47
ATA DA 22" REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO DO PATRIMÔNIO CULTURAL Às quatorze horas e trinta minutos do dia oito de junho de dois mil, no Salão Portinari do Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, reuniu-se o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural sob a presidência de Carlos Henrique Heck, Presidente do Instituto do Patrimbnio Histórico e Artístico Nacional. Presentes os Conselheiros Angelo Oswaldo de Araújo Santos, Augusto Carlos da Silva Telles, Italo Campofiorito, Lúcio Alcântara, Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrès, Nestor Goulart Reis Filho, Paulo Bertran Wirth Chaibub, Paulo Roberto Chaves Fernandes, Raul Jean Louis Henry Júnior, Synésio Scofano Fernandes - representantes da sociedade civil -, Carlos Alberto Cerqueira Lemos - representante do Instituto de Arquitetos do Brasil- e Suzanna do Amara1 Cruz Sampaio - representante do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios. \ Ausentes, por motivo justificado, os Conselheiros Angela Gutierrez, Arno Wehling, Ivete Alves do Sacramento, Joaquim de Arruda Falcão Neto, Luiz Viana Queiroz, Marcos Vicinios Vilaça, Thomaz Jorge Farkas - representantes da sociedade civil -, José Silva Quintas -representante do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - e Luiz Fernando Dias Duarte - representante do Museu Nacional. Enviaram

ATA DA 22 REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO DOportal.iphan.gov.br/uploads/atas/2000__02__22a_reuniaoordinaria... · Como exemplo, fato elucidativo ocorreu quando Dr. Rodrigo informou-o

  • Upload
    lebao

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

ATA DA 22" REUNIÃO DO CONSELHO CONSULTIVO

DO PATRIMÔNIO CULTURAL

Às quatorze horas e trinta minutos do dia oito de junho de dois mil, no Salão

Portinari do Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, reuniu-se o Conselho

Consultivo do Patrimônio Cultural sob a presidência de Carlos Henrique Heck,

Presidente do Instituto do Patrimbnio Histórico e Artístico Nacional. Presentes os

Conselheiros Angelo Oswaldo de Araújo Santos, Augusto Carlos da Silva Telles,

Italo Campofiorito, Lúcio Alcântara, Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrès,

Nestor Goulart Reis Filho, Paulo Bertran Wirth Chaibub, Paulo Roberto Chaves

Fernandes, Raul Jean Louis Henry Júnior, Synésio Scofano Fernandes -

representantes da sociedade civil -, Carlos Alberto Cerqueira Lemos - representante

do Instituto de Arquitetos do Brasil- e Suzanna do Amara1 Cruz Sampaio -

representante do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios. \ Ausentes, por

motivo justificado, os Conselheiros Angela Gutierrez, Arno Wehling, Ivete Alves do

Sacramento, Joaquim de Arruda Falcão Neto, Luiz Viana Queiroz, Marcos Vicinios

Vilaça, Thomaz Jorge Farkas - representantes da sociedade civil -, José Silva Quintas

-representante do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -

e Luiz Fernando Dias Duarte - representante do Museu Nacional. Enviaram

justificativa de ausência e declaração de voto, por escrito, os Conselheiros Joaquim

Falcão e Marcos Vilaça. O Presidente abriu a sessão cumprimentando os presentes,

apresentou os Conselheiros Paulo Bertran Wirth Chaibub e Synésio Scofano

Fernandes, que não puderam comparecer à reunião anterior quando foram

empossados os membros do Conselho recentemente nomeados pelo Ministro

Francisco Weffort, e passou a palavra ao Conselheiro Silva Telles para fazer, em

nome do Conselho, o elogio a Gilberto Ferrez, transcrito a seguir: "Muito obrigado.

Nosso amigo Gilberto Ferrez faleceu na semana passada com 92 anos. Era filho de

Julio Ferrez, primeira pessoa, no Brasil, a utilizar máquina de filmar, tendo montado

um cinematógrafo na avenida Rio Branco, origem do Cinema Pathé. Era neto de

Marc Ferrez, um importante fotógrafo da segunda metade do dezenove até os anos

vinte deste século, e bisneto de Zeferin Ferrez, escultor que fez parte da Missão

Francesa. Gilberto Ferrez era uma pessoa de interesses amplos e múltiplos, sempre

interessado pelos problemas da documentação, seja fotográfica, grhfica, ou de

manuscritos. O acervo fotográfico que colecionou tinha por base a obra fotográfica

do av6, Marc Ferrez - placas de vidro, filmes em celulóide e cópias - o qual constitui

um material de grande valor cultural e que se encontra atualrnente salvo, adquirido

que foi pelo Instituto Moreira Salles que criou um pavilhiio próprio, com

climatkção, para a guarda dos negativos fotográficos, e permitindo sua divulgação

através de publicações, exposições e consulta direta ou pela Internet. (Rua Marquês

de São Vicente, 476). Esse material que herdou do pai e do avô serviu de base para

toda uma coletânea de acervo fotográfico e gráfico da maior importância. Em todas

as viagens que fazia, Ferrez visitava antiquários, colecionadores, bibliotecas e

arquivos para pesquisar e fazer novas aquisições de documentação sobre o Brasil.

Assim, esse acervo documental servia de fundamento para estudos e publicações.

Como exemplo, fato elucidativo ocorreu quando Dr. Rodrigo informou-o da

existência de duas pinturas enviadas para autenticação por uma pessoa da Austrália e

que se encontravam no Museu Nacional de Belas Artes: uma vista da Glória do

Outeiro e outra representando três meninas, juntamente com um texto autobiogrhfico

da proprietária das pinturas. Ao tomar conhecimento do texto, verificou que se

tratava de uma filha de Lecesne, um dos iniciadores da ocupação, com fazendas de

café, do Alto da Boa Vista. Essa autobiografia foi origem do livro por ele publicado,

Pioneiros da cultura do café na era da Independência. A partir desse documento,

Ferrez encontrou toda a história dos que plantaram café no Alto da Boa Vista: os

Taunay, Lecesne, Conde de Gestas, Charles Moke e outros mais; em sequência,

encontrando na França os sketchbooks de Guilherme von Theremin, identificou a

história da moradia de ingleses, franceses e alemães no Flamengo, na Glória e em

Botafogo. Ou seja, os documentos que encontrava - desenhos, pinturas, gravuras -

não eram para ele apenas objetos de um colecionador, mas sim material de trabalho e

divulgação. Publicação característica de sua forma de trabalho é o álbum, publicado

pelo IHGB, comemorativo do bicentenário da transferência da capital de Salvador

para o Rio. O texto, ao longo de toda a obra, é ilustrado por desenhos, gravuras,

pinturas, vistas e plantas das duas cidades e principais edifícios civis e religiosos;

igualmente, retratos de personagens notáveis da época com suas indumentárias. Ou

seja, toda uma visão comparativa de Salvador e do Rio no período da transferência

da capital. Outro grande livro, com a mesma metodologia, é A muito leal e heróica

cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, no qual, da mesma forma, Ferrez utiliza

toda a documentação gráfica e iconográfica para historiar a evolução da cidade,

desde sua fundação. Além disso, publicou também uma série de álbuns de

fotografias do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Petrópolis, assim como outros de

desenhos e gravuras de viajantes que para aqui vieram no século XIX: Ender,

Burschell, Benjamin Mary, Hildebrandt, Richard Bate, entre outros. Foi nosso

Conselheiro por muitos anos e permanente colaborador, ajudando, por exemplo, na

restauração do Paço Imperial. A partir de um desenho de Burschell - uma vista

panorâmica do Rio de Janeiro feita do topo do morro do Castelo - p6de-se conhecer

o interior dos pátios do Paço. Provocando agora o nosso amigo, Angelo Oswaldo,

Secretário de Cultura de Minas Gerais, apresento um caso à sua consideração: há

anos atrás, Ferrez me telefonou, pedindo que fosse à sua casa para conhecer um

conjunto de fotografias de Marc Ferrez em sua viagem a Minas Gerais. Pediu-me

que o ajudasse a localizar algumas edificações que apareciam nas paisagens. Uma

delas, por exemplo, que consegui identificar, foi a de Brwnal, perto de Catas Altas.

Mas o que havia de importante nesse conjunto eram fotografias do interior das minas

de Morro Velho e Passagem. Marc Ferrez fotografou, no começo do século, o

interior das minas. Disse-me Gilberto que foi o primeiro uso, no Brasil, deflash em

fotografia. Na ocasião, perguntou-me se seria possível visitar, pelo menos, a mina de

Morro Velho. Acertei sua ida com Dimas Guedes, nosso amigo, que é geólogo e

professor da Escola de Minas de Ouro Preto. Há poucos dias, Dimas relatou a visita,

dizendo que Ferrez havia ficado muito emocionado, pois que a visão na terceira

galeria de Mono Velho era exatamente igual à que aparece nas fotografias de Marc

Ferrez, com os operários carregando os vagonetes. Como se vê, Ferrez era um

Conselheiro a quem se deve prestar homenagem pela falta que faz a este Conselho e

ao IPHAN. Grande pesquisador da história da arte e grande brasileiro." O

Presidente, após cumprimentar o orador, comunicou a sua intenção de convidar os

membros da Diretoria do IPHAN para, em caráter de rotina, sentarem-se à mesa das

reuniões a fm de prestarem esclarecimentos sobre as atividades dos respectivos

departamentos, e apresentou seu Chefe de Gabinete, o sociólogo e jornalista

Luciano Ramos. Prosseguindo, falou sobre o segundo encontro de Superintendentes

Regionais e Diretores de Museus, em Petrópolis, quando deu continuidade aos

debates sobre a reestruturação do IPHAN, para tentar solucionar os problemas que

constatou em suas visitas às Superintendências Regionais. Comunicou a contrataqão

do Professor João Chinelato Filho como assessor da equipe incumbida de elaborar o

Plano de Carreiras para o órgtro. Referiu-se à necessidade do preenchimento das

vagas existentes no quadro de pessoal do IPHAN, mediante concurso público,

destacando a insuficiência quantitativa dos arqueólogos. Relatou seus contatos com a

6

Professora Tânia de Andrade Lima, Presidente da Sociedade de Arqueologia

Brasileira, visando o desenvolvimento de trabalhos conjuntos. Informou que

estendeu o intercâmbio mantido com organismos tradicionais como o ICOMOS, a

UNESCO e o ICCROM a instituições internacionais interessadas nas questões de

patrimônio, destacando suas gestões para a continuidade do convênio f í a d o com a

Universidade de Florença por seu antecessor, Glauco Campello, relativo a pesquisas

sobre cidades tombadas a beira d'água. Relatou sua viagem a Portugal, na época da

inauguração da Casa do Brasil, quando visitou as obras de restauração dos edifícios

atingidos pelo último grande incêndio em Lisboa e desenvolveu articulações para a

realização de um workshop em Évora, Guimariies, Porto, e na Capital, com a

presença de dirigentes do Ministério da Cultura e do I P W . Mencionou sua estada

na Inglaterra, onde participou de seminário sobre artesanato e fez contatos com

entidades de proteção patrirnonial visando concretizar a proposta do British Council

para realização de investimentos de empresários daquele país, com os benefícios da

Lei Rouanet, na restauração de monumentos edificados por ingleses, como a Estação

da Luz. Concluindo, aludiu ao Seminário sobre a Revitalização dos Centros

Históricos na America Latina, patrocinado pelo Ministerio da Cultura da França;

justificou a ausência das Diretoras dos Departamentos de Planejamento e

Administração, e de Proteção; e passou a palavra à Diretora do Departamento de

Identificação e Documentação, para os seguintes informes: "Vou procurar ser breve.

Trouxe a comunicação do resultado dos estudos realizados pelo Grupo de Trabalho

composto por Jussara Mendes de Moraes, historiadora de arte do Departamento de

Identificação e Documentaç~o, Adler Homero Fonseca de Castro, historiador do

Departamento de Proteção, e Juarez Fonseca Menezes Guerra, museólogo do Museu

Histórico Nacional. Este grupo foi convocado para elaborar proposta, a ser

submetida à consideração do Conselho, de adotar-se, para o material de artilharia dos

fortes já tombados pelo IPHAN, os mesmos critérios utilizados no tratamento do

acervo de bens móveis e integrados das igrejas tombadas individualmente, como este

Colegiado assim definiu em 1986. Desde então, estamos realizando o Inventário

Nacional de Bens Móveis e Integrados com resultado praticamente nacional, que nos

possibilita coibir o tráfico ilícito de obras de arte, entre outras coisas. Cada vez mais

entendemos que essa questão de inventariação é imprescindível. Quando recebemos

do DEPROT solicitação para abertura de processo, a ser encaminhado ao Conselho,

para propor o inventário dos acervos de artilharia dos fortes tombados, julgamos

mais acertado desenvolver trabalho conjunto a fim de apresentar uma proposta

concreta. Inventariar em ficha, com manual de preenchimento, com critérios, com

metodologia, com utilização de nomenclatura adequada, e com informações que, por

tratar-se de assunto muito pontual e específico, são difíceis de obter, como a

dimensão das peças de artilharia e a indicação do seu estado de conservação.

Anexaremos ainda um histórico sobre canhões, contido no artigo do historiador

Adler Homero Fonseca de Castro: 'Canhões, marcas da história', além de um

glossário de termos técnicos. O DID aguarda o parecer da Procuradoria Jurídica e o

posicionamento do Conselho para, na hipótese do acolhimento da proposta, iniciar o

trabalho. Os Conselheiros presentes à última reunião sabem que não compareci por

estar em Porto Seguro, como Coordenadora Executiva de um convênio com o

Ministerio da Cultura. Sobre o Museu de Porto Seguro, sediado na Casa de Câmara e

Cadeia, estamos distribuindo um pequeno catálogo onde esao reproduzidos os

painkis de história ali instalados. Muito obrigada". O Presidente concedeu a palavra

ao Diretor do Departamento de Promoção, Sérgio Souza Lima, para o seguinte

pronunciamento: "Basicamente, nesse processo de reestmturação, a idéia é adotar

alguns eixos de pensar a questão cultural e a sua promoção como forma de educação.

Há uma quantidade de projetos e de esforços na área de Promoção que se diluem, se

perdem em pequenas ações dispersas. O tema da integração, que aparece diversas

vezes em nossas palavras, tem por objetivo pensar os projetos, as ações culturais de

forma mais eficiente, fazendo com que tenham um efeito multiplicador através de

centros culturais regionais. Como o DEPROM pretendia entrosar o IPHAN com

museus regionais e universidades estaduais, procuraremos articular essas diferentes

intervenções, feitas de forma pontual, em ações mais eficientes. Em São Paulo, alem

da casa Warchavchik, na Vila Mariana, temos o Museu Lasar Segall e a Cinemateca.

Há possibilidade de intervenções, através de investimentos articulados, para a

implantação de um Centro Cultural. A idéia basica C vincular as ações do DEPROM

aos projetos de outros Departamentos, tentar usar os escassos recursos dentro de uma

linha histórica existente no inicio da implantação do SPHAN. A noção de cultura

integrada - material e imaterial - daquela geração dos anos 30, que nunca pensou a

cultura separada da área da educação. A própria implantação do MEC foi uma prova

disso. O Ministério da Educação e Saúde agia de forma articulada, não se pensava a

cultura sem a educação e vice-versa. O Ministkrio da Cultura tem realizado ações

desse tipo, como a implantação de um Centro Cultural em Cubaao, com recursos

obtidos através da Lei Rouanet. Em nossa reestruturação, tentaremos implantar no

pais estruturas que efetivamente sejam capazes de potencializar, articuladamente

com a sociedade civil, os recursos disponíveis. Eu tinha um ponto de partida. Era a

discussão do Hwnanismo, da crise das ciências, da crise do neopositivismo, que

abandonei após conversar com o Conselheiro Ítalo Campofiorito, há pouco, sobre

Lucio Costa. Chegamos a conclusão que não estava correto o meu pensamento sobre

a posição humanista do Lucio. Mas imagino que ele era realmente um humanista,

pensava as coisas de forma integrada, pensava o antigo e o moderno

articuladamente, evitava separar o conhecimento em áreas estanques, e esse

pensamento se refletiu na Universidade do Distrito Federal. A proposta do

Departamento de Promoção é pensar a educação de forma integrada, de forma

humanista, elaborando projetos com o objetivo de obter maior eficiência na afocação

dos parcos recursos disponíveis." O Presidente observou que o Dr. Sergio Souza

Lima, em seu Departamento, já havia atendido à sua sugestlio de buscar a

colaboração dos Conselheiros, além do sbbio trabalho de relato das propostas de

tombamento, nas reflexões conceituais do que é tombamento nos dias de hoje.

Manifestou o seu empenho de que esses entendimentos se repetissem e fossem

públicos, que os Conselheiros ficassem à disposição e tambkm solicitassem esse tipo

de discussão. A Conselheira Suzanna Sarnpaio pediu a palavra para fazer as

seguintes considerações: "Senhor Presidente, gostaria de apresentar uma sugestão.

Como Vossa Senhoria convocou os Diretores para participarem das reunibes deste

Conselho, que eram somente conciliares, teóricas, de julgamento e estabelecimento

de procedimentos, seria interessante que os conselheiros também participassem das

reuniões da Diretoria do IPHAN, para tratar de questões técnicas. Considero

premissa extraordinariamente importante a utilização dos próprios do IPHAN para a

instalação de centros de discussão e reflexão. Em São Paulo temos a Cinemateca,

que pode ser um veiculo, porque já está pronta. Mas a casa Warchavchik, na Vila

Mariana, tombada em 1987, quando eu presidia o Departamento de Patrimônio

Histórico da Prefeitura, está caindo." O Presidente apresentou os seguintes

esclarecimentos: "Eu não quis adiantar para o Conselho determinadas tratativas, mas

estamos preocupados com essa questão. Já tive contato com o Secretário da Cultura,

Dr. Marcos Mendonça, já conversei com o professor Nestor Goulart também, porque

há necessidade do apoio da Universidade. Em audiência com o Secretário Angarita,

fiz a seguinte proposta: o IPHAN articularia o restauro da Casa do Parque, que seria

cedida, em contrapartida, para instalação da 9" SRAPHAN. Estaria criado assim um

novo corredor cultural, com o relacionamento espacial e urbano da Casa Modernista,

do Parque Modernista, do Museu Lasar Segall, da Cinemateca e, do outro lado, o

Ibirapuera. Estamos em negociação." A Conselheira Suzanna Sarnpaio observou que

a mesma política poderia ser adotada em outros Estados com o apoio dos

Conselheiros que ocupam Secretarias de Cultura no Pará, em Minas, no Maranhão e

no Recife. O Conselheiro Silva Telles tomou a palavra para lamentar a ausência do

Coordenador do Grupo de Trabalho incumbido da ligação do IPHAN com a UCG,

no projeto MONUMENTA, sendo informado que encargos em Salvador e Ouro

Preto impediram seu comparecimento Aquela reunião. O Conselheiro Ângelo

Oswaldo pediu a palavra para fazer as seguintes observações: "Senhor Presidente,

queria aproveitar essa pergunta do Conselheiro Silva Telles sobre o Dr. Cyro Lyra e

o programa MONUMENTA e me reportar à ata da 20" reuniao, do dia 2 de

dezembro. Dessa ata constam algumas considerações que fiz sobre o programa

MONUMENTA, o IPHAN, o Presidente e o Ministério da Cultura. Vossa Senhoria

agradeceu, manifestando a sua intenção de levar ao conhecimento do Ministro os

fatos que eu relatara e trazer esclarecimentos. Por diversas vezes tenho solicitado ao

Ministro da Cultura informes sobre o MONUMENTA e o Ministro se recusa a

fornecê-los. É uma atitude desrespeitosa, não s6 com o Conselheiro, sou membro de

um Conselho do Ministério da Cultura, inclusive sou ex-presidente deste Conselho,

porque já dirigi o IPKAN, mas uma atitude também desrespeitosa com o Secretário

de Estado da Cultura. Porque ele não responde, se esquiva, esconde os objetivos

desse projeto. É uma atitude inadmissível, que deve ficar registrada em ata. Foram

firmados contratos internacionais pelo Governo Brasileiro junto ao Banco

Interamericano de Desenvolvimento, com comprometimento de Prefeituras. Mais

tarde, através da Lei de Responsabilidade Fiscal, talvez possamos conhecer os

objetivos da destinação desses recursos, como foram aplicados pelas Prefeituras,

com a chancela do Ministério da Cultura, sem conhecimento dos Estados envolvidos.

Porque o território é também do Estado. O território real é do Município, mas o

território institucional é também do Estado e da União. Em República Federativa, a

União deve se reportar sempre ao Estado. Já me dirigi a Vossa Senhoria que, como

consta da ata, comprometeu-se a levar o assunto ao Ministro. Não temos retorno. O

Secretário de Patrimônio, Museus e Artes Plásticas, Dr. Octávio Elisio, tambem tem

recebido diversas manifestações. Ainda há três dias, enviei correspondência ao

Ministério; tenho solicitado e não consigo obter informações. Então trouxe, para

conhecimento do Conselho, uma reportagem de três phginas do jornal Estado de

Minas, do último domingo, intituIada: 'Patrimônio Ameaçado', sobre a situação do

IPHAN. Não é de nenhum representante do Governo Itamar Franco, não é de

nenhum membro de organização da sociedade civil. São os funcionários do IPHAN

que dizem não ter condição de trabalhar em Ouro Preto porque a Prefeitura

desconhece a sua existência. A Prefeitura aboliu todos os convênios com o IPHAN

para o monitoramento da cidade e a aprovação de projetos. Hoje o que existe é o

laissez-faire, como disse anteriormente. A Prefeitura não está interessada. O Senhor

Ministro da Cultura parece que vai a Ouro Preto amanhã. Parece que vai, porque ele

não comunica, não informa o Governo de Minas Gerais. É um homem que escreveu

um livro intitulado Democracia Participativa, mas não deve participar dessa

democracia, que é participante, segundo o seu estudo. Em boletim informativo da

Prefeitura de Ouro Preto, o Ministro da Cultura declara que o Prefeito está fazendo

um trabalho maravilhoso, e temos declarações dos funcionários do IPHAN

af~mando ser impossível trabalhar naquela cidade. Esta situação deve ficar

documentada. Outro jornal, na coluna 'Conexão Brasília', publica: 'Ouro Preto

acariciada ganha obras. O Senhor Ministro da Cultura Francisco Weffort vai a Ouro

Preto, na próxima sexta-feira, dar o pontapé inicial no projeto MONUMENTA, que

vai restaurar monumentos e injetar 10,7 milhões no patrimônio histórico da cidade.

O prazo de conclusão das obras é de três anos. O Secretário da Cultura de Minas,

Angelo Oswaldo, torceu o nariz para a iniciativa do Governo Federal.' O Senhor

Ministro da Cultura vai fazer uma festa amanhã em Ouro Preto, no Museu da

Inconfidência, para repassar dez milhões de reais ao projeto MONUMENTA. Eu,

como membro do Conselho, recebi um convite. Estava endereçado ao Conselheiro,

não foi portanto ao Secretário da Cultura de Minas Gerais. A Secretaria da Cultura

não recebeu nenhuma comunicação." O Presidente tomou a palavra para fazer as

seguintes observações: "Quanto ao comportamento do Senhor Ministro da Cultura,

que está acima do Senhor Secretário da Cultura e é meu chefe, lembro que ele

esteve várias vezes neste Conselho para responder às questões relativas ao

MONUMENTA. Eu constatei que, das seis sessões do ano anterior o Ministro esteve

ausente apenas uma vez. Quando Vossa Senhoria colocou as questões de Ouro Preto

ele já havia se retirado e tomou conhecimento do seu teor por meu intermédio. A

palavra está com ele. Não posso, como Presidente do PHAN, falar em nome do

Ministro, ele não me deu essa autorização. Assim, não posso, como Presidente do

IPHAN, responder as suas colocações em relação ao Senhor Ministro. Entretanto,

tomei ciência desses artigos de jornal a respeito de Ouro Preto. O Superintendente

da Regional do IPHAN em Minas Gerais remeteu à Presidência cópias desses textos.

Fui também informado do desrespeito do Prefeito às normas fixadas pelo IPHAN

para a execução de obras em áreas envoltórias de bens tombados e do sítio histórico.

Para solucionar o problema e estabelecer um trabalho harmonioso visando a

preservação do patrimônio tombado daquela cidade, que é símbolo desta Nação, foi

criada uma equipe com funcionários do IPHAN lotados no Escritório de Ouro Preto

e com técnicos da Prefeitura. Este é o esclarecimento que tenho a dar ao

Conselheiro. Por outro lado, os Conselheiros têm conhecimento da existência de uma

rubrica no contrato do emprestimo firmado com o BID, denominada fortalecimento

do I P W . Portanto, estamos entrando na segunda fase do programa

MONUMENTA, onde existem diferentes parceiros, a fase operacional. Porque

entendo que a primeira fase foi a de negociação, estabelecimento do contrato e das

normas de trabalho entre o Ministério e o Banco Interamericano, com o apoio da

UNESCO. A primeira fase, então, foi preparatória e de criação dos cadernos de

encargos. A segunda fase C a operacional, quando entraremos no caminho do

fortalecimento. Como foi dito pelo Senhor Ministro, no contrato do MONUMENTA,

na ótica do Ministério, o desenvolvimento do projeto teria como âncora as

Prefeituras. Mas sempre defendemos a parceria com o Estado. O Conselheiro sabe,

como homem de Governo, como homem do Executivo, ex-Prefeito de Ouro Preto,

político, jornalista, conhecedor do Patrimônio, que temos conflitos de caráter local e

político. Vou dar como exemplo a minha cidade, São Paulo. A dificuldade da

Prefeitura em aceitar o MONUMENTA, de colaborar e articular-se com o Governo

de Estado. Nunca o Governador Mário Covas admitiria sentar-se com o Prefeito Pitta

para assinar convênio de colaboração. Aproveito a oportunidade para informar ao

Conselho a abertura de processo para estudo do tombamento da área da Luz, que

consideramos importante sítio histórico de São Paulo. Pretendemos tombar o

perímetro urbano, resultado de um trabalho de dois anos entre o COMPRESP, que é

da Prefeitura, o CONDEPHAAT, que é do Estado e o IPHAN que é federa1,Acho

que esse é o caminho sadio, em termos de parceria. Da parte do Ministério e do

IPHAN, não estamos nos distanciando dos Estados, ao contrário. Queremos que as

Prefeituras contempladas com o financiamento do MONUNENTA colaborem com

os Estados, no mínimo, em nível técnico. As dificuldades existentes em São Paulo se

repetem em outras regiões do país, não é atribuição deste Conselho discuti-las". O

Conselheiro Angelo Oswaldo tomou a palavra para apresentar as seguintes

ponderações: "Senhor Presidente, Senhores Conselheiros, temos o maior apreço pelo

IPHAN como instituição paradigmática. Ainda na última semana dirigi um ofício aos

55 deputados federais de Minas Gerais, de todos os partidos, à bancada mineira na

Câmara dos Deputados, sobre o projeto que tramita agora na Câmara, depois de ter

passado pelo Senado, tratando da situação funcional dos servidores do IPHAN. Pedi

especialmente ao Deputado Júlio Delgado, do PMDB de Minas Gerais, que estava na

comissão técnica incumbida de examinar a matéria, o seu empenho para que o

IPHAN tivesse meios efetivos de se consolidar e se aprimorar para exercer as suas

tarefas. N6s temos o melhor relacionamento com o IPHAN. O desentendimento

político de Minas Gerais com o Governo Federal se dá no plano das idéias políticas e

não no plano administrativo. Vemos convênios sendo assinados, Ministros de

Estado, representantes do Governo Federal, de todos os níveis, íransitando pelas

repartições estaduais de Minas Gerais. O Ministro José Serra estava ao lado do

Secretário de Estado da Saúde, em Belo Horizonte, recentemente, quando foi

atingido por um ovo. Temos um bom relacionamento no plano administrativo em

tudo o que contribua para o êxito da nossa tarefa, da nossa missão, no plano estadual

e no plano federal. No caso do Ministério da Cultura, reforço isso, não estou me

dirigindo a pessoa do Ministro, mas a todo um programa, supondo que seja um

programa de governo. O projeto MONUNENTA nCio é uma aula do Professor

Francisco Weffort, é um programa do Ministério da Cultura. Por isso mesmo, acho

que o projeto está sendo mal conduzido, não tem interlocução com o Estado e com a

própria casa. Vejo que há dificuldades de interação do projeto MONUMENTA com

o I P W , com este Conselho. O Ministro compareceu aqui diversas vezes para criar

um certo constrangimento, ao sentir que havia resistência da parte de numerosos

Conselheiros em relação ao seu propósito de modificar o sentido do Conselho, os

objetivos do Conselho. Foram feitas algumas alterações. Quem nomeava os

Conselheiros era o Presidente da República, essa tarefa passou ao Ministro da

Cultura, o número de membros do colegiado foi aumentado. Felizmente, as pessoas

designadas recentemente comungam do ideal que já existia aqui, de valorização do

IPHAN, de valorização da casa. É nesse sentido que eu peço a Vossa Senhoria, como

Presidente do Conselho, do qual faço parte, que transmita essas questões ao Senhor

Ministro da Cultura, já que ele não quer dialogar com o Governo de Minas Gerais.

Solicito, na condição de Conselheiro, um esclarecimento sobre a questão de Ouro

Preto. Se a Prefeitura passará agora a cuidar da questão do patrimônio como um

todo; porque esses recursos estão sendo destinados a restauração de monumentos

isolados, que em geral estão bem cuidados, alguns até adotados por patrocinadores,

com prejuízo de obras de infra-estrutura. Vamos perder a oportunidade da execução

desses trabalhos, decisão nociva para fiituras ações, tanto do Estado quanto do

IPHAN." A Conselheira Suzanna Sampaio tomou a palavra para pedir a atuação do

Presidente, como intermediário, a fm de que nZio se repita a gafe do Secretário da

Cultura de um Estado não receber um convite oficial para solenidades realizadas em

seu território. O Conselheiro Ângelo Oswaldo observou que não estava cobrando um

convite e sim informações, acrescentando, por solicitação do Presidente, que,

naquele momento, fazia o pedido como Conselheiro. O Presidente reafirmou a sua

intenção de apresentar ao Ministro os questionamentos do Conselheiro, desde que

formalizados em documento; agradeceu o seu apoio na luta pelo reconhecimento das

tarefas do IPHAN como Carreiras de Estado, e relatou as gestões que vem

realizando, juntamente como Secretário Octávio Elisio Alves de Brito, para

aprovação de matéria no Congresso. Prosseguindo, concedeu a palavra ao Chefe de

seu Gabinete, Luciano Ramos, para os seguintes informes: "Peço licença para prestar

um esclarecimento em nome da verdade dos fatos. Por acaso eu era Chefe de

Gabinete do Senhor Ministro da Cultura, e tudo o que vou dizer pode ser

comprovado pela troca de correspondências entre os órgãos que vou mencionar,

onde estão arquivadas. A decisão de transferir ao Senhor Ministro a competência de

nomear os membros do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural partiu do

Senhor Presidente da República. A Casa Civil da Presidência oficiou várias vezes ao

Senhor Ministro determinando que ele escolhesse e nomeasse os membros do

Conselho Consultivo. O Senhor Ministro, pessoalmente, pediu-me que redigisse

ofício no qual ponderava ser de bom alvitre que o Presidente continuasse sendo o

detentor dessa nomeação. A ordem foi reiterada com base na necessidade da redução

dos encargos do Senhor Presidente. A imaginação politica pode levar a alguns

enganos, sendo necessário um pouco de cuidado quando se mencionam pessoas e

autoridades que nSio podem, por questões burocráticas ou de cerimonial, dar a devida

resposta. Muito obrigado." O Conselheiro Lucio Alcântara pediu a palavra para as

seguintes considerações: "Queria fazer uma pequena intervenção sobre o projeto

MONUMENTA. Acho que devemos saudar a primeira iniciativa do Governo

Brasileiro de contrair um empréstimo internacional para investir no Patrimonio

Histórico. Contamos com a grande sensibilidade do Dr. Enrique Iglésias, pessoa

extremamente cooperativa, para que esse empréstimo se viabilizasse. E,

naturalmente, todos esperamos que o resultado desse investimento seja o melhor

possível, que produza resultados que justifiquem o endividamento do país para fazer

face a essas obras e ao fortalecimento do IPHAN. Vivemos em uma federação onde

há muitos aspectos positivos - a descentralização administrativa, a descentralização

do poder - mas exige cooperação entre os diferentes níveis hierárquicos de Governo,

que muitas vezes sofre dificuldades, sofre embaraços e empecilhos por razões de

natureza política. Quem tem experiência sabe que isso acontece com uma frequência

muito grande. Como as pessoas envolvidas tem grande preparo cultural, grande

experiência, esperamos que essas dificuldades sejam superadas através do diálogo,

do entendimento, respeitando-se posições políticas que fazem parte do pluralismo da

própria democracia. Então, considero a observação do Conselheiro Angelo Oswaldo

muito além de um desejo, de uma aspiração, um dever que tem de procurar conhecer

o programa, as intervençtjes que estão previstas em Minas Gerais, mesmo que

ocorram em plano de cooperação entre o Município e a União. Por isso teve muito

cuidado ao dizer que não está preocupado com questões de ordem formal, de

solenidades. Ele deseja sim conhecer melhor o programa, se inteirar dele, certamente

colaborar com o programa, com a experiência que tem, com o fato de ser, no

momento, responsável pela Secretaria de Cultura de Minas Gerais. O Presidente

declarou não possuir competência funcional nem representação para tratar dessa

questão, mas tem todas as condiç6es para intermediar esses entendimentos, que

devem se processar em alto nível, visando realmente, o que reconheço na

preocupação do Conselheiro Angelo Oswaldo: o interesse do patrimônio do Estado

de Minas Gerais e dos seus Municípios. Imaginem Ouro Preto, uma espécie de ícone

do nosso patrimônio, sendo desfigurada por açBes indevidas no plano municipal. Sei

que o Presidente vai desincumbir-se com toda a competência e eu também me

disponho a ajudar. Integro o Conselho Consultivo do IPHAN com muita honra,

porque acho que é uma instituição com um peso cultural muito grande, tem uma

densidade histórica no país. Mesmo com as dificuldades enormes que experimenta,

de natureza material, financeira, e de pessoal, é uma dessas instituições com uma

representatividade que ningukm pode desconhecer. Entretanto, precisamos

compreender que, mesmo preservando os seus fundamentos, a sua história, o seu

passado, ela deve se reciclar, adaptar-se aos novos momentos, as novas realidades

que vão surgindo, sem perder a essência da sua natureza. Na questão dos

funcionários, me bati, lutei bastante e consegui aprovar uma emenda de minha

autoria. A reforma do Estado Brasileiro pretende atribuir a algumas instituições

importância que exigiria dos seus servidores um desempenho para o qual deveriam

possuir garantias adicionais e qualificações especiais. São funçíres inexistentes no

mercado ou, pelo menos, não são objeto de interesse do mercado, e envolvem

grandes interesses. São as chamadas Carreiras de Estado. Eu considero, e já

declarei algumas vezes nos debates que travamos, ser esse o caso do IPHAN. Há

características especiais, peculiaridades que, no meu modo de entender, justificam

plenamente essa classificação. O Conselheiro Angelo Oswaldo está fazendo o

mesmo trabalho e todos devemos contribuir para evitar a alteração da emenda na

Câmara. E, caso seja aprovada, evitar que o Presidente da República exerça o direito

do veto. É algo que ainda corre bastante risco. Assim, há necessidade de um grande

esforço nesse sentido. Por último, não sei se o Presidente já sabe, mas está sendo

marcada em Comissão do Senado uma reunião para tratar de assuntos relativos a

Alcântara. Em princípio, estão convidados o Presidente do PHAN e um

representante do Comando da Aeronáutica. Penso que se refere à questão da Base de

Alcântara e a acordos internacionais visando o seu aluguel para lançamentos de

foguetes. Então, é oportuno que nos preparemos para essa audiência pública que vai

acontecer com a participação do Comando da Aeronáutica, do Ministério da Defesa

e do PHAN. Muito obrigado." O Presidente agradeceu e apresentou os seguintes

esclarecimentos: "Quanto a Alcântara, a Diretora do Departamento de Proteção está

acompanhando o assunto. Não tive informação dessa iniciativa, mas apoio e, se eu

estiver no exterior, o IPHAN será representado. Como foi sugerido, serei o

intermediário, mas solicito ao Conselheiro Angelo Oswaldo que apresente seus

questionamentos por escrito, para levá-los ao Senhor Ministro. Mais uma

observação: Ouro Preto foi escolhida para representar Minas Gerais no programa

MONUMENTA por estar acima das pessoas. Ouro Preto é mais importante que as

pessoas. Ouro Preto é um patrimônio nacional e universal. Está acima do Presidente

do IPHAN, está acima do Senhor Ministro, 6 do povo brasileiro." O Conselheiro

Angelo Oswaldo pediu a palavra para a seguinte intervenção: "Só duas observações

rapidíssimas para encerrar realmente o assunto, que considero esgotado. Quero

agradecer as palavras do Conselheiro Lúcio Alcântara e concordar plenamente com o

Presidente quando diz que Ouro Preto está acima das pessoas, por isso mesmo estou

fazendo essa colocação. Todas as minhas observações são nesse sentido. Quero

solicitar ao Presidente, que está pedindo um texto escrito, que leve em consideração

o texto da minha fala na reunião do dia 2 de dezembro, há quase seis meses. Eu

mantenho, até no tempo, a mesma linha de pensamento. Acho que está muito bem

colocado, com toda a clareza, o meu pensamento sobre o projeto MONUMENTA, a

relação do MONUMENTA com Ouro Preto, com o Estado; e a minha, como

Conselheiro e como Secretário de Estado, com o Ministério. Está tudo expresso com

a maior clareza, 6 mais ou menos o que falei hoje. O conceito está claro, é uma

questão realmente de patrimônio, de filosofia e de prática de trabalho, de objetivos.

Como conduzir um determinado trabalho, para que se fez esse convênio com o BID,

para onde vão os recursos e de que maneira podemos tirar o melhor proveito para

valorização do IPHAN. Vossa Senhoria verá que considero o IPHAN a última

esperança de Ouro Preto. Eu uso essa expressão. Então, gostaria que esse texto da

ata de 2 de dezembro fosse levado ao Ministro. Não falei em sua presença porque se

retirou antes do final da reunião." Prosseguindo, o Presidente concedeu a palavra ao

Conselheiro Paulo Chaves para as seguintes considerações: "Senhor Presidente,

Senhores Conselheiros, tentarei ser breve porque me parece que o assunto pede seu

esgotamento imediato. Mas não gostaria de deixar passar esta oportunidade sem

f m r dois sucintos registros. Primeiro, concordo com o meu colega Secretário de

Estado, Conselheiro Angelo Oswaldo, quando reconhece a unanimidade dos

membros do Conselho em relação ao fortalecimento do IPHAN. Acho que todos

estão comprometidos com a instituição. Alguns, inclusive, porque trabalharam na

casa. É o meu caso, dirigi a Regional no Para. Em segundo lugar, gostaria de

registrar um momento - e falo em causa própria porque convivi com a instituição no

período sombrio do ex-presidente Collor - em que o IPHAN, então denominado

IBPC, foi praticamente esquartejado. Acredito, inclusive, que este furacilo que

passou pelo país contribuiu muito para que o IPHAN não pudesse ser hoje o

principal responshvel pelo projeto MONUMENTA. Teve oportunidade de coordenar

o projeto, na gesso anterior, e talvez por sua desarticulação não soube fazê-lo. Não

vamos responsabilizar apenas o Ministro pelo fato do MONUMENTA ter usado,

tomando de empréstimo a express20, um satélite tecnocrático.Talvez tenha sido pela

necessidade de maior agilidade na utilizaç80 de verba substancial, pela primeira vez

dirigida a questão do patrimonio. Não desejo entrar no mérito dessa questão, mas

quero encerrá-la considerando o MONUMENTA um fato irreversfvel. As primeiras

cidades foram escolhidas, os recursos estão sendo utilizados e cabe a nós trabalhar

para que o IPHAN recupere a sua condição perdida. Acho que devemos fortalecê-lo

para que tenha um papel importante na aplicação dos recursos nas cidades escolhidas

e nas demais etapas previstas para serem aquinhoadas com o financiamento do BID,

Quanto B escolha dos membros do Conselho, embora me sinta demasiado pequeno

para avaliar decisões adotadas nessa órbita, me parece sábia a decisão do Presidente

da República, na medida em que delega ao seu Ministro da Cultura a

responsabilidade de escolher Conselheiros que vão ter um desempenho cultural. Até

porque o Ministro da Cultura é a pessoa mais habilitada, pelo seu métier para

compor um conselho consultivo dessa natureza. Quero declarar que não me sentiria

mais honrado se tivesse sido escolhido pelo Presidente da República. Entendo e

acredito que os Conselheiros conduzidos na mesma época a esta condição, como é o

caso do Professor Nestor Goulart, em nenhum momento, quando convidados em

Brasília, sentiram-se cooptados pelo Ministro. Em nenhum momento percebi que o

Ministro me aliciava para defender seus eventuais interesses ou do Ministério da

Cultura. Eu me sinto absolutamente autonomo, absolutamente independente para

desempenhar esta funqão. Obrigado." O Presidente tomou a palavra para as

seguintes observaçiies: "Senhor Conseiheiro Angelo Oswaldo, insisto para que,

mesmo manuscrito, Vossa Senhoria elabore um extrato dessa ata a fim de ser

apresentado ao Senhor Ministro. Estou muito honrado em ser Presidente do PHAN.

Fui combatido e estou realizando o maior esforço na minha gestão. Após um mês e

meio da minha posse, fui chamado pela Comissão de Cultura da Câmara dos

Deputados, por sua iniciativa. Posteriormente, enviei ao Deputado que me convocou

a ata em que Vossa Senhoria elogiou esta Presidência em uma das sessões do

Conselho. Embora não seja porta-voz, sou de certa forma intermediário do Conselho

em relação ao Ministério. Sou Presidente do IPHAN, órgão vinculado ao Ministério

da Cultura. Acima de mim está o Senhor Ministro da Cultura. Se aceitei participar da

administração do PHAN é porque estou de acordo com determinadas diretrizes do

Ministério da Cultura em relação a questão patrimonial, onde tenho também o direito

de expressar meu pensamento. Muitas vezes discordo do Senhor Ministro. Mas,

neste caso Conselheiro, porque já levei verbalmente o seu discurso em relação a

Ouro Preto, que Vossa Senhoria reitera hoje, considero necessário que o faça por

escrito." O Conselheiro Angelo Oswaldo tomou a palavra para as seguintes

considerações: "Vou encaminhar amanhã mesmo um oficio nos termos do

pronunciamento que f~ em 2 de dezembro. Gostaria de observar que se existiram

problemas no IPHAN na gestão anterior, eles não ocorreram por incapacidade

administrativa do Presidente, mas porque deixaram o Dr. Glauco Campello sem

condições de ser um bom administrador. Essas ilações são feitas com relação ao

projeto MONUMENTA e não acho que se possa atribuir ao dirigente daquela época

o fato do IPHAN não ter recebido a coordenação do projeto. Essa é uma decisão

ministerial, uma decisão de programa de Governo." O Presidente fez a seguinte

declaração: "Não entrarei nunca no mérito das gestões anteriores. Responderei pela

minha gestão perante o Conselho, perante os meus fúncionários, perante o

Ministério, perante a sociedade brasileira." Prosseguindo, passou a palavra à

Conselheira Suzanna Sampaio para apresentar seu relatório sobre a proposta do

tombamento da Casa da Fazenda do Registro Velho, em Barbacena, Minas Gerais,

transcrito a seguir: "Processo no 1.358-T-95, Fazenda do Registro Velho, em

Barbacena, Minas Gerais. O PEDIDO .- Encaminhado ao DEPROT em setembro de

1995 pela 13" CR de Minas Gerais, a petição solicita a abertura do processo de

tombamento do conjunto de edificações remanescentes da FAZENDA DO

REGISTRO VELHO situada no Distrito de Sá Fortes (depois Antônio Carlos,

segundo correção apresentada em 1996 no rnemo n. 241 do gabinete da 13" CR), em

Barbacena, MG. A juntada dos documentos para abertura do processo de instrução

bem como a correspondência protocolar, inclusas as certidões cartorárias, e a

documentação fotográfica, ouvida a douta procuradoria jurídica, o processo

prosseguiu até a presente data cabendo-me oferecer relatório ao plenário do

Conselho Consultivo do PHAN nesta data de 8 de junho do ano 2000 para a decisão

no mérito. A ANÁLISE - 1. 'O REGISTRO' E O INCONFIDENTE: As

primeiras edificações da fazenda Registro Velho foram constmídas em princípios do

século XVIll, concomitantemente à abertura do caminho novo que ligava o Rio de

Janeiro às minas de ouro. A rota foi aberta por Garcia Rodrigues Paes, filho do

bandeirante paulista Fernão Dias Paes, pois o caminho velho para São Paulo era mais

longo. O local Registro Velho provavelmente assim se chama até hoje mesmo depois

da secular substituição pelo registro novo, em outra localidade (Matias Barbosa),

lindeiro às margens do Rio Paraíba. Desde os primeiros anos do século dezoito,

170 1, foram instituídos os registros de entrada, em Minas Gerais, que fiscalizavam

pagamento de impostos, controlando todo o trgnsito do ouro e das pedras preciosas,

segundo os assentamentos do Erário Régio, em atendimento às normas contidas nas

'instruções para o Governo da Capitania de Minas'. Junto à residêincia e ao registro

uma capela com a invocação de Nossa Senhora do Pilar que funcionou como matriz

ate o ano de 1743, quando já a casa, a fazenda e seus anexos pertenciam ao Coronel

de Cavalaria Manoel Rodrigues da Costa e sua esposa Joana Tereza de Jesus, pais do

padre Manoel Rodrigues da Costa nascido em 1754 em Itibipoca. O padre Manoel

Rodrigues da Costa ordenou-se sacerdote em 1785 no Seminário de Mariana, e

voltou a viver com sua mãe na Fazenda Registro Velho, onde foi preso em 1791 e

enviado ao Rio de Janeiro, ficando encerrado no Convento da Ordem Terceira de

São Francisco. Por ocasião de sua prisão seus bens pessoais foram arrolados para

arresto e seqüestro com a devida relação assentada em 20 de maio de 1791 nas

páginas 435-447 dos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira. Pelo acervo

bibliográfico constante dos autos pode-se avaliar o amplo conhecimento do padre em

Teologia, História, Biologia, Oratória, Matemhtica, Filosofia e Poesia. Junto com

outros, participantes do movimento de libertação de Minas Gerais, foi julgado e

condenado a degredo perpétuo no Arquipélago do Cabo Verde e à perda da metade

de seus bens, não incluindo a Fazenda do Registro Velho. Sem ter conhecimento de

sua condenação partiu em 1792 para Lisboa ficando preso no Forte de São Julião da

Barra e quatro anos depois, em 1796, viveu em liberdade parcial até 1800 no

Convento de São Francisco. Com 50 anos de idade obteve licença para retornar ao

Brasil e em 1804 já residia novamente no Registro Velho, não arrolado entre os bens

a sequestrar. Estudos diversos em inúmeras publicações, atividades agrícolas com

tecnologia avançada para a época, marcaram sua existência até sua morte em 1844.

As suas cinzas não estão em urna junto às outras de seus companheiros no Panteão

da Inconfidência, em Ouro Preto, por ter sido enterrado na Igreja de N. S. da

Piedade, em Barbacena, e por exigência da cidade e dos cidadãos, ali permanecido

até hoje. 2. O PADRE E A REVOLUÇÃO LIBERAL DE 1842: Constam da

biografia do Padre Manoel Rodrigues Costa outras participações políticas que

demonstram sua coerência como adepto da independência do Brasil e de seu anseio

pelo desenvolvimento liberal da monarquia. Depois de hospedar José Joaquim da

Silva Xavier em Registro Velho e de escrever uma comovedora memória do mesmo,

exaltando o seu patriotismo e sua corajosa atitude ante os algozes em Minas e no Rio

de Janeiro, o Padre inconfidente participou ideologicamente da Revolução Liberal

no Brasil em 1842, como já o f i r a com o Movimento Liberal Português do Porto

(1 820). Uma carta sua jamais entregue a D. Pedro I, que também foi seu hóspede em

Registro Velho, procura incentivar, nos anos que se seguiram à proclamação de

independência, o liberalismo do primeiro imperador e as suas idéias antiabsolutistas

e constitucionalistas. A sede da fazenda do Registro Velho abrigou várias reuniões

sendo o padre nomeado deputado na Assembléia do Império e Cônego da Capela

Imperial, cargo que não assumiu por estar muito idoso. A Fazenda do Registro Vebo

classifica-se importante centro da Histbria Política Brasileira do século X K , como

também da História da Evolução Técnica de várias lavouras, sobretudo a do algodão

e de linho, para desenvolver a incipiente indústria têxtil nacional, freada e impedida

durante o Período Colonial. 3. A CASA DA FAZENDA DO REFÚGIO VELHO:

A casa com cobertura em telhas 'paulistinha' organizada em quatro águas, na parte

central, foi construída adotando um sistema misto que utilizou adobe e pau-a-pique.

É térrea com a alvenaria pintada de branco e possui seis janelas na fachada de frente,

todas tipo guilhotina com calhas pintadas em anil, para fechamento. A porta

principal está colocada acima de quatro degraus de pedra recoberta por cimento,

protegida por cobertura de meia água, com guarda corpo para o apoio, constmfdo em

madeira lisa. A planta adotada tem a forma de 'U', tendo na frente um vestíbulo,

uma sala e dois quartos, sendo que as demais dependências e peças abrem-se umas

para as outras. Na sala principal em um vão abre-se urna capelinha com talha austera

e material simples. Nas extremidades do 'U', em cada ala, ficam uma cozinha e um

banheiro em uma delas, enquanto na outra funciona uma despensa; na cozinha um

antigo fogão de lenha. Os forros são de madeira e de esteira, nos quartos e nas salas,

enquanto nas dependências de serviço a cobertura em telha vã economiza os forros.

Um pátio, onde deve ter existido uma fonte, situa-se entre as alas, composto por

pedras cobertas por cimento. A capela maior não existe mais, havendo testemunhos

no piso, e sua utilização atual é para lavagem de roupas. Não existem bens m6veis na

fazenda depois do arresto de bens do final do século XVIII, e os que foram

restituídos encontram-se no Museu de Ouro Preto (paramentos e objetos sagrados do

sacerdote). A casa está em más condições de conservação, o que não afeta a

legitimidade de sua história e a consequente salvaguarda através dos institutos

jurídicos existentes. CONCLUSÃO - Constitui conduta jB consagrada pelo

Conselho Consultivo do IPKAN o não tombamento da casa natal de pessoas ilustres,

reduzindo este tipo de registro a personalidades de importância inequívoca e perene

na História, na Cultura e na Arte em nosso pais ( manifestação do Conselheiro

Augusto da Silva Telles e do saudoso Conselheiro Francisco Iglésias). Por outras

análises só casas cujo valor artístico ou arquitetanico seja excepcional poderão ser

inscritas, o que não se constata estudando detidamente os pareceres inseridos no

processo em tela. Opinando entretanto pelo tombamento do imóvel sede da fazenda

do 'Registro Velho' o faço rigorosamente nos termos do artigo 1 do Decreto-Lei n.

25, de 30 de novembro de 1937 'por sua vinculação a fatos memoráveis da História

do Brasil', a saber: 1 - O Padre Manoeí Rodrigues da Costa foi um ilustre

inconfidente, participante do movimento revolucionário de idéias de libertação

ocorrido em Minas Gerais de 1785 a 1792. Foi como todos os inconfidentes

condenado a pena de morte, beneficiado por Dona Maria I, juntamente com os réus

eclesiásticos, com a pena de degredo perpétuo. Todos os outros à exceção do Alferes

Xavier, o 'Tiradentes', tiveram o mesmo benefício. O Padre retomou ao Brasil e até

morrer manteve-se f m e e coerente nos mesmos principias ideológicos. 2 - A

Inconfidência Mineira foi um movimento de idéias influenciado pelos princípios

3 1

norteadores do movimento revolucionário da França (1789 a 1793) e da

Independência dos Estados Unidos (1 774). Nesse entendimento a História das Idéias

e das Mentalidades, constatando-se de pronto a sua qualificação como delito de

opiniilo - hoje inaceitável - e já àquela época pela inexistência de provas materiais

impossivel de merecer sentença penal à luz do ordenamento jurídico em vigor

(Ordenações Filipinas). 3 - A importância política do Padre Manoel Rodrigues

Costa é demonstrada pelas visitas do alferes de cavalaria Joaquim José da Silva

Xavier à sua casa (in 'O Demônio da Biblioteca do Chego') e do Imperador D.

Pedro I em duas ocasiões. Convém refletir sobre o caráter liberal revolucionário do

monarca: a última visita antecedeu sua abdicação e ida a Porhgal para livrar o país

do absolutismo miguelista, extremamente conservador. Lembremos a imposição de

silêncio que houve no Brasil Imperial sobre os 'assuntos de Minas'. E por isso

perguntamos por que D. Pedro I visitaria um inconfidente? Acredito na vocação

liberal de parte da casa de Bragança, agora sobretudo depois do confmado o

assassinato de D. João VI por envenenamento. 4 - Acrescentam-se ao bem em análise

outros valores que o vinculam à História do Brasil de forma memorável: 4.1. Ter

sediado reuniões preparatórias à Revolução Liberal de 1842, ainda no capitulo de

História das Idéias e das Mentalidades; 4.2. Ter sido registro de controle aduaneiro e

de arrecadação de impostos, transformando seu propríetário em 'cobrador de

impostos e provedor dos quintos', parte de estrutura de controle aduaneiro e fiscal da

Capitania das Minas Gerais (no processo pelo historiador Adler Homero Fonseca de

32

Castro citando Francisco Iglésias e Roberto Maldos fls. 6); 4.3. Ter sido pouso de

tropeiros, sabendo-se o valor das tropas de muares no estabelecimento de vilas e

como fator de progresso em inúmeras cidades do sudeste e do sul do país. Com o

estabelecimento das ferrovias na segunda metade do século XM as vias carroçáveis

perderam sua importância com o término quase total do transporte animal (autor

citado processo fls. 7). 5. Conclui-se com relatório favorável à classificaç30 pelas

razões citadas, e considerando-se a autenticidade, a originalidade da edificação e a

sua permanência há 300 anos no mesmo lugar, representando a manutenção do

'spiritus loci' essencial à História objetiva nas nações e à memória subjetiva dos

cidadãos brasileiros de todas as épocas. Voto pelo tombamento com indicativo da

inscrição do bem no Livro do Tombo Histórico sob a designação: 'Sede da Fazenda

do Registro Velho - Residência do Inconfidente Padre Manoel Rodrigues da Costa

- Barbacena'. É o Relatório. SUZANNA DO AMARAL CRUZ SAPAIO." O

Presidente, após cumprimentar a Conselheira pela qualidade do seu trabalho, deu

início aos debates concedendo a palavra ao. Conselheiro Angelo Oswaldo para os

seguintes comentários: "Quero saudar o trabalho da Conselheira Suzanna Sampaio, a

dedicação com que ela construiu esse belo relatório sobre o tombamento e também a

sua conclusão. De fato essa casa, que conheço, na zona rural de Barbacena, ainda

dentro de mancha da Mata Atlântica, junto ao antigo Caminho Novo e à velha

Estrada de Ferro Pedro II, depois Central do Brasil, não é apenas a casa de um vulto

histórico. Ela não se insere naquela linha, muito bem criticada pelos Conselheiros

Silva Telles e Francisco Iglésias, de tombamento de casas simplesmente por terem

abrigado personalidades ilustres. Essa casa está ligada a histbria da interiorização do

Brasil, da construç%o do Brasil, tanto do ponto de vista territorial quanto do ponto de

vista politico. E ela se inclui em uma skrie, em um rosário de casas de inconfidentes.

N6s temos a casa do Padre Toledo, na cidade de Tiradentes; a casa de Bárbara

Heliodora, em São João de1 Rey; a casa do Padre Rolim, em Diamantina; duas casas

de Gonzaga e a casa de Cláudio Manuel da Costa, em Ouro Preto. Várias outras eu

poderia citar. É importante a preservação da casa desse inconfidente que foi

constituinte em 1 823 e depois revolucionário em 1842, tantos anos depois de 1789.

Lembraria também uma casa situada no Município de Berilo, às margens do Rio

Araçuaí, que é a referência mais setentrional da Inconfidência, ao norte de

Diamantina, a casa do inconfidente Domingos Abreu Vieira. Foi comprada pela

pesquisadora paulista Isolde Helena Brans, de Campinas, que está fazendo gestões

para recuperá-la. Eu pediria ao Presidente, nesta oportunidade, considerando o bom

estado das outras residências, que o PHAN desse atenção à pesquisadora e à casa do

inconfidente Domingos Abreu Vieira, referência muito importante no município

minerador de Berilo. Portanto, meus parabéns à Conselheira Suzanna Sampaio." Não

havendo outras manifestações, o Presidente colocou em votação o parecer da

Relatora sobre a proposta contida no processo no 1.358-T-95, acolhido por todos os

presentes, ficando aprovado, por maioria, o tombamento da Sede da Fazenda do

Registro Veiho - Residência do Inconfidente Padre Manoel Rodrigues da Costa

- Barbacena, no Estado de Minas Gerais, e a sua inscrição no Livro do Tombo

Histórico. Prosseguindo, o Presidente passou a palavra ao Conselheiro Augusto

Carlos da Silva Telles para tratar do Processo no 1.269-T-88 - proposta de

tombamento da Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, situada em

Corurnbá de Goiás, cujo parecer vem transcrito a seguir: "Sr. Presidente, Srs.

Conselheiros. Relatório. O processo em causa originou-se de solicitacão feita pela

14" CR do IPHAN (na época 8" DR), com data de 20/03/1988, para o tombamento da

Igreja de Na Sa da Penha de França, matriz de Corumbá de Goiás, GO. O pedido 6

acompanhado de um conjunto de elementos elucidativos sobre a igreja matriz:

histórico, descrição arquitetônica e construtiva, documentação fotográfica e planta

baixa, cortes e fachadas. O entorno da matriz também é descrito e acompanhado de

planta baixa e de fotos das edificações e logradouros nele compreendidos. O

processo, encaminhado ao Departamento de Proteção, recebeu Parecer 01 8/97 da

museóloga Gláucia Côrtes Abreu. Este Parecer, minucioso, analisa a igreja sob seu

aspecto histórico e compara-a às edificações da região. Descreve a situação atual da

igreja, em bom estado de conservação, mas modificada nos seus elementos de piso,

forros e algumas esquadrias, inclusive alteração de pinturas, principalmente nos

retábulos. Refere-se à indicaçfio de que a comunidade local está interessada em

restaurá-la, uma vez tombada, utilizando o PRONAC. Conclui a museóloga

desaconselhando o tombamento da Igreja, por julgá-la sem valor em nível nacional.

Em parecer subsequente, no 335197, a arquiteta Claudia M. Girão Barroso, chefe da

Divisão de Proteção Legal, concorda com o parecer acima referido e sugere que o

chefe da 14" Coordenação Regional procure as autoridades estadual e municipal a

fim de analisarem a possibilidade de ser a igreja em questão protegida por legislação

local ou regional. Nessa etapa o processo me foi encaminhado para estudo. Sugeri,

então, que se pedisse à 14" Regional que fornecesse elementos elucidativos do

aspecto atual do o conjunto urbano que se dispõe a pouca distância do rio Corumbá,

em um aclive em cujo topo se assenta a igreja matriz. Pois que, tendo estado, há

cerca de quinze anos atrás, em Corumbá de Goiás, muito me interessei, na ocasião,

por esse acervo urbano que ladeia a igreja, e no qual ela constitui elemento marcante.

A documentaçgo fotográfica enviada de trechos dos logradouros mostra estar o

conjunto edificado semelhante ao que indicam as fotos de 1988 e ao que conheci; a

única alteração, em relação ao que vi, é o edifício da casa paroquial, localizada à

esquerda e atrás da matriz. Voto. O conjunto urbano constituído pela igreja de Nossa

Senhora da Penha de França, matriz de Corumbá de Goiás, e pelo conjunto edificado

que a envolve, é o núcleo mais antigo e íntegro da cidade, e apresenta interesse

arquitetonico importante. Fato curioso é o de algumas dessas edificações,

residenciais e comerciais, que guardam proporções e utilizam detalhes arquitetônicos

e sistema construtivo característicos do século XVIlI e início do XIX, datarem da

primeira metade do século XX, como nos ensina Ramir Curado, em seu livro

Corumbá de Goiás - Estudos Sociais. Brasília: Editora Ser, 1997, 2" ed. Pp. 62-82.

Em Goiás, estão preservados, pelo IPHAN, os acervos urbanos e paisagísticos de

Goiás (antiga Vila Boa), de Pirenópolis (antiga Meia Ponte), de Pilar e de

Natividade (esta última atualmente no estado de Tocantins). A igreja matriz de

Pirenópolis, tombada individualmente, é de todas as igrejas goianas,

indubitavelmente, a mais íntegra e de valor arquitetonico. Lamentavelmente, as

cidades de Goiás e de Pilar perderam suas primitivas matrizes que foram

substituídas, no final do sdculo XIX, por novas edificações de menor valor. Deve-se

assinalar que a matriz de Corumbá de Goiás é uma edificação do final do setecentos

e do oitocentos que obedece ao sistema construtivo dos primeiros anos da

colonização de Goiás e se apresenta com destaque na paisagem urbana, conservando,

no interior, os retábulos primitivos. Julgamos assim que esse conjunto urbano deva

ser inscrito nos livros do Tombo, definido pelo Decreto-lei no 25 de 30.1 1.1937,

como acervo de arquitetura vernacular da região central do Brasil, do estado de

Goiás, nele incluida a igreja matriz. Desse conjunto que propomos seja tombado,

com os limites que estão definidos no processo como área a ser considerada de

entorno, deverá ser excluído o edifício recentemente construido para a casa

paroquial, localizado aos fundos e a esquerda da matriz. Deve ficar igualmente

definida a conveniência da substituição do piso da igreja, a retirada da barrada que

envolve a igreja, assim como da restauração da pintura dos retábulos. Em 04.06.00.

Augusto C. da Silva Telles, Conselheiro." O Presidente, após agradecer o trabalho

do Relator, deu inicio aos debates concedendo a palavra ao Conselheiro Paulo

Bertran para a seguinte manifestação: "Senhor Presidente, Senhores Conselheiros.

Para mim é uma dupla felicidade o fato de hoje efetivamente assumir como

Conselheiro e justamente o Professor Silva Telles homenagear a nossa região,

atendendo à reivindicação tão antiga do tombamento de Corumbá de Goiás ou

Corumbazinho, para diferenciá-la de Corumbá de Mato Grosso. Eu diria que

Commbazinho de Goiás 6 talvez o último patrimônio goiano originário do século

XVlIi realmente a merecer essa salvaguarda das nossas leis e instituições. O

momento me parece propício, uma vez que Corumbazinho vem acompanhando a

cidade de Pirenópolis em projeto turístico desenvolvido na região nos últimos cinco

ou seis anos, e havia ficado, até o momento, fora desse sistema de proteção. Porque

o turismo traz inúmeras vantagens mas, por outro lado, traz uma série de problemas.

O voto do Conselheiro Silva Telles veio na melhor oportunidade possível. Em nome

do povo goiano quero agradecer ao colega Conselheiro por esse presente que, se

tiver autorização deste Conselho, pretendo hoje mesmo noticiar, não s6 em Corurnbá

como em todo o Estado de Goiás, porque realmente é uma ocasigo jubilosa e

esperada, há mais de dez anos. E não poderia encerrar sem mencionar o trabalho

extraordinário que está sendo realizado pela Conselheira Suzanna Sampaio visando a

inscrição da cidade de Goiás na Lista do Patrimônio da Humanidade, considerando-

se o caráter extraordinário da antiga Vila Boa de Goiás como um exemplo de cidade

que, embora fosse do ciclo de mineração, aperfeiçoou-se como capital sertaneja,

constituindo um vernáculo muito especial, de grande valor histórico e cultural.

Então, meus caros Conselheiros Silva Telles e Suzanna Sampaio, quero agradecer

em nome do meu povo, do meu Estado, essas tão pertinazes e oportunas

consagrações. Muito obrigado." O Presidente agradeceu e passou a palavra ao

Conselheiro Silva Telles para os seguintes esclarecimentos: "Inicialmente, agradeço

as palavras do Conselheiro Paulo Bertran. Em seguida, s6 uma explicação, porque

talvez esteja pouco claro. Vou confessar que fiquei extremamente indeciso; cheguei

a fazer três conclusões. A proposta inicial era de tombamento da Igreja Matriz, com

um perímetro de entorno. Mas quando estive lá, achei muito interessante esse

conjunto urbano situado exatamente na encosta do rio, na fralda do rio, com a Igreja

Matriz no topo. Assim, há uma inversão no processo, em vez de tombar-se a Igreja

Matriz com uma área de entorno, seria tombado o conjunto urbano, nele incluída a

Igreja Matriz e excluída a Casa Paroquial." A Conselheira Suzanna Sampaio pediu a

palavra para a seguinte intervenção: "Queria fazer um esclarecimento. Por dever de

ofício, defendo as candidaturas das cidades brasileiras para a sua inscrição na Lista

do Patrimônio Mundial, diante do Conseiho Internacional de Monumentos e Sítios.

Sou representante brasileira e fUi eleita por mais três anos Então o Brasil ainda vai

poder se beneficiar da minha ênfase que, no caso de Goiás, é uma paixão antiga. O

meu pai foi contratado para fazer o plano de eletrificação da cidade de Goiania, que

iria substituir Vila Boa de Goiás como capital do Estado. E esse fato ficou em minha

imaginação. Voltei outras vezes à Goiás, mas nesta última visita, depois de ter

trabalhado muito com o Patrimônio Mundial, em 1996, conclui que a cidade merecia

ser assim distinguida. Essa maravilhosa arquitetura vernácula, que ficou no centro do

pais, é a herança que os paulistas deixaram no interior, vinda diretamente de

Portugal. É única, 6 a unicidade de Goiás que me convence. Como diz o Conselheiro

Silva Telles, é esse vernáculo comovente e austero, que n3o tem monumentalidade

especial, mas que é absolutamente verdadeiro, autêntico, original, único, e por isso

mesmo universal. Goiás é a última cidade vernácula bandeirista." O Conselheiro

Paulo Chaves pediu a palavra para fazer o seguinte pronunciamento: "Professor

Silva Telles, Vossa Senhoria é um mito da história deste país. Já conhecia a sua

história antes de conhecê-lo pessoalmente. Não tive a oportunidade de lhe dizer isso

nas reuniões deste Conselho. Mas queria aproveitar o elogio para registrar uma

emoção. Quando o Professor Silva Telles, apesar de um mito, do alto da sua

respeitabilidade, disse de maneira simples, sem ser sirnplbria, que fez três vezes a

conclusão do seu relatório, achei bonito, emocionante. E entendi Professor, de

imediato, porque senti que o objeto do processo era um monumento, a Igreja. E a

Igreja, subentende-se que Vossa Senhoria acompanhou a avaliaçgo feita pelos

técnicos do IPHAN, não merecia o tombamento especffico, pontual. E consegue,

com sua sabedoria, reverter o processo. O que qualifica a Igreja é o seu entorno, é

esta arquitetura vemácula destacada pela Professora S u m a Sampaio que dá

condição para a Igreja ser tombada. Há uma inversgo extraordinária de valor. Aquilo

que para muitos e durante tanto tempo foi considerado algo secundário, aquilo que

tem característica popular e portanto genuína, passa a dar importância Aquilo que

normalmente seria considerado, hierarquicamente, como o monumento mais

importante, por ser uma igreja. Parabéns Professor, aprendi muito hoje com a sua

lição." O Presidente tomou a palavra para fazer as seguintes observações: "Eu

entendo que a sabedoria do Conselheiro Silva Telles, no seu relato simples, mas

profundo, como disse o Conselheiro Paulo Chaves, deu uma aula na análise que fez.

Entendo que não foi só em reverter o processo, mas na maneira como enfocou o

problema. Vossa Senhoria alertou os técnicos do IPHAN para, nos estudos iniciais,

analisarem os bens de outra forma, deu um passo de qualidade, niio se preocupou

apenas com o objeto, considerou o seu entorno, o meio ambiente, a cidade. Parabéns,

Conselheiro." Não havendo outras manifestações, o Presidente colocou em votação o

parecer do Conselheiro Silva Telles, acolhido por todos os presentes, ficando

aprovado, por maioria, o tombamento do conjunto em questão, devendo o processo

retomar ao Departamento de Proteção e, posteriormente, ser encaminhado à

Procuradoria Jurídica do IPHAN, para as providências pertinentes." Prosseguindo, o

Presidente passou a palavra ao Conselheiro Paulo Chaves, para relatar o processo no

1.35 1 -T-95 - proposta de tombamento das Ruínas do Forte do Buraco, situado em

Olinda, PE, cujo parecer vem transcrito a seguir: "Senhor Presidente, Senhores

Conselheiros. O Forte, minimamente conhecido como do Buraco, na Cidade de

Recife, Pernambuco, inscreve e simboliza, em si mesmo, o desatino contra a

memória nacional. Desatino que insiste, persiste e não desiste, apesar de heróico

brado retumbante de alguns, ainda poucos. Tombado pelo PHAN em 1938, já

debilitado, ficou à deriva pelas mãos da inércia até 1953, quando foi acordado pelos

dinamites da clandestinidade oficial. Ao arrepio da lei, em nome de um estratégico

dique seco para uso militar que, além de trágico é irônico, nunca foi concluído,

iniciou-se a demolição sob a bandeira da ordem, do progresso e do desenvolvimento

do País. Uma breve interrupção do processo, graças ao repúdio de algumas vozes

pernambucanas, de entidades, artistas e intelectuais, como Gilberto Freire,

coonestado por Rodrigo M. F. de Andrade e Lúcio Costa, mas insuficiente para

conter o desiderato - no caso, fatal - quando uma voz mais alta se alevanta. Em 10 de

janeiro de 1955, o presidente João Café Filho determina o cancelamento da inscrição

do Forte no livro do Tombo, acatando parecer pelo destombamento, "em beneficio

da segurança nacional", do Chefe da Casa Militar, General de Divisão Juarez

Fernandes Távora. Nem dique, nem forte, ruínas e nada mais.. Em termos. Os

ccescombros", como assim prefere denominar um douto parecer nos autos do

processo em tela, ainda sangram. E exigem reconhecimento. Mutilado, o forte,

através do que se deduz da iconografia disponível, ainda preserva a sua unidade

potencial, onde o que conta é a qualificação da ruína e o seu entorno, e não sua

quantificação. Os fragmentos, espalhados pela ação arbitrária do homem,

testemunham as marcas do tempo e qualificam o lugar, ensejando uma estética,

diferente do momento que antecedeu a violência, que hoje agrega-se as suas

entranhas e complementa a sintaxe da sua história. Mais alem do lugar, o istmo onde

repousam as pedras descamadas, de indiscutível valor paisagístico, mais além da

própria substância do que restou daquilo que um dia foi a inexpugnável fortaleza de

Santo Antonio do Buraco, mais além da própria história do sitio e do monumento

semidestruído, enquanto edificação militar, mais além da estética e além de tudo, a

ruína pede passagem. Senhores conselheiros, a ruína é um monumento, se me

permitem esse entendimento, a denunciar crimes semelhantes praticados no País e,

na maioria dos casos, tal como este, usufmindo as glórias da impunidade. O Forte do

Buraco narra uma tragédia, da qual nós também, membros do Conselho Consultivo

do IPHAN somos participes, na medida em que vamos deliberar sobre o destino de

uma polêmico processo que se arrasta há 45 anos. A Ruína, agora mais do que

histórica, é resistência e memória, tão representativa daqueles que têm se insurgido

contra a prepotência e o desdém. A Ruína, agora mais do que ruína, agrega o

patrimônio intangível que vários brasileiros ilustres nos legaram, como Rodrigo M.

F. de Andrade, Gilberto Freire e Lúcio Costa. E como tal, é relíquia a ser preservada.

A Ruína, mais do que passado e presente, 6 ícone intemporal de luta e obstinação.

Assim, independente de qualquer medida de acautelamento já existente nas

instâncias regionais, sou de parecer favorável ao tombamento da Ruina do Forte

que, ao mesmo tempo, expressa e redime mais um obscuro buraco na história do

Patrimônio Cultural do Brasil. E isso não constrange o PHAN pelo que aconteceu

no passado, ao contrário: revigora-o. Paulo Roberto Chaves Femandes. Conselheiro

- Relator." O Presidente, após cumprimentar o Relator, concedeu a palavra ao

Conselheiro Raul Henry para a seguinte intervenção: " Presidente, queria

inicialmente parabenizar o Conselheiro Paulo Chaves pelo relatório e apresentar a

43

posição dos pernambucanos que fazem parte deste Conselho. Trago, por escrito, os

votos de Joaquim Falcão e Marcos Vilaça. É a posição do exConselheiro Roberto

Cavalcanti de Albuquerque, que pediu vistas ao processo, é a posição do Governo do

Estado de Pernambuco, é a posição da Prefeitura de Olinda, que trago também,

ambas por escrito, 6 a posição da Prefeitura do Recife, é a posição da Universidade

Federal de Pernambuco, é a posição do Instituto de Arquitetos do Brasil, Seção de

Pernambuco, é a posição do Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de

Pernambuco. Diante dessas manifestações, e diante do brilhantismo, até da carga

poética do parecer de Paulo Chaves, acho que seria desnecessário discutir o mérito

desse tombamento." O Conselheiro Silva Telles pediu a palavra para louvar o

tombamento proposto e lembrar a luta do LPHAN, em especial do arquiteto Ayrton

Carvalho, na tentativa de impedir a demolição do Forte; e para recomendar a

defmição dos limites da área a ser tombada. O Conselheiro Raul Henry propôs que

fossem ouvidos o Superintendente da 5" SlUiPHAN e a autora do parecer daquela

Regional, presentes na reunião. O Presidente concedeu a palavra à arquiteta

Cremilda Martins de Albuquerque para os seguintes esclarecimentos: "Todo o bem

tombado tem sua área de entorno. É isso que entendi das palavras do Professor Silva

Telles. Haveria o tombamento da ruína e seria delimitada a sua hrea de entorno. No

tombamento de Olinda, a Fortaleza está inserida no setor F, considerado de

preservação ambiental. É uma área non-aedifcandi que compreende toda a parte do

coqueiral, do istmo de Olinda. Por tudo que foi considerado, penso que a ruína deve

44

ser tombada" O Conselheiro Silva Telles pediu a palavra para reiterar a sua posição,

transcrita a seguir: "Entendo que o tombamento atingiria as ruínas do Forte do

Buraco, em Olinda, sendo necessário definir, no processo, a área a ser tombada."

Prosseguindo, o Presidente leu o voto do Conselheiro Joaquim Falcão, transcrito a

seguir: "Prezado Presidente. Impossibilitado de comparecer à reunião de hoje, e

dentro da tradição desta casa, gostaria de declarar meu voto a favor do Tombamento

das Ruínas do Forte do Buraco, em Pernambuco. Trata-se de um bem vinculado a

fato relevante de nossa história, não somente pernambucana, mas sobretudo

brasileira. A relevância de termos, mesmo diante de uma invasão estrangeira, sabido

no fmal reconquistar nossa soberania é, talvez, a mais atual e necessária lição do

nosso passado para o nosso futuro. Cordialmente, Joaquim Falcão." Passou, então, à

leitura do voto do Conselheiro Marcos Vinicios Vilaça, transcrito a seguir: "Brasilia,

6.6.2000. Declaração de voto. Manifesto meu irrestrito apoio ao tombamento das

Ruínas do Forte do Buraco, no Recife, atendendo a todos os imperativos que são

avaliados em situação deste tipo, dos técnicos, aos históricos. Faço essa declaração

pela impossibilidade - ausência do Brasil na oportunidade - em comparecer a reunião

do Conselho. Marcos Vinicius Vilaça." Concluindo, o Presidente colocou o assunto

em votação, tendo sido aprovado, por unanimidade, o tombamento das Ruínas do

Forte do Buraco, em Olinda, PE, devendo o processo retomar ao Departamento de

Proteção para as providências pertinentes. Em seguida, o Presidente submeteu ao

Conselho o parecer do Departamento de Proteção para arquivamento do Processo no

45

1.135-T-85, relativo ao tombamento do Conjunto Arquitetônico do Distrito de

Santo Antônio de Lisboa, em Florianópolis,SC. O Conselheiro Silva Telles

solicitou e obteve vistas ao processo, sendo incumbido pelo Presidente de relatar a

matéria. Em seguida, foi colocada em votação a ata da 21" reunião do Conselho,

aprovada por unanimidade. A Conselheira Suzanna Sampaio pediu a palavra para

apresentar seguinte proposta: "Gostaria de sugerir à Vossa Senhoria, como

Presidente do IPHAN, que os funcionários da casa pudessem novamente frequentar

as reuniões do Conselho. Era tão simpático quando estavam aqui, tinham depois um

diálogo conosco, uma conversa que nos ajudava e, tenho a impressão, os ajudava

também. Peço que Vossa Senhoria pense nisso com bastante atenção." O Presidente

externou o seu propósito de analisar e considerar a sugestão. Leu então, para

conhecimento dos Conselheiros, a mensagem do Conselheiro Luis Viana Queiroz,

transcrita a seguir: "Senhor Presidente, impossibilitado de comparecer à 22a Reunião

do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, em decorrência de obrigações

profissionais na cidade de Jequié, no interior do Estado, de onde não há vôo

disponível para chegar ao Rio de Janeiro, tempestivamente, solicito-lhe o obséquio

de transmitir aos demais conselheiros meu lamento pela ausência - no horizonte

amplo do sertão da Bahia, a luz da Cidade Sol desenhará a silhueta tristonha de um

baiano que, hoje, não poderá cumprir seu dever de acudir ao chamado do

Patrimônio. Faço votos de fkutífera reunião, associando-me às justas homenagens a

Gilberto Ferrez. Saudações da Bahia! Luis Viana Queiroz." O Conselheiro Silva

46

Telles pediu a palavra para a seguinte intervenção: "Desejo elogiar o trabalho

Embarcações de S8o Luís. E uma obra espetacular do Conselheiro Luiz Phelipe

Andrès, da maior qualidade, apresentado de maneira simples e absolutamente

honesta. Pode-se at6 construir um barco a partir desses desenhos. Gostaria de sugerir

ao Conselheiro Luiz Phelipe que acrescentasse a esse texto uma nota sobre os

artesãos das áreas de construçiío naval ao longo de Alcântara, ao longo de São Luis.

São pretos retintos, que não tem sangue ariano, são pretos absolutamente africanos,

inteiramente autênticos; suas casas são também muito interessantes. É o voto de

louvor ao meu querido amigo e colega." O Presidente, concluindo, teceu as seguintes

considerações: "Agradeço o comparecimento dos senhores Conselheiros. Eu entendo

que a reunião de hoje foi de alto nível, particularmente nas discussões relativas à

questão do tombamento, e na postura dos senhores Conselheiros em seus cuidados

com o andamento do IPHAN e as diretrizes do Ministério." Nada mais havendo a

tratar, o Presidente agradeceu a presença dos Conselheiros e encerrou a sessão, da

qual eu, Anna Maria Serpa Barroso, lavrei a presente ata, que assino com o

Presidente e os demais membros do Conselho.

Car ~ c " - T >

nna Maria Serpa arroso

/

Angelo ~swafgg,.&e $aúj.o Santos

ilva Tell .

Italo Campafiorito

Luiz Phelipe de C.C. Andrès 77 Nestor Goulart Reis Filho [ Ju/;l-

Paulo Qeriran-Wirth Chaibub "7

Paulo Roberto Chaves Fernandes

Raul Jean Louis Hemy Júnior

S u m a do Amara1 Cmz Sampaio

/ Synésio S-cofano Fernandes