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Atitudes e práticas alimentares maternas: associações com o estado ponderal e a ingestão nutricional da criança Maternal feeding attitudes and practices: associations with weight status and children´s nutrition intake Maria João Faria da Silva Costa Orientado por: Mestre Tânia Franco Trabalho de Investigação Porto, 2010

Atitudes e práticas alimentares maternas: associações com ... · a distúrbios alimentares(15). Assim, uma grande parte da literatura tem-se focalizado no ambiente familiar e nos

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Atitudes e práticas alimentares maternas: associações com o

estado ponderal e a ingestão nutricional da criança

Maternal feeding attitudes and practices: associations with

weight status and children´s nutrition intake

Maria João Faria da Silva Costa

Orientado por: Mestre Tânia Franco

Trabalho de Investigação

Porto, 2010

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Dedicatória

Aos meus pais.

Ao meu maninho.

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Agradecimentos

À minha orientadora, Mestre Tânia Franco.

Ao Prof. Doutor Victor Viana.

Ao Prof. Doutor Bruno Oliveira.

À bibliotecária da FCNAUP, Marta Azevedo.

A todos aqueles que, directa ou indirectamente, contribuíram e tornaram possível

a realização deste trabalho.

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Índice

Dedicatória .......................................................................................................... i

Agradecimentos .................................................................................................. ii

Lista de Abreviaturas .......................................................................................... iv

Resumo e Palavras-Chave................................................................................. v

Abstract and Keywords ..................................................................................... vii

1.Introdução ....................................................................................................... 1

2.Objectivos ........................................................................................................ 9

3.Amostra e Métodos ......................................................................................... 9

4.Resultados .................................................................................................... 15

5.Discussão ..................................................................................................... 25

6.Conclusão .................................................................................................... 33

Referências Bibliográficas ................................................................................ 34

Índice de Anexos ............................................................................................. 39

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Lista de Abreviaturas

OMS- Organização Mundial de Saúde

IOTF- International Obesity Taskforce

IMC- Índice de massa corporal

CFQ- Questionário alimentar para crianças

IET- Ingestão energética total

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Resumo

Introdução: A obesidade é um dos mais sérios problemas de saúde pública do

século XXI. Grande parte da literatura tem-se focalizado no ambiente familiar e

nos efeitos das práticas parentais na alimentação da criança. As práticas

alimentares parentais incluem comportamentos como a restrição, a pressão para

comer e a monitorização.

Objectivos: Investigar a influência do nível educacional da mãe e do estado

ponderal da criança nas atitudes e práticas alimentares maternas bem como

avaliar o impacto das diferentes atitudes e práticas alimentares na ingestão

nutricional da criança.

Métodos: A amostra é constituída por 102 mães e as suas crianças, com idade

entre os 8 e os 10 anos. As mães responderam a dois questionários. Um relativo

às características do agregado familiar, e um outro, o Questionário Alimentar para

Crianças (CFQ), para avaliar atitudes e práticas alimentares. O peso e a altura

das crianças foram determinados para aceder ao estado ponderal, usando z-

scores de IMC. A ingestão alimentar foi avaliada pelo método de recordação das

24 horas anteriores. Para estimar a ingestão de nutrientes foi usando o programa

Food Processor SQL. Foram ainda incluídas três questões relativas à frequência

de ingestão de alimentos com elevada palatabilidade. Para efectuar comparações

entre dois ou mais grupos, foram utilizados os testes de Mann-Whitney e Kruskal-

Wallis. A associação entre os factores do CFQ e outras variáveis (z-score de IMC,

frequência de consumo alimentar e ingestão de nutrientes) foi efectuada pelo

coeficiente de Spearman.

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Resultados: Mães com nível de escolaridade mais elevado utilizam menos a

prática de pressão para comer (p=0,011). Foi encontrada uma associação positiva

entre o z-score de IMC da criança e a preocupação com ganho de peso (ρ=0,412,

p<0,001) e restrição parcial (ρ=0,330, p=0,001). Também foi verificada correlação

significativa inversa entre o z-score de IMC e a pressão para comer (ρ=-

0,288,p=0,003). A preocupação com o ganho de peso foi inversamente

relacionada com a ingestão energética total. O factor pressão para comer foi

correlacionado positivamente com a ingestão de gordura monoinsaturada (ρ=

0,231, p= 0,019) e gordura trans (ρ=0,659, p=0,001) e inversamente, com a

ingestão de monossacarídeos (ρ= -0,232, p=0,020). Não foram encontradas

correlações estatisticamente significativas entre a ingestão energética da criança

e restrição total, restrição parcial e monitorização.

Conclusão: As mães podem inconscientemente promover o excesso de peso na

infância, pelo uso de práticas e atitudes alimentares desadequadas. Apesar das

limitações e associações fracas e pouco claras, o presente estudo poderá

contribuir para compreender a extensão em que as atitudes e práticas alimentares

das mães influenciam a alimentação das crianças.

Palavras-Chave: Práticas alimentares; ingestão nutricional; crianças; obesidade

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Abstract

Introduction: Obesity is one of the most serious problems of public health in the

21th century. Various studies have been focused on family environment and the

effects of parental practices in child feeding. Parental practices include behaviours

such as restriction, pressure to eat and monitoring.

Objectives: To investigate the influence of mothers’ educational level and children

weight status on maternal feeding attitudes and practices as well as evaluate the

impact of different feeding attitudes and practices on the child´s nutrition intake.

Methods: The sample included 102 children, aged 8 and 10 years, and their

mothers. Mothers completed two questionnaires. One included family

characteristics and other consisted of Child Feeding Questionnaire (CFQ), which

examines attitudes and practices regarding child feeding. Children’s weight and

height were determined to assess their weight status, using body mass index

(BMI) z-scores. Food intake was measured using the 24-hour recall and nutrient

intake was estimated using Food Processor SQL. Three food frequency questions,

regarding to high palatably food, were included. In order to compare maternal

attitudes between two or more groups Mann-Whitney and Kruskal-Wallis tests,

were used.

The association between CFQ factors and other variables (BMI z-scores, food

frequency consumption and nutrient intake) was assessed by using the Spearman

correlation coefficient.

Results: Mothers with higher education level reported less pressure to eat

(p=0,011). A direct association was found between children's BMI z-score and

concern for child's weight (ρ=0,412, p<0,001) and partial restriction (ρ=0,330,

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p=0,001). Otherwise, a reverse significant association was found between

children's BMI z-score and pressure to eat (ρ=-0,288, p=0,003). The concern

about child weight was inversely related with total energy intake. Pressure to eat

was positively related to monounsaturated fat (ρ=0,231, p=0,019), trans fat intake

(ρ=0,659, p=0,001) and inversely related with monosaccharides intake (ρ= -0,232,

p=0,020). It wasn´t found statistically significant correlations between total energy

intake and total restriction, partial restriction and monitoring.

Conclusion: Mothers may inadvertently promote the excess weight gain in

childhood by using inappropriate feeding attitudes and practices. Besides the

limitations and pour and unclear associations, the present study may contribute to

understand the extension in which mothers feeding attitudes and practices could

influence the children food intake.

Keywords: Feeding practices; Nutrition intake; Children; Obesity

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1. Introdução

A obesidade é um dos mais sérios problemas de saúde pública do século XXI.

A sua prevalência tem aumentado de forma alarmante em todo o Mundo e o

continente Europeu não é excepção. O excesso de peso afecta 30 a 80% da

população adulta europeia. Nas crianças e adolescentes, a Organização Mundial

de Saúde (OMS) estima que 20% apresentam excesso de peso e um terço destes

são obesos. A prevalência de obesidade infantil tem aumentado de forma

constante, com uma taxa de crescimento anual actual, 10 vezes superior

comparativamente a 1970(1). Dados da OMS de 2005/2006, relativos à

prevalência de excesso de peso e obesidade nas crianças com 11 anos de 36

países da Europa, colocam Portugal numa posição bastante desfavorável,

ocupando os primeiros lugares(2). Padez et al, utilizando os critérios da

International Obesity Tash Force (IOTF), indicam que, em 2002/2003, a

prevalência de excesso de peso nas crianças portuguesas entre os 7 e os 9 anos,

era de 19,1% nos rapazes e 34,3% nas raparigas, e a prevalência de obesidade

era de 10,3% nos rapazes e 12,3% nas raparigas(3).

A obesidade é definida como uma acumulação excessiva ou anormal de

gordura, que pode afectar negativamente a saúde(4). Nas crianças, o excesso de

peso e obesidade têm sido associados a complicações metabólicas durante a

infância e que se prolongam pela idade adulta, incluindo a propensão para o

desenvolvimento de Diabetes Mellitus tipo II, bem como, doenças

cardiovasculares, respiratórias e hepáticas(5, 6). As implicações psicológicas e

sociais desta doença também não devem ser negligenciadas(1).

Na origem da obesidade, podem estar diversos factores: biológicos, individuais

e ambientais. Todavia, sem descuidar o respeito pelos factores genéticos(7, 8), o

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ambiente constitui o factor chave para o rápido crescimento da obesidade(1).

Várias evidências sugerem que, o contexto em que a criança está inserida,

particularmente, o ambiente familiar e escolar, podem propiciar o desenvolvimento

da obesidade (9-11).

A família é a primeira instituição social a exercer influência na criança, e por

isso, é compreensível que muitos dos factores de risco associados à obesidade

infantil, tenham raízes sustentáveis no contexto familiar(12). Os pais desempenham

um papel crucial no desenvolvimento do comportamento alimentar da criança,

especialmente nas crianças mais novas, nas quais exercem um controlo

considerável na alimentação(13). Numa primeira observação, são os pais que

determinam os alimentos disponíveis em casa, como são preparados e em que

quantidade são consumidos(7, 14, 15). Mais subtilmente, os comportamentos

alimentares dos pais e as suas práticas alimentares para com a criança(16),

orientam a mesma, para comportamentos alimentares saudáveis e um peso

saudável, ou por outro lado, fomentam o excesso de peso e aspectos associados

a distúrbios alimentares(15).

Assim, uma grande parte da literatura tem-se focalizado no ambiente familiar e

nos efeitos das práticas parentais na alimentação da criança, no sentido de

determinar o impacto de práticas alimentares específicas na modificação das

preferências alimentares e do consumo alimentar.

As práticas parentais, por definição, são comportamentos que os pais

empregam, para direccionar as suas crianças a fazer algo especifico e neste

caso, para controlar a alimentação da criança(17). Estas práticas surgem em

resposta aos diversos contextos, e por isso, podem diferir entre as crianças da

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mesma família em função da idade, sexo, comportamento alimentar e estado

ponderal da criança(12).

As práticas alimentares parentais incluem comportamentos como a restrição, a

pressão para comer e a monitorização.

A restrição ou controlo restritivo envolve a exclusão dos alimentos

considerados como menos saudáveis e a redução da quantidade ingerida pelos

filhos(18). Por sua vez, a pressão para comer, associa-se à pressão para ingerir

alimentos mais saudáveis, usualmente os hortofrutícolas. A monitorização,

também designada por vigilância ou controlo discreto, implica estar atento aos

hábitos alimentares e inclui atitudes subtis de controlo tais como: não comprar

para casa alimentos menos saudáveis e agir como modelo, promovendo refeições

saudáveis(18).

Grande parte dos estudos de práticas parentais, centralizam-se na figura

materna, uma vez que as mães, comparativamente aos pais, passam mais tempo

em interacção directa com as crianças nas situações familiares, incluindo os

momentos da refeição(15).

As evidências científicas sugerem que, a pressão para comer exercida pelos

pais, pode levar a que a criança deixe de usar da sua própria saciedade para

terminar o episódio de ingestão, passando os mecanismos de regulação da

ingestão, a focalizar-se em causas externas como a quantidade de comida no

prato e as emoções. Também as práticas de controlo restritivas, podem conduzir

à perda de auto-regulação da ingestão alimentar(19).

Os estudos de revisão, em particular, os estudos experimentais analisados,

indicam que, as práticas alimentares restritivas, que limitam a ingestão de

alimentos de elevada palatabilidade, tipicamente, alimentos com teores

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consideráveis de açúcar e gordura, podem aumentar a ingestão e a preferência

pelos alimentos restringidos(12, 15, 20). Estas práticas estão também associadas a

uma maior desinibição alimentar pela criança e à ingestão de alimentos de grande

palatabilidade na ausência de fome(18, 21).

Em relação ao peso, estudos longitudinais evidenciam que a restrição poderá

contribuir para o aumento de peso através da promoção de excessos alimentares,

na presença de alimentos com elevada palatabilidade. Porém, parecem existir

inconsistências quanto os efeitos da restrição no peso da criança. No estudo de

revisão de Ventura et al, a maioria dos estudos transversais, associavam níveis

elevados de restrição com excesso de peso na criança(12), o que não foi

confirmado no estudo de Horrer et al(13). Adicionalmente, um estudo longitudinal,

revela que a restrição nas crianças com cinco anos, prediz o excesso de peso da

criança aos 7 anos de idade, depois de ajustado para o estado ponderal inicial(22).

No entanto, outro estudo longitudinal mais recente, conduzido em crianças mais

velhas (10-12 anos), não encontrou associações entre a restrição e o z-score de

IMC, sugerindo que a restrição de alimentos com elevada densidade energética

não tem efeito nas crianças mais velhas(23). A percepção parental do peso da

criança está também associada ao controlo restritivo, ou seja, as mães recorrem a

práticas alimentares mais restritivas, quando percepcionam que as suas filhas têm

excesso de peso, quando estão preocupadas com o peso das filhas, e quando as

filhas apresentam um peso mais elevado(24).

A nível da ingestão alimentar, estudos experimentais indicam que a

diminuição de controlo restritivo pelos pais, está associado a um aumento da

ingestão de fruta, embora as preferências por esses alimentos não se alterem(25).

Já estudos longitudinais têm mostrado associações entre a elevada ingestão de

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gordura e a restrição parental(21). Assim, o controlo parental rigoroso parece

aumentar a preferência por alimentos de elevada densidade energética e com

elevados teores de gordura, por perturbar o mecanismo de auto-regulação da

criança(15).

No mesmo sentido, a pressão para comer parece reduzir a habilidade da

criança para regular a sua própria ingestão(15).

Um estudo de revisão publicado no International Journal of Behaviour

Nutrition and Physical Activity revela que, elevados níveis de pressão para comer

estão associados a uma baixa ingestão alimentar, baixo peso e número elevado

de episódios de ingestão entre refeições(12). Os estudos experimentais incluídos

nesta revisão sugerem que a pressão para comer pode resultar numa diminuição

da preferência e da ingestão dos alimentos para os quais se exerce pressão para

o consumo, usualmente os hortofrutícolas(12, 15). Um outro estudo mostrou que os

pais que apresentam uma baixa ingestão de hortofrutícolas, exercem mais

pressão na alimentação da criança e que, essas crianças apresentam também

uma baixa ingestão de hortofrutícolas(26). A associação negativa entre o uso de

pressão para comer pelos pais e a ingestão de hortofrutícolas pelas crianças é

consistente com o efeito nefasto de altos níveis de controlo alimentar, embora a

relação de causalidade esteja ainda por estabelecer(14).

Alguns estudos de revisão mostram associações positivas entre a pressão

para comer efectuada pelas mães e a elevada ingestão de gordura(7, 21, 27).

Os estudos transversais também evidenciam que os pais aplicam mais

pressão para comer, quando o seu filho(a) é muito lento a comer, ingere muitos

alimentos não saudáveis e apresenta comportamentos alimentares que os pais

percepcionam como problemáticos(12).

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Quanto ao peso da criança, os estudos transversais têm estabelecido

associações inversas entre a pressão para comer e o peso da criança(12, 13). As

evidências sugerem também que os pais que percepcionam os seus filhos como

tendo excesso de peso/obesidade recorrem menos à pressão para comer(24).

Especificamente, as mães referem usar mais pressão para comer, quando as

suas filhas são magras e quando percepcionam o estado ponderal das filhas

como magreza(24). Já os estudos longitudinais, verificam que, uma vez que a

pressão para comer conduz a maior ingestão de gordura, esta ingestão encontra-

se associada a um aumento considerável do IMC da criança, dois ou três anos

mais tarde, promovendo, desta forma, o ganho de peso a longo prazo(27, 28).

Outros estudos transversais demonstraram que a pressão para comer está

associada a elevados níveis de restrição e de desinibição alimentar por parte da

criança(12).

Relativamente às práticas de monitorização, a investigação é menos

frequente(18). Um estudo de Brown et al, comparou os efeitos do controlo discreto

e de um controlo mais firme, concluindo que a ingestão de fruta e vegetais está

associada a altos nível de controlo discreto, enquanto que um controlo firme e

mais pressão para comer se associavam à ingestão elevada de lanches pouco

saudáveis e mais neofobia alimentar(29).

Alguns investigadores têm-se direccionado para o estudo do impacto do

controlo da ingestão alimentar pelos pais, através da recompensa pelo consumo

de “alimentos saudáveis” recorrendo a expressões tais como “se comeres os

legumes que tens no prato, a mãe dá-te sobremesa”(15). Birch et al, afirmam que

“embora esta prática possa favorecer o consumo de hortícolas a curto prazo, as

evidências mostram que, a longo prazo, este tipo de práticas pode ter efeitos

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negativos na qualidade da alimentação da criança, pela redução da preferência

por esses alimentos”(30).

Num sentido mais amplo da compreensão da epidemia crescente da

obesidade, e, para além dos efeitos das práticas parentais no peso das crianças,

é necessário considerar que, se os pais falharem na identificação do estado

ponderal da criança, ou seja, se não reconhecerem que as suas crianças

apresentam excesso de peso ou obesidade, eles não intervêm no sentido de

diminuição dos factores de risco da obesidade pediátrica e das complicações

associadas. Vários estudos de revisão têm evidenciado precisamente que os pais

subestimam o peso da criança e muitos deles não reconhecem a obesidade

infantil como um problema ou um risco para saúde (31-33).

As características dos pais também devem ser tidas em conta para

compreender as suas atitudes e práticas alimentares para com a criança,

nomeadamente o estatuto socioeconómico da família. Alguns estudos têm

mostrado que o rendimento familiar e o nível educacional dos pais podem ter

efeitos na alimentação da criança e nas atitudes e práticas alimentares exercidas

pelas pais(34). Evidências sugerem que mães com nível educacional mais elevado,

oferecem às suas crianças alimentos mais saudáveis apresentando ambas uma

alimentação mais saudável(35-37). Pais que revelam maiores conhecimentos em

nutrição, o que tem sido associado a um nível de escolaridade mais elevado, têm

crianças que exibem um consumo maior de fruta, maior ingestão de fibras e

menor ingestão de gordura, sugerindo que as intervenções educacionais possam

ser mais efectivas em famílias cujos pais apresentam um nível de escolaridade

mais elevado, uma vez que a informação nutricional poderá ser melhor

compreendida e aplicada(21, 38). Apesar dos resultados apresentados em alguns

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trabalhos publicados, estudos não conseguiram estabelecer associações entre as

atitudes e práticas parentais e o nível educacional dos pais(24, 34), ou concluíram

que mães com níveis de escolaridade mais baixos, exercem maior controlo

alimentar global, nas suas crianças(39, 40). No entanto, alguns estudos demonstram

que os pais de classes sociais mais elevadas tendencialmente utilizam um

controlo mais restritivo, ao mesmo tempo que a disponibilidade familiar de

alimentos saudáveis aumenta(35, 41).

Assim, para a compreensão dos factores que conduzem ao

desenvolvimento de excesso de peso e obesidade em idades cada vez mais

precoces, é essencial a disponibilidade de instrumentos psicométricos para

avaliar as práticas parentais(13).

O Questionário Alimentar para Crianças (CFQ) é um dos instrumentos mais

largamente utilizado na avaliação das atitudes e práticas alimentares parentais(13).

Desenhado por Birch et al, em 2001, o CFQ tem como objectivo compreender as

percepções e preocupações parentais em relação à obesidade infantil, bem como

as atitudes e práticas relativas à alimentação das crianças(42). O questionário

contempla 3 subescalas que medem aspectos do controlo parental na

alimentação (restrição, pressão para comer e monitorização) e 4 subescalas que

analisam atitudes alimentares específicas (responsabilidade alimentar percebida,

preocupação com o ganho de peso da criança, percepção do peso da criança e

percepção do peso das mães).

Devido à importância que a alimentação e nutrição têm no crescimento e

desenvolvimento das crianças e à necessidade de compreender a influência dos

práticas e atitudes parentais no seu consumo alimentar e ingestão nutricional, o

presente estudo focaliza-se na associação entre estas variáveis.

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Diversos estudos têm estabelecido associações entre a alimentação e as

atitudes e práticas alimentares, mas poucos relacionam as atitudes e práticas com

ingestão energética total(43-45), tendo sido ainda menos os estudos que as

relacionem com a ingestão nutricional(21).

2. Objectivos

Este trabalho propõe como objectivos:

investigar a influência do nível educacional da mãe nas atitudes e práticas

alimentares;

relacionar o estado ponderal da criança com as atitudes e práticas

alimentares maternas;

avaliar o impacto de diferentes atitudes e práticas alimentares maternas na

ingestão nutricional da criança.

3. Amostra e Métodos

3.1. Amostra

A amostra em estudo consistia em crianças a frequentar o 3º ou 4º ano de

escolaridade de dois Agrupamentos de Escolas do concelho de Paços de

Ferreira. Inicialmente obteve-se uma amostra constituída por 109 crianças e suas

mães, da qual foram excluídas 5 (4,6%) crianças, porque não devolveram o

questionário preenchido pela mãe. Foi excluída também uma outra criança

(0,9%), uma vez que a mãe não constava do agregado familiar da mesma.

Assim, a amostra final, de conveniência, é constituída por 102 crianças e suas

mães.

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3.2. Desenho do estudo

O presente estudo transversal, decorreu em dois Agrupamentos de Escolas do

concelho de Paços de Ferreira.

Inicialmente, foi pedido consentimento verbal à Direcção Executiva de cada

agrupamento para a realização do estudo. Após autorização, 4 escolas do 1º

Ciclo do Ensino Básico foram seleccionadas, sendo a professora coordenadora

de cada escola contactada pela Direcção Executiva do respectivo Agrupamento, e

informada sobre a realização deste estudo, ficando a mesma responsável, pela

divulgação às professoras titulares das turmas do 3º e 4º anos. Assim, as crianças

de oito turmas e as respectivas mães (n=166) foram convidadas a participar no

estudo. A cada criança foi entregue uma declaração para consentimento,

contemplando a explicação do objectivo do estudo bem como a metodologia a

utilizar (Anexo A). A mesma, deveria ser assinada pela mãe e devolvida à

Professora Titular da turma. No total, foram devolvidas 109 declarações. A cada

criança foi aplicado um inquérito para avaliação da sua ingestão alimentar e, pela

mesma, foi enviado um Questionário Alimentar para Crianças (CFQ), a ser

preenchimento pela mãe.

3.3. Avaliação antropométrica

No início do ano lectivo em questão, os professores de actividade física e

desportiva das actividades de enriquecimento curricular, efectuam a avaliação

antropométrica de todos os alunos, nomeadamente da estatura e do peso. Neste

sentido, foi solicitado a cada agrupamento de escolas, através de um

requerimento, a disponibilização destes mesmos dados, os quais foram utilizados

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no presente estudo. As medições foram realizadas com as crianças vestidas com

roupas leves e sem sapatos. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi determinado

pelo quociente do peso actual (em kilogramas) pelo quadrado da altura (em

metros)(1). O IMC foi exprimido em termos de desvio padrão da pontuação

mediana ou z-score, de acordo com a idade e sexo, utilizando o LMS growth

program(46), tendo por base as curvas de crescimento do Center of Disease

Control and Prevention(47). Com o z-score, as crianças foram classificadas de

acordo com o seu estado ponderal em “normoponderais”, “excesso de peso” e

“obesidade”. As crianças que apresentavam baixo peso (n=3) e peso normal

foram incluídas na mesma categoria, pelo que esta classe será adiante designada

por “normoponderal”.

3.4. Características do agregado familiar

As mães completaram um questionário inicial relativo às características do

agregado familiar, nomeadamente o número de membros que o compõem, e

idade, ano/nível de escolaridade concluído e profissão de cada um dos seus

membros (Anexo B). A escolaridade dos pais foi agrupada em cinco classes: “1º

ciclo”, “2º ciclo”, “3º ciclo”, “Ensino Secundário” e “Ensino Superior”.

Adicionalmente, consideraram-se as três primeiras classes como “Baixo nível

educacional” e as restantes como “Médio/alto nível educacional”. Para categorizar

a profissão, utilizou-se a Classificação Nacional de Profissões de 2010 do Instituto

Nacional de Estatística (48) que estabelece 10 classes profissionais, às quais

outras duas se acrescentaram: “Desempregado”e “Reformado”.

Neste estudo, apenas foram analisados os dados relativos à mãe. Como

indicador socioeconómico familiar foi utilizado o nível educacional da mesma.

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3.5. Questionário Alimentar para Crianças

O CFQ contém 31 itens, englobados em sete factores diferentes(42). A resposta

a cada item é registada numa escala de 1 a 5. Quatro desses factores pretendem

avaliar percepções dos pais e preocupações relacionadas com o peso,

designadamente: (i) Responsabilidade alimentar percebida (três itens), no sentido

de aceder às percepções dos pais, quanto à sua responsabilidade pela

alimentação da criança (exemplo: Quando a sua criança está em casa, quantas

vezes é responsável por alimentá-la?); (ii) Percepção do peso dos pais (quatro

itens), para a compreensão da percepção dos pais relativamente ao seu próprio

peso em vários períodos ao longo do tempo; (iii) Percepção de peso da criança (6

itens) para a análise da percepção do peso da criança, pelos pais, ao longo do

tempo; (iv) Preocupações com o ganho de peso da criança (três itens), com o

intuito de compreender as preocupações dos pais relativamente ao risco de

desenvolvimento de obesidade pelo seu filho (exemplo: “Até que ponto se

preocupa que a sua criança coma demais quando não está perto de si?”).

Adicionalmente, outras três subescalas que avaliam aspectos relacionados com o

controlo parental na alimentação, são contempladas neste questionário: (v)

Restrição (oito itens), a qual se associa à extensão em que os pais restringem o

acesso pelas crianças aos alimentos (exemplo: “Eu mantenho propositadamente

alguns alimentos fora dos alcance da minha criança”); (vi) Monitorização (três

itens), respeitante à extensão em que os pais supervisionam a alimentação do

seus filhos (exemplo: “Quantas vezes está atenta aos doces (rebuçados, gelados,

bolos ou pasteis) que a sua criança come?”); e (vii) Pressão para Comer (quatro

itens), referente à tendência dos pais para exercer pressão nas crianças, para

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13

comerem mais quantidade, normalmente às refeições principais (exemplo: “A

minha criança deverá comer toda a comida que tem no prato.”).

Este instrumento de avaliação do controlo parental na alimentação das

crianças, foi traduzido e adaptado para português por Viana V., e integrou o

presente estudo, sendo-lhe retirado o último item referente à percepção do peso

da criança, devido à sua desadequação relativamente à idade das crianças em

estudo (Anexo B).

Para a análise estatística, os 30 itens que figuram no CFQ foram agrupados

nos seus 7 factores. Adicionalmente, emergiu do factor restrição, um “8º factor”,

designado por “recompensa”. Assim, o factor restrição foi analisado globalmente

(integrando 8 itens) e parcialmente (integrando 6 itens), sendo que, os dois itens

que lhe foram retirados assumem, neste estudo, o 8º factor. Para cada factor do

CFQ, foram representados os valores médios.

3.6. Avaliação da ingestão alimentar

Para avaliação da ingestão alimentar foi elaborado um inquérito, utilizando o

método de recordação das 24 horas anteriores, incluindo ainda três questões

relativas à frequência de ingestão de doces, salgadinhos e alimentos com elevado

teor em gordura (Anexo C).

Este instrumento foi aplicado como pré-teste em 11 crianças, não necessitando

de sofrer alterações. Porém, verificou-se que as crianças revelaram alguma

dificuldade na definição da porção ingerida. Neste sentido, como ferramenta de

auxílio de quantificação alimentar, utilizou-se o Manual de Quantificação de

Alimentos(49), para assegurar um maior rigor na quantificação das porções

ingeridas. Os inquéritos foram realizados sem aviso prévio, não sendo aplicados

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14

às segundas-feiras, minimizando deste modo, a possível não representatividade

da ingestão do dia anterior, como um dia alimentar habitual.

A conversão de alimentos em nutrimentos foi efectuada através do programa

informático Food Processor SQL versão 10.0 (ESHA Research, Salem, Oregan),

utilizando a codificação elaborada pelo Serviço de Higiene e Epidemiologia da

Faculdade de Medicina de Universidade do Porto(50). Adicionalmente,

acrescentou-se à base de dados, informação da composição nutricional de

alimentos não contemplados nesta base, a qual foi recolhida na rotulagem do

alimento em questão. Dos vários parâmetros nutricionais, o presente estudo

focar-se-à apenas em macronutrimentos e no valor energético total.

3.7. Análise estatística

A análise estatística foi realizada com o auxílio do software estatístico SPSS

(Statistical Package for Social Sciences) versão 17.0.

Procedeu-se à caracterização da amostra através da análise descritiva de

variáveis sob a forma de média, desvio padrão (d.p.), máximos e mínimos.

A associação entre os factores do CFQ e outras variáveis (IMC z-score,

frequência de consumo alimentar e ingestão de nutrientes) foi efectuada pelo

coeficiente de Spearman. Os valores de correlação são apresentados por ρ (ró).

Consideram-se associações muito fracas quando 0≤ρ<0,25, fracas para

0,25≤ρ<0,50, moderadas para 0,50≤ ρ<0,75, fortes para 0,75≤ρ<0,90 e muito

fortes quando ρ≥0,90(51).

As diferenças entre as práticas alimentares maternas entre dois grupos,

formados com base no nível educacional e no sexo, foram calculadas pelo teste

de Mann-Whitney. Comparam-se diferenças entre mais que dois grupos (estado

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15

ponderal) pelo teste de Kruskal-Wallis. Foi seleccionada a análise não

paramétrica devido à distribuição não normal de muitas variáveis. Consideraram-

se significativos, os resultados para p<0,05.

4. Resultados

A amostra final é constituída por 102 crianças e respectivas mães. As idades

das crianças variavam entre os 8 e os 10 anos, sendo a média de idade de 9,03 ±

0,59 anos, havendo equidade de género, com 50 crianças do sexo masculino e 52

do sexo feminino. Os z-scores de IMC das crianças oscilavam entre -2,53 e 2,31,

com média de 0,57±1,07. Das 102 crianças, 3 apresentavam baixo peso, 25

tinham excesso de peso e 15 eram obesas.

Quanto ao agregado familiar, o número de membros variavam entre 2 e 6

elementos, sendo a média 3,61±1,01. Verificou-se que a maioria das mães

apresenta níveis de escolaridade que se enquadram no ensino básico (Tabela1).

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16

Crianças N % Média d.p. Máximo Mínimo

Sexo

Masculino 50

Feminino 52

Idade 9,03 0,59 8 10 Z-score de IMC 0,57 1,07 2,31 -2,53

Estado ponderal

Baixo peso 3 2,9 Normoponderal 59 57,3 Excesso de peso 25 24,3 Obesidade 15 14,6

Ingestão alimentar

Energia (Kcal) 1893,4 381,5 2802,6 1062,3

Energia proveniente de gordura (Kcal) 29,3 553,9 176,1 1008,7 256,0

Energia proveniente de gordura saturada(Kcal)

31,9 176,9 77,2 456,3 55,5

Proteínas (g) 79,3 23,7 141,9 30,7

Hidratos de carbono (g) 243,4 55,7 370,4 122,6

Fibras alimentares (g) 12,7 5,0 27,1 3,6

Fibras solúveis (g) 2,0 1,3 5,9 0,3

Açúcares totais (g) 82,1 31,9 166,9 1,3

Monossacarídeos (g) 14,5 10,5 47,5 0,2

Dissacarídeos (g) 17,5 14,8 80,6 0,1

Outros açúcares (g) 81,2 28,5 148,4 11,2

Gordura (g) 61,6 19,6 112,2 28,5

Gordura saturada (g) 19,6 8,6 50,7 6,2

Gordura monoinsaturada (g) 22,1 8,7 47,9 7,4

Gordura polinsaturada (g) 7,2 3,2 16,3 2,2

Gordura trans (g) 2,6 2,8 8,8 0,0

Colesterol (mg) 269,7 124,5 694,0 82,2

Água (ml) 1521,9 505,9 5105,2 689,7

Mães N % Média d.p. Máximo Mínimo

Idade 37,8 4,97 59 29

Nível de escolaridade

1ºciclo 24 23,5

2ºciclo 28 27,5

3ºciclo 24 23,5

Ensino secundário 14 13,7

Ensino superior 12 11,8

CFQ

Responsabilidade 4,36 0,74 5 2

Percepção do peso da mãe 3,02 0,31 4 2

Percepção do peso da criança 2,98 0,32 4 2

Preocupação com o peso 3,63 1,25 5 1

Restrição total 3,26 0,72 5 1

Restrição parcial 3,75 0,88 5 1

Recompensa 1,77 1,04 5 1

Pressão para comer 3,61 1,04 5 1

Monitorização 4,10 0,88 5 1

Tabela 1: Estatística descritiva da amostra (n=102)

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17

Aquando da realização do estudo, foi constatado que 17 mães (16,7%)

encontravam-se na condição de desempregadas. Verificou-se que a maior parte

das mães insere-se na classe profissional “Trabalhadores qualidade da indústria,

construção e artífices” (32,4%), conforme pode ser observado na Tabela 2.

Classificação profissional n %

Representantes de poder legislativo e de órgãos executivo, directores, dirigentes e gestores executivos

1 1,0

Especialista de actividades intelectuais e científicas 14 13,7

Técnico e profissões de nível intermédio 4 3,9

Pessoal administrativo 14 13,7

Trabalhadores dos serviços pessoais, de protecção e segurança e vendedores

9 8,8

Trabalhadores da qualidade da indústria, construção e artífices 33 32,4

Operários de instalações e máquinas de trabalho de montagem 1 1,0

Trabalhadores não qualificados 9 8,8

Desempregada 17 16,7

Tabela 2: Classificação profissional da mãe

Nível educacional da mãe

Pelo teste de Mann-Whitney, foram testadas diferenças nas atitudes e

práticas alimentares maternas, consoante o nível educacional da mãe, agrupado

nas opções “baixo nível educacional” e “médio/alto nível educacional”.

Observaram-se diferenças estatisticamente significativas no factor pressão para

comer (p=0,011), conforme se pode constatar pelo gráfico 1.

Gráfico 1: Ilustração representando as atitudes e práticas alimentares

dependendo do nível educacional da mãe.

*p<0,05

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18

Quanto testadas diferenças entre os níveis educacionais das mães e o z-

score de IMC da criança não foram verificadas correlações significativas.

Atitudes e práticas alimentares maternas

As correlações entre os vários factores que compõem o CFQ, podem ser

observadas na tabela 3.

Foi encontrada correlação fraca entre a percepção do peso da criança e a

percepção do peso da mãe (ρ=0,321, p=0,001) e entre o factor restrição total e a

preocupação com o ganho de peso (ρ=0,347, p<0,001). Por sua vez, a

recompensa foi correlacionada com a restrição total (ρ=0,336, p=0,001), de forma

fraca.

Foram verificadas correlações inversas muito fracas ou fracas entre a

pressão para comer e os com os seguintes factores: percepção do peso da mãe

(ρ=-0,223, p=0,024), percepção de peso da criança (ρ=-0,289, p=0,003) e

preocupação com o peso (ρ=- 0,207, p=0,037).

No que concerne à monitorização, foram encontradas correlações inversas

fracas com a recompensa (ρ=-0,339, p<0,001) e fracas positivas com a restrição

parcial (ρ=0,329, p=0,001), com a preocupação de peso (ρ=0,336, p<0,001) e

com a responsabilidade (ρ=0,409, p<0,001).

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19

Coeficiente de correlação de Spearman

1 2 3 4 5 6 7 8 9

1. Responsabilidade ρ 1,000

p .

2. Percepção do peso da mãe

ρ 0,049 1,000

p 0,628 .

3. Percepção do peso da criança

ρ 0,061 0,321** 1,000

p 0,546 0,001 .

4. Preocupação com o peso

ρ 0,149 0,199* 0,245

* 1,000

p 0,134 0,045 0,013 .

5. Restrição total ρ 0,121 0,145 0,173 0,347

** 1,000

p 0,224 0,147 0,083 <0,001 .

6. Restrição parcial ρ 0,174 0,208

* 0,224

* 0,449

** 0,926

** 1,000

p 0,080 0,035 0,024 <0,001 <0,001 .

7. Recompensa ρ -0,169 -0,094 -0,152 -0,170 0,336

** -0,010 1,000

p 0,090 0,345 0,127 0,087 0,001 0,924 .

8.Pressão para comer ρ 0,200

* -0,223

* -0,289

** -0,207

* 0,138 0,082 0,177 1,000

p 0,044 0,024 0,003 0,037 0,166 0,410 0,074 .

9. Monitorização ρ 0,409

** -0,036 0,106 0,366

** 0,187 0,329

** -0,339

** -0,052 1,000

p <0,001 0,719 0,289 <0,001 0,060 0,001 <0,001 0,601 .

*p<0,05 **p<0,01

Tabela 3: Associações entre as diferentes atitudes e práticas maternas.

Quando analisadas as diferenças no tipo de atitudes e práticas maternas

entre o sexo masculino e feminino, não foram observadas diferenças

estatisticamente significativas entre os sexos da criança.

Associações entre o peso da criança e as atitudes e práticas maternas

Para a análise da relação entre o peso das crianças e as práticas e atitudes

parentais, foram efectuadas correlações entre o z-score de IMC da criança, com

os factores do CFQ (Tabela 4).

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20

Correlação entre z-score de IMC e CFQ

Z-score IMC

ρ p

Responsabilidade 0,117 0,242

Percepção do peso da mãe 0,200* 0,044

Percepção do peso da criança 0,233* 0,018

Preocupação do peso 0,412** <0,001

Restrição total 0,243* 0,014

Restrição parcial 0,330** 0,001

Recompensa -0,159 0,110

Pressão para comer -0,288** 0,003

Monitorização 0,140 0,159

*p<0,05 **p<0,01

Tabela 4: Associações entre atitudes e práticas alimentares maternas e z-score

de IMC da criança.

Foi encontrada uma correlação fraca e positiva entre o z-score da IMC da

criança e a preocupação com o ganho de peso da mesma (ρ=0,412, p<0,001).

Por sua vez, a correlação entre o z-score de IMC da criança e a pressão para

comer revelou-se inversa e fraca (ρ= - 0,288, p=0,003).

Pelo teste de Kruskal-Wallis, aferiram-se diferenças entre os factores do

CFQ e o estado ponderal. Foi observado que a preocupação com o peso aumenta

significativamente quando as crianças apresentavam excesso de peso ou

obesidade. Por sua vez, a restrição parcial foi significativamente maior nas

crianças com excesso de peso e esse aumento foi ainda mais acentuado quando

as crianças apresentavam obesidade. Por último, comparativamente ao grupo de

crianças normoponderais, a monitorização foi mais elevada no grupo “excesso de

peso”; no entanto, no grupo “obesidade”, esse aumento não foi tão marcante

(Gráfico 2).

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21

Gráfico 2: Ilustração representativa das atitudes e práticas alimentares

dependendo do estado ponderal da criança.

Associações entre atitudes e práticas alimentares da mãe e a frequência de

consumo de alimentos pela criança

A tabela 5 relaciona a frequência de ingestão dos alimentos de elevada

palatabilidade com os diferentes factores do questionário. Não foram encontradas

correlações significativas entre a frequência de ingestão de doces com os factores

do CFQ em análise. A frequência de ingestão de salgadinhos foi correlacionada

inversamente com a responsabilidade percebida (ρ=-0,248, p=0,012). Por outro

lado, foi encontrada uma correlação positiva fraca entre a frequência de ingestão

de alimentos com elevados teores em gordura e a percepção do peso da criança

(ρ=0,214, p=0,031) e a monitorização (ρ=0,208, p=0,036). No entanto, a

correlação entre a frequência de ingestão de alimentos com elevados teores em

gordura e o factor recompensa foi inversa.

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Correlação entre frequências de ingestão e o CFQ

Frequência de ingestão de

doces

Frequência de ingestão de salgadinhos

Frequência de ingestão de alimentos com elevado teor em

gordura

Responsabilidade ρ 0,099 -0,248

* 0,114

p 0,323 0,012 0,253

Percepção do peso da mãe ρ 0,081 -0,143 0,069

p 0,417 0,153 0,488

Percepção do peso da criança ρ 0,061 0,004 0,214

*

p 0,546 0,972 0,031

Preocupação do peso ρ 0,091 0,014 0,180

p 0,361 0,891 0,071

Restrição total ρ -0,101 -0,059 0,110

p 0,314 0,555 0,270

Restrição parcial ρ -0,043 -0,063 0,173

p 0,667 0,529 0,082

Recompensa ρ -0,141 -0,001 -0,228

*

p 0,158 0,991 0,021

Pressão para comer ρ -0,082 -0,166 -0,091

p 0,413 0,096 0,365

Monitorização ρ 0,171 0,032 0,208

*

p 0,086 0,747 0,036

*p<0,05 **p<0,01

Tabela 5: Correlações entre frequências de ingestão alimentar das crianças e

atitudes e práticas maternas.

Associações entre atitudes e práticas alimentares maternas e a ingestão

nutricional de criança

Para indagar as relações entre as atitudes e práticas maternas e a ingestão

nutricional da criança, utilizou-se novamente o coeficiente de correlação de

Spearman. Apenas foi encontrada uma correlação estatisticamente significativa

entre a ingestão energética da criança e a preocupação com o ganho de peso.

A preocupação com o ganho de peso da criança apresentou correlação

inversa com: a ingestão energética total (ρ=-0,218, p=0,027); a ingestão de

Hidratos de Carbono (ρ=-0,326, p=0,001); fibras alimentares (ρ= -0,199, p=0,045);

açúcares totais (ρ= -0,262, p=0,008); dissacarídeos (ρ=-0,201, p=0,046); outros

açúcares (ρ=- 0,295, p=0,003); gordura trans (ρ=-0,458, p=0,032); e água (ρ=-

0,195, p=0,049). As correlações apresentadas variam entre muito fracas ou

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fracas. Quanto ao factor recompensa, foi encontrada uma correlação fraca com a

variável “outros açúcares” (ρ=0,241, p=0,015).

Registou-se uma correlação muito fraca e inversa entre o factor pressão

para comer e a ingestão de monossacarídeos (ρ=-0,232, p=0,020). Este factor

correlacionou-se também com a ingestão de gordura monoinsaturada (ρ= 0,231,

p= 0,019) e de gordura trans (ρ=0,659, p=0,001).

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Responsa-

bilidade

Percepção do peso da

mãe

Percepção do peso da

criança

Preocupa- ção com o

peso

Restri-ção total

Restri-ção

parcial

Recom-pensa

Pressão para

comer

Monitori-zação

Valor energético

ρ 0,048 -0,093 -0,07 -0,218* 0,045 -0,037 0,185 0,137 0,042

p 0,631 0,355 0,483 0,027 0,653 0,713 0,062 0,169 0,674

Energia proveniente de gordura

ρ 0,042 -0,094 -0,111 -0,08 0,063 0,014 0,134 0,163 0,056

p 0,678 0,346 0,268 0,423 0,532 0,888 0,178 0,103 0,577

Energia proveniente da gordura saturada

ρ 0,073 -0,087 -0,043 0,022 0,057 0,036 0,037 0,07 0,079

p 0,468 0,384 0,67 0,822 0,569 0,716 0,714 0,486 0,428

Proteínas ρ 0,065 -0,008 -0,007 -0,021 0,118 0,063 0,111 0,151 0,053

p 0,519 0,937 0,942 0,833 0,237 0,533 0,268 0,129 0,6

Hidratos de

Carbono

ρ 0,074 -0,104 0,037 -0,326** -0,038 -0,112 0,157 0,075 -0,023

p 0,46 0,296 0,71 0,001 0,707 0,263 0,116 0,454 0,815

Fibras alimenta-

res

ρ -0,097 -0,14 0,107 -0,199* 0,013 -0,048 0,158 0,034 -0,131

p 0,332 0,161 0,284 0,045 0,899 0,635 0,113 0,736 0,191

Fibras solúveis

ρ 0 -0,037 -0,003 0,001 0,155 0,098 0,17 0,005 -0,1

p 0,997 0,717 0,979 0,99 0,125 0,332 0,093 0,963 0,327

Açúcares totais

ρ 0,167 0,024 0,016 -0,262** -0,108 -0,129 0,048 0,072 -0,106

p 0,093 0,807 0,872 0,008 0,278 0,197 0,63 0,471 0,289

Monosaca-rídeos

ρ -0,058 0,038 0,094 0,019 -0,032 -0,004 -0,101 -0,232* 0,114

p 0,567 0,705 0,349 0,852 0,751 0,97 0,313 0,02 0,255

Dissacarídeos

ρ -0,096 -0,15 -0,187 -0,201* -0,015 -0,056 0,118 -0,162 0,061

p 0,347 0,14 0,063 0,046 0,885 0,58 0,244 0,109 0,55

Outros açúcares

ρ 0,005 -0,155 -0,032 -0,295** -0,065 -0,172 0,241

* -0,02 -0,067

p 0,961 0,12 0,75 0,003 0,518 0,083 0,015 0,845 0,504

Gordura ρ 0,042 -0,1 -0,103 -0,073 0,067 0,02 0,13 0,162 0,05

p 0,674 0,319 0,305 0,465 0,5 0,842 0,193 0,105 0,617

Gordura Saturada

ρ 0,073 -0,087 -0,041 0,023 0,057 0,037 0,036 0,069 0,079

p 0,463 0,383 0,681 0,818 0,566 0,711 0,719 0,488 0,432

Gordura Monoinsa-

turada

ρ 0,016 -0,064 -0,128 -0,027 0,072 0,017 0,168 0,231* 0,006

p 0,873 0,522 0,201 0,786 0,474 0,862 0,091 0,019 0,955

Gordura polinsatu-

rada

ρ -0,058 -0,046 -0,059 -0,091 0,09 0,07 0,101 0,156 -0,002

p 0,565 0,648 0,556 0,365 0,367 0,484 0,312 0,118 0,984

Gordura Trans

ρ 0,009 -0,163 -0,306 -0,458* -0,23 -0,208 -0,143 0,659

** -0,022

p 0,968 0,468 0,166 0,032 0,303 0,352 0,526 0,001 0,923

Colesterol ρ 0,092 -0,101 -0,064 0,041 0,135 0,088 0,089 0,05 0,107

p 0,358 0,311 0,52 0,679 0,176 0,379 0,373 0,618 0,284

Água ρ 0,041 -0,005 0,011 -0,195

* -0,01 -0,002 -0,024 -0,085 0,065

p 0,684 0,96 0,91 0,049 0,922 0,987 0,809 0,395 0,515

*p<0,05 **p<0,01

Tabela 7: Correlações entre ingestão nutricional das crianças e atitudes e práticas

alimentares das mães

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5. Discussão

O presente estudo teve como objectivo investigar a influência do nível

educacional da mãe nas atitudes e práticas alimentares maternas, relacionar os

efeitos das atitudes e práticas alimentares no peso da criança, e avaliar o impacto

destas na alimentação da criança. Os resultados sugerem que as atitudes e

práticas alimentares exercidas pela mãe, podem estar relacionadas com o nível

educacional da mesma e que, o tipo de práticas adoptadas podem ter algum

impacto no peso e na alimentação da criança.

Neste estudo evidencia-se que, mães que possuem um nível de escolaridade

mais elevado, exercem menor pressão para comer nas suas crianças, não tendo

sido encontradas outras diferenças entre o nível educacional e as práticas

maternas. Este resultado foi também o encontrado no estudo de Crouch et al(52)

em crianças em idade pré-escolar. Outros estudos encontraram diferenças para

outros factores do CFQ, designadamente que, mães com nível educacional mais

elevado exercem mais monitorização nas crianças(53) ou menos recompensa(54).

Estas diferenças na literatura podem ser devido à heterogeneidade de populações

em estudo. O resultado encontrado, que evidencia que um maior nível

educacional está correlacionado com uma menor pressão para comer, não parece

ter a influência do peso da criança, uma vez que, não se encontraram diferenças

entre o nível educacional das mães e o peso da criança. É então plausível afirmar

que, mães com um nível educacional mais elevado parecem tendencialmente

adoptar atitudes e práticas alimentares mais protectoras de obesidade, já que a

prática de pressão para comer leva a que as crianças rejeitem os alimentos para

os quais se exerce maior pressão, usualmente os alimentos saudáveis. Também

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alguns estudos têm demonstrado que a maior escolaridade dos pais constitui um

factor protector do desenvolvimento de obesidade(3, 55).

O presente estudo encontrou várias correlações entre os diferentes factores

do CFQ. Estes resultados são, na sua grande maioria, concordantes com os

resultados descritos na literatura(13, 24, 42). No entanto, as associações entre a

restrição e a pressão para comer, entre a pressão para comer e a monitorização,

bem como, a associação inversa entre a pressão para comer e a

responsabilidade percebida, não se revelam significativas neste estudo.

Os resultados encontrados mostram que, as mães preocupam-se mais com o

ganho de peso das suas crianças, quando percebem as mesmas como tendo

peso a mais ou quando percebem o seu próprio peso como excessivo, tendo sido

também encontradas evidências que demonstram que, mães que classificam o

seu peso como mais elevado, classificam também como mais alto o peso da sua

criança. Estes resultados são consistentes com os já documentados(22, 24, 42),

sugerindo também a modesta relação entre o peso relativo das mães e o peso

das suas crianças, em particular as raparigas(56, 57).

A restrição total está, neste estudo, associada à preocupação com o ganho de

peso da criança o que já se encontra descrito em vários estudos realizados(24, 56,

58). O factor restrição parcial, que excluí dois itens relativos à recompensa,

apresenta-se associado à percepção do peso da mãe e da criança, à

preocupação com o peso e com a restrição total. Este resultados indicam que, as

mães usam a restrição quando percepcionam o seu peso e o do seu filho(a) como

excessivo e quando revelam uma maior preocupação com o ganho de peso da

criança. Denota-se que, o factor restrição demonstra mais associações com os

restantes factores do questionário, quando as duas questões, que neste estudo

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constituem o “8º factor”, lhe são retiradas. Este resultado vai de encontro a

sugestões de estudos prévios que prevaricam a emergência do factor

“recompensa” na estrutura do CFQ(13). Por sua vez, a recompensa correlaciona-se

com a restrição total de forma fraca, o que também é evidenciado por Corsinni et

al(13).

À excepção da restrição total, a pressão para comer apresenta, associações

idênticas à restrição parcial, mas no sentido inverso, ou seja, as mães exercem

mais pressão para comer quando percepcionam o seu peso e o da sua criança

como baixo, por isso e como seria expectável, uma menor preocupação quanto

ao ganho de peso da criança. Estes resultados são concordantes com diversos

estudos(24, 45, 59).

Mães que exercem níveis elevados de monitorização na alimentação da

criança, demonstram maior preocupação com o ganho de peso da mesma, maior

responsabilidade na alimentação e maior restrição “parcial”. As associações

corroboram evidências prévias(13, 16). Os resultados desta investigação, sugerem

também que, mães que exercem um controlo subtil e discreto sobre a

alimentação da criança, recorrem menos a prática de recompensa. Este resultado

contrasta com o estudo de Corsini et al., no qual se evidenciou uma correlação

positiva entre estes factores(13).

Tal como a maioria dos estudos encontrados(43, 53, 54, 60), este estudo não

encontrou diferenças estatisticamente significativas no tipo de práticas parentais

entre o sexo masculino e feminino. No entanto, alguns estudos demonstram

diferenças entre sexos, nomeadamente uma maior pressão para comer nos

rapazes e um comportamento mais restritivo nas raparigas(15, 19). A diferença entre

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as práticas parece estar mais associada à alimentação e à preocupação com o

peso da criança, principalmente nas raparigas(15, 18, 56).

As correlações encontradas entre o z-score de IMC da criança e os vários

factores do CFQ evidenciam que, o estado ponderal da criança é determinante

para o, ou determinado pelo, tipo de práticas alimentares adoptadas pelas mães,

não sendo possível neste estudo, devido à sua natureza transversal, efectuar

ilações quanto ao sentido de causalidade desta relação. As mães de crianças

com z-score de IMC mais elevado, classificam o seu próprio peso e o das suas

crianças como mais elevado e demonstram uma maior preocupação com o ganho

de peso, utilizando mais a restrição, e menos a pressão para comer. Estes

resultados estão em conformidade com as evidências já encontradas neste

estudo e com os resultados descritos na literatura em populações de diferentes

etnias (45, 57, 61, 62).

De facto, as mães classificam o peso das suas crianças como excessivo,

quando as mesmas têm z-score de IMC mais elevado, no entanto a correlação

entre as duas variáveis é muito fraca, sugerindo que muitas mães, podem falhar

na classificação do estado ponderal dos seus filhos, tal como apontado em vários

estudos (31, 33, 63).

Pela comparação dos grupos “normoponderal”, “excesso de peso” e

“obesidade”, comprova-se a existência de evidências quanto à relação entre o

estado ponderal e o tipo de práticas e atitudes. A preocupação com o ganho de

peso da criança é maior nas crianças com excesso de peso e obesidade(21, 52, 57),

o que não se revela surpreendente. Verifica-se que as mães exercem práticas

mais restritivas nas crianças com excesso de peso e que essa restrição é ainda

maior, quando as mesmas são obesas. Este resultado foi também encontrado em

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alguns estudos(19, 58). Neste estudo, a monitorização é maior nas crianças com

excesso de peso mas menor nas crianças obesas, o que pode sugerir que

quando a criança tem excesso de peso, as mães optam por um controlo subtil na

alimentação, mas quando elas são obesas, as mães deixam de usar o controlo

subtil recorrendo a atitudes mais rígidas, como a restrição. Na literatura, os

estudos encontrados não apresentavam resultados significativos quanto à

monitorização(29, 52).

Os resultados encontrados entre os factores do CFQ e a alimentação da

criança, não exibem associações fortes e claras.

Este estudo verifica que, a ingestão energética total (IET) das crianças é mais

baixa, quando as mães revelam uma maior preocupação com o ganho de peso

das suas crianças. A relação inversa entre a IET e a preocupação com o ganho

de peso, não é suportada pela maioria dos estudos, originários do USA, que

associam as práticas de restrição e preocupação com o ganho de peso, a uma

maior ingestão energética da criança(21, 22). Apenas um estudo Irlandês, encontrou

associação idêntica à descrita(43). Todavia, como supracitado, as mães também

demonstram uma maior preocupação com o peso da criança, quando as mesmas

apresentam um peso mais elevado, o qual, como é sabido, resulta de um balanço

energético positivo(1). Supõe-se que, esta evidência possa resultar do

enviezamento da informação relativa à ingestão, uma vez que a criança pode não

estimar correctamente a porção ingerida, referindo menores quantidades do que

as realmente ingeridas, ou, por outro lado, pode reportar a alimentação que

deveria ter feito ao invés da praticada nesse dia alimentar. Para além disso, foi

encontrado um estudo que afirma que, as crianças cujos pais recorrem a práticas

de controlo mais rígidas, referem culpa aquando da ingestão de alimentos menos

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saudáveis(64), podendo também este factor, de alguma forma, influenciar o tipo de

alimentos e as quantidades referidas pela criança ao inquiridor.

A presente investigação não encontrou qualquer correlação entre a prática de

restrição e a ingestão energética total. Este resultado foi também encontrado por

Sud et al(44) e por Montgomery et al(43). No entanto, alguns estudos confirmam a

existência da associação positiva(12, 43, 65).

Verifica-se também que, a ingestão de hidratos de carbono, fibras alimentares,

e água é menor, quando as mães referem maior preocupação do peso. Especula-

se que, estes nutrimentos possam resultar do consumo de hortofrutícolas, o que

suportaria a hipótese de que as crianças cujas mães são mais preocupadas com

o peso das mesmas, ingerem menores quantidade de hortofrutícolas. Esta menor

ingestão, poderá relacionar-se com um menor exercício de pressão para comer,

que como previamente descrito, implica pressão para a ingestão de alimentos

mais saudáveis, e que parece diminuir com o aumento do peso da criança(53).

Uma menor ingestão de açúcares totais e gordura trans foi também

relacionada com uma maior preocupação com o ganho de peso, resultados

também não encontrados nos estudos sobre o tema e que sustentam um possível

viés de quantificação dos alimentos pela criança.

A associação entre a recompensa e um dos parâmetros de ingestão de

açúcares (“outros açúcares”) é condizente com estudos prévios, que estabelecem

uma ligação com o consumo de doces e alimentos com elevados teores de

gordura com a prática de recompensa, o que se traduz no aumento das

preferências por estes alimentos(65, 66).

A prática de pressão para comer está relacionada com uma maior ingestão da

gordura monoinsaturada e trans. Vários estudos têm já descrito a associação

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entre a pressão para comer com a ingestão de gordura(12, 27, 29). Pelo contrário, um

maior exercício de pressão para comer pelas mães correlaciona-se com uma

menor ingestão de monossacarídeos, que parece ser contraditório aos resultados

previamente descritos nesta investigação.

Os resultados de frequência de ingestão alimentar, sugerem que as crianças

cuja ingestão de salgadinhos (batatas fritas, aperitivos, Doritos, Cheetos, etc) é

menos frequente, têm mães que sentem maior responsabilidade na alimentação

da criança. Por outro lado, a maior frequência de ingestão de alimentos com

elevados teores em gordura, associa-se a uma maior percepção do peso da

criança e maior monitorização, insinuando que, o peso da criança está associado

à ingestão de gorduras, o que é confirmado por alguns estudos(1, 66). Também

mães que reportam níveis elevados de monitorização, têm crianças que revelam

uma maior frequência de ingestão de alimentos com elevados teores em gordura,

o que está de acordo com um resultado encontrado neste estudo, o qual sugere

uma maior monitorização das mães nas crianças com excesso de

peso/obesidade. No entanto, esta evidência não é suportada por estudos

prévios(21, 29).

Este estudo apresenta, porém algumas limitações. Relativamente ao

instrumento utilizado para avaliação do consumo alimentar (recordação das 24

horas anteriores), o mesmo apresenta como desvantagens o recurso à memória e

dificuldades na conceptualização da porção ingerida, particularmente nas

crianças(67). Também na literatura são tecidas algumas críticas ao CFQ, referindo

dificuldades na compreensão das questões do questionário pelas mães(68), o que

tendo em conta, o baixo nível de escolaridade das mães em estudo, poderá

constituir uma forte limitação.

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Neste estudo, apenas um dia alimentar foi recolhido, o que não permite

estimar a ingestão habitual da criança. Foram também sentidas algumas

dificuldades na escolha de categorias relativas à frequência de consumo,

associado à idade da amostra em estudo.

A aplicação dos questionários às crianças decorreu em dias de semana, tendo

sido possível constatar que, políticas de âmbito nacional como o Regime da Fruta

Escolar(69) e o Programa do Leite Escolar(70), que têm como intuito promover

hábitos de consumo de alimentos benéficos para a saúde das populações mais

jovens, podem ter influenciado de alguma forma os resultados deste estudo, uma

vez que foram incluídos alimentos no dia alimentar das crianças que poderiam

não fazer parte do mesmo e que também não dependem do controlo ou

supervisão maternal. Também se constata que, muitas crianças almoçam

diariamente nas cantinas escolares, não sendo portanto esta refeição controlada

pela mãe, e que, por esse motivo as crianças poderão apresentar um padrão de

ingestão nutricional mais homogéneo, atenuando as eventuais diferenças

existentes entre elas, decorrentes de distintas práticas e atitudes maternas. A

grande maioria da investigação na temática abordada, centra-se,

comparativamente ao presente estudo, em crianças de idades mais novas. Assim,

algumas das associações que aqui não se revelaram significativas, podem sugerir

que as práticas de controlo alimentar, com efeito na alimentação das crianças

mais novas, se desvanecem à medida que as crianças crescem e vão adquirindo

progressivamente uma maior autonomia nomeadamente nas suas escolhas

alimentares. Foram encontrados alguns estudos a apontar este possível efeito(7,

71).

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Sem dúvida, as associações pouco claras e fracas, bem como as associações

não significativas observadas neste estudo, poderiam ser melhor esclarecidas,

pelo aumento do tamanho amostral.

Em suma, pode afirmar-se que o número de estudos que exploram as

associações entre práticas parentais, alimentação e peso da criança têm

aumentado bastante nos últimos anos. Todavia, mais estudos sobre esta temática

são necessários para descortinar e clarificar associações, influências e

causalidades, em particular no continente Europeu.

6. Conclusão

Apesar das limitações e associações fracas e pouco claras, o presente estudo

poderá contribuir para compreender com que extensão as atitudes e práticas

alimentares das mães influenciam a alimentação das crianças. Os pais,

principalmente a figura materna, têm um papel crucial no desenvolvimento das

preferências alimentares e na ingestão energética e nutricional das crianças, e

podem, de forma inconsciente, promover o excesso de peso na infância, pelo uso

de práticas e atitudes alimentares desadequadas.

Na conjuntura actual, a compreensão holística dos factores que têm pautado a

epidemia da obesidade infantil, dando ênfase ao ambiente familiar, revelam-se

essenciais, no sentido de delinear programas eficazes de prevenção de

obesidade e co-morbilidades associadas, bem como definir linhas de orientação

para a actuação dos profissionais de saúde.

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Anexos

Índice de Anexos

Anexo A – Declaração para consentimento ..................................................... 41

Anexo B – Questionários para preenchimento pela mãe ............................... 45

Anexo C –Inquérito para avaliação da ingestão alimentar da criança .............. 53

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Anexo A

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Anexo B

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INSTRUÇÕES PARA O PREENCHIMENTO DOS QUESTIONÁRIOS

A seguir, encontram-se um inquérito a que pedimos que responda assinalando no

quadrado, ou no espaço, que corresponde à sua opção. Tenha em conta que não

há respostas erradas, respostas melhores ou piores.

No inquérito, responda sobre as atitudes em relação alimentação do seu filho. No

entanto, as questões 4, 5, 6 e 7 dizem respeito apenas à mãe. As questões 8, 9,

10,11,12 referem-se ao peso da criança, classificado pela mãe, nas idades

respectivas (conforme o perguntado nos itens).

Preencha, por favor os seguintes dados:

A. Dados da criança

1. Sexo: M |_| F|_|

2. Data de nascimento: ___/___/_____ (dia) (mês) (ano)

3. Ano escolaridade: ____

4. Turma: ___

B. Características do agregado familiar

Membros do agregado

familiar Idade

Ano/nível de

escolaridade concluído Profissão

A preencher pelo inquiridor:

1. Nº da mãe: |__|__|__| 2. Nº da criança: |__|__|__|

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Anexo C

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