Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2000

  • Upload
    edson

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    1/159

    UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO

    FACULDADE DE FILOSOFIA E CINCIAS DA RELIGIO

    TODO PODER AOS PASTORES, TODO TRABALHO AO POVO,

    TODO LOUVOR A DEUS.

    Assemblia de Deus: origem, implantao e militncia (1911-1946)

    por

    Gedeon Freire de Alencar

    Em cumprimento parcial s exigncias do Curso de Ps-Graduao em Cincias

    da Religio para obteno do grau de Mestre em Cincias Sociais e Religio.

    So Bernardo do Campo - SP

    maro de 2000

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    2/159

    2

    BANCA EXAMIDORA:

    PROFA. DRA. MARIA JOS F. R. NUNES (UMESP - ORIENTADORA)

    PROF. DR. ANTONIO CARLOS M. MAGALHES (UMESP)

    PROF. DR. PAUL FRESTON (UNIVERSIDADE DE SO CARLOS)

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    3/159

    3

    SINOPSE

    ALENCAR, Gedeon FreireTodo poder aos pastores, todo trabalho ao povo, todo

    louvor a Deus.Assemblia de Deus - origem, implantao e militncia nas quatro

    primeiras dcadas - 1911-1946, So Bernardo do Campo - SP, Universidade

    Metodista de So Paulo, 2000.

    A Assemblia de Deus -AD, atualmente a maior igreja evanglica do Brasil,

    nasceu em 1911, em Belm do Par. Fundada por dois suecos, Daniel Berg e

    Gunnar Vingren, faz parte, juntamente com a Congregao Crist do Brasil -

    CCB, do que se convencionou denominar pentecostalismo clssico. Nascida de

    uma dissidncia batista, assumiu inicialmente o nome de Misso da FApostlica (mesma denominao do ramo pentecostal negro norte-americano), e

    em 1918 foi registrada com o nome de Assemblia de Deus (o ramo branco

    pentecostal norte-americano). Esta pesquisa tem trs pontos bsicos: 1. A origem:

    a AD foi fundada por suecos que se mantiveram na liderana dessa igreja nas

    primeiras dcadas. No entanto, esses suecos, mesmo tendo vindo dos EUA, tm

    uma relao conflituosa com a AD americana; 2. Implantao - mesmo sem

    nenhum organismo de fomento exterior ou qualquer outro de planejamento, em

    vinte anos alcanou todo o pas. E, na medida em que cresce, comeam os

    problemas de liderana desembocando no esfacelamento da mesma em

    Ministrios; 3. Militncia - quem so e como se comportam os adeptos desta

    igreja.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    4/159

    4

    SINOPSE

    ALENCAR, Gedeon Freire All the power to the pastors, all work to the people

    and all praise be to God. The Assembly of God Church origin, introduction and

    militancy1911-1946, So Bernardo do CampoSP, Methodist University of So

    Paulo, 2000.

    The Assembly of GodAG, the largest evangelical church in Brazil, began its work

    in 1911 in Belm of Par. Founded by two Swedish Daniel Berg and Gunnar

    Vingren, it belongs together with the Chistian Congregation of Brazil CC towath has been agreed to call Classical Pentecostalism. Coming out of a Baptist

    Church it took on the name of Mission of Apostolic Faith (the black -north-

    American Pentecostal branch) but in 1918 was registered by the name of

    Assembly of God (thewhite-north-American Pentecostal branch). This research

    has three basic points: 1. The origin: the AG was founded by Swedish who kept

    themselves in the leadership of this church during the first decades. However, even

    though they had come from the USA, they had a conflicting relationship with the

    American AG; 2. Plantation: even without any finantial help from a foreign country

    or any planning, they reached the whole country in twenty years. Within its growth

    many leadership problems starded leading to its division into the so called different

    ministries; 3. Membership: who the members of this church are and how they

    behave.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    5/159

    5

    Dedicatria

    memria de

    Jos Freire de Alencar e Francisca Rosalina de Lima Alencar,

    como tributo,

    mesmo tendo me deixado cedo,

    ainda so responsveis por minhas conquistas.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    6/159

    6

    AGRADECIMENTOS

    Aos amigos,que, ao perguntarem por meu trabalho,

    sem saber, estavam sendo estmulo-cobrana;

    AGeruza,foi de seu incentivo concretoque nasceu este curso;

    A Odair Barreto,amigo na dor e na alegria;

    A minha querida Igreja Betesda,que no negou incentivo moral e financeiro;

    Aos amigos Dilson, Alexandre, Andr, Clia e Rogrio,que, em diferentes momentos, ajudaram muito;

    Aospastoresque me deram entrevistas,mesmo discordando de suas opinies,

    no lhes posso negar o mrito de construtores de tudo;

    A CPAD,pela acolhida e presteza no fornecimento de material para pesquisa.

    Aos professores,

    Dr.Antnio Carlos M. Magalhes,foi de seu estmulo-desafio que nasceu este projeto;

    Dra.Maria Jos F. R. Nunes,pela amizade que transcendeu a relao orientador-orientando, contemporizando

    meus acidentes de doena, falta de material e prazos no cumpridos.Rigorosa no atacado, mas condescendente no varejo.

    Aos meus alunos do ICEC,pois mais que alunos, amigos que se tornaram cmplices de minha vida.

    Ao Capes que,mesmo por curto perodo, financiou esta pesquisa.

    A minha mulher Diana.Minha maior incentivadora.

    A Deus,razo e segurana.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    7/159

    7

    NDICE

    INTRODU O 10METODOLOGIA 15Justificativa do perodo -1911-1946 15

    Os marcos tericos existentes 16Pesquisa nas fontes primrias 18

    As biografias 18 A historiografia oficial 19 Jornais 21

    AS ENTREVISTAS 22AS ATAS 25

    CAPTULO I: PENTECOSTALISMO: ORIGEM, TEORIAS E CRESCIMENTO 27

    Introduo 271 - A ORIGEM (MARGINAL) DO PENTECOSTALIMO 29

    a) Um filho de escravo perturba o mundo evanglico 29b) Babel ou Pentecostes, a mensagem se espalhou 30

    2REFERNCIAIS TERICOS: 32a) Trs idias clssicas sobre religio: 32 Webero carisma e os adeptos 32 Niebuhra igreja dos deserdados renasce sempre? 34 Tillicho princpio protestante est perdido? 35b) Trs vises sobre o pentecostalismo brasileiro 36 Leonardum pentecostalismo sem leitura bblica no ter futuro 37

    Beatriz de Souzao ajuste urbano38

    Cartaxo Rolimalienao sacral 393. CRESCIMENTO 40

    Estatsticas: alm da teoria, uma estimativa comprovadora 43

    PENTECOSTALISMO ASSEMBLEIANO BRASILEIROPRIMEIRA FASE

    CAPTULO II: A IMPLANTA O DA SEITA PENTECOSTISTA 1911-1930 45

    Introduo 451. OS SUECOS VISIONRIOS 50

    a) Daniel Berg, o operrio 51b) Gunnar Vingren, o lder 53c) O estilo Vingren-Vingren 55

    2. DISSIDNCIA E OFICIALIZA O 56a) O nome Assemblia de Deus 58b) A expanso aleatria 62c) A crise da borracha ajuda na expanso da AD 67

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    8/159

    8

    3. JORNAIS: O PRINCPIO DA MODERNIDADE 67a) A experincia pioneira de 1917: A Voz da Verdade 70b) Som Alegre: uma dissidncia carioca? 71c) Uma palavra oficial: Boa Semente (1919-29) 72d) As nfases teolgicas do BD 75

    e) As singularidades da mensagem pentecostal 764. IGREJAS CALVINISTAS CRESCEM MENOS QUE IGREJASARMINISTAS?

    80

    O PENTECOSTALISMO ASSEMBLEIANO: SEGUNDA FASE

    CAPTULO III: A INSTITUCIONALIZA O DA IGREJA1930-1946 83

    Introduo 83l. ADUM PROJETO BRASILEIRO? 84

    a) Qual a ligao da Ad no Brasil com a dos EUA? 84b) A Igreja Filadlfia de Estocolmo quem sustenta. E decide. 89c) Os missionrios vem da Sucia e nos dos EUA 91d) A ausncia de registro norte-americano sobre a AD no Brasil 92e) AD americana versus AD brasileira 94f) Projeto brasileiro? Qual projeto? 97

    2. O ETHOS SUECO-NORDESTINO 99a) O ethos sueco nordestino: uma viso sociolgica 100b) O ethos sueco nordestino: uma viso teolgica 103

    3. O MENSAGEIRO DA PAZ COMO CONSOLIDA O DA IGREJA 1044. AS CONVENES: 110

    a) A Conveno de 1930: os suecos entregaram ou os brasileirostomaram? 112

    b) A verso sueca das Igrejas-Livres e a construo da autonomiaBrasileira 115

    c) Primeira (e nica) dissidncia teolgica? 1175. OS MINISTRIOS: 118

    a) Paulo Macalo: o alijado que estabeleceu estilo 1206. A CHEGADA DE NOVAS IGREJAS 123

    a) A dissidncia da cura: Cruzada nacional de Evangelizao 124b) O que a AD na dcada de 50? 125

    CAPTULO IV: CARACTERSTICAS DO PENTECOSTALISMOASSEMBLEIANO BRASILEIRO 127

    Introduo 127l. A sndrome de marginal 1292. O discurso de negao do mundo e o escatologismo 1303. A averso a mudanas ( ou No destruam nossos mitos) 1324. Liderana diversificada, doutrinao homogna 1345. Sistema eclesistico assembleiano: epscopalismo vitalcio 1356. Nada mais brasileiro que um assembleiano: omisso e feliz 138

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    9/159

    9

    7. Uma igreja alm da normalidade 140

    CONCLUS O 142

    ANEXOS 144

    Anexo 01: siglas usadas 144Anexo 02: Glossrio 145Anexo 03: Presena missionria estrangeira no Brasil 148Anexo 04: Convocao da Conveno de 1930 em Natal 150Anexo 05: Comparao entre as verses histricas assembleianas 151Anexo 06: Comparao ente a AD e CCB 152Anexo 07: Comparao entre a AD no Brasil e a AD nos EUA 153

    BIBLIOGRAFIA SOBRE A ASSEMBLIA DE DEUS 154

    BIBLIOGRAFIA 155

    Indce de Tabelas

    Tabela 01: Estimativas de crescimento do pentecostalismo 43Tabela 02: Verso assembleiana e batista da diviso 57Tabela 03: Expanso da AD em seus primeiros anos 64Tabela 04: Batismos na AD em Belm (1911-1914) 66Tabela 05: Articulistas e temas do Jornal Boa Semente - 1919-29 72Tabela 06: Tabulaes do Jornal Boa Semente1919-29 75Tabela 07: Igrejas Sedes e pastores em 1931 97Tabela 08: Relao AD e Brasil: desenvolvimento institucional 100Tabela 09: Grfico de Modelo Eclesistico Assembleiano 103Tabela 10: Articulistas e Temas do MP -1930-31 106Tabela 11: Produo Teolgica Homens x MulheresMP -1930-31 108Tabela 12: Produo Teolgica Estrangeiros x BrasileirosMP1930-31 108Tabela 13: MP: tiragem em relao aos membros 109Tabela 14: As nfases teolgicas dos textos 109Tabela 15: As Convenes da AD 111

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    10/159

    INTRODU O

    Em 1910, a Igreja Catlica celebrava missas em latim, a Igreja Luterana,

    cultos em alemo, a Igreja Anglicana em ingls e as demais igrejas protestantes

    num teologs anglo-saxnico. At mesmo a nica igreja pentecostal da poca, a

    Congregao Crist do Brasil, celebrava seus cultos em italiano. O espiritismo

    ainda era caso de polcia e religies afro, como religio, nem sequer eram

    nomeadas. Qual, ento, o espao para a expresso de religiosidade popular da

    poca? Oficialmente, nenhum.De um lado, uma densa institucionalizao religiosa da Igreja Catlica e

    demais denominaes protestantes, e de outro, uma religiosidade marginal no

    aceita tanto dentro da prpria Igreja Catlica como nas expresses afro. H,

    portanto, um imenso campo religioso entre estas duas realidades. neste

    momento que a Assemblia de Deus surge no Brasil. H muito espao a ser

    conquistado. Hoje, o surgimento de uma igreja pentecostal popular no causa

    nenhuma alterao no mercado; perde-se no meio de tantas outras. Em 1911 por

    ser a primeira, fez muita diferena. Inicia-se com vinte pessoas e, segundo Read

    (1976:122), j em 1930 tem 14.000 membros e em 1950, 120.000 membros. Um

    crescimento de aproximadamente 69.000% em 19 anos e 108.000% em 38 anos,

    respectivamente. No total mais 600.000% de crescimento nas quatro primeiras

    dcadas, algo em torno de 15.000% ao ano.

    Este pentecostalismo, atualmente nominado de clssico, foi trazido por

    imigrantes pobres, sendo, portanto, absolutamente marginal, por ser uma religio

    de pobres e pretos. Aqui cresce entre imigrantes nordestinos e alcana todo o pas

    sempre de forma perifrica.

    Os suecos de tradio batista no estranham a perseguio religiosa, pois

    j de muito so vitimados por ela. Na Sucia, pela Igreja Luterana, uma entidade

    estatal, rica e aliada do governo, onde ser batista era um grave ato subversivo.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    11/159

    11

    Aqui so perseguidos pela Igreja Catlica e demais igrejas protestantes, mas,

    ironicamente, protegidos pelo governo, por dispositivo constitucional da liberdade

    religiosa. Tal realidade poltica fundamental para a postura desta igreja, sempre

    elogiando o governo.

    Tambm por causa da averso organizao, seu discurso negativo a

    todo e qualquer modelo institucional e faz disso, pretensamente, seu estilo.

    Portanto, no desenvolve nenhuma instncia burocrtica nacional e quando

    cresce fica vulnervel ao personalismo de seus lderes, resultando disto, uma

    igreja quantitativamente grande, mas fraca em sua representatividade. Nunca teve

    um rgo nacional de estratgia, mas alcanou o pas em vinte anos; nunca teve

    organizao, mas a maior igreja evanglica do pas; nunca teve telogos e/oueruditos mas foi a que mais cresceu; neste perodo, no havia nenhuma escola de

    formao de obreiros, mas proliferou mais que qualquer outra; sempre foi

    perifrica e marginal, mas alcanou os pobres e simples como nenhuma outra. Ela

    incorpora como bno todas as crticas (alienao poltica, conservadorismo,

    atraso, etc.) que lhe so dirigidas.

    Este pentecostalismo est bem distante do moderno quando a nfase

    riqueza, poder e sade - a trade da teologia da prosperidade1. No primeiro

    momento as marcas do pentecostalismo eram glossolalia (falar em lnguas

    estranhas como resultado do batismo com o Esprito Santo), cura divina e forte

    escatologia. Com uma interpretao bblica fundamentalista e espao apenas para

    uma moral individual puritana.

    Este trabalho pretende entender o nascimento da AD no Brasil, sua

    construo e seus membros. Como dois suecos solitrios iniciam acidentalmente

    essa igreja que veio a ser a maior instituio evanglica do pas, e apesar disto,

    que efeito causa na vida sociocultural deste pas? Como estes suecos se mantm

    durante quatro dcadas no poder e depois so completamente substitudos por

    1 Teologia da prosperidade, uma concepo teolgica vinda dos EUA, originada nosmovimentos de f, que incorpora diversos elementos tpicos de nossa poca, tais como sadeplena, progresso financeiro e poder poltico. Hoje, todo o chamado neo-pentecostalismo apontado como mentor e principal beneficiado por essa teologia, apesar de alguns grupos daterceira ondaa renegarem. Cf. Campos (1999b) e Mariano (1999)

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    12/159

    12

    lideranas nacionais, no sem muitas tenses e contradies das mesmas.

    Acrescente-se nesta disputa, a tentativa dos norte-americanos de tambm

    influenciarem. Por fim, quem de fato faz esta igreja: quem a constri, leva-a nos

    ombros e a mantm? Esta membresia annima que prega, sofre a perseguio,

    abre os trabalhos, contribui, pe a mo na massa, mas passa ao largo das

    disputas e do exerccio do poder, porque assim a Assemblia. Os pastores tm

    todo o poder, a membresia todo o trabalho e Deus todo o louvor.

    Um parntese pessoal

    A discusso da imparcialidade cientfica antiga. Esta pretensa assepsia

    cientfica, advogam alguns, algo da prpria essncia da cincia. Algo, alis que

    no resolve e nem ajuda a cincia, pois, desta forma, se lhe daria uma categoriametafsica, e, ironicamente, foi contra a metafsica religiosa medieval que a cincia

    mais lutou no seu processo de emancipao. Ontologicamente, a cincia precisa

    ser feita em nome da exatido, da metodologia, da objetivao, excluindo-se, da,

    toda a subjetividade, valores, crenas, etc. Ora, quem consegue isto? Talvez o

    nazismo, o socialismo real ou o neoliberalismo... . Uma pesquisa cientfica sobre

    religio situa-se sobre um limite muito tnue2. Por que um pesquisador escolhe

    esse e no outro tema, por que, depois de escolhido, toma esse rumo e nooutro? Convenhamos, situar isto numa objetividade cientfica muita

    subjetividade.

    Esta pesquisa, como qualquer outra, tem problemas pela escassez de

    dados, pela dificuldade de colet-los, pelo ineditismo do foco pesquisado.

    Averiguando a produo da sociologia da religio no Brasil, esta deve ser a

    primeira dissertao sobre a Assemblia de Deus escrita por um assembleiano.

    Mas no aceito, a priori, o policiamento cientfico de que apenas um ateu e/ou

    agnstico teria a iseno necessria para escrever sobre religio, pois, assim

    sendo, mulher no poderia escrever sobre mulher, comunista sobre comunismo,

    negro sobre negro, ateu sobre atesmo - o ser humano sobre a raa humana!

    2Cf. Pedro Ribeiro de Oliveira (1998) Estudos da Religio no Brasil: um dilema entre academia einstituies religiosas, inSousa (1998) Sociologia da Religio no Brasil.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    13/159

    13

    Como assembleiano, admito, sou duplamente suspeito: na academia pelo

    frisado anteriormente, mas creio ser possvel superar; j dentro da igreja, o caso

    mais grave. Diversos pesquisadores que trabalharam no meio evanglico foram

    alvo de afeio e proselitismo (Gouveia, 1986; Mariano,1999; Brando, 1986) e

    os erros/m interpretao de seus trabalhos, se por acaso lidos pelos fi is, sero

    desculpados pela falta de f, discernimento espiritual, etc.. Eu no terei esta

    absolvio dos meus entrevistados e dos leitores da igreja - e, isto j deve servir

    de indcio para os de fora, de como a igreja age. Tudo na igreja, de forma nica e

    exclusiva, explicado espiritualmente. Isto pode ser to obtuso quanto uma

    explicao puramente cientfica. neste terreno minado que tenho de seguir.

    Interessante como duas reas opostas podem se encontrar em seus extremos...

    Suspender provisoriamente as opinies pessoais do investigador acerca da existncia e

    ao dos seres sobrenaturais, no deixando que tais opinies penetrem na investigao

    cientfica com a funo de critrios,(...). De fato, deste modo que investiga e expe

    qualquer bom historiador da Igreja, por mais crente e praticante que seja (Maduro, 1981:

    46) .

    No uma obra apologtica3mas tambm no um acerto de contas. As

    publicaes produzidas pela prpria igreja, obviamente, todas so apologticas etriunfalistas (Monteiro, 1995:11), mas no universo protestante, alguns

    pesquisadores aproveitaram seus trabalhos para, digamos, contarem outra

    verso. Rubem Alves4justifica este acerto de contas da seguinte forma: Os

    cientistas que se dedicaram a fazer uma anlise crtica do Protestantismo so

    todos (na medida em que eu conheo), ex-pastores, ex-seminaristas, ex-lderes

    leigos forados a deixar suas funes.(...) O protestantismo analisado como uma

    3Quando ainda na pesquisa na CPAD- Casa Publicadora das Assemblias de Deus, em conversacom um dos diretores, ele se mostrou interessado na publicao de meu trabalho. Desconversei.Quando o contedo completo da pesquisa fosse conhecido, ele, evidentemente, entenderia que aCasa ( como a CPAD conhecida entre eles) no poderia public -la. O que no diferente denenhuma outra editora religiosa confessional.4Rubem Alves, autor de Protestantismo e Represso (SP, tica, 1978) e Dogmatismo e Tolerncia(SP, Paulinas, 1982), um bom exemplo deste ajuste de contas.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    14/159

    14

    ideologia repressora, totalitria, capitalista, que se encontra em casa num Estado

    capitalista e totalitrio (1984:136-137)5.

    Concordo com Otto Maduro quando diz que fazer sociologia da religio

    ver e estudar as religies (todas da mesma maneira) como fenmenos sociais 6.

    5 Na AD no houve nenhum expurgo ou algo similar por questes polticas - isto no melhoranem piora a AD, apenas indcio de sua postura poltica que iremos discutir no cap. IV.6Op.cit Maduro (1981:46)

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    15/159

    15

    METODOLOGIA

    Esta pesquisa pretende ser, como diria Berger, uma tentativa de

    compreenso7 da fundao e construo da AD em suas primeiras quatro

    dcadas. Iniciada em 1911, representante de um pentecostalismo brasileiro

    nascente e monoltico at a dcada de 50, quando o movimento se ramifica e,

    sobretudo, se diversifica. Apresentava-se bem diverso do pentecostalismo

    moderno e pluralista de hoje.

    Justificativa do perodo - 1911-1946

    O pentecostalismo brasileiro, em seus primeiros 40 anos - primeira onda

    (Freston, 1993), tem dois modelos: um italiano e outro sueco, ambos vindos dos

    EUA. A verso italiana a CCB - Congregao Crist no Brasil. Nascida em 1910,

    , em suas primeiras dcadas, uma igreja italiana. Cresce no meio da colnia

    italiana no Sudeste e at 1947 seus hinrios e seus cultos so realizados nessa

    lngua, quando comea a abrasileirar-se. No sofre nenhuma alterao

    doutrinria, no tem nenhum cisma e continua, ainda hoje, uma igreja muito

    prxima de suas origens8.

    A verso sueca a Assemblia de Deus, que se mantm razoavelmente

    unssona em seus primeiros anos, mas a partir da dcada de 50, alm da disputa

    fratricida dos Ministrios e seu processo de institucionalizao irreversvel, ela

    tem que disputar espao com os diversos grupos pentecostais (citando apenas as

    grandes igrejas, temos a do Evangelho Quadrangular em 1951, Brasil para Cristo

    7 Esta a funo da sociologia da religio: compreenso dos fenmenos religiosos enquantorealidades sociais. Ou na definio completa de Berger (19976:14) a sociologia no uma ao esim uma tentativa de compreenso. Cf. ainda Maduro (1981) Martelli (1995) ; Weber (1998)8Este um tpico movimento religioso baseado em tradio oral, j que no publica livros e/outratados para que, a partir dos mesmos, possa ser avaliada. Por causa disto, evidentemente, quetudo o que se diga a respeito da mesma interpretao de algum de fora. Sem entrar no mrito,as fontes para as informaes sobre a CCB so de Read (1967), Monteiro, (1997).

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    16/159

    16

    em 1955 e Pentecostal Deus Amor em 1962), que surgem no cenrio. O mundo

    pentecostal j no mais o mesmo.

    O perodo escolhido vai, portanto, do nascimento, 1911, at o momento de

    seu registro estatutrio em 1946 como uma Conveno Geral, de mbito nacional,

    e com um rgo de imprensa e produo oficial de seu material, a CPAD Casa

    Publicadora das Assemblias de Deus. Esse tambm o perodo da dominao

    sueca, pois coma construo da CPAD, com dlares americanos, a AD no Brasil

    sai da influncia sueca para a americana.

    Como limite metodolgico, esta pesquisa no tratar de:

    1.Analogia com a AD atual. A tentao enorme, mas metodologicamente

    errado. A tendncia de comparao at natural, mas a AD das

    primeiras dcadas, dentro do contexto social, poltico, econmico ereligioso, precisa de uma explicao especfica, bem diverso da atual;

    2.Anlise teolgica. Este trabalho pretende ser uma anlise sociolgica,

    dentro dos padres estabelecidos por esta cincia. As razes dos fiis

    sero respeitadas, mas no validadas como explicao sociolgica.

    Algumas correlaes entre a AD antiga e a atual sero realizadas

    objetivando, meramente, o benefcio didtico para melhor percepo da poca

    estudada; e informaes teolgicas sero pontuais, tambm visando ao melhor

    entendimento, mas sobretudo como marco fundante da prpria construo desta

    igreja. Afinal, por causa desta e no daquela posio teolgica que esta igreja -

    como todas as demais -, o que .

    Os marcos tericos j existentes

    H muitos trabalhos na sociologia religiosa sobre pentecostalismo, porm

    poucas pesquisas foram feitas sobre o perodo escolhido9. A grande maioria

    privilegia o chamado neo-pentecostalismo. O primeiro trabalho cientfico sobre a

    9Monteiro (1995:9); Jardilino (s/d)

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    17/159

    17

    AD foi o de Beatriz Muniz de Souza,A experincia da Salvaopentecostais em

    So Paulo10, em 1969 - quando a AD j tem 51 anos de existncia. Ou seja, a AD

    passa 51 anos sem ser notada pela academia brasileira11, e isto j um indcio -

    positivo ou negativosignificativo.

    Como a pergunta deveria ser feita: - a academia no notoua AD ou a AD

    no se deixou notar? Primeiro, indiscutvel a perspectiva de desimportncia que

    a religio - no s a AD - tem para a viso positivista da academia. A sociologia da

    religio chega tardiamente ao Brasil, pelo menos bem posteriormente a outras

    pesquisas cientficas (Cesr,1973; Alves,1984). Mesmo que pesquisadores

    estrangeiros j tivessem aventado alguma coisa, o que no deixa de ser

    sintomtico tambm que apenas pesquisadores estrangeiros12tenham olhos para

    isto, e os brasileiros no. Segundo, a AD sofre de uma sndrome de marginal,por escolha prpria. No ser vista e reconhecida pelo mundo no demrito, e

    sim bno, faz parte de sua misso.

    Apenas no Censo de 1980 que os pentecostais so configurados como

    uma categoria religiosa distinta, ou seja, quando seu processo hegemnico13j se

    encontra em plena ascenso. Quantitativamente em ascenso, no poderiam mais

    permanecer invisveis, nem pelas pesquisas, nem pelas demais denominaes14,

    nem por opo prpria.

    Retornando AD, por que ela no chama a ateno dos pesquisadores?

    Sua sndrome de marginal mais uma vez se manifesta quando, na dcada de 50,

    10 O livro, apesar de ser um marco, limita-se a analisar a insero do pentecostalismo entre ooperariado paulista que adere AD. Esta a mesma limitao, por exemplo da obra de CartaxoRolim: sua pesquisa focaliza o pentecostalismo urbanizado e paulista/carioca.11Muito diferente, por exemplo da IURD - Igreja Universal do Reino de Deus, em duas dcadas deexistncia j h um considervel nmero de pesquisas sobre a ela. Sem entrar do mrito dasmesmas, elas indicam que, no mnimo, esta igreja chamou, ou chama, ateno. O grande risco que estas pesquisas, feitas temerariamente enquanto est se formando, percam sua validade to

    rpido quanto as mudanas que esta igreja esteja sofrendo.12Lornad ( 1963) e Willems (1967), Read ( 1967) e, faa-se justia a Cndido Procpio, com seuCatlicos, Protestantes e Espiritas ( 1973 ).13Talvez a palavra traga uma conotao que no a pretendida aqui. Hegemnico est usado nosentido meramente quantitativo, at porque temos muitas dvidas de que algum grupo religiososeja hegemnico - ainda se tratando de protestantismo - no sentido pleno da palavra.14H diversos trabalhos, tanto sociolgicos quanto teolgicos, em que as outras denominaesevanglicas, as ditas tradicionais, so obrigadas a estudar o fenmeno pentecostal E atmesmo a Igreja Catlica, antes tranqila em sua hegemonia, estuda o fenmeno como ameaaOro, (1996)., Sanchis (1994); Guitierrez ( 1997), Cesr/Shaull (1997).

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    18/159

    18

    o pentecostalismo pela primeira vez desperta o interesse da imprensa; um novo

    pentecostalismo, a chamada segunda onda, mais interessante. Pelo vis do

    jornalismo, claro que a Cruzada Nacional de Evangelizao, que posteriormente

    vem a ser IEQ - Igreja do Evangelho Quadrangular, usando tendas, tocando rock

    com guitarra eltrica - o top da modernidade na poca - , com proclamao de

    curas, milagres e exorcismo, mais atrativa que uma Igreja perifrica, simples,

    avessa publicidade, como a AD.

    Freston (1993) diz que, entre outras coisas, a indiferena da pesquisa em

    relao ao pentecostalismo se d por preconceito, algo reconhecido, de maneira

    diversa por Campos (1995), Monteiro (1995), Novaes (1995;1998), Maris (1995) e

    Bitencourt (1998). Se a ausncia de pesquisa no Brasil se d por preconceito,

    desinformao etc., o que dizer, por exemplos de livros escritos por pentecostaissobre avivamentos e/ou histria do pentecostalismo, que omitem completamente a

    maior igreja pentecostal do mundo no Brasil? Ou no mximo, informam que

    existe uma igreja AD no Brasil e nada fala de seu pretenso crescimento fenomenal

    e de seus pressupostos nmeros milionrios? A titulo de mera comparao, as

    estimativas so de que a AD dos EUA tenha 2 milhes e a AD no Brasil, 9

    milhes(?). At pela dimenso continental do Brasil, a AD brasileira a maior AD

    do mundo, mas porque nenhum livro da AD nos pases da Amrica Latina se

    reporta a isto?

    Pesquisa nas fontes primrias

    As biografias

    H trs livros biogrficos fundamentais: Enviado por Deus (1973) e Dirio

    de um pioneiro (1995), biografas de Gunnar Vingren e Daniel Berg, organizadas

    por Ivan Vingren e David Berg, respectivamente filhos dos missionrios. O

    primeiro compilao de 25 dirios (Vingren, 1973:92) escritos em vinte anos no

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    19/159

    19

    Brasil, onde fica claro que muita histria foi expurgada. O segundo uma

    celebrao15que o filho faz ao pai.

    Um testemunho historiogrfico importante Despertamento Apostlico no

    Brasil (Vingren, 1987), publicado em 193416na Sucia, e traduzido e publicado no

    Brasil somente em 1987. uma srie de artigos/testemunhos dos suecos sobre

    como se deu a evangelizao/construo da Igreja no Brasil, que, talvez seja uma

    proto-histria asssembleiana que veio luz na dcada de 4017. Duas outras

    biografias ajudam especialmente no entendimento da problemtica das relaes

    entre suecos e norte-americanos (Brenda, 1984) e suecos e brasileiros e

    surgimento dos Ministrios (Costa, 1984), biografia de J.P. Kolenda e Paulo

    Macalo respectivamente.

    A historiografia oficial

    So trs os livros oficias de histria da AD no Brasil; oficias porque foram

    lanados pela CPAD. Para efeitos didticos neste trabalho sero classificados de:

    1a. histria: Histria da Assemblia de Deus no Brasil (1960). Foi escrito a

    partir de uma deciso da Conveno de 1948, em Natal, tarefa destinada a Emlio

    Conde18 (1960:8). Nela se desenvolve a teoria do movimento, o autor discute o

    ecumenismo, a relao com outras igrejas evanglicas, e elabora muito do que

    vem a ser a teologia assembleiana, enfim, estabelece o padro assembleiano que

    seguido at hoje. Alis, o livro estabelece o padro historiogrfico

    assembleiano, pois todos os demais livros repetem seu estilo: a histria dos

    suecos, o nascimento da igreja em diferentes Estados e/ou cidades, perseguies,

    15Leonildo Campos (1995) em Celebrando obras e carreiras: a funo do louvor ao passado eaos lderes na criao e manuteno de uma cultura organizacional em uma denominaoprotestante brasileira, analisa o papel dos historiadores religiosos enquanto celebradores das

    instituies.16Ivar Vingren (1973:92) diz que este livro foi escrito em 1919, mas isto ou erro tipogrfico ou suacopidescao falhou, pois o contexto posterior a viagem (2 a.) de Gunnar Vingren Sucia, em1920 (Vingren, 1987:35).17 Fui informado desta histria da AD, publicada na dcada de 40 numa das entrevistas, masapenas uma pessoa sabia dela, nenhum outro entrevistado/a confirmou ou desmentiu. Outroentrevistado lembra que no incio da dcada de 70 conheceu um livro na Sucia que poderia sereste.18 o primeiro telogo pentecostal no Brasil, escreve junto com este uma histria dopentecostalismo mundial, Testemunho dos Sculos (1960).

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    20/159

    20

    batismos, inauguraes de templos, etc. Apenas os fatos, nenhuma explicao

    para os mesmos.

    2a. histria: Tem o mesmo nome do anterior. Lanado em 1982, o livro

    de Conde (1960) copidescado por uma equipe na CPAD liderada por Abrao de

    Almeida, mas lamentavelmente o mesmo no melhorado, ao contrrio. Foram

    acrescentadas apenas algumas informaes sobre os Estados, mas no principal

    nada difere. O livro, inclusive, confunde datas e faz afirmaes no provadas.

    3ahistria:As Assemblias de Deus no Brasil - sumrio histrico ilustrado,

    escrito por Joanyr de Oliveira19, 1998. Foi lanado por ocasio do Congresso

    Mundial das ADs, em So Paulo20. Avana muito em relao aos anteriores, ao

    falar positivamente sobre educao teolgica, atividades dos jovens e at mesmo

    citar trabalhos cientficos produzidos sobre a mesma21. Mas do ponto de vistahistoriogrfico, pior. Expe um amontoado de fotografias com legendas erradas

    e no se justifica como livro de histria22.

    Como diz Jlio Ferreira comentando a historiografia evanglica A

    historiografia(...) fragmentria e cientificamente deixa muito a desejar23. No

    diferente de outras denominaes evanglicas. Pretende-se, neste trabalho,

    colocar os silncios sob suspeita24, alguns tpicos e/ou episdios so

    19Joanyr de Oliveira um intelectual atpico na Assemblia de Deus. Poeta com diversos livrospublicados na imprensa secular, membro da Academia de Letras de Braslia e da AssociaoNacional de Escritores, organizador de uma antologia de poetas de Braslia.20 Congresso e livro, alis, segundo insinuaes dadas nas entrevistas, realizado comodemonstrao de fora do Ministrio de Belm, porque, at o momento, ningum explicou osurgimento e funo deste congresso.21S reproduz o que dito de positivo. As crticas, obviamente, so omitidas.22, como os demais livros, tpico assembleiano: grandiloqente, ufanista, cheio de fotografias queatestam a vitria, mas fica devendo no contedo. O autor teve menos de trs meses para realiz-lo, uma temeridade. Informaes incompletas e equivocadas, datas erradas e, na presso dotempo e economia editorial, lhe cortaram a bibliografia e as notas (informao me dada por Joanyr

    de Oliveira). O texto final, copidescado pela CPAD, chega ao cmulo de tecer elogios ao prprioautor - como livro de histria um bom realese da CPAD.23 Cf. Ferreira, Jlio Andrade, Historiografia Evanglica Brasileira, Simpsio, ASTE, vol2.Novembro/68, SP, pg. 36.24Este conceito desenvolvido por Elizabeth S. Fiorenza (1986:86) a partir de seu instrumentalterico na teoria da hermenutica da suspeita. Teloga feminista, ela estuda a histria da igrejasob a perspectiva da mulher, mas esta histria foi escrita por homens e s eles so protagonistas,a ao feminina , para dizer o mnimo, no vista. Ento necessrio fazer uma leitura suspeitados fatos. Ver As origens crists a partir da mulher. Uma nova hermenutica (1992). Ver ainda,tambm Sanzana (1995) em seu trabalho Todas seriamos rainhas- Histria do pentecostalismo

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    21/159

    21

    propositadamente (?) esquecidos nos livros de histria e biografias, e os

    entrevistados evitam falar. Pelo menos trs assuntos so de capital importncia:a

    mudana do nome de Misso da F Apostlica para a Assemblia de Deus, o que

    de fato aconteceu na Conveno de 1930 e a relao entre suecos e americanos.

    Jornais 25

    Estas so as fontes rpimrias mais importantes, desde seu primeiro

    documento em outubro de 1917, o jornal Voz da Verdade. Ressaltando-se as

    ambigidades e papel ideolgico do mesmo estes textos, mais o do que se diz

    sobre ela, o que ela diz sobre si mesma.

    Tambm o jornal Boa Semente 1919-29, um exemplar da Voz

    Pentecostal (fevereiro/30, de Recife), e o Mensageiro de Paz(iniciado em 1930 eat hoje existente). Jornais so, nas primeiras dcadas, as nicas produes

    desta igreja, posteriormente surgem diversos livros teolgicos que fogem do

    mbito desta pesquisa.

    Foram lidos e tabulados 522 artigos, 349 do Boa Semente(1919-29) e 173

    do Mensageiro de Paz (1930-31)26. Classificados por temtica e contabilizados

    pelo nmero de articulistas (apenas quem escreve mais de dois artigos foi

    considerado), anota-se tambm a nacionalidade e sexo dos autores. Os avisos,

    testemunhos e notcias no foram considerados nesta tabulao, pois, apesar da

    conotao teolgica e de militncia, so episdicos. Os artigos - a temtica e seus

    autores - que fazem a doutrinao da igreja, ou pelo menos o pretendem. Eles

    espelham como esta igreja est se formando; ou o que discutido e relevante

    para ela.

    chileno da perspectiva da mulher - 1909-1935, onde ela trabalhou com a histria oral e usando oreferencial terico da Fiorenza.25Os jornais encontram arquivados na CPAD, no Rio de Janeiro.26 A proposta original era ler e tabular os artigos do MP at 1950, mas uma srie de fatores ainviabilizaram.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    22/159

    22

    A tabulao dos artigos apresenta os seguintes problemas:

    1. Uma arbi t rar iedade: a leitura determinou que esse artigo sobre este

    assunto, usando como critrio a prpria leitura. Questionvel? Sim, at

    porque diversos - muitos, mesmo - artigos poderiam ser enquadrados

    noutra categoria, pois poucos deles so especficos sobre determinado

    assunto. Portanto, o critrio foi arbitrrio. No entanto, a estatstica

    resultante dele no altera muito, afinal um texto sobre compromissotem

    o mesmo objetivo que outro sobre apologia pentecostal: incentivar a

    militncia.

    2. Uma surpresa: pela leitura do 1o. jornal de 1917, Voz da Verdade,

    parece que toda a produo jornalstica assembleiana destina-se

    exclusivamente defesa da f pentecostal. Ao se iniciar a leitura fica aimpresso de que todos os demais se prestaro apenas a isso, mas no

    decorrer dos anos o jornal toma outros rumos e outros assuntos afloram

    (descuido ou propsito?). O jornal termina sendo o canal - nico - de

    ligao dessa igreja nascente neste pas continental.

    3. A lgum as lim itaes: as colees esto incompletas27, alguns textos

    ilegveis, um grande nmero de artigos sem indicao de autor e origem,

    diversos trazem apenas as iniciais, ficando impossvel, portanto, saber

    se foram produzidos por estrangeiros/mulheres e/ou brasileiros/homens.

    Muitos textos traduzidos no contm identificao de origem, e em

    nenhum deles consta a tiragem. Informao fundamental para se saber o

    seu crescimento e potencial, e, evidentemente, da prpria igreja.

    AS ENTREVISTAS

    A proposta de entrevistar pastores com mais de 70 anos foi uma tentativa

    de, entre outras, ouvir a verso daqueles que foram contemporneos dos

    fundadores. Todos eles iniciaram seus ministrios h mais de cinqenta anos,

    27A leitura foi feita das xerox j que os originais esto perdidos. E estas ainda esto incompletas.H um exemplar do Voz da Verdade e do Boa Semente tem 114 edies. Faltam os nmeros 2a 21, 31 a 43, 63 e 80 a 91.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    23/159

    23

    portanto, trabalharam com a primeira gerao de pastores assembleianos nas

    quatro primeiras dcadas. Se eles fossem nossa nica fonte de pesquisa, seria

    um malogro total, mas as entrevistas pretendiam apenas confirmar algumas

    suspeitas, checar dados no contidos na historiografia oficial, enfim, como j foi

    dito, ouvir a verso que podiam oferecer.

    Foram contatados mais de vinte, mas sero consideradas apenas oito

    entrevistas com pastores28. Por qu? Muitos se escusaram dizendo-se um mero

    pastor que esteve na igreja estes anos todos mas sem poder de deciso, ausentes

    do palco da autoridade e, portanto, no se consideravam capazes e autorizados

    para dar entrevista sobre a origem e construo da igreja. E sugeria outro nome,

    apontado como culto e importante, porquanto, este, sim, sabe das coisas e

    esteve na liderana. Mas o culto e importante apontado anteriormente,invariavelmente era o pastor presidente do Ministrio, e a secretria e/ou pastor-

    auxiliar impossibilitam o acesso a ele.

    Outras entrevistas no passaram de uma conversa-monlogo e, assim,

    no alcanaram o objetivo. O roteiro de perguntas muitas vezes no foi seguido.

    Desde o cuidado que se precisa ter com a sade de algum com mais de 70 anos,

    a presena de familiares sentindo-se parte da histria (muitas vezes ficou claro

    que o pastor no queria falar sobre determinado assunto na frente da esposa e

    filhos), a situaes constrangedoras de ser expulso da residncia por no ter em

    mos uma Carta de Recomendao29. Entrevistar algum com essa idade,

    algo excepcional, alis uma tentativa excepcional. Ele aproveita-se da pergunta

    para responder outra; uma oportunidade de contar mais um causo, na sua

    concepo bem mais importante do que as questes que o entrevistador pretende

    investigar. E, evidentemente, sua verso a correta e ningum pode - nem deve -

    questionar. Ou interromper sua fala.

    28Duas entrevistas com mulheres sero tambm consideradas separadamente, apesar de termosconversado com diversas esposas de pastores. No possvel inclu-las na contagem porque elasno participaram das questes decisrias da igreja.29Em Recife, na casa de um pastor de 90 anos, no auge da conversa, a esposa nos interrompeupara saber se eu havia pedido autorizao do pastor-presidente para fazer-lhe aquela visita e mepedir a minha Carta de Recomendao . Na ausncia destas, fui convidado a sair em nome deJesus.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    24/159

    24

    Evidentemente, este universo muito pequeno para, a partir dele, se

    chegar a concluir alguma coisa sobre a instituio, no entanto, algumas

    concluses podem ser tiradas:

    1. Classe social: todos os oito entrevistados, originalmente, vieram de

    classe baixa (operrios, alfaiate, metalrgico) e de pequeno poder

    aquisitivo (nada muito diferente da realidade hoje);

    2. Escolaridade: dois tm 3grau, dois o 2e todos os demais so apenas

    alfabetizados. No temos nenhuma estatstica antiga, nem atual, para

    checar se estes dados podem estar prximos da mdia;

    3. Entrada do ministrio: todos foram consagrados ao ministrio pastoral

    bem jovens. Apenas um foi consagrado com 32 anos, todos os demais

    abaixo de trinta e um com 16, e quando ainda solteiros (algo rejeitadopor vrias Igrejas AD hoje);

    4. Religio anterior: dois so ex-presbiterianos, um ex-luterano e os

    demais ex-catlicos. Um dado chamou ateno, apenas um se converteu

    com 22 anos, os demais o fizeram na adolescncia;

    5. Exerccio do Ministrio: todos iniciaram seus ministrios - pregao e

    fundao de igreja - antes de receberem algum ttulo pastoral (os

    obreiros leigos ainda hoje iniciam seu ministrio de pregao bem antes

    da ordenao, mas hoje seria desnecessrio que uma moa solteira ou

    uma famlia iniciasse uma igreja);

    6. Por fim, todos saudosisticamente louvam seu perodo como o ideal,

    verdadeiro, correto, santo, onde a igreja dependia do Esprito Santo

    apenas, e reclamam da igreja atual que, segundo entendem, est

    desviada, caindo na teologia da prosperidade, burocratizada, cheia de

    disputa por cargos, preocupada em agradar o mundo, querendo parecer

    com as igrejas tradicionais30

    A tentativa de resgatar a histria oral foi uma etapa interessante, mas um

    tanto complexa. Primeiro, a desconfiana: qual o interesse de uma universidade

    metodista na historia da AD? Esta primeira etapa foi vencida com minha

    30Todas estas afirmaes so palavras/frases dos entrevistados.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    25/159

    25

    identificao como dicono assembleiano, usando tambm o nome de meu pai31,

    antigo pastor da AD no Cear, que alguns conheceram.

    Segundo, porque queria entender algo to bvio: a construo/crescimento

    da AD foi ao do Esprito Santo - e, eu, como assembleiano, deveria

    conhecer, e no perder tempo com isto. Finalmente, a prpria resistncia em

    falar com um menino (como fui chamado por um pastor de 82 anos) sobre

    assuntos to srios. Ademais, tudo j passou e o mais importante que Deus

    confirmou sua obra e a AD est a como a maior igreja do mundo!. Os seus

    nomes, obviamente, sero omitidos (foi um compromisso assumido durante a

    entrevista), at porque os exporamos, uma vez que uma das principais

    caractersticas das entrevistas foi a contradio32.

    AS ATAS

    No incio da pesquisa, a principal pergunta era: onde esto as atas das

    reunies convencionais e/ou de ministrios? Na CPAD no estavam e nas

    diversas sedes de Ministrios tambm no. Nas entrevistas, foi frisado diversas

    vezes que os suecos no faziam atas33, pois eles eram contra todo e qualquer

    tipo de organizao. Emlio Conde (1960) e Lewis Pethrus (Vingren, 1973) falam

    contra a possibilidade de a AD vir a se tornar uma denominao, ento,

    escrevemos o texto desta dissertao dentro desta temtica. No entanto, em

    fevereiro de 2000 encontrei as cpias de Atas em mos de pessoas particulares

    (filhos de pastores da primeira gerao). Os suecos faziam atas, sim. Muito mais

    31Jos Freire de Alencar (1915-1982), iniciou seu ministrio no em 193632 Contradio na histria oral no mentira nem falsidade do entrevistado, apenas suaconstruo de reminiscncias, com todas as ambigidades que isto venha ter na medida que, o

    processo de recordar uma das principais formas de nos identificarmos(...)Ao narrar uma histria,identificamos o que pensamos que ramos no passado, quem pensamos que somos no presente eo que gostaramos de ser. Cf. Thomson, Alistar, tica e Histria Oral - Recompondo a Memria:questes sobre a relao entre histria oral e as memrias. Proj. Histria de So Paulo(15), PUCabril/9733Alguns explicaram que nem mesmo se fazia registro de membros porque pecado contar opovo de Deus. Algo que outras igrejas tambm crem a partir do episdio da condenao divina aDavi por realizar um recenseamento em II Samuel capitulo 24.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    26/159

    26

    que isto, publicavam um livreto de cada Conveno para os participantes. Os

    suecos eram contra a organizao nacional da Igreja34 mas, no decorrer da

    caminhada, a necessidade de institucionalizao os ultrapassou.

    Uma anlise das atas, em seus mltiplos aspectos, ainda est por ser feita,

    trabalho, alis, que renderia diversas teses. Os dirigentes das Convenes e as

    indicaes dos mesmos; a estipulao dos horrios para Estudos Bblicos e

    questes administrativas; os participantes, quem pode falar e votar; a presena

    feminina (no incio seus nomes so citados, depois figuram apenas como pastor x

    e esposa, mas tarde so proibidas de participar); os assuntos debatidos (aceita-

    se batismo dos adventistas e presbiterianos?; pode um pastor da Assemblia

    participar de um culto noutra igreja?, etc.); a interminvel discusso sobre as

    Fbricas de Pastores (seminrios) e a conflituosa relao dos Ministrios entre sia partir da dcada de 40, pois em quase todas as sesses h um comisso para

    resolver o caso de ..... ( assim mesmo, caso sem nenhuma explicao da

    origem do problema e suas conseqncias)35.

    As Atas precisam ser interpretadas, porque como so todas as Atas

    meros registros e no explicao dos fatos. Serviram, para nossa pesquisa

    particularmente, como indicao da problemtica relao dos suecos com os

    norte-americanos. Algo, alis, completamente omitido na historiografia oficial

    34Temtica a ser discutida no cap. III, ponto 4)35As Atas da Conveno de 38 j falam de dificuldades em vrias localidades (pg. 37),incompatibilidades entre obreiros (pg. 17) e invaso de campos (pg. 11).

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    27/159

    CAPTULO I

    PENTECOSTAL ISMO: ORIGEM, TEORIAS E

    CRESCIMENTO

    Introduo

    Repetindo o que virou senso comum, o pentecostalismo o mais

    importante fenmeno religioso do sculo. E, senso comum, tambm se tornaram

    alguns princpios sociolgicos que explicam o pentecostalismo, ou pelo menos se

    tornaram padro metodolgico para enquadr-lo a partir dos anos sessenta,

    quando ele comea a ser estudado no Brasil. Princpios1, que, resumidamente,

    seriam: a religio institucional no conseguiu responder anomia (Durkheim)

    provocada pela urbanizao e industrializao das cidades brasileiras, agravadas,

    ainda mais, pelo seu carter opiceo, num amplo processo de alienao (Marx)

    deste continente pobre que no aderiu e/ou no entendeu a racionalizao

    modernizadora protestante (Weber) das denominaes histricas.

    1Princpios, alis, atualmente questionados. Dentre os autores que levantam algumas questesmetodolgicas esto Peter Fry (1975:84) que diz que os mesmos se tornaram esteretipossociolgicos e Leonildo Campos (1995:36) num texto sobre as mudanas de paradigmas emcincias da religio chama ateno para hipteses-palpites que podem se tornar cincia. JWilson Gomes (1996:254) no polmico texto, Nem anjos nem demnios - interpretaessociolgicas do pentecostalismo, et alliAntoniazzi (1996), fala de Cinco teses equivocadas sobreas novas seitas populares . Conquanto pretenda trabalhar a problemtica das seitas modernas,algumas das questes debatidas (dinheiro, alienao social e relao com Igreja Catlica) dizemrespeito ao pentecostalismo tambm em sua origem.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    28/159

    28

    Mas a complexidade tanto do fenmeno pentecostal como do pensamento

    destes autores bem maior. Portanto, dizer que o crescimento do

    pentecostalismo deu-se como resultado da anomia produzida pela urbanizao a

    partir da dcada de 50 poderia at ser uma explicao a partir dessa poca, mas

    como e por que o pentecostalismo cresceu - e cresceu muito - nas dcadas

    anteriores? Justificar a adeso ao pentecostalismo por absoluta alienao das

    massas empobrecidas uma das respostas, mas por que parte da massa

    alienada adere tambm a outras religies2 ou a nenhuma? E qual a explicao

    para as alteraes sociais operadas concomitantemente a esta alienao? Situ-

    lo, por fim, numa efervescncia carismtica, excluindo-lhe do mnimo de

    racionalizao, negando-lhe, inclusive a nominao de igreja e/ou protestante3

    pode ser apenas a mera indicao do problema e no sua explicao. Mas o quedizer do processo de institucionalizao das chamadas agncias de cura divina?

    Repetindo, no d para enquadrar um fenmeno paradoxal (Andr Droogers,

    1991) e a complexidade dos marcos tericos durkhamiano, marxista e weberiano

    em poucas linhas4.

    Ademais, algumas perguntas que os primeiros pesquisadores lanaram ou

    se propuseram responder, por causa da renovao do fenmeno continuam

    esperando respostas; as dadas, foram superadas e outras surgiram. E,

    atualmente, as pesquisa tm um leque bem diversificado. H diferentes

    perspectivas no estudo do pentecostalismo, tais como acomodao social (Sousa,

    1967; DEpinay, 1967), superao da pobreza e machismo (Mariz, 1994,

    Machado, 1994), alienao social (Rolim, 1985; Brando, 1980), formao da

    cidadania (Novaes, 1985), atuao poltica (Freston, 1993) adesismo poltico

    (Pierucci, 1996), relativizao tica (Mariano, 1999) at modelo administrativo de

    marketing (Campos, 1999b). H, portanto, diferentes respostas e anlises dos

    diversos pesquisadores em suas respectivas pocas. Nosso objetivo , a partir

    das mesmas, tentar entender a pluricausalidade do crescimento do

    2Fry (1975), por exemplo, analisa, nesse texto, a adeso ao pentecostalismo e a umbanda.3 Por razes diversas, e em contextos diferentes, alguns autores entendem que determinadosgrupos ditos pentecostais ou neo-pentecostais no podem ser chamados de protestantes e/ deigrejas evanglicas, cf. Mendona, 1998; Mariano, 1988, Jardilino, 1994.4Cf. Monteiro (1995), Campos (1995) e Mariz (1995) em temticas diferentes chamam a atenopara a possibilidade desta simplificao.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    29/159

    29

    pentecostalismo, e no trat-lo num s marco terico (Fernandes/ISER, 1998:134;

    Campos, 1995). Para se entender bem os pentecostalismos5 presentes na

    sociedade brasileira, preciso que seus analistas passem dos paradigmas da

    simplicidade para o domnio dos paradigmas da complexidade (Campos,

    1995:29, grifo no original). Diversos trabalhos escritos h alguns anos usaram uma

    das antinomias basilares, como igreja-seita, pobre-rico, opressor oprimido,

    racional-mstico. Mas, na atualidade, com a superao desses paradigmas, o

    desafio , usando o que eles tm de vlido e ao mesmo tempo ultrapassando-os,

    interpretar a realidade com uma viso mais ampla.

    1AORIGEM(MARGINAL)DOPENTECOSTALISMO

    a) Um filho de escravo perturba o mundo evanglico:

    A rua Azuza, 312, em Los Angeles, no incio do sculo, considerada o

    marco moderno do nascimento do pentecostalismo (Hollenweger, 1976; Dayton

    1987) tendo como lder principal o apstolo negro (Forbers J. 1983:12), J. W.

    Seymor. Este filho de ex-escravo havia sido aluno da Escola Bblica Betel, sob a

    liderana de C. Parham, onde de fato comeou o movimento de lnguas

    estranhas em 1901. Parham desafia os alunos a estudarem os livros dos Atos

    dos Apstolos e, a partir desse estudo, o fenmeno da glossolalia acontece e se

    espalha.

    Apesar desse registro localizvel, h diversos relatos segundo os quais o

    mesmo fenmeno acontecera simultaneamente em outros lugares, sem nenhuma

    conexo uns com os outros. A referncia que se faz Rua Azuza, ganha destaque

    muito mais porque remanescentes dali se espalharam pelo mundo6, ainda que

    sem todos os princpios doutrinrios, porm munidos com o que pareceu mais

    notvel, que foi a questo da glossolalia.

    5Neste mesmo texto, Leonildo Campos diz que no h pentecostalismo no singular op. cit., 27 eRolim(1995:22) diz que o pentecostalismo no uma religio uniforme. Foi homognea apenasdurante seus primeiros anos6 W.G. Hoover, o missionrio metodista que inicia o pentecostalismo no Chile conhece omovimento atravs da mesma fonte que os missionrios suecos e italiano que vem para o Brasil,bem como diversos outros movimentos pentecostais no mundo. Cf. Wlaker (1990), Deiros, (1994),Conde (160), Dayton (1987)

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    30/159

    30

    Em diversos momentos histricos da igreja podem-se encontrar fenmenos

    parecidos com os da Rua Azuza: profecias, vises, lnguas. Alm destas

    especificidades uma postura pentecostal pode ser identificada em outros

    movimentos. Se considerarmos, mesmo que esteriotipadamente, como postura

    pentecostal a nfase na espiritualidade e um pretenso retorno ideal aos Atos dos

    Apstolos, d para apontar para o movimento de santidade do Metodismo, os

    avivamentos do sculo XVIII, o pietismo, etc. Dada a fragmentao

    denominacional (Niebuhr,1992) decorrente da Reforma protestante, h sempre

    grupos insurgentes contra a frieza da liturgia, o desvio da igreja, a adeso ao

    Estado, o abandono da espiritualidade, na procura de, segundo eles, resgatar

    o que seria o verdadeiro cristianismo. Em diversos momentos da histria do

    cristianismo as religies do Esprito se manifestam invariavelmente de formasubversiva, hertica7, enfim, marginal.

    Este discurso de retorno s origens bem tpico do protestantismo, ou uma

    variante do Igreja reformada sempre se reformando. Todas, alis, justificam

    suas origens (quem sabe uma forma de encobrir o problemtico surgimento de

    cada uma denominao, Niebuhr, 1992) como um retorno a verdade bblica, da

    ser bem natural o retorno ao Atos dos Apstolos8 que o movimento pentecostal

    (neste momento a AD, especificamente) tanto advoga.

    b) Babel ou Pentecostes, a mensagem se espalhou

    O que torna o movimento da rua Azuza um marco? Alm da propagao

    internacional que ele causou, o fato de, a partir da, 1) ser um movimento urbano

    e 2) ser um fenmeno inter-racial. Mesmo no significando que esses dois fatores

    lhe sejam favorveis, indiscutivelmente, porm, foram marcantes.

    Sendo um fenmeno moderno da cidade, evidentemente, este fato ajudou

    em sua propagao com mais facilidade. Los Angeles recebia levas de imigrantes

    7 A palavra usada no seu sentido etimolgico sem conotao teolgica. Heresia no grego,hairesis, , literalmente, escolha usado pelos clssicos e na Septuaginta como uma escolhade um grupo filosfico ou de uma pessoa. Posteriormente, toma uma conotao pejorativa de umerro doutrinrio. Cf. Novo Dicionrio da Bblia, So Paulo, Vida Nova, pg. 709. EnciclopdiaHistrico Teolgico da Igreja Crist, So Paulo, Vida Nova, 1990, pg. 248.8 no livro de Atos dos Apostlos (Cap. 2) que acontece o fenmemo do pentecoste na nascenteIgreja.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    31/159

    31

    europeus que se encarregaram de anunciar a novidade. Segundo Corten

    (1995:58) o pentecostalismo um fenmeno transnacionalizado. O fato de que

    diversos grupos, independentemente de seus rtulos denominacionais terem sido

    atingidos pelo fenmeno, ajudou na propagao. E, entre disputas de espao e

    entusiasmo com a novidade, o movimento espalhou-se rpido. Mas essa

    possibilidade quantitativa lhe trouxe uma fragmentao irreversvel, a ponto de

    no conseguir ter algum referencial doutrinrio nico. H algumas caractersticas

    genricas que podem ser atribudas ao movimento, mas sua principal marca a

    pluralidade, ou, para os no-pentecostais, a confuso doutrinria.

    A questo teolgica da bno dupla ou bno tripla ( Hollenweger,

    1976: Dayton, 1987: Horton, 1996) foi um tambm fator diviso dos diversos

    grupos. Problema teolgico que nunca afetou o pentecostalismo brasileiro.Numa regio e poca em que as tenses e separaes entre as raas

    ainda eram muito delimitadas, mesmo nas igrejas evanglicas (Niebuhr, 1992), um

    grupo religioso que reunia num mesmo lugar negros e brancos, era, no mnimo,

    inusitado. Talvez essa tenha sido a causa da perseguio jornalstica9 que,

    ironicamente, termina por ajudar na sua divulgao. E por mais que o movimento,

    no incio, tenha reunido diversos grupos e raas, esse mesmo movimento

    separado tambm em grupos e raas o sectarismo protestante no pode ser

    negado.

    2REFERENCIAISTERICOS:

    H algumas teorias sobre a religio, e mais especialmente, sobre o

    pentecostalismo que, tanto pela originalidade quanto pela primazia do tempo se

    tornaram referencias, precisam ser citadas.

    9Os jornais em Los Angeles noticiaram os eventos da rua Azuza assim: Los Angeles Dayli Times:Santos esperneadores promovem orgias; O Los Angeles Times: Brancos e Negros se misturamnum frenesi religioso. (Campos, 1999b:179). Os jornais chilenos na poca do surgimento dopentecostalismo tm comportamento idntico ( DEpinay, 1970:49). No Brasil, sem a conotaoracista, as conseqncias foram menores at porque o mbito de alcance dos jornais de Belm doPar tambm era menor (Vingren, 1973:50;55).

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    32/159

    32

    a) Trs idias clssicas sobre religio:

    Levaremos em conta trs livros escritos no incio do sculo que analisaram

    a religio; Economia e Sociedade (escrito em 1914), As origens sociais das

    religies crists(escrito em 1929),A era protestante(escrito em 193710), por Max

    Weber, H. Richard Niebuhr e Paul Tillich, respectivamente. Do ponto de vista

    objetivamente especfico, nenhum deles falou do Pentecostalismo, mas tratam de

    questes religiosas que transcendem suas pocas e so marcados pela

    originalidade.

    Weber - o carisma e os adeptos

    Weber tem um conceito muito importante - os tipos de dominao11- que

    fundamental para o presente estudo. Segundo definio do prprio, dominao

    a probabilidade de encontrar obedincia a uma ordem de determinado contedo,

    entre determinadas pessoas indicveis12. Dentro de sua classificao h trs

    tipos de dominao: a racional, a tradicional e a carismtica. A que nos interessa,

    mais precisamente, a carismtica.

    A dominao carismtica baseada na venerao extracotidiana da

    santidade, do poder herico ou do carter exemplar de uma pessoa e das ordens

    por esta reveladas ou criadas13. Enquanto as anteriores, para funcionarem e

    serem legitimadas, necessitam de um corpo burocrtico, ordens impessoais,

    qualificao pessoal, prebendas, etc., esta se legitima a partir dos adeptos14.

    Adeptos - isto algo de suma importncia para entendimento do fenmeno

    pentecostal.

    O carisma uma dotao pessoal extracotidiana, e como o prprio Weber

    diz, impossvel avaliar isto objetivamente com critrios estticos, ticos, etc.,

    10 Publicado em portugus em 1992, foi lanado originalmente em ingls em 1948 como umacoletnea de artigos escritos desde 1929 a 1945. Neste momento trataremos especificamente dotexto O fim da era protestante, escrito em 1937.11Cf. Weber (1991) cap. 3.12Op.cit, 3313Op.cit, 14114Op.cit, 159

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    33/159

    33

    pois o portador dos carismas reconhecido por seus adeptos. O

    pentecostalismo se realizou, cresceu e expandiu-se a partir do reconhecimento

    endgeno dos carismas; lderes - homens e mulheres - na condio de enviados

    por Deus que renem em torno de seus dons um grande grupo de adeptos, e

    causaram a guinada. S que esse carisma, por mais fenomenal que seja, tende a

    se rotinizar, da aparece um novo personagem extracotidiano (de preferncia

    mais extracotidiano que os anteriores), com um novo carisma (ou o mesmo

    carisma mas com uma nova roupagem), consegue novos adeptos, e d nova

    guinada. Mesmo sem a intensidade original, porque por mais carismtica que a

    igreja seja - ou pretenda ser - ela tende a se tradicionalizar (entrando, assim, na

    segunda fase da dominao tradicional) e tambm porque, como Weber diz, no

    existem tipos ideais puros. Nenhuma dominao exclusivamente carismticaou tradicional - mesmo que as igrejas insistam em afirmar o contrrio.

    Ora, enquanto as demais instituies religiosas esto se legitimando a partir

    do Credo X, Documento Y, Comisso A instituda pelo Conclio D, com um corpo

    eclesistico formado e racionalizado, a carismtica no tem funcionrios

    profissionais, porque no h seleo por critrios objetivos, mas pelas qualidades

    carismticas (discpulos, homens de confiana, nomeao). No h

    hierarquia, salrio, autoridade institucional, regulamento algum. H somente a

    interveno do lder, a camaradagem do amor, juzos de Deus, revelaes e o

    reconhecimento como dever. O carisma e os adeptos. Haver sempre espao

    para os carismas se manifestarem e, muito mais espao legitimador para

    realimentarem os mesmos.

    Niebuhr - a igreja dos deserdados renasce sempre?

    Em seu livro, Niebuhr pretende explicar o fracasso tico do cristianismo

    por causa das divises, pois, as pretensas razes teolgicas das denominaes

    so apenas disfarces para racismos, nacionalismos, etnocentrismos; a tica das

    castas acaba com a tica da fraternidade15. Fazendo um levantamento histrico

    15Op.cit., 21

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    34/159

    34

    desde a Reforma16, o autor identifica vrios movimentos sociais - anabatistas,

    metodistas, Exrcito da Salvao e seitas mais recentes17 que ele chama de

    igreja dos deserdados, em contraposio igreja dos afortunados e cultos.

    O presbiterianismo era intelectualista, aristocrtico e autoritrio18, e o

    luteranismo aliado nobreza tornou-se religio estatal com os mesmos problemas

    que o catolicismo tinha antes; portanto, a Reforma no conseguiu satisfazer as

    necessidades religiosas dos camponeses e das demais classes no-privilegiadas.

    E quais eram essas necessidades? Justia social, participao popular nos cultos,

    fervor emocional, esperanas apocalpticas. A Igreja dos deserdados tem tudo

    isso, alm de vises, revelaes, luz interior, atmosfera sobrenatural de milagres

    - tudo o que mais tarde vai caracterizar o pentecostalismo. interessante que

    Niebuhr, em 1929, no se reporta em nenhum momento ao pentecostalismo.Alis, para ele o metodismo19 foi o ltimo movimento dos deserdados no

    cristianismo e no h, atualmente, movimento efetivo religioso entre os

    deserdados e, como resultado, eles esto simplesmente fora do plio do

    cristianismo organizado20. Niebuhr no acreditava, ou, por preconceito, no

    conseguiu ver, que uma igreja de deserdados pudesse surgir sempre21.

    Como os movimentos mendicantes, a Irmandade do Livre Esprito, os

    anabatistas, o Pietismo e outros, o movimento pentecostal do sculo XX nasce

    marginal, entre os pobres que no tinham espao e resposta s suas

    necessidades dentro das instituies religiosas de classe mdia e alta. Se tem a

    originalidade da igreja primitiva, o fervor dos morvios, a santidade dos

    montanistas, outra questo, mas origens, ou, douta forma, as causas sociais so

    paralelas ( Dayton, 1991)

    16O livro, portanto, deveria se chamar As origens sociais das denominaes protestantes pois

    deste universo que trata.17Op. cit. 2618Op.cit. 3419Originalmente, pois no momento em que ele escreve j o considera uma igreja de classe mdia,(50)20Op. cit. 5321 Uma possibilidade seria, ele como tantos outros, estar convicto de que a secularizaomodernizante, enfim, descartaria a religio como fenmeno social relevante. A religio, seria cadavez uma proposta privada, e nenhuma religio mais, nem mesmo a dos deserdados, conseguiriaalterar - positiva ou negativamente - a realidade social. Ver Leonildo S. Campos (1995) O estudodo pentecostalismo diante das mudanas de paradigmas em Cincias Sociais , Srie Ensaios dePs-Graduao/Cincias da Religio, Ano I, no. 1, novembro de 1995 (pg. 29-53)

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    35/159

    35

    Tillich - o princpio protestante est perdido?

    Em 1938, o telogo Tillich v o protestantismo rendido a outros interesses

    que no o da fraternidade crist (ironicamente, na Alemanha ao nazismo, e, nos

    EUA, ao capitalismo) e o sentido proftico da palavra transcendente, julgadora e

    transformadora22 se perdendo, passando a religio a ser uma mera serva da

    opinio pblica, e abandonando as massas populares.

    O ser humano, vtima da explorao capitalista, perdeu o sentido de

    existncia,e a resposta do protestantismo meramente intelectualista, pois no

    consegue transcender ao secularismo desintegrador23. Na viso de Tillichi, h

    trs grupos empenhados na reintegrao das massas naquele momento: ocomunismo, o fascismo e o catolicismo romano. Sem considerar as razes dos

    dois anteriores, nos reportaremos apenas ao ltimo.

    O catolicismo, com sua hierarquia autnoma24e seu poder simblico, seria

    a nica fora religiosa com apelo significativo s massas desintegradas. Ou seja, o

    protestantismo precisar: 1. resgatar uma nova compreenso dos smbolos, as

    objetividades do sagrado; 2. Ultrapassar a barreira do sagrado e do profano e

    resgatar a cultura; 3. Realizar o protesto proftico contra o Estado, a Igreja, o

    partido ou lder - todas instncias que reivindicam carter divino, caso contrrio

    ser o fim da era protestante25.

    possvel que Weber, em 1914, na Alemanha, no conhecesse o

    pentecostalismo moderno, mas ser que Niebuhr e Tillich nos EUA nas dcadas

    de vinte e trinta no tenham ouvido falar ainda que mal - do pentecostalismo

    para inclui-lo em suas anlises?26. Faz sentido, religio de pobres e pretos,

    liderada por ex-escravos e mulheres (Hollenweger, 1972) no tinha chegado ao

    conhecimento da academia.

    22Op. cit. 20423Op. cit. 24324O contexto protestante europeu de igrejas estatais, onde, portanto, a hierarquia est atrelada edependente do Estado; j nos EUA o compromisso com grupos socais (245)25Op. cit. 24926Talvez um episdio que Leonildo Campos conta no artigo j citado, possa ser ilustrativo disto:num debate com Harvey Cox e Rubem Alves, em 1969 (note-se bem a data) ao ser perguntadosobre a pentecostalizao do protestantismo histrico, Alves disse textualmente: Esse tipo deproblema que no me interessa no momento

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    36/159

    36

    No se pode afirmar que o pentecostalismo seria ou : o carisma que

    atende aos deserdados num protesto proftico, no entanto, qual outro fenmeno

    religioso neste sculo poderia aproximar-se disto?

    Mendona (1997:109), inclusive, comentando este texto de Tillich, diz:

    Tillich achava, na poca em que escreveu, que o catolicismo romano estava preenchendo

    essa funo pelo seu poder reintegrador e simblico. Parece que seu raciocnio no vale

    para o Terceiro Mundo, em que as religies de mais apelo simblico, como o

    pentecostalismo, esto suplantando o protestantismo e o catolicismo.

    b) Trs vises sobre o pentecostalismo brasileiro

    H muitas anlises distintas sobre o pentecostalismo (j frisadas na

    introduo), no entanto, poucas trabalham sua origem e o perodo especfico

    escolhido. Usaremos, portanto, trs autores que, historicamente, esto prximos

    at porque so os primeiros a escreverem sobre o assunto. O Protestantismo

    Brasileiro - um estudo de eclesiologia e histria social (1963), A experincia da

    salvao: pentecostais em So Paulo (1969) e Pentecostais: uma anlise scio

    religiosa (1979), de Emile-G Lornad, Beatriz Muniz de Souza e Francisco Cartaxo

    Rolim, respectivamente.

    Lonard - um pentecostalismo sem leitura bblica no ter futuro.

    Pelo ttulo do livro v-se que ele trata do Protestantismo, e no do

    pentecostalismo especificamente27; no entanto, no final de seu livro ele faz rpidas

    consideraes sobre as religies iluministas. Sua anlise sobre as igrejas

    pentecostistas da poca se reporta AD e CCB. Sobre a Assemblia de Deus,ele afirma seu carter bblico, mas v a Congregao Crist no Brasil com

    muitas reservas, inclusive, de esfacelamento do movimento porque no tem algum

    tipo de estrutura bblica, ou estudo sistemtico da Bblia. O irnico que, 50 anos

    27Tem lgica histrica porque seu livro, originalmente, foi publicado como artigos na Revista deHistoria da USP entre janeiro de 51 a dezembro de 52. Nesta poca o pentecostalismo ainda erauma religiosidade completamente ignorada.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    37/159

    37

    depois, aconteceu o inverso. A Congregao Crist continua coesa, sem

    dissidncia, sem mudana na orientao poltica ou tica, e bblica28 com seu

    sistema eclesiolgico intocvel tanto quanto no inicio do sculo. Se melhor ou pior

    no nos cabe definir. Isto apenas uma contestao sociolgica.

    No entanto a Assemblia, tambm com seu carter bblico (aqui vale o

    mesmo que se afirmou para a Congregao), foi completamente alterada. outra

    igreja, bem diversa da que foi analisada por Lornad.

    Qual nossa percepo afinal: as realidades sociais so mais fortes e

    capazes de alteraes mais significativas que o pretenso carter bblico ou no

    bblico de uma igreja29. Isto, alis, j foi analisado por Niebuhr (1992), sobre as

    estruturas eclesiolgicas que se alteram ou se conservam obedecendo s

    demandas sociais. A Congregao conseguiu ser um grupo homogneo em seusprimeiros anos porque se inicia dentro de grupo tnico, razoavelmente coeso, de

    forte tradio e com interesse de preserv-la. Desenvolveu uma estrutura de

    poder leigo que ficou inume as disputas de poder ou tentaes financeiras.

    Socialmente, nunca teve atuao e, parece, no sente necessidade disto; optou

    por uma postura apenas sacral30 em sua religiosidade. Permaneceu sempre um

    grupo fechado e com visibilidade reduzida e, conseqentemente, fcil de

    administrar e se preservar31. J a AD se pluralizou, modificou e hoje, com

    exceo da doutrina da contemporaneidade dos dons do Esprito Santo, no tem

    quase nada que lembre a antiga igreja. Foi alterada, fundamentalmente, por

    demandas sociais.

    28Bblica no sentido que Lornard entende de bblicacorreta, no nos cabendo aqui definir secorreto ou errado. O que se quer dizer com isto: sua doutrinao (calvinista, congregacional, no

    clerical, no proselitista) que ele entendia como correta no incio do sculo se mantm at hoje.29 Isto deve causar calafrios e ser visto como absoluta heresia pelos religiosos.

    30 Em todos os seus trabalhos Rolim (1979, 1980, 1995) critica o pentecostalismo por sua aoalienada de postura sacral e no social.31No se tem documentos ou textos da igreja para alguma anlise, mas por conversas informaiscom membros se tem a impresso de que a igreja deixa o membro muito a vontade em suaconduta. Por exemplo, em suas reunies de confraternizao alguns ingerem bebidas alcolicas eoutros no. A Igreja no o proibe, mas tambm no incentiva. Isso problematiza ainda mais acaracterizao de seita em seu rigorismo moral individual dos membros. Eliana Gouveia (1986),em seu trabalho sobre a questo feminina, analisando as Igrejas Pentecostal Deus Amor eCongregao Crist, entende a primeira como igreja e a segunda como seita.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    38/159

    38

    Beatriz de Souza - o ajuste urbano

    Uma tese funcionalista que entende o pentecostalismo como uma resposta

    anomia social (Durkheim), fruto do processo de urbanizao e industrializao. E

    fica dentro da questo que move os pesquisadores da dcada de 60, em relao

    ao pentecostalismo, algo que DEpinay expressa claramente em seu trabalho

    sobre o Chile: 1. O pentecostalismo uma expresso cultural do povo chileno ou

    algo estrangeiro? 2. esta expresso religiosa contribui no processo de

    transformao social? Para Beatriz de Souza, o pentecostalismo, mesmo tendo

    origem estrangeira, se abrasileirou32, aculturando-se o suficiente para tornar-se

    uma das expresses da religiosidade local. Apesar - ou por causa disto mesmo -,

    de sua descontinuidade-continuidade (DEpinay, 1970) exerce exatamente estepapel nas camadas que atinge. A descontinuidade do rompimento com a

    identidade anterior (catlica) e continuidade de permaneceralheio realidade.

    Procpio Camargo, na mesma linha de pensamento, diz que, apesar disso

    o pentecostalismo tambm tem a capacidade de reconstruo de relaes

    fraternas, estabelecimento de reajustamentos na urbanizao desagregadora. A

    seita fechada, reacionria e excludente tem tambm uma coeso e rigor moral

    muito necessrio aos migrantes que se agarram a isso como fora agregadora e

    normatizadora de suas vidas.

    A tica puritana, contrapondo-se por sua rigidez lassido moral considerada pelos

    protestantes como tpica do Catolicismo, veio acompanhar a vivncia da converso ao

    novo credo religioso. Esta tica desenvolveu entre os fiis padres de conduta

    caractersticos, sociologicamente importantes. Enfatizando estrita honestidade nos

    negcios, conduta austera e recato do trajar, propugnavam, paralelamente, severas

    restries de comportamento: no ter vcios, como os de fumar e beber; no freqentar

    diverses profanas; no participar de jogos de azar; no ter relaes sexuaisextraconjugais Camargo (1973: 136-7)

    32DEpinay(1970:17) tem a mesma preocupao: saber se o pentecostalismo um corpo estranho

    ou se chilenou

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    39/159

    39

    Cartaxo Rolim - alienao sacral

    Para Rolim, a inexistncia de atuao poltica se d, primeiro, porque a

    religio pentecostal que se implantou no Brasil um rebento daquela experincia

    pentecostal dos americanos de cor branca e,segundo, as camadas pobres que

    a ela aderiram, se traziam a experincia religiosa do devocional catlico, no

    traziam a experincia poltica-social (Rolim, 1995:24,47-48). Os missionrios

    trouxeram apenas a experincia religiosa e no de atuao na luta de libertao

    dos pobres e marginalizados na sociedade (o vis pentecostal negro norte-

    americano).

    Ento, esta experincia religiosa estrangeira aqui encontra umareligiosidade nativa, acomodada e marginalizada pelas instituies religiosas, que

    se alastra na periferia sem nenhuma alterao social. No fora exigido antes,

    tambm no sente necessidade dela na sua implantao.

    Rolim, em seus diversos textos, registra algumas experincias polticas dos

    pentecostais, como as Ligas Camponesas (Pernambuco), um levante de

    agricultores (Maranho) e um protesto de pescadores (Rio), como esperana de

    que o pentecostalismo seja alterado. Mas, como ele mesmo admite, estes so

    casos isolados. Esses casos de atuao poltica no meio pentecostal foram

    acidentes de percurso. Ou seja, no foi uma determinao da igreja em

    participar. Em nenhum um momento existiu uma orientao teolgica da

    necessidade de presena na realidade, muito pelo contrrio, a igreja condenou

    sempre esta participao. Alm de condenar, ignora completamente estes

    episdios: no h um s registro nos jornais, histrias e livros da igreja33.

    Conquanto as indicaes de Rolim possam estar corretas, ele no atentou

    para duas outras causas dessa postura: l. a condio de estrangeiros num perodo

    tenso da histria, que lhes prejudicaria qualquer postura poltica; e 2. A averso

    que eles sentiam por qualquer instituio, pelo trauma da perseguio sofrida em

    33Nos anos 90, a AD nem mesmo citava a Benedita da Silva em seus jornais, quando ela comeousua atuao nas favelas do Rio de Janeiro, se elegendo vereadora, deputada e depois senadorapelo PT Partido dos Trabalhadores. Agora, como vice-governadora (deixou de ser oposio epassou a ser governo), o Mensageiro da Paz publica fotos suas e elogios, mas no diz como eporque ela saiu da Assemblia e foi para a Presbiteriana.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    40/159

    40

    seu pas de origem, da a defesa sueca das chamadas igrejas-livres. No se

    pode excluir a influncia da mentalidade sacral catlica, mas tambm no se

    pode reduzir isto orientao racista dos brancos americanos. Os suecos no

    compartilhavam deste racismo. Foram omissos politicamente, mas por outras

    razes.

    3CRESCIMENTO.

    Inicialmente vejamos as razes que o pentecostalismo tinha para no

    crescer:

    l. A Igreja Catlica forte e hegemnica e h menos de 30 anos, com a

    proclamao da Repblica, deixou de ser a religio oficial, mas continua plena eoficiosa. D conta de todas as instncias da vida nascimento, casamento e

    funeral; e mantm ainda em sua influncia, de cartrios a cemitrios34. As

    denominaes protestantes s so toleradas, porque, originalmente se

    restringiram a grupos tnicos, depois as igrejas de misso, at ento, com um

    crescimento insignificante.

    2. As igrejas protestantes, at ento pequenas, mas todas com aspectos

    modernizantes da cultura anglo-saxnica (Lornad, 1963, Mendona, 1989 e 90),

    eram distintivas da cultura brasileira. Igrejas cultas, ricas, lideradas por

    estrangeiros, financiadas por dlares, representantes da moderna pedagogia,

    portanto, vistas com bons olhos pela elite republicana. Ademais, herdeiros do

    destino manifesto (Mendona, 1989 e 90; Jardilino, s/d) estavam trazendo a

    redeno no apenas espiritual mas econmica e scio-cultural para o Brasil.

    Como, apesar disto, uma nova modalidade de religio protestante nasce e

    cresce neste espao?

    O pentecostalismo, como j foi frisado, um fenmeno urbano, mas sua

    principal caracterstica a marginalidade na qual nasceu e proliferou. Seu aspecto

    mais visvele folclrico a participao e lideranade negros e mulheres. E,

    talvez, esta tenha sido a principal causa de sua estranheza no incio. Ser que se

    34Cemitrios so uma das principais zonas de tenso entre os evanglicos e a Igreja Catlica.

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    41/159

    41

    o pentecostalismo, mesmo com a glossolalia, mas liderado por homens, brancos,

    ricos e cultos, teria sofrido as mesmas perseguies e preconceitos teolgicos? 35.

    Disseminado pelo mundo por migrantes, chega at o Brasil, no norte e no

    sudeste36, espalha-se, mas vitimado por preconceitos de todos os lados. No que

    o pentecostalismo tambm no tivesse contribudo. Sem nenhum julgamento

    teolgico, mas o exerccio do falar em lnguas estranhas, o permitir que qualquer

    um (analfabeto, negro ou mulher) tivesse sua prpria Bblia e a ensinasse,

    pregasse ou desse testemunho pblico, , no mnimo, algo inusitado para a

    poca. Ademais, o pentecostalismo tem duas qualidades inicialmente graves: 1.

    um proselitismo exacerbado em direo a todos os credos, inviabilizando uma

    conduta pacfica, portanto; 2. Um discurso sectarista da verdade.

    Pretensamente, nele e somente nele est a verdade completa da Bblia.Mas isto no resolve uma das questes centrais: por que cresce? Foi

    exatamente esta mensagem libertria popular de receber todos indistintamente,

    e da mesma forma lhes d a oportunidade de falar de sua experincia, que

    encantou/converteu as pessoas. Todose todastm acesso a este poder (em

    se tratando de pentecostalismo, esta palavra adquire uma conotao muito mais

    abrangente, de contato com o divino), sem a mediao da classe produtora de

    bens sagrados; e no um erudito/instituio quem/que delimita, instrui ou

    permite sua experincia. Mas, no pentecostalismo acontece, exatamente, o

    contrrio: sua experincia pessoal, intransfervel, com seu linguajar, sua

    realidade sem ningum criticar ou mold-la que define a teologia/instituio.

    muito significativo para quem nunca teve acesso ao sagrado, identidade autnoma

    ou independncia pessoal.

    H uma ruptura mesmo que depois volte tudo ao normal. Mas o

    encontro com este tipo de religiosidade, ou esta acessibilidade ao sagrado, algo

    que altera a conduta. Os deserdados encontram um espao para se expressarem

    sem cerceamentos. As autoridades no esto ouvindo, os eruditos religiosos

    condenando, os cultos debochando no faz diferena. A abertura/xtase,

    35Algum poderia objetar que, homens brancos, cultos e ricos no se envolveriam com este tipo dedoutrina no que persiste o preconceito.36A colnia italiana, no Brs, em SP, no era nenhum padro de riqueza e cultura, at porque soimigrantes pobres tambm (Rolim, 1989)

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    42/159

    42

    atravs do choro, lnguas, riso, realizada para Deus, e Deus - o crente tem

    certeza -, est ouvindo. Compreende e se solidariza.

    E se as instituies so incompatveis, as regras no se coadunam, isto

    no importa porque a legitimao se d pela aceitao dos adeptos; como j foi

    dito, a experincia que legitima a regra teolgica e no o contrrio. Portanto,

    esta capacidade de renascer, se insurgir contra o status, questionar o estabelecido

    e este inconformismo protestante encontra-se presente tambm aqui.

    Estatsticas: alm da teoria, uma estimativa comprovadora

    Estatstica um problema grave para a anlise de religio no Brasil. Mais

    grave ainda, para nossa pesquisa o fato de que os pentecostais s so

    computados oficialmente a partir do Censo de 8037. O que se tem so estimativas,

    e elas sero citadas sem questionamento, pois no h como prov-las nem

    desacredit-las. Possivelmente, elas no sejam os nmeros exatos, mas no

    dispomos de outros. De qualquer forma elas acertam no fundamental. O

    pentecostalismo surge no Brasil na dcada de dez e cresce o suficiente para se

    tornar o maior contingente evanglico do pas.

    Tabela 01: Estimativas do crescimento do pentecostalismo

    Percentual 1900 1911 1930 1940 1950 1960Evanglicos no pas38 1,l% - 2% 3,4%Pentecostais 9,5% 60%

    Assemblia de Deusmembros 20 14.000 80.000 120.000

    37 O Censo de 1900 foi impugnado, refeito em 1906 o dado sobre religio foi excludo se mantendoat 1940 (Rolim, 1995:32)38Rolim (1989:32)39Souza, (1969:17)40Esta estimativa questionvel41Read (1967:121)

  • 7/24/2019 Assembleia de Deus Origem Implantac3a7c3a3o e Militc3a2ncia 1911 1946 Por Gedeon Freire de Alencar Umesp 2

    43/159

    43

    A AD, que se inicia em 1911 com 20 membros, tem, segundo a estimativa

    de Read (1976:122), em 1930, 14.000 membros, e, em 1950, 120.000 membros,

    o que daria respectivamente 69,76% de crescimento em 19 anos, e 108.000% em

    38 anos. No total, so mais de 600.000% de crescimento nas primeiras quatro

    dcadas. uma taxa de crescimento anual de 15.000% ao ano.

    O Censo Demogrfico do IBGE de 1991 apontou 8,98% de evanglicos da

    populao brasileira, com a projeo de crescimento de 67,3%, ento em 1998

    teramos 20 milhes de evanglicos no pas. E se no Censo de 80 os pentecostais

    j eram 51%, h estimativas que hoje sejam mais de 80% da populao

    evanglica. A pesquisa da Datafolha em 1994 indicou um percentual de 76% da

    populao evanglica. indiscutvel que os pentecostais so maioria, no entanto,

    a questo permanece: Quantos so? Qual a taxa de crescimento dos diferentesgrupos?

    Fernandes (1998), na pesquisa Novo Nascimento, d algumas pistas sobre

    crescimento e um dado chama ateno: a AD a igreja que mais perde membros,

    mas tambm a igreja que mais ganha membros, tanto pela converso como por

    adeso de membros de outras igrejas. Isto, por conseguinte, explicaria