteger a qualidade do ar, sendo aprovado em 1974, e estabelece-se como meio de

controle para várias atividades potencialmente poluidoras. Em sua forma originário,

“o princípio estabelecia que a precaução era desenvolver em todos os setores da

economia processos que reduzissem significativamente as cargas ambientais,

principalmente aquelas originadas por substancias perigosas.” 15 Dessa forma,

outras formulações desse princípio foram sendo construídas, e expandindo-se para o

Direito Internacional, até o brasileiro.

Para Paulo Affonso Leme Machado, o princípio da precaução não se trata de

impedir todas as atividades humanas, mas visa sim, “à durabilidade da sadia

qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da natureza existente no

planeta.” 16

No mesmo sentido, dita o doutrinador Paulo de Bessa Antunes:

Desnecessário dizer que, ao se estabelecer a precaução como princípio, esta não pode ser interpretada como uma cláusula geral, aberta e indeterminada. É necessário que se defina o que se pretende prevenir e qual o risco a ser evitado. Isto, contudo, só pode ser feito diante da análise das diferentes alternativas que se apresentam para a implementação ou não de determinado empreendimento ou atividade. A precaução, inclusive, deve levar em conta os riscos da não implementação do projeto proposto.” 17

Ainda, para o doutrinador Edis Milaré, o princípio da precaução deve ser

utilizado “quando a informação científica é insuficiente, inconclusiva ou incerta e haja

14

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 28. 15

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 28. 16

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 65.

17 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 29.

19

indicações de que os possíveis efeitos sobre o meio ambiente”, possam ser

perigosos e incompatíveis com a proteção ambiental.18

O grande desenvolvimento internacional do princípio da precaução ocorre na

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNU –

MAD, ocorrida no estado do Rio de Janeiro em 1992, que permanece conhecido

como “Rio 92”, no qual utilizou-se 27 princípios, que serviram de base para a

produção de novas normas.19

O Princípio da Precaução foi redigido como o Princípio número 15, que

descreve:

“De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.” 20

Este princípio tem como determinação a utilização de cuidados necessários

para a proteção do meio ambiente, de forma a dar conhecimento científico para

determinada atividade, para que se possa esclarecer as dúvidas existentes para

cada empreendimento.21

Contudo, cabe mencionar que a omissão na utilização de medidas de

precaução, para evitar a ocorrência de riscos de danos ambientais, acaba por ser

introduzido na Lei de Crimes Ambientais (art. 54, § 3º, da Lei nº 9.605/98), como

forma de reprimenda ao infrator.22

No Brasil, o princípio da precaução mantém-se inserido por duas convenções

internacionais: a Convenção da Diversidade Biológica e a Convenção-Quadro das

18

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 767.

19 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 33.

20 SOARES, Guido Fernando Silva, 1995 apud MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 65.

21 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 35.

22 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 769.

20

Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, nas quais ambas, preconizam a

utilização do princípio da precaução para “evitar ou minimizar” danos ambientais.23

De acordo com o raciocínio que procura precaver situações, tem-se também,

o Princípio da Prevenção, que é muito semelhante ao Princípio da Precaução,

todavia os mesmo não se confundem. A precaução, como já mencionado, é uma

medida de cautela antecipada. A aplicação do princípio da prevenção ocorre em

“impactos ambientais já conhecidos e dos quais se possa, com segurança,

estabelecer um conjunto de nexos de causalidade que seja suficiente para a

identificação dos impactos futuros mais prováveis.” 24 Ou seja, busca-se conciliar os

espaços livres, os recursos naturais e a proteção do meio ambiente.

Destarte, com base neste princípio de prevenção passa a ser necessário o

licenciamento ambiental e os estudos de impactos ambientais às atividades

potencialmente poluidoras, devendo ser solicitados às Autoridades Públicas, com o

fim de se prevenir danos ambientais, e de forma a se evitar os danos que uma

determinada atividade poderá causar ao meio ambiente.25

Neste sentido, sustenta Edis Milaré que se aplica o princípio da prevenção,

“quando o perigo é certo e quando se tem elementos seguros para afirmar que uma

determinada atividade é efetivamente perigosa.”26 Ou seja, aplica-se o princípio da

prevenção, como forma de “impedir a ocorrência de danos ao meio ambiente,

através da imposição de medidas acautelatórias, antes da implantação de

empreendimento e atividade consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras.” 27

Paulo Affonso Leme Machado menciona cinco itens para a eficácia da

aplicação do princípio da prevenção:

1º) identificação e inventário das espécies animais e vegetais de um território, quanto à conservação da natureza e identificação das fontes contaminantes das águas e do mar, quanto ao controle da

23

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 68.

24 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 45.

25 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 45.

26 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 766.

27 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 767.

21

poluição; 2º) identificação e inventário dos ecossistemas, com a elaboração de um mapa ecológico; 3º) planejamentos ambiental e econômicos integrados; 4º) ordenamento territorial ambiental para a valorização das áreas de acordo com a sua aptidão; e 5º) Estudo de Impacto Ambiental.28

Por fim, percebe-se que tanto o princípio da precaução quanto o da

prevenção têm por objetivo utilizar medidas para a proteção ambiental, de forma a

alcançar o direito ambiental ecologicamente equilibrado, e evitando-se a degradação

ambiental, cujos casos, inúmeras vezes possuem resultados irreversíveis.

1.4 PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO

O próximo princípio a ser estudado apresenta grande relevância, pois cuida

do princípio da reparação, no sentido da ocorrência de dano ou degradação

ambiental, salientando a necessidade de recuperação. Nesse sentido dita o art. 225,

§ 3º da Carta Magna: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio

ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e

administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.” 29

Nesse intuito é que a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento de 1992, inseriu o princípio nº 13:

Os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização das vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados irão também cooperar, de maneira expedita e mais determinada, no desenvolvimento do direito internacional no que se refere à responsabilidade e à indenização por efeitos adversos dos danos ambientais causados, em áreas fora de

28

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 84.

29 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 225, § 3º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 18 jun 2010.

22

sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle.30

Do mesmo modo, é disposto como objetivo da Lei da Política Nacional do

Meio Ambiente, em seu art. 4º, inciso VII: “à imposição, ao poluidor e ao predador, da

obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da

contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.” 31

Assim, a reparação pode ser de duas formas:

A primeira é a recuperação ou a reconstituição do ambiente lesado, possibilitando o retorno ao status quo ante. A segunda é a reparação sob forma indenizatória, na hipótese de ser inviável ou impossível a volta à situação anterior, o que nem sempre substitui o efetivo benefício do ambiente em estado equilibrado. 32

Desta forma, percebe-se que quem polui ou degrada o meio ambiente deve

responder e pagar pela lesão ou ameaça responsáveis ao dano causado,

recuperando-o à condição anterior de equilíbrio ou, ainda, indenizando os atingidos,

de maneira a minimizar o impacto causado e suas conseqüências.

1.5 PRINCÍPIO DO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO

DIREITO FUNDAMENTAL DA PESSOA HUMANA

Por conta do grande processo de degradação ao meio ambiente, decorrente

em todo o mundo, elevou-se a consciência social do dever de preservação

ambiental, constando como estimativa suprema às populações atuais, “passando a

30

Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576> Acesso em: 18 jun 2010.

31 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Art. 4º, inciso VII. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm Acesso em: 18 jun 2010.

32 Ensaio do Direito Ambiental e sua Abordagem Principiológica. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10387&p=2> Acesso em: 18 jun 2010.

23

compor o quadro de direitos fundamentais ditos de terceira geração incorporados nos

textos constitucionais dos Estados Democráticos de Direito.” 33

Trata-se também, como forma de estabelecer e garantir para as sociedades

futuras, um meio ambiente ecologicamente equilibrado, baseado no direito

fundamental da pessoa humana, descrito na Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988, impondo a toda população o dever de cuidar do meio ambiente,

protegendo-o dos abusos ambientais, a fim de se impedir a completa degradação do

mesmo.

Segundo Paulo de Bessa Antunes: “O direito estabelecido pelo artigo 225 da

Constituição é fundado no princípio da dignidade da pessoa humana e somente nele

encontra sua justificativa final.” 34

Referido princípio, visa à proteção do maior bem tutelado, qual seja, a

proteção à vida, conforme assevera o doutrinador Edis Milaré:

O reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio configura-se, na verdade, como extensão do direito à vida, quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos, quer quanto ao aspecto da dignidade dessa existência - a qualidade de vida -, que faz com que valha a pena viver.35

Assim, além dos direitos e deveres de cada cidadão, conforme elencados no

art. 5º da Constituição Federal de 1988, o legislador acrescentou no caput, do art.

225, da Carta Magna, o direito fundamental da pessoa humana, de forma a ter um

meio ambiente ecologicamente saudável: “Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-

lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” 36

Ao se analisar o art. 225 extrai-se do texto quatro aspectos fundamentais,

conforme leciona Celso Antonio Pacheco Fiorillo:

33

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 761.

34 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p. 22.

35 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 762.

36 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 225, caput. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 18 jun 2010.

24

1) a existência de um direito material constitucional caracterizado como „direito ao meio ambiente‟, cujos destinatários são „todos‟;

2) a confirmação no plano constitucional de que aludido direito ao meio ambiente diz respeito à existência de uma relação jurídica que envolve um bem (o bem ambiental). Referido bem, para que possa ser reputado constitucionalmente „bem ambiental‟, diz respeito somente àqueles „essenciais à sadia qualidade de vida‟. Por outro lado o bem ambiental se caracteriza por ser ontologicamente um „bem de uso comum do povo‟;

3) em face da relevância do bem material, a Constituição Federal determinou de forma impositiva tanto ao Poder Público como à coletividade não só o dever de defender os bens ambientais como também de preservá-los;

4) a defesa assim como a preservação por parte do Poder Público e da coletividade antes referida têm por finalidade assegurar o uso do bem ambiental não só para as presentes mas também para as futuras gerações.37

Verifica-se, desta forma, que o meio ambiente ecologicamente equilibrado

envolve para a pessoa humana “um conjunto de condições morais, psicológicas,

culturais e mesmo materiais que vincula uma ou mais pessoas” 38, no qual tem-se

que o “meio ambiente ecologicamente equilibrado diz respeito à tutela da pessoa

humana, assim como de outras formas de organismos, como o local onde se vive.”39

Pode-se dizer, portanto, que a existência da vida humana está ligada

fundamentalmente a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, de forma que se

este se extinguir, aquele também deixa de existir, afinal ele é essencial à sadia

qualidade de vida.

1.6 PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL

37

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do Direito Processual Ambiental. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 35.

38 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do Direito Processual Ambiental. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 36.

39 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do Direito Processual Ambiental. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 36.

25

Por sua vez, o princípio da natureza pública da proteção ambiental, “decorre

da previsão legal que considera o meio ambiente um valor a ser necessariamente

assegurado e protegido para uso de todos ou, como queiram, para fruição humana

coletiva.” 40 Entre outras palavras, significa “que o reconhecimento do direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado não resulta em nenhuma prerrogativa privada,

mas apenas na fruição em comum e solidária do mesmo ambiente como todos os

seus bens.” 41

Assim, a proteção ao meio ambiente equilibrado, passa de apenas teoria

para prática, através de um controle de legalidade e instrumentos que façam

respeitar o objetivo do Estado. De tal modo, existe, “uma ordem pública ambiental,

tendo por fonte básica a lei, e segundo a qual o Estado asseguraria o equilíbrio

harmonioso entre o homem e seu ambiente.” 42

Este princípio aparece com muito destaque:

[...] já que não só a lei ordinária reconhece o meio ambiente como um patrimônio público, a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo, mas também a Lei Fundamental brasileira a ele se refere como „bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida‟, impondo ao Poder Público e à coletividade como um todo a responsabilidade por sua proteção.43

Há ainda, uma forte ligação do princípio da natureza pública da proteção

ambiental com os princípios da primazia do interesse público (Direito Público) e o

princípio da indisponibilidade do interesse público (Direito Administrativo), uma vez

que em ambos devem dar preferência ao interesse público em relação ao privado.

Ou seja, sempre que houver discussão acerca da norma a ser utilizada em um caso

concreto, deve-se utilizar a que beneficie os interesses da sociedade.44

40

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 764.

41 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 764.

42 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 764.

43 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 765.

44 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 765.

26

Desta forma, “a natureza pública que qualifica o interesse na tutela do

ambiente, bem de uso comum do povo, torna-o também indisponível.” 45 Sendo

assim, “a defesa do meio ambiente é um dever precipuamente do Estado, que só

existe para prover as necessidades vitais da comunidade” 46, devendo-se fazer

cumpri-las de qualquer modo.

1.7 PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE

Concebe-se que o direito à propriedade é direito fundamental, conforme

disposto no art. 5º, incisos XXII e XXIII, da Constituição Federal de 1988. E diante de

tal fato, o legislador condicionou corretamente o uso da propriedade ao bem-estar

social das populações.47

Isso tem um significado importante atualmente, visto que a população

contemporânea se estabeleceu predominantemente nas propriedades urbanas.

Nesse sentido manifesta-se Edis Milaré:

[...] a atual Lei Civil brasileira acabou por contemplar a função ambiental como elemento marcante do direito de propriedade, ao prescrever que tal direito „deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evita a poluição do ar e das águas.48

De acordo com este pensamento, a previsão constitucional do art. 5º, inciso

XXIII, estabelece que “a propriedade atenderá a sua função social”. Este princípio diz

45

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 765.

46 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 765.

47 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 774.

48 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 774.

27

respeito a estrutura do direito, segundo a qual a função social da propriedade se

transforma de acordo com as mudanças na relação de produção. Nessa seara,

leciona José Afonso da Silva:

E toda vez que isso ocorreu, houve transformação na estrutura interna do conceito de propriedade, surgindo nova concepção sobre ela, de tal sorte que, ao estabelecer expressamente que a propriedade atenderá a sua função social, mas especialmente quando o reputou princípio da ordem econômica (art. 170, II e III), a Constituição não estava simplesmente preordenando fundamentos às limitações, obrigações e ônus relativamente à propriedade privada, mas adotando um princípio de transformação da propriedade capitalista, sem socializá-la, um princípio que condiciona a propriedade como um todo, não apenas seu exercício, possibilitando ao legislador entender com os modos de aquisição em geral ou com certos tipos de propriedade, com seu uso, gozo e disposição.49

Ainda, ao se tratar dos princípios gerais da ordem econômica, percebe-se

que o constituinte se atém em assegurar os ditames da justiça social, observando o

princípio da “função social da propriedade”, conforme mencionado no art. 170, inciso

III, da Constituição Federal de 1988.

Neste sentido, explica Fernanda de Salles Cavedon:

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ao qualificar a Propriedade como portadora de uma função social e de uma função ambiental, visa à solução dos conflitos entre interesses individual do proprietário e os interesses da coletividade. Dentre estes, destaca-se o interesse em gozar de um ambiente saudável, e alcançar as finalidades sociais que almeja a sociedade brasileira, como o desenvolvimento econômico individual que traga, concomitantemente, vantagens para a coletividade.50

E também, ao se estabelecer no art. 186, inciso II, da Carta Magna, que a

propriedade rural cumpre sua função social quando utiliza adequadamente seus

recursos naturais e quando atende à preservação do meio ambiente, o constituinte

quis impor ao proprietário rural o dever de preservação ambiental ao exercer seu

direito à propriedade.51

Deste modo, elucida Cristiane Derani:

49

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 65/66. 50

CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. Florianópolis: Visualbooks, 2003, p. 65.

51 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios Fundamentais do Direito Ambiental. Disponível em: <http://www.direitoambiental.adv.br/ambiental.qps/Ref/PAIA-6SRNQ8> Acesso em: 18 jun 2010.

28

Cabe ao detentor de direito de propriedade sobre parcela do meio ambiente torná-lo ou mantê-lo ecologicamente equilibrado, orientando sua ação na otimização desses princípios (função social da propriedade e meio ambiente ecologicamente equilibrado). Em outras palavras, impõem-se ao detentor dos recursos ambientais – parcela do meio ambiente – o atendimento à função ambiental da propriedade, posto que estes bens apropriados e a manutenção de suas características ecológicas são indispensáveis à realização do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.52

Portanto, verifica-se que a função social da propriedade está diretamente

ligada à função ambiental da propriedade, de modo a preservar a fauna e a flora,

bem como as belezas naturais e o equilíbrio ecológico, evitando a ocorrência de

poluição do ar e das águas, com a conseqüente responsabilização do proprietário a

qualquer dano resultante da não observância da proteção ambiental da propriedade,

pois é sabido que se trata de um bem para fruição de todas as gerações: presentes e

futuras.

1.8 DEVERES ESPECÍFICOS DO PODER PÚBLICO NA TUTELA DO AMBIENTE

Seguindo a sequência dos princípios, estes devem ser respeitados tanto pela

sociedade quanto pelo Poder Público, que detém o dever de defender e preservar o

meio ambiente, conforme preceito constitucional. E a partir disto, o dever estatal

segue deveres específicos, que serão explicados abaixo.

Primeiramente, deve o Poder Público preservar e restaurar os processos

ecológicos essenciais, de forma a viabilizar condições de recuperar o ambiente

degradado, fundamento do princípio da reparação. Nas palavras de Edis Milaré,

processos ecológicos essenciais subentendem-se por “aqueles que garantem o

52

DERANI, Cristiane. A Propriedade na Constituição de 1988 e o Conteúdo da “Função Social”. IN: Revista de Direito Ambiental nº 27, ano 07. São Paulo: Revista dos tribunais. Julho/setembro de 2002, p. 67.

29

funcionamento dos ecossistemas e contribuem para a salubridade e higidez do meio

ambiente.” 53

E prossegue o Autor, trazendo um rol exemplificativo do que se pode

considerar como processos ecológicos essenciais:

[...] fixação, transformação, transporte e utilização de energia; produção, transporte e utilização de matérias várias; biodegradação de rejeitos; restituição aos corpos receptores (ar, água e solo) de suas condições e qualidades naturais; propagação e aperfeiçoamento das formas de vida num sentido evolutivo e de seleção natural; estabelecimento de condições adequadas à perpetuação e aperfeiçoamento da espécie humana, sobretudo no que ela tem de específico – a racionalidade e seus valores espirituais –, uma vez que o ser humano, tanto individual como socialmente, é parte integrante do mundo natural e do meio ambiente e, no ecossistema planetário, produz cultura.

Assim, deve-se considerar que a ação da sociedade é interligada aos

componentes bióticos e abióticos, sendo que qualquer intervenção do homem deve

ser no sentido de preservação ou recuperação da qualidade do meio ambiente

natural e do ambiente humano.54

Além disso, é dever do Poder Público fazer a promoção do manejo

ecológicos das espécies e dos ecossistemas, de forma a conservar os recursos

naturais e, se possível, a sua recuperação. E, nas palavras de José Afonso da Silva,

“promover o manejo dos ecossistemas quer dizer cuidar do equilíbrio das relações

entre a comunidade biótica e o seu hábitat.”55

Assim sendo, os cuidados, objeto de planejamento pelo Poder Público,

devem incluir o “uso do solo, o macrozoneamento, as forma e limites do

adensamento urbano, a exploração racional e sustentável e outros procedimentos

compatíveis.” 56

53

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 152.

54 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 152.

55 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 53.

56 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 153.

30

Com efeito, deve-se ater o Poder Público na preservação da biodiversidade e

no controle das entidades de pesquisas e manipulações de materiais genéticos.

Entende-se por biodiversidade ou diversidade biológica:

[...] a variedade de vida no planeta, incluindo a variedade genética dentro das populações e das espécies; variedade das espécies da flora, da fauna, fungos macroscópicos e microorganismos; variedade de comunidades, hábitats e ecossistemas (terrestres, marinhos ou outros aquáticos) formados pelos organismos vivos; variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e diversidade de interações entre espécies e ecossistemas. Biodiversidade refere-se, também, tanto ao número (riqueza) de diferentes categorias biológicas quanto à abundância relativa (equitativa) dessas categorias; e inclui variabilidade em nível local (alta diversidade), complementaridade biológica entre hábitats (beta diversidade) e variabilidade entre paisagens (gama diversidade).57

Assim, o fato da preservação da biodiversidade significa “reconhecer,

inventariar e manter o leque dessas diferenças de organismos vivos” 58, sendo que

desta forma é que se aumenta a possibilidade de vida na Terra, através da inovação

outras formas de alimentação e de cura de doenças.59

Diante disto, é que se discute a necessidade da biodiversidade e da

integridade do patrimônio genético, pois é deles que dependem, por exemplo, a

criação de novas formas de alimentos e substâncias farmacêuticas.60

Assim, torna-se necessária a existência de mecanismos de controle e

pesquisas de materiais genéticos, devendo-se cultivar a manutenção dos estoques

genéticos em estado natural. Por isso a importância da preservação da

biodiversidade, eis que o controle da ciência continua em andamento, sendo que ao

se degradar determinado ambiente onde há a existência de espécies que ainda não

57

BRASIL, Anna Maria; SANTOS, Fátima. Dicionário: O Ser Humano e o Meio Ambiente de A a Z. 3. ed. São Paulo:Faarte, 2007, p. 95/96.

58 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 154.

59 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 154.

60 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 155.

31

são conhecidas geneticamente torna-se fundamental a reserva de meios capazes de

reconstituir o que foi aniquilado.61

Visando essa preservação é que se cria a Lei nº 11.105/2005, que

regulamenta os incisos II, IV e V, do § 1º, do art. 225, da Constituição Federal,

estabelecendo:

[...] normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente.62

Além disso, é dever do Poder Público, delimitar os espaços territoriais para

proteção. Sabe-se que, historicamente, esta idéia surge na “Europa, durante a Idade

Média, com o objetivo de proteger recursos da fauna silvestre e seus hábitats para o

exercício de caça pela realeza e aristocracia rural.” 63 Ao longo do tempo, surgiram

outras medidas para proteção do meio ambiente, de maneira a proteger “as áreas

naturais que pudessem servir à população como um todo”.64

Com a evolução dos pensamentos, é que a Constituição Federal de 1988,

inovou utilizando-se em seu art. 225, § 1º, inciso III, a terminologia “espaços

territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos”, objetivando

“proteger os atributos ambientais justificadores do seu reconhecimento e

individualização pelo Poder Público.” 65

61

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 156/157.

62 BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Art. 1º, caput. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/lei/L11105.htm>. Acesso em: 19 jun 2010.

63 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 157.

64MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 158.

65 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 158.

32

Pode-se considerar espaços territoriais especialmente protegidos, em

sentido estrito, as Unidades de Conservação, previstas expressamente na Lei nº

9.985/200066, que são:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.67

Ainda, quanto aos espaços territoriais especialmente protegidos, em sentido

amplo, estão “as demais áreas protegidas, como por exemplo, as Áreas de

Preservação Permanente e as Reservas Florestais legais (disciplinas pela Lei

4.771/1965 – Código Florestal), e as Áreas de Proteção Especial (previstas na Lei

6.799/1979 – Parcelamento do Solo Urbano)” 68, de acordo com as finalidades

adequadas, diferentemente das Unidades de Conservação, as quais “estão

destinadas ao estudo e preservação de exemplares da flora e da fauna.” 69

Outro papel fundamental do Poder Público é requisitar dos empreendedores

a realização de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para projetos que possam causar

impactos degradadores do meio ambiente, devendo-se apresentar nesses casos

medidas mitigadoras. O EIA é parte integrante da Avaliação de Impacto Ambiental,

introduzido pela Lei nº 6.803/1980, que “dispõe sobre as diretrizes básicas para o

zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição.” 70

Em 1981, ocorre o advento da Lei nº 6.938, que institui a Política Nacional do

Meio Ambiente, e que estabelece “as definições, as responsabilidades, os critérios

básicos e as diretrizes gerais para o uso e implemento” 71 do Estudo de Impacto

Ambiental.

66

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 160.

67 BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Art. 2º, inciso I. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm> Acesso em: 19 jun 2010.

68 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 160.

69 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 10. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 559

70 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 160.

71 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 160.

33

Na Constituição Federal de 1988, no art. 225, § 1º, inciso IV, o constituinte

consolidou o papel do EIA, como forma de instrumento de proteção do meio

ambiente, destinado à prevenção de danos ambientais,72 para as atividades

potencialmente causadoras de degradação ambiental, como forma de se prever o

dano antes que ele aconteça, para que se possa evitá-lo.

Espelhando-se no princípio do ambiente ecologicamente equilibrado,

percebe-se a importância do Poder Público em controlar a produção,

comercialização e utilização de técnicas, métodos e substâncias nocivas à saúde, à

qualidade de vida e ao meio ambiente, de forma que se possa impedir a prática de

atividades danosas à saúde das pessoas e do meio ambiente.73

Diante disso, tem-se que é dever do Poder Público fiscalizar a utilização de

“tecnologias e processos produtivos obsoletos, inadequados ou impróprios, de

qualquer forma atentatórios à saúde humana e à ambiental”, não podendo “ser

produzidos, comercializados e utilizados.” 74

Conforme leciona Edis Milaré, “não basta apenas fiscalizar: é preciso ainda –

e principalmente – controlar o emprego de técnicas, bem como a manutenção de

substâncias no fabrico de produtos que, por suas propriedades, acabam por

comprometer a vida e o equilíbrio do meio ambiente.” 75 Portanto, deve-se

estabelecer um controle na utilização e manutenção desses produtos de forma a

prevenir danos às populações a ao meio ambiente, visando alcançar um meio

ambiente ecologicamente equilibrado para a sadia qualidade de vida das pessoas.

Em vista do progresso econômico e social que vem crescendo com o passar

do tempo, torna-se necessária a implementação, por parte do Poder Público, de

políticas de incentivo à educação ambiental, para que se possa ter um futuro

72

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 161.

73 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 162.

74 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 162.

75 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 162.

34

ambiental conservado, de forma que toda a humanidade possa fazer uso de meio

ambiente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida.

Desta forma, o constituinte estabelece no art. 225, § 1º, inciso VI, da

Constituição Federal, o dever de “promover a educação ambiental em todos os níveis

de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” 76 Da

mesma maneira, a Lei nº 9.795/1999, instituiu em seu art. 2º, que “a educação

ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo

estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo

educativo, em caráter formal e não-formal.” 77

Neste sentido, observa-se o pensamento do doutrinador Edis Milaré,

restringindo-se a tutela constitucional: “[...], a Educação Ambiental como incumbência

precípua do Poder Público na promoção do exercício da cidadania.” 78 A partir disso,

tem-se que a educação ambiental, como preceito constitucional, é uma exigência

nacional social e natural,79 para a conservação de um ambiente equilibrado às

gerações presentes e futuras, vez que adquire uma dimensão transcendental para a

sociedade.

A Constituição Federal de 1988 institui em seu art. 225, § 1º, inciso VII, que é

de competência do Poder Público a proteção “à fauna e à flora, vedadas, na forma

da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a

extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.” 80

Desta forma, entende-se por fauna, o “conjunto das espécies de animais

características de determinada área (território, país, região, distrito, etc.), época ou

76

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 225, § 1º, inciso VI. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 19 jun 2010.

77 BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Art. 2º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm> Acesso em: 19 jun 2010.

78 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 164.

79 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 164.

80 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 225, § 1º, inciso VII. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 19 jun 2010.

35

meio ambiente específico.” 81 E, entende-se como flora, o “conjunto das espécies

vegetais (incluindo as algas e os fitoplânctons marinhos flutuantes) características de

determinada área (território, país, região, distrito, etc.), época ou meio ambiente

específicos.” 82

Tendo em vista isso, percebe-se que parte da legislação infraconstitucional

obedece a determinação à proteção de cada tipo de fauna e flora, como ocorre com

a Lei nº 9.605/1998, que estabelece em seus arts. 29 a 37, penalidades aos crimes

contra a fauna, e nos arts. 38 a 53, os crimes contra a flora.

Além disso, quanto à flora, a Lei nº 4.771/65 vem para amparar e dar

proteção às florestas e demais vegetações, de modo a serem utilizadas de forma

sustentável. Sendo que a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o

Planalto Mato Grossense e a Zona Costeira, possuem um tratamento ainda mais

protecionista, em virtude de suas peculiaridades, de forma que estão inseridas no art.

225, § 4º, da Lei Maior.83

Desta forma, o amparo às florestas e demais vegetações serão melhor

abordados no decorrer do 2º (segundo) capítulo que traz um panorama geral da

legislação ambiental existente.

81

BRASIL, Anna Maria; SANTOS, Fátima. Dicionário: O Ser Humano e o Meio Ambiente de A a Z. 3. ed. São Paulo:Faarte, 2007, p. 234.

82 BRASIL, Anna Maria; SANTOS, Fátima. Dicionário: O Ser Humano e o Meio Ambiente de A a Z. 3. ed. São Paulo:Faarte, 2007, p. 241.

83 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 166.

36

2 PANORAMA GERAL DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE MEIO

AMBIENTE NATURAL E ARTIFICIAL

O presente capítulo trata do instituto sobre meio ambiente natural e artificial,

abordando a legislação pertinente a cada tipo de meio ambiente, bem como

questões ambientais e urbanísticas presentes na Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988.

2.1 MEIO AMBIENTE NATURAL E ARTIFICIAL

Ao iniciar os estudos ambientais, torna-se necessário verificar a existência de

elementos que influenciam os seres vivos no desenvolvimento de cada comunidade.

Estes elementos são os fatores abióticos e bióticos. Define-se fatores abióticos como

aqueles que influenciam as comunidades de seres vivos de um mesmo local, por

exemplo: a água, o clima, a temperatura, ou seja, fatores naturais do ambiente.84 Já

os fatores bióticos são aqueles desenvolvidos a partir da transformação do homem

na comunidade em um ecossistema, como carros, bicicletas, casas, em suma,

fatores não-naturais do ambiente.85

Todos os seres vivos são influenciados pelos elementos abióticos e bióticos,

que estão, essencialmente, presentes no desenvolvimento da vida. Como resultado,

surgem diferentes composições de tipos de meio ambiente, quais sejam: natural,

84

Fator Abiótico. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Fator_abi%C3%B3tico> Acesso em: 13 ago 2010.

85 Só Biologia. Disponível em: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Ecologia/abioticosebioticos.php>. Acesso em: 13 ago 2010.

37

artificial, cultural e do trabalho, sendo os dois primeiros estudados no presente

trabalho científico.

Nesse limiar, percebe-se que o meio ambiente natural é aquele existente

sem a intervenção do homem, cuja composição e concentração variam conforme

cada localidade. Conceitua Celso Antônio Pacheco Fiorillo:

O meio ambiente natural, ou também denominado como físico, representa o conjunto formado pelos recursos naturais, ou seja, é constituído pela atmosfera, pelos elementos da biosfera, pelas águas, pelo solo, subsolo, pela fauna e flora; no qual está concentrado o fenômeno da homeostase, que consiste no equilíbrio de caráter dinâmico entre os seres vivos e o meio, no qual se encontram inseridos.86

Compondo o meio ambiente natural, encontra-se o ar como recurso e

elemento fundamental para a existência dos seres. Assim entende Edis Milaré:

Ligado estreitamente aos processos vitais de respiração e fotossíntese, à evaporação, à transpiração, à oxidação e aos fenômenos climáticos e meteorológicos, o recurso ar – mais amplamente, a atmosfera – tem um significado econômico, além do biológico ou ecológico, que não pode ser devidamente avaliado. 87

Ainda sobre o tema, preceitua José Afonso da Silva:

Os ciclos da biosfera penetram os seres vivos. A respiração, com a troca de oxigênio e gás carbônico, integra o ciclo desses minerais. É fácil concluir que o ar contaminado, poluído, degradado, constitui um veneno para a saúde, na medida em que sua ingestão não pode ser evitada, já que nenhum ser vivo pode sobreviver sem aspirá-lo.88

A água é outro componente valiosíssimo à existência de vida. “Aliás, ela

participa com elevado potencial na composição dos organismos e dos seres vivos

em geral – suas funções biológicas e bioquímicas são essenciais [...].” 89

As funções da água englobam vários processos biológicos, são

condicionantes ao clima e à existência dos seres. Verifica-se que a superfície do

planeta Terra é composta de ¾ de água, sendo que somente 2,5 % desse total são

86

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 22.

87 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 204.

88 SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 77.

89 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 215.

38

de água doce, ou seja, aproveitáveis ao consumo. Grande parte da água do Planeta

está nos oceanos, ainda não aproveitados ao consumo.90

O solo é outro elemento do meio ambiente natural, e tem importância

notadamente relevante no presente estudo, pois representa a expectativa de

preservação do espaço social.

Nas palavras de Edis Milaré:

Na visão da Ecologia, o solo, por assim dizer, tem a sua “vida própria”, além de dar suporte aos biomas e ecossistemas peculiares – por exemplo, o mundo de fungos e decompositores, que renunciam à superfície aberta para adentrarem nas camadas internas da terra e prepararem elementos necessários à perpetuação da vida que se expande fora. 91

Ainda, para José Afonso da Silva:

O solo, que do ponto de vista ecológico é constituído da camada da superfície da crosta terrestre, capaz de abrigar raízes de plantas, representa o substrato para a vegetação terrestre. É, assim, a terra vegetal, meio em que associam a litosfera, a hidrosfera e a atmosfera; é, pois, meio de sustentação de visa.

Na aplicação das legislações ambientais, verifica-se que a proteção do solo é

tutelada de forma preventiva e reparativa, através das diversas leis ambientais de

proteção e prevenção de degradação do solo. Os cuidados com a proteção do solo,

constatam-se, por exemplo, na “agricultura, que é regida pela Lei da Política

Agrícola, e da construção civil, que é disciplinada pelas leis municipais de uso e

ocupação do solo urbano, notadamente pelo Pano Diretor do Município”92 e no

Estatuto das Cidades.

Os cuidados com a preservação do solo vêm sendo introduzidos nas leis,

como por exemplo, o Código Florestal e a Lei de Parcelamento do Solo Urbano, de

forma a prevenir e zelar pela boa qualidade do solo. Visto que, não há como negar

90

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 215.

91 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 225/226.

92 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 228.

39

que o solo representa o espaço em que se fixam as sociedades e que influencia a

qualidade de vida de seus habitantes.

Destarte, observa-se que no âmbito de um ecossistema existem vários

fatores que fazem relações entre os seres vivos que ali coexistem, dentre esses

elementos estão a flora. Como define Edis Milaré:

A flora é entendida como a totalidade de espécies que compreende a vegetação de uma determinada região, sem qualquer expressão de importância individual dos elementos que a compõem. Elas podem pertencer a grupos botânicos os mais diversos, desde que estes tenham exigências semelhantes quanto aos fatores ambientais, entre eles os biológicos, os do solo e do clima.93

Salienta-se que, historicamente, a preocupação com a preservação da flora

ocorre “[...] depois dos grandes desbravamentos e explorações ocorridos no Brasil,

principalmente após a derrubada quase total da Mata Atlântica.” 94

Desta forma, a legislação de prevenção e proteção à flora brasileira inicia-se,

primeiramente, com a inclusão dos arts. 23, VII, 24, VI e 30, II, da Constituição da

República de 1988. Logo após, vem o art. 225, da Carta Magna, que se refere ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado, fazendo menção à proteção da flora.

Considerando-se que a evolução da vida em nosso Planeta é percebida, com

o passar do tempo, pelo grande crescimento das espécies presentes na fauna, e que

estes funcionam como indicadores do aumento da diversidade do sistema ecológico,

surge uma nova perspectiva na qual, “entende-se por fauna o conjunto dos animais

que vivem numa determinada região, ambiente ou período geológico. A noção vulgar

também se refere ao conjunto dos animais que habitam o Planeta na atualidade ou

que nele viveram em épocas anteriores.” 95

Neste novo contexto ideológico, passa-se a compreender o meio ambiente

artificial como sendo aquele “constituído pelo espaço urbano construído,

consubstanciado no conjunto de edificações (espaço urbano fechado) e dos

93

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 238.

94 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 241.

95 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 244.

40

equipamentos públicos (ruas, praças, áreas verdes, espaços livres em geral: espaço

urbano aberto)”.96

Por conseqüência, na legislação brasileira, o meio ambiente artificial é

tratado como norma constitucional, nos arts. 182 e seguintes da Constituição Federal

de 1988, sendo interpretado também nos arts. 5º, XXIII, 21, XX, 170 e 225, deste

mesmo diploma legal.

Torna-se pertinente perceber que há uma ligação direta entre o meio

ambiente artificial e a boa qualidade de vida, bem como a ligação existente entre os

aspectos da dignidade da pessoa humana e a própria vida, uma vez que o

patrimônio ambiental artificial modifica-se a cada momento, de forma a transformar o

ambiente natural e cultural, tornando o Planeta cada dia diferente e mais artificial,

influenciando no modo de vida do mesmo ser humano que altera as condições de

sua própria subsistência. Contudo, é importante que algumas medidas sejam

utilizadas para readequar e impor limites a estas transformações:

[...] (i) o rigor no planejamento, especialmente no zoneamento, na ocupação e no uso do solo; (ii) o cuidado especial com o entorno das cidades, assim como na paisagem natural circundante e na paisagem urbana propriamente dita; e (iii) o incentivo permanente à criação de áreas de proteção ambiental por iniciativa dos três níveis de governo – federal, estadual e, muito particularmente, o municipal. 97

Assim, evidencia-se que da mesma forma que o meio ambiente natural

precisa de proteção e preservação, o meio ambiente artificial também necessita da

tutela de proteção de seus elementos construídos e transformadores.

Por fim, as normas de preservação regem-se pela “[...] inserção de princípios

ambientais em Planos Diretores e leis de uso do solo e, principalmente, com a

instituição de Sistemas Municipais de Meio Ambiente e a edição de Códigos

Ambientais municipais.” 98

96

SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 03. 97

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 274.

98 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 278.

41

2.2 A QUESTÃO AMBIENTAL E URBANÍSTICA NA CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

O direito ambiental começa a ter proteção a partir da promulgação da Lei da

Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), a qual enseja a evolução de

um paradigma jurídico, no qual se postulava que “[...] não maltratasse a terra, seus

arvoredos e os processos ecológicos essenciais a ela associados. [...] que ganhou

velocidade com a democratização em 1985 e recebeu extraordinária aceitação na

Constituição de 1988.” 99

Diversos são os dispositivos constitucionais que demonstram preocupação

na constitucionalização do direito ambiental. Destaque-se, aqui, a Declaração de

Estocolmo de 1972, que é de grande influência na formação das leis nacionais de

cunho protecionista.

Ao se analisar os dispositivos constitucionais ambientais brasileiros, verifica-

se que o legislador preocupa-se em proteger a vida em todas as suas formas, com o

fim de garantir uma boa qualidade de vida às gerações presentes e futuras, de modo

a orientar o Poder Público, os particulares e a iniciativa privada na preservação e

proteção do Meio Ambiente, conforme é determinado no art. 225, da Carta Magna:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (Grifei)

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

99

CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (orgs.). Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 57/58.

42

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.

§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. 100

Constata-se de grande importância este dispositivo legal uma vez que visa

assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, o

100

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 225. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em 13 ago 2010.

43

qual determina ao Poder Público deveres específicos que devem ser cumpridos em

um período de democracia ambiental.101

Dentre as incumbências atribuídas ao Poder Público pela Constituição

Federal de 1988, encontram-se o dever de criar uma política de desenvolvimento

urbano para atender aos princípios ambientais constitucionais, conforme mencionado

no art. 182:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. (Grifei)

§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.

§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. 102

Desta forma, o constituinte ao instituir o dispositivo acima mencionado, quis

relacionar a conservação dos processos ecológicos com o manejo da diversidade

biológica, como direito fundamental à pessoa humana. Por pertencerem a áreas do

ecossistema, esses espaços ambientais, públicos ou privados, “devem sujeitar-se a

101

CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (orgs.). Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 230.

102 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 182. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em 13 ago 2010.

44

um regime jurídico especial que assegure, nas palavras de Silva, „sua relativa

imodificabilidade e sua utilização sustentada‟”.103 Assim, o constituinte estabelece

normas para “[...] proibir a utilização dessas áreas de forma que resultasse prejuízo à

integridade de seus componentes e de suas finalidades.” 104

2.3 A LEGISLAÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL

O meio ambiente artificial conforme já mencionado anteriormente, constitui-se

por aquele composto pelo espaço urbano construído (edificado). E para que este tipo

de meio ambiente seja preservado e conservado, torna-se necessária a instituição de

normas infraconstitucionais para sua complementação e aplicabilidade.

2.3.1 Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/01)

O Estatuto da Cidade é a denominação da Lei nº 10.257, de 10 de julho de

2001, que cria vários instrumentos visando alcançar o desenvolvimento urbano,

estabelecendo normas de ordem pública e interesse social, regulando o uso da

propriedade urbana, bem como visando assegurar o bem-estar aos cidadãos e o

103

CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (orgs.). Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 239/240.

104 CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (orgs.). Direito Constitucional

Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 240.

45

equilíbrio do meio ambiente105, sendo, o plano diretor, a principal norma de defesa do

interesse da cidade.

Além disso, a Lei nº 10.257 institui diretrizes gerais, conforme disposto no

art. 2º do Estatuto:

Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;

II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;

III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social;

IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;

V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais;

VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:

a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;

b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;

c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infra-estrutura urbana;

d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de tráfego, sem a previsão da infra-estrutura correspondente;

e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização;

f) a deterioração das áreas urbanizadas;

g) a poluição e a degradação ambiental;

105

BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Art. 1º, parágrafo único. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em 13 ago 2010.

46

VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência;

VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e do território sob sua área de influência;

IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização;

X – adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais;

XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de imóveis urbanos;

XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico;

XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população;

XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais;

XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais;

XVI – isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social.106

Ao se fazer uma análise breve do texto do art. 2º acima descrito com o texto

constitucional do art. 182, verifica-se que no texto constitucional o objetivo descrito é

a garantia do bem-estar da população que vive nas cidades, e no art. 2º do Estatuto,

fala-se em “desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade

urbana”, quando na verdade em sentido lato sensu, o desenvolvimento, nada mais é

106

BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Art. 2º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em 13 ago 2010.

47

do que proporcionar e garantir o bem estar aos habitantes das cidades.107 Assim,

com a criação de uma lei federal para regulamentar as Cidades, faz-se “[...] renascer

o interesse nas questões urbanísticas e na necessidade de ajustá-las ao bem-estar

das populações das cidades.”108

Percebe-se, ainda, que além do disposto nos arts. 21, 23, 24, 25, 30 e o 182

da Constituição Federal de 1988, o art. 3º do Estatuto da Cidade, também faz

menção à competência para legislar sobre a política urbana:

Art. 3o Compete à União, entre outras atribuições de interesse da política urbana:

I – legislar sobre normas gerais de direito urbanístico;

II – legislar sobre normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios em relação à política urbana, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional;

III – promover, por iniciativa própria e em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;

IV – instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;

V – elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social.109

Quanto à importância entre as competências, não cabe avaliar a maior ou

menor, pois, em tese, é a mesma conferida pela Constituição. No entanto, cabe

destacar a competência dada aos Municípios acerca do objeto, qual seja, o

desenvolvimento urbano das cidades, sustentada na doutrina por José dos Santos

Carvalho Filho, onde se verifica que a responsabilidade primeira na defesa do meio

ambiente artificial faz parte do rol de obrigações do Poder Municipal do local onde

ocorre a urbanização.

Apesar de estarem na lei federal as diretrizes gerais, é ao governo municipal que vai incumbir a implantação e a execução dos planos

107

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Comentários ao Estatuto da Cidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 14.

108 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Comentários ao Estatuto da Cidade. 2. ed. Rio de Janeiro:

Lúmen Júris, 2006, p. 16. 109

BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Art. 3º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em 13 ago 2010.

48

urbanísticos, a iniciar pelo plano diretor, aprovado por lei, que é realmente o instrumento fundamental da ordem urbanística municipal.110

Enfim, o Estatuto da Cidade torna-se meio para a evolução e

desenvolvimento de políticas de proteção quando da expansão das cidades, com o

acréscimo de prezados instrumentos de controle urbanísticos, que, certamente, são

muito importantes para viabilizar, permitir e regular a materialização e aplicação do

Direito Ambiental e Urbanístico nas Cidades.

2.3.2 Plano Diretor

É nas cidades que grande parte da população vive atualmente, e para que

seja possível a contenção e repressão aos efeitos degradativos decorrentes da

expansão urbana desordenada é que se instituem os Planos Diretores das Cidades,

que tem como objetivo a ordenação da cidade, o controle do uso do solo, e o

planejamento futuro de cada município, servindo de auxílio à legislação federal

(Estatuto da Cidade).

O Plano Diretor é uma lei municipal que estabelece diretrizes para a ocupação da cidade. Ele deve identificar e analisar as características físicas, as atividades predominantes e as vocações da cidade, os problemas e as potencialidades. É um conjunto de regras básicas que determinam o que pode e o que não pode ser feito em cada parte de cidade. É processo de discussão pública que analisa e avalia a cidade que temos para depois podermos formular a cidade que queremos. Desta forma, a prefeitura em conjunto com a sociedade, busca direcionar a forma de crescimento, conforme uma visão de cidade coletivamente construída e tendo como princípios uma melhor qualidade de vida e a preservação dos recursos naturais. O Plano Diretor deve, portanto, ser discutido e aprovado pela Câmara de Vereadores e sancionado pelo prefeito. O resultado, formalizado

110

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Comentários ao Estatuto da Cidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 18.

49

como Lei Municipal, é a expressão do pacto firmado entre a sociedade e os poderes Executivo e Legislativo.111

Nas palavras de José Afonso da Silva:

O Plano Diretor, como instrumento de atuação da função urbanística dos Municípios, constitui um plano geral e global que tem, portanto, por função sistematizar o desenvolvimento físico, econômico e social do território municipal, visando o bem-estar da comunidade local.112

Seus objetivos gerais são: “[...] promover a ordenação dos espaços

habitáveis do Município”113 de modo a “[...] instrumentar uma estratégia de mudança

no sentido de obter a melhoria da qualidade de vida da comunidade local.” 114

Os objetivos específicos do plano diretor variam de acordo com a realidade

de cada Município.

Traduzem-se em objetivos concretos de cada um dos projetos que integram o plano, tal como reurbanização de um bairro, alargamento de determinada via pública, construção de vias expressas, intensificação da industrialização de área determinada, construção de casas populares, construção de rede de esgoto, saneamento de determinada área, retificação de um rio e urbanificação de suas margens, zoneamento, arruamento, loteamento, etc.115

É um instrumento que busca planejar a política urbana municipal, consoante

previsão constitucional, no art. 182 da Constituição, através de um procedimento

técnico e também jurídico. A Lei nº 10.257/2001 estabelece as diretrizes da política

urbana e regulamenta os arts. 182 e 183 da Carta Magna, fazendo menção no

Capítulo III desta Lei, sobre o Plano Diretor, nos arts. 39 a 42.

Sua elaboração é de competência do Executivo Municipal, por meio dos

órgãos de planejamento da Prefeitura, conforme dispõe o art. 40, da Lei nº

10.257/2001:

Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana.

§ 1o O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o

111

SANTA CATARINA. Prefeitura Municipal de Itajaí.Disponível em: <http://plano.itajai.sc.gov.br/>. Acesso em: 13 ago 2010.

112 SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 124.

113 SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 124.

114 SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 124.

115 SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 124.

50

orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.

§ 2o O plano diretor deverá englobar o território do Município como um todo.

§ 3o A lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos.

§ 4o No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão:

I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade;

II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos;

III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos.116

Ainda, dispõe o art. 41, da mesma Lei:

Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:

I – com mais de vinte mil habitantes;

II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;

III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4o do art. 182 da Constituição Federal;

IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;

V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.

§ 1o No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados no inciso V do caput, os recursos técnicos e financeiros para a elaboração do plano diretor estarão inseridos entre as medidas de compensação adotadas.

§ 2o No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser elaborado um plano de transporte urbano integrado, compatível com o plano diretor ou nele inserido. 117

Ainda, tornam-se necessários estudos preliminares para avaliar as

circunstâncias e os problemas de desenvolvimento da Cidade, estabelecendo-se

assim, o planejamento municipal. Isto é feito através de um diagnóstico, que

pretende analisar intimamente os problemas de crescimento de cada Município,

116

BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Art. 40. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em 13 ago 2010.

117 BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Art. 41. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em 13 ago 2010.

51

procurando atender às necessidades existentes, e definir quais são os tipos de

atuações a serem desenvolvidos.118

Além disso, na formulação de um Plano Diretor é elaborado um plano de

diretrizes, “que estabelece uma política para as soluções dos problemas escolhidos e

fixa objetivos e diretrizes da organização territorial;” 119 bem como, para uma

“instrumentação do Plano, que compreende a elaboração dos instrumentos de

atuação, de acordo com as diretrizes estabelecidas, e identifica as medidas capazes

de atingir os objetivos escolhidos”.120

No que tange às etapas de elaboração do Plano Diretor, existe o projeto de

lei que é submetido à Câmara Municipal, para aprovação. As orientações e preparos

são feitos por parte do Prefeito Municipal, que deve seguir as normas do processo

legislativo previsto na lei orgânica dos Municípios. Após apresentado à Câmara, faz-

se remessa para estudos técnicos e parecer, para, então, ser aceito ou rejeitado.121

Conforme disposto no art. 42, da Lei nº 10.257/2001:

Art. 42. O plano diretor deverá conter no mínimo:

I – a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, considerando a existência de infra-estrutura e de demanda para utilização, na forma do art. 5o desta Lei;

II – disposições requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 desta Lei;

III – sistema de acompanhamento e controle.122

O conteúdo da lei do Plano Diretor estabelece regras de regulamentação ao

Município, definindo áreas de zoneamento, ocupação do solo e sistemas de

circulação, como segue:

Estabelecerá as normas ordenadoras e disciplinadoras pertinentes ao planejamento territorial. Definirá as áreas urbanas, urbanizáveis e de expansão urbana. Disporá sobre a ordenação do solo, estabelecendo as regras fundamentais do uso do solo, incluindo o parcelamento, o zoneamento, o sistema de circulação, enfim sobre aqueles três

118

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 127/128. 119

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 128. 120

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 128. 121

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 129/130. 122

BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Art. 42. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em 13 ago 2010.

52

sistemas antes indicados: Sistema Viário, Sistema de Zoneamento e Sistema de Lazer e Recreação.123

Por fim, quanto à eficácia da lei do Plano Diretor, esta ocorre a partir de sua

entrada em vigor. E, a sua execução, se produzirá com a efetiva utilização e/ou

aplicação da lei, sendo, às vezes, necessária a expedição de leis especiais, a fim de

complementar o Plano, como o caso de planos executivos, planos especiais e planos

parciais, por ele exigidos.124

2.3.3 Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei nº 6.766/79)

O parcelamento do solo urbano é regido pela Lei nº 6.766, de 19 de

dezembro de 1979, conforme dispõe o referido diploma legal:

Art. 1º O parcelamento do solo para fins urbanos será regido por esta Lei.

Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão estabelecer normas complementares relativas ao parcelamento do solo municipal para adequar o previsto nesta Lei às peculiaridades regionais e locais.125

Consoante previsão legal, o parcelamento do solo pode se apresentar de

duas formas, quais sejam, o loteamento e o desmembramento.126

O parcelamento do solo, na modalidade loteamento, ocorre quando há

“subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, com abertura de novas vias

123

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 130. 124

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 131. 125

BRASIL. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Art. 1º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6766.htm>. Acesso em 13 ago 2010.

126 BRASIL. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Artigo 2º. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L6766.htm>. Acesso em: 13 ago 2010.

53

de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação

das vias existentes”.127

Já na modalidade de desmembramento, apesar de também haver a

subdivisão do terreno que ainda não é objeto de parcelamento, em lotes destinados

à edificação, aproveita-se as vias e ruas públicas já existentes, não podendo ocorrer

sua modificação ou alteração, isto é, não havendo abertura de novos logradouros e

nem mudanças destes.128

Conforme dispõe o artigo 3º, da lei mencionada, o parcelamento do solo

apenas pode ser aprovado com finalidades urbanas, de expansão urbana ou de

urbanização especificadas pelo Estado, Município ou por particulares, que deve

encontrar previsão no plano diretor ou em lei municipal.

Há requisitos urbanísticos necessários à implantação de loteamento.

Primeiramente, os loteamentos devem atender às áreas de uso público, destinadas a

operar equipamentos urbanos de circulação e espaços livres, levando em conta a

proporção em relação à densidade de ocupação populacional previstas ao local

objeto do parcelamento do solo.129

Assim, tem-se no dispositivo legal:

Art. 4º - Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos:

I - as áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamento urbano e comunitário, bem como a espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade de ocupação prevista pelo plano diretor ou aprovada por lei municipal para a zona em que se situem;

II - os lotes terão área mínima de 125 m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e frente mínima de 5 (cinco) metros, salvo quando a legislação estadual ou municipal determinar maiores exigências, ou quando o loteamento se destinar a urbanização específica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, previamente aprovados pelos órgãos públicos competentes;

127

BRASIL. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Artigo 2º, § 1º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L6766.htm>. Acesso em: 13 ago 2010.

128 PIRES, Luiz Manuel Fonseca. Loteamentos urbanos – natureza jurídica. São Paulo: Quartier

Latin, 2006. p. 45. 129

MUKAI, Toshio. Direito urbano e ambiental. 3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2006. p. 149-150.

54

III - ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público das rodovias e ferrovias, será obrigatória a reserva de uma faixa não-edificável de 15 (quinze) metros de cada lado, salvo maiores exigências da legislação específica;

IV - as vias de loteamento deverão articular-se com as vias adjacentes oficiais, existentes ou projetadas, e harmonizar-se com a topografia local.

[...].130

Em relação ao parcelamento do solo, há também o Estatuto da Cidade (Lei

nº 10.257, de 10 de julho de 2001) que estabelece diretrizes gerais da política

urbana, no que tange aos seus instrumentos, o qual é estabelecido por “lei municipal

específica para área incluída no plano diretor que poderá determinar o parcelamento,

a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado

ou não utilizado,” devendo fixar as condições e os prazos para implementação da

referida obrigação.131

As exigências estabelecidas para o parcelamento do solo estão

consubstanciadas em princípios que norteiam o direito ambiental, tais como, o

princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da

pessoa humana, o princípio da natureza pública da proteção ambiental, princípio de

controle do poluidor pelo Poder Público, princípio de prevenção, bem como o

princípio da função socioambiental da propriedade.132

Ao requisitar a autorização de parcelamento do solo é necessário que haja

um planejamento estadual e municipal organizando as diretrizes, e identificando o

percentual e área para uso público, que precede questões sobre a impossibilidade de

desafetação de tais áreas, consideradas bens públicos.133

Deste modo, a Lei do Parcelamento do Solo Urbano, foi criada com o intuito

de urbanização das cidades, quando da ocorrência de êxito rural, de modo a

130

BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Art. 4º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em 13 ago 2010.

131 BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Art. 5º, caput. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em 13 ago 2010. 132

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 95-105.

133 SILVA, Maurício Fernandes da. A desafetação de áreas verdes advindas de aprovação de

loteamentos perante a tutela ambiental. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4208>. Acesso em: 13 ago 2010.

55

controlar o crescimento desordenado e estabelecendo uma política de controle e

fiscalização da ocupação da população no solo urbano das cidades.

2.4 A LEGISLAÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE NATURAL

O meio ambiente natural, já estudado acima, é aquele composto por

elementos abióticos e bióticos presentes em todo o globo terrestre. E, a partir desses

fatores, criam-se normas para sua proteção e preservação, como meio de controlar,

prevenir e recuperar situações resultantes da má-utilização humana.

2.4.1 Código Florestal (Lei nº 4.771/65)

O Código Florestal Brasileiro de 1965 é instituído pela Lei nº 4.771, de 15 de

setembro de 1965, e vem para contemporizar um pouco o antigo Código Florestal de

1934, o qual eliminou as categorias de florestas e passou a utilizar à classificação de

áreas de preservação permanente (APP).134

Com a melhora normativa do Código Florestal, e o advento da Lei nº

6.938/81, que cria a Política Nacional do Meio Ambiente, a faixa de preservação

permanente passa a ser considerada como reserva ecológica e unidades de

conservação, o que estabelece mais funções ambientais a essas áreas, conforme

disposto no art. 1º, do Código Florestal:

134

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 692.

56

Art. 1° As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem.

[...]

§ 2o Para os efeitos deste Código, entende-se por:

[...]

II - área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2o e 3o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)

[...].135

Conforme destaca Edis Milaré:

[...], as APPs têm esse papel (maravilhoso, aliás!) de abrigar a biodiversidade e promover a propagação da vida; assegurar a qualidade do solo e garantir o armazenamento do recurso água em condições favoráveis de quantidade e qualidade; já a paisagem é intrinsecamente ligada aos componentes do ecossistema. E mais, têm muito a ver com o bem-estar humano das populações que estão em seu entorno.136

As áreas de preservação permanente são espaços ambientalmente

protegidos, e estão delimitadas nos arts. 2º e 3º, do Código Florestal Brasileiro:

Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:

1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura;

2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

135

BRASIL. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Art. 1º, § 2º, inciso II. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm>. Acesso em 14 ago 2010.

136 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2007. p. 693.

57

5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura;

d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;

e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive;

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação.

Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, obervar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo.

Art. 3º Consideram-se, ainda, de preservação permanentes, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas:

a) a atenuar a erosão das terras;

b) a fixar as dunas;

c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;

d) a auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades militares;

e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;

f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção;

g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas;

h) a assegurar condições de bem-estar público.

§ 1° A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social.

58

§ 2º As florestas que integram o Patrimônio Indígena ficam sujeitas ao regime de preservação permanente (letra g) pelo só efeito desta Lei.137

Os espaços acima mencionados, tanto de domínio público quando privado,

leva-se em consideração o direto de propriedade, observando, sempre, a função

social da propriedade, consoante previsão constitucional, no art. 170, inciso III e VI,

da Constituição Federal. No entanto, toda essa proteção às áreas de preservação

permanente não é intocável, visto que, o próprio Código Florestal em seu art. 4º,

autoriza a supressão de APP em dois casos, para utilidade pública ou de interesse

social, conforme exposto abaixo:

Art. 4o A supressão de vegetação em área de preservação permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto. (Grifei)

§ 1o A supressão de que trata o caput deste artigo dependerá de autorização do órgão ambiental estadual competente, com anuência prévia, quando couber, do órgão federal ou municipal de meio ambiente, ressalvado o disposto no § 2o deste artigo.

§ 2o A supressão de vegetação em área de preservação permanente situada em área urbana, dependerá de autorização do órgão ambiental competente, desde que o município possua conselho de meio ambiente com caráter deliberativo e plano diretor, mediante anuência prévia do órgão ambiental estadual competente fundamentada em parecer técnico.

§ 3o O órgão ambiental competente poderá autorizar a supressão eventual e de baixo impacto ambiental, assim definido em regulamento, da vegetação em área de preservação permanente.

§ 4o O órgão ambiental competente indicará, previamente à emissão da autorização para a supressão de vegetação em área de preservação permanente, as medidas mitigadoras e compensatórias que deverão ser adotadas pelo empreendedor.

§ 5o A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, ou de dunas e mangues, de que tratam, respectivamente, as alíneas "c" e "f" do art. 2o deste Código, somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública.

§ 6o Na implantação de reservatório artificial é obrigatória a desapropriação ou aquisição, pelo empreendedor, das áreas de preservação permanente criadas no seu entorno, cujos parâmetros e regime de uso serão definidos por resolução do CONAMA.

137

BRASIL. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Arts. 2º e 3º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm>. Acesso em 14 ago 2010.

59

§ 7o É permitido o acesso de pessoas e animais às áreas de preservação permanente, para obtenção de água, desde que não exija a supressão e não comprometa a regeneração e a manutenção a longo prazo da vegetação nativa. 138

Assim, entende-se que a criação do Código Florestal Brasileiro vem

estabelecer normas para defesa do meio ambiente natural em face da realidade de

expansão urbana, de forma a proteger, áreas vulneráveis, como as áreas verdes e

de preservação permanente, visando assegurar o bem-estar da fauna e da flora e o

equilíbrio ambiental para as populações futuras.

2.4.2 Lei Da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81)

A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, instituiu a Política Nacional do Meio

Ambiente e cria o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISAMA). Esta Política

Nacional tem por finalidade preservar, melhorar e recuperar a “[...] qualidade

ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao

desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à

proteção da dignidade da vida humana, [...].” 139

E, visa:

Art. 4º. [...]

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

138

BRASIL. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Art. 4º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm>. Acesso em 14 ago 2010.

139 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Art. 2º, caput. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em 14 ago 2010.

60

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. 140

O Sistema Nacional do Meio Ambiente é constituído por Órgãos da União,

dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, e instituídos pelo

Poder Público a fim de conferir maior proteção ao meio ambiente.

Em resumo, esse Sistema possui a seguinte estrutura: o Conselho de

Governo, como Órgão superior, auxiliando o Presidente da República na formulação

das diretrizes e da política nacional do meio ambiente e dos recursos ambientais; o

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) como Órgão consultivo e

deliberativo, a fim de definir “[...] sobre normas e padrões compatíveis com o meio

ambiente, estabelecendo normas e padrões federais que deverão ser observados

pelos Estados e Municípios, [...]” 141; a Secretaria do Meio Ambiente como Órgão

central, “[...], com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como

órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio

ambiente” 142; o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA) que funciona como Órgão Federal executor das diretrizes e da

política nacional do meio ambiente; os Órgãos Seccionais que “são os órgãos ou

entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos, controle e

140

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Art. 4º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

141 Política Nacional do Meio Ambiente. Disponível em:

<http://www.jurisambiente.com.br/ambiente/politicameioambiente.shtm>. Acesso em: 14 ago 2010. 142

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Art. 6º, inciso III. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

61

fiscalização das atividades degradadoras do meio ambiente” 143 e por fim; os Órgãos

Locais municipais “[...] responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades,

nas suas respectivas jurisdições.” 144

2.4.3 Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC

(Lei nº 9.958/00)

As unidades de conservação estão regulamentadas pela Lei nº 9.985, de 18

de julho de 2000, a qual instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação

da Natureza, conhecido como a Lei do SNUC, e que veio estabelecer critérios para

regulamentar o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII, da Carta Constitucional de 1988.

Esta Lei é parcialmente explicitada pelo Decreto nº 4.340/02, que esclarece

alguns pontos importantes, conforme se vê:

Esse Decreto buscou detalhar melhor os aspectos legais referentes à criação de unidade de conservação, à gestão compartilhada com Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIPs, à exploração de bens e serviços, à compensação por significativo impacto ambiental, ao reassentamento de populações tradicionais, à reavaliação de categorias de unidades não previstas e, por fim, à gestão das reservas da biosfera.145

Entende-se por unidade de conservação, conforme disposto no art. 2º, inciso

I, da Lei nº 9.985/00:

Art. 2º.

I - [...] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de

143

Política Nacional do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.jurisambiente.com.br/ambiente/politicameioambiente.shtm>. Acesso em: 14 ago 2010.

144 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Art. 6º, inciso VI. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em: 14 ago 2010. 145

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 653.

62

conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.146

Ainda, acerca do conceito de unidades de conservação, preceitua Paulo de

Bessa Antunes:

Unidades de conservação são espaços territoriais que, por força de ato do Poder Público, estão destinados ao estudo e preservação de exemplares da flora e da fauna. As unidades de conservação podem ser públicas ou privadas. O estabelecimento de unidades de conservação foi o primeiro passo concreto em direção à preservação ambiental. 147

Assim, para que ocorra a formação jurídica-ecológica das unidades de

conservação, torna-se necessário verificar “[...] a relevância natural; o caráter oficial;

a delimitação territorial; o objetivo conservacionista; e o regime especial de proteção

e administração.” 148

Quanto aos objetivos do SNUC, encontram-se definidos no art. 4º, da Lei nº

9.985/00:

Art. 4º. [...]

I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;

II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;

III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;

IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;

V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;

VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;

VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;

VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;

146

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Art. 2º, inciso I. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm >. Acesso em: 14 ago 2010.

147 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008, p: 552.

148 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2007. p. 654.

63

IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;

XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;

XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;

XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.149

Essas finalidades, nas palavras de Edis Milaré, constituem um “[...] rico

conteúdo ecológico, que ultrapassa a visão da cobertura vegetal e da biodiversidade

inerentes a uma área, para ressaltar, igualmente em primeiro plano, elementos da

hidrosfera e da litosfera [...]”150 E, também, compreendem o caráter econômico,

através do desenvolvimento sustentável, “[...] processo este em que se vislumbra a

possibilidade de conjugar os interesses das populações locais com a integridade do

patrimônio ambiental natural.” 151

Em relação às diretrizes que constituem e regem o SNUC, observam-se

aquelas que:

Art. 5º [...]

I - assegurem que no conjunto das unidades de conservação estejam representadas amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitats e ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, salvaguardando o patrimônio biológico existente;

II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de conservação;

III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação;

IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas científicas, práticas de

149

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Art. 4º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm >. Acesso em: 14 ago 2010.

150 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2007. p. 655. 151

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 655.

64

educação ambiental, atividades de lazer e de turismo ecológico, monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das unidades de conservação;

V - incentivem as populações locais e as organizações privadas a estabelecerem e administrarem unidades de conservação dentro do sistema nacional;

VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades de conservação;

VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação in situ de populações das variantes genéticas selvagens dos animais e plantas domesticados e recursos genéticos silvestres;

VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de conservação sejam feitos de forma integrada com as políticas de administração das terras e águas circundantes, considerando as condições e necessidades sociais e econômicas locais;

IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos recursos naturais;

X - garantam às populações tradicionais cuja subsistência dependa da utilização de recursos naturais existentes no interior das unidades de conservação meios de subsistência alternativos ou a justa indenização pelos recursos perdidos;

XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários para que, uma vez criadas, as unidades de conservação possam ser geridas de forma eficaz e atender aos seus objetivos;

XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e respeitadas as conveniências da administração, autonomia administrativa e financeira; e

XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de unidades de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas respectivas zonas de amortecimento e corredores ecológicos, integrando as diferentes atividades de preservação da natureza, uso sustentável dos recursos naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas.152

A estrutura do SNUC está prevista no art. 6º, da Lei nº 9.985/00:

Art. 6º [...]

I – Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama, com as atribuições de acompanhar a implementação do Sistema;

II - Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de coordenar o Sistema; e

152

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Art. 5º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm >. Acesso em: 14 ago 2010.

65

III - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em caráter supletivo, os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades de conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação. 153

As unidades de conservação que integram o SNUC dividem-se em dois

grupos, com características específicas: Unidades de Proteção Integral e Unidades

de Uso Sustentável. Consistindo a finalidade da primeira em preservar a natureza

com o uso indireto dos recursos naturais; e a da segunda na conservação da

natureza com a utilização do uso sustentável de determinada parte dos recursos

naturais. 154

Ainda, quanto às Unidades de Proteção Integral, elas são compostas por

cinco categorias de unidades de conservação: Estação Ecológica; Reserva Biológica;

Parque Nacional; Monumento Natural; e, Refúgio de Vida Silvestre.155 Cada uma

delas com finalidades específicas, conforme disposto nos art. 9º a 13, da Lei nº

9.985/00.

E, quanto aos grupos de Unidades de Uso Sustentável, estes dividem-se em:

Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta

Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento

Sustentável; e, Reserva Particular do Patrimônio Natural.156 Cada uma dessas

categorias estão previstas nos arts. 15 a 21, da Lei nº 9.985/00.

Por fim, quanto à criação, implantação e gestão das unidades de

conservação, estas são criadas pelo Poder Público:

Art. 22 [...]

§ 1o (VETADO).

§ 2o A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a

153

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Art. 6º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

154 BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Art. 7º. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>. Acesso em: 14 ago 2010. 155

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Art. 8º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

156 BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Art. 14. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

66

localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade, conforme se dispuser em regulamento.

§ 3o No processo de consulta de que trata o § 2o, o Poder Público é obrigado a fornecer informações adequadas e inteligíveis à população local e a outras partes interessadas.

§ 4o Na criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica não é obrigatória a consulta de que trata o § 2o deste artigo.

§ 5o As unidades de conservação do grupo de Uso Sustentável podem ser transformadas total ou parcialmente em unidades do grupo de Proteção Integral, por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo.

§ 6o A ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem modificação dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo proposto, pode ser feita por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo.

§ 7o A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conservação só pode ser feita mediante lei específica.157

Desta forma, tem-se que as unidades de conservação passaram a ser

criadas a partir de estudos técnicos e de uma consulta pública que possibilite

identificar a localização mais apropriada para a implantação das unidades.158

2.4.4 Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/06)

A Mata Atlântica é um importante bioma ambiental que abriga uma

riquíssima biodiversidade, sendo maior até do que a Floresta Amazônica. Em vista

disso, é que a Constituição Federal de 1988 a trata como patrimônio nacional,

conforme mencionado no art. 225, § 4º, da Carta Magna.159

157

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Art. 22. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

158 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2007. p. 674. 159

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 243.

67

Esta Floresta tem uma grande importância na América do Sul, especialmente

no Brasil, abrangendo ainda, o território do Paraguai e da Argentina. Acompanha

grande parte do litoral brasileiro, do norte ao sul do país.160

No entanto, a destruição e o desmatamento, conduzem a Mata Atlântica a

níveis críticos quase próximos de sua extinção. “Os maiores impactos e estímulos

para a degradação ambiental ocorreram nas áreas litorâneas da Mata Atlântica,

através da especulação imobiliária, da pressão demográfica e da ocupação

desregrada.” 161

Desta forma, na procura de coibir a degradação crescente que está levando

à extinção da Mata Atlântica, o Governo Federal cria a Lei nº 11.428, de 22 de

dezembro de 2006, dispondo sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do

Bioma Mata Atlântica, “[...] especificamente dos remanescentes de vegetação

primária e secundária em estágio inicial, médio e avançado de regeneração,

conforme disposto no parágrafo único do seu art. 2º.” 162

A partir disto, tem-se que é o Conselho Nacional do Meio Ambiente

(CONAMA) que deve estabelecer a definição de vegetação primária e secundária,

tendo por base os seguintes parâmetros:163

Art. 4º [...]

§ 2º. [...]

I - fisionomia;

II - estratos predominantes;

III - distribuição diamétrica e altura;

IV - existência, diversidade e quantidade de epífitas;

V - existência, diversidade e quantidade de trepadeiras;

VI - presença, ausência e características da serapilheira;

VII - sub-bosque;

160

Mata Atlântica. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mata_Atl%C3%A2ntica>. Acesso em: 14 ago 2010.

161 BRASIL, Anna Maria; SANTOS, Fátima. Dicionário: O ser humano e o meio ambiente de A a Z. 3.

ed. São Paulo: Faarte, 2007. p. 594. 162

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 646.

163 BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 4º, caput. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

68

VIII - diversidade e dominância de espécies;

IX - espécies vegetais indicadoras.164

Em relação aos objetivos de proteção e utilização do Bioma Mata Atlântica,

tem-se como objetivo geral o desenvolvimento sustentável e, como objetivos

específicos, “[...] a salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores

paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social.” 165

Estes objetivos têm como papel fundamental a manutenção e a recuperação

da biodiversidade do Bioma, a fim de resguardar a manutenção e o equilíbrio

ecológico para as gerações presentes e futuras.166

Até a instituição da Lei da Mata Atlântica em 2006, o corte, a supressão e a

exploração deste tipo de vegetação era regulamentada pelo Decreto nº 750/93, e

estas foram tipificadas na Resolução do CONAMA nº 001/94.167

Com o advento da Lei nº 11.428/06, o corte, a supressão e a exploração do

Bioma Mata Atlântica ficou disposto nos art. 8º a 35, desta Lei, devendo-se levar em

consideração suas características diferenciadas, conforme o tipo de vegetação

primária ou secundária de que se trata, e quanto à secundária, observando-se o

estágio de regeneração em que se encontra (inicial, médio ou avançado).

Conforme disposto no art. 11, da Lei da Mata Atlântica, ficam vedados o

corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de

regeneração do Bioma:

Art. 11 [...]

I - a vegetação:

a) abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção, em território nacional ou em âmbito estadual, assim declaradas pela União ou pelos Estados, e a intervenção ou o parcelamento puserem em risco a sobrevivência dessas espécies;

164

BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 4º, § 2º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

165 BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 6º. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em: 14 ago 2010. 166

BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 7º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

167 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2007. p. 647.

69

b) exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de erosão;

c) formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou secundária em estágio avançado de regeneração;

d) proteger o entorno das unidades de conservação; ou

e) possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos executivos competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA;

II - o proprietário ou posseiro não cumprir os dispositivos da legislação ambiental, em especial as exigências da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, no que respeita às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal.

Parágrafo único. Verificada a ocorrência do previsto na alínea a do inciso I deste artigo, os órgãos competentes do Poder Executivo adotarão as medidas necessárias para proteger as espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção caso existam fatores que o exijam, ou fomentarão e apoiarão as ações e os proprietários de áreas que estejam mantendo ou sustentando a sobrevivência dessas espécies.168

Assim, o corte e a supressão de vegetação primária ou secundária em

estágio avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica, somente serão

autorizados em caráter excepcional, “[...] quando necessários à realização de obras,

projetos ou atividades de utilidade pública, pesquisas científicas e práticas

preservacionistas.” 169 Ainda, em caso de utilidade pública, deverá haver a realização

de Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EIA e Relatório de Impacto Ambiental –

RIMA, bem como obediência ao disposto no art. 14, desta Lei:170

Art. 14 A supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de regeneração somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública, sendo que a vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos casos de utilidade pública e interesse social, em todos os casos devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, ressalvado o disposto no inciso I do art. 30 e nos §§ 1o e 2o do art. 31 desta Lei.

168

BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 11. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

169 BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 20, caput. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em: 14 ago 2010. 170

BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 20, parágrafo único. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

70

§ 1o A supressão de que trata o caput deste artigo dependerá de autorização do órgão ambiental estadual competente, com anuência prévia, quando couber, do órgão federal ou municipal de meio ambiente, ressalvado o disposto no § 2o deste artigo.

§ 2o A supressão de vegetação no estágio médio de regeneração situada em área urbana dependerá de autorização do órgão ambiental municipal competente, desde que o município possua conselho de meio ambiente, com caráter deliberativo e plano diretor, mediante anuência prévia do órgão ambiental estadual competente fundamentada em parecer técnico.

§ 3o Na proposta de declaração de utilidade pública disposta na alínea b do inciso VII do art. 3o desta Lei, caberá ao proponente indicar de forma detalhada a alta relevância e o interesse nacional.171

Ainda, quanto ao corte e supressão de vegetação da Mata Atlântica, sendo

para situação de novos empreendimentos, estes devem, preferencialmente, ser

implantados em áreas já substancialmente alteradas ou degradadas.172 E, nestes

casos, ensina Edis Milaré:

[...] o corte ou a supressão ficam ainda condicionados à compensação ambiental, na forma de destinação de área equivalente à extensão da área desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica e, sempre que possível, na mesma microbacia hidrográfica.173

Além disso, cabe ao Poder Público incentivar, com estímulos econômicos, a

proteção e o uso sustentável da Mata Atlântica, sendo instituído, conforme disposto

no art. 36 desta Lei, o Fundo de Restauração do Bioma Mata Atlântica, destinado ao

financiamento de projetos de restauração ambiental e de pesquisa científica.174

Como um novo mecanismo de incentivo creditício, a fim de estimular a

preservação da Mata Atlântica encontra-se previsto no art. 41, desta Lei:

Art. 41 O proprietário ou posseiro que tenha vegetação primária ou secundária em estágios avançado e médio de regeneração do Bioma Mata Atlântica receberá das instituições financeiras benefícios creditícios, entre os quais:

171

BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 14. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em 14 ago 2010.

172 BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 12. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em 14 ago 2010. 173

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 648.

174 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2007. p. 648.

71

I - prioridade na concessão de crédito agrícola, para os pequenos produtores rurais e populações tradicionais;

II - (VETADO)

III - (VETADO)

Parágrafo único. Os critérios, condições e mecanismos de controle dos benefícios referidos neste artigo serão definidos, anualmente, sob pena de responsabilidade, pelo órgão competente do Poder Executivo, após anuência do órgão competente do Ministério da Fazenda.175

Salienta-se ainda que quanto às penalidades, a Lei dos Crimes Ambientais

(Lei nº 9.605/98), esta é acrescida pelo art. 38-A, passando a vigorar com a seguinte

redação: “destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio

avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com

infringência das normas de proteção”176, é passível de punição como a detenção, de

1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Dessa maneira, percebe-se que após estudado este extraordinário Bioma,

que possui um diploma legal de tamanha grandeza e importância, resultado de

preocupação e respeito com a natureza e o meio ambiente, visto o imenso

desmatamento e destruição que com o tempo ocasionou quase a sua extinção,

obriga-se o ser humano a cada vez mais respeitar e preservar esse formidável

patrimônio florestal, que abriga uma grande biodiversidades de fauna e flora, herança

para as gerações futuras. Dentro deste contexto de preocupação e respeito é

abordado o próximo capítulo.

175

BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 41. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

176 BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 43. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em: 14 ago 2010.

72

3 QUESTÕES POLÊMICAS E ATUAIS

O capítulo que ora se apresenta visa mostrar aspectos importantes e

questões interessantes sobre direito ambiental no parcelamento do solo urbano, com

enfoque às áreas verdes, às áreas de preservação permanente com relação à Lei de

Parcelamento do Solo Urbano e ao Código Florestal, bem como, envolvem questões

de supressão de áreas de preservação permanente consoante previsão na

Resolução do CONAMA nº 369/2006, inclusive questões de supressão de vegetação

de Mata Atlântica, demonstrando-se o posicionamento jurisprudencial, especialmente

as posturas adotadas pelos Tribunais de Justiça de Santa Catarina e do Rio Grande

do Sul, bem como o Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

3.1 ÁREAS VERDES

O Poder Público da administração direta ou indireta possui bens,

denominados de bens públicos, que compreendem as áreas verdes, as quais são de

uso comum do povo. As áreas verdes são consideradas como exigências dos

elementos urbanísticos previstos na legislação, devido à necessidade “de defesa e

recuperação do meio ambiente em face da degradação de agentes poluidores.”177

A doutrina salienta que as áreas verdes constroem uma política de proteção

ambiental colaborando com a urbanização, a natureza e o ecossistema, tendo a

finalidade de ordenar a coroa florestal em volta dos grandes agrupamentos urbanos,

177

SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 277.

73

conservar os espaços verdes nos centros das cidades, bem como instituir e

preservar áreas verdes objetivando contribuir para o equilíbrio ecológico.178

As áreas verdes de uma cidade estendem-se aos espaços que têm cobertura

vegetal natural ou implantada, tais “como as áreas de preservação permanente,

parques públicos, praças e áreas verdes destinadas à recreação pela legislação

competente,” abrangendo lugares públicos e privados.179

Ademais, as áreas verdes “são de suma importância ao desenvolvimento

urbanístico dos municípios e ao bem-estar da população, sob risco de provocar

desequilíbrio a todo ecossistema e, até, comprometer o equilíbrio sustentável.”180

Para o doutrinador José Afonso da Silva o regime jurídico das áreas verdes

pode incorrer tanto nos espaços públicos quanto nos privados, sendo que a

legislação urbanística poderá estabelecer aos particulares o dever de preservar as

áreas verdes existentes em seus terrenos, ou até obrigar a formação destas áreas,

mesmo sendo o uso do particular.181

Segundo estabelecido no artigo 22, da Lei de Parcelamento do Solo Urbano,

com o registro de loteamento, as vias de comunicação, as praças e os espaços livres

passam a integrar domínio do Município, sendo que nos espaços livres é que estão

inseridas as áreas verdes.182

Cabe mencionar que o artigo 4º, desta Lei, prevê que os loteamentos

deverão atender a requisitos, sendo delineado no inciso I, que “as áreas destinadas a

178

ABREU, Alexandre Herculano. Áreas verdes e municípios. 2004. Disponível em: <http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?Campo=2372&secao_id=241>. Acesso em: 24 set 2010.

179 ABREU, Alexandre Herculano. Áreas verdes e municípios. 2004. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?Campo=2372&secao_id=241>. Acesso em: 24 set 2010.

180 AGRAVO DE INSTRUMENTO.AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ADMINISTRATIVO. ÁREA DOADA POR

PARTICULAR, AO MUNICÍPIO DE JOINVILLE, QUANDO DA INSTITUIÇÃO DE LOTEAMENTO, PARA USO COMUM. DIREITO PERTENCENTE À COLETIVIDADE. EXEGESE DA LEI FEDERAL N. 6.766/79. DESAFETAÇÃO. FINALIDADE DIVERSA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. (SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento: 2008.019062-9. Rel.:José Volpato de Souza. Julgamento em: 25 mar 2010. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.todas=%E1reas+verdes&parametros.rowid=AAARykAAHAAABb%2BAAF>. Acesso em: 24 set 2010.

181 SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 278.

182 Artigo 22, da Lei nº. 6.766/79. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L6766.htm>.

Acesso em: 24 set 2010.

74

sistemas de circulação, a implantação de equipamento urbano e comunitário, bem

como a espaços livres de uso público”183, deverão ser proporcionais à densidade da

população municipal para o espaço em que estejam localizados, devidamente

estabelecidas no plano diretor ou aprovadas por lei.

Conforme conceito utilizado por Carlos Henke de Oliveira (1996), as áreas

verdes:

“[...] são áreas permeáveis (sinônimo de áreas livres) públicas ou não, com cobertura vegetal predominantemente arbórea ou arbustiva (excluindo-se as árvores no leito das vias públicas) que apresentem funções potenciais capazes de proporcionar um microclima distinto no meio urbano em relação à luminosidade, temperatura e outros parâmetros associados ao bem-estar humano (funções de lazer); com significado ecológico em termos de estabilidade geomorfológica e amenização da poluição e que suporte uma fauna urbana, principalmente aves, insetos e fauna do solo (funções ecológicas); representando também elementos esteticamente marcantes na paisagem (função estética), independentemente da acessibilidade a grupos humanos ou da existência de estruturas culturais como edificações, trilhas, iluminação elétrica, arruamento ou equipamentos afins; as funções ecológicas sociais e estéticas poderão redundar entre si ou em benefícios financeiros (funções econômicas).” 184

Diante do demonstrado, verifica-se que as áreas verdes possuem um papel

fundamental à boa qualidade de vida, e por se tratarem de um bem de uso comum

do povo, o Município está obrigado a zelar para que não ocorra a desafetação destas

áreas, em face da tutela jurídico-ambiental brasileira e como garantia de preservação

ambiental.

Para Maurício Fernandes da Silva, a desafetação caracteriza-se como sendo

a alteração da destinação de um bem, de uso comum do povo ou de uso especial,

para a classe de dominicais, ou seja, é a mudança da destinação de um bem a qual

183

BRASIL. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Artigo 4º, inciso I. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L6766.htm>. Acesso em: 24 set 2010.

184 Pick-upau. Breve análise do projeto de lei de conversão nº 7, de 1999 (medida provisória nº

1885/99). Disponível em: <http://www.pick-upau.org.br/mundo/florestal_codigo/codigo_florestal_breve_analise.htm>. Acesso em: 24 set 2010.

75

foi atribuída por ato administrativo ou lei, transformando-o em bens alheios a

qualquer outra finalidade.185

Deste modo, ao se tratar da tutela ambiental, torna-se necessário fazer um

estudo sobre a legitimidade do Município para proteção das áreas verdes, tendo o

Município o dever de defender o meio ambiente, através de seu poder de polícia.

Consoante estabelecido na Constituição Federal de 1988, pertence aos

municípios a competência para “promover, no que couber, adequado ordenamento

territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação

do solo urbano”.186 Outorgá-se-lhes, ainda, a competência para a política de

desenvolvimento urbano estabelecido pelo plano diretor municipal.187

A Lei nº 6.766/79, que instituiu o parcelamento do solo urbano, visando

proteger o meio ambiente impôs limitações e regramentos aos bens de uso comum

do povo, nos quais se incluem as áreas verdes “preservadas nos loteamentos

urbanos. Tais bens são inalienáveis, nos termos do art. 100 do Codex Civil, e sua

destinação encontra-se afetada, desde a aprovação do projeto de loteamento”188,

consoante já demonstrado na disposição do art. 22 da Lei nº 6.766/79.

Da mesma forma, o art. 17 da referida Lei, “impõe, ainda, outra restrição

fundamental, inviabilizando que tais bens tenham sua destinação alterada. Diz a

referida regra:”189

185

SILVA, Maurício Fernandes da. A desafetação de áreas verdes advindas de aprovação de loteamentos perante a tutela ambiental. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4208>. Acesso em: 24 set 2010.

186 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Artigo 30, inciso VIII.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 24 set 2010.

187 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Artigo 182. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm > Acesso em: 24 set 2010. 188

REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONCESSÃO DE USO DE ÁREA AFETADA COM DESTINAÇÃO ESPECÍFICA. IMPOSSIBILIDADE. ÁREAS VERDES DE LOTEAMENTO URBANO. DANO AMBIENTAL. DESCABIMENTO DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI EM TESE. ANULAÇÃO DOS EFEITOS CONCRETOS DA LEI MUNICIPAL Nº 3.979/94. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA AÇÃO. (RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Reexame necessário: 70017347915. Rel.: Henrique Osvaldo Poeta Roenick. Julgamento em: 13 dez 2006. Disponível em: < http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 24 set 2010.

189 REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONCESSÃO DE USO DE ÁREA AFETADA

COM DESTINAÇÃO ESPECÍFICA. IMPOSSIBILIDADE. ÁREAS VERDES DE LOTEAMENTO URBANO. DANO AMBIENTAL. DESCABIMENTO DE DECLARAÇÃO DE

76

Art. 17 - Os espaços livres de uso comum, as vias e praças, as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos, constantes do projeto e do memorial descritivo, não poderão ter sua destinação alterada pelo loteador, desde a aprovação do loteamento, salvo as hipóteses de caducidade da licença ou desistência do loteador, sendo, neste caso, observadas as exigências do art. 23 desta Lei.190

Deste modo, verifica-se que o Município tem competência para determinar os

requisitos para implantação de loteamentos, devendo delimitar espaço reservado à

área consagrada verde, através do plano diretor ou de lei municipal, de modo que

esteja em consonância com a legislação federal de parcelamento do solo e

cumprindo com os princípios estabelecidos na Constituição Federal, previstos no

artigo 225.191

Tendo-se em vista que, “a preservação das áreas verdes, quando do

loteamento do solo urbano, é decorrência da necessidade de preservação de um

meio-ambiente saudável à população, em detrimento ao crescimento demográfico e

o incremento da política urbanística.”192 Logo, cabe ao município o dever de proteger,

delimitar, resguardar e preservar estas áreas.

No entanto, o Poder Municipal através de sua administração vem praticando

a desafetação destas áreas pertencentes ao Município, quando da integralidade ao

domínio público por força da implantação de loteamentos, sendo que em muitos

INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI EM TESE. ANULAÇÃO DOS EFEITOS CONCRETOS DA LEI MUNICIPAL Nº 3.979/94. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA AÇÃO. (RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Reexame necessário: 70017347915. Rel.: Henrique Osvaldo Poeta Roenick. Julgamento em: 13 dez 2006. Disponível em: < http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 24 set 2010.

189 BRASIL. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Artigo 22. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L6766.htm>. Acesso em: 24 set 2010. 190

BRASIL. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Artigo 17. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L6766.htm>. Acesso em: 24 set 2010.

191 ABREU, Alexandre Herculano. Áreas verdes e municípios. 2004. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?Campo=2372&secao_id=241>. Acesso em: 24 set 2010.

192 REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONCESSÃO DE USO DE ÁREA AFETADA

COM DESTINAÇÃO ESPECÍFICA. IMPOSSIBILIDADE. ÁREAS VERDES DE LOTEAMENTO URBANO. DANO AMBIENTAL. DESCABIMENTO DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI EM TESE. ANULAÇÃO DOS EFEITOS CONCRETOS DA LEI MUNICIPAL Nº 3.979/94. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA AÇÃO. (RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Reexame Necessário: 70017347915. Rel.: Henrique Osvaldo Poeta Roenick. Julgamento em: 13 dez 2006. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 24 set 2010.

77

casos esta desafetação tem em vista a “construção de moradias populares ou até

mesmo doações a instituições de natureza privada.”193

Em contra partida, vê-se que em situações nas quais há prejuízo às áreas

verdes ou degradação ambiental, tem o Ministério Público o dever de proteger o

meio ambiente, possuindo legitimidade para promover procedimentos

administrativos, inquéritos civis e ações civis públicas visando responsabilizar o

infrator pelos danos causados, conforme dispõem o artigo 129, inciso II, da

Constituição Federal.194

Deste modo, é que vem se posicionando o Ministério Público dos Estados,

os quais alegam “que a área é inalienável e imprescritível, não podendo o Município

transferir as áreas verdes para particulares.” 195 Acrescenta-se ainda:

Nessa linha, apresenta plena verossimilhança a alegação do Ministério Público da abusividade da desafetação de área que é bem de uso comum do povo, ultrapassando os limites da discricionariedade da administração pública, violando as normas de todo o sistema legal que tutela o ambiente urbano.

O gravame de que o bem é de uso comum do povo (art. 66 do Código Civil) o vincula à destinação como área verde, sendo esses bens inalienáveis.

Desse modo, é vertente a impossibilidade de desafetação de bem público de uso comum do povo, afetada com finalidade específica, incorporado ao domínio do município, para transferência de áreas verdes a particulares em face de loteamento popular. 196

193

SILVA, Maurício Fernandes da. A desafetação de áreas verdes advindas de aprovação de loteamentos perante a tutela ambiental. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4208>. Acesso em: 24 set 2010.

194 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Artigo 129, inciso III: São

funções institucionais do Ministério Público: [...]; promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; [...]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 24 set 2010.

195 AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. DIREITO AMBIENTAL.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESAFETAÇÃO DE BEM PÚBLICO. ÁREA VERDE. LOTEAMENTO. (RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento: 70020189791. Rel.: Paulo de Tarso Vieira Sanseverino. Julgamento em: 11 out 2007. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 24 set 2010.

196 AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. DIREITO AMBIENTAL.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESAFETAÇÃO DE BEM PÚBLICO. ÁREA VERDE. LOTEAMENTO. (RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento: 7002018979-1. Rel.: Paulo de Tarso Vieira Sanseverino. Julgamento em: 11 out 2007. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 24 set 2010.

78

Ainda, transcreve-se, por oportuno, excerto de voto proferido pelo

Desembargador José Volpato de Souza, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,

ante a excelência da abordagem adotada:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ADMINISTRATIVO. ÁREA DOADA POR PARTICULAR, AO MUNICÍPIO DE JOINVILLE, QUANDO DA INSTITUIÇÃO DE LOTEAMENTO, PARA USO COMUM. DIREITO PERTENCENTE À COLETIVIDADE. EXEGESE DA LEI FEDERAL N. 6.766/79. DESAFETAÇÃO. FINALIDADE DIVERSA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO

''Quando o artigo 17 da Lei Federal nº 6766/79 afirma que não pode o loteador alterar a destinação da área reservada, não está dirigindo-se apenas a ele e sim, à Municipalidade, que a recebe para a finalidade descrita, sendo sua obrigação respeitar, por força de lei, a vontade do mencionado loteador. Ele cria uma verdadeira instituição no loteamento, que deve prevalecer em benefício do povo, para seu uso comum, sendo despiciendo dissertar aqui sobre a importância das áreas verdes na preservação da qualidade da vida urbana, dado aos constantes argumentos que se fazem a respeito desse tema, que acabou sendo de notório conhecimento" (fl. 261). (REsp 77721/SP, Ministro João Otávio de Noronha, DJ em 24.3.2003, p. 164)

[...]

Não bastasse isso, a Lei municipal n. 4.014, de 26 de outubro de 1999, estabelece:

Art. 6º. Os bens públicos tornam-se indisponíveis por afetação:

§ 1º. Não poderão, em qualquer hipótese, ter alterados sua destinação e seus objetivos originariamente estabelecidos

I os bens públicos municipais de uso comum do povo;

II as áreas doadas por terceiros, ao patrimônio municipal, com finalidade específica;

Desse modo, a verossimilhança da alegação de impossibilidade de desafetação de bem público de uso comum do povo, afetada com finalidade específica, destinação de áreas verdes, ainda que incorporado ao patrimônio público, oriundo de loteamento, caso a medida de urgência não fosse concedida, traria riscos de danos irreparáveis ao meio ambiente.197

197

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2008.019061-9. Rel.: José Volpato de Souza. Julgamento em: 24 março 2010. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.todas=desafeta%E7%E3o+%E1reas+verdes&parametros.rowid=AAARykAAHAAABb%2BAAF>. Acesso em: 24 set 2010.

79

Do corpo do acórdão, extrai-se o entendimento de que é impossível a

desafetação de áreas verdes, uma vez que elas são de suma importância na

preservação da qualidade de vida da população urbana:

A este entendimento, some-se acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande

do Sul:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESAFETAÇÃO DE BEM PÚBLICO. ÁREA VERDE. LOTEAMENTO. Verossimilhança da alegação de impossibilidade de desafetação de bem público de uso comum do povo, afetada com finalidade específica, incorporado ao domínio do município, para transferência de áreas verdes a particulares em face de loteamento popular. Riscos de danos irreparáveis para o meio ambiente urbano. Inteligência dos artigos 4º, inciso I, 17 e 22, da Lei nº 6.766/79, artigos 191 e seguintes da Lei Estadual nº 11.520/00, da Lei nº 10.257/01, que regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, e artigos 99, inciso I, e 100, do Código Civil. DECISÃO REFORMADA. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO.198

Todavia, no próprio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, existem julgados

no sentido de admitir a desafetação pelo Poder Público, como se pode observar no

julgado abaixo:

AÇÃO POPULAR - DIREITO AMBIENTAL - ÁREA VERDE - BEM DE USO COMUM - DESAFETAÇÃO PELO PODER PÚBLICO - DESTINAÇÃO DE NOVA ÁREA - POSSIBILIDADE.

É consentido ao Poder Público, mediante manifestação expressa de vontade e autorização da Casa Legislativa, alterar a destinação pública anteriormente dada ao imóvel, desde que passíveis de valoração econômica, de modo a incorporar-lhes ao seu domínio privado.

Com a destinação de uma outra área verde, atendeu-se, tanto os interesses financeiros do Ente Municipal quanto à função social do espaço verde, que se caracteriza como o interesse público.

Ademais, nada consta nos autos a respeito da impossibilidade de devastação do espaço verde, tendo em vista que não se tratava de patrimônio de proteção ambiental legalmente constituído.199

198

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento Nº 70020189791. Rel.: Paulo de Tarso Vieira Sanseverino. Julgamento em 11 out 2007, Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 24 set 2010.

199 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Civil nº 2002.015614-6. Rel.: Volnei Carlin.

Julgamento em: 14 abr 2005. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&p

80

Denota-se, portanto, que essa decisão que admite a desafetação de área

verde, vai contra o que entende grande parte dos julgados do próprio Tribunal de

Justiça de Santa Catarina e do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, como já

demonstrado. Cabe salientar que, apesar de ser um posicionamento minoritário, o

julgador tomou o cuidado de somente admitir tal possibilidade após verificar que não

se trata de área de preservação permanente legalmente e biologicamente

constituída, e ainda, que outra área verde passará a existir para substituir o que ora é

extinta.

Desta forma, é que se verifica, majoritariamente, a impossibilidade de

desafetação das áreas verdes, bem de uso comum do povo, pelo Poder Municipal,

vez que ao Município não assiste o direito de descaracterizar uma área verde, em

virtude do princípio do bem-estar da população ali existente e pela característica

natural do ambiente. Além disso, a desafetação destas áreas prejudica a

comunidade local, diminuindo a qualidade vida dos cidadãos locais, e inclusive causa

dano ao ambiente.

3.2 LEI DE PARCELAMENTO DO SOLO URBANO X CÓDIGO FLORESTAL

O presente estudo visa analisar as áreas de preservação permanente (APPs)

em relação à utilização da Lei de Parcelamento do Solo Urbano e do Código

Florestal quando das edificações e loteamentos. Conforme já estudado no capítulo

anterior, tem-se por área de preservação permanente, conforme disposto no artigo

1º, § 2º, inciso II, da Lei nº 4.771/65:

arametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=2002.015614-6&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAALAABjKFAAD>. Acesso em: 24 set 2010.

81

Área protegida nos termos dos arts. 2o e 3o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.200

Nessa seara, os artigos 2º e 3º do Código Florestal “tratam das florestas e

demais formas de vegetação que não podem ser removidas, tendo em vista a sua

localização e a sua função ecológica.”201 Vegetações estas que são localizadas “ao

longos dos rios de água, nas encostas, nas restingas, ao redor de lagos e lagoas, ao

longo das rodovias,”202 verificadas de acordo com sua importância ambiental.

Destarte, observa-se que uma das maiores preocupações existentes

atualmente referem-se às construções próximas às áreas de preservação

permanente, principalmente perto das margens de cursos d‟água e matas ciliares.

Seguindo o previsto no Código Florestal, o distanciamento mínimo que deve existir

em relação a estas áreas estão previstos no art. 2º do mencionado Código:

Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será:

1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura;

2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura

3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura

5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais;

200

BRASIL. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Art. 1º, § 2º, inciso II. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm>. Acesso em 02 out 2010.

201 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2007. p. 691. 202

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e Glossário. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 691.

82

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura;

d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;

e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive;

f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação.

Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, obervar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo.203

Já a extensão prevista na Lei de Parcelamento do Solo Urbano, quanto aos

limites legalmente impostos, verifica-se segundo o art. 4º, inciso III, desta Lei que se

utiliza “ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público

das rodovias e ferrovias, será obrigatória a reserva de uma faixa não-edificável de 15

(quinze) metros de cada lado, salvo maiores exigências da legislação específica”.204

Consoante o aparente conflito das normas em questão, é que se tem uma

diferença interpretativa entre os Tribunais brasileiros, inclusive em relação às Turmas

de Direito Público do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), especialmente

no que se refere às definições dos limites de proteção das matas ciliares em áreas

de preservação permanente localizadas em enquadramentos urbanos.

Segundo o entendimento da Segunda Câmara de Direito Público do Tribunal

de Justiça de Santa Catarina, “em se tratando de área urbana consolidada, há que

prevalecer a Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei n.º 6.766/79), a qual

203

BRASIL. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Artigo 2º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm>. Acesso em 02 out 2010.

204 BRASIL. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Artigo 4º,inciso III. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L6766.htm>. Acesso em: 02 out 2010.

83

estabelece em 15 (quinze) metros a distância mínima para construções ao longo dos

rios.”205 Diante disso, verifica-se:

APELAÇÃO CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MUNICÍPIO - DIREITO AMBIENTAL - PREPONDERÂNCIA DE NORMA FEDERAL SOBRE NORMA MUNICIPAL - COMPETÊNCIA LEGISLATIVA SUPLEMENTAR - RECUO MARGINAL EM FACE DA EXISTÊNCIA DE RIO - LEGISLAÇÃO MUNICIPAL QUE FIXOU A FAIXA NON AEDIFICANDI EM 5 METROS, QUANDO A LEI FEDERAL A ESTABELECE EM 15 - IMPOSSIBILIDADE - DIREITO À PROPRIEDADE SOPESADO EM FACE DO DIREITO A UM AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO - PREVALÊNCIA DESTE EM FACE DAQUELE - DESPROVIMENTO DO APELO - PARCIAL ACOLHIMENTO DO REEXAME NECESSÁRIO.

Reza o art. 24 da Magna Carta: "Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: "VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição"; dispondo, por sua vez, o § 1º: "No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais", enquanto o § 2º estatui: "A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados", prevendo o § 4º que "a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário". Logo, essas normas devem ser levadas em consideração no exercício da competência legislativa material concorrente.

Suplementar na espécie significa que "na inexistência de lei federal os Estados e o Distrito Federal legislarão livremente, sem restrições. A sobrevinda, contudo, ou a preexistência de uma lei federal sobre a matéria só tornam válidas as disposições que não contrariem as normas gerais da União" (BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 22. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 306).

Logo, "a legislação supletiva, como é cediço, não pode ineficacizar os efeitos da lei que pretende suplementar" (REsp 29299/RS).

"[...] ao longo das águas correntes, é fixado em 15 (quinze) metros, no mínimo, a reserva de faixa não edificável, matéria esta, como tal, regulada, também, pela legislação do Estado, haja vista a Lei n.

205

APELAÇÕES CÍVEIS. CONSTRUÇÃO EM REGIÃO DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ÁREA URBANA CONSOLIDADA. ALEGAÇÃO DE QUE DEVE INCIDIR A NORMA GERAL DO DIREITO AMBIENTAL, A QUAL PREVÊ QUE A DISTÂNCIA MÍNIMA DA OBRA DEVE SITUAR-SE A 30 METROS DO CURSO D'ÁGUA. CASO EM QUE A LEI DE PARCELAMENTO DO SOLO URBANO DEVE PREVALECER SOBRE O CÓDIGO FLORESTAL. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. PEDIDO DE DEMOLIÇÃO DA OBRA, SOB O ARGUMENTO DE QUE INEXISTE LICENCIAMENTO PERANTE O ENTE MUNICIPAL. INACOLHIMENTO. LOTEAMENTO APROVADO PELO DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA PREFEITURA. RECURSOS DESPROVIDOS. (SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Cível: 2009.028857-7. Rel.: Ricardo Roesler. Julgamento em: 02 dez 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action>. Acesso em: 02 out 2010).

84

6.063, de 24/05/82 (art. 8º, inciso III, redação da Lei n. 10.957/98 - DOE 16.050, de 24/11/98)" (ACMS n. 2004.019089-1, de Timbó).206

No mesmo sentido:

MANDADO DE SEGURANÇA. ALVARÁ DE CONSTRUÇÃO. NEGATIVA DA PREFEITURA MUNICIPAL. ÁREA CONSIDERADA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ORDEM DENEGADA. INVIABILIDADE. INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO FLORESTAL. INCIDÊNCIA DA LEI FEDERAL N. 6.766/79 (PARCELAMENTO URBANO), QUE EXIGE DISTÂNCIA MÍNIMA DE MAIS DE 15 METROS. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. SEGURANÇA NEGADA. RECURSO PROVIDO.207

Some-se:

ADMINISTRATIVO. CONSTRUÇÃO EM ÁREA URBANA. DISTÂNCIA DA MARGEM DO CANAL DA BARRA DA LAGOA DA CONCEIÇÃO. APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL DO PARCELAMENTO DO SOLO URBANO EM DETRIMENTO DO CÓDIGO FLORESTAL. DISTÂNCIA MÍNIMA DE 15 METROS. RECURSO PROVIDO.

Em se tratando de área urbana, a distância para construções das margens de rios, córregos e canais deve ser aquela estabelecida pela LEI Federal 6.766/79, qual seja, 15 metros, salvo limite maior imposto por LEI municipal.208

Já na interpretação da Terceira Câmara de Direito Público do TJSC, o

entendimento é de que:

[...]

206

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Civil nº 2004. 018657-6. Rel.: Francisco Oliveira Filho. Julgamento em: 21 mar 2006. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.todas=2004.018657-6&parametros.rowid=AAARykAAJAABi3sAAB>. Acesso em: 09 out 2010.

207 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Cível em Mandado de Segurança nº

2006.043967-0. Rel.: Cesar Abreu. Julgamento em: 30 jun 2008. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=2006.043967-0&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAJAABjCfAAH>. Acesso em: 09 out 2010.

208 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2008.013065-1. Rel.: Newton Janke.

Julgamento em: 19 ago 2010. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=lei+4771+e+lei+6766&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAuAAAlxBAAY>. Acesso em: 09 out 2010.

85

Ressalta-se que a r. sentença (fls. 299 a 301) teve o cuidado de esclarecer o aparente conflito entre os comandos insertos na Lei Federal n. 6.766/79 (art. 4º, III) e no Código Florestal no que se refere à faixa mínima marginal a ser preservada ao longo das margens dos cursos das águas em loteamento para fins urbanos, prevalecendo, pois, o mais recente, que é a Lei Federal n. 4.771/65, com as modificações introduzidas pela Lei Federal n. 7.803/89.

Enfrentando caso semelhante, guardadas as peculiaridades de cada caso, destaca-se precedente desta Corte:

"AÇÃO CIVIL PÚBLICA - EMBARGOS DECLARATÓRIOS - EDIFICAÇÃO ÀS MARGENS DO RIO DO PEIXE - ALVARÁ CONCEDIDO PELO MUNICÍPIO EM DESCONFORMIDADE COM O CÓDIGO FLORESTAL - LEI N. 10.257/01 (ESTATUTO DAS CIDADES) - INTERPRETAÇÃO SISTÊMICA - AUSÊNCIA DE INCOMPATIBILIDADE ENTRE A LEGISLAÇÃO NACIONAL - PREVALÊNCIA DO RECUO PREVISTO NO CÓDIGO FLORESTAL [...].

"[...] 'Diante da aplicabilidade da lei municipal condicionada às normas gerais prevista em lei de âmbito nacional, não resta dúvida quanto à legislação cabível, devendo preponderar o recuo de 30m, estabelecido pelo art. 2º do Código Florestal, com alteração dada pela Lei n. 7.803/89' (fl. 385), porque a Lei n.10.257/01 (Estatuto das Cidades) é compatível na espécie com a manutenção de área de preservação permanente às margens de rio.

"'O desrespeito ao recuo estabelecido no Código Florestal faz presumir o dano ecológico. Caso contrário, o dispositivo não teria razão de ser, perdendo de vista seu objetivo, qual seja o de preservar o meio ambiente. Não faz sentido a imposição de normas preventivas e suas penalidades somente sobre aqueles que efetivamente tenham causado dano que, em se tratando de ecologia, geralmente, é irreparável' (fl. 388). [...]" (Embargos de declaração opostos ao acórdão da apelação cível n. 2002.009640-2, de Joaçaba, rel. Des. Francisco Oliveira Filho, j. 22/10/03).

[...].209

Ainda, no entendimento da Quarta Câmara de Direito Público do TJSC,

percebe-se que:

209

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - AMBIENTAL - EDIFICAÇÃO DE OBRA ÀS MARGENS DE RIO - INEXISTÊNCIA DE ALVARÁ DE CONSTRUÇÃO - LIMITES DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL - LEGISLAÇÃO MUNICIPAL EM DESCONFORMIDADE COM O CÓDIGO FLORESTAL - PREVALÊNCIA DO RECUO PREVISTO NA LEGISLAÇÃO FEDERAL - RECURSO DESPROVIDO. (SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Civil: 2006.007761-4. Rel.: Des. Rui Fortes. Julgamento em: 28 fev 2008. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.todas=prevalecer+o+art.+2%BA+do+C%F3digo+Florestal&d-49489-p=2&parametros.rowid=AAARykAAIAABeK7AAB>. Acesso em: 09 out 2010).

86

Considerada a antonomia reinante da legislação federal com a estadual e a municipal acerca das faixas não edificáveis em áreas de preservação permanente ao longo dos cursos d'água situados em região urbana, deve-se interpretar com base nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade para que a edificação, além de preservar razoavelmente o meio ambiente, seja adequada a uma boa ordenação da cidade e cumpra a função social da propriedade sob o pálio do desenvolvimento sustentável, da precaução e da cautela.

[...]

Assim, atento às circunstâncias e peculiaridades que revestem o caso, é recomendável que se apliquem os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, como bem sustentou a MM. Juíza, Dra. Anna Finke Suszek, até porque não se pode perder de vista que a legislação ambiental brasileira deve ser interpretada como suporte jurídico para o desenvolvimento sustentável, não se admitindo que se extraia do texto legal conclusões que prejudiquem o bem-estar social e inviabilizem obras urbanas onde a ocupação humana está completamente consolidada.

[...]

Frente a tais fatos, resta caracterizada a violação ao direito líquido e certo da impetrante ao ser negada a expedição do alvará frente à exigência no sentido de que seja considerada como área não edificável a faixa de trinta (30) metros para cada margem do córrego, o que inviabilizaria qualquer edificação no imóvel que está, inclusive, cercado por outras construções.

[...]

Nesse sentido são os precedentes desta Corte de Justiça:

"APELAÇÃO CÍVEL EM MANDADO DE SEGURANÇA. ALVARÁ PARA COMPLEMENTAÇÃO DE CONSTRUÇÃO. REGIÃO DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. ÁREA URBANA CONSOLIDADA. TOPOGRAFIA E CARACTERÍSTICAS QUE FAVORECERAM A COLONIZAÇÃO A PARTIR DAS MARGENS DOS RIOS. CASO EM QUE A LEGISLAÇÃO MUNICIPAL DEVE PREVALECER SOBRE A FEDERAL. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. RECURSO PROVIDO.

"Em se tratando de área urbana consolidada, sem quebra da ordem jurídica, pode o Município, no que couber, completar normas gerais e tornar-se um elo de ligação entre a norma e a realidade da sociedade" (Apelação Cível em Mandado de Segurança n. 2007.064564-7, de Rio do Sul. Rel. Desembargador Substituto Ricardo Roesler. Julgado em 16.06.2009).

"MANDADO DE SEGURANÇA. EDIFICAÇÃO. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE.

"Em análise do exercício do direito de propriedade e de acrescer, há se interpretar com razoabilidade as regras legais que instituem as áreas de preservação permanente, notadamente quando o contexto físico da região protegida inviabilizar a manutenção ou restituição do

87

equilíbrio ecológico" (Apelação Cível em Mandado de Segurança n. 2006.034773-1, de Rio do Sul. Relª: Desª. Substituta Sônia Maria Schmitz. Julgado em 10.06.2008).

REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. PREVALÊNCIA DA NORMA FEDERAL SOBRE A NORMA MUNICIPAL. NEGATIVA DE EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE CONSTRUÇÃO EM TERRENO PRÓXIMO A CURSO D‟ ÁGUA. DISTÂNCIA MÍNIMA DE 30 METROS EXIGIDA PELO CÓDIGO FLORESTAL (LEI N. 4.771/65). LARGURA DO CÓRREGO INFERIOR A 1 METRO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA. SEGURANÇA CONCEDIDA.

"Em se tratando de córrego com largura inferior a 1 metro, o recuo mínimo de 30 metros exigido pela Lei 4.771/65 mostra-se desproporcional, razão pela qual é de ser mantida a ordem que determinou a expedição do alvará de construção, respeitando o limite de 3 metros entre o córrego e a obra, este sim, proporcional ao caso. (TJSC, ACMS n. 2006.014702-1, Rel. Des. Cid Goulart, j. em 20.06.2006).210

Do exposto no julgado acima, verifica-se a necessidade da existência de

coerência lógica nas decisões de modo a se utilizar os princípios da razoabilidade e

proporcionalidade, fazendo-se justiça com a adequação entre o exigido na lei e a

realidade dos atos do Poder Público, no exercício de suas atividades administrativas

e legislativas, evitando-se os tratamentos excessivos e inadequados, visando buscar

o tratamento correto a cada caso concreto.

Entretanto, há julgados do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do

Sul no seguinte sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTRUÇÃO DE HOTEL. OBRA PARALISADA. Em inquérito civil realizado pelo Ministério Público, restou concluído que a obra está em desconformidade com o art. 2º, alínea a, item 1, do Código Florestal.

210

MANDADO DE SEGURANÇA. NEGATIVA DE CONCESSÃO DO ALVARÁ PARA CONSTRUÇÃO DE PRÉDIO À MARGEM DE CÓRREGO CANALIZADO E TAPADO COM 2,20 M DE LARGURA A SER AMPLIADO PARA 4,20 M. DISTÂNCIA DE RECUO EXIGIDA PELO CÓDIGO FLORESTAL (LEI N. 4.771/65). ÁREA "NON AEDIFICANDI". APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE ¿ REGIÃO TODA POVOADA. RESPEITO À LEGISLAÇÃO MUNICIPAL SOBRE FAIXAS DE DRENAGEM. CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA CONCESSIVA DA ORDEM. (SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Cível em Mandado de Segurança n. 2009.002367-2. Rel.: Des. Jaime Ramos. Julgamento em: 08 jan 2010. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.todas=prevalecer+o+art.+2%BA+do+C%F3digo+Florestal&d-49489-p=3&parametros.rowid=AAARykAAJAAABCjAAB>. Acesso em: 09 out 2010).

88

Questões a demandar instrução probatória. Contudo, por se tratar de risco ao Meio Ambiente, encontra respaldo a suspensão da obra, com base no princípio da precaução. A responsabilidade por danos ao Meio Ambiente é objetiva e transmite-se ao novo proprietário. Agravo de instrumento desprovido, por maioria.211

Desta forma, questiona-se: quais das duas leis devem ser utilizadas? E em

que enquadramentos utilizá-las? De acordo com estes questionamentos é que o

Ministério Público de Santa Catarina realizou, em 25 de junho de 2007, um

Seminário para discutir os entraves destas questões, criando-se alguns enunciados.

O objetivo geral desse Seminário foi a fixação de diretrizes buscando auxiliar

a atuação dos Promotores de Justiça do Estado de Santa Catarina, com atribuições

na área no Direito Ambiental e Urbanístico, tendo em vista a dificuldade de utilização

das Leis nº 4.771/65 (Código Florestal) e 6.766/79 (Lei de Parcelamento do Solo

Urbano), no que se refere às áreas de preservação permanente urbanas e as

definições impostas a elas por ambas as leis mencionadas, principalmente em

relação às margens dos cursos d‟água.212

Diante disso, foram elaborados os seguintes enunciados:213

Enunciado 01: Da aplicação do Código Florestal

Para a definição das áreas de preservação permanente existentes às margens dos cursos d‟água situados em zona urbana municipal, aplica-se, de regra, o disposto no art. 2º e alíneas do Código Florestal.214

Em relação às áreas urbanizadas, aplicam-se os enunciados 02 e 03:

Enunciado 02: Do conceito de Área Urbanizada

Para fins de aplicação dos seguintes enunciados, considera-se Área Urbanizada aquela situada em zona urbana delimitada pelo poder público municipal, com base em diagnóstico sócio-ambiental e que

211

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Rel.: Luiz Felipe Silveira Difini. Julgamento em: 02 dez Agravo de Instrumento nº 70032024408.2009. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 09 out 2010.

212 Enunciados conclusivos do Seminário: Delimitação de APPs em Áreas Urbanas Consolidadas.

Disponível em: <http://intranet.mp.sc.gov.br/intranet/webforms/portal/pecas.aspx?secao_id=358>. Acesso em: 09 out 2010.

213 Enunciados conclusivos do Seminário: Delimitação de APPs em Áreas Urbanas Consolidadas.

Foi realizado em 25 de junho de 2007; Local: Escola do Ministério Público de Santa Catarina, na Rua Vitor Konder, nº 203, Centro – Florianópolis/SC.

214 Enunciados conclusivos do Seminário: Delimitação de APPs em Áreas Urbanas Consolidadas.

Disponível em: <http://intranet.mp.sc.gov.br/intranet/webforms/portal/pecas.aspx?secao_id=358>. Acesso em: 09 out 2010.

89

preenche os requisitos constantes nas alíneas “a” e “b”, do inc. XIII do art. 2º da Resolução CONAMA 303/2002 (priorizando-se a implantação do tratamento do esgoto sanitário), excluindo-se desta a exigência constante na alínea “c” do mencionado artigo (densidade demográfica).

Enunciado 03: Da delimitação das Áreas Urbanizadas, de Interesse Ecológico e de Risco e a possibilidade de flexibilização do art. 2º do Código Florestal

O Ministério Público poderá exigir do Poder Público Municipal, por intermédio de Recomendação, Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta ou Ação Civil Pública, a realização de um diagnóstico sócio-ambiental visando a delimitação de áreas urbanizadas, das áreas de interesse ecológico relevante e áreas de risco, possibilitando o fornecimento de subsídios técnicos para a tomada de decisão administrativa ou judicial acerca das medidas alternativas a serem adotadas, conforme o caso concreto (demolição da construção, recomposição da área, correta ocupação, nas hipóteses de interesse social ou utilidade pública ou direito adquirido, e ausência de risco ou interesse ecológico relevante, e/ou adoção de medidas compensatórias).

Na hipótese de áreas urbanizadas, será admitida a flexibilização das disposições constantes no art. 2º do Código Florestal, desde que observado o limite mínimo previsto no disposto no inc. III da Lei 6.766/79 (quinze metros), bem como a ausência de interesse ecológico relevante e situação de risco .215

Na hipósete de direito adquirido, tem-se:

Enunciado 04: Hipóteses de Direito Adquirido

Para as construções consolidadas em áreas urbanizadas, cujas obras respeitaram os distanciamentos às margens dos cursos d‟água previstos nas legislações vigentes à época de suas construções (Código Florestal 1965: 5m, Lei do Parcelamento do Solo de 1979: 15m, alteração do Código Florestal em 1986: 30m), bem como a autorização administrativa exarada na época da construção, haverá de ser reconhecido o direito dos proprietários para permanecerem onde estão e a procederem às reformas e benfeitorias necessárias à manutenção do imóvel.216

Ainda, em construções consolidadas com distanciamento inferior aos 15

metros previstos na Lei nº 6.766/79:

215

Enunciados conclusivos do Seminário: Delimitação de APPs em Áreas Urbanas Consolidadas. Disponível em: <http://intranet.mp.sc.gov.br/intranet/webforms/portal/pecas.aspx?secao_id=358>. Acesso em: 09 out 2010.

216 Enunciados conclusivos do Seminário: Delimitação de APPs em Áreas Urbanas Consolidadas.

Disponível em: <http://intranet.mp.sc.gov.br/intranet/webforms/portal/pecas.aspx?secao_id=358>. Acesso em: 09 out 2010.

90

Enunciado 05: Das construções consolidadas com distanciamento inferior a 15 metros

As construções situadas em distanciamento inferior a 15 metros dos cursos d‟água - excluídas as construções antigas que estejam em conformidade com as legislações vigentes – são consideradas obras irregulares e sujeitas à demolição.

Em se tratando de construção situada em área urbanizada, verificando-se, através de diagnóstico sócio-ambiental, a ausência de situação de risco e interesse ecológico relevante, poderá o Ministério Público optar pela aplicação de medida compensatória, concomitante à adequação do saneamento básico do imóvel.

Na definição das medidas compensatórias acima mencionadas, serão priorizadas a recuperação de áreas de preservação permanente, a criação de áreas verdes públicas e de unidades de conservação municipais.217

Nas questões de áreas não urbanizadas e em casos de parcelamentos do

solo urbanos, aplica-se o disposto no art. 2º e incisos do Código Florestal.218

Desta forma, tem-se conclusões a respeito do assunto:

Nas áreas de preservação permanente onde não há norma ambiental que aplique maior proteção, pode ser respeitada a reserva de faixa non aedificandi estabelecida na lei 6.766/79 que é de 15 (quinze) metros, quando se tratar de loteamento urbano, desde que cumpra-se a função ambiental e estejam de acordo com as normas que regem tal direito.

Não se discute a incidência de direito adquirido e justa indenização sobre áreas de preservação permanente, diante das sucessivas alterações ocorridas no art. 2º do Código Florestal quando há apenas imposição de "limitações". Entretanto, tal incidência ocorre quando é inviabilizado o uso da propriedade, pois deixou de ser simples "limitação" para ser interdição de uso da propriedade.219

Por fim, infere-se do apresentado que quando se trata da prevalência da Lei

de Parcelamento do Solo Urbano (art. 4º, inciso III, da Lei nº 6.766/79) sobre o

Código Florestal (art. 2º, da Lei nº 4.771/65), que esta se refere às ocupações em

novas áreas, enquanto àquela trata de áreas urbanas consolidadas.

217

Enunciados conclusivos do Seminário: Delimitação de APPs em Áreas Urbanas Consolidadas. Disponível em: <http://intranet.mp.sc.gov.br/intranet/webforms/portal/pecas.aspx?secao_id=358>. Acesso em: 09 out 2010.

218 Enunciados conclusivos do Seminário: Delimitação de APPs em Áreas Urbanas Consolidadas.

Disponível em: <http://intranet.mp.sc.gov.br/intranet/webforms/portal/pecas.aspx?secao_id=358>. Acesso em: 09 out 2010.

219 ABREU, Alexandre Herculano. Regime Jurídico das Matas Ciliares. Disponível em:

<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/portal_detalhe.asp?campo=2332>. Acesso em: 09 out 2010.

91

3.3 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE PREVISTAS NA RESOLUÇÃO DO

CONAMA Nº 369/2006

O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, através da Resolução nº

369, de 28 de março de 2006, vem dispor “sobre os casos excepcionais, de utilidade

pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção

ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente – APP.”220

As áreas de preservação permanente embora fundamentais à qualidade do

meio ambiente ecologicamente equilibrado, em certos casos podem ser reproduzidas

pela ação do homem, como por exemplo, em caso de estabilidade geológica

garantida pela urbanização presente às margens de recursos hídricos,

principalmente em áreas urbanas.221

No uso de suas atribuições, bem como naquelas dispostas na Lei nº

4.771/1965 (art. 1º, § 2º, incisos IV, alínea “c”, e V, alínea “c”), que confere ao

CONAMA prever em resolução, as atividades de utilidade pública e interesse social

que autorizam a supressão de APP, é que se institui a Resolução nº 369/2006:

Considerando que as Áreas de Preservação Permanente - APP, localizadas em cada posse ou propriedade, são bens de interesse nacional e espaços territoriais especialmente protegidos, cobertos ou não por vegetação, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; Considerando a singularidade e o valor estratégico das áreas de preservação permanente que, conforme indica sua denominação, são caracterizadas, como regra geral, pela intocabilidade e vedação de uso econômico direto; Considerando que as áreas de preservação permanente e outros espaços territoriais especialmente protegidos, como instrumentos de relevante interesse

220

BRASIL. Resolução do CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=489>. Acesso em 09 out 2010.

221 Breve comentário da Resolução CONAMA 369 (APP). Disponível em:

<http://ambientalurbano.blogspot.com/2007/10/breve-comentrio-da-resoluo-conama-369.html>. Acesso em: 09 out 2010.

92

ambiental, integram o desenvolvimento sustentável, objetivo das presentes e futuras gerações.222

Em regra, não se permite qualquer tipo de supressão de vegetação ou

utilização econômica diretamente nas áreas previstas como de preservação

permanente. Entretanto, o art. 4º, do Código Florestal admite algumas exceções,

estabelecendo que:

A supressão de vegetação em área de preservação permanente somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesse social, devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto.223

Desta forma, verifica-se que a supressão de vegetação em área de

preservação permanente só poderá ser autorizada mediante procedimento

administrativo prévio dos órgãos ambientais competentes, devendo ser atendidos os

requisitos previstos na Resolução do CONAMA nº 369/2006, em casos de utilidade

pública e interesse social, conforme disposto no art. 2º:

Art. 2º O órgão ambiental competente somente poderá autorizar a intervenção ou supressão de vegetação em APP, devidamente caracterizada e motivada mediante procedimento administrativo autônomo e prévio, e atendidos os requisitos previstos nesta resolução e noutras normas federais, estaduais e municipais aplicáveis, bem como no Plano Diretor, Zoneamento Ecológico-Econômico e Plano de Manejo das Unidades de Conservação, se existentes, nos seguintes casos:

I - utilidade publica:

a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;

b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e energia;

c) as atividades de pesquisa e extração de substancias minerais, outorgadas pela autoridade competente, exceto areia, argila, saibro e cascalho;

d) a implantação de área verde publica em área urbana;

e) pesquisa arqueológica;

f) obras publicas para implantação de instalações necessárias a captação e condução de água e de efluentes tratados; e

222

BRASIL. Resolução do CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=489>. Acesso em 09 out 2010.

223 BRASIL. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Art. 4º. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm> Acesso em 09 out 2010.

93

g) implantação de instalações necessárias a captação e condução de água e de efluentes tratados para projetos privados de aqüicultura, obedecidos os critérios e requisitos previstos nos §§ 1º e 2º do art. 11, desta Resolução.

II - interesse social:

a) as atividades imprescindíveis a proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, de acordo com o estabelecido pelo órgão ambiental competente;

b) o manejo agroflorestal, ambientalmente sustentável, praticado na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterize a cobertura vegetal nativa, ou impeça sua recuperação, e não prejudique a função ecológica da área;

c) a regularização fundiária sustentável de área urbana;

d) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente;

III - intervenção ou supressão de vegetação eventual e de baixo impacto ambiental, observados os parâmetros desta Resolução.224

Contudo, a intervenção ou supressão de vegetação em área de preservação

permanente, somente será autorizada quando o requerente, comprovar:

I – a inexistência de alternativa técnica e locacional as obras, planos, atividades ou projetos propostos;

II - atendimento as condições e padrões aplicáveis aos corpos de água;

III - averbação da Área de Reserva Legal;

IV – a inexistência de risco de agravamento de processos como enchentes, erosão ou movimentos acidentais de massa rochosa.225

Quanto à regularização fundiária em área urbana, poderá ocorrer a

supressão de área de preservação permanente, observados critérios como:

[...]

I - localização unicamente em APP previstas nos incisos I, III alínea “a”, V, VI e IX alínea “a”, do art. 3º da Resolução CONAMA nº 303, de 2002, e art. 3º da Resolução CONAMA nº 302, de 2002;

II - aprovação pelo órgão ambiental competente de um projeto técnico que priorize a restauração e/ou manutenção das características do ecossistema local, e que contemple medidas necessárias para:

224

BRASIL. Resolução do CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006. Art. 2º. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=489>. Acesso em 09 out 2010.

225 BRASIL. Resolução do CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006. Art. 3º. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=489>. Acesso em 09 out 2010.

94

a) recuperação das áreas degradadas da APP inseridas na área verde de domínio publico;

b) recomposição da vegetação com espécies nativas;

c) mínima impermeabilização da superfície;

d) contenção de encostas e controle da erosão;

e) adequado escoamento das águas pluviais;

f) proteção de área da recarga de aqüíferos; e

g) proteção das margens dos corpos de água.

III - percentuais de impermeabilização e alteração para ajardinamento limitados a respectivamente 5% e 15% da área total da APP inserida na área verde de domínio publico.

§ 1º Considera-se área verde de domínio publico, para efeito desta Resolução, o espaço de domínio publico que desempenhe função ecológica, paisagística e recreativa, propiciando a melhoria da qualidade estética, funcional e ambiental da cidade, sendo dotado de vegetação e espaços livres de impermeabilização.

[...].226

Ainda, existe outro caso em que há a possibilidade de intervenção ou

supressão de área de preservação permanente, desde que eventualmente: são os

casos de empreendimentos considerados de baixo impacto ambiental, que estão

estabelecidos no art. 11, da referida Resolução:

Art. 11. Considera-se intervenção ou supressão de vegetação, eventual e de baixo impacto ambiental, em APP:

I - abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias a travessia de um curso de água, ou a retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável praticado na pequena propriedade ou posse rural familiar;

II - implantação de instalações necessárias a captação e condução de água e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber;

III - implantação de corredor de acesso de pessoas e animais para obtenção de água;

IV - implantação de trilhas para desenvolvimento de ecoturismo;

V - construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;

VI - construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais da região amazônica ou do Pantanal, onde o abastecimento de água se de pelo esforço próprio dos moradores;

VII - construção e manutenção de cercas de divisa de propriedades;

226

BRASIL. Resolução do CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006. Art. 9º. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=489>. Acesso em 09 out 2010.

95

VIII - pesquisa cientifica, desde que não interfira com as condições ecológicas da área nem enseje qualquer tipo de exploração econômica direta, respeitados outros requisitos previstos na legislação aplicável;

IX - coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, desde que eventual e respeitada a legislação especifica a respeito do acesso a recursos genéticos;

X - plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais em áreas alteradas, plantados junto ou de modo misto;

XI - outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventual e de baixo impacto ambiental pelo conselho estadual de meio ambiente.

§ 1º Em todos os casos, incluindo os reconhecidos pelo conselho estadual de meio ambiente, a intervenção ou supressão eventual e de baixo impacto ambiental de vegetação em APP não poderá comprometer as funções ambientais destes espaços, especialmente:

I - a estabilidade das encostas e margens dos corpos de água;

II - os corredores de fauna;

III - a drenagem e os cursos de água intermitentes;

IV - a manutenção da biota;

V - a regeneração e a manutenção da vegetação nativa; e

VI - a qualidade das águas.

§ 2º A intervenção ou supressão, eventual e de baixo impacto ambiental, da vegetação em APP não pode, em qualquer caso, exceder ao percentual de 5% (cinco por cento) da APP impactada localizada na posse ou propriedade.

§ 3º O órgão ambiental competente poderá exigir, quando entender necessário, que o requerente comprove, mediante estudos técnicos, a inexistência de alternativa técnica e locacional a intervenção ou supressão proposta.

227

Assim, verifica-se que as Áreas de Preservação Permanente desenvolvem

um papel fundamental na vida da sociedade, por abrigar uma grande biodiversidade

e promover o desenvolvimento de vida, assegurando a boa qualidade do solo e

garantindo a existência de um ecossistema adequado, visando ao bem-estar das

populações que vivem em seu entorno. Desta maneira, é que a supressão ou

interferência nestas áreas devem ser feita de modo que não causem prejuízos

intensos, verificando sempre a necessidade de utilidade pública, interesse social ou

baixo impacto ambiental.

227

BRASIL. Resolução do CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006. Art. 9º. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=489>. Acesso em 09 out 2010.

96

3.4 MATA ATLÂNTICA

A Mata Atlântica, como já estudado no capítulo anterior, caracteriza-se por

um importantíssimo Bioma, sendo considerado Patrimônio Nacional, conforme

disposto no art. 225, § 4º, da Constituição Federal. Historicamente, percebe-se que

com o decorrer do tempo, e considerando ser a Mata Atlântica o primeiro bioma a ser

encontrado quando da colonização portuguesa, “houve uma impressionante redução

das áreas florestadas em função das diferentes atividades econômicas praticadas no

Brasil.”228

Diante de tal destruição, e considerando o seu valor ecológico inestimável,

ocorre a criação da Lei nº 11.428/2006, que dispõe sobre a proteção e utilização da

vegetação nativa da Mata Atlântica. Percebe-se que a edição de referida lei tem “por

objetivo geral o desenvolvimento sustentável, e, por objetivos específicos, a

salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos,

estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social”229, como forma de

proteção e preservação desse ecossistema.

A partir de então, a Lei da Mata Atlântica, disciplina que o corte, a supressão

e a exploração da vegetação do Bioma são permitidos, mas devem ocorrer de

maneira diferenciada, “conforme se trate de vegetação primária ou secundária, nesta

última levando-se em conta o estágio de regeneração.”230

Assim, verifica-se que:

Art. 17. O corte ou a supressão de vegetação primária ou secundária nos estágios médio ou avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica, autorizados por esta Lei, ficam condicionados à compensação ambiental, na forma da destinação de área equivalente à extensão da área desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrográfica, sempre que possível na

228

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 10. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 336. 229

BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 6º. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em 09 out 2010

230 BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 8º. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em 09 out 2010

97

mesma microbacia hidrográfica, e, nos casos previstos nos arts. 30 e 31, ambos desta Lei, em áreas localizadas no mesmo Município ou região metropolitana.231

Desta forma, procura-se instituir com a Lei da Mata Atlântica, a proteção do

Bioma nas áreas urbanas e regiões metropolitanas, ocorrências dispostas nos art. 30

e 31, da Lei nº 11.428:

Art. 30. É vedada a supressão de vegetação primária do Bioma Mata Atlântica, para fins de loteamento ou edificação, nas regiões metropolitanas e áreas urbanas consideradas como tal em lei específica, aplicando-se à supressão da vegetação secundária em estágio avançado de regeneração as seguintes restrições:

I - nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência desta Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração dependerá de prévia autorização do órgão estadual competente e somente será admitida, para fins de loteamento ou edificação, no caso de empreendimentos que garantam a preservação de vegetação nativa em estágio avançado de regeneração em no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da área total coberta por esta vegetação, ressalvado o disposto nos arts. 11, 12 e 17 desta Lei e atendido o disposto no Plano Diretor do Município e demais normas urbanísticas e ambientais aplicáveis;

II - nos perímetros urbanos aprovados após a data de início de vigência desta Lei, é vedada a supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica para fins de loteamento ou edificação.

Art. 31. Nas regiões metropolitanas e áreas urbanas, assim consideradas em lei, o parcelamento do solo para fins de loteamento ou qualquer edificação em área de vegetação secundária, em estágio médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, devem obedecer ao disposto no Plano Diretor do Município e demais normas aplicáveis, e dependerão de prévia autorização do órgão estadual competente, ressalvado o disposto nos arts. 11, 12 e 17 desta Lei.

§ 1o Nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência desta Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio médio de regeneração somente será admitida, para fins de loteamento ou edificação, no caso de empreendimentos que garantam a preservação de vegetação nativa em estágio médio de regeneração em no mínimo 30% (trinta por cento) da área total coberta por esta vegetação.

§ 2o Nos perímetros urbanos delimitados após a data de início de vigência desta Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio

231

BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Art. 17. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em 09 out 2010

98

médio de regeneração fica condicionada à manutenção de vegetação em estágio médio de regeneração em no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da área total coberta por esta vegetação.232

Observa-se que a supressão de vegetação secundária em estágio médio e

avançado de regeneração é proibida conforme previsto nos artigos acima

mencionados. No entanto, permite-se tal supressão para fins de loteamento e

edificação em área urbana, desde que sejam preservados os percentuais de 50% em

área de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração, com a ressalva

de empreendimentos que possuam autorização expedida anteriormente à vigência

da Lei nº 11.428/2006. E, nos casos de vegetação secundária em estágio médio de

regeneração, deve-se observar a preservação de 30% aos empreendimentos que

foram aprovados antes desta Lei, e de 50% aos aprovados posteriormente à Lei.

Além disso, verifica-se que a jurisprudência vem interpretando a questão de

supressão de vegetação de Mata Atlântica, em consonância com a legislação em

vigor e seus princípios norteadores, vez que evidencia a necessidade de autorização

precedida de Estudo de Impacto Ambiental (EIA), bem como a anuência do órgão

ambiental estadual competente. O tribunal de Justiça de Santa Catarina, em um de

seus excertos, destaca:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - DIREITO AMBIENTAL - LOTEAMENTO - ABERTURA DE RUAS EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (MATA ATLÂNTICA) - LICENÇA EXPEDIDA POR FUNDAÇÃO MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE SEM O PRÉVIO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL - MEDIDA CAUTELAR LIMINAR DEFERIDA PARA SUSPENDER OS EFEITOS DA LICENÇA/AUTORIZAÇÃO - FUMUS BONI JURIS E PERICULUM IN MORA COMPROVADOS - VIOLAÇÃO DO ART. 2º, DA LEI FEDERAL N. 8.437/92 NÃO CONFIGURADA - AJUIZAMENTO EXTEMPORÂNEO DA AÇÃO PRINCIPAL - INOCORRÊNCIA DA CESSAÇÃO DA EFICÁCIA DA LIMINAR QUE FOI CONFIRMADA/MANTIDA NA AÇÃO PRINCIPAL - RECURSO NÃO PROVIDO.

A autorização para a SUPRESSÃO de vegetação de MATA ATLÂNTICA inserida em Área de Preservação Permanente (APP) deve ser precedida de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e anuência do órgão ambiental estadual competente, manifestada em decisão fundamentada, conforme estabelecem as disposições constitucionais (art. 225, § 1º, inciso IV, da Constituição Federal e arts. 181, 182,

232

BRASIL. Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Arts. 30 e 31. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11428.htm>. Acesso em 09 out 2010

99

inciso V e 184, inciso I, da Constituição Estadual) e infraconstitucionais (art. 9º, incisos II, III e IV, da Lei Federal n. 6.938/81; art. 17, § 1º, do Decreto Federal n. 99.274/90; art. 3º, da Resolução n. 237/97 do CONAMA; art. 1º, parágrafo único, do Decreto Federal n. 750/93; art. 19, parágrafo único, da Lei Estadual n. 10.472/97), porque se trata de um patrimônio nacional (art. 225, § 4º, da CF/88).

Por isso, não cumpridas as exigências constitucionais e infraconstitucionais se mostra correta a decisão agravada que deferiu a medida cautelar liminar para determinar a suspensão dos efeitos da autorização ambiental, impedindo que o dano irreparável ou de difícil reparação seja integralmente consumado com a extração da vegetação inserida em área de preservação permanente, haja vista que devidamente comprovados o fumus boni juris e o periculum in mora indispensáveis à concessão da medida liminar.

A concessão da medida cautelar liminar, sem a prévia audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, não viola a norma inserta no art. 2º, da Lei Federal n. 8.437/92, que deve ser interpretada com razoabilidade/proporcionalidade, levando-se em consideração as circunstâncias do caso concreto submetido à apreciação do julgador, de maneira que, estando consumado em parte o prejuízo e havendo risco iminente de que a vegetação nativa (MATA ATLÂNTICA) pudesse ser totalmente devastada, causando danos irreparáveis ao meio ambiente e, conseqüentemente, à sadia qualidade de vida, a restrição legal há que ser flexibilizada quando o bem a ser tutelado se sobrepõe ao privilégio da pessoa jurídica de direito público.

Embora a ação principal tenha sido protocolizada depois de transcorrido o prazo de trinta (30) dias previsto no art. 806, do Código de Processo Civil, fato que, em princípio, faria cessar a eficácia da liminar (art. 808, inciso I, do CPC), o digno Magistrado, quando do recebimento da ação civil pública, manteve/confirmou integralmente a liminar concedida na ação preparatória, vale dizer, seus efeitos foram restabelecidos/confirmados por decisão judicial proferida no processo principal.233

Em suma, do corpo do acórdão, extrai-se o entendimento da necessidade de

autorização do órgão ambiental estadual competente, bem como o Estudo de

Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente (EIA/RIMA):

233

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2007.022412-0. Rel.: Jaime Ramos. Julgamento em: 14 mar 2008. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=supress%E3o+mata+atl%E2ntica+loteamento&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAIAABeIJAAB>. Acesso em: 10 out 2010.

100

[...]

De igual modo, a teor do que dispõe o art. 1º, parágrafo único, do Decreto Federal n. 750, de 10/02/1993, "ficam proibidos o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica", mas "excepcionalmente, a supressão da vegetação primária ou em estágio avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica poderá ser autorizada, mediante decisão motivada do órgão estadual competente, com anuência prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA, informando-se ao Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, quando necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social, mediante aprovação de estudo e relatório de impacto ambiental" (parágrafo único, do art. 1º, do Decreto Federal n. 750/93).

Essa norma é reproduzida, na essência, pelo art. 19, parágrafo único, da Lei Estadual n. 10.472, de 12/08/1997, que dispõe sobre a política florestal do Estado de Santa Catarina.

A Resolução CONAMA n. 237, de 19/12/1997, também estabelece no seu art. 3º, que "a licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com a regulamentação".

Então, como se vê, a licença e/ou autorização ambiental para a realização de obras que possam causar danos ao meio ambiente não pode ser concedida sem a elaboração de um prévio estudo de impacto ambiental.

Além do mais, na área que está sendo devastada há vegetação nativa que pertence à Mata Atlântica, o que foi constatado in loco pelo Ministério Público e reconhecido também pela Fundação Municipal do Meio Ambiente (ver pareceres técnico e jurídico), motivo pelo qual a autorização para a sua supressão só poderá ser concedida com fundamento em decisão motivada do órgão estadual competente (FATMA), e com anuência do IBAMA, não se dispensando, contudo, o necessário estudo de impacto ambiental.

[...].234

234

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2007.022412-0. Rel.: Jaime Ramos. Julgamento em: 14 mar 2008. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=supress%E3o+mata+atl%E2ntica+loteamento&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAIAABeIJAAB>. Acesso em: 10 out 2010.

101

Ainda, no mesmo sentido, tem-se:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CAUTELAR. DECISÃO SUSPENSIVA DOS EFEITOS DE AUTORIZAÇÃO PARA CORTE E LICENÇA AMBIENTAL DE INSTALAÇÃO. IMPLANTAÇÃO DE LOTEAMENTO. PROTEÇÃO AO BIOMA MATA ATLÂNTICA. LEI 11.428/06 REGULADA PELO DECRETO 6.660/08. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE VISTORIA PRÉVIA NA ÁREA DESTINADA À COMPENSAÇÃO PELO DESMATAMENTO (ART. 27, PARÁGRAFO ÚNICO, DO DECRETO 6.660/08). APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. CONTROLE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS PELO PODER JUDICIÁRIO. POSSIBILIDADE DE ANÁLISE DA LEGALIDADE. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.

I. "Em tema de controvérsia sobre licenciamento ambiental, a ponderação dos riscos e eventuais prejuízos deve, à luz do princípio da precaução e ante a possibilidade de periculum in mora inverso, ser resolvida em favor do interesse coletivo na proteção ao meio ambiente." (AI n. 2009.026444-3, da Capital, rel. Des. Newton Janke, j. em 15.9.2009).

II. É de todo factível o controle jurisdicional da legalidade dos atos administrativos, pois que descabida a intervenção do Poder Judiciário apenas no atinente aos critérios de conveniência e oportunidade, por se constituírem estes em faculdade exclusiva da Administração Pública.235

Desta forma, verifica-se a necessidade do órgão ambiental competente

promover vistoria prévia na área destinada à compensação a fim de avaliar e atestar

se a área a ser compensada é equivalente à área degradada. Diante disso, verifica-

se no acórdão transcrito acima que “não ficou demonstrado ter havido a prévia

vistoria na área a ser compensada, razão pela qual desvela-se acertada a decisão

agravada, que encontra fomento no cognominado „princípio da precaução‟.”236

235

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2009.057684-3. Rel.: João Henrique Blasi. Julgamento em: 26 fev 2010. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=supress%E3o+mata+atl%E2ntica+loteamento&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAALAAAA%2BYAAA>. Acesso em: 10 out 2010.

236 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2009.057684-3. Rel.: João

Henrique Blasi. Julgamento em: 26 fev 2010. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=supress%E3o+mata+atl%E2ntica+loteamento&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&par

102

De outro norte, verifica-se que há votos no sentido de não haver a

necessidade de um Estudo de Impacto Ambiental, contudo esta situação demonstra-

se minoritário, conforme se verifica no julgado do Tribunal Regional Federal da 4ª

Região:

Conforme relatado, é postulada a prevalência do voto vencido, pois nele é sustentado que a falta de estudos de impacto ambiental prévios não acarretam a nulidade das licenças concedidas pelo órgão estadual Fundação de Amparo ao Meio Ambiente - FATMA. Pela evidente possibilidade de regularização do empreendimento já instalado, seria suficiente aplicar-se a suspensão.

Reforçando tais argumentos, a embargante afirma que o EIA/RIMA e as licenças ambientais são atos administrativos autônomos e independentes entre si: mesmo que as licenças possam ser afetadas pela falta daquele no plano da eficácia, restarão intactos os planos da existência e da validade.

Nos termos do voto majoritário, o procedimento de licenciamento para hipótese que implique a modificação do meio-ambiente com a supressão de Mata Atlântica, tem como requisito prévio o estudo de impacto ambiental, porque neste são desenvolvidos os trabalhos de análise técnica necessários a que se verifique se determinada obra poderá ou não ser licenciada.

O EIA oferece diagnóstico detalhado das condições ambientais da área de influência do projeto antes de sua implantação, no qual é considerado o solo, o subsolo, o ar, as águas, o clima, as formas de vida, os ecossistemas naturais e o meio sócio-econômico. É feita também a análise das consequências de sua implantação e de sua não implantação, prevendo os impactos positivos e negativos, e propondo as medidas amenizadoras desses impactos e suas formas de acompanhamento e monitoramento.

O RIMA, por sua vez, contém as conclusões desse estudo, que devem ficar à disposição das pessoas interessadas.

Assim postos os fatos, não vejo como validar licenciamento ambiental aqui emitido sem os dados essenciais de um EIA/RIMA; as meras recomendações das licenças prévias ressaltando a necessidade de preservar a vegetação protegida por lei, além de não garantir a efetiva defesa de meio ambiente ecologicamente equilibrado (CF, art. 225), evidenciam que a construção do empreendimento oferecia esse risco. Tanto é assim que, por conta disso, a embargante foi condenada, entre demais cominações, a indenizar a supressão de vegetação secundária, de mata e de restinga, foi proibida de construir nas áreas localizadas dentro da faixa de 300 metros a contar da preamar máxima, bem como condenada a executar procedimentos para recuperação ambiental dos danos causados (fls. 1442/1443).

ametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAALAAAA%2BYAAA>. Acesso em: 10 out 2010.

103

Nesse sentido é a Resolução nº 237/97 do CONAMA, que determina a realização de estudo prévio para a instalação de empreendimentos em locais situados em área costeira e que incluam Mata Atlântica, protegidas pela Lei nº 7.661/88, pelo Código Florestal e pela própria Constituição Federal.

Tenho, portanto, que a posição manifestada no voto majoritário é a que melhor soluciona a lide, nos termos brilhantemente explicitados pelo Exmº. Desembargador Edgard Lippmann Júnior, pedindo a devida permissão para agregá-los ao presente voto como razões de decidir.237

Assim, verificadas as possíveis hipóteses de supressão de vegetação da

Mata Atlântica conforme previsão na Lei nº 11.428/2006, e analisada sua

aplicabilidade na visão da jurisprudência, entende-se que a supressão de vegetação

é admitida quando feita prévia avaliação do local, com a realização de Estudo de

Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), os quais devem

ser analisados de forma a auxiliar a Avaliação de Impacto Ambiental para a

concessão de licenciamento ambiental para a supressão de determinada área de

Mata Atlântica.

Desta maneira, em face dos julgamentos anteriormente apresentados,

percebe-se que o posicionamento dos tribunais preocupa-se, primordialmente em

assegurar às gerações futuras o direito a um meio ambiente equilibrado e íntegro, ao

estabelecer limites ponderáveis à utilização das áreas verdes, aos conflitos

decorrentes de dúvidas acerca da utilização da norma legal e quando dos

questionamentos sobre a supressão da Mata Atlântica, nosso principal bioma.

237

EMBARGOS INFRINGENTES. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LICENÇA AMBIENTAL CONCEDIDA SEM ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL - EIA - E RELATÓRIO DE IMPACTO SOBRE O MEIO AMBIENTE. NULIDADE. (SANTA CATARINA. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Embargos Infringentes nº 2003.04.01.027658-1. Rel.: Silvia Maria Gonçalves Goraieb. Julgamento em: 10 dez 2009. Disponível em: <http://www.trf4.jus.br/trf4/jurisjud/resultado_pesquisa.php>. Acesso em: 10 out 2010.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho de iniciação científica teve como objetivo precípuo

analisar questões ambientais, de modo a verificar como as leis ambientais vêm

sendo aplicadas em relação à efetiva preservação e conservação do meio ambiente

para as gerações futuras.

Com o intuito de abordar a relação que passa a existir quando da tutela e

proteção do meio ambiente, principalmente em relação às áreas verdes e às áreas

de preservação permanente, tratou a presente pesquisa de procurar compreender o

meio ambiente, amparadas pelas leis atuais, e sua aplicação pelos operantes do

direito.

Do conteúdo exposto, é possível concluir que as áreas verdes, são de suma

importância à população, devido sua rica colaboração na manutenção do meio

ambiente equilibrado, com a construção de cidades mais organizadas, tendo em

vista a necessidade de proteção da natureza e do ecossistema para que sejam

preservados e estejam presentes de modo a manter o equilíbrio das fontes de

oxigênio dos grandes centros urbanos.

No entanto, verifica-se que objetivando o crescimento das áreas urbanas,

através da instituição de loteamentos e grandes empreendimento, o Poder Público

Municipal tenta desafetar tais áreas, agindo como se não houvesse necessidade de

utilização das áreas verdes à população, preocupando-se sobre maneira em

solucionar questões de moradia em detrimento da preservação do meio ambiente.

Conforme vislumbrou-se no presente trabalho, é o entendimento majoritário

dos Tribunais de Santa Catarina e Rio Grande do Sul que áreas verdes não podem

ser desafetadas pelo Poder Público, em virtude de sua importantíssima utilidade na

qualidade de vida dos cidadãos locais, tendo em vista o bem-estar das populações,

sendo que sua destruição pode causar desequilíbrios no ecossistema, passíveis de

comprometer o equilíbrio sustentável das cidades.

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Percebe-se, ainda, que as áreas verdes proporcionam aos moradores dos

grandes centros urbanos, áreas de lazer e recreação, como as existentes em

parques públicos, jardins botânicos, campos de esportes, tudo visando à

manutenção de uma vida saudável e pacífica, ou seja, alcançar a boa qualidade de

vida.

Desta forma, torna-se necessária a criação de normas que impossibilitem a

desafetação das áreas verdes, pelo Poder Municipal, vez que ao Município não há o

direito de descaracterizar uma área verde, em virtude do princípio do ambiente

ecologicamente equilibrado. Além disso, a desafetação destas áreas prejudica a

comunidade local, diminuindo a qualidade de vida dos cidadãos, e causando,

inclusive, dano e degradação ao meio ambiente.

Analisando agora as questões acerca da utilização da Lei de Parcelamento

do Solo Urbano (Lei nº 6.766/1979) e do Código Florestal (Lei nº 4.771/1965) quando

presentes áreas de preservação permanente, principalmente em relação à cursos

d‟água e matas ciliares em áreas urbanas, verificou-se divergências jurisprudenciais

acerca do tema, especialmente no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Isto

porque, não é pacífico o entendimento sobre qual das duas leis utilizar, sendo que há

quem sustente que deve ser utilizada em áreas urbanas o distanciamento de 15

metros em relação às áreas de preservação permanente, conforme previsto no art.

4º, inciso III, da Lei de Parcelamento do Solo Urbano. Em que pese tal entendimento,

há pensamentos diversos, no sentindo de ser utilizado o distanciamento previsto no

art. 2º, do Código Florestal, correspondente a 30 metros.

Verifica-se o entendimento de que em áreas urbanas consolidadas deve-se

atender ao distanciamento previsto na Lei de Parcelamento do Solo Urbano, tendo o

proprietário do imóvel o dever de não edificar em seu terreno antes dos 15 metros,

em virtude de ser considerado de preservação permanente.

Quanto às novas áreas passíveis de parcelamento do solo urbano,

vislumbrou-se o entendimento de que se deve utilizar o distanciamento previsto no

Código Florestal, visto que o papel desempenhado pela vegetação de preservação

permanente existente no local possui a mesma função social tanto na área rural

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quanto na área urbana, razão pela qual a função social da propriedade urbana

depende também da aplicação da norma de preservação imposta pela Lei nº

4.771/1965.

E, quanto à intervenção ou supressão de área de preservação permanente,

disposta no art. 4º do Código Florestal, nota-se que a Resolução do CONAMA nº

369/2006, institui tal regularização, devendo-se observar os casos de utilidade

pública, interesse social ou baixo impacto ambiental.

Pode-se observar, ainda, ao longo desta monografia outra questão

importantíssima, referente à supressão de vegetação de Mata Atlântica, no que diz

respeito à necessidade de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto

sobre o Meio Ambiente (RIMA), sendo que para sua autorização deve haver

avaliações de impactos ambientais sobre as áreas em questão.

A maior parte da doutrina e da jurisprudência pátria, além de exigir as

formalidades legais, sobre a necessidade de apresentação do EIA/RIMA para a

possibilidade de supressão de Mata Atlântica, entende que a autorização para

supressão deve haver a destinação de outra área equivalente à extensão da área

desmatada, a fim de que seja feita uma espécie de compensação pela área

suprimida. Observa-se que, em face do possível impacto degradador ao meio

ambiente causado pela supressão de Mata Atlântica, que poderá causar grande

destruição à qualidade de vida da população por ter este Bioma uma grande

relevância na vida das pessoas, em virtude de sua rica diversidade de flora e fauna.

Assim, diante do que foi pesquisado, ficou evidenciado que é dever do poder

Público e da população em geral à preservação e conservação do meio ambiente, de

forma a assegurar às gerações futuras o direito a um meio ambiente equilibrado,

para a permanência de vida no Planeta Terra.

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metros.todas=supress%E3o+mata+atl%E2ntica+loteamento&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAIAABeIJAAB>. Acesso em: 10 out 2010. ______. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2007.022412-0. Rel.: Jaime Ramos. Julgamento em: 14 mar 2008. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=supress%E3o+mata+atl%E2ntica+loteamento&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAIAABeIJAAB>. Acesso em: 10 out 2010. ______. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2009.057684-3. Rel.: João Henrique Blasi. Julgamento em: 26 fev 2010. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=supress%E3o+mata+atl%E2ntica+loteamento&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAALAAAA%2BYAAA>. Acesso em: 10 out 2010. ______. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2009.057684-3. Rel.: João Henrique Blasi. Julgamento em: 26 fev 2010. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=supress%E3o+mata+atl%E2ntica+loteamento&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAALAAAA%2BYAAA>. Acesso em: 10 out 2010. ______. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Embargos Infringentes nº 2003.04.01.027658-1. Rel.: Silvia Maria Gonçalves Goraieb. Julgamento em: 10 dez 2009. Disponível em: <http://www.trf4.jus.br/trf4/jurisjud/resultado_pesquisa.php>. Acesso em: 10 out 2010.

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