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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição 84 [12/4/2012 a 18/4/2012]

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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 84[12/4/2012 a 18/4/2012]

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Sumário

CINEMA E TV...............................................................................................................4O Estado de S. Paulo - 12 horas de tensão....................................................................................4O Estado de S. Paulo – “Esses caras não vão me vencer” / Entrevista / Heitor Dhalia..................4Correio Braziliense - A aventura de Heitor Dhalia...........................................................................6Folha de S. Paulo - Brasileiro "perde inocência" em Hollywood......................................................7Folha de S. Paulo - Diretor supera mau roteiro e faz, curiosamente, seu melhor filme...................7Estado de Minas - Baião nas montanhas .......................................................................................8Folha de S. Paulo - Novela 'Escrava Isaura' original é lançada em DVD........................................9Folha de S. Paulo - 'Forrest Gump' da Paraíba filma histórias insólitas........................................10Folha de S. Paulo - Saraceni foi fiel à inquietação do cinema novo..............................................11Deutsche Welle (Alemanha) - Brasileira concorre em festival dedicado ao cinema feito por mulheres........................................................................................................................................12O Estado de S. Paulo - Quem faz a diferença...............................................................................13O Estado de S. Paulo - Festival terá tela de 350 m²......................................................................14Agência de Notícias Brasil-Árabe - Curta brasileiro é premiado em Dubai...................................14Zero Hora - Televisão: Brasil nos EUA e em Portugal...................................................................15Zero Hora – Cinema marginal: Filme de Evaldo Mocarzel dá voz aos papeleiros.........................15

TEATRO E DANÇA....................................................................................................15O Estado de S. Paulo - Encontro de dois mundos........................................................................15Folha de S. Paulo – 'Crianças da Noite' inicia a mostra Palcos.....................................................17Estado de Minas - Mestra do gesto ..............................................................................................17Correio Braziliense - As 3 velhas vai a Cuba................................................................................19Folha de S. Paulo – Crítica Teatro: Peça faz travessia ambiciosa por traumas da escravidão.....19

ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................20Valor Econômico - O ano das exposições blockbusters no Brasil.................................................20Estado de Minas – Artes Visuais: Raio-X do mestre ....................................................................22Estado de Minas – Vale investe em Inhotim .................................................................................23Folha de S. Paulo - Latino-americanos são 50% da escalação para a próxima Bienal.................24Folha de S. Paulo - Norman Foster e Cildo Meireles farão mostra na Casa de Vidro...................25O Estado de S. Paulo – Diálogos como proposta artística............................................................25Correio Braziliense - A criatividade pelo foco da história...............................................................26O Estado de S. Paulo - Obras raras para agitar o mercado..........................................................27

MÚSICA......................................................................................................................30Folha de S. Paulo – Osesp inaugura função de artista em residência..........................................30Estado de Minas – Vídeo: Para levar para casa ...........................................................................31Correio Braziliense – Arte da contestação....................................................................................32O Estado de S. Paulo - Estudos em torno de Villa........................................................................33O Estado de S. Paulo - De muitos bandolins................................................................................33Correio Braziliense – Bossa em quatro tempos.............................................................................35Folha de S. Paulo - De volta ao rock.............................................................................................36Correio Braziliense - Vibração que vai além do som ....................................................................37Estado de Minas - Genérico com pedigree ..................................................................................38Folha de S. Paulo – Mostra de Elis tem ponto alto em cenas de TV.............................................39O Estado de S. Paulo - De Euclides a Verdi e Wagner.................................................................40

LIVROS E LITERATURA...........................................................................................41O Estado de S. Paulo - Um humor melancólico............................................................................41Estado de Minas – Itaguara abre museu para Guimarães Rosa ..................................................41Valor Econômico - Travessia do corpo..........................................................................................42Correio Braziliense - A megafesta do livro ...................................................................................44Correio Braziliense - A navegação pelas imagens .......................................................................46Folha de S. Paulo - Nelson como ele era......................................................................................47Folha de S. Paulo - Para Nelson, 'ideia dita uma vez só morre inédita'........................................48Correio Braziliense – Literatura de mitos e memórias...................................................................48Folha de S. Paulo – Coleção reúne autores ibero-americanos.....................................................50

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Estado de Minas - Meninos de ouro .............................................................................................50O Estado de S. Paulo - O universo de Amado..............................................................................51Folha de S. Paulo - Lançamento traça panorama artificial e reducionista da arte do país no século 21..................................................................................................................................................52O Globo – Blog Ancelmo.com.......................................................................................................53O Estado de S. Paulo - Tolerância norteia Bienal de Brasília.......................................................53Correio Braziliense - África concreta ............................................................................................54Zero Hora – Poesia sobre madeira................................................................................................55Valor Econômico - Autor de "Cidade de Deus" se inspira nas origens do samba.........................56O Estado de S. Paulo – “Dói voltar a certos momentos da nossa história” / Entrevista / Milton Hatoum..........................................................................................................................................57Correio Braziliense - Brasília, 52 anos entre livros e música ........................................................59Zero Hora – Porto dos livros: FestiPoa Literária chega à quinta edição com a proposta de dialogar com outras áreas da cultura..........................................................................................................60Zero Hora – “Está tudo sério demais” / Entrevista / Mário Prata...................................................61Zero Hora – Crítico em foco / Artigo / Marcelo Perrone.................................................................62Valor Econômico - Clarice Lispector era uma "anti-intelectual fingida", diz autor..........................62

ARQUITETURA E DESIGN........................................................................................63Estado de Minas - Bom gosto na sala ..........................................................................................63Zero Hora – Metro cúbico de design.............................................................................................64Correio Braziliense - Catetinho reabre com homenagens.............................................................65

MODA.........................................................................................................................66Folha de S. Paulo - Estilista do Ceará é nova sensação da moda local........................................66

GASTRONOMIA.........................................................................................................66Estado de Minas - Tiradentes vem aí ...........................................................................................67Estado de Minas - Brasil e França à mesa ...................................................................................68Folha de S. Paulo – Festival busca fortalecer e proteger tradições da cozinha paraense............69

OUTROS.....................................................................................................................69SudOuest (França) - Le Brésil donne des couleurs à la foire........................................................69Folha de S. Paulo - Isenção de impostos em eventos favorece as galerias estrangeiras.............70Valor Econômico - SP é favorita a sediar Museu da Pessoa........................................................70JC Online - Economia criativa une o Recife à Inglaterra...............................................................72

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CINEMA E TV

O Estado de S. Paulo - 12 horas de tensão

O diretor Heitor Dhalia lembra como foi desafiante fazer em Hollywood o seu filme que estreia amanhã

Luiz Carlos Merten

(12/4/2012) Foi um longo e complicado namoro. Desde 2002 - há uma década, portanto -, Heitor Dhalia vinha mantendo conversações paras dirigir um filme em Hollywood. Num determinado momento, estava tudo engatilhado para que ele filmasse a cinebiografia de Zelda Fitzgerald, a conturbada mulher de Scott, o grande escritor. O projeto, como tantos outros, não saiu. Quando Dhalia já estava desistindo, surgiu a possibilidade de fazer o thriller 12 Horas. Ele topou, a atriz foi acertada - e Amanda Seyfried adorou a possibilidade de ser dirigida por um jovem e talentoso realizador brasileiro.

12 Horas estreia amanhã nos cinemas brasileiros. A distribuição é da Paris Filmes, que faz um lançamento médio, com cerca de 60 cópias, nada comparável ao seu blockbuster mais recente - Jogos Vorazes. Mas é um circuito bom, e a empresa trata o filme decentemente. Heitor Dhalia refaz a experiência de Walter Salles, que também realizou um filme de gênero em Hollywood, o terror Dark Water. Mesmo sem cuspir no prato - e o filme é benfeito -, Dhalia sabe que foi vencido pela máquina do cinemão.

Em outra experiência internacional - À Deriva -, ele pode não ter confirmado o que prometia em Nina e O Cheiro do Ralo, mas o filme virou cult entre executivos do próprio cinema norte-americano. O problema é que, mesmo simpatizando com ele, o produtor Tom Rosenberg, um milionário texano que faz cinema para não perder dinheiro, infernizou quanto pôde a vida de seu contratado.

Dhalia contou que não teve direito nem a escolher sua equipe técnica. Ele propôs um diretor de fotografia. Rosenberg retrucou com outros dois e, quando Dhalia indicou um, ele contratou o outro. Todos os encontros do diretor com sua estrela para discutir a personagem foram em presença do produtor ou de algum de seus homens de confiança. Dhalia filosofa: "E isso que ele gostou de mim. Imagine se não tivesse gostado." Apesar do clima desfavorável, o diretor conseguiu terminar o filme no prazo, gastou menos e imprimiu, não um estilo, mas uma marca - na paleta de cores. O que aprendeu, espera aplicar agora num projeto pessoal, e grande - um filme sobre Serra Pelada, com Wagner Moura e Seu Jorge, que já está em pré-produção.

O Estado de S. Paulo – “Esses caras não vão me vencer” / Entrevista / Heitor Dhalia

Heitor Dhalia conta como foi a dura batalha para realizar 12 Horas, seu primeiro longa em Hollywood

Luiz Carlos Merten

(12/4/2012) Heitor Dhalia está tão entusiasmado com o novo projeto em que está se lançando que até minimiza a experiência que poderia ser traumática de 12 Horas. Em São Paulo, o diretor falou sobre o thriller que estreia amanhã com o repórter do Estado já com a cabeça voltada para Serra Pelada, que roda no segundo semestre.

Era um sonho seu fazer um filme em Hollywood?Não vou dizer que era um sonho, mas era com certeza um desafio e isso era bem interessante. Essa coisa do meu 'filme norte-americano' não é de agora, Começou a surgir quando Nina e, depois, O Cheiro do Ralo começaram a rodar o mundo e passaram em festivais nos EUA. No intervalo, fiz À Deriva, filmado no Brasil, mas com elenco internacional e produção idem. À Deriva foi para Cannes e

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Dhalia. Produtor impediu-o de fazer o filme como queria

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virou uma espécie de cult entre os novos executivos de estúdios de Hollywood. Quando eu já estava desistindo desse hipotético filme nos EUA, surgiu a proposta para fazer 12 Horas.

E o que ela tinha de tão interessante?Era filme de gênero, um thriller, e eu gosto de thriller. Pensei - é o tipo de filme que eu iria ver. Por que não fazer? Vários projetos bacanas foram indo pro brejo, incluindo uma biografia de Zelda Fitzgerald, que eu achava que poderia ser muito boa. Esse era um filme de um perfil talvez mais intelectual, até pelos personagens. Zelda, Scott Fitzgerald, os anos do jazz. E aí veio a história da garota que sofreu uma agressão e ninguém acredita. Havia uma obsessão da personagem, essa coisa de 'eu contra o mundo' que mexeu comigo. Encontrei o produtor, um milionário texano chamado Tom Rosenberg. As coisas foram se encaminhando, a Amanda (Seyfried) aceitou o papel. Pensei comigo - 'Agora, vai'. Só não pensava que seria tão complicado.

O que foi mais difícil?Tudo. O Tom (Rosenberg) não é homem de cinema. Entrou nessa por capricho. O negócio dele é dinheiro. Não me deu nenhuma margem de movimento. Me engessou dentro de um esquema que era dele. Eu queria levar meu fotógrafo brasileiro, ele não deixou. Sugeri um gringo. Ele retrucou com dois nomes. Indiquei um, ele contratou o outro - isso para deixar claro quem mandava. Tom não me deixou ensaiar com a Amanda, nem discutir o personagem sozinho com ela. Havia sempre alguém de confiança dele me controlando. Nesse quadro, é claro que não poderia fazer nada pessoal, mas não creio que tenha me saído mal.

E o que saiu bem?Talvez por insegurança, por trabalhar num esquema que não dominava, fui caxias. Me preparei muito. Terminei o filme antes do prazo, gastei

menos. O público dos test screenings gostou. O Tom ficou tão satisfeito que até propôs trabalhar comigo de novo. Eu poderia ficar lá, fazendo esses filmes, mas não é o que quero. Vou fazer um filme meu.

Esse filme é o Serra Pelada?É um filme grande e, com esse, sim, eu sonho há muito tempo. Por meio de dois amigos, que serão interpretados por Wagner Moura e Seu Jorge, quero contar a história do maior garimpo a céu aberto do mundo. Pesquisei muito para fazer esse roteiro original e posso dizer que a história do Brasil moderno passa por Serra Pelada, senão nasceu ali. As grandes fortunas... O Eike Batista tem um pé em Serra Pelada. Quero contar essa história das buscas pela pepita mítica, que vale milhões.

No imaginário da gente, Serra Pelada é um universo essencialmente masculino e tinha uma mulher, a Rita Cadillac. Ela é personagem do filme?A Rita é personagem, sexy, objeto de desejo de todos aqueles machos. O garimpo foi controlado pelo Exército. A Rita era guardada por eles. Quero reproduzir a cena famosa, quando ela se apresentou pela primeira vez. "Não estão gostando, estão me jogando pedras", ela pensou. Mas o que jogavam eram pepitas, de tão loucos que ficaram.

Deve ter sido uma história muito forte de sexo e violência, não?Mais que forte, louca. O garimpo tinha todos aqueles homens confinados. Mulheres não entravam, só a Rita. A consequência foi que o homossexualismo se desenvolveu e a prostituição passou a ser exercida por travestis. Mas não eram travestis mocinhas. Eram travestis machos, tipo Madame Satã, que encarnavam a violência. Elas só perdem a importância no garimpo quando o medo da aids faz com que todas elas, muitas doentes, sejam expulsas. O êxodo das travestis pode ser uma cena para ficar na história.

O que a experiência hollywoodiana vai ajudar num projeto desses?Acho que em tudo. Trabalhando naquelas condições, em 12 Horas, consegui concluir um projeto que não era meu. Esse aqui é grande, imenso. Montar essa produção, trabalhar com um elenco grande e um batalhão de extras, tudo isso vai exigir disciplina, preparação, dedicação e tudo isso adquiri no 12 Horas. Tinha horas em que queria desistir, mas pensava - esses caras não vão me vencer. Espero usar muita coisa que aprendi lá para fazer meu filme aqui.

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Correio Braziliense - A aventura de Heitor Dhalia

Pernambucano entra no concorrido mercado de Hollywood com o thriller 12 horas e diz que pretende ocupar mais espaços

Yale Gontijo

(13/4/2012) Depois dos atores Rodrigo Santoro e Alice Braga e dos cineastas Walter Salles e Carlos Saldanha, o diretor pernambucano Heitor Dhalia engrossa o time de brasileiros trabalhando em Hollywood nos últimos anos. Na coletiva de imprensa em São Paulo, em março, o diretor defendeu sozinho o thriller 12 horas (Gone), com estreia prevista para hoje. Nenhum representante do elenco norte-americano pôde participar do lançamento no Brasil. No encontro com jornalistas, Dhalia descreveu a “meca do cinema mundial” como uma enorme casa de apostas: rica e imprevisível.

No baile em que dançou com os temidos produtores norte-americanos, o brasileiro admite ter perdido a personalidade de diretor de filmes autorais exibido nos títulos Made in Brazil, Nina (2004), O cheiro do ralo (2006) e À deriva (2009), em prol da inserção em Hollywood. “Los Angeles é um grande cassino, uma caixa preta de ilusões. É um sistema complexo de produção e uma indústria que analisa todos os riscos financeiros. Todas as histórias clássicas que ouvimos sobre Hollywood são verdade. Porém, é um lugar mais heterogêneo do que a gente imagina”, ensina sobre um sistema que admite não entender por inteiro. “O realizador do filme é verdadeiramente o produtor. Todas as negociações são feitas com a presença de um advogado. Para não pirar, eu ouvia Luiz Gonzaga e conversava com a minha namorada”, entregou.

O começo de Heitor em terras estrangeiras é também a estreia em um gênero que o diretor de quatro longas-metragens nunca havia trabalhado. O suspense localizado nas florestas úmidas de Portland, estado do Oregon, é protagonizado pela atriz Amanda Seyfried (Jill Parish). No passado, Jill foi a provável vítima de um serial killer. Porém, não existe qualquer evidência de que um crime tenha ocorrido. Mesmo assim, a garota traumatizada garante que o sumiço da irmã Molly (Emmy Wickersham) é de autoria do mesmo homem que a sequestrou e torturou no passado. A partir daí, a fita ganha ares de investigação policial com a insistência da garota em solucionar um crime que ninguém acredita existir.

Dhalia teve contato restrito com o elenco e sequer opinou na escolha dos intérpretes. “Eu pude escolher algumas pessoas em Portland. O resto do grupo era indicado por agentes e eu apenas era informado da situação pelos produtores. Queria me encontrar com Amanda anteriormente para fazermos ensaios, mas fui barrado pelo produtor. Por sorte, ela é uma atriz muito dedicada. Foi fácil trabalhar com ela”, descreveu o brasileiro sobre a atriz, presente em quase 100% da projeção. No elenco, também estão Katherine Moening (da série televisiva lésbica The L Word), Daniel Sunjata (O diabo veste Prada) e o esquisitão (Wes Bentley, de Beleza americana)

O controle rigoroso da indústria, na qual Dhalia já está sindicalizado, não o espantou em futuros trabalhos na ensolarada Los Angeles. “Sou super afim de filmar lá de novo. Tem uma metáfora que criei e acho que se aplica a esse caso. O serial killer mata por prazer. O matador de aluguel é contratado para matar. Ele mata por obrigação. Mas, ele tem de sentir prazer em matar. Eu fui o matador de aluguel. Agora, meu desejo é mais específico. Vai de alguma maneira me impulsionar para realizar uma próxima jornada no cinema”, prometeu.

Nos novos planos de voos cinematográficos em que a rota inclui destinos estrangeiros, a intenção do diretor é trabalhar em sistema de coprodução. “Quero levar uma proposta de um projeto mesclado para fazer lá. Por exemplo, o Walter Salles fez o Água negra (2005) sem muito poder sob a produção. Agora, fez Na estrada (baseado no livro On the road, de Jack Kerouac, estreia prevista para 15 de junho). Pelo trailer, parece que é um filmaço. São coisas que se conquista. Poucos diretores têm carta branca lá. A competição é muito acirrada”, destaca Dhalia.

Filmes de gêneroA produção dirigida pelo brasileiro teve um orçamento modesto para o mercado americano. O total não foi revelado pelo diretor, mas estima-se que gire em torno dos US$ 22 milhões. Lançado em

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fevereiro nos Estados Unidos, o filme arrecadou até agora cerca de US$ 11 milhões. “Não houve prejuízo. Quando ficou pronto o filme já estava pago”, revelou o diretor.

Nos EUA, a fita não foi exibida antecipadamente para a crítica especializada. O que não impediu de receber avaliações negativas em publicações da área. Em geral, os norte-americanos se mostraram pouco animados com a apresentação de um thriller com as mesmas características do gênero, sem qualquer diferencial. Sinal de desgaste do supercontrole criativo dos produtores de Hollywood ou crise do gênero?

Folha de S. Paulo - Brasileiro "perde inocência" em HollywoodHeitor Dhalia diz que era impedido de ensaiar com atores e comandar set de "12 Horas"

Rodrigo Salem(13/4/2012) Diretores que renegam seus filmes não chegam a ser uma novidade em Hollywood. Existe até um pseudônimo (Alan Smithee) que os cineastas norte-americanos utilizam quando não estão satisfeitos com o produto final. O pernambucano Heitor Dhalia poderia ter feito o mesmo em "12 Horas", sua estreia no mercado americano.Contratado pelo produtor linha-dura Tom Rosenberg, que já fez "Menina de Ouro" (2004), de Clint Eastwood, mas que hoje se dedica a filmes de baixo orçamento e retorno fácil como "Adrenalina" (2006), Dhalia esteve sob o jugo de uma ditadura criativa durante as filmagens. "Quando entreguei uma lista de 30 diretores de fotografia e ele me veio com dois nomes, e nenhum que eu havia citado, vi que tinha me fodido", diz o cineasta. "Eu sabia onde estava me metendo quando fui trabalhar em Hollywood, mas não sabia a quantidade de restrições que enfrentaria nas filmagens."

O brasileiro não podia nem ensaiar com o elenco. "Era proibido. E, se eu pedisse um encontro com a Amanda [Seyfried, protagonista do thriller], eram quatro produtores acompanhando tudo." "12 Horas" é um típico caso de suspense rasteiro hollywoodiano sobre uma garota que tenta encontrar sozinha o sequestrador de sua irmã, que também a teria raptado no passado.

Foi um fracasso de renda nos Estados Unidos, faturando US$ 11 milhões (cerca de R$ 20 milhões), mas o produtor não arrancou os cabelos por causa disso. "12 Horas" já estava pago quando saiu. "Venderam para o mercado internacional antes mesmo de o filme estar pronto, por US$ 12 milhões", revela Dhalia.

Covardia

A segurança do baixo orçamento -cerca de US$ 15 milhões (R$ 27 milhões)- e o mercado aquecido fora da América do Norte geraram um produto estranho. "Quando lançaram o filme nos Estados Unidos, não mostraram para a crítica. Não dei entrevistas para divulgar. Foram covardes", conta.

Sem poder comandar criativamente o longa, Heitor Dhalia pensou várias vezes em abandonar as filmagens. Mas fincou o pé. "Não consigo imaginar uma situação mais hostil de trabalho, mas tudo o que não mata fortalece. Serviu para eu perder a inocência", revela o diretor.

"O filme não é meu. É do produtor. Fui apenas um matador de aluguel." E depois desse assassinato, ele parte para filmar "Serra Pelada". "Guardei toda a minha criatividade para esse projeto."

Folha de S. Paulo - Diretor supera mau roteiro e faz, curiosamente, seu melhor filme

Inácio Araujo, Crítico da Folha

(13/4/2012) É delicado comentar esta incursão do brasileiro Heitor Dhalia nos EUA, cujo roteiro é mais esburacado do que rua de São Paulo. No caso de "12 Horas", estamos em Portland, onde a jovem Jill vive com a irmã, Molly, após ter escapado meio que por milagre de um serial killer da região.A polícia, porém, não acredita que Jill tenha sido sequestrada. Assim, quando Molly é raptada, ninguém se dá ao trabalho de procurá-la. Os tiras acham que fugiu para beber, farrear, chifrar o

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namorado ou algo do estilo. A única preocupação da polícia, aparentemente, é perseguir Jill, tida como doente mental e perigosa. Por isso ela, sozinha, assume a tarefa de procurar a irmã.

Do ponto de vista de uma produção pequena, isso é até bem prático: temos quase todo o tempo uma personagem só (portanto, uma só atriz). O fato é que o tempo corre contra Jill, pois, acredita, Molly será morta quando anoitecer. Como ela própria precisa se esquivar da perseguição policial, vê-se que estamos diante da receita do thriller hitchcockiano (usado por boa parte dos filmes da TV paga).

É verdade que um cineasta, quando chega aos EUA, não tem muito direito a palpitar sobre a produção para a qual foi contratado: é mais um mestre de obras do que outra coisa. É verdade, também, que ninguém é obrigado a filmar o que não quer (como Clint Eastwood já observou a colegas queixosos). No entanto, e apesar de tudo, este me parece o melhor filme de Dhalia até hoje.

Pode-se argumentar que isso não é tanto assim, considerando-se sua obra pregressa. Ainda assim, constrangido a levar adiante um exercício de suspense com muito pouco a dizer, uma simples convenção, Dhalia buscou preservar a inteireza do suspense e, na maior parte do tempo, conseguiu, evitando, por exemplo, que virasse chacota entre os espectadores.

Deve-se admitir, porém, que a direção também não acrescenta nada ao texto rotineiro e falho nem cria para sua protagonista um estofo capaz de nos fazer esquecer as deficiências do roteiro: ela também é uma convenção.

Há problemas às pilhas, como se vê, e ainda assim o filme está menos à deriva do que "À Deriva", menos pessimista dândi do que "O Cheiro do Ralo", menos histérico do que "Nina". A experiência americana pode ser mais proveitosa para Dhalia do que parece à primeira vista.

Estado de Minas - Baião nas montanhas

Passa Quatro, no Sul de Minas, é cenário de gravação de Luiz Gonzaga, de pai para filho, filme sobre a relação entre o Rei do Baião e o filho Gonzaguinha, com direção de Breno Silveira

Thaís Pacheco

(13/4/2012) Passa Quatro – “Atenção gente, vai rodar. Checa som. Ação!”. Essas frases, pouco ou nada usuais, foram as mais ouvidas na última semana em Passa Quatro, Sul de Minas, com pouco mais de 15 mil habitantes. Era a assistente de direção do filme Luiz Gonzaga, de pai para filho, botando ordem nas filmagens realizadas na cidade na terça e quarta-feira. O novo longa-metragem de Breno Silveira, mesmo diretor de 2 filhos de Francisco, vai contar a história do Rei do Baião e de sua relação conturbada como filho Gonzaguinha.

A população, acostumada a passar pelo Centro da cidade a pé, em bicicletas ou nos poucos coletivos, se viu de repente obrigada a desviar a rota ou esperar alguns minutos até que a passagem fosse liberada. A notícia se espalhou rápido. Um pouco vaga nos detalhes, mas exata no foco. “Acho que é filme do Luiz Gonzaga, mas não sei o nome”, diz a estudante Rafaela Martins, de 17 anos. “Alguém falou que é filme sobre o Gonzaga, mas não sei o que exatamente vai ser filmado na cidade”, emenda a dona de casa Francelina Maria, de 53.

Elas estão certas. E estão achando boa a movimentação. “Está tudo muito bonito. Quarta-feira, vim fazer uma caminhada de manhã e fui lá ver os rapazes se preparando. Achei tudo muito lindo”, diz Francelina. Os rapazes que ela cita são os ilustres passa-quatrenses selecionados para fazer figuração. Dezenas deles. Devidamente maquiados, vestidos com figurino de época e ganhando cachê de R$ 40 por dia.

Entre eles, o aposentado Jurandir de Oliveira, de 59, nascido em Passa Quatro, e o segurança Márcio Amaro, de 50, vindo de município vizinho, Itanhandu. Ambos ouviram a convocação no rádio e se inscreveram para figuração. Às 8h de quarta-feira estavam a postos no camarim, mas só filmaram às 18h, quando fariam parte da plateia de um show. “É divertido. A gente só não sabe quando vai sair, para poder ver”, cobra Jurandir.

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A cidade parece não se incomodar em ver sua rotina alterada, com as ruas transformadas em set de filmagem. O estudante Hudson Guedes, de 18, atuou como figurante e acompanhou as filmagens como espectador durante três horas, ao lado de centenas de pessoas que chegavam, espiavam, saíam e voltavam durante as gravações. “Achei bem legal e é bacana para a cidade. Uma atração diferente”, avalia Hudson.

Rafaela Martins vai além: “Aqui em Passa Quatro todo mundo sempre diz que não tem nada e quando vem algo assim, a gente sente que a cidade está evoluindo. Por isso, mesmo se tiver que parar um pouco o trânsito, ninguém reclama”, diz. “É bom para a cidade ficar famosa. Ninguém se incomoda”, completa Francelina, que tem sobrinho trabalhando na figuração.

Desafio Depois da agitação, o set foi desmontado e as coisas voltaram ao normal na rotina do município. Mas a agenda da equipe ainda vai longe. Programado para estrear em outubro, as filmagens agora retornam para o Rio de Janeiro e ao Nordeste, onde já foram gravadas várias cenas. O sanfoneiro Chambinho do Acordeom, que faz sua estreia como ator vivendo o principal intérprete de Luiz Gonzaga (Land Vieira e Adelio Lima interpretam o músico em outras idades), já se acostumou melhor à ideia de dar vida ao personagem, mas encara com seriedade o desafio. “Desde que recebi o convite sinto que a responsabilidade de interpretar Luiz Gonzaga só aumentou. Mas o propósito é interpretar, nunca querer ser ele”, diz o artista.

Vantagem é o fato de ser conhecedor da obra. “Na hora de fazer procuro não pensar muito nele e sim na situação. Caso contrário, não consigo, porque sou muito fã”, conta o sanfoneiro. Com orçamento que já ultrapassa os R$ 10 milhões, o longa cobre um período que vai de 1920 a 1980, em que, segundo o diretor Breno Silveira, Gonzaga rodou o país. Mas as locações escolhidas foram concentradas em cidades do Nordeste, Rio de Janeiro e Passa Quatro.

“Gonzaga passou oito anos servindo o Exército em Minas Gerais. Lutou em algumas revoluções no estado e sempre saía daqui de trem. Encontramos em Passa Quatro uma Maria-Fumaça e carros de época maravilhosos, uma estação de trem linda, uma galera que colaborou com a figuração e dançou o baião. E tem ainda essas lindas montanhas de Minas ao fundo. O que mais a gente precisa? É perfeito”, justifica Breno sobre a escolha da cidade.

“Em 2 filhos de Francisco tinha a história dos filhos contada pelo pai, “seu” Francisco. Aqui, tenho o inverso: a história do pai contada pelo Gonzaguinha”, resume Breno. O papel de Gonzaguinha também será dividido por três atores, que representam diferentes fases da vida do cantor e compositor: Alisson Santos, Jean Carlos de Tommasio e Juliano Andrade.

Folha de S. Paulo - Novela 'Escrava Isaura' original é lançada em DVDGlobo condensa em 15 horas os cem capítulos da trama de Gilberto Braga

Lucélia Santos diz que personagem, que faz sucesso desde 1976 no mundo todo, é 'um carma bom' em sua vida Elisangela Roxo, de São Paulo(14/4/2012) Para Lucélia Santos, viver a escrava mais famosa da história das telenovelas trouxe um "carma bom". Ela conta à Folha que, até hoje, recebe correspondência de quem se encantou com a personagem inspirada no romance homônimo de Bernardo Guimarães (1825-1884). As mais recentes missivas tinham remetentes oriundos da Polônia, da Bósnia-Herzegóvina e da Rússia.

O papel abriu os caminhos do mundo para a atriz, já que a novela "Escrava Isaura" foi exportada para cerca de 80 países, desde que foi ao ar pela primeira vez no Brasil, entre 1976 e 1977. Interessada no fascínio que a personagem ainda desperta no público, a Rede Globo resolveu oferecer a produção em uma caixa composta por cinco DVDs.

O lançamento condensa em cerca de 15 horas os cem capítulos originais da trama, uma adaptação de Gilberto Braga com direção-geral de Herval Rossano. "Isaura era mesmo um xodó do público, uma heroína de grande carisma", se derrete Lucélia Santos.

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O carma da personagem, porém, não era dos melhores. Ela é uma escrava branca que foi educada como moça da corte e vive sonhando com a liberdade, no cenário de um Brasil já abolicionista. A heroína sofre nas mãos do terrível Leôncio (Rubens de Falco, 1931-2008), seu senhor, que nutre por ela uma paixão não correspondida e um tanto doentia. A indiferença dela o torna cruel. Daí em diante, não faltarão lágrimas nem chibatadas para garantir a intensidade do drama.

Sedução

A Record, sabendo do poder de sedução de Isaura, fez em 2004 seu próprio "remake", também sob direção de Rossano, com Bianca Rinaldi no papel-título. Lucélia Santos preferiu não assistir a essa versão. "Vi algumas imagens e fiquei incomodada, porque achei que eles haviam copiado muito."

A dublagem em cima do original, no entanto, não incomoda a atriz. Pelo contrário, ela credita grande parte da boa repercussão no exterior à qualidade dos dubladores. "Fiquei muito surpresa ao me ouvir na China. A dubladora era uma atriz com cerca de 70 anos. Apesar de ser mais velha, a voz dela combinava com a minha imagem de um jeito impressionante", ela recorda.

Afastada da TV desde "Cidadão Brasileiro" (Record), de 2006, Lucélia tem se dedicado ao teatro. Mas se mostra animada com rumores de que a Globo gostaria de tê-la de volta em seu elenco. "Mas até agora, nenhum convite foi feito", afirma.

Folha de S. Paulo - 'Forrest Gump' da Paraíba filma histórias insólitas

Primeiro longa do cineasta, 'Tudo que Deus Criou' traz a atriz global Letícia Spiller no papel de cega ninfomaníaca e virgem

Anna Virginia Balloussier, de São Paulo

(15/4/2012) Como um Forrest Gump da Paraíba, o cineasta André da Costa Pinto, 25, gosta de contar histórias incríveis. Incríveis até demais, pois cabe aqui o sentido literal da palavra: difíceis de acreditar. Em filmes, ele já falou de uma cega ninfomaníaca e virgem, um ex-frade paraibano que virou político transexual pioneiro na França e um senhor que, a partir de sonhos, esculpia obras comparadas às de Leonardo da Vinci.

Todos personagens da vida real, ele garante. É de Barra de São Miguel (PB), sua cidade natal, com 6.000 habitantes e uma prefeitura já chefiada por seu pai, que saiu parte dessas figuras dignas de uma parceria entre Pedro Almodóvar e Spike Jonze. Se ver não basta para crer, some à palavra de Pinto registros oficiais (como boletins de ocorrência) e jornalísticos sobre os fatos que o inspiram.

Resumir "Tudo que Deus Criou", seu primeiro longa, realizado com R$ 150 mil vindos da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), é tarefa árdua. O filme acompanha a rotina do travesti Miguel, que se prostitui. A certa altura, ele é estuprado pelo cunhado. A mulher deste (irmã do travesti) tem Aids. Miguel tem um namorado, que é assediado por uma cega balzaquiana fissurada em sexo sem nunca ter chegado às vias de fato. O desfecho -real- parece saído da pena de Nelson Rodrigues.

O novato reuniu um elenco com Letícia Spiller (a cega), Maria Gladys, Guta Stresser e Paulo Vespúcio.

Um abraço, um roteiro

O filme nasceu graças a uma demonstração pública de afeto. "Um senhor me parou na rua e pediu para eu lhe dar um abraço", conta Pinto. Esse sujeito tinha se emocionado com um curta do diretor e convidou-o para almoçar. Na ocasião, Pinto conheceu o homem que lhe narraria sua história de vida -a base de "Tudo que Deus Criou".

O curta em questão era "Amanda e Monick" (2009), sobre duas transexuais. Amanda é professora, conhecida de infância do diretor. Monick é aluna daquela e vive com uma lésbica -que está grávida dela.

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Já "A Encomenda do Bicho Medonho" (2006) é sobre um artesão que também era barbeiro do diretor. Em sonhos, o homem, analfabeto, era instruído por um animal a talhar criaturas em troncos. No documentário, um especialista vê semelhança entre as peças e trabalhos de Da Vinci.

O trabalho mais intimista é um curta sobre a longa amizade entre a avó e uma amiga que havia sofrido um AVC. "Minha avó canta 'Último Desejo', do Noel Rosa, que elas gostavam. De repente, a amiga abre os olhos, após anos paralisada. Aí fecha os olhos e morre na frente da câmera", descreve Pinto.

Agora, o rapaz finaliza um documentário sobre Camille Cabral, "que nasceu Raimundo, virou frade, depois transexual, se formou médica, foi para a França, elegeu-se para um cargo público lá e trabalhou com o FBI contra o tráfico internacional sexual".

Camille? Conhecida da família. Incrível. Quase demais.

Folha de S. Paulo - Saraceni foi fiel à inquietação do cinema novo

Cineasta morto no sábado resistiu à prova do tempo com uma obra pulsante, inconformada e sem concessões

Ricardo Calil, Crítico da Folha

Ele foi o diretor que mais mereceu continuar ostentando o adjetivo da expressão cinema novo

(16/4/2012) Nelson Pereira dos Santos declarou que "o cinema novo era quando o Glauber [Rocha] estava no Rio". Ou seja: menos um movimento organizado do que um estado de espírito insuflado pelo líder. Nesse sentido, é possível dizer que Paulo Cezar Saraceni -que morreu no sábado, aos 78 anos, vítima de disfunção múltipla dos órgãos- foi não apenas um dos primeiros cinemanovistas como talvez o último.

O título de pioneiro (e o de sobrevivente) do movimento deveria caber a Nelson Pereira, mas este vem dando sinais de desconforto no papel, argumentando que pertence a uma geração anterior e que fez três longas antes da deflagração do cinema novo. Depois de Santos, o nome de Saraceni surge naturalmente. Seu curta documental "Arraial do Cabo" (1959) foi considerado uma das sementes do cinema novo -ao lado de "Aruanda" (1960), de Linduarte Noronha (que morreu também neste ano).

Já o longa "O Desafio" (1965) foi a primeira obra do movimento protagonizada por um intelectual urbano, antecipando "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha. Além disso, foi Saraceni quem proferiu a frase que virou slogan informal do movimento: "Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça".

Talvez mais importante do que buscar provas de pioneirismo seja observar como Saraceni se manteve fiel ao espírito original do cinema novo: inquieto, inconformado, sem concessões. Seus companheiros de geração ou morreram (Glauber Rocha, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade) ou fizeram, de forma mais ou menos explícita, uma opção pelo cinema de mercado (Luiz Carlos Barreto, Zelito Viana, Arnaldo Jabor, Cacá Diegues).

Já Saraceni continou movido sobretudo por suas paixões -que podiam ir da obra do escritor mineiro Lúcio Cardoso (cujos argumentos inspiraram "Porto das Caixas", "A Casa Assassinada" e "O Viajante") à Banda de Ipanema (que homenageou em documentário de mesmo nome).

Talvez pela fidelidade a suas obsessões, Saraceni resistiu bem à prova do tempo. "O Gerente", seu trabalho mais recente, foi o filme de maior frescor do Festival de Tiradentes no ano passado, ao lado de obras de diretores com um terço de sua idade. Dos remanescentes do cinema novo, Saraceni foi o que mais mereceu continuar ostentando o adjetivo "novo" - e, talvez, até mesmo o substantivo "cinema".

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Deutsche Welle (Alemanha) - Brasileira concorre em festival dedicado ao cinema feito por mulheres

Filme da cineasta Julia Murat concorre ao prêmio de 10.000 euros com outras sete diretoras de diversas nacionalidades. Festival na cidade alemã de Colônia premia o talento cinematográfico feminino. (16/4/2012) O Festival Internacional de Cinema Feminino Dortmund-Colônia, que começa nesta terça-feira (17/04) e vai até domingo na cidade alemã de Colônia, tem o foco voltado para o cinema feito por mulheres.

O objetivo do festival é valorizar o trabalho e o talento feminino nas diversas etapas da

produção cinematográfica, além de apresentar as mais recentes produções e servir de fórum para o debate de novas tendências. Cerca de cem filmes serão exibidos em diversas mostras e nas duas categorias que valem prêmio.

Diretoras de oito nacionalidades competem na categoria Estreia Internacional de Ficção pelo prêmio de 10.000 euros. Entre elas está a cineasta brasileira Julia Murat, que concorre com seu primeiro longa-metragem de ficção, Histórias que só existem quando lembradas. Ela concorre com diretoras da França, Geórgia, Canadá, Marrocos, Áustria, Turquia e Estados Unidos.

Choque entre o novo e o antigo

O filme de Murat é ambientado em Jotuamba, um fictício vilarejo esquecido, localizado no Vale do Paraíba e onde os poucos moradores são idosos.

Lá vive Madalena, uma senhora presa à memória de seu falecido marido, enterrado no único cemitério da cidade, hoje trancado. O cotidiano de Madalena muda com a chegada de Rita, uma jovem fotógrafa, que chega a cidade à procura de trens abandonados e que se hospeda na casa de Madalena.

O longa retrata o choque de culturas, entre o novo e o antigo, a cidade grande e o povoado, a

modernidade e o passado.

De acordo com a diretora, a ideia surgiu durante as gravações de Brava Gente Brasileira, filme dirigido por Lúcia Murat, mãe de Julia. No local das filmagens, em Forte de Coimbra, há uma vila, cujo cemitério foi fechado pelos militares. "Eu fiquei muito fascinada com a ideia de você não poder ser enterrado na sua cidade natal", disse a diretora à DW Brasil.

Contra a separação por gênero

Sobre o festival, a cineasta elogiou a curadoria e as escolhas dos filmes, mas disse ter dificuldade em aceitar um festival voltado somente para mulheres por não concordar com a separação de gêneros.

"Fui criada com a ideia de que não existe essa divisão e sou um pouco radical nessa questão", disse Murat. "Sou de um país onde atualmente não existe mais essa questão, tudo já é muito igualitário", acrescenta.

Ela lembra que é natural cada vez mais mulheres ocuparem a cadeira de diretor. "Quanto mais pessoas diferentes estiverem fazendo filmes, mais interessante será", disse a diretora.

O Festival Internacional Cinema Feminino Dortmund-Colônia surgiu em 2006 com a junção de dois outros, o Feminale, de Colônia, e Femme Totale, de Dortmund, e conta também com cursos de

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A diretora Julia Murat no set de filmagem de seu filme 'Histórias que só existem quando lembradas'

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desenvolvimento profissional, workshops de filmes para garotas, discussões e palestras com convidados.

Não só diretoras de cinema, como também compositoras de trilhas sonoras e diretoras de fotografia terão seus trabalhos exibidos no festival. O evento acontece uma vez ao ano, alternando entre as cidades de Colônia e Dortmund.

Autora: Anna Strohm

Revisão: Alexandre Schossler

O Estado de S. Paulo - Quem faz a diferença

Mara Mourão está causando com novo filme sobre empreendedores sociais

Luiz Carlos Merten

(17/4/2012) Estreado na sexta-feira, o longa Quem se Importa?, de Mara Mourão, virou o bochicho do fim de semana. "O filme está causando", diz a diretora. "No Facebook, o número de compartilhamentos não para de crescer." Quem se Importa?, segundo a própria Mara, é o upgrade de seu documentário anterior, Doutores da Alegria. Lá, ela abordava uma instituição e o seu efeito social. "Tem gente que me diz que Doutores mudou sua vida. Mudou a minha. Antes eu era diretora de filmes como Alô? e Avassaladoras. As pessoas me diziam - 'Ri muito, me diverti muito.' E só. Doutores me

abriu uma nova possibilidade. Quero muito mais do cinema, e de mim."

Quem se Importa? oferece uma aula de empreendedorismo social. Como? "A figura do empreendedor social é muito recente. Não tem mais de 30 anos. Muita gente ainda se pergunta - o que é isso? É profissão? Para mim, é um estado de espírito dentro de muitas profissões. Existem empreendedores sociais médicos, professores, etc. Na pré-estreia de Quem se Importa?, um amigo me disse que eu sou uma empreendedora social. Não me encaro desse jeito, mas coloquei no filme a Jehame Noujaim como uma espécie de alter ego, justamente para discutir uma coisa que, para mim, é superimportante. O cinema pode mudar a vida das pessoas? O cinema, não. Os filmes, sim. E os filmes que quero fazer visam a esse efeito."

Crítica do próprio trabalho, Mara sabe que está lidando com um tema quente e, mais que isso, capaz de ter desdobramentos sociais. Ela já mostrou Quem se Importa? em escolas e, em toda parte, as reações são entusiasmadas. "Os adolescentes são muito espontâneos, e têm aquela energia. Eles ficam pilhados, querendo agir." A questão é que se trata de um filme. Está chegando ao circuito com filmes de arte, ou comerciais. Disputa um espaço com eles. Como a diretora avalia a linguagem de Quem se Importa? "O filme é muito denso. Tenho muita gente, muitas entrevistas. Doutores era sobre uma só instituição. Era mais agradável, mais leve. Tentei dar leveza a Quem se Importa? por meio das animações. Sinceramente, o aspecto social é mais forte aqui, mas o cinema tem mais espaço lá", ela admite.

Foram quatro anos de muito trabalho. A busca por patrocinadores - são 13 -, a escolha dos entrevistados, no País e no exterior, a montagem. Mara filmou em chroma, mas não foi uma opção estética. "Encontrei muitos dos entrevistados fora do seu hábitat. Filmei em chroma pensando em como dar uma unidade, como criar um fundo com o trabalho de cada um." Seu marido, Wellington Nogueira, está presente de novo (depois de Doutores). "Não é nepotismo. Wellington é um empreendedor. Transformou minha vida. Sem ele, eu seria uma patricinha."

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Corrente do bem. Entrevistas foram feitas no Brasil e no exterior

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O Estado de S. Paulo - Festival terá tela de 350 m²

Flavia Guerra(17/4/2012) Começa hoje o maior festival de cinema ao ar livre do mundo, o Vivo Open Air. Além de comemorar dez anos no Brasil, o evento também celebra a façanha de trazer ao País uma tela ainda maior do que as utilizadas nas edições anteriores. Desta vez o público que comparecer aos mais de 20 dias de festival poderá ver pré-estreias e clássicos do cinema em uma tela de 325 m² que, graças a um sistema hidráulico, pode ser levantada em minutos. "Dez anos de festival é uma imensa realização para nós. A nova tela celebra em grande estilo esta conquista", diz Renato Byington, sócio da D+3, produtora do evento.

Além da tela, que é resistente às mais improváveis intempéries e conta com sistema de som formado por 28 caixas Dolby Digital Surround (item importantíssimo quando se trata de organizar sessões ao ar livre com som impecável, que agrade até o mais rigoroso dos cinéfilos), a programação desta edição surge diversa e interessante.

Com curadoria de Karen Daylac e Tati Leite, a seleção traz desde pré-estreias nacionais até curtas e documentários. A programação começa hoje às 21h30 com a exibição do curta A Distração de Ivan e do longa A Perseguição. Estrelado por Liam Neeson, o filme conta a história de um grupo de petroleiros que, após uma temporada no Alasca, sofre um acidente aéreo e enfrenta um inimigo inesperado.

Entre as novidades nacionais, merece destaque a primeira ficção dirigida por Marcos Prado (de Estamira e Tropa de Elite). Com sessão na sexta, Paraísos Artificiais traz Nathalia Dill, Luca Bianchi e Livia de Bueno no elenco em uma história que revela, além de uma história de amor, o universo das raves, da música eletrônica e das drogas sintéticas.

Entre os internacionais, destaque para Carnage, de Roman Polanski, que conta com nomes como Jodie Foster, Kate Winslet e Christoph Waltz, no dia 25 de maio. Imperdível a sessão de O Poderoso Chefão, em quatro de maio. O clássico de Francis Ford Coppola chega em cópia restaurada dos EUA especialmente para o evento.

Além da programação de cinema, que traz um filme diferente a cada noite, a festa conta com shows e apresentações de DJs. Na programação musical, que tem curadoria de Pedro Seiler, merece destaque a apresentação de Moraes Moreira em parceria com seu filho Davi Moraes. Nesta quinta, no show Acabou Chorare, eles apresentam canções do principal álbum dos Novos Baianos, que marcou época e ainda hoje, 40 anos depois de seu lançamento, surpreende novas plateias. Estarão presentes também nomes como Lucas Santtana, Baoba Stereo Club (que toca hoje, logo após A Perseguição), Tulipa Ruiz e Debora Gurgel Trio e Carlos Roberto Oliveira Trio, amanhã.

Agência de Notícias Brasil-Árabe - Curta brasileiro é premiado em Dubai

O filme 'A Fábrica", do diretor e roteirista Aly Muritiba, ficou em segundo lugar no Gulf Film Festival, que terminou nesta segunda-feira (16) nos Emirados.Da redação

Dubai: Muritiba recebeu prêmio

(18/4/2012) São Paulo - O curta metragem A Fábrica, do diretor e roteirista brasileiro Aly Muritiba, ficou em segundo lugar no Gulf Film Festival, festival de cinema que terminou nesta segunda-feira (16) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Muritiba viajou ao país para acompanhar o festival e recebeu o prêmio pessoalmente.

A Fábrica concorreu com mais de 1.600 inscritos, dos quais 15 foram selecionados. O curta conta a história de um presidiário que tenta fazer com que a mãe leve um celular para ele na penitenciária. O filme estreou em agosto do ano passado e já ganhou, contando a conquista no Gulf Film Festival, 43 prêmios.

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Muritiba, que trabalhou como agente penitenciário em um presídio, tentou humanizar as figuras das penitenciárias, entre elas presos, familiares e até mesmo agentes, em seu roteiro. A simplicidade da narrativa, segundo entrevista dada por Muritiba antes da viagem aos Emirados, é um dos diferenciais do filme.

Zero Hora - Televisão: Brasil nos EUA e em Portugal(18/4/2012) Aguinaldo Silva contou em seu Twitter (@aguinaldaosilva) que a novela Fina Estampa representará a Rede Globo no Emmy Internacional, a maior premiação de programas de TV, no dia 23 de setembro, nos Estados Unidos. O novelista também revelou que sua novela será exibida pela SIC, emissora portuguesa, no horário nobre.

Zero Hora – Cinema marginal: Filme de Evaldo Mocarzel dá voz aos papeleirosDaniel Feix

(18/4/2012) Evaldo Mocarzel não é só isso, mas pode-se dizer que um dos mais prolíficos e destacados documentaristas do país hoje é, em essência, um porta-voz dos excluídos. Em cartaz no país, seu À Margem do Lixo é o terceiro filme de uma tetralogia composta ainda por À Margem da Imagem (2003) e À Margem do Concreto (2005) e que se encerrará com À Margem do Consumo. Se os dois primeiros direcionaram o foco para os sem-teto, o longa que estreou no fim de semana dá voz aos papeleiros de São Paulo. Panfletariamente – num sentido bom.

É que Mocarzel toma partido na reivindicação de dignidade por parte dos catadores de lixo – alguém há de recriminá-lo? O melhor do filme é ir além disso, pondo essa reivindicação em perspectiva, não só acompanhando a mobilização da classe e o registro de seus anseios coletivos, mas visualizando o seu papel na engrenagem social. Com habilidade narrativa, o diretor apresenta ao espectador, ao mesmo tempo, as riquezas singulares de seus personagens e o sistema no qual eles se inserem – o da reciclagem, que gira milhões de reais e escancara a desigualdade social que, a rigor, é o foco desta série de longas.

Pontos altos de À Margem do Lixo: aqueles que acompanham o percurso do papel ao ser reciclado, em sequências compassadas, de ritmo quase musical, nas quais a passagem do material pelas máquinas metaforiza a própria condição dos trabalhadores esmagados por quem os cerca – é o seu esmagamento que o público testemunha ao ver sua interação com as outras pessoas nas ruas da cidade.

Mocarzel foi menos feliz ao permitir que os entrevistados falassem sobre as imagens em que aparecem, como se as comentassem. Em À Margem da Imagem, a voz dos personagens sobre os registros da equipe resultara num efeito interessante, até porque era a imagem o objeto de discussão do filme. Aqui, o recurso causa bem menos impacto – em alguns casos chega a esvaziar o discurso como um todo, ainda que o visual propriamente dito tenha considerável sofisticação.

À Margem do Lixo tem profundidade e apuro técnico, mas menos força e capacidade de envolvimento do que títulos semelhantes como Lixo Extraordinário (2010), Boca de Lixo (1992) e até Ilha das Flores (1989).

TEATRO E DANÇA

O Estado de S. Paulo - Encontro de dois mundos

Trilha de Villa-Lobos embala união de SP Cia. de Dança com Rodrigo Pederneiras, do Grupo Corpo

Maria Eugênia de Menezes

(12/4/2012) Com Villa-Lobos, a música acadêmica ganhou o colorido de cantigas de roda, de repentistas e instrumentos do Nordeste. Em Bachiana n.º 1, peça inédita que a São Paulo Cia. de

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Dança apresenta a partir de amanhã, a música do compositor brasileiro serve de trilha sonora e inspiração.

Assinada por Rodrigo Pederneiras, reconhecido coreógrafo do grupo Corpo, a criação é uma mescla de estéticas bastante distintas. Assiste-se ao encontro do pendor clássico da companhia paulista com o estilo de Pederneiras: uma leitura contemporânea de formas populares da dança brasileira. Uma brasilidade imediatamente reconhecível, mas que não resvala nunca no exótico ou no folclórico.

"Não faria nenhum sentido para nós fazer uma coreografia igual à do grupo Corpo", acredita Iracity Cardoso, que dirige o grupo ao lado de Inês Bogéa. "O trabalho tem a marca do Rodrigo, mas ele usou toda a potencialidade da companhia." Potencialidade que pode ser entendida como apuro técnico e conhecimento da linguagem clássica.

Os três movimentos da primeira Bachiana serviram de esteio para que Pederneiras concebesse momentos de temperatura e tonalidades diferentes. "É uma obra de um período em que Villa-Lobos ainda tinha uma influência europeia muito forte. Combina toques de explosão, com outros de grande sutileza", observa o coreógrafo. No primeiro e terceiro movimentos, ele utiliza a força e os instantes de suspensão da música. "Os respiros são muito importantes para a coreografia, são momentos em que o corpo vibra, pausas em que existe uma movimentação sem fim", considera Inês Bogéa. Os bailarinos tomam amplamente o espaço. Carregam sinais da leveza festiva característica do coreógrafo, com movimentos que partem dos pés e dos quadris para espraiar-se pelo resto do corpo.

Reconhecido pela habilidade com que maneja a trilha sonora em suas criações, o coreógrafo imprime clima contrastante à segunda parte. Bebe na delicadeza e intensidade deste prelúdio para desenhar um lírico pas-de-deux. Em seu aspecto geral, a coreografia tende ao abstrato. "É a paixão expressa na música que serve como linha condutora", aponta Pederneiras. Neste duo, porém, se acentua algum contorno dramatúrgico. O casal de bailarinos personifica o encontro amoroso, desdobra no corpo suas aproximações e tormentos.

A equipe técnica que acompanha Pederneiras nessa obra é a mesma que o auxilia no Corpo. Além de sua diretora assistente, Ana Paula Cansado, seu filho Gabriel Pederneiras, assume a iluminação. Os figurinos são de Luiza Magalhães, que se vale de rendas e vestidos esvoaçantes para vestir os bailarinos.

Outras duas peças completam o programa da São Paulo Cia. de Dança. Serão apresentadas Supernova, trabalho de Marco Goecke que faz parte do repertório do grupo, e uma remontagem de Ballet 101, inédita no Brasil. Solo do canadense Eric Gaulthier, a coreografia aborda de forma cômica os princípios rígidos da dança clássica. "É muito raro encontrar humor na dança. Gauthier consegue fazer isso", diz Iracity.

Ao longo de oito minutos, um bailarino brinca com todas as 101 posições possíveis do balé. Nesse trajeto, faz menção a coreógrafos e balés consagrados. Segue os comandos de uma voz em off, que lhe exige rapidez e precisão nos movimentos, em ritmo cada vez mais acelerado.

Ao misturar a dança clássica com certa irreverência, a obra de Gauthier também se encaixa no perfil ambicionado pela companhia. Desde sua fundação, em 2008, o grupo busca combinar peças do repertório clássico mundial com criações de acento contemporâneo.

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Folha de S. Paulo – 'Crianças da Noite' inicia a mostra PalcosEspetáculo de Marco Antônio Rodrigues é uma das atrações do festival de artes cênicas do Centro da Cultura Judaica Evento homenageia Jacó Guinsburg e Anatol Rosenfeld com ato escrito por Aimar Labaki e Cibele Forjaz

Cena da peça "Crianças da Noite", texto do dramaturgo israelense Gabriel Emanuel (Fabio Braga/Folhapress)

Marcio Aquiles, de São Paulo(12/4/2012) O Centro da Cultura Judaica inicia hoje a segunda edição do festival Palcos - Mostra de Artes Cênicas com o espetáculo "Crianças da Noite". A peça foi criada a partir de um texto do dramaturgo israelense Gabriel Emanuel, um dos vencedores do Concurso de Montagem Teatral de 2011. A dramaturgia mistura ficção e realidade para contar a história do pedagogo Janusz Korczak (1878?-1942).

"O espetáculo explora a dificuldade de se comportar perante inimigos impiedosos. Korczak era uma luz em um túnel de escuridão. Foi pedagogo, advogou em favor dos direitos infantis e assumiu a responsabilidade por um orfanato judeu", explica o dramaturgo. A direção fica a cargo de Marco Antônio Rodrigues, que já havia trabalhado com os atores Oswaldo Mendes e Carlos Palma, do grupo Arte Ciência no Palco, em 2001.

"Vemos na peça como a questão nazista se reflete hoje. A magnitude do ato do Hitler ensinou os pequenos ditadores a cometerem violência de forma sutil. Um eco da legitimação da maldade, mas disfarçado nas formas institucionais e democráticas", acredita Rodrigues. O diretor e o ator Oswaldo Mendes introduziram referências contemporâneas ao texto original. "Fizemos uma dramaturgia adicional, uma coisa de apoio para o nosso público", diz Mendes.

"Esses elementos não são gratuitos. Queremos mostrar que o que se passou em Treblinka e Varsóvia acontece de forma diluída hoje, seja na Somália ou aqui na estação da Luz", diz Rodrigues. A curadoria é feita pelo diretor e dramaturgo Aimar Labaki. "Busquei agregar o que pudesse trazer um olhar da cultura judaica para o teatro."

O festival terá o espetáculo de dança "Kikar", a peça "O Rabino e Seu Filho", cenas do novo espetáculo do Teatro da Vertigem e uma homenagem a Jacó Guinsburg e Anatol Rosenfeld. "Eu e Cibele Forjaz criamos esta teatralização de um diálogo intelectual entre os dois. Decidimos homenageá-los por meio deste ato cultural, em vez de fazer uma mesa-redonda chata", conta Labaki.

Estado de Minas - Mestra do gesto

Angel Vianna busca coragem na dança para enfrentar a vida. Aos 83 anos, dá aula na faculdade com seu nome, apresenta-se nos palcos e sai com alunos para conferir a agenda cultural carioca

Ailton Magioli

(16/4/2012) Aos 83 anos – que, oportuna e propositalmente, inverte para 38 –, Angel Vianna esbanja vitalidade. “Acho que eu já era”, diz a bailarina, coreógrafa e professora por telefone, do Rio de Janeiro, onde mora. Conseguir um horário na agenda da mestra é tarefa difícil. “A dança é o que me dá coragem”, confessa a mãe de Rainer (1958-1995) e viúva de Klauss Vianna (1928-1992), que também se destacaram nos palcos.

Diante da dupla perda registrada na década de 1990, ela não viu alternativa senão voltar a Belo Horizonte, sua terra natal, para recuperar as forças. “Fiquei um ano recolhida. Era muito triste para

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mim”, resume. Só havia duas alternativas: sucumbir de vez ou acreditar na vida. Ela ficou com a segunda. Encontrou “força tripla” para retomar as aulas que ainda ministra na Escola e Faculdade de Dança Angel Vianna, no Rio de Janeiro.

O conhecimento profundo do corpo como instrumento de vida e trabalho fez dela e de Klauss nomes emblemáticos da dança contemporânea brasileira. Há dois anos, para surpresa de alguns, Angel estreou em BH o espetáculo ...qualquer coisa a gente muda, com o qual continua excursionando pelo país.

Ao lado da aluna e discípula Maria Alice Poppe, sob a direção de João Saldanha, Angel Vianna encena um experimento coreográfico motivado pelo sentido de supressão. “Assim como o violino, que precisa ser constantemente afinado, o corpo também deve estar em harmonia e conexão com a sua totalidade”, ensina.

Essa mulher nunca desiste de buscar novos conhecimentos. Estudando anatomia e cinesiologia, diz ter conseguido chegar ao conceito de liberdade para o movimento do corpo que leva para os palcos. O gestual jamais engana, adverte Angel. “O corpo fala. E fala de verdade”, diz, repetindo a máxima do pesquisador e psicólogo Pierre Weil. Daí a necessidade de conhecê-lo e afiná-lo, aproveitando a individualidade de cada um.

Na BH dos anos 1950, paralelamente aos estudos com os mestres Carlos Leite (dança), Alberto da Veiga Guignard e Franz Weissmann (escultura), a coreógrafa teve acesso ao trabalho de especialistas em retrato falado. Ficou fascinada pelas máscaras de criminosos. “Aprendi muito naquela época”, relembra, citando “a arte acadêmica, da musculatura, dos ossos”.A certa altura, teve de optar entre a dança e a escultura. “Tudo o que fiz teve um aproveitamento muito grande”, observa. Mesmo criada “na Belo Horizonte fechada e dominada pelas montanhas”, como gosta de lembrar, acabou se tornando adepta convicta da arte interdisciplinar.

Cria de um período culturalmente rico na capital mineira, Angel conviveu com Yara Tupynambá e Sara Ávila (artistas plásticas), além de Marilene Martins, Dulce Beltrão e Décio Otero (bailarinos e coreógrafos), entre outros. Com o marido, integrou o Teatro Experimental ao lado dos atores Jota D’Angelo, Carlos Kroeber e Jonas Bloch. “Foi uma época muito especial para a cidade”, diz, citando ainda o coral Madrigal Renascentista e a cantora lírica Maria Lúcia Godoy.

Da capital mineira o casal foi para o Rio de Janeiro, com direito a passagem pela Bahia. Em 1983, abriu a primeira escola profissionalizante de dança carioca. Quase duas décadas depois, foi a vez da faculdade batizada com o nome de Angel, que hoje oferece cursos de pós-graduação em BH, Recife e Juiz de Fora. Além de bailarinos, as escolas da família Vianna se especializaram em receber atores e artistas plásticos interessados em aprofundar o estudo do corpo.

Pouco antes de conversar com o repórter, Angel Vianna recebia em casa um ex-aluno que desenvolve trabalho com crianças na Holanda. “É muito lindo vê-los crescer e produzir fora do Brasil”, orgulha-se a mestra, para quem tudo é produto da força e da coragem individual. Ela avisa: mesmo único e especial, o ser humano vive em comunidade.

“Só faço o que acredito, por mais que possam pensar que seja doida. E olha que nunca me importei com o que pensam a meu respeito. É o que sempre digo a meus alunos: ‘Você é corajoso. Tem um corpo que pensa. Então, faça.”

Avó de Tainá Neves Vianna, de 23, filha de Rainer, Angel muda o tom de voz quando o assunto é família. “Ela já foi boa cantora e bailarina. Agora, estuda teatro em São Paulo e está prestes a concluir o curso na Escola Superior de Artes Célia Helena”. Essa artista, que se diz “uma velha saliente”, não para. “Sexta-feira, dei aula até as 22h30. Depois fui me divertir”, informa. Em tempo: a mestra costuma sair regularmente com seus atores e bailarinos – “os meninos” – para conferir a intensa agenda cultural carioca.

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Mineira de BH, Angel Vianna pesquisa o corpo e suas conexões com as diversas formas de arte

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Bom humorTema de várias teses de mestrado, Angel Vianna não esconde a vontade de escrever um livro sobre sua trajetória. Curiosamente, o que a atrai é a temática do humor na dança. “Isso desde a época do Carlos Leite, em Belo Horizonte. Mas tenho de parar e ficar quieta”, brinca ela. Há farta bibliografia sobre técnicas de dança, mas a mineira não revela detalhes sobre seu novo projeto. “Meu pensamento para um livro é diferente. Acredito que poderá ajudar”, conclui.

Correio Braziliense - As 3 velhas vai a Cuba

Sérgio Maggio

Maria Alice Vergueiro comemora ida ao festival Maio Teatral, em Havana: dias felizes

(17/4/2012) Maria Alice Vergueiro está em êxtase. Em 5 de maio, a atriz e uma equipe de 10 profissionais seguem para Cuba, onde vão apresentar o espetáculo As 3 velhas, que teve temporada de casa cheia e repercussões de público e crítica no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A montagem integra o prestigiado e tradicional festival Maio Teatral, organizado pela Casa de las Américas. “Estamos estudando como vamos fazer para adaptar a peça para o espectador cubano. Não sei se seria o caso

de usar legendas. Talvez, uma síntese dos quadros resolveria, já que a peça tem forte impacto visual e fala por si”, conta a atriz.

Sempre ligada ao movimento de vanguarda brasileiro, Maria Alice Vergueiro sonhou em ir a Cuba num período de extrema obstrução da liberdade individual. Na década de 1970, com o Brasil mergulhado na ditadura militar, ela desejou conhecer a ilha de Fidel Castro, mas era muito perigoso, já que estava envolvida, sobretudo, com o Teatro Oficina, espaço que foi cerceado e violentado pela censura e por grupos armados de direita. “Agora, estamos neste momento interessante de transição. Acredito que há uma grande expectativa e muita cautela sobre esse processo de abertura. Como ficará? Eu não sei. Mas espero que eles consigam preservar todas as conquistas”, conta.

Com a apresentação marcada para 7 de maio, As 3 velhas apresenta ao povo cubano os pensamentos de Alejandro Jodorowsky, poeta, escritor, cineasta e dramaturgo chileno, que teve aproximações ideológicas com Cuba, nos anos 1960. Maria Alice e Jodorowsky se conheceram no Brasil e travaram aproximações afetivas a partir do jogo de tarô, exercício mítico essencial para o criador chileno, em plena atividade hoje no Twitter. “O texto de As 3 velhas teve bastante interferência nossa. Mas a essência é completamente dele”, observa a atriz.

Depois de temporadas no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, As 3 velhas segue a estrada em festivais. Neste ano, passou por Recife e Fortaleza, seguindo em promissora carreira desde que estreou, em 2010. Em cena, Maria Alice Vergueiro, Luciano Chirolli e Danilo Grangheia abalam as estruturas da burguesia ao retratar a vida de marquesas octogenárias e decadentes, num dos espetáculos mais inquietantes da última safra do teatro brasileiro, no qual Maria Alice Vergueiro, uma das nossas maiores damas do palco, expõe corpo e alma de atriz para construir uma experiência memorável. “Acredito que haverá um diálogo potente em Havana. Depois da apresentação, todos os artistas ainda participaram de um interessante e amplo debate sobre o tema teatro e realidade. Acho que vão sair coisas instigantes dessa conversa”, conta.

Folha de S. Paulo – Crítica Teatro: Peça faz travessia ambiciosa por traumas da escravidão

Através de alegorias do passado, grupo cria metáfora do Brasil sem pudor Luiz Fernando Ramos, Crítico da Folha

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(18/4/2012) A cena como alegoria. "A Travessia da Calunga Grande" é uma ambiciosa tentativa de investigar teatralmente o trauma da escravidão.Ao cruzar tráfico de escravos com o mito do rei Édipo, aquele que investiga, sem saber, o próprio crime, a Cia. Livre cria metáfora do Brasil.Calunga Grande pode ser, na língua banto, o vasto oceano ou a morte, mas significou para os escravos africanos, por três séculos, a temida viagem pelo Atlântico. Na encenação de Cibele Forjaz, a história se materializa, como alegoria, no "barco-país-itinerante" Fortuna Tropical.

A dramaturga Gabriela Amaral Almeida fez o que pôde para trançar a pesquisa de ponta sobre o escravismo com a identidade racial incerta dos brasileiros. Com a opção por personagens alegóricos, se evita lamentos pelo martírio coletivo, torna menos nítidas as ações narradas.

O foco da montagem em nossa atualidade parece quase incidental, diante da intenção declarada de um acerto de contas com o passado. Talvez, a estratégia de composição, emprestada dos enredos carnavalescos, torne superficial uma pesquisa profunda.Mas esse efeito não pretendido não empana a realização da Cia. Livre. Os destaques começam já no coro, que canta, dança e se desdobra com fluência e rigor. As canções em tom menor de

Lincoln Antônio, só para piano acústico e percussão, evocam a tristeza do samba.Ver Eduardo Silva como um Tirésias africano emociona. Já os desempenhos de Lúcia Romano como Nora, camareira que se faz capitã, e de Edgar Castro como Tanto FazMcCarty, o escravo que se torna feitor, são primorosos.

Destaques maiores são a cenografia e os figurinos de Simone Mina, combinando rusticidade e invenção. É notável também a direção de cena de Elisete Jeremias, por exemplo, quando ajuda a marcar cativos a ferro.

Com tantos acertos, a despeito das limitações, a montagem merece rodar mundo para contar a incrível história de um barco/país movido a sangue de escravos negros.

ARTES PLÁSTICAS

Valor Econômico - O ano das exposições blockbusters no Brasil

Mariana Shirai

"San Giovanni Battista", óleo sobre tela de Caravaggio, artista que terá exposição em maio na Casa Fiat de Cultura, em BH, e no Masp, em SP, em julho.

(12/4/2012) Depois de lida, ensinada e discutida, a história da arte pode ser vista de forma mais ampla pelos

brasileiros. O país entrou de vez no roteiro das megaexposições internacionais. A oferta crescente inclui, em 2012, a exibição de nomes cruciais de períodos e estilos diversos. Esculturas do suíço Alberto Giacometti (1901-1966) estão em cartaz no país pela primeira vez. Em breve, a Renascença será representada pelo maior de seus artistas, Leonardo da Vinci (1452-1519), e o barroco, pelo mestre do chiaroscuro Caravaggio (1571-1610). E há ainda muito mais.

O bom ano para o circuito das artes estrangeiras no Brasil dá sequência a um processo iniciado há alguns anos e que agora se consolida - após uma conquista inédita em 2011. Um recorde de vontade e de curiosidade com a arte. No ano passado, a exposição "O Mundo Mágico de Escher", no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB- RJ) foi marcada por multidões de visitantes. A comoção em torno da obra de M. C. Escher (1898-1972) - artista gráfico holandês especialista no ilusionismo óptico - fez lembrar a mostra de Auguste Rodin (1840-1917) na Pinacoteca do Estado de São Paulo, símbolo do sucesso de exibições de arte para o grande público.

Montada em 1995, a retrospectiva dedicada ao escultor francês também ficou na memória por suas filas imensas. A semelhança entre as mostras de Rodin e Escher, no entanto, para por aí. No fim do mês passado, a exposição de Escher no Rio foi apontada pela publicação britânica "Art Newspaper"

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como a mais popular no mundo (maior média diária de visitantes), com 573.691 visitantes. Somados o público que viu Rodin e o de outras mostras internacionais exibidas na Pinacoteca até 1997, a instituição recebeu 183.329 pessoas. Foi um montante excepcional para a época, mas que parece distante da realidade que fez o CCBB-RJ chegar agora ao topo do ranking da "Art Newspaper".

O Brasil recebe grandes mostras internacionais há pelo menos seis décadas, mas até os anos 1980 as iniciativas eram raras e concentravam-se nos eventos promovidos pela Bienal de São Paulo. "A metade dos anos 90, com a realização de mostras como a de Rodin e a de Monet [no Masp, em 1997], foi o momento fundador desse processo atual", diz Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca e recém-nomeado Secretário da Cultura de São Paulo. "O que vemos hoje não é um 'novo boom', e sim a percepção de um movimento ascendente que começou naquele período."

Ali iniciava-se um período de fortalecimento estrutural dos museus e profissionalização da área. "Países como Japão, México e Argentina já estavam incluídos no circuito de grandes exposições vindas da Europa e dos Estados Unidos", diz Araújo. "No Brasil ainda havia a falta de espaços capacitados." As instituições detentoras das obras precisam aprovar o local onde os trabalhos serão expostos. Se uma instituição não tiver boas condições de segurança, por exemplo, a negociação não acontece.

Nas últimas duas décadas, o Brasil aumentou consideravelmente sua oferta de espaços expositivos. Instituições já existentes como a Pinacoteca e o Museu de Arte Moderna da Bahia passaram por reformas e desenvolveram novas políticas curatoriais. Além disso, foram abertos o Museu Iberê Camargo, em Porto Alegre, o Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, em Recife, e o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Os novos espaços passaram rapidamente a ser requisitados para itinerâncias internacionais, descentralizando cada vez mais o acesso à arte, antes bastante restrito a São Paulo e Rio de Janeiro.

"Nunca tivemos um momento de tanto investimento em museus", diz José do Nascimento Júnior, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão ligado ao Ministério da Cultura. "Foram implementadas políticas de qualificação de profissionais, de maior acesso às coleções e de digitalização de acervos, além da abertura de editais." Segundo ele, a atividade museológica gera 23 mil empregos diretos e outros cerca de 80 mil indiretos. Ele afirma que há hoje 3116 museus em atividade no país e mais de 90 em fase de implementação. "Há projetos em negociação que visam o melhor preparo das instituições para a Copa e a criação de um parque industrial voltado a atender museus", diz Nascimento Júnior.

A Lei Rouanet, que permite abatimentos no imposto de renda de quem investe em cultura, impulsionou a terceirização de serviços e o surgimento de um mercado voltado para a montagem de exposições. São empresas especializadas em produção de mostras, vitrines, segurança de museus, instalações cenográficas etc. "Nós não existimos sem a Lei Rouanet", diz Arnaldo Spindel, sócio da produtora Base7, especializada em projetos de artes e museologia. A maior oferta de mostras para além do Sudeste tem a ver também com a lei. É mais fácil encontrar patrocinadores quando uma exposição passa por diferentes cidades e tem públicos diversos.Marcos Tristão/Agência O GloboPúblico em fila para visitar a exposição de M. C. Escher no CCBB do Rio; mostra teve 573.691 visitantes, recorde em 2011

"Exposição internacional não é como fazer show, em que a venda de ingresso paga o projeto. As mostras normalmente são de graça ou com ingresso barato, cuja arrecadação fica para o museu." A Base7, responsável por organizar exposições importantes como as de Giacometti e de Caravaggio, tem como principais fontes de faturamento outras atividades, como a criação de museus empresariais. A montagem de mostras importantes acaba servindo como um certificado de qualidade para a produtora. "Se considerar o trabalho que dá, não ganhamos dinheiro com essas grandes exposições. Tem que amar cultura para valer a pena", diz Spindel. Trazer grandes nomes da arte internacional pode levar até cinco anos.

Se depender da programação de 2012, o amor brasileiro pela cultura está em alta. A retrospectiva de Giacometti está em São Paulo e segue em julho para o MAM - RJ. Sucesso em Londres, a exposição de Da Vinci (1452-1519) deve chegar em menor versão em junho ao Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio, e depois seguir para o Masp, em SP.

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Outra mostra que deve causar frisson é a primeira exibição no país de obras de Caravaggio (1517-1610), a partir de maio na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, e, em julho, no Masp. Ícones das vanguardas do começo do século XX, os pintores Amedeo Modigliani (1884-1920) e Giorgio de Chirico (1888-1978), têm retrospectivas que estão em itinerância pelo Brasil. Do acervo do Museu D'Orsay, de Paris, chega em julho ao CCBB de São Paulo uma grande exposição sobre impressionismo, com obras de Monet, Renoir, Van Gogh, Degas e Manet. A pop art de Jasper Johns será exposta também na capital paulista com previsão de abertura no Instituto Tomie Ohtake no segundo semestre. Isso sem contar a presença da arte contemporânea, exposta entre outras iniciativas na mostra em São Paulo organizada pelo mais celebrado curador da atualidade, o suíço Hans Ulrich Obrist.

"Aliado ao fortalecimento institucional, o aumento de grandes exposições internacionais têm a ver, é claro, com o bom momento econômico do Brasil", diz Luiz Camillo Osorio, diretor do (MAM-RJ). Ao mesmo tempo, Osorio vê a montagem de mostras estrangeiras como uma maneira das instituições ganharem dinheiro em tempos de crise e ainda aliviarem suas reservas técnicas, sempre lotadas, colocando seus acervos para circular. "Até agora, a tendência era acolher exposições prontas. O próximo estágio é intensificar a participação brasileira no processo de concepção", diz Osório. Tudo é favorável. Na última edição da feira Arco, em Madri, instituições europeias e latino-americanas se reuniram para estreitar suas colaborações. E em 2013, o Brasil recebe a Conferência Mundial do Conselho Internacional de Museus, colocando o Brasil mais ainda em evidência no mapa mundial da arte.

Estado de Minas – Artes Visuais: Raio-X do mestre

Livro traz pesquisa sobre 62 quadros de Guignard. Especialistas investigaram tintas, suportes e até gestos do pintor, desenvolvendo metodologia que permite atestar autenticidade das obras

Sérgio Rodrigo Reis

(12/4/2012) O pintor fluminense Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) pertence ao seleto grupo que, pela pertinência da obra, tem seu legado cada vez mais valorizado por artistas, colecionadores, instituições e pesquisadores. Neste ano em que é lembrado o cinquentenário de sua morte, o interesse aumenta, como comprovam projetos que envolvem seu trabalho. O primeiro que sai do papel é o livro Pesquisa Guignard, edição da Escola de Belas-Artes que será lançada hoje, às 19h, no Conservatório Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Organizada pela professora Claudina Maria Dutra Moresi e pela química Anamaria Ruegger Almeida Neves, a publicação de 200 páginas – com distribuição dirigida – revela a metodologia de pesquisa sobre a obra do pintor feita por departamentos da UFMG, como o Centro de Conservação e Restauração (Cecor), a Escola de Belas-Artes e grupos de especialistas da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) e do Instituto de Ciências Exatas.

Pesquisa Guignard é fruto de 10 anos de trabalho multidisciplinar sobre 62 obras do pintor. Voltado para iniciados, o volume reúne análises técnicas – que definem uso de materiais (tintas e suportes), cores e pinceladas –, levantamento bibliográfico, contextualização feita pela historiadora da arte Ivone Luzia Vieira e informações extraídas de entrevistas com ex-alunos, colecionadores, estudiosos e retratados. Revela-se, por exemplo, a

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Guignard

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metodologia usada atualmente para se reconhecerem quadros de Guignard, fundamental para atestar sua autenticidade.Na década passada, o Cecor analisou coleções particulares e pertencentes a instituições, como o Museu Casa Guignard, em Ouro Preto, investigando pinturas sobre tela, madeira maciça e compensada, papelão e desenho sobre papel. A pesquisa revelou procedimentos no uso das cores e dos pincéis, tendo em vista que o artista se mostrava incansável nas combinações de tintas e gestos. Diferentemente do que muitos imaginam, concluiu-se que Guignard tinha gestos precisos, não titubeava para realizar escolhas.

Um dos quadros mais curiosos é Paisagem imaginária (Noite de São João), de 1961, pertencente à coleção do Museu de Arte da Pampulha. O óleo sobre tela pintado na fase mineira de Guignard, entre os anos 1940 e 1950, foi analisado com luzes especiais. A luz rasante (de fonte paralela à tela) apontou relevos do suporte e da tinta. A transversa, que incide por trás, revelou áreas de maior massa (quantidade de tinta). Já a ultravioleta, que encontra pigmentos fluorescentes, mostrou que Guignard usou o vermelho e amarelo de cádmio. Por fim, a luz monocromática e o filme infravermelho permitiram perceber as linhas do desenho.

A professora Claudina Moresi conta que o mais importante foi a possibilidade de aprofundar a análise da obra de Guignard. “Ele tinha grande segurança sobre os materiais que utilizava, além de precisão dos traços.” O livro destaca esse aspecto, direcionando suas conclusões sobretudo para pesquisadores e estudiosos. “Temos uma bibliografia pequena no Brasil nessa área”, explica a especialista. Mesmo não sendo esse o objetivo principal, ao apontar as características da pintura de Guignard a professora considera que a pesquisa poderá contribuir para o processo de autenticação de obras.

Vida e obra Nascido em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, Alberto da Veiga Guignard viveu cerca de 20 anos na Europa. Formou-se na Real Academia de Belas Artes de Munique, teve contato intenso com pintores modernos e suas criações. Ao voltar ao país, estabeleceu-se no Rio de Janeiro como artista e professor.

Em 1944, convidado pelo então prefeito Juscelino Kubitschek, mudou-se para a capital mineira com o objetivo de ministrar curso livre de desenho e pintura no Parque Municipal.

A “Escolinha do Parque” mudou os paradigmas da arte mineira, bastante acadêmica. Com seu estilo mais livre, Guignard trouxe nova maneira de ensinar arte. Tornou-se o grande pintor de Ouro Preto, reinventando a paisagem histórica com suas montanhas e igrejas.

Estado de Minas – Vale investe em Inhotim

Carolina Braga(12/4/2012) O Instituto Inhotim ganhou importante reforço para suas atividades. Parceria assinada com a Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, vai injetar R$ 4 milhões na manutenção do complexo museológico e no incremento de ações socioeducativas realizadas na região de Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte. Projetos de meio ambiente também serão contemplados.

“O patrocínio da Vale entra em nossa política de arranjo institucional envolvendo todas as nossas ações programáticas e atividades”, informa Roseni Sena, diretora executiva de Inhotim. “Queremos comungar com os valores que a gente vê praticados neste ambiente. Juntar, além da cultura e do meio ambiente, a questão do território em uma zona mineradora. É uma forma de levar aos jovens informações e inspirações para que eles possam transformar as próprias vidas”, completa Ricardo Piquet, diretor, presidente da Fundação Vale.

Além do incremento a projetos em curso, uma das novidades da parceria é a implantação da Escola de Cordas. Criada pelo Inhotim, funcionará em Brumadinho, oferecendo formação em instrumentos para 90 alunos, de 10 a 18 anos. “Nosso plano é formar a Orquestra de Cordas Vale Inhotim”, planeja Roseni.

Inhotim prevê para este ano a inauguração de três pavilhões, que se juntarão aos 18 em funcionamento. Os planos de Bernardo Paz, presidente do conselho de administração do complexo,

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são ambiciosos. Na cerimônia de ontem, ele anunciou a construção de um teatro de 1 mil lugares, centro de convenção e hotéis. A inauguração da primeira pousada, com 40 bangalôs, está prevista para 2014.

Saiba Mais - No Mundo

Este ano, o Instituto Inhotim, que guarda importante acervo de arte contemporânea, foi citado em 430 publicações internacionais, entre elas o jornal The New York Times. Em cinco anos de atividade, ele tem se firmado como complexo cultural e educativo. Em 2011, cerca de 250 mil pessoas visitaram o espaço. O acervo conta com 500 obras – 23 ao ar livre. Em 100 hectares abertos à visitação, 15 jardins e o acervo botânico com 4,2 mil espécies compõem a maior coleção de plantas vivas do país.

Folha de S. Paulo - Latino-americanos são 50% da escalação para a próxima Bienal

Curadoria buscou nomes fora do 'marketing e do mainstream' Silas Martí(13/4/2012) Depois de meses de incerteza sobre sua realização, a Bienal de São Paulo, que teve suas contas bloqueadas pelo Ministério da Cultura e então reverteu o quadro na Justiça, anunciou ontem a lista de artistas de sua 30ª edição, marcada para setembro. Será uma mostra mais enxuta do que a última, tanto no orçamento -R$ 21 milhões contra R$ 30 milhões da edição passada- quanto no número de artistas convidados.

Também deve atrair menos atenção midiática, com um elenco de nomes que passam ao largo dos holofotes da arte contemporânea global.

"É uma Bienal baseada em vínculos, e não em personalidades solitárias", frisou o curador da 30ª Bienal, Luis Pérez-Oramas, em entrevista coletiva ontem. "Esses artistas estão aqui por suas pesquisas e pelas relações entre eles, que estão distantes do marketing e do mainstream."

No total, 110 artistas, quase metade deles latino-americanos, vão dividir o espaço do pavilhão da Bienal. Só 23 deles são brasileiros, um número menor do que o habitual para a mostra paulistana. "Um dos critérios era não repetir artistas das últimas bienais", disse Pérez-Oramas. "O mundo inteiro está descobrindo a arte latino-americana. Temos de fazer parte desse momento de revelação de artistas da região."

De fato, Pérez-Oramas, venezuelano e curador de arte latino-americana do MoMA, em Nova York, escalou nomes emergentes e alguns esquecidos de países como Argentina, Brasil, México, Venezuela, Peru, Chile e Colômbia. Entre eles estão jovens como o colombiano Icaro Zorbar e os brasileiros Rodrigo Braga, Cadu, Eduardo Berliner, Sofia Borges e Thiago Rocha Pitta -todos estreantes na Bienal de São Paulo.

Inéditos

Pérez-Oramas também adiantou que cerca de 60% das obras expostas serão inéditas. No caso de artistas já mortos, como Arthur Bispo do Rosário, um dos nomes centrais da 30ª Bienal, houve uma busca por trabalhos até hoje desconhecidos.

Fora da América Latina, há forte presença de artistas norte-americanos e alemães, muitos deles com obras sonoras, vídeos e trabalhos feitos a mão, que riscam se perder no espaço do pavilhão com presença mais sutil.

"Não será uma Bienal contra a imagem, mas contra uma ideologia dela", disse Pérez-Oramas. "Essas obras questionam a noção de imagem, reivindicam a demora, interrogam o espaço e a memória e reconhecem a linguagem também como silêncio."

Isso se reflete no projeto arquitetônico da mostra, que agrupa artistas no que a curadoria chama de "constelações" e prevê amplos espaços abertos dentro do pavilhão, tentando ressaltar as relações entre os nomes escalados.

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Também foi coletivo o processo de elaboração da identidade visual da mostra. Pela primeira vez, a Bienal terá 30 cartazes diferentes, seguindo um mesmo raciocínio visual.

Folha de S. Paulo - Norman Foster e Cildo Meireles farão mostra na Casa de Vidro

Curada por Hans Ulrich Obrist, exposição na residência projetada por Lina Bo Bardi abrirá em setembro Fabio Cypriano, Crítico da Folha

(13/4/2012) Enquanto a 30ª Bienal de São Paulo deve ser marcada por artistas um tanto marginais em relação ao circuito, a mostra com curadoria de Hans Ulrich Obrist na Casa de Vidro, projetada por Lina Bo Bardi, apresenta nomes já consagrados.

A Folha obteve com exclusividade a lista com os 24 nomes já definidos para a exposição, que irá de setembro deste ano a maio de 2013. Entre os selecionados estão os arquitetos Rem Koolhaas, Norman Foster e Paulo Mendes da Rocha, além dos artistas Douglas Gordon, Dan Graham, Cildo Meireles e a dupla Gilbert & George.

"Os nomes estelares estão definidos, falta incluir cerca de quatro jovens artistas", diz Ricardo Sardenberg, produtor associado do projeto. Dos jovens selecionados, dois estão confirmados na Documenta, mais importante mostra de arte contemporânea do mundo, em junho, na Alemanha: a brasileira Renata Lucas e o argentino Adrián Villar Rojas.

Os escolhidos, segundo Sardenberg, devem preparar projetos inéditos a partir de visitas ao local. A exceção é a inclusão de uma obra de Alexander Calder (1898-1976). "Ele fez um desenho em homenagem a Lina e, por isso, foi incluído", explica.

A mostra, orçada em R$ 2,4 milhões, deve ocorrer em três fases: prelúdio, com abertura em 5/9, segunda fase, em novembro, e terceira, em março. "A cada etapa serão agregados trabalhos", conta Sardenberg. A Casa de Vidro de Bardi (1914-92) é considerada uma obra-chave da arquiteta. A mostra é um bem-vindo pretexto para se criar uma infraestrutura de visitação.

O Estado de S. Paulo – Diálogos como proposta artística

O curador Luis Pérez-Oramas procurou estabelecer vínculos entre artistas de diferentes tendências

Camila Molina

(13/4/2012) A 30.ª Bienal de São Paulo, sob o título A Iminência das Poéticas, que ocorrerá entre 7 de setembro e 9 de dezembro, não será recheada de artistas que fazem parte do mainstream das artes, mas repleta de criadores emergentes, muitos deles desconhecidos do público brasileiro. Dos 110 nomes anunciados ontem como participantes desta edição do evento, podem-se destacar, por exemplo, consagrados como o norte-americano Robert Smithson (expoente da land art), o brasileiro Arthur Bispo do Rosário ou o alemão Hans-Peter Feldmann, mas a proposta curatorial é apresentar uma Bienal que não seja "de personalidades individuais, mas de vínculos" entre os trabalhos dos artistas, afirmou o curador venezuelano Luis Pérez-Oramas. Mais ainda, exibir cerca de 60% de obras inéditas ou criadas especialmente para a mostra.

Toda incerteza que cercou a realização da 30.ª Bienal em 2012, enquanto a instituição teve, judicialmente, suas contas bloqueadas, gerou "angústia", como disse Oramas na coletiva de imprensa promovida ontem para apresentação da lista de artistas, do projeto educativo (coordenado por Stela Barbieri) e da identidade visual da mostra, que terá 30 cartazes (processo chefiado por André Stolarski). "A diretoria (da Fundação Bienal de São Paulo) falou muito precisamente sobre os problemas e disseram (para nós) 'continuem trabalhando'. As equipes foram pagas, tivemos prudência e todos os artistas tiveram confiança", continuou o curador-geral desta edição. O episódio está "superado", disse o diretor presidente da instituição, Heitor Martins. Segundo ele, o orçamento da mostra, aprovado pelas Leis de Incentivo, é de R$ 21 milhões.

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Dos 110 criadores participantes, selecionados por Oramas (curador licenciado do Museum of Modern Art de Nova York) e pelos cocuradores André Severo, Tobi Maier e Isabela Villanueva (assistente), 23 são brasileiros - entre eles, Alair Gomes, Sofia Borges, Rodrigo Braga, Nino Cais, Thiago Rocha Pitta e o concretista Waldemar Cordeiro. "Os artistas não estão representando temas, grupos de nações: estão por suas obras, conteúdos, investigações", disse Oramas. É de se destacar, também, a presença de latino-americanos. "Um dos critérios da seleção dos participantes foi tentar não repetir artistas que estiveram, pelo menos, nas últimas duas ou três Bienais", afirmou o curador-geral.

Apesar da crise institucional ocorrida este ano, Pérez-Oramas, que foi anunciado em fevereiro de 2011 como organizador da 30.ª edição, conservou o número de artistas que previa, desde o ano passado, para a mostra A Iminência das Poéticas. Será uma Bienal que apostará em "experiências de diálogos, de percepções" entre obras e com o espectador - formada por "constelações", define o curador. "Uma Bienal contra a ideologia da imagem", afirmou Oramas, em que uma das questões será a da memória e não a da nostalgia. A exposição, com expografia do arquiteto brasileiro Martin Corullon, terá cinco "zonas curatoriais": Sobrevivências, Alterformas, Derivas, Vozes e Reverso -esta última, com obras apresentadas em outros espaços da cidade que não apenas o Pavilhão da Bienal no Ibirapuera, como a Casa Modernista, a Capela do Morumbi e o Masp.

Correio Braziliense - A criatividade pelo foco da história

Peças da série Singular Plural: usadas para falar da cultura afrobrasileira a quem tem deficiência visual

(18/4/2012) O nome Museu Afrobrasil pode dar ao visitante a impressão de que se trata de um centro cultural dedicado exclusivamente aos artistas negros. E é por isso que o guia Nivaldo Silva Carmo, formado em artes plásticas, apressa-se em avisar: “Gente, esse não é só um museu do negro! As referências são as presenças africana, indígena e afrobrasileira. O objetivo é a preservação da história cultural do Brasil”.

Devidamente informado, o turista pode começar o passeio por esse espaço cultural vibrante, que coloca uma produção outrora marginalizada em um dos espaços mais nobres de São Paulo: o 1,6 milhão de metros quadrados do Parque do Ibirapuera, preenchidos pelo conjunto arquitetônico de Oscar Niemeyer e pelo paisagismo de Roberto Burle Marx. Com sete anos de existência — completados no último 23 de outubro —, o local apresenta exposições permanentes e temporárias (que duram de três a quatro meses).

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Todas chamam a atenção pelo capricho com que são montadas. E, levando-se em conta o histórico do fundador do local, o artista baiano Emanoel Araújo, não poderia ser diferente. “Ele foi um dos responsáveis pela revitalização da Pinacoteca do Estado e dirigiu o Museu Afro-Brasileiro em Salvador”, destaca Nivaldo. “Atualmente, é curador do Museu Afrobrasil.”Quando Emanuel começou o trabalho no espaço cultural, o acervo reunia aproximadamente 2.500 peças, entre obras de arte propriamente ditas (doadas pelo próprio Emanoel Araújo) e livros disponíveis na biblioteca do local. Hoje, são cerca de 5 mil peças, entre pinturas, esculturas, roupas e objetos cotidianos cuidadosamente organizados. Já a biblioteca soma 6,8 mil títulos.

Para quem tem pouco tempo na cidade e quer aproveitar ao máximo a visita, a sugestão é começar pela mostra permanente, no primeiro andar. Além de mostrar preciosidades da arte tradicional africana e objetos que contam a história da escravidão no Brasil — como o esqueleto de um navio negreiro e diversos itens usados nos ritos do candomblé —, ela ajuda a dissolver uma série de preconceitos.

“Em muitas visitas guiadas, os participantes às vezes chegam achando que a África é um país, e não um continente, ou que ela só tem miséria”, entrega Nivaldo. Visões fáceis de romper quando se observa a variedade de origens (Benin, Togo, Congo e Nigéria, entre outros com os quais o Brasil se relacionava no período do tráfico) dos artefatos e a riqueza dos materiais e dos detalhes empregados nas criações.

A principal mostra do museu também desfaz o mito de que os escravos e seus descendentes jamais se destacaram artisticamente. “Diversas obras do barroco foram feitas por negros e mestiços, sob orientação dos religiosos. E há pintores negros que passaram pela academia pelo século 19”, continua o monitor. Tais peças hoje dividem o espaço do museu com produções modernas e contemporâneas.

TemporáriasMuitas dessas criações são exibidas de modo interativo e acessível a quem tem algum tipo de deficiência visual. Todas ficam sobre as bancadas marcadas com a inscrição Singular e Plural e podem ser tocadas normalmente. Perto delas, legendas e livretos em braile ajudam a compreender o conteúdo das obras.

Se der tempo para ver as exposições temporárias, tanto melhor para o visitante. Atualmente, duas ocupam os andares inferiores do prédio. Uma delas, O Sertão: da Caatinga, dos Santos, dos Beatos e dos Cabras da Peste, que vai até 20 de maio, traz o mundo dos sertões e do cangaço para o coração da metrópole paulistana. Fotos, esculturas e cartazes relembram as trajetórias do padre Antônio Conselheiro, do Padre Cícero e de Lampião. Repare ainda nas reconstituições das casinhas do interior nordestino e nos objetos usados por antigos vaqueiros e ferreiros, entre outros trabalhadores dessa região.

Já a exposição Brincar com Arte – O Brinquedo Popular do Nordeste, com a mesma data de encerramento, conta com um acervo de brinquedos populares pertencentes a coleções particulares. Nela, bonecos e outros itens artesanais ganham outro status ao serem organizados e expostos como verdadeiras obras de arte. (MC)

O Estado de S. Paulo - Obras raras para agitar o mercado

Paulo Kuczynski garimpa quadros nunca exibidos do artista, símbolos de sua busca pela renovação estética

Caçador. O marchand Paulo Kuczynski perseguiu algumas das telas da mostra por vários anos

(18/4/2012) ANTONIO GONÇALVES FILHO - O marchand Paulo Kuczynski se autodenomina um "caçador de obras-primas". Com efeito, olhando as nove telas raras de Di Cavalcanti (1897-1976) que ele expõe, a partir de sábado, para convidados, em seu escritório de arte, é justo dar razão ao homem que vive atrás de colecionadores particulares perseguindo o que de melhor a arte brasileira produziu depois

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do modernismo. Grande nome inspirador da Semana de Arte Moderna de 1922, Di Cavalcanti passou os últimos anos de vida recorrendo a composições repetitivas e temas igualmente gastos, mas as telas da mostra - a maioria dos anos 1930 - conservam o frescor da renovação estética modernista que o levou a buscar uma correspondência visual brasileira para a picassiana reinvenção da figura feminina.

Di Cavalcanti descobriu a pintura de Picasso um ano depois da Semana de Arte Moderna, em sua primeira viagem à Europa, em 1923. Não há na mostra uma mulata da época, mas uma tela da década de 1920, Descanso dos Pescadores, presenteada pelo pintor ao escritor paraibano José Lins do Rego, já mostra uma mulher sentada na areia a desafiar os padrões da época - na forma e no comportamento. A liberação definitiva viria na década seguinte - e a prova são quatro telas em que mulatas se oferecem como padrão alternativo brasileiro das mulheres picassianas. Há, por exemplo, A Mulher do Caminhão (1932), uma Olympia ainda mais despudorada do que a da paródia de Picasso da famosa tela de Manet. Também de 1932 é o pastel Mulher no Divã, cenário matissiano com um nu frontal ousado para a época - e descrito pelo poeta Ferreira Gullar no catálogo da mostra como "a imagem da mulher brasileira".

Gullar, um dos autores do Manifesto Neoconcreto em 1959, rendeu-se às formas curvas de Di Cavalcanti, escrevendo no texto de abertura que Di Cavalcanti, ao contrário de seus contemporâneos da Semana, "fala do Brasil suburbano e busca na mulher brasileira mestiça a expressão de um novo conceito de beleza em contraposição à da arte acadêmica, que retratava a mulher branca e sofisticada". Vale acrescentar que o Brasil, na época, a exemplo do que acontecia na Europa, assimilou o discurso da "raça pura", promovendo concursos de eugenia. Não é pouco, portanto, a descoberta, segundo Gullar, "de uma nova Vênus mulata, de lábios carnudos, seios bastos e quadris pronunciados".

Para o bem e para o mal, Di Cavalcanti ficaria marcado como o "pintor das mulatas". No entanto, essa é uma redução injusta. O "hedonista" que pintava quadros que exalavam "um cheiro forte, penetrante e lúbrico de mulatas despidas", como definiu o crítico Luís Martins, também foi o pintor das cores e cenas escuras, de natureza plúmbea, que mais tarde iriam reviver nas telas do último período do gaúcho Iberê Camargo. Exemplo disso é a aquarela Bordel, da década de 1930, que até em sua teatralidade antecipa a fase derradeira de Iberê. Nela, uma prostituta se oferece, patética, sobre um palco, enquanto cenas da vida do bordel retratam à volta dela um encontro fugaz entre dois seres solitários.

Kuczynski aponta como contrapartida desse cenário escuro as telas dos anos 1920, em especial Descanso dos Pescadores, para mostrar que há uma nítida diferença até mesmo na paisagem que Di Cavalcanti produziu entre as duas décadas. A praia da tela presenteada a Lins do Rego tem uma luz tropical que contrasta com a falta dela na Pedra da Moreninha (década de 1930), óleo sobre tela colada em cartão, integrante da retrospectiva do artista no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1971. Como observa Kuczynski, não é a praia dos ricos, mas a dos trabalhadores (a figura frontal da obra é a de um deles), seja em Paquetá ou no cais de Maria Angu.

Em 1928, Di Cavalcanti filiou-se ao Partido Comunista e é dessa época um retrato que fez do escritor modernista paulistano Oswald de Andrade (1890-1954), um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, cujos 90 anos são lembrados por Kuczynski com a mostra. Pensava-se que a aquarela fosse um retrato do próprio Di, mas a filha de Oswald de Andrade, segundo o marchand, descobriu que se trata de uma ilustração para um poema do pai, Solidão, publicado na revista semanal Paratodos, ideologicamente vinculada ao PC.

Gullar observa, a respeito do óleo sobre tela Conversa no Cais (1938), que os temas de Di Cavalcanti são "tipicamente brasileiros", mas que sua linguagem é inconfundível. A tela foi pintada na França e mostra duas mulheres em trajes africanos - uma delas com os seios pulando para fora do vestido. Embora evoquem as clássicas figuras femininas de Picasso da Suíte Vollard (1934), não sugerem a mesma felicidade estampada nos rostos das erotizadas personagens do pintor andaluz, mas o peso das mulheres do Norte da África num ambiente lúgubre, o cais do porto de alguma cidade francesa.

Dois óleos dos anos 1940 mostram o lado mais lírico do pintor. Há uma natureza-morta (um vaso de flores) que esteve na exposição 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp, em 2001, e um tela que

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retrata a serenata de um flautista para sua amada. Ambas atestam a grandeza de um colorista que se perdeu no caminho.

Artista perde para arte contemporânea lá fora

O marchand Paulo Kuczynski insistiu bastante, mas o desenhista de joias e fundador do Museu Internacional de Arte Naïf do Rio, Lucien Finkelstein, morto em 2008, não aceitou vender os dois óleos sobre cartão dos anos 1930 que ele agora exibe com orgulho como dois dos melhores exemplares da exposição com obras raras de Di Cavalcanti. "A família acabou vendendo, mas foram anos namorando a tela A Mulher do Caminhão, de 1932."

O pequeno óleo (39 x 50 cm) já foi mostrado em exposições importantes, mas existem trabalhos que são exibidos pela primeira vez ao público, caso de Descanso dos Pescadores, que nunca saiu da casa onde morou o escritor José Lins do Rego. Os óleos Serenata e Conversa no Cais são igualmente inéditos em exposições, embora a reprodução do último tenha sido publicada num livro sobre o artista por Aleksander B. Landau, em 1976.

Di Cavalcanti é um artista que, a exemplo de Volpi, nosso maior pintor, ainda não tem cotação internacional. Ao contrário de Mira Schendel, Lygia Clark e Hélio Oiticica, que alcançam preços estratosféricos em casas de leilões como a Sotheby's e a Christie's, Di Cavalcanti fica no patamar de pintores contemporâneos sem a sua relevância histórica (Beatriz Milhazes, por exemplo). Há dois anos, sua tela Sonhos do Carnaval (1955), foi avaliada num leilão da Christie's entre US$ 800 mil e US$ 1,2 milhão. Hoje ela alcançaria uma cotação maior (há telas de Di Cavalcanti que chegam a US$ 2 milhões, mas elas são poucas e raramente aparecem no leilões brasileiros, que comercializam mais as obras do período final, sem a importância das peças dos anos 1920 a 1940).

"É uma injustiça com Di Cavalcanti e Volpi, mas as cotações internacionais seguem a lógica dos curadores, que preferem a arte concreta e neoconcreta do Brasil", analisa Kuczynski.

Desde os anos 1970 vendendo modernistas brasileiros, o marchand estima que 80% das obras que comercializou eram de Volpi. Di Cavalcanti está mais presente nas coleções particulares que nos acervos dos museus, embora o Masp tenha As Cinco Moças de Guaratinguetá (1930) e o MAC, uma bela coleção de desenhos seus - e ele foi um grande desenhista. Das coleções privadas, destaca-se a do casal carioca Sérgio e Hecilda Fadel. A coleção de Gilberto Chateaubriand é igualmente uma referência quando se fala do artista. Já rendeu, em 2006, uma retrospectiva com 51 óleos e 59 desenhos. / A.G.F.

Serenata Óleo sobre tela da década de 1940, marcada por pinturas de tons escuros, é definido por Ferreira Gullar como uma obra plena de poesia

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Descanso dos Pescadores Óleo sobre tela da década de 1920 foi presenteado pelo artista ao escritor José Lins do Rego e nunca saiu da casa de sua família

Conversa no Cais Óleo sobre tela de 1938, pintado pelo artista em Paris, registra cena num porto francês com duas mulheres de origem africana

MÚSICA

Folha de S. Paulo – Osesp inaugura função de artista em residênciaVioloncelista Antonio Meneses estreia o cargo com concertos nesta semana

Repertório apresentado pelo pernambucano ao longo do ano terá de clássicos a obra inédita de Marco Padilha Sidney Molina, Crítico da Folha

(12/4/2012) Com quatro concertos e dois programas diferentes, o violoncelista Antonio Meneses, 54, assumiu nesta semana a função de artista em residência da Osesp. Anteontem fez um recital com o pianista José Feghali, e hoje, amanhã e sábado toca o "Concerto para Violoncelo" de Antonín Dvorák (1841-1904) sob a regência da titular Marin Alsop. É a primeira vez que a orquestra prevê esse tipo de contato com um solista. Meneses terá aqui função análoga à dos violinistas Frank Peter Zimmermann (com a Filarmônica de Nova York) e Anne-Sophie Mutter (com a Sinfônica de Londres).

No concerto de Dvorák -obra central do repertório de seu instrumento-, ele ainda procura por matizes: "Nenhuma obra está jamais resolvida, é um processo de atualização e estudo constante", disse à Folha por telefone, na última terça-feira. "A grande dificuldade desse concerto é a relação entre solista e orquestra. Não é fácil projetar o som, e nem todos os maestros oferecem um tempo

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adequado para ensaiar", acrescentou antes do primeiro encontro com Alsop, com quem nunca trabalhara.

Ao longo do ano, serão dois programas distintos com a orquestra, dois de câmara e uma "masterclass". "A única coisa que posso é fazer jus a esse gesto da orquestra." Um destaque será a estreia mundial, em novembro, do concerto para violoncelo encomendado a Marco Padilha.

"Já estou com a partitura em mãos e acho que vai soar muito bem. Suas obras têm sempre algo a dizer, e isso é o mais importante para uma música", disse Meneses. Além de Dvorák, a orquestra apresentará a "Sinfonia n° 3 - Kaddish" de Leonard Bernstein (1918-90), dedicada à memória de John Kennedy. Até setembro o público terá conhecido as três sinfonias do norte-americano.

Durante a turnê europeia da Osesp em 2010, Meneses tocou a "Sarabande" da "Suíte n° 1" de Bach como bis para a exigente plateia de Viena e Salzburg. Ele afirma que é possível esperar algo similar no concerto de hoje. "É o que tenho em mente."

Estado de Minas – Vídeo: Para levar para casa

O destaque do pacote é o DVD com o programa dedicado a Chico Buarque

Mário Sérgio

(12/4/2012) A Globo Marcas está lançando mais três DVDs da série Som Brasil, com os especiais dedicados a Vinicius de Moraes, Milton Nascimento e Chico Buarque. Já exibidos pela Rede Globo, os programas destacam a obra de cada homenageado, com grande desfile de artistas convidados, que se apresentam em palcos montados lado a lado no estúdio da emissora e com direito a plateia. Na época dos dois primeiros, em 2009, o programa era apresentado por Patrícia Pillar. Já no de Chico, em 2011, quem ocupava o posto era Camila Pitanga.

Criado pelo cantor Rolando Boldrin, e inicialmente projetado para o rádio, o Som Brasil fez história ao divulgar o melhor da música regional brasileira. A estreia na Globo foi em 1981 e ao longo dos anos passou por várias transformações, inclusive com a saída de Boldrin da emissora – hoje ele comanda o Sr. Brasil, na Cultura/SescTV/Rede Minas. Todo repaginado, o programa voltou

à grade nas noites de sexta-feira. Mais precisamente na madrugada de sexta-feira para sábado, em horários proibitivos para quem quer dormir. Este é certamente o único pecado da produção e agora o DVD vem salvar a lavoura.

Quem não conseguiu vencer o sono vai poder conferir Gal Costa dando show de técnica e elegância no tributo a Vinicius, cantando A felicidade, Insensatez, O amor em paz e Se todos fossem iguais a você. Os outros três convidados são a banda BossaCucaNova (Água de beber e Tarde em Itapoã, com Cris Delano; e Garota de Ipanema, com Cris e Ed Motta), Chico Pinheiro (Chega de saudade, com Luciana Alves; Lamentos, com Tatiana Parra; e Coisa mais linda) e Marcel Powell, filho de Baden Powell, em uma inusitada parceria com os rappers Criolo Doido, Terra Preta e Rael da Rima (O morro não tem vez, Samba da bênção e Canto de Ossanha).

Na edição dedicada a Milton Nascimento, o próprio homenageado participou da festa cantando Maria, Maria e Tristesse, com Marina Machado, e ainda Travessia. Shirle de Moraes marca presença com Paula e Bebeto, Nada será como antes e San Vicente, enquanto Mariana Baltar foi a escolhida para interpretar Canção da América, Cais e Nos bailes da vida. A banda Cordel do Fogo Encantado completa o set com mais dois números (Fé cega, faca amolada e O cio da terra), antes do retorno de Milton Nascimento com Marina, Mariana e Shirle fechando o programa com Canções e momentos.

Por fim tem o programa de Chico Buarque. Ele não dá as caras no palco, mas sua irmã Miúcha está lá para representá-lo, abrindo o show com Samba do grande amor e cantando mais adiante Eu te amo. Vocalista da banda de reggae Bantus, Aleh interpreta Meu caro amigo, Quem te viu, quem te vê e Partido alto. Já Renato Godá defende O que será e Tatuagem e Maria Eugênia ficou com Folhetim,

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Atrás da porta e Trocando em miúdos. O grupo vocal feminino Mulheres de Hollanda surge apenas no finalzinho, com Roda viva, e dois veteranos se encarregam de dar seu aval ao programa: Cauby Peixoto, com Bastidores, e Bibi Ferreira, no encerramento, com Gota d’água, mas em imagens de arquivo da emissora.

Correio Braziliense – Arte da contestação

(14/4/2012) O grupo Viela 17 está na estrada há 12 anos, e desde O jogo, seu primeiro álbum, se consolidou como umas das referências do rap brasiliense. Atualmente, o grupo roda o país com o projeto Hip-Hop Contra o Crack, um show apoiado pela Secretaria de Cultura do DF, que mobiliza artistas de todo país à confrontarem por meio da arte urbana as armadilhas que levam jovens e adultos a desperdiçarem suas vidas aderindo às drogas. Esse projeto já reuniu cerca de 20 mil pessoas em Ceilândia, e para Japão, integrante do Viela 17, o hip-hop tem a responsabilidade de abraçar causas sociais. “Todo rapper tem a obrigação de lutar contra qualquer tipo de violência que assola as comunidades carentes.”

Cinco anos depois do primeiro CD, produzido pelo Dj Raffa, na gravadora Atitude Fonográfica, veio o segundo disco O alheio chora seu dono, que emplacou sucessos como Só curto o que é bom. A canção O bonde persegue foi uma das mais trabalhadas no disco e contou com a participação do consagrado Rappind Hood. O último trabalho foi o Cd Lá no morro, que reuniu vários artistas tais como MV Bill, Ellen Oléria, Indiana Nomma, Alexandre (integrante do Natiruts) e Gog, numa mistura de batidas do funk, do groove, do samba, dp soul e do reggae.

Eles não se limitam a fazer shows e a gravar discos. Paralelamente, conduzem vários projetos sociais. O primeiro foi o Rap com ciência, uma coletânea recheada de canções que envolvem o ritmo do rap e o estudo da matéria de ciências, realizado em escolas da rede de ensino público do DF. Coordenado por Japão, o projeto teve a participação de 77 crianças e parceria da Sangari Brasil e Secretaria de Educação do Distrito Federal. Durante o Rap com ciência, mais de 10 mil cópias foram distribuídas, gratuitamente, nas escolas públicas do DF.

Aproveitando o sucesso do Hip Hop Contra o Crack, Japão, ao lado do rapper X do Câmbio Negro, dará continuidade este ano, ao Rap Hour nas Escolas. O programa é coordenado pela instituição Caminho das Artes, que, durante 60 minutos, irá promover um intervalo cultural com atividades diversificadas visando combater o uso de drogas e a prática do bullying. “Foram obtidos ótimos resultados no ano passado e pretendemos manter o nível. Por enquanto, ele está parado devido a greve dos professores, mas assim que a situação se regularizar iremos dar continuidade”, explica Japão.

Novos aresEm 2011, por iniciativa de Japão, o Roda de Rap ultrapassou os muros do Caje e passou a atender os jovens que cometeram atos infracionais e cumprem pena na agência prisional. O projeto pretende atender 250 jovens, que participam de oficinas de rap e grafite. Na de rap, eles compõem letras com temas relacionados ao Estatuto da Criança e do Adolescente, à superação dos conflitos sociais e à vida sem liberdade. De acordo com Japão, a ideia é gravar um CD com as músicas compostas. Já nas oficinas de grafite, os jovens irão revitalizar os espaços do Caje por meio da pintura de grafite: “O objetivo é oferecer aos jovens espaços de discussão e reflexão, possibilitando a construção de novos conceitos, de novos rumos e novas possibilidades de sucesso por meio de produções culturais”, conclui.

A Roda de Rap conta com o apoio da Secretaria de Juventude, do Dj Raffa Santoro e dos rappers Buda e Henrique dos Sobreviventes da Rua. “Apesar de não haver nada formalizado, temos a chancela do GDF, que compreende a importância desse projeto para a recuperação dos internos do Caje”, conta. A falta de patrocínio é um entrave na conclusão do CD, que já foi gravado e está em fase de mixagem. “As pessoas têm muito medo de associarem seu nome ou marca ao nome Caje e ao rap. Se necessário, iremos tirar do próprio bolso o recurso para finalizá-lo, pois, para mim, é uma questão de honra.

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O Estado de S. Paulo - Estudos em torno de Villa

Coletânea traz análises originais sobre o compositor apresentadas na França

João Marcos Coelho é Jornalista, Crítico Musical, autor de No calor da hora (Algol), Entre Outras Obras

(14/4/2012) Com 825 itens, Heitor Villa-Lobos bate Jobim, Chico e Caetano, exibindo no mínimo o dobro de materiais como livros e gravações em áudio e vídeo na Biblioteca Nacional da França. Foi este o modo que Danièle Pistone encontrou para afirmar que ele "é, de longe, o mais célebre compositor brasileiro (...) mais famoso talvez do que os heróis da MPB".

A frase não surpreende. Ao contrário, é um sintoma de que hoje conhecemos bem melhor o compositor. Um encontro patrocinado pelo Itamaraty, embaixada brasileira em Paris e a Universidade Paris-Sorbonne realizou-se em 2009 na capital francesa. A pretexto dos 50 anos de morte de Villa-Lobos, 16 especialistas - musicólogos internacionais e brasileiros, intérpretes como Sonia Rubinsky e o historiador Luiz Felipe de Alencastro - escreveram artigos agora publicados na França em edição de capa dura.

O livro oferece aguda análise do Rudepoema por Sonia Rubinsky, que gravou a integral de sua obra pianística e anota, ao contrário do senso comum, que "as interpretações percussivas demais" da obra "não valorizam as estruturas melódicas por causa de uma leitura incorreta do papel dos acentos". O musical Magdalena tem pela primeira vez uma leitura atenta de Cécile Auzolle, que o coloca corretamente lado a lado com West Side Story.

A importante produção para violão é examinada por Pascal Terrien. E Michel Fischer, em Converser avec Intelligence, sai do folclore que ronda a história inventada por Villa de que dormia no berço embalado por sua avó cantarolando Bach e por isso o tinha nas veias, como justificativa para a maravilhosa série das Bachianas Brasileiras. Fischer mostra que ele usa a fuga como conversa, tal qual no choro, mas constrói afinidades estruturais entre o texto bachiano e sua imaginação. Nos "échos contemporains", destaca-se o ótimo artigo de José Bannwart que examina a influência determinante do Villa em Almeida Prado.

Pena que a impressão truncada do livro misture o artigo de Fischer com o do finlandês Ero Tarasti, autor da mais suculenta análise de Villa-Lobos em livro, que o interpreta à luz do que chama de "semiótica existencial". Erro imperdoável numa edição luxuosa, publicada três anos após o evento que a inspirou e que, aliás, deveria ter uma versão a preço acessível, porque envolve patrocínio do governo brasileiro.

O Estado de S. Paulo - De muitos bandolins

Bolívar Torres

(14/4/2012) Rígido, disciplinado, purista intransigente, Jacob do Bandolim passou seus últimos anos afogado em pessimismo. A lenda do choro tinha certeza de que o gênero ao qual dedicou sua energia estava destinado a desaparecer - e que sua própria obra, composta de clássicos como Vibrações, Doce de Coco e Noites Cariocas não sobreviveria à sua morte. Afinal, era uma música para ser executada nos quintais das casas. E os quintais, dizia, estavam em extinção.

Felizmente, nenhuma de suas previsões catastróficas se concretizou. É bem verdade que está cada vez mais difícil achar casas com quintais - até mesmo na Jacarepaguá em que ele possuía um jardim e uma avarandada. Mas as rodas de choro, contudo, ainda encontram seu lugar. O próprio Época de Ouro, conjunto regional fundado por Jacob nos anos 60, continua firme e forte em atividade. E, longe de cair no esquecimento, a arte do compositor ganhou uma nova fonte para ser perpetuada pelas novas gerações: na quarta-feira, será lançado o Cadernos de Composições de Jacob do Bandolim, com as partituras de sua obra completa, incluindo 15 músicas inéditas.

Resultado de dois anos de pesquisa do Instituto Jacob do Bandolim e uma equipe de estudiosos, o livro traz, em dois volumes, um longo processo de identificação, catalogação e transcrição de todas

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as composições do mestre. "Usamos principalmente três fontes: discos, manuscritos e fitas de rolo", detalha Sergio Prata, músico, vice-presidente do Instituto Jacob do Bandolim, e responsável pela pesquisa de repertório dos cadernos. "Quando havia mais de uma fonte para a mesma composição, nosso critério era buscar a forma como ela tinha sido eternizada."

As gravações completas, catalogadas numa pesquisa anterior que resultou no lançamento de 14 discos, foram usadas como matriz prioritária para as confecções das partituras, mesmo quando a obra já existia em manuscrito. Como Jacob improvisava o tempo todo, a ideia era justamente conseguir ser mais fiel às pequenas variações do bandolinista - e assim se aproximar da maneira como escutamos estas músicas nas rodas de choro nos dias de hoje. "O próprio Jacob não tocava segundo a partitura", diz o músico e pesquisador Marcílio Lopes, diretor musical da publicação, lembrando que o compositor tocava de ouvido até os anos 50. "Ele dizia que a partitura era o ponto de partida. O chorão tinha que saber ler para depois dar a sua interpretação. Tentamos registrar as conduções do baixo priorizando os floreios e as improvisações, o jeito que Jacob tinha de se antecipar às frases."

Várias surpresas foram surgindo no caminho. Nada menos do que 15 composições inéditas saíram do limbo. Entre as curiosidades, a única parceria conhecida com o bandolinista paulista Amador Pinho (Chuva de Estrelas), uma valsa dedicada a sua filha Elena Bittencourt (Elena), um estudo para bandolim composto em homenagem ao seu médico Arnoldo Veloso (Estímulo N.º 1), e até mesmo um tango (Pensando em Você) - mais próximo da ideia de tango de Ernesto Nazareth do que do tango argentino. Esta arqueologia da obra de Jacob, contudo, exigiu apuração e cautela redobrados.

"Só colocamos no caderno composições cuja autoria podíamos confirmar", assegura Lopes. "Muitas composições tiveram que ficar de fora, como uma chamada Veneno Verde, que até parecia ser dele, mas não havia como comprovar."

Além das inéditas, uma raridade ressurgiu das cinzas. Trata-se da primeira gravação de Jacob como compositor. Lançada em 1939, a faixa Si Alguém Soffreu foi interpretada por ninguém menos do que uma Aracy de Almeida no auge da carreira. Jacob tinha 21 anos e era um completo desconhecido (ouça a faixa no portal do Estado). Ouve-se um bandolim que muito provavelmente foi sua estreia em gravações como instrumentista. O que deveria ser lembrado como uma honra pelo compositor, no entanto, caiu no esquecimento: Jacob nunca mencionou a gravação, nem mesmo para os filhos. "É um mistério, ninguém sabe a razão de ele ter omitido o que foi um dos maiores momentos de sua carreira", diz Prata. "Até porque é um samba muito bom. Se fosse gravado hoje, faria muito sucesso."

O bandolinista Déo Rian, presidente do instituto, conviveu com Jacob e hoje toca o bandolim histórico que pertenceu ao mestre (encomendado em 1937, está em perfeito estado). Rian não acredita que a omissão seja resultado de uma mágoa com Aracy. "Nunca ouvi falar nesta história", afirma.

Entre as fitas pesquisadas, há uma inteiramente dedicada à bossa nova, da época em que Jacob começava a namorar o estilo. "Era um momento de transição para ele", lembra Rian. "Estava preso num turbilhão de informações, novos estilos, e precisava se adaptar a isso. Não vou dizer que ele estava pronto para se casar com a bossa, mas estava em fase de namoro. Adorava Edu Lobo e Tom Jobim, e dizia que a música de Chico Buarque iria atravessar os séculos."

Por outro lado, Déo Rian faz questão de lembrar que, no fim da vida de Jacob, o choro parecia estar num poço sem fundo. O compositor tinha medo de que o gênero tomasse o mesmo caminho do samba, desvirtuado pela comercialização das escolas, que a partir dos anos 60 haviam alterado a marcação do surdo. "Ele tinha uma preocupação com a tradição: modernizava o choro sem nunca mudar suas características", ressalta Rian.

Consciente da importância do choro como patrimônio, Jacob lutava por sua preservação. Foi um dos primeiros a criar um acervo que mais tarde ajudaria os chorões dos anos 70 a recuperar obras de Pixinguinha e do próprio bandolinista. "Eis um de seus legados: entender o papel do choro na identidade brasileira."

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Correio Braziliense – Bossa em quatro tempos

Shows memoráveis de Pery Ribeiro, Leny Andrade, Maria Creuza e Os Cariocas são lançados em série de CDs e DVDs

Rosualdo Rodrigues

(15/4/2012) Os 50 anos da bossa nova continuam rendendo produtos com o selo “comemorativo”. Não por acaso. Afinal, o cinquentenário pode ter sido completado em 2008 — se considerarmos como marco inicial do movimento a gravação de João Gilberto para Desafinado e Ô-bá-lá-lá, lançadas em um compacto 78rpm. Mas há também quem conte esse tempo a partir de 1962, quando Tom Jobim e Vinicius de Moraes compuseram Garota de Ipanema, a música que faria a batida lançada por João ecoar pelo mundo todo.

A mais recente homenagem à bossa nova cinquentona é o lançamento, pela Music Brokers, de uma série de quatro shows feitos ao longo da última década por Os Cariocas, Leny Andrade, Maria Creuza e Pery Ribeiro, grupo e intérpretes que têm suas trajetórias ligadas ao movimento. Cada um dos volumes de Bossa nova 50º aniversário é dedicado a um deles e composto de CD e DVD — ambos com o mesmo repertório, no qual prevalecem clássicos bossa-novistas.

O volume mais significativo é o que traz o show de Pery Ribeiro, já que se trata do último lançamento do cantor, morto em fevereiro deste ano — antes desse, Pery tinha lançado o CD As cores da minha bossa, em 2006. O filho de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins também é quem mais foge ao repertório básico da bossa e inclui na apresentação composições de músicos não ligados ao movimento, como Gilberto Gil (Super-homem, a canção), Djavan (um pot-pourri com Capim, Fato consumado e Flor de lis) e Altay Veloso (Apesar de cigano).

O DVD de Maria Creuza tem relevância por ser um dos raros registros da cantora nesse formato — o outro é Tons do Brasil, lançado em 2003, e esgotado. A cantora baiana, que foi casada com Antônio Carlos (da dupla Antônio Carlos & Jocáfi) teve a carreira impulsionada nos anos 1970 quando começou a fazer shows com Vinicius de Moraes e Toquinho — com quem gravou, na Argentina, o antológico álbum Vinicius en La Fusa com Maria Creuza e Toquinho.

No DVD da série Bossa nova 50º aniversário, Maria Creuza, hoje com 68 anos, aparece durante apresentação no Teatro Guaíra, em Curitiba, em 2006. O repertório faz a linha “o básico da bossa”: A felicidade, Tarde em Itapoã, Chega de saudade e Garota de Ipanema figuram entre as 12 faixas. Aliás, as criações de nomes mais relevantes da bossa nova, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Ronaldo Bôscoli, dominam os quatro repertórios.

O interessante é que, mesmo assim, as escolhas não se repetem de um disco para outro. Leny Andrade, por exemplo, dá seu tom jazzístico às clássicas Dindi, Wave, O barquinho e Saudade fez um samba e a outras 12 canções, no primeiro DVD solo. Além de participações em Carlos Lyra — 50 anos de música e no coletivo Bossa nova in concert, Leny só poderia ser vista, até então, no Leny Andrade e Cesar Camargo Mariano — Ao vivo.

Samba de uma nota só, Águas de março, Só danço samba, Ela é carioca e Samba de verão compõem o repertório — também de 16 canções — apresentado por Os Cariocas. Criado por Ismael Neto em 1942, o conjunto vocal é representado por uma memorável apresentação, realizada em 2005, na qual mostra que, a despeito de todas as mudanças de formação por que passou, continua afinado. E justifica seu status de patrimônio da Bossa Nova, com suas harmonizações vocais inconfundíveis.

No entanto, ao mesmo tempo que ostenta o mérito de registrar performances de quatro nomes de significativa participação na história da bossa nova, e também na música brasileira, os CDs/DVDs lançados pela Music Brokers pecam pela absoluta falta de informações sobre o show — como local e data de gravação, músicos que acompanham a artista ou mesmo um breve texto que apresente cada um deles às novas gerações.

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Folha de S. Paulo - De volta ao rock

Depois de álbum de covers, Nando Reis se isola em Seattle para gravar disco com produção de Jack Endino, que moldou a sonoridade do Nirvana e foi figura central do movimento grunge dos anos 1990

Nando Reis e o produtor Jack Endino em estúdio de gravação em Seattle

Thales de Menezes, enviado especial a Seattle

(16/4/2012) "Rapaz, que saudade de feijão com arroz!". O desabafo do cantor e compositor Nando Reis foi feito no mês passado, em um charmoso restaurante de frutos do mar em Seattle, no extremo noroeste dos Estados Unidos.

Ele estava então em sua sexta e última semana consecutiva na gelada cidade norte-americana, para onde levou sua banda para trabalhar com o produtor Jack Endino, mítica figura do lugar.

Endino foi peça essencial no movimento grunge, rock de guitarras nervosas que estourou na cidade no início dos anos 1990 com Nirvana, Mudhoney, Soundgarden, Green River (que depois daria origem ao Pearl Jam) e Screaming Trees. Não por coincidência, todas essas bandas tiveram discos produzidos por Endino, que, na década de 90, veio ao Brasil começar várias produções de álbuns dos Titãs.

Reis se revela surpreso com o trabalho ao lado de Endino, principalmente na fase de mixagens que se desenrolava no dia em que aconteceu a entrevista à Folha. "Ele não pega uma música às 11h da manhã e fica nela até de noite mixando. Pula de uma música para outra, mexe uma coisinha nessa daqui e depois deixa para voltar a ela depois. É como uma cebola, por camadas. Tenho certeza que, depois de cinco semanas, ele tem todas as músicas na cabeça."

Em seu segundo disco solo, "Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro" (2000), Reis gravou pela primeira vez com Endino em Seattle, mas a mixagem foi feita depois, no Brasil. O último disco do brasileiro, produzido por Carlos Pontual, ex-guitarrista de sua banda, foi "Bailão do Ruivão" (2010), um projeto de covers.

Depois de dez anos com a mesma banda, Reis sentiu que precisava sair do usual, tentar um recomeço. "A minha vinda para cá tem esse sentido de descontextualizar todo mundo, colocar a gente numa zona de risco." "Eu nunca gostei de gravar em São Paulo porque a vida ordinária exige demais. Claro que falo com minha família todos os dias. Mas isso é o meu trabalho. Precisam entender que o papai não trabalha todos os dias num banco, mas, de dois em dois anos, precisa ir para Saturno, ficar bem longe."

A gravação é mais agradável para ele do que os shows. Diz gostar do ritual de se concentrar para gravar. "Escrever canções é o meu trabalho, mas a urgência preliminar é comigo mesmo. Uma angústia adolescente que virou minha profissão. Minha angústia é nunca mais conseguir escrever uma música. E eu a vivo diariamente", conta o músico.

Em 2010, não conseguiu compor nada o ano inteiro, uma música sequer. Confessa que o "Bailão" foi um projeto antigo que só realizou porque não tinha outra coisa para gravar.

"Fico contente de ter escrito essas novas músicas em 2011. De repente, jorrou", conta em tom de desabafo. Tinha outro trabalho encaminhado, um disco em parceria com Samuel Rosa, do Skank, que acabou adiado.

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Na audição de algumas faixas, o repórter escuta uma longa canção rock and roll, "Pré-sal", e mais duas baladas. Todas entrariam facilmente na seleção de melhores trabalhos do cantor. No disco, ainda sem título e com previsão de lançamento para agosto, Reis aproveita o clima de recomeço para resgatar coisas que há tempos não fazia, como tocar violão com corda de náilon e gravar um reggae.

"Ir para bem longe às vezes é a chance de chegar bem perto de você mesmo", filosofa Nando Reis, esperando por um prato de feijão com arroz.

Correio Braziliense - Vibração que vai além do som

Formado por 18 deficientes auditivos, o grupo brasiliense de percussão Surdodum já lançou CD e tem DVD pronto, ainda inédito

A professora Ana Soares (de preto) e músicos da Surdodum: o projeto começou há 19 anos

(17/4/2012) Daniel Baima tem 23 anos, trabalha no Superior Tribunal de Justiça (STJ), estuda educação física e, desde a adolescência, sabe tocar surdo de virada, um instrumento de percussão. Cheio de energia, sempre puxa assunto, com um grande sorriso no rosto e uma brincadeira em mente para fazer com os amigos. Daniel é deficiente auditivo e forma, com outros 17 percussionistas surdos, o grupo Surdodum — que conta com a parceria de voluntários ouvintes.

O projeto nasceu em 1994, quando Ana Soares era, ao mesmo tempo, alfabetizadora de crianças surdas e professora de música. Ao unir as duas atividades, ela criou um grupo de percussão formado por deficientes auditivos. Em algumas semanas, eles já tinham cinco músicas próprias. Um ano depois, veio a primeira apresentação ao vivo. Passados dezenove anos, Ana mantém a proposta de dar aulas de percussão e canto para surdos. Os alunos que atingem determinado nível técnico entram para a banda e participam das apresentações.

Isso não depende do tipo ou da gravidade da deficiência. Segundo a professora, como ocorre em qualquer aprendizado, varia de aluno para aluno. Para participar do projeto, a seleção é simples. “O nosso único critério é ser surdo. Quem não for, fica!”, brinca Ana Soares.

E eles fazem barulho mesmo. Fruto de uma técnica de ensino que a professora prefere deixar para explicar no seu projeto de mestrado, o som é unido e consciente. Segundo ela, o reconhecimento no meio artístico é algo que compensa o trabalho: “Eles são respeitados não por serem ‘os surdinhos’, mas pela qualidade técnica das músicas”. Esse reconhecimento, no entanto, não exclui dificuldades.

Com a gravação do CD, em 2004, Ana percebeu que, ainda assim, o projeto não era tido como legítimo por algumas pessoas. “Fizemos um DVD em 2010, pela parte visual, para mostrar o trabalho. Infelizmente, as pessoas com deficiência têm que matar um leão por dia, provar que são elas mesmas que estão fazendo aquilo. Acho que a sociedade não é má, é ignorante. Acha que deficiente é improdutivo”, reclama. O DVD ainda não foi lançado e está em fase de finalização.

Depois de ganhar vários prêmios, entre eles o da Fundação Banco do Brasil e o da Fundação Nacional das Artes (Funarte), a energia é a mesma — se não maior. Todos os integrantes têm em mente a principal agenda do Instituto Surdodum: um ajuda o outro. A proposta é dar continuidade ao trabalho, que um surdo ensine outro a tocar e, com isso, trabalhar a autoestima de cada um.

Canções silenciosasO Surdodum não se apresentou apenas em Brasília: os músicos estiveram em Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e até mesmo em Portugal. Embora as canções iniciais tenham sido feitas pelo próprio grupo, hoje os artistass usam as músicas de Arnaldo Barros, um compositor que entrou para a trupe em 1998. “Gosto muito das músicas do Arnaldo e vejo, que quando ele toca, fica muito sério. Ele entende os surdos, ele passa o que a gente sente para a música. Chega meu coração dói

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de escutar as canções”, diz um dos integrantes do grupo, Maurício Branco, 41, instrutor de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e toca surdo de marcação.

Mas o envolvimento de Barros com a vida de deficiente começou antes, em 1982, com uma síndrome medular (mal causado por uma lesão medular ocorrida na região central da medula espinhal). Preso à cadeira de rodas, ele ficou um ano em casa, sem conseguir reunir coragem de sair à rua. “Um dia, consegui sair. Fui seguindo o som até um barzinho perto do meu apartamento. Cheguei lá e pedi para tocar. E então voltei para a música”, lembra.

Desde que teve esse problema de saúde, Arnaldo passou a escrever sobre o silêncio. Quando conheceu o Surdodum, em São Paulo, ainda estava envolvido com outro grupo. Apaixonou-se ali mesmo pela energia dos surdos e acabou mudando para o conjunto brasiliense. São as canções dele que compõem o disco lançado por eles, Na batida do silêncio. “É uma banda que eu adoro porque não tem estrela. No fim do dia, parece que foi tudo uma brincadeira”, diz.

Como participarOs deficientes auditivos que estiverem interessados em aprender percussão ou canto podem entrar em contato com o Instituto Surdodum, pelo e-mail [email protected], ou com a coordenadora Ana Soares, pelo celular 9984-4574. Quem é ouvinte, músico e tiver vontade de ajudar, pode ser voluntário no projeto.

Estado de Minas - Genérico com pedigree

Dinho Ouro Preto grava versões de clássicos da música pop com a proposta de apresentar grandes canções à nova geração. Repertório vai de Leonard Cohen a The Cure e Patti Smith

Mariana Peixoto

Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, lança o terceiro CD solo

(17/4/2012) Em 1994, Dinho Ouro Preto gravou Freiras lésbicas assassinas do inferno, uma das faixas de Vertigo, nome do álbum de seu projeto solo homônimo, já que na época ele estava fora do Capital Inicial. Hoje, Dinho canta Hallelujah, hino do mestre das letras (e de gerações) Leonard Cohen, que traz referências bíblicas, citando histórias de Sansão e Dalila, rei Davi e Betsabá. Essa canção abre Black heart, seu terceiro álbum solo. Ao contrário dos anteriores, autorais, esse disco traz exclusivamente versões.

E não são quaisquer versões. Nas 12 faixas estão standards do rock, de Suspicious minds, do repertório de Elvis, a Steady as she goes, dos Raconteurs, passando por Joy Division (Love will tear us apart), The Cure (Lovesong) e Patti Smith (Dancing barefoot). A maioria é música que Dinho ouve desde sempre. Foram selecionadas, de acordo com ele, por causa de suas letras. São grandes canções de amor.

Black heart não significa que Dinho esteja dando um tempo do Capital. Veio entre um intervalo e outro da agenda de shows da banda. Inclusive, por conta do grupo, que começa a gravar outro álbum na segunda quinzena de maio (para comemorar suas três décadas de atividade, em 2013), o cantor não vai sair em turnê solo. Por ora, tem marcadas apenas uma apresentação no Rio e outra em São Paulo.

Três perguntas para.Dinho Ouro Preto

Você não está mexendo num vespeiro ao gravar Leonardo Cohen, Nick Cave e Smiths, nomes acima do bem e do mal?Acho que sim. Fãs mais xiitas do Morrissey reclamam das versões do próprio Morrissey! Imagine eu. Mas, primeiro, gosto da ideia de fazer algo que parece subversivo, com todo mundo dizendo que não deve, não pode... Estou mexendo quase com dogmas. E penso o seguinte: conheço bem a obra de

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cada um, não estou caindo de paraquedas. Tenho 47 anos, ouço tudo isso desde os 16. E há outro aspecto: para surpresa geral, estou entre os três mais vendidos do iTunes. Ou seja, esse disco vai atingir pessoas que nunca ouviram falar desses caras. Então, ele ainda tem efeito meio didático. Do repertório gravado, qual é a sua preferida?A do Nick Cave, ela tem muita beleza (Dinho se refere à gravação original). Ele é meu músico predileto. Das minhas versões, a melhor foi Hallelujah. Abre bem o disco, ficou quieta, calma. Das gravações dessa música, a que mais gosto é a do Leonard Cohen mesmo, da aspereza dele. A do Jeff Buckley é excessivamente floreada, barroca demais. Tem muita nota. Prefiro o contrário.

Que tipo de preocupação você teve na hora de gravar?Não sou um cara com extensão vocal extraordinária, comecei a cantar dentro da atmosfera punk rock – ou seja, quanto pior, melhor. Todos os primeiros discos dos anos 1980 do Capital me incomodam, tudo está fora do meu tom. Para esse CD, procurei apenas o tom adequado da minha voz. Minha região vocal é duas ou três oitavas, então baixei tudo para o meu tom. Minha intenção como intérprete era destacar as letras, que são excepcionais.

Folha de S. Paulo – Mostra de Elis tem ponto alto em cenas de TV

Especiais gravados nos anos 1960 e 1970 em redes europeias revelam uma cantora que o Brasil ainda desconhece Marcus Preto, de São Paulo

(18/4/2012) O material mais surpreendente disponível na exposição Viva Elis são imagens raríssimas produzidas com a cantora na virada dos 1960 para os 1970 em redes de TV francesa, alemã e portuguesa que são projetadas continuamente numa pequena sala de cinema -mas vamos deixar o melhor para o final.O ideal é passar algumas horas no Centro Cultural São Paulo, onde a mostra está em cartaz desde o último sábado -e até 20/5. Só assim é possível dar conta de parte relevante do extenso material reunido ali.

Comece pelas fotos -são cerca de 200, algumas totalmente inéditas. Estão organizadas ao lado de telas de TV em que se pode assistir a imagens da cantora em ação. Essas telas estão organizadas conceitualmente: shows, entrevistas dos anos 1970 e 1980, Elis conquista espaço no exterior etc.

O tal álbum de casamento de Elis com Ronaldo Bôscoli, que ela pediu que fosse destruído em uma briga com o marido (mas desobedeceram) é outra raridade, mas vale mais pela história do que propriamente pelas imagens. Na sequência, vá às réplicas dos figurinos usados pela cantora no show "Falso Brilhante", de 1975. São cinco modelos, refeitos pelo estilista Fause Haten.

Quem não conhece bem a discografia de Elis pode passar pelos terminais de audição, em que 29 álbuns estão disponíveis. É fundamental que eles estejam na exposição, mas, se o tempo for curto, pule essa parte -é fácil ouvi-los em casa, afinal. Por fim, as imagens raras.

Segundo o pesquisador Allen Guimarães, curador da exposição, há cerca de quatro horas de cenas, quase todas inéditas no país. O rolo inteiro, que junta essas raridades a imagens mais conhecidas da cantora, soma cerca de 20 horas -ou seja, seria preciso passar mais de dois dias inteiros na mostra só para vê-las todas.

São cenas surpreendentes de Elis em Cannes, em 1968, e na Alemanha, em 1972. Entre elas, a imagem da cantora sobrevoando o Rio sobre uma borboleta psicodélica, cantando "Samba do Avião".

Em outra, Elis faz versão bilíngue de "Upa Neguinho" rodeada de crianças alemãs. Ela ainda interpreta o tema do filme "Houve uma Vez um Verão" (1971) em dueto com o autor, Michel Legrand, ambos "caminhando na Lua". São cenas tão impactantes que, no dia da abertura, alguns visitantes da mostra lançaram mão de óculos escuros para disfarçar o choro.

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O Estado de S. Paulo - De Euclides a Verdi e Wagner

André Heller dirige ópera sobre o autor de Os Sertões e prepara produção do Anel do Nibelungo

Em Buenos Aires. Encenador carioca acaba de estrear, na semana passada, produção do Rigoletto, de Verdi, no Teatro Avenida

(18/4/2012) ROBERTA PENNAFORT / RIO - São mais de 30 espetáculos encenados, uma carreira internacional de dez anos, passagens pelos palcos mais nobres do mundo (Metropolitan, em Nova York, Royal Opera House, em Londres, San Francisco Opera), prêmios, uma coleção de críticas positivas e uma agenda 2012 que começou com Rigoletto, de Verdi, no Teatro Avenida, de Buenos Aires, sexta passada, e se estende até o Municipal de São Paulo, que em agosto

estreia O Crepúsculo dos Deuses, de Wagner.

De formação teatral, e considerado arrojado, mas sem afetação, o diretor carioca André Heller-Lopes é um militante da ópera. Embora esteja vivendo de novo no Leblon, onde cresceu, depois de um período baseado em Londres e em Lisboa, ainda se sente mais à vontade trabalhando em países onde "a ópera não é uma arte exótica".

"No Brasil, nós, profissionais da ópera, e da música clássica em geral, somos um pouco Óvnis, pouco conhecidos do grande público e do poder", diz Heller, por e-mail. "Mas não tinha mais sentido, em meio à crise europeia e ao florescimento do Brasil, ficar colocando azeitona na empada alheia. O conhecimento que acumulei nos últimos anos é muito incomum aqui e adoro a ideia de formar cantores ou mesmo futuros diretores de ópera."

A temporada de Rigoletto, cujos cenários ele assinou, lhe exigiu um mês e meio na capital argentina. Termina no sábado, mesmo dia em que estreia no Rio sua montagem de Piedade, encomendada a João Guilherme Ripper pela Petrobrás Sinfônica.

Trata-se de um concerto cênico (portanto, com poucos elementos como cenário, mas com figurinos de época e projeções) baseado na trágica morte do escritor Euclides da Cunha, em 1909, que será realizado no Vivo Rio - fechado desde janeiro, por conta do desabamento de prédios vizinhos, o Municipal só reabre no mês que vem.

Heller segue então para o Festival Amazonas de Ópera, com Nabucco, outro Verdi, este já levado a Belo Horizonte no ano passado. A encenação será em praça pública. Em julho, na Escola de Música da UFRJ, da qual é professor há 16 anos, dirige mais um espetáculo gratuito: Cosi Fan Tutte, de Mozart. Para no mês seguinte chegar a Wagner. Será o desafio do ano, mas que já vem chancelado pelo sucesso de sua montagem anterior, no mesmo palco, de A Valquíria - considerada pela crítica "brasileira e universal".

"Sou o primeiro brasileiro a dirigir essa ópera, A Valquíria, e, em breve, todo ciclo do Anel do Nibelungo, estreado nos anos 1870", resume a responsabilidade. "Não me interessava fazer o que todos já fizeram. Queria aproximar o mito nórdico dos nossos mitos, e com isso discutir um pouco o que é o 'brasileiro'. Se no segundo ato da Valquíria tínhamos uma sala de ex-votos, era porque nenhum lugar me pareceu mais fantástico para um deus em crise se refugiar do que um lugar onde as paredes estão recobertas de reafirmações de seu poder."

No Brasil, o Teatro Municipal de São Paulo - onde, ano que vem, montará Sonho de Uma Noite de Verão, em homenagem ao centenário de Benjamin Britten -, é mais sua casa do que o do Rio. O primeiro programou 11 óperas para este ano; o segundo, só 3.

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"Fico com vontade de ver grandes montagens no palco do Municipal do Rio, com cenário de verdade, figurinos e, acima de tudo, ideias. Enquanto esse momento não chega, vou buscando outros lugares no Rio para fazer ópera. Praia, porto, por que não?

LIVROS E LITERATURA

O Estado de S. Paulo - Um humor melancólico

Em O Céu dos Suicidas, Ricardo Lísias conduz história cômica da maneira taciturna

Vinicius Jatobá , especial para O Estado

(12/4/2012) Ricardo Lísias ainda não sabe, mas a cada livro ele se aproxima mais de sua verdadeira vocação: a de ser um dos mais bem realizados humoristas de sua geração. Há um preconceito declarado contra o humor, como se fosse a mais baixa forma de expressão artística. E muitos bons escritores jamais deram um salto de qualidade essencial por terem se esforçado demais em combater seus talentos de encarar a experiência humana de forma enviesada e cínica. Nada mais contraproducente: Saul Bellow, Thomas Bernhard, Brohumil Hrabal, Gyula Krudy e Guillermo Cabrera Infante foram mestres da literatura universal e geniais humoristas.

O Céu dos Suicidas (Alfaguara) sofre do mesmo problema de O Livro dos Mandarins: levar um material demasiado cômico da maneira mais taciturna possível. Lísias é superaparelhado: seu manejo técnico é fabuloso, e cada frase é temperada e controlada com esmero. Em um momento editorial em que é moda ser escritor causa assombro um autor tão literário como Lísias, que passa a impressão de que cada palavra de seu texto foi ponderada e escolhida por uma razão muito específica. Lísias tem uma habilidade de criar situações narrativas muito criativas, com personagens próprios e incomuns.

O narrador de O Céu dos Suicidas é um colecionador de tampinhas de garrafas e selos. Professor universitário, ele é repleto de manias e rituais. O estopim de sua crise é o suicídio de seu melhor amigo. Ele decide, para lidar com o impacto dessa perda, começar uma nova coleção e viajar para Beirute. É material para uma deliciosa comédia; mas Lísias escreve um relato torturante sobre identidade e culpa.

Percepções. O Céu dos Suicidas é, contudo, um sucesso estético. Para um narrador que vê o mundo por objetos colecionáveis é natural que seu relato seja fragmentado, em pequenas tramas, em que ele coleciona percepções. Ele é incapaz de ver sua própria vida para além do fracionado. E sua viagem é dupla: tanto exterior, para Beirute, em busca de um exotismo que o afaste do sentimento de culpa, quanto é também interior, o narrador em busca de si mesmo, de coesão emocional. O humor de Lísias está sempre encabulado, em potencial, buscando uma forma de se expressar integralmente.

Não precisa pressa. Bellow esperou três livros até se sentir confortável e liberar essa energia; Bernhard levou tempo até conseguir rir de suas próprias misérias e escrever seus melhores livros; Krudy se via como um filósofo até inventar seu personagem mais bonachão, Szyndbad. Se Lísias fizer esse salto, tão marcado em trechos de seus dois livros recente, estará em boa companhia.

Estado de Minas – Itaguara abre museu para Guimarães Rosa

Thaís Pacheco(12/4/2012) Minas Gerais ganha outra instituição dedicada ao escritor João Guimarães Rosa: o Museu Sagarana, instalado em Itaguara, a 90 quilômetros de Belo Horizonte. Depois de se formar em medicina, foi lá que Rosa morou de 1930 a 1932, período em que iniciou sua vida literária.

O acervo inclui doações da filha do escritor, Vilma Guimarães Rosa, além de objetos pessoais dele, como o último par de óculos, relógio de pulso, gravata borboleta e livros raros.

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O prefeito Alisson Diego Batista Moraes conseguiu aprovar o projeto no programa Mais museus do Ministério da Cultura. O conselho diretor do Sagarana reúne oito itaguarenses conhecedores da história local. A abertura será amanhã, com visitação aberta no sábado.

Também serão expostas cartas que Rosa enviou a um morador de Itaguara. “Elas foram trocadas com o raizeiro Manoel Carvalho quando o escritor já era diplomata”, informa Alisson Diego. O objetivo da instituição é marcar a passagem de Rosa pela cidade e mostrar como isso influenciou sua obra.

Quem for até lá também terá informações sobre a construção da centenária igreja neogótica do município e o povoamento da região, por exemplo. O prefeito lembra que a memória local está ligada a Guimarães Rosa. “A sogra dele havia morado em Itaguara muitos anos antes dele, era professora aqui. A irmã do escritor, dona Iva, casou-se com um médico da cidade, doutor Antônio Geraldo de Oliveira, que foi nosso prefeito”, conclui.

Valor Econômico - Travessia do corpo

Por José Castello

(13/4/2012) Em outubro de 2010, o escritor pernambucano Raimundo Carrero sofreu um grave AVC. As sequelas o deixaram por quase 15 meses de cama. Tinha, porém, uma reserva de forças que nem ele mesmo conhecia. Transferiu a fúria com que sempre se dedicou à literatura para o cuidado do corpo. Durante todo esse tempo, Carrero viveu para seu tratamento. Viveu para atravessar seu corpo e para reescrevê-lo. "Foi um tempo duro e difícil, mas que estou tratando, finalmente, no passado", diz. Já recuperou a autonomia. Depois de 18 meses de luta, já caminha sem a necessidade de uma bengala. Voltou

também a dar aulas: às quintas-feiras, ministra duas horas de oficinas na União Brasileira de Escritores do Recife, projeto antigo que desenvolveu, sempre, com paixão.

Voltou, também, a escrever. Em um laptop que acomoda no colo, sentado sempre na mesma poltrona semi-inclinada em que ainda passa quase todos os seus dias por conta das dores persistentes na coluna, Carrero trabalha em dois livros: o romance "Tangolomango/ Ritual das Paixões Deste Mundo" e o relato "Às Vésperas do Sol", a respeito de sua doença e da travessia existencial a que ela o levou. Hoje, depois de se perguntar, durante muito tempo, por que Deus o teria castigado, um sereno Carrero entende seu sofrimento de outra forma. "No começo, eu pensava que fosse um castigo. Depois, entendi que Deus não castiga ninguém e fui atropelado pelo acaso." Já consegue até, supremo heroísmo, ver a longa experiência dolorosa, pelo menos em parte, como uma experiência positiva. "Tive de repassar minha vida, os erros, os acertos, as dores, as alegrias. Foi um tempo de revisões. De renúncias, mas também de conquistas."

Atravessar a si mesmo, repisar cada uma das pedras que compõem a própria existência e sair inteiro do outro lado, o transformou, de certo modo, em outro homem. Não que tenha sofrido uma metamorfose, mas porque chegou ainda mais perto de si mesmo e do homem que é. "Foi um longo exercício de paciência", admite Carrero - fazendo sempre questão de usar os verbos no passado. Durante todo esse tempo, praticou meditação (a seu modo, mastigando um silêncio triste, sem palavras, sem nenhuma possibilidade de expressão). Aprendeu, ainda, a contemplar o mundo e suas coisas. E a aceitar o vazio. Aquietou-se. "Quando eu finalmente não precisar mais dessa cadeira, saio monge." Tornou-se ainda mais religioso. Diariamente, no fim da tarde, reza o terço. Pela TV, com regularidade, assiste à missa. As irmãs - cinco no total -, e também o único irmão, se revezam para acompanhá-lo nas novenas.

"Às Vésperas do Sol" estará pronto quando Carrero se declarar bom. Ele é otimista: "Acho que em três, quatro semanas, estou inteiro de novo"

Com isso, aguçou, mais ainda, suas ideias a respeito da religião, que vê não como um cânone, ou uma experiência de purgação, mas como um contato direto com o amor. Relê, sempre, um mesmo livro, "Todas as Coisas se Amam", do padre e poeta nicaraguense Ernesto Cardenal. Explica sua

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obsessão pelo livro: "Cardenal nos mostra que as plantas amam as plantas, os bichos amam os bichos e, portanto, os homens devem amar os homens".

Ernesto Cardenal, que estreou na poesia no ano de 1946 com "A Cidade Desabitada" e foi candidato ao Nobel, ofereceu, com seus versos e prédicas, fortes imagens a que Carrero tratou de se agarrar. Um náufrago reconhece o valor dos pequenos tesouros que lhe passam à frente. Amparou-se, ainda, na leitura de "A Educação Sentimental", de Gustave Flaubert, romance de 1869, que o escritor considerava a história moral de sua geração. Nele, Flaubert - antecipando a experiência de Carrero - faz um exercício de dissecação do próprio corpo. O corpo visto não apenas como carne, mas como um estojo que abriga o sentimento moral.

Como todos sabem, Frédéric Moureau, o protagonista de "A Educação Sentimental", com seu apego às ilusões românticas, é uma espécie de duplo do jovem Gustave Flaubert. O próprio escritor francês chegou a admitir isso. Em novo desdobramento, o jovem Flaubert que surge mascarado em "A Educação Sentimental" serve de duplo, agora, a Raimundo Carrero. Sucessão de duplicações e de renascimentos que fornecem sinais indiscutíveis da potência da literatura, fonte de um poder de revelação que nem a passagem dos séculos não consegue roer.

Impulsionado por Flaubert, que levou sete anos trabalhando em seu célebre romance autobiográfico, Carrero anota agora em um caderno, pacientemente, passo a passo, a lenta travessia da própria doença. Rascunha, assim, "Às Vésperas do Sol", um livro que - transformando a literatura em um reflexo do destino - só estará pronto quando ele se declarar inteiramente bom.

É otimista: "Acho que em três, quatro semanas, estou inteiro de novo", me disse na última semana de março, quando conversamos por telefone. Ao mesmo tempo, dominado pelo sentimento de paciência, modera suas expectativas: "Eu sei, preciso aceitar e aprender uma coisa de cada vez". Apesar de se sentir "praticamente bom", os problemas de coluna - causados pelos longos meses que passou quase imobilizado, já que o AVC atingiu todo o lado esquerdo de seu corpo - ainda o prendem à velha poltrona. "É terrível demais, tem dias que dá uma agonia", reclama, desmentindo a afirmação de paciência. "Não posso sair, não posso ver os amigos, nem mesmo ir a uma livraria. Ainda sou, na maior parte do tempo, um prisioneiro. Esta cadeira é meu carrasco."

Chega a fazer, sem reclamar, duas sessões de fisioterapia em um mesmo dia. Durante meses a fio, submeteu-se também à acupuntura, de que recentemente desistiu. Segue metodicamente, ainda, uma dieta alimentar. Conhece de cor os horários dos medicamentos. Está inteiramente concentrado em si - o que reflete a potência das duas narrativas que escreve. "Sou facilmente adaptável às situações", diz, replicando, à sua maneira, a ideia de Adélia Prado a respeito das mulheres que, segundo a poeta de Divinópolis, são seres "desdobráveis". Carrero também se desdobra, a um ponto em que chega a se assombrar com a própria disciplina. Sempre foi um homem boêmio, de vida agitada e impulsos fortes. Um homem de arroubos, amante da noite, das obsessões e dos excessos - elementos, aliás, essenciais em sua escrita. Coisas que, agora, precisa domar. Ou, mudando as palavras: atravessar.

Recebe visitas diárias não só da família, mas dos alunos, que sempre considerou - numa corajosa lição de mestre - seus principais interlocutores. Afirma: "Não sou um homem supersticioso". Ao contrário da maior parte dos escritores, que escondem como preciosos segredos os originais dos livros que estão a escrever, Carrero sempre teve o hábito de expor seus rascunhos ao debate aberto e sincero com os discípulos. Mestre, para ele, não é o que disciplina ou enquadra, mas o que dialoga e troca. "Falo com franqueza a respeito dos meus projetos e do que estou fazendo, nisso sou tranquilo". Conversa abertamente, até mesmo, a respeito dos projetos que ainda guarda só na cabeça. Planeja, por exemplo, escrever um romance de linhagem armorial - isto é, seguindo os preceitos de seu mestre e amigo Ariano Suassuna.

Título de romance que está escrevendo, "Tangolomango", não é invenção sua. Significa "festa", "muvuca", e foi retirado de livro de Lima Barreto

O movimento armorial tem como princípio a criação de uma arte erudita a partir de elementos populares. Surgiu nos anos 1970 e, ainda hoje, cria grande polêmica no meio intelectual. "Quero escrever um romance armorial para mostrar a vitalidade do movimento, que alguns acreditam ultrapassado." O destino o dobrou, mas não lhe tirou a coragem.

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Agora mesmo, em "Tangolomango", romance que escreve aos trancos em seu laptop, a segunda parte é narrada por um personagem chamado Matias Villar. Ele é, simultaneamente, uma homenagem ao filósofo Matias Aires, considerado o primeiro filósofo brasileiro e autor, no século XVIII, das "Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens"; um pensador muito admirado por Ariano Suassuna e que teve grande influência na construção do ideário armorial. Longe de ser um nacionalista fanático, como os desafetos de Carrero poderão levianamente imaginar, Matias também escreveu livros em francês e em latim, além de traduzir muitos clássicos latinos. O narrador Matias Villar é, ainda, uma homenagem ao próprio Ariano- que tem Aires como um dos sobrenomes de batismo.

Quanto ao título do livro, "Tangolomango", trata-se de uma expressão brasileira que significa "confusão", "festa", "alegria", "muvuca". Carrero a encontrou, pela primeira vez, na leitura de "O Triste Fim de Policarpo Quaresma", o romance de Lima Barreto, quando o major, em um arroubo, diz que a dança brasileira é o tangolomango - na verdade, uma dança indígena. Os originais de seu romance já têm mais de 80 páginas de computador e Carrero neles trabalha diariamente.

A escrita, porém, é um intervalo na reconstrução de sua obra principal: o próprio corpo. "Hoje à tarde, caminhei pela quadra sem usar bengala", me diz Carrero, cheio de entusiasmo. "O braço esquerdo ainda está lento, a perna esquerda se cansa muito rápido - meu lado esquerdo foi todo afetado. Mas começo a me recuperar!" Depois de entender que não sofreu um castigo dos céus, Carrero mudou, também, sua concepção do inferno. "O inferno não existe da forma que acreditamos", explica. "Talvez exista apenas na consciência das pessoas que não conseguem se afastar da ideia de culpa."

Ainda encontra forças para ir, duas vezes por semana, à Companhia Editora de Pernambuco - Cepe, onde é o editor do mensário "Pernambuco" e conta com a parceria do jovem jornalista Schneider Carpeggiani. O que faz nessas duas visitas semanais? O que mais poderia ser, senão escrever? Apesar da vida regrada, regida por uma agenda rígida, Carrero sabe que o escritor não pode dispensar certa dose de loucura. "Tangolomango", por exemplo, tem como ponto de partida os célebres versos do poeta russo Maiakóvski: "Comigo a natureza enlouqueceu, sou todo coração". O homem exuberante que pesava 105 quilos e, nos momentos extremos da doença, chegou aos 60, hoje ostenta equilibrados 70 quilos. Ainda é um pouco inquietante, um pouco surpreendente encontrar-se com esse "monge Carrero", de vida regrada e reservada, que, no entanto, conserva no coração, como nos versos de Maiakóvski, sua dose essencial de loucura e de agonia.

Correio Braziliense - A megafesta do livro

1ª Bienal Brasil promete movimentar a Esplanada dos Ministérios a partir de amanhã. O Nobel Wole Soyinka e Ziraldo são os homenageados

Nahima Maciel

(13/4/2012) Os quatro pavilhões montados na Esplanada dos Ministérios serão o epicentro das letras no Distrito Federal durante os próximos 10 dias. Com 254 convidados distribuídos pela literatura, artes plásticas, música e teatro, a 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura tem início amanhã com a expectativa de receber média de 50 mil visitantes por dia para uma programação que contempla a produção literária latino-americana, brasileira, africana e brasiliense. Além de palestras, seminários, sessões de contação de histórias e shows, a bienal reúne também 157 expositores, entre eles editoras e livreiros da cidade.

Quatro eixos pontuam a programação. O primeiro traz palestras, encontros e debates sobre a literatura nacional. A estética da periferia pelo paulistano Ferréz, a narrativa focada na história do Brasil com Eduadro Bueno, a relação entre ficção e memória com Milton Hatoum e a crônica brasileira com Xico Sá e Humberto Werneck são alguns dos destaques. A biografia também tem lugar em mesas que reúnem Fernando Morais (Chatô — O rei do Brasil) e Carlos Marcelo (Renato Russo — O filho da revolução) e a criação literária traz à Bienal o catarinense Cristóvão Tezza. Brasília é o alvo de duas mesas, uma destinada à poesia, outra à produção literária.

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Um olhar especial dos coordenadores para os escritores vindos da África resultou no seminário Literatura africana contemporânea.

A poeta Conceição Lima, de São Tomé e Príncipe, o Nobel Wole Soynka, da Nigéria, e Paulina Chiziane, moçambicana autora de romances que exploram o choque entre a tradição e a contemporaneidade, são alguns dos autores que falam durante o seminário. “Temos pouco acesso a essa literatura, tanto que o Wole Soyinka nunca tinha sido editado no Brasil. Eu não preciso falar da relevância da África para o país. Reunir esses escritores, refletir sobre a produção africana, sobre o papel daquele continente na formação do Brasil e até sobre o pouco acesso que temos à literatura africana diz respeito à Bienal”, avisa Nilson Rodrigues, coordenador do evento ao lado de Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial. A editora, aliás, aproveita a Bienal para publicar a primeira tradução de uma obra de Soyinka, a peça O leão e a joia (1). Para falar sobre o papel das heranças africanas na construção de uma narrativa literária vem a norte-americana Alice Walker, autora de A cor púrpura.

ReflexãoO seminário Krisis é uma tentativa de discutir questões contemporâneas de alcance internacional. Fé, fanatismo e religião estão na mesa de Leonardo Boff e do paquistanês Tariq Ali, autor de Duelo, livro sobre as relações entre o Paquistão e os Estados Unidos. Meio ambiente também integra o cardápio na fala da física e ecofeminista indiana Vandana Shiva, que tem a companhia do filósofo inglês John Gray para tratar da relação entre o homem contemporâneo e a natureza. “Resolvemos fazer o Krisis porque há uma crise do capitalismo financeiro, as pessoas estão nas ruas em Barcelona, na Grécia, nos países árabes. Eu não queria fazer uma bienal na qual houvesse debate apenas para os escritores contarem seus processos criativos”, avisa Rodrigues. “Queria aproveitar a presença desses escritores para refletir sobre o que se passa no mundo.” José Dirceu, Emir Sader, Luiz Gonzaga Belluzzo e Vladimir Safatle também participam do seminário.

A literatura latino americana está representada na Jornada Literária da América Hispânica, coordenada pelo escritor e tradutor Eric Nepomuceno. Além dos argentinos Juan Gelman, Samanta Schweblin e Mempo Giardinelli, participam o mexicano Mario Bellatin (2), o colombiano Hector Abad, o cubano Senel Paz e o chileno Antonio Skármeta.

Para premiar autores em seis categorias, a Bienal terá o Prêmio Brasília de Literatura, cujos vencedores serão anunciados amanhã. Um total de R$ 240 mil divididos em R$ 30 mil para o primeiro lugar e R$ 10 mil para o segundo em cada categoria atraíram 1.700 inscritos. “Queremos que esse prêmio seja uma referência para a literatura brasileira”, destaca Rodrigues.

Para Luiz Fernando Emediato, a programação descartou autores de best-sellers para privilegiar uma literatura de ideias. “Recusamos a oferta das editoras de trazer autores do mercado popular. Vampiros, lobisomens, anjos e apaixonados lacrimejantes podem estar na Bienal, mas por conta e risco das editoras”, avisa. “Nos últimos cinco anos, o mercado cresceu muito e está invadido por esses livros de consumo fácil. Temos os estandes, onde o comércio se organiza, mas queríamos uma programação que não fosse feita pelas editoras.” Mesmo assim, a autora Thalita Rebouças, que na Bienal do Rio de Janeiro causou histeria entre o público adolescente, está na programação brasiliense.

Ziraldo e Wole Soynka são os homenageados da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura. A exposição Zerois, em cartaz no Museu Nacional, e uma mostra de ilustrações do autor de O menino maluquinho para livros de Darcy Ribeiro fazem parte da programação do evento.

Lançamento (1) Em Brasília, Mario Bellatin lança Cães e heróis (CosacNaify), terceiro livro publicado no Brasil. O romance trata de um homem paralítico, imobilizado sobre uma cama, e sua relação com 30 pastores alemães e um enfermeiro-adestrador. Ironia seca, alguma ternura e momentos de profunda solidão marcam o romance do mexicano.

Embate (2)Em O leão e a joia, Wole Soyinka constroi um triângulo amoroso para falar do embate entre a tradição e a modernidade na África de hoje. Uma moça bonita precisa decidir se casa com um velho

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sábio de uma tribo importante ou com um professor ocidentalizado. O texto é alegre e se debruça sobre o conflito cultural entre uma África dominada e suas tradições.

1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura

De amanhã a 23 de abril, das 9h às 22h, na Esplanada dos Ministérios. Entrada franca.

Diversidade

A 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura acontece em quatro pavilhões nos quais foram instalados os auditórios Nelson Rodrigues (300 lugares) e Jorge Amado (100 lugares), o Café Literário, espaço para encontro com autores, um salão para oficinas, uma Praça Central e uma Praça da Alimentação.

Duas arenas estão destinadas à programação infantojuvenil . Todos os dias, o público também poderá assistir aos episódios da série Impressões do Brasil, realizada pela TV Brasil. Cada capítulo traz entrevistas com autores como Zuenir Ventura, Affonso Romano de Sant’Ana , Ferreira Gullar, Milton Hatoum e Letícia Wierzchowski.

O evento também conta com um programa educativo que vai distribuir a professores e alunos da rede pública cartões com créditos no valor de R$ 80 e R$ 40. Segundo a Secretaria de Educação do Distrito Federal, os cartões vão atingir 24,9 mil professores e 25,2 mil alunos.

Correio Braziliense - A navegação pelas imagens

Graça Ramos autografa, no domingo, obra que discute a importância das ilustrações da literatura infantil para uma educação visual das crianças

Graça Ramos : "Quanto mais educação com as imagens, maior a capacidade de leitura"

Severino Francisco

(13/4/2012) A visão convencional sobre as ilustrações dos livros infantis é a de que as imagens teriam a função de reforçar o texto. Mas a evolução dos estudos sobre a leitura mostrou que elas não são meros adereços; estão entrelaçadas aos textos e, muitas vezes, estabelecem uma relação de choque com as palavras e projetam a

narrativa para o território da poesia. Navegar pelas imagens é uma questão fundamental para as crianças do mundo contemporâneo. Esse é o tema A imagem nos livros infantis — Caminhos para ler o texto visual (Ed. Autêntica), de Graça Ramos, a ser autografado, no domingo, às 17h, no estande da Editora Autêntica, na Bienal Brasil do Livro e da Leitura.

Graça nasceu no Piauí, mora em Brasília desde 1970, é mestre em literatura pela UnB, doutora em história da arte pela Universidade de Barcelona, autora de Ironia à brasileira (Pauliceia) e Maria Martins – escultura dos trópicos (Arviva), finalista do Prêmio Jabuti 2010. Em razão de um problema auditivo, ela começou a prestar uma atenção especial às imagens dos livros infantis para aprender a ler: “As imagens me ajudaram muito a definir o som das letras.”

No livro, ela propõe uma conversa sobre a ilustração e a visualidade dos livros infantis, a partir de sua própria experiência de leitora, em diálogo com os mais importantes teóricos das artes visuais. Os desenhos do clássico Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, a emocionaram mais do que o texto. As ilustrações de Gustavé Doré para o livro Chapeuzinho Vermelho permanecem vivas em sua memória. Ela cita versão de Chapeuzinho Vermelho, recontada pelo compositor João de Barro, o chamado Braguinha, ilustrada por Claudia Scatamacchia, como um dos melhores exemplos de exploração da dimensão simbólica e poética das imagens. A cor da capa contamina a larga calça comprida da garota. “Já a astúcia do lobo esconde-se sob matizes de azul bem claro, cor suave, atribuída geralmente a bebês de sexo masculino e vinculadas a um mundo de ingenuidade. As cores da floresta fogem do verde tradicional, como se pudesse expressar as mudanças de estação.”

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Mesmo sem deter um conhecimento teórico, as crianças se educam lendo livros com boas ilustrações. E, nesse sentido, a literatura infantil pode ser um excelente meio para uma alfabetização das imagens, acredita Graça: “Há um excesso de estímulos, o mundo contemporâneo está inundado de imagens, mas, muitas vezes, não há uma reflexão sobre elas. E isso deve começar no livro infantil. Nenhuma imagem é gratuita. Quanto mais educação sobre as imagens, maior a compreensão da leitura dos livros e do mundo.”

E como organizar o processo de aprendizado das imagens? Ela deve começar em casa e se estender em uma parceria com a escola, responde Graça. Um livro pode surpreender logo a partir da capa ou do formato. O diálogo de texto e imagem é outra faceta a ser acompanhada. As imagens podem ser colocadas à margem. Não é a quantidade de imagens que define o valor do livro, mas sim a função que elas exercem na narrativa. Elas podem concordar, tensionar, negar, expandir ou propor uma nova visualidade para o que está dito com as palavras. Os traços podem ser figurativos ou abstratos. As cores sugerem estados de ânimo: “É possível estimular as crianças à uma leitura das imagens. Se isso não for feito, as crianças vão se perder no mundo das navegações virtuais.”

A imagem nos livros infantis — Caminhos para ler o texto visual

De Graça Ramos. Editora Autêntica, 173 páginas. Preço: R$ 55. Lançamento no domingo, às 17h, no estande da Autêntica Editora, na Bienal Brasil do Livro e da Leitura

"É possível estimular as crianças a uma leitura das imagens. Se isso não for feito, as crianças vão se perder no mundo das navegações virtuais"

Graça Ramos, autora de A imagem nos livros infantis — Caminhos para ler o texto visual

Folha de S. Paulo - Nelson como ele eraNos 100 anos do dramaturgo, filha edita em livro trechos de entrevistas e depoimentos

Fabio Victor de São Paulo(14/4/2012) No centenário de seu nascimento, que se comemora em agosto, Nelson Rodrigues ressurge em primeira pessoa.

Filha do dramaturgo e jornalista nascido no Recife em 1912 e morto no Rio de Janeiro em 1980, Sonia Rodrigues alinhavou trechos de entrevistas e depoimentos do pai numa espécie de colagem autobiográfica.

"Nelson Rodrigues por Ele Mesmo" (Nova Fronteira) chega às livrarias na semana que vem e traz uma compilação de declarações de Nelson sobre temas recorrentes no universo do autor -morte, família, sexo, casamento, arte, política, jornalismo. Ele desfia lembranças da infância e passagens marcantes de sua vida, como o assassinato do irmão Roberto ("O único gênio que conheci na minha vida") ou a tragédia da filha que nasceu cega.

"A proposta do livro é fazer com que o leitor sinta-se ouvindo Nelson", diz a autora. Sonia Rodrigues, escritora de 56 anos, reúne desde 1999 entrevistas e depoimentos do pai na página nelsonrodrigues.com.br. Foi esta a base para a edição livro.

O ineditismo, porém, está mais na edição e na forma do que no conteúdo. Os relatos e as ideias já são familiares aos leitores de Nelson, especialmente aqueles que leram crônicas autobiográficas,

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como "A Menina sem Estrela", "Óbvio Ululante" e "O Reacionário" e a biografia de Ruy Castro, "O Anjo Pornográfico" (Companhia das Letras).

De todo modo, a costura feita pela filha permite exercícios interessantes, como perceber mudanças de posição de Nelson, caso do divórcio, que ele rechaçava e depois defendeu, ou a adaptação de suas peças para o cinema, a que de início ele se opunha, mas passou a gostar a partir de "A Dama do Lotação", de Neville d'Almeida.

Ideias Firmes

Sonia observa, no entanto, que trata-se de uma exceção, pois, em geral, "as ideias dele se mantêm firmes em todos os depoimentos". Contraditório, imenso, genial, o homem que emerge destas páginas é o velho Nelson de sempre. Se há quem ainda não o conheça, a primeira pessoa é uma introdução reveladora.

Folha de S. Paulo - Para Nelson, 'ideia dita uma vez só morre inédita'Repetição de temas é marca de dramaturgo, que faria 100 anos

Para costurar os depoimentos de seu pai, Sonia Rodrigues fez intervenções em negrito ao longo do texto

(14/4/2012) "Cada assunto tem em si mesmo uma variedade que o torna infinitamente mutável. Sobre ciúme o mesmo autor poderia escrever 250 peças diferentes, sendo 250 vezes original. Sobre o amor, também. Sobre a morte, idem."

Escondida num texto escrito em 1949 para a revista "Dionysos", editada pelo então SNT (Serviço Nacional de Teatro), a frase de Nelson Rodrigues evoca a recorrência que marcou sua obra. O texto é um dos poucos de "Nelson Rodrigues por Ele Mesmo", que prioriza entrevistas e dois depoimentos, um ao MIS (Museu da Imagem e do Som), outro ao SNT.

Segundo Sonia Rodrigues, somente duas crônicas foram aproveitadas: uma que ele escreveu dias antes de morrer e foi publicada na Folha, para a qual o dramaturgo colaborava, e outra que, no entender da organizadora, esclarece uma injustiça contra Nelson.

Trata-se de uma crônica publicada em 1970 no jornal "O Globo", na qual Nelson desanca um certo "amigo socialista" e pela qual, diz Sonia, foi acusado de se dirigir a Antonio Callado. A recorrência típica de Nelson é, para a organizadora, coerente com o pensamento dele. "Como diria meu pai, 'idéia dita uma vez só morre inédita'. Talvez por isso ele se repetisse tanto."

Para facilitar o fluxo e garantir contextualização, Sonia fez breves intervenções nos textos, e as destacou no livro usando negritos. Na introdução, a organizadora explica o "patchwork": "Às vezes, gostava de um parágrafo ou dois de um depoimento ou entrevista e depois encontrava o mesmo tema em outro lugar, com diferença de meses ou anos, com outros interlocutores, e precisava começar tudo de novo".

Uma lacuna do trabalho é a ausência de identificação das fontes das declarações. Sônia alega que "qualquer referência ou nota de rodapé interfeririam na narrativa."

Correio Braziliense – Literatura de mitos e memórias

A estética da periferia e as novidades da América hispânica são destaques hoje na Esplanada. memória será o tema da palestra de Milton Hatoum

Nahima Maciel

(15/4/2012) Periferia, mitos e memória permeiam os debates de hoje na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Na África, na América Latina e nas grandes cidades brasileiras, falar no que está à margem faz a literatura borbulhar e rende muita discussão. Já a memória é ferramenta fundamental para a

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maioria dos autores de ficção, enquanto os mitos podem nascer de qualquer construção, fictícia ou não.

Sérgio Vaz e Ferréz sabem muito bem o caldo que jorra do papo sobre literatura e periferia. Com mediação do rapper Gog, os dois escritores protagonizam o debate Expressão literária e estética da periferia. A periferia tem sua estética, mas a escrita produzida nas bordas dos grandes centros urbanos vai muito além de uma beleza particular. “A gente vai falar sobre essa escrita, de onde ela vem, que efeito ela tem. É mais que uma estética”, explica Vaz. “Ela traz um povo que sofre por conta da corrupção, da violência, da falta de educação e saúde. É uma escrita que não é melhor ou pior, mas na qual você vê as lágrimas correndo.”

Poeta da região metropolitana de São Paulo, Vaz lança Literatura, pão e poesia, o primeiro livro de crônicas depois de sete de poesia. São textos sobre vizinhos de rua e personagens do bairro de Pirajussara que tomaram dimensão inesperada pelo autor. “Eu escrevia para a rua de baixo e surgiram outras ruas de baixo”, brinca. “A poesia limita para colocar ideias e eu não queria ser só um poeta panfletário, engajado. A crônica tem mais espaço para minha revolta.”

À margem também estão as literaturas do colombiano Hector Abad e do mexicano Mario Bellatin, que lançam, respectivamente, Livro de receitas para mulheres tristes e Cães heróis. Os dois conversam sobre perdas, ganhos e esperanças em debate que faz parte da Jornada Literária da América Hispânica. O novo romance de Abad traz textos curtos em formato de fórmulas e oferece um receituário para as mazelas femininas. Com humor, ele sugere receitas de cura que abrandam da solidão a doenças incuráveis. Mas nem sempre a culinária (ainda que fantástica) fez parte do cardápio do autor. Abad mergulhou na história recente de uma Colômbia violenta ao escrever livro sobre o assassinato do próprio pai.

Exercício de escrita Bellatin também tem o glossário de sentimentos humanos como tema nesse pequenino romance sobre um paralítico e suas dezenas de pastores belgas. “Sempre preciso ter um cão por perto”, revela o mexicano. “É um pouco como a escrita, não a chamo mas ela está ali, presente. Em ambos os casos, quando há cães demais o escrita demais, sei que algo não muito bom deve acontecer.”

A memória é tema das palestras de Milton Hatoum, autor de Dois irmãos e Relato de um certo Oriente, e do togolês Kangni Alem (leia entrevista), mas também perpassa pesquisa do francês Lauren Vidal, um apaixonado por Brasília e autor de As lágrimas do Rio — O último dia de uma capital. Depois de uma tese de doutorado sobre os projetos de mudanças de capital na história do Brasil, Vidal decidiu investigar como os cariocas se sentiram quando o Rio de Janeiro deixou de ser capital. “Geralmente, quando o poder sai de uma cidade, ele não se manifesta, sai escondido. Mas Juscelino Kubitschek não fez isso, ele fez toda uma encenação quando a capital foi para Brasília”, repara Vidal, professor da Universidade de La Rochelle, na França. “Tentei recuperar a variedade de sentimentos do carioca para saber como a população viveu essa mudança.”

Hatoum vai falar sobre o papel da memória na construção da ficção. “O que move meu trabalho de escritor é a relevância da memória e da experiência de vida, e como essas coisas são transformadas pela linguagem. Qualquer romance depende da experiência individual e da compreensão do sentido da história”, conta. A visita a Brasília será também sentimental. O escritor morou na capital entre 1968 e 1969 e quer revisitar lugares e amigos. No novo romance, ainda inédito, Hatoum dedicou um capítulo inteiro a Brasília.

OportunidadeO passado é tema da mesa Novas narrativas da história do Brasil, com Eduardo Bueno, Olgária Matos, Domingos Meirelles e Jorge Caldeira. Para Olgária, professora de filosofia na Universidade Federal de São Paulo, o encontro será a oportunidade para apresentar ao público aspectos pouco contemplados pela história oficial. “Na última década as narrativas da História do Brasil procuram enfatizar novas hipóteses sobre a construção do país”, diz. Para o gaúcho Eduardo Bueno, a chegada de jornalistas à narrativa histórica foi uma maneira de abrir o olho do leitor. “No caso de livros não acadêmicos, como os meus, o ritmo da prosa, sua sonoridade e fluência, as técnicas já experimentadas com tanto sucesso pelo chamado new journalism, também precisam ocupar um lugar preponderante na obra. O leitor deve ser envolvido, capturado, pela narrativa.”

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O Brasil aparece de forma mais popular na palestra do repentista paraibano Oliveira de Panelas, autor de 13 livros de poemas e ensaios sobre cordel. “O cordel é uma resistência secular. Ele é crítica; é censura; é uma força em que tudo está inserido, os costumes e até a crença de um povo. Por isso, ele tem forças para sobrevivência”, avisa o artista, um combatente da cultura popular e o convidado responsável por encerrar a noite de hoje na Bienal.

Folha de S. Paulo – Coleção reúne autores ibero-americanos

Conjunto traz romances e antologias poéticas e de contos que consagraram a literatura latina em todo o mundo

A partir de clássicos de dez países, seleção passeia por estilos; estreia é com Borges e Federico García Lorca

(15/4/2012) "As palavras são símbolos que postulam uma memória compartilhada", escreveu Jorge Luis Borges (1899-1986) em "O Livro de Areia", livro de contos fantásticos e primeiro volume da coleção Folha Literatura Ibero-Americana, que chega às bancas hoje.

Em conjunto, é lançada a edição bilíngue de "Sonetos do Amor Obscuro e Divã do Tamarit", do poeta espanhol Federico García Lorca (1898-1936), que traz a lírica e o turbilhão de sentimentos do autor em sua língua materna e traduzidos para o português.

Fazem parte da seleção obras representativas de Brasil, Portugal, Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, México, Peru e Uruguai.

No próximo domingo (22), as educações sentimental e intelectual do peruano Mario Vargas Llosa se entrelaçam em "Tia Júlia e o Escrevinhador", romance autobiográfico de 1977, considerado uma das narrativas mais bem construídas das letras hispano-americanas.

Guiado pela Lima dos anos 1950, o leitor acompanha a história de um jovem que sonha em se tornar escritor e se apaixona por Júlia, cunhada de seu tio e com o dobro de sua idade.

Em paralelo à aventura amorosa, o protagonista revê sua relação com as palavras ao conhecer um autor de radionovelas, famoso por suas histórias mirabolantes.

Os 25 livros desta seleção reúnem alguns dos maiores representantes da literatura em língua portuguesa e espanhola, que contribuíram para a consagração da escrita do território ibero-americano.

Por meio de tramas e personagens que nada parecem ter em comum além de sua perspectiva cultural, as obras captam algumas das utopias e quimeras que habitam a Ibero-América.

Estado de Minas - Meninos de ouro

Ilustração de Fernando Abritta mostra os jovens pioneiros de Cataguases

Livro conta a história da rapaziada que fundou a revista Verde, ícone do modernismo brasileiro

Walter Sebastião

(16/4/2012) Hoje à noite, será lançado livro diferente em BH: Uma verde história, com texto de Joaquim Branco e ilustrações de Fernando Abritta. O leitor conhecerá a infância e a adolescência de meninos interioranos que se tornaram escritores. Na Cataguases da década de 1920, a rapaziada editou a revista Verde, dedicada à renovação artística e ícone da literatura modernista em Minas Gerais. Nunca mais a cidade foi a mesma.

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O livro se destina a jovens leitores, mas Joaquim Branco avisa: a gente grande também. “Tem muito adulto com preguiça de ler”, observa. Sentindo falta de algo sobre o grupo que fosse mais próximo do leitor comum, ele optou por um volume ilustrado, com poucas páginas e linguagem simples. “Mas altamente informativo”, garante.

Uma verde história oferece cuidadosa reconstrução da biografia e das ações dos integrantes do Movimento Verde, escrita por um poeta e professor de literatura. O que moveu a atitude daqueles jovens foi a prosperidade da Cataguases antiga, importante centro comercial e cafeeiro na década de 1920. Chegava até lá a Leopoldina Railroad, estrada de ferro que trouxe à cidade da Zona da Mata mineira o progresso e revistas com notícias sobre o que ocorria pelo mundo.

O Ginásio Cataguases recebia filhos dos fazendeiros da região, proporcionando educação que abarcava latim, história universal e literatura clássica. “Isso influenciou a decisão dos jovens de se tornarem escritores. Até para negar e contestar a literatura que eles conheciam”, observa Joaquim Branco. Ele credita à influência dos verdes as ousadias experimentadas pela cidade nos anos 1940 – como obras de Oscar Niemeyer e painel de Candido Portinari –, além do interesse por poesia, cinema e música de vanguarda a partir dos anos 1960.

Joaquim Branco diz que ainda se vê arte inovadora em Cataguases. “Mas não vanguarda, pois ela é produto coletivo, ação de grupo. Ninguém muda uma situação sozinho. Atualmente, por exemplo, é cada um por si”, afirma o professor. Cataguases, defende ele, é exemplo para as cidades mineiras. “Resguardamos momentos da nossa história, quando o normal é o esquecimento”, conclui.

UMA VERDE HISTÓRIATexto de Joaquim Branco e ilustrações de Fernando Abritta. Lançamento hoje, às 19h, na Livraria Quixote,Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi, (31) 3227-3077.

Memória

Vanguarda mineira

De setembro de 1927 a julho de 1929, circularam, sem periodicidade regular, seis números da revista Verde, voltada para a arte moderna. A proeza partiu de nove rapazes que estudavam em Cataguases: Ascânio Lopes, Camilo Soares, Enrique Resende, Fonte-Boa, Francisco Inácio Peixoto, Guilhermino César, Martins Mendes, Oswaldo Abritta e Rosário Fusco.Rapidamente, o grupo se articulou com a turma dos paulistas Mário e Oswald de Andrade e com os mineiros que conviviam com Carlos Drummond de Andrade na BH dos anos 1920. Verde conquistou apoio entusiástico e colaboradores. Seu nome, explica Joaquim Branco, alude à ideia de algo jovem e terra virgem.

Em 1927, os verdes lançaram manifesto se declarando objetivistas, diferenciando-se de outros grupos, inclusive os modernistas paulistas e mineiros. Joaquim Branco destaca dois nomes: o poeta Ascânio Lopes (1906-1929), morto aos 22 anos e que só ganhou o primeiro livro postumamente (Ascânio Lopes, de Delson Gonçalves de Oliveira), e Rosário Fusco (1910-1977), autor do romance O agressor. A dupla fazia desenhos, convidava colaboradores e formulava novos temas, inclusive antecipando movimentos, como o realismo fantástico.

O Estado de S. Paulo - O universo de Amado

Mostra no Museu da Língua Portuguesa presta homenagem a Jorge Amado em seu centenário

(16/4/2012) MARIA FERNANDA RODRIGUES - Dos autores brasileiros, Jorge Amado talvez seja o mais local, universal e internacional. Escrevia a partir da Bahia, sobre coisas da sua terra e sua gente, e seus livros encantavam leitores do mundo todo. Pelas contas da Fundação Casa de Jorge Amado, a obra do escritor baiano foi traduzida para 49 idiomas e premiada em lugares tão diversos quanto a ex-União Soviética, a Itália e a França, sem contar o Brasil.

Gabriela Cravo e Canela, Tocaia Grande, Capitães da Areia, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Os Subterrâneos da Liberdade, Bahia de Todos os Santos, Mar Morto e Navegação de Cabotagem são

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apenas alguns dos livros que escreveu em seus 89 anos de vida. Vida essa que será apresentada a partir de hoje, para convidados, e amanhã para o público, na exposição Jorge Amado e Universal. Ela fica em cartaz até o dia 22 de julho no Museu da Língua Portuguesa, de onde segue para Salvador. Chega em 9 de agosto, um dia antes da festa do centenário de nascimento do escritor.

A ideia da organização é que a mostra não fique restrita a essas cidades, embora os R$ 3,2 milhões captados pela Lei Rouanet devam ser usados exclusivamente nessas duas iniciativas. Já está quase certa uma temporada no Recife. Rio de Janeiro, em Brasília, Lisboa e no Porto também demonstraram interesse, conta William Naked, diretor-geral da exposição, que sonha até com uma ida à Feira do Livro de Frankfurt em 2013, quando o Brasil será o país homenageado e exposições como essa serão bem-vindas.

Difícil será transportar a Bahia criada nos 420 m² do espaço do museu para esses outros lugares. São 8 mil fitas do Nosso Senhor do Bonfim, 1.800 garrafas de 2 litros de azeite de dendê, 4 sacas de cacau, mais de 600 imagens, 80 documentos originais, 110 livros, 243 placas de cronologia. Tudo para dar a dimensão de quem foi e o que produziu Jorge.

"Jorge Amado foi quem mais escreveu, mais foi traduzido, mais foi premiado. Se ele é superlativo, então a mostra também é", explica a curadora Ana Helena Curti. Que o visitante não espere um formato quadrado e cronológico ou cenas de novelas e filmes, que tanto ajudaram a popularizar sua obra.

Para a curadora, não faria sentido apresentar o que o público já conhece e a ideia não é ser tão didático. "A maioria das pessoas já assistiu a alguma adaptação audiovisual da obra de Jorge Amado, no cinema ou na televisão, até porque provavelmente ele é o escritor brasileiro que mais foi adaptado para telenovelas, filmes e peças de teatro. O visitante trará tais impressões consigo, mas esperamos que ele possa somar novas informações e imagens a essas que já possui."

Vídeos produzidos pela O2 Filmes, com depoimentos do próprio escritor, de estudiosos de sua obra, amigos e familiares ajudam a compor o universo do autor. Mas o visitante vai poder ver ainda manuscritos, fotos de viagens e de seu dia a dia, cartas recebidas de amigos ilustres, exemplares estrangeiros, livros de sua biblioteca particular e até sua coleção de camisas havaianas.

Folha de S. Paulo - Lançamento traça panorama artificial e reducionista da arte do país no século 21

Fabio Cypriano, Crítico da Folha

(16/4/2012) "Pintura Brasileira Séc. XXI" parte de um pressuposto conservador: traçar o panorama da produção nacional a partir de uma técnica, não por acaso a mais valorizada pelo mercado. Desde o início da arte contemporânea, a partir de meados dos anos 1950 e 1960, tal procedimento é recorrente.

Após artistas ampliarem o entendimento do campo artístico, retorna-se à discussão do suporte, como a pintura, para a manutenção de uma reserva de mercado corporativa. Como afirma o curador Paulo Herkenhoff no catálogo da mostra de Lygia Pape, em cartaz na Estação Pinacoteca, "elencar técnicas pode ser hoje uma solução retórica que quase sempre substitui a problematização dos fenômenos de arte da expansão do campo linguístico".

Assim, já que entender o que se passa é difícil, melhor retornar a categorias do passado. No entanto, a pintura, a escultura ou a fotografia não são vertentes que de fato interessam ao debate da produção atual, já que elas se reduzem a uma técnica. Fundamental seria perceber o que artistas estão buscando. Com isso, em resumo, falar de pintura é uma tarefa reducionista e artificial.

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Isso se percebe quando no livro se reúne produção de Paulo Pasta e Cassio Michalany ao lado de Thiago Martins de Melo e Janaina Tschäpe. Só porque usam pincéis, não significa que pertençam ao mesmo universo.

PINTURA BRASILEIRA SÉC. XXI

ORGANIZADORES Isabel Diegues e Frederico CoelhoEDITORA CobogóQUANTO R$ 160 (308 págs.)AVALIAÇÃO ruim

O Globo – Blog Ancelmo.com

Os Ventura na Feira do Livro de Bogotá

(16/4/2012) De 16 de abril a 1º de maio, a Colômbia sedia a Feira Internacional do Livro de Bogotá, em sua 25ª edição. E o Brasil é o país homenageado. No dia 18 de abril, das 9h às 11h, os jornalistas Zuenir Ventura e Mauro Ventura abrem o Encontro Internacional de Jornalismo da feira falando sobre o tema "O jornalismo no Brasil hoje". No mesmo dia, das 14h às 15h, Zuenir fala sobre o assassinato de Chico Mendes em palestra sobre "Denúncia e jornalismo".

O Estado de S. Paulo - Tolerância norteia Bienal de Brasília

Tema dominou discurso do escritor nigeriano Wole Soyinka e do poeta argentino Juan Gelman

Ubiratan Brasil

(16/4/2012) A tolerância e a defesa da liberdade, ainda que tardia, deram o tom do primeiro fim de semana da Bienal Brasil do Livro e da Leitura, iniciada sábado, em Brasília. Especialmente nas participações do nigeriano Wole Soyinka (Nobel de literatura de 1986) e do poeta argentino Juan Gelman. Se o primeiro criticou a ingerência religiosa no cotidiano das pessoas, o segundo revelou sua dor ao comentar a declaração de um ex-presidente da Argentina, general Jorge Rafael Videla, que admitiu pela primeira vez o desaparecimento de presos políticos durante o brutal período ditatorial (1976 -1983), do qual fez parte.

"Videla foi um homem modesto ao dizer que apenas 7 ou 8 mil pessoas sumiram naquela época", disse Gelman sobre o militar que, em 2010, foi condenado à prisão perpétua por assassinato, tortura e sequestro. "Na verdade, foram mais de 30 mil." Aos 81 anos, Gelman, um dos mais importantes poetas da atualidade, recebeu a confirmação oficial de algo que já sabia havia anos: seu filho e sua nora foram mortos pelo regime militar.

"Em agosto de 1976, eles foram sequestrados. Minha nora estava grávida de seis meses e a criança, uma menina, acabou entregue a um policial que vivia em Montevidéu, no Uruguai", disse o escritor, que só encontrou os restos mortais do filho 13 anos depois - ainda procura pelos da nora. E o paradeiro da neta só descobriu em 2000, graças à denúncia do policial que recebeu o bebê. "Foi um sequestro de ventre. Minha neta é como uma joia roubada."

Já Wole Soyinka participou de dois eventos bem distintos no sábado. Pela manhã, durante a abertura da Bienal, surpreendeu-se com a quantidade de pessoas gritando e portando faixas. "Pensei que meu país fosse animado para feiras assim, mas vejo que aqui há mais empolgação", disse ele, que só depois foi informado de que se tratava de um ruidoso grupo de professores em greve, que aproveitava a mídia para protestar contra o governo de Brasília.

À noite, em ato solene em sua homenagem ocorrida no auditório do Museu Nacional, Soyinka, depois que outros políticos foram vaiados, improvisou - apesar de ler trechos de um discurso que preparara sobre a natureza espiritual e pacífica da religião Iorubá e o papel que teve na mescla com os santos católicos, ele preferiu comentar trechos de discursos que acabara de ouvir.

Como o do secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, que lembrou a proibição pelo Vaticano da missa dos Quilombos, por utilizar divindades do candomblé. "A intolerância desponta

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quando religiões querem ditar o secular: por exemplo, quando usam os dogmas e ditam como se deve viver no sentido prático, sem nada a ver com o espiritual", afirmou o escritor, cuja voz grossa e poderosa, aliada à vasta cabeleira crespa e branca, hipnotizaram a plateia. "Os orixás nunca pregam a guerra, apenas a comunhão entre as pessoas."

Correio Braziliense - África concreta

No quarto dia de programação, O evento acolhe autores africanos de língua portuguesa e apresenta reflexões de brasileiros sobre a presença de negros na literatura

Felipe Moraes

(17/4/2012) O equilíbrio entre atrações importantes nacionais e internacionais continua no quarto dia da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura. No primeiro seminário de hoje, dois autores africanos de língua portuguesa contam experiências e debatem a produção literária de cada país de origem, às 10h, no auditório Nelson Rodrigues. Em A literatura africana de expressão portuguesa, Paulina Chiziane (Moçambique) e Ondjaki (Angola) conversam sobre um aspecto comum às nações: a tradição africana verbalizada num português fortemente influenciado por comportamentos locais. Abdulai Sila (Guiné-Bissau) teve que cancelar a vinda de última hora. O golpe de estado na Guiné suspendeu o tráfego estrangeiro e interditou o espaço aéreo do país.

Ondjaki, nascido em Luanda, capital angolana, acredita num foco criativo detalhista. “Penso que, acima do fato de os escritores serem africanos, há o ser humano singular, com sua vontade e imaginação”, ele observa. O autor de poesia, prosa e cinema percebe dois vetores culturais que enriquecem e remodelam o português falado na África: as línguas nacionais e os hábitos e costumes. “Cabe a cada escritor escolher ou deixar que esses elementos apareçam e tenham influência em seus textos”, avalia. “Há uma vontade de diálogo e disponibilidade muito grande para falar com os escritores, africanos ou não, e a beleza desses encontros é justamente esta, que, sentados à mesa, os escritores possam confrontar ou convergir ideias, lugares, sonhos ou até medos”, continua.

O carteiro e o poetaEnquanto os africanos apontam aproximações e diferenças literárias, a programação segue com pontos altos, como a presença de Antonio Skármeta, de O carteiro e o poeta. Ele fala sobre Leitura e diálogo com o público, às 20h, no auditório Nelson Rodrigues — mais cedo, às 17h, a adaptação cinematográfica do romance, lançada em 1994 (Oscar de melhor trilha sonora), será exibida no auditório Jorge Amado. O contato com a plateia é uma chance de sair um pouco da solidão do processo criativo e conhecer quem lê os seus livros. “Sou um tipo de escritor que gosta de comunicação. Não sou retraído. Sempre me alegro quando vou a algum evento desse tipo”, diz o chileno.

Dono de uma obra que captura momentos difíceis em seu país, de restrições à liberdade de expressão e repressão política, ele defende que, nos livros, a humanidade dos personagens deva aparecer como protagonista— à frente de metáforas ou denúncias sociais, por exemplo. “Tenho que deixar que os personagens sejam espontâneos. Tenho que ser delicado, e isso significa estar intimamente próximo deles”, revela.

Outro debate que merece atenção ocorre no auditório Nelson Rodrigues, às 14h30. Os especialistas brasileiros em software livre e inclusão digital Marcelo Branco (RS) e Sergio Amadeu (SP) discutem o tema A revolução da internet e as transformações sociais e culturais. Jean-Claude Carrière, coautor de Não contem com o fim do livro (Record), registro de uma conversa do francês com Umberto Eco sobre as transformações do livro ao longo do tempo (da pré-história ao e-book), participa por videoconferência.

As várias narrativasReflexões críticas e pessoais sobre literatura dominam os painéis ocupados por brasileiros. O paulistano Luiz Alberto Mendes, dono de obras sobre a sua longa experiência na prisão, guia a oficina Narrativa e cárcere, às 19h, na sala Darcy Ribeiro. E ele teve de adequar a atividade, com duração habitual de 8 a 10 horas, para o formato da Bienal: três horas, com um grupo de 25 pessoas. Em Brasília, antes do evento, ele pretende fazer visita a dois presídios. “No primeiro, farei uma

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palestra e, no outro, teremos uma conversa talvez mais rápida”, conta o narrador de Memórias de um sobrevivente e Às cegas (Companhia das Letras).

Mendes passou 31 anos e 10 meses vivendo entre reformatórios e penitenciárias. Há oito, viaja pelo Brasil compartilhando seu trabalho — no fim de 2011, fez sete oficinas na Fundação Casa (antiga Febem), com menores infratores. Hoje, enumera dois trabalhos em fase de produção e revisão (editoras Global e Cia das Letras), três peças e mais cinco títulos prontos para edição. O catarinense radicado em Curitiba Cristovão Tezza também pretende realizar um bate-papo bastante pessoal com os visitantes. Ele comanda a palestra A criação literária, às 20h30, no Café Literário.

O seminário deve adiantar assuntos abordados no próximo livro, Espírito da prosa, que sai em junho pela Record. “É um ensaio com toques autobiográficos, sobre o que eu penso da prosa como gênero e da minha formação como escritor, nos anos 1960, 1970 e 1980”, resume. Para ele, pontos de encontro, como a Bienal, servem para estreitar o relacionamento entre escritores e leitores e colocar o livro em evidência. “Nos anos 1980 e 1990, você não tinha contato com as pessoas. Não existia vida profissional de escritor. A proliferação de feiras ajuda a divulgar o livro como algo de valor social. Em cada momento desses, o livro é motivo de destaque, sai no jornal, na tevê”, completa.

Às 20h, no auditório Jorge Amado, os escritores Nei Lopes (RJ) e Conceição Evaristo (MG) desenvolvem o tema Presença do negro na literatura brasileira. Segundo Lopes, será mais uma aliança de ideias do que um debate de opiniões. “Eu e a professora Conceição temos posições semelhantes. Minha abordagem, em linhas gerais, será em torno da invisibilidade dos escritores negros na literatura brasileira”, analisa. Mesmo fora dos livros, o preconceito persiste. “Convido quem estiver lendo esta entrevista a dar uma olhadela, rápida, nas telenovelas em cartaz. O negro é sempre o criado, o bandido, a mãe-preta. O galã, quando acontece, é sempre uma tremenda exceção”, reforça.

Conceição deve se deter em dois eixos: história e representação da mulher negra. A produção contemporânea, ela informa, tem tido forças para recusar estereótipos e fornecer outras vozes narrativas aos personagens. “O subalterno passa, ele mesmo, a criar o seu discurso. E, nessa virada, a representação da mulher negra é sintomática. Quando elas próprias escrevem, há uma mudança de foco e de tratamento: o negro, de objeto de escrita, passa a ser sujeito”, compara.

Zero Hora – Poesia sobre madeira

Gravurista pernambucano Samico, 83 anos, lança livro na Capital(17/4/2012) Gilvan Samico tem obras em museus importantes e todo o merecido reconhecimento do sistema das artes pelo menos desde 2004, quando ganhou uma grande e badalada retrospectiva em São Paulo. Mas nunca ganhara um livro como este que terá lançamento hoje no Santander Cultural.

Intitulado simplesmente Samico, o volume tem formato grande (31x24cm), edição primorosa e reproduções impecáveis inclusive de trabalhos inéditos do pintor e gravador pernambucano. O prefácio é de Ariano Suassuna, e a organização, do jornalista Weydson Barros Leal. Juntamente com o próprio Samico, que hoje tem 83 anos, Leal estará presente ao Santander para o bate-papo com o público (na Sala Multiuso, às 17h) e depois para uma sessão de autógrafos (que tem início marcado para as 18h30min no restaurante e bar Moeda, no subsolo).

Samico, o livro, conta ainda com belíssimas fotografias de Helder Ferrer do artista trabalhando em sua casa-ateliê, em Olinda. As imagens em preto e branco dão a exata noção da maneira como Samico exercita sua arte: como um artesão que molda sua poesia visual sobre uma base de madeira, seja em pinceladas mais delicadas ou talhando-a para depois imprimi-la conforme a tradição da xilogravura – é a linguagem com a qual Samico se tornou mais conhecido ao longo dos anos.

Santos, profetas, pássaros de fogo, dragões, serpentes, bois encantados, cavalos misteriosos e outras figuras que misturam invenção e um referencial folclórico nordestino compõem o imaginário de Samico. Sua obra construída de maneira autônoma e totalmente artesanal – com virtuosismo técnico – surge a partir de desenhos em papel. Só depois é que ganha o formato final sobre a madeira, geralmente após três ou quatro meses de trabalho.

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Natural do bairro Afogados, no Recife, e hoje habitante de um casarão do século 17 em Olinda, Samico teve como mestres artistas como Abelardo da Hora e Oswaldo Goeldi. Tem um trabalho geralmente associado à estética da literatura de cordel, mas cuja abrangência se revela bem mais ampla – algo que, agora, documentado em um livro que faz jus à qualidade de seu trabalho, aparece com a mais perfeita inteligibilidade.

Valor Econômico - Autor de "Cidade de Deus" se inspira nas origens do samba

Por Tom Cardoso

"Ser sambista, no começo do século passado, era caso de polícia", diz Paulo Lins, que lança "Desde que o Samba É Samba".

(17/4/2012) Esqueça o Paulo Lins de "Cidade de Deus". Esqueça a violência do tráfico de drogas, a exclusão social das favelas, do Zé Pequeno, do Fernando Meirelles e de tudo que remeta ao livro de estreia do escritor carioca. Ele agradece.

Desde que lançou o festejado romance, em 1997, Lins viveu o clichê do escritor angustiado, que não consegue lançar a segunda obra depois do imenso sucesso da

primeira. Mas o jeito foi buscar o oposto de "Cidade de Deus". Afinal, o mesmo Rio que forjou criminosos como Fernandinho Beira-Mar, Elias Maluco e Orlando Jogador foi capaz de produzir sambistas da estirpe de Ismael Silva, Alcebíades Barcelos (o Bide), Armando Marçal, Mano Aurélio, Brancura e Heitor dos Prazeres - músicos de apenas um bairro do Rio, o Estácio, berço do nascimento do samba, que serviu de inspiração para Lins parir, finalmente, o segundo livro: "Desde que o Samba É Samba".

Lins é um ficcionista com os dois pés na realidade. Suas obras funcionam também como livros-reportagem. Para escrever o segundo romance, o autor contou com a ajuda de quatro pesquisadores, entre eles um historiador, para detalhar os meandros da criação e consolidação do samba como principal gênero musical brasileiro. A pesquisa se concentra em dois acontecimentos históricos: as reuniões na casa de Hilária Batista de Almeida (1854-1924), a Tia Ciata, baiana que migrara para o Rio e abrira as portas para os primeiros sambistas, e na fundação da Deixa Falar, a primeira escola de samba do país, fundada em 1928.

Lins, aliás, se recusa a entrar na polêmica sobre a origem da criação do samba. Simplesmente, segundo o escritor, por não existir polêmica. Ele se irrita com o famoso trecho de "Samba da Benção", clássico de Baden Powell e Vinicius de Moraes ("Porque o samba nasceu na Bahia..."): "Bahia? Que bom sambista nasceu em Salvador? Cadê o Zeca Pagodinho deles?", provoca Lins. "O samba nasceu na Estácio, com data e hora marcada. Tenho até o plano piloto", brinca.

Se o samba nasceu no Rio, na Bahia, em Minas Gerais ou em Pirapora de Bom Jesus, pouco importa. O livro vai além da polêmica. Sua força está em misturar personagens reais com fictícios, na fluidez do texto e nas referências a Jorge Amado (1912-2001) - a influência de "Capitães de Areia" é notória - e Guimarães Rosa (1908-1967). Foi nele que Lins pensou quando se viu livre para inventar palavras, expediente usado também em "Cidade de Deus" e que se tornou ainda mais necessário no segundo romance. Ao buscar depoimentos de antigos sambistas gravados no Museu da Imagem e do Som do Rio (MIS-RJ), o escritor percebeu que muitos deles evitavam o uso de gírias nas entrevistas, com receio de associar sua imagem à malandragem.

"Ser sambista, no começo do século passado, era caso de polícia", diz Lins, que chegou a levantar a "ficha policial" de alguns sambistas. Não encontrou muita coisa. Apenas Ismael Silva (1905-1978), o fundador da Deixa Falar, autor de "Amor de Malandro" (samba comprado e gravado com grande sucesso por Francisco Alves), chegou a ser preso (dois anos) por algo mais grave: atirar numa pessoa. O resto era preso por "vadiagem", ou seja, por fazer samba.

Sem as gírias da época, não registradas no MIS, Lins brincou de Guimarães Rosa. Os malandros de "Desde que o Samba É Samba" dizem palavras estranhas, como "bolodochia". Exemplo: "Tem uns babacas que são assim, cheios de bolodochia". Empáfia? "Não, é algo como 'cheio de guere-guere'",

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diz Lins. Está explicado. O uso de palavras novas, a mistura de ficção com realidade, não comprometem a narrativa do livro. Pelo contrário. Tão saboroso quanto ler os detalhes da descoberta de Ismael Silva, o sambista do morro, por Francisco Alves, o "Rei da Voz", é perceber que o autor inventou um triângulo amoroso para Brancura (Sílvio Fernandes, sambista e flautista do Estácio). A prostituta Valdirene e o português Sodré são criação de Lins.

Lins, antes de virar o festejado escritor de "Cidade de Deus", quase fez carreira no samba. A falta de talento para o ofício o empurrou para a literatura. Ele diz que não é bem assim. Aos 15 anos, chegou a mostrar certo talento ao compor o samba-enredo campeão do Bloco de Jacarepaguá, nome de um conjunto habitacional da Polícia Militar do Rio. Téo, seu parceiro de samba, era PM, o que não fez sua mãe proibi-lo de continuar com aquela história de samba-enredo. "Minha mãe não queria que eu me misturasse com os sambistas. O preconceito não era só exclusividade de quem não morava nos morros. Pegava todo mundo, inclusive minha mãe", diz. Três décadas depois, Lins encontrou Téo, o antigo parceiro, já promovido a oficial, num bar da Lapa. "Ele ficou empolgadíssimo. Disse que a gente precisava fazer um novo samba e inscrevê-lo no festival. E eu: 'Téo, que festival? Eles não existem mais. Expliquei que estava em outra e ele, coitado, ficou num estado de desânimo."

O assunto "Cidade Deus" é inevitável. Quando questionado se está otimista com o processo de revitalização das favelas cariocas, com a chegada das Unidades de Polícia Pacificadora, a queda nos índices de criminalidade no Rio e os investimentos que a cidade receberá por causa das Olimpíadas de 2016, Lins dá uma longa pausa e coça a barbicha do queixo - não parece lá muito otimista. "Eu não sei até que ponto essa história de revitalização é verdadeira. Neguinho continua sendo morto", diz. "Prefiro, em vez de ficar argumentando, citar uma frase do Tancredo [Neves, 1910-1985]: 'Enquanto o Brasil não tiver uma educação de primeira qualidade, um sistema de saúde digno para toda a população, toda prosperidade é falsa". Está dito.Sem as gírias da época, não registradas no MIS, Lins brincou de Guimarães Rosa. Os malandros de "Desde que o Samba É Samba" dizem palavras estranhas, como "bolodochia". Exemplo: "Tem uns babacas que são assim, cheios de bolodochia". Empáfia? "Não, é algo como 'cheio de guere-guere'", diz Lins. Está explicado. O uso de palavras novas, a mistura de ficção com realidade, não comprometem a narrativa do livro. Pelo contrário. Tão saboroso quanto ler os detalhes da descoberta de Ismael Silva, o sambista do morro, por Francisco Alves, o "Rei da Voz", é perceber que o autor inventou um triângulo amoroso para Brancura (Sílvio Fernandes, sambista e flautista do Estácio). A prostituta Valdirene e o português Sodré são criação de Lins.

Lins, antes de virar o festejado escritor de "Cidade de Deus", quase fez carreira no samba. A falta de talento para o ofício o empurrou para a literatura. Ele diz que não é bem assim. Aos 15 anos, chegou a mostrar certo talento ao compor o samba-enredo campeão do Bloco de Jacarepaguá, nome de um conjunto habitacional da Polícia Militar do Rio. Téo, seu parceiro de samba, era PM, o que não fez sua mãe proibi-lo de continuar com aquela história de samba-enredo. "Minha mãe não queria que eu me misturasse com os sambistas. O preconceito não era só exclusividade de quem não morava nos morros. Pegava todo mundo, inclusive minha mãe", diz. Três décadas depois, Lins encontrou Téo, o antigo parceiro, já promovido a oficial, num bar da Lapa. "Ele ficou empolgadíssimo. Disse que a gente precisava fazer um novo samba e inscrevê-lo no festival. E eu: 'Téo, que festival? Eles não existem mais. Expliquei que estava em outra e ele, coitado, ficou num estado de desânimo."

O assunto "Cidade Deus" é inevitável. Quando questionado se está otimista com o processo de revitalização das favelas cariocas, com a chegada das Unidades de Polícia Pacificadora, a queda nos índices de criminalidade no Rio e os investimentos que a cidade receberá por causa das Olimpíadas de 2016, Lins dá uma longa pausa e coça a barbicha do queixo - não parece lá muito otimista. "Eu não sei até que ponto essa história de revitalização é verdadeira. Neguinho continua sendo morto", diz. "Prefiro, em vez de ficar argumentando, citar uma frase do Tancredo [Neves, 1910-1985]: 'Enquanto o Brasil não tiver uma educação de primeira qualidade, um sistema de saúde digno para toda a população, toda prosperidade é falsa". Está dito.

O Estado de S. Paulo – “Dói voltar a certos momentos da nossa história” / Entrevista / Milton Hatoum

Ubiratan Brasil

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(17/4/2012) - A decepção começou ainda no avião, momentos antes do pouso. “Brasília está desfigurada, não é mais a mesma”, lamentou-se Milton Hatoum, escritor, arquiteto e cronista do Caderno 2. Ele voltou à Capital Federal depois de dez anos, agora para participar da 1.ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que vai até segunda- feira. “E, do hotel, percebi que já não se vê mais o horizonte, uma das marcas da cidade. A especulação imobiliária, aliada a políticos mal-intencionados, acabaram com Brasília.”

Palestra. Na Bienal, ele falou para um auditório lotado

O desabafo só reforça a verdadeira intenção de Hatoum de voltar ao local onde viveu entre 1967 e o início de 1969: buscar subsídios para o capítulo (talvez o principal) de seu novo romance, ainda sem título e sem data de publicação. Aqui, o escritor viveu momentos intensos, desde conhecer amigos do peito até enfrentar delatores do regime militar. O livro, a ser editado pela Companhia das Letras, trata de assuntos muito

caros a Hatoum: memória e exílio.Oponto de partida são colegas que conviveram com ele em Paris, especialmente uma amiga, que morreu no início do ano passado, e umargentino. A trama se passa também em São Paulo e no Rio. “Mas logo vi a necessidade de incluir Brasília, pois alguns personagens, que só eram citados esporadicamente, ganharam uma importância especial.”

Assim, depois de ter falado para uma grande plateia no domingo – um dos encontros mais festejados da Bienal –, Hatoum estende sua estadia na cidade, para rever lugares e amigos. “Vivi aqui durante o AI-5, com tanques de guerra nas ruas e dedos-duros nos observando nos bares”, disse ele, que estudou no extinto Centro Integrado de Ensino Médio. “Era inevitável participar do movimento estudantil, de curtir as drogas, de viver em uma cidade que já não existe mais.” Sobre o assunto, ele conversou com o Estado.

Como está seu novo romance?Estou reescrevendo. Há uma narradora franco-brasileira que conta sua história e, ao mesmo tempo, rememora façanhas dela com outro brasileiro. A ação se passa entre o fim dos anos 1970 até 1983 – depois, o foco está apenas na vida dela. Mas percebi que faltava um longo capítulo, que vai trazer um pouco da minha experiência em Brasília. Foi difícil: ao mesmo tempo que significou a libertação da província (vim de Manaus), também foi uma espécie de aprisionamento. Era a época do AI-5 e eu fui levado ao movimento político-estudantil, pois estudava em um colégio excepcional, onde me uni aos desgarrados do movimento, aqueles mais independentes que eram vistos com preconceito internamente. A vida era intensa e tensa.

Foi no fim dos anos 1960, quando Brasília era uma cidade muito diferente.Totalmente. Brasília foi desfigurada. A barbárie urbana começou na capital do Brasil.Oplano piloto já não existe mais, a arquitetura é horrenda. Quando cheguei, era uma espécie de candango estudantil e pretendia cursar a Universidade de Brasília, mas houve um tremendo expurgo entre os professores por conta da ditadura. Havia também muitos dedos- duros. Mas, no romance, não quero fazer apenas um relato dessa memória, mas mostrar a importância do distanciamento temporal para escrever ficção.

Isso marca muito a sua obra, não? “O esquecimento como forma de memória”, segundo Borges, que você gosta de citar.O tempo que passa transcende a fidelidade das circunstâncias da vida. Cria novas perspectivas, a imaginação torna-se mais livre para trabalhar com o passado. Venho adiando esse romance há muito tempo e, depois de finalizada uma versão, que foi bem comentada pelo meu editor da Companhia das Letras, percebi que esse novo capítulo estava insinuado e que precisava ocupar um lugar de mais destaque.

Por que estava insinuado?Na verdade, eu queria utilizar essa história em outro romance. Às vezes, o escritor é avaro demais sem saber. Eu estava errado. Agora é o caso de desenvolver uma narrativa que de fato se integre ao que já escrevi. Estava insinuado porque havia um fato aqui, outro ali, mas tudo desgarrado. Escrevo agora as memórias de Brasília. Sempre dói voltar a ummomento difícil da nossa história, mas quero

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transcender o documental e talvez nem meus amigos da época se reconheçam. Não tenho pressa, não sei quando vai ficar pronto. Às vezes, acho que já escrevi demais.

Você fala desse romance?Não, na obra como um todo. Já são cinco livros.

● Mas você pretende seguir o mesmo caminho do Raduan Nassar? Nem posso, pois ele parou antes. Admiro escritores que sabem o momento de parar. Autores como Juan Rulfo: será que precisaria mesmo escrever algo depois de ter publicado Pedro Páramo? Umanarrativa tão complexa, inovadora no momento em que surgiu, uma visão muito particular da Revolução Mexicana. Não que eu queira parar, mas não posso escrever para publicar. O romance que crio agora está na minha cabeça há muito tempo. Logo depois de publicar o Relato, em 1989, já comecei a pensar nele.

Os outros livros furaram a fila?Sim. Cinzas do Norte foi uma antecipação do que escrevo agora: era uma outra narrativa sobre o momento político, mas com uma visão amazônica. Enquanto escrevia o Cinzas, eu já pensava nessa segunda parte.Minha cabeça fervilha de pensamentos, mas, como disse Émile Zola, um romance não se faz com ideias, mas com palavras.

Por falar em autores, você chegou a se encontrar com Roberto Bolaño?Sim. Eu fui a uma palestra do Italo Calvino, em 1981, quando eu morava em Barcelona. Ele era poeta nessa época e eu o conheci rapidamente. Bolaño foi injustiçado, pois sua obra demorou para ser publicada. Eu o considero o mais importante autor dessa geração: era um escritor progressista, de esquerda, mas não dogmático. A literatura dele tem um forte sentido histórico, político e também estético, pois está voltada para a própria escrita. Mas continua exemplar.

Correio Braziliense - Brasília, 52 anos entre livros e música

Bienal Brasil de Literatura , inaugurada no último sábado, é o destaque das comemorações do aniversário da cidade, que incluem shows de renomados artistas nacionais e muito esporte na Esplanada dos Ministérios

Thaís Paranhos

Na área próxima ao Museu da República serão instalados palcos para apresentação de artistas nacionais e locais

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(18/4/2012) O governo ajusta os últimos preparativos para o 52º aniversário de Brasília. A três dias da festa, a população já pode conferir a programação especial que vai reunir música e literatura na região central da cidade. As comemorações tiveram início no último sábado com a abertura da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Literatura, na Esplanada dos Ministérios. Também haverá shows, apresentações culturais e partidas esportivas até o fim deste mês. A Arquidiocese de Brasília celebrará uma missa de Ação de Graças para lembrar a data.

A novidade deste ano, a 1ª Bienal Brasil do Livro e da Literatura, vai até dia 23 próximo. O tema desta edição é a literatura contemporânea do Brasil, da América Latina e da África. Mais de 50 escritores de todo o mundo virão à capital federal e a organização do evento prevê uma centena de atividades entre lançamentos de obras, exibição de filmes, seminários e debates. Cerca de 500 mil pessoas são esperadas nos 10 dias de programação. Mais de 100 estandes de editoras e livrarias ficarão espalhados em quatro pavilhões. A bienal custou R$ 10 milhões aos cofres públicos.

Nos palcos montados na Praça do Museu da República e na Esplanada dos Ministérios, haverá shows de artistas consagrados como Nando Reis, Oswaldo Montenegro, Caetano Veloso, além da banda Capital Inicial. Artistas da cidade também terão presença garantida na festa. As apresentações começam amanhã e se encerram em 22 de abril. Haverá, ainda, o Festival Latino-americano e Africano de Arte, realizado em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). A história do país e a da capital federal não ficarão de fora das comemorações do aniversário de Brasília. A cidade recebe duas exposições fotográficas até o próximo mês. Em 21 de abril, às 20h, a Arquidiocese de Brasília realiza a missa na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida.

Além de partidas do Circuito Mundial de Vôlei de Praia e do Campeonato de Basquete de Rua, previstas na programação esportiva do aniversário, haverá a sexta edição da Maratona Brasília de Revezamento. O evento, realizado pelo Correio, já faz parte do calendário de comemorações da cidade. Quem for participar da corrida percorrerá 42km na Esplanada dos Ministérios. A equipe que terminar a prova em primeiro lugar ganhará um carro 0km. Os segundo e terceiro lugar serão premiados com uma motocicleta.

Literatura

Neste ano, a festa terá um mote diferente. “Propusemos e o governo acolheu com muito entusiasmo que o aniversário de Brasília deveria girar em torno do livro. Abrimos as comemorações em 14 de abril e a cidade já respira literatura”, explicou o secretário de Cultura, Hamilton Pereira. Segundo ele, nos três primeiros dias da Bienal, cerca de 70 mil pessoas visitaram o espaço. O secretário defendeu que a capital federal tem participação central na defesa da importância da leitura entre a população. “Brasília deve cumprir um papel que é de alimentar esses processos e fazemos isso por meio da Bienal. Estabelecemos um diálogo entre as diversas linguagens, principalmente entre a música e a literatura”, disse.

Como parte da estratégia para atrair visitantes durante o aniversário de Brasília, as Secretarias de Turismo e de Publicidade Institucional lançaram uma campanha com vídeos serão exibidos em outras partes do país.

Zero Hora – Porto dos livros: FestiPoa Literária chega à quinta edição com a proposta de dialogar com outras áreas da cultura

Gustavo Brigatti

(18/4/2012) Começa hoje a FestiPoa Literária, que em seu quinto ano ganha uma programação ainda mais diversificada. Como nas edições anteriores, a aposta é na descentralização de atividades e na mistura de linguagens, trazendo o cinema, o teatro e a música para o universo dos livros em 10 dias oficiais de evento – sem contar uma saideira especial.

Neste ano, a Casa de Cultura Mario Quintana será o endereço oficial para a maior parte da programação, mas outros pontos da cidade também farão parte do circuito literário, como o Bar Ocidente, a livraria Palavraria, a Casa de Teatro, o Instituto Goethe. As atividades incluem leituras, lançamentos literários, oficinas, exposições, shows, peças, filmes, saraus e performances. A FestiPoa vem se firmando no calendário literário de Porto Alegre – que já há alguns anos vai além da Feira do Livro, consolidando, entre outros, o Gauchão de Literatura, o Sport Club Literatura e o Sarau Elétrico.

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– Sem modéstia, posso afirmar que a FestiPoa cresceu muito em qualidade e tamanho. Aprendemos muito desde a primeira edição, que foi feita meio que no improviso, e hoje temos uma estrutura e uma equipe muito boas – aponta o organizador Fernando Ramos.

Os objetivos, no entanto, permanecem os mesmos desde a primeira edição: levar literatura para o máximo de público de maneira informal, em clima de boemia e com alguma provocação. Um exemplo é colocar expoentes de diferentes áreas numa mesma mesa, como a sambista Fabiana Cozza e o roteirista Paulo Lins para discutir samba e poesia mediados pelo escritor Marcelino Freire. Ou juntar leituras, performance e música num balaio só no Espaço Cultural do Sintrajufe. Ou ainda homenagear, em um evento literário, Ivo Bender, o maior dramaturgo gaúcho em atividade.

– Queremos essa mistura. Acho ruim isolar a literatura, uma vez que ela tem tanto a dialogar com outras áreas – explica Ramos.

Seguindo essa linha, a programação contemplará ainda o documentário Wilson Martins – A Consciência da Crítica (confira opinião sobre o filme na página 3), de Douglas Machado, e o espetáculo Nossa Vida Não Vale um Chevrolet, com direção de Adriane Mottola e texto do dramaturgo Mario Bortolotto.

E embora encerre suas atividades – todas com entrada franca – no dia 28 de abril, a FestiPoa guardou uma “saideira” para o dia 7 de maio. Na Casa de Cultura Mario Quintana, os escritores Mário Prata e Luis Fernando Verissimo conversarão sobre crônica e humor.

Zero Hora – “Está tudo sério demais” / Entrevista / Mário Prata(18/4/2012) O escritor Mário Prata é o convidado da saideira da Festipoa Literária, no dia 7 de maio (às 20h30min, na Casa de Cultura Mario Quintana), praticamente uma semana após o encerramento oficial da festa. Trabalhando atualmente com literatura policial após um longo período dedicado às crônicas de verve humorística (voluntária ou não), Prata vai compor uma mesa com o colega Luis Fernando Verissimo, num bate-papo com mediação da jornalista Cláudia Laitano. Confira a entrevista que o Segundo Caderno fez com o autor de Sete de Paus por telefone, direto de sua casa em Brasília:

Zero Hora – O senhor pode adiantar um pouco do que vai conversar com o escrito e colega Luis Fernando Verissimo no dia 7?

Mário Prata – Se fosse qualquer outra pessoa, eu poderia responder com tranquilidade, mas, em se tratando do nosso querido e amado Luis Fernando, vou só me preocupar em não fazer um monólogo (risos). Faz um tempo, fui a Porto Alegre ver o show do Chico Buarque e acabei indo jantar na casa do Luis Fernando. Aí eu disse pra ele: “Desculpa a idolatria, mas queria ver onde você trabalha”. E ele simplesmente me levou ao escritório dele e não disse mais nada, só ficou parado. É uma figura encantadora, só fala o que precisa falar. Por isso, espero que ele fale, até para início de conversa (risos). Mas, falando sério, primeiro lugar é uma honra. Segundo, quero ouvir ele falar coisas. Uma pessoa que pensa e escreve o que ele pensa, tem que falar. Minha missão será fazê-lo falar, para o bem de quem estará lá ouvindo. Será isso o nosso encontro, minha tentativa de fazer ele falar (risos).

ZH – Como o senhor compararia os trabalhos de vocês?

Prata – Acho que não dá para comparar, viu? A crônica vem dessa observação quase que do nada. Meu filho (o também escritor Antonio Prata), por exemplo, está escrevendo neste momento uma crônica sobre tubas. Ele passa horas vendo vídeos no YouTube sobre solos de tuba, entende? E nisso o Luis Fernando é inigualável, muitos anos à frente. É um mestre, não tem como comparar.

ZH – Como autor de escritos bem-humorados, como o senhor avalia o trabalho de humor no Brasil? Acha que tem passado dos limites ou está sendo patrulhado demais?

Prata – Não sinto que haja patrulha, não. O problema nosso é que está dando tudo muito certo no Brasil, aí não dá pra fazer graça, não dá pra sacanear ninguém. A própria Dilma eu achei que seria charge todos os dias, mas, que nada! E não é por respeito, é porque não tem o que falar, mesmo, tá tudo direitinho demais, sério demais...

ZH – Em que o senhor está trabalhando neste momento?

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Prata – Estou há seis anos só estudando literatura policial. Já escrevi dois livros policiais, estou terminando um terceiro e quero escrever cinco. Estou me dedicando a isso, quase que profissionalmente, com horas para ler a respeito, depois horas para escrever, enfim. Daí que até me chamaram para a Bienal de Brasília, para dar uma palestra sobre o assunto. Espero que eles nunca tenham participado de uma palestra do tipo, porque eu nunca dei uma (risos).

Zero Hora – Crítico em foco / Artigo / Marcelo Perrone(18/4/2012) Ao longo dos 60 anos que dedicou ao ofício da crítica literária, Wilson Martins (1921 – 2010) ergueu uma reputação e uma obra acima das pontuais contestações, tamanho era seu estofo intelectual e tão referencial é seu legado para a cultura brasileira. O documentário Wilson Martins – A Consciência da Crítica, de Douglas Machado, em exibição com entrada franca no CineBancários, cumpre a função didática de apresentar Martins para além dos círculos literários e acadêmicos.

O documentário resulta de uma série de encontros que o diretor teve com o crítico entre 2002 e pouco antes da morte de Martins, em 30 de janeiro de 2010. Além de Martins, passam por diante da câmera escritores e editores, que lembram peculiaridades de sua exuberante persona. Como o fato de ser um apaixonado por livros sem nenhum tipo de apego ou fetiche pelo livro como objeto. Mantinha em sua estante apenas o que julgava essencial, em geral volumes danificados por anotações a caneta.

Se muitos o viam como um crítico rigoroso e ranheta, Martins fala do prazer em “separar o trigo do joio”, do elogio sem reservas de adjetivos diante de um bom autor – lembra que foi o primeiro crítico do centro do país, a serviço do jornal O Estado de São Paulo, a reconhecer o talento do escritor gaúcho Moacyr Scliar.

Martins se considerava um “lobo solitário” . Garante que sempre prezou a independência de amizades e afetos em seu julgamento: “Não tenho prazer em falar mal de um livro, mas o dever”. Para ele, “um comentário medianamente desfavorável tem o mesmo efeito do que o amplamente desfavorável”. Defende que o crítico tem a “obrigação suprema” de conhecer e compreender a História e ter na bagagem uma bibliografia referencial para colocar sua opinião em perspectiva.

Sua ambição em dar conta não apenas da produção literária, mas de todos os aspectos da vida intelectual do Brasil o fez realizar, no que classifica como “ato de desatino”, a monumental coleção de sete tomos História da Inteligência Brasileira. É a representação portentosa de seu alerta aos que se aventuram na crítica: “Quem só conhece literatura, não conhece nem literatura”.

Valor Econômico - Clarice Lispector era uma "anti-intelectual fingida", diz autor

Por Amarílis Lage

Agência EstadoObra de Clarice Lispector (1920-1977) tem dimensão política, diz autor que lançou “Clarice – Uma Literatura Pensante”.

(18/4/2012) "Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto." É assim que Clarice Lispector (1920-1977) se autodefinia, mas não é isso que mostra a sua obra, segundo o recém-lançado "Clarice - Uma Literatura

Pensante", de Evando Nascimento.

A escritora estruturou em seus livros um pensamento complexo e com uma orientação ética, avalia Nascimento, que é professor de estudos literários da Universidade Federal de Juiz de Fora e

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especialista na obra do filósofo francês Jacques Derrida, de quem foi aluno na École des Hautes Études en Sciences Sociales. O pesquisador alfineta: é um "antiintelectualismo fingido".

Para explicar o "funcionamento" da obra de Clarice, Nascimento diferencia literatura pensante de filosófica. Esta última englobaria, por exemplo, a ficção feita por Jean-Paul Sartre (1905 - 1980), em que o texto literário serve à transmissão de conceitos que vêm da filosofia - no caso de Sartre, o existencialismo.

"Clarice não precisou citar nenhum teórico para demonstrar a complexidade da relação homem-mulher nos contos de 'Laços de Família'. Você tem ali um pensamento que pode ser relacionado com a psicanálise, com a antropologia e com a filosofia, mas que é próprio dela", diz o autor.

Entre os autores que desenvolveram uma literatura pensante, Nascimento inclui Thomas Mann, Franz Kafka, Jorge Luís Borges, Guimarães Rosa e João Cabral de Mello Neto. "A literatura não substitui a filosofia. São discursos complementares. Na literatura, o tom é diferente, as estratégias textuais são outras, e o pensamento produzido acaba sendo distinto."

Na obra de Clarice, uma característica dessa reflexão seria a desconstrução de dicotomias, como masculino e feminino, homem e animal, animal e planta. O romance "A Hora da Estrela" seria um exemplo disso, quando o narrador, Rodrigo, diz sobre Macabéa: "Vejo a nordestina se olhando ao espelho e - um rufar de tambor - no espelho aparece meu rosto cansado e barbudo. Tanto nós nos intertrocamos".

Nesse processo, Clarice investiga até o limite entre o que é vivo e o que não é; um raciocínio que culmina na figura do ovo, uma imagem forte na obra dela. "Clarice investe de subjetividade as plantas e os objetos", diz Nascimento, citando o livro "Água Viva", em que ela faz referência aos sentimentos das flores, e "Um Sopro de Vida", no qual um personagem, o Autor, cria uma personagem feminina, Ângela, que dá vida aos objetos.

É por meio desses questionamentos que a obra de Clarice ganha uma dimensão política, na análise feita por Nascimento.

"Nessas oposições, normalmente um dos elementos do par é diminuído. No momento em que você presta atenção na singularidade do outro - do animal, da planta, do feminino -, há a possibilidade de esse outro se afirmar. A ética, nesse caso, significa construir espaços para que o outro possa emergir. Trazer à cena o que é excluído", diz Nascimento, que traça um paralelo entre Clarice e Derrida. "Eu diria que ela resolve ficcionalmente o que Derrida resolve filosoficamente, quebrando as hierarquias entre o feminino e o masculino, ou entre o humano e o animal,

Talvez aí esteja até uma pista para entender o "antiintelectualismo fingido" de Clarice. E Nascimento arrisca uma teoria. "A meu ver, foi uma tentativa de valorizar um polo que foi sempre desvalorizado, dizer que tudo é espontâneo. Mas a graça dela é juntar intuição e razão."

ARQUITETURA E DESIGN

Estado de Minas - Bom gosto na sala

Linha de móveis que privilegia cultura brasileira é mineira

(13/4/2012) Sempre acho que bom gosto chega junto com o leite materno. É claro que é um exagero, mas é muito mais fácil ter bom gosto quando se é cercada por pessoas que o cultivam ao longo da vida. Um dos exemplos do que falo é, sem dúvida, a arquiteta Helena Teixeira Rios. Numa época em que a cabeça dos designers brasileiros – e principalmente mineiros – gravitam sempre em torno de Milão, ela busca no mais profundo da cultura brasileira referências para criar seus móveis.

Não é sem razão que sua grife é Casa Design Brasileira. Durante algum tempo, ela manteve uma loja nas imediações da Praça Marília de Dirceu. Não gostou da experiência e voltou ao princípio: continua desenhando e produzindo em sua oficina peças para quem gosta de móveis bonitos e com um peso

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cultural bem grande. O resultado é uma linha que combina com os ambientes modernos – mas que recebe de bom grado peças antigas – como complemento ou acessório decorativo.

A linha é tudo que faz uma casa ser bonita e calorosa – com raízes firmes na execução, na referência de nossas decorações mais preciosas. Vantagem extra: como não tem nada de modismo, não tem nada de descartável. Lindas as mesas de jantar, poltronas requintadas com estofados claros, estantes de linhas puras, mesas de centro que colocam em evidência os objetos decorativos. Nada, mas nada mesmo é modismo – e para avaliar melhor, só reparando nas fotos que ocupam este espaço.

Móveis da Casa Design Brasileira, de Helena Teixeira Rios, têm como vantagem não seguir modismos

Zero Hora – Metro cúbico de design

Mostra paralela ao Salão do Móvel de Milão exibe a criatividade de profissionais gaúchos

Ana Carolina Bolsson

(17/4/2012) O design nacional vive um momento de entusiasmo e valorização. Difundir e tornar rentável o produto da criatividade brasileira, contudo, ainda demanda esforço. Para aproveitar a oportunidade deste período do Salão Internacional do Móvel de Milão, o projeto Brazil S/A, um Lounge Brasileiro de Design e Decoração, paralelo ao saloni, pretende dar impulso extra à criatividade brasileira na Itália.

Desta terça até domingo, cerca de 20 peças brasileiras premiadas nas feiras Movelsul e Casa Brasil integram a mostra Metro Cúbico. Esse nome faz referência à medida máxima que cada produto apresentado deve ocupar na exposição: um metro cúbico de área.

A terceira edição do Brazil S/A se realiza pelo segundo ano consecutivo no palácio histórico de Giureconsulti, no coração de Milão, a menos de 200 metros da catedral Duomo. No primeiro ano, a escolha foi pela via Tortona, antiga zona industrial da cidade onde atualmente fica a efervescência do design milanês.

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Quase quatro séculos depois do início da construção do Giureconsulti, o Brasil ocupa mais de 3,6 mil metros quadrados de área do prédio que já foi sede da primeira Bolsa de Valores de Milão, em 1809.

Dos criadores ao mercado

O local atrai um público específico, habituado aos eventos temáticos no prédio com nome de palácio. A expectativa é que mais de 18 mil pessoas passem pela mostra, o correspondente a um aumento de quase 40% em relação a 2011.

– Tudo o que se mostra lá fora tem um valor agregado maior porque você acaba tendo o aval de um público internacional – avalia Regina Pires, da equipe organizadora do projeto que soma currículo aos designers.

Ao todo, sete exposições compõem o lounge brasileiro. Entre os trabalhos exibidos, há pelos menos sete gaúchos. Arquiteta há 26 anos e designer há nove, a pelotense Eulália Anselmo, autora de obras como a poltrona Flor (E) comenta a oportunidade:

– É aquele gosto bom do reconhecimento, de uma trajetória já feita – resume.

Correio Braziliense - Catetinho reabre com homenagens

Manoela Alcântara

Após 10 meses de obras, o Palácio de Tábuas será reinaugurado pela terceira vez

(18/4/2012) A reforma do Catetinho está quase pronta. Os últimos detalhes serão concluídos até a sexta-feira, quando a estrutura restaurada será mais uma vez inaugurada. Na abertura do evento, o trajeto feito por Juscelino Kubitschek, em 1956, quando vinha do Rio de Janeiro visitar a nova capital, será refeito. Convidados se reunirão, a partir das 16h, no Country Clube, onde está localizada a Casa da Fazenda Gama. Era lá que o então presidente chegava de avião, tomava o café de dona Zenaide e caminhava 300 metros até chegar ao Palácio de Tábuas, a primeira residência oficial do DF. A visitação para o público começará dia 21, quando a cidade completa 52 anos.

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O prédio passou pela terceira restauração desde a fundação. A reforma começou em julho de 2011 e custou R$ 722 mil A prioridade da Secretaria de Cultura foi recuperar os elementos originais da estrutura e todo o acervo do local como camas, criados-mudos, roupas e outros pertences do ex-presidente e da família. Além disso, problemas recorrentes como a infestação de cupins foram resolvidos. “Este trabalho vai além de uma simples reforma. É a primeira ação de outras que virão para resgatar o patrimônio remanescente da construção de Brasília”, disse o subsecretário do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Secretaria de Cultura (SC), José Delvinei Santos.

O trabalho minucioso levou em conta detalhes importantes do Catetinho, como a cor branca na fachada do edifício, as esquadrias e outros pormenores. Toda a fiação elétrica foi trocada e rampas de acessibilidade agora fazem parte da nova estrutura. É nesse ambiente que 60 pioneiros receberão medalhas e terão sua trajetória contada na reabertura do palácio. Os primeiros cantores da Rádio Nacional que faziam serestas para Juscelino também estarão no evento.

MODA

Folha de S. Paulo - Estilista do Ceará é nova sensação da moda localRoupas de Lidenbergue Fernandes incorporam pop, religião e tradição

Criador recebeu apelido de "Herchcovitch do Nordeste" por utilizar esses elementos com humor e criatividade Vivian Whiteman

(13/4/2012) "Ele é o Herchcovitch do Nordeste." O estilista Lidenbergue Fernandes, 39, celebridade da semana de moda de Fortaleza, desconversa, mas é assim que se referem a ele nos bastidores. "Se fosse para comparar, estou mais para Ronaldo Fraga e tenho uma admiração enorme pelo trabalho do Marcelo Sommer", diz.

A comparação com Alexandre Herchcovitch é mais do que um sinônimo de fama. Embora com estilos e trajetórias diferentes, ambos têm a capacidade rara de lidar com símbolos pop e religiosos com criatividade e certo humor.

A fama de Lidenbergue extrapolou a Dragão Fashion, que termina hoje em Fortaleza. Percorreu outros Estados e chegou até o guarda-roupas da apresentadora Xuxa. Foi sondado para desfilar na Casa de Criadores, em São Paulo, e suas peças estão em um editorial que a "Harper's Bazaar Argentina" está fotografando em Fortaleza.

Lidenbergue começou a carreira numa indústria de jeans. Hoje, dá consultoria de criação para três marcas, incluindo a Kza do Dragão, grife que transforma o trabalho artesanal de cooperativas em produto de exportação. Em sua apresentação, o designer revisitou o tripé central de seu repertório, inspirado nas donas de casa: a cozinha, a novela e a missa.

Imagine coletes de ovo frito e estamparia digital caprichada com colagens kitsch de São Jorge e Santa Rita. Na parte da novela, reinaram as vilãs, com roupas de rainha beirando o periguetismo. Na trilha, trechos de novelas como "Tieta", "Vale Tudo" e o bordão "porque eu sou rica", da personagem de Carolina Ferraz em "Beleza Pura".

"Toda a minha verve criativa despertou com a telenovela. Aquele universo é muito forte e fala com a brasileira de uma forma direta", diz.

Lidenbergue está agora hipnotizado pela vilã Carminha, de "Avenida Brasil". Mas tem sua maldita do coração. "Se eu fosse uma vilã, seria a Flora, de 'A Favorita'. A melhor má é a que se faz de sonsa e boazinha", ri, baixando os olhos por trás dos óculos.

GASTRONOMIA

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Estado de Minas - Tiradentes vem aí

Chegando à 15ª edição, festival de cultura e gastronomia da cidade histórica mineira abre o leque de sabores

(15/4/2012) Quando, há 15 anos, Ralf Justino lançou o Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes, estava cozinhando duas receitas que deram certo. A mais importante era, sem dúvida, a que buscava unir a boa mesa, desconhecida por muitos, a uma cidade privilegiada pela herança barroca. Relegada a um turismo sem muito brilho e com pouca divulgação, a linda cidade reviveu com a primeira semana de muita movimentação, comida boa e e uma programação planejada para ocupar todos os seus espaços. Da Praça das Forras, que se tornou o point de todos os encontros, aos diversos restaurantes, até então pouco explorados, Tiradentes passou a ocupar a mídia nacional.

Durante esse tempo, mais de 500 mil turistas apareceram por lá, os tesouros barrocos escondidos pela Serra de São José ganharam realce. E uma das mais caras tradições culturais de Minas, a comidinha gostosa, foi revivida pela participação de mais de 400 chefs nacionais e do exterior, profissionais que dificilmente chegariam a comandar cozinhas no interior do estado. Acertados os temperos da promoção, outras frentes foram abertas, como a Cozinha do Futuro, que oferece cursos e oficinas para jovens, as aulas de culinária em plena praça, degustações variadas – tudo, enfim, que atrai não só quem gosta de comer como quem gosta de saber como se faz e as origens do que está comendo.

Ao transpor a idade da adolescência, o Festival de Tiradentes abraça num novo e ambicioso projeto. Desta vez, a proposta se chama Sabores do Brasil – uma viagem pela cultura gastronômica do país. Rodrigo Ferraz, que dirige o festival, amplia a sua proposta para cobrir a culinária regional de vários estados. O projeto envolve uma pesquisa em 12 estados, seis deles apresentados este ano e seis no próximo, com todas as suas particularidades esmiuçadas em detalhes, que podem ir desde frutas desconhecidas no Sul até queijos e temperos pouco comuns no Norte. Já no fim deste mês, caravanas estarão pesquisando localidades selecionadas nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Amazonas, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Algumas cidades são Tibau do Sul (RN), que tem a única fazenda produtora de ostras com certificação orgânica da América Latina, e Araripe (CE), berço do pequizeiro, onde nasceu o famoso prato típico da região, a pequizada. A expedição visitará também o Museu da Cachaça Ypioca, em Maranguape (CE); o Bodódromo de Petrolina, no agreste de Pernambuco, onde se come carne de bode; a cidade do Rio de Janeiro, com suas feiras orgânicas, Penedo (RJ), com suas especialidades finlandesas, e cidades de Minas conhecidas por seus queijos e doces típicos.

Para diferenciar ainda mais o festival deste ano, toda a expedição, intitulada Na Trilha do Sabor, terá divulgação veiculada na internet. As redes sociais poderão ser usadas pelo público para comentar, tirar dúvidas e fazer sugestões sobre o que está ocorrendo. No final, dois produtos serão gerados: um vídeo e um livro abrangente, com texto da jornalista Guta Chaves, cobrindo todo esse extenso levantamento da culinária nacional.

O resultado de tudo isso será mostrado em Tiradentes de 24 de agosto a 2 de setembro. Comandando os festins, chef nacionais e seis convidados internacionais do Chile, Peru e Venezuela. E como estrela maior de toda essa programação, estará o chef espanhol Rodi Roca, do Restaurante El Celler de Can Roca, na Costa Brava catalã, apontado como o segundo melhor restaurante do mundo pelo The San Pellegrino World's 50 Best Restaurants Awards 2011.O leitor do Degusta que quiser sentir um gostinho do festival pode preparar a receita que sugerimos nesta página, assinada pela chef Helena Rizzo, que participou da edição 2010 do evento.

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Estado de Minas - Brasil e França à mesa

Cozinha verde e amarela faz um bom casamento com os vinhos do Languedoc

Sílvia Laporte (16/4/2012) O inverno foi seco e os produtores locais de alimentos estão preocupados com a safra do primavera. O turista que chega à feira livre da Place Carnot, em Carcassonne, no Sul da França, não tem, porém, como desconfiar disso. Os legumes, verduras e frutas expostos nas bancas são de encher os olhos. Aspargos gordos, grandes cogumelos selvagens, ervas aromáticas e tomates bem vermelhos disputam a atenção da clientela com azeitonas a granel de vários tipos e bem embaladas porções do afamado mel local.

Há ainda ostras gigantescas, mexilhões e queijos de dar água na boca, embora poucos, já que o mercado de peixes e carnes da cidade fica num espaço fechado, situado a dois ou três quarteirões. Lá, além de peixes grandes e pequenos, camarões VG e enguias, dos suculentos cortes de cordeiro e porco, dos cremosos queijos de cabra, das gordas aves recém-depenadas (há inclusive pombos, apreciadíssimos no país), das vísceras brilhantes, pode-se encontrar especialidades culinárias locais

como terrines, quiches e confit de canard, versão francesa do nosso porco da lata, feita com coxas e contracoxas de pato em lugar de carne suína.

Considerada a pátria do cassoulet, cozido de feijão branco que lembra a nossa feijoada, o Languedoc-Roussillon, onde fica o departamento de Aude, é conhecida também pela excelência de seus vinhos – estudiosos locais da matéria garantem ter sido na Abadia de Saint-Hillaire, a pouco mais de 15 quilômetros de distância de Carcassonne, a capital de Aude, que surgiu o espumante, em 1531. Mas a região, considerada a maior área produtora de vinhas do mundo, oferece também bons vin de pays merlot-grenache e pinot noir e o AOC Limoux branco de uvas chardonnay.

HARMONIZAÇÕES No entanto, em vez de ressaltar o sabor das ostras do Mediterrâneo ou do famoso queijo de cabra regional pélardon, no primeiro fim de semana deste mês os vinhos locais serviram de moldura para a cozinha brasileira. A cooperativa de viticultores Sieur d’Arques, com sede em Limoux, a 25 quilômetros de Carcassonne, convidou três chefs do Brasil para cuidar do jantar de gala que comemorou a edição deste ano do tradicional leilão de barricas Toques et Clochers: a gaúcha Roberta Sudbrack, chef-proprietária do restaurante carioca que leva o seu nome, e os franceses radicados no Rio de Janeiro Claude Troisgros, do Restaurante l’Olympe, e Roland Villard, do Pré Catelan. O sommelier Dionísio Chaves, eleito duas vezes o melhor profissional da América do Sul e sócio-prorietário do Restaurante Duo, também na capital fluminense, se encarregou da harmonização.

Para começar a refeição, Claude Troisgros e o filho, Thomas, serviram sopa de feijoada em xícaras de cafezinho. Dionísio escolheu o espumante Toques et Clochers 2007 para acompanhar, justificando: “O prato, além de uma textura cremosa, apresenta características marcantes e persistentes no fundo de boca, principalmente de notas terrosas. Esse crémant tem complexidade, estrutura, frescor e fundo de boca longo, o que garante um bom casamento entre ambos"”

O primeiro prato, assinado por Roberta Sudbrack, foi lagostim em lâmina de chuchu com leite de amendoim. O sabor delicado da receita levou Dionísio a escolher um branco “de boa complexidade”, o Cloucher de Bouriège, cuja estrutura de acidez combinava com o toque adocicado da comida. Os Troisgros também assinaram o prato seguinte, peixe com banana caramelizada, que segundo Dionísio é tradicionalmente harmonizado com tintos leves. O sommelier, no entanto, escolheu “um dos melhores brancos que já provei” para acompanhar: “Com sua untuosidade, frescor, estrutura e complexidade no fundo de boca, ele equilibra muito bem a estrutura agridoce do prato”.

O confit de boi empanado com purê de batata-baroa e molho de açaí de Roland Villard foi servido com um Occursus, tinto feito a partir das uvas syrah, grenache, cabernet sauvignon, cabernet franc e malbec: “A fruta bem marcada e os taninos ainda presentes no fundo de boca equilibram o toque

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doce, a gordura e a estrutura do molho de açaí”, justificou o sommelier. Para harmonizar com a sobremesa, torta de pera e tapioca, foi escolhido o vin du pays d’Oc Vendanges de Décembre: “As notas aromáticas de pera, damasco, mel de acácia, nozes e amêndoas demonstram toda a finesse desse vinho”, explica Dionísio. “Seu açúcar residual e acidez equilibrada contrapõem muito bem a acidez da pera e o toque salgado da tapioca.”Para dar aos leitores do Degusta um gostinho do evento, Claude Troisgros ensina a receita do peixe com banana caramelizada, que pode ser acompanhado tanto por um tinto leve quanto por um chardonnay com um pouco mais de estrutura – de preferência, da região do Languedoc-Roussillon.

Folha de S. Paulo – Festival busca fortalecer e proteger tradições da cozinha paraense

Evento reúne chefs como Alex Atala, Helena Rizzo e Thiago Castanho que desejam exportar produtos e sabores da Amazônia Josimar Melo, enviado especial a Belém

(18/4/2012) Pela décima vez em 12 anos aconteceu, neste último final de semana em Belém do Pará, o festival Ver o Peso da Cozinha Paraense, evento idealizado pelo chef Paulo Martins (morto em 2010) e retomado por sua família (a ex-mulher Tania e as filhas Daniela e Joanna), que continua à frente do restaurante Lá em Casa. Como na primeira edição, em 2000, o evento busca divulgar a cozinha paraense, no intuito de fortalecer e proteger suas tradições. A atmosfera é também perpassada pelo desejo de exportar essa gastronomia (suas receitas, seus produtos), o que é estimulado pelo crescente prestígio (por enquanto mais no plano do imaginário) que a cozinha da Amazônia, um Eldorado de novos produtos e sabores desconhecidos, granjeia entre importantes chefs de todo o mundo.

O festival apostou em grandes nomes do país. Admiradores da cozinha paraense e antigos entusiastas do trabalho de Paulo Martins, participaram do evento chefs como Alex Atala, Helena Rizzo, Bel Coelho, Mara Salles e José Barattino, de São Paulo, entre outros. Além de aulas, eles protagonizaram dois jantares beneficentes, com participação de chefs locais como Thiago Castanho (do Remanso do Peixe) e Daniela Martins (do Lá em Casa).

Os chefs convidados foram também levados a conhecer o mercado do Ver-o-Peso, visitar a Embrapa (órgão federal de pesquisa agropecuária) e percorrer restaurantes locais. O encerramento aconteceu no domingo com um jantar aberto ao público com pratos preparados por duplas de chefs e boieiras (mulheres que vendem almoços aos frequentadores do mercado do Ver-o-Peso).

No sábado, a mesa-redonda sobre a "contribuição da culinária amazônica para a gastronomia brasileira" trouxe subsídios para a discussão do que é mais imperativo na região: preservar espécies e tradições num delicado equilíbrio entre defender o ambiente e a floresta, de um lado, e conviver com a produção de alimentos em vários tipos de escala. As formas de fazê-lo renderão ainda muito pano para manga.

Quanto a exportar os aromas marcantes e únicos (vale dizer, os produtos e receitas) do Pará, é tema de um debate ainda em curso: é possível reproduzir com integridade a cozinha amazônica longe de lá? Ou trata-se antes de tudo de desenvolver suas qualidades em suas fronteiras para exportar seu prestígio -um valor capaz de colocar em evidência essa rica gastronomia?

OUTROS

SudOuest (França) - Le Brésil donne des couleurs à la foire

Beaucoup de monde samedi et dimanche après-midi à la Foire-exposition d'Angoulême, qui s'achève ce soir.

Les charmes du Brésil à l'Espace Carat. (photos tadeusz kluba/« sud ouest »)

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(16/4/2012) Devant l'esplanade de l'Espace Carat balayée par le vent, hier après-midi, la file des visiteurs avait tendance à s'allonger… Pour son édition 2012, la Foire-exposition d'Angoulême a attiré de nombreux Charentais. Il faudra tout de même attendre l'heure de la fin de la foire, ce soir, pour en savoir plus sur la réalité de la fréquentation de l'événement organisé par Charente Expo. « Disons que, pour l'heure, si l'on tient compte des chiffres de samedi, on part sur les mêmes bases que l'an passé », supposait hier Martine Michel, la gérante de Charente Expo. Ce week-end, la foule des curieux a profité de toute une série d'animations autour du Brésil. Beach soccer en extérieur, danse latine et démonstration de jiu-jitsu à l'intérieur. Les leçons de cuisine à la plancha par les chefs ont aussi connu un beau succès.

Folha de S. Paulo - Isenção de impostos em eventos favorece as galerias estrangeiras

Com desencontro fiscal para negociação de obras de arte, brasileiros perdem terreno no país

Novas regras para a importação e a venda durante feiras excluem cerca de 90% das instituições do Brasil Fabio Cypriano, Crítico da Folha(14/4/2012) A isenção de ICMS durante a feira SP Arte, que será realizada entre os dias 10 e 13 de maio, publicada no Diário Oficial do Estado no último dia 6, irá favorecer a entrada de galerias estrangeiras no circuito artístico brasileiro. Com uma carga de impostos de cerca de 40%, galerias estrangeiras eram, até então, minoria nas feiras brasileiras. Com a isenção, conquistada já para a última feira do Rio, no ano passado, a tendência pode se inverter.

O decreto do governador Geraldo Alckmin isenta o ICMS na venda e na importação de obras de arte por ocasião da feira, o que representa uma alíquota de 18% para galerias, tanto brasileiras como estrangeiras, que trazem obras do exterior. Contudo, a maioria das galerias brasileiras fica de fora da isenção, segundo Celso Grisi, advogado da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact), entidade que reúne 32 galerias de arte brasileiras.

Desajustes

"Cerca de 90% das galerias no país estão inscritas no Simples Nacional [regime de arrecadação de tributos para empresas de pequeno porte] e ficaram de fora do decreto", diz Grisi, também sócio da Grisi David & Aniceto Advogados Associados. No entanto, de acordo com o advogado, o decreto promove uma espécie de equiparação entre os impostos pagos por galerias estrangeiras e nacionais.

Segundo seus cálculos, com o desconto, galerias de fora do país passarão a pagar cerca de 11% em impostos, valor praticado pelas galerias do país enquadradas na maior alíquota do Simples. Ainda de acordo com Grisi, o colecionador paulistano também sai ganhando. "O espírito do decreto é muito interessante, porque o verdadeiro beneficiário é o colecionador local", afirma.

"Acho que é o início de uma batalha para diminuir os impostos para o setor que vende arte", diz Eliana Finkelstein, presidente da Abact e diretora da galeria Vermelho.

"Essa isenção marca a internacionalização da feira e a maior competição nesse circuito porque reduz para mais da metade os impostos até agora cobrados das galerias no exterior", diz Fernanda Feitosa, diretora da SP Arte. Em sua oitava edição, o evento deste ano deve contar com 109 galerias, entre elas a inglesa White Cube e a francesa Yvon Lambert.

Valor Econômico - SP é favorita a sediar Museu da Pessoa

Por Maria da Paz Trefaut

A fundadora do Museu da Pessoa, Karen Worcman, e o arquiteto e urbanista Jaime Lerner preveem custo entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões para a sede

(17/4/2012) Depois de 20 anos dedicados a constituir um acervo virtual, o Museu da Pessoa se prepara para se

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materializar num espaço físico. O projeto é da fundadora do museu, Karen Worcman, e do arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná. Três cidades estão sendo prospectadas para sediar a obra: São Paulo, Rio e Brasília. Tudo depende de quem cederá o terreno.

As negociações mais adiantadas acontecem em São Paulo. E, embora os coordenadores não adiantem informações sobre locais ou patrocinadores, o Valor apurou que entre as possibilidades da capital paulista estão em estudo o Parque do Povo, no Itaim, e a Nova Luz, área próxima à Sala São Paulo, na antiga cracolândia.

O projeto arquitetônico já está pronto. É de Jaime Lerner, como seria esperado. Prevê a construção num terreno de 6.000 a 8.000 metros quadrados e tem como estimativa de custo algo em torno de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões. Inspirada nos contornos e sulcos de uma impressão digital, a planta resulta numa espécie de labirinto a ser construído em baixo relevo numa praça de areia, delimitada por uma moldura.

"Acho fantástica a história do Museu da Pessoa. Porque é a história de cada pessoa que, no fundo, é a história da cidade e do país", diz Lerner. "Pensei na impressão digital porque não há nada que defina melhor uma pessoa. E na areia, pelo significado do tempo que se escoa." Eles querem inaugurar o museu em 2014, a tempo de fazer dele uma atração para pegar embalo no movimento da Copa do Mundo.

O Museu da Pessoa foi fundado em 1991 com a proposta de documentar histórias de vida de qualquer um. Anônimos, famosos, gente de qualquer região, idade, sexo ou classe social. Os depoimentos, gravados em vídeo, foram armazenados num banco digital de forma a preservar a memória social em suas múltiplas vozes. A ideia foi da historiadora carioca Karen Worcman, que encontrou em São Paulo meios para realizar seu projeto.

Sediado numa pequena casa na Vila Madalena, onde trabalham cerca de 20 pessoas, o museu não é aberto ao público para visitação. Nem tem espaço para isso. Claro que visitas podem ser agendadas e quem quiser pode ir lá para contar sua história. Mas as instalações lembram as de um escritório ou de uma produtora, com estúdio de gravação, sala para encontros e arquivo digital. A nova sede concentrará tudo isso, terá espaço expositivo, auditório, biblioteca e acervo. A área de exposições terá divisões flexíveis de forma a se adaptar a cada evento.JLAA / JLAAProjeto do Museu da Pessoa: inspirada nos contornos de uma impressão digital, planta é como labirinto a ser construído em baixo relevo numa praça de areia

Karen Worcman e Jaime Lerner se conheceram em 2010 num ciclo de conferências no qual cada um foi falar do seu trabalho. Lerner se encantou com a apresentação da historiadora. Ao final, aproximou-se dela no corredor e disse: "Tenho a impressão de que chegará o momento em que o museu precisará de um espaço físico para exibir e organizar os depoimentos. Quando você achar necessário, me liga".

Para Lerner, a grande vantagem do Museu da Pessoa ganhar um espaço físico é aliar a surpresa de cada depoimento a uma curadoria baseada numa programação de temas. No museu atual cada um é seu próprio curador e escolhe, pelo controle remoto do vídeo, que tipo de depoimento quer ver. Das paredes do museu atual, Lerner retirou a frase que, para ele, melhor sintetiza o projeto: "Porque a história da gente é como um novelo de lã. Puxou o fio, achou o começo. O resto vem sozinho".

Há outras frases, também, escritas em painéis coloridos no sobrado: do fotógrafo e empresário Thomaz Farkas (1924-2011), do imigrante Josef Zucha e de muitos outros. São europeus que contam como deixaram seus países durante a guerra e revelam detalhes singelos, como a dificuldade que tiveram para chegar ao porto antes da meia-noite, quando zarparia o último navio para o Brasil.

Fotos de brasileiros de norte a sul decoram os ambientes. Na escada, uma linha do tempo conta a evolução da instituição passo a passo. Depoimentos individuais acabaram por ser agrupados em núcleos: mulheres rurais, imigrantes paulistas. Também através de relatos de pessoas foram perfiladas empresas como Vale, Votorantim, Natura e Petrobrás. "Chegou um momento em que a gente percebeu que a mesma metodologia podia servir para várias coisas: para contar a história de uma grande empresa, de um quilombo ou do BNDS. Fizemos a história do comércio em São Paulo,

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vista por quem participou dele. Do sorveteiro japonês ao dono de uma loja de chapéus em Santos", explica Karen.

Hoje o museu se mantém e gera recursos pela prestação de serviços na área educacional, pelos clientes privados e por patrocinadores institucionais que fazem doações. O balanço da atividade revela números impressionantes. O acervo soma em torno de 15 mil histórias de vida, 72 mil fotos e documentos digitalizados que falam do Brasil nos últimos 100 anos. Tudo está sintetizado num portal que recebe em média 480 mil visitantes por ano.

Na área educacional já foram realizados 200 projetos. Além disso, o museu usa depoimentos orais para capacitar alunos e professores, forma pela qual já atingiu 700 escolas públicas no país. A vasta gama de atividades inclui ainda a produção de DVDs, documentários e de livros.

Durante a evolução do museu, Karen diz ter presenciado um processo de maturação das grandes empresas brasileiras no que se refere à comunicação corporativa. "A questão da memória passou a fazer parte das empresas de uma forma mais complexa do que a produção de um simples livro comemorativo. Para eles passou a ser importante ouvir o que os funcionários tinham a dizer e registrar isso".

Na década de 1980, depois de formada em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Karen começou a fazer uma pesquisa sobre os imigrantes judeus no Rio. Foi aí que surgiram os primeiros contornos do que viria a ser o Museu da Pessoa. "Entrevistei vários judeus que sobreviveram aos campos de concentração e ouvi histórias que não estavam em nenhum livro. Vi que havia aí uma forma de refletir sobre os acontecimentos através do depoimento das pessoas e de suas vivências. Mais ou menos o que um bom filme pode fazer."

Ao longo do tempo, o museu inspirou três experiências similares - no Canadá, nos Estados Unidos e em Portugal. Lerner acredita que qualquer cidade brasileira gostaria de abrigar o novo Museu da Pessoa. "Tem uma frase que gosto muito, que diz que o futuro está logo ali, basta atravessar a rua. Mas o que representa o passado na vida da gente! Ali, sim, está o peso, a referência."

JC Online - Economia criativa une o Recife à Inglaterra

PARCERIA

Porto Digital costura convênio com governo inglês voltado à capacitação de profissionais da área. Comitiva britânica também esteve na capital para articular negóciosJacques Waller

(18/4/2012) O governo da Inglaterra promoverá no Recife, em 2013, uma temporada de capacitação relacionada à economia criativa. A informação foi divulgada na manhã da segunda-feira pelo presidente do Porto Digital, Francisco Saboya, durante a visita de uma delegação britânica ao polo de tecnologia. “Em 2013 terá início um convênio entre o Porto Digital e a Inglaterra voltado para artistas e tecnólogos. O objetivo é construir soluções para cidades”, adiantou Saboya, que não adiantou outros detalhes do projeto.

Segundo informações do British Council, o acordo de cooperação foi assinado no ano passado durante a visita do ministro britânico Jeremy Brown. A cooperação envolve treinamento e capacitação de profissionais em design, games e outros tópicos relacionados à economia criativa. O Porto Digital será o parceiro local da iniciativa, que pode contar ainda com secretarias do governo de Pernambuco. O programa de capacitação terá duração de oito meses.

Na segunda-feira foi a vez de outro ministro da Inglaterra visitar o Recife. Francis Maude, cujo cargo equivale ao de Ministro da Casa Civil, visitou o Porto Digital para assinar um protocolo de entendimento para ampliar a cooperação entre o governo daquele país e a organização recifense. Na prática, o documento aproxima o parque tecnológico de Londres, o Tech City, do Porto Digital, além de reafirmar acordos antigos entre o Recife e a capital inglesa.

“Queremos aumentar o número de empresas recifenses que farão residência na Inglaterra. Hoje temos uma startup em Dublin e acredito que podemos enviar muitas outras para lá”, disse Saboya,

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que lembrou de um instrumento de intercâmbio subutilizado. “Temos espaço reservado para que empresas da Inglaterra possam se hospedar durante sua estada no Recife e vice-versa. Mas esse mecanismo não vem sendo acionado”, ressaltou Saboya.

Francis Maude destacou que o encontro teve como objetivo reforçar a cooperação entre as partes, especialmente no que diz respeito à economia criativa. Maude lembrou que o Tech City tem características semelhantes ao Porto Digital e também está localizado em uma área degradada da cidade.

O encontro ainda serviu para que empresas dos dois países se reunissem. Quatro empresas da Inglaterra sentaram à mesa com cinco embarcadas do Porto Digital para tratar de negócios.

Do Reino Unido vieram a operadora de telefonia British Telecom, a prestadora de serviços em TI Logica, a produtora de jogos matemáticos Manga High e a fabricante de microprocessadores ARM. Do Recife foram convocadas a fabricante de microchips Silicon Reef, a companhia especializada em redes Nevoa, a desenvolvedora de aplicativos móveis Fingertips, além do estúdio de publicidade Pickimagem e a incubada Evertick. Esperemos que os negócios sejam anunciados em breve.

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