2
ATIVIDADE CRÔNICA Nome: ___________________________________________nº____ Série: 2ª Data: __/__/__ Disciplina: REDAÇÃO Prof.: Andréa Martins Leia o texto a seguir. 1. Como você observou, o escritor Moacyr Scliar baseou-se em um fato cotidiano para escrever seu texto. O que há de inusitado na notícia em que ele se inspirou? a) Qual parte do texto é fictícia e qual é real? 2. A paixão que o velho senhor sentia pelos livros era incomum. Explique por quê. 3. Para esse senhor, “ler era secundário”, embora em geral o importante na aquisição de um livro seja o prazer da leitura. Como se pode compreender o apego dele aos livros? Os livros como paixão Ladrão de livros de 85 anos é proibido de entrar em bibliotecas da Califórnia. Folha Online, 14 nov. 2002 Ninguém compreende minha paixão por livros, suspirava ele. E era uma grande paixão: o pequeno apartamento em que vivia estava literalmente atulhado de romances, livros de contos, obras de auto-ajuda, textos médicos, até. Não que ele os lesse. Ler era secundário. O importante era possuir os livros, saber que toda aquela riqueza cultural do passado estava ali, ao alcance de sua mão. A mão que acariciava as lombadas, que folheava amorosamente as páginas. O problema é que livros custam dinheiro. E dinheiro lhe faltava. Aos 85 anos, vivendo de uma modesta aposentadoria, o ancião não podia dispender muito em livrarias. Por isso roubava. “Roubo”, aliás, era uma expressão que lhe desagradava; preferia falar em algo como “redistribuição da riqueza intelectual”. Mas o eufemismo não o ajudava muito. Nem as mãos trêmulas, nem a lentidão. Cada vez que ia roubar um livro, deixava cair uma pilha inteira no chão. Mais do que isso, não sabia disfarçar: os bibliotecários sabiam quando ele estava roubando. Pediam-lhe as obras furtadas de volta e, justiça seja feita, ele nunca se negou a fazê-lo. Era parte de um jogo, um jogo que ele adorava, e cujas regras sempre respeitou. Infelizmente, porém, os bibliotecários cansaram deste jogo. E um acordo entre eles resultou em uma decisão: o homem agora está proibido de entrar nas bibliotecas. Não adianta ele dizer que quer apenas consultar jornais. Não adianta, também, dispor-se a ser revistado. A paciência dos responsáveis simplesmente terminou. Resta-lhe refugiar-se em seu sonho. E que sonho é este? Ele sonha que um dia vai ganhar muito dinheiro — num cassino, ou numa loteria. E aí comprará uma grande e antiga biblioteca — que será só dele. Ninguém mais poderá freqüentá-la. Só ele. Ali irá todos os dias. Para roubar livros, claro. E os bibliotecários, seus empregados, não poderão dizer nada. Mais: terão de fingir que não percebem o furto. E ele roubará o que quiser. Belo sonho, consolador sonho. O único inimigo deste sonho é o tempo. Com 85 anos, quanto mais ele poderá esperar pelo cassino ou pela loteria? O tempo é um grande e implacável ladrão. E não tem nenhuma paixão por livros. O escritor Moacyr Scliar escreve às segundas-feiras, nesta coluna, um texto de ficção baseado em reportagens publicadas no jornal. Folha de S. Paulo, São Paulo, 25 nov. 2002.

Atividade Cronica

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Atividades

Citation preview

  • ATIVIDADE CRNICA

    Nome: ___________________________________________n____ Srie: 2

    Data: __/__/__ Disciplina: REDAO Prof.: Andra Martins

    Leia o texto a seguir.

    1. Como voc observou, o escritor Moacyr Scliar baseou-se em um fato cotidiano para escrever seu texto. O que h de inusitado na notcia em que ele se inspirou? a) Qual parte do texto fictcia e qual real?

    2. A paixo que o velho senhor sentia pelos livros era incomum. Explique por qu.

    3. Para esse senhor, ler era secundrio, embora em geral o importante na aquisio de um livro seja o prazer da leitura. Como se pode compreender o apego dele aos livros?

    Os livros como paixo

    Ladro de livros de 85 anos proibido de entrar em bibliotecas da Califrnia. Folha Online, 14 nov. 2002

    Ningum compreende minha paixo por livros, suspirava ele. E era uma grande paixo: o pequeno apartamento em que vivia estava literalmente atulhado de romances, livros de contos, obras de auto-ajuda, textos mdicos, at. No que ele os lesse. Ler era secundrio. O importante era possuir os livros, saber que toda aquela riqueza cultural do passado estava ali, ao alcance de sua mo. A mo que acariciava as lombadas, que folheava amorosamente as pginas.

    O problema que livros custam dinheiro. E dinheiro lhe faltava. Aos 85 anos, vivendo de uma modesta aposentadoria, o ancio no podia dispender muito em livrarias. Por isso roubava. Roubo, alis, era uma expresso que lhe desagradava; preferia falar em algo como redistribuio da riqueza intelectual. Mas o eufemismo no o ajudava muito. Nem as mos trmulas, nem a lentido.

    Cada vez que ia roubar um livro, deixava cair uma pilha inteira no cho. Mais do que isso, no sabia disfarar: os bibliotecrios sabiam quando ele estava roubando. Pediam-lhe as obras furtadas de volta e, justia seja feita, ele nunca se negou a faz-lo. Era parte de um jogo, um jogo que ele adorava, e cujas regras sempre respeitou.

    Infelizmente, porm, os bibliotecrios cansaram deste jogo. E um acordo entre eles resultou em uma deciso: o homem agora est proibido de entrar nas bibliotecas. No adianta ele dizer que quer apenas consultar jornais. No adianta, tambm, dispor-se a ser revistado. A pacincia dos responsveis simplesmente terminou.

    Resta-lhe refugiar-se em seu sonho. E que sonho este? Ele sonha que um dia vai ganhar muito dinheiro num cassino, ou numa loteria. E a comprar uma grande e antiga biblioteca que ser s dele. Ningum mais poder freqent-la. S ele. Ali ir todos os dias.

    Para roubar livros, claro. E os bibliotecrios, seus empregados, no podero dizer nada. Mais: tero de fingir que no percebem o furto. E ele roubar o que quiser.

    Belo sonho, consolador sonho. O nico inimigo deste sonho o tempo. Com 85 anos, quanto mais ele poder esperar pelo cassino ou pela loteria? O tempo um grande e implacvel ladro. E no tem nenhuma paixo por livros.

    O escritor Moacyr Scliar escreve s segundas-feiras, nesta coluna, um texto de fico baseado em reportagens publicadas no jornal.

    Folha de S. Paulo, So Paulo, 25 nov. 2002.

  • 4. O velho senhor no lia os livros, mas sabia que eles guardavam uma grande riqueza cultural. Que valor os livros tm em sua vida? De que modo voc usufrui do convvio com eles?

    5. O protagonista ou personagem principal dessa narrativa era um senhor norte-americano, j de idade avanada, que estava vivendo de uma modesta aposentadoria.

    a) Como vivem os aposentados no Brasil? Procure se informar e discuta o assunto com os colegas, expondo suas opinies.

    6. Interprete este trecho: ...preferia falar em algo como redistribuio da riqueza intelectual.

    7. Alm de ser considerado um implacvel ladro, o tempo acusado de no ter nenhuma paixo por livros. Por qu?

    8. No texto, o narrador observador ou personagem? Justifique sua resposta.

    9. Quanto linguagem do texto, pode-se dizer que a narrativa impessoal e objetiva ou pessoal e subjetiva? Por qu?

    10. Essa narrativa apresenta caractersticas de um texto jornalstico ou literrio?

    11. Como ocorre nas crnicas em geral, nesse caso o narrador emprega verbos no presente e no pretrito e usa a variedade padro da lngua, num registro informal. Explique qual o objetivo da crnica.

    O texto lido uma crnica, ou seja, uma narrativa condensada que focaliza um flagrante da vida, pitoresco e atual, real ou imaginrio, com ampla variedade temtica. Normalmente veiculada em jornais ou revistas, a crnica est na fronteira entre texto literrio e no literrio. Sua linguagem costuma ser subjetiva e coloquial, e sua ao, rpida e sinttica. Seus personagens, se comparados com os do conto, tm menor densidade e caractersticas psicolgicas mais superficiais. Embora predominem as seqncias narrativas, a crnica tambm pode apresentar trechos dissertativos.

    Inspirada em um fato real, a crnica de Moacyr Scliar apresenta as caractersticas tpicas do gnero, alm de misturar humor crtica social. Vemos uma linguagem fluente, coloquial, e um enredo rpido e simples.

    Esteja a crnica voltada para o mbito jornalstico ou apresente carter literrio, ela costuma surpreender pelo desprendimento com que so tratados os fatos, em geral relacionados ao cotidiano, a temas atuais. Dentre nossos melhores cronistas, temos: Luis Fernando Verssimo, Affonso Romano de SantAnna, Fernando Sabino, Loureno Diafria, Rubem Braga, Moacyr Scliar, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz, Ceclia Meireles e muitos outros.1

    Geralmente publicada em jornais e revistas; Relata de forma artstica e pessoal fatos colhidos no noticirio jornalstico e no cotidiano; Texto curto e breve; Tem por objetivos: divertir ou fazer refletir criticamente sobre a vida e os comportamentos

    humanos; Pode apresentar elementos bsicos da narrativa: fatos, personagens, tempo e lugar; O tempo e o espao so limitados; Pode apresentar narrador-observador ou narrador-personagem; Linguagem geralmente de acordo com o padro culto formal ou culto informal da lngua.

    1 Texto retirado do livro: Oficina de redao de Leila Lauar Sarmento.

    Caractersticas da Crnica: