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-------------------------- ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE LISBOA --------------------- ---------------------------- ACTA NÚMERO QUARENTA E UM ------------------------ ----- No dia 22 de Março de 2011, pelas 9 horas e 30 minutos, reuniu em Sessão Extraordinária no Teatro Aberto, em Lisboa, a Assembleia Municipal de Lisboa, para a realização de um Debate Específico sobre “ A Situação Social de Lisboa em Tempos de Crise”. ----------------------------------------------------------------------------------------- ----- Assinaram a “Lista de Presenças” os seguintes Deputados Municipais: ------------ ----- Adolfo Miguel Baptista Mesquita Nunes, Alberto Francisco Bento, Aline Gallash Hall, Álvaro da Silva Amorim de Sousa Carneiro, Ana Bela Burt Magro Pires Marques, Ana Maria Gaspar Marques, Ana Sofia Pedroso Lopes Antunes, André Nunes de Almeida Couto, António José do Amaral Ferreira de Lemos, António Manuel, António Manuel Dias Baptista, António Manuel de Freitas Arruda, António Manuel Pimenta Prôa, António Modesto Fernandes Navarro, António Paulo Duarte de Almeida, António Paulo Quadrado Afonso, Armando Dias Estácio, Artur Miguel Claro da Fonseca Mora Coelho, Belarmino Ferreira Fernandes da Silva, Cláudia Alexandra de Sousa e Catarino Madeira, Deolinda Carvalho Machado, Diogo Feijó Leão Campos Rodrigues, Duarte D´Araújo Jorge Cardoso da Mata, Ermelinda Lopes da Rocha Brito, Fernando Manuel Moreno D’Eça Braamcamp, Fernando Pereira Duarte, Filipe António Osório de Almeida Pontes, Filipe Mário Lopes, Francisco Carlos de Jesus Vasconcelos Maia, Francisco David Carvalho da Silva Dias, Gonçalo Maria Pacheco da Câmara Pereira, Gonçalo Matos Correia Castro Almeida Velho, Hugo Filipe Xambre Bento Pereira, Idália Maria Jorge Poucochinho Morgado Aparício, Inês de Drummond Ludovice Mendes Gomes, Ismael do Nascimento Fonseca, João Álvaro Bau, João Augusto Martins Taveira, João Cardoso Pereira Serra, João Diogo Santos Moura, João Manuel Costa de Magalhães Pereira, João Paulo Mota da Costa Lopes, Joaquim Emanuel da Silva Guerra de Sousa, Joaquim Lopes Ramos, Joaquim Maria Fernandes Marques, John Law Rosas da Costa Jones Baker, Jorge Telmo Cabral Saraiva Chaves de Matos, José Alberto Ferreira Franco, José António Nunes do Deserto Videira, José Filipe de Mendonça Athayde de Carvalhosa, José Joaquim Vieira Pires, José Manuel Rosa do Egipto, José Maria Bento de Sousa, José Maximiano de Albuquerque Almeida Leitão, José Roque Alexandre, Luís Filipe Graça Gonçalves, Manuel António de Sena Rosa Falcão, Manuel Luís de Sousa Silva Medeiros, Maria Albertina de Carvalho Simões Ferreira, Maria Alexandra Dias Figueira, Maria Cândida Rio Freitas Cavaleiro Madeira, Maria Clara Currito Gargalo Ferreira da Silva, Maria da Graça Rezende Pinto Ferreira, Maria de Lurdes de Jesus Pinheiro, Maria Elisa Madureira de Carvalho, Maria Filomena Dias Moreira Lobo, Maria Irene dos Santos Lopes, Maria João Bernardino Correia, Maria José Pinheiro Cruz, Maria Luísa Rodrigues das Neves Vicente Mendes, Maria Simoneta Bianchi Aires de Carvalho Luz Afonso, Maria Teresa Cruz de Almeida, Maria Virgínia Martins Laranjeiro Estorninho, Mariana Raquel Aguiar Mendes Teixeira, Miguel Alexandre Cardoso Oliveira Teixeira, Nelson Pinto Antunes, Nuno Roque, Paula Cristina Coelho Marques Barbosa Correia, Paulo Alexandre da Silva Quaresma, Pedro Alexandre Valente Assunção, Pedro Miguel de

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-------------------------- ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE LISBOA --------------------- ---------------------------- ACTA NÚMERO QUARENTA E UM ------------------------ ----- No dia 22 de Março de 2011, pelas 9 horas e 30 minutos, reuniu em Sessão Extraordinária no Teatro Aberto, em Lisboa, a Assembleia Municipal de Lisboa, para a realização de um Debate Específico sobre “A Situação Social de Lisboa em Tempos de Crise”. ----------------------------------------------------------------------------------------- ----- Assinaram a “Lista de Presenças” os seguintes Deputados Municipais: ------------ ----- Adolfo Miguel Baptista Mesquita Nunes, Alberto Francisco Bento, Aline Gallash Hall, Álvaro da Silva Amorim de Sousa Carneiro, Ana Bela Burt Magro Pires Marques, Ana Maria Gaspar Marques, Ana Sofia Pedroso Lopes Antunes, André Nunes de Almeida Couto, António José do Amaral Ferreira de Lemos, António Manuel, António Manuel Dias Baptista, António Manuel de Freitas Arruda, António Manuel Pimenta Prôa, António Modesto Fernandes Navarro, António Paulo Duarte de Almeida, António Paulo Quadrado Afonso, Armando Dias Estácio, Artur Miguel Claro da Fonseca Mora Coelho, Belarmino Ferreira Fernandes da Silva, Cláudia Alexandra de Sousa e Catarino Madeira, Deolinda Carvalho Machado, Diogo Feijó Leão Campos Rodrigues, Duarte D´Araújo Jorge Cardoso da Mata, Ermelinda Lopes da Rocha Brito, Fernando Manuel Moreno D’Eça Braamcamp, Fernando Pereira Duarte, Filipe António Osório de Almeida Pontes, Filipe Mário Lopes, Francisco Carlos de Jesus Vasconcelos Maia, Francisco David Carvalho da Silva Dias, Gonçalo Maria Pacheco da Câmara Pereira, Gonçalo Matos Correia Castro Almeida Velho, Hugo Filipe Xambre Bento Pereira, Idália Maria Jorge Poucochinho Morgado Aparício, Inês de Drummond Ludovice Mendes Gomes, Ismael do Nascimento Fonseca, João Álvaro Bau, João Augusto Martins Taveira, João Cardoso Pereira Serra, João Diogo Santos Moura, João Manuel Costa de Magalhães Pereira, João Paulo Mota da Costa Lopes, Joaquim Emanuel da Silva Guerra de Sousa, Joaquim Lopes Ramos, Joaquim Maria Fernandes Marques, John Law Rosas da Costa Jones Baker, Jorge Telmo Cabral Saraiva Chaves de Matos, José Alberto Ferreira Franco, José António Nunes do Deserto Videira, José Filipe de Mendonça Athayde de Carvalhosa, José Joaquim Vieira Pires, José Manuel Rosa do Egipto, José Maria Bento de Sousa, José Maximiano de Albuquerque Almeida Leitão, José Roque Alexandre, Luís Filipe Graça Gonçalves, Manuel António de Sena Rosa Falcão, Manuel Luís de Sousa Silva Medeiros, Maria Albertina de Carvalho Simões Ferreira, Maria Alexandra Dias Figueira, Maria Cândida Rio Freitas Cavaleiro Madeira, Maria Clara Currito Gargalo Ferreira da Silva, Maria da Graça Rezende Pinto Ferreira, Maria de Lurdes de Jesus Pinheiro, Maria Elisa Madureira de Carvalho, Maria Filomena Dias Moreira Lobo, Maria Irene dos Santos Lopes, Maria João Bernardino Correia, Maria José Pinheiro Cruz, Maria Luísa Rodrigues das Neves Vicente Mendes, Maria Simoneta Bianchi Aires de Carvalho Luz Afonso, Maria Teresa Cruz de Almeida, Maria Virgínia Martins Laranjeiro Estorninho, Mariana Raquel Aguiar Mendes Teixeira, Miguel Alexandre Cardoso Oliveira Teixeira, Nelson Pinto Antunes, Nuno Roque, Paula Cristina Coelho Marques Barbosa Correia, Paulo Alexandre da Silva Quaresma, Pedro Alexandre Valente Assunção, Pedro Miguel de

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Sousa Barrocas Martinho Cegonho, Pedro Miguel Ribeiro Duarte dos Reis, Rita da Conceição Carraça Magrinho, Rita Susana da Silva Guimarães Neves e Sá, Rodrigo Nuno Elias Gonçalves da Silva, Rogério da Silva e Sousa, Rui Jorge Gama Cordeiro, Salvador Posser de Andrade, Valdemar António Fernandes de Abreu Salgado, Vasco André Lopes Alves Veiga Morgado, Vítor Manuel Alves Agostinho, Rosa Maria Carvalho da Silva, Tiago Miguel Nunes Teixeira, Sara Luísa Sousa Santos, José Marcelino Carvalho, Daniel Paulo Pereira Gomes de Castro, Pedro Gamito Cruz Santos, Maria Manuela Pina da Câmara Pestana, Paulo Miguel Correia Ferrero Marques dos Santos, António José Gouveia Duarte, João Francisco Marques Capelo, Jorge Manuel Nascimento Fernandes, Joana Rodrigues Mortágua, Paulo Alexandre Justino Monteiro e Vítor Manuel Palmilha. --------------------------------------------------- ----- Faltaram à reunião os seguintes Deputados Municipais: ------------------------------ ----- Ana Maria Bravo Martins de Campos e João Mário Amaral Mourato Grave. ------ ----- Pediram suspensão do mandato, que foi apreciada e aceite pelo Plenário da Assembleia Municipal nos termos da Lei 169/99, de 18 de Setembro, com a redacção dada pela Lei 5-A/2002, de 11 de Janeiro, os seguintes Deputados Municipais: --------- ----- António Pinheiro Torres (PSD), por um dia, tendo sido substituído pela Deputada Municipal Rosa Maria Carvalho da Silva. ---------------------------------------------------- ----- Inês Lopes Cavalheiro Ponce Dentinho de Albuquerque D’Orey (PSD), por dez dias, tendo sido substituída pelo Deputado Municipal Tiago Teixeira. ------------------- ----- Diogo Vasco Gonçalves Nunes de Bastos (PSD), por um dia, tendo sido substituído pela Deputada Municipal Sara Luísa Sousa Santos. --------------------------- ----- Maria do Céu Guerra Oliveira e Silva (IND), por um dia, tendo sido substituída pelo Deputado Municipal Paulo Miguel Correia Ferrero Marques dos Santos.----------- ----- Hugo Lobo, Patrocínia César e Pedro Biscaia, Deputados Municipais suplentes do PS, pediram a suspensão do mandato por um dia. (23 de Março de 2011). ----------- ----- Heitor de Sousa (BE), por noventa dias. ------------------------------------------------- ----- Foram justificadas as faltas e admitidas as substituições dos seguintes Deputados Municipais, Presidentes de Junta de Freguesia: ---------------------------------------------- ----- João Nuno Vaissier Neves Ferro (PSD), Presidente da Junta de Freguesia da Lapa, por José Marcelino Carvalho. ----------------------------------------------------------- ----- Rui Manuel Pessanha da Silva (PSD), Presidente da Junta de Freguesia de São João de Deus, por Maria Manuela da Câmara Pestana. -------------------------------------- ----- Fernando Manuel Pacheco Ribeiro Rosa (PSD), Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria de Belém, por José Marcelino Carvalho.------------------------------------ ----- Maria Idalina de Sousa Flora (PSD), Presidente da Junta de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, por Pedro Cruz Santos.--------------------------------------------------- ----- Ana Maria Bravo Martins de Campos (PSD), Presidente da Junta de Freguesia de São Mamede. ------------------------------------------------------------------------------------- ----- Maria Isabel Homem Leal de Faria (PSD), Presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, por Vítor Manuel Palmilha. -------------------------------------------------------- ----- Luís Filipe da Silva Monteiro (PS), Presidente da Junta de Freguesia de Santos-O-Velho, por Paulo Alexandre Monteiro. ----------------------------------------------------

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----- Jorge Manuel da Rocha Ferreira (PCP), Presidente da Junta de Freguesia da Madalena, por António Gouveia Duarte. ----------------------------------------------------- ----- Carlos Lima (PCP), Presidente da Junta de Freguesia do Castelo, por João Capelo. -------------------------------------------------------------------------------------------- ----------------------------- ABERTURA DOS TRABALHOS ----------------------------- ----- Deputado Municipal António Pinheiro Torres, Presidente da Comissão Permanente de Intervenção Social e Promoção da Igualdade de Oportunidades da AML: ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- “Queria cumprimentar os Membros da Mesa, a Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, todos os colegas Membros da Assembleia Municipal de Lisboa, os oradores que entretanto já chegaram e que nos dão parte do seu dia, e a todos os presentes. ----------------------------------------------------------------- ----- É muito grato para nós, da Comissão de Intervenção Social e Promoção da Igualdade de Oportunidades, contar com a presença de cada um e é bom saber que vamos ter o dia para estar juntos e para nos conhecermos.---------------------------------- ----- Nós, na Comissão de Intervenção Social, temos tido a preocupação de acompanhar a situação social de Lisboa e pareceu-nos que, perante as circunstâncias do nosso País, era o momento de olharmos com mais atenção para aquilo que se passa, caracterizar o que se passa na situação social de Lisboa, tentar perceber ponto a ponto para onde é que devemos olhar e ao mesmo tempo constatar que respostas é que existem e que esforços é que há, institucionais e por parte da sociedade civil, de dar resposta a esta situação em Lisboa. ------------------------------------------------------------ ----- Também, ao mesmo tempo, na Comissão temos realizado diversas audiências com diversas instituições da nossa Cidade. Já tivemos um colóquio também há um ano atrás sobre os 100 Anos do Dia Internacional da Mulher e os Membros da Comissão, de uma maneira geral, no plenário da AML intervêm sobre as questões sociais. --------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Do ponto de vista dos Membros da Comissão, e tem sido uma experiência de unidade para além das fronteiras partidárias, esta preocupação, porque temos compreendido que a nossa natureza dá-nos a natureza de nos interessarmos pelos outros e quando temos alguma coisa de belo em nós sentimos o impulso de comunicá-lo, de ajudá-los com algo que seja nosso. É quase uma resposta a uma exigência pessoal esta atenção à situação social e quanto mais nós vivemos esta exigência e este dever, mais nos realizamos a nós próprios, seja como pessoalmente cada um de nós e também como agentes políticos da nossa Cidade e vamos constatando também aquilo que tantas vezes acontece, em que acabamos por receber mais do que aquilo que damos. --------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Percebemos também que na questão social aquilo que se trata sobretudo é de ajudar o caminho das pessoas concretas que vivem na Cidade de Lisboa. Esta é uma preocupação que como agentes políticos devemos ter, fazer-lhes companhia no

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destino delas, ajudá-las a levar a fadiga, e nalguns casos uma grande fadiga, que é a vida de cada um.---------------------------------------------------------------------------------- ----- Dizia a Madre Teresa de Calcutá que nós não temos nas nossas mãos as soluções para os problemas do mundo, mas para os problemas do mundo temos as nossas mãos e, portanto, este colóquio, pensámo-lo na Comissão como um desafio para este “mãos à obra” e por isso desejo a todos um bom dia e um bom encontro para todos.------------ ----- Muito obrigado.” --------------------------------------------------------------------------- ----- Vereadora Helena Roseta: --------------------------------------------------------------- ----- “Bom dia a todos. Estou em representação do Senhor Presidente da Câmara, que não está em Lisboa e pediu-me para o representar, o que faço com muito gosto, começando por felicitar a iniciativa da Comissão, o Senhor Presidente e todos os Membros da Comissão e a Senhora Presidente da Assembleia, que acolheu esta iniciativa. ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- Dirigindo-me agora a todos os Senhores Deputados Municipais presentes e a todos os convidado presentes, dizer-lhes que espero que este seja um dia de reflexão e de diálogo útil para todos nós e deixar-vos aqui uma pequena nota pessoal:-------------- ----- Eu penso que a situação social de Lisboa, mesmo ainda antes de ter rebentado esta crise, não falo da crise política destes dias, mas falo da crise económico-social que estamos a viver já há dois ou três anos, a situação social de Lisboa está relativamente bem identificada, foram feitos vários estudos, a rede social de Lisboa está constituída e fez um diagnóstico social da Cidade. Portanto, nós não podemos dizer que não sabemos. Sabemos e todos aqueles que têm trabalho de proximidade, nomeadamente os Senhores Presidentes de Junta de Freguesia, sabem muito bem que o diagnóstico que nós tínhamos e com o agravar dos rendimentos das famílias, dos problemas todos que temos tido, da diminuição das prestações sociais e tudo o mais, a situação se agravou.------------------------------------------------------------------------------ ----- O que nós em Lisboa também verificamos é que temos alguns mecanismos importantes de resposta, temos a rede social constituída, temos uma quantidade enorme, e é o que nos vale, de IPSS e Organizações Não Governamentais que estão no terreno a fazer o trabalho todos os dias e que sem elas provavelmente muita da nossa população teria carências ainda maiores do que as que já tem, mas aquilo que eu sinto, e esta é a nota pessoal que eu queria deixar e é o desafio que vos deixaria também, é que entre todas as instituições que trabalham com os problemas da população que está com carências nem sempre o diálogo é o melhor. Muitas vezes ele é muito bom até entre colegas de várias instituições que estão a trabalhar no terreno, mas entre as instituições propriamente ditas o diálogo nem sempre tem sido o melhor e isso faz com que se perca muito daquilo a que os ingleses chamam “social capital” e que eu traduzo por energia social, porque capital social em Português quer dizer outra coisa.----------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Nós perdemos muita energia social na Cidade de Lisboa porque as instituições nem sempre dialogam entre si e esta rede social, que como o seu nome indica devia ser muito mais forte e devia estar muito mais interligada, muitas vezes não tira todo o proveito que pode tirar das suas potencialidades. --------------------------------------------

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----- Isto é o que me preocupa a mim, nós temos que ter respostas mais prontas, temos recursos, temos muita gente no terreno, temos muitos meios. Lisboa é talvez a cidade com maior número de agentes sociais do País por habitante, temos uma quantidade enorme de gente com uma capacidade fantástica de dedicação e de entrega e depois sinto que onde falhamos, mas se estiver errada corrijam-me para eu própria corrigir a imagem que tenho, onde sinto que falhamos é nas articulações. --------------------------- ----- Para dar um pequeno exemplo, as técnicas da GEBALIS não costumavam falar com as técnicas da Câmara, os técnicos da Câmara não falavam com a GEBALIS, que por sua vez não falava com as freguesias e por aí fora. A própria Câmara nem sempre dialoga a nível de base com a Santa Casa da Misericórdia, o diálogo com a Segurança Social também muitas vezes é fraco e, portanto, temos aqui muito trabalho a fazer para conseguir que toda esta energia seja posta em sincronia e que trabalhemos todos um pouco para os mesmos objectivos, em vez de estar cada um no seu cantinho a tentar fazer o seu pequeno trabalho e desesperado porque não o consegue fazer. -------- ----- Era a reflexão que eu queria deixar e desejar-vos um bom trabalho e a certeza que desta reflexão irão surgir novas pistas, novas ideias e sobretudo mais vontade política para todos, cada qual de acordo com o seu posicionamento, mas para todos podermos fazer um esforço maior para responder a uma situação que é de crise e que para muitos dos nossos munícipes é de crise muito grave, muitas vezes sem saída. ----------- ----- Muito obrigado.” --------------------------------------------------------------------------- ----- Deputado Municipal António Pinheiro Torres, Presidente da Comissão Permanente de Intervenção Social e Promoção da Igualdade de Oportunidades da AML: ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- “Peço desculpa pela falta de protocolo, porque eu não devia falar depois, mas perceberão quando me ouvirem que me esqueci de pôr um sinal para agradecer. Este colóquio surge por iniciativa da Comissão, foi muito acompanhado pela Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, os serviços da Presidência da Assembleia Municipal de Lisboa e vários serviços da Câmara estiveram envolvidos, viram-se os cartazes por toda a Cidade, e nós temos que agradecer a muitas pessoas. Não vou referir todos, mas cada um que participou na organização deste colóquio sabe da nossa gratidão, mas um agradecimento especial à Joana Amaral, que foi uma peça fundamental para que nós hoje nos pudéssemos encontrar. --------------------------------- ----- Muito obrigado a todos aqueles que ajudaram para que este colóquio fosse possível.” ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- Deputada Municipal Deolinda Machado:--------------------------------------------- ----- “Bom dia a todas e a todos os presentes.------------------------------------------------- ----- Senhora Presidente da Assembleia, restantes colegas da Comissão de Intervenção Social, Senhoras e Senhores Deputados Municipais presentes, público presente também, trabalhadores desta casa, comunicação social, antes de mais os nossos agradecimentos pela vossa disponibilidade e pela vossa partilha, que ao longo do dia contaremos com ela. ----------------------------------------------------------------------------- ----- A situação social de Lisboa em tempos de crise foi o tema que encontrámos para hoje, que há alguns meses andamos a preparar, tendo em conta tudo aquilo que

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estamos a viver no País e aquilo que são as nossas preocupações de fundo, ou seja, aquilo a que a população de Lisboa tem direito, ter uma vida digna e que possa também proporcionar aos seus filhos, às gerações futuras, uma qualidade de vida que seguramente todos queremos assegurar. ------------------------------------------------------- ----- Sabemos que estamos num momento difícil. Portugal precisa efectivamente de políticas económicas e sociais que dinamizem a Cidade, que dinamizem o País. O sector produtivo é um dos que nós precisamos de activar rapidamente para criar mais e melhor emprego, para promover o aumento do poder de compra dos salários e das pensões, para melhorar as funções sociais do Estado e também ao nível da educação, da segurança social, da rede social como agora aqui foi referido. Por isso nós precisamos de activar um conjunto de serviços públicos e não só que sejam capazes de responder àquilo que a Cidade precisa e que o País precisa, ou seja, uma política efectivamente voltada para as pessoas, para aqueles que trabalham no seu dia-a-dia, que vivem do seu salário, que dinamizam este sector produtivo, micro, pequenas e médias empresas que dão trabalho também e por isso nós precisamos de uma política articulada. Acabámos de ouvir que assim não está a funcionar. ---------------------------- ----- Queremos que assim seja e que também ao nível da Europa haja mais solidariedade. Um modelo de desenvolvimento social europeu é o que se preconiza.”-- ----- Professora Eugénia Gamboa, Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa: --------------------------------------------------------------------------- ----- “O desafio que me colocaram foi falar sobre o desafio da questão social na política mas de uma forma mais abrangente, no fundo, para a colocação do problema. - ----- Assim, as minhas primeiras palavras são de agradecimento pelo amável convite para participar nesta conferência subordinada ao tema “A Situação Social de Lisboa em Tempos de Crise”. São iniciativas destas que contribuem para o debate aberto e transparente sobre temáticas que a todos preocupam e que merecem, pela sua importância, a participação e envolvimento dos cidadãos. ---------------------------------- ----- O conhecimento e o debate crítico são elementos fundamentais ao sistema democrático liberal e nesse sentido eu serei claramente crítica. Num tema tão rico e amplo como aquele para o qual me desafiaram, a dificuldade é sempre decidir qual o prisma a adoptar. Peço desde já a indulgência da audiência para a minha falta de criatividade. --------------------------------------------------------------------------------------- ----- A relação entre a política lato sensu e a sociedade é directa. Do mesmo modo, a relação entre política stricto sensu e as questões sociais, ou melhor, problemas sociais, é imediata. A política, quer no seu desígnio, quer na sua praxis de políticas públicas, depende em diferentes momentos da percepção do problema e das propostas de solução desse mesmo problema.---------------------------------------------------------------- ----- Esta relação explica, assim, que na génese de qualquer projecto de organização política da sociedade encontremos sempre questões sociais e que no século XX, virtude da profunda alteração da sociedade, se traduziram em problemas sociais. Nesse sentido, actualmente nenhuma proposta política democrática é insensível aos problemas sociais e todas elas, sem excepção, procuram traduzir em propostas o que consideram ser a prossecução da vida boa. Esse é o desiderato de toda a política.

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Nesse móbil de futuro existe uma dimensão presente de escolhas entre propostas de soluções alternativas que são sempre desenhadas em função da experiência do passado. ------------------------------------------------------------------------------------------- ----- O que desde a década de trinta do século XX assistimos foi um crescimento contínuo do Estado em peso e dimensão nas sociedades ocidentais. Sobre esta temática já muito foi escrito e apenas recordava que, no extremo máximo de uma tabela imaginária que mediria o papel interventor do Estado na sociedade, encontramos sempre propostas totalitárias e não democráticas, quer elas fossem em nome da igualdade, quer elas fossem em nome da ordem. Na verdade, se apenas olhássemos para a evolução dos indicadores durante todo o século XX que medem o peso e o papel do Estado, pareceria inevitável que para a solução das grandes problemáticas sociais e económicas bastaria introduzir mais Estado na equação.-------- ----- Se no campo económico concluímos que a planificação excessiva e o controlo da produção se revelaram desastrosos e as sociedades encontraram modelos económicos de equilíbrio em que a intervenção do Estado ocorre quando os resultados expectáveis do livre funcionamento do mercado são contrários ao interesse geral, dando origem a que fosse desenvolvido para o Estado um papel regulador e supervisor, no campo dito social permaneceu cristalizada a ideia do Estado providenciador e aqui encontramos um crescimento sem paralelo do Estado que se desdobra em estruturas, organizações públicas, estruturas de ligação, de coordenação, e que traduzem na perfeição a chamada Lei de Wilson, a tendência das burocracias em não só justificarem a sua manutenção, como crescerem em dimensão, ou, como mais recentemente Arthur Seldon escreveu, “o Estado criou pretextos para a sua expansão”.------------------------- ----- De facto, como alguns autores dominam, assistimos a uma estatização da solidariedade. A estatização da solidariedade radica em dois paradigmas, o da eficiência e o da discricionariedade. O primeiro, a eficiência, é o que deriva da noção de que da profissionalização emerge necessariamente a eficiência, logo os resultados positivos seriam imediatos. Este princípio não tem nada de errado em si mesmo e trouxe grandes sucessos iniciais. No entanto, aportou também um efeito não querido, a presunção de que a partir desse momento, com profissionais competentes e adequados e meios suficientes, todos os problemas da sociedade desapareceriam. Os problemas não desapareceram. ----------------------------------------------------------------- ----- Mais grave, como Nathan Glazer alertou: ----------------------------------------------- "But a side from all these problems of expectations, cost, competency, limitations of knowledge, there is the simple reality that every piece of social policy substitutes for some traditional arrangement, whether good or bad, a new arrangement where public authorities take over, at least in part, the role of the family, of the ethnic, of the neighbourhood group, of the voluntary associations. In doing so, social policies weaken the position of these traditional agents and further encourage needy people to depend on government for help rather than on traditional structures."--------------------- ----- Como vimos, não só o Estado cresceu, como as expectativas das pessoas face ao Estado cresceram desmesuradamente e na incapacidade de a elas responder, o Estado é o alvo das maiores frustrações. ---------------------------------------------------------------

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----- Os portugueses, como Carlos Jalali bem demonstrou, estão muito insatisfeitos com o desempenho do Estado Português. ----------------------------------------------------- ----- O segundo paradigma a que eu chamava a atenção é mais profundo e prende-se com o princípio da discricionariedade. Isto é, os defensores do sistema monopolista da solidariedade argumentam que só desta forma é garantida a neutralidade do sistema de solidariedade social, ou seja, pressupõem que as instituições voluntárias, instituições intermédias espontâneas, na qual eu incluiria também a família, serão sempre tentadas a condicionarem e a emitirem juízos de valor sobre os beneficiários da ajuda. Ou seja, a centralização, a standardização, seria a fórmula eficaz para não permitir uma normatização do sistema.------------------------------------------------------------------------ ----- Também este paradigma está errado, mas persiste e a evolução que temos vindo a assistir ao nível das narrativas políticas neste campo, com apelo à subsidiariedade, mais do que um acto de fé, resultam da capitulação económica dos grandes projectos. - ----- Estes dois paradigmas ajudam a compreender porque é que em Portugal, no seu modelo da Europa do Sul, nas tipologias de segurança social apresentadas por Ferrera, os portugueses, apesar de serem aqueles que mais insatisfeitos estão com o desempenho do seu sistema de segurança social, mantêm a sua posição de se manterem muito favoráveis a uma maior intervenção estatal na protecção social. ------- ----- Os partidos portugueses traduzem essa tendência de grande aceitação de papel interventor e providenciador do Estado, que em Portugal é histórico. De facto, e comprovando as previsões de Kircheimer, “um apoio superficial mais amplo consegue ganhar eleições, ao passo que um apoio profundo e limitado não”. Ou seja, os programas dos dois principais maiores partidos portugueses são vagos e nas matérias sociais não se apresentam com diferenças significativas. Ou seja, temos um ambiente cultural favorável à presença e predomínio do Estado, elevadas expectativas e equivalentes frustrações. Um Estado pesado no seu aparelho burocrático e cada vez mais desajustado aos novos contextos. -------------------------------------------------------- ----- Nenhum destes aspectos seria problemático se funcionasse, ou seja, se fosse o Estado a solução dos problemas. Não é e nunca foi. ---------------------------------------- ----- Não se trata de não haver dinheiro suficiente, de não pagar os suficientes impostos, de haver ineficiências e disfuncionalidades e má distribuição, apesar destas últimas asserções serem verdadeiras. O Estado não consegue resolver os problemas porque, pura e simplesmente, não pode, porque na sua esmagadora maioria a solução destes problemas escapa à acção do Estado e encontra-se ou no indivíduo, ou nos círculos de proximidade e porque, sobretudo, o modelo de bem estar que está instituído desprezou por demasiado tempo o papel das formas de convivência espontânea.---------------------------------------------------------------------------------------- ----- É necessário não acabar com o Estado, mas redimensioná-lo na sua dimensão e funções e ajustá-lo às realidades complexas. É precisa coragem de propor um novo modelo de administração, que não seja um mero ajustamento da administração pública webereana que esteve na base do que hoje nós conhecemos como Estado, ou seja, uma tradução de uma visão em que os indivíduos estariam na sua maioria das vezes desinteressados na participação cívica e política e que seria a elite que definiria o

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interesse público, dado que a cidadania de massas implicava mais exigências. Criava-se um aparelho burocrático que geriria áreas fundamentais como a educação, a saúde, etc., através de respostas standardizadas e administrativas. --------------------------------- ----- Nem o modelo webereano, nem, diria eu, a aplicação crua do modelo empresarial que muitas vezes é desadequada à actividade no domínio público. Deve ser uma mistura de ambos os sistemas. ------------------------------------------------------------------ ----- Parece ser evidente que o fornecimento de serviços já não é justificação suficiente para a intervenção do Estado, financiado pelos cidadãos, quer sejam fornecidos directamente por privados ou por adjudicação. O móbil que deve estar por detrás da actuação deve ser o seguinte: o serviço prestado cria valor? Esta pergunta só pode ser respondida por um sistema que seja por um lado flexível, adaptável, perpetuamente monitorizado e avaliado, porque numa era de informação e de comunicação global a noção de cidadania mudou do pressuposto da cidadania passiva para a cidadania activa, porque temos que assumir uma visão absolutamente despreconceituada relativamente à prestação de serviços, aberta à possibilidade de que uma prestação de serviços poderá provir do melhor fornecedor, quer ele se encontre no sector privado, público ou do voluntariado, porque ciente dos seus próprios limites o Estado, numa ênfase de desafio e de mudança, tem de ser capaz de impor a redução e extinção de programas e serviços porque, face à experiência acumulada, sabemos hoje que não é a igualdade na justiça social que ambicionamos, mas sim a equidade na justiça social, o que implica não tratar todos da mesma forma, mas de acordo com as suas circunstâncias e que implica também não ser uma questão apenas de recursos, mas fundamentalmente a forma como as pessoas utilizam os recursos, o que induz a uma responsabilização do indivíduo e uma valorização da escolha pessoal. -------------- ----- É necessário criar uma nova administração pública, é necessário criar um novo Estado. Deixemos de lado os mitos ideológicos que tão amiúde condicionam o debate e assumamos que repensar a justiça social, o papel e a dimensão do Estado, valorizar estruturas intermédias e as políticas de proximidade, são traduções num processo de tentativa e erro que sempre esteve por detrás do verdadeiro progresso das sociedades. - ----- Muito obrigado.” --------------------------------------------------------------------------- ----- Doutora Ana Cardoso, Socióloga do CESIS, Centro de Estudos Para a Intervenção Social: ----------------------------------------------------------------------------- ----- Os meus agradecimentos pelo convite que me foi dirigido pela Comissão Permanente de Intervenção Social e Promoção da Igualdade de Direitos e de Oportunidades. ----------------------------------------------------------------------------------- ----- Faço questão, embora tenha mantido o título da minha intervenção, de fazer aqui apenas uma correcção. Eu não sou da universidade, sou um elemento de uma organização que centra a sua actividade na investigação e, como tal, na produção de conhecimento, mas é uma entidade autónoma que, embora estabeleça relações com diferentes universidades, não faz parte de nenhuma universidade. ------------------------- ----- Com a minha comunicação não queria de maneira nenhuma fazer um diagnóstico da situação social da Cidade de Lisboa, até porque, como muito bem a Sra. Arqtª. Helena Roseta referiu há pouco, o diagnóstico está feito. Aquilo que eu irei de facto

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fazer é apenas a minha leitura desta questão social, tendo em conta exactamente duas questões centrais. Por um lado porque, como há pouco referi, estou envolvida numa organização que realmente estuda não só a Cidade de Lisboa em particular, de facto estuda a questão social no País, mas porque estou também envolvida numa organização que simultaneamente pretende e sempre pretendeu pôr ao serviço da comunidade o conhecimento que produz, realizando um conjunto de projectos de intervenção que muitas das vezes nos conduz a outro tipo de questionamento. ---------- ----- Gostava de fazer aqui uma breve introdução, dizendo que falar da crise actual é antes de mais falar de um conjunto de crises e muito particularmente de um corolário de transformações que as nossas sociedades em geral e muito particularmente a sociedade portuguesa têm vindo a sentir nas últimas décadas. Se nós quiséssemos fazer uma definição das sociedades actuais, nós diríamos que realmente elas são palco de múltiplas de complexas transformações, que nos torna cada vez menos claro delimitação de campos do conhecimento que até há pouco nós podíamos dizer que esta é área da economia, está é a área do social, esta é a área da política. ----------------- ----- Se realmente quisermos, uma das grandes transformações é que hoje em dia a complexidade da questão social nos remete, talvez “puxando um bocado a brasa à minha sardinha”, para a centralidade social, mas simultaneamente para as relações extraordinariamente intrincadas que se estabelecem de uma forma cada vez mais forte entre diferentes áreas do conhecimento e também da actuação da vida política. --------- ----- Obviamente que não quero ser exaustiva, mas remetendo-me para aquilo que é a realidade da situação social da Cidade de Lisboa, eu diria que as áreas mais marcantes dessas transformações se situam ao nível daquelas cinco dimensões que ali temos: demografia, família, economia/mercado de trabalho, migrações e consumo. ------------- ----- Lisboa é antes de mais, e peço desculpa, a minha cidade. Foi aqui que eu vivi durante muito tempo até ser expulsa para a periferia, como muitos de nós também, mas ao contrário de muita gente que é hoje população residente da cidade, eu nasci aqui e é a cidade onde eu gosto de voltar, pelos meus afazeres profissionais e não só. É a cidade com a qual me sinto identificada e quando me perguntam de onde sou eu digo que sou de Lisboa. Não sou de facto do concelho onde hoje moro. ------------------ ----- Mas mais do que isso, Lisboa é a Capital do País, capital de metrópole e outrora de um mini-império, que felizmente se desmoronou. Nesta mesma perspectiva, é aqui que se cruzam e que se calhar se tornam mais evidentes essas tais ditas transformações que há pouco enunciámos. ---------------------------------------------------------------------- ----- Antes de mais, do ponto de vista da demografia, nós temos o envelhecimento da população. Lisboa, em 2009, tinha 24% da população com mais de 65 anos. Isto significou, em relação aos últimos Censos, não um aumento extraordinário a população idosa mas, se tivéssemos a oportunidade de detalhar, com certeza que aqui está um envelhecimento progressivo, com o aumento das chamadas pessoas muito idosas, isto é, o aumento das pessoas que ultrapassaram a fasquia dos 75 anos. Isto, para além de uma situação pura e simplesmente demográfica, remete-nos para o questionamento inclusivamente do ponto de vista das respostas, porque com este envelhecimento nós temos duas situações que me parecem importantes: -----------------

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----- Por um lado nós temos pessoas idosas cada vez mais escolarizadas, cada vez mais exigentes do ponto de vista dos serviços que pretendem e aos quais querem aceder. Por outro lado temos um aumento das questões da dependência e muitas das vezes das doenças demenciais, o que me leva a crer que precisamos de rever com urgência os serviços que prestamos a esta população. Provavelmente não vamos precisar de tantos equipamentos, mas vamos precisar cada vez mais de um reforço dos serviços de proximidade. ------------------------------------------------------------------------ ----- Por outro lado, temos a dimensão da família. Não tenho dados para vos trazer, porque pensei que eles estavam relativamente desactualizados e ainda por cima face aos cartazes que o INE anda a anunciar com o novo censo da população, mas de facto estas são as tendências a nível nacional. Nós temos famílias mais pequenas, concumitantemente com uma diminuição do número de crianças na família, que é como quem diz uma tendência muito grande para o filho único. As crianças passaram a ter um outro valor no seio da família, não só um valor afectivo, mas elas deixaram de ser entendidas como um ganho e passaram a ser entendidas como um custo, em que há que fazer um esforço financeiro cada vez maior na educação das crianças. ----------- ----- Simultaneamente, em paralelo com o envelhecimento da população, nós temos um aumento das famílias com pessoas idosas, um aumento do número de pessoas a viverem sós e, finalmente, uma diversificação muito grande dos modelos ou dos tipos de família. Refiro, por exemplo, que em 2001 nós tínhamos 18% de famílias monoparentais e vamos ver o que os Censos 2011 nos vão trazer. ------------------------- ----- Relativamente às questões do mercado de trabalho, a comunicação seguinte dará com certeza informação mais detalhada sobre essa questão, mas não há dúvida nenhuma que uma das questões mais importantes é o aumento do desemprego. Essa talvez seja a expressão mais flagrante da actual crise e, portanto, números publicados pelo próprio IFP de Fevereiro de 2011, nós tínhamos no final do mês um registo nos centros de emprego da Cidade de Lisboa de 23.396 pessoas. Correspondia, em relação ao período homólogo, a um ligeiro decréscimo, mas o que significa que é muita gente registada no centro de emprego e são sobretudo pessoas à procura de um novo emprego, o que significa entradas e saídas cada vez menos frequentes no mercado de trabalho e que estas pessoas tiveram uma experiência, ou seja, é um valor desperdiçado para a sociedade. Não quer dizer que as pessoas à procura do primeiro emprego também não o sejam, mas aqui há certamente, ainda que por via da precarização, um know how desperdiçado por via desta questão do desemprego.-------- ----- Lisboa sempre foi um pólo de grande atracção da população, tivemos nos anos 60-70 Lisboa a crescer exponencialmente à custa dos movimentos internos de população, que vinham para a cidade à procura de melhores condições de vida, sobretudo à procura do emprego que se estava a criar na indústria e que muita dessa mão-de-obra foi depois canalizada para os serviços, para um sector de serviços algo desqualificado. A seguir ao 25 de Abril tivemos outros fluxos migratórios, desta vez com origem fora do País e muito particularmente fora da Europa, e desde então para cá esses fluxos diversificaram-se e tornaram a cidade mais plural desse ponto de vista das origens da população e do ponto de vista cultural. --------------------------------------

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----- Nós temos a residir em Lisboa nesta altura cerca de 52.000 pessoas estrangeiras e tudo isto faz com que a Cidade de Lisboa seja realmente a cidade na plena acepção da palavra, uma cidade plural, uma cidade diversa, uma cidade multi-cultural, mas também uma cidade dual. Nessa dualidade nós temos aqui vários factores que, no fundo, acabam por trazer essa dualidade à cidade. Por um lado temos freguesias muito envelhecidas, freguesias como Alvalade, São João de Brito, onde mais de 33% da população, de acordo com os Censos de 2001, era população envelhecida. Por outro lado temos freguesias ainda relativamente jovens, como seja a Charneca e a Ameixoeira, por exemplo.----------------------------------------------------------------------- ----- Temos uma cidade fragmentada do ponto de vista da educação, ou seja, temos freguesias com uma população altamente qualificada do ponto de vista escolar e temos freguesias onde o analfabetismo ainda é uma característica muito importante, como por exemplo as freguesias de Charneca e de Marvila. -------------------------------- ----- Peguei há pouco nas estatísticas de uma escola que serve um bairro onde nós estamos a intervir, onde o insucesso escolar de uma escola do 1º ciclo é de 23% e nesse agrupamento escolar o insucesso sobe aos 25%. Isto é uma coisa impressionante, arrasa qualquer perspectiva de futuro, qualquer perspectiva das pessoas por si próprias criarem e rentabilizarem as suas próprias energias para melhorarem de vida. ----------------------------------------------------------------------------- ----- Aquilo que me parece interessante dizer, sobretudo em tempos de crise, onde se fala também cada vez mais da chamada nova pobreza, deixem-me dizer que esta nova pobreza surge, e peço desculpa porque é “um osso do ofício”, convidaram-me a mim e eu tenho que falar destas questões, no fundo a nova pobreza emerge num contexto de persistência da chamada velha pobreza. Portugal é um País que ainda não conseguiu resolver o problema de pobreza persistente que, pelo menos desde que eu comecei a trabalhar, se verifica no contexto da sociedade portuguesa.--------------------------------- ----- Os últimos dados publicados de um questionário realizado em 2008 mas que na realidade se refere a 2007, infelizmente as estatísticas não acompanham o dinamismo social, é verdade que estamos aqui a olhar para números que nesta altura devem estar altamente subavaliados, nomeadamente pelas questões do desemprego que há pouco enunciei, mas nesse ano nós tínhamos 18% da população numa situação de pobreza. Quando digo numa situação de pobreza refiro-me a uma população que aufere rendimentos abaixo de um limiar que está consensualizado a nível europeu, 60% do rendimento mediano, que no caso da sociedade portuguesa era à época de 406 euros por mês, por adulto equivalente. No intervalo explico o que é o adulto equivalente, agora não posso porque ultrapassava o tempo, mas são economias de escala, uma panela de sopa numa economia de cinco pessoas não custa exactamente o mesmo que uma panela de sopa produzida para uma família de duas pessoas, porque se eu quiser engrossar basta pôr mais uma cenoura e um bocadinho de água. Basicamente, é a mesma fórmula de cálculo do Rendimento Social de Inserção.----------------------------- ----- Do ponto de vista da variável idade há dois sectores da população particularmente fragilizados, por um lado a população idosa, que é aquela que mais sensibiliza a opinião pública. Tradicionalmente a população idosa é uma população de

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risco, de vulnerabilidade em relação à questão da pobreza e uma vez mais, tendo em conta os dados do mesmo questionário, 22% da população com 65 e mais anos estava numa situação de pobreza, mas poucas vezes se fala da questão da pobreza infantil. Fala-se do ponto de vista, porque nomeadamente quando a estratégia europeia remeteu para a elaboração de planos nacionais de luta contra a pobreza Portugal identificou como uma das metas a erradicação da pobreza infantil, algo que de facto nós não conseguimos fazer. Em 2008 nós tínhamos 23% da população com idades inferiores a 17 anos numa situação de pobreza, e estes são os grupos etários que a própria União Europeia constitui, sendo que enquanto a taxa de pobreza entre os idosos diminuiu, a taxa de pobreza infantil aumentou. -------------------------------------- ----- Aqui temos que ressaltar o papel fundamental de uma medida política como foi o Complemento Solidário Para Idosos, por exemplo, mas por outro lado, se passamos a enquadrar única e exclusivamente a criança como membro da família e não como um sujeito de direitos e, como tal, como sujeito integral alvo de políticas de natureza social, nós corremos de facto o risco de aumentar sistematicamente a taxa de pobreza entre a população mais nova, com todas as consequências que daí advêm para a construção de uma sociedade mais coesa no futuro. ----------------------------------------- ----- Porque é que temos menos crianças? Obviamente porque ter mais crianças num agregado familiar é também um risco, risco que aumenta quando há apenas um adulto na família que pode obter rendimentos através do trabalho. -------------------------------- ----- Um outro elemento que faz relação com a questão do desemprego tem que ver, obviamente, com a vulnerabilidade da população desempregada a este fenómeno, mas deixem-me dizer que Portugal é conhecido na União Europeia pela elevada taxa daquilo a que nós chamamos os working poor. Obviamente que a integração no mercado de trabalho protege e muito em relação à pobreza, mas não protege na totalidade e, portanto, quando muitas das vezes nós dizemos que as pessoas recusam empregos, as pessoas desmotivam-se… ------------------------------------------------------- ----- Não querendo ultrapassar o tempo que me foi destinado, uma das coisas que mais me sensibilizou no contexto da avaliação de um projecto de intervenção na zona norte do País, dirigi-me a algumas pessoas e variadíssimas delas disseram frases que, no fundo, podem ser sintetizadas nesta: “o dia mais triste da minha vida é quando recebo o ordenado, ele é tão pouco e está tão comprometido que vai-se logo”. ------------------- ----- Isto não é para desmotivar as pessoas a entrarem no mercado de trabalho, muito pelo contrário, mas é exactamente para todos valorizarmos a força de trabalho como algo absolutamente indispensável, por um lado para o bem estar da economia e, por outro lado, para o bem estar pessoal e social. ------------------------------------------------- ----- Termino esta questão dizendo que temos 18% da população numa situação de pobreza, mas se não houvesse transferências sociais algumas a pobreza subia para 41%. Eu faço aqui a minha declaração de voto: eu não quero estar numa sociedade onde 40% da população esteja numa situação de pobreza. Se eu retirar as pensões e retirar todos os benefícios sociais, RSI, subsídio de desemprego, a pobreza sobe para 41%. Se eu retirar os benefícios sociais e mantiver as pensões, a pobreza passa de 18 para 25%. O que significa que, apesar de tudo, para além daquilo que são as

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prestações que advêm do sistema contributivo, simultaneamente as prestações que são pagas directamente pelo Orçamento Geral do Estado têm uma componente importantíssima de protecção a este importante risco social. ------------------------------- ----- Vou terminar dizendo que, no fundo, olho para o tecido social e vejo algumas destas questões, claro que vimos muito mais, olho para o funcionamento das instituições e inclusivamente para o funcionamento da minha própria instituição e vejo a necessidade urgente da instituição de novas práticas. Nós temos que nos reinventar, se calhar reinventar uma outra sociedade, um ou outro modo de funcionamento, mas nisso não somos parte activa. Eu não sou um elemento de nenhum partido político e assumo-me como uma agente política. Aquilo que eu faço no meu território, seja produzindo conhecimento, seja intervindo, eu estou de facto a fazer política e neste sentido eu sou também um elemento absolutamente indispensável para protagonizar essa mudança e, ao nível dessa mudança, fazendo um pouco a ponte com aquilo que a Senhora Vereadora trazia, é preciso que as instituições confiem umas nas outras e transmitam de facto uma noção de confiança para a população. --------------------------------------------------------------------------------- ----- Há pouco a Doutora Eugénia Gamboa referiu que os portugueses são das populações mais insatisfeitas com o seu Estado, um estudo recentemente realizado sobre as necessidades sociais da população portuguesa veio exactamente revelar que uma das grandes questões é a falta de confiança das pessoas nas instituições, tanto nas públicas como nas privadas. Nós temos que ser agentes da tecelagem que é necessário fazer para repor essa confiança, que se constrói, entre outras coisas, com uma atitude de negociação e de participação, onde todos têm que ter um papel importante. --------- ----- A população tem que ter um papel activo na definição de algumas linhas de intervenção e, obviamente, as instituições têm que olhar para dentro de si próprias, porque muitos dos trabalhadores e trabalhadoras de algumas instituições, neste caso estou a falar das instituições sociais, são simultaneamente aquilo a que nós chamamos muitas das vezes a população alvo num contexto de alguns projectos. Nós, instituições sociais, empregamos, digamos assim, muitas daquelas populações que noutros contextos de intervenção nós dizemos que são população alvo. ---------------------------- ----- Se apregoamos a participação por um lado, devemos ser coerentes com essa lógica e fomentar uma vida de participação interna, onde haja realmente respeito por todos os elementos que constituem as organizações numa perspectiva em geral. -------- ----- A terceira questão diz respeito à partilha, de conhecimento e de recursos, porque hoje em dia não há recursos que sejam próprios e absolutamente indexados a uma única organização. Temos que ver em cada um dos territórios como partilhar um conjunto de recursos e sobretudo como partilhar conhecimento e informação.----------- ----- Ora, centralidade nas relações significa quase criar uma quadratura do círculo, porque as nossas organizações são verticais, não são horizontais. Nós temos uma verticalidade interna e temos uma verticalidade na forma como nos relacionamos entre outras instituições e isto é extraordinariamente importante, por exemplo, no contexto de uma rede social, que é uma teia de organizações entre as quais se devem estabelecer relações de horizontalidade e, como tal, de forte cooperação. Muitas das

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vezes isto remete para que haja como que uma espécie de um puzzle, em que o campo que anteriormente definia uma instituição pode estar a ser invadido, no bom sentido da palavra, por uma outra instituição, sendo que as fronteiras se tornam cada vez mais diluídas e mais flexíveis neste mesmo sentido. ----------------------------------------------- ----- Finalmente, a dimensão do conhecimento. A pergunta que aqui vos deixo é se agimos de acordo com o nosso conhecimento, ou muitas das vezes agimos de acordo com outro tipo de lógica nem tantas vezes assim tão transparente. Portanto, o desafio que eu faço é uma vez mais às universidades e a mim própria de pôr cada vez mais ao serviço da população o conhecimento que produzimos e que esse conhecimento seja aproveitado, seja maximizado, por aquilo que são os actores locais. Eu tenho que agir de acordo com o diagnóstico e não agir ao lado muitas das vezes, sobre lógicas muitas das vezes até mais mediáticas. Neste sentido, nós estávamos numa lógica de organizações aprendentes, inovamos em função do conhecimento, trabalhamos no sentido da formação das pessoas que elas constituem e criamos a mudança organizacional. ----------------------------------------------------------------------------------- ----- Uma vez mais, finalizando a minha intervenção, digo que o grande desafio está em criar uma nova consciência social. Não há vontade política que não se baseie numa consciência social forte, que tenha capacidade de assumir os problemas que existem, que dê importância ainda àquilo que é a componente social do Estado, sendo que falo do Estado numa perspectiva ampla, e sobretudo que conduza a que as instituições se assumam efectivamente como garantia daquilo que são os direitos socialmente consignados. ----------------------------------------------------------------------- ----- Como dizia o Fernando Pessoa, “não te acomodes com aquilo que não te faz feliz, revolta-te quando julgares que é necessário, enche o teu coração de esperança mas não deixes que ele se afogue nela.”------------------------------------------------------- ----- Muito bom dia. Obrigado.”---------------------------------------------------------------- ----- Doutor Tiago Cunha, Economista do Gabinete de Estudos da CGTP: --------- ----- “Muito bom dia a todos. ------------------------------------------------------------------- ----- Antes de mais, a CGTP agradece o convite para participar nesta sessão, esperando poder contribuir para o aprofundamento da situação social em Lisboa, tendo em conta este cenário de crise prolongada com que a população da Cidade, do País e um pouco por toda a Europa e pelo mundo, estão confrontados. ------------------- ----- Quando fomos convidados para participar nesta nossa sessão, enquadrávamos o problema do trabalho na questão da crise e começámos por nos lembrar daquilo que era dito no início da crise. Nós tínhamos num momento inicial, 2008, crise do sistema financeiro e havia declarações de que o sistema não seria igual, que haveria alterações profundas no sistema económico, uma crise que durante alguns meses fez esquecer a velha tese do “menos Estado” e que a intervenção do Estado se devia circunscrever apenas a pequenas falhas de mercado num curto prazo que os mercados não conseguiriam resolver.--------------------------------------------------------------------------- ----- Uma crise que levou os estados a injectar milhões e milhões na esfera financeira da economia, desbaratando desta forma os orçamentos nacionais à custa dos impostos pagos por todos para socializar os prejuízos de uns poucos. Foi este o estado inicial de

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uma crise que, sendo simétrica na sua origem, se repercutiu de forma assimétrica, destapando fragilidades económicas e estruturais de economias mais débeis, abalando a solidez de outras, com quebras imediatas no emprego, no financiamento da economia, no comércio internacional, nas contas públicas e na procura interna.--------- ----- Quebras nos rendimentos das famílias, e hoje já falámos nisto aqui, quer daqueles que têm origem no trabalho, quer daqueles que têm origem nas prestações sociais, mas que não atingem, e isso hoje ainda não falámos aqui, os fabulosos lucros dos grandes grupos económicos, inclusive daqueles que têm a sua actividade exclusivamente na área financeira. Antes pelo contrário, desde 2008 que se assiste a um processo de concentração e recomposição dos grandes grupos económicos, com lucros líquidos crescentes, que só no ano de 2010 superam os 10 mil milhões de euros, considerando aqui apenas o universo das 20 empresas que compõem o PSI 20. --------- ----- Se a crise na sua fase inicial indiciava uma alteração no funcionamento da economia, os desenvolvimentos recentes demonstram que não só não se vislumbra uma alteração de fundo, como se aprofundam em toda a linha as causas que conduziram à crise e que são, nos dias de hoje, a causa de recessão e de estagnação económica, segundo dados saídos ainda agora pelo Governo no âmbito do PEC 4. O próprio Governo dá como certo já um cenário de estagnação económica, que o Banco de Portugal, no último boletim de Inverno, já indicava que era de 1,3%. ----------------- ----- Temos mais desemprego, temos mais dependência externa e estamos numa situação de perpetuação de fragilidades económicas que afectam o País. ----------------- ----- Não é novidade o contexto em que Portugal se viu envolvido na crise. A primeira década do século XXI ficou marcada pela constante divergência em termos de crescimento económico com aquilo que foi a média da União Europeia. A dívida pública disparou de pouco mais de 50% do Produto Interno Bruto, em 2000, para mais de 85% em 2010. O deficit passa de 2,9 para 8,5%. O investimento público tem uma quebra média anual ao longo destes 10 anos, da primeira década do século XXI, de 3,7%. A produção industrial tem também quebras anuais médias de 1,8% ao longo da primeira década. O desemprego passa de uma taxa oficial de 4% em 2000 para 10% em 2010, estando já hoje a taxa oficial nos 11% e em termos reais temos perto de 770 mil desempregados, qualquer coisa como 13,6% da população activa, e destes perto de 200 mil estão na região de Lisboa. Durante o dia também vai haver este aprofundamento das questões do desemprego no distrito em outras intervenções.------- ----- Estes indicadores que acabamos de referir, na opinião da CGTP, são elucidativos de uma questão central e que tem que ser aqui discutida. A política que vem sendo implementada é economicamente errada e socialmente injusta. Uma linha política que aposta em exclusivo nas exportações e na produção dirigida à procura externa, assente em baixos salários. Um quadro de crescente e total abertura do comércio deixaram não só a fragilidade desta linha, como uma opção por uma política de rendimentos que se ajusta a estas necessidades e não às necessidades e anseios das populações. ---------- ---- O PEC, Programa Para a Competitividade e Emprego recentemente apresentado, o sector exportador é mesmo visto como a alavanca para se sair da crise. Isto conduz-nos a uma questão que para nós é central e fundamental, que é a política de

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rendimentos e aqui até alargamos o âmbito de comparação para os últimos 30 anos e vamos ver como é que tem sido valorizada a prestação de trabalho e como tem sido valorizada a parte que recai sobre o capital. Em 1975, 60% daquilo que era a riqueza criada recaía sobre o trabalho. Hoje, nos últimos dados que existem do Banco de Portugal, de 2009, 34,1% é a parte da riqueza criada que vai para os salários sob a forma de retribuição líquida. ------------------------------------------------------------------- ----- Temos, a par desta desvalorização monetária do trabalho, uma degradação qualitativa do mesmo. A precariedade laboral, a par do desemprego, é hoje uma realidade incontornável com que cada vez mais trabalhadores estão confrontados. Desde 2003 até 2010 o número de trabalhadores com contrato a prazo subiu mais de 12% no Distrito de Lisboa, sendo esta a situação de um em cada quatro trabalhadores assalariados no nosso Distrito.------------------------------------------------------------------ ----- As alterações à Lei Laboral em curso, recentemente apresentadas, com a facilitação e o embaratecimento dos despedimentos e as alterações nos horários de trabalho são elucidativas da tal linha de ataque a direitos dos trabalhadores, duramente conquistados e que consubstanciam aquilo que de mais positivo, na nossa opinião, a nossa sociedade tem. As perspectivas que hoje se colocam a quem entra e a quem permanece no mundo do trabalho são as de regressão de direitos, de instabilidade laboral, de insegurança e de baixas remunerações.------------------------------------------- ----- Para aqueles que vivem essencialmente da sua capacidade de trabalhar, a tradução directa destes tempos modernos é assim de retrocesso social e temos como justificação apresentada para esta imposição de retrocesso social que vivemos acima das nossas possibilidades, que estes sacrifícios são necessários para podermos pagar aos credores, aqueles que sustentaram durante um determinado número de tempo esta nossa vida acima das possibilidades.----------------------------------------------------------- ----- Nós enquadramos estes que defendem o indefensável, dizendo que a culpa é de todos os portugueses porque gastámos o que não devíamos e agora estamos na bancarrota, logo temos que nos submeter às exigências dos credores. Nós dizemos aos que dizem isso se porventura esquecem que as medidas que foram impostas para reduzir o deficit público não tiveram na sua base um consumo excessivo de todos os portugueses, mas o recurso que teve que se fazer para apoiar as empresas, o sector financeiro, o aumento com prestações sociais numa altura inicial da crise, se porventura se esquecem disto. E perguntamos mais, perguntamos se foram todas as categorias sociais que provocaram a crise, se são aqueles que vivem com o Rendimento Social de Inserção, o salário mínimo ou mesmo o salário médio, que em Portugal é de 777 euros, que vivem acima das suas possibilidades.------------------------ ----- Não ocorre a quem defende o indefensável, aqueles que dizem que todos os portugueses vivem acima das suas possibilidades, que talvez não seja assim? Que apenas um grupo restrito vive acima das suas possibilidades e que esse grupo cerceia a milhões de outros e mesmo ao País a possibilidade de uma vida digna? ----------------- ----- Dez mil milhões de euros para 20 grupos económicos, já depois de impostos, não é uma fonte à qual o Estado devia recorrer em tempos de austeridade e de sacrifícios?-

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----- Transportando para a realidade de Lisboa, será justo dizer que são os 43 mil desempregados do Distrito, que não auferem quaisquer prestações sociais, aqueles que vivem acima das possibilidades? Ou que são os 430 mil trabalhadores no Distrito que não têm contrato permanente aqueles sobre os quais devem recair as medidas de austeridade? Será economicamente certo e socialmente justo dizer à generalidade da população que para ter acesso a um conjunto de bens e serviços deve continuar a recorrer ao crédito, tendo em conta a estagnação e a diminuição dos salários e das prestações sociais? ------------------------------------------------------------------------------- ----- Nós entendemos que a resposta é clara e que não, que a resposta à presente crise não pode passar por cortar aos mesmos de sempre e que passa desde logo por pôr a pagar quem mais tem e quem mais vai ganhando na actual situação de crise, mas a resposta de longo prazo tem que ser mais alargada e tem que ter em conta uma alteração profunda do modelo de desenvolvimento em todos os seus domínios. --------- ----- No convite que nos foi feito pedia-se que colocássemos o problema do trabalho enquadrado na questão social. As alterações que se estabelecem entre o trabalho e todo o modelo económico no País não podem ser desligadas, como não pode ser desligada a análise à inserção internacional de Portugal, mas cabe também reflectir o que pode fazer uma Cidade, mesmo sendo a Capital do País, para inverter esta situação. O que podem fazer os eleitos na Assembleia Municipal para resolver o problema da falta de emprego, de baixos salários, de precariedade com que milhares dos seus munícipes se vêem confrontados? Com a força, a dimensão, a força de trabalho qualificada e preparada que existe na Cidade, Lisboa pode reivindicar e potenciar uma outra política. ------------------------------------------------------------------- ----- Para a CGTP, somos a favor desde logo por uma mudança na política daquilo que concerne à Europa, que efective a solidariedade entre os países, que reduza o poder dos mercados, que afirme e desenvolva o modelo social europeu. Dizemos não a taxas de juro exorbitantes que estão a ser exigidas aos países em dificuldades e que significam transferências de rendimento a favor dos países mais ricos e da população mais favorecida. Defendemos que os países se possam financiar junto do Banco Central Europeu a taxas de juro mais baixas. Vimos exigindo de forma sistemática a regulamentação e o repensar das agências de notação e o seu papel. Somos pela criação de uma taxa sobre as transacções financeiros e somos pelo controle democrático das políticas económicas. -------------------------------------------------------- ----- Defendemos a redução progressiva do deficit público de forma a não penalizar o desenvolvimento dos países. Este corte abrupto do deficit público e esta intenção de colocar o deficit das contas públicas em 2013 é uma irracionalidade económica. Está-se a prejudicar o crescimento económico do nosso País e com efeitos óbvios na população de Lisboa, como não poderia deixar de ser. -------------------------------------- ----- Entendemos que o País não pode ser confrontado a políticas que criam sempre mais austeridade, mais desemprego e mais precariedade. A presente situação do mercado de trabalho é insustentável. Portugal foi o segundo país da Europa onde a destruição de emprego foi mais violenta, tendo em conta o impacto da crise, logo a

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seguir à Espanha. Só nos últimos três anos no nosso País foram destruídos mais de 300 mil empregos.-------------------------------------------------------------------------------- ----- Portugal não precisa de destruir mais emprego, essa é uma falsa questão. Portugal precisa de políticas económicas que criem emprego, porque só assim é possível reduzir o desemprego. Em vez disso, aquilo a que assistimos é que se quer reduzir a despesa do desemprego por via de mais cortes no subsídio quando, no final de 2010, mais de 45% dos desempregados, cerca de 250 mil pessoas inscritas nos centros de emprego, não têm qualquer prestação face a esta vicissitude de não terem emprego.---- ----- Por isso a CGTP vem lutando pela melhoria da protecção social no desemprego e não a sua redução. As vítimas destas políticas são os trabalhadores, que vêem os seus empregos postos em causa e os salários serem reduzidos. São os desempregados, são os pensionistas, são os grupos sociais vulneráveis, como os que recebem o Rendimento Social de Inserção, mas são também os jovens que não têm perspectivas de futuro, que têm o risco mais elevado de desemprego, que têm uma precariedade ainda mais elevada que os outros estratos e camadas sociais.------------------------------- ----- O País está a comprometer o futuro e nem os jovens mais qualificados são poupados. Basta olhar para o tipo de emprego que é oferecido pelo centro de emprego, onde mais de três quartos dos contratos são a prazo e os salários oferecidos estão cada vez mais baixos. --------------------------------------------------------------------------------- ----- Precisamos de políticas que assegurem o futuro e não de políticas que continuem e aprofundem a estagnação económica. Neste quadro, é necessária uma política de revitalização do tecido produtivo, que promova a criação de riqueza e potencie uma força de trabalho com capacidades e conhecimento mais elevado que a precedente. Também já foi referida aqui esta realidade de termos hoje uma força de trabalho com qualificações, conhecimento e capacidade que está a ser desaproveitada. ---------------- ----- A destruição da capacidade produtiva tem sido especialmente severa aqui no Concelho de Lisboa, e agora referimo-nos ao Concelho. O número de trabalhadores no sector secundário caiu mais de 3% entre 2007 e 2009. Em termos de empresas, a quebra foi de 2,4%. No espaço de dois anos perderam-se 100 empresas da indústria transformadora e perto de 2 mil empregos nesta área no Concelho de Lisboa. ----------- ----- Na nossa opinião, contribuir para a inversão da dinâmica de destruição de postos de trabalho, potenciar a instalação de mais empresas que acrescentem valor e o distribuam entre os trabalhadores, são passos que podem e têm que ser empreendidos com urgência em Lisboa e no País. Reclamar mais investimento público para atingir estes objectivos é um imperativo, não sendo, no entendimento que fazemos, aceitável o corte de 34% nas verbas do PIDAC a que o Concelho está sujeito em 2011.----------- ----- O descontentamento e a indignação que se verificou em Lisboa e no País, nomeadamente nas últimas semanas, confirmam que é necessário empreender uma mudança que coloque a economia ao serviço das pessoas.---------------------------------- ----- Obrigado.”----------------------------------------------------------------------------------- ----- Doutora Teresa Craveiro, Coordenadora da Equipa de Projecto do Programa Local de Habitação, da CML:---------------------------------------------------

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----- “Eu queria perguntar à Professora Eugénia Gamboa se para além de toda uma análise que faz do Estado, se por parte da Universidade há até hoje alguma monitorização do sistema. Ou seja, afigura-se-me que no estado em que estamos não basta avaliar ideologicamente o processo, as universidades têm que contribuir para a monitorização do mesmo sistema, se é um sistema misto que temos que trabalhar. ----- ----- Perguntava-lhe se há por parte da Universidade Católica alguma abordagem concreta do que são os pontos fortes e fracos do sistema e do que nós podemos melhorar nessa caminho.” ----------------------------------------------------------------------- ----- Professora Eugénia Gamboa, Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa: --------------------------------------------------------------------------- ----- “É uma boa pergunta. O Instituto dos Estudos Políticos é relativamente recente, mas eu digo-lhe que por exemplo a Universidade de Aveiro tem feito um óptimo trabalho e é mais focada em termos de políticas públicas e administração pública. Aliás, eu referi várias vezes o trabalho do Carlos Jalali, do André Azevedo Alves, que são pessoas que estão desde há algum tempo a trabalhar nesta área.----------------------- ----- O Instituto dos Estudos Políticos tem uma análise política e daí eu peço desculpa, porque tinham-me pedido para fazer uma abordagem um pouco teórica, sabendo de antemão que as outras abordagens seriam mais práticas. Talvez não tivesse sido tão prática quanto gostaria e optei por uma abordagem mais teórica. -------------------------- ----- O que eu chamei à atenção é que efectivamente, quer por via da crise que estamos a passar, quer por via dos tais paradigmas que eu chamei à atenção, vamos ter que mudar, o Estado vai mudar efectivamente e essa mudança, quando eu falei da monitorização e avaliação, é uma monitorização e uma avaliação que é feita pelos próprios. Nesta chamada nova gestão pública, numa nova forma de pensar a administração pública, que tem sido desenvolvida principalmente a partir de 2001-2002, em que vários autores têm vindo a escrever sobre esta matéria, a ideia fundamental é que as fontes de legitimidade já não estão apenas nos eleitos e, portanto, na administração central. A legitimidade ficou mais difusa e é uma legitimidade que assenta fundamentalmente numa cidadania activa que, aliás, a Doutora Ana Cardoso acabou por chamar à atenção. ---------------------------------------- ----- Hoje em dia o cidadão não é passivo, mas sim activo e nesse sentido eu chamei á atenção que nós temos que mudar, porque o paradigma sobre o qual nós todos construímos a ideia de Estado e administração pública e, portanto, os serviços, é um paradigma weberiano e nesse sentido partia do pressuposto dessa tal cidadania passiva e no pressuposto das elites.---------------------------------------------------------------------- ----- As recentes manifestações e aquilo que está a acontecer em todo o mundo mostra bem que a cidadania passiva já não existe e o que nós temos cada vez mais é uma cidadania activa. E mais, não só temos que contar com essa cidadania activa, mas temos também nesta nova forma de pensar a administração pública que contar com o know-how, com o conhecimento dos técnicos e dos especialistas que trabalham os campos. É um sistema muito mais intrincado, mas é um sistema que assenta fundamentalmente na escolha do indivíduo e na responsabilidade do indivíduo. Nesse

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sentido é muito liberal e daí que eu tenha evitado um pouco entrar naquilo que são as propostas políticas. ------------------------------------------------------------------------------- ----- Um dos principais problemas que nós encontramos hoje é que há uma desadequação das propostas políticas à realidade. Nós temos propostas políticas que estão um bocadinho condicionadas a uma realidade que está a mudar cada vez mais depressa e as universidades têm o dever de estar um pouco à frente do tempo, ou seja, de ir apresentando aos cidadãos, colocando para crítica, novas propostas que vão surgindo. Não quer dizer isto que as novas propostas sejam mais correctas do que as que já existem, mas só através de tentativa e erro, só através do debate é que nós poderemos efectivamente avaliar aquilo que temos e aquilo que temos hoje não é bom.------------------------------------------------------------------------------------------------ ----- O Doutor Tiago chamou a atenção para uma série de aspectos dos quais eu discordo, como compreenderá, de grande parte deles. Falar da crise, voltarmos ao paradigma do Estado como fornecedor está-se a esquecer que os países que estão a recuperar mais rapidamente das crises são países de economia de mercado. Se calhar não é a economia de mercado que está errada, se calhar é Portugal na sua estrutura económica que estava errado e é isso que temos que procurar, temos que tentar verificar. ------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Também aquilo que referiu quanto à diminuição do investimento público é verdade, mas em termos de investimento nas questões sociais houve um crescimento a partir de 2002. Foi um crescimento relativamente sustentável até 2007. ------------------ ----- Eu tenho algum cuidado neste tipo de análise. As universidades têm o dever efectivamente de ir analisando, de ir propondo e ir esclarecendo e nem eu nem nenhum dos meus colegas nos coibimos de vir a qualquer debate público, a qualquer sessão de esclarecimento e abertamente colocar aquilo que nós pensamos que sejam as melhores soluções, ou aquilo que actualmente está a ser discutido a nível internacional. A academia é internacional e, portanto, o conhecimento é praticamente universal. Nós todos vamos aprendendo com aquilo que os outros vão descobrindo, é no fundo uma eterna procura do benchmarking. Nós estamos sempre à procura daquilo que parece responder melhor e corresponder melhor à realidade concreta. É isso que a Ciência faz.”-------------------------------------------------------------------------- ----- Senhor João Martins:--------------------------------------------------------------------- ----- “Eu fiz a pergunta à Doutora Ana Cardoso e a minha pergunta é a seguinte: ------- ----- É claro que a Doutora pôs aqui o dedo na ferida principal da nossa crise, que é a nova consciência social. O que é que teremos que fazer para ir alterando a consciência social? Porque sem ela não vamos a lado nenhum. ------------------------------------------ ----- Gostava que a Doutora nos desse aqui mais do seu grande conhecimento e também agradecer-lhe a sua grande intervenção.--------------------------------------------- ----- Muito obrigado.” --------------------------------------------------------------------------- ----- Doutora Ana Cardoso, Socióloga do CESIS, Centro de Estudos Para a Intervenção Social: ----------------------------------------------------------------------------- ----- “Muito obrigado pela questão, mas se eu tivesse resposta… não tenho resposta.---

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----- É um processo em construção. Eu acho que uma das primeiras grandes etapas é realmente o debate, debatermos as coisas com base em factos, com base em conhecimento produzido, e criar uma dinâmica de interpretação sobre esses mesmos factos e uma partilha de ideias e de conhecimento. Eu acho que essa é a primeira questão.-------------------------------------------------------------------------------------------- ----- A segunda é, obviamente, criar-se a oportunidade para esse debate, que é como quem diz criar a tal dinâmica de participação, de cidadania activa. Quando há pouco deixei aquela frase do Fernando Pessoa não era propriamente para incitar à revolta, era para incitar à inquietação.------------------------------------------------------------------- ----- Comecei a minha carreira profissional por escrever, por produzir investigação e nomeadamente por escrever sobre a Cidade de Lisboa, mas se nos ficarmos só pela análise dos números nós esquecemos o que está por trás deles, que é exactamente o rosto das pessoas.--------------------------------------------------------------------------------- ----- Esta interacção entre aquilo que é uma interpretação dos fenómenos, mas simultaneamente uma proximidade com a realidade, eu acho que é uma das tais novas etapas, um dos caminhos que a própria academia tem que fazer se quiser também ser um elemento activo na tal criação de uma nova consciência social. ----------------------- ----- Para mim é mesmo nova, porque questionar o papel do Estado é uma das dimensões em cima da mesa. Não me parece de todo, sobretudo tendo em conta o estado em que nos encontramos, mas neste caso a situação social em que nos encontramos, que possamos tomar como bom um mercado entendido desta forma e que ainda por cima é também uma entidade sem rosto. Eu desconfio das entidades sem rosto e, como tal, esta questão da produção de uma nova consciência social significa que as instituições se assumam, mesmo a um nível mais micro.----------------- ----- A tal dinâmica de partilha, a tal dinâmica de cooperação, nós só podemos fazer se conhecermos as instituições e conhecer as instituições não é única e exclusivamente ler os relatórios que elas produzem, é conhecer as pessoas que estão. A construção da consciência social é uma coisa extraordinariamente importante, exactamente porque as pessoas contam, porque são elas que sentem os problemas e, por outro lado, são elas que podem ultrapassar e construir as tais ditas soluções, que também só podem ser colectivas. ------------------------------------------------------------------------------------- ----- Esse é o grande desafio em que nos encontramos nas sociedades actuais, que é a interessante dimensão de criação de pontes entre aquilo que são as questões absolutamente individuais e pessoais e as questões colectivas. Uma vez mais querendo dar exemplos, nós até somos conhecidos a nível internacional por termos muitas das vezes legislação de ponta e depois, do ponto de vista da sua implementação, ela fica muito aquém, porquê? Porque são as pessoas que a implementam. Quando dizemos que todos nós somos actores de política é exactamente por isso.--------------------------- ----- Houve uma ocasião em que o CESIS se candidatou a uma determinada medida de política num concelho dos arredores da Cidade de Lisboa e, porque uma das pessoas que era responsável por gerir essas medidas não concordava com as ditas, nós nunca conseguimos ter acesso às mesmas. Isso porque foi a pessoa, não foi a instituição. -----

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----- Construir uma consciência social significa também construir uma cidadania que é também individual e onde as pessoas contam, aquilo que eu penso conta. Isso tem que ser um trabalho que as instituições têm que fazer e que cada um de nós tem que pensar, sobretudo em termos de futuro, em que sociedade é que eu quero viver e que papel é que quero ter nessa mesma sociedade. Qual é o papel que eu dou a mim própria na construção da tal vida boa e, fazendo novamente a ponte com a frase do Fernando Pessoa, na construção da minha própria felicidade. ------------------------------ ----- Uma sociedade coesa é uma sociedade, à partida, onde as pessoas se sintam bem e onde as pessoas sejam felizes. ---------------------------------------------------------------- ----- Deputado Municipal António Pinheiro Torres, Presidente da Comissão Permanente de Intervenção Social e Promoção da Igualdade de Oportunidades da AML: ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- “As minhas questões são muitas, eu depois abordarei os conferencistas, mas enuncio-as porque pode mais alguém ter as mesmas perguntas e assim vamos juntos falar com os conferencistas.--------------------------------------------------------------------- ----- Uma pergunta era para a Professora Eugénia Gamboa, que eu creio que participou num estudo sobre políticas públicas e família, no Instituto de Estudos Políticos, onde era estabelecida uma relação também sobre as estruturas familiares e a questão da pobreza e a situação social. Era interessante mas depois perguntarei em privado e quem mais estiver interessado.------------------------------------------------------ ----- Quanto à Doutora Ana Cardoso fiquei com duas dúvidas daquele género que sempre se quis perguntar e nunca houve coragem. Aquela questão das famílias numerosas e da pobreza, que é completamente verdadeira, aliás, eu sou membro da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas e conhecemos esse fenómeno, mas ao mesmo tempo a família numerosa também pode ser um factor de melhoria da situação social. Estou a pensar que uma família numerosa, e estou a falar por uma experiência pessoal, tem mais condições por exemplo de assistir os seus idosos, tem mais gente que pode passar lá por casa, que pode visitá-los, pode lá ficar a dormir, etc., do que aquela que esteja reduzida apenas a um filho. ------------------------------------------------ ----- Fiquei com curiosidade de saber se lá no Centro, ou noutras coisas em que esteja envolvida, se esta questão foi estudada. ------------------------------------------------------- ----- Também ando aqui com uma pergunta há anos, mas falo consigo no intervalo, que é a relação entre as qualificações e a situação social. Até mesmo olhando para esta geração que se manifestou, eu ando com imensas dúvidas que toda esta qualificação contribua para a melhoria da situação social. ------------------------------------------------- ----- Por fim, pareceu-me que na intervenção do Doutor Tiago Cunha tinha uma crítica implícita a uma economia virada para a exportação. Não sei se percebi bem ou não e fiquei cheio de curiosidade de saber porquê. Vou ter consigo ao intervalo, bebemos um café e explica-me isso. ---------------------------------------------------------------------- ----- Depois havia uma coisa completamente de estatística e essa pergunta é a única que faço porque num segundo me responde: qual é a população que trabalha em Lisboa e, dessa população, qual é de Lisboa. Não sei se isto é possível saber ou não.” - ----- Doutor Tiago Cunha, Economista do Gabinete de Estudos da CGTP:----------

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----- “Eu não tenho esses dados e acho que é complicado. O INE não desagrega essa questão das pessoas que trabalham em Lisboa e que são ou não de Lisboa.” ------------- ----- Padre José Luís Costa, Prior de Linda-a-Velha, Presidente da União Distrital de Lisboa das IPSS: ----------------------------------------------------------------- ----- “Em primeiro lugar, saudações e cumprimentos a toda a assembleia aqui presente e agradecer à Senhora Presidente da AML o convite para poder estar aqui hoje em nome da União Distrital das IPSS. ------------------------------------------------------------- ----- A União representa neste momento 450 instituições espalhadas pelo Distrito de Lisboa e directamente na área da Cidade são 100 instituições. ----------------------------- ----- Em jeito de partilha, começar por vos dizer que também sou de Lisboa, nascido num sítio muito clássico, a Maternidade Alfredo da Costa, na década de 70, e depois criado e educado num bairro também muito curioso que já aqui foi referido hoje, em Marvila. Não sei quais eram os índices na altura da eficácia do sistema educativo, mas penso que houve algum sucesso comigo e, portanto, fico grato se estiver aqui alguém que tenha trabalhado nesses bairros, porque alguma coisa boa vai surgindo e com certeza muitos mais, como eu, a Cidade vai dando.------------------------------------------ ----- Como nota de rodapé, comentar a temática que me foi proposta em termos gerais, tempos de crise. Eu acho que é ousado dizermos que estamos em crise. Em crise está o Japão e a Líbia, nós estamos numa situação difícil. Provavelmente estamos numa situação de crise mais institucional que geral, mas que vale a pena reflectir sobre ela e acima de tudo dar um sinal e uma imagem de alguma coesão e de alguma liderança neste aspecto. Se nós próprios nos assustamos, o que fará o resto.------------------------- ----- Depois, chamar á atenção que estes processos de crise, vou dizer uma coisa horrível, mas são necessários. São os momentos em que nós percebemos que as nossas respostas já não são respostas e por isso temos que, com muita humildade, reorganizar o que sabemos e conhecemos para, com muita humildade, construir novas respostas. Nesse sentido, saúdo os organizadores deste encontro, exactamente pelo desafio e pela audácia de propor este fórum de reflexão.------------------------------------ ----- Eu vou retomar outra vez a palavra “crise” para dizer que, apesar de não estarmos na situação do Japão e da Líbia, a situação que vivemos de crise institucional vai-se reflectir com alguma gravidade e de uma forma violenta nos pobres. Como sabeis, também o conceito de violência é um conceito relativamente complicado e para o qual eu chamaria a atenção, não o querendo esgotar, que temos que considerar não só a pobreza no seu aspecto mais físico e financeiro, mas também no seu aspecto anímico e intelectual, o qual nunca podemos esquecer nas nossas leituras e nos nossos dados. -- ----- Poderia falar de uma longa lista daquilo que poderemos considerar os pobres, mas hoje vou reter-me só, talvez por influência mediática mas também pela constatação diária e permanente, que no leque dos pobres os nossos idosos ocupam uma franja bastante importante, não só pelo seu número e alguns dados já foram aqui colocados pela Doutora Ana, mas de facto é do nosso conhecimento que em algumas freguesias de Lisboa os idosos já superam os 35% da população. Naturalmente que obriga-nos a olhar a sua forma de estar. -------------------------------------------------------

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----- Uma grande parte deles vive com pensões baixas, garantidas pelo Estado e pelos seus serviços. Este problema também já foi aqui abordado na comunicação anterior. Possuem níveis baixos de formação escolar, apesar da emergência agora de um sector da terceira idade que já vem mais escolarizado e mais erudito. Curiosamente, também ocupam o parque urbano mais degradado e envelhecido da cidade, vivem em pequeno agregado ou em solitário e, não raro, são suporte económico ainda de uma segunda e uma terceira geração. ---------------------------------------------------------------------------- ----- Nesta comunicação irei abordar, com o me foi pedido, a questão do urbanismo, mas aqui tenho um certo receio porque estou a meter-me em áreas que não são as minhas e neste caso apenas falarei como leigo na matéria.---------------------------------- ----- Lisboa é uma cidade antiga, o que a torna de facto uma pérola valiosa até no património mundial, mas ainda não conseguiu sair do risco de se tornar uma cidade velha, pela perda da escala humana, à qual ainda não houve resposta e onde ainda se situa muita nostalgia dos antigos bairros. Eu lembro-me perfeitamente de como era a minha vida, a seguir à escola íamos jogar à bola para a rua. Tínhamos lá um senhor inspector simpático a morar junto à nossa casa, mas tínhamos que ver se o carro dele estava à porta para depois podermos ir jogar à bola. Nós sabíamos que era proibido, mas era um espaço muito interessante de socialização e da relação. Há muita desta nostalgia ainda em muitos “alfacinhas”, particularmente nos idosos que tiveram esta experiência. --------------------------------------------------------------------------------------- ----- Continuam bastantes edifícios devolutos, ou parcialmente ocupados, criando zonas de deserto nos interiores da cidade e, acima de tudo, algo que é colossal, que é a invasão do espaço comum pelo automóvel. Numa cidade com mais de 500 mil habitantes entram mais de 400 mil automóveis todos os dias. Não sei se estes dados estão certos, obtive-os pela internet mas por vezes os indicadores nem sempre são os mais correctos.------------------------------------------------------------------------------------ ----- Temos também grandes áreas da cidade que funcionam como cidade de serviço das nove às cinco e onde uma franja muito grande da população foi procurando os arredores, inclusive eu, não por vontade mas por imposição, onde o espaço é maior e o preço é menor. ------------------------------------------------------------------------------------ ----- Nos idosos, que consequências isto tem? Particularmente nas franjas mais fragilizadas? Eu elenquei apenas um, o auto-enclausuramento. A casa torna-se o único espaço seguro, que garante não só a integridade do idoso, bem como ainda o seu espaço de individualização. A rua é impraticável, seja pelo excesso de automóveis, seja depois das cinco pela solidão, ou pelo vazio. -------------------------------------------- ----- Bastantes edifícios da Cidade de Lisboa não têm capacidade de conceder acesso ao exterior a partir do momento em que as capacidades físicas dos idosos se vão reduzindo. O abandono do pequeno comércio e o cada vez maior distanciamento de núcleos culturais e de recreação veio agravar o custo destes bens de primeira necessidade e até do próprio direito à recreação e posso, por exemplo, recordar-vos o salto que o gás em botija teve, quase 20%, e a forma como isto alterou muito das rendas familiares dos idosos, que ainda têm nas suas casas um sistema de abastecimento pelo gás de botija. A diluição das relações vizinais e familiares, fruto

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também de um conjunto de culturas e de linhas que vamos divulgando, consciente ou inconscientemente, e a ausência de papel social, com a perda de autonomia e o envelhecimento precoce. ------------------------------------------------------------------------ ----- Eu não gosto de deixar apenas uma mensagem negativa. Acho que fazer uma constatação das debilidades, particularmente numa franja que estará sujeita a grande pressão durante estes próximos dois anos, penso que não é o meu papel. O meu papel é aqui convosco reflectir que tipo de respostas podemos ensaiar e falando naquilo que é a minha ocupação e o meu trabalho, procurar respostas no campo directas e depois esperar que alguém possa reflectir sobre elas e dizer o que está a ser bem e mal feito. É neste sentido que eu colocaria este desafio. ------------------------------------------------ ----- Procurei definir o que é a cidade, não só a Cidade de Lisboa, mas o que é a cidade e lembrei-me de algumas coisas que aprendi nas minhas aulas de História Clássica. A verticalidade, a cidade pode-se definir, depois a Senhora Arquitecta dir-me-á se estou correcto ou talvez não, pode-se definir por uma verticalidade. Já temos desde as grandes experiências urbanas das cidades clássicas, os latinos já tinham e chamavam-lhe “ínsula”. Achei muita curiosidade à palavra, porque é a palavra que também designa ilha. Um prédio habitualmente de quatro andares para as classes mais baixas da antiga Roma era definida como ínsula e nós continuamos com a palavra para definir a ilha, aqueles espaços fechados, rodeados de mar.---------------------------- ----- Que desafios esta verticalidade nos dá? Ela é contra-natura, nós somos seres de horizontalidade. Nós olhamos para os lados e para a frente, só olhamos para baixo e para cima se nos sentirmos ameaçados ou em insegurança. Também me recordo que um dos factores muito curiosos da minha própria educação de rua foi a horizontalidade, aquilo que na altura, coitada, espero que Deus a tenha em descanso, a velhota que vivia à frente do chafariz e que fazia o report das minhas actividades durante a tarde ao meu pai. Espero que Nosso Senhor a tenha em descanso e que pelo menos reze por mim, para eu não passar tanto tempo quanto aquele que merece as más palavras que tive com ela. A relação interpessoal segue esta inclinação horizontal. ---- ----- A partilha de espaços comuns na vertical é sempre reactiva, é sempre o vizinho de cima que faz o barulho e é sempre o vizinho de baixo que se queixa de mim. Algumas das respostas que vamos ensaiando geralmente para este tipo de acção tem a ver com o anonimato e com o distanciamento, evitamos por princípio conflitos e procuramos que apenas na altura da reunião de condóminos se possa resolver a circunstância e a situação. De facto, cada prédio é uma ínsula.----------------------------- ----- No entanto, também fui habituado a ver, também fruto da minha educação, que qualquer obstáculo se pode tornar uma oportunidade. Esta verticalidade que define as cidades e de alguma forma norteia o anonimato dos nossos cidadãos, ela tem de facto oportunidades riquíssimas. Há uma proximidade física real, não é necessário percorrer quilómetros e quilómetros para encontrar aqueles que são necessitados, porque estão logo ali, são próximos, apesar do bloqueio do anonimato, do “vive e deixa viver”. Eu vou falar agora fora de Lisboa, vou falar de Linda-a-Velha, demoro 15 minutos a atravessar Linda-a-Velha, num sítio onde moram 27 mil habitantes. Isto é real, é uma oportunidade, é um ponto positivo. ------------------------------------------------------------

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----- Há também uma unidade concreta neste espaço físico, que é mensurável e onde eu penso que a sociedade civil tem um espaço natural de iniciativa e acção, que é o prédio, a ínsula, ou o conjunto de prédios. Eles próprios, ainda não de uma forma global e organizada, mas têm já um pequeno ensaio organizativo, já se reúnem para tomar decisões sobre o edifício. ---------------------------------------------------------------- ----- Eu diria que como desafio, e sem perder o rumo da conversa, estou a falar ainda dos idosos, o primeiro passo seria de facto o desbloquear ao nível da unidade que é a ínsula, o prédio, a relação pessoal. Por quem? Eles próprios, pelos cidadãos dessa mesma unidade, dessa ínsula. Como? Motivando quem de responsabilidade, as estruturas políticas locais, culturais, recreativas, religiosas. Nós temos que propor aos moradores dos prédios que cuidem uns dos outros. ------------------------------------------ ----- Naturalmente que em muitas situações serão necessários catalisadores externos, são necessários organismos e instituições que tenham forte crédito de confiança e que tenham capacidade de proximidade. Aqui para mim falo e para as instituições que representam, nós somos chamados, IPSS e realidades similares, a ter uma capacidade de interacção com a comunidade que tem que ir para além dos quadros habituais de acção às quais estas instituições estão habituadas, não só sendo inovadores, mas acima de tudo sermos audaciosos na forma como o podemos ou devemos fazer.---------------- ----- Há que respeitar sempre, e apesar de tudo, aquilo que são as reais necessidades dos habitantes, principalmente do idoso, onde a mais valia começa por ser a valorização do próprio idoso enquanto ser. Isso revela-se através não só da manifestação do respeito por ele, respeito humano, como também de valorizar o tempo que se está com o idoso. A visita de circunstância é muito mais que uma visita de circunstância, é um sublinhar de que aquela pessoa, por muitas razões, tem pouca capacidade para sair da sua casa, sejam elas características físicas ou até mentais. Continua a ter o valor intrínseco da pessoa e o valor que eu lhe dou e, se quiserem, a prioridade que no conjunto de acções ao longo do meu dia concedo retirar 5 ou 10 minutos para perguntar como é que foi o dia e se precisa de alguma coisa.--------------- ----- Eu recordo que muitos de nós temos tempo, andamos todos afogados em tempo mas temos tempo. Não demora muito a distância do elevador à porta daquele que, porventura, pode precisar de um contacto humano. ------------------------------------------ ----- Naturalmente que é preciso também respeitar as iniciativas vizinais e familiares, sublinhando o princípio da subsidiariedade. Estas pessoas sabem por vezes o que é que é mais necessário e o facto de não poderem comunicar como estamos à espera, não fazendo um relatório, não tendo as palavras certas ou a nomenclatura correcta, elas sabem o que é necessário, sabem o que precisam e nós temos que pelo menos respeitar essa proposta, esse pedido, esse anseio e sermos muito claros nas respostas que damos. Ou podemos responder ou não podemos responder e, se não pudermos, devemos sempre dizer quem pode responder. ------------------------------------------------ ----- Ultimamente, por incapacidade, por ineficácia, temos sido pródigos em usar aquela táctica futebolística muito comum do “chutar para canto”. Quando não temos, só temos que dizer que não temos, não podemos ensaiar respostas para as quais ainda não temos capacidade. Isso tem que ser afirmado com bastante humildade, não

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podemos criar expectativas que depois não podemos realizar, sob risco de perdermos ainda mais credibilidade na interacção com eles.--------------------------------------------- ----- O que é que devemos evitar? Acima de tudo perceber que cada prédio é um prédio e cada agregado é um agregado, cada pessoa é uma pessoa. Evitar a tentação de respostas genéricas e típicas. Eu sei que porventura, em termos de equação económica, podem parecer as mais interessantes, mas às vezes não estamos a resolver, estamos a complicar. A tentação da institucionalização imediata é uma coisa terrível.-- ----- O olhar para uma certa lógica de “quotas de produtividade”, mas onde deveremos sistematicamente perder alguns recursos e algum tempo na criatividade e na disponibilidade para ensaiar novas soluções e para aguardar a sua maturidade.---------- ----- Evitar também a demissão, à qual está subjacente por vezes um certo desejo de estatização que coloca fora de decisão o envolvimento dos vários organismos, das várias estruturas, dos vários elementos do tecido social que deve ser envolvido na procura destas respostas. ------------------------------------------------------------------------ ----- Como resultado final desta minha intervenção, eu acho que esta situação de crise dirigida aos idosos poderá ser aplicável noutras realidades, mas aqui falo nos nossos seniores com mais de 65/70 anos, que vão crescendo em número nas nossas cidades, tanto mais que a sua longevidade vai durando. No meu lar tenho cinquenta pessoas, duas são centenárias e pela forma como estão ainda as vou ter mais uns anos, porque estão óptimas. Se podem estar assim no meu lar, ainda melhor estariam se nas suas casas tiverem as suas necessidades básicas resolvidas. -------------------------------------- ----- Numa segunda linha, as IPSS, as Autarquias Locais, as Misericórdias, todos aqueles que, em campo, diariamente intervêm, particularmente aqui procurando e ensaiando pequenas respostas localizadas. Nós, na União, não temos a pretensão de ter a chave do sucesso disto tudo, mas sabemos que há uma coisa que resulta, que são as pequenas experiências, que quando são ocasiões de sucesso devem ser partilhadas com o vizinho do lado e não estarmos à espera de ganhar um prémio simpático e chorudo de alguma fundação.------------------------------------------------------------------- ----- Por último a terceira linha, o Estado, as empresas, as ONG, toda aquela realidade que nos envolve, porque é impossível termos uma boa sociedade se não nos sentirmos bem nessa sociedade e se, acima de tudo, tivermos vergonha dessa sociedade. Nenhum de nós, por mais dinheiro que possa ter, se poderá sentir bem se na sociedade que o envolve a pobreza e acima de tudo o abandono continuam a ser sinais da ineficácia da nossa capacidade enquanto seres humanos. ----------------------------------- ----- É só um conjunto de sugestões. Sigam-nas se acharem interessantes. Nós, para as nossas bandas, em algumas das instituições, vamos começar a ensaiar estas respostas. Elas têm o tempo determinado pela quantidade de recursos humanos fundamentalmente e financeiros secundariamente. Se conseguirmos elencar estaremos sempre na disposição de partilhar convosco todos os bons resultados que daqui advierem. ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- Bom trabalho para todos e espero que este fórum continue a dar excelentes frutos.”--------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Vereadora Helena Roseta: ---------------------------------------------------------------

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----- “Quando estava a ouvir o Senhor Padre achei que a minha apresentação precisava de uns toques e, portanto, vou pedir um segundo para mudar a que tinha para outra que fiz, porque me parece que está mais correcta.-------------------------------------------- ----- Dizer-vos que eu sou a Vereadora responsável pelo pelouro da habitação. A intervenção que vou fazer aqui é sobretudo centrada nas questões da habitação, que é apenas um dos componentes da chamada questão social, aliás tradicionalmente, e é um dos componentes de algo que talvez ainda não tenha sido aqui, pelo menos na minha opinião, suficientemente frisado, dos direitos sociais da população portuguesa. - ----- A Constituição de 1976 reconhece um conjunto importantíssimo de direitos sociais que são fundamentais para que todas as pessoas, não só as famílias, mas as pessoas enquanto tal se considerem em plena cidadania e sabemos que muitos desses direitos sociais ainda não estão concretizados, provocando nas pessoas uma diminuição de cidadania e uma situação de pobreza. ---------------------------------------- ----- Eu tentaria, então, rapidamente dar-vos um panorama do que estamos a tentar fazer no pelouro da habitação da CML. ------------------------------------------------------- ----- Pensamos, em primeiro lugar, que o direito à habitação hoje em dia é considerado não apenas como um direito à habitação em sentido estrito, não é apenas ter direito a um tecto, mas é ter direito a um habitat, ter direito à cidade num sentido mais amplo do que é uma cidade, um conjunto de relações, um conjunto de oportunidades. Temos um programa muito específico que eu passo a apresentar, que são os BIP/ZIP de Lisboa.--------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Começo com uma citação do Poeta Herberto Hélder que eu acho muito bonita: “falemos de casas, do sagaz exercício de um poder tão firme e silencioso como só houve no tempo mais antigo.” ------------------------------------------------------------------ ----- A palavra do Poeta é muito importante, porque a casa é sempre mais que a casa. Mesmo as pessoas que habitam numa barraca, numa coisa sem condições nenhumas, numa roullote do Parque dos Artistas de Circo, para eles aquilo era a sua casa, uma coisa muito séria e muito antiga e temos que ter sempre isso em mente. ------------------ ----- A habitação é um direito fundamental da pessoa humana, reconhecido nas Nações Unidas e na Constituição da República. Só para dar aqui uma visão do mundo, que nós não estamos apenas num país isolado no planeta, há países com problemas gravíssimos neste momento, mas para vos dar um número que me parece importante: nos anos 90, menos de 1% da população mundial vivia em casas feitas por profissionais, arquitectos, engenheiros, etc., o resto vivia em casas auto-construídas ou feitas pelos saberes das comunidades. Isto é muito importante para a gente perceber o contexto em que a habitação surge. ------------------------------------------------------------ ----- Nos anos 80 também surgiram grandes discussões acerca do conceito de poder ligado ao problema da pobreza e percebeu-se a partir dessa altura, já se sabia antes mas talvez tivesse sido melhor monitorizado nessa altura, que a pobreza é pluridimensional. A pobreza nunca é uma coisa só, nunca é só falta de dinheiro, tem muitas dimensões. --------------------------------------------------------------------------------

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----- Este esquema é do Senhor John Freeman e diz que, no fundo, a economia do agregado familiar tem várias dimensões e que quando a pessoa fica abaixo de um limite mínimo entra em pobreza absoluta.----------------------------------------------------- ----- Uma dessas dimensões é a defesa do espaço vital, ou seja, a casa, mas pode haver outras, dinheiro, redes sociais, informação, tempo livre, trabalho, organização social, conhecimento, etc. Há outras redes e o facto disto ser assim explica porque é que tantas vezes a Câmara, por exemplo, realojou pessoas que vinham de barracas em casas bastante melhores e as pessoas acham que estão pior e pedem para voltar à barraca. Perderam poder noutras dimensões, ganharam naquela mas perderam noutras e temos que perceber isto quando falamos de habitação. ------------------------------------ ----- A habitação é também, por outro lado, um dos sintomas mais visíveis das desigualdades na Cidade. O Senhor Padre falou dos idosos, mas não é só, é muito visível nas diferenças dos bairros, os melhores e os piores, os bairros finos e os bairros pobres. É terrível, por exemplo numa escola, haver miúdos que não convidam os outros a ir lá casa porque têm vergonha de os levar àquele sítio. Isto existe ainda hoje na nossa cidade. ---------------------------------------------------------------------------------- ----- Aqui entra uma perspectiva que eu comungo um pouco, da posição que o Senhor Padre citou e também a Doutora Ana Cardoso, que é uma dimensão humanista. Ao fim e ao cabo, mesmo nas situações mais precárias, é sempre possível fazer um pouco melhor. Nós temos essas experiências e sabemos que as pessoas com a sua própria energia, mesmo em habitats muito precários, conseguem trazer alguma alegria e alguma qualidade de vida, sabendo que aquilo não é definitivo e que podem sempre melhorar. ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- Foi este conceito de habitat e não só de habitação que nós tornámos central no Programa Local de Habitação feito no mandato anterior e aprovado já neste mandato pela Assembleia Municipal e que coloca a habitação num triângulo, com a habitação de um lado, os espaços públicos e equipamentos noutro e a mobilidade e transportes no outro. É este triângulo que tem que melhorar. -------------------------------------------- ----- Fizemos um plano, ele foi discutido, foi apresentado, definiu-se uma série de objectivos que estão aqui assinalados, melhorar a cidade, atrair mais população, passar da crise à oportunidade. ------------------------------------------------------------------------- ----- Não sei se por acaso tiveram oportunidade de ver ontem à noite o Senhor Presidente da Câmara de Lisboa na televisão, mas ele disse um número terrível, disse que em 40 anos Lisboa tinha perdido 400 mil habitantes. Estamos a perder a um ritmo de 10 mil habitantes por ano e é por isso que a Doutora Ana Cardoso foi para a periferia, ela e muitos outros, porque a cidade está a proporcionar a habitação ou muito cara, ou uma habitação sem condições. As pessoas estão a sair e isto é um problema grave da cidade.----------------------------------------------------------------------- ----- Um dos nossos grandes objectivos era melhorar a qualidade não só das casas, mas dos bairros, da vida urbana, da coesão territorial.--------------------------------------- ----- Muito rapidamente dizer-vos, algumas pessoas saberão mas outras não, que Lisboa tem uma experiência enorme de habitação pública. Isto remete-nos à intervenção da Professora Eugénia Gamboa sobre a intervenção do Estado. Nós temos

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uma experiência de mais de cem anos de intervenção pública na habitação. As manchas negras que vêem no mapa da Cidade de Lisboa são bairros que tiveram origem social, casas económicas, casas de renda económica, etc. Hoje são bairros, muitos deles integrados e outros não. Por exemplo, o Bairro do Restelo começou por ser um bairro de casas económicas e é um bairro hoje completamente integrado na cidade. Outros começaram por ser bairros económicos e nunca deixaram de o ser e não estão integrados. Temos que perceber porque é que isto aconteceu. ------------------ ----- Temos o esforço do Município de Lisboa na construção de habitação municipal desde os anos 40, com uma força muito grande nesta fase final do século passado e que teve a haver com o Programa de Erradicação de Barracas. Hoje temos um conjunto enorme de bairros municipais, temos 70 bairros municipais na Cidade de Lisboa e mais 3 fora de Lisboa. Não sei se sabiam disto, mas a Câmara de Lisboa é dona de bairros sociais noutros concelhos, porque na altura era preciso realojar as pessoas e compraram-se. Os 70 bairros municipais ocupam toda a coroa da cidade, não estão concentrados só numa zona. Há uma grande concentração na zona oriental, há uma grande concentração na coroa norte, há aqui também na zona ocidental. Digamos que só na zona central é que não existem tantos bairros municipais, mas existem muitos fogos da Câmara dispersos nestas freguesias centrais da cidade. -------- ----- A primeira coisa que fizemos para perceber como é que vamos lidar com isto, agora que se diz que já se acabou com as barracas, o que é que vamos fazer a seguir, acabou-se com as barracas mas não se acabou com a habitação, como qualquer pessoa sabe no dia a dia. As pessoas não conseguem encontrar casa e há bairros que estão muito mal, o que é que vamos fazer? Fomos à procura desses bairros, de quais eram esses bairros que estavam muito mal. Começámos por encontrar algumas delimitações que já sabíamos onde iríamos encontrar carências, os bairros municipais, os bairros AUGI, vulgo clandestinos, que ainda existem na Cidade de Lisboa, alguns bairros antigos em reabilitação na zona da SRU Ocidental, alguns bairros que foram cooperativas e que estão com uma série de problemas, os bairros do Programa “Viver Marvila”, os bairros históricos. Juntámos isto tudo e ficámos com uma mancha, mas dissemos que isso não nos satisfazia, havia com certeza mais situações.------------------ ----- Fomos, então, à procura de um conceito a que nós chamamos Bairros de Intervenção Prioritária, bairros e zonas, que são os BIP/ZIP. São bairros que por razões sócio-económicas, urbanísticas ou ambientais, devem ser prioritários para a cidade. Não lhes quisemos chamar bairros críticos, porque achamos que isso é uma designação discriminatória, não quisemos chamar bairros problemáticos, não quisemos chamar bairros sensíveis, chamámos prioritários. É prioridade do interesse público, é prioridade do serviço público nos próximos dez anos fazer alguma coisa para que estes bairros tenham um tratamento preferencial e possam vir a ser integrados na cidade como os outros. ---------------------------------------------------------- ----- Fizemos vários exercícios para procurar indicadores para perceber isto. Tivemos muita dificuldade em procurar indicadores ambientais, mas quisemos pô-los aqui. Eles não estão ainda estudados por quarteirão e por prédio, ou por zona, mas quisemos pô-los aqui e só vou dar um exemplo para perceberem:-----------------------------------------

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----- O mapa de ecopontos da Cidade de Lisboa mostra claramente que, tirando a zona de Monsanto e do aeroporto, há uma densidade enorme de ecopontos na zona central e ela depois rarefaz-se nas periferias. Até nisto há desigualdade na população. Não é nos sítios onde há mais população que há mais ecopontos. Há uma desigualdade que tem a haver com o histórico à medida que as coisas foram crescendo, mas cria dificuldades nos bairros.------------------------------------------------------------------------- ----- Para definir os bairros prioritários fomos definir três dimensões: sócio-económica, urbanística e ambiental. Fomos aos dados que pudemos encontrar. Do lado ambiental fizemos pouco trabalho e eu tenho alguma esperança que agora, com os trabalhos da Agenda Local XXI seja possível, com a colaboração participada das pessoas ao nível das freguesias e ainda mais abaixo, conseguir aqui dados que são muito importantes, porque as questões ambientais hoje são cada vez mais importantes, mas trabalhámos os outros na medida daquilo que conseguimos encontrar. -------------- ----- Eu seleccionei, destes dados todos, alguns que me pareceram interessantes para aqui. Os dados que vou mostrar agora são de 2009, que a Santa Casa da Misericórdia nos forneceu. Isto é a concentração de beneficiários de prestação social por freguesias na Cidade de Lisboa, marcado a laranja aqueles em que as concentrações andam à volta dos 30% e a vermelho aquelas que chegam muito próximo dos 30%. -------------- ----- Nós temos já aqui duas realidades. Vocês vêm freguesias na periferia, neste caso Ameixoeira e Charneca, com uma concentração enorme de pessoas a viver de prestações sociais. Isto foi antes dos cortes, estamos a falar de Dezembro de 2009 e tínhamos na Freguesia da Ameixoeira quase uma em cada três pessoas a viver de prestações sociais, o que é uma dimensão brutal. -------------------------------------------- ----- Depois temos freguesias no centro da cidade também com problemas gravíssimos, Santa Justa, Socorro, São Miguel, onde é a população mais envelhecida. ----- Se formos discriminar isto com o Rendimento Social de Inserção, emerge de facto a Freguesia da Ameixoeira, a zona oriental da cidade e a zona central. Se formos ao Complemento Social Para Idosos vemos que é sobretudo a zona antiga da cidade, o que confere com a nossa experiência.---------------------------------------------------------- ----- Há pouco a Doutora Ana Cardoso falou do envelhecimento da população na Cidade de Lisboa, falou em 24% em 2008. Nós temos dados de 2001 e já davam valores altíssimos, mas o que eu penso que é impressionante é perceber que a taxa de envelhecimento na Cidade de Lisboa neste momento é igual à de Trás-os-Montes. As cidades de Lisboa e Porto perderam tanta gente nas últimas décadas como todo o interior do País. ----------------------------------------------------------------------------------- ----- Fala-se muitas vezes de desertificação como se fosse só um problema das aldeias, mas a desertificação está bem no coração das nossas cidades, no Porto, Lisboa, Coimbra, Setúbal, Faro, todas. Este é um problema real, grave, e a desertificação vem sempre acompanhada de um envelhecimento da população e de aumento da pobreza. Temos que ter isto em conta.-------------------------------------------------------------------- ----- Um indicador que vos posso dar, que penso que é importante, por vezes perguntam-me como é que a crise está bater nas famílias, só do lado da habitação, e não vou falar agora das outras dimensões, esta é a que eu conheço melhor, a Câmara

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gere 26 mil fogos de habitação social na cidade, que correspondem mais ou menos a 80 mil pessoas, a cidade terá 500 mil habitantes e, portanto, é uma percentagem muito grande da população. Esta população que vive nos nossos bairros municipais tem um mecanismo de ter uma renda apoiada ou social, porque tem rendimentos para isso, e além disso tem a possibilidade de pedir a redução de renda quando não tem dinheiro para a pagar. Em reduções de rendas nos últimos dois anos foram três milhões de euros, 1300 pedidos. ----------------------------------------------------------------------------- ----- A cobertura da rede de transportes é uma dimensão importante do habitat e há um mapa de temperatura que mostra as zonas bem e mal servidas, tudo o que está a azul é mal servido. A mesma coisa com as creches, tudo o que está azul é mal servido e são manchas enormes na cidade. A mesma coisa com o pré-escolar, mal servido. ----------- ----- Construímos uns indicadores sofisticados, não vou explicar como. Construímos na Cidade de Lisboa e ao nível de análise por quarteirão aqueles sítios onde se concentram os indicadores sociais mais graves e são os que estão assinalados aqui por vermelho e laranja. Fizemos a mesma coisa do lado urbanístico, os sítios onde se concentra maior número de casas por reparar, casas vazias ou casas muito antigas e vemos os vermelhos e os laranjas concentrados nas zonas mais antigas da cidade ou nos centros históricos da periferia. ------------------------------------------------------------- ----- Com isto construímos aquilo a que chamámos o indicador social e o indicador urbano, juntámos os dois, filtrámos as secções com valores mais elevados de uma coisa ou outra e, somando com aqueles bairros que já se sabia que eram problemáticos, chegámos a este mapa que chamamos fractura sócio-territorial. Com altíssima probabilidade, é nesta zona que vamos encontrar os sítios mais difíceis e que devem ser prioritários na Cidade de Lisboa. -------------------------------------------------- ----- Isto parece uma coisa muito abstracta, muito fria, só de números, mas é preciso fazer estas análises para encontrar as coisas.-------------------------------------------------- ----- Depois, em cima disto, com um processo participativo de consulta pública, com a colaboração da Assembleia Municipal também e dos Senhores Presidentes de Junta de Freguesia, fizemos uma identificação daquilo que chamámos bairros e zonas prioritárias, identificámos 67 localizações espalhadas como se vê no mapa e estamos a desenvolver dois tipos de operações nessas zonas: ------------------------------------------ ----- Uma operação imediata de dinamização de parcerias numa perspectiva que todas as pessoas que intervieram hoje têm falado, que é o envolvimento dos próprios. É fundamental o envolvimento dos próprios, as pessoas não são números. Uma operação imediata nesse sentido, que é o Programa BIP/ZIP;------------------------------------------ ----- Uma operação de regeneração, que demora mais tempo e que estamos a começar agora a lançar. ------------------------------------------------------------------------------------ ----- Isto implica participação das pessoas. As pessoas que estão no centro do problema, para elas o problema é sempre integrado. Todas as pessoas que fazem atendimento e que estejam nesta sala sabem que, quando uma pessoa se vem queixar, queixa-se de tudo ao mesmo tempo, não lhe passa pela cabeça queixar-se só do assunto da entidade com quem está a falar. Eles têm uma visão integrada de vivência e nós é que depois, nas instituições, separamos e partilhamos isto tudo. --------------------

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----- Neste momento o ciclo do Programa BIP/ZIP, que é anual, tem um milhão de euros a ser repartido por freguesias e associações que queiram fazer operações nos bairros BIP/ZIP. As candidaturas terminam no próximo dia 28 de Março e por isso é que eu acho que esta informação é relevante, podem candidatar-se freguesias ou associações. Isto está tudo online, se puserem “programa local de habitação” ou “BIP/ZIP” no Google vão parar à informação toda online.---------------------------------- ----- É importante que as pessoas saibam, nós fizemos alguma divulgação mas estas coisas nunca chegam a toda a gente. Estamos à espera das candidaturas, para ver se até ao final do ano, com este milhão de euros, conseguimos apoiar alguns projectos interessantes construídos nos bairros prioritários, para criar mais cidadania e melhores condições de vida dentro das escolhas que as pessoas vão propor. Os trabalhos são feitos pelos próprios, não são feitos pela Câmara.-------------------------------------------- ----- Finalmente, dizer-vos que, quanto a programas integrados, é mais complicado e demora mais tempo. Temos neste momento quatro operações no terreno, operações QREN financiadas pelo Quadro Comunitário de Apoio. Temos uma operação QREN de requalificação do Bairro Padre Cruz, que está a decorrer devagar mas com muita participação dos moradores e da junta de freguesia. Vamos iniciar uma operação QREN na Boavista, que é absolutamente necessária como o “pão para a boca”, um bairro com imensos problemas e onde é urgente esta operação QREN. Há um QREN que está a ser desenvolvido na zona da Mouraria e há um programa integrado da Câmara com o IRU nos bairros de Marvila.--------------------------------------------------- ----- O tom mais ou menos cor-de-rosa ou amarelado que aparece no mapa significa o tecido consolidado da Cidade de Lisboa e o que aparece riscado a azul é o tecido não consolidado a Cidade de Lisboa. Logo por acaso, os bairros prioritários estão quase todos em cima do tecido não consolidado e, portanto, não vão ser abrangidos pela estratégia de reabilitação urbana, a não ser que a construam. Neste momento a nossa tarefa é identificar nestes bairros que estão na zona não consolidada aqueles que precisam de programas de requalificação, para além do que já têm, e colocar isso em acção através de intervenção da Câmara Municipal, das juntas, dos serviços e de outras entidades públicas. ----------------------------------------------------------------------- ----- Peço desculpa se isto foi muito à pressa, mas estas são as ferramentas que nós neste momento dispomos para que a habitação continue na agenda da Câmara Municipal e dos direitos sociais e são as ferramentas para que se perceba que acabou uma geração de políticas de habitação, com o fim das “barracas”, começou uma nova geração de políticas de habitação com os bairros prioritários. ------------------------------ ----- Obrigado.”----------------------------------------------------------------------------------- ----- Doutora Vera Bicho, EntrAjuda – Associação Para o Apoio a Instituições de Solidariedade Social: -------------------------------------------------------------------------- ----- “Bom dia a todos.--------------------------------------------------------------------------- ----- Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, começaria por agradecer o convite que me foi endereçado.--------------------------------------------------------------- ----- As instituições que integram hoje aquilo que chamamos por “terceiro sector” ou “economia social” promovem a coesão social e a igualdade de oportunidades. A sua

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importância ao nível económico e social explica-se por criarem empregos em sectores que utilizam mão-de-obra intensiva, recorrendo a novas tecnologias e dando respostas para a inclusão, formação e integração dos mais vulneráveis. ------------------------------ ----- A nível europeu a economia social representa hoje 10% das empresas e instituições e 11 milhões de empregados. ----------------------------------------------------- ----- Em Portugal temos mais de 4500 IPSS, contribuindo para 5% do PIB e empregando 270 mil pessoas e envolvendo milhares de voluntários. ---------------------- ----- 2010 foi o ano de luta contra a pobreza e exclusão social.----------------------------- ----- Os bancos alimentares desempenham desde 1992, em Portugal, um papel relevante na temática do combate à pobreza e à exclusão social. O mesmo acontece com a EntrAjuda desde 2004, embora o seu trabalho seja mais estruturante e de capacitação da rede de assistência aos pobres.------------------------------------------------ ----- Por outro lado, dada a grande cobertura nacional dos bancos alimentares e da EntrAjuda, entendeu-se que seria uma boa oportunidade de lançar uma iniciativa que vigorasse para além dele, a criação de inquéritos regulares em instituições e famílias carenciadas, com vista à futura criação de um observatório de pobreza em Portugal. --- ----- São esses estudos que apresentamos hoje aqui. Foram realizados pela Universidade Católica Portuguesa através do CESOP e do Centro de Estudos do Serviço Social e Sociologia e tiveram o apoio dos CTT. Foram dirigidos às famílias e às instituições e distribuídos através da rede dos 17 bancos alimentares e da EntrAjuda, bem como das Conferências de São Vicente de Paulo. ------------------------ ----- Os objectivos gerais são detectar a pobreza, procurando detectar as suas causas para as poder corrigir e, talvez não menos importante, estudar as instituições de solidariedade social que lutam contra a pobreza no terreno. -------------------------------- ----- Pretendíamos caracterizar as pessoas carenciadas e os respectivos agregados familiares, quem são, como vivem, níveis de rendimento, acesso a subsídios, necessidades alimentares e de outros tipos - construir um perfil a nível nacional e regional das instituições de solidariedade social e das pessoas que apoiam. ------------- ----- Foram realizados dois questionários a uma amostra muito vasta, tendo inquirido 3.279 instituições e mais de 15.000 pessoas carenciadas. Estes inquéritos abrangeram Portugal Continental e Ilhas. ------------------------------------------------------------------- ----- Este estudo, de características inéditas, com recolha de dados através de uma rede muito capilar e envolvimento das instituições na recolha da informação e trabalho em rede, permitirá assim, termos um ponto de partida para algo que pretendemos acompanhar e estudar ao longo de vários anos, em séries longas, e constituindo um observatório da pobreza em Portugal. --------------------------------------------------------- ----- Do estudo ressaltariam as instituições; As instituições são uma rede muito capilar e disseminada territorialmente, concentrando-se nas regiões mais populosas. São de muito pequena dimensão. 28,5% têm uma estrutura equivalente à das microempresas, com menos de 10 colaboradores. 75% iniciaram a sua actividade depois de 1970, com particular incidência no período posterior a 1990, actuam numa base de proximidade, intervindo ao nível da freguesia e paróquia ou com âmbito municipal. Raras são as instituições que têm âmbito nacional.----------------------------------------------------------

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----- Em termos de estatuto jurídico, 1/3 aparece com o estatuto de associações, e 77% das organizações declaram possuir uma inspiração religiosa na sua actividade, representando a inspiração católica, 73% da amostra. -------------------------------------- ----- Em termos de serviços prestados, as instituições organizam-se em dois tipos de actividades, as chamadas valências e o apoio às famílias. No que diz respeito às valências, têm destaque o apoio à infância, com 42% e o apoio ao idoso, com 54,7%. 71,2% prestam apoio às famílias. Para além do apoio alimentar, as instituições prestam apoios diversos, como sejam candidaturas a apoios do Estado e da Segurança Social, formação profissional, serviços de saúde, apoios jurídicos, etc. ------------------- ----- Nos últimos 3 anos registámos um grande acréscimo nas procuras de apoio, que foi explicado, sobretudo, pelo desemprego (89%), pelo aumento das situações de endividamento, e por situações de divórcio e de abandono do lar. Como principal constrangimento à sua actividade apontam a escassez de recursos. ----------------------- ----- Em termos de principais solicitações, surge o apoio à gestão e organização, a formação de colaboradores e o apoio de voluntários qualificados. A maioria dos pedidos de apoio que chegam são directos, apresentados por vizinhos e familiares (a chamada rede informal) ou por encaminhamento institucional do sistema público de segurança social, Juntas de Freguesia e outras instituições de âmbito local. Nos últimos 3 anos registou-se um aumento dos pedidos de apoio, (a situação que anteriormente já tinha referido). ---------------------------------------------------------------- ----- Mas falemos agora das pessoas, de quem são as pessoas que precisam de apoio. Do ponto de vista demográfico, temos uma população envelhecida. Cerca de metade tem mais de 65 anos, com um nível de escolaridade muito baixo, 40% possui a 4ª classe antiga e 34% não tem qualquer instrução. Registe-se também que 93% da nossa amostra foi constituída por pessoas portuguesas. -------------------------------------------- ----- Em termos de rendimentos, metade dos inquiridos fica com 250€ por mês para viver e 90% tem rendimentos abaixo ou a rondar o ordenado líquido mínimo nacional. A grande maioria dos inquiridos encontra-se a receber reformas e pensões (60%), ou outro tipo de subsídios sociais (50%), apenas 19% refere que o seu rendimento lhe vem do trabalho. A situação laboral dos indivíduos é um dos factores mais importantes quando abordamos a problemática da pobreza. O desemprego, trabalhos precários ou com baixos rendimentos são situações que causam o risco de empobrecimento. Apenas 17% dos inquiridos referiram estar a trabalhar, contudo, o facto de termos nesta amostra um elevado número de reformados contribui para a elevada percentagem de pessoas que não trabalham (83%). -------------------------------- ----- Relativamente àqueles que não trabalham, 20% são desempregados, mas se atendermos apenas àqueles que estão em idade activa, isto é, se não contabilizarmos os indivíduos reformados, então a percentagem do número de desempregados passa a ser de 61%, o que é uma situação bastante preocupante. ----------------------------------- ----- Registe-se também que os indivíduos desempregados referem que estão nesta situação há mais de um ano, o que é ainda mais problemático, pois é precisamente esta a população mais vulnerável à pobreza. Não são poucas as famílias que referem que duas ou mais pessoas estão desempregadas no seu agregado familiar. ---------------

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----- Em termos de despesas, as despesas com alimentação e as despesas com a casa são aquelas onde os inquiridos dizem gastar mais dinheiro, seguidas dos gastos com médicos e medicamentos. São, portanto, as despesas com bens essenciais, aquelas cuja ausência ou não pagamento colocam em risco a subsistência ou bem-estar dos inquiridos. O vestuário e calçado e outros empréstimos apresentam valores abaixo dos 10%. 31% dos respondentes dizem ter um empréstimo. São os mais jovens e com rendimentos mensais líquidos mais elevados que mais recorrem ao crédito. ------------- ----- Do ponto de vista da alimentação, verificou-se ser esta uma das principais despesas dos inquiridos e, talvez por isso, cerca de metade da amostra diz nunca ter tido falta de alimentos. Agora, não são de desprezar os 16% de respondentes que dizem ter tido falta de alimentos alguns dias por semana. Para percebermos melhor as carências alimentares, perguntámos também se existiu algum dia inteiro em que as pessoas não tivessem ingerido alimentos, no último ano. De um modo geral isso não aconteceu, mas cerca de 27% dos inquiridos mencionaram estar um dia inteiro sem comer, 6% muitas vezes, e 21% uma vez ou outra. Registe-se também que 20% diz não ter comida até a final do mês e 32% diz que tal acontece às vezes. ------------------ ----- Falando de habitação, 86% vive numa casa ou num andar com electricidade e água canalizada, mas apenas 27% diz possuir aquecimento. Repare-se ainda que 10% desta população está institucionalizada. Cerca de 85% diz ter cozinha completa e valor igual ao encontrado para a existência de casa de banho completa. A família é ainda um ponto de apoio para as pessoas mais carenciadas. Não só a grande maioria destas atribui muita importância aos contactos que mantém com a família e amigos, como também a grande maioria mantém este contacto com bastante regularidade. 62% afirmam recorrer à família e a amigos ou a vizinhos quando necessita de ajuda. -------- ----- A percepção da própria pobreza é um indicador para se perceber em que medida as pessoas se sentem pobres. Sentem-se 2% dos inquiridos, que responde afirmativamente a esta questão. Se cruzarmos esta questão com a idade, percebemos que entre aqueles que se consideram pobres estão os mais jovens, os jovens adultos e os adultos. Questionados sobre a sua condição de pobreza no passado, apenas 17% dos inquiridos respondem que nunca foram pobres, enquanto 54% refere que a sua família sempre foi pobre. São, sobretudo, indivíduos com níveis de rendimento muito baixo, sem instrução ou com a 4ª classe, e abaixo dos 65 anos. Tenho que destacar também os 41% de indivíduos que nunca foram pobres e que agora se consideram como tal.------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Um último tema. A sociedade em geral vê os pobres como uma categoria social homogénea, contudo, apesar das condições comuns de precariedade, carências e sentimentos de exclusão, a pobreza encerra uma grande variedade de situações. Para conhecermos os diferentes tipos de utentes que frequentam e recorrem às instituições de solidariedade social, as suas características e vivências, para podermos definir e direccionar campanhas ou intervenções específicas para cada um destes grupos, realizou-se uma análise de correspondências múltiplas e, com o resultado destas, procedeu-se a uma análise de segmentação, com alguns dos indicadores estudados. Foram assim identificados três perfis distintos que estão neste mapa que podem ver. --

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----- O primeiro grupo, que está maioritariamente no segundo quadrante, é o grupo em que os utentes passam as maiores privações, são aqueles que nós chamamos os mais pobres dos pobres. Têm rendimentos muito baixos, inexistência de instrução e ausência de trabalho. São basicamente adultos e alguns idosos. Revelam condições médias ou mínimas na alimentação e graves carências alimentares, vêm a sua saúde como má ou muito má. São indivíduos que não só se sentem actualmente pobres, mas referem que a sua família toda a vida foi pobre. --------------------------------------------- ----- No segundo grupo, que está maioritariamente no primeiro quadrante, encontramos os indivíduos que não se consideram pobres nem que alguma vez o tenham sido. São essencialmente idosos. Nos seus agregados familiares não encontramos crianças com idades inferiores a 12 anos. Têm um baixo nível de instrução e rendimentos inferiores a 400 euros. Percepcionam a saúde como razoável e não possuem quaisquer carências alimentares. --------------------------------------------- ----- Por fim, no terceiro e quarto quadrantes, encontramos as pessoas que constituem o terceiro grupo. É o grupo mais jovem, onde encontramos os indivíduos em idade activa, não sendo por isso de estranhar que seja o único grupo que trabalha, ao contrário dos outros. É também este grupo o único onde encontramos crianças. Os rendimentos são superiores a 400 euros e o seu grau de instrução superior ao segundo ciclo. Encontramos aqui os indivíduos com empréstimos. Apesar de apresentarem condições de vida aparentemente melhores têm carências alimentares. Percepcionam a sua saúde como boa ou muito boa, mas sentem-se pobres, referindo já terem passado por situações semelhantes no passado. A importância da definição e do conhecimento desta diversidade de perfis permite, não só ter a consciência das várias realidades existentes, como também possibilita uma adequação das iniciativas das instituições ao conjunto de utentes que as procura. ----------------------------------------------------------- ----- Assim termino, peço desculpa se passei um bocadinho do meu tempo. Muito obrigada pela vossa atenção.” ------------------------------------------------------------------ ----- Arquitecto Rui Manuel Cunha: -------------------------------------------------------- ----- Sou o Arqt.º Rui Cunha, trabalho na Câmara de Lisboa há cerca de 19 anos e trabalhei sempre com a integração dos bairros sociais, portanto, em projectos novos. Gostaria de falar com o Sr. Padre se, relativamente à proximidade dos jovens numa cidade como Lisboa, e como várias outras, se não estaria também por aí uma solução para dar apoio aos idosos. Efectivamente, e falando de experiência própria, nós trabalhamos em apoio aos bairros sociais para a reedificação das barracas, foi uma intervenção social muito importante, e os Bairros de Marvila e Olivais foram exemplos disso, mas acontece que a realidade política poderia passar pela integração dos jovens nestes bairros novos, nesta reabilitação da Cidade, e se calhar essa proximidade faria com que os próprios filhos pudessem tomar conta dos idosos. Esta era a pergunta dirigida ao Sr. Padre José Luís Costa, e pergunto também à Arqt.ª Helena Roseta se nos bairros bip-zips, estarão integradas novas políticas, por exemplo em várias ETDs, pois existem muitos edifícios na Baixa que foram interrompidos pela política actual e as casas estão por terminar, gostaria de saber se existe uma futura política de integração, por exemplo entre a Santa Casa da Misericórdia e a Câmara,

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tomando conta desses edifícios e proporcionando aos jovens, parte activa da população, que não precisem de sair de Lisboa, com uma política de arrendamento que até poderia ser um apoio de integração social tal e qual como a habitação social, para que estes jovens fiquem na cidade de Lisboa, e para não terem de ir à procura de uma casa muito mais longe, o que engrossa diariamente a migração de viaturas que entram e saem. ----------------------------------------------------------------------------------- ----- Poderíamos estar a trabalhar em duas coisas; a integração dos jovens na Cidade e, simultaneamente, o apoio aos idosos, porque nestes bip-zips, nestes bairros degradados, nesta reabilitação da cidade de Lisboa, poderia fazer-se a integração de centros de idosos e de apoio a idosos. Eu fui o autor de um dos projectos dos Olivais, ao qual o Cardeal Cerejeira dá um apoio muito grande, à integração do apoio dos idosos na própria cidade de Lisboa, no centro dos Olivais, que não só acolhe os idosos nesses bairros sociais, como ao mesmo tempo, dá apoio domiciliário aos idosos – portanto eu acho que se tudo isto for integrado poderá haver uma migração de pessoas para dentro da cidade de Lisboa e um futuro desenvolvimento da Cidade. --------------- ----- Senhora Catarina Cruz: ----------------------------------------------------------------- ----- A minha questão é para a Dr.ª Vera Bicho, e gostaria de saber se os dados que nos apresentou, no relatório que efectuaram, poderão vir a ser desagregados ao nível da cidade de Lisboa. Isto tudo também porque o Observatório está a fazer uma actualização de dados de um relatório que efectuou no ano de 2007, relativamente à caracterização socioeconómica das Freguesias da Cidade de Lisboa, e este ano estamos a fazer a devida actualização, que pretendemos apresentar no final do ano de 2011, e esta informação também seria muito útil para conseguirmos ter algumas conclusões. --------------------------------------------------------------------------------------- ----- Padre José Luís Costa: ------------------------------------------------------------------- ----- Como eu disse há bocado, cada situação é uma situação, e é sempre muito difícil nós criarmos uma espécie de resposta comum, que seja capaz de lidar com elas todas. Agora, que é sempre desejável criar todas as capacidades para que a família mais próxima continue a acompanhar os seus idosos, acho que é tão óbvio que terá que ser sempre a nossa prioridade. --------------------------------------------------------------------- ----- Por outro lado, e devolvendo um bocadinho a pergunta, e estando nós no ano de aprofundar o voluntariado, penso que seria um desafio muito interessante às comunidades jovens dos bairros, particularmente dos bairros mais carenciados, onde por vezes há uma falta de ocupação temporal que às vezes é mãe de um conjunto de peripécias menos desejáveis, até que ponto não seria interessante agarrar nessas franjas e colocá-las a experimentar fora do bairro? Penso que era uma prioridade, experimentar também fora do bairro as dificuldades, as pobrezas, com outra perspectiva e com outra natureza e outra cultura. -------------------------------------------- ----- Doutora Vera Bicho: --------------------------------------------------------------------- ----- Quanto à questão dos dados serem disponibilizados relativamente a Lisboa, é essa a nossa ideia, o estudo que foi feito o ano passado foi um pontapé de saída, e nós este ano estamos já a começar e o CESOP já está a trabalhar para os próximos inquéritos e nesse sentido o que eu aconselharia era entrarem em contacto com o

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CESOP e pedirem os dados relativos a Lisboa. Seria sempre melhor esperarem pelos dados relativos a este ano, porque nós achamos que vamos construir uma amostra significativa que pretendemos acompanhar de uma forma regular a partir deste ano, ou seja, fizemos um primeiro estudo para conhecer a realidade, ver como é que isto corria, ver quais as instituições e como é que as instituições iriam responder, e a partir de agora vamos definir mais concretamente qual é que é a amostra, e qual é a amostra que nós vamos querer acompanhar, e nesse sentido faria muito mais sentido vocês passaram a adoptar os dados a partir deste ano, mas eu remeteria depois esse contacto para o CESOP, que são eles, de facto, os responsáveis pelo estudo em termos científicos. ---------------------------------------------------------------------------------------- ----- Vereadora Helena Roseta:--------------------------------------------------------------- ----- Relativamente à questão que foi colocada, do requerer-se os jovens à Cidade, sim, a utilização das casas vazias e encontrar soluções imaginativas para as pôr à disposição é uma solução. É difícil concertar todos os esforços e neste momento o que estamos a fazer é a identificação de algumas fracções vazias da Câmara Municipal de Lisboa que possam ser postas em arrendamento para jovens, com determinadas condições, incluindo a possibilidade de serem eles próprios a fazer as obras. ----------- ----- Nós temos muitas casas vazias que não estão a ser utilizadas porque a Câmara não teve capacidade de fazer as obras e poderíamos encontrar essa modalidade e estamos a trabalhar nisso. ----------------------------------------------------------------------- ----- Doutor Pedro Cardoso, Assistente Social da Federação de Instituições de Terceira Idade: ---------------------------------------------------------------------------------- ----- Muito bom dia, em nome da FITI, agradeço o convite que nos foi endereçado e este desafio de partilhar convosco aquilo que é a acção da FITI. Peço desculpa pelo Dr. José Batalha não poder estar presente, por motivos de saúde, e por isso fui contactado hoje de manhã para estar aqui em sua representação, e antes de vos evidenciar na primeira pessoa dois casos muito concretos daquilo que são as necessidades e expectativas das nossas pessoas mais velhas, queria fazer aqui algumas considerações para situar também a questão do tema. -------------------------------------- ----- Foi-nos desafiado que falássemos sobre a situação social de Lisboa em tempos de crise e eu pergunto-me em nome desta Federação, se existem instituições que apoiamos e se estas pessoas mais velhas que apoiamos, não estarão elas sempre em crise, e portanto, também quero referir que este é um grupo muito heterogéneo, portanto, falar de pessoas mais velhas não é falar de um grupo mas de várias realidades, é também falar das pessoas mais velhas e também das pessoas muito idosas - não sei se estarão contabilizadas – e esta é uma nova realidade na cidade de Lisboa, que não são só as pessoas mais velhas, mas são aquelas que são muito idosas. ----- Quero partilhar também convosco um pensamento que me tem acompanhado ao longo destes anos, até por força e motivação de alguém de quem gosto bastante e que tem servido de facto de mestre e guia nestas andanças, e que é a Dr.ª Lurdes Quaresma, que uma vez evidenciou que falar das questões relacionadas com a velhice tem muito a ver com uma simples questão, é que todos nós fomos crianças, todos nós fomos jovens e todos nós somos adultos e, portanto, temos a memória dessas fases da

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vida, mas ninguém é velho para poder olhar para trás e poder contar como foi ser-se velho. ---------------------------------------------------------------------------------------------- ----- O conhecimento destas questões fazem-se também pela relação, e a relação que estimula o próprio conhecimento. E é pela via da relação que rejeitamos, de facto, aquilo que muitas vezes nos ocorre e que é, nós técnicos ou nós instituições, sabemos o que é que estas pessoas precisam, sabemos sempre o que é que é melhor para elas sem, de facto, as escutarmos. ------------------------------------------------------------------- ----- Por outro lado, evidenciámos aqui três grandes questões relacionadas cm o tema d envelhecimento, o que em primeiro lugar tem a ver com a inversão dos papéis, um dia somos pais e provavelmente, no dia a seguir somos filhos dos nossos filhos. Por outro lado, as questões da participação das pessoas naquilo que é o seu andamento, as suas escolhas, as suas expectativas da vida diária. ------------------------------------------- ----- Por outro lado, e penso que este é urgente, as respostas inovadoras. É necessário proporcionar a estas pessoas, a este grupo, as necessidades que vão para além daquilo que são, as necessidades meramente da alimentação e da higiene pessoal. Os principais problemas na cidade de Lisboa, no nosso entender, têm a ver com a questão da habitação, o que já foi amplamente referido, mas com uma questão que ainda não foi referida e que tem a ver com o sub-aluguer destas pessoas que vivem sozinhas, que não têm família directa, e vivem sozinhas votadas a um quarto, e que pagam um exagero por essa renda, sendo que em relação a muitas delas também se começa a assistir a um fenómeno de sem-abrigo neste tipo de população. --------------------------- ----- Por outro lado, as questões da participação directa destas pessoas, a solidão e o isolamento de que todos nós falamos, mas que não sabemos que dados é que temos, pois é uma questão que não está contabilizada, mas que sabemos que é um flagelo e não só destas pessoas, mas quando falamos em envelhecimento, necessariamente falamos sempre em solidão e isolamento, e tem a ver também com a questão da valorização social. E aqui não deveríamos cair no “pieguismo” de muitas vezes tratarmos este tipo de pessoas como “coitadinhas” ou “pobrezinhas” e às vezes até serem alvo de “caridadezinha”. Por outro lado, a questão das redes de vizinhança, até por força das questões da habitação, o individualismo e o anonimato, culpados disso.-- ----- O que a FITI neste momento propõe é a criação de um Observatório para esta fase da vida, para a questão do envelhecimento. Neste momento estamos a fazer um estudo a nível nacional sobre o impacto das próprias políticas sociais na vida destas pessoas, até porque sabemos que neste momento um grande grupo destas pessoas, são elas que subsidiam os seus próprios filhos, até por força do desemprego, sabemos também que as pensões são muito baixas, e em muitas situações ainda chega para subsidiar aquilo que é a sua família. ----------------------------------------------------------- ----- Por outro lado, a questão que urge são as respostas sociais instituídas, extremamente tipificadas, e caímos sempre neste erro que é tipificar aquilo que por sua natureza é atípico, que são as necessidades das pessoas. Por outro lado, estimular aquilo que são as políticas sociais integradas e estimular as redes de inter-geracionalidade, portanto, afirmar aquilo que somos também como comunidade, a

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pertença à comunidade, e aqui também, os jovens, a infância, e não sectorizarmos as fases da vida.-------------------------------------------------------------------------------------- ----- Por outro lado, ter bastante presente que não são só estas respostas que respondem àquilo que são as necessidades das pessoas. Nem toda a gente tem que estar institucionalizada e é preciso também criar aqui novas estratégias, e de facto a FITI neste momento questiona-se, e é uma das questões que está em cima da mesa, e que onde vamos colocamos sempre, e que é: Qual é a estratégia que existe ao nível nacional e local para este tipo de população, para a questão do envelhecimento?-------- ----- Voltando também um bocadinho atrás, falar das respostas tipificadas que nós neste momento tememos nos serviços de apoio domiciliário que o Estado se prepara neste momento, para cortes substanciais nesta resposta social. Não só deixa atipificar a resposta, como por outro lado, se prepara para cortar cerca de 60% do financiamento, e portanto, sabendo como é que as instituições prestam este apoio e da dificuldade que têm na sua prestação, pior ainda será, e provavelmente subirão os números de negligências e maus tratos a este tipo de população. Provavelmente descerá aquilo que é o apoio que as instituições dão, e é nesse sentido que estamos neste momento a apelar a todas as instituições para fazermos em conjunto este estudo de âmbito nacional, que é perceber em que medida é que estas pessoas ficarão depois destes cortes, não só naquilo que se prepara para o complemento solidário para idosos, mas também por via do acordo de cooperação. ---------------------------------------------- ----- Vou-vos deixar aqui uma reportagem de duas pessoas numa instituição da cidade de Lisboa, que espelha bem a luta desta instituição por atipificar uma resposta social. Não foi fácil, foi um processo extremamente moroso até com a própria tutela, mas que consegue, não subsidiada pela tutela, mas o mais importante que surge desta reportagem é de facto a felicidade que as pessoas podem ter naquilo que é o direito da sua própria escolha. ------------------------------------------------------------------------------ ----- Doutor Timóteo Macedo, Solidariedade Emigrante: ------------------------------- ----- Boa tarde, muito obrigado pelo convite que nos foi dirigido para estarmos aqui presentes. É com orgulho que estou aqui e gostaria de deixar aqui também a voz daqueles que não podem estar aqui. Acho que no dia em que se der valor à participação cidadã, se calhar o painel deste auditório transformar-se-á. Aí, iríamos ver efectivamente o exercício da cidadania, a participação dos cidadãos e das cidadãs que gostariam de ter uma palavra e de lutar também pelos seus direitos. ----------------- ----- Eu vou navegar um pouco e apresentar o que nós fazemos. Nós somos uma associação que estamos ali no “casco” velho da cidade de Lisboa, na Rua da Madalena, mas é uma associação que tem uma dimensão enorme. É a maior associação de emigrantes em Portugal. Anualmente, em média vão lá, percorrem a cidade de Lisboa e entram no n.º 8, no 2º andar, aproximadamente 30.000 pessoas por ano. Portanto a nível da Europa estamos bem, a nível de Portugal estamos bem e temos o enorme prazer de sermos uma Associação de referência, essencialmente para as pessoas, homens e mulheres que procuraram este país para lutarem pela sobrevivência. ------------------------------------------------------------------------------------

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----- A sociedade emigrante é a Associação para a defesa dos direitos dos e das emigrantes, é uma associação de âmbito nacional sem fins lucrativos e de reconhecido interesse público. Foi constituída em Junho de 2001, e desenvolve actividades em torno da defesa dos direitos e dos interesses dos e das emigrantes e seus descendentes. ----- É membro efectivo do Conselho Consultivo para os Assuntos da Emigração, é membro da MIGRA EUROPE, que é a rede europeia das migrações de asilo e das políticas de asilo, da NOVOX, que é uma rede informal a nível mundial dos sem voz, é membro da coordenadora nacional da Marcha Mundial das Mulheres, é membro da Comissão Municipal para a interculturalidade e cidadania, da Câmara de Lisboa, faz parte de várias redes informais de combate à a exclusão social e a pobreza, como a Cais, a Caritas, Companheiro, etc., etc., é membro da rede europeia contra a pobreza e exclusão social, e entre outras, membro da rede anti-racista e de uma série de redes informais de cidadãos e associações de emigrantes. Faz parte das associações promotoras do 1º Fórum Social Português e é subscritora da Declaração de Coimbra, faz parte também da promoção do 1º Congresso do Associativismo e da Democracia Participativa e da Plataforma art.º 65 - Habitação para Todos. Participou nos vários fóruns sociais europeus e mundiais, desde Bombaim e Caracas até Portalegre, e agora também Belém do Pará e Bamaco e Dakar, estivemos em Madrid nos fóruns sociais de emigrações e por aí fora, andámos nessa luta, nesta aldeia global que é de todos. --- ----- Temos como objectivo desenvolver as comunidades emigrantes em acções que ajudem a criar uma consciência de cidadania activa e um sentimento de pertença, promovendo a sua participação e organização em diversas actividades, numa óptica de autonomia, responsabilização e apoderamento. Tem como objectivo também promover a integração social e laboral dos trabalhadores e seus descendentes, combater o racismo e a xenofobia, valorizando a vivência inter-cultural e a diversidade. Promover o conhecimento por parte da sociedade portuguesa da realidade da emigração em Portugal, sensibilizando-a numa perspectiva de direitos humanos, de igualdade de oportunidades e de justiça social. ---------------------------------------------- ----- Este projecto da Associação, em que estamos a criar uma forma de estar diferente no movimento associativo emigrante, surge do seguimento de um trabalho desenvolvido durante cerca de nove anos e meio, na vivência diária, com largas centenas de emigrantes, dando voz aos próprios emigrantes, como principais protagonistas, responsabilizando-os e envolvendo-os cada vez mais, na defesa da promoção dos seus direitos e da sua cultura, tal como os próprios entendem que esta é, contribuindo para uma participação crescente destes na sociedade. Actualmente a Associação de Sociedade Emigrante conta com mais de 19.900 associados, de 96 nacionalidades diferentes - É obra – e desenvolve trabalho na área da grande Lisboa, Oeiras, Arrentela, Coimbra, Alentejo, Algarve, Mafra, Ericeira. Temos sedes em Lisboa que são nossas, pagamos a renda, e também em Beja, que também são nossas e pagamos a renda. -------------------------------------------------------------------------------- ----- A Associação presta apoio aos emigrantes que nos procuram sobre os seus direitos e deveres, e agiliza com eles próprios a resolução dos seus problemas documentais, procura de trabalho, conflitos laborais, habitação, segurança social,

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agrupamento familiar, educação, ajuda humanitária e tantos outros casos com que diariamente somos confrontados, indo ao encontro das suas necessidades nas mais variadas áreas. Esta Associação possui um espaço inter-cultural, pretendendo potencializar o que de mais valioso cada cidadão e cidadã transporta em si, os seus saberes, a cultura e experiências, onde desenvolvemos diversas actividades culturais, na área da música, dança, poesia, contos e histórias, artes plásticas e vídeo, complementando-as com a gastronomia do mundo confeccionada pelos próprios emigrantes. --------------------------------------------------------------------------------------- ----- Apostando na educação para o desenvolvimento promove cursos não formais de línguas estrangeiras e Português, bem como cursos de informática. Realiza debates e sessões de esclarecimento sobre a temática de emigrações em bairros, escolas e universidades. Participamos e organizamos manifestações na perspectiva do resgate dos direitos dos próprios emigrantes. Participamos em acções com os Portugueses, no 25 de Abril, no 1º de Maio, estamos lá, estamos na rua, estamos no terreno. Foi a primeira associação que trouxe os emigrantes para a rua com os portugueses. ---------- ----- A sociedade de emigrantes sentiu a necessidade de criar uma sala de documentação de cursos multimédia, de forma a reunir, num mesmo espaço, publicações e material audiovisual de conteúdo cultural e científico, no sentido de fomentar o conhecimento da diversidade cultural existente na aldeia global que é o mundo. -------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Queríamos aqui realçar alguns dos nossos compromissos. O pior das políticas de emigração da Europa e em Portugal é que passa ao lado daquilo que é essencial. Usa a emigração como bode expiatório - estamos a falar na actual situação - e aprofunda os mecanismos de expulsão, repressão e exclusão sobre milhares de pessoas fragilizadas na Europa, onde Portugal se inclui naturalmente, até hoje mantidos em situação irregular e de grande precariedade, por vezes em condições próximas da escravatura dos outros tempos, à mercê das máfias, dos patrões sem escrúpulos, que alimentam parte dos reconhecidos 23% da economia informal, em Portugal. ------------------------- ----- Um recente relatório da OCDE aponta “preto no branco” que, ao mesmo tempo que as quotas estabelecidas pelos governos da Europa para a entrada de emigrantes ficam por preencher, os trabalhadores indocumentados continuam a entrar no mercado de trabalho europeu e português. Não se pode falar seriamente numa nova geração de políticas migratórias e enterrar a cabeça na areia como se as pessoas não existissem, fingindo não ver a realidade incontornável, essencialmente a ausência de participação política, aqui moro, aqui voto. ----------------------------------------------------------------- -----Sobre esta questão, absolutamente decisiva, o direito a eleger e a ser eleito, as políticas de emigração nada dizem e os emigrantes não carece de promessas ocas, nem de favores, mas sim de regras claras e justas e que sejam respeitados enquanto pessoas de corpo inteiro, na sua dignidade e direitos elementares.----------------------------------- ----- Comprometemo-nos desde a primeira hora e com participação dos próprios, contra o combate ao tráfico de seres humanos, contra as máfias que exploram e escravizam os emigrantes, pela sua protecção efectiva e pela sua regularização, sabendo nós que além dos efeitos sociais positivos, estas medidas poderão reduzir

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drasticamente a procura de mão de obra descartável, barata e ilegal, por parte de quem faz da fuga ao fisco e à segurança social um modo de vida. Assim haja coragem política de afrontar os interesses mafiosos e emancipar as suas vítimas. ----------------- ----- Comprometemo-nos a contribuir para a responsabilidade solidária, na criação de mecanismos de efectiva protecção das vítimas de exploração escrava, lutando pela sua regularização, incentivando-os a denunciar os abusos de que muitos trabalhadores e trabalhadoras emigrantes continuam a estar sujeitos neste país. Neste sentido, as políticas, as práticas ideias do governo português representam um péssimo início de conversa ao não prever medidas punitivas, de facto, para os prevaricadores e exploradores, e a regularização para as vítimas com uma efectiva protecção. Lutaremos para que os e as emigrantes sejam actores de uma cidadania plena e portadora de todos os seus direitos. ----------------------------------------------------------- ----- Partindo de uma grande diversidade de culturas e experiências individuais e colectivas que experimentámos, vai-se corporalizando um movimento social centrado na promoção e produção da cidadania, onde os emigrantes estão incluídos. Ser-se cidadão ou cidadã pressupõe hoje como nunca ser-se sujeito do seu próprio desenvolvimento. Aprende-se exercendo o direito “de…”. A interacção num processo colectivo, numa rede de solidariedades onde, a partir dos nossos passos quotidianos, nos conscientizamos e intervimos como seres sociais. -------------------------------------- ----- Os emigrantes querem ser também co-produtores, co-autores, querem ser importantes nesta sociedade, querem ter um papel activo. Neste processo de construção da cidadania, o direito de questionar os próprios direitos que nos são reconhecidos e a ordem que está instalada, que confere ou não esse conhecimento, leva-nos a procurar alternativas de mudança face às actuais condições sócio-económicas de opressão e exploração. Assim vai emergindo neste movimento social nascente a consciência política, no sentido mais largo deste termo, em íntima relação com a valorização de uma prática de democracia participativa. A democracia participativa é o caminho por onde aprendemos a atravessar a diversidade, respeitando as diferenças, gerando solidariedades e produzindo cidadania. Percorre-se este caminho escutando, dizendo, entendendo-nos, questionando-nos, escolhendo, decidindo, fazendo, transformando e lutando para que seja ela própria cada vez mais valorizada e praticada a todos os níveis.------------------------------------------------------- ----- Fala-se hoje muito de violência, mas a pior das violências está certamente na questão da selectividade que está no centro das novas políticas estratégicas europeias em matéria de emigração, que vem institucionalizar o racismo de uma forma muito subtil e camuflada, como por exemplo: Opta-se pela preferência de uns em detrimento de outros a coberto de acordos bilaterais. Dá-se prioridade à língua, à cultura, ao passado histórico, à cor da pele, à origem, à religião e ao rendimento das pessoas numa lógica do puro apartheid, fomentando a divisão e o racismo que servem a lógica da instalação duradoura dos emigrantes mais próximos de nós culturalmente, para não falar da palavra racialmente que, por conseguinte, supondo-se como sendo os mais assimiláveis, e em contrapartida dá-se um carácter mais provisório e mais precário

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possível à emigração de pessoas, de quem se diz que nunca conseguirão adaptar-se à sociedade portuguesa.---------------------------------------------------------------------------- ----- Nas favelas, como nos guetos, há pessoas que se sentem estranhas, não porque estejam de passagem, até porque os seus progenitores os trouxeram de pequeninos ou aqui nasceram, mas porque não se sentem cabo-verdianos, angolanos ou de outra nacionalidade qualquer. É o caso dos filhos dos emigrantes das chamadas, segundas e terceiras gerações. Também eles fazem parte da chamada geração “à rasca”. Vivem em conflito social identitário consigo mesmos, não conseguem interagir com a dita sociedade, são filhos de trabalhadores precários, de serventes, carpinteiros ou pedreiros que constroem a cidade para os outros, carregam pedras e desperdiçam muita força por pouco dinheiro, eles. Elas são mulheres a dias e a trabalhar fazem e pagam o jantar, e depois para terminar, concluindo, dos males que geram as exclusões, das exclusões e violências que oprimem surgem as violências da resposta. - ----- É isso que muitas vezes assistimos nos nossos bairros, e muitas vezes nos bairros da cidade de Lisboa, individual ou colectiva e fazem manchete nos jornais e notícias de abertura em telejornais de qualidade duvidosa, mas eficácia conservadora garantida. São precisos mais polícias, é precisa mais segurança, dizem-nos permanentemente. São sempre precisos mais polícias para somar violência à violência, numa espiral conservadora, cujos arautos identificam os jovens emigrantes ao inimigo, mas a cor da pele, a origem, etc., etc., têm sido argumento das relações sociais de dominação, de legitimação secular de uma violência que vem de cima e perdura no tempo, situações de exclusão, de descriminação, de racismo e de xenofobia. Violência que outrora se expressava na escravatura e hoje se expressa na marginalização dos direitos civis, sociais e públicos do exercício da cidadania e se materializa no ghetto. --------------------------------------------------------------------------- ----- Por isso, o fim dos ghettos é a nossa primeira reivindicação. Sociabilização é emergência cidadã. Muito obrigado. ----------------------------------------------------------- ----- Doutor Jorge Santos, Presidente da Direcção Comunidade Vida e Paz:-------- ----- Muito boa tarde, saúdo a Mesa e toda a Assembleia. Vou tentar ser breve. Permitam-me que partilhe convosco umas breves considerações sobre a especificidade e diversidade da intervenção desenvolvida, os desafios e preocupações que se nos colocam no presente e no futuro. -------------------------------------------------------------- ----- Falar da Comunidade Vida e Paz é falar de pessoas sem abrigo, por isso se diz que a Comunidade Vida e Paz é um projecto de esperança para as pessoas sem abrigo. Temos ouvido falar da Instituição na comunicação social, sobretudo através de reportagens televisivas aquando da Festa de Natal das pessoas sem abrigo que a Comunidade Vida e Paz organiza desde há vinte e dois anos, e de reportagens feitas acompanhando os voluntários nas carrinhas brancas nos quatro circuitos das voltas da noite ou através de entrevistas com voluntários mais dedicados, com ex-utentes já bem inseridos na sociedade e campanhas de angariação de fundos. ----------------------- ----- Esta, porém, é a faceta mais visível, mas porventura a menos fecunda, porque esta, penso eu, encontra-se no trabalho de rua, no espaço aberto ao diálogo, nos centros de recuperação e inserção e no acompanhamento pós alta. ------------------------

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----- A intervenção da Comunidade Vida e Paz teve e tem início na rua, aliás, nas ruas, avenidas e praças, quelhas e buracos, vãos de prédios e prédios abandonados, barracos e pontes da cidade de Lisboa, onde cerca de seiscentos voluntários fantásticos, de todas as classes sociais, rotativamente, procuram e motivam todas as noites uma média de quatrocentas e sessenta e cinco pessoas sem abrigo, e isto desde há vinte e dois anos.------------------------------------------------------------------------------------------ ----- A finalidade de tal intervenção na rua, não é saciar a fome, mas alimentar a esperança, desencadeando o desejo de mudança e a saída da rua, comunicando e desenvolvendo uma relação pessoal cheia de proximidade, de carinho, de diálogo, de escuta, de abraço, de muita, muita paciência, persistência, por vezes de anos, até à vitória, isto é, até a momento em que a pessoa sem abrigo decide mudar de vida e entrar nas respostas da Comunidade Vida e Paz, ou encaminhadas para respostas de outras instituições. É um trabalho de libertação feito de alma e coração. Importa ajudar a pessoa sem abrigo a ser livre, porque como se sabe, ninguém é livre se não tiver o mínimo de condições para viver.------------------------------------------------------- ----- As voltas da noite na rua, a intervenção diária junto dos sem-abrigo, assegurada por um conjunto de cinquenta e seis equipas de voluntários, cabendo à equipa de intervenção directa, psicólogos, sociólogos, técnicos de serviço social, a organização dos quatro circuitos, a coordenação, o apoio técnico/informativo e o seguimento das situações ou problemas sinalizados, tendo em vista depois dar seguimento às situações ou problemas sinalizados pelas equipas da volta da noite. ---------------------------------- ----- Há depois uma volta diurna para atender de facto aos casos sinalizados. O objectivo essencial das voltas da noite é por isso motivar para a mudança de vida, através da criação de uma relação de confiança. A Comunidade Vida e Paz não faz as voltas da noite para distribuir comida e agasalhos, isso são apenas meros apelativos. É precisa muita persistência, é preciso esperar muito por cada pessoa sem abrigo. Tem o seu tempo e tem o seu ritmo. Há dias, o nosso colaborador Rui Costa, teve 11 anos na rua um grande empresário da cidade de Lisboa, que quando fala na televisão é sempre com o rosto distorcido, disse-me que esteve 12 anos na rua e todas as noites era contactado pelos voluntários da Comunidade Vida e Paz, e só a fim de doze anos uma voluntária uma noite disse-lhe não sei o quê, por acaso não lhe perguntei, e disse “deixou-me a cismar toda a noite e ao fim de doze anos decidi mudar de vida”. Hoje é nosso funcionário. ------------------------------------------------------------------------------- ----- Em 2010 as equipas da noite conseguiram trazer ao espaço aberto ao diálogo duzentas e setenta e sete pessoas sem abrigo. Temos visto o trabalho bastante facilitado através do funcionamento do ISOTOOLS, um programa online destinado a facilitar o acesso dos voluntários aos relatórios das voltas, e depois, através de muitas acções de formação e de reuniões dos coordenadores das voltas. Devo sublinhar que toda esta actividade da rua, quatro circuitos diários, cinquenta e seis equipas rotativas com cerca de seiscentos voluntários e 64.804 km/ano é feito pela Comunidade Vida e Paz sem qualquer apoio estatal ou autárquico. ----------------------------------------------- ----- Depois temos uma outra valência, o espaço aberto ao diálogo funciona na sede, em Alvalade, que é uma resposta de regime ambulatório e com actividades

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ocupacionais, refeição e orientação dos utentes na regularização da sua situação, residência, documentação, consultas médicas, procura de emprego, etc., etc. Uma média diária de trinta pessoas motivadas pelas equipas da noite vem, e também vinda de outros sítios, vem ali ao espaço aberto ao diálogo. --------------------------------------- ----- Este ano que passou, 1039 pessoas sem abrigo frequentaram este nosso espaço, dos quais 903 foram encaminhados para respostas sociais, designadamente, 265 para a Comunidade Vida e Paz e 638 para outras respostas de outras instituições. A média de idades das pessoas sem abrigo que se aproximam ali do espaço aberto ao diálogo, rondam os quarenta anos, 90% são nacionais e os restantes são estrangeiros, até das ilhas Maurícias e do Uzbequistão e enfim de todos os continentes, e o diagnóstico é toxicodependência, alcoolismo, desemprego, falta de documentação, problemas de saúde mental, problemas de saúde e questões familiares. Não vou falar do Natal das pessoas sem abrigo porque é um acontecimento bastante conhecido para não levar aqui mais tempo. --------------------------------------------------------------------------------- ----- Uma outra valência que temos é o apoio às famílias carenciadas. Surgiu em 1999 traduzido em visitas às mesmas, por parte de um grupo de voluntários para apoio genérico e distribuição de alimentos quando se justifica mas, sobretudo, para ajudar algumas famílias na sua reestruturação, e devo dizer que nos últimos quatro anos deixámos de apoiar dezoito famílias porque conseguiram reestruturar-se. --------------- ----- Depois temos ainda complementarmente, o chamado Projecto Escolas ou Educação para Valores, arrancou em 2006, prevendo a organização de dois tipos de intervenção nas escolas: a ajuda nos trabalhos de pesquisa no âmbito dos trabalhos de projecto e a realização de sessões formativas para grupos ou turmas – há uma interacção, portanto, entre a Comunidade Vida e Paz e as escolas – os temas abordados são a pobreza, a condição de sem abrigo, a solidariedade, a cidadania responsável, a prevenção das toxicodependências e o voluntariado. ---------------------- ----- No ano de 2010 o Projecto Escolas abrangeu 72 escolas dos Distritos de Lisboa, Aveiro, Coimbra, Setúbal e Leiria, nas quais foram abrangidas 4500 alunos, 62 encarregados de educação e 70 professores. -------------------------------------------------- ----- A pessoa sem abrigo dispor-se a ir ao espaço aberto a diálogo que, como eu disse, funciona em Alvalade, é já meia vitória. A intervenção vira reabilitação diferenciada conforme as situações, essencialmente terapêutica, nos casos das toxicodependências e do alcoolismo ou então social, profissional ou básica e elementar nos demais casos. Aqui os intervenientes são na sua generalidade profissionais contratados, mais de uma centena de colaboradores, médicos, psicólogos, enfermeiros, sociólogos, terapeutas, conselheiros e administrativos. ---------------------------------------------------------------- ----- A intervenção terapêutica tem lugar até cerca de doze meses, a começar numa unidade de desabituação, na Venda do Pinheiro, para 5 utentes, e depois nas duas comunidades terapêuticas da Venda do Pinheiro e Fátima, para 132 utentes. Neste momento estão cheios mas, fundamentalmente, e como de pessoas sem abrigo se trata, há que motivá-las e ajudá-las a inserirem-se na sociedade, há que desenvolver as competências sociais e profissionais, e para isso a Comunidade põe à disposição dos utentes, durante mais de seis meses a um ano, duas Comunidades de Inserção, na

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Venda do Pinheiro e Sobral de Monte Agraço para 88 utentes. Dois apartamentos de inserção em Leiria e Venda do Pinheiro para 16 utentes. Uma unidade de vida autónoma para 7 pessoas sem abrigo com problemas de foro mental, mas com possibilidades de levarem uma vida de relativa autonomia, e depois uma empresa de inserção social, a COVIPAZ para 9 utentes. Neste momento temos, internados, 247. -- ----- Para valorar as competências profissionais, a Comunidade ocupa ainda os utentes em três carpintarias, duas oficinas de artesanato, um gabinete de informática, uma oficina para electricistas, formação para agricultura e uma gráfica. Organiza ainda cursos que ministra por si ou em conjugação com o Instituto do Emprego e Formação Profissional, designadamente jardinagem, carpintaria, restauração de móveis, designer gráfico, operador de informática, tipografia e outros. Saliento que são bem menores as recaídas nos utentes que conseguiram na Comunidade Vida e Paz tirar um curso profissional, porque obviamente mais fácil é a sua inserção social. ----------------------- ----- Normalmente os utentes vivem o espírito familiar e acolhedor da Comunidade Vida e Paz até cerca de dezoito meses. Uma média de 350 indivíduos entra anualmente nas várias valências, na unidade de desabituação, nos dois centros de tratamento, de terapêutica, nos dois apartamentos de inserção, e COVIPAZ. Aproximadamente 60% saem depois de completados os programas, e 40% interrompem a frequência dos mesmos. ------------------------------------------------------ ----- Não nos esqueçamos porém que os nossos destinatários são pessoas sem abrigo, isto é, pessoas ou vidas bem mais difíceis de recuperar ou reconstruir porque tudo perdeu, designadamente a esperança, vivem em solidão, e interiorizaram já o sentimento da exclusão e da indiferença social. Trata-se de reconstruir pessoas, e devo dizer que dos parcos subsídios que recebemos do Estado, temos de dar tudo aos nossos utentes. Para as suas despesas semanais damos uma semanada de treze euros a cada um, roupas, calçado, artigos de higiene, medicamentos, pagamento de consultas, café, tabaco. Mesmo quando se autonomizam damos-lhe uma mala com três mudas de roupa e artigos de higiene. ---------------------------------------------------------------------- ----- Segue-se a reinserção na sociedade, ou a tentativa tão autónoma quanto possível e sempre que possível. Um percurso tão complexo como os precedentes, feito não raro de percalços, obstáculos e fracassos que obrigam a tudo recomeçar de novo. Mas mesmo nesta fase a Comunidade Vida e Paz não os abandona, antes proporciona-lhes um acompanhamento através do programa pós alta, sempre que precisem e queiram. Estamos agora a redefinir e reestruturar este programa de modo a poder ser mais eficaz. ---------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Estamos seguros que se não ajudamos os sem abrigo recuperados a inserirem-se na sociedade terá sido em vão o trabalho de recuperação, pior a emenda que o soneto. Como todos sabem recuperar é reinserir uma pessoa sem abrigo é um percurso longo e difícil. --------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Há dois anos uma jornalista britânica que esteve connosco durante três dias, no âmbito de um concurso internacional, realçou o percurso longo e completo da Comunidade. Nesse sentido, foi atribuído a uma nossa voluntária da noite, o primeiro prémio Sherman's Hours, do Barclays Bank, a nível europeu, e o segundo prémio a

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nível mundial, pela actividade social que ela desenvolve como voluntária na Comunidade. -------------------------------------------------------------------------------------- -----Quais os resultados da intervenção? É aqui que nos confrontamos com a verdadeira dimensão da nossa intervenção, com o nível de sucesso da mesma, e também com os maiores desafios, por outras palavras, é nesta fase que verificamos o resultado da nossa intervenção na fase de motivação na rua e na fase de reabilitação, nos centros ou unidades terapêuticas e de inserção. ----------------------------------------- ----- Com efeito, tendo em conta os números atrás referidos, considerámos ainda o elevado número dos que, tendo saído da rua para dar início ao processo de tratamento ou reabilitação e interrompem antes do mesmo estar concluído ou recaem mesmo depois de o ter concluído. Reconhecendo, sem o risco de imodéstia, que globalmente o resultado de intervenção é de qualidade e gratificante para a instituição e para o corpo técnico, tal não nos impede de olhar com maior preocupação para os que interrompem, reincidem, fracassam e voltam à rua, de onde tão dificilmente tinham saído. ---------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Cada pessoa sem abrigo que abandona os programas terapêuticos e de inserção ou recai é um fracasso que toda a equipa técnica sente. Confesso que sinto enorme alegria quando participo na despedida dos utentes recuperados e os vejo partir para a vida, mas dói profundamente a notícia da recaída de alguns deles. Os fracassos são os nossos desafios. O desafio que permanentemente se nos coloca, e com humildade, e sem ânimo aceitamos, é que podemos fazer mais e melhor para aumentar o número dos que abandonam a rua. Aumentar o número dos que concluam o processo de tratamento e reabilitação, e aumentar o número dos que tendo concluído o processo de tratamento e reabilitação, conseguem a reinserção na sociedade. -------------------------- ----- Para terminar, é nesse contexto que a Direcção apostou e tem vindo a trabalhar para, já no próximo mês, abrir um novo espaço aberto ao diálogo, numa zona crítica da cidade de Lisboa. Aumentámos as voltas da noite de três para quatro, para permitir um tempo de presença e intervenção dos voluntários e junto dos sem abrigo, mais eficaz, e pode parecer estranho dizer isto aqui, mas damos uma atenção prioritária à motivação do corpo técnico e o apoio à sua formação. ------------------------------------- ----- Aumentámos significativamente a participação de colaboradores em acções de formação interna e externa. Mais formação equivale a melhores respostas e a melhor intervenção. Vários dos nossos técnicos estão a tirar mestrados, pós-graduações, dois o doutoramento, estágios profissionais, e reparem, um sem abrigo por nós recuperado, que tinha sido apanhado em estado de coma na valeta, e depois foi recuperado por nós, inteligente, demos-lhe um pequeno emprego, rapidamente fez o nono ano, rapidamente fez o décimo segundo, e agora em Maio, concluiu o curso superior de Addiction Counseling na Universidade de Bath, em Londres, à custa da Comunidade Vida e Paz. --------------------------------------------------------------------------------------- ----- Temos 59 colaboradores licenciados a trabalhar connosco, portanto temos de reforçar o investimento na reinserção social, designadamente, ampliando o número de utentes da empresa de inserção social COVIPAZ e abrindo aqui, na zona de Lisboa, aquilo que nós vamos passar a chamar, apartamentos partilhados, co-financiados pela

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Comunidade Vida e Paz, para acolher os sem abrigo quando terminam o seu tratamento e a sua fase de inserção. Estamos a estruturar melhor, como já disse, o programa pós alta e estamos a trabalhar na certificação dos nossos Centros. Queremos aumentar a qualidade d serviço que prestamos à pessoa sem abrigo, e a que esta tem direito. --------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Caros amigos, neste caso, que me diz aqui respeito, estamos a olhar, a escutar e a reflectir sobre as pessoas sem abrigo, mas só as poderemos compreender e ajudar se aceitarmos e interiorizarmos, como já alguém disse, que o outro faz parte de mim próprio. Muito obrigado. ------------------------------------------------------------------------ ----- Fernando Ambrioso, União dos Sindicatos de Lisboa: ---------------------------- ----- Agradeço o convite, agradeço também aos resistentes, e tendo em conta precisamente isso, reduzi a intervenção para metade do tempo. --------------------------- ----- Começo por dizer que o trabalho é efectivamente uma questão central na sociedade, apesar de ter sido desvalorizado ao longo nas últimas décadas. É o trabalho que permite a própria realização individual e que com ele se contribui para a sociedade onde está inserido. Partindo deste princípio fundamental, e constitucional, o direito ao trabalho, irei então abordar o tema do desemprego, sinónimo da negação desse mesmo direito fundamental. ------------------------------------------------------------- ----- O desemprego atinge níveis insustentáveis no país, no distrito e na cidade de Lisboa. Segundo o IFG estão inscritos no distrito de Lisboa, 98.156 desempregados, dos quais 23.460 na cidade de Lisboa, o que nos permite, sem nenhum exagero, estimar que o desemprego ultrapassa neste momento as 100.000 pessoas no nosso distrito, pois os números do IFP subestimam o número real dos desempregados, por vários motivos que aqui não irei agora abordar. Mais de 100.000 desempregados é muito, é um número brutal, e não há perspectivas de que esta realidade venha a inverter-se nos próximos tempos. O desemprego tem consequências sociais e individuais devastadoras; a exclusão social, a miséria, a perda da auto-estima, a depressão, etc. ------------------------------------------------------------------------------------ ----- É assustador e deve fazer-nos pensar na rapidez com que nos dias de hoje a vida de um trabalhador pode dar uma volta. A condição de desempregado, com particular gravidade nos casos de desemprego de longa duração e de baixos níveis de habilitações e qualificações, como apesar do desemprego tocar também de um modo crescente os licenciados, que é o nosso caso. Surge associado a trajectórias de exclusão social extremamente complicadas, exigindo, não só o reforço dos mecanismos de protecção social, mas também de reinserção laboral e mesmo social. -- ----- No entanto, numa altura em que cada vez mais famílias são atingidas pelo desemprego, permitam-me que qualifique de escandaloso o ataque do Governo aos direitos dos desempregados, diminuindo, em vez de reforçar a sua protecção social. A CGTP alertou e mostrou-se terminantemente contra as medidas do governo visando poupar com os desempregados. Este é um momento particularmente difícil e vulnerável que exige da parte do Estado o respectivo apoio e acompanhamento. Em Lisboa, são já 60% o número de desempregados que não têm direito a qualquer subsídio de desemprego. ------------------------------------------------------------------------

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----- Para este aumento do número de desempregados sem direito ao subsídio de desemprego, contribuíram medidas do Governo, tais como, as novas regras de atribuição do subsídio social de desemprego, nomeadamente, o novo método de capitação dos agregados familiares, que chega a inviabilizar a possibilidade de jovens receberem o subsídio de desemprego, pelo simples facto de estarem a viver em casa dos seus pais, e o aumento de 365 dias para 450 dias do período de garantia para aceder ao subsídio de desemprego, que inviabiliza por exemplo, que pessoas que terminam um contrato com um ano tenham direito ao subsídio de desemprego. Um desempregado sem subsídio é duplamente vítima. Uma, das situações de desemprego, da sua situação de desemprego e da forma como o estado não o apoia, mas ainda, é uma pessoa que corre forte risco de exclusão social. ---------------------------------------- ----- Do ponto de vista do seu enquadramento económico e social, os números do desemprego significam o subaproveitamento e desperdício do potencial humano e por outro, o afastamento de um número muito significativo de indivíduos da vida económica activa e produtiva. Esta é uma realidade que não é nova, e cujas causas não remontam apenas à actual crise internacional. O desemprego em Portugal e em Lisboa revela debilidades grandes da nossa economia. Lisboa é cada vez menos um pólo produtivo no contexto nacional e internacional. --------------------------------------------- ----- Em Lisboa sente-se de forma muito intensa as consequências de uma política anti-económica que tem privilegiado a esfera do comércio e serviços a par da economia especulativa, em detrimento do aparelho produtivo e que tem elevados custos para o país, para a região de Lisboa e para a sua população e trabalhadores. O desperdício do património industrial, a falta de uma política integrada de visão inovadora e criativa, tem conduzido no país, de um modo muito particular na região de Lisboa, ao definhamento e aniquilação d aparelho produtivo. -------------------------- ----- Nos últimos anos temos assistido ao encerramento total ou parcial de grande número de empresas em Lisboa, uma grande parte delas ligadas ao sector automóvel, têxtil, calçado ou construção. Se considerarmos apenas a indústria transformadora, em apenas dois anos, entre 2007 e 2009, perderam-se 409 empresas, 7.663 postos de trabalho por conta de outrem no distrito de Lisboa; é muito e tem consequências. ------ ----- O enfraquecimento e aniquilamento de grande parte do tecido produtivo surge associado à distribuição de milhares de postos de trabalho, correspondendo a emprego que se perdeu e que não foi recuperado e ao consequente aumento do desemprego e da precariedade, isto é, o emprego criado, não só já não chega para cobrir o emprego perdido, como é cada vez mais precário e com fraca ou ausente protecção social. Os jovens entram hoje no mundo do trabalho pela via da precariedade. Os mais velhos, uma vez desempregados, quando conseguem retornar a mercado de trabalho, fazem-no na sua grande maioria também pela via da precariedade. ------------------------------- ----- Assim, o número de pessoas envolvidas neste círculo infernal de rotação entre emprego precário e desemprego, o fim do contrato precário é responsável, neste caso concreto, por 45% das pessoas inscritas nos centros de empregos dos nossos distritos. Termino esta intervenção afirmando que esta não é uma crise importada, cuja resolução dependa apenas do exterior, esta é uma crise que agrava os problemas já de

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si desestruturais da nossa economia e que urge ter vontade e empenhamento para o combater. ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- Os tempos de crise têm também que ser tempos de mudança e de oportunidades. Combater a inevitabilidade do desemprego, com números repetidamente anunciados para o próximo ano que procuram tomar como normal, natural e inevitável este que é um flagelo social. É fundamental, e passa por uma visão mais audaciosa e optimista da economia, nomeadamente, por acreditar nas potencialidades de uma região capital mais produtiva e não mera prestadora de serviços, capaz de criar mais e melhor emprego. Muito obrigada. ----------------------------------------------------------------------- ----- Celso Antão:-------------------------------------------------------------------------------- ----- Boa tarde, eu chamo-me Celso Antão, e queria dizer antes de mais, que se verificou agora, no último orador e noutros que o modelo também poderá ser questionado, não pela qualidade das pessoas, mas pela quantidade, isto para referir uma abordagem há bocado com o Timóteo sobre a participação, e eu dou por mim aqui, para o tempo que resta para a participação, e para os modelos em que são organizados estes seminários e congressos. Não estou a retirar o valor à iniciativa nem à Assembleia Municipal, mas já deveríamos ter pensado sobre eles, porque têm sempre o mesmo modelo e por vezes resta pouco tempo para a participação. Até porque em vez de “A Situação Social de Lisboa em Tempos de Crise”, é mais “a situação fatal de uma pessoa em crise de tempos”, porque resta sempre pouco tempo para estas coisas. --------------------------------------------------------------------------------- ----- Queria só deixar aqui, não bem uma pergunta, mas uma partilha, em relação ao orador da FITI, que falou sobre a área dos idosos, para dizer também relacionado com a participação, e focou o caso daquelas duas pessoas, e isso é importante para que traga a voz das pessoas até nós, mais do que já se falou sobre a importância dos observatórios e realmente têm importância, mas vamos é complementá-la com a importância dos “participatórios”, porque fala-se muito dos observatórios e pouco dos “participatórios”. -------------------------------------------------------------------------------- ----- Sobre a importância de requalificar as respostas, vamos realmente requalificar as respostas que são dadas aos idosos, com certeza que sim, mas vamos também não incidir a conversa só nessa parte de que produtos é que existem para os idosos, mas reforçar como é que podemos também dinamizar coisas, para que eles sejam produtores de serviços e actividades para que outros consumam. Isto é que é interessante, não é esgotar só nesse lado. Claro que existem, seja no apoio domiciliário, seja noutras valências a questão da requalificação das respostas que focou é fundamental, agora outras informações, sabedoria, que participação é que têm estas pessoas? Que também está relacionado com outras áreas, incluindo a do urbanismo, que foi aqui focada antes, basta ver o filme, da Lisboa domiciliária de Marta Pessoa, para perceber que tem que estar relacionado. Era só para deixar essa situação e volto a deixar aqui a situação fatal de uma pessoa em crise de tempos. Obrigado. ----------------------------------------------------------------------------------------- ----- Doutor Pedro Cardoso: ------------------------------------------------------------------

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------ Muitíssimo obrigada pela sua intervenção, de facto, as pessoas muitas vezes ficam a debater e a fazer as suas perguntas lá fora, na hora do intervalo, é uma pena, mas muito obrigada pela sua questão. --------------------------------------------------------- ----- Agradeço este desafio. Importa referir que em primeiro lugar, eu comecei por dizer que a quem a FITI dá apoio é a pessoas de maioridade em situação de crise. Por outro lado, a questão do “participatório” é fundamental, aliás, a Câmara de Lisboa fez o ano passado, Lisboa a Cidade Amiga das Pessoas Idosas, e de facto, houve ma participação dessas pessoas, e por via dessa participação e segundo ela, apenas um autarca conhece a sua freguesia. Claro que levar as pessoas a participar sugere-nos também a nós uma mudança de atitude. Mas eu não estou a falar nessas pessoas, aquilo de que eu estou a falar é daquelas pessoas que efectivamente não têm capacidade de participar, e aí têm que se reforçar o poder das instituições, agora quem por si só consegue participar e não tem qualquer grau de dependência, essas pessoas nem sequer estão em causa. -------------------------------------------------------------------- ----- A questão que pôs em relação às respostas inovadoras, não só ao nível das que são comparticipadas, mas também inventarmos e reinventarmos estruturas, e há na Cidade projectos extremamente interessantes nesse sentido, como a promoção do voluntariado sénior em várias instituições, a própria câmara, no banco de voluntariado tem também a questão do voluntariado sénior, mas importa referir e centrar a questão que o FITI é a federação das instituições da terceira idade que apoia, e por este apoio humaniza aquilo que são os serviços das próprias instituições que a ela recorrem, e portanto, não tem intervenção directa com as pessoas. -------------------------------------- ----- Deputado Municipal Luís Filipe Monteiro, Presidente da Junta de Freguesia de Santos-O-Velho: ----------------------------------------------------------------------------- ----- Foi coincidência haverem duas pessoas de Santos-o-Velho a colocarem questões. Da minha parte não é uma questão, é mais um agradecimento público pelo seguinte; É que tive 23 pessoas sem abrigo na Freguesia de Santos-o-Velho, e bastou um telefonema para a Comunidade Vida e Paz e mais seis instituições, para nos sentarmos à Mesa e tratarmos da questão com todo o humanismo, e neste momento estamos a ver resultados de partilharmos e trabalharmos em parceria toda essa situação, e por isso queria agradecer ao Sr. Presidente da Comunidade Vida e Paz, toda a disponibilidade dos seus técnicos para estarem presentes nessas reuniões e continuarmos este trabalho que ainda não chegou ao fim, mas que vai chegar de certeza absoluta e com resultados bastante positivos. Era este testemunho público que eu queria deixar porque o trabalho da Comunidade Vida e Paz, de tão valioso que é, não se esgota naquilo que o doutor acabou de dizer, mas também há outras questões por trás que são realizadas e que basta um pequeno telefonema para nos sentarmos à Mesa e, em conjunto, resolvermos aquilo que devemos fazer, e não o fazermos individualmente, pois seria muito difícil conseguirmos lá chegar. Muito obrigado. ----- ----- Doutor Jorge Santos: --------------------------------------------------------------------- ----- Louvo a atitude do Sr. Presidente da Junta. Ainda aqui há tempos vieram ter comigo e me disseram que há 22 instituições, na área de Lisboa, a apoiar as pessoas sem abrigo. Mas dizia essa pessoa que se dedicam à recuperação, terapêutica, etc., e à

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sua inserção social. Isto é um trabalho moroso como acabei aqui de explicar, mas segundo a informação dessa pessoa era a Comunidade Vida e Paz. ----------------------- ----- No entanto, às vezes há pontos da Cidade onde vão uns dar a sopa, vão outros dar sandes, e às vezes juntam-se ali três e quatro instituições, e vieram-me pedir se eu podia ir a uma reunião dessas e eu disse: a minha resposta é sempre a mesma, a qualquer hora do dia ou da noite, e aonde quiserem, eu vou lá estar, e se for necessário, a Comunidade Vida e Paz não distribuir comida rigorosamente nenhuma, a Comunidade Vida e Paz não irá distribuir. ------------------------------------------------- ----- A única coisa que peço às instituições é que, fazendo um trabalho extraordinário, pois distribuem comida, agasalhos, etc., então já agora, que façam também um trabalho de motivação, talvez conjuntamente com os nossos voluntários, porque ninguém é voluntário na Comunidade Vida e Paz sem ter formação inicial para saber lidar com as pessoas sem abrigo - eu quando comecei, na primeira volta da primeira noite que fiz nem abri a boca com medo de fazer disparate - e depois ainda temos formação permanente, três acções de formação ao longo do ano. Se quiserem, continuem vocês a dar comida, etc., etc., e os voluntários da Comunidade Vida e Paz vão só e apenas para motivar as pessoas a mudar de vida, porque o objectivo, como disse aqui, é mudar de vida, não é dar de comer. Disse isto há dias ao Sr. Presidente do Instituto de Segurança Social; “Se as empresas me dessem bife do lombo para dar todos os dias aos sem abrigo, não dava”. Porquê? É muito simples, é preciso que também sintam algum desconforto para poderem mudar de vida, porque senão, olha, “aqui estou e aqui me tens”.--------------------------------------------------------------------- ----- Doutora Ana Bela de Sousa, Subdirectora da Acção Social da Santa Casa da Misericórdia: ------------------------------------------------------------------------------------ ----- Antes demais queria agradecer à Comissão de Intervenção Social e Promoção de Igualdade de Oportunidades e na pessoa da seu Presidente e à Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa pelo convite que nos dirigiu, no sentido de apresentarmos o que fazemos, porque fazemos e como fazemos na cidade de Lisboa. - ------ A Misericórdia coordena a sua actuação com as políticas públicas em domínios de natureza social, e tem como fins a realização de melhoria do bem-estar das pessoas, prioritariamente dos mais desprotegidos, abrangendo as prestações de acção social, saúde educação, ensino e cultura, a promoção da qualidade de vida, o desenvolvimento de iniciativas no âmbito da economia social e ainda as actividades de serviço público que lhe são solicitadas pelo Estado ou outras entidades públicas. --- ----- A Misericórdia encontra-se organizada em departamentos e serviços instrumentais, sendo que ao departamento de acção social e saúde compete gerir de forma integrada os serviços e os estabelecimentos de acção social e saúde que intervêm na área da infância e juventude, população idosa, pessoas portadoras de deficiência, família e comunidade. A intervenção social desenvolvida, através da direcção de acção social, é operacionalizada seguindo uma organização assente no princípio da descentralização, da acção através de grupos locais de intervenção integrada e na organização de serviços por áreas de intervenção estratégica, portanto,

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privilegia na sua organização a proximidade e as sinergias locais em áreas com presença de diferentes factores de vulnerabilidade social. ---------------------------------- ----- A intervenção é orientada no sentido da promoção dos direitos da pessoa, de forma preventiva e/ou reparadora, promovendo e reforçando os factores de inclusão social, designadamente de pessoas, famílias, grupos sociais e comunidades mais desfavorecidos. No conjunto das respostas sociais e dos serviços envolvidos e a propósito da nossa intervenção neste colóquio, destacamos o atendimento da acção social que é uma resposta social, na qual são atendidas e/ou acompanhadas pessoas e famílias no sentido da resolução, minoração ou prevenção de dificuldades geradas por, ou geradoras de pobreza e/ ou exclusão social e da promoção de condições facilitadoras de qualidade de vida, nomeadamente através da concretização de um Plano de intervenção., portanto constitui-se como observatório privilegiado na observação de necessidades e dos factores geradores de exclusão social. ----------------- ----- São princípios orientadores desta resposta social, a garantia do direito da pessoa à identidade, à privacidade, à informação, à participação, à igualdade e não descriminação, à equidade social e diferenciação positiva e à inclusão social. ----------- ----- A qualidade de vida e a integração dos indivíduos e famílias, a contratualização, a personalização, selectividade e flexibilidade dos apoios sócias e a valorização das parcerias são outros dos princípios prosseguidos. ------------------------------------------- ----- Ao atendimento social da Misericórdia acorrem maioritariamente pessoas idosas e pessoas e situação de invalidez e incapacidade, pessoas com problemas de saúde que impedem a sua inserção no mercado de trabalho. Desempregados de longa duração ou com uma relação intermitente com o mercado de trabalho e trabalhadores pobres. Perfil demográfico dos titulares dos processos de acção social caracteriza-se pelo predomínio do género feminino, da nacionalidade portuguesa, da maior incidência do grupo etário de 55 e mais anos, do baixo nível de habilitações, com maior representatividade de pessoas com habilitações iguais ou inferiores ao primeiro ciclo, pessoas isoladas, desempregados, maioritariamente de longa duração e baixa qualificação, reformados com baixos rendimentos, empregados com baixo nível salarial, não qualificados e com vínculos precários ao trabalho e percursos profissionais intermitentes.---------------------------------------------------------------------- ----- Os motivos que desencadeiam a procura do apoio encontram-se predominantemente associados a situações de perda de trabalho e desemprego, a questões de saúde, a insuficiência dos benefícios sociais, a rupturas familiares, concluindo, as pessoas que acorrem ao atendimento social encontram-se maioritariamente a situação de privação e/ou vulnerabilidade social. Os apoios solicitados que registam maior frequência são o apoio económico, o acesso a serviços e estabelecimentos, o apoio na procura de emprego e formação.--------------------------- ----- Da análise dos indicadores da actividade relativos ao atendimento social e emergência, é possível verificar que a maior procura de pessoas que recorreram ao atendimento social pela primeira vez verificou-se no ano de 2009, contudo, o número de processos diferentes movimentados em 2010, indicador da actividade que sintetiza o movimento de entradas, saídas e reentradas de utentes no sistema de apoio social

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teve um aumento de 24%. Esta evolução dá evidência ao peso relativo de indivíduos e famílias que já anteriormente foram ou continuam a ser clientes do atendimento social no conjunto dos que recorreram a este serviço ao longo do ano. A sua situação de vulnerabilidade ter-se-á agravado pela relação de precariedade que têm com o mercado de trabalho e consequente redução ou insuficiência de rendimentos ou das prestações sociais de que vinham a beneficiar. Portanto, trata-se de pessoas em situação de pobreza persistente e que permanecem no sistema de apoio social, e isto associado também à crise do mercado de trabalho, às condições de acesso e também da alteração das condições de acesso aos apoios sociais. No entanto, verificamos que ao nível do atendimento de emergência exista um maior afluxo de novas pessoas ao atendimento, e portanto, existe uma maior rotatividade no acesso. Estes factos dão conta do impacto particular da crise actual sobre as condições de sobrevivência de pessoas fragilizadas por processos de rupturas várias, e consequentemente mais expostas à crise. ---------------------------------------------------------------------------------- ----- Este serviço é vocacionado para o atendimento e acompanhamento social de pessoas sem abrigo de domicílio instável na cidade de Lisboa ou de indivíduos nacionais ou estrangeiros em trânsito na cidade ou indocumentados. Há aqui uma forte componente de estrangeiros emigrantes que perderam o emprego que tinham vínculos pouco regulares ao trabalho, e portanto, é aqui que temos a maior incidência de novas situações. ------------------------------------------------------------------------------- ----- Em 2010 recorreram ao atendimento social pela primeira vez 5.026 pessoas, verificando-se a nível do perfil sócio-demográfico a presença de alguns aspectos distintos do perfil geral dos titulares do processo de acção social anteriormente apresentado e que passamos a destacar: ------------------------------------------------------- ----- Maior presença do sexo masculino; maior presença de nacionalidades estrangeiras, o predomínio do estado civil solteiro, maior proporção do grupo etário dos 35 aos 44 anos na distribuição dos recém-chegados por escalão etário, maior nível de qualificação escolar, embora se centre muito ainda nos vários ciclos do ensino básico, de desempregados à procura de novo emprego, de desempregados com trabalho regular e de reformados. A situação de inactivo, aqui, é menor do que no anterior perfil. ------------------------------------------------------------------------------------ ----- A diversidade e complexidade das necessidades e problemas apresentados pelos indivíduos e famílias no atendimento social e presentes no processo de acompanhamento exigem a mobilização de um conjunto de recursos internos e externos que permitam responder adequadamente, diferenciadamente, integradamente a cada pessoa, a apoiar, e com o objectivo de a autonomização dos sujeitos em relação ao sistema de apoio social. --------------------------------------------------------------------- ----- Para além dos recursos humanos técnicos envolvidos na relação de ajuda, serviço social, psicologia e saúde, destacamos as respostas e os apoios mais significativos envolvidos na promoção da igualdade e equidade social e inclusão social das pessoas que recorrem ao atendimento social. Em 2010 o apoio económico prestado através do atendimento e acompanhamento social registou em relação a 2009 um aumento do número de apoios atribuídos e um incremento do seu valor na ordem dos 18%. Este

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crescimento apresenta maior expressão e de forma decrescente no apoio a pessoas isoladas, a pessoas idosas e famílias. ---------------------------------------------------------- ----- O agravamento da situação socioeconómica, a crise do mercado de trabalho, e a alteração das condições de acesso aos benefícios sociais já mencionado, agravou de forma particular os grupos mais vulneráveis, conduzindo à persistência da necessidade de recurso a este tipo de apoio, para minorar a insuficiência ou quebra de rendimentos verificada e fazer face às necessidades da sua subsistência. Factores como o envelhecimento da população residente na cidade de Lisboa, a perda de autonomia, e/ou o agravamento da dependência associada, o isolamento, a insuficiência de vagas em lares de rede solidária e da rede de cuidados continuados, têm também vindo a ter um impacto cada vez maior no número de pessoas apoiadas para pagamento de lares. Em 2010 o apoio dado com esta finalidade cresceu em 17%. De facto, na cidade de Lisboa não existe uma rede de cuidados continuados que de acordo com as necessidades e o índice de envelhecimento, que da parte da manhã já se focou bastante. ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- O apoio de saúde prestado através das unidades locais de saúde da Misericórdia abrangeu, em 2010, 20645 pessoas, mais 13% do que em 2009. Este apoio traduz-se no acesso a consultas de especialidade e, em muitas situações, acesso a aquisição gratuita de medicação. Portanto, também temos outras medidas como a formação e qualificação, o apoio à formação e qualificação e à empregabilidade destes públicos, que, como já foi descrito, têm baixos níveis de escolaridade e de qualificação profissional. -------------------------------------------------------------------------------------- ----- Assim, desenvolvemos através de 3 centros de formação profissional, acções de formação e acções de apoio à inserção profissional, de reconhecimento, validação e certificação de competências e de programas de desenvolvimento de competências pessoais e sociais, dado que verificamos que há um número significativo de pessoas que não correspondem às condições de entrada nos cursos de formação profissional, portanto, há que tratar a montante, há que apoiar, na aquisição de competências básicas sociais e pessoais------------------------------------------------------------------------ ----- Através da rede de equipamentos de primeira e segunda infância, que é vasta, e que envolve as creches, creches familiares, jardins de infância, priorizamos a admissão de crianças e famílias e risco e/ou em situação socioeconómica precária, promovendo desta maneira a igualdade de oportunidade no acesso a serviços. ---------- ----- As actividades de animação sociocultural desenvolvidas junto de jovens, educa-os para a cidadania e potencializa a sua inserção pessoal e social. A intervenção junto de famílias com crianças em risco, também é bastante importante e envolve um número significativo de famílias e equipas. -------------------------------------------------- ----- No âmbito das pessoas idosas nós temos feito um investimento na qualificação, mas não só, na experimentação de novas respostas, que vão desde a criação de residência assistida e privilegiando sempre medidas de permanência em meio natural de vida com os apoios diferenciados, conforme os perfis que vão surgindo, que vão sendo diferenciados há medida que a sociedade vai evoluindo. ----------------------------

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----- Temos também um banco de ajudas técnicas, um centro de avaliação geriátrico e de recursos gerontológicos, no âmbito da promoção de uma sociedade inclusiva, apoiamos comunidades urbanas marginalizadas, em particular incidência de problemáticas sociais de exclusão social, promovendo iniciativas de desenvolvimento social. --------------------------------------------------------------------------------------------- ------ Estas são algumas das medidas que implementamos das respostas que desenvolvemos, porque há outros grupos que nós apoiamos neste reequilíbrio que pretendemos de desenvolvimento de todos, portanto, desde o apoio a ex-reclusos, a pessoas infectadas com o HIV, à integração de imigrantes, à população sem abrigo, a mulheres vítimas de violência. ----------------------------------------------------------------- ----- Abreviando, a Misericórdia participa em várias parcerias com entidades públicas e privadas, está implantada na cidade de Lisboa e tem orientado a sua intervenção de acordo com as necessidades decorrentes do contexto socioeconómico e cultural, e particularmente o contexto sócio-demográfico da Cidade, privilegiando o desenvolvimento de medidas de apoio á inclusão na comunidade. Mais do que centrar-se nas limitações dos Lisboetas, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa procura encarar as suas potencialidades para nelas encontrar o ponto de partida para o desenvolvimento da sua vida e do seu bem-estar. -------------------------------------------- ----- Dr.ª Anabela de Sousa, muito obrigado. Agora apresento-vos a Dr.ª Susana Ramos, que é Directora de Acção Social da Câmara Municipal de Lisboa.--------------- ----- Doutora Susana Ramos, Directora da Acção Social da CML: ------------------- ----- Antes de mais, o meu agradecimento ao convite que foi feito à Câmara através da Dra. Simonetta Luz Afonso, o Dr. António Pinheiro Torres, cumprimentar todos os Srs. e Sras. presidentes de Junta, Srs. e Sras. Deputados Municipais, público em geral. É com muito gosto que trazemos aqui as respostas que são promovidas pelo departamento de Acção social no que diz respeito ao Município de Lisboa e àquilo que são as diversas parcerias por nós firmadas e para além de algumas intenções, de alguns projectos que temos a decorrer e para as quais também o futuro envolvimento de algumas das entidades que aqui estão, será com certeza bastante profícuo. ----------- ----- Desta forma, e num aspecto também muito abreviado, aquilo que é a nossa missão é o combate à pobreza, à exclusa social e promoção de inserção social de grupos e comunidades mais vulneráveis. Os objectivos estratégicos são por um lado, melhorar e reforçar a actuação da CML, reforçar a rede de equipamentos sociais, reforçar as sinergias/parcerias com entidades privadas sem fins lucrativos, designadamente as IPSS, a Administração central e local e, particularmente, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que é quem tem a Acção Social, no Município de Lisboa, contrariamente aos outros municípios do nosso país. Reforçar também a articulação/comunicação com os munícipes, para nós isto é fulcral, bem como com as instituições e outras áreas da Câmara, assegurar um modelo de gestão eficiente e participativo e inovar as actuais metodologias e programas de intervenção social, segundo as melhores práticas nacionais e internacionais. ----------------------------------- ----- Que tipo de respostas é que nós prestamos? Para além daquilo que são outras respostas avulso, tentei organizar a comunicação naquilo que são as nossas respostas

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fundamentais e também organizadas no sentido da parceria com as Juntas de Freguesia ou através das IPSS, ou em algumas respostas directas ao munícipe, porque também as temos. No fundo, essencialmente actuamos ao nível do envelhecimento activo e saudável, das famílias, da intervenção com pessoas sem abrigo, da promoção da saúde, das dependências, deficiência, interculturalidade, voluntariado e igualdade. - ----- Ao nível do envelhecimento activo e saudável, eu gostaria de referir em primeiro lugar, que obviamente o envelhecimento tem tido uma importância crescente naquilo que diz respeito ao território, não só da cidade de Lisboa, mas também ao território nacional e tem-se constituído como uma das grandes preocupações dos tecedores políticos e também de todas as pessoas que actuam ao nível do planeamento urbano, já que importa e urge criar respostas adequadas ao envelhecimento da nossa população, tanto mais que a preocupação com o papel que os idosos irão ter na nossa sociedade, não é algo que tenhamos de nos preocupar em termos de futuro, mas sim em termos de presente, portanto, como é óbvio é algo que para nós é muito concreto e muito actual. Por outro lado, é tão actual que no próximo ano será o ano europeu do envelhecimento activo e saudável, portanto vai ser um desafio que nos vai ser colocado a todos, para que consigamos constituir respostas eficazes e respostas que, acima de tudo, consigam ir ao encontro daquilo que são as ambições de todos nós relativamente ao envelhecimento activo e saudável. ---------------------------------------- ----- Em 2007, através deste despacho que está aqui referido, foi constituído o Plano Gerontológico Municipal, que tinha como objectivo perceber por um lado como é que está a envelhecer a população do município de Lisboa, mas obviamente, criar respostas para ir ao encontro deste envelhecimento, daquilo que se perspectiva e prospectiva em termos da nossa Cidade. Este Plano Gerontológico Municipal tem uma duração como qualquer Plano, teve o princípio em 2009 e o fim em 2013. Assenta fundamentalmente em 4 eixos primordiais. Por um lado, a promoção da informação e das formas da participação das pessoas com 50 e mais anos (não nos esqueçamos que estamos a falar de envelhecimento activo e saudável), portanto, preocupa-nos actuar a montante, para a identificação e resolução dos seus problemas, ou seja, saber é poder, já Michel Foucault nos dizia, e obviamente que quanto mais informadas as pessoas estiverem, teremos com certeza uma sociedade mais activa e participativa, e será com certeza uma mais valia. ------------------------------------------------------------------------- ----- Por outro lado, a melhoria do habitat e das acessibilidades e espaço público e em espaço doméstico - posso recordar também que em 21 de Setembro do ano passado tivemos uma acção de auscultação pública a idosos do nosso município, para perceber as questões da acessibilidade, a qual foi bastante participada e para nós, certamente, uma mais valia – a promoção da segurança, a parte de estratégias de combate à solidão e isolamento, uma preocupação muito actual, promoção de acções de oferta de oportunidades da melhoria de competências sociais das pessoas mais velhas e a oferta de serviços de proximidade de qualidade. ----------------------------------------------------- ----- Temos vários programas, várias respostas, vou referir apenas algumas. Por um lado, o programa de envelhecimento activo e saudável em colaboração directa com as Juntas de Freguesia – posso dizer já que o ano passado participaram 47 Juntas de

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Freguesia das 53, portanto houve uma adesão massiva. Com o objectivo de promover a qualidade de vida dos seniores e dos seus direitos e cidadania, criar respostas adequadas às suas novas necessidades e fomentar a participação activa das pessoas na promoção da sua saúde, autonomia, independência, bem como na vida da sociedade em geral e das comunidades em particular. --------------------------------------------------- ----- Outra resposta, terei de ser sucinta (depois, obviamente disponível para qualquer questão), é o Programa Praia /Campo Sénior, bastante conhecido também, que tem como objectivo proporcionar aos seniores da Cidade a ocupação dos tempos livres em momentos de convívio, lazer e confraternização na praia e no campo, bem como promover o bem estar e a qualidade de vida nos tempos livres. Mais uma vez também participaram aqui 47 Juntas de Freguesia, perto de 2000 seniores. ------------------------ ----- O Serviço de Tele Assistência, em parceria com a Cruz Vermelha Portuguesa, que tem como objectivo essencial a manutenção da autonomia dos idosos no domicílio com dignidade e segurança, estamos a falar de um dispositivo em casa dos idosos, e que numa perspectiva constante e contínua e continuada, 24 horas, 365 dias por ano, está activo este serviço para qualquer emergência que eventualmente seja necessária. Posso dizer também que o Tele-Assistência está a ser trabalhado com a Fundação PT, no sentido de alargarmos a mais idosos e tentarmos a gratuitidade deste serviço, porque os idosos neste momento teriam de pagar cerca de 8 euros por mês, e sabemos que na maioria das vezes isto é um constrangimento, portanto, é uma preocupação acentuada para nós que isto esteja resolvido.---------------------------------- ----- Ainda ao nível do envelhecimento activo e saudável, também de uma forma muito abreviada, foi elaborado o Guia de Lisboa para a Idade Maior, houve já uma 2º edição, está a ser actualizada, e acreditamos que este é um guia de recursos bastante interessante e importante para a nossa Cidade. ---------------------------------------------- ----- Várias comemorações do dia do Idoso, voluntariado sénior, a participação dos seniores na nossa Cidade, e estamos a preparar o Programa Ajuda Lisboa que em breve também irá a reunião de Câmara para que possa existir uma resposta concertada, no sentido de promover uma articulação de serviços e de algumas respostas já existentes, no sentido de minimizar as situações de idosos em situação de isolamento na nossa Cidade, para além de outros serviços adicionais, como o acesso à saúde, a segurança, portanto, outras questões também fulcrais que depois iremos apresentar. ---------------------------------------------------------------------------------------- ----- Ao nível das famílias, quatro respostas também muito rápidas. O Programa Praia, Campo e Infância, que também é sobejamente conhecido, que não só faz 20 anos este ano enquanto Programa Praia, Campo e Infância efectivo, mas posso recordar que já em 1908, Lisboa promoveu os banhos de mar para as crianças carenciadas da nossa cidade. --------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Este programa contribui para o desenvolvimento integrado das crianças, prevenindo eventuais situações de risco e promovendo a igualdade de oportunidades, é um dos seus objectivos, e naturalmente existem mais três; promover o desenvolvimento de competências pessoais e sociais, apoiar as famílias no acompanhamento das crianças no período de férias escolares, contribuindo para o

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combate à exclusão social, ainda que em períodos limitados - o objectivo é que isto também seja concertado com outras respostas, contribuir para a promoção de hábitos de vida saudáveis, proporcionando momentos de lazer e divertimento, estimulando a actividade física, a relação, o respeito pelo meio ambiente, bem como, facultar o conhecimento de locais de interesse histórico e cultural e acima de tudo estimular a participação em grupo, as regras, e tudo aquilo que está inerente ao desenvolvimento infantil. -------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Duas respostas que também gostava de mencionar, por um lado, uma resposta mais a nível local, e outra resposta mais ao nível da Cidade. Por um lado a Ludoteca Crescer a Brincar no Bairro Padre Cruz é uma resposta, local, de porta aberta, onde as crianças do bairro frequentam actividades, no sentido de promover uma resposta que possa criar um desenvolvimento bio-psicosocial integrado destas crianças. ------------- ----- Por outro lado, o espaço A Brincar no Bairro da Liberdade. Este espaço, acima de tudo, trabalha tendo como objectivo fulcral a Convenção dos Direitos da Criança, e este ano fazem 22 anos desde que foi criada a Convenção dos Direitos da Criança, portanto, acima de tudo, trabalha com crianças, com jovens, mas também com pais, com professores e com técnicos em geral. ---------------------------------------------------- ------ Ao nível dos sem abrigo, temos essencialmente duas respostas mais concretas, mas a nossa preocupação nesta área é estarmos efectivamente a tentar concertar e coordenar a actuação que é feita ao nível das respostas dos sem abrigo na Cidade de Lisboa, porque sabemos que ainda há um longo caminho a percorrer, ainda que tenha sido criada a estratégia nacional de resposta aos sem abrigo em 2009, há uma preocupação efectiva de que Lisboa também tenha uma resposta concertada, porque todos sabemos que existem muitas falhas neste aspecto. ----------------------------------- ----- Por um lado, a equipa de rua da Câmara de Lisboa, a ERASA, é uma equipa que não só faz atendimento local, na rua, mas por outro lado, também tem atendimento em gabinete, de cariz multidisciplinar, através do contacto, motivação e acompanhamento psico-social desta população. Sabemos que não é um crime estar na rua, portanto tem sempre que ser através da adesão às respostas existentes na Cidade, portanto, é sempre difícil, posso dizer desta forma, a actuação com este grupo, tendo em conta que é tão diferenciado que as próprias respostas também têm de o ser, e portanto, estamos a caminhar neste sentido. ------------------------------------------------------------------------- ----- São parcerias que nós firmámos também, seja ao nível das IPSS, Centro Distrital de Segurança Social de Lisboa, através do IS, a Santa Casa e outros serviços da Câmara. Centros de alojamento temporário, temos uma articulação/protocolo com três centros de alojamento, o centro de brigo da Graça, do Beato/Xabregas e também com várias parcerias para o desenvolvimento deste género de alojamentos, essencialmente aquilo que é o papel da Câmara nestes centros é o apoio financeiro e técnico, no acompanhamento destas pessoas. -------------------------------------------------------------- ----- Existe também o tal Plano Cidade para os sem abrigo, que se consubstancia fundamentalmente na preocupação de articular as respostas, e que tem a presença de várias entidades, não só da Câmara, mas também da Segurança Social, da Santa Casa, das várias instituições, para que não haja duplicação das respostas, porque muitas

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vezes sabemos também que isto acontece e portanto, é esse o objectivo essencial deste Plano. ---------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Por outro lado, uma resposta ainda que pontual, mas muito importante, um plano de contingência para a população de rua face às vagas de frio. Isto é uma resposta que funciona em articulação absoluta com a Protecção Civil, com o Regimento de Sapadores Bombeiros, e com outros serviços municipais e também a IPSS, a Santa Casa e o IS, no sentido de promover num espaço físico, e quando efectivamente a temperatura desce abaixo dos 3º, uma resposta, não de alojamento (há depois o encaminhamento do alojamento), mas de refeições mais fortalecidas, mais compostas, mas também de agasalhos, para que possamos ter esta articulação. Este Plano é um exemplo específico de que é possível articular e criar respostas coerentes com as necessidades. ------------------------------------------------------------------------------------- ----- Ao nível da promoção da saúde, porque uma das competências que está no Departamento de Acção Social, ainda que não tenha a designação na sua nomenclatura da saúde, é a área da saúde. Muitas vezes nós pensamos que a área da saúde diz respeito à Administração central, mas existe muito mais para além daquilo que são os centros de saúde, os hospitais, existe a promoção da saúde e essa é também da responsabilidade da autarquia. -------------------------------------------------------------- ----- Tornar um município saudável é algo que tem que estar presente nas responsabilidades de todos nós, por isso mesmo está a ser constituído este Plano Municipal de Saúde, não só para articular e concertar, mais uma vez, as respostas que já existem, mas também para ir ao encontro das necessidades que são evidentes ao nível da promoção de estilos de vida…” ------------------------------------------------------ ----- Deputado Municipal Luís Filipe da Silva Monteiro, Presidente da Junta de Freguesia de Santos-o-Velho: ---------------------------------------------------------------- ----- “ A freguesia de Santos-o-Velho não tem uma “varinha mágica”, em relação à rede social tudo o que vem sendo feito é com trabalho de fundo que vem desde 2005, ano em que foi criado o Fórum Social e, a partir dessa altura o trabalho em parceria começou a ser feito e em 2007, foi quando aderimos à Rede Social, em Lisboa. -------- ----- O trabalho que têm vindo a desempenhar na Rede Social é um trabalho distinto da Junta, o trabalho da Junta tem o seu plano de actividades, como sabiam, e o trabalho da Rede Social também tem o seu plano de actividades, é trabalho da Comissão Social. Não são, por isso, coisas que se misturem, são coisas totalmente à parte com um único rumo, um único caminho, um único sentido que é as pessoas e o seu bem-estar. ------------------------------------------------------------------------------------ ----- Esse trabalho deve-se não só a quem está na Junta, ao seu Executivo, como também a uma extraordinária equipa de técnicos que a Junta de Freguesia tem, e que têm desempenhado aquele trabalho com todo o entusiasmo, com todo o labor. --------- ----- Também, têm cinquenta parceiros, não se restringem só à área da Freguesia, alargaram essa área de intervenção, e muitos dos parceiros não estão nessa área da Freguesia, e é importante que fossem alargados os horizontes e que fossem seguidas aquelas linhas de actuação. ---------------------------------------------------------------------

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----- Não vou alongar-me muito, até porque entendo não ser o próprio a apresentar este trabalho, deviam antes serem os técnicos e os parceiros a falarem disto; temos cinquenta parceiros todos diferentes os quais preservam a sua identidade e que, quer da parte da Junta, quer da parte destes parceiros, há um respeito mútuo pelo trabalho desempenhado, com uma única intenção; não trabalham para números, o único interesse são as instituições em si e com quem trabalham, gostam do seu trabalho em conjunto, e esse trabalho é feito com toda a identidade, seguindo sempre um rumo e que é as pessoas, não os números, são as pessoas e o seu bem-estar. --------------------- ----- Apresento a Dr.ª Mónica Dias, que é a Coordenadora do Gabinete de Apoio à Família da Junta de Freguesia de Santos-o-Velho, e a Dr.ª Carolina Sanches que é um dos parceiros da Junta, do Centro de Saúde da Lapa, e que poderá pormenorizar de forma mais clara toda a acção que é feita na Junta de Freguesia de Santos-o-Velho. --- ----- Doutora Carolina Sanches, Centro de Saúde da Lapa: --------------------------- -----“Não se trata de nenhuma apresentação é apenas uma partilha enquanto parceira da Comissão Social de Freguesia de Santos-o-Velho, tal como foi anteriormente referido pelo Senhor Presidente. Esta Comissão conta com cinquenta parceiros e sete grupos de trabalho, sendo que uma das características daquela Comissão Social de Freguesia é a diversidade da pareceria em todas em áreas, e apela à dimensão estético-expressiva. ---------------------------------------------------------------------------------------- ----- Tem, também, sete grupos de trabalho, como já tinha referido, e a própria está integrada no núcleo executivo da Comissão Social de Freguesia, enquanto representante do Centro de Saúde da Lapa, e aparece integrada no grupo da parentalidade, grupo da formação, grupo da juventude, grupo da comunicação, grupos esses que faziam parte da Comissão Social de Freguesia. ---------------------------------- ----- Qualquer parceiro que integre pela primeira vez a Comissão Social de Freguesia tem um ritual; deixa o seu nome num peixe que caracteriza a rede social e, portanto, a Comissão Social de Santos-o-Velho. Um peixe porque o Bairro da Madragoa que está integrado na Freguesia de Santos-o-Velho, tem uma longa história e tradição de varinas, e daí a inspiração dos peixes. --------------------------------------------------------- ----- Outras das actividades que esta Comissão tem é os encontros de desafios de cidadania participativa com vários temas e debates sobre os vários problemas existentes na Comissão e dos grupos de trabalho. Como podem ver, são algumas das actividades que têm sido desenvolvidas pela Comissão, cujo trabalho dela fazem parte. ---------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Doutora Mónica Dias, Coordenadora do Gabinete de Apoio à Família da Junta de Freguesia de Santos-o-Velho: ---------------------------------------------------- ----- “Estava um bocadinho aflita mas confesso que já estou um bocadinho mais tranquila porque o Senhor Presidente disse que os técnicos são extraordinários e, por isso, aproveito este grande momento, o que agradeço. Sou um bocadinho, irrequieta, portanto, caso me vejam aqui de um lado para o outro… tenho comigo uns peixinhos, e eu tenho este defeito, viro tudo ao contrário e por isso espero não vir a ter uma represália por isso. -------------------------------------------------------------------------------

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----- De manhã ao ouvir a Senhora Vereadora Helena Roseta em que a própria dizia: “as pessoas queixam-se de tudo”, o que de facto é verdade. Faço atendimento directo à população e, de facto, as pessoas queixam-se de tudo. E, devolvendo a questão, pergunto: e como é que nós lhes respondemos? ---------------------------------------------- ----- E penso que a resposta é que nós devíamos responder-lhes de forma integrada e com sentido. Mas realmente, o que nós fazemos muitas vezes é responder-lhes de forma espartilhada e às vezes, sem sentido nenhum, completamente ao lado. ----------- ----- Então, eu aproveito esta oportunidade, não só para falar da Comissão Social da Junta de Freguesia de Santos-o-Velho, mas para reforçar a importância da rede social, neste caso a de Lisboa, pois é dela que estamos a falar, porque a rede social efectivamente ainda não existe e desculpem-me mas é a verdade. Agora, todos nós temos um papel muito importante na construção desta rede, e para que ela não tenha de facto, um buraco, aliás, de manhã a Dr.ª Ana Cardoso dizia: “que é uma teia de relações horizontalmente, construídas e consolidadas”, e portanto é por aí que temos de andar. ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- Nós, depois, temos um peixinho para deixar. É mesmo simbólico, mas o simbólico é mesmo fundamental e está em tudo, e nós temos de estar muito atentos a ele. E o peixinho diz assim: sozinhos vamos mais rápido, juntos vamos mais longe. E isto é mesmo verdade, e agora o pouco que eu posso partilhar da minha experiência da Comissão Social de Freguesia de Santos-o-Velho é que temos experimentado com algumas limitações, com algumas fragilidades, mas temos experimentado que, efectivamente, o trabalho em parceria é possível, e que o trabalho em parceria dá frutos e que alguns não conseguíamos ver logo, mas temos de ter paciência. Então, eu penso que o primeiro investimento é no grupo, no grupo de parceiros. E aqui, as Juntas de Freguesia, e estão aqui muitos Presidentes de Junta, têm um papel fundamental que é o de acolher, fazer com que todos se sintam em pé de igualdade, com que todos tenham o seu espaço, com que haja a oportunidade de todos exporem as suas opiniões, de partilhar, porque se um grupo não se entender, não falar a mesma linguagem, não partilhar as metodologias, então nós estamos a trabalhar para quem, se nós nem sequer nos conseguimos entender entre nós próprios? ---------------------------- ----- Ontem à noite o Presidente António Costa dizia na televisão uma pequenina frase que eu achei fantástica: “em Portugal a coisa mais difícil que existe é sentar duas instituições à mesma mesa”. Se isto é de facto verdade, estamos muito mal, mas achava que se em Santos-o-Velho tinham conseguido fazer alguma coisa, tem sido isto, sentar vários parceiros, e neste momento, muitos à mesma mesa, e a tentar dar um salto para aquilo que é o verdadeiro trabalho em parceria que é, não só fazer trocas, e a troca é isto, fazer o que nós fazemos muitas vezes; eu não tenho carrinha então peço ao Centro Paroquial a carrinha porque agora preciso da carrinha para a actividade. Eu preciso de uma vaga para uma criança então contacto a creche para o conseguir, e temos uma boa relação, mas isto não é parceria, a parceria exige muito mais do que isto, a parceria é de facto todos sentarmo-nos a uma mesma mesa, reflectirmos em conjunto, decidirmos em conjunto, priorizarmos a intervenção em conjunto, conhecermos efectivamente o território e as necessidades daquele território

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e, sobretudo as necessidades das pessoas que habitam aquele território, e planearmos a intervenção em função dessas necessidades, e não em função daquilo que me parece a mim mais importante, ou aquilo que presentemente está mais na moda, ou daquilo que para a Junta de Freguesia faz mais sentido, ou daquilo que para outra instituição faz mais sentido. ------------------------------------------------------------------------------------- ----- Portanto, a mensagem que nós vos deixamos é esta; penso que uma riqueza que existe em Santos-o-Velho é a diversidade de parceiros. Nós tentamos fugir desde o início, àquela perspectiva mais tradicional para discutir os assuntos sociais se chamam os parceiros sociais; a saúde, a habitação, a Santa Casa, ora isso já lá estão, e têm competências próprias, e já andamos a discutir todos juntos há muito tempo. Então, temos de trazer para a discussão outros parceiros que têm outra visão, então chamemos o pessoal do teatro, das associações, da cultura, as empresas, chamemos essas pessoas porque essas pessoas têm outra perspectiva e temos todos de pensar em conjunto, e porque não, também, e é aqui que o caminho é mais difícil, mas que estamos a tentar fazê-lo, chamar as próprias pessoas, aqueles que são os nossos públicos-alvo, para com eles discutirmos e decidirmos aquilo que faz mais sentido para resolver os seus problemas, então quando conseguirmos fazer este caminho, aí haverá rede, aí nós daremos respostas de forma integrada e, aí a Cidade de Lisboa será outra com certeza.” ------------------------------------------------------------------------------ ----- Deputado Municipal Luís Filipe da Silva Monteiro, Presidente da Junta de Freguesia de Santos-o-Velho: ---------------------------------------------------------------- ----- “ Eu penso que foi enriquecedor o depoimento da Dr.ª Mónica Dias e da Dr.ª Carolina Sanches, mas não queria terminar sem deixar aqui um desafio aos restantes Presidentes de Junta que ainda não têm a sua Comissão Social de Freguesia, e dizer-lhes que o investimento na Comissão Social de Freguesia é fundamental enquanto fonte de suporte formal de técnicos para técnicos, de técnicos para pessoas, e das pessoas para as pessoas. É com esta frase que eu quero terminar, e penso que ficaram com uma ideia de como se trabalha em Santos-o-Velho, como é que trabalha a Comissão Social de Freguesia que trabalha de modo idêntico á Junta de Freguesia, mas são órgãos completamente distintos.” --------------------------------------------------- ----- Deputado Municipal João Nuno Neves Ferro, Presidente da Junta de Freguesia da Lapa: ---------------------------------------------------------------------------- ----- “ Começo por agradecer o convite ou deverei antes dizer, o desafio, é que falar da Comissão Social da Junta de Freguesia da Lapa, depois da intervenção do Senhor Presidente da Junta de Freguesia de Santos-o-Velho, dos seus técnicos e dos seus parceiros, sobre a sua comissão e do trabalho reconhecido da qualidade que têm desenvolvido, é um desafio. É um facto, mas posso, contudo, partilhar o que tem sido a nossa experiência ao longo destes três anos, muito à imagem do excelente trabalho já realizado por essa comissão. Contudo, desistir não é próprio de quem acredita que há sempre mais para fazer. --------------------------------------------------------------------- ----- Começamos por, em conjunto, realizar uma primeira aproximação diagnostica da realidade da freguesia, depois decidiu-se, com prioridades, três grandes áreas: a ideia de que a Lapa é uma freguesia com poder económico e estatuto social elevado tem

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resultado num problema com características muito peculiares, é que parte da população com carências evita recorrer às instituições da freguesia e à própria Junta. -- ----- Além do desemprego, as situações de carência têm vindo a aumentar; a pobreza envergonhada é também um grande problema. Acresce, ainda, que a população da freguesia se encontra bastante envelhecida o que nos coloca um problema de isolamento e de exclusão social muito devido às crescentes das dificuldades de locomoção próprias da idade. ------------------------------------------------------------------ ----- Por último, debatemo-nos com o aumento significativo dos casos de insalubridade na freguesia. Foi, portanto, dado o mote para a criação da comissão que tinha como objectivos; realizar, primeiro, um diagnóstico o mais aproximado possível da realidade social, sinalizar as situações mais graves de pobreza e de exclusão social, e definir propostas de actuação, promover parcerias que fomentassem mecanismos de rentabilização dos recursos existentes na freguesia, promover a articulação da acção social dos agentes da freguesia, promover acções de informação e outras iniciativas que visem uma maior consciência colectiva dos problemas sociais, e recolher informação relativa aos problemas identificados no local. --------------------------------- ----- Infelizmente, a nossa comissão é muito mais pequena do que a de Santos-o-Velho, só tem neste momento doze membros e quatro parceiros convidados, e contamos também com a presença do Projecto Intervir. ------------------------------------ ----- Ao longo destes 3 anos foi possível estabelecer parcerias que funcionam efectivamente, os parceiros conhecem-se e muitas vezes um simples telefonema resolve muitas questões, solucionando problemas graves de pobreza e exclusão social, optimizamos os recursos existentes e envolvemos a população enquanto intervenientes no processo de combate à pobreza e à exclusão social. -------------------- ----- Foram criadas as bases que permitem a troca de informação entre os membros, facilitando assim a identificação das famílias apoiadas no âmbito social, pelas instituições que constituem a comissão, eliminando as duplicações ao mesmo tipo de apoio, às mesmas famílias e pessoas. Está a ser criado um guia de recurso da freguesia e já está em fase um núcleo de voluntariado. ------------------------------------------------- ----- Para minorar as questões de desemprego e de exclusão social a comissão uniu esforços com o Centro Padre Alves Correia, nominado CPAC, que tem como missão a integração de emigrantes em risco de exclusão social, através do apoio psico-social e da ajuda de procura de trabalho, ajuda na regularização, de acompanhamento pessoal e familiar, criação de competências individuais e sociais, e inserção no mercado de trabalho, ou criação de próprio emprego. Foi no âmbito da inserção do mercado de trabalho que esta parceria deu frutos através da criação do Gabinete de Inserção Social, graças a ele, no ano passado, 215 pessoas foram colocadas a trabalhar, e 137 em curso de formação profissional remunerado. --------------------------------------------- ----- Ainda no que respeita ao combate à pobreza, no seguimento da parceria com o projecto Sosal – oficinas de S. José, para integrar a equipa desse projecto permitiu às famílias com menores a cargo, e pertencentes à freguesia, usufruir de apoio alimentar mensal, acompanhamento familiar, acompanhamento psicológico. Saliento que todo o trabalho de angariação de géneros de primeira necessidade, desde a organização das

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campanhas à sua implementação, armazenamento e distribuição, é da total responsabilidade dessa parceria. Para que tudo isso se tornasse possível, foram organizados protocolos com doze instituições, diferenciadas na acção e nos objectivos, quero salientar o impacto que estas parcerias tiveram no aumento da abrangência populacional, porque os técnicos que compõem a equipa do projecto não fazem diferenciações territoriais. Por outro lado, as parcerias realizadas com instituições de intervenção social, e/ou educativa, não discriminou utentes por áreas de abrangência. Mas o importante de tudo é que se há problemas de uma forma, ou de outra, todos em conjunto tentam encontrar a solução possível, nunca se deixa por resolver um problema e no fundo toda a população que pertence às instituições envolvidas nos protocolos é apoiada em caso de necessidade. ----------------------------- ----- Uma outra questão que pretendo salientar prende-se com a importância que os jovens têm nesta parceria. Eles participam nas campanhas e realizam voluntariado nas instituições parceiras, temos neste momento 60 jovens, com idades entre os 15 e os 18 anos, no voluntariado educativo. -------------------------------------------------------------- ----- No que respeita ao aumento do número de idosos em situação de isolamento e de exclusão social, a actuação realizou-se a dois níveis; para os idosos com mobilidade a Junta criou a Academia Sénior e os programas de envelhecimento activo e saudável, para responder ás necessidades de idosos com pouca, ou nenhuma, mobilidade houve a necessidade de realizar parecerias com instituições que, não sendo da Freguesia da Lapa, a abrangem em termos de apoio domiciliário. ---------------------------------------- ----- No que respeita aos casos de insalubridade, uniram-se esforços com a divisão de Higiene e Controle Sanitário, da Câmara Municipal de Lisboa, com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com a PSP, com os Serviços Sociais e com os Serviços de Saúde Pública do centro de Saúde da Lapa, tornando possível a resolução de casos que, por vezes, eram um perigo para a saúde pública. Os técnicos das várias instituições organizam-se para avaliar a situação dos utentes referenciados, realizando visitas domiciliárias conjuntas, em função dos problemas e necessidades dos mesmos, sendo que todas as acções são distribuídas entre os técnicos em função das competências legais das instituições por acordo entre si. ----------------------------------- ----- Por tudo o que foi dito, consideramos ter atingido alguns objectivos relevantes, nomeadamente; desenvolvimento de uma maior cooperação e articulação entre as instituições parceiras de modo a responder rápida e eficazmente aos problemas sentidos pelos moradores, maior partilha das tarefas pelos técnicos das instituições, maior proximidade entre as instituições, criação de mecanismos que permitem uma maior, e rápida, circulação de informação entre os parceiros, é de referir que se tem conseguido o combate à duplicação de apoios, aceita-se a especialidade de intervenção de cada instituição e tira-se partido dela, cada um é perito na sua área e evitam-se que todos façam o mesmo e que trabalhem para as mesmas pessoas. -------------- Conseguiu-se também o aumento significativo da proximidade das instituições á população e, vice-versa. Sentimos existir, ainda, um longo caminho a percorrer para que este organismo se torne mais visível na comunidade, a nossa experiência demonstrou que as instituições trabalham em pareceria e que têm um profundo

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conhecimento da situação real das populações que intervêm. O grande desafio que está em encontrar novas formas de intervenção, que respondam em tempo útil às mudanças sociais. È necessário um novo paradigma que se centre nas potencialidades, nos recursos e nos factores protectores das populações e que quebre este fado de exortação à desgraça e ao que está mal. ------------------------------------------------------- ----- Espero que um dia a Comissão Social de Freguesia da Lapa possa-se reunir para celebrar o decréscimo da pobreza, da exclusão, do desemprego, do isolamento, provocado pelo acréscimo significativo da cidadania activa e da rede de suporte social comunitário. -------------------------------------------------------------------------------------- ----- O nosso sistema social não pode continuar a alimentar-se, e alimenta a precariedade, o subsídio e a miséria. A finalidade da Comissão Social é, e será sempre, por um lado reduzir a pobreza e a exclusão, por outro, sempre que possível eliminar as causas individuais e sociais que levaram à sua criação, assistir e autonomizar será sempre o nosso lema.” ----------------------------------------------------- ----- Doutor José Soares Ferreira, Associação Nacional do Micro-Crédito:---------- ----- “ Obrigado pelo convite. O micro crédito foi criado por um senhor chamado Muhammad Yunus como todos sabem, foi Nobel da Paz recentemente, com o objectivo concreto de tentar de tirar da pobreza extrema milhares, ou mesmo, milhões de pessoas. O conceito de micro crédito que o próprio criou em 1976, tem uma grande bondade e simplicidade ao ponto de em todo mundo, existem organizações que tentam desenvolver esse tipo de actividades. --------------------------------------------------------- ----- A ANDC, a Associação Nacional de Direito ao Crédito foi criada nos anos 90, ou 93, acho eu, 89, bom há doze anos creio eu, é uma associação sem fins lucrativos e de utilidade pública e que foi muito inspirada pela obra do Yunus, no combate à pobreza. ----- A primeira ideia que eu gostava de vos deixar é que micro crédito não tem nada a ver com dinheiro, ou com criação de negócios. Micro crédito tem a ver fundamentalmente, com a procura de nós criarmos mecanismos e meios de ajudar pessoas a sair da pobreza, se é através de dinheiro ou de negócios, isso é a ferramenta, eu costumo dizer que isso é o veículo, o nosso objectivo fundamental é conseguir trabalhar com as pessoas, aos mais variados níveis, e tentar que elas passem a ter alguma capacidade e algum poder sobre a sua própria vida, que saiam do estado de inactividade em que por vezes estão rodeados, e que tenham a coragem e a ousadia de tentar fazer algo pelas suas próprias vidas. --------------------------------------------------- ----- O dinheiro é meramente um instrumento, uma ferramenta que nós usamos para ajudar a pessoa, mas o grosso nada tem a ver com dinheiro ou com negócios. Eu costumo pensar que os negócios, o empreendorismo é uma coisa que está muito baralhada, mas que para mim é diferente, o negócio é para nós uma espécie de veículo e, nós podemos ter o melhor veículo do mundo mas se tiver um mau condutor, ou se este não estiver preparado, ou habilitado a conduzir esse veículo, vai dar desastre de certeza. Portanto, focarmo-nos no desenvolvimento das competências das pessoas é isso que a ANDC tenta realizar, primeiro motivando pessoas a trabalhar nas suas ideias, nos seus projectos, naquilo que aspiram, depois tentando lhes fornecer o capital necessário para realizar esse projecto, e depois continuando a acompanhar a pessoa de

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forma que o negócio funcione, portanto, que seja exequível. Mas não é uma tarefa fácil, o trabalho, ou a luta contra a exclusão social, contra a pobreza, eu costumo dizer que é uma espécie de maratona, ou daquelas corridas de estafetas em que há um conjunto de estafetas que nós, no nosso cantinho, achamos que somos bons naquilo que fazemos, na área pela inclusão pela economia, mas nós só cumprimos um bocadinho desses percursos. Para termos êxito à necessidade de termos muita coisa antes, e muita coisa depois. --------------------------------------------------------------------- ----- Os contextos da exclusão foram criados por processos muito longos e complexos. As pessoas não caíram na pobreza de um dia para o outro, ou porque houve uma crise financeira e agora estamos pobres, não! Houve sim, forças muito grandes que empurraram e cercaram as pessoas, e que de alguma forma lhes tiraram essa capacidade de quererem ser donas de si próprias, ou os meios. Qualquer solução e que tinha um pouco a ver com o que uma senhora à pouco falou, e que foi muito aplaudida e de quem não me recordo o nome, adorei ouvi-la, tinha a ver com a integração, a criação de um negócio é um passo dentro de uma cadeia. O desenvolvimento de competências pessoais deve estar enquadrados em políticas mais globais de empregabilidade, senão a criação de negócios parece como uma espécie de fórmula mágica, tipo pára-quedistas; não tem perigo, salte connosco, e isso não é uma boa política, e para mais há um certo milagre curioso e que é; se pessoas que, fruto de um conjunto de contingências estão num contexto de exclusão social, muitas vezes com experiências de trabalho muito limitadas, em que têm funções muito braçais, como é que nós podemos pensar que todas essas pessoas poderão, no futuro, pensar e criar um negócio e serem felizes? É um bocadinho conto de fadas, essas pessoas têm dificuldades em se encaixarem no mercado de trabalho como é que nós podemos esperar que elas, de um momento para o outro, consigam gerir a complexidade que é gerir um negócio, para além de todas as tarefas que têm de fazer, sei lá, passar a ferro, por exemplo, ou de arranjarem cabelo, tem todo um conjunto de outras variáveis que ela não domina, que não tem treino, que não tem formação e, portanto, não é fácil uma pessoa passar de um contexto de exclusão para a criação de negócios. ------------------- ----- Quanto á criação de negócios, o chamado empreendorismo, e a criação de micro crédito que é uma coisa fantástica, deve ser usada como uma ferramenta no momento certo, senão é como aquela anedota dos pregos; para a pessoa que só tem o martelo todos os problemas são pregos, não tem mais nada. O micro crédito deve ser enquadrado em projectos de base territorial. ------------------------------------------------- ----- Há um caso que tem a ver…eu tenho ideia que nós somos um país muito rico, e ainda o somos, apesar das taxas estarem nos 8%, ainda somos muito ricos comparando-nos com o que éramos no passado, nós usamos mal os recursos que temos, usamos mal e de forma desfasada, o facto de estarmos juntos não quer dizer que trabalhamos em conjunto, são coisas diferentes. Um dos melhores casos de integração, e para mim já é um topo de gama, foi um caso da Casa Pia na margem sul, em que o projecto era muito integrado com um bairro social, criar um conjunto de lojas, definiram quais eram as lojas que iam abrir, portanto não era á toa, deram formação ás pessoas e equipamentos, e abriram e tudo funcionou muito bem, é dos

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projectos mais bem integrados que eu conheço e com algum êxito. O problema é que passado menos de um ano, a Câmara Municipal deixou abrir um Mini Preço junto a essa rua, à volta do Mini preço todos os negócios foram arruinados; desde o café ao restaurante, ao minimercado que havia, e eu não tenho nada contra o Mini Preço, antes pelo contrário, acho que tem uma função social onde há produtos baratos, a questão é que se nós não integrarmos todas as componentes estamos a mandar dinheiro fora e com a diferença de que nós quando mandamos dinheiro fora estamos a causar sofrimento às pessoas, é não resolver os problemas ás pessoas, nós não estamos no negócios de venda de parafusos, estamos a lidar com pessoas, portanto, nós não podemos querer ser muito bons na nossa etapa de estafetas, é que eu fui o melhor na minha etapa, mas depois, no conjunto, se nós não formos os melhores e se não ganharmos a corrida na prática estamos a consumir recursos, estamos a gastar dinheiro, e nem sempre estamos a acrescentar utilidade aos nossos clientes. ------------ ----- Acabo com uma frase do Yunus, que diz; “Os pobres são o povo bonsai”, ele diz que os pobres não têm nenhum problema genético, não têm nenhuma maldição, as pessoas não se desenvolvem e ficam mais pequeninas, tal como uma semente, porque não têm as condições necessárias para que se desenvolvam, não têm uma boa terra para que se possam espreguiçar, para desenvolverem todo o seu potencial humano. O micro crédito é uma dessas partes, essas condições, e estamos muito disponíveis e interessados no combate à pobreza, e todos nós conseguíssemos criar todo este ambiente propício ao desenvolvimento de pessoas, às suas capacidades, e ao fim ao cabo, tentar diminuir o sofrimento que é a exclusão social.” ------------------------------- ----- Doutor Lourenço Morais, Banco de Solidariedade: -------------------------------- ----- “ Em primeiro lugar tenho uma notícia a dar é que quem vem ouvir o Banco de Solidariedade vai ter uma desilusão, é que eu não venho falar por parte do Banco de Solidariedade o que é um problema bastante chato para quem vinha ouvir especificamente o Banco de Solidariedade. Eu venho por parte, e isto é horrível dizer, até parece que existe aqui um lobby, da Conferência de S. Vicente de Paulo e de Santos-o-Velho curiosamente, que mais uma vez surge a invadir esta Conferência, e eu até tenho medo de falar depois da Dr.ª Mónica porque, meu Deus, isto é uma responsabilidade, mas venho falar de voluntariado e o que me pediram foi para fazer um breve testemunho daquilo que é a actividade, e como voluntário que sou já há longos anos, da Conferência de Nossa Senhora de Lurdes, que faz parte das conferências de S. Vicente de Paulo e que portanto têm uma vocação de servir directamente os pobres, porque aquilo que se pretende, e por isso eu não vou falar propriamente em dados, porque geralmente também não sei os dados, porque geralmente falo com pessoas, o meu trabalho não é propriamente uma coisa muito pensada, é literalmente trabalho. --------------------------------------------------------------- ----- Quando me pediram para falar de voluntariado o que posso dizer é que acho que o voluntariado surge claramente como uma reacção humana e que gera humano, isto é filosófico mas, passo a explicar; a conferência dedica-se a duas tarefas mais fundamentais, nós somos responsáveis pela distribuição do Banco Alimentar na freguesia, e depois aquele que é definido como o protótipo da actividade da

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conferência, fazemos visitas ás casas de pessoas que geralmente vivem sozinhas, a chamada 3ª idade, e não pensem que são pessoas acima dos 65 anos, são mesmo muito acima dos 65 anos, o que é uma coisa um bocado incómoda porque vivem sozinhas e numas condições muito pouco simpáticas. -------------------------------------- ----- É através das visitas feitas através da conferência que nós testemunhamos principalmente aquilo que é fazer voluntariado. Lembro-me muitas vezes de um livro que certamente muita gente leu, o “Principezinho”, e principalmente da história, do diálogo que ele tem com a raposa, e onde a raposa tem aquelas celebres frases em que diz que temos de criar laços, temos que criar e como é que isso se cria, e em que diz que é através de um ritual, e o Principezinho não sabia o que era um ritual, e que ritual era apareceres todos os dias à mesma hora e que isso é que fazia os dias diferentes. --- ----- Nós fazemos visitas e fazemo-las sempre aos Sábados, e são Sábados de 15 em 15 dias, não há nenhum método, nós chegamos lá a casa, e geralmente são pessoas que nos pediram, ou que nós já assistimos à longos anos, e que simplesmente nos pedem para participar na vida delas, e isto não é propriamente uma coisa que se explique. Existem pessoas acamadas que nós nos sentamos ao lado da cama e vamos fazendo perguntas, ajudando a reavivar memórias que há muito já se perderam, e que na solidão em que vivem tendem facilmente a desesperar, a esquecer-se e a achar que a vida não vale a pena. E é através destes pequenos contactos humanos, onde basicamente o que fazemos é sermos amigos dessas pessoas, a pouco e pouco, a cada visita que se faz, a cada diálogo que se tem, obter como que uma partilha onde no próximo Sábado eu já sou esperado, e eu sei que vou lá, não porque tenha uma obrigação moral, mas porque já quero ir, porque aquela casa já não é uma casa qualquer, já é a casa daquela senhora que eu visito. Isto pensando que não, já tem alguns reflexos, suponho que quem está aqui, quem veio assistir a isto é porque tem interesse nesta questão e geralmente são pessoas que trabalham nesta área, portanto como é muito fácil desistir se não houver uma resposta positiva das pessoas para quem trabalhamos, ou mesmo pessoas a quem pedimos ajuda, é muito fácil desistir, é muito fácil de enterrar o machado, mas não é o caso porque cada saco do Banco Alimentar, cada envelope, porque temos ajudas de particulares e ajudamos a pagar por exemplo, contas da água, e outras despesas, em casos particulares, não é geral porque não temos essa disponibilidade financeira de suportar todas as contas do gás e da água de todas as pessoas. Mas o que acontece é isto, nós ao criarmos uma relação própria com estas pessoas, onde criamos uma amizade com estas pessoas, estamos a dar-lhes uma visão nova que eu próprio não tenho noção que criei, e dou um exemplo muito simples que aconteceu á algum tempo; uma senhora que tinha um cancro e que nos pedia ajuda, o cancro era na garganta o que depois passou a dificultar a comunicação, e eu fui entregar-lhe um saco do Banco Alimentar, e a distribuição do banco Alimentar é muito simples; nós vamos ao Banco Alimentar buscar a box que nos está destinada, levamo-la para a Igreja que é o espaço que temos para fazer a divisão dos sacos, e depois as pessoas vão, a pouco e pouco, ao longo da tarde, buscar o seu saco. Como há pessoas que não conseguem mover-se nós fazemos a entrega na respectivas casas, e essa senhora, eu lembro-me perfeitamente, de chegar á sua casa, e ela estava

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com uma amiga, eu entreguei-lhe o saco e a senhora começou a chorar agradecendo-me por a ter ajudado a voltar a acreditar. Bom, sinceramente, eu não sei no que é que a fiz acreditar mas sei que isto é o voluntariado. --------------------------------------------- ----- É muito fácil pensarmos que eu faço isto mas podia ser outros a fazê-lo, às vezes até é mais fácil pensarmos mas porque é que não são outros a fazê-lo, porque é que hei-de ter eu este trabalho, e a verdade é que eu me sinto profundamente realizado com este trabalho, o qual exige de mim coisas muito simples; saber que há uma coisa para fazer e fazê-la, exige claramente uma doação minha e tempo meu, não é o tempo da faculdade, não é o tempo do trabalho. Eu pertenço a uma conferência em que somos basicamente 12 pessoas, e estas conferências têm uma vocação jovial porque foram criadas no tempo da Revolução Francesa, por um senhor chamado Frederico Ozanam, que era um estudante de Direito e que estava claramente preocupado com a questão social em França, e juntou os amigos, e curiosamente é o que acontece, também, aqui e no meu caso porque sou eu, são alguns dos meus amigos que estão na faculdade, e curiosamente, também, estudamos Direito, mas isso é coincidência, e é pura e simplesmente responder às coisas. ---------------------------------------------------- ----- As pessoas vêem ter connosco, procuram-nos geralmente nos dias de Banco Alimentar e, principalmente nos últimos meses, têm havido pedidos bastante numerosos, e temos notado uma diferença, curioso, não tenho dados, não tive o cuidado de os trazer, sou bastante descuidado, mas nós tínhamos 65 famílias e, portanto, são 65 sacos, porque as famílias contam como se fosse o agregado, existem agregados de uma só pessoa, mas outras não, tratam-se de 129 adultos e 29 crianças. - ----- Há uns meses atrás 60% seriam dos assistidos, claramente idoso que vivem sozinhos e que não têm margem alguma, quer dizer, não têm um futuro que possamos dizer que vão deixar de depender de nós, e essa era sempre a minha responsabilidade, era a responsabilidade de eu saber que estas pessoas como nunca vão deixar de depender de mim eu tenho de lá estar. Curiosamente, e isso também é previsível uma vez que o país está em crise, as famílias têm aumentado e têm aumentado o número de pessoas com crianças o que nos exige um pouco mais de atenção, e basicamente é isto, temos duas vertentes; um cuidado aos idosos e um cuidado às crianças, e principalmente aos idosos que são quem estão mais sozinhos e são aqueles, tal como dizia a Dr.ª Susana, são aqueles dos quais não podemos ter o cuidado de pensar no futuro, é melhor pensarmos agora, porque no futuro, o mais provável é ser tarde demais.” ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- Doutor Luís Mendonça, Banco Farmacêutico: -------------------------------------- ----- “ Antes de mais quero agradecer o convite que me foi endereçado pela Assembleia Municipal de Lisboa e pela Comissão Permanente para a Igualdade de Oportunidades e Intervenção Social, acho que não me esqueci de nenhuma palavra, é com muito gosto que aqui estou e eu tenho uma apresentação do Banco Farmacêutico, e dar um bocadinho daquilo que são os resultados, daquilo que têm sido as jornadas da recolha de medicamentos e, depois, no final, falar dos vários intervenientes nos quais estão os voluntários. -----------------------------------------------------------------------------

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----- O Banco Farmacêutico é um projecto da Associação para a Assistência Farmacêutica a qual é uma associação privada, sem fins lucrativos, que existe desde 2008. Esta associação tem como objectivo principal ajudar as pessoas mais carenciadas através do fornecimento de medicamentos, e de produtos de saúde, em colaboração com as entidades assistenciais e farmacêuticas que operam localmente. -- ----- Tem igualmente, como missão educar o homem há partilha e há gratuidade, pois nós sabemos que existe em cada homem, em cada pessoa, este desejo de ajudar e de se realizar por essa via e, assim, desta forma, não só ajuda quem precisa, como também se ajuda a si próprio. Portanto, nós achamos que o nosso Banco farmacêutico, através dos medicamentos que dá às pessoas que mais precisam, está também a dar uma ajuda real na área da saúde e do medicamento àqueles que mais precisam, e está a dar ao mesmo tempo a ajudar e isso é também aquilo que faz parte da nossa missão, a ajudar todos aqueles que se envolvem, seja através do seu tempo, seja através da doação que fazem, seja através do trabalho que realizam no Banco Farmacêutico. ------------------- ----- Os nossos valores são centralizados na pessoa, abraçá-la na sua integridade, partindo da sua necessidade particular de medicamentos, mas era uma ocasião para partilharmos tudo o que investe a vida. ------------------------------------------------------- ----- A educação à partilha e à gratuidade pretender ser uma proposta educativa para que aquilo que é gratuidade, aquilo que as pessoas, os voluntários, dão naquele dia, naqueles meses que antecedem a jornada possa ser uma dimensão permanente da vida, possa ser uma dimensão que se possa aplicar em tudo, e não só naquela manhã, ou naquela tarde, que é dedicada a pedir medicamentos ás pessoas para darem ás Instituições de Solidariedade Social. ---------------------------------------------------------- ----- O Banco farmacêutico escolheu colaborar com as realidades assistenciais que operam na primeira linha de ajuda aos mais carenciados, basicamente é com Instituições Particulares de Solidariedade Social que já conhecem os seus utentes, sabem o que é que precisam, neste caso, na área da saúde, os medicamentos que mais necessitam e nós não temos uma relação directa com os utentes, temos com as Instituições de Solidariedade Social. ---------------------------------------------------------- ----- Valorizamos muito o papel do farmacêutico, eu sou farmacêutico, e valorizamos também o papel da farmácia neste processo, porque é o garante de que o medicamento que chega à pessoa carenciada tem exactamente as mesmas garantias de qualidade e de segurança, e é novo, que qualquer outro medicamento comprado por qualquer pessoa na farmácia, além de que pode ser direccionado para aquilo que são as necessidades das pessoas assistidas pelas Instituições de Solidariedade Social, e pretendemos ser e desenvolver o relacionamento entre os vários sujeitos da sociedade, seja as farmácias, seja todos aqueles que dentro do mundo farmacêutico também possam ajudar, os próprios utentes que são convidados nessa jornada a contribuir a ajudar as pessoas que mais precisam, e as Instituições de solidariedade Social, isto contribuindo para a construção do bem comum e para uma sociedade mais civil, mais forte, participativa e mais responsável. -------------------------------------------------------- ----- O principal do Banco Farmacêutico é a jornada de recolha de medicamentos, digamos que é praticamente a única acção que temos desenvolvido e na qual no

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empenhamos bastante. No passado dia 12 de Fevereiro, realizou-se a sua terceira edição, e os resultados eu vou mostrar mais à frente. --------------------------------------- ----- Os principais intervenientes, e tentando não me repetir, e ao mesmo tempo mostra os testemunhos de pessoas que nos escreveram cartas. A farmácia tem um papel muito importante na jornada porque a farmácia, e o papel que o utente tem com o seu farmacêutico, permite que seja mais eficaz a ajuda em termos de medicamentos, uma palavra de um farmacêutico que conhece as pessoas que costumam ir à farmácia, a dizer para ajudar, contribuindo com dois ou três medicamentos para esta Instituição de Solidariedade Social, normalmente a pessoa confia naquilo que o seu farmacêutico está a propor, e temos o primeiro testemunho, quase todos aqueles utentes que vieram à farmácia nesse dia, ajudaram. ---------------------------------------------------------------- ----- O projecto do Banco Farmacêutico é um projecto bastante simples, trata-se da recolha de medicamentos e depois a distribuição de medicamentos pelas Instituições de Solidariedade Social, e aquilo que sentimos ao longo deste tempo é que uma proposta extremamente simples é ao mesmo tempo tão eficaz para poder dar acesso àqueles que precisam, ao medicamento. ------------------------------------------------------ ----- Em relação aos voluntários, este ano participaram na jornada mais de duzentos e cinquenta voluntários e que, em regra, disponibilizaram meio-dia do seu tempo, de uma forma completamente gratuita. Há outros voluntários, que mostrarei mais à frente, que dedicam mais do seu tempo, mas o grosso de voluntários que temos no nosso projecto é para estarem uma manhã e no fundo serem o rosto do Banco farmacêutico para que aqueles que cheguem à farmácia possam dar medicamentos e saberem para o que é que estão a dar. --------------------------------------------------------- ----- E temos aqui alguns dos testemunhos de pessoas que foram voluntárias, aquilo que mais me surpreendeu neste projecto e que me surpreende noutras alturas é a boa vontade e disponibilidade que as pessoas têm, as pessoas, ou seja, os utentes, todos aqueles que se dirigem à Farmácia, apesar da vida complicada, e aderirem generosamente quando desafiadas e orientadas para acções deste género. E um outro voluntário dizia-nos que à partida, sendo um voluntariado, eu não tinha que esperar nada em troca. No entanto, o que é um facto é que recebi muita coisa, não materialmente, mas como experiência dele próprio e que lhe foi bastante enriquecedora, e estamos a falar de uma pessoal que dedicou uma manhã, penso que não terá sido mais. E as Instituições de Solidariedade Social, elas são as principais beneficiadas com a jornada de recolha de medicamentos, este ano foram 57, aquelas que foram apoiadas, e que apoiam cerca de 34 mil pessoas. Todas as Instituições de Solidariedade Social, que nós ajudamos, estabelecem connosco um protocolo, nós visitamos essas instituições e, nomeadamente, nós tentamos perceber, e têm sido sempre farmacêuticos a fazerem essa visita, para tentar fazer como é que é feito esse apoio no medicamento, porque muitas das vezes são medicamentos que são utilizados dentro da própria instituição que é o caso dos lares de crianças e de idosos, e depois são aqueles medicamentos que são dados ao domicilio, ou a pessoas que se dirigem com dificuldades às instituições e que essas instituições ajudam com medicamentos, portanto, tentar perceber como é que isto é feito, este processo de doação de

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medicamento à pessoa final, e por isso privilegiamos sempre instituições que tenham no seu quadro de trabalhadores, ou voluntários, profissionais de saúde. Portanto, e aqui mais dois testemunhos de duas Instituições de Solidariedade Social, “vimos agradecer a recolha de medicamentos”, esta de 2010; “parece que, mais uma vez, foi um sucesso e é de louvar a continuidade desta acção que consegue ajudar um número tão vasto de instituições” em apenas uma manhã, foram 57 instituições, e já mostro o número de medicamentos que recolhemos. “Parabéns pelo vosso trabalho de grande generosidade, não só pela ajuda aos mais necessitados, como pela preocupação que têm pelos cuidados de saúde dos mesmos”. -------------------------------------------------- ----- E qual é a originalidade do Banco Farmacêutico? A legislação sobre o medicamento é bastante restrita, portanto não é fácil conseguir dar medicamentos, pode-se dar dinheiro para os medicamentos, mas dar o medicamento em si, não é fácil fazê-lo, e nós ao garantirmos que a cadeia de responsabilidade do farmacêutico seja garantida até á doação final, ás instituições, é aquilo que nos permite, de certa forma, que o Ipharmed e de certa forma permite que a nossa associação possa fazer este trabalho; a recolha de medicamentos que é feita numa jornada, dentro das farmácias, em que se garante a qualidade do medicamento que se doa, apenas são fornecidos medicamentos novos, seguros e de qualidade, e que nunca tenha saído do circuito do medicamento, isto é, medicamentos que pessoas tenham em casa não entram nesse dia na farmácia para dar, não. São medicamentos que a pessoa compra na farmácia, nesse dia, e que ficam numa caixa para depois serem doados ás instituições. Os medicamentos são entregues nesse próprio dia, ou na semana a seguir, nas instituições, e temos para isso uma empresa de logística farmacêutica que nos faz esse trabalho. ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- Os medicamentos correspondem a necessidades que nós identificamos, isto é, nós não damos medicamentos, recolhemos assim um número de medicamentos e depois vamos às instituições e damos, não. Aquilo que nós recolhemos têm em conta aquilo que foi manifestado pelas instituições como as necessidades que precisam, nós precisamos de antipiréticos para crianças, nós vamos pedir antipiréticos para crianças, não vamos pedir outra coisa qualquer, e isto é um trabalho que nós fazemos nos meses que antecedem uma jornada, e apenas são objecto de doação de medicamentos os medicamentos não sujeitos a receita médica e algum material / produtos para crianças e idosos que as instituições têm muita necessidade. Isto é a evolução da jornada de recolha de medicamentos, temos a jornada de 2009, 2010 e 2011, e podemos ver que no primeiro ano apoiamos 34 instituições, e este ano 57 instituições. --------------------- ----- As farmácias também evoluíram bastante, este ano aderiram 105 farmácias de cinco distritos, no primeiro ano e no segundo ano foram basicamente do distrito de Lisboa e Setúbal, este ano já tivemos algumas farmácias do distrito de Santarém, Beja e Faro. --------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Quanto ao número de medicamentos recolhidos também têm vindo a aumentar, sendo que o total do número de medicamentos que demos às instituições foi 19421. --- ----- Aqui não tenho a distribuição do número de instituições por distrito, ou por concelho, mas do número de farmácias podemos ver que o número principal aqui no

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distrito de Lisboa, e depois vendo dentro do distrito de Lisboa, vemos 42 farmácias aderentes são do concelho de Lisboa e nós como privilegiamos a relação próxima, em princípio grande parte, não digo todos, mas grande parte dos medicamentos recolhidos em determinado concelho ficam em instituições do próprio concelho. ------------------- ----- Falando um bocadinho dos voluntários, nesta fotografia da direita em cima, podemos ver os voluntários com a equipa da farmácia e a última um utente, muito contente, a dar os medicamentos ao nosso voluntário, os voluntários estão devidamente identificados. Portanto, nós temos dois tipos de voluntariado, um é o responsável de zona que garante o normal funcionamento da jornada na área da sua responsabilidade, algumas semanas antes, e no próprio dia, e ao mesmo tempo, também, é responsável pela formação que nós, Banco Farmacêutico, damos aos responsáveis de zona e eles têm de fazer passar essa informação, têm que formar os voluntários todos, os tais 250. O voluntário é garantir o normal funcionamento da jornada dentro da própria farmácia, é uma estrutura em pirâmide, e aqui está a check-list, nós damos uma check-list ao responsável de zona para ele saber, exactamente, aquilo que tem de fazer. ------------------------------------------------------------------------ ----- Nós vemos o voluntariado como um trabalho, é feito de forma gratuita mas é um trabalho, portanto pedimos que haja responsabilidades aos voluntários que nos chegam, não é ele chegar e dizer “não, mas eu quero fazer de outra maneira”, quer dizer, pode-nos dizer mas, enquanto nós definimos como é que deve ser feito e os voluntários pedimos que o façam dessa forma, portanto, no fundo pedir uma série de responsabilidades, e no fundo fazer um trabalho de forma gratuita. E isto, é o cheklist do voluntário que também tem, conforme os medicamentos que vai recolhendo, e depois o que deve fazer para a empresa logística vir. --------------------------------------- ----- Por fim, quero apenas dizer que temos o apoio da Ordem dos Farmacêuticos, da associação Nacional das Farmácias, da Logista Pharma que é a tal empresa de entrega de medicamentos, e da InforPress, e também, o Inpharmed tem conhecimento daquilo que fazemos e de como fazemos, e que é a Autoridade Nacional do Medicamento. ---- ----- O Banco Farmacêutico, eu sou um dos seus fundadores, vem responder a uma coisa que é aquilo que eu desejava, ou seja, eu desejo dedicar um pouco da minha vida aos que mais precisam e porque sei que isso é bom para mim e, ao mesmo tempo, tentava fazer isso o mais próximo possível daquilo que é a minha própria vida, portanto eu sou farmacêutico e descobri quando vi que existia e lutei por isso, uma coisa que eu não precisava era deixar de ser aquilo que sou, e em que podia ao mesmo tempo potenciar este grande desejo que tenho que é ajudar os outros e com isso sentir-me muito melhor. E foi assim que trouxe a ideia para cá e depois outros colegas contribuíram para que isto pudesse crescer e, depois, outros que não são colegas também contribuem para que isto tenha sucesso que nós achamos que está a ter”. ------ ----- Deputado Municipal José Maria Bento, Presidente da Junta de Freguesia de S. João: ------------------------------------------------------------------------------------------- ----- “ Boa tarde, nós temos três inscrições efectuadas e, portanto, apelava a alguma concisão. Eu começava por pedir e por convidar, o Deputado Municipal Nelson Pinto

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Antunes, o Presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião da Pedreira, para intervir”. ------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Deputado Municipal Nelson Pinto Antunes, Presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião da Pedreira: ----------------------------------------------------- ----- “ A minha intervenção será para fazer algumas perguntas à Dr.ª Anabela, e à Senhora Directora da Acção Social da Câmara. Começando pela Santa Casa da Misericórdia, em 2004, e na Junta de Freguesia sentia necessidade de apoiar as pessoas que estão solitárias em casa e que são acompanhadas pela Santa Casa da Misericórdia. Para fazer o projecto solicitei à assistente social da Santa Casa e que estava na Junta de Freguesia, pedindo-lhe que ela me dissesse quem eram as pessoas que a Santa Casa assistia, e depois de vários meses cheguei à conclusão que a Senhora Assistente Social não tinha autorização, ou não lhe davam autorização, de prestarem esse número de pessoas, eu só podia fazer o projecto com o número de pessoas porque já tinha o catering para dar assistência porque, naquela altura, a Santa Casa aos Sábados, Domingos, Feriados e nas pontes, dado que não dava assistência a essas pessoas, e a Senhora não me dava nada.------------------------------------------------------- ----- Entretanto, a Dr.ª Maria José Nogueira Pinto quando andava na sua campanha eleitoral, porque naquela altura deixou de ser Provedora da Santa Casa, quando lhe falei no assunto ela disse-me “porque é que o Senhor não falou comigo?”. -------------- ----- Evidentemente que, naquela altura, ela tinha dado aquela ordem e não ia desdizer às funcionárias da Santa Casa. ----------------------------------------------------------------- ----- Actualmente, a Santa Casa é nosso parceiro, mas o parceiro tem dois sentidos; de um lado, e não só sendo o outro. Chegamos à conclusão que juntando os parceiros à mesa e em função da crise que prevemos e que temos de estar preparados, juntei a representante do Banco Alimentar, os companheiros da Conferência de São Vicente de Paulo, e que nos deram as indicações a quem eles davam apoio. Chegamos à conclusão que a maioria das pessoas eram apoiadas por estas duas instituições, e porque à um ditado antigo; “Quem não chora, não mama”, e por conseguinte eles vão a um lado e vão ao outro, não se conhecem e vão tirando as situações. ------------------- ----- Aquilo que a Santa Casa da Misericórdia também, ao parceiro Junta de Freguesia, e o representante e o responsável máximo pela Comissão de Freguesia de São Sebastião da pedreira, a Santa Casa da Misericórdia também não nos diz o que se passa nas entrevistas com as pessoas, dizem-nos as necessidades e levando, também, à reunião para nós podermos interagir, por conseguinte, aquilo que eu solicito à Senhora Dr.ª Anabela é no sentido de a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa agilizar as situações com a Junta de Freguesia e com os parceiros, que lhes dêem autorização e, mais do que isso, primeiro eram três horas, depois passou a seis horas, e agora mantêm-se com seis horas por semana, o que acho muito pouco para a Junta de Freguesia, acho que a Assistente Social da Santa Casa da Misericórdia deveria ter uma permanência, quase diária, na Junta de Freguesia e esta seria óptimo mas seria bom que resolvessem esse problema no sentido de nos darem mais apoio isto é, tentar levar a carta à Garcia da Santa Casa da Misericórdia. ---------------------------------------------

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----- Quanto à Senhora Directora da Acção Social é o seguinte; com os censos, no dia 21, acompanhei as equipas e fomos levantar o número e as pessoas dos sem abrigo. Eu concordo com a acção meritória das entidades que vão à Av. Praia da Vitória e à Praça Duque de Saldanha, saiu uma, chegou outra, depois eles correm de um lado, e depois vão para o outro, por acaso estava uma noite óptima, mas eles comerem a sopa e a chuva a cair não acho que seja das melhores práticas. Quando é que a Câmara Municipal de Lisboa dá a cada uma das entidades que dá apoio social aos sem abrigos da nossa Cidade, sítios condignos onde, e não só, quando à frio. Bem que vão recolher as pessoas que estão com frio para um determinado sítio onde lhe dão tudo o que eles necessitam, mas nos outros dias em que não há frio é uma situação complicada, ou seja, se a Câmara Municipal de Lisboa, dividir Lisboa por sectores em que cada um desses sectores, ou freguesias, e a cada uma dessas entidades lhe fosse dada um posto de abrigo onde tivesse situações multidisciplinares, em que tivesse um médico, um enfermeiro, um psicólogo, um sociólogo, e que tivessem um sítio onde as pessoas pudessem tomar o seu banho, mudar de roupa e dar condignidade a refeição quente, eu gostaria que a Câmara tomasse isto a peito e que funcionasse. Só dar a sopa com as pessoas que com todo o gosto o fazem todas as noites, acho que era preferivel não lhes dar o peixe mas dar-lhes a cana de pesca”. ---------------------------------------------- ----- Maria de Lurdes Mendes da Costa: --------------------------------------------------- ----- “ Eu gostaria que me respondessem a algumas questões, que espero que também sejam confrontadas por muito outros. Realmente o problema do empreendorismo que no fundo se pode ligar ao problema de dar a cana e ensinar a pescar, julgo que tem também dificuldades ligadas ao problema da cidadania. Eu sou professora de Filosofia do ensino secundário, e estou aqui também, não só como cidadão mas também como aderente ao BE, mas tudo realmente, o que digo e o que penso, parte de mi e portanto, penso que se enquadra no espírito de muitos. ------------------------------------------------ ----- A questão do empreendorismo é uma questão de contexto, e de cultura e de formação, e espero estar realmente enganada e de não ser demasiado pessimista, como o da cidadania, na medida em que há muita teorização, à programas no ensino secundário, fundamentalmente, mas o problema é conseguir pôr em prática, transformar as mentalidades, ensinar a intervir, e a criar as situações na prática é sempre o problema mais complicado. Pela teoria é sempre mais fácil, e eu digo como leitora de alguma filosofia. --------------------------------------------------------------------- ----- Passo aqui a perguntar através de algumas reflexões que eu fiz, e que tentarei não demorar muito. Portanto os portugueses não têm tido formação para o empreendorismo, nem para a criatividade, nem para o dinamismo, nem para a capacidade de risco, com seriedade e responsabilidade, e apenas têm prosseguido por esta via aqueles que já conhecem e participam em contextos de negócios e contextos empresariais. O cidadão comum, e principalmente aqueles que têm menos formação, geralmente não estão informados nem esclarecidos quanto às possibilidades de criação de empresas, de actividades diversas, criação do próprio emprego, e tudo aquilo que implica em termos de estruturas, redes diversas, contactos úteis, indispensáveis, quer

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quanto aos modos de programação, produção e marketing, inclusivamente, para o escoamento dos seus produtos. ----------------------------------------------------------------- ----- Desconhecem, igualmente, legislações, e lá estamos nós com a ignorância e com a falta de informação, oportunidades e programas internacionais, inclusivamente, algumas disponibilizadas pela União Europeia, quer inclusiva oportunidades e estruturas, redes e viabilidades de criação de pequenas e médias empresas, quer mais uma vez, à venda dos produtos e serviços para o mercado interno de exportação. ------ ----- Com certeza que é significativo o número de pessoas profissionais, gestores, membros de instituições políticas e empresariais, conhecedores destas actividades, destes processos de criação e funcionamento, quer em Portugal, quer no estrangeiro. O facto das suas imensas viagens e contactos com empresários e actividades de vários âmbitos e contextos diversos, dotam esses férteis contactos luminosos horizontes com desconhecimentos de experiências concretas, tanto em empreendorismos consistentes e promissores, quando não, garantidores de frutos de qualidade.--------------------------- ----- Do mesmo modo, são medíocres inconsistentes a existência de divulgação e cumprimento rigorosos dos programas, planos e estratégias e créditos exigentes, demasiado invisíveis e inacessíveis ao cidadão comum, as oportunidades que eles podiam aproveitar com honestidade, rigor e proveito, e simplesmente desconhecem, ou simplesmente pelo o seu contexto familiar e sócio-económico não lhe dará essa experiência de vida, o que à partida os põe desnivelados”.---------------------------------- ----- Eduardo Pereira Marques: ------------------------------------------------------------- ----- “ Vou procurar ser breve, e pegando na intervenção anterior, que se põe de dar peixe, ou de ensinar a pescar, isto parece que são alternativas que esgotam as soluções e, portanto, que são complementares, mas na minha perspectiva estas duas alternativas são uma parte do problema, a outra parte, de facto garantir o acesso ao bem e a sua manutenção de acesso e isto, em principio devem ser as instâncias de governação de carácter republicano, que devem de ter esta preocupação mais além, não só de ensinar a pescar, ou a dar a cana, mas garantir que as condições se reproduzam. ----------------- ----- No aspecto que estamos a abordar da pobreza, nesta situação, há duas possibilidades ao nível da acção social, considero três níveis de trabalho; uma acção social, digamos, assistencialista que a outros níveis europeus se considera do Séc. XIX, e que me parece que foi aqui que mais ouvi uma outra perspectiva de trabalho social e que ouvi alguma abordagens, outra abordagem que é a de terapia social para eliminação do problema, no aspecto da pobreza o que me preocupa é como acabar com a pobreza. Todas as instituições de redistribuição que procuram de certa maneira aliviar um bocado o problema da pobreza, e por um lado têm custos portanto, perdem no processo parte dos recursos que conseguem mobilizar e não eliminam a sua criação, e para mim o que me interessa é como é que vamos trabalhar para eliminar a pobreza. Este aspecto, ao nível autárquico, e isto é a questão que gostava de ver respondida por pessoas que têm alguma possibilidade e conhecimento a este nível, o meu conhecimento é que isto não se faz, eu penso que a autarquia devia de fazer um levantamento, por um lado qual a realidade económica, de empresas, postos de trabalho, rendimentos gerados em cada nível, e por outro lado o que é que se faz com

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todas as entidades para aumentar a capacidade económica local. A única abordagem é que o empreendorismo, e penso que isto é uma das abordagens, o que e que se faz para aumentar e dinamizar o tecido económico local”. -------------------------------------- ----- Miguel Rato: ------------------------------------------------------------------------------- ----- “ Sou da Câmara Municipal de Lisboa e tenho algumas dúvidas que gostava de colocar à Mesa, e que tem a ver com a questão do voluntariado que aqui hoje, se tem falado, ao longo do dia, e que eu acho que no Ano Europeu do Voluntariado, acho um pouco perigoso este valor que se está a afirmar do voluntariado, em detrimento do trabalho. ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- Hoje em dia existe por parte de muitas empresas, e multinacionais, que apostam no voluntariado, é a propaganda política, obviamente, e empresarial, colocam os funcionários a prestar este serviço não lhes pagando pelo voluntariado que fazem. Mas a minha questão é a seguinte, e tem mesmo a ver com o valor do voluntariado, e eu espero que o voluntariado não substitua o trabalho porque eu daqui a uns anos, obviamente, não quero ser ajudado, ou ser voluntário em detrimento do meu valor do trabalho, ser um voluntário, e isto é uma coisa perigosa e que está a acontecer nos dias de hoje, e eu apelo às instituições que têm esta responsabilidade, que diferenciem o valor social que é um valor civil e de responsabilidade que eu, obviamente, respeito e admiro, mas não esquecendo que o valor do trabalho não é para ser desvalorizado é, obviamente para se cumprir porque as pessoas querem exercer trabalho, as pessoas não querem não ter trabalho. ------------------------------------------------------------------- ----- A outra questão é que fico sempre com a sensação que aquilo que nós fazemos, e eu que estou de acordo com a generalidade das intervenções que foram aqui colocadas, mas fico sempre com a sensação que os instrumentos legítimos, neste caso, políticos, camarários, têm sempre vá lá, uma ementa de como responder à pobreza, que é um bocado aquilo que estivemos aqui a elencar ao longo do dia, as respostas que são necessárias como se a pobreza fosse uma coisa inevitável, e isto para mim, obviamente, e espero que seja apenas uma sensação só minha, e que isto não seja uma prova legitima de que a pobreza é um facto, é uma sequência, ou uma impossibilidade que existe e que nós temos de ultrapassar, e não é. ------------------------------------------ ----- Eu gostei muito da intervenção da Dr.ª Ana Cardoso, em que ela terminou com um poema do Fernando Pessoa, e eu que sou da geração rasca, que não estou à rasca, mas gostei do poema que ela trouxe e do apela que ela fazia ao interior de cada um para que se mobilizasse, a esta revolta que é necessária que a sociedade tenha para que se ultrapasse estes problemas.” ---------------------------------------------------------------- ----- Doutora Anabela de Sousa, Subdirectora da Acção Social da Santa Casa da Misericórdia: ------------------------------------------------------------------------------------ ----- “ Portanto, a Junta de Freguesia de São Sebastião da Pedreira pede-nos uma maior cooperação e presença na Junta de Freguesia, e de acordo com a disponibilidade, com certeza havemos de falar sobre isso. --------------------------------- ----- Relativamente ao problema das medidas que fica aqui subjacente, das medidas mais pro-activas no sentido de desenvolvimento, elas existem, elas não têm é uma expressão e o impacto que nós queremos. Também, nós precisamos de ter um modelo

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de desenvolvimento conjunto, colectivo, que efectivamente em termos de cidade ainda se está a construir através da rede social. ----------------------------------------------------- ----- Os diagnósticos estão feitos, toda a gente disse isso, falta realmente, como o diz Santos-o-Velho, aquele passo, mais horizontalidade das relações e o acertar no modelo que nos envolva num futuro certamente mais optimista.” ------------------------- ----- Doutora Susana Santos Ramos, Directora da Acção Social da Câmara Municipal de Lisboa:--------------------------------------------------------------------------- ----- “ Eu vou então responder basicamente às três questões. Começando pela questão colocada pelo Senhor Presidente da Junta de Freguesia de São Sebastião da Pedreira, com a qual eu concordo em absoluto com a preocupação, e a grande dificuldade que nós temos actualmente é que grande parte das equipas são financiadas pela Segurança Social, ou seja, não é a Câmara que as financia, as equipas de rua, portanto, cabe-nos a nós enquanto elemento integrador e responsável pela rede social de Lisboa, concertar toda esta actuação, pois nós achamos que não faz sentido haver uma duplicação, e às vezes triplicação, seja das refeições, das respostas, se calhar temos de apostar noutro tipo de respostas porque estamos a falar de uma população diferenciada, nós não podemos dizer que são precisas respostas de alojamento para todos os sem abrigo, porque não são, ou seja, nós temos é que adequar as respostas às pessoas e, como tal, todo este trabalho de fundo é uma das nossas preocupações, estamos muito atentos, não é um esforço fácil, e com foi dito à pouco pelo Senhor Presidente que não era fácil sentar à mesma mesa duas instituições, quanto mais seis, sete, oito, nove, dez, cada qual com as suas preocupações diferenciadas, quando a preocupação tem que ser única, que são as pessoas da cidade. Portanto, isto é um caminho que estamos a fazer e toda a colaboração que temos tido por parte das Juntas de Freguesias, que para nós é muito importante. --------------------------------------------- ----- Relativamente à questão apresentada e no que diz respeito ao empreendorismo, e uma resposta mais existencialista, ou mais empreendedora, se calhar daqui a seis meses se eu fizesse esta comunicação teria outro tipo de intervenção, e passo a explicar porquê, é que a própria estruturação da Câmara prevê que o Departamento de Acção Social, actual, passe a ser Departamento de Desenvolvimento Social, com competências muito específicas ao nível do empreendorismo, do desenvolvimento comunitário, da capacitação do território, das pessoas, portanto, efectivamente, importa dar este salto, e é para nós também uma das preocupações e, vai também nesse sentido aquilo que é o nosso trabalho desenvolvido no seu futuro. ----------------- ----- Reforçando, também, a questão da pobreza e do ciclo da pobreza, cabe também por agarrar na questão do desenvolvimento e acreditar que é com a capacitação das pessoas que conseguiremos quebrar este ciclo, sabemos que não são fáceis, vimos hoje, naturalmente, têm que nortear também a nossa actuação, mas que acreditamos que com esta nossa resposta concertada mas numa lógica de capacitar o indíviduo, para a sua promoção de resposta individual acaba por ser o nosso objectivo e também o nosso caminho. --------------------------------------------------------------------------------- ----- Doutor José Soares Ferreira, Associação Nacional de Micro-Créditos----------

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----- “ Eu começava pela questão do desenvolvimento económico, temos de olhar isto de forma conjunta, o micro-crédito é uma ferramenta excelente que funciona num dado contexto mas se todo o contexto não for propício, podemos estar a criar negócios, ou a apoiar pessoas, que vão ter tantas barreiras que vão ter insucesso e depois vão ficar piores do que aquilo que estavam, não que o micro-crédito tenha algo de errado, tem é de haver contexto, e aí a Câmara e maiores entidades têm essa responsabilidade, ou essa possibilidade, de olhar para o território e juntar pessoas, e lhes dar ideias integradas. ---------------------------------------------------------------------- ----- Agora, à aqui um velho ditado da cana e da pesca; eu acho muito bem darmos canas às pessoas, ao invés de peixe, mas desde que dar uma cana à pessoa não seja uma forma de nos desresponsabilizar dessa pessoa. O que às vezes acontece é que nós damos a ferramenta, tipo pegamos num livro em que se ensina a nadar, empurramos a pessoa para dentro de água e ela que aprenda a nadar, que lei o livro e que nade, é preciso ter cuidado. ------------------------------------------------------------------------------ ----- Sobre a questão mais grave, do empreendorismo, não sei se percebi bem a questão, naturalmente, não temos uma cultura muito empreendedora mas está a ser muita coisa feita. Eu estou neste sector já há muitos anos, mas procurar no Ministério da Educação por uma coisa que se chama “Plano Nacional de Educação para o Empreendorismo”, em que um dos vectores é o social, o que tem a ver com a cidadania, o Instituto de Emprego também terá lançado alguma coisa, a Santa Casa tem um conjunto de projecto há já muitos anos, há muita gente a trabalhar neste sector, não podemos dizer se estão bem, se estão mal, mas acho que cada um está a fazer o seu melhor, mas se tiver dúvidas ou questões procure na internet que é sempre fácil de encontrar, há muita coisa aí a rolar e que é o contributo de cada um de nós, para que a gente tenha uma outra sociedade com outro ânimo. ---------------------------- ----- Doutor Luís Mendonça, Banco Farmacêutico: -------------------------------------- ----- “ A questão do voluntariado, realmente assusta-me aquilo que disse; pensar que o voluntariado é uma coisa que é imposta às pessoas, percebo a sua preocupação mas o voluntariado, como diz a própria génese da palavra, é uma coisa que deriva da vontade da pessoa, portanto, é um gesto, é um movimento que a pessoa faz para exercer a sua liberdade, portanto, em princípio fá-lo, não obrigado, não porque tem uma família para sustentar, mas porque livremente o quer fazer. Concordo com o que disse, que qualquer coisa imposta desvirtua completamente, isto. ------------------------- ----- Por outro lado, se desvalorizarmos o voluntariado em si estamos, de certa forma, a cercear o movimento de liberdade da pessoa e estamos a condicionar aquilo que é a liberdade de cada um, e por isso, acho que o voluntariado, como ele deve ser feito, deve ser incentivado até porque na origem de qualquer movimento humano, seja de uma associação como a nossa, que é completamente sem fins lucrativos, seja numa empresa em que a pessoa se dedica, em que a pessoa resolve começar, tem sempre no início um exercício da sua vontade e, portanto, é voluntariado. E depois, com o tempo, dará frutos, quando tiver que dar.” ------------------------------------------------------------

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----- Deputado Municipal António Pinheiro Torres, Presidente da Comissão Permanente de Intervenção Social e Promoção da Igualdade de Oportunidades AML: --------------------------------------------------------------------------------------------- ----- “ Para finalizar este painel, e dentro de uma área específica que é, entendeu-se promover aqui um pouco, que é auscultar três pessoas dentro desta temática “Sou uma pessoa, não uma situação”, nós iremos ouvir três testemunhos, e eu começaria por chamar aqui Noémia Santos, da Associação Emergência Social.” ------------------------ ----- Paula Pimentel, Associação Emergência Social:------------------------------------- ----- “ Eu sou a Paula Pimentel da Emergência Social, a Noémia Santos é uma das pessoas que nós apoiamos, é ela que vai falar e dar o seu testemunho.”------------------- ----- Noémia Santos, Associação Emergência Social: ------------------------------------- ----- “ Eu sou a Noémia Santos, tenho três filhos; o Telmo com 10, a Erica com 8, e o Isaac tem 6, e eu sou mãe solteira. Antigamente, antes de vir para as Galinheiras, eu morava em São Bento, e por volta dos meus 5, 6 anos, fui transferida para as Galinheiras. O meu pai é bêbado até à data de hoje, e continua a tratar mal a minha mãe, em pequenos sempre fomos maltratados. ---------------------------------------------- ----- Entretanto, nas Galinheiras nasceu o meu irmão Jorge e sempre fomos maltratados. Eu fiquei na casa dos meus pais até aos meus 25, 26 anos, na altura estavam a mandar as casas das Galinheiras, do Bairro velho, a baixo, e eu tinha que ficar num quarto na casa dos meus pais, mas como os maus tratos eram tantos, acabei por ir morar com o meu namorado. ------------------------------------------------------------ ----- A zona onde os meus pais estão a morar é a zona do Chapeleiro, e o meu irmão tem lá quarto, eu sou a única que não tenho. Sendo, que a casa onde estou neste momento, que é na Quinta do Reguengo, onde era a casa do meu antigo namorado, é uma casa pequena e chove lá dentro, não tenho condições. O chão na altura era tacos, entretanto, quando o pai do Telmo e da Erica saiu de casa, eu conheci um moço, pensando eu que ele era boa peça, e voltei outra vez aos maus tratos e, entretanto, nasceu o Isaac, só que antes do pai do Telmo e da Erica sair de casa, ele levou-me tudo; fogão, frigorífico, etc., e eu dormia no chão com o Telmo e com a Erica, e o pai do Isaac ofereceu-me o fogão, o frigorífico, cama, lençol, essas coisinhas todas, e eu agarrei-me muito a ele, só que os maus tratos vieram.--------------------------------------- ----- Eu por ser vítima de maus tratos e por ter crianças menores a meu cargo fui para a Comissão das Crianças em Risco e até há pouco tempo, fiquei a saber que já não estou nessa Comissão de Crianças em Risco.------------------------------------------------- ----- Entretanto fiz um papel na Câmara Municipal de Lisboa para ver se podiam dar-me uma casa, visto que a casa onde estava não tinha condições. A Assistente Social já lá teve e viu precisamente, que a casa não tinha condições para ser habitada, tal como a própria Comissão, e eu tenho o papel deferido pela Vereadora, só que tanto tempo á espera ainda não me entregaram a casa, só tenho o papel deferido. Quando vou à Câmara Municipal, em Entrecampos, dizem-me para esquecer o papel que está deferido, e eu pergunto o que é que eu faço? ------------------------------------------------- ----- Paula Pimentel, Associação Emergência Social:-------------------------------------

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----- “ Este é o testemunho da Noémia, e como ela há muitas pessoas longe das famílias, e que nós assistimos, e que estão nesta situação de processos deferidos, e agora desde que entrou em vigor o novo Regime de Acesso à Habitação Municipal, os processos deferidos dizem para esquecer, e que comecem o processo todo de novo, e que nós saibamos que aquelas pessoas que têm 120 pontos, ou 112, que é a máxima, ainda a ninguém lhe foi atribuída casa desde que entrou em vigor este novo regime, provavelmente eu sei muito pouco, porque estou limitada a dois bairros, e haverá gente a quem foi atribuído casa, mas do nosso conhecimento não existe. Obrigada.” --- ----- José Carlos Carrilho, empresa de inserção na área de jardinagem, Tiliascoop, Formação e Reabilitação Psico-Social: --------------------------------------- ----- “ Sou jardineiro e encarregado da empresa de reinserção Tiliascoop, e contando um pouco da minha vida, trabalhava como pasteleiro em Caneças e tive um problema no joelho e tive que ficar de baixa. Aproveitei e comecei a trabalhar na fábrica de família por minha conta, entretanto, a minha mãe morre. E eu avariei o forno porque arrisquei a mandar água com a mangueira e dei cabo do forno. Ainda, assim, reparei uma das três partes do forno. ------------------------------------------------------------------- ----- Entretanto, o meu pai cai na cama muito mal, problema derivado ao tabaco e ao coração. Surge outro problema o meu carro sempre a avariar, não havia maneira de ficar bem, gasto as minhas economias, e mesmo assim tive de vender o carro para pagar ao mecânico e uma multa por não ter cinto. ------------------------------------------- ----- Como não tinha carro, comecei a levar os bolos a pé, até ao dia em que as minhas irmãs e os meus cunhados quiseram que eu saísse da casa dos meus pais, para que pudessem alugar. Um cunhado pegou num taco de basebol para mim e eu parti um taco de snooker e a seguir com uma pá das obras parti o vidro da porta do café da minha irmã Paula. ------------------------------------------------------------------------------- ----- Para não bater em ninguém, fui para o posto da GNR e lá eu pedi para me internarem. --------------------------------------------------------------------------------------- ----- O meu pai morre, seis meses depois da morte da minha mãe. ------------------------ ----- Estive internado e acompanhado de psicóloga, médico e enfermeiros. Passei por uma fase de reabilitação, mostrei vontade de trabalhar na Tiliscoop, e passado um tempo essa porta foi aberta, o que foi bom, estabilidade psicológica e financeira, passei a dar a mesada de alimentos à minha filha. ------------------------------------------- ----- A Tiliscoop tem sido o meu braço de ferro para sobreviver num orçamento que bem gerido já voltei a ter o meu carro, adiantar a casa que o meu pai deixou por acabar. A Tiliscoop Empresa de Jardinagem para Inserção, todos me têm dado o apoio necessário. ---------------------------------------------------------------------------------------- ----- Neste momento estou a um ano e três meses a viver com a alta do hospital, sou assíduo e tenho um horário que facilita muito a minha vida. Trabalho de segunda a sexta, no sábado na minha casa e o domingo para o Jeová, porque tenho reuniões ao domingo. ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- Como a minha família acabou quando a minha mãe morreu, porque nem pai, nem irmãs, nem cunhados e nem tios me estenderam a mão, apenas uma prima quando eu estava internado em que ela é assistente social, deu boas referências da Dr.ª Maria

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Antónia que é a Presidente da Tiliscoop, deu-me força e realmente eu aqui estou a tomar medicamentos, sou bipolar, tenho uma filha com 18 anos de quem me orgulho, tem o 12º ano, tirou a carta de condução à pouco tempo, e está a acabar o curso de designer de roupa e tem um part-time. -------------------------------------------------------- ----- A Tiliscoop abre as portas a todas as pessoas em qualquer situação de recuperação. Tem ajudado pessoas ao nível social, tornando-as responsáveis e com vontade de lutar entre aqueles que têm a sua vida organizada, de trabalho, porque quem trabalha tem sempre trabalho. ----------------------------------------------------------- ----- Estou desde Novembro de 2006, a trabalhar na Tiliscoop, passei a efectivo em 2009, vivo num quarto que sou eu que pago, e vou arranjando a casa da família aos fins de semana. Temos de viver com a crise e não viver dela. ----------------------------- ----- E quanto à Tiliscoop se arranjarem trabalho eles, assim, também poderão ajudar outros que passam pelo mesmo problema, ajudando a reintegrá-los na sociedade.” ---- ----- José Manuel Gomes de Oliveira, Associação Vale de Acór – Projecto Homem: ------------------------------------------------------------------------------------------ ----- “ Confesso que não estou assim muito à vontade para partilhar o meu testemunho, ou seja, o Padre Pedro Quintela, Presidente da Associação por onde fiz a minha passagem, e ele costuma convidar-me para falar sobre o Vale de Acór e a minha passagem por aqui. Mas aqui como tem várias áreas da acção social, que é o que estamos a tratar, não sei se de manhã falaram de dependências, penso que não, que já tive a ver o programa, portanto, daí estar com alguma dificuldade. --------------- ----- Vou sintetizar um pouco o meu percurso pela Associação Vale de Acór, porque é uma associação de recuperação de toxicodependentes e muita gente ainda teima em não falar sobre este assunto; pais, tios, avós, em que quando se faz a passagem por ese mundo, se manipula, se tira dinheiro, e se destrói a vida dos familiares, escondemo-nos e é o deus nos acuda. O que depois fazemos é recorrer às instituições, e estas instituições que a Câmara também apoia, actualmente, no meu entender, e porque isto, no meu caso já remonta a 1989, já se passaram muitos anos, hoje em dia tenho algumas responsabilidades, na área onde resido, até me esqueci de apresentar-me; sou o José e tenho 46 anos, tenho 4 filhos, resido na área de Campolide. --------------------- ----- Quando é debates sobre toxicodependência, dependência, substâncias, sinto-me muito mais à vontade, porque vejo pessoas com filhos a passarem esses problemas, os próprios utentes que andam noutras comunidades, a fazerem recuperações. ------------- ----- Em 1989, fui pai pela primeira vez, com 24 anos, quem é que não tem o sonho de ter um filho, de ser jogador da bola, e termos toda aquela dedicação, a vida toda estável, com casa, com carro, com estabelecimento. E depois, passei a uma fase que comecei a experimentar; um charro, depois comprimidos, heroína, cocaína, e somos os maiores, enfrentamos tudo e todos, não temos dificuldades, temos problemas, é pá esquecemos e acabou, não. --------------------------------------------------------------------- ----- Há aqui uma frase que diz; sou uma pessoa, não sou uma situação. Naquela altura, eu comecei a consumir drogas, eu era uma situação porque deixei de ser pessoa, os meus valores foram todos à vida, ao enveredarmos por estes caminhos os valores vão todos à vida, deixamos de ser pessoas, eu deixei de ser uma pessoa e

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passei a ser uma situação. E nesta instituição aprendi a voltar a ser pessoa, reaprendi novamente os valores, porque ali trata-se da pessoa, não se trata da substância, a substância ali desaparece. Portanto, fazemos um trabalho pessoal de cada um, confrontos directos com os utentes, chama-se à responsabilidade, as rotinas são importantes, refeições a horas, julgo que me estou a fazer entender, as regras começaram a existir. Tive uma grande dificuldade, principalmente naquela fase de ter que deixar para poder entrar na instituição, porque, antigamente, entrava-se para lá sem substâncias, ou seja, tínhamos de fazer aquele tratamento de deixar a substância a frio. Hoje em dia há as metadonas e outros comprimidos e, no meu entender isto estraga muito a recuperação da pessoa, pois continua a ser uma situação porque está apenas a substituir uma droga pela outra, e eu bem vejo as pessoas a irem àquelas carrinhas da metadona, e eu não as vejo como pessoas, estão a pastar, são pessoas a vegetar, continuam a refugiar-se no seu mundo, tornam-se sem abrigos, enfim, perde-se a família, perde-se tudo. --------------------------------------------------------------------- ----- Voltando à Associação, a metadona foi instituída nesta instituição, e hoje em dia, sempre que visito a casa onde voltei a ser pessoa, vejo que à bastantes dificuldades, tanto ao nível de apoios das instituições que estão aptas a isso, do IDT, das Câmaras, como este processo da metadona e eu já manifestei isso ao Presidente da Associação, Padre Quintela, e é quase como quem diz que temos de ter isto aqui para conseguir ter apoios, para conseguir ter mais camas para as pessoas, para os utentes, para ter mais pessoas para recuperar. É um alerta que eu deixo, a quem de direito, que tenha esta área. ----------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Voltando ao meu testemunho, o meu processo terminou em 1998, tive quase dois anos em programa, mas que valeu a pena. Em 1998, fui graduado, e o Vale de Acór é uma instituição que tem uma grande taxa de sucesso em relação á recuperação das pessoas, em relação ás recaídas, por exemplo, eu conheço instituições que as pessoas acham que estão boas, saem e voltam a ter uma recaída. A mim aconteceu-me isso antes de entrar no Vale de Acór, tentei várias maneiras de deixar, o que é facto é que depois não conseguia lidar com os problemas, não conseguia lidar com a minha maneira de estar na vida, porque tal como eu disse, em 1989, quando fui pai pela primeira vez, ouve uma situação familiar que eu nunca soube lidar com aquilo, tinha 24 anos, a minha vida estava porreira e eu não soube lidar com aquilo, e como sentimento gera comportamento eu não soube lidar com os meus sentimentos, não tinha sequer conhecimento dos meus sentimentos, se eu estou com raiva como é que eu me comporto, se eu tenho inveja como é que eu me comporto, se existem coisas que me sensibilizam como é que eu me comporto, se vejo alguém fazer mal a alguém como é que eu reajo, tudo isto lá consegui conjugar outra vez, o mapa, e voltar a ter os meus valores. ------------------------------------------------------------------------------------- ----- Foi através do Vale de Acór que, em 1998, voltei a ser pessoa.” -------------------- ----- Deputado Municipal António Pinheiro Torres, Presidente da Comissão Permanente de Intervenção Social e Promoção da Igualdade de Oportunidades AML: ---------------------------------------------------------------------------------------------

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----- “ Muito obrigado a estas três últimas intervenções, penso que no final deste painel, e permitam-me só que diga que acho que não chegamos ao final de nada, não chegamos à estação terminal de nada, acho que chegamos à estação em que começa qualquer coisa e penso que há, ainda, muito mais a fazer e, sobretudo, terminamos com três testemunhos que pelo menos nos fazem, pelo menos a mim, a ficar calado, mas que é bom pensarmos e se ficamos calados que fiquemos a reflectir sobre eles para que possamos na nossa vida do dia-a-dia, na nossa actuação, ir continuando a trabalhar não desistir de trabalhar por estes casos e, no fundo, por isto que tivemos aqui hoje a debater. ------------------------------------------------------------------------------ ----- Agradeço a presença de todos e peço que não saiam dos vossos lugares, vamos só trocar a Mesa para fazer a sessão de encerramento. Muito obrigado. ---------------------- ----- Agradeço a presença de cada um, a presença dos oradores, agradecer a presença de todos os funcionários da Câmara que ajudaram a tornar isto possível, agradecer àqueles que nos testemunharam com a sua vida, este era um ponto importante para nós da Comissão, nós percebermos que podemos fazer grandes planos, grandes organizações, mas isto joga-se de pessoa a pessoa, rosto a rosto, amigo a amigo, e isso tivemos a oportunidade de vislumbrar um pouco, como é que isso é. Portanto, muito obrigado e encerramos com a Senhora Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa.” ------------------------------------------------------------------------------------------- ----- Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Simonetta Luz Afonso: ------ ----- “Boa tarde a todos, Senhor Presidente da Comissão, Senhora Secretária, Senhores presidentes de Juntas de Freguesia, Senhores Deputados Municipais, Senhores oradores, cidadãos que nos trouxeram o seu depoimento de vida, a todos muito obrigada pela vossa participação, por aquilo que ganhamos hoje, durante o dia, de conhecimento do que é a realidade da nossa Cidade. --------------------------------------- ----- Agradeço, de facto, terem aceite este convite da Assembleia e é por isso que aproveito desde já, para sublinhar este carácter especial, específico das situações sociais que afectam os cidadãos e as populações da Cidade de Lisboa, carácter que ficou bem vincado, exemplificado nestes três últimos testemunhos que nos foram trazidos sob o título “Sou uma pessoa, não uma situação”. Esta frase que deu corpo ao título destes testemunhos é portadora de muito mais do que um lamento, na verdade deve constituir-se quase como uma trave mestre do edifício social que a todo o momento vamos construindo, rejeitando a mera quantificação, ou burocratização, dos apoios em prol da desejável qualificação das actuações. ----------------------------------- ----- Das diferentes realidades que estes testemunhos nos trouxeram, associados a todos os demais que fomos conhecendo durante o dia de hoje, tomo a liberdade de retirar uma conclusão pessoal, embora o empenho dos cidadãos e das organizações rumam a uma sociedade mais justa, correcta e equitativa, deva abarcar um universo tão alargado, quanto possível, de destinatários, essa massificação de esforços não se deve confundir com uma indiferenciação de actuações. Impõe-se, na minha opinião, manter o tratamento individual e casuístico de cada situação, reitero, atendendo-se aos seus intervenientes e características únicos. --------------------------------------------------

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----- É então neste cruzamento entre a abrangência e a especialização dos actores no contexto social que se desenha uma rede, uma rede como aqui Santos nos trouxe, que é de segurança em sentido, mas também de facto, mas para que esta rede funcione não deixe escapar por entre suas malhas cuidados que importa prestar aos cidadãos em situação de perigo, sendo imprescindível uma actuação concertada e orientada entre todos os intervenientes, deste modo evitando duplicações, ou em sentido inverso, vácuos na intervenção social. Eu penso que esta é a maior pecha de nós, portugueses, é esta quase impossibilidade, ou grande dificuldade, de trabalhar em grupo. ------------ ----- É desde logo nesta coordenação que os serviços públicos de apresentam como de grande importância caso consigam operar como pivôs da integração de actividades, cabendo em particular aos municípios a sua concretização ao nível local, aquele que se encontra mais próximo das populações carecidas. Em rigor, a tarefa do município, nesta matéria, não é fácil, não é barata, nem sequer é suficiente, e na verdade nem poderia ser de outra forma quanto a estes três indicadores; em primeiro lugar não é fácil porque, quer estejamos, ou não, num contexto de crise, a estrutura da vida urbana conduz a situações de inevitável emergência social, em segundo lugar não é barata porque corresponde a uma área absolutamente altruísta, fundada na moral e na ética das relações sociais e no mais puro âmago de um serviço público solidário e abnegado para o qual o retorno desejado não é financeiro, mas antes o bem estar das populações concretizado diariamente em pequeníssimos mas ininterruptos avanços civilizacionais, e em terceiro, não é suficiente porque não podem os municípios por si só assegurar esta tarefa, não apenas por deverem garantir em simultâneo um conjunto excepcionalmente alargado de competências, mas também por este encargo não ser apenas seu mas antes de toda a sociedade que toma a iniciativa de se organizar em estruturas de diversa natureza e que colaborando entre si, e com as entidades públicas, garantem uma cobertura mais abrangente de carências que a sociedade moderna reconhece como essenciais para a vivência e dignidade humana e que se apresentam em número sempre crescente. ------------------------------------------------------------------ ----- Mas não ignoramos que os tempos que correm são de crise e qualquer que seja a leitura que se faça deste facto, e de quais os indicadores que contribuem para o mesmo, a realidade é a da carência e das dificuldades que a Dr.ª Ana Cardoso bem identificou. --------------------------------------------------------------------------------------- ----- Como sempre na história, tal como sempre é nos tempos de dificuldades, se constata o nervo com que se une uma comunidade. Pelo que acredito por tudo o que hoje aprendemos e conhecemos que, também, os tempos de carência que ora atravessamos serviram para apertar os laços que nos unem enquanto grupo, grupos de cidadãos, e que não deixaremos de nos apoiar mutuamente e a terceiros, atribuindo um papel cada vez mais importante à cidadania activa. ------------------------------------- ----- Termino agradecendo o trabalho da Comissão Permanente de Intervenção Social, o seu Presidente e Secretária, e a todos os restantes membros, que tomou a iniciativa de organizar esta conferência e que mantém um dinamismo exemplar, chamando a atenção da Assembleia Municipal da Cidade para matérias que não devemos, nem podemos, descurar. Agradeço também ao Teatro Aberto, à Joana Amaral, ao DMAGI

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da Câmara Municipal de Lisboa e a todos aqueles que aqui hoje e estiveram connosco ajudando-nos a construir uma nova consciência social, a todos, muito obrigada. -------- ----- Seguidamente, a Senhora Presidente deu por encerrada a conferência. ------------ ----- Eram 18 horas. ----------------------------------------------------------------------------- ----- E eu, , Primeiro Secretário, fiz lavrar a presente acta que subscrevo juntamente com a Segunda Secretária, . ---- --------------------------------------- A PRESIDENTE ------------------------------------------