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ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO, SAÚDE E FAMÍLIA: AÇÕES (DES) ARTICULADAS PARA EDUCAÇÃO
ESPECIAL NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
RIBEIRO, Luana Leal.
Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de
dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4
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ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO, SAÚDE E
FAMÍLIA: AÇÕES (DES) ARTICULADAS PARA EDUCAÇÃO
ESPECIAL NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
RIBEIRO, Luana Leal
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF1
Bolsista CAPES
RESUMO
O tema do presente trabalho surgiu a partir da experiência de estágio na Associação de Proteção e
Orientação aos Excepcionais – APOE, após a identificação de que a maioria dos jovens que
frequentavam o programa possuía baixa ou nenhuma escolaridade. Para tal, foi desenvolvido um Projeto
de Intervenção, a fim de modificar essa realidade. Durante a implementação do projeto, que visava à
inclusão/permanência de jovens e adultos com deficiência nas escolas, percebeu-se uma variedade de
obstáculos que se tornavam dificultadores para a efetivação desse processo de inclusão no âmbito da
educação, sendo o laudo médico exigido na matrícula, uma barreira para acesso. Através de entrevistas
realizadas com familiares dos jovens da APOE e profissionais do âmbito educacional do município,
notou-se a necessidade de maior articulação desses atores para maior viabilidade de inclusão dos alunos
no ensino regular e especial. Porém, também foi possível identificar, que esse contato, limita-se no
repasse de responsabilização às famílias pela consecução do laudo médico, demonstrando fragilidade na
articulação dos setores da saúde e educação do município e perpetuação da oferta de escolarização
pautada em um modelo médico de deficiência. Para elucidar essas questões, serão utilizados fragmentos
das entrevistas realizadas durante a pesquisa e autores que contemplam essa discussão, através de
referências bibliográficas.
Palavras-chave: Educação Especial. Modelo médico de deficiência. Família.
ABSTRACT
The theme of this work came from the internship experience in Protection Association and Guidance for
Exceptional - APOE, after identifying that most young people who attended the program had little or no
schooling. For such an intervention project was developed in order to change this reality. During project
implementation, aimed at the inclusion / permanence of young people and adults with disabilities in
schools, it was identified a variety of obstacles that hindered the process of inclusion in education, and
the medical report was on of these barriers to access. Through interviews with families and professionals
education of the municipality, noted the need for greater articulation of these actors for greater viability
of inclusion of students in regular and special education. However, it was also possible to identify that
this contact is limited to the transfer to families for getting the medical report, showing weakness in the
articulation of the health sector and municipal education, perpetuating the schooling offer guided in a
medical model deficiency. To elucidate these issues, the interview fragments held during the research
will be used and authors to contemplate this discussion through references.
Key-words: Special education. Medical model of disability. Family 1 Orientada por Renata Maldonado da Silva, doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense.
Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte
Fluminense – UENF [email protected].
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ESPECIAL NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
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INTRODUÇÃO
As ações no âmbito da educação especial, no município de Campos dos Goytacazes,
localizado na região norte fluminense do estado do Rio de Janeiro, são realizadas através do
Departamento Multiprofissional-DM vinculado à Secretaria Municipal de Educação, Cultura e
Esportes – SMECE, desde o ano de 2010. Responsável pela elaboração de estratégias e
parcerias entre equipes multiprofissionais visa à garantia do acesso e permanência dos alunos
com necessidades educacionais especiais no ensino regular e especial.
Em pesquisa realizada no ano de 20132 na Associação de Proteção e Orientação aos
Excepcionais – APOE, instituição de caráter filantrópico que possui parte de seus programas
financiados pelo Conselho Municipal de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente
(CMPDCA) e presta serviços assistenciais aos jovens e adultos com deficiência,
especificamente em seu programa “Qualificando-se para Vencer Desafios”, foi possível
perceber que, dos 50 jovens participantes, aproximadamente, 50% tinha evadido a escola
durante o ensino fundamental e, 86% dos que frequentavam na época, encontravam-se em
situação de distorção idade-série. O objetivo do programa era oferecer treinamento e promover
o acompanhamento da inserção e permanência dos indivíduos com deficiência no mercado de
trabalho formal. Para melhor averiguação e tentativa de modificação desse panorama, foi
desenvolvido um projeto de intervenção, implementado em um período de um ano, onde foram
realizadas reuniões com os jovens, familiares e profissionais atuantes na esfera municipal de
educação.
Durante a pesquisa, foi possível perceber divergências entre o discurso dos profissionais
referente à oferta de atendimento educacional especializado no município e as experiências,
majoritariamente frustradas, de inclusão educacional vivenciadas pelos jovens e seus
familiares.
Para efetivação da matrícula dos alunos com deficiência no Atendimento Educacional
Especializado - AEE havia exigência de um laudo médico. Esse laudo deveria ser elaborado, na
maioria dos casos, por um médico da rede municipal de saúde. Porém, como foi ressaltado por
2O presente trabalho faz parte de uma pesquisa iniciada durante a graduação da autora em 2013, sendo essa
temática também contemplada como objeto de estudo a ser investigado durante o período de mestrado no
Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro,
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profissionais do DM, no decorrer da pesquisa realizada, nem sempre essa matrícula era
efetivada, pois os familiares muitas vezes negligenciavam a deficiência de seus entes e não
havia acompanhamento médico desses alunos.
Diante desse fato, o presente trabalho buscará apresentar como a exigência do laudo se
traduz em permanência do modelo médico de deficiência, no âmbito da educação especial, em
detrimento do modelo social e como as famílias são responsabilizadas pela consecução do
laudo e consequentemente, pela efetivação da matrícula de seu ente com deficiência no AEE.
Serão utilizadas referência bibliográficas que reforçam as afirmações elencadas e fragmentos
da pesquisa realizada em 2013 com profissionais do DM no município.
2. EVOLUÇÃO DA ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: DO
MODELO MÉDICO AO SOCIAL
A discussão sobre a efetivação do direito à escolarização de pessoas com deficiência é
muito recente em nossa sociedade, com a intensificação dos debates acerca dessa questão,
somente a partir do século XX. Nesse contexto, durante a história, a educação especial foi
desenvolvida como uma forma de escolarização para pessoas que possuíssem um ou mais tipos
de deficiência3 .
Ao longo do tempo, diversas concepções sobre deficiência foram formuladas, de acordo
com o período histórico e contexto social vivenciados na época, o que consequentemente
influenciava as atitudes da sociedade em relação à escolarização das pessoas com deficiência
(PÁDUA, 2005). Segundo Pádua (2005) e Garcia (2011), na antiguidade e período medieval, as
pessoas com deficiência eram vistas como imperfeitas e por isso, consideradas sub-humanas e
recebiam dois tipos de tratamentos bastante distintos, ora rejeitados ou sacrificados os bebês
que nasciam com alguma deficiência, ora protegidos e amparados por uma parcela da
sociedade. Com o advento do Cristianismo, há mudanças na forma como as pessoas percebiam
a deficiência, baseando-se na doutrina cristã, na qual tinha em seu conteúdo, pregações que
onde buscar-se-á em pesquisa aprofundada e atualizada, a delimitação do panorama atual da Educação Especial no
município de Campos dos Goytacazes/RJ. 3 São consideradas pessoas com deficiência, aquelas que possuem impedimentos em longo prazo, de natureza,
física, mental, sensorial, com transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (BRASIL,
2008).
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estimulavam a caridade, humildade e amor ao próximo, surgindo nessa época, instituições de
caridade voltadas para o atendimento dos pobres e das pessoas com deficiência.
Os mesmos autores completam que na Idade Média, as instituições anteriormente
citadas passaram a ser de responsabilidade dos senhores feudais e as concepções acerca da
deficiência ganharam novas características. Nesse contexto, houve um forte predomínio de
concepções mágicas, místicas e misteriosas sobre a parcela da população que possuía alguma
anomalia, onde estes seriam “provas da ira de Deus” e a deficiência seria o “castigo” a ser
enfrentado pela população.
O período que ficou conhecido como “Renascimento”, foi marcado como uma fase na
qual a sociedade em geral tornou-se mais esclarecida, indicando alguns avanços principalmente
com o advento dos direitos reconhecidos como universais. No mundo europeu cristão,
profundas mudanças ocorreram nos âmbitos cultural e social, destacando-se o reconhecimento
do valor humano, o avanço da ciência e as libertações de dogmas e crenças que marcaram a
Idade Média, onde o homem passou a se perceber como livre dos “poderes naturais” ou da ira
divina. Essas novas concepções, passaram a interferir diretamente no cotidiano das pessoas que
possuíam algum tipo de deficiência, onde estas deixavam de ocupar somente o posto de pobres,
renegados e marginalizados, passando a dispor de melhorias na qualidade de vida através de
atendimentos em lugares específicos para esse público (GARCIA, 2011).
Nessa época, além do avanço social, houve também grande avanço político e no campo
das ciências, onde no âmbito da medicina, a deficiência passou a ser percebida como uma
questão biológica, que deveria ser cuidada pelos médicos, deixando para trás as vinculações a
problemas espirituais. Já o desenvolvimento humano, passou a não ser só concebido pelo viés
biológico, sendo articulado a fatores sociais mais amplos, vinculando, por exemplo, a pessoa
com deficiência à economia, onde nesse campo, era considerada como improdutiva (PÁDUA,
2005).
O início da discussão sobre escolarização de pessoas que possuíam deficiência
aconteceu no século XVI, onde médicos e pedagogos passaram a desconsiderar a concepção de
que essas pessoas eram “ineducáveis”. Porém, nessa época, a institucionalização em asilos e
manicômios das pessoas consideradas “desviantes”, foi um impasse para o acesso à educação,
sendo este, um processo lento na medida em que se ampliaram as oportunidades educacionais
para a população em geral (MENDES, 2006).
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Nos séculos seguintes, houve um movimento em favor da ampliação do conceito de
deficiência, ocorrendo as primeiras tentativas de ofertar educação para pessoas que a possuía,
sendo oferecida no primeiro momento, por médicos que também buscavam conhecer mais e
tratar adequadamente a deficiência. Nesse contexto, surgiram as primeiras classes especiais,
através da concepção que essas pessoas poderiam ser educadas, mas deveriam estar em um
ambiente separado dos alunos “normais”, onde as classes especiais inicialmente tinham
basicamente um caráter muito mais de análise experimental do comportamento do que a da
oferta de educação.
Nesse período que ficou conhecido como “assistencialismo médico-terapêutico”
(PÁDUA, 2005, p. 26), houve o predomínio da ideia que a pessoa com deficiência deveria ser
asilada para sua própria proteção, em instituições filantrópicas ou privadas, com o foco na
abordagem clínica tradicional, somente voltada ao tratamento da anomalia e não nas
potencialidades e consequentemente, sem grandes avanços em relação à escolarização dessas
pessoas.
O aprimoramento da discussão sobre a escolarização de pessoas que possuíam
deficiência aconteceu entre os séculos XIX e XX com o discurso de que deveriam ter uma vida
normal dentro das possibilidades e uma forma de efetivar essa normalidade, seria através da
integração escolar, que incentivava a inserção desse público em escolas que possuíam classe
especial, sendo essas pessoas, ainda excluídas do sistema regular de ensino. Essa integração
desencadeou na efetivação do sistema de Educação Especial dentro das escolas de ensino
regular para os alunos que apresentavam necessidades educativas especiais, onde também
passaram a ter professores de Educação Especial que acompanhavam esses alunos (SANCHES;
TEODORO, 2006).
Já no século XX, as práticas de integração passaram então a admitir a frequência de
crianças com deficiência em classes regulares, sendo uma época que iniciou o processo de
esvaziamento das classes especiais, porém, sem extingui-las. Essas práticas prevaleceram nas
décadas de 1960 e 1970, sendo fundamentadas em um modelo médico de deficiência, no qual a
possibilidade de ingressar em determinado ambiente social ou no sistema educacional regular
estava condicionada à aptidão ou à capacidade de adaptação da pessoa ao ambiente.
Nessa perspectiva de integração, as crianças com deficiências poderiam frequentar as
escolas e classes regulares, desde que fossem capazes de acompanhar o ritmo de aprendizagem
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de seus colegas não deficientes. Acerca dessa afirmação, Mazzotta (2001) nos traz que a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961, reafirmou o direito das pessoas com
deficiência à escolarização e trouxe em seu artigo 88, que para integrá-los na comunidade, sua
educação deveria enquadrar-se no sistema geral de educação, na medida do possível, porém, a
oferta de serviços educacionais especiais não deixaria de existir, para os casos onde os alunos
não conseguissem se integrar à classe regular de ensino.
A partir de 1980, surgiram movimentos sociais liderados por entidades de pessoas com
deficiência, na qual propunham uma mudança do modelo médico de deficiência para um
modelo social, com a justificativa de que a própria sociedade criava obstáculos para o
desenvolvimento e inserção social e escolar dessas pessoas, através de ambientes restritivos,
políticas discriminatórias e atitudes preconceituosas. Com esses movimentos, propostas de
práticas inclusivas passaram a ser desenvolvidas com o principal objetivo de eliminar as
barreiras que excluíam as pessoas com deficiência e que as mantinham afastadas das atividades
e instituições sociais. No âmbito educacional, as escolas passaram a ser reestruturadas, tanto no
seu espaço físico que começaram a sofrer alterações para atender as demandas das pessoas com
deficiência física, mas também, foi iniciado um processo de pensar em formas de promover a
aprendizagem das pessoas com deficiência intelectual nas classes regulares (LOURENÇO,
2010).
Nesse sentido, é notável o início das mudanças no âmbito escolar, onde a integração que
promovia somente o compartilhamento do mesmo espaço na sala regular de pessoas com ou
sem deficiência, passou a dar lugar às práticas inclusivas que começaram a considerar a
deficiência como um problema social e institucional, onde essas práticas visavam promover a
transformação da sociedade e das instituições para que essas pessoas pudessem usufruir da
ideia de pertencimento, de fazer parte e de constituir (LIMA, 20064, apud LOURENÇO, 2010,
p. 207).
A partir desse contexto, a inclusão passa a ser entendida como uma reforma radical nas
escolas em termos de currículo, avaliação, pedagogia, baseando-se em um sistema de valores
que faz com que todos se sintam parte daquele processo (MITTLER, 2003). Porém, para o
estabelecimento de práticas inclusivas, deve-se considerar a exclusão, não de forma isolada,
mas como sendo parte das condicionalidades do processo inclusivo, onde se aumenta a
4 LIMA, P. A. Educação inclusiva e igualdade social. São Paulo: Avercamp, 2006.
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participação dos alunos e se diminui a exclusão desses nos processos que permeiam o âmbito
escolar.
São então consolidadas as ideias que eram necessárias a criação de espaços sociais
inclusivos, visando o atendimento dos segmentos com necessidades e/ou características
especiais, porém em uma perspectiva inclusiva. O processo de inclusão trata-se, portanto da
minimização de todo e qualquer tipo de exclusão em arenas educacionais e, para tal, é
necessário elevar ao máximo o nível de participação coletiva e individual, de seus integrantes
(SANTOS; PAULINO, 2008). Um componente dessa participação coletiva, é a família que,
nesse contexto de inclusão escolar, se configura como ator primordial para a efetividade do
processo de inclusão de seus entes com deficiência nas escolas regulares, sendo sua cooperação
nesse processo, decisiva para o sucesso da inclusão.
3. ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E A IMPORTÂNCIA DA
PARCERIA FAMÍLIA E ESCOLA
Desde o diagnóstico da existência de algum tipo de deficiência na criança, geralmente a
família passa a se organizar, de forma a adequar-se às necessidades que serão demandadas por
aquela criança. Além do cotidiano permeado por visitas médicas, com ações voltadas à saúde da
pessoa com deficiência, a família também se vê diante de interrogações em relação à
escolarização dessa pessoa. Nesse sentido, a articulação pessoa com deficiência, família e
escola, se torna uma das principais formas de tentativa de uma escolarização que contemplará
os preceitos da educação em uma perspectiva inclusiva, na qual se visa o acesso, permanência e
continuidade nos estudos de pessoas que necessitam estar incluídas na educação regular e
especial, quando esta última for necessária (GLAT, 1996).
Os sentimentos da família sobre a deficiência de seu filho são cíclicos e geralmente
transitam entre aceitação e negação. Passado o período de luto simbólico pela descoberta da
deficiência em seu filho, a família tende a aceitar melhor com o passar dos anos e de acordo
com o desenvolvimento da criança. Porém, em algumas fases, como na adolescência, por
exemplo, comparações com jovens ditos “normais” são inevitáveis, e novamente, a família
pode ser tomada pelo sentimento de negação, ao perceber que seu filho não consegue realizar as
mesmas tarefas que os jovens sem deficiência da mesma idade. Isso pode gerar ou retroceder a
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um processo de superproteção onde os pais deixam de acreditar nas potencialidades e passam a
não ensinar elementos básicos de autocuidado, muitas vezes caindo em ações de infantilização,
sem buscar o desenvolvimento da autonomia pelos seus filhos (SANTOS; PAULINO, 2008).
A questão da inclusão, seja social ou escolar, vai então depender de como a pessoa com
deficiência está incluída em seu contexto familiar, pois se esta pessoa participa das atividades
familiares e comunitárias, tendo uma vida “normal” compatível com sua faixa etária e de
acordo com as suas limitações, a tendência é que esse sujeito passe a ser percebido pela sua
família como sendo “igual aos demais”, o que irá facilitar muito sua inserção nos espaços de
convivência, seu desenvolvimento pessoal e consequentemente, escolar (GLAT, 1996).
Em relação a algumas normativas brasileiras, que tratam da participação da família do
processo de escolarização de seus filhos, podemos citar a Constituição Federal de 1988, que em
seu artigo 205, traz a educação como direito de todos e dever do Estado e da família. Também
temos o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA de 1990, que em seu artigo 55, determina
que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede
regular de ensino” (BRASIL, 1990) e ainda, mais especificamente em relação à escolarização
de pessoas com deficiência, temos a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, que ressalta como um objetivo em seu item IV, a participação da família e
da comunidade no acesso, na participação e na aprendizagem dos alunos com deficiência.
Através desses trechos, torna-se evidente que a inserção dos filhos na rede regular de
ensino não se torna apenas uma escolha, mas sim, se constitui como obrigação, não sendo a
família, passível de decisão somente pelo Atendimento Educacional Especializado ou pela não
escolarização de seus filhos, com ou sem deficiência, onde nesses casos implicaria em violação
de direito fundamental à educação, pois ocorreriam marginalização e privação do convívio
social diversificado (PONTES, 2008).
Porém, essa obrigatoriedade não pode significar repasse de responsabilização da família
para escola, onde esta última fica incumbida das funções de cuidado e socialização das crianças,
devendo essas ações ser desenvolvidas prioritariamente pela família, pois esta pode ser
caracterizada como o primeiro grupo social responsável pela socialização, apreensão dos papéis
sociais e pela formação da identidade social e individual da criança em desenvolvimento,
desempenhando o papel de mediador da criança com a sociedade. Nessa relação, a escola
entraria como um segundo grupo social responsável por essas funções.
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Entretanto, em famílias empobrecidas, que muitas vezes dependem do trabalho para o
sustento de seus entes, esse estímulo ao desenvolvimento social e escolar, pode ser dificultado,
devido à falta de tempo e/ou esclarecimento no que tange o tratamento das pessoas com
deficiência. Quando isso acontece, a família muitas vezes irá buscar nas instituições escolares
geralmente públicas, informações, apoio e orientação sobre como agir em determinadas
situações com o filho que possui deficiência, porém, muitas vezes depara-se com profissionais
despreparados, informações desencontradas, sendo esta uma queixa bastante comum, fazendo
com que a relação família-criança com deficiência-escola, fique cada vez mais dificultada,
gerando insatisfação e descrédito dos pais em relação à escolarização e inclusão de seus filhos
nas classes regulares, o que muitas vezes irá acarretar em exclusão da criança do ambiente
escolar ou opção somente pelo Atendimento Educacional Especializado – A.E.E. através das
classes especiais.
A família pode colaborar de forma muito ativa no desenvolvimento de seu filho com
necessidades educacionais especiais, quando este está inserido na escola. Os pais podem e
devem fornecer informações de quais seriam as melhores formas de comunicação com a
criança, o que poderia facilitar bastante na aproximação entre aluno e escola, sendo essa
parceria de grande valia.
Porém, nem sempre há uma aproximação harmoniosa entre família e escola, em prol do
desenvolvimento da criança com deficiência, apesar desta relação estar prevista em algumas
normativas. Por um lado, têm-se muitos gestores e docentes que reclamam da falta de
participação dos pais na vida escolar, muitas vezes culpabilizando-os pelo baixo desempenho
de seus filhos. Por outro lado, têm-se pais que, muitas vezes, não participam mesmo dos
processos educacionais, uns por desconhecerem seus direitos de participação outros por não
saberem como realizar esse contato, pois já passaram por experiências de tentativa de
aproximação da escola, sem sucesso.
De acordo com Jesus e Aguiar (2012), em se tratando de alunos com deficiência, esse
contato da família com a escola pode ser limitada somente pela responsabilização dos entes pela
consecução do laudo médico para efetivação da matrícula no AEE. A exigência do laudo,
também acaba por limitar a oferta do AEE e não garante que ações inclusivas serão efetivadas,
pois ao considerar o diagnóstico como primordial para nortear ações desenvolvidas no AEE, os
professores continuam sem elementos plausíveis para sua atuação, pois não há, junto ao laudo,
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prescrições no modo de atuar junto à criança com deficiência na educação especial (TARTUCI
et al, 2014).
Com isso, os profissionais do âmbito escolar podem passar a utilizar o laudo médico
como respaldo pelo baixo ou não aprendizado dos alunos com deficiência, (FRANCO, 2012)
prevalecendo as práticas de integração escolar, fundamentadas em um modelo médico de
deficiência, no qual a possibilidade de ingressar em determinado ambiente social ou no sistema
educacional regular estava condicionada à aptidão ou à capacidade de adaptação da pessoa ao
ambiente. Isso, contudo, não implicaria em responsabilidade para a escola no sentido de
promover mudanças para atender um público diversificado, onde a existência da deficiência
poderia ser responsabilizada pelo fracasso escolar do aluno (MAZZOTTA, 2001).
4. RESULTADOS ALCANÇADOS
A Associação de Proteção e Orientação aos Excepcionais – APOE tem como objetivo
principal, possibilitar a participação comunitária de forma ampla, através do oferecimento de
vivências em grupo, onde o educando aprende regras de convívio social, permitindo, assim, sua
socialização, qualificação e inserção no mercado de trabalho. Busca promover o bem estar e
ajustamento social dos indivíduos em todas as idades, sendo essas ações desenvolvidas através
de diversos projetos e programas, na tentativa de facilitação da interação da pessoa com
deficiência e sua família na sociedade, garantindo desta forma o direito de exercer sua
cidadania.
Um dos principais programas implementados na instituição, o Programa Qualificando-se
para Vencer Desafios que auxilia 50 jovens com deficiência a se inserirem no mercado formal
de trabalho, tem como alguns de seus objetivos e atribuições, a promoção de ações que
qualifiquem adolescentes com deficiência para sua inserção no mercado de trabalho formal,
prestando orientações com intuito do desenvolvimento integral do indivíduo com deficiência e
sua autonomia, promovendo, desta forma, uma melhora na qualidade de vida dos mesmos e de
seus familiares.
Durante a convivência com os jovens que se inseriam no Programa, foi possível perceber
o baixo nível de escolaridade entre eles, principalmente entre os jovens que possuíam
deficiência intelectual. A realidade desses jovens estava em acordo com a média nacional em
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relação à escolarização de pessoas com deficiência, pois segundo a Cartilha do Censo 2010 –
Pessoas com Deficiência (2012), as que possuem deficiência intelectual, sendo a maioria no
Programa, são os que apresentam menor taxa de alfabetização. Ainda de acordo com a Cartilha
(2012), a falta ou a baixa escolarização, também interfere fortemente na renda dos
trabalhadores que possuem deficiência.
Diante desse cenário, no ano de 2013, foram implementadas ações juntamente a esses
jovens e seus familiares, fruto de um projeto de intervenção que visava à inclusão dos
participantes do programa da APOE na rede regular de ensino, na tentativa de estar assegurando
e efetivando garantia do direito de todos à educação, através do acesso, permanência e
continuidade de estudos no ensino regular.
Para tal, foi necessário conhecer a relevância do tema “escolarização” para os pais dos
inseridos no Programa de Qualificação, na tentativa de perceber qual a concepção que eles
possuíam sobre escolarização de pessoas com deficiência. Esse primeiro contato, aconteceu de
forma breve no mês de agosto de 2013, sendo a reunião com os pais/responsáveis delimitada
como um procedimento operacional no Projeto de Intervenção.
Após a breve apresentação do objetivo e a metodologia, foram entregues questionários
também já previstos no Projeto, para que pudessem responder, contendo perguntas sobre as
dificuldades encontradas para inserção e/ou permanência dos jovens nas escolas.
A opção pelo instrumento questionário aconteceu pelo fato de já premeditar que os
pais/responsáveis pudessem optar por responder as questões de forma escrita e em outro
momento, onde seria possível enviar preenchidos pelos seus filhos, sendo essa prática já
adotada quando havia necessidade de comunicação e informação entre pais/responsáveis e
profissionais do programa. O questionário se constitui como uma técnica de investigação
através de um conjunto de questões submetidas às pessoas, objetivando informações sobre
determinado assunto, onde são propostos por escrito e o auto aplicados (GIL, 2008).
Foram entregues 33 questionários, onde quem já havia concluído o ensino médio ou
estava cursando, não recebeu, pelo fato desses jovens, a princípio, não serem público-alvo da
intervenção. Foram devolvidos 22 questionários preenchidos, onde foram respondidos que 11
jovens estavam estudando e 11 não estavam. Em relação às dificuldades de manter o jovem na
escola, 8 respostas citaram a dificuldade de aprendizagem, seguidos também de questões
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como falta de estrutura das escolas; aula ser oferecida no período noturno; jovens não ter
paciência para aprender.
Dentre os pais que responderam que os filhos não estavam estudando, informaram
diversos motivos pelo fato, como por exemplo, não ter encontrado escola adequada no período
da manhã; a escola não estimula adequadamente; dificuldade de adaptação e dificuldade de
levar o jovem na escola. Em relação à questão se os pais/responsáveis gostariam que o filho
estudasse, todos os 22 responderam que sim, e ao serem questionados sobre o motivo,
informaram que o filho tem vontade de estudar; o aprendizado é necessário; melhora a
qualificação; filho pode ser independente e filho tem que ser alguém na vida. Com isso, foi
possível conhecer a relevância do tema “escolarização” para os pais dos inseridos no
programa, assim como as dificuldades encontradas para um efetivo acesso e permanência
desses jovens na escola.
A partir desse ponto, era necessário identificar as escolas que ofereciam Atendimento
Educacional Especializado (AEE) no município de Campos dos Goytacazes (RJ) para que
através dessas informações, os pais/responsáveis pudessem estar identificando as
possibilidades de incluírem seus filhos no ensino regular. Para o alcance desse objetivo, foi
feita uma visita à Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes - SMECE e na ocasião,
foi conversado com a coordenadora e a vice do Departamento Multiprofissional.
De acordo com informações coletadas através de entrevista realizada com essas
profissionais, o aluno teria que estar matriculado no ensino regular, e mediante laudo médico,
poderia frequentar o A.E.E. se necessário em regime de contraturno. O professor teria que se
habilitar para atuar na área da educação especial para o atendimento às necessidades
educacionais especiais dos alunos, através de cursos de formação continuada, oferecidos pelo
DM, sendo orientado em relação ao trabalho que deveria ser realizado nesse espaço, devendo
conhecer as patologias dos alunos que frequentam a sala.
O Departamento Multiprofissional, também dispunha de uma equipe de professores
itinerantes, que havia passado por capacitação e atuava na orientação dos professores em
relação às deficiências, através de visitas às escolas, buscando conhecer as necessidades dos
alunos e a efetividade do trabalho realizado tanto na sala de recursos, quanto na sala regular,
registrando essas questões, através de relatórios, orientando os professores das duas
modalidades, em relação ao atendimento do aluno de acordo com a patologia que ele possui,
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para uma melhor adaptação. A partir desses relatórios, seria possível serem preparadas
avaliações para os alunos de acordo com suas necessidades.
Foi questionado sobre se a sala de recursos recebia alunos com mais de 18 anos, pois
esse era o público alvo do programa e consequentemente, do Projeto de Intervenção. A gerente
da educação inclusiva respondeu todos os alunos, independente da idade, poderiam frequentar
o A.E.E., desde que tivessem um laudo médico, porém essa era considerada uma questão
complexa, pois de acordo com a profissional, a maioria das famílias não aceitava o fato do
filho possuir deficiência, não buscando tratamento e acompanhamento nos equipamentos de
saúde, e consequentemente, esses responsáveis não conseguiam o laudo para que a efetivação
da matrícula ocorresse.
Foi solicitado que elas argumentassem mais detalhadamente acerca da importância da
família no processo de escolarização de seu ente com deficiência, já que este era um dos
principais objetivos da pesquisa naquele presente momento. Segundo uma das profissionais, a
família se configurava como primordial nesse processo, por ser o primeiro núcleo que deveria
creditar esperança de que o seu ente poderia se desenvolver, independente da sua deficiência.
Outra profissional destacou que pôde perceber claramente, duas posturas bem distintas acerca
do tratamento da família em relação à deficiência de seu ente. Informou que por um lado,
tem-se uma postura de descrédito total por parte dos familiares acerca da capacidade de
aprendizagem e desenvolvimento do aluno, e por outro, algumas famílias buscam
freneticamente que seu ente seja considerado normal, assim como os outros alunos, o que
segundo a profissional, gera frustação quando o aluno não consegue se desenvolver como os
demais, justamente, pelo fato de seus familiares não entenderem suas limitações.
Ainda sobre esse contato com a família, relataram que há uma orientação para que haja
uma aproximação das famílias com a escola, sendo essa relação também importante para a
identificação das necessidades dos alunos, como por exemplo, dificuldade de locomoção dessas
famílias para levarem os filhos até às escolas.
Ela também ressaltou que o principal problema percebido em relação à sala de recursos,
seria que o atendimento era realizado em contra turno, e que poderia dificultar a frequência
tanto dos jovens quanto das crianças, pelo fato de inúmeras vezes, já ter presenciado pais de
alunos que participavam do A.E.E, reclamando por ter que levar o filho à escola duas vezes por
dia, ou ter que busca-lo em horário diferenciado dos demais por ele frequentar a sala de
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recursos. Complementa sua fala ressaltando que muitos pais não estão preocupados com a
inclusão e que não percebem o filho como uma criança/jovem que precisa de atenção e
cuidados especiais, como por exemplo, ela sabe de casos de pais que ignoram a deficiência do
filho e que por isso, não o leva ao médico, estando a criança vulnerável e em risco de ter um
surto ou algo mais grave por não fazer acompanhamento médico.
Em relação à garantia de locomoção de forma segura e gratuita dos alunos da rede
pública da zona rural, as profissionais foram questionadas sobre a efetivação dessa oferta de
transporte e se ela atendia também alunos com deficiência das áreas rurais. Informaram que
quando o aluno tem dificuldade de locomoção da sua residência na zona rural para a escola na
zona urbana, os familiares poderiam levar essa demanda à unidade escolar e pedir para que
fosse feita uma solicitação de transporte para a unidade. Um laudo médico deveria estar
anexado junto à solicitação, não havendo prioridade de patologia, sendo também necessário
anexar comprovante de residência, e assim, todas as demandas solicitadas, quando
comprovadas as dificuldades, deveriam ser atendidas. Essa solicitação, em um primeiro
momento, iria para o Departamento Multiprofissional, pois a equipe teria que analisar a
necessidade, verificando também as condições do transporte que poderia atender a solicitação e
se este estaria adaptado para determinadas patologias. Após essa análise, a solicitação seria
encaminhada para o setor municipal responsável pela disponibilização do transporte.
Após o levantamento de todas as informações necessárias, foi marcada uma reunião no
mês de novembro de 2013 com os pais/responsáveis para a apresentação da rede escolar
municipal e o seu departamento que lida com a questão da inclusão. A apresentação foi iniciada
com a explicação sobre a EJA, seu público alvo e o significado de distorção idade-série e que na
época, a EJA só era disponibilizada em horário noturno, mas que havia um projeto da
coordenação da EJA municipal que previa a disponibilização dessa modalidade de ensino em
período diurno, sendo essa questão abordada junto às profissionais pelo fato de recorrendo
reclamação dos familiares acerca do horário da oferta dessa modalidade.
Também foi explicitado o significado da sigla A.E.E. e qual a sua função, sendo esse
atendimento também disponibilizado pela SMECE, através do Departamento
Multiprofissional. Foi prosseguido com a disponibilização dos serviços ofertados por esse
Departamento, no qual objetivava a efetiva participação e inclusão dos alunos com deficiência
na rede regular de ensino. Essa parte foi finalizada com a apresentação da relação das escolas
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municipais, que constava na lista entregue, explicando os procedimentos para pré-matrícula dos
alunos na rede municipal de ensino, inclusive, a necessidade do laudo médico.
Após explanação, os familiares participantes da pesquisa, informaram que encontravam
muitas dificuldades de acesso aos médicos especializados pela escassez desses profissionais na
rede pública de saúde e pela dificuldade de fechar o diagnóstico correto para que fosse possível
a confecção do laudo e que já tiveram pedido negado referente ao transporte da área rural para
escola na zona urbana, sem devidas explicações, o que ocasionou em abandono escolar por
parte do aluno.
Acerca da disponibilização de cursos de formação continuada para qualificação dos
professores que atuavam na rede municipal, principalmente na sala de recursos, os familiares
também discordaram narrando a dificuldade de aprendizagem como principal agravante para
que os filhos se mantivessem na escola. Relataram situações de descasos de professores do
âmbito educacional com seus entes com deficiência, sendo inclusive desestimulados por esses
profissionais, sob argumentação de que eles não tinham mais nada para aprender na escola,
ocasionando em abandono escolar. Nesses casos, para que seus entes não permanecessem
reclusos em ambiente domiciliar, as instituições filantrópicas voltadas para pessoas com
deficiência, eram procuradas, por serem mais “acolhedoras”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No início do presente trabalho, foram apresentados alguns avanços no que tange o
tratamento dado às pessoas com deficiências em diferentes períodos históricos. É nítida a
evolução do conceito e do tratamento da deficiência, não somente pela área da saúde, mas
também no âmbito escolar, que passa a perceber as pessoas que possuem deficiência, como
seres com possibilidades de aprendizagem, porém que necessitam de mais estímulos do que os
demais alunos, tendo, como consequência disto, a criação do Atendimento Educacional
Especializado.
Apesar desses avanços, foi possível perceber que na prática, nem sempre são efetivadas
ações cujas diretrizes são pautadas na educação que possui um caráter de inclusão, para além da
integração, no qual o aluno é apenas inserido na escola regular. Cabe ressaltar que o principal
ator, para a efetivação de uma educação inclusiva, é a família da criança/jovem que possui
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deficiência e a escola. A família que passa por profundas transformações principalmente nas
últimas décadas, não perde o seu papel de principal cuidador e estimulador da criança desde os
primeiros anos de vida desta, sendo cruciais os estímulos para o desenvolvimento social,
cultural e escolar. A escola por sua vez, assim como a família, também possui o papel de
socialização entre criança e deficiência com as demais e de transmissão de conhecimentos,
carecendo dos profissionais dessa área, constante aperfeiçoamento para que os conteúdos sejam
apreendidos pelos alunos com ou sem deficiência.
Foi demonstrado que a inclusão no âmbito educacional ainda não é efetivada em todas
as unidades escolares, como pôde ser visto nas falas dos familiares que participaram da
pesquisa. Uma das causas pode ser a falta do diálogo entre a família e escola, pois como foi
possível perceber, durante a explanação da experiência empírica realizada, por diversas vezes,
temos argumentos da família contra a escola e dos profissionais da educação contra a família.
Por um lado, a família culpa os profissionais da educação, especificamente na figura dos
professores, pelo fato deles não saberem lidar com um aluno com deficiência na classe regular.
Reclamam também da falta de uma estrutura física escolar adequada para o ensino. Pelo outro
lado, temos profissionais e dirigentes da área de educação que ressaltaram a nula ou baixa
participação da família dos processos de vivências escolares, através de reuniões com os pais,
ou até desleixo em relação aos cuidados médicos de seus membros que possuem deficiência, o
que impede que o aluno se matricule no Atendimento Educacional Especializado,
frequentando somente o ensino regular, porém sem conseguir avançar nos estudos.
Nesse contexto, pode-se afirmar que as narrativas dos profissionais da área da educação,
apontam para a família como um dificultador da efetividade dos estudos de seus entes com
deficiência. Apesar da afirmação que há uma orientação do Departamento Multiprofissional
para que houvesse maior articulação dos profissionais da escola com a família, não foi possível
perceber nas falas, uma ação efetiva que pudesse exemplificar essa relação, deixando claro por
diversas vezes, que à família, caberia à responsabilidade de providenciar atendimento médico
aos seus entes, sem que ao menos houvesse orientação e encaminhamento dos profissionais da
educação para os equipamentos de saúde disponibilizados pelo município.
Apesar de ser uma meta prevista no Plano Municipal de Educação, percebe-se que não
há articulação do âmbito educacional com o da saúde no que tange oferta de atendimento e
acompanhamento médico dos alunos da rede municipal com deficiência. Porém, a
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obrigatoriedade do laudo médico, que vem sendo um empecilho à efetivação da matrícula desse
público na rede regular e especial de ensino, se traduz em permanência do modelo médico de
deficiência, onde há ênfase na descrição apresentada no laudo médico que vai servir como porta
de entrada desses alunos na escola, desconsiderando as suas potencialidades educacionais,
independente da deficiência. Nesse sentido, o laudo médico acaba por configurar-se como um
instrumento que serve como respaldo para que profissionais do âmbito educacional possam
justificar possíveis baixos níveis de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos com
necessidades educacionais especiais, pois até a presente data da pesquisa, não foi possível
identificar a descrição da deficiência presente no laudo, como base para nortear ações a serem
desenvolvidas tanto na sala de recursos, como na sala regular. Portanto, a pesquisa a ser
desenvolvida durante o período de mestrado, buscará compreender a efetiva aplicabilidade que
o laudo médico possui para o direcionamento das ações e práticas pedagógicas desenvolvidas
no ambiente escolar.
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