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DANAH ZOHAR ATRAVÉS DA BARREIRA DO TEMPO UM ESTUDO SOBRE A PRECOGNIÇÃO E A FÍSICA MODERNA

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DANAH ZOHAR

ATRAVÉS DA BARREIRA DOTEMPO

UM ESTUDO SOBRE A PRECOGNIÇÃO E AFÍSICA MODERNA

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Série publicada com base nas pesquisas realizadas pela Society forPsychical Research", sob a orientação de BRIAN INGLIS

TraduçãoBEATRlZ SIDOU

EDITORA PENSAMENTOSão Paulo

1982

PARA IAN

"Se a previsão é realmente um fato, ela será um fato que acabará porcompleto com as bases de todas as nossas hipóteses anteriores sobre

o universo.”J.W.DUNNE

"Para nós, os físicos de fé, esta separação entre passado, presente efuturo tem o valor de simples ilusão, apesar de bastante persistente...”

ALBERT EINSTEIN

SUMÁRIO

Lista das ilustraçõesPrólogoIntrodução

Primeira Parte: A PRECOGNIÇÃO EXISTE?

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1. A precognição no mito, na lenda e na história pré-moderna2. Sonhos precognitivos3. Experiências precognitivas em estado de Vigília4. Estudos experimentais de precognição

Segunda Parte: QUEM TEM A PRECOGNIÇÃO?5. A precognição nos animais6. A psicologia da precognição7. A teoria da sincronicidade de Jung

Terceira Parte: O QUE É A PRECOGNIÇÃO?8. O tempo na teoria da relatividade9. A física quântica: incerteza sem o sentido do tempo10. A consciência e os fenômenos quânticos11. Teorias físicas da precognição12. A precognição e a questão do livre-arbítrio

Conclusão

PRÓLOGO

Por volta do ano de 1873, recordaria mais tarde Frederic Myers, emseu Human Personality, um pequeno grupo de amigos, emCambridge, que chegara à conclusão de que nem a religião nem omaterialismo haviam proporcionado respostas satisfatórias àsquestões que os intrigavam:

Nossas atitudes mentais, de certa maneira, eram diferenciadas; pelomenos no meu modo de ver, ficou a impressão de que jamais se fezalguma tentativa no sentido de determinar que há algo a aprender emrelação ao mundo invisível. Se houvesse algo a ser conhecido sobreesse mundo, de tal maneira que a Ciência pudesse adotar e sustentar

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esse conhecimento, seria algo prestes a ser descoberto não por umaanálise tradicional ou pela manipulação da metafísica, massimplesmente pela experimentação e observação, pela simplesaplicação dos mesmos métodos de investigação exata, deliberada edesapaixonada, que ajudaram a construir todo o nosso conhecimentoatual do mundo que podemos ver e tocar, e dos fenômenos queocorrem dentro e em torno de nós.

Junto com seus companheiros - os principais dentre eles eram HenrySidgwick e Edmund Gurney -, Myers tornou-se um dos membros-fundadores da Sociedade para a Pesquisa Psíquica, formada em 1882para colocar em prática essas idéias. O presente volume é o primeirode uma série de livros a ser publicada visando assinalar o centenárioda Sociedade.Os fenômenos do "mundo invisível" a que Myers se referia foramdistribuídos de início em cinco categorias, por conveniência, eorganizou-se urna comissão a fim de investigar cada uma dessascategorias: a telepatia, a hipnose, os "sensitivos", as aparições e "osvários fenômenos físicos normalmente chamados de espiritualistas".Através dos anos, houve um recuo, sobretudo em relação à hipnose,que foi descartada na época como uma ilusão ocultista, a ponto de seraceita corno realidade; desta maneira, ela deixava de estar do ladopsíquico da cerca. Mas, falando-se de maneira geral, os fenômenossob investigação permanecem os mesmos, e as maneiras como têmsido investigados ainda estão conforme os planos de Myers.Mas a terminologia mudou, e com bastante freqüência, o que deulugar a uma certa confusão. O próprio Myers introduziu a "telepatia",pois "leitura do pensamento" seria uma expressão ambígua. Poderiareferir-se às maneiras como Sherlock Holmes apreendia o queestivesse na mente de Watson pela observação de sua expressãofacial. "Supra-normal", que Myers havia considerado preferível asupernatural para descrever a classe dos fenômenos com os quais aSociedade iria lidar, foi desde então substituída por "paranormal";"parapsicologia" tem sido usada no lugar de "pesquisa psíquica",

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embora alguns pesquisadores prefiram restringir seu uso ao trabalhode laboratório, deixando "psíquica" como adjetivo de pesquisa sobrefenômenos espontâneos. "Psi" também tornou-se uma expressão queserve a qualquer fInalidade a fim de descrever ou identificar as forçasenvolvidas; por exemplo, para distinguir um acontecimento normal deum paranormal.Se faltasse alguma evidência para a "paraciência" (como pode , serdescrita hoje, de modo mais abrangente, pois o enfoque da pesquisarecentemente tem mudado da psicologia para a física), ela poderia serencontrada na composição da Sociedade, desde seu início. Poucasorganizações atraíram tantos membros ilustres. Entre os físicos,estiveram Sir William Crookes, Sir John Joseph Thomson, Sir OliverLodge, Sir William Barrett e dois Lords Rayleigh - o terceiro e o quartobarão. Entre os filósofos: o próprio Sidgwick, Henri Bergson,Ferdinand Schiller, L. P. Jacks, Hans Driesch e C. D. Broad. Entre ospsicólogos: William James, William McDougall, Sigmund Freud, WalterFranklin Prince, Carl Jung e Gardner Murphy. Junto com estes, muitaspersonalidades eminentes em diversos campos: Charles Richet, umPrêmio Nobel de Fisiologia; o conde de Balfour, primeiro-ministro daGrã-Bretanha de 1902 a 1906, e seu irmão, Gerald, primeiro-secretário da Irlanda nos anos de 1895-1896; Andrew Lang, polímata;Gilbert Murray, catedrático de Grego em Oxford e autor do primeiroProjeto da Liga das Nações; seu sucessor em Oxford, E. R. Dodds; asra. Henry Sidgwick, reitora do Newnham College em Cambridge;Marie Curie; a honorável sra. Alfred Lyttleton, delegada à Assembléiada liga das Nações; Camille Flammarion, o astrônomo; F. J. M.Stratton, Presidente da Royal Astronomical Association(Sociedade Astronômica Real); e Sir Alister Hardy, professor dezoologia em Oxford.Uma lista como esta, indicava Arthur Koestler em The Rootsof Coincidence, bastaria para demonstrar que a pesquisa PES "não édiversão para excêntricos supersticiosos". Ao contrário, os padrões depesquisa em geral têm sido rigorosos - bem mais rigorosos, como ospsicólogos já tiveram a oportunidade de admitir, do que os da

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psicologia. A razão pela qual os resultados não vêm sendo aceitos éporque fundamentalmente eles não são aceitáveis: a percepção extra-sensorial e a psicocinese permanecem fora do campo da ciência,apesar das evidências. E, embora o preconceito contra aparapsicologia esteja começando a romper-se e ela comece a seradmitida como disciplina acadêmica nas universidades, ainda estámuito distante de garantir para si uma base sólida no mundoacadêmico.Os céticos propagaram diligentemente a noção de que ospesquisadores psíquicos acreditam em PES, PK, aparições e por aíafora, porque eles querem acreditar ou porque necessitam acreditar.Qualquer um que tenha estudado as Revistas e as Atas da Sociedade,ou que tenha estado presente, em seus encontros, poderátestemunhar que se trata de um equívoco absurdo. Muitos dos maisassíduos e capazes dentre os pesquisadores foram atraídos, aprincípio; exatamente por sua descrença - digamos, por um desejo deexpor um médium à fraude. E também deve-se lembrar que muitos, epossivelmente a maioria dos membros tiveram e ainda mantêm odesejo de sustentar que as manifestações ditas paranormais sãonaturais e podem ser explicadas cientificamente - embora se admitaque não pelos estreitos cânones da ciência materialista, que, dequalquer modo, já se demonstraram falaciosos para os físicosnucleares.Não; até onde se pode dizer que uma Sociedade com tão diversificadoconjunto de pessoas tem uma identidade coletiva, digamos cética;mas, com toda certeza, racional, como esta série de livros pretendedemonstrar. Racional não, embora, racionalista. Infelizmente osracionalistas, na determinação de purgar a sociedade de suasinclusões religiosas e ocultistas, deixaram muitas vezes de fazer umadistinção entre superstições e fenômenos observados que a elasderam origem - o que os levou a armadilhas como a recusa em aceitara existência de meteoritos, por causa da associação aos raios deJúpiter. Até hoje eles têm uma inclinação a deslizar em apoio adogmas rígidos, mal-fundamentados em suas bases, como quaisquer

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dos das Igrejas. Se esta série de livros não conseguir nada mais, pelomenos mostrará o quão racionalmente - usando esta expressão emseu sentido mais adequado - os autores examinaram e apresentaramas evidências.Até um tempo relativamente recente a existência da precognição, ouprevisão, como costumava ser chamada, era considerada verdade,mesmo sem razões objetivas para isso. O Velho Testamentocontém dezenas de profecias e sonhos (como o do Faraó, interpretadopor José) que prediziam o futuro. Os gregos do período clássicotinham seus oráculos; os romanos, seus adivinhos. Até o século XVIIIera raro o ceticismo sobre a possibilidade de visões do futuro. Mascom a ascensão do racionalismo científico, colocou-se a previsão pelolado do supranatural das coisas, junto com outras manifestações domiraculoso. Quando apareciam casos, eles eram considerados comopresciência, coincidência ou imaginação.Embora na primeira metade da existência da SPP tenham sidorecolhidas muitas provas que indicavam a realidade da precognição,esta não foi levada a sério até a publicação, ao final da década de 20,do livro An Experiment with Time, de J. W. Dunne. O relato de seussonhos precognitivos, apesar de não ter a necessária independênciade testemunho capaz de impressionar os membros da Sociedade,mostrou-se um sucesso junto ao público. Desde então, a precogniçãopassou a gozar de certo respeito mesmo por parte de pessoasgeralmente céticas quanto à realidade dos fenômenos psíquicos.Esses que fazem objeções, no entanto, continuaram a argumentar quea percepção extra-sensorial desta ou daquela espécie contraria tudo oque se conhece sobre as leis da natureza. Os físicos de hoje já nãosão tão dogmáticos a respeito dessas leis; na verdade, eles preferemusar uma expressão menos desgastada como "modelos", o queimplica que sejam no máximo uma aproximação da realidade.Danah Zohar, uma física, examinou os testemunhos históricos econtemporâneos da precognição, pretendendo verificar se poderiamser reconciliados com os atuais modelos da física - muito à maneiracomo Pauli e Jung haviam explorado a possibilidade de uma

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reconciliação semelhante em relação à Teoria da Sincronicidade deJung. Como ela sublinha, ainda não chegou o tempo em que setenham respostas claras às inúmeras questões que permanecemsobre a PES. Mas tenho certeza de que muitos dos leitores quecompartilham da minha dificuldade em compreender quase tudo sobrea física mais elementar ficarão gratos pela notável clareza de suaexposição, que torna as coisas técnicas mais legíveis.Brian Inglis

INTRODUÇÃO

Todos temos uma compulsão em falar sobre o Tempo. A mesmanecessidade profunda que induzia o homem primitivo a consultarfeiticeiros que diziam ler o futuro na configuração do fluxo de sangueda ferida de um leitãozinho sangrado, ou a que fazia os antigos gregosirem em dura peregrinação ao Parnaso buscar aconselhamento doOráculo em Delfos, hoje ainda leva as pessoas à leitura das previsõesda meteorologia e das cartas de maré ou das pesquisas de opiniãopública em vésperas de eleições.Com a sabedoria da compreensão trazida pelo tempo, observamosque os antigos podem ter sido supersticiosos, porém seus métodosarcaicos nem sempre estavam inteiramente longe da verdade. Muitoda visão outrora atribuída aos mágicos poderes de "profetas" e"videntes" deveu-se muitas vezes a primitivas, mas não menores,capacidades de analisar acontecimentos passados e de projetar seuspadrões no futuro. Atualmente, é provável que chamemos nossosprofetas e videntes de cientistas e psicólogos; seus métodos deprevisões são muito sofisticados, mas eles preenchem a mesmafunção necessária em nossas vidas. De certa maneira, todos eles nosajudam a olhar para o futuro.Só o mais obstinado empirista seria capaz de negar o valor e avalidade de predições baseadas em óbvias inferências deacontecimentos passados ou de dados reunidos cuidadosamente;

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mas seria necessário também um pragmático muito resistente que nãoestivesse querendo procurar mais nada. A maioria das pessoas, emalgum momento de suas vidas, gostaria de simplesmente poderatravessar a barreira do tempo e dar uma espiada mais ampla naquiloque o futuro lhes reserva. Por toda a história se atribuiu a algumaspessoas esse poder, e o assunto do presente , volume é a série derelatos de tais experiências.Presciência, previsão, ou "precognição", a capacidade de ver o futurocomo se diz comumente hoje, é um assunto difícil, tanto para opesquisador psíquico com prática quanto para o leigo. Conformeescreveu Gardner Murphy em The Challenge of Psychical Research,"entrar em contato com aquilo que ainda não existe é, para muitos,uma contradição de palavras, um paradoxo filosófico, uma afronta ou,então, pode chegar a ser colocado na categoria de 'impossibilidade'''.Assim, essa mesma capacidade misteriosa que nos atormenta comsua promessa de concessão de uma boa posição de partida na corridado destino, ao mesmo tempo nos ofende com suas reivindicaçõesafrontosas e "impossíveis" - e bem mais do que qualquer outracapacidade psíquica.Enquanto a telepatia e a psicocinese continuam problemáticas pelaausência de qualquer prova firme e de peso quanto à sua existência, oaparecimento de tal evidência não iria trazer nenhum desafio maisdevastador à nossa maneira já aceita de encarar o mundo. Atransferência de pensamento de uma mente para outra ou a influênciafísica da mente sobre a matéria exige no máximo a descoberta dealguma força física ou de alguma capacidade do cérebro humanoainda não detectada. Poderia coexistir pacificamente junto às forças ecapacidades que já conhecemos. Mas não acontece o mesmo emrelação à precognição. A prova firme de que algumas pessoasrealmente tenham feito previsões de acontecimentos futuros iria,desafiar os princípios mais fundamentais do bom senso e da físicaclássica.Todo o ritmo de nossas vidas diárias conscientes é vivido contra opano de fundo da "passagem do tempo", uma sucessão de momentos

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subdividida em passado, presente e futuro. Nessa estrutura familiar, o"agora" deve sempre preceder o "então". Aliada a isso está a lei dacausalidade, uma das leis fundamentais da natureza, que diz que umacausa sempre deve preceder um efeito. E um efeito "agora" nãopoderia ser necessariamente o resultado de uma causa "então" - e éjustamente nisso que temos de acreditar se aceitarmos que algumaspessoas podem ver agora acontecimentos futuros, embora as causasque levem a eles ainda não tenham ocorrido -, o cadáver de umapessoa antes que ela tenha sido assassinada, a manchete de umjornal antes que este tenha ido ao prelo, uma cidade arrasada antesque o terremoto que a destruiu tenha começado a dar sinais, como ostremores de advertência. Nada disso é possível de acordo com aciência, como a entendemos."A previsão do futuro, do tipo minucioso como o indicado em algumasdas narrativas que chegaram até nós", escreveu Frank Podmore, umdos membros fundadores da Sociedade para a Pesquisa Psíquica, em1908, "provocaria o abalo de todo o edifício da ciência. Se as coisasrelatadas em algumas dessas narrativas realmente aconteceram,devemos nos preparar para construir um novo céu e uma nova Terra."Mas, embora uma reconstrução universal dessas talvez fosse umatarefa ambiciosa demais para um pesquisador psíquico vitoriano, elalogo foi assumida pela nova espécie de cientistas do século XX, cujotrabalho alterou de maneira impressionante todo o quadro conceitual,para os termos em que se pode encarar a precognição nos dias dehoje. A Teoria da Relatividade de Einstein e a nova física quânticaforjaram mudanças radicais em nossas noções da ciência e do bomsenso da realidade, e, cada uma à sua maneira, manteve à frentenossa noção convencional de Tempo.No mundo da relatividade, não há uma seqüência absoluta demomentos, e assim, não há maneira objetiva de ordenar osacontecimentos no tempo. Realmente, se algumas das interpretaçõesda Relatividade Geral estão corretas, o tempo poderá ser circular e ospasseios no passado ou no futuro poderão ser teoricamente possíveis.Com os avanços da física quântica, que nos leva ao sombrio

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micromundo das partículas elementares que compõem o átomo, anoção de qualquer ordenação temporal dos acontecimentos se tornaainda menos sustentável. O próprio Tempo torna-se um conceitoilusório com um significado impreciso, como a causalidade.De uma forma bastante curiosa, enquanto aqueles que pesquisamsobre a precognição ainda se mostram embaraçados por seuvisível desafio às leis da causalidade, os físicos quânticos jáaprenderam a conviver com a não-causalidade como umaconseqüência natural de suas teorias físicas. As velhas categorias decausa e efeito deram lugar amplamente, no nível quântico, adiscussões sobre relacionamentos não-causais que podemtranscender a distância e o tempo. Mesmo a outrora espectral noçãode "ação à distância", pela qual corpos físicos podem influenciar unsaos outros apesar de não haver um evidente intercâmbio de força ouenergia entre si, foi recentemente demonstrada em laboratório. Asdisseminadas implicações dessa ruptura para a compreensão dequestões como a telepatia, a psicocinese e a precognição ainda estãopara ser melhor estudadas.O século passado testemunhou um consistente esforço para se trazeros benefícios da ciência em apoio a questões que preocupam ospesquisadores psíquicos. A própria Sociedade para a PesquisaPsíquica foi fundada em 1882 por um grupo de ilustres eruditos quevia a disciplina da ciência como uma ferramenta através da qual seriapossível, de uma vez por todas, sujeitar as águas do oculto, tão cheiasde segredos, à investigação rigorosa e objetiva. A nova "ciência" daparapsicologia, que tenta proceder a um estudo dos fenômenospsíquicos em condições de laboratório, é um resultado de seusesforços; outro, são as inúmeras tentativas de se compreender a físicados fenômenos psíquicos. Se, a longo prazo, tais abordagens técnicasirão nos dizer mais sobre os fenômenos psíquicos do que a pacientecoleta metódica de evidências de casos espontâneos que a Sociedadepara a Pesquisa Psíquica também continua a reunir, é algo que aindaestá por se verificar. Exemplos desses casos encontram-se naspáginas a seguir, para ajudar o leitor a julgar por si mesmo.

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Aqueles que se sintam especialmente próximos dos aspectoslevantados no antigo debate que envolve o problema mente-corpopoderão perturbar-se com a grande ênfase colocada na física daprecognição, no presente volume. Como observou J. B. Rhine emmuitas ocasiões, o fato de se acreditar que a precognição ou qualqueroutra forma de "percepção extra-sensorial" seja realmente extra-sensorial (ou seja, não-física) desempenha um papel-chave no fundoemocional de grande parte da pesquisa psíquica, parecendo prometeralguma evidência para a sobrevivência de alguns aspectos dapersonalidade após a morte. Certas idéias da física moderna algumdia poderão nos ajudar a compreender o mecanismo pelo qual océrebro humano é capaz de perceber um acontecimento que aindanão ocorreu; no entanto, parece haver uma insuficiência de provasnesta compreensão para que se argumente que desta maneira omaterialismo terá a última palavra no dualismo. Nós entendemosexatamente como o olho pode ver a maçã em cima da mesa, mas issonão quer dizer que devamos entrar cegos no mundo seguinte; issoapenas nos diz como utilizar um órgão de nosso corpo vivo enquantoestamos neste mundo. Com tudo o que sabemos, a física do pós-vidapode muito bem operar a partir de princípios inteiramente diferentes.Outro aspecto que preocupa muitos parapsicólogos profissionais eaqueles que estudam cuidadosamente as questões levantadas napesquisa psíquica é a amplitude em que a precognição pode sedistinguir como faculdade isolada, se é que ela possa ser de algummodo diferenciada de faculdades como a telepatia (a comunicaçãodireta entre duas mentes), a clarividência (conhecimento direto dealguma fonte física exterior) ou mesmo a psicocinese (a menteafetando a matéria). Muitos sustentam que são diferentes aspectos deum mesmo fenômeno desconhecido. Mesmo assim, apesar dossólidos argumentos de pesquisadores experimentais como Louisa E.Rhine para nivelar a precognição e a clarividência, nos últimoscapítulos demonstrar-se-á que uma equação destas gera dificuldadespara se explicar de que forma a precognição poderia funcionar

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realmente. Essas dificuldades, no entanto, não colocam obstáculosaos que possam querer nivelar a precognição com a telepatia ou apsicocinese.É bem possível acontecer que a visão aparentemente precognitiva dealgum acontecimento futuro seja realmente apenas uma forma decomunicação telepática com alguém que já tenha o conhecimentodesse acontecimento. Ou então, pode ser que aquilo que realmenteocorre na precognição é que a mente "vê" algo (sonha, imagina,deseja isso) e então, a seguir, age sobre os acontecimentos no mundocom a psicocinese para realizar o fruto de suas próprias expectativas.Cada uma das duas principais teorias físicas da precogniçãodiscutidas no Capítulo 11 interpreta a faculdade dessa maneira - uma,em termos de telepatia, a outra, em termos de psicocinese.Não há uma resposta segura para qualquer dessas sugestõesalternativas, e parece que não haverá até o dia em que se tenha muitomais provas disponíveis sobre a precognição e até que a física realdesta faculdade tenha sido inteiramente compreendida. Neste livroassumiu-se que pelo menos a telepatia (e talvez a psicocinese) estámuito proximamente relacionada à precognição, e mencionam-secasos de telepatia em que matérias relacionadas a eles possamajudar a lançar alguma luz sobre a natureza e o funcionamento daprópria precognição.Dessa maneira, os estudos psicológicos destinados a determinar secrianças são mais telepáticas que adultos parecem indicar muito bemque o mesmo pode acontecer com a precognição, e assim incluiu-se aevidência trazida por tais estudos. E há, também, apesar de havermuito pouca informação disponível sobre a capacidade precognitivade animais, numerosos testemunhos de que eles possuem essacapacidade, e esses testemunhos foram incluídos por acreditar-se quesejam relevantes para a compreensão da precognição.Enfim, é importante dizer algo sobre a qualificação dostestemunhos citados para casos de visível ou alegada precogniçãodiscutidos no presente volume. Variam do extremamente sutil, namaior parte do Capítulo 1; onde quaisquer fatos que possam ter

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realmente existido são de há muito interpretados à luz de temasmíticos ou literários, ao rigorosamente profundo, como nos casos deestudos de laboratório sobre a precognição, descritos no Capítulo 4. Amaior parte dos casos discutidos depende da corroboração detestemunhas confiáveis cujos relatórios foram diligentementeregistrados por funcionários da Sociedade para a Pesquisa Psíquicaou, algumas vezes, por psiquiatras. Como ainda é verdade que,apesar dos demorados esforços na pesquisa de muitos gênerosdiferentes, ainda não existam sólidas e firmes provas sobre aprecognição que possam convencer um júri independente decientistas desinteressados, achei melhor incluir uma ampla variedadede casos que tenham contribuído para discussões sobre aprecognição no decorrer desses anos todos. Com exceção dos mitose lendas do primeiro capítulo, a cada um dos casos citados pelo livrosegue-se alguma argumentação sobre os testemunhos em que sebaseia.Gostaria de agradecer a meu marido por sua ajuda paciente eincalculável durante a elaboração deste livro, e sobretudo por suasnumerosas idéias a respeito da possível física da precognição.Inúmeras conversas com o professor David Bohm ajudaram aaperfeiçoar minha compreensão como, por exemplo, quanto àsimplicações da não-localidade quântica e do Teorema de Bell. Alémdisso, ele foi muito gentil em ler o manuscrito original, vetandoalgumas partes onde entrava a física direta.Finalmente estou grata à Sociedade para a Pesquisa Psíquica por terme permitido fazer uso de sua biblioteca e de seus arquivos.

PRIMEIRA PARTEA PRECOGNIÇÃO EXISTE?

1. A PRECOGNIÇÃO NO MITO, NA LENDA E NAHISTÓRIA PRÉ-MODERNA

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Se você consegue ver nas sementes do tempoE dizer qual irá brotar e qual não irá,

Conte para mim...Banquo, Macbeth

Este desejo de Banquo de ter alguma visão que pudesseproporcionar-lhe informações sobre seu futuro incerto é pelo menostão antigo quanto a história que se conhece, e até muito pouco tempoatrás havia uma crença generalizada de que tais desejos pudessemser satisfeitos. Os mitos e as lendas de todas as culturas humanasestão cheios de histórias de xamãs, feiticeiros, oráculos, profetas ehomens santos a quem se atribuía o dom de ver o futuro. Geralmenteesses visionários constituíam determinada parte da ordem socialestabelecida, e suas experiências míticas ou de êxtase foram um fatorimportante para o desenvolvimento e a manutenção das tradiçõesmíticas no mundo. Seus serviços contavam com a confiança delíderes da sociedade, da mesma maneira que os políticos de hojebuscam a inspiração divina em orações ou em consultas a adivinhosremunerados. As feiticeiras a quem Banquo fazia o seu apelo eramum exemplo óbvio dessa afIrmação.Embora as "estranhas irmãs" da peça shakespeariana tenham sidoaté certo ponto coloridas por sua imaginação, havia duas famosasfeiticeiras escocesas que viviam junto ao barão de Glamis, na fronteiraentre os condados de Elgin e Forres, e dizia-se que o verdadeiroMacbeth costumava ir consultá-Ias sobre as muitas intrigas quecaracterizaram seu problemático reinado. Foi a conselho delas queconstruiu o castelo de Dunsinane, dentro do qual elas previram queele e sua família estariam a salvo até que "a floresta de Birnhamchegasse a Dunsinane" - uma profecia que ele interpretoufatidicamente com o significado de eternidade.Por sua reputação confiável na previsão do futuro, as feiticeirasdesempenharam um papel muito importante no cotidiano do reinadode Macbeth, como fizeram muitas de suas iguais em outros tempos eoutras culturas. Dois mil anos antes, Saul, o primeiro rei de Israel,

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também recorreu às previsões de uma feiticeira. Disfarçado comopastor, ele viajou até uma aldeia da Palestina ocidental para consultara feiticeira de Endor, uma mulher conhecida por seus dotesmediúnicos.Naquela época, Israel estava sendo atacado pelos filisteus e Saul foraabandonado por Deus e seus profetas, por sua inimizade ao jovemguerreiro Davi e por não obedecer às ordens de Deus. Ao serindagada por Saul sobre o que aconteceria naquela crise, a feiticeirade Endor invocou o espírito do profeta Samuel e através dele previuque no dia seguinte Israel iria cair sob os filisteus, que Saul seriamorto e que Davi o sucederia no trono:

... pois o Senhor tomou o reino de tuas mãos e o entregou a teuvizinho Davi...

Além do mais, o Senhor também irá entregar Israel e a ti mesmo àsmãos dos filisteus; amanhã tu e os teus filhos deverão estar comigo; o

Senhor também entregará o povo de Israel nas mãos dos filisteus.(I Samuel 28:7)

Na batalha que se seguiu, os três filhos de Saul foram mortos e "oshomens de Israel degolados". O próprio Saul, atingido por uma setaenquanto combatia no monte Gilboa, atirou-se sobre sua espada, paranão ser torturado pelos filisteus triunfantes. Logo Davi foi sagrado reida Judéia e mais tarde, de Israel.Toda a história de Israel, conforme a narrativa do Velho Testamento,está tão ligada ao espírito das profecias que os casos narrados sãonumerosos demais para serem mencionados. Dezoito dos trinta enove livros do Antigo Testamento são conhecidos pelo subtítulo "Olivro do Profeta"; na verdade, há pouquíssimos momentos na históriade Israel que não comecem com as palavras: "E o Senhor falouatravés de seus servos, os profetas, dizendo..." e não terminem com:"... e assim foi".Em I Reis, ficamos sabendo que a rainha Jezebel mantinha nadamenos que 850 profetas à sua mesa, enquanto o rei Davi escolheu,

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como profetas oficiais da corte, Gad e Natan. No Êxodo, Moisés éservido por um profeta, seu irmão Aarão, através do qual Deusadvertiu o Faraó sobre as Sete Pragas que Ele iria enviar ao Egitocaso os filhos de Israel não fossem libertados de sua escravidão.É o Gênesis que proporciona talvez o exemplo mais claro dos temposbíblicos dos reis, e certamente um dos mais citados hoje quando sefala da precognição: o de José e seus sonhos. José, que atribuía seudom à providência divina, como outros profetas de Israel, interpretoucom exatidão o simbolismo dos sonhos do Faraó (as sete vacasgordas, devoradas por sete vacas magras, as sete espigas de milhoboas devoradas por sete espigas de milho ruins) predizendo que seteanos de fome se seguiriam a sete anos de abundância.Com sua previsão, José salvou da ruína o reino do Faraó e obteve,junto à família, uma posição de grande poder e influência como haviaprevisto em dois sonhos tidos na infância.

Ouvi, peço-vos, este sonho que tenho sonhado: eis que estávamosjuntando feixes no campo e meu feixe elevou-se e manteve-se ereto, evossos feixes se puseram em torno e prestaram obediência ao meu.

(Gênesis 37:6, 7)

Foi para evitar que isso acontecesse que os irmãos de José,enciumados, o venderam à escravidão do Egito, um gesto que maistarde os levou ao destino ao qual haviam pretendido escapar.

O tema do Destino que deliberadamente se pretendeu evitar e setorna realidade reaparece constantemente na lenda e na literatura e,claro, encontra-se no âmago das discussões sobre a precognição e olivre-arbítrio, conforme ilustra ainda mais a lenda do rei Édipo.Uma vez que um oráculo havia previsto sua morte pelas mãos do filhoque acabara de nascer, Laio, rei de Tebas, mandou queabandonassem o pequeno Édipo à beira de um abismo para que elemorresse. Mas a criança é salva. Levada para Corinto e criada emsegurança por pais adotivos, ela acredita ser aquela sua família

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verdadeira. Em sua juventude, Édipo, perturbado por rumores de queaqueles não são seus pais verdadeiros, decide visitar o Oráculo deDelfos para obter mais informações sobre o assunto. O Oráculoparece desinteressado de seu problema, mas diz que Édipo mataráseu próprio pai e se casará com sua mãe. Horrorizado com aperspectiva de tal profecia tornar-se realidade, Édipo foge de Corinto,indo para a distante Tebas. No caminho, ele mata seu pai verdadeiro,que toma por um estrangeiro mal-encarado; depois de chegar aTebas, casa-se com sua mãe, Jocasta. Assim, as profecias doOráculo para Laio e Édipo tornam-se realidade, como na sombriaprevisão do vidente cego, Tirésias, a quem o ainda desavisado reiÉdipo convocou a Tebas na esperança de retirar a maldição quepesava sobre a cidade, descobrindo-se o nome do verdadeiroassassino de seu pai.

Uma terrível maldição em dobro,Vinda de seu pai e sua mãe, irá levá-Io

Para fora desta terra, com a escuridão em seus olhos...E este dia irá mostrar seu nascimento e irá destruí-Io.

Sófocles, Édipo Rei

O Oráculo de Delfos foi o mais famoso local da profecia na tradiçãogrega. Situado na base do monte Parnaso, no lugar que Zeus haviaindicado ser o centro da Terra, o Oráculo dominou a vida política ereligiosa da Grécia desde os tempos dos povos minoanos até oadvento da cristandade.Poucos gregos daquela época tomariam qualquer decisão importantesem antes fazer uma peregrinação a Delfos em busca da orientaçãodo Oráculo. Os oráculos eram dados por uma jovem sacerdotisa(Pítia) em estado de transe, durante o qual Apolo, o Deus da Verdade,lhe concedia uma visão do futuro do peregrino. Algumas pessoas queestudam o Oráculo afirmam que a sacerdotisa entrava em estado detranse graças à inalação de alguns vapores que saíam de uma fendana rocha sobre a qual ela se sentava; outros dizem tratar-se de auto-

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sugestão. A maneira pela qual ela entrava neste estado, não vem aocaso no momento, mas de acordo com os dados modernos sobrepercepções precognitivas - a maioria das quais ocorre em sonhos ousemitranses - evidencia-se o fato de que as visões em Delfos ocorriamnum estado alterado de consciência.A controvérsia envolve a validade das profecias feitas em Delfos, emparte, porque costumavam ser expressas em linguagem cifrada, demaneira a estarem abertas a quaisquer interpretações e, em parte,porque o Oráculo se havia tornado o ponto central da religião vigentenaquela época. Há boas razões para se acreditar que muitas das"profecias" fossem, na verdade, pequenos conselhos oferecidos porsacerdotes que muitas vezes atuavam como intermediários nainterpretação das mensagens da sacerdotisa. Entretanto, nem todosos oráculos de Delfos citados na história antiga e na literaturapoderiam ser rejeitados com tanta simplicidade. Um exemploregistrado por Heródoto e que envolve Creso, o rei da Lídia, émencionado em geral como um desses casos.Preocupado com a crescente militarização da Pérsia, Creso planejouconsultar um oráculo, mas, sendo um tanto cético, resolveu "testar"diversos oráculos, a título de experiência. (Provavelmente, comoobservou Whately Carrington, trata-,se do primeiro exemplo concreto edocumentado de pesquisa psíquica.) Creso enviou sete mensageirosa sete oráculos diferentes, instruindo cada um deles para que, nocentésimo dia a contar de sua partida, fosse perguntado ao oráculo:"O que está fazendo agora o rei Creso, o filho de Alíates?" Osmensageiros deveriam então trazer a resposta por escrito.A resposta vinda de Delfos, e a única correta, dizia:

Posso contar os grãos de areia, posso medir os mares;Escuto o silêncio e posso dizer o que o mudo falou;

Oh! Surpreendo-me com o cheiro de uma tartaruga coberta com umacarapaça;

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E cozinhando agora num fogo com a carne de um carneiro emcaldeirão

Há bronze na panela por baixo, e bronze na tampa em cima.

Na verdade, como "teste" Creso decidira fazer algo tão absurdo, nodia determinado, que seria impossível alguém conceber aquilo com apura e simples imaginação ou através de um raciocínio normal. Elehavia cortado uma tartaruga e um carneiro, e deixou cozinharemjuntas as carnes, num caldeirão de bronze, que estava coberto comuma tampa de bronze - um gesto que reproduziu as palavras dooráculo com tamanha precisão que dispensou qualquer interpretação.O Oráculo de Delfos era de longe o mais famoso e institucionalizadocanal através do qual Apolo expressava seu espírito profético, mas osexemplos de videntes individuais abençoados (ou amaldiçoados) como dom da previsão são tão numerosos na mitologia da Grécia antigaquanto no Antigo Testamento hebraico. Dois desses exemplosexerceram enorme fascínio na imaginação de escritores e poetas nodecorrer dos séculos. Por isso, é necessário mencioná-Ios aqui:Cassandra, a infortunada filha de Príamo, o rei de Tróia, e a terrívelSibila de Euboean Cumae presente com tanto destaque no Livro VI daEneida, de Virgílio.Cassandra aparece pela primeira vez na llíada, mas Homero nada falaa respeito de seus poderes proféticos, deixando esse tema para serdesenvolvido alguns séculos mais tarde por Píndaro e Ésquilo. NaOresteia , vemos Cassandra receber de ApoIo a "dor da cruel profeciaverdadeira", destinada a nunca ser ouvida e aceita porque eladesagradara ao deus recusando-se a dar-lhe filhos. Cassandra previua queda de Tróia (incluindo a visão de soldados gregos escondidosdentro do cavalo de madeira), e, mais tarde, previu a morte deAgamenon e a sua própria pelas mãos da traiçoeira Clitemnestra, quepor sua vez cairia sob a cólera vingativa de Orestes:

Devemos morrer os dois; mas não morreremos sem a vingança dosdeuses.

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Pois virá alguém que nos vingará, alguém nascido para matar suamãe e para vingar a morte pelo sangue de seu pai.

Ésquilo, Agamenon

Depois da queda de sua cidade, o herói troiano Enéias levantou velascom o remanescente de seu exército e aportou nas praias da Itália.Após tocar a costa em Euboean Cumae (uma colônia grega não muitodistante da Nápoles de hoje), foi logo para as montanhas.

Às alturas onde o grande Apolo tinha seu trono,E à residência bem escondida da tenebrosa Sibila,

Uma enorme caverna; ali o profeta de DelosInspirou nelas o poder espiritual,

Com sua mão poderosa, revelando coisas que estavam por vir.Eneida VI

Enéias tem a esperança de saber através das enlouquecidas falas daSibila se ApoIo anularia a maldição que previra a destruição de Tróia ese emprestaria seu dom divino aos seus planos para a conquista daItália. Na descrição de Virgílio do que aconteceu a seguir, temos umdos retratos mais vívidos do estado de demência que os antigosmuitas vezes acreditavam acompanhar as visões proféticas. Enquantofalava, a Sibila espumava pela boca:

Os cabelos levantavam em sua cabeça, sua cor mudava,Palpitavam-lhe os seios, ela caiu em transe.

Parecia crescer, falava numa voz não mortal...De uma caverna saíram centenas de vozes

Que derramavam em torrentes as respostas proféticas da Sibila.

Entre essas respostas, ela previu a conquista da Itália por Enéias,suas guerras naquele país, seu refúgio temporário à margem do Tibre(no lugar da futura Roma) com o arcádio exilado, o rei Evandro, e anova calamidade que iria cair sobre os troianos por causa de "outra

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noiva estrangeira" (Lavínia). Ela também explicou a Enéias comopenetrar no submundo utilizando um raminho da Árvore Dourada;pouco antes de cair em silêncio, ainda previu a morte de Miseno.grande amigo de Enéias:

Enquanto isso (oxalá não soubesses), sem vida,O corpo de teu amigo não enterrado contamina

Toda a tua frota com o cheiro da morte, enquantoVens à minha porta em busca de oráculos.

Voltando à praia, Enéias descobre que Miseno se afogara e jaziasobre areia, sendo lavado pelo mar.

Comparado à rica e sutil cultura grega, que contava com uma grandequantidade de poetas e escritores de peças teatrais, o mundo romanoem geral é visto como sendo mais pragmático, mais racional. Mas osromanos também tinham seus profetas e videntes e levavam a sérioquaisquer presságios voltados a prever o futuro, o que está clarotendo como base os inúmeros relatos de acontecimentos queenvolveram o assassinato de Júlio César.Segundo Plutarco (Vidas Paralelas), "antes que isso acontecesse,dizem que estranhos sinais foram mostrados e que estranhasaparições foram vistas". Luzes e sons desconhecidos enchiam o ar;viu-se uma multidão de homens "todos em fogo" passando pelo localonde havia o mercado; viu-se também a mão de um soldado escravolevantando altas chamas, e quando estas se extinguiram a mão doescravo não estava queimada; além disso, quando o próprio César iafazer o sacrifício de um animal, descobriu-se que o animal a sersacrificado não tinha coração. ("Um presságio muito ruim, realmente",observou Plutarco, "pois, segundo a lei natural, nenhum animal podeexistir sem um coração.")Suctonus (Os doze Césares) acrescenta entre os "inequívocossinais de advertência a César quanto a seu assassinato", o seguinte:um grupo dos veteranos enviados pelo imperador para colonizar

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Cápua violou o antigo túmulo do fundador da cidade, Cápis,encontrando uma placa de bronze com uma advertência escrita emgrego:

Perturbai os ossos de Cápis e um homemda raça de Tróia será morto por um de seu grupo,e mais tarde vingado, a um alto preço para a Itália.

E, segundo Ovídio (Metamorfoses), pouco antes de os conspiradoresentrarem, foram ouvidos no céu trombetas e o clamor de armas, o solesteve sombrio e gotas de sangue caíram com a chuva enquantomilhares de estátuas choravam.Mas as duas profecias mais conhecidas que predisseram o iminentedestino de César foram as da vidente Spurina (ela alertou oimperador que estivesse em guarda contra um perigo que o esperavanão muito depois dos idos de março) e a visão que apareceu aCalpúrnia na noite anterior ao assassinato.De acordo com Plutarco, enquanto César e sua mulher dormiam, asportas e janelas do quarto "abriram-se inteiramente, de repente".César acordou com o barulho, mas Calpúrnia continuou dormindo,falando e resmungando algo. "Na verdade, àquela hora, ela estavasonhando que segurava em seus braços o corpo assassinado echorava sobre ele.”A narrativa de Suetônio difere um pouco. Segundo ele, na noite queantecedeu o assassinato, o próprio César sonhou estar flutuandoacima das nuvens, apertando as mãos de Júpiter, enquanto Calpúrniasonhava que o ornamento de um beiral de telhado que parecia o deum templo - um cujas honras (segundo Lívio) haviam sido votadas aCésar pelo Senado - havia caído e que então César jazia inerte emseus braços. Esta versão termina assim: "Ela despertou subitamente ea porta do quarto abriu-se por si mesma".Seja qual for o relato que preferirmos aceitar sobre os muito estranhospresságios e visões que antecederam a morte de César, não restam

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dúvidas de que, na mente dos romanos, este foi um acontecimentointeiramente ligado às forças dos presságios e das profecias.

Atribuía-se também a "segunda visão" aos antigos celtas. Comrelação a eles, a previsão muitas vezes era descrita como mais umapeculiaridade racial, da mesma forma que o cabelo vermelho e a caraem forma de lua cheia. Dizia-se que os sacerdotes druidastransmitiam as profecias com tanta facilidade e tão naturalmente quenão precisavam recorrer ao estado de êxtase ou a drogas, usados poralguns povos para estimular essa faculdade. Dizia-se também que osdruidas, que passavam anos de aprendizado junto a mestresaperfeiçoando a arte da adivinhação, podiam ler o futuro no vôo depássaros, na forma das nuvens ou das raízes das árvores, coma ajuda de um osso adivinhatório (usando uma omoplata direita de umanimal, limpa) ou de varinhas de sorva. O vidente druida maisconhecido de todos foi o mítico mago Merlin.Muito se escreveu sobre Merlin pelo importante papel quedesempenha na lenda do rei Artur, e as inúmeras profecias atribuídasa ele na história são criativamente contadas e recontadas por Geoffreyde Monmouth e Sir Thomas Malory (e, com mais humor, na trilogiaescolar de T. H. White, The Once and Future King). Nunca houvenenhuma prova histórica sobre a existência de Merlin, mas seuslegendários poderes de previsão são uma grande contribuição aosmitos que envolvem a precognição.Segundo Malory, Merlin foi responsável, antes de todos, pelaconcepção do rei Artur. Quando o rei Uther Pendragon, o pai de Artur,apaixonou-se por Lady Igrayne, esposa do duque de Tintagel, Merlinfez com ele um trato. Em troca de um encanto que permitiria a Utherser tido como o duque de Tintagel, ganhando assim o acesso aoquarto da senhora, Merlin exigiu que o menino que eles iriamconceber naquela noite (Artur) "deveria ser entregue a mim para seralimentado, então cuidarei dele..." (O rei Artur e seus Cavaleiros, I).Doravante, Merlin está sempre ao lado do futuro rei, como educador,conselheiro e profeta.

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Entre suas profecias arturianas, Merlin prevê que Mordred, o filho doencontro incestuoso de Artur com sua meia-irmã: Morgause, "será adestruição de todo este reino", e, mais tarde, adverte Artur de que seráperigoso ele se casar com Guinevere, porque um dia Lancelot seapaixonará por ela e ela por ele.De acordo com a História de Geoffrey de Monmouth, Merlin, enquantocriança, previu através da alegoria de um combate entre dois dragõesa conquista da Inglaterra pelos saxões e sua derrota pelas mãos do reiArtur. Se essa foi ou não uma profecia de Merlin, como afirmaGeoffrey, ou, se deveria ser creditada, como mais parece, àimaginação do próprio Geoffrey, os acontecimentos que ela descrevetêm um certo halo de exatidão histórica. No relato de Geoffrey sobre aprofecia, Merlin entrou em transe e disse:

Ai do Dragão Vermelho, pois seu fim se aproxima. Seu antrocavernoso será ocupado pelo Dragão Branco que representa ossaxões que atraístes. O Dragão Vermelho representa o povo da

Bretanha, que será esmagado pelo Branco: as montanhas e os valesda Britânia serão nivelados e correrá sangue em seus rios.

O culto da religião será destruído completamente e o fim das igrejasestará claro para todos.

A raça oprimida deverá prevalecer no final, pois ela irá resistir àselvageria dos invasores.

O Javali da Cornualha acabará com esses invasores, pois eleesmagará seus pescoços debaixo de seus pés.

História dos reis da Bretanha

As profecias de Merlin não se limitavam ao espaço de tempo daprópria vida do rei Artur e seu reinado. Segundo Malory, pouco antesda despedida final de Merlin da corte de Artur, com a donzela que semostraria ser sua ruína, ele "... disse ao rei muitas coisas que iriamacontecer". E muitas dessas previsões são detalhadas por Geoffrey deMonmouth num capítulo de sua História intitulado "As profecias de

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Merlin". Intérpretes modernos dessas profecias (por exemplo, 26, pp.45-8) dizem que Merlin previu a primeira invasão dinamarquesa àBretanha durante o reinado do rei Cadwallo e, a segunda, durante oreinado de Ethelred - previu também que Ethelred iria pagar em geltaos dinamarqueses porque seria covarde demais para lutar. Osdinamarqueses realmente pediram - e receberam - 10.000 libras e,posteriormente, mais 40.000, de Ethelred.Atribui-se também a Merlin a previsão da coroação de James I, asCruzadas e o rompimento de Henrique VIII com Roma; mas talvez amais fantasticamente exata predição dentre as atribuídas a ele seja arelacionada a Ricardo I (Ricardo Coração de Leão). Feita setecentosanos antes do reinado de Ricardo, a profecia de Merlin dizia:

O Coração de Leão contra o sarraceno se levantará e, às custas demuitos, um prêmio glorioso obterá...

Mas, enquanto essas grandes façanhas se realizam fora, tudo emcasa desordem será.

Preso e engaiolado o Leão estará, mas, depois de muito sofrimento, alibertação ... e, por fim, com uma lança envenenada, morrerá o Leão.

Ricardo I realmente lutou com os sarracenos e, durante uma de suasúltimas campanhas, foi capturado e libertado. Morreu três dias depois,ferido por uma flecha envenenada, durante a conquista do Castelo deLimoges.

Até este ponto, as histórias sobre predição e premonição discutidasestiveram completamente envolvidas pelas muitas camadas isoladasdo tempo, da lenda e do mito. Sem dúvida, cada uma delas é umaexpressão irrefutável de alguma corrente na cultura de onde seorigina, mas não temos meios de afirmar, de nossa perspectiva atual,se qualquer uma delas tem realmente algum fundamento. Nem osvisionários nem os videntes ou as feiticeiras a que se atribuíram estasantigas previsões nem, em muitos casos, os acontecimentos que elespreviram terão existido necessariamente - ou, se existiram ou

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aconteceram, é bem provável que não o foram nas circunstânciascoloridas que enriqueceram sua existência legendária.Nos dois casos a seguir, entretanto, há um pouco mais de evidênciapara avaliação. Tanto a santa francesa Joana D' Arc quanto o médicofrancês Nostradamus viveram em épocas recentes o bastante paraque haja registro de alguns fatos incontestáveis sobre eles, e cada umdeles fez previsões sobre acontecimentos que a história confirmarealmente terem ocorrido.

Joana D'Arc

Diz-se que havia muitas profecias antecipando a carreira de JoanaD'Arc antes de seu nascimento em 1412; atribui-se uma delas aMerlin. Entre suas predições sobre "coisas que viriam a acontecer",Merlin incluía uma "donzela maravilhosa que virá do Nemus Canutumpara a salvação de nações". Nemus é a palavra latina para "bosque" eCanutum é latim medieval, significando "branco" ou, "encanecido"(muito antigo). Santa Joana nasceu numa casa situada à beira do BoisChesnu, em Domrémy Bois, naturalmente significa "bosque", eChesnu é uma palavra, arcaica francesa que significa "branco" ou"encanecido".Embora seja lembrada na história como um dos grandes libertadoresda França, Joana D'Arc é legendariamente mencionada em suaqualidade de profeta e visionária. Por toda sua breve e brilhantecarreira militar, escutou vozes e teve visões através das quaispercebia o que devia fazer e o que o futuro reservava para ela e paraseu país. As vozes e as visões começaram depois de seus treze anosde idade.Numa tarde em que corria por um campo para juntar-se aoutras crianças que brincavam, Joana escutou uma voz que lhe falavade uma nuvem. Segundo uma carta escrita por Percival de Boulan-Villiers ao duque de Milão, a voz dissera a Joana que "...ela deveriarealizar feitos maravilhosos. Ela fora escolhida para ajudar ao rei da

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França, deveria usar roupas de homem, pegar em armas... Ela deveriase tornar um comandante na guerra". A carreira militar de Joanarealmente iniciou-se aos dezessete anos e também foi acompanhadapor uma visão. Na época, ela insistia em levar adiante sua missãomuito depressa, pois, tenho muito pouco tempo. Um ano ou poucomais, dizia. Daquele momento até sua captura passaram-seexatamente treze meses.Uma das primeiras profecias registradas de Joana refere-se à de umestranho que ela encontrou pouco depois de se alistar. Joana contou oincidente a seu professor, Pasquerel. Próximo ao castelo de Chinonela encontrou um homem a cavalo que a insultou e praguejou contraela. Retrucou-lhe, dizendo: "Em nome de Deus, você pragueja tãoperto de sua morte?" Uma hora depois desse encontro o homem caiuno fosso do castelo e afogou-se.Durante o cerco de Tourelles, Joana previu seu próprio ferimento poruma flecha. "Mantenham-se perto de mim", disse a seus camaradas,"porque amanhã terei muito o que fazer, mais do que jamais tive, e osangue correrá de meu corpo, acima de meu coração." E novamentePasquerel confirma que ela fez a predição um dia antes de seratingida.No auge de seu triunfo militar em 1430, logo depois de haver liberadoa passagem do Sena e aberto a campanha no Oise, as vozes deJoana advertiram-na de que seu tempo terminara. Logo depois ela foicapturada, e no espaço de tempo que demorou seu julgamento,muitos meses mais tarde, fez algumas profecias. Entre elas, umapredição de que os ingleses brevemente perderiam sua mais crucialbatalha contra a França:

Sei que antes que sete anos se tenham passado os ingleses terãoperdido um combate maior que o de Orléans (em 1429, quando as

tropas lideradas por Joana os derrotaram) e perderão o domínio sobrea França que hoje têm. Eles sofrerão uma perda como jamais tiveram

antes por causa de uma grande vitória que Deus concederá aosfranceses.

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No ano de 1436, os ingleses perderam Paris, e, em 1439, perderam aNormandia, na batalha de Formigny.

Nostradamus

Três quartos de século depois da execução de Joana, nasceu emSaint Rémy, Provence, um outro francês que talvez seja o maisassociado a profecias e previsões que qualquer outro na mentepopular: Michael de Nostredame ou "Nostradamus". Seu alegado domextraordinário de predizer coisas que ainda estão por acontecerpermanece uma lenda viva (e um tanto assombrosa) em nosso século.Entre suas profecias perturbadoras estão algumas que parecem haverprevisto a Revolução Francesa, a ascensão de Napoleão e, talvez, odomínio de Hitler.Astrólogo, médico e profundamente enraizado na tradiçãomística judaica (era um judeu convertido), o jovem Nostradamusconquistou desde cedo uma grande reputação, graças a seusbrilhantes trabalhos médicos durante a eclosão da praga no sul daFrança. O êxito no tratamento da praga deveu-se amplamente à suainsistência sobre a importância do ar fresco e do desinfetante nocombate à doença, embora nenhum dos dois (e nem mesmo aexistência dos germes) tenha sido reconhecido de maneirageneralizada até o século XIX.As mais famosas profecias de Nostradamus relacionam-se a fatosque ocorreram depois de sua morte, mas ainda em vida ele teve umagrande reputação por ser dotado da capacidade de anteveracontecimentos: importantes personalidades públicas e monarcasreinantes recorriam a ele para que elaborasse seus horóscopos ou osde seus filhos. A maioria das predições de Nostradamus chegou aténós com a publicação de suas Centúrias, mas há uma história que serefere a algo ocorrido em sua juventude. Durante uma viagem à Itália,teve a oportunidade de encontrar um guardador de porcos que se

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havia tornado monge, chamado Felix Peretti. Nostradamusimediatamente caiu de joelhos e dirigiu-se a Peretti como "SuaSantidade". Anos depois da morte de Nostradamus, Peretti se tornou oPapa Sixto V.As Centúrias, publicadas pela primeira vez em 1555, sãoquadras agrupadas em centenas e perfazem um total de 966. Atribui-se a cada uma destas quadras a visão de algum acontecimento futuro.Estão escritas de maneira estranha, muitas vezes cheias de umobscuro simbolismo enigmático. Seu caráter extremamente vagodeixa-as abertas a interpretações mais amplas - e esta é a principalacusação contra as predições de Nostradamus, vinda de pessoas quesupõem que um intérprete bastante hábil seria capaz de ler qualquercoisa nelas. Por outro lado, Colin Wilson em The Occult chama aatenção para o fato de que, considerando-se as Centúrias como umtodo, a grande quantidade de "acertos" diretos confirmados em suaspredições à luz de acontecimentos históricos posteriores éimpressionante.Nostradamus era um francês de boa educação, versado nos caprichosda política de seu país e bem-situado na sociedade de seu tempo, enão é de surpreender que entre as mais obviamente significativas eexatas de suas previsões estejam muitas visões de acontecimentosocorridos posteriormente na história da França. Várias falamdiretamente sobre a Revolução - embora esta só tenha acontecidodois séculos depois da morte de Nostradamus.Duas quadras costumam ser citadas freqüentemente como presságiosda Revolução. Uma diz:

Os Iíderes da cidade em revolta,Em nome da liberdade,

Trucidarão seus habitantes sem distinguir idade ou sexoE haverá gritos, choros e tristes visões em Nantes.

Os estudiosos de Nostradamus são quase unânimes em opinar queessa quadra é, com toda probabilidade, uma previsão do sádico

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derramamento de sangue e dos afogamentos que o louco Carrierordenou em Nantes em 1793, sob os auspícios do ComitêRevolucionário de Segurança Pública. Entre as Vítimas de Carrierestavam muitas mulheres e crianças de colo e, quando os pescoçosdos bebês se mostraram muito pequenos para a guilhotina e oinstrumento revelou-se por demais lento para o massacre, Carriermandou que os infelizes condenados fossem colocados às centenasem barcos que então eram deliberadamente afundados.A segunda "quadra Revolucionária", aceita em geral como a previsãodas mortes de Luís XVI e Maria Antonieta, é sinistra em seudetalhamento.

Pela noite virão através da floresta de ReinesDuas pessoas casadas, por indireta via; Herne, a pedra branca,

O monge negro em cinza entraram em Varennes,Eleito capeto, causa tempestade, fogo, sangue e cortes.

Em junho de 1791, Luís XVI e Maria Antonieta tentaram fugir de Parisdisfarçando-se - ele, com uma roupa cinza, ela de branco - eescapando pelos apartamentos da rainha. Chegaram até Chalon,antes de serem reconhecidos pelo chefe dos correios da aldeia.Foram levados presos a Varennes, mantidos ali durante a noite edevolvidos a Paris para serem decapitados. Luís XVI costumava serdescrito como um homem de aparência "monacal", e foi o primeiro reifrancês a ser eleito pela Assembléia Constituinte em vez de valer-seda lei do Direito Divino.Nostradamus escreveu três quadras que são atribuídas à profecia daascensão de Hitler e todo o derramamento de sangue que seugoverno determinou. A mais citada talvez seja esta:

Bestas famintas enlouquecidas farão as correntes tremer;a maior parte da Terra estará sob Hister.

Numa gaiola de ferro o grande será arrastado.quando o filho da Alemanha observa o nada.

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Embora sujeitas a controvérsias, suas "quadras de Hister" parecempróximas da verdade o suficiente para qualquer um que aceite avalidade dos poderes proféticos de Nostradamus.Muitas das profecias de Nostradamus parecem referir-se aacontecimentos que ainda estão por se realizar, em um tomperturbador. Uma, à qual se costuma atribuir a previsão do fim domundo, é assim:

Como o grande rei de Angoulêrne,no ano de 1999, no sétimo mês,

o Grande Rei do Terror irá descer do céu,e, nessa época, Marte reinará pela boa causa.

Enquanto inúmeros estudiosos acreditam que o Grande Rei deAngoulême deve referir-se a Gengis Khan, pois Nostradamus apontafreqüentemente os mongóis como os "de Angoulême", as opiniões sedividem entre os que consideram que a quadra em seu todo seja aprevisão de uma grande guerra com bombas de hidrogênio, a tomadado mundo pelos orientais ou uma invasão de Marte. Talvez aindapresenciemos isso.Mas, forçada pela maioria dos estudiosos de Nostradamus,que procuram demonstrar que suas profecias estão relacionadas aosacontecimentos da Revolução Francesa ou à Segunda GuerraMundial (ou ainda até a um futuro distante), há uma nova e importantetradução (para o inglês) crítica das Centúrias, questionando toda estaabordagem ao trabalho de Nostradamus.Em seu The Prophecies and Enigmas of Nostradamus, o historiadorfrancês Liberté Le Vert sugere que, na verdade, muitosdos acontecimentos a que se referem as quadras das Centúrias sejamalusões a fatos que sucederam durante o período de vida do próprioNostradamus - a retirada do imperador Carlos V (em vez do exílio deNapoleão em Elba), as rebeliões políticas na Bretanha do século XVI(em vez dos graves acontecimentos que envolveram a posterior

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execução de Carlos I na Bretanha) ou acontecimentos ligados ao rioDanúbio (o "Hister" a que se atribuem as "quadras de Hitler"). Le Vertargumenta que sempre que Nostradamus tentou profetizaracontecimentos mais distantes "ele geralmente esteve equivocado".De acordo com a notável estudiosa, senhora Frances Yates, o novotrabalho de Le Vert prestou um grande favor à história e aNostradamus, ao "proporcionar pela primeira vez um texto e umatradução confiáveis das poesias de Nostradamus, varrendo asdesprezíveis interpretações que séculos de exploração de baixo nívelhaviam deixado encobertas". Ela acredita que só Le Vert conseguiudesvendar o verdadeiro Nostradamus.

O I Ching

O último dos exemplos sobre o qual faremos considerações no sentidode exemplificar como a precognição é vista no mito e na lenda vem doOriente e realmente deve ser encarado como um caso à parte. OLivro das mutações chinês ou I Ching é uma das mais notáveiscriações (ou descobertas?) do espírito humano. Em geral, as pessoasreferem-se a ele como a um oráculo, e certamente ele funciona comotal, mas essa maneira de encará-Io como simples bola de cristal entreduas capas é uma extrema simplificação do que o I Ching representa.É pelo misterioso acesso ao futuro que ele proporciona que este livrodeve ser mencionado aqui.O I Ching foi compilado há mais de quatro mil anos e desde então temsido utilizado por filósofos, políticos, homens de negócios esimples camponeses que desejam uma compreensão e umaorientação sobre ações futuras. O livro contém toda a sabedoria doTaoísmo e do Confucionismo reunida, bem como a de sábiosanteriores, e não se limita a satisfazer aos que o procuram comrespostas simples a perguntas sobre o presente ou o futuro. Mais doque isso, ele situa as questões que lhe são colocadas num contextomais amplo do que o próprio indagador poderia imaginar que fosse

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importante; apresenta nuanças de uma situação que não estejam emsua mente consciente e oferece conselhos sobre a melhor maneira deenfrentar a situação que antevê.Devemos à meticulosa tradução de Richard Wilhelm e ao profundointeresse de Jung o fato de essa obra ser agora tão conhecida noOcidente. A reação imediata de Jung, como a de todos os ocidentaisao conhecerem o livro, foi de assombro, ante a pertinência dasrespostas do I Ching às suas perguntas. Sua perspicácia ediscernimento eram tão precisos que ele teve de confessar a simesmo estar prestes a acreditar no mito chinês de que havia umainteligência viva, com quem se podia conversar realmente, dentro desuas páginas."Segundo a antiga tradição", explica ele no prefácio à tradução deWilhelm, "são 'agentes espirituais', atuando de forma misteriosa, quefazem (o I Ching) proporcionar uma resposta significativa. Essespoderes formam, por assim dizer, a alma viva do livro. E como esteúltimo, desta maneira, se torna um ser vivo, a tradição presume quese possam fazer perguntas ao I Ching, e receber respostasinteligentes". Mais tarde, Jung tentou explicar os misteriosos trabalhosdo I Ching em termos de sua Teoria da Sincronicidade, sobre o quefarei considerações no Capítulo 7. Mas seu sentimento de espantomaravilhado nunca se abateu.O I Ching consiste em sessenta e quatro hexagramas numerados,que, no todo; incorporam as leis e a natureza do universo e os ritmosda vida dentro dele. Cada hexagrama descreve algum elementoquase-arquetípico da vida e vem acompanhado por comentários queextraem o significado das linhas individuais. Chega-se às linhas quecompõem o hexagrama jogando três moedas (ou deixando cairquarenta e nove varinhas) por seis vezes. A cada vez deve-se anotara maneira como elas caem. Enquanto isso é preciso manter umaprofunda concentração sobre a questão para a qual se busca umaresposta através do oráculo.A maioria dos ocidentais que fazem uma consulta ao I Ching em geralnão consegue ultrapassar uma certa incredulidade (que algumas

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vezes chega a uma profunda indignação intelectual) quanto a seufuncionamento real. Jung teve muita sensibilidade, quando indagou seiria colocar sua reputação em risco ao escrever um prefácio para olivro.

Devo confessar que naturalmente não me senti muito bem ao escrevereste prefácio, pois, como alguém provido de algum senso de

responsabilidade em relação à ciência, não tenho o costume dereafirmar algo que não possa provar ou pelo menos apresentar comoaceitável à razão. Foi uma tarefa realmente duvidosa esta de tentar

apresentar a um público crítico moderno uma coleção de"encantamentos" arcaicos, tendo em vista torná-los mais ou menos

aceitáveis.

Parece impossível que uma pessoa jogando umas moedinhas possafazer sua pergunta atravessar os quatro mil anos da experiênciapassada do I Ching e receber alguma resposta significativa sobrealgum fato que ainda esteja por acontecer. Ainda assim, ele continua aresponder, satisfatoriamente, por vezes repetidas aos que o abordamcom perguntas sinceras.O fato de que o I Ching deve ser estudado e analisado e que a maioriadas suas respostas envolve quem o procura num complexo diálogosutil consigo mesmo me leva a citar dois exemplos bastante simplistasdos poderes "precognitivos" do livro e isso poderá parecer umatentativa de torná-Io trivial, mas eles servirão para ilustrar o pontoonde parece haver um acesso misterioso ao conhecimento deacontecimentos futuros; isso será o suficiente para o meu objetivo.No outono de 1978, um casal londrino estava preocupado com acompra de uma nova casa. Todo o processo de discussão de preço,de determinação de uma data para a saída do morador anterior e daaprovação do documento de hipoteca estava entravado porcomplicações e atrasos. O casal começou a pensar se, no mínimo, acompra iria afinal acontecer e perguntou ao I Ching: "Nossa intençãode comprar a casa em (dado o endereço) será bem-sucedida?”

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A resposta do livro foi o hexagrama 28: A preponderância do grande.Diz o seguinte:

A PREPONDERÂNCIA DO GRANDEA viga-mestra verga no ponto de sustentação.

Infortúnio.

O comentário acrescentava: "O peso do grande é excessivo. A cargaé pesada demais para a força de seus suportes. A viga-mestra, sobrea qual todo o teto repousa, verga no ponto de sustentação, porqueseus apoios são fracos demais para o peso da carga que suporta" .Poucos dias depois o casal recebeu uma carta da companhiaconstrutora, dizendo que não poderiam aprovar sua aplicação dehipoteca sobre aquele imóvel em particular pois ele sofrera danosdevido a um afundamento, e o supervisor da companhia haviadescoberto grandes rachaduras em suas paredes de sustentação.O segundo exemplo refere-se a um sentimento de grande mau agouroque sobreveio a um membro da Sociedade para a Pesquisa Psíquicana noite que antecedia um vôo que seu irmão e sua cunhadadeveriam fazer à Turquia. Essa mulher ficou tão preocupada sobre asegurança dos parentes naquela viagem aérea que levantou-se nomeio da noite e perguntou ao I Ching se seria seguro eles viajaremnaquele vôo. A resposta vinha em dois estágios, pois seu primeirohexagrama continha algumas "linhas mutantes" - linhas que indicam asituação mostrada no primeiro hexagrama que darão lugar a outramostrada no segundo.A primeira parte da resposta era o hexagrama 3: Dificuldade no início.Dizia o seguinte:

DIFICULDADE NO INÍCIO traz sublime sucesso,favorecendo através da perseverança.

Nada deverá ser empreendido.É melhor indicar ajudantes.

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A segunda parte da resposta estava no hexagrama 18: O trabalhosobre aquilo que se deteriorou. Diz o seguinte:

O TRABALHO SOBRE AQUILO QUE SE DETERIOROUTem um supremo êxito.

É favorável atravessar a grande água.Antes do ponto de partida, três dias,depois do ponto de partida, três dias.

O comentário dizia: "Aquilo que se deteriorou por erro do homem podevoltar a estar bom pelo trabalho do homem. Não é um destinoimutável..." .Uma semana depois, a mulher recebeu uma carta de Istambul em quesua cunhada contava que a partida do aeroporto de Londres foraretardada por muitas horas porque, enquanto o avião taxiava na pista,para decolar, uma luz no painel havia advertido sobre um defeito e oavião teve de retornar ao terminal para reparos.

2. SONHOS PRECOGNITIVOS

Parecia haver um silêncio mortal à minha volta... e então ouvi soluçoscontidos, como se muitas pessoas estivessem chorando. Achei quetinha saído de minha cama e estava andando no andar térreo. Ali o

silêncio era rompido pelos mesmos soluços ressentidos, mas aspessoas enlutadas não podiam ser vistas. Fui a todos os cômodos;

não havia ninguém dentro de nenhum deles, mas o mesmo somlastimoso de aflição chegava até mim enquanto eu ia passando...Fiquei intrigado e alarmado. O que poderia significar tudo isso?

Cheguei à Sala Leste, onde entrei. A surpresa pelo que havia ali mefez passar mal. Diante de mim estava um catafalco sobre o qual

repousava um corpo envolto em roupas de funeral. Ao redor haviasoldados postados, em guarda; um grande número de pessoas

encontrava-se na sala, algumas olhavam enlutadas para o corpo, cujo

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rosto estava coberto, outras choravam penalizadas. Perguntei: "Quemmorreu na Casa Branca?" "O Presidente... ele foi assassinado...”

Essas foram as palavras de Abraham Lincoln a seu biógrafo Ward HillLaman em março de 1865, para descrever um sonho que o haviaperturbado muito. Ele disse: "Não consegui mais dormir naquela noitee, desde então, fiquei estranhamente incomodado". Algumas semanasmais tarde, o Presidente foi assassinado por John Wilkes Booth.Diferente do material das lendas antigas, bastante exótico para nossospadrões atuais - envolvendo profetas, feiticeiras e outros do gênero -,o sonho de Lincoln toca um acorde com o qual estamos maisfamiliarizados. Muita gente pode lembrar-se de sonhos muito reais e, ajulgar pelo testemunho de alguns dos grandes psicanalistas do séculopassado e pelos volumosos arquivos da Sociedade para a PesquisaPsíquica, muitos desses sonhos parecem haver previstoacontecimentos ainda por ocorrer. Tais sonhos - cuidadosamenteregistrados e confirmados, sempre que possível, pelos testemunhosde terceiros, a quem teriam sido relatados antes que o acontecimentoprevisto realmente ocorresse - constituem o maior conjunto de casosque podem ser considerados uma evidência para a realidade daprecognição.

Milhares de sonhos visivelmente precognitivos foram narrados à SPPdesde sua fundação há cem anos, mas a maioria deles teve de serdesconsiderada, por serem muito vagos ou generalizados demais ou,então, pela ausência de um testemunho de apoio adequado. Dasmuitas centenas que permaneceram, de longe as maiores proporçõesreferem-se a sonhos que parecem antever algum episódio traumático -uma morte, um acidente ou um desastre geral -, embora algunsfossem apenas sonhos que descreviam, com detalhes realistas, aclara previsão de algum acontecimento trivial do dia-a-dia. Seriaimpossível contar aqui cada um desses sonhos detalhadamente, masuma seleção deles poderá mostrar o que os pesquisadores psíquicosjulgaram valer uma reflexão.

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Incidentes "Triviais”

Segundo seu biógrafo (Forster, 1874), Charles Dickens certa vezsonhou estar recebendo a visita de uma mulher que usava um xalevermelho e que se apresentou como ''Miss Napier"."Por que Miss Napier?", ele se perguntou ao acordar. "Não conheçoMiss Napier alguma..." Mas, poucas horas depois, dois amigosbateram à sua porta, acompanhados de uma estranha a quemdesejavam apresentar-lhe. Seu nome era Napier. Era a Miss Napier, eestava usando um xale vermelho (9, p. 179).

Resumindo material coletado pela SPP durante os primeiros cinqüentaanos de sua atividade, o escritor H. F. Saltmarsh cita muitos outrosexemplos de sonhos precognitivos "triviais" como os que apareceramnos primeiros números das Atas da Sociedade. Num deles, uma certasra. Mackenzie sonhou estar sentada na sala de visitas com váriosconvidados, incluindo um certo sr. J. Ela desculpou-se por ummomento para ir inspecionar o jantar e, ao voltar, notou muitasmanchas escuras em seu tapete novo. O sr. J. sugeriu que asmanchas provavelmente fossem tinta, mas a sra. Mackenzie replicou:"Eu sei que foi queimado e contei cinco furos".Na manhã seguinte, um domingo, a sra. Mackenzie contou o sonho àfamília na hora do café; em seguida foram todos à missa. Ao sair daigreja, o sr. J. reuniu-se à família Mackenzie e voltou com eles paracasa, para o almoço, algo que ele nunca fizera antes. Enquanto afamília conversava com o sr. J. na sala de visitas, a sra. Mackenzie foià cozinha para inspecionar o almoço e, ao voltar à sala, notou umamancha no tapete. O sr. J. garantiu que possivelmente seria um poucode tinta e apontou para outras manchas iguais. Nesse momento, a sra.Mackenzie exclamou: "Meu sonho! Meu tapete novo está queimado!"O tapete realmente havia sido queimado, como se verificou, em cinco

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lugares, por uma empregada que descuidadamente deixara cairalgumas brasas ao acender a lareira da sala de visitas.

Em outro caso semelhante, a sra. Atlay, esposa do bispo de Hereford,sonhou que enquanto seu marido estava fora, a trabalho, elaincumbiu-se de ler as preces matinais na sala do palácio episcopal.Depois disso, dirigiu-se para a sala de jantar onde encontrou umenorme porco entre a mesa de jantar e o aparador. Ela achou o sonhotão engraçado que o contou a seus filhos e à governanta na manhãseguinte, antes de começar a ler as preces. Depois, foi para a sala dejantar. E ali, entre a mesa ela aparador, exatamente como em seusonho, estava um enorme porco, que havia escapado do chiqueirodurante as orações e conseguira entrar na casa.Embora o próprio Saltmarsh tenha tomado precauções, como parte deseu exame para a evidência da precognição, expondo todas asexplicações alternativas razoáveis. em cada sonho estudado, há umapossibilidade que ele pode ter deixado passar. No caso da sra. Atlay,é possível que seu sonho tenha se concretizado através de umabrincadeira por parte de seus filhos. Eles poderiam ter deixado o porcosolto, na cozinha da casa, uma vez inspirados pelo relato de um sonhotão engraçado. Trata-se, na verdade, de um tipo de tentação à qual amaioria das crianças não resiste.

Sonhos Premonitórios de Morte

Quando estava com seus vinte e tantos anos, Samuel Clemens (MarkTwain) teve a experiência de um sonho que o marcou por toda a vida.Trinta anos depois, ele escreveu um longo artigo sobre a "telegrafiamental", contando detalhes das muitas experiências semelhantes quetivera durante a vida. A partir de 1886 até 1903, seu interesse pelosfenômenos psíquicos era tal que ele se tornou membro da SPP.Contou a seu biógrafo oficial, Albert Bigelow Paine, o seguinte sonho.

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Clemens e seu irmão mais novo, Henry, estavam empregados a bordodo vapor Pennsylvania, no rio Mississipi. Certa noite, em que o vaporse encontrava atracado em Saint Louis, Clemens dormiu na casa desua irmã e sonhou que Henry estava morto. Viu o corpo de Henrydeitado num caixão, apoiado em duas cadeiras, na sala de visitas.Sobre o peito de Henry havia um buquê de flores brancas, com umúnico botão vermelho no centro. O sonho pareceu tão real que, namanhã seguinte, ao acordar, Clemens acreditou ser verdade e, depoisde se vestir, foi à sala de visitas para ver a urna de seu irmão. Ficoutomado de alegria ao encontrar a sala vazia e ao perceber que foraapenas um sonho mau. Contou o sonho à irmã e, a partir disso, fez oque pôde para esquecer o assunto.Poucas semanas mais tarde, devido a problemas com a tripulação noPennsylvania, os dois irmãos foram separados numa das viagens peloMississipi abaixo. Henry, como sempre, ia no Pennsylvania, e Samuelseguiu, dois dias depois, no Lacey. Quando o Lacey atracou emGreenville, no Estado de Mississipi, Clemens ouviu uma voz na praiagritando as notícias: "O Pennsylvania explodiu logo abaixo de Mênfis,na Ilha do Navio. Cento e cinqüenta mortos!”De início, acreditou-se que Henry havia sobrevivido sem ferimentos,quando quatro das oito caldeiras do Pennsylvania explodiram; porém,soube-se depois que ele estava muito queimado e que a sua morteera esperada. No momento em que o barco do irmão chegava aMênfis, Henry estava sendo carregado para o necrotério.Quando Samuel Clemens foi ver o irmão, encontrou-se numa sala naqual haviam sido reunidos os caixões de todas as vítimas. Mas,enquanto todos os dos outros eram de madeira simples e sem pintura,Henry Clemens fora colocado num caixão de metal que as mulheresde Mênfis haviam comprado com um fundo de sessenta dólaresespecialmente levantado. Fizeram isso porque o rosto admirável dorapaz havia despertado especial interesse. Estava Clemens de pé,olhando o corpo de seu irmão, pensando no quanto a cena erasemelhante ao sonho, exceto pela falta do buquê sobre o peito deHenry, quando, nesse momento, uma senhora idosa de Mênfis foi até

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o caixão e lá depositou um. Era um buquê de flores brancas, com umaúnica rosa vermelha no centro.Em 1812, um homem da Cornualha, chamado Williams, sonhou estarsentado no saguão da Câmara dos Comuns quando um sujeitovestindo um casaco marrom escuro e decorado com "botõescaracterísticos" atirou no Ministro da Fazenda. Clemens Carlyontestemunha o sonho de Williams em suas memórias, dizendo que eleacordou, contou o sonho à esposa e adormeceu outra vez. Mas,enquanto dormia, teve o sonho novamente e acordou tão perturbadoque se sentiu no dever de advertir o Ministro. Entretanto, algunsamigos o convenceram a não comunicar coisa alguma, e eleesqueceu o assunto até oito dias mais tarde, quando soube queSpencer Perceval, o Ministro da Fazenda, fora assassinado no saguãoda Câmara dos Comuns. Mais tarde, quando Williams viu o desenhode um artista sobre o crime, percebeu que o assassino fora retratadovestindo-se exatamente como em seu sonho.No dia 16 de dezembro de 1897, o ator britânico William Terriss foiesfaqueado e morto na entrada do Teatro Adelphi, em Londres, porum membro da companhia que fora despedido e que contra ele nutriaqueixas. O substituto de Terriss, Frederick Lane, teve o seguintesonho na noite anterior ao crime:

Sonhei que via o falecido William deitado num estado delirante ouinconsciente nos degraus que levavam aos camarins do Teatro

Adelphi. Estava rodeado de pessoas que trabalhavam no teatro, entreas quais a srta. Millward e um dos funcionários que cuidavam da

cortina; e vi os dois poucas horas depois na cena da morte. O peitodele estava nu e, ao lado, as roupas rasgadas. Todos à sua volta

tentavam fazer algo para socorrê-lo ... Meu sonho foi o mais realistaque já tive, parecia mesmo verdade e representava exatamente a

cena que vi à noite.

Frederick Lane contou o sonho a Frank Podmore, o principalinvestigador da Sociedade para a Pesquisa Psíquica e reconhecido

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cético a respeito de qualquer assunto relacionado a alguma alegadaprecognição. Podmore tomou o cuidado de interrogar dois colegas deteatro de Lane, e os dois juraram que Lane lhes havia contado osonho na hora do almoço no mesmo dia do assassinato, muitas horasantes de o fato acontecer. Podmore comentou em seu relatório:"parece-me que o sonho-visão apresentou um quadro bastantepreciso e minucioso dos acontecimentos. Não era um sonho comum eé difícil deixá-Io de lado como simples coincidência". Mas, ao mesmotempo que, estava convencido de que o sonho de Lane era autêntico,Podmore não se mostrava muito certo de que também fosseprecognitivo."Parece-me possível", sugeriu ele, "que o ator principal na tragédia setenha comunicado inadvertidamente com alguma outra mente, que poracaso tivesse sensibilidade para a recepção, transmitindo o esboço doquadro em que ele incorporava seu objetivo desesperado." Ou, pararesumir, Podmore achou que o sonho de Lane poderia ser explicadopor telepatia, entre Lane e o assassino de Terriss, em vez de ser umavisão precognitiva por parte de Lane. Esse tipo de comunicaçãotelepática é uma hipótese alternativa comum a casos de uma aparenteprecognição, embora seja difícil verificar que papel ela poderia terdesempenhado no próximo caso, muito mais recente.No dia 9 de abril de 1975, a sra. Lickness, uma experiente assistentesocial de Hull teve o seguinte sonho sobre um homem (o sr. G.) aquem ela não via há dezesseis anos. Ela o relatou da seguintemaneira a Brian Nisbet, um pesquisador da Sociedade:

Havia muito pouco em meu sonho, estava muito claro. Eu estava depé num dos lados de uma sala não muito ampla; havia uma paredelisa à minha frente. Era muito clara, clara como uma cor de vidoeiro

prateado. A cabeça do sr. G. aparecia nitidamente como se eleestivesse dormindo. Não notei nenhum detalhe em cima dela. Havia

alguém à minha esquerda, mas eu não podia ver quem era, no sonho.Falei, dizendo: "Oh! Veja! Dennis G. está onde meu pai está agora". E

é só isso que posso lembrar.

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Na manhã seguinte, a sra. Lickness acordou sentindo-se um tantoperplexa com o sonho (ela não conhecera o sr. G. diretamente, só otinha visto a uma certa distância, uns dezesseis anos antes, quandoele fora apanhar sua esposa, uma das clientes da sra. Lickness) e ocontou a seu marido. Logo depois, ela saiu em seu carro para visitaruma amiga, a sra. F. No trajeto, ela parou numa esquina para permitirque um carro elegante entrasse na rua principal e ficou surpresa aover o sr. G. ao volante. Logo que chegou à casa da sra. F., contou-lheo sonho e falou sobre o inesperado encontro com o sr. G. na estrada,naquela manhã. A sra. F. também conhecia o sr. G. Uma amiga da sraF., diretora de uma escola, estava presente e ouviu também a históriada sra. Lickness. As três acharam que o aparecimento do sr. G.naquela manhã, vivo e bem de saúde, significava que o sonho nãotinha importância nenhuma.Mas, infelizmente, como a sra. Lickness disse em seu relatório a BrianNisbet, não foi daquela forma que tudo acabou.

Despedindo-me (das amigas), continuei minhas visitas daquele dia, e,ao chegar em casa, encontrei um recado pedindo-me para entrar emcontato com minhas amigas. Liguei e fiquei sabendo que logo depois

que eu deixei o carro do sr. G. entrar na estrada, saindo de umaruazinha lateral, ele havia continuado até a cidade. Ao parar num sinal

vermelho, no centro da cidade, ele sofrera um ataque cardíaco,morrendo instantaneamente.

Muitas pessoas testemunharam a respeito de diversasparticularidades deste caso e todas assinaram declarações para aSociedade para a Pesquisa Psíquica.

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Sonhos Premonitórios de Doenças ou Acidentes

O sonho que vem a seguir poderia parecer um bom candidato paraservir de apoio à hipótese de Podmore de que a comunicaçãotelepática pode ser uma explicação para determinadas experiênciasaparentemente precognitivas. Trata-se do sonho de um médico russo,registrado no conceituado livro de Medard Boss, The Analysis ofDreams (9, p. 182). Boss foi um importante psicanalista existencialista,professor de Psicoterapia na Universidade de Zurique, conhecido porsuas cuidadosas investigações sobre a fenomenologia do sonho.

Costumo tomar uma refeição às três da tarde e depois vou dormir poruma hora, e meia. Em julho de 1888, fui me deitar, como façonormalmente, e adormeci lá pelas três e meia. Sonhei que a

campainha tocava e que alguém vinha me apanhar para levar-me aum paciente. Entrei numa sala pequena forrada com papel de parede

escuro. Ao lado direito da porta havia um móvel com gavetas e umestranho candelabro ou uma lâmpada em cima. Fiquei interessado,

muito interessado, por aquele objeto curioso. Jamais tinha visto nadaparecido antes. Do lado esquerdo da porta havia uma cama onde uma

mulher estava sangrando abundantemente. Não sei como, mas eusabia do que se tratava...

Dez minutos depois de acordar (do meu sonho), a campainha tocou efui solicitado para visitar um paciente. Ao entrar na casa, fiquei

completamente perplexo. Era idêntica ao cômodo do meu sonho.Havia uma esquisita lamparina de querosene sobre o móvel com

gavetas à direita da porta; a cama estava à esquerda. Meio aturdido,me aproximei da paciente e perguntei: "A senhora teve uma

hemorragia violenta?" "Sim", disse ela. "Como é que o senhor sabe?”

Neste caso, o próprio dr. Golinsky se perguntou se teria sido umsonho premonitório ou se a paciente teria comunicado a ele por algum

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meio telepático, durante a sesta, o seu estado. Ele a interrogou arespeito e ficou sabendo que a hemorragia havia começado à umahora da tarde e que ela ficara preocupada com a gravidade do fato lápelas duas horas; às quatro, resolvera mandar chamar o médico.Portanto, a cena que o médico viu em sonho estava ocorrendoenquanto ele dormia e, embora não necessariamente, a telepatiapoderia ser uma explicação alternativa em vez da precognição, nocaso do seu sonho.

O sonho de Golinsky lembra outro muito mais recente narrado peloescritor Andrew MacKenzie, à SPP (42, pp. 105 -06), embora nessecaso a atenção da pessoa que sonhou estivesse focalizada em algoque o sujeito do sonho aparentemente desconhecia; e existe ainteressante possibilidade de que o sonho premonitório tenha feito osonhador agir de maneira a fazer com que no futuro acontecesse oque ele havia previsto.Ao entardecer de um sábado de 1964, um ilustre cirurgião, a quemMacKenzie se refere como dr. Donald Wilson (pseudônimo), sonhouque via um paciente em seu consultório na manhã da segunda-feiraseguinte. O primeiro paciente a entrar na sala foi uma mulher comuma grande mancha na nádega direita. O dr. Wilson não podia ver orosto da paciente, apenas suas nádegas, mas tinha certeza de queera uma mulher que nunca vira antes. O sonho o impressionou,porque o médico não se lembrava de haver sonhado antes comnenhum paciente.O dr. Wilson esperou ansioso para ver o que iria acontecer em seuconsultório na segunda-feira, mas ficou um tanto desapontado quandoa primeira paciente daquele dia foi uma enfermeira do hospital. "Nãotem nada a ver com meu sonho", pensou ele. No entanto, a enfermeiranão tinha marcado hora para ver o dr. Wilson naquela manhã, apenasaproveitara um intervalo justamente naquele momento. Sua primeirapaciente foi, na verdade, uma outra mulher que ele jamais vira e,enquanto ela estava deitada sobre o lado esquerdo para ser

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examinada, o médico percebeu uma grande mancha de tumor em suanádega direita."Ora, é um pouco abaixo do local onde eu havia pensado que era!",exclamou em voz alta - embora sua exclamação soasse de formaestranha à paciente, já que tinha marcado a consulta devido a outroproblema. Era muito raro um tumor daquele tipo aparecer na nádega eisso, aliado ao sonho, levou o dr. Wilson a concluir: "Trata-se de algomuito significativo para não querer dizer nada". Dois dias depois, eleremoveu o tumor, que foi diagnosticado maligno."Se eu não o tivesse removido - comentou mais tarde -, a mulher teriamorrido.”

Premonição e Prevenção

Há muitos sonhos premonitórios registrados que parecem terprevenido sobre alguma coisa terrível prestes a acontecer, como o dodr. Wilson, agindo como um sinal de advertência. Nos três sonhos queseguem, a própria pessoa que sonhou salvou-se graças a seu sonhopremonitório.Por volta do final do século passado, a conhecida sufragistaamericana, Susan B. Anthony, foi salva de um incêndio por um sonho.O incidente está registrado no diário de sua amiga Elizabeth CadyStanton desta forma:

Esperávamos que a srta. Anthony viesse nos visitar dentro de algunsdias. Ela tivera um sonho muito estranho. O médico havia lhe

recomendado que fosse da Filadélfia para Atlantic City cuidar dasaúde. Estando nessa última cidade, ela teve um sonho muito realista

certa noite. Sonhou que ia sendo queimada viva num dos hotéis, e,quando levantou pela manhã, disse à sobrinha o que havia sonhado.

"Temos de voltar à Filadélfia", disse. E assim fizeram. No dia seguinte,o hotel em que haviam estado e mais outros dez hotéis e boa parte de

toda a área tinham sido destruídos pelo fogo.

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Outro caso desse tipo foi narrado à SPP britânica no início desteséculo:

O sr. Brighton, dormindo a bordo de um iate ancorado, sonhou queuma voz o advertia quanto ao perigo de ser abalroado por outro barco.Acordou e foi para o convés, mas encontrando tudo em ordem, apesarda neblina que havia surgido, voltou a deitar-se. O sonho se repetiu eele acordou outra vez e retornou ao convés. Havia ficado tão ansiosocom o sonho e com a neblina, que dessa vez resolveu subir à pontede comando; fez isso exatamente a tempo de ver, acima da neblina,

um outro barco que vinha em sua direção. Gritou para o capitãodaquele barco, que girou todo o leme, evitando assim a colisão.

Trata-se de um sonho muito citado dentro da literatura sobre aprecognição. Mesmo havendo uma boa evidência para se considerareste como um legítimo caso de premonição, um escritor importante nocampo, Saltmarsh, achou interessante levantar uma hipótese possível.Brighton, sendo um homem do mar experiente, tinha um aguçadosentido de audição (muito desenvolvido em geral entre os navegantes)e poderia ter percebido, inconscientemente, a quase imperceptívelalteração de som que ocorre quando a neblina baixa e, da mesmaforma, o som distante do barco que se aproximava; as duas coisaspoderiam ter-lhe sido comunicadas em sonho, parecendo "uma voz deadvertência".

Finalmente, temos o caso de uma inglesa visivelmente salva da morte,quando da queda de um avião, graças a um sonho que fez com queela não embarcasse naquele vôo. O sonho foi contado no jornallondrino Evening Standard e duplamente checado por AndrewMacKenzie.No dia 10 de abril de 1973, um avião Vanguard que fazia um vôocharter caiu na encosta de uma montanha nas proximidades deBasiléia, Suíça, durante uma tempestade de neve. Essa queda

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marcou especialmente na Inglaterra porque entre a maioria dos 107passageiros mortos estavam donas de casa de quatro aldeias daregião de Somerset, em viagem de um dia à Suíça. Três semanasantes do acidente, uma das mulheres que deveria ter estado naviagem, Marian Warren, esposa de um agricultor da aldeia deChurchill Green, teve um sonho que mais tarde descreveu assim:

Estava tudo muito claro em meu sonho. Vi o avião passar por cima dealgumas árvores e cair na neve. Havia muitos corpos de minhas

amigas em volta. Era tudo muito real e horrível. Senti frio o dia inteiro,apesar de estar sentada diante do fogo na lareira.

Marian ficou tão perturbada pelo sonho que devolveu a passagempara a viagem que se aproximava ao organizador, apesar de recebercomo devolução apenas a metade do preço que havia pago. Antes dodesastre, ela contou o sonho apenas para uma amiga íntima e a maisninguém, acrescentando: "pensei que ninguém acreditaria em mim”.

É comum grande parte das pessoas, cujos sonhos sejam possíveisprevisões de desastres iminentes, não falarem a respeito; quer peloreceio de que ninguém acredite no que estão dizendo, quer, muitasvezes, pela relutância em acreditarem em si mesmas. E, se algumavez chegam a contar alguma coisa, fazem-no de uma maneirasuperficial e, em geral, com escrúpulos. Há o caso registrado (42,p.48) de um homem, com passagem marcada no infortunado Titanic,que sonhou duas noites seguidas com o afundamento do navio. Elevia a si mesmo como uma das vítimas. Mesmo assim, embora"sentindo-se muito deprimido e impotente", não conseguia decidir-se acancelar a passagem. Somente quando sua companhia telegrafou deNova Iorque pedindo, por questões de negócios, para adiar a viagem,é que ele conseguiu tomar a decisão. Só então se sentiu aliviado.Mas, quantos sobreviventes como este existem, cujas vidaspossivelmente seriam salvas por sintomas premonitórios?

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No início da década de 60, um parapsicólogo americano chamadoWilliam Cox fez um interessante levantamento que traz algumasrespostas a essa pergunta. Durante anos, Cox recolheu dadosestatísticos para descobrir se as pessoas tinham ou não umatendência a evitar viagens em trens que estivessem a ponto de sofreralgum tipo de acidente. As estatísticas de Cox comparavam o númerototal de pessoas que viajavam em determinado trem na hora doacidente e o número total de pessoas que viajavam no mesmo tremnos sete, quatorze, vinte e um e trinta e dois dias que precediam oacidente. Os resultados obtidos mostraram que em todos os casoshavia menos passageiros nos vagões danificados ou descarrilhadosde um trem que estivesse destinado a sofrer um acidente do que onúmero que seria de se esperar para um outro trem naquela mesmahora. A diferença entre o número real de passageiros e o númeroesperado nestes casos era significativa, maior que a proporção deprobabilidade de que o acidente ocorresse - maior do que 1 para 100.Infelizmente, o levantamento de Cox é o único no gênero já publicadoaté agora. Toda a questão a respeito de se saber se as pessoasrealmente conseguem evitar a morte ou ferimentos através de avisospremonitórios é de uma importância crítica para sustentarmosposteriormente uma discussão sobre a compatibilidade ouincompatibilidade da precognição com a existência do livre-arbítrio, euma discussão dessas poderia resultar muito mais enriquecida seatendida por um número maior de estatísticas sérias como a realizadapor Cox.

Sonhos Precognitivos de Desastres

Nos casos que acabamos de examinar, em cada exemplo o sonhopremonitório parecia antever algum infortúnio iminente à pessoa quesonhava, dando-lhe assim uma oportunidade de agir conformedesejasse, de acordo com o sonho. Há um outro grande grupo de

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sonhos em que algum desastre mais generalizado é previsto, algumdesastre que não envolve a pessoa que sonha e que, além disso, nãolhe dá condições de avaliar ou de agir antes que seja tarde demais -em geral, toma conhecimento do fato através da leitura de um jornalou pela televisão.Antes da II Guerra Mundial, um ilustre investigador da SociedadeAmericana para a Pesquisa Psíquica, o dr. Walter Prince, mantinhaum registro por escrito de todos os seus sonhos. Entre eles, havia oseguinte:

Pela manhã, sonhei que olhava para um trem, cuja parte de trás saíade um túnel ferroviário. E, de repente, para meu horror, outro trem

bateu nele. Vi os vagões se retorcendo e se empilhando e, da massade ferros, saíam gritos lancinantes de agonia das pessoas feridas.

Apareceram nuvens de fumaça ou vapor muito densas, e ainda maisgritos agonizantes se seguiram. Nesse ponto fui acordado por minha

mulher, pois eu fazia ruídos que indicavam enorme tensão...

Quatro horas depois de o dr. Prince contar este sonho à esposa evoltar a dormir, o trem do Expresso Danbury, das 8h 15min para NovaIorque, estava parado à entrada do túnel da Park Avenue -, com aparte da frente meio para fora do túnel e a traseira dentro - quando foiatingido por trás, pela locomotiva de um trem local, com tamanhaviolência que o impacto foi ouvido a mais de um quilômetro dedistância. Houve muitos mortos, e grande número de pessoas ficarampresas nas ferragens, conforme a narrativa de um jornal: "E, paraaumentar ainda mais o horror, o vapor sibilante da máquina destruídaencurralava os infelizes e subia em nuvens pela abertura do túnel".

Um sonho do mesmo gênero foi relatado ao físico inglês, professorJohn Taylor, em meados da década de 70, na manhã seguinte aodesastre de Moorgate, em Londres, um dos piores acidentes jáverificados na história daquela cidade, envolvendo trens de metrô. Ummetrô em alta velocidade atravessou a plataforma de embarque, e as

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duas composições da frente foram esmagadas, no impacto, contra aparede do túnel. Muitas pessoas morreram, houve grande número deferidos graves e centenas ficaram presas no túnel escuro por muitashoras. A pessoa que contou o pesadelo ao professor via a si mesmanum túnel cheio de fumaça. O local estava mal-iluminado mas elaconseguiu sair por entre pontas retorcidas, e podia ouvir pessoasgritando e chorando. Antes de conversar com o professor Taylor, amulher narrou seu pesadelo ao marido logo que acordou. Taylorobservou que as palavras que ela usou mais tarde para descrever oacidente eram semelhantes às usadas pelos sobreviventes dodesastre.Neste caso, porém, como não houve um registro do relato antes doacidente, tais semelhanças podem ter surgido depois do fato; nanarração, as imagens do sonho podem ter sido influenciadas pelasdescrições muito realistas do acidente que apareceram em toda aimprensa no dia seguinte.

Há uma documentação mais ampla à disposição para consubstanciaro sonho de uma outra inglesa, no qual ela aparentemente previudetalhes do pior acidente aéreo da Inglaterra. No dia 18 de junho de1972, um jato Trident da British European Airways que se dirigia aBruxelas caiu alguns minutos depois de sua decolagem do aeroportode Heathrow em Londres, matando todas as 118 pessoas a bordo. Nanoite anterior, Monica Charke, de Letchworth, uma cidade no distritode Hertfordshire, teve o sonho narrado a seguir; ela o contou a seumarido e a sua filha. Depois do acidente, a família Clarke relatou osonho a Andrew MacKenzie.

Sonhei que estava com uma amiga sentada no campo, mas, nãomuito longe dali, havia edifícios altos. De repente, o céu ficou escuro eopressivo. Sem mais nem menos, houve uma espécie de relâmpago

muito claro e um avião que saiu de algum lugar pareceu cair numcampo muito perto de onde estávamos. Depois de alguns segundos,

ele pareceu explodir em chamas. Antes disso não houve nenhum som

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da máquina de um avião. Neste ponto, acordei, muito perturbada eapavorada...

Pode parecer uma coincidência, mas é significativo que no sonho deMonica "não houve nenhum som da máquina de um avião". O Trident,na realidade, caiu do céu como um pássaro silencioso por causa deum problema em sua máquina: os motores haviam deixado defuncionar durante a ascensão.

Por fim, o desastre de Aberfan. Às 9h15min da manhã do dia 21 deoutubro de 1966, Gales sofreu o pior desastre de minas em suahistória, Um veio de carvão situado na encosta de uma montanha forada aldeia de Aberfan deslizou subitamente, abatendo-se sobre aPantglas Junior School (uma escola primária). Morreram 144 pessoas,128 das quais alunos da escola, parcialmente destruída na avalanche.O desastre de Aberfan comoveu a Inglaterra de um modo que poucosdesastres naturais já fizeram antes, talvez porque tantas de suasvítimas tenham sido crianças. Pessoas de todos os cantos do paísrelataram o horror sentido e muitas o compararam aos bombardeiosnoturnos alemães; outras disseram haver sentido como que umacuriosa espécie de perda pessoal, ainda que nenhum conhecido seuestivesse entre os mortos ou feridos. Tendo notado que muitas vezesos sonhos associam-se a relatos registrados de visível precognição, odr. J. C. Barker, do Hospital Shelton em Shrewsbury, perguntava-se seeste também teria sido assim. Resolveu tentar verificar isso eprocedeu, então, a um dos mais completos levantamentos jamaisrealizados sobre como a precognição pode estar relacionada comacontecimentos violentos de conhecimento público.No dia seguinte à tragédia de Aberfan, que havia sido o principalassunto de toda a imprensa inglesa, o dr. Barker fez um apelo atravésdo correspondente de ciências do jornal Evening Standard deLondres, pedindo que as pessoas que julgassem ter tido algum avisopremonitório sobre o desastre lhe escrevessem. Das setenta e seiscartas recebidas, sessenta lhe pareceram merecer uma investigação

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mais aprofundada (entrevistas pessoais, pedidos de alguma provamais corroborativa) e trinta e seis dentre estas últimas, afinal, foramjulgadas satisfatórias para seus critérios, como sendo casos delegítima precognição.O dr. Barker registrou cuidadosamente as trinta e seis experiênciasvisivelmente precognitivas e classificou-as segundo as quantidades dedetalhes previstos e a idade dos perceptivos, sexo, e se a premoniçãohavia surgido em sonho, acordado ou em transe. A grande maioria foiem sonhos, alguns dos quais realmente bastante detalhados.Um desses casos de Barker envolvia o sonho de uma aluna de dezanos de idade da própria escola, Eryl Mai Jones, que morreu nodesastre. Duas semanas antes, a garota havia falado à sua mãe sobrea morte, dizendo: "Mamãe, eu não tenho medo de morrer". No diaanterior ao acidente, a garota insistiu que sua mãe ouvisse um sonhoque tivera durante a noite. Quando a mãe protestou, dizendo queestava muito ocupada, a menina continuou: "Não, mamãe, você temde escutar. Eu sonhei que tinha ido à escola e não tinha nenhumaescola ali. Alguma coisa preta tinha caído por cima dela!”Deve-se dizer sobre esse sonho em particular que, embora ninguémem Aberfan esperasse que o veio carbonífero pudesse cair tãosubitamente, ou pelo menos da maneira como aconteceu, o perigoque o veio apresentava era uma preocupação geral da cidade e haviasido discutido muitas vezes. É possível que essa jovem vítimasoubesse de tais discussões e que elas tenham tomado conta de suaimaginação, afetando seus sonhos. Se foi isso, o sonho da meninapode ter sido apenas uma ansiedade geral ligada apenas porcoincidência ao desastre real.No entanto, uma explicação alternativa como essa não pôde serencontrada em outros casos descobertos por Barker. Com exceção damenina, que foi uma das vítimas, nenhum outro dos exemplos citadosno estudo de Barker envolvia pessoas que tivessem algo a ver com oacidente ou que vivessem nas proximidades. Isso era verdade no casode Grace Eagleton, de Kent. Ela testemunhou nada menos que oseguinte:

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Nunca estive em Gales e nem possuo uma televisão. Na noite de 14de outubro, tive um sonho horrível e muito real com um desastre numaaldeia de minas de carvão. Era um vale com um grande edifício cheiode crianças pequenas. Montanhas de carvão e água estavam caindosobre o vale, enterrando a escola. Os gritos das crianças eram tãoreais que eu também gritei. Tudo aconteceu muito rápido. E depois

tudo ficou negro.

Nem Grace Eagleton nem Mary Hennessy, de Barnstaple, em NorthDevon, jamais tiveram alguma ligação com Aberfan ou com aldeias demineração. Mas o sonho de Mary Hennessy continha detalhes aindamais realistas que correspondiam ao desastre propriamente dito:

Na noite anterior ao acidente, sonhei com uma porção de crianças emduas salas. Depois de algum tempo, algumas das crianças se

juntaram a outras numa sala comprida e ficaram em grupos diferentes.No final da sala havia peças muito compridas de madeira, ou barrasde madeira. As crianças estavam tentando subir ou passar por entreas barras. Tentei avisar alguém gritando, mas antes que eu pudessefazer isso, uma criança pequena simplesmente desapareceu de meucampo de visão. Eu mesma não estava em nenhuma das salas, masobservava do corredor. Em seguida, no meu sonho, vi centenas de

pessoas correndo para o mesmo lugar. O olhar no rosto das pessoasera horrível. Algumas gritavam e outras seguravam lenços contra seus

rostos. Fiquei com tanto medo que acordei em seguida.

Mary Hennessy ficou muito perturbada com o sonho, pois tinha duasnetinhas. Por isso, chamou seu filho para contar o sonho. Ela conclui:"Disse a ele que não eram as nossas meninas, pois me pareciam maisque fossem crianças de escola". Mary ficou sabendo do desastre deAberfan mais tarde, às 17h15min.

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Depois de analisar os resultados de seus levantamentos sobre apremonição em Aberfan, o dr. Barker ficou bastante impressionadocom o número de casos que ele revelara, perguntando a si mesmose uma visível precognição de desastres generalizados como estanão, poderia ser classificada como um "sistema de aviso prévio".Barker foi o responsável pela organização de um Escritório dePremonições da Inglaterra em 1967 e, mais tarde, de um RegistroCentral de Premonições em Nova Iorque. A idéia de tais escritóriosera a de registrar todos os casos (coletados por telefone) de sonhos,visões etc. que parecessem premonitórios e, então, compará-los comdesastres reais que ocorressem mais tarde.Nos primeiros seis anos de operação, o Escritório de Premonições daInglaterra recebeu 1.206 chamados aparentes de premonição, algunsdos quais pareceram corresponder a fatos ocorridos posteriormente (oque provocou a indignação do primeiro-ministro Harold Wilson: amorte de quatorze crianças no incêndio de uma casa para retardadosmentais, a morte por sufocação de dois gêmeos encontrados presosnuma geladeira fora de uso), mas não surgiu nenhum padrão muitoclaro a partir desses dados. Jamais houve alguma repetição entre atorrente de premonições associadas a um único acontecimento, comoo que caracterizou o estudo do caso de Aberfan.

Sonhando com Ganhadores

É comum todos os anos surgirem notícias na imprensa popular arespeito de algum apostador de sorte que ganhou dinheiro no Derby(famosas corridas de cavalo, muito populares na Inglaterra ou noGrande Prêmio Nacional). Mais comum ainda é o fato de o ganhadorou ganhadora afirmar ter sonhado com o nome do cavalo vencedor nanoite anterior à corrida. Histórias assim fazem parte da mitologia daprecognição e dessas corridas clássicas que tanto excitam aimaginação popular; no conjunto, entretanto, elas desempenham um

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papel muito pequeno nas reflexões de pesquisadores sérios quetentam examinar cuidadosamente o caso da precognição. FrankPodmore comentava nos primeiros tempos da SPP que não é difícilimaginar que as grandes esperanças colocadas naquelas corridaspossam provocar tantos sonhos de maneira que de vez em quandoum vá coincidir com os fatos, enquanto muitos outros passamdesapercebidos. Mas há um certo grupo de sonhos registrados,relacionados a corridas, que merecem nossa atenção.Em 1946, Lord Kilbracken, que ainda era o sr. John Godley, estudantedo Balliol College (uma das faculdades da Universidade de Oxford),teve uma série de sonhos que pareciam ser a previsão dosvencedores de diversas corridas. Na época, ele compartilhou suainformação com um grupo de colegas; todos ganharam dinheiro etestemunharam sobre o assunto quando interrogados pelospesquisadores da SPP. E assim, os sonhos, que são excepcionais nosdetalhes, estão também bem fundamentados.Em seu relatório para a SPP, Godley escreveu:

Na sexta-feira à noite do dia 8 de março de 1946, sonhei o que muitosgostariam de sonhar: que eu estava vendo os resultados das corridasdo dia seguinte, com todos os vencedores e cotações por completo.

No sonho, notei que os dois cavalos que haviam vencido eram os emque eu havia apostado sem sucesso na sua última corrida, e lembrode ter ficado aborrecido no sonho por haver perdido desta vez. Osnomes dos cavalos eram Bindal e Juladin, e em meu sonho eles

estavam pagando 7 por 1.Quando acordei, lembrava do sonho, mas de todos os resultados que

sonhara só pude recordar estes dois nomes: Bindal e Juladin. Nãopensei mais sobre isso até a tarde daquele dia, quando por acaso dei

uma olhada no jornal e, para minha surpresa, descobri que os doisiriam correr naquela mesma tarde. Contei para alguns amigos meus, etodos me aconselharam a apostar neles, alguns apostaram também...Bindal foi o primeiro a correr. Comprei meu jornal à noite e a primeiraparte de meu sonho se realizara. Então, rapidamente coloquei tudo o

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que ganhara em Juladin, que (como em meu sonho) participava daúltima corrida. Passei uma ou duas horas impaciente, esperando uma

nova edição do jornal Quando ele chegou, eu estava um tantoconfiante de que iria ganhar: claro, Juladin tinha sido o vencedor. Osdois cavalos haviam começado em 5 por 4 e 5 por 2, de maneira quea proporção para a dupla era 7/8 por 1, um número muito próximo do7 por 1 de meu sonho. Meus amigos e eu ganhamos mais de trinta

libras entre nós.

Godley afirmou que se sentiu tão animado com o resultado de seusonho, que durante a semana seguinte dormiu com lápis e papel aolado da cama, na esperança de que fosse acontecer outra vez, massem sucesso. "Depois de algum tempo", conta ele, "esqueci todo oincidente e desisti da esperança de que fosse acontecer de novo."Mas, duas semanas mais tarde, duas noites antes do Grande PrêmioNacional (3 de abril de 1946), ele sonhou:

Sonhei novamente estar vendo os resultados das corridas. Mas, dessavez, ao acordar, só podia me lembrar de um dos vencedores:

Tubermore. No dia seguinte, não havia um cavalo com este nomecorrendo. Mas, dois dias depois, na primeira corrida em Aintree, tinhaum cavalo chamado Tuberose; os dois nomes eram tão parecidos que

resolvi tentar a sorte. Com meu irmão e minha irmã, coloquei trêslibras em cada tipo de aposta; Tuberose ganhou pagando: 100 por 6.Nós três juntos ganhamos mais de 60 libras... e eu nunca ouvira falarde Tuberose antes daquele dia. Tratava-se de um estranho que nem

era levado em consideração. Prestei atenção em suas corridas depois,mas ele nunca mais ganhou outra.

O último dos sonhos de Godley dessa série (que foi de dez sonhos,em oito dos quais ele sonhou com os vencedores) aconteceu no dia28 de julho de 1946. Ele contou:

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Dessa vez foi diferente. Eu estava em Oxford na época e, no sonho,fui a determinado hotel para telefonar para meu bookmaker. Tenho ocostume invariável de ler os resultados das corridas no jornal da noitequando estou interessado neles, mas, em meu sonho, decidi comprá-Io ao entrar em contato com meu bookmaker. Eu fumava um cigarro eo posto telefônico estava abafado. Quando consegui entrar, disse ao

homem que me atendeu: "Aqui é Godley. Eu gostaria de saber sevocê já tem o resultado da última corrida". Sua resposta foi: "Claro:

Monumentor, 5 por 4". E acordei...Quando fui olhar o jornal durante o café da manhã, descobri que ofavorito para a última corrida daquele dia era um cavalo chamado

Mentores... O nome, embora quase igual, era diferente do meu sonho.Resolvi que, já que no sonho eu havia ligado para meu bookmaker, eu

teria que fazer o mesmo na realidade. E às cinco horas fui ao hotel,esperei até a hora do resultado das corridas.

Às 5h10min acendi um cigarro. Fui então para a cabine e liguei paraLondres. Estava muito abafado na cabine. Mas prossegui.

"Aqui é Godley", disse eu. "Você poderia me dizer o resultado daúltima corrida?”

"Claro," respondeu ele. "Mentores, 6 por 4.”

O caso Godley continua sendo o melhor fenômeno registrado de umapessoa que pareceu haver sonhado com vencedores, mas talvez sejadiscutível afirmar que se tratasse de sonhos premonitórios. Quandojovem, ele era profundamente interessado por corridas e apostavasempre, com uma freqüência suficiente para justificar o fato de teruma conta por telefone com um bookmaker. Quem poderia dizer quetipo de informações ele teria inconscientemente retido ao ler osretrospectos quando eles apareceram como "prognósticos" em seussonhos, ou então quantos sonhos ele poderia ter tido e esquecidosobre cavalos vencedores? Houve pelo menos mais um sonho de quese lembrava durante aquele período prolífico, e que enviou para aSPP para possível investigação posterior, mas ela nunca foi realizada.

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Godley e seus amigos com certeza julgaram estar indo muito bem emseus sonhos, mas, para azar deles, estes sofreram uma bruscainterrupção. Ele ainda teve mais uma experiência dessas em 1947 enenhuma outra durante anos. Em 1956, recebeu uma cartainesperada de um astrólogo (antes desconhecido para ele) queexpunha com detalhes a razão, por que e quando seus sonhosprecognitivos haviam parado e predizendo que iriam recomeçar outravez no ano seguinte. Na verdade, não houve mais sonhos até aprimavera de 1958, quando eles começaram a se manifestarnovamente. Godley sonhou com êxito o nome do vencedor do GrandePrêmio Nacional daquele ano, Mr. What, e este foi seguido por outrossonhos precisos de corridas. Mas pelo menos um sonho deixadopreviamente com a SPP (predizendo que um cavalo chamado NeatTurn venceria o Grande Prêmio Nacional em 1972) não se mostroucorreto. Este cavalo nem chegou a entrar na corrida. *

* O próprio Godley explicou mais tarde que o sonho na verdadereferia-se a um cavalo chamado Gyleburn, que se pronuncia "Gill-burn".

3. EXPERIÊNCIAS PRECOGNITIVAS EM ESTADO DEVIGÍLIA

Em 1956, O dr. John Peters (um pseudônimo) era um jovem estudantedo segundo ano, prestando seu exame de bioquímica na Escola deMedicina de Charing Cross, em Londres. Uma das questões feitaspelos examinadores era uma descrição da síntese dos ácidosgordurosos incluindo uma prova experimental das diferentes etapasdos processos bioquímicos , intermediários envolvidos. Os ácidosgordurosos são um dos produtos finais da digestão humana e umprocesso de bloqueio básico da gordura do corpo.Em sua resposta o dr. Peters descrevia muitas experiências, cadauma das quais ilustrava algum estágio do processo da síntese. Entre

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elas havia uma decisiva mostrando que o primeiro passo na sínteseera a reunião de unidades separadas da molécula acetil-CoA(CH3COO-CoA). Essa experiência, acrescentava ele, haviaproporcionado a prova conclusiva de que o acetil-CoA era realmente omaterial que inicia todo o processo (a partir de certo número decandidatos adequados) através do emprego de uma dupla técnica declassificação: um dos átomos de carbono (C) no acetil-CoA, que foradenominado carbono-14 radioativo, e um dos átomos de hidrogênio(H), classificado com o deutério (hidrogênio pesado). Sem a duplaclassificação, resumia ele, teria sido impossível determinar qual dasmuitas possíveis moléculas de 2-carbono que apareciam como umprimeiro estágio na digestão seria a que atuava como substânciaprovocadora da síntese dos ácidos gordurosos.O dr. Peters ficou muito surpreso ao receber de volta seu exame coma nota, verificando que, embora ele tivesse recebido elogios por suaimaginação criativa, o professor havia escrito em tinta vermelha aolado de sua descrição da experiência da dupla classificação: "Estaexperiência pode ser muito boa, mas nunca foi realizada. Ainda nãohá provas de que o acetil-CoA seja a substância provocadora damesma"."Mas veja aqui", disse ele ao professor, apontando para suasanotações de aula. "O senhor descreveu essa experiência em suasaulas durante o semestre. Eu anotei no meu caderno!”E realmente havia uma descrição detalhada da experiência da duplaclassificação e sua prova conclusiva sobre o papel do acetil-CoA.Apesar disso, o professor garantiu ao dr. Peters mais uma vez que elenão poderia ter dito uma coisa dessas durante suas aulas porque essaexperiência jamais fora realizada. Havia, disse ele, uma experiênciaem que o átomo de carbono fora classificado com um carbono-14radioativo e uma outra em que o hidrogênio fora classificado com odeutério, mas nenhuma dessas experiências era conclusiva e osbioquímicos ainda estavam no escuro a respeito de qual das muitaspossíveis moléculas de 2-carbono seria realmente a substância queprovocava a síntese dos ácidos gordurosos.

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O dr. Peters ficou se sentindo muito esquisito na época."Eu não costumava ter alucinações", disse ele, "e, dequalquer maneira, ali estava tudo escrito em meu caderno. Mas acabeiesquecendo o assunto.”Oito anos mais tarde, sua memória foi estimulada e ele se sentiu aindamais estranho."Eu estava lendo um artigo sobre a síntese dos ácidos gordurosos ehavia um relatório a respeito da experiência da dupla classificação queeu descrevera enquanto estudante... - e a conclusão de queisso demonstrava, além de qualquer dúvida, que o acetil-CoA era asubstância que provocava a síntese. Mas tratava-se do relatório deuma experiência que acabara de ser realizada pela primeira vez ereivindicava proporcionar a primeira prova jamais obtida antes sobre opapel essencial desempenhado pelo acetil.CoA!”Atualmente o dr. Peters é um membro da Sociedade para a PesquisaPsíquica, mas nunca relatou sua experiência estudantil aosencarregados das pesquisas da Sociedade."Eu não poderia satisfazer seus critérios de comprovação", explica ele,"pois não guardei o caderno e nem me ocorreu na época queeu poderia necessitar de algum testemunho a respeito. Mas tenhoabsoluta certeza desses fatos, não é o tipo de coisa que eu iriaesquecer...”O caso do dr. Peters seria de precognição? À primeira vista, tudoindica que sim. Seus elementos básicos - um jovem cientista"sonhando acordado" durante uma aula numa escola de medicinaanota em seu caderno como fatos os detalhes e resultados de umaexperiência que só seria feita oito 'anos mais tarde - são coisas quelembram muitos casos de psicografia ou previsão em transe, que vêmsendo registrados e testemunhados há anos. Esses casos são apenasuma pequena porcentagem do todo, se comparados com o total dogrande número de sonhos normalmente citados como possívelevidência para a realidade da precognição; mas, os aparentesvislumbres do futuro que mostram são muitas vezes mais precisos ou

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exatos, não contendo o simbolismo e desvios de situações quefreqüentemente caracterizam os sonhos.

O Afundamento do "Titanic"

No dia 15 de abril de 1912, o Titanic afundou em sua viagem inaugurala Nova Iorque. Cerca de 1.500 de seus 2.207 passageiros etripulantes perderam a vida. O desastre foi um choque, não apenaspelas muitas mortes mas por causa da declarada insubmergibilidadedo navio. Por suas numerosas e modernas características de projeto econstrução, dizia-se que o navio não poderia afundar.Não sendo uma surpresa, se visto à luz da pesquisa em torno dodesastre das minas de Aberfan, o incidente com o Titanic tambémparece haver sido previsto através de diversas visões precognitivas.Muitas eram sonhos, algumas eram visões em transe ou simples"pressentimentos" de que algo sinistro iria acontecer ao navio. Comcerteza, o caso mais curioso é o de um romance escrito,aparentemente sobre o desastre, quatorze anos antes que eleocorresse.Em 1898, um escritor americano, Morgan Robertson, escreveu umanovela chamada Futility, cuja história se passava em torno doafundamento de um suposto gigante da navegação a vapor chamadoTitan. No romance de Robertson, o Titan encontra seu destino noAtlântico Norte, durante o mês de abril, numa colisão com um enormeiceberg. O Titan levava 3.000 passageiros e tripulação, grande partedos quais se perderam porque o navio trazia um número insuficientede salva-vidas a bordo: apenas 24 (o Titanic tinha vinte, o que tambémfoi considerado bastante inconveniente). Havia outras semelhanças. OTitan viajava a 25 nós no momento da colisão, o Titanic, a 23 nós; odeslocamento do Titan era de 75.000 toneladas, o do Titanic, de66.000; o Titan tinha 800 pés de comprimento, o Titanic, 882,5; osdois navios tinham três motores de propulsão.

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Escritores especializados em assuntos psíquicos já fizeram muitasespeculações sobre a misteriosa. correlação de detalhes queapareciam na novela de Robertson e nos fatos envolvendo oafundamento real do Titanic. Um deles chega ao ponto de afirmar queRobertson fora um marinheiro sem nenhuma educação e que Futilityfora "ditado" a ele enquanto estava em estado de transe; um"companheiro astral escritor" o teria ajudado a datilografar o romance.Outras declarações são mais cautelosas.O dr. Ian Stevenson, professor de Psiquiatria na Universidade daVirginia e antigo presidente da Associação Parapsicológica, fez umestudo completo das experiências aparentemente paranormais(dezenove ao todo) associadas ao afundamento do Titanic, entre asquais o caso do romance de Robertson. Ao reconhecer que, à primeiravista, os muitos pontos de correspondência entre detalhes do romancee do acontecimento real sugerem com muito vigor uma certaconsciência precognitiva da parte de Robertson, Stevenson argumentaque, como alternativa, muito disso poderia ser atribuído a umainterferência inteligente. Depois de observar que na década de 1890se falava muito sobre a nova era dos grandes navios de passageiros avapor, ele diz:

Graças a uma perspicaz consciência da crescente e cada vez maisexagerada confiança do homem na engenharia naval, uma pessoacriativa poderia fazer deduções suplementares sobre detalhes da

tragédia por acontecer. Um grande navio provavelmente teria grandepotência e grande velocidade; o nome Titan tinha uma conotação de

força e segurança há muitos séculos; uma confiança excessiva levariaa uma negligência quanto à necessidade de botes salva-vidas; a

imprudência poderia conduzir o navio através de áreas do AtlânticoNorte cobertas de icebergs, que se movimentam para o sul (partindoda região polar) durante a primavera do hemisfério Norte, fazendocom que abril seja o mês ideal para colisões... Chegando-se a estaconclusão geral sobre a probabilidade de um desastre como este,

deduções como as que sugeri poderiam suprir o detalhamento para

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uma correspondência que assim teria a aparência de umaprecognição, mas que deveríamos, a meu ver, considerar apenas

como deduções muito bem-sucedidas e nada mais...

G. W. Lambert, antigo presidente da Sociedade para a PesquisaPsíquica, concorda com esta avaliação de Stevenson, oferecendoainda a informação complementar de que o autor de Futility estudaranoções da ciência náutica e tinha conhecimento suficiente a respeitode projeto naval que lhe permitiriam especular sobre futurosprogressos nesse campo.Outros dois exemplos do que parecem ser experiências precognitivas,em estado desperto, associados ao desastre do Titanic não podem serrejeitados tão facilmente. Um, é uma "visão" e o outro, um"pressentimento" .Em 10 de abril de 1912, o dia em que o Titanic deixou as docas doporto de Southampton para sua viagem à América do Norte, a esposado sr. Jack Marshall olhava do terraço de sua casa a passagem donavio através do estreito canal que separa a Inglaterra da ilha deWight. De súbito, ela virou-se para seus familiares, que estavam comela, e disse, em estado de grande agitação:

Esse navio vai afundar antes de chegar à América!... Não fiquem aíparados olhando para mim! Façam alguma coisa! Seus loucos. Eu

estou vendo centenas de pessoas lutando nas águas geladas! Vocêsestão tão cegos que vão deixar todos se afogar?

Embora todos da família lhe assegurassem que era impossível oTitanic afundar, Mrs. Marshall não conseguiu acalmar-se epermaneceu nesse estado de agitação até cinco dias depois, quandose verificou que sua visão correspondia à realidade.Um "pressentimento" associado ao afundamento do Titanic foi opresságio forte o bastante para fazer com que um jovem abandonassea perspectiva de uma carreira melhor, preferindo não seguir no navioem sua viagem inaugural, o que salvou sua vida. Colin Macdonald, um

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engenheiro naval de 33 anos, foi convidado para o posto de segundoengenheiro no novo e portentoso navio, mas, apesar de o conviterepresentar uma considerável promoção, Colin recusou-o. Ooferecimento foi repetido três vezes, mas ele recusou as três comfirmeza. O homem que aceitou o posto acabou perdendo a vidaquando o navio afundou.

Previsão numa Sessão Espírita

Muitas das experiências paranormais associadas com o Titanicestudadas pelo dr. Stevenson em seu levantamento manifestaram-seem "sensitivos" ou clarividentes que "viram" um navio afundando oualgum desastre no mar poucos dias antes da tragédia. Pessoas comeste dom costumam ser citadas em relação a experiências deprecognição, em estado desperto, e muitas vezes também realizamsuas previsões em sessões preparadas com esse objetivo. FrankPodmore, embora achando inconclusiva a credibilidade de muitassessões, relatou um caso que sentia estar particularmente bemdocumentado.Uma inglesa chegada há pouco tempo em Boston, identificada comosra. P., foi levada para visitar uma médium clarividente pelo famosoabolicionista, William Lloyd Garrison. Segundo a sra. P., aconteceu oseguinte:

Embora eu houvesse chegado a Boston no dia anterior, os guias domédium logo reconheceram que eu viera por mar e desvendaram nãoapenas minha vida passada, mas boa parte do futuro. Disseram que

eu trazia comigo uma fotografia de minha família, e quando aapresentei, a médium me disse (em transe) que dois de meus filhosestavam no mundo dos espíritos. Além disso, apontando para um demeus filhos no grupo, disse mais: "Este logo estará lá também, ele

morrerá de repente... mas você não deverá chorar por ele: ele estará asalvo de um mal que estaria por acontecer. Em geral não devemos

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dizer essas coisas, mas estou vendo que é melhor para você, quevocê pode ficar sabendo que não é por acidente.“

Estive fora de casa por muitas semanas, e só quando voltei é quesoube que meu filho, um rapaz forte de dezessete anos, morrera num

jogo de futebol.

Casos modernos de previsões feitas durante sessões espíritas surgemde tempos em tempos em livros e jornais especializados em questõespsíquicas, mas tantos médiuns já foram apanhados em atosfraudulentos e tão poucos consentiram numa rigorosa investigação desuas práticas, que se deve ter alguma reserva antes de aceitar seusprognósticos como prova de qualquer capacidade ou domprecognitivo.

Previsões em Estado de Transe

Quando Goethe tinha 22 anos e acabara de se separar de FrederickaBrion, por quem estava apaixonado, ele parece haver entradoespontaneamente no tipo de transe normalmente associado amédiuns; no tempo em que ficou nesse estado, ele teve o que poderiaser considerada uma visão precognitiva. Contou a experiência emDichtung und Wahrheit.

Eu agora estava a cavalo, pela trilha que leva a Drusenheim, quandouma das mais estranhas experiências sucedeu comigo. Não com os

olhos do corpo, mas com os do espírito, eu via li mim mesmo,montado a cavalo, e vindo em minha direção por algum caminho,vestido com uma roupa de um gênero que nunca usei, de uma cor

cinza-pálido com alguma coisa dourada. Quando saí do devaneio, aforma desapareceu. Mas o estranho é que oito anos depois eu meencontrei de volta àquela mesma trilha para visitar Fredericka mais

uma vez e estava usando a roupa que havia sonhado - e isso não foraplanejado, mas aconteceu por acaso... Seja como for, o estranho

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fantasma teve uma influência tranqüilizadora em meus sentimentos,nos momentos que se seguiram à separação.

Naturalmente, nesse caso de Goethe, só existe sua palavra de que eletenha tido a visão narrada e não há meios de agora se estabelecerque papel possa ter desempenhado qualquer memória subconscientena escolha de uma roupa para usar nesse seu encontro comFredericka Brion. Desde a fundação da Sociedade para a PesquisaPsíquica muitas visões semelhantes foram relatadas, uma boa partedelas corroboradas por testemunhos independentes e investigadasminuciosamente.Frank Podmore contou o caso de certa senhora de Glasgow, a sra.McAlpine, que talvez tenha tido uma visão precognitiva em aparenteestado de transe. Esperando um trem em Castleblaney, a sra.McAlpine sentou-se numa pedra, próximo de águas correntes,entregando-se inteiramente à apreciação do vigoroso pôr-do-sol e àda beleza da paisagem ao redor. Mas seu estado idílico logo foiperturbado:

Não havia um som ou movimento algum, a não ser o suave rumorejarda água na areia a meus pés. Senti um arrepio gelado percorrendo

meu corpo e uma estranha rigidez em meus braços e pernas e eu nãoconseguia me mexer, embora desejasse fazê-lo. Senti um temor, mas

era como se estivesse presa naquele ponto, e como se algo mecompelisse a olhar para as águas à minha frente. Aos poucos, uma

nuvem negra pareceu subir, e no meio dela vi um homem alto, vestidonuma roupa de tweed, pular na água e afundar.

Logo depois a escuridão se foi, e em seguida voltei a sentir o calor e aluz do sol, mas estava assustada e sentia algo "misterioso".

Poucos dias depois da visão da sra. McAlpine, um bancário suicidou-se, pulando nas águas exatamente onde ela estivera sentada, masPodmore faz uma advertência sobre quais as conclusões a seremextraídas dessa cadeia de fatos. Como no sonho aparentemente

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precognitivo de Frederick Lane na noite anterior ao assassinato deWilliam Terriss, citado anteriormente, Podmore acha que a visãosupostamente premonitória da sra. McAlpine poderia ter sido um casode telepatia, mais do que de precognição - levando-se emconsideração a grande possibilidade de o bancário suicida ter estadopensando sobre seu próprio fim durante alguns dias antes.A possibilidade de que a telepatia possa servir para explicar muitosfatos espontâneos que à primeira vista parecem precognitivoscostuma ser levantada pelos escritores sérios especializados nestecampo e deveria estar sempre em mente (com a deduçãosubconsciente) como hipótese alternativa para provar a existência daprecognição. Mas sempre existem casos em que, se tão bemfundamentados quanto deixam parecer, não cabem em nenhumdesses modelos alternativos. Alguns dos que estão associados aodesastre das minas de Aberfan ilustram isso.No dia 21 de outubro de 1966, o dia anterior ao desastre, ConstanceMilder, de Devon, disse ter visto o desastre numa visão em estadodesperto.

Primeiro, eu "vi" uma escola velha num vale e depois um mineiro doPaís de Gales, e só então uma avalanche de carvão deslizando porum lado da montanha. No sopé da montanha onde caía a avalanchebarulhenta havia um garotinho com uma franja comprida, que parecia

apavorado. E depois, por um bom tempo, "vi" equipes de resgatecomeçando a agir. Tive a impressão de que o garotinho fora deixadopara trás e salvo. Ele parecia tomado pelo sofrimento, nunca podereiesquecê-lo... Junto com ele estava um dos homens encarregados do

resgate, que usava um boné com uma pala bastante incomum.

Constance Milder contou sua visão a seis testemunhas num encontrodo Círculo Privado de sua Igreja Espírita e também falou sobre ela àvizinha, antes que qualquer uma dessas pessoas tivesse visto asnotícias que falavam do desastre na televisão. Na verdade, certos

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detalhes daquele noticiário trouxeram à luz uma característicainteressante da visão de Constance."E o que é ainda mais estranho", escreveu ela ao dr. Barker ao contar-lhe a visão, "é que enquanto eu assistia 'A montanha que deslizou' natelevisão, domingo à noite, vi o garotinho aterrorizado falando com umrepórter e o homem que fazia o resgate, os mesmos que estavam emminhas 'visões'". Barker notou que muitos dos casos confirmados devisível precognição contados a ele permitiam que o perceptivo fosseeste um sonhador ou um visionário - pudesse captar imagens de suasexperiências precognitivas na televisão ou em fotografias de jornaisque mais tarde narravam o desastre. Outros pesquisadores tambémcomentaram a respeito da correspondência que freqüentemente haviaentre as imagens precognitivas e as publicamente difundidas porrádio, televisão ou jornais que mais tarde apareceram. Essacorrespondência entre tais imagens poderá ser importante emtentativas posteriores para a compreensão de como funciona aprecognição.Duas semanas antes do desastre de Aberfan, outra espírita, umasenhora de Coventry, levantou-se durante uma reunião de um Círculode Desenvolvimento Espiritual no Lar, resmungando, angustiada e.agitando as mãos, dizia:

... uma coisa vinda do chão... terra... corpinhos queridos... estouescutando água... muito, muito frio... jamais aconteceu antes... vocêsvão ficar chocados... nunca mais deverá acontecer... aqueles homensque ficam mexendo com a natureza... eles não estão entendendo o

mal que fazem... vai abalar todo o país.

A mulher encontrava-se num estado de transe profundo quando emitiaessas palavras, mas outras que estavam presentes as relataram aodr. Barker e tinham a certeza de que se relacionavam com os fatos deAberfan.

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Textos Premonitórios

Este último caso do estudo de Aberfan era menos articulado econtinha menos detalhes definidos do gênero que normalmentedistinguem os sonhos ou visões precognitivas. Parece, a partir destefato, ter havido uma previsão do acontecimento em Aberfan, devido acertas frases atormentadas ("corpinhos queridos", "mexendo com anatureza"), mas o seu caráter vago e aberto para uma interpretaçãolembra mais alguns dos oráculos de Delfos ou as profecias deNostradamus do que a maioria dos casos modernos de visãoprecognitiva. Isso também é verdadeiro quanto a determinados tiposde "psicografia" que neste século foram entregues à SPP de temposem tempos. Apesar de vagos e de algumas vezes cheios desimbolismo, contêm em geral imagens, palavras ou frases-chave, queos tornam merecedores da mais séria consideração como possíveisexemplos de precognição.O caso da sra. Verrall é citado com freqüência na literatura dapesquisa psíquica. Era uma professora de letras clássicas emCambridge e fazia parte de um grupo de pessoas ilustres que no iníciodo século esteve associado a um projeto conhecido como"Correspondências cruzadas", que estudava a possibilidade decomunicação com os mortos. (O dr. Alan Gauld discute os resultadosdessas pesquisas em outro livro desta série, Mediumship and Survival:A Century of Investigations.) Ela era notável pelo dom da psicografia:transcrevia mensagens em estado de transe, que seriam ditadas poralguma pessoa que tinha algum objetivo e já havia morrido. No dia 11de dezembro de 1901, a sra. VerralI escreveu:

Nada significam também as ajudas menores, dá confiança. Por isso,Frost e uma vela na luz imperceptível. Marmontel. Ele estava lendonum sofá ou numa cama... e só havia a luz da vela. Ela certamente

lembrará disso. O livro foi emprestado - ele falou sobre isso.

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No dia 17 de dezembro, ela escreveu:

Marmontel está certo. Era um livro francês, acho que um livro dememórias. Passy pode ajudar, lembranças de Passy ou Fleury.

Marmontel não estava na capa... o livro estava encadernado e foiemprestado... dois volumes numa encadernação e numa impressãoantiquadas. Não está em nenhum documento. .. é uma tentativa de

fazer alguém lembrar... um incidente.

Dois meses e meio depois, o sr. Marsh, um amigo da sra. VerralI, veiopara jantar. Ele mencionou casualmente durante a conversa querecentemente (dias 20 e 21 de fevereiro) havia estado lendoMarmontel's Memoirs durante uma viagem a Paris. Disse havertomado o livro, um dos três volumes, emprestado da Biblioteca deLondres e que em Paris o havia lido deitado (no dia 20 de fevereiro nacama, no dia 21, em duas poltronas), à luz de uma vela. Não haviagelo em Paris, mas contou que estava muito frio. Como a maioria dasobras da Biblioteca de Londres, o livro estava encadernado, e nãonuma encadernação moderna, e o nome Marmontel aparecia noverso. E quando a sra. Verrall perguntou ao sr. Marsh se "Passy" ou"Fleury" tinham alguma coisa a ver com sua leitura de Marmontel, elepôde lembrar que certa passagem que havia lido dia 21 de fevereirocontinha uma descrição de uma cena em Passy e que a cena estarialigada a uma história em que Fleury tinha importante participação.Embora haja poucas discrepâncias entre os detalhes descritos notexto da sra. VerralI e os realmente ligados à leitura do sr. Marsh emParis, seu texto parece conter alguma previsão misteriosa da leitura.Ela havia enviado o texto para uma pesquisadora independente, a sra.Sidgwick, da SPP, antes de encontrar o sr. Marsh para jantar e ficarsabendo de sua leitura. A escritora e autora teatral Dame EdithLyttelton também era membro da SPP e, escrevendo sob opseudônimo "sra. King", submeteu muitos textos de psicografia àavaliação de um grupo de intérpretes que incluía o segundo Conde de

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Balfour, o físico Sir Oliver Lodge e J. G. Piddington, Secretário Adjuntoda SPP. Atribuindo seus relatos a quem estava em comunicação,Dame Edith escreveu textos que pareciam prever coisas como oafundamento do Lusitania (torpedeado por um submarino alemão em1915, o que causou a morte de 1.200 pessoas), o Tratado deMunique, que abria a Tchecoslováquia à invasão alemã no início da IIGuerra Mundial e o início da própria guerra, com uma referênciaindireta a Hitler.Em fevereiro de 1914, Dame Edith escreveu: "O Lusitania faz espumae fogo... mistura a chaminé - em arcos dobrados..." E emmaio daquele ano, acrescentou: "... abram seus ouvidos aodesconhecido: o medo é o arquiinimigo. Lusitania." O Lusitania foiafundado em maio de 1915, por um único torpedo a estibordo, logoabaixo da ponte. No impacto, o torpedo detonou a carga de 4.200caixas de munição para rifles que o navio carregava, deixando-o emfogo e formando uma grande nuvem de fumaça sobre a chaminé.Andrew MacKenzie estudou detalhadamente esse caso, buscandoalguma correspondência entre o texto de Dame Edith e o afundamentoreal do navio, embora não pudesse encontrar nenhuma coincidênciamais definida além da menção de "fogo" e "chaminé". Ele observa queas palavras "o medo é o arquiinimigo" costumam ser interpretadascomo referência à desnecessária perda de vidas pelo pânico a bordoquando o torpedo bateu no navio, mas oferece uma outra sugestão.Em geral, no meio deste tipo de psicografia, mensagens que parecemvir de alguma pessoa morta são inseridas a título de aguilhão oureforço moral à pessoa que transmite a mensagem: não tenha medode ouvir esta comunicação, não receie parecer maluco etc., e essepode ser o caso de "o medo é o arquiinimigo" a que o texto de DameEdith se refere, sendo esse medo da pessoa receptora o arquiinimigodo "morto" que tenta comunicar-se.Um dos "textos da Segunda Guerra" de Dame Edith, embora um tantosuspeito pelo cifrado, contém frases atormentadoras, uma das quaispossivelmente uma referência a Hitler:

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Carnificina nos campos do Ocidente... marchas... a vinha nas colinas...a época da vindima... vôo... agora anote isso... por trás das cortinas da

escuridão há uma luz, nunca ponha isso em dúvida... esteja em boadisposição.

A mão estendida para ficar em Bechtesgaden - Markovitch.

O texto foi escrito em maio de 1915, em meio a toda a carnificina da IGuerra Mundial, e assim as referências a "carnificina", "campos" e"vôo" podem muito bem ser um simples reflexo das preocupações deDame Edith quanto aos horrores da guerra de seu tempo, antes deuma guerra futura. Da mesma forma, "por trás da escuridão há umaluz" poderia ser uma antecipação da preocupação que a levou atornar-se uma voz ativa na Liga das Nações. Mas e o"Bechtesgaden"?"Berchtesgaden" era o nome do refúgio de Adolf Hitler nas montanhas,perto da fronteira austríaco-alemã e onde se desenrolaram os fatosque levaram à II Guerra Mundial, mas era também um recanto turísticopopular na Alemanha, cuja menção ocorria naturalmente de temposem tempos na imprensa. Estaria o texto de Dame Edith simplesmenterefletindo alguma leitura recente sobre Berchtesgaden ou sua mãoteria sido realmente guiada para anunciar o papel a serdesempenhado pelo refúgio? Esta última possibilidade, tênue como sepossa considerar, é a razão pela qual o texto é citado tantas vezescomo um possível exemplo de precognição.

Durante o conflito russo-polonês logo depois da I Guerra Mundial, umamédium auditiva polonesa, conhecida como Madame Przybylska,ouviu mensagens que pareciam dar detalhes sobre os futurosdesenvolvimentos nos respectivos destinos dos exércitos russo epolonês e na situação política da Polônia. Suas mensagens foramgravadas durante uma série de sessões espíritas particulares comamigos nos meses de junho e julho de 1920 e aparentementerelacionavam-se a acontecimentos de julho e agosto de 1920.

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A primeira mensagem de Madame Przybylska foi ditada numperíodo em que o exército polonês tinha a supremacia em todas asfrentes e os bolcheviques estavam em desonrosa retirada. Mas elaafirmou:

O Conselho dos Ministros ainda não foi constituído, mas, mais cedoou mais tarde, se ouvirá falar de Witos.

Que azares! Que infelicidade! Quantos mortos em seus campos debatalha! Um desastre para suas tropas...

Durante este mês haverá uma grande mudança no Conselho. Witosserá o primeiro-ministro.

Um homem maior que seus ministros dará uma ajuda a vocês. Emagosto tudo irá mudar. Um estrangeiro chega, a quem Pildsudki irá

pedir conselhos, ele será muito influente.As greves sistemáticas chegarão ao fim. Em meados de agosto vocês

verão seus azares mudarem. [10 de junho de 1920]

Como aconteceu, os bolcheviques começaram uma ofensiva geralinesperada na frente norte da guerra no dia 28 de junho e o exércitopolonês viu-se obrigado a se retirar de Munique, Vilna e Lida. Aprópria Varsóvia foi ameaçada, embora, conforme previsão deMadame Przybylska, a cidade nunca tenha sido invadida. No dia 12 dejulho, ela dizia a seu pequeno auditório particular das personalidadesda sociedade de Varsóvia:

O poder de Lênin cresce. Uma certa multidão de homens invade o seupaís, vocês abandonam os campos. Mas não tenham medo, euabençôo sua cidade, o desastre só acontecerá na margem direita doVístula e tudo mudará para melhor... Varsóvia não está na margemdireita. Eles não entrarão em Varsóvia.

O interessante das mensagens de Madame Przybylska é que, aocontrário dos textos cifrados de Dame Edith Lyttelton, elas estãocheias de detalhes muito específicos e bastante precisos. Não apenas

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aconteceu a inesperada inversão inicial na sorte do exército polonês,mas também foi verdade que essa mesma inversão iria inverter-senovamente em meados de agosto: os poloneses foram capazes deproclamar a vitória no dia 15 de agosto. Além do mais, esse eventualêxito da Polônia deveu-se muito à intervenção de um estrangeiro, ogeneral Weygand, que chegou para aconselhar Pildsudki e também foiverdade que Witos, um político antes desconhecido, chegou ao postode primeiro-ministro. Outras "mensagens" faladas durante essesmeses de verão eram da mesma forma precisas, predizendo locais eresultados de batalhas. Por exemplo, dia 12 de julho, ela disse:"Minsk, Kowel e Vilna estão perdidas. Próximo a Kowel muitaspessoas ricas serão fuziladas. Notícias terríveis vêm da província. Masdentro de um mês tudo mudará".Nas semanas seguintes, Minsk, Kowel e Vilna foram perdidas, emboratenham sido recapturadas na vitória de 15 de agosto.

Precognição Auditiva

Às 8h30min da manhã do dia 3 de junho de 1964, a falecida LadyJuliet Rhys Williams, ativo membro do Partido liberal da Inglaterra,vice-presidente do Conselho de Pesquisa Econômica e uma ex-diretora da BBC, juntou-se a suas duas filhas para o café da manhãem sua casa no bairro de Belgravia, em Londres. Como por acaso,contou a elas a notícia de que o senador Barry Goldwater haviaacabado de derrotar o governador Nelson Rockefeller nas eleiçõesprimárias da campanha presidencial na Califórnia. Explicou ter ouvidoa notícia no rádio ao acordar, entre às 6h30min e às 7h30min daquelamanhã.Contando as notícias do rádio, Lady Rhys Williams lembrava haverouvido o locutor dizer que a votação se encerrara na noite anterior eque o resultado pôde ser divulgado tão rapidamente porque pelaprimeira vez numa eleição o processo de contagem dos votos erainteiramente computadorizado, o que jamais acontecera no mundo. O

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governador Rockefeller havia admitido a derrota antes de ir para casa.Ela ouviu os ruídos de muita gente numa sala grande enquanto ocomentarista dizia que "estavam indo para a Califórnia" para umareportagem; reconheceu típicas vozes americanas na sala e escutouainda o comentarista dizer que o senador Goldwater não poderiachegar até o microfone porque havia deixado o escritório de suacampanha para ir a um barbeiro, fazer a barba e lavar o cabelo antesde ir para casa.Não há nada de anormal na irradiação das notícias que Lady RhysWilliams ouviu, a não ser o fato de que a primeira transmissão airradiar a vitória de Goldwater foi da rede CBS americana, quetransmitiu a notícia às 10h39min da manhã, no horário de Nova Iorque(15h39min em Londres), sete horas depois que Lady Rhys Williamsmencionou a notícia irradiada a suas filhas durante o café da manhã.A primeira transmissão da BBC sobre as eleições aconteceu às17h30min do mesmo dia e nela a BBC ainda dizia que Rockefeller nãoadmitia á derrota.Este caso é interessante não só porque Lady Rhys Williams parece tertido algum legítimo conhecimento precognitivo do resultado daseleições antes de ele ter sido anunciado, mas também porque elaescutou sua "visão" precognitiva. A grande maioria dos casosrelatados de aparente precognição gira em torno de alguma espéciede imaginário visual - em sonhos ou visões acordadas. Casosauditivos como este são bastante raros, embora aparentemente nãona vida de Lady Rhys Williams.Seis meses depois de sua experiência de "escutar" a irradiação davitória de Goldwater, ela teve uma experiência semelhante de "pré-audição" que contou em detalhes à SPP inglesa. Dessa vez, elaestava em sua casa de campo em Gales e resolveu ligar o rádio, às 4horas da manhã do dia 17 de janeiro de 1964, para escutar umatransmissão da "Voz da América" que anunciava sérias violênciasraciais em Atlanta, na Geórgia, quando explodiu uma luta entremembros da Ku Klux Klan e uma grande multidão de negros. Comotinha muito interesse nessas questões, ela sintonizou a BBC mais

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tarde naquele dia, procurando em vão também pela imprensa inglesapara saber maiores noticias sobre as desordens em Atlanta. Não havianenhuma e ela comentou com as duas filhas e uma vizinha, achandoestranho que um caso tão grave fosse mencionado apenas uma veznuma única transmissão por rádio.Quando Lady Rhys Williams voltou a Londres no dia 26 de janeiro,ouviu uma notícia na BBC sobre gravíssimas agitações raciais emAtlanta, mas dessa vez havia reportagens que iam acompanhando ocaso na imprensa inglesa e na americana. Estando agora muitocuriosa quanto às agitações noticiadas na manhã de 17 de janeiro,Lady Rhys Williams escreveu para a "Voz da América" em Washingtona fim de indagar a respeito de transmissões anteriores. Elesconfirmaram que houvera uma explosão anterior das agitações no dia20 de janeiro e que o primeiro prenúncio do problema que viria forauma perturbação em Atlanta ao anoitecer do dia 18 de janeiro, quandoa polícia teve de ser chamada. A "Voz da América" havia irradiadoessa agitação anterior, só que a transmissão ocorrera cerca de 48horas depois que Lady Rhys Williams escutou pela primeira vez anotícia.

Jogadores Precognitivos

O caso de John Godley, hoje Lord Kilbracken, discutido no capítuloanterior, é o melhor caso registrado de alguém que tenha sonhadocom êxito os resultados de corridas de cavalos antes de elasacontecerem. Há muitos outros exemplos registrados de alguém quetenha feito apostas em determinado cavalo ou em determinadonúmero por ter tido um "pressentimento" logo antes de fazer a aposta(e estando inteiramente acordado), mas o caso que vem a seguirparece ter outros aspectos mais definidos que o tornam interessante.É ao mesmo tempo um caso de precognição em estado desperto eparticularmente a maneira pela qual aconteceu a maioria dos"Iampejos" (como ela os chama) precognitivos da jogadora é que o

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torna relevante a ponto de destacá-Io para tentativas que faremosmais tarde (no Capítulo 12) de aplicar modelos da mecânica quânticaao problema da precognição.Este caso não foi registrado antes, e, embora a jogadora em questãoestivesse querendo cooperar nas tentativas de corroborar suasexperiências, a natureza destas tornaria isso bem difícil na maioria doscasos. Se os ganhos foram obtidos da maneira que ela descreve,depende de seu próprio discernimento e honestidade. Ela agora émembro da SPP, mas garante que não tinha nenhum interesse emfenômenos psíquicos antes de começarem suas estranhasexperiências no jogo. Ela escreveu o relatório abaixo, assinandoapenas "srta. H. R.":

Tive meu primeiro "lampejo" em 1973, pouco antes do Grande PrêmioNacional Eu não sabia nada sobre corridas de cavalos e jamais haviaestado em nenhuma casa de apostas, mas todo o rebuliço em torno

desta corrida (a srta. H. R. é canadense) me deu vontade de apostar.Olhei para a lista dos cavalos, afixada na parede da loja de apostas, eRed Rum simplesmente saltou na minha direção. Apostei a 15 por 1nele e, claro, ganhei. Foi a primeira vitória de Red Rum no Grande

Prêmio Nacional, e naquele ano ele não era o favorito.No ano seguinte, apostei em Red Rum no Grande Prêmio, mas foi sóum caso de uma decisão com base no retrospecto. Em 1975, 1976 e1977, tive a mesma experiência com o nome de um cavalo (e duas

vezes o de um relativamente desconhecido) "pulando" na minhadireção enquanto eu espiava a lista dos cavalos na loja de apostas.

Nestes anos ganhei com L'Escargot, Rag Trade e Red Rum. Até hojenão sei nada sobre "retrospectos" e não me interessei mais por

corridas a não ser o Grande Prêmio.A primeira vez que entrei num cassino, fui levada por um amigo, hátrês anos. Eu nunca estivera em nenhum outro e nada sabia sobrejogos de cassino mas fiquei encantada com a roleta e resolvi tentar

minha sorte ali. Eu só tinha três libras comigo e apostando novermelho ou no preto, fui conseguindo chegar a 23 libras antes de

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parar. Coloquei toda essa minha sorte na conta da "sorte do iniciante"e não pensei mais no caso durante meses.

Foi então que perdi meu emprego. Estava desesperada com o poucodinheiro. Foi quando voltei ao cassino e notei pela primeira vez que o

fenômeno iria acontecer de novo toda vez que eu precisasse dedinheiro por alguma razão muito legítima, como pagar o aluguel, ou

pagar alguma conta. Notei que, de vez em quando, eu tinha umsentimento muito "forte" sobre um determinado número, e que este

número saía.Jogava na roleta muitas vezes, desde que me dei conta desse

"palpite” que tinha com os números e pude notar um padrão nospalpites. O que realmente acontece quando tenho o "palpite" é queminha atenção é atraída de repente para um número no pano da

roleta e não na roda. Simplesmente noto que meus olhos ficam presosnele. E quando isso acontece é quase sempre bem em cima daquele

segundo antes do crupiê dizer "jogo feito", embora já tenha acontecidode minha atenção ter sido atraída no instante em que a roda

começava a girar. Nunca tive um lampejo antes de a bolinha haverdeixado a mão do crupiê.

Esses lampejos precognitivos não acontecem todas as vezes que aroda começa a girar, mas ocorrem com freqüência suficiente para

garantir que quase sempre eu saia bem numa rodada do jogo. Umavez ou outra o lampejo é um "quase" em vez de um acerto direto -

quer dizer, minha atenção é atraída para um número na mesa, mas,na verdade, é o número ao lado que sai.

Há dois outros aspectos de minhas experiências na roleta que talveztenham alguma importância. Quando tenho esses lampejos minha

concentração é tanta que fico numa espécie de transe e quaseesqueço de tudo ao meu redor. Fico mental e fisicamente exausta

depois de uma hora dessa concentração e preciso de um dia inteiropara recuperar a capacidade de concentração normal de meu cérebro.

A outra coisa é que se fico ávida, tentando ganhar mais dinheiro doque realmente preciso, ou se vou para o cassino por simples

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divertimento, não tenho os lampejos: tenho a mesma sorte dequalquer outro jogador em volta da mesa.

Como veremos mais adiante, em discussões sobre a mecânica daprecognição, em sua possível relação ao fenômeno quântico e emrelação às tentativas para sua investigação sob condições delaboratório, os aspectos mais interessantes das experiências da srta.H. R. na roleta são as seguintes:1. o fato de ela ter seus lampejos apenas uma fração desegundo antes que a bolinha caia em alguma posição na roleta;2. que de vez em quando ela tenha um "quase" em seu lampejo, emvez do número a que foi atraída; e3. que isso exige uma concentração mais profunda que a normal paraos lampejos surgirem.Sua incapacidade de ganhar dinheiro quando não precisa delerealmente para uma necessidade urgente está dentro da tradição dooculto, de que a capacidade psíquica é um dom que não seria bemempregado se voltado para o simples lucro. Essa mesma tradiçãoaparece registrada em outro caso de “jogo psíquico".Em sua coleção de visões e premonições, Johann Jung-Stilling, umfísico e professor que acreditava no sobrenatural e era amigo deGoethe, conta a história de um farmacêutico de Berlim, o dr.Christopher Knape. Quando aprendiz, Knape sonhava com exatidão onúmero vencedor na loteria federal e ganhava uma pequenaimportância em dinheiro. Poucos anos depois, ele sonhou comnúmeros de loteria mais uma vez, mas só conseguiu lembrar dois doscinco dígitos, e com alguma incerteza; jogou muito cautelosamente econseguiu ganhar apenas o equivalente a vinte dólares. Mas, no anoseguinte, ele sonhou com tal clareza que resolveu apostar tudo o quetinha. Investiu pesadamente só para descobrir que teria de receber odinheiro de seu investimento de volta, porque todos os bilhetes comaquele número já tinham sido vendidos. O número ganhou a loteriadaquela vez, mas o dr. Knape não ganhou nada por seu sonho.

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4. ESTUDOS EXPERIENTAIS DE PRECOGNIÇÃO

A maioria dos casos de previsão ou precognição discutidos até agora,como a maioria dos casos de PES em geral, foram espontâneos:simplesmente aconteciam. Sem nenhuma provocação ou advertência,e muitas vezes com efeitos inquietantes, pessoas muito comuns nodia-a-dia mais simples de suas vidas têm, de vez em quando,previsões de acontecimentos futuros, comunicações telepáticas, sonsde coisas que "surgem no meio da noite" e diversos outros tipos deacontecimentos ainda mais estranhos que constituem o conjunto doschamados "fenômenos psíquicos".As vantagens de se estudar casos espontâneos de PES é que existemmuitos deles, e muitas vezes os que estão registrados "são uma boaleitura". A desvantagem é que os casos espontâneos sãoimprevisíveis, incontroláveis (e assim, abertos a muitas interpretações)e, com certa freqüência, inacreditáveis - às vezes até para as própriaspessoas que passaram pela experiência.Por volta do final do século passado, tornou-se claro parainvestigadores sérios que se esses fenômenos devessem sercompreendidos - ou pelo menos verificados - teriam de serobservados sob condições experimentais controladas. Para isso,fundou-se, em 1822, a Sociedade para a Pesquisa Psíquica. Oobjetivo dos membros fundadores era voltar a luz desapaixonada dométodo científico rigoroso para as até então obscuras águasdos, fenômenos psíquicos. Seus sucessores foram bem sucedidos - aponto de, hoje em dia, a parapsicologia chegar a ser quase maiscientífica que a própria ciência. Computadores, quadros estatísticos etécnicos de laboratório que repetem, pacientemente, por milhares devezes, experiências monótonas já substituem o mundo colorido dosmédiuns e dos que lêem a sorte. Enquanto seus colegas físicos nolaboratório vizinho gozam dos prazeres de uma Alice no país dasmaravilhas diante de uma especulação desenfreada sobre a

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aparentemente infinita proliferação de sempre novas partículassubatômicas, no laboratório de parapsicologia é comum tentarinvalidar uma experiência interessante. De maneira obstinada, a coisamaçante tornou-se a medida para o sucesso na parapsicologiaexperimental.Mas este lado experimental da parapsicologia - a tentativa de induzir ofenômeno psíquico no laboratório, sob pressão e em condiçõescontroladas - é apenas um ramo dos esforços de pesquisa do séculopassado. Fora do laboratório, muitos membros da SPP continuam emsua tarefa de anotar e investigar cuidadosa e escrupulosamentefenômenos espontâneos que ainda acontecem à sua maneira. Eassim, voluntários da Sociedade muitas vezes se prestam apermanecer numa casa que dizem ser assombrada, esperando pelaaparição residente, ou entrevistam com toda paciência quaisquerpessoas a quem um sonhador receptivo tenha contado os detalhes dealgum sonho aparentemente precognitivo antes que suas previsõesaconteçam.Talvez por ironia, o primeiro estudo experimental e realmentesistemático tenha sido empreendido por uma pessoa que não erafiliada à Sociedade para a Pesquisa Psíquica e que dizia-se gozar deum relacionamento "frio e infrutífero" com a Sociedade mesmo em seumelhor período. Trata-se de J. W. Dunne. Com sua obra AnExperiment with Time, hoje um clássico, pode-se dizer com justiça queele "colocou a precognição no mapa.”

O "Deslocamento no Tempo" de J. W. Dunne

Dunne, um engenheiro aeronáutico nascido em 1875, era um homemquase em guerra com o Tempo - pelo menos com a noçãoconvencional que temos dele. Dedicou grande parte de sua vida aoprojeto de provar que a precognição é um fato a ser levado emconsideração. E não se pode dizer que ele tenha sido tão

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malsucedido. "Se a previsão é um fato, é um fato que destrói toda abase de nossas suposições anteriores sobre o universo.”Embora o estudo experimental da precognição de Dunne consistisseapenas num meticuloso registro de seus próprios sonhos e depoisnuma comparação com fatos posteriores para medição, AnExperiment with Time, publicado em 1927, foi na verdade o primeiroestudo que tratava a precognição como assunto sério. Ele usou aprecognição como prova contra certa visão de tempo que ele sabia(consciente como era pelo menos das mais amplas implicações dostrabalhos de Einstein) desnecessariamente estreita e antiquada, eescreveu a respeito de maneira a incitar a imaginação de pessoas quenão poderiam chegar a essa nova visão do Tempo através dasequações, na época quase incompreensíveis, de Einstein.Dunne expunha sua própria Teoria do Tempo Seriado que tinha comoponto de partida a característica óbvia de uma consciência de simesmo bastante reflexiva. Por exemplo: se X tem a consciência daspalavras impressas na página de um livro, existe também um aspectode X que está consciente de sua consciência sobre estas palavras, eassim por diante. Ele sugeria o mesmo para a estrutura do Tempo.Em sua Teoria do Tempo Seriado, Dunne sugere a existência demuitas dimensões do Tempo, que têm um caráter idêntico àsnumerosas camadas potenciais de consciência de si mesmo, demaneira que algo que estivesse acontecendo na dimensão A doTempo por sua vez poderia ser visto a partir da perspectiva dadimensão B do Tempo, que por sua vez poderia ser visto a partir daperspectiva da dimensão C do Tempo e assim por diante em infinitoretrocesso a algum Tempo Absoluto de onde todo o universo estáexposto de um ponto de vista de Deus. Além disso, Dunne tambémpropõe a idéia de que, enquanto nossa vida acontece na dimensão Ado Tempo, quando adormecemos e sonhamos temos acesso àsdimensões mais elevadas do Tempo. E assim, quando estamossonhando, seria perfeitamente natural que um fato que parece aindanão haver acontecido na perspectiva da dimensão A do Tempo seriavisível ao nível da consciência que o estivesse abordando da

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perspectiva da dimensão B do Tempo. Ao acordar, pensaríamos haversentido um "acontecimento futuro", porque ele realmente está no"futuro" em relação à limitada dimensão de Tempo em que estamosacordados.A Teoria do Tempo Seriado de Dunne é rejeitada universalmentecomo especulação metafísica um tanto confusa. Ela não tem basealguma em ciência e, como teoria de como funciona a precognição,ainda tem o ponto fraco suplementar de poder lidar apenas com ossonhos precognitivos e não com todo o espectro de casos registrados.Mas An Experiment with Time terá sempre um lugar na prateleira dospesquisadores psíquicos pelas questões que levanta e pela aplicadacatalogação feita por Dunne de sonhos precognitivos - em grandeparte bastante mundanos (e talvez, até por isso mesmo, tanto maisacreditáveis).O método que ele usou foi, a princípio, muito simples. Levando a sérioa preocupação de Frank Podmore sobre o uso de material de sonhoscomo prova para qualquer tipo de capacidade precognitiva, porque as''impressões ilusórias" de nossos sonhos são esquecidas prontamenteou então parcialmente lembradas e depois enfeitadas conforme anossa , realidade quando despertos. Dunne recomendava a seusleitores que, dormissem com um bloco de anotações e um lápisdebaixo do travesseiro. Então "imediatamente ao acordar, até mesmoantes de conseguir abrir os olhos, ponha-se a lembrar o sonho, quetende a desaparecer tão depressa". Infelizmente para Dunne e seutrabalho, ele esqueceu de tomar a precaução - também muito simples- de fazer com que seu bloco de anotações de sonhos fossetestemunhado a cada dia por alguma outra pessoa, o que fez com queperdesse a confiança da Sociedade para a Pesquisa Psíquica, queexige esse tipo de testemunho como padrão de prática.Dunne, entretanto, descreveu na íntegra muitos dos sonhos queregistrava tão meticulosamente e depois colocava essas descriçõesao lado de suas continuações aparentemente positivas. Por exemplo,em 1901, adoentado durante a Guerra dos Boers e descansando numlugarejo próximo de Cartum, sonhou com três homens vestidos com

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roupas cáquis desbotadas que vinham chegando da África do Sul,visivelmente a pé. Achando estranho que alguém viesse caminhandode tão longe, foi interrogá-los e um deles disse: "Viemos desde o Cabo(andando a pé)". No dia seguinte, na hora do café da manhã, Dunneleu a seguinte manchete no jornal: DO CABO PARA O CAIRO, AEXPEDIÇÃO DO DAILY TELEGRAPH EM CARTUM. A matériacomeçava com as palavras: A expedição do Daily Telegraph chegaem Cartum depois de magnífica viagem...Em 1902, acampado com a 6ª. Infantaria Montada no Estado livre deOrange, na África do Sul, Dunne sonhou com uma ilha que corria oiminente perigo de uma erupção vulcânica. Ele viu as pequenasfissuras abrindo-se nas encostas do vulcão, os jatos de vaporjorrando. Dunne "sabia" tratar-se de uma ilha sob domínio francês etinha plena consciência de que se as autoridades não agissemrapidamente, evacuando os nativos, 4.000 pessoas poderiam perder avida. Poucos dias depois, quando o regimento recebeu acorrespondência e os jornais, ali estava: DESASTRE VULCÂNICO NAMARTINICA, CIDADE VARRIDA DO MAPA, AVALANCHE DECHAMAS, PERDA PROVÁVEL DE MAIS DE 40.000 VIDAS. (Os4.000 estavam errados, faltava um zero; mas Dunne insistia ter lidoerrado a reportagem do jornal e durante muito tempo achou queteriam sido 4.000 e não 40.000 as vítimas.)Outros sonhos de Dunne eram mais corriqueiros. Sonhou com umacombinação de segredo, e, no dia seguinte, viu aquelacombinação num livro; sonhou com uma pilha de moedas em cima deum livro, e, no dia seguinte, viu exatamente a mesma pilha naquelamesma posição; sonhou com uma porção de faíscas vindo em direçãoa seu rosto de uma ponta de cigarro (como ele julgou), e, no diaseguinte, enquanto soprava um fogo, uma porção de faíscas veio emdireção a seu rosto. E assim por diante...Quando percebeu pela primeira vez que sonhava com pedaços dofuturo antes que acontecessem, Dunne ficou perturbado. "Ninguémpoderia sentir algum prazer especial partindo do princípio de ser um

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maluco", escreveu. Começou a alimentar a noção de que deveria serportador de alguma anormalidade mental:

Aparentemente eu estava sofrendo de algum defeito muitoextraordinário em minha relação com a realidade, alguma coisa tãoestranhamente errada que me compelia a perceber, em períodos detempo intermitentes, grandes blocos de experiências pessoais que

seriam perfeitamente normais se não estivessem deslocadas de suasposições certas no Tempo. Que coisas assim pudessem acontecer jáera algo muito interessante, mas, infelizmente, em circunstâncias taisque elas só poderiam ser sabidas por uma única pessoa. Eu mesmo.

No entanto, como veremos, encarar uma faculdade semelhante àcapacidade precognitiva como aberração mental é uma explicaçãocolocada de lado por alguns psicólogos que já a encontraram algumavez. O próprio Dunne logo abandonou a idéia de ser anormal. J. B.Priestley concorda com isso. Em seu Man and Time, descreve Dunnecomo "tão distante da idéia do vidente, do sábio, do excêntrico ou domaluco quanto se possa imaginar... Pertencia à seção militar da velhaclasse aristocrática inglesa e tinha sua maneira de falar aos saltos enão muito articulada. Ele parecia e se comportava como um velhoestereótipo de oficial misturado com um matemático e umengenheiro.”Para seu grande alívio, Dunne logo descobriu que outras pessoasfalavam de sonhos precognitivos e já ia começando a acreditar quetodo mundo tivesse, consciente ou inconscientemente, essaexperiência. Todos os sonhos, concluía, são uma mistura de imagensdo passado e imagens do futuro, e certo conhecimento do futuro é umaspecto de nossa constituição mental.Além do papel que seu livro desempenhou para tornar a precogniçãoaceitável a um público mais amplo do que de outra formaaconteceria, o trabalho de Dunne é importante em outro aspecto. Esseseu catálogo de sonhos proporcionou material escrito bastantedetalhado, o que tornou possível analisar até certo ponto a natureza

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de seu conteúdo precognitivo. Agindo assim, ele observou que muitasvezes suas previsões focalizavam coisas como páginas de livros oumanchetes de jornais. Isso levantava a suposição de que o que querque ele tivesse visto antes não seriam realmente acontecimentosfuturos, mas suas próprias percepções futuras daquelesacontecimentos. Uma tal possibilidade tem importância nas diversastentativas para se levar adiante uma teoria física de como funciona aprecognição.O lastimável sobre o excelente trabalho de Dunne (não fora por isso) éessa ausência de testemunhos que o teria colocado acima dequalquer suspeita. Em 1933, a Sociedade para a Pesquisa Psíquicatentou repetir a experiência de Dunne sob as condições necessáriasde testemunhos. Um total de 430 sonhos foram ouvidos e registrados,mas o resultado de sua comparação com quaisquer acontecimentosreais revelou-se bastante pobre - simplesmente não se encontravamcorrespondências dignas de nota entre os materiais de sonhosregistrados e os fatos que aconteciam em estado desperto.

As Experiências em Laboratório de Sargent & Harley

Muito recentemente (em 1981), pesquisadores da Universidade deCambridge elaboraram uma variação das experiências com sonhos deDunne obtendo um aparente êxito. Trabalhando no laboratório depsicologia, o dr. Carl Sargent (o primeiro PhD em parapsicologia deCambridge de todos os tempos) e seu colega Trevor Hadey fizeram 44experiências em laboratório para testar a precognição; vinte foramexperiências com pessoas sonhando e 24 com pessoas que sesubmeteram a uma forma suave de privação sensorial chamada"estado de Ganzfeld".No estado de Ganzfeld, todos os canais sensoriais normaisassociados ao pensamento comum ficam bloqueados. O indivíduo aser pesquisado relaxa numa cadeira reclinada enquanto seus olhossão cobertos com meias bolas de pingue-pongue que permitem que

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uma espécie de neblina branca uniforme passe a afetar a retina; seusouvidos são cobertos com fones pelos quais um "ruído puro" étransmitido. O ruído puro (uma combinação de todas as freqüênciasauditivas) tem um som como o de um suave chiado de fritura contínuae tende a dispersar pensamentos organizados.No caso das experiências com sonhos, o método da equipe deCambridge era pedir a algumas das pessoas pesquisadas quefizessem um registro por escrito de seus sonhos imediatamente aoacordar. Os sonhos assim transcritos eram então "comparados" porum pesquisador para observar qualquer semelhança com uma dequatro possíveis fotos impressas num conjunto de cartões. (Havia umtotal de duzentos cartões, com cinqüenta de cada foto.) Assemelhanças entre os sonhos relatados e os cartões eramassinaladas pela ordem de preferência, conforme a correspondênciade cada foto e o conteúdo dos sonhos, sendo essa ordem anotada.No dia seguinte, depois de feita a comparação e a anotação pelaordem, outro cartão (usando tabelas de números também aleatórios)era selecionado ao acaso de um pacote de duzentos, por umamáquina, e então Sargent e Hadey comparavam o cartão selecionadoe as correlações do dia anterior entre a imagem dos sonhos e a docartão. A expectativa de risco de que houvesse alguma correlaçãoentre a imagem do sonho e a do cartão que estivesse em cima (poishavia quatro tipos diferentes) seria de 1 para 4, ou 25%. Mas, naverdade, Sargent e Harley acabaram descobrindo haver urnacorrelação bem mais elevada: 40% das pessoas que sonhavam viamem seus sonhos algo parecido com a foto do cartão do dia seguinte (e41,7% das pessoas com privação sensorial também).

As Experiências de J. B. Rhine

Em termos de método e conteúdo, o trabalho de laboratório deCambridge, realizado na década de 80, tão diferente da abordagem de"estudo doméstico" de Dunne, fora antecipado em meio século pelo

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trabalho pioneiro de J. B. Rhine. Atuando quase sozinho Rhine foi oresponsável pela criação de toda a nova ciência da parapsicologia.Somente depois de ele haver oficialmente fundado a primeira unidadede pesquisa acadêmica em 1932 - seu Laboratório Psicológico naDuke University - é que a parapsicologia tornou-se uma significativapesquisa sistemática.Embora ainda haja discussão sobre o valor desse empreendimento econtrovérsia a respeito do real significado de seus resultados dentro efora dos círculos de pesquisa psíquica, muitas universidades pelomundo inteiro incluem hoje em seus currículos programas de PES;proliferam jornais e revistas profissionais e semiprofissionais, e atémesmo os governos entraram nesse campo. Estados Unidos e UniãoSoviética parecem estar preparados para incluir a parapsicologia noarsenal de armas em potencial em seu estoque para a grande corridaarmamentista.As pesquisas de J. B. Rhine, inicialmente na Duke University, foramdirigidas para desenvolver testes de laboratório com o objetivo deprovar de uma vez por todas a existência da telepatia; e nisso ele foiextraordinariamente bem-sucedido. Desenvolveu um programa deexperiências de reconhecimento de um cartão em que uma pessoadeveria adivinhar, de maneira telepática, qual de cinco possíveisdesenhos em cartão estaria sendo manipulado por um técnico dolaboratório. Os resultados atingidos estavam bem acima de qualquerexpectativa. Ironicamente, foi em resposta direta a estas experiênciastelepáticas que surgiu o primeiro estudo realmente metodizado sobrea precognição jamais levado a efeito em condições de laboratório, oque aconteceu acidentalmente.

As Experiências de Soal-Shackleton

Em 1934, S. G. Soal, um professor-adjunto de matemática no QueenMary College de Londres e membro do Conselho da Sociedade para aPesquisa Psíquica (mais tarde, seu presidente), tinha a esperança de

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conseguir duplicar os impressionantes resultados telepáticos naadivinhação dos cartões obtidos por Rhine e seus colegas na DukeUniversity. Colocou um anúncio em vários jornais londrinos solicitandopessoas que se dispusessem ao teste; oferecia uma recompensa paraqualquer uma que pudesse adivinhar corretamente doze de cada 25cartões.Os cartões de Soal, como os usados por Rhine, eram cartões deZener com desenhos de círculos, quadrados, sinais de somar, linhasonduladas e estrelas. Cada pacote de 25 cartões continha cincocartões com cada um dos símbolos e, segundo a expectativa doacaso, uma pessoa poderia ser capaz de adivinhar corretamente 20%do total da experiência ou seja, teria uma capacidade de adivinharcorretamente cinco cartões. A proporção para a pessoa quepreenchesse as exigências de Soal, de adivinhar corretamente dozeem cada 25, é de mil por um.Na experiência, a pessoa sentava-se de um lado de um painel opaco,e o dr. Soal sentava-se do outro lado, virando os cartões um a umenquanto eles iam sendo selecionados por um processo deembaralhamento automático. Da mesma forma que Rhine, Soalanotava meticulosamente as respostas da pessoa comparando-ascom os resultados que deveriam ter sido obtidos pelo acaso.Mas, ao contrário de Rhine, Soal parece não ter tido nenhum êxito nademonstração da existência da telepatia. Durante quatro anos, 160pessoas e 128.350 adivinhações em separado não produziram maisque os resultados esperados pelo acaso. Comunicou sua frustração aRhine, cuja esposa, Louisa, comentou:"Ele estava a ponto de chegar à conclusão de que ou as pesquisasamericanas eram falsas ou os ingleses não têm PES...”Whately Carington, um amigo de Soal e seu colega na pesquisa PES,expôs uma possível explicação diferente para o fato. Em suasexperiências com a telepatia, Carington notou um "deslocamento notempo" nas adivinhações das pessoas, e supôs que o mesmo deviater acontecido com os dados de Soal. Sugeriu que Soal fizesse umanova análise de seus resultados, desta vez observando não as

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adivinhações diretas mas as que se relacionassem diretamente com opróximo cartão. Esta análise representa resultados completamentediferentes. No caso de uma pessoa em particular, o fotógrafo BasilShackleton, essa nova maneira de analisar a experiência produziuresultados tão impressionantes, que a possibilidade de ter acontecidopor acaso era de bilhões por um. Sem pretender isso, Soal haviaaparentemente obtido uma prova experimental devastadora para aprecognição: enquanto Shackleton mostrara uma paupérrimaincapacidade telepática para a adivinhação do cartão que acabara deser virado, ele parecia demonstrar um notável talento para adivinharprecognitivamente o cartão que estava por ser virado ainda. Nem Soalnem seus ajudantes poderiam saber do cartão com antecedência, poiso pacote era embaralhado automaticamente por máquina e, assim, aordem em que os cartões sairiam só era "conhecida" por aquelamáquina.Soal ficou tão impressionado com a nova interpretação de seus dadosque preparou outra série de experiências adivinhatórias com cartões,mais prolongada, para usar com Shackleton; este sabia, dessa vez,que o cientista procurava uma prova para a precognição em vez datelepatia. Soal era assistido por sua colega, sra. K. M. Goldney, e pormuitos cientistas respeitados da Sociedade para a Pesquisa Psíquicainglesa. Os resultados do novo teste foram semelhantes: Shackletondemonstrou capacidades precognitivas muito além de qualquer coisaque pudesse ser explicada pelo acaso. Em conseqüência disso,percebeu-se, o "bicho-papão" da pesquisa PES deveria serinvestigado a sério, embora poucos daqueles que conduziam essapesquisa gostassem da idéia. Como dizia Rhine: "A precogniçãosimplesmente não pode ser física em qualquer sentido que a palavratenha hoje! Realmente, o simples antagonismo que ela apresenta emrelação à seqüência causal em que normalmente vemos as coisasacontecerem na natureza faz dela ao mesmo tempo uma glória e umproscrito da ciência". Mas, fascinado por este "proscrito da ciência", eciente de suas implicações notáveis, Rhine devia tratar de testar isso

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com a maior assiduidade e o maior rigor científico de que sua equipefosse capaz.O método foi alterado, pois se haviam levantado objeções a qualquermétodo conhecido de administração dos testes. Embaralhadoreshumanos de cartões substituíram as máquinas, e as tabelas denúmeros casuais da matemática foram utilizadas para gerarseqüências inteiramente ao acaso para o posicionamento dos cartõesno pacote. Mas, não importando as sofisticações que tenham sidoacrescentadas no laboratório de Rhine e em muitos outros dosEstados Unidos e da Inglaterra, as adivinhações precognitivas daspessoas continuaram a ser registradas com êxito que ia muito além doacaso. Em 1948, Rhine chegou à conclusão de que, afinal de contas,se a telepatia fosse possível (no que ele acreditava sem a menorsombra de dúvida), daí se seguia que a possibilidade da precogniçãonão era tão imprevista:

A evidência que obtivemos no outono de 1933, referente à relaçãoentre a percepção extra-sensorial e o mundo físico, faz da PES de

acontecimentos futuros um corolário razoável, quando não,logicamente necessário. A concepção de que a mente possa

transcender as limitações do tempo aparece como uma conseqüêncianatural de testes de distância com a PES. Pois, se a PES é livre no

espaço, ela também deve ser livre no tempo dentro de nosso universoespaço-tempo da física. O tempo é uma função de mutação espacial,

ou seja, o movimento físico no espaço exige tempo, portanto estar forado espaço também é estar fora do tempo. A percepção de

acontecimentos passados ou futuros estaria também alinhada com apercepção de acontecimentos distantes.

Mas há uma estranha ironia na transposição de Rhine, que surgiucomo que através do trabalho realizado em resposta aos resultados,visivelmente impressionantes das experiências de Soal com BasilShackleton. Ao final da década de 70, veio à luz uma nova evidênciaque sugeria que os últimos resultados de Soal-Shackleton podiam ter

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sido falseados. Sem dúvida, essa nova evidência demonstrava que nomínimo Soal havia manipulado seus dados experimentais de maneiraa deixar que o desempenho de Shackleton parecesse mais definitivodo que teria sido na verdade.A controvérsia envolvendo essa descoberta ainda continua e talveznunca se consiga determinar de uma vez por todas que Shackletonnão tinha nenhuma capacidade PES e assim toda a experiência seriauma mentira, ou se Soal apenas "enfeitou" seus dados, paraapresentar um quadro regular e consistente quando, na verdade,Shackleton - um homem de humores imprevisíveis - teria sido irregularem seu rendimento na PES. Qualquer interpretação que se adote,entretanto, deixará o trabalho de Soal debaixo de uma permanentesombra de dúvida; ainda assim, talvez tenha sido este mesmo esforçofraudulento que inspirou o trabalho muito mais confiável realizado aseguir por Rhine e outros.Existem muitos outros projetos sobre a pesquisa da precognição quepoderiam ser mencionados, a maioria dos quais utilizando algumavariação da adivinhação de cartões. Este trabalho experimentalmultiplica-se por si mesmo, no sentido de que, quanto mais provassão reunidas sobre a precognição, mais cientistas e psicólogos sesentem impelidos a submetê-las ao exame minucioso de laboratório.Mas existem ainda três exemplos de pesquisa especialmenteinteressantes, por serem diferentes do teste padrão de adivinhação decartões e porque talvez possam ajudar a lançar alguma luz sobrecomo a precognição - se é que existe funciona realmente.

As Experiências de Stanford

Afastando-se radicalmente do trabalho de adivinhação de cartões,Russell Targ e Harold Puthoff, dois físicos do Instituto de Pesquisas deStanford, apresentaram alguns resultados impressionantes de suaspesquisas sobre visão precognitiva em situações da vida real.

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Entre 1976 e 1977, Targ e Puthoff fizeram quatro experiênciasenvolvendo uma pessoa com capacidade precognitiva (HellaHammid), que permanecia dentro do laboratório enquantocompanheiros pesquisadores eram enviados a localidades por elesanteriormente desconhecidas em veículos motorizados. A finalidadeda experiência era verificar se a pessoa no laboratório poderiadescrever, antecipadamente, detalhes visuais do lugar a ser visitadopelos assistentes da pesquisa em viagem.Como parte dos "controles" internos das experiências Targ-Puthoff, osassistentes viajantes não tinham a menor idéia antecipada do destinopara onde iriam. O objetivo de mantê-los na ignorância desse detalheera excluir qualquer possibilidade de telepatia entre eles e a pessoano laboratório. Em vez disso, os assistentes saíam do laboratóriocarregando dez envelopes selados, cada um contendo instruções deviagens para algum lugar diferente. Os envelopes haviam sidoselecionados de um conjunto muito maior de envelopes idênticos pormeio de sorteio de números aleatórios.Quinze minutos antes que os pesquisadores viajantes abrissem um deseus dez envelopes (cada um dos quais seria escolhido também porum sorteio de números aleatórios), pedia-se à pessoa no laboratórioque descrevesse ou desse algum detalhe visual que ela pudesse"pegar" dos lugares para onde os pesquisadores estavam prestes a ir.Trinta minutos depois de ela ter feito as adivinhações e apenas quinzeminutos depois de saber seus próprios destinos, os pesquisadoreschegariam a algum desses pontos pré-selecionados.Mais tarde, pedia-se a cientistas que não tivessem nenhuma relaçãoprévia com a experiência que comparassem detalhes das descriçõesprecognitivas da pessoa no laboratório e detalhes fotográficos doslugares realmente visitados. Uma detalhada correspondência entre asdescrições precognitivas e os lugares reais (a marina de Palo Alto, oStanford University Hospital Garden, uma área de recreação paracrianças, e a Prefeitura de Palo Alto) estava muito acima de qualquercoisa que pudesse ser explicada por sorte ou por alguma

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"coincidência" e pareceu, satisfazer aos rigorosos critérios dosenvolvidos, demonstrando que houvera uma autêntica precognição.O mesmo tipo de pesquisa precognitiva, como a planejada por Targ ePuthoff, foi desde então realizada no Mundelein College emChicago por uma equipe de psicólogos, com resultados semelhantesvisivelmente bem-sucedidos, embora o prof. John Taylor tenhalevantado alguma dúvida sobre o significado destes testes a longadistância, baseado no fato de que a comparação feita por uma terceirapessoa sobre um dado local e a descrição que a pessoa fizera domesmo por si só envolveria um grau muito elevado de avaliaçãosubjetiva. Essa mesma crítica foi levantada por dois pesquisadores daNova Zelândia, D. Marks e R. Kammann, numa carta para a revistaNature questionando alguns dos experimentos de Stanford emostrando que o que sentiam ser uma prova, em pelo menos umcaso, o pesquisador havia proporcionado pistas exteriores que podemter ajudado às terceiras pessoas a comparar as descrições com oslocais visados.Respondendo a essa crítica, Targ, Puthoff e seu colega Charles Tartprepararam as transcrições em questão, para remover todas as pistasem potencial mencionadas por Marks e Kammann em sua carta.Depois submeteram toda a série preparada a um novo júriindependente que ainda assim conseguiu juntar sete em cada dez dasdescrições "a longa distância" com os lugares reais. Isso levou aequipe de Stanford a concluir o seguinte:

... Com base num teste empírico realizado de maneira independente,consideramos sem valor as conjecturas de Marks-Kammann de que oêxito do primeiro estudo publicado sobre a visão a distância devesseser atribuído a pistas em vez de a verdadeiras correlações entre as

descrições e os locais.

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Experiências de Nível Quântico no Texas

Na que é talvez a mais interessante e promissora variação da técnicade adivinhação de cartões até hoje planejada para a pesquisa daprecognição, o físico dr. Helmut Schmidt - que foi diretor do laboratóriode Rhine na década de 70 e hoje trabalha na Fundação para a Ciênciada Mente, em San Antonio, Texas - elaborou uma série de -experiências envolvendo luzes disparadas por processossubatômicos. Como essa técnica utiliza acontecimentos em nívelquântico gerados pelo processo de diminuição fortuita de radiação deátomos, é de longe a pesquisa mais importante hoje disponível paraas tentativas de se explicar o funcionamento da precognição.O trabalho de Schmidt exigiu o projeto de um novo aparelhoeletrônico, uma caixa com quatro lâmpadas ligadas a botões paraligar/desligar. Os botões estavam ligados a um gerador de números aoacaso que poderia decidir arbitrariamente ligar a lâmpada 1,2,3 ou 4, eo próprio gerador estava ligado, por meio de um circuito complexo, aum tipo de diminuidor de radiação ionizante ativado por estrôncio-90.Assim, o único controle possível sobre qual das quatro lâmpadas nacaixa de Schmidt seria acesa a seguir era o processo de diminuiçãoradioativa inteiramente fortuito do estrôncio-90. Sua experiênciaconsistiu em pedir a um indivíduo pesquisado que adivinhasse qualdas lâmpadas iria acender da próxima vez, e anotar sua respostaapertando o botão que estivesse ligado àquela lâmpada.

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Nas experiências de Helmut Schmidt, o imprevisível processo dediminuição radioativa do estrôncio-90 é usado para gerar um sinalcasual que irá acender arbitrariamente uma das quatro lâmpadas.

Pede-se ao indivíduo que está sendo pesquisado que diga qual dasquatro lâmpadas será a próxima a acender, apertando um dos quatro

botões ligados às lâmpadas e seu erro ou acerto é registrado nocontador à direita.

Os resultados da experiência de Schmidt parecem - e muitos para-psicólogos assim consideram - uma prova conclusiva de que algumaspessoas podem realmente ver um fato antes que ele aconteça. Em7.600 tentativas feitas com um único indivíduo, um físico, ele acertouqual lâmpada seria a próxima a acender 37,7% das vezes (e asproporções contra o acaso de um tal resultado seriam de 10 bilhõespara 1) quando a expectativa do caso seria de que ele pudesse teracertado apenas 25% das vezes (porque havia quatro lâmpadas). Masquando a experiência foi ampliada, incluindo três indivíduos queresponderam 63.000 vezes, o nível de acerto caiu para 26,1 % - um

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pouco acima do acaso, mas não muito. Em outra experiência, ondetrês indivíduos responderam um total de 20.000 vezes para quatroséries de tentativas, seu índice de êxito foi de apenas 0,25%. Então, oque estaria acontecendo? Chegaremos à conclusão de que osaparentemente impressionantes resultados de Schmidt na verdadenada representariam num exame mais minucioso? Verificar essasquestões poderá lançar alguma luz sobre o que fazer com o conjuntoglobal de resultados obtidos na parapsicologia experimental e tambémesclarecerá uma razão pela qual todo o campo ainda é tãocontroverso, apesar de todas as armadilhas científicas.Na última experiência discutida acima, em que Schmidt fazia osindivíduos responderem que luz iria acender-se a seguir num total de20.000 vezes, na verdade a experiência falhou em quatro tentativasseparadas de 5.000 perguntas cada uma. Em duas dessasexperiências, as pessoas responderam acertadamente numasignificativa proporção acima da expectativa do acaso; nas outrasduas, as respostas acertadas estavam significativamente abaixo doacaso. Assim, em cada uma dessas tentativas consideradas emseparado, algo notável poderia ter parecido acontecer, embora osfatos notáveis fossem um tanto irregulares e até opostos em seusefeitos - e isso devido à natureza irregular da maioria dos resultadosobtidos em laboratórios de parapsicologia, onde os pesquisadoresconfiam tanto em quadros elaborados através de médias estatísticas.E assim, enquanto as médias estatísticas individuais de cada uma dasquatro tentativas de Schmidt, se vistas em separado, podem parecerimpressionantes, quando os resultados das quatro tentativas sãosomados essa aparência significativa tende a desaparecer.E tudo isso nos leva de volta à espinhosa questão do muito importanteinstrumental das estatísticas, que estaria sendo utilizado pelosparapsicólogos para apresentar a verdade sobre grandes séries deexperiências individuais irregulares (como os adeptos daparapsicologia experimental poderiam reivindicar), ou se, de fato, asmédias estatísticas estão sendo manipuladas (talvez não

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intencionalmente) de maneira a fazer com que resultadosinsignificantes pareçam importantes.Um matemático de Oxford, G. Spencer Brown, manifestou-se afinalsobre o assunto, argumentando que, de seu ponto de vista, dados"estatisticamente significantes" de pesquisas psíquicas não são maissignificativos que um indicador geral daquilo que os pesquisadorespossam estar visando. Ele sente que as experiências parapsicológicasque pretendem estudar a comunicação extra-sensorial "degeneraram,na maioria dos casos, em experiências da mais simplesprobabilidade", e dedica uma boa parte de sua análise aos equívocosde raciocínio que estão por trás de noções como as condições deacaso e médias estatísticas.Brown observa que, por trás do aparentemente importante aspecto de"médias estatísticas significativas" como as apresentadas por Schmidt,existem sempre e apenas os constantes fluxos de novos fenômenosirregulares, e nunca (com raras exceções) resultados autenticamenterepetitivos, que são um critério padrão para qualquer experiênciacientífica de boa qualidade.Poder-se-ia argumentar, naturalmente, que todo o padrão derepetitividade e boa parte de outros parâmetros experimentais, tãoimportantes para a corrente predominante da ciência, sãoinadequados para os fenômenos com os quais o parapsicólogo develidar. Neste caso, seria melhor se mais parapsicólogos experimentaisadmitissem isso (como muito poucos já fizeram). Este reconhecimentoaberto - embora possa disseminar ainda mais controvérsias - pelomenos teria a vantagem de liquidar com a bastante comum acusaçãode céticos que argumentam que a parapsicologia experimental fincapé deliberadamente numa "confusão pseudocientífica".

Levantamento do Fator Tempo na Precognição

Numa pesquisa de um gênero muito diferente, mais para estudar doque para demonstrar a precognição, um psicólogo clínico inglês, J. E.

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Orme, do Serviço Psicológico da região de Sheffield, tomou a iniciativade compilar um levantamento de 148 casos isolados de precogniçãoespontânea. Ele tinha a esperança de poder observar algumastendências ou direções a partir de um número tão grande de casos.A pesquisa de Orme enfatiza algumas tendências úteis para aclassificação de experiências precognitivas segundo o conteúdo daexperiência ou o estado (sonho, transe, visão em estado despertoetc.) do sensitivo. Mas o impulso mais importante de seu levantamentofoi a medição do fator tempo no fenômeno precognitivo - a quantidadede tempo que se passava entre a visão precognitiva e oacontecimento real do fato previsto. Seus resultados constituem umadas mais sólidas contribuições no sentido de proporcionar uma basepara a compreensão da verdadeira mecânica da precognição.Orme retirou seus exemplos de precognição de quatro fontes, todasconsideradas clássicas neste campo: tomou 48 das experiênciasdescritas por Dunne em seu An Experiment with Time, 41 do estudode Barker sobre o desastre de Aberfan, 30 de Some Cases ofPrediction de E. Lyttelton e 29 de Foreknowledge de H.F.Saltmarsh.Todas, menos as experiências de Dunne, foram confrontadas comprovas corroborativas de testemunhas e as narrativas de Dunne emgeral são vistas como honestas - quando por nenhuma outra razão,pelo simples fato de serem tão corriqueiras. (Se ele fosse inventarexperiências precognitivas, segundo a argumentação, certamente teriainventado coisas mais interessantes!)Das 148 experiências estudadas por Orme, 57 (ou 38,5%)aconteceram dentro de 24 horas a partir do momento da previsão, 14(9,5%) nas 24 horas seguintes e o resto ia gradualmente caindoconforme aumentava a distância entre a previsão e o fato. Apenas 42aconteceram no espaço de uma quinzena da previsão, e somente 7mostravam um intervalo de tempo de mais de um ano.

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Orme fez um mapeamento do fator Tempo em 148 casos deprecognição espontânea e os resultados estão ilustrados de maneiranotável em forma condensada nesta tabela que demonstra que omaior número de precognições ocorreu dentro de um espaço detempo muito pequeno antes do previsto.Em espaços de tempo mais longos entre a previsão e o fatoacontecido, cada vez menos precognições são registradas. (Tabela doJournal of the Society of Psychical Research, vol. 47, no. 760.)

No estudo de Orme, experiências precognitivas em sonhos ou emestado desperto dependiam do tempo, e estas últimas eramobviamente mais numerosas. Isso corrobora relatos de duas outrasfontes. Em seu The Roots of Coincidente, Arthur Koestler mencionaque as experiências de adivinhação de cartões de Soal com BasilShackleton e as previsões feitas por este último (se não fossem todaselas falsificadas) seriam mais exatas se o intervalo entre os acertos eas respostas fosse de 2,6 segundos. Se o índice de tempo para virar

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as cartas fosse o dobro, proporcionando intervalo de tempo de apenas1,4 segundo, Shackleton mostraria então uma tendência para acertarqual a carta que seria virada após duas viradas. Esse resultadoimplica uma constância ou um período mais favorável do espaço detempo entre a previsão e o fato, o que não necessariamente está deacordo com a tese de que as precognições são mais freqüentes emintervalos mais curtos; mas, dada a natureza suspeita dos dados deSoal, não é possível saber se essa constância era real ou inventadano caso de Shackleton.Também é verdade que no exemplo das predições na roleta da srta.H. R., ela contava que seus ''lampejos'' de previsão sempre ocorriamno muito breve intervalo de tempo entre o instante em que a boladeixava a mão do crupiê e sua parada em determinada fresta,"geralmente naquele rasgo de segundo que vem logo antes de ocrupiê gritar jogo feito". Assim, o caso dela, se válido, iria apoiar aconclusão de Orme de que "a precognição se refere a acontecimentospróximos no tempo em vez dos que estão distantes...”Da mesma forma a reivindicação de Orme de que "a natureza muitopróxima entre a incidência e a distância no tempo poderia muito bemsugerir que esta característica indica algo fundamental sobre anatureza da precognição", é verdade também que poderia ser melhorapreciada depois de se observar suas possíveis ligações entreacontecimentos precognitivos e acontecimentos subatômicos como osque a física quântica descreve (ver Capítulo 12).

SEGUNDA PARTEQUEM TEM A PRECOGNIÇÃO?

5. A PRECOGNIÇÃO NOS ANIMAIS

No início de seu clássico estudo sobre coincidências significativas,Jung conta a expressiva história da morte de um paciente,aparentemente prevista por um bando de aves.

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Suspeitando que seu paciente apresentava leves sintomas cardíacos,Jung recomendou-lhe consultar um especialista. Pouco depois de ohomem sair de casa para esse encontro, sua esposa percebeu,alarmada, que um enorme bando de aves pousara no telhado de suaresidência. A chegada dos pássaros parecia-lhe agourenta pois amorte de sua mãe e de sua avó haviam sido anunciadas porsemelhantes bandos de pássaros, que permaneceram como que emvigília do lado de fora da câmara da morte. Horas depois, apesar de omédico ter emitido um atestado de saúde, o homem teve um colapsona rua e foi levado morto para casa.Histórias como essa não são incomuns. Um psicanalista americanoconta um incidente semelhante em relação a seu jardineiro. Certatarde, enquanto os dois conversavam no jardim da mãe do jardineiro,um tordo despencou do céu, bateu na capota de um automóvel e caiumorto a seus pés. O jardineiro viu nisso um presságio e saiu correndopara casa, apenas a tempo de ver sua mãe morrer.Escrevendo logo depois da fundação da Sociedade para a PesquisaPsíquica, Frank Podmore conta a história da filha de um médico quedurante muitos dias antes de uma morte na família viu um passarinhoestranho, esguio e gracioso, com uma cabecinha muito pequena,cinza-azulado. Durante essas visitas, o passarinho batia na janela dacasa e sujava o vidro da janela com suas patas. Depois da morte, opassarinho continuou suas visitas até o enterro e depois nunca maisvoltou.Plutarco nos conta que um dia antes da morte de César "espécies depássaros solitários começaram a voar dentro do fórum", e Suetônionos pinta um quadro ainda mais vivo narrando que ''um passarinho,chamado pássaro-rei voou para dentro do palácio de Pompéia comum raminho de louro em seu bico, seguido por um bando de pássarosdiferentes provenientes de um bosque vizinho, e o partiram empedaços ali mesmo”. Ovídio também escreve a respeito: "Em millugares a coruja-torre deu um aviso agourento e os cães uivaramdurante a noite".

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Existe pelo menos uma história relacionada aos momentos queprecederam a morte de Abraham Lincoln: o cachorro do presidenteteria começado a correr por dentro da Casa Branca, "como que emdelírio e uivando continuamente de modo fúnebre". Antropólogos quetrabalharam entre os aborígines australianos contam que elesacreditam que o primeiro sinal da morte de um parente é a visão deum pássaro ou um animal que seria o espírito-guia (totem) da pessoa.Na verdade, em toda a literatura, alguns dos mais vivos eimpressionantes relatos sobre capacidades precognitivas e outrassupostas faculdades de PES referem-se ao comportamento deanimais, pássaros e insetos; há mesmo um ponto de vistaamplamente difundido segundo o qual tais criaturas muitas vezes sãodotadas de uma "segunda visão". Essa convicção é tão antiga quantoa história de nossa espécie. Nos mitos e lendas do homem primitivo enas histórias de fadas de nossa infância, esse dom dos animaiscostuma ser creditado como uma participação ou mesmo inteiramenteexplicativo dos poderes proféticos de nossos videntes humanos.Segundo a lenda céltica de Conn-eda, o mítico herói rei da Irlanda, eledeverá fazer uma viagem perigosa e aparentemente impossível aoreino das fadas para capturar três maçãs douradas, um corcel negro eum cão de caça que pertencem ao rei das fadas. Conn-eda vai a umgrande druida para pedir conselho, mas o druida admite que nemmesmo ele tem poderes suficientes para ajudar Conn-eda numa tarefacomo aquela. Mas, diz ele, "existe um pássaro com cabeça humanaescondido numa floresta. Essa criatura estranha é conhecida por seusaber sobre o passado, o presente e o futuro". Conn-eda procura opássaro, que, falando numa "crocitante voz humana", conta-lhe tudo oque precisa saber e prevê seu êxito.Segundo Heródoto, pássaros são muitas vezes associados aosoráculos. Ele conta que uma das versões sobre a fundação dosoráculos de Dodona na Grécia e Amon na Líbia é que duas pombasnegras voaram do templo de Tebas no Egito - uma foi para Dodona,pousou num carvalho e falando com voz humana disse ao povo que

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ali deveria ser construído um local para o oráculo de Zeus; a outravoou para a Líbia e instruiu aos líbios da mesma forma.Entre as tribos paleolíticas e neolíticas da Ásia, Indonésia eAmérica do Norte (e ainda hoje sobrevivem alguns remanescentesisolados dessas culturas primitivas), a crença na previsão animalestava incorporada aos rituais e tradições das religiões xamanísticasorientadas para a criatura. O xamã - o médico da tribo - podia curar adoença, trazer a chuva, guiar a caça ou profetizar acontecimentosfuturos; muitas vezes ele obtinha estes poderes mágicos emcomunicação com um espírito animal que o orientava.Cada xamã deveria ter um animal-mãe ou uma origem animal (alce,tigre, urso etc.) que incorporava seu dom profético, ou entãoum pássaro ou animal "familiar" para lhe dar assistência. Depois deficar por si mesmo em transe estático que lhe permitiria deixar o corpo,o espírito do xamã podia vagar livremente por todo o universoentrando em contato com outros espíritos, animais auxiliares cujospoderes visionários o capacitavam a penetrar no passado e no futuro.Um grupo de "xamãs" dos dias de hoje na China moderna - ossismologistas - já não deixam mais seu corpo quando querem espiar ofuturo. Eles trocam seus instrumentos técnicos pelo mais avançadomeio de prever terremotos: a observação do comportamento irregularde muitos pássaros, animais e insetos, durante horas (e às vezesdias) antes que qualquer tremor de terra seja registrado no maissensível dos aparelhos sismográficos.Os chineses sofrem a mais elevada média anual de tremores de terrasérios (acima de 6 na escala Richter) de todos os países do mundo, emesmo assim eles têm sido muito bem-sucedidos em reduzir onúmero de vítimas de terremotos. Ainda assim, seus cientistascontinuam a desenvolver sofisticadas técnicas artificiais de alarmeprévio, medindo os sons do interior da Terra e as flutuações no níveldas águas e do campo magnético. No entanto, o salvamento de tantasvidas humanas e a transformação do sistema de previsão deterremotos da China num modelo para sérios estudos de equipes

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geofísicas internacionais, são atribuídos à sabedoria acumulada deseus livros de história.Há muitas gerações os chineses observaram que as criações eos animais de estimação ficavam inquietos horas antes de umterremoto. "Cavalos normalmente calmos empinavam e saíamcorrendo, cães uivavam, peixes saltavam nas águas e animaisraramente vistos, como cobras e ratos, de repente surgiam de seusesconderijos em grandes quantidades".Outras pesquisas inspiradas no exemplo chinês para verificar seeste comportamento anormal dos animais seria observado em outrospaíses resultaram numa impressionante coleção de dados. Antes doterremoto de 1963 em Montana, grandes bandos de pássarosevacuaram a área horas antes do primeiro tremor. E horas antes doterremoto de 1964 no Chile, todas as gaivotas voaram muitosquilômetros na direção do mar alto. Várias horas antes do terremotode 1969 em Tashkent (na União Soviética), leões e tigres no zoológicolocal teimaram em dormir fora do abrigo e as cabras montanhesas nãoforam para seu aprisco. Uma hora antes do terremoto, as formigasabandonaram os formigueiros levando as pupas com elas. Na noiteanterior ao terremoto de 1971 na Califórnia, observaram-se ratoscorrendo furiosamente pelos meios-fios das ruas de San Fernando.O mesmo tipo de comportamento anormal dos animais foi observadoantes de outros desastres naturais: erupções vulcânicas, furacões,tornados, avalanches etc., e ninguém compreendeu aindaperfeitamente as curiosas capacidades de previsão das espécies emquestão. É bem possível que esses animais e pássaros tenham algumtipo de capacidade de precognição psíquica, e estamos num terrenoainda não delineado de alguns tipos de comportamento animal que J.B. Rhine, escrevendo no início dos anos 50, achou mais convenienteabordar com prudência.Depois de apontar que ilustres zoólogos como Sir Alister Hardy, SirJulian Huxley e F. B. Sumner haviam todos chegado à conclusão deque alguma espécie de percepção extra-sensorial deveria serconsiderada quando da tentativa de explicar mistérios como o retorno

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migratório do salmão muitos quilômetros rio acima, ou as migrações alonga distância e outras capacidades notáveis para o retorno à casade pássaros, Rhine advertia que muito do que parece estranho nocomportamento dos animais poderia um dia ser explicadonormalmente quando se soubesse mais sobre seus sentidos. Aexperiência já lhe deu razão inúmeras vezes.A pesquisa biológica nos últimos vinte e cinco anos apresentou umagrande quantidade de explicações científicas simples para muitoscomportamentos animais antes envoltos em mistério.Sabemos hoje que os morcegos voam tão bem no escuro por seremsensíveis às vibrações supersônicas no ar; que os peixes podemutilizar ecos sensores no fundo do mar; que as abelhas e as formigasusam a luz polarizada para monitorar a direção; que os pássaros e ospeixes orientam-se usando o ângulo do Sol (ou das estrelas).Recentemente cientistas fizeram a importante descoberta de que ospássaros e até mesmo o homem são sensíveis às linhas de forçamagnética que a Terra emite, e que seguindo estas linhas de forçaeles podem orientar-se em qualquer direção, mesmo em escuridãototal ou de olhos vendados.Assim, como sugerem alguns escritores, as capacidades de previsãode desastres de muitas espécies animais tendem mais a ser um casode percepção "supersensorial" do que "extra-sensorial". Segundo onaturalista Ivan Sanderson, "este aguçado conhecimento podedescobrir furacões em aproximação por alterações no nível da águaou por quedas na pressão barométrica. Sons muito leves ou umaelevação da temperatura podem anunciar avalanches. Erupçõesvulcânicas e terremotos são precedidas por grandes tensões nocampo magnético da Terra. Os animais captam os tremores de terramenores e pequenos terremotos.O parapsicólogo experimental John Randall admitiu que, na verdade,as até agora desconhecidas faculdades sensoriais "ultra-sensíveis" eaguçadas têm sido um campo de estudos para os céticos quepreferem rejeitar qualquer exemplo aparente de PES comoremanescente da mais simples ignorância, de modo que muitos

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biólogos "encaram a expressão 'percepção extra-sensorial' comosimples reconhecimento de nossa ignorância, argumentando quequanto mais o conhecimento biológico se expande, mais diminuirá onúmero de casos de PES". A mesma argumentação é feita quanto àssupostas capacidades PES no homem - alega-se que um diacompreenderemos serem parte de nossa estrutura biológica normal.No entanto, como observa Randall, da mesma forma que Rhinee outros antes dele, existem muitos exemplos de PES registrados emanimais , que fornecem bons fundamentos para se supor que a tesedos "sentidos não descobertos" pode ser deficiente, e estes setornaram campos frutíferos de estudo para os parapsicólogosexperimentais na década passada. A maioria tem a ver com casos deprecognição animal visível ou algum gênero de telepatia entre homeme animal.O mais antigo e bem documentado caso de alegada telepatia entre umanimal doméstico e seu treinador é o clássico exemplo do séculopassado, de Clever Hans, o cavalo de circo que, supostamente, sabiacontar, resolver problemas aritméticos e ler as letras de um alfabetoem blocos de madeira. A possibilidade de que Clever Hans fosse naverdade um animal superinteligente, capaz de raciocinar sobreproblemas de matemática ou de soletrar palavras quando colocados àsua frente, foi posta de lado assim que se descobriu que ele nãoconseguia dar uma resposta correta a não ser que tivesse a seu ladoum ser humano que também soubesse a resposta. Então levantou-sea hipótese da telepatia, logo descartada graças a uma descoberta queprovocou muitos trabalhos subseqüentes sobre a suposta telepatiaentre animais e homens. O segredo da habilidade de Clever Hans,como o de Lady, "um cavalo que lia a mente", investigado por Rhine esua esposa, acabou sendo descoberto. Tratava-se de uma destrezaespecial para captar sutis pistas sensoriais nos seres humanos à suavolta.Muito desse mesmo mecanismo de interpretação sensorial seriaverificado no caso de Lady. Lady, como Clever Hans, parecia"apanhar" aqui e ali, telepaticamente, as respostas a diversas

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questões matemáticas e alfabéticas colocadas por Rhine e suaesposa - mas eles acabaram percebendo que na verdade o animalinterpretava sinais de movimentos sutis de seus corpos.Embora existam muitos outros casos registrados de animais quedemonstram capacidades telepáticas ou clarividentes, o único queainda proporciona talvez alguma base para considerações é o deChris, o cachorro maravilhoso - submetido a testes rigorosos nolaboratório de parapsicologia da Duke University nas décadas de 50 e60.Depois de verificar que os primeiros resultados promissores de Chrisna solução de problemas ainda não eram explicáveis através daspistas sensoriais, o pessoal do laboratório deu ao cão a tarefa deadivinhar o cartão retirado de um pacote embaralhado de cartões PESfazendo com que ele batesse a pata uma vez para um círculo, duasvezes para um quadrado, e assim por diante. Quando Chris acertavaacima da proporção do acaso nesse teste, ele tinha de resolver oproblema mais difícil de adivinhar quais cartões estavam encerradosem envelopes opacos. De uma série de quinhentas tentativas, o cãoacertou numa proporção de 1000 por 1, contra o acaso, embora emtestes posteriores seu índice de acertos fosse bem menos espantoso.J. G. Pratt, colega de Rhine, trabalhou com Chris durantealgum tempo e não conseguia refutar de nenhuma maneira conclusivao fato de o cão realmente não ser clarividente. Mas Pratt manteve umapostura cautelosa e alertou que deveria necessariamente haveralguma outra possível explicação. Levantou a hipótese, por exemplo,de que, na verdade, as pessoas que trabalhavam com Chris é quetinham a capacidade PES, e, assim, a informação era passada aocachorro por meio de pistas sensoriais.

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Reunindo todos os casos espontâneos e testes de laboratório emrelação a uma suposta telepatia do tipo leitura da mente entre animaise seres humanos, o experimentalista Robert Morris comenta: "O casode Chris é o melhor do gênero. Os outros são um tantoimpressionantes em termos coletivos, mas individualmente estarãosempre sujeitos à dúvida de que as pistas sensoriais e a influência doexperimentador teriam sido eliminadas adequadamente".Existe ainda uma espécie de telepatia entre o animal e o homem paraa qual parece não haver nenhuma explicação alternativa. São osexemplos do que Rhine e sua fIlha, Sarah Feather, apelidaram de "psi-rastreio", casos em que "um animal, separado de alguém, uma pessoaou o companheiro a que tenha se apegado, segue o companheiro quepartiu num território inteiramente desconhecido e consegue fazer issonuma época e em condições tais que não permitiriam o uso denenhuma pista sensorial". As distâncias que os exemplos suspeitos depsi-rastreio envolviam iam de 50 km até viagens de 5.000 km, e háregistros de uma boa quantidade desse tipo de casos.O caso de Tony, um cão vira-lata que pertencia à família Doolen nosEstados Unidos, é um dos mais documentados e citados. Os Doolenviviam em Aurora, no Estado de lllinois, e quando se mudaram paraLansing, no Michigan, a 500 km de distância, resolveram deixar Tonypara trás, com um vizinho. Seis semanas depois, o cachorro estava nasoleira de sua casa em Lansing; ele percorrera todos aquelesquilômetros sem nenhuma ajuda e localizara a família em lugar ondejamais estivera antes. Tony ainda usava a licença de lllinois, com seunome, e a família com quem foi deixado confirmou que ele não estavamais lá.Smoky, um gato persa com um raríssimo tufo de pêlos vermelhosdebaixo do queixo, foi separado da família numa parada de beira deestrada no Oklahoma a uns 30 km de casa. Numa semana o gatoencontrou o caminho do lar, mas a família havia se mudado para oTennessee. Depois de ficar perambulando por sua antiga vizinhançadurante muitas semanas, Smoky desapareceu - e um ano mais tarde

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surgiu na casa nova de sua família, no Tennessee, a 500 km dedistância.Sugar era outro gato persa, com um calo ósseo característico na anca.Quando a família saiu da Califórnia e se mudou para o Oklahoma,deixou Sugar com os vizinhos. Duas semanas depois ele desapareceue voltou a aparecer na soleira da porta de sua primeira famíliaquatorze meses mais tarde, tendo viajado 2.500 km. Mas até essaenorme distância chegou a ser duplicada no caso mais bem-documentado de psi-rastreio em gatos: um gato que pertencia a umveterinário nova-iorquino. O gato foi deixado para trás quando seudono, promovido para um novo cargo, mudou-se para a Califórnia.Muitos meses depois, o bichinho conseguiu chegar até a nova casa doveterinário, a 5.000 km de distância. O gato pôde ser identificado porum crescimento ósseo na quarta vértebra da cauda que fora causadopor um ferimento anterior.Em seu rigoroso levantamento feito no ano de 1963 sobre casos depsi-rastreio, Rhine e Sarah analisaram cuidadosamente a enormequantidade de relatos colecionados na Duke University durante muitosanos, e selecionaram por fim 25 casos que satisfaziam seus critériospelas provas de identificação, credibilidade dos menores detalhes edados de apoio com a corroboração de testemunhas. Os 25 casoscompreendiam dez cachorros, doze gatos e três passarinhos. Todoseles haviam conseguido chegar a seus donos em novas casas adistâncias de centenas de quilômetros.Até hoje, não se teve a oportunidade de fazer testes rigorosos paraestudar o psi-rastreio sob condições de laboratório. Já nos anos 20,psicólogos e parapsicólogos experimentais fizeram testes de campopara medir os índices de êxito de vários animais - gatos, cães ecamundongos - em encontrar o caminho de casa percorrendo lugaresdesconhecidos. Tais experiências têm sido repetidas há meio século eos animais testados demonstraram grande facilidade em voltar paracasa a partir de distâncias entre 5 e 15 km; no entanto, tendo em vistaa mais profunda compreensão científica que temos atualmente dasfaculdades sensoriais dos animais (ou seja, sua sensibilidade ao

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magnetismo, a sensibilidade à luz polarizada e as capacidadesauditivas), estes feitos provavelmente terão muito pouco a ver com aPES.Em 1962, Rhine e Sarah fizeram um levantamento de histórias quesugeriam a PES em animais, além dos dados coletados relativos aopsi-rastreio que mereceram maior atenção; todas envolviam algumaforma de precognição animal - uma reação que evitou perigo para oanimal ou seu proprietário, o pressentimento da morte do dono ou aexcitação na expectativa de um retorno antecipado do dono.Já se contaram muitas histórias com exemplos de animais queparecem ter previsto a morte iminente ou tiveram outros tipos deprecognição. Existem casos de cachorros que latiam ou se recusavama deixar carros estacionados minutos antes que alguma catástrofenatural, como a queda de uma árvore, ocorresse no lugar onde seusdonos iriam passar. Um gato que normalmente dormia ao lado doaparelho de televisão, certa noite deu um pulo, ficou olhando firmepara o aparelho e procurou sair da sala... minutos depois o tubo datelevisão explodiu, espalhando fragmentos de vidro por todo oambiente.Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos ingleses confiavam emseus gatos para saber quando ir procurar abrigo de um reide debombardeiros alemães. Minutos antes que os bombardeiros daLuftwaffe pudessem entrar nas telas dos radares fazendo soar osalarmes, os gatos se arrepiavam e conta-se que lideravam as corridaspara os abrigos. Muitos desses gatos salvadores de vida foramagraciados com a Medalha Dickin que traz a gravação "Nós tambémservimos".O mais bem-pesquisado destes muitos casos de vidas salvas poranimais com a aparente faculdade de previsão foi constatado porAndrew MacKenzie e envolve uma cadela cocker-spaniel chamadaMerry, que pertencia à família Baines, de Wimbledon, zona sul deLondres.No início da guerra, a família havia procurado refúgio dosbombardeios alemães num abrigo subterrâneo escavado no quintal.

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Mas, de 1941 até meados de 1944, o abrigo do quintal foraabandonado por sua umidade, em troca de outro, reforçado com aço,dentro da casa, cujo acesso abria-se embaixo da mesa da cozinha.Durante esses quatro anos, a família e um vizinho que morava a duascasas dali haviam dormido a salvo em seu abrigo interno e não viamrazão para mudar esse hábito até que um dia foram forçados a issopor Merry .Em 30 de junho de 1944, doze horas depois que uma bomba alemãcaíra sobre casas a um quarteirão de distância, arrebentando asjanelas da casa da família Baines, Merry desapareceu. Depois demuita busca, ela foi encontrada no abrigo abandonado do quintal. Afilha dos Baines, Audrey, pegou a cadela e arrumou de novo a pilha detábuas que impedia o acesso ao abrigo do quintal, mas Merryconseguiu voltar ali mais três vezes naquele dia e parecia relutante emsair. Afinal, por razões que eles mais tarde admitiram impossíveis dejustificar racionalmente, os Baines resolveram seguir o aviso de Merry.Limparam o abrigo do quintal, colocaram objetos limpos, arrumaramos beliches e, naquela noite, acompanhados pelo vizinho dormiram ali,dentro de suas paredes protetoras.Às 2h50min da madrugada uma bomba caiu sobre a casa dos Baines,destruiu e incendiou os canos de gás da rua, e demoliu aquela emuitas outras da vizinhança. Se a família houvesse dormido no abrigointerno, todos teriam morrido.A partir das narrativas de muitas testemunhas visuais recolhidas porMacKenzie do pessoal do sistema de alarme aéreo local, junto amembros da própria família e de alguns vizinhos, parece não haverdúvida de que o comportamento de Merry tenha realmente salvo avida de toda a família e do vizinho. Mas, seria este um caso deprecognição legítima por parte de Merry? Resta a explicaçãoalternativa opcional de que o bombardeio da noite anterior, quearrebentou as janelas da casa e rachou o teto de gesso, tenha sidodemais para a tranqüilidade de Merry, e que muito bom senso e amemória de uma segurança anterior tenham levado a cadela

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simplesmente a decidir mudar para o abrigo do quintal, que seriamelhor proteção contra bombas futuras.Não há um meio definitivo de se responder â questão de PES emtodas essas numerosas histórias que envolveram, além de sereshumanos, também animais; daí a impaciência dos parapsicólogosexperimentais em testar essas faculdades em condições laboratoriais.Enquanto muitos casos escapam a qualquer espécie de verificaçãoem laboratório, os que envolvem a precognição de animais em perigoiminente se prestam a uma resposta experimental controlada. O dr.Robert Morris da Sociedade para a Pesquisa Psíquica planejou osprimeiros desses testes em 1967, com resultados moderadamentebem-sucedidos.Sabendo que ratos expostos ao perigo "gelam", Morris criou umcenário experimental que poderia indicar o índice de atividade dosratos numa situação de "campo aberto" (uma área não restrita) dezminutos antes que certa quantidade deles fosse morrer. Morrisliberava, um por um, dezenove ratos na área de campo aberto emedia quantos ladrilhos quadrados cada um poderia cobrir durante umespaço de dois minutos. Dez minutos depois, um assistente dolaboratório arbitrariamente matava os que haviam sido marcados porum número qualquer, indicado por um gerador de números aleatórios.Ao verificar os índices de atividade de todos os ratos, comparando osdados sobre aqueles que haviam sido selecionados para morrer,Morris realmente encontrou uma correlação acima do acaso entre osque "gelavam" e os que morreram, demonstrando assim uma visívelligação precognitiva entre a atividade reduzida dos ratos e sua morteiminente. Mas ainda deve-se manter alguma prudência antes de sechegar a conclusões definitivas com esses resultados. Quando HelmutSchmidt pretendeu repetir os testes de Morris em seu própriolaboratório no Texas, não conseguiu obter nenhum resultadosignificativo. E quando os canadenses James Craig e WilliamTreurinet repetiram, por sua vez, os mesmo testes, obtiveram umacorrelação maior que o acaso entre os ratos que "gelavam" e os que

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continuariam vivos, ou seja, um resultado exatamente oposto ao deMorris.Mais uma vez fizeram-se experiências precognitivas visivelmentebem-sucedidas num laboratório na França, com ratos que iriamreceber um leve choque elétrico. O objetivo era saber se os ratosevitariam ou não entrar em determinada parte da gaiola ondepoderiam receber um choque no futuro. Só que qual viria a ser estaparte seria determinado aleatoriamente por sorteio. Os franceses (quepreferem identificar-se pelos pseudônimos "Duval" e "Montredon")obtiveram resultados positivos em proporção maior que 1.000 por 1contra o acaso em seus testes. Acontece que o único trabalho em quese repetiu este teste com sucesso foi o de Walter Levy, noslaboratórios da Duke University. Algum tempo depois, entretanto, J. B.Rhine e outros consideraram o trabalho de precogniçãoaparentemente bem feito em camundongos, feito por WalterLevy, fraudulento. A fraude de Levy é um dos piores casos de vigariceverificados na psicologia experimental.Assim, embora possa haver algo promissor em estudos de laboratóriosobre a precognição animal, ainda não existe uma pesquisa realmentesólida, que tenha sido repetida de maneira consistente, de forma aproporcionar alguma prova experimental capaz de realmente chamar aatenção quanto à existência do fenômeno. Restam histórias da vidadiária que sugerem que, às vezes, animais apresentam uma ou outrafaculdade PES, mas ainda não temos provas de que eles as possuamcom maior freqüência ou de maneira mais confiável do que os sereshumanos. Em 1974, John Beloff, psicólogo da Universidade deEdimburgo e antigo presidente da SPP, resumiu o estado atual doconhecimento experimental dizendo, um tanto depreciativamente: "Asprovas sobre animais que tenham faculdades PES são muito exíguasmesmo se comparadas com a ocorrência dessas faculdades nosseres humanos e parecem ocorrer de maneira excepcional e tãomarginal em seus efeitos, tanto em homens quanto em animais".

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6. A PSICOLOGIA DA PRECOGNIÇÃO

Enquanto alguns parapsicólogos têm estado ocupados tentandodefinir a existência ou não de fenômenos como a precognição, outrosconcentraram-se mais na psicologia do assunto: quem tem aprecognição? E sob quais circunstâncias emocionais ou mentais?Os dois gigantes da psicologia moderna, Freud e Jung, envolveram-se em determinado momento na pesquisa parapsicológica, publicandomuitos documentos sobre o assunto. Mas, enquanto esse interessesurgiu natural e quase que apaixonadamente para Jung no início dacarreira (sua primeira dissertação para obtenção do diploma médicoera um estudo da "Psicologia e patologia do chamado fenômenooculto"), Freud entrou neste campo quase que involuntariamente,como um recruta forçado que tivesse tentado fugir por todos os meiospossíveis.Em sua autobiografia, Memórias, sonhos e reflexões, Jung conta ahistória de um incidente ocorrido ao viajar a Viena em 1909 para sabera opinião de Freud sobre a precognição e outras questõesparapsicológicas. À simples menção do assunto, Freud veio com umdiscurso contra "a maré negra da porcaria do ocultismo" e não queriaouvir mais nada sobre tal questão. Como Jung contou:

Enquanto Freud continuava a falar desse modo, tive uma curiosasensação. Era como se meu diafragma fosse de ferro e estivesseficando vermelho pelo calor. Uma caixa incandescente. Naquele

instante houve uma detonação muito alta na estante que estava anosso lado, de tal modo que nos assustamos, achando que a coisa ia

cair por cima de nós. Eu disse a Freud:- Eis aí: um exemplo do chamado fenômeno de exteriorização

catalítica.- Ora, vamos! - exclamou ele. - Isto é pura besteira.

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- Não é - repliquei. - O senhor está enganado, Herr professor. Epara provar o que lhe digo, posso predizer que dentro de um instante

vai haver outra detonação como aquela!Mal eu acabara de proferir essas palavras, a mesma detonação veio

da estante.Até hoje não sei o que pode ter me dado aquela certeza. Mas eu tinha

absoluta certeza de que a detonação iria acontecer de novo. Freudapenas ficou olhando horrorizado para mim. Não tenho a menor idéiado que se passava em sua cabeça ou do que poderia significar seu

olhar. De qualquer maneira, o incidente levantou sua desconfiança emrelação a mim. Nunca mais discuti o incidente com ele.

Enquanto o impulso de Jung foi o de evitar prosseguir uma discussãosobre o fenômeno psíquico com Freud depois do incidente da estante,o próprio Freud referiu-se ao assunto outra vez, e logo depois, numacarta paternalista para Jung. Depois de explicar jovialmente os ruídosque haviam emanado da estante durante aquele encontro, admoestouseu jovem protegido sobre o interesse pelo "ocultismo", aconselhando-o a "manter a cabeça fria, sendo preferível não entender uma coisaque exige tão grande renúncia por amor à compreensão".Não ficou muito claro se a preocupação de Freud era a de que Jungestaria sacrificando sua reputação ou sua sanidade mental (ou ambas)ao dedicar-se ao oculto. Mas as próprias experiências clínicas deFreud trabalharam contra essa sua obstinada resistência em relação àparapsicologia. Ocorrências telepáticas entre ele e seus pacienteseram numerosas demais, e, por mais que quisesse, ele não conseguiaexplicá-Ias. Ele ficou mais aberto à pesquisa que se fazia nessecampo, e, ao tomar conhecimento das experiências que o professorGilbert Murray - que ele sabia ser um ilustre professor em Oxford -vinha fazendo, Freud teve de se entregar. Declarou numa cartaentusiasmada a Ernest Jones: "Confesso que a primeira impressão foitão forte que... estaria disposto a fornecer o apoio da psicanálisequanto à questão da telepatia". Jones, mais conservador, ficoupreocupado com esta sugestão, pois estava certo de que isso iria

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destruir a reputação da psicanálise; mas já não havia como deter omestre agora. Em 1911, ele tornou-se membro da Sociedade para aPesquisa Psíquica inglesa e da americana, e publicou seu primeiro (demuitos outros) ensaio sobre a telepatia no ano de 1922.A preocupação maior de Freud eram as condições psicodinâmicasque permitiam o surgimento das experiências psíquicas, e o encontrode algum espaço para estas em sua teoria geral da personalidade.Afinal, ele chegou à conclusão de que havia faculdades arcaicas eregressivas originárias de um período muito anterior aodesenvolvimento do ser humano:

A telepatia deve ter sido o meio arcaico original pelo qual as pessoasse entendiam, um meio que ficou para trás no decorrer do

desenvolvimento fIlogenético, por um método de comunicação melhorque apareceu, ou seja, por sinais percebidos pelos órgãos sensoriais.

Entretanto esses antigos meios de comunicação podem tersobrevivido na obscuridade e ainda se manifestam sob determinadas

circunstâncias.

Em seu estudo sobre a precognição, H. F. Saltmarsh sugeria quaispoderiam ser essas condições: "Em minha opinião, as precogniçõessó acontecem quando o indivíduo está em estado de dissociação,quer dizer, elas são coisas da mente subliminar ou inconsciente". Comtoda certeza, existem muitas provas para essa opinião.Os profetas xamãs do período neolítico guardavam os lampejos desuas imagens previsionárias meditando sobre as asas giratórias deuma suástica, símbolo que ao receber um impulso de rotação nadireção dos ponteiros do relógio acreditava-se liberar as forças doinconsciente. Os dervixes rodopiantes do Islã, as sacerdotisas deDelfos e todos os primeiros profetas bíblicos se colocavam em estadode êxtase ou de demência com a música ou vapores de drogas, demaneira a realçar seus talentos proféticos através de um contatomaior com seus próprios egos não racionais. E Platão, no Timaeus,refletia que era este o plano da Natureza. Os autores de nossos

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corpos, concluía ele, haviam localizado o dom profético no fígado,porque este órgão encontrava-se na parte mais baixa do organismo ea adivinhação era um poder corretamente atribuído às ordens maisinferiores de nossa natureza:

Nenhum homem, em seu juízo, atinge a verdade e a inspiraçãoprofética, mas quando recebe a palavra inspirada sua inteligência

estará adormecida ou ele estará enlouquecido por algum desequilíbrioou possessão... Por isso, é costume determinar-se intérpretes que

sejam juízes de inspirações verdadeiras (que sejam) os comentadoresde visões e ditos sombrios.

Timaeus, 71c, 72b

Essa visão geral de que os poderes PES provenham de retrocessosprimitivos, subconscientes ou arcaicos está refletida no trabalho demuitos psiquiatras que, referindo-se às vozes e visões dos doentesmentais, em especial os esquizofrênicos, argumentam que taisfaculdades são sinais de alguma aberração mental. "A menos que setenha tido um contato pessoal com gente que diz ter passado porexperiências psíquicas", observou o prof. D. J. West em seu amplolevantamento de casos espontâneos de precognição, "poderá serdifícil imaginar-se o que a insanidade possa ter a ver com a questão".E "não é de maneira alguma desconhecido para os funcionários daSPP ter de lidar com pessoas que os chamam com os olhos reviradospara dizer estarem em constante relação telepática com algo ou comalguém... Hoje existem milhares de pacientes (dentro e fora) de asilos;na maioria dos casos a característica principal da doença é umaobsessão por entidades psíquicas imaginárias". West, no entanto,concorda que a insanidade em si, em que as pessoas estejamsofrendo ilusões de experiências psíquicas mais do que estaremabertas à legítima experiência psíquica, é o lado menos interessantede como a faculdade PES possa estar relacionada com a insanidademental. A tese de que uma faculdade autêntica possa, por si mesma,

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ser sintomática de um colapso em certas faculdades protetorasnormais que a maioria das mentes possui é mais correta.Esta noção de "faculdades protetoras" vem de um trabalho do filósofoHenri Bergson; ele propunha a idéia de que nosso sistema nervosotenha sido planejado como um filtro elaborado, que permite deixarpassar essas energias e "radiações" úteis para o desenvolvimento denossas faculdades intelectuais mais elevadas, afim de nos ajudar aenfrentar as experiências. O "filtro" de Bergson é semelhante àscategorias da percepção e da compreensão de Kant. Os dois filósofossugerem que a realidade, além dessas categorias (ou filtros), contémtodos os gêneros de coisas a nós inacessíveis, com a estrutura quetemos.A visão de "faculdades primitivas" de PES sugerida por Freud eapoiada pelo trabalho clínico do psicanalista Jan Ehrenwald, quedemonstrou haver uma correlação muito elevada entre a capacidadepsíquica e os primeiros sinais de uma emergente esquizofrenia ououtra forma de psicose - aceita a hipótese de que faculdades como atelepatia e a precognição tenham sido sacrificadas em nome daevolução. A consciência da realidade gerada por tais faculdadesancestrais "é obscura e incerta", como explica Ehrenwald, "e sujeita aequívocos de refração, provocados pelas perambulações da camadainconsciente da mente pela qual ela tem de passar". Para que nossascapacidades lingüísticas e lógicas mais precisas pudessemdesenvolver-se (e talvez mesmo para que nossa sobrevivência comoespécie pudesse estar assegurada), essas percepções difusasprecisaram ser bloqueadas de nossa consciência na vida diária. SirCyril Burt, professor de Psicologia no University College de Londres,descrevia esta posição num discurso para a Sociedade para aPesquisa Psíquica inglesa no ano de 1968 da seguinte maneira:

"Ó", disse o cocheiro para Tom Brown, "a melhor coisa para gentesimples assim que nem você e eu é usar antolhos, de modo que a

gente só possa enxergar o que está bem na frente". A natureza parecehaver funcionado muito dentro desse mesmo princípio. Nossos

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sentidos e nosso cérebro funcionam como uma espécie de filtro muitocomplexo que limita e dirige os poderes clarividentes da mente, demodo que em condições normais a atenção esteja concentrada nos

objetos e situações que tenham importância biológica para asobrevivência do organismo e da espécie... Como regra geral, a menterejeita idéias de outra mente, assim como o corpo rejeita enxertos de

outros corpos.

Ainda que afirmando a provável necessidade de uma tal abordagemlimitada à realidade, Burt acrescentou rapidamente: "Acreditar quepartindo de tal base possamos construir um quadro completo que tudoinclua do universo é o mesmo que supor que um mapa das ruas deRoma possa dizer como parece exatamente a Cidade Eterna quandoali estamos".A opinião de que faculdades extra-sensoriais como a telepatia e aprecognição sejam um retrocesso primitivo é unânime. Outrospsicólogos discordam inteiramente, argumentando que a PES é umaparte natural, embora negligenciada, de nossa constituição psíquicanormal, ou ainda, que é algum novo "sexto sentido" cujo domínioestamos desenvolvendo. Frederic Myers, um dos fundadores da SPP,escreveu no final do século passado que essa nova faculdade poderiaexpandir nossa consciência para muito além dos limites daexperiência humana normal. Cinqüenta anos depois, o controversofilósofo C. E. M. Joad argumentava que ela era "uma primeiraintimação hesitante de um novo impulso para a frente de parte de umaforça de vida muito útil".

A Pesquisa na Psicologia da PES

Se a PES é realmente alguma faculdade regressiva que vai até erasobscuras de nosso passado primitivo, algo antigo e ultrapassado,embaraçoso e sinal de instabilidade mental, ou se é um sintoma deum novo amanhã resplandecente, é uma discussão que modelou

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grande parte da pesquisa psicologicamente orientada naparapsicologia experimental nesses últimos 25 anos. Ospesquisadores sustentam a esperança de que, se pudessem chegar aacumular dados suficientes sobre os tipos de pessoas (idade, estadomental, grau de educação etc.) que costumam passar porexperiências PES e as condições físicas e psicológicas quepredispõem a estas experiências, a questão estaria resolvida de umavez por todas.A tese de Freud de que a PES é um fenômeno atávico maisapropriado à vida selvagem do que à das pessoas altamentedesenvolvidas (o homem civilizado) deu origem a três alvos evidentespara a pesquisa experimental: os animais, aqueles poucos "povosselvagens" que ainda existem dispersos em áreas remotas da África edo sudeste da Ásia, e nossas crianças, antes que alcancem amaturidade intelectual.Se a PES é uma faculdade em desaparecimento que pertence aosdegraus inferiores da escala filogenética, raciocinaram algunspsicólogos, certamente iríamos encontrá-Ia dominante entre osanimais inferiores; e, realmente, as histórias sobre alegadasfaculdades psíquicas de animais selvagens e domésticos sãoabundantes. Mas, em todas as tentativas, os experimentalistas naverdade obtiveram muito poucas e frágeis provas de que os animaispossuam a telepatia ou a precognição. E assim, a evidência para atese de Freud deveria estar em outra parte, e a antropologia pareciaum campo promissor para que se tentasse verificar.

A Pesquisa Antropológica

Da mesma maneira como os mitos e lendas dos primeiros estágios denossa cultura eram dominados por histórias de feiticeiras e videntesinvestidos de poderes extraordinários para a leitura da mente daspessoas, a previsão, a levitação etc., parte do conhecimentoantropológico no início de nosso século era bastante inspirado por

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narrativas sobre "médiuns selvagens" que apareciam nas histórias deviagens dos exploradores. Os antropólogos fizeram viagens parapesquisa de campo a lugares como Bornéu, Haiti, Cidade do Cabo eCongo, voltando carregados de histórias sobre sessões mediúnicas,ritos extáticos de vudu em que a levitação ocorria normalmente, emiraculosas narrativas sobre importantes informações que viajavamatravés das selvas, por entre as matas, quase instantaneamente.Conta-se que um adivinho na África do Sul previu corretamente queuma cabra negra grávida, com a qual um antropólogo estavapreocupado, iria dar à luz em breve a um filhote branco e um cinza. Oadivinho de Tembu (Cidade do Cabo), Solomon Baba, teria acertadocorretamente que, antes de ir visitá-Io de uma distância de 100 km, opsiquiatra sul-africano Laubscher havia enterrado uma bolsinhaembrulhada em papel pardo, que por sua vez fora coberta por umapedra cinza. Meia hora antes do terremoto de 1907 na Jamaica, umagarota mulata teria explodido em soluços convulsivos e saíra correndopelas ruas gritando: "Uma coisa horrível está para acontecer!" Duranteo devastador furacão de 1951, também na Jamaica, pessoasdesprovidas de quaisquer meios normais para a comunicação àdistância teriam entrado em contato umas com as outras através dailha por algum meio "natural e misterioso", enquanto certa mãe teriaenviado com sucesso uma mensagem a seus filhos em perigo a 16 kmpelos bons ofícios de um algodoeiro.O denominador comum em todas essas histórias é que a prova é ofato, e quem as contava eram os nativos, que invariavelmente sedescobria acreditarem na veracidade de suas próprias faculdadespsíquicas, ou nas de seus ancestrais. Muitos dos primeirosantropólogos descaradamente consideravam esses testemunhos bonso suficiente. Como Robert Lowie dizia:

As narrativas de experiências ocultas feitas por pessoas que de outraforma seriam inteligentes e confiáveis não poderão ser simplesmentepostas de lado. Elas têm a aparência de verdade sejam quais foremsuas interpretações de visões ou audições. Como disse meu melhor

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intérprete, Crow: "Ao escutar os velhos falando de suas experiênciasmisteriosas, devemos apenas acreditar neles".

A alta consideração que Lowie tinha por crença tão disseminada eracompartilhada por Ralph Linton, que escreveu:

Fui tomado de surpresa em minha experiência com grupos primitivosao verificar a uniformidade de suas histórias sobre o que chamaríamos

de "fenômenos psíquicos". Crenças a respeito desses fenômenosvindas de grupos que não teriam qualquer possibilidade de contato

são tão semelhantes que sugerem uma grande limitação daimaginação humana ou a presença de uma base comum para os fatos

observados.

Os que estudam a moderna pesquisa psíquica poderiam reconheceresta linha de argumentação: "Se tantos acreditam, é porque deve serverdade"; mas também sabem que os ativistas mais críticos no campoexigem modelos de evidências mais objetivas. E assim tem sido entreos antropólogos nos últimos trinta anos.Um psicólogo holandês, o dr. M. Pobers, aproveitou um simpósiointernacional sobre a percepção extra-sensorial para criticar(em termos talvez propositadamente tendenciosos) a credulidade,muitas vezes ingênua, de antropólogos e psicólogos que estudaramrituais e crenças de povos primitivos, e apelou para a aplicação detécnicas de estudo mais objetivas, e, se possível, mais experimentais.Ele não foi o primeiro a notar que pesquisadores que participam deencontros com nativos dentro da selva, onde seus sentidos sãosubmetidos ao incessante bater ritmado de tambores e à inalação depesadas fumaças intoxicantes, se tornam emocionalmente envolvidosnos processos. Durante um encontro desses a que ele estevepresente no Haiti, uma mulher possuída por um espírito saltou doismetros do chão no ar e depois suspendeu-se por muitos minutos numraio de luz.

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''O mesmo fenômeno visto de um ângulo ligeiramentediferente", comenta Pobers, "poderia ser descrito como levitação", eele deixa implícito que essa era exatamente a intenção. Mas issosignificará, por exemplo, que os feiticeiros haitianos possam mantervivo o mito do selvagem psíquico, pelo menos em parte, por meio detodos aqueles tipos de simulação e fraude que às vezes já acabaramcom os espetáculos psíquicos públicos em nossa cultura? A julgarpelo testemunho de um desses feiticeiros, assim parece."Na terra de vocês", disse o haitiano a Pobers, "o dinheiro leva aopoder. Aqui, é o poder que leva ao dinheiro. Um adivinho não pode sepermitir 'acertos e erros' em suas práticas. Até mesmo se os poderesque tem forem autênticos, ele terá de ser um mestre da simulação eda fraude. Esta é sua garantia de emprego".Para evitar o problema de ser passado para trás por esse tipo desimulação ou pela mais inocente, mas igualmente equívoca, fé cegaque os grupos primitivos tendem a manter sobre seus poderespsíquicos, Pobers apelou para o teste do gênero laboratório de campopara o nível real das faculdades psíquicas entre os povos primitivos.Foram feitos uns poucos estudos desse tipo.Em 1949, Ronald e Lyndon Rose viajaram até a colônia aborígine deWoodenbong, Nova Gales do Sul (Austrália), para fazer uma série deexperiências-padrão sobre PES com a adivinhação de cartões juntoaos nativos. Os aborígines lhes haviam dito que a comunicaçãotelepática era uma experiência confiável e bastante comum emsituações de crise, como a morte ou doença grave de um parentepróximo. Mas em seus testes de Rhine (um total de 296), em que sepedia a 23 aborígines de todas as idades para adivinhar qual doscinco possíveis tipos de cartões estaria sendo selecionado no pacotede 25, os resultados foram inconclusivos. Uma senhora idosa de 77anos, aborígine, acertou muito acima da possibilidade do acaso, masdezoito das pessoas não passaram da expectativa da sorte e outrasapresentaram apenas uma variação um tanto quanto marginal. Osdois pesquisadores pediram também ao mesmo grupo de indivíduosque tentassem uma experiência de psicocinese, em que teriam de

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usar suas mentes para procurar influenciar a maneira como algunsdados iriam cair depois de agitados; essa experiência também nãoobteve resultados além da expectativa do acaso. Os aboríginesdisseram-lhes que não se podia esperar outra coisa da experiênciacom os dados, pois ''somente homens muito sabidos podem fazercoisas desse tipo".Ronald e Lyndon Rose tentaram os testes de cartões PES comnativos em Samoa, sem resultados acima do acaso, e também umoutro antropólogo, Jeffrey Mason, que experimentou os testes emtribos da Libéria, não obteve resultados significativos.Em 1968 e 1974, Robert L. Van de Castle fez, com um total de 461alunos adolescentes, índios cuna, da ilha de San Blas, ao longo dacosta do Panamá, uma série de testes para verificar as faculdadesPES, usando um conjunto de cartões especialmente desenhados comsímbolos como tubarões, jaguares e canoas, pois esses objetossignificavam mais para aquelas pessoas que os símbolos-padrão doscartões Zener. As 96 garotas que fizeram o teste acertaram muitopouco acima da expectativa do acaso e os 365 garotos, muito poucoabaixo dessa expectativa. No caso dos dois sexos, garotos maisjovens testados mais de uma vez tendiam a acertar ainda maispróximo do acaso, embora olhando para sua série de testes como umtodo, Van de Castle tenha considerado seus resultados significativos obastante para merecer maior investigação.Dessa maneira, testes PES à ocidental, mesmo quando praticadoscom indivíduos oriundos de grupos primitivos diversos, emborapotencialmente significativos, não foram impressionantes o bastantepara que se possa dizer que ''selvagens'' são mais psíquicos que ohomem civilizado. É possível tirar algumas poucas conclusões dessestestes. Considerando-se que os aborígines testados pelos Rose, porexemplo, haviam dito que suas faculdades telepáticas seriam maisbem demonstradas em situações de crise, pode muito bem ser queeles tenham achado as experiências com os cartões por demaisaborrecidas ou diferentes da maneira de fazer deles, para quepudessem ter um bom desempenho. O "fator aborrecimento" com

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certeza desempenhou um papel importante na diminuição dos resulta-dos de pessoas submetidas a experiências monótonas e repetitivas deséries de cartões a adivinhar.

Pesquisa com Crianças

Na Inglaterra, Ernesto Spinelli, que fez uma ampla pesquisa parasua tese de doutorado na Universidade de Surrey sobre a questão dese as crianças em nossa cultura seriam mais telepáticas do que osmais velhos, tentou contornar o problema de o aborrecimento ou aalienação terem uma influência negativa em resultados da PESprocedendo a suas experiências numa atmosfera de festa. Deixou queas crianças usassem um "chapéu de pensar" com aspecto engraçadoenquanto rivalizavam umas com as outras para vencer o jogo daadivinhação"; os mais sábios ganhavam a recompensa de umpunhado de balas. Quase cinqüenta anos antes, Louisa Rhine haviapensado em algo semelhante ao inventar um jogo de PES paracrianças pequenas (obtendo muito bons resultados).A noção de que as crianças pequenas poderiam ser maisvulneráveis à percepção extra-sensorial poderia ser um resultado datese de Freud de que a PES é um fenômeno atávico, e isso parece tersido confirmado pelo trabalho clínico com crianças desde então. C. D.Broad achava que alguma forma de telepatia, pelo menos, seria emparte responsável pelas habilidades intuitivas especiais demonstradaspelos pequenos durante aqueles primeiros anos em que têm tanto aaprender de seus pais e professores. E Jan Ehrenwald, queconcordou com a opinião de que existe, no mínimo, uma dessasfaculdades como parte da comunicação normal entre mãe e filho,percebeu que seu trabalho com crianças pequenas comperturbações proporcionava uma prova mais vigorosa ainda davulnerabilidade aos fenômenos extra-sensoriais. Ele notou, repetidasvezes, que as crianças de três e quatro anos pareciam ter emfuncionamento um conhecimento de pensamentos e símbolos

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(sobretudo sexuais) mais próprios de adultos, e que o tipo de coisaque enchia a cabecinha dessas crianças em geral estava muitoproximamente relacionado com o que estivesse na base dosproblemas de suas mães perturbadas.

Rita, com três anos de idade, sofria de uma neurose obsessiva queparecia duplicar a maioria dos sintomas de uma neurose semelhanteencontrada em sua mãe, que incluía implicações sexuais (do gênero

de adultos) ocultas... Peter, três anos de idade, sofria também de umaneurose com toda a parafernália de simbolismo sexual do adulto... A

mãe de uma garota retardada mental com dezesseis anos passou porum tratamento psicológico, e, à medida que a análise da mãe fazia

progressos satisfatórios, a condição mental da filha parecia melhorar.

"Entretanto, no decorrer do desenvolvimento gradual e daconsolidação da personalidade da criança em crescimento, essasusceptibilidade à telepatia e influências relacionadas com isso vãorecuando cada vez mais para o fundo", Ehrenwald observou.E foi para testar essa espécie de idéia clínica que Spinelli começou aavaliar as crianças através de seus métodos experimentais.Para proceder a seus testes, Spinelli selecionou crianças de creches eescolas primárias locais com idades de três anos para cima, e astestou em pares. Cada criança recebia uma caixa com cinco botões,um para cada uma das cinco figuras possíveis mostradas num cartão.Quando uma criança escolhia e indicava sua escolha apertando umbotão, a outra (sentada em frente e sem poder ver o que seu parceirofazia) devia adivinhar qual a figura escolhida pelo parceiro e registrarsua adivinhação também apertando um botão em sua caixa. A cadaadivinhação correta, soava uma campainha para parabenizar eencorajar a criança.Em cada sessão (Spinelli realizou 1.200 no total, durante cinco anos),verificavam-se alterações de turno das crianças que tinham deadivinhar qual dos cinco símbolos a outra teria escolhido numa sériede vinte. Os próprios cartões eram arrumados numa ordem que seguia

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a referência de uma tabela de números aleatórios e registrava-seeletronicamente cada adivinhação num gráfico a fim de eliminartrapaças ou erros do experimentador. Os resultados foramimpressionantes e parecem dar uma grande contribuição com provaexperimental sólida para a tese de Freud de que a faculdade PESpertence a um estágio anterior do desenvolvimento humano.Dividindo as crianças em quatro grupos etários - 3 -3 e 1/2 anos, 4 e1/2-5 anos, 5-7 anos e acima de 8 anos - e testando a comunicaçãotelepática entre as próprias crianças em cada grupo, o que era medidopela margem de acertos nas figuras dos cartões, Spinelli pôdeestabelecer que à medida que as crianças crescem e as faculdadesconceituais de seus cérebros amadurecem, a capacidade de secomunicar por telepatia aparentemente vai sendo reduzida.Assim, nos testes do grupo mais jovem, as crianças de 3-3 e 1/2 anos,o acerto foi 27% acima do acaso. No grupo de 4 e 1/2-5 anos deidade, essa margem caiu para 15%; entre os de 5- 7 anos, para 4%; ede 8 anos para cima, a margem de acertos estava dentro dasexpectativas normais do acaso. Tais resultados, semelhantes a umestudo anterior com crianças holandesas em idade escolar mas umpouco mais velhas, e de certa maneira também obtidos pelo dr.Michael Winkleman da Universidade da Califórnia, poderão ajudar alançar mais luzes ao desenvolvimento mental humano e à natureza dacapacidade PES.

A pesquisa por EEG (eletroencefalograma) dos últimos vinte anosdemonstrou com clareza a existência de quatro padrões de ondaselétricas isoladas e associadas ao cérebro humano: as ondas alfa,beta, teta e delta. Cada uma está associada a diferentes funçõescerebrais. Na maioria dos cérebros adultos normais, as ondas beta,associadas ao pensamento conceitual, organizado, dominam o padrãodo EEG nas horas despertas. As ondas delta são encontradas quandoo cérebro está em estado de sono profundo e sem sonhos; as teta,quando há sonhos, e as ondas alfa, em estado de profundo

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relaxamento, quando o cérebro está plenamente desperto, mas semenfocar nenhuma idéia em particular.Desde o último estágio fetal até por volta da idade de três anos, océrebro humano infantil mostra um padrão de EEG dominado porondas delta muito lentas. Entre os três e os cinco anos, o cérebro deuma criança pequena emite principalmente ondas teta, comproporções crescentes de ondas alfa aparecendo na maturidade.Entre as idades de cinco e oito anos, esse equilíbrio entre as ondasteta e alfa recua para uma supremacia das ondas alfa, e, no final daescala, as ondas beta, características do pensamento adulto,começam a aparecer.Dessa maneira, entre as idades de três e oito anos, quando ascrianças dos grupos pesquisados por Spinelli mostravam umaacentuada faculdade de PES, suas ondas cerebrais estariamdominadas por uma mistura de ritmos teta e alfa. E, significativamente,esses mesmos ritmos cerebrais mais lentos dominavam os EEG deestados cerebrais de adultos em geral associados à capacidade dePES - o sonho (ondas teta), estados de transe e estados meditativos,como os alcançados através da MT (meditação transcendental).Quase todos os casos de precognição espontânea citadosanteriormente aconteceram quando a pessoa em questão sonhava ouestava em algum estado anormal de transe - e isso poderá ser umaindicação de que a presença dd ondas alfa e teta seja, de algumaforma, a pista para a natureza da capacidade de PES.

Pesquisa com Adultos

No laboratório psicológico da Universidade de Cambridge, o dr. CadSargent andou investigando se a capacidade de PES aumentaria nosadultos pelo bloqueio do gênero de pensamento normalmenteassociado às ondas beta - o pensamento conceitual e concentrado.No fundo, o trabalho de Sargent é semelhante à pesquisa realizadapor Charles Honorton no laboratório de sonhos do Hospital

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Maimonides de Nova Iorque sobre a PES e a hipnose, onde umaelevada correlação entre os estados hipnóticos e o desempenho daPES foi demonstrada com sucesso. Mas Sargent submeteu os sujeitosadultos à Técnica de Ganzfeld. Como Spinelli, Sargent tambémtrabalhou com indivíduos em pares. Enquanto um estava deitado nacâmara de privação sensorial de Ganzfeld, o outro encontrava-sesentado numa sala diferente do laboratório olhando para algumaimagem visual selecionada ao acaso. A experiência consistia em pedirao parceiro em relaxamento que descrevesse sua imagem e entãoverificar se ela parecia, de alguma forma, com o símbolo ou afotografia que estava sendo vista pelo parceiro ativo. Em 302 sessões,utilizando cem assuntos diferentes, Sargent encontrou uma correlaçãoentre as descrições e os cartões 14,3% acima da expectativa doacaso.Sargent descreve a técnica de privação sensorial de Ganzfeld como oaumento do ''processo primário de pensamento" - as imagens casuaise espontâneas encontradas com mais freqüência na infância. Estudoscom EEG do estado Ganzfeld são até agora rudimentares, maspoderia se dizer que ele aparentemente faz com que o cérebro emitanúmeros maiores de ondas alfa. Sargent acha que estudos com EEGa serem realizados ainda mostrarão a presença de ondas teta.Relacionando os resultados com a privação sensorial de Sargent asuas próprias descobertas com as crianças, Spinelli diz: "Eu mesmopassei pela Técnica de Ganzfeld. Ela bloqueia todos os caminhosnormais por onde os adultos estruturam a experiência compensamentos, e induz a uma espécie de consciência sonhadora. Achoque é assim que as crianças pequenas se sentem a maior parte dotempo".Finalmente, e no que poderia considerar uma extensão do trabalho deSpinelli com as crianças e do de Sargent com a câmara de privaçãosensorial, alguns parapsicólogos experimentais tentaram demonstrar,através de testes, quais - se é que existe algum - traços específicos dapersonalidade são mais compatíveis com a capacidade de PES. Emseu laboratório em Cambridge, Sargent observou que algumas

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pessoas que se submetiam aos testes saíam-se muito bem aodemonstrar a telepatia em seus experimentos de privação sensorial,enquanto outras se saíam muito mal.Ele se perguntava por que razão isso acontecia; se, de fato, alguns.tipos de pessoas poderiam ser mais ou menos capazes de terexperiências de coisas como a telepatia e a precognição, devido asuas personalidades.A partir de seu trabalho clínico com pacientes psiquiátricos, JanEhrenwald havia firmado o ponto de vista de que pessoas comtendência à psicose (esquizofrenia) estavam mais abertas àinformação extra-sensorial do que pessoas que tinham um sensomuito forte de sua própria identidade pessoal ("força de ego elevada").Mas, nestes últimos anos, os psicólogos andaram questionando sepoderia haver alguma prova experimental repetitiva da observação deEhrenwald, ou se a mesma se aplicaria à neurose. Em outraspalavras: uma pessoa muito ansiosa ou uma pessoa obsessiva seriamais ou menos aberta à PES? Teria alguma importância se a pessoafosse audaciosa (extrovertida) ou tímida (introvertida), se elaacreditasse em PES ou se achasse que tudo isso é o cúmulo doabsurdo?Para encontrar respostas a questões como essas, pesquisadorescomo Gertrude SchmeidIer e John Palmer nos Estados Unidos, K. R.Rao na Índia e Sargent na Inglaterra, todos tentaram procurar elosexperimentais conectados entre esses e outros traços depersonalidade e a capacidade de uma pessoa passar de maneiraestável em testes da PES. Em cada caso, eles utilizaram o teste deCattell, hoje um padrão para medir os traços de personalidade, ou, nocaso de Sargent, uma variação levemente diferente do teste deCattell.O teste de Cattell, usado em escolas ou em centros de testespsicológicos para medir o QI e o tipo da personalidade, faz uma sériede perguntas às pessoas, perguntas elaboradas para determinar se apessoa é ansiosa ou calma, extrovertida ou tímida, confiante oudesconfiada, e assim por diante. A variação de Sargent acrescentava

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umas poucas perguntas para determinar se as pessoas estavaminclinadas a acreditar ou não na PES e se elas conseguiam ou nãolembrar de sonhos, ou ainda se eram capazes de guardar uma boadescrição de coisas em suas cabeças.Reunidos, os dados coletados pelos diversos pesquisadores sugeremque uma pessoa capaz de lembrar seus sonhos, de fazer umadescrição em sua cabeça, que é calma, extrovertida, confiante einclinada a acreditar em PES aparentemente tem maior capacidade depassar por essas experiências (PES) do que a pessoa que não selembra com freqüência de seus sonhos ou que não é capaz de fazerdescrições em sua cabeça, é ansiosa, tímida e desconfiada. Oproblema com essas descobertas, entretanto, é que as pessoas sãonaturalmente muito complicadas e muito pouca gente, provavelmente,combina de forma adequada em suas personalidades todos os traçosPES positivos ou PES negativos com os quais os pesquisadoresconcordaram.Assim, enquanto uma pessoa ideal, cuja personalidade seja umacombinação de todos os traços "certos" e "errados", poderia serconsiderada capaz de se sair muito bem ou muito mal num teste dePES, na verdade esse teste para descobrir sujeitos ideais com a PESacabou sendo bastante inconcIusivo. E mais: o isolamento de certostraços de personalidade que parecem compatíveis com a capacidadede PES tende a ajudar a compreensão do que seja exatamente estacapacidade. Assim, o uso desse tipo de testes de personalidade paraencontrar pessoas com boa PES, apesar de não ser à prova deequívocos, parece eliminar certas dores de cabeça em termos deimprevisibilidade na parapsicologia experimental.

QUESTIONÁRIOPor favor, responda a TODAS as perguntas; é muito importante.Obrigado.

A B C1. Eu me lembro dos meus sonhos:

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(a) menos que uma vez por semana;(b) uma ou duas vezes por semana;(c) mais que duas vezes por semana. 0 1 2

2. Num feriado, eu preferiria ir para:(a) uma cidade agitada de turismo;(b) alguma coisa entre (a) e (c);(c) uma cabana em lugar sossegado. 2 1 0

3. Se eu fechar os olhos e tentar me concentrar na imagem visual dealguém:(a) não consigo;(b) consigo com muita dificuldade;(c) consigo facilmente. 0 1 2

4. Não sou muito dado a piadas e a contar histórias engraçadas:(a) verdade;(b) mais ou menos;(c) falso. 0 1 2

5. Tenho tendência a criticar o trabalho dos outros:(a) sim;(b) às vezes;(c) não. 0 1 2

6. Mudanças de clima em geral não afetam minha eficiência oumeu humor:(a) sim;(b) mais ou menos;(c) não. 2 1 0

7. Eu aceito a possibilidade de que a percepção extra-sensorialpossa ocorrer:(a) sim;

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(b) não tenho certeza;(c) não. 2 1 0

8. Muitas vezes sinto um grande cansaço ao levantar de manhã:(a) sim;(b) mais ou menos;(c) não. 0 1 2

9. Se sei que uma pessoa está raciocinando por linha errada, inclino-me a:(a) ficar quieto;(b) mais ou menos;(c) digo logo. 0 1 2

10. Aceito a possibilidade de que eu possa ser capaz de usar apercepção extra-sensorial de alguma forma:(a) sim;(b) não tenho certeza;(c) não. 2 1 0

11. Quando vou tomar um trem, sinto-me um pouco apressado,tenso ou ansioso, embora haja tempo:(a) sim;(b) às vezes;(c) não. 0 1 2

12. Geralmente lembro de pedaços de sonhos, em vez do sonhointeiro:(a) sim;(b) mais ou menos;(c) não. 0 1 2

13. Se eu tentar lembrar de parte de uma música, acharia isso:(a) fácil;

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(b) mais ou menos;(c) difícil ou impossível. 2 1 0

14. Gosto de conversar e acho fácil iniciar uma conversa comum estranho:(a) verdade;(b) mais ou menos;(c) falso. 2 1 0

Há uma ligeira variação entre as perguntas selecionadas por Sargente as do teste de personalidade de Cattell. As perguntas 5, 6, 8 e 11são teste para ansiedade; 2, 4, 9 e 14, para a extroversão; 3, 12 e 13,para imagem visual; 7 e 10, para crença na PES. Se a pessoa fez 0pontos numa pergunta, a resposta sugere capacidade de PESnegativa; mas se fez 2 pontos, a resposta sugere capacidade dePES positiva.Sargent então pedia às pessoas que respondiam a este teste quefizessem outro teste de PES e descobriu que os que haviam feito maispontos no teste de personalidade também obtinham mais no teste dePES.

7. A TEORIA DA SINCRONICIDADE DE JUNG

Muitos psiquiatras e psicólogos da primeira metade deste séculocontentavam-se em colecionar provas da PES e em deslindar suapsicodinâmica, na esperança de conseguir colocar qualquer fenômenoobservado em seu lugar certo, enquanto Jung impunha-se uma tarefabem mais difícil. Já convicto desde seus tempos de principiante nacarreira médica de que coisas como a telepatia, a precognição e apsicocinese existem, ele queria entender como elas funcionam. Oresultado desse trabalho, publicado quase no final de sua vida, foi aTeoria da Sincronicidade.

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Por "sincronicidade" Jung queria dizer aquilo que a maioria daspessoas chama de "coincidência" - a tendência de coisas semelhantesocorrerem inesperadamente e ao mesmo tempo, ou de coisas queacontecem em grupos. Mas logo de saída ele faz uma distinçãodecisiva entre as "coincidências simplesmente casuais", agrupamentoarbitrário de coisas superficialmente semelhantes, e as "coincidênciassignificativas", grupos de coisas ou acontecimentos não-arbitrários,que, ao contrário, partilham um mesmo significado comum.Como exemplo de coincidência casual ele cita uma pessoa que tomaum ônibus para ir ao teatro, descobrindo que não apenas a entrada doteatro tem o mesmo número da passagem do ônibus, mas que asduas também têm a mesma série de números que resultam nonúmero de telefone de uma pessoa que ela encontra pela primeira vezno saguão do teatro naquela noite."(Tais) agrupamentos ou séries", diz Jung, "pelo menos para a nossamaneira de pensar atual, não parecem ter significado algum, e entramcomo regra geral dentro dos limites da probabilidade. Mas existemincidentes cuja 'casualidade' parece dar margem a dúvidas." Trata-sedos incidentes que ilustram o que ele chama de coincidênciassignificativas e provavelmente existem poucas pessoas para quemcoisas assim não tenham acontecido de vez em quando.Pensamos numa pessoa a quem não temos visto ou em quem nãopensamos há anos e, de repente, a pessoa aparece à nossa frente.Um físico teórico está escrevendo um ensaio sobre a unidade entre oobservador e aquilo que ele observa na física quântica; quando ele vairemexer em livros na biblioteca pública com sua mulher e ela escolhearbitrariamente um livro de um guru indiano de quem nenhum dos doisouviu falar, o livro cai aberto numa página que diz: "Não há diferençaentre o observador e o observado". Uma escritora envia os originaisde seu livro a um editor através de seu agente literário e vai a umaconferência em outra cidade onde descobre que ela e o editor haviamsido convidados para coquetéis por uma terceira pessoa que nadasabia dos originais e a quem nenhuma das pessoas poderia adivinhar

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que conhecesse a outra. Todas coincidências, mas do tipo que Jungchama de "significativas".Entre os médicos, Jung fala da "duplicação de casos", dizendo que éum outro fenômeno familiar que ele acha que também ilustra suateoria. Ele dá o exemplo de um jovem médico que faz o diagnóstico deuma doença tropical extremamente rara, num paciente; o tipo dadoença que os médicos só encontram nos livros ou, no máximo, umavez em toda a carreira. Animado por sua descoberta, o jovem médicovai contá-Ia a seu professor, que comenta:"Humm, do jeito que essas coisas acontecem, não me espantaria seaparecesse outro caso logo em seguida...”E certamente o jovem médico, nos próximos quinze dias, acabaencontrando um segundo caso da mesma doença rara. Os doispacientes não se conheciam e não havia a menor chance de quepudessem ter contaminado um ao outro.Em outro tipo de exemplo, desta vez ligado à estranha maneira comoobjetos parecem "encontrar o caminho de volta" para seus donos,Jung escreve sobre o caso muito famoso de uma mãe alemã quehavia tirado uma foto de seu filho na Floresta Negra em 1914, poucoantes do início da I Guerra Mundial. Ela deixou o filme com umfotógrafo para ser revelado, mas o início da guerra tornou impossível irbuscá-Io. Finalmente, ela teve a certeza de que nunca mais iria vê-Io.Em 1916, a mesma mulher comprou um filme na loja de um fotógrafo,dessa vez em Frankfurt; ela queria fotografar sua filhinha, ainda bebê.Depois da mandar revelar esse segundo filme, ele voltou com umadupla exposição; as fotos de cima eram as que ela havia tirado dafilha, mas por baixo estavam as fotos que ela tirara de seu filho em1914. O filme antigo havia voltado à circulação de alguma forma, foraembalado novamente e, "por coincidência", fora comprado pelamesma pessoa duas vezes.Finalmente, num exemplo do tipo de coincidência que poderia serdescrita como precognição, Jung conta a história de uma jovempaciente sua que, na noite antes de ir consultá-Io, sonhou que alguémlhe havia dado um escaravelho dourado. Sentado em seu estúdio de

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costas para a janela enquanto ouvia a jovem descrever seu sonho,Jung escutou um barulhinho atrás de si. Quando olhou para trás, viuum pequeno inseto batendo contra o painel da janela e, ao abri-Ia, oinseto voou para dentro. Ele o apanhou na mão e verificou tratar-se deum besouro do tipo escarabeídeo - o equivalente mais próximo doescaravelho dourado que se poderia encontrar na Suíça."Devo admitir", escreveu ele, "que nada parecido jamais me aconteceuantes ou depois e que o sonho da minha paciente permaneceu umaexperiência única, mas continuei fazendo ligações que eusimplesmente não poderia explicar como agrupamentos casuais ou'passagens'.”E assim, foi em sua própria vasta experiência clínica (estimulada pelosimpressionantes resultados sobre a telepatia e a precognição obtidospor J. B. Rhine em suas experiências de adivinhação de cartões PES)que Jung encontrou seu principal impulso para desenvolver algumaexplicação em relação a um grupo de fenômenos para o qual nãoapenas não existia conhecimento algum, mas manifestamentetambém não havia explicação alguma. As leis da natureza, ele sabia,repousavam firmemente sobre leis da causalidade (segundo a qualcada efeito deve ter uma causa e a causa deve preceder o efeito),mas ainda assim ele se perguntava: num mundo supostamentedominado pela lei da causalidade, poderia haver algum fenômeno queviolasse essa lei? Sua resposta foi duvidar, não da veracidade dofenômeno, mas da validade universal da lei:"Logo no início, algumas dúvidas surgiram em meu íntimo sobre ailimitada aplicabilidade do princípio causal na psicologia... Acausalidade é só um princípio e a psicologia não pode serfundamentalmente esgotada apenas por métodos causais." Se a lei dacausalidade não podia abrigar a existência de determinados fatosassociados ao trabalho da mente, entre os quais a telepatia e aprecognição, então, argumentava Jung, essa lei deve estar distorcidaou, no máximo, deve refletir parcialmente a realidade, e ela mesmaestaria necessitando ser repensada.

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Em sua rebelião intuitiva contra a causalidade, Jung foi encorajadopelo que havia vislumbrado dos novos avanços da física no século XX.Ele sabia que a Teoria da Relatividade de Einstein desafiara eperturbara todas as velhas noções de espaço e tempo que eram partedo quadro da causalidade; além disso, os fatos subatômicos,extremamente curiosos e manifestamente anárquicos, descritos pelafísica quântica pareciam-lhe ainda mais diretamente importantes paraa compreensão das mecânicas da psique. Sentiu que, se alguma vezo universo tivesse de ser inteiramente compreendido, isso seria umatarefa para ser atingida pela física e pela psicologia, transcendendo osgrilhões de suas próprias limitações disciplinares e caminhando juntas,compartilhando as descobertas.

Depois de reunir experiências psicológicas de muitas pessoas e demuitos países durante cinqüenta anos, duvido que uma abordagemexclusivamente psicológica possa fazer justiça aos fenômenos em

questão. Não apenas as descobertas da parapsicologia, mas minhaspróprias reflexões teóricas... levaram-me a certos postulados que

tocam o reino da física nuclear e o conceito do espaço-tempocontínuo. E isso abre toda a questão da realidade transpsíquica

imediatamente na base da psique.

Com a esperança de desenvolver uma exposição mais rigorosa desuas próprias intuições psicológicas, Jung tomou corno professor defísica moderna o prêmio Nobel Wolfgang Pauli, um físico quântico.Jung via a parapsicologia como uma ponte natural entre a física e apsicologia, e Pauli, que concordava com esse ponto de vista, esperavaque, trabalhando com Jung, poderia encontrar um caminho paraexpressar em maior escala, no nível da realidade cotidiana, algumaextensão natural do fenômeno da mecânica quântica que ajudara adescobrir.Em 1952, Jung e Pauli publicaram o trabalho feito em colaboração: Ainterpretação da natureza e da psique. O livro continha um ensaio deJung intitulado "Sincronicidade: um princípio de associação acausal" e

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um outro de Pauli com o título "A influência de idéias arquetípicas nasteorias científicas de Kepler". Os dois ensaios expunham a idéia deque existe um cosmos absolutamente sem espaço e sem tempo emque se manifestam a alma (ou psique) e o universo material. Pauliargumentava que esse cosmos tinha sua própria ordem, independenteda vontade humana, de categorias humanas perceptivas ou de nossassupostas leis da causalidade. Nele, todos os limites aceitos entre oconhecedor e o conhecido são rompidos, e a mente e a matéria sãovistas como extensão uma da outra.Jung chamou a esta um tanto mística e absoluta de "realidadetranspsíquica". E também argumentava que ali, num reino além danossa psique consciente, com suas divisões entre mente e matéria esuas percepções causais manifestadas no espaço e no tempo, háuma unidade sem tempo, onde o passado, o presente e o futuro sefundem, e onde a matéria e a psique não passam de manifestaçõesde uma única realidade. Sua Teoria da Sincronicidade provinha doque ele via como um "inesperado paralelismo entre acontecimentospsíquicos e físicos", uma espécie de paralelismo espelhado no nívelquântico pela tendência de partículas fundamentais (elétrons, prótonsetc.) comportarem-se, às vezes, como ondas e, às vezes, comopartículas.Como já foi dito, a teoria de Jung baseia-se na existência decoincidências significativas, e para ele "significado" era a palavra-chave, que proporcionava a dinâmica do fenômeno sincrônico. Elesentia muito intensamente que os pensamentos ou acontecimentosque tinham algum significado comum (meu pensamento num amigoausente há muito tempo e a proximidade física desconhecida desseamigo, o ardente interesse do físico sobre a questão do conhecedor edo conhecido, e um livro que tem esse problema como um de seustemas principais) eram atraídos um para o outro quase como ímãs,embora não seja necessário haver nenhum relacionamento ortodoxocausal entre eles. Tais significados compartilhados, acreditava Jung,poderiam ocasionalmente reunir-se no nível da realidade conscientecotidiana (como coincidência, telepatia ou precognição), porque "mais

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abaixo", no nível da realidade transpsíquica, onde todas as mentesestão ''ligadas'' na mesma fonte, todos os significados compartilhadosse encontram ligados sincronicamente. Toda a Teoria daSincronicidade está intrinsecamente relacionada à Teoria doInconsciente Coletivo e dos Arquétipos de Jung.A noção básica em todo o trabalho de Jung é a de que, como espécie,os seres humanos compartilham memórias e experiências comuns, eque todos esses tesouros raciais reunidos estão armazenados noinconsciente coletivo. Mas as memórias e experiências quepreenchem o inconsciente coletivo são de um gênero especial: elasexistem como arquétipos, ou modelos formais da energia psíquica queestrutura o sentido compartilhado do significado para a humanidadecomo um todo. Os arquétipos de Jung no nível psicológico sãoaproximadamente equivalentes às Formas de Platão no nívelconceitual e, como Platão em relação, ao pensamento, Jungargumenta que tudo em nossa vida inconsciente (sonhos, impulsos,mitologias, nossa criatividade artística, e assim por diante) espelha omundo dos puros arquétipos, extraindo sua energia psíquica dele edifundindo seus modelos através de nossas personalidades e denosso comportamento.Os modelos de energia psíquica centrados nos arquétipos estão naraiz da tentativa de Jung para explicar a dinâmica da telepatia e daprecognição. Nos momentos em que possuímos tais faculdades,experimentamos, diz ele, não a percepção de acontecimentos nomundo exterior dos objetos arranjados na ficção do espaço e dotempo; mas, antes, nos vemos em contato com algo profundamentearraigado dentro de nós mesmos. A psique precognitiva relaciona-secom seu próprio eu ampliado pelo inconsciente coletivo sem espaço esem tempo. Ali, atraído para algum padrão de energia arquetípica -como átomos numa solução sendo atraídos para uma bolha de cristalque irá reuni-los e dar-lhes uma forma - a psique reúne alguns dossignificados (imagens, pensamentos, cenas de acontecimentos)relevantes para a emoção que primeiro a colocou em contato comesse arquétipo em particular. Esses significados podem vir de muito

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longe, de outros séculos ou de outros continentes, mas a psique osencontra juntos no turbilhão do arquétipo, e "em tempo" irá comunicá-los ao seu eu inconsciente como acontecimentos "no futuro".Uma descrição tão abstrata da dinâmica da sincronicidade pode serdifícil de acompanhar, mas Jung a ilustra com muitos exemplos. Umdos melhores é o do paciente cuja morte manifestamente fora preditaà sua mulher por um bando de pássaros no telhado de sua casa (verp. 99). "À primeira vista", diz. Jung, "a morte e o bando de pássarosparecem incompatíveis um com o outro. Entretanto, considerando-seque no Hades babilônio as almas usavam uma 'roupa de penas' e queno antigo Egito a ba, ou alma, era imaginada como um pássaro, nãoserá artificial demais supor que algum simbolismo arquetípico estejaem funcionamento. Se esse incidente tivesse ocorrido em sonho, ainterpretação seria justificada pelo material psicológico comparativo".No caso da paciente que sonhou receber o escaravelho dourado, Jungvê outra associação arquetípica. Essa mulher, explicou ele, estavapresa em sua terapia e não conseguia ir além de um grave bloqueioemocional. O sonho do escaravelho, junto com o aparecimento doanimal no dia seguinte, no consultório, tiveram o efeito de romper suasdefesas racionais e levaram a uma fase toda nova de crescimento emseu tratamento. Relacionando isso com os arquétipos, Jung diz:"Qualquer mudança essencial de atitude significa uma renovaçãopsíquica, geralmente acompanhada por símbolos de renascimento nossonhos e fantasias do paciente. O escaravelho é o exemplo clássicode um símbolo de renascimento. O Book of What Is in the Netherworlddo Egito antigo descreve como o deus-Sol, morto, transforma-se numadécima hierarquia em Khepri, o escaravelho, e, então, na décimasegunda hierarquia, sobe à barca que leva o deus-Sol rejuvenescidopara o céu da manhã". Dessa maneira, foi a grande necessidadeemocional da paciente de irromper ("renascer") que a colocou emcontato com um símbolo arquetípico de renascimento, e entãoconduziu-a ao sonho manifestamente precognitivo do escaravelho.Jung também achava que a sincronicidade podia ajudar a explicar omistério do I Ching. Ele, e milhares de outras pessoas que recorreram

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ao livro com sucesso, tinha um profundo respeito, que beirava ainquietude, pelo "estranho fato de uma reação que faz sentido resultarde uma técnica que aparentemente exclui qualquer sentido logo desaída".Como o simples ato de jogar arbitrariamente três moedas no arpoderia extrair de uma inescrutável coleção de hexagramas escritoshá milhares de anos respostas significativas a perguntas feitas hoje? Asugestão de Jung era de que cada um dos sessenta e quatrohexagramas do I Ching representa uma situação arquetípica de vidasincronicamente relacionada pelo significado com o momento em queo hexagrama foi moldado e o momento em que o consulente maistarde joga três moedas procurando um aconselhamento.

Em outras palavras, seja quem for que tenha inventado o I Ching,estava convencido de que o hexagrama proporcionaria determinadoresultado em certo momento que coincidiria com o momento anteriorem qualidade e (não menos) em tempo. Para ele, o hexagrama era oexpoente do momento em que foi modelado - até mais que as horas

do relógio ou as divisões do calendário considerando-se que ohexagrama era compreendido. como um indicador da situação

essencial que prevalecia no momento da sua origem.

Dessa maneira, o significado na pergunta do consulente seriairresistivelmente atraído para o significado que estivesse no âmago domais pertinente dos 64 hexagramas do I Ching: Mas, como acentuouJung, é importante que a pessoa só se dirija ao I Ching em momentosde sinceridade, com uma profunda concentração para melhorencorajar a comunicação sincrônica da mente com o hexagramaadequado.Jung sempre relaciona o fenômeno da sincronia com a emoção,enfatizando seu parecer de que as pessoas estarão mais predispostasa uma consciência precognitiva (ou telepática) em estados altamenteemocionais, porque essa emoção rompe o limite da consciêncianormal, deixando a psique mais aberta às "mensagens" do

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inconsciente coletivo. "Todo estado emocional", escreve ele, ''produzuma alteração na consciência.... o que significa que há um certoestreitamento da consciência, correspondente a um reforço doinconsciente.”Jung achava que a maioria dos casos de precognição tinha que vercom acontecimentos traumáticos acompanhados por uma emoçãoviolenta, tais como a morte, acidentes fatais, crises, catástrofes oudoenças mentais iminentes. Certamente isso ocorreu em muitosexemplos documentados de precognição espontânea, o melhor dosquais é o estudo de Barker sobre o acidente das minas de Aberfan.Parece também ser este o caso dos estados de transe associados aosoráculos ou aos dons proféticos dos médicos feiticeiros. Mas será issouma verdade generalizada?Pelo contrário, muitos dos exemplos registrados de uma precogniçãoespontânea parecem prever acontecimentos desconcertantementetriviais. Os sonhos de J. W. Dunne são casos assim. J. E. Ormeobservou, em seu levantamento de 148 casos cuidadosamentepesquisados de precognição espontânea: "Outro aspectocaracterístico das experiências precognitivas é que acontecimentosrelativamente desprovidos de importância, corriqueiros até, muitasvezes são considerados avisos de morte ou de acidentes".Existe, entretanto, um padrão geralmente aceito como ligação do tipode emoção violenta, capaz de romper as defesas normais da mente ea experiência precognitiva. É verdade que os sonhos precognitivosparecem uma mistura do significativo e do corriqueiro, e que sonhoscomo estes constituem a maioria dos casos de precogniçãoregistrados; mas também é verdade que, nos casos em que aexperiência premonitória ocorre como visão desperta, geralmente elaé associada a algum acontecimento carregado de significadoemocional. A idéia de Jung de haver uma correspondência entre otorvelinho emocional e a consciência precognitiva levou-o a unir forçasao campo da psicologia, que encara esses fenômenos como"regressivos". Ele sentia que a capacidade para a experiência psíquicaprevalecia mais no homem primitivo, com seu menor desenvolvimento

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lógico e num limiar inferior de organização da consciênCia. Baseadonisso, observou que as crianças costumam apresentar um domconsiderável para passar por experiências de fenômenos de PES, quevão diminuindo (e desaparecem na maioria dos casos) à medida queelas crescem.A Teoria da Sincronicidade de Jung, principalmente intuitiva em suaabordagem para explicar a dinâmica da PES, não deixa de assinalarum momento crítico em toda nossa abordagem ao assunto. Ele seaferrou à pertinência dos últimos progressos da física do século XX etinha razão ao pensar que a parapsicologia era uma ponte naturalentre a física e a psicologia, desde que os fenômenos nela implícitospudessem ser verificados. A partir da década de 60, tornou-se quaseum axioma o fato de que alguém que pretenda fazer um trabalho sérioem parapsicologia deva travar conhecimento com os princípios dafísica moderna; as mais recentes teorias psicológicas sobre aprecognição refletem essa consciência de seus autores. Analisaremosessas teorias mais tarde; antes é necessário dar uma espiada nosaspectos da Teoria da Relatividade, da física quântica e da fisiologiado cérebro que pesaram mais diretamente na formação das novastendências no pensamento e na pesquisa parapsicológica.

TERCEIRA PARTEO QUE É A PRECOGNIÇÃO?

8. O TEMPO NA TEORIA DA RELATIVIDADE

Albert Einstein disse certa vez brincando que deveria ter sidofabricante de relógios. Essa parece uma estranha fantasia profissionalde um homem cujo trabalho teórico iria mudar para sempre toda anossa compreensão sobre a seriedade com que devemos tratar ascoisas que um relógio resolva nos dizer. A publicação, em 1905, dasua Teoria Especial da Relatividade assinalou um momento críticoradical no pensamento humano, depois do que muitos de nossos

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conceitos mais elementares jamais voltariam a ser os mesmos - assimcomo a nossa compreensão de tempo.Até o início deste século, a visão comumente aceita de que o tempofosse uma seqüência ordenada de momentos, um seguindo-se aooutro, era exatamente a da descrição científica proporcionada pelosfísicos clássicos. Segundo Newton, “o tempo absoluto, matemático ereal, em si e por sua própria natureza, flui da mesma maneira, semrelação com qualquer fato externo". O mesmo ele dizia do espaço: ''Oespaço absoluto, por sua própria natureza, sem relação com nenhumfator externo, permanece igual e imutável...”Esses absolutos newtonianos dominaram o pensamento científico efilosófico por mais de duzentos anos, e pareciam a muitos literalmenteescritos na trama do universo. Dentro de um enquadramento em queos fatos em separado são vistos como pedras lançadas para que seatravessassem as areias do tempo, seria inconcebível sugerir-se queuma pessoa dotada de faculdades perceptivas pudesse vislumbrar oacontecimento C antes dos acontecimentos anteriores A e B. Daí, aincompatibilidade conceitual entre a precognição, a física clássica e obom senso.O revolucionário ponto de partida de Einstein iria indicar que a ordempontilhada de acontecimentos em manifesta seqüência não é fixa eabsoluta; ela é apenas a simples maneira de se encarar as coisas.Dado o ponto de vista de qualquer pessoa, poderia ser válido dizer-se,da mesma forma, que C tenha ocorrido antes de A, ou B ocorridodepois de C (cuidando-se que não sejam acontecimentos ligados poracaso). Em outras palavras: o uso de expressões como antes oudepois, mais cedo ou mais tarde, dizia ele, muitas vezes é um questãorelativa. Einstein chegou a essa conclusão depois de pesar oespantoso resultado de uma experiência que tinha finalidadescompletamente diferentes.A hoje conhecida experiência da Michelson-Morley, que constituiu oprimeiro passo para a Teoria Especial da Relatividade de Einstein,pretendia apenas ser uma "reorganização" da física clássica. Desdeos tempos da primitiva ciência grega, os homens haviam acreditado

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que o espaço era permeado por um éter "estacionário" e os cientistasdo século XIX achavam que esse éter poderia ser utilizado comoquadro de referência para medir o espaço absoluto de Newton.Michelson e Morley haviam apenas iniciado a medição da "curvaturado éter" enquanto a Terra se movimentava através desse Absolutoestacionário.Eles lançaram dois raios de luz em ângulos diretos - um, "para dentroda curvatura" e outro, "através da curvatura" - na expectativa de quehouvesse um retardamento de tempo entre a chegada dos dois raiosde volta à fonte. Mas nenhuma demora no tempo pôde ser medida: osraios de luz necessitavam exatamente do mesmo tempo para voltarema ser refletidos de novo na plaqueta de captação, independentementeda direção em que houvessem ido. Dessa maneira, não poderia terhavido nenhum efeito visível exercido pelo éter estacionário.Em sua Teoria Especial da Relatividade, Einstein afirmava que nãopoderia existir nada como um quadro absoluto de referência.Argumentava ele que qualquer quadro de referência, em si, é tãoválido como qualquer outro. E também não existe, dizia ele, coisaalguma como o espaço absoluto ou o tempo absoluto. Se um éimpossível, o outro também é, porque nenhum dos dois pode serdescrito separadamente. O movimento é movimento através doespaço, e o movimento através do espaço leva algum tempo. Dessamaneira, em vez do espaço absoluto tridimensional de Newton e doespaço absoluto de tempo numa dimensão, Einstein apresentou aosaturdidos físicos clássicos um continuum espaço-tempoquadridimensional relativo em que as coordenadas de espaço e tempodeveriam ser reajustadas constantemente para levar em consideraçãoo ponto de vista de cada um.O fator-chave na Teoria da Relatividade para a definição do pontode vista de um observador é a velocidade em que ele viaja em relaçãoao ponto de vista de outro. Segundo Einstein, do ponto de vista de umobservador estático, um corpo em movimento é submetido a umasingular tríade de efeitos colaterais tais que, enquanto sua velocidadese aproxima da constante e inacessível velocidade da luz, seus

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processos de tempo se estendem (o tempo se retarda), o espaçoatravés do qual ele se movimenta encolhe e sua massa (uma funçãoinversa desse espaço que diminui) aumenta até o infinito. Dada anatureza relativa de todo o movimento, um observador que estivesseem cima, montado nesse corpo em movimento, não perceberia asdistorções que outros (em repouso) veriam em torno dele. De seupróprio ponto de vista, ele está apenas ali sentado enquanto o mundocorre de maneira bastante característica.Afora seu importante papel ao demonstrar a inadequação da nossapercepção comum do tempo, a Teoria Especial da Relatividade deEinstein tem pouca relação direta com a precognição. Como emnenhum dos casos discutidos em capítulos anteriores se falou depessoas que estivessem girando rapidamente pelo universo avelocidades próximas à da luz, as estranhas distorções de tempo quese sabe acompanharem tais velocidades não poderão servir paraexplicar seu evidentemente precoce acesso ao futuro. Algunspensadores sérios que esperavam resolver o problema daprecognição, entretanto, encontraram algumas idéias maisimportantes para isso na Teoria Geral da Relatividade, publicada onzeanos depois, em 1916.Onde a Teoria Especial da Relatividade se restringia a descrever aspropriedades de corpos (ou sistemas) viajando em linha reta numavelocidade constante, a Teoria Geral da Relatividade, muito maisabrangente, leva em conta que todos os objetos estão sujeitos aacelerações e seguem trajetórias curvas que se devem à presença deoutras massas e são geralmente descritas como efeito da gravidade.A teoria geral descreve as causas e efeitos da força gravitacional douniverso e, assim, desafia nossas noções comuns de espaço e tempoa um ponto quase inconcebível.Para nossos objetivos, a única descoberta mais importante a extrair daTeoria Geral é a percepção de que o espaço é curvo. A influência dequalquer massa, demonstrou Einstein, é tal que tende a "curvar" oespaço em sua proximidade, e a proporção dessa curvatura equivale aum corpo gravitacional. O espaço em torno da Terra é levemente

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curvo, mas essa curvatura revela-se tão infinitesimalmente pequena aponto de ser quase impossível detectá-Ia. Entretanto, a massa do Sol,consideravelmente maior que a da Terra, é grande o suficiente paramostrar um efeito visível calculável, como se pode ver pela deflexãodos raios de luz que chegam das estrelas até nós.Ao considerar o espaço ocupado pelo universo como um todo, asopiniões divergem quanto à extensão da curvatura. As equações darelatividade nos permitem muitas soluções diferentes, cada uma dasquais levando a um diferente modelo cosmológico do universo. Umdesses modelos, o mais apropriado quando se considera aprecognição, foi proposto pelo matemático Kurt Gödel em 1949,sugerindo haver no universo massa suficiente para curvar o espaçoimediatamente em torno de si - de maneira que o universo como umtodo pode ser visto como uma esfera em rotação sobre si mesmo. NaTeoria Especial, demonstrava-se que as antigas categorias de espaçoe tempo eram inadequadas, e, em lugar do espaço tridimensional e dotempo unidimensional, Einstein colocou o continuum espaço-tempoquadridimensional em que espaço e tempo eram funções integrais umdo outro. Esse continuum é transportado para a Teoria Geral daRelatividade e, assim, compreende-se que qualquer curvatura noespaço exija que o tempo também seja curvo. Um modelocosmológico como o de Gödel, que postula que o universo seja umaesfera em rotação sobre si mesmo, também nos diz que o tempo securva ao redor de si mesmo; em outras palavras, o tempo é circular.Essa formulação, naturalmente, levanta muitos problemas para o bomsenso e não poucos para os físicos.Por exemplo, se o tempo se movimenta em círculo, como poderemos.falar de "antes" e "depois"? Como chegaremos a dizer qual ponto numcírculo precede o outro? Na Teoria Geral da Relatividade, esses"antes" e "depois" não têm nenhum significado. É como o eminentefísico francês Olivier Costa de Beauregard resumia a transformaçãoprovocada pela Teoria da Relatividade:

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Na [física] newtoniana, a separação entre passado e futuro é objetiva,no sentido de que era determinada por um único instante do tempo

universal - o presente. Isto já não é verdadeiro para a [física]relativista... Já não pode haver mais qualquer divisão objetiva e

essencial (ou seja, não arbitrária) de espaço-tempo entre"acontecimentos que já tenham acontecido" e "acontecimentos que

estejam por acontecer”.

Einstein disse: "Para nós, os físicos crentes, essa separação entrepassado, presente e futuro tem o valor de uma simples ilusão, pormais firme que seja". E Olivier de Beauregard acrescentava (quasecomo que numa resposta tardia!): "Nisso tudo existe, inerente, umapequena revolução filosófica".Se todos os eventos forem observados dentro do contexto da TeoriaGeral da Relatividade, tornam-se fenômenos atemporais no espaço-tempo quadridimensional, estendidos ao longo do contorno curvado denossa existência esférica como um todo estático, imutável. Essequadro implica que tudo o que "será" agora "é", ou seja, que o futuro jáestá escrito e que é tão fixo quanto o passado. Num modelo comoesse, toda a história de um acontecimento qualquer pode sergraficamente representada como uma curva estacionária (uma "linhado universo"), cada "momento no tempo" sendo um ponto naquelacurva, e a sucessão conhecida de acontecimentos, que é parte denossa percepção temporal diária normal, é levada em conta pelomovimento ordenado de consciência ao longo dessa curva. Assim,como passageiros numa nave espacial olhando para um universocheio de acontecimentos (e todo o seu conteúdo), nos tornamoscientes de uma sucessão de acontecimentos, um a um, enquantotransitamos pelos pontos em separado ao longo dessa curva.Para que a precognição seja conceitualmente sustentável num quadrocomo esse, apenas se deve imaginar que algumas pessoas tenham acapacidade de "saltar à frente" em sua percepção, podendo assim daruma espiada no tempo mais adiante na curva estacionária (de

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acontecimentos), mais do que a maioria de nós poderia normalmentechegar perto no curso ordinário do progresso consciente ao longo dacurva. A implicação de que isto seria possível num universo relativistaem que o tempo está esquematizado num círculo sem início ou fimreal foi sugerida a Einstein por diversos colegas.Por que, perguntou-se, alguém não poderia dar um salto à frente notempo e voltar para nos comunicar o que viu ali? Ou, de maneiraalternativa, por que alguém não poderia fazer uma viagem recuandoao longo da curva de acontecimentos e assim revisitar seu própriopassado armado com seu conhecimento sobre o futuro? De acordocom o que Gödel afirmou, seria perfeitamente possível conceber"determinado passado, presente e futuro cosmológico, e recuar denovo, exatamente como é possível em outros mundos viajar adistantes porções do espaço".Gödel sugeria que para viajar ao futuro temos apenas de voar nadireção da rotação do universo, e para viajar para o passado, temosde voar no sentido contrário. E, talvez, com uma divertida olhadelapara The Time Machine, de H. G. Wells, ele chegou a calcular aquantidade de combustível necessária e a velocidade que nossa naveespacial precisaria desenvolver para realizar esta viagem: ela deveriaviajar a pelo menos 70% da velocidade da luz.O próprio Einstein sempre se sentiu filosoficamente pouco à vontadeem relação a essas noções de hipotética viagem no tempo efetuadaem sibilantes idas e vindas pelas linhas curvas de espaço-tempo domundo, e durante muito tempo insistiu sobre sua impossibilidade. "Nãopodemos enviar mensagens telegráficas ao passado", declarou comfirmeza em 1928, argumentando que uma linha do mundo jamaispoderia ter uma intersecção consigo própria, ou seja, que jamais seriapossível circunavegar o universo ao longo da curva estacionária quedescreve a vida de cada um, de maneira a poder coincidir com suaprópria história ou atingir seu próprio futuro. A possibilidade de fazerisso, dizia ele, violaria um princípio essencial da Teoria daRelatividade - a idéia de que qualquer acontecimento pode serverdadeiramente simultâneo apenas com ele mesmo.

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Mas, quando Gödel publicou sua controvertida solução às equaçõesda relatividade em 1949, que demonstravam que a matemática daTeoria da Relatividade realmente permitia a possibilidade de linhas deuniverso que se interceptassem e, assim, que um momento "agora"pudesse ter simultaneidade em relação a um outro momento no"futuro" ou a algum no "passado", Einstein fez uma críticasurpreendentemente simpática ao ensaio. Talvez, admitia ele, airreversibilidade do tempo já não fosse tão inviolável como supuseraantes. Modificando a visão sustentada anteriormente sobre acomunicação entre passado e futuro, disse:

É impossível enviar mensagens telegráficas ao passado (no nível darealidade diária), mas isso não será necessariamente verdadeiro paraos fenômenos subatômicos que parecem reversíveis... Se admitimos

como Gödel a possibilidade de linhas de mundo entrecruzadas naimensa escala cósmica... então a relação de sucessão torna-se

relativizada - pois, numa linha circular de mundo, dizer que A precedeB, em vez de vice-versa,é apenas uma questão convencional.

A possibilidade da reversibilidade do tempo no nível subatômico foialgo que Einstein teve de aceitar mesmo de má vontade, emconseqüência das descobertas na física quântica. Daremos umaolhada nestas descobertas e em suas implicações no próximocapítulo. Em resposta à sugestão de Gödel de que o tempo pudessevoltar atrás no nível cósmico, ele mantinha a esperança de que issoainda viesse a ser provado como um lamentável equívoco."Seria interessante", dizia, "examinar cuidadosamente a possibilidadede que esses (modelos cósmicos) não devam ser excluídos embases físicas.“Os acontecimentos mostraram que ele estava errado.Mais tarde, a suposição de que os buracos negros (micro-universos em rotação dentro do nosso universo nos quais a força dagravidade em tomo de uma certa massa aumentou até o ponto de

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atrair o espaço-tempo em volta de si mesmo) proporcionassem a basefísica definitiva para esses modelos cosmológicos, veio confirmar avalidade da solução de Gödel para as equações da relatividade. Anoção da natureza dos buracos negros que se tem hoje realmentepermite especulações sobre viagens para trás ou para a frente notempo - mesmo que possa nos parecer uma coisa de ficção científica.Os buracos negros são chamados assim porque a força da gravidadeque há em torno deles é tão poderosa, que uma vez que alguma coisatenha sido sugada dentro de um deles jamais poderá sair de novo; eisso inclui os raios de luz. Por essa razão, nunca podemos ver osburacos negros, apenas sua força de atração indireta sobre outroscorpos.A gravidade na superfície de um buraco negro, que é o que seconsidera seu "horizonte de acontecimentos" , é tão forte que ali opróprio tempo permanece parado - ou pelo menos é isso quepareceria a uma pessoa que estivesse do lado de fora olhando paradentro (ou a alguém que estivesse dentro, olhando para fora). Sealguém caísse dentro de um buraco negro, nós que estamos do ladode fora teríamos a impressão de que a pessoa levaria uma infinidadede tempo para isso, embora para ela o tempo parecesse passarnormalmente - mais ou menos o mesmo efeito que a Teoria daRelatividade previa acontecer para os viajantes do espaço que seaproximassem da velocidade da luz.A pessoa que caísse no buraco negro estaria então caindo em direçãoao nosso futuro. Se pudesse comunicar-se conosco, ela realmenteestaria nos enviando "mensagens ao passado". O astrofísico JohnGribbin, ao discutir a possibilidade um tanto fantasiosa de uma viagematravés do tempo por uma passagem pelo horizonte dosacontecimentos de buracos negros, conta como seria uma históriadessas:

Dentro de um buraco negro, o tempo como o conhecemos (e tambémo espaço, como o conhecemos) deixa de existir... E assim, um objetoextremamente compacto e maciço, como o buraco negro, com forte

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campo gravitacional em torno de si, iria permitir ao intrépido viajantedo espaço dar um salto ao futuro - e não apenas uma só vez, mas

repetidas vezes... Simplesmente mergulhando uma nave espacial naregião de forte gravidade e saindo dela pelo outro lado, o astronauta

iria ver o tempo no universo lá fora correndo, com milênios (ouintervalos maiores até) passando em torno dele nas poucas semanasque ele passasse manobrando sua nave em torno do buraco até sair

outra vez.

Naturalmente, é impossível qualquer comunicação de uma pessoadentro de um buraco negro, pois a própria definição de um buraconegro diz que nada pode escapar dele - e nisso estaria incluídaqualquer espécie de radiação eletromagnética que pudesse conduziralguma mensagem. Mas existem ainda outras objeções para que sepossa ser carregado por estas fantasias especulativas de viagens notempo quando se considera a possível física da precognição.Mesmo que fosse possível comunicar-se com pessoas quehouvessem caído nesses buracos negros, ou que se pudesse viajarem cruzeiros em torno do universo em velocidades próximas à da luz,isso tem muito pouco que ver com nossa experiência terrena e nadaque ver com os casos conhecidos de suposta precognição. Paraquaisquer finalidades práticas, tais possibilidades poderão ser vistasno máximo como cogitações malucas de um escritor de ficçãocientífica muito criativo, embora elas tenham algum valor conceitualpara o teórico da precognição.Antes da Teoria da Relatividade e das fantásticas distorções de temponela latentes, a irreversibilidade do tempo era sagrada e considerava-se qualquer sugestão de acesso ao futuro um absurdo. O climaintelectual da época posterior a Einstein repudia muito menos asimples possibilidade da precognição do que o período da físicaclássica ou o bom senso. Ainda está por se saber se os avanços nafísica quântica poderão trazer mais luz sobre como realmente funcionaa precognição.

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9. A FÍSICA QUÂNTICA: INCERTEZA SEM O SENTIDODO TEMPO

Nestes últimos vinte anos, os parapsicólogos passaram a examinarcada vez mais as idéias e as descobertas da física quântica tanto paraapoio intelectual, como na esperança de descobrir alguns dosverdadeiros mecanismos pelos quais possam funcionar os fenômenospsíquicos. Mas ainda que uma pessoa tivesse a esperança de tiraruma faculdade como a precognição do reino das bolas de cristal efosse olhar para ela em meio às nuvens de vapor de uma câmara deneblina de Wilson, não seria menos misteriosa e a pessoa ficariabastante desapontada. A física moderna, em especial a físicaquântica, parece melhor equipada para exacerbar nosso sentimentode incredulidade, em vez de diminuí-Io.A maioria dos escritores e físicos acha impossível discutir osprocessos subatômicos esboçados pela teoria dos quanta sem cair emadjetivos como estranho, esquisito, excêntrico e mágico paradescrever as fantasmagóricas partículas que estão logo abaixo dasuperfície de nosso mundo cotidiano. Poucos, portanto, sesurpreendem com o fato de parapsicólogos que tentam explicarprocessos de pensamento separados do corpo e objetos que semovem durante a noite terem uma afinidade natural por um ramo daciência que poderia muito bem ter sido o sonho de Lewis Carroll. Naverdade, essa afinidade vai muito mais a fundo que o simplescompartilhar de uma excentricidade.Dois princípios muito importantes da física sempre foram a objeçãoprincipal à precognição tanto por parte de físicos como de filósofos,mas esses dois princípios acabaram sendo derrubados pelasdescobertas da física quântica. O primeiro é o da unidirecionalidadedo tempo, em que o "agora" deve necessariamente preceder o"depois". O segundo é o da causalidade, que diz que um efeito nãopode preceder sua causa. No entanto, dentro do minúsculo

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microcosmo do átomo, nem o tempo nem a causalidade têm qualquersignificação no sentido aceitável.No capítulo anterior vimos como, numa escala cósmica, a Teoria daRelatividade permite a possibilidade do tempo circular e dareversibilidade do tempo, o que destrói as leis da causalidade, mas aprecognição que se registra na vida cotidiana não ocorre num sentidocósmico de pessoas viajando a velocidades próximas à da luz. Oscríticos de qualquer tentativa de se explicar a precognição em termosda teoria quântica argumentam que o comportamento irregular dosprocessos subatômicos tem muito pouco que ver com osacontecimentos que ocorrem no nível da vida cotidiana; porém taisobjeções estão no mínimo cheias de controvérsia.Veremos em capítulos posteriores que existe alguma prova de que océrebro humano é sensível no nível dos fenômenos quânticos e osteóricos da precognição encaram esta sensibilidade como um elopossível entre alguns processos quânticos e a consciência humana.Nesse contexto, três aspectos da teoria quântica merecem serexaminados com algum detalhamento: o Princípio da Incerteza deHeisenberg, os estados práticos dos quanta e a não-localizaçãoquântica (ou "ação à distância").

O Princípio da Incerteza

Nenhum trabalho humano poderia nos ter levado mais diretamente aencarar a destruição que a teoria quântica trouxe ao reino dacausalidade do que o do físico alemão Werner Heisenberg. Ele provouque todas as bases de nosso universo apóiam-se apenas emimprevisíveis acontecimentos subatômicos inteiramente fortuitos, eganhou, por isso, o prêmio Nobel de 1931. A seus colegas da físicaquântica coube a tarefa de redefinir completamente a realidade física,embora tenha provocado o protesto de Einstein de que esta visão era."tão contrária ao meu instinto científico que não posso prosseguir abusca por uma concepção mais completa".

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Respondendo diretamente às implicações das idéias de Heisenberg,resumidas no Princípio da Incerteza, Einstein fez sua famosadeclaração de que "Deus não joga dados com o universo". Foi, semduvida alguma, uma reação apaixonadamente religiosa, muito maisque uma fria declaração científica, embora Einstein tenha passado osúltimos 25 anos de sua vida científica envolvido numa tentativa(infrutífera) de desenvolver uma teoria que levaria a física muito alémdas regras do cassino.Paradoxalmente, é do próprio Einstein a formulação de que a luz, etodas as outras formas de energia, provém de pré-pacotes de energiaquanta, o que levou à evolução do princípio de Heisenberg. A teoriaatômica dizia que os átomos consistem principalmente de espaço,com um centro maciço (o núcleo) rodeado de camadas de elétrons emórbita - algo que pode ser imaginado como o sistema solar: o núcleosendo o próprio Sol e os elétrons, os planetas. Foi um importanteavanço da teoria quântica demonstrar que cada uma das órbitas queum elétron pode ocupar enquanto circular em torno do núcleo atômicorepresenta um determinado estado de energia, e que os elétronspodem se movimentar de uma órbita para outra.No entanto, a teoria quântica dizia que se um elétron fosse deixar umaórbita (estado de energia) e mudar para outra, ele antes deveriaabsorver ou liberar alguma energia, precisando fazer isso emunidades de quanta descontínuos. E, como a energia a ser absorvidaou liberada só existe em unidades descontínuas, acontece que osmovimentos dos elétrons de órbita para órbita seriam representadoscomo uma série de saltos descontínuos em vez do que se poderiasupor em qualquer modelo que a física clássica pudesse oferecer (quesustentava que todo movimento se dava ao longo de curvascontínuas).Essa nova descrição de movimento como uma série de saltosdescontínuos foi uma das mudanças conceituais mais fundamentaistrazidas pela teoria quântica. Era algo mais ou menos como substituir-se o movimento na vida real pelos bruscos estágios de cada quadroem separado de um filme de cinema. A teoria quântica realmente

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mostrava que todo movimento é estruturado como nos sucessivosquadros de um filme - com a complicação adicional de que,exatamente como um filme poderia ocasionalmente dar um salto,passando por cima de alguns quadros, as partículas subatômicastambém poderiam saltar para "vários quadros à frente", deixando defora os passos intermediários, que tenderiam a parecer mais naturais.

* Um quantum é a unidade mais elementar e indivisível (de energia xtempo) necessária para que qualquer processo subatômico aconteça.Qualquer determinado processo poderá exigir um único quantum oumuitos quanta, daí o nome "teoria quântica".

O Princípio da Incerteza de Heisenberg surgiu da questão de se tentaracompanhar e descrever o movimento real de uma partículasubatômica em seu caminho descontínuo. Durante essa tentativa osfísicos se defrontaram com uma dificuldade fundamental: a teoriaquântica previa que quanto mais se tentasse analisar os movimentosde uma partícula subatômica, mais ilusório este movimento setornaria. Pela mecânica do movimento quântico, o simples ato de darum enfoque à partícula seria o suficiente para perturbá-Ia.Se, por exemplo, um físico desejasse observar o movimento de umelétron em torno de um núcleo atômico, ele poderia tentar localizá-locom um microscópio muito poderoso. Mas a visão depende daemissão de luz de um objeto para o olho, de maneira que, paraproduzir essa emissão de luz, ele deveria dirigir pelo menos um fótonde "luz" no elétron. Mas acontece que um fóton de luz é um quantumde energia, e quando ele atinge o elétron, irá perturbá-lo, fazendo comque mude sua direção e velocidade - seu impulso.Na esperança de contornar esse problema da perturbação do impulsodo elétron, o físico poderia tentar dirigir uma luz de freqüência maisbaixa para o elétron. E como Einstein havia demonstrado, a freqüênciade qualquer radiação é diretamente proporcional à quantidade deenergia que ela carrega, de maneira que uma luz de freqüência maisbaixa iria carregar menos energia e assim não deveria perturbar o

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elétron. Mas tão logo tenta isso, o físico se depara com um problemadiferente. Descobre que sua luz de freqüência mais baixa não provocauma imagem diferente. Uma onda de luz de baixa freqüência teria umcomprimento de onda muito longo e isso iria produzir um quadroimpreciso e aproximado que não permitiria localizar onde está oelétron.Assim o físico que esperava medir o movimento de um elétron ver-se-ia na situação de ter de escolher entre conhecer o impulso e nãosaber exatamente a posição do elétron, ou conhecer sua posição enão saber muito bem qual o impulso; ele jamais poderia saber as duascoisas, embora precisasse conhecer impulso e posição para poderdizer algo de significativo sobre o movimento do elétron. Essa é aessência do Princípio da Incerteza: em determinado nível de realidadechegamos a uma barreira além da qual é impossível tomar qualquerconjunto de medições exatas, e por isso torna-se impossível saberexatamente como se comportam os elementos que constituem amatéria.Segundo Heisenberg,essa incerteza é uma configuração característicado universo e não uma decorrência do uso de instrumentos ou meiosinadequados. Ao descrever os movimentos das partículas, explicavaele, teríamos sempre de nos contentar com aproximações. Dada uma"série" de medições longa o bastante, as aproximações iriam formaruma espécie de quadro (conforme as leis da probabilidade), mas essequadro seria mais o resultado de uma tendência estatística do que adescrição objetiva e exata de qualquer movimento de elétron.Max Bom, colega de Heisenberg, expressou-se assim: "A física estána natureza do caso indeterminado e, portanto, é um caso para aestatística". Isso não é o pior. Tirando as implicações dessaindeterminação, Max Bom continua dizendo:

... se jamais se pode determinar a não ser uma das duas propriedades(de uma partícula) [ter uma posição definida e um impulso definido], ese, quando uma é determinada, não se pode estabelecer nada sobre a

outra propriedade naquele mesmo instante, até onde chegou nossa

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experiência, não temos justificativa para concluir que a "coisa" emexame possa realmente ser descrita como sendo uma partícula no

sentido comum da expressão.

Mas, e se o elétron não for uma partícula "no sentido comum", o queserá ele? A questão nos leva a outra descoberta revolucionária dafísica quântica: que a matéria em si não é necessariamente materialno sentido normal desta expressão. Ou antes, pelo menos no nívelsubatômico, a matéria tem uma tal natureza dualista que as partículaselementares podem ser descritas com a mesma validade,comportando-se como ondas ou como partículas.Se um elétron colide com outro elétron, por exemplo, ele se comportacomo uma partícula, e a colisão dessas duas partículas deixaria pistasconhecidas numa câmara de neblina de Wilson. Mas acontece que seum elétron é atingido estando contra uma tela que tenha duas fendas,em vez de escolher passar através de uma ou da outra, como umapartícula o faria, ele pode assumir de repente as propriedades de umaonda, passar pelas duas fendas, e interferir em si mesmo!"As partículas elementares", disse Sir William Bragg, "parecemser ondas às segundas, quartas e sextas, e partículas às terças,quintas e sábados".Resumindo, nunca se pode ter realmente a certeza de quando ou sobquais circunstâncias um elétron (ou qualquer outra "partícula"subatômica) irá comportar-se como uma onda ou como partícula, eassim os físicos quânticos desistiram das descrições muito simplistasde partícula ou onda e, em vez disso, falam de "ondas de matéria".As ondas de matéria são entidades matemáticas complexas queexpressam as possíveis manifestações da natureza dualista do elétron(e, na verdade, todas as suas outras possíveis propriedades, comoposição ou estado de energia) e representam a solução intermediáriada teoria quântica para o problema de como descrever uma realidadeque sai de foco a cada vez que se tenta olhar para ela.Com o "Princípio da Complementaridade", a teoria quânticaestabelece que, enquanto não se puder ter a certeza de se estar

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lidando com um elétron em sua forma de onda ou de partícula, asduas possibilidades são complementares entre si, de maneira que sepode pelo menos descrever os movimentos e interações do "pacote"(a onda de matéria), obtendo assim um quadro aproximado darealidade. Mas esse quadro aproximado - e este é ponto da teoriaquântica que feriu a sensibilidade de Einstein - nunca é mais que umadistribuição das probabilidades que, sob quaisquer conjuntos decircunstâncias, iriam fazer a onda de matéria se expressar de ummodo ou de outro e, até que ela resolva fazer isso, deve-se dizer quea própria realidade (a realidade daquele elétron) consiste deprobabilidades. Ondas de matéria geralmente são descritas como"ondas de probabilidade".Tirando-se todas as implicações do Princípio da Incerteza deHeisenberg, pode-se dizer que, segundo a teoria quântica, a realidadeem seu nível mais elementar consiste não de quaisquer realidadesfixas que possamos conhecer, mas de todas as probabilidades dasvárias realidades fixas que poderíamos conhecer. Evidentemente,alguma proporção dessas probabilidades em algum estágio se tornarealidade, a que o mundo de nossa experiência cotidiana prestatestemunho. Mas, de que maneira? Em que estágio, e por que, umaou outra das inúmeras possibilidades da natureza se fixa no mundodas "coisas reais" e que papel desempenham todas as "probabilidadesperdidas" ao atingir seu estado de coisas final?

Os Estados Práticos

Na verdade, o fato de a teoria quântica demonstrar que não existe ejamais poderá existir qualquer espécie de resposta satisfatória para amaioria dessas últimas perguntas representou um efetivo ataque àsleis da causalidade, há tempos tão respeitadas.Quando se substituiu a clássica noção de movimento contínuo por umcaminho preestabelecido pela visão quântica de bruscas transições deum estado de energia para outro através de saltos quânticos

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descontínuos, a brecha estava aberta. Logo tornou-se evidente que seum sistema atômico é perturbado (interna ou externamente), asconseqüentes transições do elétron ocorrerão de maneira inteiramentecasual.Por exemplo, poderá acontecer uma transição a qualquer hora e semqualquer causa atribuível. E, subitamente, sem qualquer aviso prévio,sem nenhuma razão aparente, um átomo que estava antes "calmo"pode passar por um caos em seus elétrons, e jamais se pode preverquando isso irá acontecer com qualquer dos átomos. É só umaquestão de oportunidade. Além disso, e esta é a razão pela qual se dizque há reversibilidade do tempo no nível quântico - um elétron pode, ecom a mesma probabilidade, sofrer uma transição de um estado deenergia elevado para um inferior, ou de um estado de baixa energiapara um de alta energia.Assim, não é possível falar de uma "sucessão de acontecimentos" emnenhum sentido conhecido, como se alguma coisa tivessenecessariamente levado a outra. Seria mais exato dizer que umacontecimento estaria relacionado com outro, mas seria muito erradodescrever um como causa e outro como efeito. Simplesmente eles"acontecem da forma que acontecem". E o pior, o que nos traz devolta à questão das "probabilidades perdidas", durante os estágiosanteriores de sua perturbação, as transições do elétron que severificam dentro de um sistema atômico excitado ocorremsimultaneamente em todas as direções de uma só vez. Quer dizer, umelétron excitado comporta-se como se "estivesse cobrindo todo umamplo espaço".Se um elétron é atingido por um fóton, ele terá adquirido energia dofóton e assim já não poderá mais continuar normalmente circulandoem volta do núcleo na órbita que havia ocupado antes de maneira tãoestável. Deverá sair procurando uma outra órbita mais adequada aseu novo estado de excitação. Mas, uma vez que nada é determinadona física quântica, existem muitas outras órbitas em que ele pode seinstalar. Embora apenas uma certa proporção dessas novas órbitasofereça ao elétron um lar estável e permanente, como poderia ele

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saber qual, a menos que experimentasse todas? Pois é exatamenteisso que ele faz.Um elétron excitado, disfarçado de onda de probabilidade, aplicatodos os seus "sensores" temporariamente, enquanto vai procurandoseu lugar, em todas as possíveis acomodações. Até ele decidir seestabelecer em alguma localização permanente, ele realmente estarávivendo em todas as possibilidades temporárias.Na teoria quântica, esses "endereços temporários" são chamados de"transições virtuais", e o endereço final, o ''permanente'', chama-se"transição real". Mas, como adverte o físico quântico David Bohm, nãodevemos nos deixar enganar com o uso destas expressões "real" e"virtual":

Às vezes as transições permanentes (ou seja, as que conservamenergia) são chamadas de transições reais, para distingui-Ias daschamadas transições virtuais, que não conservam a energia e quedevem portanto reverter ao estado anterior antes que tenham ido

longe demais. Trata-se de uma terminologia infeliz, pois implica que astransições virtuais não tenham efeitos reais. Ao contrário, muitas

vezes elas são da maior importância, pois muitos processos físicossão resultado destas chamadas transições virtuais.

A situação se parece um pouco com a de uma pessoa muito modestaque acaba de ganhar na loteria. A nova riqueza faz com que ela acheinconveniente continuar morando num apartamentinho de dois quartosna mesma rua de sempre. Todo um mundo de novas possibilidades seabriu para essa pessoa e ela pretende realizar seu maior desejo:possuir a casa de seus sonhos. No "mundo real" (o mundo darealidade diária), naturalmente, ela teria que explorar todas essaspossibilidades uma por uma, talvez tendo que se mudar umas oito oudez vezes até ter a certeza de haver encontrado exatamente a casacerta.Mas no mundo da quântica, o ganhador simplesmente mora em todasas suas possíveis casa novas, e em todas ao mesmo tempo. Se o

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corretor quisesse obrigá-lo a assinar o contrato de compra, essa seriauma tarefa impossível (pois ele estará morando em todas as casas) eseria preciso enviar duplicatas para cada um dos endereços. Se estascasas fossem o bastante perto umas das outras, o ganhador atépoderia estar em cada uma das varandas acenando para si mesmo.Afinal, tendo explorado inteiramente todas as suas possibilidades, oganhador iria se estabelecer de modo permanente apenas numa casa,mas não sem haver deixado "traços" de sua presença nas diversasvizinhanças onde estavam suas casas temporárias. Os vizinhospoderiam lembrar-se de tê-Io visto, imaginando algo como: "O queserá que aconteceu com aquela pessoa que desapareceu tão derepente?" Alguns desses vizinhos podem até ter mudado seuspróprios hábitos em conseqüência do vencedor estar residindo emsuas proximidades temporariamente. ("... pois muitos processosfísicos são resultado destas transições virtuais".)Conquanto o caso do ganhador da loteria do mundo quântico possaparecer um tanto forçado, não precisamos ir mais longe que aevolução biológica para observar resultados na vida real de coisasmuito parecidas com as transições quânticas virtuais. Como sugereBohm, entre outros: "De muitas maneiras o conceito de uma transiçãovirtual se parece com a idéia da evolução biológica, que afirmapoderem surgir todos os gêneros de espécies em mutações, masapenas algumas espécies sobreviverão indefinidamente; e serãoaquelas capazes de satisfazer determinadas exigências para asobrevivência no meio ambiente específico que rodeia a espécie".

* Na verdade, para a física quântica não faria muita diferença adistância em que estejam as casas, porque as transições virtuais deuma partícula podem interferir umas nas outras a qualquer distância.

As inúmeras espécies que surgem de repente por meio de mutaçõespodem ser vistas como as diversas possibilidades (estados virtuais)sendo exploradas pela natureza como novas maneiras pelas quais elapoderia expressar seu potencial. As possibilidades menos viáveis,

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como diz Bohm, acabam sendo postas de lado mas, em geral, nãosem antes deixar algum traço de si mesmas que irá se tornar parte dosistema da vida. Duas mutações condenadas, por exemplo, poderiam,antes de desaparecer, fazer um cruzamento que formaria uma terceiramutação bastante capaz de sobreviver indefinidamente (uma transiçãoreal). Foi mais ou menos assim que a espécie humana surgiu - umabem-sucedida mutação secundária de alguma forma de vida obscuraque se conhece apenas como "o elo perdido".

A Não-localização ou "Ação à Distância”

É em conseqüência direta do significado dos estados virtuais, peloqual a função de onda de uma partícula elementar é "espalhada poruma enorme região no espaço", que a teoria quântica faz sua prediçãomais forte e mais revolucionária: pode haver ligações e correlaçõesentre acontecimentos , muito distantes na ausência de qualquer forçaou sinal intermediário, e essa "ação à distância" será instantânea.Esse "Princípio da Não-localização" (segundo o qual alguma coisapode ser afetada na ausência de qualquer causa local) está bem clarono Teorema de Bell - e parte necessariamente da naturezaessencialmente indeterminada da realidade, como é sugerido pelasequações de onda da teoria quântica.A teoria quântica indica que não existem coisas como partesisoladas da realidade, mas, antes, apenas fenômenos muitointimamente relacionados e tão ligados entre si como se fosseminseparáveis. Essa visão sustenta que nosso mundo físico "... não éuma estrutura feita de entidades não analisáveis de existênciaindependente, mas uma rede de relacionamentos entre elementoscujos significados se elevam totalmente de seus relacionamentos aotodo".Essa visão, com suas nuances evidentemente místicas, vaidiretamente contra não apenas o bom senso e a física clássica, mastambém contra a Teoria da Relatividade - todas baseadas no princípio

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intuitivo de que os fragmentos de que esta realidade se compõe sãoinerentemente separados e de que não há nenhum efeitotestemunhado num pedacinho específico que tenha uma causadetectável proveniente de algum outro fragmento, atuando comointermediário por meio de alguma força ou sinal detectável localmente.Einstein acrescentou mais um elemento a essa doutrina de "causaslocais", afirmando que nenhum sinal poderia ir de um fragmento darealidade (uma causa) para outro (um efeito) mais depressa que a luz,e assim não haveria empecilhos em relação ao que diz a teoriaquântica, de que uma influência pode ser instantânea. Foi por causade sua defesa de uma "ação à distância" instantânea que Einsteininsistia em que a teoria quântica tinha de ser uma descriçãoincompleta da realidade e se dispôs a ilustrar isso no famosoParadoxo de Einstein, Podolsky e Rosen - o Paradoxo EPR, publicadoem 1935.A essência do Paradoxo EPR pode ser compreendida imaginando-seo destino de um hipotético par de gêmeos, que nasceu em Londres.Os dois foram separados desde o dia em que nasceram: um delescontinuou morando em Londres e o outro foi para Nova Iorque. Osgêmeos jamais se encontraram, nenhum dos dois sabe que tem umirmão gêmeo e nunca houve nenhuma forma de comunicação entreeles. Portanto, em condições normais, eles viveram vidas inteiramenteseparadas. Mas, apesar do desconhecimento e da falta decomunicação entre ambos, um psicólogo que estuda os gêmeospercebe uma estranha semelhança em seus comportamentos e suascircunstâncias. Cada um dos dois adotou o apelido de "Scotty"; osdois escolheram entrar para a força policial e ambos chegaram aoposto de Detetive-Inspetor; os dois se vestem quase exclusivamentede azul; os dois casaram no mesmo ano com uma morena chamadaMary, e assim por diante. Como se explica tudo isso?O teórico da quântica não teria problema com essas aparentementeinexplicáveis correlações entre as vidas dos dois gêmeos, pois suasequações sempre o deixaram esperando por algo assim - e desde quesuas previsões matemáticas se tenham tornado realidade, ele não

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está muito preocupado com o porque. Mas Einstein não ia deixar acoisa dessa maneira e achava que o fato de os teóricos da físicaquântica não se importarem com esse tipo de coisa era uma prova deque a teoria quântica estava incompleta.Em primeiro lugar, Einstein não podia abandonar sua fé (jáabalada pelo Princípio da Incerteza) de que uma teoria física completadeveria ser capaz de explicar o "porquê" das coisas e dizer algodefinido sobre a natureza da realidade. Em segundo lugar, ele nãopodia aceitar que não houvesse alguma explicação "respeitadora dalei" por trás de quaisquer uma das correlações entre as vidasobviamente separadas dos gêmeos.

Pode-se fugir desta conclusão (de que a teoria quântica estáincompleta) somente se assumirmos que ou a medida de S1 (um dosgêmeos) muda telepaticamente a situação real de S2 (o outro gêmeo),

ou se negarmos situações reais (vidas) independentes como coisasque estão separadas em termos espaciais uma da outra. Essas duas

alternativas me parecem completamente inaceitáveis.

De maneira que, para evitar cair de volta na telepatia ou napossibilidade de alguma ligação misteriosa entre situações distantes,Einstein propunha uma terceira saída: a de que haveria algum fatorem comum na própria natureza das situações que poderia ser levadoem conta nesse comportamento correlacionado.Em nosso exemplo dos gêmeos, esse fator comum poderiaser ilustrado dizendo-se que eles devem ser gêmeos idênticos,compartilhando material genético. Einstein diria então que, se as vidasdos gêmeos transcorreram por linhas semelhantes, conforme previa ateoria quântica, era simplesmente porque eles haviam sidoprogramados para isso desde o início, por aquele fator genéticocomum, profundo em sua natureza. E assim não existe nenhuma,telepatia e nenhuma "ação à distância" em seus estilos de vidasemelhantes, e sim um fator comum que a teoria quântica deve deixar

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de levar em conta por sua recusa em estabelecer qualquer coisasobre a natureza da realidade subjacente.Durante muitos anos, a prova sugerida por Einstein de que a teoriaquântica está incompleta foi deixada de lado, num estado quase deesquecimento junto com as previsões de não-localização. Os poucosfísicos que pensaram sobre o Paradoxo EPR não pensaram demaneira alguma que pelo menos essa solução do "fator comum" (asvariáveis ocultas) fosse compatível com quaisquer previsões da teoriaquântica, e assim parecia de certa forma um tanto abstrato queEinstein estivesse certo ao dizer que tais previsões poderiam serexplicadas em relação a uma realidade subjacente. Mas tudo issomudou com a publicação do Teorema de Bell em 1964.Bell, um físico dos laboratórios CERN em Genebra, provoumatematicamente que ou Einstein estava certo, e existe uma realidadefundamental no mundo físico por baixo da indeterminância da físicaquântica e assim a teoria quântica está equivocada, ou o próprioEinstein estava inteiramente errado ao supor que haja uma realidadesubjacente e a teoria quântica está correta ao prever uma autênticaação à distância. Bell estabeleceu este ou-ou baseado numa prova deque a idéia de Einstein e a teoria quântica levariam não às mesmasprevisões em determinadas situações experimentais, como se haviapensado, mas a outras completamente diferentes. Embora o Teoremade Bell por si mesmo seja extremamente matemático, pode serexpresso através do exemplo dos gêmeos.Suponhamos que o psicólogo que observou os gêmeos tenha notadoque ambos têm inclinação a acidentes. Cada um dos dois feriu-sejogando futebol com a idade de 16 anos, cada um bateu com o carroaos 25 anos, e assim por diante. Numa situação como essa, Einsteindiria que essa tendência a acidentes deveria ser um traço herdado eque essas respectivas pinceladas do azar dos gêmeos estavamprogramadas para acontecer. O teórico da quântica diria que nadasabe sobre genética, mas que suas equações demonstram que se umacidente sobrevém a um gêmeo, um acidente semelhante devesobrevir ao outro. O que Bell fez foi provar que existe uma espécie de

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acidente capaz de demonstrar de uma vez por todas que a tendênciaa acidentes dos gêmeos seria realmente um traço herdado.Bell sugeriria que o gêmeo que morava em Nova Iorque foraempurrado num lance de escadas de maneira a quebrar a perna. Eagora, já que ninguém iria argumentar que alguém poderia herdar atendência a ser empurrado escada abaixo por algum estranho hostil,se acontecesse um acidente semelhante ao gêmeo de LondresEinstein possivelmente não poderia argumentar que isso acontecerapor causa de algum fundo genético em comum. Se os dois gêmeoscaíram em um lance de escadas (e só o de Nova Iorque foi empurradopor alguém) e cada um dos dois acabou com uma perna quebrada,deveria então haver alguma espécie de telepatia funcionando entre osdois. A teoria quântica estaria vingada.Mas se, por outro lado, o gêmeo de Londres continuasse a caminharsão e salvo em cima de suas duas pernas e o gêmeo de Nova Iorqueestivesse com sua perna quebrada engessada, então Einstein estariacerto. Ele poderia dizer que todas as semelhanças observadasbaseavam-se em características herdadas (as variáveis ocultas) eque, em situações que as características herdadas não abrangessem,não se poderia esperar semelhanças (ou, correlações).As alternativas esboçadas pelo Teorema de Bell foram testadas emlaboratório no ano de 1974, quando dois físicos de Berkeley, StuartFreedman e John Clauser, conseguiram realizar uma experiência decorrelação bem-sucedida em fótons polarizados. Freedman e Clauserdeterminaram, acima de qualquer suspeita, que as misteriosascorrelações ocorrem conforme prevê a teoria quântica, e suacapacidade para fazer isso registrando efeitos macroscópios (ou seja,efeitos visíveis no nível da realidade do cotidiano) na aparelhagem deseu laboratório ainda vai mais longe, até mostrar que o Teorema deBell e a "ação à distância" têm implicações muito além do nívelsubatômico da realidade. Segundo colocação de um físico quântico:

O importante no Teorema de Bell é que ele coloca o dilema impostopelos fenômenos quânticos muito claramente no reino dos fenômenos

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macroscópicos (nível do cotidiano)... (e) mostra que nossas idéiascomuns sobre o mundo são profundamente deficientes mesmo no

nível macroscópico.

Em seu estudo sobre a Teoria Especial da Relatividade, David Bohmassume o mesmo ponto de vista dos físicos relativistas a respeitodesses desafios conceituais sugerindo que onde os conceitosrelativistas de tempo e espaço colidem com nossa percepção normaldo mundo, pode ser que essa colisão se deva ao fato de nossaspercepções do cotidiano estarem baseadas em "nossa limitada einadequada compreensão do campo da experiência comum, em vezde ocorrer por qualquer inevitabilidade inerente em nosso modohabitual de apreender este campo".Poderia parecer que uma objeção muito freqüente dos que seopõem ao fato de a parapsicologia ficar extraindo paralelos entre osestranhos acontecimentos da física quântica e as também estranhasocorrências da pesquisa psíquica - de que o que acontece no nívelsubatômico nada tem a ver com a maneira como as coisas acontecemno mundo cotidiano (macroscópico) - não seja necessariamenteválida. Com o Teorema de BeIl, sabemos agora que pelo menos éteoricamente possível dar uma espiada em fenômenos quânticos derelevância quando se tenta explicar qualquer fenômeno psíquicocomprovado que pesquisadores possam realizar.Muito interessante é o hipotético exemplo dos gêmeos aqui utilizadopara ilustrar os efeitos de correlação no nível quântico, e o Teoremade Bell poderia estar muito próximo de algum exemplo real de "ação àdistância" ou telepatia no nível macroscópico. Nestes últimos anos, ospsicólogos que estudam grupos de gêmeos que foram separadosdesde o nascimento notaram o tipo de correlações misteriosas doexemplo hipotético - adotar o mesmo estilo de penteados, preferênciaspor roupas semelhantes e semelhantes ocupações, casamentosquase simultâneos e com mulheres parecidas, e assim por diante. Issonaturalmente levou à especulação de quantas dessas similitudespoderiam ser explicadas pelos laços genéticos e quantas deveriam ser

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postas na conta de alguma espécie de telepatia. Apenas um dessesestudos introduzia um fator semelhante ao desafio do Teorema de Bell- um terrível acidente que aconteceu a um gêmeo, e seu efeito ou aausência desse efeito no outro.Quatro psicólogos japoneses fizeram um estudo profundo emtrês pares de gêmeos idênticos. Em cada um desses pares, um dosgêmeos fora exposto à bomba atômica e outro não. Estudos sociais epsicológicos realizados sobre esses gêmeos, anos depois da guerramostravam notável semelhança em estilo de vida, rendimentos,personalidade básica e relacionamentos familiares, embora em cadaum dos pares o gêmeo exposto à bomba mostrasse um nível maiselevado de ansiedade em resposta a certos testes de cores deRorschach, e os não expostos à bomba apresentassem muito poucasensibilidade a isso. Essa mistura de semelhanças e dessemelhançasé, de certa forma, inconclusiva e a amostragem do teste resulta muitopequena, mas indica o caminho para outras pesquisas que poderiamestabelecer a existência ou não de ligações telepáticas entre gêmeos.Os resultados japoneses em si devem ser considerados comoindicação levemente negativa.

"Ação a uma Distância Temporal”

Embora o Teorema de BeIl e as experiências da não-localização deFreedman e Clauser tendam a ter muito grandes implicações para atelepatia, poder-se-ia argumentar que têm muito pouca relação diretacom o problema da precognição. As experiências de Freedman eClauser referem-se a dois fatos que acontecem simultaneamente masem lugares diferentes, quando o principal fator na precognição é o deque dois fatos que aconteçam em tempos diferentes (um ainda nofuturo) pareçam ter um efeito sobre o outro.Mas existe - e, estranhamente, pouco se fala nisso - um grupo deexperiências realizadas pelos físicos da Universidade de Rochester,R. L. Pfleegor e L. MandeI em 1967, que demonstram exatamente

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esse efeito: uma correlação não-local entre dois fatos queaconteceram no mesmo lugar, mas em, tempos diferentes.A experiência Pfleegor e Mandel, como a de Freedman e Clauser,trabalha com fótons e apresenta suas implicações em linguagemmatemática extremamente complexa, mas a essência da experiênciatambém pode ser resumida numa analogia.Suponhamos que existem dois funcionários trabalhando num mesmoescritório; no entanto, um deles (A) entra no turno da manhã e o outro(B) entra no da tarde. Do lado de fora da porta do escritório há doiscabides reservados para o uso de A e B.Até pouco tempo atrás, A e B sempre haviam trabalhado no mesmoturno e, nessa época, notou-se que era inteiramente casual quemusava qual cabide. Nenhum dos dois havia determinado nada arespeito do uso de um ou outro cabide. Mas agora que eles estavamtrabalhando em turnos diferentes, esse acaso na escolha de qual doscabides usar continuava, só que com uma diferença bem grande.Quando A chegava para seu turno matinal, ele escolheria por acasoqualquer um dos dois cabides, e quando B chegava para seu turno ãtarde também escolheria qualquer um dos dois cabides que A nãotivesse usado. Dessa maneira, embora A e B estivessem trabalhandoem horas diferentes, eles continuavam a pendurar seus casacos demaneira que dava a impressão de que ambos estivessem presentes.O comportamento de ambos mostrava-se misteriosamente ligado,através de alguma lacuna no tempo que havia entre os dois, demaneira a estar sempre correlacionado.As correlações demonstradas na experiência de Pfleegor eMandeI eram sempre tão exatamente simétricas que não faria sentidodizer que A escolheu um determinado cabide prevendo que B iria usaro outro, ou que B tenha escolhido o seu por alguma consciênciatelepática sobre qual cabide A teria escolhido antes. Tudo o que sepode dizer é que eles mostraram como dois acontecimentos podemestar um tanto relacionados através do tempo de uma forma quegarante que eles estarão sempre correlacionados, e qualquer tentativa

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de se colocar uma relação de causa e efeito entre os dois não teriasignificado algum.No gênero de relacionamentos não-locais de "ação à distância" queocorrem na física quântica, não existem nem o tempo nem o espaçono sentido comum que se dá de uma "distância entre lugares" ou"distância entre momentos". Na experiência de Freedman e Clauserque testava as alternativas do Teorema de Bell, os fótons secomportavam como se estivessem "cobrindo uma grande região noespaço". Na experiência de Pfleegor e Mandel, era como seestivessem cobrindo uma grande porção de tempo. Em qualquer doscasos, a distância é substituída pelo relacionamento.Disso pode -se concluir que se a precognição fosse vista comomanifestação macroscópica do tipo de efeitos de tempo não-locaisdemonstrado por Pfleegor e MandeI, já não haveria mais fundamentopara dizer que há um paradoxo filosófico sobre a causalidade. Onde adistância espacial e temporal é substituída pelo relacionamento, acausa e o efeito já não têm mais qualquer significado. Também sepode concluir que a partir de um tal modelo quaisquer objeções aofato de a precognição implicar a impossibilidade do livre-arbítriotambém teriam de ser vistas sob uma nova luz - mas esses casosserão discutidos no Capítulo 12.

10. A CONSCIÊNCIA E OS FENÔMENOS QUÂNTICOS

Para alguém que esteja procurando seriamente uma explicação físicapara os fenômenos psíquicos, a teoria quântica oferece muitaspossibilidades espantosas. Pelo menos em termos conceituais maisamplos, a maioria das objeções filosóficas e materiais aparentementeinsuperáveis à mais singela possibilidade da existência de coisascomo a psicocinese, a telepatia e a precognição já foram derrubadaspela nova física.O Princípio da Complementaridade estabeleceu que a matéria e aenergia são dois lados de uma mesma moeda e se, como também

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parece, a própria consciência é alguma espécie de energia mental,então já não pareceria mais tão artificial considerar-se que a mentepossa exercer alguma influência sobre a matéria (psicocinese). Esseponto de vista é ainda mais reforçado pela maneira com que a teoriaquântica retirou quaisquer distinções mais estáveis entre o observadore o observado ao demonstrar que aparentemente a consciência temum papel ativo na determinação dos resultados de experiênciasrealizadas para estudar o fenômeno quântico. As experiências sobre oTeorema de Bell estabeleceram que as estranhas influências acausaisque transcendem as limitações de tempo e espaço ligam partículaselementares no nível quântico da, realidade de uma maneira muitosugestiva à suposta capacidade da mente em transcender a distância(telepatia) ou tempo (precognição) no nível macroscópico.Mas, se qualquer um desses efeitos quânticos muito promissorespode ser considerado como tendo uma importância direta paraexplicar a mecânica real de coisas como a precognição, não bastarámostrar que eles ocorrem entre partículas elementares reagindo novácuo em condições de laboratório. Deve-se encontrar alguma provade que existe uma ponte natural entre os fenômenos quânticos e aconsciência humana, de maneira que nossos pensamentos epercepções na vida diária possam ser influenciados pelo estranhocomportamento das partículas elementares. E a questão maisimportante no momento é saber se há algum mecanismo conhecidono cérebro que permita que nossa consciência dos fatos que ocorremno mundo possa formar-se pelo menos parcialmente em resposta aosfenômenos do nível quântico - e especialmente em resposta àindeterminância quântica.

A Indeterminância Quântica no Cérebro

O cérebro humano consiste essencialmente de 10 mil milhões (10elevado a 10) de células nervosas chamadas "neurônios" e essesneurônios, como também células nervosas em outras partes do

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organismo, são sensíveis ao estímulo de influências externas. Océrebro é muitas vezes comparado a um computador por haveralguma semelhança entre a complexidade da maneira pela qual seusfeixes de neurônios estão organizados e o emaranhado de fios quecompõem o circuito elétrico de um computador.Como as "células nervosas" de um computador, os neurônios docérebro também são uma espécie de fiação elétrica que deixa fluirimpulsos eletroquímicos passando mensagens diversas para dentro epara fora. Exatamente como a fiação elétrica de qualquer máquina,que terá maior ou menor eficiência dependendo da condutibilidade dosfios e da força dos impulsos elétricos transmitidos, os neurônios docérebro transmitirão mais ou menos informações dependendo de suaprópria condutibilidade e da força dos estímulos que atinjam oneurônio.No tecido vivo, as concentrações químicas (de hormônios,metabolitos, drogas, sais etc.) que circundam as junções (sinapses)entre os neurônios determinam a eficácia com que eles conduzirão osimpulsos elétricos, e, por conseguinte, a informação. Se um neurônioestá rodeado por uma concentração química de algumas substânciasimportantes que seja fraca, será preciso uma entrada elétrica muitogrande para estimulá-Ia à ação; se a concentração química em volta éforte, o neurônio irá disparar sob a influência de um impulso elétricomuito mais fraco. A quantidade de estímulo elétrico necessária parafazer um neurônio disparar (ou seja, responder ao estímulo e passaradiante qualquer informação) é chamada de "limiar de estímulo".No caminho normal da percepção, os neurônios são continuamenteexcitados, além ou dentro da faixa do limiar de estímulos, pelosimpulsos elétricos muito fortes gerados pelo ambiente circundante.Nós enxergamos porque os raios de luz estimulam os neurôniosópticos, ouvimos porque ondas de som estimulam os neurôniosauditivos, e assim por diante. Mas a questão de a capacidade docérebro reagir ao nível dos fenômenos quânticos é saber se umprocesso quântico poderia gerar um impulso elétrico com força

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suficiente para disparar neurônios, excitando-os no nível mínimo deseus limiares de estímulo.Já se sabe há algumas décadas que o córtex visual do cérebrohumano é sensível o bastante para registrar um único fóton de luz, oque equivale dizer que ele registra um único processo quântico - apassagem de um elétron de um estado mais elevado de energia.dentro de um átomo para um estado de energia inferior. Essesprocessos quânticos singulares naturalmente estão sujeitos aoPrincípio da Incerteza e são a localização para o tipo de efeitos não-locais discutidos no capítulo anterior. Antes de se estabelecerfinalmente em seu estado mais estável (e assim emitir um fóton), oelétron se espalha pelo espaço e tempo em milhares de transiçõesvirtuais, interferindo consigo mesmo e com outros elétrons emflagrante menosprezo à causalidade ou temporalidade.A questão de o cérebro poder adaptar-se à indefinição das transiçõesvirtuais continua sendo a mais séria dos teóricos da precognição, masexperiências realizadas já na década de 40 haviam determinado queneurônios corticais (do cérebro) singulares estão sujeitos a umPrincípio de Incerteza próprio e que a indeterminância quântica estáfuncionando no próprio cérebro, através de variações casuais nasconcentrações químicas que envolvem as sinapses dos neurônios.Como é indicado pelo fato de que um único fóton (um quantum de luz)irá excitar o nervo óptico, as sinapses dos neurônios são tão finas etão sensíveis que a semelhança de seus disparos (seu limiar deestímulo) varia segundo as flutuações quânticas no fluido iônicocircundante. Como essas flutuações são inteiramente casuais, não épossível dizer exatamente quando algum neurônio irá disparar mais doque será possível predizer quando qualquer elétron irá se excitar.Testes de laboratório em neurônios isolados provam que seus limiaresde estímulo variam segundo uma lei estatística definida, comoqualquer outro processo quântico.Nem todos os neurônios corticais estão sujeitos à indeterminânciaquântica. Apenas aqueles que já estão estimulados ou muito próximosde seus limiares de estímulo terão uma sensibilidade no nível quântico

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de excitação dos fluidos circundantes. Se o estímulo chega em nívelmais alto, como acontece na percepção normal, ele irá abafar osestímulos no nível quântico, muito mais delicados. Mas, dos 10(elevado a 10) neurônios que se supõe existirem no cérebro, os dadosexperimentais sugerem que cerca de 10 (elevado a 7) estão sendoestimulados ou se encontram muito próximos do limite marginal dasensibilidade quântica a qualquer momento. Em contrapartida, existemaproximadamente 10 (elevado a 6) neurônios no nervo óptico, demaneira que a entrada do nível quântico no cérebro é pelo menos dezvezes maior que a entrada visual.Em estados de atividade cerebral reduzida, como durante o sono ouem estado de meditação ou de transe, a proporção de neurôniossujeitos ao estímulo marginal limite aumenta, aumentando assim asuscetibilidade ao estímulo por fenômenos quânticos indeterminadosnesses estados. O interessante é que em estados de relaxamento háuma predominância de ondas alfa registradas em padrões EEG, e,como já foi discutido antes, as ondas alfa podem muito bem estarassociadas a uma capacidade mais elevada de PES.

A Indeterminância Quântica e o PensamentoConsciente

Até agora estivemos discutindo a sensibilidade de neurônios corticaisem relação à indeterminância quântica microscópica, e tudo o que jádissemos é fato científico estabelecido. Não há dúvida de que no nívelmais básico os elementos que constituem o cérebro sejam afetadospor processos quânticos. Mas, embora possa ser encorajadorencontrar-se no cérebro qualquer elemento em funcionamento queesteja voltado para os fenômenos quânticos, o comportamento isoladode neurônios singulares ainda está a uma grande distância dosmodelos conexos (sincrônicos) de disparos de milhões de neurôniosque constituem nossa consciência desperta normal. Se essacoerência macroscópica (manifestada como consciência desperta)

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tem qualquer fundamento quântico mecânico ainda é uma simplesquestão especulativa - embora quase todas as teorias físicas daprecognição possam afirmar que ela existe.Ondas cerebrais conexas certamente existem, como já foi bastantedemonstrado em padrões de EEG, e quanto mais elevado o grau deconsciência que estiver sendo acompanhado, maior a disseminaçãodessa conexão. Um cérebro profundamente adormecido registra muitopoucas ondas cerebrais conexas; um cérebro em atividade normaldesperta, um pouco mais; um cérebro muito concentrado em algumtrabalho criativo, mais ainda; e um cérebro envolvido em algo como ameditação transcendental apresenta o mais elevado nível de conexão.Estudos por EEG do cérebro de Einstein mostraram um padrãoconsistente de ondas alfas conexas a maior parte do tempo!As ondas cerebrais conexas, por todas as suas perturbadoras ligaçõescom a consciência mais elevada, são produzidas no nível dosneurônios, por milhares de neurônios reagindo em fase, e não existenenhuma ligação comprovada entre esse tipo de conexão(macroscópica) e o tipo de conexão (microscópica) de funções deonda quântica encontrado nesses fenômenos, como a superfluidez oua supercondutividade. Ainda assim, alguns físicos quânticosinteressados em determinar a física da consciência fazemespeculações de que alguma coisa como a supercondutividade estejapor baixo da base do processo consciente e muitos acreditam quenumerosas semelhanças entre os processos conscientes e osprocessos da mecânica quântica sejam misteriosas demais para setratar de uma simples coincidência. David Bohm coloca a questão nosseguintes termos:

Podemos muito bem nos perguntar agora se a analogia muitoaproximada entre os processos quânticos e nossas experiênciasinteriores e processos de pensamento é simples coincidência... a

notável analogia ponto por ponto entre os processos de pensamento eos processos quânticos poderia sugerir que uma hipótese relativa aambos tenha possibilidade de mostrar-se frutífera. Se uma hipótese

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como essa pudesse ser verificada, ela iria explicar de maneira natural,muitos aspectos de nosso pensamento.

A analogia entre os processos do pensamento e os processosquânticos que Bohm tinha em mente era tríplice e traçava um paraleloentre o Princípio da Incerteza e determinados aspectos daconsciência. O dogma central do Princípio da Incerteza fala naimpossibilidade de se fixar um acontecimento quântico com muitaexatidão, pois o simples fato de se olhar para ele (tentando medir suaposição e seu impulso) muda o que se esperaria ver. Bohm observaque o mesmo é verdadeiro para o pensamento. "Se alguém tentaobservar o que estiver pensando no momento exato em que estiverrefletindo sobre um assunto qualquer, de maneira geral aceita-se aidéia de que a pessoa estará introduzindo mudanças imprevisíveis esem controle na maneira como seus pensamentos estavam indo antesdisso".Em segundo lugar, os relacionamentos não-locais que partem doPrincípio da Incerteza implicam que diferentes aspectos de umprocesso quântico não podem ser repartidos em fragmentosseparados, um afetando ao outro pelas leis causais, mas antes osistema todo deve ser encarado em termos de sua indivisibilidade, suaconexão, cada parte só fazendo sentido em termos do todo. E assim écom o pensamento: "... o significado de um processo de pensamentoparece ter uma espécie de indivisibilidade. Se uma pessoa tentaaplicar a seu pensamento elementos cada vez mais definidos, elatentará chegar a um ponto em que qualquer análise ulterior nãopoderá ter sequer algum significado. Parte do significado de cadaelemento de um processo de pensamento parece, portanto, ter origemem suas ligações in divisíveis e completamente sem controle emrelação a outros elementos".Por fim, Bohm traça um paralelo entre o papel dos conceitos clássicos,que tornam possível descrever o mundo cotidiano de objetos emseparado e as relações causais que revestem e são o limite dosprocessos quânticos, e o papel dos conceitos lógicos na estruturação

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da natureza fluente e "indeterminada" dos processos de pensamento."Sem o desenvolvimento do pensamento lógico, não teríamosqualquer maneira definida de expressar os resultados de nossospensamentos e de verificar sua validade. Assim, da mesma forma quea vida que conhecemos seria impossível se a teoria quântica nãotivesse seu limite clássico atual, o pensamento pomo o conhecemosseria impossível a menos que pudéssemos expressar seus resulta dosem termos lógicos". Além dessas analogias entre o processo depensamento e a indeterminância quântica mencionada por Bohm,existe pelo menos mais uma, particularmente importante para o temada precognição: um paralelo entre o papel da fantasia nodesenvolvimento psicológico e o papel das transições virtuais naevolução dos processos quânticos.O mecanismo da fantasia parece ter sido projetado para lançar os''sensitivos'' em direção ao futuro. Temporariamente, em nossasmentes, vivemos uma possível situação futura para ver se ela nosserve ou não. Algumas fantasias parecem tão artificiais, chegando àimprobabilidade ("Imagine se eu ganhasse na loteria, na semana quevem!?''), sendo assim, postas de lado. Outras são bastante possíveis,e assim, mais prováveis ("Sábado que vem vou nadar, talvez vá jogartênis, talvez visitar um amigo...") e podem condensar-se numcomportamento futuro real.Essas fantasias a respeito do futuro são particularmente importantespara as crianças, um meio de experimentarem suas perspectivas paraa vida adulta. A criança imagina que é um vaqueiro, um bombeiro, ummédico etc. e é muito comum que mantenha conversas entre seusvários egos fantasiosos - um correlato dos padrões de interferênciaque podem ser observados quando as ondas de probabilidades damesma partícula elementar se intersectam.Resumindo, não faltam boas analogias entre a mecânica dopensamento e a mecânica do processo quântico, e estas estão entreas muito perturbadoras razões para se supor que a própriaconsciência seja um fenômeno quântico. Mas ainda se pode acharque esteja faltando o elo mais importante capaz de demonstrar como

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acontecimentos quânticos microscópicos isolados (que resultam nodisparo de neurônios individuais) poderiam ser ampliados paraproduzir uma conexão quântica macroscópica. Na ausência de um talmecanismo, o elo entre a teoria quântica e a consciência devepermanecer hipotético. Mas, como diz Bohm: "Se fosse verdade queos processos do pensamento dependem principalmente de elementosda mecânica quântica, então poderia se dizer que os processos depensamento proporcionam o mesmo tipo de experiência direta dosefeitos da teoria quântica que as forças musculares proporcionampara a teoria clássica". A maioria das teorias que vêm a seguirfuncionam baseadas nessa hipótese.

11. TEORIAS FÍSICAS DA PRECOGNIÇÃO

Depois de observar a Teoria da Sincronicidade de Jung, no Capítulo 7,deixamos de tentar compreender de que forma a precognição poderealmente funcionar. O próprio Jung chegou a perceber que osprogressos na Teoria da Relatividade e na física quântica teriam deser levados em consideração em qualquer tentativa de se explicar aprecognição, embora seu esforço para fazer isso tenha sidoprincipalmente intuitivo. Contudo, Jung foi o primeiro a dar ênfase aessa importante questão que era saber se as leis da nova física nãopoderiam ser aplicadas à consciência humana de maneira a explicar ofenômeno físico. E a própria questão em si representava uma grandeinovação nas maneiras tradicionais de pensar sobre o assunto. Amaioria das teorias físicas da precognição que apareceram depoispartiram de onde Jung havia parado.Tentar compreender a mecânica real da precognição coloca realmenteduas perguntas distintas a serem respondidas e o êxito de qualquerteoria física será julgado pela capacidade em propiciar respostassatisfatórias às duas perguntas.

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Em primeiro lugar, de que modo, em termos das teorias físicas atuais,podemos compreender o futuro já presente, uma vez que existe até apossibilidade de se ter acesso a ele?Em segundo lugar, uma vez compreendido o que pode significar o fatode o futuro, de alguma forma, existir realmente agora, por quais meiospoderíamos ter acesso a ele, ou seja, a qual mecanismo físico emnossos cérebros poderíamos atribuir a consciência precognitiva?

A Natureza do Acontecimento Precógnito

Ao tentar responder à primeira pergunta, é importante deixar claro quea precognição é uma precognição de. O dom da previsão, seautêntico, implica que, em algum sentido, certos aspectos do futurodevem existir "agora". Se existem pessoas que realmente vêem fatosse revelando antes que aconteçam, então depreende-se que devehaver alguma coisa que elas possam estar vendo. A natureza dessacoisa abre-se a duas interpretações diferentes, cada uma com suaprópria noção de tempo e cada uma sugerindo suas próprias teoriasde como a precognição deve funcionar realmente.Na primeira interpretação, o acontecimento visto na experiênciaprecognitiva deve ser um acontecimento real que se verificou ou que,definitivamente, irá se verificar, embora no que diz respeito àconsciência humana ainda "esteja por acontecer". Isso sugere umavisão de tempo em que o futuro está totalmente revelado ou, pelomenos, descrito. O elenco, o cenário e todas as ações que abrangemo futuro já estão ali agora (ou pelo menos estão esperando nosbastidores), se apenas tivermos olhos para vê-Ios.Essa é a tradicional visão do acontecimento precógnito, e a noção detempo nela implícita não é um problema para a física moderna. Comojá foi discutido antes (ver o Capítulo 8), é perfeitamente compatívelcom a Teoria Geral da Relatividade e com a noção de Einstein de umcontinuum de espaço-tempo quadridimensional.

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Na segunda interpretação do conteúdo real de uma visão precognitiva,o precógnito não é um acontecimento futuro real, mas antes apercepção futura, que alguém tem de um possível acontecimentofuturo. Esse conceito um tanto tortuoso sugere à primeira vista queuma pessoa manifestamente envolvida com uma previsão está, naverdade, prevendo o futuro estado de sua própria mente, ou seja, ela,de alguma forma, conseguiu ter um contato telepático com uma futuramanifestação de si mesma e assim está vendo "agora" aquilo que seufuturo eu estará percebendo "então". A ênfase não está naquilo queserá, mas antes naquilo que pode ser visto. Isso não implica que ofuturo já esteja determinado, mas sugere haver uma série de possíveisfuturos e que, de alguma forma, sejamos capazes de perceber essaspossibilidades.Tal interpretação inclui uma noção de tempo compatível com a físicaquântica e está no âmago daquelas teorias físicas da precognição queacabarão recorrendo de uma ou outra maneira às implicações doPrincípio da Incerteza. Se verdadeira, essa é a interpretação preferidapela maioria dos modernos teóricos da precognição porque contornaos problemas levantados sobre a existência do livre-arbítrio naprecognição (que será discutido no Capítulo 12) e porque está muitomais de acordo com os detalhes conhecidos dos casos mais evidentesde precognição espontânea. Certamente ela está de acordo com oscasos citados anteriormente neste livro, em que as pessoas quetiveram a experiência precognitiva pareciam estar vendo alguma coisaque iriam ver mais tarde na "vida real". Não existem casos registradosna história mais recente (com exceção de alguns de psicografia) emque a pessoa que teve a visão precognitiva não tenha participadomais tarde do acontecimento previsto ou tido algum registro visualdele.J. W. Dunne, por exemplo, em seu An Experiment with Time, observouque o material precognitivo na maioria de seus sonhos parecia ser decoisas impressas numa página de um livro ou em manchetes deum jornal que ele estivesse destinado a ler alguns dias mais tarde. Emseu estudo dos 35 casos de precognição ligados ao desastre de

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Aberfan, John Barker observava que "muitas das pessoas quesonharam alegavam ser capazes de localizar exatamente as cenas deseus sonhos nas fotos do desastre de Aberfan que apareceram nosjornais ou na televisão". E no caso do jogo de roleta da srta. H. R., eladizia que seus olhos eram sempre atraídos para um número no panoda roleta (ou seja, no lugar onde ela estaria vendo o crupiê colocar otaco quando o número saía), e não em algum número na própria rodada roleta em si (onde aconteceria o fato real no futuro).Encarar a precognição como a previsão de um possível acontecimentofuturo em vez de um acontecimento real também está de acordo comcasos registrados e ajuda a explicar certos casos difíceis onde umasuposta precognição "dá errado", quando o acontecimento previsto sematerializa, mas com alguns aspectos importantes alterados.Por exemplo, havia uma série de casos citados no Capítulo 2, em queum possível acontecimento futuro foi sonhado e evitado por causa deum sonho: o caso de Susan B. Anthony que sonhou com o incêndio deum hotel em que poderia ter morrido; o sonho da sra. Warren sobrea queda do Vanguard que a fez cancelar a passagem no vôocondenado; o passageiro que se recusou a viajar no Titanic e assimpor diante.As estatísticas de batidas de trem feitas por William Cox, quemostraram que menos pessoas viajaram em trens em risco do quenos que não tiveram problemas, sugerem que essas experiênciasprecognitivas (ou premonitórias) podem ser bem comuns e trata-se,obviamente, de experiências que se referem não a um futuro real queacontece depois, mas antes a possíveis futuros que poderiam teracontecido.

A Precognição e as Transições Virtuais

A primeira teoria física realmente detalhada da precognição a serproposta tentava desenvolver a noção de uma percepção futura de umpossível acontecimento futuro (a telepatia precognitiva) reunindo o que

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se sabia sobre o indeterminismo quântico no cérebro com análisesdas transições virtuais da teoria quântica que então fazia a ligação deum mecanismo perceptivo conhecido com um nível de realidade onde"possíveis futuros" existem como coisas naturais. A teoria foiapresentada em 1960 pelo dr. Ninian Marshall, um jovem psiquiatraque havia sugerido antes uma base mecânica quântica para atelepatia.A teoria de Ninian Marshall lembra que um sistema subatômico, emqualquer espaço de tempo determinado, é sempre a mistura depossibilidade e atualidade, uma tendendo a dar lugar à outra numaamplitude de probabilidades. Uma partícula elementar dentro dosistema, como um elétron, ao ser perturbada tende a lançar"sensores" em direção a seu próprio futuro quando está diante doproblema de ajustar-se a algum novo grau de energia. Esses"sensores em direção ao futuro" (suas transições virtuais) cobremsimultaneamente todos os possíveis estados de energia que apartícula possa realmente decidir ocupar, ou seja, eles atuam demaneira simultânea todos os possíveis futuros da partícula.Cada transição virtual é exatamente um mergulho no futuro, um futurode onde a partícula então "retorna" para ir em qualquer um dosestados reais que ela tenha escolhido para instalar-se. A premissa emque Marshall baseou sua teoria e a de que a precognição poderia serexplicada se houvesse maneira pela qual o cérebro pudesse"sintonizar" um desses mergulhos virtuais no futuro, e ele via oprovado indeterminismo quântico erigido sobre os disparos deneurônios singulares como uma possível chave para esse processo.A essência da teoria de Marshall era fazer a transição dacomprovada capacidade de neurônios singulares para responder aprocessos quânticos singulares elaborando hipóteses que eram:1. um meio pelo qual acontecimentos singulares no nívelquântico (transições virtuais) podem associar-se para construir umpadrão, e mais;2. um meio pelo qual o cérebro pudesse ampliar essespadrões quânticos microscópicos em percepções macroscópicas. Ele

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chamou esses processos de ampliação e de formação de modelos de"fenômenos de ressonância" e os comparou ao tipo de efeitos deressonância que existem entre objetos em oscilação, como diapasõesmusicais ou vidraças de janela vibrando em "harmonia" com linhas deuma via férrea chacoalhando. Expressando sua teoria como uma Leida Ressonância, ele afirmava: "Quaisquer duas estruturas exerceminfluência uma sobre a outra, o que tende a torná-Ias mais parecidas.A força dessa influência aumenta com o produto de sua complexidadee diminui com a diferença entre seus padrões".E assim, se houver alguma semelhança entre formações de padrõesno cérebro e os padrões construídos nas transições virtuais dosfenômenos quânticos, a tendência crescente a um determinadopadrão entre as transições virtuais (diz a teoria) estará criando umacrescente semelhança nos padrões em construção nos circuitos emreverberação do cérebro. Esse conceito de ressonância é semelhante,de muitas maneiras, à noção de sincronicidade de Jung, em que "oigual atrai o igual". Um acontecimento (subatômico neste caso) deveráagir como um ímã, atraindo outros para suas próprias "vibrações" eassim construindo um padrão que reflete a si mesmo como umespelho.Como um processo quântico sobrevive a si mesmo, seus estadosvirtuais se deslocam do possível para o mais provável e depois para oreal, uma transição verdadeira, que é o produto final. Se, conformesugere Marshall, o cérebro é sensível a estímulos do nível quântico,isso quer dizer que num determinado ponto crítico o processo quânticose aproxima de uma probabilidade bastante elevada de estabelecer aformação de um padrão; dessa forma ele irá provocar um padrão deressonância semelhante nos circuitos em reverberação dos neurôniosdo cérebro marginalmente estimulados, criando assim a imagemprecognitiva que reflete a crescente probabilidade de algum padrão deacontecimento quântico. Então, a proporção dessas imagensprecognitivas em relação aos acontecimentos reais que ocorrem seráa mesma proporção entre a probabilidade de um padrão de transiçãovirtual e a formação final de uma transição real no nível quântico.

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Marshall propõe assim uma teoria física da precognição baseada nasuposta capacidade do cérebro de se adaptar a estados deprobabilidade de transições virtuais quânticas e de experimentar,através da ressonância, a formação de um padrão que possaespelhar, num nível acessível à consciência, quaisquer tipos deformações de padrão entre os prováveis acontecimentos quânticos, seé que estes existem. Entretanto, os críticos podem argumentar muitosimplesmente que se trata de um "se" muito amplo, que em si mesmoquase pressupõe a existência dos fenômenos precognitivos; aindaassim, a abordagem de Marshall tem inúmeras vantagens.Ela se presta a uma simples explicação da mecânica quântica decomo uma futura "qualquer coisa" pode ser vista agora, mesmo nãotendo ainda acontecido; ela se adapta ao que se conhece sobre ofuncionamento do cérebro, e também pode oferecer uma explicaçãoconvincente para a característica casual e a imprecisão queacompanha tantos dos casos de manifesta precognição.Os conteúdos das visões precognitivas tendem em seu todo aser vagos, sendo uma ilusória mistura de detalhes muito precisos emalguns aspectos combinados com sugestões indistintas de umarealidade futura e partes que não têm relação alguma com overdadeiro acontecimento final. Um quadro tão confuso como este é oque se deve esperar com base na teoria das transições virtuais, pois,se é possível a percepção futura que está sendo prevista naprecognição, deveríamos esperar que houvesse muita indeterminânciaenvolvida. Uma vez que uma transição virtual só pode ser descritacomo uma onda de probabilidade, qualquer precognição que saia deum acontecimento no nível quântico tão indeterminado assim estariainclinado a refletir essa indeterminância.Além do mais, existem muitos casos registrados de precognição dotipo "quase erro" em que a visão precognitiva (espontânea ouproduzida em condições de laboratório) expõe uma imprevisÍveltendência a "mudar" algumas das características do acontecimentoreal final. Nas experiências Soal-Shackleton com os cartões deadivinhação, por exemplo, muitas vezes os dados indicavam que

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Shackleton não havia adivinhado o próximo cartão, mas antes um quevinha depois deste, ou, em certos casos, o cartão que havia precedidoaquele.Da mesma forma, nas experiência de visão à distância de Targ ePuthoff na Universidade de Stanford, os indivíduos muitas vezesdescreviam as localidades que os assistentes teriam ido visitar setivessem aberto o envelope seguinte ao que seria fornecido pelogerador de números aleatórios. Targ e Puthoff descreveram essesinteressantes casos de erros como "efeitos de deslocamento". Nocaso do jogo de roleta da srta. H. R. ficou evidente que ela, muitasvezes, sentia seu olhar ser atraído por um número adjacente aonúmero que realmente saía, como se ela se ''sintonizasse" com osnúmeros mais prováveis de serem selecionados, mais do que se elaestivesse sabendo quais seriam.Todos esses efeitos de "quase erro" são o que se poderia esperar sea precognição viesse de uma percepção de uma série de futurospossíveis pelo contato com as transições virtuais quânticas, e assimnão chegam a ocasionar nenhum embaraço para os pesquisadorespsíquicos. Nessa teoria, os fenômenos do quase erro são no mínimo(se não, no máximo) tão válidos quanto os fenômenos do "acertodireto" para a compreensão da base física da precognição.

As Teorias de Observação

O físico americano Evan Harris Walker publicou em 1974 a primeirado que veio a ser toda uma série de teorias físicas da precognição,que passaram a ser conhecidas como "as teorias de observação". Aprimeira teoria de observação de Walker foi comentada, alterada eacrescentada por outros físicos, entre os quais Helmut Schmidt. Opróprio Walker publicou inúmeras edições revisadas da teoria. Como ateoria das transições virtuais de Marshall, às teorias de observaçãotêm seu ponto de partida na física quântica e, reunidas, elas

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dominaram a discussão sobre o funcionamento da precognição dadécada passada.O principal para as teorias de observação vem daquilo que os teóricosda quântica chamam de "problema de mensuração", ou seja, aquestão de como, de alguma forma, é possível que todas as diversaspossibilidades descritas na função de onda de um fenômeno quântico"caiam" num único acontecimento mensurável. Como será que essapossibilidade se torna realidade? Por que é que existe um mundocheio de objetos concretos em vez de um simples oceano amorfo depossibilidades infinitas?A própria teoria quântica não tem respostas para o problema damensuração, contentando-se em afirmar que a equação da onda deSchrödinger descreve todas as possibilidades associadas a umfenômeno quântico, e que todas essas possibilidades continuamviáveis (o fenômeno está disseminado no espaço e no tempo) até oinstante em que olhamos para o fenômeno com nossos instrumentosde medição. O próprio ato de medição em si, por alguma razãodesconhecida, determina casualmente aquilo que é medido. GaryZukav escreveu o seguinte em seu The Dancing Wu Li Masters:

Sem a percepção (a medida), o universo continua, pela equação deSchrödinger, a gerar uma infinita profusão de possibilidades. Mas oefeito da percepção é imediato e dramático. Todas as funções de

onda representando o sistema observado desmoronam, com exceçãode uma parte, que se materializa em realidade. Ninguém sabe o que

faz com que uma determinada possibilidade se realize e o restodesapareça. A única lei que governa esse fenômeno é estatística. Em

outras palavras: é um caso de oportunidade.

Mas, apesar do frio contentamento com o formalismo da estatística eda matemática por parte dos teóricos da quântica da linha dura (aescola de Copenhagen), o problema da medição continua aimportunar os filósofos da física e aqueles físicos quânticos queesperam um dia compreender a natureza da realidade subjacente.

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Uma das hipóteses que tem dominado a questão foi sugerida pelofísico Eugene Wigner, do Instituto de Tecnologia de Michigan:segundo ele, a consciência desmantela a função de onda, ou seja, aconsciência é responsável pelo mundo como o conhecemos, emvirtude de seu papel na transmutação da possibilidade em realidade.Segundo Wigner, é o próprio observador consciente, mais que seusinstrumentos de medição, que desempenha o papel mais importanteem provocar aquilo que ele observa. As teorias de observação daprecognição se originam essencialmente da hipótese de Wigner,embora elas acrescentem sua própria característica vinculada a umaespécie de causalidade retroativa.A teoria da precognição de Walker sugere que o ato consciente deantever um "acontecimento futuro" tem o efeito de criar de maneiraretroativa o próprio acontecimento previsto. A consciência, diz ele, temo poder de, através de uma causação retrógrada, desmoronar afunção de onda proporcionando assim a comprovação da existênciade sua "previsão". O que é previsto acabará sendo aquilo que foidessa forma criado.Infelizmente, como as teorias de observação sempre sãoapresentadas de uma forma muito complexa e técnica, seus pontosmais apurados não são facilmente acessíveis a outros que não osfísicos profissionais.Mas é possível compreender seu modelo básico, traçando umrelacionamento entre elas e as experiências de precognição no nívelquântico com o estrôncio-90 radioativo realizadas por Helmut Schmidt(ver Capítulo 4).Os indivíduos testados por Schmidt deviam apertar um de quatrobotões que havia na aparelhagem experimental; qualquer dos botõesque apertassem representaria a adivinhação de qual de quatro luzesiria acender-se pelo estrôncio-90 enfraquecido. Se adivinhassemcorretamente em mais de 25% das vezes, Schmidt considerava queeles possuíam alguma capacidade precognitiva.Segundo as teorias de observação, a mecânica real de umaadivinhação precognitiva correta no conjunto experimental de Schmidt

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baseava-se na influência que o indivíduo tivesse tido no próprioprocesso de enfraquecimento do estrôncio-90 (ou no gerador denúmeros aleatórios a ele associado) depois de ver qual luz haviaacendido por esse processo. Em outras palavras: primeiro o indivíduovia a resposta de sua adivinhação (a luz que acendia) e depois"determinava" o processo de enfraquecimento de maneira retroativapara produzir o resultado por ele previsto (ver o diagrama). Essemecanismo sugere que o processo que chamamos de precognição é,na verdade, uma psicocinese retroativa, a mente trabalhando para trásno tempo para influenciar forças materiais de modo a poderemproduzir o resultado já observado.

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Walker amplia o seu trabalho teórico sobre as teorias de observaçãochegando a especular como deveria ser a natureza da consciênciahumana para ser compatível com essas teorias. No fundo, eledescreve a consciência como um estado mecânico quântico,semelhante ao que existe dentro dos supercondutores, e diz, então,que o cérebro do observador se liga ao mundo exterior através de

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seus sentidos para formar um sistema mecânico quântico. Afora o fatode ser muito hipotética, essa formulação nos leva ao problema de que,segundo a principal corrente da teoria quântica, um sistema quânticonão pode desmoronar a função de onda de um outro nem a suaprópria. Para contornar isso, Walker parece sugerir que a "vontade"funciona como um deus ex machina, permitindo que o observadordestrua a função de onda de um acontecimento observado segundoseu humor ou sua intenção.Embora as diversas teorias de observação tenham dominado asdiscussões teóricas sobre a precognição entre os pesquisadorespsíquicos que tendiam à física durante a última década, certamenteelas não agradaram a todos. A literatura já publicada dos críticosultrapassa bastante em número a dos que a apóiam. Segundo ofilósofo americano Stephen Braude, "as bases conceituais das teoriasde observação são no melhor dos casos fracas demais e as teoriasem si parecem muito desprovidas de sentido e sem nenhuma forçaexplicativa". John Beloff, de Edimburgo, depois de salientar que acausa e o efeito nas teorias de observação "dão caça um ao outro emcírculo temporal, como um cão tentando morder seu próprio rabo",continua dizendo que a necessidade de haver um apelo à "vontade"para explicar a queda da função de onda (que é redução de muitaspossibilidades futuras para uma no presente real) significa que elas naverdade não são teorias físicas de maneira alguma.

Lembrando o Futuro

No Congresso Internacional de Física Quântica e Parapsicologia quehouve em Genebra em 1974, o físico americano Gerald Feinbergapresentou um documento-ensaio sob o título "A lembrança dascoisas futuras". Ele partia de uma simetria nas equações deeletromagnetismo de Maxwell que sugere que - pelo menos em teoria- seria possível receber informações tanto do futuro quanto dopassado; sua finalidade era comparar as propriedades comuns da

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precognição, como estava registrada, e a memória recente, naesperança de que uma pudesse lançar alguma luz sobre a outra.Essas comparações entre a precognição e a memória recente estãose tornando cada vez mais comuns entre os pesquisadores cujotrabalho faz uma ponte sobre as lacunas existentes entre aparapsicologia e a física, e a parapsicologia e a psicologia. Encarar aprecognição como uma espécie de "memória ao contrário" pode nãoser de muita valia para arranjar algumas das questões maisespinhosas na física da precognição, mas poderá ajudar a esclarecero mecanismo fisiológico real pelo qual essa capacidade funciona.A memória é algo que todos utilizam. como parte da vida cotidiana,embora nem a mais recente pesquisa sobre a fisiologia do cérebrotenha conseguido fornecer uma explicação completa do modo peloqual ela realmente funciona. Mas, apesar de todas as divergências, osteóricos da memória concordam num ponto essencial: existe umaclara e importante distinção entre a memória recente, ou memória decurto prazo e a memória de longo prazo. Felizmente, para nossasfinalidades, a memória recente é a mais bem compreendida dessasduas.A memória de longo prazo é a capacidade de reunir dados durante umlongo período de tempo. Memórias da infância, memórias do anopassado, da semana passada e até de uma hora atrás seriamclassificadas como sendo memórias de longo prazo. Não há nada deconclusivo que já tenha sido compreendido sobre como o cérebroretém e recompõe estes trechos de informação distantes.Por outro lado, a memória recente refere-se aos trechos deinformação disponíveis para relembrar por não mais que algunsminutos, e sabe-se que essa função atua mais como um mecanismode processamento do que como um banco de dados. Esses trechosde informação que o cérebro capta e é capaz de reter por algunsminutos ou são permanentemente arquivados no banco de memóriade longo prazo ou são perdidos para sempre.A distinção entre a memória de longo prazo e a memória recentetornou-se clara depois de se observar pessoas cujos cérebros haviam

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sofrido danos temporários do tipo que interrompia o funcionamentonormal. Pessoas que haviam sofrido concussão cerebral, ataquesepiléticos ou tratamento de choque. Em cada um desses tipos decasos descobriu-se que a pessoa em questão já não tinha nenhumamemória dos minutos que haviam imediatamente precedido o choqueem seu cérebro; no entanto a memória de acontecimentos de umpassado mais distante (a memória de longo prazo) não fora afetada.No caso que estabeleceu mais claramente a distinção entre asmemórias de curto e de longo prazo, parte do cérebro de um epiléticofoi removida numa tentativa de interromper os curtos-circuitos elétricosque provocavam os ataques. O inesperado resultado foi que depoisdisso o paciente nunca mais conseguia ir além de "ontem".Tal fato tornou evidente que a memória de longo prazo do pacientefora deixada intacta, assim como a memória recente, mas ele eraincapaz de transferir qualquer informação vinda de alguma experiêncianova para seu banco de memória de longo prazo. Qualquer novainformação recebida era simplesmente esquecida no dia seguinte -como foi ilustrado por um exemplo em que lhe mostraramrepetidamente o mesmo jornal, dia após dia, e a cada dia ele o lia erelia com um interesse ávido, sempre achando que o conteúdo eranovo.Vendo-se como funciona o mecanismo real dos canais deprocessamento da memória recente, voltamos às mesmas questõeslevantadas no Capítulo 10, quando se perguntava como o cérebropoderia processar as percepções precognitivas. Por exemplo, como éque o cérebro capta trechos de informação do mundo exterior e ostransforma em padrões que possam ser retidos como imagens oupensamentos? A vantagem evidente de se encarar a questão emtermos de memória é que, desde que a memória recente e aprecognição podem muito bem trabalhar de maneiras semelhantes,muito mais pesquisas já foram realizadas sobre a memória. Porrazões que logo serão discutidas, a memória também seria umcandidato mais confiável para estudos do que a precognição, mesmoque se pudesse produzir uma consciência precognitiva para instruí-la.

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Como já se discutiu antes, o cérebro é um mecanismo complexo debilhões de circuitos elétricos. A informação é levada ao cérebroquando algum estímulo externo provoca um impulso elétrico quedispara esses circuitos, compostos de neurônios. A informação queentra é passada para o cérebro enquanto o impulso elétrico viaja deneurônio a neurônio pelas pequenas cargas elétricas que viro sendodisparadas entre as sinapses (os terminais dos nervos) dosneurônios em separado.A chave para a compreensão de que esses impulsos elétricos que vãopassando pelos circuitos dos neurônios estão na raiz da maneiracomo opera a memória recente seria encontrada na natureza dessesincidentes que apagam a memória recente - concussões, ataquesepiléticos, tratamento de choque elétrico etc. Todos são fenômenosque interrompem o funcionamento normal do circuito elétrico docérebro. Se esses "curtos-circuitos" elétricos podiam destruir oconteúdo da memória recente, depreende-se que os impulsoselétricos que passavam pelos neurônios deviam ser os blocos queconstroem essa memória.Uma vez que tais impulsos eram a chave para o funcionamento damemória recente, restava ainda a questão de como se formariam osmodelos de imagem ou pensamento a partir de tais dados. Cadaimpulso elétrico proveniente de um estímulo externo não dura maisque dois milionésimos de segundo, mas os pensamentos e imagensque constituem o conteúdo da memória recente duram pelo menosalguns segundos ou talvez muitos minutos. Assim, o cérebro devenecessariamente ter algum meio para formar padrões a partir dessesimpulsos de milionésimos de segundos.O mesmo problema da constituição de padrão surgiu ao se discutir aforma pela qual os estímulos precognitivos no nível quântico emseparado poderiam reunir-se para formar uma imagem precognitiva. Eagora é geralmente aceito o fato de que padrões de memória recentena verdade operam por linhas de um mecanismo bastante semelhanteao que foi discutido quando analisamos a teoria dos padrões deressonância do cérebro de Ninian Marshall em termos da precognição,

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ou seja, que esses padrões se formam por reverberação (vibraçõespadronizadas) ao longo dos circuitos do cérebro ressonante.Como a pequena ondulação num lago cujos círculos partem do pontoem que a água foi perturbada num conjunto de ondas padronizadas,os pensamentos e imagens se formam no mecanismo de memóriarecente do cérebro através de padrões de ressonância postos emação pelo estímulo elétrico original, refletindo e ampliando suamensagem enquanto um número cada vez maior de circuitos elétricosdo cérebro vibram em "sintoma" com ela. Se também existemestímulos do futuro à disposição, esses efeitos de ressonânciasugerem um modelo do cérebro inundado por todos os lados pelasondas padronizadas da memória e da precognição.

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Se a precognição é realmente uma espécie de "memória do futuro",podemos imaginar o cérebro sendo inundado por informaçõesrecebidas do passado e do futuro. Aqui, o indivíduo precognitivo podelembrar-se do Titanic navegando a salvo "ontem" e prever seu

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afundamento "amanhã", e essas duas imagens encontram-sepresentes em seu cérebro "hoje".

Vale a pena fazer algumas considerações sobre certas semelhanças edistinções entre a memória recente e a precognição. A vasta pesquisarealizada sobre a memória recente já mostrou, por exemplo, que acapacidade de relembrar diminui rapidamente com o tempo; naverdade, ela diminui no mesmo índice logarítmico que foi descobertopelo psicólogo de Sheffield, J. E. Orme, em seu estudo do fator tempoem experiências precognitivas. No levantamento realizado por Ormesobre este fator em 148 casos de precognição espontânea, osexemplos registrados apresentavam um evidente relacionamentoinverso entre o número de precognições registradas e o tempo quehavia separado a visão precognitiva do acontecimento real.Mas, enquanto a memória recente se torna cada vez mais difusa coma passagem do tempo, até que, em determinado ponto crítico, osdados desaparecem inteiramente a menos que tenham sidoregistrados de modo permanente, a memória não apresenta a mesmaflagrante imprecisão e imprevisibilidade que aflige a consciênciaprecognitiva. Se os mecanismos são basicamente os mesmos, sendoa precognição simplesmente a memória invertida, por que essadiferença?Uma resposta óbvia apresenta-se por si mesma se lembrarmos anatureza probabilística dos dados com que a percepção precognitivatem de lidar: Enquanto a memória é uma compilação deacontecimentos ou impressões reais, a precognição é maisprovavelmente uma "pré-compilação" de possíveis acontecimentos ouimpressões.O cérebro, como já vimos, está sujeito às indeterminâncias de nívelquântico, e, assim, aberto à estimulação dos estados virtuaisquânticos de todos os acontecimentos possíveis. Desse modo, se asabordagens da mecânica quântica ao assunto estão corretas, aprecognição (nossa memória do futuro) iria conter necessariamenteuma incerta mistura de "memórias" de acontecimentos reais e

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"memórias" de possibilidades perdidas. Essa abertura aos estadosvirtuais quânticos que, através de ressonâncias dos neurônios podemconstituir um padrão semelhante ao elaborado pelos circuitosreverberadores na memória recente através de ressonâncias nosneurônios, estaria inclinada a deixar a "memória do futuro" (aprecognição) menos exata que a memória do passado. E em muitosaspectos, os dois mecanismos parecem muito semelhantes.

12. A PRECOGNIÇÃO E A QUESTÃO DO LIVRE-ARBÍTRIO

Outros sentavam-se afastados numa colina, recolhidos empensamentos mais elevados; muito discutiram sobre a Providência, a

presciência, o livre-arbítrio e o destino.Determinavam de forma absoluta o destino, o livre-arbítrio, a

paciência, sem acharem nenhum fim, vagueando perdidos emlabirintos.

Milton

A questão do livre-arbítrio sempre aparece nas discussões sobre aprecognição, atuando como uma das principais objeções filosóficaspara que se aceite que possa existir uma tal faculdade. Essa mesmapossibilidade de se ver o futuro antes que ele aconteça não implicariaa impossibilidade de atuar como um agente livre com relação a estefuturo? Eis a pergunta habitual. Por outro lado, como é possívelconceber a existência de um futuro já determinado, se acreditamos napossibilidade de o homem agir , como senhor de seu destino? E, se ofuturo não está ali para ser visto, o que pode significar "presciência" ou"previsão"?Até muito recentemente essas perguntas levaram os que pensavamnelas a "se perderem em labirintos de devaneios", sem escapatóriavisível para se poder fazer uma escolha decidida entre a liberdade e aprevisão. Nenhum argumento lógico ou físico parecia oferecer

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quaisquer alternativas. Depois de tanta discussão durante as últimasduas décadas sobre os mecanismos verdadeiros da precognição,agora talvez seja possível ir além desse impasse, encontrando-se umespaço para a precognição e o livre-arbítrio.Antes que os estudos da precognição se tenham ligado tanto àscomplexidades da física moderna como em nossos dias, em geralachava-se que, se a previsão fosse possível, sua própria existênciadeveria emprestar um peso esmagador ao argumento dodeterminismo. Esse ponto de vista parecia tão axiomático que osadvogados do livre-arbítrio rejeitavam completamente qualquertestemunho da precognição, a menos que estivessem dispostos aaceitar o que parecia ser a prova definitiva para os partidários dodeterminismo. O prof. J. B. Rhine resumiu o que muitos julgavam umabismo inevitável:

Se a precognição fosse ou pudesse ser 100% precisa, oconhecimento desse fato iria afetar tão profundamente nossa filosofia

de vida que as implicações seriam de arrepiar. Isso é verdade emespecial se, ainda por cima, todos os tipos de acontecimentos num

certo ponto no tempo fossem previsíveis, pois, se o fossem,obviamente seriam todos determinados e inevitáveis. Eles deveriam

estar determinados para poderem ser previsíveis. Não haveriarealmente uma liberdade de escolha. Mesmo que uma pessoa

soubesse que ia estar num desastre de trem, ela não poderia evitá-lo.Num caso desses, de que valeria a precognição para o homem? O

testemunho de uma precognição, sem a menor dúvida, implicaria umfatalismo a partir do qual nenhuma decisão estaria totalmente livre.

Assim, a liberdade volitiva e a previsibilidade perfeita sãoirreconciliáveis.

Naturalmente, aquele "se" no início das observações de Rhine, comoele mesmo indica, é uma condição muito abrangente. Pois, se aprecognição realmente deve selar a vontade humana de uma vez portodas, ela deveria ter no mínimo um potencial teórico de 100% de

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exatidão. Mas, até agora, nenhum testemunho de casos espontâneosjá registrado, nem tampouco qualquer dado recolhido em experiênciasde laboratório nos estudos da precognição sugeriram esse grau deprecisão perfeita. Ao contrário, pelo que se sabe, a precognição é umafaculdade tão imprecisa e tão imprevisível que dá aos céticos boasrazões para questionar sua existência.No entanto, quando se avalia a extensão em que a precognição podeser uma ameaça ao livre-arbítrio, a questão não é a conhecida falta deunidade das experiências precognitivas mas, antes, se algum dia essafaculdade precognitiva poderia ser desenvolvida e controlada pararesultar em previsões que atingissem 100% de exatidão. E não háuma resposta certa para isso. Grande parte da pesquisa experimentalhoje realizada sobre a precognição, testemunhada em condições delaboratório, tem em mente essa questão do potencial de exatidão,mas, até que a verdadeira física dessa faculdade venha a serinteiramente compreendida, é muito improvável que se possa chegar aalguma conclusão definitiva. Ainda é preciso encarar essasconseqüências do livre-arbítrio nos termos de duas únicaspossibilidades: uma, que há um potencial de que a precognição éprecisa em qualquer caso - bastando apenas sabermos como ver;outra de que a precognição jamais poderá ser 100% exata e quegeralmente estará sujeita a erros.Sugeriu-se antes que existem dois caminhos muito diferentes para seinterpretar a natureza dos fenômenos precognitivos. Por um lado, oque está sendo previsto poderá muito bem ser um futuroacontecimento real. Por outro lado, a precognição seria antes umaprevisão das possíveis futuras percepções do próprio perceptivo.Cada uma dessas interpretações presta-se a uma diferente explicaçãofísica sobre o funcionamento da precognição e também a umaconclusão diferente sobre a relação entre precognição e livre-arbítrio.Se alguém que tem uma visão precognitiva prevê um futuroacontecimento real, sua previsão deveria mais provavelmente sermelhor explicada em termos da interpretação estática do tempo que aTeoria da Relatividade propõe. No continuum espaço-tempo

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quadridimensional de Einstein, toda a história do acontecimento jáexiste e cada estágio dessa história em separado está representadopor um ponto numa curva estacionária. É como explica o físico Costade Beauregard:

... a relatividade é uma teoria onde tudo já está "escrito" e onde amudança só é relativa ao modo de perceber dos seres vivos. Os sereshumanos e as outras criaturas... são levados a explorar aos poucos o

conteúdo das quatro dimensões (tempo), enquanto cada um vaiatravessando, sem parar ou voltar para trás, uma trajetória de tempo

no espaço-tempo.

Se se devesse interpretar a precognição em termos de uma teoria detempo assim como essa, evidentemente sobraria muito pouco espaçopara se extraírem conclusões de alguma importância com relação aolivre-arbítrio. Deste ponto de vista, a previsão e o destino estão ligadospelo mesmo determinismo inflexível que existe por trás do fatalismodos antigos gregos. Como acontecia com eles, o indivíduo não terialiberdade para dar forma a seu próprio futuro, não poderia seintrometer nos "arquivos do destino, maciças placas de bronze e ferrosólido", tão inalteráveis que "você poderá ver o destino de seusdescendentes gravado em eterno diamante" (Ovídio, Asmetamorfoses).Naturalmente, como já vimos no último capítulo, o tempo estático daTeoria da Relatividade não é a única explicação disponível sobre ofuncionamento da precognição. Chega-se a um quadro bem maisdinâmico unindo aquela faculdade com a física quântica, e, sobretudo,com as oportunidades inerentes da realidade fundamental que estãono Princípio da Incerteza de Heisenberg. Um modelo de precogniçãoque esteja baseado na teoria quântica (por exemplo, na teoria dastransições virtuais de Marshall ou nas teorias de observação), em quea precognição em si é interpretada como uma previsão das possíveispercepções futuras da própria pessoa, não deixaria muito campo para

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o determinismo, e o panorama do livre-arbítrio seria entãocompletamente diferente. O filósofo J. R. Lucas comentou a respeito:

A mecânica quântica lança dúvidas sobre todas as velhas hipóteses...(O Princípio da Incerteza de Heisenberg) chamou muita atenção.Alguns acham que ele demonstra que até os elétrons têm o livre-

arbítrio; falando-se mais seriamente, se ele foi interpretado de formacorreta, abala toda a base da física em relação ao determinismo.

A razão fundamental pela qual a mecânica quântica abala a basefísica em relação ao determinismo. vai direto ao âmago dapreocupação de Rhine, de que se a precognição fosse 100% exata,ela necessariamente entraria em conflito com as exigências do livre-arbítrio e afastaria qualquer preocupação a respeito disso. Isso porqueum modelo de precognição baseado no princípio da incerteza deHeisenberg jamais poderia ser algo 100% preciso em suas prediçõesde futuros acontecimentos, simplesmente porque os própriosacontecimentos futuros estão totalmente indeterminados até quesejam fixados na realidade do presente.Segundo a teoria quântica, o único futuro ao qual uma faculdade comoa precognição poderia ter acesso seria um futuro indeterminado eprovável, consistindo de todos os "poderia ser" reunidos nas equaçõesde onda de Schrödinger. E assim, a imprecisão observada nos casosregistrados de precognição estaria apenas refletindo o fato de que, naprópria realidade, existe uma ampla liberdade para qualquerquantidade de alternativas na direção que os acontecimentos futurospoderiam tomar.Existe, por exemplo, o caso muito conhecido registrado por Rhine dohomem que planejava viajar de trem em certo dia; na noite anterior àviagem, ele teve um sonho em que via seu trem sofrendo um acidentee via a si mesmo gravemente ferido. O sonho fez com que mudasseseus planos de viagem e ele não se feriu; mais tarde, leu no jornal queo trem que pretendia tomar havia realmente se acidentado. O casoé muito citado para ilustrar um dos principais paradoxos que se

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levantam das imprecisões da precognição imaginária: uma vez que osonho não chegou a realizar-se pelo desdobrar dos acontecimentosposteriores, como se poderia dizer que se tratou de alguma forma deprecognição?Um modelo de precognição na mecânica quântica poderia contornaresse paradoxo indicando que, em primeiro lugar, existem milhares depossibilidades inerentes à situação descrita: o homem poderia tersimplesmente ignorado o sonho, ter tomado o trem e se ferido noacidente, o trem poderia não ter batido ou, o que realmenteaconteceu, o homem ficou tão assustado com o sonho que retardousua viagem. Qualquer uma dessas possibilidades, segundo a teoriaquântica, seria válida da mesma forma, até que algo real ocorresse.Esse âmbito de possibilidades, que não apenas é compatívelmas necessário para um modelo da mecânica quântica daprecognição, revela-se perfeitamente compatível com o livre-arbítrio.Na verdade, o testemunho de inúmeros casos registrados deprecognição espontânea "imprecisa" chega a sugerir que aprecognição poderia estar desempenhando um papel ativo numaumento de nossa capacidade para exercer o livre-arbítrio,acrescentando ao nosso conhecimento mais opções de alternativaspara o futuro. No caso citado por Rhine daquele possível viajante,tendo em vista seu sonho precognitivo, ele era livre para decidir searriscaria o aparente perigo da viagem ou se desistiria de seus planosde viagem para aquele dia. Sem o sonho, é mais provável que eleapenas fosse uma vítima do seu "destino".Existe ainda outra questão mais sutil associada ao modelo deprecognição da mecânica quântica, que sugere uma ação recíprocaentre a visão precognitiva e a livre administração do próprio destino deuma pessoa, uma questão que tem tanto a ver com a natureza dapersonalidade humana quanto a natureza dos acontecimentos físicos.Isto, em relação ao que é "provável" em oposição ao que é "possível".Na física quântica, quando um elétron em movimento ao redordo núcleo atômico num estado de energia estável é perturbado, eletem, por assim dizer, "todo um futuro diante de si". Há uma ilimitada

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quantidade de novos estados de energia possíveis e disponíveis paraele, e o elétron poderá instalar-se em qualquer um deles. Dessemodo, se estivéssemos preocupados com o livre-arbítrio dos elétrons,poderíamos dizer que, na determinação de seu próprio destino (umfuturo estado de energia), um elétron tem um ilimitado livre-arbítrio.Mas o interessante é: até que ponto o elétron pode realmente exercertoda toda liberdade de escolha?A resposta: até um ponto bastante restrito.Ligada a toda a concepção das ondas de probabilidade comoexpressões de acontecimentos quânticos, está implícito que, enquantocontinuam os processos no nível quântico, os modelos decomportamento tendem a desenvolver possibilidades tiro amplas querapidamente dão lugar à probabilidade. Um elétron totalmente livrepara escolher entre infinitas opções de estados de energia na verdadeirá escolher a opção mais confortável, ou seja, o estado de energia emque precise usar o menor esforço para continuar suas voltas em tornoda órbita do núcleo. E só muito poucos de seus possíveis estados deenergia poderiam prometer uma "vida tão fácil", e apenas essespoucos estarão entre seus novos destinos prováveis. Assim, a teóricaliberdade de escolha ilimitada do elétron ver-se-á restrita por umainclinação à preguiça!Essa mesma distinção entre o provável em oposição ao possívelpoderá ser vista em termos de um exemplo tirado do nível darealidade cotidiana. O princípio da incerteza poderia sugerir que éperfeitamente possível a xícara de café de um escritor de repentelevantar vôo da escrivaninha, sair voando pela sala e ir se colocar emcima da lareira, mas é muito improvável que ela algum dia vá fazerisso (por causa da enorme quantidade de energia que um tal feitoexigiria). E realmente a coisa é tão improvável, que o escritor nãoprecisa sequer se preocupar em levar em conta essa possibilidade.Se pensarmos a respeito, parece muito provável que ocomportamento também seja governado por alguma coisa semelhanteàs funções da probabilidade. Exatamente como os movimentos doselétrons perturbados revelam uma tendência padronizada a procurar

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estados de energia repousantes que possam atender sua preferênciapor uma vida de baixo dispêndio de energia, limitando a que seria deoutra forma uma liberdade irrestrita de opções, a personalidadehumana também é constituída por, uma série de padrões decomportamento baseados em atitudes, neuroses, hábitos etc., emgeral planejados para facilitar nosso caminho pela vida com o menorgasto possível de energia. Trilhar caminhos já conhecidos, apegar-nosa velhos hábitos é muito mais confortável do que ficar realizandodescobertas inéditas, e é preciso levar em conta a influência dessadisparidade para que se possa estabelecer o relacionamento realentre a visão precognitiva e o desenvolvimento do livre-arbítrio.Embora continue sendo inteiramente possível que um ser humano quetenha tido uma advertência precognitiva possa alterar a direção dealgum acontecimento futuro por um ato de sua vontade, é importanteque nos perguntemos se isso é provável. Para tomarmos um exemploóbvio, é possível que um alcoólatra possa desistir de repente doconforto de sua garrafa depois de ter tido um sonho em que via suamulher morta num acidente provocado por estar ele dirigindoembriagado. Mas é provável que ele faça isso? Infelizmente nossoshábitos perceptivos e cognitivos só permitem que muito pouca genteleve a sério um sonho desse tipo, podendo usar a energia necessáriapara mudar, a tempo, hábitos numa ação preventiva. .Dada a existência destes padrões de probabilidade no comportamentohumano, o famoso lembrete de Cassius a Brutus - "o problema, meucaro Brutus, não está em nossas estrelas, mas em nós" -, menosparece uma expressão de fé na existência do livre-arbítrio e mais umadescrição dos limites de liberdade pela tendência do homem acomportar-se de maneira muito padronizada, e, portanto, previsível.Com muito raras exceções, os seres humanos - e os elétrons -dificilmente exercem o direito de escolher com liberdade entre aimensa gama de possibilidades abertas para eles por Deus ou peloprincípio da incerteza.

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CONCLUSÃO

Nas primeiras páginas deste livro dizíamos que não existe nenhumaprova definitiva para a existência da precognição, nenhum testemunhoque pudesse convencer um grupo de cientistas independentes edesinteressados. Uma negação dessas poderá parecer curiosa agora,quando colocada ao lado da apresentação de tantas páginas do quepoderia ter sido tomado como um testemunho bastante volumoso dogênero muito convincente, mas isso é o menos necessário. Cadasonho ou caso espontâneo desperto, ou as experiências relatadas noscapítulos que vieram a seguir, certamente teria seus defensores, masum cético poderia argumentar, até com certa razão, que nenhumdesses casos, não todos em conjunto, preenche os critérios bastanterigorosos exigidos para uma sólida prova científica de que algumaspessoas realmente são privilegiadas de tempos em tempos cominformações antecipadas sobre o futuro.Deve-se admitir também que a questão da precognição não está muitoreforçada cientificamente pelas analogias com certos efeitosapresentados, na física quântica ou na Teoria da Relatividade - pormais interessantes que eles possam parecer. Com toda certeza é umaverdade que a revolução intelectual produzida no século XX reduziu aprevenção contra a precognição e pode até ser possível utilizar-sedeterminados aspectos dessa física para postular o funcionamento daprecognição - mas a prova de que alguma coisa seja possível não éuma prova de que ela exista. O único critério científico aceitável paraisso seria a produção controlada de dados sobre a precognição sobrepetidas condições experimentais - e até agora não se conseguiureunir tais dados.Mesmo que sejamos forçados a admitir que ainda não existe umaprova científica convincente sobre a precognição, estaríamos nóscondenando por isso, automaticamente, todo o material das páginasanteriores ao reino da fraude ou do faz-de-conta? Seria realmente

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verdade que em cada um dos inúmeros exemplos diversificados deuma alegada precognição o perceptivo em questão é culpado - numconluio com sua testemunha - de mentir ou delirar? A maioria dosparapsicólogos iria responder com um não a uma sugestão dessas,pelo menos por duas razões.Primeiro, pode-se argumentar que a ausência de qualquer provacientífica para a existência da precognição não garante, por si só, quenunca haverá uma prova dessas. Se existe, a precognição não seria aúnica de nossas faculdades que ainda desafia o rigor científico. Comtodos os seus progressos conceituais, os cientistas ainda sabem muitopouco sobre a consciência ou o cérebro humano. O mecanismocompleto da percepção comum, o funcionamento da memória delongo prazo e a relação entre "mente" e "corpo" ainda estão muitoalém do âmbito da explicação científica.Muito mais importante é que inúmeros parapsicólogos se perguntemse critérios estritamente científicos, como o controle e a repetitividade,serão realmente padrões adequados pelos quais se possa fazerjulgamentos sobre a existência ou não de faculdades psíquicas comoa precognição. Os que têm uma convicção dualista iriam respondernegativamente, baseados no fato de esses critérios serem físicos e asfaculdades psíquicas, por definição, extrafísicas. Outros, mesmoestando numa posição materialista, diriam que essas faculdadesestão, sem a menor dúvida, ligadas a um estado de espírito ou estadopsicológico de uma pessoa, e que até agora muito pouco secompreende sobre esses parâmetros psicológicos em mutaçãoconstante para se planejar experiências científicas adequadas quepossam ser levadas em consideração: Num pequeno ensaio sobre oproblema de se estabelecer um parâmetro para os dadosprecognitivos, Jung ainda propõe uma outra razão pela qual a ciêncianão é o instrumento adequado para se lidar com estes assuntos:

Qualquer pessoa que mantenha uma expectativa de obter respostassobre a questão da verdade parapsicológica irá desapontar-se. O

psicólogo aqui está muito pouco preocupado com o gênero de fatos

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que possam ser estabelecidos num sentido convencional...Naturalmente, nossa era científica quer saber muito se esse tipo de

coisas (como as premonições, a precognição, a segunda visão,assombrações, fantasmas, retorno dos mortos, feitiços, magia,

encantamentos etc.) são "verdadeiras", sem levar em consideraçãoqual seria a natureza de uma prova para isso ou como se poderia

obtê-la. Para tanto, deve-se encarar muito honesta e sobriamente osacontecimentos em questão - e geralmente acontece que as históriasmais interessantes se volatilizam no ar... Ninguém pensa em fazer a

pergunta essencial: qual é a verdadeira razão pela qual essasmesmas velhas histórias se repetem indefinidamente sem perder nada

de seu prestígio inicial?

A resposta de Jung é que essas histórias estão necessariamentemuito além dos limites desinteressados da ciência porquerepresentam "fatos psíquicos", mas como tal, para ele, elas não sãomenos "verdadeiras" num sentido psicologicamente mais importantedo que seriam quaisquer outros fatos objetivos da ciênciaconvencional. Assim para Jung, a questão de a precognição deixar deser algum dia cientificamente provada ou chegar a ser completamenteexplicada em termos científicos não tem a menor importância para quese estabeleça sua verdade e sua importância psicológica. Essaimportância não vem de dados repetidos mas antes de uma constanterepetição, no decorrer "dos séculos", de relatos individuais onde houveuma experiência precognitiva. Toda essa repetição, argumenta ele,propicia uma existência independente à precognição na psicologia doinconsciente - seja lá o que a ciência possa dizer.Tendo em vista seu menosprezo por dados científicos frios, em favorda experiência pessoal espontânea, não é de admirar muito que Jungacreditasse que "a mais grandiosa e a mais importante parte dapesquisa parapsicológica estará na minuciosa exploração e numadescrição qualitativa" dos acontecimentos espontâneos". Muitos dospesquisadores psíquicos do velho estilo, afastados pela abordagemmuitas vezes técnica demais da parapsicologia experimental, sem

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dúvida estariam inclinados a concordar com ele. Ao mesmo tempo,seria bom que eles lembrassem que, em sua Teoria daSincronicidade, Jung achava a física quântica muito próxima do queele via como a poesia da alma. Tanto a física quanto o paciente deexperiências espontâneas provavelmente irão desempenhar um papelmuito importante nos futuros estudos sobre a precognição.