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479 Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.41, n.71, p.479-512, jan./jun.2005 I RELATÓRIO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO e o SINDICATO DOS EMPREGADOS EM EMPRESAS DE SEGURANÇA E VIGILÂNCIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, já qualificados, ajuizaram ação civil pública em face de BRINKS SEGURANÇA E TRANSPORTE DE VALORES LTDA., também já individualizada, afirmando o Órgão Ministerial que a ré foi objeto de investigação por ele empreendida após diversas denúncias no sentido de que há constante desrespeito às normas legais relativas aos limites da jornada de trabalho, tendo sido instaurado procedimento investigatório específico. Alegou, ainda, que durante referida investigação provou-se ser comum a prorrogação da jornada normal de trabalho além de duas horas diárias, bem como a inexistência de intervalo interjornada de onze horas e intrajornada de uma a duas horas, conforme documentos que acostou aos autos, tudo em total dissonância com a legislação vigente e prejudicando a saúde dos empregados. Requereu, via de conseqüência, a concessão de tutela antecipada inibitória para limitar o número de horas extraordinárias nos termos do artigo 59 da CLT, sob pena de multa e para compelir a ré a conceder a seus empregados o intervalo mínimo de 11 horas consecutivas entre uma jornada e outra, o intervalo intrajornada de uma hora e o repouso semanal remunerado de 24 horas, todos sob pena de multa e, em sede de pedido definitivo, tutela específica inibitória, condenando-se a ré ao cumprimento definitivo das obrigações de fazer acima discriminadas e ao pagamento de indenização pelo dano coletivo causado por sua conduta ilícita, em favor do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Deram à causa o valor de R$100.000,00 (cem mil reais). Juntaram documentos. O pedido liminar requerido foi rejeitado antes da apresentação da defesa. Regularmente citada, a reclamada, na audiência em inauguração, apresentou defesa escrita, acompanhada de documentos, eriçando preliminares de ilegitimidade do Ministério Público para o ajuizamento de referida ação e de incompetência da Vara do Trabalho eleita pelo parquet e, no mérito, pugnando pela improcedência dos pedidos. Trouxe aos autos instrumento de mandato e carta de preposição. Impugnados os documentos. ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00378-2005-002-03-00-2 DATA: 16.05.2005 DECISÃO DA 2ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE - MG Juíza Substituta: Drª ADRIANA CAMPOS DE SOUZA FREIRE PIMENTA Aos 16 dias do mês de maio do ano de 2005, às 15h55min, na sede da 2ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, tendo como Juíza Titular, em exercício, a MM. Juíza do Trabalho, Drª ADRIANA CAMPOS DE SOUZA FREIRE PIMENTA, ocorreu a audiência para julgamento da ação civil pública ajuizada por MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO + 1 em face de BRINKS SEGURANÇA E TRANSPORTE DE VALORES LTDA. Aberta a audiência foram, de ordem da MM. Juíza Presidente, apregoadas as partes, ausentes. Passou-se a proferir a decisão.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00378-2005-002-03-00-2 …€¦ · sentido de firmar termo de compromisso com aquele Órgão, não teve outra solução a não ser o ajuizamento da

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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.41, n.71, p.479-512, jan./jun.2005

I RELATÓRIO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DOTRABALHO e o SINDICATO DOSEMPREGADOS EM EMPRESAS DESEGURANÇA E VIGILÂNCIA DOESTADO DE MINAS GERAIS, jáqualificados, ajuizaram ação civil públicaem face de BRINKS SEGURANÇA ETRANSPORTE DE VALORES LTDA.,também já individualizada, afirmando oÓrgão Ministerial que a ré foi objeto deinvestigação por ele empreendida apósdiversas denúncias no sentido de quehá constante desrespeito às normaslegais relativas aos limites da jornadade trabalho, tendo sido instauradoprocedimento investigatório específico.Alegou, ainda, que durante referidainvestigação provou-se ser comum aprorrogação da jornada normal detrabalho além de duas horas diárias,bem como a inexistência de intervalointerjornada de onze horas eintrajornada de uma a duas horas,conforme documentos que acostou aosautos, tudo em total dissonância com alegislação vigente e prejudicando asaúde dos empregados. Requereu, viade conseqüência, a concessão de tutelaantecipada inibitória para limitar onúmero de horas extraordinárias nos

termos do artigo 59 da CLT, sob penade multa e para compelir a ré a concedera seus empregados o intervalo mínimode 11 horas consecutivas entre umajornada e outra, o intervalo intrajornadade uma hora e o repouso semanalremunerado de 24 horas, todos sobpena de multa e, em sede de pedidodefinitivo, tutela específica inibitória,condenando-se a ré ao cumprimentodefinitivo das obrigações de fazer acimadiscriminadas e ao pagamento deindenização pelo dano coletivo causadopor sua conduta ilícita, em favor doFundo de Amparo ao Trabalhador.

Deram à causa o valor deR$100.000,00 (cem mil reais).

Juntaram documentos.O pedido liminar requerido foi

rejeitado antes da apresentação da defesa.Regularmente citada, a

reclamada, na audiência em inauguração,apresentou defesa escrita, acompanhadade documentos, eriçando preliminares deilegitimidade do Ministério Público para oajuizamento de referida ação e deincompetência da Vara do Trabalho eleitapelo parquet e, no mérito, pugnando pelaimprocedência dos pedidos.

Trouxe aos autos instrumento demandato e carta de preposição.

Impugnados os documentos.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00378-2005-002-03-00-2DATA: 16.05.2005DECISÃO DA 2ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE - MGJuíza Substituta: Drª ADRIANA CAMPOS DE SOUZA FREIRE PIMENTA

Aos 16 dias do mês de maio do ano de 2005, às 15h55min, na sede da 2ªVara do Trabalho de Belo Horizonte, tendo como Juíza Titular, em exercício, a MM.Juíza do Trabalho, Drª ADRIANA CAMPOS DE SOUZA FREIRE PIMENTA, ocorreua audiência para julgamento da ação civil pública ajuizada por MINISTÉRIOPÚBLICO DO TRABALHO + 1 em face de BRINKS SEGURANÇA E TRANSPORTEDE VALORES LTDA.

Aberta a audiência foram, de ordem da MM. Juíza Presidente, apregoadasas partes, ausentes.

Passou-se a proferir a decisão.

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Na audiência em prosseguimentoencerrou-se a instrução processual.

Razões finais orais, tendo oMinistério Público do Trabalho reiteradoo pedido de concessão da tutelaantecipada.

Inconciliáveis as partes.É o relatório.

II FUNDAMENTAÇÃO

II.1 - Pressuposto processual- Competência

Inexiste a alegada incompetênciaterritorial suscitada pela ré em relação àVara do Trabalho da Capital.

Isto porque, conforme alegaçãoda autora e demonstradodocumentalmente, inclusive pela própriaRé (f. 441 e ss., v.g.), trata-se deempresa que exerce sua atividade emtodo o Estado, sendo a competênciapara instruir e julgar o feito das Varasda Capital, nos precisos termos do artigo93 do Código de Defesa do Consumidorc/c o artigo 769 da CLT.

Aplicação da OJ 130 da SDI-II doC. TST.

II.2 - Valoração dos pedidos

Os valores atribuídos aospedidos pelos autores encontram-se emconsonância com as lesões por elesnarradas na exordial, tendo restadoobedecidos os artigos 258 e 259 do CPCe 769 da CLT.

A questão atinente a ser ou nãoprocedentes tais pedidos é matériaatinente ao mérito da demanda e queali será analisada.

II.3 - Condições da ação

A pesquisa das condições daação não alcança a pertinência do

direito material subjetivo posto em litígio,l imitando-se ao plano meramenteprocessual.

No que tange à alegação da réde ilegitimidade ad causam do 1º autorpara o ajuizamento da presente açãocivil pública, não merece prosperar,c.m.v.

Isto porque o artigo 736 da CLTestabelece ser competência doMinistério Público do Trabalho “zelarpela exata observância da ConstituiçãoFederal, das leis e demais atosemanados dos poderes públicos, naesfera de suas atribuições”.

E tais atribuições não são outrasque as insculpidas nos artigos 127 e129, inciso III, da Constituição Federal,as quais determinam estar o parquet nacondição de “instituição permanente,essencial à função jurisdicional doEstado”, incumbido da “defesa da ordemjurídica, do regime democrático e dosinteresses sociais e individuaisindisponíveis”, podendo, para tanto,“promover o inquérito civil e a ação civilpública” (grifou-se), sendo exatamenteesta a hipótese dos autos.

O Ministério Público do Trabalho,diante da denúncia de ocorrência delesões a direitos individuaisindisponíveis (desrespeito contumaz àsnormas que regem a duração da jornadade trabalho), iniciou o procedimentoadministrativo adequado e, inexistindoconcordância da ora reclamada nosentido de firmar termo de compromissocom aquele Órgão, não teve outrasolução a não ser o ajuizamento dapresente ação.

É mister ressaltar que porintermédio da ação civil pública sãotuteláveis os interesses individuaishomogêneos, ex vi dos artigos 83, III e84, II e V da Lei Complementar n. 75/93;1º, IV e 21 da Lei n. 7.347/85 e 81,parágrafo único, III e 82, I da Lei n.

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8.078/90, aplicáveis ao processo dotrabalho por força do disposto no artigo769 da CLT, não havendo que se falar,assim, em falta de condições da ação.

É este, aliás, o entendimentomajoritário do Colendo Tribunal Superiordo Trabalho, conforme decidiurecentemente sua Subseção I deDissídios Individuais, em acórdão dalavra do Ministro Lélio Bentes Corrêa,in verbis:

MINISTÉRIO PÚBLICO DOTRABALHO - LEGITIMIDADEATIVA - AÇÃO CIVIL PÚBLICA -DIREITOS COLETIVOS EDIREITOS INDIVIDUAISH O M O G Ê N E O SINDISPONÍVEIS. Temlegitimidade o Ministério Públicodo Trabalho para propor açãocivil pública, visando a tutelardireitos coletivos. Tal é a hipótesesob exame, em que o Parquet

Trabalhista persegue aimposição de obrigação de nãofazer, com efeitos projetadospara o futuro, medianteprovimento jurisdicional decaráter cominatório, consistenteem não repassar para os salárioseventuais prejuízos decorrentesda atividade empresarial,inclusive decorrente de operaçãocom bomba de combustível navenda de produto ao público e decheques de clientes semprovisão de fundos, observada,no entanto, a exceção contida no§ 1º do art. 462 da CLT.Inteligência dos artigos 83, III daLei Complementar n. 75/93 e 129da Constituição Federal. Tallegitimidade alcança, ainda, osdireitos individuais homogêneos,que, na dicção da jurisprudênciacorrente do exc. Supremo

Tribunal Federal, nada mais sãosenão direitos coletivos emsentido lato, uma vez que todasas formas de direitosmetaindividuais (difusos,coletivos e individuaishomogêneos), passíveis detutela mediante ação civilpública, são coletivos. Imperiosoobservar, apenas, em razão dodisposto no artigo 127 daConstituição Federal, que odireito individual homogêneo aser tutelado deve revestir-se docaráter de indisponibilidade.Recurso de Embargos conhecidoe provido.(TST-ERR 636.470/2000.9 - Ac.SBDI-I, 1º.12.03), publicado naíntegra in LTr 68-09/1111-1115.

II.4 - Mérito

a) Duração da jornada - Limiteslegais - Desrespeito - Atentado à saúdedo trabalhador

A farta documentação acostadaaos autos pelos autores e tambémpela ré conf i rma as alegaçõesconstantes da exordial, quais sejam:a reclamada não respeita o limitemáximo de prorrogação da jornadadiária de duas horas, nos termos doartigo 59 da CLT; costumeiramentenão permite que seus empregadosdescansem onze horas entre umajornada e outra, fer indo, nesteparticular, o disposto no artigo 66 daCLT; por fim, que inexiste, na prática,o intervalo intrajornada regularestabelecido no artigo 71 da CLT.

Isto se comprova, como jáafirmado, com os documentos de f. 62e seguintes e com o corretoapontamento dos excessos de jornadapelo parquet, às f. 543 e seguintes.

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Frise-se que houve fortetentativa do Órgão Ministerial no sentidode que pudesse a ré adequar-se deforma conciliatória às normasimperativas celetistas supracitadas, masisso não foi por ela aceito (documentode f. 61).

Ressalte-se, ainda, que areclamada não nega os excessos dejornada - apenas tenta justificá-losalegando especificidade do trabalho(qual seja, prevalentemente asegurança armada), havendo restadoincontroversos, assim, os fatos narradosna exordial.

Nem se diga que o pagamentodas horas extras afastaria o direito dostrabalhadores à tutela inibitória aquipleiteada.

Isto porque os preceitos legaiscomprovadamente descumpridos pelademandada são normas protetivasimperativas, frise-se uma vez mais, dasquais o empregador não pode fazertábula rasa, sob pena de se chancelar,com isso, a paulatina deterioração dasaúde do empregado.

Ressalte-se que as normas deduração da saúde têm por objetivopropiciar um descanso mínimo aoempregado, para que este possamanter-se saudável e conviver de formanormal com seus familiares, e, assim,poder desempenhar bem suas tarefasenquanto trabalhador.

Tais normas diminuem apossibil idade da ocorrência deacidentes do trabalho, na medida emque procuram manter o empregadoatento e bem descansado, porconseqüência.

Não se pode, d.v., sob o frágilargumento de especificidade daatividade, tolerar que o empregador, deforma contumaz, determine que seusempregados extrapolem as jornadaslegais e, com isso, deixe de contratar

mais empregados, aumentando comisso seus lucros e prejudicando ostrabalhadores.

O risco do empreendimento é doempregador, que por isso deve contratarempregados suficientes paradesenvolver as atividades a que sepropõe (princípio da alteridade).

Inteligência do artigo 2º, caput,da CLT.

Outro também não tem sido oentendimento da doutrina pátria arespeito do mesmo tema.

A i. jurista, Juíza do E. TRT da 3ªRegião e Professora, Drª Alice Monteirode Barros, ensina que:

As normas sobre duraçãodo trabalho têm por objetivoprimordial tutelar a integridadefísica do obreiro, evitando-lhe afadiga. Daí as sucessivasreivindicações de redução decarga horária de trabalho ealongamento dos descansos.Aliás as longas jornadas detrabalho têm sido apontadascomo fato gerador do estresse,porque resultam em um grandedesgaste para o organismo. Oestresse, por sua vez, poderá serresponsável por enfermidadescoronárias e úlceras, as quaisestão relacionadas também coma natureza da atividade, com oambiente de trabalho e comfatores genéticos. ... omissis ...A par do desgaste para oorganismo, o estresse éresponsável ainda peloabsenteísmo, pela rotação demão-de-obra e por acidente dotrabalho.

Além desse fundamentode ordem fisiológica, as normassobre duração do trabalhopossuem, ainda, um outro de

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ordem econômica, pois oempregado descansado tem oseu rendimento aumentado e aprodução aprimorada. Já oterceiro fundamento capaz dejustif icar as normas sobreduração do trabalho é de ordemsocial: durante o dia oempregado necessita de tempopara o convívio familiar e para oscompromissos sociais.(In Curso de Direito do Trabalho.São Paulo: Ed. LTr, março/2005- p. 621, in fine e 622, ab initio)

Também o Dr. Mauricio JoséGodinho Delgado, igualmente Juiz desteRegional e Professor, em seu Curso de

Direito do Trabalho, 2. ed. São Paulo:Ed. LTr, abril de 2003, defende aimperatividade das normas celetistasrelativas ao descanso, explicitando que:

É importante enfatizarque o maior ou menorespaçamento da jornada (eduração semanal e mensal dolabor) atua, diretamente, nadeterioração ou melhoria dascondições internas de trabalhona empresa, comprometendo ouaperfeiçoando uma estratégia deredução dos riscos e malefíciosinerentes ao ambiente deprestação de serviços. (p. 826)

E mais adiante, à f. 827:

A importância do tema dajornada mais se expande, hoje,em virtude de outra associaçãosugestiva que se faz a ele: oproblema do emprego e seucontraponto, o desemprego.

... omissis ...A redução da duração

diária, semanal e mensal do

labor abre, automaticamente(ainda que não em proporçãoequivalente), inúmeros novospostos de trabalho, ou - na piordas hipóteses - obstacula, demodo franco e direto, o ritmo deavanço da taxa de desocupaçãono mercado de trabalho.

Voltando à matéria aquidiscutida, a conceituação de direitosindividuais homogêneos inserta noartigo 81, parágrafo único, III da Lei n.8.078/90, é doutrinariamente explicitadacomo:

um feixe de interesses individuais,de origem comum, cujos titularessão perfeitamente identificáveissem maior esforço. Apenas porquestão de política judiciária, noafã de atender às novasdemandas e necessidades dasociedade moderna e, sobretudo,visando facilitar o acesso à Justiçae à uniformização das decisõesjudiciais nos conflitos de massaproduzidos em larga escala pelaprópria sociedade, o legisladorpermite a defesa coletiva destacategoria de interesses ou direitos.(In Ministério Público do

Trabalho, LEITE, CarlosHenrique Bezerra, São Paulo:LTr, 1998, p. 109)

Ora, no presente caso, referidosdireitos individuais homogêneos forame ainda hoje continuam a ser atingidos,ante a aqui descrita e comprovadaafronta patronal à legislação trabalhista,notadamente aos artigos 59, 66, 67 e71 da CLT.

Lado outro, o conteúdocominatório da tutela jurisdicionalpretendida tem naturezanecessariamente mais ampla, de modo

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a, mais que reprimir os atos ilícitos jápraticados pela demandada, impedi-lade, no futuro, reiterar sua condutaabusiva e antijurídica, nos autosamplamente provada. Trata-se, aqui, deprestar uma tutela jurisdicionalpredominantemente preventiva einibitória, destinada a obter a cessaçãodas violações à ordem jurídica, atravésde provimentos judiciais de naturezaprevalentemente inibitória emandamental, como a mais recentedoutrina processual brasileira temproclamado (a respeito do tema:WATANABE, Kazuo, “Tutelaantecipatória e tutela específica dasobrigações de fazer e não fazer”, in

Reforma do Código de Processo Civil,TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (coord.),São Paulo: Saraiva, 1996, p. 42).

Destarte, considerando-se quea ela - ação civil pública - aplicam-seas disposições do artigo 84 da Lei n.8.078/90 (praticamente idêntico aoartigo 461 do CPC), por força dodisposto no artigo 21 da Lei n. 7.347/85, disposit ivos subsidiariamenteaplicáveis ao Processo do Trabalho, ex

vi do disposto no artigo 769 da CLT,julgam-se procedentes, em parte, ospedidos do parquet, condenando-seafinal a reclamada a:

- nos termos dos artigos 59, 66,67 e 71 da CLT, não determinar a seusempregados o cumprimento de jornadaextraordinária de trabalho superior aduas horas, bem como a assegurar-lheso repouso semanal remunerado de vintee quatro horas, o intervalo intrajornadade no mínimo uma hora e o intervalointerjornada de no mínimo onze horas,tudo sob pena de multa de R$500,00(quinhentos reais) por vez em quedescumprir cada uma dessascominações, multa esta a ser revertidaao Fundo de Amparo do Trabalhador -

FAT (artigos 84 da Lei n. 8.078/90 e 461,§ 4º do CPC c/c os artigos 13 da Lei n.7.347/85 e 769 da CLT).

No que tange ao pedido deindenização pelos danos moraiscoletivos decorrentes do constantedescumprimento das normas protetivaspela ré, necessário, primeiramente, fixaro conceito de dano moral.

João de Lima Teixeira Filho,citando Antônio Chaves, in Instituições

de Direito do Trabalho, v. 1, 16. ed. SãoPaulo: Ed. LTr, p. 620, muito bem odefine, in verbis:

O dano moral é osofrimento humano provocadopor ato ilícito de terceiro quemolesta bens imateriais oumagoa valores íntimos dapessoa, os quais constituemsustentáculo sobre o qual suapersonalidade é moldada e suapostura nas relações emsociedade é erigida. Dano moral,na precisa definição de AntônioChaves, “é a dor resultante daviolação de um bemjuridicamente tutelado semrepercussão patrimonial. Seja ador física - dor-sensação comoa denomina Carpenter -, nascidade uma lesão material; seja a dormoral - dor-sentimento - decausa material”.

Ora, in casu, evidente que osempregados da reclamada restaramapenados com a situação comprovadanos autos: não têm tempo paradescansar, não sabendo sequer se istoacontecerá, já que as jornadas sãobastante elastecidas, o intervalo nemsempre existe e o dia do descanso éincerto, como demonstram, repita-se, osdocumentos de f. 62 e seguintes.

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E mais: sentem o prejuízo diárioà sua saúde; sabem que é ilegal(inclusive através das reiteradasdenúncias do próprio sindicato que aquiatua como autor) e nada podem fazerdiante da necessidade do emprego,essencial para sua sobrevivência.

E, o que é pior, sabem que odescumprimento da norma trabalhistaprotetiva está “institucionalizado” e quese reclamarem individualmente poderãoperder o posto de trabalho e, o que épior, que existe uma fila imensa depessoas que aceitariam a mesmacondição de trabalho penosa edestruidora da saúde, num país tãocheio de desigualdades como este.

Nem se diga que o dano moralsomente pode ser o individual.

A Norma Constitucional não faztal diferenciação.

O conjunto de empregados dademandada tem consciência coletivaenquanto tal e coletivamente sofre comas condições agressivas à sua saúde,reiteradas e institucionalizadas, comoconfessado em defesa, ao argumentode especificidade na prestação deserviços.

Neste sentido já tem decidido oRegional da 3ª Região, conforme severifica da ementa que se segue, in

verbis:

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICATRABALHISTA - DANOSMORAIS COLETIVOS. Aevolução do dano moral nonosso sistema jurídico permite,atualmente, com base naConstituição brasileira e nas leisque regulamentam a tutelacoletiva, a condenaçãopertinente à reparação dosdanos morais coletivos. Busca-se, com essa indenização,oferecer à coletividade de

trabalhadores umacompensação pelo dano sofrido,atenuando, em parte, asconseqüências da lesão, comotambém visa a aplicar umasanção pelo ilícito praticado. Aindenização deve ser revertidaao Fundo de Amparo doTrabalhador (art. 13 da Lei n.7.347/85), em razão de este serdestinado ao custeio deprogramas assistenciais dostrabalhadores.(TRT - 3ª R. - 4ª Turma - 00292-2004-112-03-00-4 RO - Rel. JuizFernando Luiz Gonçalves RiosNeto - DJMG 13.11.2004 - p. 08)

Desta forma, tendo restadoprovado o nexo causal entre a condutada ré e a lesão diuturna à saúde dosempregados, nexo este entendido como“uma relação de causalidade entre aantijuridicidade da ação e o danocausado” (in Instituições de Direito Civil,v. II, Caio Mário da Silva Pereira, 1. ed.Rio de Janeiro: Editora Forense, 1991,p. 236), só resta concluir que cabe aocausador do ato ilícito reparar o dano.

Assim, com fincas nos artigos927 do Código Civil c/c o artigo 8º daCLT e

considerando-se o art. 5º, X,CF/88 c/c o art. 114, caput, do mesmodiploma legal;

considerando-se que o dano in

casu ocorreu em razão do contrato detrabalho;

considerando-se suarepercussão na vida dos demandantes(representados pelo Órgão Ministerial epor seu sindicato) e a evidente culpa dademandada;

considerando-se a situaçãoeconômica dos reclamantes e a dareclamada e

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considerando-se, por fim, que aimportância em dinheiro não tem porobjetivo enriquecer quem a recebe e,sim, mitigar a dor sofrida, sobre o que,aliás, assim escreve Caio Mário da SilvaPereira (in Instituições de Direito Civil,v. II, 1. ed. Rio de Janeiro: EditoraForense, 1991, p. 236), in verbis:

Uma vez verificados ospressupostos essenciais dadeterminação do dever dereparação, arma-se umaequação, em que se põe omontante da indenização comocorrelato do bem lesado. O quepredomina nesta matéria é quea indenização do id quod

interest não pode ser fonte deenriquecimento, não se instituicom o objetivo de proporcionarao credor uma vantagem - delucro capiendo -, porém sesubordina ontologicamente aofundamento de restabelecer oequilíbrio rompido pela práticado ato culposo, e destina-se aevitar o prejuízo, de damno

vitando,

arbitra-se a indenização emR$100.000,00 (cem mil reais), reversívelao Fundo de Amparo do Trabalhador -FAT.

Os juros deverão incidir a partirdo ajuizamento da ação, aplicando-sea Súmula n. 200 do C. TST.

Quanto à correção monetária,devida a partir da data da publicaçãodesta sentença, pelos mesmos índicesaplicáveis aos débitos trabalhistas emgeral.

Não há que se falar emcontribuições fiscais ou previdenciárias,em face da natureza coercitiva eindenizatória das verbas objeto decondenação.

b) Antecipação da tutela

Passa o juízo a analisar o pedidoliminar dos autores, indeferido ao iníciodo procedimento, antes daapresentação de defesa pela ré.

Pretendem sejam-lhesconcedidas de imediato as medidas jáaqui deferidas em sede definitiva,independentemente do trânsito emjulgado da presente decisão de mérito.

Pois bem. A pretensãoministerial merece prosperar eencontra albergue no artigo 11 da Lein. 7.347/85 c/c o artigo 769 da CLT,possuindo natureza de antecipação detutela, uma vez que o que se busca é aantecipação dos efeitos da tutela demérito, antes da prolação e daexecução da decisão final, devendo,assim, seu pedido ser analisado à luzdos artigos 84 da Lei n. 8.078/90, 461,§ 3º do CPC e 21 da Lei n. 7.347/85c/c o artigo 769 da CLT.

Neste sentido é lapidar EduardoTalamini (in Tutela relativa aos deveres

de fazer e de não fazer, São Paulo:Revista dos Tribunais, 2001, p. 447-448):

Por força do art. 21 da Lei7.347/85, na redação que lhe foidada pelo art. 117 do Código deDefesa do Consumidor, asregras atinentes à “defesa doconsumidor em Juízo” (CDC,Título III) aplicam-se, “no que forcabível”, à disciplina da ação civilpública. Assim, as pretensõesrelativas a fazer e não fazerformuladas em ação civil públicapassaram a ser atendidasatravés do regime previsto no art.84 do Código do Consumidor(idêntico - reitere-se - ao do art.461 do Código de ProcessoCivil).

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Houve, desse modo, oaperfeiçoamento da disciplinaoriginária, que já possibilitava acominação de multaindependentemente de pedidodo autor (Lei 7.347/85, art. 11) ea antecipação de tutela, nopróprio processo, tambémpassível de acompanhar-se daimposição da multa (art. 12,caput e § 2º). A isso acresceram-se, com a aplicação executivalato sensu da sentença e aexplícita autorização para adotarmedidas atípicas sub-rogatóriase coercitivas.

Ora, in casu, a reiterada práticada empresa-ré de desrespeitar asnormas protetivas reguladoras daduração da jornada restousuficientemente provada pela fartadocumentação acostada aos autos, jámencionada no item anterior destadecisão, sem que a reclamadaproduzisse prova suficiente emcontrário, vindo esta inclusive aconcordar com as assertivas exordiais,sob o único argumento de quedesenvolve atividade especializada, quepode implicar permanenteelastecimento da jornada.

Em que pese tratar-se de umprocesso de cognição exauriente queassegura ao reclamado utilizar-se detodos os procedimentos recursais emdireito admitidos, neste momento,existe, de um lado, um direito possívele comprovado e, de outro, umaalegação patronal frágil edesacompanhada de provas robustas,restando, via de conseqüência,autorizada a antecipação de tutelapleiteada, nos termos dos artigos 84 daLei n. 8.078/90, 461, § 3º do CPC e 21da Lei n. 7.347/85, subsidiariamenteaplicáveis ao Processo do Trabalho.

Com efeito, a antecipação detutela ora deferida justifica-se em razãoda plausibil idade do direito e dapossibilidade de ineficácia da decisãofinal, caso tenha que se esperar pelonormal andamento do feito, restandoatendido ao preceituado nosdispositivos legais supramencionados.

Ressalte-se que a referidaplausibilidade do direito não deixa deexistir em razão da ora reclamada terapresentado defesa, tornandocontrovertido o fato, pois, como nosensina Estevão Mallet, in Antecipação

da tutela no processo do trabalho, SãoPaulo: LTr, 1998, p. 58:

Ou esse direito existe, noentender do juiz, cabendo aantecipação, ou não existe, e aprovidência não se justifica. Oque não se concebe é invocar-se a controvérsia interpretativaou a natureza complexa daquestão jurídica como pretextopara o indeferimento do pedidode tutela antecipada.

No que tange ao perigo dademora, pretende o autor evitar queesteja aberta à reclamada a porta paracontinuar afrontando as normasceletistas mencionadas enquanto nãotransitada em julgado esta decisão - oque é absolutamente necessárioimpedir, à luz dos fatos já apurados nosautos e da natureza de direitos sociaisfundamentais (e, como tais, de direitosconstitucionais indisponíveis) quepossuem os direitos dos empregados dareclamada afrontados pela antijurídicaconduta patronal delineada nospresentes autos.

Ademais, o caput dos artigos 84da Lei n. 8.078/90 e 461 do CPC,subsidiariamente aplicáveis ao Processodo Trabalho, ex vi do artigo 21 da Lei n.

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7.347/85 e 769 da CLT, asseguram aotitular do direito lesado a tutela específicade seus direitos materiais lesados e os§§ 1º de ambos somente a afastam seo autor o requerer ou havendo provasda impossibilidade de efetivá-la.

Se a antecipação de tutelaencontra respaldo inclusive na doutrinaprocessual civil, deve ser aplicada, commuito mais razão, em uma situação emque num dos pólos estão trabalhadoresabsolutamente dependentes do detentordos meios de produção para sobreviver.

Eis o ensinamento de NelsonNery Júnior (in Atualidades sobre o

processo civil, 2. ed. São Paulo: Revistados Tribunais, 1996, p. 121):

A tutela específica podeser adiantada, por força do CPC461 § 3º, desde que sejarelevante o fundamento dademanda (fumus boni juris) ehaja justif icado receio deineficácia do provimento final(periculum in mora). Éinteressante notar que para oadiantamento da tutela demérito, na ação condenatória emobrigação de fazer ou não fazer,a lei exige menos do que para amesma providência na ação deconhecimento tout court (CPC273). É suficiente a meraprobabilidade, isto é a relevânciado fundamento da demanda paraa concessão da tutelaantecipatória da obrigação defazer ou não fazer...

Isto posto, concede-se aantecipação de tutela requerida, comfincas nos já citados artigos 84 da Lein. 8.078/90 e 461, caput e §§ 1º e 3º doCPC, 21 da Lei n. 7.347/85 e 769 daCLT, devendo a reclamada, desde a datade publicação desta sentença:

- nos termos dos artigos 59, 66,67 e 71 da CLT, não determinar a seusempregados o cumprimento de jornadaextraordinária de trabalho nuncasuperior a duas horas, bem como aassegurar-lhes o repouso semanalremunerado de vinte e quatro horas, ointervalo intrajornada de no mínimo umahora e o intervalo interjornada de nomínimo onze horas, tudo sob pena demulta de R$500,00 (quinhentos reais)por vez em que descumprir cada umadessas cominações, multa esta a serrevertida ao Fundo de Amparo doTrabalhador - FAT.

III DISPOSITIVO

Ex positis, tudo visto eexaminado, resolve a 2ª Vara doTrabalho de Belo Horizonte afastar aspreliminares eriçadas pela reclamada;conceder a antecipação de tutelarequerida pelo autor, devendo areclamada, desde a data de publicaçãodesta sentença:

- não determinar a seusempregados o cumprimento de jornadaextraordinária de trabalho superior aduas horas, bem como a assegurar-lheso repouso semanal remunerado de vintee quatro horas, o intervalo intrajornadade no mínimo uma hora e o intervalointerjornada de no mínimo onze horas,tudo sob pena de multa de R$500,00(quinhentos reais) por vez em quedescumprir cada uma dessascominações, multa esta a ser revertidaao Fundo de Amparo do Trabalhador -FAT (artigos 84 da Lei n. 8.078/90 e 461,§ 4º do CPC c/c os artigos 13 da Lei n.7.347/85 e 769 da CLT).

E, no mérito propriamente dito,julgar PROCEDENTES, EM PARTE, ospedidos formulados por MINISTÉRIO

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PÚBLICO DO TRABALHO eSINDICATO DOS EMPREGADOS EMEMPRESAS DE SEGURANÇA EVIGILÂNCIA DO ESTADO DE MINASGERAIS em face de BRINKSSEGURANÇA E TRANSPORTE DEVALORES LTDA., condenando esta a:

- não determinar a seusempregados o cumprimento de jornadaextraordinária de trabalho superior aduas horas, bem como a assegurar-lheso repouso semanal remunerado de vintee quatro horas, o intervalo intrajornadade no mínimo uma hora e o intervalointerjornada de no mínimo onze horas,tudo sob pena de multa de R$500,00(quinhentos reais) por vez em quedescumprir cada uma dessascominações, multa esta a ser revertidaao Fundo de Amparo do Trabalhador -FAT;

- pagar indenização arbitradaem R$100.000,00 (cem mil reais),reversível ao Fundo de Amparo doTrabalhador - FAT, pelos danos moraiscoletivos aqui constatados.

Tudo conforme constante dafundamentação, que passa a integrar opresente dispositivo e como restarapurado em liquidação de sentença.

Os juros incidirão a partir doajuizamento da ação, aplicando-se aSúmula n. 200 do C. TST.

Quanto à correção monetária,devida a partir da data de publicaçãodesta sentença, pelos mesmos índicesaplicáveis aos débitos trabalhistas emgeral.

Não há que se falar emcontribuições fiscais ou previdenciárias, emface da natureza coercitiva e indenizatóriadas verbas objeto de condenação.

Custas pela reclamada, no importede R$2.000,00 (dois mil reais), fixadascom base no valor de R$100.000,00 (cemmil reais) atribuído à condenação.

Intimadas as partes nos termosda Súmula n. 197 do C. TST. OMinistério Público deverá tomar ciênciada decisão prolatada com o envio dosautos, conforme legislação específicaatinente àquele Órgão.

Encerrou-se.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 013/03DATA: 14.03.2005DECISÃO DA 5ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE - MGJuiz Presidente: Dr. ANTÔNIO GOMES DE VASCONCELOS

Aos 14 dias do mês de março de 2005, às 15h49min, na 5ª Vara do Trabalhode Belo Horizonte - MG, sob a titularidade do MM Juiz do Trabalho, Dr. ANTÔNIOGOMES DE VASCONCELOS, realizou-se a audiência de JULGAMENTO dareclamação trabalhista ajuizada por MARCELO CAMPOS ANDRADE DE ÁVILAem face de SHELL BRASIL S.A.

Apregoadas as partes. Ausentes. Passa-se a decidir:

I RELATÓRIO

Marcelo Campos de Andrade deÁvila postula, em ação proposta contraShell Brasil S.A., o seguinte: diferençassalariais, horas extras, incorporação de

salário in natura na remuneração paraos fins que menciona, adicional depericulosidade e reflexos, emissão deguias DSS 8030 para efeito deaposentadoria, férias não gozadas,participação nos resultados,

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indenização pelo escritório virtual,adicional de transferência, multasconvencionais e ofícios a instituiçõesfiscalizadoras, multa prevista no art. 467da CLT. Aduz que: foi contratado em19.02.89 para exercer a função deassessor de vendas; em novembro de1997 foi cedido à Petrogaz DistribuidoraS.A., pertencente ao mesmo grupoeconômico da reclamada, quandopassou a exercer a função de chefe devendas; em março de 1999 retornou àreclamada, desta vez promovido agerente de operações de venda; emfevereiro de 2000, o autor foi transferidopara a cidade de Salvador, tendo sidodemitido por justa causa em 19.11.2001;sua remuneração mensal somava oimporte de R$9.063,88 acrescido dasdemais parcelas e direitos quemenciona; não usufruiu integralmente ointervalo para alimentação e repouso,gozando apenas 40 minutos diários aeste título, além disto extrapolava olimite legal de 44 horas semanais det raba lho; mesmo após ocumprimento da jornada de trabalhopermanec ia à d ispos ição dareclamada; utilizava como salário innatura o automóvel Peugeot 205 e oSantana para uso em benef íc ioprópr io , exc lus ivamente , o quesignificava um benefício mensal deR$6.700,00, considerando que ocombustível também era pago pelareclamada; após 02/96 passou areceber auxílio-moradia; do mesmomodo recebeu como uti l idade umtelefone celular; cerca de 15 dias pormês substituiu superior hierárquico;t raba lhou exposto a cond içõesper igosas; não usuf ru iuintegralmente as férias iniciadas em26.12.00; o autor instituiu por ordemda reclamada home office, às suaspróprias expensas; não recebeu aparticipação nos lucros relativos ao

ano de 2001; não recebeu adicionalde transferência que lhe era devido.

Com a inicial vieram osdocumentos de f.

Em defesa argüiu-se aprescrição e impugnaram-se, um a um,os pedidos do autor, sob fundamento deque: não houve a alegada substituição;o trabalho externo e a função degerência exercida pelo autordescaracterizam o pedido de horasextras; não houve trabalho em regimede sobreaviso; os automóveis foramfornecidos para o exercício do trabalhodo autor e não como contraprestação,bem como o combustível utilizado; amesma impugnação se aplica ao celularfornecido e o auxílio-moradia erafornecido a título de ajuda de custo; aguia DSS 8030 será fornecida na formalegal; o autor não atende às condiçõesnecessárias ao fornecimento dobenefício da participação nos lucros; ohome office foi instalado mediantecusteio da reclamada e é descabida aindenização pelo espaço residencialutilizado; a transferência do autor foidefinitiva e não comporta o adicionalpretendido; impugna os demais pedidosna forma alinhada nas f. 208/209.

Com defesa vieram outrosdocumentos.

Em reconvenção, contestadapelo autor, a reclamada reivindicaindenização ou compensação dosvalores antecipados ao autor a título deauxílio-moradia.

Laudo pericial às f. 472/484.Laudo do assistente técnico às

f. 485/490.Prova testemunhal às f. 540/542

e f. 659/660.Encerrada a instrução foram

aduzidas, pelo reclamante, razões finaisorais.

Conciliação rejeitada.Nada mais.

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DECISÃO

A) AÇÃO PRINCIPAL

II FUNDAMENTOS

2.1 Medidas saneadoras

2.1.1 Cerceio de defesa

Em audiência registrada à f. 605indeferiu-se a audição da testemunhaWill iams Bodalay. No entanto, nadecisão de f. 608 e seguintes, o dignomagistrado que então conduziu oprocesso retroagiu na decisão parapermitir a inquirição da testemunhaindigitada, entendendo que odesconhecimento do prepostorestringia-se a fatos acerca do alegadotrabalho em regime de sobreaviso, nãose podendo estendê-lo à causa de pedirconcernente ao pedido de horas extras.Entendeu, ainda, o respeitávelmagistrado que o fornecimento doaparelho celular também não seenquadrava nos critérios da declaraçãoda ficta confessio. A instrução foireaberta para perquirição de tais fatos,exclusivamente. Manteve-se oindeferimento no que se refere àscausas de pedir concernentes ao pedidode reconhecimento de trabalho emregime de sobreaviso, ao pedido dediferenças salariais e reconhecimentodo fornecimento de veículo como salárioin natura.

Ante a reconsideração apenasparcial do indeferimento, a reclamadarenovou, à f. 617, seu protesto quantoao indeferimento da audição datestemunha quanto aos demais itensconsiderados atingidos pela presunçãode confissão, quais sejam, aquelesassim considerados “pordesconhecimento do preposto: salário-substituição, sobreaviso e veículo”.

Não houve, decerto, o alegadocerceio de defesa; nem procede oprotesto reiterado. Eventuais dúvidasquanto aos limites da confissãoaplicável à espécie foram extirpadaspela prudência do magistrado revisor dadenegação total da prova oral. Comacerto reabriu a instrução, fixando oslimites da prova a ser produzida, umavez que as demais matérias incluídasno clamor da reclamada infalivelmenteforam dirimidas pela nescidade dopreposto.

A faculdade de fazer-se substituirpelo preposto é acompanhada dosriscos a ela inerentes, uma vez que opreposto tem por incumbênciainarredável “o conhecimento dos fatos”,tanto assim que a conseqüência dodesconhecimento já foi outroraestabelecida por jurisprudência cediçae acompanhada uniformemente portodo o foro trabalhista que estáconsubstanciada no Enunciado n. 74 doTST.

2.1.2 Contradita

Em razões de f. 665 o autorreitera protestos pelo indeferimento dacontradita argüida no juízo deprecadoe decidida neste juízo, conformedespacho exarado à f. 643 que teve porsignatário o zeloso magistrado que ofirma. Respeitosamente e entendendoa questão como exclusivamentedependente do enfoque sob qual amatéria pode ser analisada, e jamaispossuído pela ingênua pretensãodicotômica de realizar qualquer juízo daespécie “erro/acerto” ou “lícito/ilícito”, éque reexamino a questão para inseri-lano quadro das convicções destemagistrado responsável por assinar adecisão definitiva que selará acontrovérsia neste primeiro grau dejurisdição.

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O respeitoso despacho de f.643 pareceu-me focalizar a questãosob o ângulo da condição ou não deempregado do preposto dareclamada, tanto que a ata de f. 641registra o fato de que a testemunhadetinha procuração outorgada pelareclamada “com amplos poderes” eque, por outro lado, a mesmatestemunha estava classificada como“Job Grupo 1”, “classificação essaabaixo apenas à (sic) diretoria daempresa”. Por isto que o despacho def . fo i ass im lavrado: “ Indef i ro acontradita eis que apesar do exercícioda função de confiança, na forma doartigo 62 da CLT, e do fato destamuitas vezes implicar atuação comoalter ego do empregador, ainda assima testemunha não perde suaqualidade de empregado sujeito aocontrole e poder diretivo de outrem.”Explicita-se, destarte, que o enfoqueque serviu de fundamento à decisãointerlocutória aqui posta em questãorefere-se ao fato de a testemunhapoder ser ouvida como tal, porque nãoperdera sua condição de empregadomesmo com a outorga de procuraçãocom amplos poderes, por parte dareclamada, em seu favor.

O reexame da matéria aquifocal izado considera que atestemunha é, de fato, empregado dealta confiança da reclamada. A pontode cumular a condição de al toempregado com a condição deprocurador da reclamada no Rio deJaneiro, fato detectado no despachoindigitado, inclusive para reconhecerque, mesmo com tamanhos poderes,a testemunha não perdera a condiçãode empregado, como literalmentetranscrito acima. Ocorre que, comoempregado, a testemunha ocupa ocargo de Gerente de Negócios dareclamada, no âmbito nacional.

Ora, a questão a ser reconhecidae admitida é que não se pode, de modoalgum, neste caso, esperar datestemunha maior fidelidade ao múnustestemunhal que à alta confiança doempregador. Seu depoimento não meparece insuspeito; ao contrário, aindaque se possa esperar dela certo esforçopara retratar com isenção os fatos quedeclara, não conseguirá desvencilhar-se dos laços de alta confiança que avinculam à reclamada. Sobretudo,considerando que a testemunha eragerente do autor, e qualquer defecçãoou ilegalidade presente na relaçãoautor/gerente/reclamada, com certeza,passava pelo conhecimento eresponsabilidade da pretendidatestemunha. A suspeição que aqui seimpõe não é aquela decorrente deeventual deformação ética ou delituosa,mas da condição da testemunha nareclamada. Neste caso, não se deveesperar da testemunha a necessáriaisenção de ânimo presente somente emespíritos menos atrelados à situação daqual retira sua própria sobrevivência (oemprego dependente de atos e açõescoerentes com uma relação deconfiança restrita e incomum). E estaconfiança, do ponto de vista dareclamada, ganha coerência somentequando a testemunha sustentar asituação trabalhista que lhe for maisvantajosa ainda que em detrimento dosfatos e da verdade que possam invertervantagens ao autor. É relevanteconsiderar que o pedido de diferençassalariais lançado à f. 12 tem porreferência exatamente a função e osalário da testemunha que ora sepretende seja reconhecida como apta atestemunhar.

Defiro a contradita e asdeclarações da testemunha terão o valorque merecerem no cotejo com osdemais elementos dos autos.

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2.2 Mérito

2.2.1 Prescrição qüinqüenal

Considerando que a presenteação foi ajuizada em 09.01.2003, fixo otermo prescricional em 09.01.1998,atendendo ao disposto no inciso XXIXdo art. 7º da CF/88.

Já quanto à prescrição trintenáriaargüida em relação ao FGTS incidentesobre parcelas in natura, reconheço-acomo objeção cujo enfrentamentodepende - e não obstaculiza - do examedo mérito propriamente dito. Com fulcrona teoria da prospecção, já que é matériadependente do reconhecimento danatureza salarial de contraprestaçõescontrovertidas, será, portanto, decididaadiante.

2.2.2 O alcance da confissão ficta

Diferenças salariais e reflexos -Fornecimento de veículo (salário in

natura) - Trabalho em regime desobreaviso - Férias não gozadas:período 2000/2001

Considerando o alcance daconfissão presumida já esclarecidoalhures, tem-se por verdadeiro que: a)o autor substituiu o Sr. Williams Bodalaydurante 15 dias em cada mês no períodoacima indicado, b) recebeu comocontraprestação dos serviços prestadosà reclamada o direito de uso de umveículo durante o contrato de trabalho,c) não gozou férias relativas ao período2000/2001.

A confissão ficta, contudo, nãopode alcançar a matéria relativa aoregime de sobreaviso. Ora, “o regime desobreaviso” é conceito jurídico que seaplica a circunstâncias fáticas a elesubsumíveis. O sr. preposto apenasafirmou que não sabia se o autor “chegou

a ficar de sobreaviso”. Não poderiamesmo saber porque se trata de umconceito técnico, cuja incidência não ésuscetível de ser confessada, já que asubsunção dos fatos aos conceitos étarefa subseqüente do magistrado,ainda que imbricada de todas asnuanças da atividade hermenêutica. Poresta razão a matéria será tratada emrubrica própria e em cotejo com ascircunstâncias fáticas configuradas nosautos e que não são suscetíveis àaplicação da confissão ficta.

Considera-se ainda que osefeitos da confissão f icta aquireconhecidos devem ser fixados cum

granis salis, e segundo as regras daexperiência e daquilo que sói acontecer.Não pode ser ela fonte de abuso eenriquecimento sem causa.

Fixados os fatos e os critérios decondenação, a final, ficam deferidos aoautor:

1. As diferenças salariais quevierem a ser apuradas emseu favor decorrentes dacomparação salarial dosubstituto e do substituído.

2. O reconhecimento dofornecimento de um veículo ecombustível para uso próprioe como contraprestação pelotrabalho prestado pelo autor àreclamada. Para fins deeliminação de dúvidas epossíveis declarações futurassobre a matéria, ficaesclarecido que - sendocontrovertida a simultaneidadeou não do fornecimento dedois veículos e não sepodendo estender os efeitosda confissão ficta à matéria,uma vez que o preposto nãorespondeu sobre esta questãoespecífica (por certo não foi

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indagado), fica reconhecidoque a reclamada forneceu aoautor a título de salário in

natura um veículo - nãonecessariamente o mesmo -ao longo do contrato detrabalho.Fica estimado o valor deR$3.000,00 mensaiscorrespondente à utilidadeem questão, nelaincorporando-se osbenefícios patrimoniaisauferidos pelo autor emdecorrência da utilidade quelhe foi fornecida, já incluídoo combustível.

3. Férias + 1/3 relativas aoperíodo aquisitivo 2000/2001não gozadas, considerando-se que o relatório deinformações funcionais não édocumento hábil àcomprovação da concessãodas férias e, por isto, nãodesconstitui a confissãopresumida.

2.2.3 Horas extras - Sobreaviso- Celular (salário in natura)

O autor “visitava, fazia vistoria eprestava consultoria a vários postos degasolina (Shell Brasil S.A.) e de gás, nacapital (B. Hte. e Salvador) e interior deMinas Gerais e de cidades nordestinas”.Além disto, sua função foi de chefe devendas e, depois, gerente de operaçõesde vendas. Ambas as assertivas são delavra do próprio autor em sua petiçãode f. 04 a 13. Suas declarações iniciaiscoadunam-se com as informaçõestrazidas pelo senhor Williams Boladay,quando este esclareceu que oreclamante trabalhava como gerenteregional, nas áreas do ES e MG, e queo “reclamante não prestava contas do

seu horário ao depoente... era o próprioreclamante o responsável porestabelecer sua jornada ... que o celularfoi dado ao reclamante, até porquetrabalhava ele viajando e necessitava,por vezes, fazer contato com a empresa,evitando-se o uso de telefone do cliente... que subordinada ao reclamantetrabalhava uma equipe de consultoresde venda ... que também os consultoresde venda não estavam submetidos acontrole de jornada ... que o (era)reclamante que traçava o roteiro devisita que os consultores de vendafariam e dada a natureza do trabalhodestes não havia possibilidade decontrolar a efetiva jornada cumprida...”.Tais informações são elucidativas nosentido da liberdade do autor na fixaçãodo próprio horário de trabalho, seconfrontadas com os elementosextraídos das afirmações iniciaistrazidas pelo autor.

Os dados extraídos do laudopericial são de profunda relevância parao exame do tópico em questão.Conforme respostas dadas aos quesitos12 e 13 (f. 47 e 48), o autor realizavavisitas a 90 postos de gasolina na áreada grande BH e, além disto, viajava, emmédia, uma semana por mês.

A ausência de controle dejornada, no caso do autor, também seconfirma pelos depoimentostestemunhais constantes de cartaprecatória instrutória (f. 540), onde ficoupatente a inexistência de tal controle ea natureza externa do trabalhodesempenhado.

Ao se perscrutar os fatos trazidosa lume verifica-se a impossibilidade dodeferimento do pedido de horas extrase muito menos de caracterização doregime de sobreaviso. Múltiplos são osfundamentos: o autor detinha cargo deconfiança específica (chefe e gerenteregional de vendas), trabalhava sem

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controle de horário de trabalho e alémdisto trabalhava interna e externamente.Vale dizer, a natureza de suas funçõese o grau de confiança de seu cargoconferem duplo fundamento para adenegação das horas extras, além dofato de que inexistia efetivo controle desua jornada, nem mesmo de seussubordinados, quanto mais do ocupantedo cargo subordinante, ocupadoexatamente pelo autor.

Desaparece com a denegaçãodas horas extras, também por duplomotivo, a possibilidade de qualificaçãodo trabalho do autor como em regimede sobreaviso e do reconhecimento docelular concedido como salário-utilidade. Inviáveis. Por exercer funçãode confiança, gerir consultores de vendaque atuavam externamente e tambémporque ele próprio dedicava razoávelparte do tempo ao trabalho externo,impõe-se com obviedade e clareza“solar” que o celular era instrumento detrabalho necessário e, por outro lado, oautor poderia mesmo ser chamado aqualquer momento para solverproblemas de trabalho juntamente comseus subordinados e clientes. Aqui nãodá para se realizar o enquadramentojurídico pretendido pelo autor no queconcerne à consideração do uso doaparelho celular como utilidade-salário,salvo para se cometer intolerávelteratologia jurídica.

Improcedem, portanto, ospedidos de horas extras, inclusiverelacionados aos intervalosintrajornadas, e de enquadramento dasituação do autor em regime desobreaviso, este principalmente porabsoluta insubsistência. O regime desobreaviso apanhado analogicamentedo trabalho ferroviário diz respeito aemergências que requerem a qualquermomento a sua superação. Não se sabepor que motivo não se explicitou na

inicial para o que o autor era acionadono alegado regime de sobreaviso.Supostamente para atender adificuldades de sua equipe devendedores ou para atender aconsultorias de cliente, ambas asatividades inerentes à rotina de seucargo e que não correspondem asituações emergenciais e imprevistasjustif icativas de um regime desobreaviso. O que é mais curioso é queo tal regime coincidiu exatamente comhorários e dias normais de trabalho: de“segunda a sexta até às 22 horas”, aossábados até às 13 horas. Ora, tudoquanto visto e examinado acimadesautoriza a qualificação de um talregime como de horas extras ousobreaviso.

A mesma sorte tem o pedido dereconhecimento do fornecimento detelefone celular como salário-utilidade.

Improcedente.

2.2.4 O auxílio-moradia - Salário-utilidade (?)

A norma empresarial (dareclamada) instituiu “um auxílio mensal,reduzido anualmente até que ofuncionário e seus dependentes seadaptem à cidade de destino”. Basta aleitura do fragmento de regulamentaçãodo benefício para se identificar suanatureza não salarial. Não se refere àcontraprestação pelos serviçosprestados, mas para atender aodesempenho do trabalho emdeterminadas circunstâncias, quaissejam, aquelas em que o empregadomude seu domicílio e esteja em períodode adaptação juntamente com suafamília. Embora se destine à moradiasua natureza adequa-se mesmo à deajuda de custo moradia, já que sedesprende do valor do aluguel caso oempregado adote outra modalidade

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residencial que venha a requerer valorsuperior ao concedido sob aquele título,conforme se depreende da normainvocada (f. 351).

Pouco importa que o valor sealtere ao longo do ano, ou sofravariações conforme a localidade datransferência, nem mesmo se se tratade benefício duradouro. Nada disto lheconfere natureza de contraprestaçãopelos serviços prestados, destina-seexclusivamente a fazer face aoagravamento das despesas doempregado em situação de mudança dedomicílio em virtude da transferência.Não se trata, nitidamente, de benefícioconcedido como retribuição ao trabalhoprestado.

Improcede, portanto, a pretensãodo autor no sentido do reconhecimentoda parcela em questão como salário innatura.

2.2.5 Adicional de periculosidadee reflexos - DSS 8030

O perito oficial e o assistentetécnico da reclamada apontaramconclusões opostas. O primeiroreconhece o trabalho do autor emcondições de perigo porque o autordesenvolvia suas atividades “nasdependências de posto distribuidores(sic) de gás e combustívelconcessionários da recda... a céuaberto.” (f. 473). Tais áreas são de riscono termo do item 3 da NR 16. Concluiuainda que trabalhou em tais condiçõesdurante todo o período imprescrito, jáque mesmo em Salvador, obteveinformações de que o autor desenvolviaas mesmas atividades. Tais informaçõessão fidedignas porque o perito tempoderes instrutórios e o levantamentodos fatos por ele realizado somentepode ser desautorizado por contraprovahábil e suficiente para tanto.

O assistente técnico por sua vezassevera que, até fev./99, no exercícioda função de chefe regional de vendas,o autor atuava em escritórios de clienteou no escritório-base de Betim. Noperíodo subseqüente até março/2000 foigerente de operações de venda, a qual,por ser função de alto nível, era exercidaem escritórios de clientes, não sendocrível ou razoável que fosse assessorarclientes nas pistas ou nas instalaçõesde armazenamento e abastecimento.No último período até a sua saída oautor foi gerente de operações de vendaem Salvador, segundo o assistenteexpert. A esta fase aplicam-se osmesmos critérios, apesar danecessidade do exame pericial in loco.

Inicialmente registre-se que osenhor expert assistente não indica asfontes de suas afirmações,considerando-se ainda que o mesmo,por vezes, apóia-se em apelos lógicose em informações meramente formaissobre o caso em foco acerca de fatosconclusivos, como exemplificam asexpressões “não sendo crível ourazoável”. Estas não se coadunam demodo algum com um trabalhoeminentemente técnico como o pericialque diz respeito a levantamento dedados mediante a utilização de técnicas,regras e parâmetros científicos. Domesmo modo o laudo do assistenteressente-se da falta de minudentedescrição das tarefas desempenhadaspelo autor, da qual se desincumbiusatisfatoriamente o expert oficial que, deresto, indica locais onde se realizaramas diligências e pessoas ouvidas comotestemunhas. Neste aspecto, o laudoassistencial tem natureza mais próximade um parecer opinativo que de umaconclusão técnica.

Transcende-se por outro lado adificuldade material de realização deexame pericial em Salvador/BA, pelo

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testemunho de Mário Jofre queesclarece que as atividades nos postos,quer sejam na área de Recife,Salvador, Brasília, Goiânia/TriânguloMineiro, tinham a mesma freqüência eas atividades nos postos de vendasdele e do autor (exerciam as mesmasfunções) expunham-nos a no mínimo20 minutos em área de perigo paracada visita de duas horas e meia,conforme descrição detalhada dasatividades desenvolvidas junto aclientes nos itens 22, 23 e 24, f. 541.

Do ponto de vista metodológicofica, desde já, patenteada asuperioridade do laudo do perito oficiale a omissão do assistente técnico.

No entanto, a conclusão do peritooficial deixa obscurecida a questãorelativa ao tempo de exposição diáriaao agente perigoso. Esta questão nãoé mais decisiva se, neste caso, o quese deve levar em conta não é o tempode exposição, mas o fato próprio daexposição a perigo, que pode consumar-se a qualquer momento, bastando que,para tanto, o empregado esteja expostoaos seus efeitos. Na hipótese édeterminante apenas o fato daexposição e não a sua duração, uma vezque as conseqüências da situação deperigo uma vez verificadas sãoinstantâneas e sua gravidade, uma vezmais, independe do tempo de exposiçãoao perigo. Aqui, pretende-se afastarjurisprudência episódica que fez opçãopela proporcionalidade do valor doadicional segundo o critério do tempode exposição.

Afinal, este juízo endossa,incondicionadamente, a conclusãopericial segundo a qual “o recte., nodesenvolvimento de suas atividadesdiárias, efetuava atividadecaracterizadora de periculosidade...” (f.479).

A reclamada pagará ao autor o

respectivo adicional e reflexospostulados conforme discriminado naconclusão desta decisão.

Considerando-se que aconclusão pericial refere-se tão-somente ao período trabalhado e nãoprescrito (f. 479), a DSS 8030 seráexpedida somente quanto àpericulosidade constatada no períodode 09.01.98 a 09.01.2003.

Procedente.

2.2.6 Participação nos resultados

A participação nos resultados éregida por norma editada pela comissãode empregados da reclamada e porrepresentantes desta, com aparticipação de representante sindicale da respectiva Federação. A referidanorma (f. 366) estabelece os requisitospara a auferição da vantagem disputadapelo autor nestes autos. Além de outros,focaliza-se aqui o cumprimento demetas denominadas “Alvo” (Itens 3 e3.1, f. 368). O documento de f. 378apresenta como score individual doautor a classificação “abaixo” do objetivo(“Alvo”) estabelecido, razão pela qualnão se lhe concedeu a parcelaindigitada. A impugnação do documentoapresentada à f. 378 é desprovida defundamento convincente.Primeiramente, não se nega a suaautenticidade. O preenchimento manualnão o desqualifica, trata-se de meraforma. Importa na análise dalitiscontestação engendrada acercadeste tópico é que o autor em momentoalgum impugnou o conteúdo ou acorreção da mesma.

De outro lado, não se pode darvalor igual ao documento apresentadoàs f. 58/59, este sim impugnado quantoà sua autenticidade, sendo que o autornão se desvencilhou do ônus da provaem contrário.

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Aqui não se admite a confissãoficta porque as declarações do autor nãosão específicas quanto à participaçãorelativa ao ano de 2001. Embora “nãosaiba dizer se o cálculo da PLR do recte.está correto ou não”, a presunção daídecorrente não infirma a provadocumental apresentada pelareclamada e aqui reconhecida comoautêntica (f. 378, Cálculos Manuais PR- Desligados 2000). A tudo isto acresce-se o fato de que o autor não apresentoudemonstrativo elucidativo de suasmetas individuais para sustentar ainvalidade da prova apresentada pelareclamada. Mesmo em se tratando dematéria dependente de cálculosminudentes e apurações de ordemtécnica, o autor deixou de requerer aprodução da pericial que, nesse caso,é inteiramente pertinente dado que,além da apuração de score deprodutividade, o direito em questãoenvolve avaliação conjunta dosdesempenhos individual e coletivo (daempresa). A despeito de mencioná-lo àf. 460 deixou que se operassem aspreclusões lógica e consumativa no queconcerne à prova omitida. Não valepretender conferir maior extensão à ficta

confessio, porque o preposto apenasexternou que não sabe se o cálculo daPLR do autor está certo. Mas, esta nãoé a questão instrutória fundamental.Seriam necessárias a descaracterizaçãodo documento da reclamada e aconstatação do atingimento de “alvo”suficientes à auferição da parcelareivindicada. Isto não ocorreu.

Improcedente.

2.2.7 Adicional de transferência

Sob duplo fundamento apostulação do autor carece desupedâneo jurídico. Primeiramente, oadicional pretendido corresponde à

transferência do autor de Belo Horizontepara Salvador. Ora, a transferênciaocorreu em fevereiro/2000 (f. 04) e oautor lá permaneceu até 19.11.2001quando foi dispensado. Não se qualificacomo provisória a transferência aceitaem virtude de promoção hierárquica,como foi o caso do autor, quando este,a partir de então, permaneceu nomesmo local até o término do contratode trabalho, quase dois anos depois datransferência. Tais circunstânciasrevelam a definitividade da transferênciae inviabilidade do recebimento doadicional de transferência.

Por outro lado, ainda que assimnão fosse, é de se recordar que o autordetinha função de alta confiançacompatível com o cargo de gerenteregional. Por força do disposto no § 1ºdo art. 469 da CLT, os detentores de taisfunções excluem-se do direito aoadicional de transferência.

Improcedente.

2.2.8 Indenização - Escritóriovirtual

Em março de 2000 o autor e areclamada firmaram o “termo dealteração ao contrato de trabalho” anexoà f. 223. Em síntese, o autor passou atrabalhar em local indicado por elemesmo, onde continuou exercendo asmesmas funções, nas mesmascondições e remuneração anteriormentepraticadas. Em contrapartida areclamada passou a fornecer osequipamentos e custear as despesas demanutenção do local de trabalho, taiscomo linha telefônica, notebook,impressora, etc. São elucidativos danova situação os relatórios de despesasreembolsáveis constantes das f. 36 a 53.

Segundo a reclamada trata-se denova modalidade de trabalho baseadana flexibilidade e mobilidade.

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Reportagem publicada naGazeta Mercantil, em abril/2000,protagonizada pelo próprio autor,oferece idéia panorâmica do que vem aser a transformação do conceitogerencial que resultou na alteraçãocontratual aqui analisada. Desde entãoa reclamada passou a adotar o conceitodo escritório virtual, o que em síntesesignifica: a) substituição de escritóriosregionais por virtual office; b) dispensado comparecimento diário e periódicodo empregado ao escritório dareclamada, mediante a veiculação deinformações tais como prestação decontas, entrega de relatórios,encaminhamento de pedidos de clientespor meio de computadores dotados deequipamentos de acesso à internet; c)aumento da produtividade edesburocratização de procedimentosadministrativos. Nas palavras do autortal sistema agrega uma série devantagens: “Os funcionários não gastamtempo com deslocamento até oescritório, têm condição de trabalho emqualquer lugar e ganham maisflexibilidade para administrar o própriotempo.” Na visão da assessoria técnicada reclamada: “A principal motivação étornar a empresa mais ágil na tomada eimplementação de decisões. ‘Na novarealidade as novas oportunidades denegócios não estão restritas a umescritório. As grandes chances einformações estão em qualquer lugar,na rua, no cliente, na internet, àdisposição de um profissional muitomais independente, flexível e ousado...”.

Esta é uma das situações emque os avanços tecnológicos na área dainformação passaram a ditar novascondições de trabalho, sendo que nestecaso ensejaram a reestruturação dopacto laboral por meio de um aditivocontratual firmado entre as partes. Sãoos resultados da telemática a ditar uma

nova performance para o contrato detrabalho, sobretudo no que tange a altosempregados, como é o caso do autor.Notou-se em item anterior que atecnologia permite mesmo a concepçãode sofisticados sistemas de controle deprodutividade do empregado comoconsta da complexa norma instituidorada participação nos resultados.

Se a nova filosofia de trabalhosignificou redução de custos para areclamada (f. 55), isto, por si só, nãoensejou uma alteração contratualprejudicial ao autor. Além de ser por eleentusiasticamente consentida,conforme se denota do próprioinstrumento jurídico celebrado pelaspartes, bem como de suas vivasdeclarações dadas à reportagem emvoga. De fato, se o autor indicou comolocal de trabalho sua própria residência,fê-lo no uso da liberdade contratual deque passou a desfrutar por força doitem 2 do termo de alteração contratual(f. 22). É significativamente eloqüenteo teor do item 5 do mesmo instrumento:“Os eventuais gastos e despesas doEMPREGADO para a execução dosserviços inerentes à sua função serãoreembolsados pelo EMPREGADOR,mediante comprovação prévia e porescrito, efetuada pelo empregado.”(f. 22). Se verídica a afirmação doautor de que a alteração na filosofia daempresa não acarretou desemprego emanteve incólume o quadro deempregados, eis aí uma hipótese emque a tecnologia avançada trouxebenefícios, liberdade e maior dignidadeao trabalhador.

Considerando que foi pactuadoque toda e qualquer despesa decorrenteda execução do contrato de trabalho esuportada pelo autor seria reembolsadapela reclamada, não é razoável, nemmesmo ético ou jurídico, que venha eleagora, com grande inventividade, cobrar

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indenização pelo uso de parte de seuespaço residencial para aimplementação do tal home office, emvalor equivalente a 1/6 do contrato delocação por ele exibido. Some-se a istoo fato de que o autor tenha olvidado deque a ajuda de custo moradia já discutidaalhures foi paga ao autor exatamentepara fazer face ao custeio de moradia.

Reitere-se que as demaisdespesas cuja postulação indenizatóriaprende-se ao home office, com certeza,já foram ressarcidas por força do ajusteescrito firmado pelas partes e dosrelatórios de despesas reembolsáveiselaborados pelo autor, para recebimentodos valores neles consignados.

O pedido de indenização excedeem muito o direito e a razoabilidade.

Improcedente.

2.2.9 Artigo 467 da CLT

Na falta de deferimento deparcela salarial incontroversa não seaplica, neste caso, o disposto no artigosupra.

2.2.10 Multas convencionais

Indefere-se.A falta de indicação da norma

convencional descumprida e da matériaa que concerne a infração tornatemerário o pedido e ausência dequalquer exame ou consciência do quese postula.

2.2.11 Ofícios

São descabidos os muitos ofíciosrequeridos na alínea “m” (f. 20), nosquais, no mais das vezes, os órgãosdestinatários nem guardam relação comos fatos discutidos, pelo que, à falta deindicação do fundamento, têm-se osofícios por improcedentes.

2.2.12 Reflexos e base decálculo

As parcelas deferidas nos itens1 e 2 do tópico 2.2 e no tópico 2.2.5 dosfundamentos acima refletirão noadicional de insalubridade, no RSR, 13ºsalário e férias + 1/3, FGTS e verbasrescisórias.

Esclareça-se que os reflexos detais parcelas no FGTS obedecerão àprescrição qüinqüenal e não àtrintenária já que incidem sobre verbasatingidas pela mesma prescrição.

A base de cálculo das parcelasdeferidas compor-se-á das seguintesparcelas: salário fixo, salário-substituição, salário-util idade(fornecimento de veículo), adicional depericulosidade no que couber - porquenão pode, obviamente, ser incluído combase no seu próprio cálculo.

Exclui-se dos reflexos e da basede cálculo a participação nos lucros eresultados dado que tal parcela não temnatureza salarial.

B) RECONVENÇÃO

Por motivo de ext inção dapolítica de transferência existente naempregadora até 31.12.2000, o autore reclamada celebraram, emnovembro de 2000, o instrumentoparticular de transação de que dánotícia o documento de f. 60. Pelonegócio jurídico entabulado entre aspartes o autor recebeuantecipadamente o valor total doauxílio-moradia - cuja natureza de“ajuda de custo moradia” já foi definidaem rubrica própria do julgamento daação principal - a que faria jus até28.02.2006, no valor bruto deR$104.715,97. O instrumento detransação prevê a devolução do valorrecebido em caso de rescisão

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contratual, salvo quanto à dispensainjusta (que é o caso do autor) .Prometeu ainda o autor que, em casode nova transferência, não faria jus anenhum benefício decorrente da novapolítica de transferência, caso estaviesse a ocorrer no períodocorrespondente à transação.

Dispensado em 19.11.01 e tendopostulado o reconhecimento danatureza salarial da parcela em questãoe o recebimento de seus consectáriostrabalhistas durante todo o períodolaborado, quer a reclamada agora queseja anulada a transação entabulada,bem como as quitações recíprocas, paraque se lhe restituam os valores relativosao auxílio-moradia pagos ao autor porantecipação em conseqüência datransação noticiada, relativos aointerregno entre a data da dispensa e adata futura em que se daria o términodo benefício (28.02.2006). Ou,alternativamente, que se lhe defira (àreclamada) a compensação de taisvalores com eventuais condenaçõesque vier a sofrer.

Invocam-se aqui os mesmosfundamentos de decisão retroexaradospara se reconhecer a natureza de ajudade custo moradia da parcela auxílio-moradia antecipada e objeto dapresente reconvenção.

O deslinde da questão tornou-se simples: não tendo a reclamadasofrido qualquer condenaçãoconcernente à parcela indigitada, nadahá de ser compensado. Também nadahá a ser restituído, uma vez que adispensa do autor foi injusta, conformese declara no documento de f. 229,hipótese - aliás, a única - em que o talinstrumento de transação prevê adesnecessidade da restituição dosvalores antecipados.

Por tais fundamentos, julgoimprocedente a reconvenção aviada.

III CONCLUSÃO

Estes os fundamentos pelosquais julgo PROCEDENTE EM PARTEa ação proposta por MARCELOCAMPOS ANDRADE DE ÁVILA contraSHELL BRASIL S.A. para declarar ofornecimento de veículo como salário innatura e determinar a integração daparcela na remuneração do autor paratodos os efeitos legais no valor estimadode R$3.000,00 mensais e, além disto,condenar a reclamada a pagar, no prazode 48 horas após o trânsito em julgadodesta decisão, conforme se apurar emliquidação de sentença, observada aprescrição e demais parâmetrostraçados na fundamentação, com jurose correção monetária, conforme seapurar em liquidação, o seguinte:

a) diferenças salariais deferidasno item 1, do tópico 2.2.2,relativas ao período em queo autor substituiu seusuperior hierárquico;

b) adicional de periculosidadeconforme deferido no item2.2.5;

c) férias + 1/3 relativas aoperíodo aquisitivo 2000/2001;

d) reflexos pontuados no item2.2.13, ambos dafundamentação.

A reclamada entregará ao autoro documento identificado pelo códigoDSS 8030 na forma prescrita no item2.2.5, acima.

Também julgo IMPROCEDENTEa reconvenção aviada nestes autosconforme os fundamentos exarados nafundamentação, em rubrica própria.

Juros e correção monetária sãodevidos nos termos do Enunciado n. 200do TST e Lei n. 8.177/91, observando-se quanto à correção monetária o índice

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do 5º dia útil do mês subseqüente aovencimento da obrigação, conformeOrientação Jurisprudencial n. 124 daSDI-I do TST. Esclareça-se que o FGTStambém será corrigido dessa forma, jáque passou a ser débito trabalhista, aoser cobrado judicialmente.

Serão apurados descontosprevidenciários, nos termos da Lei n.8.212/91, processando-se, no prazo legal,o seu recolhimento sobre as parcelas denatureza salarial objeto da condenação,ficando a cargo da reclamada aquelasnão descontadas dos salários pagos aoreclamante durante o pacto, inclusive asda cota-parte do empregado, sob pena

de execução, conforme EmendaConstitucional n. 20/98.

Autorizam-se os descontos deIRRF acaso existentes à época dorepasse, sendo tributáveis, inclusive, osjuros de mora, devendo o réu comprová-los nos autos, sob pena de ofício àReceita Federal.

Custas de R$600,00, pelaReclamada, calculadas sobreR$30.000,00, valor arbitrado àcondenação.

Cientes as partes, nos termos doEnunciado n. 197 do TST.

Em seguida, encerrou-se aaudiência.

GIDEON SANTOS OLIVEIRApropõe reclamação em face de JDSUCATAS LTDA. E JARBAS DENÍSIODA ROCHA alegando, em síntese, que:foi admitido em 02.01.03, na função demotorista, sendo dispensado em03.11.03; celebrou acordo com osreclamados em reclamaçãoanteriormente ajuizada; após o ingressona Justiça do Trabalho, os reclamadospassaram a persegui-lo, impedindo-o deconseguir novo emprego e/ou de semanter num emprego, prestandoinformações sempre negativas a seurespeito, as piores possíveis,objetivando sua dispensa; foi admitidoem várias empresas, sendo dispensado

após telefonemas do segundoreclamado; gravou conversa doreclamado prestando informaçõesnegativas; a atitude dos reclamadosestá ofendendo sua honra e marcandoprofundamente sua vida. Apresentapedido de tutela antecipada e vindica opagamento de indenização por danosmorais no importe de 50 vezes seuúltimo salário. Requer também aexpedição de ofício ao MP e osbenefícios da justiça gratuita.

Atribuindo à causa o valor deR$28.144,00, junta os documentos def. 10/23, uma fita cassete, f. 24,declaração de pobreza, f. 25, eprocuração, f. 26.

ATA DE AUDIÊNCIA - PROCESSO N. 00365-2005-099-03-00-3Data: 29.04.2005DECISÃO DA 2ª VARA DO TRABALHO DE GOVERNADOR VALADARES - MGJuiz Substituto: Dr. GERALDO HÉLIO LEAL

Aos 29 dias do mês de abril de 2005, às 17h13min, o Juízo Auxiliar da 2ªVara do Trabalho de Governador Valadares, sob a condução do MM. Juiz do TrabalhoSubstituto Geraldo Hélio Leal, realizou audiência de julgamento da reclamaçãoproposta por GIDEON SANTOS OLIVEIRA contra JD SUCATAS LTDA. E JARBASDENÍSIO DA ROCHA, quando foi proferida a seguinte sentença:

Vistos.

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Após a juntada de procuração evistas dos autos, os reclamadosapresentam defesa escrita onde argúempreliminares de coisa julgada eincompetência em razão da matéria;alegam que jamais ocorreu qualquerretaliação contra o reclamante; que asempresas mencionadas peloreclamante não solicitaram qualquerinformação a seu respeito; a fita cassetefoi gravada ilicitamente; não houveprática de qualquer ato ilícito a ensejara obrigação de indenizar. Pugna pelaimprocedência, requerendo a aplicaçãode multa por litigância de má-fé.

Com a defesa vieram osdocumentos de f. 42/137.

Manifestação do reclamante àsf. 143/147.

Colhidos os depoimentospessoais, foram ouvidas quatrotestemunhas.

Encerrou-se a instrução comrazões finais orais.

Conciliação novamente recusada.É o breve relato.

FUNDAMENTOS

Exceção de incompetência emrazão da matéria

Os reclamados argúempreliminar de incompetência destaJustiça Especializada para conhecer ejulgar o pedido de danos morais,aduzindo tratar-se de matéria denatureza civil, de competência daJustiça Comum Estadual, uma vez queos fatos narrados na inicial teriamocorrido após a extinção do contrato detrabalho.

Não lhes assiste razão.Segundo os termos do art. 114

da Constituição Federal, na sua antigaredação, compete à Justiça do Trabalhoconciliar e julgar todas as controvérsias

decorrentes da relação de emprego, nãopodendo haver distinção onde o próprioconstituinte originário não o fez.

De outro lado, a questão queainda é objeto de celeuma é a relativa àcompetência para julgamento de pedidode dano moral quando decorrente deacidente do trabalho, em razão dodisposto no inciso I do art. 109 da CartaMagna. Quanto ao dano moraldecorrente de outro fato ou ato jurídico,a jurisprudência trabalhista já pacificouo entendimento de ser a Justiça doTrabalho a competente para seuprocessamento e julgamento.

Note-se, ademais, que a EmendaConstitucional n. 45, recentementepromulgada, deu nova redação ao art.114 da Constituição Federal para inseriro inciso VI, onde consta que compete àJustiça do Trabalho o julgamento depedidos de danos morais decorrentes darelação de trabalho, o que coloca umapá de cal na questão.

Impende salientar que, emboraos supostos fatos narrados na inicialtenham ocorrido após a extinção docontrato de trabalho, não fica afastadaa competência da Justiça do Trabalho,pois as partes envolvidas sãoempregado e empregador. Além disso,segundo a inicial, tais fatos aconteceramem virtude da própria relação deemprego e de processo judicial extintopor acordo entre as partes e quetramitou perante a 2ª Vara do Trabalhode Governador Valadares, o que maisuma vez faz atrair a competência destaJustiça Especializada paraconhecimento e julgamento da questão.

Rejeito a preliminar.

Coisa julgada

Os reclamados sustentam que,em reclamação anterior, o reclamantecelebrou acordo dando quitação pelo

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objeto do pedido e extinto contrato detrabalho, devendo este processo serextinto sem julgamento do mérito.

Verifica-se do documento de f.22, juntado com a inicial, que, noprocesso n. 01983/03, o reclamantecelebrou acordo com a reclamada, doqual constou que após o recebimentodo valor acordado daria quitação plenae irrevogável pelo objeto do pedidoinicial e extinto contrato de trabalho.

Como não há nos autos prova deque não teria recebido o valor do acordo,força é concluir que houve quitação plena.

Em que pese ter se tornado umapraxe no Processo do Trabalho aconciliação com quitação pelo extintocontrato de trabalho, ainda que deletériaaos direitos do trabalhador, emocorrendo, opera-se a coisa julgada.

Segundo o disposto no parágrafoúnico do art. 831 da CLT, “No caso deconciliação, o termo que for lavradovalerá como decisão irrecorrível, salvopara a Previdência Social quanto àscontribuições que lhe forem devidas(NR).”

Interpretando este dispositivo, oEg. TST firmou o entendimento contidona Súmula n. 259, no sentido de que“Só por ação rescisória é impugnável otermo de conciliação previsto noparágrafo único do art. 831 da CLT.” Valedizer, atribuiu eficácia de coisa julgadaao termo de conciliação no momentomesmo em que lavrado.

A coisa julgada, segundo ostermos do art. 467 do Código deProcesso Civil, é “a eficácia, que tornaimutável e indiscutível a sentença, nãomais sujeita a recurso ordinário ouextraordinário”, a qual, nem mesmo porlei posterior pode ser atacada, conformeos termos do inciso XXXVI do art. 5º daConstituição Federal.

Firmando o reclamante acordojudicial para pôr fim ao litígio, mormente

se acompanhado por advogado, deveatentar para os seus limites e para aquitação que promete conferir.Acordando em que a conciliaçãoabranja não somente o objeto do pedido,mas toda e qualquer parcela do extintocontrato de trabalho, expande os limitesda coisa julgada para além da lidetrazida a juízo, não podendo voltar aoJudiciário para postular quaisquerparcelas que entenda devidas em razãodo contrato de trabalho, uma vez que,neste caso, ante os termos dosdispositivos legais mencionados e porforça do inciso V do art. 267 do Códigode Processo Civil, o processo nãocomportará exame de mérito.

Isso não obstante, há criaçõesdoutrinárias buscando a relativização dacoisa julgada e que, embora possam, aprincípio, esvaziar a idéia de certeza ede definitividade do decidido, têmaplicabilidade no caso em tela.

Isso porque no caso de acordojudicial trabalhista a quitação plena egeral ocorre apenas e tão-somente emrelação às parcelas decorrentes doextinto contrato de trabalho. Vale dizer,aquelas parcelas que seriam devidasem razão do não cumprimento, ou documprimento irregular da avença. Nocaso vertente, o pedido formulado temcomo causa de pedir fato ocorrido nãosomente após o rompimento docontrato, mas do próprio acordo judicial,não podendo, absolutamente, serabrangido pelos efeitos da res judicata.

Ora, basta uma leitura acuradados dispositivos susomencionados parase inferir que a coisa julgada tem limitesobjetivos e subjetivos. Aqueles,respeitantes aos fatos e pedidosapresentados com a inicial e defesa.Estes, relacionados com as partes doprocesso. O fato que não foi, nempoderia ser, trazido a juízo como suportepara o acolhimento ou rejeição de

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determinada pretensão, a todaevidência, não pode ser abrangido pelosefeitos da coisa julgada.

Interpretando o art. 474 do CPC,que trata da eficácia preclusiva da coisajulgada, leciona Ovídio Baptista da Silva,repetindo o ensinamento de Schwab (InSentença e Coisa Julgada. 3. ed. PortoAlegre: Sérgio Fabris Editor, 1995), que“o efeito de exclusão causado pela coisajulgada, atingirá toda a cadeia de fatossimilares, mas não abrangerá os fatosque não guardem relação com omaterial do primeiro processo”. No casoem tela, não se pode falar em eficáciapreclusiva da coisa julgada em relaçãoao pedido de dano moral decorrente defato ocorrido após a extinção do contratode trabalho e do acordo judicialcelebrado.

Ainda que tivesse havido umasentença de mérito, propriamente dita,com relatório, fundamentação edispositivo, com análise de todas asquestões postas sub judice no processoanterior, não se poderia falar que operoua coisa julgada em relação à pretensãodeduzida neste processado, pois sequeraventada na oportunidade, em razão deo fato somente ter supostamenteocorrido após o acordo judicial, queabrangeu somente o que foi decorrentedo curso do contrato e da sua rescisão,não questões relacionadas com a boa-fé contratual, que abarca obrigaçõessecundárias do contrato, e quepermanecem mesmo após sua extinção.

Tratando do tema da pós-eficáciadas obrigações, preleciona ClóvisVeríssimo do Couto e Silva, em

A Obrigação. São Paulo:

Bushatsky, 1976, após discorrersobre as características doinstituto (uma função auxiliar darealização positiva do fimcontratual e de proteção à

pessoa ou aos bens da outraparte contra os riscos de danosconcomitantes, servindo, aomenos as suas mais típicasmanifestações, o interesse naconservação dos benspatrimoniais ou pessoais quepodem ser afetados semconexão com o contrato[ e r h a l t u n g s i n t e r e s s e ] ,independentemente do interesseno cumprimento) que “Osdeveres anexos dividem-se emdeveres dependentes eindependentes. Esse discríminetem seu fundamento naverificação que alguns deles sãosuscetíveis de ultrapassar otérmino da relação principal, deterem vida própria.”

Em razão dessaparticularidade, podem seracionados independentementeda prestação principal. Emvirtude de poderem seracionados sem com issoacarretar o desfazimento daobrigação principal, é que se lhedenominou de deveres anexosindependentes. Dependem,contudo, da obrigação principalpara seu nascimento, podendo,porém, como já se mencionou,perdurar ainda depois documprimento daquela. Asobrigações anexas dependentessão consideradas pertenças dasobrigações principais. O seudescumprimento acarretarátambém o do dever principal. Poresse motivo, não temacionabilidade própria. Entre osdeveres que permanecem,mesmo depois da extinção darelação principal, pode sermencionado o dever do sócioque se retira de uma sociedade

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que tem em conseqüência,extinto seu vínculo jurídico, deevitar de prejudicar com a suaatividade o funcionamento dasociedade de que participou,revelando circunstâncias que sópodia conhecer em razão de suaqualidade de sócio. Outroexemplo é o dever de empregadoque, nessa qualidade, tomouconhecimento de algumacircunstância relevante, comoum segredo de fabricação, denão levá-lo ao conhecimento, porexemplo, de uma firmaconcorrente, mesmo depois dehaver sido despedido. (grifei).Alguns desses deveres são,inclusive, objeto de normaçãoespecífica, como por exemplo, ode guardar sigilo, dos médicos eadvogados, que perdura aindadepois de cumprida a obrigaçãoprincipal.

As particularidadesdesses deveres anexos eautônomos, de poderem seracionados independentementeda obrigação principal e deperdurarem alguns deles, ainda,após o seu término, é acircunstância de terem fimpróprio, diverso da obrigaçãoprincipal. Como já se aludiu, o fimcomanda toda a relação jurídicae conforma os deveres e direitosque a relação jurídica produz emcontato com a realidade social, nocurso do seu desenvolvimento.

A notável lição do eminentejurista, mutatis mutandis, calça como luvaao caso dos autos. A conduta alegadana inicial ocorreu após o término docontrato de trabalho e do acordo judicialcelebrado, não se podendo, nem delonge, falar-se que teria sido abrangida

pela coisa julgada que se operou emrelação ao acordo judicial homologadonos autos de reclamação anterior, aindaque com quitação pelo extinto contratode trabalho.

Com estas razões, rejeito apreliminar.

Prova ilícita

Aduzem os reclamados que,embora não tenham conhecimento doconteúdo da fita cassete (juntada à f.24), há flagrante litigância de má-fé porparte do reclamante, uma vez que aprova foi fabricada para corroborar osfatos narrados na inicial, o que põe emdúvida sua credibilidade.

Sustentam, transcrevendo liçãoda Professora Daiane Maria OliveiraViana (f. 38/39), que a prova ilícita nãopode ser admitida no processo,conforme mandamento constitucional,além de contaminar todas as outrasprovas dela resultantes, seja direta ouindiretamente.

Em que pese a disposiçãoconstitucional de que as provas obtidaspor meios ilícitos sejam inadmissíveisno processo (inciso LVI do art. 5º da CF/88), entendo que no caso em tela ahipótese não ocorreu.

Alexandre de Moraes, em seuDireitos Humanos Fundamentais, SãoPaulo: Atlas, 1997. p. 225, ensina que

As provas ilícitas não seconfundem com as provas ilegaise as ilegítimas. Enquanto,conforme já analisado, as provasilícitas são aquelas obtidas cominfringência ao direito material,as provas ilegítimas são asobtidas com desrespeito aodireito processual. Por sua vez,as provas ilegais seriam ogênero do qual as espécies

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seriam provas ilícitas eilegítimas, pois configuram-sepela obtenção com violação denatureza material ou processualao ordenamento jurídico.

Tratando da validade ou não parao processo das provas ilícitas, háposições extremas, umas entendendopela validade total, em razão dointeresse da Justiça no descobrimentoda verdade (Walter Zeiss), outros,entendendo que não pode ter qualquervalidade, ao passo que há posiçõesintermédias, como a de José CarlosBarbosa Moreira, in Temas de Direito

Processual, 6. ed. São Paulo, p. 108,no sentido de que

seria mais sensatoconceder ao juiz a liberdade deavaliar a situação em seusdiversos aspectos, atenta àgravidade do caso, a índole darelação jurídica controvertida, adificuldade para o lit igantedemonstrar a veracidade de suasalegações medianteprocedimentos perfeitamenteortodoxos, o vulto do danocausado e outras circunstâncias,quando o julgador decidiria qualdos interesses em conflito deveser sacrificado, e em quemedida.

Neste mesmo vetor oposicionamento do eminente NelsonNery Júnior, verbis:

não devem ser aceitos osextremos: nem a negativaperemptória de emprestar-sevalidade e eficácia à prova obtidasem o conhecimento doprotagonista da gravação sub-reptícia, nem a admissão pura e

simples de qualquer gravaçãofonográfica ou televisiva. Apropositura da doutrina quanto àtese intermediária é a que maisse coaduna com o que sedenomina modernamente deprincípio da proporcionalidade(Verhaltnismassigkeitsmaxime),devendo prevalecer, destarte,sobre as radicais.

Em recente artigo publicado narede mundial de computadores, em site

jurídico, o Promotor de Justiça mineiro,Lélio Braga Calhau, externouposicionamento, com base nosensinamentos de notáveis juristas quese dedicam ao Processo Civil, nosentido de que

A Constituição Federal de1988 fez uma opção clara pelaproibição das provas ilícitas deforma radical, tendo em vista omomento histórico que o paísvivia, onde eram comuns asviolações contra os direitosindividuais. Não podemos nosesquecer de que existem aindamecanismos constitucionais deinterpretação, tais como amutabilidade constitucional, quepermitem, mesmo com aproibição da util ização dasprovas ilícitas, um abrandamentode seus conceitos e umaadequação ao moderno EstadoDemocrático de Direito.

E mais, sobre o tema levantadona defesa de que a prova ilícitacontamina todas as provas deladecorrentes, seja direta ouindiretamente, cumpre trazer à colaçãoa lição de José Carlos Barbosa Moreira,citado pelo mencionado Promotor deJustiça mineiro, no sentido de que

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existe uma precipitaçãoem importar a “teoria dos frutosda árvore envenenada” (oriundado Direito Norte-Americano -fruits of poisonous tree), aindamais em formulaçãoindiscriminada, nua dos matizesque a recobrem no próprio paísde origem. A jurisprudêncianorte-americana, com efeito, nãoa consagra sem ponderáveisrestrições. Interessante notarque nos Estados Unidos, entreoutros casos, se tem repelido atese da ilicitude “derivada” ou por“contaminação” quando o órgãojudicial se convence que, sefosse como fosse, se chegariainevitavelmente, nascircunstâncias, a obter a provapor meio legítimo, isto é, ainda afazer-se abstração da ilegalidadepraticada. (grifei)

Das lições trazidas à colação,infere-se que na hipótese dos autosdeve ser aplicado o princípio daproporcionalidade, para se ter comoválida a gravação realizada peloreclamante, sem o conhecimento dosegundo reclamado, ficando afastada,em razão disso, a acolhida da teoria dosfrutos da árvore envenenada (fruits of

poisonous tree), eis que confirmada eminterrogatório judicial a veracidade daconversa objeto da gravação.

Ora, é sabido que os direitos depersonalidade são invioláveis e não têmhierarquia entre si. Entrementes, étambém sabido que a Constituição érecheada de normas-princípio, aexemplo do disposto no art. 1º, queconsagra, como fundamento do EstadoDemocrático de Direito, a dignidade dapessoa humana, os valores sociais dotrabalho, assim como no art. 3º, quandodispõe que constitui objetivo

fundamental da República a construçãode uma sociedade livre, justa e solidária,com erradicação da pobreza e damarginalização e redução dasdesigualdades sociais e regionais, alémda promoção do bem de todos, sempreconceitos de origem, raça, sexo, cor,idade e quaisquer formas dediscriminação. Do mesmo modopreceitua no art. 170 que “a ordemeconômica, fundada na valorização dotrabalho humano e na livre iniciativa, tempor fim assegurar a todos existênciadigna, conforme os ditames da justiçasocial”. Essas normas-princípio, emborada mesma hierarquia das demaisnormas materialmente constitucionais,permitem, em caso de colisão entreelas, a aplicação da conciliação ouharmonização de princípios, permitindoao intérprete sopesar qual teriaprevalência no interesse em jogo e qualdeveria ser sacrificado.

Assim, considerando que agravação efetuada violou um direitoindividual do segundo reclamado (sigilodas comunicações telefônicas), masteve como único objetivo provar queeste estaria lesando o direito de imagemdo reclamante; a realização do valorsocial do trabalho, levando àmarginalização e à discriminaçãoperante a comunidade empregadoralocal, resta evidente que o direitoindividual do segundo reclamado devesucumbir aos vários direitos individuaisdo reclamante, tidos como violados,segundo a petição inicial.

Em remate, e tendo em vista oque expendido, tenho que a provaproduzida através da fita cassete não éilícita, e ainda que o fosse, não teriacontaminado as respostas dadas peloreclamado no seu interrogatório de f. 32,de que “realmente, no mês de fevereirode 2005, teve, com Marcos daRodoleste, o diálogo transcrito na

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petição inicial, à f. 05, cujos dizeres lheforam lidos pelo MM. Juiz; que foiMarcos que ligou para o depoente”,posto que não é pacífica a adoção datese dos frutos da árvore envenenada.

Válida a fita cassete como meiode prova, cujos dizeres foramconfirmados pelo segundo reclamado,passo à análise do thema decindendum.

Danos morais

Alega o reclamante que, depoisque ingressou na Justiça do Trabalhocontra a reclamada e seu proprietário,estes fizeram de tudo para atrapalharsua vida profissional, prestandoinformações negativas, as piorespossíveis, objetivando obstar suacolocação ou forçar sua dispensa.

Sustenta que foi admitido pelaempresa “André & Anderson”, laborandopor 15 dias; depois trabalhou para o“Cabo Isaa”, e por fim para a empresaConspar Engenharia, não conseguindo,após esta última empresa, qualqueroutra colocação.

Afirma que foi e está sendoperseguido, vivendo grande trauma,pois quando os reclamados descobremo seu local de trabalho, telefonam parao novo empregador e falam inverdadesa seu respeito, para desmoralizá-lo, oque o vem marcando profundamente,pois está sempre na iminência de nãoconseguir ou de perder o emprego. Apósfazer digressão sobre o dano moral,postula indenização equivalente a 50vezes sua última remuneração quandoempregado dos reclamados (R$562,88).

Os reclamados negam qualquerperseguição e alegam que foraminformados pela Conspar Engenhariaque não foi realizada qualquer consultaacerca de referência sobre o reclamante;que a “André & Anderson” informou queo reclamante teria sido contratado em

caráter provisório, não tendo feitoqualquer consulta de seus antecedentes.Quanto ao “Cabo Isaa”, Vereador nacidade, teria informado que contratou oreclamante temporariamente. Por último,a empresa Rodoleste declarou que nãoconhece o reclamante, e que não possuiem seus quadros qualquer empregadocom o nome de Marcos, como descritona inicial, não havendo que se falar emdano moral.

Estes os fatos como postos pelaspartes.

Antes de passar ao exame daocorrência do dano moral e dos demaisrequisitos da responsabilidade civil aensejar o dever de reparação, mistertrazer a lume o conceito de dano moralpara maior aclaramento da questão.

Segundo Valentin Carrion,comentando o art. 477 da CLT(Comentários à Consolidação das Leis

do Trabalho, Saraiva, p. 351)

Dano moral é o queatinge os direitos dapersonalidade, sem valoreconômico, tal como a dormental psíquica ou física.Independe das indenizaçõesprevistas pelas leis trabalhistase se caracteriza pelos abusoscometidos pelos sujeitos darelação de emprego.

Segundo o mesmo autor,

As hipóteses maisevidentes poderiam ocorrer napré-contratação (divulgação defatos negativos pessoais docandidato), no desenvolvimentoda relação e no despedimentopor tratamento humilhante.

Em seguida, o saudoso autor citadecisão no sentido de que

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Inscreve-se nacompetência material da Justiçado Trabalho o equacionamentodo litígio entre empregado eempregador, agindo nestacondição, por indenizaçãodecorrente de dano moral. Trata-se de dissídio concernente àcláusula acessória do contratode emprego, pela qual seobrigam empregado eempregador a respeitarem-se adignidade, a reputação, a honra,o bom nome e, enfim, o valiosoe inestimável patrimônio moralde que cada pessoa é titular.(TST-RR 450.338/98.0 - JoãoOreste Dalazen, Ac. 1ª T/99)(grifei)

A dignidade da pessoa humana,de há muito, está alçada em nívelconstitucional, tendo o legisladorconstituinte de 1988 garantido essadignidade, dispondo sobre aindenização por dano moral quandovioladas a intimidade, a vida privada, ahonra e a imagem das pessoas (art. 5º,inciso X).

Seguindo esta mesma linha, oCódigo Civil de 2002 inseriu no seu art.12 que

Pode-se exigir que cessea ameaça, ou a lesão, a direitoda personalidade, e reclamarperdas e danos, sem prejuízo deoutras sanções previstas em lei,e no art. 17 que:

O nome da pessoa nãopode ser empregado por outremem publicações ourepresentações que a exponhamao desprezo público, aindaquando não haja intençãodifamatória.

Tratando do ato ilícito diz o art.186 do CC que:

Aquele que, por ação ouomissão voluntária, negligênciaou imprudência, violar direito ecausar dano a outrem, ainda queexclusivamente moral, cometeato ilícito,

e quanto à responsabilidade civil,art. 927, caput, que

Aquele que, por ato ilícito(arts. 186 e 187), causar dano aoutrem, fica obrigado a repará-lo.

Portanto, verificado o dano aosdireitos da personalidade, inseridos naConstituição Federal e no Código Civil,este deve ser reparado.

A leitura que se faz dosdispositivos mencionados leva aoentendimento de que, para que haja odever de reparação, mister a presençade uma conduta, dolosa ou culposa,comissiva ou omissiva; o dano e o nexode causalidade entre este e aquela.

Passando à análise da provaproduzida, tem-se que o segundoreclamado confirmou o diálogo transcritona petição inicial com o Sr. Marcos daRodoleste, no qual afirma que oreclamante ingressou contra ele naJustiça do Trabalho, tendo tomado seudinheiro, além de falar inúmerasinverdades em juízo, o que fatalmenteprejudica a colocação em novo emprego.

De outro lado, informou atestemunha Valdilene Henrique Moreira,cujo irmão possui um caminhão, quesomente não forneceu trabalho para oreclamante em razão de relato dosegundo reclamado no sentido de queo reclamante o teria levado no “pau”,tendo recebido R$1.600,00, razão pelaqual não poderia passar boas

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informações sobre o reclamante. Fatosconfirmados pela testemunha ElyHenrique Moreira que afirmou ter estadojuntamente com a primeira testemunha,sua irmã, na sede da reclamada.

Em que pese tenha o reclamadose esforçado em produzir contraprova,esta não convenceu o juízo.

A primeira testemunha, ouvida arogo dos reclamados, afirmou que aempresa onde trabalha (Conspar)mantém relacionamento comercial como segundo reclamado, não vislumbrandoo juízo isenção de ânimo para depor.

O segundo testemunho tambémnão se presta ao fim colimado pelosreclamados, porquanto, embora tenhaafirmado que a “Rodoleste” não possuiqualquer pessoa com o nome deMarcos, em nada contribuiu para odesfecho da questão.

A verdade sobre o ocorrido vemestampada na gravação transcrita napetição inicial. Ainda que a empresa“Rodoleste” não possua em seusquadros empregado com o nome deMarcos, o certo é que o segundoreclamado atendeu a uma ligação destepseudo-empregado e prestouinformações desabonadoras sobre oreclamante, o que, extreme de dúvidas,e observado o que ordinariamenteacontece, fere a imagem do trabalhadore lhe impede a obtenção de oumanutenção em novo emprego.

Frise-se que o repúdio a essetipo de conduta pela ordem jurídica étão veemente que o legislador editou aLei n. 10.270/01, acrescendo os §§ 4º e5º ao art. 29 da CLT, determinando,respectivamente, que

É vedado ao empregadorefetuar anotações desabonadorasà conduta do empregado em suaCarteira de Trabalho e PrevidênciaSocial;

e que

O descumprimento dodisposto no § 4º deste artigosubmeterá o empregador aopagamento de multa prevista noart. 52 deste Capítulo.

Não obstante a informalidadedas informações desabonadoras daconduta do reclamante, o que dificultaa produção de prova judicial, como jáexpendido quando da análise da provailícita, os reclamados praticaramexatamente a conduta vedada pelo § 4ºdo art. 29 da CLT, aplicadoanalogicamente, apenas o foiverbalmente, denegrindo a imagem doreclamante, discriminando-o nomercado de trabalho local. Evidente odano moral decorrente de uma condutailícita dos reclamados, o que tornavisivelmente presente o nexo decausalidade, requisitos configuradoresda responsabilidade civil a ensejar odever de reparação, na forma dosdispositivos legais acima mencionados.

No que toca ao valor daindenização, doutrina e jurisprudênciatêm apontado vários critérios para suaquantificação. Todavia, sem desprezo aqualquer ensinamento, tenho que o art.927 do Código Civil, que determina quea indenização se mede pela extensãodo dano, aliado à condição financeirado reclamado e à posição social doreclamante, ex-empregado, dependentejurídica e economicamente, servem deparâmetro para a fixação daindenização, não se olvidando de que,além de reparar o dano, a penalidadetem caráter pedagógico, devendo servirde exemplo para outros empregadores,sem que com ela a vítima se enriqueçaou o ofensor se empobreça.

Tendo em conta o último saláriodo reclamante, R$562,88, a ofensa a

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direito constitucional de imagem (incisoX do art. 5º da Constituição Federal),assim como a dificuldade que temencontrado o reclamante em conseguirnovo emprego, em razão da conduta dosegundo reclamado, tenho por bem fixara indenização em 10 vezes o últimosalário percebido (R$5.628,80), valorque, se não faz passar a dor doreclamante, pelo menos atenua seusofrimento, pois sabedor de que oofensor foi apenado pela conduta ilícitaque praticou.

Tutela antecipada

Com base no que foi decididoacerca do pedido de indenização pordanos morais, tenho, nestaoportunidade, por presentes osrequisitos do art. 273, caput, incisos I, IIe § 2º, este a contrario sensu, pelo quedefiro o pedido de tutela antecipada paradeterminar aos reclamados que seabstenham de prestar informaçõesdesabonadoras a respeito doreclamante a qualquer pessoa, física oujurídica, sob pena de multa diária deR$100,00, na forma do § 4º do art. 461do Código de Processo Civil.

Justiça gratuita

O pedido de justiça gratuitaencontra amparo na declaração demiserabilidade jurídica (f. 25),atendendo ao disposto no art. 4º da Lein. 1.060/50, autorizando a concessão dobenefício.

Defiro.

Juros e correção monetária

Os juros, à razão de 1% ao mês,e a correção monetária deverão ser

aplicados a partir da data desta decisão,uma vez que, em se tratando deindenização por danos morais, não háque se falar em mora ou que teria épocaprópria antes do julgado para que opagamento fosse efetuado.

CONCLUSÃO

Posto isso, e por tudo mais quedos autos consta, rejeito as preliminaresargüidas e, no mérito, julgoPROCEDENTE, EM PARTE, o pedidopara condenar os reclamados, JDSUCATAS LTDA. E JARBAS DENÍSIODA ROCHA, subsidiariamente osegundo (sócio da primeira reclamada),a pagar ao reclamante, GIDEONSANTOS OLIVEIRA, no prazo de 48horas após o trânsito em julgado destadecisão, as seguintes parcelas:

Indenização por danos morais novalor de R$5.628,80.

Os reclamados deverão seabster de prestar quaisquer informaçõesdesabonadoras a respeito doreclamante a qualquer pessoa, física oujurídica, sob pena de multa diária deR$100,00, na forma do § 4º do art. 461do Código de Processo Civil.

Juros e correção monetária naforma da fundamentação.

Tratando-se de parcela de nítidanatureza indenizatória, não háincidência de INSS e Imposto de Renda(§ 3º do art. 832 da CLT e art. 39 doDecreto n. 3.000/99).

Custas, pelos reclamados, noimporte de R$112,57, calculadas sobreR$5.628,80, valor da condenação.

Cientes as partes nos termos daSúmula n. 197 do TST.

Encerrou-se.