ATIVIDADE INIBIDORA DA ABSORÇÍO INTESTINAL DA GLICOSE DO EPICARPO DA ROMÍ (Punica granatum, L.) (*)

Denir Gomes Nogueira (**)

Nuno Alvares Pereira (**)

RESUMO

A òolução de gLLcoi>e a 0,1% pefiiundlda num AeguMmnto -LnteAtLnaJL de. naxot, ane&te-

i-Lado-ò apn.ej>enta uma vilocA.da.do. comtante de. abòoKção. A aéiocÁjxção do chã da Romã na

iolução de gtLco-ie -LnA.be a sua abioxção -&em apKeòentax atividade inlb-Ldoia KeÁtduaJL. 0

ixtAato da Romã Injetado I P ptev-Lamente também lni.be a abòoição da gtico-ie peA^undLda.

Não (,ol detiLtada \t>\ iubòtãnc-La [ò] InÁh-LdoKa U) da abi,oficão da gtLcoie.

INTRODUÇÃO

A técnica de perfusão intestinal é preconizada por Nissim (1965) por oferecer

resultados rápidos e satisfatórios para o estudo da absorçlo intestinal, assim como de

substâncias que possam interferir na absorçlo de outras substâncias. A aplicação da

técnica serviu a Nissim (1965) e a Hart 6 Mc Col1 (1968) para estudar a absorçlo da glj_

cose e confirmar a inibição pela florizina, um glicosídio chaicôníco que ocorre em

várias plantas. •

A florizina ê considerada um inibidor do transporte ativo da glicose (Johanson e t al., 1979) e poderá estar relacionada com a propriedade de alguns extratos vegetais inj_

birem a absorção da glicose como constataram Lima & Pereira (1976) com várias plantas

empregadas na medicina popular brasileira no tratamento auxiliar do diabete.

A técnica foi utilizada por Grüne Cl979 para isolar da Myrcia m u l t i f l o r a , "pedra

de caá", uma glicoproteina responsável pela inibição da absorção intestinal da glicose.

A inibição da absorção da glicose foi também observada com a Goma de Guar

(Cyamopris t e t r a g o n o f o b u s L j por Jenkins et a l ., (1978) e Gynther e Huhtikangas (138*!) . A dieta rica em fibras também pode influir na glicemia, conforme constataram Jenkins

et a í . , (1980), B a n t l e e t a l . , (1983) e Mauro e t a l . , (1983).

0 extrato alcóolico do epicarpo da Roroa quando injetado em camundongos causa

hipoglicemia como demonstra Silva & Pereira (1983), e na tentativa de estabelecer o

(*) Parte da Tese de Mestrado de D.G. Nogueira.

.'(**) Departamento de Farmacologia e Terapêutica Experimental do I.C.B.-C .C .S-UFRJ - RJ

S U P l . ACTA AMAZÔNICA, 1 8 ( 1 - 2 ) : 1 7 5 - 1 7 9 . 1988. )75

mecanismo da atividade hipogligemica, sao apresentados agora os resultados da aplicação

da técnica de perfusão preconizada por Nissim (1965) e Hart 6 Mc Col1 (1968).

MATERIAL E MÉTODOS

Foram empregadas ratas Wistar de i2Ü-i;>ug de peso, deixadas em jejum por 2k horas.

No final deste período os animais sao anestesiados com pentobarbital sõdico na dose de

30 mg/kg, por via intraperitoneal. Após abertura da cavidade abdominal é colocada uma

cânula no duodeno para entrada da solução perfusora e mais ou menos a 20cm abaixo no

intestino delgado, coloca-se outra cânula para a coleta do líquido perfundido. Foi

utilizado um dispositivo para perfusão contínua numa velocidade de 1 ml/minuto, sendo

perfundidos 20 ml da solução em estudo. Inicialmente, o seguimento intestinal é perfu£

dido com 20 ml de solução fisiológica a fim de eliminar os detritos contidos na porção

do intestino em estudo.

0 seguimento assim preparado é perfundido com 20 ml de uma solução de glicose a

0,1¾ associada ou não a 0,1¾ do chá do epicarpo da Romã, conforme os grupos estabeleci­

dos; com exceção no grupo em que o extrato da Romã foi administrado intraperitonealmen-

te.

Todo o volume do líquido de perfusão foi coletado e a concentração da glicose foi

determinada espectrofotometricamente, pelo método semi-micro de Park s Johnson (19̂ *9) .

Conhecida a concentração inicial de 0,1¾ determinou-se a percentagem de glicose absorvi

da por diferença entre a perfundida e a inicial.

0 extrato do epicarpo da Romã empregado por via intraperitoneal foi preparado pe­

la técnica descrita por Silva 6 Pereira (1983).

Foram constituídos os seguintes grupos experimentais:

1? grupo: Foram utilizados 15 animais que foram perfundidos com a solução de gl i-

ção da glicose.

3? grupo: Neste grupo constituído de 15 animais foi perfundida a solução de glico

se a 0,1¾ e posteriormente, no mesmo rato, foi perfundida a solução de

2? grupo:

cose a 0,1¾ a fim de determinar a percentagem de absorção da glicose nas

testemunhas.

Outros 15 animais foram perfundidos com uma solução de glicose a 0,1¾

associada a 0,1¾ do chã de Romã para estudar a interferência na absor -

glicose a 0,1¾ associada a 0,1¾ do chá de Romã.

I»? grupo: Foram utilizados 10 animais em que o extrato da Romã na dose correspon­

dente a 100 mg/kg foi aplicado por via intraperitoneal 2 horas antes da

perfusão da glicose a 0,1¾.

5 ? grupo: Com a finalidade de estudar uma possível atividade residual foram utilj^

zados 10 animais perfundidos inicialmente com a solução de glicose asso

ciada ao chá da Romã e após a lavagem do seguimento intestinal com

176 N o g u e i r a 6 P e r e i r a

solução fisiológica foi perfundida a solução de glicose a 0,1¾.

6? grupo: Instituído com a finalidade de estudar a velocidade da absorção da gli­

cose. Neste grupo com 5 animais foram perfundidas 30ml da solução de

glicose a 0,1¾, sendo analisadas as amostras perfundidas de 5 em 5 minu

tos.

Durante as experiências os animais eram protegidos da perda de calor corporal de

vido ã anestesia.,

Os resultados foram examinados estatisticamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos com a perfusão intestinal mostraram que quando se associa ã

solução de glicose a 0,1¾ o chi da Romã, ha uma inibição na absorção intestinal da gli­

cose que passa de 67,^ - 5,2.¾ para 27 ,^ - 7,6¾. Quando o mesmo animal é testemunha, a

solução de glicose perfundida previamente e depois da associação da glicose com o chã

da Romã, o resultado observado é semelhante. A perfusão prévia da associação de glico­

se com o chá não provoca um efeito inibitõrio residual, pois a perfusão da glicose é

absorvida numa quantidade semelhante ã admiaistração inicial.

A inibição da absorção da glicose foi também observada quando o extrato da Romã

foi administrado por via intra-peritonea1 na dose de 100 mg/kg, 2 horas antes da perfu­

são da solução de glicose a 0,1¾.

Os resultados desses 5 grupos experimentais são reunidos na Tabela 1.

Na Tabela 2 são mostrados os resultados do 6? grupo em que a solução de glicose a

0,1¾ foi perfundida na velocidade de 1 ml/minuto, e amostras do perfundido foram dosa -

idas de 5 em 5 minutos, mostrando não apresentar grandes variações nas concentrações das-

amostras colhidas durante os trinta minutos em que durou a experiência, isto é, haver

uma regularidade no ritmo de absorção da glicose.

Os resultados experimentais levam a admitir que as preparações do epicarpo da

Romã estudadas inibem o transporte ativo da glicose de uma maneira mais ampla, pois

mesmo quando o extrato foi injetado intraperitonealmente duas horas antes de realizar a

rfusão, produziu um efeito inibitõrio da perfusão da glicose. 0 mecanismo enzimático

esponsável pelo transporte ativo da glicose não foi detetado, devido as preparações do

ipicarpo da Romã não serem ainda suficientemente purificadas para este tipo de estudo,

devendo-se, porém, lembrar as possibilidades aventadas por Shanmugasundaram et al.,

( I 9 8 3 ) quando estudaram os efeitos da Gymnema sylvestris, R.Br. em vários sistemas enzi

máticos relacionados com a utilização da glicose em coelhos diabéticos.

Ravis & Feldman (1978) demonstraram ser a florizina um potente inibidor do trans­

porte da 3-0-metilglicose através da mucosa intestinal do rato, mesmo quando administra

dana forma de prê-tratamento.

Ath Atividade inibidora da absorção ... 177

SUMMARY

When glucoie. at 0,1% um peA^iued Into Intestinal t>eqment oi the aneòtheXlzed

fiatd, pKZAwtA comtant iate. o(, abbotiption.

The aòòociation o{, thepomegianate In^uilon ln the glucoòe iolution Inhlblti the.

glucoie abòoiptlon. The pomegianate extAact pAevlow&ly I P Injected aJU>o Inhlblti the

aboon.pti.on of, pei^med glucoie..

Tabela 1 - Perfuslo intestinal de glicose a 0 , 1 ¾ (20ml em 20 minutos).

Grupo Perfuslo Tratamento ¾ de absorção

N? de ratos (X - 6)

1 15 Gl icose a 0 , U 6 7 , 4 * 5 , 2 -2 1 5 Glicose a 0 , 1 ¾ + chã de

romã a 0 , 1 ¾ 2 7 , 4 * 7 , 6 0 , 0 1

3 10 Extrato de Romã 100 mg/kg (IP)* glicose a 0 , 1 ¾ perfusão 2 7 , 1 ± 5 , 0 0 , 0 1

k 15 Glicose a 0 , 1 ¾ . Em segui da glicose a 0 , 1 ¾ + chã de romã a 0 , 1 ¾ 3 2 , 1 * 9 , 5 ns

5 10 Glicose a 0 , 1 ¾ + chã de romã a 0 , 1 ¾ , lavagem, gli cose a 0 , 1 ¾ 7 0 , 6 ± 6 , 9 ns

* 0 e x t r a t o d e r o m ã f o i administrado 2 horas antes da perfusão de glicose. T-Student.

Tabe1a 2 - Ritmo de absorção da glicose perfundida: 0 , 1%/ml por minuto.

30ml da solução de glicose a

Amostra colhida % de absorção: rato n? Média (no P

após (em minutos) 1 2 3 4 5 período)

X * 6

5 7 1 , 6 6 7 , 6 7 9 , 4 6 4 , 7 7 1 , 6 7 1 , 0 í 5 , 5 ns

10 7 1 , 6 6 4 , 7 7 1 , 6 6 1 , 8 6 7 , 6 6 7 , 5 * 4 , 3 ns

15 7 1 , 6 6 7 , 6 7 1 , 6 6 4 , 7 7 1 , 6 6 9 , 4 Í 5 , 1 ns

20 6 7 , 6 6 7 , 6 7 9 , 4 6 7 , 6 7 1 , 6 7 0 , 8 - 5 , 1 ns

2 5 7 1 , 6 7 1 , 6 7 1 , 6 6 7 , 6 6 7 , 6 7 0 , 0 - 2 , 2 ns

30 6 7 , 6 7 1 , 6 7 9 , 4 6 7 , 6 7 1 , 6 7 1 , 6 t « , ,8 ns

ns • Diferença não significativa p 0 , 0 5 . * Prova de aleatorização de pares amostras independentes.

178 N o g u e i r a £ P e r e i r a

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Ividade inibidora da absorção 179