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1/14 1 ENTRELINHAS EDIÇÃO#1 LéO CARVALHO

Ato Arte | Entrelinhas

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“Entrelinhas” é uma série de fotos de Léo Carvalho, de 2013, que nasceu do incômodo fenômeno da dificuldade contemporânea de interpretação da realidade. Um exercício de leitura das entrelinhas a serem observadas em uma imagem: o contexto, a relação autobiográfica do artista com a obra e os caminhos que suscitam a imagem em nosso inconsciente.

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ENTRELINHAs

ediçÃO#1

Léo CarvaLho

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aTo arTE é um coletivo que existe para estimular o diálogo entre a arte contemporânea e o público e que propicia a manifestação por meio do diálogo entre o mundo da arte e o apreciador. É também um intercâmbio de linguagens e uma oferta de produção artística que provoca a expansão cultural.

Portanto, é de responsabilidade do aTo arTE o estímulo à criação, ao debate, à produção e à promoção de projetos artísticos contemporâneos, envolvendo um coletivo de artistas comprometidos com o desenvolvimento da expressão artística contemporânea, que seja inédita na concepção e na apresentação, tenha uma proposta inovadora e possa distinguir-se perante a produção dessa arte no mundo.

Aqui, no aTo arTE, é possível encontrar um ambiente para dialogar sobre projetos e exposições e um acervo de obras orientadas para exigentes aprecia-dores de arte do nosso tempo.

Contemple

Diálogo entre o munDo coletivo e o olhar

Capa do lado esquerdo traz detalheSem-título, 2013, Digital C print Rampa do MAC, Ibirapuera, em SP

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Sem-título, 2013, Digital C print, 38 × 60 cmRampa do MAC, Ibirapuera, em SP

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ENTRELINHAS

Léo CarvaLho – nasceu em 1984 e trabalha na Cidade de São Paulo

Segundo o pensador Jean Piaget, a adaptação do ser humano, advinda dos estímulos sensoriais, é a chave do aprendi-zado biológico e intelectual1.

Como o mundo está se tornando cada vez mais adequado e customizável ao indivíduo, com o advento dos smart-phones, tablets e dos iminentes weara-bles2 – roupas e acessórios embarcados com TI (Tecnologia da Informação) –, o contemporâneo está nos fazendo per- der essa capacidade vital. aos poucos, vamos nos tornando incapazes de fazer leituras e interpretações das singularidades de cada momento vivido, pois estamos nos acomodando com as rotinas e as faci-lidades disponíveis.

“Entrelinhas” nasceu desse incômodo fenômeno, da dificuldade de adaptar a realidade ao novo, que se apresenta com poucos elementos conhecidos. Então, uma imagem contém muitas entrelinhas a serem observadas: o contexto, a relação autobio- gráfica do artista com a obra e os caminhos que suscitam a imagem em nosso incon-sciente.

a fotografia é, por princípio, um meio de compartilhamento do olhar e das peculiaridades dos artistas, apresentan- do, não só o que a luz rabisca, mas também o que a escuridão e o outro lado da câmera omitem.

Já dizia o cineasta Win Wenders: “Uma fotografia é sempre uma imagem dupla, mostrando, à primeira vista, seu objeto, mas, num segundo olhar – mais ou menos visível, “escondido atrás dela”, por assim dizer –, o “contracampo”, a imagem do fotógrafo em ação.” (Tradução José Geraldo Couto, 2001, Zum 4, p. 63-64)

Sombras e estruturas cortam em partes desiguais, transformando o observar em uma brincadeira de mostra-esconde. assim, nosso quinhão voyeur busca no oculto o que deveria estar revelado na imagem. as linhas, determinadas pelos múltiplos horizontes, fazem com que imaginemos o que está escondido atrás da sombra ou da parede, estruturas que nos levam ao exercício mais cuidadoso do olhar e interpretação.

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assim como um olhar de soslaio nos faz caminhar pelo inconsciente e, conse-quentemente, agir pelo instinto e julgar pela percepção preestabelecida, nossa imagi-nação para o incógnito vem da leitura das linhas cuidadosamente encaixadas:ora retas, duras, diretas, pontiagudas e ob-jetivas; ora curvas, macias, femininas e sensuais, contornando e obrigando o exercício da subjetividade.

ao nos depararmos com essas barreiras visuais, entra em jogo o imaginário, tentando construir todo restante da cena. Uma indução pelo que não se apresenta impresso, mas pertence ao espectador. Desta forma, só a partir do que se tem de memória, seja coletiva ou individual, é que o papel fundamental desse diálogo entre a obra e o observador entra em cena, pois é ele quem determina todo o contexto da obra.

Por isto a proposta de “Entrelinhas” não é ser agradável e coerente com todos, mas fazer com que cada um interprete a obra de acordo com sua sensibilidade e

o que a leitura o remete em todos os seus aspectos.

“Entrelinhas” traz à discussão o implí-cito, o consciente e o inconsciente, que só pode acontecer a partir do acúmulo de conhecimento e experiência de vida, mo-tivo por que a revelação e a omissão estão representadas na ausência e presença de luz, sem cores, para que nem o julgamento temporal possa influenciar o despertar do que é inerente a cada espectador.

Da mesmo modo, o estudo foi feito sem interferência nas contrastantes formas, para que o olhar possa passear seguindo os limites de tons, as interrupções e os cortes, que repelem os polos com a força de sua igualdade, que atrai tanto quanto é desigual. O branco joga você para o preto, que o carrega para o cinza e lança-o para o branco e assim por diante.

assim como o silêncio na música liga dois acordes, o branco do papel liga letras e delimita o tempo certo para a leitura da

Acima, detalhe, sem-título, 2013, Digital C print

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Sem-título, 2013, Digital C print, 38 × 60 cm

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próxima palavra, os contrastes são o elo entre os diversos planos de uma imagem. Essas trilhas percorridas pelos olhos também levam aos caminhos estudados pela hermenêutica3.

E, assim, cabe analisar com muita aten-ção os roteiros determinados e as secções que ali são formadas, para ver não só o

óbvio de uma observação direta e objetiva, mas o oculto ao captar e compreender as pequenas diferenças de sua restrições.

é disto que se trata: a diferença entre apenas olhar e ler uma foto, entregando a esse exercício o que é profundamente particular.

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Sem-título, 2013, Digital C print, 30 × 60 cm

1. a construção do conhecimento segundo Piaget. origem www.cerebromente.org.br. Página acessada em 16 de fevereiro de 2014.

2. Wearable technology. origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Página acessada em 16 de fevereiro de 2014.

3. hermenêutica – é um ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação, que pode referir-se tanto à arte da interpretação ou à teoria e treino de interpretação. origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Página acessada em 16 de fevereiro de 2014.

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Sem-título, 2013, Digital C print, 40 X 60 cm

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Publicação

ato arte

Fevereiro de 2014, São Paulo, Brasil

Entrelinhas

Série de fotos: Léo Carvalho

Foto da Capa, p. 2, p. 4-5 Sem-título (detalhe), 2013, Digital C print, 30 × 60 cm rampa do MaC, Ibirapuera, São Paulo

p. 8 Sem-título, 2013, Digital C print, 38 × 60 cm rampa do MaC, Ibirapuera, São Paulo

p. 10 Sem-título, 2013, Digital C print, 30 × 60 cm Parque do Ibirapuera, São Paulo

p. 12 e 15 Sem-título, 2013, Digital C print, 40 × 60 cm Parque do Ibirapuera, São Paulo