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ATIVIDADES FÍSICAS E ESPORTIVAS E AS CIDADES Simone Rechia

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ATIVIDADES FÍSICAS E

ESPORTIVAS E AS

CIDADES

Simone Rechia

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1. A Cidade

A cidade, como paisagem artificial criada pelo homem, é um mundo de ruas,

casas, edifícios, parques, praças, avenidas, num misto entre espaço natural e criado,

formada por objetos e imagens, movimentada pela dinâmica entre vida pública e

privada, onde se articulam tempo/espaço, política, trabalho, cultura, consumo, lazer,

entre outras dimensões. Portanto, o cotidiano das sociedades urbanas gira em torno

de objetos fixos, naturais ou criados, aos quais fazem parte o trabalho e o lazer,

cruzados por fluxos de pessoas, produtos, mercadorias e ideias, diversos em volume,

intensidade, ritmo, duração e sentido. As grandes cidades contemporâneas

constituem-se em um denso espaço, com funções diversas, por meio das quais se

estabelecem múltiplas práticas sociais.

Santos (2002) ressalta que as cidades se distinguem entre si justamente por

objetos fixos e fluxos, os quais conferem significação para os moradores. Sendo

assim, para compreender a cidade não apenas como um grande objeto, mas como

produto, obra e um modo de vida, faz-se necessário analisar as interfaces entre fixos

e fluxos que, combinados, caracterizam cada formação social, ou seja, compreender

a relação entre as estruturas físicas e as relações sociais que delas derivam.

Nessa perspectiva, a problemática central que será abordada está pautada

no seguinte questionamento: As cidades brasileiras possuem espaços de

convivência e lugares para experiências urbanas significativas, que contribuem para

o desenvolvimento humano dos cidadãos, entre elas as atividades físico-esportivas?

Para buscar responder a tal questionamento, serão abordadas as seguintes

questões: Quais elementos contribuem na proposição de políticas de intervenção no

setor das AFEs1, considerando o enfoque do desenvolvimento humano como

referência? Como o tema tem sido abordado no campo acadêmico da área de

Educação Física, pelo menos nos últimos 10 anos, no Brasil? Como os espaços e

equipamentos para AFEs se constituem em algumas cidades brasileiras?

Para essa análise, partimos dos estudos do GEPLEC2, que adota como

objetos de reflexão espaços públicos da cidade de Curitiba, especificamente

parques, praças, escolas e centros culturais/esportivos, os quais representam

1 Atividades Físicas e Esportivas. 2 Grupo de Estudos e Pesquisa em Lazer, Espaço e Cidade, situado no Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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espaços fixos destinados, entre outras coisas, a vivências no âmbito do lazer ligadas,

muitas vezes, às AFEs.

Neste texto, o recorte adotado será a relação entre as práticas de AFEs e

as cidades. O objetivo é destacar a importância desses ambientes e as práticas

sociais para a materialidade urbana das cidades, os quais associam corpo,

sustentabilidade ambiental e experiências no âmbito do lazer, possibilitando contato

direto com a cidade e compondo com outros ambientes públicos a imagem de uma

cidade mais humana.

A sociedade em que vivemos é configurada por características pós-

industriais, com destaque para os avanços tecnológicos e seus desdobramentos, que

levaram a sensíveis transformações sociais, entre elas uma acentuada

transformação do meio urbano – em que ruas são transformadas em avenidas;

grandes casarões, em shoppings; jardins, em estacionamentos; casas, em prédios;

espaços de convivência, em praças de alimentação; brincadeiras nas ruas são

substituídas por novas tecnologias; encontro real, pelo virtual; natureza, pelo

concreto; parques e praças, por playgrounds em condomínios fechados; infância,

pela vida adulta; lazer, pelo trabalho – entre outras inúmeras transformações e

substituições que têm gerado grandes problemas de sustentabilidade ambiental e

social. Conforme descreve Tonucci (1997, p. 22),

Todo ha cambiado en el curso de pocas décadas. Ha habido una transformación tremenda, rápida, total, como nunca antes se viera en nuestra sociedad, al menos en ningún documento de la historia escrita. Por una parte la ciudad ha perdido sus características, se ha vuelto peligrosa y hostil; por otra han surgido los verdes, los ecologistas, los defensores de los animales, reivindicando el verde y el bosque. [...] En las últimas décadas, y de manera clamorosa en los últimos cincuenta años, la ciudad, nacida como lugar de encuentro y de intercambio, ha descubierto el valor comercial del espacio y ha trastornado todos los conceptos de equilibrio, de bienestar y de convivencia, para cultivar sólo programas a fin de obtener beneficios.

Os reflexos dessas transformações estão em diferentes dimensões da vida

humana. Aqui, especificamente, serão abordadas as influências de tais problemas

no tempo/espaço de lazer no meio urbano para a fruição da cultura corporal do

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movimento, e consequentemente para um pleno desenvolvimento humano, da

infância ao envelhecimento.

Compreendemos o lazer como uma dimensão da vida e, portanto, um

fenômeno sociocultural, amplo e complexo, historicamente mutável, central para a

análise da sociedade, o qual envolve questões identitárias, políticas, de sociabilidade

e desenvolvimento dos sujeitos, numa perspectiva orgânica e processual, o que

implica a análise de três polos distintos, porém complementares – espaço, tempo e

ludicidade –, potencializados nos ambientes públicos urbanos.

Presente como um dos direitos sociais o lazer está previsto no artigo 6º da

Constituição brasileira de 1988 e dispõe que:

são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição [...]” (BRASIL, 1988).

Sendo o Brasil um Estado democrático de direito e o lazer entendido

desta forma, sua amplitude deve alcançar todo território e ser extensivo a todos os

cidadãos. Neste sentido Marcelino (1995) aponta que:

(...) a ação democratizadora precisa abranger, além da construção de novos equipamentos em locais adequados e acessíveis, a luta pela mudança da mentalidade na utilização dos equipamentos não específicos e a busca da participação da população na defesa do seu patrimônio ambiental urbano, o que implica em preservar o espaço, revitalizar construções e manter a riqueza da paisagem urbana, podendo significar inclusive, um elemento que se contraponha à homogeneidade cultural tão presente na vida dos habitantes das cidades, em si mesmas os grandes espaços para a prática democrática do lazer (MARCELINO, 1995, p.62).

O lazer como um dos direitos sociais está ligado ao conceito de cidadania

atrelado ao uso democrático dos seus espaços de lazer. Assim para compreender a

conexão entre cidade e lazer, como representação universal de pessoas

emancipadas e autônomas, requer compreendê-lo como um direito a ser

conquistado. Para oportunizar, qualificar e viver experiências no âmbito do lazer nas

cidades, faz-se necessário um processo constante de lutas, em um esforço de todos

para garantir a plenitude da vida a partir da efetivação desse direito social que transita

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entre sonhar com uma vida que contemple espaço e tempo para essa experiência e

a triste realidade da precarização do mundo do trabalho, que muitas vezes, não

permite tal efetivação.

Quanto aos cidadãos e a relação com a cidade, vale ressaltar que o direito

ao lazer mantém-se a partir do diálogo, da parceria, do interesse, da luta, do pacto

entre direitos e deveres, entre cidade e cidadão, visando o "conviver" nos grandes

centros urbanos. Para tanto, deve haver mútua confiança entre gestão pública e

cidadãos, para que possamos de fato passar desse sonho à realidade.

A partir desses pressupostos o foco central da discussão será apontar que

existe uma conexão entre cultura corporal do movimento, lazer e meio ambiente, e

que um desequilíbrio nesse tripé – e também uma falta de valorização pelos recursos

naturais do planeta – poderá alterar a nossa relação sustentável com o meio social

e natural nas grandes cidades. Nessa direção, o conceito de Sustentabilidade

Ambiental, tal como aplicado às cidades, é amplo. Para Gehl (2013, p. 105),

O consumo de energia e as emissões dos edifícios são apenas uma das suas preocupações. Outros fatores cruciais são a atividade industrial, o fornecimento de energia e o gerenciamento de água, esgoto e transporte. Transporte é um item particularmente relevante na contabilidade verde, porque é responsável por um consumo massivo de energia, pelas consequentes emissões de carbono e pela pesada poluição.

Ainda conforme Gehl (2013, p. 105), Sustentabilidade Social é um conceito

também amplo e desafiador, pois:

Parte do seu foco é dar aos vários grupos da sociedade oportunidades iguais de acesso ao espaço público e também de se movimentar pela cidade [...]. Também tem uma importante dimensão democrática que prioriza acessos iguais para que encontremos “outras pessoas” no espaço público. Um pré-requisito geral é um espaço público bem acessível, convidativo, que sirva como cenário atraente para encontros organizados ou informais.

O discurso da sustentabilidade admite várias interpretações que

correspondem a visões, interesses e estratégias alternativas de desenvolvimento.

Leff (2001, p. 319) pondera que, por um lado, “as políticas neoliberais estão levando

a capitalizar a natureza, a ética e a cultura”, por outro, “os princípios de racionalidade

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ambiental estão gerando novos projetos sociais, fundados na (re)apropriação da

natureza, na (re)significação das identidades individuais e coletivas e na renovação

dos valores do humanismo”.

Para se alcançar um razoável equilíbrio entre essas dimensões, o

planejamento urbano das cidades deve avançar e extrapolar a ideia de apenas

construir estruturas físicas. Para Gehl (2013, p. 105), se o desafio é reinventar as

cidades para que funcionem, os esforços devem concentrar-se em todos os

aspectos, “do ambiente físico e das instituições sociais aos aspectos culturais menos

óbvios, que contemplam a forma como percebemos os bairros individuais e as

sociedades urbanas”. Acreditamos que investir na potência das AFEs como um

aspecto da cultura vivenciada em ambientes naturais preservados no meio urbano

possa ser uma das saídas para essa complexa relação entre (re)apropriação da

natureza, (re)significação das identidades individuais e coletivas e valores do

humanismo (LEFF, 2001).

Para reforçar essa ideia de uma cidade mais humana, Lerner (2013, p. XII),

no prólogo à edição brasileira do livro Cidade para as Pessoas, salienta que “se a

vida, como disse Vinicius de Moraes, é a arte do encontro, a cidade é o cenário desse

encontro – encontro das pessoas, espaço de trocas que alimentam a centelha criativa

do gênio humano”. Encontro deve se traduzir em qualquer momento de convivência

com a cidade, seja no trabalho, no transporte e também no lazer. Se as possibilidades

desses encontros forem alteradas, e deixada em segundo plano a dimensão humana

e cultural, essência do fenômeno lazer, nos distanciamos de nós mesmos, do outro,

da natureza e da busca por uma cidade melhor para todos. Afirmamos isso baseados

na ideia de Gehl (2013, p. 63) de que existe uma conexão direta entre a oferta de

melhorias para a vida das pessoas e os comportamentos coletivos para se obter

cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. Esse autor salienta que as cidades

devem ser mais atraentes que o espaço privado. Devem ser acessíveis e abertas a

diversidade, e a sustentabilidade, de modo a pensar nas gerações futuras.

1.1. Atividades Físicas e Esportivas e as cidades: conexões possíveis

Como relacionar AFEs e cidade? Como qualificar os espaços de lazer para

tais práticas sociais a partir do olhar ampliado sobre a cidade em que vivemos e suas

relações com os bens materiais, simbólicos, arquitetônicos, educacionais,

acessíveis, democráticos e ambientais? Os parques das cidades brasileiras são

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adequados para as pessoas? São cidades ambientalmente corretas, em que

perspectiva? É possível conectar conhecimentos das ciências sociais e naturais nos

estudos e pesquisas sobre lazer e meio ambiente, em busca de respostas para a

complexidade do mundo atual?

Um caminho possível para elucidar tais questões seria pensar a cidade e

sua arquitetura como produto e obra de uma prática social, historicamente

determinada, relacionada à satisfação das necessidades de reprodução social, da

família, da sociedade e da força de trabalho (LEFEBVRE, 2001). Porém, conforme

alerta Soares (2001, p. 15), é preciso olhar atentamente para o aparato arquitetônico

e material das cidades, pois muitas vezes nos revelam “uma padronização de

atividades, para as quais parcela significativa da população é ‘educada’ a consumir

como possibilidade única de colocar o corpo em movimento, para além da atividade

produtiva do mundo do trabalho”. Para a autora, educação é um processo cultural no

qual se está inserido cotidianamente. Somos educados por tudo que nos rodeia, da

palavra à arquitetura de casas, escolas, prédios, ruas e espaços destinados às

práticas corporais, as quais representam elas mesmas formas específicas de

educação.

Assim, uma discussão sobre uma boa cidade, ou um bom modelo de espaço

público para as AFEs, não deve se prender a questões puramente estruturais.

Permanecer nesse terreno significa cair em certos (des)encontros e perder de vista

o caráter social, educacional e ambiental de um planejamento urbano. Em outras

palavras, a produção dos espaços deve representar as práticas e valores sociais de

cada época, de cada bairro e de cada demanda social.

O que representa uma “boa cidade”, um bom parque, um bom espaço infantil

para arquitetos e gestores não necessariamente é interpretado da mesma maneira

pelos ambientalistas, educadores, pesquisadores e usuários. Muitas vezes, os

usuários, sejam pessoas ou instituições, com necessidades, experiências e opiniões

diferentes, sofrem as consequências dessas concepções, principalmente ao serem

obrigados a conviver com soluções urbanas problemáticas causadas por equívocos

em projetos, muitas vezes, considerados adequados pelos tecnocratas.

Um exemplo típico dessa problemática é a concessão de uso do pavilhão

de eventos do Parque Barigui (STRESSER, 2014). O projeto não resolveu problemas

básicos dos usuários, como precariedade dos equipamentos que dão suporte à

permanência no local e falta de acesso qualificado às práticas corporais.

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Dessa maneira, embora a beleza do espaço, segundo Borja (2003), não seja

um luxo, mas um direito indispensável para que se efetive a justiça democrática,

deve-se sempre associar as transformações dos espaços aos interesses dos

usuários, no caso, às práticas cotidianas já estabelecidas nos lugares de lazer.

Pesquisas anteriores sobre o Parque Barigui (RECHIA, 2003; OLIVEIRA,

2009) já descreviam as práticas que ocorriam naquela época no local, as condições

dos equipamentos e quais demandas os usuários apontavam como necessárias.

Portanto, conclui-se que as modificações ocorridas “pós-concessão” não

potencializaram as formas de apropriação e até, em alguns momentos, criaram

problemas para os usuários, como a passarela construída que fica submersa na água

em dias de chuva, dificultando a prática da corrida, caminhada ou o acesso dos que

buscam conhecer o outro lado do parque. Assim, as mudanças de infraestrutura

geradas pela concessão interferiram nas formas de apropriação do parque,

principalmente no âmbito das práticas corporais. Privatizações como essa se tornam

arriscadas para a população, principalmente para aqueles com menor poder

aquisitivo, sujeitos a ter cada vez menos acesso aos espaços públicos e bens

culturais.

Vale ressaltar que este estudo também conclui que privatizações como essa

poderiam trazer benefícios para a cidade se fossem desenvolvidas para a cidade, e

não somente para os interesses dos concessionários. É necessário que haja critérios

mais claros para a efetivação dessas concessões e ampla divulgação e participação

popular nesses processos.

Dessa forma, entende-se que as obras realizadas pelo poder público ou por

concessões ao poder privado muitas vezes são somente maquiagens usadas

basicamente para conseguir vender a “boa imagem” dos ambientes urbanos,

geralmente deixando os desejos do cidadão em segundo plano. Para que haja uma

conexão possível entre espaços de lazer, cidades e as AFEs é necessário ouvir e

respeitar as demandas oriundas do cidadão.

Mas por onde as políticas públicas urbanas poderiam começar para

melhorar o acesso das pessoas ao lazer, às AFEs e à cultura? Uma das respostas

que temos encontrado nas pesquisas realizadas no Brasil seria apostar em cidades

mais sustentáveis com estruturas físicas qualificadas e na formação da criança para

o desenvolvimento integral do cidadão, pois uma infância mais plena pode garantir

uma vida adulta também mais plena e um envelhecimento com mais qualidade e

consciente no meio urbano.

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1.2. Parques públicos urbanos: oportunidade para vivenciar as AFEs

A arquitetura e as estruturas dos parques urbanos visam, dentre vários

motivos, oportunizar aos sujeitos diferentes formas de apropriação, a partir dos

espaços de socialização; de ambientes de contemplação; de monumentos históricos,

que podem favorecer o sentimento de pertencimento ao lugar e a prática da cultura

corporal do movimento. Percebe-se certo modelo de equipamentos entre os grandes

parques urbanos, a partir da organização dos espaços que direcionam o usuário para

realizar determinadas ações.

Um artigo publicado em 2015 pelo The Guardian, principal jornal do Reino

Unido, de autoria do crítico de arquitetura Rowan Moore, listou os dez melhores

parques urbanos do mundo, fornecendo informações sobre locais atrativos nos mais

diversos países pelo mundo (MOORE, 2015). O artigo considera o Parque Ibirapuera

(Figura 1), em São Paulo/SP, Brasil, o melhor parque urbano do mundo por conter

diversos dos elementos citados, como reservas naturais de plantas nativas,

paisagens que combinou cubismo e inspiração surrealistas, além de monumentos

como a Oca e o pavilhão de artes da Bienal de São Paulo, projetados por Oscar

Niemeyer, outro grande arquiteto brasileiro. A lista ainda é composta com outros

parques famosos pelo mundo que possuem estruturas semelhantes, como o Buttes-

Chaumont, de Paris (Figura 2); o Boboli, de Florença (Figura 3); a High Line, de Nova

York (Figura 4); Landschaftspark, Duisburg-Nord, Alemanha (Figura 5); o Hampstead

Heath, de Londres; Park Güell, Barcelona, Espanha; Summer Palace, Pequim,

China; Olmsted Parks, Buffalo, Estados Unidos; e Birkenhead Park, Merseyside,

Inglaterra.

FIGURA 1: Parque Ibirapuera

Fonte: Wikimedia Commons. 2017. LINK: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Parque_Ibirapuera_-_Oca.jpg

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FIGURA 2 – Buttes-Chaumont, Paris, França

Fonte: Wikimedia Commons. 2017. Link: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Temple_of_Sibylle_Buttes_Chaumont_Paris_19e.jpg

FIGURA 3 – Boboli, Florença, Itália

Fonte: Wikimedia Commons. 2017. LINK: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Boboli,_isolotto,_andromeda_02.JPG

FIGURA 1 – High Line, Nova York, Estados Unidos, 2009

Fonte: Wikimedia Commons. 2017. LINK: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:High_Line_Park_the_new_second_section.jpg

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FIGURA 2 – Landschaftspark, Duisburg-Nord, Alemanha

Fonte: Wikimedia Commons. 2017. Link: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Landschaftspark_Duisburg-Nord_-_Kletterwand_Erzbunker.jpg

Vale ressaltar aqui, inspirada nos estudos de Rechia, Tschoke e Vieira

(2012), que o grande interesse do poder público em manter tais ambientes, muitas

vezes turísticos, deve ser pelos cidadãos que vivem nas cidades. A valorização

comercial desses espaços das cidades concede a esses ambientes “uma

preocupação com a manutenção [...], com o intuito de preservá-lo como um núcleo

comercial, buscando sempre levar os turistas a ocuparem esses lugares” (p. 56).

Porém, ao valorizar tais territórios, deslocam porção significativa de pessoas para as

periferias das cidades.

Ressalta-se que as grandes cidades contemporâneas se constituem densos

espaços, com funções diversas, por meio das quais se estabelecem múltiplas

práticas sociais.

Gehl (2013) destaca que tais práticas sociais podem ser atividades

necessárias (tendo enfoque de obrigatoriedade); atividades opcionais (quando existe

um desejo em realizá-las); e atividades sociais (atividades em que há necessidade

de outras pessoas nos espaços públicos; podem ocorrer em vários espaços; e devem

ser espontâneas).

O referido autor ressalta ainda que os espaços influenciam esse tipo de

atividade e vivência. Ou seja, os espaços podem influenciar as experiências

cotidianas, bem como as experiências de lazer dos citadinos. Dessa maneira, se o

espaço público é de pouca qualidade, as atividades realizadas dificilmente serão tão

potencializadas quanto os espaços mais qualificados, modificando as possibilidades

de fruição do tempo de lazer e também as relações sociais.

Portanto, a criação de um conjunto de parques, praças e centros culturais,

com certa coerência arquitetônica, ou seja, um estilo padronizado de conceber

espaços dessa natureza, gerou dois momentos: 1) ambiente urbano singular, capaz

de estabelecer uma espécie de comunicação imediata com a população, o que pode

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ter influenciado uma cultura voltada a vivências no âmbito do lazer em ambientes

naturais/ou construídos; 2) projeção da cidade no cenário nacional e internacional.

Nessa direção, Garcia (1997) ressalta que, independentemente do tipo ou

modelo de espaços públicos adotados pelas cidades, o projeto de modernização do

espaço urbano quase sempre incorpora, como valor, a ética e a estética do lazer.

Considera-se interessante pensar que essas práticas sociais realizadas nos

interstícios da vida cotidiana em espaços públicos destinados às vivências lúdicas e

práticas corporais e esportivas podem significar certa “linha de fuga” ao tumultuado

meio urbano. Da mesma forma, essas atividades podem possibilitar a aquisição de

novos valores humanos, os quais diferem de meras atividades compensatórias,

funcionalistas e consumistas. Elas envolvem, pelo menos aparentemente, a relação

ética com a natureza, o convívio um pouco mais harmonioso com a diferença, a

autonomia e a vivência com a cultura local.

Podemos inferir que esse projeto de cidade que presevou a natureza,

inserindo espaços e equipamentos de lazer qualificados foi de fundamental

importância, pois gerou na população curitibana o amor à cidade, o cuidado daquilo

que é público, ou seja, que é de todos.

Nesses espaços não havia uma apropriação efetiva por parte da

comunidade, tanto adultos como crianças, e isso mostrou que os moradores do

entorno não tinham um sentido de pertencimento com os espaços, pois, além de não

participarem da concepção dos equipamentos, não contribuíam para a manutenção

e segurança do local.

Isso mostra a necessidade de as lideranças comunitárias incentivarem e

mobilizarem a comunidade a cuidar dos espaços e equipamentos e a participarem

de fato da manutenção daquilo que é de todos, para assim formar uma cidade de

qualidade, também para todos.

Uma cidade ambientalmente correta não se resume somente a espaços de

habitação, de trabalho ou de lazer. Habitar, trabalhar e viver de forma sustentável

implica uma complexa rede de interações sociais e ambientais que integra as

diferentes esferas de reprodução e pressupõe uma interação entre a ordem próxima

e a ordem distante3. Não há como separá-las. Segundo Lefebvre (2001, p. 47), “a

3 Para Lefebvre (2001, p. 52), a ordem próxima tem relação com as “relações dos indivíduos em grupos mais ou menos amplos, mais ou menos organizados e estruturados, e as relações estabelecidas entre eles e a ordem distante, a ordem da sociedade regida por grandes e poderosas instituições (igreja, Estado), por um código jurídico formalizado ou não, por uma ‘cultura’ por conjuntos significantes”.

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ordem distante penetra e regula o espaço da vida cotidiana, ou seja, se projeta na

realidade prático-sensível da ordem próxima”.

Com estudos do GEPLEC, foi possível realizar uma análise mais ampla e

ao mesmo tempo verificar questões específicas sobre os espaços urbanos

destinados a todas as fases, desde a infância ao envelhecimento. A princípio, pelo

fato de haver parques no meio urbano, seria possível pensar que as cidades são

ambientalmente corretas, no entanto, mais especificamente, ao analisar

qualitativamente seus equipamentos, constata-se que há necessidade de repensar

os modelos adotados se a intenção for de fato garantir ao indivíduo em todas as suas

fases de vida, desde a infância até o envelhecimento, os princípios da racionalidade

ambiental apontados por Leff (2001): (re)apropriação da natureza, (re)significação

das identidades individuais e coletivas e valores do humanismo.

Diante desse contexto, discutir os espaços de lazer significa questionar se

a cidade que se deseja é sustentável e para todos. Essa problemática não pode mais

permanecer restrita ao seleto grupo de arquitetos, urbanistas e planejadores,

detentores do saber técnico. Podemos citar o exemplo da cidade de São Paulo, o

qual possui “Conselho Participativo Municipal (CPM) um organismo autônomo

composto por conselheiros da sociedade civil, de caráter consultivo e representado

nas 32 Subprefeituras da Cidade de São Paulo.” (LUZ, BASTOS, 2017, p. 5), o qual

apesar das muitas dificuldades de participação de seus mais de 1100 conselheiros

continua sendo a forma mais democrática de participação popular. Por meio dela, os

representantes

acabam trazendo questões de seus bairros para conhecimento do Poder Público, que podem auxiliar e muito no desenvolvimento de propostas a fim de proporcionar benefícios para suas regiões. Portanto, a pesquisa afirmou que não basta apenas o conhecimento técnico e territorial no desenvolvimento do planejamento e da gestão urbana, visto que foi considerado que, acima de tudo, é preciso entender o contexto urbano a partir dos cidadãos que ali vivem, e, portanto, aliar técnica e vivência, para potencializar o conhecimento sobre o território a ser estudado. (LUZ, BASTOS, 2017, p. 15)

A gestão participativa é um problema complexo que impõe discutir o tipo de

cidade e sociedade que desejamos. Assim, um bom espaço de lazer para o

desenvolvimento de AFEs deve presumir o direito à cidade, à vida urbana, ao habitar

em seu sentido amplo, em que seja dado aos cidadãos urbanos o direito de participar,

interagir e se desenvolver durante todo o percurso da sua vida, e de forma

sustentável.

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A intenção das pesquisas, intervenções políticas e comunitárias sobre esse

tema deve investigar como os espaços públicos urbanos destinados às AFEs em

diferentes contextos sociais atendem às necessidades das comunidades, e como

podem potencializar a relação lazer-meio ambiente.

Mesmo que alguns autores brasileiros4 venham demonstrando interesse em

discutir as formas de apropriação dos espaços e equipamentos de lazer e suas

relações com as políticas públicas, novos estudos podem trazer outras contribuições

para pesquisas no campo do lazer, e a possibilidade de gerar dados aplicáveis ao

cotidiano das grandes cidades devido às especificidades a que se propõem, e assim

contribuir para a formulação de políticas públicas eficazes.

Os dados revelam que, além do Brasil, várias cidades do mundo têm

problemas ambientais diversos, dependendo do nível de desenvolvimento

econômico e social. Entretanto, quanto à dimensão humana, seguem quase que o

mesmo padrão, ou seja, o descuido total com tal dimensão e sua relação com a

questão ambiental. Conforme relata Gehl (2013, p. 229):

Enquanto o descuido quase extinguiu a vida urbana em alguns países desenvolvidos, a pressão de empreendimentos a empurrou para as mais adversas condições em muitos países com economias menos desenvolvidas. Nos dois casos, tornar viável a vida na cidade exigirá um cuidadoso trabalho com as condições para as pessoas caminharem, pedalarem e utilizarem o espaço público.

Para o autor, os pontos centrais para pensar a dimensão humana nas

cidades são: respeito pelo outro, dignidade, entusiasmo pela vida e pela cidade como

lugar de encontro. Tudo isso deve ser iniciado na infância se quisermos um mundo

mais sustentável social e ambientalmente para todos.

Leff (2001) alerta que “a vida foi transtornada pela lógica do mercado e pelo

poder tecnológico, levantando um problema ontológico, epistemológico e ético sem

precedentes”. Para reverter esse processo, o ambientalista defende a tese de que

“novas formas de significação do mundo, da vida e da natureza” originam “um mundo

onde caibam muitos mundos”. Também enfatiza que “a mudança nunca vem de cima,

mas de baixo, quando há uma autêntica mobilização social” (p. 108). Um bom

exercício cidadão para a mobilização social, em prol da defesa ambiental, seria a

apropriação dos espaços de lazer das cidades brasileiras.

4 Tais como: Amaral (2002); Bramante (1998); Marcellino (1998); Mascarenhas (2005); Pacheco (2006); Stigger (2002); entre outros. Já no caso da realidade específica de Curitiba, temos: Cagnato (2007); França (2007); Gonçalves (2008); Gonzaga (2010); Oliveira (2009); Rechia (2003); Tschoke (2010); entre outros.

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Em resumo, as pesquisas citadas apontam que, até o momento, o que existe

no Brasil é uma realidade cruel, uma conjuntura política, intelectual e social que

muitas vezes não está conectada com as demandas sociais, a partir de políticas

urbanas mais efetivas, para que seja possível dar de fato aos cidadãos brasileiros a

oportunidade e o direito de viver o lazer como um momento essencialmente criativo,

com potência educativa, política e transformadora, a partir das AFEs ou outras

práticas sociais tão importantes quanto essas.

Pensar sobre direitos humanos e, portanto, coletivos, sob o prisma de

“outra” globalização, que, para Milton Santos (2001), pode proporcionar o real acesso

à informação e sua difusão, com vistas à emancipação humana, é possível. Porém,

é necessário que os responsáveis pelas políticas setoriais preparem as cidades para

tal e lembrem-se de que, além de todo o aparato para os possíveis negócios, devem

priorizar também as pessoas que realmente residem nas cidades brasileiras, as quais

têm direito ao ócio, além do negócio.

2. Meio ambiente urbano, os espaços de lazer e as Atividades

Físicas e Esportivas: possibilidades para viver em “cidades

vivas” no Brasil

Para Lefebvre (2001, p. 77-98), meio urbano é o ponto de intersecção entre

os níveis global (representado pelo poder do Estado e dos homens), misto (que seria

o nível urbano representado pela cidade) e o particular (onde se estabelecem as

relações entre o habitat e o habitar do indivíduo). A partir desse conjunto de ações e

atores sociais podemos perceber o espaço como “projeção das relações sociais”.

Infere-se que a limitação do espaço ocasionada pelas transformações

ambientais e sociais do meio urbano gerou redução dos espaços de lazer,

especialmente ligados às práticas corporais, principalmente para crianças, que foram

aos poucos se deslocando das ruas e quintais e se consolidando em espaços

públicos ou privados de baixa qualidade, limitados, predeterminados, com pouca

diversidade e quantidade de oportunidades. Tais fatos podem fragilizar as “projeções

das relações sociais” analisadas por Lefebvre.

Autores já citados neste texto, que analisam a constituição dos espaços

urbanos, ressaltam o desafio de viver em grandes cidades, gerado pela

complexidade dos fatores sociais, econômicos, ambientais e políticos que se

entrelaçam cotidianamente e geram tensão em nossas vidas.

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O meio urbano estaria, então, para alguns, mais voltado a trocas financeiras

e econômicas, porém muitos sujeitos que vivem nesses centros reivindicam outras

demandas de uma cidade, como viver com mais qualidade, uma “cidade viva e

pulsante”. Vale ressaltar que viver com mais qualidade requer aspectos objetivos –

moradia adequada, educação, saúde, trabalho, mobilidade urbana, espaços e

equipamentos de lazer, etc. – e subjetivos – sentimento de segurança e

pertencimento, possibilidades de diversão, consumo, reinvenção e produção da

cultura, respeito à diversidade, inclusão, sociabilidade, entre outros – do cotidiano.

No Brasil, no entanto, vivemos em cidades com profundas diferenças

econômicas, culturais e educacionais, tornando a efetivação desses aspectos

possível somente para alguns, geralmente aqueles que podem pagar por isso. Nessa

perspectiva, para Lefebvre (2001), a sociedade atual chegou a um caos que exige a

análise efetiva das necessidades que estão além dos imperativos econômicos, das

normas e dos valores sociais. Podemos supor, portanto, que a crise ambiental e

social vivida atualmente nos centros urbanos brasileiros sustenta-se em níveis

diferenciados, como resultado de uma série de processos que trazem consigo

consequências gravíssimas, entre elas doenças psicossomáticas, violência, solidão,

consumo exacerbado, a lógica do descarte de pessoas e produtos, miséria,

desperdício e outros males urbanos, inclusive crescimento populacional em larga

escala.

Na esteira dessa problemática, o relatório “Perspectivas da Urbanização

Mundial” da ONU (2014) apresenta as perspectivas de crescimento da urbanização

mundial e aponta que atualmente 54% da população mundial vive nas cidades, e que

cerca de 453 milhões de pessoas vivem em 28 aglomerações urbanas. A estimativa

para 2050 é de que cerca de 66% da população seja urbana, prevendo-se o maior

crescimento nos países da Ásia e África.

De acordo com Touraine (1998), a partir dessas questões, as cidades

mundiais estão há muito tempo em um processo de desintegração, porém, mesmo

diante desse cenário e da magnitude dos dados acima, que nos revelam um processo

complexo, há emergência de buscar respostas. Já em 1970, Lefebvre anunciava

esses fatos, e ressaltava que o futuro das sociedades urbanas estava em disputa.

Para o autor, essa disputa transitava entre o domínio do poder público ou do poder

privado, e o uso da cidade por parte do cidadão – pares dialéticos que ajudam a

compreender o movimento da sociedade urbana.

Fica claro, assim, que a cidade é um processo social envolvido na lógica do

desenvolvimento econômico. O tempo do não trabalho, por exemplo, transforma-se

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em tempo de consumo, e não em “tempo de vida”, tornando-se muitas vezes palco

de práticas econômicas cujo objetivo é viabilizar a circulação do capital, e não o

encontro entre pessoas. Para Lefebvre (2001), esse processo gerou a concepção de

espaço como geométrico e vazio, a partir do qual tecnocratas passaram a definir

estratégias e intervenções, à parte das necessidades, desejos e práticas sociais. Ao

contrário, o uso do tempo foi fomentado de forma normativa e padronizada das

formas de habitar, do uso de espaços públicos, das maneiras de realizar AFEs, das

definições dos espaços de circulação, de trabalho, definindo-se centralidades

específicas.

No Brasil, conforme descreve Alvarez (2015, p. 5), no artigo intitulado

Cidade em disputa, “a execução de diferentes planos urbanísticos ao longo das

décadas privilegiou as vias de circulação e zoneamento, favorecendo as

propriedades de elites, gerando segregação em alta escala”. Para a autora, no Brasil,

a separação dos tempos da vida teve e tem caráter profundamente segregador

porque a força do trabalho foi compelida a deslocamentos cada vez mais longos e

cansativos, realizados fundamentalmente para o trabalho. A autora questiona: Quem

da periferia de São Paulo, por exemplo, pode vir ao centro da cidade em um dia de

semana buscar um ingresso (gratuito) para assistir a uma apresentação no domingo

pela manhã na Sala São Paulo?

Para Bramante (1998, p. 9), “a vivência do lazer está relacionada

diretamente às oportunidades de acesso aos bens culturais”. Desse modo, a

distância desses bens pode ser um impeditivo à sua fruição. Nos bairros periféricos

das cidades, em geral moram pessoas com menor poder aquisitivo; dessa forma, “o

fator renda exerce forte influência no acesso para a atividade de lazer, pois, para

uma família inteira deslocar-se para um determinado local de lazer, significará um

elevado gasto em tarifa de transporte público” (SILVA, 2007, p. 49).

Nessa direção, ficam também as questões: Quem no Brasil tem acesso aos

parques e às praças das grandes cidades para realizar AFEs? Essas práticas podem

ser realizadas nas periferias dos grandes centros urbanos? Há espaços para isso?

Existem políticas públicas efetivas em relação a esse acesso?

A partir dos dados de pesquisa do GEPLEC, verifica-se que, de certa forma,

as cidades ainda mantêm ambientes propícios para restabelecer e superar esse

processo porque a cidade muitas vezes é caótica, mas é também lugar de realização

da vida, lugar de lutas e resistências. Uma das brechas nesse tumultuado meio

urbano são as práticas de AFEs, pois geram espaços de encontro e sociabilidade, os

quais podem mantê-la viva e pulsante.

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3. Do desenvolvimento da criança para o desenvolvimento do

estilo de vida do cidadão urbano

Os parques públicos, as praças, os centros culturais/esportivos e as escolas

nas grandes metrópoles são, na sociedade moderna, espaços privilegiados para que

as pessoas possam ter contato com o lúdico e vivenciá-lo durante toda a vida.

Conforme os dados levantados por Moro, e sustentados teoricamente em

Tuan (1983) – que considera o espaço aberto e livre a representação da liberdade,

diversidade de possibilidades, um convite à apropriação e à ação, e que, ao ser

apropriado a partir de experiências significativas, é transformado em lugar e se torna

parte do sujeito, gerando sentido de segurança e representatividade –, acreditamos

que investir em espaços públicos infantis, tais como praças, bosques, parques e

escolas, é apostar na transformação de espaços abertos e inseguros em lugares

sustentáveis ambiental e socialmente para gerações futuras, pressuposto básico

quando se fala em sustentabilidade, além de possibilitar uma vida de qualidade da

infância ao envelhecimento, em que as AFEs sejam contempladas no tempo da vida.

Porém, para que haja um avanço nessa perspectiva no meio urbano, não

bastam investimentos somente em espaços públicos de lazer, esporte e cultura, é

preciso pensar também nos espaços lúdicos escolares. Conforme aponta Soares

(2001, p. 15-16), no Brasil é dada certa ênfase aos espaços poliesportivos. Na

arquitetura das escolas brasileiras de ensino Fundamental e Médio, mesmo as de

estruturas arquitetônicas precárias, os espaços destinados às práticas corporais são

constituídos por quadras poliesportivas. Até mesmo nas que têm arquitetura e

equipamentos considerados ideais há quadras. Embora a análise reforce a ideia de

não haver problemas de a escola ter ou não espaços dessa natureza, adverte que

fica difícil pensar em práticas corporais diversificadas no meio urbano se na escola

essas práticas já estão “domesticadas pela cultura do treinamento esportivo e todo o

seu aparato científico”. Talvez por isso “aquele passeio num parque ou mesmo nas

ruas do bairro onde se vive torne-se agora somente exercício”, e não uma prática

social que envolve contato consigo mesmo, com o outro e com a natureza no meio

urbano.

A arquitetura dos espaços urbanos tem possibilidade concreta de

comunicação e muitas vezes define formas de uso, e esse uso pode ser restritivo

quando se fala em espaços para AFES urbanas. Nesse sentido, pode gerar o

entendimento de que o uso se materializa somente a partir da prática dos esportes

tradicionais (voleibol, basquetebol, futebol, handebol), pois são esses os indicativos

visualizados pelos códigos das “linhas demarcatórias do campo” tatuados nos

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espaços, como pode ser observado nas Figuras 6 e 7, comparando os espaços de

uma escola e de uma praça de um mesmo bairro da periferia de Curitiba. Tais

demarcações espaciais são importantes, pois constituem a cultura esportiva do país,

porém já não contemplam todos os interesses das práticas corporais urbanas.

FIGURA 6 – Parquinho e quadras poliesportivas: Escola Maria Marli Piovesan, Bairro Uberaba, Curitiba, Paraná

Fonte: TSCHOKE, 2010.

FIGURA 7 – Parquinho e quadras poliesportivas: Praça do Cairo, Bairro Uberaba, Curitiba, Paraná

Fonte: TSCHOKE, 2010.

Dessa maneira, essas formas tradicionais de construir estruturas físico-

esportivas nas cidades muitas vezes organizam também quais AFEs devem ser

realizadas nas associações de funcionários de empresas e indústrias, nas escolas,

nas academias, nas praças e nos parques. Enfim, em todos os espaços onde as

AFEs serão vivenciadas. Dados das pesquisas do GEPLEC revelam que, muitas

vezes, esse fato gera o esvaziamento de tais ambientes no meio urbano, pois

determina uma forma de uso já superada e/ou (re)significada pelo cidadãos.

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Para Jan Gehl (2013), “nenhuma criança pede de Natal algo que não

conheça, e as pessoas nunca vão pedir que sejam feitas em suas cidades melhoras

que já não estejam em seu repertório”. Dessa forma, procura-se incentivar que as

pessoas inicialmente se informem sobre quais possibilidades de qualificação para os

espaços desejariam ver concretizadas no meio urbano.

Nessa direção, além das quadras esportivas, começamos a visualizar nas

cidades as calçadas, as ciclovias, ou seja, há outros espaços considerados um

contraponto a esse paradigma da cidade para carros, surgem focos de resistência

aos modelos tradicionais de urbanismo, no sentido de perceber a cidade de forma

mais próxima, sem a “armadura” que o carro cria ou a velocidade da motocicleta, que

impedem de observar a cidade em seus detalhes. Temos então a ascenção de

projetos nesse sentido, que buscam o caminhar, o pedalar, o andar de skate.

O estudo nacional “Como anda” detectou que os projetos que buscam o

deslocamento ativo nas cidades, nascem de maneira descentralizada, de forma mais

intensa a partir de 2013. E atuam no sentido de incentivar o deslocamento por meios

não motorizados, a pé, de bicicleta, por via do skate, dentre outros.

Segundo Santana (2013, p. 38), o uso da “bicicleta vem se constituindo uma

alternativa eficaz quando se há um desenvolvimento espacial, político, cultural e

educacional eficiente e concreto em torno da mesma”. Longe de ser somente uma

opção de lazer, a bicicleta ganha cada vez mais destaque como meio de transporte

associado a pratica corporal e a saúde, e o poder público, em diversos lugares,

começa a ficar atento para essa realidade (ANDRADE, 2014).

Ainda conforme Andrade (2014), há atualmente no Brasil mais de 60 milhões

de bicicletas – e a metade delas é usada pela população para ir ao trabalho. Segundo

o relatório do Sistema de Informações da Mobilidade Urbana (SIMU) divulgado pela

Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) com dados comparativos entre

2003 e 2014 vemos que em 10 anos o uso da bicicleta no Brasil dobrou. Em 2004, o

número de viagens realizadas utilizando-se desse modal ativo era de 1,3 bilhão e em

2014 esse número aumentou para 2,6 bilhões. (ANTP, 2016).

As maiores reféns do trânsito são as grandes capitais, mas essas já

recebem algumas iniciativas”. Por exemplo, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro

contam com um sistema de aluguel de bicicletas – A Bike Sampa e Bike Rio –,

resultado da parceria entre as prefeituras e iniciativas privadas. Tais projetos vêm

atraindo grande número de usuários. No Rio de Janeiro, a iniciativa aumentou o

número de postos e bicicletas para atender à demanda.

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Curitiba também está criando alternativas para os ciclistas. A cidade, onde

mais de 55 mil pessoas aderiram à bicicleta como meio de transporte, recebe o

projeto Via Calma, que tem como objetivo criar ciclovias nas principais vias da cidade.

Os ciclistas estão transitando pelo lado direito das vias em áreas demarcadas. Para

evitar acidentes, a velocidade foi reduzida para 30 km por hora, e nos cruzamentos

foram instalados Bikeboxes, uma área especial de parada para bicicletas nos

semáforos, como forma de proteger e priorizar o ciclista quando o sinal abre.

O uso da bicicleta na cidade também é causa de conflitos. Na zona leste de

São Paulo a inserção de ciclovias incomodou os comerciantes que dizem ter uma

queda de 70% nas vendas pela falta de estacionamentos. E os ciclistas reclamam a

presença de pedestres nas ciclovias. (GLOBO, 2014)

Conforme dados do artigo de Andrade (2014), algumas cidades já têm

infraestrutura de ciclovias bem desenvolvida, como, por exemplo, Bogotá, que possui

359 km de ciclovia; Nova York, 675 km; e Berlim, 750 km. Em Tóquio e na Holanda,

25% dos trajetos são feitos de bicicleta, ou seja, esses países procuram, além das

ciclovias, outras iniciativas para estimular o uso da bicicleta.

No Brasil, dentre as capitais São Paulo é a que possui a maior malha

rodoviária do país, 498,4 km. Seguida por Rio de Janeiro e Brasília, respectivamente

com 441,1 km e 420,1 km. Porém, segundo Caldana o aumento da malha não tem

sido feito de forma inteligente, sem uma sistemática de planejamento

cicloviário.(GLOBO, 2017)

Em Salvador, já iniciou um projeto experimental da Secretaria de Cidade

Sustentável e Inovação que prevê que servidor municipal que pedalar de casa para

o trabalho pelo menos em 15 dias úteis por mês ganhará uma folga mensal.(FOLHA,

2017)

Em Paris, o P’tit Vélib’, terceiro maior serviço de compartilhamento de

bicicletas do mundo, vai oferecer 300 bicicletas, de diferentes tamanhos, a crianças

de 2 a 10 anos de idade. No Reino Unido, o governo criou um sistema de vendas de

bicicleta em parceria empresa-funcionário chamado Cycle to Work, que oferece

valores mais acessíveis e descontos nos impostos para quem usa bicicleta para se

deslocar até o trabalho.

Na Alemanha, o projeto é ainda maior. Preocupado em reduzir o

congestionamento e a poluição, o governo alemão pretende trocar carros e

caminhões por bicicletas de carga. Segundo o porta-voz do ministério dos

Transportes, Birgitta Worringen, o projeto é viável porque mais de 75% dos trajetos

no país são para cobrir distâncias menores do que dez quilômetros. A empresa de

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logística UPS já realiza entregas em seis cidades alemãs usando bicicletas.

Entretanto, o representante da empresa, Lars Purkarthofer, ressalta que a estrutura

no país ainda não é ideal, pois as ciclovias são estreitas e em alguns pontos faltam

estacionamentos para guardar as bicicletas.

Essas leis de incentivo, além de manter a população mais saudável e

diminuir a poluição e os congestionamentos dos grandes centros urbanos, chamam

atenção para os diferentes benefícios do uso da bicicleta como transporte diário.

Segundo um estudo realizado em Nova York, as vendas das lojas de rua tiveram

aumentos de até 49% após a construção de ciclovias, pois um ciclista tem menos

barreiras para entrar numa loja local, já que é mais fácil encontrar um ponto para

prender a bicicleta do que estacionar o carro (ANDRADE, 2014).

Outro fator frisado é a questão da segurança. Um estudo feito pela

Universidade do Colorado, em Denver, nos Estados Unidos, mostra o contrário,

conforme dados levantados, o aumento do número de bicicletas nas estradas reduz

o número de acidentes de trânsito e torna o tráfego mais seguro. O professor e

coautor do estudo, Wesley Marshall, trabalha com a hipótese de que, quando existe

um número expressivo de ciclistas na estrada, o motorista fica mais atento. Portanto,

cidades com grande volume de ciclistas não são seguras apenas para os ciclistas,

mas para os carros também (KELLY, 2014).

Assim, incentivos ao uso da bicicleta são muito importantes, desde que a

cidade esteja adequada para comportar os ciclistas. No Brasil, por exemplo, a

situação das ruas e avenidas é muito precária. O trabalhador, quando não está

espremido no transporte público, está isolado no carro, esperando o trânsito seguir.

Por isso, “a bicicleta vem se tornando uma importante alternativa onde a sociedade

ganha como um todo por ter uma cidade mais humana e saudável, e menos

congestionada e poluída” (ANDRADE, 2014).

Especialistas em trânsito garantem que a construção de ciclovias é uma

iniciativa que representa um enorme passo em direção à formação de cidades mais

justas, inclusivas e democráticas.

Além da bicicleta, visualizamos também, outros meios considerados mais

“radicais” de se locomover pela cidade, como, por exemplo, o skate. Na última edição

do Go Skate Day, promovida em Curitiba, em junho de 2016, 15 mil skatistas

ocuparam o centro da capital.

Mas quem são esses jovens que andam por parques e ruas equilibrando-se

em uma prancha com rodinhas e (re)significam os espaços urbanos? Segundo a

pesquisa do Instituto DataFolha (2015) 11% dos domicílios brasileiros possuem pelo

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menos um morador que pratica ou anda de skate. Com maior predominância entre

os residentes nas regiões metropolitanas no Sudeste. Em todos os locais

pesquisados cresce a presença de skatistas Dentre as centenas de pistas

espalhadas pelo país, a Confederação Brasileira de Skate (CBSk) fez um ranking

para eleger os dez melhores skate parks públicos do Brasil (CATRACA LIVRE, 2016).

Esses espaços oferecem estruturas em que é possível conhecer novas

possibilidades de movimento da cultura corporal não convencionais, além de

proporcionar novas formas de uso dos espaços nas cidades, ampliação do acervo

motor e desenvolvimento das habilidades motoras pela prática das AFEs.

Nessa direção, em 2014, foi construído em São Paulo o primeiro Centro de

Esportes Radicais considerado o maior da América Latina, o qual conta com circuitos

e pistas para skate, Bike BMX, patins in-line, patinete e parkour em 38 mil m² de área

em plena Marginal Tietê. Conforme relata Chagas (2015, p. 325), a partir das

experiências do parkour5, os praticantes podem reconhecer a cidade sob diferentes

perspectivas, “além de reconhecer o espaço público como algo de domínio de todos”.

Localizado na região do bairro paulistano Bom Retiro, voltado para essas

práticas, com circuitos e pistas para todas as modalidades, esse equipamento público

conta ainda com ciclovias, pista de caminhada, área para shows e playground, em

local de fácil acesso, tornando-se assim mais um espaço de lazer e diversão para os

paulistanos. O acesso ao público é gratuito e os circuitos do Centro de Esportes

Radicais atendem desde atletas experientes a jovens iniciantes. Com uma área de

650 m², o circuito de parkour do Centro de Esportes Radicais conta com uma série

de obstáculos horizontais e verticais de diferentes níveis, para que o praticante os

transponha utilizando apenas o corpo, com técnicas de corrida, salto, equilíbrio e

escalada. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016)

Em síntese, temos no Brasil espaços para AFEs centrados em quadras

esportivas, as quais determinam práticas corporais tradicionais, mas, ao mesmo

tempo, surgem diferentes maneiras de reinventar o cotidiano das cidades, com

ampliação da cultura corporal do movimento, que impõem à gestão pública novos

modelos de espaços e equipamentos no meio urbano. Vale ressaltar que raramente

os desejos dos jovens brasileiros são atendidos, principalmente os de baixo poder

aquisitivo, que em geral moram nas periferias das grandes cidades e não têm acesso

a esses espaços e equipamentos diferenciados para AFEs.

5 Prática corporal ou disciplina que concilia habilidades naturais como: escalar, correr, saltar, andar sobre quatro apoios, equilibrar-se, com o principal objetivo de tornar o corpo mais ágil, fluente e eficaz em qualquer espaço possível (SERIKAWA, 2006).

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Nos bairros mais afastados dos grandes centros urbanos brasileiros, a

problemática dos espaços de lazer pouco qualificados é ainda mais acentuada, pois,

além de serem determinadas as formas de uso, os espaços são também precários,

pouco iluminados o que aumenta a sensação de insegurança e facilita usos ilícitos,

como o uso de drogas.

A pesquisa sobre as Praças da Vila Nossa Senhora da Luz, localizadas na

Cidade Industrial, em Curitiba (GONÇALVES, 2008), ilustra essa fragilidade do

esvaziamento em espaços públicos mais distanciados dos grandes centros urbanos.

O autor fez um estudo detalhado dessa problemática e concluiu que o poder público

muitas vezes negligencia bairros mais afastados e investe no núcleo central e

econômico das cidades, isto é, pensa no negócio lucrativo de quem pode “pagar”, e

não nas práticas socioculturais consolidadas das comunidades com menos acesso

aos bens culturais, oferecendo a essas comunidades somente equipamentos

poliesportivos e de baixa qualidade. Sendo assim, há necessidade de repensar o

modelo arquitetônico, e, consequentemente, a oferta de espaços públicos destinados

às AFEs no Brasil.

Em 2010, houve certos avanços no planejamento desses espaços, com, por

exemplo, a proposição das Praças de Cultura e Esporte6, também chamadas de

Centro de Artes e Esporte Unificados (CEUs), ou ainda Praças do PAC. Esses locais

objetivam agregar no mesmo espaço físico “programas e ações culturais, práticas

esportivas e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços

socioassistenciais” (PORTAL BRASIL, 2012). Os municípios proponentes tinham a

possibilidade de seguir os projetos de referência propostos pelo governo federal ou

elaborar os próprios, porém sem perder sua característica intersetorial. Segundo o

então secretário executivo do Ministério da Cultura, Vitor Ortiz, “a maior parte dos

projetos tem três mil metros quadrados, que conta com quadra poliesportiva, pista de

skate, salas de oficinas, bibliotecas e uma sala multiuso” (Figura 8).

6 O projeto foi lançado pelo governo federal em 2010, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2). Um comitê gestor do programa ficou responsável pela seleção dos municípios que deveriam receber as Praças CEU. Por meio da parceria entre a União e os municípios, 98 unidades já foram concluídas e inauguradas, e outras 243 seguem em construção (NASCIMENTO, 2016).

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FIGURA 8: Centro de Artes e Esportes Unificados do Recanto das Emas (Distrito Federal)

FONTE: By Agência Brasília [CC BY 2.0 (http://creativecommons.org/licenses/by/2.0)], via Wikimedia Commons LINK: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Recanto_das_Emas_ter%C3%A1_o_primeiro_Centro_de_Artes_e_Esportes_Unificados_do_Distrito_Federal_(27718361830).jpg

Há em políticas como essa um possível caminho para projetos de espaços

de lazer de qualidade para os cidadãos. No entanto, o que vemos efetivado na prática

está aquém do proposto inicialmente. A estimativa inicial era de que fossem

construídas 800 praças entre 2011 e 2014, e no lançamento do projeto, 359

municípios haviam concluído o processo de contratação (PORTAL BRASIL, 2012).

Porém, em 2016, apenas 98 unidades estavam concluídas, e outras 243 estão em

construção (NASCIMENTO, 2016).

A preocupação em agregar diversos usos ao mesmo espaço nos leva à

reflexão sobre a teoria dos usos principais e combinados de Jane Jacobs (2011). Em

suma, a autora mostra que a diversificação de uso dos espaços das cidades lhes

confere maior potencial de vitalidade, pois garante a presença de diferentes pessoas,

com diferentes objetivos, no mesmo horário, proporcionando o encontro com o outro.

Outro aspecto relevante é a questão da abrangência das políticas públicas

para a infância e as fases de vida subsequentes. Os espaços públicos de lazer

destinados exclusivamente às brincadeiras infantis em parques e praças em Curitiba

(MORO, 2012) não são valorizados pelo poder público, ficando, muitas vezes, em

segundo plano quanto a questões como acesso, acessibilidade, manutenção,

diversidade, segurança e desenvolvimento das habilidades motoras básicas. Esse

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fato se repete em todas as capitais brasileiras, com raríssimas exceções. Também

foi detectado em outra pesquisa sobre a temática (TSCHOKE, 2010) que existe um

contraste entre centro e periferia das cidades quando se analisa a oferta de

equipamentos para a prática de esportes, lazer e cultura destinados aos jovens de

determinadas regiões urbanas, o que dificulta e até mesmo impede a apropriação

desses ambientes (Figuras 24 e 25).

FIGURA 9: Parquinho da Praça Homero Morinobu Oguido, periferia de Curitiba

Fonte: TSCHOKE, 2010.

FIGURA 10 – Parquinho do Parque Passeio Público, Centro de Curitiba

Fonte: MORO, 2012

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Ambas as pesquisas ressaltam que os espaços para as experiências no

âmbito do lazer infantil e nas demais fases do desenvolvimento humano possuem

diversos problemas referentes à organização e infraestrutura que podem influenciar

negativamente as vivências lúdicas e, claro, as AFEs.

Outros problemas, como violência, uso abusivo de drogas e escassez de

ações efetivas no âmbito de políticas públicas de lazer, esporte e cultura tanto

municipais e estaduais quanto federal, assim como questões relacionadas à gestão

e administração dos espaços e equipamentos, também foram detectados como

fatores inibidores para potencializar as AFEs no meio urbano para jovens

(MACHADO, 2016).

A falta de acessibilidade aos espaços e equipamentos de lazer em grande

parte dos espaços públicos brasileiros dificulta o acesso de pessoas com mobilidade

reduzida, inibindo assim a possibilidade de escolha, pois restringe a garantia do

direito ao lazer, esporte e cultura para “todos” os cidadãos no meio urbano

(CASSAPIAN, 2011).

No entanto, os dados desses estudos também demonstram que é possível

a construção de um senso de responsabilidade coletiva pelo direito ao lazer, esporte

e cultura no meio urbano a partir das forças sociais, as quais possibilitam a

construção de elos entre o poder público e os usuários dos espaços públicos. Nessas

pesquisas, destacam-se exemplos em que os moradores do entorno de alguns dos

espaços de parques e praças em Curitiba – uma vez organizados em associações –

minimizaram a distância entre o poder público e a população, ou seja, entre a oferta

e a demanda, no que tange aos anseios da comunidade, recriando alguns espaços

e transformando outros em obras coletivas (FRANÇA, 2007; SANTANA, 2016).

Quando discutimos questões de ordem sociológica referentes ao processo de

desenvolvimento social e ambiental ao longo da vida, não podemos deixar de

contemplar aspectos ligados às diferentes dimensões do conhecimento, nessa

trajetória. Para Leff (2001, p.11):

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O mundo em que vivemos foi se tornando cada vez mais complexo como resultado da aplicação do conhecimento produzido ao longo da História. Dito isso, penso que a complexidade ambiental não é ecologização do mundo, nem é apenas a incorporação da incerteza, do caos e da possibilidade na ordem da natureza, como colocou Prigoginel. Ela é o entrelaçamento da ordem física, biológica e cultural; a hibridação entre a economia, a tecnologia e a vida. É o reconhecimento da outridade e de sentidos culturais diferenciados, não só como uma ética, mas como uma ontologia do ser, plural e diverso. Apreender a complexidade ambiental implica um processo de construção coletiva do saber, no qual cada pessoa aprende a partir do seu ser particular.

Portanto, ainda com base em Leff (2001), essa variedade de experiências e

a interação com o meio nessas fases da vida podem gerar a ampliação da cultura

lúdica nas grandes metrópoles e, consequentemente, melhor convívio social. Para

Gehl (2013, p. 118), “se as atividades básicas, ligadas aos sentidos e ao aparelho

motor humano, puderem ocorrer em boas condições, outras atividades relacionadas

à vida deverão se desdobrar em todas as combinações possíveis na dimensão

humana”.

Assim, a aquisição das habilidades motoras “é relativamente simples” a

partir do momento que a criança tem a liberdade e o incentivo do meio em que vive

para aprender a movimentar-se e explorar o mundo ao seu redor. Entretanto, o que

temos notado nas últimas décadas é totalmente o contrário, um meio ambiente que

proporciona cada vez menos oportunidades motoras devido às transformações

urbanas e sociais radicais pelas quais a sociedade tem passado. (RECHIA,

LADEWIG, 2014) No Gráfico 1 está demonstrado o número de horas trabalhadas

pela população no geral, apontada em pesquisa pelo IBGE (2015):

A exemplo de uma parceria público-

privada, pode-se citar a que ocorreu

com a concessão do Pavilhão de

eventos do Parque Barigui. Poderia ter

rendido muitas vantagens aos cidadãos

que fazem uso do parque, porém, de

acordo com Assis (2014), não foi o que

ocorreu. Apenas uma “maquiagem”

teria sido realizada, de forma que

necessidades básicas, como

bebedouros e banheiros adequados,

não foram sanadas, muito menos a

diversificação e qualificação das

estruturas já existentes no parque.

Nesse sentido, vemos que é possível a

coexistência da lógica capitalista, que

visa ao lucro, com os anseios e direitos

dos cidadãos, como o acesso ao lazer.

Porém, a mediação do Estado sob essa

relação deve ser muito próxima, a fim

de garantir que o coletivo seja

priorizado sob o individual, e não o

contrário.

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GRÁFICO 1 – Número de horas trabalhadas pela população no geral

Fonte: IBGE – Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por amostra de Domicilios, 2014- 2015.

Conforme pode ser observado no Gráfico 1, aproximadamente 60% da

população trabalha mais de 15 horas por semana, e a maioria, na faixa de 40 a 44

horas. Os pais estão trabalhando mais tempo fora de casa e, consequentemente,

deixando os filhos aos cuidados da escola ou de cuidadores na própria casa, inibindo

assim o acesso dessas crianças a outros espaços da cidade para praticar AFEs de

forma livre e criativa em parques, bosques e ruas.

Considerando essa situação, além do problema da falta de segurança, que

impede, em parte, as crianças de terem liberdade de sair de casa para brincar sem

a supervisão de um adulto, não são necessários dados específicos para observar

que, hoje, uma das maneiras mais utilizadas de mantê-las em segurança no espaço

privado é utilizando uma “babá eletrônica”: televisão, tablet ou videogame. O avanço

tecnológico tem proporcionado manter as crianças em casa, deixando-as mais

seguras. Por outro lado, esse senso de segurança tem trazido sérios problemas de

saúde para as crianças. Segundo a PNAD (IBGE, 2009a), os casos de obesidade

infantil (de crianças entre 5 e 9 anos de idade) mais do que quadruplicaram nos

últimos 20 anos, chegando a percentuais de 16,6% de meninos e 11,8% de meninas.

Segundo o Ministério da Saúde (SBEM, 2016), Porto Alegre é a capital com

maior quantidade de pessoas com excesso de peso (55,4%), seguida por Fortaleza

(53,7%) e Maceió (53,1%). Já na lista das capitais com menor índice de pessoas com

sobrepeso, estão São Luís (39,8%), Palmas (40,3%), Teresina (44,5%) e Aracaju

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(44,5%). São Paulo apresenta 47,9% de pessoas com excesso de peso. A proporção

no Rio de Janeiro é de 49,6%, e no Distrito Federal, de 49,1%.

Já a capital com mais obesos é Macapá (21,4%), seguida por Porto Alegre

(19,6%), Natal (18,5%) e Fortaleza (18,4%). As capitais com menor quantidade de

obesos são: Palmas (12,5%), Teresina (12,8%) e São Luís (12,9%). Em São Paulo,

a proporção de obesos é de 15,5%; no Rio de Janeiro, o percentual é de 16,5%; e

no Distrito Federal, os obesos representam 15% da população. A obesidade se

apresenta como uma epidemia a ser combatida, e as AFEs realizadas no tempo e

espaço de lazer podem ser um importante meio de reverter essa realidade.

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde (SBEM, 2016), outro fato

preocupante é a conclusão de que o sedentarismo aumenta com a idade. Para a Dra.

Rosana Radominski, presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade

Brasileira de Endocrinologia e Melabologia “o dado agravante é o aumento de mais

de 0,5% do excesso de peso e da obesidade em um ano. Isso é alarmante, se formos

extrapolar os dados para os próximos dez anos”, alerta a especialista.

Esses dados revelam que as políticas públicas urbanas no Brasil precisam

preparar as cidades para sanar tais problemáticas sociais, planejando espaços

públicos qualificados que possibilitem às pessoas em processo de envelhecimento a

prática de AFEs.

Uma pesquisa realizada por

Gomide (2002) com 825 crianças e

adolescentes de Curitiba, entre 7 e 17

anos, de ambos os sexos, revelou uma

quantidade de 26,4 horas semanais, em

média, passadas na frente da televisão,

no espaço privado. Isso representa

quase 4 horas diárias vivenciando

estaticamente a dimensão lúdica de

forma limitada. O estudo sobre

obesidade infantil (ver dados no quadro

a seguir) concluiu que, quanto maior o

tempo que as crianças e adolescentes,

de 5 a 15 anos, passavam assistindo à

T/V, maior o IMC (HANCOX; MILNE;

POULTON, 2004).

Um estudo de Hancox, Milne e

Poulton (2004), que

acompanharam o desenvolvimento

de 980 crianças a cada 2 anos, até

completarem 21 anos de idade,

verificou que 17% dos casos de

excesso de peso era consequência

de exposição excessiva à TV

durante a infância. Os autores

constataram uma relação entre o

ato de assistir à TV e o IMC (índice

de massa corporal), ou seja,

quanto maior o tempo que as

crianças e adolescentes de 5 a 15

anos passavam assistindo à TV,

maior o IMC, um significativo

indicador da obesidade e suas

relações com problemas de saúde.

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Pode-se então observar uma relação direta entre estilo de vida urbano,

obesidade e falta de AFEs cotidianas, repercutindo na falta de habilidade motora e,

consequentemente, estimulando a entrada em um círculo vicioso: a criança não faz

atividades motoras, por isso ganha peso e fica com a saúde global comprometida, e

consequentemente não terá prazer em realizar práticas corporais, fragilizando sua

relação com o meio social e ambiental ao longo da vida.

Para Gehl (2013), a interação entre saúde e urbanismo é um tópico amplo,

pois houve na sociedade inúmeras mudanças que levaram a novos desafios nessas

áreas. O modelo criado não proporciona aos indivíduos a oportunidade natural de

exercitar o corpo e gastar energia diariamente. O autor ressalta que, nos últimos dez

anos, em países com economias e sociedades similares, houve problemas de saúde

relacionados a estilo de vida. A obesidade tornou-se um problema no Canadá, na

Austrália e na Nova Zelândia, e cresce na América Central, na Europa e no Oriente

Médio. No Reino Unido, atinge cerca de um quarto da população adulta, enquanto

que no México e na Arábia Saudita chega a um terço.

Gehl (2013, p. 112) também afirma que o preço da falta de AFES como parte

da vida cotidiana é alto, pois gera diminuição da qualidade de vida, significativo

aumento nos custos da saúde e reduz a expectativa de vida. Para ele, uma resposta

lógica e valiosa para esses novos desafios seria o poder público “proporcionar

oportunidades para exercícios físicos e para algum tipo de autoexpressão”.

E aqui apontamos que investir em praças e parques públicos com

equipamentos para crianças, jovens, adultos e idosos pensados e planejados, a partir

de estudos e pesquisas, pode ser uma saída a essa complicada crise ambiental e

social. O ponto central é relativamente simples: as cidades devem propiciar espaços

lúdicos, em boas condições, para que as crianças caminhem, corram, parem,

sentem-se, observem, conversem, ouçam, sintam a relação com a natureza e

tornem-se adultos mais ágeis, motivados e inteirados com o meio em que vivem, e,

claro, em um ambiente saudável e sustentável. Para Borja (2003, p. 252):

Los niños son sujetos de derechos, desde su nacimiento, y gozan de los mismos derechos que el resto de los ciudadanos. Merecen protección, apoyo y tutela en algunos supuestos, pero nunca discriminación. [...] requieran equipamientos, espacios públicos y servicios específicos, pero no necesariamente separados del resto: hay que contar con ellos en la formulación de programas e todo tipo.

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Esses compromissos passam por um planejamento urbano adequado.

Acreditamos que a partir de políticas públicas mais efetivas, que busquem rever

esses modelos de espaços e equipamentos, qualificar os ambientes, administrar

conjuntamente com a comunidade, tendo como meta um equilíbrio entre oferta e

demanda, preservação e manutenção, educação e desenvolvimento, lazer e

natureza, práticas corporais e ludicidade, entre outras questões imprescindíveis para

o desenvolvimento infantil apontadas nesses estudos, terá que ser o caminho.

Segundo as pesquisas do GEPLEC, os espaços de lazer das cidades,

especialmente os parques e especificamente os espaços destinados às crianças,

devem contemplar brinquedos que possibilitem desafios e desenvolvimento da

cultura lúdica de forma ampla e ofereçam segurança e liberdade para que as crianças

explorem o ambiente natural. Tais espaços devem também despertar o desejo do

encontro, de estar com os diferentes, de criar e de realizar tarefas motoras básicas,

como correr, saltar, arremessar, subir, descer, quicar, rebater, etc., como também

contato próximo com elementos da natureza, como, por exemplo, caminhar sobre

troncos de árvores com diferentes alturas e espessuras, ter contato direto com a

água, a terra, o sol, e as dimensões sensoriais despertadas. Esses espaços devem

ser acessíveis a todos e, portanto, muito mais inovadores e criativos. Haveria assim

um equilíbrio maior na relação cidade/sujeito/natureza no meio urbano, pressuposto

básico da racionalidade ambiental defendida por Leff (2001).

Conforme já citado anteriormente, os parques da cidade francesa de

Rennes buscam contemplar esse equilíbrio. No Parque de Maurepas, há espaços

arborizados que oferecem sombra para as crianças que brincam, estruturas em boas

condições, bancos para os adultos se acomodarem enquanto supervisionam os

filhos, espaços livres e obstáculos. Outro exemplo na mesma cidade é o Parque do

Thabor, que conta com brinquedos com diversidade de formas de uso, acessíveis às

crianças pequenas com ou sem deficiências, garantindo sua autonomia. (Figuras 11,

12 e 13).

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FIGURA 11 – Modelos de balanço europeu, Barcelona, Espanha

Fonte: RECHIA, 2009.

FIGURA 12 – Modelos de escorregador europeu, Barcelona, Espanha

Fonte: RECHIA, 2009.

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FIGURA 13 – Modelo de brinquedo europeu: brinquedo de sons. Barcelona, Espanha

Fonte: RECHIA, 2009.

No Brasil, especificamente em Curitiba, também há exemplos de locais em

que as áreas infantis são potencializadas e proporcionam uma vida de mais

qualidade aos pequenos cidadãos que deles se apropriam. No Passeio Público

(Figura 14), o parque infantil possui boas condições de uso, facilidade de supervisão

dos adultos, integração a elementos naturais e acessibilidade às crianças com ou

sem deficiência.

FIGURA 14 – Área infantil do passeio público, Curitiba: exemplos de brinquedos multifuncionais

Fonte: MORO, 2012.

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Espaços como esses são de fundamental importância, pois o corpo em

movimento é também, e talvez fundamentalmente, um processo de educação

estética, de educação das sensibilidades, o que pode permitir aos cidadãos urbanos

desenvolverem o ato de observar, refletir, julgar e criticar a degradação ambiental a

partir do corpo e do estabelecimento de novos olhares acerca da vida e da realidade.

No entanto, Melo (2004) adverte que não se deve negligenciar que está ocorrendo

um claro processo de empobrecimento das sensibilidades, e isso tem relação com a

redução da capacidade de pensar, de se posicionar criticamente e de vivências no

espaço público.

Conscientes de que a sustentabilidade depende de diversos fatores, e que

o meio urbano é simultaneamente caótico e integrador, com suas relações objetivas

e subjetivas, acreditamos que um dos principais, mantenedores dessa possibilidade

de ampliar o acervo ambiental e cultural de crianças, jovens, adultos e idosos, para

que tenham um estilo de vida sustentável, vida longa e saudável, é o Estado, tendo

em vista seu compromisso na tarefa de oferecer educação formal e não formal.

CONCLUSÃO: A HUMANIZAÇÃO DAS CIDADES A PARTIR DAS PRÁTICAS DE AFES

Para compreender o fenômeno do espaço de lazer e suas múltiplas facetas,

é necessário analisar, segundo Gomes (2011), a relação próxima com os processos

históricos, sociais, políticos, trabalhistas, pedagógicos, econômicos, temporais,

espaciais, ambientais, simbólicos, entre outros. Para tanto, a produção científica

deve estar atenta às problemáticas citadas, ampliando as análises e aprofundando

os estudos e as pesquisas. A pesquisa e a produção de conhecimentos sobre o lazer

na América Latina estão ainda centradas:

No empirismo e na dimensão técnica da recreação em detrimento de fundamentos sociais, históricos, políticos e culturais, entre outros. Em geral, esses aspectos vêm sendo sistematizados no campo de estudos acadêmicos sobre o lazer – que é tratado como mais abrangente do que a recreação, seja no Brasil ou em outros países do mundo. Muitas vezes, destaca-se a importância de se repensar criticamente estes aspectos, pois, os problemas sociais, políticos e econômicos que marcam a região latino-americana precisam ser enfrentados de modo urgente ao invés de serem simplesmente disfarçados ou amenizados por programas recreativos (GOMES, 2011, p. 122).

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No plano concreto de ação, vimos como exemplo de interrelação lazer-

espaço público-cidadão o elevado Presidente João Goulart, em São Paulo, muito

conhecido como “Minhocão”7 (Figura 15). Essa avenida fica interditada para veículos

motorizados das 13 horas do sábado até as 6h30 da segunda-feira, a fim de

resguardar a qualidade de vida dos moradores dos prédios do entorno. Com a

interdição para os carros, ciclistas (adultos e crianças) e corredores foram se

apropriando do local e aos poucos transformando-o em um espaço de lazer.

FIGURA 15 – Elevado Presidente João Goulart

Fonte: By Lukaaz (Own work) [CC BY 3.0 (http://creativecommons.org/licenses/by/3.0) or GFDL (http://www.gnu.org/copyleft/fdl.html)], via Wikimedia Commons LINK: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a3/Minhoc%C3%A3o_-_Elevado_Presidente_Costa_e_Silva.JPG

De acordo com a reportagem da Revista Galileu (GALASTRI, 2016), muito

se fala da demolição dessa via em razão da desvalorização comercial dos imóveis

da região. Porém há movimentos sociais que defendem a formalização desse espaço

como área de lazer, para transformá-lo em um parque.

Entre o centro e a periferia das grandes cidades, há diferenças nos quesitos

manutenção, segurança, acesso e acessibilidade dos ambientes de lazer, o que gera

a apropriação de alguns e o esvaziamento de outros, desrespeitando a máxima de

que todos os espaços de lazer devem ser qualificados para potencializar o uso

contínuo, independentemente da área da cidade em que estejam localizados.

7 Construído em 1970 pelo então prefeito Paulo Maluf, o Elevado Presidente João Goulart, nomeado anteriormente de Elevado Presidente Costa e Silva e popularmente conhecido como “Minhocão”, começa no bairro de Perdizes, na Zona Oeste da cidade, e vai até a Praça Roosevelt, no centro. Com 3,4 quilômetros de extensão, faz parte da ligação leste-oeste e passa sobre a Rua Amaral Gurgel e a Avenida São João.

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Em muitas cidades, nos fins de semana, principalmente aos domingos, as

ruas são abertas para o trânsito de pessoas, em campanhas para desenvolver a

cultura lúdica/corporal do movimento. “O domingo é um bom dia por dois motivos: o

tráfego de carros é reduzido e as pessoas normalmente têm mais tempo para se

exercitar e experimentar” (GEHL, 2013), por isso, iniciativas como essas, embora não

bastem, são bem-vindas.

Em relação à infância, a carência de incentivo do poder público para

experiências significativas no âmbito do lazer para essa fase da vida, tanto em

relação à falta de equipamentos quanto à falta de espaços adequados, o que pode

influenciar a obtenção de hábitos em todo o percurso da vida.

Percebe-se ainda uma conexão entre algumas regiões mais valorizadas da

cidade, principais pontos turísticos e áreas de lazer, o que pode estar relacionado

com a ideia do citymarketing. Para Sánchez (1997, p. 270):

os lugares públicos funcionam como se fossem vitrines, idealizados para servirem de cenários de uma sociabilidade forçada, uma estetização das relações sociais, fazendo parte da “cidade-espetáculo”. [...] Os projetos dos espaços públicos da cidade-espetáculo fabricam, na realidade, “uma identidade fake”, e celebram uma “anti-memória coletiva” e uma imaginação na lógica redutora ao idên¬tico, “que esconde as marcas do tempo, reprime as metamorfoses do espaço”.

Esses espaços emblemáticos das cidades constituem-se, muitas vezes, em

uma “marca identitária”8. Dessa forma, segundo as pesquisas, a partir dessa marca

da cidade-espetáculo, o cidadão sente-se pertencente a esses locais e mostra-se

satisfeito com suas características, mas ainda participa pouco das tomadas de

decisões referentes aos espaços e equipamentos públicos de lazer.

Considerando os benefícios e as transformações sociais que os

espaços e equipamentos públicos de lazer podem proporcionar, observa-se que,

quanto mais experiências significativas esses ambientes oferecerem, maior será a

probabilidade de serem frequentados, e para que isso ocorra, é preciso haver,

manutenção, segurança, opções diversificadas de atividades, equipamentos e

acessibilidade, dentre outras características.

8 Aqui, a definição “marca identitária” é utilizada no sentido dado por Yázigi (2001, p. 49), que entende a ideia identitária de um lugar como uma “diferenciação espacial que reúna um conjunto de características, fundamentada na geografia física; em suas instituições; sua vida econômica, social e cultural (com destaque para a paisagem construída). Trata-se de um fenômeno total, não reduzível a uma única propriedade, sob o risco de perda de seu caráter [...] a identidade regional é acentuada pela natureza e a identidade local por todas as formas de construção arquitetônico-urbanístico, com tudo que comportam em si”.

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Essa discussão remete, à importância da participação da comunidade

na hora de projetar, desenvolver ou implantar programas de lazer e esporte em

espaços públicos das cidades, inclusive no que tange às questões orçamentárias.

Alguns problemas identificados nas pesquisas analisadas são o vazio, a

desapropriação e até mesmo a depredação dos locais. Um dos motivos desses

possíveis problemas está provavelmente no fato de que grande parte da população

ainda não compreende o lazer como um direito social e o espaço público como “seu”.

Além disso, pesquisas analisadas mostraram que, quando a comunidade coparticipa

da gestão dos espaços públicos, a partir da organização coletiva, cuida, reivindica e

busca seus direitos.

Identifica-se que os espaços públicos destinados às experiências no

âmbito do lazer, quando bem planejados, com estrutura diversificada, com boa

manutenção e com a coparticipação comunitária, tornam-se atrativos ao uso. O que

comprova a importância da beleza do lugar não como um luxo, mas, segundo Borja

(2003), como justiça democrática. Assim, investir na beleza do lugar, a partir de

cenários pensados e planejados, pode potencializar o uso comunitário, agradável e

seguro desses ambientes, gerando, portanto, uma vida de qualidade nas grandes

cidades.

Compreendemos que uma vida de qualidade está sustentada, em grande

medida, em direitos sociais imprescindíveis, como saúde, educação, moradia,

saneamento básico, entre outros, como esporte, lazer e cultura, já garantidos pela

constituição brasileira. Tais direitos devem equilibrar-se entre perspectivas objetivas

e subjetivas da vida cotidiana. No âmbito subjetivo, uma vida de qualidade é ter o

desejo de apropriar-se de lugares adequados, entendido como locais de descanso e

(re)equilíbrio, os quais devem estimular e desenvolver a potência humana.

Pensar numa cidade de qualidade remete a muitos fatores, grande parte já

citada neste estudo. No tocante ao espaço citadino e ao lazer, Gehl (2013, p.158)

aponta a questão de criar cidades vivas e saudáveis. Para que isso se efetive, é

preciso “o convite para que as pessoas se expressem, joguem ou se exercitem no

espaço urbano”. O autor ainda comenta “as novas instalações do brincar e/ou boas

cidades para o dia a dia”, confirmando que “equipamentos e instalações para jogos

e muitos tipos diferentes de academias esportivas, pistas de caminhada, de skate e

parques temáticos ambiciosos com desafios físicos têm sido criado para crianças e

entusiastas do esporte” (p. 161). Todavia, Gehl destaca a necessidade de garantir a

qualidade e condições para caminhar e pedalar nas cidades, para todas as horas e

dias do ano.

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Se a discussão é proporcionar vida de qualidade, é preciso haver espaços

atrativos, de qualidade, que atendam a diferentes faixas etárias e estimulem as

práticas corporais, a criatividade e as atividades culturais.

Nesse sentido, torna-se de grande relevância social identificar, por

meio de estudos e pesquisas, as características estruturais e culturais dos espaços

e equipamentos para a prática de AFES de lazer, para o estabelecimento de políticas

públicas que efetivem tal direito e, consequentemente, o direito à cidade mais

humanizada no Brasil.

Faz-se necessário a luta para a conscientização da população, por meio

uma atuação mais intensa de órgãos das prefeituras, como as Secretarias

responsáveis pelas políticas públicas de esporte e lazer, de que o espaço público

não é terra de ninguém, mas sim de todos. Além disso, é imprescindível o

planejamento, a manutenção e a gestão dos espaços e equipamentos para oferecer

e estimular a prática da cultura corporal do movimento nos parques, praças e ruas

das cidades.

Sugere-se para futuros estudos o acompanhamento dos processos de

construções e revitalizações dos espaços públicos e a comparação entre diversos

locais, os quais possam gerar diagnósticos mais aprofundados das implicações

desses ambientes para uma vida de qualidade nos centros urbanos, no que tange à

gestão dos espaços públicos para as práticas de Atividades Físicas Esportivas e

consequentemente para a humanização das cidades.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTP (Associação Nacional de Transporte Público. Sistema de Informações da Mobilidade Urbana: Relatório Comparativo 2003-2014. Sistema da informação em Mobilidade Urbana. 2016.

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