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CARLOTA CAFIERO DA REDAÇÃO O sol a pino e o calor de lascar não tiraram a vontade de pegar o barco até a Ilha Diana, para provar o prato mais representa- tivo da cozinha caiçara, o Peixe Azul-Marinho. O destino era a casa de número 6 da comunida- de que vive entre o estuário, o mar e a Embraport, a 30 minu- tos do Centro de Santos. Ali, o simpático casal Hélio França e Terezinha Lima, am- bos de 70 anos, atendem a clien- tela com comida farta, feita em um fogão ao ar livre, nos fun- dos da casa, e cachaça de frutas como caraguatá e cajamanga. Com o nome de Bar e Lan- chonete da Ilha Diana (mais conhecido como Bar da Ilha), o local divide-se entre comércio e residência. Na frente, possui um atraca- douro com deque coberto e me- sinhas com vista para o estuá- rio – canto disputado entre os frequeses para saborear as delí- cias da casa. Entre pratos como Arroz Lambe Lambe, Marisco à Vina- grete, Tainha Assada na Brasa, Moqueca de Peixe, Risoto de Frutos do Mar e Camarão na Moranga, o carro-chefe do bar, como seu Hélio diz, é mesmo o Peixe Azul-Marinho. O prato só é feito sob enco- menda por Terezinha, que che- ga a prepará-lo em grandes quantidades, para servir gru- pos de até 60 pessoas. Apesar de levar o nome tradi- cional, o Azul-Marinho de Te- rezinha não vai na panela de ferro – que, em contato com a banana verde, dá a coloração azul. Ela, assim como vários outros moradores de antigas comunidades caiçaras, adap- tou a receita para a panela de alumínio. Outros elementos estrangei- ros ao prato é o molho de toma- te pronto, o óleo e o azeite. “Eu também faço o molho de toma- te caseiro”, diz. Mas isso não tira a magia e exotismo do prato, feito com pedaços generosos de banana nanica verde e de tainha fres- quinha. Paranaense de Santo Antô- nio da Platina, Terezinha aprendeu a fazer a iguaria com o marido Hélio, que por sua vez aprendeu com uma querida moradora da Ilha Diana, a do- na Dina – falecida em 2011, aos 93 anos, e dizem ter sido a primeira moradora do local. Ela é tia-avó de Hélio. A banana nanica verde é com- prada. “Aqui não se planta mais banana. Os bananais anti- gos deram lugar às casas”, con- ta Hélio, que compra peixe fres- co de um pescador local. SERVIÇO – TEREZINHA E HÉLIO ATENDEM PELOS TELEFONES: 3019-5418/ 98122-0681 E 99156-6719. AS LANCHAS PARA A ILHA DIANA SAEM DIARIAMENTE, DETRÁS DA ALFÂNDEGA, NO CENTRO. CLAUDIA G. OLIVEIRA, SOMMELIÈRE De Martino Muscat Viejas Tinajas 2014, Vale de itata, CL Uva: 100% Muscat (6 meses maceração em ânforas de argila) Cor: dourado forte e turvo (12,5˚ GL) Nariz: jasmim e flor de laranjeira, damasco, laranja, toque mineral Boca: seco, explosão de frutas, taninos leves, bom corpo e longo R$ 149,20 ENOTECA DECANTER Santé! Conhecemos três estilos de vinho relativos à sua cor: branco, rosé e tinto. Entretanto, hoje se fala de vinhos laranja ou orange wines. E você, leitor e leitora, se questiona – mas o que vem a ser um vinho laranja? Pois bem, o laranja é um vi- nho elaborado a partir de uvas brancas e a sua vinificação é semelhante ao preparo dos vi- nhos tintos. A técnica de produ- ção utilizada é ancestral, com provável origem na República da Geórgia, no Cáucaso. Vamos lá, primeiramente re- tomemos o básico da vinificação. Vinho é o resulta- do da fermentação alcoólica na- tural do mosto das uvas. O mos- to é a mistura de suco, semen- tes, engaços e cascas resultan- tes do seu esmagamento. Nos vinhos brancos o conta- to entre o mosto e a pele das uvas é usualmente muito rápi- do, poucas horas de contato. A fermentação em si ocorre sem as cascas. O objetivo é um vi- nho leve e fresco. A clássica vinificação em rosé utiliza uvas tintas e essas ficam pouco tempo em contato com as cascas, para criar um vinho de cor rosada e sabor leve. Já nos vinhos tintos o conta- to direto com a pele da uva se dá durante toda a fermenta- ção, objetivando tudo que se possa extrair das cascas como mais cores, aromas, sabores e taninos. Com o vinho laranja a maceração, ou seja, o contato das cascas das uvas brancas com o mosto prolonga-se até a fermentação. O resultado: um vinho que nem é tinto e nem é branco. Por apresentar uma cor que vai do dourado ao âmbar, o vinho foi batizado de “laranja” em 2004, quando um importa- dor inglês provou um desses vinhos visitando um produtor na região de Etna na Sicília, o intitulou e o nome pegou. O mundo do vinho atual co- nhece esse estilo laranja muito por causa do italiano Josko Gra- vner, renomado enólogo do Friuli. Seus vinhos são filoso- fais, nascem sob técnicas ances- trais, de priscas eras. Gravner, meticuloso e artesanal, preza mínimos detalhes, do manejo do vinhedo à cantina. É atento às fases da lua e às forças da natureza. Utiliza ânforas de barro feitas na Geórgia, revesti- das de cera de abelha, as quais são enterradas para estabilida- de da temperatura. Produz vi- nhos macerados por até 7 me- ses com as cascas e amadureci- dos por até 7 anos em madeira eslovena, uma obra de arte. Idealista, Josko Gravner cria rótulos de valor inatingível pa- ra muitos. Os laranja são vinhos auste- ros, densos, encorpados, sensi- velmente de alma tinta. Têm cor forte e às vezes turva por não ser filtrado. No nariz flores, frutas maduras, cristalizadas e secas, maçã, damasco, laranja, ervas, minerais, balsâmicos e etc. Na boca uma explosão de sabores se alia a taninos que dão ao vinho “n” possibilidades de harmonização. Gravner inspirou muitos se- guidores e hoje os laranja são produzidos também na Eslovênia, Croácia, Portugal, Nova Zelândia, Estados Uni- dos, Chile e até no Brasil. Experimente! E até a próxi- ma taça! [email protected] Uma ilha dentro da ilha No bairro santista Ilha Diana tem azul-marinho, arroz lambe-lambe e camarão na moranga Dona terezinha preserva a tradição oral e prepara as receitas Ingredientes: 1,5 kg de tainha limpa em postas; 3 cebolas grandes em rodelas; 3 tomates picados; 1punhado de cebolinha picada; 6 bananas verdes com casca cortadas em pedaços generosos; 3 xícaras de caldo da cabeça do peixe (temperado com folha de louro e cebola). Preparo: faça um refogadinho feito com um fio generoso de óleo e outro de azeite, as cebolas, o tomate e a cebolinha. Junte o caldo de peixe. Acrescenta-se as bananas, o molho de tomate e, por último, as postas – para que não se desfaçam no cozimento. Cozinhe somente até o peixe estar no ponto. Vinhos tintos, brancos, rosés e, agora, laranjas Azul marinho Provei e indico

[ATRIBUNA - 11] A TRIBUNA/BOA MESA/DIARIO … fileCom o vinho laranja a maceração,ouseja,ocontato das cascas das uvas brancas comomostoprolonga-seatéa fermentação.Oresultado:um

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CARLOTACAFIERO

DAREDAÇÃO

O sol a pino e o calor de lascarnãotiraramavontadedepegaro barco até a Ilha Diana, paraprovaropratomaisrepresenta-tivoda cozinha caiçara, oPeixeAzul-Marinho. O destino era acasadenúmero6dacomunida-de que vive entre o estuário, omareaEmbraport, a30minu-tosdoCentrodeSantos.Ali, o simpático casal Hélio

França e Terezinha Lima, am-bosde70anos,atendemaclien-tela comcomida farta, feita emum fogão ao ar livre, nos fun-dosda casa, e cachaçade frutascomocaraguatáecajamanga.Com o nome de Bar e Lan-

chonete da Ilha Diana (maisconhecidocomoBarda Ilha),olocal divide-se entre comércioeresidência.Na frente, possui um atraca-

dourocomdequecobertoeme-sinhas com vista para o estuá-rio – canto disputado entre os

frequesesparasaborearasdelí-ciasdacasa.Entre pratos como Arroz

LambeLambe,MariscoàVina-grete, TainhaAssadanaBrasa,Moqueca de Peixe, Risoto deFrutos do Mar e Camarão naMoranga,o carro-chefedobar,como seuHélio diz, émesmo oPeixeAzul-Marinho.O prato só é feito sob enco-

mendaporTerezinha,queche-ga a prepará-lo em grandesquantidades, para servir gru-posdeaté60pessoas.Apesardelevaronometradi-

cional, o Azul-Marinho de Te-rezinha não vai na panela deferro – que, em contato com abanana verde, dá a coloraçãoazul. Ela, assim como váriosoutros moradores de antigascomunidades caiçaras, adap-tou a receita para a panela dealumínio.Outros elementos estrangei-

rosaopratoéomolhodetoma-te pronto, o óleo e o azeite. “Eu

tambémfaçoomolhodetoma-tecaseiro”,diz.Mas isso não tira a magia e

exotismo do prato, feito compedaços generosos de bananananica verde e de tainha fres-quinha.Paranaense de Santo Antô-

nio da Platina, Terezinhaaprendeu a fazer a iguaria comomaridoHélio,queporsuavezaprendeu com uma queridamoradora da Ilha Diana, a do-naDina– falecidaem2011, aos93 anos, e dizem ter sido aprimeira moradora do local.Elaétia-avódeHélio.Abananananicaverdeécom-

prada. “Aqui não se plantamaisbanana.Osbananaisanti-gos deram lugar às casas”, con-taHélio,quecomprapeixefres-codeumpescador local.SERVIÇO – TEREZINHAEHÉLIOATENDEMPELOSTELEFONES: 3019-5418/98122-0681E99156-6719.AS LANCHASPARAA ILHADIANASAEMDIARIAMENTE, DETRÁSDAALFÂNDEGA,NOCENTRO.

CLAUDIAG.OLIVEIRA, SOMMELIÈRE

DeMartinoMuscat ViejasTinajas 2014, Valede itata, CLUva: 100%Muscat (6mesesmaceraçãoemânforasdeargila)Cor:douradofortee turvo(12,5˚GL)Nariz: jasmimeflordelaranjeira,damasco,laranja, toquemineralBoca: seco, explosãode frutas,taninos leves, bomcorpoe longo

R$ 149,20ENOTECADECANTER

Santé! Conhecemos três estilosde vinho relativos à sua cor:branco,roséetinto.Entretanto,hoje se fala de vinhos laranjaouorange wines. E você, leitor eleitora,sequestiona–masoquevemaserumvinholaranja?Pois bem, o laranja é um vi-

nho elaborado a partir de uvasbrancas e a sua vinificação ésemelhante ao preparo dos vi-

nhostintos.Atécnicadeprodu-ção utilizada é ancestral, comprovável origem na RepúblicadaGeórgia,noCáucaso.Vamoslá,primeiramentere-

tomemos o básico davinificação. Vinho é o resulta-dodafermentaçãoalcoólicana-turaldomostodasuvas.Omos-to é a mistura de suco, semen-tes, engaços e cascas resultan-

tesdoseuesmagamento.Nos vinhos brancos o conta-

to entre o mosto e a pele dasuvas é usualmentemuito rápi-do, poucas horas de contato. Afermentação em si ocorre semas cascas. O objetivo é um vi-nholeveefresco.Aclássica vinificaçãoemrosé

utiliza uvas tintas e essas ficampouco tempo em contato comas cascas, para criar um vinhodecorrosadaesaborleve.János vinhos tintos o conta-

to direto com a pele da uva sedá durante toda a fermenta-ção, objetivando tudo que sepossa extrair das cascas comomais cores, aromas, sabores e

taninos.Com o vinho laranja a

maceração, ou seja, o contatodas cascas das uvas brancascom omosto prolonga-se até afermentação. O resultado: umvinho que nem é tinto e nem ébranco.Por apresentar uma cor que

vai do dourado ao âmbar, ovinho foi batizado de “laranja”em2004,quandoumimporta-dor inglês provou um dessesvinhos visitando um produtorna região de Etna na Sicília, ointituloueonomepegou.O mundo do vinho atual co-

nhece esse estilo laranjamuitoporcausadoitalianoJoskoGra-vner, renomado enólogo doFriuli. Seus vinhos são filoso-fais,nascemsobtécnicasances-trais, de priscas eras. Gravner,meticuloso e artesanal, preza

mínimos detalhes, do manejodo vinhedo à cantina. É atentoàs fases da lua e às forças da

natureza. Utiliza ânforas debarrofeitasnaGeórgia,revesti-das de cera de abelha, as quaissãoenterradasparaestabilida-de da temperatura. Produz vi-nhos macerados por até 7 me-ses comas cascas e amadureci-dos por até 7 anos emmadeiraeslovena, uma obra de arte.Idealista, Josko Gravner criarótulos de valor inatingível pa-ramuitos.Os laranja são vinhos auste-

ros, densos, encorpados, sensi-velmente de alma tinta. Têmcor forte e às vezes turva pornãoser filtrado.Nonariz flores,frutas maduras, cristalizadas esecas, maçã, damasco, laranja,ervas, minerais, balsâmicos eetc. Na boca uma explosão desabores se alia a taninos quedão ao vinho “n” possibilidadesdeharmonização.Gravner inspiroumuitos se-

guidores e hoje os laranja sãoproduzidos também naEslovênia, Croácia, Portugal,Nova Zelândia, Estados Uni-dos,ChileeaténoBrasil.Experimente! E até a próxi-

mataça!

[email protected]

Uma ilhadentroda ilha

No bairro santista Ilha Diana tem azul-marinho, arroz lambe-lambe e camarão na moranga Dona terezinha preserva a tradição oral e prepara as receitas

Ingredientes: 1,5kgde tainhalimpaempostas;3 cebolas grandesemrodelas;3 tomatespicados; 1punhadodecebolinhapicada;6bananasverdes comcasca cortadasempedaçosgenerosos; 3 xícarasdecaldoda cabeçadopeixe(temperadocomfolhade louroecebola).

Preparo: façaumrefogadinhofeito comumfiogenerosodeóleoeoutrodeazeite, ascebolas, o tomate ea cebolinha.Junteo caldodepeixe.Acrescenta-seas bananas, omolhode tomatee, porúltimo,aspostas –paraquenão sedesfaçamnocozimento.Cozinhesomenteatéopeixeestarnoponto.

Vinhos tintos, brancos, rosés e, agora, laranjas

Azulmarinho

Provei e indico