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 A B C da Dívida Sabe quanto você está pagando? 3ª Edição Revista e Atualizada REDE JUBILEU SUL/BRASIL Cidadã da Dívida Auditoria

Auditoria Cidadã da Dívida - ABC da Dívida.pdf

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  • ABCdaDvidaSabe quanto voc

    est pagando?

    3 EdioRevista e Atualizada

    REDE JUBILEU SUL/BRASIL

    Cidad da DvidaAuditoria

  • ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    FICHA TCNICA

    NDICE

    Apresentao ...............................................................Pg 03Um breve histrico .....................................................Pg 04A Dvida pode ser Interna ou Externa .........................Pg 05O que so ttulos ou bnus .........................................Pg 06A Dvida E(x)Terna.......................................................Pg 07Quem paga essa Dvida? VOC! ..................................Pg 08Quando comeou a Dvida? .........................................Pg 1Como pagamos a Dvida? ............................................Pg 19A quem pagamos a Dvida Externa? ............................Pg 0A iluso de que a economia vai bem ...........................Pg 0A Farra dos Especuladores ..........................................Pg Os credores da Dvida Interna ....................................Pg 6

    Prisioneiros do Neoliberalismo ...................................Pg 8As reformas ditadas pelo FMI ......................................Pg 9Mais reformas ditadas pelo FMI ...................................Pg 31Dvida e Petrleo: somos independentese autosuficientes??? ......................................................Pg 33As Clusulas de Ao Coletiva: Ameaa Soberania ..Pg 34O que aconteceria se a Dvida fosse auditada eanulada? .......................................................................Pg 35Auditoria J!!! ...............................................................Pg 37Por que auditar a Dvida? .............................................Pg 38A Dimenso tica da Dvida ........................................Pg 4A Campanha Auditoria Cidad da Dvida ....................Pg 44

    Iniciativa: Auditoria Cidad da Dvidawww.divida-auditoriacidada.org.brRede Jubileu Sul Brasilwww.jubileubrasil.org.br

    Participao Especial na Redao: Professores e jornalistas do ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituies de Ensino Superior), do SINASEFE (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educao Bsica e Profissional) e integrantes da Campanha pela Auditoria Cidad da Dvida, Rede Jubileu Sul Brasil.

    Redao:Pe. Bernard LestienneFabrina FurtadoMarcos ArrudaMaria Lucia Fattorelli Rodrigo vilaSandra Quintella

    Silvana CamposElizngela AraujoJos Menezes GomesPaulo Antnio GomesDireo Nacional do SINASEFE

    Reviso: Ana Mary C. Lino CarneiroCarla FerreiraCarmen BressaneDaniel GonalvesEullia AlvarengaIvo PolettoLaila AlvesMarcelo CotaMaria Helena Bahia BezerraMathias LuceRosilene Wansetto

    Ilustraes:Nivaldo Marques Martins Diagramao:Sygno Design e Comunicao

    Impresso: Grfica Brasil

    Patrocnio:ANDES - SNCritas BrasileiraCIMICONFEACPTChristian AidFENAFISPFENASPSFisco-Frum MGIBRADESISER AssessoriaManos Unidas Pastorais SociaisPrograma Justia EconmicaRede Jubileu Sul BrasilSINASEFESINDECON-DFSINDECON-MGSindical - DFUMNA

    Primeira Edio da Cartilha ABC da Dvida Publicao CESE-CONIC, Dez/1999Apoio: Christian Aid, Conselho Mundial de Igrejas, HEKS, Igreja Unida do Canad, ICCO, Po para o Mundo.Redao: Marcos Arruda e Sandra Quintela (PACS)Edio: Boaventura F. Maia Neto, Jos Carlos Zanetti

    Outras Publicaes integradas

    na presente edio de ABC da Dvida Sabe quanto voc est pagando?, disponveis no endereo www.divida-auditoriacidada.org.br :

    - Cartilha Plebiscito Nacional sobre a Dvida Externa (Publicao do Fisco Frum-MG, Agosto de 000)- Cartilha Auditoria Cidad da Dvida (Frum Social Mundial de 00) - Cartilha Justia Fiscal e Social versus Endividamento e Lavagem de Dinheiro Os Passos da Auditoria

    Cidad da Dvida: Uma Experincia Brasileira (Frum Social Mundial de 004 - 1 edio) e (Frum Social Mundial de 005 - edio)

    - Cartilha Auditora de la Deuda Amrica Latina y el Caribe (Frum Social Mundial de 006)

    Caderno de estudo sobre a Dvida N 1 e Boletins eletrnicos e impressos e o Cartaz Mural sobre a Histria da Dvida no Brasil.

  • 3ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Este texto foi elaborado pelas entidades participantes da Campanha Auditoria Cidad da Dvida, integrada na Rede Jubileu Sul Brasil, e teve como base a cartilha ABC da Dvida, editada originalmente no contexto do Plebiscito Popular sobre a Dvida Externa, realizado em 000. Nesse Plebiscito, cerca de 6 milhes de pessoas votaram contra a continuidade do pagamento da dvida externa sem a realizao da auditoria prevista na Constituio Federal.

    O governo no atendeu a essa reivindicao popular, prosseguindo com o pagamento da dvida ilegtima. Foras populares iniciaram, em 001, a Auditoria Cidad da Dvida, que consiste na realizao de uma auditoria feita pela sociedade, no sentido de levantar toda a verdade que envolve o processo de endividamento, pressionar pela realizao da auditoria oficial e mobilizar a sociedade por meio da divulgao do tema da Dvida atravs de publicaes didticas e atualizadas que tambm integram a presente edio.

    Nos ltimos anos, repetindo a perspectiva histrica, a dvida vem adquirindo novas roupagens, embora seu mecanismo principal a expropriao da

    APRESENTAO

    riqueza nacional por uma elite de rentistas tenha se aprofundado. A emergncia de um endividamento interno vem se tornando, em termos financeiros, cada vez mais significativo. Porm, como veremos, trata-se de mera reciclagem, e estas duas dvidas (interna e externa) fazem parte de um mesmo mecanismo, repleto de ilegalidades e ilegitimidades que continuam se acumulando.

    O elevado endividamento brasileiro impede a resoluo dos principais problemas sociais, pois o pas destina cerca de 40% de seu oramento para o pagamento aos rentistas. Neste contexto, este manual visa a contribuir para a formao de pessoas e militantes dos movimentos sociais que possam multiplicar estas informaes, normalmente no disponveis junto grande mdia. Fazer chegar ao povo a correta informao sobre os problemas do pas constitui passo fundamental para a mudana, e com este esprito que apresentamos mais esta cartilha.

    Auditoria Cidad da DvidaRede Jubileu Sul Brasil

    Fevereiro de 2008

  • 4 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    O Brasil um dos onze pases mais ricos do mundo, mas os pagamentos da dvida consomem grande parte do que produzimos, impedindo que a maioria dos brasileiros tenha vida digna. Por isso, a Campanha Internacional do Jubileu Sul e a Campanha da Auditoria Cidad da Dvida denunciam a imoralidade, ilegitimidade e a ilegalidade das dvidas interna e externa dos pases do Terceiro Mundo e reivindicam uma auditoria

    A DVIDA UMA PROVA DE QUE NO SOMOS INDEPENDENTES!

    completa dessas dvidas que constituem apenas uma das faces da explorao a que somos submetidos. Uma explorao que gera intensa dvida social, poltica e ecolgica. Temos de saber: quem so os verdadeiros devedores? E quem so os verdadeiros credores? Quem deve a quem? Quanto? O que foi feito com o dinheiro pedido? Quem se beneficiou mais com as dvidas? Por que a dvida no pra de crescer?

    UM BREVE HISTRICO

    A Amrica Latina foi colnia europia por mais de 300 anos, e mesmo depois das declaraes de independncia, continuamos dependentes, explorados e oprimidos. Grande parte da riqueza que produzimos transferida para os pases ricos, que nos cobram uma grande dvida.

    Os efeitos da dvida so como os de uma terceira guerra mundial, s que em vez de soldados, morrem crianas. Em vez de feridos, os hospitais esto lotados de doentes e subnutridos; as ruas, de desempregados. Nessa guerra no se destroem pontes ou estradas, mas se eliminam fbricas, escolas e hospitais. No se lanam bombas nessa guerra, mas nossas riquezas so saqueadas. A dvida uma sangria permanente nas veias abertas h 500 anos na Amrica Latina.

  • 5ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    A DVIDA PODE SER INTERNA OU EXTERNA

    Nos dias atuais, a moeda e tipo de credor no so suficientes para se fazer distin-o clara entre dvida Externa e Interna, pois parte significativa da Dvida Interna

    est nas mos de estrangeiros, e parte da Dvida Externa emitida em Reais e pode

    estar nas mos de brasileiros.

    (*) Desde setembro de 2005, o governo j realizou vrias emisses de ttulos da dvida externa indexados moeda nacional (Real).

    Dvida interna Dvida externa

    A dvida externa contrada no exterior e tem que ser paga em moeda estrangeira(*), ou seja, moeda que somente pode ser obtida por meio de exportaes, por endividamento externo, ou por investimentos estrangeiros. Resulta do emprstimo de dinheiro a juros, atravs de contratos com instituies financeiras ou emisso de ttulos pblicos.

    composta de duas parcelas: pblica e privada.

    A dvida pblica contrada por governos e empresas estatais.

    A dvida privada contrada pelas empresas privadas, mas em quase todos os casos, tem o aval do governo federal, que a registra no Banco Central. Assim, embora seja uma responsabilidade do setor privado, muitas vezes a dvida privada registrada acaba sendo assumida pelo governo.

    Na prtica, brasileiros tambm podem ser credores da dvida externa, pois podem enviar seu dinheiro para o exterior e comprar ttulos dessa dvida emitidos pelo governo.

    A dvida interna a soma dos dbitos assumidos pelo governo junto aos bancos, empresas e pessoas fsicas residentes no pas e no exterior, e paga em moeda nacional.

    Na maioria das vezes, fruto da emisso de ttulos pblicos vendidos no mercado financeiro.

    Os juros e a dvida

    As altas taxas de juros so usadas para atrair capital necessrio rolagem (refinanciamento) da dvida e so as maiores responsveis pelo crescimento da Dvida Interna.

  • 6 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    O que so ttulos ou bnus?

    Nas ltimas dcadas, a maior parte da dvida passou a ser formada pelos chamados ttulos ou bnus. Ou seja: quando o governo toma recursos dos emprestadores (bancos, por exemplo), entrega a eles, em troca, um ttulo, que um papel, no qual consta o valor da dvida (o chamado valor de face), as taxas de juros e os prazos de pagamento. Quem detm este papel, portanto, tem o direito de receber o valor emprestado e os juros nos prazos marcados.

    Porm, quem tem um ttulo da dvida pode revend-lo a outros investidores, dando a eles, portanto, o direito de receber esta dvida no prazo estipulado no ttulo. Estas operaes de revenda de ttulos se do no chamado mercado secundrio. O valor deste ttulo no mercado secundrio influenciado pelo risco-pas, ou seja, a expectativa de que o governo ir ou no

    pagar a dvida. Caso haja um compromisso muito forte, por parte do governo, de que ele ir pagar todos os ttulos no vencimento, o valor dos ttulos no mercado secundrio tende a aumentar, e pode at mesmo ficar acima do valor de face (pois se torna muito atrativo para os investidores receber os altos juros pagos pelos ttulos). Por outro lado, se h a crena de que o governo no ir pagar a dvida, o valor dos ttulos no mercado secundrio fica abaixo do valor de face.

    O risco-pas representa um aumento de juros que pagamos aos emprestadores para compensar o risco de, algum dia, no pagarmos a dvida. Este risco est representado pela parte vermelha do grfico abaixo. Porm, sempre pagamos religiosamente esta dvida. Ento, este adicional de juros ilegtimo, e deve ser devolvido ao Brasil.

    Fonte: FED e JP Morgan

  • 7ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    A dvida externa brasileira foi multiplicada por 5 entre 1978 e 007, mesmo que tenhamos pago 6 bilhes de dlares a mais do que recebemos de emprstimos.

    Em 1978, a dvida brasileira era de 52,8 bilhes de dlares.

    Em 2007, era de 243 bilhes de dlares!

    A dvida interna do governo brasileiro era inexpressiva no incio da dcada de 90. Cresceu a

    QUANTO MAIS PAGAMOS, MAIS DEVEMOS!

    A DVIDA E(X)TERNA

    partir do Plano Real, atingindo R$ 6 bilhes em 1995. Entre 1995 e 007 pagamos 651 bilhes de Reais s de juros; mesmo assim, a dvida multiplicou por 0, e passamos a dever 1 trilho e 390 bilhes de Reais em 007!

    UM CONTINENTE ENDIVIDADO

    Em 1970 a Amrica Latina devia 3,5 bilhes de dlares. Em 00, devia 77 bilhes de dlares, mesmo tendo pago 193 bilhes de dlares a mais do que recebeu de emprstimos.

    Pagamos a dvida seis vezes, mesmo assim, elase multiplicou por mais de 20!

    Alm desse brutal crescimento das dvidas, interna e externa, a maior parte das empresas estatais brasileiras foram privatizadas, sob o argumento de que era preciso pagar a Dvida.

    Um verdadeiro crculo vicioso: quanto mais

    pagamos, mais devemos. Por isso dizemos que

    a dvida eterna. E s deixar de ser quando o povo fizer algo para

    parar esta sangria que o empobrece e esmaga.

  • 8 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    QUEM PAGA ESSA DVIDA?

    Voc acha que a dvida problema do governo e que voc no tem que se preocupar com ela?

    Ento, saiba que a falta desegurana, emprego, escola,

    hospital e moradia resultado da famigerada dvida.

    Artigo 6- So direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia,

    o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade

    e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta

    Constituio Federal.

    o sacrifcio diriodesses direitos

    constitucionais quepossibilita ao

    governo continuarpagando a dvida.

    Dados do Oramento Geral da Unio (Sistema Access da Cmara dos Deputados 31/12/2007)

    R$ 237 bilhes

    Foi quanto ogoverno federaldeixou de investirno Brasil em 2007 para pagar as dvidasinterna e externa

    R$ 40 bilhes R$ 20 bilhes R$ 3,5 bilhes

    Foi quanto o governo federal investiu nasade em2007

    Foi o valor investido na Educao pelo governo federalem 2007

    Foram investidosna reforma agrria pelo governo federal em 2007

    COMPARE

    VOC!

    A CAMPANHA Auditoria Cidad da Dvida vem divulgando anlise do oramento federal, destacando quanto destinado ao pagamento de juros e amortizao da dvida e quanto destinado aos gastos sociais. evidente que os gastos com a Dvida tm toda garantia, enquanto as necessidades do povo brasileiro ficam com os restos. A figura a seguir mostra como foram gastos os recursos do Oramento Geral da Unio (ou seja, do Governo Federal) em 007. V-se que o pagamento de juros e amortizaes (ou seja, o principal) da dvida consumiu 30,59% dos recursos, enquanto reas sociais fundamentais

    receberam muito menos. A Sade, por exemplo, ficou com apenas 5,17%, enquanto a educao com apenas ,58% e a Reforma Agrria 0,46%.

    importante deixar claro que, neste grfico, no estamos considerando o chamado refinanciamento da dvida. Ou seja, no est considerado o pagamento de amortizaes que teve como fonte de recursos a emisso de mais ttulos (ou seja, a Rolagem da Dvida). Foi includa apenas a amortizao efetivamente desembolsada (isto , paga em dinheiro) em 007.

  • 9ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Se for levado em conta o refinanciamento (ou seja, o pagamento de amortizaes com a emisso de mais ttulos), a fatia do oramento comprome-tida com a dvida sobe para 53,%, conforme se v na figura a seguir. O refinanciamento deve ser levado em conta, pois ele que obriga o governo a tomar emprstimos a todo momento para pagar as dvidas anteriores. E com isso o governo se torna refm dos mercados (ou seja, dos investidores), que exigem dele as polticas que lhes interessam,

    como, por exemplo, as privatizaes, a liberdade para os fluxos de capitais financeiros, alm de, cla-ro, a total prioridade, no oramento, para os gas-tos com a dvida.

    uma eterna chantagem: se o governo promo-ve qualquer poltica contrria aos interesses dos grandes investidores, estes no mais emprestam ao governo, ou exigem juros mais altos pelos em-prstimos.

    A AUDITORIA OFICIAL DA DVIDA PODE LIVRAR O GOVERNODESTA ETERNA CHANTAGEM

  • 10 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Os grficos mostram com clareza que a responsabilidade pelo aumento da carga de impostos no Pas da poltica econmica que prioriza a dvida pblica, com prejuzos para todas as ou-tras polticas pblicas.

    Por isso h necessidade urgente de se realizar uma completa auditoria da dvida pblica. Ela explicar nao, que est pa-gando a conta, a origem e o destino dos recursos do endivida-mento pblico cumprindo o que est previsto na Constituio Federal.

  • 11ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    A CADA ANO NOSSA VIDA FICA MAIS DIFCIL

    PORQUE A PARTE DO ORAMENTO DESTINADA

    DVIDA CRESCE. DINHEIRO QUE DEIXA DE SER

    INVESTIDO EM SADE, EDUCAO, MORADIA,

    SEGURANA E NA GERAO DE TRABALHO,

    EMPREGO E RENDA.

    dos recursos gastos pelo Oramento da Unio em 2007 foram destinados ao refinanciamento, amortizao ou pagamento dos juros da dvida pblica.

    53,2%

  • 1 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    QUANDO COMEOU A DVIDA?

    Naquela poca, os habitantes das Amri-cas eram obrigados a trabalhar e transferir as riquezas extradas da terra para os colo-nizadores. Todos que resistiam a isso eram eliminados. Ao conquistar a independncia poltica de Portugal, o Brasil tornou-se de-pendente de novos poderes econmicos.

    As injustas regras do comrcio, soma-das s enormes dvidas financeiras impostas pela Coroa para reconhecer politicamente a independncia, bem como a contratao de emprstimos para fazer frente s guer-ras de independncia, levaram a contrair enormes dvidas com pases ricos.

    Estima-se que 5 a 30 milhes de ame-rndios viviam no que veio a ser o Mxico quando Colombo chegou. Em 1568, segun-do um historiador, 90% deles haviam sido dizimados e restavam apenas trs milhes. Outro historiador da poca calcula que 30 milhes foram exterminados nas primeiras dcadas do descobrimento. Todos aque-les que resistiam a revelar ou trabalhar para extrair riquezas para as metrpoles eram eliminados.

    Portugueses e espanhis, depois ingleses, franceses e holandeses montaram o ren-doso trfico de escravos da frica para as

    Quem deve a quem?

    Amricas. Negociavam seres humanos por tonelada. A escravido foi a forma preferida de organizao do trabalho do capitalismo durante mais de trs sculos. Calcula-se que 100 milhes de negros foram arrancados da frica entre os sculos 16 e 19.

    Somando os indgenas dizimados pelos conquistadores e descendentes, os ne-gros sacrificados nas operaes de cap-tura, nos navios negreiros, nas fazendas e minas da Amrica, chegamos aos 100 mi-lhes de seres humanos eliminados pela voracidade sem limites da civilizao e da modernidade.

    Desde que os europeus chegaram ao continente

    Diante destes fatos, preciso reconhe-cer, sobretudo no sculo que consagrou os direitos humanos dos povos, que os devedores so os pases responsveis por esta pirataria e genocdio. O valor da vida humana no tem preo. Mas a riqueza ar-rancada das Amricas, sim. O historiador

    Quem so realmente os devedores?

    Paulo Shilling sugere, com bons argumen-tos, o valor de 9,55 bilhes de dlares, acrescidos de juros de 6,5% durante 130 anos, o que totalizaria nada menos que R$ 5 trilhes de dlares. Ou seja, mais da metade do valor de tudo que se produz no mundo em um ano!

  • 13ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Durante os anos da de-presso econmica, na d-cada de 0, as exportaes brasileiras e de outros pa-ses comearam a cair. Atin-gidos pela crise financeira de 199, 14 pases latino-ame-ricanos suspenderam o pagamento de suas dvidas entre 1931 e 1935 e promoveram auditorias, o que possibilitou a liberao de recursos para investirem no seu desenvolvi-mento. Essa foi uma poca de expanso das economias latinas. A partir de 1931, duran-

    Suspenso do pagamentogerou crescimento econmico nos anos 30

    Nas palavras do prof. Reinaldo Gonal-ves, preciso fazer uma auditoria pro-funda e completa da dvida externa quando se parte para o processo de renegociao. Dessa forma, o governo tem as informaes necessrias para obter os maiores benef-cios na negociao com os credores. A au-ditoria permite, tambm, identificar falhas no sistema de controle da dvida externa. A auditoria possibilita identificar clusulas, que podem ser favorveis para os credores e devedores, mas podem ser contrrias aos interesses do pas. A auditoria permi-

    te o governo de Getlio Vargas, o Brasil realizou uma auditoria da dvi-da externa. Ela apurou que somente 40% dos contratos estavam do-cumentados, que no

    havia contabilidade regular e nem controle das remessas de dinheiro para os outros pa-ses. Com isso, ela gerou fora poltica para obter uma reduo importante da dvida externa.

    Concluso:

    te, ainda, que os diferentes instrumentos da dvida sejam classificados em distintas categorias, segundo diferentes critrios (prazo, custo, credor, devedor, clusulas restritivas etc). Essas categorias expres-sam uma hierarquizao de prioridades que podero orientar as negociaes. Por fim, a experincia da dcada de 30 mostrou que a renegociao da dvida ex-terna, assentada em uma auditoria, gera ganhos substantivos por meio da reduo dos juros, do principal e do resgate (por desgio) dos ttulos da dvida externa.

    O processo de auditoria da dvida externa realizado em 1931trouxe vrios benefcios reais ao pas:

    Em 1931 o Brasil realizou auditoria da dvida e

    apurou que somente 40% dos contratos estavam

    documentados

    1. Reduo significativa da dvida externa. . Reduo dos custos da dvida na relao com as exportaes: de 30% em 1930 para 7% em 1945.3. Reduo real do pagamento de juros.

  • 14 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    O Brasil era uma das excees entre os pases latino-americanos, pois tinha um parque indus-trial avanado e capacidade prpria de poupan-a e investimento. Havia tambm a possibilidade de cobrar impostos sobre grandes rendas e ri-quezas, altamente concentradas, para financiar seu desenvolvimento. No entanto, os governos militares preferiram o dinheiro aparentemente fcil, porm arriscado, do exterior.

    que a dvida externa comeou a crescer de forma acelerada e alcanou patamares altssimos.

    Com o aumento do preo do petrleo, em 1974, rios de petrodlares quase um trilho de dlares! foram depositados nos bancos dos pases ricos pelos pases produtores de petrleo e pelas empresas petrolferas transnacionais. Os banqueiros ento saram pelo mundo oferecendo emprstimos a juros baixos, mas flutuantes, ou seja: juros que podem variar e que s so fixados

    depois do emprstimo realizado, portanto, segun-do o interesse do credor!

    A ditadura militar foi implantada para IMPEDIR um projeto de desenvolvimento nacional, sobera-no e voltado para as necessidades da populao brasileira.

    Durante o regime militar a dvida externa brasileira aumentou 4 vezes. Passou de ,5 bi-lhes de dlares em 1964 para 105 bilhes de dlares em 1985!

    FOI NOS ANOS 70, DURANTE A DITADURA MILITAR,

    A IRRESPONSABILIDADE DOS GOVERNOS MILITARES

    Foi o tempo dos grandes projetos financiados com recursos externos, muitos dos quais esto hoje decadentes ou desativados. Mas sua dvi-da continua sendo paga. As atraentes taxas de juros flutuantes se mostraram mecanismo per-verso de expropriao de recursos. Assim, no demoraria muito para que os pases da Amrica Latina, inclusive o Brasil, entrassem em crise; foi o que aconteceu na dcada de 80.

    A INTERVENO DOS ESTADOS UNIDOS

    O aumento da taxa de juros relativa dvida em dlares aconteceu entre 1979 e 1981. As taxas de juros, baixssimas do incio da dcada de 70 (que chegavam a ser negativas quando comparadas com a inflao), subiram tanto nesse perodo que atingiram 4% ao ano. Isso foi resultado de uma deciso unilateral do

    governo dos Estados Unidos, destinada a solucionar seus problemas financeiros e cobrir seus prejuzos. O fato de o dlar americano ser tambm moeda internacional, somado fuga dos dlares para os Estados Unidos, aprofundou a crise do endividamento externo dos pases em desenvolvimento.

  • 15ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Uma Comisso do Senado Federal, instala-da em 1987, denunciou a co-responsabilidade dos credores no endividamento dos pases do Terceiro Mundo. o que aparece no Relatrio Final da Comisso, elaborado pelo ento sena-dor Fernando Henrique Cardoso (que, depois, como presidente, de 1995 a 00, ignorou o que escreveu e endividou ainda mais o pas):

    O engajamento dos pases em desenvolvi-mento nesse processo [de endividamento] foi possibilitado, obviamente, pelos bancos inter-nacionais, que concediam os emprstimos; en-dossado pelo FMI, que acompanhava e avaliava,

    A Co-responsabilidade dos emprestadores na crise

    anualmente, as economias dos seus membros; e encorajado pelos governos dos pases credores, que deram apoio poltico estratgia de cresci-mento econmico com financiamento externo. Torna-se evidente, desta perspectiva, que a crise da dvida externa do Terceiro Mundo envolve a co-responsabilidade dos devedores e dos credo-res.

    O mesmo Relatrio tambm apontou, j na-quela poca, a transformao de dvida externa em dvida interna, a estatizao de dvidas priva-das, e o impacto nocivo da dvida sobre os indi-cadores sociais.

    O FMI e o Banco Mundial

    Diante das crises de pagamento pro-vocadas pelos credo-res, especialmente pelos Estados Unidos da Amrica do Nor-te, eis que surgem o Fundo Monetrio Internacional (FMI) e o Banco Mundial como salvadores das ptrias endividadas: ofereciam a rene-gociao das dvidas com juros cada vez maiores. Fortemente controladas pelo sis-tema financeiro, essas entidades assumiram o papel de polcia de seus prprios emprstimos e dos emprstimos de credores oficiais e privados.

    Ao renegociar a dvida externa com o FMI, nossos governantes entregaram o direito soberano de de-cidirmos sobre nosso modelo de desenvolvimento e nossas prioridades de investimento. Aceitaram que o desenvolvimento econmico dependeria da continuidade do pagamento da dvida externa. Isso causou recesso, desemprego e empobrecimento da populao.

  • 16 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    A Origem do Fundo Monetrio Internacional e Banco Mundial

    Alm de emprestadores, o FMI e o Banco Mun-dial tm outros papis. Nasceram, em 1945, para ajudar a pr em ordem a economia do mundo e evitar que os peixes grandes comessem os peque-nos. Mas, sobretudo nos anos 70 e 80, estas duas agncias, fortemente controladas pelos pases ricos, assumiram o papel de cobrar seus emprstimos, e os dos credores oficiais e privados. O FMI deveria ajudar a equilibrar as finanas de pases, empres-tando dinheiro a prazo mais curto para corrigir aquelas dificuldades. O Banco Mundial devia ajudar os pases a progredir no sentido de um desenvolvi-mento socioeconmico justo e sustentvel.

    Mas a realidade tem sido outra. Eles do e tiram emprstimos (no permitem que Cuba seja mem-bro, e durante muito tempo impediram tambm a China). No tm uma gesto democrtica nem tornam transparentes as informaes. Cobram dvidas em benefcio prprio e de outros credo-res. Metem-se nos pases para dizer como devem organizar a economia. Impem receitas que nunca favorecem os devedores e sempre protegem os in-teresses dos banqueiros. E contam com cmplices

    em cada um dos nossos pases.O mais grave que o FMI e o Banco Mundial

    no assumem qualquer responsabilidade pelos da-nos causados em decorrncia de suas recomenda-es equivocadas. o caso da Argentina: a obedi-ncia ao FMI culminou na crise financeira de 00 e nas graves conseqncias sociais, que perduram at os dias atuais.

    Em 1983, com a Crise da Dvida, o Brasil obteve emprstimo do FMI. A partir da, at os dias de hoje, ele impe a adoo de uma poltica econ-mica nociva aos interesses nacionais, causando re-cesso e desemprego, para viabilizar o pagamento da dvida. O FMI tambm imps medidas como a liberalizao do fluxo dos capitais financeiros, re-formas da previdncia e trabalhista, dentre outras reformas que tiram direitos dos trabalhadores. Es-sas medidas contaram com a concordncia dos go-vernos militares e seus sucessores: Sarney, Collor, FHC e Lula.

    A Comisso Mista formada no Congresso Nacional em 1989

    Em 1989, cumprindo a determinao da Constituio Federal de 1988, foi formada ou-tra Comisso, desta vez mista, composta por deputados federais e senadores, com a misso de efetuar o exame analtico e pericial dos atos e fatos geradores do endividamento externo brasileiro. O senador Severo Gomes foi inicial-mente designado relator, sendo posteriormente substitudo pelo deputado Luiz Salomo.

    Severo Gomes mostrou que os acordos de renegociao da Dvida Externa deveriam ter sido submetidos aprovao do Congresso Na-cional, o que no aconteceu. Dentre outros absurdos, merecem destaque as clusulas de Renncia alegao de nulidade e Renncia antecipada a qualquer alegao de soberania. As principais propostas constantes do Relatrio de Severo Gomes foram:

    - Que a Mesa do Congresso Nacional promova as medidas necessrias, junto ao Supremo Tribunal Federal, para a decretao da nulidade dos acordos relativos dvida externa que no observaram o mandamento constitucional do referendo do Le-gislativo.

    - Que a Mesa do Congresso Nacional notifique o Poder Executivo para que promova as medidas judiciais cabveis visando ao ressarcimento dos da-nos causados ao Brasil pela elevao unilateral das taxas de juros.

    - Que o Congresso promova, junto ao Minist-rio Pblico, a responsabilizao dos negociadores da dvida externa, pelas irregularidades j apuradas nesta fase dos trabalhos.

    Porm, o Relatrio Final desta Comisso nun-

  • 17ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Nos anos 90, os governos reduziram as tarifas e protees sobre as importaes. Assim, produtos baratos de empresas transnacionais produzidos nos pases ricos, no Leste Europeu ou na sia do Leste entraram maciamente no pas e quebraram mui-tos negcios aqui dentro. A conta das importaes superou a das exportaes e a situao das contas externas piorou. Para dispor de dlares para fi-nanciar esta enxurrada de importaes, o governo teve de atrair investimentos estrangeiros ao pas, por meio da dvida externa e interna. Como isso se deu?

    Aumentando as taxas de juros da dvida interna, o governo estimulava os estrangeiros a adquirirem os ttulos desta dvida, que paga os juros mais altos

    Os Anos 90: Aumento da Dvida Externa e Surgimento da Dvida Interna

    do mundo. Outro efeito do aumento das taxas de juros internas foi o estmulo chamada dvida ex-terna privada; ou seja: induziu as empresas e ban-cos nacionais a tomarem dinheiro l fora (a juros mais baixos) para emprestar ao governo aqui den-tro, ganhando tambm os maiores juros do mundo. Assim, os dlares que entravam no pas devido a estes emprstimos ficavam no Banco Central, que em troca fornecia reais aos investidores, para que estes comprassem ttulos da dvida interna.

    Com os maiores juros do mundo, a dvida inter-na explodiu, atingindo 1,4 TRILHO DE REAIS no final de 007. E isso apesar das PRIVATIZAES, que desmontaram empresas pblicas dourando a plula com o falso discurso de resolver o problema

    ca foi votado pelo Congresso, e suas concluses jamais foram implementadas. Em 1994, foi con-cluda a renegociao desta dvida com credores privados, e ela serviu para transformar uma dvi-da contratual altamente questionvel em dvida

    em ttulos, que poderiam ser revendidos entre os investidores. Desta forma, procurou-se legi-timar uma dvida ilegal, dadas as taxas de juros flutuantes e os emprstimos tomados por dita-duras militares.

  • 18 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    da Dvida. Na realidade, a dvida pblica sempre serviu de pretexto para as vendas das empresas estatais. Os sucessivos governos continuam re-petindo que no tm dinheiro para investir em estradas, energia, telefonia etc., e por isso privati-zam estes setores. Porm, sabe-se que a dvida que impede o governo de realizar os investimen-tos necessrios. Como se v, apesar do discurso, a dvida explodiu ao mesmo tempo em que foram feitas privatizaes.

    A Dvida Externa Privada tambm explodiu,

    passando de menos de 10 bilhes de dlares em 1990 para 116 bilhes de dlares em 1998! im-portante dizer que, embora a dvida externa pri-vada seja devida por empresas e bancos nacionais, ela tambm paga pelo povo brasileiro. Por qu? Em primeiro lugar, como j dissemos, porque boa parte desta dvida externa privada foi tomada pelos bancos e empresas no para fazerem inves-timentos produtivos, mas para emprestarem ao governo brasileiro, ganhando os juros mais altos do mundo. Ou seja: a empresa/banco nacional

    apenas um intermedirio de uma tpica operao de dvida externa pblica, uma vez que, no final das contas, o governo brasileiro quem toma emprestado do banco estrangeiro.

    Em segundo lugar, quando o devedor privado nacional paga a sua dvida externa, ele paga, em Reais, para o Banco Central, que se encarrega de fornecer os dlares para o credor estrangeiro. Ou seja: os dlares enviados para o exterior so os dlares do governo, obtidos s custas de tan-to sacrifcio: exportaes e altas taxas de juros internas (que fazem com que o capital externo venha para o pas). Em 00, por exemplo, as empresas que deviam ao exterior resolveram antecipar o pagamento de suas dvidas; isso pro-vocou falta de dlares no Banco Central; para atrair novos dlares, os juros foram aumenta-dos, causando aumento da recesso e do desem-prego. O governo foi induzido a tomar mais um emprstimo com o FMI, que veio acompanhado de mais imposies anti-sociais e reformas que tiraram direitos dos trabalhadores.

    Apesar de termos pago, no ano de 007, a fortuna de R$ 37 bilhes a ttulo de juros e amortizaes da dvida interna e externa, o endividamento con-

    tinua crescendo aceleradamente.Em dezembro de 007, o endividamento externo brasileiro atingiu a cifra de US$ 43,9 bilhes.

    Dvida dez/06 dez/07 Aumento em 2007

    Dvida Externa (US$ milhes) 199.37 43.871 44.499

    Pblica 76.69 70.13 -6.137

    Privada 13.103 173.738 50.636

    Dvida Interna (R$ milhes) 1.153.56 1.390.684 37.158

    Fonte: Banco Central e Secretaria do Tesouro Nacional

    O CRESCIMENTO DA DVIDA EM 2007

    E A DVIDA INTERNA atingiu, em dezembro de 007, a cifra de: R$1 trilho e 390 bilhes!!!(http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/demab/ma0071/NImprensa.zip, Quadro 11)

  • 19ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    COMO PAGAMOS A DVIDA?

    Todos os brasileiros pagam a Dvida Interna e aDvida Externa.Pagamos essas dvidas com SACRIFCIO SOCIAL: privao de servios pblicos essenciais e desemprego.

    O Brasil tambm tenta atrair mais capital ex-terno aumentando os juros da dvida interna e li-vrando investidores externos do pagamento de imposto de renda e de CPMF. Para compensar o fim da CPMF em 008, o governo aumentou o IOF (Imposto sobre Operaes Financeiras), porm manteve isentos deste imposto os estrangeiros que ganham com a dvida interna e com a Bolsa de Valores. Essas medidas estimulam os investidores

    Cada brasileiro nascido em 2008 j carrega uma dvida externa de mil e

    trezentos dlares e uma dvida interna de sete mil e

    quinhentos reais.

    Para podermos pagar os juros altssimos, con-tramos cada vez mais emprstimos, num crculo vicioso sem fim. As taxas de juros cobradas pe-los credores (e pagas mediante a conivncia dos sucessivos governantes brasileiros) so injustas,

    Os juros da dvida interna brasileiraso os maiores do mundo

    extorsivas e empobrecedoras. Estas taxas de ju-ros abusivas constituem crime de usura. Por-tanto, deve ser realizada uma auditoria sobre a dvida, para que estes recursos pagos a mais nos sejam devolvidos.

    Para pagar a dvida o Brasil tem procurado:- Exportar cada vez mais;- Aumentar impostos;- Cortar investimentos sociais, sacrificando o povo brasileiro para beneficiar os credores da dvida.

    Um benefcio s elites brasileiras e estrangeiras

    estrangeiros a se tornarem credores dessa dvida, adquirindo elevadas quantidades de ttulos da d-vida interna brasileira. Assim, as dvidas interna e externa se prestam ao mesmo papel: beneficiar as elites nacionais e estrangeiras em prejuzo do povo brasileiro. Os bancos nacionais e estrangeiros so os que mais ganham com o processo de endivida-mento; por isso que eles vm batendo recordes de lucros ano aps ano.

  • 0 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Credores oficiaisOs credores oficiais do Brasil so os pases capita-listas mais ricos, principalmente os Estados Unidos, Japo, Alemanha, Frana, Inglaterra, Sua, Canad e Holanda.

    Credores privadosAlm desses h os bancos comerciais pri-vados: Citibank, Deutsche Bank, AMRO, Crdit Agricole, Unio de Bancos Suos e os bancos nacionais. Os bancos detm mais da metade da dvida externa brasi-leira (uma vez que tambm detm boa parte dos ttulos); so os maiores credo-res.

    Credores multilaterais:- FMI- Banco Mundial- Banco Interamericanode Desenvolvimento (BID)

    Embora essas instituies respondam por uma pequena parte da dvida exter-na brasileira, continuam impondo o pa-

    A QUEM PAGAMOS A DVIDA EXTERNA?

    Os que emprestam so chamados de credores

    gamento da dvida aos demais credores e a reali-zao de reformas neoliberais que retiram direitos dos trabalhadores.

    O governo brasileiro tem divulgado o pagamen-to antecipado de US$ 15,5 bilhes ao FMI (ocorri-do em dezembro de 005) como um sinal de que a economia vai bem e que a dvida no mais pro-blema.

    Porm, preciso esclarecer que:1) A dvida com o FMI era apenas uma pequena

    parte da nossa dvida externa; ) O pagamento antecipado da dvida no signi-

    ficou sua reduo, mas sim a troca da dvida exter-na velha por uma nova, mais cara, ou troca de dvi-da externa por dvida interna, tambm mais cara.

    EMPRESTIMOSINTERCOMPANHIA

    20%

    TTULOS23%

    BANCOS37%

    Os credores da Dvida Externa

    Empresasno bancrias

    4%

    OUTROS2%

    Banco Mundial5%

    BID6%

    Governos3%

    Fonte: Boletim do Banco Central Dez/2007 - Tabela V.23

    Para fazer esses pagamentos, o Banco Central tem comprado dlares no mercado.

    E como o governo consegue os reais necess-rios para comprar esses dlares?

    Endividando-se cada vez mais; ou seja, aumen-tando a dvida interna, que em 007 atingiu R$ 1,4 trilho.

    Alm disso, o pagamento ao FMI foi feito sem uma auditoria da dvida, o que viola a Constitui-o.

    A ILUSO DE QUE A ECONOMIA VAI BEM

  • 1ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Alm disto, o pagamento ao FMI significou m gesto dos recursos pblicos: fez-se a troca de uma dvida com juros prximos de 4% ao ano por dvi-da interna com juros mais de duas vezes maiores e com prazos de pagamento bem mais curtos.

    O Brasil tambm continua se endividando sem necessidade com outras instituies semelhantes ao FMI, como o Banco Mundial e o Banco Intera-mericano de Desenvolvimento (BID). Faz isso ape-nas para acalmar os investidores internacionais e justificar a existncia desses Bancos, que tambm exigem as reformas neoliberais.

    Infelizmente, esse pagamento ao FMI por parte do Brasil, Argentina e outros pases no foi um ato de soberania nacional. Seguiu a orientao do go-verno Bush, de no mais colocar dinheiro no Fundo (pois no quer mais se responsabilizar pelas crises das dvidas causadas pela prpria poltica do FMI). E pior: o pas continua aplicando as medidas ditadas pelo FMI, como o supervit primrio (ou seja, im-posio de sacrifcios sociais para reservar recursos para o pagamento da dvida), e as reformas neoli-berais, que tiram direitos dos trabalhadores, como a previdenciria e a trabalhista.

    Fonte:Banco Central

  • ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Nos ltimos anos, o Brasil tem aumentado suas receitas de exportao, principalmente por causa da alta do preo das commoditties, como a soja, os minrios e o ao. Porm, como se v no Gr-fico a seguir, a entrada de dlares no pas se deu, mais recentemente e com maior intensidade, nos emprstimos externos, tanto para a Dvida Externa como para a Dvida Interna1 brasileira. A traje-tria dessa curva mostra um salto gigantesco nos

    A FARRA DOS ESPECULADORES

    ltimos anos. Em 007, a dvida externa priva-da deu um salto gigantesco, como resultado des-ta grande contratao de emprstimos, dos quais grande parte contrada por bancos e empresas privadas, para comprar ttulos da dvida interna. Ou seja: estas empresas e bancos tomam emprstimos a juros mais baixos, no exterior, para emprestar ao governo brasileiro, recebendo os juros mais altos do mundo.

    1Hoje, grande parte da dvida interna encontra-se nas mos de estrangeiros, no podendo mais ser aplicada a clssica definio de que a dvida interna uma dvida do governo para com residentes no pas. Esse processo se deve a um conjunto de fatores, destacando-se a abertura financeira, a prtica de juros mais altos do mundo e ausncia de qualquer mecanismo de controle de capitais no pas, alm do incentivo, representado pela iseno de IR e CPMF, para que estrangeiros adquiram ttulos da dvida interna brasileira.

  • 3ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Esse processo resultado de um grande ata-que especulativo pelo qual passa o pas. Os in-vestidores estrangeiros trazem seus dlares para investir na Bolsa e em ttulos da dvida interna, e assim foram a desvalorizao do dlar frente moeda brasileira (o Real). Os bancos e empresas nacionais tambm se aproveitam disso, toman-do emprstimos no exterior para emprestar ao governo brasileiro, por meio da compra de ttu-

    los da dvida interna. No h limite algum para estas operaes, e o Banco Central fornece t-tulos da dvida interna de acordo com o fluxo de dlares ao pas. Quando recebem seus lucros e juros em reais, os investidores podem troc-los por maior quantidade de dlares uma vez que a moeda brasileira se valorizou e assim cum-prir seus compromissos com o exterior, tendo um lucro extra.

    Em 2007, o Real se valorizou 20% frente ao dlar. Portanto, o investidor estrangeiro que no incio de 2007 trouxe dlares para aplicar na dvida interna brasileira ganhou, durante o ano, 13% em mdia de juros, e mais 20% quando converteu seus ganhos em dlar. Portan-to, em 2007, os estrangeiros ganharam uma taxa real de juros (em dlar) de mais de 30% ao ano!

    Mesmo sendo um enorme dano para as contas pblicas e uma verdadeira farra para os especula-dores, o prprio governo tem induzido esse pro-cesso, por meio das seguintes medidas:

    manuteno das maiores taxas de juros reais do mundo (incidentes sobre os ttulos da dvida in-terna);

    manuteno de uma poltica de total prioriza-o ao pagamento da dvida, e

    significativas isenes fiscais: em 00, as mo-vimentaes em Bolsa de Valores foram isentas de CPMF (Contribuio Provisria sobre Movimen-tao Financeira); posteriormente, em 006 os estrangeiros foram isentos de Imposto de Renda sobre aplicaes em ttulos da dvida interna.

    Ou seja: o que tem ocorrido no Brasil uma verdadeira reciclagem do velho mecanismo de espoliao da dvida externa, com uma nova mscara: o endividamento interno. Este mecanismo altamente rentvel aos investidores estrangeiros, uma vez que, desta forma, eles ficam imunes desvalorizao da moeda americana, recebendo seus lucros e juros em uma moeda que no pra de se fortalecer frente ao dlar.

    Como resultado desta entrada massiva de dlares no pas, houve aumento das reservas internacionais. Alcanaram a cifra de US$ 178 bilhes em dezembro de 007, conforme vemos no Grfico a seguir. Em apenas um ano, o pas contabilizou volume de reservas superior a tudo o que havia acumulado historica-mente.

    ACMULO DE RESERVAS INTERNACIONAIS: PARA QU?

  • 4 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Porm, conforme vimos anteriormente, para comprar dlares e acumular reservas, o governo emite ttulos da dvida interna. Ou seja: esta grande quantidade de reservas obtida s custas de uma imensa dvida interna, que paga juros altssimos.

    Aproveitando-se desta enorme quantidade de reservas, o governo antecipou, nos ltimos anos, o pagamento de ttulos da dvida externa. Para isso, o governo recorreu recompra (isto , ao paga-mento) de ttulos no mercado secundrio - ou seja, aquele em que os detentores de ttulos da dvida podem revender seus papis para outros inves-tidores. Como a cotao dos ttulos no mercado secundrio se encontra acima do valor de face2

    devido s altssimas taxas de juros, que permitem aos investidores obterem juros absurdos mesmo pagando a mais pelos ttulos , o governo recom-prou estes papis por um preo acima do que re-cebeu por estes mesmos papis! Isto justificado pelo governo com o argumento de que necess-rio ganhar a credibilidade dos credores e baixar o denominado Risco-pas.

    Os ttulos pagos antecipadamente em 007 va-

    liam, em seu valor de face, US$ 5,357 bilhes. Isto : a dvida ficou US$ 5,357 bilhes menor. Porm, para conseguir esta reduo na dvida, o governo pagou nada menos que US$ 6,989 bilhes por es-tes mesmos ttulos; ou seja, 30% a mais!3 Segun-do o prprio governo, este adicional se deve ao pagamento de juros pendentes e ao gio, ou seja, o aumento no preo do ttulo.

    No momento atual, o pas dispe de grande quantidade de reservas internacionais, obtidos s custas da emisso de ttulos da dvida interna. Uma parte destas reservas, como vimos, est sendo utilizada nestas obscuras operaes de pagamento antecipado da dvida externa. Outra parte est sendo empregada na compra de t-tulos do Tesouro Norte-Americano, recebendo apenas uma taxa de apenas 4% ao ano (taxa esta que se torna negativa para o Brasil quando se tem presente a desvalorizao do dlar diante do real). Enquanto isso, a mdia de juros que o Tesouro paga aos ttulos da dvida interna brasi-leira de 13% ao ano. Ou seja: o Banco Cen-tral/Tesouro Nacional tem feito uma pssima administrao dos recursos pblicos, tomando

    2Este assunto explicado no item O Que so ttulos ou Bnus?, na pgina 6.3Dado constante da Tabela 1.7 da pgina http://www.stn.fazenda.gov.br/hp/downloads/divida_publicadivida_publicaTabelas_download_dez07.zip

  • 5ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    emprestado a juros altssimos para aplicar em ttulos dos EUA, que rendem juros negativos!

    Isto agravado pelo fato de que o governo continua a emitir novos ttulos da dvida externa, mesmo possuindo reservas recordes. E o pior: a

    partir do final de 006, a maior parte das emis-ses de ttulos da dvida externa so indexados ao Real prejudicando o pas e beneficiando os investidores, uma vez que o dlar est se desva-lorizando e com taxas de juros acima de 10% ao ano - o que um verdadeiro escndalo!

    FARRA DOS ESPECULADORES = PREJUZO PARA O BANCO CENTRAL

    DIANTE DESTES FATOS MUITO GRAVES, DEVEMOS EXIGIR:AUDITORIA J!

    Na figura a seguir, temos um resumo de como opera este esquema, que continua sugando as ri-quezas nacionais em favor das elites econmicas brasileiras e estrangeiras. Os investidores estran-geiros e exportadores, alm de empresas e bancos nacionais (que tomam emprstimos no exterior) trazem os dlares ao pas, que so trocados por ttulos da dvida interna pelo Banco Central (BC), que assim se torna devedor, tendo de pagar juros altssimos4. Por outro lado, o BC termina ficando

    com o mico, ou seja, o dlar, que est se desvalo-rizando. O BC tambm aplica os dlares (recebi-dos dos investidores e exportadores), s que em ttulos do Tesouro Americano (que ajudam Bush a financiar seu dficit e suas polticas, como a invaso do Iraque), que rendem perto de um tero dos ju-ros pagos pelo governo brasileiro pelos ttulos da dvida interna. Alm do mais, como o dlar est em forte desvalorizao, os juros pagos pelo Tesouro Americano so, na realidade, negativos para ns.

    4Isto se d por meio das Operaes de Mercado Aberto, que significam a retirada de moeda de circulao mediante entrega s instituies financeiras dos ttulos pblicos em poder do Banco Central.

  • 6 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    O resultado disto tudo um imenso prejuzo para o Banco Central: chegou a R$ 58,5 bilhes apenas de janeiro a outubro de 007. Este prejuzo bancado pelo Tesouro Nacional, e corresponde

    ao dobro de todos os gastos federais com sade no mesmo perodo. Por outro lado, os banqueiros, que se beneficiam desta manobra, no pram de bater recordes de lucro.

    OS CREDORES DA DVIDA INTERNA

    Os maiores credores da dvida interna so os bancos nacionais e estrangeiros, seguidos por fundos de investimento, fundos de penso e empresas no financeiras, entre outros.

    Os dados da Secretaria do Tesouro Nacional no permitem identificar qual a parcela da dvida detida por bancos multinacionais. Nos anos 90, houve a instalao de muitos bancos estrangeiros no Bra-sil, e muitos bancos nacionais foram vendidos para investidores externos. Estes bancos internacionais tambm so credores da dvida interna, remeten-do seus lucros para o exterior, o que significa que a chamada dvida interna , na verdade, apenas uma nova roupagem da dvida externa.

    Chama a ateno tambm a participao dos

    Fundos de Investimento entre os credores da dvi-da interna. Apesar de qualquer pessoa poder parti-cipar destes fundos (ao investir o que sobra de sua conta bancria), sabemos que esta parcela da dvi-da interna tem como principais beneficirios gran-des investidores, empresas privadas e at mesmo investidores estrangeiros. Alis, a maior parte das famlias brasileiras no tm possibilidade de reali-zar tais investimentos, uma vez que no possuem conta bancria, e quando possuem, o salrio mal d para cobrir as despesas do ms, e isto quando no esto endividadas no carto de crdito, cheque es-pecial ou no chamado crdito com desconto em folha.

    Interessante observar tambm que, apesar dos sucessivos governos afirmarem sempre que os pe-

  • 7ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Fonte: Banco Central (set/07) e Secretaria de Previdncia Complementar (Informe Estatstico Maio 2007). Nota 1: Os recursos dos Fundos de Penso que se encontram aplicados em Fundos de Investimento de Renda Fixa foram subtrados da rubrica Fundos de Investimento e colocados na rubrica Fundos de Penses.Nota 2: Inclui-se na rubrica Bancos Nacionais e Estrangeiros os Ttulos Vinculados (que representam principalmente o depsito, junto ao BC, pelas instituies financeiras, de ttulos pblicos como garantia de operaes em Bolsa de Valores) e as Operaes de Mercado Aberto (que significam a retirada de moeda de circulao mediante entrega s instituies financeiras dos ttulos pblicos em poder do Banco Central).

    quenos investidores inclusive a classe mdia bra-sileira seriam os principais participantes destes fundos, o governo se nega a disponibilizar dados que possam confirmar esta afirmao5. Vale res-saltar tambm que, segundo a Comisso de Valo-res Mobilirios - autarquia ligada ao Ministrio da Fazenda -, os participantes de Fundos de Investi-mento (que aplicam em ttulos da dvida interna) so cerca de 5 milhes de pessoas, ou seja, apenas ,7% da populao brasileira.

    Uma ltima questo a ser observada no gr-fico a participao dos Fundos de Penso, que tm crescido devido deteriorao da previ-dncia pblica no pas. Com benefcios de apo-sentadoria cada vez menores, as pessoas so

    levadas a contribuir para estes Fundos, na es-perana de que tais contribuies rendam e ga-rantam, no futuro, a aposentadoria. No caso de uma crise da dvida, contudo, esses fundos so os primeiros que sofrero perdas. Na Argenti-na, por exemplo, quando o governo renegociou a dvida, reduzindo-a a 5% de seu montante, em 005, os Fundos de Penso foram os maio-res prejudicados, perdendo grande parte de seu patrimnio, condenando seus beneficirios misria. Por outro lado, os grandes credores da dvida, que acompanham de perto o mercado financeiro, puderam, a tempo, enviar capitais ao exterior. E aqui no Brasil, o que ocorrer com os milhes de aposentados quando o custo des-ta dvida explosiva se tornar impagvel?

    5Em resposta ao Requerimento 3513/2005, da Cmara dos Deputados, que solicitava a participao dos grandes e pequenos investidores dos Fundos de Investimento, o governo respondeu: por no ser a entidade supervisora de (...) fundos de investimento, o Banco Central no detm os dados de seus participantes ou cotistas.

  • 8 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    O neoliberalismo se manifesta a partir de umconjunto de medidas como:

    Privatizao de empresas estatais (telefonia, energia, Vale do Rio Doce, etc) e dos recursos naturais (gua, por exemplo, como no caso da Transposio do Rio So Francisco)

    n Reformas: lPrevidncia lUniversitria lTributria lSindical lTrabalhista

    Tm como objetivo aumentar o lucro dos grandes empresrios e do setor financeiro.

    l reduo do papel do Estado, a reduo dos gastos sociais; a priorizao dos gastos com a dvida, o aumento das taxas de juros dos pases endividados, para favorecer os credores financeiros.

    l aumento dos impostos sobre os trabalhadores e consumidores de baixa renda, para que se possa pagar a dvida.

    Tratados de Livre Comrcio (ALCA - rea de Livre Comrcio das Amricas - e OMC - Organizao Mundial do Comrcio) A ALCA e a OMC tambm esto previstos no neoliberalismo e seriam a etapa posteriordesse projeto, pois possibilitariam ainvaso de produtos e servios norte-americanos no pas sem nenhum controle estatal.

    O neoliberalismo significa a preponderncia dos interesses do mercado (isto , das grandes empresas transnacionais) sobre o interesse dos povos. Significa tambm a abertura das fronteiras para os produtos dessas empresas e o aumento da dependncia perante a tecnologia estrangeira.

    Para que o Brasil continue dependente, o FMI e o Banco Mundial usam o endividamen-to do pas para impor as mudanas de seu interesse. Isso tambm acontece nos demais

    pases endividados. Essas mudanas tm sido feitas a partir das reformas neoliberais, que so propostas pelo governo como a nica al-ternativa para o desenvolvimento do pas.

    PRISIONEIROS DO NEOLIBERALISMO

  • 9ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    AS REFORMAS DITADAS PELO FMI

    Saiba um pouco mais sobre cada reforma exigida pelo mercado, pelo FMI e outras instituies. Algumas delas j foram implementadas, enquanto outras esto em processo de implementao. Muitas dessas reformas significam a implantao no pas de partes do projeto da ALCA e da abertura que est sendo negociada na OMC.

    Em 1998, foi realizada a primeira reforma da Previ-dncia, que dificultou e, portanto, adiou a aposen-tadoria dos trabalhadores do setor pblico e priva-do. Em 1999, foi implantado o fator previdencirio, que tambm adia a aposentadoria e reduz os bene-fcios dos trabalhadores do setor privado.

    Em 003, apesar de grandes mobilizaes por todo o pas, alm da realizao de duas grandes marchas com quase 100 mil pessoas a Braslia, o governo Lula impulsionou pesadamente a aprovao da Emenda Constitucional da Reforma da Previdncia, que retirou direitos que haviam sido duramente conquistados pelos servidores pblicos.

    O projeto foi aprovado mesmo em meio a denn-cias de compra de votos de parlamentares (Men-salo) e oferta de verbas e cargos. A Reforma aprovada em 003 representa a privatizao da previdncia dos servidores pblicos, com a trans-ferncia de dinheiro para os fundos de previdncia complementar (os fundos de penso), cujos recur-sos so depositados nas instituies financeiras do Brasil e do exterior.

    Em 007, o governo enviou ao Congresso o Projeto de Lei que regulamenta os Fundos de Penso dos servidores, prevendo explicitamen-te que os administradores dos recursos destes

    A Reforma da Previdncia

    fundos sejam os bancos.

    Em 007, o governo Lula tambm criou o Frum da Previdncia, que contou com a participao de Centrais Sindicais, Empresrios e Governo, e dis-cutiu a retirada de mais direitos dos trabalhadores, numa clara tentativa de legitimar a Reforma, sob o argumento de que o sistema ficar insustentvel no futuro. Isso uma grande mentira. Se fosse in-sustentvel os bancos no estariam to interessa-dos nos fundos de penso. Graas manifestao massiva dos trabalhadores contra este Frum da Previdncia, o governo foi obrigado a assumir sozi-nho o nus da Reforma.

    O to alardeado dficit da previdncia uma grande mentira, uma vez que, quando computadas todas as receitas (incluindo a COFINS, CSLL, PIS/PASEP, etc), a Previdncia superavitria, mesmo considerando as despesas com os aposentados ur-banos, rurais e servidores pblicos. Esses jamais poderiam ser penalizados por qualquer reforma.

    O verdadeiro ralodas contas pblicas brasileiras a Dvida e no a Previdncia

  • 30 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    dessa maneira que o Brasil se submete ao grande capital financeiro, principalmente o estrangeiro, ao mesmo tempo que sacrifica os trabalhadores com pesada carga de impostos, seguindo as recomendaes do FMI.

    Em 1996, ao mesmo tempo, o governo conge-lou a tabela do imposto de renda das pessoas f-sicas (sacrificando os trabalhadores) e estabeleceu vrios privilgios para o capital: iseno de imposto de renda sobre distribuio de lucros e remessas ao exterior, alm de instituir dedues que s favo-recem os bancos e empresas altamente lucrativas, como a deduo de juros sobre capital prprio. Este mecanismo permite s empresas deduzirem da base de clculo do Imposto de Renda os juros que teriam pago caso seu capital tivesse sido toma-do emprestado!

    Desde 1998, quando o Brasil viveu mais uma crise da dvida e firmou outro acordo com o FMI, vrias alteraes ocorreram no sistema tributrio. Foram aumentados tributos que penalizaram prin-cipalmente os mais pobres, pois esto embutidos nos preos de todos os produtos. o caso da CO-FINS (Contribuio para o Financiamento da Segu-ridade Social) e da CPMF (Contribuio Provisria sobre Movimentao Financeira).

    Desde o governo FHC vem sendo aplicada a chamada Desvinculao das Receitas da Unio (DRU). Ela permite que o governo gaste onde qui-ser 0% dos recursos que deveriam ser destinados sade, educao, assistncia social e previdncia,

    A Reforma Tributria

    de acordo com a Constituio Federal.

    Em 003, nova reforma tributria foi aprovada, mantendo-se a CPMF e a DRU para garantir o pa-gamento da dvida. S que os investidores estran-geiros permaneceram isentos de CPMF sobre apli-caes em ttulos da dvida e Bolsa de Valores. Esta Reforma tambm feriu a autonomia constitucional dos estados e municpios ao prever um regime ni-co de arrecadao dos tributos federais, estadu-ais e municipais (institudo em 006 por meio do Super-Simples), que concentra poder na Unio (ferindo o federalismo brasileiro) pois impede os estados e municpios de definirem como vo co-brar seus prprios tributos.

    Em 006, o Governo Lula isentou de Imposto de Renda os investidores estrangeiros que compra-rem ttulos da Dvida Interna.

    Em 007, o governo trabalhou pesadamente no Congresso para prorrogar mais uma vez a CPMF e a DRU, de modo a manter o pagamento da dvida. Como no conseguiu prorrogar a CPMF, no incio de 008 o governo anunciou pesados cortes de gastos sociais, a suspenso dos reajustes e contrataes de servidores, e aumentou alquotas de tributos que, certamente, sero repassados ao povo.

    TUDO ISTO PARA CONTINUAR MANTENDO INTACTA A MAIOR PRIORIDADE DO ORAMENTO: O PAGAMENTO DA DVIDA !!!

  • 31ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    MAIS REFORMAS DITADAS PELO FMI

    A Nova Lei de Falncias

    A Lei de Falncias aprovada em 005 modifica a or-dem de preferncia no recebimento das dvidas de empresas falidas. Antes, a preferncia era dos cr-ditos trabalhistas e depois dos tributrios. Ou seja, primeiro deveriam ser pagas as pendncias de salrio, entre ou-tras que a empresa tivesse com os trabalhadores, em seguida os tributos, e somente depois que deveriam ser pagos os demais credores, como os bancos.

    A nova lei determina que os crditos trabalhistas sejam pa-gos apenas at o limite de 150 salrios mnimos. Em seguida, so pagos os crditos que exi-gem garantias, geralmente feitos em bancos. Somente depois, se sobrar dinheiro, sero pagos os tributos devidos.

    Essa alterao imposta pelo FMI muito grave, pois coloca o interesse privado acima do in-teresse pblico, mais uma vez favorecendo os mais ricos, espe-cialmente as instituies finan-ceiras, s custas dos trabalhado-res e dos mais pobres.

    A Independncia do Banco Central

    A Independncia do Banco Central outra imposi-o do FMI. Ela vem para impedir que o governo, eleito pelo povo, possa intervir em suas funes: a administrao das taxas de juros, da dvida pblica e o controle de capitais financeiros.

    No primeiro semestre de 003, foi promulgada uma Modificao na Constituio que acabou com a limitao legal dos juros reais a 1% ao ano e permitiu que a aprovao da independncia do

    Banco Central se d apenas com maioria simples dos parlamentares, e no mais 3/5. Desta forma, fica assegurada ao capital financeiro, por exemplo, a sua livre entrada e sada do pas, um dos pontos da Alca.

    As Parcerias Pblico-Privadas (PPPs)

    As PPPs so uma nova forma de privatizao. Nada mais so do que o financiamento pblico de empreendimentos de infra-estrutura, operados por empresas privadas com retorno garantido

  • 3 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    pelo Estado (um dos pontos da ALCA), nas mais diversas reas: saneamento, hospitais, estradas, hidroeltricas e escolas. Porm, as PPPs no ga-rantem o fornecimento de servios pblicos de qualidade e podem significar reajustes de tarifas pblicas para minimizar prejuzos. O povo, sem dinheiro, ficar sem acesso aos servios.

    Por meio das PPPs, abre-se a porta para privatiza-es generalizadas no pas, em qualquer setor.E estas exigncias tambm fazem parte do proces-so de negociao da OMC, ou seja, a abertura para o mercado externo para investir em bens e ser-vios, substituindo o papel do Estado e liberando os governos dessa responsabilidade de garantir os Direitos Sociais.

    As reformas trabalhista e sindical

    Durante o governo FHC foram realizadas algu-mas reformas na legislao trabalhista que retira-ram direitos da classe trabalhadora. Agora esto em andamento as reformas sindical e trabalhista, que podem retirar ainda mais direitos de todos os trabalhadores. Apregoa-se que o objetivo destas mudanas diminuir o custo de produo no pas, com a desculpa de que esta seria a nica manei-ra para que nossos produtos sejam competitivos. Para isso, como o prprio presidente Lula afirmou a jornalistas em fevereiro de 004, tudo negoci-vel, menos as frias de 30 dias.

    Trilharemos assim o mesmo caminho do Mxico, que, com o Nafta, promoveu a retirada de direitos trabalhistas para que as transnacionais norte-ame-ricanas l instaladas pudessem produzir a custos baixssimos.

    Super Simples:

    Com relao Reforma Trabalhista, esta j foi rea-lizada em parte com a recente aprovao do cha-mado Super Simples, que abranger nada menos que 80% das empresas brasileiras.

    Elas sero desobrigadas de procedimentos bsicos como a afixao de Quadro de Trabalho em suas

    dependncias, a anotao das frias dos emprega-dos nos respectivos livros ou fichas de registro, a comunicao ao Ministrio do Trabalho e Emprego sobre a concesso de frias coletivas, ou empre-gar e matricular seus aprendizes nos cursos dos Servios Nacionais de Aprendizagem. Assim, fica dramaticamente reduzida a possibilidade de a fis-calizao do trabalho constatar o cumprimento, ou no, de direitos trabalhistas bsicos pela empresa. Outra medida do Super Simples a impossibilidade de punir o empresrio flagrado no descumprimen-to de obrigaes trabalhistas.

    Ou seja: estas reformas significam a implementa-o de parcela da ALCA no pas.

    Reforma Universitria:Uma imposio do Banco Mundial

    A Reforma Universitria, velha imposio do Banco Mundial, j se traduziu no ProUni, apro-vado pelo Congresso em dezembro de 004. A medida concede iseno de IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurdica), CSLL (Contribuio So-cial sobre o Lucro Lquido), COFINS (Contribui-o para o Financiamento da Seguridade Social) e PIS (Programa de Integrao Social) para as Universidades Privadas que concederem bolsas de estudo a estudantes.

    Trata-se de grande benefcio s universidades priva-das, cujos maiores problemas atuais so a inadim-plncia dos alunos (devido queda de renda dos brasileiros nos ltimos anos) e a existncia de vagas ociosas. Ao invs de investir na Universidade Pbli-ca, o governo prefere isentar de tributos as facul-dades privadas, que tanto cresceram nos ltimos anos exatamente em funo da falta de gastos no ensino pblico superior.

    Em 007, o governo lanou o Reuni, um Progra-ma que prev um grande aumento nas vagas das Universidades Pblicas, porm, sem o aumento nos investimentos ou no nmero de servidores. O que reduzir ainda mais a qualidade de ensino nas faculdades pblicas, em benefcio das escolas privadas.

  • 33ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    DVIDA E PETRLEO: SOMOS INDEPENDENTES E AUTO-SUFICIENTES???

    No momento em que guerras so feitas pela posse do petrleo, ns vendemos nossas reservas a preo de banana

    A questo do petrleo est intimamente li-gada questo do endividamento. Ao mesmo tempo em que propagandeia nossa suposta au-tosuficincia em Petrleo, o governo vende po-os de petrleo a preo de banana para as mul-tinacionais (como a Shell e a Repsol), para obter recursos para o pagamento da dvida, em clara subservincia aos interesses externos. Assim, grande parte de nosso petrleo pode ser expor-tado, reduzindo-se o tempo no qual estaremos autosuficientes. Alm do mais, a propalada autosuficincia esconde a sobre-explorao de nosso petrleo, em alta velocidade, inclusive para a exportao, o que significa irresponsa-bilidade com nossas reservas. Esta opo nos causar srios danos no futuro prximo, quando os preos do petrleo estaro muito mais altos, e teremos de importar combustvel novamen-te. Alm do mais, esta suposta autosuficincia no combina com os altos preos que pagamos

    pelos combustveis e pelas passagens de nibus. Os pesados tributos incidentes sobre a gasolina e o diesel e os altos lucros da Petrobrs so des-tinados ao cumprimento das metas de supervit primrio, ou seja, a reserva de recursos para o pagamento da dvida.

    Como se no bastasse tudo isso, o governo Lula negocia a venda do lcool (etanol) e outros com-bustveis renovveis brasileiros aos EUA e outros pases. Isso significa a entrega de nosso territrio para as empresas estrangeiras, monoculturas e la-tifndios como a cana e a soja, causando depre-dao ambiental (desmatamento, escassez de gua etc.) e aprofundando a injustia agrria e social no pas. Isto significa tambm a implementao de uma grande parte do projeto da ALCA no Brasil, uma vez que o pas comprometeria a sua soberania alimentar em favor das grandes empresas exporta-doras agrcolas, nacionais e estrangeiras.

  • 34 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Os ttulos de dvida externa brasileira emitidos a partir de 9.03.003 passaram por profunda e significativa modificao, com srias implicaes de ordem legal e financeira, em virtude da incluso da Clusula de Ao Coletiva CAC, conforme pode ser visto na planilha publicada pelo Tesouro Nacional no endereo http://www.stn.fazenda.gov.br/divida_publica/downloads/soberanosinternet.xls . Atualmente, os ttulos emitidos com CAC j representam nada menos que 65% da dvida externa pblica em bnus.

    A Clusula CAC no foi objeto de aprovao pelo Congresso Nacional e nem de qualquer discusso ou sequer divulgao perante a sociedade brasileira, apesar de sua enorme relevncia. Essa Clusula significa abrir mo da soberania nacional, pois elege foro estrangeiro para julgar e decidir sobre quaisquer conflitos relacionados aos ttulos da dvida externa brasileira. Alm disso, essa clusula garante a uma maioria de credores o direito de decidir sobre as regras de uma futura renegociao. Desta forma, o FMI lava as mos diante das crises das dvidas dos pases do Terceiro Mundo - crises estas provocadas pela prpria poltica do Fundo uma vez que a CAC significa

    As Clusulas de Ao Coletiva: Ameaa Soberania Mais uma imposio do FMI

    entregar aos prprios credores privados o poder para definir como a dvida ser paga.

    Ainda mais absurda que a prpria CAC foi a resposta do Ministrio da Fazenda ao requerimento de informaes n 140/006, da senadora Helosa Helena (P-SOL/AL), que solicitava o contedo das CAC: Relativamente ao contedo das clusulas vigentes sobre os bnus, as informaes sero complementadas posteriormente, to logo concludo o processo de traduo dos contratos. Ou seja: alm de no revelar o contedo das clusulas, ainda denunciou que os contratos foram assinados em lngua estrangeira. Reenviado o requerimento, mais uma vez o governo encaminhou informaes incompletas, que no incluam o contedo das CACs.

    Interessante notar que, enquanto as autoridades norte-americanas tinham pleno conhecimento do inteiro teor da Clusula CAC e elogiavam, em entrevistas pblicas, o governo brasileiro por adot-la, aos senadores brasileiros, que possuem a competncia constitucional de acompanhar as operaes de endividamento externo, era negada informao sobre o contedo da referida clusula.

  • 35ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    O QUE ACONTECERIA SE A DVIDA FOSSE AUDITADA E ANULADA ?

    No estamos defendendo o calote, mas uma AUDITORIA, para que se tenha acesso a toda a verdade sobre o endividamento brasileiro. Precisamos verificar quantas vezes j pagamos essa dvida, para que sejam devolvidos os recursos pagos a mais. Precisamos dar nome aos responsveis por tamanha sangria de recursos e leso ao povo brasileiro, quantificando e cobrando a dvida histrica, ecolgica e social que nos so devidas pelas elites do sul e do norte.

    Na realidade, a crise argentina ocorreu porque ela seguiu risca as propostas do FMI e insistiu em continuar pagando a dvida, e no porque deixou de pag-la. Desde 1999, a Argentina j apresentava PIBs negativos, pois insistiu em manter uma poltica econmica imposta pelo FMI, que privilegiava o pagamento da dvida e sacrificava a atividade econmica, gerando pobreza e desemprego. Desde 003, a Argentina apresenta uma taxa de crescimento econmico de cerca de 9% ao ano. Portanto, j compensou em vrias vezes a queda do PIB de 00 que, segundo os neoliberais, teria sido provocada pela moratria.

    O crescimento econmico russo bem maior que o brasileiro.

    Como vimos no incio desta cartilha, o processo de endividamento tem provocado uma sada de recursos maior que entrada de novos recursos no pas. Os emprstimos tomados servem para pagar emprstimos anteriores, e no para desenvolver o pas. Portanto, se deixarmos de pagar a dvida, haver mais recursos para se investir no desenvolvimento do pas.

    No seria interessante para os pases ricos deixar de comprar nossos produtos, pois dependem deles para obterem matrias primas baratas, como minrio e soja. Alm do mais, a exportao destes produtos no beneficia o povo, mas principalmente uma elite de latifundirios e mineradoras privatizadas, como a Vale do Rio Doce.

    Muitas pessoas afirmam que se o pas deixasse de pagar a dvida, haveria uma grande crise econmica. A tabela abaixo mostra os argumentos neoliberais a favor do pagamento da dvida,

    e como estes argumentos no passam de falcia.

    Os neoliberais dizem...

    No pagar a dvida calote, dar o cano

    A Argentina deixou de pagar a sua dvida em 00 e por isso seu PIB caiu 11% naquele ano.

    A Rssia entrou em crise aps a moratria de 1998

    Se deixarmos de pagar a dvida, vai parar de entrar dinheiro no pas, e no teremos mais crdito.

    Se deixarmos de pagar a dvida, os pases ricos iro nos retaliar, deixando de comprar nossos produtos.

    A realidade

    O Relatrio do FMI (Panorama Econmico Mundial, de set/003), traz um estudo supreen-dente, no pelo seu contedo, mas pela sua ori-gem: o prprio FMI. O estudo analisou 79 pases, no perodo de 1970 a 00. A partir desta base de dados, foram identificados 6 casos de gran-des redues de dvidas. Segundo o prprio FMI,

    Estudo do FMI defende a moratria

    nada menos que 19 destas 6 redues de dvida aconteceram por causa de moratrias, e apenas 7 casos se deveram ao to recomendado ajuste fiscal. uma concluso sem precedentes, feita por uma instituio que sempre imps a todos os pases por ela ajudados um modelo nico: o ajuste fiscal sem fim.

  • 36 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    A Dvida, a Educao e a Sade

    A dvida e as Mulheres

    Os programas de privatizaes e de dimi-nuio dos gastos sociais, entre outros, impos-tos pelo FMI e o Banco Mundial para assegu-rar o pagamento da dvida externa, ameaam os direitos bsicos de todos os brasileiros/as. Quando o Estado abre mo da sade, da edu-cao, da segurana social da populao, o peso destas tarefas recai principalmente sobre as mulheres, supondo que elas vo faz-las sem nenhuma remunerao e multiplicando vrias vezes seu trabalho.

    As mulheres no somente so vtimas do ma-chismo, do sexismo e da violncia provocados pelo sistema patriarcal, mas tambm da misria, da explorao e da excluso que produz o mo-delo neoliberal e o endividamento. Nada menos

    A dvida, os bens naturais, o meio ambiente e a concentrao das terras

    Para obter os dlares necessrios ao paga-mento da dvida, o pas obrigado a exportar produtos agrcolas e minerais. Para tanto, nossas matas so derrubadas para serem transformadas em grandes monoculturas, como a soja, cana-de-acar, eucalipto (celulose). Os pequenos cam-poneses so expulsos de suas terras por grandes empresas e latifundirios, acentuando a injustia social. A Reforma Agrria eternamente jogada

    A Dvida impede a oferta de servios bsicos, ao sugar a maior parte dos recursos pblicos. Ve-mos isto quando falta educao de qualidade e em turno integral, quando os hospitais esto lo-tados de doentes nos corredores, ou morrendo

    para o futuro, para no atrapalhar um modelo agrcola socialmente injusto e danoso ao meio ambiente, uma vez que monoculturas como a soja e eucalipto agridem a biodiversidade e su-gam muito mais gua do que a vegetao nativa. Por outro lado, os cultivos da agricultura familiar so caracterizados pela policultura e pela produ-o de alimentos, como leite, mandioca, arroz, feijo, ovos etc.

    que 70% da populao pobre do mundo for-mada por mulheres, que ainda carregam o peso da reproduo social. O desemprego maior entre as mulheres (14,4%) que entre os homens (9,1%). A renda mdia da mulher muito me-nor que a do homem. Em media, as mulheres ga-nham 30% menos que os homens. As mulheres negras, 50% menos.

    Devemos avanar na restaurao, repara-o e cobrana destas verdadeiras dvidas que o sistema capitalista e patriarcal tem com as mu-lheres. por isso que exigimos a realizao de auditorias integrais e participativas das dvidas, para determinar realmente quem deve o qu e demonstrar que um dos principais credores so as mulheres.

    nas filas. Apesar de a Constituio Federal pre-ver um mnimo de gastos na sade e educao, o governo inventa diversos artifcios para no cumprir a lei, de modo a poder gastar mais com a dvida financeira.

    Em 2007, Com os R$ 237 bilhes gastos com a o Governo Federal gastou: dvida em 2007, o governo poderia construir:

    R$ 237 bilhes com a dvida

    R$ 40 bilhes com a sade + 474 mil postos de sade

    R$ 0 bilhes com a educao + 95 mil novas escolas, com 800 vagas cada uma

  • 37ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    AUDITORIA J!!!

    Depois de analisar nossa dvida pblica, conclu-mos ser necessrio falar sobre a Auditoria como uma alternativa:

    A auditoria da dvida, ou a anlise minuciosa de toda documentao relacionada s dvidas interna e externa, uma ferramenta essencial para que se conhea a dimenso do endividamen-to e todas as ilegalidades e ilegitimidades desse processo. Ser uma contribuio impor-tante na luta contra o neoliberalismo e o imperia-lismo que tornam nosso pas cada vez mais injusto e dependente.

    A auditoria da dvida externa prevista na Constituio Federal, no artigo 26 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias. No foi cumprido at hoje.

    Pagamos uma dvida sem saber de onde ela veio, quem a fez, quanto j foi pago, quem se beneficiou com ela e o que fez o FMI nesse processo.

    A auditoria trar elementos para uma dessas alternativas: o no pagamento, o repdio ou a anulao das dvidas injustamente cobradas; e po-der auxiliar-nos na formulao de estratgias de desenvolvimento sem emprstimos externos.

    nA prova das ilegalidades dar bases para posi-es soberanas.

  • 38 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Objetivos da auditoria:

    n mostrar a relao da dvida com os diversos pro-blemas dos pases, como: modelo tributrio injus-to e regressivo, reduo dos benefcios da seguri-dade social, precariedade dos servios de sade, educao, segurana, habitao etc.;

    n demonstrar que a dvida j foi amplamente paga;

    n mostrar a co-responsabilidade dos empres-tadores, dos governos e dos grandes grupos eco-nmicos, e levantar elementos para a punio dos crimes e violaes dos direitos humanos;

    n deixar claro como pases e instituies credo-ras converteram-se em devedores de uma dvida social e ecolgica com pases e povos empobreci-dos;

    Diante disso, em 001, mediante a solicitao for-mulada pela Auditoria Cidad, a Consultoria do Senado elaborou uma planilha-arquivo contendo 815 resolues que versavam sobre endividamen-to externo. Forneceram essa listagem ao grupo de estudos da Auditoria Cidad, e este, diante do grande nmero de resolues, selecionou os em-prstimos que tratavam dos temas Pobreza/Mis-ria e Energia Eltrica. Foram enviados 59 ofcios para Governos dos Estados, Tribunais de Contas Estaduais e da Unio, alm de companhias de ener-gia eltrica, solicitando informaes sobre a efetivi-dade do emprstimo e a destinao dos recursos. Desses, apenas 16 foram respondidos, destacan-do-se os seguintes:

    I. O presidente do Tribunal de Contas do Rio Gran-

    n revelar a relao entre a dvida, os tratados de livre comrcio e a militarizao, e como fazem parte do mesmo sistema;

    n fortalecer a organizao e a mobilizao da so-ciedade frente dvida;

    n favorecer a elaborao de polticas e estratgias em nossos pases para enfrentar a pretenso dos emprestadores de condenar os povos a pagar in-definidamente a dvida, tornando-a no s ETER-NA, mas um genocdio silencioso;

    n fortalecer o movimento pelo repdio e anulao dessa dvida j paga, e pela restituio do que j foi indevidamente pago, bem como pela reparao das conseqncias sociais e ecolgicas.

    De acordo com o artigo 52, inciso V, da Constituio Federal, compete privativamente ao Senado Federal autorizar operaes externas de natureza

    financeira, de interesse da Unio, dos Estados e do Distrito Federal, dos Territrios e dos Municpios.

    Por que auditar a dvida?

    de do Sul, conselheiro Hlio Saul Mileski, informou que a operao de crdito est resguardada pelo sigilo bancrio, na forma da Lei 4.595/64.

    II. A Companhia Estadual de Energia Eltrica CEEE informou que as operaes financeiras mencionadas nas Resolues do Senado Federal no foram efetivadas por esta Companhia.

    III. O Tribunal de Contas de Roraima nos informou que o Tribunal de Contas da Unio o rgo com-petente para controle e acompanhamento das con-trataes de operaes de crdito, uma vez que a Repblica Federativa do Brasil que exerce o papel de garantidor/avalista nos referidos contratos.

    IV. O presidente do Tribunal de Contas do Mato

  • 39ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Grosso do Sul informou que nada foi encontrado naquele Tribunal de Contas que tratasse do assunto em questo.

    V. O presidente do Tribunal de Contas de Pernam-buco informou que esta Corte de Contas no dispe das informaes solicitadas naquele expe-diente. Os demais ofcios encaminhados no mereceram resposta, at o momento. Em nossa avaliao, as respostas recebidas so uma boa amostra da ne-cessidade de se auditar essa dvida.

    Esse trabalho foi apenas o passo inicial, com o objetivo de verificar a destinao e aplicao dos recursos tomados. H ainda um longo caminho a ser percorrido no sentido de buscar informaes sobre a correta aplicao desses recursos e so-bre a concluso das obras financiadas, apurando-se eventuais desvios. Em alguns casos, notria a no-concluso de obras brasileiras financiadas externamente, tais como o Programa Nuclear e a Ferrovia do Ao, entre outros, que necessitam ser elucidados por meio de uma auditoria.

    De posse da planilha-arquivo que relacionava as operaes de crdito externo autorizadas pelo Se-nado Federal, por meio de Resolues ali aprova-das, reivindicamos o acesso aos contratos relativos a tais operaes.

    Ao todo, foram localizados nos arquivos do Sena-do Federal apenas 38 contratos de endividamen-to correspondentes s 815 resolues listadas. Isso sugere que nem sempre os contratos eram dispo-nibilizados para a anlise dos senadores; assim mes-mo, contudo, aprovavam as operaes por meio das resolues. Os contratos encontrados repre-

    sentam US$ 4,7 bilhes, ou seja, apenas 0% do aumento do endividamento ocorrido de 1964 aos dias atuais.

    O grupo de trabalho da Auditoria Cidad tem solicitado cpias dos contratos faltantes junto aos demais rgos competentes: Ministrio da Fazen-da (Procuradoria da Fazenda Nacional), Ministrio Pblico Federal, inclusive por meio de requeri-mentos oficiais de parlamentares, sem, entretan-to, ter xito, at o momento. Isso motivo para um repdio da cidadania, pois a dvida pblica e todos os cidados tm direito de acesso a tais documentos.

    Relativamente ao perodo de 1964 a 1987, verifi-cou-se que no constava, na planilha fornecida pela Consultoria do Senado, nenhum contrato perten-cente esfera da Unio, a responsvel pela maior parcela do endividamento externo brasileiro. Ou seja, a dvida externa do regime militar federal no foi aprovada pelo Legislativo. Em segundo lugar, muitos contratos de endividamento externo cons-tantes na listagem foram localizados apenas em lngua estrangeira, e muitos no foram sequer lo-calizados.

    O resultado da anlise dos 38 contratos localiza-dos mostrou que boa parte da dvida no foi devi-damente analisada pelo Senado, pois foi constatada a existncia de diversas clusulas altamente lesivas soberania nacional, que no poderiam ter sido aprovadas se tivesse ocorrido uma anlise criterio-sa de tais contratos.

    Um resumo das clusulas ilegtimas encontradas nos 38 contratos analisados e respectiva partici-pao no valor total financiado, encontra-se trans-crito no quadro a seguir:

  • 40 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    Clusula %

    Juros flutuantes 91,78

    Todos os pagamentos da dvida devero ser feitos livres de todos e quaisquer impostos ou taxas brasileiros. 77,19

    Pagamento de juros sobre a parte no desembolsada do emprstimo 58,61

    Foro estrangeiro (renncia soberania) 49,4

    Implementao de Programa do FMI, Banco Mundial, BID ou BIRD 38,15

    As obrigaes do muturio de pagar o principal, juros e demais obrigaes do contrato e das notas constituem obrigaes diretas e incondicionais e pari-passu com as obrigaes existentes da mais elevada categoria do Muturio. (ou seja: o pagamento da dvida deve vir antes de qualquer outro gasto, por mais importante que seja). 37,14

    O Brasil no impor quaisquer controles s sadas dos capitais. 34,05

    Deve haver consentimento do credor para a concesso de garantias a outras dvidas. Caso sejam concedidas, este financiamento contar com garantias proporcionais. 34,05

    Em caso de descumprimento de quaisquer clusulas do Contrato, todos os pagamentos pendentes devero ser feitos imediatamente. 34,05

    Todas as comunicaes e notificaes referentes ao financiamento devero ser feitas em lngua inglesa. 34,05

    O devedor deve fornecer informaes sobre o resultado das privatizaes (incluindo a metodologia de formao dos preos de venda das empresas estatais) uma semana aps os leiles. 34,05

    Os recursos do emprstimo s podero ser utilizados para o pagamento de bens ou servios originrios de pases selecionados pelos credores. 31,14

    O devedor pagar taxa de inspeo ou superviso geral 0,5 a 1% do valor contratado. 1,11

    Clusulas abusivas e sua participao percentual no total financiado, considerando os 238 Contratos de endividamento disponibilizados pelo Senado

    - 1964 a 2001

    Fonte: Contratos disponibilizados pelo Senado Federal

    Estas clusulas constituem uma amostra das ilegalidades e ilegitimidadesdo processo de endividamento.

    Audit-lo ser um ato de respeito para com o povo brasileiro.

  • 41ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    A auditoria da dvida deve elaborar as provas necessrias para fundamentar o repdio e a anulao judicial da dvida, com base no Direi-to Internacional. Assim, as auditorias cidads da dvida tm feito um esforo para compilar os princpios gerais do Direito que podem servir de base para esta anulao.

    Devem ser apresentados os casos de violao de direitos humanos (sade, educao, moradia) por pagamento da dvida externa Corte Inter-nacional, com base em Pactos Internacionais. Tambm devem ser denunciados mesma Cor-te os casos de corrupo na contratao da d-vida ou em sua utilizao, bem como o aumento arbitrrio de Juros.

    Os princpios gerais do direito e do Direito In-ternacional podem dar sustentao para o no pagamento das dvidas contradas pelos pases em desenvolvimento. Algumas figuras jurdicas permitem que, em certas circunstncias, um pas deixe de efetuar pagamentos aos credores internacionais. Entre estas esto:

    A Dvida Odiosa

    No perodo da Guerra Fria, por presso interna-cional, foram introduzidos regimes totalitrios em vrias partes do mundo, com o fim de com-bater a possvel ameaa de expanso comu-nista. Esses regimes, de um modo geral, recebe-ram apoio financeiro internacional via concesso de emprstimos externos. Em muitos casos, os governantes se apropriavam desses valores, ou destes se utilizavam para manuteno do regi-me, ou at mesmo para reprimir a populao. A esses casos a doutrina internacional chama de Dvida Odiosa, por ter sido contrada por um regime ditatorial e ilegtimo, que no trouxe be-nefcios para a nao e sua populao. A doutrina da Dvida Odiosa surgiu em 197, por elaborao do russo Alexander Sack, ao observar o caso em que os Estados Unidos da Amrica do Norte pediram a anulao da dvida cubana com a sua ex-metrpole, a Espanha. Tal perdo era sustentado pelo fato de a Espanha

    Argumentos Jurdicos para o no pagamento da Dvida

    ter imposto a dvida sua colnia. A teoria exemplificada tambm com os casos do Mxi-co em 1867, de Cuba em 1898, da Prssia em 1919, da Costa Rica em 193 e, recentemente, em 1998, com a anulao da dvida cobrada da Ruanda, concedida pelo Parlamento britnico, ao reconhecer que a dvida daquele pas se des-tinou aquisio de armamento utilizado contra sua populao civil. Em 003, o prprio governo Bush alegou que a dvida do Iraque era ilegal, uma vez que havia sido contratada por um di-tador.

    Caso fortuito ou Fora Maior

    H tambm duas circunstncias que podem le-gitimar a deciso de um pas de no pagar sua dvida. Uma delas o que se chama de Fora Maior. um princpio do Direito que garante o no-pagamento no caso de o devedor apre-sentar um motivo relevante. Entre os motivos relevantes est esse: o fato de o devedor en-contrar-se em situao que torne difcil ou im-possvel dispor de recursos para o pagamento de obrigao sem colocar em risco os direitos fundamentais dos seus cidados vida, sade, alimentao, segurana, moradia digna, trabalho e educao. O princpio da Fora Maior refere-se, tambm, a eventos de origem natural - ca-tstrofes, terremotos, inundaes e outros. O outro princpio o denominado Caso Fortui-to. Nesse caso, acontecimentos de origem hu-mana, como epidemias e guerras, so motivos que tambm respaldam o no-pagamento de dvidas de um pas.

    Clusula rebus sic stantibus

    A teoria que o Direito convencionou chamar de rebus sic stantibus (o mesmo estado de coisas) condiciona o pagamento da dvida e o cumprimento das clusulas contratuais manu-teno das mesmas condies econmicas vi-gentes na poca em que o contrato foi assinado. Visa proteo das partes contra fatos impre-vistos, inclusive aqueles externos e que tenham influncia ou ocasionem prejuzo injustificado

  • 4 ABC da Dvida - Sabe quanto voc est pagando?

    para 40% ao ano. Com essa taxa de juros, uma dvida dobra em dois anos! Por esta razo, tanto a dvida externa como a dvida interna devem ser auditadas, para sabermos quanto foi pago a mais do que se devia por causa do estabeleci-mento de taxas de juros ilegais.

    A Dvida Corrupta

    A corrupo da dvida se produz em sua fase de contratao e renegociao. Manifesta-se principalmente em taxas (comisses) ilegais e utilizao de informao privilegiada por parte de funcionrios ou seus assessores. Casos como os de Elliot e Peru Privatization Fund, no Peru, evidenciam este tipo de dvidas.

    ao devedor, mas estejam fora do controle por parte do pas. Ou seja: caso haja uma alterao sig