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Atividades físicas e esportivas (AFEs) e cultura popular
Dulce Maria Filgueira de Almeida Letícia Rodrigues Teixeira e Silva Ana Amélia Neri Oliveira Priscila Almeida Suassuna
As informações e opiniões prestadas nesta publicação são de responsabilidade dos respectivos autores e não necessariamente refletem a opinião dos editores.
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INTRODUÇÃO
As atividades físicas e esportivas (AFEs) são práticas corporais, que se constituem
como parte do acervo cultural da humanidade, tendo como um dos mais importantes
vetores de expressão a cultura popular. O movimento intelectual em direção à
compreensão e evidência das variadas perspectivas acerca da cultura popular tem
origem nos estudos embrionários acerca do tema. Tais estudos apresentavam como
principal preocupação a proteção e salvaguarda do patrimônio do povo, a fim de que
as sociedades humanas pudessem dele ter conhecimento no futuro. Para tanto, seria
necessário não apenas identificar as práticas, mas também registrá-las como
manifestações da cultura popular ou do folclore (CÂMARA CASCUDO, 2003).
Em seus significados, a cultura popular privilegia a diversidade de práticas que se
conformam nas experiências humanas e se marcam e demarcam na corporeidade. Dito
de outro modo, a cultura popular se materializa na corporeidade dos sujeitos,
produzindo sentidos e significados por meio de práticas, pela tradição e pela
transmissão oral.
A salvaguarda da cultura popular1, por exemplo, constituiu-se como uma das mais
importantes formas de materialização dos esforços para a proteção do patrimônio
imaterial. No entanto, essa ação apenas ganha fôlego no contexto brasileiro em
decorrência de normativas internacionais, notadamente das Nações Unidas, que ao fim
e ao cabo influenciou a definição do Decreto nº 5.753 de 2006. Notadamente, a
existência desse decreto representa um fato importante para a defesa, preservação e
salvaguarda dos bens culturais, inserido nesse escopo práticas relacionadas às AFEs,
como a capoeira (VIEIRA, 2012).
Além da capoeira, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que
visa à conservação e proteção de bens materiais e imateriais no Brasil, reconhece
como patrimônio imaterial 37 manifestações culturais brasileiras. Dessas, cinco estão
inscritas também como patrimônio imaterial da humanidade junto à Unesco, quais
sejam: samba de roda (2008), arte kusiwa (2011), frevo (2012), Círio de Nazaré (2013) e
roda de capoeira (2014).
Frente ao estabelecimento de normativas internacionais, no Brasil, as discussões
acerca da cultura popular são historicamente marcadas por contradições, dissensos e
1 São entendidas como a materialização dos elementos da cultura e elencadas como patrimônio cultural imaterial as seguintes manifestações culturais: a) tradições e expressões orais, incluindo o idioma como veículo do patrimônio cultural imaterial; b) expressões artísticas; c) práticas sociais, rituais e atos festivos; d) conhecimentos e práticas relacionados à natureza e ao universo; e e) técnicas artesanais tradicionais (art. 2º CSPCI, 2003).
As informações e opiniões prestadas nesta publicação são de responsabilidade dos respectivos autores e não necessariamente refletem a opinião dos editores.
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conflitos entre diferentes interlocutores. Essas diferenças se colocam tanto do ponto
de vista de um certo protecionismo saudosista, quanto de uma perspectiva de encarar
a cultura popular como entrave para as mudanças advindas do novo modelo de
sociedade no contexto do desenvolvimentismo. Assim, faz-se necessário imergir
nessa discussão para poder apresentar as nuances de como vem sendo alinhavado o
entendimento de cultura popular no Brasil.
Na cultura brasileira, o termo “popular” apresenta conotação polissêmica. Inicialmente
interpretado como folclore, a cultura popular foi sendo revisitada por estudiosos do
tema no Brasil, sendo possível identificar distintos enfoques, ou abordagens, voltados
para o estudo do folclore e da cultura popular. Essas distintas abordagens forjam
disputas pela definição de conceitos e de categorias analíticas em espaços como o
acadêmico, político e artístico. Nesses espaços, transitam perspectivas variadas. a)
Aqueles que se dedicam ao campo das tradições culturais por meio de uma visão
folclorista ou até mesmo romântica do folclore (cultura popular). b) Pesquisadores do
campo das Ciências Sociais, inquietos e até mesmo avessos aos discursos folcloristas
e românticos, buscando bases para a transformação social, o que pressuporia a
ruptura com as tradições. c) Os gestores públicos preocupados em desenvolver ações
e instrumentalizá-las com base em pesquisas desenvolvidas. E, por fim, encontram-se
d) as perspectivas de artistas e comunidades tradicionais.
Na primeira parte do texto, pretende-se discutir o conceito de folclore e cultura popular,
com base em contribuições de autores brasileiros. Na sequência, realiza-se um
apanhado geral sobre o debate premente no campo das Ciências Sociais sobre o tema.
A ideia é fazer um passeio por alguns trabalhados que foram considerados precursores
ou vitais para o amadurecimento dos estudos sobre cultura popular no Brasil.
Posteriormente, aborda-se a questão da cultura popular e das alteridades, refletindo
acerca do movimento de construção da cultura popular como algo que está além da
produção de identidades, colocando-se no âmbito do alter (outro). Após essa
discussão, apresenta-se algumas manifestações das práticas corporais no Brasil,
buscando-se, por meio da identificação de algumas práticas, a possibilidade de
registro do acervo humano que se encontra na base de nossa cultura. Por fim, são
evidenciadas algumas recomendações a título de conclusão.
1. No lastro da cultura popular no Brasil
1.1. Folclore, o início de tudo
Muito do que se denomina de popular na cultura diz respeito ao que é
brasileiro. Assim, o popular vincula-se às raízes culturais, referenciadas por tradições
indígenas, ibéricas, africanas e de outros povos que contribuíram para a formação
As informações e opiniões prestadas nesta publicação são de responsabilidade dos respectivos autores e não necessariamente refletem a opinião dos editores.
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do tecido social brasileiro. Nesse sentido, verifica-se que a identidade da cultura
popular e tradicional brasileira foi constituída a partir desse mosaico cultural, sendo
o termo “identidade” compreendido não apenas no seu sentido literal, mas,
igualmente, no sentido de marcar ou demarcar lugares identitários,
independentemente de diferenças étnicas ou regionais2.
É pertinente apontar que as diversidades cultural e étnica, ao passo que
singularizam a identidade nacional, ampliam os abismos sociais a fim de demarcar
diferenciações. Apesar dessas facetas, deve-se reconhecer que tais diversidades
continuam parte da constituição da identidade brasileira.
Ariano Suassuna (1997), escritor e dramaturgo, e um dos autores
responsáveis pela ampliação do debate acerca da cultura popular no Brasil, advoga
que a cultura popular brasileira não tem como marco o processo de colonização no
Brasil. Segundo Suassuna (1997), a cultura popular brasileira existe desde os
primeiros momentos de presença humana em nossas terras. Sendo assim, a cultura
popular no Brasil nasce com os registros arqueológicos, cuja presença humana
ocorreu há 11 mil anos. Os escritos arqueológicos na Pedra do Ingá, localizada no
sertão da Paraíba, são a maior evidência disso, de acordo com o escritor paraibano.
Esse exemplo é utilizado por ele para mostrar que parte de nossa cultura é, por
vezes, negada pela história oficialmente contada e registrada no Brasil e que remonta
a um passado muito mais longínquo daquele que denota a história oficial, suscitando,
na interpretação do autor, a coexistência de duas histórias: a oficial e a oficiosa. A
oficial seria a que está disposta nos livros didáticos e nos registros gerais, enquanto
a oficiosa é a construída pela cultura popular na sua relação tempo-espaço, sendo
continuamente modificada pelo homem comum, o homem do povo, nas palavras de
Suassuna (1997).
Autores como Câmara Cascudo (2003) e Florestan Fernandes (1979)
podem ser enunciados como precursores no estudo da cultura popular no Brasil.
Após, os trabalhos de Chauí (1993), Brandão (1983) e Renato Ortiz (1994)
integraram os estudos no tema, trazendo contribuições acerca do sentido de cultura
popular e identidade nacional.
2 A esse respeito, cumpre fazer duas observações. A primeira se refere ao fato de que os reconhecimentos feitos pela Unesco foram recentes, sendo o primeiro datado de 2008, o que sugere que, antes do Decreto nº 5.753 de 2006, essas manifestações não recebiam amparo do Estado visando a sua transmissão, divulgação e proteção. A segunda, relaciona-se ao escasso rol de cultura imaterial reconhecida, dado que o Brasil é um país, por sua dimensão continental e diversidade, rico em manifestações da cultura popular. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/cultural-diversity/>. Acessado em: 20 out. 2016.
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Da origem da palavra folclore (folk-lore)3, saber popular, tradição flutuante e
de origem imprecisa, nasce a cultura popular. Aqui estariam identificadas
antiguidades, superstições e curiosidades oriundas do povo. Câmara Cascudo
(2003) afirma em Antologia do folclore brasileiro, com base em Silvio Romero (jurista
e folclorista brasileiro, que viveu entre 1851 e 1914), que, no primeiro século da
colonização, enquanto o português lutava, vencia e escravizava; o índio se defendia
e era vencido; o africano trabalhava, mas todos deviam cantar. Isso porque, conforme
explica Câmara Cascudo (2003, p. 279): “Todos deviam cantar, porque todos sentiam
saudades; o português de seus lares, d’além mar; o índio, de suas selvas, que ia
perdendo; e o negro, de suas palhoças, que nunca mais havia de ver”. Essa mescla
cultural foi amalgamada e, com base na língua do vencedor – o português –, formou-
se nos séculos seguintes os cantos populares, contribuindo para o desenvolvimento
do folclore brasileiro e do que mais tarde iria se chamar cultura popular.
No entanto, na literatura que trata do assunto, folclore e cultura popular são
apresentados de quatro formas. A primeira classificação preconiza a ideia de que
folclore é a reprodução das tradições culturais. A segunda trata folclore e cultura
popular como categorias distintas, embora a cultura popular apresente um domínio
mais amplo do que o folclore. A terceira, por sua vez, afirma que folclore não existe,
portanto, há nessa acepção a negação do folclore. A quarta e última apresenta que
folclore e cultura popular são categorias que se associam, porém, mais do que isso,
atendem ao mesmo significado. Veja o que diz Carlos Rodrigues Brandão:
Na cabeça de alguns, folclore é tudo que o homem do povo faz e reproduz como tradição. Na de outros, é so uma pequena parte das tradiçoes populares. Na cabeça de uns, o domínio do que é folclore é tão grande quanto o do que é cultura. Na de outros, por isso mesmo, folclore não existe e é melhor chamar cultura, cultura popular o que alguns chamam folclore. E, de fato, para algumas pessoas as duas palavras são sinonimos (1983, p. 23).
Com base na relação parte-todo, utilizada por Durkheim (1989) para explicar
como os fatos sociais podem ser tratados como totalidade, isto é, como
individualidades históricas em determinadas circunstâncias, traz-se uma
representação gráfica para expressar as distintas interpretações da relação (ou não)
entre cultura popular e folclore dada por estudiosos do tema no Brasil e que são
sintetizadas por Carlos Rodrigues Brandão em seu livro O que é folclore.
3 Termo cunhado pelo arqueólogo inglês William John Thoms em 1846 para designar o saber do povo.
As informações e opiniões prestadas nesta publicação são de responsabilidade dos respectivos autores e não necessariamente refletem a opinião dos editores.
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(a) Folclore e cultura popular existem, mas são distintos fenômenos,
porém de igual importância:
(b) Para aqueles que buscam distinguir folclore e cultura popular, o
folclore seria apenas uma pequena parte da cultura popular.
(c) Há também os que compreendem que folclore e cultura popular
atendem ao mesmo domínio.
(d) Há ainda os que defendem que folclore não existe, sendo mais
importante falar-se em cultura popular em vez de folclore.
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Diante de todas as nuances que se reveste esse debate, opta-se aqui pela
utilização do termo folclore e cultura popular como fenômenos que se materializam
em contextos históricos e culturais distintos. Acredita-se, dessa forma, que o termo
cultura popular atualiza o conceito de folclore, dando-lhe uma dimensão propositiva,
que se vincula com o reconhecimento das tradições culturais, além de buscar o
estabelecimento de políticas que venham salvaguardar o que foi e é cotidianamente
produzido pelo povo. Essa interpretação afina-se com o que assinala Cavalcanti
(1980), no sentido de que folclore e cultura popular são fatos historicamente
construídos no processo de desenvolvimento civilizatório, atendem a diferentes
paradigmas conceituais e apresentam significados que variam ao longo do tempo.
1.2. O debate sobre folclore e cultura popular no contexto brasileiro do século XX
Os primeiros trabalhos sobre folclore no Brasil tratavam da poesia e da
literatura oral, depois voltaram-se para a música, posteriormente para os folguedos
populares e, na contemporaneidade, tais pesquisas demonstram um olhar mais
ampliado, compreendendo folclore, ou melhor dizendo, cultura popular como um
conjunto de manifestações que apresentam sentido e significado para determinado
grupo social, percebendo os fatos da cultura como processos sociais totais.
Concorda-se com o que diz Cavalcanti: “Trata-se de procurar compreender como
esses diferentes aspectos e níveis diferenciados da cultura se articulam em
processos sociais concretos de forma muitas vezes surpreendentes” (1980, p. 3).
Notadamente, foi no período pós-guerra que a trajetória dos estudos do
folclore no Brasil foi alavancada. Tratou-se de um movimento que reuniu, entre outros
intelectuais, Câmara Cascudo, Gilberto Freyre, Arthur Ramos e Edison Carneiro.
Atentava-se à época para um movimento de defesa do folclore brasileiro e de
proteção das artes populares. Cavalcanti (1980) ressalta que foi criada a Comissão
Nacional do Folclore (1947), que estava articulada pelo Instituto Brasileiro de
Educação Ciência e Cultura do Ministério das Relações Exteriores e pela
Organização das Nações Unidas, por meio da Unesco e, posteriormente, deu origem
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à Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro (1958), vinculada ao Ministério da
Educação e Cultura.
A Campanha teve dois grandes impactos: fomentou pesquisas de difusão
cultural e alimentou um debate intelectual no país acerca do folclore em diálogo com
as Ciências Sociais. Os estudos folcloristas de então, que podem estar situados nos
autores do pensamento social brasileiro, devotavam à autenticidade da cultura
brasileira ao folclore.
Nesse contexto, tudo leva a crer na possibilidade do estabelecimento de
relações entre os estudiosos do folclore e as Ciências Sociais. No entanto, essa
relação apresenta uma tensão. Enquanto a disciplina antropológica, principalmente
os estudos de antropologia cultural, tendia a se aproximar dos estudos e das
perspectivas dos folcloristas; a Sociologia, em busca de certo padrão de
cientificidade e revestida de um caráter mais intelectualista, derivada dos estudos do
Florestan Fernandes, acreditava na interpretação de que só ela era capaz de
apresentar estudos contundentes sobre o folclore (CAVALCANTI, 1990).
A visão premente na construção do pensamento sobre folclore –
apresentada em As “trocinhas” do Bom Retiro, texto emblemático de Fernandes
(2004) sobre o folclore na cultura infantil em São Paulo – é a de que folclore é tudo
que se remete ao passado, isto é, “apego ao passado”, às sobrevivências, à imitação
que fazem as crianças das práticas dos adultos (CAVALCANTI, 1980). A socialização
das crianças e a composição do gesto tradicional são as duas principais conclusões
a que chegou Fernandes (2004). Para ele, o valor pedagógico desses dois processos
é distinto. O primeiro é compreendido como algo positivo, por engendrar mecanismos
de troca e interação social das crianças. Porém, o segundo elemento retrata a
condição de retorno ao passado, que se encontrava em processo de mudança. Como
conclusão geral, o autor se limita a evidenciar que o folclore está chegando a termo
em razão do padrão de mudança social da cidade de São Paulo. Com efeito, o fim
da cultura do folk é peremptório em detrimento da tecnologia, pensamento e ciência
racional.
Se, de um lado, as transformações sociais das décadas de 50 e 60 do século
XX no Brasil pareciam gradativamente extinguir o folclore, como acima evidenciado
por Fernandes (1979), de outro “... houve um movimento para a coleta e salvaguarda
das tradições culturais, com a finalidade de registrar, documentar e colecionar
cançoes, contos, poesias, provérbios, peças artesanais, costumes e crenças...”
(COSTA, 2015, s/p).
As informações e opiniões prestadas nesta publicação são de responsabilidade dos respectivos autores e não necessariamente refletem a opinião dos editores.
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1.3. Cultura popular e alteridades
Fazendo-se uma analogia com o uso do termo cultura conforme análise
empreendida por Manuela Carneiro da Cunha (2009), carece reconhecer que há uma
diferença do conceito do plano prático, cotidiano, para o plano de análise. A autora,
ao se referir ao termo cultura, mostra que para sua compreensão é necessário um
deslocamento. Porém, esse deslocamento não é casual, ele ocorre por meio da
constituição de alteridades, que forjam suas escolhas numa possibilidade de
comunicação, inserção e demanda por políticas públicas.
Inspirado nessa compreensão, Csermak (2013), em uma dissertação
apresentada ao Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, intitulada
Pro povo é festa, pra gente é outra coisa: cultura popular, raça e políticas públicas
na comunidade negra dos Arturos, apropria-se da noção de cultura apresentada por
Cunha (2009) e a aplica como analogia para a compreensão da cultura popular. A
principal justificativa de Csermak para a utilização das duas acepções de cultura
popular está assentada na relação de alteridade decorrente do traslado do termo
cultura popular da Europa para o Brasil e outros países americanos. Nesse trajeto, a
cultura popular passou a significar uma “alteridade do encontro colonial”, diz Csermak
(2013, p. 15). Com efeito, para esse autor, as culturas populares – entendidas no
plural por se reportarem aos sujeitos do processo de produção da cultura – assimilam
e utilizam o termo cultura popular“(...) que se constitui como um meio de tradução de
sua experiência para outros grupos sociais, assim como uma maneira de demandar
políticas e recursos frente a um Estado que reifica cultura popular enquanto um
objeto de seus atos” (CSERMAK, 2013, p. 15).
Chauí (1993), por seu turno, no livro Conformismo e resistência, empreende
uma interessante análise acerca da forma como se deu a construção do sentido de
popular em nossa cultura, enveredando sua preocupação pelo entendimento de que,
em algumas situações, as classes dominantes, hegemônicas, tendem a obscurecer
o sentido do que é popular, como forma de negar a voz dos subalternizados. Essa
compreensão de Chauí se assemelha a de Cavalcanti (1980) por considerar que a
adjetivação de popular ao termo cultura está atrelada a uma visão que é exteriorizada
por pessoas das classes dominantes para se referir à cultura produzida por meio de
práticas corporais das classes subalternizadas. Assim, Chauí questiona quais são as
bases e critérios construídos para se definir que uma cultura é popular ou não? E,
nessa mesma linha, também inquieta-se ao problematizar se o termo adequado seria
realmente “cultura do povo” ou “cultura para o povo”. Concorda-se, desse modo, com
As informações e opiniões prestadas nesta publicação são de responsabilidade dos respectivos autores e não necessariamente refletem a opinião dos editores.
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Chauí (1993) quando ela considera que a classificação de cultura popular está
vinculada a uma concepção de alteridade, eis que são as classes dominantes que
classificam como popular aquilo que é construído pelo povo como manifestações e
práticas culturais, que se ancoram em suas tradições.
Todavia, entende-se ser correto afirmar que, as duas acepções de cultura
popular – como categoria analítica e como categoria social – se entrelaçam e se
distanciam conforme um movimento dialético, dependendo das circunstâncias
sociais em que estão sendo aplicadas.
A expressão cultura popular, como já foi bastante observado, é de difícil
definição. Seria a cultura do povo ou a cultura para o povo? A dificuldade, porém, é
maior ao lembrar que os produtores dessa cultura – as chamadas classes “populares”
– não a designam com o adjetivo “popular”, designação empregada por membros de
outras classes sociais para definir as manifestaçoes culturais das classes ditas
“subalternas”. Assim, trata-se de saber quem, na sociedade, designa uma parte da
população como “povo” e de que critérios lança mão para determinar o que é e o que
não é “popular”. Conforme Costa (2015, s/p): “a cultura popular, como expressão
cultural dos segmentos menos favorecidos, apartados do poder político e econômico,
manteve-se em foco durante muito tempo, gerando contraposições, tais como erudito
x popular, moderno x tradicional, hegemonico x subalterno”.
Com isso, entende-se que frente às modificações interpostas às concepções
de cultura popular, folclore, cultura e tradições orais, parece conveniente defender
que são conceitos que se hibridizam segundo as práticas sociais – que também são
corporais – mas que se sustentam em suas dimensões materiais por meio do sentido
de cultura popular. Essa hibridação é constituída conforme processos comunicativos,
que integram diversos sistemas simbólicos dos grupos sociais, sejam eles produtores
ou reprodutores da cultura.
2. Práticas corporais no Brasil: alguns registros
A cultura popular materializa-se em práticas instituídas por grupos sociais,
que buscam na manutenção das tradições culturais uma forma de perpetuação de
valores e habitus. Aqui merece menção o fato de que esse acervo cultural da
humanidade se consubstancia em manifestações culturais de determinada
comunidade (NISBET, 1973) que são herdadas e transmitidas, principalmente, pela
oralidade.
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Desde os cronistas nos séculos XVI, XVII e XVIII, parece haver um interesse
pelo registro de manifestações da cultura popular no nosso país. Câmara Cascudo
(2003) já observava atentamente os primeiros apontamentos das práticas corporais
por meio do espanto de Gaspar de Carvajal, frade dominicano espanhol, que, em
visita à foz do rio Amazonas, em 1541, se assusta com o poder de resistência dos
índios do Amazonas, bem como com as Amazonas, “(...) estas mulheres são muito
alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entrançado e enrolado, na cabeça. São
muito membrudas e andam nuas em pelo, tapadas as vergonhas, com os seus arcos
e flechas nas mãos ...” (CÂMARA CASCUDO, 2003, p. 24).
Outro registro da época dos cronistas, que se constitui como base de nossa
cultura popular por meio de lendas, é o curupira. A primeira observação do curipira
foi realizada pelo Padre José de Anchieta, também de origem espanhola e que viveu
no Brasil até sua morte, em 1553. Veja-se a descrição: “é coisa sabida e pela boca
de todos corre que há certos demônios, a que os Brasis chamam curupira, que
acometem aos índios muitas vezes no mato, dão-lhes açoites, machucam-os e
matam-os. São testemunhas disso os nossos Irmãos...” (CÂMARA CASCUDO, 2003,
p. 30). Esses escritos, que datam de 1560, mostram que os índios brasileiros eram
perseguidos e açoitados por espíritos malignos, denominados curupiras. Além
destes, os registros do Padre Anchieta também se reportam aos baetatás, cuja
etimologia da palavra significava coisa de fogo, atualmente denominados por
boitatás; eles cumpriam a mesma função, amedrontar os indígenas que corriam pelas
matas. As explicações dadas para a existência dos demônios são bastante
intrigantes. Segundo o Padre, esses fenômenos ocorriam com os Brasis – como
chamavam os índios – em razão de eles não possuírem a crença em Deus, por esse
motivo, os demônios exerciam sobre eles forte tirania.
Após os cronistas, surgem as figuras dos viajantes estrangeiros entre os
séculos XIX e XX. Dentre esses cronistas enunciados por Câmara Cascudo (2003),
destaca-se a descrição feita por Henry Koster4 sobre as danças de índios, negros e
escravos no Jaguaribe:
(...) Os escravos igualmente pediam permissão para suas danças. Os instrumentos musicais eram extremamente rudes. Um deles é uma espécie de tambor, formado por uma pele de carneiro, estendida sobre um tronco oco de árvore. O outro é um grande arco, com uma corda tendo uma meia quenga de coco no meio, ou uma pequena cabaça, amarrada. Colocam-na contra o abdômen e tocam a corda com o dedo ou com um pedacinho de pau. Quando
4 Nasceu em Portugal, mas era filho de pais ingleses, vivendo em Pernambuco a maior parte de sua vida, tornando-se senhor de engenho.
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dois dias santos se sucediam ininterruptamente, os escravos continuavam a algazarra até a madrugada (CÂMARA CASCUDO, 2003, p, 72).
É interessante observar na descrição realizada por Koster e citada por
Câmara Cascudo que já havia indícios do uso do berimbau entre dezembro de 1809
e 1815, período em que Koster viveu no Brasil.
A cantiga dos canoeiros do Amazonas, as festas populares de Santarém em
1849, a lenda do boto, conquistador feminino e tabu, também foram registros
importantes da passagem dos estrangeiros no Brasil. Nesse caso, os relatos foram
de Henry Walter Bates, inglês, que permaneceu no Brasil entre 1848 e 1859. As
festas populares por ele registradas eram sobretudo religiosas. Ressalta, entre outros
aspectos, os instrumentos musicais utilizados, notadamente o cavaquinho, e salienta
que participavam das festas gente velha e nova, brancos, negros e índios.
Dentre os visitantes estrangeiros, Câmara Cascudo (2003) apresenta alguns
estudiosos dos séculos XIX e XX que contribuíram no registro de parte de nosso
patrimônio imaterial. No registro deles constava o bumba-meu-boi no Recife (1840);
as alcunhas de Porto Alegre e outras alcunhas; as quadrinhas populares do Rio
Grande do Sul; as lendas como conteúdo da educação intelectual, tais como: “O
jabuti e o veado”, “O jabuti e o gigante” e “Não faças bem sem saber a quem”. Entre
esses estudiosos, podemos enfatizar a presença de Miguel do Sacramento Lopes
Gama, natural de Recife/Pernambuco, monge beneditino, que viveu entre 1791 e
1852, e que realizou como feito o registro do bumba-meu-boi; e Silvio Romero, que
viveu entre 1851 e 1914, e é considerado um grande expoente dos estudos sobre
folclore no Brasil, com vasta produção bibliográfica.
2.1. Registro de práticas corporais da cultura popular
As AFEs como práticas corporais se materializam em manifestações
culturalmente construídas pelos seres humanos. Nesse âmbito, o conceito de cultura
corporal contribui para que se tenha a dimensão de que, como tais, as AFEs possuem
como fundamento de sua constituição a cultura humana. De acordo com o Coletivo
de Autores (1992),
O homem se apropria da cultura corporal dispondo sua intencionalidade para o lúdico, o artístico, o agonístico, o estético ou outros, que são representações, ideias, conceitos produzidos pela consciência social e que chamaremos de “significaçoes objetivas”. Em face delas, ele desenvolve um “sentido pessoal” que exprime sua subjetividade e relaciona as significações objetivas
As informações e opiniões prestadas nesta publicação são de responsabilidade dos respectivos autores e não necessariamente refletem a opinião dos editores.
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com a realidade da sua própria vida, do seu mundo e das suas motivações (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 41).
Com efeito, em uma maneira extensiva, pode-se compreender que os jogos,
as brincadeiras, as danças e folguedos populares constituem os elementos da cultura
popular como parte do acervo humano, que estão referenciados pelos padrões
lúdico, artístico, agonístico e estético, como mostram os autores acima reportados.
Aqui se apresentam alguns elementos de práticas corporais que constituem
a cultura corporal, que serão caracterizados a seguir e registrados como práticas
corporais no universo das atividades físicas e esportivas.
2.1.1. Jogos e brincadeiras populares
Huizinga (2004) considera o jogo como uma prática social diferenciada.
Caracterizado pela ludicidade, é uma atividade voluntária, realizada em momentos
de tempo livre. Torna-se obrigação somente quando constitui uma função cultural
reconhecida, como o ritual. Trata-se, desse modo, de uma prática social livre e
desinteressada, que não diz respeito à satisfação das necessidades materiais, mas,
por ter finalidade autônoma, consiste em sua própria realização.
Tendo a rua como espaço de realização do tempo livre e lazer, Soares et
al., (2012) registraram alguns jogos e brincadeiras. Para os autores, os jogos de
travinha, baleado5 e futevôlei constituem espaços e tempos de interação social, tendo
suas regras reguladas de acordo com os jogadores, o que ajuda a reafirmar um
sistema complexo de interação por meio de experiências culturais.
Já Marin et al. (2012) catalogaram jogos identificados como tradicionais, que
fazem parte da cultura popular da região Sul do Brasil, mas que também podem ser
encontrados evidentemente em outras regiões. São eles: bocha, bolão, bolão de bola
presa, bolão de mesa, bolão de corda, boliche de chucrutes, pau de sebo, pegar o
porco, pegar a galinha loto, Schafkopf, canastra, Sprangelspiel, tiro ao alvo, corrida
do tamanco, corrida do tronco, serrar a tora, cabo de guerra, argolinha, tiro rei,
estilingue, Eisstocksport, corona, mini-stock, roda pião, arremesso de Chopp, Chopp
em metro, pregar o prego e ensacar milho. Além desses jogos tradicionais, a
amarelinha encontrada em praticamente todas as regiões, o teatro de bonecos muito
evidente na região Nordeste, o beti identificado na região do Distrito Federal
5 Baleado pode ser chamado de queimada ou carimba, tal variação se dá de acordo com a regionalidade brasileira (SOARES, SILVA e RIBAS, 2012).
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conformam exemplos de jogos e brincadeiras tradicionais, normalmente praticados
em espaços públicos, como a rua ou o parque, pelas crianças do local.
Um elemento importante que pode ser destacado com referência à pesquisa
de Marin et al. (2012) é que os jogos tradicionais fazem reviver o patrimônio de um
passado em acelerado processo de mudanças, mas que, para a geração atual,
mesmo com mutações sociais, representam um indiscutível prolongamento histórico.
Assim, pode-se interpretar que a conclusão a que chegou o artigo segue na direção
da recuperação de um passado saudosista, muito relacionado à dimensão do folclore
como pensado por Câmara Cascudo (2003).
O teatro de bonecos consiste em uma brincadeira e se realiza em uma
comunidade de pescadores tradicionais, especificamente na Comunidade
Quilombola do Cumbe, localizada no litoral leste do estado do Ceará, no município
de Aracati.
Fonte: Oliveira (2016), apresentação dos Calungas do Cumbe na Festa do Mangue, Cumbe-Aracati-Ceará.
A tradição do teatro de bonecos interpenetra a história da família do senhor
Raimundo Gonzaga da Silva6, conhecido popularmente como Cheirinho, bonequeiro
e escultor. Conforme Oswald Barroso (2006), o teatro de bonecos tradicional é
6 Recebeu o título de Mestre da Cultura em 2015, por meio do Projeto Mestres da Cultura do Ministério da Cultura.
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mantido por um grupo de adolescentes do Cumbe, sob a liderança de Alonso, filho
de Cheirinho.
Entre 1995 e 1996, o teatro de bonecos deixou de ser uma prática na
comunidade, tendo sido retomado apenas em 2001, por meio do trabalho realizado
na escola pelo professor João do Cumbe. O objetivo do resgate da brincadeira era
que houvesse a apresentação do teatro de bonecos durante a semana do folclore,
visto que a atividade tinha como objetivo retomar as práticas ancestrais da
comunidade. Então, os alunos organizaram uma apresentação de teatro de bonecos
e, para tanto, contaram com a colaboração do senhor Raimundo, o “Cheirinho”, que
ensinou as técnicas de construção e manejo dos bonecos, bem como as histórias
dos antigos bonequeiros do Cumbe.
O grupo intitulou-se Calungas do Cumbe e, com o Projeto Circo Zumbi7 da
Secretaria Municipal de Educação de Aracati-CE, passou a realizar apresentações
em outros locais, o que contribuiu para o grupo se manter em atividade, com um
calendário de apresentações, e participar de editais de fomento à cultura no Brasil.
Na fotografia abaixo, pode-se notar que os bonecos são construídos com materiais
encontrados na natureza, a exemplo da palha de carnaúba, do coqueiro e da
madeira.
7 Ação do Programa Zumbi de Desenvolvimento de Aprendizagens criado em 2007. Buscava construir uma nova forma de educar por meio da arte, com base em projetos que compõem um modelo educacional da arte significativa: Projeto Zumbi de Incentivo à Leitura, Projeto Circo Zumbi, Projeto de Educação Ambiental Patrimonial e Núcleo de Artes. Disponível em: <http://www.programazumbi.org/index.php?option=com_content&view=article&id=69&Itemid=61>. Acessado em: 23 nov. 2016.
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Fonte: Registro fotográfico feito no alpendre da casa do João do Cumbe em Cumbe-Aracati-CE, 2007. Arquivo da Associação Quilombola do Cumbe.
As encenações, que ocorrem durante diferentes atividades festivas na
comunidade, têm como tema as histórias, mitos e lendas locais. São lembradas a
origem do nome Cumbe (palavra de origem africana cujo significado é quilombo), os
milagres da Santa Cruz e os conflitos socioambientais.
Além desses temas, a história Encantamento dos morros e lenda de Dom
Sebastião, que é uma das narrativas mais importante do grupo de bonequeiros,
apresenta pelo menos duas versões. Na primeira, reza a lenda, um rei anda perdido
pelas dunas com sua cavalaria tocando tambor para fazer encantamentos. Na
segunda versão, contada pelas mulheres que lavam roupa na lagoa, dizem que ao
meio-dia escutam o som de tambores e, em seguida, o rei de Portugal – Dom
Sebastião – se aproxima, com sua cavalaria, de uma das lagoas por um ponto mais
baixo, que era possível avistá-los. Essas histórias são uma forma de transmissão das
tradições locais para as gerações mais novas e também para os que visitam a
comunidade. Os personagens mais conhecidos são Baltazar, João Redondo e Obá.
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Fonte: Oliveira (2016), apresentação dos Calungas do Cumbe na Festa do Mangue, Cumbe-Aracati-Ceará.
Fonte: Oliveira (2016), apresentação dos Calungas do Cumbe na Festa do Mangue, Cumbe-Aracati-Ceará.
2.1.2. As danças e folguedos populares
“Fogo de terra
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Fogo de mar
Que nossa rainha
Nos há de ajudar...”8
As danças e os folguedos populares constituem um capítulo central no
debate sobre cultura popular. Diante dessas manifestações, a relação com os
aspectos religiosos e sincréticos se sobressaem, mas também outros elementos
como a ludicidade, o hedonismo e o caráter pedagógico das práticas merecem
atenção.
2.1.2.1. Aspectos religiosos e sincréticos: a congada para registro
De acordo com Câmara Cascudo (2003), os congos, também chamados de
congada a depender da região do país onde ocorre, é um folguedo, que significa
brincadeira ou dança dramática, que é próprio de negros. Durante a manifestação,
os participantes se vestem de reis e príncipes, armados de espada, para guardar a
honra de três rainhas negras. No entanto, assim como há diferença entre o lugar
onde ocorre a prática corporal do congo ou congada, também há divergência quanto
à sua configuração geral.
O primeiro registro da congada no Brasil é de 1706, na vila Iguaraçu9 em
Pernambuco, quando foi encenado pela primeira vez o auto dos congos (ALMEIDA,
2012). No entanto, essa informação também não é consensual, pois Melo e Souza
(2002), por exemplo, indica os estados do Espírito Santo e Minas Gerais como
lugares de origem da congada. Tais aspectos permitem que se conjecture que a
manifestação foi recorrente no Brasil em pelo menos três estados: Pernambuco,
Espírito Santo e Minas Gerais.
O tema básico da congada é a luta (guerra) e para representá-la a dança é
encenada por meio de autos populares, que correspondem a uma espécie de ópera
em que contam encenação própria, tendo cada participante um papel determinado.
A congada é um auto popular de origem afro-brasileira, mesclando aspectos da
religião católica com outras religiões. No Brasil, geralmente a ocorrência da congada
se dá em dias santos católicos, como Natal (25 de dezembro), Dia de Reis (6 de
8 Trecho de música cantada durante os congos ou congadas, realizada no estado de Sergipe, Nordeste do Brasil. Extraído de Câmara Cascudo (2003, p. 289). 9 A grafia da palavra Igaraçu foi modificada e atualmente se escreve Igarassu, que é uma cidade do litoral de Pernambuco. Contudo, nos registros de Fernandes (2007), ao reportar-se à vila, há a utilização do nome como disposto no texto.
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janeiro), Dia de São Benedito (5 de outubro) e Dia de Nossa Senhora do Rosário (7
de outubro).
Fonte: Almeida (2007). Capela de Nossa Senhora do Rosário. Congada da Irmandade Nossa Senhora do Rosário. Brasília/DF.
Fonte: Almeida (2007). Interior da capela. Congada da Irmandade Nossa Senhora do Rosário. Brasília/DF.
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No entendimento de Almeida (2012), a congada é uma manifestação
corporal híbrida, por apresentar, em seu bojo, traços da cultura africana – como se
pode pressupor com base no nome (congada – originalmente vem de Congo, em
português) e da ibérica, particularmente, a portuguesa (FERNANDES, 2007).
As congadas, seguindo a tradição do catolicismo, apresentam nomes de
santos católicos, como registra a seguir Câmara Cascudo:
Em Minas Gerais, as congadas integram a irmandade Nossa Senhora do Rosário e se realizam no mês de outubro, em homenagem à padroeira. Seus participantes vestem-se de branco, com um saiote de fitas multicoloridas e o rosário de lágrimas a tiracolo, da esquerda para a direita, e dançam ao ritmo das caixas e chocalhos (2002, p. 150).
De outra parte, a congada é uma manifestação que vem passando por
algumas modificações, atualizações, no contexto de uma tradição que se inventa e
reinventa.
Fonte: Almeida (2007). Sr. Eli referenciando a bandeira da irmandade. Congada da Irmandade Nossa Senhora do Rosário. Brasília/DF.
Vale mencionar que é possível encontrar aspectos gerais da manifestação
em estados como Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo, Pernambuco, conforme os
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registros de Almeida (2012), Câmara Cascudo (2002), Fernandes (2007) e Brandão
(1983). Com efeito, a essência da manifestação permanece, fundada nos três santos
católicos Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia. Ademais a saída
e entrada da capela (templo), a reverência à bandeira, os ritmos e cantorias, a
presença do terço (rosário), as vestimentas em dia de apresentação são todos
aspectos recorrentes de várias congadas ao longo do território brasileiro, como
apontaram pesquisadores como Câmara Cascudo (2002), Fernandes (2007) e
Brandão (1983), para citar alguns.
Fonte: Almeida (2007). Dona Dora referenciando a bandeira da irmandade. Congada da Irmandade Nossa Senhora do Rosário. Brasília/DF.
2.1.2.2. Outras danças para registro
Além da congada, que é uma manifestação da cultura popular da região
Centro-Oeste e dos estados do Espírito Santos e Minas Gerais, da região Sudeste,
outras práticas corporais merecem menção.
Dentre as práticas realizadas na região Norte do país, merecem registro:
1. Lundu10 marajoara, que se constitui por uma base rítmica,
malemolência e outros movimentos como a umbigada, rebolados,
10 Sobre o lundu, denominado de sedutor, Câmara Cascudo (2003, p. 91), com base no registro de Tollenere, enuncia: “Essa dança, a mais cínica que se possa imaginar, não é nada mais nada menos a insinuação mais crua do ato de amor carnal. A dançarina excita o seu cavalheiro com movimentos os menos equívocos; este responde-lhe da mesma maneira, a bela se entrega à paixão lúbrica; o demônio da volúpia dela se apodera, os temores precipitados das suas cadeiras indicam ardor do fogo que a abrasa, o seu delírio torna-se convulsivo, a crise do
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palmas e gestos sensuais. Dançada por um casal. A mulher usa saia
rodada, florida e colorida, enquanto o homem utiliza traje similar ao de
escravo, a prática se consubstancia em movimentos de corte.
2. Siriá, que surgiu em agradecimento às entidades protetoras dos
escravos.
3. Batuque amazônico, que é realizado em homenagem à cabocla
Jurema, entidade das águas e protetora da Amazônia e se originou no
candomblé.
4. Banguê, que surgiu após a abolição da escravatura na cidade de
Cametá, cuja musicalidade relembra a vida, o sofrimento e a
identidade cultural dos negros escravos que trabalhavam em
engenhos no Pará.
5. Samba de cacete, que surgiu no Quilombo de Itapocu, situado na
cidade de Cametá no estado do Pará, transmite a melancolia e o
sofrimento dos escravos.
6. Obaluaiê, que se originou no culto ao orixá africano de mesmo nome.
7. Boi-bumbá, cujo enredo narra a história da esposa de um escravo que
engravida e deseja comer a língua do boi do senhor.
8. Marujada, que surgiu em agradecimento aos benfeitores por
permitirem que os negros tivessem sua própria irmandade, qual seja,
a Irmandade de São Benedito situada em Bragança, no estado do
Pará.
9. Dança das taieiras, que louva São Benedito e Nossa Senhora do
Rosário, especialmente em Cachoeira do Arari, no estado do Pará,
seu nome se deve ao fato de as negras pegarem água nos rios em
talhas para seus senhores.
10. Desfeiteira, que surgiu em Alter-do-Chão, no Município de Santarém,
no estado do Pará, quando índios e negros da região se reuniam para
momentos de descontração.
11. Angola, prática corporal de escravos angolanos, que retratam o
sofrimento dos negros na senzala, possuindo elementos sagrados e
profanos.
12. Marambiré, como a angola, consiste em uma prática corporal que
chegou ao Brasil por meio de escravos angolanos, estando
relacionada ao sofrimento na senzala, possui sentido duplo, isto é,
sagrado e profano.
amor parece operar-se e ela cai desfalecida nos braços do seu par, fingindo ocultar com o lenço o rubor da vergonha e do prazer”.
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13. Carimbó, cuja origem remonta à cultura indígena e herdou da cultura
africana o ritmo percussivo.
Na região Nordeste, foram registradas as seguintes manifestações11:
1. Samba de roda do Recôncavo, no estado da Bahia.
2. Ofício dos mestres de capoeira, no estado da Bahia.
3. Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim, no estado da Bahia.
4. Roda de capoeira, no estado do Ceará.
5. Tambor de crioula, no estado do Maranhão.
6. Bumba meu boi, no estado do Maranhão.
7. Teatro de bonecos e cavalo-marinho, no estado da Paraíba.
8. Maracatu de baque solto, no estado de Pernambuco.
9. Maracatu nação, no estado de Pernambuco.
10. Cavalo-marinho, no estado de Pernambuco.
11. Frevo, no estado de Pernambuco.
12. Festa de Sant’anna do Caico, no estado do Rio Grande do Norte.
13. Teatro de bonecos popular do Nordeste, no estado do Rio Grande do
Norte.
14. Roda de capoeira, no estado de Sergipe.
Na região Centro-Oeste do Brasil, foram identificadas as seguintes práticas
corporais da cultura popular12:
1. Roda de capoeira, no Distrito Federal.
2. Projeto viva mestre, no Distrito Federal.
3. Ritxócó – As bonecas karajás, no estado de Goiás.
4. Festa do Divino, no estado de Goiás.
5. Procissão do fogarel, no estado de Goiás.
6. Ritual yaokwa do povo indígena enawene nawe, no estado do Mato
Grosso.
No Sudeste do Brasil, identificamos13:
1. Jongo, no estado do Espírito Santo.
2. Congado do Serro, no estado de Minas Gerais.
3. Congado no Sudeste, no estado do Rio de Janeiro.
11 Disponível em: <www.iphan.gov.br>. Acesso em: 13 jul. 2017. 12 Disponível em: <www.iphan.gov.br>. Acesso em: 13 jul. 2017. 13 Disponível em: <www.iphan.gov.br>. Acesso em: 13 jul. 2017.
As informações e opiniões prestadas nesta publicação são de responsabilidade dos respectivos autores e não necessariamente refletem a opinião dos editores.
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4. Samba, no estado do Rio de Janeiro.
5. Jongo do Sudeste, no estado de São Paulo.
6. Fandango caiçara, no estado de São Paulo.
Na região Sul do país, encontramos14:
1. Fandango caiçara, no estado do Paraná.
2. Batuque gaúcho, no estado do Rio Grande do Sul.
Segundo Sampaio (2009), guardadas suas especificidades, no geral essas
danças evidenciam a trajetória do negro no Brasil, mostrando-se como um importante
elemento para a valorização das tradições culturais dessas populações, muitas vezes
hibridizadas, assim como a congada, com traços de religiosidade ou mesmo de
aspectos culturais de brancos, indígenas e negros. Além disso, o autor também
salienta que se faz necessário abordar essas práticas como conteúdos em contextos
escolares, como forma de contribuir para a preservação das tradições.
É necessário evidenciar que os jogos e brincadeiras, as danças e os
folguedos populares são manifestações da cultura popular que se materializam por
meio de seus praticantes em suas comunidades, mas ensejam o desenvolvimento
humano na medida em que os participantes alargam suas potencialidades e
possibilidades, dando-se maior destaque às vidas humanas e ao que elas produzem
em seus contextos histórico-culturais.
O respeito à diversidade e às tradições culturais, construídas
cotidianamente pelas distintas populações, referenciadas em sentidos e significados
próprios, é o que deve ser buscado como meta no estabelecimento de políticas para
o setor.
Dessa feita, os registros das manifestações culturais aqui expressas
simbolizam a necessidade de que as políticas públicas devem estar mais atentas ao
que é produzido pelo homem comum, pelo homem do povo, como forma de se
manter vivas as tradições culturais. Essa é a maneira encontrada pelo homem do
povo para fazer a cultura popular, e também para que as novas gerações
compreendam e signifiquem o que foi construído na e pela história. A esse respeito,
a congada da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, em Brasília/DF, e o teatro
de bonecos da Comunidade do Cumbe, de Aracati/CE, são exemplos de como a
relação entre o passado e o presente se interpenetra na conformação das tradições
14 Disponível em: <www.iphan.gov.br>. Acesso em: 13 jul. 2017.
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culturais, ultrapassando gerações e colaborando para mostrar que a cultura popular
(folclore) deve permanecer polissêmica em sua essência e alcançar o
desenvolvimento humano.
3. Para concluir: algumas sugestões
Apresenta-se a seguir algumas sugestões que podem vir a subsidiar a
elaboração de outros documentos ou mesmo dar suporte à definição de políticas com
referência às manifestações da cultura popular:
(a) Estabelecimento de medidas para a proteção da
diversidade cultural brasileira sob o ponto de vista da
salvaguarda do patrimônio cultural imaterial, com foco no
registro de práticas corporais, como a congada da Irmandade
de Nossa Senhora do Rosário, Brasília/DF, e o teatro de
bonecos dos Calungas do Cumbe, Aracati/CE, visando ao
reconhecimento da tradição e da história desses grupos
humanos, bem como o desenvolvimento humano.
(b) Formação de grupo de trabalho permanente
envolvendo órgãos públicos, organizações não
governamentais e pesquisadores da área, com o propósito de
assegurar eficiência, transversalidade e transparência às
políticas dirigidas às práticas corporais no contexto da cultura
popular.
(c) Organização de programas de incentivo e fomento à
pesquisa de caráter interdisciplinar, envolvendo
pesquisadores do tema.
1. Realização de pesquisas que sejam tanto de
cunho quantitativo como qualitativo, a fim de
propiciar o inventário das práticas corporais e
das manifestações da cultura popular.
(d) Realização de uma política de formação que contribua
para a divulgação e orientação da importância da
salvaguarda do patrimônio imaterial da cultura popular,
atentando para os canais de divulgação, inclusive, por meio
do fomento à produção de sites e materiais iconográficos, das
práticas corporais em seus contextos histórico-sociais.
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(e) Formação e capacitação de professores das
comunidades tradicionais em Universidades, notadamente as
públicas, visando à democratização do conhecimento e, ao
mesmo tempo, o respeito às manifestações da cultura
popular.
(f) Fortalecimento em cada grupo ou comunidade de suas
próprias manifestações, considerando os entrelaçamentos
que elas apresentam entre a dimensão do trabalho e a do
lazer.
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