5
 www.conteudojuridico.com.br  Coluna Sexta, 11 de Junho de 2010 00h15 Aspectos jurídicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores  Podemos conceituar o IPVA como sendo o tributo que incide sobre a propriedade de veículos automotores, qualquer que seja a sua natureza e que alcança, portanto, veículos rodoviários, aeroviários e aquaviários (marítimos fluviais e lacustres). Cobrado anualmente pelos Estados e pelo Distrito Federal, não tem relação direta com prestação de serviço (asfalto em ruas, colocação de sinais etc.) como tinha a antiga Taxa Rodoviária Única, que era recolhida com o objetivo de fazer os motoristas pagarem pelo uso e manutenção das rodovias. Aliás, esta é a característica essencial de todo imposto: é uma receita da União, Es ta dos ou Município s, utilizada para as de sp es as normais da administração, tais como, educação, saúde, segurança, saneamento etc. Registre-se que a propriedade do veículo automotor é comprovada por meio do documento de propriedade emitido pelo DETRAN de cada Estado e que a incidência de tal imposto se dá a partir da emissão do documento comprovante da propriedade que está no seu conteúdo, ou seja, quando o veículo é pela primeira vez vendido, não incidindo o imposto, todavia, enquanto estiver na fábrica ou na concessionária para ser vendido ao primeiro proprietário.  O IPVA surgiu através da Emenda Constitucional nº. 27, de 28.11.1985, que atribuiu ao s Es tad os e ao Dis trit o Fe der al competência para instituir imposto sobre propriedade de veículos au to motores ve dando a cobran ça de impo st os ou ta xa s incidentes sobre a utilização de veículos, dispositivo esse ratificado pelo art. 155 da CF/ 88. Res sa lte -se que não per maneceu no dispositivo co nst itucional a vedação à cobrança de impostos ou taxas incidentes sobre a utili zação de veículos. Merece destacar a percuciente lição de Hugo de Brito MAchado, in verbis: Quanto às taxa s, a ve dação er a dispensável, post o que o fato gerador das taxas está sempre ligado à atuação estatal, não se compre en dendo mesmo uma ta xa so br e o uso de um ve ículo pa rticular. Com ou sem a ve da çã o ex pr es sa , infelizmente a cobrança de ta xas no licenciament o de ve ículos continuou e

Aspectos jurídicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

  • Upload
    aluzair

  • View
    120

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Aspectos jurídicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

5/17/2018 Aspectos jur dicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Ve culos Automot...

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-juridicos-do-ipva-imposto-sobre-a-propriedade-de-veiculo

www.conteudojuridico.com.br  

Coluna 

Sexta, 11 de Junho de 2010 00h15

Aspectos jurídicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

 

Podemos conceituar o IPVA como sendo o tributo que incide sobre a propriedade

de veículos automotores, qualquer que seja a sua natureza e que alcança, portanto,

veículos rodoviários, aeroviários e aquaviários (marítimos fluviais e lacustres). Cobrado

anualmente pelos Estados e pelo Distrito Federal, não tem relação direta com prestação

de serviço (asfalto em ruas, colocação de sinais etc.) como tinha a antiga Taxa Rodoviária

Única, que era recolhida com o objetivo de fazer os motoristas pagarem pelo uso e

manutenção das rodovias. Aliás, esta é a característica essencial de todo imposto: é uma

receita da União, Estados ou Municípios, utilizada para as despesas normais da

administração, tais como, educação, saúde, segurança, saneamento etc.

Registre-se que a propriedade do veículo automotor é comprovada por meio do

documento de propriedade emitido pelo DETRAN de cada Estado e que a incidência de

tal imposto se dá a partir da emissão do documento comprovante da propriedade que está

no seu conteúdo, ou seja, quando o veículo é pela primeira vez vendido, não incidindo o

imposto, todavia, enquanto estiver na fábrica ou na concessionária para ser vendido ao

primeiro proprietário.

  O IPVA surgiu através da Emenda Constitucional nº. 27, de 28.11.1985, que

atribuiu aos Estados e ao Distrito Federal competência para instituir imposto sobre

propriedade de veículos automotores vedando a cobrança de impostos ou taxas

incidentes sobre a utilização de veículos, dispositivo esse ratificado pelo art. 155 da

CF/88. Ressalte-se que não permaneceu no dispositivo constitucional a vedação à

cobrança de impostos ou taxas incidentes sobre a utilização de veículos.

Merece destacar a percuciente lição de Hugo de Brito MAchado, in verbis:

Quanto às taxas, a vedação era dispensável, posto que o fato

gerador das taxas está sempre ligado à atuação estatal, não se

compreendendo mesmo uma taxa sobre o uso de um veículo

particular. Com ou sem a vedação expressa, infelizmente a

cobrança de taxas no licenciamento de veículos continuou e

Page 2: Aspectos jurídicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

5/17/2018 Aspectos jur dicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Ve culos Automot...

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-juridicos-do-ipva-imposto-sobre-a-propriedade-de-veiculo

continua a ser praticada, em flagrante violência à Constituição.

Ninguém a isto se opõe, talvez em virtude do valor relativamente

pequeno cobrado de cada proprietário de veiculo.

Quanto aos impostos, parece-nos que a vedação somente seria

importante em face da competência dita residual, posto que o

sistema tributário brasileiro é rígido, discrimina as competências

delimitando o âmbito de cada imposto, de sorte que não seria

mesmo possível, a não ser no exercício da competência residual,

instituir um imposto sobre o uso de veículos automotores.

   A função primordial do IPVA é fiscal, sendo que pode ser verificada uma função

extrafiscal quando verificada a diferença de alíquota em razão do tipo de combustível

utilizado pelo veículo.

 A respeito do aspecto material do IPVA, ainda não foi editada a lei complementar 

que trata do fato gerador, da base de cálculo e contribuintes do IPVA. Como os Estados

possuem competência suplementar para estabelecer normas gerais (art. 24, § 2º, CF),

eles exercem, nesse aspecto, competência plena.

O IPVA tem como fato gerador (continuado, porque repete-se anualmente) a

propriedade de veículos automotores (aqueles que possuem propulsão própria):

automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, tratores, jet-ski, barcos, lanchas, aviões de

esporte e lazer. Destaque-se que o IPVA tem que ser pago todos os anos.

O STF no RE 255.111/SP, entendeu que aeronaves e embarcações não são

veículos automotores.

Vale destacar que alguns doutrinadores afirmam que somente o proprietário pode

ser contribuinte do IPVA, o possuidor não, visto que CF só teria atribuído competência

para o ente federativo capturar como fato gerador a propriedade e não a posse.

O tributo é devido ao Estado onde o contribuinte tem seu domicílio ou residência,

pois é neste que o veículo deve ser registrado já que o fisco pode desconsiderar o

domicílio declarado com a finalidade de dissimular o fato gerador ou por outra razão

recusar o domicílio eleito pelo contribuinte que muitas vezes é de Estado cuja alíquota do

imposto é mais baixa.

No tocante ao aspecto quantitativo do IPVA, esse terá alíquotas mínimas fixadas

pelo Senado Federal e poderá ter alíquotas diferenciadas em função do tipo e utilização

(art. 155, § 6º, CF). Quando o Senado tem a atribuição (não importa se facultativa ou não)de fixar alíquotas mínimas ou máximas de um imposto, a alíquota estabelecida pela

Page 3: Aspectos jurídicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

5/17/2018 Aspectos jur dicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Ve culos Automot...

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-juridicos-do-ipva-imposto-sobre-a-propriedade-de-veiculo

resolução do Senado funciona apenas como piso ou teto. A resolução, nesses casos, de

forma nenhuma substitui a lei de cada estado.

Cada estado, na lei instituidora do imposto, deve estabelecer suas alíquotas. Se

houver uma alíquota máxima fixada em resolução, a lei do estado não pode estabelecer 

alíquota superior a ela, e se existir alíquota mínima prevista em resolução, a lei do estado

não pode fixar alíquota menor. Note-se, que quem determina a alíquota aplicável

internamente em cada estado é o próprio estado mediante edição de lei própria.

Os Estados e o Distrito Federal, no âmbito das respectivas competências fixarão o

valor do imposto com a aplicação da alíquota sobre a base de cálculo, que é o valor do

veículo. Cinqüenta por cento do valor arrecadado com o IPVA deve ser repassado para o

município onde se deu o licenciamento.

A base de cálculo do IPVA é o valor venal do veículo, estabelecido pelo Estado

que cobra o imposto, submetendo-se aos princípios da estrita legalidade, das

anterioridades nonagesimal e do exercício financeiro.

È de se destacar que, corrente minoritária entende que incide IPVA sobre

qualquer tipo de veículo automotor. O STF entende que NÃO INCIDE sobre embarcações

e aeronaves.

Merece destacar que não pode haver diferença de alíquotas em razão da

procedência do veículo conforme entendimento do STF em alguns julgados (princípio da

uniformidade das alíquotas para veículos nacionais e estrangeiros, assim como de

Estados membros distintos no que se refere a mesma questão de ordem interna).

Pode, porém, ser diferenciada a alíquota em razão do tipo de veículo, por 

exemplo, moto e carro de passeio, do tipo de combustível (gasolina e diesel).

  Quanto ao aspecto temporal, a lei ou decreto que fixa a base de cálculo do IPVA

não se submete à regra da anterioridade do art. 150, III, “c”, da CF (90 dias), mas

somente à do artigo 150, III, “b”, da CF (exercício seguinte). O decreto ou outro

instrumento infralegal poderá fixar tal base de cálculo se proceder à simples correção dos

valores pela aplicação de índice oficial de correção monetária (art. 97, § 2º, CTN). A base

de cálculo é o valor venal do veículo. Frise-se que, considera-se ocorrido o fato gerador 

no primeiro dia do ano.

É importante destacar, que quanto a incidência do IPVA sobre embarcações e

aeronaves, que os julgamentos do STF são no sentido de não incidência do IPVA sobre

aeronaves e embarcações. Todavia, não se trata de entendimento unânime entre osministros. Votos dos ministros, Marco Aurélio, no RE 134.509-8/AM, e Joaquim Barbosa,

no RE 379.572-4/RJ, discordam dessa posição, entendendo perfeitamente possível a

Page 4: Aspectos jurídicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

5/17/2018 Aspectos jur dicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Ve culos Automot...

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-juridicos-do-ipva-imposto-sobre-a-propriedade-de-veiculo

incidência do IPVA sobre aeronaves e embarcações. Dessa forma, conclui-se, que

embora a decisão do Supremo Tribunal Federal seja um precedente de não incidência, o

IPVA, conforme prevê as legislações estaduais deve incidir sobre embarcações e

aeronaves justamente porque a TRU foi extinta, e o legislador ao criar o novo imposto não

especificou que incidiria apenas sobre veículos automotores terrestres porque esta não

era sua intenção.

  Registre-se que o contribuinte do IPVA é o proprietário do veículo, presumindo-se

como tal a pessoa em cujo nome o veículo esteja licenciado pela repartição competente.

É importante salientar que há quem afirme que, tratando-se de veículo adquirido

com alienação fiduciária em garantia, o contribuinte do IPVA é a instituição financeira

credora, até que ocorra a quitação. Dessa forma, o imposto somente seria devido por 

quem adquire o veículo automotor com alienação fiduciária em garantia depois da

quitação.

   Aspecto interessante é o da imunidade, pois são imunes ao tributo, os veículos

das pessoas jurídicas de direito público, dos templos de qualquer culto desde que

utilizados em suas funções específicas e os veículos das instituições de educação e

assistência social.

No que diz respeito ao lançamento do IPVA, o mesmo é feito por homologação e

observa a lei estadual pertinente, pois o contribuinte recolhe o tributo sem prévio exame

do fisco, cabendo a legislação estadual definir a sistemática. No entanto, existe

 jurisprudência decidindo que o credito tributário do IPVA se constitui de oficio em

decorrência de lei, sendo que o sujeito passivo realiza o fato gerador e apenas espera a

notificação.

Sendo o IPVA um imposto que incide sobre a propriedade, além do próprio veículo

garantir a satisfação do tributo em caso de inadimplência, o imposto acompanha o bem,

inclusive impossibilitando o licenciamento e/ou transferência, e aplica-se o disposto no art.

130 do CTB (Código Trânsito Brasileiro), in verbis:

 Art. 130. Todo veículo automotor, elétrico, articulado, reboque ou

semi-reboque, para transitar na via, deverá ser licenciado

anualmente pelo órgão executivo de trânsito do Estado, ou do

Distrito Federal, onde estiver registrado o veículo.

Destaque-se ainda que a distinção de alíquotas, feita pelas legislações estaduais

para aumentar o valor do imposto em relação aos veículos importados, fere o princípio daisonomia tributária, inserto no art. 150, II, da CF. Ademais, o STJ consagrou o

entendimento de que a distinção de alíquotas fere não só princípio da isonomia, como

Page 5: Aspectos jurídicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

5/17/2018 Aspectos jur dicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Ve culos Automot...

http://slidepdf.com/reader/full/aspectos-juridicos-do-ipva-imposto-sobre-a-propriedade-de-veiculo

também o art. 152 da CF, que vede aos Estados, ao DF e aos Municípios estabelecer 

diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua

procedência ou destino.

Quanto à possibilidade de ter que se pagar dois impostos sobre a propriedade de

veículo automotor no mesmo ano sobre o mesmo fato gerador, inexiste essa

possibilidade. Não há condições de um veículo que pagou o IPVA num Estado, com a

transferência para outro estado e no mesmo exercício, ter que pagar novamente o

imposto. Estando este imposto ligado ao local onde esteja registrado o veículo automotor,

no caso de aeronave e embarcações, mesmo atuando em território nacional, quando

registrada em outro país, parece que há impossibilidade de cobrança desse imposto.

Por fim, cumpre mencionar sobre a constitucionalidade da cobrança da taxa de

licenciamento, pois a taxa só pode ser cobrada se houver prestação direta de um serviço

ao cidadão, que, no caso da Taxa de licenciamento, seria a inspeção anual do veículo,

ademais é vedada a cobrança de impostos ou taxas sobre a utilização de veículos.

Fora o mencionado a acima e os tópicos trabalhados, o estudo desse instituto se

faz necessário para a melhor compreensão do tema “IIPVA” e para devida aplicação do

direito ao caso concreto por aqueles que almejam advogar na área tributária.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICASCASTRO, Aldemario Araújo. Direito Tributário. 3. ed. Brasília: Fortium, 2007MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 28. ed. São Paulo: Malheiros ,2007

Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico

 publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: ALMEIDA, Elizangela Santos de.

 Aspectos jurídicos do IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores . Clubjus, Brasília-DF: 11

 jun. 2010. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?coluna=648>. Acesso em: 22 mar. 2012.