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Literatura Brasileira Extensivo e Terceiro
1
AULA 02
TEORIA LITERRIA (2): GNERO LRICO
Aspectos gerais
O adjetivo lrico
tem origem na palavra lira,
uma espcie de harpa que
era muito utilizada como
acompanhamento musical
nos cantos gregos. Assim,
os textos enquadrados no
gnero lrico tinham, at o
final da Idade Mdia, uma
ntima relao com a
msica. Ao separar-se o
texto do acompanhamento
musical, aquele passou a
apresentar uma estrutura
mais rica. A partir da,
elementos como mtrica,
ritmo, rima e outros
passaram a ser mais
intensamente cultivados
pelos artistas.
Pode-se dizer que
o gnero lrico a
manifestao literria em que predominam os
aspectos subjetivos, ntimos do emissor. A
sublimidade da beleza potica, que reflete as mais
profundas e elevadas sensaes do esprito humano,
o que constitui, na essncia, o lirismo.
O lirismo , em geral, a maneira de o autor
falar consigo mesmo ou com um interlocutor
particular um,
A poesia causa emoo, leva-nos acima dos
limites fsicos e temporais. A poesia est a, por a,
nas coisas, nas palavras espera de olhares e
ouvidos sensveis.
Poesia a emoo, a sensao e a
expresso do belo. No texto potico predomina,
portanto, a funo emotiva ou expressiva da
linguagem. Este modelo literrio quase sempre se
manifesta formalmente pelos poemas (textos escritos
em versos).
C u i d a d o ! No confundir eu lrico com
autor. O autor cria uma personalidade potica
para dar vazo a sensaes e impresses; essa
personalidade que chamamos de eu lrico ou
eu potico.
Elementos de versificao
Na poesia, principalmente
aquela feita nos moldes tradicionais,
estudam-se alguns elementos
tcnicos que facilitam a leitura, a
interpretao e a anlise de textos
poticos, alm de desenvolver o
gosto pelo gnero. Vamos conhecer
melhor alguns desses elementos.
1. Verso e Estrofe
Entende-se por verso
a unidade rtmica que
corresponde acomodao de uma
frase a um esquema meldico,
caracterizado por certo nmero de
slabas (ou conjuntos de slabas), e
pela colocao de slabas de
determinadas categorias em
posies mais ou menos fixas.(Zlia
Cardoso de Almeida).
J um conjunto de versos
denomina-se estrofe.
Podemos classificar as estrofes de acordo
com o nmero de versos nelas presente. Vejamos
alguns tipos mais comuns de estrofes:
Dsticos estrofes com 2 versos:
RELGIO DO ROSRIO
Era to claro o dia, mas a treva
do som baixando, em seu baixar me leva
pelo mago de tudo, e no mais fundo
decifro o choro pnico do mundo,
que se entrelaa no meu prprio choro,
e compomos os dois um vasto coro.
Oh dor individual, afrodisaco
selo gravado em plano dionisaco,
a desdobrar-se, tal um fogo incerto,
em qualquer um mostrando o ser deserto,
dor primeira e geral, esparramada,
nutrindo-se do sal do prprio nada,
convertendo-se, turva e misteriosa,
em mil pequena dor, qual mais raivosa,
Carlos Drummond de Andrade
Literatura Brasileira Extensivo e Terceiro
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Tercetos estrofes com 3 versos:
A MQUINA DO MUNDO
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no cu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escurido maior, vinda dos montes
e de meu prprio ser desenganado,
a mquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper j se esquivava
e s de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um claro maior que o tolervel
pelas pupilas gastas na inspeo
contnua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
Carlos Drummond de Andrade
Quartetos (ou quadras) estrofes com 4 versos:
ISMLIA
Quando Ismlia enlouqueceu,
Ps-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no cu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao cu,
Queria descer ao mar...
E no desvario seu,
Na torre ps-se a cantar...
Estava perto do cu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do cu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao cu,
Seu corpo desceu ao mar.
Alphonsus de Guimaraens, poeta simbolista brasileiro
Oitavas estrofes com 8 versos:
CANTO 1
I
De um varo em mil casos agitado,
Que as praias discorrendo do Ocidente,
Descobriu o Recncavo afamado
Da capital braslica potente:
Do Filho do Trovo denominado,
Que o peito domar soube fera gente;
O valor cantarei na adversa sorte,
Pois s conheo heri quem nela forte.
II
Santo Esplendor, que do gro-Padre manas
Ao seio intacto de uma Virgem bela;
Se da enchente de luzes Soberanas
Tudo dispensas pela Me Donzela;
Rompendo as sombras de iluses humanas,
Tu do gro caso! a pura luz revela
Faze que em ti comece, e em ti conclua
Esta grande Obra, que por fim foi tua.
Caramuru, de Santa Rita Duro
O B S E R V A O : o Soneto uma composio
potica que possui, em seu formato mais comum, 14 versos, distribudos em 2 quartetos e 2 tercetos.
Exemplo:
CATORZE VERSOS
O primeiro assim: fica de parte.
No segundo j posso prometer
que no terceiro vai haver mais arte.
Mas afinal no houve Que fazer?
Melhor ser calar, pois que dizer
nem do sexto conseguirei destarte.
Os acentos errados favor no ver;
nem os versos errados, que tambm sei hacer
nono verso, por que vais embora
sem que eu te sublime neste dcimo?
Ao dcimo-primeiro dediquei uma hora.
Errei-o. Mas que importa se a poesia,
mesmo que o no errasse, j no vinha?
este o ltimo e, como os outros, pssimo
Alexandre ONeill (1924 1986), poeta portugus
2. Rima
a coincidncia de sons (parcial ou total)
entre palavras no final ou no meio dos versos,
criando uma afinidade sonora entre dois ou mais
versos. Podemos classificar as rimas de acordo com
os seguintes critrios:
Literatura Brasileira Extensivo e Terceiro
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Quanto semelhana de
sons
Consoantes ou puras de
modo geral, quando rimam
os sons voclicos e
consonantais da slaba
tnica.
Virgulino Ferreira, o Lampio
Bandoleiro das selvas nordestinas
Sem temer a perigo nem runas
Foi o rei do cangao no serto
Mas um dia sentiu no corao
O feitio atrativo do amor
A mulata da terra do Condor
Otaclio Batista (poeta pernambucano,)
Assoantes, toantes ou
parciais quando rimam
apenas as vogais tnicas
das slabas. Exemplo:
TOANTE
Molha em teu pranto de aurora as minhas mos plidas.
Molha-as. Assim eu as quero boca,
Em esprito de humildade, como um clice
De penitncia em que a minhalma se faz boa...
Foi assim que Teresa de Jesus amou...
Molha em teu pranto de aurora as minhas mos plidas.
O espasmo como um xtase religioso...
E o teu amor tem o sabor das tuas lgrimas...
Manuel Bandeira, in Carnaval
Quanto categoria
gramatical das palavras
rimadas
Pobres quando as palavras que rimam pertencem mesma classe gramatical.
CAIS MATUTINO
Cordames e redes dormindo no fundo; substantivo
popa estendidas, as velas molhadas;
Foi noite de chuva nos mares do mundo. substantivo
Ribeiro Couto
Ricas quando as palavras que rimam pertencem a classes gramaticais diferentes.
Sobre um mar de rosas que arde verbo
Em ondas fulvas, distante advrbio
Erram meus olhos, diamante substantivo
Com as naus dentro da tarde. substantivo Pedro Kilkerry
Quanto disposio ao
longo do poema
Alternadas ou cruzadas
quando as rimas se
apresentam sob o sistema
ABAB.
Quando o cu incendeia A
E acende uma estrela no corao B
Quando a lua passeia A
E a vida acontece Numa cano B
(...)
14 Bis, in Mesmo de brincadeira
Paralelas ou emparelhadas
quando as rimas se
apresentam sob o sistema
AABB.
A CAROLINA
Querida, ao p do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida, B
Aqui venho e virei, pobre querida, B
Trazer-te o corao de companheiro.
Machado de Assis
Interpoladas ou opostas
quando as rimas se
apresentam sob o sistema A
- - A, nos os extremos de
uma estrofe.
Espelho, sub-reptcio espelho, A
meu professor de disfarce.
Quem poder disfarar-se
sem recorrer ao seu conselho? A
Olavo Bilac
Quanto posio dentro
do verso
Externa aparece na
extremidade do verso.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Gregrio de Matos Guerra
Interna aparece no interior
do verso.
Donzela bela, que me inspira a lira
Um canto santo de fremente amor,
Ao bardo o cardo da tremenda senda
Estanca, arranca-lhe a terrvel dor.
Castro Alves
Literatura Brasileira Extensivo e Terceiro
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OB S ERVA ES :
1. De modo geral, versos brancos so versos que no apresentam rimas. Exemplo:
CONVERGNCIA
Tudo converge
para o ser.
em mim que o mundo existe
para mim.
Helena Kolody, in Antologia potica
2. Ocasionalmente, aparecem nos vestibulares algumas classificaes de rimas que j no so mais muito utilizadas na contemporaneidade, como:
Rima rara um caso especial de rima rica, quando se d entre palavras que apresentam pouqussimas possibilidades de rimas possveis. Exemplo: leque / peque; pondes / frondes.
Rima preciosa tambm um caso especial de rima rica, a qual se obtm de forma artificial, por meio de palavras combinadas. Exemplo:
Brilha uma voz na noute...
De dentro de Fora ouvi-a...
Universo, eu sou-te...
Oh, o horror da alegria
Deste pavor, do archote
De apagar, que me guia!
Fernando Pessoa
3. Mtrica
o nmero determinado de slabas
poticas (ou mtricas) em cada verso.
Na contagem das slabas mtricas
processo denominado escanso , observam-se,
geralmente, as seguintes normas:
A leitura de um verso deve ser
caracterizada pelo ritmo.
Faz-se a contagem de slabas at a
slaba tnica da ltima palavra de cada
verso, descartando-se as slabas que
eventualmente aparecerem aps ela.
Procurar acomodar as slabas seguindo a
entonao. Se necessrio, faz-se a
eliso (ou sinalefa), que consiste na
acomodao de vrios sons a uma nica
slaba mtrica.
Os ditongos, em geral, equivalem a
apenas uma slaba mtrica.
Normalmente, quando uma palavra
termina em vogal e a palavra
imediatamente posterior se inicia por
vogal, unem-se esses fonemas numa s
slaba mtrica. Vale o mesmo
procedimento para o caso de palavra que
se iniciar com a letra h (letra que no
pronunciada nesses casos).
C u i d a d o ! No confundir slabas gramaticais com slabas mtricas! Os exemplos a seguir procuram elucidar tal diferena:
Ouviram do Ipiranga as margens plcidas,
Ou vi ram do I pi ran ga as mar gens pl ci das 14 slabas gramaticais
Ou vi ram doI pi ran gaas mar gens pl 10 slabas mtricas
De um povo heroico o brado retumbante.
De um po vo he roi co o bra do re tum ban te 14 slabas gramaticais
Deum po vohe roi coo bra do re tum ban 10 slabas mtricas
E o sol da liberdade em raios flgidos
E o sol da li ber da de em rai os fl gi dos 14 slabas gramaticais
Eo sol da li ber da deem rai os fl 10 slabas mtricas
Brilhou no cu da ptria nesse instante.
Bri lhou no cu da p tria nesse ins tan te 12 slabas gramaticais
Bri lhou no cu da p tria ne sseins tan 10 slabas mtricas
Literatura Brasileira Extensivo e Terceiro
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Logo os versos acima possuem 10 slabas
mtricas, sendo chamados de versos decasslabos.
A seguir, vejamos outras mtricas:
Pentasslabos ou Redondilhas menores versos com 5 slabas mtricas:
JOS
E agora, Jos?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Jos?
e agora, voc?
voc que sem nome,
que zomba dos outros,
voc que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, Jos?
Est sem mulher,
est sem discurso,
est sem carinho,
j no pode beber,
j no pode fumar,
cuspir j no pode,
a noite esfriou,
o dia no veio,
o riso no veio
no veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, Jos?
Carlos Drummond de Andrade
Heptasslabos ou Redondilhas maiores possuem 7 slabas mtricas:
OS COLOMBOS
Outros havero de ter
O que houvemos de perder.
Outros podero achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou no achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles no toca
a Magia que evoca
O Longe e faz dele histria.
E por isso a sua glria
justa aurola dada
Por uma luz emprestada. Fernando Pessoa
Eneasslabos possuem 9 slabas mtricas:
Tu choraste em presena da morte?
Na presena de estranhos choraste?
No descende o cobarde do forte,
Pois, choraste, meu filho no s!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruis forasteiros,
Seres presa de vis aimors.
Gonalves Dias
Dodecasslabos ou Alexandrinos possuem 12 slabas mtricas:
Olhai! O sol descamba... A tarde harmoniosa
Envolve luminosa a Grcia em frouxo vu,
Na estrada ao som da vaga, ao suspirar do vento,
De um marco poeirento um velho ento se ergueu.
Ergueu-se tateando... cego... o cego anseia...
Porm o que tateia aquela augusta mo?...
Talvez busca pegar o sol, que lento expira!...
Fado cruel... Mentira!... Homero pede po!
Castro Alves
O B S E R V A O :
De modo geral, versos livres so versos
que no apresentam uma mtrica regular.
Exemplo:
Cria o teu ritmo livremente,
como a natureza cria as rvores e as ervas rasteiras.
Cria o teu ritmo e criars o mundo.
Ronald de Carvalho
4. Ritmo
A musicalidade implcita
ou explcita que rege a
cadncia sonora ou
emocional dos versos
chama-se ritmo, que talvez
seja o elemento estrutural
mais importante de um
poema, uma vez que ele
costuma estar presente at mesmo
nas composies poticas mais modernas, que s
vezes chegam a abrir mo de outros elementos,
como a rima, mtrica e a estrofe
O ritmo na poesia tradicional se baseia
numa alternncia mais ou menos cadenciada de
slabas tonas e tnicas. Na poesia moderna,
necessrio captar as intenes e emoes,
procurando ler e interpretar o poema.
Literatura Brasileira Extensivo e Terceiro
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TESTES
01. (UFV MG) Um elemento estrutural usado para caracterizar o verso tradicional :
a) o tema;
b) a metfora;
c) o metro;
d) a intertextualidade.
Texto para a questo 02:
...........................................................
almas presas, mudas e fechadas
Nas prises colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouo, atroz, funreo!
Nesses silncios solitrios, graves,
que chaveiro do Cu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistrio?!
Cruz e Sousa, ltimos sonetos
02. (FGV SP) Tendo em vista que os versos
acima fazem parte de um soneto, correto afirmar
que a linha pontilhada indica a omisso de
a) um terceto;
b) dois tercetos;
c) trs tercetos;
d) um quarteto;
e) dois quartetos.
03. (UFRS) O soneto uma das formas poticas
mais tradicionais e difundidas nas literaturas
ocidentais e expressa, quase sempre, contedo:
a) dramtico;
b) satrico;
c) lrico;
d) pico;
e) cronstico.
O poema O rio, de Manuel Bandeira referncia
para as questes 04 e 05:
O RIO
Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
No temer as trevas da noite.
Se h estrelas no cu, refleti-las.
E se os cus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens so gua,
Refleti-las tambm sem mgoa
Nas profundidades tranquilas.
BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos
04. (UFPR) Sobre o poema, considere as seguintes afirmativas:
1. Tem ao todo duas estrofes e oito versos.
2. H rima entre o segundo e o terceiro versos de
cada estrofe.
3. Com o primeiro verso, o poema estabelece
comparao entre o rio e a condio humana.
4. Na segunda estrofe, o poema trata de lamentar a
presena das nuvens, incompatveis com a
natureza do rio.
5. Estrelas do cu e nuvens so elementos
diversos que o rio reflete; por comparao,
equivalem a situaes diversas vividas pelo ser
humano.
Assinale a alternativa correta:
a) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 so verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 so verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 1, 4 e 5 so verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 5 so
verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 2, 3, 4 e 5 so
verdadeiras.
05. (UFPR) Sobre o poema de Manuel Bandeira, assinale a alternativa correta:
a) No se trata-se de um romance, mas de um
conto, por ser breve.
b) caracterstico do Romantismo brasileiro, dado
que seus versos exploram a paisagem natural.
c) uma narrativa curta em prosa, com forte apelo
a imagens naturais e grande poder de sntese.
d) Privilegia a subjetividade, ao utilizar imagens da
natureza para exprimir-se sobre uma atitude
diante da vida.
e) Tem apelo nacionalista, por exaltar a
exuberncia da natureza brasileira.
06. (UEPG PR) Texto para a prxima questo:
FAMLIA
Trs meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
a cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.
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A espreguiadeira, a cama, a gangorra,
o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda noite
e a mulher que trata de tudo.
O agiota, o leiteiro, o turco,
O mdico uma vez por ms,
O bilhete todas as semanas
branco! Mas a esperana sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia, p.81
Sobre o poema acima, correto afirmar:
01) Os versos que compem esse poema so
livres, uma vez que no seguem uma mesma
mtrica.
02) Nesse poema, Carlos Drummond de Andrade
no teve inteno de demonstrar seu interesse
em retratar coisas do cotidiano, mas tentou
quebrar as regras da poca sugerindo um
novo modelo de famlia em que "a mulher trata
de tudo".
04) Nos versos "o palito nos dentes contentes, / o
gramofone rouco toda noite" observa-se a
figura de pensamento denominada
prosopopeia, que consiste na atribuio de
alguma caracterstica prpria dos seres
humanos a um ser animado ou inanimado.
08) Pela descrio da famlia e do que acontece
no ambiente em que vive, pode-se afirmar que
o texto apresenta uma demonstrao da
uniformidade e monotonia dos acontecimentos
que envolvem a vida familiar.
16) No poema acima, por no haver rima, pode-se
afirmar que os versos so brancos.
07. (FURGS RS) Texto:
[...]
Senhor Deus dos desgraados
Dizei-me vs, senhor Deus!
Se loucura... se verdade
Tanto horror perante os cus...
mar! Por que no apagas
Coa esponja de tuas vagas
De teu manto este borro?
Astros! Noite! Tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufo!...
[...]
Esse fragmento do longo poema de Castro Alves,
Navio Negreiro, vem marcado por
a) uma linguagem despojada e coloquial;
b) um sentido de credulidade na presena de
Deus, que ir salvar os desgraados;
c) um metro regular e constante;
d) ser a descrio dos caracteres heroicos dos
desgraados;
e) total ausncia de rimas ricas e pobres.
08. (FUVEST SP) Texto:
Essa vida por aqui
coisa familiar;
mas diga-me retirante,
sabe benditos rezar?
sabe cantar excelncias,
defuntos encomendar?
sabe tirar ladainhas,
sabe mortos enterrar?
Joo Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina
O nmero de slabas mtricas (ou poticas) dos
versos do excerto o mesmo do seguinte provrbio:
a) A bom entendedor / meia palavra basta.
b) gua mole em pedra dura / tanto bate at que
fura.
c) Quem semeia vento / colhe tempestades.
d) Quem dorme com ces / amanhece com pulgas.
e) Cabea de vadio / hospedaria do diabo.
Textos para a prxima questo:
TEXTO 1
PARATODOS
O meu pai era paulista
Meu av, pernambucano
O meu bisav, mineiro
Meu tatarav, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antnio Brasileiro
Foi Antnio Brasileiro
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas
(...)
O meu pai era paulista
Meu av, pernambucano
O meu bisav, mineiro
Meu tatarav, baiano
Vou na estrada h muitos anos
Sou um artista brasileiro
CD Paratodos, de Chico Buarque (1993)
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TEXTO 2
POEMETO ERTICO
Teu corpo claro e perfeito,
Teu corpo de maravilha,
Quero possu-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...
Teu corpo, branco e macio,
como um vu de noivado...
Teu corpo pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo a brasa do lume...
Teu corpo chama e flameja
Como tarde os horizontes...
puro como nas fontes
A gua clara que serpeja,
Quem em cantigas se derrama...
Volpia da gua e da chama...
A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a nica ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo tudo o que brilha,
Teu corpo tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...
BANDEIRA, Manuel. Antologia potica. 12 ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001, pg. 21
09. (UP PR) Qual a semelhana formal entre os textos 1 e 2 que aparece indicada em versos dos prprios textos?
a) A predominncia de versos livres.
b) A predominncia de versos brancos.
c) O rigor formal, caracterstico da esttica
parnasiana qual se filiaram os dois autores.
d) A reiterao injustificada de vocbulos, o que
confere pobreza esttica a ambos os textos.
e) A presena de versos heptasslabos.
10. (UNIOESTE PR) Com base no fragmento a
seguir, transcrito do poema Procura da poesia, de
Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa
incorreta:
No faas versos sobre acontecimentos.
No h criao nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida um sol esttico,
no aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversrios, os incidentes pessoais
no contam.
[...]
O que pensas e sentes, isso ainda no poesia.
[...]
A poesia (no tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
[...]
Penetra surdamente no reino das palavras.
L esto os poemas que esperam ser escritos.
[...]
Convive com teus poemas, antes de escrev-los.
Tem pacincia, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silncio.
[...]
Chega mais perto e contempla as palavras...
a) O texto apresenta versos livres, ausncia de
rimas tradicionais e reiteraes.
b) Constata-se, no texto, preocupao com o fazer
potico.
c) Observa-se uma acentuada rigidez formal,
caracterstica do culto da arte pela arte.
d) Os versos do poema acentuam o reconhecimento
do poder das palavras.
e) A poesia no a reproduo de fatos histricos e
biogrficos.
11. (UEM PR/dezembro 2014) Assinale o que for
correto sobre o gnero lrico:
01) O gnero lrico, em comparao com o gnero
pico ou narrativo, mostra-se marcado por um
filtro subjetivo que favorece a expresso
individual, bem como a intensificao de
sentimentos e emoes.
02) Embora marcado por grande liberdade temtica,
o gnero lrico bastante rigoroso no tocante s
formas fixas, de modo que se manifesta apenas
em sonetos, odes, elegias, contos e novelas.
04) Em contraste com a presena de um narrador
no gnero pico, na lrica nota-se a presena de
um eu lrico, que tanto permite a expresso de
um mundo interior quanto serve de filtro para a
realidade externa.
Literatura Brasileira Extensivo e Terceiro
9
08) Uma das principais subdivises do gnero lrico
encontra-se no par comdia e tragdia que,
presente desde as primeiras manifestaes do
gnero, deu origem, j no fim do sculo XVIII,
tragicomdia, com a utilizao de versos livres
e brancos.
16) Recursos formais como a rima, a mtrica e o
ritmo, embora possam ser verificados em outros
gneros literrios, encontram-se especialmente
ligados ao gnero lrico, favorecendo sua
sonoridade e sua expressividade.
12. (UFU MG) Leia o poema, descrito a seguir,
de autoria de Vincius de Moraes:
SONETO DO AMOR COMO UM RIO
Este infinito amor de um ano faz
Que amor do que o tempo e do que tudo
Este amor que real, e que, contudo
eu j no cria que existisse mais.
Este amor que surgiu insuspeitado
E que dentro do drama fez-se em paz
este amor que o tmulo onde jaz
Meu corpo para sempre sepultado.
Este amor meu como um rio; um rio
Noturno, interminvel e tardio
A deslizar macio pelo ermo
E que em seu curso sideral me leva
Iluminado de paixo na treva
Para o espao sem fim de um mar sem termo.
As afirmativas abaixo referem-se a conceito de
literatura, gneros literrios e periodizao literria,
tendo em vista o poema de Vincius de Moraes:
I. O soneto em questo no pode ser considerado
uma forma fixa de poema em virtude de seus
versos possurem mtrica varivel.
II. Contm este poema uma concepo
existencialista de amor no sentido de valorizao
do tempo presente, metaforizada pela imagem do
rio.
III. Este soneto no se diferencia dos produzidos na
vigncia do classicismo moderno nem com estes
se assemelha; deve, por isso, ser considerado
como pardia de Amor um fogo..., de Cames.
IV. um poema lrico porque nele uma voz central
exprime sentimentos atravs de uma linguagem
caracterizada por ritmo (simetria da mtrica),
sonoridade (rimas) e linguagem metafrica
(smile).
V. O soneto predominantemente pico-narrativo
pois nele o amor uma personagem bem
delineada, atuando num espao-ambiente
heroico.
Escolha a alternativa correta:
a) Apenas I e V esto corretas.
b) Apenas II e IV esto corretas.
c) Apenas III esto corretas.
d) Apenas III e IV esto corretas.
e) Apenas V est correta.
13. (UEM PR) Leia o poema e assinale o que for correto:
CEMITRIO PERNAMBUCANO
(Nossa Senhora da Luz)
Nesta terra ningum jaz
pois tambm no jaz um rio
noutro rio, nem o mar
cemitrio de rios.
Nenhum dos mortos daqui
vem vestido de caixo.
Portanto, eles no se enterram,
so derramados no cho.
Vm em redes de varandas
abertas ao sol e chuva.
Trazem suas prprias moscas.
O cho lhes vai como luva.
Mortos ao ar-livre, que eram,
hoje terra-livre esto.
So to da terra que a terra
nem sente sua intruso.
Joo Cabral de Melo Neto. Melhores poemas
01) Trata-se de um poema construdo com versos
de sete slabas, cujo acento tnico
predominante recai nas 3. e 7. slabas. A rima
formada por jaz/mar toante e a formada por
chuva/luva soante.
02) Os versos Nenhum dos mortos daqui/ vem
vestido de caixo indicam que o caixo
comparvel a um traje, ou seja, o morto no
caixo como um corpo envolto em roupa. A
ausncia do caixo remete extrema pobreza
de parte da populao pernambucana.
04) Os versos Vm em redes de varandas/ abertas
ao sole chuva revelam a certeza da mudana
climtica. As palavras varandas, sol e
chuva remetem a um cenrio buclico e frtil,
em que os homens tm esperana de viver.
Literatura Brasileira Extensivo e Terceiro
10
08) A morte condio que permite aos homens da
terra pernambucana a entrada no paraso,
conforme atesta a expresso eles no se
enterram, so derramados no cho. Os versos
comparam o enterro dos mortos chuva. Assim
como a gua, que se infiltra na terra e faz brotar
a vida, a morte a condio que permite ao
homem o ingresso na felicidade eterna.
16) Na ltima estrofe, destaca-se a condio
mortificante dos vivos, prxima condio dos
mortos. A situao em que vivem, na terra,
equivale situao de quem est enterrado.
14. (FUVEST SP) Examine o seguinte texto para responder ao que se pede:
POTICA De manh escureo De dia tardo De tarde anoiteo De noite ardo A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo O este meu norte. Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem Naso amanh Ando onde h espao Meu tempo quando.
Vinicius de Moraes, Antologia potica
a) Do ponto de vista da organizao formal dada
ao conjunto do poema, o poeta mostra-se
vinculado tradio literria. Essa afirmao
tem fundamento? Justifique sua resposta.
b) Do ponto de vista da mensagem configurada no
poema, o poeta expressa sua oposio at
mesmo a coordenadas fundamentais da
experincia. Voc concorda com essa
afirmao? Justifique sua resposta.
GABARITO 01. C 02. E 03. C 04. D 05. D 06. 29 (01,04,08,16) 07. C 08. B 09. E 10. C 11. 21 (01,04,16) 12. B 13. 19 (01,02,16) 14. a) Sim, pois o poema Potica um soneto, forma
potica tradicional surgida no fim da Idade
Mdia e que foi bastante utilizada a partir do
Renascimento. Agora, este soneto de Vinicius
de Moraes um pouco diferente de outros
sonetos mais tradicionais at mesmo de
outros escritos pelo prprio autor , na medida
em que possui uma disposio rmica diferente
e versos de curta extenso (5 e 4 slabas
mtricas).
b) Sim, uma vez que o eu lrico contraria as
coordenadas fundamentais da experincia,
num interessante jogo de oposies que
extravasam o senso comum de percepo das
coisas.