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Revista Científica FAI. ISSN 2526 6225 Volume 2 , Número 1, Ano 2017/agosto a dezembro. ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DIANTE DOS CONFLITOS JUDICIAIS EM CASOS DE FAMÍLIA Kauane Alves Landin dos Santos 1 Wemerson Souza do Nascimento 2 RESUMO O presente trabalho tem por finalidade descrever e desenvolver um estudo elaborado sobre as atribuições do Promotor de Justiça face à Constituição Federal, Lei n° 8.625/12 e o Direito Civil perante os conflitos familiares. O trabalho destinou-se, a empreender esforços no sentido de tornar mais claro o papel do Ministério Público como órgão essencial à manutenção da justiça e prestação jurisdicional do Estado. Nesse sentido, a pesquisa empreendida também objetivou apresentar um resumo sobre o desenvolvimento das famílias brasileiras, bem como, o dever e função de atuação do Ministério Público diante dos conflitos judiciais familiares. A metodologia utilizada a fim de responder aos objetivos dessa pesquisa, foi o método de pesquisa bibliográfico, com estudos em livros, artigos digitais e publicações em torno do tema em estudo, com a análise de todo o material recolhido, foi possível aclarar a imagem que a Constituição Federal criou sobre certas atuações dos membros do Ministério Público, em especial a afeta à importância de sua intervenção em inúmeros conflitos familiares. Palavras-chave: Direito de Família. Ministério Público. Curadoria de Família. Conflitos. THE MINISTRY OF PUBLIC SERVICE IN THE CASE OF JUDICIAL CONFLICTS IN CASE OF FAMILY ABSTRACT This article aims to describe and develop a study prepared on the powers of the public prosecutor against the Federal Constitution, Law No. 8.625/12 and the Civil Law before the family conflicts. The work was intended to be done in order to clarify the role of public prosecution as an essential organ to the maintenance of justice and judicial services of the State. In this sense, our survey also aimed to provide an overview about the development of Brazilian families, as well as the duty and role function of the prosecution before the family 1 .Advogada, Especialista em Direito Civil e Processual Civil pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 2 .Bacharel em Direito, Especialista em Direito Civil e Processual Civil pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

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Revista Científica FAI. ISSN 2526 – 6225 – Volume 2 , Número 1, Ano 2017/agosto a dezembro.

ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DIANTE DOS CONFLITOS JUDICIAIS

EM CASOS DE FAMÍLIA

Kauane Alves Landin dos Santos1

Wemerson Souza do Nascimento2

RESUMO

O presente trabalho tem por finalidade descrever e desenvolver um estudo elaborado sobre as

atribuições do Promotor de Justiça face à Constituição Federal, Lei n° 8.625/12 e o Direito

Civil perante os conflitos familiares. O trabalho destinou-se, a empreender esforços no sentido

de tornar mais claro o papel do Ministério Público como órgão essencial à manutenção da

justiça e prestação jurisdicional do Estado. Nesse sentido, a pesquisa empreendida também

objetivou apresentar um resumo sobre o desenvolvimento das famílias brasileiras, bem como,

o dever e função de atuação do Ministério Público diante dos conflitos judiciais familiares. A

metodologia utilizada a fim de responder aos objetivos dessa pesquisa, foi o método de

pesquisa bibliográfico, com estudos em livros, artigos digitais e publicações em torno do tema

em estudo, com a análise de todo o material recolhido, foi possível aclarar a imagem que a

Constituição Federal criou sobre certas atuações dos membros do Ministério Público, em

especial a afeta à importância de sua intervenção em inúmeros conflitos familiares.

Palavras-chave: Direito de Família. Ministério Público. Curadoria de Família. Conflitos.

THE MINISTRY OF PUBLIC SERVICE IN THE CASE OF JUDICIAL CONFLICTS

IN CASE OF FAMILY

ABSTRACT

This article aims to describe and develop a study prepared on the powers of the public

prosecutor against the Federal Constitution, Law No. 8.625/12 and the Civil Law before the

family conflicts. The work was intended to be done in order to clarify the role of public

prosecution as an essential organ to the maintenance of justice and judicial services of the

State. In this sense, our survey also aimed to provide an overview about the development of

Brazilian families, as well as the duty and role function of the prosecution before the family

1 .Advogada, Especialista em Direito Civil e Processual Civil pelo Centro Universitário Leonardo

Da Vinci.

2 .Bacharel em Direito, Especialista em Direito Civil e Processual Civil pelo Centro Universitário

Leonardo Da Vinci.

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court disputes. The methodology used in order to meet the objectives of this research was to

bibliographic research method, with studies in books, digital articles and publications around

the subject under study, with analysis of all the material collected was possible to clarify the

image the Federal Constitution created on certain actions of prosecutors, especially affects the

importance of their intervention in many family conflicts.

Keywords: Family Law. Prosecutors. Curator family. Conflicts.

INTRODUÇÃO

O propósito do presente estudo foi o de analisar a atuação do Ministério Público no

campo do Direito de Família.

Conforme previsto na Constituição Federal de 1988, o Ministério Público é uma

instituição permanente, essencial à função do Estado Democrático de Direito, encarregado de

defender a ordem jurídica, o regime democrático, bem como os interesses sociais e

individuais indisponíveis. Assim, a pesquisa desenvolvida buscou compreender mais

profundamente os reais contornos da Instituição ministerial, fundamentalmente no que se

refere aos seus misteres de proteção dos hipossuficientes na estrutura familiar.

Nesse compasso, visando obter uma cognição apurada do tema proposto, o Primeiro

Capítulo buscou esmiuçar o artigo 127 da Carta Magna Brasileira, setorizando a existência do

Ministério Público como função essencial a prestação jurisdicional do Estado, ou seja, como

cláusula pétrea.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada no presente trabalho científico foi a de compilação, que

consiste na exposição do pensamento de vários autores sobre o assunto abordado, cujo

conteúdo foi retirado de sites da internet, livros e artigos científicos.

Para a realização deste trabalho, foram estudados diversos autores, dentre os quais se

destacaram: Alexandre de Moraes, Paulo Gustavo Gonet Branco, Gregório Assagra de

Almeida, José Afonso da Silva, Pedro Lenza e Uadi Lammêgo Bulos. Que possibilitou

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elucidar melhor as razões que levaram o legislador constituinte originária a edificar a

Instituição do Ministério Público.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A ESTRUTURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Conceito de instituição

A Constituição Federal de 1988 denota, em seu artigo 127, caput, o conceito de

Ministério Público como sendo: “Art. 127. [...] instituição permanente, essencial à função

jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos

interesses sociais e individuais indisponíveis”.

A partir dessa conceituação pode-se retirar estreitos pensamentos importantíssimos.

Inicialmente, a Constituição Federal de 1988 ao declamar o órgão ministerial como Instituição

permanente fez com que o Poder Constituinte Derivado Reformador ou Revisor ficassem

impedidos de extinguir ou refazer a Instituição do Ministério Público.

Nesse diapasão, insta transcrever as ponderações de Hugo Nigro Mazzilli:

O Ministério Público conceitua-se, como sendo uma instituição permanente,

essencial à função jurisdicional do Estado, além de sua incumbência na defesa da

ordem jurídica, do regime democrático e ainda dos interesses sociais individuais

indisponíveis (MAZZILLI, 1997, p.208).

Nas palavras de João Gaspar Rodrigues ao dirimir sobre a destinação constitucional do

Ministério Público:

[…] verdadeira instituição permanente essencial à função jurisdicional, conferindo-

lhe, ainda, a incumbência de fiscalizar o cumprimento da Constituição e das leis,

bem como a defesa da própria Democracia e também dos interesses sociais e

individuais indisponíveis, perante os poderes públicos. Acima de tudo, sua

existência justifica-se pela cerberesca fiscalização no cumprimento fiel da lei e da

Constituição, lábaro de um Estado Democrático de Direito (RODRIGUES, 1996).

Nas constituições posteriores, o Ministério Público ficou agregado, aqui e acolá, como

um penduricalho, do Judiciário (1967) e do Executivo (1969), de modo geral, sem

independência funcional, financeira e administrativa [...] (RODRIGUES, 1996). Foi somente

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com a Carta Magna de 1988, que o Ministério Público se tornou um órgão amparado

institucionalmente.

A Constituição de 1967, com a redação da Emenda n.° 1/69, cuidou pouco e sem

qualquer sistematização da organização do Ministério Público em geral (CARNEIRO, 1990,

p. 37).

Impende salientar que foi somente com a Carta Magna de 1988, que o Ministério

Público foi visto como uma instituição constitucional cuja função é essencial ao Estado

Democrático de Direito. Ensina, então, Paulo Gustavo Gonet Branco:

O Ministério Público na Constituição de 1988 recebeu uma conformação inédita e

poderes alargados. Ganhou o desenho de instituição voltada à defesa dos interesses

mais elevados da convivência social e política, não apenas perante o Judiciário, mas

também na ordem administrativa [...]. A instituição foi arquitetada para atuar

desinteressadamente na prossecução dos valores mais encarecidos da ordem

constitucional (BRANCO, 2009, p.1039).

Existência como função essencial

Relevante, nesse passo, é voltarmos, ainda mais, os olhos ao artigo 127 da Carta

Magna, que denomina o Ministério Público como “essencial à função jurisdicional ao

Estado”. O legislador produziu um capítulo específico no Título IV da Carta Magna,

aperfeiçoando um molde de justiça aplicável ao Brasil. Assim, inseriu o Ministério Público no

rol das funções essenciais a justiça, tendo em vista ser um órgão cuja participação na

prestação jurisdicional é indispensável.

Assim, a presença do Ministério Público no processo civil é ditada pela relevância dos

valores ali discutidos. Talvez a hipótese mais evidente da necessidade de atuação do

Ministério Público nesta seara seja a defesa dos interesses indisponíveis. O referido termo,

como é de sabença geral, não esgota as situações em que o Ministério Público deve atuar no

processo civil, mas evidencia um leque imenso de circunstâncias que devem ser sindicalizadas

pelo órgão ministerial (MACHADO, 1998, p.75-76).

No exercício de suas funções, o Ministério Público atua como agente ou interveniente,

sendo exemplo, no primeiro caso, a titularidade da ação penal pública, da ação civil pública,

dentre outras, e, no outro, a intervenção em processos onde deve atuar como fiscal da lei

(CARVALHO, 2005, p. 755). Conforme, Maria Alice Kehrle Soares (2010), temos:

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É inconteste a vinculação essencial e indissociável existente entre o Ministério Público e o

primado da lei. O parquet é fiscal da lei e visa garantir a sua fiel execução, já que detentor da função

institucional de defesa da ordem jurídica. Essa fiscalização se exerce inclusive no plano constitucional,

uma vez que compete ao Ministério Público, como órgão essencial do Estado, velar pelo respeito à Lei

Fundamental.

O Ministério Público atuará, basicamente, em um trinômio, conforme aduz Hugo

Nigro Mazzilli:

a) ou zela para que não haja disposição alguma de interesse que a Constituição/lei

considerem indisponível; b) ou, nos casos em que a indisponibilidade é apenas

relativa, zela para que a disposição daquele interesse seja feita em conformidade

com as exigências da Constituição/lei; c) ou zela pela prevalência do bem comum,

nos casos em que não haja indisponibilidade do interesse, nem absoluta nem

relativa, mas esteja presente o interesse da coletividade, como um todo na solução

da controvérsia (MAZZILLI, 2007, p. 114).

O Ministério Público é um órgão possuidor de variadas atribuições, conforme já

exposto, nota-se então que possui plena carga para a efetivação da defesa dos direitos de uma

sociedade, sendo mais do que necessário que toda sua existência e função além de

fundamental, seja essencial.

Interesses tutelados

Como é cediço, a área civilista foi amplamente organizada a fim de acolher as lides

totalmente individuais. Antigamente, somente era considerado como “parte” aquele que era

titular de um direito protegido, onde os interesses que afrontavam ou pertenciam a

coletividade não eram resguardados. Assim, não havia preocupação com os interesses difusos

e coletivos. Com efeito, como a sociedade passou por profundas mudanças e sua celeridade de

desenvolvimento e a realidade socioeconômica, obrigou a criação de novos institutos de

direito material (GONÇALVES, 2007, p. 12).

A Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, preocupou-se com quatro

ordens de direitos individuais, conforme assegura Celso Ribeiro Bastos:

Logo no início, são proclamados os direitos pessoais do indivíduo: direito à vida, à

liberdade e à segurança. Num segundo grupo encontram-se expostos os direitos do

indivíduo em face das coletividades: direito à nacionalidade, direito de asilo para

todo aquele perseguido (salvo os casos de crime de direito comum), direito de livre

circulação e de residência, tanto no interior como no exterior e, finalmente, direito

de propriedade. Num outro grupo são tratadas as liberdades públicas e os direitos

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públicos: liberdade de pensamento, de consciência e religião, de opinião e de

expressão, de reunião e de associação, princípio na direção dos negócios públicos.

Num quatro grupo figuram os direitos econômicos e sociais: direito ao trabalho, à

sindicalização, ao repouso e à educação (BASTOS, 2000, p. 174-175).

No decorrer dos anos, foram promulgadas inúmeras leis que buscavam proteger os

interesses difusos e coletivos, dentre elas é possível citar: Lei nº 4.717, de 29 de junho de

1965, regula a Ação Popular; Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, disciplinando a Ação Civil

Pública; Lei n° 7.853, de 24 de outubro de 1989, tutelando os interesses coletivos e difusos

dos deficientes físicos, entre outras.

Como é cediço, desde 1890, o papel do Ministério Público sempre foi o de executar

leis e promover a Ação Penal Pública Incondicionada. Já na área civil, seu papel era restrito às

demandas onde existiam direitos de incapazes ou interesse público evidente. Ocorre que, com

a promulgação da Lei n° 7.347/85, o Ministério Público passou a ser titular das Ações de

proteção ao meio ambiente, ao consumidor (com o advento da Lei n° 8.078 de 11 de setembro

de 1990, dispõe sobre a proteção do consumidor), entre outros.

No artigo 129 da Constituição Federal (CF) de 1988, foi estabelecido que o Ministério

Público tem como funções e atribuições específicas:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de

relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo

as medidas necessárias a sua garantia;

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do

patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos

e coletivos;

IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de

intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;

V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;

VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua

competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na

forma da lei complementar respectiva;

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VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei

complementar mencionada no artigo anterior;

VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito

policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações

processuais;

IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis

com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria

jurídica de entidades públicas […].

O Ministério Público opera na defesa dos interesses coletivos, difusos e individual

homogêneo, sendo que seu desempenho jurídico pode ser observado tanto na esfera

extrajudicial e/ou judicial. Na esfera extrajudicial, atuará, por exemplo, na instauração de

inquérito civil, no termo de ajustamento de conduta (TAC). Já na esfera judicial, é possível

observar seu relevante comportamento na propositura da Ação Civil Pública (artigo 129, III e

IX da CF/88).

Por fim, o Ministério Público, através do Procurador-Geral da República, exerce,

ainda, as Ações destinadas ao controle direto (ou abstrato) da constitucionalidade das leis

federais ou estaduais em face da Constituição Federal: Ação Direta de Inconstitucionalidade,

Ação Declaratória de Constitucionalidade, Ação de Inconstitucionalidade Por Omissão,

Representação Interventiva e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental

(CAMINHA, 2004).

AS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA COMO ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS

Definição das atribuições do promotor de justiça

Como é cediço, o texto constitucional, em seu artigo 129, definiu as funções

ministeriais voltada aos campos penais e cíveis. Outrossim, é necessário salientar que,

conforme o artigo 128, §5º da referida Carta, toda e qualquer atribuição do Ministério Público

deve ser definida em lei, senão vejamos: “Art. 128: […] § 5º - Leis complementares da União

e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-gerais, estabelecerão a

organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas […]”.

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Assim, o artigo 23, §2º da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, estabeleceu

outras funções a esta Instituição que serão definidas através do Procurador-Geral de Justiça,

nos seguintes termos:

Art. 23: […] § 2º As atribuições das Promotorias de Justiça e dos cargos dos

Promotores de Justiça que a integram serão fixadas mediante proposta do

Procurador-Geral de Justiça, aprovada pelo Colégio de Procuradores de

Justiça […].

Ainda assim, deve-se atentar ao fato de que as Constituições Estaduais e leis

complementares estaduais podem, do mesmo modo, indicar outras competências aos

membros do Ministério Público, desde que ressalvadas as normas legais que já compreendem

a matéria. Porém, esta regra tem uma exceção, decorrente na estrutura federativa do Brasil,

que é a de impedir que o legislador municipal designar atribuições aos membros do Ministério

Públicos. Esta conduta tem sido corriqueira nos Municípios brasileiros, principalmente

quando a Câmra Municipal tenta fixar em lei a participação dos membros da Instituição em

Conselhos Municipais (BULOS, 2009, p.89).

Insta transcrever o pensamento do doutor Emerson Garcia:

Com isto, confere-se maior mobilidade à Instituição, tornando desnecessária a

intermediação legislativa. A regra, aliás, em nada compromete o princípio da

segurança jurídica, pois a atribuição será fixada em conformidade com o que restar

deliberado pelo mais alto colegiado da Instituição, o que assegura a legitimidade das

deliberações (GARCIA, 2004, p. 192-193).

É preciso compreender o alcance do artigo 25 da Lei n° 8.625, de 12 de fevereiro de

1993, acerca das atribuições infraconstitucionais dos membros do Ministério Público. Em seu

inciso I, o referido artigo sacramente que os representantes máximos ministeriais devem

“propor ação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais, em

face à Constituição Estadual”, ato este realizado pelo Procurador-Geral de Justiça. Referido

comando, entretanto, não tem um caráter impositivo, já que deve respeitar a independência

funcional dos membros do Ministério Público. Ainda sobre a questão, o mestre José Emanuel

Burlf Filho (1989, p. 247) esclarece que : “[...] a própria Constituição Federal atribuiu-lhe

parcelada soberania, e, portanto, fração de poder estatal uno, não confiado, como função

institucional, a nenhum dos três Poderes Públicos”.

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O inciso II, do artigo suprarreferido, revela o ato de “propor a representação de

inconstitucionalidade para efeito de intervenção do Estado nos Municípios”. Essa Ação é

chamada, também, de Ação Direta Interventiva, apesar da menção do termo “representação”,

tanto na referida lei, quanto no artigo 129, inciso IV, da Constituição da República. A

interposição de tal Ação somente será possível se observada as hipóteses do artigo 35 da Carta

Magna, sendo o Procurador-Geral de Justiça o único legitimado a propor tal Ação. Acerca do

procedimento a ser seguido, leciona Emerson Garcia:

Considerando que referida ação será ajuizada em sendo divisada a presença dos

pressupostos fáticos que a autorizem, não se tem mais um caso de processo objetivo,

como na ação direta de inconstitucionalidade, já que o interesse genérico e abstrato

de preservação da ordem jurídica é substituído por uma pretensão diretamente

relacionada a uma situação específica da realidade fenomênica (GARCIA, 2004, p.

222-223).

Dispõe ainda o inciso III, do art. 25, da Lei nº 8.625/93 que é atribuição ministerial

“promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei”. A ação penal pública é

proposta através da apresentação de denúncia diante do juízo competente, expondo os fatos,

juntamente com as provas colhidas no inquérito policial, sendo que a peça processual deve

apresentar os requisitos apresentados no Código de Processo Penal (CPP) (GARCIA, 2004,

p.103). Todavia, caso o representante do Ministério Público não proponha a competente Ação

Penal em tempo oportuno, restará ao particular a possibilidade de propor Ação Penal Privada

Subsidiária da Pública – neste sentido ver o que dispõe o artigo 5º, LIX da CF.

Já o inciso IV do supraespecificado dispositivo legal, fixar o ato de “promover o

inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei”. Acerca do assunto, tece seja

considerações o mestre Rogério César Rebello Pinho:

A Constituição autoriza a instituição a instaurar inquérito civil, um procedimento

administrativo de natureza investigatória, com a finalidade de recolher elementos

probatórios que possam justificar a propositura de uma eventual ação civil pública.

(PINHO, 2005, p. 135).

O inciso V, do art. 25, da Lei nº 8.625/93 trata sobre a manifestação nos processos em

que a intervenção do representante do Ministério Público seja obrigatória por lei. Entretanto, é

necessário que se compreenda que essa intervenção pode ocorrer por força de suas próprias

atribuições constitucionais, não importando a fase ou grau de jurisdição em que se encontrem

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os processos. Quer dizer que, mesmo que o Ministério Público não seja um dos pólos na

Ação, é preciso que haja como custus legis, ou fiscal da leii. O artigo 82 do Código de

Processo Civil (CPC) enumera os fatos que transforma a participação do representante do

Ministério Público no processo, necessária:

Art. 82 - Compete ao Ministério Público intervir:

I - nas causas em que há interesses de incapazes;

II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela,

curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e disposições de

última vontade;

III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas

demais causas em que há interesse público evidenciado pela natureza da lide

ou qualidade da parte.

Além disso, é outorgado ao Promotor de Justiça “exercer a fiscalização dos

estabelecimentos prisionais e dos que abriguem idosos, menores, incapazes ou pessoas

portadoras de deficiência” conforme expresso no inciso VI, do art. 25, da Lei nº 8.625/93. Da

mesma forma, deverá “deliberar sobre a participação em organismos estatais de defesa do

meio ambiente, neste compreendido o do trabalho, do consumidor, de política penal e

penitenciária e outros afetos à sua área de atuação” - observar a redação do inciso VII, do art.

25, da Lei nº 8.625/93.

Já o inciso VIII, do art. 25, da Lei nº 8.625/93, fala sobre a possibilidade que tem o

membro do Ministério Público de “ingressar em juízo, de ofício, para responsabilizar os

gestores do dinheiro público condenados por tribunais e conselhos de contas”. Tal inciso trata

sobre a legitimidade que o órgão ministerial possui para a propositura de Ação de Execução

de Título Extrajudicial advindo do Tribunal de Contas da União ou Estadual.

O inciso IX permite aos membros da carreira do Ministério Público propor recursos

ao Supremo Tribunal Federal e ao Superior Tribunal de Justiça, sempre que necessários se

fizer. Significa dizer que, uma vez preenchidos os pressupostos de recorribilidade, o

representante ministerial poderá interpor Recursos Especial ou Extraordinário.

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Através do exposto, percebe-se com clareza e exaustivamente as inúmeras

atribuições infraconstitucionais estabelecidas aos membros do Ministério Público.

A CURADORIA DE FAMÍLIA

Generalidades

A família é uma instituição que cria e forma o homem a fim de interagi-lo e integrá-lo

no seio da sociedade para que assim, no decurso do tempo, satisfaça suas necessidades

pessoais e materiais.

Para muitos doutrinadores (MONTEIRO, 1989 apud ARAUJO JÚNIOR, 2006, p. 17)

diante de todas as instituições que regem o nosso dia a dia, sejam elas privadas ou públicas, é

claramente perceptível que a família é a que tem mais importância, visto que se trata de uma

base sólida de toda uma sociedade.

Nas palavras da douta professora Maria Helena Diniz, acerca da conceituação de

direito de família (2007, p. 04), temos:

É, portanto, o ramo do direito civil concernente às relações entre pessoas unidas pelo

matrimônio, pela união estável ou pelo parentesco e aos institutos complementares

de direito protetivo ou assistencial, pois, embora a tutela e a curatela não advenham

de relações familiares, têm, devido a sua finalidade, conexão com o direito de

família (DINIZ, 2007, p. 04).

Sílvio de Salvo Venosa (2007, p. 02, grifo do autor) nos proporcionou uma visão geral

acerca das duas definições de família: o sentido amplo e restrito, senão vejamos:

[...] importa considerar a família em conceito amplo, como parentesco, ou seja, o

conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar. Nesse

sentindo, compreende os ascendentes, descendentes e colaterais de uma linhagem,

incluindo-se os ascendentes, descendentes e colaterais do cônjuge, que se

denominam parentes por afinidade ou afins. […] Em conceito restrito, família compreende somente o núcleo formado por pais e

filhos que vivem sob o pátrio poder ou poder familiar (VENOSA, 2007, p.02).

Outrossim, os lineamentos históricos da entidade familiar deu-se no estado primitivo

das civilizações, período esse em que predominava a monogamia, que fez surgir o poder

paterno, influenciando futuramente o Direito Romano, cujo poder do pater ou pai, era

praticamente absoluto. Já na Babilônia, a única finalidade do matrimônio era tão somente a

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procriação. Assim, durante muito tempo, o casamento era tido como sacramento (estabelecido

pelo Cristianismo), sendo que entre os nubentes não havia nenhuma conotação afetiva

(VENOSA, 2007, p. 03-04).

Como é cediço, com o passar dos tempos, a organização, a compreensão e o conceito

de família são os que mais sofrem alteração, visto que surge a necessidade de se buscar saídas

necessárias aos problemas que nascem na seara do direito de família. Afirma, Sílvio de Salvo

Venosa (2007, p. 05): “A célula básica da família, formada por pais e filhos, não se alterou

muito com a sociedade urbana. A família atual, contudo, difere das formas antigas no que

concerne a suas finalidades, composição e papel de pais e mães”.

Pode-se ressaltar inúmeras evoluções e alterações no direito de família, como, por

exemplo, no século XX, o papel da mulher no âmbito familiar foi totalmente reestruturado.

Neste contexto, os mesmos direitos do cônjuge varão, bem como, a aceitação da união estável

pela sociedade e a própria aplicação em lei (art. 226, §3° Constituição Federal de 1988), são

exemplos da caminhada ideológica que o tema sofreu.

Assim, foi necessário criar uma definição jurídica de família, que pode ser realizada a

partir da leitura do artigo 226, caput, da Constituição Federal promulgada em 1988. O

comando normativo referido, define família como a base da sociedade, tendo do Estado

proteção especial. Já nos parágrafos seguintes, o dispositivo legal encarta pontos sobre a

gratuidade, caráter e efeitos civis do casamento, o reconhecimento da união estável entre

homem e mulher, da dissolução do casamento através do divórcio, bem como, fala do

planejamento familiar livre, baseado nas convicções do casal. Assim dispõe:

Art. 226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.

§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre

o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua

conversão em casamento.

§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada

por qualquer dos pais e seus descendentes.

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§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos

igualmente pelo homem e pela mulher.

§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da

paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal,

competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o

exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de

instituições oficiais ou privadas.

§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos

que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de

suas relações.

Consagra ainda, o artigo supracitado, a proteção da família instituída fora do

casamento, bem como aquela composta por somente um dos progenitores, a família

monoparental. Nessa feita, observa-se que a família é a base mais sólida de toda uma

organização social, necessitando, assim, de proteção especial do Estado, possuindo mais

importância tendo em vista sua grande influência sobre os ramos do direito público e privado.

Não se tem nenhuma dúvida de que a sociedade atual vem passando por fortes

transformações, apresentando grandes diversidades nas relações sociais. Isto não é diferente

nas questões atinentes ao Direito de Família. Sendo assim, existe um aumento significativo de

conflitos nesta seara, que desafiam o Estado na busca de uma solução. Neste ponto temos que,

o nosso ordenamento jurídico-constitucional incumbiu ao Poder Judiciário a tutela

jurisdicional, como meio de garantir aos cidadãos o acesso à justiça (DINAMARCO, 2004,

v.I, p. 114-115).

A grande discussão do momento gira em torno da legitimidade de reservas de poderes

à justiciabilidade dos direitos tanto individuais como sociais. A favor de formas não judiciais

de solução de certos conflitos, ou seja, contra o controle judicial das normas relativas a grande

parte das questões familiares, tem-se a complexidade de critérios que abraçariam a solução do

tema fora do Poder Judiciário, indo além do conflito individual tradicionalmente colocado em

juízo. Nesse sentido, é relevante a reflexão sobre a intervenção ou não do Poder Judiciário

sobre certos assuntos, chamando à atenção para uma visão sistemática dos meios eficientes

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para este afastamento. É justamente nesse momento que a figura do Ministério Público se

apresenta como algo que reclama melhor observação (ANDRADE, 2004, p. 70).

Antes de qualquer aprofundamento maior no tema, é importante observar qual a

posição jurídica abraçada pela figura do Curador no direito nacional. O Eminente jurista De

Plácido e Silva, assim se expressa sobre o ponto em testilha:

Derivado do latim curator, de curare, possui o sentido etimológico de indicar a

pessoa que cuida, que cura ou que trata de pessoa estranha e de seus negócios. Na técnica jurídica, outra não é sua acepção, desde que é tido para designar a pessoa

a quem é dada a comissão ou encargo com os poderes de vigiar (cuidar, tratar,

administrar) os interesses de outra pessoa, que tal não pode fazer por si mesma. A autoridade do curador, ou seja, os poderes de administração que lhe são

conferidos, em virtude dos quais se apresenta como mandatário ou representante

legal do incapaz, encontram-se outorgados na própria lei, onde também se

inscrevem os casos sujeitos a curatela. O curador se difere do tutor, visto que pode ser dado aos próprios maiores, desde

que declarados interditos, aos não nascidos (nascituros), e referir-se somente à

administração dos bens do curatelado, enquanto o tutor é nomeado para

representante legal do menor durante a menoridade. Consoante a espécie de encargos atribuídos ao curador, várias as expressões

designativas da modalidade. (SILVA, 1993, p. 993).

Fica evidente neste texto doutrinário que o legislador quis que o curador assuma a

posição de defensor de direitos, substituindo, até mesmo, a fata do poder familiar.

Vale acrescer que, as pessoas sujeitas à curatela por interdição tiveram a sua

numeração ampliada no novo Código, art. 1.767. Essa conduta foi adotada pelo legislador

ordinário com o fito de abranger não apenas os portadores de enfermidade ou deficiência

mental e os pródigos, mas também outras pessoas que não possam exprimir sua vontade ou

sofram de restrições por serem ébrios habituais, viciados em substâncias tóxicas ou

excepcionais sem completo desenvolvimento mental.

Ato contínuo, ainda, deve-se acrescer as hipóteses de curatela do nascituro - art. 1.779

do Código Civil – como também a do enfermo ou portador de deficiência física. A respeito

destes, é válido não se olvidar que, em absoluta novidade de importância e liminar reflexo

prático, o novo Código Civil tratou, no art. 1.780, de assunto relevante, dizendo que a curatela

dependerá de requerimento do doente ou, se impossibilitado de fazê-lo, de qualquer das

pessoas habilitadas a requerer a interdição, sempre com o intuito de outorgar ao curador a

possibilidade de cuidar de todos ou de alguns dos negócios ou bens do curatelado.

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Assim, haverá intervenção do órgão ministerial nas Ações que tratam sobre a posição

do indivíduo dentro de uma família. Em síntese, ocorrerá a intervenção do Ministério Público

nas ações em que ocorrer alteração do estado civil do indivíduo, como por exemplo, Ação de

Divórcio, Conversão de Separação em Divórcio e Ação Declaratória de Nulidade em

Processo, entre outras. Da mesma forma, sua participação será reclamada nos litígios em que

houver alteração da posição jurídica da pessoa dentro do seu ambiente familiar (Ação de

Investigação de Paternidade, Ação de Prova da Filiação Legítima, entre outras) (CAHALI,

1986, p. 78).

A seguir, há também a intervenção do Ministério Público “nas causas concernentes ao

pátrio poder”. Com a Constituição Federal de 1988, o termo “pátrio poder” foi alterado para

“poder familiar”, assim, Silvio Rodrigues define poder familiar como sendo: “Conjunto de

direitos e deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e aos bens dos filhos não

emancipados, tendo em vista a proteção destes” (RODRIGUES, 2008, p. 356).

Conforme previsto no art. 1.637 do Código Civil (CC), a suspensão do poder familiar

poderá ocorrer caso, o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles

inerentes ou arruinando os bens dos filhos, devendo ser requerida pelo Ministério Público ou

algum parente. Assim, ressalta Maria Helena Diniz acerca da suspensão do poder familiar.”É,

pois, uma sanção que visa a preservar os interesses do filho, afastando-o da má influência do

pai que viola dever de exercer o poder familiar conforme a lei” (DINIZ, 2007, p. 526).

No que tange a hipótese da intervenção mediante as “causas concernentes à tutela e

curatela”, Antônio Cláudio da Costa Machado (1989, p. 295) afirma que: “[...] a lei enfocou a

tutela e curatela como vínculo a unir pessoas, e do qual surgem direitos e deveres

indisponíveis [...]”.

Esse instituto jurídico é definido no art. 1.728 do Código Civil brasileiro (CC), nos

seguintes termos:

Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tutela:

I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;

II - em caso de os pais decaírem do poder familiar.

Nessa feita, impende ressaltar a definição de tutela, nas palavras de Carlos Roberto

Gonçalves (2011, p. 649) que a vê como um dever conferido a uma pessoa que goze de

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capacidade legal, para cuidar e administrar os bens de pessoa menor de idade. Ela tem o fito

primordial de suprir o poder familiar, tendo incontestável destinação assistencial.

Já a curatela está definida no art. 1.774 do Código Civil (CC):

Art. 1.774. Aplicam-se à curatela as disposições concernentes à tutela, com

as modificações dos artigos seguintes.

Com a leitura do referido artigo, percebe-se que a curatela é análoga à tutela, ou seja,

em ambas o que prevalece é a proteção dos incapazes. Por essa razão, as disposições são

aplicadas somente com algumas modificações. Porém, há uma distinção que deve ser

ressaltada.

[...] a distinção fundamental entre tutela e curatela consiste em que a primeira se

destina a proteger o incapaz menor, enquanto a segunda se destina a proteger o

incapaz maior. Contudo, tutela e curatela são institutos de natureza semelhante e fins

idênticos, tanto que o próprio legislador manda aplicar à curatela, com as

modificações derivadas das peculiaridades individuais, as regras concernentes à

tutela. (RODRIGUES, 2008, p. 411).

O artigo 1.767 do Código Civil enumera os sujeitos à interdição da seguinte forma:

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:

I - aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o

necessário discernimento para os atos da vida civil;

II - aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua

vontade;

III - os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos;

IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental;

V - os pródigos.

De acordo com o Doutor Antônio Cláudio da Costa Machado, serão as seguintes

Ações em que atuará obrigatoriamente o órgão ministerial, cuja função será a de custos legis

ou fiscal da lei (1989, p. 295):

[...] os processos das ações declaratórias da nulidade da nomeação de tutor [...]; os

processos das ações propostas em face do tutor ou curador para haver o

ressarcimento dos prejuízos culposamente causados ao tutelado ou curatelado, ou

naquelas em que o tutor ou curador pretenda receber o que legalmente dispendeu no

exercício da tutela ou curatela e, ainda, nos pedidos de remoção de tutor ou curador.

(MACHADO, 1989, p.295).

Do outro lado, na sequência do artigo 82, II, temos a interdição. A incapacidade

mental de um indivíduo é verificada através do processo de interdição que está disposto nos

artigos 1.177 e 1.178 do Código de Processo Civil (CPC):

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Art. 1.177 - A interdição pode ser promovida:

I - pelo pai, mãe ou tutor;

II - pelo cônjuge ou algum parente próximo;

III - pelo órgão do Ministério Público.

Art. 1.178 - O órgão do Ministério Público só requererá a interdição:

I - no caso de anomalia psíquica;

II - se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas

designadas no artigo antecedente, nºs. I e II;

III - se, existindo, forem menores ou incapazes.

Nas palavras do douto Antônio Cláudio da Costa Machado (1989, p. 296):

A curatela de que resulta a interdição, portanto, tem por pressuposto fático a

incapacidade, e por pressuposto jurídico uma decisão judicial, que a torna

diferente da tutela, que pode provir de nomeação dos pais, e do pátrio poder,

que tem sempre origem legal.

Mais a frente, temos ainda, o casamento. A lei civil ainda prevê a interação do órgão

ministerial nos processos de habilitação de casamento, tendo em vista que a lei exige dos

nubentes inúmeras formalidades a serem seguidas, cabendo ao Promotor de Justiça averiguar

se as mesmas estão sendo cumpridas (MACHADO, 1989, p. 509-510). Outrossim, a Lei n°

6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), em seu artigo 67 prevê a

participação do Ministério Público nesse assunto, até mesmo para requerer o que achar

necessário.

O eminente doutrinador Antônio Cláudio da Costa Machado, em sua obra A

intervenção no Ministério Público no Processo Civil brasileiro, aduz ainda que:

É interessante observar, a lei confere ao parquet o poder de pura e simplesmente

autorizar o matrimônio sem que seja exigida a chancela judicial, o que põe às claras

a magnitude desta função, que, apesar de administrativa, vai diretamente ao encontro

das vocações institucional do Ministério Público de defensor dos interesses e

direitos indisponíveis (1989, p. 511, grifo do autor).

Dando sequência à análise do inciso II do art. 82 do CPC, encontramos a expressão

“declaração de ausência”. Assim se exprime Silvio Rodrigues (2008, p. 427) acerca da

curadoria de ausentes: Desaparecendo uma pessoa de seu domicílio, sem que haja notícia, se não houver

deixado representante, ou procurador, a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a

requerimento de qualquer interessado, ou do Ministério Público, os arrecadará,

nomeando curador para administrá-los (RODRIGUES, 2008, p.427).

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A declaração judicial da ausência possui três fases. A primeira fase, chamada de

curadoria do ausente, é o momento em que a ausência é afirmada em sentença declaratória

(nomeia curador, juiz arrecada os bens do ausente e publica editais de 2 em 2 meses). Na

segunda fase, conhecida como sucessão provisória, é motivada pelo não comparecimento do

ausente, sendo que não se sabe ao certo se o mesmo encontra-se morto, fazendo com que sua

herança passe aos seus herdeiros. Já na terceira fase, denominada sucessão definitiva, ocorrerá

a transmissão definitiva do patrimônio aos seus herdeiros, nos casos previstos em lei (DINIZ,

2007, p. 621-625).

No procedimento judicial acima indicado, deverá o Ministério Público intervir e

fiscalizar em todas as suas três fases do, devendo observar se a aplicação da correta lei, se os

fatos condizem com a verdade, bem como instruir o juiz diante da apreciação das provas

(MACHADO, 1989, p. 299).

E, por último, temos o termo contido na lei das “disposições de última vontade”.

Nesse sentindo, faz-se necessária a intervenção do Promotor de Justiça, visto que, não é

permitida a alteração das cláusulas testamentárias deixadas pelo de cujus ou falecido, para que

se faça cumprir a sua vontade (MACHADO, 1989, p. 299-300).

Em um sentido amplo, sucessão significa o ato pelo qual uma pessoa toma o lugar da

outra (ato ou efeito de suceder). A sucessão pode acontecer, nos termos da lei, a título gratuito

(ex., doação) ou oneroso (ex., comprar e venda); em uma relação travada entre pessoas vivas

ou em decorrência da morte. Segundo a melhor interpretação do art. art. 1.786 do CC, o

direito das sucessões pode ser observado como o conjunto de normas que disciplinam a

transferência do patrimônio de alguém, depois de sua morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou

de testamento.

Com a morte real, abre-se a sucessão, transmitindo automaticamente o domínio e a

posse da herança aos herdeiros legítimos e herdeiros testamentários do falecido (art. 1.784 do

Código Civil (CC)), ainda que estes ignorem o fato. Nisso consiste o princípio de saisine,

segundo o qual o próprio defunto transmite ao sucessor o domínio e a posse da herança.

Quando a sucessão decorre de comando legal, já que este estabelece a ordem de

vocação hereditária, a denominação alcançada é de sucessão legítima ou legal. Isto ocorre

quando o de cujus (falecido) deixou de fazer testamento. Neste caso, seus bens passarão às

pessoas descritas na lei (art. 1.829 do CC). A sucessão é também considerada legítima

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quando, embora tenha havido manifestação de vontade por meio de testamento, esse é

considerado caduco (art. 1.939 do CC), nulo (arts. 168, parágrafo único, 1.788, parte final, e

1.863 do CC), revogado (arts. 1.969 / 1.970 do CC) ou parcial. Quando esses fatos ocorrem,

por força do que determina o 1.788, 2ª parte, aparecerá a figura do “princípio da sobra”.

Muitas vezes acontecerá a participação do hereditando quanto à divisão dos bens. Esta

situação decorre de disposição de última vontade, ou seja, de testamento ou codicilo. Quanto à

sucessão testamentária, o Brasil abraçou o “sistema da liberdade de testar limitada ou

mitigada”, ou seja, se o testador tiver herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e

cônjuges), só poderá dispor por meio de testamento, de metade de seus bens, uma vez que a

outra parte constitui a legítima, quota de reserva, quota indisponível dos herdeiros referidos,

os necessários (arts. 1.789 e 1.845 do CC). Já o codicilo aparece em nossa legislação como

uma forma e disposição de última vontade em que a pessoa determina certas disposições a

respeito de despesas ou legados de pouca importância pecuniária, podendo nele nomear ou

substituir testamenteiros (SILVA, 1993, v. I, II, p. 447).

O inciso III do art. 82 do CPC, trata sobre as Ações que envolvam litígios coletivos

pela posse de terra rural e nas demais causas em que há interesse público evidenciado pela

natureza da lide ou qualidade da parte. No que tange à primeira parte, podemos dizer que se

trata de um direito constitucional, tendo em vista que a Carta Magna Brasileira garante o

direito de propriedade (art. 5°, XXII CF). No tocante a 2ª parte, conforme Antônio José de

Souza Levenhagen:

O conteúdo do inciso III do artigo em estudo é por demais vago e subjetivo,

porquanto não há um critério para se avaliar ou para se definir quando se caracteriza

esse interesse público, mesmo tendo o Código salientado aqueles dois fatores a

serem levados em conta: a natureza da lide ou a qualidade da parte. O que para uns

pode ser de interesse público, para outros poderá não sê-lo (LEVENHAGEN, 1986,

p.107).

Conforme conceituação no Dicionário Compacto do Direito, do autor Sérgio Sérvulo

da Cunha (2009, p. 152), o interesse público é visto como um interesse geral, de todos, ou

interesse de toda a população.

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Assim, nas palavras do Promotor de Justiça de Santa Catarina, Rosan da Rocha

(2007), acerca da intervenção do membro do Ministério Público nas causas que versem sobre

o interesse público, tem-se os seguintes ensinamentos:

Ao final, busca-se neste estudo, não induzir ou instigar membros do Ministério

Público a pura e simplesmente deixarem de atuar em algumas causas, como fiscal da

lei, com o propósito de livrarem-se de processos que atulham seus gabinetes. Mas

sim, de refletirem acerca de outras ações, com muito mais urgência, que deva

realizar, para o efetivo cumprimento das atribuições relevantes que lhe foi guindada

pela sociedade e inseridas na Constituição Federal em busca da verdadeira e

almejada JUSTIÇA SOCIAL (ROCHA, 2007).

Finalmente, pode-se concluir que, o Ministério Público poderá atuar em um processo

ora na condição de parte, ora atuando como custos legis. Nas hipóteses aqui já previstas, o

Promotor de Justiça deverá intervir, visto que conforme disposição legal é necessário a tutela

específica da Instituição Ministerial.

Questões de família

Como exposto em linhas pretéritas, o direito de família sofreu, sofre e sofrerá cada vez

mais mudanças com o decorrer dos anos, haja vista sua dinâmica dentro do direito de família.

Nesse compasso, temos que a psicanálise tem papel importante na tratativa do assunto em

epígrafe, proporcionando às partes, ao juiz e ao membro do Ministério Público melhor

compreensão acerca da lide.

Nas palavras de Rosana Mangini e José Fiorelli (2010, p. 292), na obra Psicologia

Jurídica, a análise psicológica da família assim se evidencia:

Mudanças culturais gerais provocam reflexos na dinâmica familiar. Devem-se

buscar o papel que cada um representa na família e, também, seu significado em um

contexto onde há convergências e divergências de interesses e de responsabilidades.

Com a inserção cada vez maior da mulher no mercado de trabalho e a assunção de

responsabilidades familiares (no aporte material e emocional) tendo de ser

compartilhada pelo casal, é possível afirmar que os papéis de cada membro familiar

não tem contornos nítidos e bem definidos, sendo função da família como um todo

zelar pelos seus integrantes (MANGINI; FIORELLI, 2010, p.292).

O que se entende, portanto, é o fato de que, quando surge conflitos familiares

(separação e divórcio, por exemplo), os principais membros da família não conseguem lidar e

resolvê-los por si só, ou seja, o consensual é deixado de lado, prevalecendo tão somente o

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litígio. Assim, a única solução que encontram é nos “braços” do Poder Judiciário (FIORELLI;

MANGINI. 2010, p. 294).

É de notória importância a lição, sobre tal questão, dos doutrinadores Rosan Cathya

Ragazzoni Mangini e José Osmir Fiorelli:

Silva afirma que muitas pessoas buscam o judiciário com a esperança de que o poder

decisório do juiz resolva seus problemas emocionais. Ocorre, porém, uma

transferência da responsabilidade para a figura do juiz, buscando nele solução

mágica e instantânea para todos os conflitos (MANGINI; FIORELLI, 2010, p. 297).

Assim, prescreve o art. artigo 227, caput, da Constituição Federal (CF):

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e

ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,

além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,

exploração, violência, crueldade e opressão.

A partir da leitura de tal artigo, entende-se que é resguardada à criança e ao

adolescente a proteção especial do Estado. Ou seja, no momento em que se verifica a presença

de litígios entre os genitores/familiares do menor, faz-se necessária a intervenção do Estado-

juiz, bem como do membro do Ministério Público (FIORELLI; MANGINI. 2010, p. 296).

Na mesma linha de pensamento, afirma Carlos Roberto Gonçalves:

[...] se observa uma intervenção crescente do estado no campo do direito de

família, visando conceder-lhe maior proteção e propiciar melhores condições

de vida às gerações novas. Essa constatação tem conduzido alguns

doutrinadores a retirar do direito privado o direito de família e incluí-lo no

direito público (GONÇALVES, 2011, p.27).

Malgrado, tais afirmações deve-se ater ao fato de que a intervenção do Estado deve

ocorrer somente se esgotado todos os meios de conciliação. O direito de família, sob ótica

publicista, observa a questão permitindo uma intervenção tolerável do Estado na vida íntima

das pessoas, tudo dentro de um padrão de aceitabilidade pela democracia (VENOSA, 2007, p.

11):

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Nesse mesmo ritmo, senão vejamos uma citação de Washington de Barros Monteiro e

Regina Beatriz Tavares da Silva:

Cite-se prudente advertência de Angel Ossorio: onde há fortes e sadios núcleos

familiares, marcham os povos da melhor forma; onde a família se desagrega, tudo

soçobra. Observe-se que essa parte do direito civil sofre a influência de vários

fatores, sociológicos, religiosos e morais. Mais que qualquer outra matéria, o direito

de família presta-se ao debate e à controvérsia. (1946 apud MONTEIRO; SILVA,

2009, p. 06-07).

Assim, diante de todo o exposto, apesar de toda a polêmica existente no âmbito

familiar, percebe-se claramente uma maior intervenção do Estado nesse ramo do direito, não

obstante a própria preservação da sua essência.

Defesa de incapazes

Como é cediço, o art. 82, I do CPC, prevê a intervenção do Ministério Público nas

causas que há interesse de incapazes. Nessas causas é preciso a intervenção do agente

ministerial por se tratar de direito indisponível, ou seja, o direito se torna indisponível devido

à incapacidade do titular. Ainda deve prevalecer, no processo, a ordem e o equilíbrio social,

motivo esse que torna imperiosa a presença do Promotor de Justiça na defesa do incapaz, que

se encontra em estado de total hipossuficiente (MACHADO, 1989, p. 214).

Malgrado tal indisponibilidade, vale ressaltar a razão pelo qual esse direito se torna

indisponível.

Fala-se, destarte, em atuação fundada na indisponibilidade porque a razão de ser da

intervenção do parquet é a presença de ‘interesses de incapazes’ que por lei são

considerados indisponíveis. Porque indisponíveis, isto é, impassíveis de disposição

(alienação, renúncia etc), a lei não pode confiar inteiramente a defesa judicial de tais

direitos a pessoas que talvez não se empenhem tanto por eles como se empenhariam

se fossem seus […] (MACHADO, 1989, p. 215).

Na realidade, a melhor doutrina vem se ajustando à compreensão jurídica dessa

participação do Ministério Público em causas que tenham como cunho objetivo interesse de

menores. Sabe-se hoje que, a participação do Ministério Público nesses assuntos não se dá

apenas para a proteção formal dos interesses do menor, já que, muitas vezes, pode opinar de

maneira contrário a algum de seus interesses. Ela se dá, mais que tudo, e sempre por essa

razão, para a proteção do direito como bem maior, ideia essencial da democracia (DAVID,

1996, p. 65).

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Nesse diapasão, o advogado Clito Fornaciari Júnior, expõe sua crítica acerca de certas

decisões emanadas por nossos Tribunais, cujo conteúdo trata da questão em testilha:

Fica clara, nessa situação, a ofensa ao princípio da igualdade processual, porque o

menor tem a resistir à sua pretensão não apenas a parte contrária, representada por

advogado, mas também o Ministério Público, que fica à cata de vícios do processo e

da verdade real, atuando até na produção de provas e, não poucas vezes, suprindo

mesmo a deficiência da defesa da parte que contende com o incapaz. Ademais, o

Ministério Público sempre fala por último, sem que se ofereça, em regra,

oportunidade até para contrariar o seu entendimento, com outros argumentos e

provas.

Porém, o doutor Antônio Cláudio da Costa Machado (1989, p. 216), entende o

pensamento de forma diversa, aceitando a imagem de que, no que tange a defesa de

incapazes, a intervenção processual do Ministério Público se operaria não como fiscal da lei,

mas sim, em proteção específica do incapaz.

Acerca da real intervenção do Ministério Público na defesa de incapazes, pode ser

citado um trecho do livro Manual do Promotor de Justiça, escrito pelo ilustre doutrinado

Hugo Nigro Mazzilli:

Entretanto, quando é representante da parte, ou substituto processual, ou mesmo

quando intervém protetivamente em razão da qualidade da parte (como nas hipóteses

do art. 82, I, do CPC), está finalisticamente destinado a proteger o interesse

personificado que lhe legitima a intervenção (MAZZILLI, 1991,p.220).

Para concluir, cabe ao Promotor de Justiça, tão somente, a defesa dos interesses dos

incapazes, visto que esses são partes hipossuficientes no processo. Outrossim, a

hipossuficiência do incapaz pode ser considerada matéria de interesse público, conforme já

exposto, estando sob a responsabilidade do Estado a proteção especial desse incapaz,

salvando-o de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

À vista dos argumentos expostos na pesquisa, foi possível verificar que a Constituição

Federal de 1988 definiu o Ministério Público como sendo um órgão que tem como função

essencial a busca da realização do Estado Democrático de Direito.

A Constituição Federal, com a tentativa de coibir e preservar os interesses da

sociedade designou ao Ministério Público inúmeras atribuições e funções, sejam elas de

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natureza cíveis, familiares, ambientais, criminais, de interesse coletivo ou público, conforme

restou demonstrado, tornando, assim, sua existência verdadeira cláusula pétrea.

No que tange a natureza jurídica do Ministério Público, vê-se que tal assunto é

bastante controvertido, não pertencendo a Instituição a nenhum dos três poderes da União.

No decorrer do presente trabalho descobriu-se que o Promotor de Justiça deve-se valer

de todo e qualquer meio legal a fim de garantir a realização dos serviços essenciais à

sociedade.

No mais, abordou-se acerca da evolução da instituição familiar na sociedade brasileira,

definindo as ingerências legais na solução de seus conflitos por parte dos membros do

Ministério Público aplicando o Código Civil e leis complementares, restando, ainda, a dúvida

sobre a sua real contribuição em assuntos não especificamente judicializados.

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