36
Edição Especial da revista Atos Hoje 25 de novembro de 2012 PROJETO ÍNDIA Vitória sobre as trevas Uma nação evangélica? E daí? Índia, o grande desafio. Mas, o que é evangelizar mesmo? De Belo Horizonte até os confins da Terra.

Atos Hoje 29

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A revista Atos Hoje, é uma publicação semanal da Igreja Batista da Lagoinha, para fins demonstrativos de eventos e textos jornalisticos. O projeto gráfico inicial da revista, foi criado pelo designer Luciano Buchacra, onde os diretores de arte João Paulo Fortunato e Junio Amaro, produzem desde a capa ao layout das matérias nela publicada.

Citation preview

Page 1: Atos Hoje 29

Edição Especial da revista Atos Hoje

25 de novembro de 2012

PROJETO

ÍndiaVitória sobre

as trevas• Uma nação evangélica? E daí?• Índia, o grande desafio.

• Mas, o que é evangelizar mesmo?• De Belo Horizonte até os confins da Terra.

Page 2: Atos Hoje 29
Page 3: Atos Hoje 29

3

A canção “Faz um milagre em mim”, composta por Joselito e Kelly Danese, e interpretada por Régis Danese, tem frases impactantes: “Entra na minha casa”, “entra na minha vida”, “mexe com minha estrutura”. Uma frase, no entanto, traz um certo desconforto: “largo tudo pra te seguir”. É a experiência dos autores cantada por todos. Eles deixaram tudo para seguir Jesus, mas nem todos podem fazer o mesmo. Essa frase inquieta, primeiro, por que nem todos foram chamados a tomarem tal decisão e serem pregadores de tempo integral, e segundo, por que a obra missionária necessita ser sustentada por pessoas que estão em seus empregos. Os autores da música, na verdade, não estão incitando uma debandada geral dos empregos em função da obra de Deus, mas uma mudança de atitude em relação ao Reino de Deus.

Todos fomos chamados a realizar a obra do Senhor em tempo integral, em casa, na escola, no trabalho, no trânsito, nas férias, enfim, seguir Jesus o tempo todo, afinal, quer comamos, quer bebamos, ou façamos outra coisa qualquer, devemos fazer para a glória de Deus (1Coríntios 10.31). Não sem razão, Jesus ensinou que devemos buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça (Mateus 6.33). Em outras palavras, Ele quis dizer que, se buscarmos o Reino em primeiro lugar, o restante do que necessitamos virá de forma milagrosa, como nem entendemos. Portanto, o segredo de trabalhar integral na obra sem sair dos nossos empregos passa pela

priorização das intenções do coração. Por isso, “Missões”, o assunto desta conferência, tem a ver com qualquer um de nós; comigo e com você. Não é assunto apenas das lideranças e dos missionários que estão no campo. Todos somos vocacionados por que recebemos de Deus, no mínimo, uma missão que é o nosso dom. Paralelo a esse dom, que se transforma em ministério para cada um de nós, há o chamado universal aos cristãos feito por Jesus em Marcos 16.15: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”. Começando de onde você mora até os confins da Terra. O dom de evangelizar é graça em alguns, todavia, missão de todos.

“Desperta Igreja”, o nome do nosso congresso, pode ser escrito de duas formas: com ou sem vírgula entre as duas palavras. “Desperta Igreja” (sem vírgula) seria apenas um nome de congresso. “Desperta, Igreja” (com vírgula) é alguém dizendo a um público-alvo, que é a Igreja. É um alerta para que despertemos, um chamado, uma exortação, pois está no imperativo. Quem precisa despertar é alguém que está dormindo ou apenas sonolento, “pescando”, como diríamos coloquialmente. Infelizmente, a Igreja está precisando de um despertamento. O fato de sermos 22,4% da população e, agora, ser moda qualquer um dizer que é evangélico, não implica sermos um povo realmente sal e luz da Terra. O pecado tem avançado, a miséria humana tem se espalhado, o mundo parece cada vez mais perdido e a obra missionária

Desperta, Igreja,você tem uma missão!

EdiTORiaL

Page 4: Atos Hoje 29

4

A revista DESPERTA IGREJA! é uma publicação especial extraordinária

da Secretaria de Missões da Igreja Batista da Lagoinha (IBL)

elaborada exclusivamente para a 12ª Conferência Missionária

Desperta Igreja!, 22 a 25 novembro de 2012. Presidente – Pr.

Márcio Valadão. Secretário de Missões da IBL – Pr. Gustavo Bessa.

Editor-chefe e jornalista responsável – Pr. Atilano Muradas. Arte e

diagramação – Luciano Buchacra e João Paulo Fortunato. Fotos –

Gisselda Mota, Imaculada Alvino e Luciene Rener. Colaboradores

– Gisselda Mota, Fábio Graner, Gustavo Bessa, Stephanie

Zanandrais. Revisão – Atilano Muradas, Adriana Santos e Nicibel

Silva. Impressão: Gráfica Paulinelli – Tiragem: 15.ooo exemplares –

Informações – Secretaria de Missões da IBL (31) 8793-1558 / 7891

(Gisselda) e 8793-6522 (Maysa) E-mail: gisselda_ctmdt@yahoo.

com.br. Todo o conteúdo desta revista pode ser copiado, desde que

seja citado a fonte e os nomes dos autores dos artigos e matérias.

mais difícil de ser executada, porém, mais necessária do que nunca.

Tendo em vista equipar a Igreja com ferramentas para cumprir o seu papel, escrevemos esta revista. O artigo “Uma nação evangélica” traça uma análise profunda e ponderada sobre o resultado do censo do IBGE, que contabiliza o número de evangélicos no Brasil, enquanto o artigo “Mas, o que é evangelizar?” ensina importantes passos para todo cristão cumprir seu trabalho evangelístico.

Desperta, Igreja! É a sua vez de brilhar. As gerações passadas cumpriram bem o seu papel. Agora, é a vez daqueles que estão vivendo nesta geração; independente de idade. Todos nós precisamos contribuir de alguma forma para o avanço do Evangelho em todas as nações. A necessidade é premente, sobretudo, na Índia, como veremos no artigo “O desafio da Índia” e no relato completo do início do trabalho de nossa igreja nessa nação – “Projeto Índia”. Na matéria “De Belo Horizonte até os confins da Terra” conheceremos os corajosos missionários da nossa igreja, homens e mulheres que largaram tudo para seguirem a Jesus.

Desperta, Igreja! Ore, contribua financeiramente, vá até os campos missionários, escreva para os missionários, telefone, mande e-mail, mobilize outros para fazer o mesmo, enfim, envolva-se de alguma forma. Largue tudo – tempo ocioso, atividades inúteis, novelas – e venha seguir o Senhor Jesus. Desperta, Igreja. Você tem uma missão!

Pr. atilano Muradas - Editor

ÍNDIAO grande desafio ...................6

PROJETO ÍNDIAVitória sobre as trevas .....................................10

Mas, o que éevangelizar mesmo? .........24

De Belo Horizonteaté os confins da Terra? .....26

Uma nação evangélica?E daí? ......................................34

ÍndiCE

Page 5: Atos Hoje 29
Page 6: Atos Hoje 29

6

Page 7: Atos Hoje 29

POR GustavO bessa

7

Neste século XXI, um em cada sete habitantes do planeta Terra é indiano. A população da Índia já ultrapassou a marca de 1,2 bilhão de pessoas,

e, dessas, menos de 6% já ouviram as boas-novas do Evangelho. São apenas 72 milhões de cristãos diante de 900 milhões de hindus, 180 milhões de muçulmanos e 12 milhões de budistas. 267 povos existentes dentro da Índia já ouviram o Evangelho, mas ainda restam 2.338 outros não alcançados.1 A Índia permanece um país de milhares de nações, milhares de culturas, milhões de deuses e longe de Cristo.

O insucesso do avanço missionário na Índia não tem como causa a falta de zelo missionário. Desde o início da história da Igreja, inúmeras foram as tentativas de se levar o Evangelho aos indianos. “A tradição afirma que o Cristianismo foi levado à Índia pelo apóstolo Tomé...[Ainda] outra tradição afirma que foi São Bartolomeu quem levou o Cristianismo para a Índia.”2 De qualquer maneira, quer seja por Tomé, Bartolomeu ou

1 fonte: http://www.joshuaproject.net/index.php

2 González, Justo L., and Carlos Cardoza Orlandi. História do movimento missionário. São Paulo: Hagnos, 2008. p. 87.

outro cristão, o importante é sabermos que o Evangelho aportou em solo indiano ainda no primeiro século da era cristã.

No século XVI, foram os jesuítas que tentaram implantar o Cristianismo na Índia. Em 1541, Francisco Xavier chegou em Goa, e depois de quatro meses, ele se estabeleceu no sul do país, em Pesqueira, “onde uns seis ou sete anos antes haviam sido batizadas 20 mil pessoas.”3 Anos mais tarde, a Companhia de Jesus enviou Robert De Nobili, um nobre de origem italiana, para ser missionário na Índia. Ainda que De Nobili tenha se esforçado por meio do aprendizado da língua e da cultura4 para implantar uma igreja cristã em solo indiano, o seu trabalho de evangelização não alcançou um número expressivo de pessoas. A maior parte da população permaneceu intocada ante seus esforços missionários.

3 idem, 193.

4 “Nobili fez todo o possível para adaptar-se aos costumes da Índia. Dedicou-se a estudar os idiomas da região e também o sânscrito, porque pensou que nele deveria celebrar-se a liturgia cristã. Adotou a dieta vegetariana dos hindus e tomou para si o título de ‘Mestre’”. idem, 194.

ÍndiaO grande desafio

Page 8: Atos Hoje 29

8

Os protestantes também tentaram levar o Evangelho aos indianos, no final do século XVIII, por intermédio do esforço do missionário William Carey. Munidos de obediência a Deus e paixão pelos perdidos, Carey e seus companheiros implantaram igrejas, construíram escolas e traduziram a Bíblia e porções dela para 35 idiomas e dialetos da Índia. Além disso, eles se “dedicaram a atacar alguns dos males mais sérios na sociedade indiana: o costume de sacrificar crianças e o de queimar as viúvas na pira fúnebre do esposo”.5 Apesar de serem estrangeiros, eles tiveram sucesso nas suas iniciativas e conseguiram que as autoridades locais proibissem o sacrifício de crianças e viúvas. Contudo, o sucesso nas causas sociais não implicou no sucesso na causa do Evangelho, e a maior parte da população indiana permaneceu não alcançada.

Mesmo depois de tantos anos de investidas e ações missionárias de todos os tipos, a Índia permanece um país não alcançado e desafiador. Enquanto o Evangelho conseguiu penetrar e lançar raízes em diversas nações, após esforços missionários de pouco mais de cem anos, na Índia os missionários não conseguiram sucesso, mesmo depois de dois mil anos de tentativas e investimentos. Não bastasse isso, a Igreja ainda sofreu significativas baixas nas suas fileiras: milhares de missionários morreram e outros tantos enlouqueceram em solo indiano.6

Esse quadro de resistência hostil ao Evangelho é clara evidência do quanto as trevas têm influência e domínio sobre a Índia. O desafio de alcançar esse país requer dos missionários um conhecimento melhor e mais profundo sobre batalha espiritual. A ignorância quanto às estratégias do Inimigo é uma das causas de tantos insucessos no trabalho missionário em solo indiano. Por desconhecer a sagacidade das trevas, o missionário se torna alvo fácil do Diabo.

No entanto, as trevas não são a única barreira para o avanço de um trabalho cristão florescente e contagiante na Índia. A cosmovisão indiana também tem sido uma fortaleza contra o avanço e o enraizamento do Evangelho na cultura.

5 idem, 241.

6 Dorothy, a esposa de William Carey, foi uma dessas pessoas que adoeceu fisicamente, emocionalmente e mentalmente na Índia.

Culturalmente, o indiano é ensinado a se relacionar com as pessoas “interesseiramente”. Ele se mostra leal àquelas pessoas que lhe trazem algum tipo de vantagem ou ascendência social. Pavan K. Varma, ex-secretário de imprensa do presidente da Índia, ao falar sobre a relação de subserviência dos indianos para com os dominadores ingleses, disse que “a busca por um lugar na hierarquia do poder era um alvo totalmente aceitável, que não deveria jamais ser atrapalhado por ideias de retidão.”7 Em outro momento, ao falar sobre o modo indiano de ver e viver a vida, ele contou uma interessante história.

“Quando eu era pequeno, lembro-me de ter ouvido um conto muito popular acerca do rei e do seu conselheiro. O rei estava cansado de comer berinjela. Um dia, ele disse ao seu conselheiro que a berinjela era totalmente sem valor. O conselheiro, com todo o seu coração, não somente concordou com as palavras do rei, mas também falou tão enfaticamente contra a berinjela que o rei não teve dúvidas de que havia acertado em afirmar que a berinjela não tinha valor nutricional nenhum. Poucos dias depois, o médico pessoal do rei se encontrou com ele e começou a falar dos benefícios maravilhosos da berinjela. Convencido dos argumentos, o rei falou bem da berinjela ao seu conselheiro. Rapidamente, o conselheiro começou a, eloquentemente, falar bem da berinjela, bem como das suas qualidades e da sua superioridade diante dos outros vegetais. Enquanto ouvia as palavras dele, o rei se lembrou de que dias antes o seu conselheiro havia falado mal da berinjela com aquela mesma eloquência. Cheio de ira, o rei o questionou, perguntando-lhe como ele poderia manter dois pontos de vista totalmente contraditórios. A resposta do conselheiro veio embasada numa sabedoria de gerações: ‘Meu senhor, eu trabalho para você, e, não para a berinjela. Que bem eu ganharia se discordasse de você e concordasse com a berinjela?’”8

Por causa desse tipo de postura cultural, muitos indianos aceitam o Evangelho e enchem as igrejas por considerarem vantajoso o relacionamento

7 Varma, Pavan K.. Being Indian: the truth about why the twen-ty-first century will be India’s. New Delhi, India: Penguin Books India, 20052004. Print. p. 33.

8 Varma, Pavan K.. Being Indian: the truth about why the twen-ty-first century will be India’s. New Delhi, India: Penguin Books India, 20052004. Print. p. 30.

Índia – O gRandE dEsafiO

Page 9: Atos Hoje 29

9

com missionários. Entretanto, esses mesmos indianos mudam de lealdade e se voltam para os seus antigos deuses e senhores quando chegam à conclusão de que não vale a pena seguir a fé cristã. É muito difícil um missionário não se frustrar com essa situação. Muitos deixam a Índia, feridos e cheios de desesperança, quando descobrem que aquelas pessoas a quem serviram durante anos voltaram atrás na decisão de seguir a Cristo. Consequentemente, a Índia permanece sendo um país de milhares de nações, milhares de culturas, milhões de deuses e ainda longe de Cristo.

A esperança para a Índia está em Jesus, anunciado por pessoas com chamado específico, carregadas da unção do Espírito Santo, comprometidas com a vida de santidade, preparadas teológica e antropologicamente, enviadas debaixo de oração por suas igrejas locais, dispostas a se entregarem de corpo e alma para que os indianos conheçam a Jesus, o único que pode amarrar o valente e quebrar o domínio das trevas naquele país. O desafio continua. Não podemos esmorecer. A pergunta de Deus expressa em Isaías 6.8 continua válida e alcança a nossa geração: “A quem enviarei? Quem há de ir por nós?”.

• Gustavo Bessa é pastor da Igreja Batista da Lagoinha, bacharel em Direito e possui mestrado em Global Leadership pela Dallas Baptist University.

A esperança para a Índia

está em Jesus, anunciado

por pessoas com chamado

específico, carregadas

da unção do Espírito Santo

Page 10: Atos Hoje 29

10

PROJETO Índia

ViTÓRia sOBRE asTREVas

POR aTiLanO MuRadas

Page 11: Atos Hoje 29

11

desde 1999, nossa igreja marca presença na Índia com um projeto que resgata meninas de 4 a 18 anos da zona de prostituição indiana chamada “Luz Vermelha”

Quando lemos os evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) observamos que os evangelistas contam a mesma história de Jesus, porém, sob ângulos diferentes. Todos

são verdadeiros, assim, cada um traz detalhes que o outro não diz, mas ambos se complementam. Por certo você já ouviu muito a respeito do projeto que nossa igreja possui na Índia, mas, talvez, não saiba alguns detalhes que contaremos nesta matéria baseada em entrevista feita com a pastora Imaculada Alvino, a missionária Luciene Rosa e os pastores Gustavo e Ana Paula Bessa. Junto a estes, muitos homens e mulheres de Deus foram se juntando e dando forma ao que hoje é um dos projetos missionários mais bem-sucedidos da nossa igreja e do Brasil. A viagem do pastor Márcio à Índia e a disposição do Diante do Trono em financiar todas as despesas foram fatores decisivos para que Imaculada e Luciene pudessem pegar o avião em outubro de 1999 e encarar o maior desafio de suas vidas: fazer missões na Índia.

PROJETO Índia

ViTÓRia sOBRE asTREVas

Page 12: Atos Hoje 29

Imaculada, em junho de 2000, com as

primeiras meninas do projeto

Imaculada e Naomi, a mulher que levou Luciene e Imaculada

pela primeira vez na Luz Vermelha

12

o Brasil ganhara a Copa do Mundo. Imaculada ligou a TV e viu que praticamente todos os canais falavam apenas sobre a Copa. Ela, então, mudou canais até encontrar uma reportagem que lhe chamou a atenção. O repórter falava sobre o comércio do sexo na Ásia. Uma denúncia a respeito da venda de meninas para a chamada “Luz Vermelha”, uma área de prostituição. A reportagem imediatamente motivou Imaculada a orar pedindo a Deus que enviasse alguém para resgatar aquelas meninas. Depois disso, enquanto tomava banho, Imaculada ouviu claramente uma voz: “Eu enviarei você.” Sem pestanejar, ela disse não, e pensou que, de tão cansada, estava ouvindo vozes. Aquela noite foi atribulada, pois, ela acordou várias vezes pensando nas meninas sendo vendidas.

Naquela semana, Imaculada contou o ocorrido ao seu líder de célula, que a fez entender que se tratava de um chamado missionário. Empolgada, ela procurou a Secretaria de Missões da igreja, que lhe informou que a igreja não tinha planos de enviar mulheres solteiras para o campo missionário. A notícia, porém, não a abalou. Imaculada passou a orar pela Índia e outras pessoas se juntaram a ela. “Tínhamos um foco: que nossa igreja tivesse visão missionária para a Índia. Após três anos de oração, o pastor Márcio, voltando de uma conferência na Índia, em 1997, disse à igreja que Deus havia lhe dado a visão de trabalhar na Índia retirando meninas da prostituição”, conta Imaculada. Ela se alegrou sobremaneira e passou a orar para que fosse chamada a fazer parte da equipe a ser enviada à Índia. “Meses depois, o Diante do Trono gravou seu primeiro CD e o pastor Márcio disse que parte do lucro da venda seria destinada ao projeto Índia”, relembra Imaculada. Nesse ínterim, ela continuou a se preparar fazendo um curso de enfermagem na Cruz Vermelha e estágios em hospitais e postos de saúde. Num desses locais de estágio, aconteceu um incidente que colocou Imaculada frente ao pastor. No posto onde estagiava, alguém falou mal do pastor Márcio e Imaculada revidou. Meses depois, esse fato chegou aos ouvidos do pastor Márcio, que a chamou a seu gabinete. “Durante a conversa, ele soube do meu chamado para a Índia. Entendendo que era resposta de Deus, ele me designou para o projeto. Coloquei empecilho porque não falava inglês, mas ele insistiu dizendo que eu precisava apenas falar em línguas e ter amor pelas meninas” conta.

A pastora Imaculada Alvino, técnica em enfermagem, se converteu em 1991. Seu chamado missionário aconteceu três anos

depois. Tudo começou quando ela trabalhava numa clínica médica e os médicos de lá costumavam fazer atendimentos gratuitos em comunidades carentes. Em 1994, Imaculada e os médicos fizeram quatro dias de clínica numa comunidade carente. Quando voltou para Belo Horizonte, a cidade estava em festa porque

Como tudo começoupara Imaculada

PROJETO Índia – ViTÓRia sOBRE as TREVas

Page 13: Atos Hoje 29

Como tudo começoupara Luciene

Pr. Carlos, Luciene, pastor Sérgio, Sheila, Imaculada, Lucimar e Samila.

13

A missionária Luciene Rosa de Oliveira Rener nasceu em Belo Horizonte e se converteu em 1990. Por meio do convite de uma amiga, ela foi

a uma igreja evangélica num dia em que estava muito atribulada com problemas familiares. Ao entrar chorando na igreja, Luciene chamou a atenção de todos, e o culto praticamente parou. Sabiamente, o pastor atendeu Luciene e ministrou a ela palavra de salvação. “Após a oração que ele fez por mim, o pastor disse que Deus não estava me dando apenas a salvação; Ele estava me concedendo também um chamado missionário. O pastor me disse que, a partir daquele dia, a minha vida não mais seria a mesma. Na semana seguinte, fui convidada a ser secretária da igreja. Não mais saí do ministério”, conta.

Meses depois, Luciene passou a congregar na Lagoinha. Pouco tempo depois que chegou, o pastor Jonas Neves a convidou para uma conversa e perguntou-lhe qual a sua aspiração ministerial. Depois dessa conversa, o pastor resolveu enviá-la para o STEB (Seminário Teológico Evangélico do Brasil) no qual Luciene concluiu o bacharel em teologia em 1998. “Durante todo o meu tempo de seminário, meu alvo missionário era a África. Quase no final do curso, fui trabalhar no Departamento de Missões com a Sonja Melo. E como eu precisava fazer uma viagem missionária para graduar, o pastor Jonas me intimou a ir para a Índia por um mês. Relutei um pouco, pois, meu ideal era a África. Nessa primeira viagem de sondagem à Índia, fomos eu, Imaculada, Manuel, o pastor Carlos Gomes, pastor Ricardo Barros, Lima e pastor Rui. A ideia seria voltar e motivar a igreja para se engajar nesse projeto”, relata Luciene. Quando chegaram à Índia, foram recepcionados pelo pastor indiano chamado Frank. Uma semana depois, toda a equipe estava num restaurante, quando o pastor Frank revelou que estava orando há 20 anos para que Deus enviasse uma moça para trabalhar num projeto de resgate das meninas; e olhava firmemente para Luciene. Naquele dia, debaixo de oração e compreensão do chamado de Deus, Luciene entendeu que o país onde deveria atuar era a Índia e não Angola. Após essa viagem, ela e toda a equipe passaram a motivar a igreja que abraçou o projeto completamente.

Luciene e Imaculada se conheceram e moraram no mesmo apartamento, poucos meses antes da viagem; quando nem imaginavam o que Deus reservava para ambas. Entre a primeira viagem e a chegada à Índia foi quase um ano.

Page 14: Atos Hoje 29

Tias Anne e Lucy, irmãs que

ajudavam Imaculada a resgatar

meninas na Luz Vermelha.

14

No dia 10 de outubro de 1999, Luciene e Imaculada chegaram à Índia e começaram oficialmente o projeto intitulado RACE (Raab Care and Education). No início, elas foram morar em Mumbai com um casal de indianos evangélicos. A primeira dificuldade em terra estranha, claro, foi aprender a língua. Imaculada conta que aprendeu inglês na rua, lendo jornais e revistas, conversando com as pessoas e lendo dicionários. Paralelo ainda era necessário aprender o hindi, uma língua parecida com o chinês, e um pouco de telugu. Hindi é a língua oficial e o inglês a língua comercial. Luciene crê que recebeu uma graça especial de Deus para aprender línguas, naquele tempo. Em seis meses, ela já estava falando e entendendo perfeitamente o inglês e progredindo no hindi.

Nos primeiros meses, elas moraram num apartamento com duas mulheres e também foram a um congresso promovido pela igreja local a fim de estabelecer relacionamentos. O pastor daquela igreja, de imediato, “jogou um balde de água fria” nas duas missionárias. Disse que deveriam voltar para o Brasil, porque elas não sabiam nada da Índia. Precisavam aprender tudo antes e, então, voltar para a Índia. Obviamente, elas ficaram arrasadas com o conselho, mas oraram a Deus que lhes falou que muitos missionários estrangeiros eram bem preparados; assim, não tinham amor pelas pessoas. “Nós tínhamos amor, que era o que aquele povo precisava. Deus nos deu o texto de 1Coríntios 13, que fala sobre o amor. Voltamos àquele

pastor e mostramos a ele o texto. Ele leu em voz alta e, com lágrimas nos olhos, se prontificou a nos ajudar”, conta Imaculada. A missionária também revela uma estratégia que ninguém sabe que ela e Luciene praticavam. Pela manhã, bem cedo, ambas iam para a área da Luz Vermelha para orar pela libertação das meninas. Para que não chamassem a atenção, elas se vestiam com a burca. “Creio que, pelo fato de orarmos quebrando as resistências daquele lugar, foi que Deus nos fez chegar até uma igreja local que passou a nos ajudar”, revela Imaculada.

Luciene e Imaculada ficaram por quase um ano na casa do casal indiano e se valeram da experiência dos irmãos indianos para começarem a entender o contexto cultural e darem início ao projeto. “Uma mulher estrangeira não entraria com facilidade na área da Luz Vermelha que tinha, naquela época, cerca de 300 mil prostitutas infantis, segundo dados oficiais”, revela Luciene. Conforme estratégia decidida à época, Luciene ficaria numa casa em Mumbai e Imaculada noutra casa em Hyderabad. As duas cidades distavam quase 800 quilômetros uma da outra. Pelos próximos cinco anos as duas missionárias se encontrariam esporadicamente.

Em Mumbai, Luciene adotou como estratégia para captar as crianças para as casas. Ela e os irmãos criaram uma clínica de atendimento médico e psicológico para as mulheres. “Quando as mulheres doentes iam à clínica para serem atendidas, durante a espera, elas tinham atendimento psicológico, no qual

Chegando à Índia e estabelecendo as bases

PROJETO Índia – ViTÓRia sOBRE as TREVas

Page 15: Atos Hoje 29

15

apresentávamos as atividades que a nossa casa oferecia: oportunidade de mudança de vida, ter um alvo, sair das ruas. Muitas queriam e iam para a casa. Eu não podia ir pessoalmente buscar essas mulheres. Elas me eram trazidas na casa. Entretanto, algumas eu mesma tive que buscar. Não era fácil trazer essas mulheres, pois todo movimento de um estrangeiro era monitorado. Os cafetões ficavam de olho em mim”, conta Luciene. A missionária conta que muitas meninas chegavam sujas, descalço, maltrapilhas, magras, com medo e que algumas nem queriam de fato ficar na casa; tentavam voltar à antiga vida. “Algumas eram viciadas em drogas. Tínhamos que passar noites em claro até a menina desintoxicar. Algumas tentavam até se matar, por isso, coisas como caneta, faca, não podiam ficar perto delas. Imagine um local com até 30 meninas cada qual com seu drama e problemas diferenciados”, revela a missionária.

Em Hyderabad, Imaculada enfrentou lutas semelhantes. De início, o trabalho não foi um sucesso porque um dos pastores da missão insistiu em abrigar meninos e meninas de rua. Imaculada se opôs a isso dizendo que estava fora da visão que era trabalhar com meninas na prostituição infantil. “Então, retornamos à visão. Começamos com duas meninas e o grupo foi crescendo gradativamente”, conta. Ao contrário do que muita gente pensa, o projeto de nossa igreja nunca “comprou” uma menina sequer. Segundo Imaculada, comprar uma menina significaria alimentar o tráfico de pessoas, pois os cafetões pegariam o dinheiro e comercializariam outras meninas. Elas chegavam até as missionárias de diversas formas – indicadas, fugidas, trazidas etc. Imaculada, no entanto, utilizou-se de uma tática um tanto quanto diferente. Para entrar na zona de

prostituição chamada de Luz Vermelha, elas abriram uma clínica. Ima colocava um estetoscópio no pescoço e ia até a porta dos prostíbulos e dizia que estava procurando uma moça chamada Maya, que estava doente. Na Índia, o nome Maya é muito comum, então, a possibilidade de existir uma Maya dentro do prostíbulo e com algum problema de saúde era quase 100%. “Então, eu a levava para a clínica e ela era internada. Quando tinha alta, era encaminhada para a nossa casa de recuperação. Eu fiz isso dezenas de vezes”, conta Imaculada.

Muitas das meninas nunca tinham visto um lençol ou uma cama – a maioria dos indianos dormem em esteiras –, mas logo se adaptavam àquela vida bem melhor que a anterior. A maioria delas não queria voltar à vida de prostituição. As idades variavam – de 4 a 18 anos. Existem relatos de crianças que foram violentadas aos 4 anos. As prostitutas são mães ainda adolescentes e os filhos crescem ali, no meio da prostituição, então, são iniciadas bem cedo na prática. “Todas as meninas chegavam machucadas, sujas, piolhentas, com uma única roupa, raquíticas e muitas doentes. Porém, na cabeça delas, elas estavam apenas trocando de cafetão. Não percebiam, de imediato, que estavam sendo salvas. Nós não deixávamos homens entrarem na casa, pois as meninas logo pensavam que era alguém que vinha para “usá-las”. Apenas para que se entenda isso, quando um pastor foi lá e orou pelas meninas, uma delas me perguntou ‘quando que ele vai me usar?’ Esse tipo de situação era oportunidade para dizer que Jesus nos enviara do Brasil apenas para ajudá-las”, conta Imaculada.

A MANUTENçãO DO PROJETOTodo esse trabalho gerava muitos

custos e quem pagava era o ministério

Page 16: Atos Hoje 29

PROJETO Índia – ViTÓRia sOBRE as TREVas

16

Diante do Trono. Viagens, aluguéis das casas, o sustento das missionárias, os móveis e eletrodomésticos, a escola das meninas, alimentação, roupas etc. A pastora Ana Paula Valadão conta como o Diante do Trono entrou no projeto. “O projeto Índia nasceu no coração do meu pai, pastor Márcio, mas também da nossa igreja, ao mesmo tempo em que nascia o Diante do Trono. E foi o próprio o pastor Márcio quem teve a ideia de financiarmos o projeto com os recursos do CD. E como eu e todos os membros fundadores do DT estávamos ali para servir, sem nenhuma outra motivação, nos doamos integralmente e nos alegramos com esta proposta.”

Ninguém tem dúvidas que participar de tão nobre causa traz benefícios não só para quem é abençoado, mas também para quem abençoa. “Acredito que, ao dedicarmos os recursos do CD para a obra missionária na Índia, nós agradamos o coração de Deus e firmamos o fundamento de uma obra que cresceria mais do que

qualquer um de nós pudesse imaginar. O amor de Deus pelas vidas ainda a serem alcançadas pelo Evangelho, estejam elas perto ou longe de nós, é nossa essência desde o princípio. Orar, ir e contribuir com os recursos financeiros que Deus tem nos dado é um compromisso que faz parte do que somos”, esclarece Ana Paula.

O apoio do DT ao Projeto Índia foi além de simplesmente investir financeiramente. Ana conta que, quando o DT fez 10 anos, foi realizado um documentário em que o projeto foi mostrado. “Sem dúvida, a parte mais emocionante do documentário são os testemunhos de algumas meninas restauradas, que testemunharam e mandaram seus agradecimentos ao DT. Uma delas, inclusive, contou que tinha Aids e todos choramos com ela. Algum tempo depois recebemos a notícia de que ela foi curada. Fico pensando em quantas pessoas devem ter orado por essa menina, depois do documentário”, conta emocionada.

Família Rener:

Joaquim, Rebeca e Luciene Pastora Imaculada Alvino

Page 17: Atos Hoje 29

ConHEçA A ÍndIA

As comunidades da Índia são divididas em castas, da mesma forma a raça e o idioma. O sistema de castas reflete antigas hierarquias sociais e ocupacionais, mas suas origens são disputadas e incertas. O país ficou independente da Grã-Bretanha, em 1947, e tem a maior democracia do mundo.

A atual administração enfatiza o crescimento econômico e o progresso social sobre questões incluindo castas e liberdade de religião. A constituição da Índia fornece plena liberdade religiosa de adoração e testemunho para todas as religiões, porém, a ascensão do extremismo hindu resultou em uma campanha de ódio contra os muçulmanos no início da década de 1990 e contra os cristãos no final de 1990. A perseguição varia, dependendo da força dos grupos extremistas, de um estado para o outro. O problema das castas também tem ligação direta com a pobreza.

Capital: Nova DélhiMoeda: Rúpia IndianaPopulação: 1.214,5 bilhãoGoverno: República ParlamentaristaReligiões: Hinduísmo (73%), Islamismo (13,7%), Cristianismo (4,8%) e Outras (8,5%)Número de grupos étnicos: mais de 2.500

Colaboração: Stephanie Zanandrais

17

As histórias que relatamos a seguir são de meninas que estavam ou na casa de Imaculada ou na casa de Luciene. Devido aos anos de convivência, as missionárias falam delas como se fossem filhas. As meninas do Projeto Índia são oriundas da casta dos Dalits. Elas são como poeira, dentro da cultura na Índia. Não servem nem para serem servas. Somente para serem usadas na prostituição. Antes de ler suas histórias, entenda melhor em que posição social elas se encontram. Isso o ajudará a entender por que os homens e as mulheres agem como agem. A cultura molda atitudes. Os homens creem que podem abusar das meninas e as meninas pensam que nasceram para isso. Quem consegue sair dessa armadilha cultural vê novos horizontes para sua vida.

BRâMANES – Cabeça de Brahma. Composta pelos sacerdotes e letrados. Representam a classe mais elevada da sociedade.

KSHATRIyAS – Braços de Brahma. São os guerreiros com poder político e proprietários de terra.

VAISHyAS – Pernas de Brahma. Representada pelos comerciantes, camponeses e artesãos.

SUDRAS – Representada pelos operários e serviçais.

DALITS OU INTOCáVEIS – São os parias, chamados poeira dos pés de Brahma.

As histórias das meninas alcançadas pelo Projeto Índia

DALITS OU INTOCáVEIS

SISTEMA DE CASTAS

NASCIDOSDUAS VEZES

SUDRAS

VAISHyAS

KSHATRIyAS

BRâMANES

Page 18: Atos Hoje 29

PROJETO Índia – ViTÓRia sOBRE as TREVas

18

AMREEN chegou ao projeto, em junho de 2000, com suas três irmãs. Ela se converteu e ficou no projeto até 2004. Nesse ano, os pais dela foram visitá-la e resolveram levá-la. Ela foi liberada junto à irmã. Hoje, Amreen é modelo profissional, tem um novo nome, Sanya Fatma, e continua amando a Jesus. Sua irmã trabalha num escritório, e ambas são cristãs.

ARTHI BADAN DESHMUKH. Nasceu em Mumbai. Seu pai morreu e sua mãe suicidou-se colocando querosene no corpo e ateando fogo. Antes, Arthi morava com a mãe debaixo de uma ponte e vendia ovos para ganhar um dinheiro. Quando a mãe morreu, Arthi foi morar com a avó numa área não muito boa para uma menina tão jovem. Seu irmão mais velho era alcoólatra e se tornou perigoso para ela. Por meio dos pais e de outras meninas, Arthi foi apresentada à RACE, onde chegou em maio de 2003. Não há relatos de abuso sexual, apenas suspeitas. Quando perguntada, ela não fala a respeito. Chegou muito magra e doente, com os cabelos longos e cheios de piolho. Chorou dias por causa do cabelo cortado. 15 dias depois, as lêndeas e piolhos já haviam sido eliminados e ela já estava mais esperançosa que seu cabelo voltaria a crescer. Ela aceitou Jesus, imediatamente, e não fez perguntas sobre a Bíblia, mudou de casa, e não deu trabalho, era obediente, boa aluna e não gostava de falar sobre o seu passado. Arthi ficou no projeto até 2008. Hoje, está casada e tem um filho.

BABITA KANAKAPPA. Sua mãe era prostituta na área da Luz Vermelha e Babita vivia com sua irmã Sonam e a mãe. Babita viveu num albergue por cerca de seis meses, quando sua mãe ouviu falar sobre a RACE. Ela entrou

em contato e pediu para cuidar das filhas. Babita chegou com sua irmã em dezembro de 2000. Quando Imaculada voltou para o Brasil, em 2006, Babita brigou com o novo líder e foi expulsa da casa. Por algum tempo, ela andou desviada, mas acabou voltando e, hoje, é obreira do projeto. Com 25 anos de idade, Babita é casada com Sashin Solanki e tem dois filhos, Anughra (que significa “graça” em Hindi) 3 anos, e Annanya (que significa “única”) com 1 ano.

KAJAL foi abusada e duramente espancada pelo pai (ela tem cicatrizes pelo corpo), mas as marcas mais profundas estavam na alma. O pai trabalhava na construção civil como servente e vendia a mãe para os amigos para ganhar dinheiro e sustentar o vício em drogas. Um dia, no entanto, a mãe fugiu de casa levando Kajal, que tinha 8 anos. Como não conseguiu emprego por que tinha que levar a menina junto, acabou indo morar na Luz Vermelha e trabalhar lá mesmo para sustentar a filha. Quando se tornou adolescente, o assédio de homens era tão grande que a mãe não conseguiu mais protegê-la, então a entregou ao Projeto Índia para que tivesse um futuro melhor. Ela chegou ao projeto em agosto de 2008. Kajal foi ministrada nos últimos meses na área de cura interior e perdão ao pai, para que pudesse aceitar a paternidade de Deus. Sonha ser cantora gospel e médica ginecologista.

KIRAN nasceu numa aldeia Jhonpurum, em Maharashtra. Ela vivia com os pais, tem um irmão e uma irmã. Seu pai foi assassinado e sua mãe mudou-se com os filhos para Mumbai, para viver com outro homem num lugar chamado Kalyan. Kiran foi morar com os avós na aldeia onde foi atacada por um homem que

Page 19: Atos Hoje 29

19

abusou dela sexualmente. Tentando se defender, Kiran, atingiu esse homem com uma pedra na cabeça. Ao ver o sangue escorrer, Kiran ficou com medo e fugiu para Mumbai imaginando que o havia matado. Em Mumbai, Kiran encontrou-se com um eunuco que a levou para um lugar chamado Dombibili. A mãe do eunuco a entregou para a Child Line, que contactou a RACE e pediu para abrigá-la. Kiran chegou à RACE em outubro de 2002. Após passar por vários anos de restauração e aprendizagem, atualmente, Kiran, hoje com 25 anos, é obreira na casa. Ela saiu em 2007 e disse que não esqueceu os princípios que aprendeu: oração, leitura da Palavra, adoração e louvor. É intercessora, guerreira espiritual, tem visão aberta, prega a Palavra com ousadia e fé, é verdadeiramente convertida, e ama a Jesus de todo coração. É muito talentosa, sabe costurar, bordar, fazer todo tipo de trabalhos manuais, é excelente cozinheira, quer fazer pelas novas meninas o que o projeto fez por ela. Deseja se casar com um homem que tenha caráter tratado, princípios cristãos, e que ame Jesus de verdade.

MANJU MIHIR SHIKARI nasceu em Calcutá. Ela teve uma briga intensa com o irmão, o que a levou a ser expulsa de casa. Na plataforma da estação ela conheceu uma mulher que prometeu ajudá-la a encontrar um emprego em outra cidade, mas era uma armadilha. Manju foi vendida por mil dólares. Em sua nova casa, ela não queria obedecer à patroa, então levou uma surra seguida de algo para comer. Provavelmente, havia algum remédio na comida, pois, assim que comeu, adormeceu. Manju foi forçada a se prostituir e não possuía mais vontade ou identidade. Numa batida policial, ela foi presa e resgatada pela International Justicy Mission (IJM)

e levada para o Devrar Remand Home (uma organização do governo que resgata crianças), onde ficou por 10 meses. Eles contactaram a RACE e ela chegou em maio de 2003, mas teve dificuldades para se adaptar às regras de trabalho, acordar cedo e cumprir a programação interna. Para piorar, após exames, constatou-se que ela estava com o vírus HIV, o que lhe causou grande revolta. Todos os dias falava em voltar para a Luz Vermelha e contaminar outras pessoas. Mesmo motivada a perdoar essas pessoas, ela chorava e se esmurrava e dizia em voz alta que não iria perdoar nunca. Manju manifestou demônios, várias vezes, mas um dia foi liberta e começou o processo de liberar perdão. Depois disso, ela teve um sério problema de garganta que os médicos suspeitavam ser câncer. “Após entrarmos em oração, o resultado da biópsia veio negativo e ela proclamou a cura. Cremos que ela foi curada por conta do perdão que deu àqueles que a contaminaram na Luz Vermelha”, conta Imaculada. Hoje, Manju trabalha como assistente social no Exército da Salvação da Índia.

MEERA foi criada num orfanato. Quando fez 18 anos, lhe arrumaram um casamento, mas apanhada muito do homem. Meera, então, fugiu, e foi trabalhar de empregada doméstica na casa de um homem que, depois de um tempo, a seduziu e acabou por engravidá-la. Quando soube que ela estava grávida, ele a mandou embora do trabalho. Meera voltou para o marido, mas ele a espancava e mandou embora de casa. Meera ficou na rua por um tempo até que foi achada e levada ao projeto. Quando chegou, em janeiro de 2001, estava grávida e não queria contar nada de sua vida. A promessa era que, assim que a criança nascesse, ela teria que ir embora. Entretanto, como Meera

Page 20: Atos Hoje 29

PROJETO Índia – ViTÓRia sOBRE as TREVas

20

era muito trabalhadeira, caprichosa com tudo, submissa, Imaculada a treinou para ser obreira. Quando o menino fez 7 anos, decidiu-se que eles deveriam sair da casa. Hoje, Meera é professora de inglês e hindi, tem a própria casa, e o filho está com 11 anos.

NAGUR. Chegou ao projeto em junho de 2009. Nagur foi abusada, carregava uma rejeição profunda, detestava homens, tinha um relacionamento com outra menina. Foi ministrada e liberta nos últimos meses. Já é visível a mudança no comportamento. Aparentemente se converteu de verdade. É muito inteligente e anota todos os estudos bíblicos, responde certo a todas as perguntas sobre a Palavra de Deus e faz muitas perguntas. É uma líder em potencial. Sonha ser pastora e professora.

PHUSPA KANCHA BAHADUR. Sua mãe deixou o Nepal, e foi morar em Mumbai e encontrou trabalho somente na Luz Vermelha como prostituta. Pushpa nasceu na estação central de Mumbai. Foi levada para um local onde ficou com uma família que trabalha com prevenção de prostituição. Ela foi para a escola somente por alguns anos. Voltou a viver com a mãe e a avó na Luz Vermelha e acabou entrando para a prostituição. A sua mãe ouviu falar da RACE e pediu ajuda. Ela chegou ao RACE em fevereiro de 2003. Phuspa converteu-se de fato ao Senhor e dá provas disso. Hoje, Phuspa é casada, tem dois filhos e sonha ser assistente social e administrativa.

POONAM. Chegou no projeto em 2009. É órfã de mãe e o pai mora na Luz Vermelha. Ela viu sua mãe se deitar com vários homens e ser degolada por um deles. O pai a visita uma vez por mês. Ela é muito carente, muito meiga

e inteligente. Foi ministrada na área de cura interior. Sonha ser professora.

REENA. Resgatada pela International Justicy Mission (IJM), Reena chegou ao projeto muito ferida, porque foi abusada pelos pais, irmãos e primos. Passou por um processo de libertação, cura interior, e depois ficou com os indianos. Atualmente, ela está casada e é proprietária de um salão de beleza, fruto de um curso que ela fez quando estava no projeto. Seu marido é motorista de autorickshaw (triciclo), tradicional meio de transporte indiano.

SARITHA ARUM GUNDGE. Sua mãe era prostituta em Kolsagali. Saritha viveu um tempo com a tia na área da Luz Vermelha, ficou horrorizada com o que viu: um homem estuprando uma menina de 5 anos. Ficou com muito medo e pediu para voltar a viver com a mãe. Ao contar para a sua mãe o que havia visto, ela não se comoveu, pois a própria mãe chamou um homem para usar Saritha enquanto tomava banho. O homem a agarrou e, enquanto estuprava, Saritha chorava e gritava, mas a mãe ficou apenas olhando e não a ajudou. A mãe apenas acariciava o próprio rosto com uma nota de 500 rupees. Saritha gritou tanto que uma amiga veio ajudá-la e a livrou do homem. Essa mesma amiga contactou a RACE e levou Saritha para lá. Quando chegou, em julho de 2002, ela estava magra, com a pele toda manchada, os cabelos enormes e ressecados, e uma mágoa e revolta muito grandes no coração. Havia ódio pela mãe por tê-la vendido a um homem. As primeiras noites foram atribuladas. Numa dessas noites, quando a missionária de plantão foi orar e ungir as meninas, Saritha que estava de bruços, virou o pescoço para trás e se manifestou endemoninhada. “Comecei a orar e nada acontecia. Depois

Page 21: Atos Hoje 29

21

de algum tempo, tive a direção de Deus de orar em línguas estranhas, então, Saritha começou a flutuar na cama. Eu estava com as mãos sobre ela, quando seu corpo se aproximava das minhas mãos, voltava para a cama. Foi um bom tempo assim. Pedi ao Senhor que enviasse anjos guerreiros, clamei pelo sangue de Jesus, então, de repente, ela se aquietou na cama, a cabeça voltou ao normal, e ela continuou dormindo. A partir da manhã seguinte, ela mudou o comportamento. Aprendeu inglês, está aqui há dois anos, entrou para a escola normal e foi batizada nas águas em 2004. Não bastasse isso, se tornou líder de célula, é convidada a traduzir na igreja New Life, do inglês para o hindi”, conta Imaculada. Atualmente, Saritha tem 24 anos e trabalha como obreira no projeto.

SHIREEN. Chegou ao projeto em novembro de 2007. Segundo ela, foi estuprada muitas vezes. Odeia homens devido às muitas violências que sofreu. Ainda precisa de uma conversão genuína para liberar perdão aos agressores. Disse que ainda não consegue perdoar. Sonha ser professora e missionária para cuidar de crianças.

SONAM MALLESH KANKAPPA era uma garota muito má, adorava ídolos, mentia, roubava e enganava as pessoas, inclusive a própria mãe. Seu padrasto bebia muito e batia em Sonam e na mãe. Certa vez, ele planejou vendê-la, mas não concretizou a ideia. A mãe de Sonam entrou em contato com o RACE e ela chegou ao projeto em dezembro de 2000. Ali aceitou Jesus como seu Senhor e Salvador e experimentou uma nova vida a partir de então. Sonam é irmã de Babita e, hoje, aos 22 anos, é responsável pela contabilidade do projeto Índia, terminou a faculdade, e é líder de uma casa. Tambem faz parte do grupo

de louvor da Igreja New Life Nerul. Está sofrendo com hipertireoidismo, ganhou muito peso e tem problemas renais. Ore por sua cura. Sonha se casar e ter filhos.

SONy. Chegou ao Projeto em dezembro de 2007. É órfã de mãe, tem um irmão e o homem que ela chama de pai está preso. Teve um tumor no seio no final do ano de 2011, mas a equipe orou e o tumor desapareceu. Em maio, ela se queixou de dores nas axilas, mas os missionários oraram novamente enquanto esperava o dia de fazer o RX e a mamografia. Quando fez, já havia desaparecido. Sony é uma menina muito triste. Ainda está no processo de cura das feridas da alma. Disse que não consegue entender como um Deus bom deixa sem pais uma menina e o irmão. Sonha ser missionária e assistente social.

SUMITHRA. Desde pequena, Sumithra não se interessava em estudar, por isso, seu pai e sua irmã batiam muito nela. Por causa disso, ela fugiu de casa e viajou para Delhi. Por alguma razão, lá também as pessoas batiam nela. Curiosamente, enquanto apanhava, ninguém ouvia seus gritos. Dali foi a outra cidade que não lembra o nome e teve o mesmo tipo de experiência. Então, decidiu fugir mais uma vez das pessoas que batiam e abusavam dela. Assim, chegou a Mumbai e ficou morando na estação de trem. Foi encontrada pela Child Line e resgatada. A Child Line contatou a RACE e pediu para que cuidasse dela. Ela chegou à RACE em maio de 2001. Hoje, com 27 anos, Sumitra é líder auxiliar das casas.

Page 22: Atos Hoje 29

PROJETO Índia – ViTÓRia sOBRE as TREVas

22

TARA UMA NAIK. Sua mãe era prostituta na Luz Vermelha. Seu pai um marginal que extorquia dinheiro dos comerciantes. Ele morreu e sua mãe manteve Tara e seu irmão na casa da tia dela, na aldeia em que nasceu. As crianças começaram a ter que implorar aos parentes para que cuidassem delas, então, a mãe decidiu levá-las de volta a Mumbai e as colocou numa creche. Quando a mãe ouviu falar da RACE, pediu que cuidassem da menina. Tara chegou ao projeto, em janeiro de 2003, com uma doença degenerativa nos ossos, especialmente pernas e braços. Eles ficavam volumosos, como se tivessem sido fraturados e calcificados sem gesso. Por isso, ela estava com os braços e pernas tortos. Tara disse às missionárias que não gostava da vida que levava na Luz Vermelha, contou que viu muita coisa feia e suja lá. Ela sabia que a mãe era prostituta. Disse que a viu com muitos homens e também contou que foi abusada muitas vezes, e que desejou morrer em certas ocasiões. Hoje, Tara tem 20 anos, passou no vestibular e está estudando inglês para entrar na faculdade.

VIJIyA. Chegou ao projeto em junho de 2008. É uma líder em potencial. Foi abusada pelo tio, mas ela mesma disse que já superou. É uma menina alegre, ativa e muito curiosa. Depois da libertação, ela conversou bastante com os seus líderes na casa e tem aprendido a amar Jesus de todo coração. Sonha ser engenheira de petroquímica.

A missão continua

Page 23: Atos Hoje 29

23

Imaculada trabalhou na Índia de 1999 a 2006, quando foi obrigada a voltar ao Brasil por que foi entregue à polícia sob a acusação de estar convertendo menores ao Cristianismo. Tudo começou um ano antes, quando, no Natal, Imaculada fez uma festa de aniversário para Jesus, com bolo, enfeites etc. Imaculada convidou toda a vizinhança que, em sua maioria, era muçulmana ou hindu. Quarenta e duas pessoas aceitaram a Jesus na festa e, no final, as pessoas trocaram os presentes entre elas. Só que isso acabou causando problemas e o projeto se dividiu em agosto de 2005. “Creio que houve ciúme por parte dos indianos cristãos que não se conformaram com o fato de que ganhávamos pessoas para Jesus mais facilmente que eles. Quem de fato fez a festa e convidou as pessoas foram as próprias meninas. Os indianos inventaram muitas mentiras sobre mim. Uma grande confusão. Graças a Deus, agora, anos depois, eles me pediram perdão e tudo ficou acertado. O casal indiano ficou com a RACE e a maioria das meninas e nós começamos o Projeto Índia, em setembro de 2005,

com duas obreiras que escolheram ficar conosco e mais sete meninas”, explica Imaculada que não foi expulsa da Índia. Apenas não lhe foi mais permitido renovar o Visto de permanência no país. Assim que voltou ao Brasil, Imaculada ficou sete meses trabalhando num núcleo da IBL, depois foi para os EUA a fim de aprimorar o inglês. Por oito meses ela morou na Califórnia na casa de americanos. A partir de 2008, Imaculada passou a trabalhar com o ministério de mulheres onde atua até hoje, especificamente com libertação e aconselhamento.

Luciene ficou no projeto de 1999 a 2004. Pela impossibilidade de renovar o seu visto, ela também entendeu que era o momento de voltar. Designada para nova função, Luciene trabalhou no núcleo de Santa Luzia por quase um ano. Nesse ínterim, ela conheceu Joaquim e passaram a namorar. Luciene se casou em julho de 2008, e hoje mora em Salvador, BA, tem uma filha, Rebeca, cursa Letras Inglês/Português na Universidade Federal da Bahia, dá aulas de inglês no SENAC, e é membro da Primeira Igreja Batista.

Imaculada e Lucieneretornam ao Brasil

Os missionários Ricardo e Gláucia ficaram responsáveis pelo projeto entre 2006 e 2011. Depois deles, até 2012, Adenildo e Patrícia. Desde o início de 2012, duas ex-alunas do CTMDT estão à frente das casas. Frank, aquele que revelou o chamado a Luciene, hoje, é o diretor da Operation Mobilization (OM) em Hyderabad.

Atualmente, o projeto possui três casas com um total de 33 meninas, e uma nova equipe com cinco ex-internas que são obreiras, uma líder da escola dominical, uma psicóloga, o responsável pela parte administrativa, um professor da escola aberta para meninas que já passaram da idade de estudar nas escolas regulares, e um motorista do ônibus escolar. Perto de 450 meninas já passaram pelo projeto.

O pastor Gustavo, Secretário de Missões da IBL, informa que a Secretaria de Missões da IBL está estudando a possibilidade de expandir o projeto para outras regiões da Índia.

Page 24: Atos Hoje 29

24

M uito se tem dito a respeito de “evangelizar”. Esta primeira frase, inclusive, pode ser que já tenha sido escrita, diversas vezes, por

gente que decidiu, assim como eu, agora, finalmente, resolver a questão do evangelismo na Igreja de uma vez por todas. O mundo será outro depois deste texto. No entanto, já encerro aqui a minha ilusão de que conseguirei isso. Não depende apenas do meu desejo, da minha habilidade em argumentar, ou de Deus. É, isso mesmo, não depende de Deus. A despeito de tudo nesta vida ser “se Deus quiser”, a missão de evangelizar Ele deixou para nós. Ele vai salvar a quem a gente pregar – seja direta ou indiretamente. Loucos, natimortos, criancinhas, abortados etc., só no Céu saberemos o que será deles. Ninguém aceitou a Jesus do nada. Alguma coisa ele ouviu, algo sentiu a partir de informação externa que lhe chegou aos ouvidos e desceu ao coração. Sei de pessoas que aceitaram a Jesus de todo jeito, até mesmo por meio do Diabo. Ele mesmo pregou, acredite.

Um sujeito estava fazendo um despacho grandioso com uma determinada finalidade maldosa quando o Diabo, em pessoa, lhe apareceu e disse que de nada adiantaria aquele trabalho todo, pois a pessoa a quem se destinava o “trabalho” era crente. “Ela é filha do cara lá de cima. Com ele eu não mexo, pois é mais poderoso”, disse o Pai das Trevas. Ao ouvir tal declaração do patrão chifrudo, o sujeito respondeu: “Se o outro é mais poderoso, então não te sirvo mais”. Abandonou a vida de despachos e foi servir a Deus numa igreja cristã.

Outro amigo era do tipo que denominamos “doidão”. “Cheirava todas” e vivia em “petição de miséria”, como diziam os antigos. Certo dia, fumando sua tradicional maconha junto a um amigo, resolveu ler um livro diferente: a Bíblia. Entre baforadas, blasfêmias e risadas, ele parou num texto que lhe

informou claramente que se continuasse naquela vida de drogas, certamente, iria para o Inferno. Sem pestanejar, largou tudo e entrou n a primeira igreja evangélica que viu aberta e aceitou Jesus.

Histórias assim são produto de oração, de investimento de muitas pessoas, tenha certeza. Aliás, a maioria das conversões veio de exaustivos trabalhos de pregação corpo a corpo. Deus e seus anjos não descem à Terra para pregar o Evangelho. A missão é nossa. Contudo, parece-me que a evangelização está um pouco esquecida, coitada, no final da fila das prioridades eclesiásticas. Analise comigo.

Os cânticos de sucesso apelam para o emocional, estão centrados no homem e no seu bem-estar. Enquanto isso, as pregações, cujas canções refletem, visam entusiasmar, motivar a conquistar bens terrenos a todo custo. O apelo à salvação é dado ao final dessas pregações, criando um paradoxo sem precedentes na história dos sermões cristãos. Prega-se uma coisa e se faz apelo para outra. Ouça: “Deus vai resolver todos os seus problemas, dar-lhe tudo o que precisa, e fazer você milionário nesta Terra. Quem quer aceitar Jesus?” Ora, quem não irá aceitar?! Tudo bem, ainda bem que aceitou Jesus, mas a propaganda foi enganosa, e o novo convertido poderá se frustrar quando descobrir que não é bem assim como lhe prometeram.

A vida com Deus é vida feliz, mas temos que suportar outros lances que estão sendo omitidos aos novos convertidos. Vida com Deus também é perder para ganhar; é morrer para viver; é dividir o pouco que tem; é servir e não ser servido; é passar por lutas e agradecer; é estar preso e cantar; é levar um tapa e dar a outra face; é aguentar uma série de desaforos dentro e fora da Igreja; é suportar os crentes (cristão é outra coisa); e mais uma série de outras aventuras aparentemente ruins, mas que enriquecem o homem

MAS, O QUE É EVANGELIZAR MESMO?POR aTiLanO MuRadas

Page 25: Atos Hoje 29

25

de sabedoria e o fazem entender o verdadeiro sentido de ser cristão – se você ainda não entendeu isso, peça ao Espírito Santo pra lhe fazer entender. Aí você vai ser feliz mesmo tendo que viver essas tribulações. São alguns dos mistérios da vida cristã.

Essa forma de expor o Evangelho parece o daquelas propagandas com uma porção de letrinhas miúdas no pé da página, quase ilegíveis de tão pequenas. A gente só fica sabendo de tudo mesmo quando aparece um problema e precisa acionar a empresa.

Tanto se fala, hoje em dia, em respeitar os direitos. Pois é, os cristãos deveriam respeitar os direitos dos incrédulos e pregar-lhes o verdadeiro Evangelho para trazê-los para a Igreja. Aliás, eu acho até que viria mais gente que sinceramente aceitou a Jesus por que o ama de verdade, e não aos presentes que oferece. Os incrédulos não são todos idiotas e vão caindo na conversa de qualquer um não. Alguns caem, hoje, mas, daqui uns dias, pulam fora. Falsos pregadores podem enganar por um tempo, mas não por todo o tempo. E fazer com que esses desviados compreendam o verdadeiro Evangelho é quase um outro milagre.

Mas, por que será que isso acontece? A resposta, talvez, venha ao se tentar responder “Mas, o que é evangelizar mesmo?” Quando entendemos que nascemos com uma missão que vem “antes” de qualquer missão que tenhamos que exercer na Terra, então começamos a entender melhor a vontade de Deus. Em Marcos 16.15-18, Jesus deixa isso claro: “Ide e pregai”; o resto vem depois. Em Atos 1.8, Lucas escreve que receberíamos o poder para sermos “testemunhas”, ou seja, que pregam o Evangelho; depois, vêm as atividades desde onde se está até os confins da Terra (missões).

Evangelizar é um dom que nasce com todas as pessoas. Pode e deve ser exercido, desde a mais tenra idade. Evangelizar é falar daquilo que se crê, sem a

necessidade de fórmulas mágicas de multiplicação ou de mirabolantes estratégias de marketing. Isso tudo pode ser usado, mas se as pessoas estão desfocadas, é dinheiro jogado no lixo.

Evangelizar é uma decisão que alguém toma antes de querer ser pastor, apóstolo, profeta, doutor, ou até mesmo evangelista. Isso mesmo, evangelista, pois tem gente que quer assumir seu dom de evangelista depois que fizer o bacharel em Teologia, o mestrado em divindade, o doutorado em anjos, e conseguir os recursos para se sustentar no campo missionário. Você conhece alguém que se preparou a vida inteira para tocar piano sem nunca ter tocado um piano? Claro que não. Quem toca bem começou cedo e nunca parou.

Quem não treina evangelismo não será evangelista. Quem não conhece a Bíblia não será evangelista. Quem não ora, não evangeliza. Quem não insiste com as pessoas, corre atrás, suporta umas pedradas, não alcançará sucesso no evangelismo. É igual no trabalho: um leão por dia – inclusive, com o que ruge como um leão ao redor tentando nos tragar. Ser cristão da teologia da prosperidade é mole. Quero ver é ser cristão da teologia da verdade.

ATILANO MURADAS é jornalista, teólogo, compositor, escritor, músico e pastor. Possui oito CDs gravados e três livros publicados. Por sete anos, foi missionário nos EUA e, hoje, reside com a família em Belo Horizonte onde

é pastor na Igreja Batista da Lagoinha e professor do CTMDT. Site: www.atilanomuradas.com E-mail: [email protected]

MAS, O QUE É EVANGELIZAR MESMO?

Page 26: Atos Hoje 29

dE BELO HORiZOnTEaTÉ Os COnfinsda TERRaAtuando em vários estados do Brasil e também em outros países, os missionários da Igreja Batista da Lagoinha seguem cumprindo o chamado de deus para as suas vidas

26

Quando Jesus ordenou “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16.15), Ele estava diante

de um grupo que seria a base da chamada igreja primitiva que, em Atos 1.8, recebeu uma promessa seguida de uma gigantesca missão: pregar até os confins da Terra. A partir desses primeiros cristãos, todo o mundo conhecido seria evangelizado nas décadas e séculos seguintes, até chegar aos nossos dias. No entanto, isso só foi possível porque homens e mulheres, em todas as épocas, se dispuseram a gastar suas vidas em prol da pregação do Evangelho. A esses chamamos de “missionários”, pessoas que receberam de Deus a capacidade especial de exercerem o chamado no Corpo de Cristo em um contexto cultural diferente de onde nasceram e viveram.

Desde os tempos do apóstolo Paulo, há relatos de pessoas bem-sucedidas ministerialmente quando se engajaram em obras de evangelismo ou consolidação de vidas em contextos diferentes ao que estavam habituados a viver. Para constatar isso, leia a história dos missionários de todos os tempos e você chegará à conclusão que algo sobrenatural moveu essas pessoas para dedicarem suas vidas a missões.

Ao contrário do que muita gente pensa, nem todo missionário é um evangelista. Um missionário pode ser chamado a exercer um dom diferente do evangelismo, como por exemplo, ensino, socorro ou pastor. O missionário com real chamado, sente alegria em romper barreiras culturais e facilidade em se adaptar às particularidades de um outro país, tais como, costumes, língua e alimentação.

Graças a Deus, a liderança de nossa igreja sabe reconhecer aqueles que foram chamados para serem missionários, por isso, tem suportado muitos no campo. Alguns, integralmente, outros, parcialmente, e ainda outros, por meio de parcerias. A seguir, você conhecerá de forma sucinta quem são nossos missionários, há quanto tempo estão no campo e o que têm produzido para o Reino de Deus. Que suas histórias sirvam de inspiração a todos nós que estamos na igreja local e fomos chamados a sustentá-los em oração, psicológica e emocionalmente, bem como, financeiramente.

POR aTiLanO MuRadas

Page 27: Atos Hoje 29

1

2

3

4

5

6

27

no idioma albanês, alcançar mulheres albanesas e formar novos líderes.

4. ANTONIO BARBOSA COELHO é solteiro e trabalha com implantação de igrejas em Tirana, Albânia, onde está há 21 anos. Para alcançar os albaneses Antônio teve que aprender a língua albanesa. Até o momento, três igrejas já foram implantadas. Para os próximos anos, Antônio pretende dar sequência ao evangelismo, que é contínuo, bem como, consolidar um grupo que já aceitou a Jesus, mas ainda não foi batizado, e abrir novas igrejas.

5. BRáULIO BRANDãO DE OLIVEIRA LOPES é solteiro e atua em São Gabriel da Cachoeira, AM. Ele está há um ano no campo e trabalha com tradução da Bíblia, produção de material didático para ensino na língua materna e discipulado. Para atuar nessa região com o povo Tukano, Bráulio está aprendendo a língua tukana e se familiarizando com a cultura. Mesmo com as dificuldades iniciais, já pode auxiliar na produção de material didático em Tukano – um livro de alfabetização e dois livros de histórias. Para o próximo ano, Bráulio já começou a traduzir alguns textos bíblicos.

6. CARLOS ANDRé E SUERDA SALES são casados, têm dois filhos, Samuel e André, e atuam em Guiné Bissau, desde 2008. O foco da missão é o povo Fula, na aldeia de Bani, e o alvo principal é ver uma igreja fula biblicamente contextualizada e consciente de sua vocação. Pelo convívio com o povo, a família tem aprendido a língua e a cultura locais. Carlos e Suerda desenvolvem ministério com crianças, com saúde humanitária e realizam discipulado. Entre os projetos para os próximos anos está a construção da casa missionária na aldeia e um Centro de Nutrição.

1. ALESSANDRA COSTA BARROS é solteira e atua em Salto, Uruguai. Basicamente, seu ministério consiste em apoiar os trabalhos da igreja local com evangelismo, discipulado de jovens, intercessão e libertação. Alessandra está há um ano no campo e ainda vivendo o tempo de adaptação à cultura. Nesse tempo, o foco tem sido dominar a língua hispânica e o discipulado direcionado para grupos específicos. Alessandra tem trabalhado com adolescentes e jovens e visto o amadurecimento deles de maneira surpreendente. Além disso, tem servido a igreja local onde enfrenta muitas lutas com a religiosidade. Com a chegada do verão, Alessandra está com expectativas nas campanhas evangelísticas com tenda e o acampamento anual de jovens, que será realizado em fevereiro.

2. ANA PAULA MANZO é solteira e trabalha em Tirana, Albânia. Está fora do Brasil, há apenas dez meses, mas trabalhava em missões na IBL há cinco anos – dois no CTMDT, um na África do Sul e Catas Altas da Noruega, MG, e dois na IBL. Também passou períodos na tribo indígena dos Pataxó e ribeirinhos do Amazonas. Na Albânia tem se dedicado ao estudo das línguas inglesa e albanesa. Outro trabalho que realiza é o evangelismo de mulheres. Ana lidera uma célula em sua casa, às quintas-feiras, e faz um encontro com outras mulheres, às terças.

3. ANGéLICA ANAIRA E SILVA é solteira e mora na Albânia há dez meses. Sua principal atuação gira em torno do evangelismo, discipulado e formação de líderes. Para fazer conexão com as pessoas, ela usa sua habilidade como professora de dança. Para se comunicar, Angélica tem se empenhado no estudo do inglês e do albanês. Seus projetos para os próximos anos incluem fluência

Page 28: Atos Hoje 29

28

7. C. C. S. é solteira e atua há três anos no sul do Brasil, com os árabes dando aulas de reforço escolar e português. Para exercer essas atividades Carmen precisa falar inglês e árabe. Atualmente, trabalha com sete famílias árabes, e há dois anos com uma mulher árabe convertida que já está atuando como evangelista junto aos árabes. O projeto atual é permanecer pelo menos mais um ano nesse campo para melhorar a fluência na língua árabe e depois ir para um país árabe.

8. CLERES E JANE PACHECO são casados e atuam em Bialystok, na Polônia, alcançando os poloneses. Basicamente, eles realizam evangelismo, pastoreio, assistência social e cursos de artes manuais. O currículo de trabalho do casal inclui dez anos na Polônia, um ano na Inglaterra e um ano no Paraguai, trabalhando com eslavos. O casal já alcançou muitos jovens e assistiu diversas famílias com o Ministério Kidz Klub e o Ministério de Mulheres. Cleres e Jane têm o projeto de começar uma casa de apoio a jovens envolvidos com drogas e marginalidade.

9. CRISTIANE ALVES é solteira, mora em Belo Horizonte, atua no ministério Jornada da Aliança da Igreja Batista da Lagoinha, bem como, na tradução da Bíblia. Em 2010, Cristiane trabalhou em Sucre, Bolívia, compartilhando e ensinando o Evangelho a crianças e jovens, além de atuar na área da alfabetização. Após esse período, passou a se envolver diretamente com a tradução da Bíblia para povos que ainda não a possuem em sua língua materna. Para isso, esteve em algumas aldeias indígenas do norte do Brasil. Cristiane também elaborou, junto a outros missionários, projeto para uma língua do Timor Leste.

10. CRISTILENE PEREIRA DA SILVA é solteira e atua no Haiti na área de discipulado, ensino do português, apoio ao orfanato Mário James, e trabalho com crianças entre 3 a 12 anos na escola da comunidade. Para realizar o seu ministério, Cristilene necessita aprender três línguas: crioulo, francês e inglês. Há cinco meses, está no campo e já tem visto portas abertas junto à comunidade onde realiza palestras e orientação familiar para os pais na associação de moradores. Nos próximos anos, Cristilene pretende focar no discipulado, obter contatos com ONGs e desenvolver projetos na área de agricultura familiar, trazendo o entendimento de que os haitianos precisam e conseguem se autossustentarem.

11. DILENE LOPES DA CUNHA é solteira e trabalha, há nove meses, em Porto Príncipe, Haiti, no ministério pastoral, missionário, treinamento de seminaristas, evangelismo, ensino e ajuda humanitária. O povo haitiano sem emprego, pobre, injustiçado e oprimido, é seu alvo de atuação. Para isso, tem aprendido duas novas línguas: o francês e o crioulo. Dilene tem feito um trabalho de desenvolvimento comunitário com a Igreja Peregrinos, na comunidade de Ti-Caju. Paralelamente, ela evangeliza por meio das três classes de ensino da Língua Portuguesa que ministra, trabalha com um orfanato, e faz palestras na comunidade sobre a inversão do papel familiar. Para os próximos anos, Dilene pretende implantar o discipulado na igreja local e continuar com ajudas humanitárias.

12. EMERSON MAMEDE MENDES é solteiro e atua há três anos em Carmésia, MG, alcançando os índios pataxós. Basicamente, suas ações consistem em evangelismo, implantação de igreja,

dE BELO HORiZOnTE aTÉ Os COnfins da TERRa

8

9

10

11

12

Page 29: Atos Hoje 29

29

trabalho com crianças, aconselhamento de casais, discipulado e implantação de células. Dois casais já foram alcançados e estão sendo treinados para serem pastores da comunidade. Um projeto a curto e médio prazo é a construção de uma cabana para realização dos cultos.

13. G.O. e S.S. são casados e têm filhos. Atualmente, trabalham na Jordânia. A estratégia de evangelismo é por meio do esporte e das artes, bem como, visitas a residências, tendas, e trabalho com refugiados. O povo que desejam alcançar são os jordanianos e árabes residentes no país. O casal trabalha com inúmeras crianças e têm aproveitado as oportunidades para semear no coração dessas crianças não só esporte ou artes, mas o amor de Deus. Nos próximos anos pretendem continuar o trabalho e se engajarem naquilo que o Pai direcionar.

14. GEZIEL E CLáUDIA OLIVEIRA são casados e atuam em Ribeirão das Neves, Justinópolis, e Belo Horizonte, na área administrativa, no ministério Homens da Promessa e com células. Geziel trabalhou por um ano na Bolívia, na prática ministerial do curso de missões do CTMDT, focado no alcance de jovens e crianças. Nos próximos anos, Cláudia pretende se preparar melhor para os novos passos missionários da família.

15. GISLAINE PEREIRA SARAIVA é solteira e atua em comunidades ribeirinhas do rio Manacapuru, no Amazonas, há dois anos. Gislaine evangeliza e planta igrejas em comunidades ainda não alcançadas pelo Evangelho. Como cirurgiã-dentista, colabora no desenvolvimento de projetos sociais, além de realizar atendimentos odontológicos com consultório portátil. O seu trabalho já tem alcançado várias comunidades: uma igreja com liderança

ribeirinha na comunidade de Jacarezinho, e que já está realizando trabalhos missionários nas comunidades vizinhas; uma igreja nascendo na comunidade de Bararuá com líderes locais em formação; células em três comunidades vizinhas antes consideradas “não alcançadas”. Gislaine tem vários projetos, a saber: plantar igrejas em lugares estratégicos no rio Manacapuru; formar e capacitar líderes locais com visão missionária para que alcancem as comunidades ainda não evangelizadas; gerar fonte de renda alternativa para ribeirinhos que ainda vivem apenas do extrativismo.

16. GISSELDA LUZIA MOTA é solteira e, há oito meses, trabalha na Secretaria de Missões da Igreja Batista da Lagoinha em Belo Horizonte. Além de cuidar de toda a parte administrativa do ministério, conversa com muitos missionários, encorajando, animando e suportando em cuidado e oração. Desde que assumiu a função, tem vivenciado inúmeras situações com os missionários e resolvido questões que têm tornado mais tranquila a vida deles no campo. Seu tempo de permanência na secretaria é até que Deus lhe dê outra direção.

17. IAGO FREITAS GONçALVES é solteiro e, atualmente, está na tribo indígena dos terenas, em Aldeia Moreira, Miranda, MT. Nesses primeiros meses de atuação, Iago tem se dedicado ao ensino da Bíblia, utilizando-se do Português, e aprendendo a língua terena. Até o momento, o Seminário Teológico Indígena Terena possui sete alunos. Seu objetivo para os próximos anos é treinar missionários autóctones (nativos).

18. IVANI VICENTE RODRIGUES é solteira e tem um chamado para ir ao Senegal. Para isso, está estudando o francês e o crioulo. Entretanto, devido a tratamento 18

17

16

15

14

13

Page 30: Atos Hoje 29

30

médico, teve que voltar de Guiné Bissau, África. Sua previsão é de que em janeiro de 2013, esteja de volta ao campo para continuar os estudos, bem como, o trabalho de evangelismo, ensino, célula e aconselhamento. Seu principal objetivo é alcançar o povo muçulmano.

19. JACKSON E ANDRESSA BARRETO são casados há oito anos e não têm filhos. Atuam em Lamim, MG, com implantação de igrejas, formação de líderes regionais, ensino bíblico teológico, discipulado, ministério infantil, e desenvolvimento social (aulas de desenhos, pintura, violão, ballet, teatro etc). O casal já está no campo, há quase quatro anos e, até o momento, já alcançou 76 vidas.

20. JOãO (PR. JOãOZINHO) E PâMELLA DOMINGOS são casados e atuam junto à Secretaria de Missões da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, com o programa de orientação a vocacionados em missões, com projetos missionários de curto prazo, e despertamento de novos vocacionados. Desde o surgimento da Escola de Treinamento de Missionários, Joãozinho tem apoiado o plantio de igrejas no Vale do Jequitinhonha, Norte de Minas, e Nordeste, além de participar no apoio a núcleos da IBL em diversas regiões do Brasil. Conseguir mais suporte a campos missionários, dar apoio a projetos urbanos, realizar viagens missionárias de curto prazo visando o despertamento de novos vocacionados.

21. JOãO OSMAR E LyLIAN são casados e têm dois filhos, João Paulo e Daniel. Eles trabalham com treinamento de missionários, desde 2000. São membros fundadores do CFMDT que se tornou, em 2004, o CTMDT. Este ano, estão concluindo o curso de inglês nos EUA, bem como, o curso Avançado em Liderança Pastoral

(ALPES). Retornarão para Belo Horizonte em 2013.

22. JOSIANE ALINE DA COSTA é solteira e está atuando na Índia. Seu trabalho consiste em cuidar de meninas entre 4 e 18 anos e que estão em risco de se envolverem na prostituição. Josiane já está a um ano no Projeto e tem se desenvolvido no aprendizado do inglês e do hindi para ajudar meninas que hoje moram nas casas assistidas.

23. PEDRO E KARLA são casados, têm dois filhos e atuam na Rússia. Basicamente, o casal trabalha equipando a igreja local com treinamento, evangelismo e discipulado. Apesar da família falar quatro línguas, nessa região só é requerido que saibam o russo. Pedro e Karla já possuem 18 anos de experiência missionária, dos quais 13, na Rússia. Graças a Deus, dois grandes alvos já foram alcançados pela família: falar russo e um visto específico. A ocupação oficial de ambos é a de professores. Dentre as estratégias de difusão do Evangelho está a implantação de células, seminários para líderes, visitação a enfermos em hospitais e visitação a orfanatos.

24. LUCIMAR RODRIGUES DOS SANTOS é solteira e mora com a família em Belo Horizonte e serve há um ano na Igreja Batista da Lagoinha. Sua área de atuação tem sido no evangelismo, discipulado, enfermagem e educação física. Atualmente, está cursando enfermagem na Cruz Vermelha brasileira. Após isso, Lucimar concluirá os seus estudos missionários permanecendo por um tempo com os ribeirinhos do Amazonas junto a equipe da missão Asas de Socorro.

25. MAGNO E GISLANE GOMES são casados e atuam há dois anos na sede da Igreja Batista da Lagoinha,

dE BELO HORiZOnTE aTÉ Os COnfins da TERRa

19

20

22

24

25

21

Page 31: Atos Hoje 29

31

Belo Horizonte, com evangelismo (consolidação e discipulado de novos convertidos), ensino (liderança de células e treinamento de líderes). O casal tem participado efetivamente na consolidação daqueles que chegam até nossa igreja. Magno e Gislane estão na fase final de preparação para atuarem com as comunidades ribeirinhas do interior do Amazonas a partir de janeiro de 2013.

26. MáRCIA VALéRIA CABRAL é solteira e está trabalhando na Índia. A atividade se constitui basicamente em sustento e desenvolvimento de meninas resgatadas da área de prostituição, ensinando a elas a Palavra de Deus e discipulando. Para isso, é preciso falar inglês e hindi. Em 2012, retornou para mais uma temporada. Os alvos para os próximos anos são estender o projeto para outras localidades e treinar as meninas para fazerem missões dentro do projeto e também missões na Índia como um todo.

27. MARCO E LILIAN FALEIRO são casados, têm duas filhas, Aline (19) e Raquel (21), que moram no Brasil. Estão atuando em em Lubango, Sul de Angola, no Instituto Superior de Teologia Evangélico de Lubango (ISTEL), uma faculdade teológica da Associação Evangélica de Angola (AEA), que associa 16 denominações. Marco é professor e Lilian é a bibliotecária, mas ambos trabalham na tradução de um curso bíblico para pastores na língua dos Mamuilas, em alguns processos administrativos em reformulação, no evangelismo, na formação de capelães, e com a implantação do Ensino a Distância (EAD) do ISTEL.

28. MARIA DOLORES SANTOS DE ANDRADE é solteira e atua há um ano e sete meses em Belo Horizonte no

aconselhamento de mulheres e ensino para as novas na fé. Maria fala inglês e hindi, e pretende retornar à Índia em 2013. Seus planos para o futuro incluem a melhora na língua hindi e o lançamento de um trabalho com mulheres utilizando a estética como ferramenta para evangelismo. Após essa primeira etapa, Maria pretende abrir um salão/escola de beleza com o alvo de alcançar mais mulheres, e ainda criar a oportunidade de cursos profissionalizantes que serão fonte de renda para a população carente.

29. MARIA LACERDA DA PAZ (DORINHA) atua na Igreja Batista da Lagoinha, Belo Horizonte, há mais de dois anos. Basicamente, seu ministério é de ensino, aconselhamento e discipulado. O alvo principal são os novos membros que chegam à igreja. Para o próximo ano, deseja ministrar seminários sobre o tema Sexualidade Humana.

30. MARILENE ARAúJO DE SOUZA é solteira e atua há nove meses em Guiné-Bissau, África, com evangelismo, ensino, discipulado, pastoreio e treinamento de líderes. Para alcançar os animistas e muçulmanos ela precisa saber a língua francesa e crioulo. Até o momento, muitas vidas foram alcançadas e batizadas. Marilene também faz palestras para mulheres sobre vida cristã, o que já tem gerado muitos testemunhos de conversão e transformação. O objetivo é permanecer até 2014 dando suporte à igreja local. O alvo seguinte é ir para o Mali, um país da Janela 10/40 que possui apenas 0,9% de evangélicos e é dominado pelo Islamismo. O Mali é um país marcado por golpes militares, extrema pobreza, falta de trabalho e paz.

31. MARLON TADEU TEIxEIRA DA MATA é solteiro e trabalha em Porto Príncipe, Haiti, com evangelismo, ensino, tradução

26

27

28

29

30

31

Page 32: Atos Hoje 29

dE BELO HORiZOnTE aTÉ Os COnfins da TERRa

32

de textos e pregação. Está no campo há cinco meses e ainda aprendendo o francês e o crioulo, línguas básicas para alcançar os haitianos. Apesar de estar ainda chegando ao campo, já conseguiu parcerias com igrejas locais para desenvolver trabalhos com crianças. Para o futuro pretende ter capacidade para receber equipes e fornecer todos os recursos para trabalhos específicos de evangelismo, ensino, pregação da Palavra.

32. MAySA DOS REIS é solteira e atua, desde agosto de 2010, em Belo Horizonte, nas áreas de ensino, discipulado e administração. Seu ministério é efetivamente de ensino da Palavra, treinamento de novos líderes, bem como, de novos convertidos. Entre os seus planos está permanecer em Belo Horizonte com o foco de se preparar ainda mais para continuar atuando na área do ensino.

33. PATRÍCIA GARCIA SOARES é solteira e atua, há quatro meses, em Maputo, Moçambique, com ensino nas igrejas, seminários e escolas, buscando alcançar o povo Changana. Patrícia está nesse país para trabalhar com educação, ação social, seminários, cursos profissionalizantes e igrejas, aproveitando para levar a Palavra de Deus às pessoas. Até o momento, Patrícia já se envolveu na abertura de uma creche cristã e auxiliou uma escola primária ajudando a conseguir carteiras para os alunos que se sentavam no chão. Para os próximos anos pretende implantar o discipulado e implantar cursos de treinamento.

34. RAONI E KEILA MATOS são casados e estão no campo há mais de três anos. Eles atuam em Água Branca, no sertão alagoano com implantação de igrejas (evangelização, consolidação, ensino,

pastoreio). O objetivo é alcançar o povo sertanejo. Já batizaram dezenas de pessoas e estão preparando outras por meio do curso Primeiros Passos. O casal de missionários visita povoados anunciando a Palavra de Deus e realiza festas anuais para alcançar crianças. Para o futuro pretendem levantar líderes e ter uma escola para prepará-los, entregar uma Bíblia em cada casa e ter uma igreja em cada povoado.

35. ROSANIA MORAIS DE DEUS é solteira e atuou em Guiné-Bissau por oito meses. Agora, está de volta a Belo Horizonte e trabalha na Jornada da Aliança. Seu alvo principal é consolidar os novos convertidos e quem está vindo por transferência. No tempo em que esteve na África, evangelizou, batizou novos convertidos, abriu células, fez discipulados, ministrações e praticou ação social.

36. RIVALDO E EMANUELE GONçALVES são casados e atuam em Catas Altas da Noruega, MG, com evangelismo, discipulado e implantação de igrejas em zonas urbanas e rurais. Estão no campo, há quase dois anos, e já alcançaram seis famílias que têm recebido discipulado e treinamento nas células. Um projeto para os próximos anos é dar continuidade no reforço escolar, formar liderança local e alcançar zonas rurais.

37. ROBERTO E MARINA PONTES são casados, têm dois filhos, Ian e Yuri, e estão há 13 anos no campo missionário. De 2000 a 2006, estiveram na Albânia onde estabeleceram ministérios para crianças, jovens, louvor por meio de treinamento e discipulado específicos. Nesse mesmo país estabeleceram uma congregação junto a um nacional. Traduziram do português para o albanês e gravaram um CD infantil com músicas

32

33

34

35

36

Page 33: Atos Hoje 29

33

da APEC e dois CDs do Diante do Trono Infantil, “Crianças Diante do Trono” e “O Amigo de Deus”. De 2006 até os dias de hoje, trabalham no continente asiático alcançando os curdos com evangelismo, discipulado, louvor e ensino, em parceria com uma igreja local. O casal lidera o Ministério de Jovens, um grupo caseiro, discipulam jovens e casais, além de atuarem no louvor, no ministério de crianças e evangelismo de nacionais. Para os próximos anos, pretende implantar uma igreja bilíngue.

38. ROSENI RODRIGUES NASCIMENTO é solteira e está em Guiné-Bissau, África, há quatro anos. Roseni trabalha com evangelismo, ensino, discipulado, pastoreio e treinamento de líderes, com o objetivo de alcançar muçulmanos. Para isso, precisa dominar o francês e o crioulo. Fruto do seu trabalho, muitas vidas já foram alcançadas e batizadas, vários seminários de libertação e batalha espiritual para mulheres foram realizados, turmas de treinamento já foram concluídas, e dezenas de mulheres já foram discipuladas.

39. SAMUEL ROBERTO DE MELO SILVEIRA é solteiro e atua, há seis meses, em Belo Horizonte, especificamente nos ministérios Jornada da Aliança e El

Shamah. Samuel está focado no alcance de 10% de Belo Horizonte – gerar e discipular líderes para o crescimento da igreja. Paralelamente, Samuel se prepara para ser enviado a um povo não alcançado.

40. TAÍS FLORES BRONZE é solteira e atua há oito meses na área de discipulado e libertação de novos convertidos em Belo Horizonte. No momento, cursa a faculdade de teologia para que possa ser enviada ao campo missionário.

41. yARA SANTOS é solteira e atua como missionária com foco em países da Janela 10/40. Está no ministério, há sete anos, e já trabalhou com evangelismo, discipulado e pastoreio de mulheres descendentes de outros países em uma cidade no Sul do Brasil. No momento, atua no Brasil, planejando entrar em países da Janela 10/40. Para isso, estuda etnografia e a língua oficial do país foco, além do francês. Enquanto se prepara, serve a igreja em Belo Horizonte discipulando novos convertidos, liderando células, fazendo cursos dentro da área missionária. O seu envio está previsto ocorrer em 2014.

38

39

40

Que suas histórias sirvam de inspiração a todos nós que estamos na igreja local e fomos chamados a sustentá-los em oração, psicológica e emocionalmente, bem como, financeiramente.

Page 34: Atos Hoje 29

UMA NAÇÃO EVANGÉLICA? E DAÍ?

POR fáBiO gRanER

34

O IBGE acaba de divulgar que a população evangélica no Brasil bateu a marca de 42 milhões de pessoas. Em nossas muitas

denominações e movimentos, já somos mais de um quinto de toda a população do país e crescemos aceleradamente – foram mais de 16 milhões na última década. Esta trajetória exponencial deve ser vista de maneira positiva, uma evidência de que o povo do Caminho tem feito seu trabalho de pregar o Evangelho e fazer a colheita nos campos brancos. Mas este fenômeno traz consigo uma questão importante: que diferença faz essa crescente presença evangélica no Brasil?

Por enquanto, um dos fatos mais relevantes que tenho observado é que este grupo tem se mostrado uma força política cada vez maior. Sem fazer juízo de valor, é um dado objetivo o número amplo de parlamentares evangélicos no Congresso Nacional e nas câmaras estaduais, assim como o pensamento cristão protestante sobre temas civis tem sido crescentemente considerado pelos políticos, como ficou explícito nas eleições de 2010.

Outro aspecto importante é que o mundo evangélico já não é mais completamente ignorado pela grande mídia brasileira como até pouco tempo (em um horizonte mais histórico) ocorria. Temos, por exemplo, cantores e artistas evangélicos participando de programas de televisão seculares e representantes de igrejas dando opinião e participando de importantes fóruns de debates.

Também nos destacamos como um nicho de mercado importante dentro do capitalismo brasileiro. Basta ver o volume de vendas de livros, CDs e outros artigos vendidos dentro e fora de lojas evangélicas, além das crescentes adaptações de materiais seculares para o perfil evangélico.

São novidades interessantes na cultura e economia brasileira e que permitem uma infinidade de reflexões sobre as quais, contudo, não vou me aprofundar neste espaço. A

Page 35: Atos Hoje 29

35

explosão evangélica que tem ocorrido, nas duas últimas décadas no Brasil, para mim tem um interesse muito mais específico e creio que, de longe, é o mais importante.

Qual o impacto que o Cristianismo de linhagem protestante – seja ele tradicional, pentecostal ou neopentecostal – tem provocado na vida espiritual do brasileiro? Será que nós temos influenciado a alma e os costumes dos nossos concidadãos como deveríamos? Será que estamos contribuindo para termos uma nação mais saudável do ponto de vista ético e moral, promovendo mais justiça e cidadania? Ou estamos crescendo apenas numericamente e sofrendo um processo de pasteurização que nos torna apenas mais um grupo que facilita a segmentação de mercado ou que alimenta disputas do tipo Corinthians e Palmeiras com outras religiões?

Creio que se formos honestos e sem máscaras, as respostas para essas perguntas são embaraçosas. O crescimento evangélico até agora não veio acompanhado de uma revolução ética e moral nesse país. Tampouco promoveu uma escalada de solidariedade e amor ao próximo, de fome e sede de justiça, de misericórdia e sabedoria.

Difícil é saber por que estas virtudes ainda não se manifestaram na mesma velocidade do crescimento da população que se declara evangélica. Tenho algumas hipóteses, que são puramente especulativas, mas quero compartilhá-las, sem pretensão de estar irreparavelmente certo, para que os irmãos e leitores reflitam e discutam.

Acredito que a expansão evangélica no Brasil ocorreu com a maior parte da igreja brasileira (e aqui não farei distinções denominacionais) abrindo mão de valores. A opção por alcançar os perdidos ocorreu em detrimento da preservação da pureza doutrinária. Propagou-se um evangelho desidratado e utilitarista, que prega a verdade da cruz e da salvação unicamente em Jesus Cristo, mas que deixou

escondida a mensagem de negação do eu e em segundo plano o ensino de amar o próximo como a si mesmo. Com isso, temos cristãos cada vez mais autocentrados e que se veem na absurda condição de querer barganhar com o Deus soberano.

Optou-se pela política e o elevado potencial eleitoral para defender as teses caras ao Cristianismo na sociedade brasileira ao em vez de se profetizar (no sentido de revelar a Palavra de Deus) e orar diante de uma nação. Com isso, perdeu-se a capacidade de aproximação com as minorias e rejeitados (que sempre foram tão amados pelo nosso Senhor) e abriu-se um fosso difícil de se ligar com o restante da sociedade e o crescente número de ateus, o que poderá colocar um freio na trajetória de expansão do nosso povo, se Deus não interferir em outra direção.

Creio que o crescimento dos evangélicos no Brasil é uma grande bênção e não quero que esse movimento pare ou desacelere. Boa parte dos problemas que vejo na jornada desse povo são problemas que vejo em mim mesmo. Minha oração é que a colheita de almas para o Reino continue, mas que Deus também nos dê consciência para olharmos nossos caminhos e revermos aquilo que está fora da essência da palavra cristão.

Que sejamos conhecidos por um amor inigualável por Deus e pelo próximo. Que vivamos de forma mais justa, sem que consideremos que temos algum mérito naquilo que Deus promover em nós. Que sejamos exemplo de ética e dedicação, sem nos vangloriarmos porque, antes de tudo, sabemos que somos pecadores e que sem Jesus não somos nada.

Fábio Graner é jornalista com passagens pela Agência Estado/O Estado de S. Paulo, Gazeta Mercantil e DCI, além de experiências com assessoria de imprensa. Fábio é membro

da Terceira Igreja Batista em Brasília. E-mail: [email protected]

uMa naÇÃO EVangÉLiCa? E daÍ?

Page 36: Atos Hoje 29